BOAL, Augusto - O arco-íris do desejo

October 15, 2017 | Author: Carina Lima | Category: Actor, Time, Theatre, Aesthetics, Psychotherapy
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BOAL, Augusto - O arco-íris do desejo...

Description

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...

DO DESEJOi

uma nova etapa, completa um longo período de pesquisa. É ainda o Teatro do Oprimido, mas é um novo Teatro do Oprimido."

Método Boal de Teatro e Terapia

I SBN 8 5 - 200 - 0 313-3

_ _ 111

II



Copyright © 1992, 1995 by Augusto Baal Capa: CÉSAR OLIVEIRA Composição: IMAGEM VIRTUAL EDITORAÇÃO LTDA., Nova Friburgo, RI, em Elegant Garamond, 11/14 ISBN: 85-200-0313-3

CIP-Brasil. Catulognção-nu-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

B631a

Boal.Augusto, 1931O arco íris do desejo : o método Baal de teatro e terap ia / Augu sto Baal. de Janeiro : Civilização Brasileira, 1996. 220p.

Rio

ISBN 85-200-0313-3

J. Representação teatral.

2. Psicodrama .

95-1945

I. Tuulo

CDD CDU -

792.028 792.02

1996

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida, seja de que modo for, sem a expressa autorização da EDITORA CIVILIZAÇÃO BRASILEIRA SA

Av. Rio Branco, 99 - 20" andar 20040-004 - Rio de Janeiro - RJ Tel.: (021) 263-2082 - Telex: (21) 33798 - Fax: (021) 263-6112 Caixa Postal 2356/20010 -Rio de Janeiro -RJ. Impresso no Brasil Printed in Brazil

Para Lula, Paulo Freire eo Partido dos Trabalhadores do Brasil Para Grete Lcutz e

Zerka Moreno

SUMÁRIO

AS RAZÕES DESTE LIVRO: MEUS TRÊS ENCONTROS TEATRAIS

PARTE I:

A TEORIA

1 O TEATRO ÉA PRIMEIRA INVENÇÃO HUMANA 2

OS SERES HUMANOS, A PAIXÃO E O TABLADO: UM ESPAÇO ESTÉTICO 2.1

"

17

25 27

30

Oqueéoteatro?

30

O ESPAÇO ESTÉTICO

32

CARACTERíSTICAS E PROPRIEDADES DO ESPAÇO ESTÉTICO

34

PRIMEIRA PROPRIEDADE DO ESPAÇO ESTÉTICO: A PLASTICIDADE

34

o Espaço Estético libera a memória e a imaginação

34

As dimensões afetiva e onírica

35

SEGUNDA PROPRIEDADE DO ESPAÇO ESTÉTICO: ElE É DICOTÔMICO E DICOTOMIZANTE

3&

o palco teatral e o palco terap êutico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 7 TERCEIRA PROPRIEDADE DO ESPAÇO ESTÉTICO: A TElE-MICROSCOPICIDADE

40

CONClUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

3

2.2

O que é o ser humano?

42

2.3

O que é o ator?

49

AS TRÊS HIPÓTESES DE O TIRA NA CABEÇA 3.1

Primeira hipótese: a osmose

53 53 9

4

3.2

Segunda hipótese: a me táxis

55

PARTE 11:

3.3

Terceira hipótese: a indução analógica

58

1 AS TÉCNICAS PROSPECTIVAS 1.1

EXPERIÊNCIAS EM DOIS HOSPITAIS PSIQUIÁTRICOS

A PRÁTICA

85 87

A imagem das imagens

60

Primeira etapa: !'S imagens individuais

4.1

Sartrouville . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . (,0

Terceira etapa: a imagem das imagens

4.2

Fleury-Ies-Aubrais

87 87

Segunda etapa: o desfile das imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 88

5

Quarta etapa: a dinamização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

65

Primeira dinamiz ação: o monólogo interno

5.1 Os modos

' .'

90 90 A PRÁTICA 90 A ameaça de Alzira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Terceira dinamização: o desejo em ação

70

O MODO "ROMPER A OPRESSÃO"

70 70 71

O MODO "PAREM E PENSEM!"

73

A) Ilustrar um tema com o próprio corpo

O MODO "SUAVE E MACIO": LENTO E BAIXO

74

B) Ilustrar um tema com o corpo dos outros

O MODO "FÓRUM RELÂMPAGO"

75

O MODO "ÁGORA"

7(,

O MODO "FEIRA"

7(,

O MODO "NORMAL"

O MODO

"os TRÊS DESEJOS"

77

O MODO "DECALAGEM"

77

O MODO "REPRESENTANDO PARA SURDOS"

78

5.2

A improvisação

5.3

Identificação, reconhecimento e ressonância

89

Segunda dinamização: o diálogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

PRELlMINAR~S PARA A UTILIZAÇÃO DAS TÉCNICAS

DO ARCO-IRIS DO DESEJO

88

78

As mulheres que seguram Luciano pelas pernas

1.2

1.3

94

A imagem da palavra

97 97 101

Imagem e contra-imagem Primeira etapa: as histórias Segunda etapa: a formação das duas imagens Terceira etapa: observações acerca das duas imagens Quarta etapa: as dinamizações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Os três desejos

: ..........

A verificação do desejo possível e do desejo utópico . . . . . . . A permuta dos pilotos

5.4

10

79 A IDENTIFICAÇÃO 80 O RECONHECIMENTO 80 A RESSONÃNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80 As quatro catarses

A PRÁTICA A dança com o co-piloto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Lord Byron: o tempo para partir

1.4 A imagem calidoscópica

A CATARSE CLíNICA

81 81

Segunda etapa: a formação das imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

A CATARSE "MO RENIANA"

82

Terceira etapa: formação de duplas e de testemunhas . . . . . . . . . . . .

A CATARSE ARISTOTÉLICA

82

Quarta etapa: a feira. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

A CATARSE NO TEATRO DO OPRIMIDO

83

Quinta etapa: as reimprovisações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Primeira etapa: a improvisação

107 107 108 109 109 109 110 110 110 110 114 115 116 116 116 117 118

11

Sexta etapa: o debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 8 A PRÁTICA

11 8

O capitão no espelho

Passamos à etapa das ressonâncias Por que a última?

Terceira etapa: ping-pong

14 7

Primeira variante

14 7

120

Segunda variante

14 7

A palavra estrangulada

126

Ça viendra.. .

1 27

1.14

128

12 9 '

1.15

1.11

1.12

. 15 2

2

AS TÉCNICAS INTROSPECTIVAS

. 15 4

2.1 A imagem antagonista

154

Primeira eta pa: a imagem de si mesmo

154

Segunda etapa : a formação de famílias de imagens

. 140

Terceira etapa: a escolha das imagens

15()

Qu arta etapa: a dinam ização

15(j

Quinta etap a: identificações ou reconh ecimentos

15 7

. 14 1 141

Segunda etapa

141

. 143

Primeira etapa

14 3

Segund a etapa

144

. 146 . 146 14 6

Sexta eta pa: as improvisaç ões em dois modos

157

Sétima etapa: a seg unda improvisação

15')

Oita va etapa: a troca de impre ssões

15 9

A PRÁTICA: O MEDO DO VAZIO

2.2

'

155

. 136

Primeira etapa

Primeira etapa: a improvisa ção

12

133

136

A TÉCNICA

152

A PRÁTICA

132

1.1 5

Imagens em rodízio

e reimprovisam

132

Primeira etapa: o modelo

As imagens múltiplas da felicidade

. 151

152

Segunda etap a: dinamização do modelo

1.10 A imagem múltipla da opressão

Rashomon

Quarta etapa: os demais personagens constroem suas imagens

Primeira etapa: o jogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 31

Os rituais e as máscaras

14 9

Terceira etapa: a reimpro visação

131

Os rituais e as máscaras

14 9

151

A imagem da hora

1.9

Imagem do grupo

151

1.7

O gesto ritual

14 8

Primeira etapa: a improvisação

130

CÓDIGO SOCIAL, RITUAL E RITO

14 8

Segunda etapa: as imagens do protagonista

A imagem projetada

1.8

O modelo A dinamização do modelo

130

1.6

Segunda etap a: o debate

14 7

Segunda etapa: a dinamização do modelo

129

Primeira impro visação

Imagem da transição

Primeira etapa: o modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 9

12 8

Segunda etapa: a formação das imagens A PRÁTICA

Impro visações posteriores

1.13

128

Primeira etapa: a improvisação

14()

1 18 121

As imagens da imagem

1.5

Segunda etapa: o rodízio

A imagem analítica

159 1Ú 1

Primeira etapa: improvisação

1 Ú1

Segunda etapa: a formação de imagens

16 2

Terceira etapa: formação de duplas

1G3

13

Quarta etapa: as reimprovisações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163

2.7 A imagem do arco-íris do desejo

Quinta etapa: o protagonista assume as imagens . . . . . . . . . . . . . . . 163

A TÉCNICA

Sexta etapa: o protagonista enfrenta simultaneamente todas as imagens do antagonista

164

186

Segunda etapa: o arco-íris

Oitava etapa: nova improvisação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 Nona etapa: troca de idéias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165

2.3

185

Primeira etapa: improvisação

Sétima etapa: a vez do antagonista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164

A PRÁTICA: EM TEATRO, ATÉ A MENTIRA ÉVERDADE

18 5

, .'

, . , . . . . . 186

Terceira etapa: breves monólogos, confidências .. ,

186

Quarta etapa: a parte assume o todo

187

,..,

Quinta etapa: o arco-Iris completo

165

187

Variação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11\8

. 169

Sexta etapa: o protagonista toma o lugar do antagonista . . . . . . . . . . 188

Primeira etapa : as improvisações ritualizadas

. 169

Sétima etapa: a vontade contra o desejo

Segunda etapa: o reforço da máscara

. 170

Oitava etapa: a ágora dos desejos

. 170

Nona etapa: a reimprovisação

Circuito de rituais e máscaras

Terceira etapa: o conflito de máscaras com rituais

189 , . . . . . . . . . . 1119 . . . . . . . . . . 1119

Décima etapa: o debate . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190

2.4 A imagem do caos Primeira etapa: formação das imagens Segunda etapa: a feira Terceira etapa: o debate

2.5 A imagem dos tiras na cabeça e seus anticorpos A TÉCNICA

171

,

192

O elefante de Guissen, Alemanha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194

172

Linda, a bela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 198

172

Novas etapas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 199

172 172

Terceira etapa : o arranjo da constelação

173

Quarta etapa: a informação das imagens

174

Quinta etapa: a reimprovisação com as imagens

174

Sexta etapa: o fórum-rel âmpago

175

Sétima etapa: a criação dos anticorpos

176

Oitava etapa: a feira

176

Nona etapa: debate

176 1 77 17 7

O menino amigo de Henrique . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 179 O velho Joachim e o tira fagócito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179

OBSERVAÇÕES '

O amor que assusta

172

Primeira etapa : a improvisação

Os amigos de Vera . '

190

As imagens sensoriais de Soledad . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 190

'. . 172

Segunda etapa: a formação das imagens

A PRÁTICA

A PRÁTICA

: 171

184

2.8 A imagem tela

200

Primeira etapa : improvisação

201

Segunda etapa: formação das imagens-tela

' .'

201

Terceira etapa: a improvisação com Imagens-tela , Quarta etapa: autonomia

201 ,

202

Quinta etapa: os protagonistas retornam .. ,

,

Sexta etapa: a imagem giratória

,

202 202

Sétima etapa: troca de idéias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 3

2.9

Imagens contraditórias das mesmas pessoas na mesma história ATÉCNICA.. ,

,

,

203

Primeira etapa: a sensibilização do ator-antagonlsta Segunda etapa : a improvisação

203

,

,

203 204

Terceira etapa: as imagens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204

2.6 A imagem dos tiras na cabeça dos espectadores .. :

14

185

A PRÁTICA

204

15

3

AS TÉCNICAS DE EXTROVERSÁO 3.1

206

. 206

Improvisações Primeira eta pa: modo para surdos

. 206 . 206

Segunda eta pa: modo norm al

. 207

PARE E PENSE

Terceira eta pa: pare e pen se!

207

Qu arta eta pa: t roca de idéias

. 20S

Quin ta etapa: reim provisaçã o com pau sa artificial

20S

Sexta etapa : o debate

208

A PRÁTICA

208 208

A vingança de Gutma n

Soledad . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210

ENSAIO ANAlíTICO DE MOTIVAÇÃO

212

ENSAIO ANAlíTICO DE ESTILO

212

A PRÁTICA

212

ROMPER A OPR ESSÃO CÂMERA! AÇAO!

214 . 214 214

SOMATlZAÇÃO

3.2

3.3

Jogos

· · · ·· · · · · · · · · · ·· · · · · 214

O BAilE DA EMBAI XADA

214

O CONTRÁRIO DE SI MESMO

215

O DESPERTAR DOS PERSONAGE NS ADORMECIDOS

215

Os espetáculos

21 G

TEATRO FÓRUM

216

TEATRO INViSíVEL

216

PÓS-ESCRITO " AS TÉCNICAS E NÓS: UMA EXPERIÊNCIA NA INDIA. .. ...

AS RAZÕES DESTE LIVRO: MEUS TRÊS ENCONTROS TEATRAIS

Foi longo o percurso. Meu tra bal ho em teatro bem ceelo co mpletará q ua renta anos. E ai nda falta faze r muita coisa já planejada, e planejar muitas mais , já in tu ídas. E ste livro marca um a nova etapa, completa u m longo período de pesquisa. É ainda o Teatro do Oprimido, ma s é um novo Teatro do O primido. Como foi q ue chegamos até aq ui? No começo d os anos sesse nta, cu costumava viaja r com o meu Teatro de A rena de São Paulo, visitando as regiões m ais pob res do Brasil, no interior do estado e no n orde ste do país. Pobreza, no Brasil, é sempre extrema. Bas ta di zer q ue o salário míni mo mensal não chegava a 50 dó lares, basta lem brar que a gra nde maioria do povo não ganha seq uer salário mínimo. Segundo pesq uisas sérias e recentes, um operário médio gan ha menos, hoje, do que o míni mo que um sen ho r, n o sécu lo passado, deveria dis pende r com cada escravo, para alimentá-lo, vesti- lo, cu idá -lo. E, no entanto, o Brasil é a oitava economia do mu ndo capitalis ta . A extrema op u lênc ia vizi n ha à m iséria abso luta . E nós , artis tas, idealistas, não pod íam os apo iar tama n ha crue ldade. Nós nos revoltávam os, nos indignáva mo s, sofría mos. E escrevíamos e mon távam os nossas peças contra a injustiça, enérgicas, violentas, agres sivas. Éramos heróicos ao escre vê-Ias e sub lim es ao representá-Ias: peças que term inavam quase semp re com os atores cantando em coro canções exortativas, canções que terminava m semp re com frases do tipo "Derramemos nos-

217

so sangue pela liberdade! Derram em os nosso sangue pela nossa terra! Derram em os nosso sangue, derramem os!"

Era o que nos parecia justo e inadiável: exorta r os op rimidos a lutar con tra a opressão. Quais oprimido s? Todos. De um mod o gera l. Dema siado geral. E usávamos nossa arte para dizer verdades, para ensinar soluções: ensináva mo s os cam poneses a lutarem por suas terras, poré m nós éram os gent e da cida de gran de; ensin ávamos aos negro s a lut arem contra o preconceito racial, mas éramos quase todos

16

17

-

alvíssimos; ensinávamos às mulheres a lutarem contra seus opressores. Quais? Nós mesmos, pois éramos feministas-homens, quase todos. Valia a intenção. Até que um dia - e há sempre um dia em toda história - um belo dia estávamos representando um desses belos musicais em um vilarejo do Nordeste, numa Liga Camponesa. Platéia emocionada, só de camponeses. Texto heróico, "Derramemos nosso sangue!" No fim do espetáculo aproximou-se de nós um camponês alto, enorme, forte, um homem emocionado, quase chorando: _ "É uma beleza ver vocês, gente moça da cidade, que pensa igualzinho que nem a gente. A gente também acha isso, que tem que dar o sangue pela terra."

Ficamos orgulhosos. Missão cumprida. Nossa "mensagem" tinha passado! Mas Virgílio - nunca mais esquecerei nem seu nome nem seu rosto, nem sua lágrima silenciosa -

Virgílio continuou:

"Então aquele sangue que vocês acham que a gente deve derramar é o nosso, não é o de

vocês ... ?" -

"Porque nós somos verdadeiros sim, mas somos verdadeiros artistas e não verdadeiros

camponeses ... Virgílio, volta aqui, vamos continuar conversando ... Volta... "

Nunca mais encontrei Virgílio.

* * * Nunca mais esqueci Virgílio. Nem aquele momento em que me senti envergonhado da minha arte que, no entanto, me parecia bela. Alguma coisa estava errada. Não com o gênero teatral, que me parece, ainda hoje, perfeitamente válido. O Agit-Prop, agitação e propaganda, pode ser um instrumento extremamente eficaz na luta política. Errada estava a sua utilização. Naquela época o Che Guevara escreveu uma frase muito linda: "Ser solidário significa correr o mesmo risco." Isso nos ajudou a compreender o nosso erro. O

_ "E já que vocês pensam igualzinho que nem a gente, vamos fazer assim: primeiro a gente

Agit-Prop estava certo: o que estava errado era que nós não éramos
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