Bill Hybels - O Deus que Você Procura

May 4, 2017 | Author: Pamella Carolina Fernandes | Category: N/A
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O Deus que Você Procura

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O DEUS QUE VOCÊ PROCURA [Clique na palavra SUMÁRIO] BILL HYBELS Este livro foi publicado em inglês com o título THE GOD YOU'RE LOOKING FOR por Thomas Nelson Publishers Traduzido por Wanda de Assumpção EDITORA VIDA As citações bíblicas foram extraídas da Edição contemporânea da Tradução de João Ferreira de Almeida, publicada pela Editora Vida, salvo quando outra fonte for indicada. [Frontispício:] VOCÊ ESTÁ PROCURANDO POR DEUS? O DEUS QUE PODE DE FATO FAZER DIFERENÇA EM SUA VIDA? VOCÊ JÁ ENCONTROU DEUS ... MAS ESTÁ DECEPCIONADO? Bill Hybels quer apresentar-lhe o Deus que você procura. Esse Deus não apenas existe como anseia por um relacionamento íntimo com você. De fato, escreve Bill Hybels, Deus está perdidamente apaixonado por você.

O Deus que Você Procura 3 Mas, para que você possa encontrar a Deus, você precisa primeiro deixar de lado as caricaturas, os temores, as mentiras e os conceitos errados sobre quem Deus realmente é. Compreender a verdadeira personalidade e natureza de Deus pode transformar pessoas comuns em pessoas extraordinárias, e pessoas fracas em fortes. Com uma percepção incisiva e ilustrações oportunas, Hybels revela Deus como ele realmente é: um Deus que conhece cada pensamento seu, é sempre misericordioso, sempre nos guia, tem um compromisso permanente conosco e está sempre presente. Um Deus que sente sua alegria e sua tristeza, um Deus que jamais deixa de dar, um Deus em cujas mãos amorosas sua vida está segura. Bill Hybels é o pastor fundador da Willow Creek Community Church, em South Barrington, Illinois, nos Estados Unidos, e é presidente da Willow Creek Association. É autor dos best-sellers: Como Ser um Cristão Autêntico (publicado pela Editora Vida), Too busy not to pray, Descending into greatness e Rediscovering Church e co-autor, com Mark Mittelberg, de Becoming a Contagious Christian. [Contracapa:] MAIS CEDO OU MAIS TARDE Quase todo o mundo procura Deus. Os bem-sucedidos que não têm mais degraus para galgar, os pouco esforçados que não têm mais esperança, os idosos, cujo tempo está chegando ao fim, e os jovens cujas alternativas estão-se escasseando. MAIS CEDO OU MAIS TARDE Quase todo o mundo procura Deus. Num aeroporto um rapaz que acabou de receber seu mestrado em administração de empresas conta sobre sua busca, motivada por um sussurro persistente: "Tem que existir alguma coisa além disso". No

O Deus que Você Procura 4 corredor de um hospital, uma viúva desnorteada fala da sua necessidade permanente de buscar a Deus – por motivos óbvios. MAIS CEDO OU MAIS TARDE Quase todo o mundo procura Deus. E esse não é o fim da questão – apenas o começo. Que Deus? Definido por quem? Revelado onde? Confirmado por quantos? Nestes dias, as prateleiras das livrarias estão vergando sob o peso das reflexões humanas a respeito de Deus. Escolha um Deus, qualquer Deus, mas saiba que está correndo um risco. Este livro trata do Deus que você procura. O Deus que revelou a Si mesmo, cuja identidade não é um mistério, cujo interesse por você não é mantido em segredo. Leia e considere e será eternamente grato por tê-lo feito. Porque ... MAIS CEDO OU MAIS TARDE Quase todo o mundo procura Deus. Dedicatória A meus filhos, Shauna e Todd. Se eu pudesse enfileirar todas as filhas e filhos do mundo inteiro... Papai! Como sempre, à congregação da igreja Willow Greek Community Church... Que jornada! Agradecimentos Um grande agradecimento especial a Judson Poling pela ajuda com o manuscrito.

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SUMÁRIO Introdução: Ele existe ou não existe? .......................................................5 1. Você procura um Deus...... que saiba de tudo? ..............20 2. Você procura um Deus......que esteja sempre presente quando você precisa dele? ..............................39 3. Você procura um Deus......que esteja no controle?..........55 4. Você procura um Deus......que possa rir e chorar com você?........................................................................73 5. Você procura um Deus......que lhe sirva de refúgio?........86 6. Você procura um Deus......que seja reto?........................99 7. Você procura um Deus......que seja sempre misericordioso?..............................................................114 8. Você procura um Deus......que seja sempre dedicado a você?...........................................................131 9. Você procura um Deus......que sempre o guie?.............150 10. Você procura um Deus......que esteja sempre de mãos abertas?..........................................................169 11. Você procura um Deus......que nunca mude?................182

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ELE EXISTE OU NÃO EXISTE? Você aguarda atrás de uma porta de carvalho maciço o oficial de justiça certificar-se da presença de todos. Com um aceno de cabeça, ele abre a porta e percebe-se a inquietação nervosa e disfarçada dos observadores assentados quando vocês entram arrastando os pés. Correndo os olhos ao redor, você nota que os outros jurados têm um ar de resolução estampado no rosto, e você se pergunta se o semblante que carrega não demonstra a mesma fadiga. O juiz espera até você e o restante dos jurados ocuparem os devidos lugares, depois olha para o primeiro jurado. – Os senhores chegaram a um veredicto? – pergunta. – Sim, Meritíssimo – responde o primeiro jurado. Todo o tribunal tem os olhos fixos em você e nos demais jurados. Há um senso de admiração e de reverente respeito diante do que está prestes a ocorrer. Cada um de vocês – doze ao todo – foi escolhido a dedo pela defesa e pela acusação, sob a orientação de empresas de consultoria de júri de alto nível. Os advogados descobriram quais palavras evocariam quais emoções em qual jurado, e usaram esse conhecimento para apresentar os melhores argumentos possíveis. Você e o júri passaram os últimos dias analisando indícios e depoimentos, respondendo também às perguntas que vocês mesmos formularam, e agora chegaram a uma decisão que logo anunciarão a toda a sala do tribunal. Embora a maioria dos jurados esteja bem segura quanto à decisão a que chegaram, você se sente a pior das criaturas quando percebe que nenhum de vocês tem certeza absoluta do veredicto. Mas, lembrando-se das instruções firmes do juiz, você percebe que não precisa sentir-se assim. Mesmo num julgamento que decretasse vida ou morte para o réu, não há um único juiz no inundo que pudesse exigir do júri certeza absoluta. Os que vieram antes de nós já se convenceram de que, num

O Deus que Você Procura 7 julgamento, imaginar que haverá indícios e depoimentos suficientes para deixar os jurados sem nenhuma dúvida é tão ilógico quanto irrealista. A vida simplesmente não funciona assim.

A vida à mercê da probabilidade Pense um pouco: em quase todas as dimensões da vida cotidiana, você toma decisões mais com base na alta probabilidade do que em provas irrefutáveis. A cada dia, centenas ele milhares de pessoas embarcam num avião rumo a outra cidade. Quase todos tomaram providências para a chegada – quem os apanharia e quando, corno chegariam ao hotel, onde ficariam –, mas ninguém pode saber com certeza se, depois de deixar a pista, mais tarde o avião pousará no destino pretendido. Mais de 99% de todos os vôos de fato pousam no local de destino; portanto, é no mínimo natural que a maioria dos passageiros tenha por certa uma chegada segura. Mas o terrorismo e as falhas mecânicas, com todo o pavor que nos causam, apresentam-se com freqüência suficiente para nos relembrar de que ninguém que embarque nuto avião pode ter certeza de alguma coisa. Salvo no campo ela matemática e da lógica, a vida precisa ser negociada com base na probabilidade. É raro termos o privilégio de tomar decisões com base em indícios ou provas suficientes para silenciar totalmente o ceticismo. Por que outro motivo as mãos suariam no dia do casamento? Não é possível ter certeza absoluta de que a união recém-formada completará a longa jornada. Você não pode ter certeza absoluta de que terá um emprego amanhã cedo – e se um incêndio destruir a fábrica? E se uma fusão com outra empresa o forçar a sair? Você não pode ter certeza de que a carne que está comendo naquela lanchonete realmente não está estragada e isenta de lhe proporcionar uma boa dose de intoxicação alimentar. Todos somos forçados a viver com um grau de incerteza, e vamo-nos

O Deus que Você Procura 8 acostumando a analisar os indícios, examinar as informações e tomar decisões baseados na probabilidade. Foi o que ocorreu com o julgamento que gerou este livro, embora, sou forçado a admitir, seja um julgamento muito diferente de qualquer outro. Ele fez algo que talvez deixe alguns de vocês chocados: sentou o próprio Deus no banco dos réus. Inquiriu se ele de fato existia. As perguntas pairam há milênios, e esta era a hora oportuna de responder. Mas, corno em qualquer julgamento, precisa ser entendido desde o começo que não faz sentido exigir provas absolutas. A pessoa precisa estar em condições de declarar: "Estou convencido, a desperto de qualquer dúvida plausível, de que Deus existe. Os indícios são fortes o suficiente, e os argumentas, lógicos o bastante para me fazer concluir com sinceridade, fazendo uso das minhas melhores faculdades mentais; que existe um Deus". Vamos rebobinar a fita e rever as provas. Você é membro do júri. Todo o céu e toda a terra estão esperando para ouvir sua resposta.

Demonstre o que diz! O promotor é um homem sisudo, com um leve sotaque sulino, abrandado por tentar há anos tornar sua voz agradável a platéias variadas, sua habilidade retórica é refinada, e o peso das perguntas que fez deixou você e o restante do júri imóveis na cadeira. A vantagem dele? Não tem de provar nada. Tudo o que precisa fazer é semear dúvidas suficientes, criar perguntas suficientes para que seja impossível o advogado de defesa responder a todas, e depois encontrar aquele jurado teimoso que simplesmente se recusa a ceder. "'Tudo bem!", diz ele. "se Deus existe, expliquem-me como treze inocentes foram mortos – dos quais um bebê – no furacão da primavera passada. Se Deus existe, como dois recém-casados tomaram o vôo 800 da TWA para celebrar a nova vida conjunta, mas o avião explodiu no ar e jamais chegaram ao seu destino?"

O Deus que Você Procura 9 A cadência do promotor lembra um staccato e derruba as defesas de seus colegas jurados, enquanto você permanece sentado ali, hipnotizado por aquela voz. "Se Deus existe, como o câncer nos corrói por dentro ao mesmo tempo que a guerra e a fome nos ameaçam por fora?" "Como pode ser?" Você percebe que muitos membros do júri começam a confirmar as declarações com a cabeça. O "Como pode ser?" do promotor permanece no ar como uma neblina até que de continua: "Se Deus existe, por que não responde a todas as nossas preces? Se existe, como não conseguimos chegar a um acordo sobre como ele é? Ele é a não-existência dos budistas, o Deus severo dos maometanos ou, como dizem os cristãos, o Pai amoroso de Jesus Cristo? Como é possível sabermos quem está certo e quem está errado? "Se Deus existe, por que há crianças que nascem para a fome, gente preciosa que é enterrada na pobreza e gente boa assolada por incêndios e terremotos? Se Deus não pode controlar o tempo, os elementos ou a nossa sociedade, como pode realmente ser um deus, afinal de contas?" Um ar de confiança e de segurança toma conta do rosto do promotor ao esquadrinhar o semblante dos doze jurados. Ele sabe que cumpriu sua missão. Os argumentos que apresentou arrancaram de você a esperança e a vida – e nem foi tão difícil assim. Ele conhece a história de cada jurado. sabe que um de vocês perdeu a mãe com o mal de Alzheimer; outro perdeu um filho num trágico acidente de carro, sabe que dois de vocês perderam o emprego após onze e vinte anos de serviço, respectivamente. sabe que um de vocês perdeu um parente num terremoto da Califórnia. Ele manipulou os temores de vocês como um virtuoso do violino tocaria as cordas de seu instrumento, e agora conclui a argumentação antes que qualquer de suas dúvidas possa ser eliminada. "Se Deus realmente existe", conclui ele, "por que menos gente acredita nele do que jamais acreditou? Por que demorou tanto para nos convencer de que pelo menos vive? Por que simplesmente não se revela e dirime todas as dúvidas – de uma vez por todas?".

O Deus que Você Procura 10 Ele faz uma pausa até que o olhar de cada jurado esteja fixado nele. "Aliás", diz, baixando voz, quase num sussurro, forçando-os a prestar atenção, "se Deus existe" elevando então a voz num brado – "por que não me faz cair morto agora por argumentar contra ele?!". Você se recosta na cadeira horrorizado, quase esperando ver um raio cair sobre o tribunal. Mas nada acontece. O promotor faz uma pausa para que vocês recuperem o fôlego, depois dá um passo para trás, com um sorriso sereno, convencido. "Ainda estou aqui", diz ele, "o que prova que Deus não está". Voltando-se para a frente do tribunal, ele acena com a cabeça para o juiz e diz: "Meritíssimo, dou por encerrada a minha argumentação".

A defesa A advogada de defesa, senhora de aspecto profissional, em seus quarenta e poucos anos, com cabelos bem curtos e óculos presos ao pescoço por uma corrente, levanta-se e se aproxima de vocês. "A única coisa que este senhor provou", declara ela com naturalidade, "é que precisamos de um Deus mais do que nunca. Não posso levá-los a ver Deus. Não posso fazer com que ele desfile à sua frente para que possam tocá-lo. Não posso prometer-lhes que ouvirão sua voz se chamarem seu nome. '"Mas posso dizer-lhes que há diversas razões pelas quais podem confiar no ardor em seu coração que já lhes diz que Deus existe. Estes argumentos talvez não impeçam a avalancha de dúvidas, mas lhe darão um teto sob o qual podem abrigar-se." Ainda atônito com a conclusão explosiva do promotor, você se vê recostando no banco, agradecendo a trégua trazida pela tranqüilidade da advogada de defesa. "Primeiro – e não quero que a palavra os assuste –, há o que os historiadores chamaram argumento "cosmológico". A palavra cosmológico origina-se de duas palavras gregas: cosmos, que significa

O Deus que Você Procura 11 "mundo", e logos, que nesse caso significa "razão". Juntemos as duas e o que temos? A razão para o mundo. "Há diversas variantes desse argumento, mas nesta manhã vou apresentar uma com três fundamentos lógicos diferentes. O primeiro é chamado princípio de razões suficientes. Começamos com a hipótese inegável de que algo existe. Toque seu braço." A maioria dos membros do júri – até mesmo você – obedece. "Vocês sentem algo, não sentem? Ao virem ao tribunal hoje de manhã, enquanto caminhavam lá fora, o que viram? Árvores? Grama? O lago Michigan? O sol, talvez? Sei que estamos em Chicago, e que nesta época do ano podemos até estar questionando se o sol existe. Aliás, como muitos habitantes de Chicago, tenho um adesivo no pára-choque do meu carro que declara exatamente como me sinto a respeito do nosso tempo. Qual foi a última vez que você verificou se o seu coração estava batendo? Vocês riem. A advogada continua. "Independentemente do que sintam, não podem negar que o tempo de Chicago existe. Alguns diriam que o tempo de Chicago acontece, mas, de qualquer forma, ele está aí, e vocês o sentem, não é mesmo?" Você acena afirmativamente com a cabeça. "A indagação cosmológica é: "Por que as coisas existem?". Vamos pensar por um momento que nada existisse. Será que o nada exigiria explicação? Procurem acompanhar-me – prometo não os levar a um passeio além da imaginação! Mas está claro que o nada não exige nenhuma explicação. Entretanto, na fração de segundos em que alguma coisa existe, nesse milésimo de segundo somos forçados a nos debater com a questão do porquê. Por que isso existe? Por que algo em vez de nada? "O segundo fundamento lógico – o 'princípio da dependência' – está relacionado à necessidade que tudo tem de algo mais. As coisas, na maioria, dependem de algo que não elas me;mas. As árvores precisam de ar, a grama precisa de água e o nosso time de futebol precisa de fãs –

O Deus que Você Procura 12 sem falar de um bom zagueiro, mas não prosseguiremos por esse caminho. "Nada é totalmente independente ou auto-suficiente. Por sinal, até mesmo as teorias predominantes da cosmologia confirmam nossas observações. Para a teoria do big-bang, por exemplo, já houve um tempo em que o universo nem existia e provavelmente não continuará existindo para sempre. "A segunda lei da termodinâmica nos ensina que tudo em nosso universo está num estado gradual de entropia – desintegrando-se lentamente, perdendo gradualmente energia e complexidade. Se duvidarem disso, farei com que nossos pesquisadores desenterrem suas fotos de formatura do colegial, e as compararemos com outras bem recentes. Até os senhores estão num estado gradual de entropia! "Esses dois primeiros fundamentos lógicos – o de que tudo é dependente de outra coisa e o de que tudo está-se deteriorando – nos levam ao terceiro fundamento lógico: Se tudo que existe é de fato dependente, quem ou qual é a explicação paro todos esses objetos e seres dependentes? Se tudo depende de alguma outra coisa, qual é a base que sustenta o todo?" A advogada de defesa se aproxima da bancada do júri, inclina-se para a frente e prende o olhar de vocês. "Formulando a pergunta ainda de outra maneira: Se houve uma grande explosão, quem puxou o gatilho?". Ela caminha em direção a um suporte e retira a cobertura de um grande quadro do universo. "Façam uma viagem imaginária comigo e ultrapassem o universo por um segundo. Olhem tudo que existe... imaginem todas as galáxias, as estrelas, os planetas, tudo. Agora" – ela apanha uma caneta vermelha de ponta de feltro – "vamos desenhar um circulo em torno de tudo, e estou falando de tudo mesmo. Não deixaremos de fora a mais insignificante partícula subatômica. Incluiremos todos os quarks e mésons, e toda a 'substância negra' que, segundo a teoria dos cientistas, está por lá."

O Deus que Você Procura 13 Com a mão direita, a advogada desenha um círculo em torno do lado externo do quadro. "Agora temos nesse círculo tudo o que existe no universo. Tudo dentro desse circulo depende de alguma outra coisa para existir, e tudo dentro desse círculo está-se deteriorando lentamente. Isso", diz ela, fitando o promotor "é a declaração de um fato irrefutável. "Ora, a grande pergunta – a única que de fato importa – é: O que causou a existência de todas essas coisas dependentes, em primeiro lugar? E, em segundo, o que fez com que tudo isso começasse a se deteriorar? "A resposta a essa pergunta deve logicamente estar em apenas um de dois lugares. A causa suprema de tudo deve estar localizada dentro do círculo ou fora do círculo. Não há outras opções. Então, qual a explicação que faz mais sentido? "Sem dúvida não é dentro do círculo. Já vimos que tudo ali é dependente. Se algo é dependente, não é auto-suficiente; portanto, como pode ter causado tudo? "Será que qualquer pessoa que pense um pouco não terá de concluir que a explicação para tudo o que existe dentro do círculo se acha fora do círculo? Se algo está fora do círculo, por definição deve ser nãodependente, não causado, auto-suficiente, totalmente independente. Em outras palavras, teria de ser eterno, ilimitado e todo-poderoso. E esses tipos de adjetivos chegam perigosamente próximos da definição clássica de Deus." – Protesto! – a voz do promotor retumba pelo tribunal. – É óbvio que sim. A advogada de defesa sorri. Volta-se para o juiz. "'Meritíssimo, inúmeras pessoas se debatem com esse 'quebra-cabeça' do universo há centenas de anos. Já o estudaram, dissecaram, debateram, e a maioria descobriu que ele tem sentido lógico, racional. "Aliás", acrescenta ela, "tem muito mais sentido do que pensar algo, só porque alguém não o faz cair morto, não deve existir". Ela faz tinia pausa e volta o olhar para o promotor.

O Deus que Você Procura 14 – Se protesta tão veementemente, por que não me dá um tapa no rosto? – Não fui criado para tratar uma senhora dessa forma – responde o promotor. – Está dizendo que isso é contra a sua natureza? – Acho que poderia dizer que sim. – Então talvez não condiga com a natureza de Deus abatê-lo caprichosamente, só porque o senhor não crê que ele existe. O silêncio – acrescentou ela – nada prova. "Protesto indeferido", intervém a voz monótona do juiz. "Senhora, pode prosseguir com sua argumentação."

Genes de grife "O primeiro argumento, aquele que os historiadores chamaram argumento cosmológico, olha o cosmo e pergunta: 'Quem pôs tudo ali?'. O segundo argumento, o chamado argumento teleológico, pergunta: 'Por que tudo é tão ordenado e complexo?'. "Permitam-me pintar um quadro disso. Se vocês fossem a Las Vegas, rolassem um dado e conseguissem o número 1, não ficariam surpresos. Se depois vocês rolassem o dado de novo e obtivessem um 2, nem pensariam sobre o assunto. Mas, se da próxima vez que rolassem o dado, conseguissem um três, talvez se perguntassem o que estaria acontecendo. E se o rolassem outras vezes seguidas e obtivessem um 4, um 5 e depois um 6, começariam a ficar muito intrigados. "Se continuassem rolando o dado o dia todo e o dia todo o mesmo padrão continuasse a se repetir, um-dois-três-quatro-cinco-seis, um-doistrês-quatro-cinco-seis, vocês acabariam parando e dizendo: 'Isso não pode estar acontecendo por acaso. Alguém tem de estar me pregando uma peça'. Vocês diriam isso porque sabem que o acaso só pode ir até certo ponto.

O Deus que Você Procura 15 "Há séculos, as pessoas olham as complexidades e as maravilhas do universo e simplesmente pressupõem que haja um gênio planejador por trás de tudo. O bom senso diz isso às pessoas. Esse conceito tradicional continuou sendo aceito basicamente até o século XVIII – um tanto ironicamente chamado Idade da Razão –, quando os cientistas começaram a postular que as origens da vida podiam ser explicadas por processos casuais que duraram longos períodos." A advogada faz uma pausa para prender o olhar de vocês e então pergunta: "Digam-me uma coisa: qual a probabilidade de que a explosão de uma fábrica de aço venha a criar um automóvel? E quais são as probabilidades matemáticas de uma colisão fortuita de gases flutuantes acabarem produzindo mesmo que apenas um único microorganismo vivo, quanto mais um processo tão complexo quanto a fotossíntese ou uma ação tão empolgante quanto uma águia a voar? "Lembrem-se da afirmação básica do argumento teleológico: a explicação do acaso para a complexidade, para o projeto e para a ordem deste mundo é muitíssimo, muitíssimo improvável – tanto que chega a ser irracional. O filósofo William Paley escreveu certa vez: 'simplesmente não é possível haver projeto sem projetista. Não pode haver invenção sem inventor. Não pode haver ordem sem escolha'. "Até mesmo Charles Darwin, o pai do evolucionismo, compreendia isso. Em A Origem das Espécies, admite: 'Supor que o olho, com tantas partes trabalhando elo conjunto, poderia ter sido formado pela seleção natural parece – reconheço francamente – absurdo' "Bem, numa coisa estava certo. É absurdo. Para os que se interessam por números, um cientista eminente calculou que a probabilidade de a criação aleatória de uma única molécula de proteína ocorrer.seria uma vez em dez elevada a 243.a potência de número de anos. Isso é dez com 243 zeros do lado – bilhões e trilhões de anos – para uma única molécula de proteína, quanto mais para qualquer tipo de vida.

O Deus que Você Procura 16 "Quando analisamos a pura maravilha fisiológica de nossos olhos e ouvidos, nossa pele, os sentidos do tato e do olfato, nossas capacidades emocionais e mentais – bem, é preciso muito mais fé para crer tudo isso como resultado de uma explosão gasosa do que crer que fomos projetados sob medida por Deus. "É possível imaginar uma mãe olhando o rosto do seu recémnascido e dizendo: 'Nossa, que adorável colisão de gases?'. Não nos parece que um bebê tão lindo seja um 'acidente' da natureza, assim como acreditamos que a explosão de uma loja de tecidos possa fazer surgir no ar um par de calças jeans de marca. As roupas de grife foram projetadas por alguém, não são um acidente, e jamais acreditaríamos que possam simplesmente 'acontecer'. Mas os nossos genes são muito mais complexos do que um par de calças de grife." Ciente de que o júri a está acompanhando de perto, a advogada de defesa apressa o ritmo.

Quem diz? "Há ainda um terceiro argumento", diz ela, "que, na realidade, é muito simples. Como os seres humanos de todas as partes, no mundo inteiro, reconhecem um código moral comum? "Pensem sobre isso. Se os seres humanos simplesmente evoluíram de gases primitivos, e são meros germes crescidos ou recentes melhorias de hominídeos bípedes, como se explica o fato de que em quase toda cultura do planeta as pessoas valorizam dizer a verdade em lugar do engano, a bondade em lugar da violência e a lealdade em lugar da traição? Será que gases, germes ou genes conseguiriam, por conta própria, criar de alguma forma um código admiravelmente coerente de valores e implantá-lo na mente e no coração de bilhões de indivíduos? "Espanta-me o fato de muitos dos ateus que conheço serem membros de alguma causa humanitária ou beneficente. É de todo incoerente para um ateu crer que somos todos uma casualidade e ainda

O Deus que Você Procura 17 se importar com o que acontece casualmente com os outros! Por definição, o ateu está dizendo que não somos seres criados, feitos à imagem de Deus, e não temos uma lei moral impressa em nosso coração. Entretanto, esse ateu está ao mesmo tempo tentando recorrer a algum código de moral – de onde veio esse código, afinal, c por que deveríamos acatá-lo? – a fim de deter o extermínio 'selvagem' das baleias e despertar as pessoas para o problema dos sem-teto. "Se todos somos uma casualidade, como vou saber que os sem-teto não são apenas alguma excrescência infeliz na escala evolucionária, o anti-social que não conseguiu muito bem 'chegar lá'? E por que eu deveria me importar?"

Eu sei que ele vive "Estamos quase terminando"', continua a advogada. "Há só mais um argumento que gostaria de apresentar, longe de ser irrefutável por si só. Mas, quando combinado com os outros, é muito forte. É o chamado argumento da experiência religiosa, e baseia-se no conceito de que milhões de pessoas confiáveis já sentiram a presença de Deus, sentiram a orientação dele na vida e experimentaram a força dele preparando-as para alguma tarefa. "Claro que é possível uma pessoa iludida ou enganadora estar inventando coisas quando afirma ter tido uma experiência religiosa, mas não estamos falando de uma, de duas ou mesmo de algumas dezenas de casos. Estamos falando sobre milhares de anos de história em que nossos maiores e melhores pensadores – bem ajustados, não fumantes de maconha, em todo o mundo – testificaram uma experiência verdadeira com Deus. Líderes políticos, presidentes do supremo tribunal, cientistas, sociólogos, economistas, bem como honrados açougueiros, padeiros e artífices. Todos dão testemunho de sentir-se amados por Deus e afirmam ter recebido dele o perdão. De alguma forma, simplesmente sabem que ele é verdadeiro porque já o encontraram.

O Deus que Você Procura 18 "E, embora para aqueles que como nós têm um relacionamento cm Deus essas experiências constituam tesouro precioso, a verdadeira pergunta para os senhores do júri é: Como explicar todos esses cristãos de culturas e camadas sociais tão diferentes? Será que centenas de milhões de cristãos do mundo todo estão alucinados? Estão mentindo? Será que isso pode verdadeiramente ser descartado por se tratar de conspiração bem organizada?" A advogada de defesa conclui sua argumentação. "Não dou por certo que alguém crerá na existência de Deus apenas com base no argumento religioso, mias este mesmo argumento, considerado com os outros – 1) deve haver alguma explicação fora do universo para a existência de todas as coisas; 2) deve haver algum projetista por trás de um mundo arquitetado de maneira tão complexa; 3) deve haver algum autor por trás de um código moral de coerência admirável –, quer-me parecer tremendamente persuasivo." Mas e você?

O Deus que você procura A advogada de defesa apresentou a sua argumentação, e agora você tem nas mãos os elementos que o conduzirão ao veredicto. Agora que a atenção do julgamento converge para vocês, do júri, você tem a obrigação de tomar uma decisão. A resposta pode ser mais importante – e muito mais necessária – do que você pensa. Você sabe... um dia terá de prestar contas do que fez com esses indícios da existência de Deus. Terá de responder por si mesmo: "O que fez com que algo fosse criado em lugar do nada? O que fez com que esse algo fosse ordenado? E o que fez com que esse algo ordenado se tornasse 'alguéns' – pessoas com senso do certo e do errado? Por último, como milhões desses 'alguéns' dizem sentir-se amados por Deus e conversar com ele?".

O Deus que Você Procura 19 Por sinal, gente respeitável de toda parte já confessou ter havido uma ocasião, tarde da noite, fitando o teto, em que Deus se fez presente e disse, não de modo audível, mas no coração dessa gente: Vamos lá. Pare de fugir. Pare de fingir que não precisa de mim. Pare de me afastar como se eu não existisse. Abra seu coração para mim. Descubra quem sou de fato e qual o meu plano. Deixe que lhe mostre o que eu poderia fazer em sua vida. A pergunta para você neste exato momento é: Qual vai ser a sua reação? Se já é cristão, por favor, não se acanhe, nem deixe de anunciar com ousadia que você caminha e conversa regularmente com um Deus que existe. Você não tem razão para recuar quando alguém lhe desafia a fé, porque sua fé não se baseia em areia movediça ou na mera concretização de desejos. Ela tem viu fundamento sólido, um fundamento racional e um fundamento persuasivo – lógico, mas também empírico. Posso ter por certo, sem medo de errar, que alguns de vocês que estão lendo estas palavras são pessoas que estão "procurando", preocupadas o suficiente com a verdade para gastar tempo lendo um livro como este, mas ainda sem condições de dizer: "Estou convencido, a despeito de qualquer dúvida plausível". Talvez você se considere alguém "do lado de fora, olhando para dentro" – isto é, ainda analisando os indícios e os depoimentos. Tenho uma sugestão para você. Da próxima vez que Deus o visitar – e de falo o visitará –, diga simplesmente: "Está bem. Sei que o senhor é real. Bem no fundo, eu já sabia disso o tempo todo. Por favor, meu Deus, perdoe-me pelas evasivas e pelo que passou". Se precisar, sinta-se à vontade para acrescentar: "Deus, é preciso que te faças conhecido a mim. Ajuda-me a entender quem és. Ajuda-me a entender quem é Jesus e o que fez por mim na cruz; no momento, isso não faz sentido para mim, mas ajuda-me a combinar tudo isso em minha mente de modo que eu possa entender e agir logo, logo".

O Deus que Você Procura 20 Desconfio que o Deus que conheço é o Deus que você procura. Não é o Deus dos seus pesadelos. Não é o Deus da vociferação de um evangelista fanático. Não é o Deus que espera impaciente o seu fracasso para poder executar sua sentença de ira com entusiasmo irrefreado. Ao contrário, é um Deus que deseja ter um relacionamento íntimo com você. É o Deus que orquestrou cada acontecimento de sua vida para lhe dar a melhor oportunidade de vir a conhecê-lo, para que possa experimentar a plenitude do seu amor. Aposto que não há uma pessoa em um milhão que entenda totalmente quanto Deus a ama. Uma coisa posso afirmar com certeza: Deus se importa com você muito mais do que você pensa. Este é um convite para descobrir isso. É a sua oportunidade de deixar de lado as caricaturas, os temores, as mentiras e os conceitos errôneos que se acumularam através dos séculos a respeito de quem Deus de fato é. Mas, primeiro, você tem algo por terminar. Como votou? Está convencido da existência de Deus e ansioso por conhecer a esse Deus de cuja existência você agora tem certeza? Se está, fique firme... você vai descobrir, como já descobri, que a melhor parte de crer em Deus é descobrir quão absolutamente maravilhoso ele é. Mas talvez você ainda esteja-se debatendo com algumas perguntas insistentes. Talvez esteja dizendo consigo mesmo: "É, Bill, você foi convincente em algumas questões, mas...". Tudo bem. Fique comigo. O próximo passo que precisa dar é conhecer a natureza desse Deus que eu – além de milhões de cristãos como eu – afirmo existir. Pode ser que você ainda não creia nele. Mas pelo menos tem uma dívida consigo mesmo de conhecer o verdadeiro Deus da Bíblia. Por quê? Porque creio, de todo o coração, que o Deus que conheço e amo é o Deus por quem você de fato procura. Acompanhe-me na leitura e veja se não concorda.

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VOCÊ PROCURA UM DEUS ...QUE SAIBA DE TUDO? Quando eu estava no colegial, uma vez por ano, durante duas semanas inteiras, cada grama de minhas forças era dedicado a um alvo: entrar para o time de basquete. Quando eu acordava de manhã, pensava sobre o que teria de fazer no treino para impressionar o técnico. Durante o almoço, eu pensava em que tipo de alimento me permitiria jogar da melhor forma. À medida que as três da tarde iam chegando, eu me via menos capaz de me concentrar nos estudos e quase totalmente obcecado com a preparação mental para os testes de seleção. E todos os dias, das 3 às 5h, trinta rapazes viravam "propriedade" do técnico de basquetebol. Ele era o sol ao redor do qual orbitávamos. Se nos mandasse correr até acharmos que nossas pernas iam despencar, corríamos o que ele mandava e um pouco mais. Se nos mandasse desprezar as bolhas nos pés ou os dedos machucados das mãos, cerrávamos os dentes e fazíamos de conta que nada doía. Se nos mandasse manter as mãos erguidas para a defesa, assim fazíamos até os ombros doerem com o esforço. Todos os nossos esforços pareciam concentrados numa única coisa. Queríamos entrar para o time, e estávamos dispostos a sacrificar praticamente qualquer coisa para isso. Finalmente, perto do fim da segunda semana de seleção, o técnico nos reunia em torno de si e fazia seu discurso anual. "Rapazes", dizia; "há trinta de vocês tentando um lugar no time, mas apenas onze serão escolhidos. sexta-feira, às 15 horas, vou afixar uma lista no lado de fora do meu escritório, no vestiário. se você estiver naquela lista, está no time. Se não estiver na lista, não está no time. Não haverá erros de datilografia nem pessoas que foram acidentalmente deixadas fora da lisa, por isso nem pensem em perguntar. Entendido?" Trinta cabeças se moviam afirmativamente em uníssono. "Tudo bem. Vocês têm mais um treino para me convencer de que seu nome deve ir para aquela lista!"

O Deus que Você Procura 22 Tentando desesperadamente convencer o técnico do nosso valor, suávamos naquele treino o suficiente para formar uma pequena lagoa. Quando as cinco horas iam-se aproximando, não havia nenhum sujeito no quadra que não sentisse que suas pernas tinham sido vitimas de um contorcionista sádico. Nossos pulmões ardiam, os olhos queimavam com o suor que escorria pelo rosto, e mancávamos em direção dos chuveiros, perguntando se nossos esforços tinham servido de alguma coisa. No dia seguinte, às três da tarde, ocorria um sério engarrafamento no lado de fora do escritório do técnico. Trinta rapazes, cheios de delirante esperança e uma boa dose de pavor, curtiam para lá assim que a sirene tocava. Apenas onze integrariam o time. Lembro-me de chegar por trás da turma, vendo a troca de tapas de vitória, ouvindo os berros, mas vendo também os rostos dos rapazes que se afastavam silenciosa e tristemente. A turma era tão grande que me lembro de tentar ler a lista a uma distância de mais de três metros. Nessas situações, você pede que seus olhos façam o impossível: encontrem seu nome imediatamente numa lista de onze. Você deseja que seu nome será o primeiro que você vê, pois correr os olhos pela lista é um exercício aflitivo demais para um adolescente esperançoso que está estourando com a esperança e até a certeza de ter entrado na lista, mas também com medo de que isso não tenha acontecido. Por dez eternos segundos, tem-se a impressão de que a única coisa no mundo que importa, a única coisa que importará pelo resto da vida, é ver o nome na lista (felizmente, o meu constou da lista em três dos meus quatro anos de colegial). Voltando mentalmente àquela época, aproximadamente trinta anos depois, fico quase acanhado pela importância daquela lista, mas, ao mesmo tempo, muitas vezes me chama a atenção a importância de outra lista – a que contém o nome de todos os que pertencem a Deus. Chegará a hora em que cada um de nós estará claramente ciente dessa Última Lista. Nessa hora, não nos importaremos com quanto dinheiro obtivemos

O Deus que Você Procura 23 nem com quantas vezes nosso nome apareceu nos jornais; não nos importaremos com o tipo de casa em que moramos, nem com o tipo de poder que tivemos, nem mesmo com quanta emoção experimentamos. A única coisa que importará é que o nosso time conste daquela lista. E como no time de basquetebol, há apenas uma pessoa que pode inscrever o nosso nome nessa lista. Mamãe não pode. Nossos melhores amigos não podem. Nosso pastor não pode. Somente o "técnico", o próprio Deus, pode fazer isso. Dois tipos de pessoa vão estar lendo este li;ro. O primeiro grupo nem mesmo tem certeza de que acredita no Técnico. Para essas pessoas, a última Lista compete com Papai Noel e com o Coelhinho da Páscoa na categoria de bonitinhos contos de fada que tentam nos levar a uma vida com maior senso moral. Mas, no caso de o Técnico realmente existir, estão dispostas a procurar saber como ele seria. As pessoas do segundo grupo, com variações, estão desejosas ou até mesmo ansiosas por agradar o Técnico e entrar para o time. Alguns desse grupo sentem-se veteranos; já jogaram com o Técnico por diversas temporadas e já estão familiarizados com seus rituais pré-partida, seus traços de personalidade e o que de fato quer dizer quando pigarreia. Outros são novatos. Ouviram falar do Técnico, observaram-no de longe, mas não têm idéia de como ele realmente é. Talvez você se surpreenda quando eu disser que todos vocês – os que estão buscando, os novatos e os veteranos – têm no fundo a mesma necessidade básica. Isso me foi relembrado quando ouvi a pergunta lançada a um homem que respeito muito. Perguntaram a R. C. Sproul, filósofo e teólogo: – Qual é hoje, em sua opinião, a maior necessidade espiritual no mundo? O Dr. Sproul fez uma pausa, depois respondeu: – A maior necessidade na vida das pessoas hoje é descobrir a verdadeira identidade de Deus.

O Deus que Você Procura 24 Ele mostrou que a maioria das pessoas não-religiosas realmente não entende o Deus que está rejeitando. Se entendesse, provavelmente declararia uma trégua – pelo menos uma trégua temporária – para verificar se continuar a batalha é algo que vale a pena. Outra pessoa, então, fez ao teólogo uma pergunta relacionada: – Qual é, em sua opinião, a maior necessidade espiritual na vida da igreja? Fiquei encantado quando o Dr. Sproul atirou de volta a mesma resposta: – Descobrir a verdadeira identidade de Deus. Se os crentes realmente compreendessem o caráter, a pessoalidade e a natureza de Deus, isso revolucionaria suas vidas. Aí está. A mesma coisa que servirá de alimento para o que busca também ajudará a adestrar o novato e até aperfeiçoará as aptidões do veterano: entender o caráter e a natureza de Deus. Se conseguirmos isso, diz Sproul, experimentaremos uma "revolução" em nossa vida. Você precisa de uma revolução" É alguém que está buscando, mas nunca participou da seleção de Deus? Ou é um seguidor de Cristo que simplesmente não está sendo grande coisa como cristão? Você percebe que apenas melhorar uma ou duas áreas não é suficiente? Será que está precisando de um recondicionamento completo? Você está pronto para uma revolução? É disso que este livro realmente trata. O poder do cristianismo está na natureza do Deus a quem servimos – ainda assim, a maioria dos cristãos pouco entende da verdadeira identidade de Deus. Os que ainda estão questionando se ele é o Deus que procuram sabem menos ainda, Felizmente, Deus não faz de sua identidade um segredo cósmico. Não brinca de esconde-esconde, em que as pistas sobre sua presença e natureza estão escondias por trás de planetas distantes ou mantidas fora de alcance, em quebra-cabeças esotéricos. Deus se manifestou com um ponto de exclamação, anunciando sua natureza numa espécie de autobiografia, um livro chamado Bíblia, Quando lemos seu livro e o

O Deus que Você Procura 25 contemplamos por algum tempo, obtemos uru quadro incrivelmente claro de quem Deus de fato é – e a nossa vida estará preparada para a mais incrível revolução que jamais poderíamos imaginar. Este capitulo (além dos próximos) tratará das características "oni-'s" se Deus – sua onisciência, sua onipresença e sua onipotência. Oni significa simplesmente "todo"; portanto, estou falando de como Deus é totalmente alguma coisa – totalmente conhecedor (onisciente), presente (onipresente) e poderoso (onipotente). "Já creio nisso tudo", alguns de vocês podem estar dizendo. "Por que preciso ler tudo de novo?" Tem certeza de que acredita nisso plenamente" Isso influencia a sua vida diária? Voltemos aos meus dias de colegial por um momento. Durante duas semanas, a vida de trinta rapazes girava em torno de um técnico ranzinza e enérgico. O conhecimento dele nos desafiava, sua presença nos perseguia e seu poder de nos escolher para o time nos tornava humildes e às vezes humilhados. Durante catorze dias, aquele homem mudava cada um de nós. Concordo em que algumas das mudanças eram de pouco valor, e mal se pode dizer que transformaram nossa vida – a maneira de arrastarmos os pés na defesa, o acompanhamento após os arremessos livres – , mas, em certos aspectos, podia-se dizer que ele "revolucionou" nossas técnicas como jogadores de basquete. Da mesma forma Deus deseja revolucionar a nossa vida – ao nos mostrar em que sentido conhecê-lo pode ser a força mais poderosa para nos ajudar a ser tudo o que queremos ser. Comecemos com um oni - que talvez amedronte alguns dos que estão à procura de Deus e mesmo alguns cristãos superficiais, e ao mesmo tempo traga consolo sem precedentes para os que são profundamente dedicados a Deus: a onisciência de Deus.

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Ele conhece todas as coisas Quando a Bíblia ensina que Deus é onisciente – tem pleno conhecimento de tudo –, não está dizendo que Deus é brilhante. Não está dizendo que é perspicaz. Nem mesmo está dizendo que é um gênio. Essas são expressões finitas de pessoas tremendamente limitadas por tempo e espaço. O que a Bíblia na realidade está mostrando é que Deus conhece tudo. Nenhuma pergunta pode deixá-lo perplexo. Nenhuma pergunta pode confundi-lo. Nenhum acontecimento pode surpreendê-lo. Ele tem conhecimento eterno, intrínseco, abrangente e absolutamente perfeito. Nada é novidade para Deus. Mas seu conhecimento ultrapassa os acontecimentos de hoje. Deus conhece o funcionamento de todas as coisas. Pense nisso. Ele tem conhecimento completo de todos os mistérios da biologia, fisiologia, zoologia, química, psicologia, geologia, física, medicina e genética. Ele conhece as ordenanças do céu, a razão e o curso do sol e da lua e o equilíbrio das nuvens.1 E, ao contrário do conhecimento de todas as outras pessoas, o de Deus não se limita ao tempo. Ele lê nosso futuro tão claramente quanto lê nosso passado. Quem seremos daqui a cinqüenta anos é tão indubitável para Deus quanto quem fomos há dez anos. Deus não apenas conhece por que e como as coisas funcionam, mas também conhece as minúcias de sua existência diária. Ao contrário do computador, ele não tem nenhum problema de memória, exigindo que se limpem os seus bancos de memória para proporcionar espaço para mais informação. Embora ele não perca de vista a lua e as estrelas, nem um único pássaro cai ao chão sem que ele saiba exatamente o que está acontecendo.2 Seu conhecimento abrange até o aparentemente sem importância, como a última contagem dos cabelos da cabeça.3 Hebreus 4:13 fala disso da seguinte forma: "Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos [dele]...".

O Deus que Você Procura 27 Ora, nesse caso, o que vale para a natureza em geral vale para nós também. Não há motivações, pensamentos, atos ou palavras produzidos pelo nosso ser que fujam à atenção plena e abrangente de Deus. Quando estávamos buscando ser selecionados para o time de basquetebol e acaso cometíamos um erro ao passar a bola ou perdíamos uma jogada, a primeira coisa que fazíamos era olhar pala o outro lado da quadra a fim de ver para onde os olhos do técnico estavam voltados. Às vezes, nós nos safávamos de um erro embaraçoso. Outras vezes, entretanto, ficávamos indignados ao perceber que o técnico havia perdido uma de nossas melhores jogadas. Isso não ocorre com Deus. E a beleza dessa verdade é tão assombrosa que quase reduz ao silêncio um dos mais brilhantes artífices de palavras de toda a Escritura, um homem que viveu há três mil anos e, contudo, conheceu o mesmo Deus que conheço, o mesmo Deus a quem talvez você procure: o rei Davi.

Espantado Embora muitos dos salmos comecem com um vigoroso "Louvai ao Senhor" ou "Bendizei ao Senhor" ou "Exultai [...] ao Senhor", no salmo 139 o conhecimento que Davi tem da onisciência de Deus é tão irresistível, que ele não consegue emitir mais que um sussurro de espanto: "Ó Senhor...". É como se estivesse admitindo desde o início que as palavras não poderiam transmitir uma fiação que fosse do poder dessa verdade. Seu "Ó Senhor" é como um gesto de: "Como posso expressar isso?". Davi podia regozijar-se no poder de Deus, podia celebrar a beleza de Deus, podia deleitar-se na provisão de Deus, mas, quando se tratava da maneira íntima como Deus desejava conhecê-lo por dentro e por fora (a intimidade pela qual cada um de nós anseia, mas pala a qual muitas vezes nos tornamos endurecidos diante dos fracassos de dada relacionamento), quando se tratava desse tipo de paixão, Davi ficava

O Deus que Você Procura 28 totalmente emudecido. o poderoso guerreiro é derrotado. O poeta lírico fica mudo. O poderoso rei perdeu a aparência tranqüila. Está espantado. "Ó Senhor..." Nada de floreios aqui. Nenhuma metáfora complicada resolverá. Apenas servirá uma referência sem rodeios a uma verdade incrivelmente poderosa, pois não há analogia que se possa fazer. A verdade em si parece tão maravilhosa, que é impossível exprimi-la, por isso Davi simplesmente deixa escapar: "... tu me sondaste e me conheces". O que faz Davi ficar tão atônito é a compreensão aguçada que tem de que Deus, em sua onisciência, dirige a atenção para ele e especificamente trata de conhecer a ele. Sim Deus entende os intricados mistérios do átomo e a interligação complexa de nosso sistema planetário, mas tudo isso empalidece diante da compreensão que Davi tinha de que Deus conhecia a ele. "... tu me sondaste e me conheces". Esse conhecimento se estende à monotonia do nosso cotidiano, a atividades tão insignificantes quanto sentar e levantar. "Tu conheces o meu assentar e o meu levantar".4 Deus não perde nada. Está sempre interessado em tudo. Cruze as pernas, e Deus perceberá, porque somos o objeto do seu conhecimento. "... de longe entendes o meu pensamento." Deus conhece tudo o que pensamos. Todo devaneio da meia-noite, toda estratégia calculista, toda hora de adoração particular, todo ato de bondade. Deus vê tudo. Jamais precisamos olhar para o lado para ver se os olhos de Deus estão abertos ou voltados em outra direção. Eles estão sempre direcionados exatamente para nós, e Deus nunca pisca. Você nunca teve um pensamento que Deus não conhecesse. A seguir, em Salmos 139:3, Davi reconhece que Deus acompanha os nossos caminhos. "Esquadrinhas o meu andar e o meu deitar; conheces todos os meus caminhos." Deus guarda uma cópia do nosso itinerário antes que seja impresso. Nunca fizemos uma viagem que ele tenha deixado de perceber. Se estivermos no topo de um arranha-céu ou

O Deus que Você Procura 29 enterrados na massa humana que se movimenta nos metros subterrâneos, Deus tem os olhos fixos em nós. Deus sabe também o que dizemos: "Sem que haja uma palavra na minha língua, ó Senhor, tudo conheces" (v. 4). Antes mesmo que digamos qualquer coisa, Deus registra nossas palavras e até os sentimentos que podem acabar produzindo as palavras. Pense nisso – Deus monitora nossa temperatura! Ele sente a raiva subir, observa o medo se espalhar e vê a confiança produzir a calma. Seja o bem, seja o mal, Deus a tudo vê. Mas ainda mais maravilhoso, mostra Davi, é que Deus conhece a nossa necessidade. No versículo 5, ele declara: "Tu me cercaste em volta; puseste sobre mim a tua mão". Esse é um tipo perfeito de proteção, no qual todas as alinhas necessidades são conhecidas. Se tenho sede, Deus sabe. Se estou solitário, Deus sente. Ele não é como um ganhador de loteria que se afasta dos amigos na hora em que mais precisam dele. Ao contrário, em meio às minhas necessidades, ele põe sobre mim a sua mão. Que tal? Um Deus que promete chegar especialmente perto logo antes de uma necessidade se apresentar! E nesse momento acho que Davi fica tão desarmado, que precisa parar de escrever. A mão treme, os olhos lacrimejam e o espírito explode. Por fim, ele consegue rabiscar o versículo 6: "Tal conhecimento é maravilhoso demais para mim; elevado demais para que possa atingir". "Se eu escrevesse qualquer coisa ou outra coisa"; parece dizer o salmista, "seria simplesmente impróprio. Não consigo pôr no papel a sensação de me relacionar com um Deus que conhece tão profundamente todos os meus caminhos. É maravilhoso demais para mim." O grande conquistador de Israel admite derrota. "É melhor largar a caneta, tirar os sapatos e portar-me humildemente em terra santa." Já senti a mesma coisa diversas vezes. E você? Gostaria de ter sentido isso? Esse momento convida ao culto, à entrega, à adoração. É isso que Davi se vê falando. Adorando. Ele é sacudido por uma dedução empolgante, a qual espero que todo leitor deste livro leve consigo. Se

O Deus que Você Procura 30 sou o objeto desse perscrutar soberano, há apenas uma conclusão a que posso chegar: Devo mesmo ser importante para Deus. E um Deus que se importa a esse ponto é o Deus que eu procuro. Esse Deus não examina atentamente as árvores tanto quanto examina a mim. Não conhece na intimidade os caminhos das rochas e dos arbustos. Conhece na intimidade a mim, porque se enternece ardentemente por quem sou. Isso deveria fazer com que todos nos prostrássemos de joelhos. Certo domingo, uma senhora me deteve na entrada da igreja depois do culto. Quando começamos a conversar, ela se descontrolou, chorou e me abraçou forte. – Nunca pare de nos dizer como somos importantes para Deus, porque isso mudou a minha vida. – Não vou parar – respondi –, porque isso mudou a minha vida também, e ainda hoje a está mudando.

A má notícia: ele conhece os seus segredos Embora Davi tenha ficado desarmado com a idéia da onisciência de Deus, sei que alguns de vocês podem estar-se remexendo um tanto inquietos na poltrona. O colarinho pode estar apertando um pouco neste momento, e talvez você esteja-se perguntando quem aumentou a temperatura. Como sei isso? Já estive aí. Quando reflito sobre o fato de que Deus conhece tudo a meu respeito, tenho de admitir que, às vezes, essa atenção representa uma bênção em duas direções. Compreende? A boa notícia é: ele de fato deve importar-se comigo, uma vez que quis conhecer-me tão bem. A má noticia é: se ele conhece intimamente todos os meus caminhos, isso significa que conhece todo o meu pecado. E isso pode ser apavorante.

O Deus que Você Procura 31 Quando eu era garoto e morava em Michigan, a empresa de frutas e verduras do meu pai comprou uma fazenda logo depois de Kalamazoo. Todos os dias, eu esperava meu pai chegar a casa depois do trabalho e, quando o carro dele ia chegando, eu corria para falar com ele, parando tão perto da porta do carro que ele não conseguia abri-la sem bater em mim. Assim que a porta se abria um pouquinho, eu começava a implorar: – Papai, deixe-me ir de bicicleta da escola até a fazenda, e você pode ensinar-me a dirigir o trator. Deeeeeixa, pai! Não havia nada que eu quisesse fazer mais do que riscar e dragar um campo com o trator. sentar-me naquele banco, dar partida e dirigir de um lado para o outro do campo até o sol se pôr era para mim um sonho. – Você é muito criança, não é? – respondia papai. – Eu consigo, papai, sei que consigo. Só me dê uma chance, por favooooor? Finalmente, ele concordou em se encontrar comigo na fazenda. Explicou como dar partida no motor, onde estavam a embreagem e a transmissão, e como engatar o equipamento e acionar a parte hidráulica. Eu mal podia esperar. Para mim, felicidade se soletrava t-r-a-t-o-r, e eu estava prestes a dirigir um. Após minha primeira lição, papai me levou até a bomba de gasolina. – Uma regra fundamental – e nunca a quebre é que jamais se abastece um trator quente. Quando terminar e precisar reabastecer essa coisa, traga e desligue na frente da bomba de gasolina. Depois, dê uma volta, vá dormir nas palhas do celeiro, faça o que quiser, mas não tente pôr gasolina num trator quente. Ele pode pegar fogo. – Sem problema – falei enquanto assentia com a cabeça. E com minhas aulas particulares completas, embarquei numa aventura agrícola. Semanas a fio, eu saltava para a bicicleta depois da escola e ia até a fazenda, ansioso para dirigir aquele trator. Diverti-me bastante, riscando e dragando aquele campo. Aprendi até a desengatar o equipamento no

O Deus que Você Procura 32 fim do dia, fazer o trator andar depressa, depois enfiar o pé num dos freios, fazendo o trator andar em círculos. Meu irmão me ensinou orgulhosamente a acelerar o motor e a soltar a embreagem, fazendo o pneu da frente saltar do chão. A vida não podia ser melhor do que era! Um dia eu estava mais do que nunca ansioso para terminar um campo quando olhei o marcador de gasolina e percebi que o tanque estava quase vazio. De todo o coração, eu estava decidido a terminar, porque sabia quanto meu pai se orgulharia. Se eu esperasse até o trator esfriar para reabastecer, entretanto, não teria tempo. Dirigi o trator até a bomba de gasolina e desprezei a advertência de papai: "Jamais abasteça um trator quente". Ele nunca vai saber, raciocinei. Aliás, para ir um pouco mais rápido, nem me dei ao trabalho de desligar o motor! Em vez disso, subi numa escadinha e comecei a despejar gasolina no tanque que ficava logo acima do motor quente. Então o desastre desabou sobre mim. Meu pé escorregou da escada. A gasolina derramou por todo o motor, e subitamente uma bola de fogo foi arrojada do trator, a explosão jogando-me para trás. Revirei para o chão, chocado e apavorado com o que tinha feito. Levantei-me e fiquei olhando horrorizado as chamas engolirem o trator e chegarem a derreter os pneus bem diante dos meus olhos. "Sou um homem morto", disse comigo mesmo. A volta de bicicleta para casa pareceu ter mais de quinhentos quilômetros. Olhei cautelosamente na entrada de carros e fiquei aliviado quando percebi que o carro do meu pai não estava lá. Quando entrei em casa e perguntei por ele como quem não quer nada, descobri que ele estaria fora por diversos dias. A princípio, achei que eu era o maior felizardo de Michigan. Mas, após algum tempo, a espera se tornou torturante. Vou ter de contar quando ele voltar para casa, pensava eu, e os castigos imaginados que viriam com certeza foram parecendo cada vez mais drásticos com o passar do tempo.

O Deus que Você Procura 33 Finalmente papai voltou; mas meu medo tinha chegado a um grau tão intenso, que eu não podia me forçar a dizer nada. Antes, eu não fala;.a nada além daquele trator estúpido, e agora era como se eu ficasse coberto de brotoejas se alguém chegasse a mencionar a palavra. Por fim resolvi seguir o tratamento diplomático e desprezar o problema. Vou esperar até ele tocar no assunto, raciocinei. Quem sabe? Talvez ele nunca descubra. Depois do jantar, algumas noites mais tarde, meu pai abriu o congelador e tirou uma caixa de sorvete, que passou a servir para todos. Deu duas bolas para a minha mãe, duas bolas para o meu irmão e as minhas irmãs e depois virou-;e para mim. Uma bola. Olhei para ele e pensei: Ele me deu menos... ele sabe! Embora eu estivesse tomando sorvete, podia sentir o suor formando gotas em minha testa. Tenho de contar, pensei. Ele já sabe, de qualquer forma. Cada minuto que resisto nada mais é do que pura traição. Depois da sobremesa, entrei de sopetão pela sala de TV. – Papai, pisei na bola. Enchi o tanque com o motor ainda funcionando e acabei queimando o trator até os pneus. Se quiser que eu passe o resto da vida pagando o trator, passarei. E prometo nunca mais fazer isso. – Filho, venha aqui. Aproximei-me lentamente de meu pai e ele me abraçou com ternura. – Dei-lhe aquelas instruções porque eu não queria você se machucasse. Da próxima vez, escute um pouco mais, está bem? Agora, não se preocupe com isso, o trator estava no seguro, e já compramos outro. Acabou. Só quero que você esteja lá segunda-feita, pronto para trabalhar de novo. Quando saí da sala, tinha uma compreensão inteiramente nova da teologia da confissão e do perdão.

O Deus que Você Procura 34 Alguns de vocês estão envolvidos em coisas que Deus não quer vêlos fazendo. São culpados. Sabem que pecaram contra Deus e infringiram os ensinamentos da Bíblia. Podem ser os únicos seres humanos sobre a face da terra que sabem do seu pecado – mas deixemme dar uma notícia que é tão boa quanto séria. Não precisam passar noites de ansiedade perguntando-se quando Deus vai "descobrir". Ele já sabe. Talvez vocês finjam que ele não saiba, mas sabe sim. Não se dêem ao trabalho de tentar perpetuar a impostura. Acabou. Ele sabe. "Tudo bem", você talvez responda, "então o que Deus quer de mim?". Simplesmente isto. Quer que você pare de acobertar o que fez. Abra o jogo e concorde em mudar seus caminhos. Ele não vai condená-lo; simplesmente quer libertá-lo da culpa que tem carregado e estabelecer para você um novo rumo. Como ele já sabe tudo a respeito, o que poderia mesmo impedi-lo de confessar francamente seu pecado e pedir que Deus lhe perdoe? Como eu, alguns de vocês precisam entrar de sopetão pela "sala" do Pai e dizer: – Papai, pisei na bola. Realmente pisei na bola. E depois esperar para ouvir a resposta. Alguns de vocês vão ficar chocados, porque descobrirão que, embora ele saiba tudo sobre seu pecado, ainda os ama. A resposta que dará não será tão diferente da que deu o meu pai: – Acabou. Apenas comece de novo, de forma diferente... e eu ajudarei. É isso que o Deus a quem conheço me diz. Essa é a boa noticia, apesar da má. E há mais boas notícias em relação à onisciência de Deus: ele não apenas conhece o seu pecado, mas também conhece tudo a respeito de suas cicatrizes. Em outras palavras, não apenas sabe o que você fez, mas também o que fizeram com,você.

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A boa noticia: ele também conhece suas cicatrizes Toda pessoa tem ferimentos, de um tipo ou de outro. Quanto mais envelheço, mais vou-me convencendo disso. É incrível o número de pessoas que teia a auto-estima destroçada. E, quando conversamos sobre isso, dizem: "Se soubesse o que acontecia na minha casa, se soubesse como fui tratado quando pequeno...", ou "Se soubesse a violência que meu pai praticava contra minha mãe", ou "Se conhecesse o alcoolismo e como ele afetou nossa família...". É claro que não sei – não posso saber –, mas Deus sabe. Ele esteve lá, e não perdeu um milésimo de segundo do que aconteceu. As cicatrizes não são apenas as que vêm da infância. Alguns de vocês têm ferimentos mais recentes, que ainda doem tanto que não podem sei chamados "cicatrizes". São feridas abertas, sangrentas. Muitos de vocês estão sangrando emocional e espiritualmente porque seus sonhos foram desfeitos. Experimentaram reveses nos negócios ou sofreram dias e noites de agonia que terminaram num divórcio amargo. Alguns de vocês já conheceram o horror de perder um filho numa enfermidade terminal ou num acidente trágico. Outros talvez estejam sofrendo com fracassos nos relacionamentos. Fracassos acadêmicos, catástrofes financeiras e o que quer que seja. É assustador pensai em quantas pessoas estão andando por aí com o espírito despedaçado. Na semana passada, na academia de ginástica, um sujeito me reconheceu e disse: – Você é o pastor da igreja Willow Creek. Quando começamos a conversar, ficou evidente que ele estava triste com alguma coisa, por isso lhe perguntei: – O que está acontecendo? – Acabei de enterrar minha mãe hoje à tarde. Cheguei agora do enterro... Ela era muito moça. Para muitos de vocês, as paredes parecem estar-se fechando impiedosamente. Talvez vocês cheguem até a ouvir seus gritos e

O Deus que Você Procura 36 gemidos de agonia ecoando nessas paredes e voltando delas para você, zombando, provocando-o e fazendo-o sentir-se pior ainda. "Meu cônjuge não sabe o que estou sentindo. E, o que é pior, nem quer saber." "Meus pais nem se importariam se eu desaparecesse amanhã. Ninguém sentiria falta de mim." Os que já emitiram esses gritos precisam ser relembrados de algumas verdades poderosas. Primeira: vocês precisam agarrar-se à tábua de salvação segura fornecida pela verdade de que Deus sabe. Ele conhece intimamente todos os seus caminhos. Não fica a observá-los de longe. Nenhum sentimento, nenhuma mágoa, nenhuma cicatriz, nenhuma ferida jamais deixaram de ser notados por ele. Ele não apenas conhece, mas também se importa. Os Salmos declaram: "Tu conheces bem as perseguições que eu sofri". Deixe que a próxima frase invada a sua compreensão: "Contaste e recolheste num jarro todas as minhas lágrimas. Anotaste cada lágrima no teu livro".5 Na antiga cultura do oriente Médio, quando um soldado saía para a guerra, comprava um "frasco para lágrimas" – pequeno vidro em que as lágrimas seriam depositadas – e dava à esposa ou à mãe. Esta prometia: "Sua ausência me deixará tão triste que chorarei todas as noites. E, quando chorar, guardarei as lágrimas neste frasco Quando você voltar, verá minhas lágrimas e saberá quanto é precioso para mim". Que tal isso? Quando Deus nos saudar no céu, poderá balançar nosso frasco de lágrimas diante de seu rosto sorridente. "Não perdi nenhuma", dirá ele. "Nem uma única lágrima." Além disso, ele não apenas guarda cada lágrima mas também registra cada uma delas num livro: "Eu as anotei em meu livro". Deus nunca é descuidado com as nossas lágrimas, mágoas e feridas. Isso mostra quanto somos importantes para ele. Com um amor tão observador e terno assim, certamente Deus conquistou o direito de dizer: "Conheço intimamente todas as suas lágrimas e cicatrizes".

O Deus que Você Procura 37 Esse é o Deus da Bíblia, o Deus que Jesus deseja que você conheça, o Deus que você procura. Você nunca precisa chorar sozinho. Nunca. Aos poucos, tuas de modo resoluto, refugie-se na onisciência e na compaixão de Deus. Diga em voz alta, se precisar: "Sei que alguém sabe. E sei que alguém se importa". Agora outra notícia maravilhosa: a onisciência de Deus significa que ele conhece nossos atos secretos de serviço.

Outra boa notícia: ele conhece seu serviço Se eu fizesse um arremesso de longe quando concorria à seleção para o time de basquetebol, mas o técnico não visse, era como se ele nunca tivesse ocorrido. Não me adiantava nada. Se eu fizesse uma ótima jogada defensiva, mas a atenção dele estivesse ocupada com alguma outra coisa, eu percebia que, em certo sentido, havia desperdiçado meu esforço. Isso não me ajudaria a entrar para o time. Mesmo hoje, às vezes fico desanimado porque o que faço não parece ser notado ou apreciado. E o silêncio horrível, irritante que se segue aos meus atos secretos de serviço muitas vezes me tenta a concluir: "De que adianta? Por que me dar ao trabalho de fazer papel de escoteiro? Quem está ligando? Os bonzinhos terminam por último, afinal". É então que preciso deste lembrete: "... teu Pai, que vê em secreto, te recompensará".6 Deus é o observador celeste que tudo anota. Ele sabe a respeito daquela vez em que você mordeu a língua quando poderia ter contribuído para uma fofoca. Ele nota toda vez que você cumprimenta um estranho ou visita uma pessoa no hospital ou na prisão. Cada ato secreto de caráter, de convicção e de coragem foram observados em cores por nosso Deus onisciente. Você tem sempre uma platéia. Em toda atividade e em toda conversa, Deus está presente e diz: "Eu vi. Vá em frente! Faça de novo! Eu o recompensarei. Vou retribuir. Você não terá trabalhado em vão".

O Deus que Você Procura 38 É óbvio que suas boas obras não farão com que Deus o ame mais (seu amor por você já está trabalhando "a pleno vapor"), mas é gostoso saber que ele celebra suas boas obras – mesmo quando passam despercebidas dos outros. Finalmente, a onisciência de Deus pode instilar em você uma confiança sobrenatural que pode transformar sua vida. Se você conseguir apreender essa verdade, ela encherá seu espírito com uma coragem divina para enfrentar os maiores desafios da vida.

Confiança sobrenatural Quando eu estava começando a aprender a navegar o veleiro de meu pai no lago Michigan, ele me dizia sempre: "Pode sair com o barco, mas leva um amigo junto". Um veleiro de catorze metros numa extensão de água do tamanho do lago Michigan é uma grande responsabilidade. Mas, sempre disposto a enfrentar um desafio, eu encontrava um amigo da escola para me acompanhar, e passávamos pelo quebra-mar, içávamos as velas e nos dirigíamos para o alto-mar. Mas, assim que eu via qualquer formação de nuvens em nossa direção ou o vento começando a aumentar, eu remava à praia, recolhia as velas e voltava a respirar normalmente apenas quando estávamos atracados com segurança no embarcadouro. Na maior parte do tempo, era divertido ter um amigo comigo, mas, numa tempestade, eu sabia que o garoto não ajudaria muito. Outras vezes, contudo, meu pai chegava do trabalho e saíamos juntos. Quando eu velejava com meu pai, buscava as formações de nuvens e tinha a esperança de encontrarmos bastante vento. Eu amava sentir os ventos fortes e as enormes ondas! Papai havia velejado no Oceano Atlântico. Suportara velejar cinco dias em meio a um tufão. Era um veterano, e eu estava confiante de que seria capaz de enfrentar qualquer coisa que o lago Michigan pudesse aprontar convosco. Tudo mudava quando meu pai estava a bordo.

O Deus que Você Procura 39 Podermos ter maior confiança ainda em nosso Pai celestial. Quando você começa a conhecer o Deus onisciente, desenvolve uma confiança sobrenatural, mesmo durante as tempestades da vida. A onipresença de Deus é um negócio poderoso. Ela transforma pessoas comuns em pessoas extraordinárias, fracos em fortes, inseguros em modelos de confiança e coragem. Não há muito o que você não possa realizar ou suportar se sabe que Deus está caminhando ao seu lado. É só lembrar: alguém sabe e alguém se importa. Falei antes da necessidade de uma "revolução". Mas o que quero dizer é que está mais do que na hora de declarar guerra à sua ignorância sobre a identidade de Deus. Sua falta de conhecimento provavelmente já o manteve derrotado e temeroso por tempo demasiadamente longo. Está na hora de irromper das limitações que você mesmo se impôs e se tornar a pessoa que você é capaz de ser. A onisciência de Deus é apenas um dos "espantosos oni-'s". Se você recebeu incentivo e fortalecimento com ela, espere. Há muito mais pela frente. A revolução acabou de começar. Notas: 1. Ele conhece as ordenanças do céu (Jó 38:53), a razão e o curso do sol e da lua (Sl. 104:19) e o equilíbrio das nuvens (Jó 37:16). 2. Mateus 10:29. 3. Mateus 10:30. 4. Salmos 139:2. 5. Salmos 56:8 (BV). 6. Mateus 6:4.

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE ESTEJA SEMPRE PRESENTE QUANDO VOCÊ PRECISA DELE? – Papai? Uma mãozinha bateu de leve na minha testa. Abri os olhos, que por ocaso estavam voltados na exata direção do relógio digital de nosso quarto. 2h45... ... Da madrugada, a julgar pelo estado da minha cabeça: anuviada. – O que é, Todd? – Preciso ir ao banheiro. Todd tinha apenas cinco anos de idade na ocasião. – Ótimo, Todd. Obrigado por me manter informado Pode ir. O banheiro era no outro lado da casa – no fim de um corredor escuro. Quando se tem cinco anos, um corredor desses com mais de cinco quilômetros de comprimento, com diversos quartos nas laterais, nos quais monstros e animais selvagens estão apenas esperando que algum pobre garotinho passe por ali. Obedientemente, Todd saiu pela porta arrastando os pés, deu alguns passos ao longo do corredor e percebeu que o corredor ia ficando cada vez mais escuro à medida que caminhava. E o que era aquele barulho? E aquilo, era uma sombra ou algo que se movia? Ele voltou rapidamente. Era possível ouvir os pés se afastando. – Papai? – Sim, Todd? – Por que você não vem comigo? – Obrigado pelo convite, Todd, mas, não sei por quê, estou cansado. Pode ir sozinho. Não quero atrapalhá-lo. Arrasta que arrasta. Pára, volta. Arrasta de volta. – Papaaaaai? – Sim Todd? – Acho que você tinha que ir comigo.

O Deus que Você Procura 41 – Você está com medo? - Nãããão. Só quero que você vá comigo, papai, só quero que você vá comigo. – Tudo bem. Saltei da cama, e andamos juntos pelo corredor. Não sei qual é o seu corredor longo e escuro neste momento. Talvez você esteja embarcando numa nova oportunidade de negócios. Se der tudo certo, todos os seus sonhos se concretizarão. Se pisar na bola... bem, perderá as economias, o carro, a casa, tudo. Talvez você esteia enfrentando uma ação judicial. Talvez esteja apavorada com a idéia de trazer um bebezinho recém-nascido para casa ou ver o filho mais novo partir para a faculdade. Talvez esteja sendo forçado a caminhar pol aquele longo corredor escuro do desemprego, de um tratamento médico experimental ou de um relacionamento familiar decepcionante. Seja qual for o seu corredor, do que você precisa mais do que qualquer outra coisa? De alguém que esteja sempre ao seu lado.

Alguém que está sempre presente Pense comigo na abertura do Campeonato Nacional de Futebol* de 1996, nos Estados Unidos. O Dallas Cowboys marcou um momento histórico quando um dos seus jogadores, Deion Sanders, fez algo que raramente se faz desde os primórdios do futebol profissional. Começou a jogar tanto na defesa quanto no ataque, muitas vezes registrando mais de cem jogadas na mesma partida. Ela uma coisa incrível de observar. Em uma jogada, no terceiro jogo da temporada, Deion chegou a limpar a frente numa corrida e parar atrás da linha da defesa oposta. Quando o Dallas conseguiu a bola de *

N. R.: Chamado, no Brasil, de futebol americano, para diferençar do nosso futebol, que nos QUE chama-se SOCCER.

O Deus que Você Procura 42 novo, ele se tornou subitamente uma profunda ameaça para uma longa passada de bola do zagueiro Troy Aikman. "Ele está por toda a parte, amigos! Está por todo o campo!", afirmaram os locutores. Ora, na realidade Deion não estava por toda a parte. Se você saísse da arquibancada pala comprar um cachorro-quente, não o encontraria atendendo na barraquinha. Se tivesse de sair do estádio cedo, Deion não estaria controlando o trânsito. Mas, em linguagem hiperbólica, o locutor estava transmitindo a idéia de que Deion estava percorrendo uma extensão incrível de território – algo que os fãs do futebol não tinham visto havia anos. Que relação há entre Deion Sanders e o longo corredor escuro por onde você está passando? Simplesmente: esta. Quando falamos sobre a onipresença de Deus, não estamos usando a linguagem hiperbólica de um locutor. A onipresença de Deus é onipresença mesmo – onde quer que você esteia, Deus está. Seja qual foi o corredor em que se encontre – não importa quão longo, escuro ou apavorante –, Deus está bem ali com você. E essa é unta informação extremamente importante quando você estiver enfrentando seu longo corredor escuro. Mas, pol algum motivo, essa é uma verdade muito difícil de aceitar. Talvez por vivermos na era dos chips de computador, achemos fácil imaginar Deus um ser que tudo sabe (onisciente). Afinal, as histórias de ficção científica estão cheias de supercomputadores que governam o universo. Não é lá tão difícil crermos que algo – ou alguém – consiga de fato conter todo o conhecimento do mundo. Mias a onipresença – o conceito de que Deus está em toda parte – é um pouco mais difícil de apreender. É algo que nem mesmo um supercomputador pode realizar. O que, exatamente, significa? A Bíblia diz que Deus é Espírito; assim, estritamente falando, ele não habita no espaço tridimensional que ocupamos.1 Sua presença está em toda parte, mas não a sua essência (isso seria a heresia conhecida

O Deus que Você Procura 43 como panteísmo). Deus não está menos presente em uma parte do universo do que em qualquer outra E não está mais presente em qualquer outra parte do que onde você se encontra neste momento. Em outras palavras, qualquer pessoa, em qualquer parte do universo, poderia dizer: "O senhor está neste lugar". Onde quer que você esteja neste momento Deus está também. Certa vez, perto da meia-noite, eu me encontrava num avião particular, voando sobre os milharais do estado de Iowa. Raios riscavam o céu em vários lugares ao longo do horizonte, e, depois de faiscarem, a iluminação temporária que produziam fazia com que a densa escuridão parecesse muito mais negra. Éramos apenas eu, a tempestade e uma fuselagem metálica – e um grande Deus sempre presente. Mas, lembrome bem, não tive medo, sentia uma confiança, uma tranqüilidade que me garantia: "o Senhor está neste lugar". Um senhor da minha igreja velejou quase: 4 mil quilômetros do Havaí a São Francisco, na Califórnia. Certa noite, quando umas ondas de catorze metros elevavam seu barco à altura de um prédio de alguns andares, ele pôde ser grandemente confortado por este fato: "O Senhor está neste lugar". Quando os astronautas da Apolo 13 ficaram presos na nave espacial avariada, revirando em torno da lua para chegar a uma órbita que os trouxesse de volta à terra, podiam, tivessem ou não consciência disso, confiar no mesmo fato: "O Senhor está aqui neste lugar". Claro que nem todos acreditam nisso. Aliás, alguns anos atrás, houve uns cosmonautas russos que viajaram pelo espaço e, ao retornarem, declararam ao povo russo: "Fomos ao espaço e não vimos Deus. Ele não está lá forra". Eles podiam ser pilotos competentes, mas, como cientistas, eram amadores. Seja que alguém se lembrou de lhes perguntar: "Acaso vocês 'viram' o vento solar? E a gravidade? Não, não viram? Então acho que também não existem".

O Deus que Você Procura 44 Atrás da lua, atrás da parede da sala de reuniões, atrás da porta do seu quarto – não importa. Deus está ali. A Bíblia ensina que Deus é um Deus "sempre presente em toda parte". E, se para você, isso não passa de uma distinção técnica da teologia, sem importância e sem utilidade para ninguém, espere até examinar as implicações.

Mais do que alguém que perdoa – um amigo Minha criação ressaltava a transcendência de Deus. Eu pensava nele de uma perspectiva elevada, considerando-o sobretudo distante e pertencente a um mundo que não era o meu – tanto que às vezes ele parecia estar bem longe de onde eu me encontrava. Eu compreendia o que era temer a Deus e sabia quanto era importante servi-lo. Sabia que algum dia eu enfrentaria seu julgamento, e assim precisava aprender a obedecer-lhe. Mas, com tudo isso, havia algo que fazia enorme falta. Percebi isso quando, sentado no fundo de uma sala de aula na faculdade certo dia, ouvi um dos meus professores, o Dr. Gilbert Bilizikian, falar sobre seu relacionamento com Jesus Cristo. O Dr. B., como era afetuosamente conhecido, falou como se tivesse acabado de almoçar corri Jesus. Sempre que se referia a ele, aliás, fazia-me lembrar da maneira como as pessoas falam de seus amigos mais alegados – como se a gente pudesse simplesmente caminhar e conversar com Jesus. Eu havia estudado com esse professor o tempo suficiente para saber que ele tinha um conceito devidamente elevado e exaltado de Deus, mas o que me intrigou foi sua capacidade fantástica de se relacionar com Deus de uma forma quase de irmão para irmão. Eu queria isso mais do que qualquer outra coisa, por isso um dia permaneci na saia depois da aula para perguntar-lhe sem cerimônia: – Como o senhor conhece Cristo de maneira tão pessoal e eu não? Ele parou e olhou para mim, depois disse algo que me pegou de surpresa:

O Deus que Você Procura 45 – Talvez você compreenda Jesus apenas como aquele que perdoa seus pecados. Ao pensar sobre aquilo, vi que tinha razão. Eu pedira a Jesus que perdoasse meus pecados. Havia assumido o compromisso de fazer de Jesus o líder da minha vida. Mas ninguém havia falado comigo sobre o papel que Jesus mais cobiça: o de ser meu amigo.2 E é aqui que reside a noticia mais impressionante do cristianismo: Deus não só existe – outras religiões ensinam isso. Mas Deus anseia veementemente por ter um relacionamento amoroso com as pessoas que criou. À primeira vista, isso talvez pareça não significar muito para você, mas é um fato que mudou minha vida. Posso dividir minha jornada espiritual em duas fases: a primeira, quando eu pensava em Deus sem pensar em relacionamento com ele; e a segunda, quando comecei a conhecê-lo e a relacionar-me com ele de maneira mais íntima.

O cristianismo executivo Para mim, foi fácil crer na existência de Deus. Quando eu era garoto, ninguém que eu conhecesse ou respeitasse questionava a existência de Deus – ou, pelo menos, se questionava, não admitia. Mas meu conceito de Deus era unidimensional. Eu o via como o "Superintendente do Universo". O cristianismo, pensava eu, dizia respeito a aprender a lista de deveres e de proibições que o Superintendente havia estabelecido. Era bem claro para mim que havia conseqüências e recompensas associadas ao cumprimento do programa do Superintendente para o mundo. O que se exigia de mim eram as mesmas duas coisas exigidas da maioria dos empregados: comparecer e desempenhar. Assim, eu ia à igreja com a família e tentava, da melhor forma possível, seguir e obedecer ao projeto do Superintendente. De muitas formas, você verá que o "cristianismo executivo" se assemelha admiravelmente às principais religiões do mundo, como o

O Deus que Você Procura 46 islamismo, o budismo e o hinduísmo. Elas também têm uma dinâmica impessoal com sua deidade, completamente destituída de sentimentos de ternura. Há crenças que devem estar na ponta da língua, códigos que precisam ser seguidos e rituais de que é necessário participar; além disso, no final do dia, toda boa ação é acrescentada no lado positivo da folha de pontos, e todo passo errado leva a uma subtração – e, com um pouco de sorte, você acaba sentindo-se bem consigo mesmo. Essas religiões tendem a sublinhar duas coisas: crença e desempenho. O que lhes falta é o que torna o cristianismo tão diferente: a conscientização de que Deus tem um afeto genuíno e ardente por nós e nos convida a abrir o coração a esse amor, amando-o também com profunda sinceridade. Antes de o Dr. B, desafiar a minha compreensão limitada de Deus, eu estava cumprindo toda a prática do cristianismo, mas faltava-me aquele tipo de brilho que marca a pessoa que alegou a conhecer Jesus como amigo. Minha fé tinha muita mente e pouco coração. Assim, nos próximos meses e anos, comecei a refletir sobre o fato de que nosso Deus amoroso está sempre presente – em toda conversa, em todo relacionamento, em todo momento aparentemente solitário.

O cristianismo cristocêntrico Vamos encarar a verdade. Somos todos seres que se relacionam. Deus nos criou para nos desenvolvermos nas amizades. As crianças de apenas três anos de idade começam a pedir aos pais: "O Joãozinho pode dormir aqui em casal?", os adolescentes ficam obcecados por encontrar "aquela pessoa". Adultos de meia-ida de gostam de sair juntos para jantar. E poucas coisas produzem um sorriso no rosto de um ancião mais do que a presença dos netos ou de um amigo de longa data. Os pensadores sinceros, entretanto, compreendem que nem mesmo o melhor dos amigos pode satisfazer aquele anseio supremo de amizade que temos. Se você de alguma forma está em contato com seus

O Deus que Você Procura 47 sentimentos, sabe que tem um anseio por conhecer um companheiro no sentido supremo da palavra. Mas talvez esse reconhecimento tenha sido uma mistura de doçura e de amargor. Você está consciente de que nem mesmo os melhores amigos podem estar ao seu lado o tempo todo. Amigos de longa data ainda se mudam para longe ou morrem. O mais compreensivo dos amigos não pode compreender sempre aquilo por que você está passando. E mesmo o amigo em quem você mais confia nem sempre se mostra digno dessa confiança. Ora, pergunta você, que tipo de Deus nos faria ansiar por relacionamentos significativos e depois nos privar exatamente disso? A essa pergunta, Deus sorri e responde. "Quero, sim, que você tenha esse anseio, e já supri uma maneira de satisfazer sua necessidade. Ofereço-me a mim. Eu sou o companheiro supremo". Essa realidade – a de que Deus é um amigo sempre presente – marcou minha vida desde que estudei com o Dr. B., e, no instante deste capítulo, tratarei da diferença que o Deus onipresente pode fazer em sua vida também. A primeira coisa que descobri ao contemplar a presença de Deus foi uma maneira radicalmente nova de encarar as minhas escolhas morais.

Com os olhos para o alto A Bíblia diz que Moisés viu um egípcio maltratando um israelita brutalmente, além do que podia suportar. Assim, olhou para a esquerda. Depois pala a direita não viu ninguém – e assassinou o egípcio, enterrando-o na areia. O que levou Moisés a crer que poderia escapar às conseqüências do homicídio? Enganou-se pensando que não havia testemunhas. Olhou pala todos os lados, menos para cima. É isso o que acontece quando vivemos sem estarmos cientes da presença de Deus e sem a percebermos. A hipocrisia nasce da

O Deus que Você Procura 48 "compartimentalizacão" – deixamos Deus na igreja e pensamos que ele não nos acompanha no decorrer da semana. Um quadro semelhante se passou com o se passou conforme registrado em 2 Samuel. Enquanto o marido de Bate-Seba estava ausente, lutando na guerra, Davi viu essa linda mulher tomar banho. Em questão de momentos, sua bússola moral rodopiou descontrolada, e ele a levou para a cama. Depois, quando ela engravidou e Davi temeu ser "pego", planejou para que o marido fosse morto na batalha. O que Davi pensou? Ninguém sabe o que acontece a portas fechadas? Errado! Deus enviou um profeta para esclarecê-lo, e talvez tenha sido após essa experiência que Davi escreveu: "Para onde me irei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face?".3 Um quarto de hotel afastado? Um bar logo adiante na rua quando você está numa viagem de negócios? Não foi isso que Davi descobriu. Se subir ao céu, tu ai estás; se fizer nas profundezas a minha cama, tu ali também estás.4

Davi descobriu que não havia lugar algum para onde pudesse fugir da presença de Deus. Você também entende assim? Estamos dirigindo o carro. A velocidade permitida é de míseros 90 quilômetros por hora. Sabemos que em Romanos 13 e em outros textos Deus nos ordena a obediência às leis civis. Mas uma importante reunião de negócios começa em dez minutos e estamos a vinte minutos de distância. O que fazemos? Não raro, olhamos para a esquerda, olhamos para a direita, damos uma olhada no radar – e então consideramos o limite de velocidade uma simples teoria para o outro. Raciocinamos: "Nenhum sinal de vigilância. Ninguém vai ver mesmo". Deus vê. "... a noite será luz à roda de mim".5 Se levarmos a vida sem o profundo entendimento da onipresença de Deus, criamos uma ilusão após outra. Começamos a pensar: Ninguém

O Deus que Você Procura 49 testemunha como "eu disfarço a verdade" no meu escritório com um cliente – as pessoas apenas me ouvem cantar junto com todos os outros domingo de manhã. Ou: Ninguém testemunha quando surrupio ou "tomo emprestado" canetas e blocos de anotações da companhia – as pessoas apenas me vêem solicitando doações para a cesta básica. Ninguém testemunha minha bebedeira das 11 da noite – as pessoas apenas me vêem as doses moderadas que tomo quando saio para jantar. Ninguém sabe quando ergo a voz para o meu cônjuge ou para os meus filhos – tudo o que as pessoas ouvem é como eu oro bem na igreja. Ninguém vê o negócio ilegal que estou fazendo – as pessoas vêem apenas o cheque dobrado que deposito na salva. Alguns de vocês estão pensando: Detesto isso! Deus é como o Irmão Mais Velho, espiando o tempo todo, pronto para me pegar se eu fizer algo errado. Nada disso. Deus não fica pairando sobre nós para nos acusar. Faz isso para melhorar nossa vida. Ele diz: "Olhe, quero fazer com que assuma a responsabilidade. Quero que saiba que nunca vai lograr-me; portanto, desista desses joguinhos bobos e vamos em frente". A primeira implicação da onipresença de Deus, então, é que jamais devemos fazer de conta que não há testemunhas por perto. Foi essa implicação que prendeu a atenção de Davi. A outra fez o coração dele explodir de alegria.

A mão de amor Quando Davi percebe que nunca deixará de haver testemunhas, transborda de alegria. Salmos 139:7-12 quase pode ser resumido assim: "'Deus é tão extraordinário e eu sou tão importante para ele que, se por algum motivo doido eu resolvesse fugir dele seria burrice, mas digamos apenas que eu tivesse tentado –, não conseguiria. Deus não permitiria. Jamais estarei fora de seu alcance".

O Deus que Você Procura 50 No versículo 8, parafraseado, Davi diz: "Suponhamos que eu tivesse subido ou descido infinitamente. Deus estaria lá. Suponhamos ainda que eu saia velejando para o leste e continue indefinidamente...". Deus estaria lá. Mas os versículos 9 e 10 nos levam para um âmbito de consolo ainda maior. Davi reconhece que a presença de Deus não está conosco de maneira fria, calculista. Sua presença é calorosa, convidativa e tranqüilizadora. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, ainda ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.

Onde quer que eu vá, diz Davi, posso sentir a mão de Deus. Esse toque paternal, tranqüilizador está à disposição de todo aquele que crê. Há muitos anos, nossa família foi ao Disney World. Nosso filho Todd tinha seis anos de idade na época, idade em que os garotos gostam de parecer mais corajosos do que de fato são. Parados do lado de fora da casa mal-assombrada, perguntei, como quem não quer nada: – Todd; quer segurar minha mão enquanto a gente estiver lá dentro? – Nããão. – Tem certeza? – Claro que sim. – Tudo bem. Só para garantir, deixei minha mão perto da dele. Três passos depois de entrarmos na casa, paft! As duas mãos de Todd apertaram a minha e a agarraram com força. Não puxei a mão, nem Deus faria isso. A mão dele está sempre à disposição. Ele jamais vai tirá-la; você poderá segurá-la toda vez que estiver com medo. No salmo 34, Davi revive esse tema com um toque a mais: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito".6 Uma jovem família de nossa igreja descobriu a realidade dessa verdade quando passou por uma das riais horríveis experiências que se

O Deus que Você Procura 51 possam imaginar. A filhinha de dez meses – a primeira – conseguiu pegar um polidor de móveis e acidentalmente o derramou sobre si, fazendo com que seus pulmões se enchessem das exalações tóxicas. Os pais agiram imediatamente. O pai agarrou as chaves, a mãe pegou a criança e, após trocar rapidamente a roupa da menina, correram com ela para o hospital. No caminho, enquanto a mãe segurava sua filhinha preciosa nos braços, sentiu que ela amolecia. Você consegue imaginar uma sensação mais apavorante? Lá dentro do hospital, as enfermeiras e os médicos entraram em ação com eficiência tranqüilizadora, mas também assustadora. A criança quase morta foi tirada dos braços da mãe e levada às pressas para um centro de terapia intensiva. E então, depois de uma atividade tão enervante, tudo o que os pais podiam fazer era esperar. Contudo, o jovem casal contou-me depois: "Enquanto estávamos na sala de espera e nossa única filha sob terapia intensiva, sabíamos que o Senhor estava conosco. Podíamos com certeza sentir a sua presença". Graças a Deus, a garotinha se recuperou milagrosamente. Os pais dela são testemunhas de que você nunca precisa passar por uma aflição sem sentir também a presença de Deus. Se você já aceitou a Cristo, terá sempre a opção de um amigo presente. Não precisa fazer um telefonema interurbano. Ele estará com você a cada passo do caminho. "Mas, como?", você talvez esteja perguntando. "Como posso sentir a presença dele quando às vezes a única coisa que sinto é seu silêncio e distância?" É uma boa pergunta. que todos nos fazemos – sobretudo nos assaltos do medo. Certo psicólogo disse que os únicos dois grupos de pessoas que estão livres do medo são os mortos e os loucos. Assim, passemos alguns momentos descobrindo como Deus nos dá a sua presença em meio aos nossos temores.

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Livres do medo Todos enfrentamos temores, não é? Há os terrores "irritantes": Será que a ceia de Natal vai dar certo? O cliente assinala contrato por mais um ano? Será que conseguiremos pagar as prestações da nossa casa e comprar um carro novo este ano? E depois há os temores "prementes", os não tão facilmente administrados ou engavetados. São esses os terrores nos quais o nosso barco começa a inundar. Começa a correr pela companhia um boato de que haverá demissões em massa. Um filho começa a se comportar de forma estranha na escola. O médico quer que façamos mais alguns exames – ele vê algo que o preocupa e quer descobrir o que é, o cônjuge começa a apresentar desculpas esfarrapadas para ausências cada vez mais prolongadas, e você começa a ficar cismado. Os temores prementes causam um leve pânico. E, se continuarmos a nos preocupar com eles, dissipam nossa energia e nos levam a um comportamento autodestrutivo. Mais do que qualquer outra coisa, são simplesmente exaustivos, e tudo o que desejamos é que desapareçam – mas, na maioria dos casos, pioram e se tornam "paralisadores". Temores paralisadores são os que contorcem as entranhas, produzem pânico e a sensação de que "vou morrer". Vislumbrei esse tipo de medo quando nossa igreja estava na fase inicial da construção da nova galeria. Não sei como, um membro da nossa equipe me fez subir à galeria inacabada para dar uma olhada na construção. Resolvi bancar o malabarista, caminhando (sem rede) sobre uma viga de 25 centímetros de largura por cerca de trinta metros de comprimento acima de um vão de dez metros! Ir foi fácil, mas, quando comecei a voltar, vi o membro da equipe que me havia feito ir lá se apavorar e começar a engatinhar sobre a viga! Ele provavelmente olhou para baixo e percebeu a que distância estava do chão. Eu estava decidido a mostrar-lhe que, mesmo que ele perdesse a coragem, eu não perderia a minha. Assim, continuei caminhando –

O Deus que Você Procura 53 porém a mais ou menos dois terços da volta, comecei a perder o equilíbrio. Ora, eu tenho uma cabeça bem dura, mas naqueles momentos sufocantes de terror absoluto, eu sabia que uma queda de dez metros sobre concreto podia ser um pouco demais – mesmo para um crânio tão espesso quanto o meu. Era a primeira vez que sentia um terror tão absoluto, e a sensação foi muito desagradável. A gente gela, a garganta seca, a pulsação dispara, as mãos ficam molhadas e a mente rodopia à medida que as náuseas começam a dominar. Graças a Deus, me refiz e completei a caminhada. (Beijei o chão quando desci!) Após um banho e uma troca de roupas, senti-me normal de novo e terminei as tarefas do dia. Mas não tenho a menor intenção de repetir aquela exibição de burrice. Algumas pessoas com regularidade experimentam esse medo que produz pânico. Tudo que precisam fazer para escapar ao meu medo foi descer da viga, mas talvez você esteja sobre um precipício que dá a impressão de que vai durar para sempre. Identifico-me de coração com você. Unta coisa é caminhar sobre uma viga a dez metros do chão, mas outra bem diferente é viajar por uma estrada solitária no vale da sombra da morte. O que fazer então? A presença de Deus está com você mas você tem de fazer a escolha de crer – e estou falando em crer mesmo – que isso é verdade. Essa decisão consciente é só você que pode tomar. Quando o pânico se instaura, precisa perguntar a si mesmo: Vou confiar na presença consoladora de Deus? Reconhecerei sua realidade onipresente? Permitirei que fortaleça minha alma? Ou crerei numa mentira e exclamarei, como tantos: "Não estás perto? Não te importas comigo, não é mesmo, Deus?". Uma das principais missões de Deus é livrar-nos das amarras debilitadoras do medo e da ansiedade. O coração de Deus fica partido quando nos vê tão desmoralizados e subjugados pelo medo.

O Deus que Você Procura 54 A próxima vez em que o temor se elevar, relembre a si mesmo: "o Senhor está neste lugar". Esse é o primeiro passo. Experimente repetir isso, vez após vez, até que essa verdade comece a consolá-lo. "O Senhor está neste lugar." "O Senhor está neste lugar." Em seguida, segundo o que nos sugere Davi em Salmos 62:8 "... derramai perante ele o vosso coração...". Quando você tiver reconhecido a presença de Deus, não precisará fingir que sente o que não sente: portanto, diga-lhe exatamente o que está-se passando em seu intimo. Você pode chorar, gemer, gritar, se preciso. Depois, clame a Deus. A oração em si pode dissipar o medo. Sei que isso parece desafiar a compreensão humana, mas também sei que é uma verdade. Funciona. Experimente e verá. A Bíblia promete um espírito de paz que excede a todo o entendimento no momento em que clamamos a Deus. Essa paz – que não podemos explicar facilmente – encontra uma janela em nosso espírito e começa a introduzir uma calma bem-vinda. Por fim, quando oral a respeito de determinado temor, você precisará aprender a entregar a Deus o problema que produz o medo. Não desperdice todo o seu tempo contando a Deus o problema. Ele já sabe tudo a respeito. Em vez disso, concentre suas energias em entregarlhe o problema. Uma coisa que me ajuda é escrever minhas orações à mão. Uma anotação poderia ser mais ou menos assim: "Aqui, neste momento, na tua presença, Deus, recuso-me a peregrinar pelos desertos do medo. Não imaginarei o pior que possa acontecer, não inventarei pesadelos, não viverei dessa forma hoje. Estou fazendo a escolha deliberada de caminhar pela fé. Como diz a tua palavra, lançarei sobre o Senhor todos os meus cuidados". Se as dúvidas continuarem a surgir, volte e leia o Salmo 139. Peça a Deus que faça da experiência de Davi a sua experiência. Relembre a si mesmo de que Deus está presente, e sua mão, estendida. Agarre-se a ela.

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Pare! Sei que alguns de vocês estão só "dando uma passada de olhos" nestas palavras. Você mal pode esperar para voltar e mergulhar de novo nos seus negócios, jogar urna partida de golfe ou alugar um filme. Acha que o fim deste capitulo é a permissão para se "esquecer de Deus por algum tempo" e voltar ao mundo real. Você está ocupado com todas as pressões do mundo que o cerca, mas nessa atividade intensa está perdendo o elemento mais importante de todos – a presença contínua de Deus que está à sua disposição. Por favor, por apenas um minuto, desligue tudo. Pare um pouco. Delicie-se com o fato de que não tem de caminhar a sós. Deus está bem aí, e tudo o que você precisa fazer é estender-lhe a mão. Notas: 1. João 4:24. 2. João 15:15. 3. Salmos 139:7. 4. Salmos 139:8. 5. Salmos 139:11. 6. Salmos 34:18.

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE ESTEJA NO CONTROLE? Quatro horas antes da meia-noite, o trem urbano arrasta-se barulhento para dentro da estação. Com um sacolejar, ele pára abruptamente. De baixo vem aquele vapor, o calor da máquina e os freios misturando-se ao ar frio de Chicago. Na hora certa, as portas deslizam, abrindo-se, e uma multidão sai aos empurrões. Muitas dessas pessoas saltavam para o mesmo trem doze, treze horas antes, com aparência descansada, a barba feita, bem penteadas e cheias de vida. Agora, vagueiam pol ali como criaturas semihumanóides, abatidas, meio atordoadas. As buzinas soam e os cônjuges acenam quando vêem os queridos preparar-se para apanhá-los – apanhar a estes, que um dia aqueles viram como as pessoas dos seus sonhos. Percebo que um senhor apenas fica parado e olha fixamente ao reconhecer o carro da esposa. Tenho a impressão de que ele está pensando: Não buzine para mim. Apenas me deixe perambular por aqui, esquecido de tudo por um pouco de tempo. Ele começa a se mover, forçando o corpo em direção ao carro, e finalmente abre a porta e se deixa cair no banco do passageiro. Posso enxergar o resto da noite. Ao entrar em casa, ele joga o casaco sobre uma poltrona, desaba no sofá da sala de estar e apanha o controle remoto. Se for crente, talvez ore algo como: "Deus, ouço dizer que o Senhor é um Deus onipotente. Ouço dizer que o Senhor está disposto a inundar minha vida com sua energia cósmica, transformadora. Mas neste momento me contentaria com um Valium e a reprise de algum filme no último horário da noite". Encontro muita gente que se sente "surrada" pela vida. Algumas das pessoas com quem converso sentem-se vítimas das circunstâncias. As obrigações que têm para com a família as prendem a um emprego que mal conseguem tolerar – e isso num dia bom. Outros se sentem como prisioneiros de suas falhas de caráter, maus hábitos e vícios.

O Deus que Você Procura 57 Em suma, muitos de nós atravessam a vida sentindo-se impotentes. Muito de vez em quando – talvez no dia de ano novo – tomamos a decisão de mudar. Lemos um livro sobre regime e exercício que nos deixa animados. Olhamos as fotos e sonhamos em ter um corpo que não afrouxa em todos os lugares errados. Assim, saímos e compramos um moletom para correr. Enquanto estamos no shopping, compramos uma panela chinesa porque só vamos comer legumes daqui para a frente. A seguir, paramos na loja de vitaminas e compramos um exemplar da revista Boa Forma. Assinamos um plano da academia de ginástica ao voltar para casa. Sim, senhor, em dois meses ninguém nos reconhecerá. Vamos ter de comprar um guarda-roupa novinho em folha. Quando o carnaval vai chegando, damos de cara com a roupa de corrida – no fundo do guarda-roupa. A panela chinesa, lembramo-nos, está na garagem. (Precisávamos de alguma coisa para aparar o óleo que vazava do carro.) As revistas de boa forma estão enterradas sob o suprimento de um mês do jornal da cidade. Quando vamos devolver as chaves do vestiário da academia de ginástica, a recepcionista pergunta: "Tem certeza de que está matriculado? Acho que nunca o vi". Sentimo-nos tão culpados, que resolvemos parar numa lanchonete ao voltar para casa e afogar nossos sentimentos de derrota num milkshake de chocolate. Ou – quem sabe? – resolvemos certo domingo que vamos começar a controlar a raiva. Talvez a mensagem do pastor tenha mesmo tocado nosso coração, e estamos decididos que aquele homem zangado ou aquela mulher zangada que nossos filhos vieram a conhecer logo desaparecerá para sempre. Vamos à livraria e compramos um exemplar do livro Gerente em um minuto e seguimos as diretrizes que nos ajudarão a controlar nosso gênio no trabalho. Prendemos um elástico em torno do pulso para nos lembrar de ter pensamentos positivos. E pregamos dizeres inspiradores por todo o nosso compartimento. Em casa, usamos ímãs para prender

O Deus que Você Procura 58 dizeres semelhantes na porta da geladeira. Por três dias, nós saímos maravilhosamente bem, mas na quinta-feira, logo antes de deixarmos o escritório, o chefe nos passa uma carraspana. Vamos embora de mau humor, e descobrimos que as crianças entraram na casa com os pés sujos de lama, e alguém se esqueceu de lavar as roupas. Dentro de segundos suspiramos desesperados quando o antigo e conhecido berro nos escapa da garganta. Nossa raiva nunca morreu, apenas tirou umas feriazinhas. Quer sejamos daqueles que gostariam de ser mais atléticos; quer viciados em automelhoramentos periódicos, o quadro é sempre o mesmo. Numa noite, bem tarde, nos arrastamos até a cozinha, desabamos sobre unia cadeira, deitamos a cabeça nas mãos e fitamos a mesa, confusos. "Admite, vai", sussurramos para nós mesmos, "você é um fraco". Depois, erguemos a cabeça e fazemos uma careta. "Detesto isso", dizemos, "detesto ser uma pessoa impotente, incapaz". Sempre que falo publicamente sobre o poder ilimitado de Deus – a onipotência de Deus –, tenho plena consciência das experiências dolorosas daqueles que me ouvem. Quando mostro o desejo que Deus tem de ativar a vida humana como um todo – de dotar a cada crente com uma porção de poder –, minhas palavras muitas vezes se perdem no desespero e no alarido da derrota constante. Esses sentimentos de incapacidade e de desesperança sugam de nós toda a energia. Em vez de nos regozijar pela amanhã com um "Ó Deus, é bom estar vivo!", encolhemo-nos, gememos e resmungamos: "Ai, não, quantas vezes vou pisar na bola hoje?". Alguns de nós prefeririam ficar na cama. O dia todo, em vez de andar com a confiança que Deus planeja para nós, saímos mancando, encolhidos, temendo o pior. É assim com você? Se é, acompanhe-me. Você vai aprender uma das verdades mais vivificantes, encorajadoras e espantosas a respeito de Deus: seu poder é ilimitado e ele deseja reparti-lo com você abundantemente!

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Que tipo de poder? Certo dia, um grande líder e profeta do Antigo Testamento foi dominado pelo desânimo, o que não seria de admirar. Ele não apenas tivera um dia ruim, uma semana ruim e um mês ruim, mas parecia inteiramente fadado a toda uma vida de desgraça. Seu corpo cheirava mal, o cabelo estava infestado de piolhos. Os músculos estavam tensos e doloridos pelo confinamento numa cela de prisão, úmida, escura e opressiva. Seu nome se tornara alvo de todas as piadas contadas por seus concidadãos, e até mesmo Deus parecia estar contra ele. Quando Jeremias começou a dar lugar à autopiedade, Deus o interrompeu e disse: "Eis que eu sou o SENHOR, o Deus de todos os viventes; acaso, haveria cousa demasiadamente maravilhosa para mim?".1 Permita-me parafrasear, de maneira bem tosca, o que acredito que Deus estava dizendo a Jeremias: "Olhe, Jeremias! Sei que você acredita em mim, mas seja franco você acha que, por estar na prisão e por ser alvo das piadas de todos, perdi a minha força. Você está encrencado e, como ainda não fiz nada quanto a isso, presume que estou sem nenhum poder. Mas estou falando com você agora, Jeremias, para lembrar-lhe que nada – nada – é difícil demais para mim. Entendeu?". Tudo o que Jeremias precisava fazer era sentar-se e meditar sobre o que Deus já havia feito. Pense um pouco. Que tipo de poder é necessário para falar e fazer o universo existir? Que tipo de força alguém precisa ter para espalhar estrelas no espaço infinito? Quanto poder de explosão é preciso ter para acender o sol ou sustentar suas chamas? Que tipo de força bruta é necessária para empilhar montanhas até sete mil metros de altura no ar? Apenas uma força é capaz de realizar essa proEza: o poder de Deus. Ao longo da história, quando o povo de Deus se viu diante de situações impossíveis, lembrava a si mesmo do poder ilimitado de Deus. Até Jó foi consolado ao se lembrar de que: "Com a sua força fendeu o mar [...] Quem, pois, Entenderia o trovão do seu podEr?".2

O Deus que Você Procura 60 Como Jeremias e Jó, às vezes precisamos de um pequeno lembrete do que Deus pode fazer, sobretudo quando as coisas não andam como gostaríamos. Em Salmos 115:3, o salmista mostra que Deus pode fazer qualquer coisa que lhe agrade. Essa é a essência da onipotência. Onipotente simplesmente significa "todo-poderoso". Deus nunca precisa pedir permissão. Seu poder e sua capacidade irrestritos, indescritíveis, infinitos não encontram delimitações. Por sinal, certa vez ele arranjou um encontro entre Moisés e Faraó para demonstrar seu poder: "Mas deveras para isto te mantive, para te mostrar o meu poder...".3 Quando Deus quis certificar-se de que Israel o seguiria, o que fez? Revelou seu poder abrindo as águas do Mar Vermelho. Queria que os israelitas vissem Exatamente a quem estavam seguindo e a quem estavam sendo chamados a se submeter: "E quando Israel viu o grande poder que o Senhor mostrara aos egípcios, o povo temeu ao Senhor, e confiaram no Senhor e em Moisés, seu servo".4 Recentemente, alguns dos companheiros que velejam comigo acreditaram ter testemunhado esse poder quando meu veleiro entrou na regata de Milwaukee. Havíamos velejado o dia todo, e a regata havia chegado à competição final. Tínhamos de ganhar a última competição se quiséssemos ganhar a regata. Estávamos em terceiro lugar, entrando na última perna, quando o vento desapareceu. Cada barco apenas ficou ali, parado. Esperamos e esperamos até que uma nova rajada de vento veio soprando pelo lago. Houve queixos caídos quando as outras equipes viram aquele vento nos atingir primeiro. Nossas velas se enfunaram e nosso barco passou os dois que estavam à nossa frente, e acabamos vencendo a regata. Quando voltei ao ancoradouro, a maioria dos outros donos de barcos caiu matando em cima de mim. Eles sabem que sou pastor, por isso gritaram: – Injusto, injusto! Você tem algum comparsa! – Bem, vocês estavam orando? - brinquei com eles. – Todo o mundo no meu barco estava!

O Deus que Você Procura 61 Mesmo na brincadeira, a maioria das pessoas reconhece que Deus tem poder sobre os elementos – o vento, a chuva e os mares. Eclesiastes nos relembra: "Ninguém há que tenha domínio sobre o vento, para o reter...".5 O poder de Deus é algo que ele pode conceder segundo os seus propósitos. Quando Israel se desviava, ele dava poder aos seus inimigos para punir a nação. "Tornaram os filhos de Israel a fazer o que era mau aos olhos do Senhor. Então o Senhor fortaleceu a Eglom, rei dos moabitas, contra Israel, porque tinham feito o que era mau aos olhos do Senhor."6 Deus dava também esse poder a indivíduos. "Então o Espírito do Senhor se apossou dele [Sansão], de tal maneira que ele [...] rasgou [o leão] de alto a baixo, como quem rasga um cabrito..."7 Com a vinda do Espírito Santo depois da morte de Jesus, o poder de Deus foi derramado de forma nova e mais admirável ainda. Os apóstolos foram marcados por esse poder recém-descoberto, conforme registrado em Atos: "Os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus...".8 Qual era a fonte desse poder? Paulo explica que ele e os apóstolos buscavam o "poder da sua ressurreição".9 Ora, pense sobre isso um instante. Pense sobre o que a ressurreição fez por você e por mim. Pense em todas as vezes que você se sentiu impotente para lutar contra um pecado. Sim, aquele, o que você não quer que ninguém descubra. Embora tivesse vergonha dele, não importa quanto tentasse, continuou caindo, falhando e pisando na bola. Agora, acrescente a esse senso de impotência a derrota que você sente após todos os outros pecados que já cometeu – todas as vezes que você deixou uma palavra rude escapar de seus lábios, deu vazão ao seu mau humor, proferiu uma palavra maliciosa de fofoca – e some tudo isso. Bem desanimador, não é mesmo? Mas ainda não terminamos. Multiplique o poder necessário para vencer o pecado em sua vida pelo número de todas as pessoas que já viveram. Desde Adão e Eva, passando por Homero, Platão, Sócrates, Gêngis Kan, o rei Artur, John F.

O Deus que Você Procura 62 Kennedy e passando pelos bebês que estão nascendo no momento em que você lê estas palavras. Tome todo o pecado deles e some – não apenas os pecados que eles cometeram abertamente, mas também os pecados secretos que os mantinham prisioneiros e os frustravam, levando-os à derrota.Não se esqueça de juntar também os pecados de Adolf Hitler e de Idi Amin. E não deixe de fora os assassinos seriais, os viciados em drogas, os especuladores desonestos das bolsas – certifiquese de que todos sejam inseridos na equação. O poder para sair sozinho do seu pecado já parece improvável, mas a idéia de haver um poder espiritual suficiente para eliminar o poder estrangulador dos pecados de todas as pessoas parece exceder toda e qualquer compreensão. Bilhões e bilhões de pessoas não conseguiram, mesmo ao combinar seu poder, vencer a atração de todos esses pecados. Toda pessoa que viveu acrescentou à pilha, em vez de subtrair. Todos, isto é, exceto um. Esse é o poder da ressurreição de Jesus Cristo – um poder que conseguiria vencer toda falha espiritual, todo pecado, toda fraqueza, com um ato explosivo. Quando Cristo ressurgiu dos mortos, demonstrou suficiente poder para de fato arrebentar os muros da prisão do inferno e comprar de volta as almas que nele confiassem. Aquilo para o que somos impotentes na vida, Cristo foi poderoso o suficiente para realizar por todos os que viessem a crer. Assim, o poder de Deus se estende sobre o mundo físico e espiritual. É um poder que ultrapassa o que qualquer um de nós consegue imaginar. E, contudo, o que é mais impressionante, Deus está disposto e ansioso para partilhar seu poder conosco.

Força para os fracos Dou a Deus o meu aplauso por sua onipotência. Mas ele merece ser ovacionado de pé por não guardar para si esse poder. O fato, bom demais para acreditar, é que Deus fez uma escolha consciente, soberana de

O Deus que Você Procura 63 permitir que um homem fraco, abatido e exausto como eu compartilhe seu poder. Isaías 40:29-31 diz: Dá força ao cansado e multiplica o poder ao que não tem nenhum vigor. Até os jovens se cansam e se fatigam, e os jovens tropeçam e caem, mas os que esperam no Senhor renovarão as suas forças. Subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão, caminharão e não se fatigarão.

Anos a fio, senti exatamente o que muitos de vocês podem estar sentindo neste momento. Eu ficava incomodado quando ouvia alguém se erguer e exaltar a onipotência de Deus, alegando que ela poderia ter um efeito radical na vida das pessoas. "Ah, é?", eu queria perguntar-lhes. "Então, onde está a relação? Jamais duvidei da onipotência de Deus. Mas diga, por que há tantos cristãos sem fibra, fracos, derrotados? Se Deus tem o poder e quer canalizar esse poder para a vida das pessoas, e se todos queremos o poder, onde está o elo perdido?" Sem querer parecer presunçoso, acho que eu o encontrei. Após ter refletido sobre essa questão por quase vinte anos, estou pronto a tornar público algo que venho praticando na privacidade há um longo tempo. O elo perdido, numa palavra, é fé. Ora, sei que você já ouviu essa palavra antes; por isso, fique comigo enquanto explico como ela pode ser usada para traduzir o poder de Deus em nossa vida. Se você conhece bem a Escritura, sabe que é quase sempre necessário dar um passo de fé antes que o poder divino seja revelado. Considere um exemplo tirado de Êxodo 14. Após um livramento milagroso, Moisés está caminhando à frente da gentalha formada pelo bando de ex-escravos chamados israelitas. Em quatrocentos anos, nunca se organizaram em exército. Não têm uma única arma consigo. Não há nenhum líder militar também – nenhum general, nenhum major, nenhum capitão, nenhum tenente –, apenas um bando de trabalhadores braçais dando uma voltinha rumo ao deserto.

O Deus que Você Procura 64 Quando os israelitas atingiram as fronteiras do Egito, Faraó percebeu o que fizera quando os deixou sair. Sem os israelitas, quem vai fazer todo o trabalho degradante? Quem vai limpar os banheiros? Quem vai fazer tijolos sob o sol quente? Depressa, Faraó convoca seu exército bem-adestrado – carros de guerra, cavaleiros habilidosos e infantaria –, todos sob seu comando e prontos para trazer os israelitas de volta à escravidão. Enquanto o exército de Faraó ataca, Moisés olha ao seu redor e vê que está imprensado contra o mar vermelho. Ele deve estar pensando: Muito bem, Deus, o que estás aprontando? Ainda seguindo a orientação específica de Deus, Moisés continua a levar Israel até a beira da água. Não há nenhuma rota de escape. As pessoas que vão à frente já estão molhando os pés, e, se as que vão atrás não pararem de empurrar para fugir dos egípcios, as coisas vão ficar bem feias, e não vai demorar muito. Vendo Moisés lá na frente, as pessoas devem ter pensado que ele havia perdido totalmente o juízo. O primeiro axioma da estratégia militar diz que sempre se deve ter uma rota de escape. Mas ali estava Moisés, caminhando em direção ao mar. Subitamente, um poder como jamais antes fora testemunhado por olhos humanos explode diante dos semblantes assustados de milhares e milhares de pessoas. Com um estrondo poderoso, as águas começam a se dividir e Deus provê um meio de escape – o fundo do mar. Será que Moisés sabia que Deus ia dividir o Mar Vermelho quando seguiu a orientação de ir até a beira da água? Duvido. Como poderia? Nada igual jamais acontecera – estava além da imaginação humana supor que toda uma nação pudesse escapar de Faraó atravessando o mar a pés enxutos. Mas aqui está o segredo. Aqui está o elo perdido que traduziu o poder de Deus na vida de Moisés. Embora Moisés não soubesse como Deus ia intervir agiu como se Deus fosse intervir. Continuou caminhando na direção em que Deus o estava levando, e tudo o que fez

O Deus que Você Procura 65 além disso foi confiar que Deus demonstraria seu poder ao longo do caminho. O mesmo segredo que funcionou para Moisés funcionará para você. Tem funcionado para mim. Meu primeiro teste de verdade veio logo após eu receber um telefonema que mudaria dramaticamente a minha vida. O desfecho do telefonema poderia ser resumido em duas palavras breves e dilacerantes: "Papai morreu". Diversos dias depois do enterro, após ter visto o corpo de papai ser baixado ao túmulo e ter feito o melhor que podia para consolar minha mãe, dei-me conta de que teria de acabar enfrentando minha congregação. Eu não apenas teria de apresentar-me diante dela, mas também teria de pregar. Não podia parar de viver só porque meu pai já não caminhava neste mundo; mas, se havia um pedaço de chão sobre o qual eu nem conseguia me imaginar era o de 50 ou 60 centímetros quadrados atrás do púlpito da minha igreja, a Willow Creek Community Church. Eu teria preferido ir para a Sibéria ou para uma selva infestada de serpentes – qualquer lugar para escapar da dor que sentia e do medo de ficar em pé diante de um grupo de pessoas que estavam esperando para ouvir uma mensagem da minha parte. Senti que simplesmente não podia fazer isso. Depois do enterro, ao voltar de Kalamazoo para aquela comunidade residencial de Chicago, tentei reunir as forças para pregar. Trabalhei com afinco para arrumar um pouco de coragem – mas simplesmente não tinha jeito. Não havia nada ali. Eu não tinha absolutamente nenhum recurso interior do qual extrair alguma coisa. Parecia que a morte de meu pai havia sugado minha vida. Eu dera tudo o que tinha num esforço valente de consolar minha mãe, e agora não havia sobrado nada. Era uma coisa nova para mim. Senti temores que jamais sentira. Vime perdendo o controle e debulhando-me em lágrimas em meio à preparação da mensagem. À medida que o sábado se aproximava, ficou bem claro que me faltavam forças para pregar. Uma coisa era ser um

O Deus que Você Procura 66 caso perdido, escondidinho no meu gabinete pastoral. Outra bem diferente era pôr-me diante de milhares de pessoas e deixar que todo o mundo pasmasse com a minha fraqueza. "Não posso", admiti. "Simplesmente não tenho forças para isso." E então um pensamento inquietante invadiu minha mente. Se eu não pregar este domingo, como vou pregar no domingo que vem? Uma voz maliciosamente congelante sussurrou suas palavras de desespero ao meu espírito: Você não vai conseguir pregar nunca mais. É melhor cair fora do ministério. Você chegou ao fim. Acabou. Mas então o sussurro manso do Espírito Santo falou palavras de juízo em minha mente confusa e abatida. Dê apenas um passo de cada vez. Amanhã de manhã, levante-se e aja como se fosse conseguir pregar. Veja se o poder não vem. Confie em mim. Mostre um pouquinho só de fé! Caminhe na direção que estou pedindo que vá e tenha fé de que lhe darei poder ao longo do caminho. Na manhã seguinte, acordei e, a princípio, queria ficar na cama. Depois me lembrei das palavras suaves de Deus. Tudo bem, Deus, orei. Vou-me levantar e agir como se tivesse força. Irei até onde permitires. Se, for até sair da garagem, tudo bem. Se for até o estacionamento, tudo bem. Se for até o púlpito, tudo bem. Continuarei em frente, confiando que tu me darás o poder de que preciso ao longo do caminho. Minha tarefa não ficou mais fácil logo de imediato. Eu ainda sentia uma profunda tristeza e uma sensação de peso enquanto tomava meu banho, me vestia e me dirigia até a igreja. Quando por fim tomei o meu lugar na plataforma, diante da igreja, não fui dominado por uma explosão súbita da energia de Deus. E, quando chegou a hora de eu ficar em pé e caminhar até o púlpito, a batalha não chegava nem perto de estar vencida. Quando o medo começou a apertar minha garganta, orei silenciosamente: Senhor, estou aqui, e estou confiando em ti. Estou terrivelmente fraco esta manhã. Mas vou ficar aqui e agir como se tivesse recebido poder. Se me deres poder tudo bem. Se não, vou ser um fracasso total... mas vamos lá.

O Deus que Você Procura 67 Gostaria de poder dizer que naquele momento de fé recebi subitamente uma turbocarga de energia. Mas não foi o que aconteceu. Uma grande parte de meu coração ainda estava partido, mas Deus me deu poder suficiente para pregar. (Muitas pessoas vieram me dizer que foram abençoadas, e continuo a pregar domingo após domingo desde então.) Isso pode parecer bem insignificante para você, mas aquele momento foi uma das experiências mais espantosas e geradoras de fé que jamais tive. Ela se tornou um bloco edificador na minha vida, ao qual tenho voltado o olhar sempre que as circunstâncias difíceis parecem Estar-se abatendo ao meu redor. Para mim, pregar naquele momento parecia o cúmulo do absurdo, como comprar adiantado as passagens para um vôo de pouca procura. o que aprendi é que Deus tem poder e está disposto a compartilhá-lo se dermos o passo da fé e crermos no que ele quer fazer. Contudo, não apenas precisamos do poder de Deus para vencer as fraquezas. Precisamos dele para cumprir a tarefa que nos designou na terra.

O poder para fazer o bem Era um domingo esplêndido, mas estafante. Após pregar três vezes no fim-de-semana, eu me preparava para um culto especial de batismo no final da tarde. Até aquele culto terminar, eu havia participado do batismo de mais de duzentas pessoas. Logo depois, disparei para o aeroporto para tomar um vôo para a Costa Oeste. No dia seguinte, bem cedo, eu ia falar numa conferência. Ao embarcar no avião e me acomodar na poltrona, esperei ansiosamente para ver quem estaria sentado ao meu lado. Estava morto de cansaço, por isso orei: Querido Deus, permite que seja nu "leitor" e não um 'falador". Vocês que voam muitas vezes sabem exatamente por que orei. Algumas pessoas gostam de comentar sem parar tudo o que

O Deus que Você Procura 68 acontece o vôo todo. Outras se contentam em sentar-se em silêncio, abrir um livro e talvez apenas acenar com a cabeça na sua direção quando por fim desembarcam. Um senhor sentou-se ao meu lado, sorriu e tirou um livro. Logo eu estava sorrindo também. Recostei-me contra o banco e me descontraí com meu livro. Para minha grande consternação, logo ficou claro que não estávamos indo a parte alguma. O avião ficou no chão por uma hora inteira, durante a qual senti que Deus falava ao meu coração: E se eu quiser ser grande e poderoso por meio de você? Senhor, respondi, estou cansado. Se precisas falar com este homem, tens de encontrar alguém com mais energia do que eu. Imediatamente o Espírito Santo me dominou, e vi-me orando em submissão. Senhor, se queres ser forte na minha fraqueza, sê forte. No meio da viagem (o avião acabou decolando), foi-nos servida uma refeição, e o senhor ao meu lado por fim falou. – Eu poderia lhe perguntar que livro está lendo? Como eu estava lendo um livro cristão, sua pergunta levou a um debate de questões espirituais, e passamos o resto do vôo falando sobre a diferença entre o cristianismo e as religiões. Depois da viagem, trocamos cartões. Não houve nenhuma grande revelação, nenhuma conversão nas alturas, mas uma porta espiritual se abriu na vida daquele homem. Embora eu tivesse participado de mais de uma hora de debate vigoroso, sentia-me menos cansado após o vôo do que antes. É uma sensação empolgante ser usado por Deus. Desembarquei do avião e pensei: Quantas vezes Deus quis ser forte em mim, mas me recusei a cooperar? Sabe, Deus é grande, e é poderoso, mas precisamos convidá-lo a ser poderoso em nossa vida. A força está sempre ao nosso alcance, mas fica por nossa conta criar o canal para esse poder fluir. Alguns de vocês sentem-se moídos e drenados. Sentem-se como uma vítima que foi tão espezinhada que nada sobrou. Enfrentam tarefas assustadoras e desafios severos, e estão preocupados porque acreditam

O Deus que Você Procura 69 não ter o necessário para desempenhar as tarefas e aceitar os desafios. Eu o desafio a agir como se tivesse recebido poder, e ver – simplesmente experimentar – se Deus não manda forças para você. Decida neste exato momento caminhar na direção que Deus está pedindo que você vá e apenas confie que ele lhe concederá poder ao longo do caminho. Paulo insta conosco: "... que a vossa fé não se [...apóie] na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus".10 Eu tinha pouquíssima força ou sabedoria para atingir aquele senhor no avião, mas a minha precariedade não vinha ao caso em face do poder milagroso de Deus, que jamais esmorece. A beleza do poder de Deus é que ele remete as pessoas diretamente de volta à fonte: o próprio Deus. Quando Pedro e João curaram o coxo, e as pessoas começaram a olhá-los pasmadas, os apóstolos tiveram pressa em relembrar aos observadores que a grandeza que tinham visto era evidência do poder de Deus, não deles. Pedro respondeu: "... Homens israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nosso próprio poder ou santidade tivéssemos feito andar este homem?".11 Quando as pessoas vêem a manifestação do poder humano, podem ficar impressionadas. Mas o chamado do evangelho vai fundo demais para que alguém seja ganho para o reino por ficar "impressionado". Essa pessoa tem de sentir-se humilhada, maravilhada e reverente diante de um poder originário de uma fonte muito especial, e somente o poder de Deus, revelado em nós, está à altura dessa tarefa. O poder de Deus nos libertará da fraqueza e nos preparará para fazer sua vontade. Também nos dará a força para nos tornarmos semelhantes a Cristo.

O poder para nos assemelharmos a Cristo Houve um dia em que a corrida toda até o aeroporto O'Hare foi uma mistura de olhar o relógio e depois calcular quanto ainda faltava para eu

O Deus que Você Procura 70 chegar lá. Eu tinha pretendido sair trinta minutos mais cedo, mas acabeime atrapalhando, e agora tinha uma boa probabilidade de perder o vôo de vez. Assim que cheguei ao aeroporto, literalmente corri ao balcão das passagens, a mala e a pasta na mão. Apesar ela minha corrida ao aeroporto e de toda a minha pressa urgente, o rapaz do balcão trabalhava em duas velocidades enfurecedoras – lenta e parada. Alguém devia verificar a pulsação desse cara, pensei. Talvez tenha morrido e ninguém saiba. Enquanto se movia com a lentidão de uma geleira, veio-me o pensamento de que, ao contrário de uma geleira, eu não tinha dois mil anos para chegar aonde precisava ir. Bati com minha carteira de motorista contra o tampo do balcão. Ele não entendeu a dica. Tudo em mim queria saltar sobre aquele balcão e dizer: "Ressuscite, homem! Estou com pressa!". De repente, ocorreu-me o pensamento: Tenho duas opções. Continuar agindo como um idiota sem consideração, ou tentar exercer o autocontrole. Assim, comecei a questionar o que aconteceria se eu estivesse disposto a demonstrar minha fé e agir como uma pessoa paciente. Se fizesse isso, será que Deus supriria a graça para eu me tornar um homem paciente? Então parei e perguntei a mim mesmo: Como um homem paciente agiria nesta situação? Bem, a primeira coisa que ele faria seria afastar-se do balcão um pouco. Por isso, dei um passo para trás. A próxima coisa que talvez faria seria pôr as mãos nos bolsos. Enfiei as mãos até o fundo. Por último, achei que um homem paciente poderia até perguntar ao rapaz do balcão se estava bem. Obriguei meus lábios a se abrirem. – Como está indo o seu dia? O rapaz revirou os olhos. Finalmente, uma fagulha de vida! – Estivemos muito ocupados. E tive gente gritando comigo o dia todo!

O Deus que Você Procura 71 Ao expor sua frustração, tornou-se mais humano para mim. De repente, pude sentir o poder de Deus me transformando num homem mais paciente. Até minha pulsação se acalmou, e, embora o agente de passagens não aumentasse muito a velocidade, consegui embarcar e aprendi uma lição valiosa (numa área que ainda requer muito trabalho em minha vida). Qual foi o segredo? Fui em frente e agi, confiando que Deus daria poder ao longo do caminho. Descobri que a fé é a ponte entre a onipotência de Deus e a nossa capacidade de experimentar o seu poder em nossa vida. Agora, quase me divirto quando alguém me diz: – Tenho um amigo com quem preciso reconciliar-me mas simplesmente não tenho forças para isso. Gostaria de dizer: – A reconciliação nunca é fácil, mas aja como uma pessoa reconciliadora agiria. Chame a outra no telefone e veja se Deus não o ajuda a encontrar as palavras para dizer. Outros talvez me digam: "Não sou uma pessoa generosa". Por que não começar a agir como uma pessoa generosa e ver o que Deus faz ao longo do caminho? Você é egocêntrico? Quando esses pensamentos ensimesmados começam a inundar sua mente, diga para si mesmo: Espere um minuto. Como uma pessoa altruísta agiria neste momento? Vou demonstrar minha fé e ver se Deus não me ajuda a agir dessa forma. A onipotência de Deus significa que você precisa aprender a mudar a orientação de sua mente em vez de se afundar na sua fraqueza. Se Deus pode formar as montanhas, se pode manter o sol em órbita, se pode abrir um mar e secar o fundo desse mar de modo que toda uma nação possa atravessá-lo, você duvida de que ele possa transformar seu caráter? Entretanto, quero ser franco com você. Mudar a orientação da sua mente da fraqueza para o poder de Deus requer a difícil escolha de

O Deus que Você Procura 72 confiar em Deus, um tipo de tenacidade mental que a maioria das pessoas não associa ao cristianismo. Deparo com a necessidade do poder de Deus a cada dia que passa. Não sou eloqüente por natureza, mas quase toda semana tenho de me pôr de pé na frente de milhares ele pessoas e tentar explicar a elas a Palavra de Deus. Quase todas as semanas minha mente começa a acolher pensamentos temerosos como: Dessa vez a mensagem não será coesa. Dessa vez Deus não me usará. Aí vem o grande salto ornamental. Não posso dizer quanta energia, determinação e oração são necessárias para continuarmos fazendo a escolha deliberada de nos apropriar-nos da fé e de confiarmos no poder de Deus. E, toda vez que minha esposa e filhos vão de carro para Michigan visitar uns parentes, a cada hora e meia, quase sem exceção, penso em todas as catástrofes que podem ocorrer nas estradas, e depois preciso me obrigar a me concentrar de novo no poder que Deus tem de protegê-los. Como faço isso? Encho a mente com a verdade da identidade de Deus. Mantenho uma consciência do seu poder fluindo pelas partes alertas da minha psique, memorizando versículos pertinentes e conscientemente "mudando os canais" do meu cérebro até descansar no poder de Deus. Declarei guerra contra o meu desconhecimento acerca de Deus, porque os desafios que enfrento hoje são simplesmente grandes demais para que eu permaneça na ignorância e confie só em meus recursos. O mesmo acontece com você. Procure conhecer a Deus. Ele tudo conhece. (É onisciente.) Ele está sempre ao alcance quando você precisa dele. (É onipresente.) E está no controle. (É onipotente.) Todos os "oni-'s" de seu caráter têm mudado minha vida – bem como milhões de vidas em toda a história, e até talvez a de seu vizinho mais próximo ou a de um colega de trabalho. Esse é o Deus que o ajudará. Esse é o Deus que lhe dará o poder para vencer seus desafios e para concretizar as aspirações que ele mesmo pôs em seu coração.

O Deus que Você Procura 73 E uma notícia melhor ainda é que, embora Deus esteja sempre no controle, isso não significa que seja um ser impassível, indiferente. Como veremos no próximo capítulo, nosso Deus onipotente é um Deus expressivo, que se deixa tocar pelas ações, pelos sentimentos e pelos pensamentos daqueles a quem criou. Mal posso esperar para lhe mostrar como podemos nos relacionar com Deus, apesar de sua onipotência. Notas: 1. Jeremias 32:27 (ARA2). 2. Jó 26:12,14. 3. Êxodo 9:16. 4. Êxodo 14:31. 5. Eclesiastes 8:8. 6. Juízes 3:12. 7. Juízes 14:6. 8. Atos 4:33. 9. Filipenses 3:10. 10. I Coríntios 2:5. 11. Atos 3:12.

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE POSSA RIR E CHORAR COM VOCÊ? "Pare de rir. Você está na igreja. O que há com você?" "Aqui não é lugar de chorar. Se não consegue se controlar, vá para seu quarto até conseguir parar." "Engula essa raiva. Não vai adiantar nada querer botá-la para fora." Essas vozes atormentaram minha juventude. Cresci em Michigan, numa subcultura holandesa muito piedosa, e, embora essa criação tenha preparado o caminho para a minha experiência mais preciosa – um relacionamento com Jesus Cristo, também me deixou com a impressão de que os sentimentos intensos de qualquer espécie precisavam passar por "cortes". O resultado foi que a vibração de nossas experiências perdeu a nitidez e se tornou tépida, tediosa e – pior ainda – não-confiável, o que não era possível negar. Quando garoto, passei a desconfiar desses filtros espirituais, que sugavam a vida dos que me cercavam. Era como se Deus tivesse criado um mundo com sabores suculentos para nos deliciar – caril, especiarias exóticas e sobremesas açucaradas –, mas na igreja tivéssemos permissão apenas de comer arroz branco, sem tempero. Demorei muitos anos para ter a coragem de questionar essas premissas. É possível, cismava eu, que os seguidores de Cristo sejam alegres sem ser superficialmente bobos? Será que os seguidores de Cristo podem ficar tristes sem ter de passar pela acusação de ser na verdade apenas rabugentos ou sem fé? Será que os seguidores de Cristo podem ficar zangados – não apenas irritados, mas íntima e profundamente zangados – sem cometer uma infração bíblica? Permita-me fazer uma pausa aqui um momento para fazer-lhe uma pergunta: Você mesmo acha cabível mostrar seus verdadeiros sentimentos? Talvez você se considere alguém que ainda está buscando; portanto, o que Deus pensa dos seus sentimentos pode não importar para

O Deus que Você Procura 75 você no momento. Mas, se você se diz um seguidor de Cristo, a questão é de importância vital.

Deus se permite uma variedade de sentimentos Se encaramos Deus como o grande filósofo estóico – impassível e inabalável diante do auge do êxtase e diante das profundezas da tristeza –, então naturalmente aspiraremos ao mesmo caráter. Mas, se Deus se permite uma variedade de sentimentos, se é dono de um espectro de emoções da amplitude de um arco-íris, nossa vida apagada será vista como um desvio que precisamos ultrapassar e não cultivar.

Deus dá lugar ao deleite? Deus dá lugar ao deleite? Se fizesse um gol vitorioso, entregaria a bola calmamente ao juiz ou se entregaria a uma dança de celebração com seus companheiros de time perto da linha do golfe Se você abrir sua Bíblia no primeiro capítulo – no livro de Gênesis –, logo no começo da leitura perceberá um Deus que se deleita naquilo que faz. Após cada dia da criação, ele se detém, examina o que fez e diz: "Fiz bem! Gosto do que criei e me deleito com os resultados!". Depois dos primeiros cinco dias, Deus realiza seu trabalho mais estupendo – cria seres humanos. Olhando para Adão e Eva, Deus diz consigo mesmo: Isto é muito, muito bom. Tão bom, aliás, que tira umas férias e descansa no sétimo dia, regozijando-se e deleitando-se no esplendor do mundo criado, obra de suas mãos. Por todo o restante da Escritura, Deus experimenta intensos sentimentos de felicidade. Ele demonstra um deleite irrestrito quando vê as pessoas agirem de maneiras que lhe trazem honra: quando lhe dão adoração, quando demonstram fé na mais aflitiva das circunstâncias, quando um amor terno é compartilhado entre seu povo. O Deus da Bíblia

O Deus que Você Procura 76 sorri, e seu coração canta de deleite. "Ele se deleitará em ti com alegria, renovar-te-á no seu amor, regozijar-se-á em ti com júbilo."1 A alegria irrestrita de Deus exposta nesse texto me faz lembrar de um bom musical. Já fui a vários deles, o suficiente para "sentir" quando uma música está por acontecer. A interação aumenta, as personagens adquirem aquela expressão no olhar e a gente simplesmente sabe que alguém vai começar a cantar. E não dá outra: alguém começa. É essa a sensação desse texto. Deus olha para seu povo e não pode deixar de começar a cantar. Entretanto, não o faz trancado no chuveiro. À plena vista dos anjos, do maligno ou de qualquer pessoa que esteja observando, Deus entoa um cântico cheio de louvor. Não tem medo de ser conhecido como um Deus com vários sentimentos. Outra maneira de descobrir o deleite de Deus é olhar seu espelho humano, a pessoa de Jesus Cristo. João 5:19 diz: "... tudo o que o Pai faz, o Filho o faz igualmente". Jesus foi o reflexo perfeito da natureza de Deus em toda situação que encontrou enquanto viveu aqui na terra. E acontece que,Jesus se encontrou certa vez numa das cerimônias mais expressivas que os seres humanos jamais experimentarão. Embora os casamentos de hoje tenham a tendência de ser... Bem, posso ser franco aqui? A menos que você seja um membro da família nuclear, os casamentos podem ser tão emocionantes quanto observar um computador se aquecer. Nos dias de Jesus, entretanto, os casamentos eram tudo, menos enfadonhos. As cerimônias, em geral, eram reuniões de uma semana, com risadas barulhentas, danças exuberantes, banquetes fartos e peças pregadas nas pessoas que iam ficando mais complicadas à medida que a celebração se processava. Naquela época, a gente não inseria uma cerimônia de 45 minutos entre as partidas de futebol dos filhos. Ao contrário, geralmente era preciso não agendar nada por toda uma semana para comparecer ao casamento. A menos, é claro, que você tivesse uma "reputação" para preservar, como era o caso de muitos fariseus. Os líderes religiosos viram a alegria

O Deus que Você Procura 77 de Jesus e se perguntaram se ele gostava de casamentos mais do que um suposto religioso deveria gostar. Mas isso não deteve Jesus, porque ele amava a alegria. Saboreava o deleite, deixando-o rolar por sua língua, trazendo dança aos seus pés e riso à sua alma. Por sinal, uma das razões da obediência que ele requer de nós é que a nossa "alegria seja completa".2 (Quando foi a última vez que lhe deram ordens de divertir-se?) A próxima vez que você olhar o relógio numa cerimônia nupcial, gemendo ao perceber que não se passaram nem cinco minutos desde o último bocejo que você disfarçou, deixe a mente divagar de volta para Jesus Cristo, que podia trazer vida a qualquer celebração – a própria Pessoa que quer trazer vida à sua alma neste mesmo dia. Deus, entretanto, não apenas se deleita. O mesmo Jesus que se regozijou com a noiva e o noivo é chamado em outra parte "varão de dores".

Deus dá lugar à tristeza Quando,Jesus se dirigiu ao túmulo de Lázaro, não tentou parecer corajoso. Chorou. Quando olhou para Jerusalém e viu as pessoas vagueando por ali e desperdiçando a vida, derramou as lágrimas amargas de um pai angustiado. Sua alma tremeu de tristeza, e ele lamentou: "São como ovelhas sem pastor. Estão perdidos". Mas nada se comparou à angústia espiritual dilacerante da noite em que foi preso no jardim do Getsêmani. Nunca a tristeza conhecera tanta escuridão; nunca antes o chão sentira o gosto de lágrimas tão amargas; nunca o ar fora cortado por gemidos mais agoniados. Jesus, tentando explicar isso aos discípulos, disse: "A minha alma está cheia de tristeza até à morte".3 Outra versão diz: "Minha alma está cheia de pavor e tristeza, a ponto de morrer"...".4 Jesus percorreu regiões de tristeza nunca pisadas por ninguém mais. Sofreu nos vales sombrios da traição. Cruzou

O Deus que Você Procura 78 as montanhas frias da deserção. E nenhuma vez – nenhuma mesmo – deu a entender que a reação certa era limitar a tristeza, "aprumar-se" e forçar um sorriso artificial. Ele não disse: "Não é assim que se demonstra fé – preciso obter de novo a minha alegria". Ao contrário, chorou as lágrimas puras de uma vida comprometida, cheia de fé. Ninguém consegue passar pela vida sem levar algumas pancadas. E não estou falando de golpes que passam de raspão pelo ombro. Estou falando de socos no estômago que nos deixam tão intensamente sem fôlego que pensamos que nunca vamos conseguir respirar de novo. Uma coisa é dizer, como já tratamos em capítulo anterior, que Deus conhece a nossa tristeza. Mas talvez seja um estímulo a mais dizer que não só ele conhece a nossa tristeza, mas é capaz de sentir o sabor dessa amargura na própria boca. Eu disse antes que Deus reúne as nossas lágrimas num frasco, mas você também precisa saber que ele não olha para esse frasco com o olhar impassível de um cientista na realização de um experimento. Ele olha com um rasgo no coração e um embargo na voz, sussurrando em meio às lágrimas que você derrama: "A tristeza que você está sentindo afeta a minha alma também, por isso honrarei e confirmarei suas lágrimas guardando cada uma delas". Quando cresci, fiquei com a idéia de que, se eu estivesse cumprindo o programa da forma certa – se fosse um empregado fiel do cristianismo executivo –, deveria aprumar-me e forçar um sorriso enquanto aprendia a dominar chavões cristãos como: "Todas as coisas cooperam para o bem". Não é assim com Deus. A morte de Lázaro acabou, sim, cooperando para o bem, mas esse fato não secou uma única lágrima de Jesus. Se há uma coisa que não condiz com Deus é a impassibilidade; ele dá lugar à tristeza – profunda e totalmente. Ele também dá lugar à ira. Deus dá lugar à ira Agora alguém deve estar ficando nervoso. Claro, gostamos da idéia de um Deus que sabe se divertir. Somos consolados pela realidade de um

O Deus que Você Procura 79 Deus que se identifica tão intimamente conosco, que pode sentir o sal de cada lágrima que nos rola pelo rosto. Mas que esperança, que estímulo podem trazer o conhecimento de um Deus irado? Quando olhamos no espelho de Deus, Jesus Cristo, não há como negar o fato de que Deus se ira. Será que preciso lembrar-lhe aquela vez que Jesus entrou no templo e viu os comerciantes desonestos elevando os preços dos animais exigidos para o sacrifício a Deus? Jesus não tinha nada contra o comércio honesto, mas aqueles homens eram o equivalente moral de comerciantes que começam a cobrar dez reais por litro de água engarrafada depois que uma tempestade cria uma demanda insaciável. Eles estavam trapaceando nos preços, estavam roubando, estavam transformando a casa de oração num cassino arranjado, e Jesus ficou absolutamente furioso. Tomando algumas cordas e amarrando-as, ele fez um açoite. Essa não foi uma explosão de mau humor de que Jesus se arrependeria mais tarde. Ele sabia o que estava fazendo, optou por agir daquela forma depois de muito pensar, e seus atos compreendiam o uso de um açoite para limpar o lugar e restituí-lo à adoração. O som do açoite estalou no ar e assustou as pessoas. Posso imaginar os discípulos dando um passo atrás, de queixo caído, dizendo entre si: "Puxa vida! Jesus fica irado mesmo!". Acho muito provável que Jesus tenha usado bem o açoite. Amantes do dinheiro não sairiam correndo de suas reservas de moeda sem ter uma boa razão, e um Messias manso, humilde e "educado" dificilmente seria razão suficiente. Eles tinham duas escolhas – desaparecer da casa de Deus ou enfrentar a ira do seu Filho. (O fato de que todos ali preferiram a primeira opção deve nos dizer algo sobre como é enfrentar a ira de Deus.) Mas, embora alguns de nós nem mesmo queiram pensar num Deus irado, outros estão presos na armadilha de pensar que a ira é a única emoção de Deus. Conheço um homem que cresceu achando o seguinte: Se você sair um pouquinho que seja fora da linha, vai ser golpeado com

O Deus que Você Procura 80 o martelo divino. Você está sempre a um passo de um grande apuro com Deus. Um pecado secreto, e você provavelmente perderá o emprego, será despejado de casa ou contrairá uma doença incurável. Isso não combina com o relato bíblico da ira de Deus. Salmos 103:8 diz: "... o Senhor [... é] lento para a cólera...". O texto não diz que Deus nunca se zanga, mas é lento para encolerizar-se. Deus retém sua ira por tanto tempo quanto possível, a menos que o forcemos, e forcemos, e forcemos mais ainda. Sua disposição básica para comigo e para com você é a benignidade. Esse é o ponto de partida. A cólera é uma estação no caminho pelo qual ele deve passar. Como levamos Deus a se zangar? Hebreus 10:26 diz: "Se alguém pecar deliberadamente rejeitando o Salvador..." (BV). Em outras palavras, a melhor forma de fazer Deus se zangar é ver o que Jesus fez na cruz e dizer: "Grande coisa! Quem precisa disso? Não sei, nem quero saber; passe o controle remoto". Essa atitude servirá de envelope para que a ira justa de Deus seja enviada até a sua caixa postal. Se alguém rejeita deliberadamente o Salvador, esse pecado faz todos os outros pecados "grudarem" nessa pessoa. E, embora Deus possa ser e deseje ser o mais amoroso dos amigos e companheiros que jamais poderíamos desejar, se adotarmos essa atitude de rejeição, descobriremos que ele é o mais capaz e apavorante inimigo que podemos imaginar. Não teremos nada mais a esperar do que o terrível castigo da tremenda ira de Deus, que a Escritura promete sem sombra de dúvida e ao qual se refere como uma ira aterradora que, no fim, "há de devorar os adversários".5 Alguns de vocês podem estar inclinados a fechar o livro com força neste momento. Você não quer ouvir isso. É você agora que está zangado. Ou com medo. Ou as duas coisas. A cólera de Deus não é assunto agradável para os que precisam refletir sobre seus problemas de pecado, mas precisamos debatê-lo, porque uma coisa é certa: a ira de Deus é um fato inegável, e uma parte dela pode ser dirigida contra você!

O Deus que Você Procura 81 Ao mesmo tempo, contudo, lembre-se de que a cólera de Deus se desfaz num instante quando um ser humano teimoso se humilha e reconhece sua condição pecaminosa. Deus quer afastar a ira que sente contra você, por isso proveu uma alternativa por meio de Jesus Cristo e de sua obra na cruz. Se você rejeitar essa alternativa, mesmo que de modo passivo, dizendo "Não preciso de Deus. Acho que toda essa idéia de meus atos terem efeito sobre Deus é ridícula", então estará obrigando Deus a dizer: "Tudo bem, se você não me permite tirar seus pecados, terá de viver com eles – e neles – por toda esta vida e na eternidade". A escolha é sua. Mas deixe-me relembrar-lhe que, se quiser ir de encontro à ira de Deus, você não é páreo para ele – receberá o que merece. Felizmente, a ira é apenas uma das muitas emoções desse nosso Deus que pode ser qualquer coisa, menos impassível. A mansidão é outra.

Deus dá lugar à benevolência Em certa ocasião, eu estava passando por tribulações extraordinariamente difíceis. Nossa igreja estava-se expandindo, novas obrigações estavam sendo depositadas nos meus ombros já fracos, e, embora eu conhecesse (e tivesse ensinado) a fidelidade e a provisão de Deus, no fundo eu questionava: Será que vou conseguir dar conta de tudo isso? Vou conseguir equilibrar satisfatoriamente o tempo para a família, o tempo devocional e as obrigações da igreja? E então, depois de um culto de domingo, um amigo chegado me chamou de lado e me olhou nos olhos. Esse era o tipo de olhar que exigia amorosamente atenção completa. "Se você ou sua família alguma vez tiverem alguma necessidade", disse ele, "quero que saiba que ajudarei a satisfazer essa necessidade da melhor maneira possível".

O Deus que Você Procura 82 Sentindo um embargo na garganta, percebi uma instigação no meu espírito e orei: Senhor, tu estás-me envolvendo em tens braços por meio desse irmão? E a segurança que inundou a minha alma naquele instante me tirou toda dúvida. Sim, estás, não é mesmo? Deus tem uma benevolência intrínseca que busca carregar os nossos fardos. Quando ele vê pessoas que estão-se sentindo muito frágeis, como eu estava, encontra meios de visitá-las e fazer-lhes saber que não estão sós. Deus dá lugar à benevolência, e faz isso como ninguém mais. Isaías 42:3 diz que ele "não quebrará o caniço rachado nem apagará a pequena chama que quase não dá luz" (BV). Um caniço oco e envergado. Um pavio que mal está retendo o último vestígio de sua chama. Esses dois quadros frágeis lembram alguns de nós. Um movimento errado – não importa quão sincero –, e o caniço estará acabado, a chama, sufocada. Mas Deus vem, vê os mais frágeis de seu povo oscilarem às margens do desespero, e o que faz? Estende a mão com um toque inacreditavelmente suave, que acaricia o caniço e traz nova vida à chama moribunda. Ele diz: "Vou ser terno. Vou curar suas feridas. Você precisa de benevolência, e tenho muita benevolência para dar". Sim, Jesus dá lugar à benevolência. Aliás, poucas coisas frustravam mais os discípulos de Jesus do que a benevolência dele. O mesmo Homem que demonstrara ira justa ao purificar o templo deixava-os de todo confusos e desconcertados ao revelar uma queda doce e meiga por criancinhas importunas. Uma coisa era não afastá-las para longe, mas será que ele de fato precisava parar e brincar com elas? Precisava carregá-las e acolhê-las no colo? E que dizer dos leprosos? Uma coisa era oferecer cumprimento ou cura sem se deter muito, mas Jesus tinha de parar e tocá-los e, o que era pior, abraçá-los. Na época, a lepra era tão temida, que só pensar em tocar um leproso seria uma desgraça para a maioria das pessoas. A lepra destruía as extremidades da pessoa dedo por dedo, artelho por artelho – e

O Deus que Você Procura 83 dava um tom fantasmagoricamente branco à pele. Levítico 14 faz menção de um remédio severo para o caso de a lepra ser encontrada numa casa: a casa era desmantelada, tijolo por tijolo, madeira por madeira, e tudo era tirado da cidade e jogado fora. Os leprosos em si não recebiam tratamento muito melhor que suas casas. Embora não fossem "desmantelados", eram confinados aos terrenos baldios e aos depósitos de lixo fora das cidades. Quando tinham de entrar na cidade, eram forçados a gritar "impuro, impuro", e as pessoas se afastavam quando se aproximavam. Se havia alguém que conhecia o ostracismo e a culpa, eram os leprosos. Eram os párias da sociedade da época. E ali estava um Homem que, sabendo-os enfermos, não apenas conversava com eles, mas os tocava. Quando Jesus envolvia com seus braços aquelas almas preciosas, presas a corpos em deterioração, era o primeiro abraço que muitas delas recebiam depois de dez, vinte ou até trinta anos. Sim, ele os tocava. E os curava. Mostrou-lhes um lado benevolente que não viam desde nenês, quando ainda eram amamentados. Deus tem um lado benevolente do qual precisamos. Alguns de nós precisam dele porque apenas experimentamos a severidade por parte das "pessoas importantes" da nossa vida. Do pai ou da mãe, do chefe ou até mesmo do pastor, tudo o que alguns de nós experimentou foi julgamento, escárnio, castigo e ridicularização. E Deus nos diz: "No relacionamento comigo, você conhecerá um tipo de benevolência que satisfará a necessidade até mesmo de um caniço rachado e de uma chama quase extinta". Por Deus ter demonstrar vários sentimentos – por dar lugar à alegria, à tristeza, à ira e à benevolência –, a Bíblia ensina que podemos despertar nele essas emoções. Comovendo a Deus Já que Deus se permite comover, temos a oportunidade de comovêlo. De certa forma, podemos fazê-lo se alegrar. Podemos trazer um

O Deus que Você Procura 84 sorriso à sua face reagindo sempre com sinceridade, confiança, fé e obediência. A qualquer momento do nosso dia, podemos pensar numa forma de adorá-lo, oferecer essa adoração a Deus e despertar um sorriso de deleite em sua face eterna. O outro lado disso, naturalmente, é que podemos também partir o coração de Deus. Lembre-se de que não estamos falando de um cristianismo executivo, com um chefe insensível e um regulamento de empregados, com regras, recompensas, castigos e promoções. Falo de cristianismo segundo a vontade de Deus – um relacionamento ardente, voluntário e plenamente emocionante. Nesse cristianismo, não apenas quebramos uma regra – quebramos o coração de Deus. Não apenas "saímos da linha" – violamos um relacionamento e traímos uma confiança. Não apenas "desobedecemos" – desonramos nosso amigo mais chegado. Não apenas cometemos uma infração – apontamos o dedo a alguém que estendeu mãos sangrentas, furadas por cravos para nos salvar. Podemos despertar a ira de Deus. Podemos rejeitar a Cristo, tornarnos obstinados, seguir nosso próprio caminho e levar Deus à ira. E podemos também produzir a ternura de Deus. Alguns de nós realmente precisam admitir: "Deus, sou como um caniço rachado... ou uma chama bruxuleante". Se apresentássemos nossa condição diante de Deus com sinceridade, ele viria ao nosso encontro com ternura. Trata-se de uma verdade que nos leva à reflexão, nos choca, nos parece quase inacreditável, mas é 100°% bíblica: cada uma das nossas ações e atitudes exerce uma influência em Deus. Por natureza, ele é um Deus que pode ter diferEntes sentimentos e nos deu a capacidade de comover seu coração. Ainda há mais uma implicação em amar um Deus assim tão cheio de sentimentos: ficamos livres de uma existência insensível.

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Um retorno à vida vibrante As fotografias das emoções de Deus não são em preto-e-branco. São em cores vivas, de todas as que consigamos imaginar, bem como em tons, matizes e combinações além da imaginação. Quando nos convertemos a Cristo, somos convidados a participar dessa família que se relaciona, permite-se ter sentimentos e é vibrante. Deus enviou seu Santo Espírito para nos transformar em reflexos mais precisos de Deus, e isso inclui espelhar sua amplitude de sentimentos. Alguns de nós perderam a intensidade das emoções. Às vezes refreamos e amenizamos essa intensidade até ser forçados a negar uma parte essencial do que significa ser humanos, criados à imagem de Deus. Deus quer restaurar essa capacidade de nos entregarmos aos sentimentos. Como suas criaturas, porém mais ainda como filhos, precisamos nos permitir deleite intenso e prolongado sem nos sentir culpados. Alguns de nós deveriam desfrutar muito mais a natureza. Alguns deveriam celebrar muito mais. Deveria haver mais danças, mais festas, mais riso, mais diversão. Como Deus experimenta alegria intensa – mais intensa do que jamais poderíamos imaginar –, deveríamos também permitir-nos experimentar a alegria que engrandece a nossa alma. Deus também nos convida a dar vazão plena às tristezas profundas, dilacerantes. Chega de sorrisos falsos. Chega de fingir ter "superado" nosso período de tristeza quando, lá no fundo da alma, sabemos que ainda nem começamos a sofrer. Chega de tentar nos "aprumar" para provar que somos espirituais. Deus diz: "Não fuja da dor. Eu a entendo. E sabe de uma coisa? Para mim, ela é um tesouro, e guardo cada lágrima num frasco. Se você precisar sentir tristeza, sinta; se precisar gemer, gema". Alguns de nós precisam manifestar a cólera cabível. Há muito no mundo que deve despertar intensa cólera em nós: a opressão, a injustiça, a discriminação e a crueldade que maltratam os pobres e caçoam dos

O Deus que Você Procura 86 incapacitados. Deus diz: "Zangue-se. Depois converta um pouco da energia gerada por essa sua ira justa em ação transformadora". Outros de nós precisam experimentar momentos de benevolência. Alguns dos homens simplesmente não praticam a ternura. Não conseguem engatar essa marcha nos seus relacionamentos, por isso reagem desajeitadamente diante das situações, e é inevitável acabarem fora de sincronismo com o que a situação exige. Privam seus casamentos e privam seus filhos de uma emoção que Deus deseja que compartilhem. É profundamente grave quando o homem não consegue demonstrar ternura para com a esposa e os filhos, porque isso faz com que seja mais difícil eles apreciarem, compreenderem e conhecerem a pessoa de Deus. Precisamos levar uma vida que transmita uma imagem mais precisa do nosso terno Deus. Em vez de passar a vida em preto-e-branco, um mundo de cores vivas, de vibração e de emoção se abrirá para nós. Quando isso acontecer, reproduziremos com mais exatidão a natureza de Deus para o mundo que nos cerca. Seremos tudo, menos seguidores impassíveis de Cristo. O Deus que procuramos não é um estóico. É tudo menos unidimensional. É um Deus com sentimentos múltiplos, que explorou as profundezas da emoção e dos sentimentos além das esferas da compreensão humana. Esse é o Deus que podemos passar uma vida inteira aprendendo a conhecer. Esse é o Deus que nos pode levar a uma vida plena e perfeita. Esse é o Deus que sente conosco. Esse é o Deus que procuramos. Notas: 1. Sofonias 3:17. 2. João 15:11. 3. Mateus 26:38. 4. Mateus 26:38 (BV). 5. Hebreus 10:27.

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VOCÊ PROCURA UM DEUS ... QUE LHE SIRVA DE REFÚGIO? Há um deles em cada estado, em cada cidade, em cada vizinhança e em cada escola. O valentão da escola é tão americano quanto o beisebol, as eleições democráticas e a ida à igreja aos domingos. Você conhece o tipo. Tem doze, talvez treze anos de idade – e já se barbeia. Noventa por cento das vozes masculinas de sua escola fazem lembrar os tons querubínicos de um coro de meninos, mas a voz desse boçal parece uma buzina de nevoeiro. O valentão da nossa se chamava Phil. Não tenho certeza do que esses terroristas de doze anos vêm a ser quando crescem, mas, ao ver Phil em nossa aula de ginástica, eu diria que nosso anti-herói tinha todas as qualificações para ser um lutador de sumô. Um dos meus amigos mais íntimos, Don, fez sem querer a observação brilhante, que, no entanto, poderia fazer dele um homem morto, de que, quando saía do chuveiro, Phil fazia lembrar uma das personagens de uma série popular da época: O planeta dos macacos. A semelhança era impressionante, quando a gente parava para pensar, e a astuta observação de Don arrancou brados de reconhecimento dos nossos colegas de classe – antes de chegar aos ouvidos de Phil. As palavras não eram exatamente o meio de comunicação favorito de Phil. Ele preferia mil vezes os socos, e um dia depois da escola encontrou-se com Don. Todos, até mesmo Don, sabíamos que a luta era inevitável. Contudo, mesmo os de coração mais duro que observaram aquele massacre unilateral sabiam que uma simples piada não merecia aquilo. Quando o punho carnudo de Phil encheu o nariz, o rosto e a testa de Don, senti meu estômago enjoar e pensei: Será que não há quem possa deter isso? Depois de algum tempo, Phil se cansou de acrescentar diversas cores novas e vividas ao rosto de Don, e o deixou ir embora. Eu e um amigo ajudamos Don a levantar-se e fomo-nos solidarizando com

O Deus que Você Procura 88 ele enquanto voltávamos para casa, todos concordando que provavelmente não fosse boa idéia caçoar de um garoto de doze anos que já se barbeia. Infelizmente, a memória de Phil era tão longa quanto baixo era o seu QI, e, pelo restante do semestre, até que outra pessoa suscitasse a ira de Phil, Don se via em busca desesperada de refúgio sempre que Phil estivesse visivelmente de mau humor. Talvez você nunca tenha estado na pele encharcada de suor de Don. Talvez nunca tenha sentido o puro terror de ouvir uma voz sarcástica gritar o seu nome. Mas talvez já tenha tido um daqueles pesadelos em que está sendo perseguido. Seus pulmões ardem, suas pernas não querem mais andar, mas o medo o impulsiona para a frente. Quanto mais depressa você corre, mais perto chegam os passos atrás de você, até que, por fim, por misericórdia, você acorda. Na cultura do antigo Oriente Médio, ocorria também boa quantidade de fugas e perseguições – só que eram para valer. As populações viviam espalhadas, e os sistemas judiciais eram poucos e esparsos. As pessoas garantiam a lei e a ordem por meio de formas rudimentares de crime e de castigo tribais. Se alguém da família fosse morto, os parentes convocavam uma reunião e alguém era nomeado "vingador do sangue". A tarefa era tão horrorosa quanto o nome. O vingador do sangue era o representante da família cujo trabalho de tempo integral era encontrar o assassino e liberar o pescoço dele do peso de ter de carregar uma cabeça. Ora, quando a família se reunia para escolher um vingador do sangue, não escolhia a rotunda Tia Emília. Escolhia alguém como o Primo Neco, de pés voadores. Neco então descobria o paradeiro da pessoa que matou seu parente e ficava esperando que ela saísse para o campo. Depois, quando chegava o momento oportuno, Neco saía do meio dos arbustos, anunciava que era o vingador do sangue daquela família e a perseguição começava. Por uma questão de honra, o vingador do sangue perseguia o assassino até que apenas um deles estivesse de pé. Ou o assassino era

O Deus que Você Procura 89 mono, ou o vingador do sangue ficava completamente sem fôlego e fisicamente incapaz de continuar. Contudo, depois de um período de descanso, o vingador do sangue começava de novo. Para que a justiça fosse mesmo tida por efetuada, a família precisava receber uma prova da morte, e depois se fazia uma celebração. Sabidamente, esse processo era um tanto grosseiro, mas garantia a lei e a ordem. O problema mais importante desse sistema, contudo, eram as circunstâncias atenuantes do homicídio não-intencional. Digamos que uma mulher esteja com pressa de ir ao mercado. Ela salta sobre o camelo e sai em disparada. Um garotinho de cinco anos passa na frente dela. A mulher tenta parar. Ela brada uma advertência e puxa as rédeas com todas as forças, mas a criança é pisoteada. Horrorizada, a mulher desce correndo e cuida do pequenino da melhor maneira possível, mas é tarde demais. Ele morre. O que acontece agora? A família do garotinho convoca uma reunião e designa um vingador do sangue cujas ordens são claras: "Encontre aquela dona de casa e espere até ela estar longe do lar, de costas para você. Persiga-a até ela não poder dar nem mais um passo, e, depois, mate-a". Aposto que você vai dizer: "Não é justo. Ela não teve a intenção de matar o garotinho. Foi um acidente". Você está certo, é claro. Faltava à justiça uma dose de aprimoramento naqueles dias. Mas ninguém sabia o que mais se podia fazer. Ninguém, isto é, exceto Deus. Nos livros de Deuteronômio, Números e Josué, no Antigo Testamento, Deus trata do problema estabelecendo "cidades de refúgio": Dize aos filhos de Israel: Apartai para vós as cidades de refúgio, de que vos falei por intermédio de Moisés, para que fuja para ali o homicida, que por engano matar uma pessoa, para que vos sejam refúgio do vingador do sangue.1

Os israelitas fizeram o que Deus ordenou. Escolheram seis cidades segundo a localização geográfica e o fácil acesso. Por todo Israel,

O Deus que Você Procura 90 puseram sinais que mostravam o caminho. Se alguém cometesse um homicídio acidental, sairia correndo para a cidade de refúgio mais próxima. Uma vez dentro das portas da cidade, estava a salvo da ira do vingador do sangue. A cidade fazia as vezes de uma prisão voluntária para guardar o suspeito até que um julgamento justo pudesse ser convocado. Se durante o julgamento a pessoa fosse condenada por homicídio intencional, era entregue ao vingador do sangue. Caso se verificasse que a morte fora acidental, as autoridades da cidade mandavam o vingador do sangue de volta para casa. Essas cidades de refúgio brotam do próprio coração de Deus e mostram lindamente a preocupação de Deus por nós. Intrínseco à natureza e ao caráter de Deus está o desejo de dar segurança e refúgio às pessoas que estão-se sentindo perseguidas e oprimidas.

Esconda-se aqui por um tempo Um dos quadros mais lindos de refúgio espiritual se acha em Salmos 91:4: "Ele te protegerá debaixo das suas asas" (BV). Você já viu um pintinho pulando, piando, bicando, agindo como pintinho? Se a galinha perceber a presença de um predador, não marca um seminário, não planeja uma aula de auto-ajuda nem começa a distribuir audiocassetes. Ela levanta as asas e, dentro de segundos, todos os pintinhos desaparecem debaixo dela. No lugar de uma mãe apaixonada pelos filhotes, cercada de diversos pintinhos animados, agora o predador nada vê além de uma mamãe de aspecto assustador, que simplesmente desafia o inimigo a dar um passo à frente. E, na escuridão das asas, os pintinhos estão dizendo uns aos outros: "Você viu o tamanho dos dentes daquele lobo?". Um dia, os pintinhos terão de se arrastar para fora e enfrentar o mundo como ele é. Mas, por um tempo, nada se compara ao abrigo macio daquelas asas – a penugem fina acariciando suas cabeças; o calor

O Deus que Você Procura 91 da mãe abrandando seus tremores; as batidas compassadas do coração dela aplacando seus medos. Hoje, Deus se deleita em abrir suas asas protetoras e acolher seus filhos assustados, exaustos, desanimados, desgastados. "Escondam-se aqui por um pouco", diz ele. "Saiam do perigo. Reagrupem-se. Recuperem-se. Encontrem novas forças." Claro que chegará a hora em que Deus erguerá suavemente as asas e levará seus filhos a se aventurarem de volta ao mundo, mas aí estarão um pouco mais calmos, um pouco mais fortes e um pouco mais confiantes. Embora essa talvez seja a melhor notícia que já se ouviu, alguns podem estar dizendo: "Deus é meu refúgio? Grande coisa. Não preciso de unia cidade de refúgio no momento. Está tudo bem".

Quem precisa de refúgio? Para 99% dos israelitas, as cidades de refúgio não significavam muita coisa. Claro, as pessoas sabiam que elas estariam lá quando precisassem, mas a maioria das pessoas raramente precisava. Contudo, para aquela dona de casa que sem querer matou o garotinho de cinco anos ao dirigir-se para o mercado, a cidade de refúgio mais próxima era o lugar mais importante no planeta. Disneylândia, Paris, Veneza, Rio de Janeiro – nenhuma dessas cidades oferece o fascínio, a importância ou a necessidade de Quedes, Golã, Siquém, Hebrom e das demais cidades de refúgio. Imagine só a mulher inocente ao praticamente correr para salvar a vida. Ela olha para trás, e o vingador do sangue está chegando perto. Mede a distância que a separa das portas da cidade de Quedes e implora às pernas que agüentem mais pouco. Ouve os passos do vingador cada vez mais perto. Logo, ouve até a respiração ruidosa do homem. Talvez sinta um golpe errante que lhe passa de raspão pela nuca.

O Deus que Você Procura 92 E então, com um salto desesperado, atira-se para dentro da cidade, e o vingador do sangue se detém naquele mesmo instante. A mulher fita seus olhos enlouquecidos, ele fita o semblante aterrorizado da mulher, e ela prende a respiração até ele virar as costas. É nesse ponto que a mulher brada: "Graças a Deus! Estou segura!". Quem precisa de uma cidade de refúgio? Pessoas oprimidas. Pessoas exaustas. Pessoas atemorizadas. Pessoas enlutadas. Pessoas preocupadas. Pessoas decepcionadas. Pessoas solitárias. Pessoas inconsoláveis. Pessoas que estão sendo atacadas injustamente. Salmos 9:9 promete: "O Senhor é um alto refúgio para o oprimido, uma fortaleza em tempos de angústia". Se alguém está "ouvindo passos" que se aproximam cada vez mais, Deus escancara suas portas magníficas e diz: "Entre". Ele se deleita em providenciar refúgio. Fazer isso não é para ele uma distração. Não é um trabalho secundário ou um hobby que lhe ocupa as horas da noite. Ao contrário, é o âmago do que ele faz e a essência do que significa ele ser o nosso Deus. Seu amor irresistível, irracional por nós faz com que seja uma alegria esconder-nos por um pouco. Por enquanto, pode ser que tudo esteja indo bem para você. Mas posso dizer algo que vejo da perspectiva de mais de duas décadas de ministério? Se você pensa que toda a sua vida vai ser um mar de rosas, está enganado. É mais do que provável que entre o dia de hoje e o dia da sua morte, você, como cada um de nós, tenha mais do que sua cota de sofrimento, de dor e de adversidades. Nesse momento, você entenderá quanto precisa de um porto seguro.

Portos seguros Quando eu estava no fim do primeiro grau, meu pai e eu velejamos pelo lago Michigan, partindo do porto South Haven, na cidade de Michigan, a fim de passar uma tarde na água. Depois de cerca de uma hora, papai me lançou um olhar travesso.

O Deus que Você Procura 93 "O que você acha de velejarmos a noite toda até Chicago, só eu e você?", perguntou ele. Chicago ficava a pouco mais de cem quilômetros de distância, e velejar até lá parecia a coisa mais divertida que um garoto da minha idade poderia fazer. Com nova energia e entusiasmo, voltamos nossas velas para Chicago e nos acomodamos para toda uma noite de viagem. Quando estávamos mais ou menos na metade da travessia do lago Michigan, contudo, fomos atingidos por uma tempestade violenta. Eu já vira várias tempestades antes, mas aquela parecia muito feia. O vento uivava enquanto as ondas começavam a arrebentar sobre o barco, e vi que estávamos de fato em apuros quando papai voltou e amarrou uma corda em torno de mim. – Para que isso? – perguntei. – Estou amarrando você ao barco – respondeu ele, terminando de dar o nó ao meu redor e depois amarrando a outra ponta da corda a um cunho. Fizemos pequenos ajustes nas velas e permaneci na cabine, observando o vento impetuoso e a chuva martelar e atacar nosso barco. Ficamos acordados a noite toda, lutando contra as ondas, tentando ler o vento, manobrando as velas e trabalhando furiosamente para nos manter no rumo certo. Quando a manhã foi chegando, pudemos por fim ver as luzes de Chicago, e os nossos braços cansados sentiram-se revigorar enquanto continuávamos a combater as ondas e a trabalhar para fazer o barco adentrar o quebra-mar. A tempestade não era apenas assustadora, mas tinha também enorme resistência. Finalmente, chegamos aos primeiros molhes do cais e entramos no porto. Depois que havíamos amarrado o barco às docas, olhei para trás por cima do ombro e vi a expansão das águas, e pela primeira vez na vida tive uma compreensão nítida de quanto um porto protegido pode ser maravilhoso. A cem metros dali, a tempestade despejava seu mau humor sobre todos os barcos que tentavam navegar nas águas do lago Michigan.

O Deus que Você Procura 94 Mas naquela baía protegida, encontramos refúgio, um esconderijo da tempestade. Sentimo-nos salvos, sentimo-nos protegidos, sentimo-nos seguros. A tempestade não nos podia tocar. Conseguimos recuperar-nos, reorganizar-nos, consertar algumas coisas que se haviam quebrado e ficar com a cabeça mais fria, sabendo que mais tarde teríamos de encetar a viagem de volta a South Haven. Quando a adversidade se abate, há um momento em que a Escritura nos diz que devemos encontrar refúgio depressa. Podemos solucionar outros problemas depois. A necessidade imediata, porém, é sair da tempestade. A Escritura diz que Deus é esse refúgio. Bem, se Deus se oferece como refúgio, onde estão as portas? Como entramos nessa cidade?

O acesso à cidade de refúgio O primeiro passo pm.a obter acesso ao refúgio que Deus concede parece tão notavelmente simples, que muitos nem vão perceber o seu esplendor.

Invoque a Deus Para entrar no refúgio de Deus, precisamos primeiro invocá-lo. Salmos 91:15 diz: "Ele me invocará, e eu lhe responderei; estarei com ele na angústia, livrá-lo-ei e o glorificarei". Por mais que eu tente, não consigo entender como esse negócio de invocar a Deus funciona – mas funciona. A Bíblia diz que devemos caminhar pela fé, não pelo que vemos, e essa é uma das vezes que não podemos entender por que algo funciona; podemos apenas confiar em Deus e depois nos encantarmos quando vivenciarmos os resultados.

O Deus que Você Procura 95 Há séculos, os cristãos derramam o coração perante o Senhor e encontram momentos preciosos de refúgio. Essa é uma notícia incrivelmente boa. Não temos de pegar um mapa, calcular a que distância fica cada cidade de refúgio e depois começar a viagem. Não precisamos ir a um mosteiro. Não precisamos chamar um pastor. Não precisamos esperar o próximo culto. O banco da frente do carro servirá muito bem. Nosso escritório, nossa casa, o trailer do nosso canteiro de obras – todos servem tão bem quanto o tempo mais bem planejado. Podemos ter acesso ao refúgio de Deus a qualquer momento, em qualquer lugar. Tudo o que temos a fazer é reconhecer nossa necessidade, passar da auto-suficiência para a dependência e pedir que Deus se torne o nosso esconderijo. Lembro-me de que, diversos anos depois da morte de meu pai, recebi um telefonema de meu irmão. – Bill, fique calmo com o que vou lhe dizer, mas acabamos de descobrir que há uma forte possibilidade de mamãe estar com câncer. – Você deve estar brincando! – exclamei. Mas ele não estava. Voltei a Kalamazoo com a maior rapidez possível. Após uma cirurgia, ficamos sabendo que o tumor de mamãe era maligno. Cinco filhos se reuniram em torno do leito de uma senhora de 1,60 metros de altura e 45 quilos. Estávamos em estado de choque, sem poder acreditar muito bem, e de coração partido. Nenhum de nós queria que nossa mãe passasse por aquilo e nenhum de nós queria enfrentar a realidade de que logo, logo poderíamos ficar sem pai e mãe. Tudo aconteceu tão depressa. Nas últimas semanas, e até mesmo meses, eu viajara com o controle automático acionado. Claro, tinham ocorrido irritações. Tinham ocorrido problemas com p minúsculo, mas nada que exigisse de mim um lugar para me esconder, nada que me fizesse sentir que precisava de um lugar de refúgio. O medo de perder minha mãe, já tendo perdido meu pai, trazia consigo uma nova intensidade para mim. Agora, de repente, eu precisava

O Deus que Você Procura 96 de refúgio. Precisava de um Deus que pudesse "me esconder" e me ajudar a enfrentar meus temores. Eu o invoquei, e ele me atendeu. Ele abriu as portas de sua cidade, e eu entrei imediatamente. Por algum tempo, senti a proteção e o cuidado de Deus a me cercar. (Felizmente o tumor de minha mãe foi removido em tempo, e ela se recuperou totalmente.) Não entendo, mas minha experiência se mistura com a experiência de milhões de cristãos por todo o mundo e em todos os séculos. Se tão-somente invocarmos a Deus em nossa necessidade, ele responde e se torna um refúgio para nós.

Despeje suas preocupações O passo seguinte para entrar no refúgio de Deus é pôr para fora qualquer coisa que nos esteja aborrecendo. Salmos 62:8 diz: "... derramai perante ele o vosso coração, pois Deus é o nosso refúgio". De forma curiosa, as senhas que abrem as portas do refúgio de Deus são as palavras dilacerantes que fluem de nossos corações quando por fim resolvemos confiar em Deus. Isso acontece quando lhe dizemos quanto as coisas estão de fato ruins e quão próximos do precipício estamos. De algum modo, no momento de dar esse passo da fé, as portas se abrem e as asas de Deus se estendem. Uma das pessoas que tiveram de aprender essa lição foi Jeremias, profeta do Antigo Testamento. Deus chamou Jeremias para falar a verdade num ambiente hostil. Não era tarefa divertida. Não era compartilhar sua fé nas praias do Havaí. Era um trabalho do tipo "vá ministrar aos fundamentalistas islâmicos do Oriente Médio", uma ordem que, quando a recebemos, perguntamos: "Tens certeza, Senhor?". Imagine se você fosse o juiz de um jogo oficial de futebol e na última jogada tivesse de dizer aos fãs do time local que o gol da vitória, feito no último instante, ia ser anulado por causa de uma infração. Talvez você desejasse tomar emprestado um capacete bem reforçado de alguém,

O Deus que Você Procura 97 não é mesmo? Essa era a situação que Jeremias enfrentou quando transmitiu a mensagem de Deus. As pessoas simplesmente não queriam ouvir o que Deus desejava dizer por meio dele. Tentaram vencer Jeremias pela barulheira e, quando isso não surtiu efeito, surraram-no e meteram-no no cepo, defronte da porta pública da cidade. Assim humilhado, Jeremias foi forçado a ficar lá enquanto a ralé cruel de seus dias saía para zombar dele e fazer piadas à sua custa. Jeremias sentiu-se tão exausto por toda essa resistência e hostilidade que, finalmente, lamentou: "... sirvo de escárnio todo o dia; cada um deles zomba de mim. [...] Porque a palavra do SENHOR se me tornou um opróbrio e ludíbrio todo o dia".2 Depois, ele esmorece: "Maldito o dia em que nasci! Não seja bendito o dia em que me deu à luz minha mãe! Maldito o homem que deu as novas a meu pai, dizendo: Nasceu-te um filho!...".3 Quando você está dizendo esse tipo de coisas, está no fundo do poço. Jeremias está dizendo: "Detesto o meu aniversário. Detesto até o sujeito que distribuiu os anúncios do meu nascimento!". E, contudo, olhe o que acontece no meio dessa oração caótica, espontânea. Jeremias pára e diz: "Mas o SENHOR está comigo como um poderoso guerreiro [...]. Cantai ao SENHOR, louvai ao SENHOR; pois livrou a alma do necessitado das mãos dos malfeitores".4 Essa oração mostra que Jeremias está-se recobrando. "Espere um pouco. Ainda estou vivo. E, de alguma forma, misteriosamente, sinto que alguém está cuidando de mim neste momento." Aqui, a fraqueza é sua amiga. Nada extinguirá a experiência que teve do amor de Deus como se fosse falsa piedade ou heroísmo insincero. Desista. Derrame seu coração diante de Deus e conte-lhe como se sente. Seja verdadeiro, seja franco e, quando tiver posto tudo para fora, você começará a sentir a cobertura gradual da presença consoladora de Deus. Os passos atrás de você podem não cessar, mas ficarão mais indistintos. A oposição parecerá menos intensa. Suas pernas

O Deus que Você Procura 98 e seu espírito se sentirão um pouco mais fortes. O céu parecerá um pouco mais claro. Talvez você não saiba como Deus o acudirá, mas, de alguma forma, sabe que o fará. A verdadeira rota de escape pode ser ainda um mistério, mas não haverá dúvida sobre quem a abrirá – seu companheiro constante e atencioso, seu Deus. Se você nunca esteve escondido sob as asas de Deus, não sabe o que está perdendo. E a melhor parte disso é Deus dizer que não há problema em você permanecer ali por algum tempo. Não creio que ele tenha uma pressa extraordinária de nos empurrar para o mundo de novo. Em casos extremos de angústia, acho que Deus até nos aconselharia a orientar a vida, os horários e as atividades em torno das horas seguras com ele. Nessas horas, nossos planos talvez devessem incluir amigos confiáveis e períodos longos e ininterruptos em lugares seguros, até nos recuperarmos, nos reorganizarmos e conseguirmos força suficiente para fazer um retorno à vida real. Se você está em busca de permissão para esse tipo de "intervalo", pode achá-la na própria vida de Jesus. Ninguém antes ou desde então enfrentou as responsabilidades, os deveres e as pressões que Jesus suportou. No entanto, às vezes ele tirava um dia inteiro e uma noite inteira, levava uns dois discípulos e se retirava para um lugar seguro – um barco, a encosta distante de um monte, um local isolado no deserto. E ali Jesus entrava no refúgio que o Pai havia preparado para ele. Cercado de pessoas dignas de confiança, Jesus podia derramar seus problemas diante de um Deus que podia ouvir a senha e cobri-lo com suas asas. Naquele lugar de abrigo, Jesus podia-se reorganizar, revigorar as forças e o senso de propósito, ficando pronto para voltar ao mundo e trabalhar com todas as forças para levar esse mundo ao amor do Pai. Tenho uma notícia melhor ainda para você. Embora a cidade de refúgio de Deus seja uma experiência incrível na terra, Deus tem algo até melhor em mente.

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A suprema cidade de refúgio A Bíblia ensina que há uma cidade eterna de refúgio que espera por todos nós, que somos seus filhos. Nessa cidade, chamada céu, você jamais ouvirá outro passo a persegui-lo. Nenhum terrorista de doze anos chamado Phil habitará ali. Nenhum vingador do sangue jamais conseguirá passar pela porta. Mesmo os ataques do nosso íntimo – coração partido, solidão, mágoa, incompreensões, frustração – jamais conseguirão atravessar os limites da cidade. Os danos que nos são causados nesta terra jamais penetrarão aquela cidade segura. Podemo-nos descontrair, podemos descansar e, embora alguns de nós mal possam imaginar isso, podemo-nos preparar para nos sentir seguros e abrigados por toda a eternidade. Nunca haverá uma ameaça, nunca haverá uma preocupação, nunca haverá um medo sequer. Tudo isso terá desaparecido. A suprema cidade de refúgio está aberta a todos os que escolherem adentrá-la por meio da pessoa de Jesus Cristo. E, neste instante, mesmo que você se sinta indigno, quero pedir-lhe que considere a hipótese de confiar em Cristo e entrar ali. Entre debaixo de suas asas, esconda-se com Deus por algum tempo e deixe que ele lhe descreva em minúcias a cidade eterna de refúgio que ele preparou, na qual você estará seguro e abrigado para sempre. Esse é o lugar que você sabe que precisava visitar. Esse é o Protetor que você sempre desejou. Essa é a verdade que pode dar-lhe a força, a coragem e a dedicação para enfrentar o próximo dia. Esse Deus de refúgio é o Deus que o salvará dos Phils deste mundo, dos vingadores do sangue e daqueles que poderiam ameaçá-lo de sugar sua vida até deixá-lo exangue. E, mais ainda do que isso, esse é o Deus que você de fato procura.

Notas: 1. Josué 20:2,3. 3. Jeremias 20:14,15 (ARA2). 2. Jeremias 20:7,8 (ARA2). 4. Jeremias 20:11,13 (ARA2).

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE SEJA RETO? Foi um sábado esplendoroso. Nosso time de futebol de salão local acabara de enfrentar o oponente mais difícil da temporada – e fora uma vitória fragorosa! Estávamos sujos, tínhamos algumas contusões novas e alguns músculos doloridos que nos relembrariam durante os próximos dias os esforços feitos por nós, homens de meia-idade. Mas, à medida que os jogadores tiravam as camisas, retiravam as joelheiras e trocavam tapinhas de vitória, a testosterona fluía, a comunhão nos invadia e nos sentíamos ótimos. Era um começo maravilhoso para o fim-de-semana. E então veio o domingo. Foi tudo bem na igreja, mas aquela tarde resolvi assistir ao jogo dos Chicago Bears, e meu fim-de-semana se deteriorou rapidamente. Os Bears deram o vexame de ser humilhados em rede nacional pelos Seattle Seahawks. Seattle é uma linda cidade, mas naquele ano o seu time de futebol fez feio. E, mesmo assim, os nossos jogadores deram a impressão de que esses concorrentes de Seattle eram os finalistas de uma copa. Após um zagueiro ter perdido a décima passada do time, bati furioso com os pés no chão e berrei para a televisão: "Eu teria feito melhor do que isso!". Lembrei-me da vitória do meu time local na véspera. "Como você pode perder uma passada dessas? Me dê um uniforme! Vou mostrar o que se faz com a bola!!" Bem, acontece que eu era o capelão dos Bears na época. Na semana seguinte, quando visitava sua sede, dobrei uma esquina e dei de cara com uma montanha usando o uniforme de treinamento dos Bears. Olhando direto num umbigo, ocorreu-me o pensamento: Não gosto nem de estar perto desse umbigo. E então ocorreu-me outro pensamento: Como seria estar agachado na frente do dono desse umbigo, forçado a manter uma posição de três pontos, e ouvi-lo grunhir. "Muito bem, Hybels, você vai ser um belo café da manhã"?

O Deus que Você Procura 101 Lembrei-me dos meus comentários no domingo anterior – "Me dê um uniforme. Eu teria feito melhor do que isso!" – e percebi que a maioria daqueles caras poderia acabar comigo sem suar nem uma gota. E logo então outro jogador veio por trás de mim e colocou o braço sobre o meu ombro. A impressão que tive foi a de que um tronco de árvore tivesse caído sobre mim. – Oi, Bill, como vai? – Bem, até você deslocar meu ombro. Num instante, a realidade se abateu sobre mim como um relâmpago. Com o sabor de um joguinho local de futebol de salão ainda fresco na boca, comecei a imaginar que tinha potencial para um time profissional. Quando entrei no vestiário dos Bears, levei um choque que me jogou de volta à realidade. Duvido que o diretor de equipamentos conseguisse encontrar um par de ombreiras que servisse em mim! Como pastor, ouço muitas vezes as pessoas cometerem o mesmo engano em relação a Deus e à sua retidão. Dizem elas: "Admito que pequei algumas vezes. Sim, já dei minhas escorregadelas. Não vivi à altura do meu potencial moral, mas estou certo de que vou ficar firme na hora da competição. Garanto que minhas notas estarão na média da equipe toda". Comparamo-nos a políticos safados, estupradores e assassinos e raciocinamos que parecemos santos em comparação a eles, mas, quando fazemos isso, estamos usando o padrão errado. Não temos a menor idéia de quanto o padrão de Deus é santo, reto e impossivelmente elevado. Quando entrarmos na presença esplendorosa de Deus, minha experiência de entrar no vestiário daqueles jogadores enormes será ampliada um milhão de vezes. Perceberemos que nossa santidade funcionou bem nos campeonatos das igrejas, mas não podemos chegar nem perto do nível do céu! A retidão – a retidão verdadeira, produzida por Deus, inspirada por Deus, dada por Deus – é completamente incompreendida por nossa

O Deus que Você Procura 102 cultura hoje. De todas as coisas que nos faltam em relação a Deus e à sua identidade, essa talvez seja a nossa pior ignorância.

O nosso Deus reto Há tantos textos na Bíblia que chamam Deus de reto, que quase poderíamos fazer uma roleta bíblica e acabar dando com um deles. Deixe-me levá-lo a três dessas passagens: "Pois o Senhor é justo e ama a justiça; o seu rosto está voltado para os retos."1

Em suma, diz o salmista, Deus não é um juiz desonesto. Ele não aceita nenhum envelope de dinheiro e tem bolsos do tamanho normal. Não apenas é reto, mas ama a retidão. Você nunca vai conseguir que ele faça de conta que não viu. "Justo és, ó Senhor, e retas são as tuas leis."2

Deus tem justiça intrínseca. A retidão não apenas define Deus, mas Deus define a retidão. Ele próprio é o padrão. Todas as suas leis são retas e justas; não há uma única delas que seja injusta ou iníqua. "... sua retidão permanece para sempre."3

Deus não está praticando a retidão por uns tempos. Ele não tem dias retos e dias sem retidão. Sua justiça permanece para sempre. Toda decisão que Deus toma é boa e certa, por isso podemos ter certeza de que toda decisão que Deus toma a nosso respeito será a certa. Podemos não gostar do julgamento, mas jamais poderemos questionar sua correção. Ademais, toda lei que Deus ordenou que entrasse em vigor é reta. Deus não é influenciado pela cor da nossa pele, pelo tamanho do nosso escritório nem pela quantia do nosso dízimo. Suas leis são "oportunidade igual" e se aplicam a todos da mesma forma. Não há discriminação, nem ação afirmativa – apenas retidão total, perfeita. Toda lei nos protege de danificarmos a nós mesmos, de danificarmos aos outros, de sofrermos os danos causados por outras pessoas ou de desperdiçarmos a vida e a nossa

O Deus que Você Procura 103 eternidade. Cada uma delas emana de um cerne inerentemente reto e aplica o mesmo padrão, independentemente de sexo, idade, filiação religiosa ou tradição. É graças à retidão inerente de Deus que desenvolvemos um forte senso do que é justo. Até mesmo garotinhos ficam flagrantemente ofendidos ao menor sinal de injustiça nas suas brincadeiras. O mundo ainda não viu um pai ou mãe de mais de um filho que não tenha sido amargamente acusado com as palavras: "Mas isso não é justo!". Embora a mesma acusação tenha sido lançada contra Deus, ela é ridícula. Aliás, é desconcertante ver como Deus é mesmo justo. Em sua natureza, em suas ações para conosco, em suas leis e em sua história, Deus tem-se mostrado um Deus reto. Essa retidão tem o potencial de revolucionar completamente o mundo.

Uma revolução de retidão Recentemente, minhas viagens me levaram ao centro da cidade de Nova Iorque. Perambulando pelas ruas, achei que tinha acordado num planeta distante. Em Chicago, se queremos ir a uma loja, entramos, fazemos as compras e saímos. Na região de Nova Iorque em que eu estava fazendo compras, chega-se à porta, aperta-se uma campainha e um guarda armado examina quem chega para ver se permitirá que entre. Caminha-se pela loja, intensamente consciente de que a menos de três metros de distância está um homem com uma arma carregada, garantindo o comportamento impecável dos que entraram por aquela porta. De volta à calçada, os ouvidos esquivam-se do som estridente de mais outra sirene. Os olhos se entristecem diante do quadro de pessoas sem teto que se arrastam pelas ruas, resmungando, numa inutilidade sem rumo. Carros destroçados entopem a lateral de muitas ruas. E se começa a perceber que a cidade de Nova Iorque não é a capital de retidão do mundo.

O Deus que Você Procura 104 Num restaurante em Nova Iorque, num final de noite, outro pensamento me ocorreu: E se houvesse uma revolução de retidão em Nova Iorque? Era tarde da noite, eu estava longe de casa e, assim, tinha algum tempo para brincar com a idéia um pouquinho. E se essa revolução se estendesse um pouco mais? E se houvesse uma revolução de retidão em Chicago? Ou em Los Angeles? Como seria viver numa cidade reta, ou numa nação reta, ou num mundo reto? Nenhuma corrupção no governo – nenhum suborno, nenhuma falcatrua. Nenhum crime, nenhuma violência. As mulheres poderiam caminhar pelas ruas à meia-noite e sentir-se tão seguras como se fosse meio-dia. Não haveria trancas nas portas (nada de chaves de carro para perder!), nenhum abuso, nenhum homicídio, nenhum roubo. Levei aquilo mais adiante ainda: Como seria viver numa família rena? Então dei mesmo rédeas à imaginação: Como seria ser membro de uma igreja reta? Ninguém buzinando impacientemente no estacionamento. O coro cantaria sem desafinar, e a mensagem sempre terminaria na hora certa! Se você está dizendo consigo mesmo "Interessante, mas acho que a vida ficaria um tanto monótona", peço licença para discordar. Por ser a retidão um conceito tão alheio à nossa realidade, mal podemos entender quanto seria divertido viver num mundo reto. O cristianismo diz que fomos criados por um Deus reto para florescermos e nos sentirmos eufóricos num ambiente reto. Em outras palavras, Deus "ligou os nossos fios" de tal forma que, quanto mais retos formos, mais desfrutaremos de verdade a vida. Veja por que penso isso. Fui jogar golfe com um sujeito há alguns meses. (Na realidade, ele me arrastou para o jogo!) Ele se pôs na posição certa, segurou o taco da maneira certa e bateu na bola do jeito certo. Eu me coloquei na posição errada, segurei o taco da maneira errada e mandei a bola para longe do buraco. Quando chegamos ao quarto buraco, eu estava frustrado. No sexto buraco, eu odiava o jogo. No nono buraco, estava seriamente pensando em dirigir o carrinho de golfe para

O Deus que Você Procura 105 dentro do lago e pôr fim àquele sofrimento. Contudo, olhei meu parceiro e vi com clareza que ele estava-se divertindo para valer. O que fazia a diferença? Ele estava jogando o mesmo jogo que eu, mas estava jogando da maneira certa – e divertindo-se na mesma proporção. Eu estava jogando da maneira errada, odiando cada minuto. O que torna a competição tão divertida é quando tudo parece estar dando certo – algo que raramente experimento quando jogo golfe, mas que já experimentei às vezes quando estou num veleiro.

Fazer as coisas da maneira certa Como você já deve ter percebido, meu esporte favorito é a competição de barcos à vela. Durante o verão de 1994, a equipe do meu barco chegou às cinco competições finais em uma regata importante. Tudo seria resolvido na última corrida. Se ganhássemos, nosso barco seria o vencedor da regata. Se perdêssemos, bem... Antes do início da competição, dei à minha equipe uma palavrinha de estímulo para garantir que aquilo não ocorresse. "Gente", disse eu, "se nunca fizemos as coisas do jeito certo, a hora é agora". Todos sacudiram a cabeça em assentimento, e começamos a mapear nossa estratégia. Não era hora de adivinhar nem "esperar" que tudo estivesse a nosso favor. Sabíamos velejar. Conhecíamos nosso barco. Conhecíamos o lago. E era hora de velejar como sabíamos velejar, nada deixando ao acaso. Planejamos tudo e fomos em frente. Começamos fazendo tudo certo. Saímos bordejando por ali afora e chegamos exatamente onde queríamos estar no nosso rumo. Lemos as mudanças de vento da maneira certa. Içamos e derreamos as velas na hora certa. Usamos as táticas certas. E ganhamos. Por cerca de duas horas e meia, experimentei o auge esfuziante de fazer as coisas da maneira certa.

O Deus que Você Procura 106 Voltamos ao clube e os companheiros dos outros barcos de nossa classe nos procuraram para dizer: "Vocês deram um show hoje! Foi uma honra vê-los velejando assim – vocês fizeram tudo perfeito. Mas apenas conseguimos manter aquele "perfeito" por um breve período de duas horas e meia. Quanto mais competimos, menor a probabilidade de fazermos tudo da maneira certa. Mas jamais nos divertimos tanto e desfrutamos algo tanto como quando fazemos tudo exatamente da maneira como deve ser feito. A lei de Deus produzirá uma sociedade e um caráter que em última análise todos queremos ver produzidos. Se deixarmos que Deus aja como quer na nossa vida, as pessoas acabarão vindo nos procurar e dirão: "Você deu um show hoje. Foi uma honra ver você viver assim – foi tudo perfeito". E dirão isso de todo o coração. É por isso que Davi diz: "Tenho prazer nos teus mandamentos, porque os amo".4 Quer permitir que uma revolução de retidão comece com você? Está disposto a fazer o papel de "agente infeccioso" da retidão? Pode não ser tão difícil quanto pensa. Você tem um modelo para copiar: o nosso Deus reto. A retidão de Deus é a base que gera o nosso senso de retidão. Demos a entender isso no primeiro capítulo, quando falamos sobre um código moral universal.

Revolta Por que nos horrorizamos quando ouvimos falar de homens que espancam a esposa? Por que nos revoltamos ao saber que crianças são violentadas? Por que ficamos tão furiosos quando ouvimos falar de alguém que logra os idosos, saqueando deles a economia de toda uma vida? Por quê? Porque Deus colocou um código moral em nossa alma.

O Deus que Você Procura 107 Quando eu estava em Nova Iorque, vi um porteiro deter uma senhora idosa. As roupas esfarrapadas dela, os cabelos embaraçados e o rosto desgastado pelo tempo bradavam "sem-teto". Era difícil ver que tipo de ameaça ela constituía. Aos olhos do porteiro, ela era certamente um aborrecimento, mas com igual certeza não era uma ameaça. Entretanto, o porteiro a empurrou com tanta força, que ela quase caiu. "É a última vez que quero ver você por aqui", berrou ele, e ninguém que estivesse vendo teria duvidado da seriedade de suas intenções. Pensei: Há muito tempo, essa mulher foi a garotinha de alguém. Talvez seja a mãe de alguém, até a avó de alguém. Aqui está uma mulher nos últimos anos da vida, importante para Deus, sendo tocada para o frio fá fora. E pensei: Isso é errado. Isso é muito errado. Se eu me senti daquela maneira, imagine o que se passa na mente e no coração de um Deus intrinsecamente reto. Na mesma viagem a Nova Iorque, conversei com um líder cristão da Costa Leste. Ele me puxou para um lado e disse: "Só preciso de uns dois minutinhos do seu tempo. Alguém da nossa igreja violentou minha filha". Fiquei tão revoltado, que mal consegui me conter. Mesmo assim, minha reação foi pálida em comparação com o que deve ocorrer no coração de um Deus reto que fica por natureza pesaroso com tamanha maldade. Como Deus é reto, não olha impassível a falta de retidão. Ele a odeia. Você nem imagina como Deus quer promover uma revolução de retidão neste mundo. Ele deseja acertar tudo – todas as pessoas e todas as coisas. Ele quer isso porque nos ama, e sabe que fomos feitos para viver retamente. Mesmo assim, Deus não é um pirata. Não vai intervir nem roubar nosso livre-arbítrio. Não nos dominará. Não assumirá o controle de nossa vida nem ligará nossa fiação para funcionar em "piloto automático".

O Deus que Você Procura 108 Ao contrário, ele se entristece quando mentimos para nós mesmos na vã tentativa de justificar nossa falta de retidão. Fazemos uso da autoprojeção: "Na realidade, a culpa não é minha, é de outra pessoa"; "Eva me deu o fruto – o que eu ia fazer?". Usamos a racionalização: "Tenho de andar a mais de cem quilômetros por hora nas áreas em que só se permitem noventa. Com todos esses caminhoneiros, preciso acompanhar o fluxo para proteger minha esposa e meus filhos". Lançamos mão de comparações: "Se você acha que eu bebo muito, devia passar uma noitada com o José". Empregamos a supressão, afastando a culpa da mente assim que ela tenta dominar. Usamos a distração, enchendo a vida de barulho e de atividades para evitar qualquer momento de contemplação. Usamos o escapismo – um comprimido, uma bebida, uma dose de droga, o jogo, qualquer coisa para manter a adrenalina correndo nas veias. Nenhuma dessas coisas funcionará muito bem. Todas acabam falhando e nos deixando exaustos, derrotados, miseráveis. (Em outras palavras, elas me fazem sentir como se tivesse acabado de jogar uma partida de golfe.) Neste mundo, Deus quer promover uma revolução de retidão, que nascerá no coração de seu povo. O que uma revolução dessas exigirá? O primeiro passo é restabelecer os padrões retos de Deus.

Comece a olhar para cima! Segundo William Kilpatrick, catedrático do Boston College, o mundo ocidental soube claramente quais eram os padrões de moral e de virtude por cerca de dezoito séculos. Em seu livro, Why Johnny doesn't know right from wrong [Por que Joãozinho não sabe a diferença entre o certo e o errado], o Dr. Kilpatrick diz que, quando as pessoas queriam saber o que era certo e o que era errado, olhavam para cima. Concordavam que Deus é reto, e suas leis retas deveriam comandar a nossa conduta.

O Deus que Você Procura 109 É certo que esse consenso não garantia o cumprimento. Não significava que não havia quem fizesse todo o possível para quebrar todas as leis. Mas ainda assim as pessoas aceitavam o fato de que havia leis transcendentes, retas, que tinham em Deus o seu autor. E a maioria das pessoas cria também que cumprir essas leis, mais do que rejeitá-las, melhoraria o funcionamento da sociedade. Lá pelos meados do século XVIII, observa Kilpatrick, foram surgindo algumas teorias alternativas. O filósofo Immanuel Kant fez nascer o racionalismo ao afirmar: "Se quiser saber a diferença entre o certo e o errado, não é preciso olhar para cima, porque você é esperto. Basta apenas usar a razão humana pura. Se sentar, pensar, se contemplar, meditar e incubar o problema em sua mente, será capaz de adivinhar o que é certo e o que é errado para você".5 A seguir, veio o filósofo suíço Jean-Jacques Rousseau. Se Kant dizia "Olhe para a sua mente", Rousseau mandava: "Olhe para o seu coração". Eis o romantismo. Ele via o coração humano como uma flor bela que desabrochava, acreditando que as pessoas são naturalmente boas e serão melhores ainda se seguirem seu coração. Por isso ele instava com as pessoas que se encontravam numa encruzilhada moral a que fizessem o que o coração mandasse. Por fim, veio Friedrich Nietzche, que disse: "Não olhe para cima, olhe apenas para a sua vontade. Agarre o poder. Assuma controle sobre sua vida. Decida o que deseja fazer, como quer manifestar sua energia, e faça-o".6 A Nike ("Just do it") que me desculpe, mas o desastre da abordagem de Nietzche se tornou mais visível quando um jovem político alemão chamado Adolf Hitler seguiu esse tipo de pensamento. A vontade de Hitler ditava que era errado os judeus viverem, e ele agiu com base nisso. Ironicamente, os historiadores dão ao reinado de 150 anos das filosofias de Kant, de Rousseau e de Nietzche o nome de "Iluminismo". Kilpatrick chama à época desde esse período (que teve fim no meio do século XX) "Obscurantismo". Ele usa esse rótulo para se referir ao

O Deus que Você Procura 110 obscurecimento da alma humana, citando todas as estatísticas estarrecedoras e deprimentes que eu e você conhecemos tão bem – uma elevação impressionante nos divórcios, nos crimes, nos suicídios e em coisas do gênero. Segundo Kilpatrick, a menos que deixemos de transformar em deuses a mente, o coração e a vontade, em vez disso usando esses três elementos para olhar para cima – ou seja, a menos que restabeleçamos os padrões retos de Deus como teste supremo do que é verdadeiramente certo e verdadeiramente errado – estaremos perdidos. 7 O olhar para dentro não nos transformou num mundo mais reto, e a falta de retidão sem dúvida não nos fez um povo mais feliz. O fato é que a retidão de Deus tem resistido a Kant, a Rousseau, a Nietzche e a todos os outros. É claro que uma revolução de retidão não será gerada por uma nova filosofia. Ao contrário, os indivíduos precisarão ser libertos, um de cada vez, do poder escravizador da falta de retidão.

Quebrando os grilhões da falta de retidão Comecei a me encontrar com um jovem alguns anos atrás. Ele buscava as verdades espirituais, e em diversos dos nosso encontros trabalhamos a existência de Deus, as razões da fé e todas as coisas que, dizia ele, o impediam de se tornar um seguidor de Cristo. Depois de diversos meses, percebi que não havia nenhum argumento que pudesse convencer aquele rapaz a se tornar cristão. Concordamos em que de fato não havia motivo de continuarmos os debates. Achei que nunca mais ia vê-lo. Alguns anos depois, esse moço me cumprimentou depois de um culto de domingo. Ele apertou minha mão com energia inusitada e me contou que havia aceitado a Cristo. Claro que me surpreendi, já que era tão fechado, mas meu jovem amigo explicou: "Quando nos reuníamos, tudo o que você mostrava fazia perfeito sentido, mas eu estava morando com minha namorada na época e sabia que, se me tornasse cristão, teria de parar de dormir com ela. A essência da coisa era que eu não queria

O Deus que Você Procura 111 parar – e não havia nada que você pudesse ter dito para vencer essa objeção". Aquele rapaz sabia que o cristianismo era verdade. Sabia que o cristianismo era certo. Ele aceitava o fato de que Deus tinha um direito legítimo de exigir fidelidade dele, mas sua escravidão à falta de retidão o impedia de fazer o que realmente queria fazer. Argumentos intelectuais eram apenas um subterfúgio para proteger suas escolhas imorais. Romanos 6:17,18 ensina: "Mas graças a Deus que, tendo vós sido escravos do pecado [...]. Fostes libertados do pecado, e vos tomastes escravos da justiça". Nos dias em que esse texto foi escrito, a escravidão vicejava, por isso o apóstolo Paulo Lisa uma figura para mostrar o que queria dizer: "Todos são escravos – ou de Deus ou do próprio pecado. Não se engane. Você está viciado na falta de retidão e não pode escapar por suas próprias forças". Você já esteve em feiras em que se oferecem passeios num balão de ar quente? O balão é inflado com o calor de um incinerador, mas não sobe muito no céu por estar preso a uma estaca. Estamos todos amarrados à estaca do nosso pecado. Enquanto essa corda não for cortada por um poder externo a nós, não subiremos muito. Podemos concordar com o padrão reto de Deus, mas, sem a ajuda de Deus, jamais conseguiremos viver esse padrão. No início da igreja Willow Creek Community Church, um advogado descrente que nos ajudou com parte da papelada me chamou para um lado e disse: "Bill, tenho de fazer uma advertência porque gosto de você. Você é um jovem idealista. Vai fundar esta igreja e obviamente acha que haverá transformação de vidas. Há vinte anos sou advogado, e deixe-me dizer-lhe uma coisa. As pessoas não mudam. Os adúlteros continuam a cometer adultério. Os cobiçosos ficam mais cobiçosos ainda. Os zangados ficam cada vez mais zangados. Os descontrolados permanecem descontrolados. Se você espera alguma mudança fundamental na vida das pessoas, nada vai ter além de muita decepção".

O Deus que Você Procura 112 Vinte anos depois, vejo que aquele senhor estava certo e errado. Sem o poder de Cristo, ele estava absolutamente certo. Encontro todos os dias pessoas que têm a aspiração de mudar de vida "algum dia", mas continuam tão rabugentas, lascivas, famintas de poder e materialistas quanto sempre foram. Sem Cristo na vida delas, de fato passaram a um grau maior de falta de retidão. Isso é apenas a natureza humana. Mas também tenho visto pessoas que entregam a vida a Cristo e então se submetem a um Deus reto; e tenho observado a vida delas transformar-se radicalmente para melhor. Elas nunca chegaram à perfeição, mas pelo menos estavam voltadas na direção certa; e o resultado foi um abandono radical das pessoas egocêntricas e interesseiras que costumavam ser. Diz o apóstolo Paulo: "Fostes libertados do pecado, e vos tomastes escravos da justiça".8 Sabe aquela corda que está mantendo seu balão preso ao chão? Ela pode ser cortada! Você pode ver-se lançado à retidão de Deus entregando a vida a Cristo. Assim, precisamos olhar para cima, para Deus, se quisermos saber o que é certo e o que é errado. Precisamos arrebentar nossos grilhões naturais de falta de retidão, entregando a vida a Cristo. E, finalmente, precisamos matricular-nos na escola da retidão.

Matricule-se na escola da retidão Um dia desses, acordei de mau humor. Não havia motivo para eu estar de mau humor, apenas estava. Passei pela porta para chegar à garagem e tropecei nos sapatos dos garotos. Eu já lhes havia dito centenas de vezes: "Guardem seus sapatos no armário pra ninguém tropeçar neles". Eles esquecem. Também não são retos. Frustrado, chutei os sapatos para longe, o que fez nosso cãozinho ir correndo se esconder num canto. Ganindo, ele me olhou com uma daquelas expressões que dizia: "Vou me escafeder porque o Bill está com uma cara perigosa".

O Deus que Você Procura 113 Enquanto eu ia para a igreja, pensei: O cachorro está certo. Estou perigoso no momento. Tive uma recaída, perdi a minha retidão. Por isso, pensei numa lição que havia aprendido havia muito tempo: quando você sabe que está perigoso, quando a falta de retidão começa a ficar atraente para você, é melhor fazer alguma coisa. Entrei no meu gabinete, tirei meu caderno espiral e comecei a escrever. "Querido Deus, estou perigoso. Meu cachorro me disse isso – não dava para esconder. Nem é preciso ser humano para ver. O mais triste é que nem sei porque estou tão mau humorado, mas sei que não vou ser amoroso em meus relacionamentos hoje se algo não mudar em mim. Se as pessoas me forçarem um pouquinho, e elas o farão, vamos ter alguns problemas. Não quero que seja assim. Quero ser um homem reto. Quero ser um homem amoroso." Acabei de escrever em meu diário, peguei a Bíblia e li 1 Coríntios 13, o conhecido capítulo do amor que muitas vezes se lê nos casamentos. Ele me relembrou de que o medidor central pelo qual nossas vidas serão avaliadas é o amor. Deixei que as Escrituras me banhassem e me submergissem por algum tempo, depois ajoelhei-me e orei: Deus, não quero viver sem retidão hoje. Não quero magoar as pessoas. Não quero dizer coisas de que me arrependa. Eu estava tão preocupado, que liguei para um amigo. – Estou meio desajustado hoje – falei. – Por quê? – Ainda não descobri, por isso pare de me pressionar. – Está bem, está bem – respondeu meu amigo. Com prova novinha em folha de que eu realmente estava com um problema de atitude, meu amigo apenas conversou comigo. Aos poucos, por meio das disciplinas espirituais e dos hábitos de pregar, escrever, orar, ler a Bíblia e ter comunhão, comecei a fazer algumas mudanças. Não ia deixar um dia sem retidão "simplesmente acontecer". Até o meio-dia, eu já não estava mais tão perigoso. E, quando chegou a noite, eu estava de volta no rumo.

O Deus que Você Procura 114 A questão é esta: incorremos tão facilmente na falta de retidão que, a menos que nos dediquemos aos hábitos e relacionamentos que nos ajudam a levar uma vida reta, provavelmente recairemos. Em 1 Timóteo 6:11 lemos que devemos "seguir a justiça". Não diz: "Fique refestelado até ela chegar". Temos de segui-la. Já 1 Timóteo 4:7 expressa isso de outra forma: "Exercita-te a ti mesmo na piedade". Quero encerrar este capítulo com um último pensamento. Imagine só a oportunidade que está diante de você pelo fato de servir a um Deus reto. Alguns de vocês já viveram um terço da vida. Alguns estão na metade, outros já viveram três quartos de toda a vida. Por que você não torna o período que vai de hoje até seu último dia um pouco mais reto? Por que você não trata seu casamento da maneira certa? Por que não trata seu emprego da maneira certa? Por que não educa seus filhos da maneira certa? Bem no fundo do coração, queremos ser pessoas retas e queremos conhecer um Deus reto. Não queremos um Deus caprichoso, com o qual não podemos contar para fazer o que é certo. Para a nossa felicidade, o Deus que procuramos é um Deus intrinsecamente reto e será assim para sempre. Com seu exemplo e sua força, podemos participar dessa retidão. Notas: 1. Salmos 11:7. 2. Salmos 139:137. 3. Salmos 11:3. 4. Salmos 119:47. 5. Citação extraída de Why Johnny doesn't know right from wrong, de William Kilpatrick (New York, Touchstone Books, 1953). 6. Ibid. 7. Ibid. 8. Romanos 6:18.

O Deus que Você Procura

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE SEJA SEMPRE MISERICORDIOSO? – Bill, acho que dessa vez vai. Acho que vamos conseguir construir nos nossos 36 hectares. Quig era (e ainda é) um membro-chave do conselho que, nos primórdios da nossa igreja, Willow Creek, passou centenas de horas trabalhando com os advogados e os vários municípios em torno de South Barrington para obter permissão de construirmos uma igreja. Finalmente, após meses de muita lengalenga, parecia que as autoridades iam dar a permissão para prosseguirmos. – Só há um problema – advertiu Quig. – As autoridades municipais estão muito preocupadas quanto a gerar aglomerações e congestionamentos nesta comunidade. É fundamental não fazermos alarde do nosso tamanho enquanto a comissão de zoneamento estiver passando nossas requisições. – Ele sustentou o meu olhar e repetiu o que dissera: – O que quer que faça, seja muito comedido. – Não há problema – repliquei – serei comedido. Quig continuou-me fitando. – Por que está olhando para mim? – perguntei. – Preciso deixar isso muito claro. Passamos centenas de horas para chegar a este ponto, e não podemos permitir uma mancada agora. – E então, para ressaltar ainda mais o que havia dito, falou: – Diga uma coisa, o que não se pode dizer num teatro? – Fogo. – O que não se pode falar em South Barrington? – Não sei. – Grande. – Ah, entendi. Algumas semanas depois um repórter ligou para me entrevistar pelo telefone. – Tem um tempinho para conversar? – perguntou ele.

O Deus que Você Procura 116 – Claro – respondi. – Conte um pouco sobre sua igreja. – É um ótimo lugar. Muitas pessoas estão encontrando a Cristo e achando ajuda para a vida. – Bem, que tipo de ministérios vocês têm? -. perguntou ele. – Temos ministérios para os jovens aqui e... temos ministérios para os pobres e... temos ministérios para os solteiros. – Parece que vocês têm uma porção de coisas acontecendo – comentou ele. – Bem, a idéia é ter um estoque diversificado de ministérios para que as pessoas possam encontrar todo tipo de ajuda. – Um estoque de ministérios? Parece um termo do mercado varejista. – Nunca pensei nisso, mas acho que é isso mesmo. Queremos ter muitos lugares para as pessoas se entrosarem umas com as outras. O repórter explorou esse conceito comigo por cerca de dez minutos mais e finalmente disse: Parece um shopping center religioso. – Bem, não sei se eu diria isso, mas queremos ter muitos ministérios e abrir as portas às pessoas. – Bem, muito obrigado, Bill. No dia seguinte alguém se aproximou de mim e enfiou um jornal na minha cara. Em negrito, com letras garrafais, a manchete dizia: SHOPPING CENTER RELIGIOSO CHEGA A SOUTH BARRINGTON. A voz de Quig, de duas semanas antes, voltou para me atormentar. Num teatro não se diz 'fogo', e em South Barrington não se diz "grande". Eu sabia que Quig ia ligar. Desconfiei de que minha jovem carreira pastoral acabava de ser encerrada – despedido na minha primeira igreja! E era bem feito. Quig tinha gasto um número absurdo de horas

O Deus que Você Procura 117 negociando cuidadosamente com as autoridades, e eu arruinara tudo com uma entrevista descuidada. Mesmo assim, eu precisava ter esperança. Talvez, pensei, eu pudesse apenas receber uma repreensão severa e ter outra oportunidade. De qualquer forma, não estava ansioso pelo telefonema, mas sabia que ele viria. No começo da tarde, a recepcionista me passou uma ligação de Quig. As primeiras palavras que saíram de sua boca foram: – Sabe que você conseguiria ser mais comedido ainda, se quisesse? – Me desculpe, Quig. Você não tem idéia de quanto estou-me sentindo mal por isso. Eu não queria parar por ali. Continuei falando até Quig me interromper e dizer: – Olhe, você é jovem. (Ele não disse "e estúpido", mas ambos sabíamos que era o que estava pensando. ) Aposto que nunca vai fazer isso outra vez. Além disso, você tem o coração, tem a visão – e essas foram as palavras que partiram meu coração – tem um amigo. Recebi o pagamento de um abono e quero levá-lo a um restaurante italiano para almoçar. Encontre-me lá. Aquele dia, experimentei o sabor, o senso, a visão e o toque da graça. Foi uma mudança radical daquilo que eu vira quando estava crescendo e um desvio sobrenatural da maneira como as coisas geralmente funcionavam.

Fazendo bolhas na esteira das boas obras Neste país, a vida, como a conhecemos, implica desempenho. Quando crianças, ensinaram-nos que, se queremos alguma coisa, temos de fazer por merecer. Em adultos, sabemos que, se queremos o prêmio de vendas, temos de sair por aí e vender. Se queremos uma promoção, temos de fazer horas extras. Se queremos sucesso – vocacional, atlética

O Deus que Você Procura 118 ou financeiramente –, temos de nos cobrir com essa ética de trabalho e fazer o sucesso acontecer por nós mesmos. Com base nessa compreensão, passei a primeira metade da minha vida tentando agradar a Deus, fazendo o bem e sendo bom. Afinal, raciocinava eu, minha diligência trazia bons resultados em outras áreas – notas e atletismo –, portanto, não ocorreria o mesmo com minha fé? Mas logo comecei a pensar: Qual a nota que Deus dá ao meu desempenho? Qual é a cota de boas ações, e como sei se estou passando ou repetindo? Sempre que eu cometia um pecado bem-definido, pensava comigo mesmo: Ora, isso é ótimo. De volta ao ponto de partida, e logo me sentia como se estivesse tentando subir numa encosta coberta de gelo – uma escorregadela, e você desliza até chegar ao fundo. Lentamente, ocorreu-me o pensamento apavorante: Provavelmente nunca serei bom o bastante. Eu sabia que a misericórdia podia chegar apenas até certo ponto, o qual parecia estar fora do meu alcance. (O apóstolo Paulo disse que era o maior dos pecadores, mas ele não me conhecia.) Em resumo, eu estava frito. Pelo menos era o que pensava, até que deparei cara a cara com a graça. Quando li em Isaías que até mesmo minhas ações mais justas – as domingueiras – eram como "trapos de graxa", como os dos postos de gasolina, percebi que ações nobres jamais poderiam levar-me para o céu. Mesmo o meu melhor ficava penosamente aquém do exigido. Ora, isso pode parecer esquisito para alguns de vocês, mas a conscientização de que era impossível entrar no céu com a minha própria passagem tornou-se uma experiência tremendamente libertadora para mim. Percebi que tinha de tomar um trem diferente, e foi então que me vi atropelado por uma locomotiva chamada graça. E assim que descobri a verdade a respeito da graça, abri as mãos e o coração, e orei: Deus, se és tão chocantemente misericordioso que podes te oferecer para me salvar, perdoar o meu pecado e me levar ao céu com base no que Cristo

O Deus que Você Procura 119 fez por mim na cruz... Se farias isso por mim pecador como eu, e se isso vem como um presente gratuito, Senhor eu aceito. Senti uma liberação e uma libertação diferente de qualquer coisa que jamais sentira antes. Até que enfim meus pés não estavam formando bolhas na esteira rolante das boas obras. Fui tirado da corda bamba do medo da morte e do castigo e lançado sobre o chão sólido e seguro de um amor espantoso que me surgiu sem nenhuma condição. O texto que me serviu de plataforma de segurança de quase dois quilômetros de largura foi: "Pois é pela graça que sois salvos, por meio da fé – e isto não vem de vós, é dom de Deus – não das obras, para que ninguém se glorie".1 Mais tarde, procurei uma amiga e perguntei: – Por que ninguém me disse que eu podia ser salvo pela graça e não pelo meu desempenho? – Bill, todos temos tentado dizer isso, mas você estava tão determinado a salvar a si mesmo, que não era capaz de ouvir – respondeu ela. Ela estava absolutamente certa no que se referia a mim. Está certa no que diz respeito a você? Você está tentando subir uma escada de desempenho espiritual, sem saber que a escada nunca vai chegar a Deus? Se estiver, tenho ótimas notícias para você. O Deus que você procura é misericordioso. Em Salmos 103:8, lemos: "Compassivo e piedoso é o Senhor, lento para a cólera, e abundante em amor". Se alguém dissesse "Mostre-me o versículo da Bíblia que me dá um retrato de quem Deus é", esse é o que eu mostraria. A graça mudou a minha vida, mas poucas realidades tenho visto que sejam tão mal-interpretadas em nossa cultura. Quando as pessoas pensam em "graça", geralmente pensam em simpatia, beleza de forma, sensibilidade, esse tipo de coisa. "Ah, que graça que ela é." "Que graça de anfitrião ou anfitriã." Mas o que a Bíblia quer dizer quando fala em graça? Quero passar algum tempo nessa definição, porque compreender

O Deus que Você Procura 120 a natureza da graça de Deus tem sido a experiência mais profunda que já vivenciei como cristão.

Justiça, indulgência e graça Inerente a Deus é a tendência de conceder benefícios a pessoas imerecedoras. Seres humanos "bonzinhos" talvez experimentem um desejo esporádico de conceder benefício a uma pessoa bem merecedora digamos que um chefe dê um dia a mais de folga a um empregado produtivo; um estudante esforçado talvez ganhe a extensão do prazo de um trabalho; crianças bem comportadas talvez ganhem um copinho de sorvete quando voltam da casa da vovó. Mas a graça de Deus vem de um planeta inteiramente diferente. Não há nenhuma relação de sangue entre a graça de Deus e a graça dos homens. A graça de Deus é tão fora do comum quanto comum é a graça humana. Para entender isso, você precisa primeiro entender a relação entre justiça, indulgência e graça. Digamos que você esteja saindo à frente da casa para apanhar o jornal de todas as manhãs e percebe o garoto de quinze anos que mora umas duas casas adiante. Ele ainda não tem carteira de habilitação, mas "tomou emprestado" o carro da família sem permissão e está dando uma ré apressada e descuidada. Você fica preocupado porque sabe que ele não está habilitado para dirigir e se preocupa porque sabe que há problemas naquela casa. Por isso, você fica observando, ouve os pneus cantar e vê o carro saltar para a frente; a cabeça do garoto mal aparece por cima do volante. O carro sai ziguezagueando pela rua, depois salta para a direita e entra com tudo em sua caixa do correio, suas plantas e a cerca que você construiu no último verão. Quando a nuvem de poeira começa a assentar, você vê o garoto sair do carro com uma expressão envergonhada no rosto e tem de tomar uma decisão. Você tem três escolhas.

O Deus que Você Procura 121 A primeira escolha é tratá-lo com justiça. Você pode dar-lhe exatamente o que ele merece. "Olhe, garoto, você bagunçou tudo, por isso vou chamar a polícia e eles vão fichá-lo por dirigir sem habilitação. Depois disso, vou ligar para seus pais e contar a eles o que aconteceu. E depois você vai ter de arrumar um emprego para pagar a minha caixa do correio, as minhas plantas e a minha cerca." Se você tratar o garoto com justiça, não é uma pessoa má. Está apenas dando exatamente o que ele merece – nem mais nem menos. Contudo, talvez você escolha a segunda opção: indulgência. Indulgência é dar a alguém uma punição um pouco menor do que a que merece. Você diz: "Não vou chamar a polícia, mas vou chamar os seus pais, e vamos resolver quanto a caixa do correio custa, quanto as plantas custam, quanto a cerca custa, e você vai pagar". Se você fizer isso, o garoto deve ficar muito grato porque, em vez de aplicar a justiça pura e simples, você está escolhendo ser indulgente. Ele está recebendo menos castigo do que merece. Mas é possível que você escolha uma terceira opção. Essa opção, entretanto, contraria o bom senso. É arriscada, pode explodir na sua cara, e alguns até talvez a chamem de intrigante. Você pode escolher tratar o garoto com graça. – Você bagunçou as coisas, garoto. Arrancou minha caixa do correio, arruinou minhas plantas e achatou a minha cerca. Levei metade do verão para construir aquela cerca. Mas não vou chamar a polícia. Nem mesmo tenho certeza de querer metê-lo numa grande encrenca com sua família. Quanto à caixa do correio, as plantas e a cerca, posso consertá-los. Mas que tal eu e você entrarmos no carro e encontrarmos um lugar onde possamos sentar e pedir um sanduíche? Depois eu poderia descobrir um pouco mais sobre quem você é, o que está acontecendo em sua vida e o que o futuro pode lhe trazer. Você faria isso comigo? O garoto assente com a cabeça. – Só há uma condição – acrescenta você. – Qual é?

O Deus que Você Procura 122 – Eu é que vou guiar. Qual é a sua reação a essa última escolha? Talvez você diga: "Essa é a coisa mais estúpida que já ouvi na vida. Tudo o que o garoto vai fazer é arrumar outro carro no dia seguinte e arrancar a caixa de correio de alguém mais". Sabe uma coisa? Pode até ser. Esse é o risco e o intrigante da graça. Mas também é possível que sua graça intrigante toque aquele garoto na parte mais profunda da sua alma. Seu interesse pelo bem-estar e pelo futuro dele pode destravar um potencial de que ele há muito se esqueceu, e talvez você testemunhe a transformação de outra vida mudada pela graça. O dia todo, caminhamos por aí avaliando se tratamos as pessoas com justiça, com indulgência ou com graça. Mas nenhuma dessas coisas fará sentido enquanto não entendermos o que realmente merecemos. A explosão da graça Há alguns anos, um amigo me levou a velejar em seu barco no sul da Califórnia. Ao passarmos pelo porto de Newport Beach, vi letras grandes em negrito na trave de um belíssimo iate de um milhão de dólares: Merecido. Vamos dizer o que esse sujeito com um barco de um milhão de dólares de fato merece. (E o que você e eu na verdade merecemos.) Enquanto não entendermos isso, jamais entenderemos a verdadeira natureza da graça. Romanos 6:23 diz: "... o salário do pecado é a morte...". Ora, esse é o negócio. Lá no jardim do Éden, Deus disse: "No dia que vocês se rebelarem contra mim, no dia que sacudirem o dedo para mim e disserem: 'Conheço o seu caminho mas vou seguir o meu', no dia que desobedecerem com esse espírito rebelde, nesse dia com certeza morrerão. O salário do pecado é a morte".

O Deus que Você Procura 123 Numa economia moral, governada por um Deus absolutamente santo e justo, quando cometemos uma traição cósmica e mentimos, logramos, roubamos, profanamos o nome de Deus e violamos a santidade de Deus, merecemos a morte. Se fôssemos receber a justiça pura de Deus, seríamos eliminados na mesma hora. Deus não seria cruel e maldoso quando nos aniquilasse – seria justo. Não poderíamos sacudir o dedo para ele e dizer-lhe "Não merecemos isso", porque merecemos sim. É o jeito como ele organizou o mundo. E se recebêssemos indulgência? Salmos 103:10 diz: "Não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos retribuiu segundo as nossas iniqüidades". Como Deus é indulgente, sua regra não é "cada pecado, uma paulada". Não há uma correspondência unívoca entre o nosso pecado e cair morto no lugar todas as vezes, porque a natureza espantosamente indulgente de Deus o leva a nos dar menos do que o castigo pleno que merecemos. Mas então vem a graça. Graça é uma bênção chocante concedida com liberalidade a alguém totalmente imerecedor. É intrigante. É boa demais para ser verdade. É o que faz as pessoas dizer "Não, isso nunca poderia acontecer". Contudo, a Bíblia diz que acontece. Graça é um ataque atordoante e agradável no qual Deus diz: "Sabe o que vou fazer? Vou chocar as pessoas fazendo algo tão espantoso e irracional que, quando essa bênção recair sobre elas, vai causar uma explosão espiritual no coração delas que as transformará para sempre". Quando você sabe o que merece, mas recebe algo mais maravilhoso do que poderia fazer por merecer em mil vidas – bum! –, ocorre a explosão de graça em seu coração, e você jamais será o mesmo. É isso exatamente o que aconteceu com o filho pródigo, cuja história é registrada em Lucas 15. Esse filho caprichoso tomou a herança do pai e acabou com ela. Ele fez todas as coisas autodestrutivas e desonrosas a Deus que um jovem rebelde, com os bolsos cheios de dinheiro, poderia fazer. Alguns de vocês sabem exatamente o que aquele rapaz fez.

O Deus que Você Procura 124 Quando sua devassidão, suas extravagâncias e escolhas tolas o levaram a um ponto tão baixo que a comida dos porcos começou a parecer boa, ele pensou consigo mesmo: Isso é justiça. Estou morrendo num cercado cheio de porcos, mas é o que mereço. Desperdicei a herança do velho – dinheiro que ele ganhou depois de décadas de trabalho árduo e vida direita. Infringi tudo que me ensinaram e até inventei novas maneiras de me meter em apuros. Sacudi o dedo contra Deus e seus caminhos, e agora destruí a vida e estou rastejando com os porcos. Se eu morrer assim, não é injusto; recebi justiça. Entretanto, mesmo estando numa pocilga suja e malcheirosa, ele se atreveu a imaginar a indulgência – não porque seus pecados se houvessem tornado um pouco menos odiosos, mas porque ele tinha certa compreensão do amor do pai. Ele não podia passar da indulgência para a graça – isso nem lhe passou pela cabeça. Ele apenas teve a fé de entrever a possibilidade de que o pai fosse indulgente, e assim disse consigo mesmo: É isso que farei. voltarei para casa. A primeira coisa que direi a meu pai é: "Já não sou digno de ser chamado teu filho". Vou pedir apenas que ele me permita pousar com os empregados e talvez receber um pouco de comida, pela qual trabalharei. Nunca, em seus sonhos mais extravagantes, ele imaginou o que o aguardava. Esse filho delinqüente recebeu uma imensa bênção de amor em completo desacordo com a situação: o abraço do pai, o anel no dedo, a celebração com os amigos e com a família, o melhor banquete de sua vida. Era ilógico. Bum! Aquele rapaz foi transformado para sempre por um ataque assombroso de graça. Duvido que ele tenha saído dois meses depois com dinheiro nos bolsos para a mesma cidade fazer a mesma coisa, indo parar na mesma pocilga. O rapaz que teria feito isso estava morto. Foi aniquilado pela graça. Enquanto essa explosão não ocorrer em seu coração, você jamais entenderá a graça de verdade. Não terá a menor idéia do poder que ela tem nem do seu custo. Lembre-se, Deus não apenas fez vistas grossas

O Deus que Você Procura 125 para o pecado. Jesus, seu Filho, pagou o preço para satisfazer às exigências de sua justiça. Por causa dessa transação, Deus pode oferecer o dom do perdão e da salvação, e dizer: "Aqui está, graça, para vocês que a desejam, que precisam dela, que a reivindicarem". Você vê a graça com mais clareza agora? Ela é imerecida. Vem do coração de um Deus misericordioso que deseja espantá-lo e dominá-lo com uma dádiva que você não merece – salvação, adoção, capacidade espiritual para ser usada a serviço do reino, orações respondidas, a igreja, sua presença, sua sabedoria, sua orientação, seu amor. A verdade é que não merecemos nenhuma dessas coisas, quanto mais um iate de um milhão de dólares, mas Deus é tão incrivelmente misericordioso, que nos dá bênçãos eternas tão ricas, que fazem um iate parecer um desses brindes de plástico das caixas de cereais.

As bênçãos da graça O perdão que Deus oferece é uma oferta de oportunidade igual. Deus faz essa oferta para pecadores espetaculares, pecadores maçantes, pecadores maldosos, pecadores respeitáveis, pecadores secretos, pecadores cultos, pecadores incultos, pecadores religiosos e pecadores ateus. A verdade é que Deus se deleita em oferecer perdão. Quando sua graça nos atinge, a primeira coisa que sentimos é um alívio enorme. "Ah, há uma oferta de perdão. Não terei de pagar por esse erro pelo resto da vida". O meu alívio ficou mais perto da euforia. Eu me esforçara tanto, que a idéia de um perdão que nada precisei fazer para merecer foi uma notícia boa e indescritível. A próxima coisa que a pessoa sente é a possibilidade de reconciliação. Quando a manchete infame do "shopping center religioso" saiu publicada, meu temor não se limitou à perda do emprego. Eu havia aprendido a apreciar enormemente o meu relacionamento com Quig, e pensei: Agora acabou tudo. Ele jamais vai querer falar comigo de novo. Mas o que aconteceu? Quig me convidou para almoçar.

O Deus que Você Procura 126 Senti esperança. A concessão da graça faz isso. Ela alivia as pessoas de ter de pagar, e pagar, e pagar. Não havia nada que eu pudesse fazer para tomar os meus comentários de volta do repórter; não havia como "compensar" Quig pelas centenas de horas do seu tempo que eu pusera em sério risco. Mas a graça cobre tudo isso, e mais. Ela convida as pessoas a voltar a um relacionamento com Deus e com aqueles a quem ofenderam. No sistema em que há graça, os sonhos não os pesadelos – definem a nossa vida. Isso, entretanto, é o que chamo a "pedra de tropeço da graça", a própria dificuldade que impede as pessoas de abraçá-la.

A pedra de tropeço da graça Almocei certa vez com um executivo com quem eu vinha travando um relacionamento. Pedi-lhe seu guardanapo e sua caneta. A caneta dava a impressão de custar no mínimo duzentos dólares; por isso, eu sabia que teria a atenção total dele se a usasse em vez da minha. Ele não permitiria que a caneta saísse do alcance dos seus olhos! Tomando a caneta, escrevi Deus na parte de cima do guardanapo, depois desenhei uma linha apontando para baixo. Apontando para a palavra Deus, falei: – Aqui está o padrão de santidade de Deus. Aqui está uma linha – e acompanhando a linha descendente, acrescentei: – E aqui estão as pessoas más do mundo. Faça um x em alguma parte dessa linha para mostrar onde você está na linha da moral. Ele fez isso, e continuei: – O espaço entre o seu x e a santidade de Deus é precisamente o problema. Você não correspondeu aos padrões de santidade de Deus por sua própria admissão. O espaço é aquilo pelo qual você terá de responder no dia do julgamento. Virei o guardanapo para o outro lado e falei:

O Deus que Você Procura 127 – Todas as pessoas tendem a fazer uma de duas coisas com essa diferença. – Desenhei uma linha atravessando o meio, depois escrevi: "O Plano do Auto-Aperfeiçoamento Moral". – Isso é quando as pessoas passam o resto da vida tentando fazer sua marca x chegar um pouco mais alto. A Bíblia diz que isso não funciona, mesmo que você tivesse cem vidas. Você não pode subir ao ponto de perfeição moral, já que é um ser humano decaído. Então, no outro lado da linha divisória, escrevi: "O Plano da Graça". O sujeito perguntou: – O que é isso? – Você não vai acreditar. No "Plano da Graça", Deus diz: "Vejo o espaço e sei que você não consegue eliminá-lo por sua força humana, por isso vou enviar meu Filho, Cristo, para pagar pela diferença. Salvação e adoção na minha família estarão à sua disposição como dádiva". – Em qual dos dois você se encontra? – perguntei. No Plano da Graça ou no Plano do Auto-Aperfeiçoamento Moral? – Estou no Plano do Auto-Aperfeiçoamento Moral. Concordei. – Por tudo que vejo em você, também acho que está. Jamais me esquecerei do que aconteceu a seguir. Ele ergueu os olhos e examinou os meus. Naquele único olhar de cinco segundos, ele estava pensando: Se o que você está dizendo fosse verdade. Se eu achasse que hoje poderia simplesmente abandonar o plano de autoaperfeiçoamento e receber a graça como um presente grátis para um pecador imerecedor como eu, isso mudaria tudo. Essa "desconfiança santa" é o que mantém tantas pessoas longe do cristianismo. Se alguém nos disser que tudo o que temos de fazer é comparecer e ganhar um carro de graça, sabemos que não pode ser verdade; portanto, como podemos esperar um bilhete de graça para entrar no céu? Esse negócio de graça simplesmente parece bom demais, fácil demais.Pessoas bem-sucedidas, que trabalharam muito e

O Deus que Você Procura 128 arduamente para conseguir seu lugar na sociedade, sua bela casa, seu grande escritório, seus carros importados, simplesmente não querem acreditar que Deus lhes daria um lugar no céu. "Ninguém lhe oferece nada de bandeja", insistem elas e, na maior parte do tempo, têm razão. Mas, nesse caso, estão tragicamente enganadas. É por isso que, quando você abre a vida para Cristo e experimenta a explosão da graça, é bombardeado pelos estilhaços do alívio. No fundo da mente, você sabia que não poderia fazer nada por merecer sua entrada no céu, e agora percebe que não precisa mesmo. Em vez de definir seu relacionamento com Deus por esforços próprios, você observa espantado Deus se aproximar espontaneamente. A esperança nutrirá sua alma: Talvez com a ajuda de Deus eu possa começar minha vida de novo. Talvez eu possa caminhar com uma folha em branco num tipo diferente de futuro. Na realidade, não há nenhum "talvez" a esse respeito. Tudo se resume a graça, e é fato. É também duradouro.

Sustentado pela graça Uma coisa é entrar às escondidas no estádio; outra é ficar lá dentro. Alguns de vocês talvez estejam pensando: Tudo bem, então a graça pode fazer de mim um cristão, mas como permaneço cristão? Essa é a pegada, não é? É uma coisa orar, aceitar a dádiva da graça de Deus e depois manter meu estado de obediência – por cerca de uma hora. Mas e na próxima semana, quando meu cônjuge e meus filhos se esquecem de guardar o que tiraram do lugar, quando meu chefe me culpa pelo erro de um colega, quando o cachorro do meu vizinho late metade da noite – como posso me fazer valer da graça nessas circunstâncias? Primeiro, você precisa-se lembrar do custo inicial do investimento de Deus em você – nada menos do que a vida de seu único Filho. Deus não apenas "apostou a fazenda" em sua salvação. Apostou o próprio sangue.

O Deus que Você Procura 129 Já que Deus nos deu seu Filho, você acha que vai racionar nos extras? Não apenas somos salvos pela graça, mas a Bíblia diz que somos sustentados pela graça. A promessa de vida eterna feita por Deus é acompanhada de uma cláusula adicional que oferece certa qualidade de vida. Jesus disse: "... eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância".2 O salmista brada: "Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito?".3 Eu costumava tentar explicar esse conceito a meu filho, dizendo: "Todd, a coisa é assim. Deus resolve comprar um carrão para nós. Não há nenhuma razão para essa compra; ele simplesmente quer dar-nos um presente. Você acha que um Deus tão cheio de graça assim vai depois economizar nos acessórios? Eu acho que não! Ele vai dizer: 'Faço questão que tenha um bom sistema de som. Teto solar? Claro. Assentos de couro? Por que não? Quero deixar esse sujeito embasbacado!"'. Não sei se essa ilustração chegou realmente a penetrar no coração de Todd, mas ele muitas vezes pedia para ouvir a história que falava do carrão e daquele tremendo som! É exatamente isso que Paulo está dizendo em Romanos 8:32: "Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas?". Não tenha medo de entrar pela graça e depois ter de manter-se à tona na água por esforços humanos. Uma vez que Deus nos permite entrar, ele nos mantém ali dentro. Não retém nada. Teremos tudo de que precisamos para levar uma vida de obediência e compromisso.

Atos sem sentido de graça Permita-me deixar-lhe um último pensamento. Conversamos bastante sobre a natureza transformadora de receber graça, mas agora quero dizer uma palavrinha sobre o aspecto revolucionário de dar graça. Somos ótimos em espalhar a justiça: "Você bate em mim e eu devolvo a

O Deus que Você Procura 130 surra". Às vezes, quando estamos de bom humor, podemos até considerar de leve usar a indulgência: "Você bate em mim e eu devolvo a surra com um pouco menos de força". Mas Jesus gostaria de que liberássemos aleatoriamente atos chocantes de graça. Em Mateus 20, Jesus contou a parábola de um proprietário que contratou homens de manhãzinha para trabalhar o dia todo na vinha. Depois contratou outros homens no fim da manhã, depois no começo da tarde e até no fim da tarde. Finalmente, ele contratou outro grupo de homens quando faltava uma hora para o dia terminar. Quando o dia de trabalho terminou, ele pagou a todos a mesma quantia. E as pessoas que haviam trabalhado o dia todo falaram: – Espere um pouco. Você nos tapeou! E o proprietário replicou: – Eu? Quando vocês me perguntaram se podiam trabalhar para mim, prometi o pagamento de um dia de serviço por um dia todo de trabalho. Isso é justiça. Cumpri a minha palavra. Eles tiveram de reconsiderar. A lógica era implacável. – Tudo bem, acho que é correto – admitiram eles. – Mas e os homens que trabalharam apenas uma hora? O dono da vinha respondeu: – Eu apenas quis fazer um ato aleatório e sem sentido de graça. Só quis dar-lhes algo que os faria ir correndo para casa e gritar para a esposa: "Dá para acreditar no que aconteceu comigo? Trabalhei uma hora e recebi por um dia inteiro. É espantoso! Vamos celebrar!". Se tratarmos uns aos outros com justiça, estaremos apenas sendo corretos uns com os outros. Não vamos tocar o coração ou a alma uns dos outros muito profundamente. Se formos às vezes indulgentes uns com os outros, elevaremos um pouquinho a temperatura do relacionamento. Mas isso não será tão transformador assim. Contudo, se de vez em quando realizarmos um ato aleatório, sem sentido de concessão de graça, podemos entrar numa nova dimensão de vida. Se perdoarmos alguém por algo quando poderíamos facilmente

O Deus que Você Procura 131 cobrar o que fez; se tomarmos uma nota promissória que alguém nos deve e escrevermos um recibo que diz: "Totalmente pago" (as mesmas palavras que Jesus escreveu na lista de pecados de sua vida); se dissermos a essa pessoa: "Quero libertar você assim como eu fui liberto", descobriremos o poder e a realidade da graça. Fica aqui um desafio: de vez em quando, doe um pouco do seu tempo – como me contou recentemente uma jovem mãe da minha igreja. Disse ela: – Só tenho duas semanas de férias por ano, e sabe o que vou fazer? É a maior loucura. Vou passar uma semana construindo uma casa para outra mãe solteira na República Dominicana com nossos Ministérios Internacionais. – Por que você vai fazer isso? – Se você soubesse como Deus mudou a minha vida, entenderia. Dê um pouco do seu talento ou dinheiro. Deixe alguém acanhado com um presente extravagante. Na igreja, cantamos: "A estranha graça de Jesus/ Um infeliz salvou"," mas será que realmente sabemos o que estamos cantando? Estamos abertos a esse tipo de graça, uma graça que é intrigante em sua oferta e explosiva em seu poder de mudar as vidas humanas? Você quer abrir o coração e receber a graça por sua riqueza, sua plenitude e seu perdão? Quer? Você permitirá que a obra dessa graça purifique seu coração e limpe sua alma, tornando-o mais amoroso? Você se compromete a praticar de vez em quando atos aleatórios e sem sentido de graça que farão alguém voltar correndo para casa, gritando "Você não vai acreditar!"? Espero que sim. Porque a graça de Deus é real, e você se espantará com a diferença que ela pode fazer. Notas: 1. Efésios 2:8,9. 2. João 10:10. 3. Salmos 116:12.

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE SEJA SEMPRE DEDICADO A VOCÊ? Era tarde da noite – dez ou onze horas – e eu estava morto de cansaço. Embora eu fosse apenas um aluno do terceiro colegial, tinha dirigido um caminhão totalmente carregado durante dezesseis horas. Eu estava perdido, mas isso não era problema. O nome da cidade não importava, nem o estado importava – eram apenas pontos do mapa. A única coisa que importava para mim era a luz vermelha brilhante que anunciava "Parada de Caminhoneiro". Encostei no estacionamento, desliguei o motor e me encaminhei até o restaurante, escolhendo um lugar na seção dos motoristas. Eu o vi sentado numa mesa de canto, um cigarro pendendo entre dois dedos, ondas leves de vapor elevando-se do seu café muito escuro. Ele tirou o boné de beisebol para passar os dedos pelo cabelo. Achei, por engano, que ele estava acenando para mim, por isso falei: – Oi. E ele também disse: – Oi. E então começou a me contar a história que eu viera a conhecer tão bem. Seus nomes eram sempre diferentes; os estados que atravessavam e as estações que conquistavam também, mas o teor das histórias dos caminhoneiros veteranos era tão previsível quanto um romance barato. – Estou com três milhões de quilômetros naquela belezinha que está lá no estacionamento – disse ele, apontando para a janela. No lado de fora, vi a presença imponente de um enorme caminhão. Era difícil vê-lo por causa do ofuscar das luzes, mas o bicho parecia ter pelo menos quinze anos de idade. – Ainda dá partida sem nenhum problema em temperaturas abaixo de zero - continuou monotonamente o veterano. Ele tomou um gole do café, lambeu os lábios e acrescentou: – Estava carregando quarenta toneladas quando atravessei com ele as montanhas Smoky, o único

O Deus que Você Procura 133 caminhão que conseguiu. É. E foi o único caminhão a permanecer na estrada interestadual 80 durante a nevasca de 1958... Ele sorriu para mim. – Você provavelmente estava de fraldas nessa época – especulou ele. Não exatamente, mas achei que alguém que havia dirigido um número suficiente de quilômetros para circunavegar o globo diversas vezes fazia jus ao privilégio de subestimar minha idade. E eu estava gostando de conversar com ele. Não permaneci com a firma de legumes e verduras de meu pai por tanto tempo assim, mas dirigi um número suficiente de quilômetros e tomei um número suficiente de xícaras de café em um número suficiente de paradas de caminhoneiros para me familiarizar com os motoristas veteranos que regalavam a nós, calouros, com histórias impressionantes de confiabilidade mecânica. Quando a gente conversava com um desses motoristas, era praticamente impossível silenciar os elogios que ele fazia ao seu caminhão. Ainda que se tentasse defender os méritos das máquinas mais novas e ainda que se mostrasse o complexo conhecimento dos mais recentes progressos e das melhorias em engenharia de caminhões, jamais se poderiam cortar os laços viscerais formados na alma do homem por ter dependido de um caminhão para fazê-lo atravessar o pior dos tempos e os picos da mais alta cordilheira. Os caminhões haviam-se mostrado fiéis na neve, no calor do deserto e sob pesadas cargas, e os laços entre o homem e a máquina, forjados por meio desses acontecimentos, duravam mais do que praticamente qualquer outro compromisso que os motoristas vivenciassem. O país podia virar comunista, a esposa podia encontrar outro homem, os filhos podiam virar delinqüentes – mas esses caminhoneiros veteranos podiam sempre contar com seus caminhões. Vivemos num mundo em que fidelidade como essa é quase uma anomalia. Em vinte anos mais, ela talvez seja até relegada aos museus. Você sabe do que estou falando: cônjuges trocam o casamento por outra

O Deus que Você Procura 134 coisa, patrões trocam de empregados, atletas deixam um time assim que outro time promete uns reais a mais, pastores, na média, deixam suas igrejas a cada quatro anos... É impressionante quanto a nossa sociedade se tornou infiel. As coisas ficaram tão ruins, que os sociólogos e os escritores estão falando desta geração como "a geração que deseja manter abertas as suas opções, os não-participantes, a geração dos descompromissados". E, contudo, o compromisso é tradicionalmente a essência do que nos torna fortes, que ajuda a manter tudo o mais unido. Sob essa tela de fundo – a humanidade criada para depender do compromisso, mas fugindo dele como se fosse a praga mais mortal que se possa imaginar –, quero chamar sua atenção para um Deus que conhece a fidelidade e o compromisso como ninguém mais.

Deus é um Deus que assume e cumpre compromissos Quando Todd tinha cinco anos, ele me pediu que afastasse o carro para ele poder tirar a bicicleta da garagem. – Papai, tire seu carro! – disse ele. – Vou tirar, Todd, vou tirar – fiquei dizendo. Cinco minutos depois, Todd voltou e disse: – Papai, é melhor tirar seu carro ou vai estar encrencado com I maiúsculo. – Não será com E maiúsculo, Todd? – Pode ser. Todd sabia que eu assumira o compromisso de tirar o carro – "vou tirar, Todd, vou tirar" –, mas compreensivelmente se preocupava se eu ia ou não cumprir meu compromisso. Não precisamos ter nenhuma preocupação assim em relação a Deus. Ele está ansioso por assumir compromissos, e deleita-se em cumpri-los. Lá em Gênesis, Deus faz uma promessa surpreendente a um homem sem filhos chamado Abrão. "Farei de ti uma grande nação, e te

O Deus que Você Procura 135 abençoarei, e te engrandecerei o nome, e tu serás uma bênção. [...] em ti serão benditas todas as famílias da terra." 1 Abrão viveu feliz com a esperança dessa promessa por diversos anos, mas, à medida que as estações passavam e mais algumas rugas apareciam em sua testa e mais algumas dores atacavam seus ossos, Abrão começou a ter dúvidas. Na próxima ocasião em que Deus apareceu a Abrão, ele aproveitou a oportunidade para relembrá-lo de que sua promessa anterior ainda não se cumprira. "... A mim não me tens dado filho..." 2 Em vez de tentar convencer Abrão de sua fidelidade, Deus fez algo absolutamente estarrecedor se pensarmos o que implicava assumir compromissos nos dias de Abrão. Para renovar seu compromisso com Abrão, Deus pediu-lhe que partisse ao meio uma novilha, uma cabra, um carneiro, uma rola e um pombinho, pondo as partes lado a lado, com uma passagem entre as carcaças partidas. Pode parecer uma coisa sangrenta, mas Abrão sabia exatamente o que Deus estava fazendo. Quando duas pessoas faziam um acordo numa época em que não havia advogados nem triplicatas, às vezes caminhavam entre os dois lados da carcaça de um animal, dando uma à outra um quadro claro do que aconteceria se o compromisso fosse quebrado. "Olhe à esquerda, e olhe à direita. se você quebrar esse compromisso, será partido ao meio exatamente como um desses animais." A diferença nessa ocasião, entretanto, foi que Deus fez cair um sono profundo sobre Abrão, e depois, simbolizado por uma tocha ardente, Deus passou sozinho por aquelas carcaças. No fundo, Deus estava dizendo a Abrão: "Prometo fazer isso. Tornarei oficial o compromisso. O prometido vai acontecer. Pode contar com isso". O compromisso de Deus com Abrão (a quem ele mais tarde chamou Abraão) foi apenas um dos muitos compromissos que ele assumiu. Deus prometeu a Noé que jamais haveria outro dilúvio mundial. Deus comprometeu-se certa vez com Davi, dizendo: "Elevarei a nação de

O Deus que Você Procura 136 Israel a importância mundial". Ele cumpriu essa promessa, e Israel se tornou uma potência de projeção mundial. Deus também assumiu um compromisso com Salomão, filho de Davi, prometendo-lhe um papel que nem mesmo seu pai pôde desempenhar: Salomão construiria o templo de Deus e daria início ao período mais próspero da vida de Israel antes da vinda do Messias. Deus cumpriu sua promessa, e Salomão construiu o templo. Deus também assumiu um compromisso com Maria e José, os pais de Jesus: Eles teriam um Filho "sobrenatural". E toda vez que esse Filho fazia algo um tanto incomum, como escapulir das férias da família para brincar de fazer perguntas aos rabinos judeus, eles se lembravam de que esse, de fato, não era um Filho comum. O Deus Pai assumiu muitos compromissos com Jesus, sendo que o mais importante deles foi a garantia de que sua obra redentora na cruz satisfaria às exigências de justiça e tornaria a salvação disponível a qualquer pessoa imerecedora que a pedisse. Reflita sobre as implicações disso por um momento. Jesus arriscou tudo, e estou falando de tudo mesmo trocando as glórias e os prazeres do céu por 33 anos de vida neste planeta e por morte de cruz – para cumprir um objetivo: a nossa salvação. Ele arriscou tudo isso com base na promessa do Pai de que seus atos e seu sacrifício seriam frutíferos. Jesus sabia que o Pai era fiel, por isso se dispôs a arriscar tudo. Deus prometeu à igreja primitiva em Jerusalém que ela seria a plataforma de lançamento de igrejas que um dia se espalhariam por todo o mundo. A princípio, essa idéia era quase cômica – tão cômica quanto um homem sem filhos se tornar o pai de muitas nações. Mas Deus cumpriu sua palavra, e hoje aquela pequenina igreja de Jerusalém produziu pequenas comunidades de fé em quase todas as metrópoles, cidades e vilarejos do mundo todo. Deus assumiu todos esses compromissos com antecedência. Fez questão de "deixar isso registrado" porque é da natureza de Deus ser fiel.

O Deus que Você Procura 137 você pode contar com o cumprimento das promessas dele tão certamente quanto pode contar que o sol nascerá e se porá todos os dias. A fidelidade de Deus para com os compromissos que assume significa tudo para mim. Consigo relaxar quanto ao meu futuro porque Deus deixou registrado que caminhará comigo pelas florestas escuras e incertas do amanhã.3 Quando penso na minha existência além-túmulo, encho-me de confiança e de gratidão, porque Deus assumiu um compromisso inviolável de me levar ao céu pelos méritos de Cristo.4 E sei, sem dúvida alguma, que há graça à minha disposição quando eu fracasso.5 Dezenas de milhares de pessoas compram ações do governo americano, não porque paguem mais do que os outros investimentos – os juros são relativamente baixos –, mas porque são endossadas pelo governo dos Estados Unidos e, portanto, relativamente garantidas. Bem, eu "compro" promessas bíblicas porque são endossadas por nada menos do que o caráter e a natureza próprios de Deus, e nada absolutamente é mais garantido do que isso. Quando olho bem fundo no centro de minha vida hoje, descubro uma serenidade na alma. Essa serenidade não veio de meditar. Não resultou de anos de acúmulo laborioso de boas obras. Não emana da autopercepção ou de sabedoria esotérica. Foi gerada pela natureza de Deus de assumir e cumprir compromissos. Pensei sobre essa "serenidade" quando estava viajando de veleiro com três outros homens da nossa igreja. Depois que havíamos velejado até perder a terra de vista e perder de vista os outros barcos, quando chegamos a uma expansão do oceano completamente nossa, começamos a tocar fitas de músicas de adoração a todo o volume. O coro de uma de nossas fitas favoritas trovejava contra as ondas: "Ele nunca me deixará cair, Ele nunca me deixará cair, Ele nunca se cansa e nunca me deixará cair". Nenhum de nós era cantor, mas berramos as palavras tão alto quanto se fôssemos cantores de rock num Woodstock de hoje. "Ele

O Deus que Você Procura 138 nunca me deixará cair, Ele nunca me deixará cair, Ele nunca se cansa e nunca mie deixará cair." No restante do fim-de-semana, sempre que alguém estava manejando o guincho ou aprumando uma vela, alguém berrava: – Ei, ele deixará você cair? – Não – berrava de volta o outro. – Ele não me deixará cair! Nem a você! Quando falávamos dessa forma, não estávamos competindo com a Poliana para ver quem era mais ingenuamente otimista, nem estávamos tentando cultivar algum tipo de segurança para nos fazer sentir bem, mesmo que sem sentido. Nossa certeza se baseava no caráter de Deus, sólido como uma rocha, e isso promovia paz nos recessos mais profundos da nossa alma. Essa paz vem somente com a experiência, vem de realmente testemunharmos o caráter do Deus que cumpre seus compromissos. sempre que uma igreja canta o hino "Tu és fiel, Senhor", gosto de olhar ao redor e ver as pessoas de cabelos grisalhos cantando com tanta convicção, que suas veias saltam. Os rostos estão abertos num sorriso confiante, e cada sílaba é acentuada pela crença absoluta. As pessoas de meia-idade muitas vezes cantam a mesma música com uma crença interessada, talvez esperançosa. Os adolescentes e as crianças inclinamse a cantá-la com uma distração que se avizinha do tédio. Por quê? As pessoas riais velhas já experimentaram a fidelidade de Deus e o cumprimento das promessas que lhes foram feitas e estão certas de que o que cantam é verdade. Como o caminhoneiro dando testemunho sobre seu caminhão, essas pessoas estão proclamando o compromisso de Deus, e ninguém pode convencê-las do contrário. Para elas, a fidelidade de Deus não é teoria nem uma distinção teológica. É a história da vida delas: "Tu és fiel, Senhor, fiel a mim". E, quanto mais velho vou ficando, vejo-me cantando esse hino com entusiasmo cada vez maior.

O Deus que Você Procura 139 A fidelidade de Deus nos leva ao nosso segundo ponto. Como fomos feitos à imagem de Deus, ele quer profundamente que seu povo também assuma compromissos e os cumpra. Deus quer que assumamos e cumpramos compromissos Numa manhã ensolarada de agosto, três casais se preparam para passar um fim-de-semana "velejando". Um casal sai do carro, aquele cujo suporte da placa diz "Eu Preferia Estar Velejando", e começa a carregar as provisões para o barco. É preciso diversas viagens para levar a cesta de piquenique e o resto do equipamento para a embarcação. Uma vez a bordo, eles trocam de roupa, ligam a música e depois passam a maior parte do dia descansando por ali (o barco ainda está amarrado ao ancoradouro), lendo, cochilando e conversando. Eles dormem na cabine sábado à noite, e domingo de manhã passam mais ou menos pela mesma rotina do dia anterior, limpando o barco, lendo e cochilando. Então, aproximadamente às quatro horas, guardam tudo e voltam para casa. O segundo casal chega ao seu barco cedinho na manhã de sábado. Eles vão à mesma marina, têm o mesmo suporte de placa no carro, levam o mesmo equipamento, ligam a mesma música, conversam um pouco, mas depois fazem uma coisa estranha: ligam o motor. Desamarram as cordas. Saem de ré de sua vaga e navegam ali pelo porto. O casal talvez passe uma hora olhando os outros barcos no porto e depois lance a âncora para preparar um jantar. Nessa noite, talvez até se aventurem a navegar até o quebra-mar, para olhar o mar aberto, mas depois voltarão ao ancoradouro, dormirão no veleiro e repetirão todo o processo no domingo. O terceiro casal chega ao seu barco bem cedinho no sábado, leva o equipamento a bordo, dá uma ré para deixar a vaga e navega direto para o quebra-mar. Quando estão-se dirigindo para lá, içam as velas e, quando o vento as enfuna, desligam o motor e entram no mar aberto. Ouvem as velas ranger e a água jorrar ao longo do casco. Sentem as ondas

O Deus que Você Procura 140 elevando-se sob eles, e continuam em frente até perder a terra de vista. Passam a noite toda no mar, cozinhando a despeito do movimento do barco debaixo deles. Usam uma lanterna à noite para olhar os mapas hidrográficos e saber onde estão. E então voltam ao porto bem tarde na noite do domingo. Na segunda-feira de manhã, perguntaremos a cada casal: – O que vocês fizeram esse fim-de-semana? E cada casal dará a mesma resposta: – Fomos velejar. Mas será que realmente fizeram a mesma coisa? É assim com os nossos compromissos, não? Veja, por exemplo, o compromisso entre um homem e uma mulher. Alguns casais prometem comprometer-se um com o outro por uma noite de romance, mas nem fingem deixar o ancoradouro da autonomia ou da independência. Aliás, não vão nem desamarrar o barco. Outro casal pode assumir um compromisso mais profundo. Talvez ambos concordem em permanecer fiéis um ao outro "enquanto durar o amor". Talvez cheguem até a morar juntos e a dividir as contas. Nisso, estão dispostos a usar o motor para dar uma volta no porto do relacionamento por algum tempo, mas jamais chegam a perder a terra de vista ou a se aventuram seriamente no mar alto do compromisso. Contudo, um terceiro casal talvez entre no compromisso permanente chamado casamento. Eles deixam o ancoradouro da autonomia para trás e até passam pelo porto do relacionamento superficial, chegando ao mar alto do compromisso. Independentemente de quanto o tempo fique tempestuoso, descartam a possibilidade de voltar ao ancoradouro. Vieram preparados para velejar, e é o que farão. A mesma analogia pode aplicar-se à fé. Algumas pessoas "brincam" de cristãos. Aparecem na igreja umas duas vezes por mês, deixam cair uma nota de cinco reais no ofertório e fazem o melhor possível para parecer religiosas, sem nunca desamarrarem o barco. sempre conseguem manter uma relação com a segurança da praia. Outras freqüentam a

O Deus que Você Procura 141 igreja todas as semanas, aumentam as ofertas e às vezes chegam a se oferecer para fazer alguma coisa. Estão dispostas a navegar de motor ligado em torno do porto e "experimentar" depender de Deus, mas, como param antes de chegar ao alto-mar, nunca de fato conhecem como seria confiar profunda e plenamente em Deus. Os realmente comprometidos deixam a segurança do porto, aceitam o risco do alto mar da fé e apontam a bússola para o lugar de devoção total a Deus e para quaisquer aventuras de vida que ele planeja para elas. Essas são as pessoas que acabam experimentando a natureza de Deus de assumir e cumprir compromissos. São essas as pessoas que algum dia cantarão, a plenos pulmões, "Tu és fiel, senhor". Durante o ministério de ensino de Jesus, seu padrão era escancarar os portais do reino e dizer: "Qualquer pessoa que se arrepender e professar fé em Deus poderá entrar". Ele convidou abertamente as pessoas a entrar para a família dele, comprometeu-se a perdoar os pecados delas e ofereceu proteção contínua. Mas então, invariavelmente – uma vez que elas se tornavam membros da família –, ele passava a reestruturar os compromissos básicos da vida delas. "Agora, vamos falar a sério", dizia ele. Examinemos alguns dos compromissos a que Jesus nos chamou, sobretudo como às vezes são evidenciados na vida de um homem admirável chamado Paulo. Comprometido com Deus Jesus disse: "... buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas".6 Jesus está dizendo: "Quando você descobrir a esplêndida notícia de que estou comprometido com você, passe um pouco de tempo deleitando-se nessa verdade, mas depois retribua assumindo um compromisso comigo. Aliás, quero que esse seja o compromisso fundamental de sua vida, o primeiro e o mais importante

O Deus que Você Procura 142 compromisso que você assumir acima de todos os outros. serei seu Deus, mas você precisa ter a intenção de ser meu filho". Nunca esse compromisso ficou mais evidente do que na vida do apóstolo Paulo. Após a conversão de Paulo na estrada de Damasco, Deus o chamou para uma vida de dedicação total a ele. Antes de conhecer a Jesus, por tudo o que se via, Paulo parecia rumar para uma carreira brilhante. Ele desistiu voluntariamente de tudo isso, entretanto, e embarcou numa aventura de fé que não apenas mudaria o curso da sua vida, mas o curso de toda a história humana.

Comprometido em fazer uma diferença Jesus disse: "Vós sois o sal da terra. Mas se o sal se tornar insípido, com que se há de salgar? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e pisado pelos homens".7 Aqui Jesus está dizendo: "Houve uma época em que você viveu sem o compromisso de fazer uma diferença com sua vida, mas agora precisa concordar em tornar-se meu agente de mudança no mundo". O zelo de Paulo em mudar o mundo era tão grande que seus inimigos acusaram-no e aos outros discípulos de alvoroçarem a todos.8 Numa época em que tanto a viagem marítima quanto a terrestre tinham um custo apavorante – assaltantes de estradas em terra, naufrágios no mar –, as viagens de Paulo foram impressionantes. Ele viajou mais de 3500 quilômetros por terra e pelo menos outro tanto por mar. Fundou diversas igrejas, escreveu cartas grandes e detalhadas (portanto uma parte significativa do Novo Testamento) e suportou inúmeras afrontas na busca por levar a fé em Cristo a multidões descrentes e muitas vezes hostis. Seu fervor missionário por mudar a vida das pessoas não encontrou equivalente na história da igreja. Paulo tornou o mundo um lugar radicalmente diferente. Antes de sua conversão, a fé cristã estava confinada a apenas algumas cidades ao

O Deus que Você Procura 143 redor de Jerusalém. Quando morreu, o mundo civilizado estava saturado de pequenos bolsões de fé – na maioria plantados por Paulo. Deus nos chama para nos comprometermos com ele, para nos comprometermos em fazer uma diferença e para nos comprometermos com a reconciliação.

Comprometidos com a reconciliação Em Mateus 5:23,24, Jesus fala sobre a formação de um novo compromisso na vida de seus seguidores. É como se Jesus estivesse dizendo: "Alguns de vocês costumavam ser bem displicentes nos seus relacionamentos. Se um deles começava a se desfazer, vocês os descartavam como se fosse o jornal de ontem. Agora tudo isso precisa mudar, para que vocês possam assumir o compromisso de se reconciliar com todas as pessoas na vida, ainda mais porque está em seu poder fazê-lo".

O apóstolo Paulo atendeu ao desafio de Jesus. Muitas vezes punha em risco a vida ao insistir na destruição das muralhas religiosas, sociais e culturais que separavam os judeus dos gentios. Entre as muitas acusações lançadas contra Paulo, os judeus muitas vezes acrescentavam que ele "introduziu também no templo os gregos, e profanou" aquele lugar santo.9 Paulo fez isso porque adotou o fervor de Jesus pela reconciliação. Ele procurou destruir toda forma de preconceito, chegando a escrever uma das passagens mais eloqüentes e tocantes de toda a Escritura: "Desta forma não há judeu nem grego, não há servo nem livre, não há macho nem fêmea, pois todos vós sois um em Cristo Jesus".10 Quando Cristo chama a Paulo – e a nós – para nos tornarmos reconciliadores, não está apenas expandindo a nossa fé, mas está sendo misericordioso para conosco. Nenhum de nós quer olhar no espelho retrovisor no fim da vida e ver um enorme cemitério de relacionamentos que causamos por nosso espírito obstinado e pela indisposição de engolir o orgulho o suficiente para restaurar os relacionamentos desfeitos.

O Deus que Você Procura Deus sofre com nossos compromissos quebrados

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Como pastor, estou bem ciente de quantas pessoas têm sido gravemente machucadas e espiritualmente prejudicadas pela quebra de um compromisso. Certa vez, num banquete, conheci uma senhora de quem ouvi que, depois de 25 anos de casamento, o marido lhe disse: "Tenho duas coisas para lhe contar: tive inúmeros casos no tempo em que estivemos casados, e no momento estou apaixonado por outra mulher". Ainda atordoada pela traição, a senhora se preparava para o outro choque quando o marido acrescentou: '"E, segunda, ao longo dos anos fiz alguns investimentos ruins sobre os quais você nada sabia. Estamos agora oficialmente quebrados". Com isso, ele anunciou que estava saindo de casa e que ela teria de se virar por conta própria. Houve um longo momento de silêncio antes que eu perguntasse: – Como foi que você enfrentou tudo isso? – Não muito bem – respondeu ela baixinho. Com lágrimas nos olhos, ela conseguiu sussurrar: – Acho que jamais me recuperarei. Por conversas como essa, tenho-me familiarizado intimamente com a dor humana decorrente de compromissos quebrados, mas o que me surpreendeu mais ainda é a minha crescente compreensão de como o coração de Deus se parte quando nossos compromissos para com ele são quebrados. Você quer partir o coração de Deus? Aqui está uma receita simples: simplesmente deixe de cumprir o que prometeu.

A história de Oséias O livro de Oséias, no Antigo Testamento, é uma crônica da dor que a infidelidade causa a Deus. "Tenho uma acusação a fazer contra vocês", diz o Senhor por meio de Oséias. "Não há fidelidade no país." Deus está dizendo aqui: "Quando assumi o compromisso de formá-los como nação

O Deus que Você Procura 145 e adotá-los como família, fizemos muitas promessas mútuas. O único problema é que sou o único que está cumprindo a palavra. Vocês estão apostando a vida no fato de eu cumprir meus compromissos, e é o que farei. Mas vocês também precisam cumprir os seus". Para acentuar quanto Deus se sente ferido por essa traição, ele instrui Oséias a fazer uma das coisas mais estranhas que Deus já pediu em toda a Escritura. Deus manda Oséias visitar uma zona de prostituição, escolher uma prostituta e casar-se com ela. Deixando de lado as sutilezas teológicas, dá para imaginar a reação de Oséias? Ele é um homem de coração puro, que honra a Deus, e mesmo assim Deus lhe pede que traga para sua cama uma mulher que foi de tal modo usada e abusada que passa a ser um retrato vivo de infidelidade. Quantos votos foram quebrados em sua cama? Quantas famílias foram dolorosamente desfeitas em seus braços? Contudo, Oséias obedientemente descobre uma prostituta chamada Gômer e lhe oferece a honra, a dignidade e o respeito de se tornar sua esposa. Gômer fica chocada, mas encantada, e acompanha animadamente o marido ao seu novo lar e a uma vida toda nova. Pela primeira vez, o ato sexual não é uma forma de ganhar dinheiro; ele se torna uma maneira de expressar afeição e criar uma família. E, à medida que os anos passam, Oséias dá a Gômer mais até do que casa, dinheiro e filhos. Ele lhe dá seu coração. O casamento, por estranho que pareça, realmente parece estar funcionando, até o dia em que Oséias volta para uma casa vazia. As crianças estão sozinhas, e Gômer não está em parte alguma. Uma sensação de angústia se espalha pelas entranhas de Oséias. De alguma forma, ele simplesmente sabe onde ela está, mas não quer acreditar nisso. Disparando porta a fora, dirige-se à zona de prostituição e então se detém bruscamente quando lá chega. Ele vê Gômer numa esquina, os braços em torno de outro homem, levando-o a uma casa de prostituição. Oséias fica arrasado. "O que aquele homem pode dar-lhe que eu não pude?" – brada ele. "Se ela queria dinheiro, por que não me pediu? se

O Deus que Você Procura 146 queria amor, meus braços não foram tão quentes e tão ternos quanto os dele?" De alguma forma, Oséias consegue voltar para casa e lutar contra a tentação de queimar o lugar todo na fúria. Mas a história não pára por aí. Deus fala com ele e diz: – Quero que você volte à zona de prostituição, descubra o alcoviteiro de Gômer, compre-a de volta e a traga para casa. – Sim, claro, Deus, essa é boa. O que o senhor realmente quer que eu faça? – Quero que vá buscar Gômer. Faça o que estou dizendo. Oséias fica chocado por Deus chegar mesmo a pensar em lhe pedir que faça uma coisa dessas. – Ela já despedaçou meu coração uma vez! protesta. – se eu a levar para casa e nos envolvermos de novo... – Ele se detém. – Para falar a verdade, Deus, se ela partir meu coração uma segunda vez, ele ficará partido para sempre. Sabe como Deus responde? – Agora você sabe como me sinto! Cumpri todas as minhas promessas. Eu disse ao meu povo: "Serei seu Deus. Amarei a vocês, cuidarei de vocês, nutri-los-ei, estarei sempre perto de vocês e farei com que sejam fortes. Até perdoarei seu pecado e os levarei ao céu algum dia". Mas olhe como eles me trataram! Oséias, você está com o coração partido porque alguém a quem amava quebrou seu compromisso com você. Ela violou a sua confiança. Eu já levei milhares de golpes como esse. Meu coração está crivado das balas da traição e da infidelidade.

Todos temos agido como Gômer O livro de Oséias mexe com elementos da minha alma nunca tocados por nenhuma outra passagem da Escritura. Por quê? Sei que tenho agido como uma Gômer para com Deus. sentei-me na igreja e jurei: Deus, vou abandonar aquele pecado ou Deus, vou fazer alguma

O Deus que Você Procura 147 coisa a respeito disso, eu prometo. O tempo passa, e meses depois percebo que não deixei de fazer o que eu disse que deixaria e não comecei a fazer o que eu disse que me dedicaria a fazer. Deus não reage à minha infidelidade com o prazer insensível de um guarda que rabisca uma multa de excesso de velocidade para preencher a sua cota do dia. Ele não vê a minha desobediência com o desapego curioso de um antropologista. Não é nada disso. Quando leio Oséias, percebo que minha desobediência deixa Deus emocionalmente sem fôlego. Ele sofre profundamente com minha infidelidade, como um marido sofre com a esposa adúltera. Por haver tanta coisa em jogo, os votos e as alianças que fazemos com Deus devem ser feitos com ponderação e cumpridos heroicamente. Os votos que fazemos na frente de uma igreja ao nosso cônjuge são de fato votos feitos a Deus, e Deus os toma como algo pessoal. Os votos que fazemos em um grupo pequeno, quando fazemos o pacto de nos reunir e ajudar a manter um ao outro aceso espiritualmente, são votos registrados no próprio coração de Deus. Claro, há perdão para os votos quebrados, mas, uma vez que nos conscientizamos de que nossa infidelidade parte o coração de Deus, sentiremos horror em infligir essa angústia àquele que tem mostrado tanta bondade para conosco. A boa notícia por trás de tudo isso é que, da mesma forma que a nossa infidelidade traz grande sofrimento ao nosso Deus, também a nossa fidelidade pode fazer a alegria jorrar em seu coração.

Deus se deleita com o compromisso cumprido Pergunta sem importância: Onde está a Galeria dos Melhores do Beisebol? Cooperstown, Nova Iorque. Onde está a Galeria dos Melhores do Basquetebol? Springfield, Maryland. E a Galeria dos Melhores do Futebol? Canton, Ohio. E a Galeria dos Melhores do Boliche? St. Louis. (O que mais se faz em St. Louis?) E a Galeria dos Mais Atrevidos?

O Deus que Você Procura 148 Como era de esperar, está localizada nas Cataratas do Niágara (reúne apenas três sujeitos, mas a galeria está lá). Onde está localizada na Bíblia a Galeria dos Que Mais Assumem e Cumprem Compromissos? Hebreus 11. Essa Galeria reúne famosas estrelas como Noé, Abraão e Moisés, mas também gente como Enoque, Baraque, Jefté e Raabe. Esses comprometidos "venceram reinos [...] alcançaram promessas [...] apagaram a força do fogo, escaparam ao fio da espada" e mostraram que eram "poderosos na batalha" (v. 33,34). Não que não tivessem sua cota de desafios. Aliás, foram torturados, açoitados, apedrejados, serrados ao meio, tentados e chegaram a vaguear "necessitados, aflitos e maltratados" (v. 35-37). Mas cada um deles cumpriu suas promessas para com Deus, e é assim que vieram a fazer parte da Galeria dos Que Mais Assumem e Cumprem Compromissos. Raabe prometeu aos espias israelitas que os esconderia, e os escondeu. Baraque prometeu lutar contra o rei de Canaã, embora seu exército fosse muito menor, e levou a sério seu compromisso, perseguindo o exército derrotado até que não sobrasse um único soldado. Esses heróis assumiram compromissos sérios, honrados e ponderados para com Deus. Muitos deles deram a vida antes de desistir do compromisso, e Deus se deleitou tanto e ficou tão encantado com a fidelidade deles, que fez com que seus nomes fossem registrados para sempre. Esses heróis foram pessoas comuns – não superestrelas. Raabe, na realidade, tinha um passado bem manchado. Baraque, antes de ir para a guerra, estava inclusive um tanto assustado e insistiu em que Débora o acompanhasse. Embora comandasse milhares de homens, relutou em entrar em conflito sem aquela forte mulher de Deus ao seu lado. Mas tanto Raabe quanto Baraque venceram suas fraquezas. Ambos disseram: "Deus, eu farei isso, assim, assim", e depois cumpriram a palavra. Essa galeria da fama celestial ainda está convocando membros – talvez até eu e você. Talvez nunca cheguemos a ter grande riqueza ou

O Deus que Você Procura 149 fama aos olhos do mundo. Nosso obituário na terra pode nunca exceder uma nota num caderno de classificados. Mas nosso compromisso com Deus pode colocar nosso nome numa galeria que ainda estará brilhando milhares de anos depois que as pessoas se esquecerem dos recordes de futebol, do estrelismo ou do sucesso mundano. Como podemos fazer isso? Podemos começar anotando uma meia dúzia de compromissos fundamentais que desejamos que sirvam de orientação para a nossa vida. Este capítulo menciona diversos de que Jesus tratou especificamente, mas, se lermos com atenção todo o Novo Testamento, podemos encontrar outros. Precisamos então rever a lista com regularidade para nos relembrar: "É com esta pessoa que estou comprometido. É com isto que estou comprometido. É assim que desejo orientar a minha vida". Em seguida, podemos aproveitar os auxílios que Deus nos deu para que cumpríssemos os compromissos: o Espírito Santo, a Bíblia, as disciplinas espirituais, os grupos de prestação de contas. Todos precisamos de pessoas que nos estimulem a prosseguir dizendo: "Cumpra esse compromisso! Estou orgulhoso de você!". Também precisamos de gente na nossa vida que, quando quebramos um compromisso, nos relembre de que, com a ajuda de Deus, podemos nos sair melhor... e devemos. Esse tipo de prestação de contas muitas vezes nos inspira a permanecer fiéis à nossa palavra da próxima vez. Mas a melhor maneira de fazer parte da Galeria dos Comprometidos é nos tornando mais e mais familiarizados com o nosso Deus, que assume e cumpre compromissos. Quanto mais compreendermos quem ele é e quanto mais tomarmos conhecimento de sua natureza, mais intimamente seremos ajustados à sua imagem. A Escritura nos relembra de que nos tornamos mais parecidos com Deus "quando o vemos como ele é". Quero levá-lo àquela parada de caminhoneiros num lugar qualquer. As igrejas podem ser como paradas de caminhoneiros quando se pensa sobre isso – pessoas numa jornada, reunindo-se para ser "alimentadas",

O Deus que Você Procura 150 para "descansar" e para "se reabastecer". E a esperança é que, daqui a muitos anos, você possa dizer: "Viajei três décadas com Deus, e ele nunca me deixou na mão. Fez-me atravessar uma mudança de emprego. Fez-me passar por um período difícil no meu casamento e um grande susto com a saúde da minha filha... Ele nunca me deixou na mão". Quando você atingir esse nível de fé na fidelidade de Deus, não se surpreenda se começar a falar com qualquer pessoa que se detenha o tempo suficiente para tomar uma xícara de café na mesa vizinha do restaurante. Quando você chegar a esse ponto, terá descoberto o deleite de sua alma, porque, num mundo em que a infidelidade e as promessas quebradas são pandêmicas, o Deus que você procura é um Deus que assume e cumpre compromissos. Notas: 1. Gênesis 12:2,3. 2. Gênesis 15:3. 3. Mateus 6:34. 4. Romanos 3:24. 5. 1 João 1:9. 6. Mateus 6:33. 7. Tirado de Mateus 5:13. 8. Atos 17:6. 9. Atos 21:28. 10. Gálatas 3:28.

O Deus que Você Procura

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE SEMPRE O GUIE? Eu estava com tudo! Havia passado a manhã num pequeno restaurante perto da marina onde sempre vou estudar. A voz de Deus tinha sido tão vívida, tão vibrante, e eu me sentia tão vivo que nem podia acreditar. Há dias em que a mensagem sai da gente como uma lasca de madeira enfiada profundamente num dedo – a gente acaba tirando, mas sangra e dói, e a gente faz caretas até aquela coisinha incômoda ser retirada. Mas há outras vezes – e aquele dia era uma delas em que as mensagens vêm como ondas. A gente é um surfista que navega sobre elas até a praia, e, nesses momentos, preparar uma mensagem é uma delícia tão grande que a gente não pode imaginar ser outra coisa senão pastor. Com a euforia exuberante de uma manhã bem aproveitada atrás de mim, vesti minha roupa de correr e saí do chalé para a corrida habitual de cerca de dez quilômetros. Atingi depressa minha velocidade normal quando deparei com um senhor idoso, conhecido meu. Não sei quantas vezes já havia passado por ele quando ele tirava latas do lixo depositado atrás do iate clube. Continuei correndo, passando mais um quilômetro e meio agora e, à medida que a rigidez ia deixando minhas pernas, comecei a orar: Senhor convido-o a falar comigo neste momento. Se tem algo a dizer estou pronto para ouvir. Eu estava tão grato pela produtividade da manhã que sentia que o mínimo que podia fazer era silenciar meu coração o tempo suficiente para ouvir a voz de Deus. E então ela veio. – Está lembrado do catador de lixo? – Sim. Como posso esquecer? Vejo-o praticamente todos os dias. – Se você o vir outra vez, ame-o.

O Deus que Você Procura 152 As palavras de Deus foram suaves, mas tive a impressão de estar tendo um infarto espiritual. Ao instar comigo para amar aquele homem, Deus estava também repreendendo-me bondosamente por não tê-lo amado no passado. No mesmo instante, meus pensamentos foram invadidos pela parábola do bom samaritano, e a voz de Deus praticamente acabou comigo. Hybels, você é igualzinho ao sacerdote, só que não caminhou ao redor do homem ferido; correu ao redor dele. Você está isolado no seu cantinho do mundo, preparando uma mensagem para milhares de pessoas, e no entanto passa correndo ao redor da própria pessoa a quem desejo que manifeste bondade neste momento. Fiquei tão envergonhado, que quase parei de correr. Pensei: Não gosto mais deste negócio de ouvir o que Deus diz. Alguns passos depois, disse comigo mesmo: "Talvez eu deva voltar a apenas falar com Deus. É muito mais seguro!". Ouvir a Deus é um negócio arriscado. Quando Moisés já estava velho, Deus o chamou: – Olhe, Moisés, quero que você suba o monte e venha até mim. – Por quê? – perguntou Moisés. – Quero que morra aqui em cima. Pausa. silêncio. – Olhe, Deus, que tal a gente se encontrar no vale? Algum dia você já sentiu isso? Eu já. Aliás, acho que todo o mundo que já ouviu fielmente a Deus ouviu também umas coisas bem duras. Cutucando minha consciência, Deus não me permite ficar frio ou distante para com minha esposa, insensível para com meus filhos ou arrogante para com a minha equipe. E, contudo, vim a considerar preciosas essas horas de correção, os momentos em que a voz de Deus entra em minha vida como uma onda gigantesca, não apenas reordenando a mobília, mas deslocando totalmente a minha casa confortável.

O Deus que Você Procura 153 Por quê? A essa altura você sabe que meu amigo mais precioso é Deus. E a Bíblia diz: "Fiéis são as feridas feitas pelo que ama...".1 A orientação de Deus tem sido uma das experiências mais valiosas que tive. Não posso dizer quanta falta sinto quando passo um dia que seja sem a voz de Deus sussurrando: Vá para a esquerda, vá para a direita... Calma agora, essa pessoa é delicada. Sim, assim mesmo. Muito bem. Vamos passar ao próximo desafio. Não posso imaginar ter de "adivinhar" o que fazer. Não poderia suportar a solidão de sentir que só poderia falar comigo mesmo. O Deus que procuro – e talvez o Deus que você esteja procurando – é um Deus que nos guia nas atividades e nas interações corriqueiras da vida.

Precisamos de um guia Nossa equipe estava no meio de uma seção de planejamento para o culto do meio da semana, e começamos a tratar dos assuntos que poderiam ser motivos de oração. – Emprego – sugeriu alguém. – Preocupações financeiras – propôs outro. – Há pessoas com problemas de saúde – interpôs um terceiro. – Vamos pedir a todos que estejam diante de uma decisão premente que se ponham de pé – ofereceu outra pessoa. Houve um momento de silêncio. – Você acha que alguém vai ficar de pé por isso? – inquiriu um membro da equipe. – Acho que devíamos fazer uma experiência – disse outro membro. Assim, na quarta-feira seguinte, fiquei de pé na frente da igreja e perguntei: "Quantas pessoas estão precisando tomar uma decisão premente? Não estou falando de decisões sem importância – se deve comprar aquele vestido agora ou esperar para ver se entra em liquidação, ou como pode dar um jeito de arrumar um horário para jogar golfe no

O Deus que Você Procura 154 sábado de manhã –, estou falando de uma decisão de grande monta, que terá repercussões sérias sobre você ou sua família por muitos meses no futuro. Para surpresa da nossa equipe, mais da metade da congregação se levantou. Mais da metade! Muitos de nós se acham numa encruzilhada. Já foi dito que as decisões que tomamos fazem de nós o que somos, e há uma boa dose de verdade nisso. A vida bem vivida é sempre repleta de boas decisões. A vida trágica é muitas vezes aquela em que reina a falta de ponderação. Pense sobre a média dos colegas de classe do colegial que você acaba reencontrando. Quando eu mesmo reencontrei pela vigésima quinta vez a minha turma, fiquei impressionado de ver quantas daquelas pessoas – vibrantes, otimistas e entusiasmadas aos dezessete e dezoito anos – haviam de alguma forma entrado aos tropeções num mundo de divórcios múltiplos, tragédias financeiras, rixas familiares e pesadelos profissionais antes mesmo de chegar aos 45 anos de idade. Qual a bifurcação na estrada que levou a esses infortúnios? Que rodovia foi preciso tomar para que se partisse de um magnata em potencial a um devedor que toma dinheiro emprestado na tentativa desesperada de manter os credores à distância? Que desvio leva o pai orgulhoso e amoroso de um recém-nascido a olhar aquele mesmo filho – agora na adolescência – com uma frustração que chega às raias da aversão? Ora, havia muitas pessoas na minha reunião de ex-colegas de classe do colegial que estavam aproveitando o fruto das boas escolhas. Mas foi assustador contemplar os que haviam sido carregados pela maré agitada das más decisões. O que estou tentando mostrar é que precisamos de um guia. Num mundo conturbado como o nosso, precisamos de alguém que possa olhar lá de cima para baixo e dizer: "Olhe, é melhor você ir para a esquerda! Há um problema mais adiante na estrada!".

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Deus guia Você mal consegue ler uma página da Bíblia sem encontrar uma situação em que Deus está guiando alguém. Deus disse a Noé que construísse um barco, e mostrou exatamente como. Abraão recebeu instruções de deixar seu país e dirigir-se a uma terra que Deus lhe mostraria. Deus guiou o servo de Abraão de modo que ele pudesse achar uma esposa para Isaque. Israel foi guiado em sua jornada, quando saiu do Egito, por uma coluna de nuvem durante o dia e uma coluna de fogo à noite. Muitas das passagens pouco conhecidas do Antigo Testamento são muitas vezes exemplos impressionantemente circunstanciados da orientação de Deus. Para uma cultura primitiva, Deus estava dizendo: "Se vocês ficarem doentes, é assim que sararão e protegerão os outros de se contaminarem. Se ficarem com fome, é isso que podem comer. Se quiserem adorar, é assim que adorarão". Quando chegou a hora de Salomão construir o templo, Deus lhe deu instruções muito específicas, até mesmo sobre a dimensão dos utensílios do templo. O próprio Jesus buscou orientação! Antes de escolher seus discípulos, passou uma noite inteira orando. O livro de Atos poderia muito bem ser chamado de "O Livro da Orientação". Primeiro, os apóstolos foram orientados a esperar até receberem o poder do Espírito Santo. A seguir, após dois apóstolos terem sido aprisionados, Deus envia um anjo para guiá-los para fora da prisão. Antes de nomear os diáconos, os apóstolos buscaram e receberam a orientação de Deus. Filipe recebe instruções de Deus de ir a um lugar onde poderia ministrar a um oficial etíope. Ananias é orientado a ir orar por Saulo, o perseguidor, que viria a ser o apóstolo Paulo. Pedro é orientado a entrar na casa de Cornélio, embora isso estivesse em contradição absoluta com a tradição judaica. E poderíamos prosseguir indefinidamente, demonstrando o aspecto dinâmico da orientação de Deus. Isaías 58:11 diz: "O Senhor te guiará

O Deus que Você Procura 156 continuamente...". Salmos 25:12 acrescenta: "Qual é o homem que teme ao Senhor? Este lhe ensinará o caminho que deve escolher". É orientação assim que torna viva a fé cristã. Eu estava levando meus filhos de carro para casa certa vez, e eles começaram a fazer tudo que os garotos fazem para levar os pais à beira da insanidade. Implicavam um com o outro, erguiam a voz, chutavam o banco do carro e tudo o mais. Eu estava ficando cansado daquilo, e acabei explodindo com eles. Passei pela primeira marcha: "Estou farto dessa briga de vocês...". Passei pela segunda marcha: "Além disso...". Depois fui para a terceira marcha: "E ainda...!". E por fim atingi a veloz quarta marcha: "E uma última coisa...!". O longo "sermão" durou até eu estacionar o carro. Tendo queimado meu fusível, minha voz foi ficando cada vez mais alta enquanto eu dizia severamente aos garotos: – Vão para dentro, aprontem-se para dormir, tratem de ir direto para lá, nada de ficar fazendo outra coisa, nada de querer ganhar tempo – esse tipo de coisa. Minha filha, Shauna, passou por mim e disse quase como quem não quer nada: – Desculpe, Papai. Todd, entretanto, que tinha apenas sete anos de idade na época, tem um coração extraordinariamente terno. Começou a chorar, conseguiu pedir desculpas em tom sufocado e depois quase me despedaçou a alma quando estendeu a mãozinha com toda a cautela para tocar o meu braço. Naquele momento, Deus simplesmente me aniquilou. O fato de Todd querer tocar meu braço foi na verdade uma espécie de pergunta: "Havia algum amor ainda por ele em meu coração?". Eu havia sido duro demais e sabia disso. O Espírito de Deus interrompeu a minha raiva para me corrigir: Cuidado, Bill. você tem de combater o mau comportamento, mas não dessa forma. Não consegue se lembrar de quão misericordiosamente seu Pai celestial tem tratado sua má conduta? Dez minutos mais tarde, fui ao quarto de Todd e falei:

O Deus que Você Procura 157 – Todd, você fez mal em se comportar daquele jeito no carro. – Eu sei, papai, eu sei... – Deixe-me terminar – interrompi. – Mas eu também estava errado. Fui severo demais com você. Pode-me perdoar, por favor? Todd enroscou os bracinhos em torno do meu pescoço e não queria mais soltar-me. O abraço de trinta segundos daquele garotinho significou muito para mim. E veio em conseqüência direta de eu ouvir e receber a orientação de Deus em algo tão prático como a educação dos filhos. O mesmo Deus que me guia o dia todo quer guiar a você também. Passemos alguns momentos falando sobre como podemos receber essa orientação.

Recebendo a orientação de Deus A primeira coisa que temos de fazer para receber a orientação de Deus é reavaliar nossos sistemas atuais de orientação. Você alguma vez já esteve num vôo comercial e ouviu a aeromoça dizer: "Todos os computadores, telefones celulares e jogos eletrônicos precisam ser desligados agora"? A razão do anúncio é que a eletrônica que faz funcionar o computador ou o joguinho pode atrapalhar a orientação eletrônica do avião. E a competição entre sistemas de orientação, sobretudo quando se está a mais de seis mil metros de altitude, em geral causa encrenca! O mesmo acontece na nossa vida, quando temos sistemas concorrentes de orientação. Alguns de nós são guiados pela seguinte filosofia: "Escolherei o rumo na vida que for mais fácil e causar menos dor". Outros tendem a dizer: "Minha opção é pelo caminho mais arriscado". Ainda outros talvez digam: "Deixarei que as pessoas ao meu redor escolham o meu caminho". Talvez alguns de nós nem estejam conscientes do motivo por que tomam essa e não aquela decisão, e talvez seja hora de decidir que não vão mais ser guiados pelo caminho mais fácil, pelo mais arriscado ou

O Deus que Você Procura 158 pelo mais popular. Talvez seja hora de assumir o compromisso de tomar o caminho a que Deus nos conduzir. Provérbios 3:5,6 diz: "Confia no senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento; reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas". O segundo passo para receber a orientação de Cristo é desenvolver a sabedoria. Alguns são os piores inimigos de si mesmos quando se trata de buscar a orientação de Deus. Interpretam erroneamente Provérbios 3:5,6, como se dissesse que Deus nos deseja fracos e dependentes em todas as nossas decisões. Não é verdade. Deus quer guiar-nos de uma forma que nos faça amadurecer e nos dê sabedoria. Certa vez um homem foi obrigado a lidar com uma dor da infância que só podia ser classificada como pavorosa. Tudo começou de forma bem inocente. Esse homem e seu garotinho estavam trabalhando juntos num projeto, mas ele se flagrou instintivamente entregando todas as ferramentas ao filho. Por algum motivo, estava decidido a ensinar o filho a fazer o trabalho em vez de simplesmente fazê-lo ele próprio. Enquanto os dois trabalhavam juntos, o pai foi subitamente tomado por uma convulsão emocional que o deixou confuso. Mais tarde, foi a um lugar sossegado e tentou entender qual botão havia sido apertado. E então se lembrou de que toda vez que ele e o pai haviam trabalhado em algum projeto, o pai jamais o havia deixado fazer o trabalho. Após apenas alguns minutos de aplicação de sua parte, o pai sempre intervinha com um tom de superioridade e desdém desalmado, dizendo: – Filho, apenas me passe as ferramentas. Como o pai fazia todo o trabalho, ele se sentia diminuído toda vez que tentava construir ou consertar algo. Em adulto, entretanto, aquele senhor havia aprendido a lição e estava fazendo o exato oposto com o filho, dizendo: "Veja, filho. Eu lhe darei as ferramentas e ensinarei a usálas. Eu o orientarei pacientemente, mas é você quem precisa fazer o

O Deus que Você Procura 159 trabalho em si para poder tornar-se capaz e confiante com o passar do tempo". Deus tem a mesma atitude para conosco. Ele não se compraz na fraqueza que se disfarça de dependência. Existe uma diferença sutil, mas significativa entre essas duas realidades. Já conheci muitas pessoas que, quando chegam a uma encruzilhada, oram: Ah, Deus, me dá uma visão – e agora. Quando nada acontece, apanham a Bíblia e oram: Ó Deus, permite que, onde ali abrir a tua Palavra, aí esteja a resposta; depois abrem a Bíblia e lêem uma página inteira sobre quantos metros cúbicos o pátio do templo deveria ter. Já beirando o desespero, elas oram: Deus, envia alguém até mim que tenha uma palavra do Senhor que me mostre o que fazer. O dia todo se passa e ninguém aparece, por isso à noite deitam a cabeça no travesseiro e de repente ficam místicas. Certo, Deus, oram elas, preciso desesperadamente de um sonho. Dize-me o que fazer só isso. Pela manhã, a única coisa de que conseguem se lembrar é que ainda não sabem o que fazer. Com um suspiro de desespero, enfiam a mão nos bolsos, encontram uma moeda e começam a jogá-la no ar para ver se dá cara ou coroa. Não é assim que Deus deseja que vivamos. A essas pessoas, Deus responde: "Não quero guiar você dessa forma. Isso faz com que você permaneça fraco e dependente de uma forma doentia. Se eu o guiasse assim, você não seria diferente de uma criança pequena ou até de um animal inteligente!". O plano de Deus para nossa orientação é que cresçamos gradualmente em sabedoria antes de chegarmos à encruzilhada. A sabedoria de Deus diz: "Volte pelo caminho até onde puder, antes de tomar uma decisão. Depois, quando se aproximar da encruzilhada, procure ao longo do caminho as placas de sinalização que usarei para guiá-lo ao destino certo". Placas de sinalização? Sim, placas de sinalização.

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Primeira placa: a Bíblia Ora, sei o que muitos de vocês estão pensando. Acabei de dizer que a primeira placa de sinalização é a Bíblia, e vocês já sentem um desejo incontido de bocejar. "Que chatice! Vamos lá, Hybels, não pode nos dar algo um pouco mais chamativo do que isso?" Mas eu seria negligente se não lhes mostrasse a maneira mais garantida, mais produtiva e mais eficiente de receber a orientação de Deus – a Bíblia. Quase tudo o que precisamos saber está bem ali. Muitas vezes, as únicas coisas que faltam são os pormenores. Deus já nos contou em termos gerais como deseja que o crente viva, ame, fale, cuide de seu corpo, use o dinheiro, ore, funcione como membro da família ou empregado, e uma porção de outras questões. Fico às vezes impressionado de ver que muitas das decisões que temos de tomar na verdade não são nenhum bicho de sete cabeças. O procedimento está claramente traçado na Bíblia. Se alguém me perguntasse "Devo vender minha casa, pegar todo o dinheiro e comprar bilhetes da loteria?", eu poderia dizer com confiança absoluta: "Deus vai-lhe dar um grande 'Não' como resposta". As Escrituras são claras em relação a esquemas de enriquecimento rápido ou a tentativas de ganhar a vida por meio de jogos de azar. Se alguém no mundo dos negócios se aflige para saber se deve falar a verdade ou uma mentira a um possível cliente, eis outra resposta fácil. Essa pessoa não tem de passar o dia inteiro afligindo-se na encruzilhada, tentando descobrir o que fazer. Deve dizer a verdade. Se você é um seguidor de Cristo, pode casar-se com alguém que não faz parte da família da fé? Em 2 Coríntios 6:14 lemos com muita clareza que "não" (por razões que se tornam dolorosamente claras com o tempo). O caminho mais claro, mais direto para recebermos a orientação de Deus é por meio de sua Palavra revelada, a Bíblia. Quando a desprezamos, estamos correndo grave risco. Mas às vezes precisamos de

O Deus que Você Procura 161 orientações mais específicas sobre como aplicar a Escritura, e, por esse motivo, Deus nos deu o seu Espírito Santo.

Segunda placa de sinalização: o testemunho do Espírito Santo A segunda placa de sinalização que Deus nos dá é o testemunho do Espírito Santo. Se obediência é o lema na Escritura, crença é o lema no que se refere ao Espírito Santo. Precisamos acreditar no poder orientador do Espírito santo, que Jesus promete em João 15:26. Ora, esse tipo de orientação talvez deixe alguns de vocês meio apreensivos. Vocês não estão sozinhos. Muitas pessoas se inquietam quanto ao ministério do Espírito Santo, mas não precisa ser assim. Confie em mim a esse respeito: as visões e as palavras audíveis, trovejando das nuvens, não são métodos normais do Espírito. (Nunca experimentei nenhum dos dois.) Deus tende a nos guiar por meio de delicados impulsos espirituais. Isso eu experimentei. Você leu sobre diversos desses episódios em todo este livro, mas um dos mais importantes ocorreu há vinte e tantos anos, quando eu ainda estava para me tornar um homem de negócios. Os principais cursos da faculdade (nos dois primeiros anos) foram economia e administração de empresas, e eu, com a intenção de seguir os passos de meu pai, talvez acabasse participando dos negócios da família. O Espírito Santo deu-me um puxão inegável quando me orientou a ajudar um amigo a formar um grupo de jovens. Foi uma mudança radical nos meus planos, mas segui a orientação e fiz planos de servir no ministério dos jovens pelo resto da vida. Mas então o Espírito Santo começou a me instigar suavemente de novo, dessa vez para começar uma igreja num cinema (eu também ri a primeira vez que a idéia me ocorreu). Alguns de vocês poderiam perguntar: "Bem, e como é, Bill? Que tipo de coisa você sentiu?". A melhor maneira de explicar é dizer que o Espírito Santo em geral chama a atenção da gente, criando uma inquietação na alma. Essa inquietação deve fazer com que você diminua

O Deus que Você Procura 162 a marcha e dê ouvidos aos impulsos. Depois, após você receber o impulso, medite sobre ele cuidadosamente, em oração. Se você se sentir cada vez mais em paz quanto ao assunto, discernindo que realmente vem de Deus, comece a caminhar nessa direção. Enquanto caminha, tente perceber se a paz que sentiu está-se solidificando cada vez mais. Se estiver, continue a caminhar; se não, diminua a marcha. Às vezes fazemos as coisas parecer mais difíceis do que são. Afinal, Deus nos criou e nos conhece melhor do que ninguém. Ele é sem dúvida capaz de se comunicar com cada um de nós de forma que possamos entender. Deixe-me acrescentar uma advertência aqui: os recém-convertidos em particular precisam tomar muito cuidado com esse tipo de orientação. Um fulano me disse certa vez: "Deus está-me chamando para largar o meu emprego e ficar nas esquinas das ruas de Chicago pregando às pessoas. E me disse também que alguém cuidaria financeiramente da minha esposa e dos meus filhos". Olhei para aquele homem e amei-o por sua sinceridade e disposição de assumir um risco, mas entristeci-me por sua falta de visão e de compreensão das Escrituras. A Bíblia declara especificamente que, se não sustentarmos nossas famílias, somos "piores do que os descrentes". Precisei dizer com toda a delicadeza àquele homem: "Temo que você tenha cruzado os fios". Se o Espírito Santo de fato o estivesse tocando para isso, Deus talvez teria acrescentado confirmação de como as necessidades de sua família seriam satisfeitas. Em geral, Deus não pede que nos comportemos como esquizofrênicos espirituais e provemos nossa "fé" violando deliberadamente um compromisso fundamental em outra área da vida. Infelizmente, alguns de nós ouviram uma história como essa e atiraram fora o bebê junto com a água do banho. Fazemos um voto de nunca nos expor a esse tipo de impulsão mística. Isso é trágico, porque, se a desprezarmos, estaremos perdendo a própria dimensão da orientação de Deus, que faz do cristianismo a aventura que é.

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Terceira placa de sinalização: o conselho de pessoas sábias A terceira placa de sinalização é o conselho de pessoas sábias. Provérbios 24:6 diz: "... com conselhos prudentes farás a guerra, e na multidão dos conselheiros há vitória". Provérbios 12:15 expressa a mesma idéia de modo um pouco menos enigmático: "O caminho do tolo é reto aos seus próprios olhos, mas o que dá ouvidos ao conselho é sábio". O autor de Provérbios reconhece que, na maioria, estamos tentando diligentemente tornar-nos o tipo de pessoa que Deus deseja, além de tentarmos realizar o trabalho que Deus espera de nós, mas muitas vezes temos pontos cegos no campo espiritual que atravancam o nosso progresso. Deus muitas vezes nos mantém no caminho certo, orientandonos por meio do conselho de amigos e conselheiros espirituais de confiança. (Eu poderia escrever um capítulo inteiro sobre como Deus já usou pessoas na minha vida para me incentivar, me repreender e me ajudar a compreender a orientação de Deus na minha vida.) Agora, precisamos ser cuidadosos. Toda igreja tem a sua cota de "conselheiros autodesignados", o tipo de pessoa que não é reconhecido pelos líderes da igreja, mas ama impor sua opinião sobre os outros. Esse tipo de conselho em geral vale mais ou menos quanto pesa: nada. Precisamos também evitar a armadilha que nos leva a esperar demais dos conselhos recebidos. Talvez inconscientemente pensemos: "Deus não me diz quais são seus planos, por isso preciso encontrar um cristão sábio que me diga o que fazer". Isso nos leva de volta à armadilha de sermos "fracos e excessivamente dependentes". Por favor, tome cuidado. A responsabilidade de tomar decisões permanece sobre os nossos ombros. É mais saudável conversar com diversas pessoas que julgamos sábias e piedosas e dizer-lhes: "Olhem, vocês já deram a volta na quadra espiritual e têm mais experiência nessa área do que eu. Vocês conhecem a Deus e me conhecem. Conhecem as minhas tendências e os meus

O Deus que Você Procura 164 pontos cegos. Podem dizer-me o que acham da situação?". Depois, ao ouvir o conselho delas, examine-o com cuidado e procure concluir quanto ele deve pesar na sua decisão. Note que eu disse pessoas (plural), não pessoa (singular). Aprendi da forma mais difícil a lição de que estou mais bem servido na vida quando tenho múltiplos mentores espirituais em vez de um. Todos nós – mesmo os mais amadurecidos – temos as nossas fraquezas, e a beleza do corpo de Cristo é que a gente pode "escolher" segundo a necessidade do momento. Pense na igreja como uma diversidade de sabedoria! Por exemplo, meu mentor teológico já há 25 anos é o Dr. Gilbert Bilizikian. Ele me oferece uma orientação teológica melhor do que a de qualquer outra pessoa que eu conheça. Mas, quando estou tentando resolver o que fazer com os meus filhos, chamo um homem em particular de minha igreja que é o melhor pai que conheço. Se tenho de tomar uma decisão financeira, é com outra pessoa ainda que converso. Se estou com falta de clareza emocional, participo de uma sessão com um conselheiro cristão sábio. Isso é questão de bom senso. Meu oftalmologista pode aconselharme em relação a lentes de contato, mas não lhe pergunto como planejar uma estratégia vencedora para a próxima regata à vela. Por outro lado, não pergunto aos que me assessoram na arte de velejar como posso conciliar o livro de Tiago com os escritos de Paulo. Obtenha todos os bons conselhos que puder, mas lembre-se de que um bom conselho é apenas uma das placas de sinalização. Há outras que precisamos analisar, como a quarta delas – nossas características especiais.

Quarta placa de sinalização: as características que nos distinguem dos outros Deus muitas vezes revela sua orientação para a nossa vida por meio da nossa constituição. A maravilhosa verdade por trás disso é que Deus

O Deus que Você Procura 165 começou a nos guiar antes mesmo de nascermos! Ao nos criar com aptidões e com índole próprias, ele já pôs nossos caminhos em movimento. Salmos 139:14 diz que somos feitos "de um modo terrível e maravilhoso", mas não diz que somos todos iguais. Você é um original único, feito à mão, com dons, aptidões e talentos não encontrados em nenhuma outra pessoa na história da civilização. Greg Ferguson é um dos principais vocalistas e compositores de nossa igreja. Eu e ele muitas vezes corremos juntos e em geral conversamos enquanto corremos. Certo dia, perguntei-lhe como seu dia de trabalho tinha sido. Greg passou os próximos minutos contando o seu dia. Ele canta para comerciais de rádio e de televisão e faz gravações num estúdio no centro de Chicago, mas, enquanto falava, minhas pernas ficaram bambas. Temos um relacionamento honesto, por isso pude dizer: – Greg, eu detestaria o seu trabalho! Greg respondeu: – Bem, o que você fez hoje? Assim, eu mostrei-lhe o meu dia – o estudo, as reuniões, as sessões de estratégia, o planejamento do orçamento – e ele disse: – Ora, eu detestaria o seu trabalho! Você não poderia me pagar um milhão de reais para fazer isso. Sabe o que mais? Acho que Deus estava sorrindo durante a nossa conversa. Diga-se de passagem, aposto que ficou absolutamente encantado pelo fato de dois cristãos reconhecerem que seu Criador lhes dera dons e desejos diferentes. Eu amo o que faço – e o fato de que Greg não gostaria de fazer isso não muda o que sinto nem um pouquinho. E vice-versa. Recentemente, eu voltava para casa de avião quando o prazer da minha vocação me dominou. Inclinei a cabeça e orei: Deus, não posso imaginar estar num lugar que seja mais perfeito para mim, do jeito que fui criado por ti. Há tanto desafio em Willow Creek. Há tanta

O Deus que Você Procura 166 criatividade e vida. Simplesmente amo isso. Obrigado por orientar a minha vida exatamente dessa forma! Se eu tentasse me sair bem na profissão de Greg, entretanto, estaria detestando a vida. (E o mesmo ocorreria com qualquer um que tivesse de me ouvir cantar!) Cada um de nós precisa perguntar: "Deus, como esse meu jeito de ser, criado por ti, se encaixa nessa decisão? E vai-se 'encaixar' mesmo com esse meu jeito, ou vai resultar em nada além de frustração para todos em questão?". Um dos líderes mais dinâmicos do Novo Testamento é o apóstolo Paulo. Para a nossa felicidade, conhecemos Paulo antes de se tornar cristão, e isso nos oferece um bom entendimento do caráter dele. Paulo se entregava a tudo o que fazia. Quando se comprometia com alguma coisa – que tomassem cuidado! Como Paulo era judeu sincero, era de esperar que mantivesse certa distância dos cristãos. Mas ele era do tipo zeloso. Seu objetivo não era apenas evitar contato com os seguidores de Cristo. Queria dar cabo deles. Foi quando teve um encontro com Cristo na estrada de Damasco. Depois de convertido, você acha que Deus tomaria alguém com o fervor e o zelo de Paulo e o levaria a tirar o pó das prateleiras da biblioteca de um seminário? Acho que não. Deus orientou Paulo a se dirigir a comunidades resistentes e a formar igrejas que mudariam a vida dessas comunidades – e essencialmente redirecionariam todo o rumo da história. Ora, essa tarefa teria destroçado alguém mais manso, mas galvanizou a Paulo. O caminho de Deus para sua vida estava perfeitamente de acordo com a estrutura da sua fiação. As nossas decisões também precisam estar pautadas na nossa singularidade. Nossa constituição é uma das placas de sinalização mais significativas que contribuem para a orientação total de Deus.

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Combinando tudo O que fazer quando, depois que aceitar a orientação de Deus, aplicar a Escritura, esperar o mover do Espírito Santo, obter conselhos sábios e fazer um inventário de nosso próprio caráter, ainda assim não temos certeza do rumo a que Deus nos está levando? Deixe-me apenas dar mais algumas pistas. Primeira, se é preciso tomar uma decisão, aja de acordo com essa ponderação. Mateus 10:16 nos diz que devemos ser "prudentes como as serpentes e simples como as pombas". Faça o melhor que puder com o tanto de orientação que tem. Deus pode estar-se segurando um pouquinho para desmamá-lo de uma dependência fraca e imprópria. Talvez, quando estiver numa encruzilhada, o salmo 37 lhe dê uma pista. Ali há a promessa de que Deus nos concederá os desejos do nosso coração. Se você buscou sinceramente a orientação de Deus e lhe deu tempo para falar, e ainda assim está às escuras, talvez deva apenas perguntar a si mesmo: Já que sei que essa decisão não tem orientação bíblica clara, o que desejo fazer? Seus desejos podem ser uma indicação legítima de qual direção seguir. Segunda, lembre-se de que os sentimentos de contentamento não confirmam necessariamente a orientação de Deus. Já ouvi pessoas dizerem: "Sei que Deus me levou a esse emprego, mas estou ganhando menos com comissões do que no meu último emprego, e não sei o que está acontecendo! Talvez eu tenha cometido um equívoco". Alguns líderes cristãos são levados a iniciar igrejas, e, depois de cinco anos, ainda existe apenas um grupinho de pessoas lutando e fazendo o melhor que podem para sobreviver. Será que isso significa necessariamente que eles não entenderam o chamado de Deus? Deus não promete que a obediência conduz imediatamente ao sucesso ou ao contentamento. Às vezes, a obediência pode levar a desafios muito difíceis. A obediência levou Jesus à cruz. A obediência levou Paulo a Jerusalém, embora soubesse que talvez seria morto. Ele

O Deus que Você Procura 168 chegou a dizer: "Conheço a vontade de Deus – e ela será extremamente dolorosa –, mas seguirei a orientação dele, não importa o que aconteça!". Terceira, deleite-se com a busca. Fico conhecendo o tempo todo pessoas que detestam estar na tensão de não conhecer a vontade de Deus e se atiram desesperadamente a qualquer tipo de resolução que pareça apresentar-se. São o tipo de pessoa que quer saber que faculdade vai cursar quando está no segundo ano do colegial e que quer saber com quem se casará quando estiver no último ano da faculdade. A vida nem sempre funciona assim; portanto, deleite-se com a aventura de receber a orientação de Deus. Saboreie-a, divirta-se, aprecie o fato de que a jornada é muitas vezes mais emocionante do que chegar ao destino. Houve um período de seis meses em Willow Creek em que eu não tinha a menor idéia do rumo que Deus estava dando à nossa igreja. Nas reuniões do conselho, eu dizia: "Gostaria de poder dar uma idéia melhor do rumo que Deus, segundo me parece, deseja que tomemos, mas, para ser franco, simplesmente não sei". Sou grato pelo fato de nossos líderes não se importarem com isso. Aliás, eles se esforçaram juntos, oraram e trocaram idéias uns com os outros, e por fim a orientação de Deus se tornou clara para todos nós. Agora, olhando para trás, posso dizer que foi uma época muito emocionante. Última pista, ache consolo na providência de Deus. Alguns de nós têm a tendência de exagerar as implicações de fazer uma escolha errada. Deus é um bom guia, mas é também um bom "reparador". Romanos 8:28 diz: "Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito". Isso não significa que devemos tratar com descuido as decisões que temos de tomar, mas sim que, após examinar detidamente todas as placas de sinalização com as quais Deus nos orienta, podemos ter confiança de que Deus pode ensinar-nos e nos fazer crescer, mesmo que tomemos o caminho errado. E, como Deus pode fazer novos caminhos e criar novas estradas, jamais estaremos totalmente trancados num lugar em que Deus

O Deus que Você Procura 169 não nos possa alcançar. Talvez tenhamos de sofrer algumas (ou muitas) conseqüências negativas, mas, mesmo assim, não as sofreremos sozinhos. Deus estará bem ao nosso lado. O Deus que procuramos não oculta sua orientação nas estrelas. Não a esconde numa bola de cristal. Não é caprichoso como uma moeda atirada para o alto. Guia-nos de forma que cresçamos e nos tornemos sábios, levando-nos a amadurecer com o tempo. Guia-nos por caminhos que nos conduzam aos relacionamentos, às vocações e às igrejas que lhe dão honra. Tudo isso faz parte de uma jornada incrível – a jornada de caminhar com um Deus todo-poderoso que conhece todas as coisas e está sempre presente; um Deus misericordioso e justo que cumpre o que promete e nos guia em cada passo do caminho. Notas: 1. Provérbios 27:6.

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE ESTEJA SEMPRE DE MÃOS ABERTAS? "Paula" era uma linda jovem: bem-apessoada, competente, autoconfiante, dinâmica. Enquanto conversávamos, o assunto sobre casamento e família veio à tona. – Isso é algo que você espera para o seu futuro? perguntei. – Ou está planejando mais construir uma carreira? – Ah, não – respondeu ela. – Eu adoraria conhecer alguém e desenvolver um relacionamento comprometido que pudesse levar ao casamento. seria maravilhoso se acontecesse, mas duvido muito. – Por quê? – perguntei, surpreso com a certeza dela de que jamais encontraria um companheiro com quem pudesse casar-se. Eu não conseguia imaginar que ela tivesse algum problema nessa área. – Já saí com muitos homens – explicou ela – e cheguei à conclusão de que se encaixam em uma de duas categorias: doadores e recebedores. Até agora, todos os que conheci são recebedores, e não tenho a menor intenção de me amarrar a um deles. Lembrei-me dessa conversa em férias anuais de verão com a família, em Michigan. Nessas semanas preciosas, mantenho-me "incógnito". Poucas pessoas sabem que sou pastor. Ao passar horas na marina, nas praias e em meio aos barcos, geralmente tenho muitas oportunidades de fazer amizades e às vezes compartilhar minha fé. Certo dia, eu conversava sobre tudo o que Cristo fizera em minha vida com um sujeito que havia conhecido e encerrei a conversa dizendo: "Sabe, Bob, um relacionamento com Cristo está à sua disposição também. Tudo o que tem de fazer é abrir o coração e dizer a Deus que precisa dele, e você também poderá começar uma vida inteiramente nova". Bob olhou para mim como se eu tivesse acabado de convidá-lo para almoçar na lua.

O Deus que Você Procura 171 Não era a primeira vez que eu via urna reação dessas. Mesmo assim, às vezes ainda me deixa perplexo. Deus me deu tanta coisa, que acho difícil alguém também não desejar conhecê-lo. Orgulho-me tanto de quem ele é, conheço tão bem sua misericórdia para com as pessoas, que às vezes sou pego desprevenido quando alguém me informa simplesmente não estar interessado. Ao conversar com Bob sobre sua relutância, o "ponto de conflito" tornou-se claro como o cristal: na cabeça de Bob, Deus era sem dúvida um recebedor, não um doador. Bob havia feito os cálculos e chegado à conclusão de que perderia muito mais do que ganharia se desse o coração a Cristo. Deus é um ser exigente, pensava ele. Deus tem uma porção de regras e proíbe uma porção de diversões. Como Paula, Bob estava-se perguntando: Quem quer envolver-se com um recebedor?

O Deus que tem sempre as mãos abertas Para ser bem franco com você, fico um tanto constrangido pelo simples fato de precisarmos tratar desse assunto. Tentar provar que Deus é um doador é mais ou menos como tentar provar que Billy Graham é um evangelista, que John Grisham é um escritor ou que Michael Jordan sabe jogar basquete. Deveria ser tão indiscutível, que dispensaria qualquer argumentação. Infelizmente, a sabedoria convencional ainda enxerga as coisas de outra forma. Se, depois desta altura do livro, você ainda estiver procurando Deus, pode ser que, como Paula, você esteja evitando envolver-se com um "recebedor" e, como Bob, ainda entenda que Deus mais recebe que dá. Se esse é você, espere um pouco. Temos muito que conversar. Em toda a Bíblia, aprendemos que, entre outras coisas, a generosidade de Deus é maravilhosa e nunca tem fim.

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A generosidade de Deus é maravilhosa Efésios 1:6 diz: "Agora, todo o louvor seja dado a Deus por sua maravilhosa bondade para conosco..." (BV). Observe que Paulo não diz "bondade mínima". Não está dizendo que a bondade de Deus servirá num aperto se não houver nenhuma outra bondade disponível. Pelo contrário, Deus se deleita em ser generoso. Quando as pessoas contam com a solicitude de um presente, ficam comovidas. Quando encontram o presente generoso e abundante de Deus, perdem o fôlego e se pasmam, dizendo: "Que Deus! Que Deus extravagantemente generoso!".

Suas dádivas generosas No primeiro ano de minha filha na faculdade, ela começou a sofrer gravemente de mononucleose. Aliás, tivemos de trazê-la da Costa Oeste para casa. Durante sete semanas, ela ficou de cama, mas à medida que ia recobrando um pouquinho as forças, começou a entrar às escondidas em meu gabinete e deixar bilhetinhos grudados por toda parte. Eu os encontrava debaixo do consolo do telefone, em cima de minha mesa e dentro da minha pasta. Os bilhetes diziam: "Eu amo você, papai" ou "Nunca houve uma garota que amasse seu pai mais do que eu". Aqueles bilhetes estavam por onde quer que eu olhasse. Aquela manifestação generosa de amor me calou fundo. Ainda me lembro de ficar sentado na cadeira do gabinete, simplesmente meneando a cabeça e pensando: Que coisa incrível é ter uma filha que sente esse tipo de amor por mim. Que presente! Nosso Deus faz esse tipo de coisa com muita freqüência – seus bilhetinhos estão grudados em toda parte. Ele pinta as folhas do outono para você e diz: "Eu o amo". Ele responde à oração e diz: "Eu o amo". Ele o fortalece quando está fraco e diz: "Eu o amo". Quando você está no culto, na igreja, e tem um momento inigualável, ele diz: "Eu o amo".

O Deus que Você Procura 173 Há muitos anos, separo um momento no início da manhã para dar graças a Deus por sua generosidade para comigo. Muitas vezes, rabisco as seguintes iniciais no caderno de espiral em que registro as minhas orações: S. A. S. D.E. ES. V.E. WCCC. Significam salvação, adoção, santificação, dons espirituais, Espírito Santo, vida eterna e Willow Creek Community Church. Todos os dias, ao escrever essas letras, vem-me um profundo senso de gratidão para com o Senhor por sua generosidade para comigo. Além dessas manifestações de sua bondade, segue-se uma lista de bênçãos materiais e bênçãos de relacionamento com os irmãos, pelas quais agradeço a Deus uma por uma. Quando termina essa parte de minha rotina diária de oração, fico de novo espantado com a impressionante generosidade de Deus. Deus nos dá essas dádivas com liberalidade jubilosa. E, segundo sua promessa, podemos contar com elas no futuro.

As mãos de Deus estão continuamente abertas Com continuamente quero dizer que a generosidade de Deus não se esgota. Lamentações 3:23 diz que as misericórdias de Deus são "novas a cada manhã". A bondade de Deus não é como um pôr-do-sol – brilhante em sua intensidade, mas morrendo a cada segundo. A generosidade de Deus continua vindo, e vindo, e vindo. Quando você acordar amanhã de manhã, não haverá menos generosidade para saudá-lo do que houve na véspera. Daqui a dez anos, a generosidade de Deus ainda estará espantando as pessoas por sua abundância. A última estrofe do hino "Graça surpreendente" (versão do Cancioneiro do Exército da Salvação) diz: E estando nesse lar, no além, Em meio à luz sem par, A eternidade usarei Pra Deus, o Pai, louvar.

O Deus que Você Procura 174 Uma das coisas mais difíceis a respeito da vida na terra é que praticamente assim que uma coisa boa começa a acontecer, já acabou. A gente espera a semana toda a visita de velhos amigos; a próxima coisa que percebemos é que estamo-nos dirigindo à porta para despedir-nos deles. A noiva sonha meses a fio com as bodas – mas a cerimônia termina em menos de uma hora. Os pais se entusiasmam em dar presentes de Natal aos filhos – mas os sons de papel rasgado e de crianças gritando de alegria são silenciados antes do desjejum. Não é essa a natureza da generosidade de Deus. Uma eternidade depois que a celebração começar, não teremos usado nem um pouco do tempo! A generosidade de Deus se estenderá para sempre. Você está começando a apreender o que estou dizendo? Desde o momento em que você encontrar o Deus verdadeiro, descobrirá que ele é um doador. Quanto mais você aprender sobre ele e quanto mais tempo se relacionar com ele, muitas vezes mais se verá de joelhos, adorando-o por sua incrível generosidade. Mas, a certa altura da jornada espiritual, você despertará para outra percepção de Deus: ele quer fazer de mim e de você pessoas generosas. Quer que nos tornemos doadores. E isso é uma pedida e tanto para alguns de nós.

Transformado em doador Há muitos anos, nossa filha Shauna enfiou uma farpa na palma da mão. A lasca doía, mas, quando Shauna viu a agulha e a pinça que pegamos para retirá-la, achou que a cura seria pior do que a ferida, e assim fechou quanto pôde os dedinhos de cinco anos. Para retirar a farpa, Lynne e eu tivemos de abrir cada um dos dedos, depois segurá-los abertos enquanto eu agia com a maior rapidez possível para retirar a farpa. Se tivéssemos permitido que Shauna mantivesse a mão fechada, o corte poderia ter infeccionado. Para curá-la, tivemos de fazê-la abrir a mão.

O Deus que Você Procura 175 Deus enfrenta o mesmo dilema conosco. Ele sabe que a maioria de nós, por natureza, é "mão-fechada". Sabe que experimentaremos um tipo de alegria profunda e satisfatória quando abrirmos as mãos às necessidades de todos os que nos cercam, mas, para nos mostrar essa alegria, muitas vezes ele precisa abrir com força nossos dedos egoístas, um por um. Como ele faz isso? Temos um estudo de caso em Lucas 19, quando Jesus abriu a mão que estava ligada ao braço de um "pão-duro" chamado Zaqueu. Zaqueu levava vantagem sobre a maioria dos outros sovinas pelo fato de ser cobrador de impostos "por profissão". Naqueles dias, os cobradores de impostos tinham permissão do governo para se tornarem extorsionários da lei. Era-lhes permitido cobrar das pessoas o imposto que o governo havia estipulado, mais qualquer porcentagem que achassem que conseguiriam arrancar. Se você não pagasse o imposto, bem como a parte dos cobradores, ia parar na cadeia. Zaqueu foi jantar com Jesus levando todas as marcas de um homem que havia fechado a mão com tanta força, que ela praticamente não se abria mais. Contudo, antes que Zaqueu pusesse sobre a mesa o guardanapo usado para limpar os últimos vestígios de comida de seus lábios, havia feito o voto de começar a doar metade de seus ganhos para os pobres. O que aconteceu? Jesus abriu o coração de Zaqueu, abriu-lhe a mente e depois lhe abriu as mãos.

Coração aberto, mãos abertas Não sabemos todos os pormenores do diálogo entre Jesus e Zaqueu, mas acho que Jesus talvez tenha dito algo como: "Zaqueu, seu coração e suas mãos estão fechados em torno de coisas erradas. seu coração deveria estar concentrado em amar a Deus e ao próximo, e suas mãos

O Deus que Você Procura 176 deveriam estar abertas para dar e receber amor, mas estão tão obcecadas em agarrar dinheiro, que o anseio do seu coração jamais será satisfeito". Depois, acho que Jesus chocou Zaqueu com alguma generosidade espantosa. Talvez tenha dito a Zaqueu como abriria voluntariamente as mãos para receber os cravos romanos a favor de Zaqueu e como retiraria o equivalente a toda uma vida de erros que aguilhoava dolorosamente a consciência de Zaqueu. E depois talvez Jesus tenha começado a falar sobre a dádiva que um avarento solitário e banido valorizaria mais do que tudo: "Depois de eu ter sacrificado o meu corpo e o meu sangue por sua causa, vou adotá-lo como parte da minha família. Oferecerei a mim mesmo como aquele que se certificará pessoalmente de que suas orações sejam respondidas. E, quando você morrer, vou-lhe dar um lugar tão magnífico, que fará um palácio real – que você cobiça sem dúvida alguma – parecer o barraco de sua vítima mais pobre". Imagine só, por um momento, que você é Zaqueu. Imagine ser o homem de quem todos querem distância. As criancinhas sussurram quando você passa. As faces das esposas e dos maridos se enrubescem de raiva quando você bate à porta. Quando lhes vira as costas, você ouve os nomes feios lançados contra você, seguidos de ameaças sádicas. E então um Homem lhe diz que não apenas será seu amigo, mas o tratará como membro da família. E não apenas se reunirá com você – você, que passou toda uma vida vendo as portas se baterem na sua cara – mas o fará publicamente, mesmo correndo o risco de afastar os seus seguidores. E então ele sofrerá o seu castigo, pelo qual ele própria pagará. Você sabe que nada fez para merecer o favor desse Homem. sabe que viveu de uma forma que daria a ele todas as razões para tratá-lo como inimigo ou, no mínimo, desprezá-lo. Mas ele está sendo tão generoso com seu amor. Está sendo tão generoso com seu tempo. E está falando de modo tão generoso do futuro, que você fica absolutamente estarrecido.

O Deus que Você Procura 177 Em algum momento dessa conversa, o vulto da generosidade de Jesus derrete o coração obstinado de Zaqueu. suas mãos se afrouxam um tantinho. Podem não se abrir completamente, mas as juntas já não estão muito brancas, os dedos não estão curvados com tanta força. Zaqueu se imagina uma pessoa diferente. E é então que Jesus dá um passo além: abre mais ainda as mãos de Zaqueu ao abrir-lhe a mente. Mente aberta Quando o coração de Zaqueu se enterneceu, Jesus começou a renovar a mente do homem. Acho que talvez – e não ouso afirmar – Jesus tenha levado Zaqueu a um texto do livro de Eclesiastes. Salomão, um dos homens mais sábios e ricos que jamais viveu, escreveu: "Fiz para mim obras magníficas: edifiquei casas, plantei vinhas, fiz hortas e jardins e plantei neles árvores de toda espécie de fruto. Fiz tanques de água para com eles regar o bosque em que reverdeciam as árvores. Amontoei prata, ouro e os tesouros dos reis, e depois me assentei para pensar em tudo que minhas mãos haviam feito. Quando pensei na energia que havia sido despendida para obter tudo isso, concluí que foi tudo um desperdício. Eu estava correndo atrás do vento, e todos os meus bens valiam tanto quanto um pedaço de pão embolorado". Acho que talvez Jesus tenha prosseguido, personalizando o ensinamento de Salomão. "Zaqueu, alguma coisa tem de mudar em sua mente sobre a natureza das 'coisas'. Elas nunca dão tudo o que prometem. Mesmo que você obtenha mais delas do que jamais sonhou, ainda terá um buraco na alma." Talvez tenha encerrado essa pequena lição desmascarando o absurdo ciclo econômico. É aquele em que a pessoa orienta a vida em torno da aquisição de dinheiro e de bens materiais, consegue certo sucesso e depois se defronta com o fato de que isso jamais satisfaz completamente.

O Deus que Você Procura 178 "Digamos, Zaqueu, que o que você quisesse mesmo fosse um camelo. Você ficou acordado a noite toda pensando quanto a vida seria mais fácil, já que tem de viajar de lugarejo em lugarejo, se tivesse um camelo para transportá-lo. Aí, um dia, depois de ganhar o suficiente para comprar aquele camelo, você ia comprar um. Curiosamente, mal se passa uma semana, e você se vê acordado de novo, porque começou a pensar em comprar um casaco novo. Faz bastante frio à noite! E como a vida seria mais fácil se pudesse ganhar o suficiente para comprar aquele casaco novo... Assim, você trata de apertar uma família aqui, outra família ali e finalmente arranca o dinheiro suficiente para comprar um novo casaco. "Isso será suficiente?" "A coisa pára por aí?" Agora Zaqueu está suando. Esse profeta está contando a sua história! Ele sabe! Jesus continua: "Em vez de olhar para o céu, e dizer 'Deus, ajuda-me a administrar esse dinheiro de forma que não me tiranize nem arruíne a vida', você pensa como seria bom ter uma casa maior. Você continua comprando e gastando mais, o que então eleva o total do que tem de ser ganho no ano seguinte. Por isso, trabalha um pouco mais, assume um pouco mais de risco, faz uma careta íntima pelo que tem de fazer para progredir e logo perde o controle. "Zaqueu, estou-lhe dizendo, é absurdo. O casamento sofre, a vida espiritual sofre, o caráter sofre, e, logo, logo, um portador da imagem de Deus, vibrante e cheio de vivacidade, fica reduzido a uma máquina de ganhar e gastar. Você merece ser mais do que isso, Zaqueu. "Está certo ter um pouco de 'coisas', Zaqueu. Deus não regateia com você seu camelo e seu casaco. Mas, quando o dinheiro se torna a grande preocupação da vida e você fixa nele o coração, ficará decepcionado todas as vezes que fizer isso."

O Deus que Você Procura 179 Aos poucos, a mente de Zaqueu começa a apreender a sabedoria das palavras de Jesus. Zaqueu sente algo mudar dentro de si. Faz novos planos. Em vez de ficar acordado à noite, tramando maneiras de extorquir mais dinheiro, ele promete, com a voz animada de uma criança, encontrar novas formas de doá-lo. "Cinqüenta por cento de tudo que tenho darei aos pobres!", anuncia ele. "Também devolverei quadruplicado tudo que tiver roubado de alguém." Com um coração enternecido e uma mente renovada, as mãos de Zaqueu finalmente se abrem. Mas e o que dizer das suas? Você está pronto para se tornar um doador?

Suas mãos, meu irmão Quando você olha para as suas mãos, gosta do que vê? Ou gostaria de que se parecessem um pouco mais com as mãos abertas de Cristo ou de Zaqueu? Não comece a torcê-las ainda. Lembre-se, se Deus precisar mudar suas mãos, em geral não começa por aí. Ele começa pelo coração, e isso significa que primeiro quer subjugá-lo com a generosidade dele. É da natureza de Deus ser generoso, e ele deseja que essa se torne a nossa natureza. A transformação começa assim que abrimos o coração para a sua bondade. Eu estava num avião, voltando da Costa Oeste certa vez, e uma aeromoça me passou um bilhete de alguém que estava sentado diversas fileiras atrás de mim. O bilhete dizia: "Vi você no avião, mas não quis incomodá-lo. Você não tem a menor idéia do que a igreja Willow Creek Community Church tem significado para mim. Alguns anos atrás, eu estava cometendo uma porção de erros em minha vida. Era viciado no meu trabalho, estava arruinando o meu casamento e afastando de mim os meus filhos". Em outras palavras, aquele homem estava vivendo com o punho fechado. Não estava dando à esposa a afeição de que ela precisava. Não

O Deus que Você Procura 180 estava dando aos filhos a afirmação e o relacionamento que eles desejavam tanto. Mas, por um estranho conjunto de circunstâncias, ele acabou indo parar na igreja e foi surpreendido pela graça. Em seu último parágrafo, ele disse: "Nunca fomos apresentados. Não sei se algum dia seremos. Mas você precisa saber que o amor de Deus não apenas mudou meu coração" – é aí que começa! – "mas também refez um casamento desfeito e trouxe nossos filhos de volta à família". Quando Deus tocou o coração daquele homem, suas mãos se abriram, e a família foi refeita. Agora ele via tudo diferente. É assim que funciona. Deus começa com o coração, e depois nos transforma a mente. Foi o que aconteceu com meu pai há muitos anos. À medida que seu coração se aquecia para com Deus, ele começava a pensar em maneiras de devolver-lhe algo. Papai possuía umas terras no norte do estado de Michigan e resolveu doá-las à nossa igreja, nascendo assim o Acampamento Paraíso. Milhares de vidas foram transformadas nos últimos vinte anos naquele lindo retiro. Talvez você não tenha alqueires para doar. Mas o que tem? Está disposto a doar isso? Descobri que, talvez uma ou duas vezes na vida, Deus pedirá que seus filhos façam uma doação de alto risco, sacrificial, que, quando pensamos no assunto pela primeira vez, faz a gente agarrar o assento e esperar a respiração voltar a funcionar. Foi o que aconteceu com uma mulher nos tempos de Jesus. Esta é a narrativa poderosa de uma verdadeira doadora, do tipo que Deus deseja que venhamos a ser.

Uma dádiva sacrificial O que uma mulher faz quando resolve abandonar a vida de prostituição? A Bíblia conta a história de uma mulher assim, cuja primeira ação de desempregada foi derramar as economias de toda uma

O Deus que Você Procura 181 vida sobre a cabeça de Jesus. Ela tomou um frasco de perfume caríssimo e aplicou amorosamente cada gota ao Homem que lhe havia mostrado o caminho para a vida eterna. Não era a essência barata que você compra na drogaria da esquina. Aquele era o tipo de perfume do qual a gente, passando numa loja elegante, olha a etiqueta com o preço e diz: "É, se eu quisesse gastar o salário do mês todo...". Mesmo assim, ela o deu, cada gota, sem saber como ganharia a vida no futuro. Certa vez, senti esse desafio de "não medir" o que dava. Deus impulsionou o meu coração para determinada necessidade, e eu não tinha dúvidas de que ele me estava instruindo a "oferecer o máximo", dando mesmo tudo o que pudesse. Esse não é o padrão do que Deus geralmente nos chama a fazer. Normalmente, Deus nos chama para dar a partir de uma administração sábia, coerente, mas, nessa ocasião, acreditei que Deus estava-me pedindo que somasse tudo o que eu tinha e lhe entregasse. Quando preenchi aquele cheque, minhas mãos tremiam e me senti como o homem que abre os olhos bem a tempo de ver que está caminhando sobre a Foz do Iguaçu numa corda esticada. Mas aos poucos um profundo senso de paz e de satisfação me invadiu o coração. Nas semanas e nos meses seguintes, fiquei observando enquanto Deus milagrosamente começou a suprir de novo as nossas necessidades. Também notei por meio dessa experiência que Deus mais queria abrir as minhas mãos do que na verdade precisava do meu dinheiro. Como a Shauna, em seus cinco aninhos, eu continuava a cerrar o punho, e Deus queria retirar minha "farpa" o poder que a segurança financeira pode ter sobre todos nós – aos poucos, dedo por dedo, dando um jeito de abrir as minhas mãos. A liberdade foi empolgante. Preciso dizer-lhe – não há "auge" igual à animação e à alegria resultantes de um ato sacrificial de obediência.

O Deus que Você Procura 182 Se você quer ser de fato feliz, não encontrará a felicidade numa busca infinda por mais coisas. Você a descobrirá em receber a generosidade de Deus e depois passá-la adiante. Sei que o Deus que você procura é um doador, não um recebedor. Você não quer envolver-se com um aproveitador, e não o culpo por isso. Mas o Deus de quem estamos falando, o Deus da Bíblia, o Deus a quem amo, é um Deus que deu seu único Filho em nosso benefício, e isso foi apenas o começo! Toda vez que respiramos, saboreamos uma refeição bem-preparada, aspiramos ao esplendor de uma manhã de primavera, deliciamo-nos com o prazer de uma risada vigorosa ou experimentamos a intimidade de um amigo para toda a vida, não temos de tentar adivinhar de onde veio essa dádiva: "Os olhos de todos esperam em ti, e tu lhes dás o seu mantimento a seu tempo. Abres a tua mão, e satisfazes aos desejos de todos os viventes". E agora tenho outra notícia igualmente boa para lhe dar. Isso nunca mudará. Deus jamais cerrará os punhos. Como posso saber isso? Leia o capítulo seguinte e descobrirá. Notas: 1. Salmos 145:15,16.

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VOCÊ PROCURA UM DEUS... QUE NUNCA MUDE? Há algo na lutas, nos conflitos e nos esforços mutuamente compartilhados que forja um elo muito forte. Poucos relacionamentos contam com a intensidade da parceria dos soldados, prontos para morrer juntos a qualquer momento, ou até mesmo com a empolgação de uma temporada bem-sucedida entre companheiros de um time de atletismo. Por que outro motivo os veteranos de guerra continuariam a celebrar aqueles poucos anos da vida com reencontros regulares? Por que outro motivo os ex-companheiros de colegial de imediato começam a falar sobre o "grande jogo" ou sobre o trote arriscado anos depois de haverem ocorrido? Tenho descoberto que as regatas fazem mais do que provar o valor do barco e da tripulação; também criam relacionamentos inexeqüíveis em terra seca. No tipo de competições à vela de que participamos, dependemos de todos fazerem seu trabalho, e corretamente. Uma manobra perdida, uma bordada malfeita, e o nosso barco pode perder segundos preciosos, ou mesmo a própria regata. Nem todos os homens que competem em meu barco são crentes em Cristo, mas as lutas que enfrentamos, as vitórias que compartilhamos e as amargas decepções que superamos têm-se combinado para criar um elo muito significativo entre nós. Um homem em particular, contudo, tem tanto interesse nas coisas espirituais quanto os adolescentes nos empregos. Neste último verão, desci ao cais, e ele veio correndo ao meu encontro antes que eu chegasse ao barco. – Bill – disse ele – muito obrigado pela fita da mensagem que você me deu. Ajudou muito! Fiquei espantado! – Você? – perguntei, atônito.

O Deus que Você Procura 184 – É, olhe só! – Ele apontou para cima na direção do cordame, e vi que havia tirado a fita da caixa plástica e cortado em tiras, que transformou em "birutas". – Ela realmente me ajudou! O resto do pessoal riu e caçoou de mim. – Olhe, Bill, quando o vento ficar forte mesmo, talvez consigamos ouvir sua voz! Suponho que, para alguns de vocês que ainda consideram não ter achado o que procuravam, este livro talvez não tenha sido mais útil do que minha fita cassete para o meu companheiro. Antes que você tome aquela decisão final, entretanto, quero deixar com você um último pensamento, algo que talvez você não tenha considerado: seu mundo está mudando. Cada dia, tudo ao seu redor – desde os fios de cabelo em sua cabeça até as rugas de seu rosto, dos relacionamentos que são preciosos para você ao emprego que você suporta – tudo está mudando. A isso, talvez você responda: "E daí". Talvez você pense que não precisa de Deus agora; talvez esteja mesmo se saindo muito bem, considerando todas as coisas, mas haverá uma hora em sua vida em que precisará exatamente do tipo de Deus que estivemos apresentando. E, quando essa hora chegar, por favor, lembrese disto: ele não mudou. E não mudará. Tudo o que eu disse neste livro será verdade igualmente daqui a vinte anos. Num mundo tornado caótico pelas mudanças, você acabará descobrindo, como já descobri eu mesmo, que essa é uma das qualidades mais preciosas do Deus que procuramos: ele não muda.

O trauma da mudança Foi um dos acontecimentos mais difíceis que eu jamais enfrentara, e olhe que já enfrentei dos grandes. Já tive de consolar pais que acabavam de perder um filho; ajudei casais a remendar a devastação emocional de um caso amoroso; segurei a mão de um membro da igreja que morria de câncer. Mas esse foi o mais doloroso de todos.

O Deus que Você Procura 185 Minha esposa e eu havíamos recolhido duas crianças para cuidar delas temporariamente, e um elo forte logo se desenvolveu entre mim e o garotinho de oito anos. A criança ficou conosco diversos meses, e estávamos começando a ver coisas boas acontecerem em sua vida. Em determinada ocasião, Ronnie e eu passamos diversas horas na garagem, trabalhando num modelo de carro. Ele estava muito animado com o projeto, e eu o via tratar o carro com um respeito quase reverente. Ele queria que tudo se encaixasse e tivesse uma aparência perfeita, e tiramos o tempo para fazer com que ficasse bem certinho. Enquanto o projeto continuava, recebi o telefonema que eu sabia que um dia viria. (Por que precisava ser aquela hora?) Voltei à garagem, onde Ronnie e eu havíamos recomeçado a trabalhar no modelo. Orando para poder iniciar a conversa da melhor forma, falei finalmente, com tanta ternura quanto possível: "Bem, amigão, em alguns dias teremos de fazer outro tipo de acerto aqui, porque as pessoas que tomam as decisões a respeito de onde vocês moram vão pedir que você mude outra vez". Depois que falei aquelas palavras, uma frieza assustadora passou pelo rosto de Ronnie. Eu podia ver a tensão começar a subir por seu queixo. Ele ficou quieto, mas as emoções claramente fervilhavam dentro dele. Talvez eu não devesse ficar surpreso, mas fiquei – ele ergueu lenta, mas resolutamente o punho e esmagou o precioso modelo de carro. Cinco minutos antes, esse ato teria parecido um sacrilégio, mas isso antes que o arquiinimigo – a mudança – soprasse até ele seu hálito horrendo. Ele se encostou contra a parede da garagem, como se não pudesse distanciar-se o suficiente do carro esmagado e berrou: "O que eles pensam que sou, uma bola de futebol? Me jogam aqui, e me jogam ali, e me chutam por aí de um lado para outro. Não agüento mais ser uma bola de futebol!". Aquele precioso sujeitinho estava de fato perdido num vendaval de mudanças. Assim que ele achava que as raízes estavam começando a fincar no chão, era arrancado e plantado em outra parte. Suas escolas

O Deus que Você Procura 186 mudavam, as vizinhanças mudavam, as casas mudavam e até mesmo os "pais" mudavam. Às vezes, as coisas mudavam para melhor, às vezes mudavam para pior, mas o que ele detestava mais do que qualquer outra coisa era a mudança em si. Ele estava até disposto a escolher uma situação ruim, contanto que pudesse ficar no mesmo lugar por algum tempo. Você alguma dia se sente assim, desejando erguer as mãos e berrar "Tempo!", fazendo tudo parar? Você sabe quantas vezes já me sentei na sala para aconselhar um casal e um dos cônjuges apontou o dedo para o outro e gritou: "Você mudou! Não é a pessoa com quem me casei!". Você sabe quantas vezes já conversei com empregados que amam trabalhar para sua firma – talvez até tenham trabalhado lá décadas a fio – e a companhia é comprada por outra; então as pessoas mudam, o objetivo muda, a atmosfera muda e de repente os empregados se lembram com tristeza "daqueles velhos tempos"? Países são reordenados e governos inteiros são destituídos por um golpe cuidadosamente executado. Zagueiros dos grandes times "envelhecem" aos 36 anos de idade e se aposentam; estadistas morrem; matriarcas se vão. Estamos perdidos num mar de mudanças. Assim que achamos que aprendemos a criar bebês, temos de aprender a disciplinar a criancinha de dois anos. Quando aprendemos a ser bons com ela, nos vemos de repente às voltas com pré-adolescentes; quando chegamos a ser bons com os pré-adolescentes, vemo-nos diante dessas criaturas estranhas chamadas adolescentes. Nunca conseguimos chegar onde deveríamos. Só porque nosso time ganhou o campeonato no ano passado não quer dizer que vá ganhar este ano. Pior ainda, só o fato de que um dia um amigo foi fiel ou um cônjuge fez votos de amor não garante que a fidelidade e os votos serão honrados dez anos depois. As coisas mudam. Nós mudamos. Os peritos nos dizem que as pessoas mais bem-sucedidas são as que aprendem a lidar com as

O Deus que Você Procura 187 mudanças. Mas estou convencido de que a melhor maneira de lidar com uma mudança, por irônico que pareça, é chegando a conhecer um Deus que não muda, que oferece uma âncora no mar revolto das mudanças.

Nosso Deus não muda Quando eu era garoto, lembro-me de ter visto um versículo bíblico escrito acima do púlpito de uma igreja: "Eu, o senhor, não mudo".1 E lembro-me de ter pensado que essa afirmação era ao mesmo tempo a mais indiscutível e a menos aplicável que jamais lera na vida. "É isso aí", disse comigo mesmo. "Deus não muda. A igreja -não muda. O coro não muda. E daí? Grande coisa! O que isso tem que ver comigo?" Um dos meus problemas era que eu tinha a compreensão de todo errada do que a "imutabilidade" – ou a inalterabilidade – de Deus de fato significava. Para mim, significava que Deus estava congelado, estático e sem disposição para se mexer. Tudo em torno dele mudava, mas ele não, e talvez por isso estivesse tornando-se cada vez menos aplicável. Mas então me deparei com uma passagem da Escritura que desfez a compreensão que eu tinha da imutabilidade de Deus. Em Gênesis, no capítulo 18, Abraão tem uma fascinante conversa face a face com Deus. Deus confia a.Abraão seu plano de acabar com Sodoma e com Gomorra por causa da maldade dessas cidades. Quando Abraão descobre que o Senhor tenciona destruir a cidade que seu sobrinho adotara como cidade natal se não se encontrasse determinado número de justos, ele fica um tanto nervoso. Abraão havia feito negócios em Sodoma. Havia caminhado pelas ruas de Gomorra. Sabia que, se o futuro dessas cidades dependesse de justiça, o prazo de vida que tinham estava prestes a expirar. Numa tentativa desesperada de conter o inevitável, Abraão inicia uma conversa com Deus.

O Deus que Você Procura 188 – Olha, Senhor, tu não destruirias os justos com os maus, destruirias? E se houver cinqüenta justos morando nessas cidades? Não mostrarias a tua ira a cinqüenta justos, não é mesmo? Deus analisa mais uma vez a questão, com muito cuidado. – Não – diz ele. – se houver cinqüenta justos em Sodoma, pouparei a cidade por causa deles. Então Abraão começa a contar todos os justos de Sodoma e de Gomorra de que consegue se lembrar. Depois de contar até três, ele está num beco sem saída – mas ainda tem 47 indivíduos para chegar aos cinqüenta! Assim, Abraão passa a "pechinchar" com Deus para ver se ele salvaria as cidades por 45 justos, depois por quarenta, depois por trinta, depois por vinte, e, finalmente, por dez justos. Fiquei totalmente estarrecido a primeira vez que percebi a plena implicação desse texto. Será que revela um Deus que muda de planos? Será que servimos a um Deus que reagirá às orações e responderá aos pedidos dos seres humanos? Talvez eu não entenda realmente a natureza desse negócio de imutabilidade, pensei. Descobri que a imutabilidade de Deus, qualquer que seja o seu significado, não elimina a possibilidade de termos um Deus sensível e disposto a reagir aos nossos problemas e pedidos. Não estamos apenas vivendo num mundo determinista. Temos um Deus que se move, age e reage. Contudo, ao mesmo tempo, temos um Deus de todo coerente em seu caráter.

Deus é de todo coerente no caráter O fato de Deus ser coerente por completo em seu caráter é uma boa notícia, mas graças apenas à qualidade do seu caráter. Às vezes, a coerência pode representar um mal. Conheço muitas pessoas desonestas, indolentes, pérfidas. Nessas situações, a coerência é um problema imensurável.

O Deus que Você Procura 189 Mas, quando o assunto é Deus – seu poder, sua presença, seu conhecimento, seus compromissos, sua misericórdia, sua generosidade e tudo o mais – torna-se muito claro que qualquer mudança seria para pior. Se Deus mudasse, isso implicaria ter de ser menos misericordioso. Teria de ser menos fiel. Teria de falar menos comigo e me orientar menos, e não quero isso. E você? Posso querer que minha esposa mude, posso querer que meus filhos mudem e posso querer que meus amigos e minha igreja mudem – e com certeza quero que eu mesmo mude –, mas não quero que Deus mude. Pense um pouco. Qualquer produto pode ser melhorado. Pode-se criar um sabão em pó que deixe as roupas mais brancas e seja melhor para o meio ambiente. Pode-se melhorar o cereal matinal favorito acrescentando-se mais vitaminas, mais fibras ou deixando-o mais torradinho, mas como é possível melhorar a onisciência? Como seria possível melhorar a onipotência? Como melhorar a retidão perfeita? Deus só pode mudar sendo menos do que é, e a Bíblia é inflexível em afirmar que isso nunca acontecerá. "... em quem [Deus] não há mudança nem sombra de variação".2 Observe, não apenas não há variação, mas não há nem sombra de variação. Deus nem mesmo começa a se inclinar para longe da justiça, quanto menos mover os pés. Ele é coerente. Num mundo onde tudo muda (e isso geralmente significa que tudo se deteriora), Deus permanece inabalável em cada aspecto de seu caráter. É justamente aqui que a imutabilidade começa a tocar nossas vidas de forma poderosa. A despeito do ensinamento das Escrituras, a despeito de séculos de experiência cristã passada fielmente de uma geração a outra, ainda tenho momentos em que começo a duvidar de algumas coisas a respeito de Deus. Às vezes, quando as pressões da minha vida estão aumentando, sussurro para mim mesmo: "Não acho que Deus esteja sabendo disso". Ele pode ser onisciente, mas, de algum modo, esse problema lhe escapou à atenção.

O Deus que Você Procura 190 Isso quando não nos metemos numa situação complicada – a desgraça parece inevitável e Deus, distante – e dizemos, amedrontados: "Não acho que ele esteja presente comigo neste momento. Pode ser a primeira vez que tenha tirado uma folguinha de quinze minutos, mas enfim aconteceu!". Senão, nos enterramos num vício, nos emaranhamos num relacionamento destrutivo ou vemos um ente querido preso por circunstâncias aparentemente insuperáveis, e gememos baixinho: "Deus pode ser todo-poderoso, mas acho que nem mesmo ele tem o poder de resolver este problema". Talvez digamos para nós mesmos: "O Deus do Moisés que fendeu as águas, o Deus do Davi que matou Golias – esse era Deus na melhor forma. Mas, não sei como, com o passar do tempo, os séculos prejudicaram um pouco esse Deus". Alguns de nós temem que talvez Deus tenha "perdido a qualidade". Sua bola rápida não dispara como antes. Sua bola em curva se perde e sua bola curta já não é tão curta, e os que ficamos no campo estamos já sem condições de nos desviar de todos os ataques que agora vêm voando em nossa direção. A isso, Deus bradaria por meio do profeta Malaquias: "Eu, o senhor, não mudo".3 Deus é onisciente desde a eternidade passada e o será até a eternidade futura. Deus sempre saberá tudo a seu respeito. Ele estará sempre presente. Toda vez que você sobe num avião, pode descansar tranqüilo no fato de que Deus está no seu avião. Ele não está ficando em casa por uns dias. Não está tirando um dia ou outro de folga. Ele não perdeu a qualidade. Tudo que Deus foi, é – e podemos beneficiar-nos imensuravelmente dessa verdade preciosa. O mesmo Deus que deu poder a sansão, a Gideão e a Paulo ainda quer dar poder à minha vida e à sua vida, porque não mudou. Essa é uma ótima notícia para os comprometidos – mas é uma notícia preocupante para os presumidos.

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Má notícia para os presumidos Se os crentes comprometidos podem achar consolo na natureza imutável de Deus, outros talvez esperem de todo o coração que Deus tenha abrandado com o passar dos anos. Talvez você ache que Deus, embora no Antigo Testamento revelasse traços de maldade, tenha-se suavizado um pouco no Novo Testamento e agora, 2 mil anos depois, simplesmente olhe para baixo, sorria e diga: "Ora, criança será sempre criança – e acho que todos foram bem bonzinhos este ano". Deixe-me falar bem francamente com você: Deus não odeia o pecado menos do que há dez mil anos. Você não será julgado diferentemente de Adão e de Eva, porque os padrões de Deus para nós não são nem um pouco diferentes. Seu padrão tem sido, e sempre será, a perfeição: um único pecado, e você tem de prestar contas dele. Esse é o trato. Não pense que pode "passar batido" por um Deus um pouco menos vigilante hoje em dia. Isso simplesmente não acontecerá. Se você cometeu aquele único pecado e não se arrastou para dentro da proteção espiritual do plano de Jesus Cristo, está numa situação em que não desejaria estar. Na cidade de Washington, como em muitas outras cidades, todas as principais rodovias têm pistas para carros com um número especificado de passageiros. Se você dirigir por essas pistas nas horas de pico e não tiver no carro o número exigido de pessoas, vai ficar 65 dólares mais pobre se for pego. Às vezes, contudo, quando há um acidente grave ou em feriados nacionais, as restrições perdem o efeito e qualquer pessoa pode usá-las. Outras vezes, os motoristas simplesmente se arriscam. Vão costurando para dentro e para fora dessas pistas restritas na esperança de que nenhum carro-patrulha apareça em seu espelho retrovisor. Não é assim com Deus. Suas restrições nunca perdem o efeito. Ele não muda as regras de acordo com o calendário ou com uma geração em particular. Não faz

O Deus que Você Procura 192 exceções para desafios especiais. Deus não diz: "Tudo bem, despeje sua raiva sobre toda a sua família. Você teve um dia difícil no trabalho. Eu entendo. Dessa vez, seu pecado não será contado contra você". Essa é uma idéia assustadora, não é mesmo? Mas lembre-se, o mesmo Deus que nunca muda suas leis também nunca muda sua oferta gratuita de graça, amor, segurança e bênção.

Segurança imutável Quando Todd tinha cerca de cinco anos, subiu na minha cama bem cedo certa manhã, e passamos alguns minutos conversando. Como era meu costume, puxei-o bem pertinho de mim e falei: – Eu amo você, amigão. – Eu também amo você, papai. Então resolvi acrescentar algo novo. Falei: – Sabe que vou ser louco por você pelo resto da sua vida? – Quer dizer mesmo quando eu ficar mais velho? – Sim, amigão, mesmo quando você ficar mais velho. – Mesmo quando eu tiver, sei lá, trinta anos? – Sim, filho, mesmo quando você tiver trinta anos. Ainda serei louco por você. Enquanto Todd ia pegando no sono em meus braços, fiz uma prece por ele. Por favor Filho, nunca desperdice um momento sequer preocupando-se se algum dia deixarei de amá-lo. Entretanto, quantas horas tenho desperdiçado me perguntando quando Deus vai parar de me amar, de ser misericordioso comigo ou de me abençoar. Malaquias 3:6 e Tiago 1:17 prometem que não serei o primeiro a experimentar uma falha de Deus. Jamais existirá quem a experimente, e nada mais é que uma perda colossal de tempo nos preocuparmos com isso. Essa segurança imutável serve-nos de rocha inexorável num mundo cheio de incertezas. Ultimamente você deu alguma olhada num mapa-

O Deus que Você Procura 193 múndi de mais de dez anos? Do declínio da União soviética às mudanças na África, vivemos num mundo sem fronteiras nacionais imutáveis. Você pegou alguma vez um livro de astronomia de dez anos atrás? Descobertas recentes de satélites nos levaram muito além do que conhecíamos há apenas dez anos. Praticamente em cada esfera dos estudos acadêmicos e científicos, o conhecimento se torna ultrapassado assim que acaba de ser registrado. Mas este estudo do Deus que procuramos é um estudo para as eras. Se a língua portuguesa como a conhecemos for decifrável daqui a 2 mil anos, alguém deve poder apanhar este livro e se beneficiar tanto com o caráter e com a natureza imutáveis de Deus quanto aquele que o ler nos anos derradeiros deste nosso século. O inverso também ocorre. O que nos foi escrito há milhares de anos tem o mesmo valor para nós hoje. Como sabemos tudo isso a respeito do Deus que procuramos, alguns de vocês podem agora estar perguntando: "Bem, e daí, o que esse Deus quer de mim?". Os deuses do mundo pagão antigo responderiam: "Dê-nos seu primogênito e queime-o no fogo". Os deuses de outras religiões talvez. respondessem: "Trate de obedecer a todas as regras". Mas o Deus que procuramos responde de uma forma que talvez o surpreenda. O Deus que procuramos diz: "Dê-me seu coração. Estenda as mãos. Calce os sapatos. Vamos caminhar juntos por toda a vida".

Caminhando com Deus No século VIII antes de Cristo, Israel começou a se perguntar: O que Deus quer de nós, afinal? O povo começou a pensar em diversas possibilidades e – como era de esperar – encontrou todas as respostas erradas. (Todos fazemos isso quando tentamos responder a perguntas espirituais fora da Palavra de Deus.)

O Deus que Você Procura 194 Em meio a essa confusão total, Deus chamou o profeta Miquéias. Como parte do seu ensinamento, Miquéias passa algum tempo ecoando todas as especulações distorcidas de Israel: Com que me apresentarei ao Senhor, e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano? Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, ou de miríades de ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito pela minha transgressão? O fruto do meu ventre pelo pecado da minha alma?4

Há certo sarcasmo em jogo aqui. É como se alguém dissesse: "Espere um minuto, o que Deus quer afinal? Um décimo? Não? Bem... e que tal todas as minhas economias? Não é suficiente, não é mesmo? Ainda não basta? Bem, então, o que lhe satisfará? E se eu lhe der a Microsoft, a IBM e a General Motors? Tudo bem – se isso não basta, acho que terei de dar-lhe meu primogênito. Talvez então fique satisfeito!". Miquéias concluiu que nada disso bastaria. A pessoa que fez a pergunta entendeu totalmente errado a natureza e o caráter de Deus. Nenhuma dessas coisas poderia satisfazer o coração de Deus. Ora, então o que Deus quer? Miquéias dá uma resposta muito simples ainda hoje aplicável: Deus quer que andemos com ele. Isso mesmo. Apenas que andemos com ele. Miquéias explica: Ele te declarou, ó homem, o que é bom. E o que é que o Senhor pede de ti, senão que pratiques a justiça, ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus?5

Há pouco peguei um álbum de recortes da família e vi uma foto de minha filha Shauna comigo quando, ainda bamboleante, tinha um ano de idade. Estávamos na praia em South Haven, em Michigan, onde passamos parte dos nossos verões quase toda a vida. Eu era jovem, e ela, muito jovem. E eu estava inclinado para podermos andar de mãos dadas ao longo da orla marítima. Ela caminhava, naquela fase de segurar apenas um dedo com a mão toda, e eu caminhava a seu lado, envolto no

O Deus que Você Procura 195 contentamento misterioso de um jovem pai que nem podia acreditar que Deus lhe confiaria uma criança tão preciosa. Há não muito tempo, minha filha e eu voltamos a South Haven – na mesma praia –, mas fui lá com uma filha muito diferente. Shauna, agora com vinte anos, disse: "Vamos andar um pouco, papai". Caminhamos ao longo da praia, de mãos dadas, e conversamos. De repente, lembrei-me da foto e ocorreu-me de modo impactante o pensamento: Estamos caminhando por este pedaço de praia há vinte anos. O que conferiu àquele momento tanto poder para mim não foi o fato de eu ter caminhado na praia vinte anos a fio – foi com quem eu havia caminhado. O companheirismo criou o significado. Lembrei-me do tempo em que eu tinha de levar Shauna à escola de carro. Ouvíamos o noticiário sobre um orfanato enquanto ela brincava com as travas elétricas das portas e das janelas. – É melhor tomar cuidado, garota – brinquei com ela –, senão vou deixá-la na porta de algum orfanato. Um lindo e travesso sorriso abriu-se lentamente pelo rosto de Shauna. Ela escorregou para junto de mim e disse: – Ah, papai. Você não agüentaria cinco minutos. É claro que tinha razão. Ela desmascarou perfeitamente o meu blefe. Se estivéssemos jogando pôquer, teria acabado comigo, pois sabia que nosso companheirismo era um dos maiores deleites da minha vida! E agora, diversos anos mais tarde, era seu companheirismo que tornava essa caminhada pela praia tão significativa. O que há no caminhar que entrelaça os nossos corações? Caminhar é o que os namorados fazem quando querem estar juntos. Caminhar é o que une as gerações de pais e filhas, mães e filhos. Caminhar é o que maridos e mulheres fazem quando querem apenas estar perto e desfrutar a presença um do outro. E caminhar é o que os seguidores de Cristo fazem quando querem estar num relacionamento amoroso com Deus. Todos vamos caminhar nossos 18, 36, 80 ou talvez até mesmo cem anos na "praia" desta vida,

O Deus que Você Procura 196 mas a mão de quem estaremos segurando? Com quem desfrutaremos comunhão ao longo do caminho? A resposta a essa pergunta faz toda a diferença. Então, o que o Deus do universo quer fazer conosco? Ele está dizendo, agora mesmo: "Vamos andar por aí. Aqui está a minha mão. Façamos a vida juntos". O que significa caminhar com Deus? Significa que, quando acordo pela manhã, meu primeiro pensamento consciente é: Bom dia, Senhor. Estou feliz por ter-te na minha vida. Quando estou-me aprontando para trabalhar, Deus me relembra gentilmente de que há mais no "dia de hoje" do que cotas, prazos ou sermões. Há pessoas para tocar, erros para corrigir, necessidades para atender, alegria para difundir e amor para dar e receber. No meu percurso diário de carro, eu às vezes escuto uma fita de louvores para poder apenas relaxar e pensar em Deus. Enquanto vivo o resto do dia, Deus me mostra algumas coisas. Talvez eu diga algo de que me arrependa, e ele apertará a minha mão. Responderei: – Sim, Senhor, eu sei, eu sei. E ele dirá: – Que bom. Vamos endireitar as coisas, começando com o "Me desculpe". – E, quando eu fizer isso, ele apertará minha mão e dirá: – Muito bem. Agora vamos em frente. Não quero ser uma pessoa centrada em mim mesmo, mas, para falar a verdade, às vezes fico ocupado e me esqueço de Deus por algum tempo. É então que Deus me relembra de ir mais devagar e ajustar o foco. Recentemente, eu um pouco andava, um pouco corria do meu gabinete à sala de seminários mais distante da igreja para um encontro com alguns líderes. Eu tinha meu horário todinho planejado, até mesmo quanto tempo ia demorar para chegar lá e com que rapidez teria de caminhar para chegar na hora.

O Deus que Você Procura 197 Quando estava chegando lá, vi alguém da nossa equipe de limpeza lavando a janela com o entusiasmo de um homem que acabara de receber uma sentença de prisão perpétua. Lembro-me de ter pensado comigo mesmo: Se isso for uma competição entre o pano e a janela, a janela está ganhando. Minha idéia era a de passar direto, mas senti que Deus apertava a minha mão e sussurrava: Pare. Apenas pergunte a ele como está. Parece que ele está sofrendo. Assim, parei e perguntei: – Você está bem? Ele me olhou nos olhos e respondeu: – Não, não estou, mas sei que você está sempre ocupado. E, se eu começar a contar o que está partindo meu coração e você disser "Tenho de ir, tchau", vai ser duro demais para mim. Deus apertou minha mão – om um pouco mais de força dessa vez – e disse: Deixe que a outra reunião espere, por isso falei com o homem de novo e acrescentei: – Não estou com pressa. O que há? E o que saiu para fora foi o tipo de tristeza com que apenas uns dois da equipe poderiam se identificar. Assim, passei os próximos vinte minutos incentivando aquele homem e orando por ele. Mais tarde, quando eu refletia sobre aquele momento com Deus e com o homem da janela, percebi que aquele membro da equipe talvez tivesse ouvido centenas de mensagens minhas. Contudo, anos depois, quando ele fizer um retrospecto e refletir sobre o impacto que minha vida exerceu sobre ele, é possível que nem se lembre de muitas delas. Mas provavelmente se lembrará do dia em que parei para conversar no momento em que a janela estava ganhando. Se eu não estivesse caminhando com Deus aquele dia, jamais teria sentido que ele estava apertando minha mão nem teria ouvido quando me mandou parar. Teria continuado em frente, e tanto aquele homem quanto eu estaríamos mais pobres por causa disso.

O Deus que Você Procura 198 Quando caminho com Deus e estou voltando para casa do trabalho, Deus talvez me sussurre aquilo de que preciso me lembrar para ser bom pai e marido amoroso. Se eu ouvir cuidadosamente, o resto da noite será transformado, e há uma boa possibilidade de eu e toda a família pegarmos no sono com um sorriso no rosto, e não com dor no coração. Quando eu finalmente deitar a cabeça no travesseiro, direi: Bem, não fiz nenhum gol o dia todo, mas caminhei contigo, Senhor e fiz algumas coisas certas. Foi maravilhoso. Obrigado. Se você não entender a que me refiro, não entenderá plenamente o cristianismo. Eu também não o entendo totalmente, mas no cerne da natureza de Deus reside um anseio de passar o dia de hoje, o amanhã e a eternidade com você. Sim, você. Ele anseia por amá-lo, guiá-lo, nutri-lo, corrigi-lo, perdoá-lo e dar-lhe graça e força suficientes para que possa enfrentar todo desafio ao longo do caminho. Se você não vive hoje dessa forma, está-se privando da parte mais preciosa de estar plenamente vivo. Muitas pessoas não conseguem entender o que vou dizer, por isso quero dizer a você diretamente. Respire fundo para poder captar toda a força desta próxima afirmação. Está pronto? Aqui vai: O Deus que você procura está perdidamente apaixonado por você. Deixe-me dar-lhe uma notícia que vai aquecer-lhe mais ainda a alma: o afeto de Deus por você está condicionado a quem ele é, não ao que você faz; por isso, o afeto dele por você jamais diminuirá. Graças a esse amor, Deus deseja caminhar com você hoje e desejará caminhar com você amanhã, depois de amanhã, depois de depois de amanhã e por toda a eternidade. E, quando de fato caminharmos com Deus durante o dia, a vida começará aos poucos a se encaixar. Não estou dizendo que a vida correrá perfeita, ou mesmo suave. Mas estou dizendo que gradativamente experimentaremos a satisfação que Jesus promete em João 10:10: "vida completa" (BV).

O Deus que Você Procura 199 Por favor, permita-me mais uma ilustração relacionada ao velejar, para que possamos amarrar tudo o que já vimos sobre o relacionamento com o Deus que todos procuramos.

A estrela de rock e a regata Era a nossa maior regata do ano: o Campeonato dos Grandes Lagos de 1996. Nessa série de sete competições, todos os barcos da nossa classe se reúnem para brigar entre si e decidir quem será o campeão da frota. Em outras palavras, você ganha o direito de se gabar por 365 dias. Não era uma regata que se poderia tratar com pouco caso. Não era o acontecimento para o qual devêssemos reunir uma tripulação tirada do arquivo dos "mornos e bem-intencionados". Essa competição pede que cada dono de barco reúna seus melhores talentos. Ora, por um conjunto incomum de circunstâncias, desfruto a amizade crescente de John Bertrand nos últimos cinco anos. John é um marinheiro profissional que competiu na Taça da América, sendo geralmente reconhecido como um dos melhores marinheiros do mundo, uma "estrela de rock" de carne e osso. (Os marinheiros profissionais desse nível são chamados estrelas de rock.) Pelas regras da classe, cada barco pode ter uma estrela de rock. Senti muita esperança, resolvi enviar um fax para John, convidando-o pai-a assumir a parte de planejamento tático do nosso barco, embora fazer isso fosse um pouco como pedir ao Michael Jordan que jogasse na nossa equipe de basquetebol. Para minha surpresa e alegria John concordou em ir. Agora, imagine que você esteja no seu jogo de escolha de campo, numa quadra pública de basquetebol, e Michael Jordan entre no ginásio. É você quem vai poder sorrir para os outros jogadores e dizer: "Ele está conosco". Eu mal podia esperar.

O Deus que Você Procura 200 John chegou de avião na véspera da regata, e imediatamente passei por um seminário de como fazer as coisas certas. Cada hábito meu – em velejar e liderar – foi desafiado enquanto eu observava um mestre em ação. Assim que John entrou no meu carro, tirou para fora a lista dos tripulantes e disse: "Fale sobre todos na equipe. O que têm de bom? Personalidades? Em que são fortes? Quais as fraquezas? O que os motiva? Preciso conhecê-los, para poder trabalhar com eles e lhes ensinar alguma coisa". A próxima coisa que ele perguntou foi a respeito do nosso barco e equipamento. "Somos rápidos ou somos lentos? O barco está preparado? O cordame está em ordem? Como estão as velas?" A seguir, repassamos a competição. "Quero decorar o nome dos quatro ou cinco melhores barcos", disse ele. "Preciso saber onde estão os barcos mais velozes durante toda a corrida e como podemos deixá-los para trás." A partir daí, discutimos nossa tripulação. "O que fazemos melhor? Somos bons na partida, bons em ziguezaguear, bons em contornar os marcos? Ver como um marinheiro internacionalmente famoso aborda uma regata serviu-me de lição. Percebi que John não chegou àquele nível por acaso; tinha um plano estabelecido e agiu de forma muito refletida em relação a esse plano. Já na água, fui desafiado da mesma forma. O procedimento normal durante a corrida da linha de partida é verificar o vento uma ou duas vezes. Você leva seu barco em direção ao vento, usa uma bússola e descobre de onde o vento está vindo para determinar como se aproximar da linha de partida. Antes da primeira competição, John nos fez verificar o vento cerca de dez vezes e continuou a fazê-lo durante o resto do dia. Sob a tutela de John, fizemos pelo menos sete verificações do vento antes de cada competição.

O Deus que Você Procura 201 Pelo exemplo dele, percebi que, para competir nos níveis mais elevados – e isso é importante –, a gente precisa trabalhar com mais afinco e deixar menos para o acaso do que os demais da competição. Quando as competições começaram, John não se desculpou por pedir que a tripulação desse o melhor de si. Antes que chegasse a hora de cada manobra, lembro que dizia: "Muito bem, vamos estar ziguezagueando aqui, e preciso que seja a melhor manobra de ziguezague que vocês já fizeram". Assim que o ziguezague era efetuado, o elogio não demorava a chegar. "Excelente ziguezague, rapazes, excelente ziguezague." Depois, veio a hora em que todos teríamos de pular para a mureta onde nos sentamos para contrabalançar. A voz de John cortou o vento: "Vocês estão contrabalançando o melhor que podem? Conseguem dar um pouco mais de si?". Ouvi-lo pedir o melhor de nós foi fonte de muita inspiração para mim. Percebi que, se desperdicei algum tempo num dia de liderança e de trabalhos na igreja, jamais volto para casa sentindo-me bem. Os dias em que me sinto melhor são aqueles em que sei que Deus recebeu o melhor de mim. Quando cada competição chegava ao fim, logo depois que o tiro de chegada soava, John se levantava e se dirigia a cada pessoa da tripulação e lhe agradecia individualmente os esforços. Isso não me surpreendeu quando aconteceu pela primeira vez, mas notei quando ele o fez em todas as sete competições. Quando voltamos ao ancoradouro, John nos espantou ainda mais ao ajudar a limpar o barco. Via de regra, as estrelas do rock não fazem limpeza. Não recolhem as velas, não fazem reparos (talvez façam algumas poses para fotos ou assinem alguns autógrafos, mas nada de serviço sujo). Mas, quando voltamos ao ancoradouro, John permaneceu no barco, igualzinho a nós, e perguntou: "O que precisa ser consertado? O que precisa ser carregado? O que precisa ser limpo?".

O Deus que Você Procura 202 A essa altura, você deve estar querendo saber como nos saímos. Pegamos seis primeiros lugares e um segundo lugar. Como se pode descontar uma das corridas, ganhamos a regata com todas as chegadas em primeiro lugar – a primeira vez na história de nossa frota! Quando nosso barco voltou do percurso da competição, as outras tripulações brincaram conosco acenando com as mãos e gritando: "Não somos dignos!". Bem, é o que acontece quando se tem Michael Jordan – ou John Bertrand – no time. Aquele dia foi empolgante para mim. Não sei quantas horas já estive navegando – horas numerosas demais para contar, certamente. Mas jamais me esquecerei dos poucos dias que passei com John. O mesmo pode acontecer na vida em geral. Estamos todos gastando as nossas horas, mas são elas prisões de frustração ou janelas de oportunidade? Naqueles dias percebi que caminhar com Deus é um pouco como velejar com John Bertrand. Ainda temos de trabalhar, ainda temos de suar para fazer uns ziguezagues e umas manobras, ainda cometemos alguns erros, mas somos pessoas diferentes por ter a bordo alguém tão conhecedor e capaz – e isso é absolutamente empolgante. Você não precisa mais velejar sozinho nem um único dia de sua vida. Pode velejar pelo alto-mar desta vida de crise em crise, sozinho no barco, ou pode velejar com o Deus que não apenas sabe enfrentar as ondas, mas as domina. Ele é todo-conhecedor, sempre-presente e todopoderoso. Não o deixa no escuro – é um Deus repleto de sentimentos e um Amigo apaixonado. Ele lhe dará abrigo em todas as suas tempestades. Será um companheiro misericordioso e generoso, cujo compromisso com você será inigualável. Você jamais terá de se preocupar em acordar e descobrir que ele o deixou na mão. Ele o guiará por todas as estações da vida, e jamais o fará desviar-se. Não é esse o Deus que você procura? Não é esse o Deus de quem você precisa? Se, depois de tudo isso, você ainda achar que precisa procurar um pouco mais, posso fazer uma última sugestão? Dê uma

O Deus que Você Procura 203 oportunidade a Deus, só uma. Talvez você possa fazer o que uma amiga nossa fez. Minha esposa e eu temos tentado ajudar uma senhora e o marido dela a entenderem quem Cristo é e como ele é de verdade. E, certa manhã, a esposa resolveu dar uma oportunidade a Deus tentando comunicar-se com ele. Tudo começou muito inocentemente. Ela acordou e pensou: Posso fazer isso agora mesmo; portanto, é o que farei. Eis o que ela nos escreveu numa carta: Hoje de manhã, conversei com Deus. Não era o que eu planejava fazer. Mas a casa estava sossegada, meu marido havia saído e simplesmente comecei a conversar com o Senhor. Na realidade, eu nunca tinha feito isso. Claro, quando eu era jovem, rezava o rosário com minha avó e sabia todas as palavras da ave-maria e do pai-nosso, mas agora era diferente. Eu falava aquelas coisas porque era o que devia fazer. Esta manhã, por algum motivo, queria conversar com Deus.

Ela terminou a carta dizendo: Enquanto conversava com Deus, tenho de admitir que me senti pouco à vontade, vulnerável, medrosa e, no entanto, de certa forma, muito aliviada. Sei que voltarei a conversar com Deus logo. Estou contando-lhes isso porque confio em vocês e sei que os dois estão torcendo por mim.

A falta de jeito, o "estranhamento", mesmo o medo, tudo isso é de esperar quando se começa a conhecer um novo amigo. Mas ela está chegando lá. Está começando a entender. E você? Como é a sua experiência? Sabe, estou bem certo de que eu poderia perder tudo – até mesmo minha família e meus amigos – e sobreviver. Seria profundamente doloroso, é claro. Mas talvez, depois de quarenta ou cinqüenta anos de

O Deus que Você Procura 204 recuperação, eu conseguisse dar um sorriso de vez em quando. Entretanto, eu jamais poderia voltar ao cristianismo executivo. Não poderia sobreviver um único dia sem a amizade de Cristo, nem um único dia. Mais cedo ou mais tarde, todos procuram a Deus. Creio mesmo que o Deus da Bíblia, o Deus a quem amo, é o Deus que você procura. Você pode estar no auge das forças ou enterrado no fundo de um vale impiedoso, mas seja o sucesso, seja o fracasso que abra os seus olhos, creio que você vai encontrar Deus por meio de um relacionamento com Jesus Cristo que transformará a sua vida. A boa notícia é: ele não está escondido. Está bem aqui. Está pronto para tomar sua mão e caminhar com você por esta vida e pela vida por vir. O passo é você quem dá. Notas: 1. Malaquias 3:6. 2. Tiago 1:17. 3. Malaquias 3:6. 4. Miquéias 6:6,7. 5. Miquéias 6:8.

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