(Parte 1) Não creio haver motivos escusos que levem os teólogos das maldições a pregar, escrever e divulgar suas idéias acerca do que chamam "maldições hereditárias".Não creio que seja este o caso dos autores dos livros e livretos Bênção e Maldição ; Quebre a Cadeia das Maldições Hereditárias e Quebrando as Maldições Hereditárias . Pelo contrário, entendo serem homens e mulheres de Deus comprometidos com o Seu reino, mas desviados do que deve ser uma boa hermenêutica, e um apego à boa doutrina e tradição dos apóstolos, conforme Paulo exorta em 2Tessalonicenses 2.15: "Conservai as tradições que vos foram ensinadas". O Pr. Ricardo Gondim, da Assembléia de Deus Betesda, tem sobre assunto uma posição ortodoxa, bíblica e, por isso, tradicional, e lembra no seu O Evangelho da Nova Era que toda essa celeuma, esse desencontro doutrinário provém do que ele chama "anarquia teológica", quando se concedem poderes independentes tanto à bênção quanto à maldição com a capacidade de se concretizarem nas vidas das pessoas. As inquietantes perguntas são: "existe a maldição hereditária?" É a primeira pergunta. "Estou eu preso a um pacto feito pelos meus antepassados com os espíritos, com o espiritismo, com o candomblé?" Creio que melhor será fazermos um estudo, mesmo que breve, a respeito dessas palavras bênção e maldição examinando o que diz a Bíblia sobre esse tema. A Sagrada Escritura revela que a bênção divina é uma manifestação específica e perfeitamente reconhecível do favor dos céus, incluindo coisas como a chuva (Ez 34.26), a paz (Sl 29.11), riqueza (Pv 10.22), e outras tantas benesses que os céus nos tem concedido. Aliás, há todo um vocabulário da bênção. Em hebraico a raiz é B-R-K, ou seja, a bênção que se concede a alguém. A mesma raiz aparece na palavra berek que quer dizer joelho. Há uma proximidade, portanto, entre o ajoelhar-se como sentimento de fraqueza diante de Deus (Na 2.10), de submissão diante do Pai (Is 45.23), para que a b'rachah (a bênção) venha sobre o suplicante, o cultuante, o expectante de bênçãos. Significa também berek o cuidado materno, colocar no joelho, no colo (Rs 4.20). Outra importante palavra é baruk, usada, inclusive, como nome próprio (Baruque) com o significado de abençoado, bendito (Benedito do latim benedictus). Deus é o abençoador e o abençoado, o "bendito" por excelência. Por isso, concede favores como a força (Sl 68.35), a vitória (Gn 14.20; 2Sm 18.28), uma boa esposa (Pv 19.14), promessas cumpridas (1Rs 8.15), proteção ao justo (1Sm 25.39), e, até, boas idéias, conforme Esdras 7.27. Por essa razão, "Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque são dele a sabedoria e a força" (Dn 2.20). No Antigo Testamento, de acordo com o ponto de vista cristão, a bênção constitui a mais importante categoria teológica. A Aliança e toda a promessa decorrente feita por Deus se expressam como uma bênção messiânica (cf. Gn 12.1-3). Essa bênção tão cantada, proclamada, esperada, anunciada é o Messias, razão porque a palavra de Deus vai dizer: "Vós sois os filhos dos profetas, desde Samuel e do pacto que Deus fez com vossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão abençoadas todas as famílias da terra. Deus suscitou a seu Servo, e a vós primeiramente vo-lo enviou para que vos abençoasse, desviando-vos, a cada um, das vossas maldades" (At 3.25,26). Está falando de Jesus, o Cristo, e isso quer dizer que a bênção do Antigo Testamento é a preparação da graça no Novo Testamento, é o seu prelúdio.
Assim, só Deus dá a bênção (Gn 27.28,29); toda bênção vem de Deus (Gn 49.25s), e a bênção divina domina toda a criação, e dela depende, inclusive, a fertilidade do homem, dos animais e do campo. No Novo Testamento, os conceitos da Antiga Aliança são mantidos, muito mais coloridos e floridos, até, enfatizando seu caráter cristológico, espiritual e escatológico. Jesus abençoou as criancinhas (Mc 10.16; Mt 19.13-15), os discípulos (Lc 24.50), os sinais que Ele mesmo efetuou (Mc 6.41; 8.7), e ensinou a responder com uma bênção às maldições que jogarem sobre nós , e que a bênção definitiva é a eterna felicidade dos Seus, a ressurreição e a vida eterna (Mt 25.34-41; 1Pe 3.9). Pedro sumariza a missão de Jesus Cristo (cf. At 3.26). As bênçãos que vêm de Jesus não são os bens terrenos como no Antigo Testamento, mas a Sua graça, os favores e bens espirituais, de acordo com Efésios 1.3: "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nas regiões celestes em Cristo". E, com isso, vemos que o Novo Testamento dá um tiro de misericórdia na chamada "teologia da prosperidade", pois Jesus Cristo mesmo disse, "Pois que aproveitará ao homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua vida?", razão porque devemos repetir o que no final dos tempos ouviremos: "Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25.34). A autêntica Teologia da Prosperidade, o reino reservado pelo Criador! A MALDIÇÃO O livro Diario de un Exorcista, escrito pelo Pr. Win Worley e publicado pela Hegewisch Baptist Church, dá a seguinte definição de maldição: "Pronunciar um desejo maligno contra alguém; imprecar o mal sobre alguém; clamar para que caia prejuízo ou dano sobre alguém; aborrecer, trazer o mal sobre alguém; infamar, amaldiçoar, acossar com grandes calamidades". A maldição, então, é causada por alguém que trabalha em harmonia com uma atividade específica de espíritos malignos, segundo a teologia do Pr. Worley. Conceitos outros são, por exemplo: "Quando usamos os lábios para amaldiçoar, estamos chamando a nós o que existe no inferno" "Com nossa própria boca podemos autorizar o diabo a atuar nas circunstâncias e nas vidas das pessoas" "Quando uma mulher se submete ao marido, recebe proteção especial contra o mundo dos espíritos malignos" Tenho sérias dúvidas acerca das definições apresentadas porque sem permissão de Deus, essas maldições não acontecem dentro da minha casa! "Orar, impor as mãos e orações a longa distância, quando são indicadas, inapropriadas, erradas ou mal motivadas, podem produzir resultados daninhos e espantosos com os efeitos de uma maldição" Vamos entender: ele está dizendo que se alguém orar erradamente, em vez de abençoar, vai amaldiçoar a pessoa por quem está orando?! E conta histórias como a do casal de irmãos pentecostais que "orava" pelos enfermos, e cuja esposa julgava ter o dom da cura divina. Conta o autor que ela impunha as mãos sobre os doentes, e piorava o estado em que se encontravam. Diz, ainda, que o esposo lia intensamente, embora fosse um crente em Jesus Cristo, os livros de Edgard Cayce. autor espírita norte-americano, além de outros. Com essas leituras, recebia inconscientemente poderes ocultos do Maligno, e passava sem o saber, à esposa, de modo que quando ela impunha as mãos sobre um enfermo, eles ficavam em estado pior porque liberava maldições. Completa o Pr. Worley dizendo que havia expulsado desses doentes o Príncipe (é
como chama ele ao Diabo), Enfermidades Terminais, Câncer Controlado, Distrofia Muscular, Leucemia, Tuberculose e Doenças Cardíacas. Recomenda que se use Gálatas 3.13 e Colossenses 2.14 para quebrar essas maldições. Isso me parece muito com certa apresentadora de um quadro de um programa que apresentava um programa de tarô, búzios, etc, mandando "fazer o salmo tal" para resolver este ou aquele problema num autêntico uso mágico da Bíblia, coisa nunca autorizada em suas páginas. Em Bênção e Maldição, o autor menciona a história de uma senhora que vivia desanimada e triste. Perguntou-lhe o nome, e ela respondeu, "Maria das Dores". Ao que ele afirmou, "A maldição está no seu nome; é preciso mudá-lo". Ela se entregou a Jesus Cristo, e foi instruida a não mais assinar esse nome, e usar apenas uma rubrica; desejou a senhora ser chamada Maria de Jesus em lugar do antigo nome para evitar a maldição. Não parece o conselho dos astrólogos e numerólogos que fizeram a cantora Sandra Sá mudar para Sandra de Sá, e o Jorge Ben a se tornar Jorge Benjor, e o ex-presidente Fernando Collor de Mello a assinar F. Collor? E deu bom resultado? Não tem todos esses casos, inclusive o conselho vindo do pastor, cheiro, sabor e textura de superstição? O mesmo autor também ensina que carros saem amaldiçoados porque quem os fabrica em São Paulo e Minas Gerais são pessoas infiéis, e por isso, deve-se "quebrar a maldição" Menciona, ainda, uma senhora que viu um pezinho de abóbora entre pedras de uma construção em frente de sua casa, e dissera em tom de brincadeira, "Eu te abençoo, ó pé de abóbora. Vamos ver o que acontece": colheu abóboras enormes, maravilhosas?! Segundo os teólogos das maldições, uma maldição pode ser devolvida a quem a enviou, e se for hereditária, pode ser quebrada. No primeiro caso, "Quando maldições são quebradas e espíritos devolvidos a quem os enviou (Sl 109.17), reverberações são geradas no mundo dos espíritos, levando os feiticeiros a se tornar mais cuidadosos. Demônios que retornam a quem os enviou podem ser mais vingativos, zangados, cruéis e perigosos a quem os mandou". Por outro lado, "Devolvendo as maldições e os espíritos que elas geraram e liberarem sobre suas vítimas à pessoa que os enviou, você pode estar 'abençoando-as' (Sl 7.16; 9.15; 35.8; 70.2,3; 109.17; Ne 4.4)". Quanto à herança das maldições, "Nas vidas dos descendentes de Adão outro princípio de julgamento emerge, e que é encontrado através da Palavra de Deus. Os filhos sofrem pelos pecados dos pais" O Pr. Worley se esquece de Ezequiel 18, capítulo, aliás, pouco lido, e, menos ainda, comentado pelos teólogos dasa maldições: "Eis que todas as almas são minhas; como o é a alma do pai, assim também a alma do filho é minha: a alma que pecar, essa morrerá. ... A alma que pecar, essa morrerá, o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele, e a impiedade do ímpio cairá sobre ele" (vv.4,20). No livro Curse of the Vagabond, John Eckhardt menciona o que chama de "a maldição do vagabundo" que se reflete nas pessoas que vagueiam de cidade em cidade, de trabalho em trabalho, de casa em casa, de igreja em igreja, ou de ministério em ministério, no caso de pastores. Diz o autor: "São vagabundos".Usando como base o Salmo 107.1-8, identifica o autor no verso 4, espíritos de Nomadismo e Solidão; no verso 5a, espíritos de Pobreza , Desespero,
Desencorajamento e Depressão. No verso 7, a libertação desses espíritos leva a uma habitação e abrigo; e no verso 8, a libertação provoca o louvor, e é uma das obras maravilhosas de Deus (não deixa de sê-lo). O primeiro vagabundo da Bíblia, de acordo com Eckhardt, é Caim (Gn 4.11,12), e em Lamentações 3.64-66 identifica o resultado dessa maldição que é dureza de coração, e inclui Fracasso, Tragédia, Frustração, Morte, Destruição, Problemas Familiares, Dor, Problemas Conjugais, Doenças, Problemas Mentais, Suicídio, Aborto, Acidentes, Depressão, Tristeza, Luto, Tormento, Vergonha, Amargura etc. Para a "quebra" das maldições, ensinam os seus teólogos, começamos por apelar a Deus pelo perdão dos pecados dos nossos antepassados e ancestrais. O escritor de Quebrando as Maldições Hereditárias sugere que se trace a árvore genealógica da pessoa até a terceira geração. Colocam-se os nomes dos pais, avós e bisavós; anota-se a nacionalidade, a raça, a religião, o tipo de morte mais comum na família, a enfermidade freqüente, e como o casamento é avaliado dentro da família. Há outras perguntas dentro desse quadro de levantamento da árvore familiar. Naturalmente, ele considera básicos textos como Êxodo 20.5; Provérbios 3.33; Salmo 37.22,28; Provérbios 17.13; 2Samuel 3.29; Salmo 109.5,6,9,10. E apesar de apresentar textos como Romanos 5.17-19, onde explica que Deus quebrou as maldições dando-nos uma herança em Cristo, a graça, a justificação e a vida, ainda assim, ensina a se fazer a árvore genealógica para pedir a Deus a quebra das maldições e perdão dos pecados dos pais, avós e bisavós?! Isso é caminhar em dois perigosíssimos terrenos! Um é o terreno mórmon, e o outro é o católico-romano. No mórmon, a confecção das árvores genealógicas para batismo visando à salvação dos parentes falecidos! No terreno do romanismo, é de se indagar se já estamos fazendo orações por quem está no purgatório! Visto que parece estar sendo criado um tipo de purgatório evangélico com essa idéia de quebrar pecados e maldições, pedindo perdão a Deus por pecados praticados pelos antepassados?! Um dos teólogos das maldições afirma que se alguém orar por três ou quatro gerações e não der certo (???), se não conseguir quebrar a maldição (como vai saber se a maldição do tio-avô foi quebrada?), ele diz: "Quando um fenômeno parece resistir à quebra de uma maldição, vá a quinze ou vinte gerações". Isso é complemente fora de sentido! Observe-se que mesmo que se "quebrem" as maldições, há outros descendentes dos antepassados (tios, irmãos, primos) nos quais os problemas vão permanecer. E como explicar? Aqui uma Fórmula para quebrar maldições "Em nome de Jesus Cristo, eu repreendo, quebro e liberto a mim mesmo e minha família de qualquer e todas as maldições malignas, feitiços, encantamentos, bruxarias, magias, todo azar, todos os poderes psíquicos, fascínio, feitiçaria, poções amorosas, e orações psíquicas que têm sido postas sobre nós até dez gerações atrás em ambos os lados da minha família. "Quebro e liberto a mim mesmo de espíritos associados ou relacionados a qualquer pessoa ou pessoas, a qualquer fonte de ocultismo ou psíquica. Eu te peço, Pai Celeste, que os faça voltar a quem nos enviou! (Gn 12.3,28; 27.29; Dt 30.7; Sl 109.17-19). Que quem ama a maldição a receba em si mesmo". Pronto! Acabamos de virar pai-de-santo evangélico, babalorixá cristão, e discípulo de Cristo amaldiçoador, quando ensina a palavra de Deus: "Abençoai aos que vos perseguem; abençoai, e não amaldiçoeis" (Rm 12.14);
"Finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheios de amor fraternal, misericordiosos, humildes, não retribuindo mal por mal, ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo; porque para isso fostes chamados, para herdardes uma bênção" (1Pe 3.8,9); "Bendizei aos que vos maldizem, e orai pelos que vos caluniam" (Lc 6.28; cf. 1Co 4.12). Não se deve julgar a maldição no Antigo Testamento de acordo com a concepção politico-religiosa do mundo de hoje. Esse é o grande problema: tomar as categorias de um outro mundo, semita, de quatro mil anos atrás, complemente distinto no seu modo de pensar do modo grego que é o nosso. Quer dizer, as palavras têm outras categorias; não podemos simplesmente ler algo que foi escrito numa categoria de pensamento oriental (e nós somos ocidentais), há quatro mil anos (quando somos quase do século 21), e dizer que valem a mesma coisa. É aí que vem a hermenêutica, uma atualização do que se disse no passado para as realidades do presente. Afinal, havia algumas relevantes variáveis em relação ao tempo atual. Naquele tempo, não havia ordem pública policiada. Era diferente! Hoje temos a segurança trazida pela ordem policial. Naquele tempo, se uma pessoa se sentisse ameaçada, jogava uma maldição naquele ou naquilo que o ameaçava. No mundo antigo, uma maldição era pior que a presença de um policial. Por outro lado, não havia investigação de crimes com a perícia técnica, laboratórios, depoimentos, etc.: criminosos e soldados inimigos temiam a vingança em forma de palavra. Um escravo falsamente acusado usava desse recurso. Lembra o livro dos Provérbios: "Não calunies o servo diante de seu senhor, para que ele não te amaldiçoes e fiques tu culpado" (30.10). O escravo não podia recorrer à justiça processando alguém por perdas e danos; então, esse era o seu único recurso. O teólogo Von Imschoot lembra que a maldição era, quantas vezes, a única arma do oprimido. Um pessoa oprimida só tinha como se vingar lançando uma praga em alguém. Também o pobre faminto: "Ao que retém o trigo o povo o amaldiçoa; mas bênção haverá sobre a cabeça do que o vende" (Pv 11.26). Já imaginaram o que aconteceria com esses comerciantes que escondem mercadoria para aumentar o preço? E o explorado pelo agiota? "Ai de mim, minha mãe! porque me deste à luz, homem de rixas e homem de contendas para toda a terra. Nunca lhes emprestei com usura, nem eles me emprestaram a mim com usura, todavia cada um deles me amaldiçoa" (Jr 15.10). Afinal, para os orientais antigos (assírios, cananeus, hebreus, e outros), a maldição, como a bênção, era considerada uma força ativa, como algo extremamente concreto, estava em conexão com o poder da palavra, e era tanto mais eficaz quanto mais perto de Deus se encontrasse quem amaldiçoava, quanto maior fosse o pecado conhecido, e quanto mais importante fosse o bem protegido pela maldição. Há, também, todo um vocabulário da maldição. A raiz em hebraico é 'arar, que significa maldizer, amaldiçoar, falar mal. Daí vem meerah significando maldição. Há outras palavras (qabab, naqab, za'am), mas o sentido de todas elas é desejar mal a outrem (Gn 12.3), quando se confirma a própria promessa (Jó 31.30), ou como garantia da verdade de seu testemunho perante a lei .
Quando Deus pronuncia uma maldição, é sempre uma denúncia do pecado, e um julgamento. Por essa razão, quem sofre as conseqüências do pecado, por motivo do julgamento divino, é chamado de maldito, anátema. Voltando ao que já observado, para os hebreus, uma palavra não era simplesmente um som ou um grupo de fonemas, mas um agente enviado : tinha vida. São os casos da bênção e da maldição, e daí que, em Mateus 8.8, o centurião exclama: "Senhor, não sou digno de que entres debaixo do meu telhado, mas somente dize uma palavra". Bastava essa palavra ser dita, e atingiria o seu servo. O mesmo ocorre no verso 16: "Caída a tarde, trouxeram-lhe muitos endemoninhados; e ele com a sua palavra expulsou os espíritos, e curou todos os enfermos". E, ainda: "Jesus lhe respondeu (a Satanás): Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus (Mt 4.4; Dt 8.3), porque, por trás da palavra, está Aquele que a criou. A maldição é, na Bíblia, um perigo para o surdo porque ele não pode se defender. Alguém lhe joga uma praga, e ele não tem com revidar, e nem pode pedir uma bênção do Senhor quando a maldição estiver em curso, razão porque é proibida de acordo com Levitico 19.14: "Não amaldiçoarás ao surdo...; mas temerás a teu Deus. Eu sou o Senhor" (cf. Mt 11.15). A mesma aliança que Deus faz com Israel é uma aliança de bênção e maldição. Assim também, o evangelho de Cristo é uma aliança de bênção e de maldição: "Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus" (Jo 3.36). A maioria das maldições cai em uma das seguintes categorias: declaração de castigos, declaração de ameaças ou proclamação de leis. E, em todos os casos, as maldições são reflexo de violação de relações com Deus: é a idolatria, o desrespeito aos pais , enganar o próximo, aproveitar-se da desvantagem de alguém, aberrações sexuais, propina, a falta de observância da lei de Deus. 1. Só Deus é o Senhor absoluto de todas as declarações de 'arur (maldito). Por essa razão, só Ele pode amaldiçoar alguém, uma coisa ou uma terra. 2. Ele pode reverter bênçãos, e torná-las maldições. 3. É por natureza amaldiçoado o perverso, o criminoso, quem viola os mandamentos, quem não desempenha seu encargo sagrado. 4. Quem age dentro da esfera do proibido pelo Senhor é maldito, por outro lado, baruk é quem edifica sua vida no temor e poder de Deus, ou seja, é abençoado quem tem como alicerce a Cristo. É, no entanto, 'arur (amaldiçoado) quem confia no próprio poder ou no poder humano. Jeremias, o profeta, já falava sobre isso: "Maldito o varão que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor" (17.5,7). Queremos, aliás, esclarecer que este texto não quer dizer que se tem de olhar desconfiado para o vizinho; não diz que é maldito quem confia no vizinho; maldito é aquele que não reconhece que toda força humana é fraqueza diante do poder de Deus.
O problema da maldição não é a palavra em si. À luz do Novo Testamento, o problema da maldição é o sentimento que a provoca. Jesus abordou esse assunto quando, no Sermão da Montanha, disse: "Todo aquele que se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo" (Mt 5.22a). É o sentimento, pois "Todo aquele que disser a seu irmão: Raca (terrível palavra na língua aramaica), será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo (imbecil), será réu do fogo do inferno" (Mt 5.22b), porque por trás dessas palavras está o sentimento que faz com que elas sejam pronunciadas. O problema é o coração, a consciência, a mente que planeja e executa. E aqui está a palavra de Jesus: " Raça de víboras! como podeis vós falar coisas boas, sendo maus? pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca" (Mt 12.34). E, naturalmente, isso vale para a bênção (1Jo 3.18)! Palavras de bênção ou de maldição em si não são absolutamente coisa alguma segundo ensina Tiago: "Se um irmâo ou uma irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes desdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito há nisso?" (2.15,16). Assim, para quem está em Cristo, para quem é nova criatura, maldição, condenação, juízo não mais existem! E, realmente, não mais existem por causa da cruz de Jesus Cristo: "Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, ma já passou da morte para a vida" (Jo 5.24); "Portanto, agora nenhuma condenção há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1). Cristo redime da maldição todo o que nEle crê, sendo Ele mesmo feito maldição por nós, de acordo com Gálatas 3.13: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro". Cristo levou o símbolo da maldição quando na Sua cabeça foi posta uma coroa de espinhos (Mt 27.29). É esse evangelho que traz a bênção! No entanto, para quem prega um falso evangelho, deturpado, sem coroa de espinhos, sem Calvário, sem dor, para esse há sempre e sempre uma maldição. Lemos na Escritura: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema (maldito). Como antes temos dito, assim agora novamente o digo: Se alguém vos pregar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema (maldito)" (Gl 1.8,9). Não! Jesus Cristo não fez trabalho pela metade! Pensar assim, equivale a dizer que Ele salva, mas não batiza no Espírito Santo; que nos resgata da maldição, mas continuamos tendo na alma, nos ombros, em cada fibra moral, espiritual e física as maldições dos antepassados! Não! Jesus Cristo faz a diferença, e essa maldição foi quebrada pelo perdão de Deus em minha vida, em sua vida; pelo perdão meu àqueles que me ofenderam (cf. Rm 12.14); pelo amor, portanto (Mt 5.44; Cl 3.13). É exatamente o contrário da Antiga Aliança que diz, "Amaldiçoado seja quem te amaldiçoar'(Gn 12.3), enquanto a Aliança da Graça diz, "Abençoado seja quem te amaldiçoar" (Lc 6.28). Sim; porque Jesus Cristo faz a enorme diferença! "Quebrar a maldição" pela cruz não significa, porém, que após mim vem uma geração de nãopecadores. Pois mesmo na genealogia de Jesus, encontramos uma Raabe (ex-prostituta de Canaã), mãe de Boaz; encontramos Rute (ex-idólatra de Moabe) que casou-se com Boaz, sendo os pais de Obede, avô de Davi, de quem descendeu Jesus, o Cristo. Mas também de Davi descendeu Absalão. Davi era um salvo, mas dele veio um rebelde que trouxe juízo para si (cf. 2Sm
15); um que foi conspirador, polígamo e idólatra (1Rs 2.11); e Roboão, neto de Davi, era ímpio, e não deu ouvidos aos bons conselhos, tendo dividido o reino (1Rs 14.21), e Abião, bisneto de Davi, ímpio (1Rs 15.1-8). No entanto, Asa, irmão de Abião, foi reto aos olhos de Deus (1Rs 15.9ss), e Jesus descende de Davi pela linha de Salomão, Roboão, Abias, Asafe, Josafé, Jorão, e outros. Quem vive nesse esforço de "quebrar maldições hereditárias" de crentes em Jesus Cristo, melhor faria em pregar o evangelho para fazer discípulos, porque Jesus nunca ensinou que deixaria Sua missão incompleta! Pelo contrário, observo a palavra de Deus em Jesus Cristo dizendo: "A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra". Mais adiante dirá:). E, finalmente, depois de ter tomado vinagre na cruz: "Está consumado (Pronto, Meu Pai, acabei de fazer tudo o que Eu tinha de fazer para a salvação de todo aquele que crê..) Irmão querido, amada irmã, você já saiu do reino das trevas para a maravilhosa luz! As trevas da maldição já foram espantadas pela luz do evangelho do reino, como bem o declarou 1Pedro 2.9.Realmente, todo o poder está em Cristo, todo o poder está com Cristo, e todo o poder é de Jesus Cristo (Mt 28.18). Essa autoridade, esse poder foi conquistado na cruz e na ressurreição. E Paulo o diz tao bem: "e, tendo despojado os principados e potestades, os exibiu publicamente e deles triunfou na mesma cruz" (Cl 2.15). Sim, na cruz a nota promissória que devíamos ao Agiotamór foi paga por Jesus Cristo: "e havendo riscado o escrito da dívida que havia contra nós nas suas ordenanças, o qual nos era contrário, removeu-o do meio de nós, cravando-o na cruz" (Cl 2.14). O problema é que se confunde maldição com efeitos do pecado, por isso que diz a Escritura: "Pois quem faz injustiça recebrá a paga da injustiça que fez; e não há acepção de pessoas" (Cl 3.25). Se um homem tem uma vida desregrada, estragada, prejudicada no pecado, e pega uma sífilis, vai passá-la aos filhos. Pecado não se transmite como uma herança maldita, mas os efeitos do pecado, sim. Um homem de vida impura, degenerada, dissoluta vai levar sífilis ou a AIDS para casa. Um ambiente degenerado vai trazer à luz filhos degenerados porque isso é sistêmico. O Pr. Ricardo Gondim (p.116) lembra que se as maldições familiares se transmitissem automaticamente (Ex 20.5), também as bençãos do verso 6 deveriam ser automáticas. No entanto, a fé não salva automaticamente a geração seguinte. Ezequiel 18, texto nunca comentado pelos teólogos das maldições hereditárias, nos assegura no verso 20 que esse capítulo (o das herança das maldições) é má interpretação da palavra de Deus. E se o irmão amado, minha irmã querida crê em 1João 1.9 ("Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda a injustiça"), fiel é o Senhor para perdoar maldições e desgraças todas no passado e nos purificar de toda injustiça, e não precisa viver ansioso, nervoso, neurótico, assustado, "quebrando" infinitas maldições até a vigésima geração antes do irmão, porque quando Jesus Cristo o perdoou, você foi purificado, você foi tornada pura, minha irmã, por esse sangue de Jesus Cristo na cruz . Agora, a ordem que temos é a de Efésios 4.27: "nem deis lugar ao Diabo", para que não me exponha deliberada e conscientemente ao pecado e me torne vulnerável ao Inimigo-de-nossasalmas (cf. Hb 3.13). Nós temos segurança! Está descrita em Romanos 8.31-33: "Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará também com ele todas as coisas? Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus?" (cf. vv. 34-39).
E quem não se posiciona em Cristo permanece em condenação, é brinquedo de Satanás (cf. 2Co 5.17), e continua sob maldição (Ef 2.1-3). É verdade que temos uma feroz, constante, árdua batalha espiritual a vencer! Lutamos contra os poderes do mal (Ef 6.12); o Inimigo quer nos levar ao pecado; quer que duvidemos, e precisa dúvida maior que esta de fazer desacreditada a obra completa de Jesus Cristo, dizendo que ainda estamos debaixo de maldição? Paralela a isso, só a anticristã, anti-evangélica idéia de que o crente pode perder a salvação... Quer quebrar maldições? Eis a fórmula: seja um evangelista! Cada vez que o irmão ganha para Jesus Cristo uma vida, a maldição sobre aquela vida é quebrada; Satanás se torna impotente! Mas não confunda problemas emocionais, memórias mal curadas, pesadas heranças de uma infância sem carinho, de adolescência mal cuidada, ou casamento mal amado com maldições dos antepassados! Não confunda problemas da psiquê (tristes heranças genéticas ou causados por rejeição, traumas, machucões) com maldição da bisavó! Não ande desenhando árvore genealógica para tirar de um "purgatório evangélico" os parentes que já faleceram. Isso é heresia! É, como foi dito, combinação de doutrinas católico-romanas com doutrinas do mormonismo! É a velha tendência de pregar o evangelho e mais alguma coisa porque só o evangelho é considerado insuficiente?! Há quem pregue o batismo infantil para a salvação, ou Jesus e Maria como mediadores; outros grupos s pregam o batismo nas águas e o batismo no Espírito Santo como segunda bênção; a guarda da Lei tem sido anunciada e evidenciada na guarda do sétimo dia (ou guarda o sábado ou perde a salvação?!);e neopentecostais e carismáticos com a salvação mais a quebra de maldições hereditárias para que seja tornada completa a obra de Cristo?! Olhe para o Calvário! Quer quebrar maldições? Olhe para a cruz, porque ali Jesus foi considerado "amaldiçoado": "levando ele mesmo (Jesus Cristo) os nossos pecados em seu corpo sobre o madeiro, para que, mortos para os pecados, pudéssemos viver para a justiça; e pelas suas feridas fostes sarados" (2Pe 2.24). Ali, Ele tomou sobre Si nossas enfermidades (ou seja, maldições), nossas dores (maldições), nossas feridas (maldições), os nossos machucões, os nossos pecados! É; a "Teologia das Maldições Hereditárias" é o evangelho sem cruz, sem Calvário, sem dor, e é o evangelho da vingança. Se eu sou um acúmulo de maldições de gerações passadas (meus pais, avós, bisavós, trisavós), as maldições têm que ser quebradas em mim. Todo esse refugo, esse lixo de pecado, essa tralha, essa imundície é minha, e vai para a cruz de Jesus Cristo! Eu tenho consciência, no entanto, do que ensina a palavra de Deus, e sei que nunca vou ouvir dos lábios de Jesus esta expressão tão cheia de dor: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos" (Mt 25.41), por uma razão: "Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro" (Gl 3.13). E, assim: "agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm 8.1). Sim; há um lugar onde as maldições são quebradas: NA CRUZ, e isso acontece na sua vida quando você recebe a Jesus Cristo. Há uma maldição que é irrevogável, e nunca poderá ser quebrada. É a de Mateus 25.41: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno". É a dor dos que estão ao lado de Satanás. No entanto, no destino final, na herança final, no dia final, na Jerusalém eterna, encontro esta expressão: "ALI NÃO HAVERÁ JAMAIS MALDIÇÃO". E fora da Jerusalém Eterna ficarão os malditos ("Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os adúlteros, os homicidas, os idólatras, e todo o que ama e pratica a mentira" ). E, à luz do Novo Testamento,
estes que isto praticaram, e não foram libertos pelo sangue do Cordeiro de Deus, porque quem o foi quebrou esta maldição! Que o Senhor nos abençoe! CODER, S. Maxwell. Blessing. In: EVANS, William. The Great Doctrines of the Bible. Ed. Ampliada. Chicago, Moody, 1976. P. 280-281. ________. Curse. In: EVANS, op. cit. p. 284. ECKHARDT, John. Curse of the Vagabond and Why Does Deliverance Take So Long? Lansing, IL, H.B.C., 1989. GONDIM, Ricardo. O Evangelho da Nova Era. 2a ed. SP, Abba Press, 1993. HAMILTON, Victor P. ('Arar) To curse. In: HARRIS, R. Laird et al.(Orgs.). Theological Wordbook of the Old Testament. Vol. 1, 2a impressão. Chicago, Moody, 1981. P. 75-76. HICKEY, Marilyn. Quebre a Cadeia da Maldição Hereditária. São Gonçalo, ADHONEP, 1988. Trad. A. A. Vassão. KIVITZ, Ed René. Quebrando as Maldições. In: UNIJOVEM. Ano XII, no. 53 (4T94), p. 18-22. LINHARES, Jorge. Bênção e Maldição, 2a ed. Venda Nova, Betânia, 1992. MOTYER, J. A. Maldição.In: DOUGLAS, J. D. et al. (Orgs.). Novo Dicionário da Bíblia. Vol. 2. SP, Junta Editorial Cristã, 1966. Trad. J. Bentes. p. 987 - 988. OSWALT, John N. (Barak) To kneel, bless, praise, salute, curse. In: HARRIS, Op. cit. p. 132-133. RODOVALHO, Robson. Quebrando as Maldições Hereditárias. Goiânia, Koinonia, 1991. SCHARBERT, Josef. Blessing. In: BAUER, Johannes B. (Org.). Encyclopedia of Biblical Theology. NY, Crossroads, 1981. P. 69-75. ________. Curse.In: BAUER, Op. cit. p. 174-179. TERRA, J. E. M. Teologia da Bênção na Sagrada Escritura e Religião Popular. In: Revista de Cultura Bíblica (RCB). Vol. VIII (nos. 29/30), 1984. P. 3-18. ________. A Maldição na Sagrada Escritura. In: RCB, p. 37-42. ________. Bênção no Antigo Testamento. In: RCB, p. 37-72. ________. A Bênção no Novo Testamento. In: (RCB), p. 80-88. VAN IMSCHOOT, P. Bênção. In: VAN DEN BORN, A. (Org.) Dicionário Enciclopédico da Bíblia. 2a ed. Petrópolis, Vozes, 1977. Trad. F. Stein. P. 170-171. ________. Maldição. In VAN DEN BORN, Op. cit., p. 927. WENHAM, John W. O Enigma do Mal. SP, Vida Nova, 1989. Trad. M. L. Redondo. WORLEY, Win. Eradicating the Hosts of Hell. Lansing, IL, H.B.C., 1983.
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