Bela Indomavel - Kate Kingslley
December 27, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Beleza Indomável
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Beleza Indomável Kate Kingsley
Ele era o único que podia conquistar o coração impenetrável de Rebecca! Kansas, 1866 A bela viúva Rebecca Emerson resistiria a qualquer homem, até mesmo ao atraente desbravador do oeste, Jack Bellamy. Mas ao sentir o magnetismo daqueles penetrantes olhos azuis, seu coração vacilou. E quando Jack se ofereceu para proteger Rebecca dos perigos da fronteira selvagem, ela aceitou com bem mais do que simples indiferença...
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UM O vento soprava da pradaria, seco e constante. Assobiando por entre as paredes do Forte Chamberlain, quase abafava o som dos instrumentos da banda do regimento, ameaçando sobrepujar o tropel da cavalaria que retomava. As rajadas levantavam redemoinhos e agitavam a bandeira esfarrapada, embora pouco contri buíssem para amenizar o calor da tarde abafadiça. Em fre frente nte ao ma mastr stroo da ban bandei deira, ra, os mi mili litar tares es emp empoeir oeirado adoss fi fizer zeram am al alto to e se aprese apresenta ntaram ram ao comandantee da guarnição sob o olhar dos transeuntes. comandant transeuntes. Nas varandas da rua dos Oficiais, mulheres e crianças reuniram-se à procura dos rostos queridos. A viúva toda vestida de preto que observava do pátio a chegada da companhia não se demorou para assistir à debandada. Apesar de contente com os alegres reencontros que se seguiriam, não suportaria testemunhá-los. Endireitando os ombros esguios, Rebecca Hope Emerson encaminhou-se rapidamente para o hospital. Três carroças haviam estacionado em frente à enfermaria. Os enfermeiros, todos homens alistados no serviço, apareceram para ajudar os feridos que podiam caminhar, enquanto outros, carregando macas, avançaram por entre as carroças. A gritaria e a agitação assustaram as parelhas de animais, acrescentando o ruído de cascos e relinchos ao barulho geral da chegada. Por entre a poeira levantada, Rebecca avistou o doutor Trotter, o cirurgião civil contratado, contratado, orientando os padioleiros em uma das carroças abertas. − Westfield, Farina, andem com isso! E tenham cuidado! − Ele se dirigia a dois "passarinhos", o apelido dos presos da casa da guarda, que haviam sido designados para o trabalho no hospital. − Eles são homens feridos, não sacos de batatas. Ao avistar Rebecca, o médico falou-lhe com seu vozeirão: − Aí vem você de novo, minha valente amiguinha. − Você sabe que eu gosto de ajudar. − Ela parou ao lado da carroça. − O que aconteceu? − A companhia chegou a uma passagem ao mesmo tempo que um grupo de guerreiros cheyennes. − A atenção do médico fixou-se num soldado ferido. − Eles atingiram seis dos nossos rapazes e mais três civis. Será que você poderia preparar a sala de cirurgia? − Agora mesmo − prometeu ela, já a meio caminho dos degraus. No vestíbulo, Rebecca parou apenas o suficiente para prender o cabelo numa longa trança. Pegando de um gancho na parede um avental do Serviço Médico do Exército, ela o vestiu, enquanto esperava os olhos Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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se acostumarem à penumbra interior. No salão estreito da enfermaria, duas fileiras de camas alinhavam-se por todo o comprimento das paredes opostas. Diversos pacientes observavam, enquanto um enfermeiro arrumava um leito desocupado. Outro enfermeiro saía do ambulatório, carregando roupa de cama limpa para os recém-chegados. recém-chegados. O sargento Unger, o intendente do hospital, encontrava-se à mesa do ambulatório no centro da enfermaria. Com estudado cuidado, ele servia uma dose de quinino dentro de uma xícara de café e a completava com uísque, misturando o que era chamado o ""Elixir completava Elixir do Exército", o remédio militar contra dor, febre, insônia ou mau humor. Ao avistar a viúva à entrada, ele a cumprimentou com um movimento de cabeça. Embora o hospital não fosse lugar para uma dama, num dia como aquele ele acolhia sua presença com prazer. Na sala de cirurgia, Rebecca puxou os lençóis que cobriam as duas mesas centrais. Embora tivesse aprontado a sala diversas vezes antes, sentia dificuldade em olhar para a mesa maior, toda riscada e desgastada, tão encardida de sangue que nunca mais ficaria limpa. Não devia se importar com o que aconteceria ali, advertiu a si mesma. Se fosse necessário fazer uma cirurgia, então que se fizesse. Mesmo que se tratasse de uma amputação. O que quer que precisasse ser feito, teria de ser conduzido com a maior limpeza possível. E disso ela se encarregaria. Enquanto esperava pela água fervente da cozinha, abasteceu os lampiões e aparou os pavios. Depois de verificar se havia água limpa no jarro do lavatório, relutantemente reuniu os instrumentos cirúrgicos da sala: bisturis de dois tamanhos, serrote, um pequeno alicate e um formão. Quando um enfermeiro entregou a chaleira fumegante, Rebecca colocou os instrumentos em uma bacia profunda e derramou a água escaldante por cima. Deixando os instrumentos de molho, esfregou as mesas com um sabão duro e amarelo usado pelos militares e derramou a água excedente no chão. As pequenas poças que se formaram evaporaram quase imediatamente naquele calor que a tudo ressecava. Atenta à aproximação de passos, deixou à mão as agulhas, os fios de tripa de carneiro para sutura, gaze e um vidro de clorofórmio. Estava retirando os instrumentos cirúrgicos da água fervente, quando o médico entrou à frente da maca com o homem ferido. − Ah, Rebecca Rebecca Perf Perfeita eita,, você já arrumou tud tudo, o, como semp sempre re − coment comentou ou ele com o bom humor, chamando-a pelo apelido de costume. − Obrigado, minha cara. Daqui por diante nós cuidamos do resto. Cabo,, apli Cabo aplique que a anes anestesi tesiaa ordenou ordenou ao enfe enfermei rmeiro ro que o acom acompanh panhava ava e escolheu escolheu uma agulha agulha entre os instrumentos. − Vou ver se o sargento Unger precisa de ajuda − balbuciou Rebecca. Embora se orgulhasse de manter a compostura, aproveitou a deixa para fugir dali. Assi As sim m qu quee el elaa saía saía da sala sala de ci ciru rurg rgia ia,, os dois dois pa pass ssar arin inho hoss pa pass ssar aram am rola roland ndoo a sua sua fr fren ente te.. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Impulsionados Impulsiona dos por uma força poderosa, quedaram amontoados num canto. − Me deixem em paz, seus desgraçados! − Uma voz furiosa reverberou no vestíbulo. Virando-se vivamente na direção da voz, Rebecca deparou-se com as costas largas de um homem usando roupas de couro de alce. O intruso segurava um fardo sobre o ombro e passava pelo corredor em direção à sala da enfermaria. Sob as abas largas do velho e desgastado chapéu, seu cabelo grosso e negro caía à altura dos ombros. − Um índio! − O coração de Rebecca disparou, mas ela logo se controlou. Tratava-se provavelmente de um batedor, um dos exploradores que faziam contato avançado com os indígenas: era um amigo, não inimigo. Sua paciência se esgotou, contudo, ao ver o que ele carregava: o corpo flácido de um soldado jovem, que parecia pouco mais que um garoto. − Quem é esse homem? − murmurou ela, fazendo menção de segui-lo. − Espere, senhora Emerson. − Westfield, um dos passarinhos, um inglês que se juntara ao exército, equilibrou-se num pé e bloqueou-lhe a passagem. − Não deve ir atrás dele, dona. − Mas quem é ele? − Rebecca olhava indignada para aquelas costas largas. − O nome dele é Injun Jack. − O soldado inglês girou os olhos para o salão e implorou. − Não se aproxime, dona. Desculpe o mau jeito, mas ouvi dizer que ele é capaz de arrancar suas tripas só com o olhar. − Si − acrescentou o outro passarinho, Farina, do chão. Ele, por sua vez, era um soldado de origem italiana. − O homem é um bom batedor, mas dizem que vira uma fera quando está ubriaco... quer dizer, bêbado. − Ele não parece embriagado. − Chegando à porta, Rebecca observou como o homem atravessava a enfermaria em passos silenciosos de seus mocassins. − Ele tem o cheiro de uma destilaria inteira − insistiu Westfield, enquanto Injun Jack deitava o soldado ferido numa das camas e se curvava ao seu lado. O sargento Unger, algumas camas além, ergueu os olhos para ele mas não fez menção de detê-lo. − Se ninguém fizer nada − Westfield parou com as mãos na cintura − nós vamos ver só do que esse homem é capaz. − Peste − ruminou Farina, levantando-se.
Rebecca seguiu-os à enfermaria e parou ao lado da mesa do ambulatório, a uma distância prudente do índio grandalhão. Também temeroso de se aproximar, Westfiel Westfieldd deteve-se a uns três metros. − Tarde, Injun Jack. Viemos cuidar do soldado. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Não! − O batedor largou o homem inconsciente mas não levantou os olhos. − Você não tem autoridade aqui − o passarinho inglês prosseguiu com temeridade impressionante. − Carregar os feridos é o nosso trabalho. − Sí nosso trabalho hoje − confirmou Farina atrás dele.
Como Injun Jack não respondesse, Westfield avançou um passo e mais outro. − Com umas roupas limpas e um gole de uísque, seu amigo vai se recuperar logo. − Com todo o cuidado, ele deu mais um passo. − Deixe a gente pegá-lo. − Eu disse não! O homem voltou-se sobre as pernas grossas e ergueu o corpo ameaçadoramente. O cabelo cobria-lhe o rosto, ocultando as feições alteradas pela raiva, e uma faca brilhava em sua mão. Num instante, instante, a lâmina letal estava na bainha em suas costas. No outro, ela se encontrava em riste, apontada para aqueles que ousavam interferir. − Vão embora − ele ordenou. − C-como q-quiser. − A dupla recuou, tropeçando um contra o outro enquanto batiam em retirada. Injun Jack voltou-se e, com a faca, cortou em toda a extensão a alta bota de montaria do homem ferido. Depois, com impressionante delicadeza, soltou a bota rasgada do pé ferido e a meia ensopada de sangue, e as deixou cair no chão. A despeito dos cuidados do batedor, o soldado fez uma careta de dor. Rebecca dirigiu ao sargento Unger um olhar pungente. O homem, sem poder deixar seu paciente, paciente, fez-lhe um sinal de aprovação, quando ela dobrou uma toalha sobre o braço e pegou uma bacia com água limpa. − Não, signora! − sussurrou Farina, ao perceber suas intenções. − Pretendo fazer com que aquele rapaz receba o cuidado médico adequado − declarou ela. Exibindo mais coragem do que sentia, Rebecca encaminhou-se para onde o batedor se encontrava, já tirando as calças azuis de pano grosseiro do soldado, que cortara ao longo da faixa amarela, no comprimento da perna. Seu coração batia acelerado enquanto ela se esgueirava por entre as camas e parava atrás dele. Forte, empoeirado e suado, o homem exalava uma força máscula, e o soldado Westfield estava certo: ele recendia a uísque. Ela limpou a garganta com delicadeza, mas Injun Jack não tomou conhecimento de sua presença. Insegura quanto ao que fazer, ela esperou, aproveitando o tempo para examiná-lo. Fascinada a contragosto, observou-lhe os músculos retesados sob a camisa de couro franjada, enquanto ele se inclinava sobre o ferido. Era mais alto que os poucos índios que conhecera. E seus ombros eram mais largos. Suas mãos grandes mas delicadas contrastavam contrastavam com a aparência rude. De um lado da cintura, pendia o coldre da arma, onde se via a empunha dura de osso de um revólver bem engraxado, gasto e mortal. Seu olhar passeou da cintura estreita para a fita de couro que prendia o coldre à coxa grossa. Por baixo do couro Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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espesso das calças, as pernas sinuosas eram indiscutivelmente poderosas. Perplexa com o rumo de seus pensamentos, Rebecca olhou sob a aba larga do chapéu. O cabelo comprido, caindo sobre a face bronzeada, impedia-lhe. a visão do rosto. Embora o espetáculo da explosão de raiva fosse suficiente para desencorajar os mais intrépidos, ela não poderia deixar aquele rapaz ferido à mercê daquele homem. Pensando assim, postou-se à frente dele, de modo que não pudesse ignorá-la, e explicou com clareza: − Por que não se afasta agora e me deixar cuidar disso? Preciso tratar este ferido. Como resposta, ele arremessou a faca no chão, fincando-a a poucos centímetros da barra da saia dela. Rebecca olhou para a arma horrorizada. A lâmina brilhava, refletindo a luz de uma janela próxima, e ainda vibrava pela força com que ele a atirara. Mas, com a raiva sucedendo ao susto, ela se ajoelhou para deixar a bacia no chão e, em meio aos respingos da água sobre seu avental, ela o fuzilou com o olhar. − Escute aqui, senhor Injun Jack, ou seja lá qual for o seu nome. Se suas mãos sujas já não tiverem provocado uma infecção neste rapaz, os micróbios que caírem de seus cabelos e roupas serão suficientes para matá-lo. Injun Jack cobriu o soldado com um lençol e depois voltou-se. Os olhos mais azuis que Rebecca já vira brilharam para ela, as pálpebras semicerradas num sorriso inesperado. − Minhas mãos estão bem limpas, dona − explico explicouu ele, tirando o chapéu educadamente. − Embora não tenha dado tempo, entre as escaramuças, de lavar as roupas ou tomar um banho. − C-como você se atreve a tentar me assustar? – Ela estava perplexa, presa por aquele olhar. − Você não é índio. − Também não sou surdo. Não precisava ter gritado. − Eu só estava tentando me fazer entender. − Pois eu entendi. Só que não vou sair daqui. − Então fique. − Ela desejou apagar o sorriso de bêbado do rosto dele. − Mas procure não atrapalhar. Antes que ele respondesse, o soldado ferido se mexeu e deu um gemido. Abrindo uns olhos quase tão azuis quanto os de Injun Jack, olhou vagamente para Rebecca. − Uma dama − sussurrou em voz sumida. − Será que estou sonhando? − Não está sonhando, não. − Rebecca inclinou-se sobre ele. − Como se sente, soldado? − Melhor agora, depois de vê-la. Quase sufocada com o cheiro de álcool que ele exalava, ela se afastou depressa e dardejou um olhar Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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furioso para o batedor. Ele encolheu os ombros. − Foi só um pouco de bourbon para passar a dor. − Você é uma enfermeira, dona? − indagou o soldado em voz rouca. − Ou um anjo do paraíso que veio para me buscar? − Nem uma coisa, nem outra. Faço o que posso. E acho que não vai para o paraíso ainda, mas só vou saber mesmo depois de dar uma olhada no seu ferimento. − O sargento Unger pode cuidar disso. − O jovem recuperou-se o suficiente para puxar a coberta até o queixo. − Uma dama não deveria estar olhando para o... corpo de um homem. Não é elegante. Com a mão no lençol, Rebecca garantiu-lhe: − Não precisa se preocupar, soldado. Eu não me envergonho com facilidade. Uma mão calosa e bronzeada a deteve. − Os bons modos de Teddy são apenas parte do problema − advertiu-a Injun Jack. − Ele recebeu um belo golpe com uma machadinha de guerra. Não é o mesmo que tratar torceduras ou ferimentos com estilhaços. − Gostaria de ter experiência só com torceduras e estilhaços, senhor. − Ela olhou insistentemente insistentemente para a mão até que ele a retirou com a testa franzida. − Mas eu vivia a três milhas de Gettysburg, onde a guerra acabou. − Um anjo ianque − caçoou Teddy com fraqueza, referindo-se à cidade da União onde se travou a última batalha da Guerra de Secessão, que marcou a derrocada das forças" sulistas rebeldes. − Que é que acha disso, Jack? − Acho que foi bom para você a guerra ter acabado. O batedor se levantou e foi sentar-se na cama ao lado. Vá em frente, dona. Suas mãos parecem tão limpas quanto as minhas e aposto que você não tem nenhum micróbio. Com o rosto ardendo de rubor, Rebecca afastou o lenço e deu graças por Teddy ter fechado os olhos à cena. No entanto, estava consciente da presença de Injun Jack, observando-a ironicamente a suas costas, a cabeça sobre pescoço de ferro, os olhos muito azuis acompanhando cada movimento seu. Ela arqueou as sobrancelhas de preocupação ao ver talho e a estria vermelha na perna do soldado. Alguém no campo envolvera o corte com uma atadura embebida e álcool. O tecido tingira-se de marrom com o sangue seco sem que se pudesse identificar sua cor original. Depois de horas de viagem, ele aderira às bordas do ferimento. Pedindo água quente, ela começou a removê-lo. r emovê-lo. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Teddy enfrentou as compressas quentes rilhando os dentes e debateu-se enquanto era retirada a atadura. Quando o sangue jorrou do corte, Rebecca deixou-o fluir por um instante, para dar vazão aos detritos alojados ao longo do ferimento. Lágrimas brotaram dos olhos do rapaz, mas ele permaneceu em silêncio enquanto ela lavava a ferida. Procurando com o olhar o médico ou o intendente para costurar o corte, Rebecca ficou alivia aliviada da ao ver o sargento se aproximar. − Olá, Injun Jack − ele cumprimentou o batedor e foi examinar o trabalho de Rebecca. O explorador não fez nenhuma menção de se levantar. − Olá, Unger. − Belo trabalho, senhorita Rebecca. − O intendente estendeu-lhe uma bandeja com agulha, linha e um pacote de morfina em pó. − Aí está, vai precisar disto. − Mas... − Se cuidar do soldado Greeley, eu cuido do resto – ele lhe assegurou. Rebecca olhou na direção de Injun Jack, mas ele se fechara em seus pensamentos e parecia ter adormecido. − Muito bem − ela se conformou. Depois que o sargento se afastou, ela esperou até que a morfina fizesse efeito e a respiração de Teddy se tornasse profunda e regular. O rapaz piscou várias vezes enquanto ela costurava, mas não pareceu sentir nenhuma dor. Ela trabalhou depressa porque a pele dele já estava quente e seca ao toque e o rosto do paciente apresentava-se muito corado. − Está muito mau? − quis saber o soldado quando ela terminou. − Já vi piores − respondeu Injun Jack por ela. Rebecca assustou-se com a voz inesperada às costas. − Está muito mau, anjo? − insistiu o soldado, lutando para permanecer acordado. − O corte foi profundo, mas está limpo e fechado agora − replicou ela, séria. − Se não houver infecção... Com os olhos brilhantes pela febre e a droga, Teddy esforçou-se para ver o batedor. − Prometa que não vai deixar o doutor cortar minha perna, Jack! − Descanse, meu rapaz. Ele não vai encostar a serra em você. − Ao falar, o homem observou Rebecca, como se esperasse um protesto. Mas ela terminou de colocar uma compressa fria na testa do soldado e disse em voz baixa: − Agora apenas descanse. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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No entanto, o vergão na perna do rapaz a preocupava. Ela fez sinal para um enfermeiro, mas o homem parou a uns seis metros de distância e não deu mostras de querer se aproximar. Ela suspirou e foi em silêncio até ele. De nada adiantaria acordar a enfermaria inteira com seus gritos. − Por favor, dê um banho no soldado Greeley − instruiu, pegando uma muda de roupa de baixo na mesa da enfermaria. − E troque as roupas dele enquanto eu procuro um remédio para abaixar sua febre. − O Injun Jack não vai me deixar chegar perto, dona − o enfermeiro se queixou. − Se eu chegar, ele vai enfiar sua faca nas minhas costelas. − Não se preocupe com isso. Ele não me atacou − argumentou ela, passando a roupa para as mãos dele. – Nem mesmo tentou. − É verdade, mas... − Diga a ele que fui eu que o mandei cuidar do Teddy para mim. − Sim, dona. − O enfermeiro arrastou-se na direção do doente e voltou-se amedrontado para ela quando o batedor abaixou-se para apanhar sua faca do chão. − A senhorita Rebecca pediu para eu dar banho no soldado Greeley. Por um bom momento, Injun Jack examinou-o com os brilhantes olhos azuis, então guardou a faca. − Não o machuque − grunhiu, deitando-se na cama ao lado e cobrindo-se com o lençol. − Ou então vou esfolá-lo vivo. Rebec Reb ecca ca rol rolou ou os olh olhos os exasp exaspera erada da para para o teto teto e deixou deixou o ame amedro dronta ntado do enf enferm ermeir eiroo com sua incumbência. Injun Jack permaneceu quieto, ouvindo o uivo do vento Seu braço latejava e ele sentia-se cansado, muito cansado, mas ainda não podia dormir. Por entre as pestanas escuras, observou o anjo ianque de Teddy trabalhar. Com os olhos tímidos afastados do banho do paciente, ela mexia um preparado para ele. Esbelta, ereta mas não muito alta, ela caminhava compenetrada, a grossa trança de cabelo preto dançando entre as espáduas a cada movimento. Quando ela se virou para derramar uísque num vaso, Jack examinou-a de perfil. Suas feições delicadas lembravam um camafeu que sua mãe usara. Mas, ao contrário do broche, o rosto dela era vívido e ex expre pressi ssivo. vo. Por sua jov jovial ialida idade de,, calc calculo ulouu que ela ela apa aparen renta tava va uns uns vin vinte te e ci cinco nco an anos, os, ma mass ac achou hou-a -a empertigada e cerimoniosa demais para seu gosto. Tinha uma boca bonita, que fazia covinhas quando sorria, mas quando se irritava seu olhar poderia parar um búfalo em disparada. Ele fechou os olhos fatigados. O cansaço o levava a pensar tolices... tolices sobre uma mulher. Mas os Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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olhos dela eram lindos. Gostaria de se lembrar de sua cor... Rebecca sentiu-se aliviada ao encontrar Injun Jack adormecido, quando retomou para ver o estado de Teddy. O paciente estava limpo e calmo, mas ainda sem as roupas. A roupa de baixo limpa permanecia dobrada ao pé da cama, e o enfermeiro não se encontrava à vista. Embora parecesse uma tolice, abaixou-se para procurá-lo por debaixo das camas. Ao se levantar, deparou-se com os olhos azuis de Injun Jack. Ele lhe sorria. − Se está procurando pelo seu enfermeiro, não vai encontrá-lo aí. − O que você fez com o pobre homem? − Nada − protestou ele, a própria imagem da inocência. Com uma fungada, Rebecca deu-lhe as costas e ergueu a cabeça de seu paciente. Segurando a xícara em seus lábios, pediu: − Beba isto, soldado. Teddy, atordoado, bebeu um gole, deixando de querer cooperar ao sentir o gosto do remédio. Empurrou a xícara para o lado e protestou: − Santo Deus, ela está tentando me envenenar! − Não é nada disso − ela reagiu, imaginando se Injun Jack não iria pular da cama e fazê-la em pedaços, mas ele nem se mexeu. − Passe aqui o seu cantil... rápido, Jack − pediu o rapaz com uma careta de horror. Seu protetor, no entanto, não pareceu se sensibilizar. − Só depois de terminar isso aí. − Mas isso aqui é uma bebida estragada − queixou-se Teddy. − Tem mais quinino que uísque. É para a febre... Rebecca começara a explicar, mas se interrompeu ao ver que ele lhe dirigia um olhar maléfico maléfico.. − Eu poderia suportar a febre, dona. Já quanto a esse uísque, não sei, não. − Beba aí, rapaz − ordenou o batedor. Com uma expressão de total desalento, o rapaz pegou a xícara. − Seu dia vai chegar, Jack − murmurou. − Logo, logo. Mostrou o braço para ela? Rebecca voltou-se para o explorador − O que aconteceu com seu braço? Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Coberto com o lençol, ele não fez menção de mostrar o ferimento. − Ficou na frente de uma flecha. − Ele foi atingido quando ia me salvar − informou Teddy. − Não devia ter salvado, se soubesse que você não iria querer tomar seu remédio. O soldado prendeu o nariz e, de uma só vez, entornou a xícara. − Agora me dê um pouco de bourbon − pediu. – E deixe ela ver o seu braço. Quando Injun Jack afastou o lençol e sentou-se, Rebecca percebeu que seu braço direito pendia inerte para o lado. Ele pegou uma garrafinha prateada prateada do bolso com a mão esquerda e estendeu-a ao rapaz. − Vá com calma − avisou. − Você já bebeu demais. Depois que o soldado bebeu e recostou-se no travesseiro, Injun Jack pegou a garrafa de suas mãos e fez um brinde com ela para Rebecca. − A sua saúde, senhorita Rebec Rebecca. ca. É esse o seu nome, não é? Ela inclinou a cabeça, concordando. O bronzeado dele não escondia a palidez do rosto e a testa estava coberta de suor. O brilho em seus olhos se devia mais à fadiga e à dor que ao uísque vertido. − Posso dar uma olhada em seu braço, se quiser sugeriu cautelosamente. cautelosamente. − Não, obrigado. − Estirado na cama, ele escondia o ferimento com o corpo e o tornava virtualmente inatingível. − O'Hara cuidou dele lá no campo. − E esse senhor O'Hara é médico? − O sargento O'Hara é um irlandês de mãos tão macias que podia ter sido, se quisesse. − Ele agarrou a borda do colchão para se levantar um pouco. − Você entenderá minha relutância, portanto, em não querer mais ninguém mexendo em mim depois dele. Rebecca examinou-o longamente. Ele ameaçara, esbravejara, falara alto, mas ainda não machucara ninguém. Por certo não atacaria uma mulher. − Eu insisto em examinar seu braço − declarou em voz ameaçadoramente ameaçadoramente baixa. Os olhos dele brilharam divertidos. − Para uma garota tão nova, você é teimosa demais. − E você, para um homem tão crescido, tem pouco juízo − replicou ela. − Quer que seu braço infeccione? Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Não, dona. Docilmente, ele lhe estendeu o braço direito. A manga da camisa de couro fora cortada até o ombro e um trapo emplastrado de poeira envolvia o bíceps. Rebecca estendeu a mão e tentou remover a bandagem. − Você vai ter de chegar mais para cá − pediu. – Não consigo alcançar. Ele se levantou e seus joelhos encost encostaram aram no quadril dela, mas ela fez que não notou. Concentrada em retirar o curativo, deu a volta ao redor das longas pernas dele, o avental roçando no revólver. − Então era isso que cheirava a álcool − comentou ao sentir o odor mais de perto. − E foi um desperdíci desperdícioo danado de bourbon, dona. − O batedor deu um longo gole de sua garrafinha. − Mas o O'Hara insistiu. − A flecha parece não ter atingido o osso − ela notou com alívio. − Ainda bem que atravessou o músculo e saiu do outro lado. − Graças ao sargento O'Hara. − Teddy levantou-se inesperadamente. − Quando ele percebeu que não poderia arrancá-la, empurrou-a para o outro lado. Rebecca encolheu-se ao imaginar a cena. − Não foi tão ruim assim − Injun Jack comentou. − Não... − Ela tentou não demonstrar a preocupação enquanto examinava a ferida. De ambos os lados ela retinha um líquido escuro. − Parece haver alguns fragmentos... e alguma coisa mais. − Fumo mascado − explicou Teddy em voz arrastada. − Fumo mascado? − repetiu Rebecca, sentindo o estômago se contrair. − O'Hara passou fumo em volta do ferimento − explicou o batedor. − Isso é comum de se fazer lá no campo. Está tudo bem com você, dona? − Estou ótima. − Ela engoliu em seco. − Deve ser o calor. − Agora veja o que você fez, Teddy. − Injun Jack deixou a garrafa no chão, levantou-se e segurou Rebecca com a mão boa. − O anjo ianque parece que está querendo desmaiar. − Descul... − Teddy começou a falar, mas mergulhou no sono antes de terminar. Irritada com a própria fraqueza, Rebecca se afastou mas deu com as costas na parede. − Não vou desmaiar. − Tem certeza? − A voz dele soou rouca. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Injun Jack inclinou-se para ela e o cheiro de bourbon fez suas têmporas latejarem. − Claro. Pretendendo expressar segurança, ela sorriu para o paciente, mas o sorriso vacilou ante o brilho dos olhos azuis. Um calor foi crescendo em seu íntimo e lhe percorreu o corpo como labaredas, minando sua resistência. Os lábios dele estavam próximos, perigosamente próximos. Ela entreabriu os seus e reteve a respiração.... esperando... respiração.. Esperando o quê?
Rebecca caiu em si de repente e se recompôs, afastando-se. O que estava fazendo,
agindo como uma adolescente em relação àquele batedor rude, desleixado e bêbado, que ia ficando cada vez mais embriagado a cada instante? Vagarosamente, Vagarosament e, tirou a mão de Injun Jack de sua cintura e, na ponta dos pés, pousou as mãos em seus ombros fortes. Em seguida, puxou-o para baixo até que ele se sentasse na cama. − Se quer que o trate, terá de se comportar como um cavalheiro, senhor − advertiu-o. − Se eu me lembrar como é isso − replicou ele friamente. Pendurando o cinturão da arma na cabeceira da cama, ele sentou-se e recolheu a garrafa. Depois de beber mais um gole, estendeu o braço ferido e franziu a testa quando ela se aproximou. − Vá em frente − encorajou-a em voz enrolada. – Não vou atirar em você. Ela o encarou como se duvidasse de sua palavra. − Acho melhor tirar a camisa antes de eu limpar o ferimento. − Acho melhor você cortá-la fora, já que não posso tirá-la pela cabeça − retrucou ele. − Quem sabe você aceita o empréstimo cavalheiresco de minha faca? Rebecca cortou cuidadosamente cuidadosamente a camisa já rrasgada asgada desde a cava da manga até o colarinho. O batedor permaneceu ereto, com o braço um pouco levanta levantado do para facilitar o serviço, mas sem olhar para ela. Quando ela terminou, ele sacudiu fora a camisa, os músculos contraídos sob a pele bronzeada. Trazia em volta do pescoço um estranho colar de presas de marfim, que repousavam sobre os pêlos espessos do peito. Surpreendendo-se a observá-lo outra vez, ela ergueu o olhar envergonhado. Exatamente como temia, Injun Jack a estava observando. − Para uma mulher que não se envergonha facilmente, você fica vermelha demais − espicaçou ele, pegando a faca de volta. Rebecca não respondeu, mas recusou-se a olhá-lo enquanto banhava o braço, do ombro à ponta dos dedos. Com cuidado, limpou o ferimento, eliminando delicadamente os detritos, e tratou-o. Jack suportou as administrações doloridas em silêncio. Quando ela colocou um novo curativo no Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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lugar, ele já esvaziara a garrafa e seus olhos estavam vacilantes. − Não vai se deitar? − Ela tentou ajudá-lo a se recostar na cama. − Você perdeu muito sangue. O melhor que tem a fazer agora é descansar. − Não antes de lhe agradecer pela caridade prestada a um desconhecido − ele falou com a língua enrolada e levantou-se com esforço. − Acho que esqueci os bons modos. Permita-me que me apresente, dona. Jonathan Braithwaite Bellamy, às suas ordens. A tentativa de fazer uma reverência acabou tempestuosamente quando ele perdeu o equilíbrio e caiu sobre ela. Rebecca forçou as duas mãos e o ombro contra o peito dele e se inclinou para a frente, impedindoo de cair. Jack abanou a cabeça, confuso. Pretendia beijar-lhe a mão, mas ambas as mãos dela repousavam em seu peito e o corpo dela estava colado ao seu. Fazia três meses que nem sequer via uma mulher e agora tinha uma nos braços, pensou em meio à névoa da embriaguez. As coisas corriam melhor do que planejara. Rebecca arfou de surpresa quando ele passou o braço bom ao redor de sua cintura, puxando-a para si. − Senhor Bellamy − protestou, com as mãos presas entre os dois. − Por favor! − Por favor − ele sussurrou, recordando-se dos bons modos. Os olhos dela eram da cor de avelã, com traços de dourado. Como pudera ter-se esquecido? E ela se enrijeceu quando procurou-lhe os lábios com os seus, mas não se afastou. Ao contrário, manteve-se ali, os seios pequenos e firmes contra o seu peito largo. Era tão bom segurá-la, pensou ele confuso, puxando-a ainda mais para si. Rebecca ficou imóvel quando ele lhe cobriu os lábios com os seus, quentes e com gosto de bourbon, despertando um tumulto de sensações estranhas. Não pensou em nada, apenas sentiu, quando retribuiu o beijo, com medo de respirar, com medo de se afastar, temerosa de que aquele prazer incomum e inesperado se interrompesse interrompesse.. Depois do beijo, os sentimentos recuaram. Seu rosto ardia pelo contato com a barba por fazer, e ela corou violentamente de arrependimento. Sustentada por aqueles músculos poderosos, seus polegares quase não tocavam o chão. Tentou se libertar do abraço, mas ele não a soltou. Sorrindo, ele murmurou: − Você beija melhor do que cura. Estou muito agradecido por ser seu paciente, dona. − Seu... Mas, antes que ela pudesse articular uma resposta à altura, ele jogou-se sobre a cama, levando-a consigo. Ela caiu sobre ele numa confusão de saias e anáguas pretas. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Aproveitando que ele afrouxara o abraço, ela se debateu e conseguiu se levantar. − Oh! Você, seu... − bradou. − Não passa de um selvagem grosseiro e sem educação! Injun Jack, porém, não a ouvira. Recostado no colchão, ele adormecera com um sorriso nos lábios.
DOIS Os pacientes de Rebecca não acordaram nem com a parada que antecedia o fim do expediente no pátio. Teddy ainda se espreguiçou quando o tiro de canhão dado ao pôr-do-sol foi disparado, mas Injun Jack roncava, dormindo o sono dos justos. Ou o sono dos bêbados, pensou Rebecca observando-o. O batedor jazia de costas para ela, a cabeça repousando sobre o braço musculoso. Injun Jack não despertara quando trocara o curativo no ferimento depois de terem caído sobre a cama, nem quando lavara seu torso nu, relutando em tirar sua calça de couro. Ele não se movia agora, enquanto os enfermeiros passavam acendendo os lampiões antes de a noite chegar. Nem um bebê inocente dormiria tão profundamente, considerou Rebecca com acidez, e Injun Jack Bellamy estava longe de ser inocente. Ele invadira o hospital, ameaçara os enfermeiros e tentara intimidá-la. intimidá-la. Ele a insultara, agarrara e tirara do sério, e perder a paciência era algo que nunca esperara que lhe acontece acontecesse. sse. Mas mais perturbadora era a lembrança de seu beijo embriagado e das fortes sensações que despertara em seu íntimo. Ninguém, nem mesmo Paul, a afetara daquela maneira. − Por que não vai para casa e tenta dormir um pouco, Rebecca? − sugeriu o doutor Trotter, que se aproximara e tentava controlar o vozeirão para falar baixo. − Acho que vou ficar mais um pouco ainda. − Ela sorriu para o homem baixo e corpulento. − Como queira, minha cara. − Com cuidado para não acordar Teddy, ele examinou examinou-lhe -lhe o ferimento da perna por baixo da coberta. − Precisamos ficar de olho neste vergão − murmurou. − Ainda bem que ele está conseguindo conseguin do descansar. Pensei que precisaria de mais analgésico, mas aparentemente não será necessário. − Ele se serviu à vontade da garrafa do senhor Bellamy. − Senhor Bellamy? Ah, Injun Jack. − O doutor Trotter inclinou a cabeça, compreendendo. − O sargento Unger me contou que você o manteve sob controle. − O médico parecia inseguro sobre como tocar no assunto. − Ele não... quer dizer... ele não machucou você, não é? O rosto dela corou violentamente. violentamente. − Estou bem, obrigada. E ele também, embora tenha batido o braço ferido quando caímos. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Como está o feriment ferimentoo dele? Eu preferia encarar um urso furioso a enfrentar Injun Jack. − Amanhã cedo ele já estará bom. A flecha atravessou o braço e não há sinal de infecção. Eu limpei o ferimento completamente antes de ele apagar... − Por causa da dor? − Por causa do uísque. O médico deu uma risada ante a expressão dela. − Dor, exaustão e um bom bourbon formam o mais potente sedativo. Esta deve ser a primeira vez que ele dorme em vários dias. Você fez um bom trabalho, minha cara − ele a cumprimentou. − Chame se o soldado Greeley acordar com dor. Vamos ter de tratá-lo com láudano, pois a morfina acabou e não se tem notícia de novas carroças carroças de suprimentos por chegar. Não vejo a hora de a ferrovia chegar a Chamberlain. − Depois de uma pausa, ele continuou, preparando-se para se retirar: − Tem certeza de que não quer ir para casa? Posso mandar um enfermeiro acompanhá-la. Rebecca abanou a cabeça em silêncio. − Muito bem − concordou o médico. − Continue dando água ao nosso jovem amigo aqui. Se a febre passar da meia-noite, dê-lhe mais uma dose de quinino e esfregue-o com álcool para esfriá-lo. Estarei por perto se precisar. − Doutor... − Ela o deteve impulsivamente. – Você conhece algum Joe? O senhor Bellamy falou nele enquanto dormia. − Ah, o Old Joe. É o cavalo dele − replicou o homem com uma risadinha. − O nome foi dado em homenagem a seu antigo comandante, o general Shelby. Se ele acordar, diga que mandei levarem o animal ao estábulo. − O senhor Bellamy era um militar? − Rebecca olhou incrédula para o homem desgrenhado. Ele roncava sem perceber que era observado. − Ele era major da Brigada de Ferro do Oeste, um dos melhores da cavalaria do Exército Confederado. − Apoiado a um baú ao pé da cama, o médico continuou em tom de intimidade. − Ele não costuma falar muito de si, mas sei que vem de uma família tradicional. − Um oficial e cavalheiro − murmurou ela, pensativa. − Quem diria! O que acha que pode ter acontecido? O médico deu de ombros. − Foi a guerra. − A guerra mudou uma porção de coisas – murmurou ela. − Então o major Bellamy veio para o Oeste. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Até onde sei, ele tem vivido entre os índios nos últimos anos. É um excelente explorador e rastreador, e o melhor intérprete da região. Os militares apenas lamentam que prefira conversar com os inimigos a lutar contra eles. Dizem que enjoou de matar. − Ele tem uma maneira estranha de demonstrar isso − ironizou Rebecca. − Ele puxou a faca para os soldados Westfield e Farina esta tarde. Reaprumando o corpo, o médico sorriu. − E ele os machucou? − Não. − Rebecca não pôde evitar de retribuir o sorriso. − Mas eles quase se machucaram sozinhos ao tentar fugir dele. − Isso é por causa da lenda que se criou sobre a ferocidade de Injun Jack. − Com um brilho divertido nos olhos, o médico se afastou. Rebecca acomodou-se na cadeira, mexendo-se até encontrar uma posição confortável. O ruído de papel lembrou-a da carta dobrada no bolso do avental. Estava ocupada quando o carteiro lhe entregara. Tirando o envelope, aproximou-o da luz para examiná-lo. Amassado e borrado de umidade, tinha o carimbo postal de mais de um mês atrás. A julgar pela letra tortuosa do endereçamento, a indignação do meio-irmão ainda não amainara quando lhe escrevera. Mas Lyle estava sempre revoltado. A raiva cega e incontrolável parecia ser a marca da família Hope. Rebecca estava com sete anos de idade quando a mãe, viúva, casara-se com o pai de Lyle, Caleb. Duro e obstinado, Caleb era pouco complacente com tudo e com todos. Ele culpava a todos, menos a si mesmo, por suas mazelas. Quando a mãe dela morrera, passara a considerar a filha adotiva como uma escrava, tanto no trabalho doméstico quanto no campo, dependendo da estação. O filho tratava um pouco melhor. Ele esgotara suas terras, minando sua fertilidade, e morrera à beira da miséria, amaldiçoando a Deus. Lyle era uma réplica do pai. Durante anos, Rebecca se esquivara de seus punhos quando ele perdia a cabeça. Não era comum um homem sustentar a irmã solteira, ele lhe dizia enquanto ela cozinhava, limpava a casa e lavava a roupa, e ainda o ajudava a cultivar suas terras pouco produtivas. Ela não acreditava em seus ditames moralistas, mas deixara passar a observação, assim como as constantes críticas. Nada estava bom para ele. Quando os tempos eram difíceis, ela o ajudava no campo, mas quando a safra era pequena e as dividas aumentavam, ele invejava até a comida que ela ingeria... Até que aparecera Paul Emerson com sua proposta. O doce e gentil Paul, um amigo de infância, voltara da guerra autoconfiante e desenvolto, como capitão da Cavalaria dos Estados Unidos. E quisera Rebecca como esposa. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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O meio-irmão ficara lívido ao saber que o abandonaria, seu único ente familiar. Ele a proibiu de ver o pretendente, pretendent e, ameaçando trancá-la no quarto. Normal, sua grosseria a pusera mais rápido para fora. Embora Rebecca gostasse de Paul, ela não o amara. Então prometera a si própria aprender a amá-lo. Não seria difícil. Ele era um bom homem e ela procuraria ser uma boa esposa. E bem que tentara, ainda que fosse por pouco tempo. Tão logo haviam chegado ao ventoso Forte Chamberlain, um dos postos militares de uma série ao longo da fronteira, Paul fora designado para comandar uma série de patrulhas. Enquanto o noivo ia e vinha, a nova senhora Emerson esforçava-se para criar um lar para eles. Rodeada pelas cordiais mulheres dos oficiais, ela fizera de tudo para se tornar a esposa perfeita, a esposa que Paul merecia. Durante uma expedição ao Forte Wallac Wallace, e, onde havia uma epidemia de cólera, ele contraíra a doença. Ao voltar ao Forte Chamberlain, tivera de ficar de quarentena. Rebecca permaneceria a seu lado até o fim. Em questão de dias, ela se viu sozinha entre estranhos, o casamento terminado depois de mal ter começado. − Água, por favor, água! O gemido roufenho tirou-a de suas lembranças. Depois de enfiar o envelope no bolso, ela correu os olhos ao redor. Do outro lado das camas, o médico levantava-se da cadeira nas sombras para atender a um recém-amputado. Os dois pacientes de Rebecca dormiam. Teddy estava quente, mas era cedo ainda para administra administrar-lhe r-lhe mais quinino. Equilibrando-se para levar a mão até a testa de Injun Jack, retirou-a apressada quando ele grunhiu sem abrir os olhos. − Me deixe em paz! − Vou deixá-lo em paz − murmurou ela. − Até o amanhecer. Fungando, ela foi até a janela e olhou para fora. Do pátio às escuras chegavam os ruídos reconfortantes que já haviam se integrado a sua vida. O toque de recolher dado pelo corneteiro despertara o vozerio dos homens chamando por seus substitutos substit utos por entre as luzes trêmulas dos lampiões. Os oficiais de serviço saíam do alojamen alojamento to e iam até a praça da bandeira onde se passavam os relatórios da noite. Logo, em meio ao vento noturno, seria dado o toque de silêncio, as luzes seriam apagadas ou diminuídas e o Forte Chamberlain estaria dormindo. Rebecca retomou a sua cadeira e abriu a carta de Lyle. Conforme esperado, o texto estava cheio de recriminações. Diante da falência iminente, ele ordenava que a meia-irmã voltasse ao lar e levasse Paul consigo. O jovem militar teria muito com que se ocupar na fazenda, insistia Lyle, em vez de ficar vagabundeando vagabunde ando pelo Oeste, perseguindo índios. Lyle encerrava a carta recordando-lhe seu débito de lealdade em relação a ele. Também pedia dinheiro, sem sequer agradecer-lhe ou mesmo mencionar mencionar as economia economiass que a irmã lhe confiara ao partir. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Ela não sabia se ria ou chorava. Não tinha nenhum dinheiro. Paul lhe deixara vinte e sete dólares em cédulas, uma pequena pensão, e uma grande conta com a divisão de suprimentos do exército. Ela dispensara o soldado que ele contratara para o serviço doméstico e devolvera ao posto comercial do forte todos os artigos de luxo que não usara. Mas não deixaria ninguém tomar conhecimento conhecimento de seus problemas. Ninguém sabia de nada, além do senhor Peeples, o dono do posto comercial; o coronel Quiller, o comandante do forte; e sua amiga Flora. Fechando os olhos, Rebecca tentou contabilizar suas magras finanças, finanças, como fizera tantas outras vezes no mês anterior. Os números enchiam sua cabeça quando Teddy agitou-se na cama. Descobrindo que ele ardia em febre, Rebecca forçou-o a engolir água e mais quinino garganta abaixo. Ela o banhou e conversou gentilmente com ele ao longo de toda a noite. Quando a febre diminuiu um pouco antes do amanhecer, o doutor Trotter apareceu, os olhos vermelhos e a barba cres crescida cida no queixo, para ajudála a trocar os lençóis ensopados de suor. − Ele vai dormir agora − avisou o médico vendo-a esperar placidamente. − Deixe eu vestir o paletó e vou acompanhá-la até em casa. O primeiro brilho do amanhecer iluminava o céu quando eles saíram do hospital e ficaram ali parados por um momento, olhando para o pátio do forte. Um quadrado central circundado por uma rua larga de terra batida, limitado limitado a leste pelos alojame alojamentos ntos dos praças e o prédio do comando e a oeste pela Rua dos Oficiais, mais o hospital e o portão principal, o pátio era o centro nervoso do Forte Chamberlain. Nas extremidades opostas abriam-se os extensos gramados da pradaria, na fronteira da qual cresciam as únicas árvores do forte, isoladas no terreno plano: um lariço-americano que fazia sombra no pórtico do hospital e um algodoeiro próximo à Rua do Sabão, onde ficava o prédio da lavanderia. Rebecca respirou o ar fresco da manhã, saboreando a quietude. Logo o forte estaria ruidosamente desperto e agitado. Embora o vento tivesse parado, o ar estava frio. O silêncio era quebrado apenas pelo coaxar dos sapos no rio atrás da Rua do Sabão. − Sua ajuda foi inestimável como sempre, Rebecca − o compacto cirurgião comentou, enquanto caminhavam para o apartamento dela na Rua dos Oficiais. − Mas eu preferiria que não trabalhasse tanto. − Eu não me importo. Assim tenho alguma coisa a fazer com o meu tempo. O médico abanou tristemente a cabeça grisalha. − Toda vez que olho para você, minha garota, gostaria que as coisas fossem diferentes. Você merece ser feliz. Eles percorreram o resto da caminhada em silêncio, parando em frente ao minúsculo sobradinho que ela ocupava. Assim como todas as habitações em Forte Chamberlain, era uma construção rústica e sem Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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pintura. As frestas eram impregnadas de poeira durante o verão e de neve durante o inverno. O único traço de beleza que se destacava na estrutura de madeira eram as varandinhas da frente e dos fundos. − Já se decidiu sobre o que pretende fazer? − quis saber o médico em voz baixa, cuidando para não acordar os vizinhos. − Eu quero ficar − suspirou ela. − Eu e Paul pretendíamos construir um nova vida no Kansas. Sei que vai ser duro, mas quero essa nova vida, com ou sem ele. − Já comentou sobre isso com o coronel Quille Quiller? r? − Já, mas o que eu quero e o que o exército quer são duas coisas muito diferentes. E temo que o exército dará a última palavra. − Não acha que poderia persuadi-lo? − O comandante insiste em que a fronteira não é lugar para uma mulher. Segundo ele, minha permanênciaa seria um gesto não apenas imprudente quanto impróprio. − A voz dela falhou ao se lembrar do permanênci último encontro com o coronel Quiller. − Ele acha que devo regressar ao Leste tão logo esteja seguro para viajar. − Gostaria de poder ajudar de algum modo − ofereceu-se o médico, sombrio. − Edgar Quiller é o homem mais teimoso que já vi na vida. − Você tem sido um grande amigo, doutor. Não precisa fazer nada... a não ser parar de me chamar por aquele apelido ridículo − concluiu ela em voz baixa, já subindo os primeiros degraus. − Mas é tão apropriado: "Rebecca "Rebecca-Perfeita". -Perfeita". − Ele sorriu. − Boa noite. − Boa noite. − Com uma risadinha, ela fechou a porta. O toque da alvorada soou quando Rebecca entrou na minúscula cozinha. Bebendo uma concha cheia de água tépida da caçamba junto à porta dos fundos, olhou melancólica para o carvão no balde ao lado do fogão frio. Estava tão cansada que não tinha ânimo para esquentar a água para o banho e seu estômago roncava, de tão vazio, recordando-a de que não jantara na noite anterior. Rebecca achou um pãozinho do dia anterior, abriu-o e passou um pouco de geléia de maçã, então foi até a varandinha dos fundos apreciar a vista da pradaria além do quintal seco. Ela gostava de Forte Chamberlain por ser um dos poucos fortes abertos do Oeste. Bem-guardado e equipado com obuses móveis, era protegido apenas pelas trincheiras e as muralhas dos postos das sentinelas. Mas ela nunca sentira qualquer tipo de ameaça ali, apenas a agradável sensação de liberdade ao ver as planuras abrindo-se à frente a perder de vista, ondulantes e tão vastas quanto um oceano. A aparência do cenário e suas cores mudavam a cada hora, a cada dia. Durante sua curta estada no Kansas, Rebecca Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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aprendera a amar as manhãs muito azuis rebrilhando com o orvalho, o aroma de lavanda que impregnava o anoitecer e o colorido das flores silvestres que pontilhavam a paisagem acinzentada, tão diferente dos campos verdejantes da Pensilvânia. − Bom dia, Fominha − chamou baixinho o esguio gato rajado de cinza que apareceu num dos degraus e se espreguiçou. − Desculpe pelo jantar − continuou, estendendo-lhe um pedaço do pãozinho. − Mas eu devia adivinhar que você estaria aqui para o café da manhã. O gato subiu os degraus desconfiado para cheirar a oferenda. Tirando-a de seus dedos, ele mastigou sem muito entusiasmo, então olhou para ela pedindo mais. Através das paredes do sobrado ao lado, Rebecca escutou os vizinhos acordando. Dentro, em meio ao barulho de panelas e louça, o capitão March assobiou uma canção e sua esposa chamou a família para o café da manhã. Os ruídos e as conversas fizeram-na sentir-se ainda mais solitária. Seus olhos ficaram rasos de água quando uma avassaladora sensação de perda caiu sobre seus ombros. Soltando um suspiro entrecortado, ela forçou-se a lembrar de que, embora tivesse perdido o marido, ainda tinha um futuro inteiro pela frente. Não descansaria até encontrar um sentido para a vida, prometeu a si mesma, ao voltar para dentro de casa. Acharia um jeito de permanecer no Oeste. Abrindo os olhos, Rebecca olhou tristemente ao redor do quarto abafado. Estava deitada em sua cama de solteiro, usando apenas a roupa de baixo, e o vestido preto do luto achava-se caído no chão onde o deixara, todo amassado. A julgar pela luz nas cortinas, imaginou que a manhã já ia bem adiantada. Quando as batidas na porta que a haviam acordado se repetiram, ela correu para a entrada e abriu o postigo. Um soldado impecável encontrava-se do lado de fora. − Soldado Ballard a seu serviço, senhora Emerson, ele cumprimentou-a com uma mesura educada. Tendo recebido a honraria de servir como ordenança do dia por ter-se revelado r evelado o melhor homem da guarda, ele encarava o serviço muito seriamente. − O coronel Quiller manda seus cumprimentos e requisita sua presença em seu gabinete. − Agora? − Ela pestanejou sonolenta. − O mais rápido r ápido possível, possível, dona. − Por favor, diga a ele que me apresentarei o mais rápido que puder me arrumar, soldado. Estarei lá dentro de meia hora. − Vou esperar, se não se incomodar, dona. − Ele sentou-se à sombra, num banco ao lado da porta da frente. Desgrenhada e aborrecida, Rebecca voltou para o quarto, para ver no espelho do lavatório se poderia Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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aproveitar o vestido preto. Como fora idiota em ter amassado o único vestido apresentável. Sem tempo de passá-lo ou arejá-lo, teria de encontrar outro vestido. Em dez minutos, havia improvisado um conjunto apresentável, tendo fixado um colarinho e punhos pretos a um vestido roxo. Quando finalmente saiu para resgatar o ordenança junto a Billy March, o garoto do vizinho, já havia lavado o rosto, penteado o cabelo e prendido o chapéu com a touca de tule preta sob o queixo. Grato por se livrar do menino de cinco anos que pusera em risco todo o lado direito de sua farda, ao sentar-se daquele lado no banco da entrada, o soldado Ballard escoltou a viúva através do pátio do forte. Ele ia tagarelando animadamente, feliz pela rara oportunidade de caminhar ao lado de uma mulher. Rebecca respondia, mas sua mente estava concentrada no encontro que iria se suceder em breve. Por que será que o coronel mandara chamá-la? Teria ouvido falar do beijo que Injun Jack lhe dera por encontrarse bêbado e decidira impedi-la de ir ao hospital? Será que o tráfego de carroças fora restabelecido? Ou será que ele mudara de idéia a respeito de sua permanência ali? Qualquer que fosse a razão, disse a si mesma com otimismo, aquela audiência lhe daria a chance de discutir seu caso outra vez. Ela ouviria o que o comandante tinha a dizer... então ele teria de escutá-la. − Vai ser ótimo, não acha? − indagou o ordenança. − Desculpe. − Ela sorriu para ele. − O que vai ser ótimo? − O novo salão de baile. − Ele apontou para um barracão em construção próximo ao portão principal. No interior da estrutura, um grupo de soldados negros subiam e desciam de escadas, colocando festivas lanternas de papel colorido nas vigas expostas. − A esposa do major Little decidiu que vai ser ali no casarão o baile do 4 de julho. Ela convenceu o Velho de que o local lembraria os salões de baile do Leste. − Com certeza. Rebecca esboçou um sorriso ao imaginar a senhora Little abordando o comandante. Uma vez que o coronel Quiller era viúvo, a esposa do oficial seguinte na hierarquia deveria assumir as honras da casa. Uma pessoa exigente exigente e autoritária autoritária,, a esposa do major Little era uma seguidora das tradições militares e uma líder social indiscutível. indiscutível. Com a ajuda das poucas esposas de oficiais oficiais no forte, ela se empenhava incansavelmente incansavelmente em manter aquele posto avançado da fronteira dentro de padrões mais civilizados. − Imagino que a senhora não tenha visto ainda o senhor Derward Anderson. − O soldado fez um gesto na direção de um sujeito elegante que havia montado um cavalete de pintura à sombra do lariço-americano próximo ao hospital. − Ele chegou ontem à noite. − Não tive o prazer. − Ela observou o homem se esforçando para que o livro de esboços não fosse levado pelo vento do Kansas. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Dizem que ele sai de Nova York em direção ao Oeste e vai anotando e desenhando tudo o que vê para publicar no Illustrated News, um jornal de lá. − Que interessante − replicou Rebecca com o entusiasmo adequado. Para os praças, que passavam anos seguidos naquele trabalho monótono da fronteira, a presença de um turista como aquele era sempre uma fonte de entretenimento. − E ele já sent sentiu iu o gostin gostinho ho dos perigo perigoss da frontei fronteira ra o rapaz expl explicou icou com evidente evidente praz prazer. er. − Um grupo de sioux atacou o carroção em que ele viajava desde o fim da ferrovia e o perseguiu por quase todo o caminho até aqui. Mas não precisa ficar preocupada, dona − ele apressou-se a acrescent acrescentar. ar. − A senhora está segura aqui no Forte Chamberlain. Nossos rapazes são os mais valorosos da pradaria. − Disso eu não tenho dúvida, soldado Ballard. Com o peito estufado de orgulho, o ordenança introduziu Rebecca no austero gabinete do coronel. − A esposa do capitão Emerson, senhor. − Muito bem, soldado. − O coronel Quiller dispensou-o com um movimento de cabeça e sorriu para ela. − Por favor, entre, senhora Emerson, e sente-se. − Obrigada. − Rebecca olhou ao redor, sentindo um alivio ao notar que o tenente Porter, o onipresente ajudante-de-ordens, não se encontrava ali. Poderia conversar com o comandante em relativa privacidade, embora seu estado maior trabalhasse do outro lado da sala, atrás da alta divisória coberta de mapas e escalas de serviço. Teve vontade de ir logo tratando de seu pedido, mas forçou-se a sentar-se e perguntar com serenidade:: − Queria me ver, senhor? serenidade Relutando antes de começar, o coronel observou a visitan visitante te por cima da escrivaninha. Nem mesmo um fio de cabelo estava fora do lugar, apesar do vento infernal, e ela parecia fresca, mesmo com aquele calor. No entanto, como de costume, ele a considerav consideravaa um poço de contradições. Embora ela não estivesse usando o preto obrigatório do luto, sua aparência era perfeitamente decorosa. Sua postura rígida sempre parecia deslocada em relação aos vívidos olhos cor de avelã. Aqueles olhos tinham andado tristes nos últimos dias e ele descobrira que sentia falta de seus sorrisos radiantes. Mas quando ela lhe dirigira um sorriso havia pouco, ele mentalmente se preparara para a batalha. Num primeiro momento, fora uma surpresa a revelação de que ela era uma adversária respeitável, e ele aos poucos começava a reconhecer os sinais de seu caráter. Embora ela parecesse delicada e recatada, ele sabia por experiência própria que sua conduta exemplar escondia uma inteligência aguda e uma vontade o resultado final era indiscutível. Ela teria de ir embora. Mulheres eram a pior coisa que poderia acontecer a um post postoo mili milita tar. r. Er Eraa só repa repara rarr na exci excita taçã çãoo que que en envo volv lvia ia a simp simple less co come memo mora raçã çãoo do Di Diaa da Independência. Piqueniques, danças, salões de baile... Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Bruscamente, ele voltou a atenção para o assunto em pauta. − Senhora Emerson, sinto que não tenha sido possível providenciar sua volta para o Leste desde que seu marido morreu. Depois do massacre da guarnição de Lookout, foram interrompidas todas as viagens pelo território. − Após uma pequena pausa, ele continuou: − Mas essa infeliz circunstância deve mudar logo. Três companhias vão partir do Texas para cá ainda esta semana. Assim que nossas forças conjuntas conseguirem conseguire m levar os sioux e cheyenne cheyenness para as reservas, a senhora poderá voltar para casa. Antes que ela fizesse algum comentário, ele continuou: − Inf Infel elizm izment ente, e, dev devoo lhe lhe ped pedir ir para para desoc desocupa uparr seu seuss al aloja ojame mento ntoss pa para ra quando quando chegar chegarem em nossos nossos reforços. A senhora está sendo "desalistada", como dizemos no exército. Aceite minhas desculpas pelo incômodo, mas temo que deva se hospedar com amigos até o momento de sua partida. Ela empertigou-se em sua cadeira. − Coronel Quiller, eu não poderia... − Não há o que discutir desta vez, senhora. − Ele a silenciou com um gesto. − Compreendo sua relutância em retomar à segurança e ao conforto do Leste, mas isso não muda nada. Em outras palavras, a senhora é uma civil sem direitos nem lugar aqui. − Mesmo se eu encontrasse um emprego? − Ela o observou em desafio. − No Forte Chamberlain? − Eu poderia trabalhar no hospital. − Com que tipo de tolices o Noah Trotter andou enchendo sua cabeça? − O coronel exasperou-se. − Fique certa de uma coisa, senhora Emerson, apreciamos muito sua ajuda, mas um hospital militar não é lugar para uma jovem... − Talvez eu pudesse trabalhar no posto comercial para pagar minha dívida. − Absolutamente, não. O senhor Peeples aceita o pagamento em prestações. − Eu posso cozinhar − ofereceu ela, agoniada. − Chega! − ele a interrompeu interrompeu.. − Seu marido iria se envergonhar se ouvisse uma sugestão dessas. − Ele ficaria mais envergonhado em saber que não posso viver com o que me deixou. − Mesmo em desespero, ela procurou manter a voz sob controle, para não ser ouvida no escritório contíguo. − Vou tentar conseguir algum trabalho em Chamberlain, então. − Não vai, não. Uma esposa de militar não tem o que fazer numa cidade ferroviária. − Mas eu sou uma civil − argumentou ela. − Foi o senhor mesmo que disse Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Mas é também a viúva de um oficial − explodiu o coronel, pouco se importando se estivessem ouvindo. Como comandante deste posto, tento fazer o que é melhor para meus homens e seus dependentes. Já tomei minha decisão com respeito à sua presença aqui e espero que a acate sem protestar. − Sem protestar? − repetiu ela, levantando-se da cadeira. − Durante toda a minha vida sempre concordei com tudo sem protestar. Sempre fiz o que mandaram. Mas desta vez, senhor, minha docilidade acabou. Pretendo ficar no Kansas. O comandante também se levantou. Inclinando-se sobre a escrivaninha, ele a encarou com o rosto sombrio de raiva. − Senhora, vou colocá-la numa carroça pessoalmente, se puder. Os índios ameaçam todo o território. Meu posto cairia em desgraça se apenas uma brecha se abrisse em meu comando. Eu não posso e não serei responsável por uma mulher solteira e sem ocupação. − Então eu vou cuidar de mim mesma. − Ela saiu do gabinete sem olhar para trás. − Tenha um bom dia, coronel. Nos Nos deg degrau rauss de entrad entradaa do pos posto to de com comand ando, o, Mal Malach achii Middl Middlefi efiel eldd olhou olhou pre preocu ocupad padoo par paraa o companheiro. − O que aconteceu com você, rapaz? Seu rosto está tão branco quanto a barriga de um peixe. − Levei uma flechada no braço ontem − resmungou Injun Jack relutante. − Devo ter perdido mais sangue do que pensava. − Mas que droga, Jack. − Puxando-o para a sombra, Malachi examinou-o mais detidamente. − Por que não me falou quando contou sobre o encontro de Teddy com aqueles cheyennes? O musculoso explorador desviou o olhar, envergonhado com a própria fraqueza. − Porque não me sentia pior do que depois daquelas partidas de pôquer no bar da Elvira. − É, nem fale. − O condutor de mulas sorriu, distraído por um instante. − Baralhos, uísque, uma garota bonita... − Percebendo que se distraíra, ele se interrompeu. − Não teria piorado o machucado se não tivesse empurrado aquele enfermeiro pela enfermaria. − Ele estava interferindo no meu banho. − Injun Jack aprumou o corpo e soltou um longo suspiro. − Eu precisava de alguma privacidade. − E não foi o que teve, gritando daquele jeito, vestido apenas com a toalha e o colar de marfi. A esposa do major Little quase teve um ataque quando o viu. O comentário divertido de Malachi foi interrompido bruscamente quando a porta do gabinete do Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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coronel escancarou-se e um vulto apressado saiu por ali intempestivamente. − Seu Seu filh filhoo da da...... − O bate batedo dorr enco encolh lheu eu-s -see de surp surpre resa sa,, re rece cebe bend ndoo o vult vultoo en entr tree os braç braços os,, e surpreendeu-se surpreendeu -se mais ainda ao perceber que era uma mulher. Aquela mulher.− Quero dizer, cuidado, dona. Na colisão, Rebecca atirara-se ao encontro dele, amassando o vestido e entortando o chapéu na cabeça. − Peço mil desculpas. − Equilibrando-se com uma das mãos no peito dele, com a outra ela endireitou o chapéu e deu um passo atrás. − Ora vejam, se não é o anjo ianque! Rebecca deu um gemido de pesar. Abalada com a discussão com o coronel, não sabia se conseguiria enfrentar Injun Jack depois do que acontecera entre eles no hospital. − Bom dia, senhor Bellamy − cumprimentou-o rija, arriscando um olhar na direção dele. Banhado, barbeado e usando uma camisa limpa, ele mal lembrava o homem grosseiro que ela conhecera no dia anterior. Uma coisa não mudara, contudo. As mãos dele haviam encontrado o caminho para sua cintura de novo e permaneciam lá. Ao perceber que a sua própria mão descansava no peito da camisa imaculadamente imaculadamente branca, retirou-a e empertigou-se. − Senhor Middlefield, que surpresa! − Exclamou para Malachi. − Não sabia que tinha voltado ao Forte Chamberlain. Inclinando a cabeça calva, o condutor de animais murmurou através da barba. − Cheguei ontem à noite. Como tem passado, senhora Emerson? Jack franziu a testa, notando a aliança de casamento. Não percebera aquilo no dia anterior. E não perceberia no momento, ao senti-la tão agradável em seus braços. Senhora Emerson, hein? Bem, que se danasse! − Sinto pela morte de seu marido, dona − continuou Malachi, procurando parecer formal. − Não tive tempo de me pronunciar antes, mas iria visitá-la o quanto antes para levar meus sentimentos. sentimentos. − É muito gentil de sua parte, senhor Middlefield. Vou esperar por isso. − Rebecca dirigiu-lhe outro sorriso antes de se voltar para Jack e indagar com frieza: − Como está seu braço nesta manhã, senhor Bellamy? − Melhor − respondeu ele, altivo. − E como está o soldado Greeley? − Dormindo, mas o doutor disse que a perna parece melhor do que o esperado. − Depois de uma breve hesitação, acrescentou: − Obrigado por sua atenção com Teddy... e comigo. Rebecca o observou, atenta a qualquer tipo de insinuação ou ironia nos olhos azuis, mas ele apenas olhava para o pátio, pouco à vontade. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Acho que não fui o melhor paciente que já teve, embora quanto mais perto chego do fundo da garrafa, mais fáceis as coisas se tomam. Ele Ele não não se lemb lembra rava va do que que acon aconte tece cera ra,, perc perceb ebeu eu Rebe Rebecc cca, a, re rela laxa xand ndoo de al alív ívio io.. En Entã tão, o, irracionalmente, sentiu uma pontada de decepção. Aquele beijo a abalara até as solas das botas e ele nem sequer se lembrava? − Acordei esta manhã quase novo em folha − concluiu o batedor, sorrindo e mais do que bonito e sincero para o gosto dela. − Se os cavalheiros me permitem... − Ela cumprimentou-os com um movimento de cabeça. − Preciso voltar para casa. − Vou acompanhá-la − informou Injun Jack, oferecendo-lhe o braço. Ela se esquivou. − Não, obrigada. − Uma coisa era conversar com ele à entrada do comando do forte, mas outra era ficar sozinha em sua companhia. E se ele se lembrasse, apesar de tudo? − Com licença, Injun Jack. − O soldado Ballard apareceu ao lado deles. − O coronel Quiller quer lhe falar e me mandou escoltar a senhora Emerson até em casa. Agora mesmo. O corpulento batedor ergueu o queixo desafiadoramente. desafiadoramente. − Pois pode dizer a ele que... − Senh Senhor or Bell Bellam amy, y, acho acho que que deve deve ir fala falarr com com o co coro rone nell − suge sugeri riuu Re Rebe becc cca, a, ag agra rade dece cend ndoo a interrupção. interrupçã o. − Depois de minha conversa com ele, duvido que esteja disposto a ficar esperando. − Ele está bem irritado, senhor. − O ordenança postou-se entre eles, nervoso mas insistente. − Vou levá-la para casa, dona. Rebecca empertigou-se. empertigou-se. − Sou perfeitamente capaz de encontrar sozinha o caminho pelo pátio, em plena luz do dia, soldado − declarou. − E pode dizer isso a seu comandante. Bom,dia, cavalheiros. cavalheiros. − Que será que o Quiller falou para essa pobre viuvinha? − murmurou Malachi enquanto ela se afastava. − Ela é sempre tão amável. − A "pobre viuvinha" parece ter um gênio e tanto também − concluiu Jack com uma risada. Por trás daquela aparência suave e controlada, havia uma mulher bem quente, pensou ele interessado. Com a testa franzida de preocupação, entrou no gabinete do coronel. − Mas que droga! − murmurou Rebecca para si mesma quando ouviu gritarem seu nome no pátio. Voltando-se, Voltando -se, relutante, ela permitiu que o tenente Francis Porter, o ajudante-de-ordens do coronel Quiller, a alcançasse. − Bom dia, tenente. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Não está muito quente para ir tão depressa assim, Rebecca? − comentou ele, cruzando o pátio em sua direção. − Estou chamando desde que saiu do quartel-general. Por acaso não me ouviu? Bonito e arrojado, o tenente tinha tudo o que um ajudante-de-ordens precisava, das botas lustrosas ao bigode milimetricamente aparado e empinado. Mas, no momento, as pontas do bigode estavam caídas e o rosto aristocrático aristocrático suava, vermelho com o esforço. − Desculpe. Acho que não escutei. − Eu acho que você não pensou direito também, saindo por aí sem um acompanhante. − Ele suspirou, balançando a cabeça, compreensivo. − O que posso fazer por você, Becky, além de acompanhá-la até em casa? − Não precisa acompanha acompanharr mesmo. − Mas é lógico que é preciso! − Pegando-lhe a mão, ele a depositou sobre a curva de seu braço. − Não percebe que eu me preocupo com você? − Você tem sido muito gentil comigo desde a morte de Paul, Francis − retrucou ela mais do que depressa, esperando escapar do inevitável. − Eu poderia ser ainda mais gentil − persistiu ele enquanto se dirigiam à rua dos Oficiais. − Acabei de saber de sua dívida no posto comercial. Rebecca o olhou com estranheza estranheza,, incapaz de perguntar como soubera. − Paul... que Deus o tenha... tinha um gosto extravagante − continuou ele. − Você não deveria arcar com a conta sozinha. Deixe-me ajudá-la. Rebecca abanou a cabeça com firmeza. − Você é um bom amigo, Francis, mas não, muito obrigada. − Um amigo − ele murmurou. − Você sabe o que sinto por você, Becky. Não posso acreditar que precise procurar um emprego para permanecer no Forte Chamberlai Chamberlain. n. − Você escutou minha conversa com o coronel? − Eu estava do outro lado da divisória. Eles caminharam em silêncio e o humor de Rebecca piorava a cada passo. Sem dúvida a fofoca já se espalhara. Todos no forte saberiam sobre a cena antes do anoitecer. E todos a desaprovariam, assim como Francis. Ao chegarem a sua casa, o jovem oficial virou-se para ela. − Sei que Paul morreu há pouco tempo, Becky, e peço que me perdoe se minha pressa parecer indecente. Mas com certeza você já deduziu minhas intenções. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Como se pudesse sentir o nariz do vizinho por trás das cortinas, Rebecca tentou detê-lo, detê-lo, mas o tenente já havia começado sua proposta e as palavras jorraram uma atrás da outra. − Case comigo e fique no Kansas, Rebecca. Tenho certeza de que o Velho dará a permissão, mesmo que seu período de luto não tenha terminado. Como ele mesmo lhe disse, ele só quer o seu bem. − Oh, Francis... − Ela hesitou, pensando numa forma delicada de recusar. − Você é muito gentil, mas ainda é muito cedo para eu pensar em novo casamento. Assim mesmo, obrigada por sua oferta tão galante. − Mas você promete considerar a proposta, Becky? − Prometo − concordou ela, incapaz de magoá-lo. Como poderia explicar, diante de um homem tão esperançoso, que não se casaria de novo a não ser por amor? − Pois não vou repetir a proposta depois de hoje. Com um sorriso possessivo, ele levou-lhe a mão aos lábios e a beijou. − Tenha um bom dia, Rebecca. − Você também. − Recolhendo a mão, ela correu para a relativa privacidade de seu alojamento.
TRÊS − Você está pronta, Rebecca? − Flora Mackey entrou na cozinha, balançando os cachos do cabelo louro. − O 4 de julho só acontece uma vez por ano e não quero perder nada. − Estou quase terminando. − Rebecca sorriu, enquanto a amiga servia-se de uma xícara de café. − Espere só para ver o que temos para comer − anunciou Flora, olhando para a travessa de bolinhos de maçã sobre o fogão aquecido. − O Brian caçou uma galinha do mato e eu fiz uma salada de feijão e broinhas de milho. Será o suficiente, para o caso de "Prissy" Porter juntar-se a nós. − Espero que você não o chame por esse apelido – reagiu Rebecca ante o tratamento familiar. − O nome dele é Francis. − E o seu é Rebecca − volveu Flora distraída, pegando um bolinho. − Por que deixa que ele a chame de Becky? Sei que detesta o apelido. − Não quero magoá-lo. A amiga suspirou. − Você é tão generosa com todos. Imagine, fazer comida para o piquenique quando eu disse que não precisava. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Mas eu fiz porque quis. Ainda tenho metade das provisões. − Neste caso, espero que leve aqueles picles que o Brian adora. − Flora arregalou os olhos quando se voltou para ver a amiga. − Ovos temperados! Onde conseguiu ovos? − Um dos transportadores de carga trouxe-os da cidade. Eu achei que eles teriam mais utilidade do que champanhe, assim troquei uma das garrafas de Paul por uma dúzia. − Eu adoro ovos assim, picados e temperados. Adoro comer − comentou a lourinha, dando uma mordida num pastel. − Deve ser por isso que meu novo vestido já está apertado. Você vai acabar sufocando, bem sabe, se usar essa coisa preta. − É inevitável, a menos que fique em casa − resignou-se Rebecca. − E até que não seria má idéia. Ao menos eu não teria de ver o coronel Quiller. − Ah, não leve tão a sério o que ele falou − sugeriu a amiga, distraída. − Não acredito que ele faça questão de pô-la numa carroça pessoalmente. − Será Será que todo mundo mundo em Forte Forte Cha Chambe mberla rlain in sab sabee de nossa nossa discu discuss ssão? ão? − ind indago agouu Reb Rebecc eccaa exasperada. − Depois de passar tanto tempo entre os militares como eu, minha garota, você vai descobrir que não existem segredos num quartel, especialmente num forte pequeno como este, no meio do nada. − Então todo mundo sabe que eu o deixei tão irado que ele me disse que eu não tinha nenhum direito aqui? Flora deu de ombros. − Pelo regulamento, os civis não têm nenhum direito num forte. Como esposas de militares, somos "flores do campo". Ele nos poria todas para fora, se o exército deixasse. E não admira. Você viu... − O salão de baile? − cortou Rebecca maliciosamente. − Tão bonito quanto qualquer um do Leste. − Gostaria de ver o Quiller tentando evitar a esposa do major Little − riu-se Flora. − Ele pensa que os únicos problemas que tem são os cheyennes e os sioux. Balançando a cabeça, Rebecca deu uma risada. Ela sempre ria com Flora, mesmo naquele momento, quando não tinha motivos de alegria. Quando ela chegara ao Forte Chamberlain, a esposa do capitão Brian Mackey tomara-a a seus cuidados. Nascida e criada entre militares, Flora introduzira a recém chegada nos rígidos costumes da rua dos Oficiais. Providenciara utensílios domésticos para os recém − casados e conseguira que o oficial de intendência lhes desse um fogão a carvão, pois a lenha era escassa no lugar. E em pouco tempo a pusera a Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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par de tudo. Quando Paul morrera, Flora ficara do seu lado. Sua amizade a ajudara a atravessar aqueles momentos difíceis. Ainda no dia anterior, quando ouvira sobre as vicissitudes dela, oferecera-lhe sua hospitalidade. − Você vai ter de dormir na sala de visitas, mas vamos arrumá-la para que se sinta o melhor possível − ela lhe dissera. − Armal, é apenas temporário. − Mesdames − o taifeiro dos Mackey chamou excitadamente da varanda da entrada, onde esperava. − É o toque da troca da guarda. Não vão querer perder, non?
− Então pegue a cesta, soldado St. Jean − a dona da casa gritou em resposta. O taifeiro entrou a passos largos, enquanto as mulheres acabavam de arrumar a cesta do piquenique. Então pegou-a e levou-a para fora, com Flora em seus calcanhares. calcanhares. − Ande logo − ela voltou-se para Rebecca. − E traga uma sombrinha. Você vai precisar. − Nenhum vento − protestou Malachi. − Está quente até para um lagarto. Quem sabe a gente acha a sombra de uma árvore? − Mantenha seu território − respondeu Injun Jack sisudo. − Você só tem duas escolhas. − Que tal aquele grande algodoeiro da rua do Sabão? Quem sabe uma lavadeira mais sociável pode melhorar seu humor? − Nem comece, Mal − advertiu o batedor. O condutor de mulas não lhe deu ouvidos. − Você hão pode fazer nada, e sabe disso. Se o Quiller falou que terá de esperar o braço sarar, é o que terá de fazer. − Não preciso do braço para traduzir − retrucou Jack. − Urso Grande está pronto para discutir o tratado de paz. − Sei o quanto você se esforçou para isso – garantiu Malachi. − Mas outro batedor pode traduzir a conversa. Você esteve fora por muito tempo, comendo e dormindo mal, precisa de um pouco de descanso. − Todo mundo quer cuidar de mim: você, Quiller, aquela senhora Emerson. Será que um homem não pode ter um pouco de paz? Compenetrado, Malachi ficou em silêncio, enquanto os dois observavam a tropa reunida na praça da bandeira. A bandeira nova em folha do Forte Chamberlain subiu no ar, em meio à fumaça do carvão queimado próximo aos salões do rancho. Acomodando-se embaixo do algodoeiro, bem longe dos oficiais e das obrigações sociais, os homens Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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obser observar varam am a che chega gada da das carro carroças ças de vis visit itant antes. es. Alg Alguns uns dos recémrecém-che chegad gados os eram eram fa famil milia iares res de fazendeiros fazendei ros das proximidad proximidades. es. A maioria era de trabalhad trabalhadores ores da ferrovia e dos que lucravam com eles. − Eu devia ter ido ao acampamento do Pele de Lobo murmurou Jack. − Teria sido mais seguro − concordou Malachi. − Aquele sujeito do jornal está aí de novo, e parece que anda procurando por você. Jack praguejou praguejou eem m voz baixa e posto postou-se u-se atrás da árvore para se esconder ddee Derward Anderson. − Gostaria que você não o tivesse trazido aqui. − Não tenho culpa se ele quer transformar você numa lenda. − Você está gostando disso, não está? − o batedor indagou asperamente. − Não, senhor − mentiu Malachi, com um sorriso crescente no rosto amigável. − Acho uma vergonha o modo como esse boboca vem seguindo você. Tudo bem, pode sair. Ele foi para lá. Jack saiu de trás da árvore com todo o cuidado. − Ouvi falar de um repórter que foi até Forte Hays atrás do pobre Cody para escrever uma história sobre ele − disse, referindo-se a William Frederik Cody, um batedor como ele, que se tomaria conhecido como Buffalo Bill. Dando uma risada, Malachi deu um tapa nas costas do batedor. − Pois é isso que o Derward Anderson pretende fazer com você, Injun Jack. − Não se ele pretende voltar para Nova York inteiro declarou Jack, correndo os olhos pela multidão, atento ao jornalista. O brilho de seu olhar se apagou ao avistar Rebecca atravessando o pátio lotado, na companhia de uma loura graciosa e de um taifeiro carregando uma cesta enorme. Toda de preto, a viúva parecia compenetrada e séria, exceto por um detalhe. Ela carregava a mais ridícula sombrinha cor-de-rosa que ele já vira. − Do que está rindo? − Acompanhando seu olhar, Malachi riu também, ao percebê-la. − Ela não é o máximo? − Não há a menor dúvida − murmurou o batedor, observando-a enquanto se juntava às outras esposas de oficiais numa barraca aberta próximo à praça da bandeira. Acomodadas à sombra, elas observavam os maridos com orgulho. A troca da guarda, o único serviço do feriado, era executada com banda de música e muita pompa. Jack mal prestou atenção à cena. O que havia de especial em Rebecca Emerson, considerou ele. Ela era bonita, mas não uma grande Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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beldade. Era afetada e empertigada, dois traços que não o agradavam. Por que, então, tinha tanta curiosidade por ela? E por que ficava perturbado com a lânguida e improvável fantasia de sentir seu corpo esguio moldado no seu e o gosto de seus lábios? No momento em que as companhi companhias as se dispersaram, Flora cutucou a amiga e sussurrou: − Olhe, aquele homem está nos observando. Rebecca não sabia se ficava chocada ou indignada. − Que homem? − Aquele alto, bonito embaixo do algodoeiro. Quem é ele? Rebecca lançou o olhar através do pátio exatamente no momento em que o homem voltava-lhe aquelas costas largas familiares. − Injun Jack − ela murmurou, com um rubor incômodo a lhe colorir as maçãs do rosto. − Injun Jack? − exclamou a senhora Little, que ouvira a conversa. − Você o conhece, senhora Emerson? − Eu... eu acabei do conhecê-lo no hospital. − É um homem horroroso − disse a mulher com um estremecimento. − Espero que não a tenha submetido ao mesmo tratamento que a mim. − Não, senhora. − Rebecca quase suspirou de alívio quando a mulher virou-se para conversar com outra pessoa. Se a esposa do major Little não sabia que Injun Jack a beijara, então ninguém mais saberia. − Não o acho grosseiro ou horroroso − murmurou Flora ao ouvido de Rebecca. − Acho que ele parece não só excitante como também bonito. Brian nunca me falou desse particular... Claro, ele não iria se preocupar com as aparências no campo onde estão construindo a ferrovia. Ele só estava agradecido por Injun Jack ter sido seu batedor. Ele disse que... − Aí estão as duas damas mais adoráveis do Forte Chamberlain − a voz jovial do capitão Brian Mackey interrompeu a conversa delas. − As mais adoráveis do Kansas − corrigiu Francis, sorrindo. − Será que ouvi "a mais adorável da fronteira"? − brincou Flora lançando um olhar significativo ao marido. − Você não tem jeito. − Rindo, o capitão Mackey fez um gesto para o taifeiro. − Deixe a cesta, soldado, e vá se divertir no seu primeiro Dia da Independência no novo país. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Merci, mon capitain. − O francês despediu-se com uma continência.
− Esse sujeito não fala inglês? − observou o tenente Francis Porter com a testa franzida, enquanto St. Jean se afastava. − Não muito, nem muito bem − respondeu Flora. Mas ele faz milagres na cozinha, mesmo com as nossas provisões. .. − E ele mima a madame vergonhosamente − acrescentou Brian com ironia. − Vamos dar uma volta antes que fique mais quente? Rebecca aceitou o braço que Francis lhe oferecia, mas não resistiu a dar mais uma olhada na direção de Injun Jack. O batedor batedor usava uma roupa de couro mais leve, ainda com a arma pendu pendurada rada na cintura cintura,, e estava voltado em sua direção. Tinha o ombro largo encostado contra o tronco do algodoeiro enquanto conversava com Malachi Middlefield. Ela não saberia dizer se ele, com o rosto ensombrecido pela aba do chapéu, olhava para ela. E também não imaginava por que isso deveria importar. Os casais passearam em meio a crianças correndo ao redor sobre a grama seca e amarronzada. Iam conversando amenidades, parando aqui e ali para falar com amigos e cumprimentar os forasteiros recémchegados da cidade. Era bom encontrar-se entre as pessoas, pensou Rebecca, ainda que ela parecesse um corvo entre aves coloridas em seus trajes de viúva. Além disso, embora o dia estivesse quente, seria agradável se conseguisse manter Francis à distância de um braço. E se pudesse esquecer a presença marcante de Injun Jack. Apesar de sua decisão, seu olhar era atraído para o alto batedor. Ele se achava sozinho no momento, de braços cruzados sobre o peito, com uma expressão impenetrável. Ela inclinou a cabeça num cumprimento. Ele nem pareceu tomar conhecimento de seu gesto, embora ela tivesse a certeza de que dessa vez a vira. De repente, ela teve vontade de se encontrar em outro lugar, fazendo qualquer outra coisa em vez de caminhar de braço dado com Francis. Num acesso repentino de intolerância, ela se recordou de que Jack Bellamy era um vagabundo grosseiro e mal-educado. Ele a beijara e imediatamente se esquecera disso... que era exatamente o que ela deveria fazer. Assim, disposta a tirá-lo do pensamento e mantê-lo a distância, tomou o cuidado de se esforçar para não olhar em sua direção quando se afastaram para dar uma olhada nas pessoas jogando xadrez à sombra do lariço-americano. lariço-americano. O doutor Trotter jogava com o coronel Quiller. Absorto na estratégia que acabara de montar, o médico nem notou a chegada deles. O coronel inclinou a cabeça friamente, mas não disse nada. Rebecca não se lamentou quando seus amigos se dispuseram a sair dali para ir assistir ao movimentado torneio de equitação Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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dos sargentos. Do outro lado do pátio, os gélidos olhos azuis do batedor se estreitaram ao ver o ajudante-de-ordens pousar a mão possessivamente sobre a de Rebecca. Ele nunca apreciara aquele Porter. E gostava ainda menos agora. − O que me importa se houver alguma coisa entre eles? − murmurou Jack consigo mesmo, desviando o olhar. Droga nenhuma. Ele não viu Rebecca se esquivar ao toque de Francis e retomar à barraca dos oficiais. Nem notou que o ajudante-de-ordens ajudante-d e-ordens a seguira amuado, acompanhado de perto por Flora e Brian. Ao se aproximar da barraca, Rebecca percebeu que as mulheres presentes haviam ficado em silêncio. Preparando-se para o pior, seu olhar encontrou o da esposa do major Little e identificou uma inegável expressão de censura em seus olhos. Caroline Johnson e Sally March conversava conversavam m animadamente uma com a outra. Apenas Willa Plath sorria-lhe acolhedoramente. − Venha juntar-se a nós na sombra − convidou ela. − Obrigada. − Fechando a sombrinha, Rebecca sentou-se no círculo das esposas dos oficiais. − Está muito quente lá fora. − Acho que ela ainda não se acostumou ao sol do Kansas. − Francis chegou e encontrou um lugar ao lado dela. − Precisa tomar muito cuidado, senhora Emerson − advertiu-a a senhora Little. − É muito comum as pessoas se queimarem aqui nas pradarias. − Você parece não precisar se preocupar muito com isso, não é, Rebecca? − indagou Caroline com inveja, segurando no colo a filha pequena. − Já que vai voltar para o Leste. − Isso é o que coronel Quiller quer. − Rebecca sorriu de leve. − Quem me dera fosse eu a ir − murmurou Caroline, parecendo ignorar que a filha lhe escorregara do colo e se postara ao lado da cadeira. − Estávamos comentando como o forte está cheio de gente − a senhora Little mudou de assunto. − É difícil evitar de conhecer pessoas, mesmo quando se está de luto. Vai participar das danças esta tarde, senhora Emerson? − Não, o piquenique será o máximo em matéria de atividades sociais que me permitirei hoje. − Sorrindo quando a filha de Caroline se apresentou a ela, Rebecca pegou-a no colo. − Olá, Phoebe. − Você estará lá, não é, tenente? − a senhora Little voltara a atenção para Francis. − Claro que estará, mamãe − proclamou Amy Little, aproximando-se. Recém chegada de Nova York, Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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onde terminara o período escolar, ela reinava como a nova beldade do Forte Chamberlai Chamberlain. n. Rebecca cumprimentou cumprimentou a garota e seu acompanhante com um movimento de cabeça. O jovem tenente da cavalaria George Davis estivera sob o comando de Paul. − O que iriam dizer se o ajudante-de-ordens não comparecesse à pista de dança? − continuou Amy, lançando um olhar coquete na direção de Francis. − Seria um horror! − Olá. Olá. − Brian e Flora reuniram-se ao grupo cada vez maior. − Estão gostando da festa? − Muito − exclamou Amy, como se falasse por todos. − Não vai ser divertido poder dançar? Gostaram da excelente idéia da mamãe? Rebecca deu uma risada contra os cachos de cabelo de Phoebe, quando Flora exclamou com a maior inocência: − Aquele salão? Por que, é igual a qualquer outro que vi no Leste. − Obrigada, querida senhora Mackey − a senhora Little praticamente rosnou. − Mas vocês não sabiam da última? − lamentou Amy. − E a primeira dança de cotilhão que temos em semanas e o coronel disse que devemos terminar antes da meia-noite. − O dia vai amanhecer depressa para as companhias que sairão em serviço amanhã, senhorita Amy − explicou Francis. − Por que não podem ir no dia seguinte? − protestou a garota com um mal disfarçado beicin beicinho. ho. − Será que os nossos rapazes não podem esperar um dia para lutar contra os índios? − Esperamos não ter de lutar desta vez, a menos que seja preciso − respondeu Brian. − Uma grande e bem armada patrulha vai nos dizer, ao longo do rio Smoky Hill, se os sioux falam sério quanto a sua proposta de paz. − E será sua última oportunidade de falar sobre a paz antes de serem sobrepujados por um exército bem maior do que suas tropas − acrescentou George. − Nossos reforços estão para chegar a qualquer momento. − Ah, não, o tiro do meio-dia − exclamou Flora com um sorriso brilhante. brilhante. − Rebecca, você me ajuda a servir o almoço? Rebecca concordou imediatamente, devolvendo Phoebe à mãe. Sabia que a agitação de Flora e seu falatório interminável mascaravam a preocupação, sempre que o marido precisava sair a campo com seus homens. A companhia C, sob seu comando, partiria na manhã seguinte. − Tente não se preocupar − disse em voz baixa enquanto estendiam a toalha xadrez no chão e esvaziavam a cesta. − Brian vai tomar cuidado. Como tem feito em todas as campanhas. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Eu sei, mas é cada vez mais difícil toda vez que ele vai. − Flora deu um sorriso triste. − Depois de tanto tempo na vida militar, ainda penso que teria sido melhor não ter casado com um militar... − Mas você o ama − lembrou Rebecca. Haviam tido aquela conversa diversas vezes nos últimos meses. − Olhe só quanta coisa − comentou Brian, aproximando-se delas, consciente da preocupação da esposa. Ajoelhando-se sobre a toalha, ele apreciou o lanche com prazer. Passem os picles, por favor. Dezenas de assuntos foram comentados entre as famílias e amigos dos oficiais durante a refeição. A animação interrompeu-se bruscamente, bruscamente, contudo, quando um clamor estridente chegou até seus ouvidos. − Olhem, rapazes, aqui estamos nós! − Uma carroça de carga, lotada de mulheres em roupas extravagantes, extravaga ntes, contornou a curva vindo pela estrada da cidade, em meio a uma nuvem de poeira. Gritando e rindo, as mulheres inclinavam-se inclinavam-se para os lados da carroça quando esta se agitava, puxada por uma parelha a galope. Flora soltou uma exclamação, admirando o espetáculo. − Oh, uma revoada r evoada intei inteira ra de pombas sujas. − Flora! − protestou Francis de boca cheia. Brian repreendeu-a brandament brandamente. e. − Não se espera que a dama de um oficial saiba sobre essas coisas. − Mas nós sabemos. − Flora sorriu sem um pingo de remorso. − Não é, Rebecca? − Elas estão longe de serem senhoritas − concordou ela com ironia. − Isto não é assunto... ou espetácul espetáculo... o... para damas cortou Francis, enrolando o bigode envergonhado. − O que elas vieram fazer aqui? − O coronel deve ter convidado a cidade inteira − observou Rebecca, com os olhos na carroça, que circundava o pátio central. As ocupantes se inclinavam para fora, mandando beijos para os homens na multidão. − Desculpem o atraso − uma gorducha de cabelos vermelhos gritou do assento dianteiro − mas a Nell não conseguia encontrar a anágua. − Isto é inadmissível. − O ajudante-de-ordens dirigiu um olhar sombrio para seu comandante, que observava impassível as recém chegadas. − Não há motivo para que o Velho as expulse, a menos que tenham mau comportamento, Francis − observou Brian com sabedoria. − Desde que observem os regulamentos do forte, elas podem permanecer, independente de quem ou o que sejam. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− E os praças terão com quem dançar esta noite, além das lavadeiras − caçoou Flora. − Não que haja muita diferença... − ia retrucando Francis, quando foi interrompido por mais um grito feminino entusiasmado. − Vejam, é o Injun Jack! Ei, Jack, convide-me para dançar esta noite! E contra a vontade, Rebecca olhou na direção do algodoeiro em sua sombra, o batedor acenava com o chapéu para a mulher de cabelo vermelho. − Quer mais torta, Francis? − indagou ela, dando as costas para a cena. Brian cochilou depois do almoço, com a cabeça no colo de Flora, enquanto Rebecca e Francis observavam um grupo de homens passar sebo num velho pau de bandeira próximo à casa da guarda. Perto dali, outros marcavam o campo para as atividades da tarde, cujo ponto culminante seria a corrida de cavalos. Do local da partida até a praça da bandeira, a pista da corrida passava pela Rua do Sabão e seguia para a ilimitada e amarronzada pradaria. − Apesar de estar de serviço esta tarde, vou competir na corrida de cavalos − anunciou Francis. − Será o maior acontecimento do dia. − Você vai enfrentar os melhores competidores − murmurou Brian preguiçosamente. − O Graham, do Décimo Regimento, e o Smith, da minha companhia. − Não estou preocupado. − Inclinando-se sobre o ombro de Rebecca, Francis aproximou tanto a cabeça da dela que lhe fez cócegas no rosto com o bigode. Avaliando a distância, ele comentou: − Está vendo aquelas estacas lá longe? Vamos correr direto até a primeira, dar a volta na segunda e na terceira, e então regressar até a linha de chegada perto da praça da bandeira. − E qual será o prêmio ao vencedor? − ela perguntou, afastando-se dele. O tenente recostou-se no assento com um sorriso. − Uma peça de toucinho defumado e o prazer da vitória. As pessoas vão comentar sobre essa corrida por meses seguidos. As apostas serão pesadas... nada oficiais, claro. − Pois vou apostar todas as minhas fichas no Injun Jack − completou Brian. − Seu Old Joe é bem rápido. − Não tão rápido quanto o Clipper, o meu cinzento, argumentou Francis. − Senhoras e senhores, sua atenção, por favor! − O primeiro-sargen primeiro-sargento to Flynn surgiu na pista de corrida. – O coronel Quiller ordenou o início dos terceiros Jogos Anuais do Dia da Independência do Forte Chamberlain. A corrida de saco começa em cinco minutos. Oficiais a seus postos, por favor. Competidores na linha de partida. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− O dever me chama − suspirou Francis. Levantando-se, cutucou Brian com o polegar. − Cuide da Becky enquanto eu estiver fora. − Ela não poderia estar mais segura − respondeu o capitão, sem abrir os olhos. Depois de um momento, ele se levantou para acompanhar as mulheres às laterais, onde poderiam assistir à competição de cabo-de-guerra entre a cavalaria e a infantaria. Ao fim da competição, os vencedores, vermelhos pelo esforço e de orgulho, reuniram-se na praça da bandeira onde se encontrava Amy Little. A garota apontou para um vaso de barro na mesa a seu lado e entonou, em sua melhor voz estudantil: estudantil: − Tenho o grande prazer de entregar este prêmio, um galão de xarope de bordo, que veio diretamente de Vermont, à equipe da infantaria! − Dias.
− Embaixo do algodoeiro, Diego Dominguez y García voltou-se para os companheiros
batedores. − Esta senhorita Little é linda, si? − Não incomoda aos meus olhos admirá-la – comentou Solemn Longfellow. − O que acha, Injun Jack? Ela não é muy bonita? − Com certeza − replicou Jack, ausente, com os olhos numa pequena silhueta vestida de preto próximo ao mastro da bandeira. − Mas você tem outra no coração? − arriscou o Mexicano. − Yo también. Eu me espalho, mas sempre acabo voltando para minha esposa. Jack não se incomodou em discutir. − Você vai se espalhar tanto − advertiu ele − que Antílope não vai mais deixá-lo entrar em casa. − Sí,
mesmo as mulheres kickapoos podem ser injustas às vezes − suspirou Diego. Mas seu rosto
moreno logo se iluminou quando viu os competid competidores ores se alinhare alinharem m em frente ao mastro ensebado. − Vamos parar de falar de mulheres agora, amigos. Alguém quer fazer uma aposta? − Dominguez, acho que você gosta mais de jogar do que de comer − observou Solemn num momento de rara perspicácia. − Mas quando eu ganho, amigo, como muito bem. – O mexicano deu uma risada. − Pena que o Malachi não pudesse ficar. Se ele não tivesse ido embora, iria pagar meu jantar esta noite. − Seus olhos escuros focalizaram uma dupla de soldados negros próximos dali. − Buenas tardes − chamou. − Querem fazer uma aposta? Jack abanou a cabeça, observando o rosto expressivo embaixo da ridícula sombrinha. Os olhos Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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brilhantes de Rebecca não se afastavam do pau-de-sebo e seu rosto se iluminava com um sorriso. Ele imaginou aquele sorriso dirigido para ele, aquecendo-o. Imaginou... Que diabo estava fazendo, indagou a si mesmo de repente, afastando o devaneio. Mal conhecia Rebecca Emerson. E o melhor a fazer seria manter uma boa distância dela. Não havia lugar para uma mulher em sua vida... nem mesmo uma linda viúva que logo estaria de partida. O exército jamais a deixaria ficar. − Vou lhe dizer uma coisa, hombre, essa corrida não vai ser uma corrida no final das contas, se este homem entrar. − Diego gesticulava para ele quando Jack olhou ao redor. − Injun Jack tem o cavalo mais rápido do Kansas, quem sabe do Oeste. Es verdad? − É verdade − confirmou Solemn. − Não poderia ser mais rápido que o do capitão Graham − discordou o soldado negro educadamente. educadamente. − Aquele cavalo é um verdadeiro raio. − E só o capitão consegue montá-lo − o mais baixo dos soldados observou. − Claro que é um grande corredor − o primeiro acrescentou. acrescentou. − Tenho um grande respeito pelo capitán Graham e seus soldados − observou Diego a suas vítimas. − Mas ainda assim aposto que não pode nada contra Injun Jack e seu Old Joe. − Então está fechado. − O negro mais alto enfiou a mão no bolso. − Aposto meio dólar como o capitão Graham ganha aquele toucinho defumado. − Fechado, mi compadre − acertou Diego. − E vamos passar bem esta noite. − Vocês vão ganhar o suficie suficiente nte para pagar o jantar declarou Jack encaminhando-se para o estábulo. − Eu vou ficar com o prêmio. Diego deu de ombros sem se preocupar e provocou ao redor. − Mais alguém quer apostar? Digo que Injun Jack vai vencer com folga. A expectativa era grande entre as pessoas que se aglomeravam às bordas da pista da corrida de cavalos. Flora subiu na ponta dos pés quando os primeiros competidores surgiram vindo do curral. − Olhe, eles estão chegando − gritou ela. − Estou vendo Francis. Com a pluma amarela de seu chapéu tremulando bravamente, o ajudante-de-ordens acenou para os amigos e conduziu seu garanhão para a linha de partida. − Então este é o Boston Clipper − murmurou Rebecca. O cavalo agitou a cabeça e resfolegou, parecendo compreender a admiração da platéia. − Ele é magnífico. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Mas o que um ajudante-de-ordens quer com um corcel desses está além da minha compreensão − declarou o doutor Trotter, abrindo caminho até eles. − Boa tarde, meus jovens − cumprimentou-os. Tirando um lenço do bolso, enxugou a testa. − Como está quente aqui... mas eu não poderia perder a corrida. Que tal fazer uma pequena aposta, capitão Mackey? − No que estava pensando? − Eu aposto dois dólares como o cavalo de Injun Jack deixa todos os outros comendo poeira. − O Injun Jack está na corrida? Não, obrigado, senhor − recusou Brian. − Não pode me culpar por tentar. − O médico sorriu e deu uma piscadela. − Levei uma surra no xadrez e agora queria, terminar o dia com pelo menos uma vitória. − E aquele o Old Joe de que todo mundo está falando? − Flora olhou decepcionada quando viu Injun Jack se Aproximando. − Ele parece tão... comum. − As aparências enganam − aconselhou Rebecca, analisando o cavalo com olhos de fazendeira. − Ele pode correr como o vento. − Pode ser − murmurou Flora em dúvida. Tomando seu lugar entre os competidores, Jack controlou a vontade de olhar para Rebecca enquanto esperava pelo tiro de largada. Em vez disso, apertou a corda que prendia o chapéu à cabeça, segurou as rédeas com o braço sadio e procurou ignorar Derward Anderson observando-o nas imediaç imediações. ões. Quando o tiro da largada soou, dezessete cavalos partiram pela pista, levantando cavacos de terra atrás de si. Os espectadores espectadores vibraram quando Francis e o capitão Graham disputaram a liderança cabeça a cabeça. O corredor da companhia C, Smith, era o terceiro e, perseguindo-os um corpo atrás, ia Injun Jack. − Não o deixe alcançá-lo, Smitty − gritou Brian, enquanto Jack diminuía a distância entre eles. − Vamos, Injun Jack! − encorajou o médico quando Jack passou para o terceiro lugar logo ao alcançar a primeira estaca. − Vamos, Joe, vamos − incentivava Rebecc Rebecca, a, enquanto ele alcançava o capitão Graham e passava pela segunda estaca, no encalço de Francis. Inclinado para a frente, Jack parecia conversar com sua montaria. Num rompante de impulso, Joe passou Clipper e contornou a última estaca. Enquanto os cavalos galopavam pela reta final, Injun Jack era uma visão impressionante. Inclinado sobre a sela, uma expressão feroz no rosto bronzeado e o cabelo comprido voando atrás de si, ia com o chapéu amarrado à cabeça tendo a aba virada para trás pelo vento. Quando explodiu na linha de chegada à frente de Francis, levantou-se nos estribos, jogou a cabeça para trás e lançou no ar um grito de vitória dos Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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rebeldes da guerra civil. Em seguida, conduzindo o cavalo apenas com os joelhos, o batedor diminuiu a marcha do animal e guiou-o até a praça da bandeira. Aparentemente ocupado em prender o chapéu, ele arriscou um olhar para Rebecca, que se encontrava ao lado do doutor Trotter, o rosto iluminado de excitação. Injun Jack desmontou em frente à mesa de premiação, onde a esposa do major Little o esperava apreensiva, e inclinou o corpo numa reverência. − Boa tarde, senhora Little. Pega de surpresa por seu cumprimento educado, ela vacilou. − Como vai, senhor... er... Jack. − Recobrando-se, ela indicou o toucinho e anunciou em voz impostada.. − Eis o seu prêmio, senhor. impostada − Obrigado. − O batedor enfiou o enorme pedaço de toucinho embaixo do braço sadio e abriu caminho por entre a multidão. Ao chegar em frente ao doutor Trotter, estendeu-lhe o prêmio. − Poderia dar isso aos rapazes do hospital, doutor? − Com prazer − agradeceu o médico. Segurando a peça de carne um tanto desajeitado, ele olhou para o benfeitor do hospital. − Muito obrigado. − Às ordens − respondeu Jack, os olhos em Rebecca. Ela lhe sorriu e o gesto o aqueceu exatamente como imaginara. A realidade era mais perturbadora que o inesperado devaneio. Jack tocou a aba do chapéu e inclinou a cabeça impessoalmente. − Boa tarde, dona − cumprimento cumprimentou. u. Então, tomando a montar seu cavalo, ele se afastou sem olhar para trás.
QUATRO
Ao pôr-do-sol, quando a bandeira foi arriada, um leve brisa amenizava um pouco o calor sufocante. Rebecca entrou em casa, mas estava tão abafado que nem teve vontade de acender um lampião. Pelas janelas abertas chegavam os ruídos e vozes das pessoas que, tendo terminado de comemorar o feriado com um churrasco, já começavam a se encaminhar para a dança. No lusco-fusco, enquanto a noite não chegava, ela começou a fazer um levantamento entre os bens acumulados durante o breve período de casamento, para decidir-se sobre o que poderia vender. Flora lhe Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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dissera que era costume as famílias venderem suas posses antes da partida, com o objetivo de aliviar a carga na mudança. A idéia lhe agradara. Não tinha nenhum vínculo com os parcos utensíli utensílios os da casa e, ainda que não pretendesse pretendesse ir para muito longe, com certeza precisaria muito mais do dinheiro que daquelas coisas. A abertura do hino da cavalaria soou no pátio do forte e a distraiu de sua tarefa. Interrompendo o serviço, ela foi até a entrada apreciar a música no frescor do início da noite. Além do pátio, a lua surgia, redonda e brilhante, atrás dos alojamentos dos praças. Ai, crianças perseguiam vaga-lumes no gramado seco enquanto seus pais dançavam nas proximidades. Quando a música: terminou, cedendo lugar o canto estridente das cigarras, Rebecca sentiu-se triste e solitária. Sentia falta de Paul e sofria com a oportunidade perdida. Antes, ela poderia ter chegado a amá-lo. Agora, nunca mais teria essa chance. A banda começou a executar executar uma música al alegre, egre, mas nem mesmo isso isso melhorou seu humor. Injun Jack vestiu a roupa sobre o corpo ainda molhado e concluiu, pela música, que já era seguro retornar ao forte. A noite caíra e todos deviam estar reunidos no salão de dança. Durante o resto da tarde, ele havia suportado o churrasco, cercado por mais gente do que vira num mês inte inteiro iro e rec recebe ebendo ndo tapin tapinhas has de congr congratu atula laçõe çõess nas cos costa tass at atéé o bra braço ço doer. doer. Qua Quando ndo se cansar cansaraa de perambular pelo pátio, até ter certeza de que, entre todos os rostos femininos avistados, não encontraria aqueles olhos castanhos castanhos especiais, encaminhara-se encaminhara-se até o rio para nadar e ter um pouco de paz. Quando se encaminhava de volta ao forte, um chamado o deteve: − Quem vem lá? − Olá, Paris − cumprimentou a sentinela, mas o homem não diminuiu o passo. . Jack conhecia aquele homem, um antigo tenente do Exército Confederado. Capturado e levado a um campo de prisioneiros, Paris tornara-se um ianque exacerbado, um rebelde recrutado para lutar contra os índios no Oeste. Jack não o criticava, mas isso não mudava o fato de que nunca gostara dele. − Fez uma bela corrida hoje, major Bellamy − Paris o cumprimentou. − Fez-me lembrar dos tempos em que lutava como se estivesse possuído pelo demônio. Poderia lhe pagar uma bebida para comemorar? − Talvez depois, quando deixar o serviço. − Como pode estar perdendo a festa esta noite? − Insistiu o homem. − Porque já me diverti o bastante − respondeu Jack, pegando o caminho para o pátio. Ao se aproximar da rua dos Oficiais, tornou a pensar na viúva. Observando a fileira de sobradinhos com as luzes apagadas, ficou imaginando qual seria o alojamento dela. Quase não a avistou na varanda às Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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escuras. Ao ver o batedor se aproximando, Rebecca encolheu-se: nas sombras na sacada, esperando que o vestido preto tornasse invisível. Seus ombros largos e as pernas grossas e compridas eram inconfundíveis mesmo na escuridão. A cada encontro, ele lhe parecera diferente. Num momento ele estava mal-humorado, no outro, irresistivelmente carinhoso. Fora educado em frente ao prédio do comando, e estranhamente frio naquela tarde. Ela nunca sabia o que esperar dele, mas não o deixaria perturbá-la naquela noite. noite. Só esperava que seu coração disparasse quando ele se aproximasse. Jack pretendia passar com um simples cumprimento de cabeça, mas acabou se achando com o pé na escadinha d entrada e o chapéu na mão. − Boa noite, senhora Emerson. − Boa noite, senhor Bellamy − respondeu ela em voz baixa. − Gostou do piquenique? − Gostei muito. − Passei pelo hospital esta tarde e o doutor disse que você esteve lá. Quero agradecer por se preocupar com Teddy. − Não foi nada. − Ela suspirou, sentindo-se perder controle quando ele lhe sorriu. − Gostaria de sentarse senhor Bellamy. − Obrigado. − Subindo até o último degrau, ele se encostou numa pilastra e encarou-a. − Não vai ao salão d dança da senhora Little. Ela curvou os lábios num sorriso de desgosto e abanou a cabeça. − Uma viúva deve manter uma certa distância de festas. − Mala Malach chii me co cont ntou ou que que perd perdeu eu seu seu ma mari rido do uns uns dois dois me mese sess at atrá rás, s, dona dona − co come ment ntou ou Ja Jack ck delicadamente. − E sinto muito. Ela precisou piscar para conter as lágrimas ante o comentário, comentário, − Obrigada. − Eram casados há muito tempo? − Há apenas três meses, mas eu o conhecia desde pequena. − Então estiveram apaixonados desde crianças? − Não, éramos apenas bons amigos − ela se viu admitindo. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Pelo menos, gostavam um do outro − ele sorriu fraternalmente. − Já é mais do que muitos casais antigos têm entre si. − É verdade. − Pensando no que dizer, Rebecca sentiu-se aliviada quando as notas alegres de uma polca chegaram aos seus ouvidos. − Por que não foi ao baile, senhor Bellamy? Não gosta de dançar? − Eu me contento em dar as minhas galopadas por aí − resmungou ele, sem jeito. − E pelo visto é muito bem conhecido. − Ela se surpreendeu com o próprio tom zombeteiro. − Foi uma brava vitória na corrida desta tarde. − Não teria conseguido nada sem Old Joe – respondeu ele com uma risadinha. − O que dizia a ele para fazê-lo correr tão rápido? − Eu lhe perguntava como conseguiria manter a cabeça erguida se fosse derrotado por aquele pernóstico garanhão ianque. Ante seu próprio assombro, Rebecca não controlou uma boa risada. − Você é mesmo impossível, senhor Bellamy. − Pode ser, dona − concordou ele com um sorriso divertido. − Mas tenho meu lado bom. Não cheiro rapé nem masco fumo. Não jogo muito, a não ser quando tenho boas chances de ganhar. Sou encantador. − E modesto − exclamou ela. − E modesto − ele concordou. − E não sou tão estúpido quanto pareço. − Se é o que diz − admitiu ela com uma risada, olhando para a escuridão. − Esta mancha aí é do curativo molhado? − É difícil mantê-lo seco quando se está nadando confessou ele, desviando o olhar, encabulado. − Entre corridas de cavalos e banhos de rio, esse ferimento nunca vai sarar − comentou ela, levantando-se. levanta ndo-se. − Venha cá que vou lhe trocar o curativo. − Não, obrigado. − Ele permaneceu onde estava. − Não pretende deixar que infeccione, não é? − Não − respondeu ele em voz baixa, recordando-se de já ter ouvido aquele comentário. − Por favor, senhor Bellamy − pediu ela da soleira da porta, antes de entrar na casa às escuras. Na varanda, Jack forçou a memória, lembrando-se vagamente de um incidente semelhante que começara com um "Por favor, senhor Bellamy" e terminara com um beijo. De repente, a surpreendente recordação iluminou-lhe iluminou-lhe o rosto e ele entrou na sala. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Na cozinha, Rebecca acendeu um lampião e abriu a porta dos fundos para permitir a entrada da brisa. Então lavou as mãos e abriu o armário, de onde tirou um rolo de gaze. − Posso lhe oferecer alguma coisa? Um copo de água, quem sabe? − indagou ela, nervosa ao vê-lo no batente da porta. − Não, obrigado. − Adiantando-se, ele parou à frente dela, parecendo encher toda a cozinha. Então sorriu, com se tivessem algo em comum de que rir. Ele era tão grande, ela pensou, pouco à vontade. Conhecia, a força daqueles braços, pois estivera entre eles. Onde estava com a cabeça ao convidar Injun Jack a entrar em sua casa? Fora agradável conversar com ele na varanda minutos atrás, mas agora se lembrava de que homens feitos empalidecia ao pensar em encará-lo. Tentando esconder sua insegurança, puxou uma cadeira. − Espere aqui enquanto vou buscar uma tesoura no cestinho de costura. Jack perambulou pela cozinha. Rebecca conseguira dar um ar agradável ao ambiente, apesar de se encontrarem poucas comodidades num posto militar como aquele. O engradado de bolachas de campanha, pregado à parede, servia de armário. Os assentos das cadeiras eram forrado . com tecido alegre. Um bom corte de índigo fora sacrificado, dando a toalha de mesa e as cortinas. Num vaso sobre a mesa havia um buquê de flores. Quando ela voltou, ele sentou-se e estendeu o braço sobre a mesa, observando-a enquanto ela se posicionava atrás de seu ombro. Rebecca procurou concentrar-se no braço dele. Tentou não notar que o cabelo comprido dele, ainda úmido da água do rio, ao secar ficava de um preto quase azulado e que ele cheirava a ar fresco. Seus dedos tremeram quando tentou arregaçar-lhe a manga da camisa. E acabou desistindo, porque a manga nunca passaria pelo músculo do braço. − Deixe comigo − sugeriu ele, ao notar-lhe a expressão insegura. Depois de tirar o cinturão da arma, que depositou sobre a mesa, ele despiu a camisa e estendeu-a para ela. − Prefiro que não corte esta. Rebecca corou, como Jack esperava, e deixou a camisa na guarda da cadeira. Então, com o cuidado de não olhar para ele, aproximou o lampião e ajoelhou-se do lado dele. − Está manchado de sangue − comentou ao observar o curativo. − Foi só um pouquinho durante a tarde. Rebecca não acreditou quando tirou o curativo e examinou o ferimento. − O que é isto? Não é mais fumo mascado! Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− São ervas medicinais, um terapia dos índios kickapoo − murmurou Jack, examinando sua reação. A luz do lampião dava um brilho prateado em seus cabelos presos. O rosto delicado, parcialmente iluminado, estava sério enquanto ela se concentrava em sua tarefa. − Como acha que está? − Acho que ele precisa de uma limpeza. − Ela se levantou e tirou uma garrafa de dentro do armário. Os olhos azuis brilharam de curiosidade. − O que é isso? − Uísque para uso medicinal. Era do meu marido. − Neste caso, ponha um pouco num copo antes de derramar no meu braço. Já estou vendo que vai doer um bocado. − Vai ter de me perdoar, senhor Bellamy − objetou ela − mas estive por perto quando bebeu e prefiro não repetir a experiência. Eu estava fora de mim naquele dia no hospital – ele se defendeu. − Assim espero. − Nem me lembro direito do que aconteceu – resmungou ele. − Fui grosseiro? − Foi. Muito. − Ela estava concentrada em cortar um pedaço de gaze para o curativo. Ele ficou pensando em seu comentário. − Sei que agi mal e não fui muito educado. Rebecca interrompeu interrompeu o trabalho com a tesoura e o encarou temerosa. − Você me chamou de selvagem, não foi? − indagou ele em dúvida. − Então você se lembra. − Ela corou violentamente. − De alguma coisa. Mas não seria ela a indagar sobre de quais partes ele se lembrava. Se ele se esquecera do beijo, não iria provocá-lo. Embebendo a bandagem com uísque, ela o olhou de esguelha. Jack olhava para fora, pensativo. A luz do lampião dourava sua pele bronzeada e refletia-se no colar dele em seu pescoço. Uma rajada de vento fez a chama tremular, lançando sombras em seu rosto impassível. − Nunca fui de pedir desculpas − ele acabou dizendo. − Nem tampouco gosto da palavra, mas peço que me desculpe se a ofendi. Ela baixou a mão, pousando o curativo entre as dobras do vestido. − Vou lhe dar um desconto. Além de ter perdido muito sangue, você havia bebido muito uísque e parecia ter dormido pouco. Compreendo que estivesse fora de si, conforme disse. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Não, dona, não costumo beijar uma mulher desconhecida. − Ele permanecia sério, embora no fundo do olhar houvesse um traço de malícia. − Senhor Bellamy − ela o censurou. − E quando beijo uma − ele continuou com um sorriso convencido − não costumo me esquecer. Rebecca o encarava chocada, mas um brilho de humor passou por seus olhos. − E imagino que não levanta do chão toda pobre mulher que encontra pelo caminho, estou certa? − Isso só aconteceu com você, acho. − Ele riu. Forçando-se a manter o decoro, ela o advertiu: − Pois devia se envergonhar disso. − Eu sei, mas apesar de todos os músculos doloridos no dia seguinte, ainda assim valeu a pena. − Guarde seus comentários para sua amiga ruiva de Chamberlain − disse ela secamente. − Está se referindo à Elvira? Ela é apenas uma amiga. − Ele deu um sorriso encantador. − Por que você não me chama de Jack, se está começando a sentir ciúme? − Não estou com ciúme. − Rebecca estava abismada ante a enorme presunção dele. − O ciúme não me incomoda − continuou Jack, como se não a escutasse. − O que me magoa é a indiferença. − Pois está prestes a se magoar de verdade − ela o advertiu, em tom de ameaça. Quando ela lhe aplicou o álcool no braço, Jack se retraiu. Ajoelhada outra vez ao seu lado, ela pôs um chumaço de gaze no ferimento para protegê-lo e segurou a faixa de gaze. Ele sentiu-lhe as pontas frias dos dedos tocarem de leve sua pele, quando ela passou a gaze ao redor de seu braço e a apertou com destreza. Em nenhum momento ela o olhara nos olhos. − Não sei o que fazer com você, Rebecca Emerson ele murmurou, estendendo o braço e segurando-lh segurando-lhee o rosto com a mão avantajada. − Nem eu com você. − Ela o encarou por fim. − Então estamos quites − ele sussurrou e, correndo o polegar pela curva de seus lábios, inclinou-se para beijá-la. Ele colou a boca sobre a dela docemente, explorando com a ponta da língua o vão entre os lábios, provocando-os a se abrirem. Quando eles cederam à pressão insistente, ele os penetrou, deliciado com a suavidade e o calor de sua resposta. Rebecca entregou-se às sensações do momento, consciente de tudo o que se passava ao redor: o chão duro a seus pés, a música trazida pela brisa a mariposa que se debatia contra o vidro do lampião, mas acima Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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de tudo estava o beijo de Jack, incendiando-a por dentro, com sensações que nunca experimentara na vida. Afastando-se, Afastando -se, ela ergueu os olhos para ele, confusa. − Acho que você não devia ter feito isso. − Sei que não não dev devia ia − res respon ponde deuu ele ele arq arquej uejant ante. e. Le Levan vanta tando ndo-se -se,, ve vesti stiuu a ca camis misa. a. O que lhe acontecera? Não pretendia beijá-la outra vez. O que ela fizera, Rebecca se perguntava, observando-o prender o cinturão da arma. Sua mãe bem que lhe avisara: "Se você se comporta como uma dama, os outros irão tratá-la como tal". Se ela fosse uma dama de verdade, devia sentir-se ultrajada Com aquele beijo. Se fosse mesmo uma dama, não devia ter retribuído o beijo. Se fosse fosse correta, devia tê tê-lo -lo posto para fora. Agachado atrás dela, o homem parecia procurar o que dizer. Quando ele falou, seu pedido de desculpass pegou a ambos de surpresa. desculpa − Sinto muito. Quer que eu saia? Mordendo o lábio inferior, Rebecca vacilou. Ela sabia que deveria fazer, mas gaguejou. − Não, não vá! Quero dizer, se prometer não me beijar de novo, senhor Bellamy, não vamos mais tocar no assunto. − Vou me controlar pelo resto da noite, prometo. − Como para demonstrar suas boas intenções, ele se levantou e lhe estendeu a mão. − Vamos voltar para a varanda? Rebecca foi na frente. Parando no primeiro degrau da escada, ela olhou para o céu estrelado. − Não é maravilhoso? − É mais lindo que os fogos de artifício que irão soltar, − Jack parou atrás dela. Sentando-se no degrau, ela manteve uma distância entre eles. − O coronel Quiller se preocupa tanto com incêndios comentou ela − é estranho que tenha permitido os fogos para esta noite. − Quiller sabe o que está fazendo. − Ele desceu um degraus para ficar de frente para ela. − Concentrando todo os fogos numa única apresentação, ele evita que acenda outros fogos por aí, assim haverá menos risco de incêndio. Os fogos mais importantes ele mandou esperar para o final. Portanto, eu não me preocuparia com isso. – Levantando cabeça, ele farejou o vento. − Está cheirando a chuva. − Não ouvi nenhum trovão até agora. − Rebecca sorriu quando uma pequena sombra cinzenta cinzenta saiu das sombras e avançou na direção deles. − Mas estou vendo o meu gato. Ou pelo menos acho que é meu. Fominha só aparece no horário da comida. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− O nome combina com ele. − Jack riu. − Eu o vi comendo muito bem no churrasco. Seu bom humor esvaiu-se quando Fominha roçou por seus tornozelos. Não gostando muito de gatos, pensou numa forma de escapar dali. − Ouça. − Ele fez uma concha no ouvido e inclinou-se na direção da orquestra. − Estão tocando uma valsa de Strauss. É uma pena desperdiçar uma música dessas. Sabe dançar valsa? Depois de um longo silêncio, Rebecca respondeu: − Eu... eu acho que não poderia. Obrigada. Adorava dançar, mas não deveria, não apenas pelo que os outros diriam se os vissem, mas porque ela não sabia o que poderia acontecer quando ele a tomasse nos braços. Lá adiante, no pátio, formas escuras surgiram próximo ao mastro da bandeira, chamando chamando a atenção do casal. E então, subitamente, um foguete subiu e explodiu acima de suas cabeças, lançando luzes multicores no veludo negro do céu. Descendo para junto de Jack, Rebecca ergueu os olhos para o espetáculo. Ele sentiu o aroma de flores de seus cabelos trazido pela brisa e ficou em dúvida sobre quanto tempo mais resistiria ao lado dela, assim sozinhos ao luar, sem beijá-la outra vez. − Por que não não vamos vamos lá para para a festa festa?? − suger sugeriu iu.. − Est Estaa esc escuro uro.. Nin Ningué guém m nem vai perce perceber ber que estaremos lá. − Tudo bem − ela concordou, grata por ter um motivo para ficar longe dele. No fundo da multidão, George Davis olhou para os recém-chegados. Com as sobrancelhas arqueadas de surpresa, ele os cumprimentou em voz baixa. − Senhora Emerson, Injun Jack, que surpresa. Permanecendoo ao lado do tenente, Rebecca observou Flora, sentada com as outras esposas de oficiais. Permanecend Brian achava-se atrás dela, inclinando-se freqüentemente para fazer comentários em seu ouvido. O coronel Quiller andava de um lado para outro na praça da bandeira, um olho no sargento que acendia os fogos, o outro atento ao menor sinal de incêndio na grama seca. Francis permanecia por perto, o rosto erguido iluminado pelas luzes coloridas. − Oooh! − Uma exclamação em uníssono ergueu-se da platéia quando um novo foguete explodiu no alto. Colhido por uma inesperada rajada de vento, o foguete caiu ainda aceso, enviando cinzas e brasas pela terra em diferentes lugares. Num instante instante,, surgiram cinco focos de incêndio na grama seca. Enquanto Jack e George correram para apagar as chamas próximas dali, a multidão se espalhou em todas as direções e a brigada de incêndio entrou em ação com seus baldes. No quadrado, um rapaz que estivera deitado no gramado observando o espetáculo ofereceu seu cobertor para Jack. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Agitando-o com a mão, ele bateu no fogo, rapidamente contendo as chamas. No entanto, enquanto Rebecca observava, a brasa se reavivou e começou outro foco de incêndio. Ela não teve dúvidas: enrolando o vestido ao redor do joelho, correu para abafá-lo com os pés antes que se espalhasse. − O que você está está faz fazendo endo?? − protest protestou ou Jack Jack,, apare aparecend cendoo atrá atráss dela. dela. − Tentando ajudar. . − Venha para cá. − Ele apontou para trás de si, mas ela se recusou a ir. Eles trabalharam lado a lado até as chamas se extinguirem. Quando eles voltaram da área queimada, Jack soltou uma estranha praga e atirou-se sobre ela. Os anéis de sua saia rodada se quebraram no momento em que ele caiu sobre ela no chão. Com o rosto contra a poeira, embaixo do corpo dele, ela sentiu-se sufocar. Para seu horror, sentiu-o se ajoelhar sobre ela e bater várias vezes em seu traseiro. − Você está se sentindo bem? − Rodando-a de costas, ele a puxou para ajudá-la a sentar-se. − Você está bem? Fale mulher! − Acho que sim − ela conseguiu falar. − Não falei para se afastar? − Ele a observou com um olhar preocupado. − Por que não esperou pela brigada de incêndio? − Por que você não esperou? − Ela sustentou-lhe o olhar. − Com certeza provocou nova hemorragia no braço. − Deixe que eu me preocupo com isso − retrucou ele. − Becky, o que você está fazendo aqui? − Francis apareceu diante deles com a testa franzida. − Eu estava assistindo aos fogos − explicou Rebecca com o máximo de dignidade que conseguiu reunir. − Até que pôs fogo em si mesma − falou Jack, levantando-se. Ele se voltou para oferecer a mão, mas o tenente se ajoelhara ao lado da mulher. − Você se machucou, querida? − indagou, solícito. − Estou bem − ela garantiu-lhe. Levantando-se, ela olhou para os danos no vestido por cima do ombro. Os anéis da saia quebrados davam-lhe uma forma estranha. E o pior era que uma grande área do tecido estava faltando, da bainha até a cintura. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Oh, meu vestido está destruído! − Dane-se o vestido − praguejou Jack. − Ele a está incomodando? − Francis dardejou o olhar para o batedor. − Ela é que está me incomodando − bufou Jack, perturbado com um tipo de medo com que não sabia lidar. Essa mulher teimosa me deu o maior susto que já tive em dez anos de vida. − Agora chega. − O ajudante-de-ordens passou sua curta pá circular pelo ombro dela. − Vou levá-la para casa, Becky. − Eu a trouxe. Eu a levo para casa − declarou Jack. − Nenhum dos dois precisa se incomodar, obrigada. E obrigada por sua capa, Francis, mas ela não esconde o buraco. − Tirando-a dos ombros, ela devolveu-lhe a capa. − Você não pode voltar para casa sozinha − objetou o oficial. − E eu não vou mesmo. Tenente − ela chamou George Davis. -.Poderia fazer o favor de me acompanhar até em casa? − Ficaria muito honrado, senhora Emerson. − Enquanto a banda tocava Boa Noite, Senhoras, ele lhe ofereceu o braço galantemente. − Boa noite, senhores − Rebecca falou sobre o ombro. Enquanto Francis afastava-se dali, ruminando interjeições em voz baixa, Jack ficou observando o movimento das anáguas brancas, iluminadas pelo luar, que apareciam pelo buraco do vestido a cada passo que ela dava. Era bom que Davis a acompanhasse até em casa, pensou, subitamente deprimido. Ele não devia mesmo dar-lhe boa-noite no escuro da varanda. Por muito menos, já estivera prestes a esquecer sua promessa.
CINCO O ar estava fresco e lavado de chuva quando Jack regressou ao Forte Chamberlain. Embora seu braço doesse, sentia-se melhor do que dias antes. Seu corpo estava curado e a mente clareara depois de ver o sol nascer. A fadiga só se manifestou quando guiou Old Joe através do portão principal. O forte já estava voltando Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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à atividade norma. Na praça da bandeira, o ajudante anotava os informes dos oficiais. Um grupo de trabalho retirava as lanternas coloridas dos prédios. Apenas as manchas escuras na grama serviam de recordação dos acidentes daquela noite. Jack ficou surpreso ao ver a patrulha reunida do outro lado do pátio. Envergando uniforme de campanha e equipados para vários dias, os homens estavam em forma na rua em frente ao prédio do comando. Ele continuou sua marcha até aproximar-se de Diego, à frente da coluna. − Qué pasa? Pensei que não iam partir antes da tarde.
− Primeiro vamos fazer uma patrulha entre o forte e a ponta da ferrovia, então partiremos − replicou o mexicano encolhendo encolhendo os ombros. − El coronel deu a ordem depois de ter recebido uma mensagem. Ele quer o terreno seguro para a visita de alguns dignitários da ferrovia esta tarde. O Solemn deve mostrar os búfalos para esses almofadinhas. almofadinhas. − O ouro de seus dentes brilhou quando ele sorriu. − Você, eu acho, vai ter a honra de jantar com eles esta noite. − Droga! Jack preferia estar partindo com a patrulha. Seria mais útil ali que no forte, pajeando aqueles turistas do Leste. A decisão de Quiller de marcar a presença do exército na pra. daria era um movimento tão calculado quanto lance de xadrez, mas era também arriscado. Uma demonstração d força como aquela iria deter os derramamentos de sangue dos sioux, mas ao mesmo tempo poderia incitar o ânimo dos guerreiros mais jovens. Ainda bem que era Mackey quem estaria no comando. O capitão tinha a cabeça fria. Descansando a mão no coldre do rifle junto à sela, Jack olhou ao redor. Uma dúzia de pessoas achavam-se nos degraus do comando, prestando suas despedidas. Rebeca achava-se meio de lado, tentando dar alguma privacidade aos Mackey. Embora ela tivesse a aparência de quem gostaria de sumir dali, não parecia abatida com o incidente, da noite anterior. Na verdade, ela estava adorável. − Não comece − ele murmurou para si mesmo. Passara em si mesmo um sermão em regra durante ronda daquela manhã. A curiosidade, sua maior fraqueza fora a causa do que acontecera na noite anterior. Ele s esquecera do beijo no hospital, e então a beijara outra vez. Só para saber se ela retribuiria. Ela o fizera. Agora sua curiosida curiosidade de estava satisfeita. Nada de dar mais chance curiosidade, ordenou a si mesmo, tentando ignorar o olhar aborrecido de Diego. Sem perceber que ele a observava, Rebecca cismava. Jamais devia ter ido ver a partida da patrulha. E não teria ido, não fosse por Flora. Não poderia resistir aos olhares, de reprovação de Francis. E ela não fizera nada de erra ao ir assistir à exibição de fogos de artifício, disse a si me ma, mas o magoara quando aparecera ao lado de Injum Jack. Mais ainda do que o ajudante-de-ordens, ela temia encontrar-se com o batedor. A noite anterior fora Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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uma loucura do beijo na cozinha até a destruição do vestido. E ela nem agradecera a ele por ter-lhe apagado o fogo do vestido. − Bom dia, senhora Emerson − uma voz polida interrompeu seus tempestuosos pensamentos. − Bom dia. − Grata pela distração, Rebecca aproximou-se de George Davis ao pé dos degraus. − Como está essa manhã − Pronto para partir, mas gostaria de lhe dar uma palavra, dona, em particular. − O que aconteceu, tenente? − ela indagou com uma expressão de estranheza. O rapaz hesitou, mas então falou, tenso: − Antes de mais nada, senhora Emerson, a senhora deve saber que a companhia B se preocupa muito com a senhora. − Vocês todos são muito gentis. − Então espero que entenda − o jovem oficial conti continuou nuou com muito esforço − se eu a advertir para não perder tempo com Injun Jack. − O quê? − Rebecca o encarou, incapaz de acreditar em seus ouvidos. − Sei que ele não deixou que se ferisse quando seu vestido pegou fogo e todos apreciamos o gesto. Mas uma dama da sua qualidade... − Acho que entendi tudo − murmurou ela quando ele hesitou. Embora em parte se revoltasse e quisesse defender suas ações, não poderia ignorar a realidade. realidade. George estava obviamente embaraçado com o que ele considerava seu dever em relação à esposa de seu capitão. − E eu lhe garanto, tenente, que o gesto do senhor Bellamy ontem à noite não passou de uma preocupação sincera com uma viúva − ela mentiu. − Eu provavelmente preocupação provavelmente não vou me encontrar com ele outra vez. − Isso era verdade. Depois de agradecer-lhe agradecer-lhe,, ela não pretendia voltar a vê-lo nunca mais. − Espero não tê-la ofendido − murmurou George, magoado. − Mas estava preocupado com o seu bemestar. − Compreendo. − Ela suspirou. − O que você compreende? − O casal se voltou para Francis atrás deles, que os observava com um brilho de ciúme nos olhos verdes. − De que a companhia inteira se preocupa com a esposa de seu capitão − declarou George na defensiva. Observando Rebecca com um ar de proprietário, o ajudante-de-ordens murmurou: Viciados em Romances Históricos −
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− Vocês nunca vão precisar se preocupar enquanto eu estiver por perto. − Então vai ficar de olho nela enquanto estivermos fora. − O alívio do rapaz era evidente. − Posso muito bem cuidar de mim mesma − protestou Rebecca, olhando de um para outro. − Mas a senhora não precisa − George garantiu-lhe − Se precisar de alguma coisa, é só pedir ao tenente Porter. − Serei sempre o seu servo. − Tirando o chapéu da cabeça, o ajudante-de-ordens fez uma galante reverência. Rebecca já ia se aborrecer ao retrucar, quando Brian de a ordem de montar. Depois de beijar o rosto da esposa, e sorriu para Rebecca. − Mantenha Flora ocupada enquanto eu estiver fora. − Farei o possível. − Retribuindo-lhe o sorriso, ela fico ao lado da amiga. − Deus o acompanhe, Brian − gritou Flora. – Deus acompanhe a todos vocês. − Eles não são belos? − alvoroçou-se Amy Little. Aproximando-se Aproximando-se das mulheres, ela ficou observando as duas colunas compridas se afastarem, com o tilintar do equipamento. − É uma pena que não usem o uniforme de passeio em campanha. Nem sequer usam uma insígnia, de modo que não se sabe quem é o oficial e quem é o praça. − A insígnia chama a atenção e faz deles um alvo respondeu Flora, preocupada. − En Entã tãoo es está tá bem. bem. Eles Eles serã serãoo semp sempre re os ca cava vale leir iros os da prad pradar aria iass − a jove jovem m ad admi miti tiuu romanticamente. À frente da coluna, a companhia de Brian saudou o coronel e começou a cantar uma canção falando da ama, deixada para trás. Apesar da poeira, Rebecca avistou Injun Jack do outro lado da estrada, no pátio, com a testa franzida enquanto observava a partida dos cavaleiros. Sua expressão se tornou ainda mais fechada quando Derward Anderson aproximou-se dele. Girando o cavalo, o batedor rumou para o estábulo, quase atropelando o jornalista no caminho. Ele deixou ver a expressão de desaprovação de Rebecca. As mulheres observaram o andamento da patrulha até eles se tornassem pontos no horizonte e os sons da canção desaparecessem a distância. Então Rebecca disse gentilmente: − Vamos, Flora. Vou acompanhá-la até em casa. O forte estava em silêncio quando as duas mulheres atravessaram o pátio em direção à rua dos Oficiais. Mal se ouviam algumas vozes, e ainda assim abafadas. Das cocheiras vinha o lamento dos spirituals,
cantados pelos famosos soldados negros do capitão Graham, enquanto tratavam de seus cavalos. Viciados em Romances Históricos −
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− Bom dia, minhas jovens − cumprimentou-as o doutor Trotter a caminho de sua inspeção diária dos feridos. − Vi a saída dos rapazes comandados por seu marido, senhora Mackey. Ele é um excelente oficial. − Obrigada. − A esposa do capitão sorriu agradeci agradecida. da. − Imagino que esteja interessada em saber notícias de seu paciente, Rebecca. − Como está o soldado Greeley esta manhã? − Eu lhe dei láudano na noite passada e ele ainda está dormindo. Mas deve acordar logo. Quer que lhe mande avisar? − Por favor. − E, Rebecca-Perfeita... − O médico hesitou antes de deixá-las. − Acha que poderia ajudar o sargento Unger a levantar os estoques de remédios e equipamentos? Eu poderia pedir que um enfermeiro o ajudasse, mas você sabe quantos "voluntários" eu tenho. A maioria são homens dos quais os sargentos querem se livrar. Não posso confiar neles no que se refere ao uísque e muito menos o láudano. − Vou assim que puder, doutor. − Pode ir agora, se quiser − sugeriu Flora ao rretomarem etomarem o caminho. − Eu devia visitar a enfermaria. Acho que o soldado Greeley é uma dos homens de Brian. Mas não posso ir hoje. − Não precisa ir − disse-lhe Rebecca gentilmente. − Até em casa? Ou será que prefere ir para casa? − Não sei − respondeu Flora, diminuindo o passo. Talvez eu vá mais tarde ajudar você colocar os objetos para fora. Gosto de me manter ocupada quando Brian está fora. − Pois então tenha cuidado − advertiu-a Rebecca, sorrindo, − ou acabará limpando todos aqueles bibelôs da lareira. Ao dar a volta na esquina do estábulo, Jack viu Rebecca, e a amiga no pátio. Era uma cortesia mais do que comum oferecer-se a acompanhá-las a seu destino, considerou. Apressando o passo, ele seguiu em direção às duas. Alheias a sua aproximação, elas continuaram a conversa. − Onde está seu vestido de luto? − quis saber Flora, notando pela primeira vez o vestido azul-escuro que Rebecca usava. − No cesto de costura. − Eu poderia oferecer-me para ajudá-la a remendá-lo, mas você sabe como eu sou uma negação em Viciados em Romances Históricos −
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matéria de costura. − Não acho que ele possa ser remendado. O vestido ficou destruído. − Como? − Cheguei muito perto do fogo na grama. – Rebecca tentou evitar as perguntas que na certa se seguiriam. Injun Jack percebeu a tempo e apagou o fogo. Flora arregalou os olhos castanhos. − Você podia ter-se queimado. E Injun Jack. − Por favor, não me venha com sermões a respeito de Injun Jack − Rebecca protestou amargamente. amargamente. − O tenente Davis já me alertou que ele não é uma companhia agradável. E estou inclinada a acreditar. Jack ouviu seu nome ser mencionado e apressou-se a encurtar a distância. − O que mais ele lhe fez, além de salvar sua vida? − indagou a loura. − Nada... É só que... − Atrás delas, Jack sorriu e Rebecca hesitou. − Bem, ele não é exatamente o tipo homem... − O tipo de homem bonito? − indagou Flora, provocando um sorriso largo em Jack. Rebecca a ignorou. − Ele gritou comigo e disse que eu lhe dei o maior susto que já teve em dez anos de vida. − Brian sempre grita comigo quando acha que fiz alguma coisa perigosa − aconselhou a outra mulher. − Pelo menos não tentou se engraçar com voce. Pronto a interromper a escuta, Jack abriu a boca para chamá-las, mas silenciou ao ouvir as palavras seguintes de Flora. − Imagino que você não se importasse se tivesse acontecido com Prissy Porter. − Ele dirigiu um olhar malicioso a Rebecca. − Sally March me contou que ele a pediu em casamento. − Ela também não lhe disse que eu recusei? – retrucou Rebecca, exasperada. − Ela disse − concordou Flora, embaraçada. − E eu gostei. Não acho que Francis seria o marido certo para você. − E eu não acho que nenhum homem seja. Duvido que me case outra vez. − Um tipo alto, bonito e forte pode fazer você mudar de idéia − predisse a loura. − Não, a menos menos que seja alto, bonito, bonito, fort fortee e amáv amável el assegurou assegurou Rebe Rebecca cca com amargor, amargor, sorrindo sorrindo a contragosto, contragost o, pois a amiga dera uma risada. − Se eu por acaso me casar de novo, terá de ser por amor. Viciados em Romances Históricos −
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Sem ser visto pelas mulheres, Jack tomou o caminho do hospital, com uma expressão pensativa. Muitas horas depois, Jack se encontrava em frente à varanda de Rebecca, olhando para o pátio do forte. A porta estava fechada e ninguém atendera às suas batidas, mas ele relutava em deixar aquela sombra agradável. O sol do meio-dia estava tão quente, que parecia refletir-se na terra batida da rua em volta do quadrado. A não ser por uns ruidos abafados nos salões do rancho, o único sinal de vida nas proximidades era um falcão voando preguiçosamente no céu. Ouvindo um barulho, ele deu a volta na casa e encontrou Rebecca no quintal. Ela murmurava uma canção com os prendedores de roupas presos pelos dentes, enquanto pendurava fronhas imaculadamente brancas no varal. Usava um vestido de algodão estampado com as mangas arregaçadas arrega çadas cuja gola entreaberta estava molhada de suor. Enxugando a testa com as costas da mão, ela parecia bem menos formal e até mesmo acessível. Ele bateu o pé no chão para indicar sua presença. − Volte para casa, Phoebe. − Inclinada sobre o cesto de roupas, ela não havia olhado. − Não tenho tempo par contar uma história agora. − Quem sabe eu possa lhe contar uma então – sugeriu Jack com um sorriso. − Senhor Bellamy! − Levantando-se de um salto, ela deixou cair os prendedores da boca. − Você me assustou. − Não era o que pretendia. O doutor Trotter mandou-me buscá-la. − O Teddy já acordou? − indagou ela, esperançosa. − Acordou e está dando trabalho. Ele quer ser atendido pelo anjo ianque. Se puder vir, acho que o doutor vai gostar. − Só falta esta peça. − Ela desenrolou um lençol do cesto. − Vou logo em seguida. − Deixe que eu ajudo. − Pegando o lençol, ele o estende sobre o fio do varal, segurando-o para que ela colocasse os prendedores. O tecido úmido agitou-se ao sabor do vento. − Senhor Bellamy − começou ela. − A respeito de ontem à noite... − Eu não diria nada em seu lugar, a menos que queira que sua vizinha ouça − murmurou ele, lançando um olhar significativo em direção à janela da casa ao lado, de onde Sally March com certeza os observava. − Ela já me considera fora do exército – confidenciou Rebecca, divertida. − Imagine o que pensa de você. − Ela deve pensar que, além de guia e batedor, também lavo roupas. − Com um sorriso, Jack pegou os dois prendedores extras da mão dela e firmou bem o lençol para que não fosse levado pelo incansável vent ventoo do Kansas. − Estamos prontos? Viciados em Romances Históricos −
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Tirando o avental, ela baixou os olhos em dúvida para o vestido úmido. − Eu devia trocar de roupa. − Quando eu saí, o Teddy estava de mau humor − advertiu ele − e aborrecendo todo mundo. − Então deixe-me pegar um chapéu. Jack sorriu quando ela voltou com as mangas do vestido abotoadas e a gola fechada. Dando-lhe o braço, conduziu-a por entre as casas até a rua. Depois que haviam se afastado a uma distância segura dos ouvidos de Sally, ela tentou de novo: − Senhor Bellamy, eu devo... − Não acha que depois de termos estendido roupas juntos poderíamos ser Jack e Becky? − Becky não − protestou ela. − Então Rebecca? − Tudo bem... Jack − respondeu ela com um sorriso. − Só queria lhe dizer que fiquei muito agradecida pelo que fez ontem à noite. − Quando a beijei? − Senhor Bellamy! − Instintivamente, ela olhou ao redor para ver se alguém mais tinha escutado. − Estava me referindo ao fogo em meu vestido. Eu podia ter-me queimado se não tivesse apagado na hora. − Um bom batedor sempre age rápido... em caso de incêndio ou de beijo. − Ele fez uma expressão séria. − Você é mesmo impossível − murmurou ela. − Você devia ir se acostumando com as brincadeiras sugeriu ele, ajudando-a a subir os degraus para o hospital. − É tudo do que Teddy precisa no momento. − Ora, ora, que belo casal. − O soldado ferido comentou inocentemente quando eles se aproximaram da cama. Ela é ainda mais bonita do que eu me lembrava. Obrigado por trazê-la, Jack. − Senhora Emerson − falou o batedor formalmente
permita-me aapresentar-lhe presentar-lhe o soldado raso
Theodore Greeley. − Muito prazer, soldado Greeley. − Muito prazer, senhora Emerson. Gostaria de sentar-se? − Ele apontou para a cadeira que ela já ocupara. − Estou satisfeito por vir, pois assim posso agradecer por sua gentileza... ainda que tenha tentado Viciados em Romances Históricos −
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me envenenar. − Eu não a trouxe para que você a insultasse − repreendeu Jack, despenteando o cabelo do rapaz. − Eu sinto muito. − Teddy desculpo desculpou-se u-se meio sem jeito e sorriu. − Mesmo assim queria agradecer-lhe. − Não tem de quê. − Rebecca não resistiu a continuar em tom de brincadeira. − Diga, além dos efeitos do veneno como está sua "pata" hoje? O sorriso de Teddy se alargou. − Mais dolorida que a de um gato escaldado, mas o doutor me disse que está bem melhor, considerando que está faltando um pedaço dela. − Você vai ficar novinho em folha logo, logo − ela o confortou. − Assim espero. E pode me chamar de Teddy, por favor. − Se me chamar de Rebecca. − Rebecca. − Ele experimentou. − Bonito nome, não é, Jack? − Tão bonito quanto a dona − concordou ele, examinando-a de alto a baixo. − Mas eu acho que vou chamá-la de Reb – declarou Teddy. − Você não é uma ianque de verdade, é, Reb? − Sou da Pensilvânia. − A resposta foi acompanhada por uma explosão de riso de Jack. − Nasceu ali por acaso. − O soldado desfez da resposta dela com o gesto. − Vamos perdoá-la, não vamos? − Se ela perdoar nosso comportamento vergonhoso quando ela nos tratou − propôs Jack. − Eu admito que estava um pouco alto − concordou Teddy. − Mas quando você me deu aquele remédio, pensei que era melhor Jack me levar de volta aos índios. Acho que o uísque deles é melhor que o do exército. – Depois de uma pausa, ele acrescentou para Jack: − Mas o toucinho não poderia ser mais gostoso. Experimentei hoje no café da manhã. O doutor disse que foi você quem deu. − Ganhei na corrida de cavalos. − Minha nossa! − Teddy jogou-se entusiasmado no travesseiro. − Eu devia estar lá! − Eu gostaria mesmo que estivesse − admitiu Jack fingindo-se de sério. − Não teve a menor graça sem você comendo poeira atrás de mim. − Um dia desses, vou ganhar de você. Você vai engolir essas palavras com um bocado de areia. − O rapaz riu, divertido. − Belas palavras, Theodore − falou Jack. Viciados em Romances Históricos −
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Controlando o riso, Teddy voltou-se para Rebecca. − Está vendo como ele me trata, agora que sabe que vou sobreviver? − Você nunca esteve em perigo de vida, rapaz − comentou Jack quase com ternura. − Não até você me socorrer. − Teddy olhou-o com curiosidade. − Eu devia lhe agradecer por isso, não fosse por ter saído ferido em minha primeira luta de verdade. − Podia ter acontecido com qualquer um. Os guerreiros cheyennes não gostam de ser derrubados do cavalo. E você estava perto demais quando ele se levantou. Só não sei o que vou dizer à sua mãe. − E à vovó − acrescentou o soldado sombrio. − Vocês são parentes? − indagou Rebecca, notando a semelhança entre eles. − Somo primos − confirmou Teddy. − Esse jovem malandro entrou para o exército para conhecer o Oeste e acabou no Forte Chamberlain − explicou Jack, resignado. − Desde então tenho tomado conta dele. − Eu estava indo muito bem até ontem – murmurou Teddy, baixando os olhos: − O ataque foi há três dias, meu rapaz − corrigiu-o Jack em voz baixa. − Agora, por que não descansa um pouco? − Mas a visita ainda não terminou. − Nós voltaremos logo − prometeu Rebecca. − Vocês dois? − Teddy recostou-se no travesseiro. − Nós dois − confirmou Jack. − Vou trazê-la comigo. − Obrigado, primo. Até logo por hora, Reb – murmurou Teddy, sonolento. Jack esperou no vestíbulo enquanto Rebecca fez uma ronda, parando brevemente em cada cama da enfermaria. − Posso acompanhá-la até em casa? − ele indagou quando ela voltou para junto dele. Antes que ela pudesse responder, o sargento Unger acenou para ela. − Ah, senhorita Rebecca, veio para me ajudar no inventário? − Não veio, não − informou Jack secamente. – Ela está indo para casa e vou acompanhá-la. − Obrigada, senhor Bellamy − exclamou ela, lembrando-se de sua promessa ao médico − mas acho que vou ficar mais um pouco. − Como queira, dona − murmurou ele. Então, com um olhar pouco amistoso para o intendente do Viciados em Romances Históricos −
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hospital, ele foi embora. Pelo resto da tarde, enquanto o sargento Unger contava o número de garrafas vazias de uísque e de roupas na despensa, Rebecca levantava os frascos de iodo, álcool, quinino e óleo de castor e pensava no homem conhecido como Injun Jack. Ele a deixava confusa. Seu comportamento parecia mudar de acordo com o momento... e não apenas em relação a ela. Naquele dia mesmo, ela presenciara sua agressividade contra Derward Anderson, sua preo preocup cupaçã açãoo e afe afetuo tuosid sidade ade com Teddy Teddy e agora agora sua sua rai raiva va contra contra o inten intenden dente te do hos hospit pital al.. Ele era completamente imprevisível. A noite chegava, quando Rebecca terminou o serviço se dirigiu para a entrada do hospital. − Acabou? − soou uma voz da sombra. Assustada, ela se voltou. − Ficou esperando todo esse tempo? − Não, eu voltei. Três vezes − confessou Jack. Inexplicavelmente agradecida, ela pegou o braço que ele lhe oferecia. Acalmados pelo coro vespertino dos sapos no rio atrás do forte, eles deram a volta no pátio. Ao chegarem ao algodoeiro, Jack parou e a empurrou para as sombras sob a árvore. − Psiu! − advertiu. − Não quero que ele me veja. Rebecca observou Derward Anderson que regressava uma caminhada na pradaria com o caderno de esboços mão. − Por que não quer que ele o veja? − indagou ela quando o jornalista passou. − Porque ele está determinado a escrever a história da minha vida. − A respiração de Jack chegou quente ao ouvido dela. Percebendo que o batedor segurava sua mão, ela tentou retirá-la, mas ele não a soltou até saírem de baixo da árvore. − Deixe ver se entendi − começou ela enquanto retomavam a caminhada. − O senhor Anderson está querendo saber da sua vida e você não quer contar a ele. E isso? − É. Não gosto de falar sobre mim mesmo. − Então deixa que todos os outros falem a seu respeito. − O que está querendo dizer? − indagou ele, detendo o passo por um momento. − Desde a hora em que o conheci, só ouvi rumores a seu respeito. Injun Jack é um selvagem. Injun Jack é estranho. Injun Jack é um perigo. − O que a faz pensar que sejam rumores? − Ele sorriu. Viciados em Romances Históricos −
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Ela rolou os olhos para o céu exasperada. − Como é que alguém poderia conhecê-lo conhecê-lo?? − E quem quer conhecer? − Ele franziu a testa. − Você? Ela inclinou a cabeça em silêncio e ele sugeriu de bom humor: − Está bem, você me conta alguma coisa sobre sua vida e eu lhe conto sobre a minha. − O que você quer saber? − indagou ela, subitamente preocupada. − O que uma garota da Pensilvânia está fazendo no Forte Chamberlain. − Você já sabe. Vim aqui com meu marido. − Então por que uma viúva da Pensilvânia está querendo ficar aqui? − ele a desafiou. − Eu gosto do Kansas e realmente não tenho um motivo para voltar. − Não tem família? − Tenho um meio-irmão. Mas vim para cá começar uma nova vida − ela apressou-se a dizer. − E é por isso que quero ficar. − Sozinha? − caçoou ele. − Uma mulher? − Eu me viro. − Duvido que consiga. Aposto que o Quiller disse que tinha de ir embora. Não há lugar par uma viúva num posto militar. − Para seu governo... e do coronel... eu não preciso viver no forte − ela explodiu. − Só preciso ficar aqui até... ter saldado meus compromissos. Assim que minhas finanças estiverem em ordem e eu começar a receber a pensão de meu marido, pretendo começar algum tipo de negócio, talvez em Chamberlain. − Já esteve em Chamberlain? − indagou Jack com toda a paciência. − Paul me levou lá uma vez. Sei que é um lugar pequeno e sem conforto, mas... − Não tem conforto nenhum. Com a aproximação da ferrovia, a população tem crescido às centenas, do último mês para cá. Em pouco tempo será mais um buraco infernal para se viver... e não um lugar para uma dama − ele concluiu. − É melhor voltar para a Pensilvânia. − Vou ficar aqui − insistiu ela. − Encontrarei um jeito. − O que precisa encontrar é um homem − ele lhe disse sério. − Se o Oeste já é duro para uma mulher, imagina para uma mulher sozinha. Viciados em Romances Históricos −
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− Não pretendo me casar de novo. − Nem mesmo caso apareça um tipo alto, forte, bonito e amável? − caçoou ele, recordando as palavras que ouvir, de sua boca. Rebecca desvencilhou-se dele, olhando-o chocada. − Você ficou escutando uma conversa particular? − Aconteceu de eu estar por perto quando vocês falava − explicou ele, imperturbável. − E mesmo assim achou que devia ouvir? − Não percebeu que nada é particular aqui? Nem suas conversas, nem suas dívidas e provavelmente nem o beijo de ontem à noite. Neste forte, você sempre terá uma porção de juízes. − Ele indicou uma fileira de rostos que ela não notara até então, observando-os das varandas da rua dos Oficiais. − Não me importo a mínima com o que falam eles sabem disso, mas aquela gente vai condenar você daqui por diante por andar comigo. − Um erro que não tomarei a cometer − informou ela encalorada e encaminhou-se para sua casa. − Calma, calma, Rebecca. − Alcançando-a em duas passadas, Jack segurou-a pelo braço. Ela se soltou com um safanão. − Eu nunca perco a calma. − Estou vendo − retrucou ele com sarcasmo. − Só com você! − Ela o fuzilou com o olhar. − Foi você quem começou. Você me procurou no hospital hoje. Você me beijou... duas vezes. − E você retribuiu meus beijos... nas duas vezes − protestou ele indignado. Ela apertou os lábios de raiva. − Jack Bellamy, eu nunca... − Aí es está tá vo você cê,, senh senhor oraa Em Emer erso son! n! − soou soou a voz voz diss dissona onant ntee de Ma Mala lach chi, i, inte interr rrom ompe pend ndoo sua sua argumentação. O condutor de mulas estava na varanda dela, sorrindo afavelmente, com um naco de fumo entre os dentes. − Eu estava a ponto de ir procurá-la. − Senhor Middlefield, que prazer em vê-lo − Rebecca cumprimentou cumprimentou seu visitante. Por sobre o ombro, acrescentou friamente: − Boa noite, senhor Bellamy, e obrigado pela instrutiva conversa. Jack observou sua partida por entre os olhos semicerrados. Então afastou-se, dando as costas para os rostos ávidos que os observavam da varanda vizinha. Viciados em Romances Históricos −
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SEIS A noite estava quase tão clara quanto o dia quando Jack retomou a seus alojamentos vindo da casa do coronel. Soltando uma baforada do charuto, sentia-se bem alimentado e razoavelmente satisfeito. O jantar com os visitantes da ferrovia acabara sendo agradável. Gostara do champanhe, do faisão, do conhaque, jogara umas partidas de pôquer e se divertira na companhia de outros homens. − O que você está fazendo aqui? − indagou, ao encontrar Malachi em frente ao alojamento de hóspedes. − Pensei que estava visitando a senhora Emerson. − E estava, aí é que está o problema − respondeu o homem, com má vontade. − Tive tanta chance quanto um gato numa caçada de peru. − Do que você está falando? − Da viuvinha. Ela quer ir comigo ao acampamento acampamento da ferrovia amanhã. − Está loco, homem? − Jack franziu o cenho em meio a uma baforada do charuto. − Eu disse a ela que a minha carroça não é de passeio − lamentou-se o homem. − Mas ela nem se importou. E falei sobre os perigos da pradaria. Ela disse que vai nem que seja a pé. Eu disse que aquele não é um lugar par uma dama. Ela respondeu que estará segura comigo. − Por que você simplesmente não disse "não"? − Eu disse. − O condutor abanou a cabeça desconsolado. − Mas ela veio me chamando de senhor Middlefield daquele jeito... e acabou me confundindo, pode acreditar. − E por que ela quer ir lá? − Não sei. − Pois eu acho que sei. − Jack examinou pensativamente a cinza do charuto. − Ela quer arrumar um emprego. − No acampamento da ferrovia? − Malachi quase engasgou. − Você vai ter de me ajudar, Jack. − O que quer que eu faça, que a amarre ao pé da cama? − Acha que iria adiantar? − o condutor olhou-o esperançoso. Jack abanou a cabeça em silêncio. − Então você vai ter de ir comigo − pediu Malachi. − Não vou ter tempo de encher os barris de água e Viciados em Romances Históricos −
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tomar conta da senhorita Rebecca. − Está bem, eu vou. − Jack deu um sorriso sombrio. − Mas ela não vai gostar. − Mas eu vou. − Malachi suspirou de alívio. − Tenho medo de ela me dar uma daqueles sorrisos e me mandar virar à esquerda, e então irmos parar na Califórnia. Rebecca acabou de prender o chapéu à cabeça com dedos trêmulos. Estava quase amanhecendo e o senhor Middlefield devia estar esperando por ela. Sua única esperança era que estivesse fazendo a coisa certa. Pelo menos era o que parecia. Precisava de um emprego e a ferrovia devia precisar de cozinheiras. Havia preparado boas refeições para a família por quase toda a sua vida. Durante as colheitas, cozinhara três vezes por dia para os trabalhadores. Com certeza sua experiência serviria para alguma coisa. Examinou seu pálido reflexo no espelho do lavatório. Sua aparência era simples e prática, da ponta das botas gastas até o chapéu discreto. Não tinha mais nenhum vestido de luto. Esperava que o modesto vestido marrom lhe desse um ar de eficiente e predisposta o suficiente para ser contratada. Ajeitando o xale sobre os ombros, pegou sua bolsa. Embora tivesse pensado a respeito, não deixaria um bilhete para Flora. Seria mais fácil explicar seu gesto quando, tivesse a justificativa de um trabalho. No pátio das carroças, dez delas alinhavam-se carregadas e prontas para partir, com a cobertura de lona branca tingida de vermelho pelo sol nascente. O movimento ruidoso das mulas quebrava o silêncio do amanhecer, contrastando com os preparativos organizados no local. Tendo verificado os arreios das doze mulas de suas parelhas, Malachi inspecionava os tirantes de ferro da carroça, enquanto Jack bebia um café ao lado de uma pequena fogueira. − Acha que ela virá? − Malachi ergueu a cabeça e olhou ao redor esperançosamente. − Ela vem vindo. − Jack indicou com um movimento de cabeça a delgada figura que atravessava o pátio. O que ela havia feito consigo mesma?, indagou-se ele ao observá-la se aproximar. Ela parecia tão comum quanto a esposa de um missionário numa reserva indígena. − Maldição − praguejou o condutor. Semicerrando os olhos ante o lusco-fusco do amanhecer, Rebecca divisou Malachi com um homem alto, provavelmente um de seus auxiliares, ao lado da quinta carroça da coluna. O condutor desapareceu atrás da carroça. O outro homem ficou no lugar sem se mover, observando sua chegada. Não podia ser! Ela olhou para Injun Jack. Viciados em Romances Históricos −
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− O que você está fazendo aqui? − Eu poderia lhe fazer a mesma pergunta – respondeu ele friamente. − Até onde sei, uma dama não tem o que fazer num pátio de carroças. − Bem, eu tenho − insistiu ela. − Eu também. − Envolvendo a caneca de café com seu lenço de pescoço, ele estendeu-a a ela. − Quer um pouco? − Eu trouxe chá. − Não temos tempo para um piquenique, Rebecca – ele informou-a secamente. − Quer um café antes de partirmos. E quem sabe um biscoito de campanha? − Não, obrigada. − Como queira. − Derramando o conteúdo da xícara sobre o fogo, ele chutou a terra sobre as brasas para certeza de que haviam apagado. Por toda a fileira de roças repetiu-se o mesmo procedimento. − Montar − soou a ordem na frente da caravana. − Deixe-me ajudá-la, senhorita Rebecca. – Malachi apresentou-se com o chapéu na mão. − Bom dia, senhor Middlefield. − Ela sorriu para ele. − A manhã não está linda? − A face enrugada do homem tornou-se mais vermelha que uma flanela de camisa. O pouco cabelo que lhe restava fora esmeradamente penteado para trás, a barba dava sinais de ter sido escanhoada recentemente e ele tinha um cheiro suspeito de rum barato. Segurando seu cestinho, ele a ajudou a galgar o alto estribo da carroça. Rebecca subiu com a maior elegância que lhe foi possível e segurou a barra do vestido atrás de si. Endireitando o corpo, ela olhou para o lado e bateu a cabeça em uma das traves de madeira que sustentavam a lona da cobertura. − Aquela cadeira é sua − informou Malachi, estendendo-lhe o cestinho. − Obrigada. ... − Ao contrário das carroças de fazenda, aquela não tinha um banco na frente. O condutor colocara uma cadeira de cozinha atrás das parelhas de animais. A carga de barris de madeira para água acomodava-se acomodava-se ao redor. − Mas onde o senhor vai sentar? − Normalmente vou montado na última mula aqui− explicou o homem, subindo na carroça − mas hoje vou descer um daqueles barrilzinhos e fazer-lhe companhia. No outro lado da carroça, Jack guardou as xícaras e o bule de café num armarinho lateral lateral.. Ele rolou os olhos para o alto ao ouvi-la dizer: − Posso lhe oferecer uma rosquinha, senhor Middlefield? Viciados em Romances Históricos −
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− Obrigado, dona − o condutor respondeu com entusiasmo. − Quer um pouco de chá? Será que ela pretendia fazer uma festa do chá em plena pradaria? Abanando a cabeça, Jack montou. − Vamos andando − a ordem passou de carroça a carroça. − Vamos andando − gritou Malachi sobre o ombro, tocando suas parelha parelhass com o relho. Ao lado dele, Rebecca soltou uma exclamação exclamação quando o liquido quente respingou em seu colo da jarra que abrira, molhando as calças compridas que usava sob a saia. − Agora não vai dar para tomar chá, dona − advertiu-a − Tem razão. − Ela tirou os olhos da mancha na roupa no momento em que Jack passava e seus olhares se voltando-se na sela, ele sorriu-lhe. − Sua aventura parece que não começou muito bem. − Tenho certeza de que estará seco quando chegarmos ao acampamento, senhor Bellamy. Estavam de volta ao "senhor Bellamy". Jack virou o rosto sombrio para a frente. Por que se incomodava? Ele a advertira sobre Chamberlain, e mesmo assim ela ia para acampamento da ferrovia. Da frigideira direto para o fogo, considerou com ironia. Talvez mudasse de idéia quando vi se o lugar, mas era mais provável que não, do jeito que e teimosa. Ou então quem sabe ele e Malachi deveriam deixá-la amarrada dentro da carroça até a hora de voltar. até que não era má idéia. − Vamos, mulas! − Malachi bateu com o relho sobre dorso dos animais enquanto saíam do forte. O dia amanhecia. amanheci a. − Ande, Daisy! À medida que o sol subia e o céu se convertia nu abóbada azul-clara, as parelhas de mulas se encaminhava para o acampamento da ferrovia. À frente deles, a trilha que seguiam perdia-se ao longe em direção à pradaria. O tapete aveludado do pasto dos búfalos agitava-se ao vento em ambos os lados do caminho. Aqui e ali, uma grande lebre americana saltava adiante no caminho, enquanto andorinhas piavam acima de suas cabeças. Depois de meia hora se arrastando, a caravana ainda estava chegando chegando a Big Creek. Fork. O rio era raso e suas margens arenosas haviam sido aplainadas pelas freqüentes idas e vindas constantes. A passagem era segura, mas mesmo assim as carroças se aproximaram com cautela, atravessando-a uma de cada vez. Gritando com os animais, condutores tocavam suas parelhas com o estalar dos chicotes e relhos. − Agüente firme, senhorita Rebecca − instruiu Malachi as mão firmes segurando os relhos. Pouco à frente deles, Jack adiantara-se adiantara-se com Old Jo e parara no meio da correnteza. − O que ele está fazendo? Viciados em Romances Históricos −
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− Mantendo as parelhas na trilha − respondeu Malachi − Vamos agora, Daisy, Jimbo − ele gritava, agitando o chicote sobre a cabeça dos animais. − Ande, Chiquita,, sua preguiçosa, ande, ande, eia! Chiquita A carroça entrou no vau e a carga se agitou. Os barris escorregaram e foram de encontro à espádua da cadeira, fazendo Rebecca saltar saltar no assento e sentir todos os ossos de seu corpo. As mulas atravessaram o rio raso, molhando-se até quase a barriga. − Como está se saindo até aqui? − Jack dirigiu-lhe um sorriso quando a carroça passou por ele. − Bem, obrigada. − Ela inclinou a cabeça, segurando-se nas laterais para se equilibrar. equilibrar. Na extremidade norte do rio, a passagem tornou-se mais dificil. Embora o acampamento estivesse a apenas seis quilômetros dali, as mulas ainda tinham praticamente duas horas de árduo trabalho pela frente. Como o dia tivesse esquentado, Rebecca Rebecca tirou o xale. O orvalho da manhã secara e a poeira começava a subir no ar. A meio caminho dentro da caravana, ela sentiu que estava respirando e comendo poeira. Seus dentes rangiam ao se tocar e seu rosto achava-se coberto de pó. O suor escorria por suas costas enquanto a água se agitava, fresca porém inacessível, inacessível, nos barris atrás. − Vai fazer um belo dia hoje − comentou Malachi. Mas quente como o inferno. − Nem fale. − A atenção dela estava em Jack, cavalgando à frente. Notando que ele protegia o braço direito, Imaginou como estaria se sentindo, mas não iria perguntar. Quanto menos conversassem, melhor. Já estava farta de seus comentários íntimos e conselhos fora de hora. Nunca devia tê-lo convidado para dentro de casa, nem permitido que a beijasse... − Vai ficar irritada com o Jack o dia inteiro? – indagou Malachi − Ele lhe disse isso? − Ela olhou para as costas dele. − Nem precisava. Eu percebo. − Eu sei que o senhor Bellamy é seu amigo − ela se segurou quando a carroça deu um solavanco, ao passar sobre touceira de capim. − Eu e ele apenas não nos entendemos. − Que pena! Eu gosto de vocês dois. Sei que o Jack dá a impressão de não se preocupar com nada nem ninguém mas isso é conversa. Ele é um bom amigo e um bom homem alguém que é bom a gente ter por perto numa luta. − Ele com certeza é muito brigão. − Ela fungou desprezo. − Não diga isso − o condutor aconselhou. – Essa é uma terra difícil, minha jovem. Aqui é preciso brigar para se conseguir alguma coisa. As vezes é preciso brigar para manter o que se tem. Não vejo nada de errado nisso. Viciados em Romances Históricos −
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− Não. − Ela suspirou, resignada. − Eu acho que estou lutando, num certo sentido, apenas para ficar. − É verdade. − A risada do condutor ecoou na caminho. − Vi como lutou para conseguir o que queria ontem à noite. O martelar dos ferreiros chegou até eles pelo vento quando as carroças começaram a se aproximar do acampam da ferrovia. Rebecca estava morrendo de calor, exausta ansiando por chegar. Dois meses antes, Paul a levara a um acampamento de agrimensores a oeste do forte. Instalados ali com to conforto, os engenheiros haviam lhes oferecido sua melhor hospitalidade, tratando sua hóspede feminina como se fosse uma rainha. Em meio à rudeza do lugar, eles tiveram banquete de búfalo assado com os mais finos vinhos. A primeira coisa que procuraria quando chegassem: acampamento seria um banheiro numa das barracas cavalheiros. Precisava se refrescar antes de procurar emprego. Sentando-se na ponta da cadeira, esperou ansiosamente ansiosamente pela primeira visão do lugar que deveria ser novo lar. Sua expressão confiante se abalou quando se aproxiram do acampamento da ferrovia, que se espalhava dois lados dos trilhos reluzentes. À beira destes, equipes de trabalhadores ferviam em intensa atividade atividade para engatar os vagonetes com trilhos, engates, cravos e parafusos serem levados para o trem de serviço. Nuvens de moscas voavam por toda a parte. Os homens, rudes e mal barbeados, obstruíram a estrada estreita, interessados ao verem a chegada das carroças com água fresca. Ao avistar Rebecca, alguns deles piscavam e faziam comentários maledicentes enquanto a carroça de Malachi passava. Ela se encolheu na semi-escuridão do interior da carroça, criando coragem para o que estava por vir. Jack voltou-se em sua direção, aborrecido. A visita faria mais por mostrar a ela sobre as chances de uma mulher sozinha que qualquer coisa que ele pudesse dizer. Ele só esperava que a experiência a demovesse de seus planos. Em meio às imprecações e ao estalar dos arreios, a fileira de carroças parou em frente ao depósito de suprimentos. supriment os. Rebecca perdeu a fala ante o verdadeiro rosário de palavrões que Malachi desfechou contra as mulas enquanto manobrava a carroça. − Desculpe, senhorita Rebecca − ele falou, envergonhado, depois de parar a carroça. − Mas essa é a única linguagem que as mulas entendem. Fazendo Rebecca saltar no assento e sentir todos os ossos de seu corpo. As mulas atravessaram o rio raso, molhando-se até quase a barriga. − Como está se saindo até aqui? − Jack dirigiu-lhe um sorriso quando a carroça passou por ele. − Bem, obrigada. − Ela inclinou a cabeça, segurando-se nas laterais para se equilibrar. equilibrar. Viciados em Romances Históricos −
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Na extremidade norte do rio, a passagem tornou-se mais difícil. Embora o acampamento estivesse a apenas seis quilômetros dali, as mulas ainda tinham praticamente duas horas de árduo trabalho pela frente. Como o dia tivesse esquentado, Rebecca Rebecca tirou o xale. O orvalho da manhã secara e a poeira começava a subir no ar. A meio caminho dentro da caravana, ela sentiu que estava respirando e comendo poeira. Seus dentes rangiam ao se tocar e seu rosto achava-se coberto de pó. O suor escorria por suas costas enquanto a água se agitava, fresca porém inacessível, inacessível, nos barris atrás. − Vai fazer um belo dia hoje − comentou Malachi. Mas quente como o inferno. − Nem fale. − A atenção dela estava em Jack, cavalgando à frente. Notando que ele protegia o braço direito, Imaginou como estaria se sentindo, mas não iria perguntar. Quanto menos conversassem, melhor. Já estava farta de seus comentários íntimos e conselhos fora de hora. Nunca devia tê-lo convidado para dentro de casa, nem permitido que a beijasse... − Vai ficar irritada com o Jack o dia inteiro? – indagou Malachi − Ele lhe disse isso? − Ela olhou para as costas dele. − Nem precisava. Eu percebo. − Eu sei que o senhor Bellamy é seu amigo − ela se segurou quando a carroça deu um solavanco, ao passar sobre touceira de capim. − Eu e ele apenas não nos entendemos. − Que pena! Eu gosto de vocês dois. Sei que o Jack dá a impressão de não se preocupar com nada nem ninguém mas isso é conversa. Ele é um bom amigo e um bom homem alguém que é bom a gente ter por perto numa luta. − Ele com certeza é muito brigão. − Ela fungou desprezo. − Não diga isso − o condutor aconselhou. – Essa é uma terra difícil, minha jovem. Aqui é preciso brigar para se conseguir alguma coisa. As vezes é preciso brigar para manter o que se tem. Não vejo nada de errado nisso. − Não. − Ela suspirou, resignada. − Eu acho que estou lutando, num certo sentido, apenas para ficar. − É verdade. − A risada do condutor ecoou na caminho. − Vi como lutou para conseguir o que queria ontem à noite. O martelar dos ferreiros chegou até eles pelo vento quando as carroças começaram a se aproximar do acampam da ferrovia. Rebecca estava morrendo de calor, exausta ansiando por chegar. Dois meses antes, Paul a levara a um acampamento de agrimensores a oeste do forte. Instalados ali com to conforto, os engenheiros haviam lhes oferecido sua melhor hospitalidade, tratando sua hóspede feminina como se fosse uma rainha. Em meio à rudeza do lugar, eles tiveram banquete de búfalo assado Viciados em Romances Históricos −
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com os mais finos vinhos. A primeira coisa que procuraria quando chegassem: acampamento seria um banheiro numa das barracas cavalheiros. Precisava se refrescar antes de procurar emprego. Sentando-se na ponta da cadeira, esperou ansiosamente ansiosamente pela primeira visão do lugar que deveria ser novo lar. Sua expressão confiante se abalou quando se aproximaram do acampamento da ferrovia, que se espalhava dois lados dos trilhos reluzentes. À beira destes, equipes de trabalhadores ferviam em intensa atividade para engatar os vagonetes com trilhos, engates, cravos e parafusos serem levados para o trem de serviço. Nuvens de moscas voavam por toda a parte. Os homens, rudes e mal barbeados, obstruíram a estrada estreita, estreita, interessados ao verem a chegada das carroças com água fresca. Ao avistar Rebecca, alguns deles piscavam e faziam comentários maledicentes enquanto a carroça de Malachi passava. Ela se encolheu na semi-escuridão do interior da carroça, criando coragem para o que estava por vir. Jack voltou-se em sua direção, aborrecido. A visita faria mais por mostrar a ela sobre as chances de uma mulher sozinha que qualquer coisa que ele pudesse dizer. Ele só esperava que a experiência a demovesse de seus planos. Em meio às imprecações e ao estalar dos arreios, a fileira de carroças parou em frente ao depósito de suprimentos. supriment os. Rebecca perdeu a fala ante o verdadeiro rosário de palavrões que Malachi desfechou contra as mulas enquanto manobrava a carroça. − Desculpe, senhorita Rebecca − ele falou, envergonhado, depois de parar a carroça. − Mas essa é a única linguagem que as mulas entendem. − Compreendo, senhor Middlefield − ela respondeu com delicadeza. Ele era, afinal de contas, seu anfitrião. – É tão... interessante. − E bem pouco criativo. − Conduzindo seu cavalo junto da carroça, Jack estendeu seu cantil a Rebecca. − Quer se limpar da poeira? − Obrigada. − Primeiro ela bebeu um pouco de água. Depois, umedecendo o lenço, devolveu o cantil e removeu a camada de pó do rosto. Jack desmontou e amarrou o cavalo na carroça. − Não gostaria de dar uma volta para esticar as pernas? − Eu vim aqui a negócios. − Ela aceitou a ajuda com relutância e inclinou-se para a lateral da carroça. será que já se esqueceu? − Eu gostaria que você tivesse esquecido. − Com naturalidade, ele passou o braço direito ao redor da Viciados em Romances Históricos −
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cintura dela e ergueu-a, pondo-a no chão com uma careta no momento em que sustentou-lhe sustentou-lhe todo o peso no braço ferido. O inicio de simpatia que ela começava a sentir por ele esvaiu com seu próximo comentário. − Sei o que está procurando Reb, mas essa viagem é uma perda de tempo. Desvencilhando-se Desvencil hando-se dele, ela sorriu para Malachi na charrete. − Vou sair para cuidar de meus assuntos, senhor Middlefield, e o encontro aqui em uma hora, se não se importa. − Estarei aqui. − O condutor lançou um olhar impotente para o batedor. − Vou com você − declarou-lhe Jack. − Não, obrigada. − Estará mais segura. − Você pode pensar que sou uma idiota, senhor Bellami, mas eu lhe garanto que não sou covarde. Estarei bem em plena luz do dia. − Dando meia-volta, ela encaminhou-se na direção da ferrovia. Jack observou-a com os olhos semicerrados. Com a cabeça erguida, Rebecca seguiu direto pela rua principal do acampamento, o vestido ondulando mais provocativamente do que ela poderia imaginar. Os homens lhe abriam caminho enquanto ela passava, surpresos demais com a presença uma mulher decente para ter outra reação, num primeiro momento. Então, rindo-se uns para os outros, eles começaram a seguila. Praguejando em voz baixa, Jack juntou-se à procissão. Ele era muito mais idiota do que ela, concluiu de mau-humor, mas precisava certificar-se de que nada de mau ocorreria. Observando suas formas sensuais, ele a seguia a distância. Rebecca se regozijava consigo mesma. Afinal de contas a experiência não parecia assim tão difícil difícil.. Era como sempre pensara: se você se comporta como uma dama outros irão tratá-la como tal. Até ali, Jack fora o único a desafiar aquela regra. Havia pouco, ele fizera parecer que ela seria cercada por um bando de tarados, mal pusesse os pés no acampamento. É verdade que dava para notar a curiosidade dos homens a seu respeito, mas bastava manter o olhar firme no caminho a sua frente que nenhum a molestava. Ninguém tentara nem mesmo se aproximar. Sem perceber o batalhão de homens atrás de si, ela entrou por um desvio e ficou impressionada com o tamanho da barraca com que se deparou. A barraca central do acampamento da ferrovia cobria com certeza uns mil metros quadrados de terreno e abrigava o bar e o salão de jogos da companhia. Embora não fosse ainda meio-dia, de lá de dentro chegavam os acordes de um piano, além dos odores de cerveja, fumo e suor. − Senhores, façam suas apostas − clamava o crupiê − Prefiro dançar, merci.
diante da roleta.
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Um corpulento canadense recuava pela passagem entre as barracas. Ele não viu Rebecca até pisar fortementee o pé dela. Quando ela gritou, ele se voltou, agarrando-a pelo cotovelo para se firmar. fortement − Pardon. − Seu rosto se iluminou num sorriso ao
vê-la.
− Podemos ir dançar, mademoiselle? − Não, obrigada. − Ela se encolheu ao tentar firmar o pé que ele pisara. − Mas você deve... − O homenzarrão levantou-a do chão com um abraço de urso − ... ou seu Xavier vai ficar muito triste. − Pois eu acho que deve ficar mesmo. − Pousando ambas as mãos contra o peito dele, ela se debateu com todas as suas forças. Xavier ficou olhando-a sem sequer piscar. − Você não deve querer me irritar, mademoiselle − advertiu ele, ameaçadora ameaçadoramente, mente, capturando-lhe um dos pulsos com a mão calejada. − Você não vai querer querer provocar esta dama tam também bém − advertiu Jack Jack,, abrindo caminho caminho na multidão. − Ela tem um gênio terrível Rebecca olhou para o batedor enquanto se contorcia entre as mãos de Xavier − Não tenho um gênio terrível. Apenas não quero dançar. Observando Jack com interesse, seu captor nem se importava com seus esforços para se libertar. − Quem você pensa que é? − Eu sou Injun Jack − replicou ele com indiferença estudada. − Pois eu sou Xavier Rochelaire, m'sieur − o gigante se apresentou sombriamente. − Estava querendo encontrá-lo desde que derrotou o Tiny Burmaster numa luta. − O Tiny estava um pouco bêbado na ocasião – comentou Jack modestamente. − Eu estou um pouco bêbado agora − confessou Xavier − Mas duvido que consiga me vencer. − Pessoalmente, não quero mesmo. − Sorrindo com naturalidade, Jack estendeu o braço para Rebecca. − Só quero levar a senhora para casa. Xavier escondeu-a atrás de si. − Só depois de lutar. − Não − gritou Rebecca, esquecendo-se do pé machucado. Jack examinou o adversário. O canadense era um pouco mais alto e provavelmente mais pesado que Viciados em Romances Históricos −
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ele. Era mais forte também, com ombros muito largos e braços grossos. Suas pernas, contudo, eram curtas demais para sua altura e ele se firmava sobre elas com alguma insegurança. Esperando que ele fosse tão lerdo quanto bêbado, Jack aceitou o desafio. − Vou lutar com você, mas deixe a senhora ir. − Tres bien. − Pegando Rebecca pelos ombros, Xavier tirou-a do caminho.
− Não vou permitir... − ela começou indignada, brandindo o punho, mas Jack a silenciou. − Fique quieta, Reb. − Seus olhos azuis não perdiam um movimento do oponente, enquanto eles circulavam de frente para o outro na passagem estreita. − Uma luta! − o grito cruzou o acampame acampamento nto e uma mult multidão idão se reunia reunia em volta del deles, es, com os apostado se acumulando à entrada da barraca central. − Você não pode detê-los, doçura − uma dançarina com o rosto exageradamente maquilado advertiu Rebecca. − O melhor que tem a fazer é aproveitar a luta. Xavier não vai agüentar muito, depois do tanto que bebeu. Um pouco mais confortada, Rebecca observou o gigante atirar-se contra Jack, brandindo os pulsos. Desde o começo, o batedor tinha adotado uma postura defensiva, desviando dos golpes do adversário. Diversas vezes, bloqueou o ataque do canadense, desferindo alguns murros apenas para constar. Quanto mais Xavier atacava, mais Jack se desviava, circulando cada vez mais rápido em volta dele. − Fique parado − ordenou o canadense, com a voz arrastada. − Onde você se meteu? − Estou aqui. − Jack esmurrou o torso do adversário e gemeu, pois batera com o braço machucado. -Rebecca encolheu-se, encolheu-se, mas o golpe não fez o menor efeito sobre o canadense. − Tenha cuidado, Jack − ela murmurou com fervor, enquanto o batedor resumia sua luta em circular em volta do canadense na defensiva. O poderoso Xavier logo estava sem fôlego e cada vez mais atordoado. No instante em que ele baixou a guarda, Jack atirou-lhe um poderoso murro no rosto. Urrando de dor, Xavier fechou os olhos e levou a mão ao nariz, que sangrava. Jack recuou. O canadense, agitando a cabeça para clarear os pensamentos, esticou o braço esquerdo e, com o punho cerrado, deu uma volta completa sobre si mesmo. Empurrado pela multidão, Jack não conseguiu desviar e foi atingido no braço ferido. . − Olhe o que você fez! − gritou Rebecca, batendo nas costas do canadense com sua bolsa. − Agora você o machucou! Atirando-se ao pescoço dele, ela se pendurou. O gigante, pego de surpresa, virou-se para ver quem lhe
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batia pelas costas e. ela foi girada como um brinquedo. − Saia daí, Rebecca − gritou Jack, puxando-a pelo pé suspenso. − Oui, saia daí, Rebecca! − repetiu o canadense sacudindo os ombros. Ela, porém, não o soltava.
− Alguém a segure − pediu Jack. Vários espectadores espectadores adiantaram-se e, em meio a risada e a arrancaram das costas do canadense. − Vamos dar a luta por empatada? − sugeriu Jack ao seu oponente. Como resposta, ele recebeu um murro no nariz. − Ainda não me cansei de lutar − declarou Xavier. Indignado pela primeira vez, Jack rilhou os dentes para agüentar a dor no braço e desfechou uma série de soco contra o rosto do adversário. Pego de surpresa, o canadense cambaleou, tropeçando na corda de uma barraca, e caiu de boca no chão. − E então? − provocou Jack, inclinando-se para ele. − Agora estou cansado de lutar − confessou Xavier. − Vamos tomar uma bebida. − Não, obrigado. − Pegando Rebecca não tão gentilmente pelo braço, Jack tirou-a dali. Enquanto retomavam para as carroças, ele lhe falou entre os dentes: − Agora espero que tenha aprendido sua lição. − Talvez tenha sido mesmo um erro ter vindo aqui admitiu ela, quase correndo para acompanhar-lhe as longas passadas. − Talvez? − exclamou ele. − Se você não tivesse sido tão teimosa... − Eu é que sou teimosa? − ela se desvencilhou da mão dele. − Foi você quem insistiu em me seguir. − E o que teria feito se eu não seguisse? Teria batido no Xavier até a morte com isso? − Ele indicou a bolsinha dela. − Eu saberia cuidar de mim − retrucou ela, estendendo-lhe seu lenço. Ele o aceitou, franzindo a testa. − De todas as coisas idiotas que você disse hoje, Rebecca Emerson − ele falou, enxugando o sangue do nariz -, essa foi a mais estúpida. − Pois você é um insuportável. − Ofendida com o insulto ela saiu pisando duro, com o máximo de dignidade que conseguiu exibir. Malachi observou a chegada de ambos embasbacado. − Que aconteceu agora? − murmurou. Rebecca aproximava-se com o chapéu nas costas, preso apenas pelas fitas ao pescoço. Estava com o
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rosto empoeirado, o cabelo despenteado, e parecia que chegara o momento de amarra-la na carroça. Jack vinha logo atrás dela, o rosto sombrio de raiva. Sua camisa estava manchada de sangue e ele tinha um hematoma no queixo. _ Está tudo bem com vocês dois? − o condutor os cumprimentou. _ Tudo ótimo. − Rebecca ajeitou o chapéu na cabeça. − O que aconteceu? − indagou Malachi inocentemente, picando um naco de fumo de corda. − Meteram-se numa enrascada? − Era uma luta minha − explicou Jack. − Até que ela resolveu dar uma ajuda. − Eu devia ter deixado que ele acabasse com você. . Ela deu as costas ao batedor. − Você devia era ter-me deixado lutar do meu jeito. Ela voltou-se para encará-lo. − Então não lute por minha causa! − Nunca imaginei que a senhora fosse de lutar, senhorita Rebecca − considerou Malachi, com um sorriso. Ela encarou o condutor com tristeza. − Se fizer o favor de me ajudar a subir, senhor Middlefield, Middlefield, vou esperar na carroça. − Eu vou levar você de volta ao forte − interpôs-se Jack. − Agora. − Não vou a lugar nenhum com você... agora ou mais tarde. − Não pode esperar aqui, dona − interveio Malachi. − Tenho muito trabalho a fazer antes de partir. Sem mais delongas, Jack montou e inclinou-se para acomodá-la a sua frente na sela. Surpresa com a rapidez dele, ela nem teve tempo de protestar. Com os braços ao redor de sua cintura, ele guinou Old Joe na direção de onde haviam vindo naquela manhã. Tentando ignorar o arção anterior da sela, que roçava em suas costas, Rebecca empertigou o corpo para a frente, evitando todo o contato com aquele homem. Por fim, incapaz de suportar o desconforto, pediu: − Poderia ir mais devagar? − Pensei que não queria passar mais tempo comigo que o necessário − comentou ele com amargor,
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mas controlou-se − Sente-se atrás. Ficará mais confortáve confortável.l. − Não, obrigada. − Ela permaneceu ereta e rígida, rangendo os dentes a cada passada de Old Jo. Embora a aba do chapéu a impedisse de ver Jack atrás de si, estava plenamente consciente de seu corpo forte, gingando aos movimentos do animal. Devia estar louca para atravessar a pradaria na companhia de Injun Jack. Ele era um homem rude e grosseiro armado com um revólver e uma faca. E já provara o que era capaz de fazer com os punhos. Ele usara aqueles punhos em sua defesa, admitiu e Mas sentia um outro tipo de perigo em sua companhia. S presença desequilibrava sua compostura, minava seu autocontrole. Ele lhe tirava o sossego, destruía sua força de vontade, fazia aflorar o pior que havia em seu íntimo não entendia as emoções que ele lhe despertava, mas aquilo não a agradava. Eles cavalgaram um silêncio, as vizinhanças tornando cada vez mais familiares, mas nem sequer notavam. Tão logo deixasse Rebecca em casa, prometeu-se Jack intimament intimamente, e, ele lavaria as mãos em relação ao caso dela. Não precisava de uma mulher em sua vida, e menos ainda de uma com quem precisasse brigar o tempo todo. Mesmo considerando que ela lutara como um demônio contra o canadense. A lembrança da ce cena na prov provoco ocou-l u-lhe he uma risada risada
inv involu oluntá ntária ria.. Era bem de ac acord ordoo co com m a viúva viúva Emer Emerson son..
− Você disse alguma coisa? − indagou ela a sua frente − Nada. − Ele apressou-se a engolir a risada. Ela se voltou incrédula para observá-lo. − Você estava rindo. − Eu gostaria que visse a cara do Xavier quando você se pendurou nas costas dele − comentou ele com uma risada. − Não preciso que me recordem da cena por que tive de passar. − E que cena você criou, Reb − ele brincou. − Foi uma visão adorável. Ele estava irado num momento e caçoando no outro. Como é que poderia adivinhar o humor daquele homem? − Eu não queria que ele machucasse seu braço − explicou ela, tensa. − Meu braço está ótimo. − Ele doía como o diabo, mas preferia despist despistá-la, á-la, antes que ela se oferecesse para examiná-lo. − Obrigado − acrescentou baixinho. Relaxando inconscientemente sua postura, ela suspirou.
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− Não... eu que devo agradecer. Por você ter lutado por minha causa. − Eu não poderia ficar de lado, vendo o Xavier machucar você − disse ele, saboreando a proximidade dela junto a seu corpo. − E, se não fosse ele, seria qualquer outro. A fronteira não é lugar para você, Reb. Virando-se para ele com a testa franzida, ela se mostrou mais teimosa do que nunca. − Mas eu estou aqui. − Companhias inteiras de soldados perguntam-me o que fazer − comentou ele. − Por que você não segue o meu conselho. . − Quando não tiver outros planos, então vou pensar na sua sugestão. − Que tal se encontrasse um índio pela frente? – Jack desviou o olhar para o terreno à frente. − Um índio? − Encolhen Encolhendo-se do-se contra ele, ela olhou desesperadamente ao redor até ver o cavaleiro que se aproximava. Quando Rebecca viera para o Oeste, um de seus companheiros de viagem contara-lhe histórias sobre as atrocidades dos índios de arrepiar os cabelos. Num esforço de aplacar seus temores, Paul descrevera as tribos como crianças que agora estavam aos cuidados do governo dos Estados Unidos. O homem que se aproximava não se encaixava em nenhuma das descrições anteriores. anteriores. Ereto, orgulhoso e bronzeado, ele não vestia nada além de uma tanga e um par de mocassins bordados. O cabelo liso e negro, levemente grisalho e decorado com penas, voava atrás dele enquanto galopava em sua direção. Ele levantou o braço num cumprimento, o que fez brilhar o cano do rifle ao sol do verão. Ele deteve seu pônei, observou o casal com indisfarçável, curiosidade e inclinou a cabeça num cumprimento, quando Jack o saudou em sua língua natal. Rebecca arregalou os olhos quando o guerreiro respondeu em inglês. − Tem uma mulher agora, Jack Bellamy? − Esta é Rebecca Emerson − replicou o batedor. – Ela mora no forte. Rebecca, quero lhe apresentar Pele de Lobo. − Como... como vai você? − Ela inclinou a cabeça, sentindo-se segura dentro dos braços de Jack. Pele de Lobo examinou-a em silêncio, então voltou-se para o batedor, falando no dialeto indígena. Rebecca logo desistiu de entender a conversa, incapaz perceber sobre o que falavam até pela en ento tona naçã ção. o. Fico Ficouu al alar arma mada da,, poré porém, m, quan quando do Jack Jack a enla enlaço çouu co com m ma mais is fo forç rçaa e ab aban anou ou a ca cabe beça ça veementemente.
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Encarando-o com estranheza, Pele de Lobo fez um sinal com três dedos. O batedor tornou a abanar a cabeça. Depois de alguma insistência, o guerreiro observou-o com um brilho amistoso nos olhos negros. Então, dando meia-volta com pônei, galopou para longe. − Do que estavam falando? − Rebecca voltou-se para encarar Jack. − Ele ofereceu três cavalos por você. − Ele tentou me comprar? − indagou ela ultrajada. − Achou que você daria uma boa esposa para seu filho − Pegando uma mecha de cabelo do ombro dela, Jack; segurou pensativamente entre os dedos. − Ele disse que seu cabelo é da cor de mel negro e que seus olhos soltam faíscas douradas. Ele não queria aceitar a minha recusa.. − E como você o convenceu? − ela quis saber, num tom um pouco mais audível que um sussurro. − Eu acabei dizendo que você era minha mulher declarou, os lábios muito próximos do dela. − Você disse que não tornaria a me beijar − ela o lembrou, a ponto de sufocar. − Isso foi outro dia. − Envolvendo o tecido suave ao redor da cintura dela, ele a puxou para si e a beijou. Rebecca estremeceu ao lembrar das carícias tímidas de Paul. Sempre pensara que eram envolventes, mas elas nunca a abalaram tão profundamente como agora. Dominada por uma espiral de estonteantes sensações, ela inclinou a cabeça para receber os lábios de Jack, e nem percebeu que derrubara o chapéu outra vez, que ficou pendurado apenas pelos laços. Passando os braços em volta da cintura dele, ela o agarrou com paixão, como se a força daquele desejo a arrastaria dali. Ele gemeu de prazer ao sentir os seios firmes de encontro ao peito. Seus lábios deixaram aquela boca para percorrer o veludo da face e logo escorregar para a maciez do pescoço. Ela enterrava os dedos em suas costas, correndo-os por sua espinha com delicadeza. Apesar do couro da camisa, sua pele ardia ao contato, fazendo-o sentir como se fosse explodir de desejo. Joe moveu-se sob eles, despertando Jack do devaneio. Atordoado, ele olhou para a mulher em seus braços. Seus olhos estavam fechados e os lábios entreabertos, entreabertos, prontos para receberem re ceberem seus beijos. Ele nunca experimentara tamanha doçura, nem uma reação tão profunda, e também nunca tivera tanta certeza de que estava perdendo o juízo. Desviou o olhar para a pradaria com a preocupação estampada no rosto. O que estava fazendo ali, beijando-a outra vez? E por que era sempre isso que acontecia quando ficavam sozinhos?
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A Rebecca abriu os olhos, as pálpebras pesadas de paixão. Ao ver a expressão distante no rosto dele, foi como se recebesse uma bofetada. Afastando-se, recompôs-se de imediato na sela. Ela o chocara com seu comportamento, recriminou-se. Ainda que ela própria estivesse igualmente chocada pelo mesmo motivo. − Temos de voltar para o forte − murmurou ele, mais como se falasse consigo mesmo que com ela. Enquanto retomavam o passo, Jack tentou avaliar seus sentimentos. Com um rápido olhar para Rebecca, empinada a sua frente, ele percebeu que ela estava tão triste quanto ele. Mas ele não sabia o que dizer. Ao chegarem ao rio, ele a ajudou a descer e olhou-a sem expressão. − Você deve querer se preparar antes de chegarmos. − Com certeza. Lutando contra as lágrimas de humilhação, humilhação, ela arrumou o cabelo e molhou o lenço na água. Ao lavar o rosto, imaginou se com isso apagaria a lembrança de seus beijos. − Está pronta? − indagou Jack quando ela terminou. Em seguida, estendeu-lhe a mão e puxou-a para junto de si na sela. Como se o pensamento tivesse acabado de lhe ocorrer, ele ordenou: − Me dê sua bolsa. − Por quê? − Porque ninguém sai para dar uma volta na pradaria levando a bolsa e, até onde interessar a qualquer um, é o que você estava fazendo. − Está preocupado com minha reputação? – indagou ela amargamente. − Mais do que você, ao que parece. − Ele não se importou com sua expressão de desagrado ao pegar a bolsa e guardar no alforje da sela. − Depois eu lhe devolvo. Normalmente vazio à tarde, o curral estava lotado quando eles chegaram ao forte. Oficiais, praças e até mesmo civis tinham aparecido para ver os novos cavalos que haviam sido entregues aquela manhã. O coronel Quiller Quiller aproximou se do casal, o rosto sombrio de desagrado. − Olhe quem eu encontrei andando pela pradaria, coronel − mentiu Jack, baixando Rebecca para o chão. − Pensei que as mulheres de seu posto soubessem que não deveriam se afastar muito daqui. − Eu também pensei − concordou o comandante, enquanto metade da população do forte assistia à cena. – O que significa isso, senhora Emerson? − Eu saí para dar uma caminhada e o senhor Bell me trouxe de volta. − Apesar dos sentimentos em tumulto, ela conseguiu controlar a voz.
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− Devia tomar mais cuidado − ele a admoestou. − Especialmente com os cheyennes e sioux em pé de guerra. − Eu cavalguei por toda a área até o acampamento da ferrovia senhor, e não vi sinal deles − continuou Jack. O comandante se distraiu no mesmo instante. − Nenhum sinal, você disse? Aliviada por escapar sem mais perguntas, Rebecca pediu licença e se afastou. Ao sair dali, não notou a desaprovação desaprovaç ão no rosto de Francis nem o brilho de curiosidade nos olhos de Flora. Descansando à sombra de uma árvore próxima ao rio, Jack observou os alojamentos dos oficiais e esperou pelo momento certo. Os tiros de advertênc advertência ia havia sido disparados, os lampiões haviam se apagado e os primeiros toques das sentinelas se fizeram ouvir na ronda. Ainda assim ele esperou mais um pouco. Quando tudo estava quieto e a lua foi encoberta por uma nuvem, ele se levantou e caminhou em passos silenciosos em direção à casa. Ele poderia ter deixado a bolsa na varanda. Poderia ter aberto a porta e deixado sobre a mesa da cozinha. Em vez disso, ele chamou baixinho: − Rebecca, você está aí? A única resposta foi o ruflar das saias quando ela se encaminhou para atender à porta. Ela não saiu para a varanda, nem o convidou a entrar. Com o rosto oculto nas sombras, ela esperou que ele falasse. − Eu lhe trouxe a sua, oh... − Ele se interrompeu, distraí distraído do pela fragrância de rosas. − Minha bolsa. − Ela a pegou das mãos dele. − Obrigada. − Reb... ele a deteve quando ela fez menção de fechar a porta. − Sinto muito por hoje à tarde. − Não sente mais que eu − ela respondeu baixinho. − Não é que eu não estivesse gostando – esclareceu ele. − Ao contrário, você estava adorável... − Acho melhor esquecermos tudo − ela o interrompeu, interrompeu, com o queixo erguido com orgulho. − Obrigada por você ter salvo minha reputação esta tarde, mas acho que seria melhor se você e eu evitássemos de nos encontrar daqui por diante. Era o que Jack havia concluído também, mas de repente ele não concordava. − Não vamos ser tão radicais − sugeriu, pousando a mão no rosto dela. − Não se trata de uma decisão radical − insistiu ela, afastando-se. afastando-se. − E exatamente o contrário. Ainda é muito cedo para eu me envolver com outra pessoa. pessoa. Boa noite, senhor Bellamy. .
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Ele permaneceu ainda por um instante depois que ela fechou a porta. Depois desceu os degraus e se fundiu com a escuridão. Por trás da cortina, Rebecca o observava. Ela não iria chorar, prometeu-se com fervor. Sua decisão fora para seu próprio bem. O que ela sentia quando estava ao lado dele era algo incontrolável, irresponsáv irresponsável el e errado. Embora, no momento, o que sentisse era mesmo uma grande solidão, concluiu, enquanto uma lágrima escorria-lhe pelo rosto abaixo.
SETE − Que horas são agora? − indagou Teddy. Seu companheiro se recusou a consultar o relógio. − Dez minutos depois da última vez que perguntou. − Parece que estou nesta cama há um século − o rapaz lamentou-se, embaralhando as cartas. O ruído das cartas no tabuleiro pareceu alto na enfermaria vazia. − Pensei que traria Reb junto com você quando viesse de novo. − Ela deve ter ido à igreja esta manhã − replicou Jack, pois com certeza era o que ela devia ter feito. Esticando as longas pernas à frente, ele equilibrou a cadeira nas pernas traseiras. Através da janela, avistou nuvens de chuva a distância, mas elas por certo evitariam Forte Chamberlain. O que era ruim. Uma chuva seria um alívio naquela tarde quieta e abafada. Teddy ajustou o tabuleiro, pronto para dar as cartas. − Devia ter trazido ela ontem... depois do passeio. − O que você sabe sobre o nosso passeio? − Jack baixou a cadeira com um estrondo. − O mesmo que todo mundo sabe. − O soldado deu de ombros. Todo mundo só vê o que quer, pensou Jack irritado, e geralmente vê o pior. Indo até a janela, encostou-se ao batente e ficou olhando para o cemitério atrás do hospital. Sabiamente, Teddy guardou silêncio por algum tempo. Então indagou: − Vamos jogar outra partida? − Não, obrigado. O rapaz começou a montar um jogo de solitário.
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− Andei fazendo umas perguntas sobre a senhorita Rebecca − disse casualmente. casualmente. − Todo mundo gosta dela. O doutor acha que ela é quase perfeita. Ela é viúva, você sabe. − Eu sei. − Ela não tem muitos amigos aqui, só alguns oficiais e suas esposas. Provavelmente se sente sozinha. Acha que poderia sair com ela, Jack? − Não. − Por que não? Você gosta dela, não gosta? − Cuide da sua vida, rapaz. − O batedor virou o rosto sério para o sobrinho. − Estou cuidando − protestou Teddy. − Como seu único parente a oeste do Mississípi, quero lhe lembrar que você está quase com trinta anos de idade. Está na hora de ter uma casa. − Por acaso a vovó pediu para você me dizer isso? -indagou Jack de mau humor. − Na última carta − confessou Teddy, tirando um ás do baralho. − Eu devia ter desconfiado desconfiado − murmurou Jack. – Vocês falam demais.
dois metem metem o nnariz ariz na minha vida vida e
− Eu me enganei − admitiu o rapaz, pego desprevenido. Pela janela, o batedor farejou o ar quando viu uma figura familiar no caminho por trás do hospital. Com a silhueta recortada contra o céu, Rebecca entrou no cemitério, trazendo um buquê de flores silvestres. − Não sei como se sente a respeito de Reb − Ted estava comentando − mas eu gosto dela. Gostaria que viesse me visitar. − Ele olhou quando Jack saiu apressado da janela. − Ei, aonde está indo? − Realizar seu desejo. Pela janela, Teddy viu-o correr pela porta traseira e subir pelo caminho atrás da mulher. Com um sorriso largo, voltou ao tab tabuleiro uleiro e trapaceo trapaceouu sem remorso. Podia ser que Rebecca não quisesse vê-lo, pensou Jack mas ela fizera uma promessa e ele pretendia fazer com que cumprisse. Ele a levaria até o Teddy. Então ele iria embora... e a esqueceria de uma vez. Ele parou, sem querer perturbá-la, quando ela se ajoelhou ao lado de uma sepultura e depositou as flores sobre ela. Sem saber que ele a observava, ela sentou-se e ficou olhando a pradaria. A distância, um raio cortou a nuvem escura e em seguida ouviu-se o trovão. Se ao menos tivesse Paul para conversar, pensou com fé. Eles comentavam sobre quase todas as coisas. Agora imaginava se falaria com o velho amigo sobre Jack Bellamy.
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Caindo em si, ela compreendeu que, se Paul estivesse vivo, não teria de falar sobre Jack ou mesmo pensar nele nem nas emoções que a confundiam toda. A viagem do dia anterior ao acampamento da ferrovia fora um desastre. Ela se impusera ao senhor Middlefield e se comportara de maneira vergonhosa com Jack. Se seus modos descarados não tivesse afastado o batedor para sempre, suas últimas palavras com ele o fariam com certeza. Embora o que fizera fosse o mais correto, passara a longa e insone noite completamente arrependida. Tinha poucos amigos ali. Não tinha emprego, nem dinheiro e nem muita esperança também. O último pagamento de Paul e suas economias haviam se acabado, divididos entre Lyle e o senhor Peeples. O lucro com a venda dos objetos da casa pagariam suas contas, mas sobraria pouco. Não tinha nenhum plano certo, apenas a vontade de permanecer no Kansas. Ao ver os ombros da mulher caídos de desânimo, Jack teve vontade de se aproximar, confortá-la, mas a lembrança de suas últimas palavras na noite anterior o deteve. Sem pensar em mais nada, deu meia-volta e retornou a enfermaria. Rebecca levantou-se levantou-se por fim e caminhou para o forte silencioso. Para fugir das fofocas, naquela manhã evitou encontrar quem quer que fosse. Chegara atrasada à capela onde o pastor já se encontrava no Púlpito e saíra tão logo a missa terminara. Fora direto para casa, dando um jeito de escapar de Francis e seu inevitável sermão. Com o forte vazio por causa do calor, saíra de casa tendo em mente fazer três visitas: iria ao cemitério, ao hospital e ao estábulo. Ao se aproximar do hospital, hospital, diminuiu o passo. Jack encontrava-se na porta dos fundos, aparentemente aparentemente a sua espera. Seu lábio estava meio inchado e o queixo ainda exibia sinais da luta no dia anterior, mas ele ainda parecia bonito. Os comentários da noite anterior voltaram como uma agulhada e ela considerou ir pedir-lhe desculpas, desculpas, mas era tarde demais. − Boa tarde, senhora Emerson. − Ele levantou o chapéu para cumprimentá-la. Ela inclinou a cabeça educadamente. − Boa tarde, senhor Bellamy. − Espero que não se importe se lhe lembrar de sua promessa de visitar o Teddy. Ela sentiu-se estranhamente desapontada. − É justamente por isso que estou aqui – justificou friamente. Jack subiu os degraus à frente dela e abriu-lhe a porta. − Vou acompanhá-la − anunciou tão friamente quanto, ela. Sentindo-se ultrajada, ela o fuzilou com o olhar. Ele podia culpá-la pelo que acontecera entre eles, mas
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não tinha motivos para duvidar de sua palavra. Passou altaneira à frente dele e entrou no hospital. Jack a seguiu, consciente da tensão no ar, além do odor de rosas. − Senhorita Rebecca, que inesperada surpresa! − cumpriment cumprimentou ou Teddy com prazer. Rolando os olhos para o teto ante a mentira deslavada, Jack ofereceu a cadeira a ela. − Não quer sentar-se, senhora Emerson? − Está muito bonita hoje, Reb − comentou o rapaz. − Ela não está linda, Jack? − Adorável. O batedor correu os olhos azuis rapidamente por ela e foi sentar-se na outra cama em frente a Teddy. Pegando o baralho, começou a embaralhar as cartas com lentidão exagerada. − Obrigada. − Cuidando de não olhar para Jack, ela perguntou: − Como está se sentindo, Teddy? − Mais ou menos, dona, mas estou cansado daqui. Jack leu um pouco da Bíblia para mim, depois jogamos baralho − relatou o rapaz, sem notar a disparidade de seus passatempos. Ela dirigiu-lhe um sorriso. − Está precisando de alguma coisa? − Só de companhia de vez em quando − respondeu ele, queixoso. − Vim visitá-lo todos os dias − protestou o primo. − Mas o dia custa a passar quando se está de cama rreclamou eclamou Teddy. − Para mim será um prazer vir visitá-lo – garantiu Rebecca. − Mesmo? − Agitado com a promessa dela, Teddy continuou: − Sabe jogar pôquer? − Uma dama não joga pôquer − reprovou Jack. – A senhora Emerson tem de pensar em sua reputação. − Eu posso aprender. − Rebecca sustentou o olhar de zombaria com altivez. − Então vou ensiná-la − disse Teddy. Jack olhou de um para outro, então abanou a cabeça. − Já vou avisando, senhora Emerson, meu primo trapaceia. − Que história é essa de "senhora Emerson", Jack? − caçoou Teddy. − Você está tão educado, parece um banqueiro no trabalho. − Vovó me ensinou alguns modos − respondeu o batedor um tanto brusco. − Acho bom demonstrá-los.
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− Aceite meus cumprimentos, Reb − continuou o rapaz no mesmo tom divertido. − Acho que conseguiu pôr o Injun Jack na linha. − Duvido muito − replicou ela, corando ao perceber o que havia dito. − Não o vejo tão bem-comportado desde a vez que levou Bella June ao baile. − Você não tem idade suficiente para se lembrar disso − reclamou Jack. − Mamãe me deixou olhar da janela. Eu sempre gostei da June. Gosto de mulheres mais velhas − ele explicou para Rebecca com um sorriso charmoso. − Fiquei arrasado ao descobrir que ela tinha uma queda pelo Jack. − Teddy − advertiu o batedor. − Mas toda garota da região saiu pelo menos uma vez com o Jack − continuou Teddy como se não tivesse escutado. − Ele era danado com as mulheres. E ainda é, acho, mas está meio descuidado. Precisa de uma esposa. − Agora chega. − Levantando-se, Jack fuzilou o primo com o olhar. − Tenha um bom dia, senhora Emerson. − Que vergonha, Teddy − comentou Rebecca, quando a porta do hospital se fechou atrás do batedor. − Esse grandalhão sempre se levou a sério demais replicou Teddy, sem parecer arrependido. Voltando a ação para ela, indagou: − Agora vai para onde, dona? − A nenhum lugar. Vim aqui para visitar você. − Pensei que Jack a tivesse encontrado no cemitério − declarou Teddy, apenas um pouco de caçoada. − Eu estava a caminho daqui − respondeu ela. −
depois de visitar você vou ao estábulo.
− Ao estábulo? Você tem um cavalo? − Não. É o cavalo de meu marido, Liberty, que não está destinado a ninguém ainda. Sei que parece bobagem, mas eu costumo visitá-lo. − Não acho que seja bobagem − o cavalariano protestou com orgulho. − Todo domingo eu lhe levo um torrão de açúcar confessou. − Você sabe montar? − Agora você falou como todos os homens que conheço desde que cheguei ao Forte Chamberlain − ela riu. – Sim, eu sei. Não, eu não sei atirar. − Será que poderia visitar o Cuss e ver como ele está?
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− Cuss? − Meu cavalo − explicou Teddy. − Ele era um animal endiabrado quando jovem, mas já melhorou bastante. Você poderia exercitá-lo se fosse com Jack. − Não acho que o seu primo... − Não se preocupe com ele − o rapaz a interrompeu confian confiante. te. − Eu falo com ele. Pouco depois, Rebecca foi até o estábulo, com mais um torrão de açúcar, conseguido na cozinha do hospital para o cavalo de Teddy. Deteve-se relutante quando ouviu uma voz chamar atrás e se virou. − Espere, Becky, quero falar com você. − Realmente não quero parar aqui para conversar, Francis − respondeu ela como um cumprimento. − Estou a caminho do estábulo. O ajudante-de-ordens olhou para ela sem entender. − E para quê? − Vou lá todos os domingos. − E para quê? − Porque gosto da companhia de cavalos e eles não comentam sobre assuntos que não interessam. Francis deu uma risada e tomou-lhe o braço. − Você fala as coisas mais engraçadas, Becky. Vamos juntos. Vou acompanhá-la até o estábulo, se é para onde você quer ir. − Enquanto caminhavam, ele continuou, continuou, em tom de sermão: − Você pode não querer ouvir ouv ir ist isto, o, mas não não devia devia ter saí saído do par paraa pas passea searr pel pelaa pra prada daria ria.. E não de devia via
ter fi ficad cadoo lá sozi sozinha nha
com Injun Jack. É perigoso. − Ficar sozinha ou ficar com Injun Jack? − Os dois. − Ele me trouxe em segurança − observou ela. − Bem, é verdade. Mas vocês dois sozinhos sozinhos... ... Todo mundo está comentando. − O que exatamente todo mundo mundo est estáá fal falan ando? do? − Det Deten endodo-se, se, el elaa o en encar carou ou de olhos olhos semicerrados. − Ninguém a está acusando de comportamento inadequado, na verdade − o oficial recuou. − Estão acusando do quê, então? − Apenas considere sua reputação − observou ele com um sorriso. − O Injun Jack não é uma
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companhia adequada para uma dama. Ele não é um cavalheiro. Rebecca não estava com paciência para adulação. − Você acha que seria mais cavalheiresco da parte dele me deixar sozinha lá? − Bem... não − Francis cofiou o bigode envergonhado − O que está acontecendo com você, Rebecca? Estou lhe falando essas coisas para o seu próprio bem. − Para o meu próprio bem, eu não devia andar sem um acompanhante − explodiu ela. − Para o meu próprio bem, eu não deveria andar com um, se acontecer de ser o Jack Bellamy. Para o meu próprio bem... Antes que ela continuasse, foi dado um alerta por uma das sentinelas. Todos acorreram para assistir ao retorno da patrulha. Os oficiais e outros homens dirigiram-se para a praça da bandeira. Esposas e familiares saíram dos alojamentos e reuniram-se à beira do pátio. O coronel Quiller saiu do prédio do comando com Injun Jack a seu lado. − Vou levá-la para junto das damas − ofereceu-se Francis. − Posso ir até o pátio sozinha − retrucou Rebecca. . − Temos tempo − insistiu o tenente. − A patrulha ainda está longe. Sem mais comentários, ela permitiu que ele a acompanhasse para junto das esposas dos oficiais. Na entrada do prédio do comando, Injun Jack deu-lhe as costas. − Você deve comer, meu irmão. − Postando-se na sombra das árvores, Dois Pássaros Brancos colocou um pote fumegante à frente de Jack. − Não, irmã − o batedor recusou gentilmente e passou o pote para o companheiro. − Eu já comi − protestou Pele de Lobo. − E eu não estou com fome − disse Jack à mulher. − Ele tem andado sem apetite nos últimos dois dias. Com um olhar preocupado, ela dirigiu-se a Pele de Lobo − Fale com ele. É seu amigo. − Não vai lhe fazer bem − o homem falou com sabedoria − Alguma coisa está lhe confundindo os pensamentos. pensament os. Por acaso é alguma mulher? − Uma mulher? − Dois Pássaros Brancos ofegou espantada. − Você finalmente arranjou uma esposa, meu irmão? − Não arranjei nenhuma esposa − garantiu Jack. − A mulher que eu vi com você: Re-bec-ca – hesitou Pele de Lobo. − Você não quis vender para mim.
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− Ela não era minha para vender. − De quem é então? − De ninguém. − De ninguém − repetiu Pele de Lobo incrédulo. – Que tipo de mulher é ela? − O marido dela morreu − explicou Jack. − Ela ainda é jovem e bonita − considerou Pele de Lobo, com um brilho travesso no olhar. − Ofereci três cavalos por ela. Se ela souber cozinhar, darei quatro. Talvez até mais, se souber tirar o pêlo de um búfalo. − Você conviveu com os militares tempo suficiente para saber que os brancos não vendem suas mulheres − declarou Jack. − Como eles se casam? − quis saber Dois Pássaros Brancos encantada. − Assim como nosso povo, eles escolhem uns aos outros. Trocam palavras − Pele de Lobo explicou com um aceno vago de mão. − Você escolheu essa Re-bec-ca? − indagou a índia a Jack. − Não faça tantas perguntas, Dois Pássaros Brancos. − Foi você mesmo que disse, meu irmão − explicou a índia antes de sair. − Para fazer perguntas quando quisesse aprender. − Veja o que você começou − lamentou-se Pele de Lobo. − Dois Pássaros Brancos é mais curiosa que dois irmãos seus juntos. Não sei como vou conseguir um marido para ela. − Ela já recusou três ofertas − lembrou-o Jack. − Aqueles homens ficariam gratos se soubessem como ela é curiosa − Pele de Lobo suspirou. − A maioria dos homens não tem muito estômago para tantas perguntas. − Você vai sobreviver. − Tenho um estômago forte. − O homem de meia idade riu, mas em seguida acrescentou, sério: − E você tem um coração forte, mas melindroso. Acho que ele ficou assim sem você querer. − Chega de conversa − cortou Jack. − Olhe aqui, eu trouxe um charuto. Num silêncio fraternal, eles ficaram fumando seus charutos e observando as mulheres que curtiam as peles de búfalo. As filhas de Pele de Lobo conversavam sem parar enquanto trabalhavam, mas Dois Pássaros Brancos estava concentrada em seus próprios pensamentos.
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Ela amava Jack como um irmão. Ela o amava porque ele era gentil, porque a salvara da escravidão. Acima de tudo, ela o amava por tê-la trazido para a casa de Pele de Lobo. Fora muita bondade de Pele de Lobo aceitá-la. As filhas dele, cuja mãe morrera, a aceitaram como uma irmã mais velha, mas Dois Pássaros Brancos descobrira que não queria ser uma filha para Pele de Lobo. Seu coração o havia escolhido. Algum dia, o coração dele a escolheria. Ela só precisava esperar. Talvez aquela Re-bec-ca fosse feita para Jack, pensou: De novo ela deveria esperar. Mas, enquanto esperava, iria conhecer aquela mulher pessoalmente. Embaixo da árvore, Pele de Lobo observava Dois Pássaros Brancos com a expressão pensativa. De repente, ele se levantou e chamou os homens que descansavam sob as árvores vizinhas. . − Vamos sair para caçar. − Fiz um negócio com um novo pônei comanche − Segredou a Jack. − Quero que você o experimente. Um cavalo rápido embaixo e o vento nos cabelos, eis aí tudo o que um homem precisa para se sentir bem. . − Então vamos − concordou Jack. Um galope pela pradaria era tudo o que ele precisava para desanuviar os pensamentos
OITO O sol estava se inclinando para o oeste quando Rebecca acenou para a sentinela e afastou-se da rua dos Oficiais. Tomando o cuidado de permanecer à vista do forte, ela perambulou pela campo, enchendo o cesto de flores silvestres. A tarde de verão estava esfriando e o vento era fresco e limpo. Em face da vastidão da pradaria, seus problemas pareciam insignificantes. Ela sentia-se quase feliz pela primeira vez em semanas. Olhando por cima do ombro, procurou Flora, mas não viu nem sinal dela. Graças a Deus tinha uma amiga do seu lado, concluiu agradecida. Quando chegara à praça da bandeira no dia anterior, as outras esposas de oficiais haviam ficado em silêncio. Embora não fizessem nenhum comentário, ela sabia do motivo de sua frieza. Seu "passeio" pelas planícies com Jack apenas tornara mais evidente sua desaprovação, mas ela sempre sentira a hostilidade delas, toda vez que passava por suas casas a caminho do hospital. Podia perceber em seu olhar pelo modo como a observavam em traje de luto.
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Apenas Flora a acolhera. − Agora que estamos todas aqui posso anunciar – a amiga declarara. − Eu e Brian vamos dar uma festa antes da saída das companhias para a conversação de paz. − Uma festa? − As mulheres se esqueceram imediatamente de suas fofocas. − Será apenas um encontro com uma ceia à meia-noite, teremos até um peru, se o Brian conseguir caçar um. − Posso levar um pote de feijão assado − reagiu prontamente a senhora Little. − E eu vou fazer minha torta de chocolate – ofereceu Willa. − Eu não sei o que levar − disse Caroline. − Os suprimentos estão curtos. − Sua contribuição poderá ser a paciência − segredou Flora à vizinha. − As festas costumam ser barulhentas e animadas, embora esta não deve ser tão movimentada por causa do luto de Rebecca. − Rebecca? − disseram todas em coro. − Será também a festa de despedida dela. Surpresa e sem jeito, Rebecca murmurara: − Flora... − Sim, vamos dar uma festa de bota-fora do exército para a viúva do capitão Emerson − proclamara, por fim, a senhora Little. A festa fora marcada, embora Rebecca protestasse com a amiga que se sentia culpada em ser a homenage home nageada, ada, uma vez que não preten pretendia dia ir embo embora. ra. Mas Flor Floraa argumenta argumentará rá que as festas festas ajudava ajudavam ma manter elevado o moral e ela acabara concordando. Os preparativos também mantinham ocupadas as esposas dos oficiais e a liberavam de permanecer sozinha em casa e de ser o alvo das fofocas. Levantando-se por um momento, Rebecca apreciou uma visão gloriosa. Uma manada de búfalos pastava, espalhada por mais de um quilômetro a sua frente. Gritos chegaram até ela trazidos pela brisa quando um bando de índios passou a galope por entre a baixa vegetação ao longo da margem do rio. Longe do perigo, ela deixou o cesto no chão e observou enquanto perseguiam a manada pelas planícies infindáveis. Subitamente, um dos caçadores diminuiu a marcha de seu garanhão branco e olhou em sua direção. Embora estivesse longe, Rebecca sentiu um certo desassossego. Prendendo o arco sobre o ombro, ele apressou o cavalo na direção dela a galope, seu cabelo negro voando atrás de si. Ela saiu correndo para o forte, com a nítida impressão de que logo mais teria um grande corpo bronzeado caindo por cima de si. O sangue latejou em suas têmporas e seu chapéu voou, mas ela não se arriscou a olhar para trás.
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− Onde estava a sentinela? Seu perseguidor ganhou dela na corrida, chegando tão perto que ela sentiu o bafo do animal em seu ombro. Com um grito de triunfo, o cavaleiro arrancou-a do chão, levantou-a nos ares apenas com um braço e acomodou-a na sela sem diminuir o galope. Contra suas costas, Rebecca sentiu o calor e a aspereza de sua roupa de couro. Os músculos enrijeciam-se e flexionava enrijeciam-se flexionavam-se m-se enquanto ele guiava o garanhão apenas com as pernas. Debatendo-se contra seu captor, ela batia com o cesto contra a lateral do cavalo, esperando assustá-lo. A única coisa que conseguiu foi uma chuva multicolorida de flores que ficaram para trás. − Pare com isso − falou seu captor. − Vai acabar nos matando. Enrijecendo-se furiosamente, ela se voltou sobre o ombro, mas só conseguiu ver um peito nu coberto de pêlos, respingado com sangue de búfalo, além do familiar colar de marfim. Ela enxergou a sentinela observando com evidente divertimento da barreira de estacas e aquilo a deixou ainda mais irritada. No momento em que tocou o solo, ergueu os punhos furiosamente. − Jack Bellamy, seu arrogante... − O que estava fazendo lá fora? − indagou-lhe ameaçadoramente o batedor. − Não aprendeu que a pradaria é um lugar perigoso? Ela sustentou seu olhar. − O único perigo que encontrei na pradaria foi você. − E difícil dizer que estava em perigo da última vez − ele comentou, divertindo-se ao notar por seu rubor que ela lembrava daquele beijo. − Mas hoje eu poderia ter levado você comigo. − A sentinela teria atirado em quem quer que tentasse me seqüestrar. − Eu não estava seqüestrando você. Estava trazendo você de volta. − Ele ainda podia ter confundido você com um selvagem − retrucou ela. − Olhe para você. Quase me matou de susto − Estava apenas retribuindo um favor, Reb. Você tem me matado de susto toda vez que tenta uma de suas tolices − Montado naquele cavalo enorme, ele se aproximou dela' parecendo mesmo um selvagem, como o chamara. − Você estava lá fora sozinha, sem outra proteção a não ser urna barreira de estacas. − Eu diria que seria preciso de mais que uma estaca para deter você − retrucou ela em desafio. − Eu diria que é isso mesmo. − Aprumando-se na sela ele sorriu de repente. − Malachi estava certo. Você superou toda a criação.
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Ela relaxou os lábios e suspirou. − Não fique aí sorrindo, Jack. Venha me ajudar a recolher minhas flores. − De je jeit itoo ne nenh nhum um,, senh senhor orit itaa Re Rebe becc cca, a, para para você você vou vou co colh lher er um buqu buquêê inte inteir iroo de fl flor ores es.. − Desmontando do cavalo, ele pegou uma florzinha presa no cabelo dela. − Já é um começo. − Com um sorriso de lado, ela pegou a flor dos dedos dele. Puxando o garanhão, Jack acompanhou Rebecca por um verdadeiro canteiro de flores que nasciam na colina. Ele pretendia impressioná-la com os perigos da pradaria, refletiu ao se ajoelhar para colher as mais coloridas. Ou pelo menos pensava que pretendia. Suas razões nunca eram claras quando ela estava envolvida. Talvez seu coração tivesse feito a escolha, conforme Pele de Lobo dissera, porque sua cabeça não estava preparada. Com a testa franzida, ele foi reaver o chapéu dela. − Quando foi a última vez que trocou o curativo? − indagou Rebecca quando ele voltou para perto dela. − Reb, você se preocupa mais com o ferimento que com o homem onde ele está. − Isso não é verdade. − Então você se preocupa? − caçoou ele, agachando-se ao lado dela. Ela não respondeu. Pouco à vontade com ele seminu ao seu lado, ela procurou se concentrar nas flores que tinha de colher. Depois de um instante, comentou: − Não o reconheci neste cavalo estranho. − Ele é de Pele de Lobo. − Pele de Lobo? − ela olhou ao redor apreensiva. − Aquele que se ofereceu para comprar você − ele a lembrou. − Ele não iria pegar você, embora estivesse tentado. Ele sorriu quando ela desviou os olhos, perturbada com seu olhar. − Pele de Lobo não é um mau sujeito − ele comentou. − E seu povo é pacífico. Eles têm caçado nesta terra por várias gerações. Tinham assinado um tratado para permanecer aqui e agora querem tomar sua reserva também. − Para outra tribo? − Par Paraa a fer ferrov rovia, ia, esp espec ecul ulado adores res,, emp empree reende ndedor dores. es. − el elee enumer enumerou ou amarga amargame mente nte.. − Os co colon lonos os chegam e as tribos têm de sair. Os que ficam, vivem num pedaço pequeno de terra, esperando pela restituição e burlando a remoção. Como vê, eles não são do tipo de seqüestrar ninguém, nem mesmo uma
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mulher branca andando por aí sozinha. − Ele se levantou e lhe ofereceu a mão. − Vamos, vou acompanhá-la de volta. Ao ficar de pé, ela jogou fora as flores que se estragaram, estragaram, com um suspiro. − Vai ficar um buquê meio sem graça. − Eu lhe consigo mais flores. − Não. Obrigada assim mesmo. Eles regressaram ao forte, as sombras alongadas a sua frente com o sol poente. − Você está bonita neste vestido azul, Reb − disse ele baixinho. − Ele é mais bonito que aquele traje preto que estava usando antes. − Meu vestido preto ficou irrecuperável − lembrou-o friamente. − Mas ainda estou de luto. -Esses costumes de fora não significam muito aqui na fronteira. Não temos muito tempo aqui para o luto. − Nem em mesmo dois meses? Ele abanou a cabeça em dúvida. − Não parece justo que use roupa r oupa de viúva por quatro vezes o tempo que permaneceu casada. − O que será que pensam os nossos juízes lá do forte? − indagou ela com ironia. − E quanto às tradições? Se abandonarmo abandonarmos, s, nos tornaremos tão incivilizados quanto esta terra. − Vai achar difícil mantê-las também, se ficar. − Acho que isso descobriremos quando chegar a hora. − Então continua querendo ficar − considerou ele, quando chegaram chegaram à barreira de estacas. − Não sei se tem força de vontade ou é louca. − Acho que descobriremos isso quando chegar a hora também. − Ela se afastou dele. − Obrigada, Jack, e boa tarde. − Desculpe não ter ido com você − falou Flora, da varanda dos fundos quando Rebecca se aproximou. − St. Jeba saiu para fazer uma porção de coisas e eu prometi untar o peru. − Fazendo sombra nos olhos com a mão, ela acompanhou com o olhar o cavaleiro que se distanciava. – Aquele não é Injun Jack? Por que ele não veio até em casa? − Ele não estava vestido para uma visita − explicou Rebecca distraída. − Vamos entrar e colocar as flores no vaso. − Elas vão ficar perfeitas sobre a mesa com seus candelabros. Eles ficaram lindos depois de polidos −
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comentou , Flora, abrindo caminho pela casa. Enquanto Flora cuidava do prato principal do jantar, Rebecca arrumou as flores. − Quer que corte um pedaço do pão doce para nós? Rebecca sugeriu quando estava quase acabando. − Não acho que um pedaço ou dois iriam fazer falta. − Não, obrigada. − Servindo dois copos de limonada Flora colocou-os na mesa. Rebecca parou com as mãos no ar e olhou incrédula a amiga. Nunca vira Flora recusar comida, especialmente doce. − Está se sentindo bem? Antes que a outra pudesse responder, uma voz grossa interrompeu. − Com licença, senhoras. Elas se voltaram para ver Injun Jack na porta dos fundos, trazendo um enorme buquê de flores amarrado com fitas. Para a felicidade de Rebecca, ele vestira uma camisa e penteara o cabelo para trás. Ele ainda não se barbeara, mas lavara o rosto havia pouco. − Nem ouvi você chegar à varanda − falou Flora, assustada. − Você é tão silencioso quanto um índio. − Este é um dos motivos pelos quais o exército requer meus serviços − explicou ele com simpatia e estendeu o buquê. − Isto é para você, senhorita Rebecca. − Elas são tão... adoráveis − ela murmurou dando um passo atrás. − Por que não entra? − convidou Flora. − Senhor Bellamy, não é? Ele entrou e pareceu não caber na pequena cozinha dos Mackey assim como na dela, pensou Rebecca, ao fazer as apresentações. − É um prazer conhecê-la, dona. − O batedor sorriu para Flora. − Estou contente em conhecê-lo também, senhor Bellamy. − A loura, sempre muito falante, ofereceu. − Íamos tomar uma limonada. Quer nos acompanhar? Rebecca quase deixou cair o buquê quando Jack aceitou. Muito compenetrada, ela se concentrou nas flores enquanto sua anfitriã servia-lhe um copo de bebida e uma fatia de pão doce. Ansiosa por saber mais sobre o trabalho do batedor que estava em sua cozinha, Flora começou sua investigação. − Soube que viveu entre os índios, senhor Bellamy.
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− Estive com diversas tribos em várias ocasiões. − Você foi capturado? − assustou-se ela. − Eles lhe fizeram de escravo? − Não, senhora. Eles me trataram como a um irmão. − Irmão de sangue? − Flora arqueou as sobrancelha sobrancelhass
excitada
Jack sorriu. − Não chegou a tanto. Eles apenas me receberam bem, como se fosse da família. − Pode imaginar uma coisa dessas? − Flora dirigiu a Rebecca, que permanecia de costas. − E como os índios costumam receber os convidados, senhor Bellamy? − Eles os convidam a sentar-se e oferecem alguma coisa para beber e comer. Eles não são muito diferentes de nós Atraída por seu comentário, Rebecca observou-o de lado. Ele estava muito bonito e com o rosto sério. − Os homens brancos pensam que os índios são selvagens, porque eles caçam em vez de montar fazendas de lavoura − ele comentou com Flora. − Mas eles não entende por que os homens brancos cortam a terra, escavando com seus arados. Assim como nós, eles amam seus filhos e reverenciam seus idosos. Todos tentamos fazer o que é certo. Cantamos, contamos histórias e rimos. Somos apenas pessoas. − Mas pessoas em guerra umas contra as outras − suspirou Flora. − Embora Brian diga que as conversações de paz com Urso Grande vão calmamente acontecer, graças a você. − Se houver o encontro, então provavelmente haverá paz − respondeu ele com simplicidade. Sentindo o olhar de Rebecca sobre si, ele se voltou para ela. − Tem bastante flores agora, Reb? − Mais do que o suficiente − ela respondeu com sorriso. − Obrigada. − Eu disse que pegaria um grande buquê para você. Desviando o olhar, ele continuou: − Obrigado pelo refresco senhora Mackey, mas agora preciso ir. Sou esperado gabinete do coronel antes do jantar e já vou começar a ficar atrasado. − Venha sempre que quiser − ofereceu-lhe a anfitriã − E, por favor, me chame de Flora. − Se me chamar de Jack − ele replicou, seguindo-a através da sala. No caminho da cantina dos oficiais, Francis avistou Injun Jack na varanda dos Mackey. Desviando de seu caminho ele apressou o passo até a casa. − Alguma coisa errada aí? − Não, apenas tomamos uma limonada – respondeu Flora, ignorando os modos ultrajados do oficial. –
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Gostaria de um copo, tenente? − Não, obrigado. − Francis olhou para Jack, que permanecia impassível, impassível, e virou-se para Rebecca. − Se você estiver pronta, Becky, posso acompanhá-la até em casa. − Não estou pronta. Estou ajudando Flora nos preparativos para a festa desta noite. − Com relação à noite, Jack − interveio Flora -, eu e Brian estamos dando uma festa de despedida para Rebecca. Gostaríamos muito se viesse. − Uma festa de despedida − repetiu ele com uma expressão curiosa. − Venha à hora que quiser depois das nove. A ceia será servida à meia-noite meia-noite.. − Obrigado, dona. − Jack inclinou-se polidamente. Rebecca não o encarou. − Tenham um bom dia. − Não posso acreditar que você tenha convidado Injun Jack para uma festa − Francis repreendeu Flora, no instante em que o batedor estava fora de vista. − E eu não posso acreditar que estamos aqui conversando quando há uma porção de trabalho a ser feito − retrucou ela, dispensando o ajudante-de-ordens. As mulheres já iam entrando em casa quando ele pegou a mão de Rebecca. − Vou buscá-la à nove, Becky − insistiu. − E trazer você à festa. O relógio do alojamento dos visitantes dera dez e meia e Jack ainda não estava pronto. Ele tomara um bom banho, fizera a barba e convencera uma lavadeira a passar seu único temo. Não ia a uma festa desde a guerra. Também não sentia falta, pois não gostava de reuniões. Suas dúvidas aumentaram no momento em que deixou o alojamento. O ruído de vozes chegou até seus ouvidos pelo ar da noite e ele viu, através do pátio, que a casa estava lotada. As janelas estavam abertas e as luzes do interior iluminavam iluminavam as pessoas na varanda. Os convidado convidadoss espalhavam-se até na escadinha, lotando o minúsculo jardim. Na rua em frente à casa, casais passeavam. Jack aprumou os ombros e encaminhou-se para lá. Afinal prometera ir, e queria ver Rebecca. − Gostaria de dar uma palavrinha com você, Injun Jack − George Davis saiu da escuridão para interceptá-lo. − O que você quer? − indagou Jack, sem diminuir o passo. Com a mão na empunhadura da espada, o franzino tenente plant plantou-se ou-se à frente dele. − Chegou ao meu conhecimento que você tem sido visto com freqüência na companhia da senhora Emerson. − E o que isso lhe interessa? − Detendo-se, Jack o encarou
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Iluminado pela luz da casa, o rosto do jovem oficial exibia sua preocupação. − Ela era a esposa de meu capitão e a companhia gosta muito dela. − Então, você e todos os seus homens estão me advertindo para ficar longe dela. − Mais ou menos isso − admitiu George com tristeza − Embora preferíssemos não ter de enfrentá-lo. − Imagino que lutariam num duelo por uma questão de honra − considerou Jack. − Mas pela honra de quem? Dela ou da companhia? Eu os enfrentaria pela dela, mas não levantaria um dedo pela de vocês. George piscou ante o homem bem mais alto que ele. − Você lutaria pela senhora Emerson? − Não precisará usá-la como desculpa, se não sair minha frente. − Muito bem. − O tenente afastou a mão da espada e deu um passo atrás. − Então estamos entendidos. − Eu entendo muito bem. − O batedor abanou a cabe aborrecido. − Agora entenda você, Davis. Ela não fez nada de errado. E se sequer tentar me dizer o que deveria fazer ou não, pode contar com um duelo. − Sim, senhor − gaguejou George, enquanto enquanto o homenzarrão seguia seu camin caminho. ho. . Na varan varanda da dos Mac Macke key, y, Jack Jack cumpri cumprimen mento touu o cor corone onell sen sentad tadoo no ban banco, co, discu discuti tindo ndo pol polít ítica ica indigenista com oficiais. Da soleira da porta, ele olhou consternado para a saleta. O ambiente estava cheio de vestidos armados, mas não havia nem sinal de Rebecca. As esposas dos oficiais aglomeravam-se em torno de Derward Anderson, adulando o agente representante do Leste, mas a conversa morreu quando o viram. Brian surpreendera-se ao saber que Flora convidara Injun Jack, mas nenhum de seus escrúpulos veio à tona quando ele cumprimentou o recém-chegado. − Olá, Jack. Quem bom que pôde vir. − Obrigado. − O batedor apertou-lhe a mão, agradecido por encontrar um rosto amigável. − Imagino que conheça os cavalheiros na sala – comentou Brian hospitaleiro. − Mas deixe-me apresentá-lo às damas. − Já conheço a senhora Little − cumprimentou Jack amavelmente. − A senhora me entregou o prêmio pela vitória na corrida de cavalos. Boa noite, dona. − Boa noite − respondeu a mulher com um sorriso pálido. Sua expressão não se alterou enquanto Jack era apresentado às esposas de dois capitães e três segundos-tenentes, e à filha do major. − E este é o nosso ilustre visitante de Nova York − Brian concluiu as apresentações, indicando o
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garboso jornalista. − Jamai Jamaiss po poder deria ia ima imagi ginar nar,, sen senhor hor Be Bella llamy my − aventu aventurou rou-se -se Amy, Amy, pro provoc vocand andoo um arquea arquearr de sobrancelha da mãe. − O senhor Anderson aqui estava justamente dizendo que o senhor poderia ficar famoso. − Estou certo disso, senhor − apressou-se Derward a confirmar. − Se concordasse em relatar algumas de suas experiências e me permitisse retratá-lo, meu jornal ficaria feliz em publicar tal artigo. O senhor se tornaria uma lenda viva da fronteira do oeste. − Não sei se quero me tornar uma lenda − retrucou, enfadado. Mas não seria excitante? − alvoroçou-se Amy. – Todo mundo qUer saber como é a vida entre os selvagens. Sei que fala a língua deles, senhor Bellamy, e chegou até a adotar alguns de seus hábitos. − Apenas alguns − replicou Jack, conciso. − Eu sempre tiro o escalpo das moças. Ela deu um risinho nervoso. − O senhor está brincando, claro. − Claro. − Ele deu um sorriso sombrio. − Vamos buscar algo para beber, Jack? − Brian o levou-o para junto do bufê. − Os abstêmios abstêmios vão ficar em minoria esta noite porque a senhora Mackey insistiu em que não podia ser uma festa sem champanhe. − Onde está a sua adorável esposa? − Na cozinha, acho, com Rebecca. Francis apareceu de repente na cozinha e anunciou. − Brian está procurando você, Flora. − Já vou − ela respondeu, distraída com o que fazia no momento. − Só ia abrir mais uma garrafa de champanhe − Deixe que eu faço isso. − O oficial pegou a garrafa das mãos dela. Depois que ela saiu, ele indagou: − De onde vem todo este champanhe? − Algumas garrafas eram de Paul − informou Rebecca arrumando uns pasteizinhos numa travessa. − Achei que faríamos bem em consumi-lo. E o coronel Quiller, que queria contribuir de alguma forma, mandou o resto. − Bem, este é o único motivo que torna esta noite suportável − comentou ele, servindo-se de uma taça. Ela observou o jovem oficial com surpresa. − Pensei que gostasse de festas.
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− Não de festas de despedidas para você. Ela ficou em silêncio, ainda se sentindo culpada por aqueIa festa ter sido organizada com falsas intenções. − Por favor, Becky. − Com uma rápida olhada para se certificar de que St. Jean, que se encontrava junto ao fogão, não estava ouvindo, Francis pegou-lhe a mão e implorou. − Por que não se casa comigo e permanece em Forte Chamberlai Chamberlain? n? Ao vê-lo corado pelo álcool e o entusiasmo, Rebecca não viu como afastá-lo. Bastava no entanto uma resposta. − Eu gosto de você, Francis − disse-lhe com um sorriso − Mas não o amo e não posso me casar com você. − Mas eu te amo! − Esta não é a hora nem o lugar para discutirmos isso. − Recolhendo a mão com delicadeza, ela pegou a travessa e dirigiu-se à sala. − Então quando será? Não existe existe outro, existe, Beck Becky? y? Protestou Francis Francis atrás dela, sem se importar se o taifeiro ouvia. Ela não respondeu. Jack encontrava-se na sala, de costas para ela. Seu paletó de corte impecável lhe caía muito bem sobre os ombros enquanto ele falava com o médico. Apesar da escoriação no queixo e o revólver na cintura, o batedor era um perfeito cavalheiro, da ponta das botas bem engraxadas à gravata de seda azul-marinha. Ao vê-lo, ela quase perdeu o fôlego. Pressentindo Pressentin do sua presença, Jack se voltou para vê-la na soleira da: porta. Envergando um vestido azulacinzentado, ela parecia calma e senhora de si como sempre, mas um rubor insinuante coloria-lhe as faces. Ele a examinou detidamente com os olhos azuis, mas nenhum dos dois falou num primeiro momento. − Boa noite, senhora Emerson − murmurou ele, por fim, inclinando-se polidamente. − Boa noite, senhor Bellamy. − Com uma curta inclinação de cabeça, ela levou a travessa para a mesa com as mãos trêmulas. Levantando-se Levantand o-se da cadeira, o médico convidou: − Sente-se aqui, por favor, minha cara. Ela aceitou, consciente dos olhares das esposas dos oficiais em sua direção. Engajou-se então numa conversa animada e superficial com Jack, embora mal soubesse do que falava, porque, quando olhava em seus olhos, via ali refletida uma intensidade de emoções que só se igualava à sua. Da porta da cozinha, sem ser notado, Francis observava o casal conversando enquanto entornava outra
Da porta da cozinha, sem ser notado, Francis observava o casal conversando enquanto entornava outra Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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taça da bebida. Com os olhos apertados ele seguiu os movimentos do batedor, quando Jack, fugindo à intensa observação no aposento, caminhou até a varanda. No entanto, Francis não procurou levar vantagem com a ausência do outro homem. Depois de lançar um olhar indignado a Rebecca, foi se juntar aos jogadores de charada. Entrou no jogo com um entusiasmo exagerado. Sua voz estava mais alta que de costume, a risada convulsiva e o copo nunca permanecia vazio. − Você deixou o Porter fora de si − comentou o médico. − Tornou a rejeitar seu pedido de casamento? − Doutor! − Rebecca o olhou consternad consternada. a. − Como soube? − Eu sei de muitas coisas, Rebecca-Perfeit Rebecca-Perfeita. a. Sou um homem do conhecim conhecimento ento − replicou ele. − Sei, por exemplo que seria um desperdício você se casar com o nosso galante ajudante-de-ordens. Ele precisa de alguém como Amy Little... petulante, bonita e não muito inteligente. − Não fale tão alto − ela o conteve. − Está querendo procurar encrenca? − Não seria a primeira vez. − Ele sorriu confiante. − Mas também sei que você e o Jack Bellamy formam um belo casal. Em resposta, ela bufou de uma maneira bem pouco feminina − Além de instruído, sou também muito observador − informou-lhe o médico, gravemente. − Se tivesse de fazer um diagnóstico, diria que é amor. − Isso não é amor − protestou, ela, olhando ao redor para ver se alguém os ouvia. − E apenas uma atração inexplicável que, além de inadequada, é extremamente incômoda. Eu nem mesmo gosto de Jack Bellamy. − Eu percebo. − Voltando-se para observar os jogado de charada, o médico sorriu. − E eu imagino que ele também não gosta de você. − Ele me desrespeita, me irrita e me confunde − declarou ela, resumindo alguns dos defeitos dele. − Ele a confunde? − indagou o médico, fingindo-se horrorizado. Ela franziu a testa. − Isto não é brincadeira. − Eu também acho. − Rindo, ele deu-lhe um tapa na mão. − Essas coisas se resolvem por si mesmas. Se não, mande o rapaz para mim e eu dou um jeito nele. Ou mando um enfermeiro dar... um dos bem grandes.
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A risada de Rebecca foi como um ímã que atraiu Jack de volta à sala. A vê-la na companhia do médico, aos quais se juntavam Brian e Flora, ele se aproximou. Está se divertindo em sua festa, senhora Emerson? − Eu estou. − Ela sorriu pa para ra ele, com co covinhas vinhas no rosto − E voc você, ê, também est está? á? − Mas que fest festaa ma marav ravil ilhos hosa, a, Fl Flora ora − a voz ale alegre gre de Amy interr interromp ompeu eu a co conve nversa rsa.. El Elaa vin vinha ha pendurada no braço de Francis ao se Juntarem ao grupo. − Esta tão quente que tenho medo de morrer de sede. − Permita-me servir-lhe uma taça de champanhe champanhe,, senhorita Amy − ofereceu-se o tenente depois que as piscadelas da garota não haviam surtido o menor efeito em Jack. Retornando do bufê com duas taças, ele indagou. _ Estão servidas, Becky, Flora? − Como as duas mulheres declinassem à oferta, Francis ergueu a taça num rápido brinde. − A sua saúde, amigos gentis. _ Famintos seria a expressão mais adequada − corrigiu Brian. − Senhoras e senhores, está na hora do jantar. Coronel, poderia abençoar a refeição? Senhora Little, por favor, dê-nos a honra ser a primeira a se servir no bufê... à frente de nossos sempre esfaimados segundos-tenentes solteiros. O trio inseparável de oficiais subalternos, carinhosamente carinhosamente apelidados de "Garotões", riram e deram um show de sapateado, marchando para trás da mesa. Depois que o ambiente silenciou, o coronel fez as honras da casa, dando graças pela refeição. − Estou faminta − desabafou Flora no momento em que o comandante terminou. − Você está sempre faminta − comentou o marido. − Isso está parecendo um caso para a medicina – caçoou o médico, mas seus olhos permaneceram pensativos pensativ os em Flora. − Por que não vem me fazer uma visita na próxima semana, minha cara? Os hóspedes estenderam-se em elogios em relação à comida,. enquanto St. Jean exibia uma expressão de júbilo. Francis conduziu Rebecca para a fila, enlaçando-a possessivamente pela cintura. Deixado com Amy, Jack inquietou-se até que. George Davis apareceu. Ele pegou a jovem pela mão e retirou-se para a varanda, onde o médico esperava o movimento em tomo da mesa diminuir. Rebecca não conseguia deixar de pensar na conversa com o médico, embora não tivesse tempo para revisar aqueles pensamentos no momento. Francis não parava de assediá-la durante a refeição, tornando-se mais incômodo a cada momento. Quando Jack e o doutor enfim voltaram para a sala, surpreendeu o batedor a observá-la. O sorriso dele se esvaiu ao encontrar o ajudante-de-ordens a seu lado. Depois de encher o prato ele voltou à varanda,
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deixando-a com Francis e seu ar de embriagado. Passado algum tempo, o ajudante-de-ordens levantou-a e declarou: − Preciso tomar um ar. Vamos lá fora comigo, Becky. Pegando-o pelo braço para apoiá-lo, ela saiu com Francis O ar fresco não pareceu surtir muito efeito sobre sua embriaguez. Chegando à beira da varanda, ele sentou-se e balançou as pernas para fora. De olhos fechados, ele se inclinou para o poste ao lado. Consciente dos homens atrás de si, Rebecca teve vontade de sumir, mas temeu que Francis fosse desmaiar. − Você está bem? − chacoalhou-o levemente. − Acho que bebi champanhe demais − ele admitiu sem abrir os olhos. − Dê-lhe algum tempo, Rebecca − instruiu o médico no escuro. − Vou levá-lo a seu alojamento depois de ter comido um pouco. − Obrigada, doutor. Não havia o que dizer naquela situação. De certo modo, ela sentia-se responsável pelo que acontecia ao tenente, embora não quisesse que ele a amasse. E não queria sentir o que sentia por Jack. O que quer que fosse. Aquilo não poderia ser amor. No escuro, os homens se reuniram na rua a caminho do pátio. Acompanhados por um violino e uma sanfona, os integrantes da companhia C fizeram uma serenata para a esposa de seu capitão. Sua música espalhou-se na noite sobrepondo-se à conversa ruidosa na casa. Os convidados saíram e foram para o jardim. Francis não abriu os olhos Para a alegria de seus homens, Brian levou a esposa para o pé da escada e começou a valsar com ela em plena rua e foram logo seguidos por outros casais. Pondo-se ao lado de Rebecca, Jack lembrou-se da noite que ela se recusara a dançar com ele. Ela provavelmente repetiria o gesto agora, mas ele não resistiu em tomar-lhe a mão num convite silencioso. Embora soubesse que não devia, ela deixou a mão sob a dele. Com um brilho nos olhos azuis, ele puxou-a para os seus braços antes que ela tivesse a chance de mudar de idéia. Com os olhos nos olhos, os lábios recurvados num tímido sorriso, eles dançaram juntos. Com uma graciosidade surpreendente surpreendente para um homem de seu tamanho, Jack conduziu Rebecca como se ela fosse uma preciosidade. Ela sentia-se voando, sustentada por aqueles braços fortes e gentis. No entanto, quando a música findou, ela se encontrou à deriva num mar de faces escandalizadas. Elas lhe lembravam o que havia se esquecido num momento de imprudência: viúvas não tinham lugar numa pista
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de dança, mesmo quando fosse o solo do Kansas. A tensão não se atenuou nem mesmo quando Francis encaminhou-se para o casal com os modos exageradamente prestativos de um ébrio. − A próxima dança é minha − informou a Jack enfaticamente. − Não haverá mais danças, Francis − demoveu-o Rebecca, em voz abafada. − Estou indo para casa. − Então eu a levo − contrapôs o tenente. − Por que não vem comigo? − sugeriu Jack. – Está precisando descansar, Porter. − Eu estou bem. Talvez você queira descobrir quanto... Francis lançou um olhar hostil ao alto batedor. − O tenente Porter me acompanhou à festa esta noite − lnterveio Rebecca. − Ele deve me levar para casa. − Muito bem. − Jack capitulou ante à preocupação dela em evitar uma discussão. Ele apenas dirigiulhe uma inclinação de cabeça em despedida, quando ela retomou ao lado do tenente depois de se desculpar com os anfitriões. Francis acompanhou Rebecca em um silêncio pesado. Parecia quase sóbrio quando pararam em frente à casa dela. − Por que me criou aquele embaraço na festa, Becky? − Eu embaracei você? − Ela franziu a testa, perplexa. − Você dançou com o Bellamy quando todo mundo sabe que sou louco por você. Acaso não tenho sido um perfeito cavalheiro? Não tenho mesmo tocado em você, a não ser para beijar sua mão como convém. − Ele beijou-lhe a palma da mão e então manteve-a colada ao rosto, o que a deixou mortificada. − Eu sinto muito, Francis − sussurrou. − Não quero que você sinta. Quero que me ame – gemeu ele. Sem aviso, ele puxou-a para seus braços e beijou-a desajeitadamente nos lábios. Na escuridão do pátio, Jack praguejou em voz baixa. Ele os seguira porque ficara preocupado, mas ao ver a mão dela pousada genti gentilmente lmente no rosto de Porter e agora o beijo percebeu quão tolo havia sido. Dando meia-volta, afastou-se. Enquanto isso, Rebecca, aprisionada entre os braços de Francis, debateu-se quando os lábios dele escorregaram de sua boca para o rosto. − Eu a tratei como uma rainha − ele protestou baixinho em seu ouvido. − Por que desperdiçar seu
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tempo com Injun Jack, quando sabe que eu te amo? − Ele acariciou-lhe um seio. − Deixe-me amá-la, Becky. Ela se desvencilhou com tamanha violência que ele foi cair sentado na poeira. − Escute aqui, Francis Porter, se não estiver bêbado demais para isso − ela explodiu. − Eu nunca me comportei com você de outra maneira que não a mais correta. E nada, nem mesmo um oceano de champanhe, lhe dá o direito de me tratar dessa maneira. − E-eu sinto muito − balbuciou ele, piscando atordoado − Se é assim, então venha pedir desculpas quando estiver livre da influência do álcool. Nem se atreva a se dirigir-se a mim antes disso. − Farei tudo o que quiser − prometeu ele quando subia já os primeiros degraus da escada. − Apenas diga que vai me perdoar, Becky. − Não me chame de Becky − ordenou ela, batendo a porta.
NOVE − Agora chega, Cuss − Rebecca mimou o cavalo como a uma criança. Os trabalhos matinais no estábulo haviam terminado e ela apreciava a calma do lugar. − Chegue para lá. Deixe Liberty comer um pouco de açúcar também. − Bec... Rebecca? Posso falar com você? Voltando-se da cerca do curral, ela deparou-se com Francis às suas costas, os olhos preocupados e vermelhos. − Vim me desculpar − falou ele em voz rouca. − Não me lembro direito do que aconteceu ontem à noite, mas sei que fui um idiota. Não sei o que deu em mim. − Bebeu champanhe demais, eu diria − respondeu ela sem rancor. − Me perdoe e eu prometo que terei um comportamento exemplar. Nunca mais vou agir daquela maneira. − Eu o perdôo. − Ela suspirou, afastando a raiva da noite anterior. anterior. − Mas não quero ter nada a ver com essa promessa. Só não quero que me trate daquela maneira outra vez. − Nunca mais − jurou ele solenemente.
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− Então somos amigos? − Amigos. − Tristemente, ele apertou a mão que ela lhe estendia. Depois de observarem os cavalos em silêncio e perguntou: − Por que não quer que a chame de Becky? − Porque era assim que meu meio-irmão me chamava sempre que brigava comigo ou queria que lhe fizesse alguma coisa.− explicou ela, acariciando o focinho aveludado por cima da cerca. − Passei a odiar esse apelido. − Por que não me falou antes? − Não queria magoar você. − Não estou magoado... pelo menos em relação a isso − Ele deu um sorriso vago. − Posso acompanhá-la até em casa... Rebecca? − Não há necessidade. Além do mais, vou dar uma parada no hospital. − Se é assim que quer − ele murmurou. A manhã estava quente e luminosa, com uma brisa agitando as folhas do lariço-americano. O coração de Rebecca disparou ao ver Jack saindo do hospital. Envergonhada e insegura depois da dança noturna, ela parou ao pé da escada e sorriu para ele. − Bom dia − cumprimentou baixinho. − Dia, senhora Emerson. − A voz soou dura e fria como seu rosto. Com os olhos fixos na paisagem acima dos ombros dela, ele desceu os degraus e passou por ela sem mais nenhuma palavra. Por um momento, ela ficou petrificada com o choque, olhando para o ponto onde ele estivera antes. Pensara que depois daquela noite... Não importava o que pensara. Era um erro pensar alguma coisa quando se tratava de um homem tão instável como Jack Bellamy. Bellamy. Ele nunca mais a pegaria desprevenida . outra vez. Recusando-se a derramar as lágrimas que lhe subiam aos olhos, ergueu o queixo e foi para dentro. Parando sob a árvore, Jack quase desejou que ela o seguisse e perguntasse o que havia de errado. Ele lhe diria o que pensava a seu respeito, a respeito de Porter, a respeito daquela droga de mundo inteiro. Aquele não estava mesmo sendo um bom dia, considerou pegando um charuto do bolso. Nem a noite anterior terminara bem. De volta ao alojamento de visitantes, encontrara uma competição de bebida em andamento. Quem diria que um repórter franzino do leste conseguiria deixá-lo completamente bêbado? Acabara perdendo duas moedas e ganhando uma dor de cabeça. Naquela manhã, o doutor se recusara lhe dar alta, o que lhe permitiria reassumir suas funções. E nem
mesmo ameaças e adulações haviam feito o teimoso cirurgião a mudar de idéia. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Então ele encontrara Rebecca. Toda fresca e bonita, sorrindo-lhe como se o que testemunhara testemunhara na noite anterior em frente à casa dela nunca tivesse ocorrido. Ele fizera questão de tratá-la com a maior indiferença. O que ela significava para ele, afinal de contas? Haviam trocado alguns poucos beijos e uma dança. Devia ter mantido a decisão de ficar longe dela. Não havia lugar para uma mulher em sua vida, ainda mais uma tão confusa e que também o confundia todo. Não queria mais vê-la, nem pensar nela, nem sequer se lembrar de como ela se sentira em seus braços. _ Droga! − murmurou, acendendo um fósforo no tronco da árvore. Soltando uma baforada do charuto, ficou olhando através da fumaça para a janela da enfermaria onde Rebecca deveria estar. Agitou o fósforo até apagá-lo, então jogou-o ao chão e pisou-o com a ponta da bota diversas vezes. − Poderia começar um incêndio dessa maneira – uma voz o advertiu. Jack olhou por cima do ombro, mas não viu ninguém. − Como está se sentindo nesta manhã, Injun Jack? − indagou a voz. Baixando os olhos, ele viu Derward olhando-o por trás da árvore. O artista estava sentado no chão, com as pernas cruzadas servindo de apoio para o bloco de rascunho. − Estou ótimo − respondeu o batedor, conciso. – E quanto a você? − Nunca me senti melhor. − Derward sorriu alegremente. − Como chama aquele mata-ratos que andamos bebendo ontem à noite? − Uísque trança-perna. − Trança-perna. Que bela bela descrição, Jack cairia bem para mim. E você não fi ficou cou atrás. − deu a volta para ficar em frente a ele. − Onde aprendeu a beber daquela maneira? − Acho que já nasci com essa capacidade. − O franzino jornalista era modesto em relação a: si mesmo. − Por que não se senta um pouco aqui? − Não pretendo lhe contar minhas "experiências" não quero que faça o meu retrato − advertiu Jack. − Você já deixou isso bem claro. Nunca fui ameaçado com agressões físicas antes − respondeu Derward, divertido. − Além do mais, já estou com um desenho em andament andamento, o, a figura do exército de pás e picaretas que está construindo o Oeste. Agachando-se ao lado dele, Jack examinou o desenho, um detalhe do trabalho ali perto, onde colocavam o telhado numa casa.
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− Este é o exército correto − concordou. – Dedicando mais tempo à carpintaria que às manobras militares. Uma rajada de vento agitou as folhas do bloco de desenho levando para longe várias folhas soltas. Enquanto o artista saltava para recolher as mais próximas, Jack alcançou uma página que o vento jogara para pa ra o seu lado. lado.
El Elee mordeu mordeu o cha charut rutoo ent entre re os de dent ntes es en enqua quanto nto eexa xamin minava ava o desen desenho ho fe feit itoo ali. ali. A maio maior r
parte da página continha uma ilustração da caçada ao búfalo do dia anterior, mas em um canto achava-se um pequeno esboço, pouco maior que uma moeda de meio dólar, que chamou sua atenção. Nele, uma silhueta recortava-se contra o céu, uma mulher olhando para a pradaria, com um cesto de flores no chão a seu lado. Embora não se pudesse ver seu rosto, era inegavelmente Rebecca. O desenho era apenas apen as um rascunho rascunho e estava estava iincom ncomplet pleto, o, mas toco tocouu Jac Jackk bem fund fundo. o. . . − Você vende os seus desenhos? − indagou, voltando-se para Derward. − As vezes. Por quê? − Porque eu quero comprar este aqui. − Jack mostrou-lhe a pagina. − A caçada ao búfalo? − O artista franziu a testa. − Eu estava pensando em... − Não o desenho inteiro. Eu quero apenas o esboço do canto. − Entendo... − murmurou Derward com um olhar compreensivo. − Não está à venda, mas... − Ele ergueu a mão para deter o protesto de Jack. − Eu dou ele para você se me deixar desenhá-lo. O alto batedor estacou. Então olhou para o desenho em suas mãos e murmurou: − Tudo bem, vá em frente. − Esplêndido! − Derward folheou o caderno à procura de uma página em branco. − Sente-se, por favor, e vire o rosto um pouco para a esquerda. Jack obedeceu, sentindo-se um tolo. − Levante um pouco o queixo − ordenou o artista, antes de começar a desenhar. − Esplêndido! Depois de algum tempo, ele arriscou: − Só tem uma coisa que eu não entendo... Não, não vire a cabeça. − O que você não entende? − Jack gostaria de ver o desenho, mas tinha medo de se mexer. − Por que você quer o retrato da senhorita Rebecca? Agora há pouco, notei que você e ela não pareciam estar se dando muito bem. − Não tenho muita certeza − respondeu o batedor. − Vai ver que é porque gostei dele.
E um desenho muito bonito concordou Derward, sem se gabar. Mas não tenho certeza se captei Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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bem a força e a personalid personalidade ade dessa mulher. Jack baixou os olhos para o desenho em suas mãos. − Pois eu vejo uma mulher forte, de personalidade e com uma teimosia danada de permanecer onde não deve. Ele ergueu os olhos de repente, distraído por uma gritaria, e deu uma risada. Na rua em frente ao hospital, uma dupla de boiadeiros estava discutindo. Embora fossem amigos inseparáveis, os homens disputavam constantemente sobre quem era o melhor com o chicote comprido, sua ferramenta de trabalho − Eu vou lhe mostrar, seu alemão teimoso. Pegue esse charuto e dê uns quarenta passos − o homem mais baixo instruiu ao companheiro. − Vou arrancar a cinza dele com ponta do chicote. − Não quero essa bituca − retrucou o mais alto. – Não quero a cinza tão perto do meu nariz. Me dê um inteiro aceso. − Não sei o que fazer com você, Herman – bufou o baixinho, pegando um longo charuto. − Você só me envergonha. Calmamente,, Herman acendeu o charuto e soltou uma baforada contra o céu. Calmamente − Deixe eu fumar um pouquinho, mein freund, antes de tentar. Desenrolando o chicote do ombro, o baixinho estalou-o com destreza, enquanto Herman tomava posição. O fio do chicote ondeou com graça, como uma extensão do braço do boiadeiro, quando ele o agitou várias vezes no ar numa sucessão de golpes. Derward estava cativado. Seu lápis voou no papel e logo uma pequena vinheta tomou forma embaixo do retrato de Jack. − Devo Devo pedir pedir-Ihe -Ihess para para ire irem m para para outro outro lugar, lugar, ca caval valhei heiros ros.. − Reb Rebec ecca ca aparec apareceu eu à va varan randa da da enfermaria, o vestido coberto por um avental e um tecido empoeirado na mão. − Aqui é um hospital e o barulho está incomodando os pacientes. Como o boiadeiro baixinho a ignorasse, ela chegou até o alto da escada e tentou outra vez. − Perdão, senhor. Não pode estalar seu chicote aqui. − Vá para dentro, irmã − o homem lhe respondeu por sobre o ombro. − Esta contenda não vai durar mais quem minuto. − Pois vá disputar sua contenda em outro lugar − retorquiu ela com a paciência se esgotando. A paciência do homem também estava por um fio. − Por que não leva seu corpinho para outro lugar longe daqui?
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− Porque vou ficar aqui até que saiam. − Rebecca plantou-se teimosamente com as mãos na cintura. O tecido empoeirado jazia do lado do corpo dela e pareceu um alvo irresistível para o boiadeiro. Sem aviso, ele agitou o chicote e arrancou o pano de entre os dedos dela. − Oh! − ofegou ela em meio às risadas masculinas, soltando chispas pelos olhos, ela pegou uma vassoura. Brandindo-a Brandindo-a sobre a cabeça, ela voou para fora da varanda. − Eu lhe pedi com educação para sair − ela gritou ao mesmo tempo que dava com a vassoura na anca do boiadeiro. − Pois agora tome! − Espere aí, dona − protestou sua vítima, enquanto enquanto Herman corria para uma distância distância segura. − Saia daí, Squint − gritou Jack, rindo contra a vontade. − Você a está deixando louca. A vassoura parou a meio caminho e Rebecca encontrou o olhar de Jack horrorizada. Não o vira sentado à sombra da árvore. Surpreendida numa indigna explosão de raiva, ela deu meiavolta e marchou de volta para o hospital, batendo a porta atrás de si. − Se ela não estava louca agora, não quero nem ver quando ela ficar de verdade − resmungou o boiadeiro baixinho, aproximando-se aproximando-se do batedor. Herman o seguiu. − Como vão passando, rapazes? − cumprimentou-os Jack. − Gut − grunhiu Herman, querendo dizer "Bem". − Até
Squint provocar aquela tigresa, tigresa, ya?
− Que diabos está fazendo aí? − Squint inclinou-se para ver o desenho de Derward. − Esse cara está fazendo o seu retrato? − indagou para Jack. − Não, o de vocês − corrigiu o batedor. − Derward Anderson, quero que conheça Squint Haskell e Herman Schneider. − Você fez o nosso retrato? − surpreendeu-se Squint. − E só um rascunho. − O artista exibiu seu trabalho para que pudessem ver. − Filho da mãe, ficou bom. Você pegou bem o Herman. − Ya. − O alemão alto e
magro concordou. − Está tudo no lugar.
− Quando chegaram, rapazes? − indagou Jack. − Uma hora atrás. Saímos do Forte Zarah dois dias atrás com uma escolta. − Tiveram algum problema pelo caminho? − Avistamos alguns arapahos e eles nos viram − comentou Squint. − Eles ficaram longe quando viram os homens da Cavalaria − acrescentou Herman.
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− As pessoas podem falar mal desses soldados em tempo de paz, mas eles valem um bocado nesses dias de agora continuou o baixinho. − Em vinte anos de estrada, nunca vi gente mais bacana. − Faz vinte anos que vocês são comerciantes de Santa Fé? − indagou Derward, excitado. − Somos boiadeiros − corrigiu Squint − da Companhia de Transportes Overland, de Kansas City, Missouri. − Então devem ter um monte de histórias sobre a vida no sertão para contar − insistiu Derward. − Esqueci de lhes dizer − advertiu Jack. − Este sujeito trabalha para um jornal. Se não tomarem cuidado, correm o risco de lerem alguma coisa a seu respeito. − É mesmo? − indagou Herman, impressionado. − As pessoas no Leste têm o maior interesse em saber sobre o Oeste bravio e vocês estão em condições de Ihes contar, cavalheiros, com suas próprias palavras. − Derwald animou-se. − Vocês sabem o que é cavalgar milha após milha, dia após dia, na pradaria, sem ver uma viva alma; − Costumava ser assim mesmo − recordou-se Squint com nostalgia. − Podia passar uma semana ou mais sem ver uma pessoa. − Ya, o Kansas está ficando cheio de gente agora.
− Mas acho que poderíamos lhe contar uma história ou duas − ofereceu Squint. − Estou achando que vai ser uma longa tarde. – Jack recortou o canto da folha que segurava e devolveu o restante a Derward. − Não acredite em tudo o que lhe contarem. − Agora me digam, cavalheiros. − O jornalista observou os dois homens em expectativa assim que o batedor se afastou. − Faz muito tempo que conhecem Injun Jack?
Várias horas depois, quando Rebecca terminou seu trabalho no hospital e saiu para a varanda já às escuras, acenos amigáveis dos boiadeiros a informaram de que haviam sobrado ressentimentos. Aliviada por perceber que Jack não se encontrava sob a árvore com eles, ela retribuiu o aceno e dirigiu-se para casa. O tempo corria depressa, refletiu enquanto caminhava. As tropas chegariam logo e o tráfego de carroças seria restabelecido. Se não tivesse logo um plano, acabaria indo de volta para a Pensilvânia. Mas toda vez que reexaminava suas limitadas opções, Rebecca chegava às mesmas inescapáveis conclusões. O melhor jeito de permanecer no Kansas seria arrumando um trabalho e alojamentos na cidade. Jack a advertira sobre Chamberlain, mas a cidade devia ser mais civilizada que o acampamento da ferrovia. Mesmo as novas vilas tinham habitantes permanentes e comerciantes e xerifes. E, com o tempo, as
vilas se tomavam cidades, com escolas e igrejas. Certamente haveria um lugar. lá para uma viúva jovem e Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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saudável, sem medo de enfrentar o trabalho. Com certeza haveria um lugar para ela. Ela tomou a decisão quando estava chegando em casa. No dia seguinte, pediria emprestado o cavalo de Teddy e iria até Chamberlain. Embora fosse cedo quando Rebecca chegou à cidade, as ruas estreitas e batidas estavam cheias de trabalhadores trabalhad ores da ferrovia, caçadores de búfalos e engomados jogadores. Não havia nenhuma outra mulher à vista. − Se você se comporta como uma dama, os outros irão tratá-la como tal − murmurou consigo mesma, enquanto seguia pela via pública. Envergando um traje de montaria cor de lavanda, ela ia aprumada na sela, mas seu rosto queimava ao ouvir os comentários dos homens, que pareciam desconhecer o ditado de sua mãe. A despeito das advertências de Jack, ela não esperava que a cidade fosse tão grande e desordenada. Ao longo da rua Principal, onde se alinhavam tanto barracas quanto prédios toscos, ela contou dez bares, dois restaurantes, um hotel inacabado e um grande armazém onde, aparentemente, vendia-se de tudo. De saída, pôs de lado os bares como prováveis locais de trabalho e teve dúvidas quanto ao armazém, pois nao entendia nada de comércio. No posto de aluguel de carruagens e de cavalos, ela foi atendida por um atônito ferreiro, que cuidou de seu cavalo. − Não devia ter vindo aqui sozinha, dona – advertiu o homem. − Se esperar um pouco, posso acompanhá-la onde precisar ir. Será mais seguro. Existe um bar em cada esquina, e eles estão sempre abertos. − Não se preocupe comigo − insistiu ela com um sorriso largo. − Tenho várias visitas a fazer e não quero desviá-lo de seu trabalho. O ferreiro ficou olhando preocupado enquanto a jovem mulher descia a rua, sua bolsa gingando ao lado do corpo. Ela passou longe dos bares e desviou o olhar ao passar pela barraca que oferecia banhos públicos. Antes que tivesse passado um quarteirão, já havia recusado a companhia de um ferroviário recém barbeado e um irônico jogador com a mesma firmeza. Rebecca parou ao ver seu reflexo nas janelas da casa funerária, o prédio mais elegante da cidade. Ajeitando uma mecha de cabelo sob a redinha e aproveitando para acertar o ângulo do chapéu, ela concluiu que estava com melhor aparência do que esperava. Para evitar perguntas naquela manhã, guardara o equipamento de montaria no armário e selara Cuss sozinha. Partira antes da chamada no estábulo, agradecendo a boa fortuna por ter crescido numa fazenda. Apesar de Ted ter dito que seu cavalo ficara mais manso com o tempo, descobrira que Cuss não negava sua
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origem. Ele resfolegava e corcoveara por metade do caminho até Chamberlain. Agora ela se sentia com calor, grudenta e desarrumada. Ao se aproximar do restaurante, o local mais promissor segundo calculava, observou o gerente abrir a loja. No bar ao lado ouviam-se risadas acompanhadas de uma música desafinada, enquanto ele dispunha tábuas sobre barris para usar como quadros de anúncios. Quase atordoada pelo barulho, o calor e o cheiro de gordura quente e de homens suados, ela se deteve por um momento. Mas precisava de um emprego. Reunindo toda a sua coragem, cruzou o batente da entrada e tropeçou num vira-lata que dormia por ali. O gemido animal passou despercebido pela maioria dos homens que tomavam o desjejum. A única reação veio de um homem barrigudo e engordurado, que deu um chute no cachorro e não descansou enquanto não teve certeza de que o animal não voltaria. Então voltou-se para Rebecca. − Em que posso ajudá-la, garota? − Estou Estou pro procur curand andoo o don donoo des deste te est estabe abele lecim ciment entoo − resp respond ondeu eu ela, ela, co corre rrendo ndo um olhar olhar apreensivo pelas mesas cobertas de moscas e o chão imundo. − Estabelecimento, hein? − O homem apreciou o mirrado salão com um novo olhar. − Pois acho que está procurando por mim. − Muito prazer, senhor. − Engolindo fundo, ela foi direto ao assunto. − Estou procurando emprego como cozinheira. O homem coçou a cabeça por baixo do velho chapéu-coco. − De cozinhei cozinheira ra não preciso, mas poderia querer uma garçonete garçonete.. − Eu posso fazer isso − respondeu ela de imediato. − Dê o emprego a ela, Gus − falou um homem na mesa ao lado. − Ia ser muito melhor ver um rostinho bonito desses no café da manhã que a sua cara. − Não tenho a menor dúvida. − Gus examinou-a de alto a baixo. − Eu lhe pago dois dólares por semana mais as refeições. Quando pode começar? − Quase imediatamente... tão logo encontre onde ficar. Quem sabe pode me recomendar uma casa de pensão. Os homens nas outras mesas caíram na risada. − Não existem pensões aqui, mas eu tenho um quarto nos fundos em que você pode ficar − ofereceu Gus. − Não vou lhe cobrar por ele também, mas se alguém for lá, quero a metade. − Alguém for lá? − repetiu ela, empalidecendo.
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− Se alguém for, quero a metade do que ganhar. Quer que lhe faça um desenho? Enrubescendo ao compreender, Rebecca recompôs-se. Talvez não tenha me explicado bem, senhor. Estou procurando por um trabalho. Só isso. − Quando se trata de trabalho, uma garota bonita como você ganha mais por fora que no serviço. O que me diz? − pressionou ele. − Estou lhe oferecendo um emprego, casa comida e dinheiro por fora. − Pode ficar com seu emprego, sua casa, sua comida e com o dinheiro. − Erguendo a cabeça, ela saiu apressada para fugir das gargalhadas. Seguindo-a pela rua, Gus insistia. − Pense bem, gracinha. Não vai encontrar oferta melhor em toda Chamberlai Chamberlain. n. Suas palavras foram proféticas. Não só Rebecca não encontrou melhor oferta, como recebeu outras parecidas duas vezes em seguida. Trêmula de indignação, ela saiu intempestivamente do hotel inacabado. Sua única esperança parecia ser o proprietário do armazém. Estava se preparando para falar com ele quando avistou, numa rua lateral, o seguinte anúncio: Sra. LeDuc Refeições para Cavalheiros
Suas esperanças se renovaram quando chegou à bonita casa de madeira. Ainda recendendo a pintura recente, a casinha parecia brilhar sob o céu do Kansas. Respirando fundo, ela galgou os degraus e tocou a campainha. − Pois não, dona? − uma negra escultural atendeu à porta. − Bom dia − cumpriment cumprimentou ou Rebecca controlando os nervos. − Gostaria de falar com a senhora LeDuc, por favor? − Espere aqui, por favor. − Recebendo-a numa sofisticada saleta na entrada, a mulher desapareceu desapareceu nos fundos da casa. Enquanto esperava, Rebecca examinou o minúsculo hall. Seu rosto pálido e tenso refletia-se no espelho da parede oposta. De cada lado do espelho, cinco chapéus masculinos, pendiam em ganchos na parede. Além da porta, ela avistou um tapete persa e os perfis de móveis do que parecia ser. a sala de estar. Todas as cortinas eram de veludo e estavam, fechadas, abafando a luz solar e parecendo absorver todo o som. A residência era estranhamente silenciosa para uma casa de refeições. Os únicos ruídos era o tique-
taque constante do relógio e as vozes grossas de homens vindo dos quarto nos fundos. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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A casa parecia imaculadamente limpa. A única exceção era o penetrante odor de fumaça de charuto, mas se arejasse. Ela teve um sobressalt sobressaltoo quando a criada reapareceu ruidosament ruidosamentee do seu lado. − A senhora LeDuc vai recebê-la. Conduzindo Rebecca pelo hall, ela abriu uma porta de correr para revelar uma senhora de meia-idade sentada a uma escrivaninha. Envergando um penhoar de bom gosto, a senhora LeDuc poderia passar como uma matrona de Filadélfia, a não ser por duas coisas: o excêntrico turbante na cabeça e o cigarro aceso entre seus longos e graciosos dedos. − Aproxime-se, querida − ela convidou, examinando a visitante com olhos verdes perspicazes. − Espero que não se incomode por eu fumar. É um hábito desprezível, admito, mas que só me permito nesta sala. − Obrigada por me receber. − Rebecca tentou não se intimidar. Ouvira falar de mulheres que fumavam, mas nunca vira uma. − Não quer sentar-se, senhorita Emerson? − Senhora − corrigiu ela, sentando-se em frente à escrivaninha. − Sou viúva. A senhora LeDuc ergueu as sobrancelhas, surpresa. − Posso lhe oferecer um café ou um chá? E depois poderá me dizer por que me procurou. − Não, obrigada. Vou lhe dizer logo, vim aqui a negócios. Estou procurando um emprego. − Compreendo. − As sobrancelhas da mulher quase desapareceram sob o turbante. − Tem alguma experiência? − Não muita − admitiu a viúva. − Mas sou boa no que faço e aprendo rápido. A senhora Lê Duc soltou uma baforada de fumaça pelo nariz e olhou através da fumaça. − Espero que me perdoe se fizer um julgamento apressado senhora Emerson, Emerson, mas não acho que minha casa seja o realmente o que esteja procurando. − Acho que não poderia encontrar encontrar um local de trabalho mais elegante em toda a redondeza. − Rebecca correu um olhar de admiração pelo aposento. A senhora LeDuc pôs de lado o cigarro com um suspiro Aquela ali parecia tão jovem. Deixando de lado o sentimento olhou atentamente para a outra mulher por um momento Ela era bonita e sua aparente inocência seria uma vantagem enquanto durasse. Num lugar onde havia
Ela era bonita e sua aparente inocência seria uma vantagem enquanto durasse. Num lugar onde havia Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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três homens para cada mulher, não seria por muito tempo. − Muito bem − declarou ela bruscamente. − Aqui está o que ofereço para minhas garotas: seis noites de trabalho por uma de descanso. Minha parte é de apenas quarenta por cento, mas o quarto e as refeições não estão incluídos. − Sua parte? − a mulher mais jovem repetiu em dúvida. − Aqui não é uma casa de refeições? − Evidentemente não da espécie que está pensando replicou a madame, compreensiva. − Eu sinto muito. − Rebecca levantou-se de um salto e voou para a porta. − Cometi um terrível engano. Peço que me desculpe − declarou, saindo da sala. Jack estava de melhor humor quando deixou o jogo de pôquer, que durara a noite inteira na sala dos fundos, do que quando chegara. Dirigindo-se para o escritório da madame para se despedir, ele cruzou com uma mulher, que envergava um vestido lilás, retirando-se para o hall. Seu lindo traseiro arredondado chocou-se contra ele. Sem as armações costumeiras nem as anáguas, o vestido propiciava um contato mais direto. − Vocês, garotas, sempre inovando suas artes − comentou rindo, afagando aquele traseirinho com tapinhas afáveis − Mas confesso que essa é novidade para mim. Com um arquejo ultrajado, a mulher girou sobre si mesma e encontrou-se diante do familiar par de olhos azuis. − Mas que diabo! Rebecca! − Jack Bellamy − exclamou ela. − Seu desprezível, mal-educado... Por entre risos, Elvira gritou do escritório: − Parece que ela o conhece, Jack. − Eu posso lhe contar uma ou duas coisinhas a respeito dela também. − Ele olhou para a mulher afrontada. − Não é o momento para isso − interrompeu a madame. − Acho melhor levá-la para casa antes que ela se meta em encrenca. − Você tem razão − concordou ele, baixando a voz. − Reb como veio até aqui? − Peguei o cavalo de Teddy emprestado. − Onde ele está?
Teddy? indagou ela, fazendo se de idiota. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Não, o cavalo, droga! − reclamou ele, lançando um olhar selvagem para a madame que abafava o riso. − Ele está no estábulo das diligências. − Titus − chamou ele por cima do ombro. Jogando uma moeda na mão do garoto que apareceu, ele ordenou: − Vá falar ao Adam para selar o Jo e o cavalo da senhora. − Sim, senhor Injun Jack. − O rapaz saiu correndo. − Vamos. − Jack pousou a mão na cintura dela. Arrastando-a para a porta da frente, ele parou apenas para pôr o chapéu e fazer um aceno para a dona da casa. − Obrigado pela hospitalidade, Elvira. − Elvira? − gritou Rebecca, enquanto ele a empurrava degraus abaixo na entrada. Ela não reconhecera a mulher de cabelos vermelhos do Dia da Independência com aquele turbante. Batendo os pés na poeira da rua, ela protestou: − Me largue, seu caipirão. − Não é muito elegante insultar um homem que a resgatou de uma casa de má reputação − retrucou Jack. O que você pensou que ia fazer ali? E não me venha com a história de que estava procurando um emprego. − Como cozinheira − confirmou ela, procurando se controlar. − Não admira que Elvira estivesse rindo. − E o que você estava fazendo lá? − Jogando baralho − respondeu ele. − E não é da sua conta. − Pensei que não jogava. − Ela o examinou preocupada. − Apenas quando tenho uma boa chance de ganhar. Trazendo-a pela rua principal principal,, ele resmungava enquanto andava. − Não posso acreditar que o Teddy tenha lhe emprestado o cavalo para uma loucura dessas. − Ele não sabia que eu vinha aqui − protestou ela, esforçando-se a correr para acompanhar-lhe o passo. − E procurar um emprego não é uma loucura. − É se for em Chamberlain. Por que não me deixa pagar sua conta no posto comercial e acabar com essa tolice? − Como você sabe... deixe para lá − desabafou ela. − Não quero que pague minha conta. Ficaria devendo a você tanto quanto ao senhor Peeples. Portanto me deixe em paz. − Ela aprumou o corpo. − Ainda não terminei meus negócios.
Terminou, sim. Ele a envolveu com tal força que tirou lhe os pés do chão.
Nem que eu tenha de
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arrastá-la para fora da cidade. − Você não se atreveria! − Então não me provoque − ele ameaçou, tomando o caminho do estábulo. − Essa garota é sua, Jack? − falou um homem, saindo de um bar do lado. − Nós estávamos pensando... − Ela não pare parece ce muito content contentee com a comp companhi anhiaa come comentou ntou outro homem. homem. − Procurando Procurando um novo par, doçura? − Não provoque o Injun Jack − advertiu outro ainda. − Ele já parece irritado. Vai acabar limpando o chão com você. − Com todos vocês − gritou Jack ameaçadoramente. − Saiam do caminho. Um sujeitinho que observava a cena saiu para a rua atrás deles. − Mostre pra ela quem é o dono, Injun Jack. − Ele não é o meu do... − Olhando por cima do ombro, Rebecca perdeu o fôlego ao ver o homem sorridente atrás deles. Ela apressou o passo, quase ultrapassando Jack quando dobraram a esquina a caminho do estábulo. O ferreiro franziu o cenho por cima da sela de Old Joe, ao vê-los chegar com tal estardalhaço. − Está tudo pronto, Injun Jack − murmurou pouco à vontade. − Isto é pelos dois, Adam. − Jack deu-lhe uma moeda. − Vou levar a senhora de volta ao Forte Chamberlain. O ferreiro não fez o menor gesto para pegar a moeda. Com os olhos em Rebecca, ele indagou em voz baixa: − Está tudo bem com a senhora, dona? − Sim, obrigada. − Ela sorriu, agradecida pela atenção. Adam aceitou o pagamento, mas puxou Jack para um canto. Com um sinal para os transeuntes do outro lado do
curral, ele advertiu:
− Não devia deixar a senhora vir à cidade sozinha.. − Como se eu pudesse detê-la − desabafou Jack. − Ela não obedece? − O homem parecia perplexo. − Não − grunhiu Jack. − Mas não se preocupe. Embora minha vontade fosse estrangulá-la, vou levá-la em segurança de volta ao forte.
Seguindo o batedor de volta à entrada do estábulo, Adam ajudou Rebecca a montar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Tenha cuidado, minha jovem. E quanto a você, Injun Jack, cuide bem dela, hein? − Rum − respondeu Jack, montando em sua sela. Rebecca o seguiu sem protestar quando ele a chamou, grata por escapar daqueles olhares duvidosos. Em completo silêncio, eles cavalgaram para longe das parcas construções que compunham Chamberlain. A calma da pradaria pareceu quase opressiva depois da cidade. Ouvia-se até o vôo dos gafanhotos pulando entre as touceiras altas de grama. O canto dos passarinhos chegava-lhes com o vento. Intensamente Intensamente conscientes da presença um do outro, o casal seguiu em frente sem olhar para os lados. Jack não confiava em si mesmo para falar ou mesmo olhar para a mulher a seu lado. Seu .coração batia mais forte ao pensar no que podia ter-lhe acontecido, sozinha na pradaria ou na cidade sem lei. Ele a alertara, bufou, bufou, mas ela nem sequer ouvi ouvira. ra. Alguém devia col colocá-la ocá-la na linha linha... ... e fora de perigo. Alguém como Porter, pensou amargamente. O tenente queria se casar com ela. Ele que tentasse dominá-la. Ao pensar nisso, Jack ficou de péssimo humor. Por que ela não voltava para sua terra e deixava que os outro vivessem sua vida? Especialmente ele. Ao se aproximarem do forte, ele se lembrou do conselho do ferreiro. Ele poderia tentar chamá-la à razão. Já tentara de tudo. Na melhor das hipóteses, a convenceria a voltar para o Leste na pior, ele tiraria um peso do peito. Desviando Jo para um grupo de árvores próximo ao rio, ele a chamou de repente: − Venha comigo. Quero conversar com você. Rebecca não acreditou quando Jack desviou desviou do caminho e nem sequer se deu ao trabalho de ver se ela o seguia. Parecia óbvio que o obedeceria, assim como ela devia estar grata pela interferência em sua vida. Com os lábios apertados de raiva, ela guiou Cuss atrás dele. Ela mesma tinha pouco a dizer. No dia anterior ele fora frio e indiferente. Naquela manhã fora um vulcão de indignação. Ele parecia sentir prazer em tirá-la do sério. Dessa vez, ele não levaria vantagem. − Eu quero falar com você e quero que ouça − ele começou de forma bastante razoável. − E então você vai ouvir o que eu tenho a dizer? − Ela o encarou, soltando chispas pelos olhos. Depois que ele inclinou a cabeça concordando, ela disse friamente: − Muito bem, vá em frente. − Estou lhe falando como amigo, Reb. O que você fez hoje foi perigoso. Você poderia ter sido raptada, ou pior. − Não fui despreparada desta vez − ela o informou puxando da bolsa o Colt militar de Paul. − Não aponte esta coisa por aí. − Inclinando-se, Jack desviou o cano para o lado. − Eu não apontaria se estivesse carregado. − Ela franziu a testa exasperada. − Não sou tão ingênua.
− Eu não apostaria nisso − explodiu ele, pegando o revólver e verificando o cilindro. Todas as câmaras Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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estavam vazias. Ela recebeu a arma de volta e tomou a guardá-la na bolsa. − Não precisa ficar irritado só porque eu não quero atirar em ninguém. − Então por que carrega uma arma? − Para amedrontar quem quer que tente me atacar − explicou, como se falasse com uma criança. − Você disse que eu deveria ser capaz e proteger a mim mesma. − E que tipo de proteção acha que uma arma descarregada pode proporcionar? − cobrou ele em voz rouca. – E nunca saque uma arma se não pretende usá-la. Eu me preocupo de verdade com você, Reb. − Suspirando,, ele abanou a cabeça. − Eu não vou estar sempre por perto para cuidar de você. Suspirando − Era sobre isso que pretendia me falar? Sobre cuidar de mim? − Sua voz soou aguda. − Foi por isso que me seguiu... − E lutei por você − ele a interrompeu, devolvendo o olhar atravessado com outro igual. − E interferiu − sustentou ela. − E resgatei você. − Ficou me dando ordens... − Eu protegi você. − O tom de voz dele se suavizou inesperadamente. − Você me humilhou em público... − Ela tentou se desvencil desvencilhar har quando ele a puxou para si. − Eu a beijei escondido − ele sussurrou próximo a seus lábios. − E tudo porque me preocupo. Maravilhada,, Rebecca encontrou os lábios dele com selvageria. Jack se preocupava com ela, admirouMaravilhada se enquanto eles silenciavam, entregando-se entregando-se apenas às sensaçõe sensações. s. Abraçados um ao outro, compartilharam a mesma pulsação, a mesma respiração, o mesmo fascínio. Quando ele afastou a boca para plantar-lhe um beijo no ponto delicado abaixo do ouvido, ela passou os braços ao redor de seu pescoço e sorriu deliciada. Ele realmente se preocupava com ela. Aquela informação afastava toda a confusão em que ela Sentia desde o primeiro dia em que se conheceram. Nunca sentira aquilo na vida. Como poderia entender tal sentimento. Mas, não importava quanto o negasse, nem o quanto resistisse, aquela atração irracional, inelutável, só havia aumentado. Ela o amava. − Oh, Jack − ela murmurou quando os lábios dele cobriram os seus de novo, silenciando-a. Não importava. Poderiam falar de amor mais tarde.
Acomodando-a de modo que a cabeça dela descansasse sobre o seu peito, ele murmurou: Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Eu pretendia chamar você à razão... convencê-la a voltar para a Pensilvânia. − Agora não vai mais fazer isso? Ele apertou o abraço em tomo dela. − Vou tentar convencê-la a se casar comigo. − Casar com você? − Soltando o ar de espanto, ela tentou se afastar para olhar para ele. Quando Rebecca tentou sair de seu abraço, Jack soube que seus temores haviam sido bem fundados. Ela dissera que não pretendia se casar de novo, mas o apego dela a essa idéia doía nele mais do que esperara. Ainda bem que ele não revelara seus sentimentos, mas sua idéia ainda era boa e ela teria de ouvila. − Talvez você não queira um marido − continuou, mantendo o abraço. − Eu também nunca quis uma esposa. Mas eu tenho um plano que pode funcionar para nós dois. Ela ficou muito tensa em seus braços. − Qual plano? − Deixe-me casar com você e mantê-la numa casa no forte. − Se nenhum de nós dois tenciona se casar, por que manter uma casa juntos? − indagou ela, lutando para manter a voz equilibrada. − Porque é um bom acordo. − Aliviado por ela estar pelo menos ouvindo, ele relaxou o abraço. − Eu passo mais tempo em patrulha que no forte. Você nunca precisará de dinheiro. Vou lhe dar uma pensão generosa. Você terá sua própria casa e sua própria vida... aqui no Kansas, como queria. Liberada do abraço, ela ficou olhando para o rio sem ver − E o que você ganha com isso? − Um lugar para voltar e a certeza de que você estará em segurança. Transtornada de dor, Rebecca não ouviu a ternura com que ele se expunha ao falar. Ela estivera a ponto de dizer que o amava, pensou arrasada. Como pudera pensar que a amava só porque se preocupava com ela? Ele podia se preocupar, considerou, como um amigo. E, além da amizade ele estava lhe oferecendo uma oportunidade para ficar. Ela afirmara que só voltaria a se casar por amor. Não contara com amar um homem que não a amava. Ao menos, ela não revelara a ele o que sentia. Ao menos, ele não sabia. Ela o encarou com um sorriso incerto.
− Obrigada por sua gentil oferta, Jack, mas você está certo. Eu não quero um marido. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Você não quer se casar comigo? − Ele parecia perplexo. − Nem pelos planos, nem pela pradaria, nem por sua paz de espírito − ela respondeu com firmeza. − Então espero que aproveite sua viagem de volta para o Leste. − O rosto dele estava sombrio quando a largou em seu cavalo. − O quanto antes melhor. Eles foram galopando até o forte, diminuindo a velocidade ao chegarem ao posto comercial, como se estivessem retornando de uma cavalgada matinal. Sem ser vista pelo casal, Dois Pássaros Brancos franziu a testa. O rrosto osto de Jack estava transtornado de raiva. Ao lado dele, Rebecca tinha a aparência de carregar uma tempestade de verão sobre a cabeça. Ainda assim, ela já os vira juntos antes, colhendo flores. Aquilo não era bom, pensou tristemente. Quando o amor era novo, devia haver o calor do sol. E pouco depois do crepúsculo, Jack foi até o posto comercial. Estava de péssimo humor. Tinha saído para ir até o posto antes, quando o coronel Quiller armara uma emboscada para chamá-lo até sua presença. No comando, fora informado do massacre próximo ao Forte Padge Wick. Um oficial e dez homens haviam sido mortos por um grupo de guerreiros do chefe sioux Pagador Assassino, o que significava, o coronel concluíra desnecessariamente, que o destino da paz pendia na balança. Quando o batedor propusera procurar o bando de Urso Grande para conversar, o coronel recusara. Custer estava a caminho, ele dissera, e eles seguiriam as ordens de Bancock. Jack pensou em encontrar Urso Grande por conta própria, mas sabia que não adiantaria nada. Não Poderia prometer nada pelo governo. A única coisa que poderia fazer seria esperar como todo mundo e rezar para que a pradaria não explodisse em novas hostilidades. A entrada do posto comercial encontrava-se vazia quando chegou. Os trabalhadores civis haviam voltado para casa bem antes do toque da revista de recolher. No momento apenas alguns homens alistados no serviço militar, livres até o toque de recolher, vagabundeavam nos degraus, conversando entre si. Um cabo levantou-se e andou atrás dele. − Noite, major. − Boa noite, Paris. − O batedor cumprimentou e foi em frente. − Soube das novidades. − Soube. − Selvagens nojentos − murmurou Paris. − Não é hora de comemorar sua vitória do outro dia, mas eu ainda gostaria de lhe pagar uma bebida.
− Eu estava justamente indo tomar uma – replicou Jack. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Então deixe que eu pago. O batedor teve pouca chance a não ser segui-lo pelo enfumaçado bar dos praças. − A Brigada de Ferro − o novo ianque brindou quando eles foram servidos. Eles entornaram a bebida e Jack pediu mais dois, para não ter nada a dever ao Paris. O cabo desenterrou lembranças, adquirindo um ar mais íntimo enquanto bebiam o segundo copo. Correndo o olhar pelo local, Jack avistou Abner Peeples no salão de dentro, que servia os oficiais. Lembrando-se do motivo original por que fora até ali, ele pediu licença ao cabo. − O que posso fazer por você, Injun Jack? − Automaticamente, o senhor Peeples pôs um copo sobre o balcão do bar e encheu-o com bourbon. No salão vazio, viam-se apenas os Garotões. Embora segundos-tenentes se encontrassem do outro lado do salão, ocupados em devorar ovos em conserva a uma velocidade assustadora, assustadora, Jack inclinou-se para perto de modo que apenas o comerciante pudesse ouvir. − Sei que a viúva de Paul Emerson lhe deve dinheiro. Gostaria de saber quanto. O homem encarou-o com desconfiança desconfiança.. − Não posso lhe dizer isso. Não saio por aí comentando sobre as dívidas de cada um. − Não estou lhe perguntando das dívidas dos outros protestou Jack. − Só quero saber a dela, para ver se posso ajudar. − Ela é uma mulher orgulhosa − advertiu Peeples. − Não acredito que lhe deixe pagar sua conta. − Estou tentando fazer com que ela pague. − Ela disse que o faria, nem que fossem dois dólares por mês. O batedor tentou outra tática. − Durante quanto tempo? − Não vou dizer. − Tudo bem. − Jack suspirou. − Então me diga só uma coisa: cem dólares chegariam? Era visível a luta que se travava no íntimo do comerciante. Por fim, ele abanou a cabeça, negando. − E duzentos? − Eu não deveria lhe dizer, mas gosto da senhora Emerson e sinto por ela. Não foi por culpa dela que o marido entrou nessa dívida.
Duzentos dão para cobrir? Jack insistiu. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Dão − admitiu Peeples. − E ainda sobra um pouquinho. − Isso era tudo o que eu queria saber. − Fizera um papel de tolo aquele dia, considerou Jack, propondo casamento a uma mulher que não o amava. Qual era mesmo o ditado sobre o tolo e seu dinheiro? O dinheiro daquele tolo iria ajudar Rebecca a seguir seu caminho... para fora de sua vida. Ao passar pelo bar dos praças a caminho da saída, Paris chamou: − Que tal mais uma bebida, Major? − Não, obrigado. − A caminho da saída, ele não notou que o cabo o seguia. − Gostaria de lhe perguntar uma coisa, major. − Paris o deteve ao pé da escada. − Mas ainda não tive oportunidade. − De que se trata? − Jack olhou para o pátio do forte, onde casais passeavam, quase invisíveis no lusco-fusco do anoitecer. Aproximando-se Aproximando -se da balaustrada balaustrada da varanda, o homem entabulou: entabulou: − Queria lhe perguntar sobre a viúva com quem tem sido visto. − O que quer saber sobre ela? − O alto batedor se voltou para encará-lo. Apoiando-se numa só perna, Paris apoiou o outro pé na balaustrada. − Estive observando os movimentos dela. Vi quando quase a seqüestrou aquele dia e depois foram colher flores. Ela é muito bonita quando quer, não é? − Vá direto ao assunto. − Eu estava imaginando, você a está cortejando ou será que qualquer outro pode tentar? Os olhos azuis de Jack se estreitaram. − A senhora Emerson é uma dama, Paris. − E de sangue muito quente, pelo que pude observar. − O cabo deu uma risadinha. − Vi os dois entre as árvores quando estava de serviço esta manhã. Uma mulher não deixa um homem beijá-la daquela maneira a não ser que seja muito bem paga ou que goste desse homem para valer. Qualquer que seja o caso, me dá um calor só de pensar. O murro de Jack jogou o homem dentro do cocho de água dos cavalos. Paris levantou-se, agitando a cabeça e respingando água para todos os lados. − Mas que diabo! − Acho melhor você se esfriar. Não é bom se esquentar tant tanto. o.
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− Você não tem o direito... − Deixe-me dar um pequeno conselho para o seu próprio bem − Jack avisou-o ameaçadoramente. − Nem sequer pense em abordar aquela dama. Na verdade, nem pense nela a não ser que queira se ver comigo. Saindo do cocho em meio às risadas dos outros soldados, Paris gritou às costas de Jack. − Bellamy, seu desgraçado. Sally March soltou uma exclamação quando aquelas palavras chegaram aos seus ouvidos trazidas pela brisa. Sentada com os March na varanda que tinham em comum, Rebecca observou Jack afastar-se do posto co comer mercia cial.l. Atr Atrás ás dele dele fi ficar caraa um homem homem tod todoo mol molhad hado, o, apó apóss sai sairr do coc cocho ho
de
rua
dos
ca caval valos, os,
brandindo os punhos. O capitão March franziu o cenho ao ver a cena. − Parece ter havido um desacordo entre Injun Jack e um dos praças. − Eu não gostaria de enfrentar um homem daqueles enraivecido. − Sua esposa estremeceu. − As pessoas dizem que ele é meio selvagem... Você, que deve conhecê-lo melhor que ninguém no Forte Chamberlain, Rebecca, acha que ele é um bárbaro? − Eu mal o conheço − a viúva suspirou tristemente. Eu mal o conheço mesmo.
DEZ Desistindo de descansar, Rebecca empurrou o travesseiro com que cobrira a cabeça e abriu os olhos. Acordara com os uivos de um lobo na pradaria horas atrás. Sem conseguir dormir, virara-se na cama, assaltada por caóticos pensamentos. À luz do amanhecer, seu quarto parecia vazio e solitário. Não havia quadros nas paredes, nem tapetes no chão. Num canto às escuras, suas malas estavam feitas, prontas para serem levadas para a casa dos Mackey. Esperava não ter de vê-las ainda sendo carregadas na carroça com destino ao Leste, mas não teria como evitara venda de suas coisas nesse dia, pois a experiência do dia anterior fora desencorajadora. Não havia emprego para uma mulher decente em Chamberlain, nem mesmo no armazém. Soubera que o dono do lugar tinha esposa e três filhos que o ajudavam no negócio. Não conseguia imaginar que tipo de negócio seria possível para uma mulher sozinha numa cidade de homens, um lugar que se tomaria ainda mais perigoso quando ali chegasse a ferrovia. Teria de aprender a
usar a arma de Paul, se pretendesse fi ficar. car. Conforme observara Jack Jack,, ele não estaria sempre por perto para Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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cuidar dela... e muito menos agora. Não conseguia suportar a lembrança dele. Evitou pensar em seus beijos, na maravilhosa sensação do amor que experimentara no dia anterior, na amarga consciência de que ele não a amava, na frieza dele quando partiram. Sem trabalho, sem dinheiro, sem amigos. Ela nunca sentira tão só. De repente, ela sentou-se na cama e murmurou: − Pare de sentir pena de si mesma. Hoje você vai pagar a conta do armazém... ou boa parte dela. Aí vai decidir o que fazer em seguida. Até então, restava-lhe muita coisa a fazer. Ela se lavou, vestiu sem se incomodar em acender o lampião. Arrumou o quarto, a cama e foi para a cozinha, seus passos ecoando nas paredes vazias. Ao chegar à cozinha, Rebecca olhou pela janela. Lá fora, iluminada pelo sol nascente, a pradaria se abria num leve aclive em direção às montanhas distantes do oeste. O vento parecia dissipar a névoa da manhã, deixando calor e poeira nos lugares por onde passava. Abrindo a porta dos fundos, ela acendeu seu fogão pela última vez e fez um café. O toque da alvorada soou quando preparava seu magro desjejum. Estava lavando seu prato quando ouviu um som e voltou-se, dando de frente com uma mulher índia parada junto à porta aberta. Imóvel no batente, a mulher não fez nenhuma tentativa de entrar. Ela era forte e atraente, e parecia ter quase trinta anos, mas o prazer com que admirava a cozinha era quase infantil. − O que é isso? − Ela apontou para o ferro de engomar sobre a mesa. Rebecca lhe disse, amedrontada mas disposta a não demonstrá-lo. − Ferro de engomar − repetiu a mulher. Ela sorriu, exibindo uma falha entre os dentes da frente. − Quem é você? O que deseja? − Você é Re-bec-ca? − indagou a inesperada hóspede, com dificuldade de pronunciar a língua dos brancos. − Como sabe meu nome? − Pele de Lobo disse. Rebecca olhou alarmada para a outra e caminhou discretamente para o lado, até que uma das pesadas cadeiras ficasse entre elas. Revelando uma expressão preocupada, Dois Pássaros Brancos explicou a razão de sua visita.
− Seu coração... escolheu Jack Bellamy? Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Jack Bellamy? − Ele é forte e corajoso − Dois Pássaros Brancos informou-a, desejando saber falar melhor sua língua. − Ele mata muitos búfalos. Ele é bonito. − Ela fez uma pausa, mas mulher branca não disse nada. − Ele é um homem bom − insisti insistiuu a índia. − Ele me comprou. − Jack comprou você? Sem perceber o horror de Rebecca, a índia confirmou com um movimento de cabeça. − Eu vivo entre o meu povo. Fico feliz quando ele vai lá. − Certa de que persuadira a outra de que Jack daria um bom marido, ela apenas precisava convencê-la de que ele precisava de uma esposa. Abordou o assunto com uma lógica quase perfeita. − Eu cozinho para ele. Eu faço seus mocassins... − Não precisa se preocupar − explodiu Rebecca inesperada inesperadamente. mente. − Não tenho a intenção de cozinhar para ele nem de fazer seus mocassins. − Seu rosto branco ficou ainda mais pálido de raiva, e ela deixou a proteção da cadeira. − Eu lhe garanto, dona, se eu soubesse de sua existência, eu nunca teria perdido um minuto sozinha com ele. Agora eu lhe desejo um bom dia. Dois Pássaros Brancos recuou, piscando de surpresa quando a porta se fechou a sua frente. Não entendera as palavras de Re-bec-ca, mas sabia o que era a raiva. Confusa ela ficou na varanda por um instante.. Por que o coração de seu irmão escolheria uma mulher tão mau-humorada e rude, cujo coração não instante o escolhera? Compadecida, Compadecida, ela desceu os degraus e desapareceu na pradaria. Rebecca espreitou-a pela janela, bufando. Jack era casado e mesmo assim a pedira em casamento. Aquele patife safado, era casado e mesmo assim a beijara. Procurando algo para fazer para se distrair, saiu andando pela casa, arrumando e rearrumando os itens para a venda. Em seguida, separou as coisas que gostaria de manter: o aparelho de chá que fora de sua mãe; os documentos de Paul; o revólver; e uma bengala que encontrara entre as coisas dele. Mas durante todo o tempo não conseguia parar de pensar em Jack. Ficou aliviada quando escutou as batidas na porta. − Precisa de ajuda? − Flora pôs a cabeça para dentro. Ela entrou seguida por dois dos homens de Brian. – Minha nossa, está tudo pronto. − Quase. − Rebecca deu um sorriso vago. − Agora vou ter de passar pela venda das coisas. − Eu e Brian pensamos que gostaria que levássemos suas coisas para nossa casa agora de manhã, para não haver confusão depois. − Muito obrigada, Flora. Você é uma grande amiga.
Depois de mostrar aos homens o que era para se carregado, Rebecca pegou os candelabros do painel Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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da lareira. − Flora, gostaria que ficasse com isso. − Não, eu não poderia − protestou a amiga. − Por favor − insistiu Rebecca. − Você e Brian têm sido tão bons comigo. A loura aceitou o presente com um sorriso. − Agradeço a você, Reb. − Você está me chamando de Reb. − Ela falou rindo. − Deve ter ido visitar Teddy. − Fui outro dia quando não tinha o que fazer − confirmou a amiga. − Ele adorou e percebi que gosta muito de você. “Então talvez me perdoe por ter usado seu cavalo para ir a Chamberlain”, pensou Rebecc Rebecca. a. − Vamos para a cozinha, Flora − ela convidou, enquanto os homens levavam os últimos volumes para fora da casa. − Temos tempo ainda para uma última xícara de café em minha mesa. − Deve ser duro ter de vender as coisas da gente − lamentou Flora com simpatia. − Eu e Brian não tivemos que passar por isso... ainda. − Só algumas coisas eu sinto vender. − Rebecca olhou com indiferença. − A maioria delas Paul comprou a credito. Ao menos a venda de hoje deve servir para pagar a dívida, assim espero. − Você está com a aparência de quem não dormiu direito − observou Flora, preocupada. − Aquele lobo uivando me acordou. Rebecca considerou se devia comentar com ela sobre o que acontecera com Jack, mas teve medo de que a amiga insistisse em saber sobre seus perturbadores sentimentos quando nem ela própria os conhecia dire direit ito. o.
− Eu nnão ão oouv uvii lobo lobo nen nenhu hum. m. − Fl Flor oraa es esta tava va m mai aiss preoc preocup upad adaa co com m um bolo bolo ddee mi milh lhoo sobre sobre o
aparador. − Está pretendendo comer aquilo? − Sirva-se à vontade. − Rebecca deu uma risada. _ Estou feliz por ver que seu apetite retomou. − Ah, ele voltou. − Flora sorriu. − E agora que estamos sozinhas posso lhe contar. Ontem fui ver o doutor Trotter. Imagine que vou ter um bebê! − anunciou ela com um gritinho. − Mas isso é maravilhoso! − Rebecca gritou. − Você e Brian devem estar muito felizes. − Ele está completamente louco − a loura falou entre risos, enquanto beliscava um pedaço do bolo. − Imagine que ele queria comprar um uniforme de soldado para crianças, mas eu o proibi. E se for uma
menina? Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Ela será a queridinha do regimento − brincou Rebecca, levantando a xícara de café num brinde. Então franziu o cenho. − Você não vai querer um hóspede agora. − Não seja boba. Além do mais, preciso de ajuda com o enxoval do bebê. Você sabe como sou desastrada em matéria de costura. − Não sei se serei bem aceita no mutirão entre os vizinhos − relutou a viúva. − Nós não precisamos ir. Nunca fui antes. Embora eu deva lhe dizer, Reb... − A amiga hesitou, insegura. − Já que vai ficar ainda por uns tempos no forte, você precisa tomar cuidado. Elas estão fofocando de novo, você sabe, de que você saiu para cavalgar com Jack ontem de manhã. − Elas não terão mais do que falar − garantiu-lhe Rebecca, enquanto lavava as xícaras. − Não pretendo vê-lo outra vez. − Olá, senhora Emerson − uma voz chamou Rebecca da sala. Lideradas pela senhora Little, Little, as esposas dos oficiais enchiam a sala. − Viemos dar nossa contribuição para sua partida para o Leste. − Quanta gentileza. − Rebecca inclinou a cabeça friamente antes de voltar para a cozinha. − Olhem à vontade, me chamem se tiverem alguma pergunta a fazer. − Bom dia, senhoras − a voz de Francis a deteve. Parado no beiral da porta, ele sorria para as mulheres. − Espero que não tenham gostado de nada entre as coisas da senhora Emerson. − Por que, tenente Porter? − Inclinada para examinar o sofá, a senhora Little olhou preocupada para ele. − Porque, senhora − ele respondeu, entrando na sala − pretendo pagar a ela cem dólares por tudo o que tenha na casa. − Cem dólares? − as mulheres exclamaram ao mesmo tempo. Encontrando o olhar surpreso de Rebecca através da sala, o ajudante-de-ordens continuou em voz macia: − Acredito que vou precisar das coisas quando me casar. Ela não sabia se ria ou se chorava. Ele sorria, tão seguro de seu gesto providencial... tão inconsciente de que ela pretendera conseguir muito mais. − Está sendo muito gentil, como sempre – murmurou com tato. − Mas não posso permitir que faça isso. − Estou feliz por não ter aceito a primeira oferta que lhe fazem − soou uma voz grave atrás dela. − Pois eu tenho uma melhor.
− Duvido muito. − Rebecca voltou-se para olhar para Jack, que entrara pela porta dos fundos. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Você não ouviu minha oferta ainda − protestou ele sem se abalar. − Eu lhe darei duzentos dólares por tudo... pacote fechado. − Duzentos dólares!! − o coro repetiu na sala. − Escute aqui, Bellamy. − Com uma expressão preocupada enquanto atravessava a sala, desviando dos objetos − Para que precisa de móveis e pratos e potes? − Consegui um alojamento próprio − explicou Jack com todo cuidado. − Pensei que ficaria melhor numa tenda indígena que num chalé − observou o ajudante-de-ordens. Jack ignorou a ironia. − O que me diz, senhora Emerson? Pode vender por peça, sabe-se lá por quanto. Pode vender a Porter por cem dólares ou pode vender para mim pelo dobro. − Eu... − Ela não tinha dúvida sobre o que deveria fazer, mas pega entre os dois homens, sentia-se puxada em direções opostas. − Não se incomode em decidir, Rebecca − murmurou Francis depois de um momento de tenso silêncio. − Eu retiro minha oferta. Não posso vencê-lo. Um tenente não ganha tanto quanto um batedor. − Dando meia-volta, ele marchou para a saída, deixando as esposas dos oficiais tagarelando entre si de surpresa. − E então, negócio fechado? − Com um sorriso sombrio, Jack estendeu a mão para selar a venda. − Fechado. − Ela apertou-lhe a mão rapidamente. − Venham, senhoras, vamos deixá-los concluir seu negócio em particular. − A senhora Little saiu apascentando seu rebanho em direção à porta. − O que pensa que está fazendo, Jack Bellamy? – cobrou Rebecca, no instante em que as mulheres saíram. − Salvando-a pela última vez. Os olhos azuis encontraram os castanhos e lançaram um olhar duro. O casal não percebeu quando Flora sabiamente
saiu e foi sentar-se na escada dos fundos.
− Não preciso ser salva − protestou Rebecca asperamente. − Não agora. − Ele depositou dez notas de vinte dólares na mão dela. − Isto será mais do que suficiente para pagar
suas dívidas no posto comercial.
− Eu lhe disse que não queria que pagasse minha dívida Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− E não estou pagando. Comprei tudo isso. − Ele fez um gesto sarcástico para a sala. − O que vai fazer com seu dinheiro é problema seu. Espero que use o que sobrar para pagar a passagem de volta para casa. − Como está dizendo − retrucou ela -, o que faço com meu dinheiro é da minha conta. Foi um prazer negociar com você, senhor Bellamy − ela acrescentou sobre os ombros, enquanto ia para a porta dos fundos. − Espero que goste dessas coisas civilizadas. Jack olhou-a ameaçadoramente ao notar o cinismo do comentário. Era um tolo maior do que pensava. Acabara de comprar um punhado de coisas de que não precisava, desperdiçara metade de suas economias com ela e ela saía sem nem ao menos uma palavra de agradecimento. − Espere um minuto... − Obrigada, senhor, e tenha um bom dia − Rebecca o cumprimentou da porta dos fundos. Pegando Fominha entre os braços, ela anunciou: − Podemos ir agora, Flora. Meus negócios com o senhor Bellamy terminaram. Jack passou silenciosamente silenciosamente pela sala sem nem olhar para suas novas aquisições. aquisições. Minuto depois, com o queixo ainda contraído de raiva, ele se apresentou no gabinete do coronel e pediu uma reunião. Duas companhias saíram na manhã seguinte para restabelecer o contato com Urso Grande. Injun Jack ia à frente da coluna, sem olhar nem para a direita nem para esquerda, ao passarem pelo pátio em frente à rua dos Oficiais. Na varanda de sua nova e provisória casa, Rebecca observou sua partida. Depois que eles já haviam ido, ela voltou para dentro, o coração doendo sem que ela soubesse por quê.
ONZE Rebecca olhou ao redor com satisfaç satisfação ão e tirou o avental. Com as cortinas e a toalha de mesa amarelas, a cozinha de Flora parecia com a dona: viva, arejada e determinada a parecer alegre. Agora estava também limpa outra vez. Quando retomasse de sua folga, St. Jean nunca perceberia a bagunça que haviam feito para cozinhar o jantar de domingo. Desarregaçando as mangas do vestido, ela saiu para a varanda da frente, para tomar um pouco de ar fresco. O forte jazia silencioso e seco, em meio a uma tensão de expectativa... por notícias da patrulha, pelos reforços, pela correspondência do Leste. Rebecca esperava também, sentindo sua vida em suspenso. Sentou-se no banco da varanda e se abanou, correndo o olhar pelo pátio. Poucas pessoas reuniam-se à
porta da capela mas, com aquele calor, ninguém passeava. O forte parecia quase abandonado. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Rebecca-Perfeita, Rebecca-Perfeita, o que está fazendo? − O médico caminhou até ela vindo do hospital. − Não vai ao casamento? − Eu nem mesmo conheço Nan. − Eu mal conheço a criada da senhora Little nem seu noivo, mas o forte inteiro está convidado. Vamos − ele apressou. − É a melhor desculpa que temos para uma festa desde que o valente senhor Anderson cometeu a loucura de voltar para o Leste. − Estou com dor de cabeça − falou ela, tentando desculpar. − Nada melhor para uma dor de cabeça que uma caminhada ao ar livre, uma taça de ponche de champanhe e um velho admirador − recomendou o médico. − Além do mais, o vai querer que um bando de fofoqueiras a confinem dentro de casa. − Acho que o senhor tem razão. − Rebecca deu-lhe um sorriso. Ela se mantivera afastada de todos nos últimos dias, sabendo que a censura a seu respeito aumentara com o resultado da venda. Mas com certeza conseguiria encarar as esposas dos oficiais por uma tarde. Seus passos vacilaram, no entanto, quando chegou à porta da pequena capela e se deparou com seus olhares cara a cara. Com a cabeça erguida, ela avançou, segurando no braço do médico. Flora sorriu-lhe amigavelmente amigavel mente e cutucou Brian e Francis para lhe darem lugar. − Encontrei a senhorita Rebecca tomando ar na varanda dos Mackey − anunciou o médico, postandose ao lado de Francis. − Não seria bom ela perder essas festividades. O pastor apareceu, amável e cansado. O Forte Chamberlain era como qualquer um dos outros postos avançados da fronteira. Quando um clérigo os visitava, todos precisavam dele. Naquele dia, ele proferira o sermão, servira a comunhão, batizara três crianças e partilha partilhara ra de um farto almoço na casa dos Little. Estava grato por sua próxima tarefa ser um simples casamento. Com um sorriso benevolente, ele inclinou a cabeça, convidando o noivo a se aproximar. A senhora Little,, muito animada, foi sentar-se poucos instantes antes de a noiva entrar na igreja. Radiante, Nan dirigiuLittle se até o seu noivo e se tornou uma noiva militar. Embora o médico estivesse entre eles, Rebecca estava consciente dos olhares que Francis lhe dirigiu durante toda cerimônia. Pouco depois da partida de Jack, o tenente fora visitá-la, para recobrar a dignidade ferida. Ele entendia o que? Só aceitara o dinheiro oferecido por Bellamy por necessidade. E só não pagara mais do que cem dólares porque não podia. Horrorizado ao saber que Paul a deixara com tamanha dívida, ele se desculpara e reassumira sua corte com fervor. Desde então ele lhe propusera casamento casamento por três vezes e fora rejeitado todas as vezes com uma gentil fineza fineza.. Os olhares sonhadores daquela tarde advertiram-na de
que uma quarta tentativa estaria a caminho. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Assim que o casamento terminou e os hóspedes debandaram rumo ao rancho da companhia de Infantaria para o bolo e o ponche, o médico empurrou Rebecca rapidament rapidamentee para a porta. − Vamos, minha garota − ele lhe sussurrou em tom cúmplice -, vou lhe dar alguns minutos de liberdade longe de seu tenente apaixonado. − Tenho poucos amigos aqui para desprezá-lo, doutor − protestou ela, procurando pelo ajudante de ordens no meio da multidão.
.
− Prissy Porter não a quer como amiga − observou o médico. − Ele quer ser seu marido. − Eu sei. − Ela suspirou. Desisti Desistindo ndo de procurar, ela seguiu o médico à mesa do bolo. − Aí está você, meu rapaz − exclamou o médico quando Francis apareceu com Amy Little a tiracolo. −
Onde foi que o perdemos? − Lá na capela − ele respondeu em voz sombria, com o rosto fechado. − Consiga um lugar para as damas que vou buscar o
ponche − sugeriu o médico jovialmente.
− Para mim não precisa − avisou Francis, tenso. − Por que não? − inda indagou gou Amy, enquan enquanto to o ajud ajudante ante de orden ordenss as esco escoltav ltavaa à fil fileira eira de cadeiras. cadeiras. − Sempre pensei que você adorava ponche de champanhe. − Eu adoro. Quer dizer, adorava. Deixei de beber por causa de Rebecca. − Mas que... romântico − disse Amy, parecendo arrasada com a revelação. Como se para distrair o aborrecimento. ela olhou ao redor do salão barulhento. A recepção, patrocinada pela companhia do noivo, era um daqueles raros momentos em que os oficiais, oficiai s, praças de suas famílias se misturavam. Envergand Envergandoo Os uniformes e a e as roupas de domingo, todos estavam muito cerimoniosos, sufocando apesar de as janelas e portas estarem completamente abertas. O médico pediu licença para as rondas de final de tarde, enquanto outros homens iam buscar um pedaço de bolo para cada um. Amy tagarelav tagarelavaa com Flora, enquanto Rebec Rebecca ca ouvia o burburinho ao redor. _ Pois é, estamos loucos pelo correio − comentou algué alguém m do seu lado com um forte sotaque irlandês. − Mas é o pagador que eu estou esperando chegar. Rebecca olhou por cima do ombro e viu duas mulh.eres magras e com os braços manchados de vermelho. Reconheceu-as como lavadeiras. − Minhas meninas não recebem o pagamento há três meses − dizia uma delas com um suspiro. − Não continuariam continuari am comigo, se tivessem outro lugar para onde ir.
− Maggie encontrou um lugar, casando-se com um domador de potros. E ela que pensava que Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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trabalhariaa duro a vida inteira. − A outra deu uma gargalhad trabalhari gargalhadaa ruidosa. − Ela era uma boa trabalhadora e vai fazer falta – a primeira mulher comentou. − Ela não morreu, Mary Morrissey. Ela apenas se casou. Talvez a gente deva perguntar, mais tarde, que diferença faz. − Não deixe o marido ouvir você falar uma coisa dessas, Maggie. − Cacarejando, as duas mulheres afastaram-se na direção da mesa de alimentos. No momento em que Rebecca terminou seu ponche e seu bolo, sua cabeça latejava por causa do barulho e do calor. Inclinando-se para Flora, ela murmurou: − Estou com dor de cabeça. Espero vocês em casa. − Eu levo você − ofereceu-se Francis, de imediato. − Não, obrigada, fique e aproveite a festa. − Não com você doente − ele insistiu. Oferecendo-lhe o braço, ele a conduziu para fora, onde a temperatura estava mais suportável que dentro do refeitório. − Lamento tirá-lo da festa − disse Rebecca ao chegarem à casa dos Mackey. − Não me tirou, não. − Francis a virou para que o encarasse. − Você sabe que o único lugar em que eu gostaria de estar é com você. − Mesmo que seja visitando uma doente? − ela brincou tentando manter o bom humor. − Na doença e na morte − respondeu ele com fervor. Com a dor aumentando, ela quase gemeu. − Na riqueza ou na pobreza... − Tenente Porter! − gritou exaltada a sentinela do portão. − Tropas se aproximando, senhor. São as cores do Quarto Regimento. − Os reforços − exclamou Franci Francis, s, antes de se voltar para a mulher para se desculpar. − Lamento, mas nossa conversa vai ficar para mais tarde. − Eu compreendo − assegurou-lhe ela, quase frouxa de alívio. Da varanda, ela assistiu à chegada dos reforços ao Forte Chamberlain, em meio a uma nuvem de poeira. Estava feliz por ter evitado de magoar Francis por enquanto e aliviada porque as novas companhias iriam propiciar a passagem segura para as planícies. Mas sentia uma certa apreensão. A chegada das tropas significava que sua estada no Kansas agora era uma questão de dias ou semanas. − O forte está superlotado − comentou Rebecca com Teddy, enquanto ela embaralhava as cartas. −
Depois de terminada a "classificação", como eles chamaram, não sobraram oficiais na rua abaixo do posto Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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de capitão. Os Jobnson, os March e os Plath tiveram de se mudar para os apartamentos dos oficiais subalternos. subalte rnos. Os Garotões ficaram acampados com as tropas visitan visitantes tes lá fora. Ela indicou as barracas brancas visíveis pela janela. Elas se espalhavam por mais de quinhentos metros para trás do cemitério. cemitério. − Graças a Deus que os Mackey não ficaram em alojamentos de tenentes − concluiu ela, dando as cartas. Não se tem muita privacidade numa sala, mas é melhor dormir numa mesa de cozinha, onde eu teria ido parar. Teddy olhou ao redor com tristeza. _ Você poderia se mudar para cá. Tem um monte de camas sobrando. Eu até lhe daria a minha. − Ele a olhou, esperançoso. − Quando acha que vou sair daqui, Reb? _ Eu não sei, Teddy. − Gostaria de ter uma resposta para a pergunta que ele vinha repetindo por quase uma semana. _ Vou acabar ficando louco se continuar aqui por muito tempo − resmungou ele. _ O doutor falou que sua perna vai demorar muito para sarar. O rapaz se atirou contra os travessei travesseiros. ros. − Eu simplesmente odeio esta espera. − Eu sei − ela murmurou. Ele a observou pensativ pensativo. o. − Alguma coisa está aborrecendo você, Reb. Por que não conta ao tio Teddy? − Não há nada a contar, só os mesmos problemas. Seus dedos repousavam sobre as cartas, mas ela não as pegava. − Como ficar no Kansas? Ela baixou a cabeça desanimada. − Não posso ficar no Forte Chamberlain porque não tem lugar para mim. Não posso ficar em nenhum outro lugar, porque não tenho dinheiro para me sustentar nem um meio de ganhá-lo. − Eu a ensino a jogar pôquer − ele caçoou. Ela sorriu, apesar de tudo. − Se eu levasse a sério o que você diz, não precisaria me preocupar com meu sustento. Estaria morta em menos de uma hora.
− Provavelmente − concordou ele imperturbável. − Pensa que seus problemas de dinheiro tinham Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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terminado, Reb, depois que Jack comprou todas as suas coisas. − Eu pude pagar o senhor Peeples e sou grata por isso − ela admitiu. − Mas me sobraram apenas onze dólares e quarenta e três centavos. Finalmente, parece que vou receber algum dinheiro da pensão de Paul, mas não muito e eu não sei quando será. − Depois de uma pausa, ela continuou: − Tentei arranjar um emprego. Encontrei uma família de proprietários que pudessem contratar uma mulher. E não tive sorte em Chamberlain. − Nem no acampamento da ferrovia. Rebecca olhou-o fixamente. − Você sabia sobre isso? − O Malachi me contou. Ele sabia que eu não contaria a ninguém. Não comentei nem uma palavra, nem mesmo com Jack. E olhe que isso foi difícil − reclamou o rapaz. − Ele estava mais bravo que uma galinha molhada e eu nem pude provocá-lo sobre o assunto. − Seu primo já se irrita o suficiente comigo sem que você precise provocá-lo − ela o consolou. − É. Ele anda aborrecido para valer. Acho que posso dizer que nunca vi alguém conseguir irritá-lo mais do que você. − E ele me irrita também. Sempre tentando me dizer o que fazer. Teddy deu de ombros. − Jack está acostumado a dizer às pessoas o que fazer.Quando ele tinha dezesseis, já cuidava da fazenda da vovó sozinho. Ele estava nos principai principaiss ataques durante a guerra, um sujeito muito independente para um major. Agora ele diz aos coronéis o que devem fazer com os índios... quando não está me mandando fazer as malas e ficar pronto para mudar. − Mudar? Para onde? − Ele quer montar uma casa no alojamento dos batedores e me levar para convalescer convalescer lá. Acho que é o que vai acontecer. Não vou a lugar nenhum se discutir com ele. Você tem mais sorte nesse sentido. Ignorando o muxoxo dela, ele continuou: − Poucos homens conseguiram se impor ao Jack nesta vida... e apenas duas mulheres. Você e vovó. Você consegue deixar ele sem jeito. Eu continuaria agindo assim quando ele voltar, se fosse você. Sem querer falar sobre a preocupaçã preocupaçãoo que eles compartilhavam sobre a segurança do batedor, Rebecca perguntou:
_ Me impondo a ele? Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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_ Deixando ele sem jeito. − Teddy deu uma risada. Seu sorriso se alargou quando abriu suas cartas. − Dois e três! Você está aprendendo, Reb. _ Não posso acreditar que o correio tenha finalmen finalmente te chegado. − Flora não se continha de excitação excitação ao observar o ordenança do dia se dirigir à rua dos Oficiais. − Não iria demorar muito depois que os reforços chegaram. _ Por que não se senta? − recomendou Rebecca do banco à sombra. − Está quente demais para se agitar tanto. − Essas cartas chegariam rápido de trem. − A loura afundou do lado dela. − Pode acreditar numa coisa dessas? Um dia vamos receber a correspondência duas ou até quatro vezes por mês... sem interrupções. − Ela saltou de novo apressada, ao ver o ordenança se aproximar da casa. − Boa tarde, senhoras. − Ele se apresentou e estendeu diversos envelopes com uma reverência. − Sua correspondência, correspondên cia, senhora Mackey, e uma carta para a senhora também, senhora Emerson. Ao reconhecer a escrita familiar, Rebecca abriu a carta com medo. − Oh, ouça! − exclamou Flora. − Tia Hattie diz que o primo Lawrence conseguiu entrar para West Point. − Sua alegria murchou quando olhou para o outra mulher. − É uma carta de seu meio-irmão? Rebecca concordou. Flora era a única pessoa no Forte Chamberlain com quem comentara sobre sua família.. Chegara até a mostrar algumas cartas de Lyle para ela. Ao contrário da amiga, Flora não o perdoava família pelas suas grosserias. − Do que ele a está acusando agora? − indagou a amiga defensiva. − Ele corre o risco de perder a fazenda. − De novo? Não é culpa sua. − Não é. − admitiu Rebecca tristemente. − Quando eu morava lá ele me culpava de tudo. Agora, ele diz que o abandonei. Ainda é minha culpa se ele perder a fazenda. − Isso é ridículo. − A testa franzida não combinava com a a expressão alegre de Flora. − Ele insiste que eu vá para casa. Cuidar da limpeza, seria o mínimo que você poderia fazer para me ajudar, depois de tudo o que fiz por você", Rebecca leu com voz entrecortada. Ela folheou as páginas em sua mão, examinando dos dois lados como se esperasse encontrar novas palavras escritas nelas. − Não fala nada sobre os anos de trabalho duro. Nem agradece pelo dinheiro que lhe mandei. Nem uma palavra de simpatia pela morte de Paul. Eu nunca vou voltar! − Mas você não precisa − garantiu Flora. − Você pode ficar conosco.
Rebecca olhou para a amiga por entre as lágrimas. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Você e Brian são muito gentis, mas não posso ficar com vocês para sempre, especialmente agora que vocês esperam um bebê. − Aonde você vai? − indagou Flora quando ela se levantou. − Pegar meu chapéu. Vou sair para andar um pouco. Termine de ler a carta da tia Hattie, e eu estarei de volta logo. Sem perceber o olhar preocupado da amiga, Rebecca caminhou pela rua de terra batida, tentando rever seus pensamentos. Ao passar pelo pátio das carroças, não prestou atenção na atividade presente ali, desviando automaticamente do caminho quando as carroças e os condutores se aproximaram. Por fim, ela se encontrou na curva do outro lado do pátio, próximo ao algodoeiro. Aproveitando sua sombra, ela comprimentou as lavadeiras que trabalhavam em tanques ao lado e sentou-se. Atrás dela, as lavadeiras falavam entre si. O ruído da roupa sendo enxaguada e batida era intercalado por risadas e conversas. Virando o rosto de leve, Rebecca observou as mulheres, enquanto um plano se formava em sua mente. Lyle escrevera em sua carta que ela deveria voltar para se encarregar da limpeza para ajudá-lo. Por que não poderia fazer o mesmo ali e ajudar a si mesma? Considerou as vantagens. As lavadeiras trabalhavam para o exército. Elas tinham direito a casa, provisões e recebia seus pagamentos como todos os militares. Com o casamento daquela jovem, havia uma vaga, ela estava ali não tinha medo de trabalhar duro. E O plano tinha certas desvantagens, contrapôs, distraída do chamado para o rancho e da saída das lavadeiras. Os militares viam tais mulheres como um pouco melhores que as prostitutas, mas que não era o caso ali, porque algumas das lavadeiras eram casadas com praças. Além do mais, se ela se comportasse como uma dama, os outros a tratariam como tal... embora aquele ditado não a tivesse ajudado ultimamente. Chamberlain e o acampamento da ferrovia eram lugares sem lei, refletiu ela, mas no forte havia uma rígida disciplina. disciplina. Ela estaria segura. Os benefícios eram maiores que os prejuízos, concluiu Rebecca, levantando-se. Se ao menos pudesse convencerr o coronel. convence O co coro rone nell Quil Quille lerr em empu purro rrouu a band bandej eja, a, deix deixan ando do o al almo moço ço pe pela la me meta tade de.. Ao re reto toma marr a sua sua escrivaninha, pegou uma lista de requisições. Agradecia aos céus pelos reforços. Se não tivessem chegado, seu forte teria sido reduzido a rações de carne de porco rançosa e a champanhe, que o comerciante sempre parecia ter, muito misteriosamente, em abundância. Agora as patrulhas iam e vinham, havia escoltas disponíveis e a vida retomava seu curso
normal no Forte Chamberlain. Mas ele estava exausto, só de cuidar para que não faltassem provisões e Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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suprimentos supriment os para os homens extras. − Entre. − O comandante ergueu os olhos da escrivaninha ao ouvir uma leve batida na porta. Rebecca Emerson enfiou sua cabeça pelo vão. − Posso lhe dar uma palavrinha palavrinha,, senhor? -Claro. Entre, minha cara, e sente-se. − Ele deixou o trabalho de lado por um momento. − Quase não a tenho visto ultimamente. Está hospedada com os Mackey? − Sim, obrigada. − Sentando-se na cadeira em frente à escrivaninha, ela começou: − Vim pedir para ocupar a vaga de lavadeira. lavadeira. − O quê? − ele rugiu. Ela nem piscou. − Gostaria de pedir... − Eu ouvi o que disse − ele a interrompeu. − Será que perdeu o juízo? − Eu entendo que o exército considera as lavadeiras como mulheres de... moral duvidosa − ela disse com delicadeza. − Uma boa parte delas são prostitutas, senhora, e isso é um fato − ele declarou, fazendo-se de grosseiro de propósito. Ela enrubesceu, mas recusou-se a se render. − Com certeza, o senhor senhor admite que, no entanto, entanto, a maioria das la lavadeiras vadeiras têm religião religião e são casadas com praças. − Ainda assim são muito grosseiras, senhora Emerson, Tenho mais problemas com a Rua do Sabão que com o resto 'do forte inteiro. Ali não é o lugar para uma dama. − Nem mesmo para uma dama à beira da falência, senhor? − indagou, com uma atitude' que era tudo menos piedoso. − É verdade que paguei minha conta com o posto comercial, mas tenho outros objetivos. Hoje recebi uma carta de meu irmão, dizendo que breve não terei mais uma casa para onde voltar. Além do mais, o senhor deve saber que ele não poderá me sustentar. Se eu terei de cuidar de mim mesma, por que não pode ser aqui, onde eu quero ficar? O coronel fez de tudo para manter a calma. − Escute bem − ele falou controlado -, eu vou lhe falar como faria com minha filha. Há um oficial aqui que ama você. Francis Porter tem futuro no exército. Case-se com ele e abandone essa idéia tola.
− Acontece que eu não o amo. − A voz dela estava tão baixa que ela mesma mal podia ouvi-la. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− O amor é algo que cresce depois do casamento. − E se não crescer? − indagou ela desolada. − O senhor tem uma vaga para lavadeira, coronel Quiller. Eu me ofereço para preenchê-la. − Mas a senhora Little precisa de uma criada – ofereceu ele desesperado. _ A senhora Little não vai querer me contratar. Ela não gosta de mim. _ E vai desaprovar mais ainda, se você fizer o que está sugerindo. _ Pelo menos não vou depender dela até para o pão que consumo. − Rebecca enfrentou o olhar dele com orgulho. De repente, a raiva deu lugar a uma expressão e cansaço. _ Tem certeza de é o que quer? _ Sim, senhor. _ Então verei se a esposa do sargento Morrissey, a chefe da lavanderia, a aceita como aprendiz, mas eu tenho certas condições a impor. Primeira, seu emprego dependerá da concordância da senhora Morrissey e você vai combinar o − Muito bem.
salário com ela por um período de experiência.
− Segunda, você vai continuar vivendo com os Mackey. E me recuso a lhe dar um alojamento até o fim do período de experiência. Rebecca decepcionou-se. decepcionou-se. Ela esperava deixar Brian e Flora à vontade por causa do bebê. Se tivesse de ficar, pelo menos poderia contribuir para as despesas da casa. − Tudo bem − concordou. − E, finalmente − concluiu ele, duramente -, esta é a última conversa que temos sobre emprego. Se ficar no Forte Chamberlain, será como lavadei lavadeira ra ou como esposa e não como hóspede, cozinheira, cozinheira, atendente ou o que quer que seja. − Entendeu bem? − Sim, senhor. − Apresente-se na lavanderia pela manhã. − Sim, senhor. − Está dispensada. Ela se levantou com um sorriso de alívio. − Obrigada, coronel. Ele a dispensou com um aceno curto e voltou a atenção aos seus papéis. Ficou um bom tempo olhando
para eles sem os ver depois que ela se foi. Esperava ter feito a coisa certa dando a Rebecca Emerson o que ela queria até que quisesse mais. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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DOZE
-Mamãe, onde está você − o grito infantil veio do outro lado do pátio aberto da lavanderia. Rebecca manteve suspenso o pote que segurava, esperando que o pequenino furacão chamado Jamie aparecesse. Todo agitado, aonde ia ele era seguido por um gracioso cãozinho. Nem se importava com os perigos da. cal viva, do fogo aceso ou dos grandes caldeirões de água quente. − Se esse cachorro vier fuçar aqui, vou lhe bater com uma vara, Jamie − gritou Aggie O'Hara para o filho mais novo. Esfregando uma camisa com suas mãos fortes, ela olhou na direção do garoto. Jamie hesitou e chutou a terra com o pé descalço. Não menos cauteloso, cauteloso, o cãozinho parou à entrada do pátio da lavanderia e deitou-se à sombra, com a língua de fora. − Sai, vira-lata − berrou Gwennie, jogando água sobre o animalzi animalzinho, nho, que correu para junto do dono. − Eu e meu cachorro vamos pescar, mãe − informou o garoto, com ares de importânc importância. ia. − Voltaremos para o jantar. Rebecca deu uma risada, acompanhada pelas outras, quando o garoto marchou na direção do rio com o cachorrinho nos calcanhares. calcanhares. Tomando o cuidado de manter o vestido longe do fogo, ela levantou o pote da mistura para limpeza e despejou-a sobre a água fervente. Enquanto esperava os pedaços de sabão dissolverem, e mexeu a água borbulhante com um bastão e observou as companheiras das últimas três semanas. Elas eram de todos tipos e aparências. Mary Morrissey, a chefe da lavanderia, era uma mulher experiente e agradável de meia-idade. Apesar de precavida a princípio, adotara Rebecca depois de descobrir que a viúva era uma trabalhadora esforçada que não esperava ser mi mimada e protegda. Mggie O'Hara era casada com um sargento. Tinha uma casa cheia de filhos, um sorriso em que faltavam alguns dentes e uma risada contagiosa. Elsa era uma novata, chegada havia pouco da Alemanha. Gwennie, Flanna e Peg eram solteiras. Embora Flanna tivesse fama de brava, Gwennie e Peg brigavam constantemente. Bonita, Peg era a beldade da rua do Sabão e destratara Rebecca até perceber que a viúva não pretendia roubar-lhe o título. Superadas as desconfianças, as lavadeiras tomaram-se gentis com a quieta recém chegada de roupas escuras. Elas formavam um time grosseiro e barulhento, mas tinham bom coração. Ainda que não se
sentisse como uma delas, Rebecca viera a gostar de sua companhia companhia.. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Conquistara um lugar entre elas, tendo criado uma mistura própria para a lavagem da roupa. Seu cuidado com os tecidos finos levara Mary a pedir-lhe para cuidar das peças mais delicadas: Naquele dia, ela estava lavando as toalhas de linho do restaurante dos oficiais, repletas de manchas vermelhas de vinho. O longo, acalorado e tedioso trabalho começara como no dia anterior, quando deixara as peças de molho. Naquela manhã, lavara os tecidos com água e sabão, esfregando-as vivamente na tábua de esfregar. Agora, com o composto pronto, ela iria ferver as peças e enxaguá-las ou esfregá-las de novo, dependendo do estado das manchas. − Becca. Sentindo um puxão no vestido, Rebecca olhou para baixo e encontrou Phoebe Johnson toda sorridente. − Você não deveria estar aqui − falou docemente com a criança. Olhando ao redor, avistou Caroline e Sally saindo forte, sem perceber que a criança se afastara. − Você me conta uma história? − pediu a menina. − Hoje não, querida − disse Rebecca tristemen tristemente. te. Pegando-a pela mão, levou a menininha por entre os tacho ferventes até a frente da lavanderia. − Eu já volto, Mary, tão logo devolva nossa visita a sua mãe. Olhando enquanto elas passavam, Mary sorriu. Durante todo o dia entravam e saíam visitantes na lavanderia, raramente aparecia uma gracinha daquelas. − Que bonitinha. De quem é ela? − Da senhora Johnson. Aqui está ela, Caroline – chamou Rebecca quando a esposa do capitão começou a procurar pela filha. Caroline fez uma expressão de puro terror. Correndo até a lavanderia, parou embaixo do algodoeiro e chamou histericamente. − Phoebe, venha já aqui! − Mas... − A menina olhou para sua acompanhante. Acariciando-lhe a mão gentilmente, Rebecca soltou-a. − Vá com a sua mãe, Phoebe. Com a cabeça baixa, a menina voltou para junto da mãe. Caroline deu alguns passos para encontrá-la, segurando-lhe pelos ombros e agitando-a de leve. − Nunca mais faça isso, ouviu? Os lábios de Phoebe tremeram.
Eu queria encontrar minha amiga. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Fique longe daquela mulher. − Caroline olhou maldosamente na direção de Rebecca. − Ela não é o tipo de amiga para você. Abaixando-se, ela bateu no vestido da filha, como se eliminasse todos os vermes que ela pudesse ter contraído. . Então afastou-se dali, arrastando a chorosa Phoebe atrás de si. Vagarosamente, Vagarosament e, Rebecca voltou para seu lugar junto ao tacho. − Espero que ela não seja uma amiga sua – falou Flanna, observando a partida de Caroline com os olhos semicerrados. − Não é, não − Rebecca tentou parecer indiferente, começando a colocar as peças de linho no tacho, uma por urna. Flanna perdeu a paciência. − Quem ela pensa que é, falando para aquela criança que você não é o tipo de amiga que ela devia ter? _ Ela é uma esposa de ca capitão pitão − inf informou ormou Gwe Gwennie nnie aamar mar gamente. − Ela pensa que as lavadeiras são prostitutas. _ Algumas são − interveio Peg. _ Nem por isso as outras são, Peg Morgan – retrucou Gwennie. _ Chega, meninas − comandou Mary. Enxugando as mãos, ela se aproximou de Rebecca. _ Não deve se preocupar com o que algumas esposas de capitão pensam a seu respeito, querida. _ Isso mesmo − gritou Aggie. − Passamos muito bem na rua do Sabão sem essas esposas de capitão. E além do mais... − ela imitou um passo de dança ao lado de sua tina − nós somos mais divertidas. − Talvez Rebecca não goste de nosso tipo de divertimento _ observou Peg com amargor. − Até bem pouco tempo ela era uma esposa de oficial. Eu não me lembro de ela ser muito amigável então... − Pois eu não lembro de ela não ser amigável− interveio Elsa inesperadamente. − Ela não... como se diz mesmo... erguia o rosto para nós. − Ela não empinava o nariz para nós, querida − corrigiu-a Mary. − Ya. − Elsa sorriu agradecida. − Ela é uma
dama.
− Não, se é uma lavadeira. − Peg olhou para a jovem viúva, como se a desafiando a discordar. − Eu pensava que, se me comportasse como uma dama, eu seria tratada como tal − disse Rebecca pensativa. pensativ a. Mas agora acho que não é como os outros nos tratam que Importa, mas como tratamos os outros.
Se ser uma dama não depende depende de assumir assumir esse essess ares, pode hav haver er esperança esperança para mim e Mary comentou com sua risada contagiosa. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Eu acho vocês duas são as damas mais gentis que já conheci − respondeu Rebecca, sorrindo. − E eu acho que você tem uma boa lábia, senhora Emerson − falou Mary, rindo e voltando para sua tina. – Tem certeza de que não é irlandesa? Embora se sentisse melhor com o apoio das novas amigas, mas não podia esquecer o comportamento de Caroline. Não devia se aborrecer com isso, concluiu. Não era a Primeira vez que era afrontada por uma esposa de oficial nem seria a última. Quando concebera aquele plano, não contava com tal tipo de obstáculo. Os mais chegados a ela, Brian, Flora, o médico e Teddy, haviam entendido sua situação difícil, mas se colocado contra aquele tipo de solução. Quando Rebecca de decidira, eles continuaram seus amigos, mesmo discordando de sua atitude. A reação das esposas dos oficiais era previsível e dolorosa. A partir do momento em que passara a trabalhar na lavanderia, ela se tornara invisível. A damas não mais a notavam. E as únicas palavras que tinham para ela eram comentários maldosos, com o objetivo de serem indiretas. O tenente Davis dedicara à esposa de seu antigo capitão a mínima cortesia quando acontecera de se encontrarem,, e os homens da companhia de Paul, a observavam tristemente a distância. encontrarem Mas o confronto com Francis fora o mais desgastante de todos. Ele estava profundamente magoado quando viera retirar sua proposta de casamento. Insultado por ela ter escolhido a lavanderia em lugar do casamento, desde essa ocasião ele não reconhecera mais sua presença. Rebecca tinha muito mais o que fazer que entregar-se a essas lembranças. Mais tarde, enquanto estendia a roupa para secar no vento quente, ela concluiu que mesmo lutar contra as toalhas de linho era melhor que ficar inclinada sobre a tábua de esfregar. Depois de pendurar todas as toalhas e guardanapos no varal, ela demorou-se um pouco para esticar os músculos doloridos. Levantando os braços acima da cabeça, ela inclinou-se para um lado e depois para o outr outro. o.
− Nã Nãoo sei sei o que que est estáá ffaz azen endo do,, ma mass está está m mui uito to bbon onit itaa as assi sim m − co come ment ntou ou uma uma vvoz oz mas mascu culi lina na.. −
Pode-se ver melhor a figura de uma mulher sem todas aquelas saias e anáguas. Rebecca abaixou os braços, sentindo-se exposta ao ver o homem a num canto do varal. Ele lhe lançou um olhar e admiração, enquanto avançava pelas fileiras de roupas estendidas até chegar bem próximo dela. − Cabo Robert Paris, a seu serviço, dona. Ela já o vira diversas vezes e nunca apreciara suas maneiras. Consciente de que estavam fora das vistas vist as por causa das roupa roupass nos varais, ela o cumprime cumprimentou ntou com uma inclina inclinação ção de cabeça e pegou seu
cesto de roupas. _ Boa tarde, cabo. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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_ Espere um minuto. − Ele Ele agarrou-a pela. cintura. cintura. Eu me apresentei. apresentei. Não quer retribuir o favor? favor? Ela o fuzilou com o olhar. _ Me solte. _ Não seja assim, Rebecca − ralhou ele. − Este é o seu nome, não é? − Eu não lhe dei permissão para usá-lo. − Desvencilhando-se dele, ela caminhou por entre as roupas flutuantes em direção à lavanderia. − Peg e Gwennie também não. − Ele a seguiu com um olhar malicioso. − Na rua do Sabão, conhecemos conhecem os uns aos outros rápido e bem. Por que não me chama de Bob? − Não, obrigada. − Regressando a sua tina, ela começou a arrumar a área ao redor. Paris parou atrás dela, falando de modo que só ela pudesse ouvir. − Que tal uma caminhada ao luar esta noite, Becky? Poderíamos achar um lugarzinho para nos conhecermoss melhor. Então você me chamaria de Bob. conhecermo − Vá embora antes que eu chame um dos sargentos ela o avisou pelo ombro. − Quem você pensa que é, assim cheia de não-me-toques? − cobrou ele, baixinho. − Pode ter sido a esposa de um capitão, capitão, mas é uma lavadeira agora agora.. E eu acho que... − baixou a voz ameaça ameaçadoramente doramente − ...se pode beijar Injun Jack, pode me beijar também. Você iria gostar. Me encontre esta noite e descobrirá por si mesma. − Tremendo de raiva, ela observou o homem se afastar e pensava se devia trazer a arma de Paul para se proteger. Lavadeira. A idéia de uma lavadeira portando um revolver no cesto provocou-lhe um sorriso, apesar de tudo. − O tempo todo eu sabia. − Teddy aprumou-se diante dela em suas muletas. Desde que o médico permitira que fizesse um pouco de exercício, ele vinha mancando até lavanderia quase todos os dias para visitá-lo. − Eu sempre disse que você é um anjo ianque − falou entre risos. − Do que é que está falando? − Rebecca abriu um largo sorriso. − Você deve ser um anjo, ou ao menos uma santa, para sorrir enquanto lava uma peça de roupa e tem mais uma centena esperando. Tentando não revelar sua preocupação, ela olhou para a perna dele, que se encolhia à medida que sarava, e perguntou de caçoada. − Como está a pata?
− Mais ou menos, mas dura. − Ele a esticou com cuidado e ela não tocou o chão. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Teddy, meu querido. − Aggie Aggie conseguiu um tamb tamborete orete para ele. − Veio flertar flertar com as meninas de novo? − Foi você que eu vim ver, Aggie − ele disse, provocando-a. − Vá cuidar de si mesmo. − A lavadeira deu a sua risada. − Me diga uma coisa, rapaz, você veio da direção
do comando?
Ele concordou. − Acabou de chegar um mensageiro.
− Da patrulha de Jack? − Rebecca indagou com a pulsação acelerada. − Não, dos texanos − ele respondeu de mau humor: Inesperadamente desanimada pela ausência de notícias de Jack ela falou pouco enquanto fazia seu trabalho. Quando foi recolher a roupa do varal, Teddy acompanhou-a. Ele segurou a sacola de prendedores, então a seguiu para a área de passar, preocupando-se quando não pôde ajudar com o pesado cesto para ela. Encostado à porta, ele observou enquanto ela dobrava as peças de linho e as passava a ferro. − Vai ao baile dos praças amanhã à noite, Teddy?..... perguntou Peg, passando ao lado dele. _ Não sei se estou pronto para balanç balançar ar as pernas retruco retrucouu ele. ele. − Mas posso balan balançar çar uma muleta. _ Nós poderíamos sentar num canto sossegado e ver os outros dançarem − provocou ela, sedutora. _ Me desculpe, Peg − ele se lamentou. − Não estou em condições de me defender de seus admiradores. De sua tábua de passar, Gwennie dobrou-se com uma risada. r isada. _ Não seja por isso, Teddy. Ela poderia enfrentá-los. Peg gosta de uma boa briga. O sorriso de Peg murchou, mas ela não se fez de rogada. _ Vai ao baile? − ela indagou a Rebecca. _ Acho que não. − A viúva não tinha coragem de encarar os homens de Paul e só de pensar em encontrar o cabo Paris de novo sentia calafrios. − Você se acha boa demais para os simples praças? cutucou Peg. − Dane-se se acha ou não se acha − falou Mary acima de todas. − Faça o que tiver vontade, querida.
Rebecca e Teddy caminharam até a rua dos Oficiais ao anoitecer. Ela ia devagar, não apenas para não Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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forçar o passo dele. Estava exausta e todos os seus músculos doíam. Ouvindo vozes, ergueu os olhos para ver várias das esposas na varanda da senhora Little. Em seus vestidos rodados, elas bebiam limonada e a ignoraram cuidadosamente. O belo rosto de Teddy ficou sombrio, mas não havia nada que ele pudesse fazer. Soldados não se dirigiam a oficiais sem permissão de seus sargentos. Seria impensável para ele censurar suas esposas. Ele tornaria as coisas piores para a mulher a seu lado e gastaria o resto de seu tempo no exercito na prisão. Com a cabeça levantada, Rebecca nunca esteve mais ciente de sua aparência deselegante. Sem as anáguas, sua silhueta estava longe de ser apreciável. Seu vestido estava manchado de respingos de sabão e cal. Precisava urgentemente arrumar o cabelo no lugar. Levou as mãos às costas, escondendo a pele avermelhada e as unhas quebradas. Não importava, disse a si mesma com orgulho. Fizera sua escolha. Estava construindo sua própria vida. Na noite seguinte, Rebecca observou na sala de passar a saída das lavadeiras, uma por uma, para se prepararem para o baile. Pelas janelas chegavam as vozes de diversos soldados sentados sob o algodoeiro, que repticiamente passavam uma garrafa de mão em mão, dando início às festividades da noite. Escovando o cabelo para trás, Rebecca flexionou flexionou os ombros cansados. Uma peça a mais de roupa a ser passada e ela teria terminado. Inclinou-se para assoprar as brasas do ferro de passar, piscando por causa do calor. Depois de testar a temperatura temperatu ra num pedaço de papel amassado, ela ajustou a roupa na tábua e começou a passar o pesado ferro por cima. − Não rendeu muito o trabalho hoje. − Mary levantou os olhos de uma camisa que estava passando. − Mas eu não podia impedir as meninas de se divertirem um pouco. São tão raras oportunidades como esta. − Já foram todas? − Sim. Eu estou indo também, assim que terminar estas últimas camisas. Tem certeza de que não quer mudar de idéia quanto ao baile? − Tenho. − Rebecca dobrou a toalha de mesa cuidadosamente. Pegando um punhado de camisas, ela se preparou para colocá-las de molho no sabão durante a noite, quando a chefe da lavanderia a deteve. − Não se incomode, querida. Isso pode ficar para amanhã. Algumas garotas não virão e outras estarão sentindo os efeitos dos excessos da festa. Começaremos de novo na segunda.
− Neste caso, deixe eu passar suas camisas, assim pode ir para a festa − sugeriu Rebecca, pondo de Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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lado o cesta de roupa suja. − E muita bondade sua, mas não, obrigada – recusou. Mary com um sorriso amável. − Você já fez sua parte. − Quando eu comecei, você fazia a sua parte e a minha. Rebecca disse com firmeza. − Deixe eu fazer isso por você. Mary deixou-a ocupar seu lugar à tábua. _ Mas não fique até tarde, querida − avisou e acendeu a luz antes de sair. − Se não conseguir acabar, eu termino amanhã de manhã... se não estiver de ressaca também. Ela partiu com uma risada travessa. Eram muitas camisas enroladas no cesto de passar, mas Rebecca não esmoreceu. Depois do pôr-dosol, a brisa começou e o trabalho ficou mais agradável agradável.. Em pouco tempo, a música soava no refeitório, onde a dança começava. Depois de quase uma hora, ela terminou. Abafando o fogo, apagou o lampião e saiu, imaginando como Mary se sentia todas as noites. − Estava esperando por você. − Um homem apareceu das sombras atrás do algodoeiro, quando ela saiu. Embora ela não pudesse vê-lo, sentiu o cheiro de uísque de sua respiração. − Cabo Paris! − ela exclamou, ao distinguir suas feições na fraca luz que vinha do refeitório. − Por que não está no baile? − Você me deixou esperando na noite passada – acusou ele, balançando o corpo. Ela chegou para o lado nervosa, mas ele estendeu a mão em sua direção nas sombras a sua frente. − Me deixe em paz. − Escapando dele, ela começou a correr. − Ah, não. − Agarrando-a pela cintura, ele a jogou contra as arvores com tal violência que o ar fugiu de seus pulmões. − Você vai me beijar assim como beijou Injun Jack, o anunciou em seu ouvido, enquanto ela resfolegava. O tom dele mudou quando ela lhe chutou com força − sua gatinha brava − sibilou, puxando-a mais para si. − Você vai me beijar de um jeito ou de outro. − Não! − Ela gritou e quase caiu, quando o peso diminuiu. Encostada na árvore, Rebecca compreendeu que ele fora puxado de cima dela.
Com o rosto transtornado pela raiva, Jack segurava Paris pelo pescoço e o sacudia como se fosse um Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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boneco desengonçado. − Eu lhe avisei para não incomodá-la − ele ameaçou − Eu disse para nem pensar nela. − Sacando a arma da bainha, ele a apontou para a garganta do outro. − Devia matá-lo. − Não, Jack, por favor − interveio Rebecca. Os olhos do batedor eram duas esferas de aço azul quando ele os voltou na direção dela. Subitamente, ele jogou Paris para longe e guardou a faca. O cabo atingiu o chão com um gemido e levantouse correndo. Jack olhava para Rebecca e não testemunhou sua partida. Ele maldizia sua sorte por ter-se apaixonado pela mulher mais impossível que já conhecera. Mal retomara ao Forte Chamberlain meia hora atrás, e já estava furioso. Primeiro descobrira que ela conseguira emprego na lavanderia, em seguida a encontrava sendo atacada sob o algodoeiro. − Você está bem? − perguntou ele. Lutando contra as lágrimas pela primeira vez desde que o conhecera, ela voou para ele. − Oh, Jack, graças a Deus você está bem − ela soluçou. − Reb − ele sussurrou contra seu cabelo, passando os braços ao redor dela até que os soluços passassem e a raiva diminuísse. − Está tudo bem agora. − E quanto às conversações de paz? − indagou ela, fungando. − Eu não sei − admitiu ele. − Nós perseguimos mais que lutamos e lutamos mais que falamos, mas nunca com Urso Grande e sua tribo. − Fiquei tão preocupada. − Vai ficar tudo bem agora – ele lhe assegurou gentilmente. − Venha, vou acompanhá-la até em casa. − Pensei ter ouvido um grito aí − falou o sargento O'Hara da entrada do refeitório, quando eles saíram da sombra. − Foi Paris quem eu vi? − Eu e ele tivemos um... desentendimento – respondeu Jack. − Compreendo. − O'Hara olhou para a mulher, observando o
braço protetor protetor de Jack. − Está ttudo udo
bem agora? _ Tudo bem. − Pegando a mão de Rebecca, Jack levou-a a rua dos Oficiais. − Acabei de vir do hospital. O Teddy me pôs a par da sua última tolice. Reb, a lavanderia não é lugar para você. _ Pelo menos estou me sustentando − contrapôs ela. E continuo no Kansas. Não por muito tempo. O coronel não vai querer que continue na lavanderia depois do que
acabou de acontecer. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Ela não protestou, por causa de um pensamen pensamento to desencorajador que passou por sua mente. − Ele vai lhe mandar para o Leste − continuou ele sério. − As carroças já estão passando. Eu trouxe a notícia. Por essa razão eu voltei. − Então vou ter de pensar em outra maneira de ficar... amanhã − declarou ela, exausta demais para pensar, naquela noite. Eles passaram pela casa e pararam embaixo do lariço americano. − Eu a pedi em casament casamentoo antes e você recusou − falou-lhe Jack na escuridão. − Mas parece que estão se esgotando suas escolhas. Quer dizer, se pretende ficar, vai ter de se casar... e logo. Por que não se casa comigo? − Por que não? − Despertando do cansaço, ela puxou a mão da dele. − Porque, seu cafajeste, eu sei sobre sua esposa índia. − O quê? − Ele estreitou os olhos para ver o rosto conturbado dela à parca luz do hospital. − Sua pele-vermelha − ela desabafou. − Ela veio me contar que belo marido você é. − Minha pele-vermelha? − ele repetiu, perplexo. De repente, seus lábio se curvaram num sorriso. − Ela era por acaso baixa e forte? Bonita e com uma falha entre os dentes? − Fico feliz em saber que não se esqueceu completamente. − Eu nunca me esqueceria de Dois Pássaros Brancos. Ela é com uma irmã para mim. _ Ela disse que você a comprou − ela o informou friamente. − Há Há dois dois anos anos aatrá trás, s, eu a ccomp omprei rei de uma dup dupla la de con condut dutore oress de de m mula ulass qque ue
a haviam haviam compra comprado do
de um Assassino. Eles tinham atacado a tribo dela e aprisionado os sobreviventes como escravos. Eu a comprei e a levei para morar com de Pele de Lobo. Ela me ama como a um irmão – ele concluiu com simplicidade. − Quer dizer que não são casados? − exclamou Rebecca mortificada. − Não, embora Dois Pássaros Brancos esteja certa: eu daria um bom marido. Vou cuidar bem de você, se casar comigo. − Devo entender que está me propondo manter o mesmo acordo de antes? − indagou ela acidamente. − Se é assim que o chama − resumiu Jack. – Conforme eu disse antes, meu trabalho dá para nós dois. − Eu terei as planícies e pradarias... e você, sua paz de espírito − sussurrou ela desanimada. − Preciso
de tempo para pensar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Você pode me dar sua resposta pela manhã – declarou ele. − Pode me encontrar aqui depois do toque de serviço. Rebecca concordou e eles retomaram à residência dos Mackey. Não tinha sentido ralhar mais com Rebecca por seus esquemas malucos, considerou Jack sobriamente. Ele estava prestes a fazer a maior jogada de sua vida, a qual mais do que nunca esperava ganhar. Ia desposar uma mulher que não o queria, esperando que ela aprendesse a amá-lo. Prometera a si mesma que só se casaria de novo se fosse por amor, recordou-se Rebecca tristeme tristemente. nte. O amor que sentia por ele seria suficiente para sustentar um casamento.Ou deveria esperar que ele viesse a amá-la com o tempo. Sentindo-se pouco à vontade um com o outro, eles se despediram ao pé da escada. Enquanto o batedor desaparecia na noite, ela o observou, sofrendo pelas palavras não ditas entre eles.
TREZE -Você sabe que eu nunca esquecerei Paul... − Caindo em silêncio, Rebecca olhou exasperada para a amiga. − Eu sei. − Embora Flora procurasse parecer séria, seus olhos brilhavam de excitação. − Mas ele iria querer vê-la feliz, e casar com Jack é a melhor opção que você tem. − Nem todos pensarão assim. − Rebecca suspirou, enquanto pegava a grinalda. − Eu escrevi para Lyle, mas acho que não me expliquei bem. Encurtar o período de luto não parece decente, mesmo no papel. E as fofocas aqui no forte serão mais picantes do que nunca. − Só até perceberem o quanto vocês serão felizes juntos − previu a amiga. Sem querer explicar o acordo com o qual estava prestes a concordar, Rebecca deixou a amiga com um sorriso cético. Embora a manhã estivesse quente, uma forte brisa soprava, agitando seu vestido e fazendo tremular a bandeira no alto do mastro. Fazia apenas seis semanas que a insígnia fora trocada por uma nova, na comemoraçãoo do Dia da Independência. Apenas seis semanas antes ela havia conhecido o homem que seria comemoraçã
seu marido. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Jack adiantou-se quando ela se aproximou para encontrá-la. Pegando-a pela mão, ele a levou para a sombra. Era sempre como se estivessem namorando, ela considerou de passagem, mas nunca se poderia imaginar um casal tão díspar quanto Injun Jack e Rebecca− Perfeita. − Você disse que me daria sua resposta hoje – disse ele , à guisa de cumprimento, a voz um tanto rouca e inseguro. − Pensei no assunto a noite inteira − murmurou ela,
subitamente acanhada.
− E o que decidiu? − Antes de me casar com você − começou ela, escolhendo as palavras com cuidado − há uma porção de coisas que devemos deixar bem claro antes. − Tais como? − Ele encostou o ombro no tronco da árvore e esperou. − Primeiro, a respeito de Teddy... − Sei que nenhuma mulher gostaria de começar seu casamento cuidando de um convalescente... − Oh, eu ia dizer que ele poderia ficar conosco − acrescentou ela rapidamente. − Ele é seu primo, apesar de tudo. E eu estou preocupada com a perna dele. − Então ele vai ficar conosco − decidiu Jack. − O que mais? − Embora você tenha mencionado uma pensão para manter a casa, eu recebo a pensão de Paul e minha renda na lavanderia. Não é muito, mas gostaria de guardar para mim. − Muito justo. − Além disso... − Ela o observou ansiosa. − Quero que me prometa que não vai tentar me maltratar. Ele a encarou estupefato. − Andei metido em brigas no passado, mas como pode pensar que eu ergueria a mão contra você? − Eu nunca comentei com você − Rebecca replicou calmamente -, mas meu padrasto era violento. E meu irmão também. − Eles batiam em você? − Ele indagou sombrio. − Não sempre. − Ela desviou o olhar. − Eu escapa sempre, mas estou cansada de fugir e de ser agredida.
Por um momento, o único ruído r uído que se ouviu foi o vento nas folhas da árvore. − Então pensa que sou violento? − indagou Jack. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Na verdade, não − ela respondeu, sensibilizada pela pergunta. − Mas você tem um temperamento forte, gosta de me dizer o que fazer. − Bem que tentei − ele admitiu com uma risada − Mas você não ouve. Isso é tudo? _ Só tem mai maiss uma coi coisa. sa. − Ela respirou respirou fun fundo. do. – Se nos nosso so casa casamen mento to é co como mo um aco acordo rdo de negócios, quero deixar claro que cuidarei da casa, da comida e da limpeza. Em resumo, vou assumir todas as funções de uma esposa, com uma única exceção. Nosso casamento de conveniência não vai se estender à cama. Sem nos amarmos, seria errado. Por isso, sugiro que tenhamos quartos separados separados.. Ao concluir, ela olhou para ele, esperando sua reação. Talvez um dia sua união fosse possível. Até lá, ela não se entregaria a um homem que não a amava. Embora não demonstrasse, Jack sentiu o estômago se contrair. Honestidade e integridade eram bons atributos numa esposa, ele imaginava, mas ele preferia ter seu amor. De uma coisa ele poderia estar certo. Quando Rebecca se entregasse a ele, seria porque o amava. Então poderiam construir um casamento de verdade, um passo de cada vez. − Tudo bem − ele murmurou. − Está tudo claro entre nós. − Você tem alguma condição? − indagou ela, sentindo-se culpada. − Nenhuma. Que acha de nos casarmos amanhã? − Amanhã? − No caminho para o forte, ontem, encontrei um pastor, o reverendo Niles − explicou ele, notando a surpresa dela. − Iremos juntos até Chamberlain, onde ele pretende construir uma igreja. Posso ir buscá-lo, de modo que poderemos nos casar aqui com bastante testemunhas. Chega de tantos rumores e insinuações. Agora... − ele continuou continuou quando eça fez menção de interromper − ...eu consegui uma casa antes de partir da outra vez. Gostaria de visitá-la? _ Sim, por favor − murmurou ela, impressionada impressionada.. Enquanto eles se dirigiam aos alojamentos alojamentos dos batedores, pequenos chalés chalés no canto extremo do quadrado, entre o posto comercial e a rua do Sabão, Jack levou sua pretendida. Sob a sombra do chapéu, ela mantinha aquele perfil de camafeu. Sua mão, avermelhada e áspera por causa da lavagem de roupas, descansava na curva de seu braço. Se soubesse interpretar os sinais, pensou o batedor ironicamente, ele saberia da resposta de Rebecca de antemão. O dedo dela parecia nu sem o anel preto que usava desde que a conhecera. No dia seguinte, ela usaria uma aliança, a sua. Ou pelo menos tinha a esperança de poder encontrar uma em Chamberlain.
− A casa não tem luxos, mas pode ficar confortável e é sossegada − informou ao abrir a porta. − O Diego tem esposa no acampamento de Pele de Lobo e passa a maior parte do tempo lá. Solem apenas dorme Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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em sua casa quando está no forte. − Oh, veja! − ela gritou no momento em que atravessava a soleira. − Tem duas janelas na sala... com almofadas de vidro! − Você gosta? − A voz grossa dele ecoou nas paredes nuas. − Acho adorável. Jack examinou a sala às escuras com uma expressão dúbia. − Acho que suas coisas vão caber quando as mandar trazer hoje à tarde do depósito. − As coisas são suas agora − ela respondeu de um dos quartos. − Você as comprou. − Elas serão nossas coisas. Ela lançou-lhe um sorriso antes de desaparecer na cozinha. Ele a seguiu, rindo alto quando a viu parada no centro do cômodo, os braços estendidos do lado do corpo. . ser − E tão grande. − Ela gesticulou deliciada. – Vai ser perfeita. A cozinha é o coração da casa. − Precisa de um fogão. − Vou ver se o Peeples tem no posto comercial. − Obrigada. − As covinhas dela se aprofundaram, fazendo seu coração se apertar. − O prazer é meu − ele murmurou. − N-nós devíamos ir embora − sugeriu ela, ao ... Ela queria um casamento com base no amor, não no desejo. _ Reb. _ Embora ele não fizesse menção de tocá-la, ela parou. _ Sim? − Ela engoliu em seco. Eles estavam tão próximos. Mal podia respirar, nem pensar. _ Sei que você disse que não tornaria a casar se não fosse por amor... Ela recuou, sem querer ouvir desculpas, e o interrompeu orgulhosa orgulhosamente: mente: _ Sim, mas deixei de lado essa atitude romântica. Flora ficou perplexa ao ver Jack e Rebecca atravessando o pátio em sua direção. Nunca vira um casal de noivos como aquele. O homem vinha com uma expressão dura e a mulher parecia à beira das lágrimas. − Não me deixe em suspenso − falou quando Rebecca se juntou a ela na varanda e Jack dirigiu-se ao hospital. − Vai haver casamento ou não? − Vai − respondeu Rebecca trist tristemente, emente, deixando-se cair sobre o banco. − Ele vai encontrar um pastor
Vai respondeu Rebecca trist tristemente, emente, deixando se cair sobre o banco. Ele vai encontrar um pastor esta tarde. Vamos nos casar amanhã. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Amanhã? − a amiga exclamou. − Acho melhor prevenimos Jean. Depois você me conta o que aconteceu. Jack encontrou o primo afundado na cadeira ao lado da cama, as muletas caídas no chão atrás de si. A perna estava tão encolhida que o pé pendia pendurado a diversos centímetros do chão. Triste e pensativo, ele olhava pela janela. − Está um lindo dia. − Jack sentou-se sobre o baú de Teddy e jogou o chapéu em cima da cama. − Por que está sentado aí? − Jack. − Teddy exibiu o sorriso familiar. familiar. − Que bom ver você. Como estão as coisas? − O Fale você primeiro. O sorriso se apagou. − Bem, o doutor acabou de dizer que o exército vai me afastar. Parece que uma machadada na perna vale dez. Pelo resto da vida e acabou. − Sinto muito, Ted. − Então estava pensando no que fazer quando voltar a ser civil. Não vou nem poder montar mais um cavalo. A dor ensombreceu os olhos azul-claros do rapaz. − Cavalgar é tudo o que sei na vida. − Podemos pensar em outra coisa. − Jack esfregou-lhe o ombro de modo encorajador. − É o que acho. − Teddy piscou, embaraçado, afastando as lágrimas. − Agora chega. E você, o que vai fazer hoje? − Procurar um pastor. − Jack sorriu de lado. − Eu e Reb vamos nos casar. − Casar?! − Teddy arregalou os olhos para ele. − Você e Reb? Mas isso é maravilhoso! Eu sabia que iam descobrir que se amavam no fim das contas. − As coisas não são bem assim − comentou Jack com o entusiasmo refreado.
− Não venha me dizer que você não a ama! − Ela não me ama. − Ela está casando com você − observou o jovem. − É um casamento de conveniência. − O batedor pegou o chapéu e ficou analisando cuidadosamente sua aba. AP.sim ela pode ficar no Kansas e eu sei que ela está em segurança. Nós queremos que vá morar com a gente quando o doutor lhe der alta. − Não... − discordou Teddy. − Vocês não vão querer outra pessoa em casa justamente quando começam o casamento.
− Mas é o que queremos − Jack afirmou. − Nós dois. − Mas... Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Não discuta, primo. − Jack se levanto levantou. u. − Vou falar com o doutor para liberar você amanhã. − Não no dia do seu casamento... e na noite – protestou Teddy − Espero que eu e Rebecca tenhamos muitas noites juntos antes de as coisas mudarem entre nós − informou info rmou pe pensat nsativo ivo.. − Mas por ora sei sei que nnossa ossa pr primei imeira ra noite noite não se será rá de núpcia núpcias. s. . − Você não quer ficar sozinho com ela! Jonathan Bellamy − o jovem disparou ao perceber que negava -, você é o noivo mais amedronta amedrontado do que já vi. − Você vai precisar de toda a ajuda que eu puder dar. _ Tudo o que quero de você é que fique conosco, Teddy _ falou o batedor, pondo o chapéu na cabeça. − Não queira ajudar. _ Você está linda. − Flora circulava ao redor da noiva. _ Está nervosa? _ Nem tive tempo para isso. Aconteceu tudo tão depressa. − Rebecca deu um sorriso sem graça. − Já está na hora? − Quase. − Flora pensou por um instante, então sugeriu entusiasmada: − Por que não me deixa ir buscar o Jack para vocês conversarem antes do casamento? Apesar do que você me falou, acredito que ele a ama. − O que quer que eu faça? − indagou Rebecca exasperada. − Que lhe pergunte cara a cara? − Por que não? − Porque não suportaria ouvir um não. Se ele me ama, já devia ter dito. Se vier a me amar, ele me dirá. Nesse meio tempo, seremos bons parceiros um para o outro. − Parceiros − murmurou Flora tristemente e abriu a porta. Andando de um lado para outro em frente à lareira na sala, Jack parou no meio do caminho quando a noiva apareceu e um sorriso iluminou seu rosto bronzeado. − Tome seu lugar, senhor senhor Bellamy Bellamy − instruiu instruiu o reverendo Mil Miles. es. Teddy Teddy sorriu e aprumou-se aprumou-se nas muletas enquanto Jack ficava na posição, quase pisando em seu melhor amigo. O batedor não conseguia tirar os olhos de Rebecca enquanto Brian levou-a até ele. Desde que a conhecera, ela usava vestidos nas cores de luto. Naquele dia ela parecia delicada, etérea num vestido de seda amarelo-claro. Seu cabelo não estava preso no alto da cabeça, de onde descia em cascata de caracóis. Ela parecia deslizar suavemente na direção dele.
Pena que mentira quando dissera que não estava nervosa. Rebecca, avançando pelo salão com os convidados mais disparatados. Ela avistou o doutor Trotter, o senhor Peeples, Solemn Longfellow, as Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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lavadeiras e os Garotos. Os demais oficiais e suas esposas não haviam comparecido.Seu coração estava acelerado, suas mãos tremiam, sabia que tinha de caminhar. Não ajudava o fato de nunca ter estado tão bonito. Ele usava o mesmo terno noite em que dançaram a valsa. E tinha a mesma expressão nos olhos azuis. − Queridos amigos, estamos aqui reunidos... − o pregador começou sonoramente, quando ela parou com os joe. lhos trêmulos ao lado de seu noivo. A cerimônia foi misericordiosamente breve. Em questão de minutos, o casal trocara os votos, fora pronunciado marido e mulher e se beijado, sentindo-se inexplicavelmente envergonhados um com o outro. Os votos de felicidade, encabeçados pelas lacrimosas lavadeiras, choveram ao redor deles. − Vocês dois são adoráveis − comentou Mary, pegando a mão de Rebecca nas suas. − Estou contente que tenha escolhido escolhido um homem bom. A la lavanderia vanderia não é lugar para você. − Deixem-me passar − trovejou o médico. − Quero beijar a noiva. − Entre na fila doutor. − Teddy barrou seu caminho com a muleta. − Primeiro a família. Bem-vinda, prima, ele sussurrou ao beijar-lhe o rosto. Solemn, com o rosto comprido iluminado por um raro sorriso, bateu nas costas de Jack. − Mal posso acreditar que você tenha feito isso, mas lhe desejo sorte. Para vocês dois, senhora Bellamy. − Senhora Bellamy − repetiu Jack, parecendo tão confuso quanto a nova esposa. − Um brinde para Jack e Rebecca − propôs Brian. Depois que o casamento foi registrado na Bíblia de Rebecca. Que seu amor resista e floresça por muitos e felizes anos. Os recém-casados entreolharam-se, seus olhares refletindo, ao mesmo tempo que acresciam as suas próprias preces ao brinde. O resto da tarde transcorreu como numa névoa. Após a cerimônia, Rebecca guardaria duas lembranças: lembrança s: as risadas e o pesado anel de sinete de Jack, usado à guisa de aliança, escorregou para dentro da poncheira; e a visão de Brian e os Garotões, formando um arco com as espadas sobre os degraus da entrada. Os recém-casados passaram por baixo do arco e cruzaram pátio a caminho de casa. Com a noiva do lado, Injun Jack levantava o chapéu para todas as damas nas varandas pela rua dos Oficiais. Satisfeitaa porque o fogo pegara em seu novo fogão, Rebecca limpou a poeira de carvão de suas mãos e Satisfeit
continuou a procura de utensílios de cozinha. A qualquer momento Jack deveria voltar do hospital com Teddy e ela queria começar a preparar o jantar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Eles haviam trabalhado juntos durante toda a tarde para arrumar os móveis, tendo de desviar o tempo todo para não pisar no Fominha enquanto punham ordem no caos. Jack ficara contente ao encontrar um belo lampião de leitura e uma banheira entre suas novas posses. Mas Rebecca sorriu ao se lembrar de sua expressão quando ele abrira uma caixa
cheia de penas.
− Eu comprei penas? − indagara ele incrédulo. − São para fazer um colchão − informara ela. Segurando o saco de penas na mão, ele o apreciara pensativo. − Talvez para uma cama bem pequena. Vou ter de sair para várias caçadas até ter penas suficientes para um colchão inteiro. inteiro. Nesse mei meioo tempo, acho que vou llhe he comprar uma cama. Sabendo o que viria em seguida, ela abanara a cabeça. − Já tenho cama. − Coloquei no quarto de Teddy. − Pensei que já tivéssemos esclarecido essa questão sobre quem dorme onde. − Mas foi você quem deu a idéia − protestara ele. − Você sabe que tenho razão. Teddy precisa mais de uma cama do que eu. − Não quero que você durma no chão − insistira Jack. − Não adianta discutir por isso − ela encerrara a conversa. − Não deve haver uma cama disponível em centenas de quilômetros ao redor. − Alguém em casa? − A voz do novo primo soou na sala. Com o ruído das muletas, Teddy aproximo aproximou-se u-se da porta da cozinha. − Está bonito. − Ainda vai ficar. Por que não dá uma olhada no seu quarto? − Vou dar uma boa olhada − ele lhe garantiu. − Quero encontrar minha cama e ficar lá. Estou quebrado depois de tanta excitação. Fechando a gaveta de carvão, ela se levantou e olhou-o preocupada. − Não quer comer alguma coisa? Posso lhe levar uma bandeja. − Preciso comer, sim, mas antes vou descansar um pouco. − Ele deu a volta com dificuldade por entre as caixas. Me indique o caminho, primo. Depois de instalar Teddy, Jack voltou à cozinha para admirar o fogão novo.
− Que bom que funciona. Pensei que fosse lhe encher de fumaça na primeira vez que tentasse acendêlo. Me dou melhor com fogueiras. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Você escolheu bem. Só espero me sair melhor com o jantar. Encontrei a chaleira e a frigideira, mas ainda precisamos de pratos e copos. − Vou procurar. − Cuidando de procurar enquanto ela cozinhava uma refeição simples, ele apareceu com alguns pratos. − Aqui estão, mas estão cheios de areia. Deve ter
havido uma tempestade tempestade de vento
enquanto estive fora. − Não, apenas o vento e a poeira de costume. − Não tem água no barril − ele falou da porta dos fundos. − Vou lavá-los assim que arranjar. − Use a que está no balde atrás da porta. Passando os dedos pela alça de metal, Jack levantou o balde e franziu a testa. − Está pesado. Trouxe este balde sozinha? _ O poço não fica muito longe. _ Acho que o tratamento no Alojamento dos Batedores não é o mesmo que na rua dos Oficiais – murmurou ele. − Amanhã vou ver se posso contratar o filho mais velho de Fiddler O'Rara para cuidar que o barril fique sempre cheio. Ele pode cuidar do carvão também. _ Obrigada. − Rebecca sorriu, tocada pela preocupação dele. _ Não tem de quê. − Os olhos de Jack mostraram uma apreensão que ela notara diversas vezes no dia. _ Deixe-me levar a bandeja do nosso paciente e então podemos comer − falou, saindo da cozinha. Ela encontrou o rapaz estirado de bruços na cama no escuro, olhando para a parede. − O que foi, Teddy? − Nada. Só estou cansado − grunhiu ele. − Trouxe seu jantar. − Muita gentileza, Reb. − A voz dele fraquejou. − Poderia deixar sobre o criado-mudo? Vou querer descansar mais um pouco ainda antes de comer. Ela lançou um olhar preocupado para suas costas. − Quer que lhe traga mais alguma coisa? − Não. Nada. − Ele suspirou profundamente, sorrindo no momento em que ela se afastou. Com a suficiente privacidade, aqueles dois iriam acabar se entendo. Eles se amavam. Teddy sabia disso, mesmo
que negassem. Tudo o que ele precisava fazer era ficar fora do caminho e deixar a natureza seguir seu curso. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Gostaria de dizer a prece antes da refeição? − Rebecca indagou a Jack, quando eles se sentaram para seu primeiro jantar como marido e mulher. Ele deixou cair o garfo. − Desculpe, Reb. Acho que estive por tempo demais na estrada. Por que você não diz? Sérios e concentrados, eles jantaram em meio à bagunça de sua nova casa. Rebecca sentiu-se quase aliviada quando Jack saiu para pegar a bandeja de Teddy e a deixou sozinha na cozinha iluminada. Enquanto esperava a chaleira ferver, ela saiu para procurar o Fominha. Como o gato não respondesse a seus comandos, ela aproveitou para observar a nova vizinha vizinhança. nça. A curta distância da porta dos fundos, o rio, banhado de prateado pelo luar, era pouco visível por entre os galhos das árvores. Talvez fosse sentir a vista das planícies. − Ao menos o cansaço não afetou o apetite de Teddy _ comentou Jack de dentro da cozinha, ao retomar com a bandeja vazia. Rindo, Rebecca voltou para dentro e encheu a bacia de lavar os pratos com água fervente. − A mãe de vocês os educou bem − caçoou ela quando Jack pegou um pano de prato e começou a enxugar a louça. − Minha avó − corrigiu ele. − Ela me educou depois que meus pais morreram. Observando o reflexo dele no vidro da janela, Rebecca compreendeu que sabia muito pouco sobre o homem com quem se casara. − Você tem irmãos ou irmãs? − Um irmão mais velho, Charles. Ele e a família vivem com a minha avó desde a guerra. A casa dele, na fazenda da minha família, foi destruída. − Sinto muito. Ele deu de ombros. − Aconteceu a uma porção de gente. Charlie está tentando se segurar enquanto não encontra um preço decente para a terra. Eu tenho falado para ela vir para o Oeste e trazer vovó com ele. Aqui dá para começar a vida de novo, mas eles não querem vir. − Você gosta do Oeste, não? − indagou ela em voz baixa. − Quase tanto quanto você − respondeu ele, conciso, jogando o pano sobre a mesa. − Acho melhor cobrir as janelas, se quisermos ter alguma privacidade durante a noite.
Insegura pela súbita mudança de humor de Jack, Rebeca terminou de enxugar os pratos sozinha. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Estava tudo muito quieto quando ele forrou as janelas com lençóis. Então, ou vindo um ruído na sala, ela foi investigar. − O que você está fazendo? − Arrumando a sala − ele respondeu, sem desviar os olhos da caixa que estava mudando de lugar. − Não posso dormir com Teddy até que esteja curado. Também não fica bom dormir fora na nossa noite de núpcias. O que os vizinhos vão dizer? − Ele lhe dirigiu um olhar de troça. − As únicas opções são a sala ou... _ Vou lhe buscar um travesseiro. − Ela pegou um de sua cama, o rosto ardendo em brasa, enquanto ele espalhava sua manta no chão. − Boa noite, Jack. _ Boa noite, Reb − murmurou ele, vendo-a fechar a porta. No mesmo instante a porta tomou a se abrir. Com a mesma rapidez, r apidez, ela se fechou de novo, apenas para voltar uma vez mais. Ela tentou uma terceira vez com mais força, mas o resultado foi o mesmo. Ele ouviulhe o suspiro de frustração do lado de dentro. _ Qual é o problema? − ele indagou em voz baixa. _ Não tem tranca − ela respondeu igualmente em voz baixa. − Você não precisa de tranca. Não vou entrar no seu quarto a menos que me convide. Ele a viu corar pela fresta da porta, quando ela tentou pela quarta fez e ouviu o ruído de uma caixa sendo arrastada atrás dela. Sorrindo, ele afundou o rosto no travesseiro que segurava. Cheirava a loção de rosas. Jogou-o de lado com um gemido. Ele passara o dia pensando em beijar sua noiva. Não precisaria sonhar com isso durante a noite. Passava da meia-noite quando Rebecca ouviu o Fominha miando sem parar na porta da frente. Levantou-se de seu colchão de palha com a testa franzida. Não queria começar seu casamento discutindo por causa de um gato. Enrolando uma coberta por cima da camisola, arrastou cuidadosamente a caixa para o lado e abriu a porta. Quase tropeçou nas pernas de Jack ao caminhar pela sala. Mal conseguia distinguir sua alta silhueta por entre as caixas no escuro. Não podia ver sua cabeça, mas avistou um canto o travesseiro branco, quase luminoso à luz do luar, contra a porta da frente. Fominha miou de novo e o homem mudou de posição murmurando quando um de seus pés descalços encontrara o dela. Rebecca gelou, horrorizada horrorizada com a idéia de que ele poderia acordar e dar com ela em cima dele.
Como ele não acordasse, ela saiu nas pontas dos pés e foi para a porta dos fundos. Saindo para fora, ela correu ao redor da casa, a trança do cabelo batendo em suas costas. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Fique quieto, você − ela murmurou, pegando o gato nos braços. Virou vivamente quando alguém avançou por trás dela na escuridão. − Aí está você − uma voz masculina murmurou. _Senhora Bellamy, não é? − Francis. − Ela suspirou aliviada. − Você me assustou. − Não... não quis assustar você. − Ele soluçou. − Você andou bebendo. − Ela recuou desconfiada. − Quebrei a promessa − confirmou ele, cambaleando. − Foi por você que eu a mantive, porque eu a amava. − Acho melhor você ir para casa. − Não até você me escutar − insistiu ele, quase lúcido. − Você me humilhou, sabe disso. Você preferiu a lavanderi lavanderiaa a casar-se comigo, mas eu ainda a queria como esposa. Eu lhe daria o que quisesse. − Ele bocejou alto. − Até mesmo ficar nesta maldita terra. Agora você se casou com Injun Jack. Por que, B-Becky? Você não pode me amar. − Você está enganado − ela discordou em voz baixa. O oficial cambaleou, então se recompôs com orgulho. − Estive enganado acerca de uma porção de coisas, senhora Bellamy. Eu devia ter acreditado nas ffofocas que s-sempre ignorei − ele soluçou. − Você ficou com raiva na única vez que eu a beijei, mas aposto que o batedor tomou liberdades que eu nem sequer sonhei. Eu pensei que você fosse perfeita... − a voz dele desabafou − ...perfeita dama, uma perfeita esposa de oficial. A única coisa que perfeita agora é o seu apelido. Você merece o Injun Jack e todas as mágoas que ele lhe causar. E espero que seja muitas. Rebecca ficou olhando, atordoada, enquanto ele sentava com uma incerta dignidade. Em seus braços, Fominha ronronava. Deixando-o no chão, ela se voltou dolorosamente dolorosamente para a casa. Jack encontrava-se na varanda vestido apenas com a calça de couro. O rosto dele estava na penumbra e ela não pode ver sua expressão. Ela precisava saber se ele ouvira o que ela dissera. _ Por quanto tempo esteve parado aí? _ O suficiente para ouvir o Porter dizer coisas que nunca devia ter dito. − Saindo para a luz do luar, ele olhou para ela, impassível. _ Ele não quis dizer aquilo. − Ela sentou-se no primeiro degrau, aos pés dele. − Ele estava com raiva e ferido. − E muita bondade sua, Reb − comentou ele secamente, sentando-se ao lado dela. − Nem todo mundo tem essa desculpa. As pessoas deviam pensar antes de dizer tais coisas. Tem certeza de que não quer voltar
para o Leste... mesmo para uma visita? Eu posso sustentar você tanto lá quanto aqui. − Eu não estou fugindo. − Ela abanou a cabeça com teimosia. − Além do mais, nós temos um trato e Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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pretendo honrá-lo. Ele inalou o perfume de seu cabelo. − Esta é a única razão por que você ficaria? − Eu amo as planícies, você sabe. − Ela afastou-se um pouco quando ele se inclinou para o seu lado. − E isso é tudo? − ele sussurrou em seu ouvido. Arrepiando-se toda, ela deu uma desculpa pouco convincente: − Teddy precisa de mim. Ele tomou-lhe o queixo na mão e virou-lhe o rosto para si. − Eu preciso de você − murmurou. Seus lábios pousaram nos dela dolorosamente carinhosos, assim como os braços ao redor de sua cintura, puxando-a para mais perto.Rebecca voltou-se instintivamente nos braços dele, as mãos subindo pelos braços musculosos para agarrá-lo pelos braços. Ela se grudou a ele, deleitando-se com seu calor. Jack beijou-a ainda mais insistentemente, ele deitou-a na varanda, cobrindo-a com o corpo volumoso. Sua mão segurava-lhe o seio, cujo calor lhe chegava através do tecido da camisola. Com o polegar ele traçava carícias preguiçosas ao redor do mamilo forçando-o a se intumescer. intumescer. O gemido de Rebecca se perdeu nos lábios dele. Ela sentia o seio palpitar, escorregando sob a roupa folgada. Mesmo o tecido de algodão macio parecia áspero de encontro ao bico sensível. De alguma forma o lençol com que ela se envolvia se abrira e ele insinuara uma de suas longas pernas entre as dela. Contra o quadril, ela sentiu-lhe o membro rígido de desejo. Ele se ergueu num cotovelo sobre ela, o cabelo formando uma cortina entre seus rostos como se lhes desse mais intimidade, e desatou o laço que lhe prendia a camisola no pescoço. Os seios saltaram quando Jack puxou para baixo o tecido delicado, expondo os mamilos ao ar da noite. Ele se afastou um pouco para admirá-la ao luar, os olhos escurecidos de desejo. − Você é linda, Rebecca. Sabia disso? − Você também é − sussurrou ela, traçando com a ponta dos dedos um caminho de fogo pelo peito musculoso. Inclinando a cabeça, ele colheu um bico de seio entre os lábios e sugou-o delicadamente. Com um gemido, ela arqueou o corpo de encontro a ele. Ele mudou de posição, de modo que ficassem encaixados, separados apenas pelo algodão da camisola. − Eu preciso muito de você − ele murmurou em voz embargada. − E Deus me ajude mas eu quero você... aqui, agora... do jeito que der.
Ela se enrijeceu entre seus braços ao ouvir aquelas palavras. Ele precisava, queria, mas não amava. Empurrando-o, ela se esgueirou debaixo dele e sentou-se, fechando a camisola. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Isto não está certo − ofegou. Jack sentou-se também, com o rosto carregado. − O que poderia estar mais certo? Somos duas pessoas saudáveis... casados, aí está. _ Se nos amássemos, seria diferente diferente.. Nós fizemos um
acordo...
_ Ao diabo com nosso acordo! − Ele agigantou-se sobre ele mas, subitamente, virou-lhe as costas, os ombros caídos tristemente. − Não me provoque, Rebecca. Eu lhe disse que nunca levantaria a mão contra você. Vá para dentro. Com o lençol enrolado no corpo firmemente, ela parou na porta. _ Eu sinto muito − sussurrou. Jack não virou o rosto. _ Eu também, Reb. Eu também. Ele continuou sentado na varanda por muito tempo depois que ela se fora, sofrendo de desejo e se maldizendo como um tolo. Sua esposa o desejava, mas não o amava. E ele imaginava desesperadamente se um dia o amaria. Em seu quarto, Rebecca enxugou as poucas lágrimas no colchão. Quase se entregara a Jack, e quase o desejara fazê-lo. Qualquer coisa seria melhor que essa solidão dolorosa. Ao sentir o Fominha aninhar-se a seu lado, ela o empurrou para longe e virou-se. − Vá embora, seu desordeiro. Isso não teria aconteci acontecido do se não fosse por você.
CATORZE O tiro do meio-dia soou quando Jack saiu do prédio do comando. Naquela manhã, o pagador chegara e montara sua mesa à entrada. Agora, apenas algumas companhias, seus soldados envergando as tradicionais luvas brancas de algodão do dia de pagamento, esperavam para receber o soldo. Estavam todos suando ao sol que castigava o pátio do forte. As únicas sombras eram as das nuvens carregadas pela brisa. Parando na rua de terra batida, o explorador observou a fileira de homens. Cada um avançava para assinar a folha de pagamentos quando seu nome era chamado, tirava a luva branca e estendia a mão. Ented Ent edia iado do pela pela taref tarefaa mon monóto ótona, na, o pag pagado adorr dep deposi osita tava va o sol soldo do na mão des desenl enluva uvada da e recebi recebiaa uma
continência da outra. Do outro lado do pátio, o doutor Trotter estava à vista à entrada do hospital, abanando a cabeça. Ele Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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ficaria sobrecarregado por uma enxurrada de incidentes decorrentes do pagamento no atendimento da manhã seguinte. Jack dirigiu um relutante olhar para os alojamentos dos batedores. Conseguira evitar Rebecca durante toda a manhã, sem saber o que dizer a ela depois do que acontecera acontecera entre eles. Não poderia se esquivar dela indefinidamente pensou, arrastando-se de volta a casa. Teria de enfrenta− la e tomara lhe ocorressem as palavras certas. Ao subir os degraus da entrada, ouviu-a em algum canto da casa, entoando uma canção. Demorou-se na entrada Por um momento para ouvir, sentindo-se absurdamente feliz com a canção alegre. Conseguira o que queria. Rebecca era sua esposa... mas apenas. Por mais que a mantivesse perto, o coração dela estaria a quilômetros de distância. distância. Se ela não tivesse de ser sua compreende compreendeuu Jack desolado. A proximidadee doía demais. proximidad Em seu quarto, Rebecca equilibrou a última caixa de bolacha sobre a anterior. Com um corte de chita, pareceria quase uma penteadeira. Se não caísse, pensou, apoiando-se para testar a estabilidade de sua criação. De repente, um brilho de metal refulgiu ao passar por ela e a faca fincou-se na parede a seu lado. Com os olhos arregalados, olhou para o escorpião espetado na ponta da arma. Vagarosamente, ela endireitou o corpo e se voltou. Jack entrou no quarto, arrancou a faca da parede e levou-a para fora. Voltou logo depois, já com a faca guardada. − Você sempre faz essas entradas triunfais? – indagou ela, chocada. − Só quando encontro um escorpião em minha casa. Ela olhou para a parede decepcionada. − Ficou um buraco enorme. − Preferia que eu tivesse deixado o escorpião? Quem sabe você gostaria de correr atrás dele com seu bastão. Ele fez um sinal para a bengala que ela deixara atrás das caixas da penteadeira. − Eu preferiria que me ensinasse a usar o revólver que guardo comigo. − E uma boa idéia. Então pode deixar um belo furo na parede como eu fiz. − Voltando-se para sair, Jack advertiu-a: − Verifique bem a cama antes de se deitar para dormir, à noite. Com um estremeção, Rebecca seguiu-o até a sala. Lembrando-se de repente do que ocorrera entre eles durante a noite, sentiu-se pouco à vontade quando ele se aproximou.
− Que jóia é esta? − Ele pegou a correntinha que pendia em seu pescoço e se perdia no vale entre os seios sob o vestido. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− É o seu anel − ela respondeu, puxando a correntinha para mostrar-lhe. − Não parava em meu dedo. Ele pegou-o na mão e segurou-o, sentindo-o ainda quente com o calor do corpo dela. Então, com o rosto crispado deixou-a cair pesadamente sobre o peito dela. − Tenho uma coisa para você − disse, estendendo-lhe três moedas de ouro de dez dólares. − O que são estas moedas? − Ela franziu a testa confusa. − A pensão para a despesa da casa. E... − ele acrescentou mais uma moeda de dois dólares às que ela já tinha na mão − ...um presentinho para você. − Mas é demais. − Eu lhe disse que sou generoso − relembrou-a em voz baixa. − Apenas cuide para durar até o próximo pagamento. − Pagamento? O pagador chegou? − Indo até a janela, ela olhou para o movimento no pátio. − Eu estava tão ocupada lá nos fundos que nem havia percebido. − E parece que esteve ocupada aqui também. – Jack examinou a sala. Embora ainda houvesse caixas empilhadas contra a parede, o sofá e a poltrona estavam em seu lugar nos lados da lareira, assim como a mesa embaixo da janela. Em cima desta, ela colocara o lampião de bulbo vermelho, um busto pequeno de Benjamin Benj amin Franklin Franklin e sua Bíbl Bíblia. ia. Colo Colocand candoo o cha chapéu péu num gancho gancho que ela pregara pregara ao lado da porta porta
da
frente, ele pronunciou com satisfação: − Isto está começando a parecer um lar. − Por um tempo, ainda teremos o piso vazio. – Ela sorriu envergonhada. − Não queria que Teddy escorregasse em tapetes com suas muletas. − Não... − As coisas de sua mudança, que ele deixara atrás da porta da frente, estavam faltando. − Onde estão minhas coisas? − Eu as guardei no quarto de Teddy. Apontando o nariz para a cama, ele indagou: − E onde pôs Teddy. − Ele está lá nos fundos. − Ela deu uma risada. − Levei o banco da frente para lá e o cobri com uma colcha como se fosse uma barraca. Quando o deixei lá, ele tinha se deitado como um paxá oriental. Jack encontrou sua manta de dormir e os alforjes da sela chão, entre colunas de caixotes que
formavam duas cômodas improvisadas. Nas prateleiras de uma haviam sido guardados os pertences e as roupas roup as de Teddy. Teddy. Em cima estavam estavam dispo dispostos stos seus ute utensíl nsílios ios de barbear e escova escova de cabelo. cabelo. Em suas suas Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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prateleiras, contudo, havia apenas uma
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de suas camisas, sua única gravata e um par de ceroulas.
_ Onde pôs minhas roupas? − gritou ele. Rebecca chegou até a porta para explicar. _ Algumas estão secando. Outras estão de molho no balde. _ Não vai dizer que lavou minhas roupas de couro! ele exclamou horrorizado. − Por ora, elas estão tomando ar na varanda dos fundos. Você acha que elas se estragariam com o sabão? − Completamente − declarou ele. − Não se cansou de lavar roupas na lavanderia? − Independente de como me sinto a respeito da lavanderia, nossa roupa tinha de ser limpa − ela o informou taxativamente. − Apos Aposto to que busc buscou ou a água sozinha sozinha − disp disparou arou ele. Não podia podia esperar? Não podia pedir que eu ajudasse? − Você não estava em casa − retrucou ela. − Quando eu acordei você já tinha saído, e só voltou agora. Além do mais, senhor Bellamy, se for para gritar comigo, pode sair de novo. Seguindo-a até a sala, ele ficou olhando enquanto ela marchava para o seu quarto e fechava a porta. Com a testa franzida, ele atravessou a cozinha e foi para a varanda va randa dos fundos, onde encontrou as roupas de couro estendidas sobre a balaustrada, tomando ar como ela havia informado. O gato cinza dela estava em cima de uma elas, tomando sol e lambendo as patas brancas. Jack o espantou com uma praga. De seu banco, Teddy abriu o olho e estirou-se preguiçosamente. − Melhor ser bonzinho com o Fominha. Reb dá muita importância a esse gato. − Eu dou muita muita importâ importância ncia a estas roup roupas as de couro retr retrucou ucou o batedor. batedor. Inclin Inclinando ando-se -se por baixo da tenda ele olhou para o primo no banco. − Como está se sentindo? − Mai Maiss oouu men menos os.. − Te Tedd ddyy ddeu eu um sorr sorris isoo ffro roux uxo. o. -
Qu Quee ttal al a vid vidaa ddee ccas asad ado? o?
Jack desviou o olhar e fitou a distância. − Tem seus altos e baixos. Acabamos de ter nossa primeira discussão, eu acho. O rapaz franziu o cenho, preocupado. − Em menos de vinte e quatro horas? Sobre o quê?
Parecia ser sobre duas coisas diferentes calculou Jack, chateado.
Ela saiu antes que eu pudesse
descobrir. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Como é que vão acertar os ponteiros, se não conversarem um com o outro? − cobrou Teddy, sentando-se.. _ Se passarem algum tempo juntos, isolados, para conversar, talvez as coisas se acertem. sentando-se − Acho que o tempo que passamos juntos ontem à noite foi a causa da discussão nesta manhã. − O batedor se levantou. − Quando você a encontrar, diga que saí para caçar. Teddy ficou sorrindo enquanto o primo se afastava. Não fazia a menor idéia do que acontecera entre eles, mas Jack estava tão sensível quanto uma galinha choca e Rebecca não parecia diferente durante o café da manhã. Ele só esperava que aquilo fosse um bom sinal. Jack saiu a galope pela pradaria e procurou não pensar em outra coisa a não ser caçar. Não chegou a ver ver a gra grande nde lebre lebre ame americ rican anaa sal salta tarr num arb arbust ustoo qua quando ndo pas passou sou.. As passa passadas das ritmad ritmadas as de Old Joe espantaram um esquilo, mas ele nem sequer fez menção de retirar o rifle do estojo na sela Naquele momento, queria apenas deleitar-se com a sensação do vento nos cabelos. Diminuindo a marcha, acabou detendo-se onde um riacho desaguava no rio. Enquanto sua montaria bebia, Jack ficou meditando sobre seu casamento. Quem sabe pudesse mostrar a Rebecca que se preocupava sem precisar recorrer a palavras... se conseguisse conseguisse descobri descobrirr como conviver dessa maneira. − Como vai, meu irmão? O batedor ergueu os olhos olhos para a margem do outro lado, um casal de índio índioss o observava de cima de um cavalo. Pele de Lobo o olhava com expressão de troça enquanto Dois Pássaros Brancos, sentada atrás dele, acenou por cima do ombro do índio. _ Como vão, meus irmãos? − respondeu ele. − O que estão fazendo por aqui? _ Procurando raízes e folhas para um chá especial para Antílope − explicou Dois Pássaros Brancos. − Ela está esperando um filho de Diego. _ Mas que boa notícia! − Jack olhou maliciosamente para o guerreiro. − Mas procurar raízes é trabalho de mulher. − Eu vim para protegê-la − informou Pele de Lobo com dignidade. Ele parecia esquecido da guirlanda de flores que enfeitava seu pescoço. − Talvez eu devesse proteger você também, Jack Bellamy − ele censurou o amigo. − Se eu fosse um inimigo, você já deveria estar morto. − Eu estava tão entretido em meus pensamentos que não percebi sua chegada − concordou o batedor. − Ainda está pensando naquela Re-bec-ca? − indagou Dois Pássaros Brancos com desgosto. − Ela não é uma mulher boa para você, irmão.
Pode ser que você tenha razão
respondeu ele com um sorriso sincero , mas acabei de me casar
com ela. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Você se casou com ela? − a mulher surpreendeu-se horrorizada. − Por que fez uma coisa dessas? − Porque meu coração a escolheu. Já que me aceitou como irmão, será que a aceitaria como irmã? − Mas você foi gentil comigo − protestou a índia. − E Rebecca bateu a porta na sua cara − declarou Jack. − Ela me contou e está arrependida. Gostaria de ir até em casa e deixar que ela própria peça desculpas? − Nós dois iremos − respondeu Pele de Lobo. Trotando ao lado de Jack, os amigos índios o seguiram o rio até o Forte Chamberlain. Quando el eles es chegaram à varanda dos fundos da casa casa do amigo, Teddy ainda estava deitado no banco, tentando ignorar a barulheira que vinha da cozinha. − Reb − chamou Jack ao desmontar. − Você está aí dentro? O barulho silenciou abruptamente e Rebecca apareceu na porta dos fundos, acompanhada pelos aromas mais deliciosos. Seus olhos se arregalaram quando viu os índios conversando com Teddy. − Trouxe meus amigos − informou Jack com naturalidade. − Já lhe falei de Pele de Lobo e você conhece Dois Pássaros Brancos. − Claro. − Deixando de lado a irritação com o marido ela deu as boas vindas aos recém-chegados. − Como vão passando? Não querem entrar? Eu estava fazendo um café. Vocês gostam de tomar café? − ela indagou a Pele de Lobo. O índio inclinou a cabeça, concordando, o rosto muito sério sobre a guirlanda de flores no pescoço. Dois Pássaros Brancos, atrás do ombro dele, inclinou a cabeça também. − Também temos bolo, que acabei de tirar do forno acrescentou Rebecca. − Podemos comê-lo para acompanharr o café. Você também vai querer, Teddy? acompanha − Vocês podem ficar à vontade − grunhiu o rapaz. Eu estou dormindo um pouco. Quando entraram na cozinha, Dois Pássaros Brancos perdeu a timidez. Ela ficou parada atrás de Rebecca junto ao fogão e segurou o coador de café. Ela ficou maravilhada com a batedeira de ovos de madeira e perguntou o nome de vários utensílios, repetindo cada palavra exatamente como a mulher branca a havia pronunciado. Rebecca serviu uma xícara de café sobre a mesa em frente a Pele de Lobo. Dois Pássaros Brancos sentou-se à cadeira ao lado dele e esperou a anfitriã com ansiedade. Rebecca a serviu. − Xícara − informou, antes que a outra perguntasse. − E colher − completou a mulher índia, enquanto
enfiava a sua no açucareiro. Ela adoçou seu café, provou-o e, com uma careta, acrescentou outra colherada cheia. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Jack ainda ainda eestav stavaa dand dandoo risada, risada, qquand uandoo Rebe Rebecca cca ssento entouu- se com ele eless à mesa. mesa. − Eu trouxe minha irmã ao forte hoje, Rebecca, para que ela visse com seus próprios olhos que você não é geniosa ou mal-humor mal-humorada ada − ele informou. _ Por favor, diga a ela que sinto muito pelo que fiz no outro dia em que ela me visitou − pediu Rebecca, enrubescendo ao se lembrar da cena. Falando na língua indígena, Jack dirigiu-se a Dois Pássaros Brancos. _ Rebecca disse que sente se a ofendeu quando você a visitou em sua casa, minha irmã. Ela pensou que você fosse minha esposa. _ Eu? − a mulher riu. − Ah, ela não entendeu quando eu lhe falei que você seria um bom marido. Espero que o marido que meu coração escolher seja tão valente e bonito quanto você, irmão. − Ela olhou de esguelha para Pele de Lobo. − O homem com que você se casar deverá ser bom também − exclamou o guerreiro. − Ele deve reconhecerr seu valor e oferecer muitos pôneis. reconhece − Se meu coração escolher, eu pouco me importarei com cavalos. − Dois Pássaros Brancos suspirou profundamente. − Não tenho nenhum cavalo e estou feliz em sua casa. Pele de Lobo olhou para ela com uma expressão estranha nos olhos escuros. Arrastando a cadeira para trás, ele anunciou: − Precisamos ir embora. Enquanto o acompanhava, acompanhava, a mulher mostrou a falha entre os dentes num sorriso e sussurrou: − Diga a Re-bec-ca que eu não preciso do marido dela, já escolhi o meu. Os recém casados observaram seus visitantes irem embora. Dois Pássaros Brancos sentou-se atrás de Pele de Lobo, segurando -lhe a cintura com os braços, o corpo roliço moldado ao dele. Olhando por cima do ombro, ela sorriu enquanto se afastavam, desaparecendo junto à mata à beira do rio. − Do que vocês três estavam falando? − quis saber Rebecca. − Parece que Dois Pássaros Bran rancos está enamorada de Pele
e
Lobo
−
respondeu
Jack,
desamarrando Old Joe da balaustrada da varanda. − E ele deve sentir alguma coisa por ela, mas nenhum dos dois parece ter admitido seus sentimentos. − Por que será que não? − Até o momento, eles nem mesmo tinham consciência disso.
Até o momento, eles nem mesmo tinham consciência disso. − Como é possível duas pessoas conviverem sob o mesmo teto e não saberem que se amam? Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Eu não sei. − Voltando a sentir-se deprimido outra vez, Jack levou a montaria em direção ao estábulo. Com a cabeça cheia de preocupações, Rebecca empurrou a trepadeira para o lado. Pegando mais um punhado de amoras pretas, guardou-as no cesto. A alguma distância dela, Flora comia quantas amoras conseguia pegar. St. Jean, seu acompanhante e protetor, cochilava à sombra. Rebecca afastou distraída um mosquito, a mente ocupada com seus pensamentos. Fazia quase três semanas que estava casada. Vivia confortavelmente, com o suficiente para o sustento e com tudo o que precisava em casa. Tudo poderia estar perfeito, se ela e Jack estivessem felizes juntos. As coisas haviam mudado entre eles depois do incidente daquela noite na varanda dos fundos. Ele nunca fizera nenhum comentário comentário ou crítica a respeito. Na verdade, nunca mais falaram sobre o assunto. Mas ela também nunca tinha a oportunidade de ficar a sós com ele. As vezes eles voltavam a trocar sorrisos e a ter um comportamento afetuoso, mas logo em seguida Jack se colocava a distância. Tudo se resumia a um encontro de raspão ou uma troca rápida de olhares. Faltava calor entre eles, e ele jamais mostrara-se indiferente, até a noite anterior. − Você costurou todas as minhas meias − observarvou ele de bom humor, ao encontrá-la na sala. − No que está trabalhando agora? − Estou fazendo uma camisola de dormir... para você.− Ela o observara, esperando uma reação. − Para mim? − Com a testa franzida, ele puxara o banquinho para a frente do sofá onde ela estava sentada e sentara-se, encarando-a. encarando-a. − Para que eu iria precisar de uma camisola de dormir? _ Você não tem nenhuma. _ Mas eu não preciso. Por isso não tenho. − Ele correra os dedos pelo brocado azul que cobria o colo dela. – Que coisa mais bonita. Onde conseguiu isso? _ No posto comercial _ Você provavelmente pagou umas quatro vezes a mais do que isto vale − ironizara ele. _ Talvez tenha valor suficiente para mim − protestara ela, tocada por sua ingratidão. − Eu queria fazer um robe para você. − Não foi para isso que lhe dei o dinheiro, Reb. − Gastei do meu próprio dinheiro − informara ela secamente. − A pensão que você recebe é pequena e não faz de você uma mulher rica − argumentara ele. − Não
quero que gaste seu dinheiro em coisas como esta. − Eu não esperava que você viesse de novo me dizendo o que fazer − irritara-se ela. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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O sangue lhe subindo à cabeça, Jack também se aborrecera. − E que tal se eu lhe dissesse o que não fazer? − Levantando o tecido fino com os dedos, ele o observara com desprezo e se levantara. − Não desperdice seu tempo e seu dinheiro em roupas que eu nunca vou usar. . − Pensei que você fosse gostar. − Ela lhe lançara um olhar irado. − Pensei que gostaria de saber que eu sinto prazer em costurar para você. − Prazer Prazer em con conseg seguir uir mais um termo termo de bar bargan ganha ha el elee disse dissera ra amarg amargame amente nte.. − A ca cada da serviço serviço doméstico você vai acumulando mais um. Não quero ouvir falar sobre nosso negocio ou sobre nosso casamento que não é um casamento.Dando meia-volta, ele saíra paraa noite, deixando-a degostosa. − Está tudo bem com você, Reb? − Flora indagou. − Estou ótima. − Rebecca sorriu vagamente proxima a amiga. − Acho melhor voltarmos. Brian vai ficar preocupado se procurar por mim e não me encontrar. − Ele está preocupado com você e com o bebê − lembrou-a Rebecca. − Não há com que se preocupar − insistiu Flora, quando as duas já retornavam ao forte, seguidas por St. Jean, que as acompanhava com uma expressão sofrida. − Estou tão saudável quanto uma égua e o bebê dá coices como um potrinho. A única coisa errada comigo é que as roupas estão sempre cada vez mais apertadas. − Então precisamos folgá-las − falou Rebecca entre risos. − Chega de costurar − gemeu Flora. − Estou cheia de buracos nas mãos de trabalhar no enxoval. Sinceramente Sinceramen te não sei o que seria de mim se não fosse você. − Você poderia recorrer à solidariedade das vizinhas, como é o costume. A loura rolou os olhos para o alto só de pensar no assunto. − Prefiro ir à sua casa, chatear o Teddy. A propósito, como está ele? − Ele não é mais o mesmo desde que assinou os papéis da dispensa do serviço militar. − Rebecca abanou a cabeça em desalento. − Ele não faz mais nada. Não vai a lugar nenhum. Se continuar passando os dias sob aquele acolchoado, acho que vai acabar criando raízes.Ele até mesmo faz todas as refeições no quarto. Depois de algum tempo, ela se inclinou para a amiga.
Ando meio preocupada. Jack me contou que Teddy, quando era garoto, passava a maior parte do tempo nos estábulos. Agora ele não vai nem mesmo visitar Guss. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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A outra mulher levou a mão aos lábios, alarmada. − Mas ele ama aquele cavalo! − Acho que não vai porque não poderá montar nunca mais. − Ele ainda não consegue esticar a perna? − Os músculos parecem encolhidos como tivesse dado um nó. Flora ficou pensativa por um momento, e então levantou uma sobrancelha como se tivesse tido uma grande idéia. − Lembra-se de quando você trabalhou na lavanderia. Rebecca deu uma risada abafada e amarga. _ Como eu poderia ter-me esquecido? _ Lembra-se da pomada que o doutor Trotter lhe receitou? _ Mas aquilo era para músculos doloridos, não machucados. _ Mas, quando eu esfreguei suas costas, onde você não conseguia alcançar, eu pude sentir os seus músculos − comentou a amiga, excitada. − E eles estavam duros como se estivessem com um nó. Se funcionou para você, poderia funcionar para Teddy também. _ Não sei, não − refletiu Rebecca. − Antes de passar a pomada, eu mal conseguia esticar os músculos. Depois, não só estiquei como eles pareceram mais relaxados. Quem sabe se aquela pomada não ajudaria a melhorar a perna de Teddy? Não custa tentar... No fim da tarde, Rebecca fez um sinal para o rapaz na varanda dos fundos. − Venha para dentro, Teddy. − Por quê? − ele indagou, preocupado com a atitude aparentemente absurda dela. − Porque tenho uma pomada que quero experimentar na sua perna. − Ela levantou um frasco para ele ver. Ele sentou-se no banco, segurando nas bordas de seu
camisolã camisolãoo junto ao corpo.
− Você quer passar essa coisa na minha perna? − Não precisa ficar com vergonha. Já vi a sua perna antes. Esta pomada pode lhe fazer bem, e com certeza não vai doer. − Tudo bem − ele se ergueu de má vontade. – Mas também não vou ter de gostar dela. Rebecca ajudou-o a tirar o camisolão e o rapaz, com a camisa de dormir esticada pudicamente até o joelho, deitou-se de lado em sua cama. Ela pegou um punhado do ungüento e esperou até que este se aquecesse em sua mão antes de começar a massagear a perna dele. Com todo o cuidado, foi alisando os
músculos tensos em volta da cicatriz. Pouco a pouco, Teddy foi relaxando e fechou os olhos. Rebecca continuouu massageando, cuid continuo cuidando ando de relaxar os nódulos e a pele. Aos poucos, foi conseg conseguindo uindo esticar a Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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perna, estendendo os músculos sem esforço, parando quando ele resistia. A cada vez, esticava mais um pouco. − Vamos tentar de novo à noite − decidiu ela, limpando o resto do ungüento das mãos. − Parece que está ajudando e vamos continuar aplicando até que você consiga esticar a perna completamente. − Estou me sentindo melhor − murmurou o paciente sonolento, quando ela saiu do quarto. − Muito obrigado Reb. ' Ao voltar para casa, Jack sentiu o aroma delicioso do jantar sendo preparado, mas a casa estava às escuras no lusco-fusco de fim de dia e não havia ninguém à vista. Ele parou no meio da sala, e então ouviu um ruído vindo do quarto de Teddy. Ouviu outra vez. Um gemido. Correndo até a porta, parou subitamente, recuando ante a cena no quarto ao lado. Teddy jazia na cama, usando nada mais que a camisa de dormir, a face transtornada por um prazer arrebatador. Rebecca estava inclinada sobre a cama, as mangas do vestido azul arregaçadas até os cotovelos, massageando fortemente a perna nua do rapaz. − O que está acontecendo aqui? − trovejou ele. Rebecca o olhou por sobre o ombro, sem interromper os movimentos contínuos. − Estou massageando a perna de Teddy. O rapaz abriu os olhos. − Ei, Jack, essa pomada parece que já está funcionando. − Ele sorriu agradecido. O rosto de Jack aliviou-se. Ingênua e despreocupada, Rebecca falou-lhe: − Se estiver com fome, tem um cozido sobre o fogão. Se quiser esperar, vou lhe preparar uns pãezinhos pãezinhos assim que
terminar aqui.
− Eu espero. Tentando Tent ando disf disfarça arçarr a vergonha, vergonha, ele acende acendeuu o lam lampião pião da sala e foi procurar procurar um livro na estan estante. te. Encontrou um volume de A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorn sentou-se e folheou algumas páginas, mas sua atenção continuava presa aos sons que vinham do quarto, onde sua esposa massageava a perna de Teddy. Quando ela apareceu apareceu foi para a cozinha, ele mantev mantevee o livro aberto teimosamente sob o nariz e não
desviou o olhar. Poucos minutos depois, Teddy apareceu, vestido pela primeira vez em vários dias. Balançando-se em suas muletas no batente da porta, ele sorria de orelha a orelha. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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_ Olhe, primo, estou conseguindo mover um pouco. Demonstrou com um pequeno movimento. − Fico contente em saber − disse Jack, tentando afastar
o ciúme.
Os olhos azuis de Teddy brilhavam. − Está vendo como a nossa Reb continua sendo um anjo? Ela faz milagres com as mãos. − Tenho certeza de que ela faz mesmo. − O batedor voltou o nariz para seu romance. − E, além de bonita, ela também é esperta – continuou Teddy em voz alta, para que Rebecca pudesse ouvi-lo. − Você vai acabar me deixando convencida, Theodore Greeley − ela caçoou da cozinha. Fincando as muletas no chão, o rapaz se deslocou para junto dela na cozinha. Jack não fez a menor menção de olhar. − Estou me sentindo muito melhor − ele ouviu Teddy dizer. − Acho que vou jantar com vocês esta noite, Reb. Na sala, Jack permanecia resolutamente interessado em seu livro, ignorando a conversa e as risadas que chegavam da cozinha. A cena no quarto não tinha maldade nenhuma, considerou ele. Mas, só de ver Rebecca massageando a perna dd Teddy, mesmo inocentemente, ele ficara morrendo de ciume. Franziu a testa quando viu o primo observando-o a porta da cozinha. O humor dele não havia melhorado quando sentaram-se Para a refeição e Teddy fez a oração, dando graças por sua casa e sua familia. Sentado em frente ao primo, Teddy saboreou seu descontentamento. Talvez fosse o que ele precisava. Se Jack ainda amava Rebecca, ele não construiria barreiras entorno dos dois. E, se ela percebesse que Jack estava com ciúme, talvez compreendesse que ele a amava, embora não confessasse. Teddy decidiu dar-lhes uma mãozinha. Voltando seu razoável charme na direção de Rebecca, ele flertou com ela durante todo o jantar. Ela, por sua vez percebendo que tanto a condição dele quanto seu humor haviam melhorado, correspondeu às brincadeiras brincadei ras de bom grado, enquanto seu marido cismava. − Que delícia de comida. − Teddy pôs de lado o prato com um suspiro de contentamento. − Você, além de bonita bonita é esperta, é um enca encanto nto de pessoa, Rebe Rebecca. cca. E cozinha muito muito bem. Você tem um perfume adorável. Se não fosse casada eu me casaria com você, Reb.
sombriamente.
Além de já ser comprometida, ela é oito anos mais velha que você
observou Jack
− Pois eu gosto de mulheres mais velhas. − Teddy endereçou um sorriso encantador na direção dela. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Abanando a cabeça em vista da transforma transformação ção dele, ela
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começou a tirar a mesa.
− Algum de vocês quer sobremesa? − Odeio deixar companhias tão agradáveis, mas devo ir para a cama − declarou o rapaz, abaixando-se para alcançar as muletas. − Não quero exagerar justo quando estou me sentindo tão bem. Vejo você de manhã, Reb... − falou quando já saía da cozinha − ...para uma nova sessão de massagem. Jack fuzilou-lhe as costas com o olhar. − Fico imaginando o que está acontecendo com ele falou Rebecca ao marido. Ele olhou-a acusadoram acusadoramente. ente. − Talvez seus cuidados generosos estejam dando resultado. − Pode ser... − admitiu ela, com a voz subitamente desprovida de emoção. Ela tirou uma longa assadeira do forno. − Temos pastelão de amoras pretas de sobremesa. Teddy me falou que é seu doce predileto. − E é. − Sentado à cabeceira da mesa, Jack sentiu-se de repente pequeno e mesquinho. − Você fez por minha causa? − Fiz para todos nós − replicou ela, distante. _ Está delicioso − ele cumprimentou a esposa depois de experimentar um pedaço. _ Obrigada − retrucou ela. A sobremesa estava grossa e sem sabor em sua boca. Jack dirigiu-lhe um olhar quando o silêncio entre eles se alongou mais do que o esperado. Ela olhava para a porta vazia, como se seus pensamentos estivessem a milhões de quilômetros dali. Subitamente, ele teve vontade de puxá-la para trás, diminuindo a distância entre os dois. − Qual é a sua sobremesa favorita? − indagou. Ela deu de ombros indiferente indiferente.. − Acho que torta de maçã. − Não sei muita coisa sobre você, Rebecca − ele disse em voz baixa. − Por exemplo, qual é a sua cor favorita? Sem nenhum brilho nos olhos castanhos, castanhos, ela respondeu: − Cor-de-rosa, mas um rosa bem claro. − Eu devia saber. − Ele sorriu. − A primeira vez que a vi, você estava usando uma tola sombrinha corde-rosa. O Dia da Independência. Seus olhares se cruzaram brevemente. − Você achou que era tola?
Achei maravilhosa falou ele em voz baixa e intimidadora. Toda vez que precisava achar você na multidão, tudo o que precisava fazer era procurar aquela sombrinha cor-de-rosa e lá estava você. O brilho nos olhos dele provocava calafrios em sua espinha. Não era a primeira vez que sentia aquilo Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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por causa dele, ela pensou desanimada. Aquele homem a deixava Insegura. Ele fora grosseiro desde o momento em que chegara em casa e agora estava pronto para murmurar docemente bobagens em seu ouvido. Dessa vez ela não permitiria que isso acontecesse, decidiu, levantando-se abruptamente para lavar os pratos. Ele arrastou a cadeira e levantou-se para chegar perto dela. − Você não vai me perguntar qual é minha cor preferida? indagou em voz rouca. Sem desviar os olhos em seu trabalho, ela retrucou: − Se eu perguntar, nós vamos parar com esse joguinho absurdo? Gentilmente, Gentilmen te, ele voltou o rosto dela para si. − Isto não é um jogo. − Nem nosso casamento − declarou ela, desvencilhando o rosto da mão dele. A expressão dele se endureceu. − Não, e não tem sido muito divertido até aqui. Dizendo isso, ele voltou à sala. Passando pela cozinha outra vez com sua manta de dormir, ele fez uma pausa na porta dos fundos. − Minha cor favorita é o azul, Reb − falou baixinho. − Especialmente quando em você. Rebecca inclinou a cabeça e ficou olhando longamente para a água ensaboada. Quando levantou os olhos, ele já havia ido embora. Ela não conseguia vê-lo através da escuridão pela janela da cozinha. Não poderia chamá-lo de volta também... ainda que morresse de vontade.
QUINZE -Bom dia, Reb. − Sentando-se à mesa, Teddy deixou as muletas no chão atrás de si. − Onde está Jack? . Por um instante, o único ruído era o do bacon fritando na frigideira. − Eu não sei onde ele está − Rebecca disse por fim. − Vocês tiveram outra discussão? − indagou o rapaz, desgostoso. − Eu não consigo entender. Você o ama. Ele a ama. E vocês não conseguem se entender, mesmo quando os deixo sozinhos?
− Jack não me ama. − Ocupada em servir uma xícara
de ccafé afé para o rapaz, rapaz, eela la não encontrou seu
olhar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Ama, sim. − Ele lhe disse isso? − indagou ela, colocando a xícara à frente dele. − Porque para mim, com certeza, não disse. − Ele não me disse exatamente, mas com o Jack não é o que ele diz que conta, mas o que ele faz. − O que ele tem feito é dormir lá fora, ainda que as noites estejam ficando cada vez mais frias − comentou Rebecca com sarcasmo. − Ele também trata você muito bem − observou Teddy com a testa franzida. − Eu sei. − Ela suspirou. − Mas também trata bem ao Old Joe. Isso não significa que o ama. Teddy bufou. − E Eu posso provar que Jack ama você. Ela o olhou com uma expressão cínica. − Como? − É só olhar no relógio dele. Ele carrega um retrato seu. − Como ele conseguiu uma pintura minha? – indagou ela, encantada. − Não sei, mas já vi. E, se isso não é sinal do amor de um homem, não sei o que será. Rebecca não disse nada, mas estava pensativa quando escorreu a frigideira. − Quando encontrar o retrato, Reb, diga ao Jack que o ama também − aconselhou Teddy em voz baixa. − Vá para lá, Fominha − Rebecca ralhou com o animal arrastando uma cadeira da cozinha para a varanda. Duad grandes tigelas balançavam no assento, oscilando precariamente, enquanto o gato tentava se roçar contra as pernas dela. Posicionando-se Posiciona ndo-se à sombra, ela acenou para as lavadeiras na lavanderia e sentou-se com as tigelas para descascar as ervilhas. O forte andava movimentado naqueles dias. Estava lotado de soldados desde a chegada dos reforços. Durante o último mês, as caravanas de carroças iam e vinham diariamente. Exatamente naquele momento, uma fileira de carroças de carga entrava pelo portão principal. − Reb! − Ela ouviu seu nome ser chamado acima do toque da cometa. − Você nem vai imaginar − Jack
gritou, correndo até ela. Eu vi o Teddy a caminho do estábulo. − Eu sei. − Ela sorriu-lhe quando ele se sentou no degrau da escada a seus pés. − A pomada parece estar funcionando. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Eles continuaram sentados sentados em silêncio por um momento, observando a ativida atividade de no pátio. Por fim, ela comentou em voz baixa: − Sinto muito por ontem à noite. − Você não fez nada de errado. − Ele não olhou para ela. Inclinando-se para a frente, ela capturou seu olhar. – Não fiz nada de certo também. Eu o magoei. Várias emoções passaram pelo rosto dele quando Jake olhou para ela. _ Eu provavelmente lhe devo desculpas também – disse em voz baixa. Ela arregalou os olhos de surpresa. _ Sim, eu teria dificuldade de me entender com você ontem à noite − admitiu ele. − Primeiro, cheguei em casa e encontrei você massageando a perna de Teddy. Depois, ele ficou mexendo com você o resto da noite. _ A massagem era para diminuir a dor na perna dele. E quanto ao jeito dele comigo, você sabe que o Teddy é pouco mais que uma criança. − Ele tem idade suficiente para saber quando está flertando com a mulher de outro homem. "Nossa, Reb", quem diria. Ele estava com ciúme, compreendeu ela exultant exultante. e. Será que Jack estava apaixonado por ela? Será que Teddy estava
certo?
− Que horas são? − indagou de repente. O marido a encarou, surpreso com a pergunta inesperada. − Não poderia ser mais que duas horas da tarde. Eu acabei de ouvir o toque de serviço. − Mas que hora são... exatamente? Franzindo a testa, perplexo, ele pegou seu relógio de bolso. O coração batendo na garganta, Rebecca esperou até a tampa se abrir. − Ooooh, olhem só! Senhor e senhora! Eu não acreditaria se não visse com meus próprios olhos. Com o relógio na mão, Jack levantou-se levantou-se e olhou para a carroça que se aproximava, parando na rua em frente à casa. Uma figura familiar saltou da sela de urna das mulas e caminhou na direção deles. − Mal! − Guardando o relógio de volta no bolso, Jack foi encontrar o homem embaixo do algodoeiro. − Como é que vai? − Ele apertou-lhe a mão vivamente num demorado cumprimento. − Por onde tem
andado? − Ando ocupado desde que foi liberado o trânsito. Hoje estou vindo de Charnberlain. Vi o Teddy perto Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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das carroças e ele me contou que vocês tinham se casado. Eu ainda custo a acreditar. Rebecca reuniu-se a eles embaixo da árvore, sorrindo. − Que prazer em vê-lo, senhor Middlefie Middlefield. ld. − Gostaria que me chamasse de Malachi, senhora Bellamy. − Ele olhou sem graça para Jack. – Demora algum tempo até a gente se acostumar. − É exatamente o que nós estamos descobrindo − concordou o batedor secamente. Malachi deu uma risada. − Eu vim a negócios − disse, pegando a mula pelo freio na boca e puxando-a para mais perto da casa. − Tenho uma coisa para vocês na carroça. No fundo da carroça, o casal inclinou-se para olhar dentro, mal contendo a curiosidade enquanto o homem mexia na carga. A atividade parou na lavanderia e diversas esposas de oficiais observaram do pátio do forte. Consciente dos olhares de curiosidade, Rebecca inquietou-se, excitada. Embora não fizesse a menor idéia do que o condutor trouxera, era emocionante emocionante receber uma encomenda encomenda.. − Aqui está − exclamou Malachi. Jack posicionou-se na portinhola traseira. − Estou pronto. − O que é isso aí? − indagou Rebecca enquanto era descarregada no chão uma comprida peça de madeira entalhada. − Uma coisa para você. − Segurando a peça com uma mão, Jack deu um passo atrás para que ela pudesse vê-la. − Parece com uma cabeceira de cama − ela ofegou. E que linda! − Eu disse que ia lhe comprar uma cama − comentou Jack com orgulho. Ela abanou a cabeça encantada. − Eu pensei que não se encontraria uma numa centena de quilômetros. _ E não mesmo − concordou Malachi, saltando junto de Jack. − Ele teve de mandar fazê-la. − Oh, Jack... − Impressionada por sua generosidade ela acariciou a peça de madeira macia. − Acho
melhor abrir espaço para ela. Deixando os dois homens ali fora, ela correu para a casa. Empilhando os travesseiros na penteadeira, enrolou o colchão de palha que terminara de fazer apenas alguns dias antes. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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_ Não sei como conseguiu que Zim construísse esta cama para você − comentou Malachi esbaforido, enquanto ele e Jack carregavam as peças pesadas. − Desde que a ferrovia chegou a Chamberlain, ele tem feito mais caixões que móveis. _ Eu fiz com que valesse mais a pena para ele modelar esta cama que alguns caixões de pinho − falou Jack rindo ao passar pela porta. Depois que todas as peças haviam sido colocadas no quarto, Rebecca observou da porta, enquanto os homens encaixavam a cabeceira. − Vou lhe dizer uma coisa, Jack − o condutor disse enquanto trabalhava. − Você não reconheceria mais Chamberlain. Tem mais de umas mil pessoas na cidade, a maioria morando em barracas. − Tudo vai mudar à medida que a ferrovia caminhar para o oeste. − Admito que está ficando uma bela cidade, no entanto. A nova estação ferroviária está aberta e o hotel, quase pronto. As pessoas até começam a falar em eleger um novo conselho para a cidade. Logo mais estarão fechando muitos bares e abrindo igrejas no lugar. − Então finalmente vamos ter algum lugar para ir passear − respondeu o batedor, inclinado sobre o estrado da cama. − Também acho. − Malachi supervisionou o trabalho com um olhar de aprovação. − Belo trabalho de carpintaria.Deve carpintari a.Deve durar a vida inteira. Seus netos provavelmente dormirão nela − É tão grande − exclamou Rebecca, impressionada. Com as peças de madeira maciça e imponente. − Nunca vi uma cama tão grande. − Não ach achoo que o Jac Jackk dor dormi miria ria bem numa cama comum. comum. Mal Malac achi hi observo observou, u, enq enquan uanto to Jack acomodava o colchão no estrado. Esperando que o carroceiro não tivesse percebido seu rosto corado de vergonha, Rebecca, sentou-se na cama para experimentá experimentá-la. -la. − O colchão ficou tão pequeno − lamentou com os olhos baixos. − Será por pouco tempo. − Os olhos de Jack encontraram os dela como se eles compartilhassem de mais segredos além das camas separadas. − Claro. − Ela afastou-se, para ver a cama desde os pés. − Amanhã vou começar a fazer outro. Já tenho o tecido mas vamos precisar de mais palha. − Ela não conseguia parar de tagarelar. − Então vamos ter de nos preocupar com a roupa de cama. Não tenho lençóis tão grandes.
− Será que ouvi Teddy chegando? − Malachi saiu para ver de quem era a voz que acabara de ouvir. Deixada sozinha com o marido, Rebecca correu os dedos Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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pela curva da cabeceira da cama. − Este é o móvel mais bonito que já vi na vida. Ele parou ao lado dela. − Você gostou de verdade? − Amei. − Impulsivamente, ela ficou na ponta dos pés, pretendendo beijá-lo no rosto. Mas Jack virou a cabeça, encontrando os lábios dela com os seus. Ele sentiu-a dar uma exclamaçã exclamaçãoo de surpresa contra sua boca, mas ela não se afastou. Para seu espanto, ela pousou a mão de leve em seu ombro para se equilibrar. Com medo de piorar ainda mais as coisas entre eles, ele apenas a beijou. Vagarosamente, ela baixou os pés para o chão e olhou-o com o rosto iluminado. Ele seguiu-lhe o movimento, inclinando-se para que seus lábios não se separassem. Eles se separaram vivamente quando Teddy e Malachi entraram ruidosamente. − Isto é que é cama − come comentou ntou o rapa rapaz, z, com um sorriso desca descarado rado.. Em seguida acre acrescen scentou: tou: − Ei, Jack, se não tiver muito ocupado, o coronel está querendo falar com você. − Obrigado. − Evitando o olhar do Primo, o batedor passou por ele em direção à saída. − Por que não vem para jantar esta noite, Mal? − convidou Rebecca, enquanto eles acompanhavam o condutor para fora. − Acabei de untar um peru. _ Pele de Lobo trouxe de presente esta manhã e ele é bem grande − acrescentou Teddy. _ Se puder vir, vamos comê-lo comê-lo lá pelas seis hora horass informou ela ela.. _ E vai estar guarnecido com salada de repolho − falou ainda Teddy de modo provocante. − Ela me fez ir comprar uma lata de repolho em conserva esta tarde. − É o prato favorito de Jack − Confirmou Rebecca com
um olhar compri comprido do para o esposo. esposo. − Ou foi
o que entendi. − Eu virei − prometeu Malachi e foi montar na mula. − Eu também. − Fazendo uma carícia possessiva no queixo dela, Jack dirigiu-se ao prédio do comando. Da cade cadeir iraa na va vara rand nda, a, Te Tedd ddyy obse observ rvou ou Re Rebe becc cca, a, dive divert rtid ido. o. Ela Ela obse observ rvou ou Ja Jack ck at atéé que que el elee desaparecesse dentro do prédio onde ficava o gabinete do coronel. Então, com o rosto radiante, voou para aprontar o jantar. O aroma apetitoso de carne assada saía da cozinha algumas horas depois que Rebecca saiu
de seu quarto, o rosto recém lavado quase tão rosado quanto o vestido. − Você chegou bem no horário − comentou, ao ver o marido parado na porta da frente. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Ele dirigiu-lhe uma careta de dor. − Não vou poder ficar, Reb, sinto muito. − O que aconteceu? − Ela lutava contra o desapontamento, mas não iria protestar. Os batedores eram chamados sempre que havia necessidade necessidade e ela se casara com um deles. − Está havendo um problema no acampamento de terraplenagem além de Chamberlain − explicou Jack, enquanto entrava no quarto. − Estão sendo mandadas duas companhias e eu devo ir com elas. Rebecca o seguiu. − Agora? − Em questão de minutos. − Ele jogou os alforjes em cima da cama e começou a guardar suas coisas. Pegando uma camisa de flanela num gancho atrás da porta, Rebecca dobrou-a e guardou-a na bolsa do alforje. − Vai fic ficar ar a nnoite oite fo fora? ra? − Várias noites, se as coisas não saírem bem. Ela acrescentou um par de ceroulas e algumas meias de lã à equipagem, enquanto Jack pegava a escova de dentes o equipamento de barbear e munição extra. Guardando o rifle no estojo, ele jogou-o sobre o ombro. − Vi Teddy no estábulo de novo. − Ele sorriu, enquanto pegava a manta de dormir e os alforjes. − Conversamos um pouco. Ele vai cuidar de você e prometeu não dar trabalho. A caminho da porta da frente, Jack parou no meio da sala e voltou-se para a esposa. − Gostaria de poder ficar − murmurou, acariciando com o dedo o queixo que descansava cont contra ra seu pescoço. − Eu também − Rebecca sussurrou quando ele se inclinou para mais perto. − Mas haverá outros jantares. − Vi o Old Joe arreado aí em frente − comentou Malachi, anunciando sua chegada na varanda da frente. − Para onde está indo, meu rapaz? − Numa patrulha. − Jack recompôs-se, olhou para o amigo e deu-lhe um tapinha no ombro. − Sinto perder o jantar, Mal, mas como Reb acabou de me lembrar, haverá outros.
Depois de jogar suas coisas sobre o lombo de Old Joe e montar, Rebecca aproximou-se dos estribos e olhou para cima. − Tenha cuidado − murmurou. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Terei. − Inclinando-se na sela, ele beijou-lhe os lábios de leve. Estarei de volta o mais rápido que puder. Guarde uma pouco daquela guarnição de ostras para mim. Com a mão nos lábios, Rebecca ficou ao lado de Malachi em frente à varanda, observando enquanto as companhias entravam em fila e saíam pelo portão principal. Jack galopou à frente da coluna e, embora ela não visse direito através da poeira, imaginou tê-lo visto acenar um adeus. Quando foram para dentro, Malachi apontou para as quatro caixas na varanda. − Quase ia me esquecendo. Trouxe estas caixas para você.Sei como vocês mulheres gostam de guardar as coisas aí. − Hoje foi o dia dos presentes. − Ela sorriu para ele. _ Obrigada, Malachi. Serão muito úteis. Ele corou violentamente. − Onde quer que as coloque? − Apenas traga-as para dentro. Mais tarde vou decidir o que fazer com elas. A refeição que Rebecca preparara estava suculenta e a companhia bastante jovial, ainda que um tanto contida. Na ausência de Jack, Teddy fez as honras da casa, oferecendo mais comida ao hóspede. Malachi devorou três pratos de peru antes de se declarar satisfeito. Depois do jantar, eles se reuniram na varanda da frente, conversando enquanto enquanto a noite caía, até Teddy pedir licença para massagear a perna e ir dormir. Depois que ele saiu, Rebecca e Malachi continuaram sentados em silêncio. Passando o xale nos ombros, ela ficou contente em ouvir os sapos no rio, enquanto o homem mascava um naco de fumo e cuspia na frente da casa. − Você e Jack têm um lugarzinho e tanto aqui − comentou ele depois de algum tempo. − Obrigada. Gostaria de poder plantar alguma coisa... feijão, ervilha, nabo. Queria também criar algumas galinhas. Acha que poderia me trazer algumas quando vier da próxima viagem, Malachi? − Se encontrar algumas à venda − prometeu ele. Nestas terras, pode dar tanto problema transportar galinhas quanto cavalos. − Vou lhe dar o dinheiro − garantiu ela entre risos. Não quero que o prendam como ladrão de galinhas galinhas.. A risada cacarejada do homem chegou-lhe aos ouvidos no escuro cada vez mais intenso e então ele se levantou, relutante. .
− Acho que está na hora de ir. Vou partir para o Forte Leavenworth pela manhã. Provavelmente não a verei por um mês ou mais. Obrigado pelo belo jantar, melhor do que os que já tive nos aniversários. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Pois venha outra vez antes que faça outro aniversário. Depois que o hóspede foi embora, Rebecca entrou e fechou a porta. Feliz com as caixas que ele lhe dera de presente, ela as empilhou contra a parede, onde não ficariam no caminho. Depois de arrumar a cozinha, ela sentou-se na sala para terminar a barra do acolchoado que estava costurando Pela janela fechada, ela ouviu as vozes de diversos soldados reunidos embaixo do algodoeiro. Tentou concentrar-se em sua tarefa, para não se lembrar da noite em que o cabo Paris tentara agarrá-la debaixo da mesma árvore. Ela saltou ao furar o dedo. O que havia de errado com ela? Sentia-se tensa e pouco à vontade só porque Jack não estava por perto. Interrompendo a costura, ela foi para a porta dos fundos e chamou o Fominha. Ele veio correndo da escuridão. − Venha para dentro. − Ela deixou a porta aberta para ele. − Não quero ter de sair para procurá-lo no meio da noite. Em seu quarto, ela se despiu, lavou-se e se preparou para ir dormir. Espalhando um pedaço de um velho cobertor no chão, disse ao gato: − Aí está sua cama. Você dormia no meu colchão antes, mas não vai dormir na minha cama nova. Com uma risada, ela observou enquanto ele se aninhava no cobertor com um miado de desânimo. Rebecca acariciou a madeira da guarda da cama, admirando o trabalho por algum tempo. Então se deitou, deliciando-se com aquele luxo. O colchão de palha não era o melhor, mas a cama era o paraíso, comparada com o chão. Fomi Fo minh nhaa salt saltou ou,, te tent ntan ando do anin aninha har-s r-see entr entree suas suas pe pern rnas as co cobe bert rtas as co com m o ac acol olch choa oado do,, mas mas fo foii prontamentee atirado para fora da cama. Com uma fungada, ele desistiu da dona, saindo pelo vão da porta. prontament Mesmo se ela o visse, não teria se incomodado. Rebecca estava recitando suas preces noturnas, desejando fervorosamente que seu marido estivesse em segurança. A lua estava baixa no oeste quando Jack entrou na casa adormecida e estendeu em silêncio sua manta junto à porta da frente. Ele não esperava ter voltado tão cedo mas, assim que a patrulha chegara ao local da ferrovia, eles haviam descoberto descoberto que os relatos de problemas com os índios era exagerados. Ele fora louco o suficiente para se oferecer como voluntário para voltar como mensageiro. A tal ponto a influência de
Rebecca o afetava naqueles dias. Ele hesitou no meio da sala às escuras, sem querer acender um lampião para não acordar ninguém. Cansado e faminto, andou na ponta dos pés até a cozinha para ver se sobrara alguma coisa do jantar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Próximo à porta, colidiu com um alto e incerto obstáculo que não estivera ali antes. Quando as caixas caíram no escuro com um horrendo barulho, algo pesado com bordas afiadas caiu, atingiu-o na canela. Soltando uma praga, Jack retrocedeu e tropeçou em Fominha. Pego entre os pés do homem, o gato se arrepiou e miou, escalando a perna de sua calça com unhas afiadas. Jack agitou a perna e tentou desalojá-lo, mas bateu o pé em alguma coisa frágil. Perdendo o equilíbrio, ele caiu contra a porta de Rebecca, a qual não o segurou na queda. Livre do irado felino, o batedor tentou se levantar, e foi imediatamente acossado por uma figura miúda, vestida de branco, brandindo mortalmente um bastão de madeira. − Teddy, Teddy − gritou Rebecca, enquanto batia no homem que cometera a impropriedade de entrar em seu quarto. − Estou indo. − As batidas de suas muletas foram momentaneamente abafadas por seu grito. − Ei, sou eu, droga. − Contendo os golpes que choviam sobre seu corpo, Jack tentava se fazer ouvir. Fez um esforço para se levantar, mas parecia estar atolado. − Pare com isso − rugiu. − Afaste-se, Reb − ordenou Teddy e os golpes cessaram. Acendendo um lampião, ele achou o caminho até a porta. Abraçado na muleta, segurava o lampião no alto e não parava de gargalhar. Rebecca achava-se empoleirada no pé da cama, armada com a bengala, os olhos arregalados de susto. Um homem espalhado espalhado no chão a seus pés rugia de raiva. Com um miado de horror, Fominha correu para dentro do quarto por cima do corpo caído e se enroscou entre os tornozelos da dona. − Que tipo de recepção é esta? − reclamou Jack. − Essa não! − Rebecca deixou cair a bengala como se fosse uma cobra. Esta caiu no chão ao mesmo tempo que ela caía de joelhos ao lado dele. − Oh, Jack, eu sinto muito. Não sabia que era você. − Espero que não − ele bufou, erguendo a cabeça. _ Odiaria pensar que você fez isso de propósito. − E você ainda queria que eu tomasse conta dela _ comentou Teddy com mais uma risada. Olhando para ele por cima do ombro, Jack tentou mudar de assunto. − Que diabo aconteceu aqui? Caiu tudo em cima de mim e depois aquele gato me atacou. − Estas são as caixas que o Mal me deu para guardar as coisas − explicou Rebecca. − E eu acho que você tropeçou no Fominha. − Ajude-o a se desenroscar, Teddy. Ele não consegue nem se mexer.
Ainda rindo, Teddy ajudou a soltar o pé preso de Jack e empurrou as caixas para longe das pernas dele. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Vire-se. − Rebecca cutucou-lhe o ombro largo de brincadeira. − Deixe-me dar uma olhada em você. Jack moveu-se com um gemido e ela fez um gesto para Teddy. − Traga o lampião. − Pondo o braço embaixo do pescoço do marido, ela apoiou sua cabeça e afastoulhe o cabelo do rosto. − Oh, não − ela quase desmaiou ao ver o corte em sua testa. A despeito do ferimento, Jack achou que estava até gostando daquela posição. As formas nuas sob a ca camis misola ola de Reb Rebecc eccaa eesfr sfreg egava avam-se m-se em sua cabeç cabeçaa e ele ele ssent entia ia seu bra braço ço mor morno no con contra tra o rrost osto. o.
.
− Não está doendo tanto quanto este aqui − ele murmurou. Enfiando o dedo no colarinho, colarinho, ele o puxou para trás para revelar uma mancha vermelha na junção do pescoço com o ombro. − Oh, não − ela gemeu de novo. Inclinando-se para olhar melhor, envolveu-o na suavidade do aroma de rosas. − Você pode agüentar? Vou chamar ou médico para você. _ Acho melhor deitar aqui por um minuto − ele disse fracamente, franzindo a testa para Teddy, que gargalhava. Rebecca Rebe cca ergu ergueu-o eu-o nos braç braços, os, seu gest gestoo provo provocand candoo outr outras as
sen sensaçõ sações es que ela achou achou melhor melhor
ignorar. _ O que está fazendo em casa, primo? − indagou Teddy. _ Voltei como mensageiro, mas acho melhor voltar à patrulha. É mais seguro. _ Pensei que você fosse um intruso − desculpou desculpou-se -se Rebecca enfaticamente. − Estava cheio de homens embaixo
da árvore depois do jantar. Jack esfregou a cabeça. − Sua bengala funcionou bem esta noite, mas amanhã vou lhe ensinar a manejar o revólver.
− Vamos conversar sobre isso pela manhã − ela respondeu-lhe com fIrmeza. − Pode se levantar agora? Gostaria de dar uma olhada em seus ferimentos. − Tudo bem. − Sentando-se, ele olhou ao redor, desconfiado. − Onde está o seu gato? − Em nenhum lugar onde você possa pisar nele. Vamos até a cozinha? − Só se for para você me dar alguma comida. − O batedor levantou-se levantou-se sem dificuldade. − Estou morrendo de fome.
− Bem, acho que não precisam mais de mim – falou Teddy. − Vou para a cama. Rebecca deu de ombros em sua camisola e pegou Fominha do canto onde se escondera, vendo se ele não tinha algum ferimento, enquanto seguia o marido até a cozinha. Ileso, o gato escapou de suas mãos e Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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pulou para o chão. Jack acompanhou-o com o olhar, enquanto se sentava sobre a mesa e deixava que Rebecca cuidasse de sua testa. − Só me dê um pouco de peru frio e salada − ele pediu, quando ela se preparava para arrumar-lhe a comida. – E depois me deixe ir para a cama. Enquanto Jack comia, Rebecca espalhou sua manta de dormir no chão. − Vá se deitar − instruiu quando ele foi se juntar a ela _ Vou trancar o Fominha no quarto. − Eu agradeceria muito − respondeu ele em voz abafada, enquanto tirava a camisa pela cabeça. Na entrada do quarto, ela o espreitou por um momento sem que ele notasse antes de fechar a porta. Depois, curvada sobre sua nova cama, ela considerou que não seria justo ele dormir no chão. Mas, depois de um breve momento, ele apagou a luz e ela ficou no escuro. Jack ainda estava dormindo, quando ela acordou na manhã seguinte. Entrando na sala, ela olhou para ele no chão e foi envolvida por uma onda de ternura. Ele estava deitado com um braço sob a cabeça e seu rosto bronzeado parecia mais suave em repouso. Ela o amava. E pensava que ele a amava em troca. E também sabia como descobrir. As roupas dele estavam onde ele as deixara. Pegando sua camisa, ela começou a dobrá-la, tentando reunir coragem para procurar no bolso da calça, onde sabia que encontraria o relógio. − Bom dia. − A voz de Jack estava rouca de sono. Deitado de lado, ele a observava, as pálpebras pesadas sobre os olhos azuis. Seu cabelo estava despenteado e o rosto escurecido pela barba crescida. − Bom dia. Eu estava... só arrumando as coisas. − Sentindo-se como se tivesse sido surpreendida em meio a um gesto criminoso, ela deixou a camisa no banquinho. − Como está se sentindo? − Com uma aparência um pouco pior. − Ele correu os dedos sobre o inchaço na testa e se encolheu. − Mas acho que vou sobreviver. − Está se sentindo bem o suficiente para comer? – ela indagou com remorso. − Eu poderia comer um búfalo. − Erguendo-se num cotovelo, ele sorriu para ela. − O jantar de ontem à noite estava delicioso, Reb, mesmo frio. − Obrigada. − Ela tentou manter o olhar longe do cobertor, que revelava parte daquele corpo viril. − Olhem aqui, vocês dois − chamou Teddy da porta da sala. − Uma muleta em vez de duas − exclamou Jack quando o casal voltou-se para o rapaz. − Isso é
o que eu chamo de progresso. − Eu devo isso a você, primo − caçoou Teddy. – Eu não saberia que iria conseguir se você não tivesse feito todo aquele barulho, acordando todo mundo ontem à noite. Agora que tenho uma das mãos Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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livre, que acha de ajudá-la a arrumar a mesa, Reb? _ Que passeio delicioso, tenente Porter − comentou Amy com seu acompanhante. − É uma delícia poder sair do forte por algum tempo. − O prazer é todo meu − respondeu Francis, os olhos num par de silhuetas caminha caminhando ndo pela pradaria a alguma
distância.
Seguindo a direção de seu olhar, Amy deteve sua montaria. − Ah, os Bellamy − ela murmurou. − Eles formam um belo casal. − Eu nunca vou entender entender por que ela casou com ele ele murmurou Francis. − Deve ser difícil porque você estava apaixonad apaixonadoo por Rebecca − comentou a jovem. − Mas ela jamais seria uma boa esposa para você. Você precisa de alguém mais agradável, alguém mais adequada para ser a esposa de um oficial. − E quem poderia ser então? − indagou, tenso, o ajudante-de-ordens. − Alguém que se preocupe com você. − A garota deu de ombros. − Alguém que admire suas capacidades e possa ajudá-lo a conquistar suas ambições. Papai diz que você vai longe no exército... Francis capacidades − acrescentou ela audaciosamente. Ele voltou-se para encará-la, vendo algo mais do que uma beldade namoradeira pela primeira vez. − E muita gentileza sua em dizer isso, senhorita Amy. Gostaria de dar uma volta ao redor do pátio esta noite? − Adoraria − respondeu ela enquanto davam a volta Com os cavalos em direção do forte, esquecidos do batedor e a esposa por um momento. Carregando um saco de garrafas de uísque vazias. Jack procurava um lugar tranqüilo para praticar tiro ao alvo. Enquanto ele e Rebecca caminhavam pela pradaria, ele ia lhe ensinando os procedimentos de segurança com a arma, respondendo suas perguntas. Quando pararam afinal, ele lhe estendeu o revólver girando a câmara para mostrar como funcionava. Quanto mais ela aprendesse sobre a arma de fogo, ele pensava menos perigo correria de sofrer um acidente. Depois de arrumar três garrafas em linha a uns dez metros de distânci distância, a, Jack ensinou-lhe os princípios básicos de tiro, usando o próprio revolver dela. Rebecca se concentrou nos movimentos dele, tentando não se encolher a cada disparo com que ele acertou as garrafas, uma depois da outra.
Quando chegou sua vez, ela pegou a arma e estendeu-a à frente, tentando imitar os movimentos dele. Era mais difícil puxar o cão do gatilho do que imaginava, e seu braço pendia tanto sob o peso da arma, que tinha dificuldade de apontar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Está tudo bem − ele a encorajou. − Segure com as duas mãos. Ela concordou, obediente, segurou o revólver e apontou. Quando estava pronta, puxou o gatilho. O disparo soou e a arma pulou em sua mão com violência. Mas a garrafa continuou intocada. Ela repetiu o exercício diversas vezes sob a supervisão de Jack, mas as garrafas continuavam intactas. − Está atirando muito para cima. Tente uma vez mais − ele sugeriu, atrás dela. − Você está se mexendo quando puxa o gatilho. Firme o polegar. − Inclinando-se sobre ela, ele pousou suas mãos sobre as delas ao redor da empunhadura e apontou o revólver. O dedo dele curvou-se delicadamente sobre o dela no gatilho. − Agora − ele disse próximo ao seu ouvido. − Aponte. Pronta? Devagar... − ele avisou e puxou o gatilho. O recuo pressionou Rebecca de encontro ao peito dele. Envolvida por seus braços, ela permaneceu quieta, sentindo sua força, quente e sólido atrás de si. Ela nem percebeu que acertara o alvo. Jack notara, mas relutava em deixá-la escapar. − Vamos tentar de novo? − Vocês dois juntos deram um belo tiro − uma voz soou atrás deles. _ Ela está apenas aprendendo. − Jack soltou-a abruptamente e voltou-se. _ O que aconteceu com você? − Solemn o observou com uma expressão desconfiada. _ Gostou? − Jack tocou o galo na testa com uma risada. _ Foi minha esposa que me deu. _ Foi um acidente − Rebecca apressou-se a declarar. _ Hum-hum. − Solemn dirigiu um olhar de suspeita para ela, então advertiu: − Melhor você tomar mais cuidado
para não aborrecê-la muito, rapaz.
− O que o traz aqui, Solemn? − indagou Jack. − Chegou um mensageiro. Temos um grande problema com os cheyennes. Vamos sair numa patrulha sob o comando do major Little. Teddy me deu suas tralhas quando eu fui lhe procurar. Levei tudo ao estábulo. − Obrigado, Solemn. − Jack estendeu a mão para a esposa, sem querer que ela soubesse da gravidade da situação, quando Solemn em poucas palavras resumira tudo. − Acho melhor voltarmos para casa.
De mãos dadas, eles caminharam de volta ao forte. O outro batedor deixou-os discretamente quando eles chegaram à barreira da entrada, permitindo-lhes uns poucos minutos a sós antes da partida. − Ainda bem que eu não tinha guardado minhas coisas. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Jack sorriu ao chegarem ao estábulo. − Obrigada pela lição de tiro − murmurou Rebecca. − Prometa que não vai atirar em mim quando eu voltar − ele caçoou. − Tente não pisar no gato − replicou ela, procurando manter o bom humor. − Aqui está seu cavalo, Jack. − Teddy juntou-se a eles, puxando Old Joe. − Não havia muito tempo, então eu o selei para você. − Você? − Isso mesmo, e não foi fácil com uma mão. Vou ter de me livrar desta muleta. − Trabalhe nisso enquanto eu estiver fora. − Jack sorriu, orgulhoso da força de vontade do primo. Seu sorriso esmoreceu ante a ordem de montar. − Fique de olho aberto, primo. Se cuide. − Teddy falou
com tristeza e se afastou, deixando o casal
sozinho outra Vez. − Isso são lágrim lágrimas, as, Reb? Reb? − indag indagou ou Jack de delic licadam adamente ente.. Ela as af afasto astouu com a mão. − Eu... eu estou preocupada com você. − Vai sentir minha falta durante minha ausência? − Vou. − Ela tentou sorrir. − Acho que estou me acostumando com você. − Injun Jack! − o grito seguiu de homem para homem desde a frente da coluna. − Onde está Injun Jack? − Digam ao major que estou indo − ele gritou em resposta. Abraçando a esposa, ele a beijou. Em seguida saiu. Através da cortina de lágrimas, Rebecca observou a cavalaria partir. De repente, percebeu que se esquecera de perguntar as horas durante toda a tarde.
DEZESSEIS A
coluna dos cavalaria cavalarianos nos vestidos de azul movia-se rápido. Os homens das fileiras quase não se
falavam e mesmo os cavalos pareciam conscientes de que estavam próximos de casa.
À frente da cavalgada, Jack abriu o relógio com uma das mãos e olhou para o retrato dentro, enquanto avançava. O desenho original o observara durante quase um mês de campanha. Durante esse tempo, ele Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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refletira um bocado e tomara algumas decisões. Sabia o que deveria fazer. Todo o resto dependeria de Rebecca. Apaixonara-se Apaixonara -se muito mais profundament profundamentee por ela do que julgara ser possível e, não importando se ela se preocupasse com ele ou não, ele não poderia continuar negando seus sentimentos por muito tempo mais. Eles precisavam conversar. Se ela soubesse como ele se sentia, talvez ela aprendesse a retribuir seu amor. Aquilo era um jogo, ele sabia. Uma vez, quando ele tentara conversar e chamá-la à razão, ela deixara claro que não o amava e que não queria um marido. Mas agora eles estavam casados. Isso provava, pensou esperançosamente, que as coisas poderiam mudar. No forte, o aviso do sentinela sentinela penetrou até mesmo na capela. Um hino soava ao fundo, quando os fiéis saíram Para recepcionar as companhias que retomavam r etomavam.. Na varanda da casinha, Flora agarrou o braço de Rebecca verdadeira excitação: − Olhe lá, é Brian! − Sim − sussurrou a outra mulher, com os olhos no homem alto, de ombros largos e envergando uma roupa de couro de alce, à frente da coluna. Injun Jack entrou no Forte Chamberlain, o cabelo comprido solto ao forte vento do Kansas. Coberto de poeira, ele parecia o batedor que chegara ao hospital tanto tempo atrás. Com as sobrancelhas cerradas, o homem procurou entre a multidão. Quando seus olhos encontraram Rebecca, a expressão tensa desfez-se. Ele inclinou a cabeça com o esboço de um sorriso e juntou-se às companhias na praça da bandeira. À beira do pátio, as lavadeiras choravam de alegria, enquanto os homens que haviam permanecido no forte correram a cumpriment cumprimentar ar os camaradas que retornavam. Os batedores detiveram seus cavalos junto aos capitães, enquanto o major Little apresentava a cavalaria de regresso ao coronel. O olhar de Jack procurou a esposa lá atrás. Ela usava o vestido amarelo com que haviam se casado. Sua roupa de domingo, pensou ele, ele, quase sorrindo ao ver o chapeuzinho sobre sua cabeça. Ele se esquece esquecera ra de que era domingo. Um homem esquece uma porção de coisas em campanha, mas não o odor de rosas, nem um par de olhos castanhos feiticeiros. Descendo até o pátio, o coronel Quiller dispensou os praças. Os oficiais e os batedores desmontaram para uma breve reunião com ele. Reunidas próximo à capela, as esposas esperavam. O momento da conferência passou, Jack virou-se. Em meio à agitação dos reencontros, Rebecca
andava em sua direção... e para dentro de seus braços. Ele a abraçou apertado, deslocando o chapeuzinho, mas ela não pareceu se importar. Esquecidos de tudo a não ser um do outro, eles permaneceram unidos num abraço que transmitia claramente afeição, alívi alívioo Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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e esperança. − Que bom ver você, Reb − ele murmurou. Old Joe relinchou, cabeceando no cabresto que Jack segurava, empurrando-o para ela. − Bem-vindo de volta para casa − ela disse de encontro ao seu peito. Dando um passo atrás, ela ajeitou seu chapéu e examinou-o com cuidado. − Você está bem? _ Muito melhor agora − respondeu ele com um sorriso. _ Bem-vindo ao lar, primo − falou Teddy, mancando para se reunir com eles. _ Não está mais usando muletas? − Jack o examinou incrédulo. − Na maioria dos dias, não. Continuamos com a massagem na perna e ela estica cada vez melhor. Ainda não cavalguei com o Guss, mas estou quase lá. − Estamos com a esperança de que ele nem sequer manque um dia − acrescentou Rebecca. Teddy olhou longamente para Jack. − E como foi lá? − Algumas escaramuças aqui e ali − ele respondeu vagamente vagamente.. − As coisas vão sossegar em breve. Os cheyennes vão para os seus campos de inverno no sul. Eles não vão querer lutar até chegar a próxima primavera. − Por que vocês dois não vão para casa e me deixam cuidando do Old Joe? − sugeriu Teddy, pegando os arreios do animal. − Obrigado, Ted − falou Jack, jogando sua bagagem no ombro. Ele acompanhou Rebecca em direção de casa, satisfeito por não precisar pensar mais na campanha. A mão dela, não mais avermelhada por causa da lavanderia, estava dentro da sua. − Você está muito bonita, vestida assim para ir à igreja − comentou em voz rouca. − Parece que interrompemos a cerimônia com nossa chegada. − Já estava acabando mesmo − replicou r eplicou ela. − E eu Imagino, assim como a maioria dos fiéis deve estar comentando agora, que ainda bem. Estou contente que tenha voltado em segurança, Jack. Ele acariciou-lhe a mão delicadamente. − E também é muito bom ver o Teddy andando por aí outra vez. − Ele tem se esforçado para isso. E cada minuto que tem de folga ele passa no estábulo, ou com o senhor Waldo, o cirurgião veterinário. veterinário. Quase não o vi depois de sua partida.
− E quanto a você? O que você tem feito? − Bem, plantei um jardim de inverno, sequei grama Para fazer um novo colchão, trabalhei no hospital. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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E Flora e eu terminamos o enxoval. − Você deve ter ficado muito ocupada com tantas atividades. E Flora, como tem passado? − Está cada dia mais redonda. Você não a viu? Ela estava esperando ao meu lado quando você se aproximou. − Eu só vi você. Rebecca ficou sem ar por um instante, em virtude do comentário dele, mas forçou-se a continuar a conversa em tom casual. − Dois Pássaros Brancos me visitou ontem. Eu dei a ela um pouco de minha loção de rosas e ela me perguntou os nomes de tudo que havia em meu cesto de costura. Então nós fomos pescar. Jack deu uma risada. − Ela lhe ensinou a pegar um peixe com as mãos? − Ela tentou, mas eu acho que preciso usar a vara mesmo − admitiu Rebecca com um sorriso. Subindo os degraus do chalé à frente do homem alto, ela abriu a porta. − É bom voltar para casa − declarou ele, quando olhou para a sala. − Estas cortinas são novas? − Eu as fiz − respondeu ela, contente por ele ter notado. − Me diga, o que gostaria de fazer primeiro... comer ou tomar um banho? − Tomar um banho − respondeu Jack de imediato. Ele poderia falar de amor com o estômago vazio, mas não cheirando igual a um búfalo. − Deixe-me trocar de roupa e vou preparar um bom banho para você. − Não precisa se incomodar, Reb − ele a deteve, tirando o chapéu. − Posso tomar um banho de sabão no rio. − E ficar de cama com uma gripe? − Parada na porta de seu quarto, ela abanou a cabeça. − De jeito nenhum. − Se é assim que você quer − ele falou, rindo, enquanto ia para o outro quarto. − Da outra vez eu deixei minhas coisas perto da porta da frente e eles me chamaram para uma patrulha, agora acho melhor colocar aqui no quarto. Deixando as coisas no chão, ele desafivelou o cinturão da arma e pendurou-o atrás da porta. Em seguida, foi para o lavatório e passou uma água no rosto empoeirado. Quando secava o rosto com uma
toalha nova, ele observou o pequeno aposento. A cama estava cuidadosamente arrumada e tudo se encontrava no lugar. Rebec Reb ecca ca limpa limpava va sua casa, casa, lavav lavavaa sua suass rou roupa pas, s, cos costur turava ava suas suas cam camisa isas, s, co cozi zinha nhava va seus seus pra prato toss Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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favoritos. Seu casamento tinha tudo, menos amor. E tudo, ele recordou a si mesmo com otimismo, poderia mudar. Ao ouvir ouvir a esp esposa osa na coz cozin inha, ha, ele foi encon encontrá trá-la -la e no ca camin minho ho divis divisou ou um peq peque ueno no pa pacot cote, e, endereçado em seu nome. Reconhecendo a letra familiar, ele parou para ler a correspondência. Quando Jack foi para a cozinha, encontrou Rebecca de pé sobre uma cadeira, com o rosto vermelho por causa do calor e do esforço praticado. Equilibrando com cuidado um balde, ela enchia uma grande chaleira em cima do fogão. Ela já havia colocado a tina no meio do cômodo e a enchia. − Seu banho está quase pronto − falou-lhe ao descer da cadeira. Pus uma toalha e um pedaço de sabão na cadeira para você. − O sabão tem cheiro de rosas? − Deixando o conjunto de barbear, ele aproximou-se dela. − Sinto, mas é o único que tenho, a menos que você queira o sabão militar comum. − Gosto do de rosas. Sentindo-se nervosa na proximidade dele, ela se inclinou para mergulhar o cotovelo na água para sentir-lhe a temperatura. − Está muito quente − declarou. Franzindo a testa alarmado ao ver o gato parado na soleira do lado de fora, Jack encheu um balde de água do barril nos fundos da varanda e fechou a porta. − Para não ficar com frio − explicou. Rebecca pegou o balde dele e pôs um pouco de água fria na tina. − Acho que exagerei um pouco − comentou ela. – Quero que você tome banho, não que cozinhe. − Por favor − concordou ele, analisando sua agitação. Talvez fosse o momento de começarem a conversar. Muito compenetrada, ela deixou o balde perto da tina e foi ver a chaleira no fogo. − Aí você tem água fria, para o caso de o banho estar muito quente, e aqui água quente, para o caso de esfriar. Percebendo Percebendo que ela estava prestes a sair, ele chamou: − Reb... − Vou deixar você sozinho agora. − Ela correu para a sala e fechou um par de cortinas sobre a porta.
Sozinho na cozinha, Jack franziu a testa. Talvez seu primeiro plano fosse melhor, afinal de contas. Talvez fosse mais fácil conversar sobre assuntos do coração quando cheirasse a rosas em vez de cavalos. Começou a tirar a roupa, sentindo-se estranho porque sabia que ela estava ali do outro lado das Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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cortinas. − Foi você quem fez estas cortinas também? − indagouem voz baixa. − Achei que ficaria mais bonito em lugar daqueles cobertores do exército que usávamos. − A apenas alguns passos dali, ela ouvia os ruídos que ele fazia ao despir-se. Era bom sentir o vento soprando entre os vãos das portas, mas agora está começando a esfriar. − As cortinas são bonitas. Ela ainda sorria com o elogio dele, quando um braço musculoso nu todo peludo passou pela abertura entre as cortinas. Segurando suas calças calças e a camisa sujas na mão, ele as balançou para atrair a atenção da esposa. esposa. . − Estas roupas sofreram bastante desta vez, Reb. Veja se dá para fazer alguma coisa com elas. Quando ela pegou as roupas, o braço se recolheu para a cozinha, deixando deixando uma pequena fresta entre as cortinas. Rebecca ficou ali de pé, maravilhada com as costas largas bronzeadas e o traseiro branco. Ela engoliu profundamente em seco enquanto o homem entrava na tina e dava um longo suspiro de alívio. Com o coração latejando, ela apressou-se a fechar as cor tinas. tinas. Elas se entreabriram outra vez de leve quando e lhes deu as costas, mas ela não notou. Levando as roupas para o sofá, ela se sentou e examinou-as. A camisa poderia ser cerzida, decidiu ela, mas três semanas de sela haviam deixado as calças de couro muito afinadas no assento. Quando ela virou a peça na mão, batendo para ver se saía uma mancha, um objeto brilhante caiu do bolso e foi alojar-se entre suas pernas. Um tanto temerosa, ela ergueu o relógio de Jack das dobras do vestido. Ele cabia na palma de sua mão, pesado e maciço. Fazia tempo que ansiava por uma oportunidade dessas, para ver o que havia dentro, mas agora que acontec acontecera era por acaso, ficou relutante em abri-lo. Se o retrato não estivesse lá, nada teria mudado, disse a si mesma. Significaria que ela amava seu marido mas ele não a amava. Mas se a figura estivesse lá... Seu coração disparou ante aquele pensamento. Olhando de relance para a porta, ela viu Jack através da fresta, inclinando-se para pegar a navalha. Certa de que não seria observada enquanto ele se barbeava, Rebecca abriu o relógio com os dedos trêmulos. Um pequeno desenho, levemente desbotado e empoeirado empoeirado,, havia sido recortado nas bordas para caber no estojo. A mulher na pintura encontrava-se em meio a um campo de flores silvestres, olhando para a pradaria. Ela não sabia como Jack conseguira aquilo, mas o retrato era a coisa mais reveladora entre tudo o que ele havia feito.
Ela recostou-se no assento, pensativa. Jack a amava de verdade, embora ele nunca tivesse comentado a respeito. Ele havia lhe mostrado de várias maneiras, mas ela esperara que ele se pronunciasse com palavras. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Guardando o relógio de volta no bolso dele, ela aproximou-se da cortina. Ele estava lavando os cabelos. Esperando até que a cabeça escura e molhada emergisse da água, ela falou: − Como está o banho? Quer mais um pouco de água? Do outro lado das cortinas, o ruído de água cessou. Jack continuava sentado na tina, a água à altura dos quadris, enquanto ele a contemplava. Rebecca pareceu feliz em vê-lo quando ele se voltou. E ele pensou ter notado um brilho novo nos olhos castanhos que até então não vira. Será que o jogo estava dando resultado? Será que ela aprendera a amá-lo? Estava a ponto de descobrir. − Posso usar a que está quente − ele respondeu por cima do ombro. − Se não achar que é muito impróprio vir até aqui. − Nós somos casados, não somos? − Abrindo as cortinas ela entrou na cozinha aquecida. A pele dele que estava exposta acima da água se arrepiou com o ar frio que entrou da sala. Ele ficou parado, com a bucha em uma mão e o sabão na outra, enquanto ela pegava a chaleira no fogão. Quando ela se voltou, ele havia afundado na tina, com os joelhos para fora da água, e estava olhando para ela. Ela sorriu de um modo que ele nunca tinha visto antes. Com o olhar nos olhos dele, ela se ajoelhou ao pé da tina e acrescentou a água quente, misturando-a com a mão. − Como está agora? Jack sentiu um choque quando os dedos dela encostaram nos seus pés. − Ótimo − falou em voz esganiçada e deixou cair o sabão. Levantando-se, ela deixou a chaleira atrás da tina. − Quer que ensaboe suas costas? − ofereceu-se ela em voz baixa e provocante. Abaixo da superfície da água turva, o homem sentiu uma súbita tensão. Ainda bem que a água ensaboada não permitia uma visão clara de seu membro descontrolado. − Acho que seria ótimo. Pegando a bucha da mão dele, Rebecca ajoelhou-se junto ao ombro mais próximo. − Incline-se para a frente um pouquinho. – Derramando ou pouco de água sobre as costas, ela perguntou: − Onde está o sabão? − Vou achar. − Apressado, ele tateou sob a água, aparecendo com a barra na mão. Ela o estava
deixando tão nervoso quanto um garoto com seu primeiro amor. -Rebecca... − Psiu! − ela o advertiu junto ao ouvido. − Agora relaxe. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Ele quase deu um pulo quando sentiu o toque gentil pela primeira vez. Os dedos dela, lisos por causa do sabão, pareciam mais acariciar suas costas que ensaboá-las. Mergulhando a bucha junto ao seu traseiro, ela traçava um caminho incandescente ao longo de sua espinha, passava pelos ombros e descia pelo peito. Ele quase gemeu de prazer com as incríveis sensações que ela despertava em seu corpo. Ela massageou suas costas com gestos largos, tocando suas costelas suavemente. Segurando na beira da tina, Jack inclinou-se para a frente para esconder a reação de seu corpo. A água escorria para o chão e ele devia ter praguejado quando ouviu a risada dela. Erguendo o cabelo molhado, ela esfregou-lhe o pescoço, massageando os músculos com dedos experientes. Ele agarrou a borda da tina até os nós dos dedos ficarem brancos. Atrás dele, Rebecca deleitava-se ao tocar aquele corpo formoso e também com suas próprias reações, mas desejava ouvi-lo comentar sobre como se sentia a seu respeito. Havia chegado até aquele ponto, disse a si mesma. Descobriria se ele a amava... mesmo se tivesse de perguntar diretamente. Movendo-see para se agachar ao lado dele, ela se inclinou mais para perto. Movendo-s − Sentiu minha falta enquanto esteve fora, Jack? − Todos os dias. − Ele mal conseguiu conter um estremeção de desejo. − Senti sua falta também. − A respiração dela estava tépida em seus ouvidos. − Sentiu mesmo? − A voz dele estava estrangulada. − Todos os dias − confirmou ela baixinho. − E sabe por quê? Gemendo, ele se voltou para encará-la, o desejo expresso no rosto e agora saltando da água. _ − Você sabe o que está fazendo, Rebecca? Porque, se não, é melhor parar. − Estou tentando lhe dizer que te amo. Ele encontrou seu olhar quase com cautela. − Você me ama? Subitamente apreensiva, ela se levantou. − Você... você me ama, Jack? − Deixe que eu lhe mostre − ele disse, a voz transtornada de paixão. Estendendo o braço molhado, ele a pegou pela cintura e a puxou para dentro da tina. Ela gritou de
surpresa contra seus lábios, que logo se transformou num gemido de prazer quando passou os braços ao redor de seu pescoço e retribuiu-lhe o beijo com fervor. − Santo Deus, Rebecca − ele murmurou, quando afastou os lábios por fim. Descansando a testa na Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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dela, ele tomou fôlego. − E amo você desde o princípio. Ela encaixou o corpo sobre o colo dele, descansando a cabeça em seu ombro, as pernas penduradas para fora da tina. Sentia a água nos seios, penetrando o tecido fino das anáguas. Estava ensopada até os ossos e nem se importava. Ela recebeu aquela boca outra vez. Seus lábios se entreabriram, convidando-o a penetrá-la. A língua dele encontrou a sua e eles se saborearam sem pressa. − Meu coração escolheu você, Rebecca Bellamy – ele sussurrou contra o seu ouvido. − E nós desperdiçamos tanto tempo − lamentou-se ela em voz baixa, acariciando-lhe o queixo. Ele beijou-lhe as pontas dos dedos. − Agora não vamos desperdiçar desperdiçar mais nem um segundo. Com a ajuda dele, ela saiu da tina, o vestido e as anáguas ensopados e pingando pelo chão. Depois voltou-se para lhe dar a mão e arregalou os olhos quando ele saiu da água e ela testemunhou toda a nudez de suas formas masculinas. Jack, os olhos escurecidos de desejo, olhava-a fixamente enquanto saía da tina e pegava-a nos braços. Nu e pingando água por todo lado, ele levou a esposa para o quarto, deixando uma trilha de água atrás deles. No No mome moment ntoo em que que el elee a deix deixou ou em pé outr outraa ve vez, z, Re Rebe becc ccaa an ansi siou ou pe pela la prox proxim imid idad adee de dele le.. Envolvendo-o com os braços, ela pressionou o corpo contra o dele e sentiu seu calor e suas formas mesmo estando vestida. Uma longa fileira de botões na frente do vestido dela esfregava-se contra o peito nu de Jack. Desabotoando rapidamente os primeiros, ele correu os dedos por sua delicada clavícula, demorando-se na pele sedosa da base do pescoço, plantando ali um beijo, ele a sentiu fremir de desejo. Ele soltou-lhe os cabelos, impressionado com a força de seus sentimentos e das emoções que despertava nela. A luz da tarde filtrava-se através das cortinas, iluminando o rosto de uma mulher apaixonada. Rebecca pousou os olhos ávidos de paixão naquele corpo maravilhos maravilhoso. o. Extasiada, estendeu a palma da mão no peito largo, então inclinou a cabeça para vê-lo desabotoar seu vestido. Quando ele chegou ao flUl, ela sorriu e ergueu os braços para permitir-lhe puxar o vestido sobre a cabeça. Então ela parou de pé em frente a ele só com a roupa de baixo ensopada, a água que pingava de suas anáguas formando uma poça a seus pés. A aliança dele, na correntinha de ouro, achava-se encaixada entre os seios redondos e pequenos. Sob o algodão da camisola camisola,, eles eram plenamente plenamente visíveis embaixo do tecido
fino, os bicos empinados como que pedindo para serem acariciados. Ele se inclinou e pegou um dos bicos com a boca, sugando a umidade da roupa. Então, com uma lentidão doentia, dedicou igual atenção ao outro bico. Ela se curvou contra ele, os dedos enterrados em seu Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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cabelo, os seios empinados contra a prisão dos tecidos. Os lábios dele encontraram os dela outra vez, com fervor, e ele desatou a fileira de presilhas de seu corpete, praguejando pelo tempo que demorou. Ansiava em tê-la toda para si, pele contra pele, sem nenhuma barreira a separá-los. Quando a pesada roupa de baixo foi posta de lado, ele desatou a fita de sua camisola e jogou para o lado o tecido molhado. Ela enterrou as unhas em seus ombros, sentindo os músculos bem-torneados. Enquanto isso, ele traçava uma trilha de beijos até seu pescoço, murmurando contra seu queixo: − Deixe-me livrá-la de uma vez dessas roupas molhadas. Ele puxou a fita que prendia as anáguas e elas caíram num farfalhar sobre o chão. Pegando-a pela mão, ele a tirou de dentro da roupa, ao mesmo tempo que se deliciava com a visão se suas formas perfeitas. Ela era esguia, tão pequena e delicad delicada. a. Os quadris roliços sobressaíam-se abaix abaixoo do corpete, e através do tecido úmido podia ser visto um sedutor triângulo escuro. Com o olhar preso no dela, ele a puxou contra si, agarrando-a pelas nádegas e grudando o corpo contra o dela, centro contra centro, num movimento erótico. − Ame-me, Jack − ela sussurrou desesperada desesperada.. − Nós já esperamos demais. Com o desejo refulgind refulgindoo nos olhos azuis, ele rapidamente despiu o resto de suas roupas. Fazendo com que ela se sentasse na cama, ele se ajoelhou e tirou-lhe as sandálias e a cinta-liga, enquanto ela alisava seus cabelos. Puxando lhe as meias para baixo, ele cobriu sua trilha com beijos, então levantou-se para observála com avidez. O olhar dela encontrou o seu, e seu desejo chegou ao limite. O colchão de palha gemeu sob o peso deles quando Jack juntou-se a ela na cama, estendendo o corpo ao lado dela. Eles se uniram como marido e esposa, explorando seus corpos mutuamente com selvageria, dando e recebendo prazer com a mesma alegria, encontrando um no outro igual desejo, prazer e intensidade. Fundiram seus corpos e suas almas, amando-se com uma ternura infinita. infinita. Conforme Jack suspeitara, Rebecca escondia o fervor de uma mulher apaixonada, sensual, por trás da aparência severa. Penetrando sua calorosa intimidade, envolvido por sua doce suavidade, ele sentiu-se finalmente em casa. Embora ela não fosse virgem, Rebecca nunca experimentara uma sensação igual, tão quente e fluida que a deixou sem ar. A paixão explodiu dentro dela, carregando-a num fluxo de emoções arrebatadoras arrebatadoras.. Ela se agarrou aos braços fortes de Jack quando ele se ergueu sobre ela, dominando-a, levando-a para alturas que ela nunca havia alcançado.
Seus gritos ecoaram na quietude da tarde, quando eles pairaram nas alturas, atingindo o clímax, e então foram se acalmando suavemente, um nos braços do outro. Com as pernas entrelaçadas, acabaram adormecendo. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Teddy parou indeciso na frente da casa às escuras. Não era assim tão tarde. Subindo os degraus tão silenciosamente quanto possível, ele entrou sem fazer barulho. Onde estaria todo mundo, imaginou, parando no sala escura para acender o lampião. As cortinas estavam fechadas na porta da cozinha como se alguém estivesse tomando banho, mas não vinha nenhum som de dentro. Ao olhar para a porta fechada do quarto de Rebecca, ele viu a trilha de água da cozinha para o quarto dela, e então compreendeu tudo. − Minha nossa! − murmurou com um sorriso. − Já não era sem tempo. Entrando em seu quarto, Teddy guardou alguns objetos numa sacola e escreveu um bilhete. Ele o deixou sobre a mesa da sala, apagou a luz e saiu sem nenhum ruído. No caminho do estábulo, começou a assobiar. Rebecca acordou sonolenta, espreguiçando-se languidamente com a sensação do marido a seu lado. Com o braço em sua cintura, ele a mantinha contra si, aconchegado aconchegado a suas costas, o rosto enterrado em seus cabelos. O corpo dela doía por falta de hábito, mas ela concluiu que nunca experimentara sensação tão maravilhosa em toda a sua vida. Atrás dela, Jack acordou com um aroma de rosas e começou a se excitar de novo. Rebecca jazia muito quieta em seus braços, mas ele sabia que ela estava acordada. − Bela cama você tem aqui − ele murmurou, esfregando o nariz em seus cabelos.. − Agora é a nossa cama − ela lhe falou por cima do
ombro.
Ele a puxou mais para si. − Acho que vamos passar o resto de nossa vida de casados nela. − Vamos ter de sair dela de vez em quando. Para comer, pelo menos. − Sentindo uma carícia no quadril, ela sorriu e virou-se para encará-lo. − Não está com fome? Eu nem lhe servi o jantar ainda. − Para falar a verdade, me esqueci completa completamente mente disso − ele murmurou, escorregando a boca sobre a dela. − Deve ser muito tarde − Rebecca falou no escuro, algum tempo depois. − Eu preciso mesmo levanta levantar. r. Teddy deve voltar logo e eu quero preparar alguma coisa para você comer. Jack rolou de costas, ainda prendendo-a entre os braços, de modo que ela ficasse por cima durante um momento intenso, antes de soltá-la.
Acendendo o candeeiro ao lado da cama, ela vestiu um robe. − Não saia daqui − ela ordenou, abrindo o trinco da porta. Ele sorriu divertido. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− O prazer é todo meu, dona. O quarto refletiu um brilho azulado quando ela pegou o camisolão azul-safira que havia feito para ele. − Sei que você disse que não o queria − falou ela quase envergonhada. − Mas na época também não queria uma esposa. − Agora eu tenho os dois e não poderia estar mais feliz. − Levantando-se, ele vestiu o camisolão, suspirando quando ele caiu sobre o seu corpo como uma luva. Ele correu os dedos pelo cabelo e virou-se para que ela o admirasse. Que tal estou? − Maravilhoso − ela elogiou e ganhou um beijo por sua sinceridade. Pegando suas roupas do chão em meio a uma poça de água, ela as levou para a varanda dos fundos para secar, enquanto Jack acendia o lampião da sala. Ela estava ajoelhada na cozinha, secando as poças de água no chão, quando ele apareceu na porta, com um pedaço de papel na mão. − Teddy vai passar a noite assistindo uma égua que vai dar à luz − ele anunciou com um arquear de sobrancelhas. − Parece que teremos a casa toda ao nosso dispor até amanhã. sobrancelhas. Rebecca presenteou-o com um sorriso que ele se lembrava de ter visto uma vez apenas, e por um momento ele duvidou que resistissem resistissem a ir jantar. Mas então ela apressou-se a se mostrar bem prática. − Acho que vamos esperar até a manhã para despejar a água do banho − ela falou pondo-se de pé. − Vou aproveitá-la para regar o jardim. Agora, vamos pensar no jantar. Temos frango e bolinhos fritos. Eles são do que sobrou de ontem, mas eu fiz uma torta de maçã. _ Parece delicioso. − Ele foi colocar mais carvão no fogão. − Até que enfim vou comer algo diferente de feijão com bolacha dura. Enquanto jantavam, ouviram a música que vinha da rua do Sabão, onde uma festa de boas-vindas estava em franco andamento. − Vamos lá para fora, onde podemos podemos ouvir melh melhor or sugeriu Jack ao te terminarem. rminarem. Rebecca protestou. − Estou só de camisola. − É o mesmo que estou vestindo − retrucou ele, empurrando-a para a varanda às escuras. Quando o violino começou a entoar uma valsa convidativa, ele pegou a esposa nos braços e eles dançaram no exíguo espaço entre barris de água e tinas de madeira. Mantendo-a nos braços depois da dança,
ele murmurou: − Eu te amo. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Eu também te amo. − À luz difusa da cozinha, ela lhe dirigiu um sorriso temo. − Já que você estava tão preocupada em não ter o que vestir além de uma camisola, eu tenho uma surpresa para você. Com os olhos brilhando de curiosidade, ela pegou a caixinha que ele tirou do bolso do camisolão. Dentro havia uma aliança de ouro delicadamente trabalhada. − Era da minha mãe − ele explicou. − O pacote no quarto de Teddy era da vovó. Ela deve ter mandado a jóia depois da carta que escrevi contando de você. − Ele colocou-lhe a aliança na mão esquerda. Ela assentou-lhe tão perfeitamente como se tivesse sido feita sob encomenda. − Ela é linda. − Ela ficou na ponta dos pés para beijá-lo. Tirando o anel que usava na correntinha ao pescoço, ela o colocou no dedo dele. − Estou lhe devolvendo este com amor. Jack olhou para o anel. Ele não o usava desde a guerra, lhe caía bem. − Agora ele está de volta para onde onde é o seu lugar comentou, cond conduzindo-a uzindo-a para dentro da casa casa.. − Vamos voltar para onde é o nosso lugar. − Onde é esse lugar? − sorriu Rebecca intencionalmente intencionalmente − A nossa cama − ele respondeu, apagando o lampião comentou, conduzindo-a para dentro da casa. − Vamos voltar para onde é o nosso lugar. − Onde é esse lugar? − sorriu Rebecca intencionalmente intencionalmente − A nossa cama − ele respondeu, apagando o lampião:
DEZESSETE
O café está pronto, Jack – chamou Rebecca. O toque do ajudante já havia soado e o desjejum estava atrasado, mas o atraso valera a pena, depois de ficar uma hora na cama, fazendo amor com o marido. − Já fiz o meu trabalho matinal− ele anunciou, vindo dos fundos. − O jardim está regado e a tina esvaziada. − Depois de guardar a tina em seu lugar, atrás do fogão, ele deu-lhe um tapinha nostálgico. − Eu gostaria de deixá-la lá fora como uma recordação, mas alguém poderia sair ferido. − Ou molhado − completou a esposa rindo. − Eu preferia ficar seca hoje, obrigada. − O forro da minha
saia ainda está molhado. − Eu prefiro você sem esse recheio embaixo do vestido − ele murmurou, passando a mão sobre os quadris dela. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Bem, bem. − Teddy comentou da porta da sala com os olhos brilhando. − Parece que não perdi o café da manhã então. − Estamos começando mais tarde. − Jack sorriu, passando o braço ao redor da cintura de Rebecca. Ela enrubesceu até a raiz dos cabelos, sabendo que o rapaz poderia imaginar o que acontecera. − Que tal um cafezinho? − Enchendo três xícaras, Jack colocou uma na frente de Rebecca e levou as outras para a mesa. − A égua deu à luz durante a noite? , − De madrugada. − Teddy ocupou seu lugar de costume a mesa. _ Já estava estava amanhecen amanhecendo. do. Eu ajudei o potro a nascer comentou comentou.. Vocês dois finalmen finalmente te descobriram que se amavam e eu consegui um emprego. − Um emprego? − o casal exclamou em uníssono. Ele confirmou orgulhosamente. − Como assistente do senhor Waldo. Ele vai me ensinar a ser um cirurgião veterinário. − Depois de algum tempo ele acrescentou. − E tem mais uma coisa: o emprego vem com um quarto e refeições. Eu vou me mudar para o alojamento de civis próximo ao estábulo, se é que vocês podem se virar sem mim por aqui... − Acho que vamos ter de dar um jeito. − Jack olhou
significativament significativamentee para a esposa.
− Se for preciso, daremos um jeito. − Ela suspirou resignada. Quando eles se sentaram para o desjejum, todos inclinaram a cabeça e Jack fez a oração. − Senhor, nós agradecemos por todas as suas graças, pelo amor e nossa casa e nossa família, pelo novo emprego de Teddy e pelo alimento que vamos comer agora. Amém. − Amém − repetiu Teddy fervorosamente. − Amém − Rebecca suspirou, os olhos brilhando de felicidade. − É uma vergonha − informou o major Little aos companheiros. Com os olhos estreitados ele seguiu Jack e Rebecca. Enquanto eles caminhavam pelo pátio na penumbra. − Ainda custo a acreditar que eles se casaram com uma pressa tão indecente. Sentada ao lado de Willa Plath, Flora travava uma batalha interior. Sabia do poder que o major Little exercia no Forte Chamberlain e reconheci r econheciaa que a mulher faltara com seu dever cristão de levar a civilização à fronteira. Mas mesmo a senhora Little não conseguiria transformar o Oeste no Leste e ela não poderia manter Rebecca como uma renegada por muito tempo.
− Eu sei que vocês não perdoam Rebecca por voltar a casar-se assim tão rápido − começou ela polidamente. Mas se soubessem das circunstâncias por que ela passava, não a condenariam assim de forma tão veemente. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Que circunstâncias? − a mulher perguntou friamente. _ Ela perdeu o marido com que estava casada por apenas três meses... cujos débitos ela pagou com a venda de tudo o que possuía. Ela ama esta terra, mas estava sendo forçada a retomar para junto do meioirmão que, se não é uma pessoa cruel, é no mínimo hostil. Quando tudo conspirava contra sua vida, ela encontrou um homem que a ama e casou-se com ele. O que há de errado nisso? − Se você não percebe, então deve ter ficado tempo demais no oeste − retrucou a senhora Little com uma fungada. _ O capitão Emerson era um ótimo oficial, cuja memória deveria ser guardada. Quando Rebecca chegou aqui como noiva, eu nunca imaginei que ela poderia esquecer o primeiro marido só porque outro homem lhe propôs casamento. − Eu não acho que ela o tenha esquecido − interveio Willa inesperadamente inesperadamente.. − Ela ainda põe flores em seu túmulo. A senhora Little fuzilou-a com o olhar. − O casament casamentoo não pode durar se o novo marido descobrir que compartilha as afeições dela com outro homem, mesmo que esteja morto. Casamento precipi precipitado, tado, prazer curto. Flora quase sorriu, lembrando-se da alegria da amiga nos últimos dias. − Eu acho que Jack e Rebecca estão seguros de seu amor. Pode ser que tenham se casado rápido demais, mas eu ousaria dizer que essa é uma ligação duradoura. Aborrecid Aborr ecidaa por ver sua sua indi indignaç gnação ão virt virtuosa uosa po posta sta em dú vida vida,, a senho senhora ra Little Little ab abanou anou a ccabeç abeça. a. − Só o tempo dirá, senhora Mackey. − Sim, senhora. senhora. − Flora rec recosto ostou-se u-se no assento, assento, com a impressão impressão de que ganhara ganhara um ponto. ponto. − O tempo dirá. Lá fora, no pátio, Jack sorria para a esposa. − Não está gostando de passear comigo? − Eu devia estar em casa preparando o jantar – replicou Rebecca, na verdade gostando muito. − O jantar pode esperar. Não posso exibir você no escuro. _ Distraída em olhar com admiração para o marido, ela não notou o outro casal até que ele estivesse bem próximo. Jack levantou o chapéu educadamente e ela inclinou a cabeça, enquanto Francis e Amy seguiram seu caminho, mas sem que nenhuma palavra fosse trocada entre os casais ao se cruzarem. − Porter não lhe deu trabalho enquanto eu estive fora deu? − quis saber Jack quando os outros dois
passaram. − Até agora, ele havia me ignorado − respondeu Rebecca. − Talvez Amy esteja ajudando a aplacar sua raiva. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Talvez. − Ele tirou o chapéu para Caroline e Sally que retribuíram o cumprimento friamente. Com a testa franzida, ele conduziu Rebecca para a rua dos Oficiais, onde se viam diversas mulheres numa varanda às escuras. − Não me force a cumprimentá-las, Jack − protestou Rebecca, empacando. − Quando chegar o momento, elas irão superar sua desaprovação em relação a mim. Se não eu não preciso de sua amizade. Ele a observou contrariad contrariado. o. − Está arrependida de ter casado comigo, Reb? − Agora não. − Ela o surpreendeu com um sorriso malicioso que ele já começava a adorar e o guiou de volta a seus alojamentos. − Vamos para casa. Sem se preocupar se a senhora Little ou alguém mais observava, eles cruzaram o pátio, de mãos dadas e rindo. Na residência dos Bellamy naquela noite, a roupa lavada permanecia no varal mesmo depois de ter escurecido e o jantar só foi servido às nove da noite. Jack caminhava cautelosamente pelo bosque à margem do rio, com a intenção de surpreender Rebecca. Ao voltar para casa naquela tarde de veranico, encontrara um bilhete em cima da mesa informando que ela fora pescar. Esgueirando-se por um arbusto, ele avistou-lhe o perfil à beira de um barranco, com os pés pendendo para dentro da água. Com as mãos nas dobras do vestido que ela puxara para não molhar, ela segurava uma comprida vara de bambu. Ao lado dela viam-se os apetrechos, os sapatos e o chapéu. Enquanto avançava na direção dela, uma de suas mãos mexeu-se e ele percebeu que ela segurava o revólver. − Não foi para isto que eu lhe ensinei a atirar – ele comentou. Sorrindo ao perceber que era ele, ela tirou o dedo do cão do gatilho. _ Você queria que eu soubesse me proteger. _ Mas não de mim. − Especialmente de você. − Sorrindo, ela guardou o revólver no colo e bateu no chão a seu lado. − Venha sentar-se comigo um pouco. − Pegou alguma coisa? − Sentando-se, ele tirou os mocassins e mergulhou os pés na água ao
lado dela. − Não estão querendo comer. − Ela riu quando o pé dele encostou nos dela. − Nem mesmo beliscando? − Ele fez cócegas no dedão dela com o seu. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Jack! − Ela afastou o pé. − Vai acabar espantando os peixes. − Você vai ficar brava? − Ele mordeu-lhe de leve o lóbulo da orelha. − Não, mas... − ela murmurou, voltando-se para receber um beijo. Eles desfrutaram daquele momento de intimidade, beijando-se, esquecendo-se de tudo enquanto suas língu línguas as se enrosc enroscava avam. m. Sep Separa araram ram-se -se com rel relutâ utânci nciaa qua quando ndo per perceb cebera eram m um trio trio de pe pesca scador dores es se aproximando em meio a uma alegre algazarra. aproximando − Vamos embora − falou Jack. − Tenho uma coisa para mostrar para você. − Para mim? − Sem perda de tempo, ela guardou suas coisas e pôs os sapatos. Em seguida, enrolou a linha com o anzol na vara de pescar. Old Joe estava amarrado na balaustrada da varanda quando eles saíram de entre as árvores atrás da ca casa. sa. Ama Amarra rrada da ao lad ladoo del delee encont encontrav rava-s a-see uma gra graci ciosa osa pot potran ranca ca al alazã azã,,
env enverg ergand andoo
a
sela sela
de
Rebecca. − Gostou dela? − indagou Jack, orgulhoso. − Ela é linda − gritou Rebecca, correndo para perto do gracioso animal. − Pele de Lobo capturou-a, eu a domei e Dois Pássaros Brancos deu-lhe um nome. Espero que não se importe. − Eu não me importo. − Ela acariciou-lhe o focinho aveludado. − Ela a chamou de Calma, porque eu usei a palavra várias vezes enquanto a domava. − Eu esperava um nome índio. − Rebecca riu, dando tapinhas no pescoço da égua. − Mas Calma... até que é bonit bonito. o. Obrigada, Obrigada, Jack. − Ela é muito dócil. Gostaria de experimentá-la? Enquanto eles cavalgavam para o sol poente, Rebecca experimentou o sentimento de liberdade que a pradaria sempre lhe transmitia. Mas montada em seu próprio animal, com o marido ao seu lado, ela não conseguia se lembrar de ter sido tão feliz. Eles cavalgaram por mais de uma hora, voltando quando já era noite, os dois deliciados. − Posso ir mostrá-la para Flora? − pediu ela, enquanto passavam pelo portão do forte. − Mas claro − concordou Jack, notando o quanto ela estava contente. − Os animais precisam se
refrescar mesmo. Eles encontraram Flora na varanda com Willa. Embora Willa olhasse Jack um tanto precavida, as duas mulheres mulh eres os cumprimentara cumprimentaram m quan quando do aproxim aproximaram aram-se -se para conversar. conversar. − Que anim animal al adorável! adorável! − Flor Floraa Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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aproximou-se da balaustrada balaustrada para admirar a égua. − É de vocês? − Jack me deu de presente esta tarde. Acabamos de dar nossa primeira cavalgada. − Você Vocêss chegaram chegaram bem a temp tempoo − anun anunciou ciou Flora Flora.. Está Estávamo vamoss planejan planejando do ir a Chamberl Chamberlain ain para a inauguração do novo hotel. Willa olhou em dúvida para a loura, mas não a contradisse. − Isso mesmo, vai haver um jantar de comemoração no sábado. − Venham conosco − pediu Flora. − Vai ser divertido... e pode ser minha última oportunidade de passear antes de entrar no regime para o parto. Rebecca olhava de uma para outra. Flora era sua melhor amiga e Willa nunca fora hostil com ela, mas elas estavam
passando dos limites do bom senso. − Não sei, não... − Nós adoraríamos − cortou Jack.
− Maravilhoso! − exclamou Flora radiante. − Iremos então, vocês dois, Willa e Gerald, Brian e eu, Amy, Francis
e os Garotões.
Rebecca lançou um olhar ansioso ao marido. − Iss.o mesmo, nós vamos adorar − ele confirmou. − Aí estão vocês − cumprimentou Flora, quando eles se juntaram ao grupo reunido no estábulo no sábado de manhã. Na carroça de passeio que conseguira com o intendente do forte, ela se postava como uma rainha, estirada entre almofadas em um dos bancos que corriam pelas duas laterais do veículo. − Não é excitante? − comentou Willa, sentando-se no lado oposto. − Lá vêm Francis e Amy. − Flora acenou fortemente para o casal que se aproximava aproximava.. − Venham logo. Estamos perdendo tempo. O ajudante-de-ordens deteve o passo quando viu Rebecca, mas se recuperou rapidamente. − Bom dia a todos − cumprimentou com um inclinar de cabeça. − Sim, bom dia a todos − repetiu Amy, um tanto insegura. Ela havia esperado a semana inteira pela excursão, mas não estava certa se sua mãe aprovaria se soubesse quem seriam seus companhei companheiros. ros. − Posso ajudá-las, senhoras? − Brian apareceu para ajudar Rebecca e Amy a subir pela traseira da
carroça. Acomodando-se ao lado de Flora, Amy ocupou-se de arrumar seu vestido em dobras precisas, tomando cuidado para não olhar para Rebecca, que se sentara a sua frente no outro banco. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Vocês viram a aliança de Rebecca? − indagou Flora vivamente. .− Deixe-me ver − pediu Willa com um sorriso encorajador. − Flora comentou comigo sobre ela. − Era da mãe de Jack. − Rebecca estendeu a mão, grata por terem desaparecido as manchas da lavanderia após camadas de loção de rosas. − Ela é linda. − Ele só me deu na semana passada − confessou ela um tanto timidamente. − Chegou tarde demais
para o
casamento.
Amy continuou sentada, olhando rigidamente para a frente. − Vocês deviam ter visto o anel que ela usava antes._ Flora deu uma risada. − Era de Jack e tão grande, que escorregou de seu dedo e caiu na poncheira. − Esta aliança cai bem melhor − Jack comentou com sua voz grossa. Montado em Old Joe, ele passava a trote pela carroça. − E é definitiva. − Que gentil − murmurou Willa, observando enquanto o batedor se reunia aos outros cavaleiros. − Seu marido é muito diferente do que eu imaginava. − Quando você o conhece, percebe que ele é muito gentil − concordou Rebecca com um sorriso. − Todos estão prontos? − A carroça inclinou-se quando Brian e Gerald tomaram lugar nos assentos dos condutores à frente. − Depois vocês, homens, se queixam de como as mulheres demoram para se aprontar para ir a qualquer lugar − comentou Flora com bom humor. − Estamos esperando há horas! − Só porque você se levantou antes do amanhecer, para escolher qual chapéu usaria − caçoou Brian sobre o ombro. − O problema é quando o chapéu não combina com a cor de nenhum vestido que a gente tem − reclamou ela, enquanto eles passavam pelo portão principal. Dentro da carroça, as mulheres conversavam sobre o dia que teriam pela frente. Jack e Francis cavalgavam cavalgav am ao lado, enquanto os Garotões seguiam na retaguarda, retaguarda, reclamando da fome que passariam até o jantar. Em frente a Rebecca, Amy soltou uma exclamação quando Jack cavalgou bem próximo da carroça e
inclinou-se para olhar dentro. Ele sorriu para as ocupantes e seus dentes muito brancos brilharam em contraste com a pele bronzeada. − Juro que, se não soubesse que o senhor Bellamy faz parte de nossa turma, estaria morrendo de medo Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− ela disse. − Ele parece tão... perigoso. − Esse é o charme dele... ou pelo menos é o que ele me diz − comentou Rebecca, rindo. Jack manobrou Old Joe para mais perto ainda. − Com vai indo aí, Reb? − Está muito confortável − respondeu ela de dentro da carroça em movimento. − E não tão empoeirado quanto aí do seu lado. − O que um homem não faz para ficar perto de sua mulher − gritou ele com um sorriso. − Eu me lembro de quando era recém − casada − comentou Willa em voz alta, de modo que o marido pudesse ouvir na frente. − Eu também − respondeu Gerald acima do ruído da carroça. − Mas quanto mais tempo de casado eu tenho, mais aprendo. Agora vou dentro da carroça. − Você está confortável, senhorita Amy? – indagou Francis, cavalgando em seu lado da carroça. − Muito confortável, obrigada, tenente. − Ela sorriu, olhando-o demoradamente, demoradamente, enquanto ele saía para o lado em meio a uma nuvem de poeira. − Não é galante? − a garota voltou-se para perguntar. Seu sorriso se apagou quando ela percebeu que dirigira a pergunta a Rebecca. − Eu sempre o achei muito galante − a mulher comentou em voz baixa. − Ele é um homem bom. Amy observou a outra com estranheza. − Então por que não se casou com ele? − Porque não o amava. − Ele estava apaixonado por você, como sabe – disse Amy tristemente. − Eu acho que ele pensou que estava apaixonado por mim − considerou Rebecca, escolhendo as palavras com cuidado. − A esta altura ele já deve ter aprendido o que é o verdadeiro amor. − Você pensa mesmo assim? − indagou a garota, arregalando os olhos. Enfrentando a poeira outra vez, Francis cavalgou por perto para perguntar: − Sobre o que vocês duas estão conversando?
− Estamos descobrindo que temos muita coisa em comum − respondeu Amy, airosa. − Posso ver sua aliança, Rebecca? O tenente se afastou com uma expressão de preocupação no rosto. Em seu lado da carroça, Jack sorriu Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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satisfeito. satisfei to. Reb voltava a ser aceita, mesmo pela pedante senhorita Little. A viagem estava tendo exatamente o efeito que planejara. Rebecca praticamente não reconheceu Chamberlain. Erguiam-se prédios onde antes havia barracas e em lugar dos espaços vazios da pradaria avistava-se um mar de tetos de lona. As ruas vincadas de sulcos estavam repletas de pessoas. Trabalhadores da ferrovia e jogadores misturavam-se com pais de família e gente da cidade. Uma bandeira nacional adornava o pequeno prédio onde havia sido o local dos banhos públicos. Uma quantidade de 'flovas placas anunciavam aos passantes sobre um armeiro, um sapateiro e fabricante de botas, além de um tão esperado e necessitado médico. Descendo a rua, próximo à nova estação ferroviária, ela avistou um sinal de um novo restaurante. − Nunca vi tanta gente reunida desde a última vez que estive em Kansas City − comentou Willa. − Eu nunca vi tanta gente − exclamou Flora, de olhos arregalados. − Santa Fé é a maior cidade que conheço. − Aproveitem, senhoras − falou Brian. − Chamberlain não será grande assim por muito tempo. Vai ficar bem menor quando a ferrovia avançar para o oeste. − Graças a Deus – murmurou Jack, guiando Old Joe por entre o fluxo de pedestres. − Olhem, é ele! É Injun Jack, o Guerreiro das Planícies do Oeste − gritou um garoto, correndo atrás do cavalo de
Jack. − O Herói da Passagem Morgan − exclamou outro menino. − Que diabo é isso? − O batedor franziu a testa, enquanto em poucos segundos uma dúzia de
garotos seguia atrás de sua montaria, todos gritando. Enquanto Brian virava a carroça para o pátio do movimentado estacionamento do estábulo, ferreiro e selaria, ele parou de modo que as mulheres pudessem saltar na calçada de madeira. Desmontando para ajudá-las, Jack foi imediatamente cercado por um grupo de pessoas curiosas. − Injun Injun Jack − excl exclamou amou Adam, vindo do pátio pátio do estábul estábuloo para cumpri cumpriment mentá-lo. á-lo. − Quem bom ver você. − Ele sorriu para Rebecca. − Pelo que vejo, ele continua a protegê-la, senhora. − Com tanto esmero que que acabou se casan casando do comigo informou ela com um so sorriso. rriso. − Casando? Eu devia saber. Me diga, senhora, como é estar casada com um homem famoso?
− Famoso? − Jack o interrompeu. − Do que é que você está falando? − Do jornal, homem − exclamou Adam. − Seu retrato está na primeira página. − Não seria o Illustra Illustrated ted News, por acaso? – indagou o batedor, com a testa franzida de modo Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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ameaçador. − Isso eu não sei, mas todo mundo está comentando. O rosto de Jack exibiu uma expressão sombria. − Onde posso conseguir uma cópia? − Caldwell provavelmente ainda tem algumas em sua casa. − Muito obrigado. − Ele se voltou para os outros. Preciso ir até o armazém. − Nós vamos também. − Brian guiou o grupo para fora do estábulo e eles seguiram em bloco em direção à loja. Rebecca apressou-se para ficar junto do marido, que seguia mais à frente, recusando-se a reconhecer o crescente séqüito de admiradores que ia em sua esteira. Ao chegar à loja, o grupo do Forte Chamberlain seguiu-o para dentro, enquanto os espectadores esperaram reunidos do lado de fora. O senhor Caldwell, vestido com suas melhores roupas, encontrava-se entre jarros de confeitos, confeitos, o barril de bolachas e arcas de feijões secos. Olhando-se no espelho, ele ajustou uma cartola na cabeça careca. − Estou quase fechando − ele disse sem olhar para o lado. − Vou à inauguração do hotel, que acontecerá acontece rá em menos de meia hora. − Não vamos impedi-lo de ir − replicou Jack. O dono do armazém espantou-se diante da imagem do homem refletido no espelho por cima de seu ombro. − Injun Jack! Muito prazer, meu senhor. − Voltando-se ele viu o grupo inteiro. − Bom dia, senhoras. Em que posso servi-los? − Você tem um exemplar do Illustra Illustrated ted News? – indagou Jack. − Claro que tenho, senhor. − Ele pegou um jornal de trás do balcão. − Queremos dois exemplares − pediu Brian. − Três − emendaram os Garotões. − É de graça, Jack. − O senhor Caldwell estendeu o jornal ao batedor.
Ao lado do marido, Rebecca olhou para o jornal. Na primeira página havia um desenho de Injun Jack na Corrida do Dia da Independência. Ele se achava de pé nos estribos, a cabeça atirada para trás, o cabelo ondulando ao vento, enquanto Old Joe rompia a linha de chegada. Acima do desenho, o título dizia: Guerreiro das Planícies do Oeste Irmão de Sangue dos Chefes Indígenas Herói da Passagem Morgan Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Derward Anderson − grunhiu Jack. Pegando o exemplar de Brian, Flora leu em voz alta: − "Qualquer relato sobre o Oeste Indomado estaria lamentav lamentavelmente elmente incompleto sem uma menção aos intrépidos batedores que diariamente arriscam a vida na perseguição aos índios nas planícies, guiando as patrulhas militares com precisão e segurança. De particular interesse é o legendário Injun Jack Bellamy, batedor, desbravador e guia, que serve sob as ordens do coronel Edgar Quiller, no Forte Chamberlain, no Kansas. Esse arrojado Guerreiro das Planícies tem uma grande estatura e um comportamento nobre." − É mesmo o Jack, não há dúvida − aplaudiu Brian. − Vestido com uma elegância primitiva, ele adotou as roupas de couro de alce dos peles-vermelhas. Seu cabelo, comprido e preto, é uma glória que exalta sua irmandade com os índios. Rebecca ergueu os olhos para Jack, que lia em silêncio. Ele tinha o cenho cerrado e a mamhôula contraída, num sinal evidente de que estava enfurecido. − Embora tenha a aparência pitoresca, Injun Jack tem um comportamento altivo e se recusa a falar de seus feitos − leu Gerald sobre o ombro de Flora. − "Os boiadeiros de Santa Fé, Haskell e Schneider, enumeraram diversos exemplos de sua audácia e valentia, valentia, atestando sua habilidade tanto com o rifle quanto com o revólver." − Squint e Herman − bufou Jack baixinho. − Ah, ouçam isto − assanhou-se Flora. − "O senhor Haskell reviveu com detalhes o valor do batedor na passagem Morgan, onde ele deu provas de seu heroísmo ao enfrentar um ataque para resgatar r esgatar um homem ferido. Com o mortal revólver cuspindo fogo, ele galopou para a frente, escapando das flechas por um fio de cabelo. O fato de sua própria vida estar em perigo não o deteve. Seu único propósito era preservar a vida do soldado indefeso estirado no campo de batalha." − Ela observou o homem com os olhos muito abertos. − Jack, você é realmente um herói. − Eu pedi para o Anderson não fazer isso – ruminou alto o batedor. − Mas tudo o que ele escreveu a seu respeito é verdade − assegurou Brian. − E tão romântico − suspirou Amy, pulando para o fim do artigo. − Aqui ele fala de uma dama resgatada em meio a um estouro de uma manada de búfalos. Esta é você, Rebecca? − Não era um estouro − o casal respondeu em uníssono.
Selvagem em contraste com a dama, ele sucumbiu a sua graça e delicadeza
leu Amy
avidamente. − "O poderoso batedor e o delicado objeto de sua devoção eram um deleite para os olhos ao perambularem perambulare m por um campo de coloridas flores silvestres silvestres". ". Não é lindo? Pela primeira vez, Rebecca viu seu marido corar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Vamos embora − ele chamou em voz soturna. − Viemos para a inauguraçã inauguraçãoo do hotel e para jantar. − Acho que deve ser terrivelmente romântico ser resgatada de um perigo − Rebecca ouviu Amy dizer enquanto voltavam à rua. − Pode ser romântico, mas eu ainda prefiro que a minha amada nunca esteja em perigo − observou Francis em voz
baixa, pousando a mão na dela.
Amy olhou para longe, esquecida de seus modos afetados. A fama recém adquirida de Jack não lhe deu sossego. Ao que parecia, todo mundo na cidade queria apertar sua mão e dar-lhe tapinhas nas costas. As crianças seguiam seus passos e as garotas dos bares demoravam o olhar em sua silhueta. Quando seu grupo se reuniu à audiência dos discursos à porta do hotel, ele foi apresentado pelo reverendo Niles no pódio enfeitado. Quando a cerimônia se encerrou e depois de ter sido passado o chapéu para a construção da igreja, a tarde já ia bem adiantada e os Garotões já corriam o risco de morte por inanição. O único beneficio da notoriedade que Jack percebeu foi que seu grupo conseguisse entrar no salão de jantar do hotel à frente da multidão. O salão, elegante para os padrões da fronteira, tinha um bom número de mesas. Num primeiro momento, as conversas todas pareciam girar em tomo de dois únicos temas: os feitos de Injun Jack e o futuro de Chamberlain, e chegou um momento em que o vozerio tornou-se ensurdecedor. Quando a conversa em sua mesa converteu-se numa acirrada discussão a respeito da corte marcial de George Arrostrong Custer, Rebecca desviou a atenção para o burburinho ao redor. Ela ficara pouco à vontade por sentar-se entre Jack e Francis, mas o seu antigo pretendente havia mostrado os primeiros sinais de cordialidade, desde seus dias na lavanderia. Nesse momento, ela se surpreendeu quando ele lhe dirigiu algumas palavras em voz baixa: − Rebecca − começou ele muito sério -, acho que está na hora de deixarmos de lado aquele rancor entre nós.. − Não sinto nenhum rancor em relação a você, Francis− replicou ela. − Apenas sinto muito se o magoei. − Meu orgulho ficou ferido − admitiu ele, cofiando o bigode, pensativo. pensativo. − Mas depois comecei
a compreender como estivemos enganados em relação a nós dois... e o quanto você e Jack estão certos juntos. − E você fez mais alguma descoberta? − ela não resistiu a perguntar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Você está se referindo aos meus sentimentos em relação a Amy? − a expressão do rosto dele se abrandou. Está tão evidente assim? Ela é uma grande garota. Não sei por que não notei antes. Espero poder convencê-la a se tornar minha esposa. − Eu acho que você só precisa perguntar − assegurou-lhe Rebecca. Voltando-se para o marido, encontrou-o observando-a com ar protetor. − Está tudo bem? − ele indagou em seu ouvido. − Mais do que bem − ela sussurrou em resposta. − Aqui está seu jantar − a garçonete elegante os interrompeu, servindo o prato de Rebecca entre o casal. Com uma enorme travessa nas mãos, a moça serviu primeiro as damas, depois os cavalheiros. Deixando o batedor para o fim, ela se inclinou para ele. − Com vai indo, Jack? − Muito bem, Ruby. − Ele se afastou, dando espaço entre eles. − Você está com uma aparência ótima. − Ela lhe dirigiu um sorriso caloroso. − Você está ótima também... com seu avental e chapéu − ele respondeu pouco à vontade. − Não sabia que havia deixado seu... outro trabalho. − Elvira e eu nos separamos um mês atrás, mas eu tenho um quarto lá em cima no hotel − ela sussurrou em seu ouvido. − Se estiver livre esta noite... Drigindo um olhar desesperado para Rebecca, Jack defendeu-se. − Ruby, você já conhecia minha esposa? A garçonete se aprumou de um salto. − Eu... me desculpe − gaguejou. − Eu não sabia. Prazer em conhecê-la, senhora... − Bellamy − Rebecca pronunciou o nome comum sorriso − Senhora Jonathan Braithwaite Bellamy. − Jonathan Braithwaite − escoaram os oficiais, enquanto Ruby voltava apressada para o trabalho. − Você é um poço de surpresas, Jack. Jack levou o comentário na brincadeira até o fim do jantar. Sua afabilidade esvaiu-se, contudo, no momento em que o grupo deixou o hotel e ele ainda foi seguido, com as pessoas lhe acenando e cumprimentando. O grupo tornou-se silencioso durante a viagem de volta. Brian e Gerald conversavam em voz baixa. O
olhar de Francis repousava em Amy. A cabeça de Flora pendia enquanto ela cochilava. E Injun Jack, de má vontade o Guerreiro das Planícies do Oeste, cavalgava silenciosamente ao lado da carroça. Dentro, sua esposa o observava, os lábios curvados num sorriso de contentamento. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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DEZOITO
O céu exibia uma impressionante tonalidade de azul e o vento estava fresco, quando Jack e Rebecca galopavam de regresso através da pradaria. No oeste, avistava-se uma manada de búfalos, espalhada por mais de um quilômetro sobre as planícies ondulantes. Quando eles fizeram uma parada numa elevação para apreciar a vista, Jack apontou em silêncio. Rebecca seguiu na direção de seu olhar e observou Pele de Lobo e Dois Pássaros Brancos a alguma distância dali à margem do rio. Eles pareciam estar voltando de uma caçada, porque o guerreiro estava ajoelhado junto à água, lavando o sangue de suas mãos, enquanto a mulher segurava um espeto sobre o fogo. O vento que trazia o aroma do churrasco chegou até Jack e Rebecca aparentemente mascarou o ruído de sua aproximação. O batedor desmontou e avançou sem ruído por entre as altas macegas de grama. Quando se encontrava a uns cinco metros do casal, ele endireitou o corpo com um grito. − Se eu fosse um inimigo, vocês estariam mortos. Pele de Lobo o encarou sem surpresa. − Vimos você e sua mulher chegando, Jack Bellamy. respondeu ,0 índio, em inglês. − Sabíamos que não eram inimigos. E por isso que minha esposa está cozinhando o bastante para nós quatro. − Sua esposa? Minha irmã? − Jack sorriu em grande surpresa. − Você Vocêss se casa casara ram? m? − Com Com um sorr sorris isoo la larg rgo, o, Rebe Rebecc ccaa junt juntou ou-se -se a el eles es no pe pequ quen enoo acampamento. − Isso é maravilhoso! Com uma alegria evidente em seu rosto redondo, Dois Pássaros Brancos postou-se ao lado do marido. − Como vê, assim como aconteceu com você, meu coração escolheu bem − ela falou, cumprimentando os recém-chegados. recém-chegados. Juntas, as mulheres preparam uma refeição de codorniz com bolo de milho. Como era costume, Jack sentou-se com Pele de Lobo a um lado do fogo. Rebecca sentou-se com Dois Pássaros Brancos do outro lado. Quando terminaram de comer, o guerreiro recostou-se, com um brilho travesso nos olhos
escuros. − Agora que tenho uma esposa, descobri que gostei disse em sua língua nativa. − Talvez eu queira ter outra. Eu lhe ofereço quatro cavalos por Re-bec-ca, irmão. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Jack abanou a cabeça, rindo. − Ela não sabe tirar a pele de um búfalo. − Mas ela sabe fazer bons bolos de milho e deixa minha mulher feliz − argumentou Pele de Lobo com um sorriso. − Não resta dúvida que ela vale quatro cavalos. − Eu não a venderia nem por cem cavalos − declarou Jack. Os olhos de Rebecca encontraram amorosamen amorosamente te os seus por cima da fogueira. Ela não entendia sobre o que ele e Pele de Lobo conversavam, mas conhecia o tom de ternura da voz de seu marido. − Eu devo amar você de verdade, Reb. − Jack suspirou tragicamente, enquanto cavalg cavalgavam avam de volta ao Forte Chamberlain. − Eu disse a Pele de Lobo que não a venderia nem por uma centena de cavalos... justo quando estou pensando que devia começar uma fazenda de criação de cavalos. − Uma fazenda de criação de cavalos de verdade? Indagou ela, encantada com a idéia. − Bem, estou cansado de sair em patrulhas e deixar você sozinha. Estive pensando em me estabelecer num lugar que seja nosso. − Onde? − Não tenho certeza − replicou ele, pensativo. − Mas espero que você goste da pradaria e não apenas do Kansas, porque vamos precisar precisar de muit muitaa terra se pret pretendemos endemos cria criarr cavalos. − Aonde você for eu vou. − Eu tenho algUm dinheiro, mas precisamos de mais. Imagino que vou continuar como batedor até o outono. Estaremos prontos para começar na primavera. − Eu também tenho algum dinheiro guardado, você sabe − a esposa o informou. − Não é muito, mas é a metade do que você tem me dado, além do pagamento da lavanderia. − Esse dinheiro é seu, Reb. − E agora eu sei por que o venho guardando no busto de Benjamin Franklin. "Tostão guardado é tostão poupado". Você sabe − ela concluiu seriamente seriamente.. Jogando a cabeça para trás, Jack deu uma gargalhada. − Este é o meu anjo ianque... a Pensilvânia fala por si mesma. − Injun Jack! − o sentinela do portão principal cumprime cumprimentou-o ntou-o exasperado. − Temos novas ordens. O
coronel pediu que o mandasse diretamente ao seu gabinete assim que você voltasse. Vou mandar um homem para cuidar da montaria da senhora Bellamy. Os modos descontraídos do batedor desapareceram no mesmo instante, mas ele custou a voltar-se Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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conciliador para a esposa. − Não fique tão preocupada, Reb. Estarei em casa o mais rápido possível. Rebecca lutava contra as lágrimas, enquanto Jack cavalgava com a cavalaria na manhã seguinte. A patrulha tinha ordens de localizar localizar as tribos em estado de guerra que se recusavam a aceitar aceitar o tratado de paz e escoltá-las para Suas reservas. O humor estava sombrio quando partiram, pois não havia dúvida de que as companhiass teriam de guerrear. companhia Depois da partida, a vida no forte retornou ao estado de expectativa conhecido. As mulheres voltaram às suas tarefas com um pressentimento. pressentimento. Apesar de agora ser mais aceita pelas esposas dos oficiais, Rebecca mantinha-se no aloja. mento dos batedores, à espera de notícias do marido, alegrando-se quando chegava alguma correspondência pelos mensageiros. Num nublado dia de outono, quando ela voltava para casa vindo do posto comercial, uma voz diferente chamou-a chamou-a por entre o ruído de rodas de carroça. − Olá, Reb! Como vai? Não encontrei galinhas, mas trouxe algumas sementes. Parando em frente à varanda, ela viu um par de carroças
na rua e reconheceu uma delas de imediato.
− Mal! Seja bem-vindo! − Você não vai acreditar no que eu trouxe − o condutor gritou. − Vim correndo pelo caminho direto até a sua porta. − O rosto iluminado de ansiedade, ele dirigiu seu animal para a casa. A outra carroça, velha e decrépita, seguiu atrás. Rebecca examinou-a com cuidado, ficando tensa ao reconhecer seu condutor. − Lyle − exclamou incrédula, quando as carroças pararam em frente à casa. Ela permaneceu com a testa franzida, enquanto o homem atarracado saltava para o chão. Sem um sorriso, nem um brilho de amizade em seus olhos cinzentos, Lyle Hope apresentou-se ao pé dos degraus. − Irmã. − Olá, Lyle. − Ela inclinou a cabeça friamente. – O que faz tão longe de casa? − Perdi a fazenda, graças a você − respondeu ele conciso. E concluiu em um tom venenoso: − E gastei meus últimos centavos me aventurando para o oeste... para começar uma vida nova, como você gostava de dizer. Malachi olhava de um para outro, preocupado. Não era aquilo que esperava quando encontrara e
trouxera até Rebecca o parente que ela não via há tanto tempo. Não gostara muito de Lyle, mas pensara que a irmã gostaria de vê-lo. − Por que não entramos? − convidou Rebecca aos dois homens. . Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Você certamente conseguiu uma nova vida para si mesma, não é? − observou Lyle com inveja, enquanto olhava pela sala. − Não esperava encontrar tais acomodações. − A casa é bonita, não é? − ela indagou com vivacidade, acendendo o fogo da lareira. − Por favor, sentem-se vocês dois. Vou buscar um café para aquecê-los. Tem um bule no fogão. − Gostaria muito de ficar, Reb − falou Malachi, pouco à vontade -, mas preciso levar minhas parelhas ao estábulo. Senhor Hope, devia fazer o mesmo. Não é bom para as mulas se resfriarem. Lyle fuzilou-o com o olhar, com uma expressão ressentida. Num instante, sorria outra vez para o condutor. − Eu sei que preciso zelar por elas, mas preciso ter uma conversa com minha irmã. Pode ir andando. Eu acharei o caminho para o pátio das carroças quando chegar o momento. − Terei prazer em esperar um pouquinho − ofereceu-se Malachi, prestativo. − Vou lhe mostrar como conseguir um quarto no alojamento dos hóspedes. − Tenho certeza de que Becky não espera que seu próprio irmão fique num alojamento, quando tem uma casa tão confortável − declarou Lyle. Rebecca abriu a boca para protestar, mas o antigo senso de dever, instilado pelos homens da família Hope em sua consciência ao longos danos, falou mais alto. − Você pode ficar esta noite, Lyle − ela murmurou. − Eu sabia que você não me abandonaria. − O triunfo brilhava em seus olhos cinzentos, quando ele apressou o condutor de mulas para a saída. − Você foi muito útil. Deixe-me acompanhá-lo até sua carroça. Rebecca vislumbrou a expressão servil e contrita do irmão quando ele retomou após fechar a porta. Indo até a cozinha, ela serviu duas xícaras de café e tentou se recompor. Ela era uma mulher casada em sua própria casa, compenetrou− se. Lyle não tinha o direito de censurá-la por nada. Ele poderia se queixar ou criticar, mas o que ele pensasse ou dissesse não tinha a menor importância em sua vida. − Algumas coisas não podem ser ditas na frente de estranhos − falou o meio-irmão atrás dela. − Talvez você possa explicar seu comportamento vergonhoso. Primeiro você se evade com um soldado, depois torna a se casar a apenas alguns meses depois da morte dele. − Não lhe devo nenhuma explicação − ela respondeu em voz neutra. − Não me deve? − ele repetiu incrédulo. − Você me deve sim, irmã, e principalmente por ter-se
esquivado dos deveres de família. família. Você é uma desgraça para o nome Hope. − Então é uma boa coisa que eu não use mais o nome Hope. − Engolindo a raiva com dificuldade, ela estendeu-lhe a xícara de café, preparada da maneira como ele gostava. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Ao bebê-lo, ele fez uma careta. − Está muito forte. Precisa de mais leite. Sem uma palavra, ela apontou para um pequeno bule sobre a mesa. Levando sua xícara para a sala, ela o deixou preparando seu próprio café. Lyle saiu da cozinha, tenso de indignação, e se posicionou em frente à lareira. − Estou planejando construir uma casa e me estabelecer aqui − anunciou ele. − E para isso dependo de sua ajuda. − Não posso ajudá-lo. Não entendo nada de construção. construção. − Pode ajudar de outras maneiras − contrapôs ele. − Tal como com dinheiro? − ela arriscou, tendo quase certeza da resposta. − Não lhe daria nem se tivesse. Você não disse uma palavra de agradecimento pelo dinheiro que lhe mandei. Um dinheiro que me fez muita falta. − Um dinheiro de que você não precisaria, se não tivesse ido embora − acusou ele. − Eu poderia ter mantido nossa fazenda... − Sua fazenda − corrigiu ela. Ele olhou-a com a testa franzida. − Acaso não lhe dava um teto sobre a cabeça e comida para se sustentar? − Eu não trabalhava... Abruptamente, Abruptament e, ele ergueu a mão num gesto conciliador. − Vamos conversar mais tarde, Becky. Agora preciso levar minhas parelhas ao estábulo. Embora Lyle não parecesse mudado, sua saída amena não condizia com ele. Rebecca ficou pensando enquanto descascava batatas para o jantar. Em sua última carta para ele, antes de ter-se casado com Jack, colocara no papel seus sentiment sentimentos os verdadeiros. Dissera-lhe que estava cansada de ser comandada. comandada. Será que ele assimilara e aceitara sua opinião? A porta da frente se abriu e ele entrou, pondo sua mala ao lado da porta da frente. − Está ficando frio lá fora − ele estremeceu indo para a cozinha. − Sobrou algum café? Ela indicou com a cabeça o bule sobre o fogão, sem querer acorrer ao irmão como costumava fazer.
Com a testa franzida, ele serviu-se uma xícara, mas não a censurou como ela esperava. − Conte-me sobre seu novo marido, Becky − pediu ele, sentando-se do outro lado da mesa, em frente a ela. − Você não me contou em sua carta que ele era o famoso Injun Jack Bellamy. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Nós não sabíamos que ele era famoso. − Ela procurou se concentrar na tarefa, quando derrubou uma casca na tigela. − Ele é o herói de todos os estudantes estudantes do Leste neste momento − comentou Lyle animado animado.. − Você leu o artigo no Illustra Illustrated ted News? − Nós lemos. − Ele fez aquilo tudo que estava escrito ali? Rebecca viu-se reproduzindo o ar reticente do marido. -Jack é um batedor do exército e faz seu trabalho direito. − Tenho certeza de que faz. − Lyle girou a xícara para esfriar o café. − Quer dizer que no momento ele está fora, numa missão. Ela inclinou a cabeça, concordando. Brincando com a colher, ele observou-a pensativo. − Sei que os batedores ganham muito bem, mais até que os generais. Ela olhou de viés para o meio-irmão. − Eu não vou pedir dinheiro a ele para você, Lyle. − Então peça para usar sua influência. Ela parou com a faca no ar. − Do que é que você está falando? − Eu preciso de um pedaço de terra, um bom pedaço. − Existe uma porção de terra a ser ocupada − ela retrucou. − Preencha uma requisiçã requisição. o. − Mas Injun Jack é um homem importa importante. nte. Ele pode garanti garantirr que eu ten tenha ha a melh melhor or terra terra.. Ele pode conseguir crédito para mim − ele insistiu. − Quem sabe até um contrato com os militares. Ela o observou sobre a batata que estava descascando. − Foi por isso que você veio aqui? Porque pensou que Jack lhe arrumaria uma fazenda nova? − Não é pedir muito da família. − Lyle recostou-se na cadeira, de mau humor. − Você não é da família dele. − Sou, por seu casamento, e tenho mais direito sobre ele que seus "irmãos índios". Ou será que você se
casou com um completo selvagem que não tem consciência de suas obrigações familiares? Empurrando a cadeira para trás, ela se levantou, com a faca na mão. − Escute-me bem, Lyle Hope − declarou. − Jack não tem nenhuma obrigação em relação a você. E, Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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enquanto estiver nesta casa, nunca mais vai se referir a ele como um selvagem outra vez. Ele corou de raiva. − Branco ou selvagem, eu aposto que ele não permite que você lhe fale nesse tom. Nenhum homem permitiria. Eu sei que eu não poderia suportar. − Levantando-se da cadeira, ele apoiou as mãos na mesa e inclinou-se para ela. − Se eu ouvir você usar esse tom outra vez, Becky, eu vou lhe dar umas lições de civilidade. − Nem mesmo pense nisso − ela o advertiu, enfiando a faca na mesa no espaço entre as mãos dele. Lyle abriu e fechou a boca. Piscando muito, ele olhou
para a faca estupefato.
Recolhendo-a Recolhendo -a com um repelão, ela disse em voz baixa: − Se tem uma coisa que aprendi desde que cheguei no oeste, foi saber me defender. − Você não mataria seu próprio irmão − protestou ele.
− Não, eu provavelmente o deixaria aleijado. − Sentando-se, ela pegou outra batata e começou a descascá-la. O pomo-de-adão dele desceu e subiu enquanto ele engolia em seco. − Estou cansado − ele murmurou. − Acho que vou me deitar. − Seu quarto é o da direita. Eu lhe chamo quando o jantar estiver pronto avisou Rebecca gentilmente. No momento em que ele foi para o quarto, ela esticou a mão para o buraco que havia aberto na mesa com a faca. Nunca fizera uma coisa dessas na vida, mas a tática de Jack funcionava. E parecia ter mais efeito em Lyle que sobre ela no hospital, tempos atrás. Sentia apenas que tivesse de danificar sua toalha de mesa para impor sua opinião. − Mas quando ele vai embora? − indagou Flora, quando as duas se encontraram na varanda. − Eu não sei. − Rebecca suspirou. − Ele vive dando desculpas para não ir embora. Primeiro as rodas tinham de ser consertadas... todas elas. Depois uma de suas mulas ficou doente. Agora ele está de cama, insistindo que pegou uma gripe quando eu o levei para visitar o túmulo de Paul no domingo. − Então é tudo culpa sua − a amiga conclui concluiu. u. − E nesse meio tempo ele fica tirando vantage vantagem m de você. Aposto que nem se ofereceu a buscar um balde de água ou para comprar um saco de feijão.
− Eu também não posso pô-lo para fora de casa... pelo menos enquanto ele estiver doente − disse ela encolhendo os ombros. − Além do mais, ele é da família. − Eu sei. − Flora suspirou também. − Sinto muito, Reb. Eu não deveria dizer isso, mas seu meio-irmão Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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não é uma boa pessoa. Nem mesmo Teddy gosta dele, e olhe que Teddy gosta de todo mundo. − Lyle o insultou − murmurou Rebecca. − Ele insultou metade das pessoas do Forte Chamberlatn. Ele nunca faz um comentário agradável? − Geralmente, não. − E duro ver como ele trata você − comentou a amiga. − Acho que o que mais o irrita é que sua desaprovação não me incomoda mais − confidenciou-lhe Rebecca com um sorriso. − É que você foi criticad criticadaa por especial especialistas. istas. − Flora deu
uma risada. − Você deveria apresentá-lo à
senhora Little. − Ela está mais cordial nestes últimos dias, obrigada. − Graç Graças as a Wi Will llaa e Am Amy. y. Eu não não te tenh nhoo saíd saídoo mu muit itoo ulti ultima mame ment nte. e. − Flor Floraa ba bate teuu na ba barr rrig igaa significativamente. − Fico contente que tenha vindo me visitar. − E eu estou contente também, mas agora eu preciso ir para casa. − Rebecca olhou para seu relógio. − Lyle não tem lhe dado ordens, não é, Rebecca? cobrou Flora. − Ele tenta, às vezes, especialmente quando bebe admitiu Rebecca com um suspiro. − Mas eu não permito. Fico insegura porque nunca discuti com ele antes. Mas, a cada vez que o enfrento, sinto que perco um pouco mais o controle. − Bem, acho que já é alguma coisa. − A amiga sorriu. Rebecca inclinou-se para beijar a face da amiga. − Não se preocupe, Flora. Sei cuidar de mim mesma... e de Lyle. Espero curar essa gripe logo para que ele tenha ido embora quando Jack voltar. Poucos minutos mais tarde, ela encontrou Teddy saindo de sua casa, com uma expressão de desagrado no rosto. − O que aconteceu, Teddy? − ela perguntou, detendo-o na varanda. − Uma das mulas de seu irmão morreu, outra está doente e ele não pagou pela forragem dos animais − informou Teddy, sombrio. − Ele diz que não tem muito dinheiro e que não vai gastar com as mulas. − O rapaz abanou a cabeça exasperado. − Ele não parece entender que sem uma parelha saudável estará arruinado no campo.
− O que ele se propôs a fazer? − Soltá-las para pastar, mas acontece que não tem grama suficiente. Elas vão morrer antes do inverno chegar. Depois de um instante, ela falou em voz baixa. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Dê a elas a ração básica. Só não conte para ele que estou pagando. − Não, Reb... − Sim, Teddy − ela cortou-o, decidida. − Sem as mulas ele não poderá se estabelecer. Eu quero que ele encontre um lugar por conta própria. Esparramado no sofá da sala, Lyle bebia um copo de leite e sorriu ao ouviu− a conversa. Ele sabia que Becky devia ter algum dinheiro, pensou com cinismo. Ele só precisava tomar dela.
DEZENOVE -Vá pegar sua arma, Becky. − Trêmulo e pálido, Lyle gesticulou para ela da porta da cozinha. − Tem um índio aí na frente. − Um índio? − Rebecca levantou os olhos do feijão. − Um índio selvagem − confirmou ele, obviamente amedrontado ao voltar correndo da varanda. − Espero que consiga acertá-lo como fez com aquelas garrafas, segundo Teddy me contou. − Índios não chegam pela porta da frente, Lyle – ela lhe falou irritada, a caminho da sala. Nesse momento a porta se abriu e uma silhueta alta, de
ombros largos em roupas de couro de alce
entrou na sala. − Reb − ele chamou. − Jack! − O rosto de Rebecca se iluminou. − Você voltou para casa. Lyle observou, perplexo, a irmã se atirar nos braços marrons do homem e ser levantada do chão para ser beijada. Com os braços ao redor do pescoço dele, ela retribuía seus beijos com fervor. − Graças a Deus que você está bem. Não escutei a patrulha chegar. − Eu e Davis cavalgamos à frente para dar a notícia. − A voz grossa de Jack soava abafada contra os cabelos dela. De olhos fechados, fechados, ele a abraçava com desejo, sentindo todo o seu corpo. − George está com o
coronel agora. Eu também tenho de ir, mas só queria que soubesse que estou de volta. Lyle limpou a garganta, interrompendo o reencontro festivo. Lembrando-se de sua presença, Rebecca afrouxou o abraço e deu um passo atrás. Jack abriu os olhos e encarou o estranho com as sobrancelhas Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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franzidas. − Jack, este é o meu meio-irmão, Lyle Rope − ela disse com Simplicidade. − Lyle, este é o meu marido, Jack Bellamy. Os dois homens se entreolharam com cautela. Os olhos de Lyle eram apagados como os de um peixe morto, concluiu o batedor, e a mão que ele oferecera não tinha vida. Ainda assim, ele era um parente de Rebecca. − Prazer em conhecê-lo, Lyle − disse tão amistosamente quanto possível. Sua visita sorriu sem sinceridad sinceridade. e. − É um prazer conhecer o famoso Injun Jack. Eu poderia tê-lo rreconheci econhecido do por seus retratos, mas você ainda me assustou um pouco. Eu pensei que você era um... − Lyle está nos visitando há uns dias até conseguir uma terra por petição − interrompeu-o Rebecca. − Compreendo − respondeu Jack com um olhar preocupado para ela. Por que ela estava nervosa? Porque o meio-irmão estivera a ponto de dizer que seu marido parecia um selvagem? Ele não precisara pronunciar a palavra. Estava evidente em seu rosto pálido. − Onde pretende se estabelecer? − ele se forçou a indagar ao homem com gentileza. − Pensei que pudesse me ajudar com isso, já que conhece o território − replicou Lyle, sem perder tempo com subterfúgios. − E também porque é bem conhecido na região. Vou querer o que há de melhor, claro. Pretendo ter uma fazenda maior e melhor que a que tinha na Pensilvânia. − Compreendo − falou Jack de novo. − Não acho que possa ajudá-lo. Não sei nada de agricultura. O desprazer cruzou como uma sombra pelos olhos de Lyle, mas ele inclinou a cabeça friamente. − Podemos conversar a respeito mais tarde. Gostaria de ouvir mais a respeito de suas aventuras também. Lamentando-se interiormente com a proposta, Jack inclinou a cabeça sem se comprometer e levou a esposa para a varanda. − Estarei de volta o mais rápido possível. O meio-irmão os seguiu. − Nos veremos mais tarde − falou ele da varanda, como se fosse ele o anfitrião e Jack o hóspede.
− Eu verei você mais tarde − o batedor declarou, ao se inclinar para beijar a esposa no rosto. − Acho que precisamos conversar. − Também acho − ela sussurrou tristemente. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Rebecca não tornou a ver o marido até que toda a patrulha chegasse, horas mais tarde. Ouvindo o galope da cavalaria, ela levou Lyle para assistir à chegada. Seu meio-irmão parecia fascinado pelo ritual do retorno. Como sempre, eles se perfilaram perante a bandeira. O coronel Quiller desceu de seu gabinete para dispensar os praças. Então os oficiais e batedores reuniram-se em torno dele para uma breve conversa. − Alto! − O sentinel sentinelaa gritou e os olhos de todos se dirigiram para o portão principal. principal. − Eu disse alto! Ele atirou para o ar enquanto um homem grande, vestido com roupa rústica, galopou para dentro do forte e parou ao lado do mastro da bandeira. − Índios! − o homem gritou. Saltando da sela, ele se apresentou ao coronel Quiller e estendeu-lhe uma flecha na mão. − Uma tribo inteira deles atacou nossa fazenda. Pegando o projétil, o coronel o examinou e o estendeu a Jack sem uma palavra. O batedor ergueu as sobrancelhas sobrancel has surpreso. − Por que vocês ainda estão parados? − cobrou o homem, fuzilando-os com o olhar. − O que pretendem fazer a respeito disso? O coronel ergueu a mão pedindo silêncio. − Vamos primeiro descobrir o que aconteceu, senhor... − Phillips − respondeu o homem, ainda resfolegando pela cavalgada. − E eu lhes disse tudo o que aconteceu. − Onde fica esse assentamento. − Do outro lado do rio, um pouco ao norte da ferrovia. − Ali é terra dos índios − observou Jack. − A terra é minha e dos meus irmãos − o fazendeiro protestou. Enfiand Enfiandoo a mão no bolso, ele informou o comandante. − Eu tenho papéis para provar. O coronel Quiller examinou as páginas amassadas que o homem lhe entregara e abanou a cabeça com tristeza. − Lamento, mas isto não é um requerimento de posse, senhor Phillip Phillips. s. − Não, é um recibo de venda. O senhor Franklin Wright, presidente da Companhia Imobiliária Excelsior, Excelsio r, está para entrar com uma petição em nosso nome. Ele já deve ter dado entrada... − Acredito que não verá seu documento de posse nem seu dinheiro, senhor − declarou Jack. − Aquelas terras nunca estiveram à venda.
− Fique fora de coisas que você não entende, entende, índio ameaçou Phill Phillips, ips, sem nem sequer olhar para ele. O batedor estreitou os olhos e sua mandíbula se apertou mas, antes que desse uma resposta, o coronel interpôs-se. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Preciso que vá até o acampamento kickapoo, Jack, mas quero entender tudo muito bem antes. O senhor disse que foi atacado, senhor Phillips? − Quantas vezes eu tenho de lhe dizer? − retrucou o homem. − Os malditos selvagens caíram sobre nós em plena luz do dia. Não perdemos tempo atirando quando vimos que eles vinham vindo, mas eles lançaram aquela flecha em minha carroça. Havia uns cinqüenta ou sessenta deles. Nós poderíamos ter sido mortos. − Os kickapoo kickapooss são pacíficos, coronel, e não são nem cinqüenta guerreiros − exclamou Jack. − Parece que eles
queriam mais afastar os brancos de suas terras.
− Estou inclinado a acreditar − falou o coronel. − Eu lhe disse − protestou o homem. − Não é a terra deles. − E com certeza não é sua − Afirmou Jack friamente friamente,,
seguindo nnaa direção do estábulo estábulo para sela selar r
seu cavalo. O fazendeiro estava com o rosto transtornado de raiva. − Vamos ver quem é que está certo − resmungou o homem, inclinando-se inclinando-se para o estojo ao lado da sela.. Antes que ele pudesse pegar o rifle de lá, Jack virou-se, com o revólver apontado para a cabeça do homem. − Eu poderi poderiaa mat matá-l á-loo ago agora, ra, se quise quisesse sse − advert advertiu iu per perig igosa osamen mente te.. − E pou poupar par aos "mald "maldit itos os selvagens" o trabalho de fazê-lo. − Senhor Phillips, afaste-se dessa arma − ordenou o coronel Quiller, em voz de comando. − Injun Jack, guarde
o revólver. − Injun Jack? − empalidecendo, o fazendeiro obedeceu. − Vou mandar uma escolta para trazer sua família com segurança do forte esta noite − ofereceu
o coronel. − Talvez amanhã você possa ir ao escritório de petições em Chamberlain em busca de sua terra. − Nós já temos terra, comprada e paga. E vamos ficar nela − declarou Phillips, montando o cavalo. Ele olhou para o batedor com um ar hostil. − Não me importa que você seja Injun Jack. Se tentar nos deter, vai ter de lutar conosco.
Antes uma luta que um tiro pelas costas retrucou Jack. De braços cruzados no peito, ele observou Phillips cavalgar para fora do forte. − Você viu isso?! − exclamou Lyle, apontando para o alto batedor. − Nunca vi ninguém sacar uma arma tão rápido em toda a minha vida. Você se casou com um homem muito perigoso, irmã. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Apenas para seus inimigos − assegurou ela, soltando um longo suspiro entrecortado. As impressões de seu novo cunhado − batedor selvagem, marido carinhoso, atirador mortal − ficaram gravadas no cérebro do homem. Embora ele tivesse acabado de conhecê-lo, uma coisa era certa: não seria bom ter Jack Bellamy como adversário. − Traga um pouco mais de lenha, Becky − gritou Lyle.− Quer que eu morra de frio? − Ela está cozinhando − respondeu Jack. − Vá buscara lenha você mesmo. Na sala, Lyle ficou quieto. Pensara que Jack tivesse saído. Indo até a cozinha, ele sorriu sem graça para o cunhado. − Desculpe, não sabia que ela estava ocupada. Rebecca esperou que o meio-irmão tivesse saído até o monte de lenha. − Não precisa me defender, Jack − advertiu. – Eu posso enfrentá-lo sozinha. Inclinado sobre a mesa ao lado dela, o marido franziu a testa. − Você disse que o convenceria a sair três dias atrás. E ele ainda está aqui. − Só porque o tempo piorou. − Uma chuvinha não é mau tempo. A neve, sim. E vai nevar logo, logo. Para onde ele irá? Ela engoliu a resposta no momento em que Lyle voltou, carregando duas achas de lenha. − Eu também quero que ele se vá − disse em voz baixa quando ficaram sozinhos depois. − Mas não posso expulsar um parente. Acostumado com o argumento, o batedor rolou os olhos para o alto. − Família é alguém que a ama e é bom com você, Reb,
não alguém qque ue só se lamenta, lamenta, criti critica ca e usa
você. − Eu sei. Ela olhou para o marido, sem argumentos. Não queria discutir, mas gostaria que ele entendesse. Em Lyle, ela via o garoto sem alegrias que trabalhara duro e agüentara o abuso do pai. Quando eles eram crianças, ele a procurava para desabafar, mas em algum momento ele desistira de amar, de se preocupar com
os outros. − Não tente desculpá-lo − reclamou Jack. − Eu sei que ele teve uma vida difícil. Mas em algum momento da vida ele tem de ser responsável por suas próprias ações. Você é... e cresceu na mesma casa. Na sala, Lyle fez um esfo esforço rço para ouvi ouvir. r. Os murmúrio murmúrioss na cozinh cozinhaa não eram nada favoráveis favoráveis a ele. ele. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Esperando evitar um confronto por mais tempo, ele pegou seu casaco e o vestiu. O tempo estava correndo, pensou enquanto caminhava para o estábulo, e ele ainda não descobrira como tirar vantagem de sua situação. Injun Jack era apenas parte do problema. Rebecca havia mudado. Ele mal conhecia a mulher compenetrada e determinada em que ela havia se tornado. Tudo o que ele pedia era uma pequena ajuda e ela não dera. Ela nem sequer interviera em seu favor com o marido de pele escura. Lyle se comportava com candura na presença de Jack, embora soubesse que o cunhado não merecia Becky. Ela cozinhava, cuidava da limpeza, lavava e costurava suas roupas. Ainda assim, quando aparecia uma proposta de uma empresa de publicidade para comprar a história de sua vida, o batedor havia se negado, recusando dinheiro que poderia trazer mais conforto para ela. O que era pior era que ela concordara com o marido. Ela pensava que a privacidade de Jack valia mais do que os meios de ajudar seu próprio irmão. Ela aparentemente se esquecera de que tinha deveres familiares a cumprir. Era culpa dela por ele ter perdido a fazenda. De uma maneira ou de outra, ela teria de acertar essas contas com ele. Um pouco mais tarde, quando Jack saiu de casa a caminho do comando, sua atenção foi atraída para quatro cavaleiros desmontando em frente à casa da guarda. Reconhecendo um semblante familiar, ele cruzou o pátio na direção deles, mas antes que pudesse cumprimentar o reverendo Niles, o pastor, acompanhado por dois homens usando estrela no peito, estava sendo levado para a cadeia. − O que está acontecendo? − indagou ele ao delegado, que ficara cuidando dos cavalos. − Trouxemos um prisioneiro para a casa da guarda. Chamberlain ainda não tem uma cadeia própria. − Um prisioneiro prisioneiro?? O reverendo Niles? − surpreendeu-se Jack aborrecido. O homem deu uma risada debochada. − Se ele é um reverendo, eu sou o rei da Prússia. Trata-se de Bilk Barnett. Ele se apresenta numa cidadezinha cidadezi nha como pastor e começa a dizer que vai construir uma igreja. Depois que todo mundo contribuiu, ele desaparece com os fundos. − Mas ele tem rezado a missa nos últimos três meses em Chamberlain − protestou Jack. − Ele tem casado e enterrado as pessoas. − Ele interpreta muito bem − disse o delegado, quase com respeito. − Imagino que os que ele enterrou
continuarão lá. Mas se souber de alguém que ele casou, é melhor avisar. − Vou fazer isso − o batedor concordou sério, voltando para casa. Rebecca estava arrumando sua grande cama quando Jack chegou. Seu sorriso de prazer se esvaneceu Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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ao ver a expressão sombria do rosto dele. − O que foi que aconteceu, Jack? − Preciso conversar com você. − Fechando a porta, ele a fez sentar-se na cama e relatou o acontecido. acontecido. − Quer dizer que não estamos casados de verdade? exclamou ela. − Durante todo este tempo... − Durante todo este tempo, temos sido casados como qualquer outra pessoa − respondeu ele com voz rouca. Fizemos os nosso votos diante de Deus e das testemunhas. − Não posso acreditar. − Ela abanou a cabeça, como se quisesse clarear os pensamentos. − E agora, o que vamos fazer? − Não vamos fazer nada ainda. − Jack ajoelhou-se na frente dela e olhou-a nos olhos. − Você é minha esposa, Rebecca, e eu sou seu marido. Nada muda isso. − Não − ela murmurou. − Mas as pessoas estavam acostumadas com a idéia de que estávamos casados... e de repente não estamos. − Se eles fofocarem, que fofoquem. Já passamos por isso antes. Eu lhe prometo que vamos nos casar de novo assim que encontrarmos um pastor de verdade. − Tem certeza de que quer se casar comigo de novo? Ela ajeitou-lhe uma mecha de cabelo com um sorriso. − Seremos então duplamente casados − ele murmurou. Pegando-a nos braços, ele se juntou a ela na cama. Do outro lado da porta, Lyle sorriu de satisfação. Que sorte ele ter retomado ao mesmo tempo que o cunhado. Não ouvira todas as palavras da conversa, mas entendera o essencial. Voltando à porta da frente, ele a abriu e fechou com um ruído, para alertar o casal de sua presença. Então foi para a cozinha servir-se uma xícara de café e pensar a respeito do que acabara de escutar. Uma rápida busca na casa durante a ausência de Rebecca não lhe rendera nenhum dinheiro. Ele planejara tentar outra vez naquele dia, enquanto ela estivesse no hospital, mas parecia haver um caminho mais fácil para o que ele queria. − Vocês dois querem café? − chamou da cozinha, quando o casal saiu do quarto, de mãos dadas. − Está frio lá fora.
frente dele.
− Mas está claro. Tempo bom para viajar − volveu Jack significativamente, sentando-se à Lyle ia responder, mas as batidas na porta o interromperam.
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− Re-bec-ca − Pele de Lobo cumprimentou-a com um inclinar de cabeça muito digno e entrou imediatamente para perto do fogão para se aquecer. Atrás dele, Lyle levantou-se da cadeira e recuou, os olhos arregalados de medo. − Quer tomar um café, Pele de Lobo? − a anfitriã ofereceu. − Não. − De costas para o quarto, o guerreiro virou-se para encarar Jack. − Eu vim para falar com seu chefe Quiller, meu irmão. Homens brancos que carregam grandes facas para cortar a terra acamparam em nosso campo de caça. Eles atiraram quando nos aproximamos. Sem conversar, não podemos dizer a eles que a terra pertence aos búfalos e a nós. Ele se voltou, franzindo a testa quando viu o homem
atarracado e pouco familiar familiar com os olhos
arregalados. − Quem é este? − E o irmão de Rebecca, Lyle Hope − informou Jack. − Lyle, este é o meu irmão, Pele de Lobo. O guerreiro cumprimentou-o com um inclinar de cabeça, recebendo o mesmo em resposta. Mas o medo e a animosidade brilhavam nos turbulentos olhos acinzentados do homem branco. Voltando a atenção para Jack, Pele de Lobo pediu: − Você vem comigo para lembrar a seu chefe o tratado que meu povo assinou? Você vai dizer a ele que aqueles fazendeiros têm de partir? − Eu vou dizer a ele − prometeu o batedor. − Mas não sei ser vai adiantar. Os brancos querem esta terra e vão consegui-la. Talvez nem o coronel possa ajudá-lo. − Devemos tentar − falou Pele de Lobo, tristemente. − Mesmo se nos unirmos aos sioux e cheyennes, não poderemos com os brancos, que são muito mais numerosos. Jack e Pele de Lobo mal haviam saído e fechado a porta e Lyle correu para junto da irmã. − Ao longo da estrada de Santa Fé, eu temi ser atacado durante o sono. E agora que estou aqui descubro que você deixa os índios entrarem em sua casa. Não estamos seguros nem aqui dentro do forte. − Você está seguro, Lyle. − Ela suspirou, pondo o casaco. − Você vai ao hospital? Eu vou com você −
ele se ofereceu inesperadamente. − Fica no meu caminho para o estábulo. − Para onde você vai? − indagou Rebecca, enquanto caminhavam pelo pátio. − Para o escritório de petições de terra em Chamberlain. Se a terra dos índios está disponível, vale a Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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pena dar uma olhada. Poderemos ser quase vizinhos. − A terra de Pele de Lobo não está disponível − protestou ela, chocada com a idéia. − Aqueles fazendeiros estão invadindo. − Eu já esperava que você e aquele seu amante índio se sentissem assim − falou Lyle com malícia. − Você está se referindo a meu marido, que permitiu que você comesse sua comida e dormisse no calor de nossa casa? − indagou ela, tensa. − Não espero que agradeça, mas não admito que nos insulte. Ele apertou os lábios. − Eu não estaria aqui afinal de contas, se você... − Eu não sou responsável pelo que você e seu pai fizeram com aquela terra, Lyle − ela explodiu. − Não é minha culpa se você tomou empréstimos sobre as colheitas também. E não sou o motivo por você ter perdido a fazenda. Pare de me culpar e vá cuidar da sua nova vida. Dizendo isso, ela afastou-se em direção à enfermaria, deixando o meio-irmão perplexo demais para reagir, perplexo perplexo demais demais para responde responder. r. Lyle não retomou à casa até quase o anoitec anoitecer. er. Encontrando Rebecca na cozinha, preparando o jantar, ele parou Junto dela, aquecendo-se junto ao fogão.
Ela o observou na, defensiva, esperando uma reação depois da conversa que tiveram antes. Mas ele não disse nada enquanto permaneceu ao lado dela, recendendo a álcool. − Sabe o que eu descobri hoje? − ele indagou por fim. − O quê? − Ela desviou os olhos do fogão, onde cozinhava uma carne. − Que a terra dos kickapoo ainda não está disponível, mas que existem diversas fazendas abandonadas na pradaria que poderiam ser tomadas. Eu teria de construir uma casa ou
morar na minha carroça. Eu
poderia mudar imediata imediatamente. mente. − Você encontrou uma? − Ouvi falar sobre uma que parece promissora – disse ele vagamente. − Mas tem um problema, Becky... − E qual é?
− Preciso de dinheiro. − Para quê? − Para fazer o pagamento da entrada. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Eu pensei que você tivesse esse dinheiro. − Eu tinha. − Ele não a olhava de frente. − Mas eu perdi. − Perdeu? Como? − Jogando baralho − murmurou ele. Ela abanou a cabeça. − Nunca soube que você jogava. − E não jogo − Afirmou ele rapidamente. − Não foi minha culpa. − Não é sua culpa? − surpreendeu-se ela. − E é culpa de quem? − Pensei que era uma coisa segura − ele se defendeu. − Acho que me trapacearam. De qualquer modo, imaginei que não seria muito para você me dar o dinheiro da entrada
e me ajudar a começar.
− Imaginou errado. − Você tem de me ajudar. Você me deve. − Eu já paguei mais do que devia em relação a qualquer tipo de gratidão que pudesse ter com você, Lyle, e você sabe disso. − Você apenas fez o que devia em relação à família objetou ele. − E eu suponho que estou fazendo o que devo em relação a suas mulas agora? − indagou ela, friamente. − Tenho sustentado a alimentação delas e a sua. E o Jack não está feliz com isso. − Eu sei de outra coisa pela qual Jack não ficaria feliz também − falou Lyle com sarcasmo. − E se as pessoas descobrissem descobrissem que você e ele não são casados de verdade? Eu deveria ganhar alguma coisa para não dizer o que sei. − Você está se referindo ao reverendo Niles? – indagou
ela, incrédula.
− Isso mesmo. − Ele lhe dirigiu um sorriso triunfante. − Pobre Lyle. − Ela caiu numa sonora gargalhada. Pela manhã a notícia já terá corrido por todo o forte, se éque já não correu. Diga o que quiser a quem quer que seja. Eu não vou lhe dar um centavo. − Não ria de mim. − Ele pulou sobre ela de repente, assim como fizera outras vezes no passado, os
punhos fechados, o rosto contorcido de raiva. − Olhe para você, sua puta... morando em pecado, esquecendo seu compromisso com a família. Você me levou à ruína e ainda ri − vociferou ele. − Eu devia lhe dar uma surra. Ela se inclinou quando ele esmurrou, errando o alvo. Segurando uma frigideira, ela o rodeou. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Eu lhe disse para nunca mais tocar em mim − ela gritou, batendo com a frigideira na direção da cabeça dele. Mas quase perdeu o equilíbrio com a força do golpe, quando a frigideira golpeou apenas o ar. Jack segurava seu atacante, suas mãos grandes envolvendo-lhe o pescoço. Com a sua estatura, ele levantou o homem do chão até que seus narizes estivessem no mesmo plano.
dedos.
− Se quer lutar com alguém, Hope, lute comigo − anunciou, enquanto Lyle sufocava sufocava entre seus Jogando a frigideira de lado, Rebecca pendurou-se no braço do marido. − Jack, você o está sufocando. − Está bem − ele respondeu quase com prazer. – Eu quero que ele se lembre para nunca mais
tocar em você. Você não vai nem sequer levantar a mão para Rebecca, entendeu, Lyle. O homem gorgolejou, enquanto seu rosto começava a ficar roxo. − Bom. − Jack soltou o homem sufocado no chão. Pegue suas coisas e dê o fora. E, se incomodar Reb de novo, vou ter prazer em matar você. Pegando a trêmula mulher nos braços, o batedor observou enquanto Lyle se arrastava pelo chão, saindo logo depois com suas coisas guardadas na mala. Ele lançou um olhar ressentido para a meia-irmã, pôs o casaco e saiu sem uma palavra. Na cozinha, Rebecca enxugava as lágrimas no peito de Jack. − Qual é o problema? − ele murmurou, acariciando-lhe o cabelo. − Ele nunca mais vai incomodar você. − Eu não sei o que é pior − ela soluçou. − Se eu tentei atingir o Lyle com a frigideira ou que você tenha me impedido. − Você devia estar se sentindo melhor, Reb. − Ele sorriu, divertido. − Eu duvido que ele tente atacar você de novo... pelo menos enquanto você tiver uma frigideira à mão.
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− Eu vou ficar fora por apenas um dia, Teddy. -Jack apertou a barrigueira de Old Jo. − Mas quero que você fique de olho em Reb para mim. Lyle estava feito louco quando foi procurá-la na noite passada. Eu quase o matei. − Gostaria de ter assistido − comentou Teddy seriamente. − Eu teria terminado o trabalho. Aquele sujeitinho me deixava louco cada vez que o via. − Bom dia, Bellamy, Greeley. − Francis acenou-lhes da porta do celeiro. − Posso lhe falar, Jack? O batedor inclinou a cabeça, concordando. − Você pode falar o que for preciso na frente do Teddy. − Muito bem. − Francis concordou secamente. – Eu pensei que você gostaria de saber que Lyle Hope veio até o comando esta manhã para apresentar uma queixa formal contra você. − O que ele disse que aconteceu? − indagou Jack, ocupado em prender os arreios. − Que ele estava discutindo um assunto particular com
sua irmã e você o atacou.
Jack voltou-se com desgosto para o ajudante ajudante-de-ordens. -de-ordens. − Por acaso ele mencionou que tentou acertar Reb com um soco? Francis olhou para ele perplexo. − Ele atacou Rebecca? − Ele tentou. − Eu bem que pensei que a história dele não era verdadeira − murmurou o ajudante-de-ordens, cofiando o bigode. − E o que será que o coronel pensou sobre a queixa? Indagou Teddy. − Ele não falou com o coronel. Eu tomei seu depoimento, palavra por palavra, e acertei tudo com ele. − Ah, é? − Jack olhou para o tenente com curiosidade. − Eu preenchi a queixa, mas parece parece que ela sumiu informou Francis pen pensativo. sativo. − Um ajudante-deajudante-deordens lida com um volume de papel muito grande todos os dias. Jack deu uma risada. − Porter, você está mais compreensivo do que costumava ser.
− É isso o que o amor faz a um homem − retrucou o oficial com um sorriso. Voltando a ficar sério, ele acrescentou: − Espero que ele tenha deixado o forte depois de falar comigo, Jack, mas eu não lhe daria as costas se fosse você. − Estou preocupado com Reb − murmurou o batedor. − Preciso fazer uma visita aos posseiros da terra Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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de Pele de Lobo. Só estarei de volta depois do anoitecer. − Eu lhe disse que posso cuidar dela − recordou Teddy. − É para isso que serve a família. − E os amigos − acrescentou Francis. − Assim fico mais tranqüilo − disse Jack, subindo na sela. − Obrigado. Estarei de volta o mais rápido que puder. Apagando a fogueira com os pés, Lyle deixou sua carroça e caminhou pela margem do rio até o forte pela segunda vez aquela manhã. Os flocos de neve enchiam o ar, fundindo-se antes de chegar ao chão. Ao passar atrás do posto comercial, ele ouviu o corneteiro no pátio do forte, dando o toque de serviço. Ele afastou-se do rio e seguiu pelo caminho entre os arbustos, onde ele se esgueirou para observar a casa. Não havia nem sinal do batedor, mas ele avistou Rebecca pela janela fazendo suas tarefas matinais. Apertando o paletó contra o corpo naquele frio de congelar os ossos, Lyle preparou-se para esperar, pegando a garrafa que levara com o objetivo de se manter aquecido. Quando a meia-irmã saísse para ir ao hospital, daria a busca que não pudera realizar no dia anterior. Todo mundo parecia determinado a estorvá-lo, pensou Lyle, taciturno, tomando um grande gole da garrafa. Tudo o que ele queria era conseguir uma boa terra. Cultivar a terra era um trabalho árduo, mas era tudo o que ele sabia fazer. Para Becky as coisas tinham sido mais fáceis, ele refletiu, observando enquanto ela fazia a cama. Ela sempre fora eficiente. Lyle tomou outro gole. Lembrou-se de como era a vida com ela na fazenda. Ela se levantava antes do amanhecer e ajudava com o leite antes de começar a preparar o desjejum. Antes das oito horas já havia alimentado as galinhas, recolhido os ovos e aguado os porcos. Depois arrumava a casa e lavava e consertava as. roupas. Ela cozinhava, assava o pão e tratava do jardim. E naqueles dias ela nunca fora respondona, nem ameaçava facas na mesa ou ameaçara ninguém com frigideiras. Ela não lhe causava nenhum problema. A cada gole, Lyle começava a sentir-se um pouco mais saudoso em relação à meia-irmã. Eles tiveram algumas poucas diferenças, como na época em que ela saíra para trabalhar no hospital de campo de Gettysburg. Mas na maioria das vezes fora bom, relembrou-se através de um ardor rosado e alcoólico. A seu ver, ele se preocupara mais com Becky do que qualquer outra
pessoa que conhecera, mesmo o pai. Mas eles haviam crescido diferentes. Esvaziando a garrafa, jogou-a fora a alguns passos de distância. Ela se tomara tão insensível que não iria ajudá-lo, mesmo ele sabendo que ela tinha dinheiro. O marido dela a jogara contra ele, Lyle pensava, quando percebeu que ela estava vestindo o casaco e Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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pondo o chapéu. Esperando até ter certeza de que ela se fora, ele se levantou e encaminhou-se para a casa. O gato, que dormia na varanda dos fundos, fugiu. Andando na casa silenciosa, Lyle foi até a janela da frente com cuidado, deu uma espiada furtiva para fora e fechou as cortinas. Havia apenas algumas pessoas no pátio e nenhuma percebera quando ele fechara as cortinas. Não queria testemunhas para o que estava prestes a fazer. Indo até o quarto do casal, ele vasculhou seus pertences. Não havia dinheiro e muito poucas coisas de valor. Tentou desarranjar as coisas o mínimo possível, esperando que não percebessem que estivera lá até que se encontrasse longe dali. Mas, quando terminou a busca, o quarto estava na maior confusão. Franzindo a testa, ele o deixou assim mesmo. Na sala, ele esvaziou o conteúdo do cesto de costura de Rebecca no chão e folheou a Bíblia. Puxando os livros das prateleiras de caixas, ele os pegou um por um pela lombada e os agitou, não encontrando nada além de flores amassadas e receitas de tortas de maçã. Ele pegou o lampião ao lado do busto de Franklin e olhou embaixo. Nada. Virando-o de cabeça para baixo até que o óleo se derramasse, ele observou a sala desesperado. Onde eles poderiam guardar as notas ou uma bolsa com moedas? Um tumulto ocorria lá fora. Gritos e o toques de cometa chamaram os homens a seus postos, enquanto Lyle ia para a cozinha. O bule de chá de estanho que pertencera à mãe de Rebecca. Ele não o via desde sua chegada e poderia ser que a irmã escolhesse justo um objeto sentimental para estocar o dinheiro. Ele o pegou da prateleira confiante. Mas estava vazio. Praguejando,, ele jogou o utensíli Praguejando utensílioo sobre a lata de farinha. Encontrando uma concha, procurou no barril até onde seu braço permitiu. Ainda assim voltou com a mão vazia. Inclinando o barril, inclinou-se para dentro e pesquisou ainda mais fundo. − O que pensa que está fazendo? − gritou Rebecca atrás dele. Lyle levantou-se de um salto, enviando uma nuvem de farinha ao redor. Limpando o rosto, ele olhou-a preocupado. − Não era para você ter voltado ainda − falou em voz enrolada e rouca, depois que Jack apertara sua garganta.
− E não era para você nem estar aqui. − Entrando no aposento, ela olhou ao redor sem acredita acreditarr no que via. Olhe só o que você fez. − Eu quero o dinheiro, Rebecca. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Eu lhe disse que não tenho dinheiro para lhe dar. − E sei que disse − insistiu ele, inclinando-se para ela. − Não encoste a mão em mim. − Recuando um passo, ela deu um relance para as panelas pendent pendentes es na parede próxima ao fogão. − E você não tente abrir minha cabeça com uma panela. − Ele fechou-lhe a passagem. A mente afetada pelo álcool produzira outro plano. − Você tem duas escolhas, irmã. Ou me dá o dinheiro dinheiro ou paga o que me deve. − Eu não lhe devo nada − ela gritou. Lyle olhou penalizado. − Eu a perdôo por usar este tom comigo dessa vez, porque compreendo que não é você falando. Seu marido a virou contra mim. Você voltará a ser você mesma quando estiver longe dele. − Eu não vou a lugar nenhum. − Antes que ele pudesse detê-la, ela correu para a gaveta onde guardava as facas. Com um sorriso pérfido, ele deu-lhe uma bofetada, acertando-a no queixo. Ela caiu com um grito e bateu a cabeça contra a lata de farinha. − Oh, Deus − ele sussurrou, olhando para ela caída. − Não morra por minha causa, Becky − ele balbuciou, caindo de joelhos ao lado dela. − Quem irá me ajudar? Arrancando as luvas, ele pousou os dedos no pescoço dela. A pulsação continuava forte e constante. Ela estava apenas inconsciente. Jogando-a sobre o ombro, ele a carregou cambaleante para a varanda dos fundos. Não havia ninguém por perto para ver quando ele a levou por entre os arbustos e ao longo da trilha, tropeçando a cada passo no piso molhado. Ao chegar à barreira de estacas, encontrou o sentinela distraído, olhando para a companhia da Cavalaria que deixava o forte, tomando o rumo sul na pradaria. Ó sentinela não viu o homem com sua carga humana. As quatro mulas remanescentes de Lyle zurravam em protesto, quando ele se aproximou do local de seu acampamento. Ele fora forçado a vender a quinta mula para pagar pelos suprimentos. Agora seria bom se tivesse ficado com ela. Pela primeira vez, ele começou a questionar a eficácia de seu plano apressado. Seria difícil fugir do marido de Rebecca em meio à neve. Ele colocou a meia-irmã na carroça tão cuidadosamente quanto possível, arrumando-lhe o vestido
volumoso junto ao corpo. Inclinando-se sobre ela, amarrou-lhe as mãos e pés para impedir que ela escapasse e levou-a até a frente da carroça, onde achou que ela ficaria mais confortável. Então, com toda a pressa e em movimentos frenéticos, tocou suas parelhas. Rebecca ainda estava inconsciente quando Lyle apressou as mulas rumo ao oeste ao longo do rio. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Depois de cruzar algumas milhas, ele virou a carroça para o norte, no meio da pradaria. Grandes flocos de neve caíam sobre a terra, quando Jack caminhou para casa vindo do prédio do comando. A tarde escura e nublada e a tensão no forte desde a partida da companhia só contribuíam para piorar seu humor. Os posseiros do campo de caça dos kickapoos tinham resistido e se recusavam a sair. Agora ficaria a cargo do Cartório de Assentamentos e do Departamento Indigenista decidir o rumo da situação. O batedor temia que Pele de Lobo e sua gente seriam os perdedores. Quando fora fazer seu relatório ao coronel Quiller, Jack ficara surpreso ao saber que os sioux haviam atacado uma série de fazendas no sul. Se ele pudesse ter trazido Urso Grande para a reunião do conselho aquelas semanas atrás, nada daquilo estaria acontecendo. Tudo aquilo contribuía para deprimi-lo ao tomar o caminho de casa. Ver Rebecca melhoraria seu humor. Ela deveria voltar do hospital por aquela hora. Ou já devia ter voltado, corrigiu-se, ao ver um filete de fumaça subir por sua chaminé. A casa parecia estranhamente vazia e as cortinas estavam fechadas. Ele sent sentiu iu um incômodo incômodo arrepio arrepio na nuca ao abri abrirr a port portaa e ver a cena da sala em comp completa leta desordem. − Reb − gritou, correndo para dentro. Não houve resposta. − Rebecca! − Ele entrou em seu quarto, tropeçando num amontoado no chão. Na cozinha, o chão estava coberto de farinha e a porta dos fundos achava-se aberta. Jack saiu correndo para os fundos. Não havia sinal de nada. Analisando as pistas deixadas na casa, ele concluiu que ali fora dada uma busca, não ocorrera uma luta. Talvez Lyle tivesse vindo e partido sem vê-la. Talvez ela ainda estivesse em segurança no hospital. Sem perder as esperanças, o batedor rondou a casa e decidiu começar uma busca. Diminuiu a marcha ao ver Teddy mancando em sua direção. − Oi, primo − o rapaz o cumprimentou carinhosamente. − Eu estava indo visitar Reb. Não a encontrei no hospital. − Ela não está lá? − Jack parou com uma expressão sombria. − Ela não está em casa? − indagou Teddy relutante. − Ela estava antes.
− Agora não está − garantiu Jack, voltando para o alojamento dos batedores. − Talvez esteja na casa de Flora − sugeriu o rapaz, correndo para acompanhá-lo. acompanhá-lo. − Não, Lyle a levou. Tenho certeza disso. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Retomando à varanda dos fundos, Jack examinou a cozinha em desordem pela porta aberta enquanto Teddy verificava verificava a confusão lá dentro. A neve derretera, deixando molhado o chão perto da porta. Na pressa anterior, ele quase não notara a leve poeira de neve acumulada no batente da porta, com a marca de pequenas pegadas de patas. Lyle partira antes de a neve cair mais forte, mas ele não poderia dizer quanta dianteira ele teria. Quando Fominha esfregou-se desconsoladamente desconsoladamente contra suas pernas, Jack pegou-o, observando o pêlo molhado de seu dorso. Sentiu o sangue fugir de seu rosto quando viu as pegadas gravadas profundamen profundamente te no solo, no rumo do bosquete próximo ao rio. Lyle a carregara. Será que ela estaria morta? Inconscie Inconsciente? nte? − Eu vou trazê-la de volta, garoto. − Pensativo, Jack deu uns tapinhas no gato e deixou-o pular para o chão. Fominha caiu suavemente no solo e retomou para o calor da casa, desviando-se de Teddy quando ele apareceu na porta. − Old Joe está cansado. Você selaria a égua de Reb para mim, Ted? − pediu Jack indo se agachar nos arbustos. − Eu vou com você − gritou da varanda. Inclinado para examinar um local onde a vegetaç vegetação ão fora amassada, o b.atedor não respondeu. Alguém passara algum tempo ali observando a casa. E bebendo, pensou com desgosto, ao encontrar a garrafa de uísque jogada ali perto. Isso explicava as pegadas irregulares na trilha para a margem do rio. Por uma interrupção súbita dos passos ele percebeu que Lyle.guinara para oeste. Não foi difícil descobrir onde o homem parara para trocar a carga de lado sobre os ombros ou onde ele hesitara sob a cobertura das árvores antes de cruzar a barreira de estacas. Quando Jack chegou ao local do acampamento, encontrou cinzas frias onde ardera uma fogueira. O chão pisado evidenciava que Lyle agitara as mulas em sua pressa de sair com a carroça. Os olhos experientes de Jack seguiram a trilha deixada pelas rodas até que desaparecessem para oeste e ele sentiu uma onda de ódio. Com a mandíbula apertada, voltou ao forte, onde Teddy esperava. Montado e trazendo a égua de Rebecca, Teddy encontrou-o na barreira de estacas. − Ele foi embora? − E levou minha esposa com ele. − Subindo na sela, ele avisou o rapaz. − Vou correr bastante.
− Eu posso acompanhar − prometeu Teddy. − Mas os sioux estão em pé de guerra, Jack. Não seria melhor se levássemos uns soldados como escolta? − Não dá tempo. − Virando a montaria, o batedor rumou para o acampamento de Lyle para pegar o rastro. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Eles seguiram a marca das rodas ao longo do rio, seguindo a mesma parte rasa onde o vagão cruzara. No lado norte do rio, eles avistaram o ponto onde os rastros mudaram para o norte. Fizeram uma parada lá quando Pele de Lobo e uma dúzia de homens aproximaram-se deles. − Como vai, meu irmão? − o guerreiro cumprimentou-o. . − Minha esposa foi levada e estou indo buscá-la. − Foram os sioux? − indagou Pele de Lobo. − Foi seu próprio irmão − declarou Jack em voz rouca. O guerreiro inclinou a cabeça sem parecer surpreso. − Aquele com olhos gelados não é um homem bom. Vamos cavalgar com você. O batedor concordou agradecido e eles saíram a galope. Jack estava contente por ter a companhia de Pele de Lobo e seus guerreiros. Embora temesse que Lyle e Rebecca pudessem ser atacados pelos sioux, sabia que os kickapoos teriam muito mais chance que ele de trazer Rebecca de volta. Rebecca acordou com o estômago enjoado, a cabeça latejando a cada solavanco da carroça. Estava tremendo de frio e seu queixo doía por causa da bofetada que Lyle lhe dera. Abrindo os olhos, viu tudo branco... o branco da lona de cobertura da carroça, o branco da neve caindo sobre seu rosto. Então recobrou o foco da visão e viu o meio-irmão sentado numa caixa de madeira a seu lado, o chapéu enterrado na cabeça, o paletó abotoado até o pescoço. Ele trazia as rédeas enroladas nos pulsos. Seu velho e surrado rifle jazia do outro lado, bem à mão. Ela tentou se mover e
percebeu que
suas mãos e pés estavam amarrados. O movimento chamou a atenção dele. − Que bom que acordou, Becky. Estava começan começando do a me preocupar com você. − Devia estar bem preocupado, já que é o responsável − retrucou ela, sentindo a língua grossa. − Por que fez uma coisa dessas, Lyle? − Eu tinha de tirar você de lá. Vamos começar uma vida nova... bem melhor do que a anterior. Vamos ter uma fazenda... juntos. Vamos ter de trabalhar duro, mas vai valer a pena. − Eu não quero uma fazenda e já lhe disse que não vou trabalhar para você. Ele continuou olhando para a frente e não respondeu.
− Jack virá atrás de mim − disse ela ameaçadoramente. ameaçadoramente. − Não. − Ele a olhou confiante. − Já pensei no assunto. Vamos nos estabelecer em algum lugar para passar o inverno e depois entrar com uma petição sobre as terras na primavera. Ninguém vai nos incomodar até lá. E, na primavera, Injun Jack terá esquecido você. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Vocês nem estão casados. Ele vai se envolver com alguma beldade pele-vermelha mais a seu gosto. Ela rolou os olhos para o teto, mas nem tentou discutir. − E quanto aos índios, Lyle? − ela indagou, rezando para que seus temores não se concretizassem. − Estamos aqui no meio do território sioux, provavelmente a quilômetros do forte. − Não estamos em perigo − grunhiu ele. − Não ouviu a agitação no forte esta manhã? Era a cavalaria partindo para uma patrulha. Foi por isso que o doutor me mandou para casa mais cedo... para que eu pudesse descansar para o caso de haver uma emergência. − Não apenas ouvi, mas eu vi − replicou Lyle sombrio. − Eles cavalgaram para o sul. Não deve ter um índio em cinqüenta quilômetros aqui. − Você só vai saber quando eles estiverem em cima de você − insistiu ela. − Cale a boca, Becky, ou vou amordaçá-la. No momento, estou preferindo encarar um sioux a deparar com Injun Jack. "Você provavelmente estaria mais seguro com os sioux", pensou ela, mas ficou calada. Por um longo tempo, ela olhou através da abertura estreita pela cobertura de lona no fundo da carroça, mas ninguém os seguia. − Não pode me desamarrar, Lyle − pediu ela, por fim. − Promete não tentar escapar? − Para onde eu iria? − Ela estendeu as mãos. Parando a carroça, ele puxou o breque e soltou os nós. − Não vai adianta adiantarr querer lutar − advertiu ele, enquanto ela esfregava os pulsos doloridos. − Só vai me deixar com raiva e seu marido não estará aqui para protegê-la. Ela rolou para o lado no pequeno espaço para se ajoelhar ao lado do assento de Lyle. O rifle ainda estava fora de alcance. − Onde estamos? − ela indagou, olhando por cima das cabeças das mulas. − A caminho do sul para a bifurcação da estrada para Solomon. − Para que está indo lá? − Ela se segurou quando eles partiram. A carroça era pesada e as rodas enterravam-se no chão, que estava ficando mais macio a cada momento.
Ouvi falar sobre um lugar lá com uma casa e um celeiro. O dono simplesmente saiu de lá e foi embora para Illinois. − Terá sido o mal das pradarias? − O que é isso? − Lyle olhou-a de relance, nervoso. − O efeito de passar dia após dia nos campos abertos sem nenhuma montanha ou árvore à vista − ela disse,
num tom seguro. − Você tem um mapa?
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− Eu sei o caminho. − Espero que não se perca. A pradaria é um lugar perigoso para se ficar dando voltas no inverno. E está escu escurece recendo ndo também também.. Talvez Talvez fo fosse sse me melhor lhor aacamp camparmos armos para para pa pass sar a noite noite.. Ele a observou com a testa franzida. − Você só está tentando me atrasar para o Injun Jack me pegar. Se não chegarmos onde estamos indo esta noite, a carroça poderá se atolar. − Tudo bem, se é assim que quer. − Ela se recostou contra uma pilha de sacos, pensando numa nova abordagem. − Não dormiu bem na noite passada? − Não dormi nada − respondeu ele. − Quase congelei, dormindo na carroça. Se eu pegar uma pneumonia, pneumonia, será
graças a você e seu marido.
− O que fez para se aquecer? − Me enrolei em vários cobertores e bebi um pouco de uísque para me aquecer por dentro. Ela decidiu manter a conversa mole. − Sobrou alguma uísque? − Você não bebe uísque. − Ele a observou com suspeita. − Bebo, sim, quando estou morrendo de frio − ela o informou. Com os olhos fixos nela, ele procurou atrás de si e encontrou uma garrafa. Arrancando a rolha com os dentes,
ele a estendeu para ela. − Beba apenas o suficiente para se aquecer.
Concordando, ela levou a garrafa aos lábios, mas não bebeu. O gosto do uísque barato em seus lábios foi o bastante para encher-lhe os olhos de lágrimas. Tossindo, ela devolveu a garrafa. − Já que é tão gentil em dividir seu uísque comigo, acho que é justo avisá-lo de que Jack provavelmente o matará quando nos alcançar. − Primeiro ele tem de nos encontrar. − Lyle engoliu uma quantidade considerável da bebida. − Está nevando forte. A neve vai cobrir nossas pegadas antes de ele descobrir para onde estamos indo. Tentando ignorar o desespero provocado por suas palavras, ela pegou a garrafa quando ele lhe
ofereceu e fingiu beber outra vez. − Cuidado − ele advertiu. − Você não está acostumada com essa coisa. − Obrigada − ela tossiu. Encolhida contra os sacos, ela observou enquanto ele dava um longo gole e depois outro. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Olhe para os furos nas suas luvas − comentou ela. Eu poderia lhe costurar umas novas. Suas mãos devem estar congelando. O humor de Lyle melhorou. Devia ser por causa do uísque, mas ele pensou que era por Becky. Ela estava voltando a ser o que era. − Elas estão geladas − admitiu ele, tomando outro gole. − Mas vamos nos manter aquecidos da melhor maneira que pudermos por enquanto. Quer mais? − Ele ofereceu a garrafa. Ela aceitou com um risinho. Ele a esvaziara com seus grandes goles. Um pouco mais e ele deixaria cair a guarda inteiramente. inteiramente. − Acho que os invernos não eram assim tão frios na Pensilvân Pensilvânia ia − ela se lamentou. − Deve ser por causa do vento. E de congelar. Nao acha que é de congelar?' Pegando a garrafa de volta, ele bebeu longamente. Seu rosto estava vermelho, não por causa do vento, mas pelo pelo álco álcool ol que vinha vinha consumin consumindo. do. Preci Preciso so dar uma pa parada rada − el elaa falou, falou, sentando-s sentando-see subit subitamen amente. te. − O quê? − Ele piscou para ela como se ela estivesse falando chinês. − Preciso parar − repetiu r epetiu ela. − Acho que vou vomitar. Você não vai querer que eu vomite na carroça. − Eu lhe disse para ir com calma − grunhiu ele. − Eu sei, mas não estou acostumada com bebidas alcoólicas. Oh, Lyle − ela ofegou, dobrando-se no meio. – Acho
melhor parar agora.
Com um palavrão, ele puxou as rédeas e brecou a carroça. − Ande depressa. Não quero ficar na estrada depois do anoitecer. Ele saltou da carroça, o rifle na mão, e olhou ao redor amedrontado. Sem querer abaixar a arma, nem mesmo por um momento, ele a segurou com o dedo no gatilho. Ao estender o braço para Rebecca, o cano do rifle apontava para a pradaria imensa atrás de si. Segurando o vestido com uma das mãos, ela se inclinou e arrancou o rifle da mão dele com a outra. Enquanto ele a olhava com surpresa, ela lhe apontou a arma para o nariz.
Foi um golpe sujo, Becky reclamou ele. − Digo o mesmo sobre me arrastar para a pradaria. Agora é você que tem duas escolhas, Lyle. Você pode vir comigo ao Forte Chamberlain Chamberlain ou ir a pé para o ri rioo Solomon sozinho. − Você não me deixaria aqui, Becky − protestou ele. − Não se fizer exatamente o que eu mandar. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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Mas, antes que ele pudesse se decidir, uma série de uivos e gritos chegaram até eles pelo vento frio. Um bando de guerreiros indígenas galopavam sobre as planícies. Seu líder, vestido com uma roupa de couro de alce, atirava-se na direção da carroça, com o cabelo comprido e preto solto ao vento. − Jack − murmurou Rebecca. − Índios! − Lyle deu um grito rouco, os olhos cinzentos apertados de medo. − Me dê isto aqui. − Deixando as precauções precauções de lado, ele agarrou o rifle, a mão fechada ao redor do cano. Pegaa despr Peg despreve eveni nida, da, ela ela qua quase se despe despenc ncou ou sob sobre re a lat latera erall da ca carro rroça, ça, mas con conti tinuo nuouu seg segura urando ndo teimosamente teimosam ente a arma. Ela disparou quando ele arrancou-a de suas mãos, a bala indo se cravar sem perigo no chão. Jack apressou sua montaria ao vê-los lutando pela posse da arma. Ao som do disparo, ele emitiu um grito selvagem e atirou-se sobre os dois. _ Lyle atrapalhou-se com o rifle, tentando recarregá-lo. Ele não conseguiu disparar nem um tiro antes que o batedor se jogasse sobre ele, arrancando-lhe a arma das mãos com tal força que o homem foi jogado além da carroça. Dez índios e Teddy o cercaram, ameaçando-o ameaçando-o com suas armas. Lyle olhava fixamente para Pele de Lobo. − Becky, faça alguma coisa − gritou ele desesperado. − Não deixe eles me matarem. Divertindo-se com a cena, os guerreiros o olhavam com expressão carrancuda, enquanto Jack guiava a égua para a carroça e jogava o rifle para dentro. − Você está bem? − ele indagou à esposa, a voz embargada pela preocupação. − Agora estou. − Ela sorriu aliviada. Desmontando, Jack ajudou-a a descer da carroça. − Ele bateu em você? − ele indagou, tocando-lhe o inchaço no queixo. − Uma vez só. Eu caí. Os olhos azuis ficaram duros. − Espere aqui.
− Jack... Ele não respondeu. Caminhando até o centro do círculo de cavaleiros, ele impôs sua presença ao cunhado. Com os olhos em seus captores, o homem nem percebeu. − O que eles vão fazer? Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− A pergunta é: o que eu vou fazer − corrigiu-o Jack ameaçadoramente. − O... o que você quer dizer? − Lyle volveu o olhar desesperado para o batedor. − Vou lhe dar a oportunidade de usar estes seus punhos − respondeu ele. ele. − Em mim, em vez de em Reb. − Eu não quero lutar com você − gemeu Lyle. − Isso é problema seu. − O punho de Jack o atingiu no queixo. − Isto é pelo ferimento no queixo dela. – Um segundo soco atingiu Lyle no estômago. − E isto é por tê-la seqüestrado. Lyle curvara-se de dor e oscilava. Atrás dele, o perímetro do círculo aumentou, enquanto os índios mantinham seus cavalos sob controle. − E isto é por todos os anos que você a castigou e explorou. − Jack dirigiu o punho para o nariz de Lyle. − Becky, Becky, faça alg alguma uma ccoisa oisa!! − SSegura egurando ndo o na nariz riz aamas mas
sado, sado, o m meio-i eio-irmão rmão recu recuou ou de seu agre agressor. ssor.
− Lute, droga − rugiu Jack. − Este louco está tentando me matar por sua causa, Becky − gritou Lyle. − E ele nem é seu marido. − E você nem é meu irmão, Lyle. − Entrando no círculo, ela parou ao lado do batedor. − Eu só ouvi falar de família durante toda a minha vida. Nunca tive. uma de verdade até ter encontrado Jack. − Como pode dizer uma coisa dessas? − gemeu Lyle. − Eu fui sua família. Eu paguei sua comida, suas roupas, dei-lhe um teto sobre a cabeça... − Eu sei. − Ela suspirou, abanando a cabeça. Ele nunca entenderia. Voltando para o marido, ela pediu: − Por favor, não bata mais nele, Jack. O alto desbravador envolveu-a num abraço e olhou duramente para o outro homem. − Por tentar machucar minha mulher de novo, eu devia matá-lo aqui e agora. ~− Eu nunca quis machucá-la − implorou Lyle, já se sentindo um pouco aliviado. − Por favor, não me mate... e
não deixe estes selvagens me matarem. − Neste caso, Jack − comentou Rebecca com um brilho
no olhar -peça a Pele de Lobo para
ser misericordioso. Eu odiaria deixar meu meio-irmão sofrer. Embora tivesse pensado que estava fora de perigo, Lyle
empalideceu.
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− Acho que Rebecca sabe como lidar com esse homem − falou Jack para Pele de Lobo no dialeto kickapoo. Você ajudaria a garantir que esse homem nunca ataque minha mulher de novo? Pele de Lobo deu uma risada, concordando com um movimento mo vimento curto de cabeça para o homem encolhido. − Ele já está quase morto de medo. Não custaria muito acabar de assustá-lo. − Se você fizer como eu disser, vai amedrontá-lo tanto que ele não olhará para trás pelo resto do caminho de volta para o Leste. Depois de uma breve reunião, Jack voltou-se para Lyle. − Pele de Lobo disse que não vai matá-lo... por causa de Rebecca. O homem fechou os olhos, relaxando os ombros de alívio. − Eu diria que o "débito" dela com você está completamente pago, Hope − declarou Jack em voz neutra. − Na verdade, você deve a vida a ela. − Voltando-se, Voltando -se, ele chamou: − Teddy, você emprestaria o Guss ao Pele de Lobo enquanto leva a carroça para o forte? − Com o maior prazer. − O rapaz desmontou um tanto enrijecido. − Seja bem-vinda, prima − ele sussurrou, beijando o rosto de Rebecca antes de subir na carroça. Jack montou a alazã inquieta e ofereceu a mão a Rebecca, puxando-a para sua frente na sela. O vestido dela flutuou no vento invernal quando ela se aconchegou ao seu peito para se aquecer. − Onde vocês estão indo? − gritou Lyle. − Vocês não estão me deixando aqui com esse bando de selvagens? − Não, você está sendo levado − respondeu Jack enquanto Pele de Lobo o amarrava sob protestos e o colocava sobre o cavalo de Teddy. − Não, eles vão me matar − gritou o meio-irmão de Rebecca. − Becky, me ajude! Socorro! − O que eles vão fazer com ele? − indagou ela enquanto os gritos ficavam para trás. − Eles vão levá-lo até próximo a Chamberlain, indicar-lhe onde fica a estação de trem e dar-lhe o dinheiro da passagem. Eu dei o dinheiro a Pele de Lobo enquanto conversávamos. − É o dinheiro da nossa fazenda? − ela indagou preocupada
− Não, embora valesse a pena, para ficar livre de Lyle − respondeu ele, guiando a égua no caminho de casa. Ao sentir o odor de rosas trazido pelo vento, Jack murmurou: Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Sabe, Reb, eu gostei quando você disse que tinha a mim como sua família. − Meu coração escolheu você, Jack Bellamy, para sempre − ela suspirou, voltando-se feliz para receber seu beijo.
EPÍLOGO
Tem certeza de que quer se casar comigo de novo, Reb? − sussurrou Jack, sorridente, enquanto os outros fiéis começavam a lotar a capela. − Como você mesmo disse − Rebecca sussurrou em resposta − será simplesmente casar-se duas vezes... se este for um pastor de verdade. − Ele é. − Jack olhou sobre o ombro para o clérigo desejando bom-dia ao seu rebanho do Forte Chamberlain junto à porta. − Eu fui investigar. Com Teddy a um lado e do outro Brian, Flora e Abigail Mackey, de dois meses e meio de idade, no colo da mãe, eles esperaram pelo pastor para fazer seus votos matrimoniais. − Eu ainda acho que você devia ter convidado o forte inteiro para a cerimônia − murmurou Teddy para o primo. − Nós queríamos que fosse uma cerimônia simples e para poucas pessoas, uma vez que vamos partir logo depois que acabar. A carroça está carregada. Tudo o que temos a fazer é tocar os animais e partir. − Só por causa de tudo o que tiveram de enfrentar depois que a notícia de que não estavam realmente casados se espalhou − resmungou Teddy. − Nunca se fez tanta fofoca. − Jack deu de ombros.Nada poderia tornar-nos menos marido e mulher do que já éramos. Nós tínhamos um ao outro, e com certeza descobrimos quem eram os nossos verdadeiros amigos. − São eles que vão sentir a nossa falta − exclamou Rebecca baixinho, inclinando-se ao lado dele. − Gente como você, os Mackey, o doutor, Francis e Amy... − Desculpem por fazê-los esperar. − O reverendo Moore juntou-se a eles, olhando radiante para Jack e Rebecca. Rebe cca. Compreendo Compreendo o grav gravee erro que ocorreu, o que não foi culpa culpa de nenhum de vocês vocês − disse ele,
gentilmente. − E vocês descobriram que não estavam realmente casados. − Legalmente, era só por isso que não poderíamos ser considerados casados, senhor − respondeu Jack, levantando-se. levanta ndo-se. − Nós nos amamos. Fizemos nossos votos e honramos nossas promessas, mas gostaríamos de estar casados aos olhos da lei... e da sociedade. Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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− Então venham à minha frente. − Quando o pequeno grupo se posicionou, o pastor começou: − Queridos irmãos, estamos aqui reunidos... Para Jack e Rebecca, o segundo casamento passou mais depressa que o primeiro. Mas um particular elevou-se com clareza cristalina: o amor brilhando em seus olhos, quando eles se juntaram outra vez em votos e espírito. Quando Jack e Rebecca saíram da capela para o sol de primavera, ouviu-se o comando: − Desembainhar espadas! Parados no alto da escada, eles viram as duas fileiras de oficiais do Forte Chamberlain em pé, em posição de sentido, com as espadas cruzadas formando um longo arco. Sensibilizados pela cena, o casal atravessou o arco, que ia dar numa multidão calorosa. Parecia que para ali acorrera mais gente que a população do forte, sorrindo e cumprimentando, para oferecer suas congratulações. A tarde já ia alta quando eles conseguiram subir na carroça e sair do forte. Radiante de felicidade, Rebecca aninhou-se nos braços do marido. − Que festa eles fizeram para a gente − comentou Jack. − Eu não sabia até ver toda aquela gente reunida. − E você não conseguiu escapar como pretendia − ela lhe falou com um sorriso. − Como eu já disse antes, isto aqui estava ficando muito populoso. A risada de Jack foi levada pelo vendo do Kansas, enquanto a carroça rodava pela pradaria em direção ao oeste.
KATE KINGSL KINGSLEY EY
adora escrever r0mances históricos. Tendo crescido no sul da Luisiana, ela
certamente está preparada para dar vida aos fatos históricos. Kate, que atualmente atualmente mora na região da baía de San Francisco, tem uma sólida experiência na imprensa e em publicidade. Também presta serviço voluntário no hospital local. Gosta de ler, andar de bicicleta bicicleta e, acima de tudo, viajar − sempre que consegue um tempo Viciados em Romances Históricos − http://www.viciadosromances.blogspot.com/
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livre para tanto. Com a filha na faculdade, Kate dispõe de um pouco mais de tempo livre para se dedicar ao marido, ator e locutor de televisão, cuja voz sensual pode ser ouvida em diversos programas de notícias norte-americanos norte-american os na TV a cabo.
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