BECKER Bertha K; EGLER, Claudio a. G. Brasil Uma Nova Potencia Regional Na Economia-Mundo.
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BECKER Bertha K; EGLER, Claudio a. G. Brasil Uma Nova Potencia Regional Na Economia-Mundo....
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COLEÇÃO GEOGRAFIA
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Lacoste
OLIVER DOLFUS
v e s Y v
A Análise Geográfica O Espaço Geográfico
Geografia do Subdesenvolvimento Os Países Subdesenvolvidos
PlERRE MOMBEIG
R.J. JOHNSTON Geografia e Geógrafos
O Brasil N e il
Sm i t h
Desen volvime nto D esigual
Yi-Fu TuAN Topofilia Espaço e Lugar - P erspectiva erspectiva da Experiência
David Clark
Introd ução à G eografia Urbana
K.J. G r e g o r y A Natu reza da Geografia Física Claude Mangazol
Lógica do Espaço Indu strial
Josê A. F. Diniz Geografia da Agricultura
C laudio A. G. Egler
J. O . A y o d e Introd ução d Climato logia dos Tr ópicos
M i c h e l B e c u e ry ry
A Exploração dos Oceanos
e
Brasil Uma Nova Potência Regional na Economia-Mundo
A. C h r i s t o f o l e t t i e o u t r o s Perspectiva da Geografia
P i er er r e G e o r g e
Geografia Agrícola do Mundo A Geografi a Ativ a Geografia da População Geografia Econômica Geografia Industrial do Mundo Geografia Rural Geografia Urbana Os Métodos da Geografia Panorama do Mundo Atual Populações Ativas
J a c q u e s V e r r i ê re re As
Políticas da População
39 EDIÇÃO
D a v i d D r e w
Processos Processos Interativos Homem -Meio Amb ient e D. K. Fo r d e s
Uma Visão Crítica da Geografia do Subdesenvolvimento
I nA nA E l i a s d e C a s t r o
Lucia Helena O . Gerardi e Barbara-
O Mito da Necessidade
C h r i s t i n e N. S i l v a
Quantificação em Geografia C. M c E v e d y
Atlas Histórico-G eográfico Universal
gg B E R T R A N D B R A S IL
Copyright © Cambridge University Press, Press,
1992
Capa: projeto gráfico de Felipe Taborda 1998 Impresso no Brasil Printed in B raz il
Sumário CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional d os Editores de Livros, RJ. RJ. B35 6b 3a ed.
Becker, Bertha K. Brasil: Brasil: um a nova potência regional na economia-mu ndo / Bertha K. Becker, Claudio A. G. Egler. —3a ed. - Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998. 272p. —(Coleção —(Coleção Geografia) Inclui bibliografia ISBN 85-286-0172-2 1. Geopolítica —Brasil. —Brasil. 2. Planejamento regional —Brasil. —Brasil. 3. Brasil —Condições econômicas. I . Egler, Claudio A. G. II. Título. III. Série.
94-1537
a d e F i g u r a s
7
L is t
a d e T a b e l a s
11
Pr e f á c i o
13
I
A Ambivalência Ambivalência de uma Potên cia Re gional
17
Um continen te desconhecido
18
Capitalismo histórico, economia-mundo e semiperiferia
24
Uma via autoritária para a modernidade
29
Este livro
36
CDD-320.120981 CDU-32:918.1
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st L i st
XI
A In c o r p o r a da
Colô
ção do
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B r a
s il il n a
E c o n o m i a -M u n d o :
iz a ç ã o N a c i o n a l I n d u s t r i a l iz
37
O período colonial
40
O império mercantil
53
O Estado e a industrialização nacional
67
A questão nacional, redefinida, passa hoje no plan o interno pela que stão social e a const ruçã o da naç ão; e a autonomia , no pla no exte rno, passa pela ques tão tecnológi ca e d a dívida. A inflação e a dívida externa constituem os desafios que o Brasil enfrentará nas próximas décadas e cuja solução dependerá também da trajetória dos Estados Unidos na economia-mundo.
5 _______________ O L e g a d o d a M o d e r n i z a ç ã o C o n s e r v a d o r a e a Reestruturação do Território
O Brasil ingressou na modernidad e pela via autoritária, e o projeto geopolítico do Brasil-Potência, e laborad o e gerido pe las Forças Armadas, deixou marcas profundas sobre a socieda de e o espaço nacionais. A economia brasileira alcançou a posição de oitavo PIB do mundo , seu pa rque ind ust rial atingiu elevado grau de complexidade e diversificação, a agricultura apresentou indicadores flagrantes de tecnificação e dinamis mo, e uma extensa rede de serviços interligou a quase-totalidade do território nacional. No enta nto , a m aioria da .pop ulação bras ilei ra não partic i pqu^ire tame nte ^das .benesses do crescim ento e conóm ico. Õ Brasil.inaugurava. a m odernidade da pobreza. Não a pobreza prim itiva , ma s aque la ilu minad a pela p equ ena jan ela das telas dos aparelhos de televisão, que se espalhavam nas centenas de milhares de casas, casebres e favelas. Conectando ricos, reme diados e pobres no m undo ilusório e utópico das novelas e dos noticiários programados, a ideologia eletrônica da televisão 168
169
cumpriu no Brasil um papel único no mundo, en quanto instru mento de política social e formação de opinião durante o pe ríodo autoritário e mesmo depois dele. A mode rnidad e funde-se com a pobreza em um tecido com plexo. Com o explicar a ha bilida de de m ilhare s de m ecân icos existentes ao longo de um a vasta rede rodoviária, capazes de manter uma frota diversificada de veículos, sem que jamais tenham freqüentado uma escola e, em grande número, sequer saibam ler e escrever? Não se trata do “arcaico”e do “mode rno” separa dos po r uma nítida linh a divisória, dos “dois brasis”, ou da Belíndia, uma Bélgica com uma índia. É mais do que isto, é uma estrutura híbrida, ambivalente, instável, porém muito dinâmica. Este é o legado da mod ernização conservado ra, que será analisado neste capítulo ao nível social, econômico e es L-0 pacial. Lpc ^ o
trapôs-se uma sociedade sub terrânea, “paralela”, “não oficial”, que criou suas próprias regras e suas formas específicas de resistência.
A explosão demográfica que não houve
A modernização conservadora gerou uma pobreza específi ca, associada à modernid ade. A problemática social da semiperiferia se manifesta em um grande descompasso entre expan são das red es de serviços e de equipamento s coletivos e o pre cário estado social da nação. O regime autoritário te ntou fazer uma massificação das políticas sociais, degradando com isso a qualidade dos serviços. O problema gerencial, operacional e administrativo das políticas sociais “foi o espaço esquecido do aparelho estatal” (Lessa, 1990). No ent ant o, a malha “pr ograma da” gero u efeito s impre vis tos —externalidades do modelo —significando profun das mu danças estr uturais, como foi o caso da “revolução demográfi ca” e da fragmentação social. Além disso, a dinâmica social escapa à regulação estatal; à estrutura oficialmente regulad a con
O declínio da natalid ade constitui-se talvez na transforma ção mais importante para o país neste fim de século e tem implicações ainda não conhecidas. O desconhecimento d a nova realidade decorre do caráter inédito das tendências recentes, do fechamento d as informações em círculo restrito de especi alistas e da campanha internaciona l contra a ameaça da “explo são demográfica” (Martine, 1989). A transição demográfica no Brasil —passagem de altos para bai xos níveis de natalida de e mortalida de —se distingue da tran sição clássica dos países europeus por duas características básicas. A pri me ira é a velocid ade da transiçã o brasileir a qua n do comp arada aos padrõ es tradicionais. O Brasil, como outros países periféricos, está comp letand o, em alg umas déc ada s, transformações que demoraram de um a dois séculos para se concretizarem na Europa. E tal velocidade está associada à redução violenta e surpreendente nos níveis de fecundidade, com conseqüência para o crescimento vegetativo da popula ção. O nível mais elevado do crescimento vegetativo brasileiro ocorreu nas décadas de 1950 e 1960 (2,9% ao ano) devido à qued a do nível de mortali dade associa da à industriali zação. Mas desde o final dos anos 60, a natalidad e começou a declinar, e o censo de 1980 revelou que a fecundidade caíra de forma drástica e generalizada em todo o país, tanto nas cidades como nas áreas ru rais (Fig. 5.1). Essa tendência se confirmou na déca da de 80; entre 1980 e 1984, o número médio de filhos de uma bra sileira teri a de 4,35 par a 3,53 , um declínio de 19%. Este
170
171
A modernidade da pobreza
declínio foi ainda mais espetacular no Nordeste. Em conse qüência, o ritmo de crescimento demográfico caiu para 2,5% na década de 70, estimando-se que atualmente esteja em torno de 1,8% (Martine, 1989).
/
1840
-
1860
'
1880
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1900
/
/
1920
/
1940
• TAXA DE NATALIDADE
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1960
/
1980
/
2000
/
Particularm ente, as políticas de telecomunicaçõe s, saúde, trans por tes e edu caçã o acelera ram a difusão de valores, do c onhe cimento e de novas práticas e atitudes c ulturais que estimula ram o controle da natalidade e, ao mesmo tempo, os métodos de controle tom aram-se mais acessíveis. Em pesquisa recente, observou-se que 73% das mulh eres casa das na faixa de 15 a 44 anos já haviam utilizado a pílula anticoncepcional, sendo que 93% destas haviam comprado o produto diretame nte nas far mácias, sem nenhum preparo prévio ou acompanhamento médico (Martine, 1989). Em suma, a população brasileira e ntrou na era da pílula sem sair da era da miséria. A disjunção entre indica dores econômicos e sociais sugere que o c omportamento demográfico e social não está mais rigi damente ligado às oscilações da economia, não tendendo a se reverter por que das tem porárias de renda. Significa que, até o final do século, o Brasil apresentará padrões de fecundidade e de crescimento populacional próximos aos dos países desen volvidos nos dias atuais.
2020
TAXA DE MORTALIDADE
O estado social da nação Figura 5.1 Transição demográfica no Brasil —1840-2020. (Fonte: Martine, 1989)
A segunda característica é que a transição não se associa diretam ente à melhoria nas condições materiais de parcelas cada vez maiores da população. O declínio das taxas de natalidade não foi fruto de uma política deliberada do governo, mas a modernização acelerada está na raiz de sua explicação. Tratase de impactos ind iretos imprevistos de uma série de políticas e gastos governamentais para a m odernização da infra-estrutu ra básica e d os serviços públicos (Faria, 1988; Hirschman, 1986). 172
Mais da metade da população brasileira é pobre. A pobreza da nação se m anifesta sobretudo nas altas taxas de analfabetis mo, nas baixas rendas e nas precárias condições devida. Quase um terço da populaç ão com mais de cinco anos é analfabeta, e está concentrada principalmente no Nordeste. Embora o núm ero de escolas tenha au menta do, o ensino básico faliu: hoje a criança brasileira permanece, em média, apenas duas horas e meia por dia na escola, e as taxas de analfabetismo são desi guais por sexo e por regiões. (Tabela 5.1)
173
T a b e l a 5.2 Distribu içã o da ren da no Brasil - 1970-89
5.1 Taxas médias de aljabetismo no Brasil por região e sexo I . , 1970-1988 (% ), Tabela
c[
\
v M
N or te 1 N or d es te Homens 1 97 0 1980 1988
5 4 ,9 61,2 7 9 ,8
3 8 ,8 4 5 ,9 5 4 ,0
Su de st e
Su l
CentroOeste
74,1 8 0 ,8 8 4 ,4
7 2,1 8 1 ,4 84,5
5 8 ,7 6 8 ,2 77,2
Brasil2
Inferior
6 2 ,0 6 9 ,3 75,1
Superior
%
1970
1980
1986
1989
105010+ i+
1,2 19,4 46,7 14,7
1,1 12,6 50,9 16,6
1,0 12,5 48,8 15,2
0,6 10,4 53,2 17,3
I D IJ L, L c n b U i u r a i u g w i i r a
w vv .
.
10Q,
,QnQ
IBGE, Pesquisa Nacional po r Amostragem Domiciliar (PNAD), 1986, iy»y .
Mulheres 1970 1 98 0 1988
5 3 ,7 6 0 ,9 8 0 ,6
3 9 ,6 4 9 ,4 5 9 ,4
6 9 ,0 7 7 ,6 8 2 ,9
6 8,1 7 8 ,7 8 3 ,2
55 ,1 67,6 77,8
58,6 68,2 75,8
Total 1970 1 98 0 1 98 8
5 4 .3 61 ,1 8 0 ,2
3 9 ,2 4 7 ,7 5 6 ,7
7 1 ,6 7 9 ,2 8 3 ,6
7 0,1 8 0 ,1 8 3 ,8
5 7 ,0 6 7 ,9 7 7 ,5
6 0 ,3 6 8 ,8 7 5 ,4
1 Dados de 1988, exclusive população rural. 2 Dados de 1988, exclusive população rural da região Norte. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970 e 1980. IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), 19Ç8.
no Sudeste. Um terço dos brasileiros que trabalham recebe até um salário mínimo (Tabelas 5 . 3 a e 5.3b).
T a b e l a 5. 3 a
Desigualdad es de renda p or sexo - 19 81 -198 91 (renda média mensal em dólares)
A pobreza está relacionada à baixa remuneração do trabalho não qualificado em oposição à alta remuneração de serviços técnicos e gerenciais, e a distribuição desigual da renda aumen tou. (Tabela 5.2) Apesar da redução das desigualdades regionais —devido aos ganhos reais registrados no Nordeste e no Centro-Oeste — a concentração da renda cresceu. Cerca de 60% da população economicamente ativa que recebe algum rendimento (52,4 milhões de indivíduos dos quais 35 milhões de homens) não ultrapassam a casa de dois salários mínimos, o que demarca a linha de pobreza, atingindo o máximo no Nordeste e o mínimo 174
Sexo TÕtãl Homens Mulheres
1981
19 83
1985
155,72 250,48 64 ,77
137,75 219,83 58,48
163 01 258,59 71,52
1 Exclusive populaç ão rural da região Norte. Fonte: IBGE, 1990b.
175
1987
1989
178,26 277,61 83,85
209,27 327,64 97,44
Tabela 5.3b
T a b e l a 5 .4
Desigualdades regiona is de renda - 1989 (renda média m ensal em dólares) Brasil1 Total Homens Mulheres
209,27 327,64 97,94
Norte2 Nordeste Sudeste 217,02 335,74 108,86
107,10 169,46 48,97
265,28 413,25 126,83
Sul 212,44 333,27 95,12
Abastecim ento de águ a e esgoto po r regiões (%) 1970-1986 CentroOeste 235,34 368,86 106,39
1 Exclusive população rural da região Norte. 2 Exclusive população rural. Fonte: IBGE, 1990b.
Além disso, os trabalhadores carecem de amparo legal. Embora legalmente se exija dos empregadores que assinem a carteira de trabalho de seus empregados, somente um pouco mais da metade dos trabalhadores tem carteira de trabalho assinada, carteira que garante o acesso ao seguro-desemprego, tribunais do trabalho e benefícios públicos. Esta maciça evasão do registro legal é uma das mais impressionantes violações da lei no país. Em todos esses aspectos, a pior situação ocorre no Nord este e entre as mulhere s. Precárias condiçõ es de vida das famílias e mortalidade infantil são corolários dessas situações. O acesso desigual e inadequado aos serviços públicos reduz a renda real. Um dos piores problemas que afetam a saúde é a : ausência de rede de esgotos, situação que é particularmente grave no Nordeste (Tabela 5.4). Na década de 80, com a crise fiscal do Estado, os serviços sociais se deterioraram ao extremo, assi m como a escola pública. A violência se intensificou nas rua s, bair ros e domicílios, e o sistema de transporte coletivo, irregular e apinhado, tri tura a existência cotidiana do trabalhador, que gasta grande parte dos seus dias em longas viagens da residência para I o trabalho. í } Áf
Região Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul CentroOeste
Abastecimento de água 1970 1980 1986 32,8 54,9 69,9 .19,2^ 39,2 '81,9 -, 1 2 , 4 ^ 31.6 47,4 51,6 72.6 84,íb 25,3 52,0 65,4
1970 26,6 8,8 8,0 43,9 20,1
Esgoto 1980 43,2 20,4 1-8,2 63,5 40,3
1986 51,1 51,8 28,2 71,3 55,1
19,9
15,0
21,8
29,6
41,7
58,8
1 Exclusive população rural da região Norte. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970 e 1980. IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), 1986.
O campo bra sileiro não é comparável às áreas rurai s da África, Ásia, nem mesmo com grande parte da América Latina. A pobr eza rela cio nad a ao c amp o bras ilei ro está fo rtem ente liga da aos centros urbanos . A maior parte da população de mise ráveis ocorre em áreas “urbana s”, isto é, núcleos urbanos com menos de 20.000 habitantes, onde a população d epende tanto de empregos sazonais e temporários_na agricultura como de j • empregos nas cidades?-® Informações sobre salários, renda, acesso às amenidades, prot eçã o trabalhista e alfabetismo. evidenciam que a pobrez a está concentrada no campo, no Nordeste e entre as mulheres. Em contrapartid a, as estatísticas sobre as condições sociais pou co dizem sobre as estratégias de sobrevivência criadas pela popul ação pa ra comp leme nta r a renda familia r e resis tir à pob reza a bsolu ta. Indícios dessa estratégia pa rece m ser o de clínio da fecundidade e a crescente mobilidade do trabalho.
•
17ê
177
A mo bil idade do trabalho
A concentração do capital e o crescimento econômico não repousaram apenas na repressão salarial, mas também na ex traordinária intensificação da mobilidade histórica dos trabalha dores. O processo migratório resultou não só na ampliação da margem de pobreza, mas na emergência de novas frações sociais que compõ em o universo da sociedade capitalista. Simultane amente, intensificaram-se a rotatividade do emprego e a “polivalência”, isto é, o exercício de múltiplas tarefas ou múltiplos empregos por um mesmo indivíduo. Esta mobilidade espacial e social foi induzi da pela mod erni zação das firmas, por políticas trabalhistas explícitas, bem como polític as nã o ex plícitas, t end o dois condic ion antes p rin cip ais. De um lado, a atração exercida pelos espaços dinâmicos, com novas oportun idade s de emprego e/ou de acesso à,terra, sobre tudo no Sudeste, nas metrópoles e, secundariam ente, na fron teira (Centro-Oeste e Amazônia) (Fig. 5.2). De outro lado, a modernização da agricultura que liberou a mão-de-obra rural em todo o país, retirando do Nordeste a quase exclusividade que possuía como fornecedor de migrantes. A mecanização subsidiada pelo governo, cujo melhor exemplo é o cultivo da soja, transformou o Estado do Paraná, de uma “fronteira móvel cafeeira” no maio r exportad or de mão-de-obra em apenas uma década (1970/80). A concentração da propriedade da terra decorren te de sua valorização e do acesso diferenciado ao cré dito resultou na expropriação violenta de pequenos p roduto res (posseiros, parceiros, pequenos proprietários, etc.). Em conseqüência, a mobilidade passou a se dar na escala nacion al e se fragmen tou a estru tura de classes sociais. A mobilidade está em grande par te associada à formação de um novo mercado de trabalho com especificidades regionais. For mou-se um proletariado diversificado, cujo primeiro tipo é o prole tar iad o móvel rural -ur bano. Nas áreas onde o mercad o de
PoticipoçaoR elativa C D I m i gr a nt e s Emigrantes Intensidadedosfluxo s 200
O
400
800
1200
UI i I i 1 i I
Milhares de habitantes
Figura 5.2 Fluxos migratórios no Brasil —1970-1980. (Fonte: Ablas e Fava, 1984) t
179
178 ti >s
!
trabalho é melhor organizado, como São Paulo, assalariados rurais permanentes foram transformados em trabalhad ores tem porários que vivem nas cidades e vão traba lha r diariam ent e no campo, “osbóias-frias”. Em áreas menos capitaliz adas, o c am pesina to tradicional se adaptou, transformando-se em semiproletários e semicamponeses, vendendo o seu trabalho alternati vamente para o mercado urbano ou rural depende ndo da esta ção, e residindo em áreas urbanas. Esse processo significou maior instabilidade e exploração do trabalho, pois permite manter baixos os salários, induz à ampliação da jornada de trabalho e “libera” os patrões das obrigações trabalhistas. Um segundo tipo de proletariado corresponde aos emprega dos no se tor urbano formal e informal das grandes cidades e que respond e em grande p arte por seu crescimento. Ressalta, de um lado, a formação de um operariado de melhor qualifi cação associado à expansão da indústria metal-mecânica em São Paulo. De outro lado, uma fantástica massa de em pregadores e empregados co nstituindo um a “economia paralela” que foge da regulação oficial. Ainda pouco estudada, essa massa inclui atividades muito diversificadas, que vão desde o pequeno ven dedor am bulante até as pequenas indústrias. A expansão e diversificação da classe média associada ao Crescimento dos setores secundário e terciário e do aparelho do Estado constituem um dos fatos mais marcantes da trans formação da sociedade brasileira nos anos 60 e 70. Sua situa ção é instável, na medida em que tem uma propens ão consumista superior aos meios de que dispõe para satisfazê-la e é sobre quem recai o pesado fardo dos impostos da “economia oficial”.
O novo significado da urbanização Uma urbanização com ritmo acelerado, cujas taxas são das mais elevadas no mundo, constitui a maior força por trás da modernização autoritária, atuando como um instrume nto e um prod uto das pol ític as gove rnam entais, dos seus efeitos não prev isto s e dos ajustes espontâne os d a soci edade. Isto porqu e a urbanização é o nexo da articulação do Brasil à economiamundo como semiperiferia. Os núcleos urbanos são a sede das novas instituições e da circulação de bens, capital e informa ções e são também o lugar onde a força de trabalho, expulsa pela mo dernizaçã o agrícola, reside, circula e é ressoc ializada , ingressando na modernidade da pobreza. As transformações estrutu rais da economia e da sociedade que caracterizam a semiperiferia assumem forma concreta e expressão máxima na formação de uma cidade mundial, São Paulo, que se toma um dos centros de controle e acumulação de capital em escala planetária. SãoPaulo passaa terpo dern ão apenas como mais importante núcleo produtivo do país, mas sobretudo como veículo de articulação financeira, de informação, de P & D, de indústrias de ponta com a economia-mundo. Preenche, as sim, duplo papel: estabelece o nexo com a economia-mundo e exerce o comando da integração econômico-financeira-tecnológica do território nacional como cabeça de sua rede urbana.
Urbanização acelerada
O Brasil se transformou em um país urbano, em poucas décadas, comprimindo no tempo um processo que alhures se fez muito mais lentamente. As áreas urbana s passaram a con centrar 80 milhões de indivíduos. Ao contrário dos países la-
tino-americanos como os do Cone Sul, que têm urbanização mais estabilizada, o Brasil manifesta um processo extrem amente dinâmico devido, em grande parte, ao próprio crescimento urbano —que não se reduz à mera “inchação” das cidades —à mobilidade da população e à fronteira móvel.
T a b e l a 5 .5
Taxa de urbanização no Brasil - 1950-1989 Ano 1950 1960 1970 1980 1989
População Total 51.944.397 70.197.370 93.139.037 119.002.706* 144.293.110
População Urbana Absoluta 18.782.891 31.533.681 52.084.984 80.436.409 107.239.796
% 36,2 44,9 55,9 67,6 74,3
* Não está incluída a população rural da região Norte. Fonte: IBGE, Censos Demográficos, 1950, 1960,1970 e 1980. IBGE, 1990b.
Entre 1950-80, dobrou o número total de cidades, mas o crescimento mais significativo ocorreu nas c idades médias e grandes. As cidades de mais de 100.000 habitantes passaram de 11 para 95, representando em 1980, 48,7% da população urbana do país. Dois movimentos complementares caracteri zam a urbanização: a acentuação da concentração e a tendência à dispersão espacial (Davidovich e Friedrich, 1988). (Fig. 5.3) Em termos de concentração, as regiões metropolitanas au mentaram sua participação relativa, nos anos 70, de 25,5% para 29,0% do total da população urbana. A indústria teve papel central no crescimento das metrópoles e das aglomerações urbanas imediatamente abaixo deste nível. Somente as regiões metro polita nas de São Paulo e Rio dej ane iro —com 12 milhões e 9 milhões de habi tante s, respecti vamente —jun tas respondi-
Figura5.3 Urbanização brasileira pormesorregião -1970-1980. >* n (Fonte: Egler, 1989) ' j~ T '/ 7. ) p> j'-.
am, em 1980, por 75,4% do pessoal ocupado e quase 65% do valor da transformação na industrial em todo o país. Estas metrópoles são secundadas,.tanto ao nível do cresci mento demográfico, como de situação de renda, por dois tipos de cidades: a) as que correspondem à desconcentração ind us trial de São Paulo ou à implantação da fronteira científico-tecnológica, e tiveram crescimento demográfico superio r ao da pró pri a região m etro politana paulista, como é o caso de Cam pin as e São José dos Campos; b ) regiões me trop olit ana s com indústrias ou pólos industriais avançados, como Belo Horizon te (metalurgia e material de transporte), Salvador (petroquími ca), Curitiba e Porto Alegre (indústrias diversificadas). A tendência à dispersão urban a, tanto em termos p opulacio nais, como de renda, se faz por três modalidades, movidas po r fatores que não se ligam diretamente à indústria, geralmente correspondendo a posições de contato entre áreas de economi as diversas. A primeira modalidade é a extçnsão contínua de centros urbanos a partir da cidade mundial; trata-se de cidades ricas que baliza m regiões de agricultura diversificada e regiões basica mente pecua rist as por onde avan ça a agricu ltura mod er na da soja e da cana-de-açúcar. A segunda é a formação de uma ampla frente urbana de interiorização correspondente às grandes capitais estaduais dos Estados do centro-norte, quejbalizaina urbanização no in terior como pontos de contato e intermediação entre as bordas da cidade mundia l e áreas de avanço da fronteira. Papel central na pre sen ça de gra ndes pop ula çõe s e de renda s rela tivamente elevadas deve-se ao Estado. O expoente máximo de ssa situação é Brasília, a capital da geopolítica, que registrou a maior pro porç ão no país da PEA urb ana nas mais a ltas classes de renda. A terceira modalidade da dispersão é característica da fron teira. Inclui centros regionais e locais que constituem a base logística das frentes de expansão agropecuárias e minerais; inclui também o crescimento explosivo de pequenos núcleos disper sos vinculados à abertura da floresta ou a garimpos, que se ^9 o 184 '0 -Wi A/\ ( . r c 'u- A UH
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