Banda de Fanfarra Escola e Identidade Scio-cultural

May 6, 2018 | Author: Jair Demutti | Category: Sociology, Learning, Reality, Thought, Schools
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Descrição: Para incentivar a criação de bandas nas escolas....

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BANDA DE FANFARRA, ESCOLA E IDENTIDADE SÓCIO-CULTURAL: um estudo de caso na escola Amauri de Medeiros.

Windson Alves do Monte¹ Maria Sandra Montenegro²

RESUMO:  Este

estudo investiga uma banda de fanfarra de uma escola pertencente à rede estadual de Pernambuco, os seus componentes e a visão que estes têm t êm em relação a sua atividade na banda. Tendo como objetivos: perceber se a banda de fanfarra contribui  para melhoria da qualidade na formação sócio-cultural dos alunos que dela fazem parte, o valor que os alunos integrantes da banda atribuem a esta atividade artístico-musical, investigar se há relação entre a participação na banda e a elaboração de projetos ou expectativa de planos futuros após a o termino do período escolar básico e por fim, entender se há melhoria nas relações interpessoais entre os componentes da banda em função desta atividade. Foram realizadas entrevistas com cinco componentes da banda  para que pudéssemos pudéssemos através de análise atender aos objetivos propostos a luz dos referencias teóricos disponíveis. Os depoimentos analisados demonstraram: grande valorização por parte dos componentes da banda ao exercício de sua atividade artísticomusical, que está presente em planos futuros o desejo de se manter em contato com a arte e por fim, que há melhoras nas relações interpessoais entre os componentes da  banda em função desta atividade, atividade, levando levando a concluir de forma geral que a banda, banda, contribui efetivamente para melhoria da qualidade da formação sócio-cultural de seus componentes.

PALAVRAS-CHAVE: PALAVRAS-CHAVE: Bandas de fanfarra. Formação For mação sócio-cultural. sócio-cultural. Produção artística. 1. INTRODUÇÃO O ser humano pode mudar sua realidade através de diversos caminhos, dentre os quais incluímos a arte. A realidade social dos diferentes grupos sugere manifestações artísticas peculiares segundo valores inerentes a estas, os grupos de bairros, familiares ou com algum parentesco, de forma geral com atividades em comum. Nesta perspectiva, observa-se o entorno escolar e conseqüentemente a comunidade escolar como campo fértil das atividades comuns, do compartilhar e produzir idéias criativas que ajudam na construção de uma existência melhor (FREIRE, 1996).  _______________________  __________________________________ ________________ _____ 1--Concluinte de Pedagogia—Centro de Educação – UFPE. [email protected] 2—Professora Dr. Adjunta  – Centro de educação  – UFPE. [email protected]

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As bandas de fanfarra, grupos formados a pretexto de desenvolver atividade musical e, portanto artística, na escola ou em associação a esta, são de fato exemplos  práticos das concepções concepções defendidas pelos teóricos que falam da arte disseminada disseminada de diversas formas e que contribuem para auxiliar os grupos das camadas populares a descobrirem seus talentos artísticos. Faz-se presente neste trabalho a definição de cultura, segundo uma perspectiva sociológica, que defende que a arte é uma precípua janela para a produção cultural, natural das ações de auto-reconhecimento do homem moderno e de sua identificação como ser do mundo e participante ativo neste, tendo como principio sua atitude de liberdade das idéias e de suas ações (MAE, 2009). Exercendo minhas atividades diárias como estagiário de educação, em uma  biblioteca localizada no bairro de Afogados em Recife, tive a oportunidade o portunidade de ouvir do lado de fora de uma escola, próxima de meu local de trabalho, quando passava por suas  proximidades quase que diariamente, ensaios ensaios de uma banda de música com instrumentos de sopro e percussão, que incessantemente se repetiam. Observando também a presença de jovens da comunidade, pessoas do entorno escolar e outros transeuntes acompanharem com certa atenção àquela atividade, de pronto tive a sensação de que ali ocorria um evento típico daquela realidade, daquele momento histórico. Esta experiência de caráter empírico deu forma ao questionamento central deste  presente trabalho: investigar se a banda de fanfarra da escola Amauri de Medeiros contribui para melhoria na qualidade da formação sócio-cultural dos alunos que dela fazem parte. Atendo-nos ainda, a objetivos específicos: específicos: a) analisar a nalisar o valor que os alunos integrantes da banda atribuem a esta atividade; b) Investigar se há relação entre a  participação na na banda e a elaboração elaboração de projetos ou expectativa expectativa de planos futuros após a o término do período escolar básico e c) entender se há, em função do trabalho com a  banda de fanfarra, melhora nas relações interpessoais entre seus componentes, co mponentes, no que firma o respeito às diferenças de concepção da realidade do outro e as diferentes formas de perceber o mundo. Entendemos que a questão levantada tem relação com a construção da identidade cultural e de valores valores sociais e que pode ser ser tema desta presente presente pesquisa; expondo a ação de construção do pensamento comum, de pertencimento ao grupo, com implicações de grande repercussão na vida dos participantes da banda e daqueles que a

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acompanham, como expectadores apenas ou ativamente contribuindo com sua causa e atividade-fim. A partir da realidade daquelas pessoas e da nossa, do fenômeno visto ao acaso e do momento constituído, percebemos este tema como relevante contribuinte para as questões tratadas em educação quanto a temáticas sociais e culturais, ainda pouco exploradas na perspectiva da arte, ou educação em arte, tanto na escola em sala ou fora dela. Buscamos contribuir ativamente com este campo de pesquisa através da busca e trabalho com argumentos teóricos e empíricos. 2. REFERENCIAL TEÓRICO Cultura: definições e concepções.

A arte está ligada à produção cultural. Entendendo que está é inerente ao ser humano em seu ímpeto criativo, abstrato, que baseado nos diferentes temas de sua realidade contextual a produz segundo seu senso estético, suas experiências de vida e suas determinações ideológicas. Dentre varias definições de cultura, compactuamos com a elucidação de Ana Mae (2007), a qual define cultura em sentido amplo e também restrito onde: [...] cultura é um campo organizado de atividade humana coletiva que tem características que operam dentro dos limites mais ou menos definidos, os quais estão em constante modificação. (p. 1)

Continuadamente, em sentido restrito, apresenta outra face muito mais ligada a concepção subjetiva, ou seja, de visão dos outros, ao observar hábitos necessariamente “cultos”, assim socialmente considerados, gestos corporais, modo de comunicação verbal, entre outras características associadas. Pressupostos a produção artística, os valores culturais mediam relações de caráter favorável com o grupo de produção afirmativamente cultural e sugere o reconhecimento de tais valores como próprios daqueles que deste grupo fazem parte. A  produção do grupo, entendendo-a como arte, de forma geral, é embasada na concepção de que cultura, produzida por todos, portanto, democrática, em diversas circunstâncias, utilizando-se de diferentes meios: a música, a pintura, a escultura. Humanisticamente considera-se a universalidade da arte e a onipresença da produção cultural em todas as

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classes sociais e sociedades afins. Mae (2009), em sua obra: Arte/educação como mediação social e cultural, descreve as diversas concepções de cultura no ocidente e nesta ação, a autora cita Finkielkraut e a concepção homogeinizadora da cultura. Nesta concepção horizontal, se desconstrói a idéia de que apenas a elite produz cultura, em função de sua arte. Mae (2009) enfatiza que: Segundo a abordagem horizontal, típica da pós- modernidade, todas as produções valem e devem ser tratadas de maneira equânime e equivalente. As escalas e as diferenças são equalizadas visando a uma horizontalização do interesse e do  julgamento. As produções são valorizadas por elas mesmas, por sua simples existência, ou por sua necessidade local. Não são  jamais valorizadas em detrimento de outras. Toda diferença de valorização é suspeita e contestada em nome de valores gerais e relativos. (p. 30)

Laraia (1986) explica diversos conceito de cultura e como este foi trabalhado ao longo de gerações, passando pelo crivo da visão biológica e geográfica, a exemplo da concepção de Huntington e sua obra Civilization and Climate, em que diz ser o caráter geográfico determinante para fundamentação cultural de uma sociedade. Sendo claramente criticada por outros teóricos que buscaram a constituição correta desta linha de pensamento, citando entre eles: Boas, Wissler e Kroeber. [...] refutaram este tipo de determinismo e demonstraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre os fatores culturais. E mais: que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo tipo de ambiente físico. (LARAIA, 1986, p.12)

Em seu entendimento de cultura, proveniente de abrangente pesquisa, passando  pelos antigos pensamentos tecidos por Heródoto (484-424 a.C.), a discrição do povo Lício e sua cultura, até as mais atuais referências aos conceitos deste tema, afirmados  por Edward Taylor, do ponto de vista antropológico, em sua obra Primitive Culture (1871), que diz da potencialidade da exatidão nos estudos em cultura, que por demonstrarem relação exata entre casualidades e situações, propiciam a elaboração de leis e afirmativas reais sobre estes referidos eventos, tornando-se concreto objeto de estudo, Laraia afirma: O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam. A

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manipulação adequada e criativa desse patrimônio cultural  permite as inovações e as invenções. Estas não são, pois, o  produto da ação isolada de um gênio, mas o resultado do esforço de toda uma comunidade. (LARAIA, 1986, p.24)

A partir explanação destes conceitos, entendemos que a banda de fanfarra é uma instituição de provimento artístico e sendo ela associada à escola e a comunidade, como locais de efetiva interação, entendemos que através de seus componentes e de sua atividade musical, produz arte e, portanto, cultura em um movimento e ir e vir da construção de seu próprio saber cultural. Escola, arte e produção de conhecimento.

A escola, lugar de construção de novos conhecimentos, do desvendar das ciências, do tecer do aprendizado em conjunto de mestres e alunos de maneira horizontal como afirmou Paulo Freire (1987) durante toda sua vivência academicamente  produtiva, também é lugar das experiências de vida. Local de desenvolvimento de diversas habilidades cognitivas, da consciência plena sobre si e sobre questões sociais, que não estão apenas ligadas a sala de aula. Estas experiências, geradas no vivenciar da atividade complementar em que a brincadeira nos intervalos, os jogos na quadra ou no  pátio, as rodas de cantigas ou grupos de atividades em comum são afazeres, de forma geral, contribuintes do reconhecimento do outro e de sua relação com o mundo, do seu grupo e da implicação de sua percepção como parte deste, de seu personagem. Dourado e Prandini (2001) interpretando o pensamento de Henri Wallon sobre psicologia e educação afirmam: Vivenciar a necessidade de se perceber como individuo, ao mesmo tempo, de medir sua força em relação ao grupo social a que pertence, faz desta fase um período crítico do processo de socialização... (DOURADO; PRANDINI, 2001, p.9)

Grupos definidos por atividades ligadas ao lazer e/ou ações voluntárias a exemplo das bandas e fanfarras existem no ambiente escolar e fazem deste um nicho específico de desenvolvimento, rico em seu caráter socializador, cognitivo e cultural. Um estudo feito por Campos (2005) intitulado por: Música na educação escolar: as  práticas musicais no contexto de educação artística (1971-1996) enfatiza bem a realidade dos grupos e de sua efetiva assunção em comum com a atividade extraclasse, ligada a música, que é praticada não em sala de aula, mas fora dela.

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Apesar da educação musical não ter sido privilegiada em sala de aula, constatou-se a predominância de atividades musicais extraclasse, caracterizadas pela formação dos grupos como o coral e a fanfarra. (CAMPOS, 2005, p.6.)

A partir disto, a arte, de forma genérica, propicia este desenvolvimento e traz às  benesses de seu exercício a dinamicidade das relações pessoais entre os pares. O ensino de música apenas recentemente instituído nos currículos obrigatórios ao longo da vida escolar secundarista pela lei 11.769, de agosto de 2008, artigo 26,  parágrafo 6, que consta: §__6º__A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular que trata o § 2 deste artigo

Torna-se fomentador da promoção da arte e das experiências que esta pode lhe  propiciar em seu sentido amplo, complementador e interdisciplinar, uma janela para as afirmações culturais e de humanização do ser em formação, via de regra, ou como afirma Ana Mae: A arte, como uma linguagem aguçadora dos sentidos, transmite significados que não podem ser veiculados por meio de nenhum outro tipo de linguagem, como a discursiva e a científica. (MAE, 2007, p.1)

Como dito antes, a novidade do ensino de música inserida nos textos que dizem de sua obrigatoriedade, o método, as formas avaliativas e formais de apreensão do conhecimento se dá na sala de aula com advento de grande positividade, isto é fato. Contudo, observando que não apenas em sala, com um professor legalmente instituído, guardando todas as formalidades dos métodos educativos reivindicados pelas instituições de ensino superior e de formação de profissionais de educação, há a conformação dos valores que a arte propicia ao seu interessado. Verificamos que outras formas de trabalho neste tema quase sempre foram utilizadas pela instituição-escola ou  pessoas ligadas a ela de maneira não legalmente reconhecida, de forma anexa, periférica e em tantas vezes experimental. Podemos neste sentido citar como exemplo a iniciativa que surgiu em meados de 1930, em São Paulo, para crianças e adolescentes de maneira extracurricular, a

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Escola Brasileira de Arte, que foi de idealização da Professora da Rede Pública Sebastiana Teixeira de Carvalho e que funcionava como anexo ao Grupo escolar João Kopke, onde crianças e adolescentes podiam estudar música, desenho e pintura, fazendo surgir no Brasil, as primeiras manifestações no sentido da arte como determinante à interdisciplinaridade

dos

conhecimentos

apreendidos

na

escola

formal

e

desenvolvimento cognitivo do iniciante (MAE, 2008). Bandas e fanfarras ao nosso interesse e concepção fazem parte desta realidade, no que diz respeito ao trabalho com arte e a atividade de grupo. O trabalho com música e a construção de uma consciência sócio-cultural.

Através do ensino de uma atividade ligada as artes, a pintura, a escultura e, sobretudo, a música, aqui enfatizada para efeitos de satisfação das proposições de análise deste trabalho, tem-se a constituição de atributos referentes a identidade cultural e social que definem o estudante como ser cidadão, proativo na sociedade escolar e em seu grupo de convivência ou ainda o que ratifica Ana Mae: A arte capacita um homem ou uma mulher a não ser um estranho em seu meio ambiente nem um estrangeiro em seu próprio país. Ela supera o estado de despersonalização, inserindo o individuo no lugar ao qual pertence, reforçando e ampliando seus lugares no mundo. Daí se falando tanto em arte para configuração da identidade dos indivíduos e das nações. (MAE, 2007, p.1)

Há sim, na arte, o poder de fazer com que a percepção do mundo e dos valores torne-se diferenciada, no sentido do exercício da criticidade, a construção da consciência de sua realidade e do acesso as coisas do cotidiano de forma não totalmente concreta, seria assim um exercício a abstração dos fatos que ocorrem corriqueiramente,  portanto: [...] a eficiência da arte para desenvolver formas sutis de  pensar, diferenciar, comparar, generalizar, interpretar, conceber possibilidades, construir, formular hipóteses e decifrar metáforas. (MAE, 2007,p.2)

Sendo a prática da arte fundamental ao aprendizado, ou a articulação dos conhecimentos apreendidos em função de seus benefícios, anteriormente enumerados  por Ana Mae, temos, portanto, uma expressão simples que se define pela união da escola, lugar de fomentação dos novos conhecimentos, com os benefícios totais do

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trabalho com a arte, sendo ela pintura, música ou escultura. Enfim, dentro deste raciocínio a banda e a fanfarra estão imbuídas de suas missões que, por tratar da música, sendo esta arte, tem papel definido no processo a que se refere o tema. Lima (2000), em sua dissertação de mestrado (UNICAMP, 2000): A banda e seus desafios: levantamento e análise das táticas que a mantêm em cena, observa a função da banda junto à comunidade e como esta se utiliza de táticas e do apoio dela  para sua sobrevivência no cenário atual, conquistando-a segundo sua imagem associada a escola e ao trabalho que esta desenvolve no tocante a novas possibilidades aos jovem daquela comunidade, conseguindo, por fim, seu apoio. A escola pública faz parte da comunidade a qual é inserida, recebe este dito apoio ou é desaprovada em função da efetividade de suas atividades para com seus conviventes: alunos, pais de alunos e até mesmo aqueles que sustentam uma opinião sobre esta ou aquela instituição de ensino. Em favor deste pensamento, observemos o registro encontrado no trabalho de Campos (2005) quanto a uma escola estadual do Matogrosso, chamada Maria Constança Barros Machado, em que através de depoimentos, percebe emissão de opiniões positivas, moldando assim, a face da escola junto ao seu entorno, levando-se em consideração trabalhos ligados a música e a arte em geral. As diferentes atividades musicais revelam elementos culturais de uma escola viva e significativa para comunidade. Depoimentos apontam esta escola como uma instituição muito criativa, dinâmica e respeitada [...] Os alunos que se formavam lá, não precisavam fazer cursinho. Os professores eram muito bons, muito competentes [...] Uma escola pública que dava gosto. (CAMPOS, 2005, p.28) grifo nosso.

Ainda, referindo-se a imagem de escola e de seus afazeres e o conseqüente apoio da comunidade, Lima (2000) registrou em seus escritos o percebido em sua pesquisa: a fundamental prática do voluntariado para a existência e continuidade da atividade artística das bandas junto as suas comunidades e logradouros. Classificou tipos de voluntariados observados em: voluntariados ocasionais, provisórios e definitivos, onde, aqueles ajudam em função do concurso que a grupo participa no momento, esses ajudam em função de uma promessa de contratação e estes estão a toda prova, do inicio da banda até questões financeiras, arrecadação de fundos de algum interesse, observando, como atuam e a concepção dos mesmos nesta atividade, os quais a entendem como atitude de responsabilidade social e afirma que:

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Esses grupos têm servido como centros de estímulo a talentos  promissores, além de espaço de integração social que dinamiza as relações humanas (a minha experiência  profissional, após 15 anos como regente de banda, é um testemunho destas palavras. (LIMA, 2000, p. 19)

Assumindo assim, a banda, esta característica funcional, leva-se a crer que além de apresentar benefícios inerentes ao trabalho com arte, está ligada ao reconhecimento social proveniente dos demais seres atuantes na comunidade, em seu entorno escolar, sua função social é bem representada nas palavras de Lima (2000): Para as comunidades, a manutenção desses grupos significa não somente o estímulo ao aprendizado musical, o que já é  bastante enriquecedor, mas também a garantia de um espaço que permite aos pais saberem onde estão seus filho e o que fazem, com quem se relacionam; longe das drogas e da marginalidade.(p. 24)

A comunidade relacionada com a atividade da banda observa a esta como sendo oportuna aos interesses dela, o alçamento de um jovem como músico em potencial, uma oportunidade profissional em uma nova atividade exercida por aqueles que, a priori, seriam os representantes daquele grupo social, uma nova geração, uma nova esperança de melhora para comunidades não favorecidas econômico-socialmente, tendo por fim, aí, um depósito de seus interesses. A cultura se faz presente no trabalho com as atividades artísticas, sendo a valorização do que é realmente pertencente ao meio de vida do interessado neste campo, um de seus maiores benefícios: Por tanto, compreender a arte como uma área do conhecimento, como uma construção social, histórica e cultural é trazer a arte  para o domínio da cognição (SILVA, 2005, p.62)

A partir da compreensão do que é cultura em seu sentido abrangente, aprende-se a respeitar as diferenças, sendo em razão de sua própria arte ou razão da diferenças oriundas de outrem, tendo simultaneamente crença em seu valor e valorizando o outro, sob uma perspectiva geral de tolerância e compreensão das desigualdades. Sendo a banda de fanfarra, um grupo, que trabalha com a música, que recebe da comunidade esta força e também daí traz a força de sua existência através das ações de voluntariado de seus comuns, movidos pelo amor ao vivenciar artístico, imbuído de interesses sócio-políticos, que tratam do futuro do jovem e sua respeitabilidade. A construção da identidade cultural é ponto chave em uma estrutura a se desenvolver.

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3. ASPECTOS METODOLÓGICOS. De acordo com nossa inquietação inicial, pela busca ao atendimento do nosso objetivo que seria: verificar se a banda de fanfarra da escola Amauri de Medeiros contribui para melhoria da formação sócio-cultural dos alunos que dela fazem parte, nos utilizando, a princípio, da literatura disponível no que trata o tema, levantamento  bibliográficos das fontes oportunas, sendo este feito logo após a delimitação dos objetivos, a escolha do campo e também do instrumento de pesquisa, permeado pela concepção de caráter qualitativo, que observa a consecução dos fatos em um contexto  peculiar, interpretando e relacionando eventos cientificamente. A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se  preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que  podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. (MINAYO, 1994;  pág. 21-22)

À luz da metodologia de pesquisa qualitativa, temos segundo Moreira e Caleffe (2008), uma significativa diversidade de abordagens e seus diversos elementos: a) coleta de dados, b) seleção dos participantes e c) análise dos dados. Respectivamente, em um primeiro momento decidimos por utilizar, quanto a coleta dos dados, a estratégia da entrevista semi-estruturada, um instrumento para compreensão da fala dos sujeitos, que segundo os autores em suas vantagens se torna viável, pois: Ao usar a entrevista semi- estruturada, é possível exercer um certo tipo de controle sobre a conversação, embora se permita ao entrevistado alguma liberdade. Ela também oferece uma oportunidade para esclarecer qualquer tipo de resposta quando for necessário, é mais fácil de ser analisada do que a entrevista não-estruturada, mas não tão fácil quanto a entrevista estruturada. (MOREIRA; CALEFFE, 2008, pág. 169)

Elaboramos anteriormente o teste-piloto do protocolo de entrevista, fazendo os testes primários, visando ajustes necessários à realidade do campo e em comum acordo com as normas científicas vigentes. Este foi realizado em outra escola localizada na

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zona metropolitana do Recife com uma banda similar a que seria posteriormente campo de pesquisa e foco dos questionamentos levantados. A princípio, os testes foram realizados com 5 componentes da banda “teste”, foram corrigidos após a prática, junto com a professora as possíveis dubiedades, duplas negativas e tudo que foi percebido como equívocos na constituição das perguntas.  No que tange a seleção dos participantes, seguimos a lógica da Amostra Intencional, segundo Moreira e Caleffe (2008), na busca por casos, os quais podem nos oferecer o maior número de informações possível. Segundo esta lógica de pesquisa, o ato intencional do pesquisador, a busca por determinados casos, frente ao que estes casos podem oferecer em nível de informação, é o que traz grande ganho para melhor análise dos dados coletados. Como tipo de amostragem, agimos em  stricto acordo com o caso típico apresentado por Moreira e Caleffe (2008) que firmam que esta lógica ressalta o que é normal ou a média. Segundo este tipo de amostragem, tem-se o intuito de observar os casos medianos do grupo e tornar simples o entendimento do tema apresentado, por aqueles que ainda não tiveram referido contato. Seria então um caso típico do grupo em análise, utilizando-se como recurso complementar deste tipo de amostragem o auxilio do informante-chave, para o desvendar de casos comuns, que segundo os autores seria o responsável pelo apontamento dos casos mais ricos em informações para a pesquisa. Estes casos típicos são selecionados com a colaboração de informantes-chave, tais como os professores de uma escola determinada, que conheçam as pessoas e possam ajudar a identificar os casos típicos. É também possível selecionar casos na análise das características da amostra em dados de levantamentos etc. (MOREIRA; CALEFFE, 2008, pág.179)

Contudo, os autores deixam claro que o caso típico não é uma generalização dos casos peculiares do grupo e sim uma média dos perfis que nele se apresentam. Para análise dos dados, nos utilizamos da interpretação da fala dos sujeitos baseado nos objetivos propostos e discutidos à luz dos referenciais teóricos aqui utilizados. A coleta de dados ocorreu em uma escola pública estadual localizada no Bairro de Afogados, com 655 alunos contabilizados no momento da pesquisa, onde a mesma oferece educação do 1º ao 9º ano e ensino médio. Com 6 turmas destinadas ao 1º ciclo, e 7 turmas destinadas ao 2º ciclo, ainda contabilizando outras 2 turmas para a EJA. Desta escola, faz parte a banda de música escolar Amauri de Medeiros, com 15 componentes, com idades variantes entre15 e 18 anos, composta por instrumentos de

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sopro e percussão sendo: 1 baliza, 1 porta bandeira, 2 pratos a dois, 1 prato suspenso, 4 trompetes(Cornetas), 4 caixas claras e 2 bombos. Participante em diversas competições e significativa concorrente em considerável parte destas, exibe troféus em sala apropriada, somando-se, ainda, fotos expostas em banners na portaria da escola. Fundada em 2001, pela turma do primeiro 3º ano do antigo segundo grau, com a ajuda do diretor e professores da época, a banda tem  por objetivos, segundo o próprio regente, levar a arte da música aos alunos da escola, divulgando a cultura do bairro e elevando a auto-estima de seus componentes. Tem como requisitos para participação, boas notas e comportamento considerado bom pelos  professores e coordenadores, não sendo necessário saber música em seu caráter teórico e prático, bastando ter uma noção de ritmo, firmando que o conhecimento sobre a  prática do instrumento vai sendo construído ao longo dos ensaios com ajuda dos experientes aos mais novos em música. A escolha dos componentes entrevistados foi feita com base na indicação do informante-chave, que neste contexto, foi o regente da banda, entendendo que estes, indicados por ele, seriam mais acessíveis ao pesquisador e que a principio revelar-seiam casos ricos em informações. As entrevistas foram realizadas com 5 componentes em visitas periódicas aos ensaios, nos sendo reservado por determinação

do regente

um tempo de

aproximadamente 30 minutos para cada entrevista, antes e após os mesmos, fazendo com que tivéssemos um número maior de visitas do que o esperado. Contudo, a duração das entrevistas não excedeu mais do que 15 minutos em sua realização por participante. Foram-nos apresentadas dificuldades com relação ao local para entrevista, pois, o ensaio se dava em uma quadra e não nos foi disponibilizada sala apropriada, com menos barulho e isolamento dos demais componentes da banda, nos fazendo mudar de local, apenas para a realização das entrevistas. Esta situação de deslocamento causou nos demais componentes, inicialmente, relativo desconforto em um primeiro momento, o qual foi amenizado ao longo dos encontros, entendendo eles que não eram perguntas de caráter capcioso. Em sala adequada, os participantes responderam a 12 perguntas que se encontram em anexo ao presente trabalho.  Neste estudo, buscamos apresentar uma amostragem, através de entrevistas realizadas com componentes da banda, que competiram ao menos 1 vez representando a instituição, obtendo êxito ou não em competições e que tem o tempo mínimo de ao menos 1 ano de atividade musical com o grupo . Tornou-se necessário a caracterização

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dos participantes, quanto ao seu perfil, associado a sua função na banda e tempo de  participação, no intuito de buscar possíveis diferentes opiniões dos heterogêneos afazeres apresentados na banda. Buscamos variar, dentro das possibilidades, os componentes entrevistados, para dar voz aos diferentes subgrupos de instrumentistas no intento de observar suas visões sobre esta atividade. Os participantes da pesquisa foram jovens de 15 a 18 anos, sendo 3 do sexo masculino e 2 do sexo feminino, variando em sua função, sendo: 1 tocador de trompete com 2 anos de atividade, 1 de caixa com 1 ano e 2 meses, 1 responsável pelo bombo com 3 anos, 1 baliza com 1 ano e 1 porta bandeiras com 2 anos. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO O valor da banda de fanfarra para os sujeitos.

Através do exercício da arte, de forma prática, sendo ela de qualquer segmento, tem-se o senso de valoração da produção pessoal ou de outros, atribuindo significados e opiniões que geram representatividade, portanto, neste pensamento, tem-se a constituição do auto-reconhecimento como parte ativa neste ciclo. Buscamos reconhecer neste momento, através das entrevistas, o valor que o componente da banda dá a esta atividade. Nos deparamos com diferentes respostas em sua forma, mas com grandes semelhanças em sua essência, notando a satisfação dada exercício da atividade e seu sentido estrito, o que denota valor, pertencimento e reconhecimento de sua contribuição aquela que seria uma atividade artística e portanto  produtiva culturalmente. Os participantes, quando questionados sobre a importância da  banda na sua vida, expressam-se de seguinte forma: “Eu acho importante na minha vida. Eu gosto de música. Aí eu toco e fico satisfeito, às vezes.” Trompete. “Pra mim é bom, porque eu acho que to fazendo algo importante pra mim” Bombo.

Podemos observar que as opiniões são diferentes quanto à forma, mas relativas a um mesmo pressuposto, de que o ato de tocar um instrumento remete boa experiência da construção da identidade cultural dos executantes. Converge assim, para o que se

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espera do trabalho com arte, a constituição dos atributos referentes a auto-estima e a identificação de si como parte integrante de um processo de aprendizado. Em outro momento percebemos este processo de aprendizado do oficio das artes como de grande significado para aqueles que dela fazem parte, ou seja, aos que estão ligados a esta banda especificamente. A resposta ao questionamento: Qual o significado dessa banda para você? “É... Aqui eu toco pra curtir. Também toco em banda de forró. (risos) Mas eu aprendi aqui na escola, só vendo a galera tocar. Ai (R) me  perguntou se eu queria tocar, eu disse que não sabia, ai fui aprender, foi aqui que eu aprendi a tocar.” trompete

O participante atribui significado ao ato de aprender, quando no final de sua resposta, ele afirma que foi naquele momento que ele aprendeu a tocar, ele diz, segundo nossa concepção, que a banda lhe deu a chance de aprender e está ai o maior significado dela em sua vida, dando-lhe o conhecimento técnico do instrumento e sua utilidade  posterior e inacabada quando faz menção a banda de forró que participa, um exemplo de que o aprendido esta sendo utilizado em outras atividades de sua vida. A banda da escola em estudo proporciona a seus alunos a oportunidade de aproximar-se da construção artística de um grupo que t rabalha com música, fazendo dos ensaios um chamariz para aqueles que possuem interesse pelo assunto. O ato de inteirarse com esta atividade implica em aprendizado, elevação do conceito estético e melhor assimilação do que era antes compreendido de forma leiga, uma valorização da  produção de diversas pessoas. Nas falas apresentadas a seguir notamos de forma clara a admiração dos componentes desta banda para com outras bandas vistas em concursos e apresentações em dias festivos. “Eu acho que eu ia para escola militar, por que eu acho organizado. Eu até fiz a prova de lá, mas num passei. Eu acho que se eu passasse eu estaria na banda deles, por que é organizada e eu acho bonito mesmo.” Trompete. “Eu acho que o Ginásio pernambucano tem a melhor banda, eles executam muito bem os temas, lá eles ensaiam até dá tudo certo” Porta bandeiras.

 Nota-se o grande valor que os participantes da banda atribuem a esta atividade. A análise das entrevistas apresenta-nos o fato de que o exercício da atividade artística eleva o grau de criticidade e valorização das produções neste segmento, atendendo a

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função primordial da banda: a elevação da auto-estima promovendo também o contato inicial do aluno com esta atividade reconhecidamente cultural. As implicações da participação na banda em projetos futuros.

A aquisição de novos conhecimentos, o acesso a novas informações traz uma gama de novos caminhos que estão relacionados a esta nova apreensão. Se tratando de arte, outros pontos devem ser observados. Como afirma Mae (2007) a arte  potencialmente é um ato de conceber possibilidades. Há neste momento de aprendizado  junto com a assimilação do conhecimento, a construção dos sonhos que o trabalho com arte propicia. Planos futuros são traçados, baseados na atividade atual. Diante destas concepções, buscamos analisar as declarações apresentadas pelos  participantes quando questionados sobre seus planos futuros após o termino de seu  período escolar básico. Buscamos saber se estes planos estão relacionados a sua atividade na banda e as possíveis implicações desta atividade no futuro dos que dela fazem parte. Observemos o que explanam os relatos a baixo: “Eu quero fazer vestibular quando eu terminar. É isso. Vou fazer o ENEM, né? E pretendo fazer outra coisa, entrar num grupo de teatro, fazer essas coisas ai.” Baliza. “Sim. Eu quero continuar com esta atividade musical. Vou aprender sax. Tem um curso aqui em afogados que é bom de música teórica.” Trompete. “Eu queria fazer um curso de extensão na Federal, pra vê se eu conseguia passar em música, eu quero fazer música” Caixa clara.

Atendo-nos aos depoimentos, fica visível a influência da banda nos objetivos futuros dos alunos que dela fazem parte, mesmo que não únicos e determinantes, ou seja, foco de suas decisões futuras. Está presente nos seus discursos a intenção de exercer atividades posteriores relacionadas ao trabalho com arte, evidenciando o desejo de permanente contato com esta atividade cultural ligada ao segmento da música. Este  pensamento esta em comum acordo com as palavras de Forquin citadas por Campos onde se entende que cultura nestes temos é:

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Conjunto de traços característicos de modo de vida de uma sociedade, de uma comunidade ou de um grupo, ai compreendidos os aspectos que se podem considerar como os mais cotidianos, os triviais ou os mais inconfessáveis. (FORQUIN apud CAMPOS, 2004, p.31)

Considerando as palavras de Forquin, entendemos que atividade artística é parte do cotidiano dos participantes da banda, portanto, indissociável de seus costumes, um legado que por conseqüência vem com assunção da atividade, repercutindo em toda vida, mesmo que não a exerça mais adiante. Temos ainda outras respostas significativas que ratificam o argumento aqui apresentado. De forma unânime, dentre os entrevistados, acha-se o entendimento de que a atividade iniciada, por muitos deles, em período escolar básico, é sim causadora de futuras escolhas em relação a sua vida. Observemos o que diz mais alguns protocolos: “É. Acho que sim. Gosto de dançar. É bom ser aplaudida. Só num sei onde vou fazer dança. Eu acho que vou na academia aqui perto. Lá tem aula de dança.” Porta Bandeiras. “Bom, eu , assim , fiz Enem né? Mas num sei como vai ser isso ai. Pretendo tentar outra vez né? Se eu não passar nessa, tentar conciliar né? A música com enfermagem , por que eu acho muito nobre apesar dos problemas que o  pessoal fala ai do salário, mas daqui pra lá, se Deus quiser  pode melhorar né? É também eu gosto assim da profissão, eu queria ser enfermeiro.” Bombo.

Portanto, é tácito que uma vez trabalhando com a música da banda, estes  participantes, pretendem levar esta atividade ao longo de suas vidas. O trabalho com arte e uma produção reconhecidamente cultural e de elevação da auto-estima dos alunos envolvidos. O trabalho com música na banda de fanfarra e as relações interpessoais entre seus componentes.

Segundo fundamentação teórica apresentada, o grupo é de fato importante para o reconhecimento de si e entendimento das diferenças dos outros, sendo considerado o  período escolar determinante nesta fase, assim com afirmam Dourado e Prandini (2001) à luz dos pensamentos de Henri Wallon. Segundo este teórico, o desenvolvimento da  pessoa se dá de forma integralizada em diferentes aspectos que sugerem o desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor, ligados necessariamente ao seu caráter

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social, ou seja, o meio onde se observa esta socialização é determinante ao seu desenvolvimento pleno e constante. Sendo segundo os autores: A ênfase é para a integração -- Entre o organismo e meio e entre as dimensões: cognitiva, afetiva e motora na constituição da pessoa. A pessoa é vista como o conjunto funcional resultante de integralização de suas dimensões, cujo desenvolvimento se dá na interação de seu aparato orgânico com o meio, predominantemente o social. (DOURADO; PRANDINI, 2001, p.1)

A partir deste pressuposto, entendemos ser a banda um grupo afirma relações humanas em caráter de convivência, as razões coletivas do grupo, seus interesses e suas objeções de caráter comum. Dentro desta perspectiva Lima (2005) observou em seus estudos uma banda escolar do interior paulista. Ele destaca a concepção das pessoas do grupo e fatores que seriam atrativos a participação dos jovens nesta atividade. Lima (2005) coletou depoimentos que sinalizavam as qualidades da banda: elevar a autoestima e a fomentação de novas amizades em função desta atividade, em que as viagens  para apresentações e atividades comuns como o ensaio seriam contundentes neste  propósito. Somente os participantes da fanfarra PAZ (que ensaiam nos sábados e domingos) desfrutam de oportunidades de viagens para apresentações musicais, ocasiões em que podem conhecer outras cidades, formar novas amizades e desenvolver a auto-estima, conforme menciona o percussionista Marcelo de (dezoito anos): Você aprende a respeitar o próximo e assim faz com que ele te respeite também. Aprender a tocar instrumentos coisa que nunca imaginei e hoje eu sei. Você acaba se tornando capaz e encontrando um outro lado da sociedade, e por vista uma das melhores partes pois você acaba se destacando junto ao grupo e mostrando para sociedade que além de disciplina nós somos capazes. (LIMA, 2005, p. 62)

Buscamos neste momento analisar os relatos dos alunos, nos atendo sempre aos referenciais teóricos apresentados, a forma com que a banda influencia as relações interpessoais dentro do grupo analisado, observando se há de fato interação entre seus componentes dentro e fora dela em função desta atividade comum. Quando questionados os participantes informaram que se davam bem com seus colegas de banda. As respostas foram as seguintes:

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“Me dou, me dou. Eu gosto dos meus colegas. A gente sai dos ensaios e vai pra casa do outro para escutar música, às vezes a gente escuta até música clássica.” Trompete. “Sim, sim. Quer dizer eu tenho mais afinidade assim né, com alguns do grupo, mas no geral eu tenho sim é por que quem não toca num fala muito com quem toca assim, num tem muita intimidade com todo mundo.” Baliza. “Hum hum. Me dou bem. Eu acho que, boa Parte do pessoal estudou comigo, né?, os meninos ali estudou comigo. Costuma entrar gente nova e tem pessoas que eu não conheço ainda, converso, mas no geral me dou bem, assim nunca tive atrito não.” Bombo.

Ao observar as respostas, entendemos que os componentes da banda se dão bem em sua convivência de trabalho. Contudo, dentro do grupo há boas interações, todavia, isto não impede de amizades mais próximas entre alguns componentes acontecerem. Isto é constatado nas falas: “eu tenho mais afinidades com alguns do grupo” ou “ boa  parte dos meninos ali estudou comigo”. Com a continuidade das entrevistas, buscamos clarificar o entendimento que obtivemos sobre as perguntas anteriores e questionamos: Vocês costumam interagir apenas nos períodos de ensaios ou apresentações? As respostas foram as seguintes: “Alguns, né? Os que estudam comigo a gente tem contato assim, os da escola, as pessoas que não tenho afinidade acabo ali, me limitando ali , ao pessoal da banda.” Bombo. “A sim. A gente sempre faz tudo junto quando ta ensaiando.” Porta bandeiras.

Observamos nestas declarações que há no ensaio grande interação entre os componentes. Sendo o motivo da música e o exercício da atividade comum, grandes catalisadores dos afinamentos surgidos entre os demais. Há nesta atividade a noção de pertencimento ao grupo e auto-reconhecimento o que implica na elevação de auto-estima, na geração de um sentimento de importância, o que confirma o que diz Lima (2005) em sua análise. Esta afirmativa é fundamentada nas falas a seguir, quando perguntamos: como você vê a sua contribuição para banda? Obtivemos as seguintes respostas: “Eu acho que é importante. Minha função é dos metais. Eu faço as frases da música ai, a música e feita pela gente. Eu acho importante.” Trompete. “Eu vejo que eu coloco o ritmo nas harmonias que (R) coloca lá  pra gente tocar. Eu boto as coisas do grupo e faço o que eu posso fazer.” Caixa clara

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“Eu levo a bandeira né? Lá a gente ensaia todo mundo, todas as vezes. Eu gosto do que faço lá, Eu acho que é importante né?” Porta bandeira. “Eu acho que como é um banda de fanfarra é ... cada instrumento tem sua importância né? Acho eu faço parte de um todo ali que o  bombo que eu toco é necessário, pra fazer parte da composição o conjunto, pra soar daquela maneira. Então eu acho que tem importância.” Bombo.

Observemos que os componentes entrevistados reconhecem tacitamente sua importância na estrutura da banda, suas funções estão bem discriminadas em seus conceitos, o que firma, a sensação de pertencer e de ser necessário ao bom funcionamento. Implica assim dizer que sua função é por ele exercida em caráter de competência e determinação condizentes com que o grupo almeja, pois, caso contrário, não estariam realizando esta arte que dá vida e pulsão para construir coisas positivas  para todos. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS  Neste trabalho discutimos a sobre a banda de fanfarra da escola e de como ela contribui para melhoria na formação sócio-cultural dos alunos que dela fazem parte, envolvendo três aspectos que consideramos fundamentais a cerca desta questão, os quais foram: o valor da banda musical para os sujeitos, a implicação da banda musical  para os projetos pessoais futuros e as relações entre o exercício de atividade artística e os contatos interpessoais entre os componentes da banda. Utilizando-nos da análise dos dados obtidos através de entrevistas com os componentes da banda da escola Amauri de Medeiros, pudemos conhecer as concepções dos participantes quanto ao valor que esta atividade tem na sua vida, se esta atividade tem reverberações nas decisões tomadas pelos mesmos em relação aos seus  planos futuros e se há melhora no ato de socializar-se entre eles em função desta atividade-fim.  Neste sentido, as respostas sobre as questões propostas limitaram-se a ressaltar os aspectos que condizem as suas perspectivas, sua realidade e seus anseios em relação a sua atividade na banda de fanfarra. Concluímos, portanto, que há em um primeiro momento uma grande valorização pelos componentes da banda com relação ao que  praticam, como músicos amadores, determinando

seu empenho e dedicação aos

interesses do grupo no que refere as competições e apresentações realizadas por eles.

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 No que tange a relação entre seus afazeres na banda e as reverberações destes atos em  planos futuros, pudemos concluir que aqueles refletem diretamente nestes. Assumindo, contudo, em grande quantidade das vozes citadas no texto, um lugar de atividade secundária em meio aos objetivos citados quando do termino do período escolar básico. Pudemos perceber em um terceiro momento da análise, que o caráter socializador que o trabalho com a música sugere se fez presente na fala dos sujeitos. Os resultados da pesquisa confirmam o que defende a teoria sobre o trabalho com arte e arte em grupos, ou seja, seu caráter benéfico a socialização, a melhoria da auto-estima, a valorização do grupo no entorno social comprovados pelas pesquisas de Lima (2000; 2005), Mae ( 2008; 2009), dentre outros teóricos defensores destas idéias. Contudo, os depoimentos nos mostraram que existem outros fatores que, somados ao ato de tocar na  banda um instrumento musical, sugerem um maior grau de afinidade entre alguns  participantes da banda, relacionados possivelmente, a sua atividade específica dentro do grupo, um determinado instrumento em comum, uma amizade pré-existente entre eles. Portanto, entendemos que a banda de fanfarra da escola Amauri de Medeiros, de fato, contribui para melhora da formação sócio-cultural dos alunos que dela fazem parte, referindo-se ainda, a elevação da auto-estima, valorização de sua função no grupo, o sentimento de pertencimento e auto-reconhecimento de suas capacidades perante este, observados na análise dos pontos propostos e considerados por nós fundamentais à luz dos referenciais teóricos. Deve-se haver para com trabalho referente à música nas escolas, uma maior atenção por parte dos dirigentes políticos de nosso Estado. Pois, diferente desta realidade aqui apresentada, outras situações precisam muito mais deste apoio, comunidades pobres em muitos aspectos econômicos, estruturais e culturais que definitivamente teriam na prática da arte a assunção de valores reconhecidamente bons e elevação da consciência de sua realidade. Esta pesquisa não teve a pretensão de responder a todas as problemáticas que as  bandas de fanfarras dentro das escolas públicas podem motivar, uma vez que é um cenário bastante rico para estudos e pesquisas, consideramos que nossos objetivos foram alcançados dentro dos limites impostos pelo tempo e pelas condições dos nossos estudos.

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6. REFERÊNCIAS BRASIL. Lei 11.769, de 18 de agosto de 2008, artigo 26, parágrafo 6. Disponível em: acesso em 25/07/2011. CAMPOS, Nicéia da Silveira Protácio. Música na educação escolar: as práticas musicais no contexto de educação artística (1971-1996). Dissertação de mestrado. UFMS/CCHS, Campo Grande, Matogrosso do Sul, 2004. DOURADO, Ione Collado Pacheco e PRANDINI, Regina Célia Almeida Rego. Henry Wallon: Psicologia e Educação. 2001. Disponível em: acesso em 04/11/2011. FREIRE. Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro (RJ): Ed. Paz e terra, 1987. LARAIA, Roque de Barros. Cultura um conceito antropológico. Rio de Janeiro (RJ): Jorge Zahar Editor, 1986. LIMA, Marcos Aurélio de. A banda estudantil em um toque além da música, Tese de doutorado. UNICAMP/IA, Campinas, (SP), 2005. LIMA, Marcos Aurélio de. A banda e seus desafios: Levantamento e análise das táticas que a mantêm em cena. Dissertação de mestrado. UNICAMP/IA, Campinas, (SP), 2000. MAE, Ana Mae Barbosa (org.). Ensino da Arte: Memoria e História. São Paulo (SP): Perspectiva, 2008. MAE, Ana Mae Barbosa e COUTINHO, Rejane Galvão (Orgs). Arte/ Educação como mediação cultural e social. São Paulo (SP): Editora Unesp, 2009. MAE. Ana Mae Barbosa. Cultura, Arte, Estética e Educação [online]. tvfutura. Disponível em: acesso em 14/02/2011. MOREIRA, Herivelto e CALLEFE, Luiz Gonzaga. Metodologia de Pesquisa para o  professor pesquisador. Rio de Janeiro (RJ) 2º Ed. Lamparina, 2008. MINAYO, M.C.S.O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo (SP) / Rio de Janeiro (RJ): HUCITEC- ABRASCO, 1994. SILVA. Everson, Melquiades Araújo. Arte como conhecimento: as concepções de ensino de arte na formação continuada dos professores dos anos iniciais do Ensino Fundamental de Recife. Dissertação de mestrado. UFPE/CE, Recife, PE, 2005.

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PROTOCOLO DE ENTREVISTA No. ___________

I - Dados de Identificação:

Sexo:

Idade:

Escolaridade: Função na banda: Tempo de atividade na banda: II  –  Valor da banda para os sujeitos

1. O que é uma banda de fanfarra para você? 2. Qual o significado dessa banda para você? 3. Por que você resolveu participar desta banda? Como se deu essa participação? 4. Qual a importância desta banda na sua vida? 5. Se você pudesse escolher outra banda para participar qual você escolheria? Por quê? III  –  Relação da banda com as expectativas para o futuro

6. Quais os seus planos para o futuro, quando terminar o seu período na escola? Quais são eles? 7. Você pretende continuar com a atividade musical mesmo não estando mais nesta  banda? Em caso afirmativo, que tipo de atividade musical? Justifique. IV  –  Relações interpessoais entre os componentes da banda

8. Você se dá bem com seus colegas de banda? 9. Vocês costumam interagir apenas nos períodos de ensaios ou apresentações? 10. Você exerce outras atividades do dia-a-dia com algum de seus colegas de banda? 11. Como você vê a sua contribuição para a banda?

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12. Como você percebe a contribuição da banda na vida de seus colegas?

ÍNDICE RESUMO ..........................................................................................................................1 PALAVRAS-CHAVE ........................................................................................................1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................1 REFERENCIAL TEÓRICO ...............................................................................................3 ASPECTOS METODOLÓGICOS ......................................................................................10 ANÁLISE DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO ...............................................................12 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................19 REFERÊNCIAS ................................................................................................................21 ANEXO ............................................................................................................................22

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