Avassalador-Joseane

April 13, 2019 | Author: Yuri Goia | Category: Ancient History, Clothing, Moda e beleza, Love, Soul
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É paixão pura !!!...

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Avassalador

Josiane Veiga

É proibida a distribuição total ou parcial dessa obra sem a prévia autorização da autora. Todos os direitos pertencem a Josiane Biancon da Veiga ISBN-13: 978-1533575845

ISBN-10: 1533575843

Sumário Avassalador Dedicatória: Prólogo Capítulo 01 Capítulo 02 Capítulo 03 Capítulo 04 Capítulo 05 Capítulo 06 Capítulo 07 Capítulo 08 Capítulo 09 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Arrebatador DEMAIS LIVROS DA AUTORA ESMERALDA A INSÍGNIA DE CLAYMOR  A CANÇÃO DE OUTRORA NO CALOR DOS SEUS BRAÇOS DEMAIS OBRAS: A autora

Dedicatória: A cada leitor que torna meu trabalho algo especial. Vocês são o combustível que me sustenta, a força que me faz prosseguir. Muito obrigada.

Nota da Autora: Avassalador se passa séculos após Esmeralda. Então, se você leu o livro Esmeralda, ficará imediatamente por dentro de tudo que acontece em Avassalador. Irá reconhecer a terra, os deuses que a habitam, e seu povo. Porém, caso não tenha lido, não há problema . Os livros são independentes, contam histórias diferentes , e não tem ligação alguma, além de Elisabeth, a protagonista, ser uma descendente direta da antiga Rainha, Esmeralda. De qualquer forma, se ficou interessado (a), basta buscar pela obra na Amazon. Importante frisar, o mundo fictício onde se passa a história é dividido em três reinos: Masha, Bran e Cashel. Os reinos possuem o nome de seus deuses correspondentes. Masha, o povo ruivo, Cashel, o povo negro, e Bran, o reino mais forte, povo de pele pálida e cabelos negros. Enfim, que se divirtam. Josiane Biancon da Veiga Ijuí, 01 de julho de 2016.

Prólogo

O bastardo Ela era uma puta. Morreu como todas as putas que ele já havia visto em sua curta vida. E ele havia visto muitas. Enquanto espiava pelas vigas de madeira da casa antiga que servia de prostíbulo naquela cidade fronte ao mar, chorou sua morte como poucas vezes na vida havia chorado por alguma coisa. O nome da mulher, não sabia. Num murmuro abafado pelas recriminações que levava, chamava-a de mãe, mas a morena de olhos negros odiava aquele apontamento, então ele o evitava.  — Não é porque você nasceu de mim que sou sua mãe — ela gritou, um dia, enquanto bebia rum com um marinheiro. — Na verdade, eu apenas te crio como faria a um cachorro. Não sentiu dor pelas palavras. Bem a fundo, ele não sentia nada. Era acostumado àquela vida desgraçada. Desde que nasceu, recordava-se de poucas mulheres dando-lhe atenção e a morena mãe lhe levando comida quando se lembrava da existência do filho. Então, um dia, ela caiu de cama. Febre, dores que a faziam berrar como se estivesse em parto, e uma dificuldade tão grande de engolir a saliva que a cometia a babar como uma velha em cima da cama. Assim, veio à morte, como um cavaleiro cruel empunhando a sua espada e arrasando tudo nela. Não houve lamento. Sequer uma lágrima. Tirando o choro incontido do garotinho de cabelos escuros e olhos tão negros quanto à noite, ninguém mais manifestou nada. Afinal de contas, ela era uma puta. Ninguém chora por putas. Ninguém lamenta por rameiras. Ninguém diz: “ oh, pobre meretriz, tão triste vida teve ”. Mesmo ela, se estivesse viva, não choraria por si mesma. Mas, Joshua, o filho da puta, chorou. E enquanto as lágrimas se derramavam por sua face, ele observava homens graúdos atirando o corpo feminino em uma cova aberta rapidamente. Depois, a terra sobre aquele corpo. Nenhuma palavra daqueles em volta do túmulo, nenhuma oração pela alma condenada da mulher… nada. E era o nada que ele intuía, enquanto a terra cobria o corpo frio. Ela, de olhos abertos, inertes, parecia encará-lo. Aquele olhar ele levaria para sempre. Nunca mais veria a puta que chamava de mãe. ***

Muito se dizia da casa Clark. Aos cochichos, o nome daquela abastada família do reino de Bran era anunciado com louvor. Os deuses eram generosos para com eles, chovia e fazia sol em suas terras no tempo certo. Seus campos sempre rendiam frutos, a peste nunca os atingia. Não pertenciam a linhagem de reis, contudo, mas estavam a providenciar isso. O único filho e herdeiro de Hor Clark havia sido prometido em casamento a uma descendente direta da distinta e folclórica Rainha Esmeralda, nos longínquos tempos do reinado de Cedric de Bran. Elisabeth era da família Brace, que provinha de um dos gêmeos do Rei Cedric. Os seus antepassados jamais chegaram ao trono, mas tornaram-se de suma importância na garantia do reinado de Brione de Bran. Porém, aquilo era história antiga, e algumas decisões erradas, acabaram afastando os Brace do restante da família. Quando tudo que restou, depois de séculos de rixas familiares, foi apenas duas pequenas irmãs órfãs, Hor Clark não pensou duas vezes em trazer as meninas para sua casa. A mais nova, Anna, foi enviada a corte, sobre tutela do novo Rei, para reafirmar o poderio daquele nome, e a mais velha, Elisabeth, estava sendo preparada por sua esposa, Sophie, para se tornar a futura senhora da casa de Clark. Lis, como todos chamavam a garotinha ruiva e acanhada, era o caminho para chegar ao fim. Os Clark se tornariam oficialmente parentes do Rei. O nome que ambicionava era o apogeu de todos os seus sonhos. Porém, naquele dia, não era na figura delicada de Lis, ou no filho mais velho com quem ela se casaria, Andrew, que Hor se preocupava. Durante os meses que estivera no litoral, pegou uma prostituta como conforto nas noites frias. Como gostava de exclusividade, a teve por meses, pagando caro por isso. Mas, mais caro pagava agora, ao saber que a mulher morreu e deixou-lhe um bastardo. Ao retornar para o litoral, a negócios, e ao conversar com a dona do puteiro, tentou recusar a obrigação, mas o garoto que se chamava Joshua era tão desgraçadamente parecido consigo que não teve como recuar. Por fim, decidiu levá-lo. Um pirralho de oito anos, de nariz ranhoso, cheirando a latrina e de olhar acuado. Não falava, ou falava pouco, pois parecia temê-lo, enquanto andava ao seu lado, e mantinha as mãos cerradas, nervoso, diante do grandalhão. Ao retornar para casa, tão logo adentrou pelos portões do Castelo Branco de Clark,

observou sua gente a encará-lo num misto de alegria pelo retorno do lorde, e surpresa, pela presença da criança. Agarrando o garoto no braço, o puxou até o estábulo. Enquanto alguns cavalos relinchavam, Hor o jogou contra o feno. A noite estava muito fria, como era todas as noites naquele canto da nação. A neve cobria as paredes pintadas a cal. Porém, ele sequer pensou, enquanto apontava um canto cheio de mantas velhas, dizendo ao garoto lhe ficasse ali. Estava ansioso por ver Sophie e Andrew. Queria beijar a esposa e abraçar o filho. Também estava ansioso pelo caldo fumegante das panelas das criadas. Assim, tudo que queria era cumprir logo aquele dever e ir para o castelo.  — Devo ficar aqui, senhor meu pai? Era a primeira vez, desde que saíram do litoral, que o menino falara. Hor arregalou os olhos, encarando seriamente o rosto do pequeno.  — O que você disse?  — Indaguei se devo ficar aqui… — o tom baixou, comedido, nervoso, como se houvesse culpa em sua indagação.  — Não… Não foi isso que perguntei. Quero saber como me chamou. O menino engoliu em seco. O homenzarrão diante de si lhe dava mais arrepios que a mãe da qual não sabia o nome.  — Senhor… meu pai… O tabefe ecoou pelas paredes de madeira, enquanto a criança se encolhia num canto, com as duas mãos no rosto avermelhado, encarando o homem como se não acreditasse naquela agressão.  — Escute aqui, filho da puta — Hor disse, firme, enquanto avançava contra o pequeno. — Você não passa de um bastardo maldito do qual tive piedade. Mas, coração bom nenhum me fará te reconhecer como um filho. Recolha-se ao mundo insignificante do qual veio. Ficará aqui, com os cavalos, trabalhando para comer. Nunca mais me dirigirá a palavra, nunca mais me chamará de pai. Eu sou seu lorde, e você é só a coisa que limpa a bosta dos cavalos. — Outro soco. Joshua sentiu o nariz escorrer. — Fique grato a Masha e a Bran, os deuses maiores, por não deixá-lo morrendo de frio na neve, que é o lugar de um bastardo. Então, o corpo foi atirado ao longe. Enquanto sentia-se projetado contra o chão, o garoto limpou o sangue que escapava do nariz. Sem conseguir levantar a cabeça, viu o par de botas se afastando, em passos duros. O choro sufocou sua garganta, mas o menino o conteve. Sabia que de nada adiantava chorar. O choro nunca o salvaria da sua vida em desgraça. O choro era apenas parte da condenação, uma muda aceitação de que nada mudaria. Naquele instante, ele prometeu a si mesmo nunca mais chorar.

***

Os alimentos que sobravam do Castelo Branco eram levados aos porcos. Porém, era comida mais gostosa do que aquela que ele recolhia nos cantos, restos do que os homens deixavam nos pratos. Assim, Joshua aprendeu a roubar os suínos. Coitados, sentiam fome também, era verdade, mas o garoto gostava demais dos restos de uvas e batatas assadas que sempre estava no balde dos porcos. Além disso, havia a questão de sobrevivência. A terra dos Clark era gelada demais, quase sempre coberta por neve durante o longo período de inverno. Dessa forma, ou ele aproveitava o que pudesse, ou morreria de fome. Era assim em tudo, um larápio. Com a comida, e com as mantas. Lorde Hor até lhe perdera uma quente túnica de lã, que Joshua roubou do varal e escondeu embaixo do feno. Quando todos iam dormir, ele a retirava do esconderijo e se protegia em meio às palhas. Sobrevivência… era tudo isso. Naquele mundo, era invisível. As pessoas não o notavam, ou fingiam não notar. Afinal de contas, não era segredo para ninguém que lorde Hor odiava o bastardo, e só o havia recebido porque as leis dos Três Grandes Deuses eram muito rígidas em relação a parentes desamparados. Todos sabiam o que Masha, Bran e Cashel haviam feito no passado, para colocar uma Rainha híbrida no poder. Ninguém os desafiava. Não era amor, nem respeito aos deuses. O que movia os reinos era temor ao castigo. Portanto, mal podia acreditar quando percebeu alguém no estábulo. Um garoto de cabelos negros e olhos tão intensos quanto os seus. Um pouco mais velho, talvez dez ou onze anos, o menino lhe sorriu, numa troca mútua de sentimentos instantâneos.  — Eu ouvi um cavaleiro falando que você é meu irmão. Joshua ficou surpreso pelas palavras. Contudo, o sentimento logo foi substituído por nervosismo.  — Não, não senhor — negou. — Não sou filho de ninguém. Um bastardo não é filho de ninguém. A aproximação rápida do menino fez o coração de Joshua pulsar rápido. Tentou proteger o rosto, quando sentiu os braços do outro cercá-lo e puxá-lo, num abraço gentil e doce.

 — Você é meu irmão — o garoto disse, fazendo com que as lágrimas que Joshua prometeu nunca mais derramar voltarem aos seus olhos. — Eu sei que é, porque somos muito parecidos — ele afirmou. Então afastou-se.  — Não se preocupe. Não falarei a papai sobre nós — acalmou-o. — Eu sou Andrew Clark — se apresentou. — E você? Como se chama?  — Joshua…  — Joshua? Joshua de quê?  — Joshua de nada. Não tenho nome. Andrew assentiu, como se compreendesse.  — Isso não importa — prevaleceu. — Nome não tem nenhuma importância diante do sangue — afirmou. — E você tem o meu, e eu tenho o seu. Isso basta. Sempre bastará. Naquela manhã, Andrew Clark tornou-se a primeira família de Joshua, o filho da puta bastardo. ***

 — Papai foi viajar — Andrew rompeu o estábulo gritando. A felicidade era nítida em seu olhar gentil.  — Foi mesmo? — o bastardo correu até ele, abandonando o monte de feno, pronto para divertir-se com o irmão. Quem olhasse, pensaria que Andrew não amava o pai. Aquilo não era verdade. O filho legítimo amava o genitor, a mãe e toda a sua linhagem. Contudo, ele amava mais que todos àquele menino de olhar acuado que sempre tinha que se esconder, por ser fruto de pecado e infidelidade. Algumas pessoas diziam que Joshua era parte demônio, porque nasceu de puta e porque carregava sobre os ombros o peso dos erros de seu pai. Mas, para Andrew, Joshua era apenas seu irmão menor, do qual se alegrava por ter por perto. Livres dos olhos de Hor, os irmãos corriam lado a lado, cada um empenhando um pedaço de pau, lutando em guerras imaginárias, sendo heróis lendários de tempos que não mais retornariam.  — Eu sou Randu! — Andrew gritava, enquanto avançava com a madeira. — Serei o Rei Negro, o poderoso e justo, e irei derrotá-lo, Iran de Masha, seu rei mau. A lenda dos antigos reis era um dos assuntos favoritos de Joshua. Andrew passava as

tardes com o irmão, contando a ele sobre como os Deuses colocaram uma mulher de sangue impuro como esposa do Rei.  — Impuro? – Joshua se recorda de ter perguntado.  — Chamavam as pessoas mestiças de imundas — Andrew contou. — A antiga religião era cruel. Mas a nova também não era muito boa para pessoas como ele. Subitamente, a mente voltou ao combate de brincadeira. Sentiu que Andrew lhe dava o golpe final quando seu pedaço de pau voou em direção a casa. Riu, enquanto se ajoelhava, pedindo misericórdia.  — Serei benevolente, bravo cavaleiro — Andrew disse, alto, pomposo. — Pouparei sua vida em nome de minha noiva, Lady Lis — e apontou um dos cantos. Naquele instante, Joshua olhou para o lado. Uma garotinha, provavelmente de sua idade, os encarava num misto de alegria e vontade de juntar-se a eles. Seu coração quase parou e a boca abriu. Instantaneamente, Joshua sentiu, pela primeira e única vez em toda a sua vida, a fagulha do amor acender no peito. De cabelos encaracolados e ruivos, a menina sorriu para ele, enquanto caminhava até os garotos.  — Eu sou Elisabeth — ela se apresentou. Ele estava há meses naquelas terras, e até então não a tinha visto em nenhum momento. Piscou várias vezes para ter certeza que não era uma miragem.  — Eu falei a Lis sobre você — Andrew murmurou. — Não se preocupe, ela sabe que é meu irmão, e ela não dirá nada a ninguém. — voltou-se a Joshua. — Lis é minha noiva  — apresentou.  — E por isso não posso sair para brincar — ela explicou. Seu tom trazia um traço de melancolia, mas também conformismo. — Lady Sophie está me preparando para ser esposa de Andrew.  — Isso é injusto porque Lis não precisa de nenhuma preparação — Andrew sorriu.  — Eu a amo, é perfeita para mim. A vida era um jogo cruel e avassalador. E Joshua soube, naquele instante, ser sua principal vítima. ***

Nem Joshua e nem Andrew choraram pelo lorde durante seu enterro. Enquanto as honrarias eram feitas, o irmão mais velho aproximou-se do mais novo e segurou suas mãos. De certa forma, era um alívio.  — Ninguém mais vai te machucar — Andrew prometeu, num sussurro tão baixo quanto um sopro. Ninguém diria que Hor de Clark cairia do seu cavalo favorito durante um simples passeio pelos arredores do castelo. Ninguém além de Joshua, que havia arrumado a sela naquela manhã com os olhos inchados pelos socos dados pelo pai. Hor havia flagrado os dois filhos conversando. Esbofeteara Andrew e depois levara Joshua para o estábulo. O bateu tanto que o garoto ficou atirado por dias em cima do feno, sem poder se mexer.  — Por que não morre, maldito? A questão do pai nunca fora respondida. O homem jamais desconfiara que Elisabeth fugisse de madrugada do castelo e levava ervas para os machucados de Joshua. Nem pensara que era ela que lhe alimentava e lhe animava a alma sobre o amor de Andrew.  — Lorde Hor não será lorde para sempre. Tudo vai mudar quando Andrew for o Senhor do Castelo Branco — ela, inconscientemente, plantara a semente. A ideia cresceu e, enfim, foi colhida na manhã de um dia de afazeres. Enquanto arrumava a sela, Joshua e deixou um tanto frouxa. Era assassinato. Ele sabia. Ele não se importava. E agora estava ali, ao longe, encarando o corpo sendo enterrado, enquanto Andrew lhe apertava os dedos. Andrew ainda não era lorde, não tinha idade para assumir o compromisso. Lady Sophie tomaria a administração até Andrew ser capaz disso. Isso Joshua soube no dia seguinte quando Andrew veio a despedir-se dele.  — Vou ser educado na corte — explicou, os olhos cheios de lágrimas. — Cuide de Lis para mim, por favor. Joshua o abraçou, apavorado. Não imaginara que perder Hor o faria perder Andrew.  — Quando eu voltar serei Lorde do Castelo Branco, e Lis será minha esposa. E você, meu irmão, terá meu nome, e eu dedicarei minha vida para vê-lo feliz. Pouco depois, Andrew se afastou. Jamais ouviu, mas Joshua murmurou baixo palavras que ele jamais pensou em professar: — Obrigado, meu irmão…

Capítulo 01

Lady Elisabeth O Castelo Branco localizava-se em uma enorme colina, ao norte do reino de Bran. Aquele lugar era terra fria, desde os tempos antigos. Aliviava um pouco próximo do solstício, quando o sol nascia com mais força e o tempo aquecia um pouco. Apesar disso, ainda era de matar vivente que ousasse desafiar a temperatura, ainda fazia os ossos doerem, uma fumaça esbranquiçada escapar da boca sempre que alguém respirava, e ainda precisava-se cobrir-se com muitas mantas e buscar sempre alguma fogueira acessa para aquecer as mãos. Mas, quando não havia escolhas, as pessoas tomavam atitudes impensadas. E foi naqueles dias terríveis que Elisabeth Brace decidiu fugir. Sempre foi uma covarde, em tudo. Recordava-se de ser levada, criança, ao Castelo Branco pelo antigo Lorde. Tinha seis ou sete anos quando o pai morreu e ficou desamparada. A mãe havia falecido tempos antes, no parto de Anna. Então, ela e a irmã menor, que tinha cinco anos, chegaram naquele lugar como moedas de trocas cujo único valor era o sangue que tinham nas veias. Instantaneamente, soube que havia entrado em um pesadelo. Lady Sophie era cruel, quase desumana, em seu modo de educar. Anna, com sua personalidade geniosa e conflituosa, logo foi descartada e enviada a corte, para viver no reino, enquanto buscava um marido que pudesse sustê-la. Mas, quieta e sem força, Sophie viu em Elisabeth o par perfeito para seu amado Andrew. Aquela garotinha sem voz e assustada era presa fácil, e o foi. Tão logo chegou, soube seu destino. Um destino sem escolha, mas, que não a desesperou. Andrew era gentil e doce. O sorriso afetuoso a conquistou instantaneamente. Contudo, ele também era pequeno, e não tinha poderes enquanto não crescesse e tomasse a posição que lhe pertencia. Enquanto Anna bailava na corte, Elisabeth era moldada para ser boa esposa. E, na opinião de Sophie, uma boa esposa era alguém submissa e completamente manipulável. Ela conseguiu aquilo de Elisabeth. Não fora fácil, é verdade, mas os bofetões que desferira na menina mostraram facilmente que ela não admitia erros. Um ponto mal feito no bordado? Socos. Falar sem permissão ou num tom alto demais? Presa por dias sem comida ou água no calabouço. Errar o sal num dos pratos que Andrew mais gostava? Era posto gelo em sua boca, sufocando-a até que ela gritasse de dor. Com várias formas de persuasão violenta, por fim, Lady Sophie moldou a esposa perfeita. Doce, gentil, sem voz, dependente, vassala e, definitivamente, assustada.

Uma esposa que serviria ao propósito: procriar. Ora, era só abrir as pernas e deixar que crianças saíssem de lá. E, obviamente, ser útil da maneira que pudesse. Os afazeres domésticos eram essenciais, na opinião de Sophie. Porém, a Lady mãe não imaginava que a jovem ruiva de intensos olhos esmeralda escondia no coração um desejo imenso pela fuga. E a oportunidade aconteceu na manhã do dia que a Lady havia ido em viagem para uma das cidades vizinhas a fim de negociar cereais. Com os servos ocupados em montar os equipamentos de viagem, ela colocou um capuz velho e saiu a caminhar pelos arredores do castelo. Não foi notada. Apenas um pequeno menino pareceu reconhecê-la, mas nada disse, enquanto a via caminhando pelos corredores abarrotados. Durante o tempo que andava, imaginou se era a sua melhor saída. Porém, que escolha tinha? Sempre ouvira falar que Andrew voltaria para casa quando ela tivesse vinte anos. O ovem amigo de sua infância estava sendo educado no reino de Masha, e ela já estava pronta para ser tomada por ele. Porém, Elisabeth havia completado vinte e três primaveras há poucos dias. O atraso de Andrew lhe trouxe desespero. As agressões de Sophie não paravam, a prisão do Castelo a sufocava, e o noivo havia mandado uma missiva de que estava no Reino de Cashel para aproveitar a enorme biblioteca de lá, montada pela Rainha Rhianna há séculos, esposa de Randu, o sábio. Andrew provavelmente a cria em segurança, mas a verdade é que a cada dia de sua ausência, ela afundou-se em dor e desesperança. Existia, é claro, Joshua. O irmão bastardo do noivo era seu único amigo. Era ele que se esgueirava durante a madrugada em sua janela, para lhe dar doce de framboesa (Sophie não lhe deixava comer doces para que não engordasse), e era ele que lhe contava como era o mundo lá fora, a sensação de andar a cavalo, sentir o vento contra o rosto, ou simplesmente dançar nas rodas noturnas das festas dedicadas a Bran pelos servos do Castelo Branco. Ao decidir fugir, pensou em falar a ele. Contudo, não queria deixá-lo em uma má situação caso tudo saísse errado. Sophie odiava Joshua. O que poderia acontecer ao amigo caso ela fosse pega? Por fim, chegou ao portão. À sua frente, a imensidão verde da floresta parecia um mar aberto, tamanha sua grandeza. Sentiu o coração pulsar rapidamente e uma felicidade sem tamanho em seu coração. Elisabeth Brace, a calada noiva, enfim seria livre. ***

O corpo feminino balançava-se sobre o seu. Eda, a filha de um lavrador, parecia ainda mais perfeita, nua, movimentando-se languidamente. Já haviam se satisfeito naquela manhã. Ela passara a noite com Joshua e, ao acordar, esfregara-se como uma gatinha manhosa contra o corpo musculoso do cuidador dos cavalos. Ouviu o riso erótico dele, e então subiu contra seu quadril, encaixando os corpos naquele ritmo sexual que era tão proveitoso. O sexo foi rápido, mas eles logo voltaram à dança erótica da sedução. Joshua era ovem e vigoroso, sempre pronto a foder, sempre disposto a dar a ela ou a qualquer outra mulher o que elas desejavam. E todas o queriam. Era belo, mais que todos os outros. Alto, forte, ombros largos, cabelos escuros, olhos tão pretos como carvão. Um braiano legítimo, apesar de bastardo.  — Senhor Josh — ouviu uma voz infantil, de menino, na parte baixa do celeiro. Eda caiu o corpo para o lado, rindo baixinho, enquanto se escondia entre as mantas.  — O que é? — Joshua gritou, erguendo-se nu e caminhando em direção à proteção que dividia o pavimento superior ao inferior do celeiro. Lá, entre o feno, o garoto Adam sorriu para ele.  — Preciso falar com o senhor.  — Estou um pouco ocupado agora — devolveu, ouvindo a risada mais alta de Eda.  — É sobre Lady Lis — o menino explicou. Joshua arqueou as sobrancelhas. Subitamente, ficou nervoso.  — Ela que se vire — a voz de Eda ecoou pelo celeiro. — Estamos ocupados aqui! Porém, percebeu pouco depois que Joshua se vestia, deixando a mulher em nítido estado de revolta.  — Vai me deixar por aquela puta? — ela gritou, insatisfeita. Segundos depois, sentiu o rosto ser erguido com violência. As mãos grandes, que tanto lhe deram prazer na noite que passou, espremiam sua bochecha enquanto o rosto bravo do homem aproximava-se do dela.  — Nunca mais fale assim de Lis — ele ordenou, seu hálito quente deixava nítido o quanto se segurava para não agredi-la. — Respeite a sua senhora.

 — Não é minha senhora — Eda negou. — Não ainda.  — Mas será! Andrew está voltando.  — Para seu desespero, não é? — Provocou, corajosa, apesar do perigo. — Acha que não vejo como olha para ela? O aperto no seu rosto ficou mais firme.  — Cuidado com o que fala — ele murmurou. Então, largou-a de lado.  — Já terminamos, Eda — disse, afastando-se. — Não me procure mais. Já enjoei de você. O grito de puro ódio ecoou pelo celeiro, mas Joshua já estava de fronte ao garoto.  — O que houve com Lis? — indagou. ***

A estrada estava abarrotada de gente. Não havia saída segura para a jovem senhorita. Ou arriscava-se em cruzar pelas pessoas que poderiam vir a lhe notar e obrigá-la a retornar para o castelo, ou tentava a sorte pelas montanhas geladas que dividiam o Castelo Branco do restante do reino. Decidiu pelas montanhas. O risco de resvalar naquela estreita trilha que circundava o montante de pedras era enorme. Abaixo, havia um enorme lago congelado que lhe dava mais pavor e medo. Se caísse, era morte certa. Mas, antes a morte que a vida no Castelo Branco. Precisava, desesperadamente, escapar das garras de Sophie. Se tivesse sorte, encontraria Andrew. Se ele a amasse e a quisesse por esposa, poderia retornar. Caso contrário, se seu atraso fosse provocado pelo asco ao noivado, ela seguiria em frente. Tinha sangue real. Alguém na corte lhe daria teto. Enquanto escalava a montanha, tentou segurar nas pedras do enorme paredão. O vestido não facilitava em nada sua aventura. O tecido pesado, e as várias camadas que lhe protegiam do frio enroscavam-se nas pontiagudas pedras. Elisabeth sentiu os olhos molharem, enquanto o vento ardia contra seu rosto. Era tão frio… tão desesperadamente frio… Mas, havia um caminho a seguir. Alguns metros acima, ela pôs o pé sobre uma rocha que parecia firme. Apoiou-se levemente, experimentando o quão sólida era a pedra. Ao imaginá-la segura, enfim, deu um impulso.

Foi seu erro. A pedra desmoronou no exato momento que ela perdeu o equilíbrio. Sentiu o corpo projetando-se no ar, enquanto o pulmão parecia incapaz de absorver oxigênio. Segundo depois, despencava dentro do lago congelado. O frio parecia uma lâmina afiada e ela sentiu todo o corpo travar, como se estivesse sendo morta num ritual cruel. Tentou se debater, mas não tinha forças. Nunca imaginou que a água gelada era assim, destrutiva. Afundou como uma pedra pesada. Quis gritar, em desespero, mas quando abriu a boca, mais água entrou no seu corpo. Então tudo foi escuridão, e a morte que ela desejou por anos enquanto era trancada dentro do castelo, enfim a atingiu. Porém, tão logo teve essa sensação, sentiu-se sendo puxada, e um corpo firme segurar o seu. Na escuridão, pensou ser o ceifeiro. Estava errada. ***

Joshua arrastou o corpo feminino para a relva coberta de neve. Lis não respirava, e ele logo bateu em seu rosto, tentando fazê-la voltar a si. Em sua mente, todos os pensamentos de culpa pareciam assolá-lo. Por que não percebeu sua intenção de fuga? Por que não apurou o passo, em seu encalço? Por que perdeu tempo com a filha do lavrador enquanto Elisabeth estava arriscando a própria vida? Lágrimas vieram aos olhos ao perceber que ela não reagia. Sabia das leis e sabia que não podia fazer nada além dos breves toques (Lis era prometida de seu irmão!), mas, baixinho, pediu perdão ao Deus Bran, e curvou-se diante dela. Abriu seus lábios e encostou sua boca naquela, pálida, praticamente morta. Assoprou com força lá dentro. Então voltou-se ao ventre e empurrou as mãos algumas vezes na sua barriga. Voltou a assoprar. Repetiu o gesto certa de três vezes, até vê-la tossir e cair do lado, vomitando a água gelada.  — Lis… — ele murmurou, sorrindo, puxando-a de encontro ao peito e a apertando

com força. Só então ela passou a tremer. Mas, não era um simples tremor. Havia sido encharcada pela água gelada do lago. Ele também, mas não estava disposto a pensar em si. Enquanto Elisabeth batia os dentes quase ao ponto de trincá-los, Joshua olhou a volta. Próximo, havia uma caverna. Ele sabia, já havia se esgueirado com várias mulheres por ali. Algumas, até casadas. Erguendo-a nos braços, rumou em direção à montanha, buscando desesperadamente salvá-la antes que fosse tarde demais. Tão logo estavam protegidos do vento, largou-a no chão. Lis não conseguia falar, apenas tremer. Então, rapidamente, ele recolheu gravetos e pedras. Raspando uma pedra na outra, em segundos, com experiência, conseguiu uma fagulha e fogo.  — Preciso tirar sua roupa. O tom era explicativo. Ela arregalou os olhos, como se aquilo fosse um dos maiores pecados do universo, mas Joshua não se importava com nada além de salvar a vida de Elisabeth.  — Não vou olhar — disse, tentando tranquilizá-la, enquanto arrancava o capuz, a camisa branca, o vestido e, por fim, as anáguas. De fato, ele não olhou. Deixou-a nua próxima da fogueira e torceu as vestes, até retirar todo o líquido que as encharcava. Então, estendeu-as perto do fogo. Não podia levá-la para o castelo sem que o tecido houvesse secado. Ela poderia morrer de frio no trajeto. Só então percebeu que também tremia. Esgueirar-se, nu, com Lis, era completamente fora de cogitação. Mesmo assim, precisava tirar a roupa molhada, ou morreria antes de salvá-la.  — Lis — chamou, e a percebeu se encolher mais. — Eu também ficarei nu — tentou ser tranquilizador, e soube que ela entendeu, apesar de não encará-lo. — Por favor, não olhe — brincou. Não viu, mas conseguiu imaginar seu sorriso irônico. Conhecia-a bem, durante todos aqueles anos.  — Vamos ficar bem — prometeu. — No final tudo vai dar certo… ***

O tecido de algodão foi o primeiro a secar. A anágua e as camisas logo pareciam

quentes, e eles se vestiram, enquanto continuavam praticamente colados à fogueira. Cada um em um canto, encaravam as labaredas com pensamentos alheios.  — Por que não me avisou? A indagação dele não era maldosa ou crítica. Era apenas uma dúvida, e foi com seriedade que ela respondeu.  — Você tentaria me impedir.  — Por que tem tanta certeza?  — É leal ao seu irmão. Era verdade. Joshua amava Andrew, apesar de não vê-lo durante todos aqueles anos.  — Você é minha amiga, e eu a amo — afirmou, contudo.  — E o que faria?  — Eu partiria atrás de Andrew — disse, firme.  — Nem sabemos onde ele está. E, se não o achasse? Ou se demorasse anos para encontrá-lo? Eu sei que, se pudesse, você já teria ido. Joshua não conseguia entender os motivos do irmão. Por que se atrasava tanto em assumir seu posto? Havia um castelo e uma linda noiva a sua espera.  — Se ele desistiu do casamento, o que será de mim, Joshua? Um homem sem sobrenome não tinha, pelas leis, direitos de desposar uma mulher. Enquanto pensava nisso, Joshua imaginava que daria a própria alma para poder se casar com Lis. Mas, alimentar um sonho era alimentar o desespero. O quão destruído ficaria quando a visse desposada por outro homem? Amava-a em silêncio por todos aqueles anos. E isso era tudo que teria. Percebeu então os olhos cor da pedra esmeralda a encará-lo. Sorriu.  — Obrigada — ela murmurou. — Por ter salvado minha vida. Daria a dele em troca da felicidade daquela mulher.  — Você não precisa agradecer — afirmou. — Sabe que não existe nada que não faria por ti. Momentos depois, ela abandonava seu posto ao lado da fogueira e aproximava-se dele. Abraçou-o, aconchegando-se em seu peito, ouvindo o coração masculino bater rapidamente.  — Nós vamos escapar do inferno, Joshua — Elisabeth sussurrou. — Vamos ser felizes. Ele nunca o seria, mas assentiu, a fim de sossegá-la.

Capítulo 02

Andrew e Anna O som ritmado da valsa adentrou os ouvidos de Andrew. Ele sorriu, imaginando os pares a bailar no grande salão, um dos prazeres da vida de todo nobre. Havia retornado a Bran há poucos dias. Antes de voltar para casa, contudo, resolveu visitar o novo Rei. Agora, estavam sozinhos em uma sala anexa. Angus, que estava de costas para ele naquele momento, encarava pela enorme janela quadrangular, o reino a sua frente. Andrew sabia que o amigo estava nervoso pela nova responsabilidade, mas também reconhecia que não havia ninguém mais preparado que Angus para o cargo. Ambos cresceram juntos, em Masha. Educados com os mesmos professores, tinham em comum, além de terem nascido na mesma terra, a vontade de serem bons governantes, senhores dispostos a fazerem o povo feliz.  — Você sabe — Angus murmurou, enquanto bebia um líquido de cor avermelhada,  — eu jamais aceitaria um casamento imposto. Mas, como o conheço bem, vou permitir que despose Elisabeth. Angus soube da parente distante pelo próprio Andrew, que lhe contara sobre o noivado durante os anos que passaram juntos. Tentou pedir ao pai, o falecido monarca Norman, que a livrasse do compromisso, mas as leis pelas quais os seus antepassados tanto lutaram pareciam esquecidas em Bran. Angus jurou que faria diferente quando voltasse e se tornasse Rei. Contudo, agora estava abrindo uma exceção. Não por Andrew, mas por Lis. O amigo era um cavalheiro, um homem honrado, e a faria muito feliz.  — Não tenho palavras para agradecer sua benção — Andrew afirmou, erguendo-se e andando até ele. — É uma honra para mim que aprove esse casamento.  — Está voltando para o Castelo Branco?  — Atrasei-me por demais, meu amigo. Noiva nenhuma devia esperar tanto por um homem, como Lis esperou por mim. Angus sorriu.  — Você a ama?  — Desde que me lembro — ele assentiu. — Eu quis muito ser um bom senhor, não apenas pelo meu povo, mas também por ela. Angus aproximou-se, apertando seus ombros.  — Então, aproveite o restante da festa. Irá voltar para casa no final da semana, não é?  — Sim, passarei antes em alguns centros de mercancia. Pretendo firmar alguns contratos.  — Muito bom — o Rei assentiu. Repentinamente, Angus se deu conta de que Andrew estava ali para algo a mais que

falar sobre seu casamento. Sorriu. O amigo era muito fácil de ler.  — Exista algo além que possa fazer por você? Andrew sorriu.  — Existe — concordou. — E eu sei que fará depois de me ouvir… ***

Andrew dobrou o papel cuidadosamente. Depois, guardou-o por dentro do casaco de linho leve. Bran não era um reino frio. Apesar de, no norte, o gelo cobrir quase toda a sua extensão, ali, na capital, as pessoas usavam roupas frescas e com pele à mostra. Nada como em Masha, no entanto. O reino da Deusa era excessivamente caloroso, fazendo sofrer aos seus descendentes ruivos de pele pálida. Andrew também sofreu, no tempo que lá esteve. Acostumado ao frio, ele sentia o ar faltar e o corpo suar tanto que procurava os banhos públicos mais tempo que o desejável. Porém, acabou. Mais de uma década longe de casa, ele já sentia o perfume de rosas de Lis. Podia ouvir o tom da voz dela em sua mente, e também o calor emanado pelo amor fraterno de Joshua. Não pensou na mãe, estranhamente. Durante todos aqueles anos, era por Lis e por Joshua que ele queria retornar. Sophie não era uma má genitora, mas… aquela frieza ao falar lhe dava arrepios. Definitivamente, não sentia falta dela. Um grupo de jovens esbarrou nele, rindo. Percebeu o flerte, mas o ignorou. Muitas mulheres o queriam, e nem todas eram pelo seu valor em ouro. Andrew era bonito. Não tão forte quanto o irmão menor, mas era agraciado com um físico impecável. Polido de modos, de palavras gentis, ele tinha uma alma agraciada pela humanidade. Não tinha sangue de Bran, mas era honrado como o Deus que o governava. E, exatamente como o Deus que o governava, foi despertado por uma figura de cabelos flamejantes que lhe atiçou com um olhar sedutor. Era sempre assim… Bran e Masha… uma atração impossível de evitar. E ali, naquele amontoado de gente festejando, ele a percebeu entre todas, como se uma luz emanasse dela, e o tocasse profundamente.

A mulher, ruiva de olhos verdes, era uma descendente pura de Masha, pelo que podia notar. A pele era tão pálida, e ela era tão esplêndida, que, sem perceber, Andrew viu a si mesmo aproximando-se da beldade, com um sorriso no rosto, e a perturbação de alguém que jamais havia visto criatura tão bela.  — Senhorita — ele curvou-se diante dela, estendendo a mão. A jovem sorriu. O sorriso mais belo que ele já havia visto em toda a sua vida.  — Dê-me a honra de uma dança? A mulher se levantou. Risinhos abafados pelos leques o circularam. As moças que acompanhavam a encantadora ruiva pareciam muito animadas por aqueles passos de valsa. Porém, era apenas uma dança, Andrew disse a si mesmo. Havia sido leal a Lis durante todos aqueles anos. Nunca a traiu, com ninguém. Mesmo que várias mulheres se mostrassem disponíveis, ele as rejeitava. Pensava apenas na noiva, amiga de sua infância, e na fidelidade que queria demonstrar a ela. Porém, naquele instante, Lis ficou esquecida. Enquanto afundava seu olhar negro naquele mar verde esmeralda, tudo nele arrebatou-o de tal maneira que se esqueceu de si mesmo, do noivado firmado por seu pai, e na honra que tão bravamente adquiriu pelos anos. Dançou com ela a noite toda. Sentiu, por alguns segundos, o corpo feminino tocar o seu e extasiá-lo. Quando o sol começava a nascer no horizonte, e a festividade por fim se encerrava, ele a deixou próximo de um corredor.  — Foi um prazer — curvou-se, beijando seus dedos, sentindo o coração rasgar-se. Não queria deixá-la. Por quê?  — O verei novamente? — a ruiva indagou.  — Não, querida — ele negou. — Nunca mais. Ela assentiu.  — Meu nome…  — Não. — interrompeu-a. — Não me diga. Não quero ter um nome para pensar, durante os anos…  — Por que diz isso?  — Sou noivo — assumiu. — Tenho um compromisso.  — Que jamais quebraria? — ela indagou, audaciosa. Ele sorriu. Ela era exatamente como diziam serem as mulheres de Masha: atrevida e objetiva.  — Jamais — recuou. — Sou um homem de palavra. Rapidamente, a ruiva sedutora aproximou-se novamente dele e buscou seus lábios.

Aquele beijo ficaria com ele para a eternidade.  — Se eu o ver novamente, o farei meu — jurou. — Porque caso um dia nosso destino se confronta, é sinal de que os deuses nos querem juntos. Sem palavras, Andrew a percebeu dar-lhe as costas e sumir no corredor. ***

 — Uma viagem? — Lady Berna a encarou, um riso zombeteiro surgindo em seu rosto. A jovem ruiva devolveu o sorriso, dessa vez permitindo que uma gargalhada surgisse em sua garganta.  — Ora, ora… — deu os ombros. — Quero ver minha amada irmã antes que se case. Berna lhe estendeu o pires com a xícara de chá. Ambas passavam à tarde pós-festa aproveitando para pôr as fofocas em dia.  — Você não presta, Anna — Berna afirmou. A recriminação soou como elogio.  — Sou como Masha. — O orgulho transparecia em seu olhar. — Eu não espero o destino acontecer. Eu o faço com meus próprios méritos.  — Vai roubar o noivo de sua irmã?  — Andrew é um idiota. Foi muito fácil seduzi-lo. Apenas, me mostrei à disposição, encantei-o com minha beleza, deixei com que meus seios, às vezes, tocassem seu peito, e o seduzi com uma conversa idiota de destino. Caiu na minha lábia como um imbecil. Berna suspirou.  — Mas, pense em Elisabeth. Sua irmã…  — Arrancou tudo de mim! — ralhou. — Enquanto eu cresci na corte, tentando arrumar marido, ela já tinha um desde a infância. Por que a preferiram a mim? Sou mais bonita, mais interessante, tenho mais personalidade. Você não a conhece, mas me recordo de quase morrer de tédio ao lado dela. Era uma sonsa.  — Mesmo assim — Berna tentou trazer-lhe juízo.  — Quero mais é que Lis sofra! Vou tomar tudo dela. Seu noivo, sua posição, tudo… Berna tentou iniciar um discurso para trazer a razão à amiga, explanando que a própria Elisabeth não havia feito nenhuma escolha, mas foi em vão.

Mais tarde, enquanto arrumava suas roupas para a viagem, Anna meditou nos seus próprios motivos. Não sabia, ou não queria saber, que suas razões iam além de vingança. Era sua personalidade, seu jeito, que a fazia querer tudo para si. Ela não amava Andrew. Na verdade, não se importava sequer um pouco com ele. Quando o viu a primeira vez na corte, desviou os olhos. Só passou a querê-lo quando soube que ele era um Clark. E então armou a noite da festa. E armou um futuro casamento para a irmã, com o homem mais detestável e nojento que ela sabia existir dentro de Bran. Mais tarde, aproximando-se da carruagem que a levaria até o Castelo Branco, encontrou-se com Lorde Barton. O homem era uma das espécies mais asquerosas que Anna já havia conhecido na corte. Era grande, quase dois metros de altura, e tinha linhagem de Cashel e Bran. Apenas o sangue, claro, porque de caráter, em nada lembrava os dois deuses. Anna fez sexo com ele algumas vezes, em troca de favores. O sexo antes do casamento era abominável, mas Barton era excessivamente discreto. Até porque, como não o seria? O homem gostava de meninas jovens, mocinhas ainda virgens. Tanto é que pagou bem caro para Anna pela primeira vez dela. Depois, aparentou perder o interesse.  — Nos veremos em duas semanas? — ela indagou, sorrindo.  — Sua irmã é virgem? — ele trouxe o centro da prosa novamente à tona.  — Pelo que investiguei, ela mal pode sair de dentro do castelo.  — Não quero mercadoria danificada — ele ralhou. — Se quisesse putas, casava com você. Anna suspirou, nervosa.  — Ela é virgem — afirmou.  — Só vou aceitar esse casamento porque o Rei quer que eu me case. Mas, que pelo menos eu veja sangue na primeira noite — perseverou.  — O senhor é um chato, Lorde Barton. Tem que confiar mais em minha palavra.  — Não confio em bocas que já chuparam meu pau — ele devolveu, fazendo o sangue de Anna ferver.  — Sabe que tive motivos para fazer isso.  — Sim, vestidos novos, informações sobre o tal lorde de Clark, ou qualquer coisa fútil que sua buceta pudesse comprar. Nunca fez nada por necessidade, o Rei Angus sempre lhe deu tudo que precisasse. Foi bem alimentada, vestida e cuidada dentro da corte. Mas, para ti, nada basta.

 — Sinto um resquício de raiva em seu tom. Barton, por fim, suspirou.  — Eu teria me casado contigo — admitiu.  — Não é você que eu quero.  — Não vai aguentar um mês ao lado de alguém como Andrew Clark. Ele é um puritano.  — E quem disse que eu irei aguentar? — ela aproximou-se, resvalando o corpo no do outro. — Eu terei amantes. Se for bonzinho, até mesmo você, cunhado. O riso frouxo dele encantou-a.  — Espero que seu plano dê certo e eu não perca a viagem. Anna gargalhou.  — Eu nunca jogo para perder, Lorde Barton. ***

Zenon conhecia Sophie desde que a Lady nascera. Havia sido um dos primeiros a estar no seu quarto, pois trouxera lençóis para a mãe de Sophie, durante o trabalho de parto. Era criado, servia na cozinha, mas, aprendera com o pai a usar a espada e a ter lealdade aos nobres. Quando Sophie casou-se com Hor Clark, seguiu com ela. Sua fidelidade era tamanha que passou a viver por ela. Não era amor, nem paixão, era veneração. Sophie era muito bonita, quase uma deusa. Mas, contudo, não tinha um coração generoso. Sempre fora maldosa, e a faceta se mostrara mais nítida com Elisabeth, a pobre criança que viera morar no Castelo Branco. Não que aquilo o impressionasse ou o incomodasse. Todo nobre tinha seu brinquedo de tortura. O falecido Hor Clark batia no bastardo Joshua, porquanto Sophie desabafava suas mágoas através do corpo frágil de Elisabeth. Assim, tão logo sua senhora saiu, ele ficou de olho na jovem Lady. Quando percebeu seu sumiço, entrou em desespero. Porém, depois, o bastardo surgiu com ela, molhada, nos braços. Pelo que entendera, Elisabeth saíra para caminhar e acidentalmente caíra dentro do lago.

Se contasse a Sophie, Elisabeth poderia morrer. Ela estava de cama desde o episódio, o frio pareceu ter a tocado até a alma, e a febre despontou por vários dias. Se não contasse, estaria em confronto com seu senso de lealdade. Por fim, quando Sophie surgiu através da portinhola da carruagem, dias depois, ele a observou com o coração num misto de dúvida. Tal semblante confuso foi instantaneamente percebido por sua senhora.  — O que ela aprontou? — questionou, já sentindo a necessidade de tocar no couro do chicote.  — Saiu para caminhar — disse de imediato. — Mas, sofreu um acidente. Sophie permaneceu rígida.  — Se machucou?  — Não, apenas ficou com febre. Já está melhor. A mulher respirou fundo, pausadamente.  — Elisabeth se safará dessa vez — contou ao homem. – Um mensageiro me encontrou no porto e me comunicou de que Andrew está retornando.  — É mesmo?  — Sim, e não quero que meu filho encontre uma mulher machucada — deu os ombros. Zenon assentiu.  — Também tivemos notícias da corte, minha senhora. Lady Anna virá ver a irmã antes do casamento — relatou. Em todos aqueles anos, Anna nunca havia feito uma visita. Sophie estranhou a história, mas não se ateve a ela.  — Parece que teremos tempos bem estafantes — anteviu. — Ao menos posso contar com você? — sorriu para o homem.  — Sempre, minha senhora. Sempre.

Capítulo 03

Irmãs Joshua encarou o bonito alazão com o olhar cheio de compaixão. Enquanto esfregava unguento de peixe com ervas na pele carregada de ferimentos, ele imaginou porque os nobres eram tão cruéis com aquelas bonitas criaturas. Ora, não dependiam delas para atravessar as cidades ou fiscalizar o campo? Por que então toleravam ou até mesmo praticavam açoites nos equinos? O cavalo remexeu-se, enquanto parecia sentir alívio pelas mãos doces a lhe tratar as feridas. De todos, aquele bonito cavalo negro trazido de Cashel era o favorito de Joshua. Provavelmente, por ser escuro e por ser selvagem. Tormenta, como era chamado, não gostava das selas, e nunca permitia que alguém sentasse sobre seu lombo. Sua personalidade geniosa lhe valia as surras, praticadas a mando da senhora do Castelo Branco. Se tivesse qualquer voz dentro daquela terra, Joshua jamais permitiria que aquele formoso cavalo sofresse nas mãos cruéis. Mas, ele era menos que o animal. Ele era um bastardo, fruto de pecado e iniquidade. Então, tudo que podia fazer, e fazia, era cuidar de Tormenta após os castigos. O som na porta do estábulo chamou sua atenção. Voltou-se para a entrada e viu Lis, com os olhos transbordando lágrimas e um sorriso que dizia mais que qualquer palavra.  — Andrew voltou? — ele questionou, muitas sensações aflorando-se em seu coração.  — Não… — negou. — Não ainda, mas enviou uma missiva. Estará até o final da semana no Castelo Branco. Ela correu em sua direção. Por alguns segundos, Joshua quis dar-lhe as costas, negarlhe o abraço, mas sabia não ser justo. Lis não era culpada dos sentimentos que ele passara a sentir. Elisabeth sempre foi noiva de Andrew e sempre foi fiel ao amor que nutria pelo irmão. Ela era uma mulher honrada, uma mulher decente. Era ele, como sempre, o errado.  — É o fim do nosso tormento, meu amigo — ela murmurou, o rosto apertado contra seu peito. Sem conseguir se controlar, ele ergueu as mãos e a apertou contra si. Só Bran sabia quando poderia tocá-la novamente. Provavelmente, nunca mais. A veria sempre, contudo. A ter os filhos de Andrew, a servir e seguir o irmão. Mas, nunca mais estaria disponível para ele, nunca mais o abraçaria, nunca mais lhe teria liberdades. Tudo que tinha dela era a amizade, e aquilo lhe bastou, por todos os anos.

Mas agora… E ele? Seria aquele que passaria toda a vida a observá-la ao longe, sem direito de sequer murmurar seus sentimentos.  — Você o ama? A pergunta de Joshua surgiu por acaso, sem que ele pensasse. Havia brotado em seus lábios e ele foi incapaz de contê-la. Percebeu Elisabeth se afastando, o olhar assombrado.  — É claro — ela sussurrou. Doeu, mesmo que ele já aguardasse a resposta.  — Eu sei que ele a fará muito feliz — afirmou, querendo morrer naquele instante. Elisabeth pareceu disposta a retrucar a frase, mas o som dos sinos no portão fizeram ambos olharem assustados para a porta. Ela não podia sair do castelo, e só os deuses sabiam como Elisabeth estava ali sem vigia. Se Sophie tivesse percebido seu sumiço, seria punida. Contudo, quando se aproximaram da porta, perceberam que era a chegada de uma carruagem que havia atraído à atenção dos servos. O transporte de tração animal parou próximo deles. O condutor saiu rapidamente da parte externa e alta, e saltou até a porta, abrindo-a com destreza. De lá, uma ruiva de aparência exótica surgiu sob o olhar acanhado do par. Por alguns segundos, Joshua imaginou quem seria a ninfa de cabelos vermelhos, quando ouviu então a exclamação abafada de Elisabeth, que correu até a mulher. Trocaram um abraço. O de Lis era carregado de sentimento, lágrimas que explodiam em seu íntimo e resplandeciam em sua face. O semblante da outra, contudo, era de indiferença.  — Joshua — Lis voltou-se para ele, tão logo a soltou. — É minha irmã —  apresentou. — Lady Anna. O que era aquele olhar carregado de fogo? O homem percebeu imediatamente a química explodindo entre eles, mas fingiu indiferença. Sabia que Elisabeth, inexperiente, nada perceberia, mas ele era incapaz de flertar com qualquer mulher na frente dela.  — Muito prazer — disse, depois de um tempo. A mulher sorriu, e voltou-se para Elisabeth. Fingia ignorá-lo, provavelmente porque era um lacaio de roupas surradas, mas não escondia um sorriso malicioso na face.  — Vim para o seu casamento — contou.  — Nada poderia deixar-me mais feliz — Elisabeth afirmou. Depois disso, a amiga acenou para ele. Joshua sorriu enquanto a via caminhando com a irmã em direção ao castelo.

Talvez nunca tivesse Elisabeth, mas pelo que percebeu, divertir-se-ia muito com Anna. ***

 — Mal posso acreditar que está aqui! — Elisabeth exclamou. A voz estridente e aguda da irmã estava lhe dando nos nervos. Mesmo assim, sorriu, falsamente, como se a presença da mais velha fosse agradável.  — Quis tanto revê-la, minha irmã. Mas, Lady Sophie nunca me deixou ir à corte. O que era uma sorte, Anna pensou. Porque ter Elisabeth seguindo sua sombra enquanto aproveitava a juventude seria o inferno na terra.  — Sua sogra parece uma pessoa difícil — murmurou. Sophie a havia recebido com o semblante carrancudo. Como Anna não se importava nem um pouco com a mulher, ignorou-a. Quando fosse a senhora daquele Castelo, colocaria Sophie em seu devido lugar.  — Ela é — Elisabeth concordou, mas não prosseguiu a falar, pois a entrada de uma serva calou-a. Enquanto a mulher arrumava as roupas, Anna percebeu o espírito acanhado de Elisabeth. De cabeça baixa, mãos sobre o colo, e o olhar tímido e perdido, ela quase gargalhou ao notar a irmã era completamente alheia ao ódio da serva. Era muita ventura encontrar uma aliada em seu primeiro dia no Castelo Branco.  — Elisabeth — chamou-a, doce. — Poderia me emprestar um penhoar? O meu está com um cheiro ruim, devido à viagem. A irmã assentiu e saiu do quarto. Aproveitando o momento, Anna aproximou-se da morena.  — Sou lady Anna — se apresentou. A mulher a encarou.  — Eda, minha senhora. Anna avaliou-a alguns segundos. Não queria cometer erros.  — Notei que não olha com respeito ou carinho para minha irmã.  — Está enganada, senhora.

Respostas automáticas que não lhe convenciam nenhum pouco.  — Está com uma amiga, querida. Também a desprezo. Só então o olhar de Eda pareceu se iluminar.  — É difícil simpatizar com uma mosca morta. Anna jogou a cabeça para trás e gargalhou.  — Diga-me, Eda — apertou o ombro da outra, numa clara demonstração de carinho.  — Está disposta a ser minha aliada para nos livrarmos da mosquinha incômoda desse castelo?  — Com certeza, Milady.  — Ótimo! — Anna então andou até o espelho. No reflexo, sua silhueta perfeita lhe deu ares de superioridade. — Conte-me tudo sobre Elisabeth… Especialmente, existe algo que minha irmã ama, além do noivo? ***

Joshua soube da presença dela antes mesmo de vê-la a espreitá-lo naquela noite gelada. Sorriu, antevendo o encontro, sabendo que a noite seria por demais agradável, que teria uma mulher extremamente bonita e desejável nos braços e que, por alguns segundos, poderia fingir que estava com Lis. Mas, claro… jamais seria Lis. Anna era mais bela que a irmã. Mais sedutora. Tinha formas voluptuosas, olhar lascivo e resplandecia sexo. Contudo, jamais seria Lis… O corpo de Joshua podia ser libertino, mas o coração era leal.  — A senhora está perdida? — volveu a ela, que surgiu sem cerimônia na porta do celeiro. — Uma Lady não deve andar desacompanhada durante a noite — apontou, sorrindo. Então, ela entrou. Não parecia ter planejado nada, mas agia por impulso. Era guiada pela fome no meio das pernas. Uma mulher daquelas não se contentaria em observar os braços fortes e o corpo vigoroso. Joshua sabia que Anna queria sexo, queria ser fodida por todos os buracos que possuía, e ele lhe daria tudo que ela viera buscar.

 — Tire a roupa — mandou. Pela luz provinda da fogueira ele passeou o olhar pelas formas generosas. Era deliciosa, como poucas mulheres no mundo o seriam. Quando os seios fartos surgiram diante do homem, Joshua estremeceu. Aquela fêmea faria qualquer homem perder a cabeça. Caminhou rapidamente até ela. Segurou o rosto entre as mãos, estudando aquele olhar febril.  — O que você quer de mim? — questionou, para ter certeza.  — O que uma mulher como eu iria querer de um vassalo como você? — ela disse, ferina, machucando fundo o orgulho masculino. — Me coma como nunca comeu outra. Quero que me faça delirar de paixão, que destrua minha consciência, e que não permita que nada atrapalhe nosso ardor. Enquanto a empurrava contra a parede, Joshua arrancou a calça. Anna gemeu, enquanto sentia as pernas sendo abertas. Circundou a cintura de Joshua, gritando como uma cadela no cio, enquanto aranhava as costas do homem, esfregando-se nele, lambuzando-o com seu desejo. Não houve muita preparação, nem precisava. Ele enfiou-se nela com destreza, fazendo-a ronronar. Depois, socou com força seu membro avantajado, quase arrancando sangue. O primeiro orgasmo dos muitos daquela noite os atingiu rapidamente. Anna tornaria aquela semana inesquecível. Seria a puta do bastardo, de todas as formas que pudesse. Estava tirando de Lis, agora também, o homem que a amava em segredo.

Capítulo 04

Escolha Joshua mordeu o lábio inferior enquanto sentia o clímax aproximando-se. Deitado sobre as palhas secas, ele observava o teto amadeirado, enquanto, abaixo dele, a boca de Anna devorava seu membro avantajado. Voltou o olhar para ela. O verde febril o excitou ainda mais. Com a língua, ela deslizou os lábios sobre uma veia saliente, e então engoliu inteiro seu membro, em movimentos ritmados, a cabeça indo para cima e para baixo, cada vez mais rápida. Sentiu que ia gozar e gemeu, num urro de agonia e prazer. Tentou afastar a ruiva, mas ela permaneceu firme e apenas sussurrou: — Derrame na minha boca. Nunca havia tido uma mulher como ela, tão desprovida de pudores. Exibia sua nudez para ele sem artifícios, levava-o ao céu durante o sexo, e oferecia mais do que as outras. Numa das noites que o buscou naquela semana divina, deu as costas ao homem, ficando de quatro sobre a palha. Seu rosto carregado de lascívia chamou-o.  — Enfia no buraco… — ela mandou, numa ordem direta e arrogante. Jamais havia se fundido com uma mulher daquele jeito, mas adorou. Adorava tudo nela. Por isso, murmurou contra seus cabelos suados, horas depois, enquanto ela descansava nua sobre seu peito: — Fuja comigo. Um bastardo não tinha direitos. Não apenas não poderia assumir uma propriedade ou algum posto importante num feudo, como também não poderia se casar. Mesmo uma mulher sem posses lhe seria negada. Contudo, se fugissem para onde ninguém os conhecia, para as terras além de Masha, talvez… talvez… Subitamente, ela ergueu-se nos cotovelos e o encarou.  — Te darei tudo que pedir, mas isso não, meu amor… Era a resposta esperada. Não ficou magoado nem triste por ela. ***

Elisabeth surgiu diante dele com um sorriso feliz nos lábios. Andrew chegaria ainda naquele dia e, pelo que parecia, Sophie enfim a deixara livre para zanzar pelos arredores. Joshua nunca a havia visto mais feliz. Tudo nela resplandecia alegria. Os olhos brilhantes, a pele ruborizada, e sua emoção visível pela forma que caminhava e gesticulava.

O homem odiava aquilo. Não bastava sabê-la impossível para ele, ainda teria que presenciar sua excitação diante da chegada do irmão. Havia mais que raiva em seu íntimo. Era culpa, igualmente. Andrew sempre foi um bom irmão. Ele não tinha qualquer direito de se sentir como sentia. Então, recolheu e afundou sua mágoa dentro da alma, e sorriu para ela.  — Quando será o casamento?  — Não sei, Joshua — pareceu nervosa. — Penso… Será que ele ainda quer se casar comigo? Que homem seria louco de desprezar aquela mulher?  — É claro que sim…  — Ele não me vê há mais de uma década. E se eu não for agradável aos seus olhos?  — Nenhum homem seria capaz de resistir a sua beleza, Lis — afirmou, corajoso. Ela sentiu os olhos nublarem pelo carinho que existia no tom da voz.  — Seremos irmãos também, meu amigo —aproximou-se, segurando suas mãos. — E nada poderia me deixar mais feliz que isso. E nada poderia deixá-lo mais infeliz que isso… ***

 — Onde está Anna? — Sophie indagou ao servo Zenon. Estavam todos os moradores do Castelo Branco diante do palacete, naquele instante.  — Não faço ideia, minha senhora. Acho que ainda está dormindo. Os moradores daquela parte do norte levantavam-se cedo. Aquelas palavras trouxeram a Lady mãe a incômoda e desprezível impressão de que Anna era uma preguiçosa. Sophie odiava gente preguiçosa. A carruagem se aproximou da entrada e ela observou Elisabeth com o canto dos olhos. A ruiva estava excessivamente nervosa, ao ponto de tremer e apertar as mãos contra o vestido.

Aquilo era bom. Gostava de vê-la intimidada. A esposa perfeita para seu filho devia e seria completamente submissa. Então, assim que a portinhola se abriu, surgiu o rosto de Andrew. Sophie correu em sua direção e o abraçou. O filho era, definitivamente, a única pessoa que ela amava. Andrew enfim estava em casa. ***

Muitos sentimentos existiam no íntimo de uma mulher. Elisabeth nutria vários deles, mas, nem todos, ela reconhecia. Sua falta de liberdade lhe cortou também a personalidade. Era incapaz de dizer o que sentia ao ver o noivo, incapaz de saber definir se seu tremor era de alívio ou felicidade. Tudo que desejava era, na mesma medida, aproveitar o portão aberto e sair correndo por lá, o mais rápido que conseguisse, e nunca mais voltar.  — Lis — o som da voz de Andrew chegou até ela. Então, encarou-o. Ainda tinha o olhar doce de sua infância, mas agora era um homem. Bonito, alto, aristocrata… um exemplo de lorde, ao qual ela devia ficar feliz em desposar. Mas, então, o que era aquela sensação em sua alma? Aquela necessidade de dizer “não”? Aquela vontade avassaladora de tomar as rédeas da própria vida.  — Eu senti sua falta — disse, no entanto. Mesmo não sendo correto, Andrew a abraçou, beijando seu rosto. Enfim, eram amigos. Aquilo devia lhe aliviar. Todavia, quando viu o rosto de Joshua ao longe, lágrimas surgiram em seus olhos. O coração de uma mulher era um lago profundo, cheio de segredos. E Lis percebeu que carregava um terrível com ela. ***

Ela chorou abraçada a Andrew. Joshua desviou os olhos, e caminhou em direção ao estábulo, fugindo do espetáculo. Ali estava a confirmação de tudo. Eles se amavam. O irmão e a melhor amiga. Ele devia e respeitaria aquilo, não importava o quão doloroso fosse. Enquanto isso se divertiria com as mulheres que aparecessem. Teria Anna até enjoar e depois procuraria outra. Alivio físico era tudo que buscava, então aproveitaria o que pudesse. Subitamente, som de passos no celeiro. Voltou-se a porta, e encarou o homem de cabelos negros e aparência semelhante a sua. Sorriu.  — Como senti sua falta, meu irmão — Andrew afirmou, enquanto corria até ele e o apertava nos braços. Mais culpa. Porque, no fundo, Joshua nunca quis que Andrew voltasse. Ou, ao menos, que voltasse ainda querendo a mesma mulher. Aqueles pensamentos eram ridículos. Se Andrew desposasse outra, Lis seria dada a qualquer homem desconhecido. Um bastardo nunca a teria, mesmo que a amasse mais que a si mesmo.  — Nós temos tanto a conversar, meu irmão — afirmou o mais velho. — Trago novidades comigo… Porém, a entrada de outra pessoa interrompeu os pensamentos. Joshua voltou-se a porta e visualizou Anna. A moça, vestida num impecável e bonito vestido de veludo marrom, surgia ainda mais bela que nunca. Porém, a beleza dela já não mais o impressionava. O mesmo, claramente, não acontecia com o irmão. Andrew observava a moça, pasmo. Joshua estranhou a reação, mas preferiu não tecer comentários. O tempo havia passado. Ele não sabia o quanto aqueles anos haviam mudado Andrew.  — Essa é Lady Anna — disse, apresentando-os. — Ela é irmã de Lis. Só então o irmão pareceu respirar. Curvou-se diante de Anna e segurou seus dedos. Um breve beijo na mão feminina, e rapidamente, afastou-se dela, como se estivesse cercado por demônios. E estava…

***

Elisabeth estava sentada próxima à lareira. Quieta, sem expressão, ela parecia apenas uma boneca de porcelana sem vida. Andrew pensava naquilo quando a comparou a Anna. Enquanto uma irmã era alegre e cheia de impetuosidade, a outra era calada e fantasmagórica. Entrou no aposento e sorriu para a mãe. Só então deu-se conta da presença de outro homem. Arqueou as sobrancelhas, enquanto o lorde erguia-se e estendia a mão para ele.  — Meu filho, esse é Lorde Barton, de Cashel. Andrew sorriu, aceitando o cumprimento.  — Estive na biblioteca de Rainha Rhianna e fiquei fascinado — disse, elogiando.  — Cashel é terra da cultura. Fico feliz que tenha gostado do ambiente. — Pigarreou.  — Estava em viagem pelo porto do norte, quando decidi parar aqui e rever Anna, a quem tenho muito apreço. Espero não estar incomodando…  — Acabo de chegar — Andrew afirmou. — Com certeza sua presença é muito bem vinda. Então, sentou-se ao lado da noiva. Novamente, o olhar deles se encontraram. E, mais uma vez, a falta de emoção naquele verde esmeralda o confrontou.  — Estou em busca de uma esposa — Lorde Barton contou. — Uma nobre de boa família. Sabe de alguma por aqui?  — Anna está solteira — Sophie sugeriu, rapidamente.  — Lady Anna e eu somos grandes amigos, mas apenas isso… Apenas amigos. Lady Anna sempre foi muito gentil, porém, é uma moça não muito dada a sentimentos. Antes de sair em viagem, porém, contaram-me de que ela estava apaixonada. Por quem, não sei dizer. Andrew estremeceu discretamente.  — Enfim, ficarei apenas alguns dias. Agradeço sua hospitalidade. O novo lorde do Castelo Branco assentiu. Resvalando para trás, na cadeira posta ao lado da fogueira, ele ficou imerso em pensamentos, alheio aos assuntos da corte. Tão absorvido estava em si, que não notou que a jovem noiva também estava em

silêncio. ***

Não foi surpresa para Andrew quando bateram na porta do seu quarto tarde da noite. Rapidamente, ele correu até a entrada e abriu-a. Anna estava ali. Os olhos aflitos, resplandecendo lágrimas, fazendo seu coração arder de medo e expectativa.  — Juro que não sabia que era o noivo de minha irmã — ela afirmou. Ele acreditou nas palavras.  — Eu não sei o que fazer — o homem murmurou. — Sempre acreditei que amava Lis…  — Não posso viver sem você — ela o interrompeu, aproximando-se rapidamente dele. — Eu morrerei se casar com minha irmã. Repentinamente, beijaram-se, como se toda a culpa por aquele ato os massacrasse e precisasse ser expurgada pela carícia nos lábios.  — Eu escolho você, Anna — disse, assim que se separaram. — Sempre escolherei você…

Capítulo 05

Abandono Elisabeth Brace havia vindo poucas vezes naquela sala de administração. O antigo lorde Hor gostava da solidão do aposento e, após sua morte, o local era frequentado apenas por Sophie. Agora, sentada diante da enorme mesa de madeira polida, ela olhava para o chão, assemelhando-se a uma ratinha assustada diante de um gigante gato. Não sabia, claro, que Andrew Clark estava tão nervoso quanto ela. O jovem encarava-a sem saber como começar a conversa e sem imaginar como diria as palavras sem magoá-la. Elisabeth era o sabor doce de sua infância. Aquela a quem ele realmente creu amar durante todos os anos. Porém, agora, sem o véu do compromisso a lhe cobrir os olhos, via nela apenas uma irmã, caso a tivesse.  — O que eu vou dizer — ele começou, nervoso. — É muito difícil, querida. Elisabeth levantou os olhos. Pela primeira vez, ele viu algo além da completa apatia no olhar assustado. Era curiosidade. Ora, sem a total falta de personalidade, Lis até era interessante.  — Lis — começou, pigarreando. — O tempo que estive afastado mudou meus sentimentos. Eu sei que devia ter lhe avisado disso antes, mas só há poucos dias me dei conta. Silêncio. Pela forma como o olhar dela focou-se no chão novamente, parecia que a compreensão a tomava aos poucos.  — Eu amo Anna — ele contou, de supetão. — Como jamais imaginei amar outra mulher — completou. — E isso me machuca. Machuca por saber que estou prestes a fazêla sofrer, Lis, que estarei magoando minha amiga tão querida, ferindo seu orgulho e expondo-a diante do reino. Mas, não poderia me casar com você amando outra. Não é usto contigo. Não é justo comigo. Dor? Mágoa? Não havia nada além da completa impassibilidade na alma de Elisabeth. Porém, segundos depois, o pensamento a guiou a praticidade daquela decisão.  — Não irá se casar comigo? — murmurou, entrando em pânico. — O que será de mim? Ele abandonou a cadeira e caminhou rapidamente até ela. Ajoelhou-se em seus pés, segurando suas mãos.  — Eu a amo, Lis. Você é, e sempre será, minha melhor amiga. Eu prometo que lhe arrumarei um marido honrado. Jamais a abandonaria a própria sorte. Aquilo devia aliviá-la, mas não aconteceu. Tremia diante de Andrew. Queria odiá-lo por fazê-la esperar por ele e se sujeitar a Sophie por tantos anos, mas não conseguia. Pela primeira vez na vida, não se importava com ele, e sim, pensava nela. Numa completa sensação de egoísmo, ela só via seu próprio futuro, sombrio, com suas lacunas abertas.

Uma mulher de vinte e três anos sem um marido? Aquilo se tornaria uma grave mancha em seu nome. Quem iria querê-la agora, tão velha, quando todas as donzelas a se casarem tinham no máximo vinte anos?  — Me dê sua benção, Lis — implorou. — Porque se me odiar, eu jamais conseguiria ser feliz com sua irmã. Ela o encarou. Diante dela, estava o amigo de sua meninice. A primeira pessoa a lhe tratar bem naquele castelo. Queria detestá-lo por tudo que lhe fizera, mas não conseguia. Andrew era um bom homem. Podia tê-la enganado, mas não o fez. Não a estava desamparando, apenas mudara os planos. Finalmente, assentiu. ***

As novas seriam declaradas no jantar daquela noite. Elisabeth não via Anna desde o encontro durante a tarde com Andrew. Não sabia como reagiria diante da irmã que lhe roubara o noivo, mas estava tão mortificada pelas novidades que mal conseguira vestir o vestido e caminhar em direção ao salão. Repentinamente, um riso brotou em seu peito, e ela encostou as costas na madeira fria. Sophie iria ter um colapso quando soubesse que Anna seria sua nora. De tudo, restava o lado bom. Talvez a Deusa Masha estava, enfim, lhe dando uma alegria como recompensa por tudo que já havia passado dentro daquelas paredes. Sons. Engoliu o riso e endireitou o corpo quando notou a presença do lorde Barton diante dela. Ele era um homem bonito, apesar de lhe dar arrepios. Sempre a encarava como se estivesse lhe estudando, demorava demais seus olhos sobre o busto feminino e, no dia anterior, quando estendeu a mão para lhe ajudar a levantar-se da cadeira, apertou por tempo demasiado seus dedos. As mãos dele suavam. Ela odiou a sensação. Entretanto, logo esqueceu o encontro, porque, de fato, ele em nada lhe interessava.  — Lady Elisabeth — a cumprimentou. Ela abriu a boca para respondê-lo, quando as mãos firmes do homem seguraram sua cintura e lhe puxaram contra o dorso masculino. Elisabeth debateu-se, diante do toque indesejado, quando a voz masculina a atingiu, sem pudores.

 — Em breve, querida, você será a minha putinha, e enfim irei tirar esse olhar gelado do seu rosto. Nunca havia recebido tal tratamento. Tremendo, desvencilhou-se dele, achando-o, mais repugnante que nunca. Correu em direção ao salão, e respirou aliviada diante do rosto de Andrew. Só então viu Anna, com um sorriso maroto na boca.  — Lis — Andrew aproximou-se dela, segurando seus dedos. — Tenho boas novas para você. ***

 — Jamais pensei viver para ouvir tamanho absurdo! — Sophie gritou, fazendo Anna rir e Elisabeth encolher-se na cadeira. — Elisabeth foi educada para ser sua esposa.  — Lis entendeu meus sentimentos, minha mãe — Andrew estava convicto. — E ela sabe que não será desamparada. Todos estavam à mesa, incluindo aquele homem desprezível que atendia pela alcunha de Lorde Barton.  — Eu não aceito isso! — Sophie retrucou, alto.  — Não tem poder de aceitar nada. Sou o Lorde do Castelo Branco e a senhora se dê por satisfeita que eu ainda ouça seus conselhos. Seu papel, agora, é de apoiar Anna em suas próprias decisões. Anna não abria a boca, mas Elisabeth podia ver o sorriso discreto dominar seus lábios. Sophie ergueu-se, abandonando o jantar. O silêncio dominou o ambiente por alguns segundos.  — Elisabeth — Andrew, enfim, chamou sua atenção. A antiga noiva o encarou.  — Eu tenho uma novidade para você. Ele então olhou para Anna e sorriu. Naquele instante, Lis entendeu porque era renegada. Andrew nunca havia lhe dado um sorriso daqueles.  — Anna pensa demais em sua felicidade, e não quer se casar sem que tenha segurança sobre seu futuro. Elisabeth encarou a irmã. Aquele olhar esverdeado voltado a si lhe deu calafrios.

 — Lorde Barton está a buscar uma esposa, e diante de um generoso dote, aceitou desposá-la. Lis desviou o olhar rapidamente para o lorde à sua frente. Barton a encarava com o semblante carregado de imoralidade. Ela estremeceu e quis abrir a boca para se recusar, mas o som não saia.  — Lorde Barton é da terra do Deus Cashel. Estive lá recentemente, irá gostar muito do lugar, Lis. Iremos realizar a cerimônia na próxima semana. Era assim? Andrew a abandonava e decidia seu futuro sem sequer perguntar sua opinião?  — Não! Enfim, a negativa surgiu. O esforço pela palavra quase a fez desfalecer, mas ela precisava se manifestar.  — Eu agradeço o interesse, mas prefiro…  — Você não prefere nada, irmã — Anna segurou suas mãos, interrompendo-a, docemente. — Andrew e eu só estamos tentando conseguir um bom futuro para você. Sei que está nervosa agora, até mesmo com raiva de mim por causa de Andrew. Lis quis negar, mas Anna prosseguiu, — Está com ciúme, e isso é compreensível. Sou sua irmã e te amo. Mas, precisamos tomar a melhor decisão para vê-la feliz. Confie em mim, conheço Lorde Barton e ele será um excelente marido. Depois disso, Anna voltou ao prato, encerrando o assunto. Lis perdeu o apetite e fixou o olhar no carneiro assado. Queria morrer… Queria morrer. ***

Zenon encarou sua senhora com o olhar espantado.  — Assim, do nada?  — Sim, sem sequer me consultar antes. Abandonou Lis, a quem eduquei e escolhi por sua esposa, e irá desposar aquela cadela vagabunda! Sophie precisava conter o tom da voz. Estava prestes a gritar de puro ódio.  — O que eu poderia fazer para ajudá-la, minha senhora?  — Preciso abrir os olhos de meu filho. Anna gosta muito de passear pelos arredores, descubra seus podres e venha até mim. Vou destruir esse noivado ridículo!

 — Mas, e se ela não tiver?  — Eu sou mulher e reconheço uma vagabunda de olhos fechados. Descubra qualquer mancha na vida de Anna antes que o casamento aconteça. O homem concordou. Faria qualquer coisa por Sophie. ***

Anna surgia todas as noites, próximo da meia noite. Então, Joshua estranhou quando a porta não abriu, na noite anterior. Durante o dia, tentou vê-la, mas a mulher não saiu do castelo. Talvez tivesse cansado dele, como ele já estava prestes a se cansar dela. No fundo, congratulou-se pela diversão findada e, agora, preparava-se para dormir. Porém, a porta abriu. Voltou o olhar, e viu-a entrando no estábulo. Estava por demais feliz, saltitante, e logo jogou-se em seus braços, afundando-se em um beijo cálido.  — Vou me casar — ela contou, como se os sentimentos do homem fossem indiferentes.  — Como?  — Vou me casar com Andrew. Com seu irmão? Aquela mulher fútil e que lhe abria as pernas todas as noites iria desposar Andrew?  — Do que está falando? Repentinamente, a imagem de Lis surgiu.  — Como você fez isso?  — Não importa — Anna riu. — O que importa é que me casarei com Andrew, e virei todas as noites te dar prazer, tão logo ele durma. Aquele plano maculado e imundo o enojou.  — É do meu irmão que você está falando! — ele gritou. — Como se atreve…?  — Sim, ouvi que você é bastardo de Hor Clark, mas, quem se importa? — ela deu os ombros. — O que importa é que ficaremos juntos. Anna realmente cria que existia uma ótica otimista naquele plano sórdido?

 — Você acha que eu trairia Andrew dessa forma? Incomodada, a ruiva deu um passo para trás?  — Está me desprezando? Joshua ignorou a questão.  — O que acontecerá a Lis?  — Será dada em casamento à Lorde Barton. Nunca mais a veria? Nunca mais ouviria o som da sua voz? Nem em seus piores pesadelos, creu que perderia Lis de forma tão completa.  — Está chorando? — Anna gargalhou, e só então ele se deu conta de que diante de si não estava uma mulher, e sim um demônio. — Está chorando por aquela sem sal? Respirou fundo, tentando conter o tremor nas mãos.  — Deve ser a única pessoa do mundo que sentiria falta de Lis — ela afirmou. —  Mesmo quando lhe roubei o noivo, ela foi incapaz de reclamar. Coitadinha, tão apaixonada por Andrew… Sequer conseguiu lutar pelo homem que queria. Ele aproximou-se de Anna, segurando seus braços com força.  — Lis é uma mulher digna — afirmou. — É uma pessoa boa. Tem uma alma caridosa, apesar de ser muito tímida e…  — Mas você sabe que seu amor por ela é completamente impossível, não é? Elisabeth é completamente apaixonada por Andrew. Nunca vai amar você. Ele sabia. Não importava.  — Por que fez isso a sua irmã?  — Não importa meus motivos — Anna riu. — O que importa é que daqui a uma semana, Elisabeth será fodida igual uma cachorra arrombada. Será estuprada e obrigada a fazer coisas desprezíveis, enquanto estarei gargalhando do outro lado da porta, a ouvir os gritos dela. Joshua a empurrou com força, revoltado.  — Fique contra mim, e verá seu irmão persegui-lo e destruí-lo, querido — prometeu. Ele soube que ela cumpriria aquela ameaça. ***

Anna odiava ficar sem sexo. Estava insatisfeita e revoltada ao deixar o estábulo após a discussão com o bastardo. Ela gostava de Joshua. O sangue queimava quando o via. Queria-o por amante. Mas, saber que ainda não conseguira tirar Elisabeth do coração do homem deixou-a possessa. Subitamente, percebeu um movimento na escuridão. Estreitando o olhar, notou ser o servo gordo de Sophie.  — Merda — murmurou. O tal Zenon teria que morrer.

Capítulo 06

O pedido Devia haver alguma explicação plausível dos motivos que levavam as manhãs a serem tão frias. Zenon não o conhecia, mas sentia na pele que aquele breve momento que antecedia o nascer do sol era o momento mais gelado do dia. Porém, estranhamente, naquele dia havia algo diferente. Era uma sensação incômoda, algo que ia além das palavras. Uma premonição das desgraças que viriam. Assim que lady Sophie acordasse, ele lhe contaria as novas. A reação do então Lorde do Castelo Branco ainda era uma incógnita. Retornaria o noivado com Lis, depois de tê-la ultrajado com seu abandono, e mandaria matar o irmão, pôr ter posto as mãos em Anna? Ou simplesmente ficaria passivo diante de tamanha afronta? Ele estava ansioso e curioso. Naquela terra esquecida pelos deuses, muito pouco poderia animar os dias dos lacaios. Um zunzum daqueles entreteria as rodas de conversa por anos. Repentinamente, uma pancada forte na cabeça. Zenon mal teve tempo de gemer. Com os olhos entreabertos, ele sentiu-se sendo arrastado pelos pés pelos homens que seguiam na comitiva de Lorde Barton. Pouco depois, o sol nascia. Ao longe, era possível ver a fumaça que saía das plantas, cobertas pela neve, em encontro com o calor da estrela maior.  — Por que não o mata? A voz era de Lady Anna. Soube que estava perdido.  — Sou de Cashel, Anna — o outro respondeu. — Irei enviá-lo para o mais longe que puder, nunca mais ouvirá falar dele — afirmou. — Mas, assassinato, não cometerei.  — Covarde! — ela resmungou.  — Não sabe que os deuses são implacáveis com quem mata? — O homem resmungou. Só então Zenon reconheceu Lorde Barton. — Não quero Cashel nos meus calcanhares. Os Deuses destruíram um rei como Iran, o que fariam a alguém como eu? Não preciso de tal maldição a me seguir. Enquanto era levado até uma carroça coberta, Zenon ainda pôde ouvir Anna retrucar.  — Sou como Masha, audaciosa, nada temo. Por isso sou mais forte que vocês, homens.  — É uma tola, isso sim.  — Cuidado com suas palavras. Em breve serei a senhora do Castelo Branco. — Seu tom era carregado de orgulho. — E todos ficarão aos meus pés. ***

Andrew ergueu o olhar da papelada, enquanto sorria para a mulher que se aproximava. Elisabeth adentrou a sala de administração em passos lentos, temerosa, buscando forças em seu íntimo para conseguir se manifestar perante o homem. Na infância, eram os melhores amigos, agora, não passavam de dois desconhecidos.  — Andrew — ela começou, mal conseguindo sustentar o olhar para ele. — Eu imploro…  — Lis — interrompeu-a. — Por favor, você precisa entender…  — Eu não consigo olhar para Lorde Barton — ela retrucou, as lágrimas sufocando-a.  — Não posso…  — Você também não consegue olhar para mim — ele riu, levantando-se e indo até ela. Segurou-a nos braços, carinhosamente. — Lis, eu a amo como minha irmã, e Anna assegura que Lorde Barton é um homem valoroso. Quero sua felicidade. Você, por ser mulher, é incapaz de fazer uma escolha consciente e racional, que lhe trará felicidade. É por isso que nós, homens, assumimos o papel de protetores, de guardiões. Eu posso ver com objetividade o que é melhor para você. E eu já tomei a minha decisão. No final da semana, seu casamento irá acontecer. O assunto parecia encerrado. Engolindo o choro, Elisabeth afastou-se do rapaz, e seguiu seu caminho. Sempre se sentiu reprimida naquele castelo, mas enquanto andava pelos corredores, acreditou que em algum momento as paredes a esmagariam. O ar faltou e a visão nublou. Foi quando alguém a segurou, docemente.  — A senhora está bem? Era uma serva. Uma mashiana de cabelos vermelhos como os dela e a da irmã.  — Eu… Encarou-a. Nunca a havia visto antes por ali.  — Quem é você?  — Sou Mah, senhora — respondeu, gentil. — Não trabalho dentro do Castelo, mas fui chamada para ajudar nos preparativos do casamento. Lis assentiu.  — Obrigada — murmurou, e então começou a se encaminhar em direção ao seu

quarto. Subitamente, foi segurada novamente pelo braço.  — Não chore, minha senhora. É forte, é uma mashiana. Precisa apenas descobrir a força que está subjugada dentro de si.  — Não tenho força — retrucou. — Não sou como Anna…  — Acha que a força vem das palavras impensadas ou da impetuosidade descomedida? Não conhece as lendas? Rainha Brione, a negra, foi a mulher mais forte que á existiu, e nunca levantava a voz. A força de uma mulher vem da coragem que ela tem de fazer o que é certo, mesmo que tudo lhe imponha a fazer o errado. Não serão atos imprudentes que a tornaram uma mulher forte, mas sim a coragem de tomar as rédeas da própria vida. Lis estava embasbacada.  — Eu… — ela murmurou. As lágrimas que ela tanto segurou agora deslizavam pelo rosto pálido. — Eu não tenho saída.  — Tem sim. Basta pensar. O que a tornaria inapropriada para um casamento com Lorde Barton? Depois disso, a serva deixou-lhe. Repentinamente, um pensamento inconveniente cruzou a mente de Elisabeth. Era uma loucura. Mas… Girou o corpo e correu em direção ao celeiro. ***

Joshua ficou diante do castelo durante toda a manhã. Não viu ninguém sair de lá. Sequer Andrew o procurou, e seu desespero se tornava cada vez maior. Como o irmão pôde fazer aquilo com Elisabeth? Além de abandoná-la depois de anos deixando-a em seu aguardo, ainda a dava em casamento a um homem desconhecido. E ali estava ele. De mãos atadas. O que Joshua poderia fazer além de tentar convencê-lo do contrário? Se não fosse um bastardo… Se tivesse qualquer poder ou respaldo dentro das leis… Mas, não havia nada que lhe permitisse tirar Elisabeth das garras de Andrew e Anna. Como ela estaria? O quão desesperada se encontrava? Repentinamente, viu-lhe as formas. O vestido verde escuro contrastando com a neve.

Ela percebeu-o e correu até ele. Nada disseram, enquanto deram as mãos e entraram no celeiro. Só quando Joshua fechou a porta, foi que a amiga se jogou em seus braços, permitindo que o choro sufocado enfim se extravasasse, libertando-a da agonia.  — Lorde Barton me chamou de puta — ela contou, tão logo se separaram. — Ele é um homem repugnante, nojento, eu não posso passar o resto da vida ao lado dele, Josh… Eu prefiro a morte. Por Deus…! Joshua queria matar aquele homem. Queria arrancar o coração dele com as próprias mãos. Como aquele maldito se atrevera a falar daquela forma com Elisabeth?  — Irei falar com Andrew — ele começou.  — Já tentei duas vezes, mas ele se recusa a ir contra Anna — ela contou. — Minha irmã me quer casada com aquele homem e não sei o porquê. Contudo, não creio que seja por minha felicidade.  — Lis… — Os pensamentos de Joshua fervilhavam. — E se fugirmos?  — De um membro da família real de Cashel? — ela quase riu. — Nunca teríamos paz. Subitamente, respirou fundo.  — Existe uma forma… — ela murmurou. Joshua arqueou as sobrancelhas. O rosto da mulher ficou rubro e ele entendeu imediatamente o que ela tentava insinuar.  — Sou um bastardo, jamais dariam sua mão para mim.  — Não estou pedindo casamento. O homem abriu a boca, pasmo.  — Lis… Não conseguia raciocinar direito. Diante da possibilidade de amá-la carnalmente, tudo pareceu entrar em combustão dentro de sua alma.  — Isso te mancharia a tal ponto de nunca mais conseguir um casamento. Uma donzela que se deita com um bastardo é enviada ao templo de seu Deus correspondente, para servir como lacaia aos sacerdotes.  — Diga-me, Joshua, de quê isso me seria diferente ou pior do que a vida que já levo? Ao menos poderei ficar livre daquele homem. E ele teria um momento com ela. Um momento para guardar para sempre em sua memória. Um pedaço do paraíso no inferno que chamava de vida. Não havia motivos para recusar. Ele a queria. Ela precisava querê-lo. Não havia amor no coração de Elisabeth. Mas, havia o suficiente nele, para ambos.  — Quando? — indagou, nervoso, as mãos contorcendo-se uma na outra.

 — Agora. A palavra ecoou nas paredes do celeiro e Joshua assentiu. Embaraçado, segurou as mãos femininas nas suas e a puxou em direção à ala superior, onde ficavam as pilhas de feno. Pelos céus, tantas já haviam se deitado com ele naquele lugar. Era tão experiente, acostumado a dar satisfação a esposas mal amadas ou a mulheres como Anna, que saberiam esconder sua perda de virgindade num casamento indesejado. Porém, com Elisabeth, tudo era diferente. Temia feri-la, machucá-la, desgraçá-la. Ela era como o sol, e ele como a lama. Como o sol poderia tocar o lugar onde os porcos descansavam? Pararam diante do feno. Lis tremia, e Joshua apiedou-se.  — Eu… — ela murmurou, buscando as palavras. — Eu vou tirar minha roupa. Sem que ele pudesse esboçar uma reação, ela arrancou a parte superior do vestido. Os seios de aréolas negras, característica que apontava as antigas imundas antes da Rainha Esmeralda, surgiram diante dos seus olhos. Era linda. Como ele sempre imaginou, talvez até mais que isso. Contudo, até então, Joshua a via como inacessível. Naquele instante, Lis estava ao alcance de seus dedos trêmulos.  — Você tem certeza? — ele indagou, mais uma vez.  — Eu sei que não me quer — a voz dela era gentil e abatida. — Eu sei que sou invisível a qualquer olhar masculino. Mas, eu preciso que faça isso, Joshua. Ele sorriu. O quão longe ela estava da verdade?  — Lis, isso machuca — preveniu. — Na primeira vez, você pode sentir dor…  — Então que seja você a me ferir e não aquele homem grotesco. Joshua segurou o rosto feminino, estudando sua expressão. Por fim, curvou-se a ela, beijando delicadamente a boca. Temia até mesmo respirar, como se aquela figura perfeita desaparecesse diante de seus olhos. Era um sonho idílico, e sonhos não existiam numa vida desventurada como a dele. Mas, Lis aceitou seu beijo. Timidamente, é claro, mas aceitou. Pousando as mãos femininas sobre as suas, ela permitiu que a língua audaciosa adentrasse sua boca e lhe tomasse. Joshua encostou seu corpo ao dela. Tudo nele estava duro e dolorido. Ao sentir o bico dos seios exprimidos contra seu peito, gemeu.  — Vão dar por minha falta logo — ela murmurou contra sua boca. — Precisa ser rápido, por favor. Ele havia sonhado a vida toda com aquele momento, mas não poderia aproveitá-lo, sequer prepará-la para a dor que viria?

 — Está tudo bem, Lis. Deite-se, por favor — pediu. Enquanto ela descia o vestido até o chão, Joshua evitou encarar o corpo bonito. Não podia… Não podia estender aquele ato além do aceitável. Por ela, precisava ter foco. Por ela, precisava cumprir o desejo feminino. Abriu os botões da calça, e deitou-se ao lado de Lis. Segurou seu rosto, tentando impedir que a mulher olhasse para baixo. Lis não estava pronta para o sexo, nem para a visão do corpo masculino. Joshua não queria e não iria traumatizá-la.  — Eu quero que olhe fundo nos meus olhos — pediu. — Vai doer, Lis — antecipou.  — Mas, eu serei cuidadoso, está bem? Eu jamais a machucaria de propósito…  — Eu sei. O sorriso confiante dela fê-lo sorrir também. Já havia se deitado com tantas mulheres naquele feno, em atos tão lascivos e excitantes, mais nada se assemelhava a ter a mulher que ele amava nos braços, mesmo que fosse de forma tão impessoal. Resvalou o corpo sobre o dela, abrindo suas pernas. O olhar verde esmeralda arregalou-se, mas ele a acalmou com pequenos beijos em sua bochecha. Com o polegar, movimentou de forma circular o dedo sobre o íntimo da mulher, e então, após um breve murmuro de aceitação, entocou o membro avantajado dentro da feminilidade. Lis quis gritar, gemer e chorar. Ela até fez menção de se debater, apavorada. Mas, sabendo que era sua única saída, enfim, aquietou-se e permitiu que ele se movimentasse sobre seu corpo. Agarrando-se nos ombros musculosos, ela observou o movimento. Joshua ia para cima e para baixo com o quadril, entrando e saindo dela. Era vagaroso e parecia ansiar por protegê-la. Enfim, aquele ritmo chegou ao seu coração e ela sentiu as lágrimas. Tudo se perdeu, então, naquela certeza. Havia amor ali. O tipo de amor que ela era incapaz de classificar, o tipo de sentimento diferente de tudo que já havia sentido, mas algo que sempre havia estado com ela, e só então ela o percebia. Enfim, ele gemeu mais alto e desabou sobre ela. Agarrou-se nele, num mudo agradecimento por tudo que desempenhara em sua vida. Seu melhor amigo… seu amante. Talvez, nunca mais o veria. No entanto, levaria para sempre em seu coração o rosto do amigo.  — Você sangrou muito — o sussurro masculino era carinhoso. — Eu te machuquei demais.  — Não importa — ela negou. — Arde um pouco, mas estou feliz — admitiu. —  Obrigada.

Joshua ergueu a face e pareceu disposto a lhe retrucar. Contudo, subitamente, o som de botas na escada fê-lo correr até o vestido, a fim de proteger o corpo nu da mulher. Ao se voltar para a saída, encarou o rosto atônito de Andrew e Anna. Enfim, o plano havia dado certo.

Capítulo 07

O casamento  — Sim, é sua culpa! Você disse que não precisava seguir Elisabeth quando avisei que a havia visto saindo do castelo! Andrew sorriu diante do estado nervoso da noiva. Ela ficava ainda mais bela com o olhar preocupado, irrequieto. Porém, tudo estava dentro do controle e ele não se irritava.  — Anna… — começou, mas foi interrompido.  — Lorde Barton não quer mais minha irmã. Dentro da sala de administração, enquanto Elisabeth e Joshua trocaram um olhar estranho perante o casal, o nobre suspirou profundamente.  — De fato, não quero uma mulher usada — Barton concordou. Joshua fez menção de se levantar, mas a mão de Andrew em seu ombro o impediu do ato.  — Viu só? — Anna retrucou — E agora? O que será de minha pobre irmã? Atirada dentro de um templo, para servir de lacaia? — Anna voltou-se ao amigo da corte. —  Lorde Barton, não há a menor possibilidade de o senhor perdoar essa grave falta? O homem riu, desgostoso.  — Nem por todo carinho e admiração que sinto por ti, Anna. Não vou me casar com uma rameira. Dessa vez, Joshua se ergueu. Ele avançou contra o homem, mas Andrew conseguiu segurá-lo.  — Não ficarei aqui para espetáculo. — Lorde Barton se ergueu e afastou-se em direção à porta. — Estarei arrumando minhas coisas e partindo. Obrigado por sua hospitalidade, Lorde Clark — sorriu para Andrew, e saiu. Por alguns segundos, quase imperceptíveis, Andrew pode ouvir um suspiro de alívio partindo da ruiva quieta sentada diante de sua mesa. Joshua, por fim, acalmou-se, mas Anna estava completamente descontrolada.  — Você faz ideia do que será para mim ter uma irmã como abominável, trabalhando como serva num templo para limpar os pecados? — Anna questionou a outra, os olhos afogueados. — Como irei encarar minhas amigas, sabendo que divido o sangue com uma puta? O mais impressionante de tudo, acreditou Andrew, era a completa apatia de Elisabeth. Em nenhum momento ela tentou se defender, aceitando sua punição com uma calma admirável. Porém, era claro que ele jamais desampararia sua amiga.  — Anna, não tem com o quê se preocupar. A ruiva encarou-o. Subitamente, todos os rostos da sala se voltaram para ele.  — Está brincando?

 — Não posso obrigar Joshua a se casar com Elisabeth — Andrew balbuciou. Então, voltou o olhar para o irmão mais novo. — Porém, acredito que não irá se recusar, não é? Joshua encarava o irmão como se estivesse diante de um louco. Abriu a boca uma vez, tentou falar. Fechou-a. Pensou. Pigarreou. Voltou a abrir a boca e, então, pronunciou, incrédulo: — Sabe que não posso — seu tom era carregado de pesar. — Eu me casaria com Lis, mas sou…  — O quê? — Andrew retrucou, retrucou, rindo. — Um bastardo? bastardo? Então, puxou um papel do casaco. Era um pergaminho de tom marfim, com o selo real cravado nele.  — Rei Angus em pessoa pessoa assinou o papel.  — Papel? — Anna, aproximou-se rapidamente. Havia pânico em seu olhar e em seu tom. — Que papel? Andrew puxou Joshua pelo braço, acercando-se mais do irmão e, então, diante do outro, olho no olho, contou: — Antes de voltar para Castelo Branco, fui até a corte do Rei Angus. Nossa Majestade e eu somos amigos da época do treinamento em Masha. Ele me concedeu um favor especial. — Sorriu. E havia a plena felicidade em seu semblante. —  Você agora é Joshua Clark, meu irmão… — Havia lágrimas nos seus olhos. — E o próximo desgraçado que chamá-lo de bastardo, eu o matarei com as minhas próprias mãos. Joshua quase não conseguia acreditar naquilo. Enquanto ele sentia o olhar de Elisabeth cravado nele, como se estivesse desnorteada perante o último acontecimento, os braços de Andrew envolvê-lo num abraço cheio de carinho, e Anna começar a respirar tão rápido que, com certeza, apontava um ataque de nervos, Sophie entrou na sala. Ela havia ouvido o restante da conversa, e não conseguia controlar o gênio rancoroso. Toda a sua vida estava se destruindo perante seus olhos. Aquela vadiazinha ruiva que viera da corte assumiria o papel de senhora de sua casa. A moça que ela educou para ser complacente casaria com o bastardo que ela sempre odiou. E agora o filho a apunhalava cruelmente, assumindo aquele maldito como membro da família.  — Não pode fazer fazer isso com sua mãe, Andrew Andrew — ela gritou. — Não aceito! aceito!  — Já está feito. — Andrew retorquiu. — Apenas, resta saber se Joshua limpará a honra de Lis.  — Por que ele se recusaria? recusaria? — Sophie Sophie gritou. — Ela é perfeita! perfeita!  — Perfeita? — Anna gargalhou. — Para você, não é? — Suas palavras eram carregadas de veneno em direção à sogra. Mas, por fim, voltou-se ao noivo. — Não aceito que minha irmã seja dada a esse bárbaro.  — Ele é meu irmão — o tom de Andrew era furioso. — E é um bom homem. Um destino ao lado de Joshua é muito melhor que uma vida de penitência no templo. Houve um breve silêncio, como se cada um levasse seu próprio tempo para absorver as novidades.

 — Eu me casarei com Lis — Joshua decretou, havia tanta emoção em seu coração que tudo parecia que iria explodir. explodir. — Eu me casarei com Lis — repetiu. E aquilo parecia um presente dos deuses. ***

O sacerdote de Bran estava parado diante do altar ao Deus. Havia sido chamado às pressas para realizar a cerimônia do matrimônio, e sequer conseguira comer algo antes de ir ao Castelo Branco. Tudo era muito confuso. O bastardo que todos ignoravam agora estava prestes a desposar a antiga noiva do Lorde. Não havia festividade, nem alegria nos rostos que se encontravam na pequena capela. Ao contrário, havia apreensão.  — Zenon sumiu — Sophie disse ao filho, assim que cruzou por ele dentro do ambiente. — Ele pode estar morto agora. Andrew achava as palavras enigmáticas, mas não quis entrar em discussão. Zenon era livre, poderia ter ido embora. Se tinha rixa com alguém que quisesse feri-lo, veria aquela questão mais tarde. Agora, pensava no irmão. E, dando às costas a mãe, foi na sua direção.  — Aqui — estendeu a ele ele outro pergaminho. pergaminho. — Presente de de casamento. Joshua encarou o irmão ainda mais surpreso. Aquele dia, provavelmente, era o melhor de sua vida.  — O Castelo Negro? Joshua havia aprendido as letras escondido, com Lis, ainda na infância. Lia com dificuldade, mas espantou-se diante das palavras.  — A casa de nossos ancestrais. Enfim, sabemos que fica ainda mais ao norte, próximo do mar que dá fim ao mundo. Mesmo assim, é um lugar bom para um novo senhor. Sei que é forte e trabalhador, conseguirá fazer aquele lugar gerar lucro.  — Há alguém lá? — Joshua Joshua mal conseguia conter conter um sorriso.  — Um pequeno feudo para lhe auxiliar — respondeu. — Vai ser um grande senhor, meu irmão. O jovem sentiu ânsia de lhe falar a verdade, naquele instante. Livrar Andrew do mal que Anna representava. A demonstração de amor que Andrew lhe dava era algo acima de tudo que já havia recebido na vida.

 — Você Você planejou tudo isso, isso, não é?  — Desde que saí daqui, na infância — confirmou o mais velho. — Mas, não planejei um casamento — admitiu. — Eu agradeço por desposar Lis, mesmo ela não sendo mais pura. Sei que é um sacrifício movido pela honra. Joshua mordeu o lábio. Talvez, devesse dizer a verdade. Dizer que sempre amou Lis. Que se casaria com ela, não importando as circunstâncias. Talvez devesse defendê-la. Explicar que a noiva era a mulher mais pura que ele já conhecera. Que Andrew era um tolo por deixá-la por alguém como Anna. Mas, ele não conseguiu falar. Estava a poucos minutos de realizar o maior sonho de sua vida, e temia que qualquer ato impensado jogasse-o em uma realidade onde ele voltava a disputar comida com porcos.  — Por favor — Andrew o tirou da letargia. — Não a trate mal. Sei que não terá uma dama virgem no leito, mas Lis é uma pessoa muito gentil e boa. Bom, você a conhece, não é? Provavelmente, agiu como agiu porque estava completamente desconsolada por ter sido trocada por Anna. — Pigarreou. — Eu sei que Lis me ama, sempre soube. Mas, eu não a amo. Não da maneira como ela gostaria. Contudo, vocês dois poderão construir algo. Apenas, seja paciente e bom para ela. Só então Joshua foi acordado para realidade. Elisabeth não havia planejado aquilo. O casamento não era da vontade feminina. Ela queria ter ido ao templo, ser vassala. Mas, agora teria que tolerar um esposo que não amava. Encarou Andrew. Era o irmão que Elisabeth desejava do fundo do coração. Era o lorde do Castelo Branco que ela sempre sonhou desposar. Prensando o papel que lhe dava o Castelo Negro nas mãos, ele respirou fundo, antevendo um novo inferno. ***

A porta abriu. Sentada diante de uma penteadeira bonita, Elisabeth encarou a irmã pelo reflexo do espelho. Viu raiva no semblante de Anna. Entendeu os motivos. Havia se maculado de propósito, Anna provavelmente estava envergonhada pelo exemplo dado.  — Sinto pena de Joshua — a mais nova começou, fazendo com que Elisabeth

voltasse em direção à porta, encarando-a.  — Pena?  — Você nunca reparou como ele me olha? — Despejou diante de uma Elisabeth claramente perturbada. — Joshua me têm sentimentos, disse que gostaria de fugir comigo, mas sabia que jamais poderia me possuir. Agora, contudo, é obrigado a desposá-la…  — Ele não foi obrigado! — prevaleceu. Era muita informação incomum. Então, Joshua se encantara por Anna? Por que então aceitou ajudá-la?  — Como não? O que mais ele poderia fazer? Andrew o colocou contra a parede! A resposta era mais complexa que isso. Elisabeth compreendeu que a amizade moveu Joshua. Ele nunca imaginou que o irmão fosse reconhecê-lo legalmente. Ser obrigado a assumi-la era algo que, definitivamente, ele não imaginara.  — Somos amigos há muitos anos — ela murmurou, mais para si que para Anna. —  Seremos felizes, porque nossa amizade…  — Oh, faça-me o favor. Um homem daqueles, com fogo escapando dos olhos não tem paciência para viver com uma mulher tediosa como você, que mal consegue falar. Lis encolheu-se numa dor que pareceu brotar instantaneamente diante da língua afiada da irmã.  — Querida — Anna ajoelhou-se diante dela, segurando seus dedos. — Diga a Andrew que prefere viver para a religião — apontou. — Desista desse casamento. Por você e por Joshua. Elisabeth não queria aquilo.  — Acha que é melhor do que eu? — Anna enfim despejou, diante da mudez. — Sei entreter, sei falar espontaneamente, sou mais bonita e mais interessante.  — Eu sei disso…  — Então por que não escuta meus conselhos? Estou falando para o seu bem. Levou um tempo até Elisabeth reagir às palavras. Quando Anna acreditou que a outra ficaria para sempre com os lábios cerrados, sua voz ecoou.  — Joshua sempre foi meu amigo. Sei que é mais bonita, mais interessante, e melhor em tudo que eu. Tirou de mim meu noivo, mas não meu melhor amigo. Disse que ele é interessado por ti, mas ele sequer pestanejou quando eu pedi por ajuda. Pode ter tudo de melhor que existe, Anna, mas não tem a amizade leal daquele homem. Ele me fará feliz, e eu lhe serei uma boa esposa. Não pode mudar isso. E diante de uma Anna embasbacada, ela saiu do quarto. ***

Elisabeth usava um vestido simples ao entrar na nave da capela. Acompanhada por Andrew, ela aproximou-se de Joshua e aceitou a mão estendida. Percebeu-o nervoso, e a prosa com Anna lhe atingiu brutalmente. Então, era assim? Ela era aquele tipo de amiga, que colocava sua vontade acima de tudo? Porém, que escolha tinha? Prender Joshua a ela era a única forma de escapar do trabalho braçal no templo de Masha. Diziam que a vida dos vassalos era um inferno. Apanhavam de açoites dos sacerdotes, dormiam pouco e comiam apenas os restos. Não era muito diferente da vida que levava no Castelo Branco, mas, agora, havia a perspectiva de algo melhor. Um casamento com Joshua era escapar das garras de Sophie e passar a ter uma vida com seu melhor amigo.  — Me perdoa — ela sussurrou tão baixo que somente Joshua ouviu. Ele então a encarou. Percebeu as lágrimas lá, prestes a cair. Aparentou culpa, mas não hesitou quando o sacerdote pediu que ambos erguessem as mãos. A lâmina afiada rasgou a pele masculina. Depois, a de Lis. Ela tremeu, e ele sorriu, tentando lhe transmitir confiança. Para Joshua, não havia muito o quê meditar. Então, ela não o amava. Mas, o queria bem. Era mais do que a maioria conseguia. Então, deram as mãos, selando o casamento com sangue. Agora, eram um só, para sempre. Não houve aplausos, nem felicitações. Sophie ergueu-se, revoltada, de sua cadeira, e saiu, sem nada a declarar. As demais pessoas pareciam espantadas demais pela sorte do ex-bastardo, e Anna bufava, só Bran saberia o porquê. Pensando naquilo, Joshua imaginou que ela falava sério quando disse que o queria em Castelo Branco para lhe servir de amante. Era incrível a capacidade imoral daquela mulher.  — Agora, somos casados — Lis sorriu para ele. As lágrimas que a custo ela lutou para não derramar, enfim, escorriam pela face. — Me perdoe por tudo. Ele estranhou a frase, mas nada disse. Estava ansioso para sair dali com ela e nunca mais voltar.

Capítulo 08

A viagem Apesar dos choramingos de Anna e das blasfêmias de lady Sophie, o novo casal deixou o Castelo Branco no mesmo dia do casamento. Joshua disse ao irmão que tinha pressa de chegar ao novo lar. Deram um abraço forte, e depois de desejos de felicidade, Elisabeth subiu em uma charrete coberta e puseram-se na estrada. Levaram consigo apenas os poucos pertences que tinham e dois animais que Andrew fez questão de dar ao irmão: Tormenta, o cavalo indomável, e Flor, uma égua pomposa e forte que puxaria a charrete. Lis e Joshua não trocaram uma única palavra enquanto ela colocava as roupas no transporte e ele encilhava o cavalo. Depois, partiram, como se cada segundo que os afastava daquele lugar os deixasse aliviados. Enfim, no final da primeira noite de viagem, quando Joshua acendeu uma fogueira e arrumou o queijo e o pão para a esposa, eles enfim se encararam. Elisabeth foi a primeira a sorrir. Joshua queria devolver o sorriso, queria dizer a ela que tudo ficaria bem, mas as palavras de Andrew cavaram fundo em seu coração, e as marcas ainda estavam lá, cruéis. Sabê-la apaixonada por outro homem, quando estava a tão poucos centímetros de suas mãos, o machucava demasiadamente. Tinha, sobre ela, todos os direitos. Se quisesse, poderia jogá-la contra a neve e aquecê-la com sua paixão. Se quisesse, poderia prendê-la até que jurasse amá-lo. Porém, sabia que amor não era algo que se impusesse a alguém. Se, algum dia, Elisabeth sentisse por ele sentimentos semelhantes aos que, agora, nutria por Andrew, aquilo seria por livre vontade.  — Como acha que é o Castelo Negro? A indagação feminina fê-lo observá-la com mais atenção. Parecia ansiosa por conversar, preocupada por sua mudez, desesperada por algo que ele não era capaz de entender. Contudo, por mais que a amasse, a raiva que o tomava por entender que não eram mútuas as suas emoções, fazia seu olhar desviar do esmeralda, e uma necessidade de machucá-la se tornar mais forte que a razão.  — Não sei — sem tom era incisivo. Diante da forma como Joshua agia, enfim Elisabeth calou-se, disposta a aceitar o silêncio do marido. Não percebia que, com o canto dos olhos, ele a observava atentamente. Ela não parecia triste. Ao contrário, estava nitidamente feliz por ter se livrado das garras de Sophie. Também não parecia preocupada com a noite que chegava, nem com o fato de que Joshua poderia cobrar um lugar ao lado dela, no leito.

Todavia, o homem não se enganava. Era por ignorância e inocência que Lis estava assim. Cria estar segura perto dele, cria na amizade dele, sem saber que ele a desejou inúmeras vezes. Ah, Lis… se soubesse a verdade, teria implorado pelos templos de Masha. Suspirando, Joshua se ergueu.  — Vou procurar gravetos para alimentar a fogueira durante a noite — avisou. —  Volto logo. ***

Que Joshua não a queria, isso era um fato. Mas, que ele ignorasse a amizade deles, era uma desagradável surpresa. Ora, desde a infância, sempre tiveram um ao outro. Era ela que fugia de madrugada para cuidar dos ferimentos causados pelo lorde Clark, ao menino. Era ele que se esgueirava pela sua janela, para levar comida a garotinha, quando Sophie a deixava sem se alimentar por dias, castigo comum. Agora, pareciam dois estranhos. De quem era a culpa? O ato praticado contra o feno, que a libertou de Barton e do Castelo Branco, havia quebrado algum encanto em Joshua? Desde o casamento, mesmo com as desculpas ditas pela mulher por tê-lo colocado em tal situação, ele evitava encará-la. E ela faria o quê? Mal conseguia se expressar sem a voz titubear e as pernas bambearem. Sempre foi calada, mas Sophie havia abafado qualquer manifestação espontânea em si. Ela era como um cachorro que apanhava cada vez que latia. Então, parou de latir. Parou de falar. Palavras ditas eram algo muito acima da sua capacidade. Joshua, pelo que Anna contou, havia se interessado pela irmã. Até onde ele conseguiu se aproximar? Será que conversavam? Será que criaram uma amizade naqueles poucos dias? Será que Anna tornou-se mais importante para o outro do que ela? Lis era tão inferior, em tudo. Como vencer uma guerra em que não tinha sequer uma arma? Subitamente, o som de passos. Ergueu os olhos, buscando a figura do marido, quando percebeu três homens a encarando com surpresa. O que queriam? Seriam ladrões de estrada? Pouco se ouvia falar disso, Bran era um

reino seguro, mas o norte, por ser tão frio, tinha pouca guarda real, e alguns pequenos grupos de mercenários se alastravam por ali.  — Olha só, uma dama para esquentar nossas noites frias… Ela levou um tempo para entender a implicação da frase. Contudo, em seguida, percebeu o intento do gracejo. O fato: uma mulher sozinha, desprotegida, parada no meio de uma floresta afastada de qualquer lugarejo, sem nenhum homem por perto, e diante de bandidos. O que fariam? O pânico tomou seu corpo e ela não conseguiu gritar. Ergueu-se e começou a andar para trás, enquanto eles a cercavam, lentamente, como se tentassem evitar que ela corresse. Então, os dedos tocaram numa das espadas de Joshua. O marido tinha três. Uma sempre na cintura, outra atada na carroça, e a terceira enfiada na neve, pois era usada para lascar a madeira. Foi essa que pegou. Os homens gargalharam quando a viram, tão frágil, empunhando uma espada. Avançaram, os três de uma única vez. Enquanto ela antevia o corte pela espada do maior, um instinto poderoso tomou todo seu corpo. Erguendo a espada, protegeu-se do ataque, enquanto girava o corpo, afastando a arma do oponente, e atacando o outro. Seus olhos arregalaram-se quando cravou sua lâmina na barriga do homem à direita. Não foi a única a ficar surpresa, pois ouviu o respirar admirado dos dois oponentes restantes, e percebeu que seu ato aumentou, e muito, o ódio deles.  — Cadela! — O que a havia atacado antes, gritou. — Vai pagar caro por isso! Porém, não teve tempo de nada. Segundos depois, sua cabeça caía para o lado. Lis gritou, assustada, mas percebeu Joshua atrás do homem. E ele estava completamente indomável. O ódio resplandecia em seu olhar, tornando-o um guerreiro implacável. O oponente que restou até tentou fugir, mas Joshua correu atrás dele. Alcançou-o a tempo de lhe desferir a espada no braço. Então o bandido avançou. Enquanto as espadas tilintavam pelo ar, Elisabeth observava o combate com lágrimas nos olhos. Apenas quando viu o rival caindo ao chão, foi que se acalmou. Joshua a encarou, depois disso. Naqueles breves segundos, era como se o tempo houvesse voltado, e talvez, de fato, voltou, tornado a amizade deles acima de tudo. Caminhou até ela, observando o rosto da esposa, tentando perceber se havia algo errado. Depois, deslizou as mãos sobre seus braços. Enfim, quando a percebeu bem, trouxe-a para um abraço.

 — Como fez aquilo? Enquanto o apertava contra si, muito por causa da apreensão passada, muito porque sentia falta do carinho de Joshua, ela perguntou: — Aquilo o quê?  — Você derrubou um homem armado, sozinha, Lis, como se lutasse com armas desde que nasceu. Elisabeth não sabia. Encarou a espada manchada com sangue e simplesmente largoua ao chão. A cor escarlate contrastou com a neve branca e ela sentiu-se mal.  — Não sei — foi franca. — Não sei… Havia muitas lendas sobre aquilo, entre os mashianos. A própria antiga rainha Esmeralda, apesar de ter sido criada com uma espada nas mãos pelo irmão Randu, havia sido a melhor espadachim existente graças a Deusa Masha, que lhe deu o dom da guerra. Masha, agora, também estava a olhar por Elisabeth?  — Obrigada — ela murmurou, mudando o tom. — Por ter me salvado. — completou.  — Mas, nunca mais me deixe sozinha — pediu. Ele riu. Era a primeira vez, desde o casamento que esboçava um sorriso.  — Depois de vê-la lutando, penso em pedir o mesmo — brincou. E então tudo ficou bem entre eles. ***

Foi na quinta noite na estrada que Joshua enfim deitou-se dentro da charrete. Desde que deixaram Castelo Branco, ele ajeitava as mantas para ela e ficava de vigília, próximo da fogueira. Não ousava tocá-la, apesar de voltarem a conversar normalmente. Não pareciam casados. Pareciam irmãos. Obviamente, era tudo isso: aparência. O homem, seguidamente, encarava as formas femininas, desejando-a mais que nunca. Porém, havia limites que ele se impunha. Obrigar Lis a servir-lhe maritalmente era algo que jamais faria. Porém, naquela noite, não teve escolha. A nevasca se intensificou e ele precisou se proteger. Ela estava encolhida de um lado da charrete, e ele achegou-se ao outro. Lá fora, o silêncio absoluto de uma noite congelante. Fechou os olhos, pronto para descansar, quando a voz feminina fê-lo abri-los

novamente.  — Demora muito ainda para chegarmos a Castelo Negro?  — Dois dias — respondeu, imediatamente. — Se estivéssemos na primavera, já teríamos chegado lá. Mas, a neve dificulta a viagem. Um suspiro de aceitação o fez girar o rosto e observá-la de costas.  — Josh… — ela murmurou. — Como será entre nós? Não era uma pergunta fácil de ser respondida. Ele francamente não sabia o que dizer. Repentinamente, ela voltou-se para ele. Deitados, lado a lado, se encararam.  — Eu não vou me impor a você, Lis — ele afirmou. — Não precisa se preocupar com nada. Houve um estranho sentimento de decepção no coração feminino.  — Eu entendo — ela disse, porém. — Não vou impor nada a você, também —  afirmou. — Sou muito grata por tudo que fez. Eram palavras amigáveis. Por que, então, machucavam tanto?  — Você é a única pessoa que eu tenho — ela contou, comovida, e ele então estendeu as mãos. Segurou firmemente os dedos pálidos. — Me perdoa por tudo…  — Não me fez nada — contradisse, consolando-a.  — Não seria obrigado a se casar comigo não fosse meu plano para me livrar de Lorde Barton. Aquela culpa que parecia corroê-la o apiedou.  — Eu não fui obrigado a dizer sim, Lis. Eu teria dito sim, não importavam as circunstâncias.  — Porque sua amizade é leal e verdadeira — ela murmurou, assentindo. — A minha também é. Nunca duvide disso, por favor. Joshua não duvidava.  — Você acha que seremos felizes? — ele indagou, repentinamente nervoso.  — Eu não poderia ser mais feliz do que sou agora — o tom feminino era carregado de carinho. — Sou muito feliz por tê-lo em minha vida. Então, achegou-se a ele. Deitou a cabeça no peito e permitiu que o calor masculino a confortasse. Dormiram assim, apertados um contra o outro. Não havia conotação sexual no ato, mas existia amor. Sempre haveria esse sentimento entre eles…

Capítulo 09

Castelo Negro O povo do norte lutou bravamente na guerra dos Mil Dias. O evento, acontecido há tantos séculos, foi prontamente reconhecido pelo Príncipe Iran de Masha, que assumiu o trono do reino de Bran até Cedric, o príncipe filho do rei morto em Cashel, ter idade para ser coroado. Assim sendo, o feudo Clark havia deixado às muralhas de pedra do Castelo Negro, e avançado um pouco em direção ao sul. Ainda dentro dos seus domínios, construíram o Castelo Branco com o total apoio do Rei, e tornaram-se a família mais abastada do norte. Castelo Negro ficou esquecido, após isso. Claro, os Clark ainda mantinham gente lá. O lugar era perfeito para criar porcos e ovelhas, era também ponto estratégico para ancorar os veleiros que partiam a Cashel para compra e venda de mantimentos. De longe, era possível ver o Castelo, tão grande e imponente quando o mar, que se alastrava atrás dele. Negro não era apenas seu nome. O lugar era sombrio de todas as formas. Cercado pela neve tingida pela escuridão do carvão que alimentava, dia e noite, as fogueiras feitas pelos servos para aquecer; muito próximo do mar, onde era possível ouvir o som das ondas ecoando contra as rochas e alto o suficiente para dar a impressão de que tocava o céu, Castelo Negro se erguia com a imponência da casa de antigos grandes senhores. Sim, dava medo. Muito medo. Elisabeth abraçou a si mesma observando o ambiente funestos de rostos sofridos, membros do feudo que se aglomeravam em torno da estrada, ao vê-los chegar Os servos encaravam o casal com nítida surpresa, e apenas o administrador das terras encorajou-se a se aproximar.  — Foi reconhecido como filho de Hor? — o homem parecia surpreso ao ler o documento. Provavelmente vira Joshua pelas terras dos Clarks em suas idas até o Castelo Branco. Percebeu como era tratado, a maneira como era escorraçado, e jamais imaginou que o garotinho que comia restos um dia seria o Lorde do Castelo em que morava.  — Elisabeth — apontou a mulher silenciosa atrás de si. — Minha esposa —  explicou. — Poderia nos encaminhar até o Castelo para que possamos tomar posse? O homem assentiu, imediatamente.  — Lorde Joshua, desculpe meu atrevimento, mas sinceramente não aguardávamos sua chegada. O lugar está abandonado há séculos. Ninguém pôs os pés dentro do Castelo desde que os Clark foram para o sul. Joshua volveu para Elisabeth, esperando a reação da mulher. Sentiu-se aliviado quando percebeu seu olhar complacente. Naquele instante, comparou-a com Anna. A outra ruiva faria um escândalo caso

estivesse ali.  — Não há problema nisso. Queremos nos instalar, e podemos arrumar o local com calma. Está frio e os cavalos precisam de proteção. O homem concordou imediatamente. ***

 — Nunca pensei que um dia iria morar em um palácio — Joshua murmurou, enquanto observava o enorme salão principal. Enquanto mulheres e homens adentravam o castelo, zanzando de um lado para o outro com baldes de água quente, buscando organizar o ambiente em tempo propício, sentiu a mão de Elisabeth em seu braço, num conforto mudo.  — Eu lamento que não tenha um lugar melhor…  — Estou ansiosa para ajudar — ela cortou. Seu olhar resplandecia alegria. — Sophie me ensinou a limpar, cozinhar e todas essas coisas. Na época era terrível, mas agora me sinto grata. Vou…  — Lis, você é uma lady — objetou. — Não pode limpar junto com as criadas.  — É nossa casa, e está imunda — ela devolveu. — Ninguém se importará por eu ajudar — afirmou. — Sei que não conseguiremos deixar tudo limpo hoje, mas, ao menos, o nosso quarto quero conseguir organizar. O sorriso dela era tão feliz que Joshua se viu a sorrir também. Claro, a mulher usou a descrição “nosso quarto” de forma inocente, mas o sangue de Joshua entrou em ebulição naquele instante. E se falasse com ela…? Discutissem a possibilidade de o casamento ser real? Ora, se queriam tão bem. Poderiam ter filhos, uma vida afortunada, mesmo que o amor não acontecesse. Então Elisabeth deu as costas para ele, e subiu pela escadaria. Outras mulheres a acompanharam e ele apenas ficou a admirar as formas, como se o mundo enfim pudesse ter alguma cor. ***

Quando o sol se pôs, no final daquele dia, tudo que os servos conseguiram arrumar foi o quarto do Lorde e a cozinha. O dia foi bastante estafante, mas houve uma animação geral do povo em descobrir que os Clark voltavam a residir ali, mesmo sendo esse o filho mais jovem do falecido Lorde um bastardo recém-assumido. O administrador, Miro, um homem corpulento e de sorriso fácil, conseguiu prontamente duas meninas para servir na cozinha. Depois, aos poucos, Joshua e ele organizariam melhor as coisas naquele pequeno e esquecido lugarejo.  — Há muitos assaltos na estrada — contou ao rapaz. — Seria bom termos guardas treinados — sugeriu. Joshua conhecia a arte da luta. Havia sido versado por pura piedade pelos guardas do Castelo Branco. Concordou, e ainda se disponibilizou para treinar cerca de dez homens, que se colocassem ao dispor.  — Ninguém fala sobre assaltos lá no Castelo Branco — observou. — Tenho certeza de que Andrew não foi informado de nada disso pela mãe. Miro deu os ombros.  — O que eu poderia dizer, senhor? Enviei missivas que nunca foram respondidas. Acreditei que os Clark haviam abandonado o Castelo Negro à própria sorte. Joshua aceitou um copo de hidromel que uma das servas lhe serviu. O lugar, agora, estava bem vazio, apenas Miro e a garota ainda se encontravam no salão.  — Fomos assaltados, vindo para cá — contou.  — Por Bran! Sério?  — Estranhamente, devo confessar que minha esposa deu cabo do primeiro homem —  sentiu ímpetos de gargalhar perante o fato. — Matei os outros dois. Só percebeu o orgulho na voz quando Miro retrucou: — Lady Elisabeth parece tão frágil…  — Contudo, não há surpresa em sua face diante do que lhe narrei — ressaltou.  — Surpresa por uma mashiana lutar contra bandidos? Ela é era uma Brace, não?  — Sim, era seu nome de família. Agora, é Elisabeth Clark.  — Os Brace descendem direto de Esmeralda. Claro, nem todos são fortes guerreiros, mas eu jamais duvidaria de alguém com o sangue da antiga Rainha. Minha avó me contava, assim como a avó dela também lhe narrava, que Esmeralda era terrível com uma

espada na mão.  — Muito se escuta falar sobre isso…  — Então, Elisabeth pode ter recebido de herança o dom.  — Não sei, e nem quero descobrir — ele riu. — Prefiro minha esposa protegida dentro do castelo, do que se arriscando por aí. O homem riu.  — Recém-casados?  — Sim…  — Tem muita sorte. É uma mulher de grande valor, logo se nota. Outra, em seu lugar, ficaria sentada esperando que lhe arrumassem tudo. Mas, claramente, Lady Elisabeth resolveu assumir seu próprio destino. Sim, ele era muito afortunado. Só Bran sabia o quanto.  — Bom, vou para casa. E, caso já não tenha dito, seja bem vindo ao Castelo Negro, Lorde Clark. Ouvir aquela saudação pela primeira vez lhe provocou forte ansiedade. Deu-se conta, no entanto, de que não seria mais desprezado por seu sangue. Agora, era respeitado e dono de tudo ali. Jurou que faria a propriedade prosperar, e daria orgulho a Andrew. Jamais quebraria o voto de confiança que o irmão depositara nele. Ignorando o incômodo pensamento de que o deixou para trás com Anna, rumou até o quarto. ***

O lugar estava aquecido pelo fogo que crepitava na lareira ao lado direito. Próximo do lugar, Elisabeth penteava os cabelos molhados, tentando secá-los. Ela havia se banhado, enquanto ele conversava com Miro, percebeu. Apesar do frio enorme, só então dera-se conta de que Elisabeth, ao contrário da maioria das ladys, não fugia da higienização diária com a desculpa da friagem. O rosto dela voltou-se a ele, e Joshua viu o sorriso lindo, como um convite sem palavras. Os cabelos úmidos ficavam quase negros ao tom da noite. Porém, a pele pálida, a camisola de algodão quente, e a completa cumplicidade que ela denotava, deu-lhe

confiança de se aproximar. O tecido não escondia muito. Havia visto o corpo de Lis quando a tomou, no celeiro, mas não parou seu olhar sobre as formas, por respeito. Agora, contudo, não se conteve. A aréola negra que o excitava estava ali, rígida e endurecida pelo frio. Abaixo, o formato ruivo de seus pelos femininos fez a boca dele secar.  — Estou tão feliz que teremos uma cama quente para nos aquecer — a mulher falou. Seu tom era calmo e confiante. — Depois de tantas noites naquela carroça, enfim… Estamos no nosso lar, Joshua. A boca dele abriu, e fechou. Como Elisabeth encararia um possível casamento legítimo entre eles? Pensaria ser um capricho do homem, ao qual se submeteria por não ter escolha, ou veria o ato como uma troca de afeto?  — Lis… — chamou-a. As mãos tremeram. — Onde vou dormir? Por que diabos teve que perguntar aquilo?  — Eu achei… — Só então o tom dela se tornou vacilante. — Você não quer… —  apontou a cama.  — Eu… Calou-se perante as lágrimas orgulhosas que surgiram no olhar feminino, mas que não cairiam porque, acima de qualquer coisa, ela era uma mashiana e não imploraria.  — Você pode dormir onde desejar — ela despejou, e agora era possível entender um traço de furor.  — Não a estou desprezando.  — Não estou sugerindo nada.  — Estou apenas com medo de me impor a você, como um bárbaro — explicou-se. —  Não quero que se sinta obrigada a algo, Lis. Eu a amo, e quero que, caso dividirmos a cama, você o faça por desejo próprio e não porque é uma mulher subjugada a um homem. Ela se ergueu. As mãos trêmulas tocaram na madeira do dossel.  — Me ama como amiga, não é? Aquela questão direta quase o tirou do sério.  — Eu…  — Seu tom indeciso acaba de responder a questão. Subitamente, Joshua levantou-se e puxou o braço da mulher. Encarou-a com firmeza.  — Minha única indecisão deriva do temor que sinto por sua reação perante as minhas palavras — despejou. — Nunca tive qualquer chance de ser qualquer coisa para ti além de um bom amigo. Porém, Bran agora me deu a oportunidade de ser seu marido. Mesmo assim, o que devo fazer eu, perante os teus sentimentos? Dizer que a quero por esposa, que quero ter filhos contigo, pode te assustar tanto, que jamais a teria novamente, mesmo como amiga. Então, o silêncio não é a resposta mais óbvia? Mais realista? Mais segura?

O olhar arregalado dela fê-lo soltá-la.  — Eu a amo, Lis — assumiu. — E se tudo que eu terei de ti é amizade, para mim está bem. Tê-la por perto, já me conforta. Receber teu carinho, já é mais do que qualquer sonho que um dia acreditei ter. Repentinamente, um toque em seu ombro.  — Mas, não sou bonita como Anna…  — O que sua irmã tem a ver com isso? — indagou. — Se eu fosse Andrew, Lis… Nem por mil Annas te trocaria. Se eu fosse meu irmão, iria te amarrar a mim para sempre. Contudo, não o sou. E você sabe bem disso. Poderia aqui, diante de ti, fazer um teatro, encenando ser um lorde pomposo capaz de conquistá-la. Mas, tu, Lis, sabe que eu era o garoto que roubava comida dos porcos. Enfim, as lágrimas caíram dos olhos femininos. Ela o abraçou. Joshua não sabia se era por piedade ou amor.  — E você sabe que eu era a garota que passaria fome se não fosse pela sua coragem em escalar minha janela. Ele sorriu.  — Então, Lis… O que você quer fazer?  — Sobre nós?  — Sobre nós — confirmou. Aceitaria a decisão feminina, não importasse qual fosse.  — Eu quero — a voz voltou a ser vacilante, mas ela pigarreou e prosseguiu. —  Quero ser sua esposa, ter seus filhos, e construir um lar ao seu lado. Aquilo parecia um sonho. Joshua teve medo de acordar.  — E você, Joshua? Ele riu, baixo. O que importava os sentimentos dela? O amor dela por Andrew? Era ele que envelheceria ao seu lado. Era nele que ela se apoiaria durante toda a vida.  — Eu te amo — ele reafirmou. — E eu torço para que nosso primeiro filho tenha os seus olhos e os seu cabelo ruivo — brincou.  — Eu gosto dos seus olhos negros — ela contradisse, sorrindo. — Pode ter também seu nariz e seu queixo quadrado, acho tão charmoso. — Apontou. — Mas, o seu temperamento, oh, não… Seria uma criança muito difícil de criar. Joshua gargalhou. Então estendeu a mão para ela e a levou até o leito.

Capítulo 10

Desejo Joshua tinha fome nos olhos. Uma febre em explosão, algo que a fazia aquecer e amolecer na mesma medida. As mãos dele apertaram seu seio. Naquele suspiro, misto de susto e prazer, Elisabeth o encarou, ansiosa por algo além de qualquer palavra. Estava nua, abaixo dele. As roupas haviam sido arrancadas de si poucos minutos antes. Ele não havia tido muita paciência para sua timidez. Simplesmente puxou a camisola pela sua cabeça, e a jogou no chão. Depois, partiu para as próprias roupas. Era a primeira vez que Elisabeth via um homem nu. O torso musculoso, coberto de ralos pelos negros, as coxas grossas, os músculos sobressalentes, mas, acima de tudo, aquele membro avantajado, duro, ameaçador, que a fazia sentir ímpetos de sair correndo ao mesmo tempo em que a fazia permanecer ali, parada, ansiosa pelo que ele queria lhe oferecer. Os dedos de Joshua acariciaram o bico de seus seios. Ela mordeu o lábio inferior, tentando conter a voz de emitir sons vergonhosos. Apertou as pernas, uma contra a outra, lutando para dominar aquele febril pulsar que a tomou de assalto. Porém, nada conseguiu impedir o grito de prazer quando a língua quente dele enroscou-se em seus seios, passeando pela sua aréola, chupando-a de uma forma que ela amais imaginou que aconteceria. Os dedos masculinos, então, desceram mais abaixo, e tocaram sua feminilidade. Elisabeth suspendeu o ar, enquanto segurava firme os ombros de Joshua. Ele percebeu o nervoso dela, e abandonou seus seios. Observou seu rosto, enquanto fazia carinhos em círculos sobre os lábios ruivos de seu centro.  — Está tudo bem — murmurou, a voz rouca. — Deixe eu te guiar, Lis… Confie em mim… Enfiou um dos dedos dentro dela. A ruiva apertou seu ombro com mais força, enquanto o seu olhar afundava-se no dele. O dedo saiu, entrou, saiu e entrou, tantas vezes seguidas que tudo nela se perdia naquelas sensações misteriosas e inexplicáveis. Então, Joshua se remexeu na cama. Resvalando-se, baixou o corpo, e depois cravou a boca sedenta no seu cerne de mulher. Elisabeth gritou enquanto ele a sugava, não apenas o líquido que saia de si, mas também a alma dela, seus pudores e suas inquietações. Nunca pensou naquele ponto de sua vida. Sua parte de baixo era apenas o incômodo aviso mensal de suas regras. Não havia sido feita para prazer. Não para aquele prazer.  — Joshua! — gritou. Não aguentava mais aquele tormento. Aquilo era tão deliciosamente pecaminoso que todo o seu senso moral a atingiu. Como poderia haver gozo no leito, quando Sophie a alertou inúmeras vezes que a mulher devia receber seu esposo de boca fechada e evitar incomodá-lo com seus sentimentos?

O quadril ondulou, num gesto irreconhecível. Então, rapidamente, Joshua subiu novamente sobre seu corpo. E tudo nela beirava a loucura. O contato das peles se esfregando, o molhado em sua vagina, o calor que emanava apesar do frio que fazia…  — Vou enfiar — ele avisou. Não devia. Ela se retesou, antecipando aquela ardência da primeira vez. Até porque, nem sabia como poderia ter recebido dentro de si algo tão grande e intimidador quanto o membro do marido. Como ele não a havia rasgado inteira? Porém, estranhamente, o grito que se seguiu a invasão não foi de dor e sim de prazer. Joshua meteu-se inteiro nela, como um gato larápio a entrar em uma confortável casa.  — Lis? — ele a chamou, fazendo-a abrir os olhos. Havia medo naquele olhar e ela sorriu. Não sabia o que dizer a ele, porque não fora educada para aquilo. Não tinha experiência em manter a paixão de um homem, nem nada do tipo. Mas, pela primeira vez na vida, seu instinto a guiou. Segurando o bumbum duro do homem, ela o apertou contra si, e depois deixou-o afastar-se. O gesto se repetiu. Vagarosamente, a princípio. Depois, de forma mais rápida, mais urgente, como se eles estivessem correndo contra o tempo, e o tempo estava a vencer o desafio. Joshua gemia no seu ouvido, e aquilo a atiçou. Era muito bom. Extremamente bom. Por que demoraram tanto a aproveitar aquele ato? Então, ele começou a se movimentar ainda mais velozmente. Parecia que estava cavalgando, numa corrida. E subitamente, ela sentiu o impacto de um grande feito em sua alma. Não sabia, ainda. Mas aquele prazer gigantesco, aquele grito mudo, aquela ondulação frequente no quadril, e aquele molhado que Joshua derramou em seu íntimo, era o ápice do sexo, o clímax absoluto que unia as duas almas de maneira incompreensível. Joshua caiu para o lado. Seu pênis semiereto surgiu, ainda pingando, entre suas coxas. Lis queria dizer muitas coisas, tocá-lo, agradecê-lo, mas repentinamente, volveu a ele e o abraçou forte. Um dia ela falaria… Um dia conseguiria sair das amarras de sua criação e manifestaria todas as emoções que Joshua havia despertado em si. ***

 — O quão sortuda pode ser uma mulher ao se apaixonar pelo melhor amigo? A pergunta feminina fê-la encarar uma das servas. Havia acordado sozinha no leito, naquela manhã. Uma gérbera amarela adornava o seu travesseiro, e Lis sorriu, diante do mimo. Não eram muitas as flores a crescerem naquele solo. Mas, Joshua havia se preocupado em lhe deixar uma mensagem de gentileza antes de sair, para se ocupar com os assuntos do feudo. Aqueles primeiros meses, anteviu, seriam difíceis para eles. Havia muito a ser feito em Castelo Negro, mas também existia disposição no novo casal, para recomeçarem a vida. Depois de se arrumar, desceu até a cozinha. O par de servas conversava, animadas, diante de um caldeirão. As palavras interessaram Lis.  — Suzete e Lucia, não é? — ela apontou, buscando se recordar do nome das mulheres. — Quem irá se casar com seu melhor amigo? As mulheres sorriram, um tanto acanhadas. Não era costume que ladys se dispusessem a falar com empregadas, mas não resistiram às palavras: — Cresci ao lado de um jovem, Lady Elisabeth — a maior delas explicou. — E ele me propôs casamento. O tom rubro de seu rosto demonstrava que ela estava feliz pelo acontecimento.  — Lorde Clark e eu também éramos os melhores amigos, desde a infância — ela contou. — Não é muito melhor passar a vida ao lado de alguém que conhecemos e que nos damos bem, do que encarar o desconhecido?  — Mas, na verdade, não sei se o amo como homem, senhora. Mais vermelhidão na pele. Lis aproximou-se.  — Você é Suzete ou Lucia? Perdão. Ainda não marquei os nomes às pessoas — riu.  — Sou Lucia, senhora. Lis assentiu.  — Então, Lucia: Uma amizade que sobrevive aos anos, às vezes, esconde mais do que a simples fraternidade em suas nuances. Comparando com os demais homens do feudo, você pensa que seria melhor ficar ao lado do seu jovem amigo, ou dos outros? A mulher pareceu entender.  — Muito grata pelo seu conselho, senhora.

Elisabeth sorriu. Aquela faceta de sua personalidade lhe impressionou. Longe de Sophie, enfim, ela parecia estar descobrindo muito de si mesma.  — Viram meu marido?  — Estava com o senhor Miro, próximo do celeiro — Suzete contou. Assentindo, Elisabeth caminhou naquela direção. ***

 — Então você acredita que o feudo pode prosseguir sem precisar de investimento do clã do Castelo Branco? Miro encarou o jovem lorde, e assentiu.  — Com todo respeito, meu senhor, mas o Castelo Branco nunca fez nada por nós, e ninguém do vilarejo morreu de fome. Ao longe, as várias casas exalavam fumaça. As pessoas estavam bem alimentadas, assim como os animais. Obviamente, ainda não era um feudo rico ou poderoso, mas ao menos não havia miséria.  — Fez um ótimo trabalho com os poucos recursos que têm, Miro — elogiou. —  Contudo, vamos fortalecer o que podemos. Consiga alguns homens fortes, criaremos muralhas ao longo do vilarejo. Quero proteger as mulheres e as crianças dos assaltos. E, depois, designa alguns homens para o treinamento armado. As demais pessoas irão trabalhar em conjunto na criação dos animais. Vou enviar um emissário a Cashel para comprar sal. Iremos, a seguir, salgar a carne e vendê-la, para obter mais recursos e investir no Castelo Negro. O homem concordou, sorrindo.  — Fico feliz em ouvir isso, meu lorde. Som de passos. Olhou para a porta do celeiro e percebeu Elisabeth a sorrir em sua direção. Estava linda, naquela manhã. Ainda mais do que sempre fora. Talvez fosse o fato de que agora era, definitivamente, sua mulher de todas as maneiras possíveis e inimagináveis. Pensou que estaria acanhada, depois de toda atividade praticada. Mas o sorriso amistoso dela fê-lo sorrir também.  — Ouviu o que eu dizia a Miro? — indagou, enquanto ela se aproximava.  — Sim, meu marido.

 — E o que pensa sobre sobre isso? O olhar de espanto dela quase o fez rir. Obviamente, o homem que administrava as terras também pareceu pasmo. Uma mulher não dava opinião nos negócios desde que a última rainha de Bran havia morrido, três séculos antes.  — Os cavalos do norte são conhecidos pela sua força e destreza. Poderia também investir na criação de equinos — sugeriu. Joshua arqueou as sobrancelhas, estendendo a mão para ela. Elisabeth, prontamente, aceitou o afago.  — O que pensa sobre sobre isso, Miro?  — Acho uma excelente excelente ideia, senhor. senhor. Percebendo o momento do par, o administrador pediu licença e se retirou.  — Vai Vai acabar mandando mandando em Castelo Negro mais mais que eu, esposa.  — Isso te ofende? ofende? Joshua gargalhou perante o olhar assustado de Elisabeth.  — Claro que não, Lis. É uma honra administrar o feudo ao seu lado. Ela sorriu, enquanto o via erguendo suas mãos e depositando um cálido beijo sobre seus dedos.  — Você Você está feliz? — ele perguntou, perguntou, em seguida. seguida.  — Sabe a resposta resposta disso, Josh — ela murmurou, murmurou, enrubescida, enrubescida, desviando o olhar. olhar. Diante daquela timidez, ele percebeu que ainda tinham um longo caminho pela frente. Um caminho que ele teria prazer em traçar ao lado da esposa. ***

Andrew arqueou algumas vezes, e então despejou seu líquido quente dentro dela. Anna suspirou, enquanto o marido caía para o lado, olhando-a carinhosamente. Depois, ele sorriu e beijou seu rosto, num agradecimento pelo prazer compartilhado. Estava tudo escuro. Andrew sempre fazia amor à noite, no quarto sem luz. Anna olhou para o teto, desvendando as formas nas sombras. Estava insatisfeita. Incrivelmente insatisfeita. No sexo, e na vida. Tudo dera errado. Elisabeth não devia ter se casado com Joshua! O irmão do marido,

um achado de pênis delicioso que a fazia estremecer e se molhar só de recordar, devia estar ali, a lhe servir de amante. Não longe dela, e perto de Lis. Inferno! Joshua faria sua irmã feliz! Ele a amava! Odiava saber disso, perceber que Elisabeth estava sendo senhora de um castelo (mesmo no fim do mundo!) ao lado de um homem que deixaria se matar por ela. Não era justo. E Anna odiava injustiças.  — Marido — chamou Andrew, Andrew, batendo de leve em seu ombro. — Sinto saudades de minha irmã — disse. — Gostaria muito de vê-la. Em sem sonho cansado, percebeu Andrew sorrir.  — Tudo Tudo que você quiser, quiser, minha amada.

Capítulo 11

Sentimento Quando o trabalho ocupava boa parte do dia, e as noites eram regadas de carinho e cumplicidade, o tempo passava depressa demais. A primavera chegou de forma surpreendentemente rápida. Quando o Castelo Negro ficou oficialmente pronto, tudo organizado, os fenos das camas substituídos, as lareiras varridas e, enfim, um grupo de criados preparado para servir o novo senhor e senhora do lugar, foi que Joshua se deu conta de que já estava casado há várias semanas. Então decidiu festejar. Desde o intenso inverno, tudo que eles faziam era trabalhar e trabalhar, não apenas para preparar o castelo como também cuidando dos porcos e cavalos. Assim sendo, tão logo a neve parou de cair e a primeira leva de leitões foi enviada para Cashel, ele mandou chamar violeiros do vilarejo vizinho. Depois de solicitar ao servos para arrumarem enormes mesas na parte frontal do castelo, e alguns cordeiros serem assados na brasa, anunciou a festividade. Todas as pessoas do feudo foram convidadas, e todas vieram. Havia mais que alegria pelo tempo fortuno que se aproximava. Era também esperança. Dias melhores para um povo cujo sofrimento beirava a crueldade, desde que os senhores Clark fugiram do frio. Deste modo, quando Elisabeth surgiu naquela noite, num bonito e recatado vestido de veludo azul, Joshua estava mais que apaixonado, estava completamente envolvido na aura de contentamento em possuir uma esposa tão maravilhosa, que fazia muito mais que dividir o leito com ele a noite, dando-lhe prazer. prazer. Elisabeth era sua companheira, aquela que o ajudava a cuidar das terras, aquela que não tinha medo de machucar as mãos se precisasse aprontar um cercado, aquela que queria cozinhar para ele, mesmo tendo criadas, aquela que fazia o possível para ser útil em sua vida, mesmo ele querendo colocá-la em uma redoma de vidro, protegida do resto do mundo. Ouviu suspiros a sua volta. Não se incomodou. Desposar Elisabeth era mais que dividir a vida com ela. Era também saber que as pessoas pelos quais eles eram responsáveis amavam sua mulher. Ela era cativante, e não tardou em tomar para si o respeito e a admiração de todos do vilarejo.  — Está com frio? — ele ele indagou, assim que ela se se colocou ao seu lado. lado. O norte era frio, mesmo no verão. Agora, na primavera, não mais nevava, mas ainda era difícil ficar em lugar exposto. Porém, o hidromel e as danças aqueciam as pessoas, e ela logo negou, buscando um caneco e bebendo um pouco da bebida quente.  — Quer dançar? — ele voltou a perguntar, perguntar, vendo como o olhar dela ia em direção aos aldeões.  — Oh — Lis parecia surpresa surpresa e envergonhada envergonhada.. — Não sei dançar — admitiu. Não era surpresa. Sophie não queria uma “dama despudorada” como nora.

 — Você sabe dançar? — Lis indagou, subitamente pasma.  — Participei de todas as festas dedicadas a Bran no Castelo Branco, Lis — ele retrucou, rindo. Então, puxou-a pela mão, levando-a até os pares a bailar.  — Vou pisar no seu pé — ela avisou, rindo. Segurou sua cintura, puxando-a contra si. Olhou fundo nos seus olhos e percebeu-se refletido neles.  — Apenas deixe que eu a guie. Elisabeth assentiu, e deixou-o conduzi-la, lentamente a princípio, e, tão logo ela percebeu a sequencia dos movimentos, mais rápido. De certa forma, era como fazer amor. Eles dançaram quase a noite toda. Em muito para se aquecerem, em muito porque era divertido e ambos nunca haviam rido tanto na vida. Mas, quando a festa se findou e subiram ao quarto para descansarem, o tom mudou:  — Josh — ela murmurou, chamando-o. Estava sentada diante da penteadeira, a desembaraçar os longos fios encaracolados ruivos. O marido, deitado no leito, observou-a.  — Você já teve muitas mulheres? Joshua ficou completamente sem reação. O que poderia dizer, diante de tal questão?  — Estranhamente, quando faz essa cara, eu já sei a resposta — ela riu. Ele endireitou o corpo, sentando-se na cama.  — O que eu poderia dizer, Lis? Um bastardo não podia se casar…  — Mas, não é pecado?  — Odiava os deuses pelo meu destino, então não me importava em desfrutar do leito de mulheres casadas ou donzelas que desejavam enganar seus futuros maridos durante a primeira noite. Porém, só agora me dou conta de que, na verdade, Bran sempre esteve a olhar por mim.  — Por que diz isso?  — Ele me deu você — respondeu, de imediato. — Não é o melhor presente que um homem pode receber? O sorriso gentil dela fê-lo erguer as mãos. A mulher largou a escova e foi até ele. Achegaram-se embaixo das cobertas, buscando o calor um do outro.  — Como uma mulher consegue enganar um marido na primeira noite? Ele riu de sua inocência.  — Ela finge a dor, e algumas usam um pouco de sangue de galinha para manchar os lençóis.

Elisabeth pareceu espantada.  — Existe um mundo de maldade e falsidade que eu desconheço, não é, marido? —  murmurou, fechando os olhos. Ele assentiu. Então, também preparou-se para dormir.  — Desculpe não ter esperado por você — murmurou, contra seus cabelos. —  Sinceramente, nunca acreditei que um dia seria minha, Elisabeth. Um suspiro resignado tomou o ar.  — Está tudo bem — ela afirmou. — Elas o tiveram por alguns minutos. Eu o terei para sempre. Ele riu.  — Está certo. Para sempre. ***

Anna odiava chá de maça. Morava há meses no Castelo Branco e aquela idiota que servia o chá da tarde ainda não aprendera seus gostos pessoais? Não se conteve. Arremessando a xícara contra a criada, berrou para que a garota sumisse de suas vistas. Só quando a mulher saiu correndo, chorando, foi que percebeu Sophie parada próxima a entrada.  — Está tão nervosa, nora — a mais velha apontou, mordendo o lábio.  — Meu sangue Mashiano não me dá paciência para pessoas desatentas. Custa essa imbecil aprender que odeio maça? Sophie ensaiou um sorriso, enquanto se aproximava.  — Não é pelo chá — retrucou, sentando-se diante da outra, de fronte a lareira. —  Incomoda-te estar trancada no castelo — assinalou, desmentindo-a.  — Andrew prometeu uma viagem em lua de mel.  — E ele irá cumprir sua palavra. Porém, tinha muito ao que se inteirar sobre o feudo. O suspiro zangado de Anna fez Sophie rir. Adorava saber que a nora era infeliz.  — Não se preocupe. Andrew já comentou que pretende te levar para conhecer o reino de Masha no próximo verão.  — Masha? Quero ver minha irmã!

Aquela frase carregada de insinuações fez a sobrancelha curvilínea da mais velha se erguer. Anna era um grande contraste. Por que Elisabeth seria tão importante quando, naqueles anos todos, a irmã mais nova não enviou sequer uma carta para a mais velha, enclausurada. Havia fogo naquela fumaça. O sumiço de seu leal servo era uma prova daquilo. Mas, como provar? Precisava de algo concreto para poder levar ao filho e livrar Andrew das garras da vagabunda à sua frente.  — Andrew comentou isso também. Disse que está esperando a neve derreter completamente para ir visitar o bastardo. Anna sabia daquilo. Mas, o tempo não colaborava, e ela estava desesperada.  — Acha que são felizes, minha sogra? — questionou. — Minha irmã e aquele bastardo?  — Elisabeth é uma joia bem talhada. Qualquer homem seria afortunado em tê-la. Infelizmente, foi à escória que a recebeu. Anna mordeu o lábio inferior. A resposta parecia incomodá-la ainda mais.  — Não gosta de Joshua, não é? — a moça atirou a isca. — Ele é uma lembrança constante de que seu marido foi um adúltero.  — Todos os homens traem, minha querida. Eles são como animais no cio, incapazes de dominar sua natureza carnal. Resta à mulher saber desempenhar o papel de complacente diante deles, enquanto os odeia pelas costas. Anna riu. De alguma maneira, Sophie e ela poderiam ser amigas, caso houvesse qualquer química.  — Acha que meu marido irá me trair?  — Agora? Não. Ainda está muito apaixonado e deslumbrado. No futuro? Certamente. Deu um muxoxo irônico. Andrew nunca encontraria na rua o que achava em sua própria cama. Era experiente o suficiente para deixá-lo sempre ardente. O problema, ali, trocava de lado. De alguma maneira, no sexo, Anna era o homem. Andrew era virgem quando a tomou. E também completamente desastrado. Guiava-se pelo instinto e lhe dava tédio. Anna gostava de sexo bruto, de pau se enfiando com força, de mordidas, de chupadas… Andrew parecia que fazia amor com uma boneca. Carecia, mais que nunca, de um amante. Porém, o único que queria estava longe dela, com a irmã. Segurando o instinto sexual, ela sonhou com os lábios sedentos de Joshua e com a ânsia de tê-lo. Provavelmente, o cunhado não faria objeção. Dormir com Elisabeth devia estar sendo o maior dos tédios. Teve que segurar a risada diante do pensamento.

Pobre Elisabeth. Abandonada pelo noivo. Depois, desprezada pelo marido. E em ambos os casos, renegada em favor da própria irmã.  — É… — murmurou, por fim. — Terei paciência. ***

 — Marido — Elisabeth aproximou-se, estendendo um caneco com bebida fumegante. Joshua aceitou o líquido, e o bebeu, com sofreguidão. Uma das éguas estivera em trabalho de parto desde a noite anterior. Havia passado a madrugada ali, ajudando-a. Sabia que a natureza sempre fazia seu serviço, e costumava manter-se afastado, para não incomodar a mãe enquanto paria, mas, dessa vez, o cavalinho ficou prensado e ele precisou interferir. Por sorte, tudo saíra bem. Mãe e filho estavam saudáveis, e agora se aqueciam no feno.  — Preciso de um banho e um bom sono — disse a ela. A esposa concordou.  — O senhor Miro trouxe uma missiva vinda do Castelo Branco. — Estendeu a ele. Só então percebeu o olhar preocupado.  — O que diz? — Joshua não fez menção e pegar o papel.  — Não sei — respondeu, prontamente. — Trouxe para você abrir. Joshua sabia que Andrew não era algo a se esquecer. Era seu irmão. Mais que isso, era o seu melhor amigo, aquele que desafiou tudo para lhe reconhecer como legítimo Clark, e aquele que lhe deu a mão de Elisabeth. Porém, como negar a aflição que o tomou ao pegar o papel? A esposa que ele amava passou a vida dedicando esse mesmo sentimento para Andrew. No fundo, tudo que desejava era nunca mais ouvir falar dos Clark. Era um anseio horrível e injusto, sabia. Mas, acima de tudo, era humano, e tinha falhas. A maior delas era temer o poder que o irmão poderia ter sobre Elisabeth.  — Pode abrir as cartas, Elisabeth — comentou, tentando transparecer indiferença. —  É a senhora da casa.  — Mas — pareceu insegura —, você é meu marido, a quem devo submissão. Ele quase riu. Na noite anterior, pela primeira vez, ela havia tomado a dianteira entre os lençóis. Aquilo o delirou. Então, aproximou a boca do ouvido da esposa e disse,

fazendo-a enrubescer: — Muito submissa para quem ontem ficou por cima. Como não recebeu respostas, por fim abriu a carta e leu o conteúdo.  — Algum problema? — a esposa questionou, diante do olhar carrancudo.  — Andrew e Anna virão nos visitar. Naquele instante, Joshua não foi o único a ficar apreensivo. De alguma maneira, ambos pensaram a mesma coisa: era o fim da felicidade e o começo do tormento.

Capítulo 12

Intriga O sol se aproximava do seu poente quando a charrete com a insígnia dos Clark surgiu no horizonte. Parado ao lado da esposa, Joshua percebeu a rigidez imediata que tomou conta do corpo feminino, e se aborreceu tremendamente por isso. Inferno! Tudo poderia estar bem entre eles. Estavam construindo uma vida. Mas, agora, os sentimentos adormecidos de Elisabeth seriam revividos pela presença de Andrew. E o que ele poderia fazer, diante disso? A verdade era muito cruel. O irmão o amava e o queria bem. Tudo que tinha, havia sido dado por Andrew. Não podia simplesmente dar-lhe as costas ou tratá-lo mal. Suspirou, enquanto percebia que a charrete se aproximava cada vez mais. Sentiu a mão de Elisabeth, levemente, tocando a sua, como se ela buscasse proteção. Em sua mente enciumada, entendeu que agia assim pela presença da irmã. O quão dolorido seria para a esposa ver Andrew e Anna juntos? Então, afastou os dedos dos seus. O olhar assombrado de Lis chegou-se a ele, mas ignorou-o. Estava possesso, raivoso, revoltado. Queria atingir alguém, mas a única pessoa ali, que poderia ferir, era Elisabeth. E ela era, na mesma medida, a única que ele não se atrevia a machucar. Enfim, o veículo parou. Um dos servos correu para abrir a portinhola, e o rosto de Andrew surgiu, sorridente, como se aqueles meses de casamento houvessem sido maravilhosos para ele. Não duvidava. Anna era um furacão na cama. Devia estar fazendo o irmão um dos homens mais satisfeitos de todo o reino. Andrew desceu da charrete rapidamente e, na mesma velocidade, foi até o irmão. Subiu as escadarias, e abraçou Joshua com intenso sentimento. Era impossível não corresponder ao afeto. Mais uma vez, o mais jovem sentiu-se um insulto à tamanha lealdade. Andrew era seu irmão mais velho e o amava. E o que recebia em troca? Apenas ciúme e traição.  — Lis — Andrew o deixou e foi até sua esposa. Joshua estremeceu. — Está feliz, minha querida? Precisou de todo autocontrole que tinha para não impedir aquele abraço. Desviou o olhar, tentando conter o tremor nas mãos. Só então se deu conta de Anna sorrindo para ele. Curvou-se e beijou seus dedos, com deferência.

 — É um prazer revê-lo, cunhado — Anna sorria de forma extremamente cálida. Fingiu ignorar. O sorriso feminino, para a irmã, foi mais frio.  — Elisabeth! — abraçou-a, um tanto indiferente. — Está… — buscou a palavra —  iluminada. Elisabeth não estava iluminada. Na verdade, estava tremendo e nervosa. Porém, ele não conseguia se ater a nada naquele instante. Sequer notou a piscadela de Anna em sua direção. Por fim, os convidou a entrar. ***

 — Visitei Castelo Branco com papai muitos anos atrás — Andrew contou, surpreendendo-o, enquanto se servia de um pedaço grande de leitão assado. — E devo confessar que não imaginava que faria um trabalho tão bom em tão pouco tempo. Os quatro estavam sentados à mesa degustando de um excelente jantar. No dia anterior, Joshua mandou preparar um banquete ao irmão. Mais pessoas foram chamadas para atender no Castelo Negro, e tudo estava saindo, até então, perfeitamente bem. Menos, claro, Elisabeth. A postura retraída e nervosa dela abalava demais o marido. O que acontecia, de fato, com a esposa? Por que não erguia a fronte? Temia que suas emoções se tornassem visíveis? Em contraste, Anna estava muito feliz. Seu sorriso era enorme e ela não parava de tagarelar sobre como gostou do lugar, sobre como gostaria de ver o mar no dia seguinte, e de como a comida estava maravilhosa.  — Eu estou me esforçando para ser um bom senhor de terras — Joshua disse ao irmão. — Sou muito grato pela oportunidade que me deu. Andrew assentiu, sorrindo.  — Eu o amo, meu irmão. Faria qualquer coisa por ti. Andrew não tinha vergonha de falar de sentimentos, simplesmente porque era puro e honrado demais para se abalar por vergonha. Ele o amava, e a toda a família. Estar ali, vendo o progresso de Joshua, o enchia de orgulho e contentamento. Mais tarde, cada casal foi ao próprio quarto. Elisabeth, que mal havia dito algumas monossílabas, resolveu abrir a boca tão logo o marido entrou e começou a tirar o casaco.  — Por que Anna piscou para você?

A pergunta era tão espantosa que Joshua voltou-se para a esposa.  — O quê?  — Antes do nosso casamento, Anna me disse que você queria fugir com ela. Joshua podia simplesmente dizer à esposa que a amava, e que nunca nutriu nada de mais por Anna. Entretanto, estava nervoso demais para acalmá-la, quando passara a noite inteira imaginando o quanto Elisabeth se sentia nervosa próxima de Andrew.  — Eu me casei com você — aquilo devia responder a tudo. Mas, não foi isso que aconteceu.  — Você dormiu com ela? A pergunta o desarmou.  — Isso é algum tipo de interrogatório? Porque, realmente, se o for, é a primeira vez que sei de uma esposa tão bem preparada quanto você, se impelir de cobrar algo. Não devia se pôr no seu lugar? Elisabeth enrubesceu, enquanto lágrimas surgiram nos olhos bonitos.  — Você dormiu com ela — constatou. — Por isso me disse que havia mulheres que forjavam a virgindade na noite de núpcias. — As lágrimas, dessa vez, caíram. — Como pôde deixar Andrew ser enganado dessa forma? Como pôde fazer isso ao seu irmão? Uma risada debochada tomou conta do ambiente, naquele instante.  — É claro que você não estaria interessada em nada mais que o seu querido ex-noivo  — ele despejou. — Porque a felicidade de Andrew é tudo que lhe interessa. Tanto é que nem lutou por ele, quando o percebeu apaixonado por Anna. Sabia que se não aceitasse a quebra do noivado, ele o honraria. Mas, por amor a ele, deixou-o ir e se contentou com o bastardo que comia lixo. Tao logo disse isso, recebeu um tabefe no rosto. Não havia força em Elisabeth, mas havia ódio perante o insulto. Pela lei, o ato dela devia ser retribuído. Pensou em erguer a mão e esbofeteá-la, e quase o fez, mas simplesmente recuou, diante dos olhos assustados. Ele nunca machucou Elisabeth. Não, ao menos, fisicamente. Puxando a memoria, também nunca a havia ferido com palavras, apesar de terem amizade por muito tempo. Aquela noite era a primeira que a fazia chorar. Pegou o casaco jogado sobre a cama e o vestiu novamente.  — Aonde você vai? — ela indagou.  — Aliviá-la de minha presença. A resposta foi seguida pelo bater da porta. Assim que se viu sozinha, Elisabeth desabou. ***

Havia puteiros em todos os lugares do reino. E, por ter nascido em um, Joshua não teve dificuldades em encontrá-lo. Uma casa de madeira velha e mofada, afastada do vilarejo, e cercada por enormes árvores, era facilmente achada pelo som de vozes e cantos. Aquela felicidade falsa sempre o incomodou. Homens que bebiam bastante para esquecer a vida desgraçada que levavam, e mulheres que se deitavam com eles apenas para terem o que comer. Assim sendo, mesmo em Castelo Branco, ele sempre fugiu do lugar. Afinal de contas, tinha mulheres às pencas, uma por noite, não precisava de antros para se aliviar. Porém, naquela noite, ele queria algo que fosse tão longe do sentimento e tão próximo da indiferença que se aproximou cambaleante, como um bêbado. O puteiro dali era igual a todos os outros. Um balcão de madeira, cercado por bancos altos, cheio de gente afogando as mágoas no hidromel. Sentou-se num deles, erguendo a mão para o proprietário, que logo lhe serviu uma caneca.  — Meu lorde, que honra — ele disse, já levantando a mão e chamando uma das moças. Joshua não renegou seu gesto. Simplesmente cercou a cintura da prostituta de cabelos escuros, assim que ela se aproximou, com um abraço fogoso. Puxando-a contra si, respirou o perfume de seu pescoço, beijando levemente a área pálida de sua pele.  — Uma morena – o dono da taverna riu. — Porque, de ruiva, o senhor já deve estar cansado. Era um insulto a Elisabeth. Ele devia, e queria, partir para briga. Mas, estava esgotado demais para tanto, então simplesmente permaneceu calado, ingerindo a bebida destilada.  — Nós iremos para o quarto, meu lorde? — a mulher indagou, contra suas orelhas. Joshua então largou o caneco sobre a mesa. Por alguns segundos, ele pestanejou. Depois, então, ergueu-se e a seguiu até o leito. ***

O sol despontava naquela manhã, quando Joshua entrou no quarto. O olhar, imediatamente, encontrou o de Elisabeth. Ela havia passado a noite acordada. Naquele instante, o impacto de suas ações o tomou, mas ele não recuou diante do olhar carregado de acusações que ela não fez. Ele a traiu com o corpo, mas ela fazia pior. Ela, a esposa dele, o traia em alma, amando outro homem.  — Onde esteve? — atreveu-se a perguntar. E a questão era carregada de aflição. Não se apiedou.  — Não estive com sua irmã — ele riu. — Anna não é a única mulher do mundo —  despejou. — Nem você é. Então, ele saiu do quarto novamente, sem olhar para trás. ***

Nenhuma mulher dos três reinos espera fidelidade do marido. Todas sabiam que os homens tinham passe livre dos deuses para fazerem o que quiserem, inclusive denegrirem o próprio corpo com sexo fora dos laços sagrados do matrimônio. Contudo, Elisabeth não esperava deslealdade, especialmente por ser Joshua seu melhor amigo. Estava arrasada, mas não o seguiu, nem tentou zangá-lo ainda mais. Ela havia dito a si mesma, antes de se casarem, que não iria ser um empecilho em sua vida, que não exigiria nada dele, afinal de contas, ele a havia desposado por pura obrigação moral, fruto de um pedido que lhe fizera para escapar de um casamento terrível com Lorde Barton. Porém… Então… O que era aquela sensação destruidora em seu coração? Estava difícil segurar as

lágrimas, e ela lutava com custo para se manter neutra durante o café da manhã. Sabia que Joshua não a amava como amaria Anna, mas creu, verdadeiramente, que o tempo que conviveram juntos havia criado um vínculo de afeto e respeito.  — Oh, parece tão triste, minha irmã. Ergueu a cabeça e deparou-se com Anna. A irmã estava lindíssima num vestido creme, iluminada por um belo sorriso.  — Estou bem — respondeu.  — Desculpe, mas reparei que meu cunhado saiu ontem, e só voltou hoje de manhã. Então ela estava a observá-los. Elisabeth encolheu-se, incomodada.  — Eu te avisei, mas não me deu ouvidos — comentou, sentando-se à mesa.  — Estava tudo bem, até você chegar. A confissão escapou de seus lábios e trouxe ainda mais alegria à mulher à sua frente.  — Obviamente, minha presença perturba Joshua. O faz lembrar-se do que perdeu, e do que tem que tolerar. Aquela afirmativa destruiu o coração da mais velha. Anna estava certa. Joshua havia mudado pelo confronto a presença da mulher a quem desejava.  — Não tem que se sentir mal por isso — o tom de Anna era apaziguador. —  Infelizmente não teve uma vida fora do castelo, não sabe como entreter os homens, não sabe como…  — Como dormir com eles antes do casamento? — devolveu, cortando-a, mordaz. Nunca, até então, sentira tanta necessidade de proteger-se das palavras maldosas. O olhar de espanto de Anna lhe deu uma culposa alegria. Elisabeth aguentou tudo, de todos. Foi humilhada, renegada, ofendida e traída, de todas as formas, por todas as pessoas. Porém, em relação a Joshua, ela não ficaria quieta.  — Tem razão, Anna — levantou-se. — É mais bonita do que eu. Mais interessante, e mais bem preparada. Mas, não tem dignidade. E isso, minha irmã, não se aprende na corte. Então, deixando a cozinha, ela afastou-se, fugindo da presença que lhe fazia tão mal.

Capítulo 13

Confronto  — Você está feliz? Joshua voltou-se para o lado. Sobre um pomposo alazão, o irmão o encarava com o olhar curioso e aflito.  — Veja bem, eu realmente quero te ver feliz, mas…  — Mas?  — O que poderia dizer, meu irmão? — Andrew deu os ombros. — Eu sou um homem bem-aventurado, entende? Minha mulher me dá alegria, tenho orgulho do meu clã e agradeço aos Deuses por cada dia que acordo vivo. Você, contudo – respirou fundo –, definitivamente, quando eu solicitei que desposasse Lis, o fiz crendo que era sua vontade. Achei, realmente, que nutrisse sentimentos por ela, já que havia se deitado com ela sem os laços sagrados do casamento. Joshua afastou o olhar, volvendo para o mar à frente. Haviam saído naquela manhã para cavalgarem pelas terras, e agora paravam sobre uma grande elevação, a encarar o magnífico oceano.  — O que está falando? — Joshua retrucou.  — Você não sorri — apontou. — Olha para Lis como se a odiasse, e ela está acuada. Sempre foi quieta, mas o estado dela beira a desesperança. Não vejo paixão entre vocês, estou certo? Havia paixão. Mais que isso, os sentimentos de Joshua eram tão intensos que o sufocavam. Tudo que ele mais desejava era pegar a mulher pelo braço e levá-la até o quarto. Amá-la como se não existisse amanhã. Porém, aquela dubiedade, entre ter e não ter a esposa para si, o tirava do sério.  — Anna me disse que te viu saindo à noite e só voltando de manhã — Andrew o confrontou. — Eu não quero me meter nas suas escolhas…  — Então não se meta — interrompeu-o.  — Sou seu irmão mais velho! — o tom mudou, bruscamente. Joshua voltou a encará-lo.  — Um homem tem obrigação de cuidar de sua casa e de sua esposa.  — Elisabeth está passando por algum tipo de necessidade?  — A necessidade de uma mulher é mais do que comida em sua mesa e roupas em seu baú.  — Se queria tanto vê-la feliz, por que não se casou com ela? — questionou. Repentinamente, deu-se conta das palavras e se envergonhou. — Desculpe — murmurou.  — Eu amo Lis — assumiu para o outro. — Eu a amo muito, mas não estamos no nosso melhor momento.  — O que aconteceu?

O interesse era genuíno e Joshua viu-se falando: — Minha mulher nunca disse claramente o que sente por mim — contou, incomodado com aquela fraqueza. —  Sinceramente, não faço ideia de quais são seus reais sentimentos. Apenas, tento ser um bom marido, mas tudo cansa… O irmão riu.  — Anna diz que me ama todos os dias — ele contou, sorrindo. — Mas, o é assim porque é mais espontânea. Sabemos que Elisabeth é calada e fechada. Isso não quer dizer que não nutra sentimentos por ti. Deviam conversar mais. Estava certo. Ele faria isso. Tão logo voltassem, chamaria a esposa para o quarto e lhe indagaria sobre suas emoções. O problema era a resposta. Ele temia o que viria.  — Anna e eu iremos embora em poucos dias — Andrew prosseguiu a conversar. —  Espero saber que ambos estarão bem até irmos. Sinceramente, amo os dois — suas palavras eram tocantes. — Lis é o amor de minha infância, e você é minha família. Joshua assentiu.  — Farei o possível — garantiu. Mas, não tinha tanta confiança no próprio autocontrole. ***

A promessa não pôde ser cumprida no primeiro dia, e nem nos seguintes. Elisabeth passou a ignorá-lo sumariamente em todos os momentos. Ele até tentou falar com a esposa, mas ela desviava os olhos. Numa das noites que a procurou no leito, Elisabeth se encolheu tanto que ele irritou-se e saiu, novamente, sem, dessa vez, ir atrás de conforto em outra fêmea. Sabia que ela estava em seu direito. Ele a traiu. Elisabeth podia não ter ouvido isso diretamente, mas tinha instinto feminino, e tudo em Joshua transbordava culpa. Porém, era ele o maior prejudicado. Tudo que ambicionava era ter a esposa para si. Cuidar dela, ampará-la. Sabê-la apaixonada pelo seu próprio irmão destruía sua sanidade, e o lançava naquele perigoso jogo de paixão e desespero. Era nisso que pensava quando trombou com Anna nos corredores, naquele final de dia. A cunhada estava ainda mais bela do que se lembrava, e o olhar ainda mais lascivo e

cativante. Mesmo assim, nele não havia qualquer ansiedade. Tentou desviar o caminho, mas a mulher colocou-se a sua frente. Então, encarou-a.  — Está fugindo de mim? — Anna perguntou. Estava. Desde que ela colocara os pés naquele castelo, ele tentava não permanecer no mesmo ambiente.  — Você está casada com meu irmão — ele lembrou-a. — O que tivemos foi antes de eu saber que seria a esposa de Andrew. Ela riu. Valores morais não faziam parte de seus pensamentos.  — E você está casado com Elisabeth, e mesmo assim não faz com que eu o deseje menos. Incomodou-se com aquelas palavras. Tentou seguir caminho, mas novamente ela pôsse a frente. Tocou no braço masculino, derretendo-se perante os músculos que a excitavam.  — Sua esposa choraminga pelos cantos por amor ao meu marido — Anna atacou na ferida aberta. Percebeu o ar masculino se suspendendo por alguns segundos, e então soube que atingira o ponto fraco. — Por que então não aproveita e se vinga? Tanto dela, com seu amor não correspondido; tanto dele, por ter o sentimento daquela que você tanto quer? Era tentador, como tudo nela. Mas, estranhamente, a colocação o enfureceu.  — Você acha que eu sou o quê? — questionou, ameaçador. — Eu amo meu irmão!  — Mas, não contou a ele sobre nosso breve envolvimento. Era um pecado que ele carregaria para sempre.  — Não importa o que aconteceu no passado, nunca mais vai se repetir.  — Nunca diga nunca, meu querido. Ele riu, debochado.  — Irá embora em breve, Anna — avisou. — E tudo isso — ergueu as mãos, como se aqueles momentos pudessem ser medidos pelo espaço — vai passar — previu. As mãos femininas deslizaram pela camisa.  — Vá mais tarde até o celeiro — pediu. — Eu estarei esperando por você.  — Desista.  — Desista você de tentar resistir a essa tensão sexual que beira à loucura. Você me quer, e eu te quero. Então, vamos aproveitar. Depois, enfim, ela lhe deu passagem. E ele saiu de perto dela sentindo ânsia de vômito. ***

Elisabeth estava curvada sobre o baú, a costurar uma de suas anáguas. Ela não girou o rosto quando ele entrou, e nem fez menção disso, mesmo que ele tenha parado ao lado da porta, a encará-la.  — Lis — chamou-a, na vã esperança que ela apenas não havia se apercebido de sua presença. Nada.  — Lis, isso é ridículo. Silêncio completo.  — Como seu marido, eu exijo que você olhe para mim — o tom dele era alto. Então, ela girou o rosto. O olhar esverdeado estava completamente enraivecido. Era a primeira vez que Elisabeth se mostrava assim, ao menos para ele.  — Nós temos que conversar — ele disse, tentando manter a calma. — Eu queria te dizer…  — Durante toda a minha vida — o interrompeu, erguendo-se —, eu aceitei tudo calada. Eu fui surrada, usada como fantoche por uma dama cruel como Sophie. Aceitei a fome, a humilhação de ser abandonada praticamente no altar… Tudo sem abrir a boca, como fui ensinada a fazer. Mas, de tudo, nada me preparou para ver meu melhor amigo humilhando-me diante de sua ex-amante. Subitamente, ela se aproximou. Joshua não fez menção de interrompê-la. Sabia que havia dor ali, e deixou-a expulsá-la.  — Onde você passou a noite, naquele dia que me deixou sozinha?  — Acha que foi com Anna?  — Não, ela ficou no castelo com Andrew — negou. — Mas, exijo uma resposta.  — Por quê?  — Porque sou sua esposa — devolveu. — E não me importo com o que dizem os livros sagrados, se não me responder agora, nunca mais me verá dizendo qualquer coisa a ti — ameaçou. — Vou me calar agora, e juro por Masha, que ficarei em silêncio até o fim de meus dias. Joshua assentiu. Era justo.  — Estive em um bordel. A frase magoou-a, era nítido. Mesmo assim, ele se recusou a mentir para ela.

 — Dormiu com uma prostituta?  — Dormi. Esperou pelo escândalo que não veio. Elisabeth simplesmente desviou dele e caminhou até a lareira.  — Eu estava com raiva — justificou-se.  — Vou me lembrar disso — ela prometeu. — Quando estiver com raiva, também irei até o primeiro homem que encontrar e… Os passos firmes do homem levaram-no até a esposa. Ele a puxou pelo braço, sacudindo-a como uma boneca de pano.  — Não me provoque, Elisabeth — gritou. — Juro por Bran que eu a mato! Só após isso, percebeu suas próprias palavras. Soltou-a.  — Acabou nossa vida feliz, não é? — as lágrimas dela o fizeram recuar. — Eu só queria ter meu melhor amigo perto de mim, mas depois disso…  — Sempre fui apenas isso para você… O melhor amigo. Subitamente, ficou visível a total insegurança de Joshua.  — Nunca te faltei com respeito, Joshua. Sempre fui a melhor esposa que pude. Ele assentiu. Não havia muito a se dizer depois daquilo. Então, dando-lhe as costas, saiu do quarto. ***

Quando Anna viu Joshua sair do castelo, ela sorriu, satisfeita e animada. Era o momento perfeito para um encontro romântico. Andrew havia ido dormir mais cedo, cansado das cavalgadas com o irmão, e Elisabeth enfurnara-se no quarto, fazendo as coisas tediosas que só ela sabia fazer. Ali, embaixo das fuças de ambos, Anna iria se reafirmar como a mulher ardente que era. Trairia o marido pela primeira vez com o irmão dele. Destruiria a sanidade de Elisabeth, roubando-lhe o afeto do esposo. Contudo, ele cruzou reto pelo celeiro. Assustada, ela considerou que ele entendera errado o lugar de encontro e foi atrás do homem. Chamou-o e viu-o voltando-se em sua direção, com o olhar arregalado e surpreso: —  O que faz aqui? — Joshua perguntou.

A pergunta era tão carregada de inquietação que Anna sentiu-se insegura pela primeira vez na vida.  — Nós dois combinamos…  — Você está louca? — ele a interrompeu. — Considerou mesmo que eu viria atrás de você? É a esposa do meu irmão!  — Já tivemos essa conversa e você está aqui fora, enquanto sua adorada esposa está lá dentro. Ele remoeu as palavras.  — Está certa, Anna — parecia conformado —, quando diz que ela não me ama —  completou. — Mesmo assim, eu a amo. E não vou lutar contra isso, ou ao menos, não vou lutar traindo meu irmão. Então, por favor, tenha o mínimo de dignidade e respeito próprio, e não me procure mais. Quando ele deu-lhe as costas, não viu, mas deixou uma mulher tremendamente revoltada para trás.  — Homem nenhum me despreza — Anna sussurrou. — Vai ser meu, nem que custe sua própria vida. Aquela promessa ecoou na noite. ***

 — O senhor quer uma mulher? — o taverneiro indagou, colocando mais hidromel em sua caneca. Joshua negou. A cabeça baixa, as lágrimas borbulhando em seus olhos, o orgulho dominando seu coração.  — Se não se agradou daquela…  — Não quero ninguém — ele murmurou. Era mentira. Ele queria a mulher que havia unido seu sangue ao dele. A mulher que o desarmava, que o fazia conhecer o inferno e o céu em questão de segundos.  — O senhor já amou alguém em sua vida? — Joshua perguntou ao homem, que parecia tremendamente surpreso pela questão.  — Não é uma pergunta fácil de responder, senhor… Joshua sorriu, cansado.

 — Desculpe-me o atrevimento, mas por que não vai para casa? Lady Elisabeth deve estar preocupada… Ele quase riu. A única preocupação que dominava a esposa era o bem estar de Andrew. Subitamente, o som das risadas a sua volta cessou. Alguns homens se ergueram de suas cadeiras, e Joshua anteviu uma presença inesperada. Não se virou, preparando-se para a ladainha de Andrew, quando um dos homens perto da janela curvou-se.  — Milady… — a voz masculina fez seus olhos se arregalarem. Girou o corpo e deu de cara com Elisabeth.

Capítulo 14

A verdade  — Mulher dos infernos! infernos! O grito masculino não a intimidou. O marido segurava seu braço, enquanto fazia o caminho de volta para o castelo.  — Como pôde ser tão burra em sair durante a noite, sozinha, para ir até um puteiro? O que tem nessa cabeça oca?  — Eu poderia lhe fazer fazer a mesma pergunta pergunta — devolveu. devolveu. Joshua parou. As ruas estavam desertas naquele horário, mas os boatos dos bandidos a espreita ainda eram constantes. Havia ameaça.  — Tenho Tenho vontade de colocar essa bunda bunda sobre minhas pernas pernas e enchê-las enchê-las de tabefes.  — Quem devia apanhar aqui é você! — o furor de Elisabeth era visível. Ela nunca falava assim, com aquela energia. — Cada problema que enfrentarmos nesse casamento, te fará ir correndo procurar procurar outras saias? Ele se envergonhou, tremendamente. Sabia que a esposa estava certa.  — O que você quer? quer? — intimou-a. — Quer se vingar? Quer me bater? bater? Um soco potente o derrubou no chão. Arregalou os olhos diante da energia daquela mulher. mulher. De onde saiu tanta força tendo ela um corpo tão frágil?  — O que diabos…?  — Desculpe — ela estendeu a mão, ajudando-a a se levantar. levantar. — Não sei o que aconteceu, meu corpo agiu por conta própria.  — Sei… Difícil acreditar, mas ele a havia visto matar um homem manipulando uma espada como poucos faziam.  — Vou Vou levá-la para casa, casa, Elisabeth.  — Não vai voltar para aquele prostíbulo. — ela avisou tão firme que quase o fez gargalhar.  — Sou homem e você não não manda em mim.  — Se voltar, voltar, eu venho atrás de você. você.  — Eu a tranco no quarto. quarto.  — Eu pulo a janela. Que diabos!  — Por que se importa? importa? Os olhos da mulher se arregalaram.  — Você Você é meu marido.

A explicação, explicação, como sempre, era prática e não emotiva.  — Um marido que nunca quis ter — acusou. — Acha que não sei que é Andrew que você quer? Que é nele que pensa quando eu finco meu pau entre as suas pernas. Outro tabefe. Joshua estava começando a perder a paciência para aqueles trejeitos femininos.  — Não admito que fale comigo nesse tom — ela encarou-o de frente, sem medo. —  Eu sou sua esposa, unida a você pelos votos sagrados de Bran, Masha e Cashel. Teu sangue está no meu corpo, e eu nunca fui desleal a ti. O rosto de Joshua aproximou-se. Era uma fera ferida, um gato espreitando a presa.  — Você Você o é, querida esposa esposa — devolveu. — Você Você é desleal a cada segundo segundo que pensa em outro homem, enquanto goza comigo. Ela ergueu a mão novamente. Porém, ele a segurou no ar. Elisabeth nunca havia sido tão ofendida em sua vida. Então, repentinamente, ele a empurrou para o lado. As paredes de pedra tocaram suas costas, machucando-a. Porém, mais por mais grosseiro e obtuso que fosse Joshua, todo o corpo de Elisabeth clamava pelo marido. Aquilo era tão perturbador! Por tudo que ele fizera, era um direito dela odiá-lo. Mas, tudo que Elisabeth queria era abrir os braços e ampará-lo diante da dor que via no semblante masculino. Lágrimas grossas desceram pela sua face. Ele a acusava de traição. Tratava-a como uma rameira, mas tudo que ela fez, desde que casaram, foi tentar fazê-lo feliz. Joshua, em contrapartida, havia dormido com outra mulher. mulher. Contudo, havia mais que decepção em seu coração. O pior era que, mesmo sabendo o passado de devassidão do marido, ela ainda nutria por eles sentimentos tão intensos que a mulher era incapaz de compreendê-los. Por que ele a sufocava na mesma medida que parecia avassalar todo seu coração?  — Diga-me, Lis — ele murmurou, murmurou, o corpo masculino masculino prensando-a prensando-a em sua totalidade. Sentiu a carne dura dele fincando-se contra sua pélvis. A roupa impedia um toque mais íntimo, mas tudo estava demasiadamente demasiadamente selvagem e arrebatador. arrebatador. Ela gemeu, quando o movimento masculino começou um ritmo cadenciando. Era uma tortura. O avançar e o retroceder pareciam pareciam ser seu fim.  — Dizer o quê?  — Você sabe a resposta para essa pergunta, esposa — ele retrucou. — O que você sente por mim? As pernas delas bambearam. Ela sentiu o pulsar característico que a tomava de assalto quando ele a dominava na cama.  — Joshua…

 — Diga-me! — exigiu. exigiu. — Ainda é apaixonada por Andrew? O olhar de Elisabeth, então, tornou-se confuso. Era isso que ele pensava? Então, desde que Andrew e Anna haviam aparecido no castelo, era o ciúme do irmão que o fazia tratá-la tão mal? Ou…  — O que sente por Anna? — ela rebateu. — Você tem inveja de Andrew por tê-la desposado? Ele riu baixinho. O hálito de canela e hidromel atingiu-a.  — Não me casaria com Anna mesmo que ela fosse à última mulher da face da terra, Lis — foi franco. — Nunca quis outra, só você — admitiu. — Ainda me lembro de cada detalhe do dia que eu a vi pela primeira vez, Elisabeth. Desde aquele instante, eu soube, de alguma maneira, que o que eu sinto por você eu jamais sentiria por qualquer outra pessoa. A frase tocou-a.  — Mas, Anna disse…  — Imaginei que sua irmã tentaria nos jogar um contra o outro, mas não vou culpá-la pelos meus erros — ele murmurou. — Não foi Anna que me obrigou a te trair. Eu o fiz porque eu queria me vingar dos sentimentos que você nutre por Andrew. Lis negou, abraçando-o. abraçando-o. Subitamente, a áurea sexual pendeu para algo mais intenso e cálido.  — Eu mal conheço Andrew, Andrew, Joshua — ela murmurou. — Ele foi o amigo de minha infância, mas fiquei mais de uma década sem vê-lo.  — Você me disse que o amava — recordou-se recordou-se das conversas, tempos antes, quando ela aguardava o antigo noivo voltar de Masha.  — Que escolha eu tinha? Dizer que não o queria? Que temia o homem que ele podia ter se tornado? Que estava triste, infeliz, preocupada? Mas, a vida com Lady Sophie era um inferno, então tentava me convencer de que não poderia ser pior ao lado de Andrew. E, imaginei, com a convivência, talvez eu viesse a amá-lo, verdadeiramente. Não é esse o dever de toda esposa? Aquelas palavras pareciam maravilhosas demais para serem verdadeiras.  — E quanto a mim? — Indagou. O coração batendo tão rápido no peito. — Diga-me, Elisabeth… E quanto a mim? Os dedos femininos, um tanto acanhados, fincaram-se nas mechas escuras. O olhar deles se encontrou de forma febril.  — Meus sentimentos por você? Não sei expressá-los, expressá-los, Joshua — murmurou. — Não sei como explicar que, mesmo que me machuque, eu ainda quero que fique perto de mim. Que quando acordo de manhã e vejo seu rosto adormecido, eu sorrio sem entender os motivos. Que eu adoro o seu cheiro, adoro sua voz, a forma como trata as pessoas de forma justa, a maneira como leva em consideração tudo que falo. Eu fico encantada pela maneira como você me pega, quando me toma entre os lençóis. E eu tenho vontade de

chorar em pensar que posso perdê-lo. Estava ali, tudo que ele sempre sonhou durante toda a vida. Cada palavra dita, uma atrás da outra.  — Isso é amor, Elisabeth — ele explicou, rindo e chorando ao mesmo tempo. Ela acompanhou-o nas emoções.  — É? — sua inquietação era tão inocente e sincera. — Eu te amo, então — a afirmação genuína fê-lo abraçá-la.  — Vamos para casa, esposa. ***

O calor do quarto os tocou. Elisabeth entrou primeiro, e ficou defronte ao espelho, aguardando o marido que trancava a porta. Estava nervosa, como se fosse à primeira vez. E talvez o fosse, porque era a primeira em que um era complemente ciente do sentimento do outro. Respirou fundo, tentando se acalmar. Era Joshua, a pessoa a qual ela confiaria à vida. O olhar cravou no espelho. Viu a pele enrubescida, fruto de sua excitação. O calor que a dominava, adentrando fundo em suas estranhas e fazendo suas pernas bambearem, era nítido pelo olhar febril em seu rosto. Havia rastros de lágrimas ali, também. De raiva, de medo, e por fim, de alívio. As de alívio subjugaram todas as outras. Viu, então, ainda pelo reflexo, Joshua arrancar a roupa. Ele era magnífico, e ela sabia. Ela notava como as mulheres demoravam os olhos sobre os músculos firmes, e sobre a expressão de sua masculinidade. Viril, de corpo grande e dominador, Joshua era maravilhoso de muitas maneiras, e incrivelmente aterrorizador de outras. O membro dele estava duro, ereto, deixando-a ciente de como a queria. A ela. A mulher que sequer entendia o ato sexual, antes de ter dividido o feno com ele, naquele longínquo dia de inverno em Castelo Branco. E, mesmo assim, ali estava o fogo no olhar. O fogo que ela sabia, era apenas dela. As mãos masculinas tocaram sua coxa, enquanto a boca de Joshua moveu-se sobre sua nuca. Enquanto o vestido era erguido, ele lambeu aquele ponto que a arrepiou

imediatamente. Todas as roupas foram tiradas enquanto a boca dele passeava. A nuca, os ombros, as costas, o quadril. Tentou se mover, voltar-se para ele, mas Joshua manteve-a parada no mesmo lugar.  — Olhe para o espelho, Elisabeth — ordenou, a voz rouca. — Quero que veja a si mesma, e entenda porque eu a desejo tanto. Quero que saiba que não existe outra mulher tão perfeita quanto você. A boca dela abriu-se, num gemido. Os sons não podiam mais ser contidos, tudo nela estava em chamas. Então, ele curvou-a um pouco, apenas o suficiente para que ela se segurasse no espelho. Sentiu as pernas sendo afastadas brevemente, enquanto, pelo reflexo, percebia a cabeça vermelha e latejante do pênis de Joshua surgindo entre elas, resvalando entre seu centro, agonizando-a, fazendo-a gemer com aquele toque erótico e dominador.  — Olhe no espelho — repetiu. — Você me deixa louco. Então, enfiou-se dentro de seu centro feminino de tal forma que Elisabeth pode sentilo por inteiro. Ela quase caiu, mas as mãos firmes do marido mantiveram-na no lugar. Ele acariciava seus mamilos com uma das mãos e, com a outra, segurava seu rosto, trazendo-a para um beijo. Aquele ritmo sensual, mais uma vez, começou. As entocadas firmes eram apenas um dos pontos que a deixavam zonza. A mão que estava nos seios, abandonou-os, e seguiu até seu clitóris. Enquanto Joshua fazia movimentos circulares ali, a língua passou a imitar o membro. Havia uma palavra para aquilo. Ela havia ouvido certa vez, entre cochichos de servas casadas. E, definitivamente, apesar de ser uma palavra feia, combinava totalmente com o ato completamente molhado, sujo e, ao mesmo tempo, delicioso: foder. E, naquele instante, ela entendeu como era ser fodida com força. Sem reservas, sem pudores, sem medo. A boca abriu e Elisabeth não conteve os gritos. Todo seu corpo era tomado por espaços em cada pedaço de sua pele.  — Lis… — a voz de urgência a tomou. Subitamente, os jatos quentes do sêmen do marido, inundando-a tanto que passou a escorrer pelas pernas. O líquido branco mesclando-se com o seu deleite, as vozes ritmadas entre sussurros de êxtase. Ela gozou como nunca até então. Quase resvalando até o chão, enfim, permitiu que o prazer a atingisse, e a deixasse. Cada pedaço do corpo pulsava, e as forças a haviam abandonado. Contudo, mais uma vez, o deleite. Dessa vez, não do sexo, mas do amor. Percebeu Joshua segurando-a carinhosamente, abraçando-a e então, erguendo-a. Colocou-a na cama, beijando seu rosto, com uma amabilidade que trouxe lágrimas

aos seus olhos.  — Eu te amo — ela reafirmou, para o caso de ele ter se esquecido.  — Eu sei… — o sussurro masculino a cativou. — Agora eu sei.

Capítulo 15

Morte Andrew voltou-se para o irmão, um sorriso largo no rosto, enquanto preparava as palavras para despedir-se. Foi surpreendido por um abraço firme. Era a primeira vez que se lembrava de Joshua manifestar qualquer gentileza para consigo. Imediatamente percebeu que suas palavras, dias antes, surtiram efeitos.  — Está tudo bem entre Lis e você? — perguntou, num sorriso.  — Graças a você — o irmão afirmou. — Conversar francamente com ela valeu-me a paz em meu casamento — soltou-o. — Muito obrigado. Andrew apertou seu ombro, num carinho mudo e conciliador.  — Andrew… Eu preciso te falar algo… A atmosfera mudou. Havia algo no irmão que o mais velho era incapaz de compreender. Arqueou as sobrancelhas, aguardando a resposta, mas o som de passos fê-lo voltar-se para as irmãs ruivas que se aproximavam. Anna estava nitidamente azeda, como se estivesse muito zangada por ter que ir embora. Mas, incrivelmente, ela havia passado bem pouco tempo perto de Elisabeth. Não lhe deu atenção. Beijou as mãos da esposa, carinhosamente, enquanto a guiava para a charrete. Então, voltou-se para Elisabeth. A cunhada estava de braços dados com seu irmão. Ele aproximou-se e lhe deu um beijo gentil na testa.  — Sejam felizes. O assunto pendente entre ele e Joshua foi esquecido, e ele sequer pensou nele enquanto entrava na charrete e seguia seu caminho.  — Você contou? — Elisabeth murmurou ao marido que mordeu o lábio inferior, nervoso.  — Eu não consegui — assumiu. — Rezamos para que ele nunca saiba. A mentira nunca era a melhor saída, mas, naquele instante, Lis orou aos deuses que mantivessem a verdade bem guardada. ***

O breve calor que iniciou-se naquele começo de primavera, trouxe sobre Castelo

Branco, uma leve garoa fina que não servia para nada além de umedecer todo o Castelo e deixar vários aldeões doentes. Enquanto reclamava com um dos administradores sobre a diminuição de mão de obra para as colheitas, Sophie desviou o olhar para a entrada. Uma das meninas que servia na cozinha a encarava com nítido assombro.  — Senhor Zenon — ela murmurou. — Seu servo pessoal voltou, Milady. Dispensou o administrador na hora, e mandou chamar o outro. Enquanto aguardava, respirou fundo, ansiosa para o que viria. Sabia que, estivesse vivo, Zenon voltaria. Faziam-se meses desde que se fora, mas ela esperou. E sua espera agora era recompensada.  — Milady — o homem surgiu, curvando-se a ela. Estava mais magro e visivelmente mais abatido. Devia ter sofrido muito até voltar para casa.  — Onde esteve?  — Fui colocado em um barco para Cashel. Felizmente, consegui escapar. Tive que trabalhar para um capitão do mar para pagar minha passagem de volta. Depois…  — Esqueça isso. — Não lhe importava as dificuldades passadas pelo empregado. —  Quero saber por que foi capturado! O homem assentiu.  — Descobri algo sobre a noiva de seu filho.  — Esposa, agora — retrucou. — Foi Anna que o mandou embora?  — O lorde que aqui estava de passagem, senhora. Lorde Barton — avisou. — No caminho, disseram-me que Lorde Barton era amante da senhora Anna. Sophie estremeceu.  — Por isso Barton quis Elisabeth — murmurou.  — Mas, minha descoberta vai além disso. Lady Anna e o bastardo de Lorde Hor Clark trepavam no celeiro. A boca de Sophie abriu-se, incrédula.  — É verdade?  — Não parece, não é? Mas, meu rapto foi por esse motivo. Lady Anna soube que eu havia descoberto suas armações. Sophie mal podia crer em tanta desgraça.  — Essa cadela irá pagar caro por isso — disse a Zenon. O homem assentiu.  — Fico feliz, e sentir-me-ei vingado, minha senhora. ***

Os dias que se passaram do retorno ao Castelo Branco não foram fáceis para Andrew. A esposa, arredia, parecia culpá-lo pela volta, como se o tempo em Castelo Negro fosse demasiadamente curto e ela necessitasse de meses ao lado da irmã. Ele tentou ser compreensivo. Anna era teimosa e irritadiça, e tudo que ele desejava era fazê-la feliz. Buscou-a nas noites, quando se deitavam nas tendas aquecidas, tentando fazer as pazes por uma briga que não aconteceu. Ela o recusou. Então, partiu para uma tática mais gentil e lhe fazia todas as vontades. Seu olhar rabugento a dominava e, por fim, desistiu. Quando estivessem em casa, buscaria novamente sua aprovação. Assim sendo, quando chegaram a Castelo Branco, tudo que ele queria era levar a esposa ao quarto e fazê-la esquecer da briga que nunca aconteceu. Porém, a mãe surgiu diante de seus olhos com o olhar tão aterrorizante que ele recuou. Anna desceu da charrete e encarou a sogra com aborrecimento. Porém, em seguida, foi golpeada com um forte tapa no rosto.  — Mãe! — Andrew gritou, segurando Sophie, que parecia possessa. — O que diabos aconteceu? Repentinamente, Zenon surgiu diante deles.  — Meu Lorde — o homem estava ereto e respeitoso. — Essa mulher — apontou para Anna — não é quem acha que é. ***

 — Não é verdade — Andrew negou, enquanto seu olhar encarava a lavareda da lareira. Atrás dele, Sophie o abraçou, carinhosamente.

 — Eu sei que é difícil que acredite, mas se colocarmos Anna contra a parede terá a verdade — Sophie confirmou. A esposa o aguardava do outro lado do corredor. Ele estava a falar com a mãe na sala de administração. Tudo que Sophie e Zenon lhe contaram explicava muito o desespero de Anna em ir embora de Castelo Negro. Parecia um fato que ele sempre soube, mas que se recusava a aceitar. Então, desviou-se da mãe. Rumou até o outro quarto, abrindo a porta e fechando-a atrás de si.  — Apenas me diga que não é verdade, e eu confiarei em suas palavras. Seria muito simples para Anna mentir. Ela tinha olhos límpidos que enganariam a qualquer um. A sogra a detestava e o empregado era louco, diria. Mas, subitamente, as palavras sinceras surgiram em sua garganta. Ela estava farta daquele casamento, enquanto sabia que Elisabeth estava completamente feliz ao lado daquele homem viril. Ela queria Joshua! Ela queria o olhar de desespero de Lis quando Joshua fosse completamente seu. Tudo perdeu a importância diante daquela constatação.  — É tudo verdade — retrucou, erguendo-se. — Eu abria as pernas para o seu irmão, eu chupava o pau dele, mamava nele, até sugar todo o seu leite. Eu me entregava para ele no celeiro, dava até a bunda para ele, e depois eu fiz você me desposar porque de ti, tudo que eu queria, era o título. Andrew sentiu uma onda de choque transcorrer todo seu organismo. Aquilo parecia um pesadelo, algo irreal, algo que aconteceria com qualquer outro, mas não consigo.  — E foi tão divertido vê-lo largando a coitada da Elisabeth por minha causa. Ela ficou arrasada, porque sempre foi completamente apaixonada por você. Eu combinei com Lorde Barton de pegar minha irmã e maltratá-la tanto… E você aceitou que ele a desposasse — gargalhou, histérica. — Elisabeth se deitou com Joshua por desespero e, apenas por desespero, seu irmão a quis. Enquanto você confiava que eles se amavam, ambos se amarraram num casamento sem amor por sua culpa. Andrew sentia o tremor tomando conta de si. Queria acordar daquele pesadelo. Precisava acordar.  — Enquanto você dormia em Castelo Negro, Joshua e eu nos amávamos no celeiro. E você, idiota, nada percebia… Duplamente traído. Mais que pela mulher ao seu lado, pelo seu sangue.  — Mentira… — murmurou. A gargalhada dela feriu-o.  — Pergunte a ele ou a Elisabeth — Anna retrucou. — Ela também sabe.

Andrew poderia bater nela. Até mesmo matá-la. Mas, deu-se conta de que era exatamente isso que Anna queria. Preferia a morte a ser sua esposa.  — Irei renegar nosso casamento — Andrew contou. O tom baixo, controlado. — E irei retirar de Joshua o nome que lhe dei. Vou largá-la e todo o reino saberá que é uma puta. E quanto a ele, voltará a ser um bastardo sem nome. O olhar de completa apatia fê-lo perceber que a mulher não estava preocupada com isso.  — Vai tirar dele o nome? — murmurou. — Você acha que ele se importa com isso?  — O título, Castelo Negro, e Elisabeth — completou Andrew. — Vou corrigir meu erro, rameira! — Apesar da grosseria das palavras, parecia calmo. — Eu te amei, Anna. Mas, vai pagar muito caro por isso. Naquele instante, Sophie adentrou o quarto. O olhar da sogra e da nora se encontraram.  — Isso manchará o nome dos Clark e, até mesmo, dos Brace — a mãe afirmou. —  Elisabeth não merece isso.  — Até parece que você se importa com ela — Anna murmurou.  — Eu a criei da mesma forma que fui criada — retorquiu. Depois, voltou-se para Andrew. — Se o que pretende fazer é corrigir seus erros, meu filho, envie essa cadela para bem longe. Dei-lhe outros documentos, fingiremos que ela morreu. Faça o mesmo com o bastardo que chama de irmão. Aquele era o melhor final feliz que Anna imaginou.  — Deixá-los para viverem juntos? — Andrew retrucou. — Dar-lhes passagem para serem felizes e livres?  — Pobres! — Sophie apontou. — Olhe a fútil de sua esposa e imagine o quanto sofrerá sem recursos. Agora — aproximou-o, tocando-o no braço —, mande providenciar os documentos, arrume uma cavalaria e parta para Castelo Negro. Assim que se livrar daquele homem, eu irei despachar essa vagabunda. Andrew concordou simplesmente porque se tivesse ouvido a mãe desde o princípio, nada disso estaria acontecendo.  — Arrume suas coisas, Anna — virou-se para ela. — É a última vez que nos veremos. E suas palavras eram proféticas. ***

Anna permaneceu trancada no quarto por três dias, após a partida do marido. Estava feliz demais para se preocupar com qualquer coisa, mas conforme a calmaria foi tomando-a, deu-se conta de que não poderia seguir adiante sem vingar-se pelas palavras que foi obrigada a ouvir. Claro, queria largar Andrew e ter Joshua, mas também queria que isso acontecesse depois de matar o marido e trazer o cunhado para perto. Agora, só os deuses sabiam como ela viveria sem a fortuna dos Clark. Joshua era delicioso, mas era pobre. Teriam que dar um jeito… Respirou fundo, amaldiçoando aqueles que se colocaram em seu caminho. Sophie e aquele desgraçado do empregado haviam destruído seus planos. Então, era hora de ela mostrar que ninguém devia mexer com o sangue fervente de Masha. Naquela madrugada, ela saiu do quarto, e rumou até a sala onde se guardavam as espadas. Sabia da troca de turno das sentinelas, e preparou-se para aquele fim. Tão logo estava armada, deixou-se guiar pelo impulso e pela deusa das guerras, que dava por dom natural, a todos os seus, a habilidade de destruição. Zenon dormia num casebre conjugado ao castelo. O porquê um homem ser tão leal a uma mulher sem receber nada em troca, era realmente um mistério para Anna. Ela não o acordou. Simplesmente degolou-o rapidamente, respingando seu sangue por toda a cama. Estava feito. Depois, voltou ao lar e foi até o quarto da sogra. A desgraça dormia como se nada temesse. Anna postou-se ao lado da cama e ergueu a espada.  — Por Masha — disse, acordando a mulher imediatamente. Houve tempo de Sophie ver quem a matou, e sentir a punhalada em seu coração. Apenas isso. Depois, escuridão. Agonizou alguns minutos, enquanto Anna trocava o vestido por algo mais quente e, então, cobria-lhe com o lençol a servir de mortalha. Pariu, em seguida. Os servos só se deram conta do que aconteceu na manhã seguinte, quando Lady Anna á rumava em direção ao norte.

Capítulo 16

Dor O sol adentrou o bonito quarto. Na cama, Joshua abriu os olhos, permitindo que aquela réstia de luz o acordasse inteiramente, sorrindo, enquanto sentia o corpo aconchegado da esposa contra o seu.  — Eu quero um bebê — o murmuro dela o fez rir.  — Está acordada?  — Estou, e quero um bebê. Ele gargalhou, enquanto se postava sobre o corpo delicado.  — Nesse ritmo não terá um, mas muitos, minha amada — brincou, beijando os lábios vermelhos. Ouviu o suspiro deliciado de Elisabeth e ficou a observar o rosto bonito. Céus, era tão maravilhosa!  — Eu te amo — ela murmurou. E, definitivamente, naquele curto instante, Joshua creu, do fundo da alma, que a felicidade existia e que ele estava cercado dela. Porém, o som de sinos ao longe interrompeu sua meditação. Percebeu a esposa abrir os olhos, e viu a preocupação estampada neles.  — Seriam os mercenários de quem Miro comentou ontem? Houveram ataques, dias após a partida de Andrew. Alguns camponeses se feriram, e duas garotas haviam sido estupradas. Joshua organizou um grupo para sair ao encalço dos desgraçados, mas não acharam nem o rastro. Erguendo-se, ele se colocou, nu, defronte a janela. Ao longe, percebeu uma cavalaria larga, e reconheceu o estandarte da casa Clark.  — Andrew… — murmurou. Elisabeth levantou-se rapidamente, e vestiu-se. O olhar dela trazia a nítida apreensão.  — Você acha…? A pergunta não foi concluída. Não era necessário.  — Podem ter sido emboscados na viagem — Joshua trouxe opções, encarando a esposa. Era uma alternativa, apesar de que no íntimo de ambos, ela se mostrasse inverídica. A inquietação tomou conta do casal, e eles se vestiram rapidamente, descendo para receber o Lorde do Castelo Branco. Andrew vinha à frente. Estava sério, montado em seu alazão. Elisabeth estremeceu ao vê-lo, como se pudesse entender muitos significados em seu olhar zangado.

Por fim, o homem desceu do animal e caminhou até Joshua. Ela não olhou para o marido, mas podia ouvir sua respiração entrecortada, como se aguardasse más notícias. Mal pode reagir quando Andrew andou rapidamente e desferiu um forte soco no irmão mais novo. Enquanto Joshua curvava-se, com a mão na face, ela se colocou no caminho, tentando entender tudo que estava acontecendo.  — Saía de minha frente, Lis! — Andrew gritou. — Saía agora! É meu direito bater nesse desgraçado! Ele arruinou a minha vida! Não eram necessárias mais palavras para saberem exatamente o que acontecia.  — Eu não sabia que Anna… — Joshua começou, mas foi calado. Enquanto empurrava Elisabeth para o lado, Andrew avançou novamente, desferindo um forte soco no estômago do outro. Sem reação. Irritou-se. Mais dois socos. Mesmo assim, era como bater em um boneco.  — Lute comigo, desgraçado! Joshua negou.  — Não vou fazer isso, você é meu irmão.  — Oh, agora pensa nisso! Mas, não pensou enquanto dormia com minha esposa. A pele de Joshua enrubesceu. Havia culpa e vergonha em seus olhos.  — Isso foi antes do casamento, Andrew. Joshua não sabia que você estava apaixonado por Anna. Eles tiveram um envolvimento… A voz de Elisabeth foi cortada pelas mãos de Andrew, que segurou firme seus braços, quase a machucando.  — Não vê, Lis? Anna me disse que Joshua e ela dormiam juntos aqui, no celeiro. Mesmo que ela tivesse sido amante dele antes – e veja bem, isso por si só já é bem grave –  eles ainda mancharam nossa lealdade com sua sordidez. O olhar turvo de Elisabeth deixou Andrew e encarou o marido. Joshua viu a dúvida pairando no verde-esmeralda.  — É mentira, Lis! — Joshua gritou. — Não toquei em Anna depois de saber que ela era noiva de Andrew. Elisabeth desviou o olhar novamente, assombrada.  — Acabou Lis — Andrew murmurou, puxando-a contra si. — A maldade, a covardia, a falsidade desses dois… A mulher queria afastar-se daquele abraço, mas não conseguia. O olhar voltou a fixar em Joshua, e ela percebeu o ódio resplandecendo lá.  — Solte minha esposa, Andrew — o outro retrucou. — Lis é minha, não importa o que faça…  — Elisabeth foi desposada por um homem chamado Joshua Clark. Esse homem não existe mais. Você é apenas um homônimo, Joshua, o bastardo.

Andrew havia lhe dado tudo. Agora, igualmente, arrancava dele tudo pelo que ele prezava.  — Não faça isso, eu te imploro — Joshua murmurou, tentando se aproximar. — Se quiser tirar meu sobrenome, o castelo, até minha vida, faça. Mas, não faça isso com Elisabeth. Você sabe o destino de uma mulher…  — Desonrada? Sim, eu sei. No entanto, Elisabeth se sacrificou por mim, pela minha felicidade. O amor dela, enfim, ficou claro para mim. Eu jamais permitiria que ela fosse mais uma vítima da cadela da irmã, e de você, seu infeliz.  — O que está dizendo?  — Elisabeth uniu seu sangue a um Clark. Vou apenas confirmar isso em outra cerimônia.  — E Anna? — Joshua cuspiu as palavras — Vai trocar as irmãs? Que mente desgraçada é a sua?  — Anna será desonrada e renunciada. Ela merecia a morte. Você merecia a morte. Mas, não farei isso. Então, pegou o braço de Elisabeth e a forçou contra o cavalo.  — Vamos embora, Lis — disse. Ela quis negar, sem saber direito como reagir diante das palavras. Joshua avançou, naquele ínterim, e vários homens ergueram a espada contra ele.  — Não, por favor — gritou, buscando Andrew. — Eu imploro, Andrew…  — Seu coração é um poço de bondade, Lis — o homem murmurou. Abriu a boca para retrucar, quando a voz de Joshua surgiu, forte.  — Elisabeth! Prefiro que me matem a vê-la nas mãos dele. Antes de dizer mais alguma coisa, um dos cavalarianos bateu com um pedaço de madeira na cabeça de Joshua, que desmaiou diante dela. Enquanto os gritos da Senhora do Castelo Negro atingiam seu povo, que observava a tudo com o espanto e a passividade provocada pelo medo, Elisabeth era levada até o cavalo. ***

Joshua soube dos planos do irmão depois disso. Emboscado, surrado, foi levado até um veleiro, que o deixaria sem qualquer recurso nas terras de Cashel.

Seu nome, sua presença, qualquer coisa que o lembrasse, seria apagado da memória dos seus. Anna iria com ele, pelo que ouvira. Aquilo não acalentava nada, ao contrário, só lhe trazia mais desespero. Mas, como reagir diante da grandiosidade de uma família como Clark? A culpa de tudo era sua. Devia ter sido franco com Andrew desde o início. Porém, temia perder Elisabeth. Deu-se conta, então, que a havia perdido de qualquer maneira. Mas, ela o amava. Ela tinha que amar… Ele precisava acreditar naquilo, nas palavras femininas, para ter força para lutar para voltar para ela. Sim… ele voltaria para ela… Não importava o preço que precisasse pagar.

Capítulo 17

Masha Ao longe ela podia avistar o veleiro. O gosto da liberdade, o sentido da excitação, a alegria pelos prazeres a serem descobertos, a mescla de sensações dominou-a. Ali, sobre a encosta da praia do norte, o vento gelado a tocar seus longos cabelos ruivos, e a esperança de dias felizes, Anna sentiu-se predestinada. O futuro era de quem o buscava. E ela o caçou. Era verdade que não planejou exatamente aquilo. A princípio seu desejo era ostentar o status de Senhora de Castelo Branco e manter um amante selvagem como Joshua a esperá-la em noites que desejava. Porém, entre viver a vida enfadonha com o certinho Andrew e aventurar-se numa vida lasciva com Joshua, ela ficava com a última opção. Mal podia esperar para ver os reinos quentes ao lado dele. Fugir do marido cretino e da irmã exaustiva. Joshua podia ficar magoado, de início, mas logo ela o enroscaria numa teia de paixão e luxúria. Cavalgou por dias, praticamente sem cessar, para chegar até o porto do norte. Agora, ali… ali estava o veleiro que a levaria para sempre daquela terra fria e terrível. Ensaiou mais uma vez o que diria a Andrew. Sophie a enviou, e lhe deu algumas oias para que seu silêncio fosse eterno. Quando o marido descobrisse seu crime, já estaria longe. Um som de passos atrás de si fê-la voltar-se na direção da estrada. Naquele instante, deu de cara com uma mulher. Era mashiana, como ela. Ruiva, olhos verdes-esmeralda, e de uma beleza espantosa. Parecia Elisabeth, de alguma maneira, mas havia algo feroz em seu olhar e aquilo a intimidou.  — Quem é você? A mulher sorriu. Envolta em um manto, coberta por um capuz negro, ela deu os ombros.  — Quem eu sou não importa. Importa quem você é. Anna estranhou a colocação. Porém, não estava disposta a um jogo de palavras.  — Estou ocupada, então saía da minha frente.  — Sabe qual é o problema, Anna? — A mulher denotou que a conhecia. — Eu gosto da liberdade. Eu lutei muito por isso, apesar de que, nos últimos anos, as pessoas tenham se esquecido da importância do livre-arbítrio. Anna começou a se sentir nervosa. Olhou para os lados, pensando em como fugiria dali, daquela louca que a interrompia num dos momentos mais importantes de sua vida, quando se deu conta de que não conseguia dar um passo.  — Claro que me magoa quando gente como você confunde liberdade com libertinagem. Uma coisa nada tem a ver com a outra. Mas, eu permito — a mulher afirmou. — Permito que façam suas próprias escolhas.

Anna forçou o pé. Estava cravado no chão.  — Se quiser ser uma puta, destruir a vida de um homem bom como Andrew, tentar interferir na felicidade de sua irmã, Elisabeth — alguém por quem nutro tanta afeição —  levar outros a devassidão, ou confundir a cabeça de jovens idiotas com essa postura de dona do mundo… Eu realmente não vou impedir. Porque a vida é feita de escolhas, decisões. E, após elas, cabe a consequência de cada ato. A jovem ficou ainda mais inquieta, apreensiva. Novamente, tentou se mover. As pernas pesadas quase derrubaram Anna.  — O problema começa quando você usa meu nome, sabe? — a mulher retrucou. —  Quando você diz que é seu “sangue de Masha” que a faz ser tão inconsequente. Isso sim, me irrita demasiadamente. Mais, me ofende. Ora, eu sou uma Deusa honrada, e sempre exigi honra dos meus descendentes. Anna não conseguia falar. Subitamente, deu-se conta de que diante de si estava a Deusa que ela amava e pela qual praticava seus ritos.  — Eu te ofendi? — subitamente murmurou. — Como posso ter ofendido, quando tudo que fiz foi ser livre como a Rainha Esmeralda? Masha riu.  — Você acha que Esmeralda era o quê?  — Ela se deitou com um homem que nunca havia visto na vida, para conseguir vingança pela mãe.  — Ela se deitou com o marido dela, sua alma gêmea, a quem estava destinada. E não foi fácil, mas havia objetivos que precisavam ser atingidos. Anna negou.  — Me culpa porque sou mulher — jogou. — Milhares de homens usam o corpo para satisfação e não sei de nenhum deles sendo interpelado pelo seu Deus. Por que, então, está aqui? Por que não me deixa?  — Acha que estou lhe cobrando?  — Por acaso Bran está no veleiro, com Joshua, a lhe questionar tudo que fez? Masha respirou fundo.  — Aquele rapaz sofreu muito, Anna. Eu tenho misericórdia dele, mas seus erros agora serão punidos. E, acredite, será pior para ele. Ele traiu a esposa e o irmão. Bran não é tão compassivo quanto eu. Bran ouviu o choro de Joshua, ainda na infância, abandonado por todos, e lhe deu tudo. Um nome, um irmão zeloso e uma esposa devotada. E Joshua não se mostrou digno. Agora, perderá cada uma das suas bênçãos. A ruiva mortal arregalou os olhos, surpresa.  — Mas, eu, Anna… Eu estou lhe dando uma chance. Estou lhe oferecendo redenção  — Masha sorriu. — E, por favor, não considere que eu esteja aqui porque tenho algo pessoal contra você ou porque você é mulher. Eu sou justa. Eu sou Masha, e cada um dos ruivos que anda sobre a terra é minha responsabilidade. Não importa se são homens ou

mulheres, todos eles prestam contas a mim, de uma maneira ou de outra. Quanto aos braianos e casheanos, isso é problema de meu marido e de meu irmão. Mas, você Anna, você é problema meu. Aproximou-se. Tocou a pele macia da jovem, carinhosa.  — Anna, eu gosto de você. De verdade. É claro que você me ofendeu muitas vezes, quando deitava com homens que não eram seus maridos, profanando seu corpo, e me usando como justificativa. Irritava-me quando iludia as pessoas, fazendo-as crer que esse era o papel das mulheres de Masha. Mesmo assim, eu nunca lhe quis mal. Abraçou-a, apertando-a contra os braços.  — Eu entendo sua raiva pela sua irmã, mas gostaria que entendesse que é imerecida. Elisabeth também sofreu muito, e estaria vivendo uma vida horrível ao lado de Lorde Barton não fosse minha interferência.  — Sua interferência?  — Apareci para ela como vassala e lhe induzi a procurar por Joshua. Eles são destinados, assim como eram Cedric e Esmeralda. A outra negou. Odiava aquelas palavras.  — E quanto a mim?  — Você poderia ter uma vida feliz com Andrew. Ele tem um coração generoso e perdoaria suas falhas. Poderia, mas não mais. Porque depois de tudo, seu coração se tornou ainda mais sombrio. Viajou até o Castelo Negro apenas para destruir o casamento de sua irmã, chamou Joshua para o celeiro, tentou adultério, e, por fim, a mais grave de todas as ofensas aos deuses: você matou Sophie e Zenon. A punição disso é a morte. Masha sabia tudo. Não havia motivos para negar, e ela não o fez.  — E mesmo assim, você me oferece redenção?  — Eu posso te salvar — Masha garantiu. — Por uma vida de penitência e reclusão no meu templo, sendo vassala dos meus sacerdotes. Aquilo era uma oferta? Limpar o chão? Ser a empregada de velhos nojentos?  — E se eu não aceitar? Vai me matar? Sem resposta. Então, encorajou-se e cuspiu na deusa. Obviamente, a saliva não atingiu o rosto de Masha, mas deixou clara sua resposta.  — Se faz de piedosa, mas tudo tem preço, não é? Desapareça da minha frente…  — Eu posso te salvar — Masha murmurou.  — Eu não quero ser salva por você, divindade esquecida — gritou. — Eu não serei vassala em nenhum templo.  — Então você escolhe a morte?  — Quer que eu faça o quê para confirmar? Masha permitiu-se chorar, enquanto recuava. Anna percebeu seu corpo livre, solto, e

gargalhou.  — Não vai me matar? — gritou. — O que está esperando para levantar essa mão e queimar minha carne? Covarde! A deusa negou.  — Nunca disse que a mataria, Anna. Disse que queria salvá-la da morte. Então, o som de vozes chegou até ela. Anna volveu o olhar para a floresta atrás de si e percebeu a sair dela alguns homens. A mente raciocinou rápido, lembrando-a de que mercenários estavam se alastrando naquela região.  — Eles não podem me ver — Masha avisou. — E eu não posso impedi-los porque nada posso fazer por você. Não posso salvar quem se recusa a ser salvo. E desapareceu. Enquanto os homens se aproximavam, ela percebeu seu destino. Estupro e morte. E foi exatamente isso que teve. ***

Ao longo da encosta, várias barracas haviam sido erguidas para preservar o conforto dos nobres. No centro delas, sentada sobre um pequeno banco de madeira, Elisabeth tentava conter o tremor nas mãos e a agitação em seu coração. O que estava acontecendo? O que era aquele inferno? Depois de tudo que ocorrera, quando realmente passou a crer no marido, Andrew surgira e subjugara tudo. Seria verdade? Joshua e Anna debaixo de seu lar? Não! O marido a amava. Aquilo era real. Tinha que ser.  — Está confortável? Olhou a entrada. Andrew a encarava com nítido carinho.  — Como uma mulher estaria depois de ter sido arrancada de seu lar e ver seu marido sendo levado de si? O olhar de Andrew não mudou. Havia gentileza ali. Em muito, o homem a sua frente lhe lembrava do garotinho de sua infância. O Andrew de outrora não lhe recusou quando foi avisado do casamento. Ao contrário, ele sorriu e estendeu as mãos a ela. Lembrava-se de ele ter dito: “se formos

amigos, tudo será mais fácil”   e ela se agarrara naquilo como se fosse sua tábua de

salvação.  — Eu sei que acredita que eu estou destruindo sua vida — ele murmurou. — Não me importo, Lis. Pense mal, se quiser. Porque eu falhei muitas vezes no passado, e por minhas falhas, você tem todo o direito de pensar isso. O olhar dela voltou-se novamente para ele. As lágrimas surgiram.  — Andrew, você precisa entender…  — Me escute — ele a silenciou. — Eu sei de tudo, Lis — pigarreou. — Bran, o Deus Maior, é testemunha do quão vergonhoso me sinto em ter rejeitado você em favor da sua irmã. Pergunto-me o tempo todo porque fiz isso. Era como se estivesse cego… Ela quis negar, mas Andrew prosseguiu.  — Eu a abandonei a própria sorte quando quis Anna. Por causa disso, você teve que se submeter à degradação ao lado de Joshua. Por causa disso, foi obrigada a um casamento infeliz. Eu vi seus olhos quando estive aqui, antes. Você sofria, Lis…  — Tudo mudou, Andrew…  — Joshua manipula você — contradisse. — Ele joga com seus sentimentos, com sua honra. Ele sabe que você, Elisabeth, não aceitaria viver ao meu lado, depois de ter unido seu sangue e sua carne a ele. Era verdade.  — Ele não vai desistir. Fazê-la acreditar que ele a ama, é uma forma que tem de exercer seu poder sobre ti. Por isso, eu não tenho escolha… Aquela última frase era carregada de simbolismos.  — O que quer dizer?  — Se não se casar comigo, irei matá-lo. — Despejou. — Porque é a única forma de detê-lo. É a única forma de salvar você e fazê-lo pagar pelos seus crimes. Aquele homem, ao qual chamei de irmão muitas vezes, roubou-me o que de mim era mais caro: minha dignidade. Então, eu tenho que tirar dele tudo que posso. Mas, mais que isso, eu preciso salvá-la do mal que ele lhe faz. Ergueu-se.  — Eu não quero — ela choramingou. — Eu te imploro…  — Você tem até o amanhecer para decidir-se. Vê-lo longe, mas vivo, ou perto, mas morto. E saiu.

Capítulo 18

O fim O movimento do mar o enjoava. Preso em uma jaula antiga, como um animal, Joshua mantinha o corpo entorpecido, enquanto a mente divagava no que faria. Ninguém falara com ele. Não sabia seu destino. Provavelmente, Andrew o mataria. Era o mínimo que esperava do irmão, e sequer o culpava por isso. Se estivessem em lados opostos, ele nem pestanejaria. A porta do compartimento do veleiro onde se encontrava, abriu. O irmão mais velho surgiu, em passos retos e firmes, e o encarou. Havia muita raiva em seu semblante, e Joshua aquietou-se, enquanto o percebia aproximar-se.  — O veleiro o deixará em Cashel. Lá, você poderá reconstruir a sua vida. Arrume um trabalho e simplesmente seja feliz. Só então o outro se ergueu.  — Não vai me matar?  — Não é minha intenção manchar minhas mãos com meu próprio sangue. Joshua riu, irônico.  — Eu queria ver você tentar — murmurou. — Quer apagar minha presença da memória de todos em Castelo Branco, não é?  — A partir de hoje, seu nome será proibido no norte — confirmou. Joshua não se importava com aquilo.  — E quanto a minha esposa?  — Já te disse, não tem esposa!  — Não pode fazer isso — retrucou. — Elisabeth me ama!  — Ela não ama você, apenas seguiu a correnteza porque era sua única opção.  — Não acredito em você! Então Andrew avançou, como se aqueles passos fossem muito difíceis de serem dados.  — Esqueça-a. Reconstrua sua vida.  — Não deixarei Lis em suas mãos.  — Lis será minha esposa e eu a farei feliz. Ela era minha desde o princípio, aliás.  — Foi você que a renegou — cuspiu as palavras. — Você a abandonou, sem lhe dar a chance de se proteger! Agora, ela é minha!  — Você não tem um sobrenome e um bastardo não pode se casar — contrapôs. — Eu farei Lis feliz. Joshua agarrou as grades.

 — Vou descer em Cashel e trabalharei dia e noite para pagar minha viagem de volta. Buscarei minha esposa! — prometeu.  — Não porá mais os pés aqui, já disse. Além disso, Lis não irá com você. Então, voltou o corpo para a porta. Abriu-a. Elisabeth surgiu diante dos olhos de Joshua e ele quis quebrar aquelas barras de ferro para ir até ela.  — Lis! — gritou. — Por favor, espere-me. Eu vou voltar — jurou. A mulher respirou fundo. Em sua visão nublada pelas lágrimas, Joshua não percebeu as mãos femininas retorcendo o pano do vestido, como se buscassem força, nem o olhar aflito dela, como se lhe doesse demasiadamente cada palavra a seguir.  — Eu amo Andrew. A voz de Elisabeth soou tão fantasmagórica, como nunca.  — E eu tenho, agora, a chance de estar ao lado do homem que eu amo — ela disse.  — Por favor, me permita ser feliz. Precisou respirar fundo. Engoliu as lágrimas. O olhar focado em um canto escuro do veleiro. Longe de Joshua. Não aguentaria falar, encarando-o.  — Você mentiu para mim? — a pergunta do marido fê-la sentir-se mal. — Me fez acreditar que me amava, quando, desde o começo, tudo que você queria era ficar com ele? Um riso irônico surgiu às suas costas. Elisabeth mal o ouviu.  — Eu jamais amaria um bastardo — decretou. E então se afastou, enquanto a garganta engasgava e as lágrimas a tomavam. Caminhou como uma sonâmbula até as escadas que levavam a parte superior do veleiro. Seu coração parecia sair pela boca, e ela permitiu-se derramar lágrimas que segurou a custo diante de Joshua. Porém, antes de chegar ao convés, ouviu a promessa, carregada de ódio e aflição.  — Mesmo que leve uma vida, Elisabeth, eu voltarei. E eu juro que vou me vingar. Garanto que vou destruí-la como você fez a mim. Vou arrancar de ti o que mais ama, e destruirei sua sanidade. Era uma promessa vã. Ela soube. Porque ela acabava de perder o que mais amava. Nada que Joshua fizesse, poderia feri-la mais. E, mais que isso, Joshua partia sem saber que ele era o homem de sua vida, a quem ela se importava mais do que com si mesma.  — Adeus, meu amor — murmurou. E aquele era o fim. Ou assim ela considerou.

Arrebatador Duologia Destinados, Livro Dois Pilhar, roubar, destruir… Nada disso satisfazia ao bastardo pirata Joshua. Navegando pelos mares dos deuses, ele provocava ao Rei com suas estratégias cruéis de assalto. Porém, o que ninguém imaginava é que tudo que fazia tinha um objetivo. Precisava de ouro para voltar ao reino de Bran e destruir a mulher que um dia ele amara. Elisabeth Clark pagaria caro por sua traição, mesmo que, para isso, ele precisasse destruir-se junto com ela. Lançamento em 2017

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Não sabia, claro, que a felicidade era um árduo caminho pelo deserto do coração de um homem que, primeiramente, em nada se assemelhava a ela.

Porém, Darius Hayek escondia mais do que seus olhos verdes pudessem expressar. O passado de rejeição, a autodestruição e o fogo de uma alma indomável, enfim, pareceu completar a de Rosário.

Ambos, figuras tristes, cada um ao seu modo, num mundo que os arrasou em dor.

O amor poderia curar suas feridas, mas para isso eles precisavam aceitar que haviam, enfim, se encontrado. Almas gêmeas que haviam passado toda a eternidade a se buscar.

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A autora https://www.facebook.com/JosianeVeigaOficial/

Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores. Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de quarenta histórias, de originais a contos envolvendo o universo da animação japonesa.

Leia mais: http://josianeveiga.webnode.com/a-autora/

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