As Tramas Da Identidade_cultura_tiao Rocha
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AS TRAMAS DA IDENTIDADE1 Tião Rocha2
Todos têm cultura e trata-se de um bem universal porque é a rede de relações que define o desenho de uma comunidade. Tião Rocha
Todo odo e qual qualqu quer er ser ser huma humano no tem tem cult cultur ura. a. Esta Esta é uma uma das das pouc poucas as "ver "verda dade des" s" da Antropologia. Apesar Apesar disso, muita gente ainda pensa que alguns seres humanos não têm cultura. Uma minoria crê, irmemente, que sua cultura é superior ! dos outros. utros, por se #ulgarem superiores, resolveram eliminar e su$#ugar os dierentes, tratando%os como ineriores. E uma grande maioria acostumou%se a pensar que não tem cultura alguma, icando ! mercê das elites ditas "cultas". utro equ&voco que rodeia a cultura é quanto ao uso que se a' do conceito. As As deini()es variam variam do e*tre e*tremam mament ente e amplo amplo +"cult +"cultura ura é tudo tudo aquil aquilo o que que o homem homem acresc acrescent enta a ! natu nature re'a 'a"" ou "cul "cultu tura ra é toda toda mane maneir ira a de pens pensar ar,, agir agir e sent sentir ir dos dos home homens ns" " ao e*tremamente espec&ico +"cultura é erudi(ão". -om o uso indiscriminado ou interesseiro, a palavra cultura tornou%se e*pressão esva'iada. oi o que nos levou a construir um novo conceito, que osse ao mesmo tempo operacional, palp/vel, mensur/vel, o$serv/vel, ético e correto. 0ara isso, $uscamos outra contri$ui(ão da Antropologia em toda e qualquer comunidade humana e*istem e interagem diversos componentes su$stantivos +que ns denominamos "indicadores sociais" que podem ser identiicados, medidos e o$servados e que, quando interagem interagem entre si, constroem constroem desenhos, desenhos, padr)es, padr)es, s&m$olos s&m$olos e valores valores do grupo humano humano que a& vive e que podemos conceituar de -ultura. Encontramos os indicadores sociais em qualquer comunidade % rica ou po$re, ur$ana ou rural. 3o entanto, eles s se tornam um indicador cultural quando, em contato com outros indicadores, produ'em um novo desenho, uma teia de rela()es din4micas, novas tramas e padr)es de convivência, gerando novos valores ou sendo inluenciados pelos valores universais presentes na comunidade. A cultura, este desenho, trama ou padrão din4mico e interrelacional, é algo humano e soci social al,, p5$l p5$lic ico o e vis& vis&ve vel,l, mas mas !s ve'e ve'ess micr micros osc cpi pico co.. 0odem odemos os,, dent dentro ro de uma uma macrotrama, perce$er microdesenhos sim$licos e repletos de signiicantes, como nas estas populares e de rua ou nos "rituais da ordem" que sim$oli'am e mantêm o sistema pol&tico. E é nesse mar de tramas, micro e macroscpicas, que navegamos durante nossa vida. A seguir, comentamos esses indicadores. As ormas organi'ativas % 6ncluem 6ncluem a am&lia, am&lia, a vi'inhan(a vi'inhan(a,, os amigos, amigos, o grupo grupo de ora(ão, ora(ão, os companheiros de ute$ol, o pessoal do pagode, as comadres da esquina, os meninos da pelada, a galera do un7 etc. Esse indicador é undamental para o moderno conceito de "capital social". Estudos demonstram que quanto mais espa(os ou oportunidades de convivência social orem oerecidos aos ha$itantes de uma comunidade, mais ormas e possi$ possi$ili ilidad dades es de partic participa ipa(ão (ão estarã estarão o sendo sendo gerad geradas, as, amplia ampliando ndo os espa(o espa(oss e os momentos de protagonismo social e o ac5mulo de capital social. 3ossa e*periência nos autori'a airmar que onde não h/ oerta de ormas organi'ativas em quantidade +e por isso h/ poucas oportunidades de participa(ão e de protagonismo, o tempo de resposta aos pro$lemas é muito lento. tempo de rotinas aumenta e o tempo de dese#os e 1 2
desaios decresce. A lentidão é o$servada na alta de vontade e am$i(ão das pessoas, principalmente dos #ovens, na $ai*a estima social da coletividade, no comodismo e atraso em rela(ão a outras comunidades. 6sso e*plica por que as #ovens do "sertão das gerais", aos 18 ou 19 anos, come(am a icar "desesperadas" porque ainda não se casaram, "porque #/ passaram da época". : que, na percep(ão delas, o tempo de #uventude e de sonho #/ se reali'ou. Elas vivem em cidades que não têm cinema, grupo de teatro, $i$lioteca, estas populares, locadora de v&deos, grupos de #ovens, coral ou $anca de #ornais. 3ão acontece nada nos ins de semana e muito menos no meio da semana. mundo e*terno entra iltrado pela tela da T; ou pelas ondas do r/dio. 0or isso a maioria tem na prpria T; +ou r/dio o seu instrumento de orma(ão de "capital social", ou se#a, h/ um crescente processo de terceiri'a(ão do dese#o e aliena(ão da vontade, gerando a não%participa(ão e o não%protagonismo. As ormas do a'er % mico, do mundo do tra$alho, das or(as produtivas % quem produ' o que e para quem % de um grupo social. : o$serv/vel nas ormas convencionais de rela()es de produ(ão e de tra$alho, assalariadas ou ormais, e em todas as eseras da rede produtiva e reprodutiva de $ens e servi(os, remunerados ou não. meio am$iente % u o conte*to, o entorno, o ecolgico. homem é produtor e produto, processo e resultado do meio onde vive, parte integrante do ecossistema. -onsiderar o meio am$iente como um indicador social é compreendê%lo além de sua ace meramente &sica e natural, como um elemento su$stantivo na constitui(ão das e*press)es sim$licas, rela()es e processos humanos que serão o pano de undo so$re o qual se construir/ o desenho cultural de uma comunidade. A memria % =eere%se ao passado, ! origem. Todos ns rece$emos, desde o nascimento, uma carga de inorma()es so$re o nosso passado recente ou remoto, guardado pela histria ou pelo inconsciente coletivo ou pela tradi(ão amiliar. A memria de um grupo social se e*pressa em seus rituais sacros e proanos, repletos de elementos sim$licos perpetuadores dos v&nculos e das matri'es geradoras desta comunidade. A visão de mundo % : o religioso, o ilosico, o depois, o uturo, o sonho. : movido pela idéia do porvir que o homem investe seu tempo e energia para aprender, dominar,
transormar e se apropriar do mundo ! sua volta. E*iste uma liga(ão entre a memria e a visão de mundo quanto mais pudermos voltar no passado e na memria, mais longe poderemos chegar em dire(ão ao uturo, ao esta$elecermos lin7s e passagens de or(a, equil&$rio e coerência entre o ontem e o amanhã. ?as é preciso cuidado para não se icar preso ao passado. @uem não consegue lig/%lo de orma coerente ao seu presente, não consegue construir uma perspectiva de uturo de seu prprio mundo. -om esses indicadores constru&mos o "nosso" modelo de -ultura esta rede e trama de rela()es que orma um padrão ou um desenho deinidor da identidade da comunidade ou grupo social. E podemos pensar em processo cultural como a intera(ão e as din4micas que aetam o padrão ou desenho. Assim, entendemos que um "pro#eto de desenvolvimento" +de qualquer nature'a é uma a(ão%interven(ão plane#ada no desenho cultural +e suas rela()es de uma comunidade. plane#amento de um desenho cultural $rasileiro % se#a local, regional ou nacional %, que constitui o cerne das propostas e pol&ticas de desenvolvimento, deveria ter então como premissa e ênase a heterogeneidade e a diversidade culturais, que de ato constituem a marca de nossa nacionalidade, o car/ter de nosso pa&s e sua verdade histrica. 0erce$ê%las em seus microcosmos % escola, am&lia e comunidade % torna%se uma das tareas dos educadores. -anali'/%las para constru()es pedaggicas que avore(am novos processos de apropria(ão de conhecimentos, geradores de "oportunidades%e%de% op()es", pode ser o principal tra$alho da escola. Esta é, cremos ns, a inalidade da cultura ser instrumento eica' do conhecimento, possi$ilitando leituras mais densas, mais ricas, mais s/$ias, mais a$rangentes e mais humanas da nossa "travessia", nessa $usca permanente e voca(ão natural para ser eli'.
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