As Origens Históricas Da Mística Maçônica - José Castellani

December 7, 2016 | Author: Dimas Guido | Category: N/A
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História da Maçonaria...

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O Misticismo, de maneira geral e na Maçonaria, em particular, mostra íntima relação com a Metafísica, com a Mitologia, com a Teologia, com a Teosofia, com a Religião e com a Astrologia. Nesta obra, o autor pretende trazer os elementos místicos e suas origens que contribuíram para a fundamentação das bases da Maçonaria Moderna. Através de uma leitura das civilizações da Antiguidade, procura apresentar os fundamentos místicos dos povos e culturas que influenciariam a formação das bases filosóficas da Maçonaria mundial.

TODAS AS BOAS MÁXIMAS SE ENCONTRAM NO MUNDO: SÓ FALHAMOS AO APLICÁ-LAS. BLAISE PASCAL I CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O MISTICISMO A palavra Misticismo, como mistério, tem o significado de algo que se percebe profundamente, no íntimo, no âmago do ser, mas que não pode ser revelado, ou de que não se pode falar. Ela tem origem no grego, “myo”, que significa “fechar a boca”. O misticismo representa uma tendência à busca do Absoluto, com o qual o místico pretende fazer a fusão total, unindo-se a ele, moralmente, através dos símbolos e alegorias. Ele nasce do esforço que faz o homem, para absorver e assimilar a realidade absoluta, ou divina, a qual está em íntima relação com as coisas do Universo. É, portanto, na realidade, um conjunto de ações e de disposições, cuja finalidade é a comunhão com a divindade, considerada como o espírito criador, animador e regulador de tudo o que existe. Para atingir essa finalidade, é criado um complexo sistema especulativo, que procura compreender os atributos divinos, buscando a união íntima com o criador e a concretização do Um Absoluto, ou do Ente Único, supremo e onipotente. O pensamento místico não segue a exatidão científica, comandada pela evidência dos fatos, pela clareza e pela possibilidade de demonstração total; bem ao contrário, ele é nebuloso, completamente especulativo e age no terreno do incompreensível, o que fez com que alguns pesquisadores o comparassem ao instinto dos animais. Como este, ele é muito intenso, sempre obstinado e, na maioria das vezes, pouco racional em seu mecanismo íntimo, o que o leva a se utilizar os símbolos, das alegorias, das comparações e das imagens literárias, pois tudo o que se encontra fora da realidade concreta e palpável do Homem, só pode ser exprimido e difundido através do simbolismo. As religiões, desde a mais remota Antiguidade, sempre foram intimamente ligadas ao misticismo. Para elas, ele consiste, basicamente, em

experimentar, na parte puramente espiritual da alma, a presença e a ação reguladora da divindade. Nas religiões contemporâneas, o místico tem os conhecimentos praticamente experimentais de Deus, que deixa de ser um objeto, para se transformar em uma experiência. As religiões, de maneira geral, sempre procuraram incentivar e incrementar o impulso místico, por meio de práticas predisponentes a um êxtase total, de profundo impacto psicológico; entre essas práticas estão a abstinência, o jejum, a castidade, a autoflagelação. Deprimindo as manifestações de atividade física, essas práticas teriam a capacidade de libertar a mente, tornando-a receptiva às especulações relativas à divindade e criando um “estado de graça”, ou de experiência mística, nem sempre real, mas sempre de grande efeito sobre o psiquismo do Homem. Não deve, o misticismo, ser confundido com esoterismo. Na Grécia arcaica, o vocábulo designava a doutrina ensinada aos Mistos – iniciados nos Mistérios de Eleusis, culto da deusa Deméter, ou a Ceres romana – pelos hierofantes, sendo o oposto do exoterismo. Os dois termos, esoterismo e exoterismo, todavia, não tinham primordialmente, o sentido de ensinamento iniciático cerimonial, mas designavam, sim, a obra dos grandes filósofos: algumas delas tornaram-se reservadas, formando os tratados esotéricos, ou seja, destinados somente aos adeptos, enquanto que outras, ao contrário, eram destinadas ao público, daí a sua denominação de exotéricos. Assim, entende-se por esoterismo a antiga denominação dada ao estudo dos Mistérios, guardados com zelo nas Antigas Escolas, como a síntese das verdades ocultas, da investigação da origem do mundo e do homem, da busca da verdade e da realidade das coisas. O misticismo mostra íntima relação com a Metafísica, com a Mitologia, com a Teologia, com a Teosofia, com a Religião e com a Astrologia. A METAFÍSICA Metafísica (do grego: mata ta physica: depois da Física) é a parte da Filosofia que trata dos princípios e fundamentos últimos da realidade; o termo foi usado, pela primeira vez, por Andrônico de Rhodes, que foi o primeiro a reunir a obra de Aristóteles, em 70 a.C. Esse era o significado original, pois, posteriormente, o termo “meta” iria adquirir o sentido de “mais além”, deixando de ficar restrito à área da Física, para designar todas as teorias racionais, não passíveis de verificação experimental; “além da

Física”, no caso, mostra que os fenômenos físicos aparentes podem ser verificados experimentalmente. Depois de estabelecidos os seus fundamentos, a Metafísica foi dividida em duas partes: a Ontologia, que contém a pesquisa racional e sistemática dos últimos fundamentos do ser; e a Cosmologia, cuja finalidade é transmitir uma visão racional do Universo. Assim, está, a Metafísica, intimamente vinculada ao Misticismo e à Religião, já que todos elaboram especulações em torno do “Um” Absoluto e procuram a certeza total sobre todas as coisas que existem. Além de se preocupar com a realidade, a Metafísica busca compreender a natureza, a qualidade e a quantidade dos atributos da realidade, adicionando a especulação e a discussão da natureza psíquica, que pode se relacionar com a atividade cerebral, mas que também pode ser um atributo específico da substância imaterial conhecida como alma. A crença na existência e na imortalidade da alma não é encontrada apenas nos sistemas religiosos, pois também pode ser objeto da doutrina de sociedades filosóficas, iniciáticas ou não. A Filosofia começou, no Ocidente, como Metafísica, impondo questões basilares sobre se existiria, ou não, alguma coisa de permanente por trás das mudanças contínuas da Natureza, e se existiria uma única realidade fundamental, ou várias realidades. Tais questões, evidentemente, dividiram os filósofos gregos, desde os tempos da Grécia Arcaica, propiciando a formação de diferentes escolas de pensamento filosófico. A MITOLOGIA Mitologia é o conjunto de mitos de um povo; é o conjunto das tradições lendárias, que buscam, por meio do sobrenatural, explicar os acontecimentos da Natureza. Embora ela não possa ser confundida com a religião, a realidade é que um grande número de mitos está fortemente ligado a algumas religiões, principalmente as antigas, nas quais existia o politeísmo e o antropomorfismo[1]. O exemplo clássico está na mitologia da Grécia antiga, com deuses antropomorfizados, assim como os mitos dos sumérios e babilônios, e até dos egípcios, embora no Egito antigo imperasse, em relação aos deuses, o totemismo e a zoolatria[2]. Apesar da Mitologia ser, hoje, uma ciência totalmente estabelecida, ainda há muita discussão em torno da origem dos mitos, sobre a qual, por

isso mesmo, existem dezenas de doutrinas, algumas flagrantemente conflitantes. Pesquisadores modernos têm se fixado no conceito de que os mitos derivam de interpretações de fórmulas invocativas e de preces rituais, ou, ainda, dos símbolos usados para exprimir os instintos reprimidos, ou recalcados, do ser humano. O significado dos mitos é também obscuro e objeto de polêmica, pois, enquanto alguns buscam o significado nos fenômenos regulares da Natureza – o dia e a noite, as estações, o ciclo dos vegetais, etc. – outros o procuram nos fenômenos irregulares – tempestades, tufões, terremotos, etc. A grande importância da Mitologia está na influência, que ela sempre exerceu, sobre as Artes e a Literatura – especialmente no caso da mitologia grega – não só pelo seu alto conteúdo filosófico e pela perfeição inventiva, mas, também, porque é a única que possui uma completa hierarquia de valores místicos, abrangendo desde a genealogia dos deuses até à exaltação dos feitos heroicos humanos. A TEOLOGIA Teologia é a ciência que trata de Deus e das relações das criaturas humanas com Deus, através da especulação racional e da revelação divina. Ela possui dois ramos bem definidos: A Teologia propriamente dita, em seu estrito senso, ou “sobrenatural”, e a “natural”, que procura o conhecimento de Deus somente por meio do espírito crítico e do uso da razão, excluindo, portanto, a revelação. Segundo os métodos empregados nos trabalhos teológicos, a Teologia pode ser positiva – também chamada de prática – quando pesquisa as verdades da revelação por métodos crítico-históricos, ou especulativa – também chamada de dogmática – quando a razão, escorada no sentimento de fé, explica a revelação. A Teologia positiva, ou moral, ressalta e deduz, só racionalmente, os deveres do homem para com Deus, enquanto que a especulativa procura expor, comprovar e justificar os dados revelados da religião, num corpo único de doutrina. Na procura da racionalização da fé, que é de natureza totalmente mística, o teólogo, especialmente o cristão, combina as duas formas – teologia positivoespeculativa, ou positivo-escolástica – associando o emprego do método lógico-silogístico na prova, com a mera exposição dos dogmas e da

doutrina, sem nenhuma retórica e nenhum artifício lógico. Desejando obter bases racionais e sólidas para as religiões, a Teologia é diferente para cada uma delas, existindo tantas quantas forem as religiões históricas, que devem ser estudadas, analisadas e expostas. A sempre crescente complexidade dos sistemas religiosos foi exigindo um aperfeiçoamento também crescente da Teologia, a qual, praticamente, nasceu da rivalidade entre as religiões e da necessidade, que cada uma sempre teve, de se defender das outras, para que não se situasse em plano inferior no terreno dos conhecimentos filosóficos. A TEOSOFIA Teosofia é palavra originada do grego theos (Deus) e sophia (sabedoria), significando, de maneira geral, o conhecimento intuitivo de Deus pelo homem. Primitivamente, todavia, o termo designava as formas de pensamento religioso e filosófico, as quais se propunham a dar uma explicação razoável sobre a natureza da divindade e de suas relações com tudo os que existem. A moderna Teosofia, porém, é um pouco diferente e foi popularizada por Helena Blavatski e Annie Besant. Blavatski foi a fundadora da Sociedade Teosófica, a 17 de novembro de 1875, e lançou as bases da moderna teosofia em seu livro Isis Unveleid (Isis Revelada), que trata das teorias da evolução religiosa e humana. De acordo com a orientação dela, de Besant e de outros ocultistas, a teosofia moderna é um panteísmo emanentista, inspirado, principalmente, no hinduismo e no Budismo. O moderno pensamento teosófico, ao contrário da filosofia, procura, em suas especulações, o conhecimento de Deus, através da intuição e não do processo dedutivo próprio da Filosofia. Esse pensamento, também em oposição às religiões, não está restrito às revelações dogmáticas emitidas em nome de Deus. Apesar de ser, a teosofia, uma síntese de várias tendências e correntes místicas de diversos povos, em diversas épocas da evolução humana, ela é, nitidamente, muito mais influenciada pelo hinduismo e pelo Budismo; Helena Blavatski, inclusive, escolheu, em 1879, a cidade de Madras, na Índia, como sede da Sociedade Teosófica. Essa influência é bem demonstrada pela adoção da doutrina hindu do karma, ou seja, do ciclo

sucessivo de reencarnações, até que o homem, finalmente, liberte-se de todo o mal. Muitos teólogos da Igreja Católica condenam, francamente, tanto a teosofia quanto a antroposofia – esta fundada por Steiner, com base no misticismo egípcio e grego - considerando-as opostas à doutrina católica e negando-lhes qualquer valor científico, devido ao caráter panteísta dos estudos teosóficos e ao seu dogma fundamental, não fundado na revelação, de que a alma está intimamente ligada a Deus e pode alcançar um conhecimento intuitivo, ou consciente, da existência de Deus em si mesma. Todavia, negar valor científico e condenar – como foi, a teosofia, condenada pelo Santo Ofício – doutrinas que possam, eventualmente, entrar em choque com segmentos da estrutura dogmática da Igreja, representa uma intolerância incompatível com as modernas propostas de ecumenismo. A RELIGIÃO Religião é palavra originária do latim religio, derivado de religare, ou seja: atar, ligar para trás. Interpreta-se, portanto, a religião, como a ligação, o elo entre o homem e a divindade. Ela é o conjunto das verdades dogmáticas e dos princípios éticos que dirigem a vida do homem para os seres divinos, dos quais o homem sente depender e aos quais tributa atos de culto, tanto individual quanto coletivo. Subjetivamente, segundo muitos teólogos, a religião seria a disposição voluntária da alma em reconhecer um Ser Supremo e de lhe prestar o devido culto. Na realidade, a religião é uma das mais antigas manifestações místicas do homem, já que ela responde a uma profunda necessidade, do ser humano, de se sentir protegido perante as agressões das forças da natureza, os obstáculos da vida e o temor do desconhecido. Em suma, ela representa uma atitude de propiciação dos poderes divinos, que, segundo a crença humana, têm a capacidade de dirigir a vida do homem e de controlar as forças naturais. Os homens primitivos, cercados por uma natureza quase sempre hostil, já criaram os seus deuses, associados aos astros e aos fenômenos naturais, crendo que tais divindades controlavam as forças do universo e que, de acordo com a sua ira, ou com a sua tolerância – ou seja, com o seu bom ou mau humor – proporcionavam grandes catástrofes, ou eras de paz e de fartura. Para aplacar a ira dos deuses, o homem, então, oferecia-lhes orações, ou sacrifícios propiciatórios, ou, ainda, desenvolviam rituais de magia.

A finalidade dessas práticas era tornar os deuses propícios e favoráveis à comunidade, em geral, e ao indivíduo, em particular. A grandeza da divindade resultava da comparação que o homem fazia de sua própria fraqueza e impotência perante o poder da natureza, o que fazia com que os seres divinos fossem relacionados com esse poder. Lentamente, porém, esse primitivo misticismo sofreu grande transformação, pois a preocupação do homem voltou-se da natureza física para a sociedade, proporcionando o caráter ético-social da religião. Todas as religiões do período histórico, ou seja, a partir da Idade dos Metais (5.000 anos a.C.), têm em comum a visão sobrenatural do mundo. Com base na fé, o homem crê que o universo tem a sua origem em Deus – ou nos deuses – e que ele próprio, homem, tende a se reunir com o princípio criador, ou Ente Supremo. A principal característica de todas essas religiões é que, geralmente, a sua doutrina sempre diz respeito à conduta do homem perante os seus semelhantes, o que mostra o caráter predominantemente social das seitas religiosas, embora, além disso, elas procurem moldar todo o comportamento do homem no plano físico, como se disso dependesse a sua vida espiritual posterior. A ASTROLOGIA Astrologia é a arte, ou ciência, que estuda as influências dos corpos celestes sobre a vida e o comportamento do homem, bem como tenta predizer os futuros acontecimentos humanos, pela posição desses corpos celestes. O estudo da Astronomia e da Astrologia, embora já tivesse os seus rudimentos na pré-história humana, em seu período Neolítico (8.000 a 6.000 a.C.), iniciou-se, realmente, entre as civilizações mesopotâmicas[3], estabelecidas entre os rios Tigre e Eufrates, na Ásia, das quais a primeira foi a dos sumérios (5.000 a.C.), seguida pela dos acádios, babilônios e assírios. A crença na eficácia dessa arte iria atingir o Egito e espalhar-se pela Grécia, no Século IV a.C., chegando, posteriormente, a Roma. Os sumérios, bons observadores e matemáticos perspicazes, perceberam que os acontecimentos, no firmamento, seguiam um determinado padrão: as estrelas moviam-se numa ordem fixa através do céu, enquanto que os planetas vagavam, excentricamente, mas no mesmo plano, contra o fundo estrelado. Evidenciou-se, todavia, que os planetas

também tinham um comportamento regular, surgindo, então, as primeiras tábuas de movimentos planetários, ou efemérides, as mais antigas das quais foram traçadas no Século VII a.C., na época do rei assírio Assurbanipal. Na Assíria e na Babilônia, a Astrologia era considerada, oficialmente, como um dos meios de que dispunham os sacerdotes, para interpretar a vontade dos deuses (o outro era o exame das entranhas dos animais mortos nos cultos sacrificais). Os sumérios, quando elaboraram o seu sistema cosmológico, fizeram uso das doze constelações principais, através das quais o Sol e a Lua passam regularmente. Observando a dependência da vida humana em relação aos fenômenos atmosféricos, a relação existente entre a fertilidade do solo e a abundância das colheitas, e as periódicas inundações e secas que afligiam o vale do rio Eufrates, os babilônios concluíram que o céu era a morada dos deuses, os quais detinha o governo de todo o universo. As religiões mais modernas, apesar de toda a evolução científica, continuaram a incrementar essa conclusão babilônica, prometendo o “céu”, ou a “morada dos deuses” para os seus fiéis. Tinha os antigos povos mesopotâmicos, a consciência de que o Sol e a Lua exerciam uma forte influência física sobre a vida humana; tinham, também, profundamente arraigado em sua cultura, o culto a esses corpos celestes, como divindades, que, certamente, deveriam ser. Diante disso, a classe sacerdotal foi aperfeiçoando a teoria do acordo integral entre os fenômenos celestes e os fatos ocorridos na Terra; assim, se o Sol e a Lua eram considerados deuses, também o eram os cinco planetas conhecidos Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno – e as estrelas mais importantes. A Astrologia mesopotâmica, porém, não era pessoal, pois se preocupava mais com os acontecimentos coletivos, como as enchentes, guerras, eclipses, etc., a partir de um conhecimento astronômico meramente empírico. Apenas na Grécia é que começariam a serem traçados os horóscopos individuais, baseados na posição dos planetas no momento do nascimento da pessoa. Tal sistema foi aproveitado e aperfeiçoado pelos árabes – por ocasião do domínio muçulmano na Europa – e acabou sendo incluído nos textos cabalísticos judaicos e cristãos, chegando, dessa maneira, à Idade Média. No período medieval, o problema enfrentado pelos teólogos, era classificar a Astrologia como ciência legítima, ou como arte divinatória proibida. Na época, ainda como pseudociência, a Astrologia, sob o título de Astrologia Racional, era equiparada à Astronomia Natural, que estudava as

leis, os movimentos e os fenômenos relativos aos corpos celestes. Graças, todavia, à herança da cultura helênica, a Astrologia alargou o seu campo de atuação, atingindo, então, quase todas as ciências conhecidas. Assim, animais, plantas, metais, pedras, cores, etc., foram associados aos planetas e colocados sob sua tutela e proteção, originando, a partir daí, uma similar associação de ideias, que abrangeu as constelações zodiacais, as quais, posteriormente, acabaram sendo equiparadas aos planetas quanto à influência sobre os horóscopos individuais. Hoje, para a Astrologia, um horóscopo é o mapa celeste tal como se encontrava na hora do nascimento da pessoa, indicando a posição de cada um dos corpos celestes e deduzindo, por ela, as influências sobre o destino individual. A cada um dos signos do Zodíaco atribuem-se influências e características próprias. Zodíaco é uma faixa, na esfera celeste, que compreende as doze constelações zodiacais, a qual, aparentemente, é percorrida pelo Sol, uma vez por ano, quando ele atravessa a faixa de 360°. As doze constelações, bem conhecidas já desde a Antiguidade, antes de serem relacionadas por Ptolomeu, em seu catálogo de estrelas (por volta de 150 d.C.), são: Áries, Touro, Gêmeos, Câncer, Leão, Virgem, Libra, Escorpião, Sagitário, Capricórnio, Aquário e Peixes. Obs. Embora a Maçonaria use o misticismo medieval e o de antigas civilizações para armar sua doutrina moral e suas práticas ritualísticas, ela não é, de modo algum, uma ordem mística, já que foi criada como construtora social.

[1] Antropomorfismo é a atribuição de figura e predicados humanos a um deus. [2] Totemismo é a crença nos totens; é o culto, ou prática dos totens. Totem é o animal, planta, objeto, ou fenômeno natural a que certos povos primitivos julgam-se ligados de forma sagrada, sendo proibido atentar contra eles. O exemplo mais comum de totem, entre os povos primitivos é a vaca. Zoolatria é o culto ou adoração dos animais. [3] Mesopotâmia (“terra entre rios”), situada entre os rios Tigre e Eufrates, é a mais antiga região civilizada do mundo, ao lado da do vale do rio Nilo. As primeiras verdadeiras civilizações terrestres ali surgiram, favorecidas pela grande fertilidade do solo, na planície aluvial dos dois rios, e pelo clima quente, favorável ao cultivo de cereais. As mais antigas civilizações mesopotâmicas, de Uruc, Obeid e Djendet-Nache, pertencentes, ainda, ao final do período neolítico da pré-história, só chegam ao conhecimento atual através da arqueologia. As principais civilizações, porém, foram as dos sumérios, acadianos, assírios e, posteriormente, dos babilônios, não só por sua maior organização social, mas, também, por sua grande contribuição políticosocial às civilizações posteriores. Os sumérios, que haviam ocupado o sul da Mesopotâmia, onde, hoje, se situa o Iraque, já haviam estabelecido, por volta do quarto milênio a.C., o seu primeiro

sistema de governo, o das cidades-estado, e um sistema agrícola avançado, para a época.

II A MÍSTICA PRÉ-HISTÓRICA A Pré-História é aquele espaço de tempo situado entre o surgimento, na Terra, dos primeiros hominídeos dotados de cultura e a descoberta da escrita pelos homens, quando se iniciou a História (escrita), já que o período pré-histórico não possui documentos escritos, mas apenas pinturas rudimentares e restos de agrupamentos nômades. É importante, todavia, esse período, pois foi nele, em tempos mais recentes, porém, que surgiram os rudimentos da tecnologia, da religião, da arte e da magia, assim como os das instituições sociais básicas, como a família, o governo, as normas de direito e moral e o comércio. Já foram propostas diversas classificações, para dividir os períodos da Pré-história humana. Tornou-se clássica a divisão feita, em 1836, por Thomsen, o qual classificou três épocas, ou idades, distintas: Idade da Pedra, Idade do Bronze e Idade do Ferro, sendo, a Idade da Pedra, a mais vasta, já que só há cerca de 7.000 anos o homem começou a trabalhar com metais. Diante disso, Lubbock, em 1865, propunha a divisão da Idade da Pedra em dois períodos: o Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, e o Neolítico, ou Idade da Pedra Polida. Mortillet, em 1883, sugeria uma subdivisão arqueológica, tendo por base os restos arqueológicos, descobertos em andares, ou camadas, sendo, as diversas culturas préhistóricas, designadas segundo o nome da localidade onde fossem encontrados os seus primeiros exemplares; essa prática, aceita pela comunidade científica, é seguida até hoje. Complementando, Allen Brown, em 1892, propunha o reconhecimento de um período intermediário, a que deu o nome de Mesolítico, enquanto o mesmo Mortillet, que propusera o método das camadas arqueológicas, dividia o Paleolítico em três períodos: o Inferior – o mais antigo – o Médio e o Superior, de acordo com o sistema proposto por ele. A Pré-história, portanto, estende-se desde cerca de um milhão de anos atrás, até ao V milênio a.C., quando da descoberta da escrita e o início da Idade dos Metais. A parte mais extensa dela, a qual se estende desde o início até cerca de 8.000 anos a.C., é ocupada pelo Paleolítico.

O PALEOLÍTICO INFERIOR Nesse período que se estende desde o início da pré-história humana até cerca de 150.000 anos atrás, processou-se a rápida evolução dos hominídeos, representados, inicialmente, pelos australopitecíneos, encontrados na África (Australopitecus Africanus) e, depois, pelos pitecantropíneos. De acordo com os achados arqueológicos, esses hominídeos já possuíam industriais líticas, com fabricação de instrumentos feitos de pedra, ou seixos, além de usarem, também, outros materiais como ossos, dentes e carapaças de animais. Essas indústrias líticas foram se aperfeiçoando, através de todo o Paleolítico Inferior, mas a grande descoberta humana desse período foi, sem sombra de dúvida, o uso do fogo, ocorrido há cerca de 500.000 anos, de acordo com achados arqueológicos realizados perto de Pequim, onde, também foram encontrados restos de pitecantropíneos, o Homo Erectus Pekinensis. Não são conhecidas nesse período manifestações místicas ou religiosas, nem através de ritos funerários, embora essa seja a época mais nebulosa da pré-história humana. O PALEOLÍTICO MÉDIO É a época do aparecimento do Homo Neanderthalensis (Homem de Neanderthal) e se distingue do Paleolítico Inferior pelo aperfeiçoamento da indústria da pedra e pelo maior ritmo do progresso. Esse período caracterizado, a princípio, pelo nomadismo exclusivo mostrou, posteriormente, o aparecimento dos rudimentos de linguagem e um pequeno esboço de organização social como agrupamentos mais fixos. Tendo durado de 150.000 a.C. a 40.000 a.C. mostrou, inicialmente, um homem primitivo que talvez tivesse, algumas vezes, se interrogado sobre os mistérios da natureza; todavia a falta de comunicação, além da intensa luta pela sobrevivência, em um ambiente hostil e sem proteção, não poderiam incentivar especulações de ordem mística. Em época mais recente desse período, todavia, surgiram as primeiras manifestações místicas de caráter religioso: os homens de Neanderthal enterravam, com cerimônias, os seus mortos, colocando objetos em seus túmulos, o que mostrava já a crença em uma vida futura a

qual iria dominar, posteriormente, todas as religiões e todos os sistemas filosóficos de doutrinação moral. O PALEOLÍTICO SUPERIOR Iniciada há 40.000 anos, estendeu-se até cerca de 10.500 a.C. sendo um período de grandes mudanças e rápido progresso, onde existiram diversas raças de Homo Sapiens, sendo a principal delas, a de Cro-Magnon. Há um aperfeiçoamento dos instrumentos de pedra, com o aparecimento de artefatos de uso mais especializado; além da pedra são usados, com abundância, outros materiais, como osso, chifre e marfim. Nota-se, já, um aumento da complexidade da organização social, com os rudimentos da formação dos clãs e com a reunião dos homens para caçadas de animais de grande porte. É nesse período que surgem as primeiras manifestações de arte pré-histórica, com a invenção do desenho, o aparecimento de esculturas em relevo, de entalhes, de objetos ornados, etc. Essa arte das cavernas atingiu o seu apogeu por volta de 13.500 a.C. e parece ter sido realizada com finalidades mágicas, para assegurar êxito na caça, embora alguns pesquisadores creiam que os desenhos e esculturas representam apenas uma reportagem pictórica e estatuária do dia a dia do homem préhistórico. Também foram os homens do Paleolítico Superior que iniciaram a povoação da América a qual chegaram vindos da Ásia, atravessando a pé, o Estreito de Behring; isso teria ocorrido há cerca de 30.000 anos. A evolução do misticismo também foi apreciável, pois além dos ritos funerários com oferendas, surgiram os rudimentos da magia, que era praticada para a cura das doenças, afastar os inimigos e para propiciar boas caçadas (como seria o caso da finalidade da arte das cavernas). A magia, iniciada nesse período, iria ser notavelmente incrementada nas civilizações da chamada Idade dos Metais, em franca relação com a religião, através da qual viria a influenciar a mística moderna. O MESOLÍTICO Com a duração de cerca de 3.000 anos, esse período é nitidamente uma fase de transição entre os caçadores e coletores (de frutos gerados

espontaneamente) do Paleolítico e os produtores de alimentos do Neolítico. Sua característica principal foi uma perfeita adaptação do homem às florestas que começavam a cobrir as terras da Europa, após o desaparecimento do gelo proveniente da última glaciação; além disso, houve um incremento da sedentariedade e o início da domesticação dos animais, sendo, o primeiro a ser domesticado, o cão. Com relação ao misticismo, não houve grandes variações em relação ao homem de Cro-Magnon. O NEOLÍTICO Esse período se estende até a época da invenção da escrita, ou seja, até por volta de 4.000 a 5.000 a.C., sendo também chamado de Idade da Pedra Polida, pois nessa época os homens aprimoraram os instrumentos de pedra, tornando-os mais afiados através do polimento. Além disso, houve progresso em outros setores: foi descoberta a utilização da argila e a tecedura de fibras vegetais ou de pelos de animais para a confecção de roupas mais práticas e adequadas a vários climas, ao contrário das peles de animais usadas anteriormente. A realização mais importante, entretanto, do homem do Neolítico foi o fato de ter dado início à agricultura, por volta de 8.000 a.C. Observando o ciclo do crescimento das plantas, o homem aprendeu a cultivar para produzir e colher cereais, legumes e frutas, deixando de ser apenas caçador e coletor, tornando-se agricultor. Também prosseguiu na domesticação de animais, tendo, no fim do Neolítico, já domesticado o cão, o boi, a cabra, o porco, o carneiro e o cavalo, isso de acordo com a região da terra que habitava. Dessa maneira, além de agricultor, tornou-se criador, desenvolvendo o pastoreio. Como corolário da atividade agrícola e pastoril, os homens começaram a se fixar ao solo, tornando-se sedentários e passando a viver em moradias de madeira, pedra, tijolos ou barro, construindo as primeiras aldeias, reunidos em tribos (grupos de famílias, unidos pelos interesses comuns e pelos mesmos laços de sangue). O misticismo religioso foi bastante incrementado nesse período, pois, além dos rituais fúnebres com cunho fortemente religioso, as práticas de magia eram comuns e principiava uma sistematização da adoração de divindades relacionadas com as forças cósmicas e com os astros visíveis,

gerando o politeísmo que seria característico das primeiras civilizações da Idade dos Metais. O politeísmo, de certa maneira, devido à visão fragmentária que o homem tinha do universo, só tenderia, muito posteriormente, para o monoteísmo, como melhor expressão do sentimento religioso, quando a visão unificada do universo foi dada pela filosofia. Assim, nessa época, já surgiam os mitos solares, pois sendo a fonte da vida; através de sua atuação sobre todos os seres vivos, o Sol era considerado o maior dos deuses dos humanos; também era patente a preocupação mística relativa á morte e a uma vida futura, fato que seria bastante desenvolvido, posteriormente, pelos sumérios e pelos egípcios. Apesar do já relativo desenvolvimento do sentimento religioso não possuíam ainda, os homens do Neolítico, uma classe sacerdotal que só viria a surgir posteriormente com as sociedades fortemente teocráticas dos sumérios, dos babilônios, dos egípcios, dos persas e dos hebreus, quando muitas práticas religiosas de caráter estritamente esotérico, eram reservadas aos sacerdotes que impregnavam suas doutrinas, com fortes doses de magia, já que esta andava, sempre, ao lado da religião. Os homens do Neolítico, nesse ponto, eram mais livres, pois embora possuindo os seus mitos e as suas práticas de magia, não viviam sob tutela sacerdotal, como viveram os seus pôsteres, que tiveram todos os atos de sua existência processados de acordo com os princípios religiosos ditados pela dominante classe dos sacerdotes, a qual, embora proibisse o acesso do povo aos seus círculos íntimos, queria ter o privilégio de comandá-los e dominá-los, coisa que de resto acontece até nos dias atuais. Mesmo não existindo os donos da religião, foi no Neolítico que, verdadeiramente, teve início aquilo a que hoje chamamos de metafísica, tomada, conforme já visto, como a ciência que trata dos princípios primeiros universais, das coisas de ordem espiritual e, também, do corpóreo, considerado em suas categorias mais gerais e abstratas, ou seja, tomada como relativa a tudo que é transcendental. A Idade dos Metais, onde se inicia a História Antiga – a História escrita – começa entre 5.000 e 4.000 a.C., primordialmente na região mesopotâmica (entre os rios Tigre e Eufrates) e no vale do rio Nilo. Aí já surgem as primeiras civilizações realmente urbanas, com estratificação da sociedade, emprego dos metais, uso da escrita e a consolidação do Estado e a religião, sendo, aquele, totalmente dominado

por esta; no caso, a única exceção foram os antigos gregos, que formaram uma sociedade livre da teocracia e das práticas de magia, o que lhes proporcionaria a civilização mais sólida e mais culta da Antiguidade.

PINTURAS PRÉ-HISTÓRICAS As pinturas rupestres do Homem Pré-histórico foram produzidas como rituais de magia propiciatória, sendo encontradas em diversas cavernas do sul de França e Espanha. Acredita-se hoje que tais cavernas serviriam como santuários religiosos rudimentares.

III O MISTICISMO NA MESOPOTÂMIA HISTÓRIA DA REGIÃO A Mesopotâmia – que significa “terra entre rios” – é a região da Ásia, situada entre os rios Tigre e Eufrates, junto ao golfo Pérsico, abrigou, ao lado do vale do rio Nilo, as mais antigas civilizações organizadas da Terra, favorecidas pela grande fertilidade do solo, na planície aluvial dos rios, pela abundância de água e pelo clima quente, próprio para o cultivo dos cereais. A civilização, aí, começou junto ao golfo Pérsico, caminhando, depois, em direção ao norte, rumo às montanhas da Armênia. As mais remotas civilizações mesopotâmicas só nos chegam através da arqueologia. Durante o IV milênio a.C., distinguiam-se três principais: El-Obeid, Uruc e Djendet-Nache, baseadas, inicialmente, na pedra, osso, e terracota, do Neolítico e, em fase posterior, no cobre, na cerâmica e na glíptica. Na mesma época, era encontrada, para lá do rio Tigre, já fora da região entre os rios, a civilização do dos elamitas (do Elam), cuja capital era Susa e que revelava avançada técnica, através dos trabalhos feitos em cobre e da cerâmica com decoração estilizada. É nessa remota época que se costuma situar as grandes inundações fluviais, que deram origem à lenda do dilúvio universal (já que ali era o “universo” conhecido), que seria aproveitada pelo escriba bíblico, passando a fazer parte do patrimônio místico da Humanidade. Entretanto, essas não foram consideradas as principais civilizações da região, já que esse título é reservado, graças à sua maior organização social, às civilizações de Sumer, Acad e Subarru (Assíria), estabelecidas, em ordem, do sul para o norte. No fim do IV milênio a.C., ocorria o florescimento, junto ao Golfo Pérsico, da organização urbana dos sumérios, povos de origem iraniana. Aí podem ser encontradas a grandes cidades-estado de Ur, Lagash e Uma, cada uma delas sob o comando absoluto de um chefe, o Ensag, ou Patesí (vigário do deus), ou, ainda, Lugal (o grande). Sob a direção de um deles, Zaguisi, ensag de Uma, foi fundado o primeiro império mesopotâmico.

Posteriormente, por volta de 2.350 a.C., o domínio passaria dos sumérios aos acádios, povos de origem semita. Essa supremacia seria resultado de uma lenta infiltração nas regiões sumérias e do uso de armamento leve, mais manejável do que o equipamento pesado dos sumérios. Seu chefe, Charruquim, ou Sargão, apoderou-se de toda a região, até ao Golfo Pérsico e, também, do Elam e da terra dos amorritas (Amorru), tendo, o seu descendente, Naransin, se apoderado também da Assíria (Subarru). Foi, então, preparado, lentamente, o renascimento sumério, cujo apogeu ocorreu durante a III dinastia de Ur, entre 2.150 e 2.050 a.C., sendo destruído pelas revoltas do Elam – que originaram a migração do clã de Abraão, originário de Ur – e dos amorritas. Estes, de origem semita, fundaram a dinastia dos reis de Isin e se estabeleceram na cidade de Babel (Babilônia), que significa “Porta dos Deuses” e que, posteriormente, por volta de 1.950 a.C., iria dar nome a toda a região. O sexto rei dessa dinastia amorrita foi o grande Hamurábi, famoso pelo seu código de jurisprudência, economia e religião, gravado em placa de diorito, que, hoje, se encontra no museu do Louvre. Seu império acabaria abrangendo toda a Mesopotâmia, desde o Golfo Pérsico, com as regiões de Sumer e Acad (reunidas sob o nome de Babilônia) até às regiões que limitavam, ao norte, a Assíria, e, a ao noroeste, a Alat Síria. A partir de 859 a.C., com Salmanazar III, começa o domínio assírio, que se estenderia até 612 a.C., com Assurbanipal. Vários soberanos notáveis reinaram durante esses dois séculos, tendo, por capital, Nínive, Calac, ou, então, a cidade criada por Sargão II, Dur-Charruquim (Corsabad). A partir da queda dos assírios, houve o renascimento da Babilônia, com a instalação do reino neobabilônico, através de Nabopolassar, o destruidor de Nínive e, principalmente, através de seu filho, Nabucodonosor. Sob o reinado deste é que se daria a tomada de Judá e a destruição de Jerusalém, seguida do exílio dos hebreus na Babilônia. Esse reino neobabilônico iria se estender até a 539 a.C., quando se iniciaria o domínio persa, marcando o fim das grandes civilizações mesopotâmicas. A RELIGIÃO E O MISTICISMO MESOPOTÂMICO A civilização de sumer foi brilhantíssima, pois, além de terem criado a escrita – cuneiforme, os sumérios criaram formas políticas que

vão, desde a cidade-estado até o império, administração e justiça fundados em Códigos, instrumentos das trocas e da produção, formas do pensamento religioso, formas do misticismo e rudimentos da Astrologia (também enquadrada no misticismo). Os sumérios formavam uma civilização teocrática e, assim, a religião estava no centro de toda a vida da comunidade. Politeísta e, inicialmente, antropomórfica (deuses com forma humana), a religião era extremamente triste, pouco agradável e amplamente pessimista, pois não oferecia compensações e prêmios, após a morte, para aqueles que tivessem tido uma vida virtuosa (fato que depois se tornaria a grande “atração” de todas as religiões). Além disso, acreditava-se que os deuses eram capazes de promover tanto o bem quanto o mal, o que lhes dava, realmente um sentido de justiça e equidade. As divindades sumérias (como de todos os mesopotâmicos) eram, de acordo com a crença do povo, ainda impregnado do misticismo neolítico, as que comandavam as forças da Natureza (sol, lua, ventos, chuvas, raios, trovões e etc.), os astros celestes e os elementos (água, ar, terra e fogo). Esses deuses tinham a aparência e os sentimentos humanos, diferenciandose dos homens pelo fato de serem mais fortes, imortais e todo-poderosos. No sistema das cidades-estado, cada deus era o senhor de uma delas e, quando a cidade predominava politicamente sobre as demais, o seu deus também se tornava mais influente. Os deuses sumérios, todos de origem cósmica, eram os seguintes: Deuses primordiais: Anu – Rei do Céu; Enlil – Rei da Terra; Ea – Rei do Oceano Esses deuses primordiais criaram os deuses astrais que se ocupam, diretamente, dos homens: Shamash – o deus-Sol; Sin – o deus-Lua; Ichtar – o planeta Vênus; Dumuzi – o deus agrário dos mortos. Mercúrio, Marte, Júpiter e Saturno, os outros planetas (além de Vênus) conhecidos na Antiguidade, também faziam parte do panteão dos deuses, mas só iriam ter seus padrões perfeitamente estabelecidos a partir dos babilônios e através da Astrologia. Completando a estrutura politeísta, desenvolveram-se muitas narrativas que teciam lendas poéticas em torno dos grandes deuses, difundindo também os mitos cósmicos (Enlil), agrário (Dumuzi), mágicos (Ichtar) e heroicos (através do ciclo do herói Gilgamés, vencedor de

monstros e precursor de Ulisses e Hércules); muitas dessas descrições lembram a fábula de Ícaro e as narrativas sobre o Dilúvio bíblico. Nota-se, assim, no misticismo dos sumérios, o desenvolvimento do germe religioso nascido no período Neolítico, concretizando-se, então, na mente dos homens, a preocupação com as forças naturais, antropomorfizando-as, e com os mistérios da vida e da morte: os deuses primordiais referem-se às três grandes divisões do mundo – céu, terra e água; os deuses astrais demonstram a interrogação perante o cosmos, tomando-os como responsáveis por tudo: o Sol vivificando as plantações e gerando a vida, a Lua lutando contra as trevas maléficas da noite e atuando sobre as águas marítimas; Vênus agindo sobre os homens, através dos seus mistérios, benéficos ou maléficos, associados à magia e, finalmente, Dumuzi, representando o deus agrário que simboliza o ciclo imutável dos vegetais, composto de mortes e renascimentos anuais. Do ponto de vista místico, a maior importância cabe ao deus Dumuzi que, ao representar o ciclo de morte e renascimento dos vegetais, é o símbolo da imortalidade do espírito e da eternidade. O culto desse deus agrário foi o germe inicial de todos os mitos e lendas da Antiguidade, relativas à morte e à ressurreição, incluindo-se a mais conhecida delas que é a lenda de Osíris, influindo, ainda, sobre a elaboração de lendas maçônicas referentes à imortalidade da alma. Já o misticismo religioso dos semitas acádios era sensivelmente igual ao dos sumérios, já que, sendo um povo guerreiro e conquistador, não apresentou grandes criações culturais. Os babilônios, dirigidos pelo rígido Código de Hamurábi, de inspiração teocrática, tinham um espírito religioso ainda mais forte do que o dos sumérios, embora sua religião fosse totalmente copiada da suméria, com todos os deuses desta, acrescida de Marduc, o supremo deus babilônico. O Código de Hamurábi é um dos mais belos documentos da história universal: de um lado, ele é a codificação de um direito natural e consuetudinário em vigor nos territórios conquistados e em vias de evolução, enquanto que, de outro, ele é a copilação de diversos códigos sumérios. Ele é bastante preciso e de extrema dureza nas questões sociais e jurídicas e na aplicação das penas aos transgressores. Depois desse Código, a justiça passa, em todos os setores, ás mãos de juízes de Estado, que agem sob a inspiração dos deuses (Marduc ou Shamash), segundo esse processo

escrito, audição de testemunhos e recurso ao juramento. A Arqueologia demonstrou, pela presença, nas tumbas de Ur (3.000 a.C.) de provisões, joias e utensílios que os babilônios acreditavam na sobrevivência integral, ou seja, material e espiritual. Com o passar do tempo, entretanto, a religião tornou-se pessimista e a vida do além foi desprezada, já que os vivos, preocupados com o gozo imediato de sua existência, não se preocupavam com os mortos e seus túmulos, sendo, nisso, bastante diferentes dos egípcios. O povo babilônio tinha, além de seus deuses, uma verdadeira corte de demônios que eram responsabilizados pelas más influências. Ele temia os deuses e pedia-lhes uma vida longa e feliz, enquanto um terror constante fazia-o curvar-se diante dos demônios e gênios. A noção de pecado não era difundida e a verdadeira piedade consistia em apaziguar os deuses, oferecendo-lhes sacrifícios, geralmente cruentos, ou, então, constrangendoos através das práticas de magia. Como para os sumérios, os deuses cósmicos representam as forças naturais e os astros visíveis, dominando a representação antropomórfica ao contrário do animismo, do totemismo e da zoolatria egípcia. A religião era, também, bastante estatizada, pois, cada cidade possuía o seu deus-senhor, com seu templo próprio, sendo que, acima deles, mas sem excluí-los, reinava, desde Hamurábi, o deus-sol Marduc. Os templos eram as moradas dos deuses e os santuários completavam-se com uma torre em degraus. Marduc, assim, tinha o seu santuário, o Esaguil (“casa do teto alto”), flanqueado ao norte pela torre em degraus, o zigurat, chamado Etemenanqui (“templo dos fundamentos do céu e da terra”), conhecido como Torre de Babel. O povo jamais penetrava no templo e as suas relações com o deus local apenas podiam ter lugar através da intervenção dos sacerdotes, o que conferia à religião um aspecto hierático pouco propício à piedade pessoal ou ao misticismo do fiel. Além disso, a Magia – mãe da Medicina – a Adivinhação e a Astrologia – mãe da Astronomia – estão entre as contribuições mais duráveis e mais significativas e difundidas universalmente pela religião babilônica. A Astrologia foi criada na Mesopotâmia pelos sumérios, cuja ideia da superioridade celestial (de olhar para cima, em busca de orientação) logo se tornou parte da vida diária, fazendo com que eles situassem os seus deuses no Céu (o antigo símbolo sumério para a divindade era a Estrela).

Vista da Terra, as estrelas parecem girar através de um padrão imutável de um ano para o outro, embora os deslocamentos sejam constantes, mas tão lentas que, primitivamente, acreditavam-se que as estrelas eram fixas. O que os homens da Mesopotâmia notavam era o movimento rígido, contra o céu estrelado, de sete corpos celestes principais, ou seja: o Sol, a Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Desde os mais antigos registros encontra-se a ideia de que todos esses astros representavam deuses com o poder de dirigir a vida dos homens, intervindo nela. A religião nasceria, então, a partir dessa concepção astrológica. Na época babilônica, em que já havia observações astronômicas, o panteão divino estava plenamente estabelecido, cabendo a cada deus-astro um poder particular sobre uma área de experiência humana. Assim, além do já estabelecido para o Sol (Marduc e Shamash), a Lua (Sin) e Vênus (Ichtar), temos mais: Mercúrio: deus veloz e astuto, era o senhor da sabedoria calculista; Marte: era o senhor da guerra; Júpiter: um régio senhor dos homens, embora suplantado pelo deus-Sol; Saturno: era um deus frio, cruel e irascível. Essas associações dos astros com os deuses acabaram formando a base do saber astrológico, com os astros atuando sobre os homens, embora não mais como deuses venerados. Grandes matemáticos e inventores da álgebra, os mesopotâmicos – principalmente os sumérios e os babilônios – através da Astrologia, chegaram a adquirir grandes conhecimentos de Astronomia, aprendendo a distinguir os planetas das estrelas e a prever os eclipses; além disso, aprenderam a plantar de acordo com as fases da Lua, dividiram o ano em doze meses lunares, os meses em semanas, a semana em sete dias, sendo, cada um, consagrado a um astro, o dia em vinte e quatro horas (o dia era dividido em 12 horas duplas, sendo cada uma dividida em 30 partes), a hora em sessenta minutos e o minuto em sessenta segundos. Ao elaborar o seu sistema cosmológico fizeram, então, uso das doze constelações principais, através das quais o Sol e a Lua passavam regularmente, e que foram as precursoras do Zodíaco. Notaram que a cada duas horas as constelações se deslocavam 30° no firmamento, ou seja, um doze avos do círculo completo; e durante muito tempo, a observação astronômica ficou presa ao nascimento e o ocaso dos corpos celestes, dentro deste padrão. Um outro sistema de doze divisões, sem ligação com o primeiro,

tinha suas doze casas numeradas a partir da inclinação oriental sob o horizonte e representavam áreas da existência, de acordo com o seguinte padrão: 1. VIDA – 2. POBREZA/ RIQUEZA – 3. IRMÃOS – 4. PAIS – 5. FILHOS – 6. DOENÇA/ SAÚDE – 7. ESPOSA/ MARIDO (CÔNJUGE) – 8. MORTE – 9. RELIGIÃO – 10. HONRARIAS – 11. AMIZADE – 12. INIMIZADE. Os planetas eram, assim, descritos de acordo com a casa ocupada e também da relação e dos ângulos entre eles, o que podia revelar o tipo de influência que poderiam exercer sobre os homens. MISTICISMO MESOPOTÂMICO E MAÇONARIA As religiões posteriores à dos povos da Mesopotâmia, assim como muitas sociedades iniciáticas e sistemas filosóficos, muito utilizaram o culto solar, criado pelos sumérios, e da Astrologia, aperfeiçoada pelos babilônios. Em Maçonaria, o mito solar iria adquirir grande importância, já que a caminhada do iniciado representa uma marcha em direção à Luz, ao Sol, meta transcendental dos povos antigos. O fascínio do Sol, centro de nosso sistema planetário, está presente em muitas áreas da mística humana: para a Alquimia, o Sol representa o ouro; para a teurgia, é a emanação de Deus; para a magia, é a fonte de luz astral. Para a Maçonaria, entretanto, o Sol simboliza a luz do conhecimento, a meta do iniciado, que, vindo das trevas (simbólicas) do Ocidente (Oeste), caminha em direção à luminosidade do Oriente (Leste), onde nasce o Sol e de onde veio a luz das antigas civilizações orientais. Assim, desconsiderando-se as diferenças entre os hemisférios Norte e Sul da Terra e considerando-se apenas as condições do hemisfério Norte, onde surgiu a Maçonaria, para efeito de padronização mundial, o candidato à iniciação penetra, em Loja, pela parte ocidental, onde, simbolicamente, não há luz. Depois de iniciado, em sua caminhada, em busca do aperfeiçoamento, terá lugar, inicialmente, na parte menos atingida pelos raios solares – ou seja, o Norte, no hemisfério Norte – passando, depois, pelo Sul, onde já há mais luz, pela proximidade do equador terrestre, até chegar ao Oriente, onde, simbolicamente, reina a luz eterna do Sol. Isso porque, simbolicamente, a Loja maçônica é cósmica, ou

universal, já que representa o nosso planeta, com seus pontos cardeais e o seu firmamento, estendendo-se de Norte ao Sul, de Oriente ao Ocidente e do zênite ao nadir[1]. As suas colunas vestibulares, que se encontram no átrio da Loja, representam, simbolicamente, os trópicos de Câncer e de Capricórnio, o que quer dizer que a linha imaginária que se encontra no centro do espaço entre elas, é o equador terrestre. Os principais cargos de dirigentes de uma Loja já sofreram interpretações místicas, nem sempre aceitas, mas, todavia, mencionadas. Esses cargos seriam associados ao misticismo religioso mesopotâmico, através de sua representação astronômica, englobando os sete “planetas” conhecidos na Antiguidade – Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Desta maneira, teríamos: O Venerável Mestre (ou Presidente) é assimilado ao planeta Júpiter que no panteão dos deuses babilônicos era o régio senhor dos homens; simboliza a sabedoria. O 1° Vigilante (ou 1° Vice-Presidente) é assimilado ao planeta Marte que , como deus mesopotâmico, era o senhor da guerra; simboliza a força. O 2° Vigilante (ou 2° Vice-Presidente) é associado ao planeta Vênus, feminilização na mitologia babilônica e que era a deusa mágica da fertilidade e do amor; simboliza a beleza. O Orador é assimilado ao Sol, pois dele emana a luz como guarda da lei maçônica, que é, além de responsável pelas peças de oratória. O Secretário é assimilado à Lua, pois na confecção das atas, reflete as conclusões legais do Orador (o Sol). O Tesoureiro é assimilado ao planeta Saturno, o deus babilônico frio e cruel; com seus “anéis”, simboliza a riqueza. O Mestre de Cerimônias é assimilado ao planeta Mercúrio, o deus veloz e astuto, pois esse oficial maçônico, sempre circulando pelo templo, como elemento de ligação, imita o planeta que mais rapidamente circula em torno do Sol. Todavia, sem sobra de dúvidas, a maior influência mística da civilização mesopotâmica sobre a Maçonaria é aquela referente ao culto do deus agrário Dumuzi, precursor de todas as lendas sobre os mistérios da morte e ressurreição, incluindo-se a lenda egípcia do deus Osíris e a lenda

grega da deusa Deméter (Ceres, dos romanos), inserida nos chamados “Mistérios de Eleusis”, ordem iniciática da Grécia Antiga. Sendo a Maçonaria, uma instituição iniciática hermética, que ensina a sua ciência e a sua doutrina através de símbolos, de alto significado espiritual e esotérico, ela também, como outras ordens iniciáticas, considera a iniciação como o símbolo da morte do iniciado e o seu renascimento em um plano superior, mais espiritualizado. O iniciado, por suas sucessivas e simbólicas mortes e ressurreições, chegará à plenitude dos ensinamentos esotéricos, alcançando, então, a tranquilidade e a paz do mais elevado mundo da espiritualidade humana. Dizem, muitos autores, que isso é baseado na lenda de Osíris e nos Mistérios de Eleusis. Todavia, como essas lendas simbolizam a eternidade, através da imortalidade do espírito, elas nada mais são do que uma extensão do mito de Dumuzi. Aceitando essas lendas e mitos e incluindo-os em sua doutrina moral e anagógica, a Maçonaria aceita a imortalidade da alma, princípio que, ao lado da crença em um ente criador supremo, domina a estrutura metafísica da maioria dos ritos maçônicos, com exceção dos ritos chamados racionais, ou adogmáticos. Do culto do deus agrário Dumuzi e da lenda egípcia de Osíris, originou-se na Maçonaria, a lenda de Hiram Abi – embora existam influências de outras lendas medievais das organizações de construtores – que, pela lenda, teria sido o construtor do primeiro Templo de Jerusalém (o de Salomão), como se verá adiante.

[1] Zênite, do árabe samt: caminho, direção, designa o ponto em que a vertical de um determinado local corta a esfera celeste acima do horizonte. Nadir, do árabe natir: ponto diametralmente oposto a outro, designa o ponto diametralmente oposto ao zênite. É o ponto do céu, situado sobre a vertical do lugar, do lado da Terra em oposição ao ponto em que estiver colocado o observador.

IV A MÍSTICA DO ANTIGO EGITO HISTÓRIA EGÍPCIA Apenas começamos a conhecer, realmente, o Egito, a partir de 3.200 a.C., não existindo, todavia, qualquer solução de continuidade entre o Neolítico e a fase histórica, já que o país revela-se, ao mesmo tempo, antigo e contínuo. Antes do IV milênio a.C., homens vindos do Saara, que se ressecava rapidamente, foram se estabelecendo em torno do rio Nilo, num solo que era um verdadeiro oásis, em pelo clima saariano, fértil e cultivável, graças às inundações do rio, regulares e extremamente ricas em húmus. A configuração da região, entretanto, tornava precária uma unidade territorial, havendo, então, inicialmente, uma divisão natural entre o Alto Egito, cercado pelos rebordos dos desertos da Líbia e da Arábia, e o Baixo Egito, formado pelo delta do Nilo, um largo leque, repleto de charcos, que, muitas vezes, tornavam difícil a circulação. Depois de curto período proto-histórico, assinalado pela predominância de povos asiáticos, vindos pelo istmo de Pelúsio, uma revolução nacional realizou, do sul para o norte, a unificação do Egito, fundindo, em uma só, as suas coroas: a vermelha, do Baixo Egito, e a branca, do Alto Egito. Iniciava-se, então, a primeira dinastia do Antigo Império, com o rei Menés – que muitos chamam de Manu – tendo, por capital, Tinis. A partir da III dinastia, a capital seria transferida para Mênfis, junto ao delta do rio Nilo. Assim, as duas primeiras dinastias foram chamadas de tinitas, enquanto as restantes, do Antigo Império, são as menfitas. É durante o reinado das III, IV e V dinastias – correspondentes, no tempo, ao período acádio da Mesopotâmia – que se encontra o apogeu do Antigo Império, entre 2.700 e 2.400 a.C. Na III Dinastia, o maior rei foi Djeser, assessorado por seu ministro Imhotep, que, mais tarde, seria divinizado e assimilado a Esculápio, na época lágida da Grécia Arcaica. Na IV dinastia, são encontrados os construtores das pirâmides: Khufu, Khafra e Menkhaura, chamados, pelos gregos, respectivamente, de Quéops, Quéfren e Miquerinos. A V dinastia assinala o início da decadência do Antigo

Império, pois, nela, já é encontrado o início da teocracia, implantado pelos sacerdotes da cidade de Heliópolis (nome dado, pelos gregos e que significa “cidade do Sol”), fanáticos seguidores do deus Rá (o Sol), que suplanta, politicamente, o deus Phtá, de Mênfis. A decadência do Antigo Império iria até à X dinastia, por volta de 2.250 a.C., quando haveria o esfacelamento do Egito e, posteriormente, a supremacia da cidade de Tebas, iniciando-se o Médio Império, sob a direção dos faraós[1] tebanos, dos quais os maiores foram os da XII dinastia, a dos Amenemat e dos Senusret. O fim do Médio Império seria assinalado pela invasão dos hicsos, povo de origem semita e que seria o principal responsável pela ida dos hebreus ao Egito. Ao final do domínio dos hicsos, suplantados, que foram pelos faraós tebanos, inicia-se o Novo Império, cujos principais soberanos foram Tutmés III, Ramsés II e Amenófis IV. Este último, que reinou de 1370 a 1.352 a.C., passou à História como o soberano que ousou quebrar o excessivo poderio dos sacerdotes de Ámon, tornando-se um místico do Sol, simbolizado por seu disco (Áton); assim, mudou seu nome para Aquenáton e a sede do reino, de Tebas para Aquetáton (“horizonte do disco”), conhecida pelo nome de Tel-el-Amarna, tentando tornar universal a sua religião solar monoteísta. Seu sucessor, todavia, quase uma criança, pressionado pelo grande poderio da classe sacerdotal, voltou a Tebas e mudou o seu nome, de Tutancáton para Tutancámon, restaurando o culto de Ámon e satisfazendo aos verdadeiros dominadores do Egito. Posteriormente, a nação egípcia seria esfacelada pelas grandes invasões de seu território, pelos assírios, persas, macedônios e, finalmente, pelos romanos, quando deixaria de existir como unidade nacional. A RELIGIÃO E O MISTICISMO EGÍPCIO A teocracia, como se viu, dominou, praticamente, toda a História do Egito Antigo, o que iria gerar conceitos religiosos arraigados e práticas místicas, ainda pouco conhecidas, mas vastamente explorada pelos místicos contemporâneos, mesmo sem comprovação. Ao analisar o Egito, o historiador grego Heródoto assim escreveu: “Como o céu do Egito é diferente do céu de qualquer outro lugar, como o Nilo não é como os outros rios, assim os rituais e costumes dos egípcios são, em quase tudo, diferentes dos outros povos. Eles são muito

devotos, mais do que outros povos”. Esse é o traço marcante da civilização egípcia, onde tudo tinha caráter religioso e, quase sempre, a serviço do culto aos mortos, pois a preocupação com o além dominava o misticismo egípcio, estando presente, inclusive, nas Artes e na Arquitetura. O monumentalismo da Arquitetura, a grande espessura dos muros dos templos e um grande número de colunas que ocupam quase todo o espaço interno são a expressão máxima da arte religiosa egípcia. Ao contrário das colunas gregas que suportam um entablamento, as egípcias não necessitam escorar tetos pesados, tendo, mais, um valor simbólico. Todas as formas das partes arquitetônicas são mais determinadas pelo seu valor simbólico do que por sua função estética; os templos representavam uma imagem simbólica do mundo, com o teto representando o firmamento e o piso, a Terra, da qual brotam as colunas como gigantescos papiros. Com base nessa concepção é que as Lojas maçônicas também representam uma imagem simbólica do mundo. As esculturas e as pinturas dos faraós e outros dignitários também possuíam um caráter místico, pois representavam uma manifestação mágica, garantindo, ao retratado, a vida eterna. Como a arte religiosa é monumental, carregada de símbolos e, principalmente, conservadora, a arte egípcia permaneceu praticamente imutável durante os séculos e milênios que durou a civilização do Antigo Egito. Dentre as obras monumentais egípcias destacam-se, obviamente as famosos pirâmides de Gizé, próximas ao delta do Nilo, construídas durante a IV Dinastia do Antigo Império (cerca de 2.600 a.C.) pelos faraós Khufu, Khafra e Menkhaura. Essas pirâmides, principalmente a de Khufu, que é a maior e chamada de Grande Pirâmide, despertam, até hoje, com base no elevado grau de misticismo do povo egípcio, grandes elucubrações místicas e pseudocientíficas, muitas vezes absurdas e afastadas da realidade histórica. O forte caráter religioso que dominou o Egito Antigo, já se faz presente e é bem definido no próprio poder real, desde os seus primórdios: o Faraó (“Senhor da Casa Grande”) era considerado um deus, filho de Hórus, amado de Amon e filho de Rá. Na sua pessoa divinizada, combinavam-se as contribuições dos antigos reinos do norte e do sul, simbolizadas pelas duas coroas (a vermelha, do Baixo Egito, e a branca, do Alto Egito) e pelo entrelaçamento à volta do pilar sagrado, das duas plantas

sagradas egípcias, o lótus e o papiro, e dos dois emblemas, o caniço e a abelha. Inicialmente o deus governante não era dependente da classe sacerdotal; posteriormente, com a fixação da teocracia, todo o aparelho do Estado era, francamente, dominado pelos sacerdotes que representavam a classe dominante e a única a ter acesso aos mistérios maiores do culto e da magia. A teologia egípcia baseava-se nas fontes populares e tinha seus primórdios na pré-história; na zoolatria, sobreviveram crenças antigas de adoração totêmica: do íbis, do crocodilo, do chacal, do leão, do abutre, etc., animais transformados em demônios e deuses. As forças da natureza, os astros, as forças da alma humana transformaram-se em deuses vivos, proporcionando um incalculável número de divindades no mundo sobrenatural. A partir daí, pode-se distinguir, em linhas gerias, duas modalidades distintas na religião egípcia: a popular e a sacerdotal, representada, esta última, pelas doutrinas esotéricas dos sacerdotes, não acessíveis ao povo. A religião popular que encontra as suas origens no Neolítico reconhecia múltiplos deuses, representados, simultaneamente sob a forma animal e antropomórfica; o totemismo é o culto dos totens e, esses, são animais, plantas, objetos ou fenômenos naturais, a que certos povos primitivos se julgavam ligados de forma sagrada, sendo vedado atentar contra eles. A característica principal dessa religião popular totêmica era o seu regionalismo, pois cada unidade territorial do Império egípcio possuía o seu deus-rei, representado, com frequência, acompanhado de um animal, que seria a sua encarnação visível aos homens. Os deuses populares do Norte seguiam mais essa característica, como se pode perceber em Hórus (falcão), do Delta; Toth (íbis), de Hermópolis; Hator (vaca), de Dendera, etc.; os deuses do Sul, ao contrário, eram mais políticos e humanos: Min, de Coptos; Amon, de Tebas e Consu, o deus-lua, de Hermonte, filho de Amon. Todos esses deuses locais seguiram o destino político do seu lugar de origem; desta maneira, houve, a partir da V Dinastia, a supremacia do deus Rá, de Heliópolis, da maneira que, na XII Dinastia, o deus Amon, de Tebas, tornou-se o supremo, propiciando, posteriormente, um sincretismo, sob a forma de Amon-Rá. Diga-se, todavia, a bem da verdade, que, durante

muito tempo, as crenças populares ligaram-se somente aos deuses locais, ignorando o dogmatismo e a teologia nacional imposta pelos sacerdotes e pelo poder real. Ao lado dessa religião popular, impregnada de zoolatria e de magia (através dos amuletos), encontravam-se as doutrinas esotéricas dos sacerdotes de Hermópolis e de Heliópolis, originando cosmogonias complexas. Segundo o dogmatismo sacerdotal, os deuses podiam ficar velhos e morrer; os seus filhos podiam herdar os seus poderes e funções e gerar os descendentes com as próprias mães, sendo, estas, a parte constante da tríade pai, mãe e filho; as tríades de deuses formavam uma enéade. Originavam-se daí, muitas confusas cosmogonias, como a da criação do mundo, através dos Oito ou Nove deuses primordiais (Octóade ou Enéade) saídos do caos primitivo. O traço marcante da vida religiosa do povo era a preocupação com o além, com o destino do homem depois da morte física. Acreditavam os egípcios que, após a morte continuavam a vida em um outro mundo, desde que houvesse a necessária conservação do corpo, como moradia da alma. Dessa crença, surgiu a prática de embalsamar e mumificar os corpos dos mortos que, a princípio, atingiu as personalidades mais ilustres, estendendo-se, depois, ao povo, embora a sofisticação do método estivesse, sempre, relacionada com a escala hierárquica. Além da mumificação, os mortos passavam para a outra vida em companhia de tudo aquilo que lhes havia pertencido na Terra e que iria servir-lhes em outra existência. A princípio, o finado de alta classe não era encerrado sozinho na sua tumba que imitava um verdadeiro palácio real: junto com ele, eram encerrados seus criados, suas esposas, concubinas e oficiais. Isso, evidentemente, ocorria mais com os faraós, pois, morto o faraó que era o deus vivo, filho de Hórus e o sol para os membros da casa real, todos estes deviam morrer, também. Posteriormente, esse sistema foi abandonado, implantando-se outro, apenas simbólico: no lugar das pessoas eram inumadas estatuetas – ushabtis – que as representavam. Em relação com essa preocupação religiosa com o além, pode-se notar, na história egípcia, uma evolução em relação à participação do povo. No Antigo Império, apenas o faraó tinha acesso à vida além-túmulo, pela sua identificação, primeiro a Osíris e, posteriormente, ao deus-sol Rá. Todavia, a partir do Médio Império, os altos funcionários e, depois, o próprio povo, passou a gozar dessa regalia, sob a condição de terem tido uma vida baseada na justiça e na retidão; desenvolveu-se então a doutrina

de se efetuar o peso das almas – psicostasia – acompanhadas, porém, progressivamente de práticas de magia, com a finalidade de dissipar as ameaças do fatal julgamento. Nota-se assim que o progresso na senda da moral da vida, totalmente racional, foi praticamente substituída pelo recurso à magia, prática que dominaria completamente e perenemente os costumes egípcios, fazendo com que se torne discutível a contribuição egípcia no campo intelectual e científico. Embora fosse muito confuso o conceito do deus-sol, tendo, o astro, diversas representações – Rá, Amon, Hórus, o sol nascente no horizonte, etc., o certo é que ele era num certo desvio para o monoteísmo, o deus do Império unificado e o Senhor do Céu e dos deuses. Havia, entretanto, apenas um deus egípcio, cuja importância, no panteão do Egito, era semelhante a do deus-sol: Osíris, deus da fertilidade e do Reino dos Mortos, cuja lenda tinha grande sucesso entre o povo, preocupado com o além, pois mostrava os mistérios da morte e da ressurreição, como outras lendas, incluindo a de Dumuzi, dos povos antigos. Foi Plutarco que deu, no primeiro século da era cristã, a melhor versão da lenda de Osíris, confirmada, depois pela tradução dos textos hieróglifos. Em resumo, ela conta o seguinte: Osíris foi um grande rei egípcio, muito sábio e bondoso, cuja preocupação era civilizar o povo e tirá-lo de seu primitivo barbarismo. Ensinou ele, portanto, aos homens, o cultivo da terra, o culto dos deuses e os fundamentos da lei. Depois de concluir a sua obra no Egito, foi transmitir os mesmos ensinamentos a outros povos, enquanto que, em sua ausência, o país era governado por Isis, sua esposa, que enfrentava a inveja e os instintos malévolos de Set, ou Tifão, irmão de Osíris e personificação do mal. Quando Osíris regressou ao Egito, Set tramou uma conspiração contra ele, conseguindo convencer outras pessoas a auxiliá-lo. Tendo conseguido tomar as medidas do corpo de Osíris, mandou construir, secretamente, um caixão com essas medidas; e, durante uma festividade, trouxe o caixão até ao centro de seu salão de banquetes, onde, entre outros convivas, estava Osíris, e, em tom de brincadeira, prometeu dá-lo de presente àquele cujo corpo se ajustasse ao caixão. Todos os convidados atenderam à brincadeira e fizeram a experiência, sem que nenhum deles tivesse correspondido às medidas. Chegada à vez de Osíris, este se deitou no caixão e, imediatamente, Set e seus sequazes fecharam, firmemente, sua tampa,

soldando-a com chumbo, após o que o jogaram nas águas do Nilo. Isis, tomando conhecimento do fato, vestiu-se de luto e saiu à procura do corpo de Osíris, pois soubera que o caixão havia sido carregado até a Biblos, no delta do Nilo, onde se enroscara numa tamareira, que crescera, enormemente, em torno dele, ocultando-o; devido ao grande tamanho da árvore, o rei daquela região a havia cortado e a transformara numa coluna, para sustentar o peso do seu palácio. Assim, foi, Isis, para Biblos e empregou-se como ama de um dos filhos do rei; e, em todas as noites, ela colocava a criança no fogo, para consumir suas partes mortais, enquanto se transformava numa andorinha, para lamentar a morte do marido. Em certa ocasião, porém, a rainha viu seu filho em chamas e gritou, angustiada, privando-o, assim, da imortalidade que lhe seria concedida por Isis. A deusa, então, revelou-se à rainha e solicitou que esta lhe desse a coluna que sustentava o teto do palácio. Atendida, ela retornou ao Egito, levando o caixão com o corpo de Osíris e ocultando-o em local secreto, enquanto procurava seu filho Hórus. Todavia, certa noite, enquanto caçava, Set, casualmente, encontrou o caixão e, reconhecendo o corpo de Osíris, cortou-o em quatorze pedaços e espalhou-os por todo o Egito. Ao tomar conhecimento disso, Isis construiu um barco de papiro e tratou de procurar e juntar todos os pedaços do corpo. Osíris, com seu corpo reconstituído, voltou do além e ordenou ao seu filho, Hórus, que lutasse contra Set. Obedecendo, Hórus lutou com o assassino de seu pai, durante vários dias, até vencê-lo. Osíris, então, tornou-se o deus e o juiz do reino dos mortos. Essa lenda é, indisfarçavelmente, decalcada nos mitos solares, já que, segundo ela, Osíris foi assassinado no 17° dia do mês de Hator, data que marcava o começo do inverno. Assim, ela mostra o Sol (Osíris), morto pelas forças das trevas (Set), para renascer, posteriormente, completando um novo ciclo, que é, também, representado pelas sucessivas mortes e renascimentos dos vegetais, de acordo com a influência solar. Isso mostra que a Astrologia era muito praticada no Antigo Egito, trazendo, como consequência, grandes conhecimentos astronômicos. Já no terceiro milênio a.C., os egípcios elaboraram um calendário solar, que era o mais perfeito da Antiguidade, permitindo-lhes, inclusive, prever as cheias do rio Nilo. Desde essa época, no Egito, praticava-se uma forma muito mística de Astrologia, totalmente dependente do eixo econômico e religioso

de sua civilização, ou seja, o Nilo. O rio era a fonte de toda a vida e os egípcios acreditavam que as cheias, que traziam fertilidade a uma região que seria estéril sem ele, eram ativadas pela ação combinada do Sol e de Sirius, tendo, esta estrela, em razão disso, assumido grande importância. As pirâmides, construídas durante a III Dinastia do Antigo Império, tinham dupla finalidade: monumento funerário e calculadores astrológicos.

A ABÓBADA ESTRELADA NO TETO DA LOJA A Abóbada Estrelada representa o céu no dia 21 de março, durante o equinócio de primavera no Hemisfério Norte

Ao faraó Ramsés II[2], um dos maiores do Novo Império, é

atribuída a responsabilidade pelo estabelecimento dos quatro signos cardeais do Zodíaco: Áries, Libra, Câncer e Capricórnio. Era grande o interesse desse soberano pela Astrologia e, em decorrência disso, fez decorar o seu túmulo com motivos e símbolos astrológicos (1.236 a.C.). Ramsés VI foi, também, um nome importante na Astrologia egípcia e, em sua tumba, aparece um notável mapa estelar, confeccionado na forma de um homem sentado. Todo o misticismo egípcio foi, sempre, decalcado no politeísmo; todavia um dos faraós mais místicos de sua história foi, justamente aquele que tentou introduzir e impor o monoteísmo solar: Amenófis IV, o mais original e discutido dos faraós que reinou de 1.370 a 1.352 a.C. Empenhado em quebrar o excessivo poderio dos sacerdotes de Amon, ele abandonou a política externa e a administração para se tornar um místico do Sol, simbolizado por seu disco – Áton – cujos raios espalham, por toda parte, a alegria e a felicidade. Amenófis IV adotou o nome de Akenáton e deixou Tebas, onde se encontrava a sede do governo faraônico, instalando-se na nova localidade de Aketáton (“horizonte do Disco”), conhecida sob o nome de Tel-elAmarna. O culto foi renovado segundo as agressivas tendências naturistas e monoteístas; parece que teologicamente, Akenáton, contra o Amon tebano, o Rá-Haractés de Heliópolis, simplificando-o, para tornar sua religião universal. Não se sabe, até hoje, se essa iniciativa do faraó foi apenas a expressão de poderosa mística pessoal, do desejo de reforçar a monarquia, ou, até mesmo, do plano imperialista de associar todo o Oriente ao redor de uma figura egipcianizada do Sol, comum a todos os povos. De qualquer maneira, a experiência pouco durou: com a morte do soberano e na falta de herdeiros masculinos, subiu ao trono Merit-Aton, filha mais velha do faraó, não tendo, o seu reinado durado muito, pois junto com seu marido, Smenkhare, foi assassinada; com isso, sobe ao trono o genro de Akenáton, casado com sua filha Anksenpaáton. Esse genro tinha o nome de Tutancáton e assumiu o governo com apenas nove anos de idade, tornando-se presa fácil dos sacerdotes de Amon; sob a influência sacerdotal, ele restabeleceu o culto de Amon e mudou seu nome para Tutancamon.

MISTICISMO EGÍPCIO E MAÇONARIA

A influência do misticismo egípcio sobre a Maçonaria é, em sua grande parte, similar à influência mesopotâmica, no que se refere ao culto solar e à Astrologia, sendo de se destacar que o hábito de decorar o teto maçônico com estrelas, planetas, o Sol e a Lua é de origem egípcia, pois imita o templo de Luxor que apresentava o teto todo estrelado (como já foi relatado, os templos egípcios eram a imagem simbólica do mundo, com o teto representando o céu). A mais palpável influência mística egípcia no misticismo maçônico é sem sombra de dúvidas, representada pela lenda de Osíris que deu origem à lenda moral do Terceiro Grau maçônico, o grau de Mestre (o primeiro e o segundo graus são, respectivamente, o de Aprendiz e o de Companheiro), também chamada Lenda de Hiram. Segundo a lenda, quando Salomão resolveu construir o Templo de Jerusalém, solicitou o auxílio de seu aliado Hiram, rei da cidade fenícia de Tiro; este então lhe enviou Hiram Abi (“Hiram, meu pai”) que seria o mestre responsável pela construção do Templo. Hiram, então, dividiu os seus subordinados em três categoriais de artesãos, de acordo com as aptidões de cada um; essas três categorias eram as de Aprendiz, Companheiros e Mestres. Hiram também dava a oportunidade dos artesãos subirem de categoria, de acordo com os seus méritos e os seus esforços. Existiram, todavia, três companheiros, que sem o tempo necessário e sem méritos, desejavam ascender à categoria de Mestre, necessitando, para isso, da palavra do grau, ou da categoria, chave da ascensão ao mestrado; negando-se Hiram a revelar esse segredo, os três maus Companheiros o assassinaram e esconderam o seu corpo que seria achado, posteriormente, pelos Mestres enviados por Salomão, para esse fim. Hiram, então, reconstituído renasce no plano espiritual, à semelhança de Osíris. Essa lenda encerra duas lições sociais, ou seja: a cada um, segundo as suas aptidões e a cada um, segundo os seus méritos; essas lições envolvem um acentuado senso de justiça, que é uma das metas primordiais da Maçonaria, já que esse tipo de justiça quase inexiste no mundo, onde há uma inversão de valores, quase generalizada, e, onde a ascensão dos homens, de maneira geral, se faz por meios espúrios e antiéticos, através do poder corruptor da pecúnia, ou das pressões físicas e mentais. Além das lições sociais, ela mostra o misticismo em torno dos mistérios da morte e do renascimento no plano espiritual, como ocorre

com a lenda de Osíris e outras lendas semelhantes do mundo antigo. A lenda de Hiram Abi, evidentemente, é só uma lenda, sem nada de verdadeiro, já que Hiram era um hábil entalhador de metais, mas não construiu o templo. Seu trabalho teria sido – e assim confirma o texto bíblico – o de decorar as colunas e os objetos metálicos do templo. Também não consta que tivesse sido assassinado. E, por último, é claro que não existia Maçonaria naqueles recuados tempos – ela é medieval – e nem a divisão de obreiros em Aprendizes, Companheiros e Mestres. Ainda com relação à lenda de Osíris, alguns autores citam a expressão “filhos da viúva”, para designar os maçons, já que eles se identificariam com Hórus, filho de Ísis, a Mãe Universal, a personificação da Natureza, viúva de Osíris, o deus dos mortos e a representação da luz do Sol. Mas deve ser considerado, também, no caso, o fato de Hiram Abi, a personificação do mestre perfeito, ser filho de uma viúva, da tribo de Neftali. As colunas vestibulares das Lojas maçônicas também mostram influências egípcias, não tendo qualquer semelhança com as colunas do templo de Jerusalém, de acordo com a descrição bíblica. Elas são do tipo babilônico, já que os egípcios sofreram influência da Babilônia, mas os seus elementos principais são egípcios, com a ornamentação lembrando o lótus e o papiro[3], as duas plantas sagradas do Antigo Egito, que se encontravam entrelaçadas à volta do pilar sagrado, simbolizando as contribuições do Alto e do Baixo Egito, na pessoa divinizada do faraó. Essas são as principais contribuições do Antigo Egito para a concretização do misticismo maçônico. Não se pode, todavia encerrar este capítulo sem uma referência mais específica à Grande Pirâmide (a maior das três grandes pirâmides de Gizé: a de Khufu ou Queóps), motivo de incontáveis especulações místicas. Em relação à Maçonaria, muitos autores, desprezando a realidade histórica e afundando num total misticismo falam dos Mistérios Egípcios, cujo centro principal, para sua execução pública, era a grande pirâmide, chamada Khut (a Luz) que teria sido construída segundo rigorosos cálculos astronômicos e matemáticos para os ritos iniciáticos astronômicos e matemáticos para os ritos iniciáticos e como chave para os enigmas do Universo, 75.000 anos a.C., pelo povo da Atlântida que teria ocupado o vale do Nilo há 150.000 anos. A afirmação é passível de crítica por vários motivos:

1. O mito da Atlântida, introduzido na cultura ocidental por Platão, permanece como mito, pois não teve, ainda comprovação, servindo para toda gama de especulações. Sua história foi contada pela primeira vez por Platão como uma parábola para exemplificar como o Céu castiga aqueles que adoram deuses falsos; ao mesmo tempo, o filósofo grego sugeria a autenticidade da narrativa, a qual seria a reminiscência de um cataclisma terrível, cuja história foi transmitida oralmente ao longo dos séculos. Admite-se hoje que o que deu origem ao mito da Atlântida foi uma explosão vulcânica da ilha de Kallisté, atualmente conhecida por Santorini, a qual produziu uma vaga sísmica que devastou a maior parte da florescente ilha de Creta; esta se encontrava na era minoica, a idade de ouro de sua civilização. Não sendo grandes navegadores, os egípcios recebiam muitas visitas marítimas dos cretenses e sabiam que eles possuíam uma civilização muito avançada em relação à sua época, onde existia igualdade entre os homens e as mulheres – enquanto no resto do mundo a mulher era considerada como uma propriedade – e onde havia água canalizada e se construíam complexos sistemas de esgotos, enquanto os outros povos dependiam de poços. Os egípcios certamente tiveram conhecimento da catástrofe que atingiu Creta, já que isso afetava a sua economia, muito dependente do comércio marítimo cretense, e os navegadores haviam desaparecido subitamente já que os seus barcos não voltaram aos portos do Nilo. Desta maneira, para os antigos egípcios aquela ilha rica e fértil, a noroeste, deixara de existir, sendo a lembrança de sua extinção, ligada à memória da grande catástrofe que abalara a zona leste do Mar Mediterrâneo. Aí nascia o mito da Atlântida. Isso ocorreu por volta de 2.500 a.C. e é preciso notar que a avançada civilização, descrita por Platão, na lenda da Atlântida, apresenta notável semelhança com a sociedade minoica, de acordo com as descobertas feitas na ilha de Creta pelo arqueólogo inglês Sir Arthur Evans, em 1.900. Creta era um próspero império, a principal potência mediterrânea e local onde floresceu a primeira e mais original forma de civilização requintada do Ocidente. Platão não poderia ter reconhecido no mito da Atlântida, essa civilização cretense de antes da catástrofe, a civilização minoica, pois ela era desconhecida na Grécia da Antiguidade Clássica, que

só conhecia os povos posteriores da ilha. 2. Há 150.000 anos, conforme já foi esclarecido, a Humanidade encontrava-se no Paleolítico Médio, sendo representada pelo Homem de Neanderthal, que povoaria a terra até cerca de 40.000 anos a.C., sendo muito diferente, culturalmente do Homo Sapiens, não tendo meios, portanto para construir grandes monumentos como as pirâmides. 3. A Grande Pirâmide, apesar de todo o seu tamanho e volume (ocupando uma área de 5,5 hectares, com uma base de 228 metros de lado e com uma altura primitiva de 146 metros), tem na realidade muito pouco espaço vazio: a Câmara do Rei e a Câmara da Rainha, no corpo da pirâmide (há outra câmara subterrânea), além de corredores de acesso e condutores de ventilação. Na verdade, como a pirâmide era um monumento funerário, construindo por volta de 2.500 a.C., tanto a câmara subterrânea, como a Câmara do Rei (esta situada a 42 metros de altura) e a Câmara da Rainha, eram destinadas ao faraó, caso ele morresse antes de ser terminada a construção, ou melhor, antes que a verdadeira câmara mortuária (a do Rei) estivesse pronta. As duas câmaras do corpo da pirâmide são bastante diminutas: a maior delas (a Câmara do Rei), onde foi encontrado um sarcófago vazio, de granito vermelho, tem apenas, cinquenta metros quadrados (05 por 10 metros). Ora, seria um contrassenso destinar um local tão pequeno, em relação à grandeza de todo o monumento para a execução dos chamados “Mistérios”. Além disso, os arqueólogos encontraram, sobre a Câmara do Rei, cinco pequenos compartimentos, bastante baixos e superpostos, com seis metros de largura, destinados a servir de amortecedores, para aliviar o teto da câmara da tremendo pressão exercida pelas toneladas de pedra e, também, para que, em caso de algum cataclisma (terremoto, por exemplo), que chegassem a despedaçar o corpo da pirâmide, as pedras não atingissem o interior da câmara, mostrando a evidente preocupação com o conteúdo da mesma, ou seja, o corpo de um grande governante e todos os seus objetos de uso pessoal, dada a crença egípcia de que, após a morte, o homem desfrutaria de uma vida, no além, semelhante à da terra, para o que seriam indispensáveis o seu corpo e os seus bens terrenos. Alguns autores ocultistas, que querem fazer crer que a Grande Pirâmide era usada para a prática de ritos iniciáticos, usam, para contestar a destinação fúnebre da construção, o argumento de que existiam condutos

de ventilação, que iam desde o exterior até as câmaras; dizem eles: “os mortos não respiram, logo não precisam de ar”. Ora de fato, esses condutos foram construídos para os vivos, mas para os vivos que trabalhavam nas obras e não para os adeptos dos “mistérios”; sob aqueles imensos blocos de pedra, o ar era extremamente rarefeito e, assim, os operários, que trabalhavam nas câmaras necessitavam do ar que vinha através dos condutos. Além disso, esses mistificadores esquecem-se, sempre, de dizer que quando os homens do califa Al Mamum, no ano 820, conseguiram entrar na pirâmide, encontraram os condutos de ventilação nas câmaras intencionalmente obstruídos, por pedras ali colocadas, mostrando que existiam para os operários da construção e que foram fechados quando perderam a sua utilidade, ou seja, quando as câmaras ficaram prontas. As pirâmides, garantia da imortalidade dos faraós que as ocupavam, foram muito usadas, como monumentos funerários, durante o Antigo Império Egípcio. A primeira grande tumba real, em forma de pirâmide, foi construída em Sacará, próxima de Mênfis, durante o reinado de Djeser, por volta de 2.650 a.C, essa tumba conhecida como Pirâmide dos Degraus, marca as passagens da arquitetura egípcia dos seus primórdios, em tijolo e madeira, para as construções monumentais de pedra. Ela representou o início de uma era de monumentos, e o projeto de Imhotep, para a construção do túmulo real, seria, posteriormente, aperfeiçoado pelos seus sucessores, culminado com as pirâmides de Khufu, Kafra e Menkaura. Os chamados Textos da Pirâmides, hieróglifos gravados em colunas de pedra, encontradas na pirâmide do faraó Unas, em 1881, referem-se com bastante precisão ao conceito de que a pirâmide seria uma escadaria divina que conduziria ao céu; a forma das grandes pirâmides de Gizé, inclusive, poderiam ser interpretadas como uma representação dos raios do sol, baixando do céu, de acordo com os mitos solares egípcios. Conclui-se, enfim, pela rejeição da hipótese de que as pirâmides, principalmente a de Khufu, tivesse m servido como templos de ordens iniciáticas, ou para execução pública dos “mistérios”. Na realidade, a pirâmide típica é, apenas, o centro de um complexo de edifícios destinados às cerimônias fúnebres; pouco acima da base, encontrava-se o templo superior, destinado a acomodar o corpo do faraó, sendo ligado a um templo inferior, ou santuário de recepção, onde eram realizados os ritos de magia, que asseguravam, ao governante morto, uma vida eterna no além. Embora seja extremamente difícil avaliar, com exatidão a contribuição dos antigos egípcios no terreno intelectual e científico,

eruditos de boa-fé acreditaram ver, na construção das pirâmides, os traços de extraordinários conhecimentos geométricos, astronômicos e, até, mágicos (alguns teóricos afirmam que, além de túmulo, a Grande Pirâmide era relógio de sol, calendário e observatório astronômico). Hoje, nomeio científico, predomina a prudência e a severidade, pois nenhuma ciência foi, verdadeiramente, concebida, como tal, por espíritos demasiado religiosos e muito empíricos, como em todo o Oriente antigo, para poderem chegar à ciência pura, teórica e desinteressada, que permanece como o maior e mais belo título de glória do povo grego. Foram os gregos, todavia, que, desde Heródoto, fizeram, da ciência egípcia, misteriosa, pela sua ignorância da língua do Egito, e mais grandiosa por causa das gabolices e ostentações dos sacerdotes egípcios, uma ideia demasiadamente elevada, não ratificada, nem corroborada pela crítica do mundo moderno.

PLANO SECCIONAL DA GRANDE PIRÂMIDE 1. Câmara do Rei; 2. Ante-Câmara; 3. Câmara da Rainha; 4. Grande Galeria; 5. Recintos superpostos (amortecedores); 6. Câmara subterrânea (falsa); 7. Condutos de ar.

[1] Faraó, do egípcio Par-aã, significava “casa grande”. O faraó era, portanto, o senhor da casa grande. [2] Ramsés II (1301-1225 a.C.), faraó da XIX Dinastia, também conhecido como “o Grande”, era filho de Seti I e governou o Egito durante 67 anos. Sob a sua direção, o país experimentou uma grande prosperidade econômica e uma era de paz, depois da decisiva vitória sobre os hititas, na batalha de Kadesh (1272 a.C.). Faraó da época do êxodo dos hebreus foi o responsável pela determinação dos signos astrológicos cardeais. Construiu Tebas e, por ordem sua e sob a sua direção, o majestoso Templo de Abu-Simbel foi esculpido na rocha, a partir de princípios astrológicos; também o seu imponente hipostilo no Templo de Ámon, em Karnak, foi idealizado em relação aos pontos fixos da esfera celeste. [3] Papiro, do grego: pápyros, pelo latim: papyrus é uma planta da família das Ciperáceas (Cyperus papirus), cultivada ao longo do rio Nilo e cujas hastes são formadas por folhas sobrepostas. Os antigos egípcios separavam as folhas, utilizando-as para a escrita, depois de preparadas, convenientemente. Lótus, do latim: lótus: loto, é uma planta da família das ninfeias; é, também, o nome da flor dessa planta. O papiro era, ao lado do lótus, uma das plantas sagradas do Antigo Egito, pela sua importância, como fator civilizador, através da escrita, nele imprimida, e também pelo seu caráter místico: foi num barco de papiro que Ísis desceu o Nilo, à procura dos restos mortais de seu marido, Osíris, assassinado por Seth, ou Tifão.

V A MÍSTICA CRETENSE HISTÓRIA DE CRETA Creta, situada no mar Mediterrâneo, é uma ilha com 8.378 km2, pertencendo, hoje, à Grécia (desde 1913). A antiga civilização da ilha de Creta começou a ser um pouco conhecida apenas no século XX, a partir das escavações feitas por sir Arthur Evans, que exumou o palácio real da cidade de Cnossos, em 1900, último ano do século XIX. Ela se mostra extremamente original e sedutora, através de sua arte e por uma espécie de euforia de vida, tipicamente mediterrânea. É forçoso que se admita, todavia, que ela ainda nos é praticamente desconhecida, pois só temos conhecimento de alguns fragmentos de sua história, não sa sabendo nem mesmo o nome de um rei, já que o famoso nome Minos corresponde a um título, ou ao nome de uma dinastia, e não, especificamente, a um determinado monarca. Torna-se, portanto, extremamente difícil o conhecimento dos detalhes da sociedade, do regime político e das crenças religiosas do povo cretense. A história cretense, no dizer de Picard, é um autêntico “livro de figuras sem legenda”. Pode-se saber, entretanto, que se desenvolveu, em Creta, no segundo milênio a.C., a civilização egeia, que serviu de base para a civilização grega e que se desenvolveu de maneira brilhante, diferente da do Egito e da Mesopotâmia. Tanto o Egito quanto a Mesopotâmia, vastas potências continentais, sujeitas a invasões bélicas do Exterior, tiveram de criar uma sólida estrutura militar, política e social, a qual levaria à implantação da teocracia[1], com os reis semideuses e com as religiões como meios de coesão territorial. Ao contrário, no mar Egeu, as condições existentes eram bem diferentes: a população era diminuta e mostrava pouca homogeneidade étnica, enquanto o território, pouco extenso, compreendia uma série de pequenas ilhas, com estreitas faixas costeiras, onde a produção agrícola mal dava para atender às necessidades da população. O litoral, entretanto, apresentava excelentes portos naturais, o que fez, do povo cretense, uma

comunidade dedicada ao comércio marítimo, o que permitiu uma estrutura governamental mais descentralizada do que a das potências continentais. O período chamado minoico antigo, antes do segundo milênio a.C., deixou vestígios arqueológicos, na parte oriental da ilha e na planície de Messara, onde foram encontrados restos de cerâmica subneolítica, vasos de pedra e objetos de metal, que mostram uma influência asiática. No período denominado minoico médio, no início do segundo milênio a.C. – entre 1700 e 1500 a.C. – encontra-se a época dos grandes palácios de Cnossos, Faistos e Malia, que seriam centros de principados feudais. Posteriormente, todos os palácios seriam incendiados, provavelmente em decorrência da incursão dos primeiros aqueus, chegados ao Peloponeso. Pouco depois seriam reconstruídos os palácios, iniciando-se, então, a supremacia de Cnossos, o que seria um ensaio de monarquia centralizadora, da dinastia dos “Minos”, por volta de 1450 a.C. É a época em que um soberano – “o príncipe dos lírios” – reina num complicado palácio, que recebe o nome de Labirinto, de acordo com o nome oriental da dupla acha de armas, ou machado de dois gumes, o labris, emblema político e, principalmente, religioso, frequentemente reproduzido no palácio. Daí surgiu a lenda da construção, por Dédalo, do labirinto, no qual estava encerrado o Minotauro[2]. As maiores informações sobre a civilização cretense, na realidade, nos chegaram através de sua arte, extremamente desenvolvida e que, ao contrário da egípcia e da asiática, repudia a grandiosidade, já que as figuras representadas raramente ultrapassam o tamanho natural. Além disso, as figuras são sempre representadas em movimento, o que dá grande dinâmica e beleza ao conjunto artístico. O MISTICISMO RELIGIOSO Através do estudo das estátuas votivas, pode-se deduzir que a religião era dominada por um princípio feminino de fecundidade, o que mostraria influências orientais: a divindade suprema é uma Grande-Mãe, servida por sacerdotisas de fartos seios, que manipulam serpentes, símbolos ctônicos[3], que seriam, depois, adotados pelos gregos. Os ritos agrários eram frequentes e os sacrifícios, não cruentos, consistiam em oferendas de produtos agrícolas. É surpreendente a ausência de símbolos masculinos, bem como de signos astrais e celestes, frequentes nas religiões

continentais da África e da Ásia; a presença de animais fantásticos, como grifos e diversos monstros, todavia, mostra uma certa influência mesopotâmica. O desnudamento do busto feminino aparece somente em estátuas votivas, devendo ter tido um significado religioso e não denotando uma moda de seios nus, entre as mulheres cretenses, como afirmam alguns autores. As escavações feitas em Creta, não mostraram, em parte alguma, sinais seguros da existência de templos religiosos; o culto era celebrado nas grutas, nas elevações, em torno de árvores sagradas e em algumas salas do palácio real, onde foram encontradas bacias de água lustral e mesas de oferendas. Nessas escavações, foram descobertas, entre outras coisas, estátuas votivas, em diversas posições corporais e fragmentos de pavimentos quadriculados e de barras decorativas, com motivos geométricos, o que seria uma característica dos cretenses, assim como de seus sucessores gregos, os quais as usavam para decorar vasos, paredes, roupas, objetos de uso pessoal, entre outros materiais. MISTICISMO CRETENSE E MAÇONARIA Sendo, a civilização cretense, ainda bastante desconhecida, seria muito difícil estabelecer suas influências sobre o mundo contemporâneo e um elo entre ela e o misticismo maçônico. Todavia, alguns autores ocultistas, como o bispo Charles Leadbeater, da Comaçonaria norteamericana, chegam a afirmar que, em Creta, havia uma instituição iniciática idêntica à Maçonaria, nos símbolos e nos sinais ritualísticos. Tais autores procuram ajustar os achados arqueológicos às suas próprias concepções, ou teorias, repetindo toda a mistificação que se ergueu em torno da civilização egípcia. Os pretendidos símbolos maçônicos, na cerâmica cretense – barras decorativas, com formato de esquadros, por exemplo – só com muito esforço de imaginação podem ser aceitos. Os cretenses, como os seus sucessores, os gregos, e como muitas antigas civilizações, costumavam usar motivos geométricos ao decorar, vasos, roupas, paredes e objetos de uso pessoal. Assim, afirmar que as barras decorativas, contendo figuras semelhantes a uma esquadria, representam motivos maçônicos, é tão sem cabimento quanto se dizer que o triângulo, instrumento de

acompanhamento musical, é de inspiração maçônica. As estátuas votivas, representando homens e mulheres, em diversas posturas – mãos sobre o peito, mão em pala, sobre os olhos, braço levantado, etc. – não devem, também, representar qualquer atitude ritualística, pois são posturas comuns, do quotidiano; muitas delas, nem com a mais pirotécnica imaginação, lembram qualquer sinal maçônico. Da mesma maneira, os pavimento quadriculados – cuja origem é suméria – foi imitado por todos os povos da Antiguidade, principalmente como elemento decorativo, sem qualquer conotação religiosa. Além disso, como já foi visto, em lugar algum de Creta foi encontrado algum sinal seguro da existência de templos. Não é difícil, portanto, concluir que, além da inexistência de ordens iniciáticas semelhantes à Maçonaria, em Creta, não há nada, na civilização da ilha, que tenha contribuído para armar a mística maçônica.

[1] Teocracia (do grego teokratia: império de deus) é o governo em que há preponderância da classe sacerdotal. [2] O Minotauro era um monstro lendário, com corpo humano e cabeça de touro, o qual, encerrado no Labirinto, se alimentava de carne humana. Foi morto, segundo a lenda, por Teseu – filho do deus Posseidon (Netuno, para os romanos) e de Etra – que, orientado pelo fio de Ariadne, penetrou no labirinto e o venceu. [3] Ctônico, ou ctônio (do grego: chthónios: da terra, pelo latim: chthonius), significa subterrâneo. Mitologicamente designa os deuses infernais, por terem habitação debaixo da terra. As serpentes, no caso, simbolizariam tais divindades.

VI A MÍSTICA DA ANTIGA GRÉCIA HISTÓRIA A Grécia antiga abrangia não só a parte continental, mas, também, ilhas do mar Egeu, do mar Mediterrâneo e do mar Adriático, além de uma extensa faixa de terra na Ásia Menor. A Grécia continental não evoluiu tão rapidamente quanto Creta e, até cerca de 1900 anos a.C., a região norte, constituída pela Tessália e pela Macedônia, continuava no período neolítico, enquanto o sul, junto ao mar, já conhecia o bronze. A partir de então, invasores indo-europeus começaram a se infiltrar na região: por volta de 1600 a.C. surge, já constituída, a civilização da Argólida, região altamente favorecida pela grande fertilidade de suas planícies e pelas suas relações com Creta e com as ilhas do Mar Egeu. Esse período seria caracterizado pela presença de um novo grupo de indo-europeus, os aqueus, que se localizaram no Peloponeso e entraram em contato com os cretenses, surgindo, daí, a civilização micênica, assim chamada porque o seu principal centro era Micenas. Os indo europeus anteriores os jônio-miniamos, que, junto com os aqueus, são os primeiros gregos da História, tendo sido civilizados por Creta, surgindo, então, uma combinação de influências mediterrâneas e nórdicas. É essa a época arcaica da civilização helênica e corresponde aos chamados “tempos heroicos”, descritos por Homero, na Ilíada e na Odisseia, cujas descrições são, hoje, comprovadas por escavações realizadas em Micenas e Tirinto, além do reconhecimento, pela Arqueologia, de sítios como a gruta de Calipso, a região de Circe, Caribde e Cila, entre outros, eliminando-se, é evidente, a parte fantástica da obra homérica. Posteriormente, entre os séculos XII e X a.C., ocorreria a instalação dos dórios na Grécia, acabando de firmar a civilização grega, ocasião em que os centros micênicos eram substituídos por outros: Amicleia, por Esparta, Micenas e Tirinto, por Argos, e Orcômeno, por Tebas. A partir daí se iniciaria a expansão e a colonização grega, que atingiria a Sicília, o sul da Itália, o Mediterrâneo ocidental e oriental (Calcídica e Trácia), a Propôntida

(Mar de Mármara) e os Esdtreitos, o Ponto Euxino (Mar Negro) e até a árida costa africana, ao oeste do Egito. O nome mais antigo da Grécia foi Pelasgia, ou seja, terra dos pelasgos, vindo, depois, o nome de Acaia, tirado da designação grega de uma das tribos dos aqueus, e, finalmente, Hélade, derivado de Helen, filha de Deucalião e de Pirra, dando nome à civilização helênica. Gregos (do latim: graeci) é um termo que foi introduzido pelos romanos. A organização social, no princípio da civilização helênica, foi caracterizada pelos clãs e, posteriormente, pelas fratrias, formas de agrupamento social, as quais sobreviveram durante muito tempo, presidindo aos grandes atos da vida familiar e pública: casamento, apresentação dos filhos legítimos, atribuição dos direitos cívicos, inscrição do jovem adulto, entre outras coisas. Depois da fratria, a evolução políticosocial chegou à cidade-estado e, posteriormente, às confederações, ou ligas, entre as cidades, sem se chegar, contudo, à unidade política dos gregos, a qual só seria realizada com a sua incorporação à Macedônia, quando Filipe a impôs. Essa unidade, então, seria consolidada por Alexandre Magno e continuaria, mesmo após a sua morte. Em 146 a.C., a Grécia era tornada província romana, sob o nome de Acaia, exercendo, então, uma notável influência moral, intelectual e artística sobre a cultura romana. Tal prestígio cultural só declinaria após a fundação de Constantinopla, quando esta passou a exercer a hegemonia na Europa oriental: durante a Idade Média, os imperadores cristãos bizantinos não viam com bons olhos a clima pagão da Grécia; e o imperador Justiniano, finalmente, mandou fechar as escolas de Atenas, tidas como propagadoras do paganismo. Essa foi, apenas, mais uma das violências da religião contra a cultura. Assim, a civilização grega, já desfigurada e sem forças para manter a antiga pujança, foi arruinada pela invasão dos bárbaros. No final do período medieval, em 1453, iniciava-se o domínio turco, que só terminaria já na Idade Contemporânea. O período da evolução grega, que mais interessa, para a finalidade deste trabalho, é o dos primeiros dois séculos da história da Grécia, quando houve o grande florescimento de suas artes, de sua filosofia e de sua religião, que tanto influenciaram o mundo cultural antigo e contemporâneo. Apesar da religião já ter surgido nesse período aqueu, a verdade é

que jamais houve, entre os gregos, uma teocracia como aquela existente nos impérios asiáticos e no Egito; isso permitiu o desenvolvimento do pensamento, do raciocínio crítico e da ciência pura, sem o primitivismo e o empirismo das demais civilizações, que se encontravam subjugadas pelo poder sacerdotal. A religião aqueia ainda é pouco conhecida, mas se aproximava bastante dos cretenses, embora o culto dos heróis, bastante desenvolvido, fosse de origem nórdica; nesse período aqueu da história grega surgem os grandes deuses, já gregos, depois copiados pelos romanos. A partir do período micênio, a religião grega, mutável e diversificada, evoluiu bastante: ao antigo culto creto-micênico, foram acrescentadas as contribuições indo-europeias recentes e as influências orientais. Dois ordenadores com grande genialidade impuseram as suas marcas no espírito religioso grego: Homero, criador de uma sociedade divina antropomorfizada, ou seja, à imagem da humana, e Hesíodo, que concebeu uma total teogonia e lançou o problema das forças misteriosas, que regem e decidem os destinos do homem. Através dos tempos, os gregos foram criando histórias e lendas em torno dos deuses e de suas origens; essas lendas, imaginosas e muitas vezes fantásticas, eram os mitos, cujo conjunto é a mitologia. Interpretando os mitos os poetas e artistas (com Homero à frente) foram, paulatinamente, esboçando as características peculiares de cada deus, fixando sua imagem nas esculturas e pinturas. Os deuses gregos apresentam em relação aos demais deuses do mundo antigo, uma particularidade: eles não eram distantes e misteriosos, assemelhavam-se aos homens e viviam entre eles. Como os humanos “mortais”, eles tinham defeitos e virtudes, paixões e fraquezas, sendo, todavia mais fortes e, principalmente imortais; tinham o dom da invisibilidade, mas podiam aparecer aos homens, sob forma humana. Desta maneira, a mitologia grega não é uma religião ao sentido lata da palavra. Os deuses do panteão grego, que estavam em toda parte, ou seja, no céu, no mar, sobre a terra e sob o solo eram os seguintes: ZEUS (Júpiter para os romanos): principal deus, soberano do mundo, que reinava no Monte Olimpo, a mais alta montanha da Grécia. Era o senhor dos fenômenos atmosféricos e de todos os lugares atingidos pelo raio; cuidava da colheita da vinha, ocupava-se das cerimônias de casamento

dos tratados e juramentos, sendo a figura arquetípica do pai; os raios e trovões chegavam à terra, vindos diretamente dele, e eram usados como símbolos de sua majestade. Controlando as ações humanas e as dos demais deuses, ele era o protetor de toda Grécia, embora cada cidade tivesse ainda, o seu deus protetor especial. HERA (Juno para os romanos): era a esposa de Zeus e encontravase junto a ele no Olimpo; era deusa do casamento, dos lares, da montanha e das crianças. ÁRTEMIS (Diana para os romanos); filha de Zeus e de Hera, representava a divindade protetora das florestas, da caça e das flores; era, também, a deusa da Lua. APOLO ou FEBO (mesmo nome para os romanos): filho de Zeus, deus do Sol, criador da poesia e da música, do canto e da lira, das profecias e das artes. HERMES (Mercúrio para os romanos): também filho de Zeus, era o mensageiro dos deuses, além de deus, protetor dos pastores, dos comerciantes, dos viajantes, dos atletas e dos oradores. HÉSTIA (Vesta para os romanos): filha de Zeus, zelava pela chama sagrada, que devia arder em todas as casas. POSSEIDON (Netuno para os romanos): irmão de Zeus e, como este, filho de Cronos e de Reia, que, por sua vez, eram filhos de Geia, a mãe terra, e de Urano, o céu. Era o deus do mar, a quem os navegantes temiam e imploravam proteção. HADES (Plutão era outro nome pelo qual era conhecido): senhor absoluto e sempre invisível das profundezas da terra, era o deus do misterioso reino dos mortos. ARES (Marte para os romanos): deus da agricultura e da guerra e apanágio da força. DEMÉTER (Ceres para os romanos): irmã de Zeus, era protetora dos agricultores, dos campos e das colheitas de cereais e frutas, sendo representada com várias espigas de trigo nos braços. Era, ao lado de Zeus, Hera e Posseidon, uma das mais antigas deusas gregas, já que o seu mais antigo telesterion (templo, sala de iniciação), na cidade de eleusis à época micênica. O seu culto agrário, englobado nos chamados “Mistérios de Eleusis”, é uma lembrança do culto do deus sumério Dumuzi e influi no misticismo iniciático maçônico.

ATENÁ ou PALAS ATENÁ (Minerva para os romanos): nascida da própria cabeça de Zeus, ela era a deusa da razão, da inteligência, da sabedoria e da paz. HEFESTO (Vulcano para os romanos): filho de Zeus era o deus do fogo, das forjas e dos ferreiros. DIONÍSIO (Baco para os romanos): filho de Zeus, além de ser o protetor da vegetação e das vinhas, era, também, o deus dos mortos, através das promessas de ressurreição. Além desses deuses principais, existiam as divindades menores, ou subalternas, assim relacionadas: As MUSAS, acompanhantes de Apolo, que inspiravam as várias criações científicas e artísticas: Euterpe, a música; Clio, a história; Terpsícore, a dança; Tália, a comédia; Melpômene, a tragédia; Érato, a poesia lírica; Polimnia, a mímica; Urânia, a astronomia; Calíope, a poesia épica e a eloquência. As GRAÇAS (Cáritas em grego), auxiliares de Afrodite, dispensavam cuidados especiais ao reino vegetal. As HORAS, que assistiam a desenrolar das quatro estações do ano. As PARCAS (Moiras em grego), que fiavam, teciam e cortavam o destino do homem. Entre os deuses imortais e os homens, os gregos criaram, ainda, os heróis (por influência do ciclo dos heróis sumérios), semideuses antepassados e realizadores de feitos e de façanhas extraordinárias: HÉRCULES (Heracles em grego): considerado o maior de todos os heróis gregos; filho de Zeus e da princesa Alcmena, representa um ser poderosamente forte, o mais vigoroso de todos homens. JASÃO: filho de Élson, rei de Lalcos, chefiou a expedição dos argonautas, incumbida de conquistar o carneiro do velo de ouro. PERSEU: filho de Zeus e de Dânae, encarregado pelo rei Polidectos de combater as Górgonas e trazer a cabeça de Medusa; com o auxílio de Atená, Hermes e Hades venceu as Górgonas e decapitou a Medusa. ORFEU: segundo alguns, seria filho de Oedrago, rei da Trácia e da Calíope, musa da poesia; para outros seria filho do deus Apolo e da musa

Clio, inspiradora da história. Sua mulher, Eurídice, foi picada pó uma serpente, no dia do casamento; descendo aos infernos, Orfeu conseguiu reavê-la sob a promessa de partir sem olhar para trás, mas, tendo quebrado essa promessa, perdeu-a para sempre. TESEU: filho de Posseidon e Etra. Segundo a lenda guiado pelo fio de Ariadne, ele penetrou no labirinto de Creta, vencendo o monstro Minotauro. ULISSES (Odisseu para os gregos): rei de Ítaca e herói da Odisseia, de Homero; distinguiu-se por sua estratégia na Guerra de Troia, tendo inventado o famoso cavalo de madeira (Cavalo de Troia), ardil que decidiu a guerra a favor dos gregos. ÉDIPO: filho dos reis de TEBAS, Laio e Jocasta, nasceu precedido de horrível profecia: mataria seu pai e casaria com sua mãe. Por isso, foi exposto pelos pés, dias após o nascimento, no monte Cíteron; salvo, entretanto, por um camponês, concretizou a profecia, anos mais tarde. Jocasta, ao saber-se mulher do próprio filho, matou-se e Édipo arrancou os olhos. Todos esses semideuses, entre outros, inspiraram desde a Antiguidade, até aos dias atuais, a obra de escritores, poetas, pintores, escultores, teatrólogos, compositores, etc., tendo influência, também, em muitas áreas do misticismo. Paralelamente a toda essa ordenação, a religião popular adquiria os seus traços fundamentais e duradouros, baseada no respeito às forças naturais antropomorfizadas (Zeus, Hermes, Ártemis), nos ciclos eternos e imutáveis da vegetação, das sementeiras e das colheitas (Deméter e Dionísio), e no braseiro que se deve proteger contra as más influências (Héstia, Zeus). A religião era o elo da família, dos habitantes de uma cidade e de todos os gregos, já que o culto religioso era desenvolvido nas casas, nos templos e nos santuários pan-helênicos (comuns a todos os helênicos). Os gregos solicitavam os favores dos deuses, ofertando-lhes bebidas e alimentos (como vinho, leite e mel, no caso de bebidas), além de sacrifícios de animais; o sacrifício mais solene era a hecatombe (de hecaton; cem e bous: boi), ou seja, o sacrifício de cem bois. Sendo, a época arcaica da Grécia, um período de grande

instabilidades e perturbações, houve o desenvolvimento geral, e de maneira relativamente acentuada, de crenças novas, mais satisfatórias para os homens e resultantes do anseio do reconforto íntimo e de certezas mor ais; houve, assim, um grande incremento do Orfismo, do culto a Dionísio e dos Mistérios de Eleusis. O Orfismo, de contornos vagos, mais uma disposição de espírito do que uma doutrina racional, insistia na oposição da alma e do corpo e na responsabilidade individual; concebia um ideal de vida purificada, ascética e virtuosa, que a filosofia pitagórica, mais científica em seus princípios e mais mística em seus dogmas, iria desenvolver, posteriormente nas escolas pitagóricas, sobretudo no sul da Itália. Os gregos atribuíam ao próprio Orfeu a criação dos mistérios órficos. Segundo a lenda, Orfeu era uma hábil músico e ao som de sua cítara, as feras ficavam mansas, as aves silenciavam, os rios se detinham em seu curso e as árvores dançavam ao ritmo da música; dizia-se inclusive, que ele se valera de sua música para fazer com que os trácios abandonassem os seus hábitos selvagens. Ele participou da expedição dos argonautas, chefiada por Jasão e foi iniciado nos mistérios de Dionísio (Baco para os romanos), tornando-se um pontífice, cuja sabedoria era inspirada pelos deuses. O maior destaque de Orfeu, na lenda era dado pelo grande amor a Eurídice, a quem tentou resgatar dos infernos, sem conseguir. O Culto a Dionísio (ou Mistérios de Dionísio), apresentava múltiplos aspectos, pois, além dele ser o deus da vegetação e das vinhas, era, também, o deus dos mortos, através das promessas de ressurreição, despertando, assim, grande entusiasmo e fervor religioso, entre o povo por deter o segredo da imortalidade. Dionísio, que era representado com a fonte cingida de folhas de parreira, num carro puxado por panteras e tigres, teria, segundo a lenda, viajado pela Ásia Menor e pela Índia, tendo dado, ao rei Midas, o poder de transformar em outro tudo aquilo que tocasse. Ele teria sido criado pelo mais velho dos sátiros, Sileno, divindade dos bosques, e se casado com Ariadne, quando esta foi abandonada por Teseu. Os atenienses celebravam, a cada quatro anos, festas, rituais em sua honra (Mistérios de Dionísio) e, dessas festas é que deriva o teatro grego. A lenda da morte e da ressurreição de Dionísio corresponde, intimamente, à de Osíris e era ensinada com o mesmo significado da lenda egípcia.

Os Mistérios de Eleusis justapõem o culto da deusa Deméter, que ensina, aos homens, o cultivo do trigo, e o culto de sua filha Perséfone, ou Core (Prosérpina para os romanos), cujo estágio hibernal nos infernos simbolizaria o ciclo do nascimento e morte dos vegetais. Deméter (ou Ceres), deusa das colheitas, tinha grande amor por sua filha Perséfone. E diz a lenda que, certo dia, quando colhia flores no campo, Perséfone foi raptada por Hades (ou Plutão), deus dos infernos. Deméter, depois de algum tempo, passou a procurar a filho por todo o mundo, dias e noites, até que, ao se encontrar com Apolo, o Sol, este a informou sobre o rapto. Tomada, então, de cólera contra a Terra, ela negouse a permitir que, nela, crescessem os grãos e o frutos. Diante do caos que se instalou, graças á falta de produção agrícola, Zeus teria interferido junto a Hades, para que este devolvesse Perséfone à mãe, estabelecendo, porém, como condição para que ela retornasse ao Olimpo, não haver ingerido nenhum alimento, durante o tempo em que permanecera no inferno. Como ela havia ingerido os grãos de uma romã, não lhe foi possível voltar, sendolhe permitido, apenas, que passasse seis meses do ano com sua mãe e os outros seis meses no inferno. Entre as muitas prerrogativas atribuídas a Perséfone havia aquela de que ninguém poderia morrer, sem que ela lhe cortasse o fio de cabelo, que ligava à vida. Isso fez com que o seu culto fosse bastante desenvolvido: ela presidia aos funerais e os amigos do morto cortavam os cabelos e os jogavam numa fogueira, em homenagem à deusa; acreditava-se, também, que ela fazia reencontrar os objetos perdidos. Como ela fora raptada ainda adolescente, os gregos lhe deram o nome de Core (a jovem). Devido a essa lenda, Perséfone simboliza as sementes, que permanecem sob a terra, durante meio ano, e depois frutificam sobre a mesma. Esotericamente, esse ciclo de nascimento e morte dos vegetais, representa, em última análise, a eternidade e a imortalidade. Desta maneira, os Mistérios de Eleusis forneciam, aos iniciados, os segredos da morte e da ressurreição. Ele se dividia em dois graus, conforme o aperfeiçoamento do iniciado: Mistos e Epoptas. Aos Mistos eram dados ensinamentos relativos à vida após a morte, no mundo astral, intermediário entre o material e o espiritual; eles tinham instrução, também, sobre a evolução do homem na terra e sobre a cosmogonia (designação das várias teorias, que tem por objetivo explicar a formação do Universo, seja do ponto de vista místico, ou científico). Esses

iniciados usavam, como vestimenta, uma simples pele de corça. Os Epoptas representavam um grau mais elevado e recebiam mais profundas instruções sobre a origem do universo e do homem, sobre o domínio da mente e sobre a espiritualidade. O símbolo do grau era uma espiga de trigo, que além de representar a fartura (através da deusa Deméter), aludia, também à renovação sempre constante da vida, através das mortes e das ressurreições, como no ciclo dos vegetais, representado pela deusa Perséfone. A vestimenta desses iniciado era um velocino dourado, o que pode ter contribuído para a formação da lenda de Jasão e velocino de ouro. Embora mais desenvolvido, os mistérios de Eleusis não diferem muito, em sua essência mística da lenda de Osíris dos egípcios, e do culto a Dumuzi dos mesopotâmicos, sendo este o germe de todas as doutrinas que tratam dos mistérios da morte e da ressurreição. Também a lenda do assassínio de Dionísio pelos Titãs, seguido do seu esquartejamento e da sua ressurreição dentre os mortos, que era abordada nos mistérios de Eleusis, é bastante semelhante à lenda de Osíris. O Pitagorismo foi um movimento de reforma do Orfismo e foi através das escolas pitagóricas que o primeiro chegou à posteridade. Como já foi esclarecido, o Pitagorismo era mais científico em seus princípios, através do papel dos números e da harmonia e mais místico em seus dogmas, através da crença na migração astral das almas. A comunidade fundada por Pitágoras, de Samos, na Itália Meridional, era ao mesmo tempo, religiosa, filosófica e política. O tratamento dedutivo-demonstrativo da matemática começou com ele ligado a uma forma peculiar de misticismo. Pitágoras afirmava que todas as coisas são constituídas de números. Ele imaginava os números como pontos dispostos em forma de figuras e nesse caso, as coisas seriam harmoniosamente compostas de pequeninas partículas ordenadas em figuras numéricas. Associou os números à música e a mística, derivando dessa associação pitagórica os termos matemáticos “média harmônica” e “progressão harmônica”. Número, para a linguagem pitagórica, era sinônimo de harmonia; em todo o Universo deve existir essa harmonia, que, em última análise, é a própria responsável pela existência e manutenção. Dentro desse conceito, o corpo humano saudável é uma harmonia, sendo, o papel da Medicina, restabelecer essa harmonia ao máximo que for possível, quando ela houver

se rompido. Os pitagóricos concebiam uma Terra esférica, sendo uma estrela entre as estrelas, as quais se moviam todas ao redor de um fogo central; suas distâncias desse fogo coincidiam com intervalos musicais, de maneira que ressoava no Universo, uma harmonia das esferas. As escolas pitagóricas, a partir das propriedades dos números, passaram sempre a buscar analogias entre todas as coisas e os números, chegando à concepção de uma mística numérica. A maior contribuição científica dessas escolas. Através do próprio Pitágoras (que viveu no século VI a.C.), ou de seus discípulos imediatos, foi a descoberta da relação existente nos triângulos retângulos provando que a soma do quadrado dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Como crença religiosa básica, Pitágoras ensinava a transmigração das almas e a abstenção de diversas práticas, inclusive a de se comer carne; essa abstenção era originária do ensinamento que mostrava a possibilidade da alma reencarnar em animais. Os discípulos das escolas pitagóricas estavam divididos em três categorias ou graus: Ouvintes (akoustikoi), Matemáticos (mathematikoi) e Físicos (physikoi). Os Ouvintes participavam das reuniões, mas guardavam absoluto silêncio, durante elas, numa fase que durava dois anos, tempo durante o qual eles se limitavam a ouvir e aprender. Os Matemáticos, que se encontravam numa fase mais avançada, colocavam em prática o cerne da doutrina pitagórica: relacionavam os diversos ramos da matemática com a música, descobrindo as correspondências entre as ciências. Os Físicos eram físicos, mas não no sentido atual do termo e sim no sentido usado nos tempos da Grécia clássica: a Física (physiké) era a filosofia natural, o estudo da natureza. Os discípulos pitagóricos nesse grau entregavam-se ao estudo místico dos mistérios da natureza e da vida interior do homem. A comunidade criada por Pitágoras tinha, como símbolo distintivo, uma estrela de cinco pontas que, desde a antiguidade servia para representar os corpos celestes que, aparentemente, eram menores que o Sol e a Lua. Para os pitagóricos, entretanto, ela simbolizava outra coisa.

ESTRELA DE CINCO PONTAS (PITAGÓRICA) No alto, a Estrela Hominal que simboliza a alta espiritualidade humana; embaixo, a Estrela Invertida, onde se inscreve a figura de um bode, o símbolo da animalidade e da materialidade.

A estrela de cinco pontas, o tríplice triângulo cruzado, representa, em sua posição normal (com uma ponta para cima e as outras para os lados), o homem em sua alta espiritualidade, pois nela se inscreve uma

figura humana, com a cabeça ocupando a ponta superior e os membros superiores e inferiores ocupando as demais pontas. Por isso, ela é chamada de Estrela Hominal, representando a sabedoria, a gnose e a espiritualidade com todos seus atributos. Quando a estrela de cinco pontas está invertida nela se inscreve a figura de um bode, representando então a materialidade e a animalidade, com todos os seus atributos. Ainda no tocante à religião e ao misticismo transcendental grego, além de todas as manifestações já citadas, cabe uma referência a dois aspectos coletivos da religião, que acabaram sendo usados politicamente para a hegemonia das cidades e de seus deuses locais: 1° As anfictônicas, que reuniam povos, ou cidades à volta de santuários veneráveis, como o de Posseidon, no Cabo Mícale, e o de Apolo Pítico, em Delfos; 2° Os oráculos e os jogos, ou festas pan-helênicas (jogos Nemeus, de Nemeia, jogos Ístmicos, de Corinto, Jogos Píticos, de Delfos, Jogos Olímpicos, de Olímpia). O principal oráculo era o de Delfos, no templo dedicado a Apolo, ou Febo, que conduzia o carro do Sol, era reverenciado como o deus da Luz e adorado nos festivais apolíneos. O oráculo de Delfos exercia influência básica e transcendental sobre os gregos, pois, através da orientação profética da sacerdotisa chamada Pítia (de Pythón: serpente), Apolo incrementava alto espírito de justiça e de moralidade. Durante as peregrinações a Delfos, todos aqueles que iam consultar o oráculo levam grinaldas de louro, que representavam o triunfo consagrado ao Deus da Luz. A Astrologia, embora tenha chegado à Grécia um pouco tarde, adquiriu, entre os gregos, os seus aspectos fundamentais e mais duradouros. A partir do século III a.C., os gregos se empenham em transformar a Astrologia babilônica, de acordo com suas próprias tradições, tornando-a cada vez mais complexa. Eles foram os responsáveis pela popularização de um sistema, que anteriormente, só era acessível aos reis, ou seja, o método de calcular destinos individuais, baseado no momento do nascimento. O primeiro livro astrológico moderno e menos empírico, o Tetrabiblos, é atribuído ao matemático, astrônomo e geógrafo Ptolomeu, nascido em Alexandria e que trabalhou no século II d.C., estabelecendo os princípios da influência

cósmica, que constituem o cerne da moderna Astrologia. Soa a influência grega, os planetas, as casas e os signos do Zodíaco foram racionalizados, tendo determinada a sua função, de tal maneira que, até hoje, houve pouquíssima mudança. MISTICISMO GREGO E MAÇONARIA Em relação à Maçonaria podemos encontrar incontáveis influências da mística grega, destacando-se, todavia, as seguintes: 1. Da mesma maneira que os oficiais de uma loja maçônica representam os planetas conhecidos na antiguidade, de acordo com a mística suméria, eles possuem, também o apanágio de deuses olímpicos e semideuses do panteão grego. Assim, temos: Venerável – seria a representação de Zeus (Júpiter), o rei dos deuses, por sua condição de dirigente da loja. Representa, também a deusa Atena (Minerva), da sabedoria, já que o Venerável deve ter a sabedoria, a prudência, a inteligência e o discernimento necessários para dirigir uma loja. 1° Vigilante – representa Ares (Marte), deus da agricultura e da guerra, ou da força, já que essa é a característica desse cargo, que, também é relacionado com Heracles (Hércules), o mais forte e vigoroso de todos os homens, de acordo com a mitologia grega. 2° Vigilante – simboliza Afrodite (Vênus), a deusa do amor e da beleza, apanágio desse oficial maçônico. Orador – é a representação de Apolo, ou Febo, deus do Sol, criador da poesia e da música, do canto e da lira; esse oficial, responsável pela guarda da lei e peças de oratória, representa a Luz, simbolizada por Apolo. Secretário – corresponde a Ártemis (Diana), deusa da Lua, da caça e das flores, já que esse oficial, refletindo nas atas, a Luz que vem do Orador (Apolo, Sol), simboliza a Lua. Mestre de Cerimônias – corresponde a Hermes (Mercúrio), mensageiro dos deuses olímpicos, já que esse oficial, em sua circulação, é o mensageiro dos dirigentes da Loja. Vale, ainda, esclarecer, que o Venerável, ao fazer a sagração de um iniciado, usa para isso, uma espada cuja lâmina possui várias curvaturas. Essa espada, que é chamada de Espada Flamejante, lembra a representação

artística de um raio e só por ser empunhada pelo presidente da loja, pois ele representa Zeus, que era o senhor dos fenômenos atmosféricos e de todos os lugares atingidos pelo raio. 2. Os Mistérios de Eleusis mostram grandes analogias com a mística iniciática maçônica. As provas de iniciação maçônica, que representam a morte física do iniciado e o seu renascimento num plano superior, estão em completo acordo com os ensinamentos sobre os mistérios da morte e da ressurreição, fornecidos aos iniciados no culto de Deméter e de Perséfone. O primeiro grau dos mistérios de Eleusis, Mistos, tem grande relação com o primeiro grau maçônico, Aprendiz, pois, em ambos, o iniciado se dedica ao estudo da evolução racional da espécie humana e da formação do universo de acordo com as doutrinas iniciáticas. No segundo grau dos Mistérios de Eleusis, Epoptas, assim como no segundo grau maçônico, Companheiro, o símbolo é uma espiga de trigo. Na Maçonaria, o significado dessa espiga é o mesmo que nos mistérios gregos: ela além de representar a fartura, simboliza, também, a renovação sempre constante da vida, através das mortes e das ressurreições, como no ciclo dos vegetais, sendo, em última análise, o símbolo da imortalidade da alma, pregada na doutrina mística da Maçonaria. 3. O Pitagorismo mostra influência sobre o misticismo maçônico, começando pelos seus graus de aperfeiçoamento. Os três graus maçônicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) representam as três grandes fases da evolução do pensamento do homem: intuição, análise e síntese; de maneira geral, os três estágios das escolas pitagóricas seguem, também, essa evolução. Além disso, os Ouvintes, ou Acústicos, do Pitagorismo, guardavam absoluto silêncio, durante o aprendizado, limitando-se a ouvir e aprender, situação muito similar à da Maçonaria, onde o Aprendiz, simbolicamente é uma criança e, portanto também simbolicamente não fala, limitando-se a ouvir e aprender. Os Mestres, na Maçonaria, possuem, no simbolismo de seus trabalhos, semelhança com os Físicos do Pitagorismo, pois ambos tem o escopo de estudar os mistérios da natureza e a vida interior do homem. A numerologia mística maçônica também mostra influência pitagórica, embora a sua maior fonte seja os textos cabalísticos hebraicos como veremos posteriormente. A dualidade “corpo” e “alma” do orfismo e do pitagorismo (como também do culto a Dionísio), e encontrada em toda a

extensão da doutrina mística maçônica. A estrela de cinco pontas, Pentagrama (cinco letras), ou Pentalfa (cinco princípios), que, a partir dos meados do século XVIII passou com o nome de Estrela Flamejante, a fazer parte dos símbolos maçônicos, é de origem pitagórica, representando, na Maçonaria, a mesma coisa que no pitagorismo: como estrela hominal, representa o homem em sua alta espiritualidade. Alguns autores têm associado a Estrela Flamejante com a estrela de cinco pontas usada no Ocultismo, na Alquimia e na Magia da Idade Média, todas com significado bem diferente daquele dado pelos pitagóricos. A realidade, porém, é que a Estrela Flamejante é pitagórica mesmo. 4. A Maçonaria, como já foi esclarecido, adota os mitos solares da antiguidade, identificando os deuses ligados ao Sol com a luz da razão e do conhecimento, estando Apolo entre eles (assim como Shamash, Osíris e Mitra). Existe, mesmo, um grau maçônico em que o recepiendário é coroado com uma grinalda de louro, como nos festivais de Delfos, em tributo a Apolo, que é, convém que se repita, encarado pela Maçonaria como representação da luz do conhecimento e da percepção e não daquela proveniente de corpos materiais. Outras particularidades da civilização helênica muito influenciaram a prática maçônica, contando-se, entre elas, a Filosofia, a Geometria, a História e, principalmente, a Arquitetura, com suas ordens principais, dórica, jônica e coríntia, que também são analisadas de um ponto de vista místico, além do arquitetônico, através de suas colunas características. As denominações dos três estilos arquitetônicos foram, durante a Renascença, tiradas da Antiguidade, embora eles não possam ser literalmente tomados como específicos de uma determinada região: a ordem dórica não ficou limitada à região dos dórios – no continente e no Peloponeso – a jônica, embora surgida na Jônia – Mileto, Samos e Dídima – originou a ordem ático-jônica, no continente, e a coríntia, muito posterior às duas primeiras, é muito semelhante à jônica, só se diferenciando pelo capitel de suas colunas. A ordem dórica foi considerada, a partir do classicismo europeu, a autêntica representante da arquitetura clássica grega e a mais usada nos templos gregos. A coluna dórica não tem base e o seu aspecto é o de uma estrutura

simples, mas de forma bastante convincente, pois, como a função principal de uma coluna é erguer-se, suportando um peso, a forma dela confirma essa função arquitetônica, para cuja realização, todavia, colaboram alguns recursos bem sutis: primeiro, há o adelgaçamento do fuste, ou seja, a gradual redução de seu diâmetro, de baixo para cima, de modo que, no topo, ela tenha três quartos do diâmetro da parte inferior; em seguida, o canelado, que divide o corpo da coluna em sulcos, mediante profundas estrias verticais, separadas por agudas cristas; e, finalmente, o capitel, que concretiza, com muita originalidade, a transição da força ascensional do fuste para o peso do entablamento. Além disso, há, no extremo superior do fuste, um estrangulamento, através de uma série de cristas e caneluras horizontais, à quais se segue a parte inferior do capitel, chamada de equino, já que os gregos a comparavam a um ouriço do mar, em posição invertida. Esta parte representa a almofada elástica, com a qual o apoio, que é a coluna, está pronto a receber o peso do entablamento; este desce sob a forma de uma pedra quadrada, o ábaco, que se coloca sobre a superfície do equino. A ordem jônica diferencia-se da dórica, principalmente por suas colunas. A coluna jônica apresenta um fuste mais alto e mais belo, onde existem caneluras cravadas profundamente e separadas por listéis planos, ao invés de arestas vivas. Além disso, ela apresenta uma base circular, com bela estrutura, e um complicado capitel, cuja parte inferior, com um ornamento em óvulos, repousa sobre o fuste; à moldura de óvulos, seguemse as volutas, que se estendem para a direita e para a esquerda, superficialmente, em almofada arqueada, que se enrola em torno de um eixo, com força elástica e tensa. Seu capitel também possui o ábaco, sobre o qual se apoia a arquitrave. A ordem jônica, na realidade, é relacionada mais com a ornamentação superficial do que com uma arquitetura organizada, como ocorre com a dórica. A ordem coríntia segue todas as demais características da jônica, diferindo apenas no capitel, que tem uma rica decoração de folhas de acanto. A coluna coríntia teria origem em uma lenda, segundo a qual o escultor Calímaco, teria visto em Corinto, no século V a.C., sobre o túmulo de uma donzela, um cesto (kalathós), em torno do qual crescia o acanto[1]. Assim, no capitel coríntio, nota-se um núcleo central, em torno do qual estão dispostas as folhas de acanto, que crescem a partir da base do capitel; nos cantos, em todas as faces, sobem gavinhas, que vão até à curva do coroamento, quando os seus enrolamentos sustentam a saliência do ábaco;

do cesto, saem outras gavinhas, que terminam em cálices de flores. Ao contrário das colunas egípcias – e, também, daquelas do pórtico do templo de Jerusalém – as colunas gregas são, realmente, destinadas à sustentação de entablamentos, embora a mais apropriada para isso seja a dórica. Por isso, em Maçonaria elas sustentam, simbolicamente, a Loja, sendo representadas pelas Dignidades desta: Venerável Mestre (presidente) e Vigilantes (vice-presidentes). A coluna jônica, símbolo da sabedoria, corresponde ao Venerável Mestre; a dórica, símbolo da força, corresponde ao 1° Vigilante; e a coríntia, símbolo da beleza, corresponde ao 2° Vigilante[2].

[1] Acanto (do grego: ákanthos: espinho) é uma planta espinhosa, da família das Acantáceas. Em Arquitetura, é a imitação que se faz das folhas do acanto, principalmente na decoração do capitel da coluna coríntia, para distingui-lo do capitel jônico [2] O rito inglês, que utiliza o Emulation Ritual (indevidamente chamado, entre nós, de Rito de York) tem uma prática envolvendo essas colunas. Existem miniaturas delas sobre as mesas dos três principais dirigentes da Loja: jônica, para o Venerável Mestre (presidente), dórica para o 1° Vigilante (1° vice) e coríntia para o 2° Vigilante (2° vice). A coluneta do Venerável Mestre permanece fixa, enquanto as dos Vigilantes são móveis: quando a Loja está aberta e em trabalho, a coluneta do 1° Vigilante fica de pé e a do 2° Vigilante fica deitada; quando, porém, os trabalhos são suspensos, para recreação, ou para finalizá-lo, ocorre o contrário, ou seja, o 1° Vigilante abaixa sua coluna e o 2° Vigilante levanta a sua. Lamentavelmente, tal prática vem sendo imitada, em lojas sul-americanas de outros ritos, que não a possuem.

VII A MÍSTICA DA ANTIGA PÉRSIA HISTÓRIA As várias tribos indo-europeias, que se espalharam pelo Planalto do Irã, deram origem a dois Estados: a Média e a Pérsia, ao norte e ao sul, respectivamente. No princípio, o domínio da região pertenceu aos medas, até 559 a.C., quando Ciro, o Grande, rei dos persas, incorporou a Média aos seus domínios, principiando, então, o período Aquemênida (da dinastia) da história persa. Ciro daria início a uma política imperialista – seguida por seus sucessores – que iria conquistar um vasto território: Europa Meridional, Ásia Menor e Oriente Próximo, o qual constituiria o Império Persa. O Império, iniciado por Ciro, com a conquista da Média, de todas as cidades do litoral grego (546 a.C.), da Babilônia, da Síria e da Palestina (539 a.C.), foi aumentado por seu filho, Cambises, que conquistou o Egito, em 525 a.C., e consolidado pelo sucessor de Cambises, Dário I, que tomou Chipre, as ilhas gregas, toda a costa da Ásia Menor, incorporando, ainda, a Cítia, a Trácia e a Macedônia. Essa foi a época de ouro do antigo império persa, ocasião em que foram construídos os famosos e luxuosos palácios de Persépolis, Pasárgada e Susa, onde se percebe a extraordinária influência babilônica. Posteriormente, o Império Persa passaria por diversas fases: domínio helenístico, do século IV ao século II a.C., com Felipe da Macedônia e seu filho, Alexandre Magno; Império Parta, do século II a.C. ao século III d.C., fundado com a expansão dos arsácidas, através de Mitridates I, soberano da Pártia; dinastia dos Sassânidas, do século II a VII, quando houve o restabelecimento do Império Persa, através de Ardashir I (Artaxerxes); domínio dos árabes, no século VII (em 641), passando, no século XI, ao domínio dos turcos seljúcidas, para, finalmente, no século XIII, sofrer a invasão das hordas mongólicas de Gêngis Khan e, posteriormente, das de Tamerlão, cujo domínio se estenderia até ao século XVI; período áureo da Pérsia, do século XVI ao século XVIII, quando renasceu a nação, sob a dinastia dos Safávidas, e quando a arte persa atingia seu máximo

florescimento; período moderno, a partir do século XVIII, quando o território persa sofreu vários desmembramentos, através da Rússia e da Turquia, no século XVIII, e através da Inglaterra e da Rússia, no século XIX, havendo, todavia, um renascimento da nação, no século XX, com a dinastia Pahlevi, quando, como símbolo dessa ressurreição, foi adotado o nome de Irã, mais antigo que o de Pérsia. Com a queda do xá Rheza Pahlevi, a nação foi dominada pela teocracia muçulmana. O período histórico mais importante, para um estudo da mística persa, é o de antes de Cristo, quando floresceu e frutificou a religião persa, que, como a arte, era uma amálgama heterogênea das religiões e das artes de outros povos. A RELIGIÃO E O MISTICISMO PERSA No tocante à religião, pode ser encontrada uma grande influência dos credos orientais. O deus máximo era Ahura Mazda, criador do mundo e do céu, seguido por Mitra, deus do dia, e por muitos outros deuses menores, além de demônios (daivas). A doutrina do Mazdeísmo fundamenta-se no combate constante entre o bem (Ormuz) e o mal (Ahriman) e foi aperfeiçoada por Zoroastro, ou Zaratustra, reformador religioso, que procurou dar-lhe um caráter monoteísta, baseado no deus único, Mazda. A doutrina de Zoroastro, que influenciaria largamente a hebraica, está inserida no Avesta, o livro sagrado dos persas. No início, o Mazdeísmo era dominado pela classe sacerdotal dos Magos, cuja doutrina não conformista, propondo um ideal depurado de justiça social e de reforma espiritual, tornou-se um poderoso fator de unidade nacional. Posteriormente, todavia, os soberanos deformaram a religião em proveito próprio, pondo de lado os Magos – hostis aos aspectos materiais – organizando, ao redor do rei, um culto prático e fazendo, de Ahura Mazda, o suserano dos demais deuses, assim como o rei era o suserano do Universo, o soberano de direito divino e representante de Mazda na Terra. Como sempre, em todos os tempos, a religião serviu à política e à promoção dos poderosos. Dentro da religião mazdeísta, avulta o Mitraísmo baseado no deus da luz, Mitra, e com grandes influências hebraicas. O culto mitráico representou uma ordem iniciática, restrita aos homens e formada, geralmente pelas classes armadas e mercantis, que mantinham um grande

espírito de camaradagem, de solidariedade, de fraternidade. Era uma verdadeira fraternidade de armas, onde o essencial era o amor fraternal. Além de identificarem o objeto de adoração com a luz e o Sol, apresentavam, em sua doutrina, muitas das crenças originárias da seita judaica dos fariseus (e totalmente aproveitadas pela igreja), tais como: imortalidade da alma, Juízo Final, ressurreição da carne, céu e inferno, etc. Graças a isso é que muitos autores (e a própria Enciclopédia Britânica), ao fazerem a exegese do Cristianismo, situam a origem de suas crenças no Mitraísmo, o que não é verdade, pois este foi, apenas, o veiculador da doutrina farisaica, com exceção da santificação do dia 25 de dezembro, que é, realmente de origem mitráica. Como o Mitraísmo cultuava o deus da luz e do sol, ele promovia, na noite de 24 para 25 de dezembro, a solenidade chamada Natalis Invictis Solis (Nascimento do Sol Vitorioso; consta aqui, o nome em latim, pois a cerimônia como todo Mitraísmo, foi transmitida aos romanos, no século I a.C.). Sendo, essa noite, no hemisfério norte, a mais comprida do ano (solstício de inverno), ofereciam-se durante toda ela, sacrifícios propiciatórios pela volta da luz do sol e do calor. OP Cristianismo, aproveitando esse ritual, fixou, simbolicamente no dia 25 de dezembro, o nascimento de Jesus, identificando-o com a luz do mundo (Sol). O Mitraísmo persa – copiado pelos romanos – como ordem iniciática, apresentava sete etapas de aperfeiçoamento, que, de acordo com o Mitraísmo romano, eram assim discriminadas: Corax (Corvo): primeira etapa do aprendizado, era assim chamado porque o corvo pode imitar a fala, mas não criar ideias próprias, sendo, assim, mais um ouvinte, do que um participante ativo. Cryphius (Oculto): era o segundo grau. Miles (Soldado): era o terceiro grau e significava a luta de Ormuz (o Bem), contra Ahriman (o Mal), a serviço de Mitra e Mazda. Leo (Leão): era o quarto grau e simbolizava o fogo, também uma das formas de Mitra, pela emanação de luz e calor. Perses (Persa): era o quinto grau e, como o Mitraísmo e o Mazdeísmo foram influenciados por credos orientais asiáticos, representava a origem da religião. Heliodromus (Correio do Sol): sexto grau da escala no qual o recepiendário era identificado com Mitra.

Pater (Pai): grau máximo, que representava a maior ascensão espiritual em direção ao céu, onde Mitra morava e resplandecia. Esses graus representavam uma caminhada mística em direção à luz, partindo do Corax, o servo do Sol, até chegar ao Pater, Mitra, ou seja, à Luz. O MISTICISMO PERSA E A MAÇONARIA Os cultores da religião mitráica reuniam-se em templos muito semelhantes ao templo de Jerusalém. Graças a isso muitos autores, ingenuamente, têm defendido a tese de que já existia a Maçonaria na antiga Pérsia, o que não é verdade, pois é obvio que, se a religião persa sofreu grandes influências do Judaísmo, os seus templos religiosos teriam de imitar os templos hebraicos. O Mitraísmo possuía, também, um ritual cuja origem é totalmente hebraica: o sacramento mitráico, que consistia de pão, vinho e sal, cuja consagração era feita com grande cerimônia. Esse ritual é, em essência, muito semelhante ao Kidush hebraico, origem da eucaristia e, também, de algumas práticas maçônicas. Apesar disso, entretanto, não restam dúvidas de que a estrutura da Maçonaria e a própria mística maçônica muito auferiram do misticismo religioso persa, representado pelo Mitraísmo. A partir do mito solar persa (seguido e difundido pelos romanos), a senda iniciática da Maçonaria representa a caminhada mística em direção ao Sol, que, no caso representa a luz do conhecimento. Como o templo maçônico representa o mundo, com os seus quatro pontos cardeais e com as colunas do pórtico simbolizando os trópicos de Câncer e Capricórnio, o iniciado penetra nele pelo ocidente, onde reinam as trevas, caminhando posteriormente, de acordo com o seu aperfeiçoamento, pelo norte e pelo sul, até chegar ao oriente, onde o sol nasce e reina, completando a viagem mística em busca da Luz do saber. Isso é, quase, uma repetição constante do Natalis Invictis Solis. Embora não se possam procurar profundas semelhanças entre os graus simbólicos da Maçonaria e os graus do Mitraísmo, existem, todavia, alguns pontos em comum: o Corax (Corvo) apresenta muita semelhança com o Aprendiz, pois ambos (assim como os Ouvintes do pitagorismo) não podem, simbolicamente criar ideias próprias, limitando-se a ouvir, sem

falar. O grau de Companheiro maçom pode ser identificado com o Miles (Soldado) do Mitraísmo, pois, como o Companheiro representa a dualidade e existe nele, um equilíbrio entre a matéria e o espírito, ele é similar ao Miles, que simboliza a luta entre o Bem (Ormuz) e o Mal (Ahriman), também uma dualidade. O grau de Mestre maçom, finalmente encontra similaridade com o Heliodromus e com o Pater, pois o seu grau representa o auge da caminhada em direção à luz, identificando-se a Mitra e atingindo a máxima ascensão espiritual, enquanto se despoja da materialidade.

VIII A MÍSTICA HEBRAICA HISTÓRIA HEBRAICA A história hebraica inicia-se com o clã de Abraão, o qual, no final do III milênio a.C., teria deixado a cidade suméria de Ur, passando muito tempo em Harrã, a este do Carquemich, progredindo, posteriormente, ao longo do Crescente Fértil, estabelecendo-se em Canaã. Após algum tempo em Canaã, os hebreus[1] emigraram para o Egito, instalando-se no vale do Nilo, por volta de 1700 a.C. Embora o motivo dessa emigração não esteja bem esclarecido, acredita-se que, com o domínio do Egito pelos hicsos, povo de origem semita, a região seria propícia ao desenvolvimento social e religioso do povo hebreu. Com a expulsão dos hicsos, em 1580 a.C., e a consequente reimplantação das dinastias dos faraós tebanos, os hebreus passaram por uma fase de agruras, extensamente abordada na Bíblia – embora esta seja muito romanceada – até que, por volta de 1300 a.C., sob a direção de MOISÉS, puderam deixar o Egito, chegando a Canaã, depois de quarenta anos de acidentada viagem. Como, todavia, outros povos haviam se instalado na região, a conquista da terra fez-se à custa de muita luta, liderada por Josué. Depois de JOSUÉ, iniciava-se o período dos Juízes (Shofetim), de 1210 a 1130 a.C., época bastante conturbada da história hebraica, já que, à necessidade de reafirmação da posse da terra, juntaram-se às novas conquistas, os contatos com o culto de Moab e a passagem à vida sedentária, o que muito contribuiu para o que o povo fosse se afastando da fé religiosa e para o quase esfacelamento da sua unidade nacional. Tal situação, porém, seria superada em 1310 a.C., quando o profeta SAMUEL, sagrando o rei SAUL, restauraria a unidade nacional, proporcionando o início da era do apogeu da história hebraica, a qual atingiria o seu acme com os reis DAVID e SALOMÃO. Salomão, por volta de 980 a.C., aglutinaria o povo, religiosa e socialmente, erigindo o primeiro templo de Jerusalém, cidade que fora conquistada por seu pai, David. Após esse período áureo da história hebraica, ocorreria a primeira grande tragédia nacional, com o cisma de 920 a.C., ocasião em que se

formaram os reinos de Israel, ao norte, com capital em Samaria, e de Judá, ao sul, com capital em Jerusalém. A intensa rivalidade entre os dois reinos iria provocar o enfraquecimento de ambos, propiciando as invasões de seus territórios. Assim, os assírios, com Sargão II, conquistaram Israel, em 721 a.C., e os babilônios, liderados por Nabucodonosor, tomaram Judá, destruindo Jerusalém e o Templo, em 586 a.C., dando origem ao exílio dos hebreus na Babilônia, o qual seria a primeira diáspora (dispersão) do povo. Esse exílio – que alguns autores rotulam como “cativeiro” – foi até benéfico para o futuro do povo hebreu, pois, na Babilônia, a sua civilização refloresceu. Muitos, inclusive, lá permaneceram, quando da libertação do povo, sendo graças a isso que o Judaísmo foi salvo da extinção, quando do domínio romano sobre Israel. Em 539 a.C., Ciro, rei da Pérsia conquistava a Babilônia e autorizava o povo hebreu a retornar à sua terra. Foi a partir desse momento que os hebreus passaram a se denominar judeus, já que, antes disso, o termo judeu, proveniente do latim judaeus, que, por sua vez, deriva do gentílico hebraico yehudhi, referia-se ao indivíduo pertencente à tribo e, depois, ao Estado de Judá. Por volta de 516 a.C., seria reconstruído, sob a direção de ZOROBABEL, o Templo de Jerusalém, ainda sob o domínio persa, que se estenderia até 312 a.C., quando Alexandre da Macedônia tomava Jerusalém. Em 320 a.C., a Judeia é dominada pelos ptolomeus e, em 198 a.C, pelos selêucidas, só voltando a ser um Estado livre, em 140 a.C. Essa liberdade, porém, foi efêmera, pois a guerra entre ARISTÓBULO e HIRCANO, devido a dissensões internas, em 67 a.C, proporcionaria a última e definitiva dominação estrangeira, a dos romanos, até que, perante a reação judaica a esse domínio, houvesse a destruição de Jerusalém, pelas legiões do imperador TITO, a 9 do mês av do ano 70 d.C., fato até hoje relembrado na liturgia da sinagoga. O Judaísmo, todavia, continuaria a sua trajetória na Babilônia, onde foram fundadas novas yeshivot (plural de yeshivá: academias de estudo da Torá). Posteriormente, já sob a égide do Islã – a religião muçulmana, também originada na Bíblia – a partir do século VII, o Judaísmo iria deslocar o seu eixo para a Espanha muçulmana e para o resto da Europa cristã. Na Espanha, desenvolveu-se a era de ouro do Judaísmo medieval, pois foi aí que a união árabe-judaica produziu os melhores frutos de intelectualidade e de espiritualidade. Depois ocorreriam as grandes expulsões do povo judeu dos países europeus, enquanto crescia a onda de antissemitismo, iluminada pelas

fogueiras do Santo Ofício, no final da Idade Média e continuando na fase moderna. Durante a II Grande Guerra (1939-1945), o Judaísmo sofreria um grande golpe, oriundo do nacional-socialismo alemão, sob o comando de ADOLF HITLER: o extermínio de dois quintos do povo judeu. Todavia, logo depois dessa tragédia é que seria restaurada a unidade nacional judaica, já que, a 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral das Nações Unidas, presidida pelo embaixador brasileiro, OSWALDO ARANHA, recomendava a criação de um Estado judeu, de um outro, árabe, e de uma zona internacionalizada, ao redor de Jerusalém. Após várias batalhas contra os árabes, que não aceitavam a resolução da Organização das Nações Unidas – ONU - o Conselho Nacional Judeu e o Conselho Geral Sionista, a 14 de maio de 1948, proclamavam a criação de um Estado judeu, sob o nome de Israel. A RELIGIÃO A religião e o misticismo hebraico foram os que mais subsídios trouxeram à concretização da mística das religiões monoteístas, que basearam as suas concepções metafísicas na fonte única do Verbo de Deus, emanada da Torá[2], base da filosofia e da mística hebraico-judaica. Os hebreus tornaram-se, realmente, “o povo do livro”, já que dirigiram todos os deus esforços ao estudo e à interpretação da Torá, não legando, às civilizações posteriores, nenhuma outra obra de vulto, na área das artes e das ciências. Porém, graças a essa atividade, houve um grande incremento do misticismo religioso. A Bíblia (Livro), que foi redigida, possivelmente, entre os séculos VI a.C. – período do exílio na Babilônia – e II a.C. – período dos macabeus, para os últimos livros aceitos no Cânon – mostra uma linguagem figurada e simbólica, muitas vezes fantástica, como os poemas homéricos e, como estes, constituída por diversos elementos. Nela, se nota um esforço constante em direção ao monoteísmo, extraordinário e de fundamental importância, já que oculta, ou combate, os erros da massa popular, supersticiosa e até mesmo politeísta, mas mostra o estado sucessivo da mentalidade religiosa da elite judaica. Na Babilônia seria compilada a Mishná – livro das leis morais judaicas – interpretação e complemento do texto da Torá. E também na Babilônia seria composto o Talmud, que é a junção da Mishná e da Guemará (comentários da Mishná)[3]. Devido à destruição do templo de Jerusalém, fato que impedia o

culto sacrifical, surgiria, na Babilônia, a instituição que se tornou o centro e o motor da vida judaica: a Beth-Am (Casa do Povo), ou a Beth ha Kenesset (Casa da Coletividade): a Sinagoga, onde a prece substitui o sacrifício, dando início à moderna liturgia judaica[4]. A profunda unidade religiosa permanente, sempre sob o espírito da aliança, tantas vezes celebrada, entre Iavé (Deus) e seu povo, aliança que era; frequentemente ameaçada pelas fraquezas espirituais do “povo eleito” e continuamente renovada e incrementada, tanto pela minúcia litúrgica dos levitas, quanto pelas violências dos profetas, que lutaram contra a idolatria fenícia, anunciaram as catástrofes ameaçadoras, como punição de Israel e condição de seu resgate, e insistiram, sempre no valor redentor do sofrimento e na necessidade de se manter a antiga fé, para que houvesse esperança, não só de salvação individual, como de todo o povo. Esse monoteísmo, criado e aprofundado pelas elites religiosas, mas nem sempre seguido pelo povo (como acontece em muitas outras religiões), influiu, decisivamente sobre o misticismo transcendental dos povos modernos, monoteístas, em sua maioria, e deu à Maçonaria o dogma basilar da esmagadora maioria de seus ritos (os ritos teístas ou dogmáticos), que é a crença em Deus, que, para os maçons é o Grande Arquiteto do Universo. Esse conceito domina, há muito o universo metafísico maçônico, sendo nos ritos citados, condição sine quae non para a iniciação e para regularidade maçônica. A MAÇONARIA E O MISTICISMO HEBRAICO Embora a Maçonaria não seja hebraica, como afirmam muitos autores desavisados, a realidade é que as práticas místicas dos hebreus e judeus começaram a se fazer presentes, nos trabalhos maçônicos, a partir do século XVIII, após a criação da lenda de Hiram Abi, o lendário construtor do templo de Jerusalém. As práticas principais, presentes na atividade maçônica, podem ser assim relacionadas: 1. COBERTURA DE CABEÇA Em todas as cerimônias litúrgicas judaicas, é obrigatória para os homens a cobertura da cabeça com o solidéu (Kipá, em hebraico), embora os teólogos afirmem que essa cobertura deve ser constante e processada desde o nascimento do homem, ou, mais precisamente, a partir do brit-milá

(circuncisão), realizada no oitavo dia de vida e que simboliza a aliança abrâmica com Deus. Na Maçonaria, no grau de Mestre, todos os maçons devem, durante a sessão da loja, manter-se coberto, enquanto nos dois primeiros graus da Maçonaria simbólica (Aprendiz e Companheiro), exige-se que o Venerável (Presidente) da loja esteja coberto durante toda a cerimônia ritualística de abertura e de encerramento das sessões. A cobertura da cabeça também é exercida em cerimônias de pompas fúnebres realizadas pelos maçons. O simbolismo maçônico dessa prática é similar ao judaico: significa que, acima da cabeça do homem, existe algo transcendental, onisciente, onividente e onipresente, que é Deus, o Grande Arquiteto do Universo. Essa cobertura da cabeça, praticamente demonstra a pequenez humana e a prostração do homem perante Deus, pois sendo a cabeça, a sede da mente e do conhecimento, estando ela coberta, mostra a incapacidade humana de entender a divindade, sendo, quase uma afirmação agnóstica. 2. A ESTRELA DE SEIS PONTAS Essa figura, chamada de “estrela de David” (Magen David), é um símbolo muito antigo, que foi usado e difundido pelos hebreus, tendo sido, também, utilizado pelo ocultismo e pela Alquimia.

O TETRAGAMMATON O nome divino de Deus em hebraico, da direita para a esquerda, as letras iôd, he, vava e he, concentra em si toda a energia radical e a plenitude de poder de que dimanou a criação. Ela é formada por dois triângulos equiláteros entrecruzados e em posição oposta, ou seja: um com o ápice voltado para cima e o outro com o ápice voltado para baixo: o triângulo de ápice superior representa os atributos da espiritualidade, enquanto que o ápice inferior representa os atributos da materialidade. Na Maçonaria, essa estrela simboliza a divindade suprema, tendo, ao centro, as quatro letras hebraicas que formam o nome (impronunciável) de Deus: IÔD, HE, VAV e HE. Na Maçonaria inglesa, inclusive, ela é a estrela sagrada, a Blazing Star, flamejante, utilizada em lugar da estrela de cinco pontas (hominal) dos pitagóricos, o que está mais de acordo com o misticismo dos ritos teístas. O nome hebraico de Deus é encontrado, também no triângulo equilátero, chamado de Delta Radiante, ou Luminoso, que se encontra nos templos maçônicos, ao oriente, por trás da cadeira do Venerável. Tendo os três lados e os três ângulos iguais, ele é uma figura de grande equilíbrio e muita harmonia, tendo tido, também, muito significado para os alquimistas,

ocultistas e cabalístas. Na Maçonaria, ele representa o Grande Arquiteto do Universo e, no interior da figura, ao invés das quatro letras hebraicas ou, pelo menos, da primeira (Iôd), pode também ser encontrada a representação de um olho esquerdo, que segundo alguns autores, seria o olho onividente de Deus. Essa representação, todavia, deveria ser reservada para os poucos ritos adogmáticos e não teístas, para os quais o conjunto do triângulo com o olho simboliza a sabedoria humana; para a mística dos ritos teístas, é preferível a primeira representação. A estrela de seis pontas também serve para simbolizar os dirigentes da loja maçônica, de acordo com as suas atribuições ligadas à espiritualidade, ou à materialidade. Assim, no triângulo de ápice superior, o ângulo superior representa o Venerável, enquanto os dois outros representam os dois Vigilantes, pois, competindo a esses oficiais maçônicos a orientação espiritual da loja, eles formam o triângulo da espiritualidade. No triângulo do ápice inferior, o ângulo inferior representa o Cobridor, enquanto os dois outros representam o Orador e o Secretário, pois, competindo a eles a orientação material da loja (o Orador zelando pelo cumprimento das leis, o Secretário redigindo as atas e o Cobridor velando pela segurança da Loja), eles formam o triângulo da materialidade. 3. SIMBOLISMO DOS NÚMEROS Os hebreus consideravam certos números como sagrados e outros como nefastos, sendo, todos eles, ligados a ideias da divindade e do cosmos. A Maçonaria também apresenta a sua numerologia, de acordo com o caráter místico de alguns números fundamentais, com base não só no misticismo hebraico, mas, também, no pitagorismo. Os principais números, cujo caráter místico, para os hebreus de vê ser ressaltado, são os seguintes: Número UM: unidade indivisível, é o símbolo de Deus, princípio e fundamento do universo, sendo, portanto um número sagrado. Número DOIS: é um número nefasto, pois representa a dualidade, ou a divisão entre o ser e o não ser. Essa dualidade, calçada nos textos cabalísticos, não se refere a corpo e alma, mas sim, à dúvida, à bipartição entre a existência e não existência. Número TRÊS: é um número perfeito, de alto significado místico, sendo assim, um dos números sagrados que, na teologia cristã, originária

do Judaísmo, culmina no mistério da Santíssima Trindade, concepção metafísica que, até o século VII, comprometia o conceito do monoteísmo, restabelecido então, rigidamente na Europa, essa concepção foi retomada, voltando a comprometer o conceito moneteísta, pois sugere três entidades divinas, ao invés de uma. O número três aparece, diversas vezes, nos textos bíblicos: os três filhos de Noé, os três varões que apareceram a Abraão, os três amigos de Jó, os três dias de jejum dos judeus desterrados. Número QUATRO: é considerado um número cósmico, pois quatro eram os elementos tradicionais (ar, água, terra e fogo), quatro as extremidades do mundo e quatro as bestas do Apocalipse. Número SETE – é o número sagrado de todos os povos antigos, que lhe atribuíam um valor astrológico e mágico, já que sete eram os planetas conhecidos na antiguidade.Os hebreus também o consideravam sagrado: Deus santificou o sétimo dia, sete eram os braços do candelabro (menorá), sete os dias ázimos, sete os dias da consagração dos sacerdotes, etc. A expressão “sete vezes sete”, muito encontrada na bíblia, 9indica um número indefinido de vezes que se supõe perfeito e total. Além desses números fundamentais, outros, compostos, também eram considerados pelo seu valor místico: Número DEZ: é um número perfeito, pois resulta da soma de números perfeitos, ou seja, 03 e 07. Dez foram os mandamentos recebidos por Moisés, no Sinai, e dez as pragas do Egito. Número DOZE: era a base da numeração entre os antigos povos orientais. Existem doze signos no Zodíaco, doze tribos de Israel, doze meses no ano, doze horas no dia, doze pães da proposição, etc. Número QUARENTA: simboliza a penitência e a expectativa, pois o dilúvio durou quarenta dias, quarenta foram os dias que Moisés passou no Sinai e quarenta os anos em que os hebreus perambularam pelo deserto, ao saírem do Egito, em direção à Palestina. Número SETENTA: é um número perfeito, por ser múltiplo de dois números perfeitos (07 e 10): setenta anos durou o exílio na Babilônia e setenta eram os anciãos de Israel. Número MIL: é um número essencialmente místico, pois o Apocalipse, representa a perfeição da vida. Os números místicos mais usados na Maçonaria são: UM: símbolo do Grande Arquiteto do Universo.

DOIS: símbolo da dualidade entre o ser e o não ser, encontrada no grau de Companheiro. TRÊS: encontrado na mística do Delta representativo de Deus, simboliza a divindade única, o Supremo Árbitro dos mundos, sem qualquer relação com tríades divinas, seja do antigo mundo oriental, seja da concepção veladamente politeísta da Trindade. SETE: número místico do Mestre, simboliza a perfeição alcançada na evolução espiritual. DEZ: pela junção dos perfeitos números 03 e 07, simboliza o caminho do iniciado em direção à luz e é, também, um símbolo do Grande Arquiteto do Universo. DOZE: representado nas doze colunas zodiacais e nos doze pães da proposição, que simbolizam, no plano exotérico, as doze tribos de Israel, e, no esotérico doze signos do Zodíaco. 4. A ORDEM DOS ESSÊNIOS Após o exílio na Babilônia e a volta do povo hebreu a Palestina, com consequente reconstrução do templo de Jerusalém, destruído por Nabucodonosor II, a vida religiosa era intensa e vibrante, sendo dirigida no sentido da preservação da pureza e da autenticidade da tradição hebraica, ameaçada pelos invasores. As divergências teológicas, aliadas às rivalidades políticas, deram origem a três partidos, ou seitas religiosas e dos SADUCEUS, a dos FARISEUS e a dos ESSÊNIOS.

Os saduceus representavam o partido dos poderosos e da classe sacerdotal, baseando a sua conduta numa intransigente fidelidade ao texto da Tora, lutando pela supremacia do povo eleito e pela grandeza espiritual do Templo. Os fariseus admitiam, ale, da tradição escrita, ou seja, além do texto da Tora, uma extensa tradição oral, que permitia, aos estudiosos, interpretar aquele texto, adaptando-o às diversas circunstâncias. Os fariseus (do hebraico perushin: separados) definiram os conceitos religiosos do Judaísmo; que iriam ser totalmente aproveitados pelo misticismo e pelo Cristianismo: a justiça divina e a liberdade do homem, a imortalidade da alma e o julgamento depois da morte, o paraíso, o inferno, o purgatório, a ressurreição dos mortos e o reinado de glória. Paulo, que

depois, seria canonizado pela igreja, como São Paulo, e que era fariseu, levou todas essas doutrinas para o Cristianismo, que difunde até hoje. O farisaísmo foi, também totalmente aproveitado pelo Mitraísmo, fazendo com que muitos pesquisadores situem, erradamente, a origem da doutrina cristã na ordem dos devotos de Mitra. Com a destruição total de Jerusalém, no ano 70, foi a doutrina farisaica que assegurou a sobrevivência do Judaísmo. Não se entende o juízo grosseiro e pejorativo, que se faz dos fariseus, no Cristianismo, já que a doutrina cristã é, totalmente, baseada na doutrina farisaica. Os essênios praticavam o monaquismo; o homem e mulheres viviam agrupados em uma vida de isolamento e contemplação, de silêncio e amor. O seu monaquismo iria ser herdado em grande escala pelo Cristianismo. Embora muitos autores procurem ver, nos essênios uma ordem iniciática, similar à Maçonaria, a verdade é que nada autoriza essa afirmação, pois eles formavam uma simples entidade religiosa, que, por opção, ficava afastada do mundo. Um rito tradicional, incrementado pelos essênios o KIDUSH (da raiz Kodesh santo, sagrado) além de ser origem da eucaristia, na igreja, também tem lugar nos rituais maçônicos. O Kidush era realizado na véspera de uma festa religiosa, ou na véspera do SHABAT (sábado, o dia santificado), para realçar a santificação do dia. O principal dos convivas de uma confraria (SHABURÁ) tomava o pão e, lançando sobre ele, as suas bênçãos, distribuía-o entre os demais; fazia o mesmo com um copo de vinho de que todos bebiam. Esse ritual, muito incrementado entre os essênios, era habitual entre as confrarias de devotos, unidos por alguma afinidade. A última ceia de Jesus com seus discípulos foi um Kidush, que precedeu a Pêssech (Páscoa). A liturgia eucarística da missa na igreja é totalmente baseada no Kidush: a “Preparação dos Dons” é quando se levam ao altar, o vinho, o pão e a água, que, serão apresentados ao Senhor, pela comunidade reunida; a “Oração Eucarística” é o ponto central da ação de graças e da consagração, em que se revive a última ceia de Jesus com seus discípulos, quando abençoando o pão e vinho, ele o distribuiu entre os convivas. Na Maçonaria dita Filosófica, ou dos altos graus, existe um grau em que o Kidush é totalmente revivido, sendo, essa a única influência mística dos essênios sobre o misticismo maçônico, ao contrário do que querem fazer crer alguns autores mistificadores, ou ingênuos, que chegam a afirmar que “existiram lojas essênias e que Jesus foi iniciado numa delas, sendo, portanto maçom”. Isso é uma heresia histórica que nem merece uma

análise crítica. 5. O TABERNÁCULO E O TEMPLO DE JERUSALÉM Segundo a Torá, Moisés, seguindo instruções recebidas no Sinai, após a saída do Egito, descrita no Êxodo, mandou construir o Tabernáculo (em hebraico miskhan: santuário), para guarda dos mandamentos da Tora; e para os ofícios religiosos durante a vida nômade pelo deserto. Para isso, delimitava-se um pátio (praça do Tabernáculo) de cem côvados de comprimento (49,50 metros) e cinquenta de largura (24,75 metros), vedado por uma cortina sustentada por sessenta postes de 2,50 metros de altura, sendo o acesso a ele feito pelo lado oriental. O tabernáculo, propriamente dito, ou a tenda (em hebraico suká) ficava no ocidente e constava de quatro tendas superpostas, sendo a mais interna, bordada em excelente linho, enquanto as outras eram feitas de pele e tingidas de púrpura, ficando todas elas, sobre um estrado de madeira. Dividido em duas tendas, a maior formava um retângulo de cinco por dez metros, enquanto a menor era um cubo de cinco metros de aresta. A tenda menor era o Santo dos Santos (em hebraico: kodesh há kodashim), o lugar mais sagrado, já que representava a habitação terrena de Deus. Em seu interior era encontrada a Arca da Aliança, contendo a lei de Deus (a Tora), e nela só penetrava o Supremo Sacerdote (Cohen gadol), no YOM KIPUR (Dia do Perdão). A tenda maior era o Santo (em hebraico kodesh) e continha: em frente e bem ao centro da entrada, uma mesa onde se queimava incenso; ao norte, uma mesa com doze pães da proposição, pães ázimos, ou seja, sem fermento (em hebraico: matzol); ao sul, o candelabro de sete braços (em hebraico: menorá). Entre as tendas e a entrada do pátio, achava-se um altar para os holocaustos ou sacrifícios do culto e, próximo à entrada das tendas, ao sul, encontrava-se uma bacia com água para a purificação do sacerdote e para outras purificações ritualísticas. O Templo de Jerusalém seguia essa mesma disposição e apresentava as mesmas divisões. A diferença fundamental é que na extremidade oriental do templo (na sua entrada), havia um pórtico, com cinco metros de profundidade e grande altura, flanqueado por duas colunas de bronze feitas pelo artífice Hiram Abi (JACHIN, a coluna da direita, e BOAZ, a da esquerda).

As três divisões do santuário representam em ambos os casos, as três grandes divisões do universo, ou seja, o céu, o mar e a terra; os doze pães propiciais representam esotericamente, as doze tribos de Israel e os ventos setentrionais que, trazendo as chuvas, vivificam as plantações, enquanto esotericamente, simbolizam os doze signos do Zodíaco, com suas influências sobre o ser humano; o candelabro de sete braços, ou menorá, representa os sete planetas conhecidos na antiguidade e simboliza o mundo dos astros, que trazem a luz; a bacia de bronze (mar de bronze), com água, para a purificação, simboliza a vida pura e honrada.

REPRESENTAÇÃO MÍSTICA DO TEMPLO DE SALOMÃO Em primeiro plano, as duas colunas vestibulares que nesta antiga figura estão invertidas e estão representando as potências criadoras do macho e da fêmea (pater e mater) 6. A CABALA A Cabala, que significa “tradição”, é a essência do misticismo judaico. Como doutrina mística e metafísica, ela é bastante antiga, encontrando-se já na Tora, muitos traços da filosofia mística transcendental que envolvia, posteriormente sofrendo influência de outras culturas, mas conservando sempre, a sua primitiva originalidade e toda a sua beleza e profundidade espiritual. Doutrina baseada no contado íntimo com a divindade, ela embora sendo antiga, só se concretizou na idade média.Sua fonte principal é, realmente bíblica: os essênios e os fariseus transmitiram-na, oralmente e, na época talmúdica (século IV e V), a doutrina mística analisava o homem, objeto da criação em sua relação suprema com Deus e estudava o cosmo sob dois aspectos: MA’ASSÊ BERECHIT (História da Criação) e MA’ASSÊ MERKABÁ (História do Carro, do Trono de Deus). Os temas específicos do misticismo judaico, que foram as fontes da literatura e da doutrina cabalística são: A. O APOCALIPSE Elemento importante do misticismo e do esoterismo judaico, o tema apocalíptico é abordado em diversos trechos referentes a vários profetas, como EZEQUIEL, AMÓS, ISAÍAS, JOEL, ZACARIAS, MALAQUIAS e DANIEL, no Antigo Testamento, sendo retomado, no Novo Testamento, por São JOÃO EVANGELISTA. A base dessa literatura, que se prende às visões dos profetas, é o fim de Israel e de toda a humanidade e ela é bastante rica em ficções e especulações em torno da contemplação do espaço celestial, das angustiantes visões do fim dos tempos e da hora do julgamento final. Além dos livros dos profetas, a literatura apocalíptica é

enriquecida por diversos textos apócrifos, como O APOCALIPSE DE ABRAÃO, O APOCALIPSE DE ELIAS, LIVRO DE ENOC, TESTAMENTO DE ISAAC e outros. Nestes textos, a principal visão é o arcanjo Uriel – no Livro de Enoc – ou o anjo Jeiel – no Apocalipse de Abraão – que, enviados por Deus, vêm revelar, aos homens, os grandes mistérios do mundo celestial, com a ascensão gradual da alma ao céu e a contemplação das falanges angelicais do trono, ou carro de Deus. B. A VISÃO DA MERKABÁ Esta visão é descrita no primeiro capítulo de Ezequiel, cujos trechos principais são: Olhei e vi: do norte soprava um vento fortíssimo: uma nuvem espessa acompanhada dum clarão e uma massa de fogo resplandecente à volta; no meio dela, via-se algo semelhante ao aspecto dum metal resplandecente. E ao centro, distinguia-se a imagem de quatro seres vivos, todos com aspecto humano. Cada um tinha quatro faces e quatro asas. As suas pernas eram direitas e as plantas dos pés assemelhavam-se às de boi e cintilavam como bronze polido. Debaixo das suas asas, nos quatro lados, apareciam mãos humanas; as suas faces e as suas asas dirigiam-se para os quatro pontos cardeais. As asas estavam ligadas umas às outras; quando avançavam não se viravam para os lados; cada um dos seres vivos caminhava diante de si. No que toca ao seu aspecto, tinham face de homem, à frente e os quatro tinham uma face de leão à direita, uma face de touro à esquerda e uma face de águia à retaguarda. E as suas faces e as suas asas estendiam-se para o alto; cada um tinha duas asas que se tocavam e duas que lhe cobriam o corpo. (Ezequiel, 1 - 4 a 11). Eu via os seres vivos e notava que havia uma roda na terra ao lado de cada um dos seres vivos. As rodas davam a impressão de ter o brilho de crisólitos; todas davam a impressão de ter o mesmo aspecto e pareciam trabalhadas de tal maneira como se estivessem uma no meio da outra. (Ezequiel, 1 - 15 e 16). Havia algo semelhante a uma abóbada brilhante como o cristal sobre as cabeças dos seres vivos; e a abóbada estendia-se sobre as cabeças.

As asas, voltadas umas para as outras, estendiam-se sob a abóbada; cada um tinha duas que lhe cobriam o corpo. Eu escutava o ruído das asas como o barulho das grandes torrentes, como a voz do Onipotente, quando eles avançavam, ou como o ruído do campo de batalha; quando paravam, as asas baixavam. E por cima da abóbada, que ficava sobre as suas cabeças, fazia-se um grande ruído; quando paravam, as asas baixavam. Pela parte de cima da abóbada que ficava sobre as suas cabeças, estava uma coisa semelhante a pedra de safira, em forma de trono, e sobre esta espécie de trono, no alto, pela parte de cima, um ser com aspecto humano. E verifiquei que, do que parecia a cintura para cima, tinha como que um brilho vermelho, algo como fogo à sua volta, e da cintura para baixo vi como que fogo espalhando um clarão à sua volta. O esplendor à sua volta, parecia o arco-íris que aparece nas nuvens nos dias de chuva. Era algo que tinha o aspecto da glória de Deus. (Ezequiel, 1 - 22 a 28). Essas são as partes principais da descrição do trono de Deus e dos querubins que o tracionavam, embora, em 28 versículos, Ezequiel faça uma descrição bastante detalhada, inclusive das rodas do trono de Deus, daí também o nome de carro de Deus, dado ao trono. Pode-se notar que Ezequiel não tinha palavras humanas para representar, com exatidão, as figuras celestiais, dizendo sempre que se assemelhavam, que pareciam, que eram como, etc. Os quatro seres vivos, que formavam uma espécie de quadrado, com um em cada um dos lados, recordam, muito fortemente, os karifu dos assírios, cujo nome corresponde aos querubins da arca da aliança. Eles tinham cabeça de homem, corpo de leão, patas de touro e asas de águia; as suas figuras, esculpidas em metal serviam para guardar os palácios assírios. As quatro formas simbolizam a essência divina: o homem, como imagem da racionalidade, representa a sabedoria de Deus: o leão, como rei dos animais, simboliza a majestade divina: o touro, como símbolo do poder, representa a onipotência de Deus; a águia, símbolo da velocidade, representa a maneira como Deus conduz seu povo nas suas asas. É interessante registrar que esses quatro seres, a partir de Santo IRINEU, passaram, entre o clero, a ser o símbolo dos quatro evangelistas. O Trono é o lugar da mais alta glória de Deus, é o objetivo da visão mística e do caminho místico, através dos palácios celestiais (em hebraico:

hekalot), já que Merkabá se eleva ao sétimo e último dos céus. Essa concepção dos sete céus, através dos quais a alma se eleva, é bastante antiga, precedendo, mesmo, o estabelecimento da mística hebraica. A representação do trono com rodas, como um carro, serve para mostrar, aos judeus exilados, que Deus não está ligado apenas ao templo de Jerusalém, mas pode mover-se livremente, para sempre acompanhar o seu povo, nas diásporas e mesmo no cativeiro. Segundo o tratado AS GRANDES MORADAS (em hebraico: Hekalot Guedolot), a viagem visionária do espírito aos céus relaciona-se com a descida da Merkabá; e o grupo místico a ela ligado é o dos YORDÊ HA MERKABÁ (os que descendem da Merkabá). A literatura ligada à gnose da Merkabá é bastante extensa e hermética: além do já citado Livro de Enoc, o qual traz a mais antiga descrição da contemplação do Trono, temos As Grandes Moradas – o mais importante tratado sobre o assunto – as Pequenas Moradas e o alfabeto do rabi AKIBA. Todos esses textos tornaram-se bastante herméticos, porque foram produzidos por fraternidades que não transmitiam, publicamente, a sua secreta tradição mística. Tais fraternidades tinham caráter iniciático e, para ser admitido à iniciação no fechado círculo místico da Merkabá, o candidato tinha que passar por um noviciado; neste, o noviço recebia profundos ensinamentos espirituais, transmitidos no sentido de purificá-lo e introduzi-lo na vida contemplativa, que permitia a ascensão através dos sete palácios celestiais, até chegar à morada divina. Tais fraternidades influenciaram, profundamente, diversas sociedades herméticas iniciáticas, que surgiram posteriormente, religiosas, ou não, como é o caso do Mitraísmo persa, parte da religião mazdeista persa, totalmente calcada no Judaísmo. Juntamente com a visão da Merkabá e relacionada a ela, há uma revelação hermética e estranha, que é a medida mística do corpo de Deus (em hebraico: Shiur Komá). Esta já é encontrada nos textos das Grandes Moradas e é a mais profunda linguagem primitiva da mística judaica. Muitos cabalistas, como YEHUDA HALEVI consideraram a linguagem obscura e intrincada da Shiur Komá como o símbolo de uma espiritualidade particular. As medidas exageradas atribuídas ao corpo místico de Deus servem para mostrar a insignificância do homem perante Deus. C. A HALAKÁ

HALAKÁ, que significa “modo de andar”, alicerce e pilar dos princípios religiosos, é o comentário legislativo das partes jurídicas da Torá. É na interpretação da Torá que se manifesta, de maneira original e particular, o pensamento rabínico, tendo, os mestres do Talmud, chamado a atenção para a sua extraordinária importância. MAIMÔNIDES (MOSHÉ BEN MAIMON), um dos mais importantes teóricos do Judaísmo ibérico, em sua principal obra, “Guia dos Transviados”, ou “Guia dos Perdidos”, enfatiza o caráter original e filosófico dos mandamentos da Torá (em hebraico: mitzvot, plural de mitzvá). Como Maimônides, outros talmudistas consideraram a Halaká de duas maneiras: quando ela se liga intimamente à Torá e quando ela se mantém como tradição. Já para os cabalistas, ela é muito mais importante e profunda, pois eles vêm, em cada mitzvá, um ato com influência sobre o dinamismo do universo. Nesse sentido, a Halaká contribuiu para o desenvolvimento do pensamento cabalístico. D. A AGADÁ AGADÁ, que significa lenda, narrativa, alimentou extensamente, as fontes místicas da Cabala. Ela se prende às narrativas tecidas pela imaginação, ao longo de diversas gerações, e aos relatos prodigiosos atribuídos aos místicos da era talmúdica, que interpretavam os mistérios da Torá (em hebraico: sitrê Torá), em relação à estrutura universal. Desta maneira, ela apresenta, sob a aparência de lenda, de ficção, de conto romanceado, uma atitude contemplativa e mística. Evidentemente, existe uma profunda diferença entre a Agadá cabalística e a da interpretação da Torá, pois a cabalística tem muito mais extensão e profundidade, sendo mais mística e mais mítica do que a da interpretação da Torá. E. A ALEGORIA Estabeleceram, os filósofos místicos, que os mistérios da Torá são esclarecidos através da alegoria. Os cabalistas, por sua vez, enfatizaram o caráter transcendental da alegoria, que acabou por ser revestida de um significado puramente simbólico. Chegar-se-ia, desta maneira, a um simbolismo altamente desenvolvido, que iria influenciar, de modo marcante, muitas sociedades de caráter iniciático.

De acordo com o simbolismo cabalístico, o Criador, macrocosmo, e a criatura, microcosmo, em lugar de se distinguir, são uma só coisa, numa mística fusão, completa e íntima. Os mitzvot (mandamentos) são símbolos graças aos quais o sentido oculto de sua aplicação torna-se claro e transparente. Esses são os principais temas específicos do misticismo hebraicojudaico, fontes de toda a Cabala oral ou escrita, já que, com o passar do tempo, houve a tendência a se escrever a tradição, que era propagada oralmente, como já acontecera com a Mishná e o Talmude. Existem vários textos da literatura cabalística, influenciadores da filosofia mística contemporânea; entretanto os dois principais são: E.1. O SEPHER YETSIRA O SEPHER YETSIRA (Livro da Criação), é um curto tratado escrito em hebraico, entre os séculos III e VI. É de autoria desconhecida, tratando-se da primeira obra que, sob o ponto de vista místico, revela uma concepção filosófica dos elementos fornecedores do universo, sem levar em conta o elemento étnico-religioso.Ele é o guia espiritual para a visão da Merkabá, tendo, sua cosmologia e sua cosmogonia, se tornado clássico. Segundo o Yetsira, a criação dos elementos que formam o mundo está subordinada aos dez números fundamentais (sefirote) e às vinte e duas letras do alfabeto hebraico, que envolvem forças cósmicas inatingíveis, submetidas a combinações, que variam através da criação. As vinte e duas letras do alfabeto hebraico são consoantes e evoluíram a partir de um alfabeto pictográfico, onde as letras eram representadas por pinturas, ou desenhos, do objeto correspondente.As vinte e duas letras com o seu primitivo significado são: Aléf – Boi Beth – Casa Gimel - Camelo Daleth – Porta Zayn – Arma He – Furo Vav – Prego

Hêth – Barreira Teth – Serpente Iôd – Mão Kaf – Palma Lámed – Látego Men – Água Nun – Peixe Samek – (?) Ayin – Olho Pe – Boca Sade – Anzol Kôph – Nuca Rêsh – Cabeça Shin – Dente Tau – Sinal. As vinte e duas letras hebraicas e as dez sefirotes são as trinta e duas sendas místicas, com as quais Deus criou o Universo, através da combinação e da permuta. Dessa Maneira, o YETSIRA aborda as origens e as relações das dez sefirotes com a divindade; as quatro primeiras eram o encadeamento emanatista e as outras seis, ligadas às direções da morada celeste emanam da oposição do sinete divino, representado pelo tetragrama (IÔD, HE, VAV, HE), nome impronunciável de Deus. Por outro lado, o mundo nasce pela ação das vinte e duas letras e as criaturas nascem pela permutação delas; desta maneira, o poder do Verbo revelado produz a criação a partir do nada, a passagem do não-ser ao ser. Na Yetsira, as vinte e duas letras estão agrupadas da seguinte forma: I. Três letras mão (imot), que são: Aléf, Men e Shin. II. Sete signos, ou seja, de dupla pronúncia. III. Doze signos simples ou de única pronúncia.

As três letras mãe correspondem aos três elementos superiores da natureza, ou seja, o ar, que é o elemento central e os outros dois que, dele, jorram e dependem: para cima, o fogo, elemento do mundo celestial, e, para baixo, a água elemento do mundo material. Os sete signos duplos simbolizam os sete planetas, enquanto os doze signos simples representam os doze signos do Zodíaco. Essa divisão cosmológica das letras é aplicada ao tempo e ao espaço, ao macrocosmo divino e ao microcosmo humano. O Yetsira possui um profundo alcance filosófico, poderem se presta, também, a teurgia (bem determinada na Merkabá) e a magia, muito explorada na Idade Média. Para compreensão, mesmo superficial da profunda mística do Yetsira, é preciso que se conheçam os tipos de combinações de letras e a relação com os números; existem três tipos de combinações das letras do alfabeto hebraico, com uso na Cabala. NOTARICOM, palavra hebraica que significa permuta; ou transposição. Com a permutação das letras de uma palavra, obtemos outra, de sentido oposto ao da primeira embora formada pelas mesmas letras. GUEMATRIA, que é a palavra de origem latina e deturpada, refere-se à avaliação numérica da palavra. É a combinação mais empregada entre todas e, dela, temos exemplos clássicos de guematria, que merecem ser citados: I. A palavra KATIT, formada pelas letras Kaf, tau, iôd e tau (da direita para a esquerda, como são lidas as palavras hebraicas), significa o óleo de oliva usado no candelabro (menorá). As duas primeiras letras, kaf e tau, correspondem, numericamente, a 420, que é o Primeiro Templo de Jerusalém; as duas últimas, iôd e tau, correspondem a 410, que é o número de anos durante os quais o menorá iluminou o Segundo Templo. II. A palavra IÁIN (vinho) corresponde, numericamente, a SOD (segredo), significando que o vinho revela segredos, ou seja, quem está embriagado não consegue guardar segredos. O ditado latino in vino veritas, relembra essa passagem cabalística. E.2. O SEPHER HÁ ZOAR

O SEPHER HÁ ZOAR (Livro do Esplendor) é onde se encontra, praticamente, toda doutrina da Cabala, sendo portando, a maior obra cabalística, vista, pelos místicos judeus, como a obra canônica máxima, com importância igual à da Tora e do Talmude. A tradição atribui a autoria do Zoar ao rabi SIMEON BAR YOHJAI, que viveu no século II e que, durante treze anos, teria permanecido numa gruta, na Palestina, onde teria recebido a revelação desse texto cabalístico. A crítica reconhece, todavia, a Moshé de Leon, como o compilador, ou o autor do Zoar, cujo texto surgiu, na Espanha em 1275. Escrito em aramaico, o Livro do Esplendor é uma obra teológica e metafísica de grande profundidade espiritual, envolvendo comentários das principais passagens da Tora, entre os quais se acham intercalados vários tratados particulares e complementares. Foi escrito em forma de romance místico-filosófico, desenrolado na Palestina, que é vista como um lindo e tranquilo campo, adornado de vinhas, figueiras e pés de romã, muito propício à meditação e à elevação espiritual. A finalidade essencial da obra é fazer a descrição da vida interior de Deus e traçar o caminho do ser humano em direção à união mística com a divindade; a sua doutrina, entretanto, não se apresenta de maneira harmoniosa com um todo compacto, sendo, muitas vezes, um complexo intrincado de pensamentos representados por símbolos de difícil compreensão. De maneira geral, o Zoar mostra o infinito incognoscível de Deus (En Soph), em suas relações com o universo e com o homem, através das dez sefirote, que representam os dez atributos fundamentais da vida divina. Pela sua doutrina, existem dois mundos ligados à divindade: o primeiro relacionado com o EN SOPH, é totalmente oculto e inacessível à mente e à inteligência humana, enquanto o segundo, visto sob o ângulo dois dez atributos, acha-se abaixo do primeiro, é acessível à mente humana e permite o conhecimento de Deus. Na realidade, os dois mundos formam um só, embora o En Soph permaneça, sempre, incognoscível e intransponível, se bem que a sua atividade seja percebida. Essa atividade do En Soph, percebida pela mente humana, manifesta-se nas sefirote, que transmitem a vida divina, e, tomando lugar em Deus, permitem, ao homem percebê-lo. Essa potência sefirótica mística permitiu, aos cabalistas, fazer uso antropomorfismo, para esclarecimento dos símbolos da Tora. Desta maneira, temos a transposição das sefirote

para a imagem de um homem. De acordo com o Gênese, o homem foi criado à imagem de Deus e, assim, existe, nele, um sopro de divindade, um pouco do Criador na criatura. Todavia, o homem terrestre, cósmico, possui muita materialidade e necessita de um aperfeiçoamento; o futuro homem aperfeiçoado, o MECHI’AKH (Messias, ungido), corresponde ao ADAM KADMON, que é um reflexo da alta espiritualidade, sendo, o seu corpo, no Zoar, considerado como a marca da alma. Assim, o microcosmo, que é o organismo humano sendo cópia do macrocosmo (do Universo, de Deus), pode ter uma representação precisa; Deus, entretanto, não pode ser representado sob nenhuma forma e, desta maneira, é simbolizado pelo Adam Kadmon, sob o aspecto das sefirote. São diferentes as sefirotes do Yetsira e do Zoar. Nestes elas são incorporadas sob vários nomes, de acordo com a figura humana que representa o Adam Kadmon. De acordo com essa figura, temos as seguintes sefirotes:

1. Kether – Coroa; 2. Hokmá – Sabedoria; 3. Biná – Inteligência; 4. Hessed – Graça; 5. Din – Justiça; 6. Tiferet – Beleza; 7. Netsá – Vitória; 8. Had – Majestade; 9. Iesod – Fundamento; 10. Malkhut – Reino

As nove primeiras sefirotes formam três tríades, que são as seguintes: Primeira Tríade: composta por Coroa (Kether), Sabedoria (Hokmá) e Inteligência (Biná), forma o “Mundo da Inteligência” (OLAM HÁ MUSCAL). Segunda Tríade: composta por Graça (Hessed), Beleza (tiferet) e Justiça (Din), forma o “Mundo do Sentimento” (OLAN HÁ MURGAKE). Terceira Tríade: composta por Vitória (Netsá), Fundamento (Iesod) e Majestade (Had), forma o “Mundo da Natureza” (OLAM HÁ MUTBA’A). A décima SEPHIRÁ (singular de sefirote), Reino (Malkhut), encerra as qualidade de todas as outras sefirote, ou da divindade, para transmiti-las à criatura humana. O lado direito da figura, por conter as sefirote Graça e Vitória (Hessed e Netsá), é chamado “Pilar do Amor”, correspondente à misericórdia de Deus. O lado esquerdo, por conter as sefirote Justiça e Majestade (Din e Had), é chamado “Pilar do Rigor” ou “Pilar do Julgamento”, correspondente ao rigor de Deus, à justiça divina. Ocupando posição central na figura, a sephirá Beleza (Tiferet) é chamada “Coração Celeste”, ou seja: ela representa o sentimento, o amor e a misericórdia divina, motivo pelo qual essa shepirá é, também, chamada de Misericórdia (Rahamim). A sephirá Fundamento (Iesod), ocupando a região dos órgãos genitais, combina as potências geradoras do macho e da fêmea, sendo, assim, fundamente, a base da vida e da eternidade, transmitida através da descendência. Por intermédio do Adam Kadmon, a correspondência entre Deus e o homem é absoluta, sendo total a sua união mística. A criação do mundo surge, na Cabala, como uma verdadeira cosmologia. O Zoar ensina que Deus gerou o espaço, que se manifesta como um primeiro invólucro, por meio de uma faísca primordial, com aspecto de um ponto; essa origem da luz, como se encontra na gnose, que considera a substância do mundo sob forma de uma luz primitiva. Por outro lado, o papel central da criação do mundo envolve a “palavra” e sua relação com a luz se apresenta da mesma forma que a união do conhecimento com a obscuridade (segundo o Gênese, a Palavra se manifestou com a aparição da Luz).

A criação do mundo fora do nada aparece como o aspecto exterior de um todo que se situa na própria divindade suprema. Assim o movimento do oculto En Soph no nada e esse nada, de ordem mística, que emana de Deus nas sefirote, quando se manifesta, é chamado, pelos cabalistas, de a mais alta sephirá, a Coroa suprema da Divindade, que, afinal, é o abismo que se torna visível nas brechas da existência. A partir disso, vários cabalistas sustentam que, em cada transformação da realidade, em cada mudança de forma, ou cada vez que um estado de coisas é alterado, o abismo do nada é atravessado e torna-se visível durante um místico e passageiro instante. Em relação ao homem e sua alma, o Zoar é bastante explícito, pois, para ele, o homem representa um papel de extrema importância: ele está colocado no centro do Universo e o poder do mundo está subordinado à sua criação. Segundo o Zoar, a essência do homem reside na alma e esta aparece em tríplice forma: NÉFEQUE (alma vegetativa), que dá a vitalidade e o sentimento ao homem, em seu comportamento exterior. Ela é a força vital do homem e corresponde ao sangue, que seria, então, a alma vegetativa; a qual, não sendo atributo exclusivo do homem, é comum a todos os animais. É por isso que os textos bíblicos proíbem os homens de se alimentar de sangue. ROUÁ (alma intelectual), que corresponde ao ar, é o órgão da vida interior, intelectual e mental da alma, que, de certa maneira, representa um fragmento da vida universal. É através dele que se faz a união da Néfeque com a Nechamá. NECHAMÁ (sopro, alma espiritual), que se encontra no acme de hierarquia progressiva, corresponde à alma superior, à mais alta espiritualidade, por cujo intermédio ocorre a união (debekut) do homem com o mundo celestial. Diz o Zoar que “o ser humano reproduz, assim, seu protótipo divino, no qual as três faculdades formam uma só essência”, o que significa que, embora dividida em três partes, a alma humana é essencialmente una. Segundo os cabalistas, o pensamento, exprimido e difundido através dos órgãos da fala, é semelhante à alma e apresenta, também, três etapas: o sopro, o som, ou a palavra, que é o som articulado e coordenado. No plano físico há a correspondência dessas três etapas com os três elementos da natureza: Aque (fogo), Main (água) e Rouá (ar). Juntando-se

as três letras (hebraicas) iniciais dessas palavras, nessa ordem, obtêm-se a palavra “falar”. Nota-se, assim, que o Zoar tem uma constante preocupação, com o homem e nada deixa escapar ao seu destino, que considera como um perene prodígio, desde a chegada da alma ao corpo, por ocasião do nascimento, que é visto como a descida da alma desde o Jardim Celestial, superior, até ao Jardim do Éden, inferior, e, daí, até à Terra. Diz esse texto, cabalístico, que, no momento da concepção, a criança, sob uma forma etérea, paira acima dos corpos dos pais; diz, também, que, antes do nascimento, o homem se encontra com o Adam Kadmon divino no limiar dos dois mundos (o espiritual e o material). O Zoar mostra, na realidade, um certo agnosticismo, ao afirmar que o infinito incognoscível de Deus (En Soph) é inacessível à mente humana; assim, toda a filosofia mística da Cabala é baseada na busca do conhecimento do Absoluto, do impenetrável, da sabedoria cristalizada no Adam Kadmon, que representa o microcosmo da espécie humana perante o macrocosmo divino, que não pode ser compreendido, nem representado sob nenhuma forma. A Maçonaria segue de perto essa doutrina cabalística, na sua busca constante da verdade e da sabedoria, baseada na tríplice relação da alma humana com o infinito, e não admitindo a acessibilidade à mente divina.Uma prática demonstração disso está no Compasso, símbolo exotérico do conhecimento, esotérico do Espírito e uma das três Grandes Luzes Emblemáticas da Maçonaria (ao lado do Esquadro e do Livro da Lei, que, geralmente, é a Bíblia); existem, nos diversos graus maçônicos, aberturas diferentes das hastes do compasso, que é colocado, entrelaçado com o esquadro, sobre o Livro da Lei, nas sessões maçônicas (nos três primeiros graus, Aprendiz, |Companheiro e Mestre, ou seja, na MAÇONARIA SIMBÓLICA, a abertura é de 45 °); todavia o máximo de abertura do compasso, em toda escala maçônica, corresponde aos 90° de um ângulo reto, isso simboliza a limitação do conhecimento humano, perante a onisciência divina, representada pelos 360 ° da circunferência. Embora existam muitos graus maçônicos influenciados pela mística da Cabala, principalmente do Zoar (embora a numerologia mostre influência do Yetsira), o mais cabalístico de todos os graus maçônicos é o de Companheiro onde interessa a dualidade do Ser e do Não-Ser do Yetsira e a tríplice composição da alma humana (vegetativa, intelectual e espiritual) do Zoar.

É fácil perceber, por toda esta exposição, que a maior parte do misticismo maçônico é proveniente, sem dúvida, da mística religiosa hebraica, o que também acontece com as religiões monoteístas atuais.

[1] A tradição coloca a origem do termo hebreu em ibri, que significa “o povo do lado de lá”, ou seja, do lado de lá do rio Eufrates. As fontes cuneiformes, todavia, apontam para uma outra origem: referindo-se aos emigrantes, lavradores e mercenários que apareceram na Assíria, no Egito, na Babilônia e em Canaã e que os descendentes de Abraão invocam como seus ancestrais, dão-lhe os nome de habiru. [2] A Torá: lei, mandamento, corresponde aos cinco primeiros livros do texto bíblico (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). [3] A exposição e interpretação do texto da Torá deu origem a duas correntes exegéticas: a midrash halaká e a midrash hagadá. Midrash é o conjunto de lendas, mitos e estudo da Torá, transmitido, durante séculos, por via oral, sendo compilado nas yeshivot (plural de yeshivá: academias de estudos da Torá) babilônicas, após o exílio. Halaká, em hebraico, significa, literalmente “modo de andar” (andar dentro da lei moral). Hagadá, em hebraico e aramaico significa “conto, lenda, narrativa”. Assim, midrash halaká é o ensinamento legislativo das partes jurídicas da Torá, enquanto midrash halaká é o comentário livre das partes narrativas da Torá. As suas correntes levaram à concretização da obra que é considerada a essência do Judaísmo: a Mishná, que significa “ensino”, ou “repetição”. Isso se deveu aos tanaim (docentes). E, assim como estes haviam interpretado a Torá, a Mishná também teve os seus estudiosos e comentadores, os Amoraim, que, com seu trabalho nas academias da palestina e da Babilônia, levaram à conclusão da Guemará, que, em hebraico, significa “complemento”. A junção da Mishná com a Guemará forma o Talmud. [4] Sinagoga, do grego: synagogé: reunião, pelo latim: synagoga, designa a assembleia dos fiéis, sob a antiga lei judaica. É o lugar onde o povo judeus reúnem-se para orar, meditar e estudar os livros sagrados. Segundo a concepção judaica, a sinagoga não é um templo, mas, sim, a casa do povo, à espera da reconstrução do templo. Nela, as preces substituem o sacrifício cruento de animais, realizados no templo de Jerusalém, segundo preceitos da Torá. As principais preces são: minc-há, shaharit e arvit.

IX A MÍSTICA NO HINDUÍSMO, NO BUDISMO E NO LAMAÍSMO HISTÓRIA A Proto-História da Índia inicia-se em torno de 2000 a.C. quando os árias, tribo de pastores, vindos do Irã, começaram a ocupar a região do Punjab, impondo o seu domínio a uma já decadente civilização dos hindus, de cuja cultura e organização muito foi absorvido. Começaria, então, o Período Védico da História da Índia, o qual se estenderia de cerca de 1500 a 500 a.C. e é descrito nos Vedas, que são hinos sagrados, escritos em sânscrito, em diferentes épocas. O principal dos Vedas é o Rig-Veda, que descreve as lutas entre árias e dravidianos, no vale do Indos, trazendo muitas informações sobre os hábitos sociais da época. Os outros Vedas, menos importantes - Yajur-Veda, Sama-Veda e AtharvaVeda - adotados pelos brâmanes, mostram a época da conquista da planície entre o Indos e o Ganges, quando surgiu o Hinduismo, uma síntese áriodravidiana, com divisões sociais em castas e varnas. Só no século VI a.C. é que surgiriam reformadores religiosos, preconizando uma nova orientação para o hinduísmo. Um desses reformadores foi Buda. A partir dessa época, a região começaria a sofrer invasões estrangeiras, inicialmente com Dário, rei da Pérsia, e, depois, em 327 a.C., com os gregos de Alexandre da Macedônia, os quais anexaram o Punjab. Após a expulsão dos gregos, em 325 a.C., Chandragupta Mauria inaugurava o Império Mauria, que seria ampliado no século seguinte, com Asoka Mauria, o “rei monge”, o maior e mais acatado soberano da Índia. Depois de nova invasão dos gregos da Bactria, subsistiriam dinastias nacionais, com os andhras, até ao advento do Império Gupta – que dominou a região entre 320 e 470 d.C. – liderado, inicialmente, por Chandragupta I. No início do século V, o império atingiria o seu apogeu, na época considerada da Índia Clássica, quando ocorreu a idade de ouro da literatura sânscrita. Ocorreriam, então, em sequência, novas invasões: a dos hunos brancos, a dos palavras e a dos cholas, até ao início do período islâmico, a partir do século VIII, formando-se, depois o Império Mongol, tendo Akbar, como o maior dos soberanos, e Shah Jahan como o mais

conhecido, principalmente pela sua riqueza e por ser um grande construtor (construiu, inclusive, no século XVII, em Agra, uma das maravilhas do mundo moderno: o Taj Mahal, mausoléu de sua mulher Mumtaz Mahal). Nessa época já se haviam iniciado as penetrações europeias, por interesse comercial, no território da Índia, começando com os portugueses, nos século XV e XVI, e continuando com os holandeses – e sua Companhia Geral das Índias Ocidentais – os ingleses – com a English East India Company – e os franceses. Entre 1765 e 1858, estabeleceu-se a conquista da Índia, pelos ingleses, definitiva, limitada, no princípio, e total, posteriormente, graças aos atritos entre os príncipes indianos, o uso de tropas indianas contra indianos, além da habilidade dos ingleses, dirigidos por chefes competentes. Transformada em colônia inglesa, a região ficou dividida em duas partes: uma, a Índia britânica, sob administração direta da English East India Company e, depois do governo inglês; outra, formada pelos Estados nativos, os quais conservaram suas dinastias, sob supervisão, porém, dos ingleses. Nesse período, os ingleses foram impondo a sua cultura, em prejuízo da cultura hindu. No início do século XX, era constituído um movimento nacionalista pela independência da Índia, através de uma ação política, liberal e nacional, a qual criou a Associação Indiana e o Congresso Nacional Indiano, tendo, este último, reivindicado a independência, em 1906, após uma série de atos de terrorismo. Pouco tempo depois, começava a se projetar um novo líder Mohandas Ghandi. A I Grande Guerra (1914-1918) aceleraria o processo de libertação, havendo uma série de manifestações antibritânicas, sob a orientação de Ghandi. A questão, todavia, demorava a ser resolvida e, com a eclosão da II Grande Guerra (1939), o Congresso exigiu a independência, mas nada obteve. Com o fim dessa guerra e a instalação de um governo trabalhista, o governo inglês anunciava, para junho de 1948, a transferência de soberania, estabelecendo-se, então, a lei de independência da Índia e dois Estados independentes: os Domínios do Paquistão e da Índia, com limites a serem fixados. A 30 de janeiro de 1948, Gandhi era assassinado por um fanático, como responsável pela partilha. A Constituição de fevereiro de 1948 propunha, então, uma república federal, ao invés de um domínio. Pouco depois, os franceses renunciavam às suas feitorias na costa indiana, as quais foram anexadas ao território nacional. Só Portugal é que retardou o processo, renunciando, apenas em 1961, a Goa, Damão e Diu, que foram anexadas pelos indianos.

AS RELIGIÕES O Hinduísmo e a sua forma mais requintada, o Bramanismo, são as religiões mais antigas da Índia e caracterizam-se por um complexo sistema de divisão das castas sociais. Religião adotada pelos mios populares, o Hinduísmo aceita, como fatos verdadeiros, as origens mitológicas e as explicações cosmológicas que constituem os ensinamentos. O Bramanismo, por outro lado, só aceita os fatos mitológicos como fundamentos de verdades espirituais específicos. A origem desses sistemas religiosos remonta à religião védica, introduzida na Índia, no segundo milênio a.C. pó povos de origem desconhecidas. Tanto o Hinduísmo, quanto o Bramanismo, representam a fusão da religião védica com as crenças já existentes na Índia antes do II milênio a.C, predominando de todo o Hinduísmo. A religião védica é baseada nos Vedas, que são os seus livros sagrados, dos quais o principal é o Rig Veda, que se tornou o livro sagrado dos sacerdotes hindus, o texto máximo de todo o Hinduísmo. Embora admita a existência de incontáveis deuses, o Hinduísmo, como todas as religiões politeístas, acaba assinalando uma certa tendência ao monoteísmo, ao eleger o seu primeiro grande deus, do qual provês todos os outros deuses. Esse deus primordial é Brahma. Para Rig Veda existia no começo dos tempos, o mundo submerso na escuridão, imperceptível, sem poder ser descoberto, ou revelado, pelo raciocínio. Então, aquele que só o espírito pode perceber, que não tem partes visíveis, é eterno e alma de todos os seres, desprendeu o seu próprio esplendor e, daí, fez emanar de sua substância as diversas criaturas. A criação do mundo, segundo os Vedas, apresenta extraordinária semelhança com as concepções equivalentes geradas por diversos povos da antiguidade e, inclusive, com a Bíblia, o que demonstra que esta representou uma amálgama das crenças religiosas da antiguidade, incrementando, simplesmente a tendência monoteísta, já vislumbrada nas antigas religiões. Apesar do grande número de deuses da religião hindu, os principais são Vishnu e Siva que, com Brahma, formam a grande trindade hinduísta, ou Trimurti, concepção que é encontrada em diversas outras religiões (Osíris, Isis e Horus, do egípcios; Shamash, Sine Ichtar dos mesopotâmicos), inclusive no próprio Cristianismo, na forma da Santíssima Trindade, criação metafísica copiada das antigas religiões.

O Hinduísmo e o Bramanismo pregam a reencarnação e creem que viver é sofrer e que deixa de viver é alcançar a eterna paz do Nirvana (o céu metafísico). Segundo a sua doutrina, a alma passa de um ser para outro, conseguindo com isso, um aperfeiçoamento gradual e progressivo, tendo que renascer inúmeras vezes até alcançar a moksha, que é a libertação da pena de sofrer novas reencarnações, significando que a alma está purificada, podendo passar a uma forma superior, numa esfera mais elevada. A condição para diminuir o número de reencarnações, abreviando, assim o sofrimento de novas vidas (nascer de novo, para o Hinduísmo, é ter novo sofrimento), é praticar, durante a existência, as boas ações e ter uma vida virtuosa. Em todo o ciclo das necessárias reencarnações destinadas ao aperfeiçoamento do espírito, há para o Hinduísmo uma lei fatal, que é a lei do karma (destino, ou força resultante das ações praticadas). No Hinduísmo e no Bramanismo, os homens são separados em quatro castas, geradas do corpo de Brahma no dia da criação da humanidade: da boca saíram os sacerdotes (brâmanes), classe que se autoprivilegiou como a casta mais elevada, coisa muito comum às classes sacerdotais de todas as religiões; dos braços saíram os guerreiros (xátrias); das pernas originaram-se os agricultores e comerciantes (vaíciais); e, finalmente dos pés saíram os homens da plebe (párias ou sudras), destinados aos trabalhos braçais e a servir aos membros das demais castas. Embora essa divisão esteja gradativamente desaparecendo, graças a uma evolução social dos hindus, ainda é um ponto importante da fé hinduísta, que justifica essa sistema, bastante injusto do ponto de vista material, através da explicação do karma: se alguém nasceu numa casta inferior, é porque houve má-conduta na sua existência anterior; em compensação, a vida pura e virtuosa, numa existência, pode conduzir a uma casta mais elevada numa nova reencarnação. É de acordo com essa crença que o conceito de casta difere, fundamentalmente do conceito de classe social, pois o indivíduo pode, numa mesma existência atingir uma classe social mais elevada, enquanto no sistema de castas o homem jamais terá a oportunidade de experimentar uma ascensão, morrendo na casta em que nasceu. Os fiéis do Hinduísmo são obrigados durante toda sua vida, a praticar diversos rituais, desde o seu nascimento, quando numa cerimônia semelhante a um batismo, é dado à criança mel, misturado com manteiga, numa colher de ouro. Existem a partir daí, quatro fases na vida ideal do

homem, que são as seguintes: 1. Numa idade variável entre os 08 e os 24 anos, de acordo com a casta, ocorre a iniciação, que simboliza o nascimento espiritual do bramacharim (estudante), sendo o jovem confiado a um mestre religioso, com o intuito de servi-lo e aprender as lições dos Vedas. 2. Através do casamento, celebrado junto ao fogo sagrado, o homem torna-se griastogriasta (chefe de família), passando a presidir os ritos domésticos. 3. Próximo à velhice, ele se torna vanapastra (anacoreta) e se retira para a floresta, levando consigo o fogo sagrado, que deve ser, sempre mantido aceso; mantém a castidade, como pouco e dorme no chão. 4. A quarta e última fase é a de samniasin (eremita), quando o indivíduo alcança aquela que é considerada a mais honrada e a mais elevada posição da vida material a de asceta mendicante. Tendo em vista a moksha (libertação espiritual), para chegar ao Nirvana, o hinduísmo preconiza diversos caminhos na existência terrestre, ligados à profunda concentração mental, dos quais o principal é a ascese do Ioga (união com o divino). Na Maçonaria, em seu arcabouço místico, podemos encontrar concepções hinduístas, embora não exclusivas desse sistema religioso. A sobrevivência da alma e o aperfeiçoamento espiritual são dogmas de diversos ritos maçônicos, conforme já foi visto; a iniciação na Ordem também simboliza o nascimento espiritual do Aprendiz, que é confiado a um Mestre, para aprender as lições da doutrina e da ciência maçônica; os graus maçônicos, assim como as castas, só podem ser atingidos através do aperfeiçoamento espiritual, conseguido simbolicamente por meio de sucessivas mortes e ressurreições, pois cada ascensão na escala, representa a morte simbólica do iniciado. O Budismo é um sistema religioso originário dos ensinamentos de um homem hindu, nascido nobre, sob o nome de Siddharta Gautama, que veio ao mundo em 563 a.C., em Kapilavastu, no norte da Índia. Gautama, também chamado Sáquia-Muni (sábio de Sáquia), ficou famoso na Índia, por sua santidade, sabedoria e amor por todos os seres viventes, sendo chamado “O Buda”, que significa “O Iluminado”. A religião por ele fundada espalhou-se após a sua morte, pela maior parte da Ásia. Nascido em família nobre, Buda foi criado por seu pai longe dos

contatos com os males do mundo e com a miséria de seu país, casando-se ainda adolescente e gerando um filho. Certa ocasião, segundo a lenda, ele deixou seu palácio para um passeio de carruagem e viu, à margem da estrada, um velho, um doente e um homem que morrera de fome; esse seu primeiro contato aos 29 anos de idade, com a velhice, a doença, a miséria e a morte, tirou-lhe a alegria, pois lhe mostrou os contrastes do mundo. Diante disso, ele, depois de raspar a cabeça em sinal de humildade, trocou as suas ricas roupagens pelo humilde traje amarelo dos monges, e deixou o seu palácio abandonando a família, os bens e o passado e tornando-se um mendigo itinerante, que se lançava ao mundo em busca de explicações para o enigma da vida. Baseando sua procura em todos os tipos de penitência, escorada em profunda e solitária meditação, durante muitos anos, conta a lenda que, em certa ocasião, ele passou sete semanas, sentado sob a sombra de uma figueira, que os hindus chamam de bodhi (árvore da sabedoria), sentindo uma sensação de despertar espiritual, a “iluminação”. Iluminado por um novo entendimento de todas as coisas da vida, Gautama rumou para a cidade de Benares, às margens do Rio Ganges, com a finalidade de transmitir aos outros, a sua experiência. Aos poucos, conseguiu muitos discípulos, que passaram a reverenciar o seu conhecimento e a sua iluminação, tratando-o por Buda. Os ensinamentos do Buda endossavam muitos os aspectos do hinduísmo, criticando, todavia, muitos dos tradicionais preceitos dessa religião. Para o Budismo não existe começo nem fim, criação ou céu; aceita, todavia, Omo fundamental a reencarnação da alma (transmigração) em outros corpos, e a teoria do karma, força moral ou lei cósmica misteriosa, que sobrevive à morte, que é definida como a total consequência ética das ações individuais e que estabelece o destino de cada um nas existências futuras, até chegar ao Nirvana, o bem-aventurado estado de vazio total, onde a libertação completa prescinde de novas encarnações. O Budismo discorda do hinduísmo em relação aos métodos usados para atingir os objetivos espirituais, principalmente em relação à mortificação, ao ascetismo rigoroso, que os religiosos hindus praticavam e que parecia exagerado e inútil para Buda. Dessa maneira, sua doutrina, definida no sermão de Benares, recomenda a adoção de um meio termo, um meio caminho entre o ascetismo, a automortificação e a autoindulgência. Para se trilhar esse caminho intermediário, há necessidade de se

admitir as chamadas Quatro Verdades Nobres que são assim relacionadas: 1. É necessário reconhecer que a dor é universal, ou seja, que a vida humana é feita de angústia e sofrimento. 2. A causa da dor e do sofrimento reside no desejo de coisas que não podem satisfazer ao espírito. 3. A dor tem remédio, ou seja, o sofrimento por ter fim. 4. O sofrimento só se extingue quando o homem renuncia a esses desejos; já que a raiz desses desejos tem origem na ignorância, a sabedoria é o melhor caminho para dominar a dor e o sofrimento.

SHRIYANT: UMA DAS REPRESENTAÇÕES DO MANDALA Admitindo essas quatro Verdades Nobres, dispõe o homem, dos meios para libertar-se, seguindo a Senda das Oito Trilhas, composta de: 1. Pureza de fé 2. Opiniões exatas 3. Palavras verdadeiras 4. Procedimento correto 5. Vida regrada 6. Boas aspirações 7. Pensamentos certos

8. Meditação e contemplação virtuosa. Além das Quatro Verdades e das Oito Trilhas, Buda acrescentava ainda, uma sentença, a Regra de Ouro, resumo de toda a sua doutrina e norma geral de conduta: “TUDO O QUE SOMOS É O RESULTADO DO QUE PENSAMOS”. Há, no Budismo, um profundo respeito por todas as criaturas viventes, fazendo com que os budistas considerem como obrigação fundamental de todos os indivíduos, viver em paz, harmonia e fraternidade com seus semelhantes. Esse espírito pacifista tem origem num ensinamento do próprio Buda, que diz: “O ÓDIO NÃO TERMINA COM O ÓDIO, MAS COM O AMOR”. Contrariamente ao que acontece com outras religiões o Budismo jamais exige alguma coisa de seus seguidores: não existem cerimônias de conversão, nem rituais de submissão do homem a divindades, bastando, somente conhecer as Quatro Verdades e seguir as Oito Trilhas. Assim sendo, o Budismo muito mais do que uma religião é uma filosofia de vida, uma atitude perante o mundo, uma técnica de comportamento, através da qual o homem aprende a se desprender de tudo o que é transitório, buscando uma autossuficiência espiritual.Isso tem feito com que, nos tempos modernos, o Budismo seja bastante acatado no ocidente, tão sujeito a religiões castradoras e dominadoras. O Budismo expandiu-se muito e, durante essa expansão, a doutrina original foi sofrendo algumas modificações. No Extremo Oriente, ela tornou-se menos rigorosa adaptando-se às necessidades espirituais da gente simples, sendo essa forma de Budismo, denominada mahayana (veículo maior); isso aconteceu, por exemplo, no Tibet, enquanto em outros locais, como na Birmânia, Tailândia, Vietnã, Laos e Camboja, o Budismo permaneceu ortodoxo, sendo chamado de hinyana (veículo menor) pelos adeptos da mahayana.

No Tibet o Budismo chegou no século VIII já sob forma diferente da original, introduzido pelo monge hindu Padma-Sambhava; nessa atura ele já era uma mistura de Budismo mahayana com elementos mágicoreligiosos de seitas originadas do hinduísmo. A antiga religião original do Tibet, a bon-po (que já era bem decadente), fundiu-se com o Budismo, dando origem ao lamaísmo, o qual transformaria o Tibet numa teocracia dominada pelos monges lamaístas (Dalai e Penchen Lamas), considerados reencarnações de divindades budistas. O ritual mais importante do lamaísmo é a Iniciação Kalachakra, que dura quatro dias. O aprendizado Kalachakra é considerado como o caminho mais rápido e eficaz para escapar à Roda do Tempo, ou seja, ao sofrimento representado pelas sucessivas reencarnações (conceito mais hinduísta do que budista). O candidato à iniciação kalachakra é instruído quanto ao modo de agir na vida, sempre com bondade, tolerância, compaixão e amor ao próximo. Se seguir esse caminho que em última análise, é a própria Senda das Oito Trilhas, o iniciado atingirá após sete reencarnações, o estado de Buda, escapando dessa maneira, à Roda do Tempo, e juntando-se a outros iniciados no reino da terna felicidade. O Kalachakra é pleno de meditação e, durante os quatro dias da iniciação, o Dalai Lama, que preside a cerimônia, explica de que maneira os candidatos devem se entregar às reflexões e meditações, procurando um estado de concentração mental que os aproxime do desprendimento total. No primeiro dia da iniciação, o candidato deve estar preparado para o ensino e afirma-se que ele está no limiar de um mandala, ou seja, do palácio deslumbrante em que vive Kalachakra. Antes da cerimônia ele enxágua a boca com água e recebe explicações sobre a motivação que deve ter, ou seja, o desejo de chegar ao conhecimento do modo pelo qual as coisa realmente existem, para beneficiar todos os seres sofredores. Depois disso, o candidato recebe um líquido alaranjado, abençoado pelo Dalai Lama; a seguir, recebe um cordão vermelho também abençoado, o qual, atado em volta do seu braço direito, destina-se à proteção contra as forças do mal. Finalmente, rele recebe duas porções de uma erva indiana, a Kusha, sendo a porção maior, colocada sob seu colchão e a menor sob seu travesseiro, para ajudá-lo a ter sonhos leves e claros, que predisponham o seu espírito para as cerimônias do dia seguinte. No segundo dia o candidato novamente enxágua a boca e recebe

uma venda, usada simbolicamente na testa. Além dessa simbólica vedação dos olhos, ele recebe uma flor para entregar a Kalachakra, quando encontrar a divindade e é conduzido, mentalmente para o mandala. Este possui quatro portões, sendo um dourado, outro cinzento, o terceiro branco e o último vermelho, representando os quatro elementos da natureza da seguinte forma: o vermelho é a terra, o branco a água, o dourado, o fogo, e o cinza, o ar. A cerimônia é, essencialmente uma alegoria da compaixão, envolvendo a sabedoria. O candidato é conduzido, mentalmente ao redor o mandala e, depois de muito circular em níveis inferiores, atinge, finalmente o chão e encontra Kalachakra; nesse instante, então, ele retira a venda, contempla a beleza e a força da divindade e oferece a flor, que lhe é devolvida. Tocando então, sua cabeça coma a flor, o iniciado sente-se no caminho da iluminação e da felicidade. No terceiro dia, o candidato recebe sete instruções diferentes, que ajudam a eliminar todas as ações impuras do corpo, do pensamento e da fala, fazendo com que ele comece a percorrer a senda que conduz à felicidade, deixando-o capacitado a praticar a compaixão e a buscar sempre, a sabedoria. Ele é, mentalmente conduzido ao redor do mandala, no sentido horário (no sentido dos ponteiros do relógio). Imaginando que porta uma varja, símbolo da compaixão; recebe novamente, o líquido alaranjado, para a purificação do pensamento e da fala, e, voltando-se para o interior de si mesmo, vê os cinco elementos interiores como Dhyani Budas, cada um deles fazendo-lhe oferendas. A real iniciação termina nesse terceiro dia, com mais ensinamentos sobre a prática das virtudes preconizadas e explicações sobre o significado da Kalachakra. No quarto e último dia da iniciação, há apenas, a veneração do Kalachakra e preces de longa vida ao Dalai Lama. Nesse quarto dia, o mandala de areia colorida feito pelos monges antes das cerimônias iniciatórias, é destruído e, através de um rito próprio, é atirado nas águas de um rio, pois de acordo com a doutrina budista, nada é permanente. É este desapego às coisas passageiras que faz com que os budistas, de maneira geral, vejam no Buda, apenas uma imagem encarnada do princípio de iluminação interior; para eles, antes de Siddharta Gautama houve outros Budas (Iluminados) e muitos outros aparecerão até o fim dos tempos. Assim, se explica o aspecto impessoal do semblante de todas as imagens do Buda, pois elas não são representações reais de uma figura humana em particular, mas sim, símbolos idealizados de uma entidade espiritual.

Em suas várias formas, o Budismo chegou ao Ocidente, através de diversos poetas – como Antero de Quental – escritores e filósofos – como Schopenhauer – e foi incrementado por sociedades místicas, já que a sua doutrina enquadra-se no ideal de tolerância, virtude e amor ao próximo, sem o dogmatismo, que é a tônica da maioria das religiões. A instituição maçônica, do mesmo modo, defende os bons costumes, a tolerância e a fraternidade, com respeito, porém, à liberdade de consciência do homem, que não admite a imposição dogmática. Apesar de algumas ligeiras modificações, as Quatro Verdades Nobres e a Senda das Oito Trilhas estão presentes em toda a extensão da doutrina maçônica, que ensina, aos iniciados, o desapego às coisas materiais, que são efêmeras, e a busca incessante da paz espiritual, através das boas obras, da existência regrada, do correto procedimento e das palavras verdadeiras. Misticamente, a evolução na Maçonaria, simboliza, para o iniciado a procura do seu interior e o seu aperfeiçoamento, metas, também do Budismo e da sua forma tibetana, o lamaísmo. O Ritual de iniciação Kalachakra mostra, bem, isso e possui extraordinárias semelhanças com o ritual de iniciação maçônica: a venda que o iniciado retira quando recebe a Luz maçônica e que se assemelha à retirada da venda pelo iniciado no Kalachakra, quando ele contempla a força e a beleza da divindade; o iniciado maçom passa pelas provas dos quatro elementos da natureza (água, ar, terra e fogo), que, no ritual lamaísta, são representados pelos quatro portões do mandala, pelos quais o iniciado deve passar; a circulação do iniciado, tanto no templo maçônico, quanto no mandala, é feita no sentido dos ponteiros do relógio que representa a caminhada do sol e as fases da vida humana. Coincidência ou não, o fato é que as semelhanças existem.

X O MISTICISMO MEDIEVAL As principais manifestações do misticismo da Idade Média, com interesse para a doutrina mística da Maçonaria, são: a teologia decalcada no monoteísmo e divulgada pela Igreja, a Cabala hebraica (já analisada), a Cabala cristã, as corporações de ofício, o rosacrucianismo, a Alquimia e o iluminismo. Para a armação da doutrina mística da Maçonaria, têm interesse, entre as manifestações de misticismo medieval, a teologia, decalcada no monoteísmo e divulgada pela Igreja, a Cabala cristã, a Cabala – já analisada – as corporações medievais de ofício, a Alquimia, o rosacrucianismo e o iluminismo. AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO Desde que o homem deixou as cavernas e as suas vivendas de nômade, sedentarizando-se e formando uma sociedade estratificada, surgiram os profissionais dedicados à arte da construção, os quais foram se aperfeiçoando, não só na ereção de casas de residência, mas, também, na de templos, de obras públicas e obras de arte. Embora tivessem, esses profissionais, desde os seus primeiros tempos – na Mesopotâmia e no Egito – mantido, entre si, certa camaradagem e um sentimento de agregação, não havia, na realidade, uma organização que os reunisse, que regulasse a sua atividade e que lhes desse um maior sentido de responsabilidade profissional. Foi no Império Romano do Ocidente, da Roma conquistadora, que, em função da própria atividade bélica, surgiu, no século VI a.C., a primeira associação organizada de construtores, os Collegia Fabrorum. Como a conquista das vastas regiões da Europa, da Ásia e do norte da África, levava à destruição, os collegiati, principalmente os tignari (construtores de casas), acompanhavam as legiões romanas, para reconstruir o que fosse sendo destruído pela guerra. Dotada de forte caráter religioso, essa organização dava, ao trabalho, o cunho sagrado de um culto às divindades. De início politeísta, tornou-se, com a expansão do Cristianismo, monoteísta,

entrando, porém, em decadência, após a queda do Império Romano do Ocidente, ocorrida em 476 d.C., embora persistissem pequenos grupos da associação no Império Romano do Oriente, cujo centro era Constantinopla. Iriam, portanto, sofrer grande transformação, na época medieval, quando, por força da evolução e da política do regime feudal, os agrupamentos todos só podiam ser considerados em relação aos laços de suserania, ou vassalagem, característicos da sociedade feudal, perdendo a sua característica autônoma. Com a restrição à liberdade individual, cessava a garantia para o trabalho dos artesãos, não lhes restando alternativa que não fosse a de se tornarem servos. Assim, os collegiati iriam se incorporar aos conventos, que lhes dariam o único meio jurídico de subsistência, já que a Igreja era a poderosa tutora dos governos e os seus estatutos admitiam que os construtores escapassem à servidão e ao vínculo dos feudos, conservando o direito de circulação. Na Idade Média é que iria florescer, através do grande poder da época, a Igreja, a hoje chamada Maçonaria Operativa, ou Maçonaria de Ofício, para a preservação da Arte Real entre os mestres construtores da Europa. Assim, a partir do século VI, as Associações Monásticas, formadas, principalmente, por clérigos, dominavam o segredo da arte de construir, que ficou restrita aos conventos, já que, naquela época de barbárie, quando a Europa estava em ruínas, graças às sucessivas invasões dos bárbaros, e quando as guerras, os roubos e os saques eram frequentes e até encarados como fatos normais, os artistas e arquitetos encontraram refúgio seguro nos conventos. Posteriormente, pela necessidade de expansão, os frades construtores começaram a preparar e a adestrar leigos, proporcionando, a partir do século X, a organização das Confrarias Leigas, que, embora formadas por leigos, recebiam forte influência do clero, do qual haviam aprendido a arte de construir e o cunho religioso dado ao trabalho. É dessa época aquela que é considerada a primeira reunião organizada de operários construtores: a Convenção de York, ocorrida em 926 e convocada por Edwin, filho do rei Athelstan, para reparar os prejuízos que as associações haviam tido com as sucessivas guerras e invasões. Nessa reunião, foi apresentada, para apreciação e aprovação, um estatuto, que, dali em diante deveria servir como lei suprema da confraria e que é, geralmente, chamado de Carta de York. Quase na mesma época, surgiriam associações simplesmente religiosas, que, a partir do século XII, formaram corpos profissionais: as Guildas. A elas se deve o primeiro documento em que é mencionada a

palavra “Loja”, para designar uma corporação e o seu local de trabalho. As Guildas e sua contemporânea, a organização dos Ofícios Francos, foram as principais precursoras da moderna Maçonaria. O seu nome “Gild”, de origem teutônica, deriva do título dado, na antiga região da Escandinávia, a um ágape religioso, durante o qual, numa cerimônia especial, eram despejados três copos de chifre (chavelhos), conforme o uso da época, cheios de cerveja, sendo um em homenagem aos deuses, outro, pelos antigos heróis, e o último em homenagem aos parentes e em memória dos amigos mortos; ao final da cerimônia, todos os participantes juravam defender uns aos outros, como irmãos, socorrendo-se mutuamente nos momentos difíceis. As Guildas caracterizavam-se por três finalidades principais: auxílio mútuo, reuniões em banquetes e atuação por reformas políticas e sociais. Introduzidas na Inglaterra, por reis saxões, elas foram modificadas por influência do Cristianismo, mas, mesmo assim, não eram bem aceitas pela Igreja, que não via com bons olhos a prática do banquete, por suas origens pagãs, e a pretensão de reformas políticas e sociais, que pudessem, eventualmente, contribuir para diminuir os seus privilégios e os privilégios das corporações sob a sua proteção. Assim, para evitar a hostilidade da Igreja, cada guilda era organizada sob a égide de um monarca, ou sob o nome de um santo protetor. No século XII, associada às guildas, surgia uma organização de operários alemães, os Steinmetzen, ou seja, canteiros[1], talhadores, ou esquadrejadores de pedra, os quais, sob a direção de Erwin de Steinbach, alcançariam notoriedade, quando Erwin conseguiu a aprovação de seus planos para a construção da catedral de Estrasburgo e deu um aperfeiçoado sentido de organização aos seus obreiros. No século XII, também, iria florescer a associação considerada a mais importante desse período operativo: os Ofícios Francos (ou FrancoMaçonaria), formados por artesãos privilegiados, com liberdade de locomoção e isentos das obrigações e impostos reais, feudais e eclesiásticos. Tratava-se, portanto, de uma organização de construtores categorizados, diferentes dos operários servos, que ficavam presos a uma mesma região, a um mesmo feudo, à disposição de seus amos. Na Idade Média, a palavra franco designava não só o que era livre, em oposição ao que era servil, mas, também, todos os indivíduos e todos os bens que escapavam às servidões e aos direitos senhoriais; esses artesãos privilegiados eram, então, os pedreiros-livres, franc-maçons, para os franceses, ou free-masons, para os ingleses. Tais obreiros, evidentemente,

tinham esses privilégios concedidos pela Igreja, que era o maior poder político da época, com grande ascendência sobre os governantes. A palavra francesa “maçon”, correspondente a pedreiro, converteuse em “maison” (casa) e, também, embora só relativamente, em “masse” (maça, clava). Essa maça, ou clava, habilitava o porteiro a afastar os indesejáveis intrusos e curiosos. O pesquisador alemão Lessing, um dos clássicos da literatura alemã, atribui a palavra inglesa “masonry” (Maçonaria) a uma transmissão incorreta. Originalmente, a ideia teria sido dada pelo velho termo inglês “mase” (missa, reunião à mesa). Uma tal sociedade de mesa, ou reunião de comensais, de acordo com a alegoria da Távola Redonda, do rei Arthur, poderia, segundo Lessing, ainda ser encontrada em Londres, no século XVII. Ela se reunia nas proximidades da famosa catedral de São Paulo e, quando sir Christopher Wren, o construtor da catedral, tornou-se membro desse círculo, julgou-se que se tratava de uma cabana dos construtores, que estabelecia uma ligação de mestres construtores e obreiros; daí, então, ou seja, dessa suposição errada, é que teria se originado o termo “masonry”, para designar a sociedade dos construtores. Uma explicação para o termo inglês “freemason” (pedreiro livre) está ligada ao termo “freestone”, que é a pedra de cantaria, ou seja, a pedra própria para ser esquadrejada, para que nela sejam feitos cantos, que a transformem numa pedra cúbica, a ser usada nas construções. As expressões “freestone mason” e “freestone masonry”, daí surgidas, acabaram sendo simplificadas para “freemason” (o obreiro) e “freemasonry” (a atividade). Esta é uma hipótese mais plausível do que a de Lessing, que só considerou o caso particular da Inglaterra, quando se sabe que não foi só aí que existiu uma íntima ligação com o trabalho dos artífices da construção. Na metade do século XII, surgia o estilo arquitetônico gótico, ou germânico, primeiro no norte da França, espalhando-se, depois, pela Inglaterra, Alemanha e outras regiões do norte da Europa e tendo o seu apogeu na Alemanha, durante 300 anos. Tão importante foi o estilo gótico para as confrarias de construtores, que as suas regras básicas eram ensinadas nas oficinas dos canteiros, ou talhadores de pedra; tão importante que a sua decadência, no século XVI, decretou o declínio das corporações. No século XIII, em 1220, era fundada, na Inglaterra, durante o reinado de Henrique III, uma corporação dos pedreiros de Londres, que

tomou o título de The Hole Craft and Fellowship of Masons (Santa Arte e Associação dos Pedreiros) e que, segundo alguns autores, seria o germe da moderna Maçonaria. Pouco depois, em 1275, ocorria a Convenção de Estrasburgo, convocada pelo mestre dos canteiros e da catedral de Estrasburgo, Erwin de Steinbach, para terminar as obras do templo. A construção da catedral, iniciada em 1015, estava praticamente terminada, quando foi resolvido ampliar o projeto original e, para isso, foi chamado Erwin A essa convenção acorreram os mais famosos arquitetos da Inglaterra, da Alemanha e da Itália, que criaram uma Loja, para as assembleias e discussão sobre o andamento dos trabalhos, elegendo Erwin como Mestre de Cátedra (Meister von sthul). Na época, os obreiros criavam uma Loja, fundamentalmente, para tratar de determinada construção, como é o caso dessa catedral. Tais Lojas serviam para tratar dos assuntos ligados apenas à construção prevista, já que, para outras reuniões, inclusive com obreiros de outras corporações, eram utilizados os recintos de tabernas e hospedarias, principalmente em solo inglês. Próximo desse tempo, ou seja, no século XIV, começava, também, a atuação do Compagnonnage (Companheirismo), criado pelos cavaleiros templários[2]. Os membros dessa organização construíram, no Oriente Médio, formidáveis cidadelas, adquirindo certo número de métodos de trabalho herdados da Antiguidade e constituindo, durante as Cruzadas, verdadeiras oficinas itinerantes, para a construção de obras de defesa militar, pontes e santuários. Retornando à Europa, eles tiveram a oportunidade de exercer o seu ofício, construindo catedrais, igrejas, obras públicas e monumentos civis. Já na primeira metade do século XVI, as corporações, diante das perseguições que sofriam – principalmente por parte do clero – e diante da evolução social europeia, começavam a entrar em declínio. Em 1535, realizava-se, em Colônia, uma convenção, que fora convocada para refutar as calúnias dirigidas pelo clero contra os franco-maçons. Embora ela não tenha tido o brilho e a frequência de outras convenções, consta, embora tal afirmativa seja contestada, por carecer de comprovação, que, na ocasião, teria sido redigido um manifesto, onde era estabelecido o princípio de altos graus, que seriam introduzidos por razões políticas. Em 1539, o rei da França, Francisco I, revogava os privilégios concedidos aos franco-maçons, abolindo as guildas e demais fraternidades e regulamentando as corporações de artesãos. Em contrapartida, em 1548,

era concedido, aos operários construtores, de maneira geral, o livre exercício de sua profissão, em toda a Inglaterra; um ano depois, todavia, por exigência de Londres, era cassada a autorização concedida, o que fazia com que os franco-maçons ficassem na condição de operários ordinários, como tais sendo tratados legalmente. Em 1558, ao assumir o trono da Inglaterra, a rainha Isabel renovava uma ordenação de 1425, que proibia qualquer assembleia ilegal, sob pena dela ser considerada uma rebelião. Três anos depois, em dezembro de 1561, tendo, os franco-maçons ingleses, anunciado a realização de uma convenção em York, durante a festividade de São João Evangelista, Isabel ordenou a dissolução da assembleia, decretando a prisão de todos os presentes a ela; a ordem só não foi confirmada, porque lorde Thomas Sackville, adepto da arte da construção, estando presente, demoveu a rainha de seu intento, fazendo com que, em 1562, ela revogasse a ordenação de 1425. Em 1563, a Convenção de Basileia, feita por iniciativa da confraria de Estrasburgo, organizava um código para os franco-maçons alemães, o qual serviria de regra à corporação dos canteiros, até que surgissem os primeiros sindicatos de operários, no século XIX. Mas era patente o declínio das confrarias, no século XVI. A Renascença relegara o estilo gótico e a estrutura ogival das abóbadas – próprias da arte dos franco-maçons medievais – ao abandono, revivendo as características da arte grecoromana. Assim, embora ela tivesse atingido a todos os campos do conhecimento e a todas as corporações profissionais, foi a dos francomaçons a mais afetada. No final do século, Inigo Jones introduzia, na Inglaterra, o estilo renascentista, sepultando o estilo gótico e apressando a decadência das corporações de franco-maçons ingleses. Estas, perdendo o seu objetivo inicial e transformando-se em sociedade de auxílio mútuo, resolveram, então, permitir a entrada de homens não ligados à arte de construir, não profissionais, que eram, então, chamados de maçons aceitos. As corporações, evidentemente, começaram por admitir pessoas em pequeno número e selecionadas entre os homens conhecidos pelos seus dotes culturais, pelo seu talento e pela sua condição aristocrática, que poderiam dar projeção a elas, submetendo-se, todavia, aos seus regulamentos. Era a tentativa de sustar o declínio. O primeiro caso conhecido de aceitação é o de John Boswell, lorde de Aushinleck – ou, segundo J.G. Findel, sir Thomas Rosswell, esquire de Aushinleck – que, a 8 de junho de 1600 foi recebido maçom – não profissional – na Saint Mary’s Chapell Lodge (Loja da Capela de Santa

Maria), em Edimburgo, na Escócia. Esta Loja fora criada em 1228, para a construção da Capela de Santa Maria, destinando-se, como já foi visto, às assembleias dos obreiros e discussões sobre o andamento das obras. Depois disso, o processo de aceitação, iniciado na Escócia, iria se espalhar e se acelerar, fazendo com que, ao final do século, o número de aceitos já ultrapassasse, largamente, o de franco-maçons operativos. Em 1666, os franco-maçons iriam recuperar parte do antigo prestígio, diante do grande incêndio, que, a 2 de setembro daquele ano, aconteceu em Londres, destruindo cerca de quarenta mil casas e oitenta e seis igrejas. Nessa ocasião, os maçons acorreram para participar do esforço de reconstrução, sob a direção do renomado mestre arquiteto Christopher Wren, que, em 1688, viu aprovado o seu plano para reconstrução da cidade, sendo nomeado arquiteto do rei e da cidade de Londres. A obra principal de Wren foi a reconstrução da igreja de S. Paulo, em cujo adro se desenvolveria e se estabeleceria, em 1691, uma Loja de fundamental importância para a História da Maçonaria moderna: a Loja São Paulo (em alusão à igreja), ou Loja da taberna “O Ganso e a Grelha”, em alusão ao local em que, como faziam outras Lojas, realizava suas reuniões de caráter informal e administrativo. A reconstrução de Londres só iria terminar em 1710. A ALQUIMIA ALQUIMia (do árabe al-kimia: a fusão, a mistura), a química da natureza, é a arte quimérica, cultivada na Idade Média, destinada a descobrir a panaceia, para curar todos os males da Humanidade, e a pedra filosofal, para transmutar todos os metais em ouro, ou prata. Embora a sua época de apogeu tenha sido a Idade Média quando, sob esse nome, ela foi introduzida, no ocidente pelos árabes (século VII), a verdade é que ela foi praticada desde tempos muitos antigos, no Egito, na Pérsia, na China, na Índia e na Grécia arcaica. Os egípcios já a utilizavam maneira prática, para curtir couros, preparar ligas de metais comuns e fabricar corantes e cosméticos; os persas tivera m grande interesse por esse novo tipo de conhecimento e o espalharam entre os povos conquistados; através dos persas, ela chegou à Grécia, onde os gregos a incorporaram aos seus conhecimentos teóricos sobre os mistérios da vida. Os trabalhos incansáveis, na busca da transmutação dos metais em

ouro potável, deram origem a diversas descobertas, às quais deve, o Homem, o seu atual progresso. Algumas delas tidas como exclusivamente modernas já eram bem conhecidas por magos e alquimistas da Antiguidade. Embora se afirme que a eletricidade e o vapor, como força motriz, são descobertas do século XIX, a verdade é que sacerdotes etruscos já conheciam a eletricidade e a usaram, para defender a vila de Narnia contra ALARICO; a morte de TULLIUS HOSTILIUS, usando eletricidade, é descrita por PLÍNIO; ANSELMO DE TRALLE, o célebre arquiteto, construtor da catedral de Santa Sofia, conhecia os efeitos do vapor; PAUSELENAS, um monge alquimista, fala da aplicação da química na fotografia e afirma que os jônios conheciam o processo, assim como o da câmara escura, dos aparelhos ópticos, da sensibilidade de placas. É necessário, porém, que se estabeleça a existência de dois tipos de Alquimia: a Alquimia prática, precursora da química e estabelecida pelo médico suíço TEOPHARASTUS BOMBASTUS VON HOHENHEIM, mais conhecido como PARACELSO (1493-1541), e a Alquimia mística, muito associada à magia.

O SÍMBOLO DA PEDRA FILOSOFAL As figuras do macho e da fêmea (eternidade) dentro de um círculo inscrito em um quadrado que, por suas vez, inscreve-se em um triângulo, sendo todo o conjunto envolvido por um círculo. Todo o conjunto simboliza a transmutação do quaternário inferior no terciário divino superior ao

Homem. Em todas as teorias cosmogônicas do mundo antigo, existe a ideia da existência de um elemento primordial, do qual derivam todos os demais elementos. A mais antiga ideia relativa a esse conceito é aquela que considerava a água como elemento fundamental associada aos trabalhos do sábio grego TALES DE MILETO; na própria Grécia, entretanto, muitos filósofos defenderam ideias diferentes. Anaxímenes afirmava que o elemento primordial era o ar, pois ele podia ser condensado, formando nuvens e chuvas, cujas águas, ao se evaporar, formando novamente o ar, deixavam um resíduo sólido de terra. O Mitraísmo persa via a manifestação do poder divino no fogo, achando, portanto, que esse era o elemento formador de todas as coisas; HERÁCLITO também defendia a teoria do fogo, afirmando que tudo no mundo, está em constante transformação e que o elemento que pode provocar as mais intensas transformações é o fogo (daí a máxima hermética dos rosacruzes e de alguns graus maçônicos: IGNE NATURA RENOVATUR INTEGRA, ou seja, O FOGO RENOVA A NATUREZA INTEIRA). FERESIDES escolheu como fundamental, o elemento terra, pois, afirmava ao se queimar um corpo sólido, obtêm-se água e ar. ARISTÓTELES, finalmente defendendo uma concepção de EMPÉDOCLES, afirmava que esses quatro elementos eram fundamentais e que todos os corpos eram formados por combinações deles. As ideias de Aristóteles, básica para a Alquimia, eram ensinadas nas escolas de pensadores da cidade de Alexandria, no Egito, cidade essa, que foi o grande centro alquimista da antiguidade, nela se dando a fusão entre as práticas egípcias e as teorias gregas, mais tarde desenvolvidas pelos árabes. Estes ao conquistares em 642 o Egito, atingindo depois, a Síria e a Pérsia, trouxeram para o ocidente, a nova contribuição, que originou aquilo que hoje, é chamado de Alquimia. Dos árabes conquistadores, originou-se um dos maiores alquimistas de todos os tempos: JABIR IBN HAYYAN (721 –813), conhecido na Europa, como o nome de GEBER. Este aceitava a teoria aristotélica dos quatro elementos somando, todavia, dois outros elementos essenciais: o mercúrio e o enxofre, os quais explicavam certas propriedades dos metais; um terceiro elemento, o sal, foi posteriormente incluindo, formando com os outros dois, o trio fundamental (trio prima) de Paracelso e de seus discípulos, no século XVI.

Essencialmente, a Alquimia era caracterizada pela busca de duas substâncias; a pedra filosofal, capaz de transformar todas as coisas em ouro, e o elixir da longa vida, capaz de manter os homens eternamente jovens. Para Geber, todos os metais seriam formados, apenas de enxofre, e de mercúrio; desses elementos, deveriam ser extraídas as essências, que transformariam todos os metais “em outro mais puro do que o das minas”. Partindo do princípio de que todas as substâncias possuem uma única raiz, parecia para os alquimistas, transformar os corpos, entre os quais os metais, em outro, que além dce ser o princípio concreto da força que serve para comprar a glória e a felicidade material, é, também, o símbolo do sol, da luz, do poder criativo, da revelação divina.

AS SETE MARAVILHAS DO MUNDO, SEGUNDO A CABALA MEDIEVAL A Cabala Medieval associou as sete maravilhas do mundo antigo aos elementos alquímicos e à influ~encia astrológica dos então sete astros conhecidos - Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. O curioso é

a substituição dos Jardins Suspensos da Babilônia pelo Templo de Jerusalém, por influência cristã de então. Teosoficamente (ou do ponto de vista místico) a Alquimia trata das forças sutis da natureza e das diversas condições da matéria, nas quais aquelas forças agem.Quando dá, aos iniciados a ideia do MYSTERIUM MAGNUM, sob o véu regularmente artificial da linguagem, para que não represente perigo nas mãos de egoístas, o alquimista aceita, como primeiro postulado, a existência de um determinado dissolvente universal da substância homogênea, de onde evoluíram os elementos, ao qual chamam de ouro puro, ou SUMMUM MATERIAE. Esse sal possuía o pode de lançar fora do corpo humano todos os germes de doença, de renovar a juventude e de prolongar a vida; assim é a Pedra Filosofal (LAPIS PHILOSOPHORUM). Alquimia é, na realidade, tratada sob três aspectos distintos, os quais admitem diversas interpretações diferentes: o cósmico, o humano e o terrestre; esses três aspectos eram típicos, sob as três propriedades alquímicas: o mercúrio, o sal e o enxofre, que são os três princípios da Grande Obra (transformação dos metais em ouro). No aspecto terrestre, ou meramente material da Alquimia, o objetivo é transmutar os metais grosseiros em outro puro, já que é indiscutível que na natureza, ocorre a transmutação de metais inferiores em outros, melhorados. Existe, todavia, um aspecto ocultista ou místico da Alquimia. O alquimista ocultista despreza o ouro terrestre, material, e dirige todos os seus esforços na transmutação do quaternário inferior em ternário divino superior ao homem, os quais, quando se unem, acabam construindo um só. Os planos da existência humana, espiritual, mental, psíquico e físico, comparam-se na Alquimia mística, aos quatro elementos da teoria de Aristóteles, o fogo, o ar, a água e a terra; cada um deles é capaz de uma tríplice constituição, ou seja: fixa, instável e volátil. A Grande Obra, para a Alquimia mística, consistia no renascer, para que o iniciado percorresse o caminho do aperfeiçoamento e do conhecimento, até chegar à comunhão com a divindade, conceito muito parecido com do Mitraísmo.Assim, os metais inferiores simbolizavam as paixões humanas e os vícios, que devem ser combatidos e transformados em ouro do espírito, que é o objetivo da Grande Obra ou Obra do Sol. As operações da natureza são, praticamente as mesmas da

Alquimia, diferenciando-se, somente na denominação, podendo ser reduzidas a sete principais: calcinação, solução, putrefação, destilação, sublimação, conjunção e coagulação, ou fixação. É necessário, entretanto, tomar essas palavras no sentido filosófico, de acordo com o procedimento da natureza, a qual desse ser bem estudada e conhecida, antes de ser imitada. Não se pode negar que a química moderna deve os seus melhores descobrimentos à Alquimia, a partir de Paracelso que achava que “apenas os idiotas pensam que Alquimia é o conhecimento de como obter ouro; o objetivo da Alquimia é procurar descobrir novos remédios”. Com a união, na Idade Média, principalmente a partir do século XIII, dos alquimistas com os cabalistas, hermetistas e adeptos da magia, surgiram diversas seitas e grupos secretos, como o dos adeptos e dos iluminados, que, posteriormente, como elementos aceitos (ou seja: não ligados à arte de construir), incorporaram-se às associações operativas, levando, para a nascente Maçonaria “especulativa”, os seus conceitos, ideias e símbolos. A Maçonaria ainda conserva muitos símbolos dos alquimistas, para armar a sua doutrina moral e espiritualista. Um exemplo disso é a chamada Câmara de Reflexão, onde o candidato à iniciação permanece em meditação, antes da cerimônia; essa câmara, que representa o útero (da terra), do qual o candidato nasce, para uma nova vida, é usada para a “prova da Terra”, pela qual deverá passar o candidato; nela, entre diversos símbolos representativos da espiritualidade e do vapor da vida honrada, encontram-se as três substâncias necessárias à Grande Obra, ou seja, o mercúrio, o enxofre e o sal, para lembrar ao candidato, que ele deve percorrer o caminho do conhecimento, para chegar ao aperfeiçoamento espiritual e moral, que é a Grande Obra da Vida. Outro exemplo alquímico na Maçonaria são as provas pelas quais o candidato deve passar, em alguns ritos, e representam os quatro elementos fundamentais, ar, água, terra e fogo, dos ensinamentos de Aristóteles. A prova da terra é a da Câmara de Reflexão, já citada; a prova do ar é representada por uma tempestade, que simboliza os percalços da vida humana; a prova da água é destinada à purificação das mãos (resquício dos ritos religiosos da antiguidade); a prova do fogo, finalmente representa a purificação total, simbolizando a destruição da matéria pelo fogo, restando o místico ser imaterial aperfeiçoado.

O ILUMINISMO O iluminismo, geralmente é encarado sob dois aspectos: como doutrina místico-religiosa, ou como movimento filosófico-cultural. Como doutrina de natureza místico-religiosa, dos chamados “iluminados”, ou doutrina gnosiológica, da “iluminação”, ela surgiu no século XV, em Toledo na Espanha, e possuía inspiração sobrenatural. Essa doutrina sofreu a influência de diversos agrupamentos religiosos, de diversas seitas místicas e de conceitos de várias correntes metafísicas, sendo, todavia de acordo com as suas regras de vida ao que parece, bastante influenciada pelo Budismo e pelas comunidades judaicas dos essênios. Os “Iluminados” levavam uma existência em que era permanente o estado passivo de aproximação à divindade, desprezando e, mesmo, repudiando todas a relações com o meio social e negando-se a executar qualquer ato que se traduzisse em utilidade individual, ou coletiva. Resumia-se a sua vida, em última análise, a um estado perene de contemplação e de meditação, em que fossem importantes as coisa materiais e práticas da vida. Não era, como se vê, uma seita original, limitando-se a imitar muitas outras, que já haviam existido, como a dos essênios. Apesar da doutrina ter nascido na Espanha, foi na França que ela atingiu o seu apogeu, tendo chegado também, a ter grande projeção na Alemanha e na Bélgica. O iluminismo, como movimento filosófico-cultural, surgiu nos fins do século XVII, na Europa, atingindo o seu acme no século XVII, que foi por isso, chamado de Século das Luzes, pois a época áurea da iluminação do intelecto, o que fez com que o iluminismo fosse, também chamado pelo a alemães, de Filosofia das Luzes (Aufklarung). Esse movimento do iluminismo cultural, que atingiu diversos países, teve representantes nas correntes humanista, criticista e naturalista, sendo os seus maiores representantes, Lessing, Lock, Voltaire, Kant, Diderot, Condorcet e Helvetius, entre outros, devendo-se notas que quase todos eles eram membros da Maçonaria (na França e na Alemanha, que eram na época, os maiores baluartes maçônicos da Europa, do ponto de vista intelectual e político).

A MAGIA A palavra magia é derivada dos Magos, os antigos sacerdotes do zoroastrismo persa; como consta que eles foram os primeiros adeptos do ocultismo tradicional, divulgando a luz da ciência esotérica, de seu nome originou-se o de magia, e, de seu saber iniciático, o nome mago dado aos adeptos da magia, que possuem de maneira legítima, os segredos das ciências ocultas. A magia é uma manifestação mística muito antiga tendo, os seus rudimentos surgidos já na pré-história humana, no Paleolítico Superior, há 40.000 anos; ela foi também largamente usada por todos os povos antigos, principalmente pelos persas e pelos egípcios. O seu apogeu, baseado em maior complexidade, foi, todavia, situado na Idade Média. Collin de Plancy definia a magia como sendo “a arte de praticar, na natureza, coisas que estão acima do poder humano, com o auxílio dos demônios e por meio de cerimônias especiais”. Essa é uma definição típica do negro período medieval, dominado pela Igreja, com o seu famigerado Santo Ofício, sempre pronto com suas fogueiras a receber magos, cabalistas, alquimistas, rosacrucianos e outros, sempre catalogados, geneticamente como “bruxos”. Não restam dúvidas de que essa espécie de conhecimento, atribuída aos magos esta fora de cogitação e só pode ser creditada às falsas afirmações e invenções, oriundas da ignorância ou da má-fé. Não se pode dizer que a magia seja uma ciência, pela falta de conteúdo e de métodos de exposição, que apresenta, a anão ser que ela tomada como a diferença entre a sabedoria oriental e a ocidental; não se pode dizer, também que ela seja uma arte, já que isso implica um total desconhecimento esotérico da questão. Isso demonstra na realidade, a dificuldade que se encontra em definir corretamente essa antiga corrente ocultista. Segundo uma antiga classificação, a magia dividia-se em magia branca, ou teurgia e magia negra, ou goética; diziam os classificadores, que a magia branca era dirigida para o bem, enquanto que a magia negra era dirigida para o mal, o que é um conceito bastante simplista e falso, já que o bem e o mal são simples questões de interpretações, ou seja, o que é o mal para um, pode ser o bem para o outro e vice-versa. Os padres da Inquisição, por exemplo, só fizeram o mal, torturando e assassinando homens,

mulheres, velhos e até crianças de 4 ou 5 anos de idade acusadas de “terem tido relações carnais com diabos” (SIC); apesar disso, eles próprios (e muita gente) achavam que estavam praticando o bem, a serviço do Santo Ofício, a Instituição que atrasou em séculos, a evolução racional da espécie humana. Na realidade, a magia pode ser dividida em: a) Magia natural, quando ela trata da produção de fenômenos surpreendentes e, aparentemente, prodigiosos, através de métodos e ações puramente naturais, sem socorro de cerimoniais e amuletos. b) Magia cerimonial, quando trata das ações e da ritualística pertinentes às obras de evocação, conjuros, etc. c) Magia talismânica, que é aquela que trata da preparação e da confecção de amuletos, talismãs e outros objetos da mesma espécie. Os amuletos são certos remédios, ou objetos supersticiosos usados pelas pessoas, para ficarem protegidas de qualquer perigo ou doença; existentes desde a antiguidade, eram geralmente imagens caprichosas como o escaravelho no Egito, pedaços de cobre de pergaminho, de prata, ou então, pedras especiais, nas quais eram gravados caracteres hieroglíficos. Os gregos os chamavam de filasterios. d) Magia cabalística, que é aquela que, partindo do conhecimento da Cabala, trata de suas operações, conhecimentos e práticas. Nesse caso se encontra, apenas a Cabala originada do Sepher Yetsira, e não a Cabala teórica cujo misticismo é muito mais, decalcado no Zoar. Além dessa classificação, a magia pode ser dividida em teórica, quando se ocupa com a parte filosófica e doutrinária e prática, quando relacionada com a parte experimental. Numa apreciação sintética, como esta, é praticamente impossível abordar todas as nuances da magia, embora devam ser ressaltados dois aspectos relacionados com o pentagrama, ou estrela pentagonal, que teria tido origem nos pitagóricos e que tomaria o nome de Estrela Flamejante, dado por ENRIQUE CORNÉLIO AGRIPPA, célebre alquimista, mago e médico, nascido em Colônia, Alemanha, no final do século XV, o qual, por ser considerado de grande talento e sabedoria, mereceu a alcunha de Trimegisto (três vezes grande), como o HERMES TRIMEGISTO dos gregos (Toth, dos egípcios, e Mercúrio, dos romanos), saudado, pelos alquimistas e ocultistas, em geral, como senhor dos segredos do Universo.

A Estrela Flamejante era, na Alquimia, o símbolo intermediário entre a Grande Obra (Obra do Sol, transformação dos metais em outro) e a Peque Obra (Obra da Luz, transformação dos metais em prata). Na Maçonaria, ela foi adotada, somente a partir do século XVIII, na França, através do barão de Tschoudy, os maçons anteriores a essa data e os operativos medievais desconheciam esse símbolo. Na magia, encontramos o uso da pentalfa, pelo menos em duas situações principais. O altar para as operações mágica, forrado com uma toalha branca, deve se constituir num pentáculo do Universo, em seus três primeiros planos: humano, natural e divino; a disposição mais adequada é colocar nomeio do altar, um pentagrama de Agrippa. Esse pentagrama será desenhado num pergaminho virgem, ou, então sobre um papel fabricado por um mago, sob os auspícios solares com uma massa de papel consagrada com antecedência. Ao redor desse pentagrama, serão colocados sete pequenos cubos metálicos, correspondentes a cada um dos metais planetários (dos sete planetas da antiguidade) sendo que o mercúrio por não ser sólido, deve ficar encerrado num cubo de cristal; esses cubos dos metais serão colocados na ordem da estrela egípcia de sete pontas. Nos quatro extremos do altar serão colocados os seguintes objetos: 1. No extremo superior direito, correspondente à letra iôd, a luz: 2. No extremo superior esquerdo, correspondente à letra he, o queimador de perfumes; 3. No estremo inferior esquerdo, correspondente à letra vau, o sal mágico; 4. Finalmente, no extremo inferior direito, correspondente à letra he, a água mágica. Nota-se que as letras iôd, he, vau e he, nessa ordem, correspondem ao tetragrama hebraico, que designa o nome de Deus. O pentagrama também está relacionado com a palavra cabalística ABRACADABRA, formada pelas palavras abra e abraxas. Já no século II, SAMÔNICUS recomendava, aos seus adeptos, que escrevesses essa palavra sobre um pergaminho virgem, formando um triângulo invertido, representado a letra delta, símbolo das três pessoas da Trindade, de maneiro como segue:

ABRACADABRA ABRACADABR ABRACADAB ABRAÇADA ABRACAD ABRAÇA ABRAC ABRA ABR AB A Esse pergaminho deveria ser dobrado, para que se tornasse oculto o que estava escrito, recortado em forma de cruz e pendurado como amuleto, no pescoço dos doentes de um fio de linho. A palavra abracadabra, entretanto, de acordo com o ocultista ELIPHAS LEVI, pode ser o triângulo mágico dos teósofos pagãos, com a combinação das letras representando uma chave do pentagrama (tríplice triângulo cruzado). O A separado, representa a unidade do principio primordial, o agente intelectual e ativo; o A unido ao B, representa a fecundação do binário pela unidade; o R é o signo do ternário, já que representa, hieroglificamente a fusão resultante da união de dois princípios; o número 11 (que é o número total de letras da palavra) junta a unidade do iniciado ao decenário pitagórico; o número 66 (total de letras do triângulo) representa, cabalisticamente o número 12, que é o quadrado do ternário e, em consequência, a quadratura mística do circulo. É claro que a Maçonaria, instituição racional e crítica não emprega os recursos da magia; estando, todavia, a sua ritualística, impregnada pela amálgama dos misticismos de diversas civilizações e correntes metafísicas, teria evidentemente que apresentar traços de todas essas correntes, como de resto, acontece com diversas outras instituições filosóficas, iniciáticas e religiosas, incluindo-se a própria igreja, que sempre se disse inimiga do cabalismo, da Alquimia e da magia, mas possui muitos traços desses agrupamentos místicos; o exorcismo, com citações do evangelho, “para

expulsar o demônio do corpo” de uma pessoas, e ouso de amuletos (relíquias, medalhas e efígies de santos) para proteção pessoal, são exemplos gritantes disso. A ORDEM ROSA+CRUZ Rosa+cruz é a denominação da sociedade, ou fraternidade filosófica, que, de acordo com a tradição mais comum, teria sido fundada por CHRISTIAN ROSENKREUZ, e que representa uma síntese do ocultismo imperante na Idade Média. Pretende, H. SPENCER LEWIS, que Rosenkreuz tenha sido, apenas, um renovador, já que a Instituição remontaria ao antigo Egito, à época do faraó Amenofis IV, que seria conhecido como Akenáton, o faraó que implantou o culto monoteísta do disco solar (Áton); os adeptos da Rosacruz tem aceitado essa hipótese, falseando, lamentavelmente a verdade histórica, já que na realidade essa sociedade nasceu na época medieval, embora apresentando em sua ritualística, muito do misticismo das antigas civilizações, como acontece com a Maçonaria (muitos maçons também querem fazer crer que a Ordem maçônica é antiquíssima e já existia no antigo Egito e na Pérsia, o que é verdadeiramente uma heresia histórica). O rosacrucianismo é um sincretismo de diversas correntes filosófico-religiosas: hermetismo egípcio, cabalismo judaico, gnosticismo cristão, Alquimia, etc. A primeira menção histórica da sociedade data de 1614, quando surgiu o famoso documento intitulado Fama Fraternitatis, onde são contatadas as viagens do alemão Rosenkreuz pela Arábia, Egito e Marrocos, onde teria adquirido sua sabedoria secreta, só revelada aos iniciados. JOHAM VALENTIM ANDRÉA, neto do teólogo luterano Jacob Andréa, e, também teólogo, foi o homem que vulgou o rosacrucianismo. Andréa, depois de viajar pelo mundo, retornou à Alemanha, tendo se tornado pregador da corte e, posteriormente em 1650, abade (ele nascera em Herrenberg, no Wuerttem Berg, em 1581); todavia, a sua principal importância originou-se do papel que ele teve, naquela sociedade alemã, que, no início do século XVII, pugnava por uma renovação e uma nova insuflação espiritual na vida.

SÍMBOLO ENCONTRADO NAS RUÍNAS DO TEMPLO DE BENARES A Rosa, representação feminina, colocada na intersecção dos braços da Cruz, representação masculina do Sol (cruzamento da eclíptica com o Equador celeste); é o antigo símbolo adotado pela Ordem Rosa+cruz. Todavia, a popularidade alcançada com a SOCIETS SOLIS (Sociedade do Sol), a que procurou da vida e a Ordem das Palmeiras, em que ele procurou da vida, e a Ordem das Palmeiras, em que foi admitido aos 60 anos, não se comparou àquela que ele conseguiu ao publicar o seu romance satírico O CASAMENTO QUÍMICO DE CRISTIAN ROSENKREUZ, que combatia, jocosamente, os alquimistas e as ligas secretas, numa época em que havia em geral a desorientação, o ar andava cheio de rumores, a velha ordem religiosa desagregava-se.E,m 1597, já se haviam realizado reuniões de uma liga secreta de alquimistas, que haviam ficado sem irradiações e sem significado espiritual. Foi então que a palavra Rosacruz adquiriu, rapidamente uma grande força atrativa, a ponto de no escrito anônimo de 1614, chamado de TRANSFIGURAÇÃO GERAL DO MUNDO, se incluído o conceito de Fama Fraternitatis R+C (rosae crucis), sem necessidade de ser escrito por extenso, pois ele já era bem entendido. Uma outra pequena obra, surgida um ano depois, e também anônima, chamada Confessio, publicava a constituição e a exposição dos fins a que a Ordem se destinava. De acordo com o Confessio, a Ordem Rosa+cruz representaria uma Alquimia de alto quilate, na qual ao invés das pesquisas sobre a pedra filosofal, era procurado um fim superior, ou seja, a abertura dos olhos do espírito, através do qual o homem ficasse apto a ver o mundo e os seus segredos com mais profundidade.As correntes dos alquimistas medievais, então, diante da necessidade espiritual do tempo, incrementada pela

disposição de renovação e organização secreta, tornaram enorme vulto com o aperfeiçoamento do romance satírico de Andréa. O herói do romance é o Christian Rosenkreuz, já descoberto pela Fama Fraternitatis e que já tinha no século XIV, viajado pelo Oriente e, ali, aprendido a “Sublime Ciência”, teria ele, segundo a lenda que cercou o seu nome, voltado para a Alemanha, onde foi seguido em suas ideias, por muitas pessoas, até chegar aos 150 anos de idade quando, cansado da vida, extinguiu-se, voluntariamente. Andréa, no romance, aproveitou-se do nome que tinha sido encontrado para ser a figura fundadora, mas o seu Rosenkreuz era velho e impotente, motivo pelo qual o seu casamento só poderia ser químico. Todavia, ele é instruído e conhece muitos segredos, além de estar sempre ansioso por conhecer outros, motivo pelo qual, em certa ocasião, como hóspede da família real, ele entre num quarto em que dorme Vênus; depois, quando com outros convidados ao casamento ao ser proclamado cavaleiro da Ordem da Pedra Dourada, deve, de acordo com os estatutos dessa Ordem, repudiar toda a lascívia, torna-se público o seu erro.Assim, enquanto os outros vão embora, como cavaleiros da nova Ordem, ele tem que permanecer ali, como porteiro, como castigo por ter descoberto Vênus. Com essa sátira dirigida às sociedades secretas e a Alquimia, Andréa havia desvendado tanto de positivo sobre a nova Ordem, que restou a impressão de que ela já existia, ainda que só como imagem literária. Nota-se facilmente, que a Pedra Dourada nada mais é do que a Pedra Filosofal dos alquimistas; além disso, o encontro dos convidados ao casamento, vindos de todas as partes do mundo, e a sua ligação dentro da nova Ordem, ilustram o desejo do autor de dar corpo aos esforços no sentido de uma renovação espiritual da vida e que se valeram do sugestivo símbolo Rosacruz. Andréa pretendeu usar as lojas rosacruzes para a divulgação do protestantismo, já que, no início elas só aceitavam protestantes, passando depois a aceitar também, católicos, frustrando o desejo de Andréa.Todavia, para quebrar a maior influência protestante, foi instituída, pelo papado, a Ordem da Cruz Azul, que seria uma contrapartida católica dos rosacruzes.Sob o governo do imperador José II, houve na Áustria, um grande recrudescimento da comunidade rosacruz, atingindo até a corte, o que fez com que o imperador proibisse todas as sociedades secretas, abrindo exceção aos maçons, o que dez com que muitos rosacruzes procurassem a Maçonaria a ponto de daí em diante, de uma maneira geral,

se tornar difícil separar Maçonaria e rosacrucianismo, tendo, aquela, incorporado aos seus vários ritos, o símbolo máximo dos rosacruzes (a rosa na intersecção dos braços da cruz). O símbolo da rosacruz pode ser classificado como muito sugestivo e correspondente à ansiedade daquele tempo. Alguns procuraram relacioná-lo com as armas de Lutero, coisa que não pode ser facilmente aceita, pois ele poderia ser, nesse caso, relacionado, também, com as armas de Paracelso, convindo esclarecer que Andréa representou o seu Rosenkreuz com quatro rosas no chapéu, rosas essas que, desde a época de Jacob Andréa, adornavam as armas da família. Robert Fludd, considerado como o primeiro rosacruz da Inglaterra, diz que o nome da Ordem está ligado a uma alusão ao sangue de Cristo na Cruz do Gólgota; a mística ideia da rosa associada à lembrança da cor do sangue e aos espinhos que provocam o seu derrotamento contribui certamente para dar a palavra, uma grande força de atração.Além disso, muitos rosacruzes vem, no emblema, um símbolo alquimista, concretizando uma ambiguidade, muito comum aos símbolos. Na realidade, esse símbolo é muito antigo, pois já nas ruínas do templo de Benares (a cidade santa do bramanismo) foi encontrado um triângulo, contendo a cruz com a rosa mística no centro; isso não demonstra, todavia, como afirmam alguns, que já existia naquele tempo a Ordem Rosacruz, mas sim simplesmente, que esse símbolo já era venerado. Como a preocupação máxima dos alquimistas que se ligaram à Rosacruz era o segredo da mortalidade e a regeneração universal, o símbolo rosacruciano está relacionado com essa preocupação; em botânica oculta, a rosa era uma flor iniciática em diversas ordens religiosas; na atualidade, a arte sacra continua a considerá-la como símbolo da paciência, do martírio, da Virgem (Rosa Mística), mostrando uma acentuada tendência ocultista na Igreja, que tanto combateu o ocultismo (no quarto domingo da quaresmas, em todos os anos, o papa benze a Rosa de Ouro, que é considerada como um dos muitos sacramentais oferecidos pela igreja em sua liturgia). Em última análise a rosa representa a mulher, enquanto a cruz representa o sexo masculino, pois para os filósofos hermetistas, ela é o símbolo da junção que forma a eclíptica (a órbita aparente do Sol, ou a trajetória aparente que o Sol descreve. Anualmente no céu) com o equador celeste; ambos se cruzam no equinócio da primavera (0° de Áries) e no equinócio do outono (0° de Libra).

Assim, a Rosa simboliza a Terra, como ser feminino e a Cruz simboliza a virilidade do Sol, com toda a sua força criadora, que fecunda a Terra.A junção dos sexos leva à perpetuação da vida e ao segredo da imortalidade, resultando também, dela, a regeneração universal, que é o ponto mais alta da doutrina. A Maçonaria incorporou, em larga escala, o simbolismo dos rosacruzes, herdeiros dos alquimistas, modificando um pouco o seu significado e reduzindo-os a termos mais reais; assim, o segredo da imortalidade material tornou-se para os maçons a imortalidade da alma e do espírito humano, enquanto é aceito o princípio da regeneração universal em termos mais racionais, ou seja, de que a regeneração só pode ocorrer através do aperfeiçoamento contínuo do homem e através da constante investigação da Verdade.O misticismo dos símbolos rosacruzes, todavia, foi mantido, pois convém repetir, embora a Maçonaria não seja uma Ordem mística, ela, para divulgar a sua mensagem de reformadora social, utiliza-se do misticismo de diversas civilizações e correntes filosóficas metafísicas. A ASTROLOGIA Como já foi destacado, a Astrologia é muito antiga, encontrando-se, a sua origem, nos IV milênio a.C. entre os sumérios. Todavia, foi na Idade Média que ela adquiriu mais importância, após ter passado por um obscuro período, nos primeiros séculos do Cristianismo. O primeiro livro astrológico moderno foi o Tetrabiblos, atribuído ao astrônomo, matemático e geógrafo CláUDIO PTOLOMEU, nascido em Alexandria, cujo trabalho desenvolveu-se durante o século II da era atual, entre 150 e 180, firmando os princípios da influência cósmica, os quais constituem a parte fundamental da moderna Astrologia. Tendo catalogado trezentas estrelas e explicado a refração da luz, ele expõe, no livro, a sua crença nos efeitos físicos dos planetas. Em seu trabalho, ele formulou o primeiro plano a respeito da física do universo, a qual era amplamente desconhecida pelos homens antigos. Sua teoria parece, hoje, absurda, mas, na época, servia de base para os estudos cósmicos. Para ele, a Terra ocupava o centro do Universo, movendo-se, os planetas, em torno dela, cada um num círculo perfeito, dentro de uma esfera exterior sólida, à qual se fixavam as estrelas. Desta maneira, em torno da Terra, fixa, moviam-se, em círculos concêntricos, em ordem, do centro para a periferia: a Lua, Mercúrio, Vênus, o Sol, Marte, Júpiter e Saturno. Para lá de Saturno,

estavam as estrelas fixas. Para que os movimentos observados e predeterminados, em relação aos planetas, concordassem, foi dada, a cada um deles, uma órbita constante, sendo, o epiciclo, centralizado sobre o deferente. Na Europa, a tradição clássica morreu com Ptolomeu em 180 d.C., enquanto a própria Astrologia também começava a declinar, principalmente porque, nessa mesma época, se perdeu a habilidade técnica, para fazer observações e cálculos.Quando houve a desintegração do Império Romano do Ocidente, a Astrologia desceu, temporariamente à condição de deturpada superstição, tendo sido o seu estado de decadência, uma das razões que propiciou, à Igreja, os ataques às suas práticas, embora existam muitas referência astrológicas no Novo Testamento (os magos no Evangelho de São Lucas e muitas passagens do Apocalipse, por exemplo). A Igreja oriental, todavia, conservou alguns conhecimentos da Astrologia científica, enquanto na ocidental o maior anatematizador da Astrologia foi Santo Agostinho de Hipona (354-430). Entretanto, posteriormente na própria Idade Média, os principais fundamentos da moderna Astrologia seriam lançados por dois grandes teólogos da Igreja: Santo Alberto Magno e São Tomás de Aquino. Nessa época de decadência de todas as ciências, surgiram, então, os árabes conquistadores motivados pela força de sua nova religião, o Islã. Não se pode negar que muito da sobrevivência da ciência e da filosofia clássicas, se deve ao fato de terem sido preservadas e usadas pelas avançadas culturas árabes, no norte da África e no Mediterrâneo oriental, a partir do século VIII. Muito hábeis nos campos da medicina e da astronomia, os árabes desenvolveram grandes estudos astronômicos, que tiveram uma acentuada orientação astrológica. Albumansur, ou Abu Maachar, com seu tratado Introductrium in Astronomiam, de nítida influência aristotélica, foi o maior dos astrólogos árabes; o seu tratado foi um dos primeiros livros a aparecer, traduzido, na Europa, no início da Idade Média, mostrando-se bastante influente no renascimento da Astrologia e da astronomia. No início da Idade Média, os teólogos enfrentavam o problema de classificar a Astrologia como ciência legítima, ou como arte divinatória proibida, cabendo a Santo Alberto Magno (1200-1280) separar a Astrologia de suas associações pagãs, percebendo o seu valor teológico e afirmando que embora as estrelas não pudessem influenciar a alma humana, elas, certamente poderiam influenciar o corpo e a vontade dos homens. São

Tomás de Aquino, considerado o maior dos teólogos cristãos, consolidou a obra de Alberto, tornando-a aceitável como assunto digno de estudo e afirmando que, na sua visão do universo podia ser tomada como uma complementação da doutrina cristã; foi graças a essa maneira peculiar de encarar as coisas que nenhum astrólogo foi punido pelo “Santo Ofício”, como aconteceu com alquimistas, templários, rosacruzes, maçons, etc. A Astrologia ganhou, então, respeitabilidade acadêmica, passando a fazer parte do currículo de diversas universidades europeias, não experimentando, praticamente, nenhum declínio com o advento da Renascença. Com o seu desenvolvimento acabava, a Astrologia interessando-se menos pelos corpos aparentemente fixos (estrelas) e mais pelos moventes, do sistema solar, ou seja, planetas; as relações angulares dos planetas, conforme vistas da Terra, são de grande importância em qualquer avaliação de caráter humano. Quando o homem começou a observar o firmamento, ficou fascinado, principalmente com esses corpos moventes e, a medida em que estes se deslocavam sobre o fundo estrelado, ele notava a sua trajetória, relacionando-a com o seu próprio estado. Assim desenvolveu-se logo um padrão de acontecimentos celestes que parecia ter paralelos diretos com os problemas da Terra: o Sol e as colheitas, a Lua e as marés, Marte e sua relação com o belicismo, Vênus predispondo à harmonia e ao amor, etc. O homem antigo, na realidade, desconhecia, totalmente, a física do Universo, a não ser aquela formulada por Ptolomeu. E esta, por incrível que possa parecer, foi aceita até ao século XVI, quando foi derrubada, inicialmente, por Nicolau Copérnico e, depois, pelo astrônomo dinamarquês Tycho Brahe e pelo matemático e astrônomo alemão Johannes Kepler. O sistema elaborado pelo astrônomo polonês Copérnico mostrava o Sol no centro do sistema, com os planetas girando em torno dele, na seguinte ordem, do centro para a periferia: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno; a Lua permanecia em órbita terrestre. Tal teoria, embora correta, como se comprovou, depois, era considerada uma heresia, para a dominante e retrógrada Igreja da época, a qual, imediatamente, condenou o trabalho do cientista. Tycho, como filho de sua época, não conseguia aceitar a teoria de que a Terra pudesse se mover, no espaço; mas acabou com a noção de que os planetas eram fixos, dentro de esferas cristalinas. Kepler, discípulo de Tycho, todavia, iria se encarregar de sepultar, em definitivo, o sistema ptolomaico, reconhecendo o erro de

Tycho, mas tomando, como base, os cálculos elaborados pelo mestre, quando este formulou as suas leis do movimento planetário, as quais explicam a velocidade dos planetas e a natureza de suas órbitas, em torno do Sol. A primeira lei de Kepler afirma que um planeta move-se no espaço, descrevendo uma elipse, com o Sol ocupando um dos focos; a segunda lei estabelece que o raio vetor varre áreas iguais em tempos idênticos; e a terceira, estabelece uma relação entre os períodos planetários e a distância do Sol. Embora os estudos de Kepler já terem acabado com o sistema ptolomaico, no início do século XVII, a Igreja só se rendeu à evidência dos fatos em pleno século XIX, em 1835, duzentos anos depois de Kepler, removendo do índex, nesse ano, as suas obras. Para o homem antigo, a esfera celeste parecia girar em tono do Sol, enquanto que hoje se sabe que quem gira é a Terra. Isso, todavia pode ser totalmente ignorado pela Astrologia, pois, para ela, o que importa são as posições que os planetas parecem tomar no céu; os planetas agem sobre a ávida terrestre a partir dessas posições e, nesse sentido, tais posições são tomadas como reais. Desta maneira, apenas astrologicamente, a esfera celeste mostra a Terra no centro dela e rodeada pela eclíptica, que é a órbita aparente do Sol; a faixa do Zodíaco, por outro lado, é puramente simbólica, mostrando as constelações que o Sol atravessa em sua eclíptica: ao contrário das constelações celestes, cada signo zodiacal ocupa um segmento fixo de 30° do círculo completo (ou seja, de 360 graus). A maioria dos planetas do sistema solar possui órbitas que se colocam, praticamente no mesmo plano da órbita da Terra, com pequenas variações, exceção feita a Plutão, cuja órbita tem uma inclinação de 17° em relação aterra. Devido a essa coincidência em plano, os planetas movem-se numa faixa definida do céu, que cobre todo o caminho. Essa faixa é conhecida como Zodíaco e é centrada sobre a eclíptica (que pode ser considerada como a órbita aparente do Sol, ou como a projeção da órbita terrestre na esfera celeste). O Zodíaco é dividido, então, em doze constelações que são percorridas pelo Sol, uma vez por ano: Áries (ou Carneiro), Touro, Gêmeos, Câncer (ou Caranguejo), Leão, Virgem, Libra (ou Balança), Escorpião, Sagitário (ou Arqueiro), Capricórnio, Aquário e Peixes. Numa análise dos corpos moventes do sistema solar e de suas relações com os signos zodiacais, temos o seguinte: O Sol – é o corpo mais poderoso do sistema, força essencial da vida

e sem o qual ela não existiria. O Sol é ativo e relacionado, nas Astrologia, com energia, poder e autoexpressão, sendo, todos os tipos humanos, amplamente determinados por suas características solares. O Sol rege Leão e é exaltado em Áries. A Lua – vindo logo após o Sol, em importância astrológica, ela é associada ao instinto, à reação a condições e a flutuação; sendo, como satélite da Terra, parte do sistema terrestre, ela age sobre os fluídos da Terra e diversas criaturas terrestres tem o seu comportamento rítmico controlado pela Lua. A Lua rege Câncer e é exaltada em Touro. Mercúrio – é o planeta da mentalidade e da reação nervosa. Ele se encontra na região da coroa solar, onde a matéria é sujeita a frequentes e irregulares flutuações, e, além disso, ele é o mais veloz dos planetas. Mercúrio rege Gêmeos e Virgem e é exaltado em Virgem. Vênus –é associado com a harmonia e com o uníssono, qualidades confirmadas pela sua constância física, já que Vênus tem, entre todos os planetas, a mais baixa excentricidade orbital. Vênus rege, Touro e é exaltado em Peixes. Marte – astrologicamente é o planeta do vigor, do positivismo e da vivacidade; por sua cor avermelhada, ele foi associado com o calor, o que não corresponde à realidade, pois ele é bastante frio e a sua cor se deve a oxidação. Marte rege Áries e é exaltado em Capricórnio. Júpiter – sendo o maior dos planetas, há um paralelo entre a sua maciça natureza física e a sua proeminência astrológica, como força expansiva; ele é uma importante fonte de radiações principalmente de rádio, cujos possíveis efeitos diretos são fundamentais para a Astrologia. Júpiter rege Sagitário e é exaltado em Câncer. Saturno – foi associado com a limitação, ou seja, com o impulso para se manter dentro de certos limites, mesmo antes de os seus anéis terem sido descobertos por Galileu. Saturno rege Capricórnio e é exaltado em Libra. Urano – é considerado, pelos astrólogos, o planeta da excentricidade e difere dos outros planetas, em termos físicos, num aspecto significativo: sua inclinação axial é maior do que um ângulo reto, o que implica extraordinárias condições atmosféricas; assim, primeiramente um dos pólos e, depois, o outro, possuem uma “noite”, que dura 21 anos da Terra. Assim sendo é lógico que os astrólogos o tenham considerado como o planeta mais dotado de poderes sobre as gerações humanas do que sobre

cada indivíduo em particular. Urano rege Aquário e é exaltado em Escorpião. Netuno – foi um planeta descoberto apenas em 1846, mas as informações referentes à sua influência astrológicas já estão completas há muito tempo. Ele é considerado nebuloso. Netuno rege Peixes e é exaltado em Leão. Plutão - é o mais distante dos planetas conhecidos e só foi descoberto em 1930. Ele se encontra tão afastado da Terra que a sua influência é tida na conta de essencialmente impessoal e possuidora, antes, de um efeito de massa (a não ser nos casos em que ele ocupar uma posição de destaque na carta natal de um indivíduo). Plutão rege Escorpião, e a exaltação e a queda não foram ainda averiguadas. Os signos são, também, associados aos quatro elementos fundamentais, da teoria aristotélica: ar, água, fogo e terra. Nas teorias cosmogônicas da Antiguidade, existia a ideia de um elemento fundamental, do qual os demais elementos derivariam. O conceito mais antigo, referente a isso, está associado aos trabalhos de Thales de Mileto, o qual considerava a água o elemento fundamental, para a existência dos demais. Além dele, porém, outros filósofos gregos ocuparamse do tema, defendendo ideias diferentes. Anaxímenes afirmava que o elemento fundamental era o ar, pois ele podia ser condensado, formando as nuvens e, por elas, as chuvas, cujas águas, evaporando-se, formavam, novamente, o ar, deixando um resíduo sólido de terra. Heráclito, com base no Mitraísmo persa, o qual via, no fogo, a manifestação do poder divino, defendia a ideia de que esse elemento seria o fundamental, afirmando que tudo está em constante transformação e que o elemento que pode provocar as mais intensas transformações é o fogo. Feresides, discordando dos demais, afirmava que o elemento fundamental era a terra, pois, ao se queimar um corpo sólido obtém-se água e ar. Aristóteles, finalmente, defendendo uma ideia de Empédocles, afirmava que os quatro elementos eram fundamentais e que todos os corpos eram formados pelas combinações deles. Assim, aos quatro elementos fundamentais, podem ser associados os signos, da seguinte maneira: AR:

Gêmeos, Libra e Aquário; ÁGUA: Câncer, Escorpião e Peixes; TERRA: Touro, Virgem e Capricórnio; FOGO: Áries, Leão e Sagitário. Assim sendo cada signo é caracterizado por um planeta e por um dos quatro elementos, o que lhe dá suas características místicas, como segue:

OS SIGNOS E OS PLANETAS Tradicionalmente, cada planeta rege pelos menos um signo zodiacal. Na figura, os planetas regentes estão sobre fundo branco e os signos regidos sobre fundo negro: Sol-Leão; Lua-Câncer; Mercúrio-Gêmeos e Virgem; Vênus-Touro e Libra; Marte-Áries; Júpiter-Sagitário; SaturnoCapricórnio; Urano-Aquário; Netuno-Peixes; Plutão-Escorpião. ÁRIES Caracterizado por Marte e pelo fogo. A história mitológica dessa constelação é a seguinte: Frixos, filho de Nepele, falsamente acusado de violar Biadice, foi condenado à morte, sendo, entretanto, saldo por um

carneiro dourado, em cujo dorso escapou; alcançando a segurança, ele imolou o carneiro a Zeus, que colocou a imagem do animal no céu.Áries relaciona-se com o fogo interior do homem, ou seja, a força que estimula o crescimento e o desenvolvimento. TOURO Caracterizado por Vênus e pelo elemento terra. Sua origem mitológica é a seguinte: Taurus era o touro branco que cortejou Europa, carregando-a no dorso; era na verdade, Zeus disfarçado, que, quando reassumiu sua forma normal colocou o touro no céu. É relacionado com a matéria na qual se efetua a fecundação, a elaboração interior. GÊMEOS Caracterizado por Mercúrio e pelo ar. Não existe mito particular associado a ele; no Egito era conhecido como “As Duas Estrelas” e tomou o nome das estrelas Castor e Pólux, as mais brilhantes da constelação. Representa os filhos da terra, fecundada pelo fogo, e o mercúrio dos alquimistas, representado com duas cabeças. É relacionado com a versatilidade, a engenhosidade e a vitalidade criadora. CÂNCER Caracterizado pela Lua e pela água. Como caranguejo Câncer é babilônico, em sua origem; todavia, no Egito, a constelação era representada por duas tartarugas, ora conhecidas como as Estrelas da Água, ora como Allul, uma criatura aquática; assim sua associação com a água é muito antiga, embora não haja uma história mitológica a seu respeito. Representa a explosão vegetal da terra fecundada e é relacionada com a tenacidade e a cautela. LEÃO Caracterizado pelo Sol e pelo fogo.O leão representado nessa constelação é, tradicionalmente, o leão de Nemeia, de pele à prova de ferro, bronze e pedra; Héracles (ou Hércules) o matou, perdendo um dedo entre seus dentes. Simboliza a ação do fogo externo (em contraposição ao fogo interior de Áries) que amadurece os frutos; representa, também, o emprego da razão a serviço da crítica. VIRGEM

Caracterizado por ´Mercúrio e pela terra. Sua história mitológica, de acordo com Hesíodo, é a seguinte: Virgem (também chamada Astreia) era filha de Júpiter e Têmis e era deusa da justiça; quando terminou a idade áurea e o homem desafiou-lhe a regência, ela, desgostosa, retornou ao céu. Simboliza a esposa virginal do Fogo; representa também, a colheita dos frutos maduros e o traço fundamental é o espírito analítico. LIBRA Caracterizado por Vênus e o ar. Não existe mito antigo a respeito dessa constelação. Todavia, ela era associada, na Babilônia, com o julgamento dos vivos e mortos quando Zibanitu, a Balança, pesava as almas; no Egito, a colheita era pesada quando a Lua estava cheia em Libra. Simbolizava o equilíbrio entre as forças construtivas e as destrutivas; representa também, o fruto na plena maturidade. ESCORPIÃO Caracterizado por Plutão (e, tradicionalmente, por Marte) e pela água. Sua história mitológica é a seguinte: por ordem de Juno (ou Hera), o Escorpião ergueu-se da terra, para atacar Orion; levou, também os cavalos do Sol a disparar, ao serem conduzidos, certo dia, pelo menino Faetonte; Júpiter (ou Zeus) puniu-o duramente, atingindo-o com um raio. Simboliza a desagregação dos elementos da construção vital e a queda do Sol para outro hemisfério; representa também, emoções e sentimentos poderosos rancor obstinação. SAGITÁRIO Caracterizado por Júpiter e pelo fogo. Sua história mitológica é a seguinte: Sagitário, com suas duas faces, animal e humana, era o centauro Quíron, que educou Jasão, Aquiles e Eneias; famoso como médico, profeta e estudioso, era filho de Filira e de Cronos (também pai de Zeus); Cronos, surpreendido no ato gerador, transformou-se num garanhão e partir a galope, abandonando Filira; esta, desgostosa com o filho metade homem e metade cavalo, transformou-se numa tília. Simboliza o espírito que se desprende do corpo e paira no ar, enquanto a natureza, pela desagregação dos elementos, morre lentamente; representa também, a mente aberta e o julgamento crítico. CAPRICÓRNIO

Caracterizado por Saturno e pela terra. Suas associações mitológicas são incertas, embora haja uma leve referência Pã, cuja mãe saiu correndo ao ver-lhe a feiura, mas cujo sucesso com as ninfas era indiscutível; o antigo deus sumério Ea, rei do oceano, era conhecido como “o antílope do oceano subterrâneo”, o bode com cauda de peixe, chamado “kusarikku”, o bode-peixe. Simboliza a morte de toda a natureza, quando toda a massa da terra está passiva e inerte, mas fecundável; representa, também a determinação e a perseverança. AQUÁRIO Caracterizado por Urano (e, tradicionalmente por Saturno) e pelo ar. Não há mitos evidentes relativos a Aquário; o deus Hapi, vertendo água de dois jarros, era um símbolo antigo no Rio Nilo, enquanto o deus sumério Ea, às vezes era chamado “o deus com jatos de água”, o nome babilônico de Aquário, Gula, era, inicialmente, associado com a deusa do parto e da cura. Simboliza a reconstituição dos elementos construtivos, impregnando a aterra com a seiva revitalizadora; representa, também, o sentido humanitário e prestativo. PEIXES Caracterizado por Netuno (e, tradicionalmente por Júpiter) e pela água. Sua história mitológica é a seguinte: apavorados com o gigante Tifão, Vênus e Cupido (Afrodite e Eros) atiraram-se no rio Eufrates e transformaram-se em peixes; Minerva (Atena), comemorando o fato, colocou os peixes no céu. Simboliza a ressurreição da terra vitalizada, com o novo advento da Luz, representa, também o desprendimento das coisas materiais. Nota-se assim, a estreita relação mística dos signos zodiacais com as constantes mortes e ressurreições da natureza, simbolizadas pelo ciclo imutável dos vegetais (lenda de Dumuzi, dos sumérios, e de Deméter dos gregos) e pela ave Fênix, que renasce das próprias cinzas. Graças a essa relação, os signos zodiacais simbolizam, na Maçonaria simbólica, todo o caminho místico percorrido pelo iniciado, desde o seu ingresso na Ordem, como Aprendiz, até ao acme de sua trajetória, no grau de Mestre; as colunas zodiacais, encontradas nas Lojas maçônicas de alguns ritos, e que possuem, em seu topo, os pentaclos (representações dos signos, com seus elementos e planetas respectivos), simbolizam essa trajetória.A relação mística entre

os signos e a senda iniciática é feita da seguinte maneira: Áries: por representar o fogo interior do homem, a força que estimula o crescimento e o desenvolvimento, simboliza o fogo interno, o ardor incontido do candidato da iniciação maçônica, ou seja, à procura da Luz. É o passo inicial da renovação da natureza pelo fogo, que é o elemento de Áries (não nos esquecemos da máxima hermética rosacruz, utilizada na Maçonaria de que o fogo renova a natureza inteira: Igne Natura Renovatur Integra). Touro: por representar a natureza, pronta para a fecundação, simboliza que o candidato, depois de ser convenientemente preparado, foi admitido às provas da iniciação. Gêmeos: por representar a terra já fecundada pelo fogo, a vitalidade criadora, simboliza o recebimento da Luz pelo candidato. Câncer: por representar o renascimento da vegetação, a seiva estuante da vida simboliza a instrução do iniciado e a absorção, por ele, dos conhecimentos iniciáticos da Maçonaria; e a sabedoria representa a ressurreição da natureza, ou em última análise, o renascer do espírito. Leão: por representar a ação do fogo externo (o Sol), que amadurece os frutos, e o emprego da razão a serviço da crítica, simboliza o juízo crítico e racional, que o iniciado faz, sobre todos os conhecimentos que adquiriu aprendendo, com método, a selecionar todas aquelas ideias que lhe puderem ser úteis. Virgem: por representar a colheita madura, simboliza o aperfeiçoamento do iniciado, ou seja, depois de ter julgado, racionalmente os ensinamentos que recebeu, o iniciado já pode se dedicar ao desbastamento de Pedro Bruta, que é o seu próprio aperfeiçoamento moral e espiritual. Libra: por representar o equilíbrio entre as forças construtivas e destrutivas (a maturidade total do fruto, equilíbrio entre o viço e o apodrecimento), esse signo relaciona-se com a Dualidade do Grau de Companheiro; simboliza o Companheiro, na plena maturidade de sua escala, pronto a desenvolver todo o seu potencial de trabalho. Escorpião: por representar a desagregação dos elementos, a perda da luz do Sol, a morte da natureza, enfim, simboliza a morte do artífice Hiram, assassinado pelos três maus Companheiros, de acordo com a lenda do grau de Mestre (decalcada na lenda da morte do Sol, ou lenda de Osíris).

Sagitário: por representar a natureza morta e o espírito animador que se destaca do corpo, simboliza a procura do corpo de Hiram assassinado e o lamento de todos os obreiros pela perda do Mestre e da Palavra. Capricórnio: por representa a terra inerte, mas fecundável, ou seja, a esperança de nova ressurreição, simboliza a descoberta do local em que o Mestre Hiram foi sepultado pelos três Companheiros que o assassinaram. Aquário: por representar a reconstituição dos elementos construtivos, preparando uma nova geração da vida, na terra ainda inerte, simboliza a cadeia que todos os obreiros fazem no sentido de que o corpo de Hiram, retirado de seu túmulo, possa ressurgir, ressuscitar num plano mais elevado (já que Hiram, como Osíris, simboliza a Luz do Sol, essa cerimônia é similar ao culto mitráico feito pela volta da luz solar: o Natalis Invicti Solis). Peixes: por representar a total ressurreição da natureza, com a volta do reino da Luz, simboliza o renascimento de Hiram Abi e o reencontro da Palavra Perdida; na realidade, do ponto de vista místico, como na lenda de Osíris, esse renascimento não é, evidentemente, no plano material, mas sim, no espiritual. É a volta do Sol e da vida, prontos para mais um ciclo[3].

[1] Canteiros são os obreiros que trabalham em cantaria, ou seja, na pedra de cantaria, esquadrejando-a, ou seja, dando-lhe cantos, para transformá-la na pedra cúbica, necessária às construções, já que o cubo é o único sólido geométrico que, com outros congêneres, não deixa espaços vazios nas paredes e muros. Cantaria é palavra derivada de canto. [2] A Ordem dos Pobres Soldados de Jesus Cristo e do Templo de Salomão, ou Ordem da Milícia do Templo, conhecida, mais simplesmente, como Ordem dos Templários, foi uma ordem religiosa e militar, surgida em 1118. Adquirindo prestígio e riqueza, graças às suas grandes transações comerciais e financeiras, iria excitar a cobiça de Filipe IV, cognominado “o Belo”, rei da França, o qual, com a conivência do papa Clemente V, conseguiu a extinção da Ordem, em 1312, seguida da execução de seus principais líderes. Antes da extinção, todavia, a Ordem, necessitando de trabalhadores cristãos, em suas distantes comendadorias do Oriente, organizaram o Compagnonnage, dando-lhe estatutos de acordo com a sua própria filosofia. [3] Para maiores detalhes sobre a Astrologia e a Maçonaria, ver, do mesmo autor deste, Maçonaria e Astrologia. São Paulo: Editora Landmark – 2a. edição revisada; 2002.

XI CONSIDERAÇÕES FINAIS A Maçonaria, através da esmagadora maioria de seus ritos iniciáticos, é, sem dúvida, uma Ordem teísta e, como tal, carrega uma carga de misticismo, que vem até de eras longínquas. Isso, todavia não autoriza, a ninguém, a apressada conclusão de que ela é multimilenar, pois, historicamente, isso é uma falsidade. Isso é, todavia, o que fazem alguns autores fantasistas, os quais, sem qualquer pesquisa histórica profunda, situam as origens da instituição maçônica em remotos tempos da Humanidade. FINDEL, pesquisador alemão racional e considerado autêntico pela comunidade científica maçônica internacional, situa muito bem essa preocupação em tornar vetusta uma Ordem que, realmente, não tem mil anos: A história da Franco-Maçonaria, rodeada, durante alguns tempos, por um véu misterioso, tido por suspeitosa, e desvirtuada pela calúnia, só se apoia em bases sólidas e em princípios científicos, depois de uma época recente e graças aos estudos de alguns Irmãos isentos de todo o espírito de exagero. Envaidecidos pela preocupação de que a origem da instituição é sumamente antiga, muitos se esforçam por confundir sua original ilustração com a de outros, poucos escrupulosos, e se deixam levar pelo erro a respeito de que existe em certos símbolos antigos e nos costumes das lojas e dos antigos mistérios. Em vez de averiguarem como se introduziram tais costumes na Franco-Maçonaria, preferem aceitar a hipótese de que são eles que derivam da instituição. Sendo uma ordem iniciática, a Maçonaria tem tido a necessidade de armar um sistema místico de doutrinação, através de vários símbolos e de diversas práticas ritualísticas. Os símbolos podem ser objetos, figuras, ou imagens mentais alusivas a algum sentido moral, sendo encontrados em todas as organizações iniciáticas e religiosas. Um símbolo, tomado do ponto de vista místico, é a afirmação discreta da verdade revelada. É através do simbolismo que a instituição maçônica transmite, aos seus iniciados, a tradição – geralmente mística – e a ciência, sistematizadas nos diversos graus de um rito.

Todo símbolo, qualquer que seja a sua espécie, pode ser considerado sob três diferentes aspectos, de acordo com a sua interpretação: literal, figurado e oculto. De acordo com o sentido literal, o objeto é apresentado em suas generalidades, sem qualquer representatividade, ou ilação; por exemplo: literalmente, a bandeira de um país, ou o estandarte de uma loja maçônica, nada mais são do que pedaços de pano. No sentido figurado, o objeto, pelas suas propriedades intrínsecas, representa uma ideia, a partir do pensamento que desperta; sob essa interpretação, a bandeira de um país já passa a representá-lo em suas particularidades, diferenciando-o dos demais, o mesmo acontecendo com o estandarte do exemplo anterior, que passa a representar uma loja, em particular. No sentido oculto, o símbolo encerra uma profunda verdade moral totalmente distinta do sentido figurado, e só revelado aos iniciados: é o sentido mais utilizado na Maçonaria seguido pelo figurado, pois o literal jamais é considerado. O simbolismo, evidentemente, remonta à mais alta antiguidade, daí ma relação da Maçonaria com as antigas civilizações orientais; ele encerra profundas verdades belos segredos morais e espirituais, além de ensinamentos que só devem ser conhecidos através da iniciação sistemática e progressiva, que é a única e verdadeira escola da perfeita sabedoria. Os símbolos representam, assim a maneira velada com que a Ordem maçônica procura mostrar as grandes verdades do Universo, dentro das concepções mentais e metafísicas, não podendo, o seu estudo sistemático, ser postergado pelos iniciados, pois o simbolismo é a síntese da sabedoria humana, no caminho transcendental da procura da Verdade única e absoluta, sem ele a Maçonaria tornar-se-ia um corpo sem cérebro, robotizado e sem faculdades intuitivas. Deve-se, todavia, salientar que, apesar de todos esse misticismo necessário para a transmissão da tradição e da ciência iniciática, a Maçonaria não é, em sua atuação, de maneira alguma, uma Ordem mística, já que, sendo uma instituição regida pela racionalidade e pelo espírito evolutivo, não pode permitir que o misticismo sobrepuje a razão crítica, pois ele pode servir de meio para os diversos ensinamentos, mas nunca de meta para uma instituição de alto nível cultural como a Maçonaria. Os irmãos SCHREIBER, violentos críticos alemães das sociedades secretas, afirmam, referindo-se ao grande pesquisador alemão Lessing, que ele “ficou desagradavelmente intrigado com os acessórios místicos

alquimistas e com o formulário das bagatelas cheio de mistérios da Maçonaria, e nós dizemos que a desilusão foi alta, para não a classificarmos de indignada, e não nos falsearemos na presunção de que ambos se inscreveram na Maçonaria, partindo de suas próprias ideias filosóficas, do que para ali, as adquirirem”. Ora, em primeiro lugar, existe uma certa presunção dos autores, ao julgar o que Lessing, um espírito lúcido, poderia ter pensado, e colocando, em seu cérebro, aquilo que eles mesmos, inimigos das sociedades secretas pensam. Em segundo lugar, Lessing foi maçom no glorioso “século das Luzes”, ao lado de outros grandes intelectuais alemães, como GOETHE e HERDER, e, como esses, tinha a cultura suficiente para saber que o misticismo maçônico era, somente um meio e não um fim. Se assim não fosse, não teria a Ordem maçônica atraído desde o século XVIII os maiores nomes da cultura europeia. Muitos outros inimigos da Maçonaria sempre usaram, para tecer suas críticas a ela, o decantado segredo maçônico – que, verdadeiramente, se limita aos sinais de reconhecimento, pois, de posse deles, qualquer pessoa poderia ingressar numa assembleia de maçons – e o misticismo que o cerca. Esquecem-se, talvez, tais críticos, de que, em todas as manifestações metafísicas do ser humano, existe o misticismo e nem sempre como meio, mas, sim, como finalidade. A respeito disso, ALBERT PIKE, acatado pesquisador norte-americano, do século XIX, diz o seguinte, em sua obra MORALS AND DOGMA OF THE ANCIENT AND ACCEPTED SCOTTISH RITE OF FREEMASONRY: “Através do véu de todas as alegorias hieráticas e místicas dos dogmas antigos, sob a chancela de todas as obras sagradas, nas ruínas de Nívine ou de Tebas, nas pedras corroídas dos templos na face enegrecida das esfinges assírias e egípcias, nas maravilhosas páginas dos Vedas, nos estranhos emblemas de nossos livros de Alquimia e nas cerimônias de recepções praticadas por todas as sociedades misteriosas, encontram-se vestígios de uma doutrina, que é, sempre a mesma, guardada zelosamente. A filosofia oculta era a deusa-mãe de todas as religiões, a alavanca secreta que movia as forças intelectuais, a chave de todas as divindades, incompreensíveis, e a Rainha Absoluta da Sociedade, enquanto foi patrimônio dos sacerdotes e dos reis.” Aí está a realidade, já delineada acima: o psiquismo humano tem sido, sempre, receptivo ao misticismo, para compreender uma doutrina de

moral e de espiritualidade, que, em última análise, é um patrimônio comum a todas as sociedades iniciáticas e a todas as religiões: a filosofia oculta. Assim, do ponto de vista místico, a Maçonaria seria uma escola iniciática, que predispõe o espírito de seus iniciados à compreensão do Absoluto.Todavia, se só essa fosse a sua finalidade, ela seria, simplesmente uma seita contemplativa, e, realmente, destituída de fins práticos embora altamente espiritualizada. Na verdade, na Maçonaria, cada iniciado age, com plena consciência, na esfera de ação que lhe é apropriada, consagrando sua vida e devotando os seus esforços à concretização da Grande Obra do Sol, que diferentemente da Alquimia, simboliza o aperfeiçoamento individual do ser humano e, por extensão o aperfeiçoamento de toda a espécie humana. O Principal objetivo da atividade maçônica é a busca incessante da Verdade, que conduz a Luz; e essa verdade pode ser moral, espiritual ou mental, em suma, mas pode ser também, a verdade social, a verdade política, a verdade, enfim, da Liberdade e do bem-estar material dos povos, pois a Maçonaria, embora tenha sua filosofia estribada no misticismo, é na realidade, uma reformadora social. Nascida na esteira dos ideias liberais e libertários da humanidade, numa época de absolutismo e de dogmatismo clerical, a Maçonaria colocou-se na vanguarda, não só do renascimento cultural e científico (o que valeu as iras do Santo Oficio contra os seus membros), mas, também na da luta pelas grandes reformas sociais, através da sua decisiva participação nos grande movimentos de libertação humana, de sua presença nos conflitos de ideias e de sua importante intervenção na solução dos grandes problemas internacionais. Não sendo órgão de nenhum partido político e nem de qualquer agrupamento social, ela firmou o seu propósito de estudar e impulsionar todos os problemas referentes à vida humana, com a finalidade de assegurar a Paz, a Justiça e a Fraternidade entre todos os homens e povos, independentemente de raça, cor, credo religioso, ou nacionalidade.

JOSÉ CASTELLANI

José Castellani, médico, escritor e historiador, foi autor de mais de sessenta livros sobre a cultura maçônica, sendo considerado assim, um fenômeno na ampla literatura da Fraternidade. Nascido a 29 de Maio de 1937, em Araraquara, SP, exerceu cargos na docência médica, tendo se especializado em oftalmologia. Iniciado em 9 de Novembro de 1965, logo em 1973, teve seu primeiro livro maçônico publicado pela Editora A Gazeta Maçônica, sob o título ‘Os Maçons que fizeram a História do Brasil’. Além desta importante obra, José Castellani também foi autor dos livros 'A Ação Secreta da Maçonaria na Política Mundial', 'Maçonaria e Astrologia', ‘Shemá Israel’, ‘A Ciência Maçônica e as Antigas Civilizações’, ‘A Maçonaria na Década da Abolição e da República’, entre outros. Portador de várias condecorações por sua contribuição à cultura maçônica, destacam-se a Ordre Militaire et Hospitallier de Saint Lazare de Jerusalém (França) e a Ordo Sancti Georgi (Itália). De lá para cá, somou mais de sessenta títulos culturais maçônicos, tendo sempre no ‘forno’, novos títulos a serem publicados. José Castellani era um incansável colaborador de inúmeras publicações, entre elas, o responsável pela Consultoria Maçônica do site Lojas Maçônicas. Incansável trabalhador em prol da Educação e da Cultura Maçônicas ocupou os mais altos postos da Instituição, tanto em São Paulo quanto na administração central da Maçonaria no Brasil, criando e reformulando o pensamento e as atitudes de uma época e influenciando toda uma geração com sua forma de agir e pensar. Faleceu em São Paulo, em 21 de novembro de 2004.

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