Apostila Do Estado Do Tocantins
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Emancipação O Estado do Tocantins foi criado no dia 5 de outubro de 1988, com a promulgação da oitava Constituição Brasileira. A conquista foi resultado de uma luta que começou no século XIX e culminou com um projeto de lei do então deputado federal José Wilson Siqueira Campos, aprovado pelo Congresso Nacional, em 1985, após ter sido vetado em duas ocasiões pelo presidente da República, José Sarney, que considerava o plano oneroso e desprovido de interesse público. A luta pela autonomia do Estado sempre foi um desejo antigo do povo do então norte de Goiás. Já em 1821, o desembargador Joaquim Theotônio Segurado rebelara-se contra o isolamento imposto na região, proclamando o Governo Autônomo do Tocantins. Apesar da pouca duração desse governo, a iniciativa serviu para espalhar o sentimento separatista entre a população. Mais tarde, em 1920, a divisão entre o norte e o sul de Goiás foi novamente defendida por José Pires do Rio, ministro da Viação e Obras Públicas do presidente Rodrigues Alves. A idéia foi bem recebida, mas não se materializou. A luta recente pela emancipação do Tocantins foi personificada na figura de Siqueira Campos que, antes de conseguir a vitória na Constituinte, já havia apresentado a proposta diversas vezes ao longo de 18 anos em que atuara como deputado em Brasília (DF). Enquanto Siqueira Campos fazia gestões na esfera federal, a luta pela autonomia a Região continuava com a mobilização da população pelas lideranças de Porto Nacional, Tocantinópolis, Natividade e outras localidades. Para dar ênfase à prioridade da emancipação, Siqueira Campos submete-se a uma greve de fome, determinado a ir às últimas conseqüências. Como resposta, ele conseguiu a aprovação quase unânime no Congresso Nacional. A Capital Com a criação do Tocantins, era necessária uma Capital provisória até a aprovação da sede definitiva do Governo pela Assembléia Estadual Constituinte, e a cidade escolhida foi Miracema do Tocantins. Já em novembro, foram realizadas as eleições para o legislativo e o executivo, sendo José Wilson Siqueira Campos eleito o primeiro Governador do mais novo Estado da Federação, tendo como vice, o juiz federal aposentado Darci Coelho. A capital definitiva, Palmas, foi instalada em 1º de janeiro de 1990 à margem direita do rio Tocantins e com um plano diretor especialmente elaborado. Os poderes executivo, legislativo e judiciário foram transferidos de Miracema para a nova Capital, que nascia em terras cercadas pela Serra do Carmo e em menos de dois anos já atraíra 30 mil pessoas vindas de todos os cantos do País em busca de oportunidades. Os negócios tomaram vulto, especialmente no ramo imobiliário e de construção civil. Palmas, segundo estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) conta com uma população que ultrapassa 150 mil habitantes. É a cidade que mais cresce no País.
Geografia O Estado do Tocantins está localizado no Centro Geodésico do Brasil, e possui uma área de 278.420,7 Km2. Com uma população de 1.157.098 (IBGE 2000), o Estado faz divisa com seis Estados: Pará, Maranhão, Piauí, Bahia, Mato Grosso e Goiás. Por estar em uma área de transição, apresenta características climáticas e físicas tanto da Amazônia Legal quanto na zona central do Brasil, com duas estações: seca e chuvosa. O clima é tropical e a vegetação predominante é o cerrado, que cobre 87,8% da área total do Estado. O restante é ocupado por florestas. O relevo tocantinense é formado por depressões na maior parte do território, planaltos a Sul e Nordeste, e planícies na região central. O ponto mais elevado é a Serra Traíras (1.340 metros). O Tocantins é dono de muitas belezas naturais, entre elas a Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo, localizada na região sudoeste do Estado, onde também estão o Parque Nacional do Araguaia e o Parque Nacional Indígena. 1 / 49
A maior bacia hidrográfica totalmente brasileira também está localizada no Estado - a bacia do rio Tocantins - Araguaia com uma área superior a 800.000 km2. Seu principal rio formador é o Tocantins, cuja nascente localiza-se no estado de Goiás, ao norte da cidade de Brasília. Dentre os principais afluentes da bacia Tocantins - Araguaia, destacam-se os rios do Sono, Palma e Manuel Alves, todos localizados na margem direita do rio Araguaia.
História Apresentação "O que será toda essa riquíssima região no dia em que tiver transporte fácil pelo rio, ou uma boa rodovia ligando todos esses núcleos de civilização. E sonhamos... com as linhas aéreas sobrevoando o Tocantins, vindo ter a ele ou dele saindo para os diversos quadrantes. As rodovias chegando a Palma, a Porto Nacional, a Pedro Afonso, a Carolina, a Imperatriz, vindos de beira mar! O tráfego imenso que a rodovia Belém do Pará - Imperatriz - Palma teria, se aberta ! (...) E pensamos: quantas gerações passarão antes que este sonho se realize! (...) mas tudo vem a seu tempo!" (Lysias Rodrigues) Já sonhava Lysias Rodrigues na década de quarenta quando defendia a criação do território do Tocantins. E o tempo chegou ! Foi criado pela Constituição de 1988 o Estado do Tocantins. Sua capital não é a Palma de que fala Lysias mas é Palmas em homenagem a esta, a vila da Palma, antiga sede da Comarca do Norte. E as rodovias e linhas aéreas já vêm e saem do Tocantins "para diversos quadrantes". Muitas gerações compartilharam o sonho de ver o norte de Goiás independente. Esse sentimento separatista tinha justificativas históricas. Os nortistas reclamavam da situação de abandono, exploração econômica e descaso administrativo e não acreditavam no desenvolvimento da região sem o seu desligamento do sul.
O norte de Goiás O norte de Goiás deu origem ao atual Estado do Tocantins. Segundo Parente (1999) esta região foi interpretada sob três versões. Inicialmente norte de Goiás foi denominativo atribuído somente à localização geográfica dentro da região das Minas dos Goyazes na época dos descobrimentos auríferos no século XVIII. Com referência ao aspecto geográfico essa denominação perdurou por mais de dois séculos, até a divisão do Estado de Goiás, quando a região norte passa a ser o Estado do Tocantins. Num segundo momento, com a descoberta de grandes minas na região, o norte de Goiás passou a ser conhecido como uma das áreas que mais produziam ouro na capitania. Esta constatação despertou o temor ao contrabando que acabou fomentando um arrocho fiscal maior que nas outras áreas mineradoras. Por último, o norte de Goiás passou a ser visto, após a queda da mineração, como sinônimo de atraso econômico e involução social, gerador de um quadro de pobreza para a maior parte da população. Essa região foi palco primeiramente de uma fase épica vivida pelos seus exploradores que "em quinze anos abrem caminhos e estradas, vasculham rios e montanhas, desviam correntes, desmatam e limpam regiões inteiras, rechaçam os índios e exploram, habitam e povoam uma área imensa...." (PALACIN, 1979, p. 30). Descoberto o ouro a região passa, de acordo com a política mercantilista do século XVIII, a ser incorporada ao Brasil. O período aurífero foi brilhante, mas breve. E a decadência, quase sem transição, sujeitou a região a um estado de abandono. Foi na economia de subsistência que a população encontrou mecanismos de resistência para se integrar economicamente ao mercado nacional. Essa integração, embora lenta, foi se concretizando baseada na produção agropecuária, que predomina até hoje e constitui a base econômica do Estado do Tocantins (PARENTE, 1999,p.96).
A economia do ouro 2 / 49
"(...) descobrimento, um período de expansão febril, caracterizado pela pressa e semi - anarquia; depois, um breve, mas brilhante, período de apogeu, e, imediatamente, quase sem transição, a súbita decadência, prolongada, às vezes, como uma lenta agonia. Tal é o ciclo do ouro"(PALACIN).
As descobertas de minas de ouro em Minas Gerais no ano 1690 e em Cuiabá em 1718 despertaram a crença de que em Goiás, situado entre Minas Gerais e Mato Grosso, também deveria existir ouro. Foi essa a argumentação, segundo Palacin (1979), da bandeira do Anhanguera, Bartolomeu Bueno da Silva (filho do primeiro Anhanguera que esteve com o pai na região anos antes), para conseguir a licença do rei de Portugal a fim de explorar a região. O Rei cedia a particulares o direito de exploração de riquezas minerais mediante o pagamento do quinto que "segundo ordenação do reino este era uma decorrência do domínio real sobre todo o subsolo (...) o rei (...) não querendo realizar a exploração diretamente cedia a seus súditos este direito exigindo em troca o quinto do metal fundido e apurado a salvo de todos os gastos" (PALACIN, 1979, p. 46).
O controle das minas Desde quando ficou conhecida a riqueza aurífera das Minas de Goyazes, o governo português tomou uma série de medidas para garantir para si o maior proveito da exploração das lavras. Foi proibida a abertura de novas estradas em direção às minas. Os rios foram trancados à navegação. As indústrias proibidas ou limitadas. A lavoura e a criação inviabilizadas por pesados tributos: braços não podiam ser desviados da mineração. O comércio foi "fiscalizado e vexado". E o fisco, insaciável na arrecadação. "Só havia uma indústria livre: a mineração", concluiu Alencastre (1979, p.18), "(...) mas esta mesma sujeita à capitação e censo, à venalidade dos empregados de registros e contagens, à falsificação na própria casa de fundição, ao quinto (...) ao confisco por qualquer ligeira desconfiança de contrabando (...)". À época do descobrimento das Minas dos Goyazes vigorava o método de quintamento nas casas de fundição. A das minas de Goiás era em São Paulo. Para lá que deveriam ir os mineiros para quintar seu ouro. Recebiam de volta, depois de descontado o quinto, o ouro fundido e selado com selo real. O ouro em pó podia ser usado como moeda no território das minas, mas se saísse da capitania, tinha que ser declarado ao passar pelo registro e depois quintado, o que praticamente ficava como obrigação dos comerciantes. Estes, vendendo todas as coisas a crédito, prazo e preços altíssimos acabava ficando com o ouro dos mineiros e eram os que, na realidade, canalizavam o ouro das minas para o exterior e deviam, por conseguinte, pagar o quinto correspondente.
A decadência da produção A produção do ouro goiano teve nos primeiros dez anos de estabelecimento das minas (17261735) o seu apogeu, foi o período em que o ouro aluvional aflorava por toda a região, resultando numa produtividade altíssima. Quando se iniciou a cobrança do imposto de capitação em todas as regiões mineiras, nesse momento, a produção começou a cair "é possível afirmar que essa queda da produtividade está mascarada pelo incremento do contrabando - principalmente nessa região que, infelizmente é impossível mensurar"(PARENTE, 1999, p.42). De 1752 a 1778 a arrecadação chegou a um nível mais alto, é o período da volta da cobrança do quinto nas casas de fundição. Mas a produtividade continuou decrescendo. O motivo dessa contradição era a própria extensão das áreas mineiras que compensava e excedia a redução de produtividade. As distâncias das minas do norte, os custos para levar o ouro e os perigos dos ataques indígenas aos mineiros justificaram a criação de uma casa de fundição em São Félix em 1754. Mas, já em 1797, foi transferida para Cavalcante "por não arrecadar o suficiente para cobrir as despesas de sua manutenção" (PARENTE, 1999, p. 51). A Coroa Portuguesa mandou investigar as razões da diminuição da arrecadação da Casa de Fundição de São Félix. Foram tomadas algumas providências como a instalação de um registro, posto fiscal, entre Santa Maria (Taguatinga) e a vila do Duro (Dianópolis). Outra tentativa para reverter o quadro da arrecadação foi a organização de bandeiras para tentar novos descobrimentos. Segundo Póvoa (1999) tem-se notícia do itinerário de apenas duas. Uma dirigiu-
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se rumo ao Pontal (região de Porto Real), pela margem esquerda do Tocantins e entrou em conflito com os Xerente, resultando na morte de seu comandante. A outra saiu de Traíras (nas proximidades de Niquelândia, Goiás) para as margens do rio Araguaia em busca dos Martírios, serra onde se acreditava existir imensas riquezas auríferas. Mas a expedição só chegou até a ilha do Bananal onde sofreu ataques dos Xavante e Javaé, dali retornando. No período de 1779 a 1822, ocorreu a queda brusca da arrecadação do quinto com o fim das descobertas do ouro de aluvião predominando a faiscagem nas minas antigas. Quase sem transição, chegou a súbita decadência.
A crise econômica O declínio da mineração foi irreversível "arrastando consigo os outros setores a uma ruína parcial: diminuição da importação e do comércio externo, menos rendimentos dos impostos, diminuição da mão-de-obra por estancamento na importação de escravos, estreitamento do comércio interno, com tendência à formação de zonas de economia fechada e um consumo dirigido à pura subsistência, esvaziamento dos centros de população, ruralização, empobrecimento e isolamento cultural" (PALACIN, 1979, p.133). Toda a capitania entrou em crise e nada foi feito para a sua revitalização. Endividados com os comerciantes, os mineiros estavam descapitalizados. Não investiu em técnicas mais sofisticadas para a exploração do ouro nem resolveu o problema da falta de escravos. A avidez pelo lucro fácil, tanto das autoridades administrativas metropolitanas quanto dos mineiros e comerciantes, não admitiu perseveranças. O local onde não se encontrava mais o ouro ia sendo abandonado. "Os arraiais de ouro, que surgiam e desapareciam no Tocantins, nada nos legaram em benefícios de civilidade, a não ser o expansionismo geográfico", concluiu Silva (1997, p. 41). Cada vez se adentrava mais para o interior procurando o ouro aluvional, mas as buscas foram em vão. Foi no norte da capitania que a crise foi mais profunda. Parente (1999) aponta os fatores determinantes. Isolada tanto propositadamente quanto geograficamente, essa região sempre sofreu medidas que frearam o seu desenvolvimento. A proibição da navegação fluvial pelos rios Tocantins e Araguaia eliminou a maneira mais fácil e econômica de a região atingir outros mercados consumidores das capitanias do norte da colônia. O caminho aberto que ligava Cuiabá a Goiás não contribuiu em quase nada para interligar o comércio da região com outros centros abastecedores visto que o mercado interno estava voltado ao litoral nordestino. Esse isolamento, junto com o fato de não se incentivar a produção agro-pecuária nas regiões mineiras, tornava abusivo o preço de gêneros de consumo e favorecia a especulação. A carência de transportes, a falta de estradas e o risco freqüente de ataques indígenas dificultavam o comércio. Além destas dificuldades o contrabando e a cobrança de pesados tributos contribuíram para drenagem do ouro para fora da região. Dos impostos, somente o quinto era remetido para Lisboa. Todos os outros (entradas, dízimos, contagens, etc.) eram destinados à manutenção da colônia e da própria capitania. "Para facilitar e agilizar a cobrança desses tributos, a capitania de Goiás se dividia em duas (sul e norte), no momento de se repassarem as rendas, essa divisão não valia, o que beneficiava os arraiais mais próximos da sede do governo, localizados no sul, que faziam parte dos povoamentos nas rotas comerciais com as outras capitanias" (PARENTE, 1999, p.92). Isso explica por quê essa renda não ficava na região de origem. Inviabilizadas as alternativas de desenvolvimento econômico devido à falta de acumulação de capital e o atrofiamento do mercado interno, findo o ciclo da mineração, a população se volta para a economia de subsistência. Nas últimas décadas do século XVIII e início do século XIX toda a capitania estava mergulhada numa situação de crise levando, diante desse quadro, os governantes goianos voltarem "suas atenções para as atividades econômicas que antes sofreram proibições, objetivando soerguer a região da crise em que mergulhara" (PARENTE, 1999, p. 93).
A Subsistência da população e a integração econômica "Realizada a transmutação, por toda a geografia de Goiás na segunda década do século XIX, encontram-se carcaças de antigas povoações mineiras outroras cheias de vida, o capim cresce nas ruas, a maior parte das casas abandonadas por seus habitantes se desmancham e até as igrejas, a começar por suas torres, vão caindo aos pedaços (...) O norte, sobretudo, foi mais de século em recuperar-se" (PALACIN). Finda a mineração, os aglomerados urbanos estacionaram ou desapareceram e grande parte da população abandonou a região. Os que permaneceram foram para zona rural e dedicaram-se à criação de gado e agricultura, produzindo apenas algum excedente para aquisição de gêneros essenciais (PALACIN, 1989, p.46).
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Toda a capitania entrou num processo de estagnação econômica. No norte o quadro de abandono, despovoamento, pobreza e miséria foi descrito por muitos viajantes e autoridades que passaram pela região nas primeiras décadas do século XIX. Saint-Hilaire na divisa norte/sul da Capitania revelou: "À exceção de uma casinha que me pareceu abandonada, não encontrei durante todo o dia nenhuma propriedade, nenhum viajante, não vi o menor trato de terra cultivada, nem mesmo um único boi". Johann Emanuel Pohl, anos depois, passando pelo povoado de Santa Rita constatou ..."é um lugar muito pequeno, em visível decadência .(...)Agora por não haver negros, por falta de braços, as lavras de ouro estão inteiramente descuradas e abandonadas". O Desembargador Theotônio Segurado, que mais tarde tornaria ouvidor da Comarca do Norte, em relatório de 1806, deu conta das penúrias em que vivia a região em função tanto do abandono como da falta de meios para contrapor esse quadro: "(...) A Capitania nada exportava; o seu comércio externo era absolutamente passivo: os gêneros da Europa, vindos em bestas do Rio ou Bahia pelo espaço de 300 léguas, chegavam caríssimos; os negociantes vendiam tudo fiado: daí a falta de pagamentos, daí as execuções, daí a total ruína da Capitania". Diante dessa situação, a Coroa portuguesa tomou consciência de que só através do povoamento, da agricultura, da pecuária e do comércio com outras regiões que a capitania poderia retomar o fluxo comercial de antes. Como saída para a crise voltaram-se as atenções para as possibilidades de ligação comercial com o litoral, através da capitania do Pará, pela navegação fluvial dos rios Tocantins e Araguaia. "Voltar as atenções, naquele momento para essas vias de comunicação constituía-se numa necessidade premente da Capitania por não ser mais possível manter gastos com o único meio de transporte utilizado até então - as tropas de animais - devido á baixa produtividade das minas" (CAVALCANTE, 1999, p.39). As picadas, os caminhos e a navegação pelos rios Tocantins e Araguaia, todos interditados na época da mineração para conter o contrabando, foram liberados desde 1782. Como efeito imediato o norte começou a se relacionar com o Pará, ainda que de forma precária e inexpressiva. Nas primeiras décadas do século XIX, o Desembargador Theotônio Segurado já apontava a navegação dos rios Tocantins e Araguaia como alternativa para o desenvolvimento da região através do estímulo à produção para um comércio mais vantajoso tanto no norte como em toda a Capitania, diferente do tradicionalmente realizado com a Bahia, Minas Gerais e São Paulo. Com esse fim propôs a formação de companhias de comércio, o estímulo à agricultura, o povoamento das margens desses rios oferecendo isenção por dez anos do pagamento de dízimos aos que ali se estabelecessem, e, aos comerciantes, concessão de privilégios na exportação para o Pará. Com estas propostas chamou a atenção das autoridades governamentais para a importância do comércio de Goiás com o Pará, através dos rios Araguaia e Tocantins (CAVALCANTE, 1999, p.55). Foi ele próprio realizador de viagens para o Pará incentivando a navegação do Tocantins. Destacou-se como um grande defensor dos interesses da região quando foi Ouvidor da Comarca do norte. A criação dessa comarca visava promover o povoamento no extremo norte para fomentar o comércio e a navegação dos rios Araguaia e Tocantins. Mas, só a partir dos anos 40 do século XIX que o poder público - tanto provincial quanto imperial investiu no sentido de explorar a navegação com fins comerciais. O governo imperial instalou na Província presídios e colônias militares e estabeleceu aldeamentos ao longo dos rios Araguaia e do Tocantins. "Os presídios incumbiam-se de afastar os índios hostis, prover os navegantes de víveres e garantir apoio logístico à navegação". Também buscaram atrair a população não-índia para as terras próximas a esses rios através da isenção fiscal por dez anos aos lavradores que ali se estabelecessem. Na linha do rio Tocantins não obtiveram sucesso no seu intento. O isolamento, as dificuldades de administração e os ataques indígenas foram os principais empecilhos. "Os aldeamentos, sob a direção de padres capuchinos, promoviam a fixação dos índios, tornando possível utilizá-los como tripulação dos barcos que desciam rumo ao Pará" (ROCHA, 1998, p59). Esses aldeamentos foram mais promissores na medida em que constituíram, no norte, os núcleos iniciais de cidades como Tocantínia (antiga Piabanha), Pedro Afonso e Araguacema (antiga Santa Maria do Araguaia). Os esforços governamentais se concentraram principalmente no rio Araguaia na intenção de trazer também para os julgados do sul as vantagens do comércio com o Pará, visto que, " (...) as importações de sal, ferro e manufaturas, via Bahia e Pará, saíam por um preço três vezes menor do que os julgados do sul pagavam às importações oriundas de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro" (CAVALCANTE, 1999, p.39). Contudo, nem o aldeamento dos índios, a formação de sociedades mercantis e a instalação da navegação a vapor no Araguaia não foram suficientes para viabilizar a comunicação dos julgados do sul com o Pará. A navegação do Tocantins prosseguiu, embora cercada de imensos obstáculos. Além dos entraves naturais do próprio rio - cachoeiras e corredeiras - somavam-se os custos das viagens, a falta de suporte para as mesmas, a carência de mão-de-obra para a navegação das embarcações, o tempo gasto nas viagens e o perigo dos ataques indígenas.
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Obstáculos que o poder público não conseguiu transpor como também não conseguiu suprir a ausência de um produto exportável que mantivesse a região vinculada à metrópole ou mesmo às outras Províncias mais desenvolvidas economicamente. A agricultura não alcançou um nível de produção comercial por fatores ponderáveis como o isolamento geográfico em relação aos grandes centros produtores, as dificuldades dos meios de transportes e de comunicação, a inexistência de mercados consumidores e as constantes ameaças de ataques da população indígena. Plantava-se, portanto, o indispensável para o consumo e para a aquisição de alguns produtos básicos de importação como sal, pólvora, etc. A pecuária, praticada de forma extensiva, predominou. A navegação prosseguiu, então, sustentada pela perseverança dos comerciantes do norte. Se não atendeu aos propósitos de soerguer economicamente toda a região, ela foi de vital importância para a economia do norte na medida em que integrou o sertão ao mercado de Belém, proporcionando um surto de desenvolvimento em vilas e povoados. No final do século XIX, saíam botes, canoas, batelões e, mais tarde, barcos motorizados carregados de mercadorias como fumo, algodão, cana-de-açúcar, couro de boi, peles silvestres e carne seca, rumo a praça de Belém. De lá, vinham as manufaturas, ferro e produtos do reino. Entrepostos comerciais, de onde eram redistribuídas as mercadorias importadas de Belém e repassados os produtos sertanejos, transformaram-se em prósperas vilas como Porto Imperial (atual Porto Nacional), Pedro Afonso, São Pedro de Alcântara (Carolina-Ma) e Boa Vista (Tocantinópolis). Paralelamente, o gado também abriu caminhos para o interior do sertão. "As pastagens naturais, ao norte, tornaram-se forte atrativo aos criadores de gado do Maranhão e Piauí que, ao longo do século XIX, se desenvolveram e alcançaram autonomia e maior expressão na região. Duas foram as razões: `(...) a proximidade do norte e nordeste de Goiás ao litoral norte e nordeste e, a segunda, em razão do declínio da exploração aurífera ter sido mais rápido na região e, ainda, o incentivo geral da Coroa na concessão de sesmarias mais extensas aos interessados na atividade pecuária (...) ´"(CAVALCANTE, 1999, p.19). Sesmarias eram lotes de terra cedidos pela Coroa portuguesa. A pecuária praticamente determinou o processo de ocupação econômica da região nos séculos XIX e XX.. Já no final do século XVIII e por todo o século XIX multiplicaramse as fazendas de gado no norte. Sob o estímulo da pecuária surgiram agrupamentos humanos ruralizados, constituídos de vaqueiros, criadores e tropeiros. Da conjugação das várias fazendas, originaram-se os núcleos urbanos. Araguatins, Lizarda, Ponte Alta do Bom Jesus, Silvanópolis, Taguatinga, Tocantinópolis e Nazaré são exemplos de cidades do estado do Tocantins que nasceram de currais de gado. No século XX, as fazendas de gado já estavam consolidadas e revelaram um novo tipo de sociedade onde a criação de gado, apesar de dominante, não foi exclusiva. Nas próprias fazendas, desenvolveu-se a pequena lavoura para complemento alimentar. Além de gado, criavam porcos, cabras e ovelhas. A caça e a pesca também eram atividades subsidiárias. Alguns fazendeiros dividiam seu trabalho entre o campo e a cidade, onde residiam e estabeleciam comércio onde vendiam querosene, cachaça, fumo em rolo, pimenta-do-reino, cravo-da-índia, ervas, rapadura, açúcar grosso, sal, botões, novelo de linha, medicamentos diversos, etc. Os vaqueiros, constantemente, intercalavam seu trabalho no campo com a atividade de barqueiro no rio Tocantins. Eram vaqueiros e remeiros. Os filhos dos fazendeiros ricos ou iam estudar em Carolina, Porto Nacional, Salvador, Rio de Janeiro; ou permaneciam na tradição familiar com a criação de gado. 6 / 49
O intercâmbio comercial dessa região era maior com as praças de Belém, Maranhão, Piauí e Bahia. Eram vendidos couros de boi e peles silvestres (Pará e Maranhão), látex de mangabeira (Belém e Bahia) e gado em pé (Bahia e Piauí). O sal vinha de Mossoró (RN) via Barreiras e o café, de Corumbá de Goiás. As transações eram feitas a dinheiro ou à base de permuta (SILVA, 1997, p. 89). Boa Vista, atual Tocantinópolis, possuía a maior frota de barcos e era o maior centro urbano de todo o norte goiano na metade do século XIX. No século XX, perde para a pacata vila de Pedro Afonso que com o látex da mangabeira (caucho) assume a liderança de empório do sertão, centralizando os negócios do Médio Araguaia e Tocantins com a praça de Salvador, na Bahia (SILVA, 1997, p.75). Nos anos 20, 30 e 40 do século XX, a ocupação econômica do extremo norte e do Médio Tocantins foi sustentada pelo extrativismo mineral e vegetal: o babaçu, o caucho e o cristal. Nas décadas de 1940 e 1950, essa atividade continuou movimentando a economia regional e trouxe surto de prosperidade para algumas povoações. Pium, Cristalândia, Arapoema e Xambioá foram favorecidas com a exploração do quartzo (cristal de rocha) que ganhou mercado com a Segunda Guerra Mundial. Em Araguatins, o babaçu e o mogno aqueceram o comércio da região. O extrativismo, como fonte de renda, fez parte de uma época áurea na história desses municípios. Nesse mesmo período, a instalação de charqueadas incrementou o comércio de Pedro Afonso e Araguacema com o Pará. O charque - carne das partes dianteiras do boi, salgada e dobrada em forma de manta - era vendido para a praça de Belém. Esse comércio foi feito inicialmente por via fluvial e continuou por via aérea, até o final da década de 1950. Na década de 1960, com a construção da rodovia Br-153 ou Belém-Brasília ligando o Planalto Central à Belém do Pará, declina a navegação mercantil. As linhas hidroviárias Porto Nacional-Lajeado; Tocantínia-Pedro Afonso-Carolina; Carolina-TocantinópolisBelém foram desativadas. A rodovia promoveu uma nova rearticulação do comércio inter-regional que, se praticamente inexistia, tinha ficado ainda mais debilitado depois da construção da ferrovia no sudeste goiano, no início do século XX. A construção da estrada-de-ferro integrou economicamente o centro-sul de Goiás ao centro-sul do país, alargando a distância das relações entre o norte e o sul de Goiás. Com a BR-153 essa situação foi amenizada. Anapólis, pólo industrial do Estado de Goiás, se tornou o novo centro abastecedor do norte goiano, provocando um redirecionamento do comércio, visto que, esta região se relacionava basicamente com o Maranhão, Pará e Bahia. Só a rodovia, porém, não foi suficiente para superar a debilidade dessa relação inter-regional devido ao desequilíbrio existente na estrutura viária do estado. Os investimentos federais ou estaduais - nessa área eram destinados principalmente a promover a integração do centro sul de Goiás com o centro sul do país. "Há informação de que até 1983 alguns municípios do norte de Goiás, como Goiatins, Itacajá e outros, ficaram praticamente ilhados. Essa situação obrigou o Banco do Brasil a recusar, naquele momento, pedidos de financiamento agrícola sob a alegação de que as safras não seriam escoadas" (CAVALCANTE, 1999, p.43). No norte goiano, a Belém-Brasília provocou muitas alterações na economia local. Cidades como Gurupi, Paraíso, Miranorte, Guaraí, Colinas e Araguaína, todas localizadas à margem esquerda do rio Tocantins, tiveram sua origem ou se desenvolveram, com a construção da Br-153. Por outro lado, as povoações situadas à margem direita do rio ficaram isoladas da nova rota de desenvolvimento. Ainda se 7 / 49
tentou reativar a navegação dos rios Araguaia e Tocantins com a criação da Companhia Interestadual dos Vales Araguaia e Tocantins - CIVAT, da Comissão de Estudos e Obras dos Rios Tocantins e Araguaia - CEORTA e, mais tarde, com o Projeto de Desenvolvimento Integrado da Bacia Araguaia - Tocantins (PRODIAT). Mas as estradas de rodagem já se expandiam oferecendo uma opção de tráfego mais fácil e viável. Ainda assim, em proporção muito menor, a navegação fluvial como meio de subsistência, continua a fazer parte do cotidiano de algumas cidades. Araguatins, através do rio Araguaia e Itaguatins, do rio Tocantins, por exemplo, ainda preservam um intercâmbio comercial e cultural com o Pará e Maranhão. A Belém-Brasília "ligando o Centro-Oeste com a orla marítima do Norte transformou-se em área de nova fronteira de desenvolvimento" (SILVA, 1997, p.94), o que permitiu que a partir da década de 1970, o norte de Goiás se tornasse alvo para investimentos governamentais com o objetivo de incorporar a região ao mercado nacional como produtora de bens exportáveis. O governo federal criou programas dirigidos principalmente à Amazônia, mas também difundidos em 60 municípios do norte goiano, iniciando uma nova fase de modernização no processo de ocupação e causando impactos na organização da produção e na estrutura fundiária da região. Quanto à produção, a agricultura foi reorientada, objetivando a exportação de arroz e soja, em detrimento dos tradicionais milho e feijão; a pecuária foi consolidada como atividade econômica básica e, no lugar do gado vacum pé duro, passou a predominar as raças gir e nelore. As pastagens naturais e a vegetação nativa cederam espaço para o plantio de novos pastos. Em relação a estrutura fundiária, o novo modelo de desenvolvimento possibilitou a concentração de terras com a formação de latifúndios voltados para a pecuária. Isso ocorreu principalmente no espaço que compreende o rio Araguaia e a Belém - Brasília onde "a pata de boi invade os babaçuais que passam a ser vítimas das queimadas. E o babaçu - o boi vegetal - com seus 80 subprodutos, como óleo comestível ou industrial, álcool, borra, carvão ativado, torta para ração animal etc. vai dando espaço ao desenvolvimento da SUDAM..." (SILVA, 1997, p.93). Como conseqüência desse processo houve a desapropriação dos antigos moradores locais pelos grandes proprietários desencadeando graves conflitos sociais. Nas décadas de 1970 e 1980 na região norte de Goiás configurou-se uma nova paisagem marcada pela descontinuidade e heterogeneidade da expansão modernizadora. A polarização de recursos em pontos diferenciados acentuou o desequilíbrio regional. Um exemplo concreto desse fenômeno foi a posição privilegiada que o município de Araguaína conseguiu em relação aos demais com o recebimento de mais recursos. Já a persistência de métodos tradicionais na produção e nas relações de trabalho diante do novo demonstrava a heterogeneidade dessa expansão. Com o fim da política de investimentos e de crédito do governo federal, a consolidação da integração econômica, com a expansão da modernização e a incorporação de novas áreas, constituía-se num desafio para o futuro Estado do Tocantins.
A Primeira Cisão - 1736 Na época da mineração, as minas localizadas ao norte da capitania de Goiás eram consideradas mais ricas do que as do centro-sul, todavia, a arrecadação de impostos era inferior. Por isso, a cobrança do quinto - pagamento em ouro em pó sobre a produção - foi substituída pela capitação que passou a cobrar uma taxa de imposto sobre cada escravo utilizado, acrescido de uma
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sobretaxa para as minas do norte. Essa diferenciação fiscal teve como justificativa o alto índice de contrabando na região em função do seu isolamento. Contra essa discriminação se levantaram os mineiros do norte ameaçando desligarem-se da Superintendência do centro-sul e ligar-se ao Maranhão, caso o governo insistisse na cobrança de um imposto que consideravam injustas. Ficaram dois anos sem pagar e só voltaram em igualdade de condições com as outras regiões. Este episódio deixava evidente o caráter esporádico das relações entre o norte e o sul que só existia "em função de atos administrativos isolados com finalidades meramente fiscais ou jurídicas" (CAVALCANTE, 1999, p.50). A atitude dos mineiros, segundo Palacin, causou "a primeira cisão, nunca de toda reparada, na consciência de unidade do território de Goiás" (PALACIN, 1979, p.52). Tal situação alimentou o sentimento de desligamento regional que mais tarde iria se evidenciar como "algo natural, geográfico e histórico" (CAVALCANTE, 1999, p.50).
A Criação da Comarca do Norte - 1809 Para facilitar a administração à aplicação da justiça e, principalmente, incentivar o povoamento e o desenvolvimento da navegação dos rios Tocantins e Araguaia, o Alvará de 18 de março de 1809 dividiu a Capitania de Goiás em duas comarcas (regiões): a comarca do sul e a comarca do norte. A Comarca do Norte recebeu a denominação de Comarca de São João das Duas Barras, assim como chamaria a vila que, na confluência do Araguaia no Tocantins se mandaria criar com este mesmo nome para ser sua sede. Para nela servir foi nomeado o Desembargador Joaquim Theotônio Segurado como o seu Ouvidor. A nova comarca compreendia os julgados de Porto Real, Natividade, Conceição, Arraias, São Félix, Cavalcante, Traíras e Flores. O arraial do Carmo que já tinha sido cabeça de julgado perde essa condição que foi transferida para Porto Real, ponto que começava a prosperar com a navegação do Tocantins. Enquanto não se fundava a vila de São João das Duas Barras, Natividade teria a sede da ouvidoria. A função primeira de Theotônio Segurado era designar o local onde deveria ser fundada essa vila. Alegando a distância e a descentralização em relação aos julgados mais povoados, o Ouvidor e o povo do norte solicitaram a D. João autorização para a construção da sede da comarca em outro local. No lugar escolhido por Segurado, o Alvará de 25 de janeiro de 1814 autorizava a construção da sede na confluência dos rios Palma e Paranã, a vila de Palma, hoje a cidade de Paranã. A vila de São João das Duas Barras recebeu o título de vila comarca, mas nunca chegou a ser construída. O ouvidor Theotônio Segurado, administrador da comarca do norte, muito trabalhou para o desenvolvimento da navegação do Tocantins e o incremento do comércio com o Pará. Assumiu posição de liderança como grande defensor dos interesses regionais e, "tão logo se mostrou oportuno, não hesitou em reivindicar legalmente autonomia político administrativa dessa região" (CAVALCANTE, 1999, p.54). O 18 de março foi, oficialmente, considerado o Dia da Autonomia pela Lei nº 960 de 17 de março de 1998, por ser a data da criação da Comarca do Norte, estabelecida como marco inicial da luta pela emancipação do Estado.
O Movimento Separatista do Norte de Goiás - 1821 a 1824 A Revolução do Porto no ano de 1820, em Portugal, exigindo a recolonização do Brasil mobilizou, aqui na colônia, especificamente no litoral, a elite intelectualizada em prol da emancipação do país. Em Goiás, essas idéias liberais refletiram na tentativa de derrubar "aquele que era a própria personificação da dominação portuguesa": o capitão-general Manoel Sampaio. Houve uma primeira investida nesse sentido em 1821, sob a liderança do capitão Felipe Antônio Cardoso e do Pe. Luiz Bartolomeu Marques. Coube ao primeiro mobilizar os quartéis e ao segundo, conclamar o povo e lideranças para a preparação de um golpe que iria depor Sampaio. Contudo, houve uma denúncia sobre o golpe e, em seguida, foi ordenada a prisão dos principais líderes rebeldes. O Pe. Marques conseguiu fugir e novamente articulou contra o capitão-general. Mais uma vez Sampaio impôs sua autoridade e os rebeldes foram expulsos da capital Vila Boa. Alguns vieram para o norte, como o capitão Cardoso, que teve ordem para se retirar para o distrito de Arraias, e o Pe. José Cardoso de Mendonça, enviado para a aldeia de Formiga e Duro. O Pe. Marques recebeu ordens para se manter afastado da capital. Mas os acontecimentos que ocorreram na capital não ficaram isolados. A idéia da nomeação de um governo provisório, depois de fracassada na capital, foi aclamada no norte onde já havia anseios separatistas. O desejo do padre Luiz Bartolomeu Marques não era outro senão a
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independência do Brasil. E a deposição de Sampaio seria apenas o primeiro passo. Para este fim contavam com o vigário de Cavalcante, Francisco Joaquim Coelho de Matos "(...) mas este, não tendo bastante prestígio e influência, cedeu a direção das coisas ao desembargador Joaquim Teotônio Segurado (...)" (ALENCASTRE, 1979, p.358).
No dia 14 de setembro, um mês após a frustrada tentativa de deposição de Sampaio, instalou-se o governo independencista do norte, com capital provisória em Cavalcante. O Ouvidor da Comarca do Norte, Theotônio Segurado, presidiu e estabeleceu essa Junta provisória até janeiro de 1822. "No dia seguinte, o governo provisório da comarca da Palma fez circular uma proclamação em que declarou-se desquitado do jugo despótico do governo, mas deu vivas a D. João VI e às cortes de Lisboa" (ALENCASTRE, 1979, p.358). As justificativas para a separação do norte em relação ao centro-sul de Goiás eram, para Segurado, de natureza econômica, política, administrativa e geográfica. Alegava que as demais províncias já haviam destituído seus capitães generais, reclamava da falta de assistência da administração pública na região que só se fazia presente na oneração de tributos; da carência de uma força política representativa e da necessidade de um governo mais centralizado. - Proclamação. - Habitantes da comarca da Palma! É tempo de sacudir o jugo de um governo despótico; todas as províncias do Brasil nos têm dado este exemplo; os nossos irmãos de Goiás fizeram um esforço infrutífero, ou por mal delineado, ou por ser rebatido por força superior. Eles continuam na escravidão, e até um dos principais habitantes dessa comarca ficou em ferros. Palmenses! Sejamos livres, e tenhamos segurança pessoal; unamo-nos e principiemos a gozar as vantagens que nos promete a constituição! Abulam-se esses tributos que nos vexam, ou por sermos os únicos que os pagamos, ou por não serem conformes às antigas leis adaptáveis a esta pobre comarca. Saídas de gados, décima, banco, papel selado, entrada de sal, ferro, aço e ferramentas ficam abolidas, todos os homens livres têm direitos aos maiores empregos; a virtude e a ciência, eis os empenhos para os cargos públicos. Todas as cabeças de julgado darão um deputado para o governo provisório; os arraiais de São José, S. Domingos, Chapada e Carmo ficam gozando da mesma prerrogativa. Esses deputados devem ser eleitos, e dirigirem-se imediatamente a Cavalcante, onde reside interinamente o governo provisório. Depois de reunidos todos os deputados, se decidirá qual deve ser a capital, e nela residirá o governo. No dia 14 de setembro, um mês após a frustrada tentativa de deposição de Sampaio, instalou-se o governo independencista do norte, com capital provisória em Cavalcante. O Ouvidor da Comarca do Norte, Theotônio Segurado, presidiu e estabeleceu essa Junta provisória até janeiro de 1822. "No dia seguinte, o governo provisório da comarca da Palma fez circular uma proclamação em que declarou-se desquitado do jugo despótico do governo, mas deu vivas a D. João VI e às cortes de Lisboa" (ALENCASTRE, 1979, p.358). As justificativas para a separação do norte em relação ao centro-sul de Goiás eram, para Segurado, de natureza econômica, política, administrativa e geográfica. Alegava que as demais províncias já haviam destituído seus capitães generais, reclamava da falta de assistência da administração pública na região que só se fazia presente na oneração de tributos; da carência de uma força política representativa e da necessidade de um governo mais centralizado. - Proclamação. - Habitantes da comarca da Palma! É tempo de sacudir o jugo de um governo despótico; todas as províncias do Brasil nos têm dado este exemplo; os nossos irmãos de Goiás fizeram um esforço infrutífero, ou por mal delineado, ou por ser 10 / 49
rebatido por força superior. Eles continuam na escravidão, e até um dos principais habitantes dessa comarca ficou em ferros. Palmenses! Sejamos livres, e tenhamos segurança pessoal; unamo-nos e principiemos a gozar as vantagens que nos promete a constituição! Abulam-se esses tributos que nos vexam, ou por sermos os únicos que os pagamos, ou por não serem conformes às antigas leis adaptáveis a esta pobre comarca. Saídas de gados, décima, banco, papel selado, entrada de sal, ferro, aço e ferramentas ficam abolidas, todos os homens livres têm direitos aos maiores empregos; a virtude e a ciência, eis os empenhos para os cargos públicos. Todas as cabeças de julgado darão um deputado para o governo provisório; os arraiais de São José, S. Domingos, Chapada e Carmo ficam gozando da mesma prerrogativa. Esses deputados devem ser eleitos, e dirigirem-se imediatamente a Cavalcante, onde reside interinamente o governo provisório. Depois de reunidos todos os deputados, se decidirá qual deve ser a capital, e nela residirá o governo. Os soldados que quizerem sentar praça de infantaria vencerão cinco oitavas por mês, e na cavalaria seis e meia. Palmense, ânimo e união! O governo cuidará da vossa felicidade. Viva a nossa santa religião, viva o Sr. D. João VI, viva o príncipe regente e toda a casa de Bragança, viva a constituição que se fizer nas cortes reunidas em Lisboa. Cavalcante, 15 de setembro de 1821. Presidente Joaquim Theotônio Segurado, Manoel Antônio de Moura Teles, José Zeferino de Azevedo, José Vitor de Faria Pereira, Francisco Joaquim Coelho de Matos, Francisco Xavier de Matos, Luiz Pereira de Lemos e Joaquim Rodrigues Pereira (ALENCASTRE, 1979, p.358-359). A instalação de um governo independente - não necessariamente em relação à Coroa Portuguesa, mas sim ao governo do capitão-general da Comarca do Sul - parecia ser o único objetivo de Theotônio Segurado. A sua posição não-independencista provocou a insatisfação de alguns dos seus correligionários políticos e a retirada de apoio à causa separatista. Em outubro de 1821, transfere a capital para Arraias provocando oposição e animosidade dos representantes de Cavalcante. Com o seu afastamento em janeiro de 1822, quando partiu para Lisboa como deputado representante de Goiás na Corte agravou a crise interna. "A partir dessa data uma série de atritos parecem denunciar que a Junta havia ficado acéfala. Na ausência de Segurado, nenhuma liderança capaz de impor-se com a autoridade representativa da maioria dos arraiais conseguiu se firmar. Pelo contrário, os interesses particulares dos líderes de Cavalcante, Palmas, Arraias e Natividade se sobrepuseram à causa separatista regional" (CAVALCANTE, 1999, p.64). Um novo governo provisório foi organizado. O Capitão Felipe Antônio Cardoso, partidário da luta pela independência nacional, foi quem assumiu a chefia do movimento e organizou o novo governo, apesar de não participar diretamente dele. Através de um decreto, a Comarca da Palma foi desmembrada de Goiás e constituiu em sua jurisdição uma província independente. Foi mandado à Corte um deputado para comunicar o governo central da decisão tomada. O sucessor de Segurado foi o tenente-coronel Pio Pinto Cerqueira que transferiu a capital para Natividade, destituiu o Ouvidor Febrônio José Vieira Sodré de suas funções e passou a acumular o cargo de Ouvidor. Tal decisão provocou reação em Cavalcante e Palma que não acataram as ordens de Cerqueira e mantiveram-se fiéis ao Ouvidor Febrônio, instalado em Cavalcante. A crise se instalara dividindo e enfraquecendo o governo do norte. Em abril de 1822, com a instalação do governo provisório no sul, assume o poder naquela comarca o Pe. Camargo Fleury com a missão de restabelecer a unidade política da Província. A prisão do Capitão Felipe Antônio Cardoso, que resistia à unificação, foi sua primeira demonstração de força. Fleury também conseguiu a dissolução do maior foco de oposição contra a unidade política - o Clube de Natividade - que já estava enfraquecido por divergências internas. Assim, quando Luís Gonzaga, "o pacificador do norte", chegou à região não encontrou nenhuma resistência organizada que viesse a se tornar obstáculo à realização de seu objetivo. Para entender a impossibilidade de sustentar o governo provisório do norte"é relevante não a posição antiindependencista de Theotônio Segurado mas sim, o seu afastamento da liderança do movimento por ter viajado a Lisboa (...).Em decorrência disso, com a ausência de um líder em condições de assumir tal posição, antes ocupada por Segurado, seria inevitável a cisão entre as lideranças regionais" (CAVALCANTE, 1999, p. 67). Finalmente em 1823, com o Brasil já independente, o Brigadeiro Cunha Matos - na condição de Comandante das Armas e a serviço da Junta de Governo da Província de Goiás - foi enviado para Cavalcante a fim de garantir a consolidação da recém conquistada unidade política. As divergências internas em relação à hegemonia política da região, as dificuldades de natureza econômica e financeira, o pulso forte de Luís Camargo Fleury e o não reconhecimento por parte de D. Pedro I do governo instalado no norte, foram todos fatores que, em conjunto, contribuíram
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para o fracasso desse movimento. Mas, ainda que remando contra a maré, o sentimento separatista continuou vivo ao longo do século XIX. A imprensa regional constantemente denunciava a situação de abandono, exploração econômica e descaso administrativo, contribuindo para a crença de que para o norte goiano se desenvolver seria preciso, obrigatoriamente, desligar-se do sul.
A trajetória de luta pela criação do Tocantins No final do século XIX e no decorrer do século XX, a idéia de se criar o Tocantins, estado ou território, esteve inserida no contexto das discussões apresentadas em torno da redivisão territorial do país, no plano nacional. Mas, a concretização desta idéia só veio com a Constituição de 1988 que criou o Estado do Tocantins pelo desmembramento do estado de Goiás. Ainda no Império, duas tentativas: a defesa de Visconde de Taunay, na condição de deputado pela Província de Goiás, propondo a separação do norte goiano para a criação da Província da Boa Vista do Tocantins, com a vila capital em Boa Vista (Tocantinópolis), em 1863; e, de modo mais concreto, em 1889, com o projeto de Fausto de Souza para a redivisão do Império em 40 províncias, constando a do Tocantins na região que compreendia o norte goiano. Nas primeiras décadas da República o discurso separatista sobreviveu na imprensa regional, principalmente de Porto Nacional - maior centro econômico e político da época - em periódicos como "Folha do Norte" e "Norte de Goiás". A partir da década de 1930 que o discurso retorna à esfera nacional. Após a criação pela Constituição de 1937 dos territórios do Amapá, Rio Branco, Guaporé - atual Rondônia - Itaguaçu e Ponta Porã (extintos pela Constituição de 1946), houve também quem defendesse a criação do território do Tocantins.
Em 1944, o Brigadeiro Lysias Rodrigues, "que conhecia por terra, água e ar as vastidões nacionais", abraçou a bandeira da criação do território do Tocantins tendo o seu projeto acatado pelo presidente Getúlio Vargas e despachado para o IBGE. O território do Tocantins seria criado com a divisão territorial do norte de Goiás e sul do Maranhão, com a capital em Carolina (MA) ou Pedro Afonso (GO). Em Pedro Afonso, houve a criação do Comitê de Propaganda Pró-Criação do Território do Tocantins, acreditando ser pertinente a sua defesa devido a abertura dada pela Constituição de 1946 que estabelecia normas para subdivisão ou incorporação de novos estados. Contudo, as oposições internas e promessas políticas não cumpridas provocaram desgastes e enfraqueceram a luta. Em 1949, a Assembléia Legislativa não aceitou a representação da Comissão que defendia a criação do território do Tocantins, sendo a mesma posteriormente rejeitada e arquivada pela Comissão de Constituição e Justiça da Administração Federal. Nos anos 50, vigorava no país as políticas do desenvolvimentismo e da integração nacional marcadas pelo Governo Juscelino Kubistcheck. A viabilização de projetos como a Br-153 e a construção de Brasília destacou Goiás no cenário nacional, com a consolidação da expansão capitalista no centro-sul. O norte, na prática, não sentiu os efeitos desse surto na década de 50, visto que, a Br-153 só foi asfaltada a partir de 1965. A tentativa de integração do norte goiano à marcha desenvolvimentista partiu da promoção do seu discurso separatista ressaltando sempre a situação de abandono da região. Em 13 de maio de 1956, foi lançado em Porto Nacional o movimento PróCriação Estado do Tocantins, liderado pelo Juiz de Direito dessa Comarca, o Dr. Feliciano Machado Braga, com o apoio dos poderes legislativo e executivo local. Com o objetivo de mobilizar a região em torno desse discurso foram realizados vários eventos. Em outubro, a Câmara Municipal aprovou resolução que integrava Porto Nacional ao estado do Tocantins e reconheceu este estado. O movimento ganhou apoio de estudantes, adesão de outros municípios e manifestações de solidariedade de outros estados como Maranhão e Bahia. Foi instituída a bandeira e escolhido o Nosso Senhor do Bonfim como padroeiro do Estado. 12 / 49
Como instrumento de luta foi lançado o jornal O Estado do Tocantins, sob a direção de Dioclesiano Ayres da Silva e redação de Fabrício Costa Freire e Dr. Feliciano Braga. A aprovação da Emenda da deputada Almerinda Arantes à Constituição Estadual criando o Estado do Tocantins pelo desmembramento de Goiás a partir do paralelo 13º, seria um passo em direção à criação do Tocantins, mas dependia também da realização de um plebiscito na região e da aprovação do Congresso Nacional, conforme estabelecia a Constituição Federal. Mas, o artigo de solicitação do plebiscito, feito pelo deputado Paulo Malheiros, foi rejeitado em agosto de 1957, pela Assembléia Legislativa Goiana. Motivos para a criação do Tocantins continuaram sendo expressos em artigos de jornais relacionando a importância de Brasília e a criação do novo estado para a interiorização do Brasil. Contudo, a oposição do Legislativo goiano e a transferência do Dr. Feliciano da região norte para Anápolis, enfraqueceram o movimento. Nos anos 60, o movimento foi sustentado pela defesa isolada de alguns membros do Legislativo estadual e de lideranças estudantis do norte, com destaque para a Casa de Estudante do Norte Goiano (CENOG), fundada em Goiânia em 15 de maio de 1960, com o objetivo inicial de dar assistência aos estudantes que iam para aquela capital para dar prosseguimento aos seus estudos. A conscientização destes em relação aos problemas da região permitiu que a entidade ampliasse seus objetivos e abraçasse a causa separatista. Assim, através de congressos, comícios, distribuição de cartazes e boletins, manteve acesa a luta pela criação do Tocantins durante uma década. Mas, em decorrência da ditadura militar e do fechamento político do país a partir de 1965, o movimento apresentou certa disposição ao desalento, pois, qualquer manifestação de caráter autonomista poderia ser interpretada como ameaça à ordem e segurança nacional. Assim, foi mais conveniente mobilizar as forças representativas da região para uma ação unificada junto ao governo do estado, buscando sua integração aos progressos do centro-sul. Neste contexto, vale destacar a atuação da CENOG que, através do seu jornal O Paralelo 13, funcionou como um instrumento de denúncias e reivindicações do povo nortense. Em 1965, por ocasião da elaboração da Constituição de 1967, foi aberto um espaço para a abordagem da redivisão territorial, na Assembléia Constituinte, através de uma carta ao presidente Castelo Branco, redigida pelo Dr. Feliciano Braga. Nesta havia um apelo para que a Revolução de 31 de março realizasse a redivisão do país. "O magistrado considerava a disposição geográfica daquela época anacrônica e injustificável - herança da colonização com leves modificações" (CAVALCANTE, 1999, p.123). E pedia que a futura Constituição não se omitisse na solução de "tão importante e vital problema do Brasil". A publicação dessa carta na imprensa regional trouxe novamente à baila as manifestações pró-criação do estado do Tocantins. Quando o governo federal, com base na ideologia da Segurança Nacional, acenou para a possibilidade de formar novos territórios na Amazônia, com a inserção do norte de Goiás na Amazônia Legal, mobilizou o meio político para a criação do Tocantins. Contudo, o pronunciamento do ministro do Interior, general Albuquerque Lima, considerando "irreais" as informações extra-oficiais que anunciavam a redivisão do país em vários territórios, entre eles o do Tocantins, as mobilizações perderam as forças. Até a primeira metade dos anos 70, as reivindicações políticas do norte goiano diziam respeito à sua inserção no mercado internacional, dentro da política econômica da época, direcionadas para a produção de bens de consumo duráveis e do incentivo à agricultura comercial voltada para a exportação. Para a região se enquadrar nessa política foram necessárias medidas urgentes como regularização de títulos de terras, abertura de créditos e financiamentos, etc. proporcionando a modernização do processo de ocupação econômica com a mecanização da lavoura e a pecuária intensiva. Isso provocou uma "justificada euforia". "Mas não com força suficiente para que a tese separatista fosse sustentada, principalmente se for considerado o fato de os divisionistas sempre terem levantado a bandeira do abandono e do isolamento a que essa região estivera relegada" (CAVALCANTE, 1999, p.128).
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O discurso separatista veio novamente à tona quando o sul do Mato Grosso, em plena fase de prosperidade econômica, se mobilizou em torno de sua autonomia até conseguir em 1977 a aprovação pelo governo federal do projeto de criação do estado do Mato Grosso do Sul. Neste contexto, o deputado Siqueira Campos, representante do norte goiano, retomou a proposta da criação do Tocantins. Presidiu a Comissão da Amazônia e apresentou trabalho sobre a redivisão territorial propondo a criação de doze territórios, entre eles o do Tocantins. O mesmo deputado apresentou projeto de consulta plebiscitária para a posterior criação do Território do Tocantins, aprovado pela Câmara de Deputados e que, no ano seguinte, foi arquivado pelo Senado Federal. Nos anos 80, as expectativas em relação ao processo de democratização deflagrado, inicialmente, com as eleições diretas para governador em 1982, permitiu que fosse novamente levantado o discurso em defesa dos interesses do norte goiano. Havia ainda por vir a Campanha das Diretasjá, em 1984, e a convocação da Assembléia Nacional Constituinte, em 1987. A fundação da CONORTE - Comissão de Estudos do Norte Goiano - em 1981, em Brasília, foi de fundamental importância dentro desse contexto. Sustentada por lideranças políticas e intelectuais radicadas em Goiânia e Brasília, a CONORTE tinha como objetivos conscientizar a população das potencialidades econômica do norte goiano, do descaso governamental e da necessidade de se organizar politicamente para a defesa dos interesses da região. Isso foi feito através de congressos, seminários, conferências e manifestos publicados na imprensa. Em abril de 1982, a CONORTE promoveu o 1° Congresso de Estudo dos Problemas do Norte Goiano. Em maio do mesmo ano, divulga em Brasília a Carta do Tocantins. Esta, além de fazer uma análise sócio-econômica da região, apela aos nortistas para reunirem forças em prol do aumento da representatividade da região na esfera governamental. Na prática a idéia era de que, em plena fase de abertura política, se votasse em políticos comprometidos com os interesses do norte, independente de opções partidárias.
No ano de 1984, o deputado Siqueira Campos apresentou um projeto de Lei Complementar para criar o Estado do Tocantins. O projeto foi aprovado pelo Congresso Nacional, mas vetado pelo Presidente José Sarney. Depois, o projeto foi reapresentado no senado pelo Senador Benedito Ferreira, aprovado na Câmara e no Senado e, mais uma vez, vetado pelo presidente. Os dois vetos foram justificados com os argumentos de que a criação de mais um estado implicaria em ônus para os cofres públicos e da inviabilidade econômica do novo estado que não dispunha de recursos suficientes para sustentar-se. Em protesto contra o segundo veto do presidente os deputados Siqueira Campos e Totó Cavalcante iniciaram greve de fome, chamando a atenção da mídia de todo o país e sensibilizando a opinião pública em favor da criação do estado do Tocantins. A CONORTE mobilizou as lideranças conclamando para uma cruzada de mobilizações populares e realizou seminários e conferências nas universidades de Goiás demonstrando a falta de fundamentação nas justificativas do veto presidencial que, mais uma vez, adiou o sonho dos tocantinenses. Em junho de 1986, a Comissão de Redivisão Territorial, coordenada pelo Ministério do Interior, concluiu ser inviável a criação do estado do Tocantins mas acenou com a possibilidade de se instalar o Território do Tocantins. A maioria das lideranças era contrária a essa posição. Articularam-se, então, para a aprovação do projeto de criação do novo estado pela Assembléia Nacional Constituinte de 1987. A criação do Estado do Tocantins - 1988 O ano foi 1987. As lideranças souberam aproveitar o momento oportuno para mobilizar a população em torno de um projeto de existência quase que secular e pelo qual lutaram muitas gerações: a autonomia política do norte goiano já batizado "Tocantins". A CONORTE apresentou à Assembléia Constituinte uma Emenda Popular com cerca de 80 mil assinaturas como reforço à proposta de criação do estado. Foi criada a União Tocantinense, organização suprapartidária com o objetivo de conscientização política em toda a região norte para lutar pelo Tocantins também através de Emenda Popular. Com objetivo similar, nasceu o Comitê Pró-Criação do Estado do Tocantins que conquistou importantes adesões para a causa separatista. "O povo nortense quer o Estado do Tocantins. E o povo é o juiz supremo. Não há como contestá-lo", reconhecia o governador de Goiás na época, Henrique Santilo (SILVA, 1997,
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p.237). Em junho, o deputado Siqueira Campos, relator da Subcomissão dos Estados da Assembléia Nacional Constituinte, redige e entrega ao presidente desta Assembléia, o deputado Ulisses Guimarães, a fusão de emendas criando o Estado do Tocantins que foi votada e aprovada no mesmo dia. Pelo artigo 13 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, em 05 de outubro de 1988, nascia o Estado do Tocantins: Art.13. É criado o Estado do Tocantins, pelo desmembramento da área descrita neste artigo, dando-se sua instalação no quadragésimo sexto dia após a eleição prevista no § 3º, mas não antes de 1º de janeiro de 1989. § 1º O Estado do Tocantins integra a Região Norte e limita-se com o Estado de Goiás pelas divisas norte dos Municípios de São Miguel do Araguaia, Porangatu, Formoso, Minaçu, Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Campos Belos, conservando a leste, norte e oeste as divisas atuais de Goiás com os Estados da Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e Mato Grosso. § 2º O Poder Executivo designará uma das cidades do Estado para sua capital provisória até a aprovação da sede definitiva do governo pela Assembléia Constituinte. § 3º O Governador, o Vice-Governador, os Senadores, os Deputados Estaduais serão eleitos, em um único turno, até setenta e cinco dias após a promulgação da Constituição, mas não antes de 15 de novembro de 1988, a critério do Tribunal Superior Eleitoral (...). § 4º Os mandatos do Governador, do Vice-Governador, dos Deputados Federais e Estaduais eleitos na forma do parágrafo anterior extinguir-se-ão concomitantemente aos das demais unidades da Federação; o mandato do Senador eleito menos votado extinguir-se-á nessa mesma oportunidade, e o dos outros dois, juntamente com o dos Senadores eleitos em 1986 nos demais Estados. § 5º A Assembléia Estadual Constituinte será instalada no quadragésimo sexto dia da eleição de seus integrantes, mas não antes de 1º de janeiro de 1989, sob a presidência do Presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Estado de Goiás, e dará posse, na mesma data, ao Governador e ao Vice-Governador eleitos. § 6º Aplicam-se à criação e instalação do Estado do Tocantins, no que couber, as normas legais disciplinadoras da divisão do Estado de Mato Grosso, observado o disposto no art. 234 da Constituição. § 7º Fica o Estado de Goiás liberado dos débitos e encargos decorrentes de empreendimentos no território do novo Estado, e autorizada a União, a seu critério, a assumir os referidos débitos. A eleição dos primeiros representantes tocantinenses foi realizada em 15 de novembro de 1988, pelo Tribunal Regional Eleitoral de Goiás, junto com as eleições dos prefeitos municipais. Além do Governador e seu vice, foram escolhidos os Senadores e Deputados Federais e Estaduais. A cidade de Miracema do Norte, localizada na região central do novo estado, foi escolhida como capital provisória. No dia 1º de janeiro de 1989 foi instalado o Estado do Tocantins e empossados o Governador, José Wilson Siqueira Campos; seu vice, Darci Martins Coelho; os senadores Moisés Abrão Neto, Carlos Patrocínio e Antônio Luiz Maya; juntamente com oito deputados federais e vinte e quatro deputados estaduais. Ato contínuo, o Governador assinou decretos criando as Secretarias de Estado e viabilizando o funcionamento dos Poderes Legislativo e Judiciário e dos Tribunais de Justiça e de Contas. Foram nomeados o primeiro Secretariado e os primeiros Desembargadores. Também foi assinado decreto mudando o nome das cidades do novo estado que tinham a identificação "do Norte" e passaram para "do Tocantins". Foram alterados, por exemplo, os nomes de Miracema do Norte, Paraíso do Norte e Aurora do Norte para Miracema do Tocantins, Paraíso do Tocantins e Aurora do Tocantins. No dia 5 de outubro de 1989, foi promulgada a primeira Constituição do estado, feita nos moldes da Constituição Federal. Foram criados mais 44 municípios além dos 79 já existentes. Atualmente o estado possui 139 municípios. Foi construída, no centro geográfico do estado, numa área de 1.024 Km2 desmembrada do município de Porto Nacional, a cidade de Palmas, para ser a sede do Governo estadual. Em 1º de janeiro de 1990, foi instalada a capital.
O desbravamento da região A colonização do Brasil se deu dentro do contexto da política mercantilista do século XVI que via no comércio a principal forma de acumulação de capital, garantido, principalmente, através da posse de colônias e de metais preciosos. Além de desbravar, explorar e povoar novas terras os colonizadores tinham também uma justificativa ideológica: a expansão da fé cristã. "Explorava-se em nome de Deus e do lucro, como disse um mercador italiano" (AMADO, GARCIA, 1989, p.09). A preocupação em catequizar as
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populações encontradas foi constante. A colônia brasileira, administrada política e economicamente pela metrópole, tinha como função fornecer produtos tropicais e/ou metais preciosos e consumir produtos metropolitanos. Portugal, então, iniciou a colonização pela costa privilegiando a cana de açúcar como principal produto de exportação. Enquanto os colonizadores portugueses se concentravam no litoral, no século XVII ingleses, franceses e holandeses conquistavam a região norte brasileira estabelecendo colônias que servissem de base para posterior exploração do interior do Brasil. Os franceses, depois de devidamente instalados no forte de São Luís na costa maranhense, iniciam a exploração dos sertões do Tocantins. Coube a eles a descoberta do Rio Tocantins pela foz no ano de 1610 (RODRIGUES, 2001). O rio Tocantins foi um dos caminhos para o conhecimento e exploração da região onde hoje se localiza o Estado do Tocantins. Nasce no Planalto Central de Goiás e corta, no sentido sul-norte, todo o território do atual Estado do Tocantins. Só mais de quinze anos depois dos franceses foi que os portugueses iniciaram a colonização da região pela "decidida ação dos jesuítas". E ainda no século XVII os padres da Companhia de Jesus fundaram as aldeias missionárias da Palma (Paranã) e do Duro (Dianópolis) (SECOM, 1998).
Diversas expedições "entradas", "descidas" e "bandeiras" percorreram a região. Estas expedições eram de caráter oficial destinadas a explorar o interior e buscar riquezas minerais ou de particulares organizadas para a captura de índios. De Belém partiam expedições de exploradores e jesuítas pelo rio Amazonas chegando até os rios Tocantins e Araguaia. Dos sertões da Bahia, Pernambuco e Piauí, seguindo os cursos dos rios, se expandiam para a região as fazendas de gado. De São Paulo saíam as bandeiras em canoas pelos rios Paranaíba-Tocantins-Araguaia até voltarem pelo Tietê a São Paulo. "Naquele tempo, uma dessas viagens podia demorar-se dois ou três anos" (PALACIN, 1989, p.06). Mais tarde depois de 1630 introduziu-se o uso de mulas e as bandeiras preferiram a viagem por terra. Jesuítas, criadores de gado e bandeirantes, foram os desbravadores da região ainda no século XVII. Poucos contribuíram, na época, para o seu povoamento, muito para a sua posterior exploração. Até o início do século XVIII, a força motivadora para a exploração da região foi predominantemente o índio. Os bandeirantes aproveitando a extinção destes nos grandes centros colonizadores da costa - Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro - e a dificuldade de importação, em certos períodos, de negros da África, transformaram a sua captura num lucrativo negócio para atender a demanda de mão-de-obra na lavoura. Como subproduto destas expedições os bandeirantes retornavam, algumas vezes, com pequenas quantidades de ouro de aluvião dos rios, principalmente do Araguaia, contribuindo para despertar lendas sobre o metal. Como os bandeirantes, os jesuítas também iam à busca de índios. Como eles, tampouco se fixaram no território. Procuraram tão só "descer" as tribos para suas aldeias no Pará (PALACIN, 1979, pp. 15-16). Destes desbravadores, somente os criadores de gado vieram com a intenção de se fixar na região. A criação de gado antecedeu a mineração. "Quando na terceira década do século XVIII acontecia a descoberta de ouro no Sul do Tocantins, a região já detinha um extenso corredor de picadas para os caminhos de gado entre Piauí, Maranhão e as ribeiras do rio São Francisco" (SILVA, 1997, p. 25). Os currais de gado deram origem aos primeiros núcleos coloniais "quando a região é sacudida com a febre do ouro de aluvião", completa Silva. Só no final do século XVII e início do século XVIII que bandeirantes com objetivo de descobrir metais nobres tiveram a preocupação em fixar núcleos estáveis no interior do Brasil. Mas a ocupação econômica e o povoamento efetivo só se dariam a partir da segunda década do século XVIII com base na exploração do ouro dentro do contexto da 16 / 49
política mercantilista. Com a exploração e ocupação da região se deu simultaneamente a destruição dos povos indígenas, seus primeiros habitantes. Fugindo da ação depredadora da colonização do litoral muitos grupos indígenas migraram para o interior do Brasil. Nos séculos XVII e XVIII o avanço da colonização foi marcado por três fases: "Na primeira, na época dos bandeirantes os índios foram atraídos amistosamente e contribuíram bastante para a localização das minas. Na segunda fase, como os brancos já não dependiam dos nativos para chegarem às minas houve conflitos armados, pois era intenção do branco limpar as áreas a serem exploradas. Posteriormente , a partir da segunda metade do século XVIII tiveram vez os aldeamentos como uma tentativa de os brancos de resolver o problema da mão-de- obra e do povoamento daquelas regiões com baixa densidade populacional" (PARENTE, 1999, p.69). E este avanço impôs, quase sempre, aos índios um destino trágico: a fuga, a migração, o aldeamento, a escravidão ou o extermínio por doenças, guerras, desapropriação, tristeza, suicídio, etc. Poucos sobreviveram. Vivem atualmente no Estado do Tocantins os Xerente (Povo Akwen), os Karajá, Javaé, Xambioá (Povo Iny), os Apinajé (Povo Panhi) e os Krahô (Povo Meri). Os Apinajé estão localizados nos municípios de Tocantinópolis, Maurilândia e Cachoeirinha; os Krahô nos municípios de Itacajá e Goiatins; os Xerente próximos ao município de Tocantínia; e os Karajá e Javaé na Ilha do Bananal e os Xambioá no município de mesmo nome (BARROSO, 1999).
Manifestações culturais A Cultura do Tocantins O Tocantins revela-se rico em manifestações culturais graças a grande miscigenação de culturas, oriundas de todos os Estados brasileiros. Festas como a do Senhor do Bonfim (em Natividade e Araguacema) e as Cavalhadas (Taguatinga no sul do Estado) preservam o legado cultural de nosso povo. Saiba mais sobre estes festejos nos links abaixo.
A Folia de Reis A Folia de Reis comemora o nascimento de Jesus Cristo encenando a visita dos três Reis Magos à gruta de Belém para adorar o menino-Deus. Dados a respeito desta festa afirmam que a sua origem é portuguesa e que em Portugal tinha um caráter de diversão, era a comemoração do nascimento de Cristo. Em Portugal, de 24 de dezembro a 6 de janeiro, dia de Santos Reis, grupos de instrumentistas e cantadores com viola, violão, sanfona, reco-reco, triângulo e cavaquinho, saem às ruas entoando versos relativos à visita dos Reis Magos ao menino Jesus. O grupo é composto por um mestre que comanda os foliões, pelos músicos e por um palhaço que, com seu jeito dissimulado, deve proteger o menino Jesus confundindo os soldados de Herodes. Esse grupo passa de porta em porta recolhendo as oferendas. Os foliões carregam a bandeira - um estandarte de madeira enfeitado com motivos religiosos. O ponto alto da festa acontece quando dois grupos se encontram e juntos caminham para o presépio, ponto final da caminhada. No Brasil, a Folia de Reis chega no século XVIII, com caráter mais religioso do que de diversão. No Tocantins, os foliões de Reis têm o Alferes como responsável pela condução da bandeira, que sai pelo sertão "tirando a folia", ou seja, cantando e colhendo donativos para a reza de Santos Reis, realizada sempre no dia 06 de janeiro. A Folia de Reis, diferentemente do giro do Divino Espírito Santo, acontece em função de pagamento de promessa pelos devotos e somente à noite. O compromisso pode ser para realizar a folia apenas uma vez ou todos os anos. A folia visita as famílias de amigos e parentes. Os foliões chegam à localidade, se apresentam tocando, cantando e dançando. A família recebe a bandeira, o anfitrião percorre com ela toda a casa, guardando-a em seguida, enquanto aos foliões são servidos bolos, biscoitos e bebidas que os mantêm nas suas andanças pela noite. Ao se retirarem, o proprietário da casa devolve a bandeira e os foliões agradecem a acolhida,
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repetindo o gesto da entrada. Quando o dia amanhece, os foliões retornam às suas casas para descansar e, ao anoitecer, retomam as andanças. Quando termina o roteiro da folia, realiza-se a festa de encerramento na residência da pessoa que fez a promessa. Neste momento reza-se o terço, com a presença dos foliões e dos convidados, em frente ao altar ornamentado com flores, toalhas bordadas e a bandeira dos Santos Reis. Em seguida, é servido um jantar com uma mesa especial para os foliões. Alguns pagadores de promessa após as orações realizam um baile dançante. A tradição é muito forte: os mais velhos acreditam serem os Santos Reis, os protetores contra a peste, a praga na lavoura e, principalmente, os responsáveis pela prosperidade, fartura e muito dinheiro. Cântico dedicado aos Santos Reis Oi de casa, oi de fora Se tiver gente doente Me diga que vou embora Senhora dona de casa Com essa são duas vezes (bis) Saia na porta da rua E receba Santos Reis Senhora dona de casa Está no seu sono primeiro(bis) Sua filha mais velha Está com a mão no travesseiro Eu cheguei na vossa porta Pus a mão na fechadura (bis) Levante quem está dormindo Me perdoe as confianças.
Caretas OS MASCARADOS EM PORTUGAL Há dados históricos a respeito de uma festa, ainda hoje realizada em Portugal, chamada entrudo, onde só participavam homens usando máscaras, os caretos. Acontecia no Domingo gordo e na terça-feira de carnaval. Nestes dias de festa os caretos só paravam para matar a sede ou para combinar novas investidas à praça central onde a população local e os forasteiros se juntavam para assistir ao ritual. Nesse período o que prevalecia era a agitação e a indisciplina. Na festa do entrudo, a máscara conferia todo poder aos membros do grupo. Eles saíam às ruas e ditavam as regras dos acontecimentos. Ninguém conseguia se opor à ira dos caretos. Apenas mulheres vestidas de homens, ou vice-versa, eram poupadas da investida dos caretos. Estes se lançavam de assalto às moças, encostando-se a elas, desenvolvendo uma dança erótica, agitando a cintura e fazendo embater os chocalhos, que trazem pendurados. Nesse momento, o que se tinha a fazer era não resistir e deixar o corpo ser levado no balanço do ritual. Os caretos invadiam casas e adegas fazendo ecoar por toda aldeia o alarido de seus chocalhos. No Tocantins, percebe-se que houve uma transposição do uso das máscaras para diversas festas, como o entrudo, a cavalhada, a festa de nossa senhora do Rosário, em Monte do Carmo e a festa dos caretas em Lizarda e Angico. Os mascarados ou caretas como são chamados no Brasil, aparecem nessas festas com o mesmo intuito, ou seja, o de definir as regras das manifestações. Seja como um ponto de partida para o início das festividades, como acontece nas cavalhadas e na festa de Nossa Senhora do Rosário; no entrudo em Arraias definindo o ritmo da algazarra ou em Lizarda na proteção da quinta. O ENTRUDO Existem várias explicações para a origem do carnaval. Uma dessas versões diz que o carnaval tem origem no mundo cristão medieval, quando tinha um período de festas profanas que se estendia desde o dia de Reis até a quarta-feira de cinzas, quando inicia os jejuns da quaresma. Essa festa foi introduzida no Brasil pelos imigrantes das ilhas portuguesas da Madeira, Açores e Cabo Verde. Arraias, no sul do Estado do Tocantins, ainda, realiza esse folguedo carnavalesco que consiste em lançar uns nos outros água, farinha, tinta, etc.
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O entrudo de Arraias fazia-se com laranjinhas de parafina, espécie de bolinhas feitas de cera de abelha, com um orifício para enchê-las de água perfumada e depois atirar de surpresa nas pessoas. Com o tempo esse costume foi sendo transformado: a água perfumada foi substituída pela água pura e, às vezes, gelada, passando a ser jogada em pessoas do sexo oposto, numa verdadeira guerra dos sexos. Grupos de foliões saem às ruas ao som das sanfonas e outros grupos acompanhados pela banda da polícia militar. Os foliões batem de porta em porta à procura de pessoas para serem molhadas, aumentando o cordão carnavalesco do entrudo. A FESTA DOS CARETAS Os caretas são homens que usam máscaras confeccionadas em couro, papel ou cabaça com o objetivo de provocar medo nas pessoas. Participam, em Lizarda, da festa que acontece, tradicionalmente, durante a semana santa, na Sexta-Feira da Paixão. Monta-se um cenário, um semicírculo com pés de bananeira, chamado pelos caretas de quinta atrativa, onde se coloca pedaços de cana de açúcar. Neste se desenrola um verdadeiro espetáculo teatral. Os caretas perseguem com pinholas, uma espécie de chicote feito de sola ou trançados de palha de buriti, as pessoas que tentam invadir a quinta para roubar a cana. A proteção da cana pelos caretas pode ter relação com a crença da população de que no calvário de Jesus Cristo ele foi açoitado com pedaços de cana. Na encenação os caretas tentam impedir esse sofrimento. Faz parte dos caretas personagens como a catita e a égua. Catita é um homem trajando roupas femininas, é a mulher dos caretas, uma mulher vadia, que fica se oferecendo para os homens que estão assistindo a encenação e, enquanto estes ficam envolvidos, os caretas chegam e açoitam com seus chicotes os distraídos. A égua usa a roupa de um bicho muito feio. Este personagem pega a caveira de um animal que já morreu há algum tempo, prende a sua cabeça a um pau e amarra uma corda de maneira que puxando se abre e fecha a boca do animal. Com isso ameaça morder as pernas dos espectadores, assustando-os. Os caretas ficam observando quando morre um animal para escolher a caveira. O que mais diverte os presentes é a passagem da égua, devido ao mal cheiro e as mordidas do animal. D. Isolda, moradora de Lizarda, diz que todo mundo assombra, mas se diverte. A diversão e o medo estão presentes no decorrer de todo o evento. Isso aparece também quando alguém tenta roubar a cana. Só os bons corredores escapam. E continuam as tentativas de roubar a quinta e as surras de pinhola até a madrugada de Sábado da Aleluia.
Catira ou Sussia Os movimentos dessa dança lembram, portanto, a retirada de formigas que invadem os corpos dos pares, num bailado sensual, leve e ao mesmo tempo frenético, uma vez que apenas insinua o toque. A dança é a eterna busca da conquista do par. A sússia na Folia do Divino é dançada ao som da viola, do pandeiro e do roncador, instrumento artesanal feito de tronco de árvore, que tem a mesma marcação do surdo. Também é dançada ao som do tambor em outras manifestações populares, como na festa de Nossa Senhora do Rosário.
Cavalhadas Na Idade Média, os árabes foram denominados genericamente de mouros. Estes povos invadiram a Europa por volta do século VIII e só foram banidos do continente europeu no século XV. As cavalhadas representam a luta entre o exército de Carlos Magno e os mouros. Carlos Magno foi coroado Imperador do Ocidente no ano 800 pelo Papa Leão III. Alguns autores acreditam que as cavalhadas tenham sido introduzidas no Brasil pelos padres jesuítas como meio de facilitar a catequese através da junção entre o sagrado e o profano. Em Taguatinga, no sul do Estado do Tocantins, as Cavalhadas tiveram início em 1937. Acontecem durante a festa de Nossa Senhora da Abadia, nos dia 12 e 13 de agosto. O ritual se inicia com a benção do sacerdote aos cavalheiros; a entrega ao imperador das lanças usadas nos treinamentos para a batalha simbolizando que estes estão preparados para se apresentar em louvor a Nossa Senhora da Abadia e em honra ao imperador. O ritual da luta entre mouros e cristãos é antecedido pelo desfile dos caretas, grupo de mascarados representando bruxas, caras de boi com chifres e outros animais. Os cavalos, usados pelos caretas, são enfeitados com flores e portam instrumentos que produzem um barulho que os identifica.
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Os cavalheiros que participam do ritual das Cavalhadas, ao contrário dos mascarados, são quase sempre os mesmos. Nas Cavalhadas tem-se a figura do rei, do embaixador e dos guerreiros. Todos desfilam sobre cavalos paramentados com selas cobertas por mantas bordadas e, sobre os olhos dos animais há uma máscara toda trabalhada em cor prata enfeitada com penas vermelhas e amarelas. As Cavalhadas são formadas por vinte e quatro cavalheiros, distinguindo os mouros na cor vermelha e os cristãos na cor azul. Doze cavalheiros representam os cristãos e, os outros doze, os mouros. Os cristãos trajam camisa azul de cetim com enfeites dourados; calça branca com botas azuis e enfeites dourados. Na cabeça, um cocar cor prata ou ouro com penas coloridas. Os mouros usam camisa de cetim ou lamê prata brocado, capa vermelha com bordados de ouro e calça vermelha com bordados e botas prateadas; na cabeça um cocar cor prata ou ouro com penas coloridas. A espada e a lança usadas durante a encenação do combate complementam a indumentária dos cavalheiros.
Congo ou Congadas De origem africana, porém, com influência ibérica o Congo já era conhecido em Lisboa entre 1840 e 1850. Popular no Nordeste e Norte do Brasil, durante o Natal e nas festividades de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. A Congada é a representação da coroação do rei e da rainha, eleitos pelos escravos e da chegada da embaixada que motiva a luta entre o partido do rei e do embaixador; vence o rei, perdoa-se o embaixador. Termina com o batizado dos infiéis. Os motivos dramáticos da dança do Congo baseiam-se na história da rainha Ginga Bandi que governou Angola no século XVII. Ela decidiu, certa vez, enviar uma representação atrevida ao rei D. Henrique de Portugal. Seu filho, o heróico príncipe Suena é morto durante essa investida. O Quimboto (feiticeiro) o ressuscita. Na dança do congo só os homens participam, cantando músicas que lembram fatos da história de seu país. A congada é composta por doze dançarinos. O vestuário usado pelos componentes do grupo é bem colorido e cada cor tem o seu significado. Azul e branco são as cores de Nossa Senhora do Rosário. O vermelho representa a força divina. Os adornos na cabeça representam a coroa. O xale sobre os ombros representa o manto real. Em Monte do Carmo o Congo é acompanhado por mulheres, chamadas de taieiras. Essas dançarinas usam trajes semelhantes aos usados pelas escravas que trabalhavam na corte. Trajam blusas quadriculadas em tom de azul e saias brancas rodadas, colares de várias cores e na cabeça turbante branco com uma rosa pendurada. Os dois grupos se apresentam juntos, nas ruas, durante o cortejo do Rei e da Rainha na festa de Nossa Senhora do Rosário. Cantiga do Congo Baias, bainhas e conguinhos Baias com tanto fervor Baias que já está nascendo O Nosso Grande Salvador Baias, bainhas e conguinhos Neste claro e belo dia Nasceu Jesus, filho da Virgem Maria. O tatu cangerê que zoa no ar Trepe quizépes, tornou a requebrar A rainha do congo que veio do Pará Trepe quizépes, tornou a requebrar O calango mutingo, calango no ar Trepe quizépes, tornou a requebrar
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Amanhã eu vou embora bebê Aruê juncongela bebê Eu vou embora, eu vou, eu vou bebê Aruê juncongela bebê E olha o rei mais a rainha bebê Aruê juncongela bebê Mas eu vou bebê Aruê juncongela bebê São Benedito sabia sobiar Saia fora e venha ver E quem festeja neste ano É o Divino Espírito Santo Alô, alô, lá no céu E o Santo que está na igreja.
Festa do Divino Espírito Santo A celebração do Divino Espírito Santo, como festa popular de cunho religioso, tem sua origem no catolicismo português. Relatos de Portugal contam que a rainha Isabel e seu marido D. Diniz teriam feito no século XIV uma promessa de alimentar os famintos e oferecer a sua coroa ao Divino Espírito Santo em troca de paz. Nessa época Portugal e Espanha travavam uma guerra de quase cem anos. O objetivo foi alcançado e a promessa cumprida. Dessa forma teve início a devoção ao Divino Espírito Santo que se difundiu em solo português, chegando ao Brasil no século XVI. A rigor, a festa do Divino deveria coincidir com o Domingo de Pentecostes no calendário católico, que ocorre aproximadamente 50 dias após a Páscoa, ou seja, num prazo que compreenderia exatamente os 40 dias do giro da folia e o novenário. No Brasil, no entanto, as folias têm datas variadas. No Estado do Tocantins vão de janeiro a julho, de acordo com as características de cada localidade. Essas festas são realizadas em várias cidades, com destaque para Monte do Carmo e Natividade. Em Monte do Carmo a celebração ao Divino Espírito Santo foi aproximada à época da festa da padroeira da cidade, passando a ter data fixa para a sua realização, dia 16 de julho. Natividade mantém a tradição da data móvel. As folias do Divino anunciam a presença do Espírito Santo. As romarias conduzem a bandeira. O giro da folia representa as andanças de Jesus Cristo e seus doze apóstolos durante 40 dias, levando a sua luz e a sua mensagem, convidando todos para a festa, a festa da hóstia consagrada. Os foliões que representam os apóstolos andam em grupo de doze ou mais homens, conduzidos pelo alferes, em jornada pelo sertão. Esse grupo percorre as casas dos lavradores, abençoando as famílias e unindo-as em torno da celebração da festa que se aproxima. Saem a cavalo pelas trilhas e estradas, quando chegam às fazendas para o pouso, alinham os cavalos no terreiro e cantam a licença, pedindo ritualmente acolhida. Durante o giro os foliões recolhem donativos para a festa. Canto do Agasalho, pedindo acolhida para o pouso. Oh! Que noite tão serena Oh! Que hora tão de prendá Divino Espírito Santo Visite sua fazenda Deus vos salve fazendeiro Morador desse lugar E aí vem o Divino Espírito Santo Somente pra visitar Deus nos salve felizmente Este nobre fazendeiro Divino Espírito Santo Que é o nosso pai verdadeiro Inda agorinha cheguemos Na beira do seu terreiro Queremos brincar um pouco Licença peço primeiro Ah dê licença meu Divino
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Pra seus foliões brincar Toda casa tem grande gosto E seus corações alegrar Alegrai o céu e a terra Recebei com alegria Divino Espírito Santo Filho da Virgem Maria Divino chegou do giro Com ele trouxe a folia Ele vem aí pedindo um pouso De uma noite para um dia... Os foliões cantam também em agradecimento ao pouso, à acolhida e às refeições. Canto Bendito da Refeição: Pela primeira palavra Que os anjos me disseram Na cabeceira da mesa Faz a vênia meus alferes Com sua bandeira na mão Bençoai o pessoal Os alferes com os foliões Me dê licença meu povo Que agora vamos rezar Contrito no coração Pra nossas almas se salvar Peço licença de novo A maior e mais pequena Quero agradecer a mesa Que nela nós já jantemos Quando for noutro mundo (... agradece) Deus vos pague a bela janta Dada de bom coração Que nos deu pra meus alferes Com todos seus foliões Deus vos pague a bela janta Deus vos pague mais outra vez Deus lhe dê vida e saúde...
Festa de Nossa Senhora da Natividade As manifestações culturais no Estado do Tocantins estão quase sempre atreladas às festas em comemoração aos santos da igreja católica. A festa de Nossa Senhora da Natividade é uma celebração eminentemente religiosa. A devoção a Nossa Senhora e a história da sua imagem existente em Natividade, onde é festejada há quase três séculos, no dia 8 de setembro, motivaram a eleição desta como Padroeira do Tocantins. Como a palavra Natal, Natividade significa nascimento e em Portugal ficou reservada para indicar o nascimento da Virgem Maria. A igreja católica celebra o nascimento da mãe de Jesus, desde o ano 33 da era cristã. "Esta festa de Nossa Senhora teve origem no Oriente. A documentação escrita a respeito não é muito clara. É provável que ela remonte à comemoração feita à inauguração da igreja de Santa Ana, em Jerusalém, erguida no século V, no lugar que a tradição indicava ter sido ali a casa de Santa Ana e, portanto, seria o local do nascimento da Virgem Maria". (BRAGA, 1994, p.17). A Virgem Maria passa a ser comemorada no Ocidente no século VII, quando o Papa Sérgio I, de origem oriental, compõe uma ladainha para a festa e introduz procissão no dia dedicada à santa. A comemoração a Nossa Senhora da Natividade está relacionada à festa da Imaculada Conceição de Maria, celebrada em 8 de dezembro. Nove meses depois, comemora-se Nossa Senhora da Natividade. Esse intervalo diz respeito ao período de gestação de Maria no ventre de Santa Ana. Os devotos acreditam que Maria, como mãe de Jesus, preservada do pecado original, merece ser
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cultuada. "Por isso a festa da Natividade de Maria se espalhou por todo Ocidente, chegando a Portugal. De Portugal passou para o Brasil, onde ficou sendo dia santo de guarda até o advento da República" (BRAGA, 1994, p. 18). A imagem de Nossa Senhora da Natividade foi trazida, pelos jesuítas, para o norte da província de Goiás, em 1735. Foi a primeira a entrar nessa região, em embarcações pelo rio Tocantins, depois nos ombros dos escravos até ao pé da serra onde se erguia o povoado denominado de Vila de Nossa Senhora da Natividade, Mãe de Deus. Mais tarde São Luiz e, depois, Natividade. Essa imagem é a mesma, venerada, ainda hoje, na Igreja Matriz. Com a criação do Estado do Tocantins, a população de Natividade junto com o clero tocantinense e o recém-criado Conselho de Cultura, desenvolveram campanha para tornar a já venerada Nossa Senhora da Natividade em padroeira do Estado. D. Celso Pereira de Almeida, Bispo Diocesano de Porto Nacional envia, em março de 1992, solicitação ao Papa João Paulo II, expressando o desejo dos devotos de Nossa Senhora, de vê-la consagrada padroeira do seu novo Estado. Diz D. Celso "sendo nosso povo católico, na grande maioria, e devoto de Nossa Senhora, temos, nós Bispos, recebidos freqüentes apelos, a fim de pedirmos a Vossa Santidade se digne declarar Nossa Senhora, sob a invocação de Nossa Senhora da Natividade, Padroeira principal deste Estado". Acrescenta ainda D. Celso na sua justificativa , que os habitantes do sul do Estado "veneram com muito afeto, a imagem de Nossa Senhora da Natividade, trazida para a nossa região pelos missionários Jesuítas. Esta devoção é sempre viva no nosso povo". (BRAGA, 1994, p. 14). A solicitação foi aceita pelo Vaticano e em 15 de agosto de 1992 D. Celso oficializa, durante a Romaria do Bonfim, em Natividade, Nossa Senhora da Natividade Padroeira Principal do Tocantins. A festa à Padroeira Nossa Senhora da Natividade acontece de 30 de agosto a 8 de setembro. Durante os festejos acontece o novenário e são montadas barracas onde se faz leilões. É celebrada missa solene no dia dedicado a santa. As comemorações acontecem na igreja matriz de Natividade, uma das mais antigas do Estado datada de 1759. A imagem de Nossa Senhora da Natividade foi trazida, pelos jesuítas, para o norte da província de Goiás, em 1735. Foi a primeira a entrar nessa região, em embarcações pelo rio Tocantins, depois nos ombros dos escravos até ao pé da serra onde se erguia o povoado denominado de Vila de Nossa Senhora da Natividade, Mãe de Deus. Mais tarde São Luiz e, depois, Natividade. Essa imagem é a mesma, venerada, ainda hoje, na Igreja Matriz. Com a criação do Estado do Tocantins, a população de Natividade junto com o clero tocantinense e o recém-criado Conselho de Cultura, desenvolveram campanha para tornar a já venerada Nossa Senhora da Natividade em padroeira do Estado. D. Celso Pereira de Almeida, Bispo Diocesano de Porto Nacional envia, em março de 1992, solicitação ao Papa João Paulo II, expressando o desejo dos devotos de Nossa Senhora, de vê-la consagrada padroeira do seu novo Estado. Diz D. Celso "sendo nosso povo católico, na grande maioria, e devoto de Nossa Senhora, temos, nós Bispos, recebidos freqüentes apelos, a fim de pedirmos a Vossa Santidade se digne declarar Nossa Senhora, sob a invocação de Nossa Senhora da Natividade, Padroeira principal deste Estado". Acrescenta ainda D. Celso na sua justificativa , que os habitantes do sul do Estado "veneram com muito afeto, a imagem de Nossa Senhora da Natividade, trazida para a nossa região pelos missionários Jesuítas. Esta devoção é sempre viva no nosso povo". (BRAGA, 1994, p. 14). A solicitação foi aceita pelo Vaticano e em 15 de agosto de 1992 D. Celso oficializa, durante a Romaria do Bonfim, em Natividade, Nossa Senhora da Natividade Padroeira Principal do Tocantins. A festa à Padroeira Nossa Senhora da Natividade acontece de 30 de agosto a 8 de setembro. Durante os festejos acontece o novenário e são montadas barracas onde se faz leilões. É celebrada missa solene no dia dedicado a santa. As comemorações acontecem na igreja matriz de Natividade, uma das mais antigas do Estado datada de 1759.
Festejos de Nossa Senhora do Rosário A cidade de Monte do Carmo, nascida arraial do Carmo, fundada em 1746, em função das minas de ouro e distante 89 km da Capital do Estado, Palmas, realiza todos os anos, no mês de julho, os Festejos de Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora do Carmo e Divino Espírito Santo. A festividade secular mistura fé e folclore, através de uma série de rituais que reúnem costumes religiosos dos brancos europeus e dos negros africanos, o que transforma a festa em uma atração única, mantida com fidelidade pela população local. Há informações de que essas manifestações, ainda hoje realizadas em datas específicas, com o passar do tempo foram se juntando e
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passando a ser comemoradas no período de 7 a 18 de julho. Nossa Senhora do Carmo, padroeira da cidade, celebrada em 16 de julho, trouxe para sua festa as comemorações ao Divino Espírito Santo e Senhora do Rosário. Acredita-se que isso aconteceu devido às dificuldades da população do sertão de ir às festas em datas diversas e da falta de padres para as celebrações. É possível afirmar que essa junção tenha acontecido há pelo menos 80 anos. CAÇADA Monte do Carmo possui uma forte influência das culturas portuguesa e africana, podendo lá vivenciar a cada ano, sons de bandas de músicas, de tambores, reco-recos, cuícas e tamborins e danças como congos, taieiras e sússia. Um dos pontos altos da festa é a Caçada da Rainha, onde em pleno dia, o cortejo é aberto por tocadores de tambor que vão ditando os passos do público no ritmo da sússia. No meio do povo os caretas – homens mascarados – divertem os adultos e aterrorizam as crianças. Somente depois surgem os “caçadores” e “caçadeiras”, montados em cerca de 40 cavalos e vestidos especialmente para este momento – mulheres de vestidos longos, em várias tonalidades, homens de preto e branco. No final do cortejo, o rei e a rainha da festa, também vestidos a caráter, se dirigem para uma área periférica de Monte do Carmo. Ali, quase duas mil pessoas permanecem por mais de duas horas cantando e dançando. A caçada é uma tradição secular. Conta a lenda que esta manifestação surgiu quando a imagem de Nossa Senhora do Rosário começou a desaparecer da igreja misteriosamente, sendo encontrada em seguida na Serra do Carmo. Na terceira vez, os negros foram buscá-la tocando tambores, cantando e dançando, o que encerrou a série de desaparecimentos. LENDAS, COSTUMES A influência negra também se faz presente nas congadas. Popular em todo o Brasil durante o Natal e nas festividades de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, a congada representa a coroação do rei e da rainha, eleitos pelos escravos, e a chegada do embaixador, fato que motiva a luta entre os partidários do rei e os do embaixador. Estes últimos são derrotados e batizados, e o embaixador é perdoado. De origem africana, a congada mais tradicional do Tocantins é realizada em Monte do Carmo, e com acompanhamento de mulheres, chamadas taieiras. Os dois grupos, congos e taieiras, se apresentam juntos, nas ruas, durante o cortejo do rei e da rainha. A cor da indumentária tem um significado especial: entre os congos, o azul e o branco são as cores de Nossa Senhora do Rosário e o vermelho representa a força divina. Os adornos na cabeça representam a coroa e o xale sobre os ombros, o manto real. Já as taieiras usam trajes semelhantes aos das escravas que trabalhavam na corte. São blusas quadriculadas em azul ou floridas, saias brancas rodadas, colares e turbantes.
No ritmo dos sertanejos Do sertão tocantinense surge a genuína cultura do povo. As origens podem ser diversas, mas as motivações quase sempre estão ligadas à devoção religiosa unida ao lazer. Em comum também está o desejo dos moradores das cidades mais antigas do Tocantins de manter vivas tradições como a catira, a sússia e a jiquitaia. É o caso dos Catireiros de Natividade e do Grupo de Jiquitaia de Santa Rosa, que se destacam por passar seus conhecimentos aos jovens. A origem da catira é encontrada nas tradições indígenas. Estes traços podem ser observados na música, nas coreografias e também no fato de somente os homens participarem do ritual. Em algumas tribos indígenas havia a proibição das mulheres participarem das danças e de entrarem nas casas de flauta, local onde se guardavam máscaras e instrumentos musicais indígenas e que serviam de hospedagem aos convidados de outras tribos nos intercâmbios artísticos. Repentistas Os catireiros são músicos repentistas que cantam seus poemas ao som do padeiro, da caixa e da viola. A catira é dançada em círculo formando pares que dançam ao som das mãos e dos pés, num sapateado compassado. É comum entre os grupos que fazem parte dos giros das folias de Reis e do Divino Espírito Santo. Nos momentos de descontração e lazer os foliões cantam seus versos e prosas. Segundo pesquisadores, os negros que viviam no Estado criaram a sússia, ou suça, como também é conhecida, representando a vida nas senzalas. Os dançarinos apresentam com utensílios que retratam o seu cotidiano. Fazem suas evoluções sustentando garrafas na cabeça ou carregando o
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quibando, espécie de peneira grossa de palha. Os dançarinos se apresentam aos pares, num semicírculo onde estão os músicos. Jiquitaia Na sússia dança-se a jiquitaia. Supõe-se que as senzalas fossem constantemente invadidas por uma espécie de formiga, conhecida como jiquitaia, e que estas subiam pelo corpo dos escravos provocando um movimento frenético na retirada dos insetos. Esse fato demonstra a imensa capacidade dos negros escravos em transformar a sua situação de dificuldade em danças que os desprendiam do cotidiano. Os movimentos dessa dança lembram, portanto, a retirada de formigas que invadem os corpos dos dançarinos, num bailado sensual, leve e ao mesmo tempo frenético, uma vez que apenas insinua o toque. A dança é a eterna busca do par.
Romaria do Bonfim No Tocantins, as romarias do Nosso Senhor do Bonfim acontecem nos municípios de Natividade e Araguacema. Em Natividade, a romaria remonta ao século XVIII com a formação dos primeiros arraiais. Existem diversas hipóteses a respeito da formação do povoado do Bonfim. Alguns acreditam que ele teria se originado de um santuário criado por fiéis ou de um núcleo missionário das irmãs carmelitas ou dos jesuítas. Os moradores da região afirmam que um vaqueiro teria encontrado nessa área, em local pantanoso, a imagem do Senhor do Bonfim em cima de um toco, pedaço de madeira. Essa imagem teria sido retirada várias vezes desse local e levada para Natividade, mas desaparecia e reaparecia no mesmo lugar onde foi encontrada. A crença nesses acontecimentos deu início à peregrinação para essa localidade. Em Natividade, a romaria do Senhor do Bonfim é realizada de 6 a 17 de agosto, no povoado do Bonfim situado a 22 Km da sede do município, onde vivem pouco mais de 100 pessoas. Esse pequeno povoado recebe em média 60 mil fiéis, vindos de várias regiões do Estado e do país. O ponto alto das comemorações do Bonfim, em Natividade, acontece no dia 15, com a celebração da missa campal, em louvor ao Senhor do Bonfim. No dia 16 em homenagem a Nossa Senhora da Conceição e no dia 17 ocorre a missa dos romeiros. Vários pagadores de promessa atravessam a pé os 22 Km de Natividade ao Bonfim para depositar as suas oferendas aos pés da imagem do santo. Araguacema As homenagens ao Senhor do Bonfim, no município do Araguacema, têm início em 1932, quando para lá chegou, vinda do estado do Maranhão, a família do Sr. Arcanjo Francisco Almeida com uma imagem do Bonfim. Seu filho, Natalino Francisco de Almeida, é o atual responsável pela manutenção do templo e pela guarda da imagem que pertence à família desde o século XIX. É ele quem conta sua história. Segundo o Sr. Natalino, essa imagem foi encontrada pelo bisavô de sua mãe quando este, junto com a sua família, fugia dos conflitos da Balaiada ocorrido no Maranhão, entre os anos de 1838 e 1841. O Sr. Natalino conta que, um dia, após longa caminhada, seu tataravô encontrou na mata uma vertente de água onde havia um oratório feito em pedra. Nele estava depositada uma imagem. Ele levou essa imagem consigo e após o término da Balaiada retornou à sua cidade de origem onde pediu ao padre para "batizá-la", ou seja, dá-lhe um nome. O padre batizou-a de Jesus do Bonfim e definiu o seu festejo para 15 de agosto. Desde então, a família faz a festa em sua devoção. A romaria do Senhor do Bonfim acontece no povoado do Bonfim, distante 40 Km de Araguacema. Atualmente para lá se deslocam cerca de dez mil pessoas. São romeiros das cidades vizinhas e do sul do Pará. O festejo inicia-se com o novenário e termina com a celebração da missa campal, em homenagem ao Nosso Senhor do Bonfim, no dia 15 de agosto. Hino ao Senhor do Bonfim:
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Refrão: Salve Bendito Rei das Nações Glorioso Senhor do Bonfim Somos vossos Romeiros em marcha Prá contemplar o vosso jardim. Somos marcados pelo batismo Da vossa redenção A preço do seu santo sangue Esperamos a consolação. Irmanemos nossos corações Numa só profunda oração Ao Cristo presente entre nós Prometendo-nos a salvação Salve todos os Romeiros presentes Que de longe vieram trazer Os seus voluntários tributos Para a Santa Igreja crescer Contemplamos com santa humildade Este misterioso encanto Deus pai na pessoa do filho Revelando no Espírito Santo. Eis aqui vossos peregrinos Prá pedir-vos e agradecer Por tudo que já recebemos Preparai para nos receber.
Roda de São Gonçalo Conta a lenda, que São Gonçalo reunia em Amarante, Portugal, várias mulheres que durante uma semana dançavam até a exaustão. O objetivo do santo era extenuar as mulheres para que no Domingo, dia do Senhor, elas ficassem em repouso e isentas de pecado. A lenda conta ainda que o santo tocava viola para as mulheres dançarem. No Brasil, a devoção a São Gonçalo vem desde a época do descobrimento. O seu culto deu origem à dança de São Gonçalo, cuja referência mais antiga data de 1718, quando na Bahia, assistiu-se um festejo com uma dança dentro da Igreja. No final os bailarinos tomaram a imagem do santo e dançaram com ela, sucedendo-se os devotos. Essa dança foi proibida, logo em seguida, pelo Conde de Sabugosa por associa-lá às festas, que se costumavam fazer pelas ruas públicas em dia de São Gonçalo. Homens brancos, mulheres, meninos e negros, com violas, pandeiros e adufes, com vivas a São Gonçalo. São Gonçalo tem para os seus devotos a tradição de santo casamenteiro. Inicialmente, a dança tinha um caráter erótico que com o tempo foi desaparecendo, permanecendo apenas o aspecto religioso. Em Arraias, no sul do Estado, a dança de São Gonçalo é chamada de "roda". E sempre se dança em pagamento a uma promessa. É dançada por mulheres em pares, vestidas de branco, com fitas vermelhas colocadas do ombro direito até a cintura. Nas mãos carregam arcos de madeira, enfeitados com flores de papel e iluminados com pavios feitos de cera de abelha. Também participam do ritual dois homens vestidos de branco com fitas vermelhas traspassadas. Os homens tocam viola e tem a função de acompanhar as dançarinas para que estas não se percam nas evoluções da dança. Os violeiros entoam versos em louvor a São Gonçalo, que fica colocado num altar preparado exclusivamente para a festa, em frente ao qual se faz as evoluções da "roda". Acompanha, ainda, a roda de São Gonçalo, um cruzeiro todo iluminado, colocado próximo ao altar.
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Monumentos Históricos Natividade, cidade Patrimônio Histórico Nacional desde 1987, localiza-se a sudeste do Estado do Tocantins a 218 Km da capital, Palmas. Única cidade no Estado tombada em instância nacional, faz parte do Programa Monumenta/BID, que tem como fundamento a preservação do Patrimônio Histórico Urbano Brasileiro. Como parte do desenvolvimento das ações prevista no Programa foram definidos alguns monumentos que sofrerão intervenção e/ou restauração devido tanto à sua importância no conjunto arquitetônico, como as Praças Leopoldo de Bulhões e da Bandeira, ou destacados como referências históricas como as ruínas da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, a Igreja de São Benedito, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Natividade, os prédios públicos onde funcionou a primeira cadeia, o primeiro paço municipal, o prédio onde hoje funciona a biblioteca pública e os prédios particulares como o do Sr. Alarico, que foi sede do Governo da Província do Norte, e o casarão de propriedade da Sra. Aquina que chama a atenção pela sua opulência e estado de decadência em que se encontra. Os dados que fundamentaram esse trabalho foram obtidos através de referências bibliográficas e em pesquisa de campo em Natividade entre os dias 28 e 31 de outubro de 2003 onde foram realizados levantamentos cartorial e paroquial e entrevistas com os moradores da comunidade, além de visitas in loco aos monumentos. Infelizmente não foi possível obter documentos históricos que pudessem comprovar o período de construção desses prédios, principalmente os de utilização pública. Segundo depoimentos os documentos referentes ao município encontram-se na Cidade de Goiás ou foram queimados ou danificados ao longo dos anos. Existem poucos relatos paroquiais e os que se encontram estão em péssimo estado de conservação. Todo o trabalho foi acompanhado pela Coordenadora da Unidade Executora do Programa, Simone Camêlo Araújo. A coordenadora ainda subsidiou esse trabalho com dados de pesquisa por ela realizada, bem como fotos e desenhos dos arquivos da UEP e da Associação Comunitária Cultural de Natividade - ASCCUNA. As informações coletadas nas entrevistas foram trabalhadas de acordo com o entendimento dos pesquisadores acerca das observações coletadas ao longo dos trabalhos de campo. Monumentos Natividade é um marco representativo das cidades do ciclo do ouro, o que pode ser percebido através da preservação do seu acervo urbano, arquitetônico e paisagístico. São obras preservadas que celebram o tempo em que foram criadas. O conjunto arquitetônico da cidade possui um caráter singelo, observado na proporção dos casarios e na ausência de monumentalidade das construções de função pública, conferindo harmonia ao conjunto. O processo de preservação através da ingerência pública teve inicio em 1981 com a execução das obras de restauração dos prédios da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Natividade e a Capela São Benedito tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico do Estado de Goiás e das ruínas da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na década de 1990, que sofreu interferência através do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O Programa Monumenta/BID é parte da continuação do trabalho de preservação da história e da cultura de Natividade, promovido pelas instituições públicas desde o início da década de 1980. Natividade faz parte da segunda etapa desse programa para a qual foram selecionados vinte núcleos urbanos tombados pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. O Programa Monumenta e a Unidade Executora do Programa visando a revitalização do conjunto patrimonial de Natividade no sentido de fomentar a utilização econômica, cultural e social da área do projeto definiu alguns monumentos como prioritários para serem trabalhados nesse processo de
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intervenção. Todos os monumentos inventariados, pertencentes à igreja ou a leigos são seculares. As praças Leopoldo de Bulhões e da Bandeira embora sejam obras recentes fazem parte do conjunto histórico arquitetônico.
Antiga cadeia pública, Paço Municipal e Casa da Cultura A "Antiga Cadeia" tem característica secular. Foi construído originalmente para funcionar como cadeia pública. Segundo o Sr. Joaquim Rodrigues de Cerqueira morador de Natividade, o prédio foi construído no tempo dos escravos. O prédio é térreo com 18,50m de frente por 9,50m de fundo. Possui grossas paredes de pedras, contendo três janelas, uma porta de frente, espessas grades de ferro, inclusive de acesso as selas. Confronta-se com terrenos de propriedade de Nilo Noleto Bezerra pelo sul e prédio do Antigo Paço Municipal ao norte (Livro 3ª, folha 17, nº de Ordem 48, ano de 1952, Cartório de Imóveis). Originalmente o prédio foi construído com dois cômodos, separando os presos em celas masculina e feminina. A cela destinada aos homens, segundo o Sr. Joaquim, tinha duas grades de ferro, toda forrada de madeira: pau d arco e jatobá, com 30 X 30 cm. Essas tábuas impediam a iluminação interna, mantendo o local sempre úmido, o que deixava os presos nas mais desagradáveis condições. Todas as janelas e portas internas eram revestidas de ferro. As reformas no prédio foram feitas entre 1948 e 1949 no governo de Júlio Nunes da Silva. Retiraram as grades externas das janelas e as madeiras das paredes e do teto. Foi trocada também a porta da frente do prédio que era trancada com trava e "uma grande chave". A madeira retirada foi reaproveitada na construção de pontes no interior do município. Esse prédio funcionou como cadeia pública até 1995 e em 1996 passou por um processo de restauração e adequação para abrigar o Museu Público Municipal. Para o funcionamento mais adequado do museu foi construído um anexo com sala e banheiro na parte detrás do mesmo. PAÇO MUNICIPAL - ANTIGA PREFEITURA Localiza-se em anexo à Antiga Cadeia Pública, na Praça Leopoldo de Bulhões. Segundo o senhor Joaquim Rodrigues Cerqueira, nascido em Natividade no dia 10 de março de 1930, o prédio foi construído no período de 1930 a 1938, na administração do intendente João Rodrigues de Cerqueira. O senhor Joaquim, recorda que ainda o conheceu com cinco janelas na parte da frente e cinco que ficavam em direção ao norte. O piso original era de cerâmica de barro (conhecido como ladrilho). Conforme relatos orais, o mobiliário contava com mesas de madeira quatro quinas e cadeiras também de madeira. Seu Joaquim recorda também da existência de um caneteiro e uma máquina de escrever (o mesmo desconhece a marca da máquina). Ainda de acordo o relato, na parte interna do prédio havia um banco com dois potes e uma espécie de gancho que servia para segurar os copos. Dentro do gabinete havia uma butija com água para uso do prefeito. O senhor Antônio Viana Bezerra, nascido no dia 03 de dezembro de 1950, em Natividade, conta que a única modificação ocorrida no prédio foi por volta de 1966/1967, na qual as janelas de madeira foram trocadas por vitrôs. Conforme relatos dos moradores, o prédio sempre funcionou como espaço administrativo: prefeitura, câmara municipal, agência de estatística ( hoje IBGE ), arquivo municipal e sede da Banda de Música municipal. Hoje o prédio abriga a Polícia Militar. O Paço Municipal será um dos prédios beneficiados pelo Programa Monumenta/BID. CASA DE CULTURA AMÁLIA HERMANO TEIXEIRA Situada à rua Coronel Deocleciano Nunes, esquina com a Praça São Benedito, a casa pertenceu ao Major Benício Nunes da Silva e sua esposa Benvinda Benedito Borges. Segundo relatos do Sr. Albany Costa Cerqueira, comerciante aposentado de 69 anos, o Major Benício faleceu no ano de 1906. Trinta dias após à sua morte, faleceu dona Benvinda. Conforme relatos, dona Benvinda morreu de desgosto (perdeu o gosto pela vida, não se alimentando mais, provocando assim a sua própria morte). Não se sabe ao certo a data da construção do prédio, mas segundo moradores mais antigos da cidade, este foi construído no final do século XIX. Após a morte do casal Benício e Benvinda, a casa ficou para os filhos, mas os relatos orais não afirmam se estes habitaram o imóvel. Segundo o nosso informante, por volta de 1920, a antiga residência do casal Benício e Benvinda serviu de sede para a Companhia de Polícia, que veio para a cidade por intermédio do Coronel Deocleciano Nunes, filho do casal falecido, com o objetivo de defender a cidade dos jagunços
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saqueadores que rondavam a região. Os moradores não sabem informar por quanto tempo a casa serviu de sede para a Companhia da Polícia. O Sr. Albany recorda que até 1954, funcionou no prédio, o Grupo Escolar D. Pedro II, quando foi transferido para Grupo Escolar Quintiliano Luiz da Silva. O entrevistado lembra que nesse período os alunos faziam apresentações teatrais usando o espaço físico do prédio. No livro n° 1 - I, matrícula 1970, do Cartório de Registro de Imóveis de Natividade, consta que o prédio foi adquirido pela Sociedade Cooperativa Mista Agropecuária Ltda, na data de 22 de janeiro de 1966, tendo como transmitente o casal Zacarias Nunes da Silva e Helen Drumond Nunes. No mesmo livro, consta que a Prefeitura Municipal desapropriou o imóvel em 23 de agosto de 1990. A desapropriação é confirmada pelo Decreto n° 024/90 da Prefeitura Municipal de Natividade. O imóvel é constituído de uma área de 410 m² (quatrocentos e dez metros quadrados), com 20 (vinte) metros do lado Norte, 18 (dezoito) metros do lado Sul, 22 (vinte e dois) metros no lado Oeste e 22 (vinte e dois) metros no lado Leste. Prédio de adobe, coberto de telha comum, teto de madeira serrada, piso de cerâmica, paredes rebocadas e pintadas. O imóvel sofreu modificações no emadeiramento, no piso (que antes era de ladrilho) no reboco e na pintura. A casa contém 10 compartimentos, sendo 4 salas, 1 corredor, 1 passarela, 1 cozinha, 2 banheiros, 1 alpendre, 3 portas externas, 11 portas internas, 12 janelas sendo 4 no lado Norte, 3 no lado Leste e 5 no lado Sul. O Sr. Albany afirma que a parte interna da casa sofreu várias modificações, e que essas modificações foram feitas de acordo com a sua utilização. Hoje o imóvel é denominado Casa da Cultura Amália Hermano Teixeira, onde funciona a Biblioteca Pública Municipal e uma loja de artesanato da Prefeitura.
Igreja Matriz Nossa Senhora da Natividade A Igreja Matriz do município de Natividade, uma das mais antigas do Estado do Tocantins, é datada de 1759. Seus cultos são dedicados à devoção de Nossa Senhora da Natividade. Natividade, termo referente a nascimento, ficou em Portugal reservado para indicar o nascimento da Virgem Maria. A Igreja Católica celebra o nascimento de Jesus Cristo, desde o ano 33 da era cristã. "Esta festa de Nossa Senhora teve origem no Oriente. A documentação escrita não é muito clara. É provável que ela remonte à comemoração feita à inauguração da igreja de Santa Ana, em Jerusalém, erguida no século V, no lugar que a tradição indicava ter sido ali a casa de Santa Ana e, portanto, seria o local do nascimento da Virgem Maria" (BRAGA, 1994, p.17). A Virgem Maria passa a ser comemorada no Ocidente no século VII, quando o Papa Sérgio I, de origem oriental, compõe uma ladainha para a festa e introduz procissão no dia dedicada à santa. A comemoração a Nossa Senhora da Natividade está relacionada à festa da Imaculada Conceição de Maria, celebrada em 8 de dezembro. Nove meses depois, comemora-se Nossa Senhora da Natividade. Esse intervalo diz respeito ao período de gestação de Maria no ventre de Santa Ana. Os devotos acreditam que Maria, como mãe de Jesus, preservada do pecado original, merece ser cultuada. "Por isso a festa da Natividade de Maria se espalhou por todo Ocidente, chegando a Portugal. De Portugal passou para o Brasil, onde ficou sendo dia santo de guarda até o advento da República" (BRAGA, 1994, p. 18). Foi trazida pelos jesuítas para o norte da província de Goiás, em 1735, uma imagem de Nossa Senhora da Natividade. Foi a primeira a entrar nessa região, em embarcações pelo rio Tocantins, depois nos ombros dos escravos até ao pé da serra onde se erguia o povoado denominado de Vila de Nossa Senhora da Natividade, Mãe de Deus. Essa imagem é a mesma, venerada, ainda hoje, na Igreja Matriz. Com a criação do Estado do Tocantins, a população de Natividade junto com o clero tocantinense desenvolveu uma campanha para tornar Nossa Senhora da Natividade padroeira do Estado. D. Celso Pereira de Almeida, Bispo Diocesano de Porto Nacional enviou, em março de 1992, solicitação ao Papa João Paulo II, expressando o desejo dos devotos de Nossa Senhora, de vê-la consagrada padroeira do Estado. Diz D. Celso "sendo nosso povo católico, na grande maioria, e devoto de Nossa Senhora, temos, nós Bispos, recebidos freqüentes apelos, a fim de pedirmos a Vossa Santidade se digne declarar Nossa Senhora, sob a invocação de Nossa Senhora da Natividade, Padroeira principal deste Estado". Acrescenta ainda D. Celso na sua justificativa, que os habitantes do sudeste do Estado "veneram com muito afeto, a imagem de Nossa Senhora da Natividade, trazida para a nossa região pelos missionários Jesuítas. Esta devoção é sempre viva no nosso povo". (BRAGA, 1994, p. 14). A solicitação foi aceita pelo Vaticano em 29 de maio de 1992 e em 15 de agosto do mesmo ano D. Celso divulgou oficialmente durante a Romaria do Bonfim, em Natividade, Nossa Senhora da Natividade Padroeira Principal do Tocantins. A festa a Nossa Senhora da Natividade, na Igreja Matriz, é realizada de 30 de agosto a 8 de setembro, dia escolhido para ser dedicado em todo o Estado a homenagear Nossa Senhora da
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Natividade. No município de Natividade durante os festejos acontece o novenário, são montadas barracas onde se faz leilões e celebra-se a missa solene no dia dedicado a santa. A igreja Matriz apresenta arquitetura em estilo colonial. "Possuía apenas uma torre. Em 1919 algumas modificações foram realizadas, quando se construiu a segunda torre, mudou-se a fachada e trocou-se a escada de madeira que leva ao coro por pedras (utilizaram pedras da Igreja do Terço e da igreja N. Sra. do Rosário). O altar é feito de madeira, com repinturas. Hoje, está pintado de azul. O forro de tábua corrida no teto e no piso do altar foi colocado em 1997, possui luminárias modernas e ventiladores nas laterais. No altar encontra-se a imagem de Nossa Senhora da Natividade, em madeira, com pintura policromada. Têm ainda dois sinos de 1858, uma pia batismal e no seu arquivo um Livro de Casamentos de 1872-1901. A igreja está em estado bem conservado" (UEP/Natividade; 2003). Conforme depoimentos coletados por Simone Camêlo Araújo, havia altares nas paredes laterais do arco cruzeiro da igreja da Matriz, conservados até a década de 1960, onde eram expostas as imagens sacras de Nossa Senhora do Rosário, São Gonçalo, São Sebastião, Nossa Senhora das Dores e Santo Antônio. O piso original em tijoleira foi substituído pelo ladrilho hidráulico (mosaico) que novamente foi trocado por cimento queimado de cor amarelada. O ladrilho foi reaproveitado na sacristia à direita do altar-mor. A comunidade guarda ainda em suas memórias lendas sobre a igreja Matriz coletadas por autores locais como Dr. Maximiano da Matta e José Lopes Rodrigues. Maximiano descreve em "Outras Estórias de Goiás" a lenda da "Serpente de Asas", que segundo os moradores a serpente possui a cabeça na Lagoa Encantada e o rabo na Igreja Matriz. "... serpente mora na caverna que principia debaixo da Igreja Matriz de Natividade e vai acabar debaixo da Lagoa Encantada.. A cabeça fica debaixo da Lagoa Encantada, muitos metros abaixo da superfície: a ponta do rabo está justamente debaixo da Matriz. É uma espécie de dragão como aquele de São Jorge... Enquanto, porém, existirem, velhas rezadeiras em Natividade, aos sábados rezando o oficio de Nossa Senhora...não prevalecerá o poder da serpente e o povo de Natividade, do Bonfim e redondeza vivera em segurança.". Para José Lopes Rodrigues "Natividade - Fragmentos do passado", A Serpente de Asas era uma ameaça permanente sobre a cidade: "...Se ainda não a destruíra, devia-se o milagre a proteção da Padroeira que, a cada sábado, lhe fazia cair às penas das asas, criadas durante a semana e destinadas a permitir-lhe o vôo até o cobiçado objeto de sua destruição. E o milagre da Virgem se verificava em atenção ao Oficio de Nossa Senhora que, todos os sábados era rezado, religiosamente, em sua igreja".
Praças da Bandeira e Leopoldo Bulhões PRAÇA DA BANDEIRA Os relatos de história oral afirmam que a área onde hoje está edificada a Praça da Bandeira era conhecida como Praça do Pelourinho. "Antes só tinha o pelourinho. Era um cercado de madeira, com uma bancada para subir e umas argolas. Lá amarrava e açoitava os escravos. Tenho a impressão que o pelourinho foi tirado pelos prefeitos nomeados pela ditadura de Vargas" (Adail Santana, 81 anos, ex-prefeito de Natividade). Com a retirada do pelourinho, o largo defronte às casas permaneceu por algum tempo sem nenhuma infra-estrutura. Só veio a sofrer intervenção no período de 1970 a 1972, recebendo a denominação de Praça da Bandeira. Envolta da praça tem quatro casas que conservaram suas antigas fachadas, o prédio da câmara municipal, local onde funcionou o primeiro mercado municipal, e os correios. A praça possui passarelas em cimento queimado e bancos de concreto sem encostos. Está arborizada com duas amendoeiras e uma palmeira imperial. Funcionam na praça duas barracas de ambulantes que comercializam confecções. PRAÇA LEOPOLDO DE BULHÕES Recebeu esse nome em homenagem a Leopoldo de Bulhões, antigo governador de Goiás. Antes se chamava Praça do Conselho (devido ao Conselho Municipal que funcionava no prédio do Paço Municipal em frente à praça). No local não tinha nada construído, havia apenas árvores (juazeiros, mangueiras, amendoeiras, fruta-pão, etc), essas árvores eram cercadas de pedra canga com massa a cal. Segundo o senhor Joaquim Rodrigues Cerqueira, as árvores foram retiradas na década de 1950. Conforme informações de seu Joaquim no período chuvoso o mato crescia e servia de pasto para os animais. O local servia também para brincadeiras de moças e rapazes, o sr. Joaquim recorda que a brincadeira mais comum era o furrum (escondiam no meio do mato, as moças procuravam os rapazes e os rapazes procuravam as moças), sr. Joaquim esclarece que não havia nada de mais (não havia malícia), "todo mundo era inocente, as moças eram puras". Nas suas recordações o sr. Joaquim lembra também de outras brincadeiras como: pião, papagaio, finca, etc. Os piões eram feitos de limeira e
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limoeiro, segundo ele cada brincadeira tinha seu tempo certo. O sr. Joaquim se emociona ao lembrar dos" velhos tempos", "a praça representa para mim muita saudade , eu sou muito sentimental, amoroso, saudades dos amigos, foi onde nasci e me criei." Com exceção da família do Dr. Quintiliano Luiz da Silva, todas a outras continuam morando no entorno da praça. Conforme informações do senhor Izambert Camelo Rocha, 80 anos, ex- prefeito da cidade, parte da estrutura da atual praça foi construída em 1980, na sua administração. Segundo ele no local da praça havia uma quadra de esportes e os moradores não gostavam porque a bola sujava as paredes das casas. Daí surgiu a idéia de se construir uma estrutura para a praça. Nesse período foram plantadas diversas espécies de palmeiras. O sr. Izambert conta que essas árvores vieram de São Paulo. A praça hoje é constituída de bancos de concreto com encosto, calçamento de concreto, duas fontes luminosas, um monumento das bateias (em homenagem ao ouro que deu origem à cidade), monumento à TV Anhanguera e à instalação da água. FONTES BIBLIOGRÁFICAS · ASCCUNA, Associação Comunitária Cultural de Natividade - (Apostila) "Conhecendo Natividade Tocantins". · CATRO, Quintino Pinto de. Natividade e seu Município - 1948 - 1949. · IPHAN, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. (Caderno) Estudos de Tombamento. · · · ·
LEMOS, Carlos A.C. O que é Patrimônio Histórico, Ed. brasiliense, 5ª edição. PARENTE, Temes Gomes. Fundamentos Históricos do Estado do Tocantins, Goiânia 1999. PROGRAMA MONUMENTA/BID. ( Cartilha ) Natividade - Tocantins. Universidade Católica de Goiás - Fundação Nacional Pró-Memória - MINC - Natividade.
FONTES ORAIS · Adail Viana Santana · Alarico Nunes Suarte · Albany Costa Cerqueira · Antonio Viana Bezerra · Dario Camelo Rocha · Izambert Camelo Rocha · Joaquim Rodrigues de Cerqueira · Theodoro Nunes da Silva · Simone Camelo Araújo · Joatan Bispo de Macedo
Ruínas da Igreja de Nossa Senhora do Rosário Sob a denominação de ruínas, o que seria o templo dedicado a devoção a Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, chama a atenção pela sua opulência, grandiosidade e beleza, toda em pedra. A sua dimensão pode ser observada pelo que restou das paredes laterais, do arco da entrada feito em pedras e tijolinhos. E também pelos alicerces em pedra canga, embora grande extensão dessas tenham sido retiradas para abertura da avenida defronte da igreja. As ruínas da Igreja Nossa Senhora do Rosário, conservada ao longo dos séculos, sofreu um processo de intervenção em 1992 através do SPHAN/Pro-Memória, onde o arco foi restaurado evitando um possível desabamento. E, em 1996, sob a gerência do IPHAN foi realizado outro trabalho de restauração em toda a extensão da ruína e um projeto urbanístico para o seu entorno, quando recebeu uma iluminação especial. Segundo relatos de viajantes esse templo começou a ser construído pelos escravos no século XVIII. Da obra ficou concluída a capela-mor, o arco da entrada principal e suas laterais o que pode ser observado através do desenho de William John Burchell que percorreu o Brasil entre 1825 a 1829. A devoção a Nossa Senhora do Rosário teve origem em Portugal. Desde os séculos XV e XVI era sob a invocação dessa santa que se congregavam os negros. As razões da escolha de Nossa Senhora do Rosário como protetora dos negros não são muito claras. Mas sua popularidade fez criar em quase todas as cidades portuguesas, igrejas onde havia imagens da virgem a quem se atribuíam milagres. Frei Agostinho de Santa Maria acreditava que através da imagem de Nossa Senhora resgatada em Argel foi dado início ao culto, levando os negros a escolherem essa invocação. No Brasil, a celebração a Nossa Senhora do Rosário está quase que restrita às irmandades negras. Em Natividade, há relatos sobre uma irmandade do Rosário, mas não foi possível comprovar isso
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historicamente. Relatos coletados por Simone Camêlo Araújo afirmam que à medida que os negros iam construindo o seu templo, ofereciam presentes aos seus deuses e divindades, colocando em suas paredes ou enterrando em seu interior ouro em peça ou em pó, armazenados em garrafas ou potes de cerâmica. As conseqüências dessas informações passada de geração em geração podem ser observadas nas paredes das ruínas com vários furos resultado de ações de indivíduos, que dizendo sonhar onde estava o ouro perfuravam as ruínas. Ainda segundo Simone Camêlo, o arco cruzeiro dessa ruína serviu de inspiração para a construção dos arcos do Palácio Araguaia, sede do governo do estado do Tocantins, em Palmas.
Povos Indígenas
São inúmeras as tribos da nação indígena no Tocantins. Dentre elas algumas merecem maior destaque. Conheça cada uma delas nos links abaixo:
Apinayé
Origem mítica do povo Apinayé No início dos tempos não existia as árvores, nem os animais, nem os rios. O Sol (Mbu-di) convidou a Lua (Mbudvrà-ré) para descer a terra. Andaram pelo mundo e criaram as plantas, os animais, os rios. O sol fez uma aldeia e uma roça e nela plantou cabaças, quando as cabaças amadureceram levaram para a beira do rio, atiraram na água e de cada uma surgiu um ser humano. Os filhos do Sol chamaram-se Kóó-di e os filhos da Lua Kóó-ré e ficou determinado que os Kóó-dí casariam com os Kóó-ré e então, voltaram para o céu. (Relato de Xavier Apinayé) História Os primeiros registros do povo Apinayé na região, onde vivem hoje, vem de 1774. Antônio Tavares, viajante que navegava pelo rio Tocantins, viu-se rodeado de grande número de índios. Tantos eram que se viam na parte de baixo, na praia da esquerda, que pareciam regimento formado (Nimuendajú. Pág. 02). Em 1780 foi criado o primeiro posto militar em Alcobaça para tentar conter os guerreiros apinayé. Os Apinayé eram conhecidos como grandes guerreiros, os poderosos índios da região norte. Segundo Nimuendajú, as guerras eram travadas por motivo de vingança: guerras de conquista eram-lhes inteiramente desconhecidas e, caçada de escravos para si ou para neo-brasileiros, como faziam os Krahò, tão pouco praticavam pois desconheciam a escravidão (Nimuendajú, pág. 91). Todas as suas aldeias eram numerosas, praticavam a agricultura, a caça e a pesca. A caça era feita por homens e mulheres. Os homens utilizavam o arco e a flecha. Às vezes ateavam fogo no campo para os animais saírem e assim, apanhá-los. Mulheres caçam tatus com o cavador e o terçado (Nimuendajú, pág. 71). O avanço da civilização colonizadora para a região dos Apinayé teve início em 1797, com a tentativa do governo de incentivar o povoamento da região. Chegaram exploradores e aventureiros em busca de riquezas. Quando esses exploradores constataram que havia ouro na região, vários garimpeiros em busca de enriquecimento enfrentaram os índios provocando uma luta que se estendeu por muitos anos. A população Apinayé abatida por doenças e guerras foi se afastando para dentro da mata ou aceitando o aldeamento como necessário para a sobrevivência da comunidade. Segundo dados do Conselho Indígena Missionário - CIMI em 1780, seiscentos índios Apinayé trabalhavam na agricultura, na criação de gado e na navegação fluvial para o Pará. Outros Apinayé viviam em torno da cidade. Na contagem seguinte, por volta de 1880, havia 1362 Apinayé na aldeia Boa Vista. Nesse mesmo período, os Apinayé foram viver perto do povoado de Santo Antônio, incorporado
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mais tarde a São Pedro de Alcântara (Carolina, Maranhão). Com o contato permanente entre os índios e a sociedade envolvente, a população Apinayé entra em decadência, ficando cada vez mais distante da antiga e numerosa tribo. Tomados por uma epidemia de varíola passaram em poucos anos de 4200 para 1500 pessoas, em 1899. Com a fundação do posto do SPI, em 1940, os Apinayé deixaram de migrar constantemente e passaram a permanecer nas suas aldeias na região de Tocantinópolis, onde vivem até hoje. Limitaram-se a trabalhar na agricultura, na criação de gado (aprendido com o não-índio) e na navegação fluvial. Demarcação das terras O Capitão José Dias, líder dos Apinayé, viajou ao Rio de Janeiro para pedir a demarcação de suas terras. Ao mesmo tempo os Apinayé mudaram para a aldeia do Cocal, acima do Ribeirão São Benedito, em 1936, quando restavam apenas sessenta índios. Durante muitos anos, o povo Apinayé lutou pela demarcação de seu território que foi registrado e homologado apenas em 1985. Os Apinayé vivem hoje numa área demarcada, de 141.904 hectares, próximo aos municípios de Tocantinópolis, Maurilândia e Lagoa de São Bento. Sua população atual é 1014 habitantes (FUNAI/MAIO/1997), distribuídos em sete aldeias. Vida Cotidiana Na sociedade Apinayé, existem muitas pessoas e cada uma tem função diferente. O Cacique é chefe superior da tribo. Ele e o Vice-cacique resolvem os problemas da comunidade. O pajé é chefe espiritual da tribo. Os curandeiros cuidam das doenças. Os cantadores e cantadeiras cantam no pátio. Os enfermeiros, os professores índios e não-índios que ensinam a ler e escrever e, por fim, as pessoas das famílias. Uns gostam de trabalhar, outros gostam de pescar e caçar, outros gostam de coletar frutas silvestres (relato de Cassiano Sotero Apinayé). Trabalho O trabalho pode ser feito em mutirão. Quando muitas famílias participam, tudo é repartido, tanto o trabalho como os produtos. Nas roças comunitárias ou nos roçados individuais as tarefas são distribuídas entre homens, mulheres e crianças. Enquanto os homens preparam as roças brocando, derrubando e queimando, as mulheres e as crianças encovairam, plantam, capinam e fazem a colheita. O sistema utilizado para a plantação é da tradicional roça de toco, onde o terreno é queimado e os tocos são arrancados para depois iniciar o plantio. Tradicionalmente plantam milho, mandioca, amendoim, feijão, batata doce e inhame. Fazem a coleta de andu, pequi, buriti, bacaba, bacuri, babaçu, açaí, murici, tucum e palmito que complementa a sua alimentação. Os homens pescam, caçam e cortam lenha; as mulheres cozinham, cuidam das crianças, raspam, ralam e imprensam a mandioca. Os Apinayé coletam o babaçu para fabricar utensílios domésticos e cobrir suas casas. Artesanato Os Apinayé fazem trançados variados. Utilizam a palha de babaçu, tucum e buriti para confeccionar cestas, esteiras e cofos. Os colares são feitos com sementes de árvores do cerrado e os cocares com penas coloridas. Esses artefatos são tingidos com urucum e jenipapo. Também utilizam a miçanga para confeccionar colares, mas conservam seus desenhos tradicionais. O artesanato serve para enfeite e são utilizados nas celebrações. Os apinayé também vendem o seu produto nas cidades próximas às aldeias. Cestos, cofos e quibanos: confeccionados pelas mulheres em trançado de fibra de buriti, fibra de tucum e babaçu. Colares: confeccionados com sementes variadas, penas de pássaros, bambu e espinhos. Arco e flecha, maracá e borduna: confeccionados pelos homens que utilizam madeira, fibra e coité onde fazem os desenhos. Educação A transmissão tradicional do conhecimento entre os Apinayé sempre foi oral, transmitido pelos mais velhos de geração para geração. Assim ensinavam a língua, os rituais, a arte, as histórias e os costumes.
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Devido à convivência interétnica surgiram as escolas que, no início, ensinavam somente o português. Mas, como índios tinham muitas dificuldades em aprender porque os professores não compreendiam o que eles falavam nem os alunos compreendiam o que o professor dizia surgiram as escolas bilíngües. Nestas os alunos têm a oportunidade de ler e escrever na sua própria língua e depois no português, ajudando a manter a cultura e revitalizando a sua identidade étnica. São mantidas pelo Governo do Tocantins seis escolas bilíngües. Celebrações e Rituais As festas são realizadas no pátio, localizado no centro da aldeia. São iniciadas pelo cantor com seu maracá. A alegria do Panhi (índio Apinayé) é a invenção da música. Cantiga de tora. Toda cantiga, com maracá. Panhi nunca quis largar a música. Hoje tem uns que não sabe cantar a Tora grande (relato de Alcides Apinayé, cantor). A Festa do Mekapri - A festa é realizada para fazer o espírito voltar para o corpo da pessoa que está doente. Durante a noite, uma cantora fica cantando até o dia amanhecer. No dia seguinte, dão banho de água fria na pessoa para purificar, pintam e enfeitam todo o corpo, tradicionalmente, de acordo com o clã. Levam a pessoa para a casa dela juntamente com o twy kupu (comida feita com mandioca e carne) como oferta para o espírito voltar. Na casa todos choram e depois distribuem a comida sempre com a presença do pajé. Apenas a pessoa doente não come. (relato de Kunum Apinayé). Ritual de morte e enterro - Começa a lamentação quando todos os parentes se reúnem na casa do morto. Chamam um cantador que fica do lado do morto cantando até o dia amanhecer. O morto é banhado e colocado numa esteira onde recebe a pintura e os enfeites segundo seu clã. Os pais e os parentes mais próximos não acompanham o enterro, continuam a chorar no lugar onde o enfeitaram. Quando os outros voltam do enterro vão banhar no ribeirão. Os Apinayé levam comida para o morto, porque acreditam que sua sombra possa voltar para casa à procura de alimentos. Também colocam os seus pertences sobre a sepultura. Os parentes que estão enlutados não cortam os cabelos, não se pintam e não participam das reuniões na praça. Um ano depois visitam seus parentes no cemitério. Casamento: Os noivos são enfeitados nas casas maternas com pinturas de urucum, jenipapo e lã de pati. O noivo senta ao lado da noiva e o conselheiro fala das obrigações de cada um para ter uma vida boa e correta. Os padrinhos e as madrinhas da moça ainda podem escolher o marido. Antes isso acontecia quando ainda eram crianças. Hoje, já é possível que os jovens escolham com quem querem casar, estando de acordo com a sua família. A comida preparada é o paparuto - espécie de bolo de mandioca com carne, feito na palha da bananeira cozido no muquem. Os moços levam o paparuto para a casa dos padrinhos da noiva e lá recebem conselhos para não brigarem e viverem em paz. Quando eles terminam falam: se o rapaz não fizer direito com nossa afilhada nós vamos fazer desse jeito com você: cortar seu pescoço (relato de Ausira Apinayé). A Aldeia Apinayé As aldeias Apinayé são construídas em lugares planos, em solo não pedregoso e perto de córregos d água. Nas proximidades deve haver mata ciliar para os roçados; quando, em conseqüência das derrubadas anuais, esta mata se acaba, a aldeia é reconstruída em outro lugar. Em tempos mais recentes, a construção de casas de alvenaria tem forçado a permanência da aldeia num mesmo local. Caminhos estreitos cortam a mata ciliar em todos os sentidos, levando aos locais de roça, pesca, caça e banho. Os caminhos da roça são relativamente limpos para que as mulheres possam passar livremente com seus cestos de carga. Para a fundação de sua aldeia, os apinayé escolhem sempre um lugar que satisfaça às seguintes exigências: O chão deve ser plano, no alto dos campos, em geral no fim de algum contraforte, no ângulo entre dois cursos de água confluentes; O solo não deve ser pedregoso nem arenoso, mas ser formado de argila dura; O lugar não deve ser demasiado distante da água. No geral, em torno de 500 metros; Nas proximidades deve haver bastante mata ciliar para os roçados durante um espaço de, pelo menos, 10 anos. Quando, depois, em conseqüência das derrubadas anuais, a mata já fica numa distância de mais de duas léguas da aldeia, muda-se esta novamente para um lugar onde ainda haja bastante mata nos arredores. A Casa Apinayé A construção de casas de alvenaria de tijolos industrializados e a adoção de técnicas mais desenvolvidas de plantio (como mecanização e adubação do solo) tem levado à perenização da
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aldeia. A disposição da aldeia é inteiramente igual àquela das tribos dos Kráhò: as casas são distribuídas aproximadamente em círculo, ficando o lado mais comprido voltado para a praça que se encontra aproximadamente no centro. Diante das casas, ao redor do círculo interno, corre um caminho largo normalmente denominado rua. Da praça central partem caminhos radiais que a ligam a cada casa. A tradição dos Apinayé não dá a conhecer nas aldeias fixas, outras casas senão do tipo daquelas ainda hoje em uso: retangulares, com cumeeira e cobertas de palha de palmeira, idênticas às dos moradores da região. As casas são feitas com pouco acabamento, são fechadas com divisões de esteiras de palmeiras encostadas contra uma travessa armada na horizontal. Os Apinayé possuem atualmente aldeias fixas. As casas são construídas com materiais que vão da palha de buriti, passando pela taipa, tijolos de adobe e alvenaria de tijolo industrializada. Têm-se ainda casas erguidas com tábuas de madeira aparelhada. Atualmente, algumas aldeias Apinayé têm forma retangular com um pátio de reuniões central, no entanto, na prática, os segmentos residenciais dispostos em retângulo continuam a ser interpretados como se estivessem colocados em círculo e assim é que são representados graficamente pelos Apinayé, como se tivesse a mesma forma das aldeias tradicionais.
Karajá, Javaé, Xambioá Origem mítica do povo Karajá Conta a lenda que os Karajá viviam no fundo do rio Berorõdy (rio Araguaia). Certo dia descobriram um buraco e resolveram ver o que tinha do outro lado. Uma família saiu, viu a terra, as árvores, frutas, pássaros e animais. Voltou para contar o que viu e foi para a superfície. Koboí decidiu sair mais era muito gordo e não conseguiu passar. Os que saíram são conhecidos como Karajá, mas se auto-denominam Iny. História Antes de 1500, os Karajá subiram o rio Araguaia, migraram entre outros motivos, devido às invasões de seu território e confrontos com outras etnias. A migração sazonal levou os Karajá para várias regiões até conquistarem o território onde vivem, nas aldeias da Ilha do Bananal, de Xambioá, Mato Grosso e Pará, às margens do rio Araguaia. Durante os séculos XVII e XVIII o contato com as expedições dos paulistas provocou muitos conflitos. Os Karajá aceitaram a paz no final do último século e foram viver nos aldeamentos junto a outras etnias, entre elas, Xerente e Caiapó. Essa junção não deu certo e os Karajá voltaram para suas praias, doentes e com a população reduzida. Ali mantiveram contato com o jesuíta Tomé Ribeiro, durante a primeira viagem deste, empreendida pelo rio Araguaia. Nos anos seguintes a relação com os não-índios intensificou-se com a vinda dos mineiros e das frentes pastoris e agrícolas. Com o avanço da navegação fluvial, os comerciantes utilizaram a mão-de-obra indígena, principalmente como remeiros. No começo do século XX, os Karajá ainda viviam de acordo com as mudanças climáticas, conforme as estações do ano e o regime das águas que eles dividem em início das enchentes, a cheia e o início da vazante, quando o rio fica behetxi (parado). Utilizavam diferentes locais de moradia. Durante o verão viviam nas praias do rio Araguaia e no inverno subiam os barrancos onde tinham suas aldeias maiores. Nos dias atuais o regime das águas ainda marca o tempo que determina as manifestações sociais da comunidade. "A partir do início das chuvas e subida do nível do rio Araguaia os Karajá reúnemse nas suas aldeias maiores, localizadas nas barreiras ao longo do rio. É o tempo da caça, de se iniciar a preparação das roças e da coleta de diversas espécies vegetais" (EIA/FUNAI - 1997). No Tocantins, existem três grupos: os Xambioá, assim chamados, por morarem perto da cidade do mesmo nome, são conhecidos pela comunidade Karajá de iraru mahãdu (turma de baixo). Na Ilha do Bananal vivem os grupos Karajá e Javaé em aldeias separadas, são os ibòò marãdu (turma de cima). "A referência para a denominação do grupo é dado pela sua localização ao longo de um eixo, o rio Araguaia" (EIA, FUNAI/ 1997). Na Ilha do Bananal, concentra-se o maior número de aldeias. As que ficam próximo ao rio Javaé levam esse nome. Os Karajá de Xambioá possuem duas aldeias e uma pequena população, mas todos são o povo Iny. Os Karajá, Javaé e Xambioá, falam a mesma língua, possuem os mesmos costumes e se identificam uns com os outros, como parentes e embora geograficamente separados, pertencem aos mesmos antepassados.
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Entre os Karajá as atividades políticas são bastante difundidas girando em torno de um complexo sistema de alianças, onde se faz e desfaz facções, consagra-se lideranças e afastam-se outras. Muitas coisas mudaram, neste século, devido a interferência de religiosos e agências governamentais, ministrando interesses e mudando a política dentro da comunidade. No entanto é forte a tendência do povo Karajá em manifestar suas opiniões e fazer permanecer suas tradições, principalmente na política que faz as lideranças das aldeias. "Teve um tempo em que Karajá vivia como gaivota" Temysari Karajá (cacique de Xambioá) Os casamentos: São monogâmicos e combinados entre os familiares. As mudanças de residências são matrilocais: o rapaz tem que acompanhar a moça, passando a residir na casa da sogra. A cerimônia é feita com uma apresentação pública e formal dos noivos para a comunidade. Os Karajá organizam-se em famílias extensas que incluem além da família nuclear, genros e netos. Trabalho Os Karajá são essencialmente pescadores e sempre viveram do que o rio lhes oferece. Embora hoje tenham suas casas permanentes em cima das barrancas do rio, durante o período da estiagem, passam a maior parte do tempo nas praias, pescando e coletando. Quando chegam as chuvas (Novembro a Março) dedicam-se às atividades agrícolas. Os trabalhos desenvolvidos pelos homens são a pesca, a caça e a roça. As mulheres trabalham na confecção do artesanato, na coleta de frutos e ajudam nas roças que ficam distante da aldeia. Cada família tem o seu roçado e cultiva: mandioca, banana, cana-de-açúcar, milho, batata-doce, cará e o arroz. Os Karajá fazem a coivara e usam o sistema de rotatividade no uso da terra. Durante o verão, dedicam-se especialmente à pesca tanto para o consumo como para vender ou trocar. Salgam os peixes e levam para as cidades próximas. Adquirem através destes os produtos industrializados: roupas, alimentos, fumo e bebidas. Da natureza, homens e mulheres, retiram material para construção de suas casas, a confecção de artesanato, instrumentos musicais e canoas. Utilizam o tucum para fazer o arco, a palha de buriti para as esteiras, jenipapo e urucum para as tintas, o coco do buriti, bacaba e madeiras como a sarã para confecção de brinquedos e artesanato. Artesanato "A beleza transcende aquilo que a aparência física revela". Os artesanatos são utilizados nos rituais, como enfeites e artefatos. Servem como utensílios domésticos, brinquedos para as crianças e também para a comercialização. Os Karajá são excelentes artesãos da arte plumária, cerâmica e cestaria. Arte plumária: Essa arte exige muita habilidade e identifica o homem indígena com a natureza, os espíritos e com seu próprio interior. Trás uma significativa expressão de riqueza e esplendor. São confeccionados cocares de grande e pequeno porte, cada um com seu significado, como: Haretõ que representa o sol, é usado pelos rapazes e o Lori lori, usado pelo chefe de cerimônia. Os adornos que utilizam a plumária são: colares, brincos, braçadeiras e tornozeleiras. Servem também para enfeitar instrumentos musicais, armas e máscaras. É uma forma de identificar o grupo étnico e a posição social na comunidade como: cargo, filiação, idade, sexo e prestigio (Fritz Krause, Nos Sertões do Brasil, 1941). Cerâmica: Confeccionada pelas mulheres, são utilitárias, (potes, pratos tigelas) ou ornamentais (bonecas ritxokò). A cerâmica passou por uma mudança significativa devido a valorização e pressões comerciais. As artesãs personalizam seu trabalho com figuras decorativas tradicionais e usufruem de grande prestigio dentro e fora da comunidade. Para confecção da cerâmica utilizam o barro branco retirado, na época da estiagem, dos barrancos do rio Araguaia que é misturado com cinzas da madeira do cega machado e colocada para secar ao sol. Para o cozimento, primeiro o objeto é colocado perto do fogo, depois coberto com pedaços de lenha. No final, a peça é pintada de preto, tinta retirada do sumo do jenipapo misturada ao pó do carvão e de vermelho, retirada do sumo do urucum. Na finalização das bonecas utilizam cera preta para fazer os cabelos (Berta Ribeiro, 1957). Cestaria: Serve para o transporte e armazenamento de mantimentos e como peça decorativa. A técnica da cestaria é ensinada pelos homens mais velhos aos jovens que desejam aprender. As crianças aprendem desenhando na areia, depois transportam para a palha. Os motivos são transmitidos de geração para geração e representam, a fauna e a flora. Para confecção das cestarias são utilizadas a palmeira do babaçu, da bacaba e a seda do buriti.
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Celebrações e Rituais O Povo Karajá mantém a tradição através de seus rituais e celebrações. Ensinam aos descendentes a importância e necessidade da transmissão destes conhecimentos que vem de tempos milenares. As festas têm caráter religioso e são realizadas durante a época de fartura alimentar. As figuras míticas dos espíritos protetores cantam e dançam para todos. Na preparação das festas os homens saem para as caçadas e pescarias, as mulheres arrancam a mandioca, ralam, colocam para secar, coletam frutos e fazem bebidas. São feitos os ornamentos e enfeites: cocares, colares, braçadeiras e tornozeleiras. As tintas de jenipapo e urucum são utilizadas na pintura corporal. A Pintura Corporal A pintura corporal é a representação de figuras simbólicas dos animais da região, como: pássaros, peixes e répteis. Utilizam as cores preta, retirada do jenipapo e vermelha do urucum. Existem dentro da comunidade pessoas especiais para fazer a pintura corporal. "As crianças aprendem a desenhar, olhando suas mães e irmãs" (Ijyraru Karajá) Os desenhos são usados no corpo das pessoas, nas cerâmicas, nas esteiras, nos cestos, nos remos e nos maracás. As representações gráficas são diferentes para cada grupo social dentro da aldeia: os homens pintam de uma forma, as mulheres casadas de outra, as solteiras, velhos e rapazes também têm suas pinturas características que representam formas de distinção e hierarquia dentro da sociedade. Ijasò Os Aruanã (Ijasò) são espíritos trazidos pelos pajés, do grande Berohoky (rio Araguaia), para dentro da aldeia. Representam os animais como a ariranha, o corrupião o boto e a cobra coral. Os homens quando vão caçar, pescar ou fazer alguma viagem, pedem proteção aos Aruanãs: dançam aos pares e não mostram os seus rostos. Mulheres, homens e crianças participam do "ciclo do Aruanã", que dura o ano inteiro e revitaliza a cultura da comunidade. Mas, é nas noites de lua cheia que acontece o rito reservado somente aos homens. Os Rituais de Morte: Os karajá acreditam que, depois da morte, eles sobrevivem em espírito. Uorossani, é o espírito do bem e cunin, espírito do mal. Enterram seus mortos em covas rasas cobertas com palhas e, um ano depois, retiram o que restou e colocam em urnas de cerâmica. Os cemitérios ficam perto da aldeia, no mesmo sentido das casas, em frente ao rio. Festa do Hetohoky Também conhecida como a "Festa da Casa Grande" representa a passagem do menino para a fase adulta. A festa começa quando o pai do menino vai conversar com o pajé para ele chamar os Aruanã. Convidam os Karajá de toda região para participar, uma grande casa é construída para os convidados onde deverá ter comida farta para todos. São realizadas lutas tradicionais, a disputa do mastro e a brincadeira da bacia. Os Aruanã entram e saem das casas cantando e dançando para além de marcarem a passagem do menino, marcarem também um novo tempo, repetindo os feitos de seus ancestrais dos quais muito se orgulham. Depois das boas vindas, começa a luta entre os homens uma verdadeira prova de força e resistência corporal. A competição entre as aldeias começa a noite quando os homens se reúnem em torno da "tora grande". Enquanto os visitantes tentam derrubar a tora, os donos da festa precisam mantê-la em pé. A luta vai até o amanhecer, quando o Diré (menino que está sendo iniciado) chega para a cerimônia com o corpo todo pintado de preto (jenipapo e carvão) e a cabeça raspada. Ijesu são as lutas Karajá, competições entre aldeias e clãs Iny durante as festividades. Lutam dois de cada vez, em vários estilos, como a "luta de onça" que envolve pés e braços. Ganha quem ficar de pé. A Aldeia Karajá Tradicional O Araguaia dita as regras. No ritmo das chuvas, sobe e desce.
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Faz mudar as casas. Faz mudar as vidas. O Sol, o calor, a praia, a fartura dos peixes. O sereno, a chuva, a floresta, os frutos da Terra. Uma linha reta que guia a vida. Vida Karajá. Riceles Araújo Costa A forma tradicional da aldeia Karajá era em linha reta: uma fileira de casas voltadas para o rio. Na frente dessas casas ficava uma larga circulação principal; atrás delas um caminho secundário, usado preferencialmente por rapazes solteiros. Existiam outros caminhos que levavam à casa dos homens (casa de Aruanã), situada atrás da fileira de casas, a uma certa distância. Os Karajá não possuíam aldeia permanente: no inverno, estação das chuvas e das cheias do rio Araguaia (outubro a abril), a aldeia era construída nos barrancos mais altos das margens, acima do nível das enchentes, no verão, estação seca (maio a setembro), a aldeia transferia-se para as praias, acompanhando a forma irregular do curso do rio, facilitando a pesca e a coleta de ovos. Em qualquer época, porém, as casas eram alinhadas ao longo da margem, voltadas para o rio, conservando o mesmo lugar relativo dentro do conjunto, obedecendo as relações de parentesco e a única a ficar afastada era a casa dos homens (Casa de Aruanã), local de reunião para os homens e de aprendizado para os rapazes solteiros, interditada às mulheres e crianças. Tradicionalmente e nos dias atuais é costume localizar o cemitério à beira do rio, no extremo da aldeia, a pouca distância das casas, em locais livres de vegetação arbustiva e rasteira. São mantidas no entorno apenas algumas árvores de maior porte. Observa-se na disposição dos túmulos a forma utilizada para a posição das casas: pessoas do mesmo grupo familiar são sepultadas uma ao lado das outras. Ocorrem grupos de túmulos ortogonais ao rio, acompanhando-o linearmente. Como não é permitida a superposição de sepultamentos, o processo de formação da aldeia é repetido. De acordo com os mais velhos, deve haver espaço suficiente para os mortos, da mesma forma que os vivos devem contar com espaço bastante, em suas moradias, para ter conforto. A Aldeia Karajá Atual Nos dias atuais os Karajá não fazem os acampamentos de verão. Implanta-se a aldeia em barrancos planos acima do nível do rio. Santa Isabel do Morro e Fontoura, na Ilha do Bananal, são as aldeias Karajá que mantém, em parte, a implantação tradicional. As diferenças ficam por conta das edificações com materiais industrializados realizadas pela FUNAI: o posto de saúde, a escola, as casas para os funcionários e para os três capitães da aldeia. À primeira vista a aldeia se parece com os povoados habitados por sertanejos, com casas alinhadas dos dois lados de uma rua central. No entanto, esse tipo de distribuição das casas pode ser interpretado como a duplicação de uma aldeia Karajá tradicional, com duas fileiras paralelas de casas ao longo do rio, e não a cópia de um povoado não-índio. Essa interpretação feita pela arquiteta Cristina Sá (In: Revista Projeto/1983) é sugerida pelo fato de que, na fileira de casas que fica entre a rua central e o rio, quando existe uma única porta, essa fica voltada para o rio, que continua a ser o principal marco de referência. Entretanto, a aldeia Xambioá, localizada no norte do estado, foge a esta regra, pois todas as casas, duas fileiras ao longo de uma rua central, estão voltadas para esta ruaAlém de servir para a circulação, a rua central é também utilizada pelas mulheres como local de trabalho, das brincadeiras de meninos e meninas e de descanso onde, à tardinha e à noite, as famílias colocam suas esteiras e banquinhos de madeira para conversar, comer ou dormir. Em Santa Isabel do Morro ainda existem os caminhos secundários, passando pela porta das casas da fileira próxima ao rio e pelos fundos das casas da outra fileira, que são usados preferencialmente pelos rapazes solteiros e pelas crianças. Outros caminhos, saindo da rua central, levam aos barrancos onde se desenvolvem atividades públicas como, ancoramento de canoas, coleta de barro para a confecção de artesanato (mulheres) ou para construção (homens), banho em família ou individual e lavagem de roupas. Saindo na direção oposta à rua central, tem os caminhos que levam à casa de Aruanã. Depois das boas vindas, começa a luta entre os homens uma verdadeira prova de força e resistência corporal. A competição entre as aldeias começa a noite quando os homens se reúnem em torno da "tora grande". Enquanto os visitantes tentam derrubar a tora, os donos da festa precisam mantê-la em pé. A luta vai até o amanhecer, quando o Diré (menino que está sendo iniciado) chega para a cerimônia com o corpo todo pintado de preto (jenipapo e carvão) e a cabeça raspada.
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Ijesu são as lutas Karajá, competições entre aldeias e clãs Iny durante as festividades. Lutam dois de cada vez, em vários estilos, como a "luta de onça" que envolve pés e braços. Ganha quem ficar de pé. A Aldeia Karajá Tradicional O Araguaia dita as regras. No ritmo das chuvas, sobe e desce. Faz mudar as casas. Faz mudar as vidas. O Sol, o calor, a praia, a fartura dos peixes. O sereno, a chuva, a floresta, os frutos da Terra. Uma linha reta que guia a vida. Vida Karajá. Riceles Araújo Costa A forma tradicional da aldeia Karajá era em linha reta: uma fileira de casas voltadas para o rio. Na frente dessas casas ficava uma larga circulação principal; atrás delas um caminho secundário, usado preferencialmente por rapazes solteiros. Existiam outros caminhos que levavam à casa dos homens (casa de Aruanã), situada atrás da fileira de casas, a uma certa distância. Os Karajá não possuíam aldeia permanente: no inverno, estação das chuvas e das cheias do rio Araguaia (outubro a abril), a aldeia era construída nos barrancos mais altos das margens, acima do nível das enchentes, no verão, estação seca (maio a setembro), a aldeia transferia-se para as praias, acompanhando a forma irregular do curso do rio, facilitando a pesca e a coleta de ovos. Em qualquer época, porém, as casas eram alinhadas ao longo da margem, voltadas para o rio, conservando o mesmo lugar relativo dentro do conjunto, obedecendo as relações de parentesco e a única a ficar afastada era a casa dos homens (Casa de Aruanã), local de reunião para os homens e de aprendizado para os rapazes solteiros, interditada às mulheres e crianças.
Falta um pedaço Krahò Origem mítica do povo Krahò "Sol disse para a lua: cumpadre vamos descer e decidiram: criaram as matas, os rios e o homem. Da cabaça criaram a mulher e ensinaram a construir aldeia e fazer roça e voltaram para o céu". Pokrok História Contam os Krahó em sua história mitológica que Put, o sol e Pud roré, a lua, foram habitar a terra em forma de homens. Pud (Deus) cantou e deu origem a todas as coisas do mundo. Para os Krahò o canto é sagrado e tudo começa e termina com os cânticos ensinados por Deus. No final do século XVIII, os Krahò habitavam a região do Rio Balsas no Estado do Maranhão quando tiveram registrados seus primeiros contatos pela "frente de colonização". Recuaram para a margem direita do rio Tocantins, entre os rios Farinha e Manuel Alves, na região onde hoje é a cidade de Carolina / Maranhão. Como outros grupos os Krahò combateram outras etnias. Pedro Penõ fala de suas lembranças sobre as lutas contra os outros povos e como essas lutas influenciaram suas migrações: "deslocou para Pedro Afonso, porque o Mehin (como os Krahò se autodenominam) brigava com o Gavião. (...) Ai depois o Xerente começou também a brigar com os Krahò e eles desceram o rio". Fomentar a guerra entre as diversas etnias foi uma estratégia bastante utilizada pela frente colonizadora para apoderar-se das riquezas encontradas nas terras de outro grupo (Carneiro da Cunha, p. 18). Como a maioria das tribos indígenas, os Krahò sofreram grandes perdas na sua população. A política de aldeamento significava, segundo a conveniência dos brancos, deportação e concentração de grupos indígenas, em locais limitados onde havia uma constante vigilância dos missionários destinados ao trabalho de catequese. Estes índios além de agrupados a diferentes etnias deveriam desempenhar trabalhos para toda comunidade local. Os Krahò viveram na aldeia de Boa Vista do Tocantins, fundada pelo frei Francisco do Monte São Vítor em 1841 no município do mesmo nome. Dez anos mais tarde, havia nessa aldeia 2822 Apinayé e Krahò (Carneiro da Cunha pag.18).
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Uma parte da tribo Krahò foi levada à aldeia de Pedro Afonso, fundada em 1849 pelo missionário frei Rafael de Taggia. Pedro Afonso era um importante entreposto comercial da época e servia de rota fluvial, pelo rio Tocantins, entre Porto Imperial e Carolina. Viveram nessa aldeia perto dos rios Sono e Tocantins, mas os ataques e as doenças reduziram a população. No início do século XIX eram quatro mil pessoas e em menos de um século, a população reduziu para pouco mais de quinhentos habitantes. "Então mandaram pedir um padre. Ele chegou naquelas canoa grande, Frei Rafael. Levaram pelo rio até Pedro Afonso. Ficaram morando lá até fazer a demarcação, essa área que tem para o Krahò." Pedro Penõ Anos depois apenas mil Krahò viviam em Pedro Afonso, trabalhavam na pesca, agricultura e pastoreio - levavam gado para o Maranhão. Frei Rafael de Taggia ainda era seu missionário, e assim seria até morrer, aos oitenta anos. "Em 1886 restavam apenas duzentos Krahò na aldeia, que tinha se transformado num vilarejo de sertanejos afastados" (Mellati, Índios do Brasil, pág. 24). Mas os Krahò foram removidos, pois criavam empecilhos ao comércio fluvial através do rio Tocantins (Carneiro da Cunha, p.408). A pressão colonizadora os obrigava a migrar aparentemente em direção ao nordeste, voltando à sua região de origem às margens do rio Manuel Alves Pequeno.. Em 1940, os índios Krahò sofreram um violento massacre desfechado por criadores de gado. As invasões persistiram por décadas e, continuam vivas na memória de seus habitantes mais velhos. Mas os Krahò resistiram e preservaram elementos fundamentais da sua cultura, como os cantos, corte de cabelo, o cultivo dos alimentos e principalmente a formação circular das aldeias mantendo o equilíbrio cultural de seu povo. Demarcação das Terras "Eu pedi mesmo; quero lugar tudo desocupado". Pedro Penõ Após várias invasões, as terras dos índios Krahò foram demarcadas. É uma área de aproximadamente 302.533 hectares próxima as cidades de Itacajá e Goiatins. Delimitada em 1976, hoje é considerada a maior área de cerrados inteiramente preservada no Brasil. "A divisa é Sono Grande que despeja no Tocantins, aí sobe até rio Perdido até rio negro que digo, até Chácara da Serra, até rio Mateiro despeja no Suapara, no Suapara desce até no Manoel Alves Grande. Nome mudado do Rio Vermelho. Essa que é a divisa dos Krahò". Pedro Penõ Vida Cotidiana Dia-a-dia na aldeia Pedra Branca Para os Krahò a terra pertence a todos os membros da tribo. Os casais preparam a roça para sua família, depois da colheita outros membros da tribo podem utilizar o mesmo local. O marido e a mulher podem doar, aos seus parentes os produtos dos seus roçados, mas em caso de separação a mulher fica com a produção. Os Krahò negociam com os brancos, utilizando recursos que possam promover sua sobrevivência na relação interétnica. "Os Krahò permitem que os regionais plantem em suas terras, criem gado, mediante pagamento em dinheiro, em reses, em produtos vegetais, em certos favores ou mesmo em troca de permissão de caçarem fora do território tribal" (Darcy Ribeiro, p. 133). Com a posse da terra ganharam uma "certa independência", uma relação "ordenada" com o mundo dos não índios, e também, puderam manter sua identidade étnica. De outra forma, sem essas estratégias de defesa, adquirida do contato permanente de aproximadamente duzentos anos com a sociedade envolvente, talvez não conseguissem sobreviver aos tempos. Alimentação Pedro Penõ descreve, assim, os hábitos alimentares dos Krahò: "Comíamos toda fruta, macauba, buriti, bacaba, coco piaçava. Quando já tá maduro, eles pegam tudinho ai eles tiram, descascam tudinho, tiram casca e botam no sol, ai quando tá seco bate tudinho e tira carne de casca, pisa no pirão e faz beju ou faz paparuto, mistura com a casca de cipó. De primeiramente o índio planta aquele cipó e deu no fim, chegou verão, quando caiu folha ele tira tudinho e faz uma tora e bota no fogo e assa. Eu já comi o beju de carne de casca de piaçava eu já comi também. Massa de macauba, também tira a casca dura e cozinha no muquem conforme ai umas quatro horas, faz muquem grande e assa, quando assar eles tiram tudinho e põe no sol." Pedro Penõ
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Trabalho A divisão de trabalho é feita pela separação de sexo e idade. Os homens cuidam da agricultura e das atividades guerreiras, caçam e pescam. As mulheres fazem a coletam, plantam, e cuidam da casa. As crianças imitam os adultos do mesmo sexo. As meninas maiores cuidam dos menores e os meninos, assim como os velhos, são encarregados de carregar as armas e levarem a caça para as aldeias. Os velhos são representantes da tradição, conselheiros e sábios. Na roça cultiva-se mandioca, batata, amendoim, abóbora e principalmente o milho, considerado sagrado para os Krahò. A área dos roçados fica distante da aldeia. As Caçadas Os caçadores Krahò, para serem bem sucedidos, além de observar os locais e ocasiões propícias para a caçada, também devem conhecer muito bem os hábitos dos animais para melhor procurálos ou esperá-los. Prepara-se também com certos recursos mágicos: "...usam determinados vegetais para esfregar no corpo ou para fazer infusões que ingerem, segundo à espécie de animal que desejam caçar" (Melatti, p. 48). Certas magias, para terem eficácia, exigem a abstinência de certos alimentos. Também procuram interpretar os sonhos que, segundo eles, poderão predizer o sucesso das caçadas. Artesanato Os Krahò confeccionam artesanatos utilitários: cofos para carregar lenhas e alimentos. Bolsas para viagens ou para colocar roupas e pequenos objetos, cuias, pilões, abanos e cestas. Produzem enfeites e instrumentos musicais para as festas como os colares e as flautas de cabacinhas e os maracás que são feitos pelos homens. O material empregado na confecção dos artesanatos é retirado da natureza são: sementes, palha de buriti e babaçu, penas de pássaros e cabaças. Organização social Tradicionalmente as aldeias Krahò são politicamente independentes. Estão construídas em disposição circular, com um grande pátio no centro chamado Kà, onde a tribo se reúne para fazer as divisões de trabalho e tudo que seja importante para a concepção da vida cotidiana na aldeia. Os partidos: Os Krahò possuem dois partidos, ou duas metades o Katam jê e Wakme jê , estão presentes em tudo, segundo a tradição, são essas forças que regem a natureza e o homem. É importante para os Krahò que as duas metades estejam em equilíbrio, observando a rotatividade da terra durante o plantio, respeitando o tempo das caçadas e toda as atividades dentro de uma relação com o tempo e variações sazonais, para que se respeite o ritmo da vida e mantenha o equilíbrio. Quando se desrespeita o equilíbrio que rege as duas metades, vem as doenças, a fome, a sede e a morte. Katam jê representa o inverno, rege as chuvas, o poente, as matas verdes, o frio, os animais noturnos. Wakme jê representa o verão, o nascente, a seca, o calor e os animais noturnos. Celebrações e Rituais Os Krahò cultivam seus rituais e celebrações com a mesma força que acreditam no equilíbrio das metades que rege suas aldeias. O símbolo sagrado que mantêm essa harmonia e o respeito dentro da comunidade é o Khoyré, uma machadinha de pedra que o povo Krahò tem como elemento importante para continuar a tradição e a vida. Tudo que se relaciona ao povo, suas festas, ritos, histórias, os sentimentos e as crenças estão ligadas a natureza, de onde tiram a sobrevivência do corpo e da alma. Portanto, "aquele que possuir a machadinha não deve fumar, beber, não pode brigar. Tem que falar pouco e escutar mais". (José Aurélio Pokrok) Os Krahò acreditam que todos os seres: animais, vegetais ou minerais, possuem alma, conhecida como, Karõ. O Karõ pode afastar-se do corpo. Quando morre um Krahò acontece a separação definitiva, e depois o Karõ transforma-se em animais. "Para os índios Krahò tanto o marido como a mulher tem participação na formação do corpo de um novo ser. (...) Uma vez nascida a criança, (...) o homem Krahò evita comer carne e determinados alimentos vegetais durante os primeiros dias após o nascimento de seu filho; (...) não pode trabalhar, fumar, conversar, ter relações sexuais, matar cobras" (Melatti, p. 104). Os homens seguem essas tradições por acreditarem que o filho tem ligação direta com o pai, assim
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era preciso se preservar para que os filhos sobrevivessem seus primeiros dias de vida com saúde. O menino Krahò recebe o nome geralmente de seu tio materno, enquanto a menina quase sempre da tia paterna. Segundo o nome que recebe, o indivíduo passa a pertencer a certo grupo cerimonial e a certa metade dos muitos pares que existem na sociedade. Khoyré - Machadinha Sagrada" Eu falei das cerimônias e da força da nossa cultura. Na aldeia é o cantor que usa a machadinha. A machadinha que toma conta da aldeia resolve as coisas, sabe as coisas antigas".A história era assim: Os cantores ficam no pátio, no centro, cantam até o dia amanhecer e ajuntar o pessoal, explicam as coisas, se vão trabalhar ou vão para a caçada, explicam para os mais novos que vão para o mato matar algum bicho e trazer para o rumo do torí(não índio) as coisas que mataram repartem, vão dar para o Wakme jê ou Katam jê , então vão dividir carne e correr para o rumo da aldeia. Sempre cantam, toda noite pro outro aprender. A Machadinha sempre fica guardada, aquele que sabe cantar pega ela um pouco e torna a guardar." Os Sonhos Acreditam que os sonhos predizem a vida, mostram o que vai acontecer. O velho Xavier diz que se sonhar matando o animal, você irá viver por muito tempo até ficar velho, se o bicho matar o indivíduo este, logo morrerá. A Festa da Batata (panti) Celebra a colheita, é realizada durante o verão, quando existe comida suficiente para alimentar todos que participarão dos rituais. Colhem milho, batatas, frutas e reúnem os partidos do verão e inverno para combinarem como será a festa. Durante a festa os Krahò celebram seus casamentos e batizados. Preparam um grande bolo de mandioca e carne, o paparuto. Fazem os enfeites que os rapazes e as moças usarão durante as festividades. "Fica a noite toda na festa do maracá. As mulheres cantam, os homens ficam passando por elas e o cantor conduz ensinando as músicas dos antepassados, sobre os animais". Cacique da aldeia Cachoeira Durante a festa correm com a tora que chamam de Jàtjõpi "tora da batata" que chega a pesar 120 quilos. Participam os dois partidos: o do sol nascente e do sol poente. O cantor de maracá e uma mulher cantam lado a lado na casa de reunião dos homens. Junto, uma menina aprende os cantos. A cerimônia começa quando todos vão para o círculo maior, em frente a casa de reuniões de um dos partidos. Jogam as batatas nos rapazes, que se oferecem para recebe-las. Se pegam continuam na brincadeira, se deixam cair, cedem o lugar para outro. O homem, a mulher e a menina, cantando, são seguidos por toda a comunidade. A cada novo desafio, a brincadeira torna-se mais festiva. No final, reunidos no pátio após percorrerem a metade da aldeia, as mães acendem fogueiras e as brincadeiras recomeçam com as cantigas de maracá. Corrida de toras Homens e mulheres participam da corrida com toras, especialmente preparadas para cada tipo de festa. Os grupos que correm representam os dois partidos, o do sol nascente e o do sol poente. Preparam-se para a corrida que terminará no pátio. As toras de buriti vão passando de ombro em ombro e ganha o grupo que chegar primeiro ao pátio onde gritam e dançam comemorando a vitória. "Cortam as toras de buriti, limpam bem, comparam o peso de cada uma e começa a corrida, sai um portador para convidar outras aldeias para participar da festa." Dodani Krahò Festa do Milho - Pônhê Na festa do milho os Krahò comemoram a fartura das roças. Segundo o cacique a festa demora acontecer, às vezes passam até dez anos para que ela seja realizada. A festa começa com o partido do inverno Katam jê, recolhendo os alimentos nas roças do partido Wakme jê, do verão. O que colhem armazenam em grandes palhas de bacaba, do seu lado da aldeia. Depois o partido do verão recolhe todos os alimentos na casa dos homens do seu partido. Fazem dois grandes feixes de palha contendo os alimentos e colocam diante de suas casas. Quando chega a noite começa a cantoria. Os velhos do partido do inverno ficam no pátio.
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Caminham até os feixes de alimentos e voltam para o pátio, como que anunciando aos outros membros do partido. Esperam até o dia amanhecer quando reúnem os dois partidos para carregar os feixes até o pátio. Cantam com maracá e abrem os feixes dividindo todos os alimentos. A Aldeia Krahò Os Krahò quando falam de sua própria sociedade, destacam a aldeia - e não as casas - como unidade fundamental para as suas referências, definindo-se como "índios de verdade" principalmente pelo formato circular de suas aldeias. Matta, faz a mesma afirmação quando se refere aos Apinayé que, assim como os Krahò, também são descendentes dos Timbira. (MATTA, 1976) As aldeias Krahò são circulares e o círculo é formado porque todas as casas distam igualmente do pátio que se torna, desta forma, o centro da aldeia. A circunferência formada pelas casas não é proporcional ao seu número. Em outras épocas era comum uma aldeia com determinado número de casas e diâmetro ser construída em outro local com o mesmo número de casas, porém, com diâmetro maior. Ou então, encontrar-se aldeias pequenas (poucas casas) com diâmetro maior que algumas aldeias grandes. Cada casa tem seu próprio caminho que a liga ao pátio, e estes caminhos radiais são iguais para todos, o que significa que "todos têm o mesmo peso social" (Matta op. cit.) e que estão relacionados de um mesmo modo ao pátio, centro das decisões políticas e de toda a vida ritual. Esta disposição espacial das casas forma assim o círculo maior da aldeia, normalmente chamado de periferia. Diante das casas passa um caminho circular, o kricapé (onde kri = aldeia). É na periferia que têm lugar as atividades domésticas ligadas à produção e as casas aparecem como unidades fisicamente definidas e demarcadas. Cada casa abriga os dois únicos grupos sociais da vida cotidiana: a família elementar (pai, mãe e filhos) e o grupo doméstico, o quer dizer que uma casa compõe-se de pelo menos duas famílias elementares. Os homens ao se casarem, devem residir na casa da mãe de sua esposa; assim, as famílias elementares de uma mesma casa, que constituem o grupo doméstico, são ligadas pelos laços maternos. A expansão das aldeias não é dada de forma linear. Quando o círculo periférico da aldeia já não suporta mais a construção de novas casas, as novas famílias vão construindo atrás das casas das quais haviam desmembrado, ou seja, geralmente as filhas morando atrás da casa das mães. Em momentos ou situações de grande acréscimo populacional e de estabilidade política, ao invés de ocorrências de cisões, as aldeias podem ampliar o círculo (aumentando o diâmetro das aldeias), abrindo para trás. Nesta situação não a veríamos como um conjunto concêntrico de círculos de casas em torno de um pátio, mas sim um círculo de traçado irregular, com casas mais distantes ou mais próximas do pátio. Com o passar do tempo as casas do antigo círculo tendem a desaparecer, restando somente o novo círculo periférico com um perímetro maior, já que as novas gerações teriam construído suas casa no círculo de trás e as da frente desapareceriam. A Casa Tradicional Krahò A forma das casas utilizadas pelos Krahò são muito parecidas com as casas dos moradores nãoíndios da região. A planta é normalmente retangular, com um dos lados maiores formando a frente da casa, que tem por vezes uma cobertura de quatro águas, feitas de folhas de babaçu ou inajá. Do mesmo material são feitas as paredes. Toda a amarração é feita com cipós. As folhas de palmeira são aplicadas em posição horizontal, com os folíolos pendentes para um lado só. Algumas vezes, as folhas são aplicadas em sentido vertical, de ponta para baixo e com os folíolos em posição natural - parece ser esta a maneira original de fazerem as paredes. A casa completa é fechada em todos os quatro lados, às vezes, porém, falta a parede da frente, total ou parcialmente, ou somente uma parte da casa forma uma espécie de quarto fechado. A porta sempre é feita no lado maior, voltada para o pátio da aldeia. A esta parte da frente corresponde outra, na parede dos fundos, dando para o quintal. Nas casas não há janelas. São mais comuns as casas com cobertura de duas águas e porta ao lado do esteio da cumeeira e se utilizam mais das folhas de piaçava para a cobertura de suas casas. À noite e durante a ausência de todos os seus habitantes, fecha-se a porta com uma esteira encostada ou pendurada nela. As casas são construídas pelos homens que nelas habitam, mas são propriedade das mulheres. A Casa Atual
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Atualmente os Krahò constroem suas casas de taipa ou mesmo de adobe ou tábuas de madeira fazendo uma divisão interna. Mellati (in: MELATTI, J.C. Ritos de uma tribo Timbira. 1975) descreve: "Ocorre algumas vezes que a casa krahò tenha paredes internas; mas não há nada de comum entre a divisão interna de uma casa e as demais. (...) A casa indígena é geralmente sem divisões; algumas vezes separam um recinto destinado a ser cozinha de outro destinado a ser quarto; mas logo algum casal da casa se instala na cozinha, começa a cozinhar no quarto e a primitiva divisão se transforma". É também bastante comum que as famílias construam atrás ou ao lado da casa de taipa ou adobe uma área com cobertura de palha que serve de cozinha, utilizando a casa apenas para dormir. Encontra-se no interior da morada, jiraus baixos com esteiras de buriti, um para cada casal e camas a um metro e meio a dois metros de altura, cercadas por paredes de esteiras para as moças.
Xerente Akwê, "gente importante", "indivíduo". O povo que assim se denomina vive na margem direita do rio Tocantins, perto da cidade de Tocantínia, na Reservas Indígenas Xerente e Funil Pertencente ao grupo linguístico Macro-Jê, vivem da agricultura tradicional da "roça de toco", plantam milho, arroz, mandioca e, em pequena escala, utilizam a lavoura mecanizada. Ação realizada por técnicos indígenas e não índios, funcionários do Programa de Compensação Ambiental Xerente - Procambix, apoiados pela Funai e Naturatins - órgão do Estado responsável pela preservação ambiental. As matérias-primas usadas na confecção do artesanato são a palha de babaçu, sementes nativas e o capim dourado, do qual fazem cestas, redes, bolsas, esteiras e adereços que são comercializados nas cidades próximas da reserva ou enviados para outros estados. Atualmente, uma parcela dos índios Xerentes trabalha como professores e em cargos administrativos estaduais e federais.
Símbolos do Estado A Bandeira
CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO TOCANTINS 1989 PREÂMBULO A Assembléia Estadual Constituinte, representando a Comunidade Tocantinense, refletindo as mudanças operadas com o advento da sua emancipação político-administrativa e fazendo-se instrumento de orientação do seu progresso, com liberdade, igualdade e fraternidade, sob a proteção de Deus, promulga a sua primeira Constituição. Título I - DA ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
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Seção I - DOS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS Art. 1°- ..... Art. 2°- ..... Art. 3° - Palmas é a Capital do Estado. § 1° - São símbolos do Estado: a bandeira, o hino, as armas e o selo estadual. GOVERNO DO ESTADO DO TOCANTINS Lei nº 094/89, de 17 de novembro de 1989. Institui a BANDEIRA DO ESTADO DO TOCANTINS. A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO TOCANTINS decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica instituída a BANDEIRA DO ESTADO DO TOCANTINS, constituída de um desenho simples e despojado de filigranas, de fácil visualização e apreensão, não oferecendo o risco da contraposição, como consta do memorial justificativo e arte (I - Representação Policromática; II Cores Convencionais Heráldica; III - Construção Modular), em anexo, elaborados por José Luiz Moura Pereira, que passam a fazer parte integrante desta Lei. Art. 2º - A BANDEIRA DO ESTADO DO TOCANTINS terá a seguinte descrição geométrica: Retângulo com as proporções de 20 (vinte) módulos de comprimento por 14 (catorze) de largura. Os vértices superior esquerdo e inferior direito são dois triângulos retângulos, com catetos de 13 (treze) por 9,1 (nove e um décimo) módulos, nas cores azul (blau) e amarelo (ouro), respectivamente. A barra resultante dessa divisão, em branco, está carregada com um sol estilizado de amarelo (ouro), com 8 (oito) pontas maiores e 16 (dezesseis) pontas menores, com 4 (quatro) e 2,3 (dois e três décimos) módulos de raio. Art. 3º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Miracema do Tocantins, 17 de novembro de 1989, 168º da Independência, 101º da República ano 1º do Estado do Tocantins. SIQUEIRA CAMPOS Governador do Estado BANDEIRA DO ESTADO DO TOCANTINS Memorial Justificativo A palavra bandeira, do gótico BANDWA, sinal, estandarte + eira , segundo o Novo Dicionário Aurélio, tem a seguinte definição: Pedaço de pano, com uma ou mais cores, às vezes com legenda, que se hasteiam num pau, e é distintivo de uma nação, corporação, partido, etc. Uma definição muito pobre do verbete, pois a Bandeira, tal como o Brasão de Armas, é uma das formas superiores da Heráldica, sendo o que poderíamos chamar de propaganda espiritual, que parece denotar um impulso humano ao concreto e a necessidade inelidível de fixar em um símbolo a unidade de suas aspirações em uma ordem coletiva qualquer. A Bandeira, pois, como símbolo máximo a pairar sobre o novo Estado do Tocantins, deve ser a síntese dos sonhos e ideais mais caros de seu povo; a reverência ao seu passado, a confiança do seu presente e a esperança no seu futuro, representando todos esses valores de forma a mais harmônica possível sem ferir, contudo, o que determinam as regras de vexilologia. O projeto da Bandeira aqui representado traz a mensagem de uma terra onde o sol nasce para todos; o sol, de amarelo ouro, a derramar seus raios sobre o futuro do novo Estado, colocado sobre uma barra branca, símbolo da paz, entre os campos azul (blau) e amarelo (ouro), cores que expressam respectivamente o elemento água e o rico solo tocantinense. Por seu desenho simples e despojado de filigranas, esta Bandeira será de fácil visualização e apreensão, não oferecendo o risco da tão indesejável contraposição. Descrição Geométrica
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Retângulo com as proporções de 20 (vinte) módulos de comprimento por 14 (quatorze) módulos de largura. Os vértices superior esquerdo e inferior direito são dois triângulos retângulos com catetos de 13 (treze) por 9 (nove) módulos nas cores azul (blau) e amarelo (ouro) respectivamente. A barra resultante desta divisão, em branco, está carregada com um sol estilizado de amarelo (ouro) com 8 (oito) pontas maiores e 16 (dezesseis) pontas menores com 4 (quatro) e 2,3 (dois e três décimos) módulos de raio. (ver Anexo II Modular). Bibliografia · DI CROLLANZA, Gofredo. GRAMÁTICA ARÁLDICA. Ed. Ulrico Hoelpi - Milano, 1904 · ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. Enciclopédia Britânica do Brasil, Publicações Ltda. 1976 · ENCICLOPÉDIA SÉCULO XX. J. Olímpio - Expressão e Cultura - 1972. · FAYARD, LES DRAPEUX A TRAVERS LES AGES ET DANS LE MONDE ENTIER. 1976. · LANGHANS, F. P. de Almeida. HERÁLDICA - CIÊNCIA DE TEMAS VIVOS. Gabinete de Heráldica Corporativa - Lisboa, 1966. · OS SÍMBOLOS NACIONAIS. Presidência da República - 1986. · O TOCANTINS, Ano 4 - nº 11. · RIBEIRO, Clóvis. BRASÕES E BANDEIRAS DO BRASIL. S. Paulo Editora Ltda. - S. Paulo, 1933. · RUNES, D. D., SCHRICKEL, H. C. ENCICLOPÉDIA DE LAS ARTES. Editorial Êxito S. A. - Barcelona, 1951. · V. LEX. Legislação Federal 1968.
Brasão
GOVERNO DO ESTADO DO TOCANTINS Lei nº 092/89, de 17 de novembro de 1989. Cria o BRASÃO DE ARMAS DO ESTADO DO TOCANTINS. A ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO TOCANTINS decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º - Fica instituído o BRASÃO DE ARMAS DO ESTADO DO TOCANTINS, constituído de um escudo elíptico cortado, na metade superior, em chefe de azul (blau), carregado com a metade de um sol de ouro estilizado, do qual se vêem 5 (cinco) raios maiores e 8 (oito) menores limitado na linha divisória. A metade inferior, o termo ou campanha, uma asna de azul (blau), ladeada nos flancos destro e sinistro de branco e no termo de amarelo (ouro). Sob o escudo, um listel de azul
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(blau) com a inscrição Estado do Tocantins e a data 1º de JAN 1989 em letras brancas. Em timbre uma estrela de amarelo ouro, com bordadura de azul (blau), encimada pela divisa em Tupi CO YVY ORE RETAMA - ESTA TERRA É NOSSA - em letras brancas sobre listel de azul (blau). Como suporte uma coroa de louros estilizada em sinople (verde), COMO CONSTA DO Memorial Justificativo e arte (I - Representação Policromática; II - Cores Convencionais Heráldicas; III Construção Modular), em anexo, criados por José Luiz de Moura Pereira, que passam a fazer parte integrante desta Lei. Art. 2º - O BRASÃO DE ARMAS DO ESTADO DO TOCANTINS terá a seguinte descrição modular: Escudo elíptico de 60º (sessenta graus), com 8 (oito) módulos de largura, cortado em semi-círculo de 8 (oito) módulos de raio, a contar do centro para baixo, carregado em chefe com metade de um sol estilizado com 5 (cinco) pontas de 3,5 (três e meio) módulos e de 8 (oito) pontas de 2 (dois) módulos de raio, respectivamente, e em termo ou campanha com uma asna a 45º (quarenta e cinco graus) com largura de 1,5 ( um e meio) módulo. Sob o escudo, um listel com 1,8 (um e oito décimos) de módulo de largura, com a inscrição Estado do Tocantins em letras de 1 (um) módulo e a data 1º de JAN 1989 com 0,5 (meio) módulo de altura, Em timbre, uma estrela de cinco pontas com 1 (um) módulo de raio, dentro de uma bordadura de 1,25 (um e vinte e cinco décimos) de módulo de raio. Sobre a estrela, um listel com 1 (um) módulo de largura e a divisa CO YVY ORE RETAMA em letras de 0,5 (meio) módulo de altura. Art. 3º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Miracema do Tocantins, 17 de novembro de 1989, 168° da Independência, 101° da República e Ano 1° da Estado do Tocantins. SIQUEIRA CAMPOS Governador Memorial Justificativo Com a divisão do Estado de Goiás e a conseqüente criação, surgiu a necessidade de fixar em um símbolo a unidade das aspirações do seu povo; como expressão máxima de sua identidade entre os demais estados da Federação Brasileira. O Brasão de Armas, como uma forma superior de Heráldica, por seu caráter simbólico, deve ser a síntese dos ideais mais caros do seu povo; a reverência do seu passado, uma afirmação no seu presente e uma mensagem de otimismo para as gerações do futuro. No projeto que ora apresentamos, procuramos ressaltar esses valores de forma a mais harmônica possível dentro do que determinam as regras da Heráldica. Escolhemos a forma elíptica para o escudo, por ser esta a que melhor se coaduna com a alegoria nele representado: o sol de amarelo (ouro) do qual se vê apenas a metade despontando no horizonte contra o azul (blau) do firmamento - imagem idealizada ainda nos primórdios da história do novo Estado quando sua emancipação mais parecia um sonho distante e inatingível e simboliza o estado nascente, uma grandeza que surge, cujo futuro se ergue promissor e fecundo. A asna em azul (blau) cor falante do elemento água, representa a confluência dos rios Araguaia e Tocantins, fonte perene de riquezas e de recursos hidroenergéticos. Os campos em amarelo (ouro) o branco, aí introduzidos em substituição aos metais e prata, não constituem nenhuma violação aos cânones da arte da armaria, uma vez que existem inúmeros precedentes tanto na Heráldica nacional quanto na universal, mas tão somente a repetição das cores, presentes na Bandeira adotada e já consagrada pelo gosto popular e lembram respectivamente a opulência do rico solo tocantinense e também a paz que à mercê de Deus, aí reinará. Sob o escudo um listel de azul (blau) com a inscrição Estado do Tocantins e a data de sua criação 1º de janeiro de 1989 em letras brancas. Em timbre, uma estrela de amarelo ouro, com bordadura de azul (blau), representativa da condição do Estado do Tocantins, como uma das unidades da Federação Brasileira sob a divisa em Tupi "CO YVY ORE RETAMA" - ESTA TERRA É NOSSA - em letras brancas sobre listel azul (blau). Como suporte, a coroa de louros que cingia a fronte dos heróis vitoriosos, em sinople (verde) como justa homenagem e reconhecimento ao valor dos tocantinenses cujo esforço e determinação transformaram aquele sonho tão longínquo na mais viva realidade. Brasão de armas
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Escudo elíptico cortado, na metade superior, em chefe de azul (blau), carregado com a metade de um sol de ouro estilizado, do qual se vêem 5 (cinco) raios maiores e 8 (oito) menores, limitado na linha divisória. A metade inferior, termo ou campanha, uma asna de azul (blau), ladeado nos flancos destro e sinistro de branco e no termo de amarelo (ouro). (ver memorial). Sob o escudo, listel de azul (blau) com a inscrição "Estado do Tocantins" e a data "1º de janeiro de 1989" em letras brancas. Em timbre uma estrela de amarelo ouro, com bordadura de azul, encimada pela divisa em Tupi "CO YVY ORE RETAMA" em letras sobre listel de azul (blau). Como suporte uma coroa de louros estilizada em sinople (verde). Descrição modular Escudo elíptico de 60º (sessenta graus), com 8 (oito) módulos de largura, cortado em semi-círculo de 8 (oito) módulos de raio, a contar do centro para baixo, carregado em chefe com metade de um sol estilizado com 5 (cinco) pontas de 3,5 ( três e meio) módulos e de 8 (oito) pontas de 2 (dois) módulos de raio, respectivamente, e em termo ou campanha com uma asna a 45º ( quarenta e cinco graus) com largura de 1,5 ( um e meio) módulo. Sob o escudo, listel com 1,8 (um e oito décimos) de módulo de largura, com a inscrição "Estado do Tocantins" em letras de 1 (um) módulo e a data "1º de janeiro de 1989" com 0,5 (meio) módulo de altura. Em timbre, uma estrela de cinco pontas com 1 (um) módulo de raio, dentro de uma bordadura de 1,25 (um e vinte e cinco décimos) de módulo de raio. Sobre a estrela, um listel com 1 (um) módulo de largura e a divisa "CO YVY ORE RETAMA" em letras de 0,5 (meio) módulo de altura.
Bibliografia · DI CROLLANZA, Gofredo. GRAMÁTICA ARÁLDICA. Ed. Ulrico Hoelpi - Milano, 1904 · ENCICLOPÉDIA MIRADOR INTERNACIONAL. Enciclopédia Britânica do Brasil, Publicações Ltda. 1976 · ENCICLOPÉDIA SÉCULO XX. J. Olímpio - Expressão e Cultura - 1972. · FAYARD, LES DRAPEUX A TRAVERS LES AGES ET DANS LE MONDE ENTIER. 1976. · LANGHANS, F. P. de Almeida. HERÁLDICA - CIÊNCIA DE TEMAS VIVOS. Gabinete de Heráldica Corporativa - Lisboa, 1966. · OS SÍMBOLOS NACIONAIS. Presidência da República - 1986. · O TOCANTINS, Ano 4 - nº 11. · RIBEIRO, Clóvis. BRASÕES E BANDEIRAS DO BRASIL. S. Paulo Editora Ltda. - S. Paulo, 1933. · RUNES, D. D., SCHRICKEL, H. C. ENCICLOPÉDIA DE LAS ARTES. Editorial Êxito S. A. - Barcelona, 1951. · V. LEX. Legislação Federal 1968.
Hino Estadual O sonho secular já se realizou Mais um astro brilha dos céus aos confins Este povo forte Do sofrido Norte Teve melhor sorte Nasce Tocantins [ESTRIBRILHO]
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Levanta altaneiro, contempla o futuro Caminha seguro, persegue os teus fins Por tua beleza, por tuas riquezas. És o Tocantins! Do bravo Ouvidor a saga não parou Contra a oligarquia o povo se revoltou, Somos brava gente, Simples, mas valente, Povo consciente. Sem medo e temor. [ESTRIBRILHO] De Segurado a Siqueira o ideal seguiu Contra tudo e contra todos firme e forte Contra a tirania Da oligarquia, O povo queria Libertar o Norte! [ESTRIBRILHO] Teus rios, tuas matas, tua imensidão Teu belo Araguaia lembra o paraíso. Tua rica história Guardo na memória, Pela tua Glória Morro, se preciso! [ESTRIBRILHO] Pulsa no peito o orgulho da luta de Palma Feita com a alma que a beleza irradia, Vejo tua gente, Tua alma xerente, Teu povo valente, Que venceu um dia! Letra: Liberato Póvoa Música: Abiezer Alves da Rocha
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