Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

June 16, 2018 | Author: systematic_theology | Category: Prophet, Bible, Paul The Apostle, Revelation, Jesus
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Teologia Prática 3

Prof. Ricardo A u g u s t o A r a k a k i I o S e m e s t r e de 2008

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Introdução

3

1. Mensagem, Sermão e Pregação: é tudo a mesma coisa?

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2. Critérios na Escolha do Texto

"12

3. A Leitura com Propósitos

19

4. O Esboço Analítico

26

5. A Pesquisa Bíblica

35

6. A Progressão Lógica

41

7. As Ilustrações

51

8. A Exortação

58

9. A Abertura e o Fechamento dos Tópicos

64

10. A Introdução

73

11. A Conclusão

82

12. A Composição e O Esboço

90

13. A Comunicação Verbal e não Verbal

98

14. Exemplo de Sermão

109

Bibliografia

114

Adendos Oficinas

115

Conteúdo Programático

119

Relatório de Leitura

121

Avaliação do Curso

114

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"A pregação é a apresentação da verdade através da personalidade".

1

Phillips Brooks

Esta é uma das mais celebres frases produzidas no mundo da pregação. De fato, Deus decidiu comunicar Sua verdade por meio de instrumentos humanos sem anular suas características, temperamentos e personalidades. Para falar, Deus não usa megafones, mas pessoas: "Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois, jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo" (2a Pe 1.20,21). Por esta razão, é possível perceber tantos estilos e maneiras diferentes na comunicação da Palavra, seja por

meio da escrita ou da fala.

Basta comparar

dois grandes

pregadores

contemporâneos como Russel Shedd e Ed René Kivitz, e ficará claro para nós, a verdade de que Deus usa, poderosamente, homens com estilos tão diferentes para comunicar eficazmente a Sua Palavra. Porém, isto não significa que o pregador vale-se tão somente de sua intuição e carisma para interpretar e comunicar as verdades das Escrituras. A Bíblia recomenda o preparo adequado tanto para a interpretação quanto para a comunicação da Palavra de Deus: "Pregue a Palavra, esteja preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda paciência e doutrina" (2a Tm 4.2). Em outras palavras, o pregador sério terá no preparo seu grande segredo no trabalho de interpretar e pregar corretamente as Escrituras. Para esta árdua, mas gratificante tarefa, além do poder ilumínador do Espírito Santo, contará também com as disciplinas da Hermenêutica e da Homilética. Robert H. Stein define "Hermenêutica" como "a prática ou a disciplina da interpretação2". "Homilética", segundo John A. Broadus, é "a simples adaptação da retórica às finalidades particulares e às demandas da pregação cristã3". Em outras palavras, Hermenêutica

é a ciência e a arte de

interpretar as Escrituras e Homilética é a ciência e a arte de pregar as Escrituras. O alvo deste curso é simples: aprender a construir, passo a passo, um sermão bíblico e dinâmico, usando as técnicas da hermenêutica e da homilética. Assim, arregacemos as mangas e ao trabalho! Pois, como escreveu o apóstolo Paulo: "Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a Palavra da Verdade" (2a Tm 2.15).

Robsom Moura Marinho. A Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 16 Robert H. Stein. Guia Básico para a Interpretação da Bíblia, Interpretando Conforme as Regras. Rio de Janeiro, CPAD, 2000, p. 20 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.29 1

2

3

4

vlensagem, Pregação e Sermão. 3 i udo a mesma Coisa?

Para responder a esta pergunta, pensemos num "bolo". Quando vamos preparar um bolo, é necessário lembrar de, pelo menos, três elementos:



Conteúdo: num bolo vão ovos, leite, açúcar, fermento, farinha e outros ingredientes.



Forma: a fôrma em que se colocará o bolo para assá-lo pode ser "redonda", "quadrada", "retangular".



Entrega: o bolo poderá ser servido em "pratos de porcelana", "pratinhos de plástico", ou, até mesmo, em um simples "guardanapo".

Quando o assunto é "mensagem", "sermão" e "pregação", não é diferente. Também é necessário pensar em três elementos: conteúdo, forma e entrega.



Conteúdo: é a mensagem, isto é, o que falar.



Forma: é o sermão, isto é, o como falar.



Entrega: é a pregação, isto é, quando falar.

O conteúdo da pregação é o que se chama de mensagem. A estrutura, ou, a forma que se dará à mensagem é o que se chama de sermão. E, o ato de entregar a mensagem na forma de um sermão é o que se chama de pregação. Assim: "O pregador é aquele que faz a pregação de uma mensagem por meio de um sermão". Entendido este princípio, vamos estudar mais profundamente estes três elementos da comunicação cristã.

Como vimos, a mensagem é o conteúdo do sermão. Não é difícil supor que a mensagem de um sermão deva ser bíblica. Como escreveu John Knox:

A mensagem do pregador precisa provir não de acontecimentos correntes, ou literatura em voga, ou de tendências prevalecentes de um tipo ou de outro, não de filósofos, políticos, poetas e nem mesmo, em último recurso, da própria experiência ou reflexão do pregador, mas sim das Escrituras4.

No entanto, por estranho que pareça, é possível pregar um sermão cuja mensagem não seja autenticamente bíblica. Ligue a televisão, coloque, por exemplo, num programa como o da Seicho-noie, assista uma de suas palestras e você logo comprovará esta verdade. Por outro lado, também é possível pregar um sermão cujo conteúdo pareça bíblico, possua até versículos bíblicos, mas cuja mensagem não é bíblica. Leia Mateus 4.6, onde é relatada a tentação de Jesus e você verá que o tentador usou (distorceu) as próprias Escrituras, na tentativa de persuadir O Filho de Deus. Um sermão somente será "bíblico", não apenas quando sua mensagem tiver apoio nas Escrituras, mas quando expressar a interpretação correta das Escrituras:

"...o uso da Bíblia , e até mesmo o seu uso em larga escala, não é suficiente para garantir a pregação bíblica eficiente ou mesmo autêntica. Tudo depende de como nós a usamos"5.

A mensagem, isto é, o conteúdo de um sermão, deve ser bíblico, pelas seguintes razões:

a. A Mensagem Bíblica Alimenta: um dos objetivos principais da pregação bíblica não é entreter, nem informar, mas alimentar. Uma igreja que não é alimentada pela mensagem bíblica é uma igreja faminta:

Privado do consenso normativo quanto ao conteúdo autorizado, o pregador se volta para a psicologia popular, para os acontecimentos atuais ou para as resenhas de livros, visando a alimentar o faminto com essas coisas6.

Como disse O Senhor, o espírito do homem tem fome da Palavra de Deus: ..."Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4.4).

b. A mensagem Bíblica Transforma: Agostinho se converteu lendo um manuscrito que continha as palavras do apóstolo Paulo registradas em Romanos 13.13-14. Martinho Lutero também teve sua

4 5 6

John Knox. A Integridade da Pregação. São Paulo, Aste, 1964. p. 11 Idem, pg 13 David L. Larsen. Anatomia da Pregação (São Paulo: Editora Vida, 2005), pg.23

o

vida transformada ao meditar em Romanos 1.17, a ponto de dizer; "senti que havia nascido de novo e que as portas do paraíso me haviam sido abertas" 7. Estas duas vidas e muitas outras foram transformadas pela mensagem bíblica, que continuará transformando, enquanto for pregada (2a Tm 3.16,17).

c. A Mensagem Bíblica Unge: "unção" é "autoridade". A autoridade do pregador é resultado de pregar aquilo que Deus autorizou. O homem que pregar a palavra de Deus será revestido de autoridade concedida pelo próprio Deus: "... Filho do homem, coma este rolo; depois vá falar à nação de Israel" (Ez 3.1). Billy Graham, famoso evangelista, a princípio teve dificuldades em aceitar a autoridade da 8

Bíblia . Porém, no decorrer de seu ministério, seu poder na pregação se deveu basicamente à sua convicção na autoridade das Escrituras, tanto que, sua fase mais conhecida é: "A Bíblia diz".

O sermão é a estrutura que se dá à mensagem a ser pregada. Existem, pelo menos, quatro tipos de sermão quanto à estrutura:

a. Temático ou Tópico: é o sermão cujas divisões derivam de um tema. Não se prende a um único texto, cada divisão pode ter base em um texto diferente ou não.

Exemplo: características do amor de Deus:

1. É incondicional (Rm 5.8) 2.

É ativo (Jo 3.16)

3.

É Eterno (1 Co 13.8).

O "ponto forte" deste tipo de sermão é a didática. O "ponto fraco" é o risco de "usar o texto como pretexto", uma vez que a estrutura do sermão é fruto da reflexão do pregador. Porém, um sermão temático pode ser tão bíblico como qualquer outro se, a argumentação de cada divisão proceder da interpretação correta do versículo escolhido: "O sermão tópico não é necessariamente menos bíblico no conteúdo e no desenvolvimento do que o sermão Textual ou o Expositivo".

Justo L. Gonzáles. A Era dos Reformadores - Uma história ilustrada do Cristianismo, vol.6, São Paulo, Vida Nova, 1995, p.50. David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005, p.32 7

s

Charles H. Spurgeom, considerado o "príncipe dos pregadores" era um pregador costumeiramente fazia sermões temáticos.

b. Textual: é o sermão cujas divisões derivam de um ou dois versículos. Suas divisões nascem da estrutura do próprio versículo.

Exemplo: condições do discipulado (Lc 9.23):

1.

Negar a si mesmo

2.

Tomar a cruz

3.

Seguir Jesus

O ponto forte deste sermão é a "concisão". Pessoas ficam admiradas em ver como é possível extrair tantas riquezas de um trecho tão pequeno das Escrituras. O ponto fraco é a tendência de usar o texto apenas como "trampolim" para aquilo que se deseja dizer, como aqueles que lêem um versículo no início da pregação e não falam mais nele. Outro problema é concentrar-se num versículo apenas e esquecer o seu contexto imediato, isto é, os versículos anteriores e posteriores que lançam luz sobre o versículo a ser pregado, como também esquecer de seu contexto maior, isto é, aquilo que as demais Escrituras revelam sobre o assunto. É como alguém que foca em uma única peça do quebra cabeça e acaba pregando sobre "folha de laranja", enquanto o quadro completo mostra que a folha é de "maçã".

c.

Expositivo: É o sermão cujas divisões derivam de uma passagem bíblica. Suas divisões nascem

da estrutura da própria passagem.

Exemplo: instruções sobre a oração (Tg 5.13-18):

1.

2.

3.

Quando orar (v13): a.

No sofrimento

b.

Na alegria

Como orar (v14-15a): a.

Em nome do Senhor

b.

Com fé

Porque orar (v15b-18): a.

A oração trás cura

b.

A oração proporciona perdão

c.

A oração é poderosa e eficaz

O ponto forte deste tipo de sermão é fidelidade ao texto bíblico. Os grandes pregadores contemporâneos o recomendam e chegam a dedicar um capítulo, ou até mesmo um livro inteiro na defesa deste tipo de sermão. Karl Lachler, em seu livro "Prega a Palavra", cita Crisóstomo, um dos pais da Igreja, grande pregador apelidado como "boca de ouro", que disse: "o valor da pregação expositiva reside no fato de que Deus fala o máximo e o pregador o mínimo" 9 . O ponto fraco deste tipo de pregação é que nem sempre ela atende ao momento específico da congregação. Por exemplo, não seria pecado um pastor, cujos membros de sua congregação perderam familiares num recente acidente de avião, interromper sua série de preleções no livro de Esdras, por exemplo, e pregar sobre "A presença de Deus nas tragédias repentinas". Como escreve Ed René Kivitz: "Toda a Bíblia é divinamente inspirada, mas nem toda a Bíblia é contextualmente relevante"10.

d. Expositivo Temático: é o sermão cujas divisões derivam de um tema de uma passagem. O ponto forte deste tipo de sermão é conciliação entre a didática e a fidelidade bíblica. O pregador que prepara um sermão expositivo temático vê o texto bíblico como uma prateleira de supermercado. Uma prateleira de laticínios, por exemplo, pode conter leite, queijo, iogurtes e requeijão. No caso, "laticínios" é o que define os tipos de alimentos da prateleira, porém, cada alimento tem também suas características específicas. Assim, "laticínios" seria o tema geral da prateleira, enquanto que "leite", queijo", "iogurtes" e "requeijão" seriam os temas específicos. O pregador expositivo-temático, ao invés de pregar sobre "laticínios" e falar sobre cada um dos alimentos desta prateleira, escolherá apenas um dos produtos, por exemplo "leite" e discorrerá sobre este assunto específico à luz do todo. Em outras palavras, o pregador expositivo temático percebe o tema principal do texto e também seus temas específicos, mas concentra a elaboração do sermão em apenas um tema específico. Por exemplo, ao pregar em Tiago 5.13-18, ao invés de pregar tudo o que o texto fala sobre a oração, ele escolherá apenas um tema específico do texto para pregar:

Exemplo: razões para orar:

1. A oração trás cura (v15a) 2. A oração proporciona perdão (15b) 3. A oração é poderosa e eficaz (16)

O ponto fraco deste tipo de sermão pode ser ignorar o tema principal da passagem.

9 10

Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.53 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997.

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Assim como vemos nos filmes sobre a Idade Média o arauto comunicando em praça pública os editos do rei, Deus também escolhe homens para serem Seus arautos, isto é, para comunicarem Sua mensagem ao Seu povo. Deus usou profetas como Moisés, Jeremias, Isaías e Daniel para este fim. Cabe, então, uma pergunta, é o pregador de hoje um profetal No hebraico "profeta" é "nãbhT", que significa, literalmente, "qualquer um em quem a mensagem de Deus emana". No grego "profeta" é "prophetes", proclamador da mensagem divina. Em resumo, o sentido das palavras bíblicas usadas para definir "profeta" é "alguém a quem e por quem Deus fala"11. Porém, como bons exegetas, não devemos nos ater apenas ao sentido semântico das palavras, mas procurar entender o contexto no qual elas estão inseridas. Para tanto, nos lembremos de que a revelação de Deus foi progressiva, ela não veio de uma vez, mas em etapas, como vemos abaixo

Processo

de

Roveiaçõo

Deus

1

Lei

1 1

Profetas

Jesus

Apóstolos

1

Bíblia

Pregadores

Como podemos ver, existe uma "interdependência" em todo o processo de revelação divina. Moisés promulgou a Lei ao povo de Israel, dependente daquilo que Deus revelava a ele. A mensagem dos profetas, que exigiam que o povo se voltasse para O Senhor, não era novidade, mas estava de acordo com aquilo que já havia sido revelado na Lei: "À Lei e ao Testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva" (Is 8.20). O próprio Senhor Jesus pregou de acordo com o que estava escrito na Lei e nos Profetas (Mt 5.17). Os apóstolos ensinavam de acordo como o que haviam aprendido de Jesus (Mt 28.19,20). A Bíblia é composta pela Lei, pelos profetas e pelo testemunho dos apóstolos. Logo, os pregadores de hoje, se querem ser comunicadores da Palavra de Deus, assim como fizeram os demais, também devem respeitar e limitar seus ensinos a tudo o que foi revelado antes deles. Desta forma, quanto ã "posição" no processo de revelação divina, os pregadores não estão no mesmo patamar que Isaías, Jeremias e Daniel. Segundo John Sttot:

"O pregador cristão não é um profeta. Ele não recebe qualquer revelação original; sua tarefa é expor a revelação que já foi definitivamente dada"12.

Por esta razão, o apóstolo Paulo prefere se referir aos pregadores do Evangelho como "despenseiros dos mistérios de Deus". Onde "mistério" é aquilo que seria impossível ao homem descobrir, mas que já foi revelado por Deus (Col 1.26). E "despenseiro" é aquele responsável pela alimentação da família a quem serve, e, busca na dispensa da casa, o alimento a ser preparado e servido. Assim é o pregador, um despenseiro. É aquele que vai à dispensa de Deus, à Bíblia, e dali separa e prepara a boa refeição para a família de Deus.

"Assim, pois, que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel" (1a Co 4.1). Agora, fica mais fácil entender a relação entre "mensagem", "sermão" e "pregação", em comparação aos elementos do "bolo".

" W. E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p.903

11

Elementos

Conteúdo

Bolo

Hermenêutica / Homilética

Ovos, leite,farinha, fermento...

Mensagem (o que falar)

Forma

Redondo, quadrado, retangular...

Entrega

Prato de porcelana, pratinhos de

Sermão (como falar)

Pregação (quando falar)

plástico, guardanapo.

Que a mensagem que você prega seja bíblica, para que possua unção, alimente e transforme vidas. Que teu sermão seja bem estruturado, para facilitar o entendimento. Que a tua pregação seja eficaz, trabalho de um bom despenseiro dos mistérios de Deus.

12

1.

Qual é a diferença entre mensagem, sermão e pregação?

2.

Por que é importante que o conteúdo da pregação seja bíblico?

3.

Com qual tipo de sermão você mais se identifica?

4.

O pregador de hoje é um profeta? Explique.

Explique.

John Stot. O Perfil do Pregador. São Paulo, Editora Sepal, 2000, p. 13

12

Já aprendemos que o conteúdo do sermão, isto é, a mensagem, precisa ser bíblica, a fim de que cumpra os propósitos que Deus tem para com a pregação: "Assim será a palavra que sair da minha boca. Ela não voltará para Mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para a que a enviei" (Is 55.11). Da mesma maneira que é impossível fazer um "suco de laranja" sem laranjas, será também, no mínimo estranho, fazer uma pregação bíblica sem um texto bíblico. Da mesma maneira que o suco é extraído da laranja, a mensagem é extraída do texto. Por isto, tão importante como saber escolher as laranjas que serão usadas na produção do suco, é saber escolher o texto do qual se extrairá a mensagem a ser pregada. Como escreveu John A. Broadus:

"...A seleção apropriada de um texto é questão de grande importância. Uma escolha feliz animará o pregador para a preparação e enunciação de seu sermão e o ajudará a obter rapidamente a atenção dos ouvintes"13.

A pergunta que fica é: como escolher o texto para o sermão? Creio ser possível estabelecer alguns critérios:

O público alvo representa os ouvintes aos quais será comunicada a mensagem. A importância de se conhecer o púbico alvo está na adequação necessária que se fará à mensagem, ao sermão e à pregação, a fim de que este público seja alcançado. Assim, o público alvo definirá:

13

John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.40

13

a.

O assunto da mensagem: segundo Aristóteles "é o ouvinte que determina a finalidade e o

objetivo do discurso" u . Isto parece óbvio, pois se os ouvintes são, por exemplo, adolescentes, pouco ou nada os atrairá numa mensagem sobre as "alegrias da terceira idade". Por outro lado, se a platéia é composta por senhores e senhoras acima dos sessenta anos de idade, não caberá pregar a eles uma mensagem sobre "respostas bíblicas às crises da adolescência", a não ser que sejam avôs preocupados em entender melhor seus netos. Fica claro a importância de se conhecer o público alvo para a escolha da mensagem a ser pregada. Porém, Martin Lloid Jones, grande pregador inglês, que ocupou o púlpito da capela de Westminster por trinta anos, afirmou que não são as pessoas que decidem e determinam o que deve ser pregado, e de que maneira, pois nós é quem possuímos a Revelação, a Mensagem, e precisamos torná-la compreendida15. Ele, inclusive, testemunha de uma experiência que teve, ao pregar na capela da Universidade de Oxford, ocasião em que pregou àqueles universitários e doutores "da mesma maneira que teria pregado em qualquer outro lugar":

Eu pregara exatamente da mesma maneira que teria pregado em qualquer outro local. No momento que a reunião foi encerrada, e antes mesmo que eu tivesse tido tempo para descer da plataforma, veio correndo para mim a esposa do diretor, para dizer-me: "Quer saber de uma coisa? Essa foi a coisa mais notável que já se sucedeu nesta capela". Eu perguntei: "O que a senhora quer dizer? "Bem", retrucou ela, "você sabia que foi, literalmente, o primeiro homem que eu ouvi nesta capela que pregou para nós como se fôssemos pecadores"?! Então ela acrescentou: "Todos os pregadores que têm vindo aqui, por ser uma capela da Universidade de Oxford, obviamente tem tido cuidados especiais para preparar sermões polidos e intelectuais, supondo que todos somos grandes intelectos. Para começar, os pobres sujeitos deixam entrever que eles mesmos não são grandes intelectos, embora se tenham esforçado o máximo para apresentar o último grama de erudição e cultura, e o resultado é que vamos embora absolutamente famintos e sem qualquer reação. Temos ouvido aqueles ensaios, e nossas almas foram deixadas ressequidas. Parece que eles não compreendem que, embora vivamos em Oxford, nem por isso deixamos de ser pecadores"16.

Aparentemente, as opiniões de Aristóteles e Lloid Jones se excluem mutuamente, podendo dividir opiniões. Porém, penso ser possível uma conciliação entre os dois pensamentos. Imagine um público formado por "espíritas", o qual se dispõe a ouvir um pregador do Evangelho. Qual o tema que logo nos vêm à mente para pregar a este público? "Salvação"! Obviamente, não se espera que o pregador, intimidado pela platéia, faça uma palestra sobre a "A Salvação por meio da caridade", a fim de agradar seus ouvintes. Porém, também não parece adequado que ele pregue sobre "as falácias de Alan Kardec". Uma mensagem adequada seria "A Salvação por meio da fé em Jesus".

14 15 16

Robsom Moura Marinho - A. Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova 1999, p 90 D.Martin Lloyd-Jones. Pregação e Pregadores. São Paulo: Fiel, p. 95 Idem, p. 91

1 Mensagem codificada

Receptor (

)

Mensagem recebida

Embora saibamos que dificilmente o receptor conseguirá absorver toda a mensagem comunicada a ele, isto não exclui o esforço do pregador em tentar comunicar de forma mais clara e contextualizada possível a mensagem aos ouvintes. Pois o receptor só entenderá a mensagem se ela for transmitida num código que ele reconheça.

Desta maneira, o público alvo definirá no sermão: O tamanho: num casamento, por exemplo, não é de bom tom um sermão longo. O alvo das atenções devem ser os noivos e não o pregador. •

A estrutura: em velórios, as pessoas estão carentes do consolo da palavra de Deus. Um breve sermão temático ou textual sobre a presença de Deus nas horas difíceis da vida deve cair melhor do que um minucioso sermão expositivo. As Ilustrações: sabemos de um pregador que contou uma ilustração "engraçada" sobre pescaria a uma igreja localizada no ABC de São Paulo. Ninguém riu. Não porque a ilustração não fosse engraçada, mas por ninguém a entendeu. Provavelmente, uma ilustração sobre carros, naquele contexto, funcionaria melhor.



O vocabulário: conta-se que John Wesley antes de pregar um sermão, o lia para sua empregada. Caso ela não entendesse uma palavra, ele trocava a palavra por uma que ela pudesse entender. Como disse Paulo:"...prefiro falar cinco palavras

compreensíveis para instruir os outros a falar dez mil palavras em uma língua" (1a Co 14.19).

17

Robsom Moura Marinho - A Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p 89

c.

O estilo da pregação: não é necessário ser mestre em homilética para saber a diferença entre

pregar num quarto de hospital para uma pessoa, e numa praça pública para quinhentas pessoas. O local, o contexto dos ouvintes e o horário em que será realizada a pregação, influenciarão o olhar, o tom de voz, a gesticulação, a movimentação e, até mesmo, a altura da voz do pregador. Como explica o sábio Salomão: "A bênção dada aos gritos cedo de manhã, como maldição é recebida" (Pv 27.14).

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Alguém já disse que "vale mais uma palavra dita na unção do Senhor do que mil palavras pronunciadas na força do homem". Jeremias denunciou os profetas que pregavam sem antes, terem comparecido no concilio do Senhor (Jr 23.18,22). Comparecer no concilio do Senhor significa buscar o conselho de Deus para a mensagem que deverá ser pregada. Pois o pregador conhece as pessoas por vista, mas Deus conhece os seus corações. Quando Jonatas Edwards pregou pela primeira vez o sermão "Pecadores nas mãos de um Deus irado", nada aconteceu. Frustrado, voltou para casa e se humilhou diante do Senhor. Decidiu pregar o mesmo sermão na reunião seguinte. Conta-se que, como da outra vez, Edwards pregou o seu sermão lendo-o à luz fraca de uma pequena lamparina. No entanto, as pessoas, enquanto o ouviam, se seguravam nos bancos com medo de caírem no Inferno. Aquela ocasião foi o marco inicial de um grande avivamento.

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Após orar a Deus, apresentando o público ao qual se tem a incumbência de pregar, algumas possibilidades de temas começarão a ventilar na mente. O assunto poderá ser considerado propício à pregação:

a.

Se for coerente com a ocasião: há ocasiões especiais que requerem pregações especiais. Num culto evangelístico, uma mensagem sobre "os benefícios de seguir a Jesus" servirá melhor à ocasião do que uma mensagem sobre "as maldições de não ser dizimista". Num encontro de casais, uma mensagem sobre as "bênçãos do casamento duradouro" servirá melhor do que uma mensagem sobre "as bênçãos de ser solteiro". Num congresso de jovens, uma mensagem sobre "os desafios de ser cristão no mundo digital", servirá melhor do que uma mensagem sobre "os

16

cinco fundamentos do calvinismo", este úitimo ficaria muito bem num congresso de teologia para pastores. A ocasião justifica ou não o assunto da pregação.

b.

Se tiver embasamento bíblico: o homiléta, ao se decidir por um tema, procurará na Bíblia algum

texto que o embase e o direcione. Isto não significa usar um texto como pretexto, ou como um trampolim para aquilo que se pretende pregar. Antes, significa encontrar luz sobre o que Deus pensa a respeito do assunto escolhido, uma fonte que fornecerá a ele as revelações do Espírito Santo sobre o determinado tema. Veja abaixo a diferença entre "usar um texto como pretexto" e "usar um texto para embasamento".

o Texto como pretexto: se busca um texto apenas para sustentar aquilo que, previamente, já se decidiu pregar.

Idéia

Bíblia

o Texto como embasamento: se busca um texto para se extrair dele as verdades divinas sobre a idéia, o tema, isto é, o assunto que se pretende abordar.

Idéia

Bíblia y

Verdades sobre a Idéia, Tema, Assunto.

17

Um exemplo aclarará ainda mais a questão. Suponha que um pregador queira pregar sobre . "santificação" e entenda que ela se dê por meio do "auto flagelo". Ele bem poderia encontrar o texto de Paulo, em 1a Co 9.27, que diz: "Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado". Ignorando o contexto em que o versículo se encontra, Ele poderá usá-lo apenas como pretexto para sustentar sua tese. Como é dito, "um texto sem contexto é pretexto". Porém, se tal pregador for sincero e temente a Deus, apesar de possuir tal conceito equivocado sobre a santificação, ele humildemente pesquisará nas Escrituras o que a Bíblia ensina, de fato, sobre o assunto. Diante das verdades encontradas na Bíblia, ele abandonará sua antiga idéia sobre a santificação e pregará o que a Palavra, de fato, ensina. Note que ele buscou o texto bíblico para descobrir as verdades sobre o tema e não para sustentar suas idéias pessoais sobre o mesmo. Na verdade, toda boa idéia está na Bíblia. Se o pregador tiver uma boa idéia, mas não conseguir encontrar um texto que a embase, de duas uma: ou não conhece a Bíblia, ou sua idéia não é uma boa idéia. Vale o exemplo do contemporâneo pregador, Rick Warren que diz que, em seu início de ministério:

"Nos primeiros vinte anos de meu ministério de pregação, descobrir tudo o que Deus tinha a dizer em um determinado assunto era uma tarefa laboriosa de abrir sobre a mesa uma dúzia de concordâncias e olhar para uma lista de todas as palavras relacionadas com o assunto. Poderia levar vários dias de 8 horas de trabalho só pesquisando os versículos"18.

Após a definição do tema, uma boa concordância

bíblica fornecerá uma série de

opções de textos possíveis à pregação do assunto escolhido. No entanto, será necessário julgar entre todas as opções, qual é a que melhor se encaixa para a ocasião. Pois toda Escritura é inspirada, mas nem toda a Escritura é relevante, dependendo do contexto, da ocasião e do momento das pessoas. Por exemplo, numa visita hospitalar a alguém enfermo, não será sábio pregar um texto como Lc 29.1: "Ó Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu servo". Certamente, um texto como o Salmo 41.3: "O Senhor o susterá em seu leito de enfermidade, e da doença o restaurará", servirá melhor à ocasião e fortalecerá o espírito do abatido. Como alguém já disse: "fale às necessidades das pessoas e sempre terá ouvintes".

18

Rick Warren. Pregação para Transformar Vidas. Purpose Driven Ministries, p. 36

18

Um professor de homilética costuma dizer, guardadas as devidas proporções, que tão importante quanto escolher alguém para casar é escolher o texto para pregar. Pois, após a escolha do texto, pregador e texto terão que conviver juntos, até que a pregação os separe. Por isto, conheça bem a sua Bíblia. Seja sensível às necessidades do seu público. Escolha um texto que arda no seu coração e o pregue com entusiasmo. Pois, se o pregador não vibrar com o texto a congregação também não vibrará

19

.

1. Identifique seu "público alvo" e defina "três características" do mesmo.

19

2.

Depois de orar pelo seu "público alvo", qual foi o assunto escolhido para pregar?

3.

Selecione três textos bíblicos que falam sobre o assunto escolhido.

4.

Dos três textos selecionados qual é o escolhido para a pregação?

Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A

Explique.

Comunicação na Homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 162

19

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C* s 4 L i í CS

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Ninguém pode falar bem de algo que não conhece bem. Um dos princípios do "falar bem" é o "domínio do assunto". Por exemplo, se caso nos fosse dito para darmos uma "palavrinha" em público agora, provavelmente, seria muito mais fácil falar sobre nossa biografia do que sobre física quântica, pelo menos para a grande maioria. É tão grande a importância de se conhecer bem um assunto, antes de poder falar com credibilidade a respeito dele, que Reinaldo Polito, um mestre em retórica, aconselha:

"Se você tiver de falar sobre qualquer assunto, saiba tudo sobre ele e se transforme numa autoridade a respeito do tema. Essa segurança será percebida pelos ouvintes no momento da apresentação, e as pessoas ficarão mais disposta a confiar na mensagem. Quanto mais preparado você estiver, mais segurança irá demonstrar e mais credibilidade poderá conquistar"20. Uma vez que é necessário conhecer bem um assunto para falar bem sobre o mesmo, também será necessário conhecer bem o texto para falar com propriedade sobre o texto. A pergunta que fica é: quai é o primeiro passo para conhecer bem um texto o qual se deseja pregar? Conta-se que John Stott, famoso pregador e escritor inglês, possui o hábito de ler o texto cinqüenta vezes "até Deus começar a lhe falar", e mais quantas vezes forem necessárias "até Deus parar de lhe falar". É claro que nem todo pregador possuirá, na fase de preparo do sermão, o tempo necessário para ler o texto mais de cinqüenta vezes, porém, de certo, a boa leitura do texto é o primeiro passo para conhecer bem o texto que se deseja pregar. Também é verdade que se não possuirmos propósitos bem definidos ao começar a leitura de um texto bíblico, poderemos lê-lo cinqüenta vezes e não chegarmos a lugar algum. Assim, a qualidade da leitura será mais eficiente do que a quantidade de leituras. A técnica da "Leitura com Propósito" evitará que leiamos o texto bíblico a esmo e garantirá o maior proveito de cada leitura, pois propõe sete passos para a leitura do texto com propósitos bem definidos:

Reinaldo Polito. Super Dicas para falar bem em Conversas e Apresentações. São Paulo, Editora Saraiva, 2005, p. 38

20

Uma das críticas ferinas que os teólogos

liberais fazem

contra os ortodoxos, ou,

fundamentalistas, como eles preferem se referir aos colegas, é a de interpretar o texto bíblico à luz dos dogmas já estabelecidos pela tradição, o que, segundo eles, impede que se enxergue a verdade pura e simples que um texto específico deseja comunicar. Verdade é que, de fato, o exegeta ortodoxo interpreta um texto bíblico se mantendo próximo às idéias bíblicas características e essenciais21. O que é salutar e honesto, pois, uma vez que acreditamos e insistimos na coerência da Bíblia, devemos interpretar um texto específico das Escrituras à luz dos demais textos das Escrituras. Porém, precisamos admitir que algumas ou muitas vezes, o exegeta chega ao texto com a mente já cheia de idéias pré-concebidas sobre o próprio texto, idéias estas que nem sempre são verdadeiras. A pergunta que fica é como ler e interpretar um texto bíblico sem preconceitos, mantendo-se fiei aos que as demais Escrituras revelam? É claro que o estudo íntegro do texto em questão, juntamente com a consulta de outros textos relacionados, servirá para confirmar ou não nossas idéias sobre o mesmo, o que será tratado mais adiante. Por hora, enquanto estamos ainda na fase de "reconhecimento" do texto, será de muita valia aprender a técnica do "brainstorm". Em inglês, "brainstorm" significa "tempestade de idéias". É usado por equipes de trabalho que entendem que, antes de aparecer uma boa idéia sobre algo é necessário tirar da cabeça todas as más idéias. No caso dos homilétas não é muito diferente. Antes de ler um texto, é necessário preparar a mente para a leitura. Em outras palavras, antes de descobrir e enriquecer a mente com as boas idéias de um texto bíblico é necessário tirar da cabeça todas as más idéias sobre o texto bíblico já recebidas anteriormente por meio de estudos bíblicos, leituras e, até mesmo pregações, ocasiões em que podem ter nos sido transmitidas informações equivocadas sobre o texto em questão. Veja o exemplo abaixo:

Mente Estudos Leituras

H

Informações sobre o texto (preconceitos)

Pregações

Leitura do Texto

Verdade

Texto 21

John Knox. A Integridade da Pregação (São Paulo, Aste, 1964), pg 21.

21

Neste exemplo, a mente lê o texto já cheia de "pré - conceitos" a respeito do mesmo, o que a impede de enxergar a verdade que, de fato, ele comunica. Um dos motivos pelos quais muitos judeus não aceitaram a Jesus Cristo como o Messias prometido nas Escrituras foi o conceito equivocado que tinham sobre as Escrituras que anunciavam o Messias. Por esta razão, o Senhor advertiu: "Vocês erram pois não conhecem as Escrituras, nem o poder de Deus"(Mt 22.29). Logo, para fazer a leitura de um texto das Escrituras com a mente aberta para receber as verdades do texto, é necessário tirar da mente todas as "inverdades" recebidas sobre o texto. Para tanto, um bom exercício será tomar uma folha de papel e escrever nela tudo o que já se sabe ou se pensa saber sobre o texto. Após este procedimento, a mente estará pronta para aceitar as verdades que o texto deseja, de fato, comunicar.

Mente N

Verdade

§íl

'>

Informações sobre o texto (preconceitos)

Folha

Verdade

Texto No exemplo acima, se passou para uma folha de papel tudo o que já se sabia ou "pensava-se que sabia" sobre o texto. Este exercício, o "brainstorm", preparou ou até "limpou" a mente para ler o texto sem preconceitos e receber a verdade que ele comunica. Como Jesus ensinou: "Lancem fora o velho para que entre o novo".

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A observação preliminar é o "quebra gelo" com o texto. Nesta leitura, não se tem o compromisso de conhecer precisamente tudo o que texto diz, mas apenas de tomar notas das primeiras impressões que já "saltam aos olhos" ao se fazer a leitura. Uma boa dica é, neste passo, ler o maior número possível de traduções disponíveis, isto ajudará o pregador a observar as várias nuanças e

22

possibilidades do texto, estimulando a criatividade da mente e o surgimento de temas possíveis de serem abordados. O pastor Irland Pereira de Azevedo, experiente pregador, certa vez, nos contou em classe que, no preparo de seus sermões, coloca em cima de sua mesa diferentes traduções da Bíblia abertas no texto que se propõe a estudar, o que o faz atentar para diferentes nuanças e possibilidades do texto que, até então não havia observado. Após as observações preliminares, o pregador além de ter dado o primeiro passo na familiarização do texto, estará também preparado para definir o tipo de texto que tem em mãos: narrativa, poesia, parábola, profecia, etc.

O m

fVrfV+ecfo

Certa mulher, ao chegar da igreja, foi indagada pelo marido: "Sobre o que o pregador falou hoje"? A mulher respondeu: - Acho que sobre o "pecado". - Mas, o que sobre o "pecado"? O marido questionou. - Bem... acho que o pregador era "contra". Se o tema da pregação não estiver claro para o pregador, muito menos será claro para os ouvintes. Por isto, é necessário definir com precisão o tema que será abordado do texto do qual se pretende pregar. O Tema Geral é o assunto principal do texto, definido, geralmente, por uma única palavra. Exemplo: santificação, providência, milagre, ansiedade, bênção... É possível encontrar o Tema Geral de uma passagem, pelo menos, de duas formas:



A t e n t a n d o p a r a as p a l a v r a s q u e s e r e p e t e m : a o ler M a t e u s 6 . 2 4 - 3 4 na NVI, o

leitor perceberá que a palavra "preocupação" ( nas suas variadas declinações ), é repetida "seis vezes" por Jesus. Naturalmente, o tema principal desta passagem é "preocupação", "ansiedade".

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A t e n t a n d o p a r a p a l a v r a s q u e s e c o n t r a s t a m : e m 2 ° R e i s 4 . 1 - 7 é possível

observar as "palavras nucleares", isto é, as palavras principais do texto, sem as quais o texto perderia o sentido: credor, filhos, nada, vasilha, azeite, encher, cheias. Parece claro que as palavras "nada" e "cheias" contrastam no decorrer da passagem. Logo, não seria equivocado sugerir "providência" como o tema geral do texto.

A definição do Tema Geral evitará que "saíamos dos trilhos" durante a pregação.

O Parágrafo Predicável é a delimitação do texto que vamos trabalhar. Em outras palavras, é a passagem a ser pregada. Um Parágrafo Predicável é .uma passagem que trata de um tema de forma completa22. Os números dos capítulos e versículos nas Escrituras foram colocados por editores da Bíblia, não pelos escritores inspirados da Bíblia. Assim, nem sempre os números dos capítulos e versículos delimitam de forma correta o início, o meio e o fim de uma passagem. Uma boa dica para se delimitar o Parágrafo Predicável é ler os versículos anteriores e posteriores e observar se o Tema Geral se repete. Caso afirmativo, o pregador deverá incluir e abordar tais versículos em seu estudo para o desenvolvimento do sermão. Em 2° Reis 4.1-7, que citamos anteriormente, por exemplo, o tema "providência" não se repete no capítulo anterior, nem no posterior. Logo, podemos ter certeza de que o Parágrafo Predicável da passagem é, de fato, 4.1-7, pois os versículos delimitados tratam do tema de forma completa.

3

É o ato de escrever com suas outras palavras o texto a ser trabalhado. Karl Lachler sugere que a paráfrase do texto seja feita com um dicionário de sinônimos em mãos, substituindo cada substantivo e verbo por seus sinônimos correspondentes23. Porém, creio ser possível também fazer a paráfrase de um texto reescrevendo-o com "nossas próprias palavras". Em todo o caso, aquele que se propor a fazer o exercício da paráfrase, o fará em todos os versículos do parágrafo, que o ajudará a atentar para detalhes importantes do mesmo, que passariam despercebidos numa leitura apressada. Abaixo, exemplo de um versículo parafraseado:

"O Criador se importou com os homens tão grandemente, que entregou Seu Filho único, com a finalidade de que qualquer que depositar sua fé em Jesus Cristo não a salvação"(João

seja condenado, mas receba

3.16).

Já vimos que um "texto sem contexto é pretexto". Além da observação das passagens anteriores e posteriores ao texto estudado, o estudo das palavras nucleares, isto é, das palavras 22

Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p. 10

que dão o sentido da passagem bíblica, será de fundamental importância para o entendimento da mensagem que o autor, inspirado pelo Espírito desejou comunicar. Um bom exemplo da importância das palavras de um texto bíblico é o Salmo 37.5: "Entregue o seu caminho ao Senhor, confie Nele e Ele agirá". No original hebraico, o verbo "entregue" significa, literalmente, "role"24. Isto porque, quando um viajante se preparava para atravessar o deserto carregando um fardo pesado, fazia com que o camelo se abaixasse para receber a carga a ser carregada. A carga era "rolada" para as costas do camelo e, assim, a viagem se tornava menos penosa para o homem. Logo, o sentido do texto é: "Na caminhada da vida coloque seus fardos pesados sobre o Senhor, Ele te ajudará a carregá-los". Tal sentido está de acordo com outras passagens, como 1a Pe 5.7: "Lancem sobre Ele toda a sua ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós". A seleção de palavras servirá de guia para a pesquisa bíblica e ajudará o pregador a se aprofundar no entendimento verdadeiro do texto, o que enriquecerá a mensagem e edificará os ouvintes na beleza da Palavra de Deus: "Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua Lei" (S1119.18).

Dizem que "uma imagem vale mais que mil palavras". Verdade é que a visualização do movimento das idéias do texto ajudará na compreensão maior do mesmo. Fazer o gráfico da passagem significa descrever em imagens o movimento do texto. Por exemplo, 2° Re 4.1-7:

Busca :;>

CREDOR

PROFETA

Depem

Obediência

VIZINHOS

23 24

Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.84 Derek Kidner. Salmos 1-72. Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, p. 171

O Gráfico nos possibilita abordagens múltiplas do texto em questão, isto é, abordá-lo de diversos ângulos. Por exemplo, este texto pode ser abordado pelo ângulo:



da Viúva: Atitudes para receber a Providência de Deus:

1. Buscar a Deus 2. Crer em Deus 3. Obedecer a Deus 4. Depender de Deus



do Profeta: Ações para com os Aflitos:

1.

Ouvi-los com atenção

2.

Orientá-los com sabedoria

3.

Ajudá-los com amor

Como vemos, cada abordagem do texto possibilitará um sermão diferente.

"""""-AQterminar a Leitura com Propósito o pregador não apenas fez uma boa leitura do texto, mas tirou o^máximo proveito da leitura. Não o leu apenas por ler, mas o leu para entender. Como diz Paulo: "Persiste em ler, exortar e ensinar (...) Persevera nestas coisas, porque, fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem" (1a Tm 4.16).

1. Use a técnica do brainstorm antes de ler o texto escolhido para o sermão. 2. Faça a "Observação Preliminar" do texto e o defina: epístola, poesia, narração, profecia, etc. 3.

Escreva a "Paráfrase" do texto.

4.

Defina o "Tema Geral".

5.

Delimite o "Parágrafo

Predicável".

6. Selecione as palavras mais relevantes para pesquisa. 7. Esboce um gráfico do "movimento do texto".

Tudo o que Deus criou possui ordem, lógica e estrutura. A natureza está cheia de provas. Podemos observar desde o minúsculo corpo de uma formiga, até o de um grande mamífero, ou até mesmo a singeleza de uma árvore, com suas raízes, tronco e galhos, e logo somos convencidos que todas as coisas possuem uma estrutura lógica. É esta estrutura lógica que torna inteligíveis as coisas à mente humana. Tanto que é comum alguém reclamar que não entendeu algo, dizendo: "isto não tem lógica". Mentes são lógicas. Portanto, se o sermão possui como uma de suas incumbências tornar a pregação da mensagem bíblica clara para os que a ouvem, é necessário que os ensinos que ele contém também estejam organizados, isto é, estruturados, de forma lógica. Como escreveu David L. Larsen:

"Aprendemos mais facilmente sobre os assuntos que nos são apresentados de forma organizada, de modo que existe poder maior no pensamento organizado25".

Charles W. Koller devidamente afirma:

"Uma boa estrutura é útil não somente para o pregador, dando-lhe noção de tempo, de desenvolvimento e de proporção, mas também para o auditório. O ouvir inteligente requer que o curso do pensamento fique claro para o ouvinte"26.

Assim, uma vez que os ensinos do sermão bíblico derivam-se do texto bíblico, a pergunta que precisamos responder é: "como organizar de forma lógica os ensinos de um texto da Bíblia"?0 Esboço Analítico é uma técnica que ajudará o expositor bíblico a organizar os ensinos de um texto de forma lógica, o que ajudará a cativar e manter a atenção dos ouvintes, pelo fato de a mente humana ser atraída naturalmente pela ordem lógica27.

David L. Larsen. Anatomia da Pregação (São Paulo: Editora Vida, 2005), pg.60. Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p. 38 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.84 25

26

27

27



• .

:

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É possível fazer um esboço analítico, pelo menos, de duas maneiras: de acordo com a estrutura literária da passagem, ou, de acordo com o tema geral da passagem. Para fins didáticos, vamos definir o esboço analítico de acordo com a estrutura literária da passagem como "Esboço Analítico Literário", e o esboço analítico de acordo com o tema como "Esboço Analítico Temático". È necessário afirmar que um tipo de esboço analítico não exclui o outro. O pregador minucioso se utilizará dos dois tipos de esboços analíticos para dominar ainda mais o texto. Vamos definir os dois tipos de esboços analíticos:

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É uma análise da passagem de acordo com sua estrutura literária. Veja um exemplo de esboço analítico de acordo com a estrutura literária de Tiago 3.1-12: 1.

2.

Tiago aconselha a nem todos serem mestres (v1-2): a.

Pois os que ensinam serão julgados

b.

Pois todos tropeçam no falar (v2a)

com maior rigor (v1)

c.

Para não tropeçar no falar é necessário

ser perfeito

(v2b)

Tiago compara a língua, pequeno órgão do corpo que se vangloria de grandes coisas, com pequenos elementos que fazem grandes coisas (v3-5): a.

3.

4.

5.

Com o freio que faz o cabalo obedecer

b.

Com o leme que dirige o navio (v4)

c.

Com a fagulha que incendeia

(v3)

o bosque

(v5)

Tiago compara a língua com coisas depreciativas (v6a): a.

É um fogo (v6a)

b.

É um mundo de iniqüidade

(v6a)

Tiago alerta sobre os perigos da língua, que é colocada entre os membros do corpo (v6b): a.

Contamina

b.

Incendeia

a pessoa por inteiro fi/6b) todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada

pelo

inferno(v6b)

Tiago contrasta as coisas domadas com a língua indomada (v7-8): a. O homem domina toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas b. O homem não domina a língua, que é um mal incontrolável,

do mar (v7).

cheio de

veneno

(v8). 6.

7.

Tiago fala sobre as contradições da língua (v9-10): a.

Com a língua bendizemos

b.

Com a língua amaldiçoamos

o Senhor

(v9a)

c.

Da mesma boca procede bênção e maldição

os homens,

que são feitos à semelhança

de Deus (v9b).

(v10)

Tiago expõe os motivos para a coerência no uso da língua (v11-12): a.

Podem sair água amarga e doce da mesma

b.

Pode uma figueira produzir azeitonas

fonte?(v11)

c.

Da mesma forma, uma fonte de água salgada não pode produzir água doce

ou uma videira

figos?(v12a) (v12b).

mortal

Como podemos ver, este tipo de esboço analítico "desseca" a passagem, procurando encontrar uma estrutura coerente no fluxo de suas idéias. É como fazer o "mapa" do texto, a fim de não se perder ou se desviar do caminho traçado pelo autor.

É uma análise não de acordo com a estrutura literária do texto, como no exemplo anterior, mas, de acordo com o tema geral da passagem. Para entendermos como se faz um esboço analítico de acordo com o tema geral da passagem, vamos usar a analogia da Dispensa e os alimentos.

a. A Dispensa e os Alimentos

Imagine que você vá ao supermercado e compre: Laranja, Frango, Bombons,

Morango,

Peixe, Balas, Pirulitos e Maçã. Quando chegar em casa, provavelmente, não guardará estes alimentos numa mesma prateleira, mas guardará cada um de acordo com sua natureza. Para tanto, será necessário definir a natureza de cada um:

Laranja (fruta) Frango (carne) Bombons (doce) Morango (fruta) Peixe (carne) Balas (doce) Pirulitos (doce) Maçã (fruta)

Definida a natureza de cada alimento, será conveniente agrupá-los e guardá-los nas prateleiras de uma "dispensa".

Frango Peixe

Laranja Morango Maçã

Bombons Balas Pirulitos

Você também poderá nomear cada prateleira de acordo com o tipo de alimentos que ela guarda.

CARNES

Frango Peixe FRUTAS Laranja Morango Maçã DOCES Bombons Balas Pirulitos

Muito bem, você guardou seus alimentos de forma lógica e organizada, o que facilitará visualização e o uso dos mesmos. Mas, o que tudo isto tem a ver com o sermão?

jU

b. O Texto, o Tema e as Lições

Um texto da Bíblia, de certa forma, é como um supermercado. Nele nós encontramos alimentos de diversos tipos que, na verdade, são os ensinos que o mesmo possuí. Assim como é necessário organizar os alimentos do supermercado numa dispensa, de acordo com a natureza de cada um, também será necessário organizar os diversos ensinos de um texto num esboço analítico de acordo com a natureza de cada um. Assim, o "Esboço Analítico Temático" é a "dispensa" que organiza os ensinos de um texto de acordo com o seu tema principal, ou, se você preferir, que organiza as idéias de um parágrafo predicável28

Vejamos, então, um exemplo de Esboço Analítico Temático.

c. "Esboço Analítico Temático" de Tiago 3.1-12.

Para se fazer o "Esboço Analítico" de um texto, de acordo com seu tema geral, é necessário, em primeiro lugar, definir qual é o Tema Geral do texto em questão. No caso de Tiago 3.1-9, é evidente que "língua" é o Tema Geral do texto. Uma vez definido o Tema Geral do texto, vamos extrair os ensinos

que ele trás sobre a "língua", pois, "assim com retiramos alimentos do

supermercado, também retiramos ensinos do texto bíblico".

Ensinos sobre a língua:



É um pequeno órgão do corpo (v5a).

»

Se vangloria de grandes coisas (v5b).



É um fogo (v6a).



É mundo de iniqüidade (v6b). Contamina a pessoa por inteiro (v6c).

28



Incendeia todo curso da vida (v6d).



É incendiada pelo Inferno (v6e).



Ninguém consegue domar (v8a).



É um mal incontrolável (v8b).



É veneno mortal (v8c).



Com ela bendizemos ao Senhor (v9a).



Com ela amaldiçoamos os homens (v9b).

Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p. 11

31 Da mesma maneira como definimos a natureza de cada alimento, devemos definir também a natureza de cada ensino:



É um pequeno órgão do corpo (v5a) - característica



Se vangloria de grandes coisas (v5b) - ação



É como um fogo (v6a) - comparação



É como mundo de iniqüidade (v6b). - comparação Contamina a pessoa por inteiro (v6c) - ação



Incendeia todo curso da vida (v6d) - ação



É incendiada pelo Inferno (v6e) - característica



Ninguém consegue do mar (v8a) - característica



É um mal incontrolável (v8b) - característica



É como um veneno mortal (v8c) - comparação



Com ela bendizemos ao Senhor (v9a) - uso



Com ela amaldiçoamos os homens (v9b) - uso

Após definir a natureza de cada ensino que o texto apresenta sobre a "língua", podemos agrupar os "ensinos" de mesma natureza colocando-os também na "dispensa", nomeando cada "prateleira" de acordo com a natureza dos ensinos que ela contém.

CARACTERÍSTICAS É um pequeno órgão do corpo (v5a) É incendiada pelo Inferno (v6e) Ninguém consegue domar (v8a) É mal incontrolável (v8b) COMPARAÇÕES É como um fogo (v6a) É como um mundo de iniqüidade (v6b) É como um veneno mortal (v8c) AÇÕES Se vangloria de grandes coisas (v5b) Contamina a pessoa por inteiro (v6c) Incendeia todo curso da vida (v6d) USOS Com ela bendizemos ao Senhor (v9a) Com ela amaldiçoamos os homens (v9b)

Perceba

que cada

"prateleira"

contém

"ensinos

específicos"

(características,

comparações, ações, usos) sobre o tema geral (língua). Embora seja possível, em um único sermão, pregar tudo o que a dispensa ensina sobre a língua, melhor será considerar cada prateleira da dispensa como uma possibilidade diferente de sermão. Considerando cada "prateleira" como uma possibilidade de sermão, o pregador poderá pregar quatro sermões sobre a língua: 1 o Sermão: As Características da Língua: 1. É um pequeno órgão do corpo (v5). 2. É incendiada pelo Inferno (v6). 3. Ninguém consegue domar (v8a). 4. É mal incontrolável (v8b). 2° Sermão: As Comparações da Língua: 1. É como um fogo (v6a). 2. É como um mundo de iniqüidade (v6b). 3. É como um veneno mortal (v8). 3o Sermão: As Ações da Língua: 1. Se vangloria de grandes coisas (v5). 2. Contamina a pessoa por inteiro (v6a). 3. Incendeia todo curso da vida (v6b). 4o Sermão: Os Usos da Língua: 1. 2.

Com ela bendizemos a Deus (v9a). Com ela amaldiçoamos os homens (v9b).

Aqui, se torna necessário algumas observações. Primeiro,

os ensinos de cada sermão, organizados

pelo esboço analítico

temático,

provavelmente, serão as divisões do mesmo. Por exemplo, no sermão 2 (As Comparações da Língua), cada "comparação" (é como um fogo, é como um mundo de iniqüidade, é como um veneno mortal) será uma divisão do sermão, caso a exegese do texto, o que veremos a frente, confirme cada "comparação". Segundo, como já dito, é possível considerar a estrutura apresentada acima como um único sermão de "quatro divisões", onde as divisões seriam: "as características da língua", "as comparações da língua", "as ações da língua", "os usos da língua". Aliás, seria isto o que alguns considerariam como "sermão expositivo". Porém, precisamos lembrar que pregar expositivamente não significa falar tudo o que um texto ensina num só dia. E como o pastor Ed René Kivitz sugere: "em vez de prega um sermão com cinco divisões e algumas subdivisões, os pregadores coisa de cada vez"

deveriam ensinar apenas uma

29

.

Ed René Kivitz em entrevista ao Jornal Expressão - Vida Nova para a Teologia Brasileira. São Paulo, Outubro de 2000 - ano4, p. 3

29

d. A Definição dos Termos

<

Agora que aprendemos a separar, organizar e agrupar os ensinos de mesma natureza que o texto apresenta, precisamos definir os termos como a homiiética sugere.



Tema Geral é o assunto principal do texto. No caso do exemplo acima, o Tema Geral é "língua". Temas Específicos são os "subtemas"

que derivam

do tema geral, no caso:

"Características da Língua", "Comparações da Língua", "Ações da Língua" e "Usos da Lingua". •

Palavra Chave é o substantivo plural que define os ensinos de mesma natureza: "características", "comparações", "Ações", "Usos". Em outros casos, poderão ser usados muitos outros substantivos plurais como:

Aflições

Hostilidades

Quesitos

Alternativas

Idéias

Questões

Atitudes

Indícios

Razões

Bases

Intenções

Remédios

Benefícios

Jactâncias

Resultados

Buscas

Jeitos

Setas

Casos

Justificativas

Sinais

Causas

Lembranças

Situações

Conseqüências

Lições

Tarefas

Desejos

Lutas

Tentações

Dicas

Maneiras

Tipos

Dores

Marcas

Urgências

Elogios

Mentiras

Utilidades

Elos

Naturezas

Unidades

Estados

Nomes

Valores

Falácias

Nuanças

Venenos

Fatos

Operações

Vícios

Fraquezas

Oportunidades

Xenofilias

Garantias

Ordens

Xenofobias

Gestos

Penitências

Xeques

Graças

Poderes

Zelos

Habilidades

Provas

Zombarias

Heranças

Qualidades

Zunidos

Repare que a palavra chave é sempre um "substantivo no plural", devido ao fato de que ela se relaciona às divisões do sermão, que, geralmente, possui mais de uma divisão. Como se pode ver, existe quase uma infinidade de substantivos plurais que podem ser usados

,34

como "palavras chaves" na estruturação dos sermões. Cabe ao pregador escolher aquela palavra que melhor representará os ensinos do texto.

Ao retirar do texto seus ensinos de mesma natureza e organizá-los na "Dispensa", você se utilizou da técnica do "Esboço Analítico" para organizar os ensinos do seu sermão e garantiu uma qualidade imprescindível a um sermão que as pessoas ouvem: estrutura lógica. Pois:

"A boa estrutura pode fazer a diferença entre a futilidade e a eficiência de um sermão e, com os anos, pode levar um pregador da mediocridade

para a

excelência"30-,

1. Faça o Esboço Analítico de acordo com a Estrutura Literária da passagem. 2.

Faça o esboço Analítico de acordo com o Tema Geral da passagem. Siga os seguintes passos: a. b. c. d. e. f.

Defina o "Tema Geral". Escreva os ensinos que o texto apresenta sobre o Tema Geral. Classifique cada ensino de acordo com sua natureza. Ex.: Características, atitudes, definições... Coloque os ensinos de mesma natureza nas "prateleiras" da "dispensa". Nomeie cada prateleira com a "palavra chave" (substantivo plural) que representa seu conteúdo. Escolha a "prateleira" que será a estrutura do corpo de seu sermão.

Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p. 38

30

Como colocar carne no sermão? Esta foi a pergunta que um aluno de homilética fez após aprender a fazer o "Esboço Analítico" do texto. Com o Esboço Analítico foi possível estruturar as partes maiores do sermão, que poderão vir a ser as divisões principais do mesmo. Por exemplo:

Atitudes em meio à adversidade (2°Re 4.1-7):

1.

Buscara Deus

2.

Crerem Deus

3.

Obedecer a Deus

4.

Depender de Deus

Já temos o esqueleto do sermão. Porém, como alguém afirmou: "ninguém se alimenta de ossos". É hora de colocar "carne". Uma vez que o propósito é fazer um sermão bíblico, a carne do sermão só poderá vir de uma fonte: a Bíblia. A Pesquisa Bíblica é o ato de levantar informações sobre o texto e o seu contexto. Em outras palavras, é o ato de "garimpar" o texto com o fim de extrair as verdades preciosas e eternas que nele se encontram, como fazia Martinho Lutero:

"Martinho Lutero testificou que seu estudo da Palavra era semelhante ao ato de colher maçãs. Ele chacoalhava a árvore toda, de modo que as frutas mais maduras pudessem cair. Em seguida, subia na árvore e chacoalhava cada ramo, cada galho e cada broto. Depois, procurava debaixo de cada folha"31.

A Pesquisa Bíblica pode ser dividida em duas partes: a Pesquisa do Livro e a Pesquisa do Texto.

31

David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005, p.50

36

~ " " V. X ,

• .

V" • - .

Na Pesquisa do Livro fazemos o levantamento das informações macro do texto, ou seja, as informações sobre o texto que não estão no texto. Para se fazer a Pesquisa do Livro, é necessário fazer o levantamento das seguintes informações:

a. Autor do texto: saber quem escreveu o texto em questão, sua teologia e seu momento histórico, será útil na interpretação correta do mesmo. Por exemplo, saber que Lucas é o autor do Livro de Atos já dá um bom argumento para o pregador estimular sua congregação a cumprir o chamado de serem testemunhas de Jesus (At 1.8), usando os dons e talentos de cada um. Lucas, no caso, não era apóstolo, nem mesmo pregador. Mas como escritor, cumpriu e ainda cumpre seu chamado como testemunha pelo Evangelho que escreveu.

b. Destinatários: São os leitores originais, as pessoas às quais o autor bíblico dirigiu o seu escrito. Saber que os destinatários de Mateus eram judeus explica porque o autor, em Seu Evangelho, faz tantas referências às profecias do Antigo Testamento sobre o Messias. Seu propósito é convencer os judeus que Jesus é o Cristo.

c. Propósito: entender o motivo pelo qual o autor bíblico escreveu o que escreveu, será útil para o entendimento das nuanças e das emoções intrínsecas em suas palavras. Em Gálatas, Paulo escreve que a Lei serviu de "aio" até Cristo. Aio era o instrutor de crianças responsável pelo encaminhamento das mesmas32. Para Paulo o objetivo da Lei era levar o pecador a reconhecer a necessidade de se ter Cristo como Seu Salvador, doutrina importante para uma Igreja assediada a ter a Lei como meio de salvação.

d. Língua: Não é necessário argumentar sobre a importância do conhecimento da língua em que, originalmente, foi escrito o texto bíblico. Por exemplo, um erro comum é usar o a palavra grega "ekklesia" (chamados para fora)33, para defender a idéia de que a Igreja deve sair das "quatro paredes" e ir ao mundo, afinal o vocábulo que deu origem à palavra Igreja significa "chamados para fora". Porém, um estudo mais acurado do uso da palavra "ekklesia" para a Igreja, nos tempos bíblicos, mostrará que o sentido não é de chamados para "fora das quatro paredes do templo", mas tem o significado de "um grupo de pessoas que foram conclamadas para fora de seus lares a fim de virem se encontrar-se com Deus" 34 .

J.D.Douglas (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p.46 W. E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p. 419 William Barclay. Palavras Chaves do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, p.46 32

33

34

37

e. Data: dependendo da época em que uma palavra foi escrita, ela poderá adquirir significado diferente. Por exemplo, a palavra cruz vem do grego stauros que, literalmente, significa "madeiro". De fato, o madeiro, em sua origem era uma "estaca" em que os condenados eram executados. Porém, na época de Jesus, tempo do império Romano, o stauros, isto é, o madeiro já havia adquirido a forma de "cruz"35. Sem o conhecimento da data em que o testemunho da crucificação foi escrito, e, tendo como base apenas o significado original da palavra stauros, poderíamos ser levados à interpretação incorreta de que Cristo teria sido colocado numa "estaca" e não numa "cruz".

f. Lugar: Quando o apóstolo Paulo escreveu 2a Timóteo, ele se encontrava, não mais numa prisão domiciliar, mas numa masmorra escura, fria e úmida. Isto explica o pedido de sua capa (2a Tm 4.13) e o tom melancólico presente em algumas linhas da carta (2a Tm 4.16). O conhecimento do contexto geográfico, em alguns casos, é essencial para entender o "colorido" ou, os "tons sombrios" do texto.

g. Cultura: Na época dos apóstolos, a cabeça rapada da mulher significava que ela havia sido submetida à humilhação pública devido à algum ato vergonhoso, como o adultério; ou que queria demonstrar emancipação e insubmissão a seu marido36. Parece que as prostitutas também tinham o costume de usarem cabelos curtos37. Assim, quando Paulo exorta as mulheres de Corinto a usarem o véu, preocupava-se com o testemunho público das mesmas. O princípio do texto é que a aparência das mulheres cristãs deve refletir dignidade e respeito para com Deus e seus maridos.

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Na Pesquisa do Texto fazemos o levantamento das informações micro do texto, ou seja, as informações sobre o texto que estão no texto. Para se fazer a Pesquisa do Texto, são necessários os seguintes passos:

a. Pesquisar o significado exegético das palavras nucleares do texto: O significado exegético de uma palavra é o seu significado original quando foi escrita pelo autor bíblico. O pregador sério se preocupará em pesquisar as palavras nucleares de seu texto em busca de seu significado verdadeiro. Para tanto, é necessário fazer a pesquisa exegética dos:



Substantivos: A palavra "mundo", por exemplo, no grego, pode ter pelo menos 4 significados diferentes: universo, planeta terra, sistema que faz oposição a Deus e

J.D.Douglas (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo, Vida Nova, 1995, p.378-381 Kenneth Barker (Organizador Geral). Bíblia de Estudo NVI. São Paulo,Editora Vida,2003, p. 1969 Russel Norman Champlim. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo -v.4 .São Paulo: Editora Milenium,1987, p. 170,171 35

36

37

38

pessoas . Em João 3.16: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu único Filho, para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna". Qual o significado que João tinha em mente quando escreveu a palavra "mundo"?



Verbos: Em Colossences 2.14, Paulo escreve que Cristo cancelou o escrito da dívida que era contra nós. Neste contexto, o verbo "cancelou" pode ser a tradução de duas palavras gregas, "chiazein" que significa "riscou", ou "exaleiphein" que significa "apagou". Os escritos de divida podiam ser cancelados fazendo um "xis" sobre a nota promissória (chiazein), ou apagando a escrita com uma bucha umedecida, uma vez que os pergaminhos eram feitos de peles de animais e a tinta era à base de água39. Caso o apóstolo tivesse usado "chiazein" para "cancelou" poderíamos ter a idéia de que Deus cancelou nossas dívidas, porém, as continua vendo, uma vez que um "xis" deixa ainda à mostra o escrito no papel. Porém, ao usar "exailephein", o apóstolo inspirado por Deus nos dá a garantia que Jesus não apenas pagou, mas apagou os nossos pecados da vista de Deus.

b. Consultar comentários Bíblicos: Nos comentários bíblicos encontramos informações preciosas sobre o texto e seu contexto que enriquecerão a exposição bíblica. A consulta de, pelo menos, três comentários bíblicos, a seleção de informações, e o agrupamento dessas informações abaixo de cada tópico do sermão servirá de "matéria prima" para o desenvolvimento da argumentação do tópico. Como alguém já disse: "...é bom saber o que Deus falou a Calvino, a Lutero e a outros sobre o texto que estamos estudando".

c. Redefinir o Esboço Analítico: Após a Pesquisa Bíblica será necessário checar se o Esboço Analítico que foi feito no exercício anterior corresponde, de fato, às verdades do texto. Haverá ocasiões em que o esboço analítico deverá ser modificado, a fim de fazer justiça à mensagem real do texto. Por exemplo, alguém poderia fazer o seguinte Esboço analítico de Apocalipse, capítulo 3.1422:

Ações de Jesus:

1. Disciplina quem ama (v19) 2. Bate à porta do coração do ímpio (v20) 3. Honra quem vence (v21)

Porém, após a Pesquisa Bíblica, entenderá que, de acordo com o contexto imediato, Jesus não está batendo nas portas do coração do ímpio, mas, na verdade, está batendo nas portas do

W. E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p.809 William Barclay. Palavras Chaves do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2000, p.46 38

39

coração da Igreja, uma vez que o destinatário daquela carta é a Igreja de Laodicéia. Tal informação força a mudança do Esboço Analítico:

Ações de Jesus:

1. Disciplina quem ama (v19) 2. Bate à porta do coração da Igreja (v20) 3. Honra quem vence (v21)







, .

.

Uma boa biblioteca não é feita de um dia para o outro. Porém, com um pouco de esforço e investimento, podemos, aos poucos, montarmos nossa biblioteca particular, com o mínimo necessário de obras que muito nos ajudarão no trabalho com os textos bíblicos. A seguir, uma sugestão de material básico para o trabalho da Pesquisa Bíblica:

a. Bíblias nas línguas originais: embora não seja imprescindível que o pregador seja um mestre em grego e hebraico, é necessário que, pelo menos seja capaz de manusear um texto nas línguas bíblicas, a fim de aumentar as possibilidades de encontrar "pepitas de ouro" em "terra virgem". Por melhor que seja a "água de copinho", nunca superará a sensação de beber a água direto da fonte. b. Chave Lingüística, léxicos, gramáticas, dicionários lingüísticos e exegéticos: são ferramentas valiosas que nos abrem as portas do entendimento de um texto em hebraico ou grego. Com um pouco de disposição e prática, o pregador, com estas ferramentas, poderá fazer descobertas que lhe trarão uma nova compreensão dos textos, proporcionará rico conteúdo ao sermão, dará à pregação um sabor de originalidade e edificará tanto ao pregador quanto àqueles que semanalmente o ouvem. c. Dicionários ou Manuais Bíblicos: trazem artigos sobre palavras, objetos, nomes, profissões, costumes, que faziam parte do mundo bíblico, proporcionando ao estudante uma visão mais ampla do ambiente histórico e cultural em que os textos foram escritos. d. Atlas Bíblico: trás mapas que ajudam a localizar os principais lugares, onde ocorreram os principais acontecimentos da história de Israel e da Igreja Primitiva. e. Bíblias de Estudo e Comentários Bíblicos: trazem informações valiosas, desde especulações sobre lugar, data, autor e destinatários, até o sentido exegético de palavras do texto comentado. Assim como o marceneiro, o mecânico, o pintor, precisam de oficinas com ferramentas suficientes e adequadas para realizarem seus respectivos trabalhos, o pregador precisa de uma

4: i r: !S k- t i o'

Pior que um sermão sem ilustrações, somente um sermão com más ilustrações. Nem todo caso, história ou exemplo é digno de ser proferido. Por esta razão, é necessário conhecer algumas características das boas ilustrações:

a. Apropriadas: a ilustração só será útil se estiver de acordo com o ensino do tópico. Se o tópico faia de santidade, a ilustração deverá ser sobre santidade; se o tópico fala sobre família, a ilustração deverá ser sobre família; se o tópico fala sobre trabalho, a ilustração deverá ser sobre trabalho, A função da ilustração é exemplificar e esclarecer o ensino do tópico e não ser um bem em si mesma. A luz é útil quando ilumina algo escuro e não quando ofusca os olhos. Toda ilustração inapropriada chamará a atenção para ela mesma, tirando o foco do ensino que ela pretendia ilustrar:

Conta-se de um pintor espanhol que, pintando a Última Ceia, desenhou sobre a mesa uns cálices de prata tão lindos e extraordinários que passaram a ser a primeira coisa a atrair a atenção e admiração dos ouvintes que viam o quadro. Depois, notando isso, tomou o pincel e os apagou, para que nada impedisse o observador de olhar para Jesus 5 2 .

b. Concisas: a boa ilustração explica, não precisa ser explicada. Quanto menos palavras forem usadas para dizerem um máximo de coisas, mais impactos elas terão. Quanto mais palavras forem usadas para dizerem um mínimo de coisas, menos impacto terão.

c. Críveis: existem ilustrações que, ao invés de suscitarem a fé, suscitam a dúvida. Elas são tão incríveis que as pessoas, ao ouvirem, se perguntam: "será que é verdade"? Exija fé do povo, mas não abuse. Ao contar algo incrível forneça a fonte, para que seu sermão não caia em descrédito. As ilustrações não precisam ser incríveis, mas precisam ser críveis.

d. Verdadeiras: Martin D.Lyoid Jones, antes de se tornar pregador, chegou a ser assistente do cardiologista real, na Inglaterra, devido sua formação e capacidade médica53. Ele conta que certa vez, ouviu um pregador falar que o erro de uma senhora, que morrera de câncer, depois de procurar tardiamente um médico, foi não ter dado atenção à "primeira picada de dor". A esse respeito, o êxmédico Lyoid Jones diz:

Para mim, que era médico, ouvir tal coisa era algo ridículo. Pois a dificuldade que circunda esse tipo de câncer é que ele não provoca qualquer dor, até haver avançado a um estado muito adiantado; pois geralmente cresce de maneira insidiosa e calma. A dificuldade daquela

32 33

John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.225 Franklin Ferreira. D.Martyn Lloyd-Jones - Pregador da Palavra. São Paulo, PES, p. 2

56

pobre mulher não era que ela havia ignorado a dor, e, sim, provavelmente, que tinha ignorado alguma protuberância, que talvez ela pudesse ter apalpado 54 .

Não subestime seus ouvintes, quando falar sobre assuntos de outras áreas, certifique-se da precisão das informações, senão, você corre o risco de cometer uma "gafe" e perder a credibilidade. Isto não significa que todas as ilustrações precisam ser sempre casos reais. Você pode falar de fábulas, contos, e até criar estórias, se for dotado de boa imaginação, porém, deve certificar seus ouvintes do que está fazendo. Isto pode ser feito, com poucas palavras, como: "existe um historieta que diz"...; "conta-se de"...; "imagine que... fazendo assim, ficará claro que a história que você está contando tem fins meramente ilustrativos.

e. Contextualizadas: cada contexto possui suas características próprias. Caberá ao pregador adaptar suas ilustrações ao contexto em que está inserido para pregar. Um pastor ao pregar na região do grande ABC, em São Paulo, contou uma ilustração "engraçada" sobre pescaria, porém, ninguém achou graça. O motivo das pessoas não terem rido, não foi a falta de graça da ilustração, mas porque não entenderam a ilustração. O pregador reconheceu que, naquele contexto, ao invés de contar uma ilustração sobre pescaria, deveria ter contado uma sobre indústria

automobilística.

f. Medidas: isenção de ilustração obscurece o sermão, porém, muita ilustração ofusca o sermão. É claro que o número de ilustrações irá variar de sermão para sermão, segundo as necessidades dos mesmos. Porém, um bom conselho é usar pelo menos uma ilustração para cada tópico e não mais de duas. As ilustrações fazem parte do sermão, mas não são o sermão. Como adverte D.Martin Lloyd Jones:

A ilustração visa ilustrar a Verdade, e não a exibir a si própria, e nem chamar a atenção para si mesma. Antes, deve servir de meio para guiar e ajudar as pessoas a perceberem o princípio que o pregador está enunciando e proclamando, de modo ainda mais patente 55 .

Agora que temos uma noção sobre o uso das ilustrações, pensemos em uma para ilustrar o tópico que desenvolvemos no capítulo anterior.

54 55

D.Martin Lloyd-Jones. Pregação e Pregadores. Editora Fiel, 170 Idem, p.169

1-Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo. "Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus". Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus. Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda: • •

Do banco, e é endividada. Da bebida, e é viciada. Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada". Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e seu risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido.

Ao usar ilustrações você tornará seu sermão mais claro, atrativo, rico em conteúdo, consequentemente, mais eficaz na comunicação. Por todas estas razões, não ignore o uso ilustrações no sermão, pois, como é sabido de todos: "Uma imagem vale mais que mil palavras".

Ilustre cada tópico de seu sermão. Para tanto, siga os p a s s o s abaixo:

1.

Observe

2.

Procure em fontes histórias,

3.

o conteúdo

do tópico e o ensino que ele procura diversas

acontecimentos,

Abaixo do tópico escreva

(livros,

natureza,

experiências, a ilustração

cotidiano,

que ilustram e cite a sua

comunicar. sites, etc),

o ensino do

"fonte".

Obs: Faca este exercício para cada tópico de seu sermão.

exemplos, tópico.

58

Quando Pedro terminou seu sermão no dia do Pentecostes , as pessoas ficaram aflitas em seu coração, pois haviam entendido sua mensagem, mas não sabiam o que fazer. Assim, perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: "Irmãos, que faremos"?

Pedro, então, os exortou, isto

é, disse-lhes claramente o que deveriam fazer: "Arrependam-se, e cada um de vocês seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos seus pecados, e receberão o dom do Espírito Santo". Após o apóstolo lhes dizer o que deveriam fazer, cerca de 3000 almas creram e foram batizadas naquele dia (Atos 2.14-41). Este acontecimento, marco da Igreja de Cristo, deixa clara a verdade: por melhor e mais inspirado que o sermão seja, se o pregador não disser às pessoas, claramente, o que devem fazer diante da mensagem que ouviram, elas não saberão o que fazer. Por esta razão, é importante que todo sermão reserve um lugar para a exortação.

Muitos carregam na mente a idéia de que "exortação" é uma "chamada de atenção", uma "correção enérgica", ou seja, "uma bronca". Porém, no Novo Testamento, a palavra "exortar" é a tradução de "parakaleõ", que, literalmente significa "chamar para o lado" ( para = "para o lado"; kaleõ = chamar). Basta esta explicação para entendermos que "exortar" não significa "apontar o dedo" para as pessoas, mas "se colocar ao lado" das pessoas. Porém, é salutar ainda dizer que "parakaleõ" tem o sentido de "admoestar", "instigar" a pessoa a buscar algum curso de conduta. A palavra "exortar" também pode ser a tradução da palavra "protrepõ", com o sentido de "impelir moralmente", "incentivar", "encorajar", "animar" 56 . Certo pastor, de nome Moisés, conta a respeito de como estava desconsolado no velório de seu pai, quando um colega se colocou ao seu lado e apertando-lhe os ombros, disse: "força Moisés, força"! Tal atitude lhe trouxe consolo e encorajamento. Estes são os sentidos básicos de "exortar" pessoas, significa "consolá-las" ou "encorajá-las", ou ainda, as duas coisas. Em resumo, exortação é uma chamada a ação.

W.E.Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p. 635 56

Segundo o dicionário, aplicação é o ato ou efeito de aplicar. É o emprego, a utilização, o 57

uso . No sermão, é todo momento em que o pregador mostra o que uma verdade do sermão implica na vida de seu ouvinte, como ela se relaciona com o dia a dia:

A Aplicação, no sentido estrito, é essa parte, ou partes, do discurso em que mostramos como o assunto se aplica às pessoas a quem nos dirigimos, quais as instruções práticas que o assunto lhes oferece, e o que ele exige que cada ouvinte faça

58

.

Sendo assim, podemos considerar como "aplicação", os elementos do tópico:

Relação,

Ilustração e Exortação.

ESTRUTURA LÓGICA TOPICO

ELEMENTOS TÓPICO

Observação

^

Exposição Bíblica

Interpretação

^

Significado

x—

Aplicação

Relação

Ilustração

Exortação

Enquanto a Relação faz a ponte entre a verdade e a vida, e a Ilustração comprova a funcionalidade da verdade na vida, a Exortação chama os ouvintes à ação de colocarem em prática a verdade na vida. Assim, melhor que dizer que a Exortação é a Aplicação, é dizer que a Exortação é um elemento importante da Aplicação.

57 58

Michaelis. Dicionário Escolar Língua Portuguesa. São Paulo, Editora Melhoramentos, 2002, p.58 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.228

Nem sempre é fácil exortar alguém a tomar uma atitude na vida. Ainda porque, a tendência das pessoas é resistirem a mudanças. Por isso, é bom saber alguns segredos de como motivar alguém a agir. Veja então, as características de uma boa exortação:

a. Pessoal: uma das diferenças entre um discurso e uma pregação, é que o discurso fala sobre, a pregação fala com. Em outras palavras, em um discurso o foco é discorrer sobre um assunto, mas na pregação o foco é falar com as pessoas. Desta feita, ao fazer uma exortação, não discurse, pregue. Spurgeon dizia que nunca teremos de fato pregado em quanto não usarmos a palavra "você"

59

.

Assim, ao invés de dizer "a igreja deve se levantar", diga, "você deve se levantar". Ao invés de dizer, "O povo precisa confiar mais em Deus", diga, "Você precisa confiar mais em Deus". Lembre-se, Deus não te chamou para discursar, Deus te chamou para pregar. Como disse Daniel Webster:

"Quando uma pessoa prega para mim, quero que faça disso um assunto pessoal, um assunto pessoal, um assunto pessoal"! 6 0

b. Possível: Se você quiser que as pessoas não levem a sério as exortações de seu sermão, então, basta pedir para elas fazerem coisas impossíveis. Jesus acusou os fariseus de exortarem as pessoas a fazerem coisas que, nem mesmo eles conseguiam fazer: "Atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem nos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los" (Mt 23.4). Você pode exortar as pessoas a carregarem a cruz, conforme Jesus ensinou, mas não pode colocar sobre elas fardos pesados difíceis de suportar, pedindo que elas façam coisas que Jesus nunca pediu. Por exemplo, uma coisa é exortar as pessoas a evangelizarem todos os dias, nem sempre isto será possível, tanto que, isto não está na Bíblia. Outra coisa é pedir que elas não percam oportunidades de evangelizar. Isto, além de ser possível, está na Bíblia: "Andai em sabedoria com os que estão de fora, aproveitando bem cada oportunidade"(Cl

4.5).

c. Objetiva: A mídia usa e abusa de imperativos ao exortar as pessoas à ação: "Tome uma atitude que alimenta, beba Dan'up"! "Ligue já"! "Assista agora..." "Não mude de canal". "Fique conosco". De fato, a exortação acaba tomando a forma de imperativo, isto é, de "ordem". Há quem afirme que os sermões mais rejeitados pelo público são aqueles que possuem exortações diretas51, aquelas que fazem uso dos imperativos. E, que, o melhor e mais eficaz meio de levar as pessoas a responderem positivamente ao que a mensagem pede, seria usar aplicações indiretas, deixando a cargo das

59 60

David L. Larsen. Anatomia da Pregação. São Paulo: Editora Vida, 2005, p.41 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo,Editora Custom, 2003, p.227

ól

próprias pessoas a aplicação em suas vidas. De fato, em algumas ocasiões, este método pode vir a calhar, porém, se observarmos os sermões de Jesus perceberemos que Ele usava exortações diretas e imperativas: "... Arrependam-se

e creiam nas boas novas" (Mc 1.15)] "Vão por todo o mundo e

façam discípulos de todas as nações" (Mt 28.19,20). Num incêndio, os bombeiros não ficam fazendo rodeios, ou, educadamente, insinuando o que as pessoas devem fazer. Pelo contrário, eles precisam ser diretos ao falarem o que as pessoas devem fazer para salvarem suas vidas: "evacuem a área", "usem a saída de emergência", "não usem o elevador", ao invés de: "O que vocês acham de irem tomar uma brisa lá fora, se as coisas aqui dentro começarem a esquentar"? A questão não é se devemos fazer exortações diretas ou não, é óbvio que sim. A questão é, como fazê-las? Uma boa dica é ser o mais sucinto possível, ninguém gosta de ficar ouvindo o que deve fazer por muito tempo. Por isto, ao invés de escrever dez linhas de exortação em seu sermão, prefira algo como: "Beba Coca Cola".

d. Honesta: Uma das grandes tentações do púlpito é o abuso de poder. O pregador sabe que, dificilmente, alguém se levantará para contestar algo que ele esteja dizendo durante a pregação, uma vez que, em tese, ele deve estar pregando a Palavra de Deus. Porém, como sabemos, nem sempre é assim. Há pregadores que se protegem atrás do púlpito para mandarem recados para indivíduos e falarem coisas que não teriam coragem de dizerem pessoalmente, porém, fazem isto não sem prejuízo:

Aquilo que popularmente chamamos de "carapuça" para esta ou para aquela pessoa, ou par

um grupo de indivíduos, sempre produz mais mal que bem 62 .

Por isto, a exortação do sermão não deve ser motivada pelas mágoas, ressentimentos, dissabores e diferenças de opinião e preconceitos. Mas ela deve ser honesta, ou seja, baseada em princípios bíblicos e não em costumes ou posições pessoais. Por exemplo, uma coisa é dizer: "Se você é crente, você não deve assistir televisão". Outra coisa é dizer: "se você é crente, busque a santificação, selecione o que você assiste na televisão".

e. Coerente: Não misture "alhos com bugalhos". Se você está pregando um tópico do sermão que fala sobre "maçã", a exortação deverá ser algo como: "Coma maçã" e não "Coma melão". Se o tópico do sermão fala sobre "dinheiro", a exortação deverá ser algo como "cuidado com a cobiça pelo dinheiro", e, não "Se batize hoje mesmo". Uma ilustração mostrava um homem saindo apenas de cueca da Igreja e dizendo: "Este foi o melhor sermão sobre contribuição que já ouvi na vida". É mais ou menos assim que as pessoas devem sair de um culto, onde acabaram de ouvir um sermão, sabendo exatamente o que devem fazer. Isto é o que se espera das exortações do sermão:

levar

claramente as pessoas à uma ação".

61 62

Robsom Marinho. A Arte de Pregar - A Comunicação na Homilética. São Paulo: Vida Nova, 1999, p 176 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.229

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Há pregadores que preferem deixar a exortação para o finai do sermão, para a conclusão, como fazia Jônatas Edwards, de quem se dizia que ele armava os canhões na primeira parte do sermão, e atirava com eles no final. Não há dúvidas do efeito de deixar a exortação para o final, após as pessoas estarem convencidas da verdade, e, assim, mais dispostas a uma ação positiva em relação a ela. Porém, entendemos que uma exortação em cada tópico tornará mais preciso e didático o aprendizado. Abaixo, é mostrado o lugar da "exortação" dentro de um tópico.

1.Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo. "Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus". Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus. Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda: • •

Do banco, e é endividada. Da bebida, e é viciada. Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada". Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido a precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido. Exortação: Na adversidade, busque ajuda de Quem ajuda. Busque a ajuda de Deus.

Como você pode ver, a exortação vem logo depois da ilustração. Tal ordem não é sem razão. A exortação vem depois da ilustração porque as pessoas só estarão prontas a tomarem uma atitude, depois de comprovarem a "funcionalidade" do ensino apresentado. Dentro do tópico, a ilustração tem o propósito de comprovar a veracidade do ensino, a exortação tem o propósito de chamar as pessoas a uma atitude de acordo com o ensino provado.

63 Se esforce na construção das exortações dos seus sermões, a fim de que, depois de te ouvirem, ninguém venha a dizer: "Irmãos, que faremos"?

Prepare a "exortação" de cada tópico de seu sermão. Siga os seguintes passos:

1.

Observe o conteúdo do tópico e o ensino que ele procura comunicar.

2.

Responda às perguntas: a. Diante desta verdade, que "ação" Deus espera dos ouvintes? b. Com que palavras posso comunicar, sucintamente, esta exortação de Deus aos ouvintes?

3.

Redija a exortação usando imperativo.

Obs: Faca este exercício para cada tópico de seu s e r m ã o .

64

A Abertura e o Fechamento cios T ó p i c o s

Um grande banquete deve começar com uma "boa entrada" e deve terminar com um "bom cafezinho", na opinião da maioria das pessoas. Nós bem que poderíamos dar o tópico do sermão como completo, uma vez que ele já possui Exposição Bíblica, Significado, Relação, Ilustração e Exortação.

1-Buscar a Deus

Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo. "Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus". Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus. Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda: • • •

Do banco, e é endividada. Da bebida, e é viciada. Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada". Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido. Exortação: Na adversidade, busque ajuda de Quem ajuda. Busque ajuda de Deus.

Com tais elementos já é possível transmitir a mensagem do tópico de forma clara e precisa, e, na verdade, a maioria dos pregadores pára por aqui. Porém, é possível ainda acrescentar ao tópico do sermão dois elementos que tornarão a comunicação ainda mais completa e eficaz. Estes elementos são: a "Abertura" e o "Fechamento" do tópico, que servem como a "entrada" e o "cafezinho" da divisão. As pessoas, ao recebê-los, se sentirão ainda mais satisfeitas com o banquete servido.

65

A abertura pode também ser comparada ao aviãozinho que faz a criança abrir a boca para receber a comida. Assim como a mãe atrai a atenção do fiiho com a intenção de alimentá-lo, a abertura também tem o propósito de "abrir o apetite" do ouvinte para o ensino que será comunicado pelo tópico em questão. Como alguém já disse, "você só ganhará o coração de alguém, se antes ganhar-lhe a atenção". É verdade, as pessoas só estarão dispostas a receberem o ensino do tópico, depois de terem suas atenções despertas e atraídas para ele. Desta forma, a abertura serve como a introdução do tópico, cujo principal objetivo é ganhar a atenção das pessoas e prepará-las para receberem a exposição bíblica que será feita a seguir. Veja o exemplo:

1 .Buscar a Deus Abertura: Alguém já disse que: "para cada problema existe uma solução". Não sei até que ponto isto é verdade, mas de uma coisa sei: "na hora da adversidade, a solução é buscar a Deus". Como fez a viúva deste texto. Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo. "Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus". Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus. Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda: •

Do banco, e é endividada. Da bebida, e é viciada. Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada". Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido. Exortação: Na adversidade, busaue aiuda de Quem aiuda. Busaue aiuda de Deus.

Existem também várias maneiras de se fazer uma Abertura. A seguir vejamos alguns tipos de abertura que poderiam muito bem servir para o nosso tópico exemplificado acima. A Abertura poderá ser:

a. Analogia: Como já dito, as pessoas aprendem por comparação, e as analogias podem servir muito bem para este fim:

Quando queremos argumentar pela analogia, utilizamos como tese de adesão inicial um fato que tenha uma relação analógica com a tese principal 63 .

Uma analogia usada na abertura, que esteja de acordo com o ensino do tópico, poderá facilitar o entendimento deixando mais claro o ensino do tópico, por exemplo: "Toda criança, quando está em dificuldades busca a ajuda dos pais e estes a ajudam. Da mesma forma, se você buscar a Deus quando passar por adversidade, Ele, como bom Pai também te ajudará".

b. Pergunta retórica: O método da pergunta, quando usado na medida certa, sempre tem o efeito de chamar a atenção das pessoas. O apóstolo Paulo usava muito do recurso das perguntas retóricas para provar seus argumentos e conquistar a concordância de seus ouvintes. Por exemplo, quando ele explicava aos romanos que a graça não deve ser motivo para o pecado, ele usa um pergunta retórica para provar seu argumento: "Que diremos pois? Permaneceremos

no pecado para que a graça

aumente"? (Rm 6.1). Em seguida, ele mesmo responde: "De modo nenhum" (Rm 6.2). As perguntas retóricas têm, de fato, este fim, suscitar uma resposta esperada e desejada, não desafiar a inteligência dos ouvintes, mas levá-los a responder algo que comprove o que está sendo dito. Os puritanos também aprenderam a usar perguntas retóricas em seus sermões:

Entendem o que quero dizer por pergunta retórica? É uma pergunta que faz com que o ouvinte responda a si mesmo, na sua própria cabeça. E alguma vez você pode fazer esta pergunta tão bem feita que alguém vai abrir a boca e falar na igreja, mas a pergunta retórica faz com que o coração se envolva diretamente com a aplicação 64 .

Uma vez que a pergunta retórica tem o poder de "abrir a guarda da mente", por meio da resposta que leva à concordância com o orador, ela poderá servir de boa abertura para o tópico conduzindo as mente rapidamente para a outra parte do discurso, a Exposição Bíblica. Exemplo: "Quem aqui está isento de, na hora do desespero, trocar os pés pelas mãos"? Pior que trocar os "pés pelas mãos", é trocar Deus por "outra solução".

c. Ditado: Geralmente, as pessoas têm os ditados como fruto da sabedoria popular, e, portanto, verdadeiros. Usar um ditado, ou um dito popular no início do tópico pode ter um bom efeito, pois como escreveu Ver Trench:

Antônio Suárez Abreu. A Arte de Argumentar - Gerenciando razão e Emoção. Cotia: Ateliê Editorial,2005, p. 64 Joseph Pipa. O Sermão Puritano que Transforma. Artigo publicado na revista Os Puritanos, ano VII, n° 4, 1999, p. 27 63

64

67

"Grandes pregadores populares têm aberto caminho para chegar ao coração de seus semelhantes empregando amplamente provérbios conhecidos" 6 5 .

No nosso tópico de estudo (Buscar a Deus), se optássemos por abrílo com um ditado poderíamos fazer assim: O povo diz que "Deus ajuda quem cedo madruga". Na verdade, "Deus ajuda a todos os que O buscam". Veja o caso desta viúva...

d. Ilustração: O método didático da ilustração pode servir bem à abertura, uma vez que a ilustração não tem apenas a capacidade de "lançar luz sobre um ensino", mas também de "despertar a atenção para o ensino". Tendo o cuidado de não ser prolixo, o pregador poderá perceber bons resultados em iniciar o tópico com uma ilustração. Por exemplo: "Fico impressionado toda vez que leio a história de Sansão. Certa vez, depois dele ter vencido mil filisteus, estava com sede a ponto de morrer. Então, orou a Deus pedindo água. O Senhor, movido de compaixão, tirou água da rocha e ele pôde beber. Por toda a Bíblia vemos Deus provendo ajuda aqueles que O buscam, como no caso também desta viúva"...

e. Estatística: Se verdadeira, uma estatística, além de trazer informação e conscientização,

pode

trazer também a atenção da platéia: "Você sabe que apenas 20% dos crentes oram quando passam por apertos? Você faz parte dos 80% ou dos 20% ? Parece que a viúva de nosso texto fazia parte dos 20%"... É claro que, no uso de uma estatística, deverá ser citada a fonte e a data da pesquisa, em outras palavras, não invente estatística. Pois os números não mentem, mas você pode cair na tentação. Como diz o pastor Jorge Schutz: "Na hora da ilustração, o diabo senta na ponta do banco, pois sabe que lá vem mentira".

Como vemos, há várias maneira de se fazer uma abertura, as citadas acima são apenas algumas. O importante é que a abertura seja breve, clara e faça fácil ligação com o ensino do tópico.

Dizem que não fechar um pensamento é como "não dar laço no cordão do sapato, logo, logo sai do pé" 66 . Terminar um tópico não é simplesmente parar de falar, mas encerrar devidamente o que se estava falando, a fim de fixar e comprovar o ensino comunicado. Você pode fazer o fechamento do pensamento de um tópico por meio de:

Um pensamento: "Quem procura acha, e Quem busca a Deus O encontra". 65 66

John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo, Editora Custom, 2003, p.223 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p. 20

68

Um ditado: "Deus é Pai, não é padrasto".

Um versículo bíblico: "Vocês me procurarão e me encontrarão quando me buscarem de todo o coração" (Jeremias 29.33).

A Proposição do sermão: Aprenderemos, mais para frente, o que é proposição. Cabe agora dizer que a proposição é a tese central do sermão, a idéia principal que se procura pregar e provar. Ela é uma afirmação teológica que abarca todo o ensino do sermão e é escrita em uma sentença. Por exemplo: "Deus socorre os necessitados"; "O socorro dos aflitos vem do Senhor"; Deus é provedor; etc.

Há pregadores que têm o costume de repetir a proposição diversas vezes durante o sermão em partes estratégicas, a fim de que a congregação grave o ensino central da mensagem:

A proposição deve, então, fazer uma "ponte" para os ouvintes em direção à primeira divisão principal e, sucessivamente, para as outras divisões 67 .

Creio que em sermões doutrinários, onde o grande objetivo é inculcar uma doutrina na mente dos ouvintes, a repetição da proposição no fechamento de cada tópico funcionará muito bem, a ponto das pessoas poderem sair do templo, repetindo verbalmente a proposição,

como testemunha

Karl

Lacher:

Um de meus alunos adotou como prática enfatizar verbalmente a proposição, até que a congregação a memorizasse. Em sua igreja isto praticamente se tornou parte dos cumprimentos entre as pessoas. Aquela igreja foi grandemente edificada nas Escrituras durante seu "ministério da palavra" ali 68 .

Assim como a Abertura do Tópico pode ser feita de diversas maneiras, também existem diferentes formas de fazer o Fechamento do Tópico. O importante é encerrar com algo que conclua o pensamento. No tópico abaixo, escolheu-se fazer seu fechamento usando um versículo bíblico.

67 68

Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica (São Paulo, Vida Nova, 2000), pgl09. Ibdem, pg.110.

69

1.Buscar a Deus Abertura: Alguém já disse que: "para cada problema existe uma solução". Não sei até que ponto isto é verdade, mas uma coisa sei: "na hora da adversidade, a solução é buscar a Deus". Exposição Bíblica: Naquele tempo, enquanto o sacerdote era o representante do povo diante de Deus, o profeta era o representante de Deus diante do povo. "Ao buscar o profeta Eliseu, a viúva buscava ajuda de Deus". Significado: Hora de adversidade é hora de buscar a Deus. Relação: Sabe qual é o problema de algumas pessoas em adversidade? Buscar ajuda em quem não ajuda. Tem gente que, na adversidade, busca ajuda: » •

Do banco, e é endividada. Da bebida, e é viciada. Da macumba, e é aprisionada.

"Porém, aquela que busca ajuda de Deus é abençoada". Ilustração: conhecemos um rapaz que foi internado às pressas em um hospital público vítima de meningite. Devido à precariedade do hospital, não houve vagas para ele na UTI e os médicos não escondiam a gravidade de sua situação e ser risco de vida. No culto daquele dia, a Igreja levantou um clamor a Deus pedindo ajuda divina. A oração foi ouvida e o pedido de ajuda atendido. Exortação: Na adversidade, busque ajuda de Quem ajuda. Busque ajuda de Deus. Fechamento: Pois a Bíblia diz: "Vocês me procurarão e me encontrarão quando me buscarem de todo o coração" (Jr 29.33).

Perceba, que o versículo bíblico que fechou o tópico, não foi escolhido a esmo, mas de acordo com o ensino demonstrado no tópico. Assim, o versículo não apenas fecha o tópico, mas o comprova. Após completar o tópico com a abertura e o fechamento você completou o tópico do sermão, com todos os elementos necessários para que haja a progressão

lógica. Lembre-se que tais

elementos devem fazer parte, não apenas de um, mas de cada tópico de seu sermão, para que, em cada um deles haja a "progressão lógica" do pensamento. Isto garantirá conteúdo, lógica e atenção para aquilo que você estará pregando.

É necessário, a esta altura do estudo, algumas observações em relação ao modo como estruturou-se o tópico.

a.

A progressão Lógica não é uma "camisa de força": ninguém é obrigado e nem deve

sacrificar a criatividade e a direção do Espírito, para ficar preso à ordem dos elementos do tópico estruturado em progressão lógica. Podemos considerar o tópico de um sermão como um "tabuleiro de xadrez". Para se aprender a jogar xadrez é necessário primeiro, conhecer as peças que compõem o jogo, como o cavalo, a torre, o bispo, o rei, a rainha e os peões. Também é necessário saber o lugar que inicialmente ocupam no tabuleiro e os movimentos de cada um. No decorrer do jogo, porém, cada jogador vai movimentando as peças de acordo com sua perspicácia. A mesma coisa ocorre com o tópico do sermão estruturado em progressão lógica. Inicialmente, foi necessário conhecer os elementos que o compõem: abertura, exposição bíblica, significado, relação, ilustração, exortação e fechamento. Depois, tornou-se necessário saber a ordem que cada elemento ocupa no tópico e seu movimento, isto é, sua função. Porém, no decorrer do ministério, com o acúmulo de certa experiência, o pregador terá a perspicácia

de

começar

a

mexer nas peças de seu tabuleiro, isto é, nos elementos do tópico, de modo que poderá optar em colocá-los em outra ordem, ou, até mesmo abrir mão de um ou outro.Tudo isto ele fará, é claro, sem sacrificar o movimento, a progressão e a lógica do discurso do tópico. Porém, antes de começar a mexer nas peças do tabuleiro é necessário saber quais

são

as peças, quais os lugares que ocupam no tabuleiro e como se movimentam.

b.

A Progressão Lógica pode fazer de um tópico, um breve sermão: não faltarão ocasiões em

que o ministro será convidado para pregar em velórios de não crentes, em aniversários, em eventos da comunidade, e em muitas outras ocasiões especiais, onde não se esperará, nem se desejará da parte dele um sermão de 30 minutos. Pelo contrário, ele será advertido previamente que o que se espera dele é apenas uma "devocional", ou uma breve "palavrinha". E, de fato, haverá ocasiões especiais em que o melhor a fazer é ser breve. Porém, a exigência da brevidade em algumas ocasiões não deve ser motivo para que se perca oportunidades de se comunicar o Evangelho com bom conteúdo e boa forma. A pergunta que fica é: como pregar de forma breve sem ser superficial? Creio que é em momentos como este que a noção da progressão lógica se torna tão vital. Pois o pregador que souber estruturar um tópico com os elementos da progressão lógica, logo perceberá que um tópico estruturado desta maneira pode ser naturalmente transformado em um breve sermão, com começo, meio e fim, além de possuir bom conteúdo. Veja um exemplo de sermão para funeral, estruturado como se fosse um tópico em progressão lógica:

1

Abertura: Lembro-me do caso de uma moça de 23 anos, saudável, ativa e cheia de sonhos. Certo dia ela sentiu uma dor no estômago. A levaram para o hospital, pensando que lhe dariam um medicamento e, em seguida, a trariam de volta. Porém, o inesperado aconteceu, sua situação se agravou e ela, infelizmente, faleceu. A verdade é que a morte não escolhe dia para chegar. Ela pode bater às portas de um idoso de 80 anos, para um homem de 40, para uma jovem de 23, para uma criança com 10 e até para um bebê ainda na barriga da mãe. "A morte chega para todos" Exposição Bíblica: é por isto que o sábio Salomão, inspirado por Deus, fala que é melhor irmos a um casa em que há luto, que a uma casa em que há festa. Pois é num velório que nos lembramos do caminho de todo homem: nascer, crescer, viver e morrer. Significado: Por causa do pecado, o destino de todo homem é morrer. Relação: A pergunta que fica é: se a morte é o destino de todos, por que ninguém se acostuma com ela? Porque a morte é o destino de todos, mas não é o fim de todos. Para aqueles que estão em Cristo, a morte não é o fim da vida, mas uma passagem para a verdadeira vida, ao lado de Deus. Ilustração: sei da história verídica de um homem que perdeu seu filho em um acidente de carro. No velório, tal senhor sentou-se em uma cadeira, tomou seu neto no colo e, abrindo seu hinário, cantou o conhecido hino "Tu és Fiel Senhor". Estaria ele fora de si ou convicto da fidelidade do Senhor em cumprir sua promessa que diz "aquele que crê em Mim, ainda que esteja morto viverá"? Exortação: Se Deus é Fiel, então descansemos na certeza que, se o sr. Fulano partiu com Cristo, está agora descansando nos braços de Deus. Fechamento: pois a palavra de Deus diz: "O aguilhão da morte é o pecado (...), mas graças a Deus que rios dá vitória por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo" (1a Co 15.56,57). Amém

c. A Progressão Lógica não quebra a unidade do sermão

Alguns poderiam criticar a estruturação dos tópicos por meio daquilo que chamamos de "progressão lógica", dizendo que, uma vez que damos a cada tópico uma estrutura de começo, meio e fim, fazemos com que cada tópico seja um "sermão em si mesmo", pregando assim, vários sermões em uma única ocasião. Tal crítica serve para nos alertar que os tópicos podem ser autônomos e exclusivos, mas nunca independentes. Veja a incoerência de um sermão em que os tópicos são independentes:

Lições bíblicas:

1. A língua é um mal incontrolável 2.

Trazei todos os dízimos a casa do Senhor

3.

Todo aquele que crer deve ser batizado

No exemplo acima, embora cada tópico isolado possua, de fato, uma lição bíblica, por outro lado, todos juntos não possuem nenhuma unidade. Isto sim, seria pregar três sermões diferentes numa única ocasião. Porém, nossa proposta não é esta. Pensamos nos tópicos como "dedos de uma mesma mão", onde cada dedo possui sua estrutura própria e bem definida, porém, juntos, formam uma única mão. Da mesma forma, os tópicos podem ter sua estrutura própria e bem definida, mas devem formar um único sermão. Como já dito, o que dará unidade aos tópicos do sermão, será o tema específico:

Características da Língua:

1. É um pequeno órgão do corpo (v5). 2.

É incendiada pelo Inferno (v6).

3.

Ninguém consegue domar (v8a).

4.

É mal incontrolável (v8b).

Neste exemplo, os tópicos do sermão são autônomos, porém, juntos, formam um único sermão, pois possuem o mesmo tema específico: Características da Língua. Lembro-me da ocasião em que um bom pregador, que havia pastoreado por mais de uma década uma grande igreja de São Paulo, me contou uma experiência que viveu com os membros de sua congregação. Em uma reunião, os diáconos elogiaram a qualidade dos sermões do pastor, porém, confessaram que tais sermões eram estruturados de tal forma que, caso alguém da congregação perdessem o início, ou alguma parte do sermão, não poderiam entender mais nada que viesse depois. O pastor, compreendendo a situação, passou a estruturar seus sermões de forma muito parecida com a que é sugerida aqui. Fez com que cada tópico, apesar de formarem um único sermão, possuísse estrutura própria e comunicassem uma mensagem completa, de começo, meio e fim. De modo que, se alguém "perdesse" o primeiro tópico, ainda poderia ter sua mente e coração abençoado com a mensagem dos próximos. Não é preciso dizer os benefícios que tal atitude de humildade trouxe para a congregação e para o próprio pastor. Como disse Paulo: "Fiz-me de tudo para com todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns"(1a Coríntios 9.22b).

1. Faça a abertura dos tópicos de seu sermão. 2.

Faça o fechamento dos tópicos de seu sermão.

73

10 , « j 3 1 i í \J L i U O

VJ

"Se o pregador não conseguir captar a atenção durante os primeiros trinta segundos, talvez nunca a consiga de modo algum"

69

. Este conceito expresso por Haddon W. Robson, certamente, é

verdadeiro e conhecido não apenas na área da Homilética, mas também nas demais áreas da comunicação. Por exemplo, os publicitários conseguem chamar a atenção e comunicar suas idéias em apenas trinta segundos nos anúncios de TV. Logo, não é de surpreender que, a platéia televisiva que temos hoje em nossas congregações, ainda que inconsciente, espere que os pregadores sejam também capazes de captar sua atenção e comunicar algo logo nos primeiros momentos do sermão. Karl Lachler comparou a introdução como "jogar o anzol"

70

, pois, é na Introdução que o

pregador "fisga" a atenção do público e apresenta a idéia do sermão. Como já disse alguém: "antes de ganhar o coração das pessoas, é necessário ganhar seus ouvidos". Porém, nem todo pregador tem se mostrado capaz de "ganhar os ouvidos dos homens" no início do sermão, quanto menos, "ganhar seus corações", no decorrer do sermão. Por isto, fica a pergunta: como fazer uma introdução que capte a atenção e conduza as pessoas, com interesse, para as demais partes do sermão?

Se a introdução é responsável por captar a atenção e conduzir as pessoas às demais partes do sermão, então, podemos dizer que a introdução é tanto a isca quanto a porta de entrada do sermão. De fato, a Introdução tem, basicamente, duas partes:

a. Proposição, a "porta do sermão": A proposição é o sermão em "miniatura". É a síntese do sermão. Pode ser considerada a porta do sermão, pois faz a ligação entre a introdução e os tópicos do sermão. Talvez seja instrutivo saber como grandes pregadores e mestres da Homilética definem a proposição do sermão:

69 70

Haddon W. Robinson. A Pregação Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 1990, p.107 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 109.110

74



Charles W. Koller: "É o cerne do sermão"71,



Ed René Kivitz: "A proposição é a verdade máxima de um sermão expositivo temático (...) é o sermão abreviado, enquanto que o sermão é a proposição desdobrada" 12 .



John A. Broadus: "É uma enunciação do assunto a qual o pregador se propõe a desenvolver" 73 .



Karl Lacher: A proposição é o coração do sermão. Assim como o coração bombeia o sangue, dando vida ao corpo humano, a proposição vitaliza a forma e o conteúdo do sermão74.

A proposição é composta por três elementos:

I. Afirmação Teológica (A.T): é a grande idéia, a tese que se pretende comunicar e defender no sermão.

Exemplos: •

É possível vencer tentações.



Jesus Cristo é Senhor e Salvador.



O Espírito Santo habita em todo crente.

Perceba que todas as frases acima são afirmações com conteúdo teológico. Porém, haverá momentos em que a tese do sermão poderá apresentar conteúdo ético ou moral.

Exemplos: •

Os pais são os maiores responsáveis pela educação dos filhos.



O cristão precisa ser honesto em seus negócios.



A vida é passageira.

A Afirmação Teológica é sempre a declaração de um princípio expresso em uma única sentença.

II. Sentença de Transição (S.T): é a ponte literária entre a Afirmação Teológica e a Palavra Chave. Exemplos: • Este texto apresenta... • Nesta noite, gostaria de apresentar... • Nesta passagem,

aprendemos...

Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo Cristão, 1999, p.71 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p.12 John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo: Editora Custom, 2003, p.75 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 109,110 71

72 73

74

75

III. Palavra Chave (P.C): Como já aprendido, é sempre um substantivo plural, que engloba e confere unidade literária aos tópicos. Exemplos: "características", "passos", "atitudes", "provas", "conseqüências", "ações", etc...

A união destes três elementos: Afirmação Teológica, Sentença de Transição e Palavra Chave formam a Proposição. Veja alguns exemplos:



É possível vencer tentações (A. T). Este texto apresenta (S. T), três atitudes(P. C), para vencer tentações. Os pais são os maiores responsáveis

pela educação

dos filhos (A.T). Nesta

passagem, aprendemos (S.T) duas "ações"(P.C) para o cumprimento desta verdade. O Cristão precisa ser honesto em seus negócios (A.T). Nesta noite, gostaria de apresentar (S.T), quatro características (P.C) do cristão honesto.

Podemos afirmar com extrema alegria e convicção o valor de se usar uma proposição no sermão. Temos observado que, ao anunciá-la durante a pregação, muitos irmãos na congregação começam a fazer anotações, pois, já entendem que é a partir deste momento, que as principais lições do sermão serão comunicadas. Certa vez, uma jovem adolescente nos mostrou o que havia anotado da pregação. Ela, com facilidade, reproduziu em uma folha de caderno o esboço do sermão com a palavra chave e suas principais divisões. Tal exemplo mostra a importância da proposição para a clareza da comunicação e como, de fato, ela serve de "porta" para o sermão. Como afirma a declaração clássica de J. H. Jowet:

Tenho uma convicção de que nenhum sermão está pronto para ser pregado, ou para ser escrito por extenso, até que possamos expressar seu tema numa frase curta e fecunda, clara como cristal 75 .

b. Chamada, a "isca do sermão": a chamada são as primeiras palavras do sermão, que tem como objetivo chamar a atenção do público e conduzir à proposição. Pode se começar um sermão de várias formas atrativas:



Pergunta: Embora alguns oradores mais antigos façam objeção a começar um sermão com uma pergunta, tal estratégia funciona, quando o objetivo é captar a atenção do público: "Quantos aqui estão passando por uma grande adversidade"?



Ilustração: As ilustrações são úteis não apenas em exemplificar o ensino de um tópico, mas

também em servir como uma boa chamada para a introdução, pois atrai de início a atenção do

75

Haddon W. Robinson. A Pregação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 1990, p.25

76 auditório70. Exemplo: Lutero, pai da Reforma Protestante, em meio à adversidade da perseguição trancou-se em seu quarto escuro e lá ficou por dias. Até que sua esposa, vestida de preto, foi ao seu encontro. Ao vê-la naqueles trajes, Lutero perguntou: - "Porque você está de luto? Quem morreu"? - "Deus". Ela respondeu. - "Ora, Deus não pode morrer". Ele, contrariado, respondeu. - "Mas você está vivendo como se Deus estivesse morto". Ao ouvir a argumentação verdadeira de sua esposa, Lutero se levantou em meio à sua adversidade, para gravar seu nome na história para sempre.

Biografia: Pessoas se interessam em ouvir histórias sobre pessoas. Biografias de cristãos, de personagens da história, de atletas, e até de gente comum, além de atraírem os ouvidos, aquecerão muitos corações. Por exemplo, um sermão cujo tema seja "Vivendo os sonhos de Deus", bem poderia ser iniciado com uma rápida descrição da biografia de Martin Luther King, o pastor negro que deu sua vida pela erradicação do racismo nos Estados Unidos, e que, começou seu mais célebre sermão com a frase: "Eu tenho um sonho".



Atualidades: As manchetes dos jornais, os assuntos da semana, os acontecimentos no mundo, sempre serão interessantes e darão um ar contemporâneo ao sermão.

Um dos

conselhos de Karl Lacher ao preparar a introdução é se perguntar quais os cinco acontecimentos atuais de porte (locais, nacionais ou internacionais)

e quais se relacionam

11

com a proposição de modo a iluminá-la .



Frase: Uma simples frase pode chamar muita atenção. Em certo congresso de jovens evangélicos, o preletor começou sua pregação dizendo: "Eu não quero mais ser evangélico". Não é preciso dizer, que até os mais desinteressados fixaram os olhos no pregador após tal frase. Por isso, no começo do sermão, diante um público geralmente apático, é boa coisa cutucá-los com uma frase que provoque impacto78.

Agora que conhecemos a estrutura básica de uma introdução: a Chamada e a Proposição, respectivamente, a isca e a porta, vejamos um exemplo de Introdução:

76 77 78

John A. Broadus. Sobre a Preparação e a Entrega de Sermões. São Paulo,Editora Custom, 2003, p.215 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.109,110 Reinaldo Polito. Super Dicas para Falar Bem em Conversas e Apresentações. Editora Saraiva, 2005, p.46

/ /

Chamada: Lutero, pai da Reforma Protestante, em meio à adversidade da perseguição trancou-se em seu quarto escuro e lá ficou por dias. Até que sua esposa, vestida de preto, foi ao seu encontro. Ao vê-la naqueles trajes, Lutero perguntou: - "Porque você está de luto? Quem morreu"? -"Deus". Ela respondeu. - "Ora, Deus não pode morrer". Ele, contrariado, respondeu. Ela, porém, com firmeza afirmou: - "Mas você está vivendo como se Deus estivesse morto". Ao ouvir a sábia argumentação de sua esposa, Lutero se levantou em meio à sua adversidade, para gravar seu nome na história para sempre. Proposição: Porque Deus está vivo é possível vencer adversidades

(AT). Neste texto

encontramos (ST), quatro atitudes (P.C) para se vencer as adversidades da vida.

É claro que, com o tempo, o pregador poderá incrementar a introdução com outros elementos, como: "problemática", "idéia exegética", "interrogativa" e outros:

Chamada: "Deus está morto". Qualquer cristão piedoso, se levantaria para se opor a esta famosa frase do filósofo alemão Nietzsche. Idéia exegética: Todos os crentes sabem que Deus está vivo para sempre. Problemática: O problema é que, em meio às adversidades da vida, muitos acabam vivendo como se Deus estivesse morto. •

É a pessoa demitida que entra em desespero. É a mulher abandonada que se afunda na depressão.



É a mãe que perde as esperanças de ver a cura de um filho.

Interrogativa: A pergunta que fica é: O que fazer quando as adversidades batem nas portas da vida? Ilustração: Lutero, pai da Reforma Protestante, em meio à adversidade da perseguição, trancou-se em seu quarto escuro e lá ficou por dias. Até que sua esposa, vestida de preto, foi ao seu encontro. Ao vê-la naqueles trajes, Lutero perguntou: - "Porque você está de luto? Quem morreu"? - "Deus". Ela respondeu. - "Ora, Deus não pode morrer". Ele, contrariado, respondeu. - "Mas você está vivendo como se Deus estivesse morto". Ao ouvir a argumentação verdadeira de sua esposa, Lutero se levantou em meio à sua adversidade, para gravar seu nome na história para sempre. Insight: "São nas maiores adversidades da vida que o poder de Deus mais se manifesta". Proposição: Porque Deus está vivo é possível vencer adversidades (AT). Neste texto encontramos (ST), quatro atitudes (P.C) para se vencer as adversidades da vida.

78

Poderá até variar os elementos que compõe a introdução, sem é claro, destruir a estrutura básica da chamada e da proposição. Como por exemplo, ao invés de usar uma ilustração na introdução, dar de forma habilidosa e sucinta um panorama geral do contexto do texto em questão:

Chamada: "Deus está morto". Qualquer cristão piedoso, se levantaria para se opor a esta famosa frase do filósofo alemão Nietzsche. Idéia exegética: Todos os crentes sabem que Deus está vivo para sempre. Problemática: O problema é que, em meio às adversidades da vida, muitos acabam vivendo como se Deus estivesse morto. •

É a pessoa demitida que entra em desespero.



É a mulher abandonada que se afunda na depressão.



É a mãe que perde as esperanças de ver a cura de um filho.

Interrogativa: A pergunta que fica é: O que fazer quando as adversidades batem nas portas da vida? Contexto: Talvez, um dos textos que melhor respondem a esta pergunta seja o que temos em mãos. O texto que nos conta a história de uma viúva aflita em meio à uma adversidade repentina, que viveu nos tempos dos profetas, mais precisamente, no tempo de Eliseu, o sucessor de Elias. Alguns acreditam que este texto, faz parte de uma série que mostra o poder do Deus vivo agindo por meio de seu instrumento escolhido. Se pudéssemos resumir a mensagem deste texto em uma única sentença seria: Insight: "São nas maiores adversidades da vida que o poder de Deus mais se manifesta". Proposição: Porque

Deus está vivo é possível

vencer

adversidades

(AT). Neste texto

encontramos (ST), quatro atitudes (P.C) para se vencer as adversidades da vida.

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Para que a Introdução cumpra seu papel de ser a "isca" e a "porta" do sermão, ela precisa possuir algumas "qualidades". Vejamos algumas:

a. Atrativa: Se durante uma apresentação a um auditório, fosse lançada uma pedra na janela, isto faria com que todos desviassem sua atenção à mesma. A Introdução é uma "pedrada na janela", pois tem como um de seus objetivos chamar a atenção do público para o orador. Num culto, o pastor local da igreja começou seu sermão com a seguinte frase: "O novo ateu é cristão". Após tal frase, ele explicou as atitudes de cristãos professos que demonstram ateísmo. Tal introdução foi uma "pedrada na janela".

79 b. Coerente: Um sermão coerente é como um trem saindo de um túnel. Primeiro vemos a parte da frente, depois cada um de seus vagões, e enfim, a traseira. Embora haja partes distintas no trem, elas são feitas do mesmo material e pintadas da mesma cor, o que dá unidade ao todo. Assim, para que a introdução seja coerente com as outras partes do sermão, ela deve possuir a mesma natureza que as demais. Isto é, se o sermão é sobre santidade, a introdução deverá falar sobre santidade. Se o sermão é sobre famiiia, a introdução deverá tratar de família. Dependendo do ambiente, alguém que quisesse pregar sobre "saudade", poderia usar na introdução, por exemplo, a música tema das vitórias de Airtom Senna.

c. Distinta: Há pregadores que não sabem diferenciar a introdução da apresentação. Ao ponto de que, ao começarem a falar, as pessoas se perguntam: "ele já começou a pregar, ou ainda está se apresentando"? A diferença entre a apresentação e a introdução é que a apresentação é a hora dos cumprimentos, da rápida apresentação da pessoa do orador, caso esteja visitando a congregação e da abertura da Bíblia no texto indicado. A Introdução é, por sua vez, é simplesmente e necessariamente, o início do sermão. Uma boa dica para distinguir a apresentação da introdução é seguir os passos:

I.

Apresentação

II.

Leitura do Texto

III.

Oração

IV.

Introdução do Sermão.

Alguns pregadores preferem outra seqüência:

/.

Apresentação

II.

Oração

III.

Introdução

IV.

Leitura do Texto

Porém, a experiência mostra que a primeira alternativa, além de ser mais fácil de ser feita, parece ser mais eficaz. Tudo vai depender das características pessoais do orador, o importante é que fica claro para a congregação onde terminou a apresentação e onde começou a pregação.

d. Breve: atualmente temos testemunhado a tendência de grandes pregadores se demorarem mais na introdução, a ponto dela ficar comparativamente maior do que cada tópico distinto do sermão. Porém, o natural é que a introdução seja breve:

Note que uma pedrada na vidraça tem o poder de acordar todos os que estiverem dormindo nas proximidades e fazer com que todos olhem na sua direção (...) Agora, se você ficar meia hora atirando pedras na parede sem acertar a vidraça, todo mundo se acostuma com as pedradas e elas já

nao causam mais impacto( e ainda há o perigo de você acertar o ouvinte). Em outras palavras, a introdução deve durar só o suficiente para conquistar a atenção e introduzir o assunto 79 .

Assim, num sermão bem planejado, a introdução geralmente corresponde a 15% do sermão, enquanto que o corpo corresponde a 75% e a conclusão corresponde a 10%. Ainda que a introdução seja uma das menores partes do sermão, de forma alguma ela é menos importante. Pelo contrário, ela é uma das partes mais importantes da prédica, pois, de sua correta execução depende todo o restante do sermão. Pois como escreveu Duane Litfin: "Você nunca tem uma segunda chance de causar uma primeira impressão" 80 .

e. Acessível: se você quiser ganhar a antipatia e o conseqüente desinteresse do público, logo em suas primeiras palavras, coloque na Introdução assuntos complexos que a maioria não entenda; use palavras rebuscadas a ponto das pessoas pensarem em levar, em seu próximo sermão, não apenas Bíblias, mas também dicionários. Mantenha uma postura de superioridade e santidade durante a palestra, assim, as pessoas ficarão com suas cabeças baixas, quem sabe dormindo ou, na melhor das hipóteses, lendo a Bíblia (em outro texto). Por exemplo: "Caríssima irmandade, estamos a carecer nesta lida, preparar-nos com intrepidez varonil, para a parúsia de nosso Senhor. Desta feita, venho-lhes ensinar "três axiomas" da Escatologia joanina". Talvez, quando tal pregador chegar ao terceiro "axioma", a maioria ainda esteja se perguntando: "Mas, o que é 'equisioma', hein"? Lembre81 se, a simplicidade é a máxima sofisticação . Nunca subestime o valor de uma boa Introdução, pois ela pode aquecer o coração de um auditório frio, despertar a atenção de um público desinteressado e conduzir o sermão em um caminho lógico e claro. Se esforce para fazer a Introdução como qualquer outra parte do sermão. Pois, como alguém já disse: "A primeira impressão é a que fica".

79 80 81

Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A Comunicação na Homiiética São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 70 Idem, 67. Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homiiética, 1997, p.23

81

Faça a "Introdução" de seu sermão. Siga os seguintes passos:

1.

Prepare a "proposição" do sermão. Êx: "Deus perdoa o arrependido" (Afirmação Teológica). Neste texto encontramos (Sentença de Transição) 2 provas (Palavra Chave) desta verdade.

2.

Prepare a "chamada" de seu sermão:

a.

Escolha uma forma para começar o sermão ( Pergunta, Frase de Efeito, Ilustração, Atualidades ou outros), de modo que chame a atenção dos ouvintes e os conduza à proposição.

b.

Se necessário, faça a ligação entre a "chamada" e a "proposição" por meio dos "elos de ligação" (problemática", interrogativa, ilustração, etc).

c.

Redija sua Introdução de modo completo (Chamada, Elos de Ligação, Proposição).

Segundo Jerry Stanley Key, "se as primeiras impressões são as mais notáveis, as últimas são as mais duradouras". Estas palavras resumem bem a importância da conclusão do sermão. Concluir um sermão não é simplesmente "parar de falar", "bater os esboços no púlpito e dizer amém", ou ainda "agradecer a oportunidade". Não, concluir o sermão significa dar o desfecho do assunto que foi proposto na introdução e desenvolvido no corpo. Para se ter idéia da importância da conclusão do sermão, veja algumas definições sobre a conclusão formuladas por grandes pregadores:



"A conclusão do sermão também serve como uma sobremesa, para que os ouvintes saiam sentindo o sabor doce do sermão"82 (Robson Moura Marirho).



"Concluir é colocar a última pedra no quebra-cabeça, 83

quadro' •

a pedra que completa o

(John Stott).

"Concluir é dar o laço após colocar o sapato. Um sermão sem conclusão é um sapato desamarrado; logo, logo, sai do pé".

84

(Ed René Kivitz).

Uma vez que a conclusão é tão importante quanto a Introdução e o Corpo do sermão, devemos ter em mente algumas qualidades que fazem uma boa conclusão:

a. Coerente: Usando mais uma vez a analogia do trem, a conclusão seria o último vagão, porém, tão importante quanto os anteriores, formando com os outros um todo coerente. Dizer que a conclusão necessita ser coerente com o restante do sermão, implica dizer que ela precisa estar de acordo com o assunto do sermão. Se o tema do sermão for sobre "pecado", a conclusão deve encerrar o assunto sobre "pecado" do sermão. Se o tema do sermão for "mordomia", a conclusão deve ser o encerramento do assunto sobre mordomia apresentado no sermão. Não acrescente assunto novo na conclusão, mas conclua de acordo com o tema proposto na Introdução e desenvolvido no Corpo. Como disse John Stott:

•Ao pregar, diga-lhes o que vai dizer e, tendo-lhes dito, diga-lhes o que disse".

82 83

85

Robsom Marinho. A Arte de Pregar - A Comunicação na Homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p.81 Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997, p.20

83

b. Breve: dentre as partes "macro" do sermão, a conclusão é a parte mais breve, tomando, geralmente, "dez por cento" do tempo da pregação. Assim, numa pregação de trinta minutos, a conclusão levará, em média, três minutos. Se alguém se aventurar a delongar-se muito na hora de concluir, correrá o risco de ouvir a platéia começar a dizer "amém" antes de se encerrar o sermão. Como Robsom Marinho alerta: "pare de pregar, antes que as pessoas parem de ouvir"!

86

c. Enxuta: uma conclusão breve não significa sem conteúdo, mas enxuta. Para tanto é necessário "cortar" tudo aquilo que é desnecessário e sem proveito numa conclusão, como afirma Aristóteles: "Qualquer coisa cuja ausência ou presença não faz diferença, não é essencial".

87

Se existem duas

coisas desnecessárias que alguns pregadores insistem em colocar na conclusão são desculpas e agradecimentos. Se você pregou, de fato, a Palavra de Deus, nenhum dos dois são necessários. As desculpas minimizarão a autoridade do que foi pregado e os agradecimentos podem dar a impressão de que os ouvintes fizeram um favor em ouvir a Palavra. Isto não é nada bom. Pelo contrário, em alguns países como Inglaterra, por exemplo, no final de um culto, é costume das pessoas cumprimentarem o pregador agradecendo-lhe o sermão pregado.

d. Clara: conta-se de um pregador que, na conclusão de seu sermão sobre o dever da Igreja em atuar fora das "quatro paredes", perguntou aos ouvintes: "o que vocês estão fazendo ainda aí sentados"? Então, desceu do púlpito e saiu do templo, para dar o exemplo. É claro que não caberá, em toda conclusão de um sermão, fazer algo de tamanho impacto assim. Se não, a congregação, se tornará insegura e começará a se perguntar em cada sermão: "o que ele vai aprontar dessa vez"? Porém, em toda conclusão, caberá ao pregador deixar bem claro o que se espera dos ouvintes, e um pouco de criatividade pode ajudar muito na fixação da mensagem. Afinal, o alvo final de um sermão não é o belo discurso, mas a transformação de vidas.

e. Natural: quando um orador anuncia que está terminado, as pessoas acreditam e se preparam para ouvir as últimas palavras da prédica. O problema é que, não raras vezes, elas são enganadas. O orador se delonga por mais dez minutos e um clima de inquietação se instaura no auditório. Isto acontece porque ao anunciar a conclusão, a mente se prepara para o encerramento do assunto. Quando isto não acontece, o resultado é a impaciência, a inquietação e a frustração. Como escreve Lachler:

Um preparo prático e diligente da conclusão ajudará o expositor a evitar o grande erro que chamo de "descumprimento de promessa". O pregador diz: "Concluindo..." e prega, prega e prega 88 .

84 85 86 87 88

Idem Idem Robsom Marinho. A Arte de Pregar-A Comunicação na Homilética. São Paulo: Vida Nova, 1999, p.85 Idem, p. 81 Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p. 119

84

Por isto, é melhor não anunciar a conclusão, olhar no relógio de pulso e dizer "já estou concluindo". Ou, se anunciar que vai concluir, conclua mesmo.

f. Planejada: A pregação de um sermão é como pilotar um avião. Antes do vôo, o piloto já tem tudo planejado: a decolagem, o percurso, e a aterrissagem. Em outras palavras, ele sabe de onde vai sair, por onde vai passar e onde vai chegar. Da mesma forma, se o pregador deseja evitar "acidentes" durante a pregação, também deverá ter planejado todo o percurso do vôo, ou melhor, da pregação: a introdução, o corpo e, inclusive, a conclusão. Como é sabido: "Aquele que falha em planejar, está planejando falhar".

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