António Vieira - CAMÕES - MENSAGEM

March 15, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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“António Vieira” 

Neste poema, Fernando Pessoa qualifica António Vieira como o maior orador do seu tempo, notável estilista da prosa portuguesa como se denota no verso “ imperador da língua portuguesa”.   Quando Pessoa diz “surge, prenúncio claro do luar, El-rei D.Sebastião” refere-se aos escritos do Padre António Vieira referente às esperanças de Portugal que um grande rei conduziria a um futuro Quinto Império Mundo. Baseia-se também nas profecias de Bandarra que anunciava o regresso do rei D.Sebastião. Pessoa tem um momento em que afirma “foi -nos um céu também”, ou seja, designa António Vieira como um céu estrelado dos portugueses, grandioso, trazendo assim, grandiosidade à Língua Portuguesa. No verso “Mas não, não é luar: é luz do etéreo”, o poeta diz que  não é o luar, ou seja, o final do dia, referindo-se ao Império Material das Índias mas a luz celeste, o começo de um novo dia, um Império Espiritual, o Quinto Império.

 Análise ao poema "O Quinto Império" O poema da mensagem que me foi dado a analisar destaca uma ânsia de surgimento do Quinto Império e critica todos os que não sonham “sem que um sonho so nho …/ Da lareira a abandonar!”, logo aqueles que

se acomodam a uma vida linear.  Este poema insere-se na terceira parte da mensagem, “Encoberta”, a parte em que  o misticismo e o mito sebastianista estão presentes mais fortemente.   O poema pode-se dividir em três partes lógicas.  A primeira parte engloba as duas primeiras estrofes e nelas o poeta lamenta e critica aqueles que se contentam em sobreviver “viva a vida porque a vida dura”, aqueles que não têm objectivos “Nada na alma lhe diz” e vivem felizes porque são s ão inconscientes. 

A segunda parte é constituída pela terceira estrofe, na qual o poeta destaca a fugacidade do tempo “Eras sobre eras se somem” e a noção do que o verdadeiro homem deve ser descontente “ser descontente é ser homem”, pois só assim evoluirá.  A terceira e ultima parte, que termina com a conclusiva “E assim” refere que, após os tempos vividos, os tempos de sonho “tempos do ser que sonhou”, um novo brilho virá “Do dia claro” e esse brilho mostrará novo império, “o Quinto Império”, fazendo ressurgir os ideais de D. Sebastião. Nesta estrofe

destaca-se o mito de D. Sebastião como solução para os problemas de um Portugal cinzento, acomodado e triste.  Externamente o poema é constituído por cinco estrofes, que são qu quintilhas, intilhas, de esquema rimático a/b/a/a/b, logo são rimas cruzadas e interpoladas, de sete sílabas métricas  logo são redondilha maior.  O poema inicia-se com um oximoro dos versos um, dois e seis, que destaca o absurdo dos que satisfazem com uma vida vulgar. Na terceira estrofe a repetição “Eras sobre era …/ No tempo em que eras vem.” Destaca a passagem do tempo. Encontramos também uma antítese em “Do dia claro/ Da erma noite” que nos remete há escuridão do desconhecido “erma noite” em contraste com a luminosidade do saber “Do dia claro”.  Na ultima estrofe há ainda a enumeração “Grécia, Roma, Cristandade/Europa” que aludem a uma continuidade que terá, fim mas que será suplementada pela “verdade” que é o mito Sebastianista.  

O poeta termina com uma interrogação interr ogação retórica, o que torna o mais reflexivo.  Como poema inserido numa obra de carácter épico-lírico, o Quinto Império remete para a necessidade de mudança, trazida por D. Sebastião, mas apresenta um tom subjectivo de análise àqueles que se acomodam, logo um tom critico.  Como característica do modernismo, período a que a obra pertence a este poema é vago, subtil e complexo apresentando uma linguagem simples, abundante pontuação, o que o torna cerebral.  Em conclusão, o poema remete-nos para uma reflexão profunda sobre a importância do sonho e o que dele advém, levando a criticar aqueles que se contentam com uma vida vulgar, com o mínimo da sobrevivência sem terem sonhos de uma vida maior e melhor, pois o sonho comanda a vida e só com o sonho há evolução.  Pessoa anseia por D. Sebastião enquanto símbolo da grandiosidade cultural de um povo. 

 

Camões e Vieira 

Um século separa estes dois génios da língua e da saga portuguesa, mas foi um século de grandes mudanças na nossa história. Camões viveu no tempo da euforia da Índia e deixou-se embriagar pela ideia de um império que Afonso de Albuquerque tinha sonhado para Portugal. Depois de ter cantado a epopeia de uma raça de homens diferente das do resto do mundo, o poeta morreu na miséria, com lucidez suficiente para ver o reino despedaçado. Deixou em herança um poema que ficou como referência dos desejos mais profundos de uma nação: sonhos de vitórias, de riqueza e de poder de um povo pobre que nunca aceitou a sua fraqueza e sempr sempree se iludiu com o seu destino.   O “ilustre peito lusitano” era o povo  Lusíada, vocábulo criado pelo seu contemporâneo André de

Resende para definir os descendentes de uma antiquíssima raça lusitana, referência ancestral de todos os heróis e de todos os artífices da epopeia marítima portuguesa. Porém, a utopia não tinha consistência, porque a tal raça lusitana nunca existiu. O povo do reino de Portugal sempre foi constituído por uma mescla étnica das mais diversas origens e até o nosso primeiro rei era um exemplo desta mistura, filho de um imigrante francês e de uma bastarda galega. A Lusitânia foi um nome dado artificialmente a uma região administrativa do império romano e não contemplava qualquer unidade racial, nem linguística nem cultural.  No poema de Camões a raça lusitana, predestinada por Deus para grandes feitos e glórias ímpares, era uma etnia diferenciada, autóctone e cristã; judeus, muçulmanos, africanos, povos nómadas atrevidos e todos os seus descendentes ficavam excluídos de tão preciosa tribo. Os Lusíadas sempre foram o poema de uma raça fictícia, da glória dos escolhidos e da exclusão dos outros.   Quando o padre António Vieira começou a pregar os seus primeiros sermões, nas igrejas de Salvador da Bahia, tinham-se passado 60 anos depois da publicação d’ Os Lusíadas e do império sonhado apenas sobravam retalhos. Reinava em Portugal uma dinastia estrangeira e o comércio da Índia tinha passado para outros poderes. Em poucos anos ele assistiu ao descalabro final: uma fatia importante do Brasil e de África passou para o controle dos holandeses, inimigos da coroa espanhola e poderosos quanto bastava para tomar conta da riqueza mais cobiçada da colónia esquecida por Camões, o açúcar do Brasil. A riqueza da Índia e do Brasil tinha ido parar às mãos de uma raça de excluídos, os judeus banidos do reino em cujas mãos estava a salvação de um rei atrevido e de um reino sem futuro.   O jesuíta mestiço assumiu a causa da independência do reino e fez desse projecto a sua missão, porque acreditava que o reino de Portugal tinha uma missão divina por cumprir, revelada pelo próprio Cristo ao nosso primeiro rei e escrita desde tempos imemoriais nos textos dos profetas. Essa missão era a de um Império Universal, de riqueza e de felicidade, incluindo todos os homens e todas as raças da terra, um novo e definitivo reino assente nas virtudes ancestrais dos portugueses e, porque não, governado por um soberano português. Seria o Quinto Império do mundo, o reino de Cristo consumado na terra, feito de todas as raças, de todas as gentes do mundo.   Fazia exactamente 100 anos da publicação do grande poema épico quando o padre António Vieira vivia em Roma, rodeado de admiradores, cardeais, príncipes, embaixadores e até uma rainha nórdica culta e excêntrica que o queria perto de si. Sonhava ainda com o Quinto Império, apesar de desiludido com a fraqueza do seu soberano e o desleixo das virtudes do reino. Tanta profecia, tanto empenho, tanta ousadia passada, tudo comprometido com a mediocridade que invadia o reino, de costas voltadas para o seu destino. Pátria ingrata, não tomarás conta dos meus ossos!  A nossa história é feita de muitas miudezas e de alguns momentos de grandeza. Esses poucos momentos foram sublimes e definem a identidade de um povo. Camões e Vieira representam dois momentos quase antagónicos dessa grandeza: um é o poeta da raça e da exclusão, outro o profeta da universalidade e da cidadania. Um mereceu um túmulo vistoso no templo da nossa glória, outro não tem campa nem tumba, os seus ossos desapareceram. Juntos eles são a grande referência do poder da língua portuguesa no mundo, um Quinto Império realizado. Neste 10 de Junho, aniversário da morte de Camões, já não se festeja mais o dia de uma raça, mas sim o das comunidades diferenciadas que pelo mundo falam a língua portuguesa.   – dizia Vieira.   Pouca terra para nascer, o mundo inteiro para crescer e morrer   –

 

Interpretação do poema “Nuno Álvares Pereira”, da Mensagem, Mensagem,   Biografia de Nuno Álvares Pereira

Nuno Álvares Pereira nasceu na vila de Cernache do Bonjardim, concelho da Sertã. Era filho de Álvaro Gonçalves Pereira e de Iria Gonçalves do Carvalhal. Nuno foi o primeiro nobre a apoiar as pretensões de João, o Mestre de Avis, à coroa, após a morte do rei Fernando de Portugal (1383). Em Abril de 1384, Álvares Pereira enfrenta os castelhanos na batalha dos Atoleiros, que foi a sua primeira vitória. E o Mestre de Avis nomeia-o Condestável de Portugal e conde de Ourém.  Após D. João de Castela ter invadido Portugal para reivindicar os direitos de sua esposa, D. Beatriz, Álvares Pereira toma o controle da situação.  A 14 de Agosto, Álvares Pereira mostra o seu génio militar ao vencer a Batalha de Aljubarrota e torna-se Conde de  Arraiolos e Barcelos. Do seu casamento com Leonor de Alvim, o Condestável teve apenas um filha, Beatriz Pereira de Alvim, mulher de D. Afonso, duque de Bragança. Em anos e depois da morte E foi1423, feito com beato63em 1918 pelo Papa Bentode XV.sua esposa, entra no Convento do Carmo recebe os votos religiosos. Poema "Nun´Álvares Pereira" Que auréola te cerca? É a espada que, volteando. Faz que o ar alto perca Seu azul negro e brando. Mas que espada é que, erguida, Faz esse halo no céu? É Excalibur, a ungida, Que o Rei Artur te deu. Esperança consumada, S. Portugal em ser, Ergue a luz da tua espada Para a estrada se ver! Fernando Pessoa, 08-12-1928  Análise contextual da primeira estrofe: Normalmente a “auréola” tradicionalmente “cerca” os santos e os iluminados, e o seu tom dourado tem o significado hermético de“conhecimento”.  de“conhecimento”.  Já no poema, a auréola que cerca Nuno Álvares Pereira é, ao mesmo tempo, uma auréola de santidade (do guerreiro tornado monge) e uma auréola de combate (“é a espada (…) volteando”). O poeta quer dizer que a santidade que ele alcançou, foi a custo também dos seus actos de guerreiro, pois é a sua espada que desenha o círculo diáfano por cima da sua cabeça, destacando-o santo, do comum dos homens.  A imagem poética é muito bem conseguida. Vejamos Vejamos como Pessoa nos faz faz imaginar o raio da espada espada que, levantada em círculo tão alto, rompe o negro do céu em altitude (“o ar alto”), deixando deixand o este de ser tão “negro e brando”.  brando”.    Análise contextual da segunda estrofe: Explicada a origem da auréola que cerca Nuno Álvares Pereira (a espada), Pessoa fala-nos sobre essa mesma espada. Diz-nos que a espada “que, erguida / Faz esse halo no céu” não é  é uma espada qualquer, não é a espada de um comum cavaleiro, mas “é Excalibur, a ungida”, a espada do  do   “Rei Artur”.  Artur”.  No texto épico inglês, Le Morte d'Arthur, a espada Excalibur (palavra que significa “Corta Aço”) é a espada que legitima Artur como rei por direito da Grã-Bretanha, quando ele a retira da pedra onde estava enterrada. Note-se que Pessoa dá a coroa ao Condestável, e depois dá-lhe a Excalibur, como dizendo que ele era cavaleiro por dedicação mas rei por direito. Para a Mensagem também é importante que a espada tenha sido usada pelo cavaleiro cuja a irmandade. O cavaleiro protegia o Santo Graal, um objecto desde sempre ligado aos Templários e que simboliza o derradeiro conhecimento e união com Deus.  Análise contextual da terceira estrofe: O poema dedicado ao Condestável termina com uma invocação da sua memória. Fernando Pessoa resume novamente as qualidades mais relevantes do seu mito, ser “esperança consumada” e “S. Portugal em ser” para  para  depois lhe pedir que erga “a luz” da sua “espada” para “a estrada estr ada se ver”.  ver”.  “Esperança consumada” porque o Condestável foi um homem de feitos corajosos, ou seja, consumou, concretizou a sua coragem em actos. “S. Portugal em ser”, porque aliou, na sua pessoa, à coragem, a santidade. Pede-lhe Pede -lhe Pessoa erga a luz da sua

 

ver”.   espada “para a estrada se ver”.  É claro que este pedido vem na mesma linha de outros, parecendo que Pessoa reúne um exército imaterial, para servir de inspiração a uma revolta futura. Mas como é um exército imaterial, de memórias, mitos, a revolta terá de ser de consciências, Mentalidades humanas. “Nuno Álvares Pereira é o portador de uma espada que, sendo simultaneamente auréola, credencia-o credencia -o como símbolo da plena heroicidade, por incorporar a dupla condição de guerreiro e de santo” .  .  "Os Lusíadas", de L. de Camões: Canto VII , estâncias 28 a 31.  Atenta num que a fama tanto estende Que de nenhum passo se contenta, Que a pátria, que de um fraco fio pende, Sobre os seus duros ombros a sustenta. Não vês, tinto deinerte ira, que reprende,  A vil no desconfiança, e lenta, Do povo, e faz que tome o doce freio Do Rei seu natural, e não de alheio? Olha: por seu conselho e ousadia, De Deus guiada só e de santa estrela, Só, pôde o que impossibil parecia:  Vencer o povo ingente de Castela.  Vês por indústria, esforço e valentia, Outro estrago e vitória, clara e bela, Na gente, assi feroz como infinita, Que entre o Tarteso e o Guadiana habita? Mas não vês quase já desbaratado O poder Lusitano, pela ausência Do Capitão devoto, que, apartado, Orando invoca a suma e trina Essência?  Vê-lo com pressa dos resistência seus achados, achados, Que lhe dizem quejáfalta Contra poder tamanho, e que viesse Por que consigo esforço aos fracos desse. Mas olha com que santa confiança, Que inda não era tempo, respondia, Como quem tinha em Deus a segurança Da vitória que logo lhe daria.  Assi Pompílio, ouvindo que a ponssança Dos immigos a terra lhe corria,  A quem lhe a dura nova estava dando, “Pois eu (respondo) estou sacrificando.”  sacrificando.”   Análise contextual da primeira estrofe: Poeta mostra-nos que que o “guerreiro e santo” (Nuno Álvares Pereira), quer alcançar sempre mais e não se contenta com o destino, “atente num que a  a  fama tanto estende”, “que de nenhum passo se contenta”.  contenta”.  “Que a pátria, que de fraco fio pende”, “sobre seus duros ombros a sustenta”, neste dois versos remete-nos, remete -nos, para a ideia que Pessoa tenta transmitir, como se encontrava a pátria Lusitana. Encontrava-se prestes a desabar, mas com a coragem e valentia do santo Cavaleiro tenta sustentar e manter a pátria firme. Depois o sujeito remete-nos remete-nos para o estado psicológico de Nuno, quando diz “ Não no vês, tinto de ira, que reprende” e “A vil desconfiança, inerte e  e  lenta”. Ele está com raiva e repressivo, porque o povo não está seguro em relação ao seu reino. “Do povo, e faz que tome o doce freio” “Do Rei seu natural,  natural,  e não de alheio?”, pois revoltado, Nuno toma então o comando do exercito e vence os castelhanos, não deixando estes subirem ao torno de Portugal.  Análise contextual da segunda estrofe: “Olha: por seu conselho e ousadia, “De Deus guiada só e de santa estrela”, o sujeito mostra-nos mostra -nos a como a ajuda de Deus foi importante para ele devido à sua devoção e pela religião. “Só, pôde o que impossibil parecia”, aqui com essa ajuda que ele teve , e pela sua devoção conseguiu fazer o que parecia pa recia impossível de fazer: “vencer o povo ingente de Castela”, pois ele tenta vencer o grandioso povo de Castela que em maioresforço numero, na BatalhaNuno de Aljubarrota. “Vêseram por indústria, e valentia”, através da sua astúcia, força e valentia da a da  a independência ao povo Lusitano e o “ Outro estrago e vitória,  vitória,  clara e bela”, transmite-nos transmite-nos à ideia que o cavaleiro e o povo Lusitano conseguiram outros feitos grandiosos, uma outra vitória bela, a Batalha de Valverde, e em que o estrago é a derrota dos castelhanos. “Na gente, assi feroz como infinita” “Que entre o Tarteso e o Guadiana Habita?”, estes dois versos, mostra-nos mostra-nos que o povo que habita entre o Guadiana e o Tarteso, em Espanha é tão valente como o Lusitano.

 

   Análise contextual da terceira estrofe: “Mas não vês quase já desbaratado, O poder Lusitano…” o povo Lusitano encontrava-se encontrava -se quase arruinado, desalentado. Devido à “ausência de um  um  Capitão devoto”.  devoto”.  “Orando invoca a suma e trina Essência?”, ou seja, através da fé de Nuno, ele invoca os três símbolos s ímbolos da religião (pai do céu, filho e o espírito santo). “Vê--lo com pressa já dos seus achados”, o povo vendo o seu comandante orando, enervado fica desmoralizado e “Vê “Que lhe dizem que falta resistência,” fala-se fala -se que Nuno estava a perder forças e resistência pela desigualdade, deixando enfraquecer e intimidar pela desigualdade que existia nesta luta, e tinha valente força, embora acabara de passar para o lado dos fracos (“Por que consigo esforço aos fracos desse.”).  desse.”). 

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