Antonio Gedeao Poemas Escolhidos
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POEMAS ESCOLHIDOS
ANTONIO GEDEAO h/
ANTOLOGIA ORGANIZADA PELO AU7'OR
Índice Copyright O 1996 EDIÇÕES JOÃO S Á DA COSTA, LDA. Av
Brasil, 118, 3.' esq., 1700 Lisboa
Tei (01) 8400428
Fax (01) 8 4 0 1056
Todos os direitos reservados de harmonia com as disposições legais 1.' edição Março de 1997 2." ediqáo Maio de 1997
3.' edição Setembro d e 1997 4 . " edição Março de 1998
Direcsão gráfica e capa
joÃo
MACHADO
Distribuidor para Livrarias em Portugal LIVRARIA FIGUEIRINHAS Rua do Almada, 47, 4050 Porto (Fax 02 - 32 5907) Rua da Prata, 208, 2.', 1100 Lisboa (Fax 01 -8879639) Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida por qualquer processo, incluindo fotocópia, xerocópia ou gravaçáo sem autorização prévia e escrita do editor. Pré-Impressão Loja das Ideias Impressão
De "Movimento Perpétuo" (1956) Homem Impressão digital Pulsação da treva Cabeçudos e gigantones Estrela da manhã Pedra filosofa1 Tudo é foi Teatro óptico Que de mim? A estrada t Balão esvaziado Vento no rosto De "Teatro do Mundo" (1958) Fala do homem nascido Ode metálica Poema do homem só Poema de pedra lioz Minha aldeia Rosa branca ao peito Lágrimas tudo Calçada de Carriche Poema do homem-rã Poema da malta das naus Dez réis de esperança Ponto de orvalho
Tipografia Guerra, Viseu Printed in Portugal Depósito Legal n.' 122 141198 ISBN 972-9230-46-3
De "Máquina de Fogo" (1961) Amador sem coisa amada Dia de Natal
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Lágrima de preta Como será estar contente? Máquina do mundo A um ti que eu inventei Poema da auto-estrada Flor de baunilha Poema épico Saudades da terra Suspensão coloidal De "Linhas de Força"(1967) Poema do coração Poema do alvorecer Poema da noite plácida Lição sobre a água Poema do fecho éclair A adolescente Poema para Galileo Poema da buganvília Mãezinha Poema da flor proibida Canqão do oboé Memória sobre os teus olhos Poema da morte na estrada Poema dos passarinhos antigos Poema da terra adubada Os amantes liquefeitos Poema da morte aparente Poema de me chamar António De "Poemas Póstumos" (1983) Poema do adeus Poema do cão ao entardecer Poema das coisas belas
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Poema do tio-avô materno Poema das coisas Poema do amor fóssil Poema do estrangeiro Poema da menina do higroscópio Poema do ser inóspito Poema dos olhos na ribeira Poema da volta pelo bairro Poema do alquimista Poema da memória Poema da eterna presença Poema das folhas secas de plátano Poema do futuro De "Novos Poemas Póstumos" (1990) Poema das árvores Poema dos textos Poema de Domingo Poema de ser natural Poema da praça pública Poema da mulher dos cabelos brancos Poema da erva fresca Poema de Alfarrobeira Poema do instante Poema da camisinha de algodão Poema da flor no seu vaso Poema dos braços nus das mulheres Poema da minha natureza Poema dos olhos fechados Poema do gato Poema do homem novo Poema de andar a roda
Homem Inútil definir este animal aflito. Nem palavras, nem cinzéis, nem acordes, nem pincéis são gargantas deste grito. Universo em expansão. i Pincelada de zarcão desde mais infinito a menos infinito.
Impressão digital Os meus olhos são uns olhos, E é com esses olhos uns que eu vejo no mundo escolhos onde outros, com outros olhos, não vêem escolhos nenhuns. Quem diz escolhos diz flores. De tudo o mesmo se diz. Onde uns vêem luto e dores
uns outros descobrem cores do mais formoso matiz. Nas ruas ou nas estradas onde passa tanta gente, uns vêem pedras pisadas, mas outros, gnomos e fadas num halo resplandecente. Inútil seguir vizinhos, querer ser depois ou ser antes. Cada um é seus caminhos. Onde Sancho vê moinhos D.Quixote vê gigantes. Vê moinhos? São moinhos. Vê gigantes? São gigantes.
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Campânula asfixiante. Circula um terror nas veias. Zumbem estrelas em colmeias num céu alheio e distante. Numa dormência de cova, suspensa em leite de Lua, toda a vida se renova e a guerra se continua. Nas marés do protoplasma flui, reflui, perene e forte. Espreita as pegadas da morte, persegue-a como um fantasma. Cega e surda, impenetrável, i lateja, na treva urdida, essa coisa inevitável que é a vida.
Pulsação da treva Cabeçudos e gigantones Fundiu-se a roda do Sol entre os cedros afiiados. Desfez-se em azuis rosados, tinturas de tornesol. Agora, solenemente, como um corpo que se enterra, ao som de um sino plangente descea noite sobre a terra.
Tua certeza eleva-se e recorta-se no céu como um guindaste. Hirta, metálica, adstringente e fria, como a encontraste? Se eu devesse guardar-te respeito por teres [ um sorriso amável, 11
por serem castanhos os teus olhos ou por pisares [ o chão de certa maneira, então respeitaria também a tua certeza inabalável e dela te pediria um farrapo para o arvorar [ em minha bandeira.
Nas incógnitas mãos transporta os nossos gestos; nas inquietas pupilas fermenta o nosso olhar. E em seu impessoal desejo latejam todos os restos de quantos desejos ficaram antes por desejar. Abre os olhos e vai.
Faz-me pena a tua certeza como se tivesses sofrido [ um acidente, como se te visse estendido num leito, impossibilitado [ de te mexeres. Em tua certeza, cadeira de rodas, fazes-te conduzir [ piedosamente, e os caminhos passam por ti sem tu passares por [ eles, e sem os veres. Embrulhado na tua certeza, de rosto voltado para a [ parede, adormeces sorrindo enquanto a vida, aos borbotões, [ exulta. Foguete de lágrimas, meandros sem rectas, catapulta, veio de água que afoga e nunca mata a sede.
Vai descobrir as velas dos moinhos e as rodas que os eixos movem, o tear que tece os linhos, a espuma roxa dos vinhos, incêndio na face jovem. Cego, vê, de olhos abertos. Sozinho, a multidão vai com ele. Bagas de instintos despertos i ressumam-lhe a flor da pele. t Vai, belo monstro. Arranca as florestas com os dentes. Imprime na areia branca teus voluntariosos pés incandescentes. Vai.
Estrela da manhã Numa qualquer manhã, um qualquer ser, vindo de qualquer pai, acorda e vai. Vai. Como se cumprisse um dever.
Segue o teu meridiano, esse, o que divide ao meio teus hemisférios cerebrais; o plano de barro que nunca endurece, onde a memória da espécie grava os sonos imortais. Vai.
Lábios húmidos do amor da manhã, polpas de cereja. Desdobra-te e beija em ti mesmo a carne sã.
como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.
Vai.
Eles não sabem que o sonho é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento.
A tua cega passagem a convulsão da folhagem diz aos ecos "tem que ser"; o mar que rola e se agita, toda a música infinita, tudo grita "tem que ser". Cerra os dentes, alma aflita. Tudo grita "tem que ser".
Pedra filosofa1 Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso em serenos sobressaltos,
Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel,
base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, rosa-dos-ventos, Infante, caravela quinhentista, que é Cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim, passarola voadora, pára-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão,
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