Anco márcio - prova
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Análise formalista e estruturalista do poema Livro de sonetos (Jorge de Lima)
(1) A torre de marfim, a torre torre alada, (2) esguia e triste sob o céu cinzento, (3) corredores de bruma bruma congelada, congelada, (4) galerias de sombras e lamentos. (5)
A torre de marfim fez-se esqueleto
(6) e o esqueleto esqueleto desfez-se desfez-se num momento, (7) Ó! não julgueis as coisas coisas pelo aspecto (8) que as coisas coisas mudam como como muda o vento. (9) E com o vento revive o que que era inerme. (10)
Os peixes também podem criar asas
(11)
as asas br brancas podem gerar vermes.
(12)
Olhei a torre de marfim exangue
(13)
e vi a torre transformar-se em brasa
(14)
e a brasa ru rubra transformar-se em sangue.
Inicialmente, faremos uma análise dos aspectos formais: o poema é composto por catorze versos dispostos em dois quartetos e dois tercetos, trata-se, portanto, de um so sone neto to ital italia iano no.. No Nota ta-s -see qu quee o so sone neto to é de deca cass ssíla ílabo bo (pre (predo domi mina na o ve vers rsoo heróico1). No poema, há incidência de rimas externas, sinalizadas por ABAB ABAB CDC EDE, graves (devido às terminações por palavras paroxítonas), prevalecendo as rimas ricas (nas estrofes 1, 3 e 4) e a ocorrência de uma estrofe com rimas pobres (estrofe 22), rimas internas, pela assonância existente nas estrofes: na 1ª pela vogal “A” aberta (alAda, congelAda) e aliteração do fonema /S/ nos versos 2 (eSg (eSgui uia, a, triS triSte te,, Sob, Sob, Cé Céu, u, Cinz Cinzen ento to), ), 4 (gal (galer eriaS iaS,, Somb Sombra raS, S, lame lament ntoS oS), ), 5 e 6 1
Em Livro dos sonetos podemos notar a predominância de rimas do tipo heróicas e sáficas, postas de forma desordenada. Estranhamente, encontramos no 6º verso uma rima do tipo martelo agalopado, que dá uma maior variedade à entoação. 2 Na 2ª estrofe não parece haver realmente uma rima entre as palavras ESQUELETO e ASPECTO, pois na sílaba tônica da primeira palavra o “E” é fechado e na 2ª palavra, o som da letra “E” é aberto, mas consideraremos rimas por ambas as palavras terminarem em TO, formando assim como na 1ª estrofe uma rima ABAB.
(eSqueleto, fez-Se, desfez-Se) e 7 ( julgueiS, aS, coisaS, aSpecto), o que nos remete a impressão do som produzido pelo vento. De acordo com a regra estruturalista de imanência, na qual analisamos o sistema por si sem a necessidade de elementos externos, temos na escolha do título “Livro de Sonetos”
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a informação implícita de que trata-se do árduo processo de
criação poética, o título remete a idéia de um conjunto dos poemas que tem como característica 14 versos – tradicionalmente dispostos em dois quartetos e dois tercetos – geralmente decassílabos – denominados sonetos.
A
partir
deste
pensamento temos uma relação entre a o sistema como um todo e o sintagma/substantivo feminino “torre” – que se repete na 1ª, 2ª e na 4ª estrofe do poema – sinônimo de fortaleza, solidez, o eu-lírico quer explicitar quanto a rigorosidade. O poema é composto por versos herméticos, ou seja, o poeta utilizou-se de termos obscuros, de difícil entendimento para o público (se esse não tiver um conhecimento amplo da linguagem), mas o poeta demonstra não se preocupar com o entendimento de terceiros, mas sim com a necessidade de expressar o que se passa com ele próprio. Isso fica claro na 1ª estrofe, quando faz uso da expressão “torre de marfim” e “torre alada”, o eu-lírico posiciona-se na condição de ser sublime, superior, apenas limitado pela imagem do “céu”. Apesar dessa superioridade, nos versos 2,3 e 4, diante de expressões tais como “esguia e triste” e “galerias de sombras e lamentos”, temos a percepção de algo solitário, melancólico, frágil. Essa fragilidade é notória no 5º verso, de marfim (algo tenaz) sua “estrutura” passa para algo não tão concreto (esqueleto), tornando o eu-lírico mais humano, ate desfazerse em dado momento. Ao longo do poema é perceptível a presença de inúmeras figuras de pensamento, tais como: antítese presente entre os versos 3 e 13, “corredores de bruma congelada” e “e vi a torre transformar-se em brasa”; paradoxo ao adjetivar por “marfim”, “alada” e “esguia” a torre (estrutura fixa); no verso 7º, utilizando a apóstrofe, o interlocutor procura criar uma interação com o receptor “Ó! não julgueis as coisas pelo aspecto”. Podemos perceber ainda na 2ª estrofe uma idéia de efemeridade quando o eu-lírico diz para que o receptor não se prenda à imagem das
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Os sonetos constantes no Livro de Sonetos de Jorge de Lima não possuem título, porém neste trabalho estabelece-se como tal o nome do conjunto da obra.
coisas, pois essas mudam de aspecto de forma corrente, tal qual a velocidade do vento. Já na 3ª estrofe o eu-lírico retoma o conceito (no verso 9) de que o vento é agente responsável pela ação metamórfica sofrida pela torre. Nos versos 10 e 11, o eu-lírico alerta para o risco do uso excessivo de criatividade, pois pode quebrar o automatismo perceptivo do receptor. Na quarta estrofe o interlocutor coloca-se na condição de testemunha, que acompanha desde a notória debilidade da “torre de marfim”, expressa no verso 12 (percebemos pelo uso do termo exangue); passando pelo começo de uma reação no verso 13 (de algo apagado ela passa à “brasa”: um fogo que não está extinto, ainda arde) e finalmente, no verso 14, a sua ressurreição simbolizada pela imagem do “sangue”, que se contrapõe à idéia de “exangue”, restabelecendo a vitalidade da torre. Segundo a regra estruturalista da comutação, uma mensagem transmitida permanece inalterada, mesmo que haja a seleção e troca de itens, pois se preserva a relação entre eles, responsável pelo sentido.
Assim, sendo, é correto afirmar
que se realizarmos a troca do termo “peixes” (estrofe 3) por outro que animal que não voa, contudo paroxítono, a fim de se conservar o ritmo nos versos 9, 10 e 11, posto que conforme Eikhenbaum, o ritmo é “fator construtivo e fundamental do verso”. A regra de compatibilidade baseia-se na distinção dos termos pertencentes ao sintagma, bem como os pertencentes ao sistema.
Conclui-se que estes versos (3
e 4, 7 e 8, 10 e 11, 13 e 14) são termos de três sistemas distintos (as estrofes) assumem a mesma função no poema (sintagma) explanam quanto às mudanças ocorridas, portanto relacionam-se quanto a compatibilidade. Quanto à variação diacrônica podemos estabelecer a seguinte relação: nos dois primeiros versos dos quartetos (1º quarteto: “A torre de marfim, a torre alada / esguia e triste sob o céu cinzento”, 2º quarteto: “A torre de marfim fez-se esqueleto / e o esqueleto desfez-se num momento”) enquanto que no primeiro verso de cada terceto (1º terceto: “E com o vento revive o que era inerme.”, 2º tercetos: “Olhei a torre de marfim exangue”) os versos mencionados exprimem a idéia de mutação da matéria seguindo uma linha temporal, aplica-se aqui a regra de integração: esta continuidade lógica no desenvolvimento do eu-lírico.
A escolha dos termos ”marfim”, “alada”, “esguia“ e ”triste” para designar a “torre” merece destaque, pois são pertinentes ao transmitir a inquietação do eu-lírico sobre algo real em sua complexidade que ele não consegue representar de forma exata devido ao caráter mutável.
Referências bibliográficas
EAGLETON, Terry. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Martins, 1983. P. 97-135. EIKHENBAUM, B. A Teoria do “Método formal”. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira (Org.).
Teoria da literatura: formalistas russos .
Porto Alegre: Editora Globo,
1978. P. 3-38 .
JIRMUNSKI, V. Sobre a questão do “Método Formal”. In: TOLEDO, Dionísio de Oliveira (Org.). 1978. P. 57-70 .
Teoria da literatura: formalistas russos .
Porto Alegre: Editora Globo,
Teoria da literatura I Anco Márcio Tenório Vieira
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE ARTES E COMUNICAÇÃO DEPARTAMENTO DE LETRAS
Amanda de Fátima Santos Pacífico Rayssa Santos da Silva
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