Análise Matemática

November 25, 2017 | Author: Temudjin Khan | Category: Integral, Rational Number, Real Number, Logarithm, Limit (Mathematics)
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Estabelece a base para análise dos conjuntos e sua relação por meio de funções...

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Notas Te´ oricas de An´ alise Matem´ atica

Rui Rodrigues

Departamento de F´ısica e Matem´ atica Instituto Superior de Engenharia de Coimbra

´Indice

1 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real 1.1 1.2

1

Primitiva¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Processos de primitiva¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

1 4

1.2.1 1.2.2

Primitiva¸ca˜o imediata . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Primitiva¸ca˜o por partes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

4 7

1.2.3 Primitiva¸ca˜o por substitui¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Primitiva¸c˜ao de fun¸c˜oes racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

10 13

2 C´ alculo integral 2.1 Somas de Riemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

19 19

1.3

2.2

Integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.2.1 Teorema fundamental do c´alculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

23 24

2.3

Propriedades do integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3.1 Integra¸c˜ao por substitui¸c˜ao e integra¸c˜ao por partes . . . . . . . . .

26 30

2.4

Outras propriedades do integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

31

2.5

Aplica¸c˜oes do integral definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ´ 2.5.1 Area de regi˜oes planas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

32 32

2.5.2 2.5.3

Volume de s´olidos de revolu¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Comprimento do arco de uma curva y = f (x) . . . . . . . . . . . .

35 38

Integral indefinido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Integrais impr´oprios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

40 43

2.7.1 2.7.2

Integrais em intervalos n˜ao limitados . . . . . . . . . . . . . . . . . Integrais de fun¸c˜oes n˜ao limitadas . . . . . . . . . . . . . . . . . .

43 45

M´etodos num´ericos de integra¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.8.1 Regra dos trap´ezios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

46 47

2.8.2

51

2.6 2.7

2.8

Regra de Simpson . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

i

3 Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias 3.1 Introdu¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 3.3

Equa¸c˜oes diferenciais ordin´arias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

55 60

3.3.1

Equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem . . . . . . . . . . . .

60

3.3.2 3.3.3

Equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis . . . . . . . . . . . . . Equa¸c˜ao diferencial homog´enea de grau zero . . . . . . . . . . . . .

63 66

3.3.4

Equa¸c˜ao diferencial de Bernoulli . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

68

4 S´ eries num´ ericas 4.1

55 55

71

Sucess˜oes num´ericas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.1.1 Progress˜ao aritm´etica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

71 74

4.1.2 Progress˜ao geom´etrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . S´eries num´ericas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

74 75

4.2.1 4.2.2

Defini¸c˜ao e natureza de uma s´erie . . . . . . . . . . . . . . . . . . . S´erie geom´etrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

75 78

4.2.3 4.2.4

S´erie telesc´opica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . S´erie de Dirichlet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

79 81

4.2.5 4.2.6

Propriedades das s´eries num´ericas . . . . . . . . . . . . . . . . . . Condi¸c˜ao necess´aria de convergˆencia . . . . . . . . . . . . . . . . .

81 82

4.2.7

Crit´erios de compara¸c˜ao para s´eries de termos n˜ao negativos . . .

84

4.2.8 4.2.9

Outros crit´erios para s´eries de termos n˜ao negativos . . . . . . . . Convergˆencia absoluta e convergˆencia simples . . . . . . . . . . . .

87 90

4.2.10 S´eries alternadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4.2.11 Reordena¸c˜ao dos termos de uma s´erie num´erica . . . . . . . . . . .

92 94

5 S´ eries de potˆ encias 5.1 Introdu¸c˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

95 95

4.2

5.2 5.3

Raio e intervalo de convergˆencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 Propriedades das s´eries de potˆencias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

Referˆ encias bibliogr´ aficas

107

´ Indice alfab´ etico

109

ii

Cap´ıtulo 1 Primitiva¸c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real

1.1

Primitiva¸c˜ ao

Iniciamos este tema com a defini¸c˜ao de primitiva de uma fun¸c˜ao real de vari´avel real. Defini¸ c˜ ao 1.1 Seja f uma fun¸c˜ao real de vari´avel real definida num intervalo D. Primitiva de f em D ´e qualquer fun¸c˜ao F tamb´em definida em D, tal que F ′ (x) = f (x) para todo o

x ∈ D.

Considere a fun¸c˜ao f (x) = cos x definida para todo o x ∈ R. A fun¸c˜ao F (x) = sin x ´e uma primitiva de f pois (sin x)′ = cos x para todo o x ∈ R. Existem outras primitivas

de f , como por exemplo G(x) = sin x + 1. Se F ´e uma primitiva de f em D, ent˜ao a fun¸c˜ao G(x) = F (x) + c, qualquer que seja c ∈ R, ´e tamb´em uma primitiva de f em D. De facto, G′ (x) = (F (x)+c)′ = F ′ (x) = f (x) para todo o x ∈ D. Ou seja, n˜ao existe apenas uma primitiva de f num intervalo D. A figura apresenta o gr´ afico de trˆes primitivas da fun¸c˜ao f (x) = cos x. y

x

Figura 1.1 1

Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real Teorema 1.1 Se F e G s˜ao duas primitivas de f num intervalo D, ent˜ao as fun¸c˜oes F e G diferem apenas de uma constante, isto ´e, existe k ∈ R tal que G(x) = F (x) + k qualquer que seja x ∈ D. Para demonstrar este resultado ´e necess´ario o seguinte corol´ario do Teorema de Lagrange. Corol´ ario 1.1 (do Teorema de Lagrange) Se f : [a, b] → R ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua e f ′ (x) = 0 para todo o x no intervalo aberto ]a, b[, ent˜ao f ´e constante em [a, b]. Demonstra¸ c˜ ao - (do teorema 1.1) Considere a fun¸c˜ao h(x) = G(x) − F (x) definida em D. A fun¸c˜ao h ´e cont´ınua em D (porque resulta da soma de duas fun¸c˜oes diferenci´aveis em D) e h′ (x) = (G(x) − F (x))′ = f (x) − f (x) = 0 , para todo o x ∈ D (porque F e G s˜ ao duas primitivas de f em D). O corol´ario anterior permite concluir que existe k ∈ R tal que h(x) = k, isto ´e, que G(x) = F (x) + k em D.

Ou seja, se F ´e uma primitiva de f em D, ent˜ao toda a outra primitiva da fun¸c˜ao f em D ´e da forma F (x) + c para alguma constante c ∈ R. Ao primitivar obt´em-se uma fam´ılia de fun¸c˜oes e n˜ao

apenas uma fun¸c˜ao. O gr´afico de uma primitiva resulta directamente de uma transla¸c˜ao no eixo das ordenadas do gr´afico de outra primitiva (recorde a figura na p´agina 1). As nota¸c˜oes mais usadas no c´alculo da primitiva de uma fun¸c˜ao s˜ao as seguintes: → P f (x) = F (x) + c , →

Z

f (x) dx = F (x) + c ,

Exemplos: Z • 2x dx = x2 + c.

2



Z

cos x dx = sin(x) + c.



Z

1 dx = ln(x) + c, (x > 0). x



Z

1 dx = arctan(x) + c. 1 + x2

c∈R c ∈ R.

1.1. Primitiva¸ c˜ ao Exerc´ıcio 1.1 Verifique por defini¸c˜ao que   p ln x + 1 + x2

1 ´e uma primitiva da fun¸c˜ao f (x) = √ . 1 + x2 Exerc´ıcio 1.2 (a) Verifique que

cos (2x) e 2 s˜ao duas primitivas da fun¸c˜ao f (x) = sin(2x). −

sin2 (x)

(b) Determine a diferen¸ca entre as duas primitivas. Exerc´ıcio 1.3 Em qual das figuras est´a representado o gr´afico de uma primitiva da fun¸c˜ao f (x) = sinh x. y

y

y

x

(a)

x

x

(b)

(c)

O pr´oximo resultado fornece uma condi¸c˜ao suficiente para a existˆencia de primitiva. Teorema 1.2 (existˆencia de primitiva) Se f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua num intervalo D, ent˜ao f tem primitiva em D. Se uma fun¸c˜ao n˜ao tem primitiva, ent˜ao ´e necessariamente uma fun¸c˜ao descont´ınua. Importa referir que certas fun¸c˜oes descont´ınuas s˜ao tamb´em primitiv´aveis. Proposi¸ c˜ ao 1.1 (linearidade) Se f e g s˜ao duas fun¸c˜oes primitiv´aveis, ent˜ao Z Z α f (x) dx = α f (x) dx , e

Z

f (x) + g(x) dx =

Z

∀ α ∈ R \ {0}

f (x) dx +

Z

g(x) dx .

(1.1)

(1.2)

A demonstra¸c˜ao deste resultado ´e simples, basta usar a defini¸c˜ao de primitiva. aplica¸c˜ao conjunta das propriedades (1.1) e (1.2) permite escrever Z Z Z f1 (x) ± f2 (x) ± · · · ± fn (x) dx = f1 (x) dx ± · · · ± fn (x) dx ,

A

3

Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real onde se assume que cada fun¸c˜ao fi , i = 1, 2, . . . , n, n ∈ N, ´e primitiv´avel no mesmo intervalo. Primitiva-se por decomposi¸c˜ao ao utilizar em simultˆaneo as propriedades (1.1) e (1.2). Nem sempre ´e poss´ıvel determinar uma express˜ao finita para a primitiva de toda a fun¸c˜ao primitiv´avel. Considere a t´ıtulo de exemplo as fun¸c˜oes e−x

2

sin(x)/x

e

ln(sin x) .

Estas fun¸c˜oes s˜ao cont´ınuas nos seus dom´ınios, contudo, n˜ao ´e poss´ıvel encontrar uma representa¸c˜ao da primitiva de cada fun¸c˜ao, como soma finita de fun¸c˜oes elementares.

1.2

Processos de primitiva¸ c˜ ao

Doravante, consideram-se os seguintes processos de primitiva¸c˜ao: →

Primitiva¸c˜ao imediata



Primitiva¸c˜ao por partes



Primitiva¸c˜ao por substitui¸c˜ao

1.2.1

Primitiva¸c˜ ao imediata

Este processo consiste na interpreta¸c˜ao, no sentido inverso, da tabela de deriva¸c˜ao. Na ´ necess´aria maior parte das situa¸c˜oes a consulta da tabela n˜ao ´e no entanto suficiente. E alguma manipula¸c˜ao alg´ebrica para poder reconhecer uma express˜ao familiar. Deduzemse sem dificuldade as seguintes primitivas: •

Z

0 dx = c,



Z

1 dx = x + c,



Z

k dx = k x + c,

k, c ∈ R

Quando surge uma primitiva da forma Z

u′ uα dx

onde α ∈ R\{−1} e u representa uma fun¸c˜ao da vari´avel x, a resposta ´e imediata, tem-se, Z 4

u′ uα dx =

uα+1 + c, α+1

α ∈ R \ {−1} .

(1.3)

1.2. Processos de primitiva¸ c˜ ao A confirma¸c˜ao ´e simples, basta derivar. 

uα+1 +c α+1

′

′ 1 uα+1 α+1 1 = [(α + 1) uα+1−1 u′ ] α+1

=

= u′ uα . A f´ormula (1.3) ´e usualmente designada como regra da potˆencia. Um caso particular ´e Z xα+1 xα dx = + c, α ∈ R \ {−1} . α+1 Outras express˜oes podem deduzir-se de forma quase imediata. Para primitivar uma fun¸c˜ao exponencial de base a, onde a > 0 e a 6= 1, obt´em-se Z au + c. u′ au dx = ln a

(1.4)

A confirma¸c˜ao de (1.4) ´e mais uma vez muito simples. 

au +c ln a

′

=

Alguns casos particulares s˜ao

e

1 1 ′ u (au )′ = u a ln a = u′ au . ln a ln a Z

u′ eu dx = eu + c

Z

ex dx = ex + c .

A consulta de uma tabela de deriva¸c˜ao permite escrever de imediato. •

Z

u′ dx = ln |u|+ c u



Z

u′ cos u dx = sin(u) + c



Z

u′ dx = arctan(u) + c 1 + u2



Z



(passa por considerar α = −1 em

Z

u′ uα dx, recordar (1.3))

u′ dx = arcsin(u) + c . 1 − u2

5

Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real Exemplos: Calcular as primitivas Z (a) x3 − 5x2 + 2x + 1 dx (b)

Z

1 dx x (x − 1)

(c)

Z

e2x dx

(d)

Z

2 dx 4 + x2

Al´ınea (a) Z

x3 − 5x2 + 2x + 1 dx = =

Z

Z Z Z x3 dx − 5 x2 dx + 2 x dx + 1 dx

5x3 x4 − + x2 + x + c 4 3

Al´ınea (b) Z

1 dx = x (x − 1)

Z

1 1 − dx x−1 x Z Z 1 1 = dx − dx x−1 x = ln |x − 1| − ln |x| + c

Al´ınea (c)

Al´ınea (d)

Z Z

e2x dx = 1/2

Z

2 dx = 4 + x2 =

2 e2x dx =

Z Z

e2x +c 2

2 dx 4 (1 + x2 /4) 1 2

1 + (x/2)2

dx

= arctan(x/2) + c Teorema 1.3 Seja f uma fun¸c˜ao primitiv´avel no intervalo D, x0 um ponto de D e y0 ∈ R. Existe uma u ´nica primitiva F da fun¸c˜ao f que satisfaz a condi¸c˜ao F (x0 ) = y0 . Demonstra¸ c˜ ao -

Admitamos que F e G s˜ao duas primitivas de f em D que satisfazem

a condi¸c˜ao prescrita. Tem-se F ′ (x) = G′ (x) = f (x) em D e F (x0 ) = G(x0 ) = y0 . Considerando a fun¸c˜ao h(x) = F (x) − G(x), definida para todo o x ∈ D, verifica-se 6

1.2. Processos de primitiva¸ c˜ ao imediatamente que h′ (x) = 0 em D. Constata-se que h ´e uma fun¸c˜ao constante, isto ´e, que h(x) = k, k ∈ R, em D. Calculando h no ponto x0 obt´em-se k = 0, e portanto F (x) = G(x) em todo o intervalo. Exemplo: 2

Considere o problema da determina¸c˜ao da u ´nica primitiva F da fun¸c˜ao f (x) = x ex que satisfaz a condi¸ca˜o F (0) = 1. O c´alculo da express˜ao geral da primitiva de f revela que F (x) =

Z

xe

x2

dx = 1/2

Z

2

2xe

x2

ex + c. dx = 2

Da equa¸c˜ao F (0) = 1 resulta c = 1/2. Assim, a primitiva pretendida ´e 2

ex + 1 F (x) = . 2

1.2.2

Primitiva¸c˜ ao por partes

O processo de primitiva¸c˜ao por partes baseia-se na express˜ao da derivada do produto ´ por este motivo muito utilizado na procura de primitiva para um de duas fun¸c˜oes. E produto de duas fun¸c˜oes. Considere duas fun¸c˜oes u e v (da vari´avel x) definidas e diferenci´aveis num certo intervalo D. Calculando a derivada do produto de u por v obt´em-se (u(x) v(x))′ = u′ (x) v(x) + u(x) v ′ (x) express˜ao que se pode reescrever como u(x) v ′ (x) = (u(x) v(x))′ − u′ (x) v(x) . Primitivando por decomposi¸c˜ao, ambos os membros da identidade anterior, deduz-se Z Z u(x) v ′ (x) dx = [(u(x) v(x))′ − u′ (x) v(x)] dx Z Z = (u(x) v(x))′ dx − u′ (x) v(x) dx Z = u(x) v(x) − u′ (x) v(x) dx + c . Isto ´e, obt´em-se a seguinte express˜ao Z Z u(x) v ′ (x) dx = u(x) v(x) − u′ (x) v(x) dx + c

(1.5)

que ´e a f´ormula do processo de primitiva¸c˜ao por partes. Assim, se se pretende utilizar a f´ormula (1.5) para determinar a primitiva de um produto de duas fun¸c˜oes, ´e necess´ario identificar uma das fun¸c˜oes por u e a outra por v ′ . Exigimos a u que seja uma fun¸c˜ao diferenci´avel (porque ´e preciso calcular u′ ) e a v ′ 7

Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real que seja uma fun¸c˜ao primitiv´avel, para a qual se consegue calcular explicitamente uma R primitiva (pois ´e preciso determinar v = v ′ dx).

Uma vez percebida a f´ormula (1.5), esta pode ainda interpretar-se de forma equivalente como Z   Z Z Z f (x) g(x) dx = f (x) dx g(x) − f (x) dx g ′ (x) dx + c onde se escolheu f para primitivar e g para derivar. Exemplo: Pretende-se calcular a primitiva Z

x ex dx .

Escolhe-se u(x) = x e v ′ (x) = ex . Tem-se u′ (x) = 1 e uma primitiva de v ′ ´e v(x) = ex . Aplicando a f´ormula (1.5) resulta Z Z x ex dx = x ex − ex dx + c = x ex − ex + c

= (x − 1) ex + c , isto ´e,

Z

x ex dx = (x − 1) ex + c ,

como se pode comprovar derivando a express˜ao (x − 1) ex + c.

´ natural colocar a seguinte quest˜ao: Ser´a que n˜ao se consegue obter o mesmo E ` partida, esta op¸c˜ao tamb´em n˜ao resultado escolhendo u(x) = ex e v ′ (x) = x? A parece apresentar dificuldades. Neste caso, tem-se u′ (x) = ex e uma primitiva de 2 v ′ ´e v(x) = x2 . Obt´em-se Z Z x x2 ex x2 ex x e dx = 2 − 2 dx + c . que apresenta mais dificuldades pois ´e preciso calcular do polin´omio que existia inicialmente).

Z

x2 ex dx (elevou-se o grau

Note que a presen¸ca da constante de primitiva¸c˜ao surge logo na aplica¸c˜ao da f´ormula (1.5) e n˜ao apenas no final de todos os c´ alculos. Este ´e um pormenor importante. De facto, ao aplicar a f´ormula (1.5) est´a impl´ıcito que a primitiva de (u(x) v(x))′ j´a foi calculada o que justifica a coloca¸c˜ao da constante. O sucesso na aplica¸c˜ao do processo de primitiva¸c˜ao por partes depende em grande parte da escolha das fun¸c˜oes u e v ′ . Para poder escolher adequadamente sugere-se simplesmente o seguinte: Quando existe alternativa na escolha da fun¸c˜ao a primitivar, deve-se optar por primitivar aquela que menos se simplifica quando derivada. 8

1.2. Processos de primitiva¸ c˜ ao Observa¸ c˜ ao 1.1 ´ E importante observar que a seguinte f´ormula n˜ao ´e v´alida Z

f (x) g(x) dx =

Z

 Z  f (x) dx g(x) dx ,

isto ´e, que a primitiva do produto de duas fun¸c˜oes n˜ao ´e igual ao produto das primitivas (tal como acontece tamb´em com a derivada do produto de duas fun¸c˜oes). Da´ı que, na presen¸ca de um produto de duas fun¸c˜oes, o processo de primitiva¸c˜ao por partes acabe por surgir como uma boa ideia para poder calcular a primitiva da fun¸c˜ao produto. Antes de aplicar o processo de primitiva¸c˜ao por partes, conv´em verificar se a primitiva que se pretende calcular ´e da forma Z

v(x) v ′ (x) dx .

Tudo ´e mais simples se se observar que estamos na presen¸ca de uma primitiva imediata Z v(x)2 + c. v(x) v ′ (x) dx = 2 Exemplos: Calcule primitivando por partes. Z (a) x ln x dx Z (b) x2 ex dx Z (c) sin x cos x dx Z (d) ln x dx . Al´ınea (a) Z

Z

  Z Z x ln x dx = x dx ln x − x dx (ln x)′ dx + c Z = x2 /2 ln x − x/2 dx + c = x2 /2 ln x − x2 /4 + c

9

Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real Al´ınea (b) Primitivando duas vezes por partes Z   Z Z Z ′ x2 ex dx = ex dx x2 − ex dx x2 dx + c Z 2 x = x e − 2 x ex dx + c   Z 2 x x x = x e − 2 x e − e dx + c = (x2 − 2x + 2) ex + c

Al´ınea (c) A primitiva ´e imediata. No entanto, tamb´em se pode determinar primitivando por partes. Z

  Z Z ′ cos x dx sin x − cos x dx (sin x) dx + c Z = (sin x)2 − sin x cos x dx + c

sin x cos x dx =

Z

Observando com aten¸c˜ao nota-se que a aplica¸c˜ao do processo de primitiva¸c˜ao por partes originou a equa¸c˜ao A = (sin x)2 − A + c onde a inc´ognita A representa a primitiva que se pretende calcular. Resolvendo em ordem a A resulta

Z

sin x cos x dx =

(sin x)2 + c. 2

Al´ınea (d) Uma aplica¸c˜ao interessante do processo de primitiva¸c˜ao por partes. Z   Z Z Z ln x dx = 1 dx ln x − 1 dx (ln x)′ dx + c Z = x ln x − 1 dx + c = x ln x − x + c

1.2.3

Primitiva¸c˜ ao por substitui¸ c˜ ao

O pr´oximo resultado estabelece uma f´ormula para o c´alculo da primitiva atrav´es de uma mudan¸ca de vari´avel. Teorema 1.4 Se f ´e uma fun¸c˜ao primitiv´avel num intervalo J e g ´e uma fun¸c˜ao simultaneamente diferenci´avel e invert´ıvel num intervalo J1 de tal forma que g(J1 ) = J, ent˜ao Z  Z f (x) dx = f (g(t)) g ′ (t) dt . t = g−1 (x)

10

(1.6)

1.2. Processos de primitiva¸ c˜ ao Com a substitui¸c˜ao ou mudan¸ca de vari´avel x = g(t) pretende-se simplificar o c´alculo da primitiva, isto ´e, espera-se que a primitiva que surge no segundo membro da equa¸ca˜o (1.6) seja mais simples de determinar que a primitiva da fun¸c˜ao inicial. Note que a primitiva no segundo membro de (1.6) ´e calculada em ordem `a vari´avel t, dando lugar `a posterior substitui¸c˜ao de t pela express˜ao de g −1 . Demonstra¸ c˜ ao - (do teorema 1.4) Para obter o resultado pretendido basta mostrar que Z  Z f (x) dx = f (g(t)) g ′ (t) dt , x = g(t)

ou de forma equivalente que F (g(t)) + c =

Z

f (g(t)) g ′ (t) dt ,

(1.7)

onde F representa uma primitiva da fun¸c˜ao f . A derivada em ordem `a vari´avel t da fun¸c˜ao composta F (g(t)), origina d ( F (g(t)) ) = F ′ (g(t)) g ′ (t) = f (g(t)) g ′ (t) . dt A derivada, em ordem `a vari´avel t, da express˜ao que est´a no segundo membro de (1.7) permite obter d dt

Z



f (g(t)) g (t) dt



= f (g(t)) g ′ (t) .

Obteve-se o mesmo resultado em ambas as deriva¸c˜oes, logo, fica estabelecida a identidade (1.7) e consequentemente (1.6). Assim, os passos a efectuar na aplica¸c˜ao do processo de primitiva¸c˜ao por substitui¸ca˜o ao c´alculo da primitiva

s˜ao os seguintes:

Z

f (x) dx

1. Identificar a mudan¸ca de vari´avel adequada x = g(t) onde g ´e uma fun¸c˜ao diferenci´avel e invert´ıvel, recorrendo geralmente `a consulta de uma tabela de substitui¸co˜es. 2. Primitivar a fun¸c˜ao f (g) g ′ em ordem `a vari´avel t, isto ´e, calcular Z f (g(t)) g ′ (t) dt . 3. Finalmente, repor a vari´avel original, isto ´e, substituir a vari´avel t pela express˜ ao de g −1 no resultado obtido no passo anterior.

11

Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real Exemplos: (a) Calcular

Z

(ln x)2 dx , x

x > 0.

Esta primitiva pode calcular-se directamente. Basta notar que a fun¸c˜ao que se pretende primitivar ´e da forma u′ u2 com u = ln x. Mostramos que a aplica¸c˜ao do processo de primitiva¸ca˜o por substitui¸c˜ao tamb´em permite determinar a primitiva pretendida. Primeiro passo: Consideramos a substitui¸c˜ao x = et , isto ´e, escolhemos g(t) = et , t ∈ R, que ´e uma fun¸ca˜o invert´ıvel e diferenci´avel em todo o seu dom´ınio. A sua derivada ´e g ′ (t) = et . Se x = et , ent˜ao t = ln x e a fun¸c˜ao inversa de g ´e g −1 (x) = ln x. Segundo passo: Calcula-se Z

f (g(t)) g ′ (t) dt .

Tem-se Z



f (g(t)) g (t) dt = =

Z

Z

=

(ln et )2 t e dt et t2 dt

t3 + c. 3

Finalmente, substituindo t pela express˜ao de g −1 , obt´em-se a primitiva pretendida,  3  Z (ln x)2 t (ln x)3 dx = +c = + c, c ∈ R. x 3 3 t = ln x (b) Determinar

Z

x+1 √ dx , x

x > 0.

Consideramos a substitui¸c˜ao x = t2 , isto ´e, escolhemos g(t) = t2 , impondo √ t > 0 para que g seja uma fun¸c˜ao invert´ıvel. Temos ent˜ao t = x. Assim, Z Z 2 t +1 f (g(t)) g ′ (t) dt = 2t dt t 2 t3 = + 2t + c . 3 Logo, Z 12

x+1 √ dx = x



2 t3 + 2t + c 3



t=



x

√ √ 2x x = + 2 x + c, 3

c ∈ R.

1.3. Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes racionais (c) Calcular

Z p 1 − x2 dx ,

x ∈ [−1, 1] .

Consideramos a substitui¸c˜ao x = sin t onde se assume que t ∈ [−π/2, π/2]. A substitui¸c˜ao inversa ´e t = arcsin x. Primitivando por substitui¸c˜ao obt´em-se Z Z p ′ 1 − (sin t)2 cos t dt f (g(t)) g (t) dt = Z √ = cos2 t cos t dt Z = cos t cos t dt Z = cos2 t dt Z 1 + cos(2t) = dt 2 t sin(2t) = + + c. 2 4 Porque se pretende que o resultado final seja o mais simples poss´ıvel, ´e preciso simplificar um pouco mais a express˜ao obtida. Tem-se Z 2 sin t cos t t sin t cos t t +c= + + c. f (g(t)) g ′ (t) dt = + 2 4 2 2 Usando a f´ormula fundamental da trigonometria com sin t = x e t ∈ [−π/2, π/2] √ deduz-se que cos t = 1 − x2 . Logo, a primitiva pretendida ´e √ Z p arcsin x x 1 − x2 2 1 − x dx = + + c. 2 2

1.3

Primitiva¸c˜ ao de fun¸ c˜ oes racionais

Iniciamos esta sec¸c˜ao com a defini¸c˜ao de uma fun¸c˜ao racional. Defini¸ c˜ ao 1.2 (fun¸c˜ao racional) Toda a fun¸c˜ao definida como o quociente de dois polin´omios ´e uma fun¸c˜ao racional. Ou seja, fun¸c˜ao racional ´e toda a fun¸c˜ao da forma f (x) =

p(x) an xn + · · · + a1 x + a0 = d(x) bm xm + · · · + b1 x + b0

(n, m ∈ N0 ) ,

(1.8)

definida para todo x ∈ R tal que d(x) 6= 0. Defini¸ c˜ ao 1.3 (fun¸c˜ao racional pr´opria e fun¸c˜ao racional impr´opria) Uma fun¸c˜ao racional diz-se impr´opria se o grau do polin´omio em numerador for superior ou igual ao grau do polin´omio em denominador. Caso contr´ario, a fun¸c˜ao racional diz-se pr´opria. 13

Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real ´ costume chamar frac¸c˜oes racionais `as fun¸c˜oes racionais (1.8) para as quais m ≥ 1. E

O pr´oximo resultado indica que toda a frac¸c˜ao racional pr´opria se pode escrever como soma de determinadas frac¸c˜oes com uma express˜ao mais simples.

Teorema 1.5 (decomposi¸c˜ao em elementos simples) Toda a frac¸c˜ao racional pr´opria se pode decompor na soma de certas frac¸c˜oes racionais designadas como frac¸c˜oes simples. A esta decomposi¸c˜ao muito particular chama-se decomposi¸c˜ao em elementos simples. Apresentamos o processo composto por trˆes etapas que permite obter a decomposi¸c˜ao enunciada no teorema. Considera-se a frac¸c˜ao racional pr´opria p(x) d(x) 1. Determinam-se os zeros do polin´omio d em denominador, isto ´e, determinam-se as ra´ızes da equa¸c˜ao d(x) = 0. 2. Efectua-se a seguinte correspondˆencia: (i) Cada raiz real simples α origina a frac¸c˜ao simples A x−α onde A ´e uma constante real a determinar. (ii) Cada raiz real α de multiplicidade k origina as k frac¸c˜oes simples B1 , x−α

B2 , (x − α)2

Bk , (x − α)k

...

onde B1 , . . . , Bk s˜ao k constantes reais a determinar. (iii) Cada par de ra´ızes complexas conjugadas a± bi origina uma frac¸c˜ao simples da forma Cx + D (x − a)2 + b2 onde C e D s˜ao constantes reais a determinar. (iv) Cada par de ra´ızes complexas conjugadas a ± bi de multiplicidade k d´a origem a k frac¸c˜oes simples da forma C1 x + D1 , (x − a)2 + b2

C2 x + D2 , [(x − a)2 + b2 ]2

...

Ck x + Dk , [(x − a)2 + b2 ]k

onde C1 , . . . , Ck e D1 , . . . , Dk s˜ao constantes reais a determinar. 3. Por fim, a frac¸c˜ao racional pr´ opria reescreve-se como a soma de todas as frac¸c˜oes simples apresentadas na etapa anterior. 14

1.3. Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes racionais A primitiva¸c˜ao de uma fun¸c˜ao racional pr´opria p(x) d(x) ´e agora bastante simples de concretizar. Basta executar os seguintes passos: 1. Decompor a frac¸c˜ao racional pr´opria em elementos simples com o respectivo c´ alculo das constantes (cujo o c´alculo ´e descrito nos exemplos apresentados mais `a frente). 2. Primitivar por decomposi¸c˜ao sabendo que: (i) A frac¸c˜ao simples associada a uma raiz real simples origina um logaritmo. (ii) As frac¸c˜oes simples associadas a uma raiz real de multiplicidade k originam um logaritmo e k − 1 potˆencias. (iii) A frac¸c˜ao simples associada a um par de ra´ızes complexas conjugadas d´ a origem a um logaritmo ou um arco-tangente. N˜ao se descreve o caso das ra´ızes complexas conjugadas de multiplicidade k. Este assunto espec´ıfico pode encontrar-se na bibliografia. Exemplos: (a) Pretende-se calcular

Z

x2

2 dx , −4

onde x2 − 4 6= 0. Os zeros do polin´omio d(x) = x2 − 4 s˜ao x = ±2 e a

decomposi¸c˜ao em elementos simples ´e x2

2 2 = −4 (x − 2)(x + 2) A B = + . x−2 x+2

Para determinar as constantes A e B recorremos ao m´etodo dos coeficientes indeterminados que descrevemos de seguida. Tem-se a decomposi¸c˜ao 2 A B = + . x2 − 4 x−2 x+2 Logo, 2 A (x + 2) + B (x − 2) = . −4 x2 − 4 Da igualdade das frac¸c˜oes resulta a equa¸c˜ao x2

2 = A (x + 2) + B (x − 2) , que ´e equivalente a 2 = (A + B) x + (2A − 2B) . 15

Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes reais de vari´ avel real Da identidade de polin´omios resulta  A + B = 0 2A − 2B = 2 e portanto

 A = 1/2

B = −1/2

A decomposi¸c˜ao em elementos simples fica agora completa 2 1/2 1/2 = − . x2 − 4 x−2 x+2 Assim, Z

Z 1/2 1/2 dx − dx x−2 x+2 Z Z 1 1 1 1 = dx − dx 2 x−2 2 x+2

2 dx = x2 − 4

Z

= 1/2 ln |x − 2| − 1/2 ln |x + 2| + c . (b) Calcular

Z

x2 + 2x + 3 dx onde x 6= −1, 1. (x − 1)(x + 1)2

A decomposi¸c˜ao da frac¸c˜ao racional pr´opria em elementos simples origina x2 + 2x + 3 A B1 B2 = + + (x − 1)(x + 1)2 x − 1 x + 1 (x + 1)2 3/2 1/2 1 = − − . x − 1 x + 1 (x + 1)2 Logo, Z

x2 + 2x + 3 dx = (x − 1)(x + 1)2

Z

3/2 dx − x−1

Z

1/2 dx − x+1

Z

= 3/2 ln |x − 1| − 1/2 ln |x + 1| +

(x + 1)−2 dx 1 + c. x+1

Quando a frac¸c˜ao racional p(x) d(x) ´e impr´opria, deve efectuar-se a divis˜ ao dos polin´omios at´e que o polin´omio resto, indicado por r, tenha grau inferior ao grau de d. Obt´em-se assim a decomposi¸c˜ao p(x) r(x) = q(x) + d(x) d(x) 16

1.3. Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ c˜ oes racionais onde q representa o polin´omio quociente da divis˜ao e r(x) d(x) ´e agora uma frac¸c˜ao racional pr´opria. Exemplo: Pretende-se calcular

Z

x3 + x2 + x + 3 dx x2 + 2

onde x2 + 2 6= 0. Porque a frac¸c˜ao racional ´e impr´opria, ´e necess´ario efectuar a divis˜ao dos dois polin´omios. Obt´em-se x3 + x2 + x + 3 1−x =x+1 + 2 . x2 + 2 x +2 Observa-se que a frac¸c˜ao racional pr´opria 1−x x2 + 2 j´a se encontra na sua forma mais simples. Esta corresponde ao par de ra´ızes com√ plexas conjugadas x = ± 2 i e origina, por primitiva¸c˜ao, um logaritmo e um arco-

tangente. Assim, Z 3 Z Z x + x2 + x + 3 1−x dx = x + 1 dx + dx 2 x +2 x2 + 2 Z Z Z x 1 = x + 1 dx + dx − dx x2 + 2 x2 + 2 Z Z Z 1/2 x = x + 1 dx + dx − dx √ 2 2 x +2 x/ 2 + 1 √ Z Z Z √ 1/ 2 2x = x + 1 dx + 2/2 dx − 1/2 dx √ 2 2+2 x x/ 2 + 1  √  √ x2 = + x + 2/2 arctan x 2/2 − 1/2 ln(x2 + 2) + c . 2

17

Cap´ıtulo 2 C´ alculo integral

2.1

Somas de Riemann

Considere uma decomposi¸ca ˜o do intervalo real [a, b] em n ∈ N subintervalos da forma [x0 , x1 ] , [x1 , x2 ] , . . . [xn−1 , xn ] , onde os pontos xi , com i = 0, 1, . . . , n, s˜ao tais que x0 = a, xi−1 < xi (i = 1, 2, . . . , n) e xn = b. A decomposi¸c˜ao ´e designada por ∆ e ´e representada apenas pelos seus pontos do seguinte modo ∆ : a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b . ` decomposi¸c˜ao est˜ao associados n intervalos e n+1 pontos. Usa-se ∆xi para representar A a amplitude do intervalo [xi−1 , xi ], isto ´e, ∆xi = xi − xi−1 , i = 1, 2, . . . , n, e define-se diˆ ametro da decomposi¸c˜ ao, representado por | ∆ |, como sendo a amplitude do maior

intervalo de ∆, isto ´e, o n´ umero real positivo dado por | ∆ | = max ∆xi . i = 1,...,n

Exemplo: Considere o intervalo [0, 2] e a seguinte decomposi¸c˜ao ∆ : 0 < 1/2 < 1 < 2. Tem-se os pontos x0 = 0, x1 = 1/2, x2 = 1 e x3 = 2, os subintervalos [0, 1/2], [1/2, 1] e [1, 2], com as correspondentes amplitudes ∆x1 = 1/2, ∆x2 = 1/2 e ∆x3 = 1, donde, | ∆ | = 1.

19

C´ alculo integral Defini¸ c˜ ao 2.1 (soma de Riemann) Considere uma fun¸c˜ao real f definida e limitada no intervalo [a, b], uma decomposi¸c˜ao ∆ de [a, b] e um ponto ci em cada intervalo [xi−1 , xi ] de ∆, i = 1, 2, . . . , n. Chama-se soma de Riemann da fun¸c˜ao f para a decomposi¸c˜ao ∆ e conjunto de pontos ci escolhidos, `a express˜ao matem´atica n X i=1

f (ci ) ∆xi = f (c1 ) ∆x1 + · · · + f (cn ) ∆xn

(2.1)

que ´e representada por S(f, ∆). Importa observar qual o significado geom´etrico de uma soma de Riemann. Para cada parcela da soma (2.1) pode deduzir-se o seguinte: • Se f (ci ) > 0 ent˜ao f (ci ) ∆xi representa o valor da a´rea de um rectˆangulo Ri cujo comprimento da base ´e ∆xi e cuja altura ´e o valor f (ci ).

y

6

f

f (ci ) Ri xi−1

ci

xi

x

Figura 2.1

• Se f (ci ) < 0 ent˜ao f (ci ) ∆xi ´e o sim´etrico do valor da ´area de um rectˆangulo Ri de base ∆xi e altura igual a −f (ci ).

y

6 f (ci )

xi−1

ci Ri

f

Figura 2.2

20

xi

-

x

2.1. Somas de Riemann Conclui-se que uma soma de Riemann consiste na diferen¸ca entre, a soma do valor das ´areas dos rectˆangulos que est˜ao “acima” do eixo das abcissas e a soma do valor das a´reas dos rectˆangulos que est˜ao “abaixo” do eixo das abcissas. A pr´oxima figura ilustra estas conclus˜oes. y

6

f

q x0 c1

qx3 qx4 -

qx2

q x1

c2

c3

c4

x

Figura 2.3 ` figura corresponde a soma de Riemann A S(f, ∆) = f (c1 ) ∆x1 + f (c2 ) ∆x2 + f (c3 ) ∆x3 + f (c4 ) ∆x4 = A1 + A2 − A3 − A4 = A1 + A2 − (A3 + A4 ) onde Ai representa a ´area do rectˆangulo de base igual a ∆xi = xi − xi−1 e altura igual

a |f (ci )|, com i = 1, 2, 3, 4. Exerc´ıcio 2.1

Considere a fun¸c˜ao f (x) = x3 , o intervalo [−1, 2], a decomposi¸c˜ao ∆ : −1 < 0 < 1 < 2 e calcule uma soma de Riemann de f para ∆. Exemplo: Considere a fun¸c˜ao f (x) = x definida no intervalo [a, b] = [0, 1] e considere tamb´em uma decomposi¸c˜ao ∆ de [0, 1] em n ∈ N subintervalos de igual amplitude. A decomposi¸c˜ao tem n + 1 pontos e a amplitude de cada subintervalo ´e ∆xi =

b−a 1 = n n

i = 1, 2 . . . , n. Os pontos da decomposi¸c˜ao ∆ : 0 = x0 < x1 < · · · < xn = 1 s˜ ao x0

=

0

x1

=

x0 +

1 1 = n n

x2

= .. .

x1 +

1 2 = n n

xi

= .. .

xn

=

i n n = 1. n 21

C´ alculo integral Em cada subintervalo [xi−1 , xi ] escolhe-se ci = xi . A soma de Riemann correspondente ´e dada por S(f, ∆) =

n X

f (ci ) ∆xi =

i=1

n X

f (xi ) ∆xi =

i=1

n X

f (i/n) ∆xi =

i=1

n 1 X i. n2 i=1

Porque n X

i=

i=1

n(1 + n) , 2

tem-se finalmente, S(f, ∆) =

1+n 2n

(n ≥ 1) .

Exerc´ıcio 2.2 Considere os dados do exemplo anterior e calcule S(f, ∆) quando em cada intervalo [xi−1 , xi ] se escolhe ci = xi−1 . Observa¸ c˜ ao 2.1 Recordam-se algumas f´ormulas imprescind´ıveis na simplifica¸c˜ao de c´alculos semelhantes. •

n X



n X



n X

i=1

i=

n (1 + n) , 2

i2 =

n(n + 1)(2n + 1) , 6

i3 =



i=1

i=1

n(1 + n) 2

2

.

Considere as seguintes figuras.

y

6

f R

a

b

Figura 2.4

22

x

2.2. Integral definido y

6

f R1

b

a

-

x

R2

Figura 2.5

Se o n´ umero de subintervalos de uma decomposi¸c˜ao ∆ de [a, b] ´e muito grande, ou de forma equivalente, se o diˆametro da decomposi¸c˜ao de [a, b] ´e muito pequeno, ent˜ao o valor da soma de Riemann correspondente, parece aproximar-se do valor: 1. Da ´area da regi˜ao R - area(R) - no caso da primeira figura. 2. Da express˜ao area(R1 ) − area(R2 ) na situa¸c˜ao apresentada na segunda figura.

2.2

Integral definido

A exposi¸c˜ao da sec¸c˜ao anterior conduz a defini¸c˜ao de integral definido. Defini¸ c˜ ao 2.2 (integral de Riemann ou integral definido) Considere uma fun¸c˜ao f definida e limitada no intervalo real [a, b]. Chama-se integral de Riemann ou integral definido de f no intervalo [a, b] ao valor do limite lim S(f, ∆)

(2.2)

|∆| → 0

quando existe e ´e finito. O integral definido de f em [a, b] ´e representado por Z b f (x) dx .

(2.3)

a

Por defini¸c˜ao de integral definido, tem-se Z b f (x) dx = lim S(f, ∆) = a

|∆| → 0

lim

|∆| → 0

n X

f (ci ) ∆xi .

i=1

Dizer que o limite (2.2) existe significa dizer que o seu valor ´e o mesmo qualquer que seja a decomposi¸c˜ao ∆ de [a, b] escolhida e qualquer que seja o conjunto de pontos ci escolhido. O valor do limite tem de ser independente da decomposi¸c˜ao e do conjunto de pontos. Na express˜ao (2.3), f ´e a fun¸c˜ao integranda e a e b s˜ao os extremos de integra¸ca˜o do integral definido. 23

C´ alculo integral Defini¸ c˜ ao 2.3 Uma fun¸c˜ao f ´e integr´avel no intervalo [a, b] se existe o integral definido de f em [a, b]. O pr´oximo resultado cuja demonstra¸c˜ao ´e omitida apresenta uma condi¸c˜ao suficiente para a existˆencia de integral definido. Teorema 2.1 Se f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua no intervalo [a, b] ent˜ao f ´e integr´avel em [a, b]. Note-se que uma fun¸c˜ao pode ser descont´ınua em [a, b] e ser tamb´em integr´avel no intervalo [a, b]. Voltaremos a esta situa¸c˜ao particular um pouco mais `a frente. Exemplo: Pretende-se calcular o integral definido da fun¸c˜ao f (x) = x no intervalo [0, 1]. Porque f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua, pelo teorema 2.1, f ´e uma fun¸c˜ao integr´avel, isto ´e, o limite (2.2) existe e ´e finito, e ´e independente da decomposi¸c˜ao e da escolha de pontos do intervalo [0, 1]. Pode escolher-se uma decomposi¸c˜ao de [0, 1] em n subintervalos de igual amplitude e tomar-se ci = xi em cada subintervalo [xi−1 , xi ]. Recordando o exemplo na p´agina 21, tem-se |∆| = max ∆xi = i=1,...,n

1 n

e

S(f, ∆) =

1+n . 2n

Note-se que n → +∞ equivale a |∆| → 0. Assim, por defini¸c˜ao, tem-se Z 1 x dx = lim S(f, ∆) |∆| → 0

0

= =

lim

S(f, ∆)

lim

1 1+n = . 2n 2

n → +∞ n → +∞

Mostrou-se que o integral definido de f (x) = x em [0, 1] ´e 1/2, isto ´e, Z 1 x dx = 1/2 . 0

Usando em simultˆaneo a defini¸c˜ao de integral definido e a interpreta¸c˜ao geom´etrica das somas de Riemann, conclui-se que, se f ´e cont´ınua e n˜ao negativa no intervalo [a, b], ent˜ao o valor do seu integral definido ´e exactamente igual ao valor da ´area da regi˜ao limitada superiormente pelo gr´afico de f , inferiormente pelo eixo das abcissas e lateralmente pelas rectas verticais x = a e x = b. O exemplo anterior permite verificar facilmente este facto.

2.2.1

Teorema fundamental do c´ alculo

Teorema 2.2 (teorema fundamental do c´alculo) Se f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua no intervalo [a, b] e F ´e uma primitiva de f em [a, b], ent˜ao Z b f (x) dx = F (b) − F (a) . a

24

2.2. Integral definido O resultado anterior mostra que o c´alculo do integral definido de uma fun¸c˜ao cont´ınua ´e, pelo menos do ponto de vista te´orico, simples de concretizar. Observa¸ c˜ ao 2.2 x=b

b

A express˜ao F (b) − F (a) representa-se de forma condensada por [F (x)]x = a ou [F (x)] a . Demonstra¸ c˜ ao -

(do teorema fundamental do c´alculo)

Seja ∆ : a = x0 < x1 < · · · < xn = b uma decomposi¸c˜ao do intervalo [a, b] e seja F uma primitiva da fun¸c˜ao f em [a, b] (isto ´e, F ′ (x) = f (x) para todo o x em [a, b] - est´ a impl´ıcito que F ′ (a+ ) = f (a) e F ′ (b− ) = f (b)). Verifica-se com facilidade que F (b) − F (a) =

n X i=1

[ F (xi ) − F (xi−1 ) ] .

(2.4)

Porque f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua em [a, b], pode deduzir-se que F ´e diferenci´avel em [a, b]. Logo, o teorema de Lagrange justifica a existˆencia de um ponto ci em cada intervalo aberto ]xi−1 , xi [, de tal modo que F (xi ) − F (xi−1 ) = F ′ (ci ) . xi − xi−1 Ou seja, deduz-se que F (xi ) − F (xi−1 ) = f (ci ) ∆xi pois ∆xi = xi − xi−1 e F ′ = f . Assim, de (2.4), obt´em-se F (b) − F (a) =

n X

f (ci ) ∆xi .

i=1

Se para toda a decomposi¸c˜ ao ∆ de [a, b], os pontos ci forem escolhidos como foi descrito, pode concluir-se que

n X

lim

|∆| → 0

i=1

f (ci ) ∆xi = F (b) − F (a) .

Porque f ´e integr´avel, tem-se necessariamente Z

a

b

f (x) dx = F (b) − F (a)

como se pretendia. Teorema 2.3 Se f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua em [a, b], ent˜ao o integral definido Z

b

f (x) dx a

n˜ao depende da primitiva de f . 25

C´ alculo integral Demonstra¸ c˜ ao - Se F e G s˜ao duas primitivas de f no intervalo [a, b], ent˜ao existe k ∈ R tal que F (x) = G(x) + k para todo o x ∈ [a, b]. Basta observar que F (b) − F (a) =

G(b) − G(a) para concluir a demonstra¸c˜ao. Exemplos:

Considere a fun¸c˜ao cont´ınua f (x) = x. Uma primitiva de f ´e F (x) = x2 /2. Logo, 1



Z

1 2



Z Z

1



x dx =

0



x2 2

1



x2 2

 21

=



x2 2

1

= 0.

x dx =

−1

x dx =

−1

=

0

1 , 2 1 1 3 − =− , 8 2 8

−1

−1

Interprete estes resultados do ponto de vista geom´etrico.

2.3

Propriedades do integral definido

Proposi¸ c˜ ao 2.1 Se f e g s˜ao duas fun¸c˜oes integr´aveis no intervalo [a, b]. ent˜ao

(i)

Z

b

Z

b

f (x) ± g(x) dx =

a

(ii)

Z

α f (x) dx = α

a

Z

a

b

f (x) dx ±

Z

b

g(x) dx ; a

b

f (x) dx ,

α ∈ R.

a

Proposi¸ c˜ ao 2.2 Se f ´e uma fun¸c˜ao integr´avel no intervalo [a, b], ent˜ao (i)

Z

a

Z

b

Z

b

f (x) dx = 0 ;

a

(ii)

f (x) dx = −

a

(iii)

a

f (x) dx =

Z

Z

a

f (x) dx ;

b

c

f (x) dx +

a

(iv) Se f (x) ≥ 0 em [a, b], ent˜ao 26

Z

b

f (x) dx ,

c

Z

a

para todo o c ∈ [a, b] ;

b

f (x) dx ≥ 0 .

2.3. Propriedades do integral definido Exemplo: Pretende-se calcular

Z

e

Obt´em-se Z

e2

e

e2

1 + 3 (ln x)2 dx . x ln x Z e2 1 ln x dx + 3 dx x ln x x e e  e2 2 (ln x)2 = [ ln(ln x) ]ee + 3 2 e

1 + 3 (ln x)2 dx = x ln x

Z

e2

= ln 2 + 9/2 . Teorema 2.4 Se f e g s˜ao duas fun¸c˜oes integr´aveis no intervalo [a, b], tais que f (x) ≥ g(x) para todo o x ∈ [a, b], ent˜ao Z b Z b f (x) dx ≥ g(x) dx . a

a

Demonstra¸ c˜ ao - Considere a fun¸c˜ao h(x) = f (x) − g(x) definida e integr´ avel no intervalo [a, b]. Logo, h(x) ≥ 0 para todo o x ∈ [a, b]. Pelo ponto (iv) na proposi¸ca˜o 2.2, pode concluir-se que

Z

b a

h(x) dx ≥ 0 ⇔

Z

a

b

f (x) − g(x) dx ≥ 0 .

Pela propriedade (i) na proposi¸c˜ao 2.1, obt´em-se finalmente Z b Z b f (x) dx ≥ g(x) dx . a

a

Exemplo: Considere as fun¸c˜oes f (x) = x e g(x) = x2 . • No intervalo [0, 1] ocorre x2 ≤ x e portanto pode concluir-se que Z 1 Z 1 x2 dx < x dx . 0

0

• No intervalo [1, 2] tem-se x ≤ x2 e por isso Z 2 Z 2 x dx < x2 dx . 1

1

Teorema 2.5 Se f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua em [a, b], m ´e o valor m´ınimo de f em [a, b] e M ´e o valor m´aximo de f em [a, b], ent˜ ao Z b m (b − a) ≤ f (x) dx ≤ M (b − a) . a

27

C´ alculo integral Demonstra¸ c˜ ao - Porque a fun¸c˜ao f ´e cont´ınua num intervalo fechado, o teorema de Weierstrass indica que f atinge em [a, b] um valor m´aximo M e um valor m´ınimo m, isto ´e, tem-se m ≤ f (x) ≤ M para todo o x ∈ [a, b]. Pelo teorema 2.4, conclui-se que Z b Z b Z b m dx ≤ f (x) dx ≤ M dx . a

a

Ou seja, m (b − a) ≤

Z

a

a

b

f (x) dx ≤ M (b − a)

como se pretendia. Finalmente, observe que a igualdade s´o tem sentido se f for uma fun¸c˜ao constante no intervalo [a, b]. Teorema 2.6 (do valor m´edio para integrais) Se f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua em [a, b], ent˜ao existe um ponto c ∈ ]a, b[ tal que 1 f (c) = b−a

Z

b

f (x) dx .

(2.5)

a

A interpreta¸c˜ao geom´etrica deste resultado ´e simples no caso em que f ≥ 0. Considere a seguinte figura.

y

6 f f (c)

a

c

b

x

Figura 2.6 A express˜ao (2.5) pode reescrever-se como f (c) (b − a) =

Z

b

f (x) dx .

a

Ou seja, existe pelo menos um ponto c ∈ ]a, b[ de tal modo que, o valor da ´area da

regi˜ao plana limitada superiormente pelo gr´afico da fun¸c˜ao f , inferiormente pelo eixo das abcissas e lateralmente pelas rectas verticais x = a e x = b, ´e exactamente igual ao valor da ´area de um rectˆangulo de base igual a b − a e altura igual a f (c). Demonstra¸ c˜ ao - (do teorema do valor m´edio para integrais) Se f ´e constante igual a k ent˜ao c ´e qualquer ponto do intervalo [a, b]. De facto, Z b Z b f (x) dx = k dx = k (b − a) = f (c) (b − a) , a

28

a

2.3. Propriedades do integral definido qualquer que seja c em [a, b]. Suponhamos ent˜ao que f n˜ao ´e uma fun¸c˜ao constante. Porque f ´e cont´ınua em [a, b], existem u e v em [a, b] tais que f (u) = m e f (v) = M , onde m e M s˜ao respectivamente o valor m´ınimo e o valor m´aximo de f em [a, b]. Pelo teorema 2.5 conclui-se que f (u) (b − a) <

Z

b

f (x) dx < f (v) (b − a) ,

a

isto ´e,

Z

1 f (u) < b−a

Considere agora o n´ umero real

α=

1 b−a

b

f (x) dx < f (v) . a

Z

b

f (x) dx .

a

Porque f ´e cont´ınua e α ´e um n´ umero entre f (u) e f (v), a aplica¸c˜ao do teorema de Bolzano permite garantir a existˆencia de um ponto c entre u e v tal que f (c) = α, como se pretendia. Teorema 2.7 Se f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua em [a, b], ent˜ao

Demonstra¸ c˜ ao -

Z Z b b f (x) dx ≤ |f (x)| dx . a a

Porque se tem −|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)| para todo o x ∈ [a, b], a

aplica¸c˜ao do teorema 2.4 permite concluir que − condi¸c˜ao que implica

Teorema 2.8

Z

a

b

|f (x)| dx ≤

Z

a

b

f (x) dx ≤

Z

a

b

|f (x)| dx ,

Z Z b b f (x) dx ≤ |f (x)| dx . a a

Se f ´e uma fun¸c˜ao integr´avel em [a, b], ent˜ao f ´e uma fun¸c˜ao limitada em [a, b].

29

C´ alculo integral

2.3.1

Integra¸c˜ ao por substitui¸ c˜ ao e integra¸ c˜ ao por partes

Integra¸c˜ao por substitui¸c˜ao Seja f uma fun¸c˜ao cont´ınua num intervalo [x0 , x1 ]. Pretende-se calcular o integral definido Z x1 f (x) dx x0

por meio da mudan¸ca de vari´avel x = g(t) onde g ´e uma fun¸c˜ao diferenci´avel e invert´ıvel num intervalo [t0 , t1 ] de tal forma que x0 = g(t0 ) e x1 = g(t1 ). Assumindo ainda que a fun¸c˜ao composta f ◦ g est´a bem definida no intervalo [t0 , t1 ] e que g ′ ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua nesse mesmo intervalo, mostra-se que ´e v´alida a seguinte identidade Z x1 Z t1 f (x) dx = f (g(t)) g ′ (t) dt . x0

(2.6)

t0

Exemplo: Pretende-se calcular

Z

2

1

x+1 √ dx . x

Efectua-se a mudan¸ca de vari´ avel x = t2 com t > 0 (garantindo assim que a √ fun¸c˜ao g(t) = t2 ´e invert´ıvel). Obt´em-se dx = 2t dt, t0 = g −1 (x0 ) = x0 = 1 e √ √ t1 = g −1 (x1 ) = x1 = 2. Aplicando (2.6), tem-se Z

1

2

Z

√ 2

t2 + 1 2t dt t 1 √ √2  3 10 2 − 8 t =2 +t = . 3 3 1

x+1 √ dx = x

Integra¸c˜ao por partes Mostra-se que Z

a

b

u(x) v ′ (x) dx = [ u(x) v(x) |ba −

Z

b

u′ (x) v(x) dx ,

a

onde se assume que todas as fun¸c˜oes envolvidas s˜ao cont´ınuas. Exemplo: Pretende-se calcular

Z

2

ln x dx .

1

A aplica¸c˜ao de (2.7) permite escrever Z 2 Z ln x dx = [ x ln x ]21 − 1

30

1

2

1 dx = 2 ln(2) − 1 .

(2.7)

2.4. Outras propriedades do integral definido

2.4

Outras propriedades do integral definido

Mostramos que n˜ao ´e necess´ario exigir que uma fun¸c˜ao seja cont´ınua para concluir que esta ´e integr´avel de acordo com a defini¸c˜ao 2.2. Para o efeito, considere o seguinte resultado. Teorema 2.9 Se f ´e uma fun¸c˜ao limitada num intervalo [a, b] e f ´e descont´ınua num n´ umero finito de pontos de [a, b], para os quais existem e s˜ao finitos os limites laterais, ent˜ao f ´e integr´ avel no intervalo [a, b]. Exemplo: Considere a fun¸c˜ao f (x) =

 x

se x ∈ [0, 1]

x + 1

.

se x ∈ ]1, 2]

A fun¸c˜ao ´e limitada no intervalo [0, 2] e ´e descont´ınua em x = 1. No entanto, existem e s˜ao finitos os limites laterais lim f (x) = 1

lim f (x) = 2 .

e

x→1−

x→1+

Logo, pelo teorema anterior, pode concluir-se que f ´e uma fun¸c˜ao integr´avel. Falta saber como calcular o integral definido de uma fun¸c˜ao descont´ınua num n´ umero finito de pontos. O pr´oximo resultado apresenta a resposta. Teorema 2.10 Sejam f e g duas fun¸c˜oes integr´aveis no intervalo [a, b]. Se f (x) 6= g(x) num n´ umero finito de pontos de [a, b], ent˜ao Z

b

f (x) dx =

a

Z

b

g(x) dx .

a

Exemplo: Considere a fun¸c˜ao do exemplo anterior. Tem-se Z 2 Z 1 Z f (x) dx = f (x) dx + 0

0

2

f (x) dx .

1

Aplicando o teorema anterior com g(x) = x+1 definida no intervalo [1, 2], obt´em-se Z 2 Z 1 Z 2 f (x) dx = f (x) dx + g(x) dx . 0

0

Assim, Z

0

2

f (x) dx =



x2 2

1

1 0

+



x2 +x 2

2

= 3.

1

31

C´ alculo integral Exerc´ıcio 2.3 Verifique que a fun¸c˜ao

´e integr´avel e calcule

 0 se f (x) = 1 se Z

x 6= 1 x=1

2

f (x) dx .

0

2.5 2.5.1

Aplica¸c˜ oes do integral definido ´ Area de regi˜ oes planas

Assume-se que f e g s˜ao duas fun¸c˜oes cont´ınuas. (a) Considere a regi˜ao plana R definida pela sua fronteira do seguinte modo: R ´e limitada superiormente pelo gr´afico da fun¸c˜ao f , ´e limitada inferiormente pelo eixo das abcissas e ´e limitada lateralmente pelas rectas verticais de equa¸c˜ao x = a e x = b. y

6

f R

a

b

x

Figura 2.7 O valor da ´area da regi˜ao R ´e dado pelo integral definido (b) No caso da regi˜ao plana y

6 f

R

g a

b

Figura 2.8 32

x

Z

b

f (x) dx . a

2.5. Aplica¸ c˜ oes do integral definido O valor da ´area da regi˜ao R ´e Z

a

b

f (x) dx −

Z

b

g(x) dx =

a

Z

b

( f (x) − g(x) ) dx .

a

(c) Na situa¸c˜ao

y

6 a

-

b

x

f g

R m

Figura 2.9

O valor da ´area da regi˜ao R ´e ainda Z

a

b

( f (x) − g(x) ) dx .

De facto, area(R) =

Z

b

( f (x) + |m| ) dx −

a

=

Z

a

b

Z

b a

( g(x) + |m| ) dx

( f (x) − g(x) ) dx .

(d) Na situa¸c˜ao

y

6 a

-

b

R

x

f

Figura 2.10 33

C´ alculo integral

A ´area da regi˜ao R ´e dada por



Z

b

f (x) dx .

a

(e) Finalmente, na situa¸c˜ao

y

6 g R1

R2

f -

a

c

b

x

Figura 2.11 Conclui-se sem dificuldade que o valor da ´area da regi˜ao R = R1 ∪ R2 ´e dado pela express˜ao

area(R) = area(R1 ) + area(R2 ) Z c Z b = ( f (x) − g(x) ) dx + ( g(x) − f (x) ) dx . a

c

Exemplo: Pretende-se determinar o valor da ´area da regi˜ao plana R que resulta da reuni˜ao de R1 - limitada pelas rectas x = −1 e x = 0, e pelas curvas y = x e y = x2 , com R2 - limitada pelas rectas x = 0 e x = 1, e ainda pelas curvas y = x e y = x2 . O resultado ´e Z 0 Z 1 area(R) = x2 − x dx + x − x2 dx = 1 . −1

34

0

2.5. Aplica¸ c˜ oes do integral definido

2.5.2

Volume de s´ olidos de revolu¸ c˜ ao

Assumindo que f e g s˜ao duas fun¸c˜oes cont´ınuas. (a) Considere a figura que representa a regi˜ao plana R, limitada pelo gr´afico de uma fun¸c˜ao f , pelo eixo das abcissas e pelas rectas verticais x = a e x = b. y

f

6 R

y-

a

b

x

Figura 2.12 Mostra-se que o volume V do s´olido de revolu¸c˜ao, gerado pela rota¸c˜ao em torno do eixo das abcissas da regi˜ao plana R, ´e dado por Z b V = π f (x) 2 dx . a

(b) Na situa¸c˜ao y

6 f

R

g a

y -

b

x

Figura 2.13 O volume do s´olido de revolu¸c˜ao gerado pela rota¸c˜ao em torno do eixo das abcissas da regi˜ao plana R, limitada pelas rectas verticais x = a e x = b e pelo gr´afico das fun¸c˜oes f e g, ´e dado por Z b Z b V =π f (x) 2 dx − π g(x) 2 dx a



Z

a

a

b

f (x) 2 − g(x) 2 dx . 35

C´ alculo integral (c) No caso da regi˜ao plana

y

6 a

y-

b

x

f g

R

Figura 2.14

Comprove que o volume do s´olido de revolu¸c˜ao gerado pela rota¸c˜ao em torno do eixo das abcissas da regi˜ao plana R, limitada pelo gr´afico das fun¸c˜oes f e g e pelas rectas

verticais x = a e x = b, ´e

V

= π

Z

b

a

g(x) 2 − f (x) 2 dx .

Exemplo: Pretende-se determinar o volume de uma esfera de raio r. Considera-se a circunferˆencia de equa¸c˜ao x2 + y 2 = r2 , de centro no ponto (0, 0) e raio r > 0. A rota¸c˜ao em torno do eixo das abcissas, da regi˜ao plana limitada pelas √ curvas y = 0 e y = r2 − x2 , origina uma esfera de raio r. O seu volume ´e Z r p 2 V =π r2 − x2 dx −r Z r =π r2 − x2 dx 

−r

= π r2 x − 4 = π r3 . 3

x3 3

r

−r

O racioc´ınio ´e semelhante no c´alculo do volume de um s´olido de revolu¸c˜ao, gerado pela rota¸c˜ao de uma regi˜ao plana em torno do eixo das ordenadas. Neste caso, ´e necess´ario interpretar o problema de outra perspectiva, que passa pela troca do papel do eixo das abcissas e do eixo das ordenadas, isto ´e, pela permuta entre a vari´avel independente e a vari´avel dependente. Ser´a tamb´em necess´ario determinar a express˜ao da fun¸c˜ao inversa de algumas fun¸c˜oes envolvidas em cada problema particular.

36

2.5. Aplica¸ c˜ oes do integral definido Exemplo: Pretende-se determinar o volume do s´olido de revolu¸c˜ao, gerado pela rota¸ca˜o em torno do eixo das ordenadas, da regi˜ao plana limitada pela curva y = x2 , pela recta horizontal y = 2 e pela condi¸c˜ao x ≥ 0. Obt´em-se Z 2 Z 2 √ 2 y dy = 2π . V =π ( y) dy = π 0

0

´ importante reconhecer que o s´olido de revolu¸c˜ao gerado pela rota¸c˜ao de uma regi˜ E ao plana, em torno do eixo das abcissas, ´e geralmente diferente do s´olido obtido pela rota¸ca˜o da mesma regi˜ao plana, em torno do eixo das ordenadas. Consequentemente, os volumes dos dois s´olidos s˜ao tamb´em geralmente diferentes. Vejamos um exemplo. Exemplo: Considere a regi˜ao plana definida pelas condi¸c˜oes 0 ≤ x ≤ 1 e 0 ≤ y ≤ x. y

1

x

Figura 2.15 O volume do s´olido gerado pela rota¸c˜ao da regi˜ao em torno do eixo das abscissas ´e Z 1 V =π x2 dx = π/3 . 0

O volume do s´olido gerado pela rota¸c˜ao da regi˜ao em torno do eixo das ordenadas ´e dado por Z 1 V =π 1 − y 2 dy = 2 π/3 . 0

Observa¸ c˜ ao 2.3 A aplica¸c˜ao da f´ormula 2π

Z

b

x f (x) dx

a

tamb´em permite obter o volume do s´olido de revolu¸c˜ao gerado pela rota¸c˜ao em torno do eixo das ordenadas, da regi˜ao plana limitada pelo gr´afico de f , pelo eixo das abcissas e pelas rectas verticais de equa¸c˜ao x = a e x = b. Verifique a aplica¸c˜ao desta f´ormula com os dados do exemplo anterior.

37

C´ alculo integral Exerc´ıcio 2.4 Defina uma regi˜ao plana cuja rota¸c˜ ao em torno do eixo das abcissas e rota¸c˜ao em torno do eixo das ordenadas, origine s´olidos de revolu¸c˜ao de igual volume. Verifique calculando os seus valores.

2.5.3

Comprimento do arco de uma curva y = f (x)

Seja f uma fun¸c˜ao diferenci´avel no intervalo [a, b]. Considere a figura

y

6 f

r

r

-

a

b

x

Figura 2.16

Mostra-se que o integral definido Z

a

b

p

1 + [f ′ (x)] 2 dx

´e igual ao valor do comprimento da curva representada pelo gr´afico de f , do ponto de coordenadas (a, f (a)) ao ponto de coordenadas (b, f (b)). Exemplo: Qual o comprimento do gr´afico da fun¸c˜ao f (x) = x no intervalo [1, 2]? O comprimento pretendido ´e C=

Z

2

1

=

Z

2

p

1 + [f ′ (x)] 2 dx

√ √ 2 dx = 2 .

1

Resultado que ´e poss´ıvel comprovar aplicando o teorema de Pit´agoras. Exemplo: Considere a regi˜ao plana limitada pelo gr´afico das curvas y = cosh x, x = − ln 2, x = ln 2 e y = 0 (ln 2 ≈ 0.69). (a) Calcule a ´area da regi˜ao (b) Calcule o comprimento da fronteira da regi˜ao 38

2.5. Aplica¸ c˜ oes do integral definido A figura representa a regi˜ao plana enunciada y

− ln 2

ln 2

x

Figura 2.17 A ´area da regi˜ao plana ´e A =

Z

ln 2

cosh x dx = 2

− ln 2

Z

ln 2

cosh x dx = 2 sinh(ln 2) = 3/2 .

0

O comprimento da fronteira da regi˜ao ´e dado por C = 2 ln 2 + 2 cosh(ln 2) + = 2 ln 2 + 5/2 + 2

Z

ln 2

0

= 2 ln 2 + 5/2 + 2

Z

ln 2

Z

ln 2

− ln 2

p

p

1 + [(cosh x)′ ] 2 dx

1 + sinh2 x dx

cosh x dx

0

= 2 ln 2 + 5/2 + 3/2 = 2 (ln 2 + 2) .

39

C´ alculo integral

2.6

Integral indefinido

Seja f uma fun¸c˜ao integr´avel no intervalo [a, b]. Logo, f tamb´em ´e integr´avel no intervalo [a, x], qualquer que seja x ∈ [a, b]. Usando a fun¸c˜ao f define-se uma nova fun¸c˜ao real de vari´avel real cujo dom´ınio ´e [a, b], da seguinte forma Z x G(x) = f (t) dt . a

Exemplo: Considere a fun¸c˜ao

3t onde t ∈ R . +1 f ´e cont´ınua e por isso integr´avel. Logo, Z x  x 3t G(x) = dt = 3/2 ln(t2 + 1) 0 = 3/2 ln(x2 + 1) . 2+1 t 0 f (t) =

t2

Ou seja, G(x) = 3/2 ln(x2 + 1) para todo o x ∈ R.

Exemplo: Determine G(x) =

Z

x

f (t) dt

0

onde a fun¸c˜ao f ´e f (t) =

  t,

0≤t 0.

x

Al´ınea (a) √

Z



G (x) =

x 2

cos(t ) dt

0

!′

 √   √  cos x 2 ′ = cos x x = √ 2 x

Al´ınea (b) ′

G (x) =

Z

0



cos(t ) dt x

Exerc´ıcio 2.7 Z Considere a fun¸c˜ao G(x) =

√ x

′

=−

Z

√ x

2

cos(t ) dt 0

!′

cos x =− √ 2 x

cos(t2 ) dt definida para todo o x > 0 e determine uma

1/x

express˜ao para G ′ .

2.7

2

Integrais impr´ oprios

Nesta sec¸c˜ao apresentamos uma extens˜ao da defini¸c˜ao de integral definido.

2.7.1

Integrais em intervalos n˜ ao limitados

Consideram-se integrais em que o intervalo de integra¸c˜ao ´e ilimitado sendo a fun¸ca˜o integranda cont´ınua e limitada nesse intervalo. A estes integrais tamb´em se chama integrais impr´oprios do primeiro tipo. Considere o integral impr´oprio

Z

+∞

f (x) dx

(2.10)

a

onde f ´e cont´ınua e limitada no intervalo [a, +∞[. Se o limite lim

t→+∞

Z

t

f (x) dx

a

existe e ´e finito, ent˜ao o integral impr´oprio (2.10) diz-se convergente e escreve-se Z +∞ Z t f (x) dx = lim f (x) dx . a

t→+∞

a

Se o limite ´e infinito ou n˜ao existe, o integral impr´oprio diz-se divergente e n˜ao tem valor.

43

C´ alculo integral Observa¸ c˜ ao 2.4 De modo semelhante se estuda o caso

Z

b

f (x) dx .

−∞

Quando o integral impr´oprio ´e da forma Z +∞ f (x) dx ,

(2.11)

−∞

deve-se em primeiro lugar escolher um ponto a conveniente e s´o depois analisar os limites

Z

lim

t→−∞

lim

t→+∞

a

f (x) dx

(2.12)

f (x) dx .

(2.13)

t

Z

t

a

O integral impr´oprio (2.11) ser´a convergente se estes limites existirem e forem finitos. Nesse caso, tem-se     Z +∞ Z a Z t f (x) dx = lim f (x) dx + lim f (x) dx . t→−∞

−∞

t→+∞

t

a

Para que o integral impr´oprio (2.11) seja divergente, basta que um dos limites (2.12)(2.13) n˜ao seja finito ou n˜ao exista. Observa¸ c˜ ao 2.5 Importa observar que estas u ´ltimas conclus˜oes n˜ao decorrem da an´alise do limite lim

t→∞

Z

t

f (x) dx .

−t

Para confirmar este facto, basta escolher uma fun¸c˜ao ´ımpar, como por exemplo f (x) = x3 . Exemplos: (a) Pretende-se determinar a natureza do integral impr´oprio Z t Calcule-se lim e−2x dx . Tem-se t→+∞

+∞

e−2x dx . 0

0

lim

t→+∞

Z

t

e

−2x

0

dx = lim

t→+∞

= lim

t→+∞



e−2x − 2

0

t

0

1 − e−2t 1 = . 2 2

Ou seja, o integral impr´oprio ´e convergente e Z +∞ e−2x dx = 1/2 .

44

Z

2.7. Integrais impr´ oprios

(b) Pretende-se determinar a natureza do integral impr´oprio

Z



sin x dx .

−∞

Este integral impr´oprio ´e divergente e n˜ao tem valor porque lim

t→−∞

Z



sin x dx = lim [ − cos x ]2π t t→−∞

t

= lim (−1 + cos t) t→−∞

n˜ao existe. (c) Pretende-se determinar a natureza do integral impr´oprio

Z

+∞

x dx .

−∞

Porque o integral impr´oprio

Z

0

x dx

−∞

´e divergente, pode concluir-se de imediato que o integral principal ´e divergente. Exerc´ıcio 2.8 1. Determine para que valores de p ∈ R o integral impr´oprio Z

+∞

1 dx xp

1

´e convergente. 2. Determine a natureza do integral impr´oprio

Z

+∞

e3|x−1| dx .

−∞

2.7.2

Integrais de fun¸ c˜ oes n˜ ao limitadas

Consideram-se integrais em que a fun¸c˜ao integranda n˜ao ´e limitada no intervalo de integra¸c˜ao. A estes integrais tamb´em se chama integrais impr´oprios do segundo tipo. Considere o integral impr´oprio

Z

b

f (x) dx

(2.14)

a

onde f ´e cont´ınua em qualquer intervalo [a, t] com a < t < b, mas ´e n˜ao limitada no intervalo [a, b[. O integral impr´oprio (2.14) s´o ser´a convergente se o limite lim−

t→b

Z

t

f (x) dx

a

existir e for finito. Nesse caso, escreve-se Z

a

b

f (x) dx = lim− t→b

Z

t

f (x) dx .

a

Caso contr´ario, o integral impr´oprio (2.14) ´e divergente. 45

C´ alculo integral Quando f ´e cont´ınua em qualquer intervalo [t, b] com a < t < b mas ´e n˜ao limitada no intervalo ]a, b], o integral impr´oprio Z b f (x) dx a

s´o ´e convergente se existir e for finito o limite Z b lim f (x) dx t→a+

e neste caso

Z

t

b

f (x) dx = lim+ t→a

a

Z

b

f (x) dx .

t

Se f ´e ilimitada na vizinhan¸ca de um ponto c ∈ ]a, b[, ent˜ao o integral impr´oprio Z b f (x) dx a

s´o ´e convergente se forem convergentes os integrais impr´oprios Z c Z b f (x) dx e f (x) dx . a

c

O seu valor ´e Z

a

b

f (x) dx =



lim

t→c−

Z

t

Z

2

a

 f (x) dx +

lim

t→c+

Z

b

!

f (x) dx .

t

Exerc´ıcio 2.9 Mostre que 0

´e um integral impr´oprio divergente.

2.8

1 dx (x − 1)2

M´ etodos num´ ericos de integra¸ c˜ ao

Apresentamos dois m´etodos num´ericos que permitem obter um valor aproximado do integral definido de uma fun¸c˜ao cont´ınua. Estes m´etodos tornam-se particularmente importantes quando n˜ao ´e poss´ıvel determinar uma express˜ao simples para a fam´ılia de 2

primitivas da fun¸c˜ao integranda, o que ocorre com a fun¸c˜ao f (x) = ex . As somas de Riemann de uma fun¸c˜ao cont´ınua f , apresentadas na p´agina 20, fornecem uma aproxima¸c˜ao do integral definido de f no intervalo [a, b]. A obten¸c˜ao dessa aproxima¸c˜ao exige o conhecimento do valor da fun¸c˜ao integranda em determinados pontos do intervalo de integra¸c˜ao e o c´alculo do valor da ´area de v´arios rectˆangulos. Descrevemos de seguida dois m´etodos num´ericos mais elaborados que tˆem tamb´em uma interpreta¸c˜ao geom´etrica simples. 46

2.8. M´ etodos num´ ericos de integra¸ c˜ ao

2.8.1

Regra dos trap´ ezios

Assumimos inicialmente que a fun¸c˜ao f al´em de cont´ınua tamb´em ´e positiva no intervalo [a, b]. Na sua forma mais simples, a regra dos trap´ezios permite obter uma aproxima¸ca˜o num´erica do integral definido de f em [a, b], calculando o valor da ´area do trap´ezio definido pelos pontos (a, 0), (b, 0), (a, f (a)) e (b, f (b)).

y

6

f

 

a

b

x

Figura 2.18 Ou seja, em vez de calcular o integral da fun¸c˜ao f no intervalo [a, b], calcula-se o integral do polin´omio p de grau um, que une os pontos de coordenadas (a, f (a)) e (b, f (b)). Existe apenas um polin´omio de grau um nestas condi¸c˜oes cuja a express˜ao se determina sem dificuldade. Obt´em-se a seguinte aproxima¸c˜ao Z

Z

b a

f (x) dx ≈

b a

p(x) dx = (b − a)

(f (b) + f (a)) . 2

´ de A aproxima¸c˜ao ´e v´alida mesmo que a fun¸c˜ao n˜ao seja positiva no intervalo [a, b]. E esperar que a aproxima¸c˜ao seja razo´avel quando o intervalo [a, b] for pequeno e a fun¸ca˜o f for suficientemente suave em [a, b]. A ideia de generalizar o processo descrito surge naturalmente. Na pr´oxima figura considera-se uma decomposi¸c˜ao em dois subintervalos de igual amplitude h.

y

6 (a ( aa ((( aa f a

x1

b

x

Figura 2.19 47

C´ alculo integral Seja p1 o polin´omio de grau um, que une os pontos de coordenadas (a, f (a)) e (x1 , f (x1 )) e p2 o polin´omio de grau um, que une os pontos de coordenadas (x1 , f (x1 )) e (b, f (b)). Uma aproxima¸c˜ao do integral definido da fun¸c˜ao f em [a, b] ´e Z

b

f (x) dx =

a

Z

Z

x1

f (x) dx +

a



Z

x1

p1 (x) dx +

a

b

f (x) dx

x1 Z b

p2 (x) dx

x1

= (x1 − a)

(f (x1 ) + f (a)) (f (b) + f (x1 )) + (b − x1 ) 2 2

Porque x1 ´e o ponto m´edio do intervalo [a, b], tem-se x1 − a = b − x1 = (b − a)/2 = h, logo, obt´em-se Z b h f (x) dx ≈ [ f (a) + 2f (x1 ) + f (b)) ] . 2 a A express˜ao da aproxima¸c˜ao para o caso geral deduz-se sem dificuldade. Seja f uma fun¸c˜ao cont´ınua no intervalo [a, b] e ∆ : a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b uma decomposi¸c˜ao do intervalo [a, b] em n (n ∈ N) subintervalos de igual amplitude h =

(b − a)/n. A aplica¸c˜ao repetida do processo mais simples a cada intervalo [xi−1 , xi ], com i = 1, 2, . . . , n, origina a seguinte aproxima¸c˜ao que se chama regra dos trap´ezios composta (´e usual chamar regra dos trap´ezios simples ao caso particular em que n = 1) Z

b

a

f (x) dx ≈

h [ f (x0 ) + 2f (x1 ) + · · · + 2f (xn−1 ) + f (xn ) ] . 2

Exemplo: √ Considera-se a fun¸c˜ao cont´ınua f (x) = 1 − x2 e aplica-se a regra dos trap´ezios com n = 2 e n = 4 para determinar uma aproxima¸c˜ao num´erica do integral definido I=

Z

1

−1

p 1 − x2 dx .

O integral pode calcular-se integrando por substitui¸c˜ao e o seu resultado ´e π/2 que ´e aproximadamente 1.571. Este resultado tem uma interpreta¸c˜ao geom´etrica simples. Corresponde ao valor da ´area de meio c´ırculo de raio r = 1. Considere-se n = 2. A decomposi¸c˜ao do intervalo [−1, 1] ´e composta de dois intervalos de amplitude h = (b − a)/2 = 1 e ´e definida pelos trˆes pontos x0 = −1 , Obt´em-se

Z

1

x1 = x0 + h = 0 ,

x2 = x1 + h = 1 .

p 1 1 − x2 dx ≈ [ f (−1) + 2f (0) + f (1) ] = 1 . 2 −1

48

2.8. M´ etodos num´ ericos de integra¸ c˜ ao Interprete geometricamente o resultado anterior. Para n = 4. A decomposi¸ca˜o de [−1, 1] ´e composta de quatro intervalos de amplitude h = (b − a)/4 = 1/2 e ´e

definida pelos pontos x0 = −1, x1 = −1/2, x2 = 0, x3 = 1/2 e x4 = 1. Obt´em-se Z 1 p (1/2) [ f (−1) + 2f (−1/2) + 2f (0) + 2f (1/2) + f (1) ] , I= 1 − x2 dx ≈ 2 −1 isto ´e, I ≈ 1.366.

Se a fun¸c˜ao integranda n˜ao for apenas cont´ınua no intervalo [a, b], ent˜ao ´e poss´ıvel apresentar uma express˜ao para o erro cometido quando se aproxima o integral definido pela regra dos trap´ezios. N˜ao basta que a fun¸c˜ao seja cont´ınua no intervalo [a, b] ´e preciso exigir que seja de classe C 2 em [a, b]. Nota: no exemplo anterior consider´ amos uma fun¸c˜ao que ´e cont´ınua no intervalo [−1, 1] mas que n˜ao ´e diferenci´avel em todo o intervalo. Teorema 2.12 (regra dos trap´ezios estendida) Se f ´e uma fun¸c˜ao de classe C 2 no intervalo [a, b] e a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b

´e uma decomposi¸c˜ao de [a, b] em n subintervalos de igual amplitude h = (b − a)/n, ent˜ ao Z b h (b − a)3 ′′ f (x) dx = [ f (x0 ) + 2f (x1 ) + · · · + 2f (xn−1 ) + f (xn ) ] − f (c) , (2.15) 2 12n2 a onde c ´e um ponto de [a, b]. O resultado anterior revela que ao aproximar o integral Z b I= f (x) dx a

pela regra dos trap´ezios IT =

h [ f (x0 ) + 2f (x1 ) + · · · + 2f (xn−1 ) + f (xn ) ] 2

o erro absoluto |E| = |I − IT | cometido na aproxima¸c˜ao ´e dado por (b − a)3 ′′ |f (c)| , 12n2

onde c ∈ [a, b] .

(2.16)

Assim, se M ´e o valor m´aximo de f ′′ em [a, b] (|f ′′ (x)| ≤ M para todo o x em [a, b]) ent˜ao o erro absoluto cometido na aproxima¸c˜ao ´e tal que |E| ≤

(b − a)3 M. 12n2

Basta conhecer M para poder calcular o n´ umero n de subintervalos necess´arios, por forma a conseguir obter determinada aproxima¸c˜ao do integral definido. A express˜ao (2.15) ´e v´alida para todo o n ∈ N. Tomando em particular n = 1, obt´em-se uma estimativa para o erro cometido na aproxima¸c˜ao do integral definido, quando se aplica a regra dos trap´ezios simples.

49

C´ alculo integral Exemplo: Determinar uma aproxima¸c˜ao do integral definido Z 1 2 I= e−x dx 0

e apresentar um majorante para o erro cometido na aproxima¸c˜ao. Considera-se n = 2. Obt´em-se h = 1/2, x0 = 0, x1 = 1/2 e x2 = 1. Observa-se que 2 a fun¸c˜ao f (x) = e−x ´e uma fun¸c˜ao infinitamente diferenci´avel. A aproxima¸c˜ao de I ´e

1/2 [ f (0) + 2f (1/2) + f (1) ] = 0.731 . 2 Para conseguir majorar o erro absoluto da aproxima¸c˜ao ´e necess´ario analisar a 2 segunda derivada f ′′ (x) = (4x2 − 2) e−x . O estudo anal´ıtico da segunda derivada IT =

permite concluir que |f ′′ (x)| ≤ |f ′′ (0)| para todo o x ∈ [0, 1]. Em alternativa, esta conclus˜ao resulta de imediato da observa¸c˜ao do gr´afico da fun¸c˜ao |f ′′ | no intervalo

[0, 1], como mostra a figura

y

1

x

Figura 2.20 Logo, de (2.16), conclui-se que (b − a)3 ′′ |f (c)| 12n2 |f ′′ (c)| = 48 |f ′′ (0)| ≤ 48 = 2/48 .

|I − IT | =

(c ∈ [0, 1])

Ou seja, obt´em-se |I − IT | ≤ 0.042. Ao construir uma soma de Riemann para aproximar o integral definido de f em [a, b], estamos em simultˆaneo a aproximar, em cada subintervalo [xi−1 , xi ], a fun¸c˜ao f por uma fun¸c˜ao polinomial de grau zero (isto ´e, um segmento de recta horizontal). Ou seja, a aproxima¸c˜ao obtida n˜ao ´e mais do que o integral definido de uma fun¸c˜ao cont´ınua, definida em [a, b], que ´e seccionalmente (isto ´e, em cada subintervalo) um polin´omio 50

2.8. M´ etodos num´ ericos de integra¸ c˜ ao de grau zero. De modo semelhante, na aplica¸c˜ao da regra dos trap´ezios composta, a aproxima¸c˜ao obtida para o integral definido de f , ´e o integral definido de uma fun¸ca˜o ´ cont´ınua, definida em [a, b], que ´e seccionalmente um polin´omio de grau m´aximo um. E de esperar que a aproxima¸c˜ao local por um polin´omio de grau superior a um, permita a obten¸c˜ao de melhores resultados. A regra de Simpson explora um pouco mais esta ideia ao considerar polin´omios de grau m´aximo dois.

2.8.2

Regra de Simpson

Seja f uma fun¸c˜ao cont´ınua no intervalo [a, b]. No caso mais simples da aplica¸ca˜o da regra de Simpson, ´e necess´ario considerar uma decomposi¸c˜ao do intervalo [a, b] em dois subintervalos de igual amplitude h = (b − a)/2. A decomposi¸c˜ao ´e caracterizada pelos pontos x0 = a, x1 = (a + b)/2 e x2 = b. Determina-se uma fun¸c˜ao polinomial p, de grau m´aximo dois, que satisfaz as condi¸c˜oes p(x0 ) = f (x0 ) , p(x1 ) = f (x1 ) e p(x2 ) = f (x2 ) . Existe um u ´nico polin´omio p nestas condi¸c˜oes porque x0 6= x2 . O integral de p em [a, b]

´e uma aproxima¸c˜ao do integral de f em [a, b], isto ´e, tem-se Z b Z b f (x) dx ≈ p(x) dx a

a

Obt´em se a seguinte express˜ao para o integral de p Z b h p(x) dx = [ f (x0 ) + 4f (x1 ) + f (x2 ) ] . 3 a Consequentemente,

Z

a

b

f (x) dx ≈

h [ f (x0 ) + 4f (x1 ) + f (x2 ) ] . 3

A determina¸c˜ao da express˜ao de um polin´omio de grau dois requer o c´alculo de trˆes constantes. S˜ao por isso necess´arias trˆes condi¸c˜oes independentes que resultam da decomposi¸c˜ao do intervalo [a, b] em dois subintervalos de igual amplitude. A aplica¸ca˜o repetida deste processo requer sempre uma decomposi¸c˜ao do intervalo [a, b] num n´ umero par de subintervalos. Seja f uma fun¸c˜ao cont´ınua no intervalo [a, b] e ∆ : a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b

uma decomposi¸c˜ao do intervalo [a, b] num n´ umero par n de subintervalos de igual ampli-

tude h = (b − a)/n. A aplica¸c˜ao do processo mais simples a cada conjunto de subintervalos [xi−1 , xi ] e [xi , xi+1 ], com i = 1, 2, . . . , n − 1, origina a seguinte aproxima¸c˜ao que se

chama regra de Simpson composta (´e costume chamar regra de Simpson simples ao caso particular em que n = 2) Z b h f (x) dx ≈ [ f (x0 ) + 4f (x1 ) + 2f (x2 ) + 4f (x3 ) + · · · 3 a + 2f (xn−2 ) + 4f (xn−1 ) + f (xn ) ] .

51

C´ alculo integral Na aplica¸c˜ao da regra de Simpson composta, a aproxima¸c˜ao obtida para o integral definido de f ´e o integral definido de uma fun¸c˜ao cont´ınua, definida em [a, b], que ´e localmente (em cada subintervalo) um polin´omio de grau m´aximo dois. Exemplo: ` semelhan¸ca do exemplo na p´agina 48, considera-se a fun¸c˜ao cont´ınua f (x) = A √ 1 − x2 e aplica-se a regra de Simpson com n = 2 e n = 4 para determinar uma aproxima¸c˜ao do valor da ´area de meio c´ırculo de raio r = 1, isto ´e, uma aproxima¸c˜ao num´erica do integral definido I=

Z

1

−1

p 1 − x2 dx .

Considere-se n = 2. A decomposi¸c˜ao do intervalo [−1, 1] ´e composta de dois intervalos de amplitude h = 1 e ´e definida pelos trˆes pontos x0 = −1 ,

x1 = x0 + h = 0 ,

x2 = x1 + h = 1 .

Obt´em-se Z 1p 1 1 − x2 dx ≈ [ f (−1) + 4f (0) + f (1) ] = 4/3 = 1.33(3) . 3 −1 Para n = 4. A decomposi¸c˜ao de [−1, 1] ´e composta de quatro intervalos de amplitude h = 1/2 e ´e definida pelos pontos x0 = −1, x1 = −1/2, x2 = 0, x3 = 1/2 e x4 = 1. Obt´em-se Z 1p (1/2) I= 1 − x2 dx ≈ [ f (−1) + 4f (−1/2) + 2f (0) + 4f (1/2) + f (1) ] , 3 −1 isto ´e, I ≈ 1.488. Se a fun¸c˜ao integranda for pelo menos de classe C 4 em [a, b], ent˜ao ´e poss´ıvel apresentar uma express˜ao para o erro cometido na aproxima¸c˜ao do integral definido pela regra de Simpson. N˜ao ´e suficiente que a fun¸c˜ao seja apenas cont´ınua no intervalo [a, b], Esta situa¸c˜ ao ocorre com a fun¸c˜ao que consider´amos no exemplo anterior. Teorema 2.13 (regra de Simpson estendida) Se f ´e uma fun¸c˜ao de classe C 4 no intervalo [a, b] e a = x0 < x1 < · · · < xn−1 < xn = b

´e uma decomposi¸c˜ao de [a, b] em n subintervalos de igual amplitude h = (b − a)/n, com n um n´ umero par, ent˜ao Z b h f (x) dx = [ f (x0 ) + 4f (x1 ) + 2f (x2 ) + 4f (x3 ) + 3 a (b − a)5 (4) + · · · + 2f (xn−2 ) + 4f (xn−1 ) + f (xn ) ] − f (c) , 180n4 onde c ´e um ponto de [a, b]. 52

2.8. M´ etodos num´ ericos de integra¸ c˜ ao Este resultado indica que a aproxima¸c˜ao do integral definido I=

Z

b

f (x) dx

a

pela regra de Simpson ´e IS =

h [ f (a) + 4f (x1 ) + 2f (x2 ) + 4f (x3 ) + · · · + 2f (xn−2 ) + 4f (xn−1 ) + f (b) ] 3

e que o erro absoluto |E| = |I − IS | cometido na aproxima¸c˜ao ´e igual a (b − a)5 (4) |f (c)| , 180n4

onde c ∈ [a, b] .

(2.17)

Se M ´e o valor m´aximo de f (4) em [a, b], ent˜ao o erro absoluto cometido na aproxima¸ca˜o ´e tal que (b − a)5 |E| ≤ M. 180n4 Exemplo: ` semelhan¸ca do exemplo na p´agina 50, pretende-se determinar uma aproxima¸ca˜o A do integral I=

Z

1

2

e−x dx

0

e apresentar um majorante para o erro cometido na aproxima¸c˜ao. Considera-se n = 2. Obt´em-se h = 1/2, x0 = 0, x1 = 1/2 e x2 = 1. Tem-se 2 f (x) = e−x que ´e uma fun¸c˜ao infinitamente diferenci´avel. A aproxima¸c˜ao de I ´e IS =

1/2 [ f (0) + 4f (1/2) + f (1) ] = 0.747 . 3

Para determinar um majorante para o erro absoluto da aproxima¸c˜ao ´e necess´ ario (4) 4 2 −x2 analisar a quarta derivada f (x) = (16x −48x +12) e . O seu estudo anal´ıtico permite concluir que |f (4) (x)| ≤ |f (4) (0)| para todo o x ∈ [0, 1]. Esta conclus˜ ao (4) tamb´em resulta de imediato da observa¸c˜ao do gr´afico da fun¸c˜ao |f | no intervalo [0, 1], como mostra a figura (com escalas diferente em cada eixo)

y

1

x

Figura 2.21 53

C´ alculo integral Logo, de (2.17), vem que (b − a)5 (4) |f (c)| (c ∈ [0, 1]) 180n4 |f (4) (c)| = 2880 |f (4) (0)| ≤ 2880 = 12/2880

|I − IS | =

isto ´e, |I − IS | ≤ 0.00416(6). Exerc´ıcio 2.10 Determine uma aproxima¸c˜ao do integral definido Z

1

0

p 1 + x2 dx

(a) pela regra dos trap´ezios composta com n = 3, (b) pela regra de Simpson composta com n = 4.

Exerc´ıcio 2.11 Considere a fun¸c˜ao cont´ınua

f (x) =

 x ,

x ∈ [0, 1/2] 1 − x , x ∈ ]1/2, 1]

e determine uma aproxima¸c˜ao do integral definido de f no intervalo [0,1]: (a) Pela regra dos trap´ezios; (b) Pela regra de Simpson; (c) Comente os resultados que obteve.

Exerc´ıcio 2.12 Considere uma fun¸c˜ao cont´ınua f cujo gr´afico cont´em os pontos de coordenadas (xi , yi ) (−2, −1/2) ,

(−5/3, −3/5) ,

(−4/3, −3/4) ,

(−1, −1) .

Determine uma aproxima¸c˜ao do integral de f no intervalo [−2, −1] pela regra dos trap´ezios e pela regra de Simpson. Determine uma fun¸c˜ao nestas condi¸c˜oes e calcule o seu integral definido no intervalo [−2, −1]. Compare os resultados obtidos.

54

Cap´ıtulo 3 Introdu¸c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias

3.1

Introdu¸c˜ ao

Considere o seguinte problema: Que fun¸c˜oes reais de vari´avel real tˆem a primeira derivada igual `a pr´opria fun¸ca˜o? Pretende-se determinar todas as fun¸c˜oes diferenci´aveis y : D → R, onde D representa um intervalo real, que satisfa¸cam a equa¸c˜ao y ′ = y para todo o x no dom´ınio de y. Observa-se, com facilidade, que a fun¸c˜ao φ(x) = ex , x ∈ R, ´e uma solu¸c˜ao do problema. O problema tem solu¸c˜ao mas ter´a uma u ´nica solu¸c˜ao? N˜ao ´e de facto a u ´nica solu¸ca˜o, a fun¸c˜ao ψ(x) = 0, x ∈ R, ´e outra solu¸c˜ao do problema. Para resolver completamente o problema ´e preciso determinar todas as fun¸c˜oes que verifiquem a equa¸c˜ao y ′ = y. Esta equa¸c˜ao que resulta da interpreta¸c˜ao do problema proposto, ´e um exemplo de uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria.

3.2

Equa¸c˜ oes diferenciais ordin´ arias

Defini¸ c˜ ao 3.1 Equa¸c˜ao diferencial ordin´aria (EDO) ´e toda a equa¸c˜ao da forma   F x, y, y ′ , y ′′ , . . . , y (n) = 0 ,

n ∈ N,

(3.1)

que descreve a rela¸c˜ao entre uma fun¸c˜ao desconhecida, indicada por y, definida e com derivadas cont´ınuas at´e `a ordem n num intervalo D ⊂ R, suas derivadas y ′ , . . . , y (n) , e a sua vari´avel, indicada por x. 55

Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias Na equa¸c˜ao (3.1), a express˜ao   F x, y, y ′ , y ′′ , . . . , y (n)

representa qualquer express˜ao alg´ebrica que envolve (de uma forma que por vezes pode ser impl´ıcita) a vari´avel x, a fun¸c˜ao y e as suas derivadas at´e `a ordem n. Quando na presen¸ca de uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria, ´e claramente importante observar qual a vari´avel independente e qual a vari´avel dependente. Na equa¸c˜ao (3.1) tem-se evidentemente x como vari´avel independente e y como vari´avel dependente. A express˜ao “ordin´aria”adv´em do facto de se considerarem apenas fun¸c˜oes reais de uma vari´avel real, isto ´e, de considerar apenas uma vari´avel independente. Na sequˆencia, e dado que n˜ao h´a motivo para confus˜ao, omitimos sempre a palavra ordin´aria. Vejamos alguns exemplos. Exemplos: (a) Considere a equa¸c˜ao diferencial y′ = y . Esta pode escrever-se da seguinte forma y′ − y = 0 . Basta apenas identificar y ′ − y por F (x, y, y ′ ) para observar que a equa¸c˜ao diferencial se encontra na forma (3.1). (b) No caso da equa¸c˜ao diferencial t y ′′ + (2t + 1) e−y = 0 , tem-se evidentemente F (t, y, y ′ , y ′′ ) = t y ′′ + (2t + 1) e−y . A vari´avel independente ´e agora t e y ´e a vari´avel dependente. (c) Por u ´ltimo, a equa¸c˜ao diferencial x(4) + t2 x′′ = 0 cujo o primeiro membro pode representar-se por F (t, x, x′ , x′′ , x′′′ , x(4) ) onde t assume o papel de vari´avel independente e x o papel de vari´avel dependente.

56

3.2. Equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias Defini¸ c˜ ao 3.2 Ordem de uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria ´e a ordem da derivada de maior ordem da fun¸c˜ao y, presente na equa¸c˜ao (3.1). A equa¸c˜ao y ′′′ = sin x ´e uma equa¸c˜ao diferencial de ordem trˆes ao passo que a equa¸ca˜o (y ′ )2 + 2 x y = 0 ´e uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem. Defini¸ c˜ ao 3.3 Uma equa¸c˜ao diferencial ordin´aria de ordem n diz-se na forma normal se se pode escrever do seguinte modo

  y (n) = f x, y, y ′ , y ′′ , . . . , y (n−1) ,

onde f representa qualquer express˜ao alg´ebrica que envolve (de uma forma que pode ser impl´ıcita) a vari´avel x, a fun¸c˜ao y e as suas derivadas at´e `a ordem n − 1. A equa¸c˜ao diferencial de segunda ordem y ′′ = − |

(2x + 1) e−y , {zx }

(x 6= 0) ,

f (x, y, y ′ )

encontra-se na forma normal. Mas nem sempre ´e poss´ıvel escrever uma equa¸c˜ao diferencial na forma normal. Considere a t´ıtulo de exemplo a seguinte equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem y ′ = 2x(y ′ )2 . Defini¸ c˜ ao 3.4 Uma fun¸c˜ao real ϕ, definida num intervalo D ⊂ R, com as n derivadas ϕ′ , ϕ′′ , . . . , ϕ(n) cont´ınuas no intervalo D, ´e uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial de ordem n   F x, y, y ′ , y ′′ , . . . , y (n) = 0 ,

(3.2)

se a substitui¸c˜ao em (3.2), de y pela fun¸c˜ao ϕ, origina uma identidade para todo o x ∈ D.

Exemplos: (a) Considere a equa¸c˜ao diferencial de segunda ordem y ′′ + y = 0 . A fun¸c˜ao ϕ(x) = cos x, x ∈ R, ´e uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial. De facto, ϕ′′ (x) + ϕ(x) = (cos x)′′ + cos x = − cos x + cos x =0 para todo o x ∈ R. 57

Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias √ (b) A fun¸c˜ao ϕ(x) = 2 x , x > 0, ´e uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial x (y ′ )2 = y y ′ − 1 , pois verifica-se que x (ϕ′ (x))2 = ϕ(x) ϕ′ (x) − 1 para todo o x > 0. A experiˆencia com equa¸c˜oes diferenciais n˜ao ´e na realidade completamente recente. No estudo da primitiva¸c˜ao de fun¸c˜oes reais de vari´avel real contact´amos com equa¸c˜oes do tipo y (n) = f (x) , onde n ∈ N e f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua no intervalo D. Considere a equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem y ′ = cos x. Constatamos que todas as fun¸c˜oes y(x) = sin x+c, com c uma constante real arbitr´aria, s˜ao solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial. N˜ao se apresenta apenas uma solu¸c˜ao mas sim uma fam´ılia de solu¸c˜oes. Vejamos o caso da equa¸c˜ao diferencial de segunda ordem y ′′ = cos x. Todas as fun¸c˜oes y(x) = − cos x + c1 x + c2 , onde c1 e c2 s˜ao constantes reais, s˜ao solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial. Desta vez, a express˜ao de uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao, depende da concretiza¸c˜ao de duas constantes arbitr´arias. As pr´oximas defini¸c˜oes permitem classificar as solu¸c˜oes de uma equa¸c˜ao diferencial. Defini¸ c˜ ao 3.5 (i) Solu¸c˜ao geral de uma equa¸c˜ao diferencial de ordem n, ´e toda a solu¸c˜ao expl´ıcita da equa¸c˜ao diferencial, cuja express˜ao depende de n constantes reais. (ii) Solu¸c˜ao particular de uma equa¸c˜ao diferencial de ordem n, ´e toda a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial, que ´e obtida da solu¸c˜ao geral pela concretiza¸c˜ao de todas as n constantes reais. (iii) Solu¸c˜ao singular de uma equa¸c˜ao diferencial de ordem n, ´e qualquer outra solu¸c˜ao expl´ıcita da equa¸c˜ao diferencial. Defini¸ c˜ ao 3.6 Chama-se Integral geral de uma equa¸c˜ao diferencial de ordem n, a toda a equa¸c˜ao que define implicitamente o conjunto de solu¸c˜oes da equa¸c˜ao diferencial. Exemplos: (a) Considere a equa¸c˜ao diferencial y ′′ + y = 0 . y(x) = c1 cos x + c2 sin x, x ∈ R, onde c1 e c2 s˜ao constantes reais, ´e solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial. De facto,

y ′′ + y = (c1 cos x + c2 sin x)′′ + (c1 cos x + c2 sin x) = −c1 cos x − c2 sin x + (c1 cos x + c2 sin x) = 0 58

3.2. Equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias para todo o x ∈ R. A fun¸c˜ao y(x) = 2 sin x, x ∈ R, ´e uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao diferencial

(escolheu-se c1 = 0 e c2 = 2). A fun¸c˜ao y(x) = 0, x ∈ R, ´e outra solu¸c˜ao particular

da equa¸c˜ao diferencial. (b) Verifique que

1 x + 1 + c ex com c ∈ R, ´e solu¸ca˜o geral da equa¸ca˜o diferencial y(x) =

y′ + y = x y2 . A fun¸c˜ao constante y(x) = 0, x ∈ R, ´e uma solu¸c˜ao singular da equa¸c˜ao diferencial. (c) Considere a equa¸c˜ao diferencial x(y ′ )2 − y y ′ + 1 = 0 . y(x) = c x + 1/c, x ∈ R, com c ∈ R \ {0}, ´e solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial. √ A fun¸c˜ao y(x) = 2 x , x > 0, ´e uma solu¸c˜ao singular da equa¸c˜ao diferencial (recorde o exemplo (b) na p´agina 58). (d) Considere a equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem y y′ = x . y 2 = x2 +c, com c ∈ R, ´e integral geral da equa¸c˜ao diferencial. A deriva¸c˜ao impl´ıcita da equa¸c˜ao anterior permite obter a equa¸c˜ao diferencial. ´ importante observar que nem todas as equa¸c˜oes diferenciais tˆem solu¸c˜ao e, mesmo E que uma equa¸c˜ao diferencial tenha solu¸c˜ao, pode n˜ao ser poss´ıvel determinar a sua solu¸ca˜o geral (ou o seu integral geral). Para determinadas equa¸c˜oes diferenciais ´e poss´ıvel mostrar que existe solu¸c˜ao ou que a solu¸c˜ao quando existe ´e u ´nica. Estes assuntos n˜ao est˜ ao no entanto no ˆambito destas notas. O problema da determina¸c˜ao de solu¸c˜ao de uma equa¸c˜ao diferencial que satisfa¸ca em simultˆaneo determinadas condi¸c˜oes num ponto de um intervalo D, ´e designado como problema de valores iniciais ou problema de condi¸c˜oes iniciais. Trˆes situa¸c˜oes distintas podem ocorrer. Existe uma u ´nica solu¸c˜ao, existe mais do que uma solu¸c˜ao ou n˜ao existe solu¸c˜ao. A apresenta¸c˜ao de condi¸c˜oes suficientes que garantam a existˆencia de solu¸ca˜o n˜ao faz parte do ˆambito destas notas. Considere o problema  x(y ′ )2 − y y ′ + 1 = 0 y(0) = 1

que consiste na determina¸ca˜o da solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial x(y ′ )2 − y y ′ + 1 = 0 que

verifica a condi¸c˜ao y(0) = 1. Recorde o exemplo (c) nesta p´agina. Uma solu¸c˜ao para o problema ´e a fun¸c˜ao y(x) = x + 1, x ∈ R. 59

Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias

3.3

Equa¸c˜ oes diferenciais de primeira ordem

Apresentamos determinadas equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem F (x, y, y ′ ) = 0 que se podem sempre escrever na forma normal, e para as quais podemos descrever um procedimento que conduz `a determina¸c˜ao de solu¸c˜ao geral ou integral geral. Estudamos as seguintes equa¸c˜oes diferenciais de primeira ordem: • Equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem • Equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis • Equa¸c˜ao diferencial homog´enea de grau zero • Equa¸c˜ao diferencial de Bernoulli

3.3.1

Equa¸c˜ ao diferencial linear de primeira ordem

Defini¸ c˜ ao 3.7 Equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem ´e toda a equa¸c˜ao diferencial da forma y ′ + p(x) y = q(x)

(3.3)

onde p e q s˜ao fun¸c˜oes cont´ınuas num intervalo D ⊂ R. A equa¸c˜ao linear de primeira ordem (3.3) diz-se homog´enea se q(x) = 0 para todo o x ∈ D (isto ´e, se a fun¸c˜ao q ´e identicamente nula em D). Caso contr´ario, diz-se que a

equa¸c˜ao linear de primeira ordem ´e completa.

Apresentamos o m´etodo do factor integrante que permite determinar a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial (3.3). O m´etodo consiste nos seguintes passos: 1. Calcula-se o factor integrante designado por µ, cuja express˜ao ´e µ = e P (x) onde P (x) =

Z

p(x) dx

indica uma primitiva da fun¸c˜ao p (escolhe-se por exemplo c = 0 na express˜ao geral das primitivas de p). 2. Multiplica-se o factor integrante µ por ambos os membros da equa¸c˜ao (3.3). No primeiro membro da equa¸c˜ao obtida encontra-se sempre a express˜ao da derivada do produto das fun¸c˜oes µ e y. 60

3.3. Equa¸ c˜ oes diferenciais de primeira ordem 3. Primitiva-se em ordem `a vari´avel independente (no caso x) ambos os membros da equa¸c˜ao obtida no passo anterior e calcula-se a solu¸c˜ao geral (uma express˜ ao expl´ıcita) da equa¸c˜ao diferencial y ′ + p(x) y = q(x). Exemplos: (a) Considere a equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem y′ − y = e x onde p(x) = −1 e q(x) = e x s˜ao fun¸c˜oes cont´ınuas em toda a recta real. Calcula-se o factor integrante µ = e P (x) = e −x . Multiplicando µ por ambos os membros da equa¸c˜ao diferencial, obt´em-se e −x y ′ − e −x y = 1 , que ´e equivalente a e −x y

′

= 1.

Esta u ´ltima equa¸c˜ao permite concluir que Z e −x y = 1 dx + c ,

c ∈ R,

isto ´e, e −x y = x + c . Logo, y(x) = (x + c) e x ,

x ∈ R,

c ∈ R.

´e solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial y ′ − y = e x . (b) Considere a equa¸c˜ao homog´enea y′ − y = 0 que resulta do problema colocado no in´ıcio deste cap´ıtulo. O factor integrante ´e ′

tamb´em neste caso µ = e −x . A multiplica¸c˜ao por µ origina a equa¸c˜ao (e −x y) = 0. Daqui resulta a solu¸c˜ao geral y(x) = c e x ,

x ∈ R,

c ∈ R.

A fun¸c˜ao y(x) = e x ´e uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao diferencial. Na figura est˜ao representadas cinco solu¸c˜oes particulares da equa¸c˜ao diferencial que correspondem aos seguintes valores da constante c, −1 ,−1/2, 0, 1/2 e 1. 61

Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias

y

x

Figura 3.1 ´ uma equa¸c˜ao linear de (c) Considere a equa¸c˜ao diferencial (1 + y) − (1 − x) y ′ = 0. E primeira ordem pois pode escrever-se como y′ −

y 1 = 1−x 1−x

desde que x 6= 1. O factor integrante ´e µ = 1 − x 1 . A multiplica¸c˜ao de ambos os ′

membros da equa¸c˜ao diferencial por µ permite obter ((1 − x)y) = 1. Desenvolvendo calcula-se a solu¸c˜ao geral x+c y(x) = 1−x onde x ∈ R \ {1} e c ∈ R.

Exerc´ıcio 3.1 Verifique que a solu¸c˜ao geral y de uma equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem ´e da forma y = yh + yp onde yh representa a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao homog´enea associada e yp ´e uma solu¸c˜ao particular da equa¸c˜ao completa. Observa¸ c˜ ao 3.1 O m´etodo do factor integrante pode aplicar-se (pelo menos do ponto de vista te´orico) a todas as equa¸c˜oes diferenciais lineares de primeira ordem. A dificuldade acaba por residir apenas na determina¸c˜ao de uma express˜ao expl´ıcita para as primitivas envolvidas. De facto, a multiplica¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial y ′ + p(x) y = q(x) pelo factor integrante

R µ = e p(x) dx

origina a equa¸c˜ao  R   R   R  e p(x) dx y ′ + e p(x) dx p(x) y = e p(x) dx q(x) , 1 N˜ ao

´ e necess´ ario considerar µ = |1 − x| porque o factor integrante ´ e multiplicado por ambos os membros da equa¸c˜ ao diferencial.

62

3.3. Equa¸ c˜ oes diferenciais de primeira ordem que ´e equivalente a

Daqui resulta

e portanto

 R ′  R  e p(x) dx y = e p(x) dx q(x) . Z  R R  e p(x) dx y = e p(x) dx q(x) dx + c

Z  R R R  y(x) = c e − p(x) dx + e − p(x) dx e p(x) dx q(x) dx ,

c ∈ R.

Esta dedu¸c˜ao tamb´em mostra que n˜ao ´e necess´ario efectuar explicitamente todos os passos do m´etodo do factor integrante. Basta usar a u ´ltima express˜ao para determinar a solu¸ca˜o geral de uma equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem.

3.3.2

Equa¸c˜ ao diferencial de vari´ aveis separ´ aveis

Defini¸ c˜ ao 3.8 Equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis ´e toda a equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem que se pode escrever na forma h(y) y ′ = g(x) ,

(3.4)

onde h ´e apenas fun¸c˜ao da vari´avel dependente y e g ´e apenas fun¸c˜ao da vari´avel independente x. Assume-se que a fun¸c˜ao g ´e cont´ınua num intervalo I ⊂ R e que a fun¸ca˜o h ´e cont´ınua num intervalo J de tal modo que y(I) ⊂ J. Vejamos como determinar o integral geral da equa¸c˜ao diferencial (3.4). Seja H uma primitiva da fun¸c˜ao h, isto ´e, H(y) =

Z

h(y) dy .

Derivando a express˜ao anterior em ordem `a vari´avel independente x, isto ´e, aplicando a regra da derivada de uma fun¸c˜ao composta, obt´em-se   d d dy H(y(x)) = H(y) dx dy dx = h(y) y ′ .

Logo, a equa¸c˜ao (3.4) pode escrever-se do seguinte modo d H(y) = g(x) . dx Primitivando ambos os membros da equa¸c˜ao anterior em ordem `a vari´avel x, obt´em-se2 Z H(y) = g(x) dx + c , c ∈ R 2 Desta

opera¸c˜ ao resulta uma constante de primitiva¸ca ˜o em cada membro. Estas duas constantes s˜ ao posteriormente substitu´ıdas por uma u ´nica constante c.

63

Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias que ´e equivalente a

Z

h(y) dy =

Z

g(x) dx + c ,

c ∈ R.

(3.5)

Esta u ´ltima equa¸c˜ao permite obter o integral geral da equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis h(y) y ′ = g(x). Exemplo: Considere a equa¸c˜ao diferencial y ′ − 2x e−y = 0 . Estamos na presen¸ca de uma equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis pois podemos escrever a equa¸c˜ao na forma e y y ′ = 2x onde h(y) = e y e g(x) = 2x. A determina¸c˜ao do integral geral da equa¸c˜ao diferencial resulta da express˜ao (3.5). A sua aplica¸c˜ao permite escrever Z Z e y dy = 2x dx + c , isto ´e, e y = x2 + c ,

c ∈ R.

Finalmente, podemos concluir que y(x) = ln (x2 + c) ,

c ∈ R,

´e solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial original y ′ − 2x e−y = 0. Note-se que o dom´ınio de cada solu¸c˜ao particular est´a dependente do valor da constante c. Exerc´ıcio 3.2 Determine o integral geral da equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis y y′ = x . Recorde o exemplo (d) na p´agina 59. ´ costume distinguir entre uma equa¸c˜ao diferencial j´a na forma (3.4) e uma equa¸c˜ao E que se pode escrever desse modo, ap´os alguma manipula¸c˜ao alg´ebrica. Diz-se que uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem ´e de vari´ aveis separadas se j´a se encontra na forma (3.4). N˜ao ´e apenas mais um pormenor. H´a de facto alguma diferen¸ca. Veja-se por exemplo a seguinte situa¸c˜ao. A equa¸c˜ao diferencial (1 + y) − (1 − x) y ′ = 0 64

(3.6)

3.3. Equa¸ c˜ oes diferenciais de primeira ordem ´e uma equa¸c˜ao de vari´aveis separ´aveis pois pode transformar-se na equa¸c˜ao 1 1 y′ = . 1+y 1−x

(3.7)

´ preciso exigir na equa¸ca˜o de Estas duas equa¸c˜oes n˜ao s˜ao no entanto equivalentes. E vari´aveis separadas (3.7) que y(x) 6= −1 e x 6= 1. Ou seja, s´o seremos capazes de

determinar o integral geral da equa¸c˜ao diferencial (3.6), pelo processo apresentado, se exigirmos que y(x) 6= −1 e x 6= 1. Exemplo: Considere a equa¸c˜ao diferencial (3.6). Para utilizar (3.5) ´e necess´ario efectuar a transforma¸c˜ao que conduz `a equa¸c˜ao (3.7) e exigir que y(x) 6= −1 e x 6= 1. A condi¸c˜ao x 6= 1 imp˜oe que x = 1 n˜ao ´e um ponto do dom´ınio das fun¸co˜es a determinar. O caso da fun¸c˜ao y(x) = −1 tem de ser estudado em separado.

De (3.7) e (3.5) obt´em-se Z

1 dy = 1+y

Z

1 dx + c , 1−x

c ∈ R.

Daqui resulta ln |1 + y| = − ln |1 − x| + c

⇒ |1 + y| = c1 e − ln |1−x| , onde c1 = ec ∈ R+ c1 ⇒ |1 + y| = |1 − x| k ⇒1+y = , k ∈ R \ {0} (k = ± c1 ) 1−x k ⇒y= −1. 1−x Ou seja, pode considerar-se que y(x) =

k −1, 1−x

(3.8)

onde x 6= 1 e k ∈ R \ {0}, ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao (3.7), e consequentemente tamb´em solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial (3.6). Estude-se agora o caso da fun¸c˜ao y(x) = −1. Substituindo a fun¸c˜ao na equa¸ca˜o (3.6) verifica-se imediatamente que ela tamb´em ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis. Tamb´em se constata que ao fixar k = 0 em (3.8) se obt´em y(x) = −1. Pode concluir-se que y(x) =

k −1, 1−x

com k ∈ R, ´e solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial (1 + y) − (1 − x) y ′ = 0 , 65

Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias sendo y(x) = −1 uma solu¸c˜ao particular. Nota: A solu¸c˜ao geral tamb´em se pode escrever na forma y(x) =

x+c , 1−x

com c ∈ R. Recorde o exemplo (c) na p´agina 62. Este u ´ltimo exemplo mostra que a determina¸c˜ao da solu¸c˜ao geral de uma equa¸c˜ao diferencial ´e uma tarefa minuciosa, que n˜ao se limita simplesmente `a aplica¸c˜ao de um procedimento, caso este esteja dispon´ıvel. Observa¸ c˜ ao 3.2 A experiˆencia com equa¸c˜oes diferenciais de vari´aveis separ´aveis n˜ao ´e nova. No estudo da primitiva¸c˜ao de fun¸c˜oes reais de vari´avel real contact´amos directamente com a equa¸c˜ao de vari´ aveis separ´aveis y ′ = f (x) , onde f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua em D, cuja solu¸c˜ao geral ´e Z y(x) = f (x) dx + c , c ∈ R . Observa¸ c˜ ao 3.3 Uma equa¸c˜ao linear homog´enea ´e tamb´em uma equa¸c˜ao de vari´aveis separ´aveis. De facto, a equa¸c˜ao y ′ + p(x) y = 0 pode reescrever-se do seguinte modo 1 ′ y = −p(x) y onde h(y) = 1/y com y 6= 0 e g(x) = −p(x). A todas as solu¸c˜oes obtidas aplicando (3.5) ser´a preciso acrescentar a fun¸c˜ao y(x) = 0 que ´e claramente uma solu¸c˜ao da equa¸c˜ao original y ′ + p(x) y = 0. Exerc´ıcio 3.3 Determine a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao diferencial y ′ = y interpretando-a como uma equa¸c˜ao de vari´aveis separ´aveis. Esta equa¸c˜ao resulta do problema colocado no in´ıcio do cap´ıtulo e j´a foi resolvida como equa¸c˜ao linear de primeira ordem, exemplo (b) na p´agina 61.

3.3.3

Equa¸c˜ ao diferencial homog´ enea de grau zero

Defini¸ c˜ ao 3.9 Uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem na forma normal y ′ = f (x, y) diz-se homog´enea de grau zero se f ´e tal que f (k x, k y) = f (x, y) para todo o k ∈ R \ {0}. 66

3.3. Equa¸ c˜ oes diferenciais de primeira ordem A determina¸c˜ao do integral geral de uma equa¸c˜ao diferencial homog´enea de grau zero, passa por considerar a mudan¸ca de vari´avel dependente y → z definida por z=

y x

onde x 6= 0. Verifica-se que esta substitui¸c˜ao transforma a equa¸c˜ao homog´enea de grau zero numa equa¸c˜ao de vari´ aveis separ´aveis. Nota: porque a equa¸c˜ao ´e homog´enea, tem-se f (x, y) = f (x, x y/x) = f (1, y/x), desde que x 6= 0, observa¸c˜ao que sugere a substitui¸ca˜o z = y/x. Podemos descrever o seguinte algoritmo para determinar o integral geral de uma equa¸c˜ao homog´enea de grau zero: 1. Efectuar a mudan¸ca de vari´avel z=

y x

(x 6= 0) .

Resulta daqui que y = z x e y ′ = z ′ x + z. A equa¸c˜ao na forma normal y ′ = f (x, y) transforma-se na equa¸c˜ao diferencial z ′ x + z = f (x, z x)

(3.9)

que ´e uma equa¸c˜ao de vari´aveis separ´aveis. Nota: porque a equa¸c˜ao ´e homog´enea, tem-se f (x, z x) = f (1, z), observa¸c˜ao que permite reescrever a equa¸c˜ao anterior do seguinte modo z ′ x + z = f (1, z). 2. Determinar o integral geral da equa¸c˜ao diferencial (3.9) e efectuar a substitui¸ca˜o inversa z → y para obter o integral geral da equa¸c˜ao diferencial original. Exemplo: Considere a equa¸c˜ao diferencial x2 y ′ = x2 + y 2 − x y .

(3.10)

Esta equa¸c˜ao pode escrever-se na forma normal. Obt´em-se y′ = 1 +

y2 y − x2 x

(3.11)

onde

y2 y − x2 x com x 6= 0. A equa¸ca˜o diferencial (3.11) ´e homog´enea de grau zero porque f (x, y) = 1 +

(ky)2 ky − (kx)2 kx y2 y =1+ 2 − x x = f (x, y) , ∀ k 6= 0 .

f (k x, k y) = 1 +

67

Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias A mudan¸ca de vari´avel z = y/x transforma (3.11) na equa¸c˜ao diferencial de vari´aveis separ´aveis z′ x + z = 1 + z2 − z . Simplificando, obt´em-se

(3.12)

1 1 z′ = , 2 (z − 1) x

desde que z(x) 6= 1 (que corresponde a considerar y(x) 6= x). Da aplica¸c˜ao de (3.5) (com as devidas adapta¸c˜oes) resulta z(x) = 1 −

1 , ln |x| + c

c ∈ R.

De volta `a vari´avel dependente original (substituindo z por y/x) tem-se y(x) = x −

x , ln |x| + c

c ∈ R.

Observa-se que y(x) = x ´e uma solu¸c˜ao de (3.10) (o mesmo acontece com z(x) = 1 na equa¸c˜ao (3.12)). Finalmente, podemos afirmar que y(x) = x −

x , ln |x| + c

c∈R

´e solu¸c˜ao geral e y(x) = x, x ∈ R, ´e uma solu¸c˜ao singular, da equa¸c˜ao diferencial (3.10).

3.3.4

Equa¸c˜ ao diferencial de Bernoulli

Defini¸ c˜ ao 3.10 Equa¸c˜ao diferencial de Bernoulli ´e toda a equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem da forma y ′ + p(x) y = q(x) y α

(3.13)

onde α ∈ R \ {0, 1} e p e q s˜ao fun¸co˜es cont´ınuas num intervalo D ⊂ R. Observa¸ c˜ ao 3.4 Obtˆem-se equa¸c˜oes diferenciais j´a estudadas quando α = 0 ou α = 1 na equa¸c˜ao (3.13). Se α = 0, ent˜ao a equa¸c˜ao (3.13) ´e uma equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem. Quando α = 1 a equa¸c˜ao diferencial (3.13) ´e em simultˆaneo uma equa¸c˜ao linear de primeira ordem homog´enea e uma equa¸c˜ao de vari´aveis separ´aveis onde se pode identificar g(x) = q(x) − p(x) e h(y) = 1/y (com y 6= 0). Uma equa¸c˜ao de Bernoulli ´e uma equa¸c˜ao n˜ao linear. No entanto, por meio de uma mudan¸ca de vari´avel apropriada, ´e poss´ıvel transformar (3.13) numa equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem. Esta ´e a t´ecnica que conduz `a determina¸c˜ao do integral geral da equa¸c˜ao diferencial de Bernoulli. Podemos descrever este processo do seguinte modo. Multiplicando ambos os membros de (3.13) por y −α obt´em-se a equa¸c˜ao y ′ y −α + p(x) y 1−α = q(x) . 68

(3.14)

3.3. Equa¸ c˜ oes diferenciais de primeira ordem ´ preciso exigir que y(x) 6= 0 quando α > 0. Considerando a mudan¸ca de vari´avel E z = y 1−α ,

(3.15)

deduz-se, derivando z em ordem a x, que z′ = y −α y ′ . 1−α Logo, a equa¸c˜ao (3.14) pode reescrever-se como z′ + p(x) z = q(x) , 1−α que ´e equivalente a z ′ + (1 − α) p(x) z = (1 − α) q(x) .

(3.16)

Constata-se que esta u ´ltima equa¸c˜ao ´e uma equa¸c˜ao diferencial linear de primeira ordem. Para determinar o integral geral de (3.13), basta achar o integral geral de (3.16) e, por fim, substituir z por y 1−α , simplificando o resultado final. Observa¸ c˜ ao 3.5 A fun¸c˜ao y(x) = 0 ´e uma solu¸c˜ao singular da equa¸c˜ao de Bernoulli quando se tem α > 0. Exemplo: Considere a equa¸c˜ao de Bernoulli y′ + y = x y2 onde α = 2. Tem-se 1 − α = −1 e considera-se a mudan¸ca de vari´avel z = y −1 , com

y 6= 0. A aplica¸c˜ao da mudan¸ca de vari´avel permite obter, utilizando directamente

a equa¸c˜ao (3.16), a equa¸c˜ao linear de primeira ordem z ′ − z = −x .

(3.17)

Calcula-se o factor integrante µ = e−x . Ap´os a multiplica¸c˜ao de ambos os membros ′ de (3.17) por µ obt´em-se (e−x z) = −x e−x . Daqui resulta, primitivando por partes, que

z(x) = (x + 1) + c e x ´e a solu¸c˜ao geral de (3.17). Substituindo z por y −1 , obt´em-se finalmente y(x) =

1 , x + 1 + cex

c ∈ R,

que ´e a solu¸c˜ao geral da equa¸c˜ao de Bernoulli. Falta ainda observar que a fun¸ca˜o y(x) = 0 ´e uma solu¸ca˜o singular da equa¸c˜ao diferencial de Bernoulli.

69

Introdu¸ c˜ ao ao estudo das equa¸ c˜ oes diferenciais ordin´ arias Exerc´ıcio 3.4 1. Utilize a mudan¸ca de vari´avel z = x+y+2 para determinar a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem y′ =

1 . x+y+2

2. Mostre que uma equa¸c˜ao diferencial de primeira ordem da forma y ′ = f (a x + b y + c) onde b 6= 0, se pode transformar numa equa¸c˜ao de vari´aveis separ´aveis ao efectuar

a substitui¸c˜ao z = a x + b y + c. 3. (a) Verifique que

cotg (y − x) = x + c ,

c ∈ R,

´e o integral geral da equa¸c˜ao diferencial y ′ = cos2 (y − x) . (b) Determine a solu¸c˜ao geral de y ′ = cos2 (y − x) aplicando a mudan¸ca de vari´avel u = y − x. (c) Verifique que y(x) = x ´e solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial. Classifique essa solu¸c˜ao.

70

Cap´ıtulo 4 S´ eries num´ ericas

4.1

Sucess˜ oes num´ ericas

Sucess˜ao de n´ umeros reais ´e toda a aplica¸c˜ao do conjunto dos n´ umeros naturais no conjunto dos n´ umeros reais a : N n

−→ R

7−→ a(n)

.

´ usual representar a sucess˜ao por (an ), representar os termos da sucess˜ao por a1 , a2 , . . . E e indicar o termo geral da sucess˜ao por an . A figura mostra os primeiros termos da sucess˜ao de termo geral an = (−1)n 1/n, n ∈ N.

1

2

3

4

5

Figura 4.1 Quanto `a monotonia de uma sucess˜ao (an ) tem-se que: (i) A sucess˜ao ´e crescente em sentido lato se an+1 − an ≥ 0 para todo o n ∈ N. 71

6

S´ eries num´ ericas (ii) A sucess˜ao ´e decrescente em sentido lato se an+1 − an ≤ 0 para todo o n ∈ N. Uma sucess˜ao (an ) ser´a crescente em sentido estrito se an+1 − an > 0 para todo o n ∈ N. De igual modo, (an ) ser´a decrescente em sentido estrito se an+1 − an < 0 para todo o

n ∈ N.

Exemplo: A sucess˜ao de termo geral an =

1 n

´e uma sucess˜ao estritamente decrescente. De facto, tem-se an+1 − an = −

1 0, existe (uma ordem) p ∈ N tal que an ∈ Vǫ (a) sempre que

n ≥ p.

Do ponto de vista formal, escreve-se lim an = a n



∀ ǫ > 0 , ∃ p ∈ N : ∀ n ≥ p ⇒ an ∈ Vǫ (a) .

Se lim an existe e ´e finito, ent˜ao a sucess˜ao (an ) ´e convergente. Caso contr´ ario, a n sucess˜ao ´e divergente. Exemplo: A sucess˜ao de termo geral an = 1/n ´e convergente para o n´ umero L = 0, isto ´e, tem-se lim an = 0. n Basta observar que para cada ǫ > 0 pode escolher-se p ∈ N de tal forma que

p > 1/ǫ (por exemplo, se ǫ = 0.01 ent˜ao p ≥ 101) e que, nestas condi¸c˜oes, para n > p, tem-se |an − L| = |an | = 1/n < 1/p < 1/(1/ǫ) = ǫ, isto ´e, |an − L| < ǫ para

todo o n > p, o que prova a convergˆencia da sucess˜ao para L = 0. Os pr´oximos resultados permitem relacionar estes conceitos. Teorema 4.1 O limite de uma sucess˜ao convergente ´e u ´nico. Teorema 4.2 Toda a sucess˜ao mon´otona e limitada ´e convergente.

Teorema 4.3 Sejam (an ), (bn ) e (cn ) sucess˜oes tais que an ≤ cn ≤ bn a partir de uma ordem p ∈ N.

Se lim an e lim bn existem e s˜ao iguais ao n´ umero L ent˜ao lim cn existe e lim cn = L. n

n

n

n

Exerc´ıcio 4.1 Verifique que as seguintes afirma¸c˜oes s˜ao verdadeiras. i. A sucess˜ao an =

n X 1 ´e convergente. k2 k=1

ii. A sucess˜ao bn =

n X 1 ´e divergente. k

k=1

73

S´ eries num´ ericas

4.1.1

Progress˜ ao aritm´ etica

A sucess˜ao (an ) ´e uma progress˜ao aritm´etica de raz˜ao r ∈ R se an+1 = an + r para todo o n ∈ N, ou seja, se a diferen¸ca entre dois termos consecutivos an+1 − an ´e

constante igual ao n´ umero r. Se r = 0, ent˜ao todos os termos da sucess˜ao (an ) s˜ao iguais ao primeiro termo a1 . O termo geral da progress˜ao aritm´etica ´e an = a1 + (n − 1) r e a soma dos k primeiros termos de (an ) ´e sk = k

(a1 + ak ) . 2

Esta f´ormula permite uma interpreta¸c˜ao mais geral. Mostra-se que a soma de k termos consecutivos da sucess˜ao ´e dada por k

(ai+1 + ai+k ) 2

qualquer que seja i ∈ N0 . Exemplo: A sucess˜ao de termo geral an = 2n + 3

(5, 7, 9, . . .)

´e uma progress˜ao aritm´etica de raz˜ao r = 2.

4.1.2

Progress˜ ao geom´ etrica

A sucess˜ao (an ) ´e uma progress˜ao geom´etrica de raz˜ao r ∈ R se   an+1 an+1 = an r = r quando r 6= 0 an para todo o n ∈ N. O termo geral da progress˜ao geom´etrica ´e an = a1 r n−1 . Os termos da progress˜ao para n > 1 s˜ao todos iguais a zero quando r = 0. Quando r = 1, a soma dos k primeiros termos da progress˜ao ´e sk = k a1 . Se r 6= 1, ent˜ao a soma dos k primeiros termos da progress˜ao geom´etrica ´e igual a sk = a1

74

(1 − rk ) . 1−r

4.2. S´ eries num´ ericas Mais geralmente, a express˜ao (1 − rk ) , 1−r qualquer que seja i ∈ N0 , permite obter a soma de k termos sucessivos da progress˜ ao geom´etrica (an ) de raz˜ao r 6= 1. ai+1

Exemplo: A sucess˜ao de termo geral an = 2−n

(1/2, 1/4, 1/8, . . .)

´e uma progress˜ao geom´etrica de raz˜ao r = 1/2. Exerc´ıcio 4.2 Verifique que: se (an ) ´e uma progress˜ao geom´etrica de raz˜ao r > 0, com r 6= 1, e a1 > 0, ent˜ao bn = log r an ´e o termo geral de uma progress˜ao aritm´etica de raz˜ao r = 1.

4.2

S´ eries num´ ericas

Considere o seguinte problema1 : Imagine um atleta que corre a velocidade constante e que demora m minutos a percorrer metade do percurso total de uma determinada prova. O tempo que o atleta demora a concluir a prova pode ser apresentado da seguinte forma m+

m m m m + + + ··· + n + ··· . 2 4 8 2

Parece natural associar ao tempo total da prova o valor 2m, isto ´e, considerar que m+

m m m m + + + · · · + n + · · · = 2m . 2 4 8 2

Como obter este resultado? E ainda, como efectuar a soma de um “n´ umero infinito” de parcelas? Apresentamos a resposta para estas perguntas nas pr´oximas sec¸c˜oes.

4.2.1

Defini¸c˜ ao e natureza de uma s´ erie

Defini¸ c˜ ao 4.1 ` express˜ao matem´atica Seja (an ) uma sucess˜ao de n´ umeros reais. A a1 + a2 + a3 + · · · representada por

∞ X

an

n=1

chama-se s´erie num´erica de termo geral an . 1 Adapta¸ c˜ ao

do paradoxo de Aquiles e da tartaruga (proposto por Zen˜ ao), apresentado no livro “Calculus”de Tom M. Apostol [2] - citado na bibliografia da disciplina.

75

S´ eries num´ ericas A cada s´erie num´erica

∞ X

an

n=1

est´a associada uma outra sucess˜ao num´erica (al´em de (an )), que ´e representada por (sn ) e ´e designada por sucess˜ ao das somas parciais. A sucess˜ao (sn ) ´e definida do seguinte modo s1 = a1 , s2 = a1 + a2 , .. . sk = a1 + · · · + ak = .. .

k X

an ,

n=1

Defini¸ c˜ ao 4.2 A s´erie num´erica ∞ X

an

n=1

diz-se convergente se e s´o se a sucess˜ao das somas parciais associada ´e convergente, isto ´e, se existe s ∈ R tal que lim sk = s. Ao n´ umero s chama-se soma da s´erie e escreve-se k

∞ X

an = s .

n=1

Defini¸ c˜ ao 4.3 A s´erie num´erica ∞ X

an

∞ X

an

n=1

diz-se divergente e n˜ao tem soma se e s´o se a sucess˜ao das somas parciais ´e divergente. Assim, para uma s´erie num´erica

n=1

podemos pensar em atingir os seguintes objectivos: • Determinar a natureza da s´erie, isto ´e, averiguar se ´e convergente ou divergente. • Calcular a soma da s´erie quando esta ´e convergente. O primeiro objectivo ´e em geral ating´ıvel. O mesmo j´a n˜ao acontece com o segundo objectivo. De seguida apresentamos duas s´eries num´ericas para as quais ´e sempre poss´ıvel determinar a soma (quando convergentes). 76

4.2. S´ eries num´ ericas Observa¸ c˜ ao 4.1 Note que a natureza de uma s´erie n˜ao depende de um n´ umero finito de termos, isto ´e, eliminar um n´ umero finito de termos a uma s´erie n˜ao vai alterar a sua natureza. Exemplos: 1. Considere a s´erie num´erica

∞ X

n

n=1

e a sua sucess˜ao das somas parciais definida do seguinte modo s1 = 1 , s2 = 1 + 2 , .. . sk = 1 + 2 + · · · + k , .. .

A sucess˜ao (an ), termo geral da s´erie, ´e uma progress˜ao aritm´etica de raz˜ao r = 1. Sendo assim, o termo geral da sucess˜ao das somas parciais ´e sk = k

(1 + k) . 2

A sucess˜ao ´e divergente porque lim sk = +∞. Consequentemente, a s´erie ´e diverk

gente e n˜ao tem soma. 2. Considere a s´erie num´erica

∞ X 1 . n 2 n=1

O termo geral da sucess˜ao das somas parciais associada ´e sk =

1 1 1 + + ···+ k . 2 4 2

Observa-se que a sucess˜ao (an ) ´e uma progress˜ao geom´etrica de raz˜ao r = 1/2. Logo, o termo geral da sucess˜ao (sn ) ´e dado por sk =

1 (1 − 21k ) 1 =1− k . 1 2 1− 2 2

Porque lim sk = 1, podemos concluir que a s´erie num´erica ´e convergente de soma k s = 1, isto ´e, mostr´amos que 1 1 1 + + + ··· = 1. 2 4 8 77

S´ eries num´ ericas

4.2.2

S´ erie geom´ etrica

P Uma s´erie num´erica an ´e geom´etrica de raz˜ ao r ∈ R se a sucess˜ ao (an ) ´e uma progress˜ ao geom´etrica de raz˜ ao r. Podemos determinar a natureza de uma s´erie geom´etrica e, quando convergente, determinar qual a sua soma. Assim foi feito no ponto 2 do exemplo anterior. No caso geral podemos afirmar o seguinte: Uma s´erie geom´etrica ∞ X

an

n=1

de raz˜ ao r ∈ R ´e convergente se |r| < 1 e a sua soma ´e s=

a1 . 1−r

Se |r| ≥ 1 a s´erie ´e divergente e n˜ ao tem valor. Verifica¸c˜ao: seja

∞ X

an

n=1

uma s´erie geom´etrica de raz˜ao r ∈ R. Distinguimos o caso r = 1 do caso r 6= 1. Se (an ) ´e uma progress˜ao geom´etrica de raz˜ ao r = 1 ent˜ao an = a1 para todo n ∈ N (assumimos

a1 6= 0). A sucess˜ao das somas parciais associada tem termo geral sk = k a1 . A s´erie geom´etrica ´e por isso divergente. Se (an ) ´e uma progress˜ao geom´etrica de raz˜ao r 6= 1, ent˜ao o termo geral da sucess˜ao das somas parciais ´e sk = a1 + · · · + ak =

k X

an

n=1

= a1 = Como

1 − rk 1−r

a1 a1 k − r . 1−r 1−r

   ∄ se r ≤ −1 ,   k lim r = 0 se r ∈ ] − 1, 1[ , k     +∞ se r > 1 ,

conclui-se que o lim sk s´o existe e ´e finito igual a a1 /(1 − r) se |r| < 1. Ou seja, se |r| < 1 k

a s´erie geom´etrica ´e convergente e tem soma a1 /(1 − r). Se |r| ≥ 1 a s´erie ´e divergente. Exemplos: 78

4.2. S´ eries num´ ericas 1. Considere a s´erie num´erica ∞ X 5 5 5 5 = 5+ + + + ··· . n 2 2 4 8 n=0

Observa-se que

an+1 1 = = r, an 2

∀n ∈ N.

Conclui-se que a s´erie ´e uma s´erie geom´etrica convergente de soma s=

a0 = 10 . 1−r

Ou seja, mostr´amos que 5+ 2. A s´erie num´erica

∞ X

5 5 5 + + + · · · = 10 . 2 4 8

(−1)n = −1 + 1 − 1 + · · ·

n=1

´e uma s´erie geom´etrica de raz˜ao r = −1, logo ´e divergente. ´ importante observar que a representa¸c˜ao de uma s´erie n˜ao ´e u E ´nica. A s´erie geom´etrica do exemplo anterior pode, por exemplo, reescrever-se da seguinte forma ∞ X 5 5 5 5 5 + + + + ··· = . n−1 2 4 8 2 n=1

Exemplo: O problema proposto no in´ıcio da sec¸c˜ao diz respeito `a s´erie num´erica ∞ X m n−1 2 n=1

que ´e uma s´erie geom´etrica convergente de soma s = 2m.

4.2.3

S´ erie telesc´ opica

Uma s´erie

∞ X

an

n=1

diz-se telesc´ opica se an = un − un+p ,

para algum p ∈ N ,

isto ´e, se o termo geral da s´erie se pode escrever como a diferen¸ca de dois termos, n˜ ao necessariamente consecutivos, de uma outra sucess˜ ao (un ). 79

S´ eries num´ ericas Tal como para a s´erie geom´etrica, existem resultados globais para a determina¸c˜ao da natureza de uma s´erie telesc´opica e, quando convergente, da sua soma. Se lim un existe e ´e finito, ent˜ ao a s´erie telesc´ opica ´e convergente e tem soma n

s = u1 + · · · + up − p lim un . n

Caso contr´ ario, isto ´e, se lim un n˜ ao existe ou n˜ ao ´e finito, ent˜ ao a s´erie ´e n divergente e n˜ ao tem soma. Verifica¸c˜ao: para uma s´erie telesc´opica com p = 2, a sucess˜ao das somas parciais associada `a s´erie tem termo geral sk =

k X

an =

n=1

k X

(un − un+2 )

n=1

= (u1 − u3 ) + (u2 − u4 ) + (u3 − u5 ) + (u4 − u6 ) + · · · + (uk−3 − uk−1 ) + (uk−2 − uk ) + (uk−1 − uk+1 ) + (uk − uk+2 ) = u1 + u2 − (uk+1 + uk+2 ) .

Para p gen´erico, podemos concluir que sk = u1 + · · · + up − (uk+1 + uk+2 + · · · + uk+p ) . | {z } p primeiros termos

Assim,

lim sk = u1 + · · · + up − lim (uk+1 + uk+2 + . . . + uk+p ) k

k

= u1 + · · · + up − p lim uk . k

Ou seja, uma s´erie telesc´opica ∞ X

n=1

an =

∞ X

(un − un+p )

n=1

s´o ´e convergente se lim un existir e for finito. A sua soma ´e u1 + · · · + up − p limn un . A n

s´erie telesc´opica ´e divergente se lim un n˜ao existir ou n˜ao for finito. n

Exemplo: Considere a s´erie num´erica

∞ X

n=1

n2

1 . +n

Observa-se que 1 1 1 1 an = 2 = = − = un −un+1 , n +n n(n + 1) n n+1

onde

un =

1 n

e

p = 1.

A s´erie ´e telesc´opica e ´e convergente porque lim un existe e ´e finito. A sua soma ´e n

s = u1 − lim un = u1 = 1 . n

Ou seja, tem-se

80

1 1 1 1 + + + + ··· = 1. 2 6 12 20

4.2. S´ eries num´ ericas

4.2.4

S´ erie de Dirichlet

Uma s´erie num´erica da forma ∞ X 1 , α n n=1

onde α ∈ R ,

´e uma s´erie de Dirichlet. Chama-se s´erie Harm´ onica ` a s´erie de Dirichlet com α = 1. Mostra-se que a s´erie de Dirichlet ´e: • convergente se α > 1, • e divergente se α ≤ 1 (observa¸c˜ao que ´e evidente para α < 0). Em particular, destacamos a s´erie ∞ X 1 1 1 = 1 + + + ··· 2 n 4 9 n=1

que ´e convergente, e a s´erie Harm´onica

∞ X 1 1 1 = 1 + + + ··· n 2 3 n=1

que ´e divergente.

4.2.5

Propriedades das s´ eries num´ ericas

Observe-se que a an´alise da s´erie ∞ X

n=p

´e equivalente `a analise da s´erie ∞ X

bn

n=1

an = ap + ap+1 + · · ·

com bn = ap+n−1 , ∀ n ∈ N .

(4.1)

(4.2)

De facto, (4.1) e (4.2) s˜ao apenas representa¸c˜oes distintas da mesma s´erie num´erica. Por este motivo uma s´erie gen´erica ´e sempre representada por ∞ X

an .

n=1

E ainda, pelo mesmo motivo, ´e usual representar uma s´erie num´erica apenas por X an . Observa¸ c˜ ao 4.2 Duas s´eries num´ericas

∞ X

n=1

an e

∞ X

n=1

bn s˜ao idˆenticas se an = bn para todo o n ∈ N.

81

S´ eries num´ ericas Teorema 4.4 P P Se an e bn s˜ao duas s´eries convergentes de soma a e b respectivamente, ent˜ao: P (i) A s´erie soma (an + bn ) ´e convergente e tem soma a + b, isto ´e, P P P (an + bn ) = an + bn .

P (ii) A s´erie (α an ) ´e convergente para todo o α ∈ R e tem soma α a, isto ´e, P P (α an ) = α an .

O teorema anterior permite estabelecer o seguinte corol´ario.

Corol´ ario 4.1 P P (i) Se an ´e uma s´erie convergente e bn ´e uma s´erie divergente, ent˜ao a s´erie soma P (an + bn ) ´e divergente. (ii) Nada se pode concluir sobre a natureza da s´erie soma P bn s˜ao s´eries divergentes.

Demonstra¸ c˜ ao -

P

(an + bn ) quando

P

an e

(do corol´ario)

P P Ponto (i): Por hip´otese tem-se que an ´e convergente e bn ´e divergente. SuponP P hamos ent˜ao que (an + bn ) ´e convergente. Porque an ´e convergente tamb´em ´e P P convergente a s´erie (−an ). Daqui resulta que a s´erie bn tamb´em tem de ser conP P vergente pois bn = (an + bn + (−an )), facto que contradiz a hip´otese inicial. Logo, P conclui-se que a s´erie (an + bn ) tem de ser divergente. Ponto (ii):

A demonstra¸c˜ao deste ponto consiste na apresenta¸c˜ao de dois exemplos. P P 1) As s´eries an e bn com an = bn = 1 s˜ao divergentes. O mesmo acontece para a P P s´erie soma (an + bn ) = 2. P P 2) As s´eries an e bn com an = 1 e bn = −1 s˜ao divergentes e no entanto a s´erie P soma (an + bn ) ´e convergente.

4.2.6

Condi¸c˜ ao necess´ aria de convergˆ encia

Teorema 4.5 (condi¸c˜ao necess´aria de convergˆencia) P Se an ´e uma s´erie convergente, ent˜ao lim an = 0. n

Demonstra¸ c˜ ao -

Considere a s´erie convergente ∞ X

an

n=1

e seja sk =

k X

n=1

82

an

4.2. S´ eries num´ ericas o termo geral da sucess˜ao das somas parciais associada `a s´erie. Note que ak = sk − sk−1 . Porque a s´erie ´e convergente, existe s ∈ R tal que lim sk = s. Logo, k

lim ak = lim (sk − sk−1 ) = s − s = 0 . k

k

A condi¸c˜ao enunciada no teorema anterior n˜ao ´e uma condi¸c˜ao suficiente. Por isso, na pr´atica, esta n˜ao ´e muito u ´til na determina¸c˜ao da natureza de uma s´erie. Recorde por exemplo que ∞ X 1 n=1

n

´e uma s´erie divergente (s´erie de Dirichlet com α = 1) e que ∞ X 1 2 n n=1

´e uma s´erie convergente (s´erie de Dirichlet com α = 2). No entanto, tem-se lim n

1 1 = lim 2 = 0 . n n n

O seguinte corol´ario ´e claramente mais importante do ponto de vista pr´atico.

Corol´ ario 4.2 Se lim an 6= 0 ou n˜ao existe ent˜ao a s´erie n

P

an ´e divergente.

Exemplos: 1. A s´erie num´erica ∞ X 2n + 1 n n=1

´e uma s´erie divergente porque lim n

2n + 1 = 2 6= 0 . n

2. A s´erie num´erica ∞ X

(−1)n = −1 + 1 − 1 + · · ·

n=1

´e uma s´erie divergente porque o limite lim (−1)n n˜ao existe. n

83

S´ eries num´ ericas

4.2.7

Crit´ erios de compara¸ c˜ ao para s´ eries de termos n˜ ao negativos

Os resultados que apresentamos nesta sec¸c˜ao s˜ao v´alidos para s´eries num´ericas de termos n˜ao negativos, isto ´e, s´eries ∞ X

an

n=1

onde

an ≥ 0 para todo o

n ≥ 1.

Neste caso particular, constata-se que a sucess˜ao das somas parciais associada ´e sempre uma sucess˜ao crescente. Teorema 4.6 P Considere a s´erie num´erica an , onde an ≥ 0 para todo o n ≥ 1. A s´erie ´e convergente se e s´o se a sucess˜ao das somas parciais ´e limitada superiormente. Exerc´ıcio 4.3 Recorra `a s´erie geom´etrica ∞ X 1 n 2 n=2

para mostrar que a s´erie num´erica de termos positivos ∞ X 1 n! n=2

´e convergente. Teorema 4.7 (primeiro crit´erio de compara¸c˜ao) P P Sejam an e bn duas s´eries de termos n˜ao negativos tais que 0 ≤ an ≤ bn para todo o n ∈ N. Nestas condi¸c˜oes, tem-se: (i) Se (ii) Se

P P

bn ´e uma s´erie convergente ent˜ao a s´erie an ´e uma s´erie divergente ent˜ao a s´erie

Observa¸ c˜ ao 4.3 O resultado anterior mant´em-se v´alido quando:

P

P

an tamb´em ´e convergente.

bn tamb´em ´e divergente.

(a) A condi¸c˜ao an ≤ bn ´e verdadeira apenas a partir de uma certa ordem p ∈ N. (b) an ≤ c bn qualquer que seja a constante c ∈ R+ . Exemplos: 1. Considere a s´erie num´erica de termos n˜ao negativos ∞ X

3n . 3+3 2n n=1 84

4.2. S´ eries num´ ericas Observe que 0 < n3 < 2n3 + 3. Daqui resulta 0< e consequentemente 0<

1 1 < 3 2n3 + 3 n

3n 3n 3 < 3 = 2. 2n3 + 3 n n

Logo, porque

∞ X 3 n2 n=1

´e uma s´erie convergente (produto de uma constante por uma s´erie convergente s´erie de Dirichlet com α = 2), conclui-se, pelo primeiro crit´erio de compara¸ca˜o, que ∞ X

3n 3+3 2n n=1 tamb´em ´e convergente. 2. Considere a s´erie num´erica

∞ X 1 . n! n=1

Observe que

1 1 < n n! 2 para n ≥ 4. Podemos concluir que a s´erie ´e convergente porque 0<

∞ X 1 n 2 n=1

tamb´em ´e convergente (s´erie geom´etrica de raz˜ao r = 1/2). 3. Considere a s´erie num´erica

∞ X

1 . n−1 n=2 Porque

∞ X 1 n n=2

´e uma s´erie divergente (s´erie de Dirichlet com α = 1) e 1 1 < n n−1 para n ≥ 2, conclui-se que a s´erie ´e divergente. 0<

Teorema 4.8 (crit´erio de compara¸c˜ao limite) P P Considere duas s´eries num´ericas an e bn tais que an ≥ 0 e bn > 0 (pelo menos a partir de uma ordem p ∈ N) e suponha que o limite an λ = lim n bn existe. Tem-se: 85

S´ eries num´ ericas (a) Se 0 < λ < +∞, ent˜ao as s´eries

P

an e

P

bn tˆem a mesma natureza.

(b) Se λ = 0 (ocorre an 1. (iii) Nada se pode concluir sobre a natureza da s´erie num´erica quando λ = 1. Crit´ erio da raiz Teorema 4.11 (crit´erio da raiz ou crit´erio de Cauchy) Considere a s´erie num´erica de termos n˜ao negativos ∞ X

an

λ = lim

√ n

n=1

e seja n

an .

Se o limite existe, ent˜ao: (i) A s´erie num´erica ´e convergente quando λ < 1. (ii) A s´erie num´erica ´e divergente quando λ > 1. (iii) Nada se pode concluir sobre a natureza da s´erie num´erica quando λ = 1. Observa¸ c˜ ao 4.6 Alguns limites que s˜ao bastante u ´teis na aplica¸c˜ao deste u ´ltimo crit´erio: • lim n

• lim n

• lim n

√ n a = 1 sempre que a > 0. √ n n = 1. √ n n! = +∞.

Observa¸ c˜ ao 4.7 Para confirmar a al´ınea (iii) nos crit´erios da raz˜ao e da raiz, ´e suficiente considerar as s´eries de Dirichlet com α = 1 e α = 2. 88

4.2. S´ eries num´ ericas Exemplos: 1. Considere a s´erie num´erica

∞ X 2n . n2 n=1

Aplicando o crit´erio da raiz, obt´em-se r

2n n n2 √ n lim 2n n √ √ = lim n n n n

√ λ = lim n an = lim n

n

n

= 2. Tem-se λ = 2 > 1. Logo, a s´erie ´e divergente. A aplica¸c˜ao do crit´erio da raz˜ ao tamb´em permite obter λ > 1 e concluir que a s´erie ´e divergente. 2. Considere a s´erie num´erica

∞ X n! . n n n=1

Note-se que an =

n! > 0, nn

∀n ∈ N .

Aplicando o crit´erio da raz˜ao, obt´em-se λ = lim n

an+1 (n + 1)! nn = lim (n+1) n (n + 1) an n! (n + 1) n! nn = lim n n (n + 1) (n + 1) n! nn = lim n (n + 1)n 1 = (n + 1)n lim n nn 1  n = n+1 lim n n 1  n = 1 lim 1 + n n 1 = . e

Ou seja, λ = 1/e < 1 e portanto a s´erie ´e convergente. Nota: a obten¸ca˜o das mesmas conclus˜oes pelo crit´erio da raiz n˜ao ´e simples de concretizar. 89

S´ eries num´ ericas 3. Considere a s´erie num´erica

∞ X 1 . 2 n n=1

A aplica¸c˜ao do crit´erio da raiz origina λ = lim n

√ n

r

1 n2 √ n lim 1 n √ √ = lim n n n n

an = lim n

n

n

= 1. Nada podemos concluir quanto `a natureza da s´erie. As mesmas conclus˜oes resultam da aplica¸c˜ao do crit´erio da raz˜ao.

4.2.9

Convergˆ encia absoluta e convergˆ encia simples

Seja X

an

uma s´erie de termos de sinal qualquer e considere a s´erie dos m´odulos X

|an | .

A s´erie dos m´odulos ´e uma s´erie de termos n˜ao negativos. Para determinar a sua natureza podemos aplicar qualquer um dos crit´erios apresentados anteriormente. Exemplo: Considere a s´erie num´erica ∞ X

an =

n=1

∞ X

(−1)n

n=1

1 = −1 + 1/4 − 1/9 + · · · . n2

A s´erie dos m´odulos ´e neste caso ∞ X

n=1

|an | =

∞ X 1 = 1 + 1/4 + 1/9 + · · · . 2 n n=1

Teorema 4.12 P P Se a s´erie dos m´odulos |an | ´e uma s´erie convergente, ent˜ao a s´erie an ´e tamb´em uma P P s´erie convergente e | an | ≤ |an |.

Este resultado mostra que, se

P

|an | ´e uma s´erie convergente de soma α, ent˜ao

uma s´erie convergente de soma s com s ∈ [−α, α]. Exemplos: 90

P

an ´e

4.2. S´ eries num´ ericas A s´erie num´erica

∞ X

(−1)n

n=1

1 . n2

´e convergente porque a s´erie dos m´odulos ∞ X 1 2 n n=1

´e convergente. No entanto, nada podemos concluir sobre a natureza da s´erie ∞ X

(−1)n

n=1

porque a sua s´erie dos m´odulos

´e uma s´erie divergente. Demonstra¸ c˜ ao -

1 . n

∞ X 1 n n=1

Comecemos por observar que 0 ≤ |an | + an ≤ 2|an | .

P Daqui resulta, pelo crit´erio de compara¸c˜ao, que (|an | + an ) ´e uma s´erie convergente. P P P P Logo, porque an = (|an | + an ) + (−|an |), conclui-se que an ´e convergente. P P Para mostrar que | an | ≤ |an | basta observar que |a1 + a2 + · · · + ak | ≤ |a1 | + |a2 | + · · · + |ak | ,

isto ´e, que

k k X X a ≤ |an | n n=1

para todo o k ∈ N. Logo,

n=1

k k X X lim an ≤ lim |an | , k k n=1

isto ´e,

k k X X an ≤ lim |an | lim k k n=1

e portanto

n=1

n=1

X X an ≤ |an | .

Sabemos que uma s´erie ´e convergente se a sua s´erie dos m´odulos for convergente. Contudo, uma s´erie pode ser convergente mesmo que a s´erie dos m´odulos n˜ao o seja. Importa por isso distinguir estas duas situa¸c˜oes.

91

S´ eries num´ ericas Defini¸ c˜ ao 4.4 (convergˆencia absoluta e convergˆencia simples) P P (a) A s´erie an diz-se absolutamente convergente se a s´erie |an | ´e convergente. P

(b) A s´erie

an diz-se simplesmente convergente se ´e convergente e

P

|an | ´e divergente.

Observa¸ c˜ ao 4.8 Uma s´erie simplesmente convergente tem um n´ umero infinito de termos de sinal negativo e um n´ umero infinito de termos de sinal positivo. Os crit´erios da raz˜ao e da raiz permitem uma adapta¸c˜ao natural a s´eries de termos de sinal qualquer. A formula¸c˜ao do crit´erio da raz˜ao ´e a seguinte. Teorema 4.13 (crit´erio da raz˜ao para s´eries de termos de sinal qualquer) Considere a s´erie num´erica ∞ X

an

onde

n=1

e seja

Se o limite existe, ent˜ao:

an 6= 0

para todo o n ∈ N ,

an+1 . λ = lim n an

(i) A s´erie num´erica ´e absolutamente convergente quando 0 ≤ λ < 1. (ii) A s´erie num´erica ´e divergente quando λ > 1. (iii) Nada se pode concluir sobre a natureza da s´erie num´erica quando λ = 1.

4.2.10

S´ eries alternadas

Estudamos um caso particular de uma s´erie de termos de sinal qualquer. Considere a s´erie num´erica ∞ X

(−1)n−1 an = a1 − a2 + · · ·

onde an > 0

para todo o

n=1

A uma s´erie com estas caracter´ısticas chama-se s´erie alternada.

92

n ≥ 1.

4.2. S´ eries num´ ericas Teorema 4.14 (crit´erio de Leibniz para s´eries alternadas) Considere a s´erie alternada ∞ X

(−1)n−1 an .

n=1

Se a sucess˜ao (an ) ´e decrescente e lim an = 0, ent˜ao a s´erie alternada ´e convergente. E n

ainda, se s ´e a soma da s´erie e sk ´e a soma parcial de ordem k, ent˜ao |s − sk | < ak+1 para todo o k ∈ N. Observa¸ c˜ ao 4.9 A condi¸c˜ao |s − sk | < ak+1 ⇔ |s − (a1 − a2 + · · · + (−1)k−1 ak )| < ak+1 indica que o erro cometido, quando se aproxima a soma s pela soma parcial sk , ´e sempre inferior ao termo ak+1 . A determina¸c˜ao da natureza de uma s´erie alternada envolve os seguintes passos: 1. Determina¸c˜ao da natureza da s´erie dos m´odulos ∞ X

n=1

|(−1)n−1 an | =

∞ X

an .

n=1

Se a s´erie dos m´odulos ´e convergente, ent˜ao a s´erie alternada ´e absolutamente convergente. 2. Aplica¸c˜ao do crit´erio de Leibniz quando a s´erie dos m´odulos ´e divergente. Exemplo: Considere a s´erie alternada A sua s´erie dos m´odulos

∞ X

(−1)n−1

n=1

1 = 1 − 1/2 + · · · . n

∞ X 1 n n=1

´e uma s´erie divergente (s´erie de Dirichlet com α = 1). Por isso, nada se pode concluir directamente sobre a s´erie alternada original. No entanto, porque an+1 − an < 0 para todo o n ∈ N e lim an = 0, conclui-se, aplicando o crit´erio de Leibniz, n

que a s´erie alternada ´e simplesmente convergente.

93

S´ eries num´ ericas

4.2.11

Reordena¸c˜ ao dos termos de uma s´ erie num´ erica

´ claro que n˜ao podemos Apresentamos algumas propriedades finais das s´eries num´ericas. E manipular os termos de uma s´erie num´erica tal como fazemos com os termos de uma soma finita. A t´ıtulo de exemplo, recorde-se o exemplo 2 na p´agina 79. Observamos a seguir que a aplica¸c˜ao da propriedade comutativa aos termos de uma s´erie num´erica pode, em certos casos, alterar a sua soma. Teorema 4.15 P P Seja an uma s´erie absolutamente convergente de soma s. Toda a s´erie num´erica bn P obtida por reordena¸c˜ao dos termos da s´erie an , ´e tamb´em absolutamente convergente e tem soma s.

O teorema anterior indica que a aplica¸c˜ao da propriedade comutativa aos termos de uma s´erie absolutamente convergente, n˜ao altera a sua natureza nem a sua soma. Verifica-se que o mesmo n˜ao acontece se a s´erie ´e apenas simplesmente convergente. Ainda assim, o pr´oximo resultado n˜ao deixa de ser surpreendente. Teorema 4.16 (de Riemann) P Seja an uma s´erie simplesmente convergente e seja b um n´ umero real qualquer. Existe P P outra s´erie num´erica bn , que resulta de uma reordena¸c˜ao dos termos da s´erie an , que ´e simplesmente convergente e tem por soma o n´ umero b.

94

Cap´ıtulo 5 S´ eries de potˆ encias

5.1

Introdu¸c˜ ao

S´erie de potˆencias de x − a, com a ∈ R, ´e toda a s´erie de fun¸c˜oes da forma ∞ X

n=0

an (x − a)n = a0 + a1 (x − a) + a2 (x − a)2 + · · · ,

(5.1)

onde (an ) ´e uma sucess˜ao de n´ umeros reais. Escolhendo a = 0, obt´em-se o caso particular da s´erie de potˆencias de x ∞ X

n=0

an xn = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · .

(5.2)

Ao considerar a mudan¸ca de vari´avel z = x − a, podemos reduzir o estudo da s´erie (5.1) ao estudo da s´erie (5.2). A seguinte pergunta surge assim de forma natural:

Para que valores de x ∈ R, ´e convergente a s´erie num´erica obtida de (5.1)? A resposta a esta pergunta depende ´e claro da sucess˜ao (an ). No entanto, podemos observar que para x = a, no caso de (5.1), ou x = 0, no caso de (5.2), a s´erie num´erica obtida ´e convergente de soma a0 . Para que outros valores de x ∈ R ´e a s´erie num´erica obtida uma s´erie convergente? Apresentamos uma resposta global para esta pergunta na pr´oxima sec¸c˜ao.

95

S´ eries de potˆ encias

5.2

Raio e intervalo de convergˆ encia

Sobre a natureza de uma s´erie de potˆencias de x pode demonstrar-se o seguinte resultado.

Teorema 5.1 Para a s´erie de potˆencias ∞ X

an xn

n=0

ocorre somente uma das seguintes situa¸c˜oes: (a) A s´erie converge absolutamente apenas no ponto x = 0. (b) A s´erie converge absolutamente para todo x ∈ R. (c) Existe um n´ umero r > 0 tal que: (i) A s´erie ´e absolutamente convergente se |x| < r, isto ´e, se x ∈ ] − r, r[. (ii) A s´erie ´e divergente se |x| > r, isto ´e, se x ∈ ] − ∞, −r[ ∪ ]r, +∞[. (iii) Nos pontos x = −r e x = r a natureza da s´erie ´e determinada individualmente. De forma semelhante, no caso da s´erie de potˆencias de x − a ∞ X

n=0

an (x − a)n ,

pode mostrar-se que: (a) Existe um n´ umero r > 0 tal que: (i) A s´erie ´e absolutamente convergente se |x − a| < r, isto ´e, se x ∈ ]a − r, a + r[. (ii) A s´erie ´e divergente se |x − a| > r, isto ´e, se x ∈ ] − ∞, a − r[ ∪ ]a + r, +∞[. (iii) Nos pontos x = a − r e x = a + r a natureza da s´erie tem de ser determinada individualmente.

(b) A s´erie converge absolutamente apenas no ponto x = a (podemos considerar que este caso corresponde a r = 0). (c) A s´erie converge absolutamente para todo x ∈ R (podemos considerar que este caso corresponde a r = +∞).

Ao n´ umero r > 0 chama-se raio de convergˆencia da s´erie de potˆencias. Ao intervalo contendo todos os pontos para os quais a s´erie de potˆencias ´e convergente, chama-se intervalo de convergˆencia da s´erie de potˆencias. 96

5.2. Raio e intervalo de convergˆ encia O raio de convergˆencia r pode determinar-se atrav´es do crit´erio da raz˜ao (nas p´aginas 88 e 92) ou do crit´erio da raiz (na p´agina 88). Para (5.1) e (5.2) a aplica¸c˜ao do crit´erio da raz˜ao conduz a

an , r = lim n an+1

(5.3)

desde que o limite exista. A aplica¸c˜ao do crit´erio da raiz conduz a

desde que o limite exista.

1 , r = lim p n n |an |

Verifica¸c˜ao de (5.3): A s´erie de potˆencias de x ∞ X

an xn ,

n=0

com x 6= 0 e an 6= 0 para todo o n ∈ N, ser´a absolutamente convergente se x ´e tal que an+1 xn+1 1, λ = lim n an xn

isto ´e, se

an . |x| > lim n an+1

E nada se pode concluir pela aplica¸c˜ao do crit´erio da raz˜ao se an . |x| = lim n an+1

Conclu´ımos que o n´ umero r a existir tem de ser igual ao limite an lim n an+1

N˜ao ´e poss´ıvel `a partida adiantar qual a natureza de uma determinada s´erie de potˆencias nos pontos x = a − r e x = a + r, tornando-se necess´ario efectuar separadamente o estudo de cada ponto.

97

S´ eries de potˆ encias Exemplos: 1. Considere a s´erie de potˆencias de x ∞ X n2 n x . 2n n=0

O raio de convergˆencia da s´erie ´e r = 2. De facto, 1 r = lim p n n |an | 1 = lim q n

n

n2 2n

2 = lim √ n ( n n)2 = 2.

Primeiras conclus˜oes: • A s´erie de potˆencias ´e absolutamente convergente para todo o x ∈ ] − 2, 2[; • A s´erie de potˆencias ´e divergente para todo o x ∈ ] − ∞, −2[ ∪ ]2, +∞[. Determina¸c˜ao da natureza da s´erie nos pontos x = −2 e x = 2. Quando x = 2, tem-se a s´erie num´erica ∞ X n2 . n=0

Esta s´erie ´e divergente, pois lim n2 6= 0. Para x = −2, obt´em-se a s´erie alternada n

∞ X

(−1)n n2 .

n=0

Acab´amos de ver que a s´erie dos m´odulos ´e divergente. A s´erie alternada tamb´em ´e divergente dado que lim(−1)n n2 n˜ao existe. As conclus˜oes finais s˜ao: n

• A s´erie de potˆencias ´e absolutamente convergente se x ∈ ] − 2, 2[; • A s´erie de potˆencias ´e divergente para todos os outros valores reais de x; • O intervalo de convergˆencia ´e ] − 2, 2[. 2. Considere a s´erie de potˆencias de x ∞ X xn . n2 n=1

O raio de convergˆencia da s´erie ´e r = 1. De facto, an r = lim n an+1  2 n+1 = lim n n = 1. 98

5.2. Raio e intervalo de convergˆ encia Quando x = 1, tem-se a s´erie num´erica convergente ∞ X 1 . n2 n=1

Quando x = −1, obt´em-se a s´erie alternada absolutamente convergente ∞ X

(−1)n

n=1

1 . n2

As conclus˜oes finais s˜ao: • A s´erie de potˆencias ´e absolutamente convergente se x ∈ [−1, 1]; • A s´erie de potˆencias ´e divergente para todos os outros valores reais de x; • O intervalo de convergˆencia ´e [−1, 1]. 3. Considere a s´erie de potˆencias de x ∞ X xn . n n=1

O raio de convergˆencia da s´erie ´e r = 1. Para x = 1 ´e gerada a s´erie num´erica ∞ X 1 n n=1

que ´e divergente. Para x = −1 ´e gerada a s´erie alternada ∞ X

(−1)n

n=1

1 . n

A aplica¸c˜ao do crit´erio de Leibniz permite concluir que esta ´e convergente. As conclus˜oes finais s˜ao: • A s´erie de potˆencias ´e absolutamente convergente se x ∈ ] − 1, 1[; • A s´erie de potˆencias ´e simplesmente convergente se x = −1; • A s´erie de potˆencias ´e divergente sempre que x ∈ ] − ∞, −1[ ∪ [1, +∞[; • O intervalo de convergˆencia ´e [−1, 1[. 4. Considere a s´erie de potˆencias de x ∞ X x2n . 2n n=1

O raio de convergˆencia da s´erie, resulta da determina¸c˜ao do conjunto solu¸ca˜o da inequa¸c˜ao

bn+1 0 e f (x) =

∞ X

n=0

ent˜ao:

an (x − a)n

an (x − a)n

para todo o x ∈ ]a − r, a + r[ ,

101

S´ eries de potˆ encias (i) f ´e uma fun¸c˜ao cont´ınua no intervalo ]a − r, a + r[ ; (ii) A s´erie de potˆencias

∞ X

n=1

tem raio de convergˆencia r e

n an (x − a)n−1

∞ X

f ′ (x) =

n=1

(iii) A s´erie de potˆencias

n an (x − a)n−1 ;

∞ X an (x − a)n+1 n + 1 n=0

tem raio de convergˆencia r e Z x ∞ X an f (t) dt = (x − a)n+1 . n + 1 a n=0 O ponto (ii) no teorema anterior permite concluir que ∞ ∞ ∞ X X d X d d an (x − a)n = an (x − a)n = an (x − a)n , dx n=0 dx dx n=0 n=1

isto ´e, mostra que ´e poss´ıvel calcular a derivada de uma s´erie de potˆencias no interior do intervalo de convergˆencia, isto ´e, no intervalo ]a − r, a + r[, derivando termo a termo a

s´erie de potˆencias. Este resultado mostra que ´e poss´ıvel derivar termo a termo uma s´erie de potˆencias no intervalo ]a − r, a + r[. Ou seja, se f (x) =

∞ X

n=0

an (x − a)n = a0 + a1 (x − a) + · · · + ak (x − a)k + · · ·

no intervalo ]a − r, a + r[, ent˜ao ′

f (x) =

∞ X

n=0

n

an (x − a)

!′

′ = a0 + a1 (x − a) + · · · + ak (x − a)k + · · · ′ = (a0 )′ + (a1 (x − a))′ + · · · + ak (x − a)k + · · · = a1 + 2 a2 (x − a) + · · · + k ak (x − a)k−1 + · · · =

∞ X

n=1

n an (x − a)n−1 .

O ponto (iii) do teorema anterior permite concluir que !  Z x X Z x ∞ ∞  X n n an (t − a) dt = an (t − a) dt , a

102

n=0

n=0

a

5.3. Propriedades das s´ eries de potˆ encias isto ´e, mostra que se pode primitivar e calcular o integral de uma s´erie de potˆencias no intervalo [a, x], com x ∈ ]a − r, a + r[, integrando termo a termo a s´erie de potˆencias. Ou seja, se

f (x) =

∞ X

n=0

an (x − a)n = a0 + a1 (x − a) + · · · + ak (x − a)k + · · ·

no intervalo ]a − r, a + r[, ent˜ao Z x Z xX ∞ f (t) dt = an (t − a)n dt a

a n=0 x

Z

 a0 + a1 (t − a) + · · · + ak (t − a)k + · · · dt Zax Z x Z x = a0 dt + a1 (t − a) dt + · · · + ak (t − a)k dt + · · · =

a

a

= a0 (x − a) + =

a

a1 ak (x − a)2 + · · · + (x − a)k+1 + · · · 2 k+1

∞ X an (x − a)n+1 . n + 1 n=0

O Teorema 5.2 tamb´em permite concluir, aplicando sucessivamente o ponto (ii), que, se f (x) =

∞ X

n=0

an (x − a)n

no intervalo ]a − r, a + r[, ent˜ao a fun¸c˜ao f ´e infinitamente diferenci´avel no intervalo ]a − r, a + r[ e todas as suas derivadas tˆem representa¸c˜ao em s´erie de potˆencias. Tem-se para a primeira derivada ′

k−1

f (x) = a1 + 2 a2 (x − a) + · · · + k ak (x − a)

+ ··· =

para a segunda derivada f ′′ (x) = 2 a2 + · · · + k (k − 1) ak (x − a)k−2 + · · · =

∞ X

n=2

∞ X

n=1

n an (x − a)n−1 ,

n(n − 1) an (x − a)n−2 ,

e de modo semelhante para todas as derivadas de ordem superior de f . Substituindo a vari´avel x pelo n´ umero a, podemos observar que f ′ (a) = a1 , f ′′ (a) = 2 a2 , e aplicando idˆentico racioc´ınio que f (k) (a) = k! ak para todo o k ∈ N. Logo, deduzimos que ak =

f (k) (a) , k!

para todo o k ∈ N .

Esta f´ormula ´e v´alida para k = 0 se denotarmos f (a) por f (0) (a). Estas dedu¸co˜es permitem concluir que a representa¸c˜ao de f , em s´erie de potˆencias de x − a, ´e u ´nica e tem a seguinte express˜ao f (x) =

∞ X f (n) (a) (x − a)n n! n=0

para todo o

x ∈ ]a − r, a + r[ .

(5.4)

103

S´ eries de potˆ encias Exemplo: Considere a fun¸c˜ao ∞ X xn x2 x3 f (x) = =x+ + + ··· . n 2 3 n=1

O raio de convergˆencia da s´erie ´e r = 1. A s´erie ´e divergente para x = 1 e convergente (simplesmente) quando x = −1. O intervalo de convergˆencia ´e pois

[−1, 1[. Ao derivar termo a termo a s´erie de potˆencias no interior do intervalo de convergˆencia, no intervalo ] − 1, 1[, obt´em-se  ′  2 ′ ∞ X x2 x3 x ′ f (x) = x + + + · · · = (x) + + · · · = 1 + x + x2 + · · · = xn−1 2 3 2 n=1 ′

que ´e tamb´em uma s´erie de potˆencias com raio de convergˆencia r = 1. Integrando termo a termo a s´erie original no intervalo ] − 1, 1[, temos F (x) =

Z

0

∞ X xn+1 t dt = n n (n + 1) n=1 n=1

∞ n xX

express˜ao que ´e v´alida para todo o x ∈ ] − 1, 1[. Pergunta (B) Verific´amos na u ´ltima sec¸c˜ao que uma fun¸c˜ao tem de ser infinitamente diferenci´avel numa vizinhan¸ca do ponto a, para que possa admitir uma representa¸c˜ao em s´erie de potˆencias de x − a. Fica claro que nem todas as fun¸c˜oes podem admitir representa¸c˜ao em s´erie de

potˆencias. E ainda, se essa representa¸c˜ao de f existe numa vizinhan¸ca de um ponto a, ent˜ao ela tem de ter a forma descrita em (5.4). Suponhamos agora que f ´e uma fun¸c˜ao infinitamente diferenci´avel na vizinhan¸ca do ponto a ∈ R. Podemos construir a s´erie de potˆencias ∞ X f (n) (a) (x − a)n n! n=0

(5.5)

que ´e designada por s´erie de Taylor de f no ponto a. Em que condi¸c˜oes podemos afirmar que a s´erie de Taylor gerada por f representa de facto a fun¸c˜ao, isto ´e, em que condi¸c˜oes se tem ∞ X f (n) (a) (x − a)n , f (x) = n! n=0 para valores de x num intervalo real de centro no ponto a? O pr´oximo teorema apresenta uma resposta.

104

5.3. Propriedades das s´ eries de potˆ encias Teorema 5.3 Seja f uma fun¸c˜ao infinitamente diferenci´avel no intervalo aberto ]a − r, a + r[. Se existe

uma constante positiva c tal que |f (n) (x)| ≤ cn para todo o n ∈ N e para todo o x ∈ ]a − r, a + r[, ent˜ao a s´erie de Taylor gerada por f , em (5.5), converge para f (x) qualquer que seja x ∈ ]a − r, a + r[.

O resultado anterior permite mostrar que: • sin x = x −

∞ X x3 x5 x7 x2k−1 x2n−1 + − + · · · + (−1)k−1 + ··· = (−1)n−1 3! 5! 7! (2k − 1)! (2n − 1)! n=1

para todo o x ∈ R. ∞ 2k X x2 x4 x2n k x • cos x = 1 − + − · · · + (−1) + ··· = (−1)n 2! 4! (2k)! (2n)! n=0

para todo o x ∈ R. Uma outra representa¸c˜ao importante em s´erie de potˆencias de x ´e a representa¸ca˜o da exponencial ex , ∞ X x2 xk xn ex = 1 + x + + ···+ + ··· = 2! k! n! n=0

que ´e v´alida para todo o x ∈ R. Para deduzir a express˜ao anterior podemos optar por seguir os seguintes passos: 1. Mostrar que a s´erie de potˆencias ´e absolutamente convergente para todo o x ∈ R (o mesmo acontece para f ′ ).

2. Verificar que f ´e tal que f ′ (x) = f (x) para todo o x ∈ R. 3. Determinar a solu¸c˜ao da equa¸c˜ao diferencial obtida no passo anterior, para obter o resultado pretendido. Exerc´ıcio 5.2 ∞ X Considere a s´erie de potˆencias xn . n=0

(a) Determine o intervalo de convergˆencia da s´erie de potˆencias. (b) Mostre que

∞ X

n=0

xn =

1 para todo x ∈ ] − 1, 1[. 1−x

(c) Determine uma representa¸c˜ao em s´erie de potˆencias de x, no intervalo ] − 1, 1[, de 1 1 1 cada fun¸c˜ao: (i) f (x) = , (ii) g(x) = , (iii) h(x) = . 2 1+x 1−x (1 − x)2

105

Referˆencias bibliogr´aficas [1] Howard Anton. C´ alculo - um novo horizonte, volume 1. Bookman. [2] Tom M. Apostol. Calculus. Vol. I: One-variable calculus, with an introduction to linear algebra. Second edition. John Wiley & Sons Inc., 1967. 75 [3] Earl A. Coddington and Norman Levinson. Theory of ordinary differential equations. McGraw-Hill Book Company, Inc., New York-Toronto-London, 1955. [4] F. R. Dias Agudo. An´ alise Real, volume III. Escolar Editora, 1992. [5] H. L. Guidorizzi. Um curso de c´ alculo, volume 1. Livros t´ecnicos e cient´ıficos editora. [6] R. Larson, R. P. Hostetler, and B. H. Edwards. C´ alculo, volume 1. McGraw-Hill.

107

´Indice alfab´etico de vari´aveis separadas, 64

A

Anton, 107

forma normal, 57

aplica¸c˜oes do integral definido, 32, 35, 38

homog´enea de grau zero, 66

Apostol, 107

integral geral, 58

´area de regi˜oes planas, 32

linear de primeira ordem, 60 homog´enea, 60

C

ordem, 57

Coddington, 107

solu¸c˜ao, 57

comprimento do arco de uma curva, 38

solu¸c˜ao geral, 58

condi¸c˜ao necess´aria de convergˆencia, 82

solu¸c˜ao particular, 58

convergˆencia absoluta, 92

solu¸c˜ao singular, 58

convergˆencia simples, 92

equa¸c˜ao diferencial ordin´aria, ver EDO

crit´erio da raiz, 88 crit´erio da raz˜ao, 88, 92

F

crit´erio de compara¸c˜ao, 84

factor integrante, 60

crit´erio de compara¸c˜ao limite, 85

frac¸c˜oes racionais, 14

crit´erio de Leibniz, 93

simples, 14

crit´erio do integral, 87

fun¸c˜ao racional, 13 decomposi¸c˜ao, 14

D

impr´opria, 13

∆, ver decomposi¸c˜ao de [a, b]

pr´opria, 13

∆xi , 19 decomposi¸c˜ao de [a, b], 19 diˆametro, 19

G

Guidorizzi, 107

representa¸c˜ao, 19 Dias Agudo, 107

H

Hostetler, 107 E

EDO, ver equa¸c˜ao diferencial

I

Edwards, 107

integra¸c˜ao por partes, 30

equa¸c˜ao diferencial, 55

integra¸c˜ao por substitui¸c˜ao, 30

de Bernoulli, 68

integrais impr´oprios

de vari´aveis separ´aveis, 63

de fun¸c˜oes n˜ao limitadas, 45 109

´ Indice alfab´ etico em intervalos n˜ao limitados, 43 integral de Riemann, ver integral definido integral definido, 23 existˆencia, 24 extremos de integra¸c˜ao, 23 fun¸c˜ao integranda, 23 integral indefinido, 40

S

S(f, Z ∆), ver soma de Riemann f (x) dx, 2 Z b f (x) dx, 23 a

s´erie, 75

alternada, 92 crit´erio de Leibniz, 93

L

convergente, 76

Larson, 107

de Dirichlet, 81

Levinson, 107

divergente, 76

M

m´etodo do factor integrante, 60 m´etodo dos coeficientes indeterminados, 15 P

dos m´odulos, 90 Geom´etrica, 78 Harm´onica, 81 natureza, 76 soma, 76 Telesc´opica, 79

primitiva, 1 existˆencia, 3

s´erie de potˆencias de x, 95

primitiva¸c˜ao de fun¸c˜oes racionais, 13 imediata, 4 regra da potˆencia, 5 por decomposi¸c˜ao, 4

de x − a, 95

fun¸c˜ao soma, 101 intervalo de convergˆencia, 96 raio de convergˆencia, 96

por partes, 7

s´erie de Taylor de f no ponto a, 104

por substitui¸c˜ao, 10

s´erie num´erica, ver s´erie

problema de valores iniciais, 59 progress˜ao aritm´etica, 74

soma de Riemann, 20 significado geom´etrico, 20 sucess˜ao, 71

raz˜ao, 74 soma de k termos consecutivos, 74 progress˜ao geom´etrica, 74

convergente, 73 crescente, 71

raz˜ao, 74

decrescente, 72

soma de k termos consecutivos, 75

divergente, 73 limitada, 72

R

regra de Simpson, 51 composta, 51 estendida, 52

limite, 73 termo geral, 71 termos, 71 sucess˜ao das somas parciais, 76

regra dos trap´ezios, 47 composta, 48 estendida, 49 110

T

teorema de Riemann, 94

´ Indice alfab´ etico teorema fundamental do c´ alculo, 24 V

volume de s´olidos de revolu¸c˜ao, 35

111

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