Analise Matematica I
March 22, 2017 | Author: ivete140 | Category: N/A
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ANÁLISE MATEMÁTICA I
TEORIA E EXERCÍCIOS ANA SÁ BENTO LOURO
2003
´Indice 1 No¸co ˜es Topol´ ogicas, Indu¸c˜ ao Matem´ atica e Sucess˜ oes 1.1 No¸co˜es topol´ogicas em R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.2 Indu¸ca˜o matem´atica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1.3 Sucess˜oes de n´ umeros reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 Fun¸co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade 2.1 Generalidades sobre fun¸co˜es reais de vari´avel real . . . . . . . . . . . . 2.2 Limites. Limites relativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 Continuidade: propriedades das fun¸co˜es cont´ınuas. Teorema de Bolzano 2.4 Continuidade uniforme . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3 Fun¸co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial 3.1 Derivadas. Regras de deriva¸ca˜o. . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. 3.3 Indetermina¸co˜es . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.4 Teorema de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.5 Aplica¸co˜es da f´ormula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Fun¸co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸c˜ ao 4.1 Primitivas imediatas . . . . . . . . . . . . . . . 4.2 Primitiva¸ca˜o por partes e por substitui¸ca˜o . . . 4.3 Primitiva¸ca˜o de fun¸co˜es racionais . . . . . . . . 4.4 Primitiva¸ca˜o de fun¸co˜es alg´ebricas irracionais . 4.5 Primitiva¸ca˜o de fun¸co˜es transcendentes . . . . .
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1 1 5 7
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13 13 16 23 30
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37 37 46 52 57 61
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67 67 72 75 85 91
5 Fun¸co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral 5.1 Integral de Riemann: Defini¸ca˜o e propriedades . . . 5.2 Classes de fun¸co˜es integr´aveis . . . . . . . . . . . . 5.3 Teoremas Fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . ´ 5.4 Areas de figuras planas . . . . . . . . . . . . . . . . 5.5 Integrais impr´oprios . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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95 95 104 106 108 113
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´ INDICE
ii
6 Exerc´ıcios 6.1 Fun¸co˜es Trigonom´etricas Inversas . . . . . . . . 6.2 No¸co˜es Topol´ogicas . . . . . . . . . . . . . . . . 6.3 Indu¸ca˜o Matem´atica . . . . . . . . . . . . . . . 6.4 Sucess˜oes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.5 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.6 Continuidade Uniforme . . . . . . . . . . . . . . 6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange 6.8 F´ormula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . 6.9 Estudo de uma fun¸ca˜o . . . . . . . . . . . . . . 6.10 Primitiva¸ca˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.11 Integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.12 C´alculo de a´reas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6.13 Integrais Impr´oprios . . . . . . . . . . . . . . .
. . . . . . e . . . . . .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cauchy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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139 . 139 . 142 . 145 . 146 . 152 . 155 . 157 . 163 . 165 . 168 . 173 . 177 . 178
Cap´ıtulo 1 No¸co ˜es Topol´ ogicas, Indu¸c˜ ao Matem´ atica e Sucess˜ oes 1.1
No¸co ˜es topol´ ogicas em R
Defini¸c˜ ao 1.1.1 Sejam a ∈ R, ε > 0. Chama-se vizinhan¸ ca ε de a ao conjunto V ε (a) = ]a − ε, a + ε[. Defini¸c˜ ao 1.1.2 Sejam a ∈ R e A um conjunto de n´ umeros reais. Diz-se que a ´e interior a A se existir uma vizinhan¸ca de a contida em A. Diz-se que a ´e fronteiro a A se toda a vizinhan¸ca de a intersecta A e R \ A. Diz-se que a ´e exterior a A se existir uma vizinhan¸ca de a contida em R \ A. NOTA: Um ponto ´e exterior a A se, e s´o se, ´e interior a R \ A. Defini¸c˜ ao 1.1.3 O conjunto dos pontos interiores a A chama-se interior de A e representa-se por int(A). O conjunto dos pontos exteriores a A chama-se exterior de A e representa-se por ext(A). O conjunto dos pontos fronteiros a A chama-se fronteira de A e representa-se por fr(A). NOTA: Qualquer que seja A ⊂ R tem-se: int(A) ∩ ext(A) = ∅, int(A) ∩ fr(A) = ∅, fr(A) ∩ ext(A) = ∅ e int(A) ∪ fr(A) ∪ ext(A) = R. EXEMPLO 1: Sejam A =]0, 1], B = [0, 1], C = [0, 1[, D =]0, 1[. Ent˜ao int(A) = int(B) = int(C) = int(D) =]0, 1[, fr(A) = fr(B) = fr(C) = fr(D) = {0, 1}, ext(A) = ext(B) = ext(C) = ext(D) =] − ∞, 0[∪]1, +∞[. ¾ ½ 1 , n ∈ N . Ent˜ao int(A) = ∅, ext(A) = R \ (A ∪ {0}) e EXEMPLO 2: Seja A = n fr(A) = A ∪ {0}. EXEMPLO 3: Seja A = Q. Ent˜ao int(A) = ext(A) = ∅, fr(A) = R.
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1. No¸ co ˜es Topol´ ogicas, Indu¸ c˜ ao Matem´ atica e Sucess˜ oes
Defini¸c˜ ao 1.1.4 Seja A um subconjunto de R. Diz-se que A ´e aberto se A = int(A). Defini¸c˜ ao 1.1.5 Seja A um subconjunto de R. Chama-se fecho ou aderˆ encia de A ao conjunto A = A ∪ fr(A). Diz-se que x ´e aderente a A se x ∈ A. A diz-se fechado se A = A. NOTAS: 1. Das defini¸co˜es, conclui-se facilmente que A = int(A) ∪ fr(A). 2. A ´e fechado se, e s´o se, fr(A) ⊂ A. 3. A ´e fechado se, e s´o se, R \ A ´e aberto, isto ´e, R \ A = int(R \ A) = ext(A). EXEMPLO 1: Sejam A =]0, 1], B = [0, 1], C = [0, 1[, D =]0, 1[. B ´e fechado, D ´e aberto, A e C n˜ao s˜ao fechados nem abertos. ½ ¾ 1 EXEMPLO 2: A = , n ∈ N n˜ao ´e fechado nem aberto (note que fr(A) = A ∪ {0}). n ½ ¾ 1 EXEMPLO 3: A = , n ∈ N ∪ {0} ´e fechado. n Defini¸c˜ ao 1.1.6 Sejam a ∈ R e A um subconjunto de R. Diz-se que a ´e ponto de acumula¸ ca ˜o de A se toda a vizinhan¸ca de a intersecta A \ {a}. Ao conjunto dos pontos de acumula¸ca˜o de A chama-se derivado de A. Diz-se que a ´e ponto isolado de A se a ∈ A e existe uma vizinhan¸ca de a que n˜ao intersecta A \ {a}. EXEMPLO 1: Seja A = de A s˜ao isolados.
½
¾ 1 , n ∈ N . 0 ´e ponto de acumula¸ca˜o de A. Todos os pontos n
EXEMPLO 2: Seja A = [0, 1[∪{2}. O conjunto dos pontos de acumula¸ca˜o de A ´e [0, 1]. 2 ´e ponto isolado de A. NOTA: Se a ∈ int(A), ent˜ao a ´e ponto de acumula¸ca˜o de A. Defini¸c˜ ao 1.1.7 Sejam x ∈ R e A um subconjunto de R. Diz-se que x ´e majorante de A se x ≥ a, ∀a ∈ A. Diz-se que x ´e minorante de A se x ≤ a, ∀a ∈ A. Defini¸c˜ ao 1.1.8 Seja A um subconjunto de R. Diz-se que A ´e majorado se admitir majorantes. Diz-se que A ´e minorado se admitir minorantes. Se A for majorado e minorado, diz-se que A ´e limitado.
1.1 No¸ co ˜es topol´ ogicas em R
3
EXEMPLO 1: A = {x ∈ R : x2 < 1} ´e limitado. EXEMPLO 2: ] − ∞, 1[ ´e majorado. EXEMPLO 3: [1, +∞[ ´e minorado. EXEMPLO 4: A = {x ∈ R : |x| > 1} n˜ao ´e majorado nem minorado. Teorema 1.1.1 A ´e limitado se, e s´o se, ∃M > 0, |x| ≤ M, ∀x ∈ A. Demonstra¸ca˜o: Se A for limitado, sejam ν um minorante de A e µ um majorante de A; se M for o maior dos dois n´ umeros |ν| e |µ|, ent˜ao |x| ≤ M, ∀x ∈ A (se µ = ν = 0, toma-se M > 0, qualquer). Reciprocamente, se ∃M > 0, |x| ≤ M, ∀x ∈ A, isto ´e, −M ≤ x ≤ M, ∀x ∈ A, ent˜ao M ´e majorante de A e −M ´e minorante de A. Defini¸c˜ ao 1.1.9 Seja A um subconjunto majorado de R. Diz-se que β ´e o supremo de A se β for majorante de A e for menor que todos os outros majorantes de A (isto ´e, se β for o menor dos majorantes de A); representa-se por β = sup(A). Se β, supremo de A, pertencer a A, diz-se que β ´e o m´ aximo de A; neste caso, representa-se por β = max(A). Defini¸c˜ ao 1.1.10 Seja A um subconjunto minorado de R. Diz-se que α ´e o ´ınfimo de A se α for minorante de A e for maior que todos os outros minorantes de A (isto ´e, se α for o maior dos minorantes de A); representa-se por α = inf(A). Se α, ´ınfimo de A, pertencer a A, diz-se que α ´e o m´ınimo de A; neste caso, representa-se por α = min(A). EXEMPLO 1: Seja A = {x ∈ R : x2 < 1}. Ent˜ao inf(A) = −1 e sup(A) = 1. A n˜ao tem m´aximo nem m´ınimo. EXEMPLO 2: Seja A =] − 1, 1]. Ent˜ao inf(A) = −1 e sup(A) = max(A) = 1. EXEMPLO 3: sup(] − ∞, 1[) = 1. N˜ao existe ´ınfimo deste conjunto. Teorema 1.1.2 Em R, todo o conjunto majorado tem supremo e todo o conjunto minorado tem ´ınfimo. N˜ao daremos aqui a demonstra¸ca˜o do Teorema. Isso levar-nos-ia a um estudo mais profundo do conjunto dos n´ umeros reais, que n˜ao est´a nos prop´ositos deste curso. Teorema 1.1.3 Seja A um subconjunto de R. Ent˜ao β = sup(A) se, e s´o se, β ´e majorante de A e ∀ε > 0, ∃x ∈ A : x > β − ε. Analogamente, α = inf(A) se, e s´o se, α ´e minorante de A e ∀ε > 0, ∃x ∈ A : x < α + ε.
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1. No¸ co ˜es Topol´ ogicas, Indu¸ c˜ ao Matem´ atica e Sucess˜ oes
Demonstra¸ca˜o: Demonstraremos a propriedade para o supremo. Para o ´ınfimo proceder-se-ia de modo an´alogo. Vamos primeiro demonstrar que se β = sup(A) ent˜ao β ´e majorante de A e ∀ε > 0, ∃x ∈ A : x > β − ε. F´a-lo-emos pela contra-rec´ıproca, isto ´e, negando a tese chegaremos a` nega¸ca˜o da hip´otese (trata-se da bem conhecida proposi¸ca˜o da l´ogica formal A ⇒ B equivalente a ∼ B ⇒ ∼ A). Se β n˜ao for majorante de A, β n˜ao ´e o supremo de A (defini¸ca˜o de supremo) e o problema fica resolvido. Se ∃ε > 0, ∀x ∈ A, x ≤ β−ε, ent˜ao β n˜ao ´e o supremo de A visto que β − ε ´e majorante de A e β − ε < β. Reciprocamente, vamos mostrar que se β ´e majorante de A e ∀ε > 0, ∃x ∈ A : x > β − ε, ent˜ao β = sup(A). Usamos, de novo, a contra-rec´ıproca. Se β n˜ao for o supremo de A, ent˜ao ou n˜ao ´e majorante ou ´e majorante mas existe, pelo menos, outro majorante de A menor que β. No u ´ltimo caso, seja γ esse majorante. Ent˜ao, fazendo ε = β − γ (> 0) temos ∀x ∈ A, x ≤ γ = β − ε, que ´e a nega¸ca˜o da hip´otese.
1.2 Indu¸ c˜ ao matem´ atica
1.2
5
Indu¸c˜ ao matem´ atica
Para demonstrar que certas propriedades s˜ao v´alidas no conjunto dos n´ umeros naturais, N, usa-se o Princ´ıpio de Indu¸c˜ ao Matem´ atica que passamos a enunciar: Uma propriedade ´e v´alida para todos os n´ umeros naturais se: 1. A propriedade ´e v´alida para n = 1, 2. Para todo o n natural, se a propriedade ´e v´alida para n, ent˜ao ela ´e v´alida para n + 1. EXEMPLO 1:Vamos mostrar, usando o Princ´ıpio de Indu¸ca˜o Matem´atica, a f´ormula da soma de uma progress˜ao geom´etrica: se a 6= 1 ent˜ao
n X
1 − an a =a , 1−a p=1
∀n ∈ N
p
1−a . 1−a 2. Se admitirmos que a propriedade ´e v´alida para n, ent˜ao: µ ¶ n+1 n X X 1 − an 1 − an n+1 n p p n+1 +a =a +a = a = a +a =a 1−a 1−a p=1 p=1
1. Se n = 1, a f´ormula ´e trivial: a = a1 = a
1 − an + an − an+1 1 − an+1 =a 1−a 1−a EXEMPLO 2: Usando o Princ´ıpio de Indu¸ca˜o Matem´atica, vamos demonstrar a seguinte igualdade (Bin´omio de Newton): =a
n X
n
(a + b) =
n
∀a, b ∈ R, ∀n ∈ N
Cp an−p bp ,
p=0
1) Se n = 1, a propriedade ´e v´alida: a + b = 1 C0 a + 1 C1 b. 2) Vamos agora admitir que a propriedade ´e v´alida para n; ent˜ao (a + b)
n+1
n
= (a + b) (a + b) = (a + b)
n X
n
Cp an−p bp =
p=0
=
n X
n
Cp a
n+1−p p
b +
=
n X p=0
n
Cp an−p bp+1 =
p=0
p=0
(fazendo p + 1 = s)
n X
n
Cp a
n+1−p p
b +
n+1 X s=1
n
Cs−1 an−s+1 bs =
6
1. No¸ co ˜es Topol´ ogicas, Indu¸ c˜ ao Matem´ atica e Sucess˜ oes
(como s ´e vari´avel muda, podemos substitu´ı-la por p) =
n X
n
Cp a
n+1−p p
b +
p=0
=a
n+1
+
n+1 X
n
p=1
n X
n
Cp a
n+1−p p
b +b
n+1
=a
+
n X
n
Cp−1 an−p+1 bp =
p=1
p=1
n+1
Cp−1 an−p+1 bp =
+b
n+1
+
n X
( n Cp + n Cp−1 ) an+1−p bp =
p=1
=a
n+1
+b
n+1
+
n X
n+1
Cp an+1−p bp =
p=1
=
n+1 X p=0
n+1
Cp an+1−p bp
1.3 Sucess˜ oes de n´ umeros reais
1.3
7
Sucess˜ oes de n´ umeros reais
Defini¸c˜ ao 1.3.1 Chama-se sucess˜ ao de n´ umeros reais a toda a aplica¸ca˜o de N em R. Os elementos do contradom´ınio chamam-se termos da sucess˜ao. Ao contradom´ınio chama-se conjunto dos termos da sucess˜ao. ´ usual designarem-se os termos da sucess˜ao por un , em detrimento da nota¸ca˜o NOTA: E u(n), habitual para as aplica¸co˜es em geral. Defini¸c˜ ao 1.3.2 A express˜ao designat´oria que define a sucess˜ao chama-se termo geral da sucess˜ao. EXEMPLO 1: un = n2 EXEMPLO 2: un = cos(n). ´ o caso da defini¸ca˜o NOTA: Podem-se definir sucess˜oes sem explicitar o termo geral. E por recorrˆencia. Exemplo: u1 = 1, u2 = 2, un+2 = un+1 + un (sucess˜ao dos n´ umeros de Fibonacci). Por vezes d˜ao-se apenas alguns termos da sucess˜ao que induzem o leitor a “inferir” os restantes. Exemplo: 1, 1, 2, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4, . . . Defini¸c˜ ao 1.3.3 Uma sucess˜ao diz-se limitada superiormente se o conjunto dos seus termos for majorado; diz-se limitada inferiormente se o conjunto dos seus termos for minorado; diz-se limitada se o conjunto dos seus termos for limitado. EXEMPLO 1: un = n2 ´e limitada inferiormente, mas n˜ao superiormente. EXEMPLO 2: un = −n ´e limitada superiormente, mas n˜ao inferiormente. EXEMPLO 3: un = (−n)n n˜ao ´e limitada superiormente nem inferiormente. EXEMPLO 4: un = cos(n) ´e limitada. Defini¸c˜ ao 1.3.4 Dadas duas sucess˜oes de n´ umeros reais u e v, chama-se soma, diferen¸ ca e produto de u e v `as sucess˜oes u+v, u−v e uv de termos gerais, respectivamente, un + vn , un − vn e un vn . Se vn 6= 0, ∀n ∈ N, chama-se sucess˜ao quociente de u e v `a sucess˜ao u/v de termo geral un /vn . Defini¸c˜ ao 1.3.5 Uma sucess˜ao u diz-se crescente se un ≤ un+1 , ∀n ∈ N; diz-se estritamente crescente se un < un+1 , ∀n ∈ N; diz-se decrescente se un ≥ un+1 , ∀n ∈ N; diz-se estritamente decrescente se un > un+1 , ∀n ∈ N; diz-se mon´ otona se for crescente ou decrescente; diz-se estritamente mon´ otona se for estritamente crescente ou estritamente decrescente.
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1. No¸ co ˜es Topol´ ogicas, Indu¸ c˜ ao Matem´ atica e Sucess˜ oes
EXEMPLO 1: un = n2 ´e estritamente crescente. EXEMPLO 2: un = −n ´e estritamente decrescente. EXEMPLO 3: un = (−n)n n˜ao ´e mon´otona. Dadas duas sucess˜oes u e v, se v ´e uma sucess˜ao de n´ umeros naturais, a composi¸ca˜o u ◦ v ainda ´e uma sucess˜ao, de termo geral uvn . Por exemplo, se u ´e a sucess˜ao 1, 2, 1, 3, 1, 4, . . . e vn = 2n − 1, ent˜ao uvn = 1; se zn = 2n, ent˜ao uzn = n + 1; se sn = 4, ent˜ao usn = 3. Defini¸c˜ ao 1.3.6 Dadas duas sucess˜oes u e w, dizemos que w ´e subsucess˜ ao de u se existir v, sucess˜ao de n´ umeros naturais, estritamente crescente, tal que w = u ◦ v. EXEMPLOS: Das sucess˜oes consideradas anteriormente, u ◦ v e u ◦ z s˜ao subsucess˜oes de u, mas u ◦ s n˜ao ´e subsucess˜ao de u. NOTAS: 1. Toda a subsucess˜ao de uma sucess˜ao limitada ´e limitada. 2. Uma sucess˜ao pode n˜ao ser limitada e ter subsucess˜oes limitadas. Exemplo: ( n, se n par 1 un = , se n ´ımpar n 3. Toda a subsucess˜ao de uma sucess˜ao mon´otona ´e mon´otona. Defini¸c˜ ao 1.3.7 Diz-se que a sucess˜ao u ´e um infinitamente grande (ou que tende para +∞), e representa-se un → +∞, se ∀L ∈ R+ , ∃p ∈ N : n > p ⇒ un > L. Diz-se que u ´e um infinitamente grande em m´ odulo se |un | → +∞, isto ´e, ∀L ∈ R+ , ∃p ∈ N : n > p ⇒ |un | > L. Diz-se que u tende para −∞, e representa-se un → −∞, se ∀L ∈ R+ , ∃p ∈ N : n > p ⇒ un < −L. EXEMPLO 1: un = n2 → +∞. EXEMPLO 2: un = −n → −∞. EXEMPLO 3: Seja un = (−n)n . Ent˜ao |un | = nn → +∞.
1.3 Sucess˜ oes de n´ umeros reais
9
NOTAS: 1. Se u ´e tal que un → +∞, un → −∞ ou |un | → +∞ ent˜ao u ´e n˜ao limitada. A rec´ıproca n˜ao ´e verdadeira. Por exemplo, a sucess˜ao ( n, se n par 1 un = , se n ´ımpar n ´e n˜ao limitada e un 6→ +∞, un 6→ −∞, |un | 6→ +∞ 2. O facto de un → +∞ n˜ao implica que u seja crescente (nem que exista uma ordem a partir da qual seja crescente). Exemplo: un = n + (−1)n . Das defini¸co˜es, conclui-se imediatamente que Teorema 1.3.1 Sejam u e v sucess˜oes tais que, a partir de certa ordem, un ≤ vn . Ent˜ao, a) un → +∞ ⇒ vn → +∞, b) vn → −∞ ⇒ un → −∞. Defini¸c˜ ao 1.3.8 Sejam u uma sucess˜ao e a ∈ R. Diz-se que u converge para a (ou tende para a ou, ainda, que o limite da sucess˜ao ´e a), e representa-se u n → a, se ∀ε > 0 ∃p ∈ N : n > p ⇒ |un − a| < ε. µ ¶ 1 1 (se EXEMPLO: un = → 0. De facto, seja ε > 0, qualquer; se tomarmos p = Int n ε x ∈ R, chamamos parte inteira de x ao maior inteiro menor ou igual a x e representamo-la 1 1 por Int(x)) ent˜ao, para n > p tem-se ≤ < ε. n p+1 NOTAS: 1. Em linguagem de vizinhan¸cas, a defini¸ca˜o ´e equivalente a: ∀ε > 0 ∃p ∈ N : n > p ⇒ un ∈ Vε (a). 2. Poder´ıamos escrever ainda, de forma equivalente, ∀ε > 0 ∃p ∈ N : |un − a| < ε, ∀n > p. 3. Consideremos o conjunto R = R ∪ {−∞, +∞}, em que −∞ e +∞ s˜ao dois objectos matem´aticos, n˜ao reais e distintos um do outro. Podemos introduzir, neste conjunto, a rela¸ca˜o de ordem: i) se x, y ∈ R, x < y em R se, e s´o se, x < y em R. ii) −∞ < x < +∞, ∀x ∈ R.
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1. No¸ co ˜es Topol´ ogicas, Indu¸ c˜ ao Matem´ atica e Sucess˜ oes
O conjunto R, com esta rela¸ca˜o de ordem, designa-se por recta acabada. Podemos estender a no¸ca˜o de vizinhan¸ca a R. Seja ε ∈ R, ε > 0. Se a ∈ R, chama-se vizinhan¸ca ε de a ao conjunto Vε (a) =]a − ε, a + ε[ (que coincide, pois, ¤ 1 com ¤a vizinhan¸ca em R). Chama-se vizinhan¸ca ε de +∞ ao conjunto V (+∞) = , +∞ . ε£ ε £ 1 Chama-se vizinhan¸ca ε de −∞ ao conjunto Vε (−∞) = −∞, − ε . Com as defini¸co˜es dadas atr´as, podemos unificar, do ponto de vista formal, as defini¸co˜es 1.3.7 e 1.3.8: xn → a (a ∈ R) se, e s´o se,
∀ε > 0 ∃p ∈ N : n > p ⇒ un ∈ Vε (a).
Defini¸c˜ ao 1.3.9 Diz-se que a sucess˜ao u ´e um infinit´ esimo se un → 0. ´ evidente, a partir das defini¸co˜es, que un → a ´e equivalente a un − a ´e um NOTA: E infinit´esimo. Teorema 1.3.2 (Unicidade do limite) Se un → a e un → b ent˜ao a = b. Teorema 1.3.3 Se un → 0 e v ´e uma sucess˜ao limitada, ent˜ao un vn → 0. Demonstra¸ca˜o: Seja M > 0 tal que |vn | ≤ M, ∀n ∈ N. Dado δ > 0, qualquer, seja p ∈ N, tal que |un | < δ/M, ∀n > p. Ent˜ao |un vn | < δ, ∀n > p. Teorema 1.3.4 Toda a sucess˜ao convergente ´e limitada. NOTA: A rec´ıproca n˜ao ´e verdadeira. Por exemplo, a sucess˜ao un = cos(nπ) ´e limitada, mas n˜ao ´e convergente. Teorema 1.3.5 (Teorema das sucess˜oes enquadradas) Se un → a, vn → a e, a partir de certa ordem, un ≤ wn ≤ vn , ent˜ao wn → a. Demonstra¸ca˜o: Seja ε > 0, qualquer. Ent˜ao ∃p1 ∈ N : n > p1 ⇒ a − ε < un < a + ε, ∃p2 ∈ N : n > p2 ⇒ a − ε < vn < a + ε, ∃p3 ∈ N : n > p3 ⇒ un ≤ wn ≤ vn . Seja p = max{p1 , p2 , p3 }. Se n > p, ent˜ao a − ε < un ≤ wn ≤ vn < a + ε. Teorema 1.3.6 Toda a subsucess˜ao de uma sucess˜ao convergente ´e convergente para o mesmo limite. Teorema 1.3.7 Sejam u e v duas sucess˜oes convergentes, un → a, vn → b. Ent˜ao u + v, u − v e uv s˜ao convergentes e un + vn → a + b, un − vn → a − b e un vn → a b. Se vn 6= 0, ∀n ∈ N e b 6= 0, ent˜ao u/v ´e convergente e un /vn → a/b. Teorema 1.3.8 Um conjunto X ⊂ R ´e fechado se, e s´o se, todos os limites das sucess˜oes convergentes, de elementos de X, pertencem a X.
1.3 Sucess˜ oes de n´ umeros reais
11
Teorema 1.3.9 Toda a sucess˜ao mon´otona limitada ´e convergente. NOTA: A rec´ıproca n˜ao ´e verdadeira, isto ´e, h´a sucess˜oes n˜ao mon´otonas que s˜ao con1 vergentes. Exemplo: a sucess˜ao un = (−1)n converge para 0 e n˜ao ´e mon´otona. n Teorema 1.3.10 Toda a sucess˜ao limitada tem subsucess˜oes convergentes. Defini¸c˜ ao 1.3.10 Diz-se que a ∈ R ´e sublimite da sucess˜ao u se existir uma subsucess˜ao de u que converge para a. EXEMPLO: −1 e 1 s˜ao sublimites da sucess˜ao un = (−1)n +
1 . n
NOTAS: Seja S o conjunto dos sublimites da sucess˜ao u. 1. Pelo Teorema 1.3.10, se u ´e limitada, S 6= ∅; 2. S pode ser vazio; exemplo: un = n; 3. Se u for convergente, S ´e um conjunto singular (isto ´e, s´o com um elemento). 4. S pode ser singular e u n˜ao ser convergente; exemplo: ( 1 , se n par un = n n, se n ´ımpar. 5. S pode ser um conjunto infinito; por exemplo, dada a sucess˜ao 1, 1, 2, 1, 2, 3, 1, 2, 3, 4, 1, 2, 3, 4, 5, . . . ent˜ao S = N. Teorema 1.3.11 O conjunto dos sublimites de uma sucess˜ao limitada tem m´aximo e m´ınimo. Defini¸c˜ ao 1.3.11 Sejam u uma sucess˜ao limitada e S o conjunto dos sublimites de u. Chama-se limite m´ aximo ou limite superior de u ao m´aximo de S e representa-se lim un = lim sup un = max(S). Chama-se limite m´ınimo ou limite inferior de u ao m´ınimo de S e representa-se lim un = lim inf un = min(S). Se u n˜ao for limitada superiormente, define-se lim un = +∞. Se u n˜ao for limitada inferiormente, define-se lim un = −∞. Se un → +∞ define-se lim un = lim un = +∞. Se un → −∞ define-se lim un = lim un = −∞. Teorema 1.3.12 Uma sucess˜ao limitada ´e convergente se, e s´o se, lim un = lim un .
12
1. No¸ co ˜es Topol´ ogicas, Indu¸ c˜ ao Matem´ atica e Sucess˜ oes
Defini¸c˜ ao 1.3.12 Uma sucess˜ao u diz-se de Cauchy (ou fundamental) se ∀ε > 0 ∃p ∈ N : m, n > p ⇒ |un − um | < ε. ¯1 1 1¯ EXEMPLO: un = ´e sucess˜ao de Cauchy. De facto, sejam m, n > p; ent˜ao ¯ − ¯ ≤ n n m 1 1 1 2 2 1 + < + = . Seja ε > 0, qualquer; para concluir, basta tomarmos p > . n m p p p ε NOTA: Na defini¸ca˜o de sucess˜ao convergente, introduzimos um elemento externo a` sucess˜ao, o limite. A sucess˜ao converge se, a partir de certa ordem, todos os elementos da sucess˜ao “est˜ao perto” do limite. Na defini¸ca˜o de sucess˜ao de Cauchy apenas comparamos os elementos da sucess˜ao uns com os outros. Dizemos que a sucess˜ao ´e de Cauchy se, a partir de certa ordem, todos os elementos da sucess˜ao “est˜ao perto” uns dos outros. Teorema 1.3.13 Uma sucess˜ao real ´e convergente se, e s´o se, for de Cauchy. NOTA: Este teorema permite-nos mostrar que uma sucess˜ao ´e convergente sem ter que calcular o seu limite. Consideremos a sucess˜ao: un = 1 +
1 1 1 + 2 + ··· + 2 2 2 3 n
Podemos tomar, sem perda de generalidade, n > m; ent˜ao ¯ |un − um | = ¯
1 1¯ 1 1 1 1 + + ··· + 2¯ = + + ··· + 2 ≤ 2 2 2 2 (m + 1) (m + 2) n (m + 1) (m + 2) n
1 1 1 + + ··· + = m(m + 1) (m + 1)(m + 2) (n − 1)n µ ¶ µ ¶ µ ¶ 1 1 1 1 1 1 1 1 1 = + + ··· = − − − − ≤ m m+1 m+1 m+2 n−1 n m n m ≤
1 Se p > e n ≥ m > p, obtemos |un − um | < ε pelo que a sucess˜ao ´e de Cauchy, portanto ε convergente.
Cap´ıtulo 2 Fun¸co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade 2.1
Generalidades sobre fun¸co ˜es reais de vari´ avel real
Defini¸c˜ ao 2.1.1 a) Dados dois conjuntos A e B chama-se fun¸ ca ˜o definida em A com valores em B, a toda a correspondˆencia entre A e B que a cada elemento de A fa¸ca corresponder um e um s´o elemento de B. Ao conjunto A chama-se dom´ınio da fun¸ca˜o. b) Representa-se a fun¸ca˜o por y = f (x) em que x ´e a vari´ avel independente e toma valores em A (x ∈ A) e y ´e a vari´ avel dependente, pois os seus valores dependem dos valores que toma a vari´avel x, que toma valores em B (y ∈ B). ` express˜ao ou f´ormula que traduz o modo como a vari´avel y depende da vari´avel x c) A chama-se express˜ ao anal´ıtica ou representa¸ ca ˜o anal´ıtica da fun¸ca˜o f . d) Uma fun¸ca˜o f diz-se real de vari´ avel real quando A ⊂ R e B ⊂ R. Defini¸c˜ ao 2.1.2 Seja f uma fun¸ca˜o real de vari´avel real. a) Chama-se dom´ınio de defini¸ ca ˜o ou de existˆ encia de f ao conjunto dos valores reais que tˆem imagem pela fun¸ca˜o f , isto ´e, ao conjunto dos n´ umeros reais para os quais a express˜ao anal´ıtica de f est´a bem definida. b) Chama-se contradom´ınio de f ao conjunto dos valores reais que s˜ao imagem pela fun¸ca˜o f dos elementos do dom´ınio. Defini¸c˜ ao 2.1.3 Dada uma fun¸ca˜o f : D ⊂ R → R, chama-se gr´ afico da fun¸ca˜o f ao conjunto {(x, y) : x ∈ D, y ∈ R, y = f (x)}.
14
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
Defini¸c˜ ao 2.1.4 Uma fun¸ca˜o f : D ⊂ R → R diz-se: a) crescente se x < y =⇒ f (x) ≤ f (y). b) estritamente crescente se x < y =⇒ f (x) < f (y). c) decrescente se x < y =⇒ f (x) ≥ f (y). d) estritamente decrescente se x < y =⇒ f (x) > f (y). Defini¸c˜ ao 2.1.5 Uma fun¸ca˜o diz-se a) mon´ otona se ´e crescente ou decrescente. b) estritamente mon´ otona se ´e estritamente crescente ou estritamente decrescente. Defini¸c˜ ao 2.1.6 Uma fun¸ca˜o f : D ⊂ R → R diz-se: a) par se f (x) = f (−x), ∀x ∈ D. b) ´ımpar se f (x) = −f (−x), ∀x ∈ D. Defini¸c˜ ao 2.1.7 Sejam f : D ⊂ R → R e c ∈ D. Diz-se que f (c) ´e um m´ aximo de f se f (x) ≤ f (c), ∀x ∈ D. A c chama-se ponto de m´ aximo. Defini¸c˜ ao 2.1.8 Sejam f : D ⊂ R → R e c ∈ D. Diz-se que f (c) ´e um m´ınimo de f se f (x) ≥ f (c), ∀x ∈ D. A c chama-se ponto de m´ınimo. Estes valores tˆem a designa¸ca˜o comum de extremos de f . A Figura 2.1 ilustra as defini¸co˜es anteriores.
Figura 2.1: Extremos de uma fun¸ca ˜o.
2.1 Generalidades sobre fun¸ co ˜es reais de vari´ avel real
15
Defini¸c˜ ao 2.1.9 Uma fun¸ca˜o f : D ⊂ R → R diz-se limitada se ∃M ∈ R+ : |f (x)| ≤ M,
∀x ∈ D.
Por outras palavras, f ´e fun¸ca˜o limitada se o seu contradom´ınio ´e um conjunto limitado. Defini¸c˜ ao 2.1.10 Chamam-se zeros da fun¸ca˜o f os elementos x do dom´ınio tais que f (x) = 0. Defini¸c˜ ao 2.1.11 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. A restri¸ ca ˜o de f a A, designada por f|A , ´e a aplica¸ca˜o de A em R tal que f|A (x) = f (x) para cada x ∈ A. Defini¸c˜ ao 2.1.12 Uma fun¸ca˜o f : D ⊂ R → B ⊂ R diz-se: a) injectiva se x 6= y =⇒ f (x) 6= f (y). b) sobrejectiva se ∀y ∈ B, ∃x ∈ D : f (x) = y. c) bijectiva se ´e injectiva e sobrejectiva.
16
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
2.2
Limites. Limites relativos
Defini¸c˜ ao 2.2.1 Seja f : D ⊂ R → R e a um ponto aderente ao dom´ınio de f . Diz-se que b ´e limite de f no ponto a (ou quando x tende para a), e escreve-se lim f (x) = b, x→a se ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ |f (x) − b| < δ. Em termos de vizinhan¸cas: lim f (x) = b ⇔ ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ Vε (a) ∩ D ⇒ f (x) ∈ Vδ (b).
x→a
A Figura 2.2 sugere a interpreta¸ca˜o geom´etrica de lim f (x) = b. x→a
y
b+d b b-d
x
a-e a a+e
Figura 2.2: Interpreta¸ca ˜o geom´etrica de lim f (x) = b. x→a
Defini¸c˜ ao 2.2.2 Seja f : D ⊂ R → R e suponhamos que D n˜ao ´e majorado. Diz-se que o limite de f quando x → +∞ ´e b se ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ x >
1 ⇒ |f (x) − b| < δ ε
e escreve-se lim f (x) = b. x→+∞
Defini¸c˜ ao 2.2.3 Seja f : D ⊂ R → R e suponhamos que D n˜ao ´e minorado. Diz-se que o limite de f quando x → −∞ ´e b se 1 ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ x < − ⇒ |f (x) − b| < δ ε e escreve-se lim f (x) = b. x→−∞
2.2 Limites. Limites relativos
17
Defini¸c˜ ao 2.2.4 Seja f : D ⊂ R → R e a um ponto aderente ao dom´ınio de f . Diz-se que o limite de f em a ´e +∞ se 1 ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ f (x) > δ e escreve-se lim f (x) = +∞. x→a
Defini¸c˜ ao 2.2.5 Seja f : D ⊂ R → R e a um ponto aderente ao dom´ınio de f . Diz-se que o limite de f em a ´e −∞ se 1 ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ f (x) < − δ e escreve-se lim f (x) = −∞. x→a
NOTA: As defini¸co˜es de lim f (x) = +∞, lim f (x) = +∞, lim f (x) = −∞ e x→+∞
x→−∞
x→+∞
lim f (x) = −∞, podem dar-se de forma an´aloga. Em todo o caso, se tivermos em
x→−∞
conta a defini¸ca˜o de vizinhan¸ca em R (ver p´agina 9), podemos unificar todas as defini¸co˜es do seguinte modo: se a, b ∈ R, diz-se que lim f (x) = b se x→a
∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ Vε (a) ∩ D ⇒ f (x) ∈ Vδ (b).
Teorema 2.2.1 Se f : D ⊂ R → R e a ∈ R ´e um ponto aderente a D, ent˜ao lim f (x) = b x→a
se, e s´o se, para cada sucess˜ao (xn ) de limite a, (xn ) ⊂ D, a sucess˜ao (f (xn )) tem por limite b. NOTA: Observe-se que n˜ao exigimos que a seja ponto de acumula¸ca˜o de D. Se a ´e ponto isolado de D ent˜ao f tem limite igual a f (a) quando x → a. De facto, as u ´nicas sucess˜oes de pontos do dom´ınio que tendem para a s˜ao as sucess˜oes que, a partir de certa ordem, s˜ao constantemente iguais a a. Teorema 2.2.2 O limite de f em a, quando existe, ´e u ´nico. NOTAS: 1. Este teorema permite-nos usar a express˜ao “b ´e o limite de f (x) quando x tende para a”, em vez de “b ´e limite de f (x) quando x tende para a” e permite que se use a nota¸ca˜o lim f (x) = b. x→a
2. Se a ∈ D (isto ´e, f est´a definida em a), o limite b, se existe, coincide com f (a). Com efeito, neste caso, a verifica as condi¸co˜es a ∈ D e |a − a| < ε ∀ε > 0, o que implica que |f (a) − b| < δ, ∀δ > 0, ou seja, f (a) = b. EXEMPLO: Consideremos a fun¸ca˜o f : R → R definida por ½ 2 x , se x 6= 0 f (x) = 1, se x = 0 (ver Figura 2.3).
18
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
Figura 2.3
N˜ao existe lim f (x). Como o dom´ınio de f ´e R o limite, se existisse teria de ser igual x→0
a f (0), como vimos na observa¸ca˜o anterior. Ter´ıamos ent˜ao de provar que ∀δ > 0 ∃ε > 0 : |x| < ε ⇒ |f (x) − 1| < δ. Mas, se δ = 21 , qualquer que seja ε > 0, existe sempre x tal que |x| < ε e f (x) < 12 , o que implica que |f (x) − 1| > 12 . Teorema 2.2.3 Se lim f (x) = b e lim g(x) = c ent˜ao: x→a
x→a
a) lim [f (x) + g(x)] = b + c; x→a
b) lim [f (x) − g(x)] = b − c; x→a
c) lim [f (x)g(x)] = b c; x→a
d) Se c 6= 0, lim
x→a
b f (x) = . g(x) c
Teorema 2.2.4 Se lim f (x) = 0 e g ´e uma fun¸ca˜o limitada numa vizinhan¸ca de a ent˜ao x→a
lim [f (x)g(x)] = 0.
x→a
NOTA: O facto de g ser limitada ´e essencial. Por exemplo, se f (x) = x e g(x) = lim f (x)g(x) = 1 6= 0, o que n˜ao contradiz o teorema, visto g n˜ao ser limitada.
1 , x
x→0
Teorema 2.2.5 Sejam f : D ⊂ R → R e g : E ⊂ R → R tais que g(E) ⊂ D. Se lim g(x) = b e lim f (x) = c ent˜ao lim (f ◦ g)(x) = c. x→a
x→b
x→a
2.2 Limites. Limites relativos
19
Defini¸c˜ ao 2.2.6 Sejam f : D ⊂ R → R e B um subconjunto pr´oprio de D (isto ´e, B ⊂ D e B 6= D). Suponhamos que a ´e um ponto aderente a B. Diz-se que f tem limite b, quando x tende para a, segundo B, ou que b ´e o limite relativo a B de f quando x tende para a, se o limite da restri¸ca˜o de f a B quando x tende para a ´e b. Designa-se este limite por lim f (x) = b. lim f (x) = b ou x→a, x∈B
x→a x∈B
S˜ao importantes os limites relativos que se seguem: 1. B = D \ {a}. Diz-se ent˜ao que f (x) tende para b quando x tende para a por valores diferentes de a: lim f (x) = b. x→a x 6= a
2. B = {x : x ∈ D ∧ x < a}. Neste caso escreve-se lim f (x) = b
x→a x a}. Neste caso escreve-se lim f (x) = b
x→a x>a
ou
lim f (x) = b
x→a+
e diz-se limite ` a direita de f no ponto a. Os limites a` esquerda e a` direita recebem a designa¸ca˜o comum de limites laterais. Para se poderem definir estes limites, o ponto a tem que ser ponto de acumula¸ca˜o de B. NOTAS: 1. lim− f (x) = lim+ f (x) = b ⇔ x→a
x→a
lim f (x) = b. Mas pode existir s´o um dos limites
x→a x 6= a
laterais (ou os dois com valores distintos) sem que exista
lim f (x).
x→a x 6= a
2. lim− f (x) = lim+ f (x) = b n˜ao implica que lim f (x) = b a n˜ao ser que f (a) = b. No x→a
x→a
x→a
exemplo da p´agina 17, f (0− ) = f (0+ ) = 0 e f (0) = 1.
3.
lim f (x) n˜ao se distingue de lim f (x) quando a 6∈ D, devendo ent˜ao a ser ponto
x→a x 6= a
de acumula¸ca˜o de D.
x→a
20
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
EXEMPLO 1: Consideremos a fun¸ca˜o f : R → R definida por ½ 0, se x < 2 f (x) = 1, se x ≥ 2 (ver Figura 2.4)
Figura 2.4
Verifica-se que lim− f (x) = 0 e lim+ f (x) = 1. Portanto, x→2
x→2
consequentemente, tamb´em n˜ao existe lim f (x).
lim f (x) n˜ao existe, e
x→2 x 6= 2
x→2
Se a < 2 ent˜ao lim+ f (x) = lim− f (x) = lim f (x) = lim f (x) = 0. x→a
x→a
x→a
x→a x 6= a
Se a > 2 ent˜ao lim+ f (x) = lim− f (x) = lim f (x) = lim f (x) = 1. x→a
x→a
x→a
x→a x 6= a
EXEMPLO 2: Consideremos a fun¸ca˜o f : R → R definida por ½ |x − 4|, se x 6= 4 f (x) = 2, se x = 4 (ver Figura 2.5)
Figura 2.5
2.2 Limites. Limites relativos
21
Verifica-se que lim− f (x) = 0 e lim+ f (x) = 0. Portanto, x→4
x→4
existe lim f (x) porque f (4) = 2 6= 0.
lim f (x) = 0, mas n˜ao
x→4 x 6= 4
x→4
EXEMPLO 3: Em R temos: 1 1 1 a) lim− = −∞ e lim+ = +∞; lim n˜ao existe. x→a x − a x→a x − a x→a x − a b) lim− x→a
1 1 1 = +∞ e lim+ = +∞; lim = +∞. 2 2 x→a (x − a)2 x→a (x − a) (x − a)
1 1 = 0 = lim . x→+∞ x x→−∞ x ¶y µ 1 1 = e. d) lim+ (1 + x) x = lim 1 + y→+∞ x→0 y
c) lim
Teorema 2.2.6 Seja f : D ⊂ R → R uma fun¸ca˜o mon´otona limitada. Ent˜ao existem os limites laterais f (a− ) e f (a+ ) em todo o ponto a onde esses limites possam ser definidos. Demonstra¸ca˜o: Suponhamos, por exemplo, que f ´e crescente. Seja A = {x : x ∈ D ∧ x < a}.
Se a ∈ A queremos provar que existe f (a− ), isto ´e, queremos provar que existe um b ∈ R tal que ∀δ > 0 ∃ε > 0 |x−a| < ε ∧ x < a ⇒ |f (x)−b| < δ. Como, por hip´otese, f ´e limitada, isto ´e, f (D) ´e um conjunto limitado e A ⊂ D, temos que f (A) ´e um conjunto limitado. Pelo Teorema 1.1.2, f (A) tem supremo. Seja b = sup f (A) = sup f (x). Pelo x∈A
Teorema 1.1.3, ∀δ > 0 ∃x0 ∈ A : f (x0 ) > b − δ.
Como f ´e crescente Podemos ent˜ao escrever
f (x) ≥ f (x0 ) > b − δ ∀x ∈]x0 , a[ ∩ A.
|f (x) − b| < δ ∀x : x ∈ A ∧ |x − a| < a − x0 . Fazendo ε = a − x0 , conclu´ımos que ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ A ∧ |x − a| < ε ⇒ |f (x) − b| < δ, isto ´e, lim− f (x) = b. x→a
Para provar que existe f (a+ ) considera-se o inf f (x).
x∈D x>a
inf
x∈D x>a
f (x) e conclui-se que f (a+ ) =
22
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
´ condi¸ca˜o necess´aria e suficiente para que f tenha limite finito no ponto Teorema 2.2.7 E a que ∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ Vε (a) |f (x) − f (y)| < δ.
2.3 Continuidade: propriedades das fun¸ co ˜es cont´ınuas. Teorema de Bolzano
2.3
23
Continuidade: propriedades das fun¸co ˜es cont´ınuas. Teorema de Bolzano
Defini¸c˜ ao 2.3.1 Sejam f : D ⊂ R → R e a ∈ D. Diz-se que f ´e cont´ınua em a se existir lim f (x). x→a
Como vimos anteriormente, o facto de a ∈ D implica que lim f (x) = f (a). Podemos x→a escrever f ´e cont´ınua em a se ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ D ∧ |x − a| < ε ⇒ |f (x) − f (a)| < δ, ou, em termos de vizinhan¸cas ∀δ > 0 ∃ε > 0 : x ∈ Vε (a) ∩ D ⇒ f (x) ∈ Vδ (f (a)). Os pontos em que uma fun¸ca˜o n˜ao ´e cont´ınua dizem-se pontos de descontinuidade. Defini¸c˜ ao 2.3.2 Sejam f : D ⊂ R → R e a ∈ D. a) f ´e cont´ınua ` a esquerda em a se f (a− ) = lim− f (x) = f (a). x→a
b) f ´e cont´ınua ` a direita em a se f (a+ ) = lim+ f (x) = f (a). x→a
NOTAS: 1. Se f for cont´ınua a` esquerda e a` direita no ponto a ent˜ao f ´e cont´ınua em a. 2. Se a for um ponto isolado, resulta da defini¸ca˜o que f ´e cont´ınua em a. Teorema 2.3.1 Toda a fun¸ca˜o constante ´e cont´ınua em todos os pontos do seu dom´ınio. Do Teorema 2.2.3, conclui-se facilmente: Teorema 2.3.2 Se f e g s˜ao cont´ınuas no ponto a ent˜ao f + g, f − g e f g s˜ao cont´ınuas f nesse ponto; se g(a) 6= 0 ent˜ao tamb´em ´e cont´ınua em a. g Analogamente, do Teorema 2.2.5 se deduz: Teorema 2.3.3 Sejam f : D ⊂ R → R e g : E ⊂ R → R tais que g(E) ⊂ D. Se g ´e cont´ınua no ponto t0 e f ´e cont´ınua no ponto x0 = g(t0 ), ent˜ao f ◦ g ´e cont´ınua em t0 . Defini¸c˜ ao 2.3.3 Uma fun¸ca˜o f diz-se cont´ınua no conjunto B ⊂ D se ´e cont´ınua em todos os pontos de B.
24
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
Teorema 2.3.4 (Teorema do valor interm´ edio de Bolzano) Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua num intervalo I, a e b dois pontos de I tais que f (a) 6= f (b). Ent˜ao, qualquer que seja o n´ umero k estritamente compreendido entre f (a) e f (b), existe pelo menos um ponto c, estritamente compreendido entre a e b, tal que f (c) = k. Demonstra¸ca˜o: Podemos supor, sem perda de generalidade, que a < b. Consideremos o intervalo [a, b]. Como f (a) 6= f (b) teremos f (a) < f (b) ou f (a) > f (b). Admitamos que f (a) < f (b). Seja k tal que f (a) < k < f (b). Seja o conjunto C = {x : x ∈ [a, b] ∧ f (x) < k}. Como f (a) < k, a ∈ C, pelo que C 6= ∅. Visto que b ´e um majorante de C podemos afirmar, pelo Teorema 1.1.2 que existe c = sup C. Como C ⊂ [a, b], c ∈ [a, b]. Dado que f ´e cont´ınua em [a, b] e c ´e aderente a C, existem todos os limites relativos tendo-se, em particular, lim f (x) = lim f (x) = f (c).
x→c
x→c x∈C
Mas se x ∈ C, f (x) < k, o que implica que lim f (x) = lim f (x) ≤ k, donde x→c
x→c x∈C
f (c) ≤ k
(2.1)
Por outro lado, c ´e um ponto aderente a [a, b] \ C. Como b ∈ [a, b] \ C este conjunto ´e n˜ao vazio e f (x) = f (c). lim f (x) = lim x→c
x→c x ∈ [a, b] \ C
Mas se x ∈ [a, b] \ C, ent˜ao f (x) ≥ k, o que implica que lim f (x) =
x→c
lim
x→c x ∈ [a, b] \ C
f (x) ≥ k,
donde f (c) ≥ k.
(2.2)
De (2.1) e (2.2) conclui-se que f (c) = k. NOTA: Se f n˜ao for cont´ınua em [a, b], pode existir k ∈ [f (a), f (b)] tal que 6 ∃c ∈ [a, b] : f (c) = k (ver Figura 2.6). EXEMPLO: Seja f (x) = x3 − x2 + x. Usando o teorema anterior podemos provar que existe c tal que f (c) = 10. De facto, como f ´e cont´ınua em R podemos considerar a sua restri¸ca˜o ao intervalo [0, 3] e facilmente se verifica que f (0) = 0 < 10 < f (3) = 21.
2.3 Continuidade: propriedades das fun¸ co ˜es cont´ınuas. Teorema de Bolzano
25
y
f(b) k f(a) a
b
x
Figura 2.6
Corol´ ario 1 Se f ´e cont´ınua em [a, b] e f (a) · f (b) < 0, ent˜ao existe c ∈]a, b[ tal que f (c) = 0. Demonstra¸ca˜o: Podemos supor, sem perda de generalidade, que f (a) < 0 e f (b) > 0. Ent˜ao f (a) < 0 < f (b). Como f ´e cont´ınua em [a, b], o teorema anterior permite afirmar que ∃c ∈]a, b[: f (c) = 0. Corol´ ario 2 A imagem de um intervalo, por uma fun¸ca˜o cont´ınua, ´e tamb´em um intervalo. Demonstra¸ca˜o: Seja f : I ⊂ R → R. Se f (x) = c, ∀x ∈ I, isto ´e, se f ´e constante, o seu contradom´ınio reduz-se a um ponto, intervalo do tipo [c, c], n˜ao havendo, portanto, nada mais a provar. Como facilmente se verifica, um conjunto J que contenha, pelo menos, dois pontos, ´e um intervalo se, e s´o se, verifica a propriedade: α, β ∈ J ∧ α < β =⇒ [α, β] ⊂ J que ´e ainda equivalente a: α, β ∈ J ∧ α < k < β =⇒ k ∈ J. Suponhamos que f n˜ao ´e constante, que α, β ∈ f (I) e α < k < β; por defini¸ca˜o, existem a, b ∈ I tais que α = f (a) < k < f (b) = β. Pelo Teorema de Bolzano existe c, estritamente compreendido entre a e b (portanto, c ∈ I), tal que f (c) = k, isto ´e, k ∈ f (I). NOTA: O intervalo f (I) pode ser de tipo diferente do intervalo I como se pode ver nos seguintes exemplos:
26
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
1) f :] − ∞, +∞[→ [−1, 1], f (x) = sen(x)
2) f :] − ∞, +∞[→]0, 1], f (x) =
x2
1 +1
3) f :] − π2 , π2 [→] − ∞, +∞[, f (x) = tg(x)
Teorema 2.3.5 (Teorema de Weierstrass) Se f ´e uma fun¸ca˜o cont´ınua num intervalo fechado e limitado I, ent˜ao f (I) ´e tamb´em um intervalo fechado e limitado. Demonstra¸ca˜o: Pelo Corol´ario 2 do Teorema de Bolzano sabemos que f (I) ´e um intervalo. Resta-nos ent˜ao provar que ´e fechado e limitado. Dividimos a demonstra¸ca˜o em duas partes.
2.3 Continuidade: propriedades das fun¸ co ˜es cont´ınuas. Teorema de Bolzano
27
a) f (I) ´e limitado. b) f (I) ´e fechado. a) Suponhamos que f (I) n˜ao ´e limitado. Ent˜ao para cada n ∈ N existe xn ∈ I tal que |f (xn )| ≥ n. Como I ´e limitado a sucess˜ao (xn ) tamb´em ´e limitada, portanto, (xn ) tem uma subsucess˜ao (xnk ) convergente (Teorema 1.3.10). Seja x = lim f (xnk ); x ∈ I porque n
I ´e fechado. Visto que f ´e cont´ınua, lim f (xnk ) = f (x), mas esta conclus˜ao ´e incompat´ıvel n
com a suposi¸ca˜o |f (xn )| ≥ n ∀n ∈ N (Teorema 1.3.4) b) Temos de provar que existem x0 e x1 ∈ I tais que f (x0 ) = sup f (x) e f (x1 ) = x∈I
inf f (x).
x∈I
Suponhamos que n˜ao existe x0 ∈ I tal que f (x0 ) = sup f (x), isto ´e, L = sup f (x) n˜ao x∈I
x∈I
´e atingido. Ent˜ao L − f (x) 6= 0, ∀x ∈ I. Portanto, g(x) =
1 L − f (x)
´e uma fun¸ca˜o cont´ınua em I. Prov´amos em a) que toda a fun¸ca˜o cont´ınua num intervalo limitado ´e limitada o que implica que g ´e limitada. Pelo Teorema 1.1.3 temos que ∀δ > 0 ∃c ∈ I : f (c) > L − δ ⇒ ∀δ > 0 ∃c ∈ I : L − f (c) < δ 1 1 ⇒ ∀δ > 0 ∃c ∈ I : g(c) = > L − f (c) δ o que contradiz o facto de g ser limitada. Analogamente, se prova a existˆencia de x1 ∈ I tal que f (x1 ) = inf f (x). Portanto, f (I) ´e fechado. x∈I
Corol´ ario 1 Toda a fun¸ca˜o cont´ınua num intervalo fechado e limitado tem, nesse intervalo, um m´aximo e um m´ınimo. NOTAS: 1. Os dois resultados anteriores mantˆem-se v´alidos se substituirmos “intervalo fechado limitado” por “conjunto fechado limitado n˜ao vazio”. 2. A hip´otese intervalo (ou conjunto) fechado ´e necess´aria como se pode ver pelos exemplos seguintes: 1) Seja f (x) = x. f ´e cont´ınua em ] − 1, 1[ e n˜ao tem nesse intervalo m´aximo nem m´ınimo. ( 1 , se x 6= 0 2) A fun¸ca˜o g(x) = ´e cont´ınua em ]0, 1], mas n˜ao tem m´aximo x 0, se x = 0 nesse intervalo.
28
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
1 3) A fun¸ca˜o h(x) = sen x nesse intervalo.
µ ¶ 1 ´e cont´ınua em ]0, 1] e n˜ao tem m´aximo nem m´ınimo x
Teorema 2.3.6 Se f ´e uma fun¸ca˜o cont´ınua e injectiva num intervalo I, ent˜ao a fun¸ca˜o inversa ´e tamb´em cont´ınua. Defini¸c˜ ao 2.3.4 Sejam F e f duas fun¸co˜es de dom´ınios DF e Df , respectivamente. Diz-se que F ´e um prolongamento de f se Df ⊂ DF e F (x) = f (x), ∀x ∈ Df . Defini¸c˜ ao 2.3.5 Seja a um ponto aderente a D (dom´ınio de f ). Diz-se que f ´e prolong´ avel por continuidade ao ponto a se existir um prolongamento F de f , com dom´ınio D ∪ {a}, sendo F cont´ınua em a. Teorema 2.3.7 Para que uma fun¸ca˜o f seja prolong´avel por continuidade ao ponto a, ´e necess´ario e suficiente que tenha limite nesse ponto. Existindo o limite, o prolongamento por continuidade ´e a fun¸ca˜o g : Df ∪({a} → R f (x), se x ∈ Df g(x) = lim f (x), se x = a x→a
EXEMPLO: Consideremos a fun¸ca˜o f : R \ {0} → R definida por f (x) =
Figura 2.7). Sabemos que lim f (x) = 1.
sen(x) (ver x
x→0
Figura 2.7
Pelo teorema anterior f ´e prolong´avel por continuidade ao ponto 0 e o prolongamento ´e a fun¸ca˜o g : R → R definida por: g(x) =
(
sen(x) , se x 6= 0 x 1, se x = 0
Defini¸c˜ ao 2.3.6 Diz-se que f tem uma descontinuidade remov´ıvel no ponto a se existir uma fun¸ca˜o g cont´ınua em a, que apenas difere de f em a.
2.3 Continuidade: propriedades das fun¸ co ˜es cont´ınuas. Teorema de Bolzano
EXEMPLO: Seja
x2 − 2x − 3 , se x 6= 3 f (x) = 3, x − 3 se x = 3
Como lim f (x) = 4, f tem uma descontinuidade remov´ıvel em x = 3. A fun¸ca˜o x→3 x 6= 3
´e cont´ınua no seu dom´ınio.
x2 − 2x − 3 , se x 6= 3 g(x) = 4, x − 3 se x = 3
29
30
2.4
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
Continuidade uniforme
Seja f uma fun¸ca˜o definida e cont´ınua em D ⊂ R. Por defini¸ca˜o de continuidade sabemos que para cada x0 ∈ D se tem ∀δ > 0 ∃ε > 0 x ∈ D ∧ |x − x0 | < ε ⇒ |f (x) − f (x0 )| < δ. Sabemos tamb´em que para um δ > 0 e x0 ∈ D o ε > 0 que existe n˜ao ´e u ´nico, pois se 0 < ε1 < ε ent˜ao |x − x0 | < ε1 ⇒ |x − x0 | < ε e, portanto, |x − x0 | < ε1 ⇒ |f (x) − f (x0 )| < δ. Seja δ > 0 um n´ umero fixo. Consideremos o subconjunto de D formado pelos pontos x1 , x2 , . . . , xk . Por defini¸ca˜o de continuidade sabemos que existe um conjunto {ε1 , ε2 , . . . , εk }, εi > 0, ∀i = 1, 2, . . . , k, tais que x ∈ D ∧ |x − x1 | < ε1 ⇒ |f (x) − f (x1 )| < δ x ∈ D ∧ |x − x2 | < ε2 ⇒ |f (x) − f (x2 )| < δ .. . x ∈ D ∧ |x − xk | < εk ⇒ |f (x) − f (xk )| < δ. Dado que ´e finito, o conjunto {ε1 , ε2 , . . . , εk } tem m´ınimo ε > 0. Para este valor s˜ao verdadeiras as implica¸co˜es: x ∈ D ∧ |x − xi | < ε ⇒ |f (x) − f (xi )| < δ, i = 1, 2, . . . , k, isto ´e, conseguimos arranjar vizinhan¸cas “uniformes” (de amplitude 2ε) dos pontos x 1 , x2 , . . . , xk de tal modo que as imagens dos pontos dessas vizinhan¸cas est˜ao a uma distˆancia inferior a δ do f (xi ) correspondente. E se o conjunto dos pontos escolhido fosse infinito? Seria ainda poss´ıvel, dado δ > 0, escolher um n´ umero ε > 0 nas condi¸co˜es anteriores? A resposta ´e, em geral, negativa. Vejamos um exemplo. 1 Seja f (x) = e D =]0, 2[ (veja-se a Figura 2.8). x
Figura 2.8
2.4 Continuidade uniforme
31
Figura 2.9
32
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
1 , n = 1, 2, 3, . . .} e seja δ > 0. Observando n δ a defini¸ca˜o de limite, para cada n, o maior εn que podemos tomar ´e εn = n(n + δ) δ } = 0, pelo que n˜ao existe ε > 0 tal que (Figura 2.9). Ora inf{εn : εn = n(n + δ) Consideremos o conjunto {xn : xn =
|x − xn | < ε ⇒ |f (x) − f (xn )| < δ, n = 1, 2, 3, . . . Conclu´ımos assim que dado δ > 0 n˜ao podemos escolher ε > 0 que, na defini¸ca˜o de limite, seja v´alido simultaneamente para todos os xi , i = 1, 2, 3, . . .. Defini¸c˜ ao 2.4.1 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. Diz-se que f ´e uniformemente cont´ınua em A se ∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ A,
|x − y| < ε ⇒ |f (x) − f (y)| < δ.
EXEMPLO 1: A fun¸ca˜o f (x) = sen(x) ´e uniformemente cont´ınua em R, isto ´e, ´e verdadeira a proposi¸ca˜o ∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ R,
|x − y| < ε ⇒ |sen(x) − sen(y)| < δ.
De facto, sendo δ > 0 bastar´a escolher ε = δ e sabendo que |sen(x)| ≤ |x| ∀x ∈ R temos: ¯ µ ¶ µ ¶¯ ¯ ¯ x + y x − y ¯ |sen(x) − sen(y)| = ¯¯2 cos sen ¯ 2 2 ¯ µ µ ¶¯ ¯ ¶¯ ¯ ¯¯ ¯ x − y x + y ¯ ¯sen ¯ = 2 ¯¯cos ¯¯ ¯ 2 2 ¯ µ ¶¯ ¯ ¯ x − y ¯ ≤ 2 ¯¯sen ¯ 2
¯ ¯ ¯x − y ¯ ¯ ¯ = |x − y|. ≤ 2¯ 2 ¯
1 EXEMPLO 2: A fun¸ca˜o f (x) = n˜ao ´e uniformemente cont´ınua em ]0, 2[, como vimos x atr´as. EXEMPLO 3: A fun¸ca˜o f (x) = x2 (Figura 2.10) n˜ao ´e uniformemente cont´ınua em R, isto ´e, ´e falsa a proposi¸ca˜o ∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ R,
|x − y| < ε ⇒ |x2 − y 2 | < δ.
Da igualdade |x2 − y 2 | = |x − y||x + y| podemos concluir que x e y podem estar t˜ao pr´oximos quanto se queira e a diferen¸ca entre as suas imagens ser arbitrariamente grande
2.4 Continuidade uniforme
33
Figura 2.10
(basta pensar em pontos x e y cuja diferen¸ca seja sempre inferior a ε, mas que estejam arbitrariamente longe da origem). Os gr´aficos da Figura 2.11 procuram ilustrar esta situa¸ca˜o.
Figura 2.11
34
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
EXEMPLO 4: Provemos, a partir da defini¸ca˜o, que a fun¸ca˜o f (x) = 7 − x2 ´e uniformemente cont´ınua em [−10, 1], isto ´e, que ´e verdadeira a proposi¸ca˜o ∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ [−10, 1],
|x − y| < ε ⇒ |7 − x2 − (7 − y 2 )| < δ.
Seja δ > 0. Como |7 − x2 − (7 − y 2 )| = | − x2 + y 2 | = |x − y||x + y| ≤ 20|x − y|, teremos se ε <
|x − y| < ε ⇒ |7 − x2 − (7 − y 2 )| < δ
δ . 20
Defini¸c˜ ao 2.4.2 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. Diz-se que f ´e lipschitziana em A se ∃M > 0 : |f (x) − f (y)| ≤ M |x − y|, ∀x, y ∈ A. Teorema 2.4.1 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. Se f ´e lipschitziana em A, ent˜ao f ´e uniformemente cont´ınua em A. Demonstra¸ca˜o: Usando a defini¸ca˜o, basta tomar ε =
δ . M
EXEMPLO 1: A fun¸ca˜o f (x) = x2 ´e lipschitziana em [0, 1]. De facto, |x2 − y 2 | = |x + y| |x − y| ≤ (|x| + |y|) |x − y| ≤ 2 |x − y| ∀x, y ∈ [0, 1]. A fun¸ca˜o ´e pois uniformemente cont´ınua em [0, 1]. Vimos atr´as que f (x) = x2 n˜ao ´e uniformemente cont´ınua em R. ´ claro que se O facto da fun¸ca˜o ser uniformemente cont´ınua depende do conjunto. E uma fun¸ca˜o for uniformemente cont´ınua num conjunto C ´e uniformemente cont´ınua em todos os subconjuntos de C. EXEMPLO 2: Os c´alculos efectuados atr´as permitem-nos concluir que f (x) = 7 − x2 ´e lipschitziana em [−10, 1]. Teorema 2.4.2 Sejam f : D ⊂ R → R e A ⊂ D. f ´e uniformemente cont´ınua em A se, e s´o se, para quaisquer sucess˜oes (xn ) e (yn ) de elementos de A tais que lim (xn − yn ) = 0 se tem tamb´em lim (f (xn ) − f (yn )) = 0.
n
n
1 no intervalo ]0, 1]. Sejam EXEMPLO 1: Consideremos novamente a fun¸ca˜o f (x) = x 1 1 , n ∈ N. S˜ao sucess˜oes de elementos do intervalo ]0, 1] e lim(xn − yn ) xn = e yn = n 2n
2.4 Continuidade uniforme
35
¶ 1 1 1 − = 0. No entanto, lim(f (xn ) − f (yn )) = lim(n − 2n) = = lim = lim n 2n 2n lim(−n) = −∞, o que implica, pelo teorema anterior, que f n˜ao ´e uniformemente cont´ınua no intervalo considerado. µ
2 EXEMPLO umeros reais xn = √ 2: Seja f (x) = x . Considerando as sucess˜oes de n´ e yn = n temos √ √ lim(xn − yn ) = lim( √ n + 1 − n) √ √ √ ( n + 1 − n)( n + 1 + n) √ = lim √ ( n + 1 + n) n+1−n = lim √ √ =0 n+1+ n
e
√
n+1
¡√ √ ¢ lim(f (xn ) − f (yn )) = lim ( n + 1)2 − ( n)2 = lim (n + 1 − n) = 1,
portanto, f n˜ao ´e uniformemente cont´ınua em R como t´ınhamos visto. ´ evidente que se f ´e uniformemente cont´ınua em A ent˜ao a restri¸ca˜o de f a A ´e E cont´ınua em A. A rec´ıproca n˜ao ´e verdadeira, tendo-se, no entanto, o seguinte teorema: Teorema 2.4.3 (Teorema de Cantor) Toda a fun¸ca˜o cont´ınua num conjunto fechado limitado ´e uniformemente cont´ınua. Demonstra¸ca˜o: Suponhamos que f ´e cont´ınua, mas n˜ao uniformemente cont´ınua, em X, fechado limitado. Sendo falsa a proposi¸ca˜o ∀δ > 0 ∃ε > 0 ∀x, y ∈ X,
|x − y| < ε ⇒ |f (x) − f (y)| < δ
podemos afirmar que existe δ > 0 tal que, para qualquer ε > 0, existem x, y ∈ X, para os quais se verifica |x − y| < ε ∧ |f (x) − f (y)| ≥ δ. Fixemos ε nos valores ε1 = 1, ε2 = 12 , . . . , εn = n1 . Teremos ent˜ao ∃x1 , y1 ∈ X : |x1 − y1 | < 1 ⇒ |f (x1 ) − f (y1 )| ≥ δ ∃x2 , y2 ∈ X : |x2 − y2 | < 12 ⇒ |f (x2 ) − f (y2 )| ≥ δ ... ∃xn , yn ∈ X : |x2 − y2 | < n1 ⇒ |f (xn ) − f (yn )| ≥ δ. Como (xn ) ´e uma sucess˜ao de elementos de X e este conjunto ´e limitado podemos concluir que (xn ) ´e limitada. Pelo Teorema 1.3.10, (xn ) tem uma subsucess˜ao (xnk )
36
2. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Limites e Continuidade
convergente para um certo x ∈ R; al´em disso, x ∈ X porque X ´e fechado. Mas |xnk −ynk | < 1 , o que implica que ynk → x. Como f ´e cont´ınua em X temos nk lim f (xnk ) = lim f (ynk ) = f (x), o que implica que lim (f (xnk ) − f (ynk )) = 0, o que contradiz |f (xnk ) − f (ynk )| ≥ δ > 0. EXEMPLO: Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua em R. Provemos que f ´e uniformemente cont´ınua em todo o subconjunto limitado de R. Seja A ⊂ R um conjunto limitado. Se A for fechado, estamos nas condi¸co˜es do Teorema de Cantor. Suponhamos que A n˜ao ´e fechado e l = inf(A) e L = sup(A). Consideremos o ´ um subconjunto fechado limitado de R. Como f ´e cont´ınua em R, f ´e intervalo [l, L]. E cont´ınua em [l, L]. Pelo Teorema de Cantor, f ´e uniformemente cont´ınua nesse intervalo, sendo, portanto, uniformemente cont´ınua em A ⊂ [l, L].
Cap´ıtulo 3 Fun¸co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial 3.1
Derivadas. Regras de deriva¸c˜ ao.
Defini¸c˜ ao 3.1.1 Sejam f : D ⊂ R → R e a um ponto interior a D. Chama-se derivada de f no ponto a ao limite, se existir (em R), lim
x→a
f (x) − f (a) x−a
f (a + h) − f (a) · h df (a). Se f tem derivada finita no Designa-se a derivada de f no ponto a por f 0 (a) ou dx ponto a, diz-se que f ´e diferenci´ avel em a. ou, fazendo x − a = h,
lim
h→0
Designando por P e Qi , i = 1, 2, 3, 4, respectivamente, os pontos do gr´afico de f que tˆem abcissas a e xi , a raz˜ao f (xi ) − f (a) xi − a
´e o declive da recta P Qi , secante ao gr´afico de f (veja-se a Figura 3.1). Se f ´e diferenci´avel no ponto a, chama-se tangente ao gr´afico de f no ponto (a, f (a)) a` recta que passa por este ponto e tem declive igual a f 0 (a); a recta tangente ter´a ent˜ao a equa¸ca˜o: y = f (a) + f 0 (a)(x − a). Defini¸c˜ ao 3.1.2 Sejam f : D ⊂ R → R e a um ponto interior a D. Chama-se derivada a esquerda de f no ponto a ao limite, se existir (em R), ` lim−
x→a
f (x) − f (a) x−a
38
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
Figura 3.1: Interpreta¸ca ˜o geom´etrica da derivada.
ou, fazendo x − a = h, lim−
h→0
f (a + h) − f (a) , h
e designa-se por f 0 (a− ). Chama-se derivada ` a direita de f no ponto a ao limite, se existir (em R), lim+
x→a
ou, fazendo x − a = h, lim+
h→0
f (x) − f (a) x−a
f (a + h) − f (a) , h
e designa-se por f 0 (a+ ). ´ evidente que f 0 (a) existe se, e s´o se, existem e s˜ao iguais f 0 (a+ ) e f 0 (a− ). NOTA: E EXEMPLO 1: Consideremos a fun¸ca˜o f : R → R definida por ½ x, se x ≥ 0 f (x) = |x| = −x, se x < 0 cujo gr´afico se apresenta na Figura 3.2. x f (x) − f (0) = lim+ = 1; x→0 x→0 x−0 x f (x) − f (0) −x f 0 (0− ) = lim− = lim− = −1. x→0 x→0 x−0 x
f 0 (0+ ) = lim+
Como f 0 (0+ ) 6= f 0 (0− ), f n˜ao tem derivada no ponto 0.
3.1 Derivadas. Regras de deriva¸ c˜ ao.
39
Figura 3.2
EXEMPLO 2: A fun¸ca˜o f : R → R definida por ( ¡ ¢ x sen x1 , se x 6= 0 f (x) = 0, se x = 0 n˜ao tem derivadas laterais em x = 0 (ver Figura 3.3). De facto, a fun¸ca˜o definida por ¡ ¢ µ ¶ x sen x1 f (x) − f (0) 1 = = sen x−0 x x n˜ao tem limite quando x → 0, n˜ao existindo sequer limites laterais.
Figura 3.3
EXEMPLO 3: A fun¸ca˜o f : R → R definida por f (x) = +∞ em x = 0, pois
√ 3
x (ver Figura 3.4) tem derivada
40
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
√ 3
x = f (0 ) = lim+ x→0 x √ 3 x 0 − = f (0 ) = lim− x→0 x 0
+
f n˜ao ´e, pois, diferenci´avel em 0.
lim+
x→0
lim−
x→0
r 3
r 3
x = x3
1 lim+ √ = +∞ 3 x→0 x2
x = x3
1 lim− √ = +∞ 3 x→0 x2
Figura 3.4
√ 3 EXEMPLO 4: A fun¸ca˜o f : R → R definida por f (x) = x2 , e cujo gr´afico se apresenta na Figura 3.5, n˜ao tem derivada em 0. De facto, r √ 3 2 2 1 x 3 x = lim+ √ = lim+ = +∞ f 0 (0+ ) = lim+ 3 3 x→0 x→0 x→0 x x x r √ 3 2 2 x 1 3 x = lim− = lim− √ f 0 (0− ) = lim− = −∞ 3 3 x→0 x→0 x→0 x x x
Figura 3.5
3.1 Derivadas. Regras de deriva¸ c˜ ao.
41
Teorema 3.1.1 Sejam f : D ⊂ R → R e a um ponto interior a D. Se f ´e diferenci´avel no ponto a, ent˜ao f ´e cont´ınua em a. Demonstra¸ca˜o: Podemos escrever f (x) = f (a) + (x − a) Ent˜ao
µ
f (x) − f (a) lim f (x) = lim f (a) + (x − a) x→a x→a x−a
¶
f (x) − f (a) x−a
∀x ∈ D \ {a}.
= f (a) + 0.f 0 (a) = f (a),
ou seja, f ´e cont´ınua no ponto a. NOTAS: 1. Uma fun¸ca˜o pode ser cont´ınua num dado ponto e n˜ao ter derivada nesse ponto (ver o exemplo anterior). 2. Se a derivada for infinita, a fun¸ca˜o pode n˜ao ser cont´ınua. Teorema 3.1.2 Se f e g s˜ao fun¸co˜es diferenci´aveis em a, ent˜ao f + g e f · g s˜ao fun¸co˜es diferenci´aveis em a, e (f + g)0 (a) = f 0 (a) + g 0 (a) (f · g)0 (a) = f 0 (a) · g(a) + f (a) · g 0 (a).
Se, al´em disso, g(a) 6= 0, ent˜ao f /g ´e diferenci´avel em a e µ ¶0 f f 0 (a) · g(a) − f (a) · g 0 (a) . (a) = g (g(a))2 Demonstra¸ca˜o: Sendo finitas as derivadas f 0 (a) e g 0 (a), teremos no caso da soma: (f + g)(x) − (f + g)(a) x→a x−a
(f + g)0 (a) = lim
= lim
f (x) + g(x) − f (a) − g(a) x−a
= lim
µ
x→a
x→a
f (x) − f (a) g(x) − g(a) + x−a x−a
¶
g(x) − g(a) f (x) − f (a) + lim x→a x→a x−a x−a
= lim
= f 0 (a) + g 0 (a) o que mostra que f + g ´e diferenci´avel em a.
42
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
Para o produto, temos (f · g)(x) − (f · g)(a) x→a x−a
(f · g)0 (a) = lim
f (x) · g(x) − f (a) · g(a) x→a x−a
= lim
f (x) · g(x) − f (a) · g(x) + f (a) · g(x) − f (a) · g(a) x→a x−a
= lim
= lim
x→a
(f (x) − f (a)) · g(x) + f (a) · (g(x) − g(a)) x−a µ
g(x) − g(a) f (x) − f (a) + f (a) · = lim g(x) · x→a x−a x−a
¶
f (x) − f (a) g(x) − g(a) + f (a) · lim x→a x→a x−a x−a
= lim g(x) · lim x→a
= g(a) · f 0 (a) + f (a) · g 0 (a) onde se usou o facto de a diferenciabilidade de g em a implicar a sua continuidade no mesmo ponto. Finalmente, para o quociente podemos come¸car por considerar o caso particular de f ser a fun¸ca˜o constante com o valor 1 em todos os pontos do seu dom´ınio. Obtemos ent˜ao: µ ¶ µ ¶ 1 1 1 1 µ ¶0 (x) − (a) − 1 g g g(x) g(a) = lim (a) = lim x→a x→a g x−a x−a g(a) − g(x) ¶ µ g(x) − g(a) 1 g(x) · g(a) = lim = lim · − x→a x→a x−a x−a g(x) · g(a) = −
1 1 g(x) − g(a) 1 1 · lim · lim =− · · g 0 (a) g(a) x→a g(x) x→a x−a g(a) g(a)
= −
g 0 (a) . (g(a))2
Portanto, notando que
1 f = f · , temos: g g
3.1 Derivadas. Regras de deriva¸ c˜ ao.
43
µ ¶ µ ¶0 µ ¶0 1 f 1 0 (a) = f (a) · (a) (a) + f (a) · g g g f 0 (a) · g(a) − f (a) · g 0 (a) . (g(a))2
=
Corol´ ario 1 Se f1 , f2 , . . . , fp s˜ao fun¸co˜es diferenci´aveis no ponto a, a sua soma e o seu produto tamb´em o s˜ao e verificam-se as igualdades: (f1 + f2 + · · · + fp )0 (a) = f10 (a) + f20 (a) + · · · + fp0 (a) 0
(f1 · f2 · · · fp ) (a) =
p X i=1
f1 (a) · · · fi0 (a) · · · fp (a).
Em particular, se p ∈ N e f ´e diferenci´avel em a tamb´em o ´e a fun¸ca˜o h(x) = (f (x)) p e tem-se h0 (a) = p · (f (a))p−1 · f 0 (a). Teorema 3.1.3 Se g : E → R ´e diferenci´avel no ponto a e f : D → R ´e diferenci´avel no ponto b = g(a), ent˜ao f ◦ g ´e diferenci´avel em a e (f ◦ g)0 (a) = f 0 (b) · g 0 (a) = f 0 (g(a)) · g 0 (a). Teorema 3.1.4 Sejam I um intervalo, f : I → R uma fun¸ca˜o estritamente mon´otona e cont´ınua, g : J = f (I) → R a sua inversa. Se f ´e diferenci´avel no ponto a e f 0 (a) 6= 0, ent˜ao g ´e diferenci´avel em b = f (a) e g 0 (b) =
1 f 0 (a)
=
1 f 0 (g(b))
.
EXEMPLO 1: Consideremos a fun¸ca˜o g(x) = arc sen(x), fun¸ca˜o inversa da fun¸ca˜o f (x) = sen(x) no intervalo [− π2 , π2 ]. Teremos ent˜ao g 0 (x) =
1 f 0 (g(x))
=
1 1 1 1 = =p =√ . 2 cos(g(x)) cos(arc sen(x)) 1 − x2 1 − sen (arc sen(x))
EXEMPLO 2: Consideremos a fun¸ca˜o g(x) = arc cos(x), fun¸ca˜o inversa da fun¸ca˜o f (x) = cos(x) no intervalo [0, π]. Teremos ent˜ao 1
1 1 =− sen(g(x)) sen(arc cos(x)) 1 1 = −√ . = −p 1 − x2 1 − cos2 (arc cos(x))
g 0 (x) =
f 0 (g(x))
=−
44
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
De forma an´aloga se pode mostrar que (arc tg(x))0 =
1 1 + x2
e (arc cotg(x))0 = −
1 . 1 + x2
Se f : D ⊂ R → R ´e uma fun¸ca˜o diferenci´avel em todos os pontos de A ⊂ D, podemos definir a fun¸ca˜o que a cada x de A faz corresponder f 0 (x). Obtemos, assim, uma nova fun¸ca˜o, de dom´ınio A, que representamos por f 0 e a que chamamos fun¸c˜ ao derivada (ou apenas derivada) de f em A. De modo an´alogo, se f 0 for diferenci´avel em A, definimos f 00 = (f 0 )0 (segunda derivada); se f 00 for diferenci´avel em A, definimos f 000 = (f 00 )0 , . . . se f (n−1) (derivada de ordem n − 1) for diferenci´avel em A, definimos f (n) = (f (n−1) )0 , derivada de ordem n de f em A. Defini¸c˜ ao 3.1.3 Se f 0 for cont´ınua em A, dizemos que f ´e de classe C1 em A e representamos por f ∈ C 1 (A). Se n ∈ N e f (n) ´e cont´ınua em A, dizemos que f ´e de classe Cn em A e representamos por f ∈ C n (A). Se f ∈ C n (A), ∀n ∈ N, dizemos que f ´e de classe C∞ e representamos por f ∈ C ∞ (A). EXEMPLO 1: As fun¸co˜es f (x) = cos(x), g(x) = sen(x) e h(x) = ex s˜ao de classe C ∞ em R. EXEMPLO 2: A fun¸ca˜o
´e diferenci´avel em R,
µ ¶ x2 sen 1 , x f (x) = 0,
se x 6= 0 se x = 0
µ ¶ µ ¶ 2 x sen 1 − cos 1 , x x f 0 (x) = 0,
se x 6= 0 se x = 0
e f 0 n˜ao ´e cont´ınua em 0. Temos, assim, f ∈ / C 1 (R).
EXEMPLO 3: Se f (n) (x) e g (n) (x) existem, tem-se obviamente, (f + g)(n) (x) = f (n) (x) + g (n) (x).
3.1 Derivadas. Regras de deriva¸ c˜ ao.
45
EXEMPLO 4: A derivada de ordem n do produto de duas fun¸co˜es obt´em-se pela f´ ormula de Leibnitz: n X (n) n (f g) (x) = Cp f (p) (x) g (n−p) (x), p=0
onde se convenciona f (0) (x) = f (x). A demonstra¸ca˜o desta propriedade faz-se facilmente, por indu¸ca˜o em n, usando a regra de deriva¸ca˜o do produto. Defini¸c˜ ao 3.1.4 Seja f : D ⊂ R → R, diferenci´avel num ponto a interior a D. Chamase diferencial da fun¸ca˜o f no ponto a `a aplica¸ca˜o linear df (a) : R → R dada por df (a)(h) = f 0 (a) · h. Teorema 3.1.5 Sejam f e g duas fun¸co˜es diferenci´aveis. Ent˜ao: a) d(f + g) = df + dg b) d(f g) = g df + f dg c) d(f n ) = n f n−1 df f g df − f dg d) d( ) = g g2 e) d((g ◦ f )(x)) = g 0 (f (x)) · df (x)
46
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
3.2
Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy.
Defini¸c˜ ao 3.2.1 Seja f : D ⊂ R → R. a) Diz-se que f tem um m´ınimo local (ou relativo) em a ∈ D (ou que f (a) ´e um m´ınimo local, ou relativo, de f ) se existir uma vizinhan¸ca V de a tal que f (x) ≥ f (a), ∀x ∈ V ∩ D. b) Diz-se que f tem um m´ aximo local (ou relativo) em a ∈ D (ou que f (a) ´e um m´aximo local, ou relativo, de f ) se existir uma vizinhan¸ca V de a tal que f (x) ≤ f (a), ∀x ∈ V ∩ D. Aos m´aximos e m´ınimos relativos d´a-se a designa¸ca˜o comum de extremos relativos (ver Figura 3.6).
Figura 3.6: Extremos relativos.
Teorema 3.2.1 Seja f : D ⊂ R → R. Se f (a) for m´ınimo relativo e existirem derivadas laterais em a, ent˜ao f 0 (a− ) ≤ 0 e f 0 (a+ ) ≥ 0. Se f for diferenci´avel em a, ent˜ao f 0 (a) = 0. Demonstra¸ca˜o: Se f (a) ´e um m´ınimo relativo ent˜ao, por defini¸ca˜o, ∃ε > 0 : f (x) ≥ f (a) ∀x ∈ Vε (a) ∩ D. Mas f (x) − f (a) ≤ 0 ∀x ∈]a − ε, a[ ∩ D, x−a o que implica que lim−
x→a 0
−
isto ´e, f (a ) ≤ 0.
f (x) − f (a) ≤ 0, x−a
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy.
47
Analogamente,
o que implica que
f (x) − f (a) ≥ 0 ∀x ∈]a, a + ε[ ∩ D, x−a lim+
x→a 0
+
isto ´e, f (a ) ≥ 0.
f (x) − f (a) ≥ 0, x−a
Teorema 3.2.2 Se f (a) for m´aximo relativo e existirem derivadas laterais em a, ent˜ao f 0 (a− ) ≥ 0 e f 0 (a+ ) ≤ 0. Se f for diferenci´avel em a, ent˜ao f 0 (a) = 0. NOTA: Se f ´e diferenci´avel, a condi¸ca˜o f 0 (a) = 0 ´e necess´aria, mas n˜ao suficiente para que f tenha um extremo em a. Consideremos, por exemplo, a fun¸ca˜o f (x) = x3 ; f 0 (0) = 0 e f n˜ao tem extremo em 0. Teorema 3.2.3 (Teorema de Rolle) Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua no intervalo [a, b] (a, b ∈ R, a < b) e diferenci´avel em ]a, b[. Se f (a) = f (b), ent˜ao existe c ∈]a, b[ tal que f 0 (c) = 0. Demonstra¸ca˜o: Pelo Teorema de Weierstrass, a fun¸ca˜o f , cont´ınua no intervalo [a, b], tem m´aximo M e m´ınimo m neste intervalo. Se M = m ent˜ao f ´e constante em [a, b] e, portanto, f 0 (x) = 0 ∀x ∈]a, b[, n˜ao havendo mais nada a provar. Se M 6= m, a hip´otese f (a) = f (b) implica que ou o m´aximo ou o m´ınimo ´e atingido num ponto c ∈]a, b[. Ent˜ao, pelos teoremas anteriores, f 0 (c) = 0. Geometricamente, o teorema afirma que na representa¸ca˜o gr´afica da fun¸ca˜o h´a pelo menos um ponto em que a tangente ´e paralela ao eixo dos xx (ver Figura 3.7).
Figura 3.7: Interpreta¸ca ˜o geom´etrica do Teorema de Rolle.
Corol´ ario 1 Entre dois zeros de uma fun¸ca˜o diferenci´avel num intervalo h´a, pelo menos, um zero da sua derivada.
48
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
Corol´ ario 2 Entre dois zeros consecutivos da derivada de uma fun¸ca˜o diferenci´avel num intervalo existe, no m´aximo, um zero da fun¸ca˜o. Teorema 3.2.4 (Teorema de Darboux) Seja I ⊂ R um intervalo aberto, f : I → R uma fun¸ca˜o diferenci´avel em I. Se existirem a, b ∈ I, a < b, tais que f 0 (a) 6= f 0 (b) ent˜ao, para todo o k entre f 0 (a) e f 0 (b), existe c ∈]a, b[ tal que f 0 (c) = k. Demonstra¸ca˜o: Come¸camos por fazer a demonstra¸ca˜o num caso especial e, usando este, passaremos ao caso geral. Suponhamos que f 0 (a) < k = 0 < f 0 (b). (3.1) Como f ´e diferenci´avel em I, ´e cont´ınua em I, pelo que ´e cont´ınua em [a, b] e, portanto, f (x) − f (a) < 0, existe f tem um ponto de m´ınimo em [a, b]. Visto que f 0 (a) = lim x→a x−a f (x) − f (a) ε1 > 0 tal que < 0, ∀x ∈]a, a + ε1 [, pelo que f (x) < f (a), ∀x ∈]a, a + ε1 [. x−a Analogamente se mostra que existe ε2 > 0 tal que f (x) < f (b), ∀x ∈]b − ε2 , b[. Conclui-se, assim, que nem a nem b s˜ao ponto de m´ınimo de f em [a, b], isto ´e, existe c ∈]a, b[ onde f atinge o seu m´ınimo em [a, b]; como f ´e diferenci´avel, f 0 (c) = 0. Fica assim demonstrado o teorema no caso especial de (3.1). Obviamente, a demonstra¸ca˜o no caso f 0 (a) > k = 0 > f 0 (b)
(3.2)
seria semelhante (mostrar-se-ia, neste caso, que existe um ponto de m´aximo diferente de a e b). Passemos ao caso geral. Suponhamos que f 0 (a) < k < f 0 (b).
(3.3)
A fun¸ca˜o g(x) = f (x)−kx ´e diferenci´avel em I (g 0 (x) = f 0 (x)−k) e g 0 (a) = f 0 (a)−k < 0 < f 0 (b) − k; estamos assim nas condi¸co˜es do caso (3.1): existe c ∈]a, b[ tal que g 0 (c) = 0, isto ´e, f 0 (c) = k. O caso f 0 (a) > k > f 0 (b) (3.4) resolve-se com a mesma t´ecnica, usando (3.2).
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy.
49
NOTAS: 1. Apenas com a condi¸ca˜o de diferenciabilidade no intervalo (n˜ao se pede que a derivada seja cont´ınua!), mostra-se que a derivada verifica uma propriedade semelhante a` do Teorema de Bolzano. 2. A derivada pode n˜ao ser cont´ınua. Por exemplo, a fun¸ca˜o: µ ¶ 1 2 , se x 6= 0 x sen f (x) = x 0, se x = 0 ´e diferenci´avel em R:
µ ¶ µ ¶ 1 1 2 x sen − cos , se x 6= 0 0 f (x) = x x 0, se x = 0
e f 0 n˜ao ´e cont´ınua em 0.
Teorema 3.2.5 (Teorema de Lagrange) Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua no intervalo [a, b] (a, b ∈ R, a < b) e diferenci´avel em ]a, b[. Ent˜ao existe c ∈]a, b[ tal que f 0 (c) =
f (b) − f (a) . b−a
Demonstra¸ca˜o: A fun¸ca˜o f (b) − f (a) x b−a ´e cont´ınua em [a, b] e diferenci´avel em ]a, b[. Al´em disso, ϕ(a) = ϕ(b). Pelo Teorema de Rolle existe c ∈]a, b[ tal que ϕ0 (c) = 0. Mas ϕ(x) = f (x) −
ϕ0 (x) = f 0 (x) −
f (b) − f (a) , b−a
o que implica ϕ0 (c) = 0 ⇔ f 0 (c) −
f (b) − f (a) f (b) − f (a) = 0 ⇔ f 0 (c) = . b−a b−a
Geometricamente, o teorema anterior afirma que na representa¸ca˜o gr´afica da fun¸ca˜o h´a pelo menos um ponto em que a tangente ´e paralela a` corda que une os pontos (a, f (a)) e (b, f (b)) (ver Figura 3.8). NOTA: O Teorema de Rolle ´e um caso particular deste teorema. Trata-se do caso em que f (a) = f (b).
50
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
Figura 3.8: Interpreta¸ca ˜o geom´etrica do Teorema de Lagrange.
Corol´ ario 1 Se f tem derivada nula em todos os pontos de um intervalo, ent˜ao ´e constante nesse intervalo. Corol´ ario 2 Se f e g s˜ao duas fun¸co˜es diferenci´aveis num intervalo I e se f 0 (x) = g 0 (x), ∀x ∈ I, ent˜ao a diferen¸ca f − g ´e constante em I. Corol´ ario 3 Se I ´e um intervalo e f 0 (x) ≥ 0 (respectivamente, f 0 (x) ≤ 0), ∀x ∈ I, ent˜ao f ´e crescente (respectivamente, decrescente) em I; se f 0 (x) > 0 (respectivamente, f 0 (x) < 0) ∀x ∈ I, ent˜ao f ´e estritamente crescente (respectivamente, decrescente) em I. Teorema 3.2.6 (Teorema do valor m´ edio de Cauchy) Se f e g s˜ao fun¸co˜es cont´ınuas em [a, b], diferenci´aveis em ]a, b[ e g 0 (x) n˜ao se anula em ]a, b[, ent˜ao existe c ∈]a, b[ tal que f 0 (c) f (b) − f (a) = . 0 g (c) g(b) − g(a)
Demonstra¸ca˜o: Consideremos a fun¸ca˜o ϕ(x) = f (x) −
f (b) − f (a) g(x). g(b) − g(a)
Pelo Teorema de Rolle, g(a) 6= g(b) visto que g 0 (x) 6= 0 ∀x ∈]a, b[, pelo que ϕ est´a bem definida; al´em disso, ϕ ´e cont´ınua em [a, b] e diferenci´avel em ]a, b[. Como ϕ(a) = ϕ(b), pelo Teorema de Rolle existe c ∈]a, b[ tal que ϕ0 (c) = 0. Mas ϕ0 (x) = f 0 (x) −
f (b) − f (a) 0 g (x) g(b) − g(a)
o que implica ϕ0 (c) = 0 ⇔ f 0 (c) −
f (b) − f (a) 0 f (b) − f (a) 0 g (c) = 0 ⇔ f 0 (c) = g (c). g(b) − g(a) g(b) − g(a)
3.2 Teoremas Fundamentais: Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy.
Como g 0 (x) 6= 0 ∀x ∈]a, b[ e c ∈]a, b[ temos f (b) − f (a) f 0 (c) = . 0 g (c) g(b) − g(a) NOTA: O Teorema de Lagrange ´e um caso particular deste teorema com g(x) = x.
51
52
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
3.3
Indetermina¸co ˜es
A partir do Teorema de Cauchy pode-se demonstrar a seguinte regra que ´e muito usada f 0 ∞ no c´alculo do limite de um quociente quando assume a forma ou . g 0 ∞ Teorema 3.3.1 (Regra de Cauchy) Sejam f e g duas fun¸co˜es diferenci´aveis em ]a, b[ (a < b) tais que a) g 0 (x) 6= 0, ∀x ∈]a, b[, b) lim f (x) = lim g(x) = 0 ou lim f (x) = lim g(x) = +∞; x→a
x→a
ent˜ao, se existir lim
x→a
x→a
x→a
f (x) f 0 (x) , tamb´em existe lim e estes limites s˜ao iguais. 0 x→a g(x) g (x)
Corol´ ario 1 Sejam I um intervalo aberto, c ∈ I, f e g duas fun¸co˜es diferenci´aveis em I \ {c}. Se g 0 (x) 6= 0, ∀x ∈ I \ {c}, e lim f (x) = lim g(x) = 0 ou lim f (x) = lim g(x) = x→c x→c x→c x→c +∞, ent˜ao f 0 (x) f (x) = lim 0 lim x→c g (x) x→c g(x) x6=c x6=c sempre que o segundo limite exista (em R). NOTA: Conv´em notar que pode existir lim
x→a
acontece com as fun¸co˜es
f (x) f 0 (x) ´ e n˜ao existir lim 0 . E o que x→a g (x) g(x)
µ ¶ 1 , g(x) = x. f (x) = x cos x µ ¶ µ ¶ µ ¶ f (x) f 0 (x) 1 1 1 De facto, lim =0e 0 + sen pelo que n˜ao = lim x cos = 2x cos x→0 g(x) x→0 x g (x) x x f 0 (x) existe lim 0 . x→0 g (x) 2
sen(x) EXEMPLO 1: Consideremos a fun¸ca˜o h definida por . Ao calcular lim h(x) enx→0 x 0 contramos a indetermina¸ca˜o . Sendo f (x) = sen(x) e g(x) = x, estamos nas condi¸co˜es 0 da regra de Cauchy. Como lim
x→0
f 0 (x) = lim cos(x) = 1, g 0 (x) x→0
podemos concluir que lim h(x) = 1. x→0
3.3 Indetermina¸ co ˜es
53
ex − 1 ex − 1 0 . No c´alculo de lim surge a indetermina¸ca˜o . x→0 x x 0 Tomando f (x) = ex − 1 e g(x) = x estamos nas condi¸co˜es da regra de Cauchy. Como EXEMPLO 2: Seja h(x) =
(ex − 1)0 = lim ex = 1 x→0 x→0 (x)0 lim
ex − 1 = 1. x→0 x
podemos concluir que lim
∞ tg(x) − 5 obtemos a indetermina¸ca˜o · x→ 2 x→ 2 sec(x) + 4 ∞ Considerando f (x) = tg(x) − 5 e g(x) = sec(x) + 4, estamos nas condi¸co˜es da regra de Cauchy. Como
EXEMPLO 3: Ao calcular limπ h(x) = limπ
f 0 (x) sec2 (x) sec(x) 1 = limπ = limπ = limπ = 1, limπ 0 x→ 2 sec(x) tg(x) x→ 2 tg(x) x→ 2 sen(x) x→ 2 g (x) podemos concluir que limπ
x→ 2
tg(x) − 5 = 1. sec(x) + 4
3x − 2 x 3x − 2 x EXEMPLO 4: Seja h(x) = . Ao calcular lim encontramos a indetermix→0 x x 0 na¸ca˜o . Considerando f (x) = 3x − 2x , g(x) = x e aplicando a regra de Cauchy obtemos 0 µ ¶ 3 3x − 2 x = log , lim x→0 x 2 pois
f 0 (x) lim 0 = lim (3x log(3) − 2x log(2)) = log(3) − log(2) = log x→0 g (x) x→0
µ ¶ 3 . 2
EXEMPLO 5 : A indetermina¸ca˜o 0 × ∞ surge ao calcularmos lim+ h(x) = lim+ xα log(x), x→0
com α > 0. Como
lim+ h(x) = lim+ xα log(x) = lim+
x→0
e
x→0
(log(x))0 lim+ ¡ 1 ¢0 = lim+
x→0
xα
podemos concluir que lim+ h(x) = 0. x→0
x→0
log(x)
x→0
1 x α − xα+1
= − lim+ x→0
1 xα
xα = 0, α
x→0
54
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
NOTAS: 1. Pode-se demonstrar a partir da Regra de Cauchy o seguinte resultado, u ´til quando se pretende estudar a diferenciabilidade de uma fun¸ca˜o: Sejam f uma fun¸ca˜o cont´ınua num intervalo I e a um ponto de I. Se f ´e diferenci´avel num intervalo ]a, b[⊂ I e existe lim+ f 0 (x) ent˜ao f tem derivada a` direita no ponto a e f 0 (a+ ) = lim+ f 0 (x). x→a
x→a
f (x) − f (a) e aplicar a regra de Cauchy. Para tal basta notar que f (a ) = lim+ x→a x−a Obviamente, existe um resultado an´alogo para a derivada a` esquerda. 0
+
2. Os s´ımbolos 0 × ∞ e ∞ − ∞ que podem surgir no c´alculo do limite de um produto 0 ∞ f · g ou de uma soma f + g reduzem-se a ou pelas transforma¸co˜es: 0 ∞ f ·g =
f g = 1 1 g f
1 1 + f g e f +g = 1 f ·g
Outra regra importante no estudo de limites, mas que ´e aplic´avel somente ao s´ımbolo 0 , ´e a seguinte: 0 Teorema 3.3.2 (Regra de l’Hospital) Sejam f e g duas fun¸co˜es definidas num intervalo I, diferenci´aveis em a ∈ I e f (x) g(x) 6= 0, ∀x ∈ I \ {a}. Se f (a) = g(a) = 0 e g 0 (a) 6= 0, ent˜ao tem limite g(x) no ponto a e f (x) f 0 (a) lim = 0 . x→a g(x) g (a) As indetermina¸co˜es 1∞ , 00 e ∞0 surgem do c´alculo de limites de fun¸co˜es f g e reduzemse a`s indetermina¸co˜es do tipo 0 × ∞ fazendo: g f g = e log(f ) = e g · log(f ) .
Da continuidade da fun¸ca˜o exponencial conclui-se que: lim
x→a
h
i lim g(x) · log(f (x)) g(x) (f (x)) = e x→a .
EXEMPLO 1: Consideremos a fun¸ca˜o h(x) = xx . A indetermina¸ca˜o que surge ao calcular lim+ h(x) ´e do tipo 00 que podemos converter numa do tipo 0 × ∞:
x→0
3.3 Indetermina¸ co ˜es
55
lim x log(x) lim+ xx = e x→0+ = e0 = 1,
x→0
tendo em conta o que mostr´amos atr´as (exemplo 5 da p´agina 53). EXEMPLO 2: Vimos num exemplo anterior que lim x→0 1 µ ¶ sen(x) x2 lim surge a indetermina¸ca˜o 1∞ . x→0 x lim
x→0
µ
sen(x) = 1, portanto, ao calcular x
¶ µ 1 sen(x) ¶1 lim 2 log sen(x) x2 x = e x→0 x ; x
neste u ´ltimo limite surge a indetermina¸ca˜o 0 × ∞ que podemos converter em
e
lim
x→0
1 log x2
µ
sen(x) x
¶
log
=e
lim
x→0
³
sen(x) x 2 x
´
0 fazendo 0
.
Como
lim
e
x→0
³
log
³
sen(x) x 2 0
(x )
´´0
=e
lim
x→0
³
´ sen(x) 0 x sen(x) x
2x
temos novamente a indetermina¸ca˜o 2x2 sen(x) obtemos lim
x→0
x→0
x→0
2x
x cos(x) − sen(x) 2x2 sen(x) , = e x→0 lim
0 . Considerando f (x) = x cos(x) − sen(x) e g(x) = 0
f 0 (x) −sen(x) = lim 0 g (x) x→0 4 sen(x) + 2x cos(x)
aparecendo ainda a indetermina¸ca˜o lim
=e
lim
x cos(x)−sen(x) x sen(x) x2
0 . Tendo em conta que 0
(−sen(x))0 − cos(x) 1 = lim =− , 0 x→0 6 cos(x) − 2x sen(x) (4 sen(x) + 2x cos(x)) 6
podemos concluir que lim
x→0
µ
¶1 1 sen(x) x2 = e− 6 . x
56
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
µ ¶tg(x) 1 surge a indetermina¸ca˜o ∞0 . Como EXEMPLO 3: No c´alculo de lim+ x→0 x µ ¶
1 µ ¶tg(x) lim tg(x) log 1 + x lim = ex→0 x→0+ x
¡ ¢ log x1 lim = ex→0+ cotg(x)
∞ temos que e neste limite a indetermina¸ca˜o ´e primeiro do tipo 0 × ∞ e depois do tipo ∞ o limite pedido ´e 1 pois 1 ¡ ¢¢0 − log x1 sen2 (x) x lim lim − lim 0 2 x ex→0+ (cotg(x)) = ex→0+ cosec (x) = ex→0+ = e0 = 1. ¡
3.4 Teorema de Taylor
3.4
57
Teorema de Taylor
Teorema 3.4.1 (Teorema de Taylor) Seja f uma fun¸ca˜o definida num intervalo [a, b] (a < b), com derivadas cont´ınuas at´e `a ordem n − 1 em [a, b] e com derivada de ordem n definida em ]a, b[. Ent˜ao, existe um ponto c ∈]a, b[ tal que f (b) = f (a)+(b−a) f 0 (a)+
(b − a)n−1 (n−1) (b − a)n (n) (b − a)2 00 f (a)+· · ·+ f (a)+ f (c) 2! (n − 1)! n!
(∗)
Demonstra¸ca˜o: Consideremos a fun¸ca˜o (b − x)2 00 ϕ(x) = f (b) − [f (x) + (b − x)f (x) + f (x)+ 2! n n−1 (b − x) (b − x) f (n−1) (x) + A], +··· + (n − 1)! n! 0
sendo A uma constante escolhida por forma que ϕ(a) = 0. ϕ est´a nas condi¸co˜es do Teorema de Rolle: por constru¸ca˜o, ´e uma fun¸ca˜o cont´ınua em [a, b], diferenci´avel em ]a, b[ e ϕ(a) = 0 = ϕ(b). Ent˜ao existe c ∈]a, b[ tal que ϕ 0 (c) = 0. Mas
ϕ0 (x) = −[ f 0 (x) − f 0 (x) + (b − x)f 00 (x) − (b − x)f 00 (x) + · · · − +
(b − x)n−1 (b − x)n−1 (n) f (x) − A] (n − 1)! (n − 1)! ·
(b − x)n−1 (n) (b − x)n−1 = − f (x) − A (n − 1)! (n − 1)!
(b − x)n−2 (n−1) f (x)+ (n − 2)!
¸
¤ (b − x)n−1 £ = A − f (n) (x) (n − 1)!
Ent˜ao
ϕ0 (c) = 0 ⇔
¤ (b − c)n−1 £ A − f (n) (c) = 0 ⇔ (b − c)n−1 = 0 ∨ f (n) (c) − A = 0. (n − 1)!
Como c ∈]a, b[ vem f (n) (c) = A. Por constru¸ca˜o de ϕ temos ϕ(a) = 0, portanto, (b − a)2 00 0 = ϕ(a) = f (b) − [f (a) + (b − a)f 0 (a) + f (a)+ 2! n n−1 (b − a) (b − a) (n) +··· + f (n−1) (a) + f (c)], (n − 1)! n! e obtemos assim (∗).
58
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
NOTA: A hip´otese a < b ´e desnecess´aria, como facilmente se observa na demonstra¸ca˜o. Apenas foi introduzida para facilitar o enunciado. A express˜ao (∗) chama-se f´ ormula de Taylor de ordem n de f . Fazendo no enunciado do teorema b = a + h, vem f (a + h) = f (a) + h f 0 (a) +
h2 00 hn−1 hn (n) f (a) + · · · + f (n−1) (a) + f (a + θh), 2! (n − 1)! n!
sendo 0 < θ < 1. hn (n) (b − a)n (n) Ao termo f (a + θh) ou f (c) chama-se resto de Lagrange da f´ormula n! n! de Taylor. No caso em que a = 0, a f´ormula de Taylor ´e conhecida por f´ ormula de MacLaurin: f (x) = f (0) + f 0 (0) x + f 00 (0) sendo 0 < c < x ou x < c < 0.
x2 xn−1 xn + · · · + f (n−1) (0) + f (n) (c) , 2! (n − 1)! n!
EXEMPLO 1: Vamos escrever a f´ormula de MacLaurin, com resto de ordem 4, da fun¸ca˜o f (x) = ex sen(x). Como f ´e uma fun¸ca˜o de classe C ∞ (R) podemos escrever a sua f´ormula de MacLaurin de qualquer ordem. Em particular, para n = 4 existe c entre 0 e x tal que f (x) = f (0) + f 0 (0) x + f 00 (0)
x3 x4 x2 + f 000 (0) + f (IV ) (c) . 2! 3! 4!
Calculemos as derivadas de f .
Logo,
f 0 (x) = ex (sen(x) + cos(x)) f 00 (x) = 2ex cos(x) f 000 (x) = 2ex (cos(x) − sen(x)) f (4) (x) = −4ex sen(x) ex sen(x) = x + 2
⇒ f 0 (0) = 1 ⇒ f 00 (0) = 2 ⇒ f 000 (0) = 2 ⇒ f (4) (c) = −4ec sen(c)
x2 x3 x4 x3 x4 +2 − 4ec sen(c) = x + x2 + − ec sen(c) 2! 3! 4! 3 6
com c entre 0 e x. EXEMPLO 2: Calculemos, usando a f´ormula de Taylor, o limite log(| cos(x)|) + lim
x→π
(x − π)
(x − π)2 2 · 2
3.4 Teorema de Taylor
59
´ uma fun¸ca˜o de classe C ∞ em D = Consideremos a fun¸ca˜o f (x) = log(| cos(x)|). E {x ∈ R : cos(x) 6= 0}. Como π ∈ D, podemos escrever a f´ormula de Taylor de ordem 3 de f em potˆencias de x − π: existe c entre x e π tal que f (x) = f (π) + f 0 (π) (x − π) + f 00 (π)
(x − π)2 (x − π)3 + f 000 (c) 2! 3!
Como f (π) = 0 e sen(x) = −tg(x) ⇒ f 0 (π) = 0 cos(x) 1 ⇒ f 00 (π) = −1 f 00 (x) = − 2 (cos(x)) 2 sen(x) 2 sen(c) f 000 (x) = − ⇒ f 000 (c) = − 3 (cos(x)) (cos(c))3 f 0 (x) = −
temos f (x) = −
2 sen(c) (x − π)3 (x − π)2 sen(c) (x − π)3 (x − π)2 − · = − − · 2! (cos(c))3 3! 2 (cos(c))3 3
Calculemos o limite pedido. (x − π)2 sen(c) (x − π)3 (x − π)2 (x − π)2 − · − + 2 (cos(c))3 3 2 2 lim = lim 2 2 x→π x→π (x − π) (x − π) sen(c) (x − π)3 µ ¶ − · sen(c) x − π sen(π) π − π (cos(c))3 3 = lim =− = lim − · · =0 2 3 x→π x→π (x − π) (cos(c)) 3 (cos(π))3 3 log(| cos(x)|) +
visto que quando x → π tamb´em c → π. EXEMPLO 3: Escrevamos a f´ormula de Taylor de ordem 2 da fun¸ca˜o f (x) =
1 1 + log(x)
em torno do ponto 1 e mostremos que (x − 1)2 f (x) < 1 − (x − 1) + 3 ∀x > 1. 2 A fun¸ca˜o f ´e de classe C ∞ em D = {x ∈ R+ : 1 + log(x) 6= 0}. Como 1 ∈ D podemos escrever a f´ormula de Taylor de ordem 2 de f em potˆencias de x − 1: existe c entre x e 1 tal que (x − 1)2 f (x) = f (1) + f 0 (1) (x − 1) + f 00 (c) 2!
60
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
Como f (1) = 1 e 1 ⇒ f 0 (1) = −1 x (1 + log(x))2 3 + log(c) 3 + log(x) 00 f 00 (x) = 2 ⇒ f (c) = x (1 + log(x))3 c2 (1 + log(c))3 f 0 (x) = −
temos f (x) = 1 − (x − 1) +
3 + log(c) (x − 1)2 · c2 (1 + log(c))3 2!
Podemos escrever 2 + 1 + log(c) 2 1 3 + log(c) = 2 = 2 + 2 3 3 3 + log(c)) c (1 + log(c)) c (1 + log(c)) c (1 + log(c))2
c2 (1
Se x > 1 ent˜ao 1 < c < x, pelo que 1 + log(c) > 1 + log(1) = 1, c2 (1 + log(c))3 > 1 e c2 (1 + log(c))2 > 1. Ent˜ao c2 (1
2 0, ent˜ao existe uma vizinhan¸ca V de a tal que f (x) > 0, ∀x ∈ V . b) Se f (a) < 0, ent˜ao existe uma vizinhan¸ca V de a tal que f (x) < 0, ∀x ∈ V . Demonstra¸ca˜o: Faremos apenas a demonstra¸ca˜o da al´ınea a). Se f ´e cont´ınua em a ent˜ao, por defini¸ca˜o, ∀δ > 0 ∃ε > 0 : |x − a| < ε ⇒ |f (x) − f (a)| < δ. Como f (a) > 0, fazendo δ = f (a), obtemos ∃ε > 0 : |x − a| < ε ⇒ |f (x) − f (a)| < f (a). Mas
|f (x) − f (a)| < f (a) ⇔ −f (a) < f (x) − f (a) < f (a) ⇔ −f (a) + f (a) < f (x) < f (a) + f (a) ⇔ 0 < f (x) < 2f (a),
ou seja, f (x) > 0 ∀x ∈ Vε (a). Defini¸c˜ ao 3.5.1 Diz-se que a ´e um ponto de estacionaridade de f se f 0 (a) = 0. Teorema 3.5.2 Seja f uma fun¸ca˜o classe C n num intervalo I e a um ponto interior a I. Se f 0 (a) = f 00 (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0 e f (n) (a) 6= 0 ent˜ao a) se n ´e ´ımpar, f n˜ao tem extremo relativo em a; b) se n ´e par, f tem m´aximo relativo em a se f (n) (a) < 0 e tem m´ınimo relativo em a se f (n) (a) > 0.
62
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
Demonstra¸ca˜o: Se queremos provar a existˆencia de extremo relativo no ponto a, temos de estudar o sinal de f (x) − f (a). Sabemos que se existir uma vizinhan¸ca de a onde f (x) − f (a) mant´em o sinal ent˜ao f (a) ´e extremo relativo de f , e que se tal n˜ao acontecer ent˜ao f (a) n˜ao ´e extremo relativo. Como f (n) (x) ´e cont´ınua e f (n) (a) 6= 0, existe uma vizinhan¸ca V de a, V ⊂ I, onde (n) f (x) toma o sinal de f (n) (a), isto ´e, se f (n) (a) > 0 ent˜ao f (n) (x) > 0 ∀x ∈ V , se f (n) (a) < 0 ent˜ao f (n) (x) < 0 ∀x ∈ V . Seja x ∈ V . Visto que f ´e n vezes diferenci´avel em I e V ⊂ I, pelo Teorema de Taylor existe c ∈ V tal que (x − a)n−1 (x − a)n (x − a)2 (n−1) (n) +· · ·+f (a) +f (c) . f (x) = f (a)+f (a) (x−a)+f (a) 2! (n − 1)! n! 0
00
Por hip´otese, f 0 (a) = f 00 (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0, portanto, f (x) = f (a) + f (n) (c)
(x − a)n , n!
ou seja,
(x − a)n · n! Se n ´e ´ımpar e f (n) (a) > 0 ent˜ao f (x) − f (a) < 0 se x < a, x ∈ V , e f (x) − f (a) > 0 se x > a, x ∈ V , ou seja, f (a) n˜ao ´e extremo relativo. Se n ´e ´ımpar e f (n) (a) < 0 obtemos rela¸co˜es an´alogas, com as desigualdades invertidas. Se n ´e par e f (n) (a) > 0 ent˜ao f (x) − f (a) > 0 ∀x ∈ V \ {a}, o que implica que f (a) ´e m´ınimo relativo. Se n ´e par e f (n) (a) < 0 ent˜ao f (x) − f (a) < 0 ∀x ∈ V \ {a}, o que implica que f (a) ´e m´aximo relativo. f (x) − f (a) = f (n) (c)
EXEMPLO 1: Seja f (x) = x3 −
3 2 x. 2
f 0 (x) = 0 ⇔ 3x2 − 3x = 0 ⇔ 3x(x − 1) = 0 ⇔ x = 0 ∨ x = 1. Como f 00 (x) = 3(2x − 1) temos f 00 (0) = −3 e f 00 (1) = 3. Pelo teorema anterior conclu´ımos que f (0) ´e um m´aximo relativo e f (1) ´e um m´ınimo relativo. 1 EXEMPLO 2: Seja f (x) = x − sen(x). 2 f 0 (x) = 0 ⇔
1 1 π π − cos(x) = 0 ⇔ cos(x) = ⇔ x = + 2kπ ∨ x = − + 2kπ, k ∈ Z. 2 2 3 3 √
√
Como f 00 (x) = sen(x) temos f 00 ( π3 + 2kπ) = 23 e f 00 (− π3 + 2kπ) = − 23 . Pelo teorema anterior conclu´ımos que f ( π3 + 2kπ) ´e m´ınimo relativo ∀k ∈ Z e f (− π3 + 2kπ) ´e m´aximo relativo, ∀k ∈ Z.
3.5 Aplica¸ co ˜es da f´ ormula de Taylor
EXEMPLO 3: Seja f (x) = f 0 (x) = 0 ⇔ Como f 00 (x) = 2
63
x4 + 1 . x2 2(x4 − 1) = 0 ⇔ x4 − 1 = 0 ⇔ x = −1 ∨ x = 1. x3
x4 + 3 > 0, ∀x ∈ R \ {0} temos que f (−1) = f (1) ´e m´ınimo relativo. x4
EXEMPLO 4: Seja f (x) = x2 (x − 1)3 . 2 f 0 (x) = 0 ⇔ x(x − 1)2 (5x − 2) = 0 ⇔ x = 0 ∨ x = 1 ∨ x = · 5 18 Como f 00 (x) = 2(x − 1)(10x2 − 8x + 1) temos f 00 (0) = −2 e f 00 ( 25 ) = 25 · Pelo teorema 2 anterior conclu´ımos que f (0) ´e um m´aximo relativo e f ( 5 ) ´e um m´ınimo relativo. Mas f 00 (1) = 0, portanto, temos de calcular f 000 . Como f 000 (x) = 6(10x2 − 12x + 3), f 000 (1) = 6 o que implica que f (1) n˜ao ´e extremo de f .
EXEMPLO 5: Seja f (x) = 2 cos(x) + sen(2x). f 0 (x) = 0 ⇔ −2 (2 sen2 (x) + sen(x) − 1) = 0 1 ⇔ −4 (sen(x) + 1)(sen(x) − ) = 0 2 1 ⇔ sen(x) = −1 ∨ sen(x) = 2 3 π 5 ⇔ x = π + 2kπ ∨ x = + 2kπ ∨ x = π + 2kπ, k ∈ Z. 2 6 6 √ √ Como f 00 (x) = −2 cos(x)(4sen(x) + 1) temos f 00 ( π6 + 2kπ) = −3 3 e f 00 ( 65 π + 2kπ) = 3 3, o que implica que f ( π6 +2kπ) ´e m´aximo relativo de f e f ( 56 π +2kπ) ´e m´ınimo relativo de f , qualquer que seja k ∈ Z. Mas f 00 ( 23 π + 2kπ) = 0 pelo que recorremos a` terceira derivada: f 000 (x) = 16 sen2 (x) + 2 sen(x) − 8, portanto, f 000 ( 32 π + 2kπ) = 6, podendo concluir-se que f ( 23 π + 2kπ) n˜ao ´e extremo. Defini¸c˜ ao 3.5.2 Dadas duas fun¸co˜es f e g, definidas num intervalo I, diz-se que o gr´afico de f fica acima do gr´afico de g num ponto a ∈ I se f (a) > g(a) e fica abaixo do gr´afico de g num ponto b ∈ I se f (b) < g(b). Se J ⊂ I e f (x) > g(x), ∀x ∈ J, diz-se que o gr´afico de f fica acima do gr´afico de g em J e se f (x) < g(x), ∀x ∈ J, diz-se que o gr´afico de f fica abaixo do gr´afico de g em J. Seja f uma fun¸ca˜o definida e diferenci´avel num intervalo I. Queremos determinar a posi¸ca˜o do gr´afico de f em rela¸ca˜o a` tangente a esse gr´afico num ponto a ∈ int(I). Trata-se, portanto, de estudar a diferen¸ca r(x) = f (x) − (f (a) + f 0 (a) (x − a)).
64
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
y f(a)+f ´(a) (x-a)
f
f(a) f(b) f(b)+f ´(b) (x-b)
b
a
x
Figura 3.9
Defini¸c˜ ao 3.5.3 Seja f uma fun¸ca˜o definida num intervalo I, diferenci´avel em a ∈ I e seja r(x) = f (x) − (f (a) + f 0 (a) (x − a)). a) Se existir uma vizinhan¸ca V de a, V ⊂ I, tal que r(x) > 0, ∀x ∈ V \ {a}, diz-se que f tem a concavidade voltada para cima em a; b) Se existir uma vizinhan¸ca V de a, V ⊂ I, tal que r(x) < 0, ∀x ∈ V \ {a}, diz-se que f tem a concavidade voltada para baixo em a. c) Se existir uma vizinhan¸ca V = ]a − ε, a + ε[ ⊂ I de a tal que r(x) > 0 ∀x ∈ ]a − ε, a[ e r(x) < 0 ∀x ∈ ]a, a + ε[
ou
r(x) < 0 ∀x ∈ ]a − ε, a[ e r(x) > 0 ∀x ∈ ]a, a + ε[, diz-se que o gr´afico de f tem um ponto de inflex˜ ao em (a, f (a)). A Figura 3.9 sugere a interpreta¸ca˜o gr´afica das defini¸co˜es anteriores. Teorema 3.5.3 Sejam I um intervalo e f ∈ C 2 (I). O gr´afico de f tem a concavidade voltada para cima (respectivamente, para baixo) em todos os pontos x, interiores a I, tais que f 00 (x) > 0 (respectivamente, f 00 (x) < 0). Demonstra¸ca˜o: Seja a um ponto interior a I tal que f 00 (a) 6= 0. Como f ∈ C 2 (I) e f 00 (a) 6= 0, existe uma vizinhan¸ca V de a, V ⊂ I, onde f 00 (x) toma o sinal de f 00 (a), isto ´e, se f 00 (a) > 0 ent˜ao f 00 (x) > 0, ∀x ∈ V , se f 00 (a) < 0 ent˜ao f 00 (x) < 0, ∀x ∈ V . Seja x ∈ V . Pelo Teorema de Taylor, existe c ∈ V tal que f (x) = f (a) + f 0 (a) (x − a) + f 00 (c) Queremos estudar o sinal de r(x):
(x − a)2 · 2!
3.5 Aplica¸ co ˜es da f´ ormula de Taylor
65
r(x) = f (x) − (f (a) + f 0 (a) (x − a)) (x − a)2 = f (a) + f 0 (a) (x − a) + f 00 (c) − (f (a) + f 0 (a) (x − a)) 2! (x − a)2 = f 00 (c) · 2! O sinal de r(x) depende apenas do sinal de f 00 (c) que, por sua vez, tem o sinal de f (a). Se f 00 (a) > 0 ent˜ao r(x) > 0, o que significa que f tem a concavidade voltada para cima. Se f 00 (a) < 0 ent˜ao r(x) < 0, o que significa que f tem a concavidade voltada para baixo. 00
Corol´ ario 1 Se f ∈ C 2 (I) e tem um ponto de inflex˜ao num ponto a, interior a I, ent˜ao f 00 (a) = 0. Teorema 3.5.4 Sejam I um intervalo e f ∈ C n (I), n > 2. Se a ´e um ponto interior a I tal que f 00 (a) = f 000 (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0 e f (n) (a) 6= 0
ent˜ao
a) se n ´e par, f tem a concavidade voltada para cima se f (n) (a) > 0 e tem a concavidade voltada para baixo se f (n) (a) < 0; b) se n ´e ´ımpar, a ´e ponto de inflex˜ao. Demonstra¸ca˜o: Como f (n) (x) ´e cont´ınua e f (n) (a) 6= 0, existe uma vizinhan¸ca V de a, V ⊂ I, onde f (n) (x) toma o sinal de f (n) (a), isto ´e, se f (n) (a) > 0 ent˜ao f (n) (x) > 0, ∀x ∈ V , se f (n) (a) < 0 ent˜ao f (n) (x) < 0, ∀x ∈ V . Seja x ∈ V . Como f ´e n vezes diferenci´avel em I e V ⊂ I, pelo Teorema de Taylor existe c ∈ V tal que f (x) = f (a)+f 0 (a) (x−a)+f 00 (a)
(x − a)2 (x − a)n−1 (x − a)n +· · ·+f (n−1) (a) +f (n) (c) · 2! (n − 1)! n!
Por hip´otese, f 00 (a) = f 000 (a) = · · · = f (n−1) (a) = 0, portanto, f (x) = f (a) + f 0 (a) (x − a) + f (n) (c)
(x − a)n · n!
Queremos estudar o sinal de r(x): r(x) = f (x) − (f (a) + f 0 (a) (x − a))
= f (a) + f 0 (a) (x − a) + f (n) (c) (x − a)n = f (n) (c) n!
(x − a)n − (f (a) + f 0 (a) (x − a)) n!
66
3. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Diferencial
a) Se n ´e par ent˜ao (x − a)n > 0, ∀x ∈ V \ {a}, o que implica que o sinal de r ´e o sinal de f (n) (c). Assim, se f (n) (a) > 0, r(x) > 0 e f tem a concavidade voltada para cima; f (n) (a) < 0, r(x) < 0 e f tem a concavidade voltada para baixo. b) Se n ´e ´ımpar ent˜ao (x − a)n > 0, ∀x > a e (x − a)n < 0, ∀x < a. Mas isto implica que o sinal de r muda quando se passa de valores menores do que a para valores maiores do que a. Portanto, a ´e ponto de inflex˜ao. EXEMPLO 1: Seja f (x) = x + sen(x). Como f 0 (x) = 1 + cos(x) temos f 00 (x) = 0 ⇔ sen(x) = 0 ⇔ x = kπ, k ∈ Z.
Mas f 000 (x) = − cos(x), portanto, f 000 (kπ) = 1 se k ´e ´ımpar e f 000 (kπ) = −1 se k ´e par. Conclu´ımos, pelo teorema anterior, que kπ, k ∈ Z ´e ponto de inflex˜ao. EXEMPLO 2: Consideremos novamente a fun¸ca˜o f (x) = x2 (x − 1)3 . Como f 00 (x) = 2(x − 1)(10x2 − 8x + 1) temos √ √ 4+ 6 4− 6 00 f (x) = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = ∨x= · 10 10 Mas f 000 (x) = 6(10x2 − 12x + 3), portanto,
√ √ 6− 6 6+ 6 f (x) = 0 ⇔ x = ∨x= , 10 10 000
√
√
o que implica que f 000 (1) 6= 0, f 000 ( 4−10 6 ) 6= 0 e f 000 ( 4+10 6 ) 6= 0. Pelo teorema anterior conclu´ımos que estes trˆes pontos s˜ao pontos de inflex˜ao.
Cap´ıtulo 4 Fun¸co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸c˜ ao 4.1
Primitivas imediatas
Defini¸c˜ ao 4.1.1 Sejam f e F duas fun¸co˜es definidas num intervalo I. Diz-se que F ´e uma primitiva de f em I se F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ I. EXEMPLO 1: Como (sen(x))0 = cos(x) temos que sen(x) ´e primitiva de cos(x). EXEMPLO 2: De (x2 )0 = 2x conclu´ımos que x2 ´e primitiva de 2x. Defini¸c˜ ao 4.1.2 Uma fun¸ca˜o f diz-se primitiv´ avel num intervalo I se existir uma primitiva de f , definida em I. NOTA: H´a fun¸co˜es que n˜ao s˜ao primitiv´aveis. Por exemplo, a fun¸ca˜o f : R → R definida por ½ 0, se x < 2 f (x) = 1, se x ≥ 2
n˜ao ´e primitiv´avel em R. De facto, a existˆencia de uma fun¸ca˜o F : R → R tal que F 0 (x) = f (x), ∀x ∈ R, contradiz o Teorema de Darboux: f n˜ao toma nenhum valor entre 0 e 1. Teorema 4.1.1 Se F ´e primitiva de f , num intervalo I, ent˜ao, qualquer que seja C ∈ R, a fun¸ca˜o G(x) = F (x) + C ´e tamb´em primitiva de f em I. Demonstra¸ca˜o: Basta notar que G0 (x) = F 0 (x) + C 0 = F 0 (x) = f (x). Teorema 4.1.2 Se F e G s˜ao duas primitivas de f num intervalo I, ent˜ao F − G ´e constante em I.
68
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
Demonstra¸ca˜o: Usa-se o Corol´ario 2 do Teorema de Lagrange, notando que F 0 (x) = G0 (x) = f (x), ∀x ∈ I. NOTAS: 1. Como consequˆencia dos teoremas anteriores temos que todas as primitivas de f s˜ao da forma F + C com F uma primitiva de f e C ∈ R. 2. Se F ´e uma primitiva de f no intervalo I, designamos por P f qualquer primitiva de f em I, isto ´e, P f = F + C, com C ∈ R, qualquer. Geometricamente:
Figura 4.1
Defini¸c˜ ao 4.1.3 Chamam-se primitivas imediatas as que se deduzem directamente de uma regra de deriva¸ca˜o. A partir das regras de deriva¸ca˜o obt´em-se facilmente: Teorema 4.1.3 Sejam f e g duas fun¸co˜es primitiv´aveis num intervalo I e a ∈ R. Ent˜ao a) P a f (x) = a P f (x);
b) P (f (x) + g(x)) = P f (x) + P g(x). Apresentamos a seguir uma tabela com algumas primitivas imediatas.
f (x) α
x ,
P f (x)
α 6= −1
(u(x))α u0 (x), 1 x
α 6= −1
xα+1 +C α+1 (u(x))α+1 +C α+1 log(|x|) + C
4.1 Primitivas imediatas
69
f (x)
P f (x)
u0 (x) u(x)
log(|u(x)|) + C
ex
ex + C
eu(x) u0 (x)
eu(x) + C
ax , (a > 0)
ax +C log(a)
au(x) u0 (x), (a > 0)
au(x) +C log(a)
cos(x)
sen(x) + C
cos(u(x)) u0 (x)
sen(u(x)) + C
sen(x)
− cos(x) + C
sen(u(x)) u0 (x)
− cos(u(x)) + C
1 1 − x2 u0 (x)
√ p
1 − (u(x))2 1 1 − x2 u0 (x)
−√
−p 1 − (u(x))2 1 1 + x2 u0 (x) 1 + (u(x))2
arc sen(x) + C arc sen(u(x)) + C arc cos(x) + C arc cos(u(x)) + C arc tg(x) + C arc tg(u(x)) + C
sec2 (x)
tg(x) + C
sec2 (u(x)) u0 (x)
tg(u(x)) + C
70
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
f (x)
P f (x)
cosec2 (x)
−cotg(x) + C
cosec2 (u(x)) u0 (x) −cotg(u(x)) + C EXEMPLOS: P (x2 + x + 1) = P x2 + P x + P 1 =
x3 x2 + + x + C; 3 2
1 + cos(2x) 1 1 P cos (x) = P = (P 1 + P cos(2x)) = 2 2 2 2
µ ¶ sen(2x) x+ + C; 2
1 √ √ (x2 + 3) 3 +1 3 1 3 3 2 2 P 2x x + 3 = P 2x(x + 3) 3 = + C = (x2 + 3) x2 + 3 + C; 1 4 + 1 3
P
3x2 = log |x3 + 1| + C; 3 x +1
1 1 P e5x = P 5 e5x = e5x + C; 5 5 P 10x cos(5x2 + 7) = sen(5x2 + 7) + C; P
2 = arc tg(2x) + C; 1 + (2x)2
2 P (cos(x) − 2 e3x ) = P cos(x) − 2P e3x = sen(x) − e3x + C; 3 1
1 (x3 − 1)− 3 +1 1p x2 3 2 3 − 13 = + C = (x3 − 1)2 + C. P √ · = P x (x − 1) 1 3 3 3 2 + 1 − x −1 3 Teorema 4.1.4 Seja f uma fun¸ca˜o primitiv´avel num intervalo I. Ent˜ao, para cada x0 ∈ I e cada y0 ∈ R, existe uma, e uma s´o, primitiva F de f tal que F (x0 ) = y0 . Em particular, existe uma, e uma s´o, primitiva de f que se anula em x0 . √ EXEMPLO 1: Calculemos f sabendo que f 0 (x) = x x e f (1) = 2. Comecemos por calcular as primitivas F de f 0 , pois f ´e uma dessas fun¸co˜es. 2 5 F (x) = x 2 + C. 5
4.1 Primitivas imediatas
71
Mas f (1) = 2 ⇔
2 8 +C =2⇔C = , 5 5
2 5 8 portanto, f (x) = x 2 + · 5 5 EXEMPLO 2: Pretendemos calcular f sabendo que f 00 (x) = 12x2 + 6x − 4, f (0) = 4 e f (1) = 5. A fun¸ca˜o f pertence ao conjunto das fun¸co˜es F tais que F 0 (x) = 4x3 + 3x2 − 4x + C e, portanto, ser´a uma fun¸ca˜o da forma F (x) = x4 + x3 − 2x2 + Cx + C1 . Como ½ ½ C1 = 4 f (0) = 4 ⇔ C = 1 f (1) = 5
ent˜ao f (x) = x4 + x3 − 2x2 + x + 4.
72
4.2
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
M´ etodos gerais de primitiva¸c˜ ao: Primitiva¸c˜ ao por partes e por substitui¸c˜ ao
Teorema 4.2.1 (Primitiva¸c˜ ao por partes) Sejam I um intervalo, F uma primitiva de f em I e g uma fun¸ca˜o diferenci´avel em I. Ent˜ao P (f g) = F g − P (F g 0 ) Demonstra¸ca˜o: Pela regra da deriva¸ca˜o do produto (F g)0 = F 0 g + F g 0 = f g + F g 0 , o que implica que f g = (F g)0 − F g 0 e, portanto, P (f g) = F g − P (F g 0 ). EXEMPLO 1: Seja h(x) = x log(x). Calculemos a primitiva de h por partes: consideremos f (x) = x e g(x) = log(x). µ 2 ¶ x 1 1 x2 x2 x2 x2 log(x) − P · log(x) − P (x) = log(x) − + C. P (x log(x)) = = 2 2 x 2 2 2 4 EXEMPLO 2: Podemos primitivar a fun¸ca˜o h(x) = log(x) usando este m´etodo. Sejam f (x) = 1 e g(x) = log(x). µ ¶ 1 P (log(x)) = P (1. log(x)) = x log(x) − P x = x log(x) − P (1) = x log(x) − x + C. x EXEMPLO 3: Seja h(x) = cos(x) log(sen(x)). Sejam f (x) = cos(x) e g(x) = log(sen(x)). Ent˜ao µ ¶ cos(x) P (cos(x) log(sen(x))) = sen(x) log(sen(x)) − P sen(x) sen(x) = sen(x) log(sen(x)) − P (cos(x)) = sen(x) log(sen(x)) − sen(x) + C. EXEMPLO 4: Para calcular a primitiva de h(x) = cos(log(x)) consideremos f (x) = 1 e g(x) = cos(log(x)). Ent˜ao P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + P sen(log(x)). Esta u ´ltima primitiva calcula-se novamente por partes obtendo-se P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + x sen(log(x)) − P cos(log(x)), e, portanto, 2 P (cos(log(x))) = x cos(log(x)) + x sen(log(x)),
4.2 Primitiva¸ c˜ ao por partes e por substitui¸ c˜ ao
ou seja, P (cos(log(x))) =
73
x (cos(log(x)) + sen(log(x))) + C. 2
EXEMPLO 5: Sejam h(x) = log3 (x), f (x) = 1 e g(x) = log3 (x). P (1. log3 (x)) = x log3 (x) − P (3 log2 (x)). Primitivando novamente por partes, e usando o resultado obtido anteriormente para P (log(x)), obtemos P (1. log3 (x)) = x log3 (x) − 3 (x log2 (x) − P (2 log(x))) = x log3 (x) − 3x log2 (x) + 6x log(x) − 6x + C. Teorema 4.2.2 (Primitiva¸c˜ ao por substitui¸c˜ ao) Sejam f uma fun¸ca˜o primitiv´avel num intervalo J e ϕ uma fun¸ca˜o bijectiva e diferenci´avel no intervalo I tal que ϕ(I) = J. Seja Φ(t) = P (f (ϕ(t))ϕ0 (t)). Ent˜ao a fun¸ca˜o F (x) = Φ(ϕ−1 (x)) ´e uma primitiva de f em J. Demonstra¸ca˜o: Seja F uma primitiva de f . Como, por hip´otese, x = ϕ(t) temos F (x) = F (ϕ(t)). Pela regra de deriva¸ca˜o da fun¸ca˜o composta (F (ϕ(t)))0 = F 0 (ϕ(t))ϕ0 (t) = f (ϕ(t))ϕ0 (t) = Φ0 (t), porque design´amos por Φ(t) uma primitiva de f (ϕ(t))ϕ0 (t). Como F (ϕ(t)) e Φ(t) s˜ao ambas primitivas de f (ϕ(t))ϕ0 (t) sabemos que F (ϕ(t)) − Φ(t) = C,
C constante real,
ou ainda, F (ϕ(t)) = Φ(t) + C, o que implica que F (x) = Φ(ϕ−1 (x)) + C. EXEMPLO 1: Seja f (x) = √ isto ´e, ϕ(t) = 1 + t2 = x. P (f (ϕ(t)).ϕ0 (t)) = P
√ x3 . Para calcular a primitiva de f fa¸camos x − 1 = t, x−1
(1 + t2 )3 t5 t7 2t = 2 P (1+t2 )3 = 2 P (1+3t2 +3t4 +t6 ) = 2(t+t3 +3 + ). t 5 7
Assim, µ ¶ √ √ x3 3 √ 1 √ 3 5 7 =2 x − 1 + ( x − 1) + ( x − 1) + ( x − 1) + C. P√ 5 7 x−1
74
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
EXEMPLO 2: Consideremos f (x) = ex = t, isto ´e, ϕ(t) = log(t).
ex
P (f (ϕ(t)).ϕ0 (t)) = P
1 · Podemos calcular a sua primitiva fazendo + e−x
1 1 1 · =P = arc tg(t). −1 t+t t 1 + t2
Consequentemente, P f (x) = arc tg(ex ) + C. NOTA: Usamos, por vezes a nota¸ca˜o P f (x) = {Pt f (ϕ(t))ϕ0 (t)} t=ϕ−1 (x) .
4.3 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es racionais
4.3
75
Primitiva¸c˜ ao de fun¸co ˜es racionais
Sejam P (x) = an xn + · · · + a1 x + a0 e Q(x) = bm xm + · · · + b1 x + b0 , n, m ∈ N0 , an 6= 0, bm 6= 0, dois polin´ omios com coeficientes aj , bj ∈ R; n e m os graus de P e Q, respectivamente. Defini¸c˜ ao 4.3.1 Chama-se fun¸ ca ˜o racional toda a fun¸ca˜o f : D ⊂ R → R que pode ser expressa na forma P (x) f (x) = Q(x) em que P e Q s˜ao polin´omios e D = {x ∈ R : Q(x) 6= 0}. Defini¸c˜ ao 4.3.2 Dois polin´omios P e Q dizem-se iguais, e escreve-se P = Q, se P (x) = Q(x), ∀x ∈ R. Verifica-se facilmente que, sendo P (x) = an xn + · · · + a1 x + a0 e Q(x) = bm xm + · · · + b1 x + b0 , se tem P (x) = Q(x), ∀x ∈ R ⇔ n = m ∧ an = bm , . . . , a1 = b1 , a0 = b0 . Dados dois polin´omios P e Q, de graus n e m, respectivamente, n > m, existem polin´omios M e R tais que P (x) = M (x) Q(x) + R(x) e grau de R < grau de Q. M diz-se o polin´omio quociente e R o polin´omio resto. Defini¸c˜ ao 4.3.3 Um polin´omio P de grau maior ou igual a 1 diz-se redut´ıvel se existem polin´omios P1 e P2 tais que grau de Pi < grau de P (i = 1, 2) e P (x) = P1 (x)P2 (x). O polin´omio P diz-se irredut´ıvel se n˜ao for redut´ıvel. ´ poss´ıvel determinar quais s˜ao precisamente os polin´omios irredut´ıveis. Considere-se, E sem perda de generalidade, os polin´ omios unit´ arios (com coeficiente an = 1): P (x) = n n−1 x + an−1 x + · · · + a 1 x + a0 . • Todos os polin´omios de grau 1, P (x) = x − a, s˜ao irredut´ıveis. • Um polin´omio de grau 2, P (x) = x2 + bx + c ´e irredut´ıvel se, e s´o se, n˜ao tem ra´ızes reais, isto ´e, b2 − 4ac < 0. Assim os polin´omios de grau 2 irredut´ıveis s˜ao precisamente os polin´omios da forma P (x) = (x − α)2 + β 2 , α, β ∈ R, β 6= 0, associado a`s duas ra´ızes complexas conjugadas α ± iβ.
76
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
• Os u ´nicos polin´omios irredut´ıveis s˜ao os considerados e mostra-se que todo o polin´omio P (x) com grau maior ou igual a 1 ´e produto de polin´omios irredut´ıveis: P (x) = (x − a1 )n1 · · · (x − ap )np [(x − α1 )2 + β12 ]m1 · · · [(x − αq )2 + βq2 ]mq em que ni , mj ∈ N representam o grau de multiplicidade do correspondente factor em P . Defini¸c˜ ao 4.3.4 Uma fun¸ca˜o racional f (x) =
P (x) diz-se irredut´ıvel se P e Q n˜ao Q(x)
tiverem ra´ızes comuns. Dada uma fun¸ca˜o racional irredut´ıvel, podemos ter dois casos: 1o O grau do polin´omio P ´e maior ou igual ao grau do polin´omio Q. 2o O grau do polin´omio P ´e menor do que o grau do polin´omio Q. No primeiro caso, fazendo a divis˜ao dos polin´omios obtemos P (x) = M (x) Q(x) + R(x), em que M e R s˜ao polin´omios, sendo M o quociente e R o resto (que tem grau inferior ao grau de Q). Temos ent˜ao R(x) P (x) = M (x) + Q(x) Q(x) o que implica que P
µ
P (x) Q(x)
¶
= P (M (x)) + P
µ
R(x) Q(x)
¶
·
A primitiva de M ´e imediata por ser a primitiva de um polin´omio. A segunda ´e a primitiva de uma fun¸ca˜o racional, em que o grau do numerador ´e menor do que o do denominador. Conclu´ımos, assim, que basta estudar o caso das fun¸co˜es racionais irredut´ıveis em que o grau do numerador ´e menor do que o grau do denominador, isto ´e, ficamos reduzidos ao 2o caso atr´as considerado. Os teoremas seguintes, que n˜ao demonstraremos, permitem-nos decompor uma fun¸ca˜o racional irredut´ıvel do 2o caso na soma de fun¸co˜es racionais cujas primitivas s˜ao “f´aceis” de calcular (ou mesmo primitivas imediatas). A primitiva¸ca˜o de fun¸co˜es racionais irredut´ıveis fica, pois, completamente resolvida. Comecemos por analisar os casos em que Q admite apenas ra´ızes reais. Temos o seguinte teorema: Teorema 4.3.1 Se
P (x) ´e uma fun¸ca˜o racional irredut´ıvel, se o grau de P ´e menor que Q(x)
o grau de Q e se Q(x) = a0 (x − a1 )n1 (x − a2 )n2 . . . (x − ap )np ,
4.3 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es racionais
77
com a1 , a2 , . . . , ap n´ umeros reais distintos e n1 , n2 , . . . , np ∈ N, ent˜ao a fun¸ca˜o ´e decompon´ıvel numa soma da forma B np A1 B1 A n1 P (x) + ··· + + ··· + = + ··· + n n p 1 Q(x) (x − a1 ) x − a1 (x − anp ) x − a np onde An1 , . . . , A1 , . . . , Bnp , . . . , B1 s˜ao n´ umeros reais. NOTA: Nas condi¸co˜es do Teorema 4.3.1, qualquer das parcelas em que se decomp˜oe a fun¸ca˜o tem primitiva imediata: P
A A 1 = · , se p 6= 1 p (x − a) 1 − p (x − a)p−1 P
A = A log |x − a| x−a
1o caso: Q tem ra´ızes reais de multiplicidade 1, isto ´e, Q decomp˜oe-se em factores do tipo A x − a com a ∈ R. A cada raiz a de Q associa-se uma parcela do tipo , com A x−a constante a determinar. 4x2 + x + 1 · x3 − x Como o n´ umero de ra´ızes de um polin´omio n˜ao ultrapassa o seu grau e x3 − x admite as ra´ızes x = 0, x = −1 e x = 1, podemos concluir que estas ra´ızes tˆem multiplicidade 1. Ent˜ao 4x2 + x + 1 A B C = + + 3 x −x x x−1 x+1
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da fun¸ca˜o f definida por f (x) =
=
A(x2 − 1) + Bx(x + 1) + Cx(x − 1) x3 − x
=
(A + B + C)x2 + (B − C)x − A x3 − x
Pelo m´etodo dos coeficientes indeterminados temos A+B+C = 4 B+C = 5 B−C = 1 B−C = 1 ⇔ −A = 1 A = −1
⇔
Assim:
4x2 + x + 1 −1 3 2 = + + x3 − x x x−1 x+1
B = 3 C = 2 A = −1
78
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
e P
µ
4x2 + x + 1 x3 − x
¶
= P
µ
−1 x
¶
+P
µ
3 x−1
¶
+P
µ
2 x+1
¶
= − log |x| + 3 log |x − 1| + 2 log |x + 1| + C ¯ µ¯ ¶ ¯ (x − 1)3 ¯ 2 ¯ ¯ = log ¯ ¯ (x + 1) + C. x
2o caso: Q tem ra´ızes reais de multiplicidade p, p > 1, isto ´e, Q admite x − a, com a ∈ R, como divisor p vezes. Na decomposi¸ca˜o, a cada raiz a de Q de multiplicidade p vai corresponder uma soma de p parcelas com a seguinte forma: Ap−1 A1 Ap + + ··· + , p p−1 (x − a) (x − a) x−a com Ap , Ap−1 , . . . , A1 constantes a determinar. 2x3 + 5x2 + 6x + 2 · x(x + 1)3 Como x(x + 1)3 admite as ra´ızes x = 0, x = −1 e x + 1 aparece 3 vezes na factoriza¸ca˜o do polin´omio, podemos concluir que estas ra´ızes tˆem multiplicidade 1 e multiplicidade 3, respectivamente. Ent˜ao
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da fun¸ca˜o f definida por f (x) =
2x3 + 5x2 + 6x + 2 A B C D = + + + x(x + 1)3 x (x + 1)3 (x + 1)2 x + 1 =
A(x + 1)3 + Bx + Cx(x + 1) + Dx(x + 1)2 x(x + 1)3
=
(A + D)x3 + (3A + C + 2D)x2 + (3A + B + C + D)x + A x(x + 1)3
Pelo m´etodo dos coeficientes indeterminados temos D = 0 A + D = 2 C = −1 3A + C + 2D = 5 ⇔ B = 1 3A + B + C + D = 6 A = 2 A = 2
Assim:
2x3 + 5x2 + 6x + 2 2 −1 1 = + + 3 3 x(x + 1) x (x + 1) (x + 1)2
4.3 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es racionais
e P
µ
2x3 + 5x2 + 6x + 2 x(x + 1)3
¶
79
µ ¶ ¶ µ ¶ µ 2 1 1 = P −P +P x (x + 1)3 (x + 1)2 = 2 log |x| −
1 1 1 + +C 2 (x + 1)2 x + 1
= log (x2 ) −
1 1 1 + + C. 2 2 (x + 1) x+1
Vejamos agora os casos em que o polin´omio Q admite ra´ızes complexas. P (x) ´e uma fun¸ca˜o racional irredut´ıvel, se o grau de P ´e menor que Q(x) o grau de Q e se α + iβ (α, β ∈ R) ´e uma raiz de Q, de multiplicidade r, ent˜ao
Teorema 4.3.2 Se
Mr x + N r M1 x + N 1 H(x) P (x) = + ··· + + ∗ 2 2 r 2 2 Q(x) [(x − α) + β ] (x − α) + β Q (x) onde H e Q∗ s˜ao polin´omios tais que o grau de H ´e menor que o grau de Q∗, Mr , Nr , . . . , M1 , N1 , s˜ao n´ umeros reais e nem α + iβ nem α − iβ s˜ao ra´ızes do polin´omio Q ∗ . 1o caso: Q tem ra´ızes complexas de multiplicidade 1, isto ´e, Q admite como divisores polin´omios de grau 2, (uma u ´nica vez cada polin´omio), que n˜ao tˆem ra´ızes reais. Na decomposi¸ca˜o, a cada par de ra´ızes (α + iβ, α − iβ) vai corresponder uma parcela com a seguinte forma: Ax + B (x − α)2 + β 2 com A e B constantes a determinar.
EXEMPLO: Calculemos a primitiva da fun¸ca˜o f definida por f (x) = Como
x2 + 2 · (x − 1)(x2 + x + 1)
√ 1 3 (x − 1)(x2 + x + 1) = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = − ± i 2 2 podemos concluir que estas ra´ızes tˆem multiplicidade 1. Ent˜ao x2 + 2 A Bx + C = + 2 (x − 1)(x + x + 1) x − 1 (x + 12 )2 +
3 4
=
A(x2 + x + 1) + (Bx + C)(x − 1) (x − 1)(x2 + x + 1)
=
(A + B)x2 + (A − B + C)x + A − C (x − 1)(x2 + x + 1)
80
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
Pelo m´etodo dos coeficientes indeterminados temos = 1 A+B A = 1 A−B+C = 0 B = 0 ⇔ A−C = 2 C = −1
Assim:
e
1 −1 x2 + 2 = + 2 (x − 1)(x + x + 1) x − 1 (x + 12 )2 + 34 µ ¶ µ ¶ µ ¶ x2 + 2 1 −1 P = P +P (x − 1)(x2 + x + 1) x−1 (x + 12 )2 + 34 = log |x − 1| − P
A primitiva
µ
1 1 2 (x + 2 ) +
3 4
¶
.
µ
¶ 1 P (x + 12 )2 + 34 √ √ 1 1 3 3 calcula-se fazendo a substitui¸ca˜o x + = t, isto ´e, ϕ(t) = t − · (No caso geral, 2 2 2 2 sendo a + ib a raiz, a substitui¸ca˜o ´e x − a = bt). Ent˜ao à √ ! 3 2 1 2 1 0 √ = √ arc tg(t), · =√ P 2 P f (ϕ(t)).ϕ (t) = P 3 2 3 2 3 t +1 3 ( t) + 2
portanto, P Finalmente,
µ
1 1 2 (x + 2 ) +
4
3 4
¶
2 = √ arc tg 3
2 P f (x) = log |x − 1| − √ arc tg 3
µ
µ
1 2 √ x+ √ 3 3
1 2 √ x+ √ 3 3
¶
¶
.
+ C.
2o caso: Q tem ra´ızes complexas de multiplicidade p, p > 1, isto ´e, Q admite como divisores polin´omios de grau 2 que n˜ao tˆem ra´ızes reais, aparecendo p vezes cada polin´omio na factoriza¸ca˜o de Q. Na decomposi¸ca˜o, a cada par de ra´ızes (α+iβ, α−iβ) vai corresponder uma soma de parcelas com a seguinte forma: Ap x + B p Ap−1 x + Bp−1 A1 x + B 1 + + ··· + 2 2 p 2 2 p−1 ((x − α) + β ) ((x − α) + β ) (x − α)2 + β 2 com Ap , Ap−1 , . . . , A1 , Bp , Bp−1 , . . . , B1 constantes a determinar. EXEMPLO: Calculemos a primitiva da fun¸ca˜o f definida por f (x) =
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 · (x − 1)(x2 + 2)2
4.3 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es racionais
Como
81
√ (x − 1)(x2 + 2)2 = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = ±i 2
e (x − 1)(x2 + 2)2 tem grau 5, podemos concluir que estas ra´ızes tˆem multiplicidade 1 e multiplicidade 2, respectivamente. Ent˜ao A Dx + E x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 Bx + C = + 2 + 2 2 2 2 (x − 1)(x + 2) x − 1 (x + 2) x +2 =
A(x2 + 2)2 + (Bx + C)(x − 1) + (Dx + E)(x − 1)(x2 + 2) (x − 1)(x2 + 2)2
Pelo m´etodo dos coeficientes indeterminados temos A = 1 B = 1 C = −1 D = 0 E = −1
Assim:
e P
µ
1 −1 x−1 x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 = + 2 + 2 2 2 2 (x − 1)(x + 2) x − 1 (x + 2) x +2
x4 − x3 + 6x2 − 4x + 7 (x − 1)(x2 + 2)2
¶
A primitiva
= P
µ
1 x−1
¶
+P
µ
x−1 (x2 + 2)2
= log |x − 1| + P
µ
= log |x − 1| + P
µ
x−1 (x2 + 2)2
¶
= log |x − 1| + P
µ
x−1 (x2 + 2)2
¶
x−1 (x2 + 2)2
¶
¶
+P
−P
Ã
−1 2 x +2 1 2
1+
x2 2
¶
!
√1 2
1 −√ P ³ ´2 2 1 + √x2 1 − √ arc tg 2
à ! ¶ x−1 x−1 =P P √ 2 (x2 + 2)2 (x2 + 2 )2 √ √ calcula-se fazendo a substitui¸ca˜o x = 2 t, isto ´e, ϕ(t) = 2 t. Ent˜ao µ
µ
µ
x √ 2
¶
.
82
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
P f (ϕ(t)).ϕ0 (t) = P
Ã√
2t − 1 √ · 2 (2t2 + 2)2
!
! Ã√ √ 2 2t − 1 P = 4 (t2 + 1)2 à √ ! √ 1 2 2t = P − 4 (t2 + 1)2 (t2 + 1)2 ! √ à √ 2 2t 1 = P 2 −P 2 4 (t + 1)2 (t + 1)2 ! √ Ã√ 2 2 1 2 −2 = P 2t(t + 1) − P 2 4 2 (t + 1)2 ! √ à √ 2 2 2 2 2 1 + t − t = − (t + 1)−1 − P 4 2 (t2 + 1)2 √ µ ¶ 1 1 1 + t2 t2 2 = − 2 P 2 − −P 2 4t +1 4 (t + 1)2 (t + 1)2 √ µ ¶ 1 1 1 2 t 2t = − 2 P 2 − −P 4t +1 4 t +1 2 (t2 + 1)2
√ µ µ ¶¶ 1 1 1 t 1 1 2 = − 2 arc tg(t) − − 2 − +P 4t +1 4 t +1 2 2 t2 + 1
√ √ √ 1 1 t 2 2 2 = − 2 − arc tg(t) − + arc tg(t) 2 4t +1 4 4 2(t + 1) 8 √ 2t + 2 2 = − 2 − arc tg(t), 8(t + 1) 8 √
portanto, P Finalmente,
µ
x−1 (x2 + 2)2
¶
√ ¶ µ 2 x+2 x − arc tg √ . =− 4(x2 + 2) 8 2
√ ¶ µ x+2 5 2 x − P f (x) = log |x − 1| − arc tg √ + C. 8 4(x2 + 2) 2
4.3 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es racionais
83
P (x) admite uma decomposi¸ca˜o da forma que aparece neste teorema, a sua Q(x) primitiva pode ser calculada recorrendo a primitivas de fun¸co˜es da forma NOTA: Se
Ax + B (x − α)2 + β 2
Cx + D , p > 1. [(x − α)2 + β 2 ]p
e
Temos no primeiro caso, usando a substitui¸ca˜o x − α = βt, ½ ¾ A(α + βt) + B Ax + B = Pt ·β P (x − α)2 + β 2 β 2 t2 + β 2 t= x−α β
Pt
A (α + βt) + B A α + B + A βt ·β =P 2 2 2 β t +β β(t2 + 1) A βt Aα+B + P β(t2 + 1) β(t2 + 1)
=P
=
Aα+B 1 t P 2 +AP 2 β t +1 t +1
=
Aα+B A arctg(t) + log(t2 + 1) β 2
Portanto, Aα+B Ax + B = P arctg (x − α)2 + β 2 β
µ
x−α β
¶
A + log 2
"µ
x−α β
¶2
#
+ 1 + C.
No segundo caso, usando a mesma substitui¸ca˜o, ½ ¾ Cx + D C(α + βt) + D P = Pt ·β . [(x − α)2 + β 2 ]p (β 2 t2 + β 2 )p t= x−α β
Pt
C α + D + C βt C (α + βt) + D ·β =P 2 2 2 p (β t + β ) β 2p−1 (t2 + 1)p =P
C α+D C βt + P 2p−1 2 p + 1) β (t + 1)p
β 2p−1 (t2
=
1 C t C α+D P 2 + 2p−2 P 2 2p−1 p β (t + 1) β (t + 1)p
=
1 C 1 1 C α+D P 2 − 2p−2 · · 2 2p−1 p β (t + 1) 2β p − 1 (t + 1)p−1
84
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
Resta-nos calcular P Mas
1 · (t2 + 1)p
1 1 + t 2 − t2 1 t2 = = − (t2 + 1)p (t2 + 1)p (t2 + 1)p−1 (t2 + 1)p o que implica que
P
1 t2 1 = P − P (t2 + 1)p (t2 + 1)p−1 (t2 + 1)p =P =P =
(t2 (t2
1 t 2t −P · 2 p−1 + 1) 2 (t + 1)p t 1 1 + −P p−1 2 p−1 + 1) 2(p − 1)(t + 1) 2(p − 1)(t2 + 1)p−1
t 2p − 3 1 + , P 2 2 p−1 2(p − 1)(t + 1) 2p − 2 (t + 1)p−1
isto ´e, o c´alculo da primitiva de
(t2
1 ficou apenas dependente do c´alculo da primitiva + 1)p
1 , que por sua vez pode, de modo an´alogo, fazer-se depender do c´alculo da + 1)p−1 1 1 primitiva de 2 , e assim sucessivamente at´e chegarmos a` primitiva de que p−2 (t + 1) 1 + t2 ´e imediata. de
(t2
Teorema 4.3.3 Se
P (x) ´e uma fun¸ca˜o racional irredut´ıvel, se o grau de P ´e menor que Q(x)
o grau de Q e se Q(x) = a0 (x − a)p · · · (x − b)q [(x − α)2 + β 2 ]r · · · [(x − γ)2 + δ 2 ]s ent˜ao a fun¸ca˜o ´e decompon´ıvel numa soma da forma P (x) Ap A1 Bq B1 = + ··· + + ··· + + ··· + + p q Q(x) (x − a) x−a (x − b) x−b +
Mr x + N r M1 x + N 1 + · · · + + ···+ [(x − α)2 + β 2 ]r (x − α)2 + β 2 +
V1 x + Z 1 Vs x + Z s + ··· + 2 2 s [(x − γ) + δ ] (x − γ)2 + δ 2
onde Ap , . . . , A1 , Bq , . . . , B1 , Mr , Nr , . . . , M1 , N1 , Vs , Zs , . . . , V1 , Z1 s˜ao n´ umeros reais.
4.4 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es alg´ ebricas irracionais
4.4
85
Primitiva¸c˜ ao de fun¸co ˜es alg´ ebricas irracionais
Vejamos agora alguns tipos de fun¸co˜es cuja primitiva¸ca˜o pode reduzir-se a` primitiva¸ca˜o de fun¸co˜es racionais com uma substitui¸ca˜o adequada. Introduza-se em primeiro lugar a no¸ca˜o de polin´omio e fun¸ca˜o racional em v´arias vari´aveis. Defini¸c˜ ao 4.4.1 Designa-se por polin´ omio em duas vari´ aveis , x e y, com coeficientes reais, a aplica¸ca˜o P : R × R → R, dada por P (x, y) = amn xm y n + · · · + a11 xy + a10 x + a01 y + a00 , com m, n ∈ N0 , aij ∈ R. Define-se o grau de P como o maior inteiro i + j tal que aij 6= 0. Mais geralmente define-se, de modo an´alogo, polin´ omio em p vari´ aveis u 1 , . . . , up , → R, dada por como a aplica¸ca˜o P : R × · · · × R | {z } p vezes X P (u1 , . . . , up ) = ai1 ...ip ui11 . . . uipp , i1 ,...,ip
i1 , . . . , ip ∈ N0 , ai1 ...ip ∈ R e
X
uma soma finita em i1 , . . . , ip .
i1 ,...,ip
Defini¸c˜ ao 4.4.2 Se P (u1 , . . . , up ) e Q(u1 , . . . , up ) s˜ao dois polin´omios em p vari´aveis, chama-se fun¸ ca ˜o racional em p vari´ aveis a uma aplica¸ca˜o da forma R(u1 , . . . , up ) =
P (u1 , . . . , up ) Q(u1 , . . . , up )
definida nos elementos (u1 , . . . , up ) ∈ R · · × R} tais que Q(u1 , . . . , up ) 6= 0. | × ·{z p vezes
Analisemos ent˜ao algumas classes de fun¸co˜es suscept´ıveis de serem racionalizadas por convenientes mudan¸cas de vari´avel. No que se segue R designa uma fun¸ca˜o racional dos seus argumentos. Express˜ao m
p
Substitui¸ca˜o r
f (x) = R(x n , x q , . . . , x s )
x = tµ µ = m.m.c.{n, q, . . . , s}
³ ¡ ¡ x+b ¢ rs ´ ¢ m ¡ a x+b ¢ pq x+b n f (x) = R x, ac x+d , c x+d , . . . , ac x+d
= tµ µ = m.m.c.{n, q, . . . , s}
f (x) = xα (a + b xβ )γ
xβ = t
a x+b c x+d
86
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
EXEMPLO 1: Consideremos a fun¸ca˜o f (x) = √ usar ´e x = ϕ(t) = t6 e a primitiva a calcular ´e
1 1 √ = 1 ca˜o a 1 · A substitui¸ 3 x+ x x2 + x3
¶ µ 6t5 t3 1 1 5 2 · 6t = P 2 =6P =6 P t −t+1− P f (ϕ(t))ϕ (t) = P 3 t + t2 t (t + 1) t+1 t+1 µ 3 ¶ t t2 =6 − + t − log |t + 1| = 2t3 − 3t2 + 6t − 6 log |t + 1| 3 2 tendo-se assim √ √ √ √ 1 √ = 3 x − 3 3 x + 6 6 x − 6 log( 6 x + 1) + C. P√ 3 x+ x √ 2x + 3 √ · A substitui¸ca˜o 2x + 3 = t4 permite resolver o EXEMPLO 2: Seja f (x) = 1 − 4 2x + 3 problema. Temos ¶ µ t2 t5 1 0 3 4 3 2 P f (ϕ(t))ϕ (t) = P · 2t = −2 P = −2P t + t + t + t + 1 + 1−t t−1 t−1 µ 5 ¶ t t4 t3 t2 = −2 + + + + t + log |t − 1| 5 4 3 2 e 0
√ √ √ µ √ ( 4 2x + 3)5 ( 4 2x + 3)4 ( 4 2x + 3)3 ( 4 2x + 3)2 √ P f (x) = −2 + + + + 4 2x + 3 5 4 3 2 ¶ √ + log( 4 2x + 3) + C
p√ 2 3 x2 + 2. Fa¸camos a substitui¸ca˜o x 3 = t. Obtemos: √ 1 3 1 3 3 P f (ϕ(t))ϕ0 (t) = P t 2 (2 + t) 2 t 2 = P t2 2 + t 2 2 que, como vimos anteriormente (exemplo 2), se resolve fazendo a substitui¸ca˜o 2 + t = z 2 , isto ´e,
EXEMPLO 3: Seja f (x) = x
√ ª 3 3© P t2 2 + t = Pz (z 2 − 2)2 · z · 2z z=√2+t 2 2 ª 3© Pz 2(z 6 − 4z 4 + 4z 2 ) z=√2+t = 2 ½ 7 ¾ z5 z3 z = 3 −4 +4 7 5 3 z=√2+t ³√ ´7 12 ³√ ´5 ´3 3 ³√ = 2+t − 2+t +4 2+t 7 5
4.4 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es alg´ ebricas irracionais
87
tendo-se finalmente q√ µq ¶7 ¶5 ¶3 µq µq 12 3 2 2 2 3 2 − +4 + C. x +2= x3 + 2 x3 + 2 x3 + 2 Px 7 5
Express˜ao
Substitui¸ca˜o √
a x2 + b x + c =
√
ax + t
se a > 0 √ f (x) = R(x,
√
a x2 + b x + c)
a x2 + b x + c = t x +
√
c
se c > 0 √
a x2 + b x + c = t (x − α) √ ou a x2 + b x + c = t (x − β) se α e β s˜ao zeros reais distintos de a x2 + b x + c 1 EXEMPLO 1: Consideremos a fun¸ca˜o f (x) = √ . Como a = 3 podemos 2 x 3x − x + 1 √ √ usar a substitui¸ca˜o 3x2 − x + 1 = 3 x + t, tendo-se: √ 3x2 − x√+ 1 = 3x2 + 2 3xt + t2 −x − 2 3xt = t2 − 1 1 − t2 √ = ϕ(t) x= 1 + 2 3t √ √ −2 3t2 − 2t − 2 3 0 √ o que implica ϕ (t) = · (2 3t + 1)2 A primitiva a calcular ´e √ √ 1 −2 3t2 − 2t − 2 3 µ ¶· √ P √ 1 − t2 1 − t2 (2 3t + 1)2 √ √ +t 3· 1 + 2 3t 1 + 2 3t √ √ −2 3t2 − 2t − 2 3 √ = P√ 3(1 − t2 )2 + t(1 − t2 )(2 3t + 1 √ √ −2( 3t2 + t + 3) √ √ = P √ ( 3 − 3t2 + 2 3t2 + t)(1 − t2 )
88
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
1 = −2P = −2P 1 − t2
o que implica que
µ
1 2
1 2
¶
+ 1+t ¯ ¯ ¯1 − t¯ ¯ = log |1 − t| − log |1 + t| = log ¯¯ 1 + t¯ 1−t
¯ ¯ ¯ 1 − √3x2 − x + 1 + √3x ¯ 1 ¯ ¯ √ ¯ + C. √ = log ¯ P √ 2 2 ¯ x 3x − x + 1 1 + 3x − x + 1 − 3x ¯
1 · Tendo em conta que x −x2 + 4x − 3 √ −x2 + 4x − 3 = 0 ⇔ x = 1 ∨ x = 3 podemos usar a substitui¸ca˜o −x2 + 4x − 3 = t(x − 3). EXEMPLO 2: Primitivemos a fun¸ca˜o f (x) =
√
√ −x2 + 4x − 3 = t(x − 3) p −(x − 3)(x − 1) = t(x − 3)
−(x − 3)(x − 1) = t2 (x − 3)2 −(x − 1) = t2 (x − 3) x=
3t2 + 1 = ϕ(t) t2 + 1
4t · + 1)2 A primitiva a calcular ´e
o que implica ϕ0 (t) =
(t2
1 4t µ 2 ¶· 2 3t + 1 3t + 1 (t + 1)2 · t − 3 t2 + 1 t2 + 1 4 = P 2 (3t + 1)(3t2 + 1 − 3t2 − 3) √ −2 2 = P 2 = − √ arc tg( 3t) 3t + 1 3 P
2
o que implica que √ 1 2 P √ = − √ arc tg( 3 · x −x2 + 4x − 3 3
√
−x2 + 4x − 3 ) + C. x−3
4.4 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es alg´ ebricas irracionais
Express˜ao √ a2 − x 2 √ x2 − a 2 √ x2 + a 2
EXEMPLO 1: Seja f (x) = ϕ0 (t) = 3 cos(t) e
√
89
Substitui¸ca˜o x = a cos(t) ou x = a sen(t) x = a sec(t) ou x = a cosec(t) x = a tg(t) ou x = a cotg(t)
9 − x2 · Fa¸camos a substitui¸ca˜o x = 3 sen(t) = ϕ(t). Temos x2
p p 9 − 9 sen2 (t) 1 − sen2 (t) P f (ϕ(t))ϕ (t) = P · 3 cos(t) = P · cos(t) 9 sen2 (t) sen2 (t) cos2 (t) = P cotg2 (t) = P (cosec2 (t) − 1) = P sen2 (t) 0
= −cotg(t) − t e, assim, √ √ x x x 9 − x2 9 − x2 P = −cotg(arc sen( )) − arc sen( ) + C = − − arc sen( ) + C 2 x 3 3 x 3 EXEMPLO 2: Consideremos a fun¸ca˜o f (x) = ϕ(t). Temos ϕ0 (t) = 4 sec(t) tg(t) e
x3
√
1 e a substitui¸ca˜o x = 4 sec(t) = x2 − 16
1 p · 4 sec(t) tg(t) 43 sec3 (t) 16 sec2 (t) − 16 tg(t) tg(t) p = P =P 3 2 4 sec (t) tg(t) 43 sec2 (t) sec2 (t) − 1 1 1 1 = 3P = P cos2 (t) 4 sec2 (t) 43 µ ¶ t sen(2 t) 1 + = 3 4 2 4
P f (ϕ(t))ϕ0 (t) = P
e, assim, 1 1 √ P = 3 4 x3 x2 − 16
µ
sen(2 arc sec( x4 )) 1 x arc sec( ) + 2 4 4
EXEMPLO 3: Para calcular as primitivas de f (x) =
x2
√
¶
+C
1 podemos fazer a subsx2 + 4
90
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
titui¸ca˜o x = 2 tg(t) = ϕ(t). Temos ϕ0 (t) = 2 sec2 (t) e 1 p · 2 sec2 (t) 2 2 4 tg (t) 4 tg (t) + 4 sec2 (t) sec2 (t) p = P = P 4 tg2 (t) sec(t) 4 tg2 (t) tg2 (t) + 1 1 1 sec(t) P 2 = P cotg(t) cosec(t) = 4 tg (t) 4 1 = − cosec(t) 4
P f (ϕ(t))ϕ0 (t) = P
e, assim, 1 1 x 1 √ P = − cosec(arc tg( )) + C = − 4 2 4 x2 x 2 + 4
√
x2 + 4 +C x
4.5 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es transcendentes
4.5
91
Primitiva¸c˜ ao de fun¸co ˜es transcendentes
A substitui¸ca˜o tg
Express˜ao
Substitui¸ca˜o
f (x) = R(sen(x), cos(x))
tg( x2 ) = t
f (x) = R(sen(x), cos(x)) R(−y, −z) = R(y, z), ∀y, z
tg(x) = t
f (x) = R(ex )
ex = t
³x´ 2
= t conduz a uma fun¸ca˜o racional de t. De facto, de
sen(x) = 2 sen
³x´
. cos
³x´
tg
1 2 =2q ·q ¢ ¡ ¡ ¢ 1 + tg2 x2 1 + tg2 x2
2 2 ¡ ¢ tg x2 2t ¡ ¢= = 2 2 x 1 + t2 1 + tg 2
e
³x´
³x´
− sen2 2 2 ¡ ¢ 2 x 1 − tg 2 1 − t2 ¢ ¡ = = 1 + t2 1 + tg2 x2
cos(x) = cos2
¡x¢
¡ ¢ tg2 x2 1 ¡ ¢− ¡ ¢ = 1 + tg2 x2 1 + tg2 x2
conclui-se, tendo em conta que tg
³x´ 2
= t ⇒ x = 2 arc tg(t) = ϕ(t) ⇒ ϕ0 (t) =
P f (x) =
½
Pt R
µ
2t 1 − t2 , 1 + t2 1 + t2
¶
2 . 1 + t2
2 , 1 + t2
¾
tg( x2 )=t
A substitui¸ca˜o indicada serve no caso geral, mas em certos casos particulares s˜ao prefer´ıveis outras substitui¸co˜es. Assim, por exemplo, se R(sen(x), cos(x)) ´e fun¸ca˜o par em sen(x) e cos(x) (isto ´e, se n˜ao se altera ao mudarmos simultaneamente sen(x) para −sen(x) e cos(x) para − cos(x)), pode fazer-se a substitui¸ca˜o tg(x) = t, ou seja, ϕ(t) = arc tg(t) e sen(x) = √
t 1 + t2
e
cos(x) = √
EXEMPLO 1: Calculemos as primitivas de f (x) =
1 · 1 + t2
1 · A substitui¸ca˜o indicada 2 cos(x) + 1
92
´e tg
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
³x´ 2
= t: 1 2 2 =P · 2 2 1−t 1+t 3 − t2 + 1 2 1 +µt2 ¶ 1 1 1 = √ P √ +√ 3 3−t 3+t ¯ ¯√ ¯ 3 + t¯ √ √ 1 1 ¯ ¯ = √ (− log | 3 − t| + log | 3 + t|) = √ log ¯ √ ¯ ¯ 3 − t¯ 3 3 P
o que implica que
³ ´¯ ¯√ ¯ 3 + tg x ¯ ¯ 1 1 2 ´ ¯¯ + C. ³x = √ log ¯¯ √ P ¯ 2 cos(x) + 1 3 ¯ ¯ 3 − tg 2
EXEMPLO 2: Para calcular as primitivas de f (x) =
cos2 (x)
tui¸ca˜o tg(x) = t e obtemos P
e, portanto,
1 2
·
1 1 =P 2 1+t 1 − t2
t 1 − 2 1 +µt 1 + t2 ¶ 1 1 1 P + = 2 1−t 1+t ¯ ¯ ¯1 + t¯ 1 1 ¯ ¯ (− log |1 − t| + log |1 + t|) = log ¯ = 2 2 1 − t¯ ¯ ¯ ¯ 1 + tg(x) ¯ 1 1 ¯+C P = log ¯¯ cos2 (x) − sen2 (x) 2 1 − tg(x) ¯
1 usa-se a substitui¸ca˜o ex = t: +1 ¯ ¯ ¯ t ¯ 1 1 −1 1 ¯ ¯ P · =P + P = − log |1 + t| + log |t| = log ¯ t+1 t 1+t t 1 + t¯
EXEMPLO 3: Para primitivar a fun¸ca˜o f (x) =
e
1 fazemos a substi− sen2 (x)
1 P x = log e +1
µ
ex
ex ex + 1
¶
+ C.
As fun¸co˜es do tipo f (x) = sen(ax)sen(bx), com a e b constantes, |a| 6= |b|, podem primitivar-se tendo em conta que sen(ax).sen(bx) =
1 [cos(a − b)x − cos(a + b)x] 2
4.5 Primitiva¸ c˜ ao de fun¸ co ˜es transcendentes
93
e conclui-se que P sen(ax).sen(bx) = De modo an´alogo, P cos(ax). cos(bx) =
sen(a − b)x sen(a + b)x − +C 2(a − b) 2(a + b) sen(a − b)x sen(a + b)x + +C 2(a − b) 2(a + b)
Se pretendermos primitivar um produto de v´arios factores sen(am x) e cos(bn x) podemos come¸car por substituir por uma soma o produto de dois dos factores; depois substituem-se por somas os novos produtos obtidos por associa¸ca˜o de novos pares de factores; e assim sucessivamente at´e esgotar todos os factores. EXEMPLO: P sen(3x) cos(5x)sen(6x) 1 = P (sen(8x) + sen(−2x)) sen(6x) 2 1 1 1 1 P (cos(2x) − cos(14x)) − P (cos(−4x) − cos(8x)) = 2 2 2 2 1 1 1 1 = P cos(2x) − P cos(14x) − P cos(4x) + P cos(8x) 4µ 4 4 4¶ sen(14x) sen(4x) sen(8x) +C = 18 sen(2x) − − + 7 2 4
As fun¸co˜es do tipo f (x) = p(x)eax , onde p ´e um polin´omio de grau n em x e a ´e uma constante, primitivam-se por partes: 1 1 P p(x)eax = eax p(x) − P eax p0 (x). a a A primitiva que aparece no segundo membro ´e ainda do mesmo tipo, mas mais simples, pois o grau de p0 (x) ´e inferior em uma unidade ao grau de p(x). Aplicando novamente o mesmo processo at´e chegar a um polin´omio de grau zero, obt´em-se µ ¶ (n) p0 (x) p00 (x) (x) eax np p(x) − P f (x) = + 2 + · · · + (−1) + C. a a a an EXEMPLO: Primitivemos a fun¸ca˜o f (x) = (x2 + 2x + 1)e3x . 1 1 P (x2 + 2x + 1)e3x = (x2 + 2x + 1)e3x − P (2x + 2)e3x 3 3 ¶ µ 1 1 1 = (x2 + 2x + 1)e3x − (2x + 2)e3x + P 2e3x 3 3 3 µ ¶ 1 3x 1 2 = (x2 + 2x + 1) − (2x + 2) + + C. e 3 3 9
94
4. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: Primitiva¸ c˜ ao
As primitivas que obtivemos foram sempre fun¸co˜es elementares, isto ´e, fun¸co˜es alg´ebricas, a fun¸ca˜o exponencial, as fun¸co˜es trigonom´etricas e as trigonom´etricas inversas e, de um modo geral, as fun¸co˜es que se possam obter por composi¸ca˜o destas em n´ umero finito. Por outras palavras, aprendemos a calcular primitivas de fun¸co˜es elementarmente primitiv´aveis. Nem todas as fun¸co˜es est˜ao nesta situa¸ca˜o. No entanto, Teorema 4.5.4 Toda a fun¸ca˜o cont´ınua num intervalo [a, b] ´e primitiv´avel nesse intervalo.
Cap´ıtulo 5 Fun¸co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral 5.1
Integral de Riemann: Defini¸c˜ ao e propriedades
Defini¸c˜ ao 5.1.1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dados n + 2 pontos a = x0 < x1 < x2 < · · · < xn−1 < xn < xn+1 = b, ao conjunto dos subintervalos da forma [xi , xi+1 ], i = 0, 1, . . . , n, chama-se parti¸ ca ˜o de [a, b]. NOTAS: 1. A parti¸ca˜o ´e um conjunto de subconjuntos, mais precisamente: P = {[xi , xi+1 ] : i ∈ N0 , 0 ≤ i ≤ n}.
O nome parti¸ca˜o resulta de ∪ni=0 [xi , xi+1 ] = [a, b] e do facto de dados dois quaisquer elementos de P a sua intersec¸ca˜o ou ´e vazia ou se reduz a um ponto.
2. A parti¸ca˜o P fica bem definida pelo conjunto P = {a = x0 , x1 , x2 , . . . , xn−1 , xn , xn+1 = ´ claro que, b} pelo que podemos identificar a parti¸ca˜o P com o conjunto P . E pelo modo como definimos a parti¸ca˜o, consideramos o conjunto P ordenado, isto ´e, xi < xi+1 , i = 0, 1, . . . , n. Defini¸c˜ ao 5.1.2 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dadas duas parti¸co˜es P1 e P2 , diz-se que P1 ´e mais fina que P2 se todos os elementos de P1 est˜ao contidos em elementos de P2 . NOTA: Tendo em conta a Nota 2, a seguir a` defini¸ca˜o anterior, se P1 e P2 forem os conjuntos de pontos que definem P1 e P2 , respectivamente, a Defini¸ca˜o 5.1.2 poderia ser enunciada do seguinte modo: P1 ´e mais fina que P2 se P2 ⊂ P1 .
Proposi¸c˜ ao 1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Dadas duas parti¸co˜es de [a, b], P 1 e P2 , existe uma parti¸ca˜o de [a, b], P3 , mais fina que P1 e P2 . Demonstra¸ca˜o: Tendo em conta a Nota 2 a seguir a` Defini¸ca˜o 5.1.1 e a nota a seguir a` Defini¸ca˜o 5.1.2, se P1 e P2 s˜ao os conjuntos de pontos que definem P1 e P2 , basta tomar a parti¸ca˜o P3 definida por P3 = P1 ∪ P2 .
96
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Defini¸c˜ ao 5.1.3 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o limitada e P uma parti¸ca˜o de [a, b]. Chama-se soma inferior de Darboux de f , relativa `a parti¸ca˜o P a n X sP (f ) = (xi+1 − xi ) i=0
inf
x∈[xi ,xi+1 ]
f (x).
Chama-se soma superior de Darboux de f , relativa `a parti¸ca˜o P a SP (f ) =
n X i=0
(xi+1 − xi )
sup
f (x).
x∈[xi ,xi+1 ]
NOTAS: 1. As somas superior e inferior est˜ao bem definidas. Como f ´e limitada em [a, b], f ´e limitada em [xi , xi+1 ], isto ´e, o conjunto {f (x) : x ∈ [xi , xi+1 ]} ´e limitado e, portanto, tem ´ınfimo e supremo. ´ o´bvio que sP (f ) ≤ SP (f ). Veremos que esta propriedade se pode generalizar: para 2. E uma fun¸ca˜o limitada em [a, b], qualquer soma superior ´e maior ou igual a qualquer soma inferior. 3. Se f ´e uma fun¸ca˜o n˜ao negativa em [a, b], dada uma parti¸ca˜o P, a soma inferior de Darboux ´e igual a` soma das a´reas dos rectˆangulos cujos lados tˆem comprimento xi+1 − xi e inf f (x) (ver Figura 5.1). x∈[xi ,xi+1 ]
y
a
x 1 x 2 x 3 x 4 x5 x 6 x 7 x 8
x 9 x 10 b
x
Figura 5.1: Soma inferior de Darboux.
Analogamente, a soma superior de Darboux ´e igual a` soma das a´reas dos rectˆangulos cujos lados tˆem comprimento xi+1 − xi e sup f (x) (ver Figura 5.2). x∈[xi ,xi+1 ]
5.1 Integral de Riemann: Defini¸ c˜ ao e propriedades
97
Figura 5.2: Soma superior de Darboux.
Proposi¸c˜ ao 2 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o limitada, P 1 e P2 duas parti¸co˜es de [a, b], P1 mais fina que P2 . Ent˜ao: sP2 (f ) ≤ sP1 (f ) ≤ SP1 (f ) ≤ SP2 (f ). Demonstra¸ca˜o: Da Defini¸ca˜o 5.1.2, para cada [xi , xi+1 ] ∈ P2 , existem [yj , yj+1 ] ∈ P1 , j = i ki , . . . , pi , tais que ∪pj=k [yj , yj+1 ] = [xi , xi+1 ]. Ent˜ao i inf
x∈[xi ,xi+1 ]
pelo que
pi X
j=ki
=
(yj+1 − yj )
f (x) ≤
inf
inf
x∈[xi ,xi+1 ]
f (x)
X
j=ki
f (x) ≥
f (x), j = ki , . . . , pi ,
pi X
(yj+1 − yj )
x∈[xi ,xi+1 ]
(yj+1 − yj ) = (xi+1 − xi )
x∈[xi ,xi+1 ]
x∈[yj ,yj+1 ] pi
inf
x∈[yj ,yj+1 ]
j=ki
inf
f (x) =
inf
f (x).
Somando estas express˜oes (de i = 0 a i = n) obt´em-se sP2 (f ) ≤ sP1 (f ). Analogamente se obtinha SP1 (f ) ≤ SP2 (f ). A proposi¸ca˜o fica demonstrada tendo em conta que sP1 (f ) ≤ SP1 (f ) (ver Nota 2 a seguir a` Defini¸ca˜o 5.1.3). Proposi¸c˜ ao 3 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o limitada, P 1 e P2 duas parti¸co˜es de [a, b]. Ent˜ao: sP1 (f ) ≤ SP2 (f ) e sP2 (f ) ≤ SP1 (f ). Demonstra¸ca˜o: Pela Proposi¸ca˜o 1 existe uma parti¸ca˜o P3 mais fina que P1 e P2 . Pela Proposi¸ca˜o 2, sP1 (f ) ≤ sP3 (f ) ≤ SP3 (f ) ≤ SP2 (f ) e sP2 (f ) ≤ sP3 (f ) ≤ SP3 (f ) ≤ SP1 (f ). NOTA: Resulta desta proposi¸ca˜o que se a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R ´e uma fun¸ca˜o limitada, o conjunto das somas superiores ´e minorado (todas as somas inferiores s˜ao minorantes) e o conjunto das somas inferiores ´e majorado (todas as somas superiores s˜ao majorantes); estes conjuntos tˆem, pois, ´ınfimo e supremo, respectivamente.
98
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Defini¸c˜ ao 5.1.4 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o limitada. Ao ´ınfimo do conjunto das somas superiores de f chama-se integral superior de f em Rb [a, b] e representa-se por a f (x) dx. Ao supremo do conjunto das somas inferiores de f Rb Rb chama-se integral inferior de f em [a, b] e representa-se por a f (x) dx. Se a f (x) dx = Rb f (x) dx, diz-se que f ´e integr´ avel `a Riemann em [a, b]; a este n´ umero chama-se ina Rb Rb Rb tegral de f em [a, b] e representa-se a f (x) dx = a f (x) dx = a f (x) dx. NOTAS:
1. Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o limitada. O integral superior de f em [a, b] e o integral inferior de f em [a, b] existem (ver nota antes da defini¸ca˜o). No entanto a fun¸ca˜o pode n˜ao ser integr´avel; consideremos, por exemplo, a fun¸ca˜o 1, x ∈ [0, 1] ∩ Q f (x) = 0, x ∈ [0, 1] \ Q
Como entre quaisquer dois pontos existem racionais e irracionais,Z dada uma par1 ti¸ca˜o qualquer, P, inf f (x) = 0 e sup f (x) = 1, pelo que f (x) dx = 0 e x∈[xi ,xi+1 ]
Z
x∈[xi ,xi+1 ]
0
1
f (x) dx = 1. 0
2. Se f ´e cont´ınua, n˜ao negativa e integr´avel em [a, b], o integral de f ´e igual a` a´rea da figura limitada pelo gr´afico de f e pelas rectas x = a, x = b e y = 0 (eixo dos xx) (ver Figura 5.3). Para nos convencermos deste facto, basta ter em conta as figuras 5.1 e 5.2 e a defini¸ca˜o. O integral ´e o ´ınfimo do conjunto das somas superiores, que s˜ao todas maiores ou iguais que aquela a´rea (ver Figura 5.2), portanto o integral ´e maior ou igual que a a´rea da figura referida. Por outro lado, o integral tamb´em ´e o supremo do conjunto das somas inferiores, que s˜ao todas menores ou iguais que aquela a´rea (ver Figura 5.1) portanto o integral ´e menor ou igual que a a´rea da figura referida. Conclui-se assim que o integral ´e igual a` a´rea da figura.
Proposi¸c˜ ao 4 Se a < b e f (x) = c, ∀x ∈ [a, b], ent˜ao
Rb a
f (x) dx = c (b − a)
Demonstra¸ca˜o: Qualquer que seja a parti¸ca˜o P, sP (f ) = SP (f ) = c (b − a). Proposi¸c˜ ao 5 Se a < b e f, g : [a, b] → R s˜ao duas func˜oes integr´aveis em [a, b] tais que Rb Rb f (x) ≤ g(x), ∀x ∈ [a, b], ent˜ao a f (x) dx ≤ a g(x) dx.
5.1 Integral de Riemann: Defini¸ c˜ ao e propriedades
99
Figura 5.3: O integral ´ e igual a` a´rea da figura indicada.
Demonstra¸ca˜o: Qualquer que seja a parti¸ca˜o P, sP (f ) ≤ sP (g) pelo que, os integrais, (que, por hip´otese, existem e s˜ao iguais aos supremos dos conjuntos das somas inferiores) verificam a desigualdade. Proposi¸c˜ ao 6 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o limitada. f ´e integr´avel se, e s´o se, para todo o ε > 0 existe uma parti¸ca˜o P tal que SP (f ) − sP (f ) < ε. Demonstra¸ca˜o: Suponhamos que f ´e integr´avel e seja ε > 0, qualquer. Visto que o integral ´e o supremo do conjunto das somas inferiores, existe uma parti¸ca˜o P1 tal que sP1 (f ) >
Z
b a
f (x) dx − ε/2;
(5.1)
analogamente, visto que o integral ´e o ´ınfimo do conjunto das somas superiores, existe uma parti¸ca˜o P2 tal que Z b SP2 (f ) < f (x) dx + ε/2. (5.2) a
Rb
Ent˜ao, SP2 (f ) − ε/2 < a f (x) dx < sP1 (f ) + ε/2 donde obtemos SP2 (f ) < sP1 (f ) + ε. Se tomarmos uma parti¸ca˜o P, mais fina que P1 e P2 ent˜ao, pela Proposi¸ca˜o 2, SP (f ) ≤ SP2 (f ) < sP1 (f ) + ε ≤ sP (f ) + ε. Reciprocamente, suponhamos que para todo o ε > 0 existe uma parti¸ca˜o P tal que Rb SP (f ) − sP (f ) < ε, isto ´e, SP (f ) < sP (f ) + ε. Ent˜ao, a f (x) dx ≤ SP (f ) < sP (f ) + ε ≤ Rb Rb Rb f (x) dx + ε, pelo que, para todo o ε > 0, 0 ≤ a f (x) dx − a f (x) dx ≤ ε, o que s´o ´e a Rb Rb poss´ıvel se a f (x) dx = a f (x) dx. Proposi¸c˜ ao 7 Se a < b e f, g : [a, b] → R s˜ao duas func˜oes integr´aveis em [a, b] ent˜ao Rb Rb Rb f + g ´e integr´avel em [a, b] e a (f + g)(x) dx = a f (x) dx + a g(x) dx.
100
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Demonstra¸ca˜o: Visto que, para cada i, inf
x∈[xi ,xi+1 ]
f (x) ≤ f (x) ≤
x∈[xi ,xi+1 ]
g(x) ≤ g(x) ≤
x∈[xi ,xi+1 ]
sup
f (x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ]
e inf
x∈[xi ,xi+1 ]
sup
g(x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ],
ent˜ao inf
x∈[xi ,xi+1 ]
f (x)+
inf
x∈[xi ,xi+1 ]
g(x) ≤ f (x)+g(x) ≤
sup
f (x)+
x∈[xi ,xi+1 ]
sup x∈[xi ,xi+1 ]
g(x), ∀x ∈ [xi , xi+1 ],
pelo que inf
x∈[xi ,xi+1 ]
≤
f (x) +
sup x∈[xi ,xi+1 ]
inf
x∈[xi ,xi+1 ]
g(x) ≤
(f (x) + g(x)) ≤
inf
x∈[xi ,xi+1 ]
sup x∈[xi ,xi+1 ]
(f (x) + g(x)) ≤
f (x) +
sup
g(x)
x∈[xi ,xi+1 ]
Usando estas desigualdades e recorrendo a` defini¸ca˜o, obtemos, para qualquer parti¸ca˜o, sP (f ) + sP (g) ≤ sP (f + g) ≤ SP (f + g) ≤ SP (f ) + SP (g)
(5.3)
Seja ε > 0, qualquer. Pela Proposi¸ca˜o 6 (desigualdades 5.1 e 5.2) existem parti¸co˜es P1 , P2 , P3 e P4 tais que Z b Z b ε ε f (x) dx − ≤ sP1 (f ) ≤ SP2 (f ) ≤ f (x) dx + 2 2 a a e
Z
Z b ε ε g(x) dx − ≤ sP3 (g) ≤ SP4 (g) ≤ g(x) dx + 2 2 a a Se considerarmos uma parti¸ca˜o P mais fina que P1 , P2 , P3 e P4 , as u ´ltimas desigualdades continuam v´alidas, com as Pi substitu´ıdas por P e, adicionando, Z b Z b Z b Z b f (x) dx+ g(x) dx−ε ≤ sP (f )+sP (g) ≤ SP (f )+SP (g) ≤ f (x) dx+ g(x) dx+ε a
b
a
a
a
Usando agora as desigualdades 5.3, obtemos Z b Z b Z b Z b g(x) dx + ε. f (x) dx + g(x) dx − ε ≤ sP (f + g) ≤ SP (f + g) ≤ f (x) dx + a
a
a
a
Rb Rb Conclu´ımos assim que a f (x) dx + a g(x) dx ´e o supremo das somas inferiores e o Rb Rb Rb ´ınfimo das somas superiores de f + g, isto ´e, a f (x) dx + a g(x) dx = a (f (x) + g(x)) dx. Proposi¸c˜ ao 8 Se a < b, se f : [a, b] → R ´e integr´avel em [a, b] e c ∈ R, ent˜ao c f ´e Rb Rb integr´avel em [a, b] e a (c f )(x) dx = c a f (x) dx.
5.1 Integral de Riemann: Defini¸ c˜ ao e propriedades
101
Demonstra¸ca˜o: Se c = 0, cf ≡ 0 em [a, b] e aplica-se a Proposi¸ca˜o 4. Se c > 0, seja P uma parti¸ca˜o de [a, b]. Como, para cada i, inf (cf (x)) = c inf (f (x))
[xi ,xi+1 ]
e
[xi ,xi+1 ]
sup (cf (x)) = c sup (f (x)), [xi ,xi+1 ]
[xi ,xi+1 ]
ent˜ao sP (cf ) = c sP (f ) e SP (cf ) = c SP (f ). Tomando o supremo das somas inferiores e o ´ınfimo das somas superiores, obtemos: Z
b
(c f )(x) dx = c a
Se c = −1,
Z
b
f (x) dx = c a
Z
b a
Z b Z b (c f )(x) dx f (x) dx = c f (x) dx = a
inf (−f (x)) = − sup (f (x)) e
[xi ,xi+1 ]
[xi ,xi+1 ]
a
sup (−f (x)) = − inf (f (x)), pelo [xi ,xi+1 ]
[xi ,xi+1 ]
que sP (−f ) = −SP (f ) e SP (−f ) = −sP (f ); ent˜ao, Z
b a
(−f )(x) dx = −
Z
b
f (x) dx a
e
Z
b a
(−f )(x) dx = −
Z
b
f (x) dx a
Rb Rb e destas igualdades conclu´ımos que a (−f )(x) dx = − a f (x) dx. Tendo em conta os casos estudados a proposi¸ca˜o fica demonstrada (se c < 0, basta observar que c = −1 (−c) e aplicar o que se mostrou anteriormente). Proposi¸c˜ ao 9 Se a < b, se f : [a, b] → R ´e integr´avel em [a, b] e se g difere de f apenas Rb Rb num ponto, ent˜ao g ´e integr´avel em [a, b] e a f (x) dx = a g(x) dx. Demonstra¸ca˜o: Seja M > 0 tal que |f (x)| ≤ M ∧ |g(x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b]. Dado ε > 0 qualquer, consideremos uma parti¸ca˜o P1 de [a, b] tal que Z
b a
ε f (x) dx − ≤ sP1 (f ) ≤ SP1 (f ) ≤ 2
Z
b a
ε f (x) dx + . 2
ε Tomemos uma parti¸ca˜o P, mais fina que P1 , tal que xi+1 − xi < , i = 0, . . . , n. Como 8M f e g diferem apenas num ponto, digamos c, as respectivas somas superiores e inferiores diferem (eventualmente) apenas nas parcelas que contˆem c (duas no caso de c ser um dos xi , uma no caso contr´ario). Como |f (c) − g(c)| ≤ 2M , as somas superiores e inferiores diferem, quando muito de ε/2. Ent˜ao, Z
b a
f (x) dx − ε ≤ sP (g) ≤ SP (g) ≤
Z
b
f (x) dx + ε, a
donde deduzimos o resultado. Corol´ ario 1 Se a < b, se f : [a, b] → R ´e integr´avel em [a, b] e se g difere de f apenas Rb Rb num n´ umero finito de pontos, ent˜ao g ´e integr´avel em [a, b] e a f (x) dx = a g(x) dx.
102
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Demonstra¸ca˜o: Se g difere de f em m pontos, p1 , p2 , . . . , pm , basta aplicar a proposi¸ca˜o m vezes: considera-se a fun¸ca˜o f1 que ´e igual a f excepto em p1 , onde ´e igual a g, e aplica-se a proposi¸ca˜o; considera-se a fun¸ca˜o f2 que ´e igual a f1 excepto em p2 , onde ´e igual a g, e aplica-se a Proposi¸ca˜o; assim sucessivamente, at´e chegarmos a fm , que ´e igual a g. Proposi¸c˜ ao 10 Se a ≤ c < d ≤ b e se f : [a, b] → R ´e integr´avel em [a, b], ent˜ao f ´e Rb Rd integr´avel em [c, d] e c f (x) dx = a g(x) dx onde f (x), se x ∈ [c, d] g(x) = 0, se x ∈ / [c, d] Demonstra¸ca˜o: Dado ε > 0 qualquer, consideremos uma parti¸ca˜o P1 de [a, b] tal que SP1 (f ) − sP1 (f ) < ε/2 (Proposi¸ca˜o 6). Se ao conjunto dos pontos que definem P1 acrescentarmos c e d, obtemos uma parti¸ca˜o P, mais fina que P1 , pelo que SP (f )−sP (f ) < ε/2. Se considerarmos agora a parti¸ca˜o P 0 de [c, d], que se obt´em de P por considerar apenas os elementos contidos em [c, d], verifica-se obviamente SP 0 (f ) − sP 0 (f ) < ε/2. Pela Proposi¸ca˜o 6, deduzimos que f ´e integr´avel em [c, d]. Falta-nos demonstrar a igualdade dos integrais. Supomos que a < c < d < b. Se a = c ou d = b, as adapta¸co˜es (de facto, simplifica¸co˜es) s˜ao evidentes. Procedemos, agora, de modo semelhante ao da demonstra¸ca˜o da Proposi¸ca˜o 9. Sejam M tal que |g(x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b] e P2 uma parti¸ca˜o de [a, b], mais fina que P, tal que os elementos de P2 em que c ´e extremo direito e os elementos de P2 em que d ´e extremo esquerdo tˆem comprimento menor ou igual a ε/(2M ). Se P20 ´e a parti¸ca˜o de [c, d] que se obt´em de P2 por considerar apenas os elementos contidos em [c, d], sP20 (f ) e sP2 (g) apenas diferem (eventualmente) em duas parcelas: as que correspondem ao elemento de P2 em que c ´e extremo direito e ao elemento de P2 em que d ´e extremo esquerdo. O mesmo acontece em rela¸ca˜o a SP20 (f ) e SP2 (g). Ent˜ao, sP20 (f ) − ε ≤ sP2 (g) ≤ SP2 (g) ≤ SP20 (f ) + ε Z b Z d g(x) dx. f (x) dx = pelo que conclu´ımos que c
a
Proposi¸c˜ ao 11 Se a < c < b e f : [a, b] → R ´e integr´avel em [a, b], ent˜ao Rc Rb f (x) dx + c f (x) dx. a
Demonstra¸ca˜o: Consideremos as fun¸co˜es f (x), x ∈ [a, c] g(x) = 0, x ∈]c, b]
e
h(x) =
0,
f (x),
Rb a
f (x) dx =
x ∈ [a, c[ x ∈ [c, b]
5.1 Integral de Riemann: Defini¸ c˜ ao e propriedades
103
Obviamente, f = g + h. Pelas Proposi¸co˜es 10 e 7: Z b Z b Z b Z b Z c Z b f (x) dx = (g + h)(x) dx = g(x) dx + h(x) dx = f (x) dx + f (x) dx a
a
a
a
a
c
Defini¸c˜ ao 5.1.5 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o integr´avel. Define-se Z a Z b Z a f (x) dx = − f (x) dx e tamb´em f (x) dx = 0 b
a
a
Proposi¸c˜ ao 12 Quaisquer que sejam a, b, c ∈ R, sempre que os trˆes integrais existam.
Z
b
f (x) dx = a
Z
c
f (x) dx + a
Z
b
f (x) dx, c
Demonstra¸ca˜o: Se a < c < b, trata-se da Proposi¸ca˜o 11. Se c < a < b, ent˜ao, pela Rb Rc Rb Ra Rb Proposi¸ca˜o 11, c f (x) dx = c f (x) dx + a f (x) dx = − a f (x) dx + a f (x) dx, donde obtemos o resultado. Os restantes casos resolvem-se do mesmo modo. Proposi¸c˜ ao 13 Sejam a, b ∈ R e a < b. Se f, g : [a, b] → R s˜ao duas fun¸co˜es integr´aveis em [a, b], ent˜ao f g ´e integr´avel em [a, b]. N˜ao demonstraremos esta proposi¸ca˜o. A sua demonstra¸ca˜o, embora poss´ıvel a este n´ıvel, seria demasiado longa para os prop´ositos deste curso.
104
5.2
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Classes de fun¸co ˜es integr´ aveis
Teorema 5.2.1 Sejam a, b ∈ R, a < b. Se f ´e cont´ınua em [a, b] ent˜ao ´e integr´avel em [a, b]. Demonstra¸ca˜o: Pelo Teorema de Cantor, f ´e uniformemente cont´ınua em [a, b]. Dado ε > 0, qualquer, existe θ > 0 tal que ∀x, y ∈ [a, b], |x − y| < θ ⇒ |f (x) − f (y)| < ε/(b − a). Se tomarmos uma parti¸ca˜o, P, em que todos os seus elementos tenham comprimento menor que θ, ent˜ao |f (x) − f (y)| < ε/(b − a), ∀x, y ∈ [xi , xi+1 ], i = 0, . . . , n pelo que sup f (x) − inf f (x) = max f (x) − min f (x) < ε/(b − a), i = 0, . . . , n. x∈[xi ,xi+1 ]
x∈[xi ,xi+1 ]
x∈[xi ,xi+1 ]
x∈[xi ,xi+1 ]
Daqui se conclui que SP (f ) − sP (f ) = <
n X
n X i=0
i=0
(xi+1 − xi ) (
(xi+1 − xi )
sup x∈[xi ,xi+1 ]
f (x) −
inf
x∈[xi ,xi+1 ]
f (x)) <
ε ε = (b − a) = ε. b−a b−a
Pela Proposi¸ca˜o 6, f ´e integr´avel em [a, b]. Teorema 5.2.2 Sejam a, b ∈ R, a < b, f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o limitada. Se f ´e cont´ınua em [a, b], excepto num n´ umero finito de pontos, ent˜ao ´e integr´avel em [a, b]. Demonstra¸ca˜o: Suponhamos que f ´e cont´ınua em [a, b] excepto num ponto c ∈]a, b[. Sejam ε > 0, qualquer e M > 0 tal que |f (x)| ≤ M, ∀x ∈ [a, b]. Ent˜ao pelo Teorema 5.2.1, f ´e integr´avel em [a, c − ε/(12M )] e em [c + ε/(12M ), b] (podemos sempre tomar ε suficientemente pequeno para nenhum destes intervalos ser vazio ou se reduzir a um ponto), pelo que, pela Proposi¸ca˜o 6, existem parti¸co˜es P1 e P2 de [a, c − ε/(12M )] e [c + ε/(12M ), b], respectivamente, tais que SP1 (f ) − sP1 (f ) < ε/3 e SP2 (f ) − sP2 (f ) < ε/3. Se considerarmos a parti¸ca˜o P, de [a, b], formada pelos elementos de P1 , por C = [c − ε/(12M ), c + ε/(12M )] e pelos elementos de P2 , ent˜ao SP (f ) − sP (f ) < ε (note-se que sup f (x) − inf f (x) ≤ 2 M e que o comprimento de C ´e ε/(6M )). Tendo em conta a x∈C
x∈C
Proposi¸ca˜o 6, f ´e integr´avel em [a, b]. Se f n˜ao for cont´ınua num dos extremos do intervalo, procede-se do mesmo modo, com as adapta¸co˜es evidentes. O mesmo acontece para o caso em que h´a v´arios pontos de descontinuidade. Apenas temos que considerar v´arios conjuntos “C”, um para cada ponto de descontinuidade, e adaptar as constantes. Teorema 5.2.3 Sejam a, b ∈ R, a < b e f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o limitada. Se f ´e mon´otona em [a, b], ent˜ao ´e integr´avel em [a, b]. Demonstra¸ca˜o: Vamos fazer a demonstra¸ca˜o supondo que f ´e crescente. Para f decrescente, as t´ecnicas s˜ao as mesmas com as adapta¸co˜es evidentes.
5.2 Classes de fun¸ co ˜es integr´ aveis
105
Sejam ε > 0 e M = sup f (x) − inf f (x) = f (b) − f (a). Se M = 0, ent˜ao f ´e x∈[a,b]
x∈[a,b]
constante em [a, b], pelo que ´e integr´avel. Se M > 0, seja P uma parti¸ca˜o de [a, b] tal que todos os seus elementos tˆem comprimento menor que ε/M . Como f ´e crescente, ent˜ao inf f (x) = f (xi ) e sup f (x) = f (xi+1 ), pelo que x∈[xi ,xi+1 ]
sP =
n X i=0
x∈[xi ,xi+1 ]
n X (xi+1 − xi ) f (xi+1 ) (xi+1 − xi ) f (xi ) e SP = i=0
donde (note-se que f (xi+1 ) − f (xi ) ≥ 0) n X ε (xi+1 − xi ) (f (xi+1 ) − f (xi )) ≤ SP − s P = (f (xi+1 ) − f (xi )) = M i=0 i=0 n X
n ε ε X (f (xi+1 ) − f (xi )) = (f (b) − f (a)) = ε. = M i=0 M
Pela Proposi¸ca˜o 6, f ´e integr´avel em [a, b]. EXEMPLO: A fun¸ca˜o
f (x) =
0,
se x = 0,
1 1 1 , se a, e se o integral indefinido Z x g(t) dt a
tem limite finito quando x → +∞, poderemos escrever Z +∞ Z x g(t) dt = lim g(t) dt. x→+∞
a
a
ecie: defini¸c˜ ao e crit´ erios de A. Integrais impr´ oprios de 1a esp´ convergˆ encia Defini¸c˜ ao 5.5.1 Sejam a ∈ R e f uma fun¸ca˜o definida no intervalo [a, +∞[. Suponhamos que f ´e integr´avel em qualquer intervalo [a, x] com x > a. Seja, para cada x > a, Z x f (t) dt. F (x) = a
Chama-se integral impr´ oprio de 1a esp´ ecie de f em [a, +∞[ a Z x lim f (t) dt x→+∞
a
114
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
e designa-se por
Z
+∞
f (t) dt. a
a) Se F (x) tem limite finito quando x → +∞, diz-se que f Z´e integr´avel (em sentido +∞ f (t) dt existe, tem impr´oprio) no intervalo [a, +∞[ ou que o integral impr´oprio a
sentido ou ´e convergente. b) Se F (x) n˜ao tem limite ou tem limite infinito quando xZ→ +∞, diz-se que f n˜ao +∞ ´e integr´avel no intervalo [a, +∞[ ou que o integral impr´oprio f (t) dt n˜ao existe ou a
´e divergente.
EXEMPLO 1: Consideremos o integral lim
x→+∞
e este limite n˜ao existe.
Z
x 0
Z
cos(x) dx. Este integral ´e divergente porque: 0
x→+∞
Z
+∞
+∞
f (t) dt = lim [ sen(t) ]x0 = lim sen(x)
EXEMPLO 2: Consideremos o integral Como
Z
Z
+∞ 1
x→+∞
1 ´ um integral impr´oprio de 1a esp´ecie. dx. E x
x
1 1 dx = lim dt = lim [ log(t) ]x1 = lim log(x) = +∞ x→+∞ x→+∞ x→+∞ x 1 1 t o integral impr´oprio ´e divergente. Z +∞ e−x dx ´e um integral impr´oprio de 1a esp´ecie convergente: EXEMPLO 3: O integral 0
Z
+∞
e
−x
dx = lim
x→+∞
0
Nota: Se o integral
Z
Z
x
e−t dt = lim 0
x→+∞
+∞
£
−e−t
¤x 0
= lim (−e−x + 1) = 1. x→+∞
f (x) dx ´e convergente ent˜ao a
a) o limite de f quando x → +∞, se existir, ´e igual a zero; b) qualquer que seja h > 0, o integral de f no intervalo [x, x + h] (ou o valor m´edio de f no mesmo intervalo), tende para zero quando x → +∞. Z +∞ Z +∞ Teorema 5.5.1 Se f e g s˜ao tais que os integrais f (t) dt e g(t) dt s˜ao cona a Z +∞ vergentes e se α, β ∈ R, ent˜ao o integral (α f + β g)(t) dt ´e convergente e a
Z
+∞
(α f + β g)(t) dt = α a
Z
+∞
f (t) dt + β a
Z
+∞
g(t) dt. a
5.5 Integrais impr´ oprios
115
Teorema 5.5.2 Se o integral Z +∞ f (t) dt ´e convergente e
Z
+∞
f (t) dt ´e convergente e se b > a ent˜ao o integral a
b
Z
+∞
f (t) dt = a
Z
b
f (t) dt + a
Z
+∞
f (t) dt. b
Nem sempre nos interessa saber o valor do integral impr´oprio e outras vezes n˜ao ´e poss´ıvel calcul´a-lo porque a fun¸ca˜o n˜ao ´e elementarmente primitiv´avel (considere-se, por Z +∞
2
e−x dx). Precisamos ent˜ao de crit´erios que nos permitam saber
exemplo, o integral
0
se um determinado integral impr´oprio ´e ou n˜ao convergente. Esses crit´erios chamam-se crit´ erios de convergˆ encia. Z +∞ a Teorema 5.5.3 O integral impr´oprio de 1 esp´ecie f (t) dt, com f (t) ≥ 0, ∀t ≥ a, a
´e convergente se, e s´o se, existe uma constante M tal que Z x f (t) dt ≤ M, ∀x > a. a
O valor do integral impr´oprio n˜ao excede M . Z x f (t) dt. Como f (t) ≥ 0 ∀t ≥ a, F (x) ≥ 0, ∀x ≥ a. Por Demonstra¸ca˜o: Seja F (x) = a Z +∞ defini¸ca˜o, o integral f (t) dt ´e convergente se existir e for finito o limite lim F (x). x→+∞
a
A fun¸ca˜o F ´e crescente, pois se a ≤ x ≤ y vem Z Z x Z y f (t) dt = f (t) dt − F (y) − F (x) = a
a
y x
f (t) dt ≥ 0
porque f (t) ≥ 0 ∀t ≥ a. Suponhamos que F ´e limitada superiormente, isto ´e, existe uma constante M tal que F (x) ≤ M , ∀x ≥ a. Como F ´e crescente, existe e ´e finito o limite lim F (x) 1 . Al´em x→+∞
disso, lim F (x) ≤ M . x→+∞
Se F n˜ao ´e limitada superiormente ent˜ao para cada M existe sempreZum x tal que +∞ f (t) dt ´e F (x) > M . Como F ´e crescente lim F (x) = +∞, o que significa que x→+∞
a
divergente.
Toda a fun¸ca˜o real f limitada e mon´otona numa parte n˜ao majorada X de R tem limite quando x → +∞ e lim f (x) = sup f (x) ou lim f (x) = inf f (x) conforme f ´e crescente ou decrescente. 1
x→+∞
x∈X
x→+∞
x∈X
116
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Teorema 5.5.4 Sejam
Z
+∞
f (x) dx e a
Z
+∞
g(x) dx dois integrais impr´oprios de 1a b
esp´ecie com fun¸co˜es integrandas n˜ao negativas e suponhamos que existe c ∈ R tal que f (x) ≤ g(x), ∀x > c. Z +∞ Z +∞ f (x) dx ´e convergente. g(x) dx ´e convergente ent˜ao a) Se a
b
b) Se
Z
+∞
f (x) dx ´e divergente ent˜ao a
Z
+∞
g(x) dx ´e divergente. b
Demonstra¸ca˜o: Seja d = max {a, b, c}. Consideremos os integrais Z
Z
+∞
f (x) dx
e
d
+∞
g(x) dx. d
Sendo x > d temos 0≤ Se o integral
Z
Z
x
f (t) dt ≤
d
Z
x
g(t) dt.
(5.4)
d
+∞
g(t) dt ´e convergente, pelo Teorema 5.5.3 existe M1 tal que d
Z Mas por (5.4),
Z
x d
f (t) dt ≤
Z
x d
g(t) dt ≤ M1 , ∀x > d.
x d
g(t) dt, ∀x > d, pelo que
Z
+∞
f (t) dt ´e convergente, d
usando,Z novamente o Teorema 5.5.3. Z x +∞ f (t) dt n˜ao ´e limitada, o f (t) dt ´e divergente ent˜ao, pelo Teorema 5.5.3, Se d d Z +∞ Z x g(x) dx g(t) dt tamb´em n˜ao ´e limitada e, portanto, que implica, por (5.4), que d
d
´e divergente.
Corol´ ario 1 Sejam
Z
+∞
f (x) dx e a
Z
+∞
g(x) dx dois integrais impr´oprios de 1a esp´ecie b
com fun¸co˜es integrandas n˜ao negativas e suponhamos que existem c, k ∈ R tais que f (x) ≤ k g(x), ∀x > c. Z +∞ Z +∞ a) Se g(x) dx ´e convergente ent˜ao f (x) dx ´e convergente. b
b) Se
Z
a
+∞
f (x) dx ´e divergente ent˜ao a
Z
+∞
g(x) dx ´e divergente. b
5.5 Integrais impr´ oprios
117
Demonstra¸ca˜o: Basta notar que Z x Z lim k g(t) dt = lim k x→+∞
pelo que
Z
x→+∞
c
x
g(t) dt = k lim
x→+∞
c
+∞
k g(x) dx ´e convergente se, e s´o se, c
aplicando o Teorema. Z
Z
Z
x
g(t) dt c
+∞
g(x) dx ´e convergente; termina-se c
+∞
1 ´ um integral impr´oprio de 1a dx. E 3 1+x 0 esp´ecie e a fun¸ca˜o integranda ´e positiva no intervalo [0, +∞[. Como EXEMPLO 1: Consideremos o integral
(1 + x)3 ≥ 1 + x3 , ∀x ≥ 0 ⇒ 1 + x ≥
√ 3
√ 3
1 + x3 , ∀x ≥ 0 ⇒ 0 <
1 1 , ∀x ≥ 0 ≤ √ 3 1+x 1 + x3
e Z
Z x 1 1 dx = lim dt = lim [ log(1 + t) ]x0 = lim log(1 + x) = +∞, x→+∞ x→+∞ x→+∞ 1 + x 1 + t 0 0 Z +∞ 1 dx ´e divergente, conclu´ımos, pelo Teorema 5.5.4, que o isto ´e, o integral 1+x 0 integral em estudo ´e divergente. +∞
Como se pode ver pelo exemplo anterior, ´e u ´til conhecer a natureza de alguns integrais impr´oprios de modo a facilitar o uso dos crit´erios de convergˆencia. Um exemplo de tais integrais ´e o seguinte: EXEMPLO 2: Estudemos o integral impr´oprio de 1a esp´ecie Z +∞ 1 dx xα a sendo a > 0 e α ∈ R. Se α = 1
e se α 6= 1 tendo-se
Z Z
x a
x a
1 dt = [ log(t) ]xa = log(x) − log(a) t
1 dt = tα
lim
x→+∞
Z
x a
·
t−α+1 −α + 1
¸x
=
a
+∞,
x−α+1 a−α+1 − −α + 1 −α + 1
se α ≤ 1 1 dt = tα a−α+1 − , se α > 1 −α + 1
118
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Ent˜ao o integral converge se, e s´o se, α > 1. Z +∞ 1 ´ um integral impr´oprio de 1a √ dx. E EXEMPLO 3: Consideremos o integral 3 1 + x 0 esp´ecie e a fun¸ca˜o integranda ´e positiva no intervalo [0, +∞[. Como 1 + x3 > x3 , ∀x > 0 ⇒ Z
√
1 + x3 >
√
x3 , ∀x > 0 ⇒ 0 < √
1 1 < √ , ∀x > 0 3 1+x x3
+∞
1 √ dx ´e convergente, podemos concluir, pelo Teorema 5.5.4, que o integral em x3 1 estudo ´e convergente.
e
Teorema 5.5.5 Sejam
Z
+∞
f (x) dx e a
Z
+∞
g(x) dx dois integrais impr´oprios de 1a b
esp´ecie com fun¸co˜es integrandas positivas e suponhamos que o limite f (x) x→+∞ g(x) lim
existe finito e diferente de zero. Ent˜ao os integrais s˜ao da mesma natureza, isto ´e, s˜ao ambos convergentes ou ambos divergentes. f (x) = L, L ∈ R+ . Por defini¸ca˜o, x→+∞ g(x)
Demonstra¸ca˜o: Seja lim
Seja δ =
¯ ¯ ¯ f (x) ¯ ¯ ∀δ > 0 ∃M > 0, x ≥ M ⇒ ¯ − L¯¯ < δ. g(x)
L . Ent˜ao existe M > 0 tal que 2 ¯ ¯ ¯ f (x) ¯ L ¯ ¯ < , ∀x ≥ M, − L ¯ g(x) ¯ 2
ou seja, ∀x ≥ M ,
L f (x) L < −L< 2 g(x) 2 L f (x) 3L ⇔ < < 2 g(x) 2 L 3L ⇔ g(x) < f (x) < g(x). 2 2 −
Pelo Teorema 5.5.1 e pelo Corol´ario do Teorema 5.5.4 temos o resultado pretendido.
5.5 Integrais impr´ oprios
Teorema 5.5.6 Sejam
Z
119
+∞
f (x) dx e a
Z
+∞
g(x) dx dois integrais impr´oprios de 1a b
esp´ecie com fun¸co˜es integrandas positivas. Se lim
x→+∞
f (x) = 0, g(x)
ent˜ao a) se b) se
Z
Z
+∞
g(x) dx ´e convergente, b +∞
f (x) dx ´e divergente, a
Se
Z
Z
+∞
f (x) dx ´e convergente. a
+∞
g(x) dx ´e divergente. b
f (x) = +∞, x→+∞ g(x) lim
ent˜ao a) se b) se
Z
Z
+∞
g(x) dx ´e divergente, b
Z
+∞
f (x) dx ´e convergente, a
+∞
f (x) dx ´e divergente. a
Z
+∞
g(x) dx ´e convergente. b
Demonstra¸ca˜o: ¯ ¯ ¯ f (x) ¯ f (x) ¯ < δ. lim = 0 ⇔ ∀δ > 0 ∃M > 0 x ≥ M ⇒ ¯¯ x→+∞ g(x) g(x) ¯
Mas como as fun¸co˜es s˜ao ambas positivas, ¯ ¯ ¯ f (x) ¯ f (x) ¯ ¯ ¯ g(x) ¯ < δ ⇔ g(x) < δ ⇔ f (x) < δg(x).
O resultado ´e consequˆencia do Corol´ario do Teorema 5.5.4. Z +∞ x+1 dx ´e um integral impr´oprio de 1a esp´ecie EXEMPLO 1: O integral 4 3x − x + 2 1 Z +∞ 1 4 (note-se que 3x − x + 2 > 0, ∀x ≥ 1). Como dx ´e convergente e x3 1 lim
x→+∞
x+1 x4 + x 3 1 − x + 2 = lim = , 1 x→+∞ 3x4 − x + 2 3 x3
3x4
pelo Teorema 5.5.5 podemos concluir que o integral dado ´e convergente.
120
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
EXEMPLO 2: Consideremos os integrais
Z
+∞ α −x
x e 1
dx, α ∈ R, e
integrais impr´oprios de 1a esp´ecie sendo o segundo convergente. Como
Z
+∞ 1
1 dx. S˜ao x2
xα+2 xα e−x = 0, ∀α ∈ R, = lim 1 x→+∞ ex x→+∞ x2 lim
Z
+∞
xα e−x dx ´e convergente. 1 Z +∞ 2 e−x dx ´e um integral impr´oprio de 1a esp´ecie. Como EXEMPLO 3: O integral
o integral
0
1 Z +∞ x2 1 x2 e = lim x2 = 0 e lim dx ´e convergente, podemos concluir que o integral x→+∞ e x→+∞ 1 x2 1 x2 em estudo ´e convergente. Z
+∞
|f (x)| dx ´e convergente ent˜ao o mesmo acontece ao Teorema 5.5.7 Se o integral a Z +∞ integral f (x) dx e verifica-se a desigualdade: a
¯Z ¯ ¯ ¯
+∞ a
¯ Z ¯ f (x) dx¯¯ ≤
+∞ a
|f (x)| dx.
Demonstra¸ca˜o: 0 ≤ |f (x)| − f (x) ≤ 2|f (x)|, ∀x ≥ a. Seja g(x) = |f (x)| − f (x). Visto que Z +∞ Z +∞ o integral |f (x)| dx ´e convergente, o mesmo acontece ao integral 2 |f (x)| dx e, a a Z +∞ Z +∞ (|f (x)| − f (x)) dx. g(x) dx = pelo Teorema 5.5.4, tamb´em converge o integral a Z +∞ a f (x) dx ´e convergente (Teorema 5.5.1). Como f (x) = |f (x)| − g(x) o integral a
Da desigualdade −|f (x)| ≤ f (x) ≤ |f (x)|, ∀x, deduzimos −
ou seja,
Z
+∞ a
|f (x)| dx ≤ ¯Z ¯ ¯ ¯
+∞ a
Z
+∞ a
f (x) dx ≤
¯ Z ¯ f (x) dx¯¯ ≤
Z
+∞ a
+∞ a
|f (x)| dx.
|f (x)| dx,
5.5 Integrais impr´ oprios
121
Z
+∞
f (x) dx ´e absolutamente convergente se Defini¸c˜ ao 5.5.2 Diz-se que o integral a Z +∞ Z +∞ f (x) dx ´e simples|f (x)| dx ´e convergente. Diz-se que o integral o integral a a Z +∞ mente convergente se for convergente e |f (x)| dx divergente. a
EXEMPLO: A fun¸ca˜o integranda no integral impr´oprio de 1a esp´ecie Z +∞ sen(x) dx x2 1
n˜ao ´e sempre positiva. Mas
e o integral
Z
+∞ 1
¯ ¯ ¯ sen(x) ¯ 1 ¯ ¯ ¯ x2 ¯ ≤ x2 , ∀x ≥ 1
1 dx ´e convergente. Pelo Teorema 5.5.4 o integral x2 ¯ Z +∞ ¯ ¯ sen(x) ¯ ¯ ¯ ¯ x2 ¯ dx 1
´e convergente. Pelo Teorema 5.5.7 o integral em estudo ´e convergente e diz-se absolutamente convergente. Defini¸c˜ ao 5.5.3 Sejam a ∈ R e f uma fun¸ca˜o definida no intervalo I =] − ∞, a]. Suponhamos que f ´e integr´avel em qualquer intervalo [x, a] com x < a. Seja Z a G(x) = f (t) dt. x
a) Se G(x) tem limite finito quando x → −∞, diz-se Z a que f ´e integr´avel (em sentido impr´oprio) no intervalo I ou que o integral impr´oprio f (t) dt existe, tem sentido ou −∞
´e convergente. b) Se G(x) n˜ao tem limite ou tem limite infinito quando Z ax → −∞, diz-se que f f (t) dt n˜ao existe ou ´e n˜ao ´e integr´avel no intervalo I ou que o integral impr´oprio −∞
divergente. ecie. A estes integrais tamb´em se d´a o nome de integrais impr´ oprios de 1a esp´ ´ o´bvio que o estudo dos integrais impr´oprios com intervalo de integra¸ca˜o ] − ∞, a] E ´e idˆentico ao dos integrais sobre intervalos do tipo [a, +∞[. De resto, qualquer integral Z +∞
f (x) dx
daquela forma pode reduzir-se a um desta u ´ltima: basta efectuar no integral a substitui¸ca˜o x = −t para se concluir que os integrais Z +∞ Z a f (−x) dx f (x) dx e −∞
−a
a
s˜ao ambos convergentes ou ambos divergentes e, na primeira hip´otese, s˜ao iguais.
122
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Defini¸c˜ ao 5.5.4 Seja f : R → R uma fun¸ca˜o integr´avel em qualquer intervalo limitado. Diz-se que o integral de f em R ´e convergente se existe a ∈ R tal que os dois integrais Z +∞ Z a f (x) dx f (x) dx e a
−∞
s˜ao convergentes. ´ evidente que em tal hip´otese tamb´em convergem os integrais E Z
Z
b
f (x) dx e
+∞
f (x) dx
b
−∞
qualquer que seja b ∈ R e verificar-se-˜ao as igualdades: Z
b
f (x) dx +
Z−∞ a
=
Z−∞ a
=
f (x) dx + f (x) dx +
−∞
Z
+∞
f (x) dx
Zb b Z
a
f (x) dx +
+∞
Z
a
f (x) dx + b
Z
+∞
f (x) dx a
f (x) dx a
Este facto legitima que, em caso de convergˆencia, o integral seja definido pela express˜ao: Z +∞ Z a Z +∞ f (x) dx f (x) dx + f (x) dx = a
−∞
−∞
com a ∈ R arbitr´ario. A este integral tamb´em se chama integral impr´ oprio de 1 a esp´ ecie. Z +∞ Z 0 Z +∞ −ax −ax EXEMPLO 1: Sendo a > 0, e dx = e dx + e−ax dx. Como −∞
lim
x→+∞
e lim
x→−∞
Z
Z
−∞
x
e
−at
dt = lim
0
x→+∞
0
e
−at
dt = lim
x→−∞
x
·
·
1 − e−at a
1 − e−at a
¸x
= lim
x→+∞
0
¸0
x
0
= lim
x→−∞
µ
µ
1 1 − e−ax + a a
1 1 − + e−ax a a
¶
¶
=
1 a
= +∞
o integral dado ´e divergente. EXEMPLO 2: Seja a > 0. Z Z 0 Z +∞ −a|x| −a|x| e dx + e dx = −∞
−∞
+∞
e 0
−a|x|
dx =
Z
0
e −∞
ax
dx +
Z
+∞
e−ax dx 0
5.5 Integrais impr´ oprios
Como Z lim
x→+∞
x
e
−at
0
123
1 e dt = a
lim
x→−∞
Z
0 at
e dt = lim x
o integral considerado ´e convergente e Z +∞ −∞
x→−∞
e−a|x| dx =
·
1 at e a
¸0
= lim
x
x→−∞
µ
1 1 ax − e a a
¶
=
1 a
2 . a
Z
−2 1 √ EXEMPLO 3: dx ´e um integral impr´oprio de 1a esp´ecie. Consideremos o 2−1 x Z −2 µ −∞¶ 1 integral − dx, que sabemos ser divergente. Como x −∞
lim
√
x→−∞
1 −x −1 = lim √ =1 1 x→−∞ x2 − 1 − x
x2
o integral dado tamb´em ´e divergente. EXEMPLO 4: Consideremos o integral impr´oprio de 1a esp´ecie Z +∞ x−1 dx. 4 2 −∞ 2x + 5x + 3 Como o integral se pode escrever ¶ Z +∞ Z 1 µ x−1 x−1 dx, − 4 dx + − 2x + 5x2 + 3 2x4 + 5x2 + 3 1 −∞ a temos dois integrais µ ¶impr´oprios de 1 esp´ecie com fun¸co˜es integrandas n˜ao negativas. O Z −1 1 − 3 dx ´e convergente e integral x −∞
lim
−
2x4
x→−∞
Z
1
x−1 1 x4 − x 3 + 5x2 + 3 = lim = , 4 2 1 x→−∞ 2x + 5x + 3 2 − 3 x
x−1 dx ´e convergente. + 5x2 + 3 −∞ Z +∞ x−1 De modo an´alogo se conclui que o integral dx ´e convergente. Da 4 2x + 5x2 + 3 1 convergˆencia dos dois integrais conclui-se a convergˆencia do integral dado. portanto, o integral
2x4
124
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Z
0
x dx. A fun¸ca˜o integranda ´e sen2 (x) −∞ 1 + negativa ou nula no intervalo de integra¸ca˜o, tendo-se 1 + x2 sen(x) 6= 0, ∀x ∈ ] − ∞, 0].
EXEMPLO 5: Consideremos o integral
x2
0 ≤ sen2 (x) ≤ 1 ⇔ 0 ≤ x2 sen2 (x) ≤ x2 ⇔ 1 ≤ 1 + x2 sen2 (x) ≤ 1 + x2 1 1 ⇔1≥ ≥ 2 2 1 + x sen (x) 1 + x2 −x −x ⇔ −x ≥ ≥ 2 2 1 + x sen (x) 1 + x2 Estudemos o integral divergente e
Z
0 −∞
−x dx. Este integral ´e divergente porque 1 + x2
Z
−1 −∞
−1 dx ´e x
−x 2 x2 lim 1 + x = lim =1 −1 x→−∞ x→−∞ 1 + x2 x Dada a u ´ltima desigualdade podemos concluir que o integral em estudo ´e divergente. Z +∞ Nota: Seja f integr´avel em qualquer intervalo limitado. Diz-se que f (x) dx ´e −∞
convergente em valor principal se existe (em R) o limite quando x → +∞ da fun¸ca˜o Z x F(x) = f (t) dt. −x
´ a este limite, se existir, que se chama valor principal de Cauchy do integral E Z +∞ Z +∞ f (x) dx, e que se designa por vp f (x) dx. −∞
−∞
Se o integral for convergente teremos Z +∞ Z 0 Z +∞ f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx −∞ Z −∞ 0 Z 0 x = lim f (t) dt + lim f (t) dt x→−∞ −x x→+∞ 0 Z x f (t) dt = lim x→+∞ −x Z +∞ = vp f (x) dx. −∞
Portanto, se o integral converge ent˜ao ´e convergente em valor principal, sendo este valor igual ao integral. Mas a existˆencia do valor principal de Cauchy n˜ao implica que o
5.5 Integrais impr´ oprios
125
integral seja convergente. Por exemplo: vp
e o integral
Z
+∞ −∞
Z
+∞ −∞
1 + x3 dx = π 1 + x2
1 + x3 dx ´e divergente. 1 + x2
B. Integrais impr´ oprios de 2a esp´ ecie: defini¸c˜ ao e crit´ erios de convergˆ encia Defini¸c˜ ao 5.5.5 Suponhamos que a fun¸ca˜o f ´e integr´avel em qualquer intervalo [a, b−ε], ε > 0, mas Z n˜ao ´e integr´avel em [a, b]. Fica assim definida uma fun¸ca˜o F : [a, b[→ R, x
F (x) =
f (t) dt. Z b ecie. Se existir Ao integral f (x) dx chama-se integral impr´ oprio de 2a esp´ a
a
finito o limite
lim
x→b−
Z
x
f (t) dt a
diz-se que o integral impr´oprio ´e convergente e escreve-se Z
b a
f (x) dx = lim− x→b
Z
x
f (t) dt. a
Se o limite n˜ao existir ou n˜ao for finito diz-se que o integral impr´oprio de 2 a esp´ecie ´e divergente. Tal como no caso dos integrais impr´oprios de 1a esp´ecie, ´e u ´til o conhecimento da natureza de alguns integrais, como por exemplo: Z
b
1 dx, α ∈ R. Se α ≤ 0 trata-se de um integral de Riemann, mas α a (b − x) se α > 0 a fun¸ca˜o integranda tem limite infinito quando x tende para b e o integral s´o ter´a sentido se existir e for finito o limite Z x 1 dt. lim− α x→b a (b − t) EXEMPLO:
Se α = 1
Z
x a
1 dt = [ − log(b − t) ]xa = − log(b − x) + log(b − a) b−t
126
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
e se α 6= 1 Z
x a
1 dt = (b − t)α
tendo-se lim
x→b−
Z
x a
·
¸x
(b − t)−α+1 − −α + 1
a
=−
(b − x)−α+1 (b − a)−α+1 + −α + 1 −α + 1
+∞, se α ≥ 1 1 dx = −α+1 (b − t)α (b − a) , se α < 1 −α + 1
Ent˜ao o integral converge se, e s´o se, α < 1.
Defini¸c˜ ao 5.5.6 Suponhamos que a fun¸ca˜o f ´e integr´avel em qualquer intervalo [a+ε, b], ε > 0, mas n˜ao ´e integr´avel em [a, b]. Fica assim definida uma fun¸ca˜o F : ]a, b] → R, Z b F (x) = f (t) dt. x Z b f (x) dx chama-se integral impr´ oprio de 2a esp´ ecie. Se existir Ao integral a
finito o limite
lim
x→a+
Z
b
f (t) dt x
diz-se que o integral impr´oprio ´e convergente e escreve-se Z
b a
f (x) dx = lim+ x→a
Z
b
f (t) dt. x
Se o limite n˜ao existir ou n˜ao for finito diz-se que o integral impr´oprio de 2 a esp´ecie ´e divergente. Z
b
1 dx, α ∈ R, ´e um integral impr´oprio de 2a esp´ecie se, α (x − a) a e s´o se, α > 0. Se α ≤ 0 trata-se de um integral de Riemann. O integral s´o ter´a sentido se existir e for finito o limite Z b 1 dt. lim+ α x→a x (t − a) EXEMPLO: O integral
Se α = 1
Z
e se α 6= 1 Z
b x
b x
1 dt = [ log(t − a) ]bx = log(b − a) − log(x − a) t−a
1 dt = (t − a)α
·
(t − a)−α+1 −α + 1
¸b
x
=
(b − a)−α+1 (x − a)−α+1 − −α + 1 −α + 1
5.5 Integrais impr´ oprios
127
tendo-se
+∞, x se α ≥ 1 1 dx = lim+ −α+1 α x→a a (t − a) (b − a) , se α < 1 −α + 1 Ent˜ao o integral converge se, e s´o se, α < 1. Z
Defini¸c˜ ao 5.5.7 Suponhamos que a fun¸ca˜o f ´e integr´avel em qualquer intervalo [a + ε1 , b − ε2 ], ε1 , ε2 > 0, mas n˜ao ´e integr´avel em [a, b − ε2 ] nem em [a + ε1 , b]. Define-se Z
b
f (x) dx = a
Z
c
f (x) dx + a
Z
b
f (x) dx,
a < c < b.
c
ecie. O integral do primeiro Este integral ´e tamb´em um integral impr´ oprio de 2a esp´ membro ´e convergente se, e s´o se, os dois integrais do segundo membro forem convergentes. Se algum dos integrais do segundo membro for divergente, ent˜ao o integral do primeiro membro ´e divergente. Z
1
x dx ´e um integral impr´oprio 1 − x2 −1 limites de integra¸ca˜o. Temos de estudar os dois integrais Z 0 Z 1 x x √ √ dx e dx. 3 3 2 1−x 1 − x2 −1 0 ¸0 · µ Z 0 t 3 3 2 32 √ lim + dt = lim + − (1 − t ) = lim + − + 3 2 x→−1 x→−1 x→−1 4 4 1−t x x EXEMPLO: O integral
√ 3
de 2a esp´ecie nos dois
2 3 (1 − x2 ) 3 4
¶
=−
3 4
¸x µ ¶ · t 3 3 3 3 2 32 2 23 √ lim− = = lim− − (1 − x ) + dt = lim− − (1 − t ) 3 2 x→1 x→1 x→1 4 4 4 4 1−t 0 0 Z 1 x √ Portanto, o integral dado ´e convergente e dx = 0. 3 1 − x2 −1 Z
x
Defini¸c˜ ao 5.5.8 Se c ´e um ponto interior do intervalo [a, b] e f ´e uma fun¸ca˜o integr´avel em qualquer intervalo [a, c − ε1 ], ε1 > 0, e [c + ε2 , b], ε2 > 0, mas n˜ao ´e integr´avel em ecie [a, b], define-se o integral impr´ oprio de 2a esp´ Z
b
f (x) dx = a
Z
c
f (x) dx + a
Z
b
f (x) dx. c
O integral do primeiro membro ´e convergente se, e s´o se, os dois integrais do segundo membro forem convergentes. Se algum dos integrais do segundo membro for divergente, ent˜ao o integral do primeiro membro ´e divergente.
128
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Z
EXEMPLO: O integral
1 −1
1 √ dx ´e um integral impr´oprio de 2a esp´ecie porque 3 x2
1 = +∞. Temos de estudar os dois integrais lim √ 3 x→0 x2 Z lim
x→0−
Z
−1
1 √ dx 3 x2
e
Z
1 0
1 √ dx. 3 x2
h √ ix ¡ √ ¢ 1 3 3 √ 3 = lim dt = lim 3 t x + 3 =3 3 2 x→0− x→0− −1 t
x −1
Z
0
h √ i1 ¢ ¡ √ 1 3 3 √ dt = lim 3 t x =3 3 − 3 = lim 3 2 x→0+ x→0 x→0+ x t x Z 1 1 √ dx = 6. Portanto, o integral dado ´e convergente e 3 x2 −1 Para os integrais impr´oprios de 2a esp´ecie, os crit´erios de convergˆencia s˜ao idˆenticos aos obtidos para os integrais impr´oprios de 1a esp´ecie. As demonstra¸co˜es podem ser efectuadas de maneira semelhante, com adapta¸co˜es evidentes, pelo que as omitimos. lim+
1
Teorema 5.5.8 O integral impr´oprio de 2a esp´ecie no limite superior (inferior, respecZ b f (t) dt, com b > a e f (t) ≥ 0, ∀t ∈ ]a, b[, ´e convergente se, e s´o se, existe tivamente) a
uma constante M tal que
Z (
Z
x a
f (t) dt ≤ M, ∀a ≤ x < b
b x
Teorema 5.5.9 Sejam
f (t) dt ≤ M, ∀a < x ≤ b, respectivamente). Z
b
f (x) dx e a
Z
b
g(x) dx dois integrais impr´oprios de 2a esp´ecie a
(no mesmo limite de integra¸ca˜o) com fun¸co˜es integrandas n˜ao negativas e suponhamos que f (x) ≤ g(x), ∀a ≤ x < b (ou, ∀a < x ≤ b). a) Se
b) Se
Z Z
b
g(x) dx ´e convergente ent˜ao a b
f (x) dx ´e divergente ent˜ao a
Z
Z
b
f (x) dx ´e convergente. a
b
g(x) dx ´e divergente. a
5.5 Integrais impr´ oprios
Z
Teorema 5.5.10 Sejam
129
Z
b
f (x) dx e a
b
g(x) dx dois integrais impr´oprios de 2a esp´ecie a
(no mesmo limite de integra¸ca˜o) com fun¸co˜es integrandas positivas e suponhamos que o limite µ ¶ f (x) f (x) lim ou, lim+ x→b− g(x) x→a g(x) ´e finito e diferente de zero. Ent˜ao os integrais s˜ao da mesma natureza, isto ´e, s˜ao ambos convergentes ou ambos divergentes. EXEMPLO 1: O integral
Z
1 1 2
√
1 dx 1 − x4
´e impr´oprio de 2a esp´ecie, porque para x = 1 a fun¸ca˜o integranda se torna infinita. Consideremos o integral impr´oprio de 2a esp´ecie convergente Z 1 1 1 dx. 1 (1 − x) 2 2 Tendo em conta que 1 1 (1 − x) 2 1 1 1 − x4 = lim− lim− 1 1 1 1 = lim 1 = 1 x→1 (1 − x) 2 (1 + x) 2 (1 + x2 ) 2 x→1 x→1− (1 + x) 2 (1 + x2 ) 2 2 1 (1 − x) 2 √
podemos concluir que os dois integrais tˆem a mesma natureza, ou seja, o integral dado ´e convergente. EXEMPLO 2: O integral
Z
2
1 3
0
(2x − x2 ) 2
dx
´e um integral impr´oprio de 2a esp´ecie nos dois limites de integra¸ca˜o. Estudemos os integrais Z 1 Z 2 1 1 e 3 dx 3 dx. 2 2 0 (2x − x ) 2 1 (2x − x ) 2 Z 1 1 e divergente e Como o integral 3 dx ´ 0 x2 1 3
3
x2 1 1 (2x − x2 ) 2 = lim+ 3 lim+ 3 = lim 3 = 3 + 1 x→0 x 2 (2 − x) 2 x→0 (2 − x) 2 x→0 22 3 x2
130
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
o integral
Z
2
1 3
(2x − x2 ) 2 inicialmente ´e divergente.
dx ´e divergente. Podemos ent˜ao concluir que o integral dado
1
Teorema 5.5.11 Sejam
Z
Z
b
f (x) dx e a
b
g(x) dx dois integrais impr´oprios de 2a esp´ecie a
(no mesmo limite de integra¸ca˜o) com fun¸co˜es integrandas positivas. Suponhamos que µ ¶ f (x) f (x) =0 ou, lim+ =0 . lim x→a g(x) x→b− g(x) a) Se b) Se
Z Z
Z
b
g(x) dx ´e convergente ent˜ao a b
f (x) dx ´e divergente ent˜ao a
Z
b
f (x) dx ´e convergente. a
b
g(x) dx ´e divergente. a
Suponhamos que µ
f (x) lim− = +∞ x→b g(x) a) Se b) Se
Z Z
b
g(x) dx ´e divergente ent˜ao a
Z
b
f (x) dx ´e convergente ent˜ao a
Z
¶ f (x) ou, lim+ = +∞ . x→a g(x)
b
f (x) dx ´e divergente. a
Z
b
g(x) dx ´e convergente. a
b
Teorema 5.5.12 Seja f (x) dx um integral impr´oprio de 2a esp´ecie. Se o integral a Z b Z b f (x) dx. |f (x)| dx ´e convergente o mesmo acontece ao integral a
a
a
Z
b
Defini¸c˜ ao 5.5.9 Diz-se que o integral impr´oprio de 2 esp´ecie f (x) dx ´e absolutaa Z b Z b mente convergente se o integral |f (x)| dx ´e convergente. Se o integral f (x) dx a a Z b Z b f (x) dx ´e simples|f (x)| dx ´e divergente, diz-se que o integral ´e convergente e a
a
mente convergente.
EXEMPLO: Consideremos o integral Z
1 0
cos(πx) √ dx. 1 − x2
5.5 Integrais impr´ oprios
131
´ um integral impr´oprio de 2a esp´ecie no limite superior de integra¸ca˜o, mas a fun¸ca˜o E integranda muda de sinal no intervalo de integra¸ca˜o. No entanto, ¯ ¯ ¯ cos(πx) ¯ 1 ¯√ ¯ ¯ 1 − x2 ¯ ≤ √1 − x2 , ∀ 0 ≤ x < 1. Estudemos o integral Z
0
O integral
Z
1
1 1
0
(1 − x) 2
1
1 √ dx = 1 − x2
Z
1 0
1 1 2
1
(1 − x) (1 + x) 2
dx.
dx ´e convergente e 1 1 2
1
1 1 (1 − x) (1 + x) 2 = lim− lim− 1 = √ , 1 x→1 (1 + x) 2 x→1 2 1 (1 − x) 2 Z 1 1 √ dx ´e convergente. Pelo Teorema 5.5.9, o integral o que implica que o integral 1 − x2 0 ¯ Z 1¯ ¯ cos(πx) ¯ ¯ ¯√ ¯ 1 − x2 ¯ dx 0
´e convergente. Pelo Teorema 5.5.12, o integral dado ´e convergente e diz-se absolutamente convergente.
C. Integrais impr´ oprios mistos Podem ainda considerar-se integrais impr´ oprios mistos: por exemplo, com algum limite de integra¸ca˜o infinito e em que a fun¸ca˜o integranda se torne ilimitada num n´ umero finito de pontos do intervalo de integra¸ca˜o. Neste caso, a defini¸ca˜o do integral faz-se dividindo o intervalo de integra¸ca˜o por forma que se obtenham integrais dos tipos anteriores; se os integrais assim obtidos s˜ao convergentes diz-se que o integral misto ´e convergente e o seu valor ´e igual a` soma dos valores dos integrais correspondentes aos subintervalos. Se algum dos integrais obtidos ´e divergente o integral misto ´e divergente. Z +∞ 1 dx ´e um integral impr´oprio misto porque x3 + 1 = EXEMPLO 1: O integral 3+1 x −2 (x + 1)(x2 − x + 1), podendo fazer-se a decomposi¸ca˜o Z −1 Z 1 Z +∞ Z +∞ 1 1 1 1 dx = dx + dx + dx, 3 3 3 3 x +1 x +1 −2 x + 1 −1 x + 1 1 −2
132
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
o a sendo os dois primeiros ´ltimo de 1a esp´ecie. Z −1integrais do 2 membro de 2 esp´ecie e o u 1 dx ´e divergente e Como o integral −2 −x − 1 1 3 1 1+x 1 1+x lim − x + 1 = lim − 3 = lim − = lim − 2 = 2 1 x→−1 x→−1 (1 + x)(x − x + 1) x→−1 x − x + 1 x→−1 x + 1 3 1+x Z −1 1 dx ´e divergente. Ent˜ao o integral misto ´e divergente. o integral 3 −2 x + 1 Z −1 1 EXEMPLO 2: O integral e um integral impr´oprio misto, tendo-se 3 dx ´ 2 −∞ (x − 4) 5 Z −1 Z −3 Z −2 Z −1 1 1 1 1 3 dx = 3 dx + 3 dx + 3 dx. 2 2 2 2 −∞ (x − 4) 5 −3 (x − 4) 5 −2 (x − 4) 5 −∞ (x − 4) 5 O primeiro dos integrais do 2o membro ´e de 1a esp´ecie e os outros dois s˜ao de 2a esp´ecie. Consideremos o integral de 1a esp´ecie convergente Z −3 1 6 dx. −∞ x 5 Temos 1 6 3 2 x5 (x − 4) 5 = lim lim 3 = 1 1 x→−∞ (x2 − 4) 5 x→−∞ 6
Z
o que implica que o integral Z a O integral de 2 esp´ecie
x5
−3
3
dx ´e convergente.
3
dx ´e convergente e
(x2 − 4) 5 1
−∞ −2
−3
1
(−2 − x) 5 1 3
lim −
x→−2
Z
o que implica que o integral Z a O integral de 2 esp´ecie
−1 1 (x2 − 4) 5 = lim − 3 = 3 1 x→−2 (x − 2) 5 45 3 (−2 − x) 5 −3
1
e convergente. 3 dx ´ (x2 − 4) 5 1 e convergente e 3 dx ´ −2 (x + 2) 5 −1 3 −1 1 (x2 − 4) 5 = lim + lim + 3 = 3 1 x→−2 (x − 2) 5 x→−2 45 3 (x + 2) 5 −2 −1
5.5 Integrais impr´ oprios
o que implica que o integral
133
Z
−1
1
e convergente. 3 dx ´ (x2 − 4) 5 Podemos ent˜ao concluir que o integral dado ´e convergente. −2
D. A fun¸c˜ ao Gama (Γ) e a fun¸c˜ ao Beta (β) Suponhamos que queremos estudar a natureza do integral Z +∞ x3p dx x2 − 2x + 5 0
(5.5)
para todos os valores do parˆametro real p. Tendo em conta que x2 − 2x + 5 6= 0, ∀x ∈ R, este integral ´e de 1a esp´ecie se p ≥ 0 e misto se p < 0. Em qualquer caso podemos escrever Z +∞ Z 1 Z +∞ x3p x3p x3p dx = dx + dx, 2 x2 − 2x + 5 x2 − 2x + 5 0 0 x − 2x + 5 1 onde o segundo integral do 2o membro ´e sempre de 1a esp´ecie e o primeiro ´e de Riemann se p ≥ 0 e de 2a esp´ecie se p < 0. Suponhamos que p < 0. Z 1 Z 1 x3p 1 dx = dx. (5.6) 2 −3p 2 (x − 2x + 5) 0 x − 2x + 5 0 x O integral
Z
1 0
1 x−3p
1 dx converge se, e s´o se, −3p < 1, isto ´e, p > − . Como 3 1 1 1 x−3p (x2 − 2x + 5) lim+ = = lim+ 2 1 x→0 x→0 x − 2x + 5 5 −3p x
1 o integral (5.6) converge se, e s´o se, p > − . 3 Se p ≥ 0, o integral que acab´amos de estudar ´e de Riemann. Podemos ent˜ao concluir 1 que o integral (5.6) converge se, e s´o se, p > − . 3 Z +∞ 1 1 dx converge se, e s´o se, 2 − 3p > 1, isto ´e, p < e O integral 2−3p x 3 1 x3p 2 x2 lim x − 2x + 5 = lim 2 =1 1 x→+∞ x − 2x + 5 x→+∞ x2−3p
134
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
1 pelo que podemos concluir que o integral de 1a esp´ecie converge se, e s´o se, p < . 3 1 1 Ent˜ao o integral (5.5) converge se, e s´o se, − < p < . 3 3 Consideremos o integral Z 3 7 dx. (5.7) α β+1 −2 (x + 2) (3 − x) ´ um integral de Riemann se α ≤ 0 e β + 1 ≤ 0 e ´e um integral impr´oprio de 2a esp´ecie E se α > 0 ou β + 1 > 0. Podemos escrever este integral na seguinte forma: Z 0 Z 3 7 7 dx + dx. α β+1 α β+1 −2 (x + 2) (3 − x) 0 (x + 2) (3 − x) Z 0 1 dx converge se, e s´o se, Estudemos o primeiro integral. Como o integral α −2 (x + 2) α < 1, e 7 α 7 7 (x + 2) (3 − x)β+1 = lim + = β+1 lim + β+1 1 x→−2 (3 − x) x→−2 5 α (x + 2) podemos concluir que o Zintegral ´e convergente se, e s´o se, α < 1 e β ∈ R. 3 1 Dado que o integral dx converge se, e s´o se, β + 1 < 1, isto ´e, β < 0, e β+1 0 (3 − x) 7 lim−
x→3
(x +
2)α (3
− x)β+1
1 (3 − x)β+1
= lim− x→3
7 7 = α α (x + 2) 5
podemos concluir que o segundo integral converge se, e s´o se, β < 0 e α ∈ R. O integral (5.7) ser´a convergente se, e s´o se, α < 1 e β < 0. Entre os integrais com parˆametros h´a dois especialmente importantes: Z 1 Z +∞ p−1 −x xp−1 (1 − x)q−1 dx, x e dx e β(p, q) = Γ(p) = 0
0
p, q ∈ R. Estes integrais, quando convergentes, definem duas fun¸co˜es: a fun¸c˜ ao Gama, no primeiro caso, e a fun¸c˜ ao Beta, no segundo. Pretendemos estudar o dom´ınio destas fun¸co˜es, isto ´e, saber para que valores dos parˆametros s˜ao convergentes os integrais que as definem. Comecemos por estudar o integral Z +∞ Γ(p) = xp−1 e−x dx (5.8) 0
5.5 Integrais impr´ oprios
135
Podemos escrever este integral do seguinte modo: Z +∞ Z 1 p−1 −x xp−1 e−x dx. x e dx + 1
0
O primeiro integral ´e de Riemann se p − 1 ≥ 0 e de 2a esp´ecie se p − 1 < 0, enquanto o segundo ´e de 1a esp´ecie qualquer Z +∞ que seja p ∈ R. 1 Sabemos que o integral dx ´e convergente. Dado que x2 1 xp−1 e−x = 0, ∀p ∈ R lim 1 x→+∞ x2 podemos concluir que o integral de 1a Zesp´ecie ´e convergente qualquer que seja p ∈ R. 1 1 dx ´e convergente se, e s´o se, 1 − p < 1, isto O integral impr´oprio de 2a esp´ecie 1−p 0 x ´e, p > 0. Al´em disso, xp−1 e−x lim+ = lim+ e−x = 1, 1 x→0 x→0 1−p x a o que implica que o integral de 2 esp´ecie ´e convergente se,e s´o se, p > 0. Ent˜ao o integral (5.8) converge se, e s´o se p > 0, isto ´e, a fun¸ca˜o Γ tem dom´ınio R + . Consideremos o integral Z 1
0
xp−1 (1 − x)q−1 dx
(5.9)
Podemos sempre escrever este integral como a soma Z 1 Z 1 2 p−1 q−1 x (1 − x) dx + xp−1 (1 − x)q−1 dx 1 2
0
onde o primeiro integral ´e de Riemann se p − 1 ≥ 0 e de 2a esp´ecie se p − 1 < 0 e o segundo ´e de Riemann se q − 1 ≥ 0 e de 2a esp´ecie se q − 1 < 0. Z 1 2 1 O integral dx converge se, e s´o se, 1 − p < 1, isto ´e, p > 0. Como 1−p 0 x xp−1 (1 − x)q−1 = lim+ (1 − x)q−1 = 1 lim+ 1 x→0 x→0 x1−p podemos concluir Z 1 que o primeiro integral ´e convergente se, e s´o se, p > 0. 1 dx converge se, e s´o se, 1 − q < 1, isto ´e, q > 0. Como O integral 1 (1 − x)1−q 2 lim−
x→1
xp−1 (1 − x)q−1 = lim− xp−1 = 1 1 x→1 1−q (1 − x)
136
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
podemos concluir que o segundo integral ´e convergente se, e s´o se, q > 0. Ent˜ao o integral (5.9) converge se, e s´o se, p > 0 e q > 0, isto ´e, a fun¸ca˜o Beta tem sentido para p > 0 e q > 0.
´ E. Areas de dom´ınios ilimitados Vejamos alguns exemplos de aplica¸ca˜o dos integrais impr´oprios ao c´alculo de a´reas de dom´ınios planos ilimitados. EXEMPLO 1: Calculemos a a´rea do dom´ınio determinado pela imagem da fun¸ca˜o f (x) = 1 e o eixo dos xx (ver Figura 5.10). 1 + x2
Figura 5.10
O valor da a´rea ´e dado pelo valor do integral impr´oprio Z +∞ 1 dx. 2 −∞ 1 + x Calculando esse integral obtemos Z +∞ Z 0 Z +∞ 1 1 1 dx = dx + dx 2 2 1 + x2 −∞ 1 + x −∞ 1 + x 0 = 2
Z
+∞ 0
1 dx = 2 lim x→+∞ 1 + x2
Z
x 0
1 dt 1 + t2
= 2 lim [ arc tg(t) ]x0 = 2 lim arc tg(x) = π x→+∞
x→+∞
5.5 Integrais impr´ oprios
137
EXEMPLO 2: Calculemos a a´rea do dom´ınio determinado pela imagem da fun¸ca˜o f (x) = 1 p , as rectas x = −3 e x = 2 e o eixo dos xx (ver Figura 5.11). |x|
Figura 5.11
O valor da a´rea ´e o valor do integral impr´oprio Z 2 1 p dx. |x| −3 Z
2 −3
1 p dx = |x| =
=
Z
0 −3
1 p dx + |x|
Z
2 0
1 p dx = lim x→0− |x|
Z
x −3
1 √ dt + lim x→0+ −t
Z
2 x
1 √ dt t
h √ i2 £ √ ¤x lim− −2 −t −3 + lim+ 2 t
x→0
x→0
x
³ √ ³ √ √ ´ √ √ √ ´ lim− −2 −x + 2 3 + lim+ 2 2 − 2 x = 2 3 + 2 2
x→0
x→0
138
5. Fun¸ co ˜es Reais de Vari´ avel Real: C´ alculo Integral
Cap´ıtulo 6 Exerc´ıcios 6.1
Fun¸co ˜es Trigonom´ etricas Inversas
NOTA: Considere-se, em todos os exerc´ıcios, as restri¸co˜es principais do seno, coseno, tangente e cotangente. 1. Calcule: µ √ ¶ (a) arc sen − 23 ;
³ ³ ´´ (b) cotg arc sen 12 13 ; µ √ ¶ π (c) 3 − arc tg − 33 ;
³ ´i 1 (d) sen 2 arc cotg 43 ; h ³ ´i (e) tg 3 arc tg − 32 ; ³ ´ 1 . (f) arc tg(x) + arc tg x h
2. Calcule o n´ umero real designado por: h ³ ´i (a) sen arc cos − 12 ; ³ ¡√ ¢´ π (b) tg 4 + arc cotg 3 ; ³ ´´ ³ π (c) cos 6 − arc cos 53 ; · µ √ ¶¸ ³ ´ 3 (d) cos 2 arc tg 4 + arc sen − 23 . 3. Simplifique as seguintes express˜oes:
140
6. Exerc´ıcios
(a) sen (π + arc cos(x)); ³ ´ (b) cos2 21 arc cos(x) ; ´ ³ ) (c) cotg 2 arc cotg( x 2 , x 6= 0.
4. Mostre que:
(a) arc sen( 45 ) + arc tg( 34 ) = π 2; (b) arc tg( 21 ) + arc tg( 15 ) + arc tg( 18 ) = π 4; ³q ´ ³q ´ x 1 + (c) arc sen = arc cos x+1 x + 1 , com x ∈ R ; ´ ³q √ x + (d) arc sen x + 1 − arc tg( x) = 0, com x ∈ R .
5. Considere as fun¸co˜es reais de vari´ vel real definidas por: ³ ´ ³ ´ π π f (x) = cos 2x + 3 + 3; g(x) = 2 sen 3x − 5 ; ³ ´ x π π i(x) = 5 cotg x + 6 ; h(x) = sen( 3 ) + 3 tg( 2 ); j(x) = 3 arc sen(2x − 1); p(x) = 34 arc tg( x 3 );
m(x) = 1 − 12 arc cos(2x + 1); ³ ´ π x q(x) = 2 − 2 arc cotg 2 − 1 .
Determine o dom´ınio e o contradom´ınio de cada uma das fun¸co˜es. 6. Considere as fun¸co˜es f e g definidas em R por: ³x´ ³ ³π ´ π´ + 2 arc sen e g : x 7−→ 3 − 4 sen x + . f : x 7−→ cos 4 2 3 (a) Determine o dom´ınio e o contradom´ınio de f ;
(b) Determine uma express˜ao designat´oria que defina a fun¸ca˜o inversa da restri¸ca˜o principal de g. 7. Considere as fun¸co˜es f e g, reais de vari´avel real, tais que: µ ¶ π 3x f : x 7−→ − 2 arc cos , 3 2 g : x 7−→
1 π arc cotg (x + 3) − . 2 4
(a) Determine o dom´ınio e o contradom´ınio de f e de g; (b) Para cada uma das fun¸co˜es, caracterize a inversa da restri¸ca˜o principal.
6.1 Fun¸ co ˜es Trigonom´ etricas Inversas
141
8. Dada a fun¸ca˜o real de vari´avel real, definida por: f (x) =
π − 3 arc sen (2x) , 4
e considerando a restri¸ca˜o principal do seno, determine: (a) O dom´ınio de f ; (b) O contradom´ınio de f ; (c) Uma express˜ao de f −1 ; (d) Os zeros de f ; n o (e) x ∈ R : f (x) = π 4 .
9. Considere a fun¸ca˜o f (x) = π 3 + 2 arc sen(|2x − 1|). (a) Calcule o dom´ınio e o contradom´ınio de f ; (b) Verifique que f n˜ao tem zeros. 10. Sejam f e g fun¸co˜es reais de vari´avel real, tais que: f : x 7−→ 1 + cos (2x)
e g : x 7−→ 1 + sen (2x) .
Caracterize as fun¸co˜es inversas de f , g e f −g, considerando as respectivas restri¸co˜es principais. 11. Resolva as equa¸co˜es: µ √ ¶ ³ ´ 3 (a) arc sen(x) = 2 arc tg 4 − arc cos − 22 ; ³ ³ ´´ (b) arc cos sen 7π = 2x + π 6 2 , em [π, 2π[.
12. Determine as solu¸co˜es de cada uma das seguintes equa¸co˜es: √ (a) arc tg (x + 1) = arc sec( 2 − x); ³ ´ ³ ´ 1 x − 1 (b) arc tg x + 1 = arc cotg ; 2 ³ ´ (c) arc cos (2x2 − 1) = 2 arc cos 12 ; (d) arc cos (2x) − arc cos(x) = π 3.
142
6. Exerc´ıcios
6.2
No¸co ˜es Topol´ ogicas
1. Determine o interior, o exterior, a fronteira, o derivado, a aderˆencia, o conjunto dos minorantes, o conjunto dos majorantes, o supremo, o ´ınfimo, o m´aximo e o m´ınimo (caso existam) dos seguintes conjuntos: A = [ 2, 3 [ ∪ [ 4, 10 [, B =] 5, 7 [ ∪ {15}. 2. Determine o interior, o exterior, a fronteira, o derivado e a aderˆencia dos seguintes conjuntos: (a) A = {x ∈ R : x2 < 50};
(b) B = {x : x ´e irracional e x2 < 50}. 3. Considere o conjunto ¾ ½ (−1)n n ∧n∈N . A = x ∈ R : x = 1 + (−1) + n (a) Determine o interior, o exterior, o derivado, a fronteira e a aderˆencia de A. (b) Averig´ ue se o conjunto A ´e aberto ou fechado. 4. Determine o exterior, o interior, a fronteira e o derivado do conjunto: n √ √ o A = {x ∈ Q : |x + 3| < 5} ∪ x : x ´e irracional ∧ − 2 ≤ x ≤ 13 . 5. Dado o conjunto ½ ¾ i i (−1)n C = x ∈ R : x = 1 − n ∧ n ∈ N ∪ 31 , 34 ¾ ½ (−1)n ∧n∈N ∪ x∈R: x=2+ n2 (a) Determine a fronteira, o interior, o exterior e o derivado de C; (b) Averig´ ue se o conjunto ´e limitado. 6. S˜ao dados os conjuntos
e
Determine:
½ A= x∈R:
¯ 2 ¯ ¾ ¯ x ¯ ¯ ¯ ¯x − 2¯ ≤ 1
µ ½ ¶ ¾ 1 n+1 n B = y ∈ R : y = (−1) + (−1) 2 + ∧n∈N . n
6.2 No¸ co ˜es Topol´ ogicas
143
(a) int(A ∪ B); 0
(b) (A ∪ B) .
Relativamente a B indique quais os pontos fronteiros e averig´ ue se o conjunto ´e limitado. 7. Dados os conjuntos ½ A= x∈R: e B=
½
¯ ¯ ¯1 − ¯
¯ 1 ¯¯ x¯
¯ ¯ ¾ ¯1 ¯ 1 ¯ + 1¯ < ¯x ¯ x2
1 + 2n ∧n∈N y∈R: y= 2n
¾
(a) Determine A sob a forma de intervalos de n´ umeros reais. (b) Determine, caso existam, o supremo e o ´ınfimo de A ∩ B. 8. Dado o conjunto ) µ ½ ¶ ¾ ( µ ¶3n 1 2n + 1 B = x ∈ R : x = (−1)n+1 1 + ,n∈N ∪ x∈R: x= , n∈N n 2n − 1 determine: 0
(a) B e B; (b) int(B); (c) ext(B). Justifique que o conjunto B ´e limitado, indicando o ´ınfimo e o supremo de B. 9. Considere a fun¸ca˜o g : x 7−→ Determine Dg .
sen2 (x − ³ xπ)´ . 1 − cos 2
(a) A respeito de Dg determine o interior, o exterior, a fronteira e o derivado.
(b) Diga, justificando, se Dg ´e um conjunto aberto ou fechado. i ³ ´ h 1, 1 . , n ∈ N e B = − 10. Seja A o conjunto dos termos da sucess˜ao un = sen n π 4 2 Determine o supremo, o ´ınfimo, o interior e a fronteira do conjunto A ∪ B.
1 em R, determine a fronteira e o log(cos2 (x)) exterior de B e indique, justificando, se B ´e aberto.
11. Sendo B o dom´ınio da express˜ao
144
6. Exerc´ıcios
12. Dados os conjuntos © ª A = x ∈ R : |1 − 4x−1 | − 1 > 0 e B = {x ∈ R : |1 + 2x| ≤ 3x}
(a) Prove que A ∩ B = [ 1, 2 [.
(b) Indique, caso existam, o conjunto dos majorantes, o conjunto dos minorantes, o supremo, o ´ınfimo, o m´aximo e o m´ınimo de B. 13. Indique o supremo e o ´ınfimo, se existirem, do seguinte conjunto: ¯ ¯ ¾ ½ ¯ 4x − 5 ¯ ¯≤0 . A = x ∈ R \ {0} : x − ¯¯ x ¯ n o +m ∧m∈N . 14. Considere o conjunto B = x ∈ R : x = 1 2m Indique, se existirem, os majorantes, o ´ınfimo e o m´aximo de B. 15. Considere, em R, as seguintes condi¸co˜es: ¯¯ 2 ¯ ¯ ¯¯ x + 1 ¯ ¯ ¯ ¯ ¯ p(x) : |x| + |x − 1| < 3 e q(x) : ¯¯ − 1¯¯ < 1. ¯ x
(a) Determine sob a forma de intervalo de R o conjunto
A = {x ∈ R : p(x)∧ ∼ q(x)} . (b) Indique, caso existam, o supremo e o ´ınfimo de A. 16. Sendo S=
(
x ∈ R : 12 |x + 1| ≥
determine a fronteira e o interior de S.
15 X k=1
)
( k |x| ) ,
6.3 Indu¸ c˜ ao Matem´ atica
6.3
145
Indu¸c˜ ao Matem´ atica
1. Prove que 1 + 3 + 5 + · · · + (2n − 1) = n2
∀n ≥ 1.
2. Prove que 1 (a) 12 + 22 + 32 + · · · + n2 = n(n + 1)(2n + 1) ∀n ≥ 1; 6 · ¸2 n(n + 1) (b) 13 + 23 + 33 + · · · + n3 = ∀n ≥ 1. 2 3. Prove que n(n2 + 5) ´e divis´ıvel por 6 qualquer que seja n ∈ N. 4. Prove que: (a) n < 2n
∀n ∈ N;
∀n ∈ N; 1 (c) 1 + 2 + 3 + · · · + n < (2n + 1)2 ∀n ∈ N; 8 ³ a ´n+1 ³ a ´n (d) Se 0 < a < b, ent˜ao < ∀n ∈ N. b b (b) 1 + 2n ≤ 3n
5. Prove que
log(a1 a2 . . . an ) = log a1 + log a2 + · · · + log an , para todo o n ≥ 2, onde cada ai ´e um real positivo. 6. Prove que
a(1 − rn ) , 1−r onde n ´e um inteiro positivo e a e r s˜ao reais, r = 6 1. a + ar + ar2 + · · · + ar n−1 =
146
6. Exerc´ıcios
6.4
Sucess˜ oes
1. Prove, por defini¸ca˜o, que as seguintes sucess˜oes (un ) s˜ao infinitamente grandes positivos, ou seja, que lim un = +∞: n
(a) un = n; (b) un = n2 ; √ (c) un = n; (d) un = 2n . 2. Prove, por defini¸ca˜o, que as seguintes sucess˜oes (un ) s˜ao infinit´esimos, ou seja, que lim un = 0: n
1 ; n 1 (b) un = 2 ; n 1 (c) un = √ ; n 1 (d) un = n . 2 (a) un =
3. Se (un ) e (vn ) s˜ao sucess˜oes convergentes, prove que: (a) lim(un + vn ) = lim un + lim vn ; (b) lim(un · vn ) = lim un · lim vn ; (c) lim(un )p = (lim un )p , p ∈ N;
(d) lim uvnn =
lim un , lim vn
∀n ∈ N e lim vn 6= 0;
(e) lim(un )1/p = (lim un )1/p , se p for par dever´a ser un ≥ 0, ∀n ∈ N; (f) lim |un | = | lim un |;
(g) (∃p ∈ N ∀n ≥ p : un > 0) ⇒ lim un ≥ 0;
(h) (∃p ∈ N ∀n ≥ p : un ≥ vn ) ⇒ lim un ≥ lim vn . 4. Sejam (un ) e (vn ) dois infinitamente grandes positivos e (wn ) um infinitamente grande negativo, prove que: (a) lim(un + vn ) = +∞; (b) lim(un · vn ) = +∞;
(c) lim(un · wn ) = −∞;
(d) lim upn = +∞ ∀p ∈ N;
6.4 Sucess˜ oes
147
(e) lim wnp = ∞ ∀p ∈ N;
(f) lim |un | = lim |wn | = +∞;
(g) Sendo (zn ) uma sucess˜ao tal que ∃p ∈ N ∀n > p zn ≥ un , prove que lim zn = +∞. 5. Considere a sucess˜ao de termo geral an , em que a ∈ R. Prove que: (a) Se a > 1, lim an = +∞; n
(b) Se a < −1, lim an = ∞; n
(c) Se |a| < 1, lim an = 0; n
(d) Se a = 1, lim an = 1; n
(e) Se a = −1, a sucess˜ao ´e divergente. 6. Calcule, se existir, o limite de cada uma das seguintes sucess˜oes: (a) un = (b) un = (c) un = (d) un = (e) un =
1−n ; 4n + 3 n2 + 2 ; 3n + 1 3n ; 4n3 + 1 −n3 + 2 ; 4n3 − 7 n2 + 3n n2 − 1 − . n+2 n
7. Sejam (xn ) ⊂ R uma sucess˜ao, xn → ∞, P (x) = a0 xp + · · · + ap e Q(x) = b0 xq + · · · + bq duas fun¸co˜es polinomiais de coeficientes reais, p, q ∈ N, a0 6= 0, b0 6= 0. Mostre que (a) lim P (xn ) = lim a0 xpn = ∞. (b)
a 0 se p = q, P (xn ) a0 xpn b0 lim = = lim ∞ se p > q, Q(xn ) b0 xqn 0 se p < q.
8. Calcule, se existir, o limite de cada uma das seguintes sucess˜oes: √ n ; (a) un = 4n + 1
148
6. Exerc´ıcios
(b) un =
√
1 2
√
n √ ; − n
√ n2 − 1; r ³√ √ ´ 1 (d) un = n+1− n n+ ; 2 1 1 1 (e) un = √ +√ + ··· + √ . 2 2 2 n +1 n +2 n +n (c) un =
n2 + 1 −
9. Diz-se que a sucess˜ao (un ) cresce mais rapidamente que a sucess˜ao (vn ) se
un → +∞. vn
(a) Prove que nn cresce mais rapidamente que n!. (b) Prove que n! cresce mais rapidamente que en . (c) Coloque por ordem decrescente, quanto a` rapidez de convergˆencia, as sucess˜oes de termos gerais: √ √ 10 n, 2n , en , n!, log(n), n, n3 , nn . 2 n, 10. Sejam (un ) e (vn ) dois infinit´esimos, vn 6= 0 ∀n ∈ N. Diz-se que (un ) ´e de ordem un superior a (vn ) se lim = 0. Ordene os seguintes infinit´esimos: vn 1 , 2n
√
1 , 10 n
1 , 2n
1 , en
1 , n!
1 , log(n)
1 √ , n
1 , n3
1 . nn
11. Calcule os limites de cada uma das seguintes sucess˜oes : ¡ n+3 ¢2n (a) un = n+1 ; ¡ n+5 ¢n (b) vn = 2n+1 ; ¢n ¡ (c) wn = 1 − n32 . 12. Mostre que
u1 + · · · + u n → u. n √ (b) Se a ∈ R, a > 0, ent˜ao lim n a = 1. √ un+1 (c) Se un > 0, ∀n ∈ N e → b, (b ∈ R, b ≥ 0) ent˜ao n un → b. un √ Observa¸ca˜o: em particular n n → 1. √ un+1 (d) n un → b 6⇒ → b, (un > 0, ∀n ∈ N). un (a) Se un → u (u ∈ R ) ent˜ao
13. Calcule, se existir
6.4 Sucess˜ oes
1 p n (n + 1)!; 2n 1p (b) lim n n(n + 1) · · · 2n. n
149
(a) lim
14. Determine p ∈ R tal que lim
s n
n! = 3. (p n)n
15. Calcule os limites das seguintes sucess˜oes: µ ¶ 1 2 (a) cos (n) sen ; n (b)
n (n − 1) (n − 2) (n − 3) ; (n + 1) (n + 2) (n + 3)
(c) (cos(x))n , x ∈ R; s µ ¶ n 2 (d) n n! ; n r 1 n (e) 1+ ; n p (f) n (n + 1)! − n!; 1 1 1 (g) √ + √ + ··· + √ ; n n+1 2n 1 1 1 +√ + ··· + √ ; (h) √ 2 2 2 n +1 n +2 n + 2n + 1 ¶n r µ 1 n n + 1 (i) 1 − ; n n 1 1 1 (j) 2 + + ··· + ; 2 n (n + 1) (2 n)2 n n n (k) √ +√ + ··· + √ . 4 4 4 n +1 n +2 n +n 16. Quando poss´ıvel dˆe exemplos de sucess˜oes un → +∞ , vn → −∞ , wn → 0, que verifiquem as condi¸co˜es indicadas nas al´ıneas seguintes: (a) un + vn → 1;
(b) un + vn → −∞; (c) un + wn → 1;
(d) un × wn → 0;
(e) vn × wn → +∞;
150
6. Exerc´ıcios
(f)
un → −1. wn
17. Sejam (xn ) e (yn ) duas sucess˜oes de n´ umeros reais tais que xn → x e yn → y. Mostre que a sucess˜ao de termo geral zn = min{xn , yn } converge e que zn → min{x, y}. 18. Estude, quanto a` convergˆencia, a sucess˜ao real definida por u1 = 1, un = un−1 − 1 , ∀n > 1. 2 Indique, caso exista, o limite de un .
19. Considere a sucess˜ao (un ) definida por recorrˆencia u1 = 5
un+1 = 5un − 4 un
(a) Prove por indu¸ca˜o que ∀n ∈ N un > 4.
(b) Prove que a sucess˜ao ´e convergente.
(c) Mostre que 4 ´e o ´ınfimo do conjunto dos termos da sucess˜ao . 20. As sucess˜oes (un ) e (vn ) verificam as seguintes condi¸co˜es: i) ∀n ∈ N 0 < un < vn
ii) vn ´e decrescente
Diga, justificando, se s˜ao verdadeiras ou falsas as seguintes afirma¸co˜es (a) vn ´e convergente. (b) un ´e convergente. (c) un ´e decrescente. 21. Determine os limites superiores e inferiores das sucess˜oes de termos gerais n
(a) n(−1) ; (b) cos(n π/3); √ √ (c) n − (−1)n n − 1; ³n π ´ (d) sen ; 4 √ √ (e) n − (−1)n n − 1; ³ n π ´ ³ ³ n π ´´n 1 ; + cos (f) 2 cos n 10 2
6.4 Sucess˜ oes
151
(−1)n n2 + 3 ; n+1 ´ ³n π + a , a ∈ R; (h) sen 2 µ ¶n 1 1 (i) + + 2 n ((−1)n 3 + 3); 3 2n (g)
(j)
((−1)n+3 − (−1)n ) n3 + 2 . 3n + 1
22. Mostre que as seguintes sucess˜oes s˜ao de Cauchy em Q: 1 ; n2 1 (b) n . 2 (a)
23. Mostre que a sucess˜ao de termo geral 1 +
1 1 + · · · + n˜ao ´e de Cauchy em Q. 2 n
24. Considere a sucess˜ao de termo geral un = usando a defini¸ca˜o de sucess˜ao de Cauchy.
n+1 . n+2
Estude a natureza da sucess˜ao
3 xn 1 , xn+1 = + ´e uma sucess˜ao em Q que verifica 2 2 xn x2n → 2. Use este resultado para mostrar que (xn ) ´e uma sucess˜ao de Cauchy em Q que n˜ao converge em Q. ˜ i ) Mostre que vn = x2 − 2 verifica 0 ≤ vn ≤ 1 ; SUGESTAO: n 4n 2 2 x − xm ii ) use a rela¸ca˜o xn − xm = n . xn + x m
25. Mostre que a sucess˜ao x1 =
152
6.5
6. Exerc´ıcios
Continuidade
, π [→ R definida por 1. Estude a continuidade da fun¸ca˜o f (x) :] −π 2 2 1, se x = 0 f (x) = tg(x) , se x 6= 0 sen(2x)
2. Considere a fun¸ca˜o real de vari´avel real, definida por: 2x + arc cos(x), se 0 ≤ x < 1 h(x) = 2, se x = 1, x + 5, se 1 < x ≤ 4 3 (a) Mostre que h ´e cont´ınua em todo o seu dom´ınio.
(b) Aplicando o teorema de Bolzano, mostre que: ∃c ∈]2, 4[: h(c) = c. 3. Considere a fun¸ca˜o real f (x) = 1 − x sen( x1 ) definida em R \ {0}. Seja g um prolongamento de f a R. Determine o valor a atribuir a g(0) de modo que g seja cont´ınua em x = 0. 4. Determine o valor de a e b que tornam cont´ınuas as seguintes fun¸co˜es nos pontos indicados: 3x − 7, se x ≥ 3 (a) f1 (x) = , x = 3. ax + 3, se x < 3 x + a, se x < −2 (b) f2 (x) = x = −2, x = 1. 3ax + b, se − 2 ≤ x ≤ 1 , ax + 3, se x > 1 sen(x), se x ≤ 0 (c) f3 (x) = , x = 0. ax + b, se x > 0
5. Considere a fun¸ca˜o real definida por: x + 2a, se x ≤ 2 f (x) = x(x − 2) 2 , se x > 2 x − 5x + 6
(a) Determine o valor de a de forma a que f seja cont´ınua em x = 2.
6.5 Continuidade
153
(b) Mostre que apesar de se ter f (2) · f (4) < 0, n˜ao se pode aplicar o teorema do valor interm´edio de Bolzano no intervalo [2, 4]. sen(x) = 1, estude a continuidade em x = 0 da fun¸ca˜o x→0 x 4 3 2 x − 3x + x , se x 6= 0 sen(x) f (x) = 0, se x = 0
6. Sabendo que lim
Obs: Considere f apenas definida em [− π2 , π2 ]. r 1 − cos(x) 7. Sabendo que sen( x2 ) = ± , estude a continuidade em x = 0 da fun¸ca˜o 2 2x − sen(x) p , se x 6= 0 1 − cos(x) f (x) = √2, se x = 0 Obs: Considere f apenas definida em [− π2 , π2 ].
8. Mostre, recorrendo a` defini¸ca˜o, que as seguintes fun¸co˜es s˜ao cont´ınuas nos seus dom´ınios: (a) f (x) = x2 ; (b) g(x) = cos(x); (c) h(x) = x + sen(x). 9. Sejam f e g fun¸co˜es cont´ınuas em [a, b] tais que f (a) > g(a) e f (b) < g(b). Mostre que os gr´aficos de f e g se intersectam num ponto de abcissa c ∈]a, b[. 10. Sejam f e g fun¸co˜es cont´ınuas em [a, b] tais que f (a) = g(b), f (b) = g(a) e f (a) 6= g(a). Mostre que f − g tem pelo menos uma raiz pertencente ao intervalo [a, b]. 11. Seja f uma fun¸ca˜o real de vari´avel real cont´ınua em [a, b]. Sabendo que f (a) < a e f (b) > b, prove que f tem pelo menos um ponto fixo no intervalo ]a, b[. Obs: c ´e ponto fixo se f (c) = c. 12. Prove que se h : D ⊂ R → R ´e uma fun¸ca˜o cont´ınua em x = b, ponto interior a D, se tem: (a) Se h(b) > 0 ent˜ao existe uma vizinhan¸ca V de b tal que h(x) > 0, ∀x ∈ V .
(b) Se h(b) < 0 ent˜ao existe uma vizinhan¸ca V de b tal que h(x) < 0, ∀x ∈ V .
154
6. Exerc´ıcios
13. Seja f : [a, b] → R uma fun¸ca˜o cont´ınua, injectiva e tal que f (a) < f (b). Utilize o teorema do valor interm´edio de Bolzano para concluir que f ´e estritamente crescente no seu dom´ınio. Sugest˜ao: Comece por mostrar, utilizando o m´etodo de redu¸ca˜o ao absurdo, que n˜ao existe x ∈]a, b[ tal que f (x) < f (a) ou f (x) > f (b). 14. Seja f : [a, +∞[→ R uma fun¸ca˜o cont´ınua. Suponha que existe b ∈ [a, +∞[ tal que, para qualquer x > b se tem f (x) < f (a). Prove que f tem m´aximo em [a, +∞[. 15. Seja f : R → R uma fun¸ca˜o com limite finito quando x → 0 e tal que ∀x ∈ R \ {0}. Indique, justificando, o valor de lim f (x).
f (x) >0 x
x→0
16. Seja f uma fun¸ca˜o definida em R e verificando as seguintes condi¸co˜es: i) ∀x ∈ R, f (x) ∈ Z; ii) lim f (x) = c, c ∈ R. x→+∞
Recorrendo a` defini¸ca˜o de limite, justifique que: (a) c ´e um n´ umero inteiro. (b) Existe a ∈ R tal que f (x) = c, sempre que x > a. 17. Considere a fun¸ca˜o f definida por: 1 x2 + 2, se x 6∈ Z 2 f (x) = |1 + x| + |1 − x|, se x ∈ Z Estude-a quanto a` continuidade.
18. Seja f uma fun¸ca˜o definida num conjunto X ⊂ R. Mostre que se f ´e cont´ınua em a, existe uma vizinhan¸ca de a, na qual f ´e limitada. 19. (a) Sendo g : [0, +∞[→ R cont´ınua no seu dom´ınio, mostre que a fun¸ca˜o f (x) = g(1 − x2 ) tem m´aximo e m´ınimo. (b) Se na al´ınea a) consider´assemos g definida em ]0, +∞[, poder´ıamos continuar a garantir para f a existˆencia de m´aximo e m´ınimo? Justifique. 20. Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua em R, com limites positivos quando x → −∞ e x → +∞ e tal que f (0) < 0. Nestas condi¸co˜es mostre que: (a) a equa¸ca˜o f (x) = 0 tem pelo menos duas ra´ızes reais. (b) ∃c ∈ R ∀x ∈ R f (c) ≤ f (x). Dˆe um exemplo de uma fun¸ca˜o que verifique todas as condi¸co˜es exigidas no enunciado – excepto na continuidade em R, que deve ser substitu´ıda pela continuidade em R \ {0} – e para a qual as afirma¸co˜es expressas nas al´ıneas a) e b) sejam falsas.
6.6 Continuidade Uniforme
6.6
155
Continuidade Uniforme
1. Estude quanto a` continuidade uniforme nos intervalos indicados as seguintes fun¸co˜es: (a) f (x) = x em R; (b) f (x) = sen2 (x) em R; 0, se x < 0 (c) f (x) = 1, se x ≥ 0
em ]a, b[, a, b ∈ R, a < b;
1 em ]a, b[ com a ≥ 0; x2 µ ¶ 1 (e) f (x) = sen em ]a, b[ com a ≥ 0. x
(d) f (x) =
2. Mostre, usando a defini¸ca˜o, que a fun¸ca˜o f definida por f (x) = (x − 1)|x + 2| ´e uniformemente cont´ınua em qualquer intervalo limitado de R. 3. Considere a fun¸ca˜o |x2 − 7x + 10|, se x > 3 g(x) = 3 − x, se x ≤ 3
Justifique que ”g n˜ao ´e uniformemente cont´ınua no intervalo [0, 5]”. 4. Mostre, usando a defini¸ca˜o, que a fun¸ca˜o f (x) = 12 x2 − 1 ´e uniformemente cont´ınua no intervalo [2, 8]. 5. Diz-se que uma fun¸ca˜o f definida num conjunto X ⊂ R verifica a condi¸ca˜o de Lipschitz, se existe um n´ umero k > 0 tal que se tem, para quaisquer x, y ∈ X: |f (x) − f (y)| ≤ k|x − y|. Mostre que toda a fun¸ca˜o lipschitziana ´e uniformemente cont´ınua. 6. (a) Prove que o produto de duas fun¸co˜es lipschitzianas limitadas ainda ´e uma fun¸ca˜o lipschitziana. √ (b) Prove, usando a al´ınea a), que a fun¸ca˜o f (x) = x sen(x) ´e uniformemente cont´ınua em ]1, a[, ∀a ∈ R. ½ ¾ 1 1 7. Seja α ∈ , , 2, 3 . Para que valores de α ´e uniformemente cont´ınua no intervalo 3 2 [0, +∞[ a fun¸ca˜o f (x) = xα ?
156
6. Exerc´ıcios
8. Prove que, se f ´e uniformemente cont´ınua (a) A restri¸ca˜o de f a qualquer parte do seu dom´ınio ´e uniformemente cont´ınua. (b) f ´e limitada se o seu dom´ınio ´e limitado. (c) f tem limite finito em qualquer ponto de acumula¸ca˜o (finito) do seu dom´ınio. 9. Indique, das seguintes fun¸co˜es definidas em R, quais as que s˜ao uniformemente cont´ınuas: (a) f (x) = x sen(x); (b) f (x) =
x3 . 1 + x2
6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy
6.7
157
Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy
1. Seja f uma fun¸ca˜o diferenci´avel em R e g uma fun¸ca˜o definida por g(x) = f (ex ). (a) Defina a fun¸ca˜o derivada de g. (b) Supondo que f 0 tamb´em ´e diferenci´avel, determine g 00 (1). 2. Sendo f (x) = x4 , g uma fun¸ca˜o diferenci´avel em R e h tal que h(x) = (g ◦f )(sen(x)), defina a fun¸ca˜o derivada de h. 3. Seja f uma fun¸ca˜o diferenci´avel e injectiva e g(x) = x3 . Aplicando as regras da deriva¸ca˜o da fun¸ca˜o inversa e da fun¸ca˜o composta, determine uma express˜ao para a fun¸ca˜o derivada de (f ◦ g)−1 . 4. Calcule o diferencial das fun¸co˜es: (a) f (x) = x5 + 4x3 ; (b) f (x) = log(x); (c) f (x) = ex x2 . 5. Calcule, utilizando o diferencial, valores aproximados de: (a) 1.993 ; (b) 25.02 . p 2x − 1 e g(x) = 3 (x − 1)2 . Recorrendo ao teorema 2 x −1 de Rolle, que se pode afirmar sobre a existˆencia de pontos c1 , c2 ∈]0, 2[ tais que f 0 (c1 ) = g 0 (c2 ) = 0?
6. Considere as fun¸co˜es f (x) =
7. Mostre que f (x) = −x4 + 8x2 + 9 satisfaz as condi¸co˜es do teorema de Rolle no intervalo [−3, 3]. Determine os valores c ∈] − 3, 3[ que satisfa¸cam f 0 (c) = 0. 8. Prove, recorrendo ao teorema de Rolle, que a equa¸ca˜o 4x3 + 3x2 − 2x + 2 = 0 tem, pelo menos, uma solu¸ca˜o no intervalo ] − 2, 0[. 9. Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua em [a, b], diferenci´avel em ]a, b[ e tal que f (a) = f (b) = 0. Diga se a fun¸ca˜o g(x) = f (x)e−3x , no mesmo intervalo, obedece a`s condi¸co˜es do teorema de Rolle. Mostre que existe c em ]a, b[ tal que f 0 (c) = 3f (c). 10. Prove que a equa¸ca˜o x3 − 9x − 9 = 0 tem 3 ra´ızes reais. 11. Mostre que a equa¸ca˜o x3 + 2x − 1 = 0 tem apenas uma raiz real. Mostre ainda que essa raiz se encontra no intervalo ]0, 1[.
158
6. Exerc´ıcios
12. Considere a fun¸ca˜o real de vari´avel real definida por f (x) = 2(x − 1)(x − 3)(x − 5)(x − 7). Quantos zeros podemos garantir para f 0 e f 00 ? 13. Prove que, qualquer que seja k (real), a fun¸ca˜o f (x) = 2x3 − 6x + k n˜ao pode ter dois zeros no intervalo ] − 1, 1[. 14. A fun¸ca˜o f est´a definida em [0, π2 ] por: tg(x), se 0 ≤ x < f (x) = 1, se x = π2
π 2
(a) Verifique que f ( π2 ) = f ( π4 ).
(b) Mostre que f ´e cont´ınua e diferenci´avel no intervalo ] π4 , π2 [. (c) Neste intervalo f 0 n˜ao tem zeros. Isto contradiz o teorema de Rolle? Justifique. 15. Considere as fun¸co˜es f (x) = (x − 2)2 + 1 e 2 x − 4x + 3 , se x 6= 2 x−2 g(x) = 5, se x = 2
(a) Mostre que, no intervalo [1, 3], a fun¸ca˜o f satisfaz as condi¸co˜es do teorema de Rolle e que g n˜ao satisfaz.
(b) Determine as coordenadas do ponto do gr´afico de f onde a tangente a` curva ´e horizontal. 16. Considere a seguinte fun¸ca˜o real de vari´avel real, ex−1 , se x ≤ 1 f (x) = 1 + log(x), se x > 1. Mostre que:
(a) f ´e cont´ınua em R; (b) f tem derivada finita em R; (c) em nenhum intervalo de R ´e aplic´avel a f o teorema de Rolle. 17. Considere a fun¸ca˜o real de vari´avel real, definida por: ex2 −x−2 , se x ∈ [−1, 2] ³x´ f (x) = 6 , se x ∈]2, 4]. arc sen π 4
6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy
159
(a) Averig´ ue se ´e poss´ıvel aplicar o teorema de Rolle ao intervalo [−1, 2] . Em caso afirmativo determine o n´ umero de Rolle correspondente. (b) Prove que f ´e limitada. 18. Seja f uma fun¸ca˜o definida e diferenci´avel num intervalo I e g(x) = f (cos(x)) f (sen(x)). Suponhamos ainda que I cont´em os pontos −1 e 1 por forma a que g tenha por dom´ınio R. (a) Calcule g 0 (x) e mostre que, em qualquer ponto (a, b) do gr´afico de g tal que tg(a) = 1, a tangente a esse gr´afico ´e horizontal. (b) Admitindo que f era duas vezes diferenci´avel em I, o que poder´ıamos dizer sobre o n´ umero de ra´ızes da equa¸ca˜o g 00 (x) = 0? 19. Em cada um dos seguintes casos verificar se o teorema do valor m´edio de Lagrange f (b) − f (a) se aplica. Em caso afirmativo encontrar o n´ umero c em tal que f 0 (c) = . b−a 1 , x 1 (b) f (x) = , x (a) f (x) =
(c) f (x) = cos(x), (d) f (x) = tg(x), √ (e) f (x) = 1 − x2 , √ (f) f (x) = 3 x, (g) f (x) = |x|,
a = 2, b = 3 a = −1, b = 3
π 2 π 3π a= , b= 4 4 a = −1, b = 0 a = 0, b =
a = −1, b = 1
a = −1, b = 1
20. Considere a fun¸ca˜o g(x) = ex
2 −4
+ x.
(a) Determine as coordenadas dos pontos do gr´afico da fun¸ca˜o que tˆem abcissa -1, 1. (b) A fun¸ca˜o est´a nas condi¸co˜es do teorema de Lagrange no intervalo [−1, 1]? (c) Determine uma equa¸ca˜o da recta tangente ao gr´afico de g, paralela a` recta definida pelos pontos considerados em a). 21. Seja f : R → R a fun¸ca˜o definida por: 5 − x2 , se x ≤ 1 f (x) = 3 + x, se x > 1. x
(a) Mostre, a partir da derivada de f , que a fun¸ca˜o ´e cont´ınua em R.
160
6. Exerc´ıcios
(b) Aplique o teorema do valor m´edio de Lagrange ao intervalo [0, 3]. Determine os valores de c a que se refere o teorema. 22. Seja f : R → R a fun¸ca˜o definida por f (x) = sen(x) − cos(x). √ (a) Mostre que para cada x ∈ [0, π2 ], 1 ≤ f 0 (x) ≤ 2.
(b) Utilize o teorema de Lagrange para verificar que, para cada x ∈ [0, π2 ], √ −1 + x ≤ f (x) ≤ −1 + x 2.
23. Utilizando o teorema de Lagrange mostre que: (a) arc tg(x) ≤ x, ∀x ∈ R+ 0;
(b) log(x + 1) < x, x > 0; ¶ µ 1+x 1 < , x > 0; (c) log x x
(d) ex > x + 1, x > 0; x−a x−a (e) + arc tg(a) < arc tg(x) < arc tg(a) + , 2 1+x 1 + a2 (f) |sen(θ) − sen(α)| ≤ |θ − α|, ∀θ, α ∈ R;
x > a;
(g) |sen(θ)| < |θ|, ∀θ ∈ R.
24. Aplicar, caso seja poss´ıvel, o teorema de Cauchy a`s seguintes fun¸co˜es nos intervalos indicados. (a) f (x) = ex
2 −1
+ x e g(x) = 2x em [−1, 1].
(b) f (x) = cos(2x) e g(x) = sen(x) em [− π3 , π3 ]. (c) f (x) = x3 e g(x) = x2 em [−2, 2]. 25. Sejam f e g fun¸co˜es diferenci´aveis em R tais que f 0 (x) > g 0 (x) > 0, ∀x ∈ R e f (a) = g(a). Utilizando o Teorema de Cauchy, demonstre que: (a) f (x) > g(x), ∀x > a.
(b) f (x) < g(x), ∀x < a. 26. Calcule, aplicando o teorema do valor m´edio de Cauchy, o seguinte limite: lim
x→0
tg(a + x) − tg(a − x) . arc tg(a + x) − arc tg(a − x)
6.7 Diferenciabilidade. Teoremas de Rolle, Lagrange e Cauchy
161
27. Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua em [a, b] e diferenci´avel em ]a, b[. Demonstre as seguintes afirma¸co˜es: (a) Se f 0 (x) 6= 0, ∀x ∈]a, b[, ent˜ao f ´e injectiva em [a, b].
(b) Se f 0 (x) ≤ 0 (resp. f 0 (x) ≥ 0), ∀x ∈]a, b[ ent˜ao f ´e fun¸ca˜o decrescente (resp. crescente). 28. Sejam f e g duas fun¸co˜es cont´ınuas num intervalo [a, b] e diferenci´aveis em ]a, b[. Mostre que: (a) se f 0 (x) ≤ g 0 (x), ∀x ∈]a, b[, ent˜ao f (b) − f (a) ≤ g(b) − g(a).
(b) se |f 0 (x)| ≤ g 0 (x), ∀x ∈]a, b[, ent˜ao |f (b) − f (a)| ≤ g(b) − g(a). 29. Calcule os seguintes limites: (a) lim (1 + 3 tg2 (x))cotg(x) ; x→0
µ ¶log (1+ 12 ) x 1 (b) lim ; x→+∞ x x − tg(x) ; x→0 x − sen(x) ¢ ¡ log x+2 ¡ x ¢; (d) lim x→+∞ log x−2 x (c) lim
1
ex (e) lim+ ; x→0 cotg(x) (f) lim xsen(x) ; x→0
1
(g) lim (x + 1) log x ; x→+∞
(h) lim | cos(x)| x→π
x→0
(k) (l) (m)
;
log(sen(4x)) ; log(sen(3x)) h ³ π ´i ; lim x tg (1 − x) x→0 2 · ¸ log x −x ex √ lim + (1 − e ) ; 4 x→+∞ x · ¶x ¸ µ 1 2 lim x x + 1 − ; x→+∞ x · ¸ log x x−1 + lim (log x) ; x→1 sen(πx)
(i) lim (j)
1 x−π
162
6. Exerc´ıcios
¶ sen(x) −1 sen(x) ( x−sen(x) ) ; (n) lim x→0 x µ x ¶1 a + bx + cx x (o) lim , a, b, c ∈ R+ . x→0 3 µ
30. Determine os n´ umeros reais a e b tais que sen(ax) − x x→0 x3 + bx2 lim
seja um n´ umero real diferente de zero. 31. Determine os n´ umeros reais a e b de forma que µ ¶ cos(x) ax + b lim − = 0. x→0 log(x + 1) x
6.8 F´ ormula de Taylor
6.8
163
F´ ormula de Taylor
1. Desenvolva os polin´omios P1 (x) = x4 e P2 (x) = x3 − 2x2 + 3x + 5 em potˆencias inteiras de (x − 3) e (x − 2), respectivamente. 2. Escreva a f´ormula de Taylor de ordem n no ponto a dado, das seguintes fun¸co˜es: (a) f (x) =
1 , x2 + 3 2
a = 1, n = 3;
(b) f (x) = ex ,
a = 0, n = 4;
(c) f (x) = sen2 (x),
a = 0, n = 4;
(d) f (x) = tg(x), 1 (e) f (x) = , x
a = 0, n = 4; a = 1, n = 4.
3. Utilize a f´ormula de Taylor para aproximar a fun¸ca˜o f (x) = cos(x) por um polin´omio de grau 4. Use esse polin´omio para calcular uma aproxima¸ca˜o de cos(0.5). Obtenha uma estimativa para o erro da aproxima¸ca˜o. 4. Use a f´ormula de Taylor para estabelecer as seguintes desigualdades: (a) log(1 + x) ≥ x −
x2 x3 x4 + − , 2 3 4
x > 0;
1 (b) sen(a + h) − sen(a) − h cos(a) ≤ h2 , ∀h ∈ R; 2 3 x 1 ≤ 1 + 2x + 3x2 + 4 , x < 0. (c) 2 (1 − x) (1 − x)5 5. Escreva a f´ormula de Mac-Laurin de ordem n de cada uma das seguintes fun¸co˜es: 1−x ; ex 1 ; (b) f (x) = 1+x (c) f (x) = sen(x); (a) f (x) =
(d) f (x) = cos(x); 1 (e) f (x) = √ . 1+x 6. Observe que as fun¸co˜es f (x) = sen(x) e g(x) = kx, com k pequeno, se intersectam nas proximidades de x = π. Aplicando a f´ormula de Taylor de ordem 3 no ponto π a` fun¸ca˜o g(x) = sen(x) − kx, determine uma solu¸ca˜o aproximada de sen(x) = kx. 7. Utilize a f´ormula de Taylor para calcular os seguintes limites:
164
6. Exerc´ıcios
sen(x) − x ; x2 ex−π + cos(x) − (x − π) ; (b) lim x→π (x − π)2 (a) lim
x→0
1 − cos(x) ; x→0 x2 log(x) − x + 1 . (d) lim x→1 (x − 1)2 (c) lim
8. Seja g(x) = αe−kx + ax, com a < 0, α < 0, k > 0, constantes. Determine os extremos relativos da fun¸ca˜o g.
6.9 Estudo de uma fun¸ c˜ ao
6.9
165
Estudo de uma fun¸c˜ ao
1. Considere a fun¸ca˜o
xex , se x ≤ 0 f (x) = x log4 (x), se x > 0
(a) Estude a continuidade de f .
(b) Estude a diferenciabilidade de f . (c) Determine os extremos e a monotonia de f . (d) Determine os pontos de inflex˜ao e concavidades de f . (e) Determine o contradom´ınio de f . 2. Considere a fun¸ca˜o
2x , se x ≤ 0 1 + x2 f (x) = 1 − e3x , se x > 0
(a) Estude a continuidade de f .
(b) Estude a diferenciabilidade de f . (c) Determine os extremos e a monotonia de f . (d) Determine os pontos de inflex˜ao e concavidades de f . (e) Determine o contradom´ınio de f . 3. Seja f definida por x2 − 4, se x ≤ −2 f (x) = | 21 (x2 + x − 2)|, se −2 < x ≤ 1 ex , se x > 1 2
(a) Estude analiticamente f quanto a` continuidade e derivabilidade. (b) Determine os extremos relativos de f . (c) Mostre, por defini¸ca˜o, que f ´e uniformemente cont´ınua no intervalo ]0, 1]. 4. Considere a fun¸ca˜o definida por 2
|x|e1−x + 2 f (x) = . 5 (a) Estude f do ponto de vista da continuidade, derivabilidade, monotonia e extremos.
166
6. Exerc´ıcios
(b) Indique, justificando, se a fun¸ca˜o ´e uniformemente cont´ınua no intervalo ]−1, 2[. 5. Seja f definida por πx + π2 , se x < − 12 f (x) = cos(πx), se − 12 ≤ x < 2 − x2 , se x ≥ 3 2
3 2
(a) Estude analiticamente f quanto a` continuidade e derivabilidade. (b) Determine os extremos relativos de f . (c) Esboce o gr´afico da fun¸ca˜o. (d) Mostre, usando a defini¸ca˜o, que f n˜ao ´e uniformemente cont´ınua no intervalo [2, +∞[. 6. Seja f definida por
f (x) =
a sen(x) + 1, se x ≤ 0
x2 log(x) + b, se 0 < x < 2 x4 + 3, se x ≥ 2
(a) Determine a e b de modo que f tenha derivada finita no ponto x = 0. (b) Mostre, por defini¸ca˜o, que f ´e uniformemente cont´ınua no intervalo [3, 4]. 7. Considere a fun¸ca˜o f definida por |x − 1|ex , se x ≤ 2 f (x) = (x − 2)2 + e2 , se x > 2
(a) Estude analiticamente f quanto a` continuidade e derivabilidade.
(b) Determine os extremos relativos, intervalos de monotonia e pontos de inflex˜ao de f . (c) Mostre, por defini¸ca˜o, que f ´e uniformemente cont´ınua no intervalo ]3, 4]. 8. Seja f definida por
f (x) =
cos(π(x − 1)),
se x < 1
2x3 − 15x2 + 36x − 28, se 1 ≤ x ≤ 4 x, se x > 4
6.9 Estudo de uma fun¸ c˜ ao
167
(a) Estude analiticamente f quanto a` continuidade e derivabilidade em todos os pontos do seu dom´ınio. (b) Determine os extremos relativos de f . (c) A fun¸ca˜o f ´e uniformemente cont´ınua no intervalo [0, 2]? E no intervalo ]2, 5]? Justifique a resposta.
168
6. Exerc´ıcios
6.10
Primitiva¸c˜ ao
1. Determine as primitivas das fun¸co˜es definidas pelas express˜oes anal´ıticas seguintes: √ (a) 2x 3 x2 + 3; (b) 5x4 + 2x2 + 3; (c) ax5 , a constante n˜ao nula; ex (d) √ ; 1 − e2x (e) cos(6x); 2 ; (f) 3x (g) sen(2x − 3); 3x (h) ; 5 + x2 √ (i) x x2 + 9 ; (j) cos x − 5e2x ; x (k) + cos(2x); 2 2x + 5 1 ; (l) √ 1 − 5x2 3 5 2 (m) − 2 + + √ ; 2x x x (n) sen(x) cos2 (x); (o)
sen(x) 1 + ; 1 + 2 cos(x) sen2 (x)
(p) (cos2 (x) + 2 cos(x)) sen(x); kx (q) , k 6= 0, ab 6= 0; a + bx2 (r) asen3 (x) + x, a 6= 0; log |x| ; x 1 . (t) x log x
(s)
2. Primitive, por partes, as fun¸co˜es definidas pelas express˜oes anal´ıticas seguintes : (a) arc tg(x); (b) x cos(x);
6.10 Primitiva¸ c˜ ao
169
(c) (x2 + x + 1) ex ; (d) (x2 + 1) cos(x); x (e) ; cos2 (x) log |x| . (f) x2 3. Primitive, por substitui¸ca˜o, usando em cada caso a substitui¸ca˜o indicada, as fun¸co˜es definidas por : (a) √
√ ( x − 1 = t);
(b)
(x = 2 sen(t));
(c) (d) (e)
x3 x−1 x2 √ 4 − x2 r 1 x+2 x+4 x+4 1 x e + e−x 1 sen(x) + cos(x)
µr
¶ x+2 =t ; x+4
(ex = t); ³x´ = t). (tg 2
4. Determine as primitivas das fun¸co˜es racionais definidas pelas express˜oes anal´ıticas seguintes : (a) (b) (c) (d) (e)
x5 ; 2x + 1 x2 + 1 ; 12 + 3x2 x+2 ; 2 3x − 12x + 12 1 ; 2 x −9 2x ; (x + 2)(x − 3)
x3 + x 2 + x + 3 ; x4 + 2x2 − 3 x4 (g) ; 2x3 − 4x2 + 8x − 16 3x (h) ; 2 −x + x + 6 t+1 ; (i) 4 t + t2 (f)
170
6. Exerc´ıcios
(j)
2x3 . (x2 + 1)2
5. Determine a primitiva da fun¸ca˜o x → x2 ex que toma o valor 1 para x = 0. 6. Determine a primitiva da fun¸ca˜o x →
9x2
3 5π que toma o valor para x = 0. + 6x + 2 4 3
7. Determine a primitiva da fun¸ca˜o x → (cos(x)) 5 sen3 (x) + x2 ex que toma o valor 7 para x = 0. 8 , f 0 (1) = −1 e lim f (x) = 1. x→+∞ (x + 1)3 ¶ µ 1 R(log x) , onde 9. (a) Mostre que, com a substitui¸ca˜o log x = t , o c´alculo de P x R designa uma fun¸ca˜o racional do seu argumento, pode fazer-se depender do c´alculo da primitiva de uma fun¸ca˜o racional em t. 4 (b) Primitive f (x) = . 3 x[(log x) − 3 log x − 2] 8. Determine a fun¸ca˜o f tal que f ”(x) =
10. Sendo g(x) = cosn (x)R(sen(x)), com n ´ımpar, onde R designa uma fun¸ca˜o racional do seu argumento , mostre que a substitui¸ca˜o sen(x) = t permite primitivar g atrav´es da primitiva de uma fun¸ca˜o racional. 11. Primitive as fun¸co˜es definidas pelas express˜oes anal´ıticas seguintes : (a) x sen(2x − 1);
(b) x arc tg(x); x (c) √ ; 1+x t+1 ; (d) √ 2 t + 2t + 3 (e) (x + 1)ex ; 3x (f) √ + tg(9x); x2 + 5 x3 + 1 ; (g) 5x2 − 10x + 50 2 (h) √ ; 9 − x2 ex + e−x ; (i) 2x e − 2ex + 1 1 ; (j) √ x x2 + 4x − 4
6.10 Primitiva¸ c˜ ao
171
(k) arc tg(5x); 1 (l) √ ; 2 + x − x2 1 √ ; (m) √ x+1+ 4x+1 (n) cos4 (ax) , a 6= 0; p (o) x5 3 (1 + x3 )2 ;
1 ; 5 + 4 cos(x) √ x − x 3 ex + x2 ; (q) x3 (r) (log x + 1)2 ;
(p)
sen(x) ; cos(x)(1 + cos2 (x)) 3x + 5 ; (t) 2x3 − 2x2 − 2x + 2 x3 (x + 3) (u) ; 3x3 + 9x2 − 12 (v) (x + 1)3 e2x ; (s)
x3 − 3x − 4 ; −4x + 2x2 − 16 2x + 1 (x) √ ; 3x + 2 2t − 1 ; (y) 4 3 t − 2t + 2t2 − 2t + 1 tg(x) (z) . 1 + cos(x)
(w)
12. Mostre por primitiva¸ca˜o que: (a) P [(sen(x))n−1 sen((n + 1)x)] = (b) P [(cos x)m cos(nx)] =
1 (sen(x))n sen(nx); n
1 [cosm (x)sen(nx) + mP [cosm−1 (x) cos((n − 1)x)]]. m+n
13. Estabele¸ca a seguinte f´ormula de recorrˆencia : P (tg(x))n =
(tg(x))n−1 − P (tg(x))n−2 , n−1
n ≥ 2.
172
14. Seja fn (x) = √
6. Exerc´ıcios
xn . Mostre que : a + bx √ 2na 2xn a + bx − P fn−1 (x). P fn (x) = (2n + 1)b (2n + 1)b
6.11 Integrais
6.11
173
Integrais
1. Tendo em conta que toda a fun¸ca˜o cont´ınua em [a,b] ´e integr´avel nesse intervalo, use a defini¸ca˜o de integral para mostrar que se tem : Z b b 2 a2 − ; (a) x dx = 2 2 a Z b (b) sen(x) dx = cos(a) − cos(b). a
2. Seja f a fun¸ca˜o definida por 0 se x ∈ Q f (x) = 1 se x 6∈ Q
Mostre que a fun¸ca˜o x → |f (x) − 21 | ´e integr´avel no intervalo [0, 1] , mas o mesmo n˜ao acontece com a fun¸ca˜o x → f (x) − 21 . 3. Calcule os seguintes integrais: Z −3 1 (a) dx; 2 −2 x − 1 Z 1 x dx; (b) 2 0 x + 3x + 2 Z π 4 (c) sec2 (x) dx; π 6
(d) (e) (f) (g) (h) (i) (j)
Z
Z
Z
Z
Z
Z
Z
e2
e π 4
1 dx; x log x tg(x) dx;
−π 4
1 0 π 2
ex dx; 1 + e2x (1 + cos2 (x)) dx;
0 1/2
arc sen (x) dx; 0 π 4
(sen(2x))3 dx;
0 π 3
0
tg3 (x) sec(x) dx;
174
6. Exerc´ıcios
(k) (l) (m) (n) (o) (p) (q) (r) (s) (t)
Z
Z
−1 π
−π Z π
Z
Z
Z
Z
Z
Z
Z
√ x2 4 − x2 dx;
1
−π
|sen(x)| dx; (sen(x) + | cos(x)|) dx;
π 2
sen(2x) cos(x) dx;
0 4
1 √ dx; 1+ x
0
log 2
√
0 π 2
0 3
1 dt; 3 + 2 cos t t+1 √ dt; t2 + 2t
2 4
√
1
4/3 3/4
Z
ex − 1 dx;
x dx; 2 + 4x
1 dz; z z2 + 1 √
2
e3x + e2x + 1 dx; ex − e−x 1 √ Z 0 u + 2u + 1 √ du. (v) −1/2 1 + 2 2u + 1
(u)
4. Calcule os seguintes integrais: Z π 2 (a) (x2 cos(x) + 1) cos(x) dx; 0 Z e cos(log x) dx; (b) 1
(c) (d) (e)
Z
Z
Z
1
(x3 + x2 + x + 1)ex dx; 0 π
ex sen(x) dx; 0 4 2
3x3
2x − 1 dx; + 3x + 30
6.11 Integrais
(f) (g)
Z
Z
π 3
0 π 2
175
(| cos(3x)| − xsen(x)) dx; [(sen(x))
n−1
sen((n + 1)x)] dx +
0
Z
π 2
[sen(3x) cos(5x)] dx.
0
5. Seja f uma fun¸ca˜o de classe C 0 em [−a, a]. Mostre que: Z a Z a (a) Se f (x) = f (−x) ent˜ao f (x) dx = 2 f (x) dx; −a 0 Z a (b) Se f (x) = −f (−x) ent˜ao f (x) dx = 0. −a
6. Sejam m e n dois inteiros . Mostre que: Z π 0 se m 6= n sen(mx)sen(nx) dx = (a) π se m = n 0 2 Z π (b) sen(nx) cos(mx) dx = 0. −π
7. (a) Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua e crescente em [1, +∞[. Mostre que: Z x f (t) dt < (x − 1)f (x). (x − 1)f (1) < 1
(b) Utilizando o resultado da al´ınea anterior e sendo f (t) = log(t) mostre que ex−1 < xx < (ex)x−1 . 8. Sendo f uma fun¸ca˜o real definida e diferenci´avel em [0, 1], mostre que Z
1 0
0
xf (1 − x) dx =
Z
1 0
f (x) dx − f (0).
9. Determine as derivadas das fun¸co˜es F definidas por : Z 3x+2 tet dt, no ponto em que x = 1; (a) F (x) = 0
(b) F (x) =
Z
Z
kb(x)
f (u) du, k constante; a(x) x2 +x+1
sen(t) dt, no ponto em que x = 1. t 1 Z x2 + 3 t 7 4 e (t − ) 4 dt. Determine: 10. Considere a fun¸ca˜o f (x) = t 1 (c) F (x) =
176
6. Exerc´ıcios
(a) O seu dom´ınio e a equa¸ca˜o da recta tangente a` linha que ´e a sua representa¸ca˜o gr´afica no ponto em que x = 1/2. (b) Os pontos em que a fun¸ca˜o tem extremo relativo e, em cada ponto, a natureza do extremo. 11. Calcule lim
x→0
12. Calcule
Z
1 lim+ x→0 x
x
sen(t3 ) dt 0
Z
.
x4 x
√
3t2 + 5 dt.
0
13. Seja n um inteiro n˜ao negativo e seja In =
Z
π 2
(sen(x))n dx.
0
n+1 In . n+2 (b) A partir do resultado da al´ınea anterior conclua que com k inteiro positivo se tem Z π 2 (2k − 1)(2k − 3)....3 × 1 π (sen(x))2k dx = × 2k(2k − 2)....4 × 2 2 0 e Z π 2 2k(2k − 2)....4 × 2 (sen(x))2k+1 dx = . (2k + 1)(2k − 1)...3 × 1 0 (a) Mostre que In+2 =
(c) Usando a substitui¸ca˜o x =
π 2
− t , mostre que
In =
Z
π 2
0
(cos(x))n dx.
6.12 C´ alculo de ´ areas
6.12
177
C´ alculo de ´ areas
1. Determine a a´rea de cada um dos seguintes dom´ınios: (a) Dom´ınio limitado pela par´abola y 2 = 2x − 2 e pela recta y − x + 5 = 0.
(b) Dom´ınio limitado pelas par´abolas y 2 = 4ax + 4a2 e y 2 = −4bx + 4b2 , a, b ∈ R+ .
(c) Dom´ınio limitado pelas representa¸co˜es gr´aficas das fun¸co˜es f (x) = −x3 e g(x) = −(4x2 + 12x).
(d) Dom´ınio limitado pelas representa¸co˜es gr´aficas das fun¸co˜es f (x) = x3 −6x2 +8x e g(x) = x2 − 4x.
(e) Dom´ınio limitado pelas representa¸co˜es gr´aficas das fun¸co˜es f (x) = ex e g(x) = e−x e por x = −1 e x = 2.
(f) Dom´ınio limitado pelas representa¸co˜es gr´aficas das fun¸co˜es f (x) = x3 − x e g(x) = sen(πx) e x ∈ [−1, 1]. 1 (g) Dom´ınio limitado pelas representa¸co˜es gr´aficas das fun¸co˜es f (x) = , x g(x) = ax, h(x) = bx, a, b ∈ R+ . 2. A par´abola y 2 = x + 1 determina no c´ırculo limitado pela circunferˆencia x2 + y 2 = 3 dois dom´ınios. Determine a a´rea de cada um deles.
178
6.13
6. Exerc´ıcios
Integrais Impr´ oprios
1. Calcule, se existir, o valor de cada um dos seguintes integrais impr´oprios: Z +∞ 2 (a) x e−x dx 0 Z +∞ log x dx (b) x 1 Z 6 1 p dx (c) 3 (4 − x)2 2 Z 2 1 (d) dx 2 1 x −1 Z −3 x (e) dx 2 6/5 −∞ (x − 4) Z +∞ log(3 t) dt (f) 2 t2 1 Z 1 2 x3 (x4 + 1)−3/2 dx (g) −∞ Z a 1 √ (h) dx ; a ∈ R+ 2 − x2 a a/2 Z 3a 2x dx ; a ∈ R+ (i) 2 2 )2/3 (x − a 0 Z 2 x √ (j) dx 3 2 x −4 −2 Z π/2 1 dx (k) −π/2 1 − cos(x) Z +∞ (l) t e−t dt −∞
2. Estude quanto a` convergˆencia os seguintes integrais impr´oprios: Z +∞ 2t + 3 (a) dt 4 t3 + 1 0 Z +∞ sen(x) √ dx (b) x 1 + x2 1 Z +∞ log x (c) √ dx x2 2 Z 1/2 6 x5 ex dx (d) −∞
6.13 Integrais Impr´ oprios
(e) (f)
Z
Z
π
(x2
3 1 0
Z
3
x dx − 9)1/4
1 p
179
sen(x)
dx
cos(x) √ dx x − 1 4 9 − x2 0 Z 1 log(x + 1) (h) dx x−1 0 Z +∞ −x e (i) dx 2 x −1 2 Z +∞ arctg(t) (j) dt t2 1 (g)
√ 3
3. Estude pormenorizadamente para que valores dos parˆametros reais p e q tem sentido cada um dos seguintes integrais: Z +∞ e−x xp dx (a) e
(b) (c) (d) (e) (f) (g) (h)
Z
Z
Z
Z
Z
Z
Z
+∞
1
log2 (x) dx x1+p
1
x3 (1 − x)p dx
0 1
1 dx −p xp+1 dx x2 − 4 x + 13
x2
0
+∞ 0 π/2
(cos(x))p dx 0 2 1 0 −2
µ
2−x x−1
¶p+1
1 dx x
(−x)p dx (x + 2)q
4. Seja f uma fun¸ca˜o cont´ınua n˜ao negativa para x > a > 0 e suponha que existem constantes reais M > 0 e K > 1 tais que f (x) ≤
M , ∀x > a xK
(a) Mostre que, nestas condi¸co˜es, o integral impr´oprio
Z
+∞
f (x) dx ´e convergente. a
180
6. Exerc´ıcios
(b) Aplique Z +∞ o resultado da al´ınea anterior para mostrar que o integral impr´oprio 1 √ √ dx ´e convergente. 2 1+x 1 + x3 1 Z x 5. Determine uma representa¸ca˜o anal´ıtica da fun¸ca˜o F (x) = g(t) dt −∞
onde
2, x2 g(x) = 2,
se |x| ≥ 1 se |x| ≤ 1
6. Determine, se existir, a a´rea do dom´ınio plano ilimitado definido por: (a) a imagem das fun¸co˜es f (x) = dos xx;
1 2 1 e g(x) = x e pelo semi-eixo positivo 1 + x2 2
(b) o eixo dos xx, as rectas x = −2 e x = 5 e a representa¸ca˜o gr´afica da fun¸ca˜o 1 h(x) = p . |x|
7. Determine, se existir, a a´rea de cada um dos seguintes dom´ınios planos ilimitados: (a) S = {(x, y) : x ≤ 0 ∧ 0 ≤ y ≤ ex } © ª (b) S = (x, y) : x ≥ −2 ∧ 0 ≤ y ≤ e−x/2
8. Exame de Recurso de An´alise Matem´atica I (15 Fev 1995): Z +∞ 1 dx (a) Calcule o valor do integral impr´oprio (x2 + 1) (x + 1) 0 Z 1 1 (b) Estude a convergˆencia do integral dx 1/3 −1 (sen(x)) 9. Exame de 2a chamada de An´alise Matem´atica I (3 Fev 1995): (a) Estude, em fun¸ca˜o do parˆametro real α, a convergˆencia do integral Z 1 xα √ dx 2 1 − x2 0 (1 + x ) Z +∞ 1 dx (b) Estude a convergˆencia do integral 2 1/3 (x − 1) (x + 1)1/3 0 10. Exame de 1a chamada de An´alise Matem´atica I (27 Jan 1995): (a) Calcule o valor do integral impr´oprio
Z
π/2 0
cos(x) p dx sen(x)
6.13 Integrais Impr´ oprios
181
(b) Estude, em fun¸ca˜o do parˆametro real α, a convergˆencia do integral Z +∞ (x − 1)α x2 α dx 1
11. Exame de Recurso de An´alise Matem´atica I (15 Abr 1994): (a) Calcule a a´rea do dom´ınio plano ilimitado definido pelo gr´afico da fun¸ca˜o 1 y= e pelo eixo dos xx. 1 + x2 (b) Estude, em fun¸ca˜o do parˆametro real α, a convergˆencia do integral Z 2 x1−2α (2 − x)α/2 dx 0
12. Exame de 2a chamada de An´alise Matem´atica I (21 Fev 1994): Indique, justificando, se s˜ao ou n˜ao convergentes os seguintes integrais Z +∞ −x e √ dx (a) x 0 Z 1 log x √ dx (b) x 0 (Nota: Na al´ınea (b), pode usar quer um crit´erio de compara¸ca˜o, quer a defini¸ca˜o). 13. Exame de 1a chamada de An´alise Matem´atica I (7 Fev 1994): Indique, justificando, se s˜ao ou n˜ao convergentes os seguintes integrais Z 2 ex (a) dx 3 1/5 0 x (1 − x) Z +∞ p 3 1/x √ dx (b) 5 x +1 0 14. Exame de 1a chamada de An´alise Matem´atica I (7 Fev 1994): Estude, em fun¸ca˜o do parˆametro real α, a convergˆencia do integral Z +∞ (x − 1)α e−x dx 1
182
6. Exerc´ıcios
Bibliografia [1] APOSTOL, T. - Calculus, Blaisdell, 1967. [2] CAMPOS FERREIRA, J. - Introdu¸ca˜o a` An´alise Matem´atica, Funda¸ca˜o Calouste Gulbenkian, 1982. [3] ELLIS, R.; GULLICK, D. - Calculus with Analytic Geometry, 5a edi¸ca˜o, Saunders College Publishing, 1994. [4] FIGUEIRA, M. - Fundamentos de An´alise Infinitesimal, Textos de Matem´atica, vol. 5, Departamento de Matem´atica, Faculdade de Ciˆencias da Universidade de Lisboa, 1996. [5] HUNT, R. - Calculus, 2a edi¸ca˜o, Harper Collins, 1994. [6] LARSON, R.; HOSTETLER, R.; EDWARDS, B. - Calculus with Analytic Geometry, 5a edi¸ca˜o, Heath, 1994. [7] SANTOS GUERREIRO, J. - Curso de An´alise Matem´atica, Livraria Escolar Editora, 1989. [8] SARRICO, C. - An´alise Matem´atica, Leituras e Exerc´ıcios, Gradiva, 1997. [9] SPIVAK, M. - Calculus, World Student Series Edition, 1967. [10] STEWART, J. - Calculus, 3a edi¸ca˜o, Brooks/Cole Publishing Company, 1995. [11] SWOKOWSKI, E. W. - C´alculo com Geometria Anal´ıtica, vol. 1, 2a edi¸ca˜o, Makron Books, McGraw-Hill, 1994. [12] TAYLOR, A.; MANN, R. - Advanced Calculus, 2a edi¸ca˜o, Xerox College Publishing, 1972.
´Indice Remissivo R, 9 aderˆencia, 2 bin´omio de Newton, 5 conjunto aberto, 2 dos termos da sucess˜ao., 7 fechado, 2 limitado, 2 majorado, 2 minorado, 2 contradom´ınio, 13 crit´erios de convergˆencia, 115 derivada, 37 a` direita, 38 a` esquerda, 37 de ordem n, 44 segunda, 44 derivado, 2 descontinuidade remov´ıvel, 28 dom´ınio, 13 de defini¸ca˜o, 13 express˜ao anal´ıtica, 13 exterior, 1 extremos, 14 extremos relativos, 46 f´ormula de Leibnitz, 45 f´ormula de MacLaurin, 58 f´ormula de Taylor, 58 fecho, 2 fronteira, 1 fun¸ca˜o, 13
´ımpar, 14 bijectiva, 15 cont´ınua, 23 a` direita, 23 a` esquerda, 23 no conjunto B, 23 crescente, 14 decrescente, 14 diferenci´avel, 37 estritamente crescente, 14 estritamente decrescente, 14 estritamente mon´otona, 14 injectiva, 15 limitada, 15 mon´otona, 14 par, 14 primitiv´avel, 67 prolong´avel por continuidade, 28 racional, 75 real de vari´avel real, 13 sobrejectiva, 15 uniformemente cont´ınua, 32 de classe C 1 , 44 de classe C n , 44 de classe C ∞ , 44 derivada, 44 integr´avel, 98 fun¸ca˜o Beta, 134 fun¸ca˜o Gama, 134 fun¸ca˜o racional em p vari´aveis, 85 irredut´ıvel, 76 gr´afico, 13 grau de multiplicidade, 76
´ INDICE REMISSIVO
indetermina¸co˜es, 52 Indu¸ca˜o matem´atica, 5 ´ınfimo, 3 infinit´esimo, 10 infinitamente grande, 8 infinitamente grande em m´odulo, 8 Integra¸ca˜o por partes, 107 por substitui¸ca˜o, 107 integral, 98 impr´oprio de 1a esp´ecie divergente, 114 impr´oprio de 1a esp´ecie, 113, 121, 122 absolutamente convergente, 121 convergente, 114 simplesmente convergente, 121 impr´oprio de 2a esp´ecie convergente, 126 impr´oprio de 2a esp´ecie, 125–127 convergente, 125 divergente, 125, 126 impr´oprio misto, 131 inferior, 98 superior, 98 interior, 1 limite, 16 a` direita, 19 a` esquerda, 19 lateral, 19 relativo, 19 limite inferior, 11 limite m´aximo, 11 limite m´ınimo, 11 limite superior, 11 lipschitziana, 34 m´aximo, 14 local, 46 relativo, 46 m´ınimo, 3, 14 local, 46 relativo, 46 majorante, 2
185
m´aximo, 3 minorante, 2 parti¸ca˜o, 95 mais fina, 95 polin´omio, 75 em duas vari´aveis, 85 em p vari´aveis, 85 grau de um, 75 irredut´ıvel, 75 redut´ıvel, 75 ponto aderente, 2 de acumula¸ca˜o, 2 exterior, 1 fronteiro, 1 interior, 1 isolado, 2 ponto de estacionaridade, 61 ponto de inflex˜ao, 64 ponto de m´aximo, 14 ponto de m´ınimo, 14 primitiva, 67 imediata, 68 primitiva¸ca˜o de fun¸co˜es irracionais, 85 de fun¸co˜es racionais, 75 por partes, 72 por substitui¸ca˜o, 73 prolongamento, 28 recta acabada, 10 recta tangente, 37 Regra de Barrow, 107 Regra de Cauchy, 52 Regra de l’Hospital, 54 representa¸ca˜o anal´ıtica, 13 resto de Lagrange, 58 restri¸ca˜o, 15 soma inferior de Darboux, 96 soma superior de Darboux, 96 subsucess˜ao, 8
186
sucess˜ao, 7 convergente, 9 crescente, 7 de Cauchy, 12 decrescente, 7 estritamente crescente, 7 estritamente decrescente, 7 estritamente mon´otona, 7 fundamental, 12 limitada, 7 limitada inferiormente, 7 limitada superiormente, 7 mon´otona, 7 supremo, 3 Teorema de Bolzano, 24 de Cantor, 35 de Cauchy, 50 de Darboux, 48 de Lagrange, 49 de Rolle, 47 de Taylor, 57 de Weierstrass, 26 da m´edia, 106 Fundamental do C´alculo Integral, 106 termo geral, 7 valor principal de Cauchy, 124 vari´avel dependente, 13 independente, 13 vizinhan¸ca, 1
´ INDICE REMISSIVO
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