análise do texto Gringuinho

June 24, 2018 | Author: profjuli | Category: Short Stories, Narration, Science, Philosophical Science
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Análise do texto “Gringuinho” Samuel Rawet 

O que vemos em “Gringuinho.” Trata-se de um pequeno judeu inconformado com o desconforto causado pela mudança inusitada de ambiente. A personagem lida com inúmeros fantasmas que são alçados diante de si. As personagens, recém chegado de não se sabe onde, esbarram na

dificuldade de comunicar-se e nesse caso mais

precis precisame amente nte “Gring “Gringuin uinho” ho”,, a incomu incomunic nicabi abilid lidade ade é algo algo latent latente e e toma corpo dentro do texto ficcional. Em grande medida, a prob proble lema mati tiza zaçã ção o da ling lingua uage gem m se denu denunc ncia ia por por me meio io da falt falta a de comunicabilidade composta pelas personagens de cada conto. Em “Gringuinho”, o protagonista assim chamado, não é diferente. Ele não penetra inteiramente a teia social, ela é por assim dizer, excluído e parto. Dessa maneira, o conto de um refuta o diferente, ele é o feio parto

pequeno imigrante rejeita e deforma o próprio gringo. Em grande medida, a incomunicabilidade e a crise de identidade, bem como o desconforto que se instaura no seio da narr narrat ativ iva a perp perpas assa sam m a prod produç ução ão artí artíst stic ica a de Samu Samuel el Ra Rawe wet. t. Em “Gri “Gring ngui uinh nho” o”,, que que é o quar quarto to dos dos dez dez co cont ntos os,, exis existe te a segu seguin inte te passagem: A entrada do quarto surpreendeu o blá-blá do caçula que, olhos no teto, tocava uma harpa invisível. Era lhe estranha a sala, quase estranhos, apesar de meses, os companheiros. Os olhos no quadro-negro espremiam se como se imigrante:1972,47auxiliasse a audição perturbada pela língua (Contos do imigrante:1972,4748).

Outro aspecto do conto que salta aos olhos é a questão da violência, que não é puramente física, mas também psicológica. O conto

como

um

todo

se

constrói

nesse

universo

de

incomunicabilidade (que também é uma forma de violência), e as modalidade de violação e intolerância acima mencionadas. A não argüição nem prova fazem com que o texto tome contornos mais

dramáticos da mais pura negação, nem isso e nem aquilo. Assim temos: Nem prova nem argüição. O apelido. Amolava-o a insistência dos moleques. Esfregou ante o espelho os olhos empapuçados. Ontem rolara na vala com Caetano, após discussão. Atrapalhou o jogo. O negrinho cresceu em sua frente no ímpeto de derrubá-lo (Contos do imigrante:1972,48).

O estranhamento causado pelos colegas pode ser tomado de maneira metonímica, e trazida ao tom de desencanto diante do mundo, desconcerto perante a tudo e a todos. Trata-se de um conto sui generis dentro da composição poética do livro como um todo. Sendo por isso, selecionado para a coleção de Alfredo Bosi, Conto brasileiro contemporâneo, pelo fato de apresentar, à luz do

texto, aspectos marcantes da grande literatura o memorialismo, o imaginário infantil tudo construído de maneira bastante peculiar, uma vez que, o conto se mostra como um misto de denúncia e retratação de uma inocência perdida por conta da intolerância. “Gringuinho”  é o conto que reúne elementos de riqueza impar. A incomunicabilidade perpassa toda a prosa do autor. Há uma clara menção a manifestações de poder. A ruptura com o poder simbólico dá-se de maneira áspera e rude. O poder simbólico atravessa os quatro cantos do conto, e por isso, não pode ser trazido ao texto como algo menor. Há uma razão de ser para tantas vozes se colocarem à autenticidade de Gringuinho. O rompimento com os laços sociais é chocante: Ele tentou surpreender-lhe o olhar, conquistara a inocência a que tinha direto...E não contaria que ao ser repreendido na escola, na impotência de dar razões, quando a velha principiou a amassar-lhe a palma da mão com a régua negra e elástica, não se conteve e esmurrou-lhe o peito rasgando o vestido (Contos do imigrante:1972,50-51).

Gringuinho é uma tentativa de passagem à fase adulta, que não

se confunde com adulterada, atravessou o portão impelido pelo desejo de ser homem já . A conquista desse espaço surge por meio do Olhar. Ao longe e ao lúgubre, com um enxergar de modo agudo os

acontecimentos que o circunda. Para tristeza da personagem a

passagem fica apenas no campo da memória e não se concretiza. Gringuinho é antes de tudo uma personagem excêntrica, que não se adéqua aos espaços comuns, e tenta, sem sucesso, forjar seu próprio caminho. A ruptura com o poder simbólico dá-se de maneira bruta e abrupta. As inúmeras manifestações de poder sufocam a personagem ao ponto de ela não falar, não se mostrar de forma autêntica e autônoma. A personagem está sempre acuada, a própria linguagem colocada de maneira literária a sufoca. É curioso observar como as demais personagens possuem voz dentro da narrativa: Chamaram. A mãe cortou o melão e separou duas fatias. Raul agradeceu pelos dois. “Ah! É o gringuinho!”Expelida pelo nariz a fumaça do cigarro, o pai soltara a exclamação. Quase o sufoca a fruta a boca...Novamente as vozes atrás da carteira...Cercado, alguns de pé sobre as mesas, recolheu-se a mudez expressiva (Contos do imigrante:1972,50)”.

As manifestações de poder estão relativizadas e postas de maneira difusa. Não é apenas a representação mimética do poder, ele coloca-se à revelia de rotulações longe do alcance de mãos ávidas. Não se trata aqui de mostrar claramente onde está a voz de comando, é sim uma tentativa de expor a volatilidade do poder ao qual a personagem está sujeita e por isso tenta, de alguma forma, romper a lógica hierárquica do poder constituído. Dessa maneira, o que se tem são vozes equânimes de comando, que denotam hierarquização apenas para o protagonista da narrativa. [...] O que está em questão é o que rege os enunciado e a forma como estes se regem entre si para constituir um conjunto de proposições aceitáveis cientificamente e, consequentemente, suscetíveis de serem verificados ou infirmados por procedimentos científicos. Em suma, problema de regime, de política de enunciado cientifico. Neste nível não se trata de saber qual é o poder que age do exterior sobre a ciência, mas que efeitos de poder circulam entre os enunciados científicos; qual é seu regime interior de poder; como e por que em certos momentos ele se modifica de forma global . (FOUCAULT:2007, 04)

As relações mistas de poder são sempre postas de maneira a oprimir, claro está, e estão sempre a serviço do dominador. Cabe ao leitor mais cauto identificá-las e expô-las cruamente de modo a desmascará-las. O poder simbólico possui máscaras que são muito

voláteis e os enunciados ficam, sejam eles científicos ou não, a mercê desse poder. Compete ao leitor arguto, uma leitura mais detida aos detalhes da narrativa. Como e de que maneira, o poder se apresenta dentro dos enunciados e como são tão mutáveis. No caso do conto em questão, as vozes representam essa manifestação de poder, ora marcada pela mãe, ora marcada pelo pai ou pelo tio, ou seja, em Gringuinho são incontáveis as formas de poder que se transformam, por meio das vozes e de atitudes autoritárias. E o silêncio da personagem: Hoje entrara tarde na sala. Não gostava de chamar atenção sobre si, mas teve que ir à mesa explicar o atraso. Cinqüenta pares de olhos fixos em seus pés que tremiam. O pedido de cebola veio mais forte. Gargalhada maciça em contraponto aos titubeios da boca, olhos e mãos.(Contos do imigrante:1972,49)

Podia falar pouco de maneira a não chamar atenção sobre si. A

falta de voz ativa da personagem denota uma total submissão perante as demais personagens, que de maneira bastante curiosa ao menos, são personagens menores no contexto da narrativa. “o falar pouco” ilustra uma latente ausência de comunicabilidade, ou ao menos, pra ficar menos carregado de significados pejorativos, um estado de rebaixamento servil .

Assim, na composição de Gringuinho, o que se coloca subentendido é inúmeras proposições: a relação de poder, o rebaixamento da personagem e a incomunicabilidade.

GRINGUINHO E OS ESPAÇOS DE EXCLUSÃO O

protagonista

desse

conto

podemos dizer

que

está

desorientado com as dificuldades de adaptação, tanto na escola quanto em casa, a personagem não encontra seu espaço acolhedor e reconfortante. Na memória, idas e vindas num misto de passado, presente e futuro. A exclusão não fica apenas no âmbito do espaço físico, é a linguagem também que não permite a plena integração da personagem. Na escola, é penoso para a personagem compreender o que se apresenta no quadro negro. Todo o ambiente o é estranho. A personagem é reduzida a um esteriótipo, um apelido que marque a

sua condição de “diferente” perante os demais. Na escola, impelido pela obrigação de dar satisfações pelo atraso não suporta a zombaria e rompe com brutalidade na impossibilidade de apresentar justificativas. Em casa, a mãe se divide entre os afazeres domésticos e os cuidados com o filho mais novo, não percebe o incômodo ao qual o pequeno protagonista fora submetido e faz da chegada fortuita um episodio de pouco valor, e como uma boa mulher que é, permanece firme no pedido de compras. Simbolicamente, a mãe é a representação de ordem, transfigurada na voz de comando. A personagem principal sem nome, marcada por esteriótipo, a persegue em sua mudez calculada semanticamente.

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