November 29, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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GILFRANCISCO
Edições GFS
GILFRANCISCO
Copyright 2007, by GILFRANCISCO Rua Laguna, 42 (casa) Conjunto Beira Mar – I, bairro Atalaia Telefone (79) 3248-4239 – Aracaju – Sergipe Ser gipe – Cep. 49037-730 Site: www.gilfrancisco.tk E-mail
[email protected] [email protected] Revisão: Antonio Carlos Oliveira Barreto e Nadja Cruz Editoração: Paulo Afonso Cardoso da Silva Impressão: Polikromia Gráfica e Editora Digital – (79) 3213-0778 Edições GFS
Ficha elaborada Cleilde Melo Sousa – CRB-5/1088 G473g
GILFRANCISCO. A Romancista Alina Paim / GILFRANCISCO. Aracaju: Edições GFS: 2008. 95 p. ilust. 1. Literatura Sergipana – ensaio. 2. Biografia. 3. Crítica Literária. I Título.
CDU 821.134.3(813.7) - 4 292
Impresso em agosto de 2008 Aracaju/Sergipe 2
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Ao poeta amigo Antonio Carlos de Oliveira Barreto Para Núbia Marques (in memoriam)
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De repente - eu com toda a força brilho e de novo o dia nasce. Brilhar Bril har sempre, semp re, brilhar em toda a parte, parte , até ao dia em que a fonte da vida se esgote, brilhar e é tudo ! É o nosso lema - meu e do sol!
Vladimir Maiakóvski (1893-1930)
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Agradecimentos: Ana Carla Loureiro Jornalista Ana Maria Fonseca Medina Memorial do Poder Judiciário do Estado de Sergipe Antônio José Nascimento Professor da UFS Antônio ProfessorPaim e Filósofo Célio Nunes Jornalista e contista Cleones Gomes dos Santos Historiador e Professor da UVA Eneida Marques Filha da escritora Núbia Marques Gustavo P. Bomfim Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe Iara Carmen e Graça Cantalino Fundação Clemente Mariani Jackson da Silva Lima Historiador e Folclorista sergipano
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Luiz Antonio Barreto e Cristina Cavalcante Instituto Tobias Barreto de Educação e Cultura – Pesquise Milton Sobral Arquivo Público do Estado de Sergipe Monique Nascimento Ramos Acadêmica do curso de Letras Paulo Afonso Cardoso da Silva Jornalista Pedrinho Santos Biblioteca Epifânio Dória Raquel Fábio Fundação Biblioteca Nacional Roseane Leal Nascimento Pesquisadora Teresa Paim Filha da escritora Alina Paim Wagner Ribeiro Poeta sergipano Waldir Freitas Oliveira Conselho Estadual de Cultura/ Bahia
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S U M Á R I O Apresentação A Romancista Alina Paim * Gilfrancisco
Entrevistas Leitura Descobre Leitura Descobre uma Prof Professor essoraa * Melo Lima A Redescober Redescoberta ta de Alina Alina Paim * Gilfrancisco
Julgamento Crítico Estrada da Liberdade Lib erdade * Ascendino Leite Na Estrada da Liberdade * Santos Morais Um Livro de Combate * Reginaldo Guimarães Apresentação Apresenta ção “Simão Dias” * Graciliano Ramos Novo Romance Rom ance de Alina Al ina Paim * Oswaldo Alves Alina Paim * Zózimo Lima A professor professorinha inha de Estância já tem história literária * Barboza Mello Prefácio “O Sol do Meio-Dia” * Jorge Amado Alina Paim é só romancista * Valdemar Cavalcanti A Mulher Mulhe r e seus Símbolos S ímbolos * Núbia Marques Prefácio “A “A Sétima Vez” * Núbia Marques
Síntese Biográfica Obras Publicadas Fortuna Crítica
Subsídios Biográficos
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APRESENTAÇÃO
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talentosa e paciente, sergipana, deficiente visual visual aos 89 Silenciosa, anos, construiu seu mundo sem pressa, pressa essa,romancista jamais se desligou do interesse humano, do sentido político e social de suas histórias e de seus personagens. Apesar das opiniões favoráveis a sua obra que mereceram da crítica nacional e internacional, a colocando na altura das melhores romancistas da sua geração, seu nome está está injustamente excluído dos compêndios literários brasileiros. Muitos desses intel intelectuais ectuais militantes, a exemplo de Enoch Santiago Filho, Renato Mazze Lucas, Jacinta Passos e a própria Alina Paim foram também silenciados pelo Partido, apesar de terem sido beneficiado benefi ciadoss da rede de relações relações construída construída no seu itinerário itinerário..
Gênero literário em prosa, relativamente longo, o romance é caracterizado pela narrativa de acontecimentos fictícios, mas geralmente verossímeis, relacionados a uma ação centrada num enredo, na análise de personagens ou no exame de uma situação. Entendido como sucedâneo do poema épico, o romance moderno mod erno tem raízes nos romances de cavalaria, mas só se configurou como hoje o conhecemos no século XVIII, tendo por precursores entre outros, o abade Prévost (Manon Lescaut, 1731) e Henry Fielding (Tom (Tom Jones, 1749). Ciente de sua vocação literária e disposta a seguir a trilha, Alina Paim optou pelo romance, não se deixou tentar pela atração do conto, nem da crônica, nem mesmo de artigo para jornal. Seu interesse maior e único o romance. Mesmo tendo estreado aos 23 anos, o tempo lhe assegurou o necessário capital de experiência e observação, indispensáveis para todo romancista. O romance tem em Alina Paim a mão que o denuncia de todos os segredos e violências, explorandoo em cada ângulo difícil sem restringi-lo à mera análise superficial, exigindo assim do crítico que a estuda um esforço vital, um reconhecimento de nuances, ampliando sua visão de autora consciente e politizada. Alina dá a medida exata, a atualização essencial da narrativa romanesca, um sentido de concepção nova na caracterização dos personagens, persona gens, onde os conflitos interiores surgem à descoberta inteiramente vigiada pelos seus equilíbrios de narradora onisciente. Alina é uma romancista que escreve com naturalidade, naturalidad e, conta a sua história com um gosto e emoção crescente, conseguindo captar o que há de duradouro e de eteno na criatura humana. human a. Denunciando a história de várias criaturas, cujos pequenos dramas ganham enormes proporções, porque exprimem toda espécie de mutilação de uma sociedade rural, como no romance Simão Dias. Alina Leite Paim nasceu na cidade de Estância, (68 km de Aracaju) Aracaju) berço da imprensa sergipana, a 10 de outubro de 1919, filha de Manuel Vieira Leite e de 13
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Maria Portela de Andrade Leite, ambos sergipanos. Com três meses de idade mudouse com os pais para Salvador. Ao perder a mãe, foi para Simão Dias (SE), morar na casa dos avós paternos, onde sofreu muito com a rigorosa educação dos parentes, princi palmente palmen te pelas constantes constantes e severas severas repreensões repreensões das três tias solteironas solteironas.. A severa severa educação que recebera nesses primeiros anos, de certa forma contribuiria para sua aprovação em 1932, no primeiro ano do curso fundamental com distinção nos exames de suficiência do Colégio Nossa Senhora Senhor a da Soledade, em Salvador. Simão Dias foi um celeiro político-econômico de grandes e influentes famílias que marcaram toda to da a história de Sergipe. Ali, Alina fez os estudos preliminares p reliminares na Escola Menino Jesus e dos sete aos dez anos, freqüentou o Grupo Escolar Fausto Cardoso, da Praça da Matriz, onde recebe formação form ação religiosa e participa de diversas atividades relacionadas à expansão do catolicismo. Parte de sua infância e adolescência serviu de cenário e título para o seu segundo romance, escrito nos meses de agosto a dezembro de 1946. Mudou-se outra vez para p ara Salvador e continuou seus estudos no colégio Nossa Senhora da Soledade. Soledade. Aos doze anos passou a escrever para o jornalzinho do educandário de freiras, onde se formou como profes sora e trabalhando professora trabalh ando depois d epois numa n uma escola esco la da Estrada E strada da Liberdade, Libe rdade, hoje um um dos bairros mais populosos de Salvador. Salvador. Casou-se em 1943, com o médico baiano Isaías Paim e mudou-se em seguida para o Rio de Janeiro, onde on de reside com uma de suas filhas. Como na época ép oca não conseguisse trabalho, foi ensinar na Escola para filhos de pescadores, na Ilha de Marambaia. Aí escreveu seu primeiro romance, Estrada da Liberdade, publicado em fins de 1944, com enorme repercussão nos meios literários e de público, esgotando-se em quatro meses a primeira edição. Como seu diploma de professora somente era válido dentro dos limites do Estado da Bahia, encontrou-se, de súbito, sem profissão definida. E, a convite de Fernando Tude de Souza, diretor da Rádio Rádio do Ministério da Educação e Cultura Cultura - MEC, começou a escrever para o programa infantil infantil “No Reino da Alegria”, dirigido porpara Genicrianças Marcodes. Para esse entre 1945 a 1956, escrevendo e adolescentes. adolescen tes.programa, Desde sua colaborou chega ao Rio de Janeiro, Alina participou partici pou ativamente ativame nte da vida literária literári a do País, publicou publico u quase dez romance romanc e e quatro obras infantis, alguns de seus romances foram editados na Rússia (1957), China (1959), Bulgária (1963) e Alemanha (1968). Em 1944, a jovem Alina Alina Paim se dirigiu a Barboza Mello, ligado ao Partido Comunista, então diretor da Editora Leitura, levada pelo jornalista Osvaldo Alves para entregar entr egar os originais ori ginais do livro li vro Estrada Estrad a da Liberdade, Liberda de, e durante duran te esse primeiro prime iro contato, a jovem foi contando como e porque o escreve. Segundo Barboza, Alina Paim era “uma menina de cabelos soltos, cacheados, 1,50 de altura, 48 quilos de peso, rosto bonito de ingênua, fala suave, e uma tímida inconcebível numa adolescente que queria ser escritora”. Publicado pela Editora Leitura, do Rio em em 1944, o romance Estrada da Liberdade retrata a vida de uma professora cheia de idéias, em contato com a amarga 14
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realidade de sua comunidade de bairro proletário, onde tenta aplicar métodos modernos de aprendizagem. Alina baseou-se em sua infeliz experiência para escrever escrever.. Conheceu a fome e a miséria da infância baiana abandonada, de quem ela se apaixonou e que muito contribuiu para leva-la a colocar a sua arte a serviço do povo. Pouco a pouco a prof profess essora ora vai tend tendo o anova revelaç revealação ão de tudo tudo. livdo rosamor, diferent diferentes dados dados por amigos amig novos novos e chega assim a uma nov concepção da. L~e vida,livros dasesrelações entre asos pessoas humanas e revolta-se contra tudo que é falso e lhe fora ensinado, uma educação dirigida no interesse dos poderosos e ricos. Esse é o clima em que se desenvolve a ação de Estrada da Liberdade, cuja estrada entraram as primeiras “tropas libertadoras” nas lutas da Independência da Bahia (1823), e, por esse motivo, mo tivo, recebeu a denom denominação inação simbólica. Alina faz isso com muita felicidade: não cria as histórias, não inventa, mostra-se apenas com o coração revoltada pelas injustiças sociais e pela miséria econômica, como se contasse para uma pessoa amiga aquilo que viu e ouviu. Essa obra foi muito elogiada pela crítica, pois nela a autora já mostra sua tendência para a ficção e para as causas humanitárias. Estrada da Liberdade é uma romance simples,cacau, sem ascafé). costumeiras apuradas, a temática da época (seca, cangaço, O paineltécnicas do livro, prende foge a atenção do leitor pela leveza do estilo e pela condição natural dos seus personagens que se apresentam como qualquer humano, com defeitos e qualidades. Em menos de 2 anos a edição de Estrada da Liberdade estava esgotada, tendo contribuído para isso as freiras daquele Convento que eram as maiores compradoras do livro, não n ão para ler, mas para queimar... queim ar... Elas não gostaram do que Alina havia escrito, escri to, colaborando colabor ando para a imortalidade do Convento Nossa Senhora da Soledade. Nesse romance r omance de estreia estr eia já se observavam obs ervavam os principais pri ncipais traços que iriam ir iam caracterizar a sua obra posterior, apesar de Alina iniciar-s iniciar-see como escritora nu numa ma época em que os romancistas brasileiros estavam voltados para a literatura regionalista ou de denúncia social, como é o caso de Graciliano Ramos e José Lins do Rego, enquanto ela enfoca em seus textos o ser humano com suas angústias e questionamentos existenciais. existenciais. A partir daí, seguem vários romances que denunciam o poder dos fortes sobre os fracos. Mostra, também, o amor como forma de realização e destruição do ser humano; a exploração do homem como força-trabalho, que caracteriza a sociedade brasileira. Suas obras sempre refletem um tipo de crítica humanitária. Alina Paim era consdierada de esquerda e lutadora pelas causas feministas, o que lhe causou sérios problemas durante o regime militar nas décadas de 60 6 0 e 70. A redemocratização redemocratização do país em 1945, com a queda de Getúlio Vargas Vargas e a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte, coincidiria com a imposição de novos reformismos, a partir do Ato Adicional Adicional nO 9, de fevereiro, o Brasil se surpreende com a extensão e a importância do movimento comunista, que está ligado ou dirigindo uma série de atividades ativid ades políticas fundamentais. Com a saída de Carlos Prestes da prisão, um novo panorama se apresenta: o PCB se tornará legal 15
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e uma nova fase se abre para as esquerdas, esquerd as, em geral. A sociedade brasileira, brasi leira, então, irá passar por um novo momento de sua história, havendo a participação particip ação democrática de todas as suas classes sociais e uma mais ampla conquista de direito sociais e isso inclui a literatura. A morte deda Mário de Andrade nesse ano como queSua assinala o fim de um ciclo questionador cultura, das instituições e das idéias. obra crítica deixa entrevar não apenas força aglutinadora, mas sobretudo sensibilidade e abertura intelectual e todas as vocações capazes de revelar aspectos inventivos de algum modo interligados com a trajetória renovadora da arte no Brasil. Em 1949 a Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil edita o romance Simão Dias, com apresentação de Graciliano Ramos, amigo e grande incentivador da tímida escritora sergipana: “A estréia, recebida com louvores, jogou a moça na literatura. Alina Alina fez vários livros. Este, o terceiro, deixa longe a Estrada da Liberdade, manifesta um valor que o trabalho da juventude apenas indicava. A aut autora ora observa, estuda com paciência, tem a honestidade rigorosa de não tratar de um assunto sem domina-lo inteiramente. As suas personagens são criaturas que a fizeram infância excesso ou lhe deram alguns momentos de alegria, em cidadezinhas dopadecer interior. interiorna . Nenhum de imaginação”. Nessee livro, Ness livro, Alina Alina retrata retrata part partee de sua infância infância e adolescê adolescência, ncia, compartil compartilha ha com o leitor suas memórias sobre o cotidiano desta cidade do estado de Sergipe. Orientada pelo amigo Graciliano Graciliano Ramos, Ramos, Alina mantém mantém o teor autobiográf autobiográfico ico do romance romance,, não não substituindo os verdadeiros nomes dos personagens, no intuito de aproximar ao leitor o cotidiano da cidade e de seus habitantes nomeados no relato. Quando o romance foi publicado public ado causou causou espanto espanto em alguns membros membros de sua família, família, pois ti tiveram veram as suas suas vidas expostas publicamente. Alina escreveu um livro útil e o fez com amor, com generosa ternura, captando o ambiente, o meio, a atmosfera que cercou a formação, intelectual e humanista, erigindo o edifício do seu romance argamassando-o de reminiscências pessoais ou coletando depoimentos. A Sombra do Patriarca de 1950, publicado pela Livraria Globo retrata a vida no campo romanceando a maléfica e prepotente atuação do Senhor de Engenho. É neste ambiente do meio rural do Nordeste, numa antiga fazenda na qual um mundo de personagens vive em redor do velho fazendeiro, tio Ramiro, e em função dele. As pessoas e as coisas obedecem ao patriarca, sua vontade prevalece sobre tudo e todos. Existências se mutilam sob o poder dessa energia despótica e rígida, sob caprichos decorrentes de uma concepção absurda da vida. O velho latifúndio muda a seu talante o destino de todo ser humano a seu alcance. Ninguém se surpreende com tal estado de coisas até que um dia Raquel, uma sobrinha do velho, vem passar poucos dias na fazenda. Mas como adoece de impaludismo, é forçada a permanecer mais tempo, observa o poder infinito e anacrônico do patriarca, descobre uma por uma as causas – locais, sociológicas, históricas, psíquicas – em que ele se baseia, e com o descobrimento começa a revoltar-se contra ele. Assim é a história de Raquel na velha fazenda, contada por 16
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ela na primeira pessoa, mas é também uma imagem do latifúndio que confere ilimitado poder a seu detentor e paralisa todas as vidas que dele dependem. A Sombra do Patriarca, de Alina Paim, é o quadro vivo das vidas em conflitos, em que a opulência acaba sendo derrotada pelas forças coesas de uma classe que um dia entendeu de reivindicar ancestrais direitos A literatura popular refletiu as lutas dessepostergados. período. Em particular a coleção, “Romances do Povo”, dirigida por Jorge Amado, publicada pela Editora V Vitória itória que reuniu 25 títulos de autores de vários países. Um desses livros, A Hora Próxima, é de Alina Paim, escritora sergipana militante do Partido Comunista do Brasil e colaborou na elaboração de uma narrativa literária que espalham as lutas do povo, revelando o futuro de inevitáveis conquistas para o proletariado. A Hora Próxima, título que compõe a coleção (Vol. (Vol. XI), vendeu 10 mil exemplares somente na primeira tiragem, em 1955. O livro foi traduzido traduzido para o russo e chinês, segue as pegadas de JJorge orge Amado, introdutor e praticante-mor do realismo socialista no Brasil. A partir dos anos 50-60 temos a explosão da linguagem e dos temas em Clarice Lispector e Lygia Fagundes Telles, Telles, cujos achados vão inspirar e alimentar o surgimento de uma prosa densa,ade combativa e reivindicatória, em busca afirmação da mulher na sociedade, em igualdade iguald de condições com os homens. Essasdasão mudanças significativas nos direitos das mulheres. Romancista como Alina Paim questiona os modelos, reivindica reivind ica a igualdade, denuncia as mazelas da educação patriarcal, analisa a maternidade e as relações no espaço do místico, assume a emergência do erotismo, encara a violência, assume as contingências da liberdade sexual. O lançamento no mercado da pílula contraceptiva, seu engajamento nos movimentos reivindicatórios, entre outros marcos, delinearam um novo perfil de mulher. As mudanças sociais e culturais ganham novo ímpeto dos anos 80 até o momento atual, como desenvolvimento acelerado das mídias, a comunicação via internet fazendo parte do dia-a-dia, abrindo perspectivas para divulgação de conhecimentos e troca de idéias sobre questões de gêneros. Segundo Jacob Gorender, Gorender, em 1950, ouve uma reunião no Rio de Ja Janeiro, neiro, num apartamento em Copacabana dirigida por Diógenes Arruda, então braço direito de Carlos Prestes, contando com a presença de aproximadamente 30 intelectuais militantes, entre eles Alina Paim, James Amado, Carrera Guerra, Astrojildo Pereira, Werneck Werneck de Castro, Oswaldino Marques e outros. O objetivo do encontro era “implantar a teoria do realismo socialista entre os intelectuais comunista”. Arruda, tentou orientar a produção cultural dos militantes, mas encontrou resistência, porém, entre os próprios intelectuais alinhados, alinhad os, caso de Graciliano Ramos. O Realismo Socialista, Socialista, padrão estético imposto pelo regi regime me comunista na antiga União Soviética, com a missão de controlar a produção intelectual, inte lectual, subordinando-a aos cânones dogmáticos do comunismo de então. De acordo com tais princípios, princí pios, a literatura e a arte deviam exercer exerce r papel exclusivamente exclusivame nte pedagógico, pedagóg ico, difundindo os esforços comunistas para a construção do “homem novo” e do “mundo novo” nos países socialistas. Para tanto, os textos deveriam ser pautados 17
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pela objetividade social e participante. participan te. Em lugar da cultura burguesa, considerada pelos comunistas comuni stas “decadente “decade nte e degenerada”, degene rada”, os escritores escritor es e artistas tinham por obrigação se empenhar em edificar a “cultura proletária”, que julgavam a única capaz de desmistificar os valores morais da classe dominante e sustentar o caráter revolucionário da obra de tal arte. Graciliano, apesarnodecampo se ter da filiado ao Partido Comunista, jamais tolerou ingerência partidária literatura. A ação central do livro é uma greve dos ferroviários em 1950, em vários entroncamentos da Rede Mineira. A estrada estrada da Rede, em Cruzeiro, é tomada por um piquete de mulheres com a tarefa de deter a locomotiva 437, que se prepara para engatar uma composição composi ção e seguir viagem. O maquinista maquin ista titubeia titubei a e, ante a firmeza e ousadia do grupo de mulheres, pára a 437, que imediatamente tem na caldeira esfriada e posta fora de combate. A locomotiva se tornará a bandeira do do movimento grevista. Escrito há cinqüenta e seis anos, A Hora Próxima, se refere ao grande momento em que as massas, protagonistas de uma ação política organizada e revolucionária, dirigirão a humanidade ao rompimento da aurora. A narrativa de Alina Paim se prende à ação das massas, sem contudo tornar-se aprisionada de factualismos e justificativas. Portanto, sob a direção da comissão de greve, composta somente por mulheres, forma-se o cenário: a locomotiva 437, apelidada de Joana, no centro do acampamento, recebe o cartaz com letras vermelhas que expõe os motivos do movimento – “Nossa luta é contra a fome e a miséria”. Em A Hora Próxima, a lembrança de Hermogênio da Silva Fernandes, um dos nove fundadores do histórico Partido Comunista Brasileiro, líder operário em Cruzeiro (Vale (Vale do Paraíba – São Paulo), perpassa todo o texto como o bom plantador que semeia em terra fértil. O romancista baiano prefaciou o romance “Sol “Sol do Meio-Dia”, Meio-Dia”, vencedor entre mais de uma centena de concorrentes, prêmio Manoel Antonio de Almeida, concedido pela Associação Associação Brasileira do Livro, em 1962, o livro foi publicado no ano anterior pelas edições ABL, comenta a trajetória da romancista, desde da estréia de Estrada da Liberdade. A his história tória de Ester, a jovem que veio de Paripiranga para o Rio de Janeiro, cidade maravilhosa e vive nas pensões coletivas, onde se concentra a população problematizada pelas dificuldades nas grandes cidades: “Volta “V olta hoje, Alina Paim a seu público com Sol do meio-dia, romance já consagrado com um alto prêmio, p rêmio, o da Associação Brasileira do Livro, julgado já por figuras como as de Valdemar Valdemar Cavalcanti, João Joã o Felício dos Santos e Plínio Bastos. Ei Eiss uma notícia excelente para os leitores, sobretudo para os muito que têm acompanhado com constância e admiração a carreira vitoriosa da romancista. Ela atinge agora sua maturidade criadora. A menina da Estrada da Liberdade, que irromp irrompeu eu pelo romance brasileiro em 1945 e nele impôs sua presença, soube construir seu caminho e crescer de livro para livro, livro , para chegar à madureza deste Sol do meio-d meio-dia, ia, que será sem dúvida um dos acontecimentos literários importantes do ano. Estou certo do sucesso deste romance não só junto aos intelectuais mas também entre o grande públicoo pois ele é construído com a experiência públic experiênc ia vivida e o amor ao ser humano”. 18
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A escritora escritora estanciana fez incursões na literatura infantil, atendendo solicitação da Editora Conquista, publicou: O Lenço encantado; A casa da coruja verde e Luzbela vestida de cigana. Em 1965, no mais disputado certame novelística da época no país, em meio a três centenas de livros, livros, coube a sua Trilogia de Catarina otePrêmio Especialessa Walmap, Centenário Centenário do Rio de criado exclusivamenexclu sivamenpara distinguir ob ra. IV obra. A comissão julgadora foiJaneiro integrada pelos p elos acadêmicos Raimundo Magalhães Júnior, Adonias Filho e pelo novelista Otto Lara Resende. A Trilogia de Catarina, lançada pela Editora Lidador na coleção Imago, compreende os seguintes títulos: O Sino e a Rosa, A Chave do Mundo e o Círculo, em que a romancista traça a trajetória de uma mulher entre o sonho, o aprendizado da vida na busca de um sentido existencial, num protesto contra os códigos, sempre dentro de um padrão da realidade e dignidade feminina. No início da década de sessenta, sessenta , o Brasil vivia momentos momen tos políticos políti cos extremamente graves. Logo a seguir à inauguração de Brasília (1961) e à eleição do novo presidente, Jânio Quadro (empossado em 1960), a euforia da nação provocada pela política desenvolvimentista: desenvolvime ntista: o milagre brasileiro foi abalado pela renúncia de Jânio Quadro (agosto Parlamentar de 1961). Segue-se um em período de caos de político que a instituição do Sistema de Governo, 2 de setembro 1961 (tendo a frente João Goulart), não conseguiu reorganizar. A deterioração da situação leva ao Golpe Militar de 31 de março de 1964, e ao início de uma nova ditadura. Indagada sobre o sentido de sua personagem, informa Alina Paim: “Catarina tem uma constante: a busca do sentido da vida, a compreensão de si mesma e do que lhe acontece para melhor se integrar na vida e no convívio conv ívio de seus semelhantes. Os três romances de Catarina deslizam no espaço de uma noite e de vigília. É um trabalha com muitos planos de tempo. Ao amanhecer, após longa análise, a Catarina que encara o sol é bem mais amadurecida que a Catarina que se encolheu no topo da escada, no princípio da noite. Foram violados, com certa audácia, os seus compartimentos selados”. Um ano depois publica Flores de Algodão e 13 anos depois rompe o silêncio com “A Correnteza”, publicada pela Record em 1979. Sobre Sob re este romance, um dos maiores críticos literários da época, Valdemar Valdemar Cavalcanti diz que o romance “constitui um painel da vida de subúrbio do Rio. Mas não é positivamente a moldura o que mais importa neste romance, embora montada com indiscutível mestria. Importante mesmo é o quadro psicológico que Alina Paim apresenta, de extraordinária nitidez. E o leitor inteligente observe no fino do traço das figuras femininas, em particular, e veja como ela as desenha, com mãos leves e firmes, mãos como de uma Marie Laurencin que se desse ao romance”. A Correnteza ocupa lugar privilegiado neste espaço ficcional brasileiro, livro para ser lido muitíssimas vezes. vezes. Exemplo de sua enorme capacidade de testemunho testemunho dum roteiro lírico, dum movimento rítmico de ação continua, duma originalidade incessantemente cultivada num alargamento espacial onde seus tipos criados têm oportunidade de expandir-se em implicações sutis, num aparato episódio solene e drástico, 19
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contudo movido por um realismo, cru, paralisante. Em 1994, o Governo do Estado de Sergipe, por iniciativa da escritora Núbia N. Marques, Marques , na época Diretora Presidente Presiden te da Fundaç Fundação ão Estadual de Cultura – Fundesc, publicou na coleção Ofení Ofenísia sia Freire, capa de Ronaldson, Ronaldson, uma edição cuidadosa o romance,doAvelho Sétima Vez. Vez. Neste livro Alina retorna de vida problematizada Teodoro, Teodoro, aposentado, e já Paim sonhando comà análise a tranqüilidade de um cata-vento, vê-se empurrado para a atividade laborativas, pois necessitava criar o neto, colhido pela orfandade. Os esquemas competitivos que na mocidade poderia muito mu ito bem enfrentar, o leva a esforço de sobrevi sobrevivência. vência. A velhice encontra na pena dessa vigorosa vigoro sa romancista o dardo crítico e a reflexão sábia de uma fase de vida humana que, a despeito da labuta já enfrentada, empobrecida por uma aposentadoria irrisória, volta com toda força para buscar o pão cotidiano, dentro das adversidades e dificuldades que cercam um velho. Esta apresentação é uma significativa amostragem ao leitor de primeira viagem na obra alinaense, uma síntese a partir da qual apresenta um painel representativo da sua ficção que assume o compromisso de mostrar à riqueza e variedade da narrativa autora estanciana,uma através umacorajosa visão particular que aciona o intimismo e a dessa memória, produzindo obrade séria, e meritória, sem dúvida uma contribuição importante à literatura contemporânea. Alina Paim deixou uma obra importantíssima para a literatura brasileira, devido a sua perspectiva muito particular de retratar o ser humano. Com uma linguagem simples, sua narrativa enveredava por atalhos inesperados, lançava-se em soluções novas, sem cair no hermetismo ou nos modismos modernistas. Hoje, a relativa distância histórica de sua estréia permite permit e dizer que sua narrativa abre um caminho novo na literatura brasileira, situando-se num dos pontos mais altos de nossa ficção de vanguarda. Como integrante do Partido Comunista, Alina Paim exerceu atividades políticas diversas, tendo convivido durante meses com mulheres dos trabalhadores ferroviários que participaram ativamente da grave da Rede Mineira, de grande repercussão nacional – por isso, sofrendo perseguições e pressões de toda ordem, inclusive processo judicial. Traduziu trabalhos importantes de Jorge Dimitrof e Vladimir Lenin, além de colaborar em vários periódicos: per iódicos: O Momento (BA), Época (SE), Leitura (RJ), dentre outros, sendo que essas colaborações eram em sua maioria, capítulos dos seus livros.
Aracaju. Jornal da Cidade, 20/21.abr.2006. 20
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Leitura descobre uma romancista Estrada da Liberdade Liberdade – – 1O volume da Coleção Leitura
MELO LIMA
Estrada da Liberdade chegou à redação desta revista por força do convite que a Cia. Editora Leitura fez aos romancistas do Brasil, e foi lido segundo a ordem de recebimento dos originais. Em consequência, passou vários dias numa estante à espera que chegasse a sua vez. Mas, curiosidade numa redação é o que não falta, e eis que um redator esteve a folheá-lo, levou-o para casa e no dia seguinte veio com as alviçaras. Descobrira uma grande romancista. Imediatamente a atenção de todos se voltou para a “Estrada da Liberdade”. O que significava aquele título? Onde se passava a história? A escri escritora tora tinha mesmo talento, sabia escrever? Uma dasfaz pessoas de julgardescobrir os originais leupecados um capítulo em que Alina Paim a suaencarregadas personagem Marina certos que lhe pareciam parecia m inconfessáveis inconf essáveis (ela principiava princip iava a trabalhar trabalh ar num bairro onde a vida se manifestava em seus mesquinhos aspectos de pobreza e de vícios) e o autor de “Um homem dentro do mundo”, que é sempre um escritor sem tempo ppara ara escrever, não conseguiu também conter a curiosidade. curiosid ade. Levou o livro de Alina Paim para casa. Volume Volume grosso, grosso , perto de trezentas páginas pág inas datilografadas, datilograf adas, e com certos algarismos tão visíveis que nos gritavam as aperturas dos tipos que ali estavam vivendo. Nada de quantias que nos lembram logo não problemas, mas soluções agradáveis e reconfortantes. Aquele romance parecia gemer como um louco os conflitos das suas vidas, e de maneira tão exterior e direta que um romancista que nos visitava na ocasião sugeriu modificassemos os algarismos, escrevessemos cinquenta cruzeiros ao invés de Cr$ 50,00... Seria mais discreto, não? Por que tanta preocupação por um livro que não léramos ainda? Seria assim tão bom a ponto de forçar o romancista Oswaldo Alves a encontrar no tempo uns minutos que ele próprio ignorava que ainda possuisse? Ali, na segunda página, um inexperiente encontrou de súbito o “espírito do livro e da escritura” na dedicatória que ela fizera: “A Jorge Amado, Dias da Costa e Edison Carneiro”. Dedicatória de bom gosto, sem dúvida, porém não explicava “o espírito” do romance nem da romancista: de qualquer modo, parecia um sinal de que Alina Paim era baiana. Sim, baiana da gema. Toda Toda gente concordou. concor dou. Mais tarde, outra visita nos esclareceu que “Estrada da Liberdade” era o nome de um bairro da Cidade do Salvador, um bairro tão característico que determinados 23
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problemas proble mas sociais aparecem apar ecem nele mais sintomáticos sinto máticos e revoltantes. revol tantes. – As tropas tr opas libertadoras liberta doras passaram por lá. – Que tropas tro pas libertador lib ertadoras? as? – Não se recorda reco rda do célebre cé lebre 2 de d e Julho cantado can tado por po r Castro Alves? Oswaldo Alves leu o romance quase de um jato, como se diz e o superintendente da Cia. Ficou com pulgas arás das orelhas, ansioso também para conhecer “Estrada da Liberdade”. Insistimos com Oswaldo para contar-nos o enredo do livro. – Ora, minha gente... Difícil contar numa redação onde todos todo s conversam literatura para o deses pero de alguém desambientado desambi entado o enredo de um romance escrito com minúcias minúcia s descritivas, introspecção, introspecç ão, monólogos e muito de movimento e romanesco. Marina era uma personagem bem caracterizada, o romance escrito com vigor e naturalidade, tinha um capítulo onde se falava na propaganda franquista num colégio de freiras que era uma dessas páginas tão bem realizadas que parecia de um romancista assim com a impiedosa e consciente serenidade de Graciliano Ramos e com o arrebatamento emmmpolgante de Jorge Amado. Alina Paim condensara naquele capítulo uma acusação tão bem feita que o romance permanecesse intacto em toda a eloquente segurança da sua técnica verdadeiramente clássica. Quem seria essa escritora que se apresentava assim, satisfazendo ao mesmo tempo o editor, os curiosos, as visitas e literatos que o tinham lido? Pouco depois Oswaldo Alves lia um capítulo em voz alta para que ouvissemos. O gerente da Companhia Editora Edi tora Leitura, Augusto de Souza, que é homem de Portugal e com largas permanências em Vieira, Vieira, Frei Luiz de Souza e em todos os bons e sábios portugueses portug ueses de vários séculos, séculos , afirmou imediatamente imediata mente que “essa escritora sabe de fato escrever”, estava-se vendo que “era uma escritora considerável”. Mais uma virtude que o livro de Alina Paim despertara. Além de emocionante, realizado com as exigências que um sujeito como Oswaldo Alves não pode deixar de fazer, “Estrada da Liberdade” ainda manifestava a virtude que Augusto de Souza achava imprescindível em qualquer livro, de ficção ou de poesia, de história ou ensaio, para que fosse “considerável”. O editor começava a ver no romance não simplesmente uma história histó ria que o satisfazia só no sentido literário. De tempo em tempo, dizia que o livro tinha atualidade, que certos problemas estavam “planteados” “planteados” com a segurança própria de uma pessoa “consciente”. Estavam, portanto assegurados os palmos de terra daqueles originais pal pitantes de vida. Não se discutiria mais, seria editado. Competia agora à secretaria de “Leitura” providenciar a apresentação da escritora, comunicar-lhe a decisão, 24
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dizer-lhe que o seu livro eataria na rua possivelmente em setembro próximo. Minutos depois apareceu Dias da Costa. Interrogado, disse logo que o livro era bom e que aconselharia a publicá-lo. Mas Dias da Costa era suspeito, a dedicatória estava ali a ameaçá-lo... O escritor revoltou-se, afirmou que seria inca paz de elogiar e logiar um livro se não n ão fosse digno. digno . Pedimos-l Pe dimos-lhe he desculpa d esculpass com co m prazer, p razer, perguntamos-lh pergun tamos-lhee notícias de Alina Paim, como era o seu tipo, se casada ou solteira, se possuia já uns trinta ou quarenta anos... – Trinta anos coisa coi sa nenhuma! nenhu ma! Alina deve andar por ai na casa dos 21 a 23 anos, no máximo. – Não me diga! – No duro. Quer saber mesmo a idade certa de Alina? – e o oferecimento de Dias da Costa soou-nos como uma perfidia engatilhada, mas nesse instante entrou o escritor Valdemar Valdemar Cavalcanti com a sua pasta de homem sempre ocupado. o cupado. Vinha fazer uma visita, folhear números recentes do “New York York Times” e do “Tribune”, dar notícias de uma tradução que anda fazendo para a casa, saber como iamos psando e outras coisas confessáveis. confessávei s. Viu o livro, folheou-o, folheou- o, deteve-se em algumas partes, acrescentou acresc entou que era bastante volumoso, volumo so, quis saber em que Estado nascera nascer a a escritora. E no dia seguinte apareceu uma crônica na “Folha Carioca” assinada por ele onde havia já uma notícia simpática simpáti ca a respeito do livro. Comedido, Comedido , ValdeValdemar Cavalcanti não fazia afirmativas mais indicava claramente claram ente que pelo menos os trechos que lera lhe tinham agradado. Outras pessoas leram “Estrada da Liberdade”: duas inteiramente distintas em coisas literárias, uma senhora inteligente aqui da gerência da editora e um senhor que só se preocupa com os noticiários de guerra. D. Anéia Miller achou o livro “formidável”, e o senhor sempre preocupado com os noticiários de guerra afirmou: - “Assim, sim, é que se devia escrever um romance”! Estava decidido, portanto. Comunicamos a Alina Paim à notícia de que o seu romance fora escolhido para iniciar a “Coleção Leitura”. Modéstia à parte seria um começo magnífico não só para a coleção como também para o seu romance. Desta revista só encontraria apoio, porque era de fato merecedora. Quando teriamos o prazer de vê-la para uma u ma conversação?
A presença presença de Alina Paim foi uma surpresa tão grande que a exclamação saltou logo, como se fosse elogio: – Tão jovem ainda! ainda ! O seu romance parece de uma cria criatura tura mais idosa... idosa. .. – O senhor acha? 25
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Uma nortista estava-se vendo, baiana da cidade do Salvador, os olhos negros com um brilho extraordinário, e a pronunciar certas palavras como só os baianoss as pronunciam. baiano pronunciam . – Está aqui aq ui há muito m uito tempo? tem po? – Não “mutcho”. “mut cho”. Vai Vai fazer pouco po uco mais de d e um ano. – Trouxe o livro da Bahia? – Não. Quando vim da Bahia traziatrazia-oo na cabeça, bem escondidinho. escondidi nho. Eu lá pensava que pudesse escrever um romance capaz de interessar uma editora! Tinha que me preocupar primeiro com a vida, trabalhar... O senhor compreende, não é? – Escreveu- aqui mesmo na Ladeira da Glória? – Foi em Marambaia. Maramba ia. – Aquela Escola Esco la de Pesca do Estado do Rio? Rio ? – Lá mesm mesmo. o. Pass Passei ei um ano ano a en ensi sina narr os fi filh lhos os do doss pesc pescad ador ores es de Mara Maramb mbai aia. a..... – Encontrou Enco ntrou então muito tempo para escreve. e screve. – Escrevi-o Escrevi -o aos pedacinhos ped acinhos,, dentro dos d os minutos minuto s que sobravam. sobr avam. Sou uma profes sora de vocação, gosto professora gost o de ensinar, quero bem aos meus alunos alunos,, de maneira que me dedicava de corpo e alma aos bichinhos. Como se pode ter tempo para escrever despreocupadamente despreocupadamente quando cada aluno que a gente ensina representa às vezes um drama tão grande que até parece uma acusação dirigida a nós próprios? – Conhece Lia Corrêa Dutra? – De nome. Por quê? – Ela também fala assim como essa mesma paixão pelos filhos dos outros. Nunca vi uma u ma pessoa p essoa se preocupar pr eocupar tanto com os seus seu s alunos alu nos pobres. p obres. – Se Lia Corrêa Dutra é assim, vou simpatizar simp atizar ainda aind a mais com ela. Depois de uma pausa, continuou: – É que q ue somos obrigadas obriga das a saber o que se passa em cada uma daquelas daquela s crianças. Uma professora honesta não pode deixar de angustiar-se. De repente nos vemos absorvidas também pelo drama dos garotos e de seus pais, de suas irmãs e de toda a família. Quantas e quantas vezes sou forçada a sair das minhas funções de simples professora para cuidar de conflitos cujas soluções parecem tão distantes, tão dolorosas... Certos problemas que não têm nenhuma significação para nós são às vezes tremendos para os pais de meus alunos, para os bichinhos mesmos... Alina Paim é uma criatura tão humana que isso salta logo ao primeiro contato. Quando fala de seus alunos da Bahia não se contém a lembrança de um períodoo de “Estrada períod “Estrad a da Liberda Liberdade” de” desses que a gente recorda quando quand o menos espera: “Ia deixando (Marina) a rua dos Ossos, rua estreita, calçamento péssimo, postes apagados, onde nada acontece e no entanto em cada casa a vida escreve escreve uma 26
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história de angústias e de preocupações”. – Escrevi “Estrada da Liberdade” Liberda de” – esclareceu como se pedisse desculpas por falar em seu se u romance ro mance – para pa ra as minhas colegas que ainda não conhecem conhece m as surpresas da vida, o que é a realidade, o que uma professora sem governo, sem amparo e confiança sofre no meio de tantas crianças que não são simplesmente problemas sentimentais e resolver, mas vidas que precisamos salvar a todo instante para que nós professores, não morramos também a cada instante. – “E se diz que aqui se vem para se poder viver, e, no entanto aqui também se morre”... ouviu? – Isso mesmo mesmo – concord concordou ou meio surpresa surpresa – Marina, Marina, heroina heroina de de “Estrada “Estrada da Liberdade” vai para a vida com essa impressão de vitória, mas o que encontra é a derrota, são mil caminhos atravessados de dificuldades, desilusões, misérias de ordenados, incompreensões que destroem a vontade de bem conviver com o próximo, e tudo lhe vem como acusação, impiedosamente. Precisa vencer, tem que lutar, e luta – meu Deus! – com que sacrifícios. Não há recompensa senão o que um espírito forte por nature natureza za consegu conseguee depois depois de muito muito tempo: tempo: consciê consciência ncia das coisas coisas que o cercam, cercam, desejo de lutar não mais simplesmente pela necessidade de viver, mas também por uma questão de princípios, como se tivesse salvando todas as ingênuas como a própria Marina. É que, em todos os minutos do dia e da noite, elas vão iniciando o mesmo caminho do seu sofrimento. Digo-lhe não como um desabafo, mas com consciência, certa de que, se encontrasse capacidade para realizá-lo literariamente, contribuiria um pouquinho pouqu inho para esclarec esclarecer er a todas todas as moças que saem de colégios colégios de freiras freiras e daqueles daqueles colégios onde só se ensina o medo da vida e não o que é preciso para se merecer a vida e poder realmente ensiná-la. Porque o que se ensina na aula não são lições. Ensina-se a vida, e esses livros, essas lições, esses ditados são como parte da vida. Eu mesma ensinei durante muito tempo na rua onde a personagem de “Estrada da Liberdade” ensina. Sei o que é aquela vida...
O terrível drama da vocação. Marina a exercer o ofício de professora quando devia ser simplesmente uma aluna. Presa de pequenas evidências, de muros sem paredes, via os fatos e não sabia explicá-los nem dizer de onde vinham nem porque surgiam. Drama da vocação, transe de suícidio. O que era um homem? No princípio do romance, quando Marina inicia a sua vida prática, o homem significava para ela qualquer coisa de sujo, de bicho grosseiro e malicioso que só serve mesmo para p ara destruir purezas que vário várioss anos de reclusão num colégio de freiras e de ensinamentos tortos tinham transf transformado ormado em 27
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chagas, em desejos, interrrogações sem respostas, noturnas. Depois, a descoberta de que o homem pode ser um companheiro também, de que tudo aquilo que lhe haviam ensinado não significava pureza. p ureza. Era malícia. A preocupação com dinheiro minguado, os sonhos da virgem como cintilações de um sol que não clarea, as tragédia dos alunos, das colegas, a solidão que cada um leva em si mesmo e a que é provocada por um sítio de desventura, e todos os problemas de personagens bem definidas, com linguagem, movimento movimen to e vidas próprias. “Estrada da Liberdade” é um romance onde o tema amoroso, por exemplo, exemp lo, se encontra descrito como necessidade lógica e natural, e não como de personagens mórbidas que pensam e falam de amor sem conhecer nem homens nem mulheres. Marina encontra Paulo, luta por ele, torna-se merecedora, alcançando aquele sereno minuto da vida que permite o direito verdadeiro de “conquistar” o amor, que é como um clarão ou como uma estrela a penetrar as trevas que antes a escondiam. Não mais uma voz divisada através de chamado poderoso e persistente. Presença do homem, simplesmente, e apoio para sustentar o próprio peso do mundo. E então ela pode observar ob servar que a “Estrada da Liberdade” fora a sua escola e que aqueles meninos de “pernas sujas de lama e barriga vazia” constituiram os seus mestres, percebendo também que “eles eram aos milhares”. Agora, ao partir partir,, sentia e compreendia que o que qu e ficava para traz, além nas trevas que a sua estrela limitara, era o resultado de uma educação errada. “Como tinha divertido Miguel com seu convencimento, falando-lhe de autores que escreviam apenas para agradar os ricos, encher de fantasia a ociosidade dos privilegiados”. “Começara a olhar as pessoas e os acontecimentos procurando compreendê-los. Descobrira a rua dos Ossos, leva os romances de fatos miudos e intensos que eram vividos naquelas casas de porta e janela, naqueles sobradinhos sem nenhuma beleza. Tornarra-se Tornarra-se mais humana”. “Agora encarava o futuro confiante, plena de desejo de lutar, sem medo das dificuldades, esperando vencer. Compreendia que em si o amor agia como algo renovador e construtivo, e se abandonava completamente à sua ação criadora”.
Rio de Janeiro. Leitura, jun.1944. 28
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A Redescoberta de Alina Paim: o realismo crítico da romancista GILFRANCISCO Após longa peregrinação por mais de cinco anos em vários Estados brasileiros para obter informações sobre a escritora sergipana Alina Paim, 88 anos, a tão esperada notícia de que ela ainda estava viva, finalmente finalm ente chegou à tarde de 6 de novembro de 2007, por intermédio do seu cunhado Antonio Paim, 81 anos, professor e pensador filosófico baiano atualmente vivendo em Brasília. A confirmação veio através de um telefonema em resposta ao e-mail enviado por mim, com o intuito de obter endereço ou número do telefone de Alina. O professor forneceume o tal número, disse-me que ela há muito residia em Campo Grande (MT), e fez algumas recomendações sobre seu estado de saúde. Devido a avançada idade, ela está com dificuldades visuais e auditivas. À noite, por volta das 21 horas, liguei para falar com Teresa Teresa Paim, sua filha, atendendo atenden do a solicitação de seu tio Antonio. Antonio . Mas, para minha surpresa, Teresa não estava e Alina atendeu à ligação. Neste instante meu coração gelou ao ouvi-la pela primeira vez sua voz. Em pouco tempo de conversa pude observar a força que tinha aquela mulher de 89 anos, pela lucidez e o carisma. Sem dúvida uma um a mulher sábia – disselhe que era um dos maiores vultos do contexto social, político e cultural da sociedade brasileira contemporânea e que, representa o arquétipo feminino de maneira mais completa. Entre uma pausa e outra vou falando do que queria dela, pois me encontrava em fase de conclusão do livro sobre sua obra, para a coleção BASE (Bahia e Sergipe), fascículo número 3, sobre autores significativos da literatura desses dois estados e desejava obter algumas informações. Aproveitei Aproveitei a oportunidade para falar também do projeto da professora Ana Maria Leal Cardoso, do Departamento de Letras da Universidade de Sergipe, que organizará livro sobre a crítica literária de alguns dosFederal seus romances publicados e havia um me designado para escrever o capítulo referente a sua biografia. O agradecimento saía por uma voz trêmula e bastante emocionada com aquela notícia a muito esperada: “O coração já está muito velho para suportar essas coisas”, disse ela, sensibilizada, em voz mansa e pausada. “É uma honra e uma grande alegria tê-lo como meu biógrafo”. Mais tarde em conversa com sua filha Teresa, Teresa, disse-me que logo após apó s a conversa que mantivemos, mantivem os, Alina contou-lhe que eu havia ligado e que estava escrevendo sobre eela. la. E concluiu: “Gil, mamãe ficou muito feliz com sua ligação”. Por que você não vem passar uns dias aqui em janeiro?? Estaremos janeiro Estar emos na n a nova nov a casa que se encontra encont ra em reforma. reform a. Seria Seri a ótimo, ótim o, teria ter ia todo o tempo para ficar com ela. Ela adora falar sobre o seu passado, dos amigos, das viagens, livros”. Dias dos depois enviei nova correspondência contendo 43 perguntas abran29
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gen do sua trajetória como mulher, mãe, escritora gendo escritora e militante partidária, com o propósito de primeiramente publicar em forma de entrevista entrevista e posteriormente como capítulo do livro “A romancista Alina Paim” a ser publicado no próximo mês. Confira a entrevista. 1.Vamos começar do começo! O seu por exemplo. Fale sobre seus pais? Alina Paim – Minha mãe morreu quando eu tinha seis anos incompletos. Dois
meses depois ela completaria vinte seis anos. Nasci em Estância/Sergipe, papai e mamãe também. Não conheci meu avô paterno, pois ele deixou a avó (faleceu), seu nome era José Leite e minha avó Danana Vieira; meu avô materno, Berrnardino Cruz de Andrade, era coletor em Simão Dias, foi para lá com seis anos, pois não tinha onde ficar, a mãe havia morrido. Minha avó Adelaida Andrade Portela era dona de casa, lia bem, fazia bem as contas, tinha feito um bom primário e o vô era cobrador de impostos, tomava conta da coletoria. Todo dia primeiro se não era domingo estava com a mala cheia de dinheiro, rolos de moedas amarelas. Eu já sabia juntar as moedas pelo tamanho. Minha vó teve vinte partos e vinte hum filhos (gêmeas mãe e tia). 2. Quantos irmãos você teve? AP – Tive outros irmãos por parte de pai, pois ele teve três mulheres. 3. As primeiras letras você aprendeu com quem? AP – Aprendi com minha mãe aos quatro anos. Durante um almoço de domingo,
present es meu pai e meu presentes m eu tio (irmão dele), disseram: disseram : amanhã a manhã vai começar a ler, l er, aprender a ler. Minha mãe fez uma aposta com meu pai. Ele sabia que eu só iria para a escola com seis, sete ou oito anos. Ela disse que me faria aprender aprend er a ler dentro de três meses. Caso eu não aprendesse desistiria, não me ensinaria mais. 4. Como se desenvolveu os ensinamentos? AP – Minha mãe resolveu que seria de tarde, pois pela manhã eu continuaria a
brincar como como sempre. sempre. Na Na tarde da segunda feira, Senhora (empregada) foi designada para uma tarefa muito importante que era sair comigo para ir a uma quitanda comprar o ABC, uma lousa com uns lápis de pedra, um caderninho e a tabuada. Ela me arrumou toda como se fosse para a maior festa: sapatinho, meia de seda, vestido longo, laço bordado no cabelo, para comprar as coisas mais importantes da minha vida. Senti uma alegria alegri a enorme, doida para almoçar lo logo go e começar. 5. Você estava me falando sobre um trato feito entre seus pais. O que aconteceu na realidade? AP – Meu pai não podia perguntar nada antes dos três meses sobre o trato que
fizeram. Lembro-me de fatos que ocorreram quando tinha três anos. O aprendizado foi tudo, lembro como se fosse agora, senti muita alegria. No primeiro dia da 30
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compra, à tarde minha mãe pegou o lápis e o livro pela primeira vez. Mostrou o ABC que ali era de aprender a ler, saber a história, o outro era de saber números. Por exemplo: se você tem três bolachas e come as duas, era desse jeito que a mãe ensinava. Quando ela morreu, eu já estava no terceiro livro de leitura antes de completar anos, cujo Felisberto de Carvalho, considerada a leitura mais difícilseis da época. Meusautor pais era o escolheram, porque haviam estudado letras, foi o que leu nada de livros com letras grandes e histórias tolas. 6. Qual foi a reação de seu pai ao final da aposta? AP – Final do prazo da aposta, numa terça-feira, meu pai chegou da fazenda.
Minha mãe chamou Manoel e disse que ele podia pegar a tabuada, o ABC, o livro, lápis, pois ela está na cartilha de Felisberto (a mais difícil e respeitada) na página 40. Peguei a tabuada, li salteado, dizia o zero pai não é nada, mais pega pe ga o um u m e zero zer o e fica fic a dez. d ez. Ele co começ meçou ou da manei man eira ra mais mai s ab absu surd rda, a, saltea sal teada da,, paraa me atrapa par atr apalha lharr e eu ia respo re sponde ndend ndo. o. A mãe ensi e nsinav navaa numa num a alegri ale griaa enorm eno rme, e, quase brincando. Ele disse (prometeu) que não diria nada a vó Donana (mãe dele), falaria nisso depois meses. Minha mãe disse que se ele tivessesó satisfeito poderia dizer dos a elatrês no dia seguinte. 7. Como era sua avó Donana? AP – A vó Donana não tinha curso superior, mas era inteligente, criou oito filhos
homens, ficou viúva com o mais velho pequeno e só um se formou em medicina, foi para São Paulo, os outros seguiram a profissão do pai, criador de gado. Ela gostava de arte, teatro, de ler. Quando eu tinha cinco anos me levou para assistir uma ópera em Salvador, juntamente com papai, mamãe e vovô. 8. Afinal, quando foi que seu pai falou com Donana? AP – Dia da aposta dos três meses, meu pai marcou para ccontar ontar à mãe (vó
Donana) tinha o sonho de ter umQuando filho ou ele neta, netaviu , fosse fosse, que tinha que inteligência, que estudasse; que quem eu estava namostrasse cartilha e respondia tudo que perguntava, ficou numa alegria e disse a Maroquinha (Maria) que contaria a vó Donana. Disse que ia sair e não demoraria nada e foi comprar as frutas que só aparecem no fim de ano (uma fortuna) para comemorar (morango, por exemplo). Vai Vai ser natal hoje, disse ele, (eu me arrepio quando lembre disso). A mãe disse: esse se chama pêssego, e esse morango: aqui não tem, vem de longe. A maçã e a pêra eu conhecia, a cor da maça era um amarelo incomum. Conheci também o pêssego e o vermelho morango, representando um ano bom. Na Bahia não se diz Ano Novo, se diz Ano Bom. Na terça-feira meu pai saiu para comprar algo que pendurasse para eu ser dona, uma pasta. Quando cheguei à escola, já estava no terceiro livro, aos seis anos. Ele disse à Maroquinha que precisava daquela comemoração, pois ela acreditou na criança, e ele não. No dia seguinte fora pra vó Donana Don ana que disse: disse : o que é isso com a criança? cria nça? Donana Donan a meta a mão, puxe, pux e, 31
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veja e pergunte. O que tem aí dentro? Respondi: vó eu estou aprendendo a ler. Tenho lápis, tabuada, lápis de pedra, pedra! A vó ficou boba, pois eu aprendi pulado.. A pedra de lousa me impressi pulado impressionava, onava, pois escrevia e apagava. apagav a. Meu pai pediu a Donana Do nana para par a perguntar. – Eu disse diss e pode pergu perguntar ntar o ABC pulado. MaroMa roquinha como você fez isso? (perguntou minha vó). vó ). Lembra do aniversário... 9. E seus passeios com vó Donana? AP – Continuei aprendendo com mamãe. Eu guardo viva essa lembrança extraordi-
nária. Um dia ela levou-me à livraria para comprar livros, livro s, soletrei co-ra-ção de crian-ça. Ela disse que eu estava na cartilha e perguntou o que tinha de bonito. Sair da livraria lendo várias coisas e explicando-as. Levamos dois livros, um tinha vinte três histórias para mamãe ler e contar e o outro livro dezenove, Branca de Neve, Ali babá e outras histórias. 10. Em Simão Dias, você foi educada por suas tias. Como foi essa convivência? AP – As quatro solteironas foram extremamente importantes para a minha forma-
ção; Meu paidanão tinhamãe, ondememe colocar, pois tinha acabado as tolerâncias. Laura, irmã minha esperou e aceitou, tinha muita todas personalidade. Quatro tias: Iaiá, Adelaidinha, Emília e Laura, todas costuravam. Apanhei muito das tias, exceto de Laurinha, fiquei com ela até até sua morte. Ela tinha tuberculose, foi à Bahia se receitar. Laurinha morreu nos últimos meses dos meus nove anos ano s (quatro anos vividos em Simão Dias). Mandaram levá-la a Salvador para um u m médico que soubesse mais que o de Simão Dias, ela adoeceu no último ano quando completei nove anos. Quando ela morreu comecei a apanhar a beça, o médico deu d eu um mês e meio de vida, ela era uma pessoa muito alegre, as outras tias me perseguiam, sofri pra cachorro. 11. Fale sobre o Grupo Escolar Fausto Cardoso? AP – Eu gostei muito do colégio interno, podia po dia morar sem dever favor, eu entendia
isso, lá. eu morava e estudava. As conta freirasdeme conheceram antes de entrar estudar estudar. Durante as férias tomavam mim nos passeios à Salvador na para casa de minha tia irmã gêmea de minha mãe. Demonstrei no Grupo Escolar um adiantamento no aprendizado em língua portuguesa e aritmética. No colégio das freiras tinha atraso em História do Brasil, Geografia e Ciência, Geologia, Botânica e Antropologia, fiquei no terceiro ano. No quarto ano eu já estava na idade verdadeira, mas era um pouco abaixo. 12. Como foi estudar num colégio interno? AP – A minha vida era muito boa lá, consegui comprar uns livros para estudar
sozinha; para ficar como era em Simão Dias, na frente de todo mundo, era o que dava prazer em estudar no colégio Nossa Senhora da Soledade. 13. E a visita do Inspetor sergipano ao colégio? 32
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AP – Fiquei estudando e o diretor acabou sabendo, tinha um Inspetor de Aracaju Aracaju
que ia ministrar uma aula. Professora Consuelo foi muito boa comigo, fiquei na primeiraa fila, primeir fil a, em uma eexposição xposição,, bem em frente fr ente ao a o diretor dir etor e ao inspetor. inspeto r. Fiquei iluminada com a apresentação, ele perguntou se alguém queria dizer tudo o que havia dito? Eu me dei a explicação completa segundo as professoras. prof essoras. O inspetor disse: Eu manifestei, estou abraçando a menina mais inteligen inteligente te dessa cidade. Estava feliz para chegar a casa e contar a meus avós. Minha vó v ó ficou muito contente em compensação apanhei que nem bicho das minhas tias, porque eu ia crescer e virar mulher sem-vergonha. Eu chorava de soluçar e meu avô quando chegou perguntou pergunto u o que eu tinha. Meu avô entrou dizendo: “que o inspetor e o diretor vieram me dar um abraço, pois eu sou o avô da menina mais inteligente da cidade.” 14. Como era sua relação com as professoras do colégio? AP – O período no Colégio das irmãs foi uma melhora, uma possibilidade de
viver tranqüila, vivia dez, quinze dias em um lugar, um mês em outro na casa de conhecidos, pois meu pai não se casou. Nesse período o colégio só recebia interno com com dez anos e eu ainda quatro anos. Aos duas dez eu já tinha experiência as freiras, poisfaltava lá eu passava as férias vezes em uma dois anos. O colégio estava vazio e a freira Madre Gertrudes Gertr udes tomava conta de mim. Ela me ajudou a fazer escolhas, me instruiu, foi uma mulher extraordinária. Preparava redações, assuntos, aulas pelo menos para a metade do primeiro semestre e os dois últimos meses ela trabalhava mais as aulas do fim do ano, enquanto preparava tomava conta de mim. Botava para eu fazer uma redação de português, isso durante as férias. Papel de rico era muito caro, por isso eu ganhava papel de embrulho e tijolo. Eu amava esse tijolo e ele quebrou, mostrei o papel com o tijolo quebrado e ela disse que iria conseguir um outro tijolo. Havia uma sintonia muito grande das duas. No quarto dia ele perguntou se eu gostava disso, da língua portuguesa, respondi que gostava de ficar dizendo coisas, estava aprendendo. Prometeu que no dia seguinte arrumaria uma ou duas horas para ficar conversando e conseguiria um papel pautado para eu escrever.. Ela arranjou papéis de caderno velho, tinha uma porção ddee folhas e escrever prom pr omet eteu eu cor c ortátá-las las,, em seg segui uida da per p ergu gunt ntou ou sob s obre re o qu quee eu sabia sab ia do d o port po rtug uguês uês.. 15. Mas me conte sobre as outras freiras? AP – A professora Agripina do Grupo Escolar me dava carinho enquanto eu
apanhava, foi quem me ensinou o português, se afeiçoou a mim, enquanto que Consuelo me ensinou o primeiro adiantado e o segundo. Agripina o terceiro e quarto. A professora Consuelo explicava tudo com paciência e dava mais uma pitadinha de conhecimento para mim, acrescentava mais um pouco sobre o assunto. Ela me dava papel para eu rabiscar e foi quem qu em pediu ao diretor para eu ser aluna dela. Consuelo levava coisa gostosa de casa para comermos dez horas, dividia o lanche comigo. 33
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16. O que seu pai achava sobre o colégio? AP – Meu pai me contava as coisas abertamente, contava tudo tud o sobre o matadouro.
Um dia fui perguntar sobre namoro e apanhei. Vi um cachorro com uma cadela e fiz uma brincadeira e uma solteirona me deu uma surra sem eu saber o que estava havendo. No colégio de freiras encontrava-me com deficiências toleráveis com relação aos outros, meu pai comprou livros para eu estudar sozinha, noções para alcançarr os livros em que alcança q ue estavam. Com três três meses meses alcancei alcancei e passei passei para para primeiro primeiro lugar. Não me judiaram. Irmã Gertrudes me disse que havia coisas que eu não deveria falar na frente de outras pessoas, coisas imorais, descaradas e que eu podia conversar com ela que tinha mais conhecimentos sobre essas coisas. Ela era a minha amiga mais próxima próxi ma e me orientou orientou,, estimou estimou no português português.. A primeira primeira vez eu disse disse que meu pai não podia pagar pagar aula particul particular, ar, ela diss dissee que não era aula particul particular, ar, era conversa conversa,, ela tinh tinhaa paixãoo pela língua paixã língua portuguesa portuguesa.. 17. Com se deu a sua participação no jornalzinho do colégio das freiras? AP – Tinha um jornal chamado Arco-Íris que era impresso em tipografia e havia os
artigos publicados nas páginas principais. A freira que saía comigo de manhã me passava os jornais jorna is para eu ler. ler. Não havia nomes de quem escrevia apenas apen as o pseudônimo. Ela disse que eu poderia escrever ali também. Com 8,5 a 9 anos eu fazia redação e ela disse que para colocar no n o jornal teria que ser uma redação maior, de três folhas e meia. Aprendi a espichar a redação. Imediatamente pedi para ler os Arco-Íris anteriores, disseram-me que eram redações grandes e comecei com ecei a espichar mais um pouco. Precisava de três bandas b andas de caderno mais a metade. Pensei: se eu espichar e estiver boa vai para o jornal, perguntei? Confirmaram Confirm aram que sim. Comecei a espichar. Haveria um número do Jornal Arco-Íris das férias com o dobro de páginas.No página s.No Convento Conve nto ensinavam-m ensin avam-mee sobre o senso de d e realidade realidad e sem falar difícil dif ícil para mim. Diziam-me como era escrever para uma coisa. Levei para a freira o texto “Canção da tarde” que perguntou se alguém tinha me dado o título, disse-lhe que não, tudo era da minha cabeça. Expliquei que sabia o que era canção. A irmã disse vou mostrar “Canção da tarde” à madre superior, copie direitinho no papel pautado, caneta e cuidado para não pingar nada. Eu expressava nessa redação o meu sentimento pelo sol, ele tinha que ir embora, coitado, Canção da tarde era o título e Alina Leite seria o nome assinado no jornalzinhio. jornalzinhio. Resolveram colocar no jornal sem eu ser aluna ainda, mas já afirmavam que eu seria aluna. 18. E seu encontro com Júlio Verne? AP – Ah o certo é que antes de completar dez anos eu já tinha lido vinte oito
volumes da obra de Júlio Verne, Verne, eu lia três volumes por semana, mas só podia ler um, mas consegui enganar, pois a capa era da mesma cor cor.. Fiquei apaixonada por Júlio Verne, Verne, pelas histórias, queria uma foto, até sonhei beijando ele e acordei aos berros berros, fiquei três t rêsperguntou dias de castigo. cacomo stigo. Estava Es tava no primeiro pr imeiro ade noJúlio do convento con ventoIrmã quando q uando Madre, superiora poderia saber tanto ano Verne? Verne? Ger-a 34
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trudes contou a ela que os cinqüenta e poucos livros de Júlio Verne Verne tinha a capa da mesma cor e a madre perguntou: quantos eu já havia lido? Oito, não. Cinco? Não. Quator Qua torze. ze. Não. Quantos livros Alina? – vinte oito. Eu disse que gostava de dizer a história e o nome do livro, fui buscar o caderno de rascunho que a irmã tinha me dado, todo os escrito sobre Júlio Verne e eu comecei o que escrito.estava Ela contou resumos e constatou que tinha vinte oitoaecontar pediu para só estava contar a meu pai quando o jornal estivesse pronto. A madre achava que eu estava enfeitiçada, disse que eu ia usar pseudônimo de um passarinho, respondi a Madre Gertrudes que não queria um passarinho, pa ssarinho, seria Alina Leite, assim co como mo Júlio Verne. Verne. Ela foi falar com co m a superiora, pois nunca havia visto dois escritos num mesmo número do jornal. 19. Os textos foram aprovado aprovadoss para o jornal? AP – No outro dia, de tarde, fui chamada e me assustei. A irmã gostou muito e
havia mostrado o texto à Madre Superiora que disse-lhe que eu deveria entrar no próximo número do Arco-Íris. Foi uma das coisas que mais me levou à altura, pois fui escolhida sem ser aluna. Fiquei toda satisfeita, feliz. Os artigos tinham de ser assinados com pseudônimos de pois passarinhos ou plantas, eu ssóatéqueria se pusesse o meu me u nome Alina Leite, po is eu era gente e escrevi. escr evi.mas Fomos Fomo a Madre Superiora para que decidisse sobre o pseudônimo e ela concordaria em colocar Alina Leite. Dei um pulo bati nas costas dela e disse que ela era inteligente. intelig ente. Fiquei muito feliz. Cada colaborador só poderia participar com uma redação publicada, porém me concederam con cederam à oportunid opo rtunidade ade de publicar publi car duas. 20. Você foi noiva muita jovem ainda, porque terminou o noivado? AP – Fiquei noiva aos dezenove anos em 1940, de um estudante de medicina do
Amazonas. O nome dele era Djalma Batista, o noivado foi desfeito por ele que quis me levar para o Amazonas. Já estava bem encaminhado, toda semana ele escrevia e recebia uma carta. Na segunda-feira dia d ia dos correios, abri a carta e ele simplesmente liquidou o noivado, pelo meu bem estar bem e dele, pois havia em ambas as famílias casos de doença mental. Isso me causou um mal enorme, não conseguia consegu ia dizer d izer a ninguém, ni nguém, nem no convento, convento, nem nem na escola escola pública pública onde ensina ensinava. va. Resolvi que só tinha um caminho, me matar. Pensei no que ia dizer não me sentia valendo mais nada, resolvi morrer. Saí, comprei remédios que ouvi falar que eram muito fortes, mortais, comprei muitas caixas, coloquei vários no pires e escondi as caixas para que ninguém estivesse sabendo do que eu estava morrendo. Engoli cinqüenta e oito comprimidos às 10 horas senti muito sono e escutei as cinco pancadas do almoço e pensei: pense i: não morri, tinha que ir almoçar almoçar.. 21. Você estava decidida a morrer? Por que não pediu ajuda? AP – Levantei com o raciocínio virado, tonto, ouvi o barulho das pessoas descendo
para o refeitório, me sentia meio tonta, era um sábado, dia da irmã de caridade. Fui chegando e senti que deveria segurar, pois poderia ficar tonta e percebi que estava 35
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andando meio estranha e todos me olhavam. Quando eu cheguei à mesa todo mundo estava de pé, 35 a 40 pessoas e eu disse: estão olhando olhan do para mim, ainda não viram nada, mas vão ver agora, ago ra, puxei a toalha da mesa e vi os pratos se quebrando, queb rando, comida caindo, os vigias me seguraram, levando-me levando -me num carro. Eles me disseram que erapara melhor ir, tomaria con ta de mim, um de cada lado, presa no band bando atrás. Fomos umaeucasa de saúdeconta de Henriqueta Martins Catarino. Ela queria falaocomigo, queria um entendimento daquilo que eu tinha feito, queria-me dizer que procedia livremente. Colocaram-me numa sala especial para emergência. O médico se dirigiu a mim e disse que iria conversar comigo, tinha coisas em comum comigo, a literatura: um romance contra outro romance será que dá, então discutimos, estudamos. 22. Quanto tempo permaneceu na Casa de Saúde? AP – Esperei até as cinco horas, mas surgiu uma emergência então ela (Henriqueta)
não pôde vir e pediu para que eu esperasse até o dia seguinte às 8 horas. Fiquei lá para dormir, dormir , senti se nti muita m uita fadiga como se eu tivesse convalescendo. convale scendo. Dormir e na na manhã seguinte ela chegou dizendo que tinha ido lá para eu desdizer d esdizer o que havia dito almoço. Respondi que não iria desdizer que na durante mocidade ela tinhanotido mau comportamento. Henriqueta estava minhaa sua frente e os olhos caíram, falei coisas bem pesadas pe sadas do passado dela como mu mulher. lher. Ela ficou uma fera e disse que não desistiria fácil, almoçaria lá e depois do almoço se eu não desistisse seria entregue à minha família. A 1 h e 30 min ela me chamou e disse: vai desdizer ou não vai, respondi que não ia e ela reafirmou que eu seria entregue a minha família. Mais tarde ela ainda me deu outra oportunidade, perguntou se eu queria que convocasse os que estavam presentes, que eu não estava no meu juízo perfeito. Disse que não ia fazer isso, tinha profissão, paguei sempre com meu trabalho. 23. Foram difíceis os dias negros em que passou no hospital? AP – Comportei-me com todo o meu juízo no Hospital Juliano Moreira, antigo
Hospital São João de Deus. Tinha uma cama branca, havia um cochão de plástico, um travesseiro também revestido de plástico, p lástico, mas não havia cobertor. Era grande o quarto e não tinha mais nada. Ao fundo uma banheira, um bidê, um vaso sanitário e uma pia, uma espécie de veneziana pintada e bem conservada, de cor verde, achei estranho, me deitei e fiquei sossegada, me controlei para não chorar. Levaram a minha comida e me deram um caneco. Era frango, não havia nada de vidro nem plástico,, tudo bem partido plástico par tido e uma um a colher de sopa. Se eu quisesse qu isesse mais mai s água tinha tin ha que beber na pia. Estava exausta de emoção, fui dormir e antes chorei. Não tinha jeito, não n ão tinha roupa, nada n ada comigo comig o só à roupa roup a do corpo. cor po. 24. Após sua formatura, você passou a ensinar no colégio das freiras? AP– Sim. No colégio das freias eu tinha oito turmas, meu lugar de professora do
Estado conseguido por um concurso onde concorri com 320 candidatos para 14 vagas e eu consegui o 12O lugar. Até junho eu teria no colégio colég io das freiras os quatro 36
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anos do ginásio, geografia e coreografia coreogr afia e de julho em diante os dois secundários e o primeiro e segundo anos da Escola Normal do Estado da Bahia. Havia um tom estranho, pois ela parecia estar julgando a minha família. 25. Quando e como você conheceu Isaías Paim? AP – Conheci Isaías Paim em Salvador, quando eu tinha vinte anos. Ele estudava
medicina, quarto ano, e quis namorar comigo. Ele foi mandado pelo médico, era residente e o diretor gostava muito dele e ajudava-o. Conheci o diretor do Hospital, Dr. João Mendonça, quando me internaram lá. Como lhe falei anteriormente, eu tive uma atitude que não estava certa com as coisas, essa atitude foi porque durante a refeição no pensionato, que era de uma das famílias mais ricas de Salvador, filha do comendador Catarino, falei o que não devia. O encontro com Isaías ocorreu oco rreu na casa c asa de d e saúde Juliano Moreira, Moreira, quando ele ele entrou com um avental branco, branco, uma seringa e veio me aplicar à injeção, eu ainda não tinha ainda conversado com o diretor. Era uma injeção habitual, um calmante, deixei que ele aplicasse. Isaías resolveu estudar medicina numa fase já adulta e era de uma família pobre, viveu cinco anos como residente no hospital de loucos, queria ser pediatra.
26. Quando e onde se casaram e quem foram seus padrinhos? AP – Casei-me em Salvador, no dia oito de janeiro de 1943 1943,, meu pai era um dos
padrin hos, um casamento padrinhos, casamen to simples e três dias depois já estava com a passagem comprada para morar no Rio de Janeiro. Em 13 ou 14 de janeiro a mala e a papeladaa de livros estavam prontas para embarque, pare papelad parecia cia uma livraria, eram 48 caixotes de livros. 27. Quando você chegou ao Rio de Janeiro em 1943, qual foi a sua impressão sobre a cidade? AP – Fiquei entusiasmada com o Rio de JJaneiro aneiro (1943), a maior cidade cidade que eu
conhecia até então era Salvador. Salvado r. Fui de navio, o cenário de Copacabana me deixou deslumbrada, tomei logo carinho pela cidade. Morei em muitos bairros: Laranjeiras (aristocrático), Perto do Largo do Machado, Ipanema, Leblon, em umas ruas de Copacabana (duas ruas diferentes), Engenho de Dentro (Bairro da rede ferroviária), Subúrbio (vivi lá quatro qua tro anos). O que mais gostava era de fazer passeios para lugares muito bonitos usando bondes ou usando o ônibus. Não precisava de automóvel, uma pessoa simples podia andar na cidade, viver na cidade. 28. A vocação literária, descobriu quando? AP – Descobri minha vocação literária desde menina, aos oito anos e meio, oito ou nove.
Ainda não estudava no colégio das freiras, mas elas me recebiam nas férias de fim do ano para eu passar os dois meses, pois já tinha recorrido a quase todo mundo. Eu gostava de fazer redação de língua portuguesa e fiz camaradagem com a freira da cozinha, recebia as compras para pa ra me da darr o pape papell de em embr brul ulho ho,, pedi pediaa a ela ela para para não não amas amassa sarr o pape papel.l. 37
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29. Você se acha uma contadora de história por convicção? AP – Me acho uma contadora de história com convicção, sentia uma alegria.
Sempre gostei de história, hoje já não ouço muito bem. b em. Liberdade iberdade? 30. Sua estréia literária foi com Estrada da L AP – Sim, na época eu já era militante do Partido Comunista.
31. A condição de militante no intelectual empobrece sua capacidade criadora? AP – A condição condição de militante não empobreceu minha capacidade criadora, criadora, pois
não quis modificar a realidade para encaixar idéias e ficar forte, fazer propaganda. 32.Sua obra infantil tem engajamento político-social? AP – Não, inventava história para entreter as crianças, durante os 20 minutos que
faltavam para tocar a sineta. Já inventava as histórias há muito tempo, mesmo antes de formada, quando ia tomar conta de crianças que as freiras mandavam. Anos depois um amigo que fazia parte de uma editora disse que eu poderia muito bem escrever livro infantil por causa das minhas personagens e tanto falou que me deu uma vontade. Escrevi: “O lenço encantado”, feito um gênero que fosse possível um romance de criança. As crianças gostaram muito do livro, em seguida escrevi “O Chapéu do professor” e “Luzbela Vestida de cigana”, que um dia assustou todo mundo, pois saiu andando. “Flocos de Algodão” era um livro infantil com uma parte instrutiva sobre o algodão, e surgia como um personagem. Escrevi ao todo quatorze livros, dez romances e quatro infantis. 33. O princípio fundamental do realismo socialista é a captação da realidade com a visão partidária, objetivando uma tomada de posição explícita a favor da construção do socialismo. Podemos dizer que sua obra ou parte dela faz parte do chamado realismo socialista? AP – Minha obra faz parte do realismo crítico, o livro livro da greve, esplendoroso, é
um livro classista, uma reivindicação por melhores salários.
34. Apesar de ser sergipana, qual a marca fundamental da Bahia na sua formação intelectual e política? AP – Fui levada para a Bahia com três meses de idade, cresci, me eeduquei duquei e vivi
na Bahia. Conheci Estância quando tinha dezoito anos, como prêmio de meu pai pela minha formatura formatu ra em professora professo ra – sempre tive muito carinho por Sergipe, Sergipe , meus pais eram sergipanos, todo mundo era sergipano. 35. O Sol do meio-dia, Prêmio Antônio de Almeida, da ABL (1961), além de ter sito traduzido para o búlgaro e alemão, é seu melhor romance de público e crítica?
AP - Ele foi muito bem recebido, veio antes do primeiro livro da minha trilogia de 38
A Romancista Alina Paim
Catarina e após “A Hora Próxima”. Não foi o melhor romance de público, pois não teve mais versões. O que teve mais versões e sentido político foi: “A Hora Próxima”, sobre a greve dos ferroviários. 36. Você respondeu processo judicial, qual o motivo? AP – Decretaram a tal ordem de prisão, processo em torno de mim. Fizeram o
desagravo de querer me condenar por causa do livro, conduziram-me a uma porta e havia uma grande fila. Havia inúmeras pessoas para beijar a minha mãe pelo livro que eu tinha escrito sobre a vida deles. Mandaram-me estender a mão para todos e após teria a reunião do desagravo. Um velho ferroviário me abraçou, chorou e disse que eu havia escrito a vida dele, foi à coisa mais comovente esse encontro com o velhinho. Senti-me completa ao escrever sobre aquela luta, o Partido apoiou a tradução de “A Hora Próxima” em russo e chinês. O sucesso desse romance foi o fato de que a luta operária era o centro, a história de uma greve forte na maior ferrovia de um país. 37 . Entre 1945/1956 você trabalhou na Rádio-MEC, para o programa infantil “No Reino da Alegria”, dirigido por Geni Marcondes. Como foi essa experiência? AP – Entre 1945 e 1956 trabalhei na rádio MEC, dirigida por Fernando Souza
entrei lá através dele, era muito amigo do d o editor Barbosa Melo, trabalhavam juntos no edifício. Ele leu meus meu s originais na mão de dois amigo amigoss do Paim. A experiência experiênci a na rádio durou 16 anos, o programa no Reino da Alegria, dirigido por Geni Marcondes, ia ao ar de segunda à sexta das cinco as cinco e meia. Escrever para a rádio foi fo i muito interessante. Eu queria ver se descobria o segredo de escrever uma cois coisaa e vê-la existir só através da palavra. Deixei de ensinar, pois o Rio de Janeiro não reconhecia meu diploma. Li os programas que me deram, de vários tipos de pessoas. Havia um programa dirigido às professores rurais (educativo), chamado Brasil versus Estados Unidos. 38. Como eram preparados esses programas? AP – Levei três vezes doze assuntos sobre o mar ou seja trinta e seis assuntos. A
cada doze não havia repetição de aspectos, parecia outro mar. Foi aprovado de imediato. O primeiro episódio é impossível lembrar. Haviam personagens préestabelecidos, pois havia um limite já que cada personagem era pago pelo seu desempenho. Não havia verba suficiente para isso, tive direito a duas crianças: Catita (6 anos) an os) e o irmão irm ão (8 anos) não aparece a mãe, mãe, mas sim a avó pois pois a figura figura da avó era um tipo fabuloso. Ele disse que ia ler, e eu disse leia. Não quis que colocasse música, preferi ler jornal. Disseram-me que o meu programa seria às sextas-feiras, para não fugir da cabeçinha da criança até segunda, pois balança a atenção da criança. Eu disse que o som do mar eu queria como um elemento de transição com costurando o texto,que queria um narrador vibrando para passar calorum paranarrador os meninos. Eles disseram os meninos pegariam fogo; Umas cinco 39
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linhas na transição atrás da voz só e um barulho de mar não exagerado, eu disse, pois se não seria monótono aquele blá blá blá na cabeçinha da criança; As crianças provaram provar am que prestaram prestar am atenção, atenç ão, pois poi s havia ensinamentos ensinam entos sempre, sem pre, toda to da semana seman a tinha um prêmio que era sorteado com as respostas certas. O fulano de tal vinha todo orgulhoso recebernegócio. o prêmioTrabalhei e dizia que havia da história. gente via aquela agonia, aquele com issogostado p or dezesseis por anos.A gente 39. O exercício da crítica literária lhe rendeu inimizades? AP – Nunca fiz crítica literária, não me atraía. A tônica de minha ficção era o
realismo, mas não era o realismo crítico e sim o realismo socialista; 40. Em 1964, com a instauração do regime militar no Brasil, muitos de seus amigos foram presos ou exilados. Você esteve presa e em quais circunstâncias? AP – Escapei do exílio, pois fiquei escondida por vinte e três dias. Houve uma
greve na rede ferroviária sem preparação, tomei até um susto, estourou meio irresponsável e foi declarada na cidade de Cruzeiro, de São Paulo, onde eu tinha estado lá trêspessoas semanasque antes fazendo levantamento da história dasvidas. greves. Em 1917 muitas ainda vivia me contaram coisas de suas Fiquei amiga de Zé de Barros, ele ficou como um cavalheiro. Um vereador telefonou para um jornal comunista chamado Imprensa Popular e correram para dar um jeito que eu não fosse presa de manhã, foram lá em casa, me chamaram e disseram para abrir, pois era importante, disse-me para eu não sair de mala na mão. Por vinte e três dias fiquei num apartamento de uma pessoa que simpatizava pelo Partido e se arriscou a me ajudar. Não posso dizer quem foi. 41. A mulher está sempre presente em sua obra. Isso tem relação com sua infância?
AP – A mulher está sempre presente em minha obra, mas não tem relação com minha infância, apenas com estar a compreensão mulher era muito importante por isso deveria presente; que tem da vida. A mulher 42. Em recente conversa com Antonio Cândido ele me disse que viu você pela primeira vez ao lado de Jorge Amado, no I Congresso de Escritores realizado em São Paulo. O que o encontro representou para você na época. AP – Deveria haver uma presença forte da mulher. 43. Há quanto anos você mora em Campo Grande? AP – Moro em Campo Grande (Mato Grosso do Sul) com minha filha Teresa
desde 8 de fevereiro de 2000.
Aracaju. Cinform, 21 a 27.abr.2008. www.cinformonline.com.br 40
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JULGAMENTO CRÍTICO 41
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Reun i nest Reuni nestee cap capítul ítulo o alg alguns uns text textos os esqu esquecid ecidos os em velhos jornais, periódicos obscuros e livros esgotados que, por certo, complementam a compreensão desta person per sonage agem m mar marcan cante, te, eni enigmá gmátic tica a e rev revolu olucio cionár nária, ia, defensora do espírito libertário, cuja obra é inspiração para todos os que sonham com um mundo melhor e lutam para tornar esse sonho realidade.
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Estrada da Liberdade ASCENDINO LEITE Concluimos a leitura do livro de estreia de Alina Paim – Estrada da Liberdade – e se não ousamos dizer que lemos um grande romance, estimamos poder afirmar que achamos em suas páginas uma forma definitiva de literatura. Não queremos forçar um paradoxo. A nosso ver, não devemos subestimar subestima r a sensibilidade, as marcas ou artificios dos deslumbramentos de que, em regra geral, padecem os livros de inspiração feminina. No caso de uma estréia como a dessa jovem escritora que nos surge da Bahia através de um romance, a existência desses transportes pode, talvez, oferecer indicações mais preciosas do que a experiência vivida. No que respeita resp eita à Alina Paim, a complexa complex a ordem dess desses es fatores se maniman ifesta num sentido mais sério e consequente; as concessões ao temperamento não chegam a atrofia as intenções ou propósitos da ficção, enquanto a técnica de realização literária se processa de modo bastante seguro. Isto significa que a romancista de Estrada da Liberdade dispõe de recursos reais de expressão, que as suas possibilidades são legítimas e nos deixam perplexos diante daquelo que qu e ainda será licito delas esperar-se. Desde os primeiros capítulos de Estrada da Liberdade, somos forçados a admitir as qualidades fundamentais da literatura sentida femininamente, mas sem notas falsas, sem derramamentos, sem aqueles extases de mocinhas habilidosas, como eram, outrora, aceitas as nossas revelações de escritoras. O livro de d e Alina Paim constitui, neste particular, uma autêntica surpresa. É o tipo do romance social como poderia ser inventado ou criado por uma imaginação de mulher, romance contido nas limitações de uma grande naturalidade e de uma forma acentuadamente deum sentir e traduzirpsicologico o real. Livro escrito na terceira pessoa afigura-se,feminina entretanto, depoimento de feito autobiográfico, a história de uma sensibilidade de mulher se transforma e se afirma plena de teor humano, à medida que se lhe chegam o conhecimento e a descoberta do mundo. Com a professorinha Marina, pomos os nossos passos nos caminhos e nas dimensões dos pequenos dramas coletivos, colocamo-nos bem no centro das coisas e dos sentimentos, bem no meio de criaturas que por serem modestas obscuras e humildes ou por serem afortunadas, estultas, mas e orgulhosas palmilham, entretanto, as mesmas estradas da condição humana. Marina reflete a singeleza dessa luta comum, acentua também, com uma beleza não pungente e uma eloquencia não menos veridica, o quadro das desigualdades sociais sobrepondose, quase sempre, às aspirações mais legítimas do individuo. conjun toedesse livro livr oe de narração narraçnão ão amena, de d e poucos ou nenhun n enhuns s desa bafos – No umconjunto romance romanc sincero lógico, há dúvida – no meio dos tipos de 45
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invenção mais ou menos feminina, a professorinha recém-saída do colégio de freiras é de um encanto particular e tangivel. Toda Toda uma experiência súbita da vida se desenvolve diante dos seus olhos atônitos; e a lição que lhe ocorre, entre indagações sem resposta e fundas inquietudes, é uma mensagem de solidariedade e de justiça, um desejo de fraternidade Na expressão expressã o de um sentimento sentimenetodedeamor. tal amplitude, amplitu de, a romancista romanc ista pôs o melhor dos seus recursos de observação e dos seus dotes de escritora. Conduziuse, até o fim, marcando esplêndidos momentos de realização literária, sem trair os impulsos de seu temperamento feminino. O tema e a expressão, felizmente, encontraram em Estrada da LiberdaLiberd ade uma forma definitiva de ficção, que nos leva a esperar ainda muita coisa de Alina Paim.
Rio de Janeiro. Leitura, dez/jan. 1945. 46
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Na Estrada da Liberdade Alina Paim, Pa im, jovem romancista baiana, ou outrora trora da Estrada da Liberdade, que vem obtendo um justo sucesso.
SANTOS MORAIS
Estrada da Liberdade, zona pobre da Bahia desenvolve-se o romance com que a srª Alina Paim inicia sua vida literária. Dizem que por aquela longa e sinuosa estrada entraram as primeiras tropas libertadoras nas lutas da Independência, e, por tal motivo, recebeu a denominação denomin ação simbólica. É mais certo, porém admitiradmitir-se se que tal desfruta os seus moradores de serem pobres e infelizes até o desespero, e de se arrastarem nas ruas ou nas casas miseráveis como trapos humanos. Situemos nesse ambiente uma escola pública e uma professora inteligente ensinando às infelizes crianças maltrapilhas. Imaginemos Imaginemo s o choque de princípios e o despertador da consciência dessa jovem educadora num convento de freiras, cheia de preconceitos e de princípios falsos, miserável daquelas crianças soltas desnudas, compreendendo a responsabilidade que lhe caberá então nos seus des-e tinos irmanando-se aos seus sofrimentos e procurando compreender-lhes as naturezas selvagens e rebeldes. Imaginemos ainda o contraste que se dá pois essa mesma professora ensina também distante possa-se um ano de atividades escolares. Mas a professorinha não se cansa de observar e aprender. Vive em dois planos.. O real, presente, planos presente , e o invariavelmente invariavelm ente a uma outra recordaçã rec ordaçãoo e observa o contraste, a errada educação burguesa, os falsos preconceitos, a assimilação e a mentira, ajuda de internato, cheia de pequenas misérias e miseráveis enganos hipócritas e má. Pouco a pouco a professorinha vai tendo a revelação de tudo. Lê livros diferentes dados dado s por amigos novos, e chega assim a uma nova concepção da vida, do amor, das relações entre as pessoas humanas, e revolta-se contra tudo que é falso e lhe fora ensinado deliberadamente mercê de uma educação dirigida no interesse dos poderosos e ricos. Eis o clima em que se desenvolve a ação de “Estrada da Liberdade” romance de uma jovem estreante que lemos com interesse. Simples e comovente, e um livro rico de pequenas emoções, em que sentimos uma rara sensibilidade a vibrar continuamente. Vejamos por acaso pequenos episódios extraídos do livro: – Acompanhada de uma velha empregada, a professora passa pelo largo do Barbalho. Vêm um casal de namorados pobres, aos abraços e beijos. A empregada velha comenta a perdição perdiç ão das raparigas de hoje e diz: – “Quarqué dia tá com fio no bucho”. Mas a professora Mariana pensa: “haverá daqui a uns seis anos mais um pretinho de forma suja de lama, para a escola pública”. Em outro momento a professora recebe a confissão de uma aluna. Vieram Vieram 47
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da aula de catecismo, onde o padre falara dos pecados da carne e da punição do inferno. A criança ficou com um problema terrível, pois tendo sua casinha um só quarto, dormiam dorm iam todos juntos, e ela via muitas vezes o ato sexual dos pais. Com as palavras palavr as e ameaças do padre, ficou mortificada mortif icada e, horrorizada, horror izada, num colégio de freiras, para onde vão as crianças ricas. Entre estes dois mundos estanques confessou à professora. Entre explicações e gestos de ternura, Mariana diz: e – Não é coisa coisa nojenta, nojenta, é um ato sagrado. Vou contar-lhe contar-lhe uma coisa – naquele momento começa a vida de uma criancinha. Um dia quando você crescer terá um filhinho. Ele começará assim. Eu comecei assim, você, o padre, todo o mundo. Depois desse dia, a criança ficou sua amiga. Viajando nas férias, a professora recapitula sua vida neste ano de tantas transformações e pensa: – É imensa a escola da Estrada da Liberdade, e como tudo naquelas ruas de barra barrancos ncos falavam fala comiam eloqüênci eloqeüência! a! Aemiséria misé ria gritava grita va eninguém como eraenxergava. assustad assustador or o número número dos surdos! Osvam bondes vinham ninguém ouvia, A Estrada da Liberdade fora sua escola e seus mestres foram Alvaisa, Carlos Gomes, Arcanja, Marina, Alfredo e Azenete, e todos os pequenos de pernas sujas de lama e barriga barrig a vazia. Eles eram aos milhare milhares! s! E é assim todo o livro. Somente num capítulo quando a professora recorda as leituras espirituais do convento em que as freiras defendiam a revolução rev olução fascista da Espanha, o livro perde um pouco da sua simplicidade e se torna panfletário. panfle tário. Este capítulo, capí tulo, porém poré m é de grande significação significa ção do livro, pois situa situ a um importante problema que é a culpabilidade de muitos agentes religiosos na propagação do fascismo, quando era possível fazê-lo. Eis um livro que merece ser lido.
Salvador. O Momento, 16.abr.1945. 48
A Romancista Alina Paim
Um Livro de Combate
REGINALDO GUIMARÃES
O maior elogia, talvez, que se posso fazer ao livro Estrada da Liberdade de Alina Paim é o da originalidade. Seu romance foge a tudo que se tem escrito entre nós no domínio da ficção. Ninguém, até hoje, escreveu sobre o ambiente que ela nos mostrou tão a nu, escandalosamente escandalosamen te vivo, numa sinceridade de estreante, sem os tiques da técnica apurada apur ada e bem acabadinha. Tem-se escrito sobre a seca, sobre o cangaço, as fazendas de cacau e de café, tem-se feito romance psicológico, mas ninguém até hoje penetrou numa escola de freiras para filmar suas cenas, suas dores, suas maldades, toda essa coisa que vive por detrás do pano e que é a verdadeira tragicomédia que o público não tem o direito de ver. E Alina Alina Paim faz isso com muita felicidade. Vê-se que não cria as histórias, não inventa, não tem preocupação preocu pação de atitudes marcadas, de que todo o mundo veja que é ela quem está dizendo aquilo. Pelo contrário, contrário , mostra-nos apenas, com o coração revoltado pelas injustiças sociais e pela miséria econômica, como se contasse para uma pessoa amiga aquilo que viu e ouviu e mais uma recuperação de tanto tempo perdida. Ela quer orientar aqueles que ainda não conhecem e continuam a trilhar o caminho cerrado da educação artificial e falsa, como passarinhos que saltitass saltitassem, em, inadvertidamente, enquanto serpentes gulosas os espreitam. Esse é o painel do livro. Tudo marcado de maneira simples, escrito como se ditar para alguém, sem pensar em purismos, consegue prender a atenção do leitor pela leveza do seu estilo e pela urdidura urd idura natural dos seus personagens que se apresentam como os humanos defeitos e qualidades de todo pedaço de vida. Nesse particular, lembrei-me, lembrei-me , por acaso, de “Os Corumbas”. Não que ela procure seguir a técnica do romancista sergipano, mas, pelo seguimento e fatalismo de seus personagens. Ela, como Amando Fontes, aprende a vida pelo início e vai seguindo até o fim. Não tem a preocupação de fixar o meio para contar depois o que passou. Segue tudo como se fora um livro de memória. Uma das partes mais vivas do seu livro é o capitulo em que nos apresenta Marina tão preocupada com o problema sexual, ao primeiro contato com o livro de forel. É tão vivo e tão natural que nos choca e entusiasma ao mesmo tempo, levando-nos a pensar que estamos vendo a mocinha ingênua, de educação falsa, adquirida através de uma moral religiosa adulterada, adulter ada, toda trêmula e receosa como se estivesse realizando um crime hediondo. É assim todo o livro, é toda uma luta pela recuperação do tempo perdido, um libelo contra a maldade e a injustiça. Ela quer salvar as novas Marias José. A contra ação deseducadora deseducado ra das Madres e Edwiges. Por isso demos esse livro palpitante, sangrento, cheio de sinceridade nas suas cores e nas suas ações, sem o pensam pensamento ento antecipado antecip adoo do sucesso enganador engana dor dos “Best Muita gente precisava precisa va aprender-lhe aprende r-lhe jeito de dizer di zer as coisas de conta contar r osSeller”. fatos sem interf interferir erir 49
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nos personagens como se fossem bonecos de papelão. Ela deixa que as pessoas atem por si mesmo. mesmo. Movime Movimentando ntando-se -se de acordo acordo com com os seus modos de ver a vida vida ou com suas autodeterminações. Não se lhe observa a preocupação de emoldurar os quadros do seu livro com efeitos de fundo de tela, a fim de encher o livro, criar paisagens fictícias para aspondo antologias reacionárias que os andam por aí.defeitos Tudo nela é módico, bem encaminhado, em muito baixo plano pequenos de estréia. Creio que com Estada da Liberdade, Alina Paim aparece como já disse. Certamente que sua tendência é para seguir subindo e sua linha será sempre a linha reta dos que olham os humilhados h umilhados e oprimidos não com a piedade branca e reacionária dos aristocratas, aristocratas, mas, com o olhar de quem lhes ensina o meio de saírem do charco para olharem as estrelas.
Salvador. O Momento, 11.jun.1945. 50
A Romancista Alina Paim
Apresentação
GRACILIANO RAMOS
Alina Paim chegou aqui há quatro anos, tímida, novinha, com jeito de freira à paisana. O romance que nos deu pouco depois não revelava nenhuma timidez e, logo nas primeiras folhas, desmentia a aparência religiosa. Exibia até muita coragem, dava às coisas os nomes verdadeiros, sem respeito exagerado às conveniências. A estréia, recebida em louvores, jogou a moça na literatura. Alina fez vários livros. Este, o terceiro, deixa longe a Estrada da Liberdade, manifesta um valor que o trabalho da juventude apenas indicava. A autora observa, estuda com paciência, paciênc ia, tem a honestidade honestid ade rigorosa de não tratar de um assunto sem dominá-lo inteiramente.. As suas personagens são criaturas que a fizeram padecer na infância inteiramente ou lhe deram alguns momentos de alegria, em cidadezinhas do interior. interior. Nenhum excesso de imaginação. Em geral os homens são vistos à distância, não se fixam. A escritora julga talvez não conhece-los bem e receia apresentá-los deformados; limita-se quase sempre a fazer referência a eles ou, quando é indispensável, a mantê-los na ação em diálogos curtos, em rápidas passagens. Aqui duas figuras masculinas parecem contrariar esta afirmação. Caracteres bem definidos: um velho e um idiota. Mas o primeiroo já deixou de ser homem, o segundo ainda se conserva menino. primeir O que surge com intensidade é a existência das mulheres – complicações, desarranjos, pequeninos problemas. Há umas admiráveis tias velhas, rendeiras, beatas, calejadas nos mexericos. E há também a criança atormentada, ato rmentada, a melhor criação cr iação de Alina. Vê-se bem que a romancista cochilou nas orações compridas, trocou bilros na almofada agüentou muito puxão de orelha. Foi bom. Essas desventuras lhe fornecem hojee excelente matéria.
Rio de Janeiro. Simão Dias, Editora2ªdaedição, Casa do do1979. Brasil, 1949. Livraria Editora Cátedra-INL/MEC, RioEstudante de Janeiro, 51
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Novo romance de Alina Paim OSWALDO ALVES Alina Paim apareceu na literatura brasileira em 1943, com um livro que iria provocar uma série de reações e críticas, favoráveis e desfavoraveis. Agora lançou o seu terceiro livro, um romance excessivamente amargo, talvez, mas afirmativo e sincero, cujo título é “Simão Dias”. Neste romance, as indispensáveis indispen sáveis qualidades qualida des já reveladas pela autora nos livros anteriores se fundem com a soma das experiências por ela acumuladas nos últimos seis anos, durante os quais trabalhou intensamente, criando e manejando tipos os mais diversos, enriquecendo a esplêndida galeria que hoje compõe a sua obra literária. Por isso mesmo a narrativa é aqui mais espontânea e fluente, cheia, desenrolando-se num ritmo largo e forte. A linguagem é mais direta, mais precisa. Um pouco rude, às vezes, mas sempre clara, viva e segura. simples indicacertos esse ponto consciente a que aspiramOosestilo escritores maduros, de quede a arte consistedespojamento em contar as coisas, formular idéias e problemas humanos, de maneira desprentensiosa e profunda. Este é um romance de quadros vigorosos, jogados em traços incisivos e amplos, nuns entrelaçamentos notáveis, que forma a unidade da história, ou melhor, das histórias, já que não existe aqui personagem central. T Todos odos os tipos se equivalem, dando-nos dando-n os igual conteúdo como reflexos reflexo s de vidas as mais diversas. É a história de várias criaturas cujos pequenos dramas morais ganham enormes pro porções porque exprimem toda espécie de mutilação de uma sociedade rural decadente, minada de preconceitos e recalques, onde os sentimentos atrofiados criam um mundo de deformações morais. Este romance é, sobretudo, a vida de uma cidade do inteiror do Brasil. Pode ser qualquer uma dessas brasileiras em quase que a rotina,mesmo a estagnação e os vícios de umapequenas formaçãocidades defeituosa conduzem sempre à patética indiferença em face dos problemas que hoje agitam o mundo. São vidas soltas que se encadeiam em páginas excelentes, de um modo natural e por isto mesmo vivo e sincero. Luiza – talvez a única alma de certo modo enriquecida por um sopro de legítimo sentimento da vida – move-se em quadros um tanto dispersos. Mas a evolução de suas idéias e da sua própria vida é perfeitamente lógica e natural. Noutross planos, outros personagens Noutro personagen s de igual porte compõem um só bloco de sentimentos sombrios. No desenrolar do romance, porém, esses sentimentos adquirem novos valores, que dão ao romance um tom afirmativo, à medida que os personagens persona gens vão descobrindo as verdades humanas através de um longo processo comparativo – mais adivinhando do que aprendendo. Seu Bernardino, Adélia, Iaiá, Totonho, mãe Carolina, Das Dores todas 53
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essas figuras não são de forma alguma personagens de segundo plano. Eles com pletam os quadros com igual intensidad intensidade, e, valorizados pela autora de maneira sutil e inteligente. Das Dores destaca-se algumas vezes, é certo, evoluindo de menina para mulher, mulher , no tumulto de indaga indagações ções aflitivas aflitiv as sobre o mistério mistéri o da vida e da fecundação. muitas vezes em choque com as pessoas adultas, vê o mal onde ele Entra lhe é apontado: encontra-o, inv ersamente, inversamente, em quase tudopois quenão exaltam como virtudes consagradas, por força mesmo m esmo das contradições da sociedade deformada em que vive, e na qual seu caráter se vai formando. Entre Entr e essas contradições, Luiza lhe aparece como a única pessoa equilibrada, razoável e lógica. Mesmo destacando-se algumas vezes, Das Dores há de ser, no entanto, apenas uma peça indispensável à estrutura deste romance tão forte e tão humano.
Rio de Janeiro. Leitura, set. 1949. 54
A Romancista Alina Paim
Alina Paim
ZÓZIMO LIMA
Está ai uma escritora sergipana de muito talento, filha de Simão Dias que eu, como muitos dos nossos conterrâneos, desconhecia até agora. Chama-se ela Alina Paim, nasceu na terra de Ranulfo Prata, passou a meninice em Estância, e, depois, seguiu para o Rio, onde, além de professora, firmou a sua reputação como novelista de primeira água, que não, ficou aquém de Rachel de Queiroz, Dinah Silveira, Lúcia Miguel Pereira e Lúcia Benedetti. Alina Paim, que é ainda muito moça pelo que constato da fotografia, já escreveu três romances, festejados pela imprensa: Estrada da Liberdade; Simão Dias e A Sombra do Patriarca, agora mesmo editado pela Livraria Globo, de Porto Alegre. A Sombra do Patriarca, que obedece ao mesmo tema de Estrada da Liberdade, é a dolorosa via-sacra da classe proletária, vítima da injustiça social do capitalismo com o seu poder absorvente, os seus preconceitos baseados na divisão de classe e na herança de títulos de nobreza que, pouco a pouco, diante da acelerada marcha socialista, vão caindo esfrangalhados. Há, ainda, por aí, tocaiado nos alpendres de “casa grande” quem alimenalimen te ilusões de que estes restos de fidalguia, mantidos à força de dinheiro conseguido a exploração de trabalhador se manterão ainda por dilatado tempo. Engano manifesto. Não há de ter a avalanche que destruirá as barreiras que separam a miséria da riqueza. Não será a barbárie stalinista com os seus sangrentos expurgos que fará melhorar as condições de vida da humanidade. É o próprio homem, cansado de sofrer, abroquecido na fé religiosa dos seus antepassados, que se revoltará para a conquista da felicidade não fluida por aqueles ambiciosos, individualistas que olvidaram as advertências do apóstolo Thiago. É impossível que no mundo continue por mais tempo a desigualdade humana no que tange ao bem e mal estar. Uns comem, outros passam passam fome. Uns vestem, com opulência, outros andam quase nus. Nos hospitais, outros andam quase nus. Nos hospitais há quartos com instalações insta lações de luxo asiático que são um insulto à enxerga no salão promiscuo onde geme o enfermo indigente que tem também direito à vida mas não tem dinheiro. É mister por fim ao egoísta opulento, de mentalidade medieval, que adquire com o dinheiro arrancado aos pobres, ao trabalhador de enxada, ao carregador do cais, ao caixeiro do armazém, ao supersticioso, vastas terras para provei pro veito to própri pró prioo com prejuíz pre juízoo da pobreza pob reza que nelas nela s habita hab ita muitos muit os anos e é expulsa sem a piedade pregada por Jesus. A sombra do Patriarca, de Alina Paim, é o quadro vivo das vidas em conflitos, em que a opulência acaba sendo derrotada pelas forças forç as coesas de uma classe que um dia entendeu de reivindicar ancestrais direitos postergados. Aracaj Ara caju. u. Correio Cor reio de Ara Aracaj caju, u, 24.nov.1951 24.n ov.1951.. 55
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A Professorinha de Estância já tem História Literária
BARBOZA MELO
Em 1944, quando quan do éramos editores e pensávamos lançar todos os jovens de talento deste país (que sonhadores), fomos surpreendidos com a visita de uma menina de cabelos soltos, cacheados, 1,50 de altura, 48 quilos de peso, rosto bonito de ingênua, ingên ua, fala suave, e uma timidez incon inconcebível cebível numa num a adolescente adolescent e que queria ser escritora. Trazia-a Osvaldo Alves nosso companheiro – atual desertor da literatura, depois de ter conquistado lugar de destaque na referida, com “Um Homem Dentro do Mundo” –Aqui está uma u ma escritora escritor a que deseja ser lançada lan çada por Lei Leitura. tura. A mocinha ao ouvir estas palavras quase desapareceu na cadeira. Creia mesmo que naquele instante ela perdeu metade do seu peso e do seu tamanho. Ficamos conversando, e a custo nos informando – ela falava tão baixo – das suas modestas pretensões. pretensões. Tinha um romance para editar, que se chamava “Estrada da Liberdade”. E, mais à vontade, foi contando como e porque o escreveu. – Nascida em Estância, vivi minha meninice em Simão Dias – ia dizendo – saindo desta cidade sergipana com 10 anos, endereçada ao Convento de Nossa Senhora da Soledade, em Salvador, situado, precisamente na Estrada da Liberdade (que deu nome ao romance) onde permaneci 12 anos, sendo 8 como interna e 4 como professora. Deixando Deixando o Convento, casei-me e, sem pensar escrever livro, ia anotando num caderninho tudo de interesse que vivi naquele casarão. O resultado foi este romance que submeto à sua crítica. Assim falou aquela adolescente professorinha de Convento sem denotar a mínima convicção no seu primeiro trabalho literário. Oswaldo Alves já me havia falado do livro com a maior simpatia. Tomei Tomei os originais daquelas mãos quase trêmulas, e no dia seguinte já o– havia lido. Telefonei-lhe comunicando que ia editar o seu romance ela emudeceu. Não teve palavras nem para agradecer, nem para perguntar quando o lançaria. Compreendi que estava terrivelmente emocionada, e não adiantava continuar. Em 1945, com a Estrada da Liberdade de Alina Paim (este o nome da professor,inha adolescente), a Editora Leitura lançava uma escritora que viria a ter posição definitiva defini tiva entre e ntre os o s nossos nos sos bons bo ns romancista ro mancistas. s. Em menos de 2 anos a edição estava esgotada, esgotada, tendo contribuído para isso as freiras daquele Convento, que eram as maiores compradoras do livro, não para ler, mas para queimar... Elas não gostavam do que Alina havia escrito, colaborando co laborando para a imortalidade imortal idade do Convento Convent o Nossa Senhora da Soledade. Sole dade. Quatro anos depois a mocinha continuava mocinha, mas já com outro romance: A Sombra dodaPatriarca. Patri arca. Reminiscência vida do campo. Foi entregue a Editora Globo de Porto 57
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Alegre que, quando o lançou em 1950, já Alina, num passe de mágica, tinha feito outro – Simão Dias – que a Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil publicou na frente daquele, em 1949. Este era realmente o terceiro, não o bastante ter saído um ano antes do segundo. Graciliano Ramosdatendo do mesmo numa orelha capa.lido os originais “Simão Dias”, fez a apresentação A mocinha não pára, trabalhadora infatigável, se interessa pela situação e participação das mulheres na greve ferroviária ferroviári a de 1954, em Minas e temos então o seu quarto romance, A Hora Próxima, editado no ano seguinte, na Coleção Romances do Povo, dirigida por Jorge Amado para Editorial Vitória. Grande tiragem (8.500 exemplares) e , seguramente, o seu melhor trabalho literário. Já teve duas traduções, uma para o russo, que lhe proporcionou cento e cinqüenta mil cruzeiros de direitos, recebidos recebidos por intermédio do Banco do Brasil, com prefácio de Jorge Amado, Amado, e outra edição em chinês. A primeira tradução foi em 1957 e a última dois, anos depois. Alina Paim continua a mesma mocinha que nós a conhecemos há 16 anos passados. EngorddestacamEngordou ou uns quilinhos, quilinh os, quefios lhe de fizeram dosverdadeiras). seus cabelos negros, cortados, se alguns platinamuito ( nãobem, sei see são Continuou escrevendo romances, era natural. Sol do Meio-Dia, é o seu último livro, que acaba de ganhar g anhar o Prêmio Manuel Antônio de Almeida, instituído pela Associação Brasileira do Livro, Livro , com a dotação de R$ 100.000.00, 100.00 0.00, e que será editado pela editora criada pela mesma ABL. Tão confiante está a ABL no êxito do romance que pensa p ensa em fazer com ele um grande lançamento nacional. Chegou mesmo a lançar outro concurso, entre desenhistas e pintores, para a capa do livro, livro, com o prêmio de R$ R$ 20.000,00 para o primeiro primeiro lugar. lugar. Será o romance de capa mais cara já editado no Brasil. Pensou em uma novela de 70 ou 80 páginas – dissemos – quando começou a escrever Sol do Meio-Dia. E saiu um livro de 350 3 50 páginas datilografadas .Contou que era a historia de uma moça (Ester) que veio de Paripiranga, na Bahia. Quem sabe se não é a história dela? Alina Paim também se interessa por literatura infantil: este ano a Conquista lançará três volumes de histórias infantis : O lenço encantado, A casa da coruja verde e Luzbela vestida de cigana, todos ilustrados por Percy Deane. Antes de encerrar esta conversa com a vencedora do Prêmio Manuel Antônio de Almeida, dissemos a Alina que, seguramente, ela estava escrevendo outro romance (ela não pára) e como se chamava? A resposta veio imediata: História de Catarina.
Rio de Janeiro. Leitura. Ano XIX, no 37 Julho, 1960. 58
A Romancista Alina Paim
Prefácio
JORGE AMADO
Alina Paim é um nome aque dispensacomo toda eum qualquer apresentação. Não só o público brasileiro há muito consagrou dos nossos melhores romancistas: também fora do Brasil sua obra tem repercutido com sucesso, em traduções que levaram seus personagens até as distantes plagas das línguas russa e chinesa. Entre os prosadores surgidos em 1945, geração das mais significativas, seu nome é estrela de primeira grandeza. Modesta e tímida, essa sergipana conquistou seu lugar definitivo em nossa literatura sem jamais fazer vida literária, sem pertencer a grupos, sem uma concessão, afastada dos meios literários e da publicidade fácil, das igrejinhas e do disse-que-disse. disse-que-d isse. Para ela existe a literatura e não vida literária, o que não significa ter-se a romancista trancado numa torre de cristal, pois jamais se negou a seus deveres de cidadão, jamais separou sua literatura da vida. Seu êxito permanente e sólido deve-se à importância de seus romances. A partir da Estrada da Liberdade, estréia tão comentada na época, elogiada pela crítica e apoiada pelo público ledor, revelando uma romancista que se afirmaria depois completamente completame nte em A Sombra do Patriarca, Patriarca , Simão Dias (a meu ver, seu melhor livro entre os anteriores e um dos grandes romances brasileiros) e A Hora Próxima. Tratando da professorinha no bairro operário denso de problemas na capital da Bahia ou de velhas solteironas nas cidades mortas do interior de Sergipe ou de valentes trabalhadores nas greves das ferrovias, uma unidade marca sua obra: a compreensão e a solidariedade humanas. Suas figuras de mulheres são silenciosas e acanhadas, sabe todos os segredos da alma feminina, penetra fundo no coração do ser humano. Escrevendo uma língua viva e colorida, color ida, tendo hoje um completo conhecimento do seu “metier” de romancista, ao publicar seu quinto romance encontra-se encontra- se situada na primeira fila de nossos escritores. Voltacom hoje, Paim, a oseu comBrasileira Sol do Meio-Dia, consagrado umAlina alto prêmio, da público Associação do Livro,romance julgado já por figuras figura s como as de Valdemar Cavalcanti, Cavalcan ti, João Felício dos Santos e Plínio Bastos. Eis uma notícia excelente para os leitores, sobretudo para os muitos que têm acompanhado com consciência e admiração a carreira vitoriosa da romancista. Ela atinge agora sua maturidade criadora. A menina da Estrada da Liberdade, que irrompeu pelo romance brasileiro em 1945 e nele impôs sua presença, soube construir seu caminho e crescer de livro para livro, para chegar à madureza deste Sol do Maio-Dia, que será sem dúvida um dos acontecimentos literários importantes do ano. Estou certo do sucesso deste romance não só junto aos intelectuais mas, também entre o grande público pois ele é construído com a experiência vivida e o amor ao ser humano. Rio de Janeiro. Sol do Meio-Dia, Edições ABL, 1961. 59
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Alina Paim é só romancista
VALDEMAR CAVALCANTI
Com Alina Paim aconteceu o que poucas vezes tem ocorrido nos anais da literatura brasileira: o caso da escritora jovem, ainda no período dos exercícios preliminares prelimi nares da criação literária, traçar decididamente seu caminho, ciente de sua vocação e disposta a não fugir da trilha. E não foi fo i por um terreno de fácil semeadura que a mocinha de Estância optou: foi pelo romance. Embora a vida não lhe houvesse dado tempo para juntar o necessário capital de experiência e observação, que é, afinal, capital de giro para todo romancista. Tanto que já aos 23 anos estreava com Estrada da Liberdade, surpreendendo os críticos da época e os leitores de bom gosto com a maneira segura de seu comportamento literário, a demonstrar que bem conhecia o chão em que pisava. Daí em diante de outra coisa não cuidou senão de sua carreira. Nenhuma concessão nem transigência. Não se deixou tentar pela atração do conto. co nto. Nem da crônica. Nem de artigo leve de jornal. Interesse e único romance. Largou a província foi para Salvador, matando omaior tempo comooprofessora de bairro pobre, aténatal, vir para o Rio. Sem o menor sinal de pressa, fazendo tudo para apurar a escrita, olho vivo nos fatos e nos seres humanos, foi construindo conscienciosamente sua obra de romancista, estimulada por alguns prêmios importantes, até chegar ao requinte de escrever uma espécie de romance desmontável desmon tável – para usar a expressão de Rubem Braga – a Trilogia de Catarina, três romances acoplados, que dão a exata medida de seu raro poder criador, criad or, tanto quanto do rigor rigo r de disciplina da imaginação. imaginaçã o. Agora, ressurge, madura, com A Correnteza, que constitui um painel p ainel da vida de subúrbio do Rio. Mas não é positivamente a moldura o que mais importa neste romance, embora montada com indiscutível mestria. Importante mesmo é o quadro psicológico que Alina Paim apresenta, de extraordinária nitidez. E o leitor inteligente observar no fino do traço das figuras femininas, em particular, e veja como ela as desenha, com mãos leves e firmes, mãos como de uma Maria Laurencin que se desse ao romance.
Rio de Janeiro. A Correnteza, Editora Record, 1979. 61
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A Mulher e seus Símbolos
NÚBIA MARQUES
O título nosA vem à mente, a partir doromancista livro da escritora sulista Alina Paim, Correnteza. A experiente consegue,sergipanadentro de uma visão feminina, nos levar ao intricado mundo psicológico, que circunscrecircun screve a mulher à casa e aos problemas domésticos, longe de ser essa mulher, de modo essencial. Alina, Alina, com pena segura e lúcida, recria a mulher, dentro dos seus limites, muito embora não seja a fútil e ingênua criatura que sempre esteve à sombra da casa, à sombra dos fatos, mediana e simplista, à sombra de tudo, livre intérprete dos seus destinos. Obstinada em conseguir seu grande mundo, a casa, Isabel passa por paus e pedras, passa pisando a ternura, carregando o sonho como quem carrega um totem. A casa, começo e fim da sua vida, a moradia, o sonho hegemônico não apenas da mulher, mas substancialmente ligada a ela pelos que fazeres cotidianos de uma dona de casa. Não a imagem e semelhança de muitas mulheres, no seu feminismo pacato e débil, construções da burguesia que consegue reduzir a mulher, a socializadora por excelência, a uma dominada pouco arguta e simples. A problemática feminina desde a questão da mãe solteira, ao adultério, desde o fazer bolos ao ouvir a música erudita, da escolha inadequada inadequada do homem, à traição a sua irmã, estão presentes nesse grande livro. A inconsequente e pouco sábia rivalidade que faz das mulheres não seres iguais, mas seres que se devoram quando está em questão o homem. A maternidade controvertida, o amor nas mú múlltiplas formas, na sua nudez absoluta, a velhice e a loucura percorrem todos os cantos do livro que faz f az de Alina uma escritora que nada deixa a desejar, nem perde, ou é menor do que uma Clarice Lispector. Romance (que a ficha técnica classificou de contos brasileiros, com que não concordamos), concordamo s), A Corenteza é escrito numa linguagem lingu agem permeada de filosofia filosof ia e poesia, forte, enxuta, que leva o leitor a sentir-se perplexo, a força ficcional de sua autora. O fantástico e o real, o delírio d elírio e a realidade andam de braços dados. O social não deixa de estar presente e muito forte, quando desfilam na sua narrativa os que vivem nos subúrbios da cidade do Rio, com seus inúmeros problemas, com a luta quase desigual entre a vida e a morte. A liberdade de todos e da Isabel estão na jaula, aprisionad ap risionadas as pelas buscas busca s de dias melhores. melhor es. A luta feroz fero z contra as adversiadve rsidades da vida faz de Isabel um u m gigante. A Correnteza é um livro onde o amor e o ódio se contradizem e se completam, um livro para ser lido e vivido muitas vezes. A casa e a mulher são um bloco só e a segurança total.
Aracaju. Arte e Literatura, no 298 (Gazeta de Sergipe), semana de 3 a 9 jul. 1988. 63
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Prefácio – A Séti Sétima ma V Vez ez
NÚBIA MARQUES
Alina Paim nasceu em Estância (SE) e viveu a primeira infância em Simão Dias (SE). Aos 10 anos, órfão, foi residir em Salvador, Salvado r, no Convento Nossa Senhora da Soledade, situado na Estrada da Liberdade, nome que serve serve de título ao seu primeiro romance, editado pela Leitura, que retrata a vida de uma professora cheia de ideais, em contato com amarga realidade de sua população de bairro proletário, onde tenta aplicar métodos modernos de aprendizagem. Em 1949, a Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil edita Simão Dias, que teve como apresentador Graciliano Ramos, amigo e incentivador da tímida escritora nordestina. Alina nos disse como foi importante em sua vida o apoio e admiração do velho Graça, sempre cáustico nas suas críticas, muito importante na sua vida literária. A Editora Globo publicou em 1950 A Sombra do Patriarca, que retrata a vida no campo, romanceando a maléfica e prepotente atuação do senhor de engenho. engenh o. A Editora Vitória, dirigida ppor or Jorge Amado, publica pu blica em 19 1954 54 A Hora Próxima, coleção Romance do Povo, traduzido para o russo e chinês. Livro que retrata a participação das mulheres numa greve de rede ferroviária. Depois veio Sol do Meio-Dia, que recebe o prêmio Manoel Antônio de Almeida em 1962. A história de Ester, a jovem que veio de Paripiranga para o Rio de Janeiro, cidade maravilhosa e vive nas pensões coletivas, onde se concentra a população problematizada pelas dificuldades nas grandes cidades. Alina Alina fez incursões na literatura infantil e a editora Conquista publicou: O Lenço Encantado, a Casa da Coruja Verde e Luzbela vestida de Cigana. Em 1965 ganha o prêmio especial Walmap Walmap com a Trilogia de Catarina: O Sino e a Rosa, A Chave Chave do Mundo e o Círculo, em que a romancista traça a trajetória de uma mulher entre o sonho, o aprendizado da vida na busca de um sentido existencial, num protesto contra os códigos, sempre dentro de um padrão da realidade e dignidade feminina. Em 1966 publica p ublica Flores de Algodão. anos depois, silêncio e ressurgesub com A Correnteza, public publicada ada Treze pela Record em 1979, 1979rompe , mais ouma vez a população suburbana urbana sofrida sofr ida na batalha pela sobrevivência sobrev ivência tem em Alina Ali na a voz digna. Há onze anos que Alina A lina escreveu A Sétima Vez e não encontrou editores, estes viraram as costas aos romancistas que não entraram na ciranda de leitura fácil, leve, enganosa, alienadora, permitindo o crescimento avassalador do lixo-literário nacional n acional e internacional. Agora A Sétima Vez retorna à análise de vida problematizada do velho Teodoro, aposentado, e já sonhando com a tranqüilidade de um cata-vento, vê-se empurrado para atividades laborativas, pois necessitava criar o neto, colhido pela orfandade. Os esquemas competitivos que na mocidade poderia muito bem enfrentar, o leva a esforço de sobrevivência. A velhice encontra na pena dessa vigorosa romancista o dardo crítico e a reflexão sábia de uma fase de vida humana que, avolta despeito da labuta enfrentada, por uma das aposentadoria irrisória, com toda forçajápara buscar oempobrecida pão cotidiano,dentro adversidades e difi65
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culdades que cercam um velho. O Governo do Estado de Sergipe, ao editar A Sétima Vez, premia uma grande escritora, a intelectualidade séria e comprometida, a que se alia à força literária e sobretudo evidencia o cuidado do gasto público com programas sérios, no amparo dos que não possuem o fôlego financeiro para arcar com os gastos exorbitantes de uma publicação.
Aracaju. A Sétima Vez, Fundesc Fundesc – Fundação Fundação Estadual de Cultura, 1994. 66
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SÍNTESE B IO G R Á F IC A
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1919. Nasce a 10 de outubro, em Estância, município do estado de Sergipe, filha de Manuel Vieira Leite e de Maria Portela de Andrade Leite, ambos sergipanos, Alina Leite foi batizada em Simão Dias. Com três meses de nascida mudou-se com os pais para Salvador. 1920. Batizada em de março, Matriz deCarolina Simão Dias, como padrinhos Bernardino da 9Cruz Andradenae Igreja dona Adelaide Portelatendo de Andrade. 1926. Órfão da mãe, retorna para Sergipe e vai morar no município de Simão Dias com os avós, permanecendo dos 7 aos dez anos, onde freqüenta o Grupo Escolar Fausto Cardoso, da Praça da Matriz. 1929. Com a idade de dez anos, retorna a Salvador para continuar seus estudos, passando passa ndo a residir resid ir no Convento Conv ento de Nossa Senhora Senh ora da Soledade, Sole dade, próximo próx imo à Lapinha, Lapin ha, situado na Estrada da Liberdade, onde permanece por doze anos, sendo oito como interna e quatro como professora pública primária, período cujas reminiscências inspiraram seu primeiro romance “Estrada da Liberdade”. Nesse educandário de freiras, escreve aos doze anos os primeiros textos (“Canção da tarde” e “Júlio Verde”) para pa ra o jorn jo rnalz alzin inho ho inter in terno no “Arco“Ar co-Ír Íris is”. ”. 1937. Aos 18 anos visita Estância como prêmio de seu pai por sua formatura em prof pr ofes esso sora ra.. noiva do estudante amazonense de medicina Djalma Batista. 1938. Fica 1943. Alina Paim deixa o Convento e casa-se em 8 de janeiro com Isaías Paim (1925), dias depois muda-se para o Rio de Janeiro, onde residiu até 1999. Como na época não conseguiu trabalho melhor (seu diploma de professora somente era válido dentro dos limites do Estado da Bahia), de súbito, sem profissão definida, foi ensinar na Escola para filhos de pescadores, na Ilha de Marambaia. Aí escreveu seu primeiro romance, Estrada da Liberdade, publicado em fins do ano seguinte, com enorme repercussão nos meios literários e de público, esgotando-se em quatro meses a primeira edição. 1944. Publica no Rio de Janeiro, pela Editora Leitura, o romance romance “Estrada “Estrada da Liberdade”, onde conta, em forma de ficção, sua decepcionante experiência de professora. Esse lançamento coincide com as publicações do romance de Clarice Lispector, “Perto do Coração Selvagem”, e do segundo livro de contos, “Praia Viva”, de Lygia Fagundes 1945. Em janeiroTelles. Alina Paim participa do 1 O Congresso Brasileiro de Escritores, em São Paulo, do qual, Astrojildo Pereira foi um dos três redatores da declaração de princípio prin cípios, s, que exigiu exigi u “completa “compl eta liberdade liber dade de expressão”, expre ssão”, e conclamou concl amou todos todo s a lutaluta rem por um governo eleito por “sufrágio universal, direto e secreto”. 1945/1956. Convidada por Fernando Tude de Souza, diretor da Rádio do Ministério da Educação e Cultura – MEC, Alina passa a escrever para o programa infantil (textos para crianças e adolescentes) “No Reino da Alegria”, dirigido por Geni Marcondes. 1946. Dirigida por Astrojildo Pereira, “Literatura” nasceu em setembro desse ano com a disposição de ser uma revista ampla, democrática – do seu conselho de redação faziam parte Álvaro Moreyra, Moreyra, Anibal Machado, Machado, Artur Ramos, Ramos, Graciliano Graciliano Ramos, Orígenes Orígenes Lessa e Manuel Bandeira. Em suas páginas foram estampadas colaborações de Otávio Tarquínio de Souza, Jorge de Lima, Raymundo Souza Dantas, Guilherme Figueiredo, Lúcia Miguel Pereira e Francisco Barbosa. Foram publicados seis Belo números. 1947. Participa do de 2O Assis Congresso Brasileiro de Escritores, Horizonte. Em maio, 69
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o Tribunal Superior Eleitoral cassou o registro do PCB, que mal chegara a ter dois anos de vida legal, no pós-guerra. 1949. A Livraria Editora Casa do Estudante do Brasil edita o romance (autobiográfico) “Simão Dias”, com apresentação de Graciliano Ramos. Nesse livro, Alina retrata part parte e de sua infância infân e adolescênci adoleGlobo, scência. a. 1950. Publica pelacia Livraria de Porto Alegre, o romance “A Sombra do Patriarca”, onde retrata a vida no campo, romanceando a maléfica e prepotente atuação do senhor de engenho. Participa de uma reunião no Rio de Janeiro, contando com a presen pre sença ça de aproxi apr oximad madame amente nte 30 intele int electu ctuais ais milita mil itante ntess do Partid Par tido, o, entre ent re os quais qua is James Amado, Diógenes Arruda, Carrera Guerra, Astrojildo Pereira, Werneck de Castro, Oswaldino Marques e outros. 1955. Através da coleção “Romances do Povo”, volume XI, dirigida pelo escritor baiano Jorge Amado, Alina Paim publica, public a, pela Editora Editor a Vitória, “A Hora Próxima”. Próxima ”. O romance vende 10 mil exemplares somente na primeira tiragem. 1961. Lança no Rio de Janeiro, pelas Edições ABL, o romance “Sol do Meio-dia”, com prefácio prefá cio de Jorge Jorge Amado Amado e conquista conquista o primeiro primeiro prêmio do concurso concurso da ABL (Associaçã (Associaçãoo Brasileira de Livros). Essa obra foi traduzida para o russo, chinês, búlgaro e alemão. 1962. Convidada pelo infantil Herser, eeditor da três Conquista, de da Janeiro, faz incursões na literatura publica livros: ARio casa coruja Alina verde;Paim O lenço encantado e Luzbela vestida de cigana. Entrevistada pela escritora Wania Filizola, declarou: “Sentir-se realizada é uma expressão muito definitiva e utópica. Enquanto alguém enxerga possibilidade de aprender e aperfeiçoar-se, ainda está tentando realizar-se. É o meu caso”. 1964. Com trilogia de Catarina (O Sino e a Rosa, A Chave do Mundo e O Círculo, todos publicados pela Imago), ganhou o Prêmio Especial Walmap – Curitiba, IV Centenário do Rio de Janeiro, criado exclusivamente para distinguir essa obra, cuja comissão julgadora foi integrada pelos acadêmicos Raimundo Magalhães Júnior, Adonias Filho e pelo novelista Otto Lara Resende. 1966. Quando Alina Paim publica Flores de Algodão, patrocinado pelo Serviço de Informação Agrícola do Ministério de Agricultura, já é uma escritora de fama internacional. Premiada, traduzida, mas sempre recusando-se a ser “importante”. 1979. Rompe o silêncio depois resguardada, de treze anos com a publicação, pela Record, do romance “A Correnteza” 1994. Publica, através do Governo do Estado de Sergipe, por iniciativa da escritora Núbiaa Marques, Núbi Marqu es, na época presiden pres idente te da Fundação Fun dação Estadual Estad ual de Cultura Cult ura – Fundesc, Fund esc, o romance “A Sétima Vez”. 1995. A partir desse ano, Alina apresenta um problema na retina, impossibilitando de ler e, conseqüentemente, pára de escrever. 2000. No início de fevereiro deixa o Rio de Janeiro – onde morava com uma de suas filhas – e passa a residir em Campo Grande (MS), com a filha mais velha, Teresa Teresa Paim. 2004. Falece a 24 de julho seu companheiro, o médico Isaias Paim, pai de suas filhas. 2007. Em novembro, Alina quebra o silêncio e concede entrevista exclusiva ao jornalista Gilfrancisco. Alguns trechos foram publicados no semanário Cinform, de Aracaju.
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Estrada da Liberdade (romance) Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1944 (223 páginas) Simão Dias (romance) Rio de Janeiro: Livraria Editora da Casa dos Estudantes do Brasil, 1949 (207 páginas) 2a edição. Rio de Janeiro: Livraria Editora Cátedra/INL-MEC, 1979 (184 páginas) A Sombra do Patriarca (romance) Porto Alegre (RS): Editora Globo, 1950 (265 páginas) A Hora Próxima (romance) Rio de Janeiro: Editorial Vitória, 1955 Sol do Meio Dia (romance) Prêmio Manoel Antônio de Almeida, da Associação Brasileira do Livro, 1961. Rio de Janeiro: Edições ABL, 1961 (328 páginas) A Casa da Coruja Verda (literatura infantil) Rio de Janeiro: Editora Conquista, 1962, (77 páginas) Luzbela Vestida de Cigana (literatura infantil) Rio de Janeiro: Editora Conquista, 1962 (77 páginas) O Lenço Encantado (literatura infantil) Rio de Janeiro: Editora Conquista, 1962 (77 páginas) O e a Rosa Editora (romance) RioSino de Janeiro: Lidador, 1965 (171 páginas) A Chave do Mundo (romance) Rio de Janeiro: Editora Lidador, 1965 (180 páginas) O Círculo (romance) Rio de Janeiro: Editora Lidador, 1965 (181 páginas) (Pela trilogia de Catarina, Alina Paim recebeu o Prêmio Especial Walmap, IV Centenário do Rio de Janeiro, 1965) Flocos de Algodão (literatura infantil) Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agricola do Ministério da Agricultura, 1966 A Correnteza (romance) Rio de Janeiro: Editora Record, 1979 (231 páginas) A Sétima Vez (romance) Aracaju-SE: Fundação Estadual de Cultura – Fundesc, 1994 (188 páginas)
Livros Traduzidos •
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A Hora Próxima (russo) Moscou: Editora de Literatura Estrangeira, 1957 A Hora Próxima (chinês) Pequim, 1959 Sol do Meio Dia (búlgaro) Sófia: Norodna Cultura, 1963 Sol do Meio Dia (alemão) Berlim, 1968
Traduções •
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A luta pela unidade da classe operária contra o fascísmo, Jorge Dimitrof Rio de Janeiro: Editorial Vitória, 1946 (104 páginas) Um passo adiante, Dois passos atrás, Vladimir I. Lenin Rio de Janeiro: Editorial Vitória, 1946 (251 páginas) 73
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ALBUQUERQUE, Úrsula Rangel. A Educação feminina no romance Simão Dias, de Alina Paim. Aracaju: Anais da VI Semana de História (A Historiografia de Maria Thetis Nunes), Universidade Federal de Sergipe – UFS – Departamento de História, 2004. ALVES, Oswaldo. Novo Romance de Alina Paim. Rio de Janeiro: Leitura, set. 1949. AMADO, Jorge. Prefácio “O sol do-meio-dia”. Alina Paim. Rio de Janeiro: Edições ABL, 1961. ARAÚJO, Jorge de Souza. A Correnteza. Rio de Janeiro: Jornal do Brasil, 1977. CARDOSO, Ana Maria Leal. Marcas do feminismo em Alina Paim “Do Imaginário às Representações na Literatura”, Ana Maria Leal Cardoso e Carlos Magno Gomes (org.). São Cristóvão: Editora-UFS, 2007. ____ __ __ A Ident Id entid idad adee da Mulh Mu lher er em Alin Al inaa Pa Paim. im. (Iden (Id enti tidad dadee e Alteri Alt erida dades des:: Teoria Teori a e Prática), org. Carlos Magno Gomes e Marcelo Alário Ennes. São Cristóvão: Editora – UFS/ Fundação Fun dação Oviêdo Oviê do Teixeira, Teixeira , 2008 200 8 CAVALCANTI, Valdemar. Alina Paim é só romancista, “Prefácio” – A Correnteza, Alina Paim. Rio de Janeiro: Editora Record, 1979. COELHO, Nelly Novais. Dicionário Feminino Brasileiro. GILFRANCISCO. A Romancista Alina Paim. Aracaju: Jornal da Cidade, 20/21 abr. 2006. www. Informesergipe.com.br / www.kplus.cosmo.com.br ___ A Redescoberta Redescobert a de Alina Paim (entrevista), (entrevis ta), Aracaju: semanário Cinform, 21 a 27 abr. 2008. GUIMARÃES, Reginaldo. Um Livro de Combate. Salvador: O Momento, 11 jun. 1945. LEITE, Ascendino. Estrada da Liberdade. Rio de Janeiro, Leitura, dez-jan, 1945. LIMA, Melo. Leitura Descobre uma Professora. Rio de Janeiro, Leitura, jun. 1944. LIMA, Zózimo. Alina Paim. Aracaju: Correio de Aracaju, 24. nov. 1951. MARQUES, Núbia Nascimento. A Mulher e seus Símbolos. Aracaju: Arte e LiteraturaGazeta de Sergipe nO 398, semana de 3 a 9 jul. 1988. ____ “Prefácio”, A Sétima Séti ma Vez. Alina Ali na Paim, Aracaju: Aracaj u: Fundesc – Fundação Estadual de Cultura, 1994. MELO, Barboza. A Professorinha de Estância já tem História Literária. Rio de Janeiro: Leitura, Ano XIX, nO 37. jun, 1960. MORAIS, Santos. Na Estrada da Liberdade. Salvador: O Momento, 16. abr. 1945. MÜLLER, GILHERMO. Hermogênio da Silva Fernandes. CMI Brasil – Centro de Mídia Independente – www.midiaindependente.org (29 abr. 2008). OLIVEIRA, Ilka Maria. A Literatura na Revolução: Contribuições Literárias de Astrojildo Pereira e Alina Paim para uma Política Cultural do PCB nos anos 50. Campinas. Unicamp, tese de mestrado, 1998. PROVÍNCIA DE SÃO PEDRO. A Sombra do Patriarca. Porto Alegre: v. 5, no 14. dez. 1949. RAMOS, Graciliano. “Prefácio”. Simão Dias. Alina Paim. Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1944. Linhas Tortas (crônicas). São Paulo: Livraria Martins Editor, 1962. RUBIM, Antônio Albino Canelas. O Partido Comunista e os Intelectuais. www.geocites.com/ptreview/15-
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SUBSÍDIOS BIOGRÁFICOS 79
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Alina Paim e Paulo Carvalho Neto
Capa do romance Es Estr trad ada a da 1944 Lib L iber erda dade de – 1944 81
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Livro publicado em 1944
Alin Al ina a Pa Paim im na bi bibl blio iottec eca a de su sua a ca casa sa
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Simão Dias, edição de 1949
Simão Dias, 2a edição de 1979 84
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A So Somb mbra ra do Pa Patr tria iarc rca, a, ed ediç ição ão de 195 950 0
A Ho Horra Pr Próx óxim ima, a, ed ediç içã ão de 1955 85
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A Chave do Mund ndo o, edição de 1965
O Círculo, edição de 1965 86
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Floco de Algodão, edição de 1966
A Cor orre rent ntez eza, a, ed ediiçã ção o de 19 197 79
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A Sé Séttim ima a Ve Vez, z, ed ediiçã ção o de 19 1994 94
Alilina A na Pa Paiim, de dez zem embr bro o de 2007
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Alilina A na Pa Paim im col olab abor ora a co com m o tex extto “S “Sim imã ão Dia ias” s”.. o Época, n 2, out/nov out/no v, 1948.
Al Alin ina a Pai aim m co cola labo bora ra co com m o te text xto o “A Ca Cart rta” a”.. Leitura, no 43/44, jan/fev jan/fev,, 1961. 89
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Grupo Escolar em Simão Dias onde Alina Paim estudou
Alin Al ina a Pa Paim im co com m o es esc cri rito torr Pa Pau ulo Ca Carv rval alho ho Net eto o
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O AUTOR GILFRANCISCO, nascido em 27 de maio de 1952 em Salvador, Salvador, Bahia. Começou como como jornalista, trabalhando nas sucursais dos jornais Movimento e Em Tempo, no início dos anos se tenta, época em que par participou ticipou das atividades cul turais no Estado, produzindo produ zindo vários shows musimusi cais, passando a integrar o Grupo Experimental de Cinema da UFBA. Em 1975 foi assistente de fotografia de Thomas Farkas no filme Morte Mor te das Velas do RecôncaRecôncavo, dois anos depois como assistente de produção de Olney São Paulo, no filme Festa de São João no interior da Bahia, ambos documentários dirigidos por Guido Araújo, entre outros. Foi durante algum tempo consultor e professor do Centro de Estudos e Pesquisas da História. Licenciado em Letras pela Universidade Católica do SalvadorUCSal, é professor universitário e jornalista. É autor de Conhecendo a Bahia; Gregório de Matos: o boca de todos os santos ; As Cartas, uma História Piegas ou Destinatário Desconhecido (com Gláucia Lemos); Ascendino Leite Leit e; Crônicas & Poemas recolhidos de Sosígenes Costa ; Flor em Rochedo Rubro: o poeta Enoch Santiago Filho; Poemas de Enoch Santiago Filho (pesquisa, introdução, biobibliografia e notas); Godofredo Filho & o Modernismo na Bahia; O poeta Arthur de Salles em Sergipe ; Imprensa Alternativa & Poesia Marginal, anos 70; Musa Capenga: poemas de Edison Carneiro; Tragédia: Tragédia: Vladimir Maiakóvski; Mai akóvski; Walter Benjamin: o Futuro do Passado Versus Versus Modernidade & Modernos; Literatura Literatura Sergipana, uma Literatura de Emigrados, entre outros. Tem publicações em diversos periódicos periód icos do país: Revista da Bahia Bahi a (EGBA); Revista Exu (Fundação Casa de Jorge Amado); Revista Travessia (UFSC); Revista Cepa (BA); Revista Teias Teias (UFSC); Revista Kawé Pesquisa (UESC); Revist’aura (SP); Revista Arte Ar te Livro (BA); Judiciarium (SE); Revista da Literatura Brasileira (SP); Nordeste Magazine (SE); Aracaju Magazine (SE); Preá (RN); Revista de Cultura da Bahia; Candeeiro (SE); Letras de Hoje (RS); Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe; Revista da Academia Sergipana de Letras.
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Publicações Edições GFS
do
autor
pelas
Coleção Base (Bahia/Sergipe) 1.Literatura Sergipana, uma literatura de emigrados 2.Jacinta Passos: a busca da poesia 3.A romancista Alina Paim 4.O contista Renato Mazze Lucas 5.Instrumentos inéditos de Carlos e Ofício: Sampaio 6.Sosígenes Costa: novos textos esparsos 7.Enoch Santiago Filho: novos textos esparsos 8.Bernardino de Souza, geógrafo e historiador 9.Os irmãos Aluysio & Walter Sampaio 10.O Cronista Enoch Santiago 11.Pedro Kilkerry: maldito entre malditos 12.Glauber Rocha: Noticiário Cultural 13.O Rebelde Alves Ribeiro 14.O Historiador José Calasans 15.Os Modernistas José Maria & Abelardo Romero 16.O Rebelde Clóvis Amorim 95