Agradeça Aos Agrotóxicos Por Estar Vivo

July 30, 2022 | Author: Anonymous | Category: N/A
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1ª edição

2017

 

1. Pulveriza Pulverizando ndo mito mitos s

Há mais de dez anos frequento f requento o mesmo supermercado supermercado — uma espécie e spécie de loja-conceito de uma grande rede varejista — em um bairro ba irro nobre de São Paulo. Paulo. Devo admitir que nunca fui um consumidor ávido por alimentos naturais, mas é impossível não notar que a área reservada aos alimentos orgânicos, aqueles “sem a adição de agrotóxicos”, tem crescido substancialmente nos últimos últi mos anos. Se até pouco tempo tempo atrás os orgânicos estavam restritos a uma geladeira no canto da seção de hortifruti, hortif ruti, hoje eles ocupam lugar de destaque. A oferta de produt produtos, os, então, não dá para comparar. São centenas centenas de itens, desde os tradicionais alface, a lface, açúcar açúca r e café ca fé até produtos produtos sofisticados, como sorbet de manga, cookie de quinoa, aceto balsâmico e tofu. Em uma visita recente à loja, uma conversa me chamou a atenção. Duas mulheres — uma bem novinha, usando roupas de ginástica, e outra mais madura, ao melhor estilo bicho-grilo — falavam com propriedade sobre os benefícios dos aliment ali mentos os orgânicos enquanto garimpavam suas verduras: — Nossa, esses e sses produtos orgânicos orgânicos estão lindos! l indos! Vou Vou levar para fazer um um suco detox 100% natural — disse a jovem ginasta. — Bonitos ou feios, há anos eu só como como orgânicos. Eles são mais seguros seg uros porque são produzidos sem agrotóxicos — respondeu a hippie. — Só assim para pa ra ficarmos livres liv res do veneno! veneno! — Sem dúvida. Eu sinto uma diferença incrível no meu corpo desde que adotei os orgânicos. Além de serem muito mais saborosos. 9

 

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— Concord Concordoo totalmente. Vale Vale a pena pagar paga r um pouco mais mai s caro em nome da saúde. — Eu sonho com o dia em que todas as frutas, fr utas, verduras e legumes legu mes no munmundo serão orgânicos. É possível, eu vi esses dias dia s uma reportagem na televisão.. televis ão.... Olhei para a dupla com cara de reprovação, respirei fundo e... segui para a seção de carnes, carnes , indignado com a quantidade de bobagens ouvidas em tão pouco tempo. As moças não entenderam nada, mas para mim ficou evidente que algo estava errado. Não dá para generalizar, é claro, mas vários dos consumidores de orgânicos que conheço são muito mais do que adeptos da alimentação saudável. São, em muitos casos, ativistas contrários aos produto produtoss produzidos de forma conve c onvencional, ncional, com agrotóag rotóxicos. Diversas pessoas têm isso como uma filosofia de vida, quase uma religião. Não se importam em pagar mais caro “em nome da saúde” nem pensam duas vezes antes de compartilhar informações alarmistas sem qualquer embasamento científico. Você deve conhecer alguém a lguém assim. assi m. Muito provavelmente provavelmente já ouviu histórias de horror envolvend envolvendoo agrotóxicos, mas também t ambém nunca parou para pa ra refletir sobre o assunto. No fundo, fu ndo, você até sente uma simpatia pelos p elos orgânicos, muito em função fu nção das notícias relacionadas relacionadas aos pesticidas nos jornais e na televisão, televi são, que em geral não são nada animadoras. a nimadoras. Você Você não está sozinho. sozin ho. O cenário de medo e desconhecimento, aliados a um tema delicado, como a alimentação, foram alguns dos fatores decisivos para o crescimento dos orgânicos nos últimos anos. Notícias de fontes duvidosas servem de munição para diálogos, como esse que presenciei no supermercado. supermercado. Os mais mai s radicais radicai s pregam como se falassem fal assem a verdade absoluta. O problema problema é que a maioria dos seus argumentos argu mentos não condizem com a realidade. Vamos aos fatos: 1. Não há, na história, história, registro regist ro de morte comprovadamen comprovadamente te relacionada relacionada ao consumo de alimentos convencionais, por ingestão de resíduos. Também não houve aumento nos casos de câncer, apesar do uso intensivo de agrotóxicos nos últimos cinquenta anos. A incidência dos 10

 

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principais tipos da doença se manteve estável entre 1975 e 2009. 1 Por outro lado, os orgânicos foram responsáveis por ao menos 35 mortes e mais de 3 mil casos de intoxicação alimentar pela bactéria E. coli na Alemanha, em 2011.2 2. Não existe qualquer diferença, seja nutricional nutricional ou de sabor, sabor, entre os os 3 alimentos orgânicos e os convencionais.  Isso é cientificamente comprovado. prov ado. Especialistas afirmam afir mam que é difícil dif ícil diferen di ferenciar ciar esses alimentos a limentos mesmo em laboratório, como veremos veremos mais adiante. ad iante. Portanto, na próxima vez que alguém lhe sugerir que há diferença no sabor da salada orgânica, desconfie. 3. Pagar um pouco mais mais caro, não. Pagar Pagar bem mais caro, até 270%.4 Os preços mais altos são explicados pela combinação de dois fatores característicos da agricultura orgânica: produtividade menor e custos operacionais elevados. A escassez de produtos certificados faz com que os valores cobrados pelos orgânicos no varejo sejam inacessíveis à maioria da população brasileira. 4. O futuro não será orgânico. orgânico. Em alta no Brasil, a estimativa é que as  vendas  ven das desses prod produtos utos tenham cheg chegado ado a R$2,5 bilhões em 201 2016. 6.5 Pode parecer muito, mas em relação ao agronegócio brasileiro não é nada. O país produz R$ 5 bilhões apenas em batatas convencionais. convencionais. A produçã produçãoo agropecuária total ultrapassou os R$ 480 bilhões em 2015. 6 Não dá para brigar contra os números. Atualmente, os alimentos orgânicos representam menos de 1% 1% da produção total de ali alimento mentoss no Brasil. E isso não deve mudar muito nos próximos anos. Mesmo em países desenvolvidos, a participação dos orgânicos nas vendas totais de alimentos al imentos é baixa. Na Dinamarca, Di namarca, país pa ís que se autodenomina autodenomina a “nação mais orgânica do mundo”,7 a participação desses produtos no mercado é de meros 7,6%. 7,6%. O que isso quer dizer? di zer? Que 92,4% dos dinamarqueses di namarqueses estão comendo alimentos convencionais todos os dias. E eles não terão qualquer tipo de problema por causa disso, nem agora nem no futuro. Seja no Brasil ou 11

 

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na Dinamarca, Dina marca, os orgânicos orgân icos são, e continuarão sendo, produtos de nicho, com alto valor agregado e oferta restrita. Algo A lgo como alimentos de grife. Desejados, mas totalmente dispensáveis. Na vida real, as preocupações são outras. A maioria esmagadora da população ainda prioriza o preço no momento da compra. E querem sempre produtos com boa aparência, aparência, sem amassados a massados ou buracos causados por ataques de insetos. A relação custo-benefício cu sto-benefício faz com que 99% dos consumidores no Brasil optem pelos p elos aliment ali mentos os convencionais. convencionais. Mesmo representando representando uma minoria, mi noria, existem ex istem diversos movimentos favoráfavorá veis à extinção dos agroquímicos. Esses grupos são com composto postoss por instituições de pesquisa, algumas a lgumas com grande gra nde reputação, reputação, mas que foram foram aparelhadas nos últimos anos e deixara deixaram m a ciência de lado em prol da política; prof professores, essores, que usam o nome de universidades prestigiosas para disseminar dissemina r pesquisas enviesadas, muitas delas questionadas pela comunidade comunidade científica; além de artistas, a rtistas, ativistas pró-orgânicos e outras instituições institu ições regionais menores, responsáveis responsáveis pela disseminação de informações falsas. Os movimentos sociais, que estão longe de ser referência em eficiência e alta produtividade no campo, ca mpo, também estão sempre presentes presentes nas manifestações contra os praguicidas. Os discursos inflamados infla mados dos líderes desses movimentos soam como música para os jovens cheios de ideais, contrários às multinacionais e aos grandes proprietários de terras, mas que não possuem qualquer experiência em produção agrícola e estão menos cientes ainda das consequências que uma proibição do tipo poderia acarretar. Antes de iniciar qualquer qua lquer discussão, é preciso lembrar lembrar que a atual produção brasileira de alimentos orgânicos não seria suficiente nem para abastecer a cidade de São Paulo por alguns dias. Sem os convencionais no mercado, os preços explodiriam. explodiriam. Frutas, verduras verduras e legumes se tornariam iguarias iguar ias restritas aos mais abastados. abast ados. Mesmo assim, em pouco tempo, haveria desabastecimento desabasteci mento de vários vár ios produtos. produtos. Não é preciso ir além a lém para enten entender der que a proibição dos agrotóxicos seria um ato inconsequente. inconsequente. Por esse motivo, na minha opinião, opini ão, isso nunca vai acontecer, especialmente em países que se destacam como grandes produtores e exportadores de alimentos, al imentos, como o Brasil. 12

 

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O problema problema é que vivemos v ivemos um período de debates altament alta mentee polarizados. polari zados. O Fla x Flu, antes restrito às tardes ta rdes de domingo, chegou chegou ao dia a dia das pessoas. Intolerância parece ser a palavra de ordem. Na religião, temos o Estado Islâmico em guerra g uerra contra os “descrentes “ descrentes ocidentais”. ocidentais”. Na Na política, assistimos a ssistimos ao embate entre “petralhas” “petral has” e “coxinhas”. Não existe meio-termo. O mesmo se aplica aos ambientalistas que lutam com unhas e dentes pela proibição proibição dos agrotóxicos. Para esses, é difícil entender que um método de produção não exclui o outro, ou que existe espaço (e mercado) para todos. Se uma pessoa prefere consumir consumir apenas alimentos a limentos orgânicos, ótimo. É uma opção e deve ser respeitada. Da mesma forma, é preciso levar em consideração a preferência dos demais consumidores — a maioria esmagadora, é sempre bom lembrar. Os radicais, porém, não ligam para o que os outros pensam. São os donos da verdade e usam a tática do medo para tentar conv convencer encer as pessoas de que estão certos. Saúde e sustentabilidade são dois dos temas que mais ma is sensibilizam a população nos dias de hoje. Não por acaso, são os mais usados pelos extremistas ext remistas contrários ao uso dos defensivos. O discurso é sempre o mesmo. mesmo. Segundo Segu ndo eles, os agrotóxicos estão envenenando envenenando as pessoas e contaminando o meio ambiente. No entanto, nunca apresentam estudos ou algo concreto que comprove comprove essas teorias. Na maioria dos casos, são s ão acusações baseadas em depoimentos pessoais, suposições e pesquisas que ignoram as metodologias científicas. Mas para alguns profissionais da imprensa, é o suficiente. Uma das primeiras coisas que aprendemos na faculdade de jornalismo é que notícia ruim vende mais. Na era digital, isso significa mais cliques, compartilhamentos e discussões acaloradas, que no fim das contas é o que interessa na briga pela audiência. Sendo Sendo assim, não é difícil di fícil encontrar alguém a lguém disposto a publicar estudos fajutos. Com redações enxutas e jornalistas jornali stas cada  vez menos preparados, preparados, o trabalho trabal ho de divulgação divu lgação fica ainda mais fácil. fáci l. A notícia já chega mastigada, com chamada sensacionalista sensacionalista,, números alarmantes e fontes previamente selecionadas à disposição. Não tem como dar errado. Assim que a reportagem é publicada por algum veículo respeitado, essas informações duvidosas passam a ser replicadas nas redes sociais sem qualquer qua lquer questionamentoo até se transformarem questionament t ransformarem em verdades absolutas. 13

 

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Exemplo clássico disso é a lenda da contaminação do leite materno por agrotóxicos na cidade de Lucas do Rio R io Verde, Verde, em Mato Grosso, um dos prinpri ncipais polos produtores de soja do país. Um estudo divulgado em 2011, sob a chancela da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), dizia d izia ter encon encon-trado substâncias químicas utilizadas na agricultura em 100% das nutrizes do município. De autoria autoria da bióloga Danielly Palma, Palma , o documento afirmava afir mava que em algumas amostras foram encontrados até seis tipos diferentes de agrotóxicos, alguns de uso proibido no Brasil há mais de uma década, como o DDT e o DDE. Um prato cheio cheio para qualquer qua lquer jornalista. O material, que na realidade não era um estudo científico, mas sim uma tese de mestrado,8 foi amplamente divulgado para a imprensa brasileira. O assunto gerou comoção e logo ganhou as manchetes dos jornais. Poucos dias depois,, a pauta chegou ao Bom Dia Brasil , da Rede Globo,9 que fez uma matédepois ria comovente comovente sobre a aflição dessas dessa s mães. “Recebi a notícia de que meu bebê estava tomando leite com veneno, veneno, foi um choque. Perguntei para o médico o que eu tinha que fazer, e ele não soube me explicar”, afirmou Osana Terres, uma das mães, à reportagem. Teria sido uma denúncia grave, uma matéria de grande utilidade uti lidade pública, não fosse um pequeno detalhe: tratava-se de um trabalho tendencioso, com problemas sérios de metodologia e questionado pela comunidade científica. Fundador da Sociedade Brasileira de Química e responsável pela criação do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde, órgão vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Eduardo Peixoto foi convidado a fazer uma análise aná lise técnica do trabalho, traba lho, de forma isenta isenta e com rigor científico, em uma u ma audiência pública realizada na Comissão C omissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara Câma ra dos Deputados, em 3 de julho de 2012. De acordo com o especialista, o material apresentava muitas inconsistências: do número de amostras, apenas 62, 62 , à metodologia aplicada pelos pesquisadores.

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PULVERIZA PUL VERIZA NDO M ITOS Para o leite materno, a Organizaç Organ ização ão Mundial de Saúde (OMS), (OMS), desde 1984, já estabeleceu uma dose diária d iária aceitável ac eitável de DDT e derivados. A soma deles pode ser de até 5 mil a 6 mil mi l partes por bilhão bil hão no leite. leite. Essa quantidade é alta, a lta, mas foi estabelecida pela OMS considerando que a contaminação contami nação em todo mundo era de tatem l ordem que issoinfluência se tornavano uma óbvia Aparentemente, a ser feita, feita , porque,não neste nãotal nenhuma sercoisa humano. hánível, uma correlação direta entre essa concentração e algum problema de saúde... Este estudo também ta mbém tem um problema básico: o leite materno tem cerca de 4% de gordura. E uma coisa é determinar o teor de pesticida de qualquer substância substâ ncia em um líquido com 4% de gordura. gordura. Outra coisa é separar essa gordura do leite. Aí o material materia l de análise aná lise é 100% gordura. Isso muda totalmente os métodos de análise... O número de amostra é um problema sério, porque é justamente a quantidade de amostras amostra s que determina a qualidade do resultado. No universo de 62 amostras só foram quantificados três tipos de pesticidas... Em dezoito dessas amostras foram detectadas DDE, que é um produto de decomposição do DDT no organismo. E o DDT, naturalmente, decai no organismo, metabolizado, boliz ado, numa velocidade média de 10 10 a 15% 15% ao ano. Ou seja, para reduzir reduz ir à metade o DDT que está no nosso organismo eu levo, aproximadamente, dez anos. E, se isso está ocorrendo, é preciso encontrar no organismo o DDT e o produto de decomposição dele. Se eu encontrar a grande quantidade como sendo DDT, quer dizer que a contaminação foi recente, não teve tempo de degradar. Se eu encontrar somente DDE, é um pouco estranho, ainda mais se a concentração for alta, porque deveria ter DDT junto. Mas, digamos, que eu só encontre DDE, DDE, então quer dizer di zer que todo o DDT foi metabolizado, mas isso levou muitos anos. Então, não aconteceu recentemente. Só que, no caso do DDE, DDE, foram encontradas encontrada s dezoito amostras amostra s que tinham tinha m DDE, DDE, e no caso de DDT,, três. Isso DDT Iss o é estranho estr anho porque, p orque, em princípio, princípio, um método bem definido defi nido e muito sensível deveria ter DDT em quase todas, todas , mesmo que em quantidades pequenas... Além do mais, na amostragem, não está claro como foi coletado o leite materno, quem quem transportou, transp ortou, quem limpou, quem analisou todas essas es sas etapas para mostrar que não houve contaminação... Considerando todos esses fatos, temos uma série de incertezas introduzidas, e uma delas é o DDT. Calibrou-se para ele ser detectado em um intervalo aparente de 107 a 153 partes por bilhão; mas, na realidade, ele foi detectado com valores até 9 mil. 15

 

AGRADEÇA AOS AGROTÓXICOS AGROTÓXICOS P OR ESTAR V IVO Quer dizer, eu estipulo o intervalo de medida e meço fora do intervalo. Isso, tecnicamente, não é aceitável. Com o DDE, a mesma coisa... Minha Mi nha conclusão é que o excesso de incertezas introduzidas inviabilizam inviabiliza m estimativa, precisão e exatidão dos valores analíticos que foram obtidos. E, apesar dos méritos e objetivos trabal ho, nem trabalho, que deve ser perseguido, infelizmente os resultados não podem serdoconfiáveis podemos retirar conclusões práticas dele.

A Associação Nacional de Defesa Vegetal Vegetal (Andef), (Andef ), entidade que representa as empresas fabricantes de agroquímicos, já havia solicitado à reitoria da UFMT mais informações i nformações técnicas relativas ao estudo, “como “como cromatogramas, cromatogramas, validações de metodologia e dos picos obtidos obtidos e estatística utili ut ilizada zada com ênfase no tamanho das amostras”,10 logo após a divulgação da tese. Foram três ofícios, registrados em cartório, enviados entre dezembro de 2011 e agosto de 2012, mas até o fechamento deste livro a solicitação ainda a inda não havia sido atendida. Diante de tantas controvérsias, decidi procurar procu rar a reitora da Universidade Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a senhora Maria Lucia Cavalli Caval li Neder. Queria saber a posição da universidade em relação à tese da ex-aluna Danielly Palma e se a reitoria tinha conhecimento dos problemas metodológicos contidos no trabalho. trabal ho. Eu também queria entender melhor a situação do professor Wanderlei Pignati, coordenador do trabalho, que é ao mesmo tempo professor da UFMT e notório apoiador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida. Não haveria um conflito de interesses? No entanto, por meio de sua assessoria de imprensa, a reitoria disse que “não se pronunciaria a respeito respe ito do assunto e que os assuntos científicos são tratados diretamente com os pesquisadores”. A recomendação: falar com o próprio Pignati. Foi o que fiz. Logo no primeiro contato, ao saber que seria questionado sobre as supostas falhas na metodologia do trabalho, Pignati passou a desqualificar os críticos, afirmando afir mando que eles trabalhavam para as indústrias de agroquímicos. “Quem deve falar isso é o professor da Unicamp, que trabalha para a Basf, e o outro professor da Esalq-USP, Esalq-USP, que trabalha traba lha para a Basf e outras indústrias de agrotóxicos. Eles sempre vão falar que tem falha. Mas eles não fizeram 16

 

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outra pesquisa para pa ra falar fa lar se tem ou se não tem”, tem”, alegou. Perguntado sobre as declarações específicas de Eduardo Peixoto na audiência pública, seguiu na mesma linha: “Ele só é professor da USP? Não. Ele é assessor das indústrias químicas. Assessor de quem fabrica agrotóxico”, acusou Pignati, mais uma  vez sem responder aos questionamentos sobre as fal falhas has nem apresentar as informações técnicas referentes à pesquisa. Com erros metodológicos ou não, a mensagem que ficou para a população populaç ão é a de que o leite materno está contaminado contaminado por agrotóxicos. É a notícia ruim rui m que vende. Até Até por isso, não há o interesse da imprensa i mprensa em investigar o caso a fundo. fu ndo. O outro outro lado raramente rara mente é ouvido — e quando é, acaba retratado como  vilão  vi lão da história. Como no Brasil Brasil a maioria da população acredita em tudo o que vê na televisão, o caso do leite materno se transformou tra nsformou em uma verdade absoluta. absolu ta. Mesmo as pessoas mais ma is bem-informadas, que poderiam poderia m questionar a fragilidade frag ilidade dos resultados, ficam com a pulga atrás da orelha em relação aos agrotóxicos devido à falta de informações isentas. Estudos tendenciosos só servem para gerar desconforto nas pessoas, do contrário não chamariam a atenção nem ganhariam espaço na mídia. Em geral, esses trabalhos não apresentam alternativas viáveis para os problemas apontados. O objetivo é apenas criar um clima de medo. No caso do leite materno, por exemplo, qual seria a opção? Suspender o uso de defensivos químicos em Mato Grosso, estado que se desenvolveu desenvolveu à custa c usta do agronegócio a gronegócio moderno e é hoje um dos principais produ produtores tores de grãos do país? pa ís? Impossível. Isso nunca vai va i acontecer, mesmo em um cenário pouco p ouco provável de proibição proibição total dos agroquímicos no Brasil. O motivo? As pragas, principais inimigas da agricultura desde o antigo Egito. Nos grandes centros urbanos, urba nos, onde se concentra a maioria dos críticos crít icos aos agrotóxicos, pouca gente sabe como os aliment ali mentos os são produzidos e que, assim como os humanos, as plantas também ficam doentes e são atacadas por insetos. A presença de moscas e lagartas na lavoura, quando em baixo número, é normal e até saudável para a biodiversidade local. O problema surge quando a população de pragas cresce devido à falta de predadores e passa a causar 17

 

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impactos econômicos aos produtores. Elas são insaciáveis e se multiplicam rapidamente. A falta de um controle rápido e efetivo pode gerar prejuízos gigantescos, especialmente em grandes áreas. Uma fazenda opera exatamente como uma empresa. Antes de vender qualquer coisa, é preciso contratar funcionários, fazer investimentos para a aquisição de sementes, insumos, máquinas, entre outros custos operacionais. A colheita é feita meses após o início i nício do processo. Imagine que, nesse meio-tempo, a lavoura lavoura passe a sofrer com o ataque de pragas. Cada planta pla nta devorada significa uma u ma redução na produção produção total, o que impacta diretamente di retamente no lucro lucro ao final da safra. É o “salário” do produtor que está em jogo. Agora me diga: como convencer essa pessoa a deixar de usar os produtos químicos, sabidamente eficientes, eficientes, diante dia nte de uma situação situaç ão como essa? Estabelecendo relação com uma atividade urbana, é como se você tivesse uma loja de carros e deixasse toda a sua frota em pátio descoberto. Um belo dia cai uma tempestade e o granizo danifica a lataria de todos os carros. O prejuízo é enorme. Qual Qua l a atitude mais ma is lógica neste momento? momento? Comprar um toldo para proteger o seu patrimônio. O toldo é feio e custa caro, mas vai proteger os veículos e evitar novos prejuízos no futuro. A cobertura, neste caso, seria um “defensivo “ defensivo automo automotivo” tivo”.. Na fazenda fa zenda é a mesma coisa. Nenhum agricultor usa agrotóxicos porque gosta ou acha bonito. Ele usa porque é necessário para proteger a sua produção. Se fosse possível plantar em larga escala sem o uso de defensivos químicos, os produtores produtores certamente certa mente o fariam. Seria uma economia e tanto. Distantes da realidade no campo, porém, os idealistas pregam uma volta às origens. Eles acreditam que a agricultura orgânica é capaz de alimentar o mundo, assim como era no tempo de nossos avós, e que por isso os agroquímicos seriam dispensáveis. Esquecem que a população mundial atual é imensamente maior — passou de 3 bilhões em 1960 para 7,3 bilhões em 20166 — e seguirá 201 seg uirá crescendo nas próximas décadas. Em E m 2050, de acordo com a Organização Organiz ação das Nações Unidas, seremos 9,7 9,7 bilhões. Até 2100, a população mundial deve ultrapassar ultrapassa r a marca de 11 11 bilhões de pessoas.11 Será que dá para alimentar ali mentar toda essa gente apenas com orgânicos? 18

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