Adonai Agni Assis

March 31, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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Um samba nunca terminado: a sociedade brasileira e o samba do do início do século XX

 Adonai Agni Assis1   Resumo Esse artigo  tem o objetivo de investigar a trajetória do samba no Rio de Janeiro do início do  século XX. Trare rem mos episódios que marca rcaram a construção do gênero e sua relação  com a sociedade pós-escravista e capitalista. A partir de breves ceoxp rreriê ela çnõci eas s dceon   dens fatnsad osadas has is tónraicfig qauda e dbaia erian am igeCi mata ssagu amguan baand , dovnearein mdúst osstri aas xper iên cias onde fiogsur ura ba na oTria Ciat aa,ode desa indú ria cultural protagonizada  pelo samba PELO TELEFONE de Donga e Mauro de  Almeida.

Palavra chave: Samba. Indústria Cultural. Tia Ciata. Donga. Pelo Telefone.

“Vela no Breu ”2   Esse artig igo o  te tem m a proposta de inv investigar episódio ioss histór tóric ico os que consolid ida aram o samb sa mba a como como   ma mani nife fest staç ação ão cult cultur ural al e ar artí tíst stic ica a de gran grande de rele relevâ vânc ncia ia na lu luta ta do negr negro o em busca  de dignidade, empoderamento e pertencimento ao desenvolvimento socioeconômico brasileiro.

1

 Músico, compositor e arte educador - Programa Fábricas de Cultura de São Paulo. Graduado em Economia - Universidade Metodista de São Paulo. [email protected]   2  PAULINHO DA VIOLA, 1976

 

Traremos a  tona fatos históricos que acompanham a construção do Brasil como nação, pretendendo  assim, traçar um paralelo entre a sociedade brasileira e o samba do do do início do século século XX.  Alguns acontecimentos  significativos do início do século XX aprofundaram nossa leitura sobre  a trajetória que veio a estabelecer o samba no Rio de Janeiro, nos exigindo assim,  uma breve incurs rsã ão à Bahia do século XV, lugar onde a população negra aflorou  a ri riq queza cultural herdada de seus ancestrais africanos tra trazendo à tona tradições  re rellig igiiosas e culturais. Dentre esses acontecimentos destac tacamos fa fato tore ress inte intern rnos os  como como:: fifim m do re regi gime me es escr crav avoc ocra rata ta,, in inse serç rção ão do ne negr gro o na soci socied edad ade e capitalista, migração  do nordeste para o sudeste, economia cafeeira no vale do paraí araíb ba; e  fa fato tore ress ex exte tern rno os: muda mudanç nça a de eix ixo o de he hege gem mon onia ia cul ultu tura rall europ uropéi éia a para para os EUA e desenvolvimento tecnológico.  A bagagem  cultural levada pelos negros ao Rio de Janeiro do início do século XX, com se seus us  fe fesste tejo joss po popu pula lare ress, fe fessta tass de ru rua a e fe fesstas tas nas cas asas as da dass bai aian anas as da daq que uela la época são  justamente o cenário onde surge a icônic ica a Tia Ciata. Nascida na Bahia, vindo a  morar no Rio de Janeiro do século XIX, sua casa é o nascedouro do prim rimei eiro ro sam amba ba  gra rava vado do a fa fazzer suc uces esso so,, PEL ELO O TEL ELE EFONE FONE,, marca arcand ndo o a in insserçã erção o do gênero na emergente indústria cultural. PELO PE LO TE TELE LEFO FONE NE fo foii ma maté téri ria a de muit muita a di disc scus ussã são o refe refere rent nte e a sua sua auto autori ria, a, ce cens nsur urad ado o por parte  do órgãos institucionais e utilizado por parte da mídia e publicidade da época em razão de seu sucesso.  A partir  desses resgates histórico pretendemos refletir sobre as resistências e difi ificuldades de  negociação que o negro enfrentou tou para que sua produção cultural fosse reconhecida e valorizada na sociedade brasileira.

 

  “Velhos “Velh os man mantras tras de aruan aruanda” da”3   O “e “enc ncon ontr trão ão”, ”,  da dado do ge gera ralm lmen ente te com com o um umbi bigo go(s (sem emba ba,, em dial dialet eto o ango angola lano no)) mas também  com a perna, serviria para caracterizar esse rito de dança e samba. a. No Noss quil quilom ombo bos, s, batuque, e  mais tarde dar-lhe um nome genérico:   samb nos engenhos,  nas plantações, nas cidades, havia samba onde estava o negro, como  uma inequívo ívoca demonstração de resistência ao imperativ tivo soci socia al( l(e escra scrava vag gis ista ta)) de  re red duç ução ão do corp corpo o ne neg gro a um uma a máq áqu uina ina produ roduti tivva e com uma  afirmação de continuidade do universo cultural africano. (SODRÉ,1998,, p. 12) (SODRÉ,1998

Guardado no  imaginário dos sambistas e suas composições, o samba nasce do encontro forçado  de diversos povos africanos, construindo uma forma social de re ressis istê tênc ncia ia a  fim fim de supo port rtar ar ta tam manha anha do dorr da pri rivvação ação da lilib berda erdade de,, casti astigo goss fís físic ico os e mentais, is,  saudade da famíli ília e da terra de origem. Os escravizados cria iarram uma forma de  estabelecer uma conexão com seus pares, tra trazendo lembranças da mãe  África, iniciando  uma irmandade de povos tão diferentes, reinventado a África nas  Américas. Do ritmo  e da dança começa-se a composição textual:  Aruanda”, moldando  a construção

“Velhos mantras de

sonora do samba que conhecemos hoje,

construindo a  identidade brasileira, surgindo como movimento sócio-cultural e religioso na  luta do negro por liberdade e dignidade que atravessa até os dias de hoje.  Através de  eufemismo religiosos que ganhariam tradição e complexidad complexidade e na vida brasileira,  seja nas festas populares retraduzindo as franquias governamentais para  o melhor controle da massa cativa, o negro havia co cons nseg egui uido do mant manter er  as aspe pect ctos os cent centra rais is de suas suas cult cultur uras as,, fund fundan ando do trad tradiç içõe õess qu que e se  in inco corp rpor orar aram am de mo modo do pr próp ópri rio o na aven aventu tura ra bras brasililei eira ra.. (M (MOU OURA RA,, 1995 1995,, p. 18)

 Composição de Paulinho da viola.

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RCA, 1996. 

Bebadosamba. Bebadosamba. Rio de Janeiro,

 

Nei Lopes,  sambista, compositor e escritor nos oferece um ponto de vista etno etnomu musi sico coló lógi gico co pa para ra  deci decifr frar armo moss quai quaiss in ingr gred edie ient ntes es gera gerara ram m o sa samb mba. a. Nã Não o ca cabe be aqu quii di disscorr corre er  so sobr bre e cada cada nar arra ratitiva va,, “a lin linha evol evolu utitivva” propo ropost sta a pel elo o sam ambi bissta no noss serve de  ponto de partida para elencarmos episódios que marcaram a história do samb sa mba. a. Ca Cada da  tó tópi pico co é um cale caleid idos oscó cópi pio o de pont ponto o de vi vist stas as,, op opin iniõ iões es,, di dive verg rgên ênci cias as e paixõe paix ões, s, tr traz azen endo do  pr prec ecio iosa sass re reflflex exõe õess so sobr bre e a cons constititu tuiç ição ão do sa samb mba a na so soci cied edad ade e pós moderna. Traçando a  linha evolutiva que vem do batuque de Angola e do Congo até o pa part rtid idoo-al alto to,, vamo vamoss  en enco cont ntra rar: r: a) a)pr prim imei eiro ro,, o lund lundu u bail bailad ado, o, da dand ndo o orig origem em ao lu lund ndu u pu pura rame ment nte e  canç canção ão do doss salõ salões es impe imperi riai ais, s, ao aoss samb sambas as rura rurais is da Ba Bahi hia ae de São  Paulo, a um lundu campestre ainda dançado, e a outras man anif ife esta staçõ çõe es; b)  de dep pois is,, toda todass essas sas expre xpress ssõ ões(c s(com a chul chula a do sam amb ba baia aiano ganha han ndo  sta status tus de man aniifes festaç tação au autô tôn noma) con confl flu uind indo para o que ch cham amar arem emos os da “p “peq eque uena na Áfri África ca da Praç Praça a On Onze ze”, ”, on onde de o nú núcl cleo eo irra irradi diad ador or foi foi a casa casa  de Ti Tia a Ci Cia ata; ta; c) dep epo ois is,, aind nda a, o sam samba ama maxxix ixa ado da pe peq quen ena a Áfri África ca dando origem  a o samba de morro; d) finalmente, esse samba de morro diacnoçtoam b,aneo(eam ppaarrttiirdod-oaltoE,sptárcóipor)i,o praórparisoerpcaarantasdeor  doizaed  coanetamd oseambcaortuerjo em roda.(LOPES,1992, 47)

Sendo o  samba uma manifestação herdeira das tradições culturais

africanas,

qua ualq lque uerr fo form rma a  de eur uro opeiz peizaç ação ão se dari daria a com omo o form forma a de ne nego goci ciaç ação ão,, resi resisstênc tência ia e sobr so brev eviv ivên ênci cia a a soci socied edad ade e es escr crav avoc ocra rata ta.. Es Essa sa resi resist stên ênci cia a po pode de ser ser nota notada da quan quando do o gên êner ero o pas assa sa  a cump cumpri rirr outr outra as fu fun nções ções socia ociais is em uma socie ocied dade ade pó póss-es esccravi ravissta e passa se desenvolver dentro da lógica da sociedade de consumo no século XX.

Indústria fonográfica no Brasil O início  do século XX traz novas maneiras de se comercializar música no Brasil e no mundo.  Antes disso o mercado da música se dava através de vendas de partitu ituras ras, encomenda  de músic ica as para teatro de revis istta, festiv iviidades, incluindo re reliligi gios osas as,, em  um am ambi bien ente te onde onde er era a nece necess ssár ário io o co conh nhec ecim imen ento to de le leititur ura a e escr escritita a de partitura.  Lugar não inc incomum para os negro ross cativ tivos que aprendiam o ofíci ício da música seja  por imposição de fazendeiros abastados que possuíam bandas de escravizados para  seu próprio deleite ou fazendeiros menos abastados que

 

permitiam aos  negros exercerem profissões liberais na cidade a fim de comp co mple leme ment ntar ar a re rend nda a de seus seus se senh nhor ores es,, po pode dend ndo o as assi sim m se de dedi dica carr ao apre aprend ndiz izad ado o da música paralelo a suas profissões . Com o  desenvolvimento tecnológico, a criação do disco e a possibilidade de sua fa fabr bric icaç ação ão em  sé séri rie, e, pr prot otag agon oniz izad ada a pelo pelo al alem emão ão em emig igra rado do pa para ra EUA EUA Emil Emile e Berl Berlin iner er,, supera o  cilindro de Thomas Edison e começa-se a produzir e a vender disco de música popular.  Através da  criação da Casa Edison, primeira   grav gravad ador ora a bras brasililei eira ra fund fundad ada a em 1902 1902 por   Frede rederi ricco  Fig Figne nerr no Rio Rio de Ja Jane neir iro o, su surg rgem em os prim prime eir iro os reg regis istr tros os fon fonográ ográfificcos prot protag agon oniz izad ados os por por  Baia Baiano no,, Edua Eduard rdo o das das Ne Neve ves, s, Má Mári rio o Pi Pinh nhei eiro ross e os Ge Gera rald ldos os qu que e inundavam os  catál tálogos de modinhas, lundus, chula lass, tan tangos, duetos e canções, além de novos gêneros que passam a chegar dos EUA. Essas gravações  porém não atingiram as classes sociais mais baixas, pois os gramofones4, disc discos os e cilindros eram de vvalor alor totalmente totalmente in inacessível. acessível.   Essa realidade  passa a mudar em 1914, período da primeira guerra mundial, qua uand ndo o os  Est sta ados dos Unid Unidos os to torn rna am-s m-se par arccei eiro ro comerc mercia iall do Bras rasilil,, garan arantitid do pela pela compra de  café. Essa mudança a princípio foi sentida apenas pela elite e classe média formada  por imigrantes europeus e asiáticos que migraram para a região centro-sul-sudeste do  Brasil e antiga classe média formada por burocratas, passando assim a consumir cultura norte-americana, seja pelo cinema ou jazz.

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 Equipamento necessário para reprodução de discos e cilindros

 

A música da classe baixa No me mesm smo o  perío eríod do do séc écul ulo o XX ond onde se in inic icia ia a in ind dús ústr tria ia fon fonog ográ ráfificca, faz fazen endo do que a elite  brasileira consuma música americana e posteriormente a classe média, a classe baixa  em sua maioria ex-escravizados vive um período de intensa criatividade.  Atraídos pelo  indústria do café (sobretudo sobrevivência), migrações do nordeste para ara Rio  de Jan anei eiro ro oco corr rre era ram m massi assiva vame ment nte e à part partir ir da me meta tade de do sécul éculo o XIX, IX, em sua maioria  baianos que ocupavam a região da praia do Valongo onde se desembarcava quem  chegava do mar. Acostumados à vida rural, vinham para a cidade em  busca de novas perspectivas de vida: baianos, sergipanos, pern pe rnam ambu buca cano noss e alag alagoa oano noss pr proc ocur urav avam am mane maneira irass cria criativ tivas as de resi resist stir ir às co cond ndiç içõe õess precárias dos porões de aluguel, barracos de madeira e latas. Nesse contexto,  de dezembro à fevereiro, ressignificam-se as manifestações culturais afro-nordestinas: Numa su Numa suce cess ssão ão  in inco cont ntáv ável el de pe pers rson onag agen enss vi viri riam am past pastor oris is o pers person onag agem em do velho, dos  ranchos de Reis a burrinha, o boi e o “homem do bicho” e dos grupos de  caboclinhos nordestinos os turbulentos caboclos, molecões vestido de  malha com tangas de penas(...) bumba meu boi(...) marujos de ch cheg egan ança çass le leva vand ndo o  ba barc rcos os em char charol ola, a, além além de verd verdad adei eira rass cong congad adas as com com maracas, caixas,  tambores, e um canto guaiado e banzeiro (TINHORÃO, 1998, 279)

Ranchos e  cordões desfilavam pelas ruas do rio de janeiro, sempre com forte repressão policial.  Para encontrar uma forma de se divertir sem empecilhos reuniam-se nas  casas

de baianas bem sucedidas. Vendendo doces, essas

mulheres conseguem  sustentar suas famílias e passam a fazer festas dentro de suas casas.

 

 

África Bahia  Aruanda chegou chegou O mar separou Senhor, meu senhor Negro Negr o tu tudo do d deixo eixou u5

  Dado o  caminho onde compartilhamos uma definição de origem do Samba, delineamos o  início da indústria fonográfica do Brasil e tratamos de historicizar a música da  classe baixa no Rio de Janeiro do início do século XX, faremos uma imersão ao  século XV início da escravização no Brasil para assim conseguirmos avançarmos no entendimento da inserção do samba cultura brasileira no século XX. Do século  XVI ao XIX, o tráfico transatlântico trouxe em cativeiro para o Brasil quatro  a cinco milhões de falantes africanos originários de duas regi regiõe õess da  Áfri África ca subs subsaa aari rian ana: a: a re regi gião ão ba bant nto, o, si situ tuad ada a ao long longo o da exte extens nsão ão sul da  linha do equador, e ao região oeste-africana ou “sudanesa”, que abrange territórios territórios que vão do Senegal à nigéria6.

  No fina finall  do sé sécu culo lo XV XV,, in inic icia ia-s -se e a expl explo ora raçã ção o das terr terra as brasi rasile leir iras as ten tendo como omo mã mão o de obra obra  esc scra ravi vizzad ados os vin indo do do cont contin ine ent nte e af afri riccano: ano: “O pri rime meir iro o neg egre reir iro o apo port rta a na te terr rra a bras brasililei eira ra  ant ntes es mesm mesmo o que se esta estabe bele leçça o go gove vern rno o ge gera ral” l”(M (MO OUR URA A, 19 199 95, p. 19). Em  sua maioria vindo “da Guiné”: mandingas, berbecins, felupos, achatis, berberes e  de outras etnias, conhecidos como bantos, imprimiram seus traços cultu ultura rais is na  nasc nascen ente te soc ocie ieda dade de br bras asililei eira ra apro apropr pria ian ndo do-s -se e do cal alen endá dári rio o cató atólilicco, criando fortes  tradições festeiras dos bantos. Os escravizados a princípio eram encaminhados para  as plantações de açúcar do nordeste e ao final do século XVI para pa ra as mi mina nass de ouro ouro re rece cent ntem emen ente te de desc scob ober erta tas. s. “A “Até té a segu segund nda a dé déca cada da do sécu século lo XVIII os  traficantes baianos eram os principais fornecedores de trabalhadores esc scra ravviz izad ados os par ara a  as min inas as”. ”. ( FLOR LOREN ENTI TINO NO;; RIBEI IBEIRO RO;; SILVA ILVA,, Da Dani niel el D. B, 2004 2004,, 1) 5

 O primeiro samba enredo do carnaval de São Paulo, GRES Nenê de Vila Matilde 1956.   CASTRO,Yeda Pessoa de. Influência das línguas africanas no idioma Brasileiro. Brasiliano.

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Julho de 2008. https://brasiliano.wordpress.com/2008/07/09 /influencia-das-linguas-africanas-noidioma-portugues-brasileiro/. 20/05/2018

 

Por me Por meio io do Cami Caminh nho o Ve Velh lho, o, qu que e liliga gava va o Ri Rio o de Jane Janeir iro o à regi região ão mine minera rado dora ra através de  Paraty, gastava-se de 43 a 99 dias, dependendo do número de paradas, o  que tornava pouco competitivo comparativ tivamente à rota que, através do  rio São Francisco, unia Salvador à Gerais. (FLORENTINO; RIBEIRO; SILVA, Daniel D. B, 2004, 5)

Há cerca  de séculos, negros escravizados em sua maioria bantos chegaram ao port po rto o de  Sa Salv lvad ador or.. Há di dive vers rsas as comp complilica caçõ ções es ad advi vind ndas as da come comerc rcia ialiliza zaçã ção o de sere seress humanos, reduzidos  a mercadoria em um ato de crueldade extrema que nossa hist histór ória ia glob global al  pôde pôde vive vivenc ncia iarr envo envolv lven endo do pa país íses es euro europe peu u como como:: Fran França ça,, Ingl Inglat ater erra ra,, Holanda e  Portugal e alguns reinos africanos. Agajá, Rei de Daomé, conquista o Porto de  Ajudá, costa do ocidental africana, com isso negros de outras etnias passam a predominar: Os sudaneses: Os iorubás  ou nagôs ganham prestígio no meio negro, assim como os ipr slisio am ineir zairos dos os de vin  guer doerra s ra, do, vi ondo utrooen latre deo,el ces omne agros checult galtos dos, a , rcons ecnsci encien teente etemdo acvalo içalorrdde os pris ione gu vind entr eles negr os cu co va suas culturas  expressas por elaboradas filosofias e práticas religiosas. (MOURA, 1995, p. 20)

Pelo séculos  que se avançam, o regime escravocrata passa por constantes ameaças e  rebeliões internas tendo a Revolta dos malês, seu expoente mais narrado na  lite iterat ratura marcando a subdivisão de etni tnias afri fricanas entre tre os bantos tos e sudaneses (iorubas  e malês). Muito se atribui a capacidade de organização dos sudaneses ao  Islã, religião o qual algu lgumas nações dentre ela lass os malês (hauçás) eram praticantes. Porém orém,, qua uand ndo o  se apo pont nta a os io ioru rub bás e mal alês ês como omo cu cultltu uras ras sup uper erio iore ress ao aoss bant bantos os,, devi de vido do ao  letr letram amen ento to,, co conc ncei eito to esta estabe bele leci cido do de na naçã ção, o, códi código goss cult cultur urai aiss e reli religi gios osos os mais complexos  e capacidade de organização, tal ideia de superioridade é que uest stio ion náv ável el,, bei eira rand ndo o  a uma uma fa face ce do pre reccon onccei eito to que que o pensa ensame men nto euroc urocên êntr tric ico o te tem m quan quando do  nã não o enco encont ntra ra iden identitififica caçã ção o com com sua sua cult cultur ura, a, de defifini nind ndo o as assi sim m soci socied edad ades es superiores e inferiores.

 

Na Bahia  do século XVII e XVIII, cria-se um caldeirão de diversidade cultural afric frican ana a. Nessa essa  mist mistur ura a enc ncon ontr tra am-se m-se man anifife estaç staçõe õess cul ultu tura rais is bant banto o de cul ulto to aos ance an cest stra rais is e  gr gran ande dess pers person onag agen enss das das comu comuni nida dade des, s, di diál álog ogos os de resi resist stên ênci cias as que que ass ssim imililam am fe fest ste ejo joss  bant bantos os ao cale calen ndári dário o cató católilico co,, a reli religi gião ão dos ori rixxás dos dos Ioru Iorubá báss conhecida como  Candomblé organizada no Brasil de forma diferente ao ritos africanos e o caráter aguerrido do malês amparados pela cultura islã.  A população  negra se dividia em escravizados, alforriados que mantinham algumas obrigações com  os senhores, e libertos. Interferindo no cotidiano da sociedade baiana com  seus batuques, cantos, dança-luta aos domingos e dias de festa na praça da  Graça, sempre com situação hostil com a polícia e as legislação proibicionistas para tais festejos.

Rio de Janeiro e a casa de Tia Ciata Nas asci cida da em  18 1854 54 em Sa San nto Ama maro ro da Pu Puri rififica caçã ção, o, in inic icia iada da no Can Candomb domblé lé ai aind nda a na Bahia no  terreiro IIê Iyá Nassô, Tia Ciata chega ao Rio de Janeiro por volta de 1870 trazendo toda bagagem cultural e espiritual do recôncavo r ecôncavo baiano.  A vivência  de muitos como alforriados em Salvador — de onde trouxeram o apren prend diz izad ado o de  ofíc ofíciios urb rba ano nos, s, e às veze vezess algu algum m dinh inheiro eiro pou oup pado — , e a experiência de  liderança de muitos tos de seus membros — em candomblés, ir irma man nda dad des, nas  junta ntas ou na or orga gan niz izaç açã ão de grupo ruposs fes festei teiros ros — , seri seria am a garantia do  negro no Rio de Janeiro. Com os anos, a partir deles apa pare rece ceri ria am as  nova vass sín síntes teses dess ssa a cult cultu ura negra no Rio de Jan Janeiro iro,uma ,uma das pri princi ncipai paiss ref referê erênci ncias as civ civili ilizat zatóri órias as da cul cultur tura a nac nacio ional nal mo moder derna na.(M .(MOUR OURA, A, 1995, p. 44)

Tia Ciata,  inicialmente, morou no centro do Rio de Janeiro em um cortiço. Com o proc proces esso so de  de desa sapr prop opri riaç ação ão co com m a polí polítitica ca “b “bot otaa-ab abai aixo xo”” co conj njur urad ado o co com m mora morado dore ress da classe  média e elite da região que atribuíam a insegurança e doenças aos moradores desses  cort rtiiços , tia tia Ciata muda-se para Zona Norte, em fren rente à Praç raça Onze, nze, perma ermane neccendo ndo  at até é sua sua mor orte te,, em 1926 1926,, lu luga garr ond nde e esta stabe bele lece ceuu-sse com se seu u marido João  Batista. Ele foi chefe de gabinete da chefia da Polícia, cargo

 

con onse segu guid ido o gra raçças  ao co conh nhec ecim imen ento toss espi espiri ritu tuai aiss de Ti Tia a Ci Ciat ata a que curou urou um uma a feri ferid da resistente a medicamentos tradicionais do então presidente Venceslau Brás.  A baiana  obtinha seu seu sustento e de seus vinte e seis filhos junto ao João Batista atra través de  vendas doces e aluguel de roupas, posteriormente coorde rdenando uma equipe de vendedoras de seus quitutes.  A casa  de   seis quartos, duas salas, um longo corredor e quintal com árvores era lugar de  encontro e festas que serviam como divulgação de sambas e também parada obrig rigatória  dos ra ran nchos que saía íam m pela cid ida ade, tal era a consideração por  Tia Ciata. Foi ness nessa a cas asa a que que Do Dong nga, a, filh filho o da baia baiana na tia tia Améli mélia, a, am amig iga a de Ti Tia a Ci Ciat ata, a, en enco cont ntro rou u inspiração para  o samba PELO TELEFONE, composição controversa que gerou muita discussão, sobre a qual trataremos no tópico t ópico adiante. Rec econ onhe heççamos amos a  im impo port rtân ânci cia a da ma matr tria iarc rca a tia tia Cia iata ta como omo fifigu gura ra ce cent ntra rall de onde onde se desenvolveu o  samba nos dias de hoje, porém, podemos citar tantas outras baianas: tia  Amélia do Aragão (Amélia Silvana de Araújo, mãe de Donga), tia Pre reci cililian ana a do  Santo anto Amar Amaro o (P (Pre reci cililian ana a Mari Maria a Co Cons nsta tanç nça, a, mãe de Jo João ão da Bah ahia iana na), ), titia a Môni Mônica ca,,  titia a Be Bebi bian ana, a, titia a Gr Grac acin inda da (e (esp spos osa a do sace sacerd rdot ote e is islâ lâmi mico co As Assu suma mano no Mina Mina do Bras rasil),  ti tia a Sadata e tia Tereza. Esta última, alé lém m de vender doces, abrig iga ava em sua casa  órfãos e viúv iúvas e foi homenageada com um samba composto pelo filh lho o de tia Gracinda, Didi: Esta gente enfezada Que nas pernas tem destreza Vem cair na batucada Na casa da tia Tereza. Baiana do outro mundo Eu sinto a perna bamba O meu prazer é profundo  Aqui na roda do samba7  7

 GOMES, Fábio. Tia Ciata.  Geledés. Outubro tia-ciata/. 25/05/2018 

de 2009.https://www.geledes.org.br/

 

Um samba nunca terminado”8    Em 1917,  o samba marca sua inserção na indústria cultural por meio da gravação da música  PELO TELEFONE. Outros gêneros próximo ao samba já haviam sido gravados, em  1902, o lundu9 ISTO É BOM, música do cantor   Xi Xissto Ba Bahi hia a, e outra utrass gravações como EM CASA DE BAIANA de Alfredo Carlos Brício. Por sua sua  vez ez,, es este tess sam amb bas nã não o co cons nseg egui uira ram m obte bter o suc uces esso so de PEL ELO O TELE TELEF FON ONE, E, uma música  híbrida sob influência de muitos gêneros, como relata José Ramos Tinhorão: Em 1917,  quando o sucesso da composição intitulada “Pelo Telefone” chamou a  atenção para o ritmo do samba, o que havia muito tempo andava aqu quii e  al alii em tan tantas tas comp compo osi siçõ çõe es, veri verifi fico cou u-se -se que mús úsic ica a reu reunia nia - com como em uma colc colch ha  de reta etalh lho os- remi emini nisc scê ênci cias as de batu atuque ue,, estri stribi bilh lho os de fol folcl clor ore e baiano e sapecados do maxixe carioca. (TINHORÃO, 1966/97,19)

 A história  por trás desse samba faz jus ao seu sucesso, desde a sua polêmica reivindicação de autoria, censura e apropriação da mídia e publicidade da época. Em 1913,  Irineu Marinho, diretor do jornal A NOITE, produz diversas matéria sensacionalistas sobre  um jogo que se popularizou no Rio de Janeiro: o jogo de pin ingu guel elim im,, uma  espéc spécie ie de “r “rol olet eta a de po pobr bre” e”.. As maté matéri rias as in incclu luía íam m críti rítica cass ao entã então o che hefe fe da  po polílíccia ia,, Belis elisá ári rio o Távor ávora a, que segun egundo do o jo jorn rna al, vi vivvia em coniv onivê ência ncia com com os contraventores. O assunto  em questão chegava as rodas de samba da casa de Tia Ciata fazendo parte dos  versos e improvisos dos sambistas, não sendo, portanto, uma versão definitiva.

 PAULINHO DA VIOLA, 1996    Dança brasileira de origem africana (LOPES, 2003, p. 127)  127) 

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Donga, frequentador  da casa, aproveita itando a eferve rvescência do assunto, escolhe alguns motivos  melódicos folclóricos. Em parceria com o

repórter Mauro de

 Almeida, autor da letra, criam o samba PELO PELO TELEFONE. O Chefe da polícia Pelo telefone manda me avisar Que na carioca tem uma roleta para se jogar

O samba  foi gravado no período que antecede o carnaval, em 1917, narrando as hist histór ória iass da daqu quel ele e  te temp mpo, o, envo envolv lven endo do popu popula lare res, s, ch chef efe e da políc polícia ia e cont contra rave vent ntor ores es.. A mús úsic ica a vira ira su suce cess sso. o. Entr Entre e os mot otiv ivo os, pode podemo moss atri atrib bui uirr a chac hacota ota e a de denú núnc ncia ia aos aos pol olic icia iais is da  épo pocca, que po poss ssuí uíam am um uma a re rela laçã ção o de vio iolê lên nci cia a e arbit rbitra rari rie eda dade de co com m as camadas populares, em sua maioria ex-escravizados da época.  A versão  registrada e gravada com a voz de Baiano porém foi uma versão auto censurada: O Chefe da folia pelo telefone Manda avisar, Que com alegria Não se questione, Para se brincar

Donga, além  da auto censura ra,, trouxe tal talvez de forma inconsciente in infflu luê ências do max axix ixe, e, gên gênero ero  musi musiccal já con onso solilid dad ado o par ara a époc época, a, rece recebe bend ndo o mai aior or ace ceitita açã ção o do público. Contudo a  cria iaçção de Donga com Mauro de Almeida passa a ser questionada pelos frequentadores da  casa de tia Ciata. Às vésperas do carnaval, foi veiculada uma nota no  JORNAL DO BRASIL com uma nova versão do samba, divulgando uma apresentação na  avenida Rio Branco sob autoria de João da Mata, o maestro Germano, Hilário e a própria tia Ciata, com arranjo do pianista Sinhô :

 

Pelo Telefone  A minha boa gente gente Mandou avisar Que o meu bom arranjo Era oferecido para se cantar (...) Ó que caradura De dizer nas rodas Que esse arranjo é teu! É do bom Hilário Que Qu eoS Sin inhô hô e esc scre reve veu u10

  O samba  fo foii apropri ria ado por muitos oportunist istas. Corriam boatos de que ele estava dando muito  dinheiro a Donga. Versões parodiadas de jornais, propaganda de cerv ce rvej eja a e  ve vers rsõe õess ch chan ance cela lada dass pe pelo lo pr prec ecur urso sorr da in indú dúst stri ria a cult cultur ural al no Ri Rio, o, Pasc Pascho hoal al Segreto, aproveitaram-se ao máximo do sucesso estrondoso da música. Um divisor  de águas da nascente música popular brasileira. Todas as lendas e imprecisões acerca  de PELO TELEFONE aumentam ainda mais a curiosidade sobre o samba e suas maneiras de inserir-se na indústria cultural.

“Cabô meu pai”11     A breve  incursão no Brasil do início do século XX nos aponta possíveis narrativas sob obre re a  fo form rma a de con onso solilid daç ação ão de um gê gêne nero ro mus music ica al. O samba amba,, ass ssim im co como mo outro utross gên êner eros os,, fru fruto  da di diá áspor spora a afr fric ican ana a nas amér améric ica as, se vê alé lém m de seu ri ritm tmo, o, sínco íncopa pa e construção  poética de suas letras, trazendo a tona também a luta anti racista e a resistência dos negros por vieses estéticos, filosóficos e políticos. Das manifestações  culturais das senzalas à indústria cultural, das sociedades escravocratas à  sociedade capitalista,

maneiras dicotomizadas de leituras da

soc ocie ied dade ade deve devem m  ser vis ista tass de fo form rma as cor orre rela laci cion onad adas as,, on onde de se refo reform rmul ulam am nov ovas as formas de exploração e, por sua vez, novas formas de resistências.

10

 MOURA, 1995, p.124  MOACYR LUZ, 2003

11

 

O de deba bate te  sobr sobre e ap apro ropr pria iaçã ção o cu cultltur ural al,, ra raci cism smo o e a si situ tuaç ação ão soci socioe oeco conô nômi mica ca do negr negro o fa fazz-se -se at atu ual  e neces ecessá sári rio o. Pass Passar aram am-s -se e 100 100 ano noss da grav gravaç ação ão do pri rim mei eiro ro sam amb ba e seria impossível  não re rellacion ioná-l -lo o com gêneros musicais que enfren rentam o mesmo crivo da  marginalidade e do mau gosto. Sem sombra de dúvida, tais dizeres e pensamentos guardam  um históri ricco de uma nação fundada sobre os “he “hereges” do racismo institucional, imaginado, resguardo e por vezes expressados.

 

Bibliografia CASTRO,Yeda Pessoa de. Influência das línguas africanas no idioma Brasileiro. Brasiliano. Julho de 2008. https://brasiliano.wordpress.co https://brasiliano.wordpress.com/2008/07/09/ m/2008/07/09/ influencia -d as-linguas-africanas-no-idioma-portugues-brasileiro/. as-linguas-africanas-no -idioma-portugues-brasileiro/. 20/05/2018 FLORENTINO, Manolo. ; RIBEIRO, Alexandre. V. ; SILVA, Daniel D. B. . Aspectos

Comparativos do tráfico de Africanos para o Brasil (séculos XVIII-XIX) .  Afro-Asia (UFBA) , Salvador, 2004. GOMES, Fábio. Tia Ciata.  Geledés. Outubro de 2009. https://www.geledes.org.br/tia -ciata/. 25/05/2018 HALL, Stuart. A identidade Cultural da pós modernidade. Rio de Janeiro, Lamparina, 2011. LOPES, Nei.  Dicionário Banto. Rio de Janeiro: Pallas, 2003. MOURA, Roberto. Tia Ciata e a Pequena África no Rio de Janeiro.  Rio de janeiro: Secretaria Municipal de Cultura, Dep. Geral de Doc. e Inf. Cultural, Divisão de Editoração, 1995. MOURA, Roberto M., No princípio, era a roda: Um estudo sobre samba, partido-alto e outros pagodes. Rio de Janeiro: Rocco, 2004.  ________  O Negro no rio de Janeiro e sua tradição musical. Rio de Janeiro, Pallas, 1992. SODRÉ, Muniz. Samba, o dono do corpo. Rio de Janeiro, Mauad, 1998

 

TINHORÃO, José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo, Editora 34, 1998. 

Gravações CANDEIA. Filosofia do Samba.  Raiz. Rio de Janeiro, Equipe, 1971. MOACYR LUZ. Cabô meu pai.  Samba da cidade. Rio de Janeiro, Lua music, 2003. PAULINHO DA VIOLA. Bebadosamba. Bebadosamba. Rio de Janeiro, RCA, 1996. PAULINHO DA VIOLA. Vela no Breu.  Memórias cantando. Rio de Janeiro, EMI-Odeon, 1976. VELHA GUARDA do G.R.C.E.S. NENÊ DE VILA MATILDE.  Casa Grande e

Senzala. São Paulo, Kolombolo, 2011.

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