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June 11, 2019 | Author: Isabella Giordano | Category: Witchcraft, High Middle Ages, Inquisition, Europe, Anthropology
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 A bruxa no medievo medievo: origem e imaginário Modulo 1 do curso História da Bruxaria (UFPB) Prof.. Dr. Prof Dr. Johnni Langer (UFPB-NEVE) Com colaboração de Lorenzo Sterza

Roteiro: 1. Obras introdutórias 2. Etim Etimolo ologia gia - bru bruxxa 3. Conceitos (magia, feitiçaria, bruxaria) bruxaria) 4. Historiografia da história da bruxaria 5. A construção do imaginário da bruxa medieval – iconografia 6. Bibliogr Bibliografia afia

OBRAS BÁSICAS SOBRE HISTÓRIA DA BRUXARIA (MANUAIS INTRODUTÓRIOS)

Documentários sobre história da bruxaria

FONTE PRIMÁRIA

Malleus Maleficarum (O

martelo das bruxas), 1486

2. ETIMOLOGIA

Rita Caprini, 2008: A grande parte das terminologias utilizadas hoje em dia para bruxa nas língua europeias foi construída a partir do séc. XIII, unindo crenças populares e teologia  – uma mulher que

 pratica magia e que causa malefícios

1.1 BRUXA – PENÍNSULA IBÉRICA Origem polêmica, mas existem indícios que tenha origem em dialetos pré-romanos, visto que os termos utilizados na Ibéria não tem correlato em outras línguas neo-latinas (Claudio Moreno, doutor em letras pela UFRGS). •













Portugal e Galícia: Bruxa; Espanha: Bruja; Catalunha: Bruija ; Gasconha: Brouche; Ocitânia: Bruèissa Hispano-celta: *bruxtia , derivado de Brixta - Galo-romano (deusa Bricta): encantadora; irlandês antigo: bricht  (encantamento); bretão antigo: brith (magia).

Primeira documentação do termo em espanhol: séc. XII Primeira citação em aragonês (broxa): Ordinaciones y paramentos, 1396. Uso corrente do termo em Portugal: 1559 (Houaiss, 1986).

2. BRUXA NA FRANÇA  Sorcière (feiticeira/bruxa), surgiu em 1160, derivado do latim





sorcerius do séc. VIIII, originado do latim popular sortiarius (aquele que lê a sorte). Sorcellerie (bruxaria) foi registrada em 1220 (Franco Jr., 2002). Inglês: Sorcerer  – foi introduzida no inglês durante o séc. XIV, tornada de uso corrente no século XVI (Russell, 2008).

3. BRUXA NA ITÁLIA  Strega – derivada do latim striga e stryx (que correspondem ao grego strygx) – adivinha ou praticante de magia ( strige/striga – pássaro noturno que se alimentava de humanos). •

4. BRUXA NA INGLATERRA Witch, derivado do inglês antigo wicce, feiticeiro, atrelado ao verbo wiccian – proferir feitiços/encantamentos.

Uso corrente no inglês moderno a partir do séc. XIV (Russell, 2008). 5. BRUXA NA ALEMANHA Hexe – bruxa. O seu sentido foi utilizado essencialmente dentro do referencial do diabolismo e da caça as bruxas, como na Dinamarca (Caprini, 2008). Inglês antigo: hægtesse Baixo-alemão: wicken (adivinho); Frísio: wikje (adivinho). •





6. BRUXA NA ESCANDINÁVIA Nórdico antigo: tröllkonu (bruxa); tröllaþing (sabá), trölldomr (bruxaria) (a partir do séc. XIII, Mitchell, 2001). Norueguês: Heks; Sueco: Häxa; Dinamarquês: Heks – mesmos usos que na Alemanha (Caprini, 2008).

7. BRUXA NAS FONTES INQUISITORIAIS E DEMONOLÓGICAS Maleficium – malefício, maldição Malleficus, maléfica – malfeitor/malfeitora (Stephens) Malleficarum – bruxas diabólicas, a partir do século XIII (Schmitt, 2002)

3. CONCEITOS MAGIA: conjunto de crenças e práticas religiosas relacionadas ao controle da

natureza e do sobrenatural, de caráter variável, polimórfico e regional, geralmente combatida pelas instituições sociais vigentes no Ocidente desde a Antiguidade. FEITIÇARIA: (do latim  facticius, artificial/fictício) conjunto de crenças e práticas

mágicas do mundo rural europeu relacionadas frequentemente com a adivinhação do futuro, necromancia, controle climático, curandeirismo e artes amorosas. BRUXARIA: Um imaginário criado a partir da Idade Média Central sobre as práticas

mágicas e a feitiçaria, cujos membros (as bruxas) seriam participantes de uma seita coletiva e herética para adorar Satã por meio do pacto diabólico, em uma reunião especial, o sabá. É o produto mais complexo do discurso antimágico produzido pelas instituições religiosas do Ocidente.

4. HISTORIOGRAFIA

Principais teorias sobre a bruxaria medieval europeia 1. Teoria romântica: A bruxaria foi uma resistência do paganismo em meio ao cristianismo medieval 2. Teoria racionalista: A bruxaria foi uma construção mental, uma fantasia 3. Teoria culturalista (História social inglesa e História Cultural): A bruxaria foi tanto um imaginário criado pelos inquisidores, intelectuais e religiosos, como um reflexo de crenças, mitos e folclores populares ressignificados pelos valores sociais da Idade Média Tardia

TEORIA ROMÂNTICA



18622



O sabá como um fato concreto: os servos se vingariam da ordem religiosa e social da época. A feiticeira como um a heroína do povo e da nartureza

1890

Os rituais de fertilidade sobreviveram pela Europa até o início da modernidade

A Europa conservou o culto a Diana e Janus até o séc. XVII

1921

TESE RACIONALISTA

A bruxaria é uma construção mental: inicialmente temos a ideia de um pacto demoniaco (no meio rural) e depois a ideia de possessão (no meio urbano)

1968

A bruxaria existiu somente na imaginação dos europeus: ela é a projeção dos medos, frustações e bodes expiatórios da sociedade. Englobava duas concepções: - a popular , que via as vizinhas bruxas como pessoas danosas - a erudita, que via as bruxas como pertencentes a uma seita herética e secreta •

1975

A bruxaria foi o resultado do pavor das camadas dominantes da Europa baixo medieval e moderna ante as práticas coletivas populares

1978

TESE CULTURALISTA

Ginzburg investiga a sobrevivência de crenças e mitos sobre fertilidade na Itália. Um grupo de homens e mulheres (autodenominados de benandanti ) acreditava que a abundância das colheitas dependia de batalhas entre eles e os bruxos que desejavam destruir as colheitas.

1966

. O que

MacFarlane procura compreender a perseguição às bruxas a partir do meio aldeão e camponês. Sua conclusão é que as tensões internas da aldeia eram mais relevantes do que as pressões externas de juízes e demonólogos

1970

1971

As perseguições às bruxas não partiram unicamente das elites, mas também do terror que os camponeses nutriam ante os malefícios. O que os juízes e demonólogos enxergaram como bruxaria não era senão o malefícios secular, velho conhecido dos camponeses.

1989

O estereótipo do sabá possui um núcleo folclórico antigo e amplo pela Europa, de base xamânica e em vários cultos extáticos, e se cristalizou a partir do século XIV.

2002

A obsessão sexual dos inquisidores motivou em parte a escrita dos manuais e a caça das bruxas, mas a própria autenticação e construção da fé cristã dependia da crença nas bruxas

2003

2008

2005

5. A construção do imaginário da bruxa medieval - iconografia

5.1 A transformação da feiticeira em bruxa a

A figura da feiticeira na Antiguidade

Circe

Hécate

Circe na obra de Chistine de Pizan

BL Harley MS 4431, 1410 d.C.

Um caso: a feiticeira de Endor (1 Sam 28, 7-11).

Necromante e adivinha •







No hebraico ela foi caracterizada como  ba´alath (pitonisa, adivinha) Na Bíblia aparece a figura do kashaph - mago(a), adivinho(a), feiticeiro(a), como em Êxodo 22, 18. Na versão latina da Bíblia (Vulgata, séc. IV d.C.) a palavra kashaph foi traduzida como maleficus

Na Bíblia do rei Jaime I (1611) tanto a palavra kashpah quanto ba´alath foram traduzidas por witch

A feiticeira de Endor, Otto Van Moerdrecht, séc. XV

5.2 O vôo da bruxa: a passagem do folclore mágico ao diabolismo

C anon Episcopici , 906 d.C.: mulheres pecaminosas são pervertidas pelo diabo (...) pelo que acreditam que cavalgam à noite em animais na companhia de Diana, a deusa pagã e de sua horda de mulheres (...) tudo isso acontece somente no espírito, mas pessoas sem fé acreditam que tais coisas acontecem também no corpo”. “Algumas

Ilustração de Palas Atenas descendo do céu. Remigius de

AS FEITICEIRAS DA IGREJA DE SCHLESWIGER, DINAMARCA/ALEMANHA •











Troescheler, 1952; Davidson, 1987; Castelli, 1993  – o mural pertence ao início do século XIII (1200-1201) Jens Johansen, 1990: a pintura foi realizada em mais ou menos 1450, comissionada por bispos com fins didáticos Wolfang Schild, 2002 (‘Die zwei Schleswiger Hexlein. Einige Seufzer zu Lust und Last mit der Ikonologie ’. Reitera Johansen INTERPRETAÇÕES: 1. Podem ser referências a companhias femininas da deusa Holda/Diana, mencionadas no Canon Episcopi (séc. X) 2. Ressignificações de Freyja e Frigg no folclore e imaginário cristão?

A transformação das mulheres heréticas (cátaras, valdenses) em bruxas – a partir do século XIII Behringer, 2005: A transformação do valdensismo na bruxaria não foi um processo simplesmente rotulador (apesar de certos traços terem essa característica). A importância das mulheres no movimento valdense está muito associada com o papel das mulheres nas artes mágicas. E o mais importante: não somente para os inquisidores, mas também para os seus vizinhos  – e talvez para eles mesmos, a sacralidade dos mestres, as jornadas ao outro mundo, as qualidades xamânicas, serviram como comparações entre os valdenses e a bruxaria. A mesma região em que emergiu a equalização entre valdenses e bruxaria, foi uma das maiores de perseguições e condenações de bruxaria até o século XVII. Mas após 1480 o alde is declin de int do im inário in isit ial.

Valdenses do ducado de Saboia (região entre o sul da França e o noroeste da Itália) 1330: livro do inquisidor Bernard Gui ( practica inquisitionis haereticae  pravitatis) em seu capítulo sobre os valdenses afirma que eles adoravam o diabo em forma de gato em outro capítulo, menciona as feiticeiras e adivinhas que cultuam o demônio).











Uma mulher valdense julgada em Milão em 1384 e em 1390, conclamou que tinha experiências extáticas com a Boa Senhora e seu povo e estava apta para curar e predizer o futuro. inquisidor Ponce Fougeyron em 1409: “novas sectas et prohibitos ritus” O papa Alexandre V confirma essa declaração de Fougeyron em 1410, mas pouco tempo depois em 1437 ele conceitua como maleficia em 1440: “ qui vulgari nomine stregule vel stregones seu Waldense nucupantur ”

Valdenses retratados como bruxos Frontispício da edição francesa de Tratactus contrasectum valdensium, séc. XV

Tratactus contra sectum valdensium, séc. XV

Manuscrito Grenoble (ms 352) de Le Champion des Dames (Martin Le Franc), 1451

Valdenses voando em vassoura e bastão Le champion des dames, Martin Le France, 1451

Bruxa voando para Blåkulla Knurby kirka, Uppsala, Suécia, 1490

Bruxas metamorfoseadas voando em um galho Tractatus vonden Bosen Welbern, Ulrich

Molitor, 1495

Hans Baldung, 1510

5.3 Outras características da bruxaria diabólica medieval

 As bruxas e os animais  familiares,

Execução das bruxas de Chelmsford, 1589

Controle climático :

Bruxas fazendo chover

Catastrofismo: Bruxas provocam um incêndio em uma vila; Infanticídio: bruxas devorando crianças, Francesco Guazzo, 1608

5.4 A árvore das bruxas: um caso italiano

O mural da fertilidade em Massa Marítima •



No ano de 2000 foi descoberto um mural num banho público na cidade italiana de Massa Marítima, datado do século XIII d.C. (possivelmente antes de 1265). O mesmo contém uma representação de uma árvore repleta de falos, logo acima de um grupo de oito mulheres. Segundo o historiador George Ferzoco o mural representaria uma cena de fertilidade, onde as mulheres seriam feiticeiras (mais tarde representadas como bruxas, tendo como respaldo o Malleus Malificarum). O contexto do mural refletiria uma propaganda política dos guelfos: se os gibelinos tomassem o poder, trariam com eles perversão sexual e feitiçaria. Mattelaer, 2010: O  phallus era um fenômeno bem conhecido na Europa medieval e renascentista e encontra suas raízes na ligação entre a infertilidade e a impotência de um lado, e a feitiçaria no outro.

“E o que se há de pensar das bruxas que, vez por outra, reúnem membros

masculinos em grande número, num total de vinte ou trinta e os colocam em ninhos de pássaros ou em caixas, onde se movem como se estivessem vivos e comem grãos de aveia e de trigo? (...) Pois se um certo homem contou-nos que, quando perdeu o seu membro, aproximou-se de uma conhecida bruxa e pediu-lhe que o restituísse. A mulher disse-lhe então para que subisse numa determinada árvore e que, no ninho que lá se encontrava, escolhesse o membro que mais lhe agradasse dentre os muitos que havia. E, quando ele tentou pegar um bem grande, a bruxa disse: - Não deves pegar esse aí, porque era de um pároco.” KRAMER, Heinrich & SPRENGER, James. Mal Malleu leuss mal malef efica icarum rum (O martelo das feiticeiras, 1486). São Paulo: Rosa dos ventos, 1991, p. 252-253.

Castelo MoosSchulthaus, Itália, séc. XIV

 A árvore das bruxas do Benevento Segundo Pietro Piperno em seu livro Della superstitiosa noce di Benevento (1639), existiu um culto a uma serpente de ouro e ao deus Wotan entre os longobardos da região de Benevento, Itália, durante o século VI d.C. Um século depois, a árvore foi tombada por São Barbato. Posteriormente, essa região desenvolveu um folclore sobre bruxas realizando uma reunião noturna em torno de uma árvore no Benevento, durante o século XIII, e tornou-se extremamente popular.

As bruxas e a nogueira, Gugielmo della Porta, 1534

A árvore do Benevento, Enrico Isernia, Istoria della città di Benevento dalla sua origine fino al 1894

 A dança das bruxas sobre a nogueira do Benevento, Signor Pacini, séc. XIX

6. BIBLIOGRAFIA

















BEHRINGER, Wolfgang. How Waldensians Became Witches: Heretics and Their Journey to the Other World. In: KLANICZAY & PÓCS (Eds.). Communicating with the Spirits, 2005. CAPRINI, Rita; ALINEI, Marco. Sorcière, witch, hexe, bruja, strega. In: Atlas Linguarum Europae I/8, Roma, Istituto Poligrafico e Zecca dello Stato, 2008. CARDINI, Franco. Magia e Bruxaria na Idade Média e no Renascimento. In: Revista Psicologia USP, v. 7, n. 1/2, 1996, pp. 9-16. COLLINS, David J. Magic in the Middle Ages: History and historiography. History and compass 9(), 2011, pp. 410-422. GINZBURG, Carlo. Os andarilhos do bem: feitiçarias e cultos agrários nos séculos XVI e XVII. SP: Cia das Letras, 1988. GINZBURG, Carlo. História noturna: decifrando o sabá. SP: Cia das Letras, 1991. KLANICZAK, Gábor. A cultural history of witchcraft. Magic, Ritual, and Witchcraft , Vol. 5, Number 2, Winter 2010, pp. 188-212. KRAMER, Heinrich; SPRENGER, James. O martelo das feiticeiras: Malleus Maleficarum. RJ: Rosa dos

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