A Teoria Da Classe Ociosa
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Veblen e o Com Veblen Compor portam tament ento o Hum Humano ano:: uma avaliação após um século de “A Teoria da Classe Ociosa” Leonardo Monteiro Monasterio ano 3 - nº 42 - 2005 - 1679-0316
UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS
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Ano 3 – Nº 42 – 2005 ISSN: 1679-0316 Editor
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VEBLEN E O COMPORTAMENTO HUMANO: UMA AVALIAÇÃO APÓS UM SÉCULO DE “A TEORIA DA CLASSE OCIOSA” Leonardo Monteiro Monasterio
Introdução
Em 18 1899 99,, fo foii pu publ blic icad adaa A Teoria da Classe Ociosa (doravante abreviada por ATCO). O sucesso editorial foi imediato, e seu autor, Thorstein Veblen, que, até então, não passava de um professor excêntrico, obscuro e impopular da recém-fundada Universidade de Chicago, tornou-se uma celebridade nos meios acadêmicos norte-americanos. A partir do pós-guerra, sua fama esmo es more rece ceu, u, to toda davi viaa o vi vigo gorr in inte tele lect ctua uall e a at atua ualilida dade de da su suaa ma maio iorr obra persistem. Em uma leitura desatenta, a ATCO parece ser apenas uma sátitira sá ra ao aoss co cost stum umes es da dass cl clas asse sess al alta tas. s. Ve Vebl blen en riridi dicu cula laririza za o jo jogo go,, a religião, a moda e até os animais domésticos das classes abastadas de sua époc ocaa. Foi por meio dessa obra que os conceitos de ócio e consumo conspícuos disseminaram-se e passaram a fazer parte do jargão das ciências sociais. Segundo Veblen, caso haja uma categoria de indivíduos que, deliberadamente, possa abster-se do trabalho útil, a riqueza e o lazer não são desejados por si: o objetivo primeiro é a ostentação. A acumulação decorre, cada vez menos, da necessidade material e, cada vez mais, da busca de uma posição honorífica na sociedade. O ócio consp spíícuo é defin iniido como o tem emppo gasto em ativ ivid idaades que não visam à produção; é distinto, portanto, da inatividade. As classe classess ociosas têm suas atividades atividades voltadas para as tarefa re fass qu que, e, de ma mane neiriraa co cons nspí pícu cua, a, ev evid iden enci ciam am qu quee se seuu pr prat atic ican ante te não está envolvido num trabalho produtivo. Vebl Ve blen en,, co cont ntud udo, o, nã nãoo se lilimi mita ta à me mera ra de desc scririçã çãoo (n (nad adaa is isen en-ta) do estilo de vida das classes ociosas. Ele percebe que esses princípios estiveram presentes ao longo da história hi stória das sociedades, de s, mu muda dand ndoo ap apen enas as de fo forrma ma.. É ne necces essá sárrio el elab abor orar ar uma teo eo-ria que explique tais fenômenos. Na visão do autor, no início da evolução humana, formaram-se dois instintos: o predatório e o de trabalho eficaz. Ao longo das etapas do desenvolvimento das sociedades, surgiram
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institu insti tuiç içõe õess (en (ente tend ndida idass co como mo há hábit bitos os de pe pens nsame ament ntoo dom domina inanntes) te s) qu quee titinh nham am em su suas as ra raíz ízes es tai aiss in inst stin into tos. s. As Assi sim, m, a so soci cied edad adee de sua época é caracterizada como sendo industrial-pecuniária. As instituições industriais são aquelas orientadas para a eficiência da produção e para a melhoria do bem-estar material. Em oposição, as instituições pecuniárias são derivadas do instinto predatório predat ório e estão construídas construídas em torno das idéias da “comparação odiosa” e da isenção do trabalho útil. As lógicas desses dois tipos de instituição são notoriamente incompatíveis; boa part pa rtee da ob obrra de Ve Vebble lenn é de dedi diccad adaa ao ex exam amee da ten ensã sãoo ex exis iste tennte entre os hábitos de pensamento industriais e os pecuniários. Apesar dos conceitos de ócio e de consumo conspícuo serem centrais na ATCO e os mais explorados pelos analistas da obra, esta não tem seu conteúdo exaurido em tal tema. Por sua riq iquuez ezaa de idéia iass, o livr vro, o, tal como o conju junnto da obra de Veblen en,, cobr co bree um amp mplo lo es esppec ectr troo de as assu sunt ntos os.. Na ve verrda dade de,, a ATCO contém, ao menos em caráter embrionário, quase todos os pontos do pensamento vebleniano e não existem grandes mudanças teóricas entre os seus primeiros escritos e os derradeiros. O objetivo deste trabalho é realçar a teoria vebleniana da conduta. A escolha do objeto justifica-se não só porque esse é um ponto pouco divulgado da obra de Veblen, como também por considerar-se que sua análise do comportamento humano consiste em uma das mais relevantes contribuições para a Teoria Econômica. Mesmo a teoria vebleniana, guardando uma unicidad cid ade, e, co conf nfor orme me su sust sten ento touu An Ander derson son (1 (193 933) 3),, de dest stac acar aráá ap apena enass aquele ponto, omitindo, tanto quanto possível, referências desnecces ne essá sárria iass ao res esttan ante te do se seuu pe pens nsam amen entto. No qu quee se ref efer eree às fontes, o trabalho tem a ATCO como fio condu condutor, tor, mas, quando houve pertinência, não se hesitou na utilização de outros livros do autor. As crític críticas as ao homo economicus neoclássico são fundamentais para a compreensão da proposta vebleniana e ocupam a seção seguinte. Já na terceira seção, apresenta-se o homo veblenianus, propriamente dito, discutindo-se como essa concepção de agente se relaciona com a sua abordagem hermenêutica. menêuti ca. Em seguida seguida,, confron confronta-se ta-se a aborda abordagem gem veblenia vebleniana na com co m di diver verso soss co conc nceit eitos os de irirra raci cion onal alid idad ade. e. Um Umaa br breve eve ava avalia liaçã çãoo das potencialidades da teoria da conduta de Veblen para a teoria econômica contemporânea ocupa a seção conclusiva do trabalho. 1 Críticas ao homo economicus
Quando Veblen não direcionava seus ataques à sociedade pecuniária, seu alvo era a teoria econômica tradicional. Em termos gerais, ele considera que a visão neoclássica do ser huma-
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no está baseada em princípios antropológicos e psicológicos já ultrapassados (1919, p. 73) 1. Suas objeções diretas ao homo neoclássico ssico podem ser organizadas organizadas em quatro tóeconomicus neoclá picos, a saber: a) Restri Restrições ções quanto à eficiên eficiência cia da racion racionalidad alidade. e. Veblen opõe op õe-s -see à ca cara ract cter eriz izaç ação ão do in indi diví vídu duoo co como mo um ma maxi ximi mi-zado za dorr qu quee fa fazz cá cálc lcul ulos os he hedo doni nist stas as in inin inte terr rrup upto tos. s. El Elee ta tammbém bé m cr crititic icaa a vi visã sãoo de que os in indi diví vídu duos os sã sãoo pe pers rspi piccaz azes es (clearsighted ) e do dota tado doss de gr gran ande de ca capa paci cida dade de pr pred edititiv ivaa (farsighted ) na ap apre reci ciaç ação ão an ante teci cipa pada da do doss pr praz azer eres es (1919, p.235). b) Tal como os economistas austríacos, Veblen critica a postura passiva que o homem tem na concepção neoclássica. Na visão hedonista, a atividade humana é resultado da busca pela satisfação de desejos dados; o home mem m não fa fazz o ges estto inic icia iall, apenas se aju jussta de acordo com as forças que agem sobre ele. Já para Veblen, a ação aç ão é car arac acte terí ríst stic icaa do ho home mem m e de deve ve se serr tr trat ataada co como mo o fato substancial do processo (1919, p.74; p.156-7 e 1934, p.80-1). c) Ele combate também a idéia de imutabilidade do homem diante das pressões do ambiente. Na teoria neoclássica, o indivíduo não tem passado nem futuro; portanto, se uma força cessa de pressioná-lo, ele volta exatamente ao ponto de equilíbrio inicial (1919, p.73-4). Tem-se, assim, um indivíduo sem história pessoal, sem aprendizado. d) Coerente com a abordagem institucional, Veblen entende ser inadequado, para uma teoria da conduta humana, con conside siderar rar ape apenas nas as car caract acterí erísti sticas cas ind individ ividuai uais, s, mesm me smoo qu quee o pr prop opós ósititoo se seja ja um umaa an anál ális isee es está tátitica ca.. Escreve o autor: “os fenômenos da vida humana ocorrem apenas como fenômenos da vida de um grupo ou comunidade”. [of human life occur only as a phenomena of the life of a group or community (1919, p. 242)]. Estas características do homo economicus foram sintetizadas da seguinte forma pelo autor (1919, p.73): A concepçã concepção o hedonist hedonista a do homem afirma que este é um calculador instantâneo de prazeres e sofrimentos, que oscila como um glóbulo homogêneo de desejo de felicidade sob o impulso i mpulso de estímulo estímuloss que q ue o movem, mas deixamdeixam-no no intacto. Ele é um isolad isolado o e definit definitivo ivo datum humano, em equilíbrio estável exceto pelas “bofetadas” (buffets) das
1 Curiosamente, segundo Aspromourgos (1986), Veblen foi quem primeiro cunhou o termo “neoclássico” ao referir-se à obra de Alfred Marshall.
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Leonardo Monteiro Monasterio forças forç as im impa pact ctan ante tess qu que e o mo move vem m em um uma a di dire reçã ção o ou outra. [The hedonistic conception of man is that of a lightning calculator of pleasures and pains, who oscillates like a homo geneous globule of desire of happiness under the impulse of stimuli that shift him about the area but live him intact. He is an isolated definitive human datum, in stable equilibrium except for the buffets of the impinging forces that displace him in one direction or another (PS, p.73)].
2 O homem vebleniano 2.1 Razão suficiente e causa eficiente
Para uma compreensão adequada da visão vebleniana acerca da racionalidade e do comportamento humano, faz-se mister apresentar o que ele denomina “dois fundamentos básicos do conhecimento teórico”: a razão suficiente ( sufficient rea son) e a causa eficiente (efficient cause). A razão raz ão sufi suficien ciente te trata de como o futuro f uturo deter determina mina o curso presente dos acontecimentos. Se forem omitidos os fenômenos místicos, a única forma possível para que tal relação se efetive é mediante a presença de um agente inteligente que antecipe as conseqüências de suas ações correntes (1919, p. 237). É nesse sentido que os eventos futuros guiam o comportamento presente. Veblen deixa claro que a ação individual dirige-se a certos obje ob jetitivo vos; s; os ho home mens ns se semp mpre re bu busc scam am fa faze zerr al algo go.. Da Daíí su suaa af afirirma ma-ção que as ações econômicas são teleológicas, pois os agentes sempre buscam a ação (1919, p. 75). Considerando que a Economia trata da conduta humana e que enfoca agentes capazes de refletirem, Veblen concluiu que qualquer teoria econômica, hedo he doni nist staa ou nã não, o, te tem m qu quee at aten enta tarr pa parra a rel elaç ação ão de raz azão ão su sufifici ci-ente em certo grau (1919, p. 238). A economia neoclássica, por força de seus postul postulados, ados, caracterizacaracteriza-se se por só ser capaz de lidar com as ações humanas enquanto restrita “em termos racionalilist na stas as e te tele leol ológ ógic icos os de cá cálc lcul uloo e es esco colh lha” a”.. [( [(…) …) in rationalistic, teleological terms of calculation and choice (1919, p. 239)]. Ainda na perspectiva do autor, a teoria econômica tem atentado apenas para a razão suficiente, mas uma compreensão adequada da conduta humana deve incluir as relações de causa e efeito, isto é, de causa eficiente. A rel r elaçã açãoo de d e caus c ausaa efi e ficie ciente nte,, em e m opos o posiçã içãoo à raz razão ão suf sufici ici-ente, caracteriza-se por ser impessoal, objetiva e determinística. Para Veblen, a ciência moderna põe essa relação como seu princípio fundamental, e as ciências humanas deveriam fazer o mesmo, aceitando as relações de razão suficiente apenass de fo na form rmaa su subs bsid idiá iári ria, a, su subo bord rdin inad adoo-as as ao aoss ar argu gume ment ntos os fo forr-
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mulados nos termos da causa eficiente (1919, p. 238). O conceititoo de ca ce caus usaa ef efic icie ient ntee es está tá as asso soci ciad adoo às re rela laçõ ções es de ca caus usaa e efeito, em que não há espaço para a reflexão por parte do agente. O comportamento habitual caracteriza-se, exatamente, por não levar em conta os resultados das ações, sendo, nesse sentido, não-teleológico. Daí a afirmação de Veblen quee as re qu rela laçõ ções es de ca caus usaa ef efic icie ient ntee ta tamb mbém ém pa part rtic icip ipam am da co connduta humana sob a forma de hábitos e de exigências convencionais (1919, p.239). O autor ressalta que, entre a razão suficiente suficien te e a causa eficiente, não há transição, tampouco maneira de converter os resultados ou procedimentos de um método nos termos do outro. Isso significa que não se pode reduzir a faceta habitual, institucional, do comportamento humano ao cálculo hedonista e vice-versa, posto que ambos repousam em princípios distintos (1919, p.237). Veblen afirma que estes hábitos de pensamen pensamento to (ou instituições quando disseminados pela sociedade) guardam relação apenas com a causa eficiente. Isso se explica, pois, mesmo que a reflexão do indivíduo esteja, em algum grau, envolvida nos hábitos de pensamento, ela se dá de forma habitual. A relação de razão suficiente é identificada com atividades deliberadamente racionais, em que o agente está envolvido envolvi do no cálculo hedonista. Pelo exposto, depreende-se que, na abordagem vebleniana, uma análise adequada do comportamento humano deve incorporar estas duas formas de relação: razão suficiente e causa eficiente. Em sentido equivalente, isso significa afirmar que a conduta humana é motivada por fatores racionais e habituais, conjuntamente. Uma citação de Veblen corrobora essa idéia; após afirmar que a economia neoclássica lida apenas com os aspe as pect ctos os ra raci cion onai ais, s, el elee es escr crev evee (1 (191 919, 9, p. 23 239, 9, gr grififoo me meu; u; ve verr ta tammbém 1919, p. 441): “Mas é ao mes esm mo temp mpoo não menos verdade que a conduta humana, econômica ou não, é sujeita a uma seqüên qü ênci ciaa de ca caus usaa e ef efei eitto, at atra ravé véss de el elem emen enttos co como mo a ha habi bittua ua-ção e exigências convencionais.” Nessa concepção de homem, os elementos que o compõem (instintos, hábitos e racionalidade) estão interligados. Como se pode ver no trecho reproduzido abaixo, o autor reitera que os indivíduos não são escravos perfeitamente obedientes de seus hábitos e instintos, posto que são capazes de refletir acerca deles: Como outros animais, o homem é um agente que atua em resposta a estímulos produzidos pelo ambiente em que vive. Como outras espécies, ele é uma criatura de hábitos e propensões. Entretanto, em grau mais elevado que as outras espécies, o homem medita sobre o conteúdo dos hábi-
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Leonardo Monteiro Monasterio tos que o guiam, e avalia a tendência desses hábitos e pro pensões. Ele é notavelmente um agente inteligente. Por necessidade seletiva, ele é dotado com uma inclinação para as ações intencionais (1934, p. 80)2
2.2 As instituições e a racionalidade
Na abordagem vebleniana, a influência das instituições sobre o compor comportament tamentoo individual ocorre por dois canais: impondo normas sociais que restringem sua conduta e agindo sobre os de dese sejo joss do doss ag agen ente tes. s. Ve Vebl blen en su sust sten enta ta qu quee as in inst stititui uiçõ ções es tê têm m um papel coercitivo na conduta dos indivíduos. O agente, ao buscar a aceitação do grupo social em que está inserido, tem seu comportamento restringido pelas normas em vigor. A existência de instituições que são externas ao indivíduo, no se sent ntid idoo de qu quee sã sãoo im impo post stas as pe pela la so soci cied edad ade, e, di difificu cultltaa a co cons ns-trução de uma teoria da conduta que leve em conta apenas os indivíduos isoladamente. Portanto, o reconhecimento da importância dessas instituições no comportamento acha-se intimamente conectado com a crítica vebleniana (d), supracitada (1919, p.242-243). No âmbito da teoria neoclássica, a escala de preferência dos agentes é dada de forma exógena, não constituindo um ob jeto de análise da Ciência Econômica. Soma-se a esse princípio, expressoo no lema De gusti express gustibus bus non est disputandum disputandum, a hipótese de imutabilidade das preferências (ao menos durante o período considerado). Veblen, por sua vez, afirma que, do ponto de vista v ista individual, os desejos de cada agente são o resultado de suas característ carac terísticas icas inatas e da sua experiê experiência ncia vital que se realizam dentro de uma malha institucional e de circunstâncias materiais (191 (1 919, 9, p. p.774) 4).. Va Vale le ate tent ntar ar pa parra o fa fatto de qu quee as in inst stititui uiççõe ões, s, qu qual al-quer que seja o sentido adotado, não são neutras quanto à formação das preferências; elas influenciam a formação dos dese jos dos indivíduos. i ndivíduos. Em ou outr tros os te term rmos os,, po pode de-s -see af afirirma marr qu quee as in inst stititui uiçõ ções es es esta ta-riam como que se internalizando, à medida que forjam as preferências individuais. A relação entre as instituições e a racionalidade efetiva-se, desta maneira, não só mediante as restrições impo im post stas as pe pela lass no norm rmas as so soci ciai ais, s, ma mass ta tamb mbém ém me medi dian ante te es esse se me me-canismo de internalização.
2 Vebl Veblen en po pode de se serr co cons nsid ider erad adoo um pr prec ecur urso sorr e at atéé ad adep epto to da ra raci cion onal alid idad adee pr proc oceedimental ( procedural rationality ), ), visto que os segui seguidores dores desta última também criticam os postulados da racionalidade instrumental e destacam a importância das instituições na conduta humana. A primeira indicação de semelhança entre as abordagens de Veblen e de Herbert Simon foi feita por Kenneth Arrow, de forma passageira, em 1973. Neste artigo, Arrow atribui a Veblen a introdução das ques qu estõ tões es so sobr bree as lilimi mita taçõ ções es co comp mput utac acio iona nais is e o pa pape pell do doss há hábi bito toss no pr proc oces esso so decisório individual.
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A hipótese de endogeneidade das preferências aumenta ainda mais a pretensão da abordagem econômica proposta por Veblen. A intenção é abrir a caixa-preta das preferências neoclássicas. Ou seja, os desejos dos indivíduos deixam de ser dados pois, ao contrário do que assume a teoria neoclássica, abre-se a possibilidade de entendimento da formação e evolução das preferências. A endogeneidade das preferências individuais traz conseqüências, também, para a análise do funcionamento e evolução do sist steema econômi micco com omoo um tod odoo. “A in invvenção é mãe da necessidade”, escreveu Veblen (1914, p. 315). Esta inversão do dito di to po popu pula larr in indi dica ca um po pont ntoo qu quee fo foii ex expl plor orad adoo pe pelo loss se segu guid idor ores es da tradição institucionalista, qual seja a possibilidade de moldagem das preferências dos indivíduos pelo sistema econômico. John Kenneth Galbraith (1982; para um resumo ver Galbraith, 1971) aprofundou essa idéia, denominando-a “efeito dependência”, de que, na “sociedade afluente”, o próprio processo de prod pr oduç ução ão de me merc rcad ador oria iass fo forjrjaa as pr pref efer erên ênci cias as de co cons nsum umoo pe pela la emulação e pela propaganda. Dessa maneira, os desejos são dependentes da produção. Como se vê, ao asseverar a influência das instituições sobre os desejos e as normas sociais, Veblen distancia-se ainda mais ma is da ab abor orda dage gem m ne neoc oclá láss ssic ica. a. Al Além ém de co cont ntra rapo porr-se se à es esta tabi bi-lidade das preferências e à sua exogeneidade, o autor critica a possibilidade de a teoria econômica tratar apenas do indivíduo, isolando-o da sociedade em que está inserido. 2.3 A metodologia interpretativa e a racionalidade
Nas seções anteriores, objetivou-se apresentar a visão de Veblen acerca da racionalidade, preservando, quando possível, o jargão típico da teoria da escolha racional (preferências, escolhas, etc…). No entanto, para que seja compreendida a forma pela pe la qu qual al a ra raci cion onal alid idad adee es está tá in inse seririda da no pe pens nsam amen ento to ve vebl blen enia ia-no, uma terminologia distinta será mais conveniente neste moment me nto. o. Es Esta ta se seçã çãoo pr pret eten ende de mo most stra rarr qu quee a no noçã çãoo de ra raci cion onal alid idaade na obra de Veblen está associada à sua teoria interpretativa de forma inseparável. Uma boa parte da produção intelectual de Veblen pode ser classificada, metodologicamente, como teoria interpretativa. De acordo com Little (1991, p. 68), esse tipo de abordagem valoriza a compreensão dos fenômenos sociais em relação à sua explicação. A base desta distinção é a seguinte: a compreensão visa à reconstrução do significado de um evento ou prática em um contexto social específico; a explicação, por sua vez, envolve a identificação das causas gerais de um evento. Este método é dito hermenêutico, pois trata os “fenômenos sociais como um texto a ser decodificado através da reconstrução imaginativa do
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significado dos vários elementos da ação e dos eventos sociais” (LITTLE, 1991, p. 68). De acordo com as teorias interpretativas, os indivíduos agem com base na compreensão que possuem de si e do mundo. Isso inclui, ainda segundo Little (1991, p. 69), um conjunto de valores e objetivos que caracterizam seus desejos, as normas de comportamento, uma concepção de suas capacidades e das ações individuais. Assim, afirmam as teorias interpretativas: “Toda ação humana é mediada por uma visão de mundo social subjetiva” (LITTLE, 1991, p. 85). Já no seminal ensaio The Economics of Women’s Dress (1934, p. 65-77), Veblen adota a prática hermenêutica de analisar “comportamentos cotidianos como se estivesse elaborando um re rela lató tóririoo et etno nogr gráf áfic icoo do co comp mpor orta tame ment ntoo de um umaa tr trib iboo es estr tran an-geira” (MIROWSKI, 1987). É em ATCO, todavia, que o “antropólogo Veblen” analisa a sociedade pecuniária, buscando compreender a origem e o significado de seus símbolos de status. Nessa obra, a abordagem hermenêutica está mais pronunciada, e umaa da um dass su suas as pr prop opos osiç içõe õess cen entr traais é de qu quee os pr prin incí cípi pios os da so so-ciedade pecuniária alteram o significado e o conteúdo das atividades humanas. Além disso, conforme aponta Mirowski (1987, p. 1025), o fenômeno do consumo conspícuo indica que devem ser consideradas as questões interpretativas e intencionais dos agentes, que vão além do pressuposto de auto-interesse. Para Veblen, o consumo é uma atividade carregada de significado, quee pod qu odee se serr co comp mprree eend ndid idaa ao se at aten enttar pa para ra as in inst stititui uiççõe õess vi vi-gentes em cada sociedade específica. O fato é que a abordagem interpretativa que Veblen utiliza em suas obras está embasada, ou mesmo decorre, de uma visão da cultura como sistema hermenêutico, na forma apontada por Jennings e Waller (1994, p.108-110). Nesses sistemas, “inexistem termos desconexos, exógenos ou supra-sistêmicos, e todos os termos no processo cultural tomam seu significado e ímpeto original do próprio processo”(1994, p.109). Na visão de Veblen, as instituições econômicas não constituem uma esfera distinta das atividades humanas, mas são apenas uma das partes do tecido institucional institucional.. Ele deixa claro que, também para o indivíduo, “(…) o intere interesse sse econômico não está isolado, nem é distinto de todos os demais interesses” ( ATCO, p.114). Em suma, a economia só pode ser compreendida com uma atenção ao todo cultural, visto que lhe é indissociável. Na medida em que a teoria da conduta de Veblen adota uma abordagem da racionalidade que inclui a atenção às instituições, a abor ab orda dage gem m he herm rmen enêu êutitica ca pa pass ssaa a se serr um umaa de deco corr rrên ênci cia, a, já qu quee é necessário compreender a visão de mundo dos agentes enquanto esses exercem sua capacidade deliberativa.
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Vale transcrever um trecho de Jennings e Waller (1994, p.109-10) no qual se sintetizam as idéias supracitadas, ao mesme smo tempo que se corrobora a postura adotada neste trabalho quanto ao papel da racionalidade e dos hábitos na teoria da conduta: Veblen Vebl en co comp mpre reen ende deu u (o (oss se sere ress hu huma mano nos) s) co como mo pr prod odut utos os e produtores de cultura, simultaneame simultaneamente; nte; seu comporta mento é não só habitual, mas também intencional. Apesar de baseadas em um complexo de hábitos e circunstâncias que lhes dão significado, as ações são também dirigidas para a mudança de alguma espécie.
Em síntese, Veblen busca compreender o significado das atividades e instituições econômicas sem perder de vista o tod odoo cultural em que elas se ins nser erem em e em que os agent ntes es exe xerrcitam sua racionalidade. Assim, percebe-se como a racionalidade dos agentes, a metodologia interpretativa e a visão da cultura enquanto sistema hermenêutico estão amalgamados em sua obra. 3 Veblen e a irracionalidade
A abordagem vebleniana da conduta mostra sua força de forma mais evidente em alguns comportamentos que a teoria econômica tradicional é incapaz de explicar. Por exemplo, o apego ao dinheiro pelo dinheiro, considerado mesmo por Keynes uma “morbidade um pouco fastidiosa, uma dessas tendências semicriminosas, semipatológicas que se costumam confiar com arrepios a especialistas em doenças mentais” (1930, p. 157), é entendido com omoo uma das fo forrmas pela qual o instin intto predatório se realiza na sociedade pecuniária. Veblen percebe que, para os adeptos da utilidade marginal, a compreensão das instituições pecuniárias torna-se um problema, na medida em que seus pressupostos não comportam o questionamento da origem e dos efeitos na vida econômica de tais hábitos de pensamento. Os comportamentos que não podem ser reduzidos aos “termos diretos e inequívocos do cálculo hedonista racional” são tratados como “aberrações devido a enganos ou lapsos de memó me móri riaa po porr par artte do doss ho home mens ns de ne negó góccio io,, ou a al algu gum m fr frac acas asso so lógico, ou de discernimento” (1919, p. 249-50). Deve-se saber de antemão que Veblen, mesmo não tendo se manifestado explicitamente, não é um irracionalista no sentido filosófico do termo, isto é, ao longo de seus escritos, ele parece crer na razão como autoridade epistemológica suprema. Tratar-se-á aqui do irracionalismo psicológico, sem que se faça maiores referências ao irracionalismo filosófico, a
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despeito do reconhecimento da existência de conexões entre ambas as idéias3. O irracionalismo psicológico, segundo uma abordagem freu fr eudi dian ana, a, su sust sten enta ta qu quee “é pa pate tent ntee a ex exis istê tênc ncia ia do irirra raci cion onal al de denntro do psíq íquuic icoo” e que, “s “soob uma fifinna camada de juíz ízoos e racioc ocí-ínios, flui um mundo de instintos, afetos e imagens incoerentes” incoerentes” (VILLAR, 1987, p.643). Ainda nesta visão, a conduta humana deixa de ser vista como um “encadeamento governado pela racionalidade”, já que as idéias não conscientes em conflito (em termos emocionais) dominam a esfera consciente (SEMINÉRIO, 1987, p. 584). Diversos autores apontaram paralelos entre as idéias de Freud e as de Veblen4. Schneider (1948) elaborou um extenso estudo no qual são comparadas as obras do autor da Interpretação dos Sonhos e a teoria social de Veblen em termos de Psicologia Social. Rosemberg (1956, p. 77) apenas apresenta algumas similaridades. Zajdsznajder (1980) afirma que Veblen foi apontado como precursor de Freud, mas, como ele próprio sustenta, esse fato “pode ter significação para a psicanálise, mas nenh ne nhum umaa pa para ra a ec econ onom omia ia”” (1 (198 980, 0, p. 94 94))5.Deacordocomaanálise de Dyer (1984, p. 557), ambos os autores têm interesse pelos paradoxos do comportamento humano. Freud tê-los-ia buscado ca do no âmb âmbititoo da ps psic icolo ologi giaa ind indivi ividu dual al,, enq enqua uant ntoo Ve Vebl blen en id iden entiti-ficou-os na esfera social. O livro de John Gambs (1959) aproxima esta discussão da esfera econômica e constitui o ponto de partida para a análise que se segue. Gambs (1959, p. 132) sustenta que “Veblen…criou um homem econômico com um comportamento sutil e tortuoso – homem este que rivaliza com as criações de Freud, Jung e Adler”. Mais adiante, ele afirma que, para os economistas dissidentes, (dentre os quais Veblen seria o melhor exemplo), a “parte racional do homem é como a parte pequena e invisível de um ice berg, enquanto a parte irracional é como a base submersa do iceberg, isto é, muitas vezes maior”. A comparação com os precursores da teoria da psicanalítica beira o exagero, posto que Veblen, ao contrário dos autores citados, não criou uma obra inteiramente dedicada à compreensão da psique. No entanto, o restante dos trechos citados são válidos, basta que se veja a concepção concep ção de homem em Veblen mais de perto. 3 Ver Hodgson, 1988, p. 301 e Villar, 1987. 4 Só fo foii en enco cont ntra rada da um umaa re refe ferê rênc ncia ia a Fr Freu eudd na ob obra ra de Ve Vebl blen en.. Tr Trat atan ando do da fo form rmaação das fronteiras nacionais e dos aspectos metafísicos da noção de soberania, este escreve: “Os freudianos presumivelmente considerariam considerariam esta (a soberania) um complexo de inferioridade em favor do clero” (1923, p.26). 5 Este artigo tem ainda a originalidade originalidade de apontar as semelhanças entre Veblen e Niet Ni etsz szch che, e, e co conc nclu luii qu que: e: ”T ”Tal alve vezz nã nãoo fo fosse sse ex exce cess ssiv ivoo di dize zerr qu quee A Teoria da Clas se Ociosa co cons nstititu tuii um umaa el elab abor oraç ação ão da “G “Gen enea ealo logi giaa da Mo Mora ral” l” no te terr rren enoo ec econ onôômico.” (ZAJDSZNAJDER, 1980, p.94).
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O homem vebleniano tem um grau de complexidade bem maior que o seu correspondente neoclássico. Ao invés de uma escala de preferências, ele possui, ou melhor, é possuído por propensões instintivas contraditórias; os objetivos sugeridos pelo instinto predatório e de trabalho eficaz estão em patente conflito. Esta incompatibilidade dos desejos aponta para a existênc tê ncia ia de um umaa irirra raci cion onal alid idad adee es estr trut utur ural al nos in indiv divídu íduos, os, se segu gund ndoo Schneider (1948, p. 112). Para Veblen, tal como na visão de Freud, estes conflitos internos não se mostram para a consciência dos indivíduos, e as ações seriam um fenômeno superficial influenciado por esses processos ocultos. Tais atos têm de ser mediados por algum esquema teórico para que adquiram significado; por si só, eles pouco informam acerca dos objetivos últimos dos agente agentes. s. Assim, para compreender a conduta humana urge uma abordagem que, além de interpretativa, penetre na mente, buscando suas motivações mais profundas, inconscientes. Obviamente, a forma para se alcançar esta meta é distinta para Freud e Veblen. Enquanto a teoria freudiana vale-se das técnicas psicana ca nalílítitica cass pa para ra ex expl plor orar ar o in inco cons nsci cien ente te po porr me meio io de se seus us pr prod oduutos irracionais (sonhos, atos falhos, fantasias, sintomas neuróticos, etc…), Veblen se utiliza basicamente da antropologia para trazer à tona a parte submersa do iceberg. Além da irracionalidade decorrente diretamente dos instintos, também as instituições, por sua defasagem insuperável, ou por decorrerem de instintos contraditórios, contribuem para tornar mais complexo o homem vebleniano6. Objetivos sugeridos pela pe lass ma malh lhas as in inst stitituc ucio iona nais is po pode dem m se serr in inco comp mpat atív ívei eiss co com m as ex exi-igências materiais correntes, correntes, e/ou serem contra contraditório ditórioss entre si, criando, assim, uma tensão inconsciente no indivíduo. Poder-se-ia dizer que a irracionalidade psicológica individual mostra-se também na esfera social. A sociedade industrialpecuniária possui dois objetivos por vezes conflitantes: fazer dinheiro e produzir bens. A “sabotagem” efetuada pelos homens de negócios, que Veblen denunciou, reflete o conflito entre as instituições pecuniárias e industriais. O resultado é um sistema irracional, no sentido de pouco eficiente. Na interpretação de Gambs (1959, p.155), para Veblen a principal dificuldade em se supe su pera rarr es esta ta in inef efic iciê iênc ncia ia si sist stêm êmic icaa “ pa pare rece ce re resi sidi dirr no pr próp ópririoo ho ho-mem … quer por causa dos seus próprios instintos, quer devido à civilização à qual ele pertence e se adapta, quer, ainda, a uma mistura repugnante das duas coisas”. Por fim, vale explicitar dois pontos referentes às questões-chave tões-ch ave desta seção. Primeiro, o irrac irracionalism ionalismoo psicoló psicológico, gico, que se atribui à obra de Veblen, não resulta na incapacidade de 6 Essa questão é desenvolvida em Monasterio (1988, cap. 6).
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compreensão da conduta individual. Muito pelo contrário, o que ele sugere é a possibilidade de entendimento das atividades humanas a fundo, sem que se limite o escopo de análise às pref pr efer erên ênci cias as.. E, em se segu gund ndoo lu luga gar, r, qu qual alqu quer er te teor oria ia qu quee as asse seve ve-re a existência de motivações inconscientes, e/ou que afirme o papel motivacional das normas, não nega, necessariamente, a capacidade deliberativa dos agentes. Com efeito, a ênfase na racionalidade talvez distinga Veblen das abordagens que afirmam que somos inteiramente inteiramente escravos de obscur obscuros os mecanismos inconscientes. Conclusão
Os serviços prest prestados ados pelo homo economicus não devem ser desconsiderados. Tanto do ponto de vista teórico quanto moral, o desenvolvimento desse conceito foi revolucionário e é indissociável da história da idéias. Mais recentemente, contudo, o axioma da racionalidade instrumental parece ter entrado em rendimentos decrescentes e, mesmo no mainstream, percebe-se certa insatisfação com o homo economicus. Aqueles mais insistentes que, à moda de Gary Becker, tentam aplicá-lo a toda esfera do comportamento, não conseguem chegar a resultados interessantes sem a intromissão de desconfortáveis hipóteses ad hoc . Por outro lado, muitos adeptos da New Institutional Eco nomics, como Douglass North (1990), convenceram-se da insuficiência da abordagem neoclássica da ação humana e buscam alternativas. As formulações dos conceitos de racionalidade restrita e proc pr oced edime iment ntal al for foram am pa pass ssos os int inter eress essan ante tess qu quee pr prop opic icia iara ram m um umaa melhor compreensão de toda uma gama de fenômenos econômicos. Mas será esse o melhor caminho da ciência econômica? Uma retomada da obra de Veblen, conforme se sugeriu neste trabalho, pode ser um bom ponto de partida para uma renovação teórica. Existem aquelas questões que já foram incorporadas pela economia, como a questã questãoo dos limites da racionalidaracionalidade instrumental e da importância dos hábitos. Na atualidade, as contribuições veblenianas que parecem mais relevantes são as que tratam das relações entre a cultura – vista como um sistema herm he rmen enêu êutitico co – e a ra raci cion onal alid idad ade. e. A pe pesq squi uisa sa ne ness ssee se sent ntid idoo pe perrmitirá desvendar desvendar as motivaç motivações ões mais profun profundas das dos agente agentess e, porta por tant nto, o, co cont ntriribu buiriráá pa para ra o de dese senvo nvolv lvime iment ntoo da te teor oria ia ec econ onômi ômi-ca em bases bem mais sólidas do que as presentes.
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Artigo enviado ao IHU em 19 de dezembro de 2004
TEMAS DOS CADERNOS IHU IDÉIAS N. 01 A teoria da justiça de John Rawls – Dr. José Nedel. N. 02 O feminismo ou os feminismos: Uma leitura das produções teóricas – Dra. Edla Eggert. O Serviço Social junto ao Fórum de Mulheres em São Leopoldo – MS Clair Ribeiriroo Zi be Zieb ebel elll e Ac Acadê adêmi micas cas An Anem emar arie ie Ki Kirs rsch ch De Deutr utric ichh e Ma Magal galii Be Beat atririzz St Strau rauss ss.. N. 03 O programa Linha Direta: a sociedade segundo a TV Globo – Jo Jorn rnal alis ista ta So So-nia Montaño. N. 04 Ernani M. Fiori – Uma Filosofia da Educação Popular – Prof. Dr. Luiz Gilberto Kronbauer. N. 05 O ruído de guerra e o silêncio de Deus – Dr. Manfred Zeuch. N. 06 BRASIL: Entre a Identidade Vazia e a Construção do Novo – Prof. Dr. Renato Janine Ribeiro. N. 07 Mundos televisivos e sentidos identiários na TV – Profa. Dra. Suzana Kilpp. N. 08 Simões Lopes Neto e a Invenção do Gaúcho – Profa. Dra. Márcia Lopes Duarte. N. 09 Oli Oligo gopó pólio lioss mid midiát iátic icos os:: a te telev levis isão ão co cont ntem empo porân rânea ea e as ba barre rreira irass à en entr trad adaa – Prof. Dr. Valério Cruz Brittos. N. 10 Fu Prof of.. Dr. Fute tebo bol,l, mí mídi diaa e so soci cied edad adee no Br Bras asilil:: re reflflex exõe õess a pa part rtir ir de um jo jogo go – Pr Édison Luis Gastaldo. N. 11 Os 100 anos de Theodor Adorno e a Filosofia depois de Auschwitz – Profa. Dra. Márcia Tiburi. N. 12 A domesticação do exótico – Profa. Dra. Paula Caleffi. N. 13 Pomeranas parceiras no caminho da roça: um jeito de fazer Igreja, Teologia e Educação Popular – Profa. Dra. Edla Eggert. N. 14 Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros: a prática política no RS – Prof. Dr. Gunter Axt. N. 15 Medicina social: social: um instrumento instrumento para denúncia denúncia – Profa. Dra. Stela Nazareth Meneghel. N. 16– Mudanças de significado da tatuagem contemporânea – Profa. Dra. Débora Krischke Leitão. N. 17 As sete mulheres e as negras sem rosto: ficção, história e trivialidade – Prof. Dr. Mário Maestri. N. 18 Um in inititen enár ário io do pe pens nsam amen ento to de Ed Edga garr Mo Mori rinn – Profa. Dra. Maria da Conceição de Almeida. N. 19 Os donos do Poder, de Raymu Raymundo ndo Faoro – Profa. Dra. Helga Iracema Iracema Ladgraf Piccolo. N. 20 Sobre técnica e humanismo – Prof. Dr. Oswaldo Giacóia Junior. N. 21 Con Constr struin uindo do nov novos os cam caminho inhoss par paraa a inte interve rvençã nçãoo soc societ ietária ária – Pr Prof ofa. a. Dr Dra. a. Lu Lu-cilda Selli. N. 22 Fí Físi sica ca Qu Quân ântitica ca:: da su suaa pr préé-hi hist stór ória ia à di disc scus ussã sãoo so sobr bree o se seuu co cont nteú eúdo do es es- sencia sen cial l – Prof. Dr. Paulo Henrique Dionísio. N. 23 Atualidade da filosofia moral de Kant, desde a perspectiva de sua crítica a um solipsismo prático – Prof. Dr. Valério Rodhen. N. 24 Imagens da exclusão no cinema nacional – Profa. Dra. Miriam Rossini.
N. 25 A estética discursiva discursiva da tevê e a (des)configuração (des)configuração da informação – Profa. Dra. Nísia Martins do Rosário. N. 26 O discurso sobre o voluntariado na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS UN ISINOS – MS. Rosa Maria Serra Bavaresco. N. 27 O modo de objetivação jornalística – Profa. Dra. Beatriz Alcaraz Marocco. N. 28 A cidade afetada pela cultura digital – Prof. Dr. Paulo Edison Belo Reyes. N. 29 Prevalência de violência de gênero perpetrada por companheiro: Estudo em um serviço de atenção primária à saúde – Porto Alegre, RS – Profº MS. José Fernando Dresch Kronbauer. N. 30 Getúlio, romance ou biografia? – Prof. Dr. Juremir Machado da Silva. N. 31 A crise e o êxodo da sociedade salarial – Prof. Dr. André Gorz. N. 32 À meia luz: a emergência de uma Teologia Gay - Seus dilemas e possibilidades – Prof. Dr. André Sidnei Musskopf. N. 33 O vampirismo no mundo contemporâneo: algumas considerações – Prof. MS Marcelo Pizarro Noronha. N. 34 O mundo do trabalho em mutação: As reconfigurações e seus impactos – Prof. Dr. Marco Aurélio Santana. N. 35 Ad Prof ofa. a. Dr Dra. a. An Anaa Ma Mari riaa Bi Bian anch chii e An Anto toni nioo Adam am Sm Smitith: h: fifilós lósof ofoo e ec econo onomi mist staa – Pr Tiago Loureiro Araújo dos Santos. N. 36 Igreja Universal do Reino de Deus no contexto do emergente mercado relire liProf. of. Dr Dr.. Ai Airt rton on Lu Luiz iz Ju Jung ngbl blut ut.. gioso brasileiro: uma análise antropológica – Pr N. 37 As concep concepções ções teórico-analíticas teórico-analíticas e as propos proposições ições de polític políticaa econômic econômicaa de Keynes – Prof. Dr. Fernando Ferrari Filho. N. 38 Ro Rosa sa Eg Egip ipcí cíac aca: a: Um Umaa Sa Sant ntaa Af Afririca cana na no Br Bras asilil Co Colo lonia nial l – Pr Prof of.. Dr Dr.. Lu Luiz iz Mo Mott tt.. N. 39 Mal Malth thus us e Ri Rica card rdo: o: du duas as vi visõ sões es de ec econo onomia mia po polít lític icaa e de ca capi pita talis lismo mo – Pr Prof of.. Dr. Gentil Corazza N. 40 Corpo e Agenda na Revista Feminina – MS Adriana Braga N. 41 A (anti)filosofia de Karl Marx – Profa. Dra. Leda Maria Paulani
Cadernos IHU Idéias: Apresenta artigos produzidos pelos con-
vidados-palestrantes vidados-pales trantes dos eventos promovidos pelo IHU. A divers ve rsid idad adee do doss te tema mas, s, ab abra rang ngen endo do as ma mais is di dife fere rent ntes es ár área eass do conhecimento, é um dado a ser destacado nesta publicação, além de seu caráter científico e de agradável leitura.
Leonardo Monteiro Monasterio (1970), natural do Rio de Janeiro/RJ, é professor adjunto do De-
partamento de Geografia e Economia do Instituto de Ci Ciên ênci cias as Hu Huma mana nass da Un Univ iver ersi sida dade de Fe Fede dera rall de Pelo Pe lota tass (UFPel), de desd sdee 19 1995 95.. É gr graadu duaado em Ci Ciên ên-cias Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 1992. Mestre em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 19 1995, 95, e do dout utor or em De Dese senv nvol olvi vime ment ntoo Econômico pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), 2002. Sua tese de doutorado intitula-se Capital Social e Crescimento Econômico no Rio Grande do Sul .
Algumas publicações do autor:
Economic Growth in Southern Brazil: Rio Grande do Sul (1939-2001). (com ÁVILA, Rodrigo Peres de). In: SPATIAL ECONOMETRICS WORKSHOP, 2005, Kiel, Alemanha. Anais. 2005. FHC errou? A economia da escravidão nas charqueadas gaúchas. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA, 31, 2003, Porto Seguro. Anais. ANPEC, 2003.
Capital Social e Crescimento Econômico: o caso da Campanha Gaúcha (1939-1980). In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓSGRADUAÇÃO EM ECONOMIA, 30, 2002, Friburgo. Anais. ANPEC, 2002. Capital Social e crescimento econômico: mecanismos. Revista Econô mica do Nordeste, Fortaleza, v. 31, n. especial, p. 866-80, 2000. Capital social e grupos de Interesse: uma reflexão no âmbito da economia regional. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓSGRADUAÇÃO EM ECONOMIA, 27, 1999, Belém. Anais. 1999.
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