A Questão Urbana - Manuel Castells
April 25, 2017 | Author: edsonalvesjr | Category: N/A
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A Questão Urbana – Manuel Castells O debate sobre a teoria do espaço 1. Introdução: pressupostos teóricos “Cidade= projeção da sociedade no espaço”: ponto essencial, mas também trivial. Risco: considerar o espaço uma “página em branco” em que os grupos e instituições impõem a sua marca através da história. Na verdade, o espaço urbano é moldado pela união indissolúvel da natureza e da cultura, num processo dialético em que o “'o homem', transforma-se e transforma seu ambiente na sua luta pela vida e pela apropriação diferencial do produto do seu trabalho”. O espaço, portanto, é um produto material em relação com outros elementos materiais – entre esses elementos, o próprio homem, e as relações sociais que esses homens engendram. Essas relações sociais vão dar ao espaço uma forma, uma significação social. O espaço, então, não vai ser o puro desdobramento da estrutura social, mas a “expressão concreta de um cada conjunto histórico no qual uma sociedade se especifica.” Portanto, não há teoria do espaço que não implique numa teoria social mais geral. Porque espaço urbano não está organizado ao acaso, mas sim ligado a processos sociais que exprimem os determinismos de cada tipo e de cada período da organização social. Para estudar a estrutura urbana deve-se, então, pensar em dois planos: a) elaborar instrumentos teóricos que apreendam o “concreto-real” de uma maneira significativa; e b)utilizar estes instrumentos numa sucessão descontínua de análises particulares visando a dados fenômenos históricos. Objetivo de Castells: analisar os esforços teóricos feitos até então e examinar a eficácia teórica das proposições apresentadas e dos trabalhos realizados. Para Castells, é necessário “complicar” mais a teoria para que ela dê conta da complexidade das relações dialéticas entre homem, cultura, história e espaço. A chave para essa “complicação fecunda”, p/ Castells, é o materialismo histórico. Definições necessárias para entender melhor o texto: dialética, materialismo histórico, epistemologia. 2.Análise da escola de Chicago – Ecologia Humana e seus críticos Conceitos da ecologia humana: teoria dos círculos concêntricos, teoria da expansão da cidade. Falha de sua universalização, por conceitos estarem relacionados com grandes cidades heterogêneas, desenvolvidas, de economia capitalista, não se aplicando a cidades do passado ou com outras configurações econômico-sociais. É uma escola limitada pelo fato de ser definida por formulações concretas, mais do que por princípios de análise. (Fator b prevalece sobre o a). Por isso, seus pressupostos teóricos ainda são diretamente ligados ao organicismo evolucionista da antiga estirpe. O resultado é que essa teoria apenas formaliza os processos reais observados, sem transformar observações em conceitos nem estabelecer relações entre os elementos que dêem conta das
sequencias observadas. Muitas dessas análises, p. ex., são baseadas em dados de recenseamento, que atendem a categorias da administração pública, mas não são capazes de descrever sua dinâmica interna, nem a passagem das relações sociais para a organização do espaço. A diferenciação contraditória dos grupos sociais (que não pode ser resumida a simples competição individual) fica, então, negligenciada.
Essa crítica é feita por alguns teóricos, que ressaltam o papel da cultura e dos valores na construção do espaço urbano. Dessa escolar de críticos da Ecologia Humana faria parte, p. ex. Lewis Mumford. Castells critica essa crítica, considerando-a voluntarista, por não integrar um conceito importante da ecologia humana, que é a análise das condições materiais de produção e da existência da sociedade. Exemplo fecundo – Leo Schnore: locais de trabalho x zonas residenciais. Citação: “Além de todo ecletismo acadêmico, é necessário ultrapassar a oposição ideológica entre a determinação do espaço pela natureza e sua modelagem pela cultura, para unir estes dois termos numa problemática que reconhece a especifidade do social humano, sem o afirmar como criação gratuita, inexplicável segundo leis.” (pg. 189) Para conseguir ir além dos fronts ideológicos do historicismo e do idealismo, deve-se construir um front teórico, que integre “a problemática ecológica, de base materialista, numa análise sociológica, cujo tema central é a ação contraditória dos agentes sociais (classes sociais) mas cujo fundamento é a trama estrutural que constitui a problemática de toda sociedade – quer dizer, a maneira pela qual uma formação social trabalha a natureza, o modo de repartição e gestão, e portanto de contradição que decorre disso. Pg. 190-1: Social Area Analysis x Raymond Ledrut Análises anteriores devem tributo a conceitos anteriores – evolucionismo organicista de Spencer na ecologia humana, “psicossociologia disfarçada de sociologia dos valores de Parsons” nas análises culturalistas” e historicismo weberiano nos temas gratuitos de criação do espaço. Os resultados dessas pesquisas tem lá sua validade, mas ainda estão subordinadas a dominantes ideológicos, o que as torna pouco transponíveis e pouco cumulativas. A proposta de Castells, então, é ter como base os conceitos do materialismo histórico. A sociedade seria analisada a partir de seu modo de produção, que não é apenas o tipo de atividade produtiva, mas “a matriz particular de combinação entre as 'instâncias' (sistemas de prática) fundamentais da estrutura social: econômica, político-institucional e ideológica, essencialmente. A economia determina, em última instância, a forma particular da matriz. As combinações e transformações das estruturas sociais se fazem pelas prática sociais, que se inserem em diferentes locais da estrutura assim definida. A ação dessas práticas sociais
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