A Morte e o Pescador
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A MORTE E O PESCADOR Ernani Ssó
Há muito tempo, quando os bichos falavam e a Lua não vinha da Ásia, um pescador viveu uma tremenda fase de azar: por meses não conseguiu pegar nem mesmo uma sardinha. A mulher dele alimentava os onze filhos com sopas de razes e capim. !as at" as razes e o capim estavam acabando. #ntão, pra completar, nasceu o filho n$mero doze. % pescador olhou o menino e disse, antes de ir para o mar: & 'e não pegar nada ho(e, desisto. )ou para a cidade. *om sorte arrumo um emprego. 'enão, viro mendigo. A mulher não disse nada. % pescador procurou um lugar onde nunca tinha ido antes. #ra perigoso, com rochas a pique, as ondas batendo com for+a. #le preparou o anzol e o (ogou o mais longe que pde. -a mesma hora sentiu o peso na linha, o cani+o vergando. & isguei um / o pescador disse alegre. / # " dos grandes. 0ecolheu a linha com todo o cuidado. -ão era pei1e, não, mas uma velha gadanha. % pescador atirou a gadanha numas moitas e resolv resolveu eu continuar pescando. pescando. !al o anzol foi ao fundo, o pescador sentiu o peso na linha e o cani+o se vergando. 2essa vez não ficou alegre. 'implesmente recolheu a linha. -ão era pei1e, não, mas um afogado, com uma veste preta como de monge. % pescador desenganchou o anzol. & *oi *oitad tado, o, sob sobrou rou apen apenas as o esq esquel ueleto. eto. % afog afogado ado res respon pondeu: deu: & 3om dia. #u #u sou a !or ortte. % pescador deu dois passos para trás. A !orte se levantou, as vestes vestes encharcadas grudadas nos ossos. & *al *alma, ma, pesca pescador dor.. Aind Ainda a não " sua sua hora. hora. #ncor #ncora(a a(ado do o pescad pescador or pergu perguntou ntou:: & % que que vo voc4 c4 fa fazi zia a no no fun fundo do do ma mar5 r5 & 6i 6ive ve muito muito trabal trabalho ho esta esta noite, noite, num navio navio pirata. pirata. #le #le naufrago naufragou u bem ali. -o meio meio da torment tormenta, a, perdi perdi a gadanha. gadanha. 7rocurava por ela quando voc4 me fisgou. & #s #stá tá ali ali / o pes pesca cador dor di diss sse, e, mos mostr tran ando do a moi moita. ta. A morte pegou a gadanha, deu uma e1aminada e disse: & #stá perfeita. !uito obrigada. 8uero recompensar voc4. 7recisa de alguma coisa5 & %l %lhe, he, pr prec ecis iso o de tan tanta ta coi coisa sa que que nem nem sei sei o que que diz dizer er.. & 7e+ e+a a a mais imp impo ortant nte e. 7reciso de uma madrinha para meu filho que nasceu ho(e. A !orte ficou pensativa por um momento. & Ace Aceito ito.. *omo presen presente te para meu meu afilhad afilhado, o, dou um consel conselho ho a voc4: (ogue (ogue seu anzol anzol ali, ali, onde onde as duas ondas ondas se encontram. 2ito isso, a !orte foi embora. % pescador, sem entender, obedeceu. !as não pegou nenhum pei1e. '9 sacos com moedas de ouro / doze sacos, como se fosse uma para cada filho. 0ico com o tesouro do pirata, o pescador deu uma grande festa para o filho menor. A !orte compareceu. -ão aceitou nem um doce, nem uma bebida / batizou o menino e foi embora. -a sada, disse ao pai: & 'e el ele e pre preci cisar sar de al algu guma ma co cois isa, a, me ch cham ame. e. -ão precisou. % menino era saudável, alegre e muito traquinas. 7assaram&se tantos anos que o pescador at" se esqueceu da comadre. ma tarde, passeando pela praia, viu algu"m sobre uma duna, as vestes pretas abanando ao vento. 8uando chegou mais perto reconheceu a gadanha na mão direita, contra o c"u. & #n #ntã tão, o, co coma madr dre, e, há qu quan anto to te temp mpo. o. & #u esperav ava a por voc4. & *hegou a mi min nha hora5 & *hegou. & 7o 7oss sso o pedir pedir um fav favor or,, (á (á que que somos somos co compa mpadr dres es5 5 & 2e 2epe pend nde. e. 'e fo forr coi coisa sa rá rápi pida da.. .... & ;o ;ost stari aria a de rez rezar ar,, ant antes es que que voc4 voc4 me lev levas asse se.. & 7ode rezar. & !e le levva s9 s9 dep depoi ois, s, co coma madr dre5 e5 & '9 depois. & 7a 7aii -os -osso so que. que... .. / o pesc pescado adorr diss disse e e se se cal calou ou.. & # o resto, co compadre5 & % res resto to eu di digo go out utra ra ho hora ra.. & )o )oc4 c4 sabe sabe que não adi adiant anta a tenta tentarr me eng enganar anar / a !or !orte te diss disse. e. & 'ei 'ei,, sei. sei. !as a vid vida a tem sido sido boa. boa. Ai Ainda nda tenh tenho o muita muita cois coisa a pra faze fazer. r. & #n #ntã tão o at" at" da daqu quii a po pouc uco, o, co comp mpad adre re.. A !orte se virou e sumiu atrás da duna. % pescador voltou para casa, pensando sem parar. -ão sabia mais como viver. azia tudo que lhe desse na cabe+a ou continuava do mesmo (eito5 2evia retardar sua morte por um ano ou dez, por dez ou cem5 7assado algum tempo, distrado andando pela praia trope+ou num morto. & 7obre homem / o pescador disse. / !orreu afogado. #, sem nem se dar conta, rezou por ele. 8uando disse a $ltima palavra, o morto se levantou. #ra a !orte. & )amos, compadre.
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