A Morte Chega Cedo - Análise Contrato de Leitura_Gonçalo_Ribeiro

October 19, 2017 | Author: Gonçalo Ribeiro | Category: Poetry, Death, Life, Homo Sapiens, Time
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Trabalho de contrato de leitura para português acerca do poema "A morte chega cedo" de Fernando Pessoa...

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Gonçalo Ribeiro, Colégio Casa-Mãe

“A morte chega cedo” Análise intertextual

Gonçalo Ribeiro

Índice 1. Introdução 2. Desenvolvimento a. Síntese b. Análise 3. Conclusão 4. Bibliografia

Introdução

Escrito por Fernando Pessoa no ano de 1933, “A morte chega cedo” é um poema que procura demonstrar que, na vida humana, a morte chega sempre cedo. No entanto, quando se tem em conta a data de óbito do seu autor (1935), o poema ganha um cunho ainda mais pessoal, já que Fernando Pessoa morreu precocemente apenas dois anos depois de ter escrito “A morte chega mais cedo”. Desgastado pela angústia que o persegue e a constante busca de si próprio, Fernando Pessoa cedo percebeu, provavelmente, que morreria antes de dar ao Mundo todo o seu possível contributo. Nesse sentido, o meu trabalho visa confirmar a tese apresentada por Fernando Pessoa no seu poema, tendo em conta uma notícia do Jornal de Notícias, escrita em 02-02-2016, que aborda a morte precoce de jovens nas estradas portuguesas. Ao ler este poema de Fernando Pessoa, apercebi-me que, tendo em conta que a vida é sempre surpreendente, poderei não ter o impacto no Mundo que espero ter. Como é natural, essa perceção deixa-me preocupado, mas, ao mesmo tempo, também mais consciente do valor da vida e, por isso, considero que a leitura e análise deste poema é importante qualquer pessoa. Por fim, abordei este poema, porque nunca tinha sido analisado em aula. Ao avaliar uma obra deste autor, procuro demonstrar que compreendi o método que abordamos em aula e, assim, sentir-me capaz de analisar qualquer obra deste autor.

Síntese A notícia do Jornal de Notícias, intitulada como “Mais de 300 jovens morreram nas estradas em apenas quatro anos” aborda um relatório apresento pela Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária que afirma que, entre 2010 e 2014, 387 jovens, com idades entre os 18 e os 24 anos, morreram devido a acidentes rodoviários nas estradas nacionais. O artigo revela também que, neste período, houve 1575 feridos graves e 28895 feridos leves.

Análise “A morte chega cedo” é constituído por 3 estrofes de quatro versos. Estes variam entre redondilhas menores, hexassílabos e redondilhas maiores. Em geral, é utilizado no poema uma linguagem simples e corrente. Entre as características típicas de Fernando Pessoa, a ausência de título e o recurso à anástrofe (“breve é toda a vida”) são as suas características mais notáveis e evidentes, assim como o recurso à metáfora para comprovar a sua tese, apresentada na primeira estrofe. No entanto, as suas habituais temáticas, como a dor de pensar, a fragmentação do “eu”, a nostalgia da infância ou o fingimento poético, não são abordadas neste poema. Pelo contrário, embora através de uma perspetiva filosófica diferente, este poema aproxima-se mais às temáticas do heterónimo Ricardo Reis, que também aborda a consciência da morte. O poema de Fernando Pessoa aborda a temática da morte, afirmando que esta “chega cedo”. Na primeira estrofe, o autor refere que, independentemente da duração, “breve é toda a vida”. Apesar disso, eu optei por me referir a uma notícia que aborda a morte precoce, através de acidentes rodoviários, uma vez que esta apresenta uma realidade mais crítica e extrema. No final da primeira estrofe, através da metáfora “ O instante é o arremedo de uma coisa perdida”, o sujeito poético evidencia que tudo que se faz na vida acabará por se perder. Na segunda estrofe, o sujeito poético evidencia que, embora se possa começar a realizar os sonhos, estes nunca serão definitivamente concretizados (“O amor foi começado,/ O ideal não acabou,”), tendo em conta que a vida é demasiado breve para os realizar e, para além disso, resumindo palavras de William Shakespeare, enquanto há vida, há sonho e esperança. Para além disso, o “eu” lírico considera que, mesmo nos momentos em que os sonhos são satisfeitos, não temos consciência da sua realização e, por isso, morremos com o pensamento de que não alcançamos aquilo que pretendíamos alcançar (“E quem tenha alcançado/ Não sabe o que alcançou.”). Neste momento, estabeleço também uma relação de interesse com a notícia do Jornal de Notícias. Tendo em conta a morte dos jovens em acidentes de viação, de uma forma precoce, estes faleceram inesperadamente e, por isso, não puderam refletir acerca do seu contributo do Mundo, morrendo, por isso, sem saberem o que alcançaram.

Na terceira estrofe, por fim, o sujeito poético refere que a morte acaba com os sonhos, uma vez que os “Risca por não estar certo”. No entanto, este mostra também que a vida acaba sempre quando ainda há algo por realizar “No caderno da sorte/ Que Deus deixou aberto”. Associando a vida a um caderno, percebe-se que o autor do poema refere-se à passagem do tempo como a escrita num livro que, independentemente do número de páginas, estará sempre por acabar. Neste sentido, e em relação à notícia que abordo, este demonstra que, não obstante a forma como morremos, ou a idade com que morremos, teremos sempre vidas incompletas onde haverá infinitas páginas por preencher, uma vez que, de acordo com a tese apresentada em “A morte chega cedo”, nunca poderemos alcançar todos os nossos sonhos. Concluindo, o poema de Fernando Pessoa procura demonstrar que a morte é imprevisível e, portanto, chega antes de podermos cumprir todos os nossos sonhos e objetivos. Para além disso, “ A morte chega cedo” demonstra que a vida é um desejo e, portanto, mesmo que esta tenha um término, durante a sua duração, devemos procurar cumprir o máximo dos nossos desejos.

Conclusão

Como já referi ao longo do trabalho, “A morte chega cedo” demonstra que, independentementemente da duração da vida de um ser humano, esta será sempre insuficiente para cumprir os seus desejos e, portanto, a vida é sempre curta. Embora neste aspeto se oponha à notícia que demonstrei, eu procurei com a presentação deste artigo do Jornal de Notícias comparar o sentido objetivo de uma vida precoce com o de uma vida curta de acordo com Pessoa (todas). Por outro lado, gostava de reforçar a importância que considero que esta questão tem. Cada ser humano deve ter, na minha opinião, um projeto para o seu futuro. Embora a vida seja, como prova a minha notícia, um poço de surpresas, a verdade é que, definindo uma linha a seguir na nossa vida, poderemos aumentar o nossso impacto no Mundo e, por isso, ter uma vida de maior importância. Mesmo que, como revela “A morte chega cedo” não possamos alcançar todos os nossos desejos, na minha opinião, este é um passo importante para estarmos mais perto de cumprir a nossa missão no Mundo. Afinal de

contas, tal como refere o provérbio popular, “mais vale um pássaro na mão do que dois a voar”. Por fim, embora não seja adepto de uma atitude conformista, a verdade é que devemos estar conscientes da morte e do nosso fim. A nossa tarefa, como diria António Variações, é “não deixar para amanhã o que podemos fazer hoje”. Afinal, como também escreveu o controverso cantor português, mas interpretado pelo grupo Humanos, “Vou viver/ Até quando eu não sei/ Que importa o que serei/ Quero é viver”. Assim, poderei deixar bastante por fazer, mas viverei com a certeza (provavelmente errada) de que, durante a minha vida, estou apenas a um sonho de realizar todos os meus sonhos infinitos.

Gonçalo Ribeiro

Bibliografia

Margato, Dina. (2016). “Mais de 300 jovens morreram nas estradas em apenas quatro anos”. Jornal de Notícias. Nacional. Disponível em http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/interior.aspx?content_id=5010766&page=1 (consultado em 10-02-2016) Pessoa, Fernando. (1933). “A morte chega cedo”. Citador. Disponível em http://www.citador.pt/poemas/a-morte-chega-cedo-fernando-pessoa (consultado em 09-02-2016) SCHÜLER, Donaldo – A Racionalidade no Ortónimo Fernando Pessoa. Porto Alegre, Faculdade de Filosofia do Rio Grande do Sul, “Organon” ano XI, n.º 11, 1966, pp. 63-79. HUMANOS. (?). “Quero é viver”. Vagalume. Disponível em http://www.vagalume.com.br/humanos/quero-e-viver.html (consultado em 10-022016)

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