A malandragem do marketing-reverso
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Artigo publicado no jornal O Paraná, de Cascavel...
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A malandragem do marketing-reverso Alceu A. Sperança
Muitas vezes eles estão a serviço de causas canalhas, como já dizia Graciliano Ramos em Memórias do Cárcere. Mas não há como desprezar a inteligência e a capacidade dos marqueteiros eleitorais. Até seria fã deles, não fosse o aluguel de seus talentos para alguns dos maiores sacanas da República. Em Cascavel (PR), tentaram transformar um projeto elitista de redução do número de vereadores em “proposta popular”. Alegavam que a medida traria economia para o Município, tentando convencer a população, ardilosamente, que menor representação popular traz vantagens e economia. Na verdade, sonham com nenhuma representação além daquela que o poder econômico pode comprar. Nem pensar em vereadores representando movimentos de sem-tetos, sem-terras, sem-nada. Por isso venderam uma proposta antipovo como se fosse “iniciativa popular”. Desta vez, dançaram.
Uma trama interessante se deu no Ceará, onde o governo estadual é do mesmo bloco federal de poder. Como foram adquiridos trens elétricos e ninguém deu muita atenção a isso, já que o governo não fez mais que a obrigação, plantaram o boato de que os novos veículos elétricos não caberiam nos túneis: ficariam entalados quando entrassem em operação. O passo seguinte foi criar uma polêmica em torno do assunto: afinal, os trens elétricos passam pelos túneis ou ficam entalados? Para responder a essa questão, o governo não mandou apenas o corpo técnico emitir laudos e divulgá-los pela imprensa, como normalmente se faz. A Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) promoveu um “teste aberto”, convidando a participar os internautas que davam nas redes sociais, como o Twitter e o Facebook, muita repercussão ao boato do suposto entalamento. O teste serviria para provar o que os técnicos, o governo e a imprensa já sabiam: os trens elétricos são compatíveis com os túneis. Claro, jamais seriam adquiridos se não o fossem. Seria um absurdo imperdoável um governo de Estado, com um quadro técnico altamente qualificado e responsável, adquirir trens que não caberiam nos túneis inexistentes. Assim, monta-se a alegre caravana de internautas para um ostensivo teste de trafegabilidade dos novos trens elétricos nos túneis.
Duas centenas de pessoas participam e logo começam a chover imagens e opiniões nas redes sociais e na ingênua imprensa blogueira: os caluniadores quebraram a cara, porque os trens passam, sim, pelos túneis! É claro quer passam. Só os oposicionistas mais néscios e irresponsáveis compraram a falsa ideia de que não passavam. Por aí se vê que muitos boatos são espalhados pelos próprios “caluniados” para depois “provar” que estão certos. Num episódio lastimável e jamais apurado, em Cascavel ninguém jamais disse que o diploma de médico de Lísias Tomé (PPS) era falso, mas apareceram panfletos afirmando esse absurdo. Aí o candidato chorou nos debates da TV e se elegeu, atropelando os favoritos. Ao tentar se reeleger apresentando apenas obras, desabou para o quarto lugar. E em Fortaleza não deu outra: os trens não só entram nos túneis, o que se comprovou no passeio sobre um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), como agora, além dos desmentidos dramáticos, entram no rol de truques para propaganda as “visitas guiadas”, uma espécie de comício turístico. Em outros lugares, juntam os objetos comprados na frente da prefeitura e abrem um barulhento foguetório. Logo descobrirão que os “passeios-comícios” e outros truques de marketing-reverso dão mais prestígio (e menos riscos de derrota) que corridas em kartódromo.
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