A linguística como estudo científico 5 - Martelota

November 27, 2018 | Author: professordeportugues | Category: Natural Language, Linguistics, Science, Human Communication, Epistemology
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A) Manual de linguística

A construção negativa dupla, como em "Não quero isso, não", ilustra bem esse pomo. No discurso falado no português do Brasil, a pronúncia do "não" tónico que precede o verbo frequentemente se reduz a um '"num" átono, ou até mesmo a uma limples nasalização. Para reforçar a ideia de negação, o falante utiliza um segundo "n.io" no fim da oração, como uma estratégia para suprir o enfraquecimento fonético do "não" pré-verbal e o consequente esvaziamento do seu conteúdo semântico. Assim, o Acréscimo do segundo "não" tem motivação comunicativa. E interessante o fato de que em algumas áreas do Brasil, mais especificamente no Nordeste, desenvolveu-se uma tendência de utilizar apenas o segundo "não": "quero não", "sei não", e assim por diante. Essa estrutura frasal só é possível pela existência t Ir 11 in estágio intermediário em que, por motivos comunicativos, ocorre a negativ a dupla mencionada anteriormente. A linguística como estudo científico Para proceder ao estudo científico da linguagem é necessário que se construa nina teoria geral sobre o modo como ela se estrutura e/ou funciona. O linguista busca sistematizar suas observações sobre a linguagem, relacionando-as a uma teoria linguística construída para esse propósito. A partir dessa teoria, criam-se métodos rigorosos para a descrição das línguas. O estatuto científico da linguística deve-se, portanto, à observância de certos requisitos que caracterizam as ciências de um modo geral. Em primeiro lugar, a linguística tem um objeto de estudo próprio: a capacidade da linguagem, que é observada a partir dos enunciados falados e escritos. Esses enunciados são investi gados c descritos à luz de princípios teóricos e de acordo com uma terminologia específicae apropriada. A universalidade desses princípios teóricos é testada através da análise de enunciados em várias línguas. Em segundo lugar, a linguística tende a ser empírica,5 e não especulativa ou inmiiiva, ou seja, tende a basear suas descobertas em métodos rígidos de observação. ()n seja, a maioria dos modelos linguísticos contemporâneos trabalha com dados publicamente verificáveis por meio de observações e experiências. Estreitamente relacionada ao caráter empírico da linguística está a atitude não preconceituosa em relação aos diferentes usos da língua. Essa atitude torna a linguístic a, primordialmente, uma ciência descritiva, analítica e, sobretudo, não prescritiva. Para (auto, examina e analisa as línguas sem preconceitos sociais, culturais e nacional istas, normalmente ligados a uma visão leiga acerca do funcionamento das línguas. A l i ngu ística considera, pois, que nenhuma língua é intrinsecamente melhor ou pior do que outra, uma vez que todo sistema linguístico é capaz de expressar adequadament e a cultura do povo que a fala. Desse modo, uma língua indígena, por exemplo, não é inferior a línguas de povos considerados "mais desenvolvidos", como o português, o i nglês on o (rances. Linguística Além disso, a linguística respeita qualquer variação que uma língua apresente, independentemente da região e do grupo social que a utilize. Isso porque é natural q ue toda língua apresente variações - de pronúncia (falar vs.falã; bicicleta vs. bicicretá), de vocabulário (aipim/macaxeira; abóbora/jerimum) ou de sintaxe (casa de Paulo/casa do

l'.i 11 Io) - que manifestam níveis semelhantes de complexidade estrutural e funci onal, l )essc modo, ao observar essas variedades da língua, os linguistas reconhecem sua relação com diferentes regiões do país, grupos sociais, etários e assim por diante. A postura metodológica adotada na linguística, portanto, decorre naturalmente d.i definição do seu objeto e considera, sobretudo, que:  todas as línguas e todas as variedades de uma mesma língua são igualmente

apropriadas ao estudo, uma vez que interessa ao linguista a construção de uma teoria geral sobre a linguagem humana. Cabe ao pesquisador descrever com objetividade o modo como as pessoas realmente usam a sua língua, falando ou escrevendo, sem atribuir às formas linguísticas qualquer julgamento de valor, como certo ou errado. Isso significa dizer que a linguística é não prescritiva.  a língua falada, excluída durante muito tempo como objeto de pesquisa,

tem características próprias que a distinguem da escrita e constitui foco de interesse de investigação. Ou seja, a linguística, apesar de se interessar também pela escrita, apresenta interesse especial pela fala, uma vez que é nesse meio que a linguagem se manifesta de modo mais natural. Como se pode concluir a partir do que foi visto até aqui, a linguística tem como  «l »|c(o de estudo a linguagem humana através da observação de sua manifestação oral

mi estrita (ou gestual, no caso da língua dos sinais). Seu objetivo final é depreend er os princípios fundamentais que regem essa capacidade exclusivamente humana de i-\l>ics,são por meio de línguas. Para atingir esse objetivo, os linguistas analisam  como .is línguas naturais se estruturam e funcionam. A investigação de diferentes aspectos das diversas línguas do mundo é o procedimento seguido para detectar as características il.i liiculdade da linguagem: o que há de universal e inato, o que há de cultural e idquirido, entre outras coisas. Pode-se, portanto, dizer que a linguística executa duas tarefas principais: o estu do d.is línguas particulares como um fim em si mesmo, com o propósito de produzir «|I-M i icões adequadas de cada uma delas, e o estudo das línguas como um meio para  iluc i informações sobre a natureza da linguagem de um modo geral.

Linguística e sua relação com outras ciências l Ima vê/, afirmada como ciência, delimitando objeto e metodologia próprios, ii linguística reivindica sua autonomia em relação às outras áreas do conhecimento. Nu passado, o estudo da linguagem se subordinava, por exemplo, às investigações da

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