A Invasao Xing LIng

April 9, 2019 | Author: Fernando Braga | Category: Nokia, Mobile Phones, Brand, Quality (Business), Telecommunication Equipment
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CONSUMIDOR

 A invasão dos celulares

 XING-LING Volume e variedade de telefones móveis falsificados crescem com a alta demanda no setor. Os aparelhos piratas, feitos principalmente na China, já representam 20% do mercado brasileiro

» FERNANDO BRAGA

O

design é elegante; as funções, múltiplas e o preço, para lá de convidativo. Porém basta dar uma olhada mais atenta nesses celulares e é possível perceber que as semelhanças com os modelos de marcas famosas logo desaparecem. Criados com a clara intenção de imitar os produtos badalados do momento, os telefones móveis Xing-Ling, como são popularmente conhecidos os produtos falsificados que vêm da China, se multiplicam no comércio informal e são uma pedra no sapato da indústria regular, que movimenta US$ 1 trilhão por ano. A consultoria Gartner calcula que, somente no ano passado, foram colocados no mercado mundial 150 milhões de aparelhos paralelos — ou 12% do volume total de unidades comercializadas, o que representa uma perda de US$ 120 bilhões para o segmento. No entanto, a participação desses produtos no Brasil pode ser ainda maior e chegar a 20%, segundo estimativas da fabricante Nokia. O assessor jurídico do Grupo de Proteção à Marca (BPG, sigla em inglês para Brand Protection Group) Luiz Cláudio Garé conta que a falsificação de celulares de marcas importantes é um dos tipos de pirataria que regis-

tram aumento mais significativo no país. “No último ano, houve um crescimento exponencial. Oriundos de contrabando, eles entram por portos ou fronteiras”, diz o advogado. Ele explica que a procura cada vez maior por celulares impulsiona o comércio de aparelhos que imitam modelos conhecidos ou mesmo sem marca, também conhecidos como MP7, MP8, MP9 ou até onde alcançar a criatividade numérica de quem os fabrica. “Na última década, a telefonia móvel cresceu num ritmo acelerado no Brasil e sempre que há forte demanda por um produto, a pirataria ‘come’ uma fatia do mercado oficial.” Na Feira dos Importados de Brasília, cópias de celulares, muitas delas grosseiras, são vendidas com nomes bem semelhantes aos dos respectivos originais. “O HiPhone e o mini-N95 são os que mais saem”, conta um feirante, em referência aos produtos que imitam o iPhone, da Apple, e o N95, da Nokia. Em diversos sites de venda, também é possível encontrar produtos claramente inspirados em modelos de sucesso. Em comum, o preço bem abaixo dos c o -

brados em lojas autorizados. É possível encontrar aparelhos que custam até 20% dos valores das versões oficiais.

Baixa qualidade O assessor jurídico do BPG explica que a variedade de funções é outro fator que chama a atenção de quem procura os aparelhos. “Hoje, eles vêm com TV digital, câmera e são desbloqueados. O problema é que a qualidade é infinitamente inferior e não corresponde às especificações divulgadas. Por exemplo, os celulares dizem ter câmeras de 12 megapixels, mas na verdade oferecem apenas 1MP ou 2MP”, alerta Garé, ressaltando que quase a totalidade dos produtos falsificados que entram no país vem da China. “Lá, existe todo um mercado que funciona em função da cópia e que conta com uma tecnologia disponível para realizar essas falsificações em grande volume e de maneira rápida.” Foi justamente por causa de recursos

extras que o atuário Bernardo Azevedo, 27 anos, conta que adquiriu, há um mês, um clone do E71, da Nokia. “Estava precisando de um telefone que aceitasse dois chips de uma só vez. Se existisse um produto da marca que oferecesse esse recurso, eu iria preferir comprar o original”, argumenta. O diretor de Relações Governamentais da Nokia, Luiz Cláudio Carneio, lembra que, no fim do ano passado, o vice-presidente global da marca e exprimeiro-ministro da Finlândia, Esko  Aho, foi convidado a dar uma volta na Feira dos Importados e se surpreendeu com o volume de cópias oferecidas no local. “Na ocasião, um mesmo modelo clonado da Nokia era vendido em uma banca com dois preços diferentes, por um ser de melhor qualidade que o outro. Ou seja, eles mesm o

admitem que as cópias duram apenas poucos meses”, diz. Para ele, as perdas dos fabricantes que atuam no setor são incalculáveis. “Primeiro, temos o problema da imagem da marca. Além disso, a competitividade é desleal,  já que temos custos atrelados com importação, homologação e garantia que não são pagos por aqueles que atuam no mercado paralelo”, paralelo”, conta. “Além de não gerar empregos ou receitas com impostos, os falsificados ainda podem desestimular o volume de investimentos em um país,  já que a marca perde espaço no mercado e a escala de produção tende a ser reduzida”, conclui Carneio.

Riscos são avaliados O gerente de Certificação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Itamar Barreto, explica que, antes de começar a vender um produto no mercado brasileiro, todos os fabricantes de celulares devem obter a homologação  junto à agência. “O processo é uma garantia de que os modelos que chegam às vitrines são compatíveis com a tecnologia adotada no país e atendem os requisitos técnicos de funcionamento e qualidade, assim como as condições de garantia e de assistência técnica”, diz.  Atualmente, 330 modelos homologados pelo órgão são comercializados. “Qualquer equipamento que emite radiofrequência precisa passar por um processo de certificação. Além do problema fiscal, uma vez que a grande maioria desses produtos chega por meio de contrabando, as pessoas põem a saúde em risco ao adquirir produtos falsificados”, falsificados”, alerta. Segundo Barreto, durante o processo de homologação, laboratórios especializados analisam um conjunto de aspectos ligados à segurança e à durabilidade dos modelos. As baterias de lítio, por exemplo, devem ser rigorosamente testadas, pois simples rachaduras podem fazer com que explodam. Os carregadores também são postos à prova — é preciso saber se estão aptos a receber determinada tensão sem provocar possíveis choques nos usuários.

Radiação Como se proteger Para saber se o seu celular está homologado, basta procurar o selo com o logotipo da Anatel, normalmente colocado na parte de trás da bateria ou no manual do usuário. Nele, o usuário encontra um código de barras e um número. Por meio dessa identificação, é possível obter, no Sistema de Gestão de Certificação e Homologação (SGCH), informações sobre o aparelho e a situação em que ele se encontra.

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Uma das avaliações mais importantes diz respeito ao nível de radiação emitido pelos telefones móveis. Para isso, os laboratórios medem uma taxa chamada SAR (sigla em inglês para Nível de Absorção Específica), que verifica o nível de energia captada pelo corpo humano no momento do uso de um telefone. Para não provocar variações de temperatura que possam ocasionar problemas para o organismo humano, uma norma da Anatel determina que essa taxa não ultrapasse os 2 watts/kg.  Além dos perigos para a saúde do próprio usuário, o coordenador de laboratório de radiofrequência do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), Rúbens Maeda, explica que os celulares falsificados e não homologados também podem comprometer outros aparelhos eletrônicos que funcionem por radiofrequência, como telefones sem fio residenciais, roteadores e até MP3 players. (FB)

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