A Ideologia Do Século XX Ensaios Sobre o Nacional-Socialismo, o Marxismo, o Terceiro-Mundismo e A Ideologia Brasileira by J.O. de Meira Penna

April 11, 2023 | Author: Anonymous | Category: N/A
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J. o. de Meira Me ira Penna

A ID E OLOG OLOGIIA   DO SÉCULO XX

Ensaios sobre o Nacional-socialismo, o Marxismo,  o Terceiro-mundismo e a Ideologia Brasileira

 

J. o. de M eira eir a Penn Penna a

A ID E O L O G IA   DO SÉCULO XX Ensaios sobre o Nacional-socialismo, o Marxismo,  o Terceiro-mundismo e a Ideologia Brasileira

 Z ^ i n í t a ^ m j i a f j i á v e f ^ i E f i e t e ecc a

IL i

nórdica

 

OUTROS LIVROS DO AUTOR • Shang Shanghai, hai, aspectos históricos históricos da China Mode Mo derna  rna  — Americ Edl Edlt., t., 194 944. 4. Sarumoto, o romance roma nce da História Japonesa  — Borsol, 19 • O sonho de Sarumoto, 1948 48.. • Quando mudam as capitais  capitais  —   — IBGE, 19 1958 58.. • Política externa, segurança e desenvolvimento   — AGIR, Rio de  Janeir  Jan eiro, o, 19 1967. 67. • Psicologia do subdesenvolvimento  subdesenvolvimento  (Prefácio   (Prefácio de Roberto Campos) — APEC, 1972 (duas edições). • Em berço esplêndido  esplêndido  —  — Ensaios de psicologi psicologia a coleti coletiva va brasileira —  Joséé O  Jos Olym lymplo/ plo/INL INL,, Rio d dee J Jane aneiro iro,, 197 1974. 4. • Elogio do burro  — AGIR, Rio de Janeiro, 19 1980 80.. • O Brasil na idade idade da razão  —  — Forense F orense Uni Univ. v. /IN /INL, L, Rio de Janeir Janeiro, o, 19 1980 80.. • O evangelho segundo Marx  — Convívio, C onvívio, São Paulo, 19 1982 82.. • A utopia brasileira —  Itatiaia, 1988. • O dinossauro. Uma pesquisa sobre o Estado, o patrimonialismo   selvagem e a nova classe classe de intelectuais intelectuais e bu rocratas  rocra tas   — T.A. Q Queir ueiroz oz Edlt. São Paulo, 1988. • Opção preferencial pela riqueza  —  — Instituto I nstituto Liberal, Rio de Janeiro, 19 1991 91.. • Decência Já  — Instituto Libe Liberal ral e Editorial Nórdica, Rio de Janeiro, 1992. Todos os direitos reservados sob a legisl legislação ação em v vigor. igor. É proi proibido bido reproduzir este bvro, no  todo ou em parte, ou transmitir o seu texto sob qualquer forma ou por qualquer melo,   eletrônico ou mecânico, sendo especialmente Interditada a sua reprodução em fotocópias  (xerox), por gravação ou por qualquer q ualquer outro sistema, em antologias antologias,, llivros ivros didá didáticos ticos etc etc., ., a  não ser após autorização específica e por escrito da Editorial Nórdica. Esta autorização só   é desnecessária desneces sária em caso de citaç citação ão nos meios de comunicação com final finalidade idade crític crítica. a. © J. O. de Melra Penna, 19 1994 94 Revisão: Ana Paiva Capa: Felipe Antunes, com Ilustração de Francisco Goya, Los Chinchill Chinchillas. as. Produção Edito Editorial: rial: Pedro Rühs Apoio do Instituto Liberal Rua Prof. AUredo Gomes, 28 22251-080 Rio de Janeiro RJ Fones: (021) (02 1) 286-7775 e 226-6864 Fax:(021)246-2397 Direitos adquiridos adquirido s po por: r: Editorial Nórdica Nór dica Ltda Ltda.. Rua Oito de Dezemb Dezembro, ro, 35 353 3  20550-200 Rio de Janeiro RJ  Fone: (021) 284-8848  Fax: (021)264-8607 Impresso no Bra Brasil sil — ref ref.. 401 /94  ISBN 85-70 85-7007-24 07-240-6 0-6

 

 Z ^ in ít íta a ^ m jia jiaJ J ^ â v e fSi£fi«>teca

A meus netinhos, Blanca e Luiza, André, Eduardo, Pedro, Bernardo e Roberto,  com a esperança de que, ao atingirem a matu maturida ridade. de.  Já tenham as ideologias de nosso século   sido transcendidas e, talvez, esquecidas.

 

sa ber como nadar contra contra a corrente. corrente. o escritor deve saber Octávio Paz

A s idéias têm conseqüências.  Richard Weaver, 1948

Há quatro classes de ídolos ídolos que obcecam a mente humana  humana   (quae mentes humanas obsident). Parafin s de disti distinção nção,,  dei-lhes os seguintes nomes;   prim  pr imei eiro, ro, ídol íd olos os da Tribo  (Idola  (Id ola Tribus); segundo,, ídolos da segundo d a Caverna  (Idola  (Idola Specus); terceiro ter ceiro,, ídolos íd olos do Mercado  Mercad o  (Idola  (Idola Fori); e, quarto; quarto; ídolos do Teatro  (Idola  (Ido la Theatri). Francis Bacon no Novum Organon, Organon,  1607

s tisfa  — o ss ismo os ismos s que, ideologias   pa ra Asatis  para sa façã çãoo de d e — sseu eus aderen ad erentes, tes,     pod  p od em expli ex plica carr todas to das as a s coisas coi sas e todo todoss os aconte aco ntecim ciment entos  os    po  p o r d ded eduç ução ão de urn urna a únic ú nica a prem pr emis issa  sa    — constituem um fe  fen n ô m e n o rec recen ente te e,  durante  muitas   muitas décadas,  desempenhou um pape pa pell insignifi insignificante cante na vida política. Somente a sabedoria da visão a posteriori   noss perm no permite ite nelas descobrir certos elementos   que contribuíram para torná-las tão úteis  à  à dominação totalitária. Hann Ha nnah ah Aren Arendt dt — A s origens do d o totalitarismo, totalitarismo,  111, 13

 

SUMARIO

Introdução / 13 PARTE I 1. O íncubo ínc ubo da Intele Int electu ctuári ária a / 21 2. O Nacionalis Naci onalismo mo como Religião Relig ião Civil / 41 3. O AntiAn ti-se semit mitism ismo o / 62 4. Sobr Sobree o Socialism Soci alismo o como Utopia Uto pia / 68 5. O Maniqueísm Maniqueísmo o da Esque Esq uerda rda X Direit Dir eita a / 79 6. De Marx Ma rx ao Total To talita itarism rismo o / 102 7. O Fascism Fasc ismo o e o Nac Nacion ionalal-so socia cialis lismo mo / 1 11 19 PART PA RTE E 11 8. O Nacionalis Naci onalismo mo no Brasil: o Integral Int egralismo ismo / 143 9. O Nacionalis Naci onalismo mo no Brasil: o Getulis Getulismo mo / 1 14 48 10. A Ideolo Ideo logia gia P ó s -1988 no Brasi Bra sill / 1 16 61 PARTE III 11. Mar Marx, x, o Prof Pr ofeeta / 179 179 12. Sobr So bree o Impe Imperial rialism ismo o/1 197 97 13. A Teoria Teo ria da Dependê Depe ndência ncia Revisit Rev isitada ada / 222 índice Onomástico e Geográfico / 241

Bibliografia / 251

 

INTRODUÇÃO

Estou, neste livro, reunindo três tip>os de estudos e artigos, a partir do próprio texto da edição de 1985. Na primeira parte, uma série de seçóes sobre o signiflcado da ideologia, o nacionalismo, o socialismo, o fascismo e os aspectos da problemática ideológica que conduzem à realização da Identidade desses movimentos, em ação nas democracias liberais. Na segunda segun da parte, tr três ês capítulos (8, 9 e 10) sobre os efeitos que a ideologia exerceu no Brasil, Brasil, desd desdee a Revolução de 193 1930 0 até nossos dias, dias, com uma seção especial sobre Getúlio Vargas. Na terceira parte, final mente, trabalhei com uma série de textos, enriquecidos a partir de conferências no Conselho Técnico Técnico da Confederação Nacional do Comér cio (publicados na Carta Mensal  daquele   daquele órgão) e de artigos, no Jomal   da Tarde  de  de São Paulo, escritos escritos em mais de 30 anos de pre preocupaçã ocupação o com problemas de filosofia política, política, política brasileira e versando a conduta de nossas relaçóes relaçóes internacionais, internacionais, sempre tentando demonstrar a inci dência dos fatores Ideológicos apontados, detrás da mera expressão concreta de política parti partidária dária e conflitos de pod poder er entre as naçóes. naçóes.  Trin  Tr inta ta an anos os de d e preocu pre ocupa paçã ção o com co m o pro proble blema ma... ... Q u e dig digo! o! Mai Maiss de d e 50 anos, pois era eu estudante universitário, no final da década dos 30, quando me vi envolvido na profunda cisão entre “esquerda” e “direita” que então se exacerbava... e que pouco compreendia. Talvez haja uma fatalidade no próprio ano em que nasci — 1917! É a data da Revolução Russa e do aparecimento dos Estados Unidos como potência mundial hegemônica, acontecimentos que determinaram, determinaram, por ventura, o desper tar de uma atenção atenção pela situação internacional que n nunca unca esmoreceu e que, incl inclusive, usive, contribuiu contribuiu para par a a escolha da carreira diplomática como profissão.

Essa carreira me permiti permitiu u testemunhar testemunhar,, in loco, a II Guer Guerra ra Mundial, Mundial, pois me encontrava em Shanghai, em 1940-42, e na Turquia, em 1944-45; assistir ao colapso do anclen régime   chinês em 1947-49, aos A Id eo log ia D DO O SÉC SÉCULO ULO X X

 

primo rdios da Guerra primordios Gu erra Fria no próprio próp rio cen cenáir áirio io da ONU em 1953-56, ao contencioso árabe-israelense em 1967-70 e, finalmente, participar da problemática do confronto brasileiro com o totalitarismo, como secretário-geral adjunto adjunto para a Europa O Oriental riental e Ás Ásla la (1966(1966-67), 67), no Itamarat Itamaraty, y, e como embsiixador embsiixador em Varsóvia, Va rsóvia, no p período eríodo interessa interessante nte que constituiu o surgimento do movimento da   O ensaio configura, nesse sentido, um discurso que, confio,Solidámosz. seja coerente e apresentando uma tese bem definida definida — tese que foi amplamente amplame nte confirmada no Annu Annuss Mirabilis  Mirabilis   de 1989. A histó história ria de nos nosso so século séc ulo é a h histó istória ria do h home omem m sin singulEU". É a história do conflito do individuo livre, em sua resistencia ao avassalamento crescente pela sociedade sociedade coletivista, a sociedade de massas que q ue o socia lismo e a estrutura do Estado nacional soberano impóern. E a história do protesto contra o que os alemáes, que disso mais sofreram do que qualquer outro povo, chamam de Massenmensch   em suas diversas modalidades. A história da resistencia contra o que Ortega y Gasset descreveu Também do lado de cá da rebelión defoi lasatacada, masas. numa Cortina de como Ferro,La nossa mente espécie de psicopatologia coletiva, pelos mitos e manipulações ideológicas, e a adoração de ídolos como aqueles a que se refería Francis Bacon. A cada um coube sltuar-se nesse entrevero fatal. Este llvro comporta um posicionamento essencialmente essen cialmente liberal, com o qual. tcilve tcilvez, z, possam muitos comu comungar, ngar, nas mesmas preocupações e angústias. Minhas conclusões sáo de que a estrutura do Estado-nação que socializa a economia e os meios de comunicação, dir dirigind igindo o a opinião para uma uniformidade de convicções como com o a Gleichshaltung  que  que os nazistas impunham, é obsoleta. Nem o socialismo, nem o nacionalismo, nem o social-liber socialliberalismo alismo romântico de esquerd esq uerda a que a eles se entrega oferecem soluções para nossos problemas problemas de escala planet planetária. ária. Ou a humanidade supera a idade do Estado-nação, sacralizado na reli religião gião civil do so socialis cialis mo, ou estarã condenada pelo peloss impass impasses es que não podem ser abordados e vencidos a nível de interesses tribais conflituosos. Nossa meta, por conseguinte, é transcender a ideologia da religião política. Cabe-nos superã-la numa sociedade aberta, pluralista e ecumênica, orientada segundo critér critérios ios de razão prãtica ou ética pragmática — uma sociedade aberta para o mundo mundo mas introvertendo, na autonomia d do o homem mora morall responsável, os princípios da filosofia perene. Escrito em 1984 1984,, foi este livro publicado em prim primeira eira edição no ano seguinte, graças graças ao empenho da Soc Sociedade iedade Convívio de São Paulo, a cuj cujos os

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diretores, Adolfo Crippa diretores, Crippa e Gumercindo Gume rcindo Rocha Dórea, desej desejo o aqui, nova mente, manifestar manifestar me meu u reconhecimento. Nos quase dez anos que inter vém, assistimos ao colapso monumental do comunismo; à emergência dos Estados Unidos como única superpotência e nação líder da Nova Ordem que, orientando a vida internacional, se estende agora sobre o 14

A Ideo logia DO SÉCU SÉCULO LO XX

 

planeta; e ao aparente triunfo do liberalismo económico que anuncia a internacionalização final do planeta. Esses episódios possuem conse qüências históricas monumentais. Consciente de sempre haver orientado minhas observações pelo caminho que a história está demonstrando ser o correto, atrevo-me a oferecer uma nova edição, revista e aumentada aum entada,, deste ens ensato ato..

No momento de maior aflição, quando o reino de David e Salomáo sucumbia sucum bia sob o oss golpes dos assírios e dos bab babilonios, ilonios, alguns dos grandes profetas hebreus — Isaías, Jeremias, Ezequiel, Amós — falaram nos “Restos de Israel”. Essa expressão, o Resto ou Remanescente — aquilo que sobrou no momento de colapso, a fração que sobreviveu na calami dade geral — constitui um elemento essencial da esperança bíblica. O resto rest o fiel, o rest resto o escatológico permane permanece ce como condição de renascimento da filosofia perene, a filosofia da liberdade, imune às vicissitudes da história. histór ia. Na Grécia Antiga também, a es escola cola de Sócrates, de Platão e de Aristóteles permaneceu como um rres esto, p pregando regandote a ordem de urn urna cldad cldade ideal, sustentada por cidadãos Hvresto, Hvre sem moralmen oralmente responsáv responsáveis. eis.aA idéiae do resto escatológico transitou transitou para o cristianism cristianismo: o: os primeiros cristãos, ao enfrentarem as perseguições perseguições do m monstruoso onstruoso Estad Estado o imperial romano, conslderavam-se remanescentes de urna prom promessa essa que ssee la la,, bre brevem vemen en te, realizar no triunfo triunfo do Reino de Cristo. A lembrança do Re Resto sto me veio á men mente te ao apreciar a tese de um amigo e colega da Universidade de Brasilia, o Professor Nelson Lehmann da Silva: “A Religião Civil do Estado Mo Moderno” derno” . É com humildade e orgulho que me considero membro. Juntamente com o autor desse livro, dos Remanescentes de Israel. Como ele, creio pertencer ao grupo restrito daqueles que, em nosso país, se recusam a prestar homenagens às ideologias da moda; e que procuram a verdade ver dade dentro do ovo desse fénix, sempree renasc sempr renascido ido no fogo da tradi tradição, ção, sob sobre re a Ordem da Alma, a alma de um indMduo Uvre e responsável. É urna tradição, creio eu, que herdamos dos profetas israelenses, israelenses, de Sócra Sócrates tes e de Santo Agostinho. Quando li a disser dissertação tação d dee doutorado de filosof filosofia ia de Lehm ann ann— — que. mestre na Universidade de Colonia em 1972, recebeu seu PhD na Universidade da Csüifómia Csüifómia em Da Davis, vis, 198 1980 0 — logo me entusiasmei pelo tema. Julguei esse estudo historiográflco sobre a evolução do conceito de religião religião civil no Estado moderno da m maior aior relevância pa para ra a comp compreen reen são do que se passa no mundo e, sobretudo, sobretud o, do que ssee passa no Brasil, sempre em disponibilidade institucional. Aqui, estamos sentindo com a

maior evidência o crescimento do culto do Leviatã, o terrível “deus mortal mor tal?, ?, antecipado na Bíblia e anu anunciad nciado o por Hobbes. Foi precisamen precisamente te no momento em que me preocupava com a publicaçã publicação o da primeira edição deste ensaio sobre a ideologia do século XX, XX , que 11 a postulaçã postulação o de

A I d e o u x s i a  d o  S é c u l o  X X  

Lehmann sobre a Ideo Ideologi logia a como a fo forma rma seculariz secularizada ada ou “ideologizada” do que qu e era, outrora, a fé cristã. O nacional-socialismo de nossos dias, tanto em suas formas formas “fasc “fascis is tas” e nacionalistas de “direita” , quanto nas versões de “esquerda” mais entusiasticamente acolhidas nos países em desenvolvimento, com a praxis do marxismo, é de fato a religião civil desta idade de apostasia geral. Desde Rousseau, Hegel e Marx, a nação, governada por seu mais fiel partido, substituiu a Igreja tradicional, com sua hierarquia, como objeto de fé, de amor e de esperança. Hobbes, em pleno século XVII, foi aquele que, em primeiro lugar, antecipou ambiguamente o surgimento do moderno Leviatã: nunca se soube se ele aplaudia o absolutismo real ou se procurava, fato inédito, preservar os direitos dos indivíduos. O monstro do Apocalipse apresentaria seus efeitos jierversos em nosso século: duzentos milhões de mortos em duas guerras mundiais, inúme ras revoluções, terrorismo, terrorismo, guerras civis, conflitos regionais e guerri guerrilhas. lhas. Como historiador da dass idéias idéias,, Lehm Lehmann ann da Silva no noss descreve o surgimen to da besta best a feroz no h horizonte orizonte da história his tória de nossa civilização. O que me fascinou na tese é o paralelismo de sua procura dos autores relevantes e o apreço por aqueles mesmos que sempre me atraíram ao tema. Para só citar alguns: Mircea Eliade, G. van der Leuw, Hans Kohn, Norman Cohn, Berdlaev, Tilllch, Kolakowski, Talmon, Aron, Monnerot, Hannah Arendt, Guardini, Lõwith, Pieper. Seduziu-me sobretudo o recurso a  Jung.  Ju ng. O ps psicó icólog logo o suíço de demo monst nstrou rou as ne neces cessida sidades des míst místicas icas da psi psiqu quee humana cujo fundamento arquetípico tem de ser satisfeito, sem o que descamb desca mba a para pseudo-rel pseudo-rellgiões lgiões políticas, às vezes fantasiadas fantasiadas de teolo teolo gia Ubertado Ubertadora. ra. Encantou-me tam também bém a referência fiel a Voegelin, autor au tor que descobri há mais de 30 anos. Eliminando a filosofia histórica de Spengler Speng ler e Toynbe Toynbee, e, desc descreve reveu uV Voegelin oegelin a evolução do mundo ocidental que, havendo haven do dessacralizado o Estado graças à doutrina agostlnlana das Duas Cidades, Cidades , se dedico dedicou u omin ominosam osamente, ente, a partir dos pr profundos ofundos distú distúr r bios desse extraordinár extraordinário io séc século ulo XIII — o sécul século o do pré-renasc pré-renascimento imento — a secularizar a religião. Foi por força do fenômeno gnóstico que a Ersatzreligion,  consubstanciada numa Ideologia luciferiana, ressacralizou o Estado. É através desses autores que podemos compreen compreender der o grande processo milenar de Introversão da ordem e da lei, no coração do cidadão responsável responsável e na alma do homem moralmente “sincronizado” com a transcendência. transcendência. O processo que perfeitam perfeitamente ente define a cont contribui ribui ção do Ocidente O cidente à filosofia p perene. erene. Mas o ensaio que, em segunda edição, revista, atualizada e aumen

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tada, agora ao não édosóEstado dirigido contra as mais óbviasofereço da ideologia ou público, religião civil moderno queformas os autores acima mencionados foram os primeiros a denunciar: o nacionalismo, o fascismo, o marxismo e o socialism socialismo. o. De Desejo sejo apo apontar ntar para sol soluções uções onde as descubro. Novas correntes de pen pensam samento ento se hão ergui erguido, do, na Eu Europa ropa 16

AIdeouxjiadoSéculoXX

 

e na América do Norte, contra a estatlzaçâo galopante ga lopante e hão proclamado, com novo entusiasmo, os méritos do capitalismo democrático e do liberalismo — o mesmo que brilhou no século XVlll e entrou em eclipse por mais de 150 anos, em meados do século passado. Sigo tais correntes que sáo ditas “liberais”. O impacto das tendências do “Segundo Liberalismo” se exerce sobretudo no terreno da economia política, razáo pela qual tantos empresários são, no Brasil, os principais patrocinadores e ativistas nos Institutos Liberais. A inspiração é de econo mistas europeus como Ludwig von Mises, Friedrich Hayek e P.T. Bauer; e americanos como Milton Friedman, Murray Rothbard, Israel Kirzner, Gary Becker, James Buchanan, para só citar alguns. Hayek exprimiu suas arraigadas convicções em livros como O caminho da servidão  e   e Mises em Ação humana, ambos traduzidos pelo Instituto Liberal do Rio de Janeiro. Esses livros foram considerados a Bíblia da ciência econômica neoliberal. São idéias que conduziram a uma revalorização do conceito clássico de economia de mercado merca do e de livre Iniciativa Iniciativa empresarial, e a uma condenação correspondente correspo ndente do socialismo, do nacionalismo autárquico e restritivo, restritivo, e do do poder avassaladoré do Estadosine soberano, com o argumento de quecrescentemente uma abertura econômica condição qua non    para  para a sobrevi vência da democracia, a revitaliz revitalização ação do desenvolvimento e a consolidação dos direitos de liberdade, se segurança gurança e propriedade do indivíduo moralm moralmente ente responsável. No Brasil, Brasil, a defesa das concepções concepções de Hayek Haye k e compa companhia nhia se concen conce n trou em torno dos Senhores Henry Maksoud e Roberto Campos, e dos oito Institutos Liberais distribuídos por várias capitais do país, com Donald Stewart e Jorge Gerdau à frente. A divulgação das teses do liberalismo lib eralismo tem sido, porém, favoravelmente exercida e xercida por muitos m uitos te tecnocnocratas e alguns raros políticos. Não só essas teorias têm inspirado a gestão da economia em países ibéricos e latino-americanos de antigo regime militar ou semi-militar, e em países prósperos da Ásia Oriental, mas nos próprios Estados Unidos registra-se o nascimento de um movimento mais profundo, de caráter “libertário”, que denuncia o cres cimento do intervencionismo de Washington. O movimento libertário prega um voluntarismo de fortes alicerces éticos. Ele retoma o fio dos pensadores britânicos de fins do século XVII a princípios princípios do século sécu lo XIX, tais tais como Locke, Burke, Burke, Adam Ada m Smith, David Ricardo, Malthus, Bentham e John Stuart Mill; e franceses como Montesquieu, Bastiat e Tocqueville — reafirmando o direito natural e os méritos da liber liberdade dade e da propriedade individual, com ênfase ên fase no sentido de responsabilidade moral. Mantêm-se assim na mais pura tradição da

famosa “ética protestante”, sociologicamente tão associada ao nome de Max Weber. Diante da religião civil dominante, os “Restos de Israel” não são “politicamente “politicame nte corretos” corre tos” . São, ao contrário, hereges. Gente Gen te que estraga estrag a a A

I d eo eo l o g gii a d o S é c u l o

XX

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festa. Gente egoísta, reacionária, entusia en tusiasta sta da ditadura milit militar ar e até, às vezes, vendida a “forças “ forças ocultas” financiadas pelo estrangeiro. estrangeiro. Devemo Devemos, s, de qualquer forma, introduzir no Brasil toda uma nova corrente de pensamento que o establishment  intelectual, a intelligentsia  encastelada  encastelada nas universidades e na Desejo mídia, que ignora repudia combate pela conspiração do silêncio. silêncio. esteoumeu ensaioou sirva como uma espéciee de aríete co espéci contra ntra a fortaleza obsoleta que se p pretende retende atualizada. atualizada.

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A Id eo log ia

 

Parte I

DO SÉ SÉCU CUU5 U5 XX

 

1.

o ÍNCUBO   D A INTEL INTELECTUÁ ECTUÁRIA RIA

O século XX é um século eminentemente político e ideológico. Assemelha-se aos séculos XVI e XVll, no sentido era que é assolado por guerras de religião, religião, salvo que as religiões que se en enfrentam frentam são “religiões civis”, “religiões políticas”, religiões ersatz.  São, em outras palavras, ideologias. Quando nos espantamos com as motivações em virtude das quais, há 400 anos, os homens se engalfinhavam, engalfinh avam, torturavam torturavam,, fuzilavam, enforcavam, queimavam vivos, esquartejavam e degolavam em torno de temas do gênero predestinação x livre-arbítrio, uso do vinho na comu nhão, transubstanciação na eucaristia ou poder do Papa de salvar as almas do purgatório pela venda de indulgências — devemos imaginar o que nossos descendentes, dentro de outras duas ou três centúrias, pensarão sobre nossas violentas discórdias. Argüimos que católicos e protestantes se massacravam em nome de uma religião de paz e amor. Mas o que dizer de nossas guerras e revoluções, sempre iniciadas em nome de puros puros ideais de jus justiça, tiça, liberdade, paz e civilização? O que, para os homens do futuro, futuro, significarão significarão termos como nacionalismo, na cionalismo, fascismo, socialismo, marxismo, comunismo, maoísmo, trotskismo, nasserismo,  justic  jus ticla lalis lism m o? Se houve hou ve uma u ma cruza cru zada da cont co ntra ra a Boêmia, Boêm ia, os partid pa rtidário árioss de

cujo líder, João Huss, eram denominados utraquistas   e perseguidos somente porque desejavam comungar sob as duas espécies, o pão e o vinho — sub utraque specie   — o que dizer das nossas discrepâncias ideológicas ideológic as que giram, muitas vezes, ve zes, era torno de noções como as de raça ou mais-valia ou ou distinções bizan bizantinas tinas quanto ao grau grau de intervenção interven ção do Estado na economia, coletivização da agricultura e nacionalização de empresas, na base de argumentos com distinções manlqueístas de “direita” “direit a” e “esquerda” “esquerda” que jamais jam ais são perfeitamente definidas? LembroA I d e o lo lo g i a d o S é c u l o XX  

me de que, há alguns anos, espantado, perguntei sobre qual a origem das desavenças que opunham dois dos entáo considerados maiores arquitetos brasileiros. Atribuía-as, naturalmente, a rivalidades profis sionais. Não, contestaram-me: a explicação era de que Oscar e Afonso Eduardo não se falavam porque era um stalinlsta, o outro trotsklsta... Na minha adolescência, no final dos anos 30, os anos terríveis de conflitoss e revoluções na Europa que iam conduzir conflito co nduzir á 11Gu 1Guerra erra Mund Mundial ial,, a dicotomía ideológica seguia os padrões de urna “direita” que se carac terizava como católica e nacional nacionalista ista (o slogan  da  da época épo ca era ““Deus Deus,, Pát Pátria ria e Familia”) e de urna “esquerda” não menos claramente definida como socialista e intemacionalista. Havia poucas nuanças intermediárias. Os que se diziam democratas se sentiam esmagados esm agados eentre ntre os dois monstros, com tendência a pender sempre para um lado ou para o outro. Foi precisamen precisa mente te essa polarização extrema que conduziu á guerra. No Bras Brasil, il, déla se aproveitou Getúlio Vargas para impor sua ditadu ditadura ra personalista, com mui vagas conotações conotaçõ es positivistas. Após o conflito, nova polarização se caracterizou, reacendendo-se periodicamente no aquecimento da chamada “guerra fria”. Procuremos traçar as origens desta situação de obsessiva preocupação política e ideológica. A primeira pergunta que se pode fazer é a seguinte: como com o se eexplica xplica que a unid unidade ade da civilização ocident ocidental, al, na Idade d das as Luz Luzes es  — a Iluminação do século XV XVlll lll — que produziu a arte barroca e o neoclassicismo,, chegando a um consens neoclassicismo consenso o sobre os mér méritos itos da razão huma na e criando uma bela utopia política e social sob a égide dos princípios sublimes de liber liberdade, dade, de igualdade e de fraternidade — se tenha romp rompido ido no século XIX? Por que motiv motivo o essa ruptura deu origem, em nossa própri própria a centúria, ao contencioso entre o ideal democrático pluralista, sustentado no princípio da liberdade; e o democratismo ou democracia totalitária que enfatizou a igualdade econômica do socialismo e a fraternidade da comu nhão nacional? Como nasceu o nacional-socialismo? A Idade da Razão havia Invocado o poder soberano da inteligência humana, huma na, individual. Através dos instrumentos da ciência e da tecnologi tecnologia, a, e valendo-se do método cartesiano de Idéias claras e precisas, devia o homem racion racional al vencer as fformas ormas supersticiosas de convivência, supri mir os privilégios arbitrários e eliminar a autorida autoridade de moná monárquica rquica repres

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siva, alcançando a sua própri própria a autonomia moral. Mesmo o despot despotismo ismo esclarecido dos reis reis da época era considerado uma configuração transi tória para p ara a pr preparação eparação de uma forma mais livre e racional de convivência conv ivência na sociedade. Libertado das cadeias do passado, o homem da razão anunciava um admirável novo mundo  de  de progresso, liberdade e bem-es tar. Essas promessas começaram, no entanto, a descarrilar a partir mesmo da Revolução Francesa. Foi um processo que pode ser ilustrado no famoso desenho de Goya em que vemos um homem adormecido, sentado numa cadeira, sobre o rótulo: el sueño de la Razon produce 

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A IDEOUX IDEOUXÍI ÍIA A DO SÉ SÉCU CULO LO X X

 

monstruos...   Isso pode ser interpretado tanto como “o sonho da razão produz monstros” quanto, contraditoriamente, “quando dorme a razão, monstros são produzidos” .. .... São estes monstros m onstros irracionais, com orelhas de burro, burro, que alimentam as massas cegas e encadeadas, como em outra ou tra gravura de Goya de que me servi para ilustrar a capa deste liv livro. ro. Os primeiros monstros monstros foram gerados nas elucubrações incoerentes de Rousseau. Rousseau. Revivendo a velha heresia pelagiana, Jean-Jacques proc procla la mou a perfeição perfeição da natureza humana, negou as conseqüências do pecado original e atribui atribuiu u às instituições sociais a responsab responsabilidade ilidade úni única ca pelas perversidades do mundo. O princípio segundo o qual “devemos obrigar o homem a ser livre” e a negativa em reconhecer a incompatibilidade entre o princípio da igualdade e o princípio da liberdade conduziram a insanáveis contradições contradições de ond ondee surgiu o terror jacobino jaco bino.. As orige origens ns do que se chama a democracia dem ocracia totali totalitária tária têm sido sufici suficientemente entemente estu estuda da das, valendo citar, neste particular. Sir Karl Popper, J. L. Talmon e Hannah Arendt. Os elementos ideológicos de que se ia compor a demo cracia totalitária estavam também presentes em Rousseau: a nova “religião civil” civil” do culto da pátria que se transformaria em nacionalismo; nacionalism o; e a extensão do igualitarismo à vida econômica, que se processava em coincidência com o desabrochar do capitalismo e os primórdios da Revolução Industrial, Industrial, dando nascimento ao socialismo. Foi Rousseau sucedido por Hegel e pelos promotores do idealismo alemão. Inclusive Inclusive Marx. Seu duplo propósito era claro: 1) a destruição do cristianismo; e 2) sua substituição por uma religião civil, es sencialmente política, exclusivista e totalitária. totalitária. A religião civil naciona na cional l socialista da Idade Moderna concebeu uma nova sociedade espiritual. Assim, redescoberta redescobe rta (p (pois ois outrora todos a reconheciam, era a Igreja!), ela tem o nome de Povo. É a comunidade fraterna da imensa coletividade nacional.. A ins nacional insistência istência no caráter popular e nacional é de tal t al ordem que, no mundo socialista, não se hes hesitou itou diante do dupl duplo o pleon pleonasmo: asmo: ““Repú Repú blica Democrática Popular...” O “povo” passa a ser uma entidade mística sobrenatural, fonte da “vontade geral” a que se referia referia Rousseau nas suas teses levianas. A pseudo-religião, que representa um rito de aceitação universal, cultua um ídolo neopagão que inspira e conduz à violência, agressiva e destruidora, e a aventuras bélic bélicas as insensatas os regimentos de adolescentes adolescentes utopistas, fanatizados pelo odor de sangue.

A dinámica revolucionária do totalitarismo belicista e agressivo, no patriótico culto culto do monstro, é alimentada pela expectativa de um Te Terceiro rceiro Estágio, Estági o, o estágio de Síntese — a Terc Terceira eira República, o Terceiro Relch, a  Tercei  Ter ceira ra Rom Roma, a, a Ter Tercei ceira ra Int Interna ernacion cional, al, o Ter Terceir ceiro o Mu Mund ndo, o, etc etc.. — no qual, como explicava Mussolini, “a relação imánente com urna lei mais alta” encontraria a plenitude da satisfação. satisfação. Nessa etapa, serla encon encontrada trada a solução  po  políti lítica  ca  final   final aos problemas existenciais do homem. E em tal estágio de secularização suprema, a po política lítica é considerada o cam caminho inho da

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salva ção pela autonegação do Indivídu salvação Indivíduo o e sua beatífica absorção no holon   coletivo, imanentizado. O triunfo da d a felicidade corporativa! corporativa! Hitler revelou-se até até modes modesto to em suas ambições quando proclamou, para o Terceiro Reich, mil anos de duração, um mero milênio para estabelecer o domínio mundial da raça germânica germ ânica e salvar salvar a humanidade da degenerescencia étnica. Lenin acreditava, com seu mestre Marx, que a nova pátria do proletariado seria etema e que a história alcançaria hegelianamente o seu fim. Não debca de ser estranho encontrarmos na mesma ilustre ilustre companhia os franciscano franciscanoss comunistas erót eróticos icos da Ordem de Joaquim de Floris, Floris, do séc século ulo X lll; a efusiva masturbaç m asturbação ão sentimental de Rousseau; os secos catedráticos das academias alemãs, obcecados com a dialética hermética de de Hegel; os entusiastas entusiasta s do socialismo marxista sob todas as suas espécies; os ideólogos ideólog os frustrados frustr ados e ressentidos da Rive   Gauche,  possuídos pela revelação ideológica; o Herrenvolk  conduzido   conduzido à derrota pelas intuições estratégicas geniais do Führer; e os os terroristas terrorist as da ETA, Baader-Meinhof, Baader-Mein hof, PLO, IRA ou ou MR-8, à esper espera ad da a Revolução Mundial Mund ial que desejam propiciar pela metralhadora e a dinamite. Tal, entretanto, é o sentido universal, omnipotente, do arquétipo! Para todos, o nacional socialismo consubstancia o grande mito do século XX! XX! Na apreciação final da problemática do Estado-nacionai, o Estado  Jagan  Ja ganata ata legitim legitimado ado pela ideolo ide ologia gia eoletiv eole tivista ista,, julgam julg amos os que um vício víci o fundamental de sua estrutura moderna é o reclamo de soberania. A palavra soberania indica uma pretensão de autoridade exclusiva e suprema, um poder sem qualquer possibilidade de contestação ou concorrência. Ora, o Estado nacional é obsoleto. As calamidades bélicas e revolucionárias do século XX, bem como os problemas sociais e econômicos monumentais que se erguem diante da humanidade no vestíbulo do terceiro milênio, conduzem à conclusão de que estamos diante de uma situação situação de crise galopante galopan te para atender à qual o Estado nacional soberano, em vista sobretudo da exacerbação danosa da sua agressividade e prepotência, prepotência, não es está tá mais preparado. preparado. Dados recentes, coletados por um grupo independente com sede em Washington e consubstanciados num relatório denominado World Prio-   rities, revelam que mais de 23 milhões d dee pessoas já pereceram em mais de 150 guerras, revoluções e guerrilhas ocorridas depois da II Guerra Mundial. Desde o ano de 1991, que marcou o fim da Guerra Fria e

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pareceu anunciar um abrandamento geral das tensões, estariam em curso umas 30 pequenas conflagrações locais que já provocaram seis milhões de mortes. Muito embora acredite que a humanidade esteja transitando da Idade das Guerras para a Idade do Crime, a verdade é que a violência organizada de origem política continuará em suas devas dev as tações enquanto enqu anto um ti tipo po de de autoridade autorid ade suprana supr anacion cional al não for for conceb concebido^ ido^ provida de meios coercitivos tendentes a coibir es.sa violência.-íí' O espectro da criminaiidade criminaiidade crescente crescen te se revela precisamente no seio seio 24

A IlI lIB BllJ llJlO lOIA IA KlS KlSfaU faUlUl lUlXX XX

 

dos órgáos que foram foram criados para corriglcorrigl-la la — as Nações Unidas. A eliminação de tal perspectiva que ameaça a própria sobrevivência da civilização me parece abrir-se em alternativas que implicam, em arabos os casos, um enfraquecimento da soberania nacional. A sobrevivência final dessa multidão barulhenta e moleque de pequenos países atrasados e Inviáveis, como os cento e tanto que proliferam na África, Ásia, América Latina e Oceánia, me parece duvidosa — e justamente porque náo sáo viáveis é que a consciência exaltada de sua soberania so berania e identidade nacional nacional Ihess põe a perder. Cabe, nesse particular, urna Ihe urna enorme enorm e responsabilidade às grandes nações ocidentais e sobretudo à nação líder lí der do Ocidente, pois, além da sua simples defesa, defesa, lhe lhess compete dar o exemplo exemp lo e sobre elas recai o dever de procurar, procurar, por via de sábios entendimentos, a constituição de entidad entidades es supranacionais capazes de propor e impor a solução para os problemas u niversais já apon apontad tados. os. O que podemos afirmar afirm ar é que o mundo está a exigir uma nova noçáo de responsabilidade moral do Estado. A nova estrutura supranacional deve dispor de meios eficientes de poder para atender aos desafios propostos propostos — sem que, entretanto, fique comprometida a dignidade e a liberdade suprema da pessoa humana. humana.

Segundo foi reconhecido pelo pensador austro-americano Eric Voe gelin, geli n, a ordem espiritual ou ou Ordem da Revelação judeu-cristã consubs co nsubs tanciada na dicotomía augustiniana da Cidade de Deus, eterna, e da cidade terrena, sede do poder temporal temporal pragmático, pragm ático, dicotomía d icotomía dominante em nossa cultura por 15 séculos, passou a ser contestada a partir do Renascimento e do Iluminlsmo. Anunciou-se um “terceiro estágio” dia lético. léti co. O reino divino seria estabelecido na própria própr ia Terra, com os recursos da ciência e pelos próprios meios humanos. Voegelin qualifica essa contestação de gnose.  Ele procura traçar sua origem nas heresias que hão acompanhado o desen desenvolvimento volvimento da religião cristã. É o tema de seu seu ensaio A nova ciência da política.  Na visão do filósofo, constitui o gnosticismo gnostic ismo a própria essência intelectual da modernidade. A ordem da existência humana em sociedade que, no paganismo, era cosmológica mente simbolizada e que, no cristianismo, encontrou sua expressão na imagem image m do reino paradigmático de Santo Agostinho Ago stinho — o qual secularizava e relativizava o Estado — passou, a partir do século XVI, a ser

formulada em termos ideológicos. O Estado foi então ressacralizado à medida que se secularlzava a religião. Primeiro, através da monarquia absoluta com seu seu “désp “déspota ota esclarecido” esclarecid o”;; em seguida, através do conceito  povo; vo;  para finalizar nas democracias totalitárias há poucos abstrato de po anos desaparecidas. Foi Hobbes quem genialmente anunciou essa nova dispensaçâo, repaganizante, que introduziu no Ocidente a teologia polí tica do Estado-nação moderno, com sua religião civil intramundana e imanentista. O poder é a nova e única realidade. A força de um tigre e a A I d e o l o g ia ia

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astúcia de uma raposa são, para Maquiavel, as virtudes do Príncipe. O poder político representa representa a forma existencial suprema em que se afoga e desaparece desap arece o homem singular, em sua liberdade eticamente responsável. No dualismo gnóstico, conforme assinala Voegelin, o mal não pode ser atribuído à vontade pecaminosa do indivíduo, porém é resultado inevi tável da existência no mundo material. Dessa condlçáo terrível, só uma pequena pequen a elite de indivíduos que conhecem (gnose  a realidade subjacente (gnose)  )  a (no caso, os intelectuais marxistas e políticos radicais) é capaz de escapar do determinismo da vida material e forjar a utopia em que serão realizadas todas as aspirações humanas hum anas e todos o oss desejos satisfeitos na  just  ju stiç iça aen no o be bem-est m-estar. ar. No mundo contemporâneo, a fé se converteu em ideologia “científica” , a esperança esperanç a se transformou em expec expectativas tativas utópicas de uma realizaç realização ão política, no reino da Terra, e o amor se vulgarizou em mero erotismo. Contudo, por detrás da catástrofe provocada provo cada pelo relativismo moral e do espantoso crescimento do poder científico, tecnológico e industrial na civilização moderna, um aprofundamento da consciência humana se desenha no horizonte da história. É essa minha convicção e minha esperança. Depois da “morte de Deus” , o homem es estaria taria amadurecendo, conformee pensava o tteólogo conform eólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, no sofrimento e na angústia de nosso século terrível e uma emergência da autonomia moral do indivíduo singular, responsável perante si mesmo e seus semelhantes, se estaria caracterizando. Numa visão otimista do século XXI — e antecipação que contraria expectativas gerais desastrosas deste final de milênio — podemos ima ginarr três novas grandes etapas ou conqu gina conquistas istas no desenr desenrolar olar do progres so humano. A primeira, no plano material, seria o controle da fusão do hidrogênio, acompanhada acom panhada pela inform informática ática e a robotização da indústri indústria, a, proporcionando proporci onando à humanidade u uma ma nova era de expansão e bem-estar bem-estar econômico. A segunda, no campo político, implicaria a superação do conceito de Estado-nação, soberano e sacralizado. Isso deve deveria ria acarretar a liquidação da religião civil e a unificação política do mundo, num processo de que lhe é difícil difícil prever a forma, mas que nos parece essencial à sobrevivência da civilização. E a terceira, no plano da ordem espiritual, comportaria uma renovação da espiritualidade, em termos religiosos imprevisíveis, e uma nova atenção do homem às ne necessidades cessidades transcen trans cen

dentes de sua alma.

Mas o que é, exatamente, a ideologia? Não a podemos analisar sem sabermos, inicialmente, em que consiste o próprio termo. Ora, verifica mos logo ao início sua ambivalência e confusão de sentidos. A palavra ideologia  parece  parece haver sido originaria originariamente mente utilizada pelo filósofo francês do Iluminlsmo Étlenne Bonnot de Condlllac Con dlllac (+1780), no espírito est estritarita26

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 phtio tioso soph phes  es  daquela mente racionalista do círculo dos ph  daqu ela época de fervur fervura a no pensamento. Tomand Tom ando-se o-se amigo de Rousseau e de Diderot Diderot,, Condillac introduziu na França a psicologia “sensacionalista” de Locke. Ambos davam precedência preced ência à percepção e àexp àexperiên eriência cia como fonte dos conteúdo conteúdoss da psique. Já liberal em suas crenças políticas e económicas (pois postulava a utilidade, e náo o trabalho, trabalho, como origem do valor, afirmando que “nossas necessid.ades é que fazem o valor e nossas trocas o preço”), Condillac fundou um movimento, de grande influência na França até a Revolução de 89, denominado Ideólogie. E  Ele le era, iincidentalm ncidentalmente, ente, irmão do abbé   Mably, geralmente considerado um dos grandes utopistas do século XVlll e listado por Engels como um dos precursores do comunis mo, colocado entre os Levellers   da primeira Revolução Inglesa e o igualitarista radical Gracchus Babeuf, morto no período reacionário termldoriano da Revolução Francesa. Estamos, portanto, já nos aproxi mando do rico sentido do termo... Maine de Biran, ou outro tro filósofo francés (+1824), se coloca entre os idéologues   por haver tirado de seu colega Destutt de Tracyaapsique convicção de que,também além dos sentimentos, razão e das percepções, do homem possui a vontadedapara agir sobre o mundo físico. Destutt de Tracy (+1836) é consid considerado erado o primeiro a utilizar o termo ideologia   num sentido que corresponde ao que hoje possui. Sua obra Éiéments d'idéologie   foi publi publicado cado em 18 1801 01,, como expressão de urna urna escola a que pertenciam Cab Cabanis, anis, V Volvey olvey e outros, cujo intuito era determinar a origem das idéias mas de um ponto de vista estritamente materialista, como o produto da sociedade. Tracy citava Helvétius, o filósofo iluminista do século anterior: “Nos idées sont les   conséquences necéssaires des sociétés dans lesquelles mus vivons".  Sustentando-se também em Rousseau, Tracy repudiava o cogito, ergo   sum  su m  de Penser, c ’est toujou t oujourr sent se ntir”. ir”. Isso não o  de Descartes e proclamava: “Penser, impediu de ser vigorosamente repudi repudiado ado por Napoleão, q que ue deu ao termo ideologia uma conotação pejorativa, qualificando a nova “ciência das idéias” de “cette ténébreuse métaphysique”. No capítulo 16 de meu livro de 1988, O dinossauro, uma pesquisa   sobre o Estado, o patrimonialism patrim onialismoo selvagem e a nova classe de intelectuais  intelectuais   e burocratas,  faço referências ao termo, sinalizando ser a ideologia o produto cerebrino de uma nova espécie de intelectual, surgido com a modernidade. Nessa obra, valho-me dos trabalhos, hoje clássicos, de

 To cqueville  Tocque ville,, de Jul Julien ien Be Benda nda (La trahison des clercs),  de Raymond Ar Aron on (L'opium des intellectuels),  de Eric Voegelin e dç Alain Besançon. Três outros livros podem ser acrescentados a essa lista: La rebelión de Ias     de dono Ortega Gassett (com permissão Mello masas, Kujawski, do yassunto...); The aservile State, de de Gilberto Hillaire de Belloc, e Dominations Dominat ions andpower, andpow er, de George Santayana, não m mencionados encionados naquele meu livro. Dante Germino, em sua obra Beyond ideology,  salienta o reducionismo ideológico de Destutt de Tracy, Augusto Comte e Marx e

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argum enta que o “assa argumenta “assalto lto contra a teoria política” conduz ao messianismo e à crença na solução final de todos os problemas epistemológicos e existenciais através da política. Desses autores, parece-me que Besançon oferece uma das mais claras e completas definições definições do que seja a ideologia. Em Les origines inteilectuelles   du léninisme, léninisme, ele define “urna doutrina sistemática que promete, mediante conversão, uma salvação; que se dá conforme a urna ordem cósmica, decifrada em sua evolução; que declara apoiar-se sobre urna certeza científica e que impõe uma prática política política visando a transformar tota totalment lmentee a sociedade, de acordo com o modelo imánente que esta encobre e que a doutrina descobriu”. Vemos, desde logo, o progresso da concepção de ideologia: de um simples sistema de pensamento metódico para a com preensão sociológica da política, passou a constituir urna espécie de pseudo-religião civil ou “teologia secularizada” (urna Weitanschauung.  ou cosmovisão, como é o termo alemão correspondente) tal como figura nos grandes movimentos históricos deste século, o comunismo soviético, o nazismo, o nacionalismo, o socialismo soc ialismo e o mais recente terceiro-mundismo. terceiro-mundism o. O socialismo, aliás, como Nietzsche já nitidamente notara, é o produto corrompido de um cristianismo em dec decü' ü'ni nio: o: um cristianismo inteiramente secularizado. Como certa vez cheguei a definir, o socialismo é o altruismo ou a caridade cristã impostos pela polícia... A deterioração do sentido do termo ideologia já se torna aparente, no entanto, pouco tempo depois de sua criação na cabeça de Condillac, Maine de Biran e Destutt de Tracy. Friedrich Engels, o companheiro de Marx, compreende compreend e a ideologia como ur urna na man maneira eira de pensar especial. Na ideologia, o pensador desconhece os verdadeiros motivos de suas Idéias e ações,que permanecem inconscientes. incons cientes. Em outras palavras, uma “falsa consciencia” encobre as motivações determinantes (principalmente eco nómicas) que orientara orientara o sistema de convic convicções ções e o comportam comportamento ento social das pessoas. Nesse sentido especial, de valorização claramente claram ente negativa, a ideologia é urna espécie de máscara. Foi Marx que provocou essa mudança de rumo na genealogia da palavra, acrescentando-lhe conteú dos de essência moral. Um burgués, nesse sentido, sempre pensa como um burgués, burgués, capitalista que é. é. Um aristocrata pensa e comporta-s comporta-see como um aristocrata, latifundiário feudal que é. Segundo Marx, os revolucio

nários franceses de 1789, como os revolucionários ingleses de 1649, consideravam-se possuidores de certos modos absolutos de existência moral, de valor universal, universal, náo diferentes, por exempl exemplo, o, dos republicanos romanos, no caso dos franceses, ou dos hebreus do Antigo Testamento, no caso dos ingleses. É no Dezoito brumário   e na Ideoiogia aiemá   que Marx Ma rx e Engels postul postulam am serem as convicçõe convicçõess políticas e morais determ determi i nadas, exclusivamente, pelos meios de produção e pelo papel que as classes ocupam nessa estrutura económica. económ ica. A ideologia seria uma “falsa consciência”. Ela pertence apenas à super-estrutura mental, é o epife28

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nômeno de algo que a estrutura econômica de produção forçosamente determina, sem que os atores nesse drama estejam disso conscientes. Marx Ma rx usa com frequência o termo “fanta “fantasia” sia” como sinónim sinónimo o de ideologia, aplicável às concepções “idealistas fantasmagóricas” que não reco nhecem o “materialismo “materialismo histórico” histórico”.. A tese, como se sabe, é de hegelianismo às avessas. Ela estabelece o absoluto relativismo moral mor al eum nega a possibilidade de concepções éticas perenes, tais como liberdade, justiça, direitos humanos, etc., fora das condições históricas que estejam condicionando a estrutura política e social soc ial do m momento. omento. A reviravo reviravolta lta acro acrobática bática que Marx realizou nas teses de Hegel foi por ele denomina denominada da “materialismo histórico”. Uma série série enorme de autores têm, no ent entanto, anto, provado que a própria teoria teor ia de Marx sobre a ideologia e as de todos seus sucessores sucesso res caíram na mesma esparrela de se imaginarem li livres vres do determinismo que afeta a ideologia. Afinal de contas, tanto Marx quanto Engels não eram proletá rios, pensando como proletários; eram perfeitos burgueses, pensando como intelectuais burgueses ainda influenciados pelo Iluminlsmo do século anterior. Engels, especialmente, pode ser descrito como um rico industrial, provavelmente movido inconscientemente por complexos de culpa. O que, para eles, eles, devia se serr um diagnóstico objetivo, realizado por indivíduos privilegiados, donos da gnose   da realidade subjacente do momento histórico em que viviam, independentes do condicionamento material e possuindo, por conseguinte, uma consciência autêntica, não passa pass a na vverdade erdade de mais ura sintoma sinto ma do mal ideológico em si. Uma interpretaçã interpretação o moderna que tem feito suces sucesso so no meio da esquerda festiva em nosso país é a do francês Michel Foucault, o inventor do “deconstrucionismo”. “deconstrucionis mo”. Tendo escrito um uma a História História da sexualidade, Foucault, quee morreu de A qu AlE lEX XS, lançou a noção amb ambígua ígua de “co “conhecimen nhecimento/po to/poder” der”.. O conhecimento traz poder, n a Institucionaliz na Institucionalização da autoridade que se consubstancia nonão Estado, porém na ação disciplina insidiosalegítima que a Ideologia Ideolo gia impõe pel pelo o controle do corpo segundo normas socialmente defini das. Em sua obr obra a decisi decisiva va sobre A s origens do totalitarismo, Hannah Arendt analisa meticulosamente meticulosamente os perigos no funcionamento mental dos totalitá rios e a ausência de capacidade de distinguir entre o fato e a ficção: “abandonando a necessária insegurança do pensamento filosó filosófico, fico, em troca da explicação total de uma ideologia e de sua Weitanschauung,'  eles não correm tant tanto o o risco de cair em a alguma lguma presunção vulgar e acrítica, quanto

de trocar a liberdade inerente à capiacidade do homem de piensar, piela camisa de força de uma lógica que se impõe com quase tanta violência quanto se s e fosse constrang constrangida ida por um poder exterior”. exterior”. Um professor americano, Lewis Feuer, alega que todos os ingredien tes em qualquer variant variantee da ideologia repete o mit mito o de Mo Moisés isés— — a históri história a dramática da libertação das tribos hebraicas, para fora da sociedade totalitária do Egito faraônico. Eric Voegelin salienta que foi o Êxodo, A

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efetivamente, que inaugurou a simbolização em forma histórica na história da humanidade. No Brasil, lucubraçóes filosóficas em torno de consciência autêntica  autêntica   e f  fa a ls a con c onsci sciên ência  cia  foram,  foram, desde os anos 50, insaciavelmente insaciav elmente elaboradas por nossos marxistas e acredito que continuem falando nisso... Álvaro Vieira Pinto foi quem, associado ao ISEB, com maior profundidade aned an edis isou ou esse aspecto do prob problema lema d da a Ideologia. Na época, tratava-se de criarr uma “Ideologia do desen cria desenvolvim volvimento” ento” que, possivelmente, contribuiu não apenas para coroar intelectualmente os “50 anos de progresso em cinco” , de Kubitschek, mas o “milagr “milagree econômic econômico” o” de Médici — resultado com que certamente não contavam... Fidel Castro, que era um pequeno burguês intelectualizado, foi prova velmente o primeiro líder marxis marxista ta importante a enfatizar o pensam pensamento ento d dee et po u r cause. cause... ..  Gramsci (1891/1937) havia proposto a Antonio Gramsci, etpo tese que, para obter o apoio das massas, devia o chefe revolucionário necessariamente procurar o controle da d a cultura popu popular, lar, apossando-se dos meios que permitem tal controle. Co-fundador do PC italiano, o maior da Europa Ocidental, Gramsci é talvez a figura mais simpática (ou a única figura simpática') de todo o movimento comunista inte internaci rnacional. onal. Livre de tendências dogmáticas, monopolizadoras, ditatoriais e inquisitorlais, ele não dispôs, no entanto, de muito tempo para atividade [lartidária. Eleito deputado pelo PCI em 1924, foi detido em 1927, pouco tempo depois da subida de Musso Mussolini lini ao po poder der,, ccondenado ondenado a 20 anos de prisão e só liberado liberado dois anos antes de morrer, prematuramente, de enfermidade grave (1937).  principa cipais is do d o marxismo, marxism o, Leszek Kolakowski. que Em sua obra As cor corren rente tess prin citaremos frequentemente quando se tratar de marxismo, considera o italiano itali ano o ma mais is o r i n a l dos pensad pensadores ores comun comunista istass no per períod íodo o poste posterior rior a Lenin. Acentuadei também que, emborasão se tenha transformadodoem mártir, Cárcere  seus Quaderni   póstumos  póstumos mais embaraçosos que úteis para a estrita ortodoxia marxista-leninista. Por essa razão pxideria ser considerado o mais “revisionista” de todo o movimento de esquerda. Real mente, não tivesse ele sofrido num numa a prisão prisã o fascista qu quando, ando, platónicam platónicamente, ente, tomou o lado de Stalin contra Trotski, teria sido repelido como detestável heregee e, em vez de escrever obras teóri hereg teóricas cas que o governo de Mussoli Mussolini ni nem se deu ao trabalho de censurar, haveria terminado seus dias como exilado político na URSS, com uma bala da GPU (a polícia secreta de Stalin) na

nuca, em vez de numa cama de hospital italiano, com tuberculose nos pulmões. Sabe-se que o próprio Gra Grams msci ci temia que seus Cadernos  caíssem  caíssem nas Mais mãos do da que GP GPU. U.a Marx deve Gramsci suas idéias a Hegel, através de Benedetto Croce, e a George Sorel, em cujo mito revolucionário se inspirou. Era um historlclsta radical. Hegeliano relativista até onde se possa ser e o mais “antieconomista entre os marxistas”, tornou-se Gramsci Gram sci rrelevante, elevante, historicamente, p or haver introduzido a noção de que 30

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um papel determinante é desempenhado desempenhad o pelos intelectuais no desenvol vimento da consciência ideológica de classe. Nos parece hoje óbvio que a esquerda socialista e comunista comunista é constituída, pel pelo o menos no Ocidente, Ocidente, por intelectuais. No Terceiro Mundo, é ela geralmente composta de militares; enquanto na Rússia e na China foi formada por um número diminuto de agitadores profissionais, oriundos da classe intelectual, manobrando grandes massas de operários e camponeses já organizados militarmente. No Brasil, contudo, sempre foi a esquerda um movimento de elites elites intelectuais intelectuais que qu e controlam a mídia, m ídia, as cátedras universitári universitárias as e os periódicos de grande circulação. O intelectual é aquele que, na concepção de Weber, obedece à ética da pura convicção, desvinculada de interesses econômicos imediatos; aquele que se preocupa, acima de tudo, com o que deve  ser,   ser, o Sollen  da  da terminologia kantiana, descurando da instância empírica emp írica naquilo que é  da mesma disti distinção nção categórica. Se co configura nfigura a praxis praxis realmente, o Sein  da coletiva a única realidade e se aquilo que é e aquilo que deve ser  se  se fundem  praxis), xis),  ex dialeticamente (theoria   ee pra  explica-se plica-se o papel que que a intelligentsia  — ou seja, o que prefiro vernacularmente vernacularmente denomina de nominarr a intelectuária  —  — dev devee tomar na revolução. Caberia então ao intelectual, especialmente àquele que, como aponta Arendt, não nã o sabe bem distinguir distin guir entre o fato e a ficção ficção,, conquistar a hegemonia cultural em proveito das massas que deve conduzir para a tomada do ]x>der. Foi isso de fato o que aconteceu no Ocidente. O gauchisme  exerceu   exerceu aqui um papel surpreendente, conver tendo ao socialismo e ao comunismo escritores, professores, jornalistas jornalistas,, artistas, profissionais libercds e clérigos das Igrejas estabelecidas. A “hegemonia cultural” é assim a principal noção introduzida por Gramsci na metafísica hegeliano-marxista — e não por acaso era ele sardo, um latino meridional de uma sociedade estritamente católica e formada num ambiente afetivo, estético, pouco dado ao pragmatismo racionalizado dos povos nórdicos. Esse ponto me parece importante. Ele foi descurado pelos críticos do marxismo, inclusive por Kolakowski. Na concepção de Gramsci, o que vale é a existência de uma espécie de clero dominante, algo como a Ordem dos Jesuítas, organizados, obedientes, dogmáticos, revoltados com as injustiças e maldades do mundo, e firmemente dispostos a corrigi-las corrigi-las a qualquer qu alquer preço. preço. Em terra de cegos, quem tem um olho é rei. O tipo exemplificado pelo Padre Lima Vaz, S.J., provavelmente o mais “hegemônico” dos clérigos da esquerdigreja em

nossa terra. O próprio Gramsci percebeu que, na Idade Média, a classe dominante não era apenas a nobreza feudal. A seu lado, prosperava o clero que era internacional internacional,, democraticamente dem ocraticamente recrutado, possuía p ossuía a sua própria língua e às vezes se atrevia a desafiar, quase semp sempre re em sentido revolucionário, o domínio do poder exercido pela pe la aristocracia de espada. Isso principalmente na Itália, Itália, sede do papado. Além disso, baixo, feio, corcunda (gobb (gobboj, oj, oriundo de um uma a das regiões

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mais pobres pob res e esqueci esquecidas das da Itál Itália, ia, a Sardenha Sardenha,, Gramsci Gram sci era romântico, ressentido e complexado. Considerava-se “marginalizado”, emarginato,  como todos os seus conterrâneos e todos os proletários cuja redenção revolucionária revolucio nária se propunha realizar. Donde haver concebido a distinção distinção entre centro e periferia, que considerava mais importante do que a hierárquica entreprofessor dominadores e dominados. por esse motivocomo que Dante Germino, na Universidade da É Virgínia, o exalta “arquiteto de uma nova política” e aponta para sua influência sobre Carlos Gutiérrez e Leonardo Boff, os dois pseudoteólogos da libertação que reconheceram explicitamente essa sua dívida. Incidentalmente, muito embora de maneira alguma tivesse deixado de agir politicamente como italiano e exclusivamente como italiano, em L'idea territoriale   (1916) alegava Gramsci que “o proletariado não pode encontrar seu lar na idéia territoria territoriall de pátria porque não possui história e nunca pa partici rtici pou da vida política” — repetindo uma opinião de Marx que, como veremos, é insustentável. O comunista italiano sustentava, no entanto, “ tudo é que “tudo políti política, inclusive filosofia e as filosofias, e aé única ‘filosofia’ éque a história seca, faz, isto é, aap isto própria rópria vida". Como tudo política e como os pobres não participam da política, deduz-se que quem manda é a intelectuária gramsciana. Ora, à luz das teses de Grams Gramsci ci fácil seria comp compreender reender o papel de Fidel Castro na Revolução Cubana e, consequentemente, a simpatia do líder máximo ou Führer   em relação ao pensador italiano, simpatia que é compartilhada pelos demais intelectuais da esquerda latino-americana. Fidel é o perfeito paradigma do intelectual  petit-bo  petit-bourgeoi urgeois  s   que possui o talento,, o gênio mesmo de se metamorfose talento m etamorfosear ar em caudilho militar: o exemplo latino por excelência é Napoleão! Só num país latino podemos ter um intelectual Com comoseus instrumento da ideologia, transformando-se em tirano totalitário. ressentimentos, sua visão melancólica do mundo de estilo gnóstico, seus seus sonhos românticos, a insaciável ggajia ajia do poder, os vôos da utopia que deve metas metastaticame taticamente nte transformar a realidade, realidade, a possessão pelo incubo “daquilo que deve ser” e seu ódio obsessivo de “marginalizado” “marginalizado ” contra o “centro” hegemônico do poder, dominado pelos americanos — o estudante e jovem advogado que se transformou em chefe de guerrilha acabou fornicando uma nação inteira. Como explicar? Os povos latinos latinos possuem uma alma alm a feminina. Para usar a termino term ino logia de Jung, é sua anima  coletiva  coletiva possuída por um animus  ideológico,   ideológico,

um verdadeiro incubo que dela se apodera. Véunos logo em seguida formalizar exorcizar idéiaque de incubo Náo que sendo, como não somoseno Brasil, essa homens pensam,ideológico. mas homens sentem, pensamos femininamente, istoé, intuímos. Neste nosso tipoepinieteano, os pensamentos sobre política e economia se introdiizein, à revelia da consciência lúcida, pela porta traseira da cuca. Literalmente, um povo como o cubano, e como poderia ter sido o brasileiro, foi sodoinizado pela 32

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personalidade hegemônica de Fidel Castro, o grande macho barbudo, espécie de SEmsão de subúrbio. Náo nos admiremos, pois, que estejamos assistindo a ssistindo a esse tipo particu lar de fenômeno, ou seja, o controle da cultura de massa pelos intelectuais de esquerda. Eventualmente, bastaria aparecer apare cer um caudilho populista com suficiente pia piara ra realizar o modelo previstograndes por Gramsci. Vejam o que ocorre comtalento nossas redes de televisão e nossos jornais, mesmo os considerados “conservadores”: o noticiário que influencia a conduta da política externa e afeta o Congresso e o Executivo, a crítica literária e artística, os suplementos culturais dos grandes periódicos, o cinema, as universidades — tudo isso confirma a existência de uma intelectuária já possuída pelo incubo. A maior parte das editoras estão a tal ponto infiltrada infiltradass que, conscientes de não pxiderem comercializar coisa alguma que seja “pxiliticamente incorreta” e danosa à cosmovisão marxista, acabam exer cendo a mais terrível censura sobre os autores de convicções con vicções democráticas, conservadoras ou liberais. Deve-se salientar que foi na década de 70, precisamente no período períod o de linha dura militar, militar, que foram editadas as obras mais características de esquerda, recaindo o peso brutal do controle dos meios culturaiis sobre quem não comungasse com a Vulgata: eram estes logo afastados como suspeitos de cúmplices da ditadura. E praticamente não se piod piodia ia ouvir ou vir um sermão s ermão sem se m que, sob pretexto prete xto de ““op opiç içâo âo preferencial pelos pxibr pxibres es”” , crítica crít ica ao “pieca “piecado do social” e a ansei nseio o de êx êxodo odo do Egito faraônico fa raônico não se ouvisse a repetição monótona das teses de Gutiérrez e Boff. Na verdade, não é Marx, nem Trotski, nem Lenin quem triunfa no Brasil, é Gramsci. Estamos sendo sodomizados pielo incubo ideológico num grau de que não podemos ter idéia. E um dia vamos despertar, sofrendo coletiva mente da “síndrome de deficiência imunológica adquirida ao marxismo gramsciano...” Numa conferência perante o Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio (Carta Mensal  n.458),   n.458), referiu-se Antonio Paim ao caráter teimoso e recalcitrante dos socialistas e marxistas brasileiros, aqueles que se autopromovem como constituindo a “esquerda progres sista”. Acontecem então aberrações tais como a de um adolescente de inteligência primária que cconseguiu onseguiu fazer-se eleger presidente da UNE e se transformou em importante criador de opiniáo pública: de páginas inteiras nas mais conservadoras folhas do país serem dedicadas a produtos cerebrinos que, normalmente, só deveriam merecer o suple

mento cultural do Diário de Garanhuns;  e de uma austera Academia Brasileira de Letras que não elege um homem como Roberto Campos, provavelmente o mais lúcido dos brasileiros empenhados em pensar a política. O que os distingue é a recusa em aceitar o colapso das suas teorias e o não-reconheclmento da realidade ofuscante do liberalismo econômico na atualidade internacional. O efeito prático dess dessee domínio é que a “classe dominante” de intelectuais e burocratas, regurgitando as

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obsessivas tolices do marxismo vulgar, continua obstinando-se em náo adotar as receitas postas em prática tanto na Europa e Ásia Oriental, quanto na própria América Latina, para acelerar o desenvolvimento, assim eliminando os bolsões de miséria do Nordeste e Minas Gerais, e das favelas das grandes cidades.

O Instituto Brasileiro de Estudos Políticos de Brasília, presidido pelo  jorn  jo rnal alis ista ta e profess prof essor or Walde Wa lderr de Góes, Góe s, em inquéri inq uérito to divulg div ulgad ado o num Boletim de junho jun ho de d e 1993, 993, comprova, no entanto, o que poderia po deria parecer surpreendente: no Congresso prosperam as tendências liberalizantes. O IBEP distingue o “Centro-Esquerda “Centro-Esqu erda e Esquerda” , que seria formado pelo PSDB, PT, PDT, PSB, PPS e PC do B, assim como grande pa parte rte do do PMDB, do “Centro-Direita e Direita”, formado pelo PTB, PDS, PL, PDC, PRN, PP e partes do PMDB e PFL. “As clivagens Ideológicas são reais e consisten tes”, acentua o relatório, uma opinião que talvez devamos tomar cum   d isplicência e incoerên grano sali salis, s, haja vista o invariável personalismo, displicência cia da mentalidade patrícia. patrícia. Essa tendência tend ência majoritária para a abertura e o liberalismo no Congresso confirma outra constatação: os inquéritos   de opiniáo revelam que a maioria d da a pop popula ulação ção brasileira está suficiente  mente informada pa para ra fa v o r e c e r aq aque uela lass receita rece itass libera liberais is que estã estãoo sen sendo  do    prov  pr ovad adas as nas “so socie cieda dades des ex exem empl plar ares es”” est estran range geiras  iras  —   — quaisquer que sejam as distorções sofridas pelo noticiário, às mãos dos ideólogos infiltrados na mídia. No questionário formulado pelo instituto transparece que só 60 por cento da “esquerda” revela seus pendores socialistas e marxistas ao não desejar reduzir o papel do Estado, ao passo que 84 por cento da “direita” quer abrir mais a economia ao exterior e seguir as tendências liberais. A oferta de uma terceira alternativa ou “terceira via”, de índole social-democrática,, interfere no resultado — nos casos do petróleo e das telecomunica crática ções, por exemplo. O inquérito do IBEP não o diz, mas acredito que a resistência “esquerdista” que conduz a essa terceira alternativa, pregando muitas vezes a “exploração conjunta”, encontra sua origem não tanto no pensamento socialista, quanto na vertente nacionalista do estatismo e na natural propensão do corporativismo estatal em conservar seus privilégios. privilégios. A CUT e 0 PT, por exemplo, estão interessados em e m manter seu controle das

grandes corporações estatais e do funcionalismo público onde recrutam a maioria de seus membros. O seu propósito, em suma, eminentemente conservador e reacionário, é resistir aos sopros do liberalismo, mantendo mantendo o paternalismo patrimonialista da estrutura estrutu ra social brasileira tradicional. Em 1949, quando ainda pouco conhecido, a não ser em restritos meios de economistas liberais, Friedrich Hayek escreveu um pequeno ensaio sob o título “Os intelectuais e o socialismo”, publicado pela Universidade de Chicago. Hayek havia observado que vivemos em meio 34

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a uma verdadeira guerra intelectual. “Uma guerra que se caracteriza por profunda confusão semântica. Rótulos tais como liberal, conservador e libertário apresentam hoje tantas definições que quase perderam todo significado. Se, por exemplo, uma pessoa não utiliza o adjetivo social em seu discurso, como na expressãoJustiça social, passa a ser classifica classificada da como direitista”. Richard Richar d Weaver Weaver,, um liberal-conservador americano que se havia tom to m a do conhecido, um ano antes, com u uma ma obra d dee relativo sucesso sob o título sucinto; As idéias têm conseqüências,  lançou as bases de um movimento de reação, dito “liberal-conservador”, que lentamente empreenderia uma “reconquista” “reconquist a” da liberda liberdade de contra os dogmas opressivos da ideol ideologia. ogia. Lord Keynes, um pouco antes da guerra de 1939/45, observara que “são as idéias, e não os interesses adquiridos (vested interests)  que   que são perigosos para o bem ou para o mal”. Depois que ideologias, geralmente anêmicas, vieram às vias de fato no maior conflito bélico da história, história, u uma ma nova luta de idéias, as relacionadas com o liberalismo de um lado, as dogmáticas coletlvist coletl vistas as do outro, se desenvolv desenvolveu eu na segund segunda a metade do século. Qu Qua a renta anos anos de pregaçáo, finalmente vitorios vitoriosa a em 1989/1991, coroam o liberalis liber alismo. mo. Mas os combates de retaguarda poderão prosseguir ainda por décadas. Vaclav Havei, Havei, teatró teatrólogo, logo, presidente d da a República tcheca e herói da luta contra o comunismo soviético em seu país país,, refere-se à “ressaca” que a “Revolução de Veludo” está agora provocando em toda a Europa Oriental. O mesmo refluxo, depois da bebedeira estatizante, também se regista em países marginais como o Brasil, que sofrem de tradições autoritárias e patrlmonialistas multisseculares. Falecido em 199 1992, 2, desem desempenha penha Ha Hayek yek em tal polêmica um papel de importância central que será pouco a pouco reconhecido. Ele se refere aos intelectuais como “negociantes de segunda-mão nas idéias”. A expressão cabe como uma luva no que diz respeito aos nossos “turcos” da ideologia. As idéias de esquerda, em nosso meio, são mesmo de tercelra-mão. Vieram de contrabando da França e dos EUA onde os gauchistes  e   e os chamados liber liberais ais ]]á  á  haviam digerido o que, originaria mente, procedia da Alemanh Alemanha a e da Rússia. Hayek observa que a expansão das idéia idéiass socialistas atingiu ur ura a estágio na Alema Alemanha, nha, era ffins ins do século passado, em que se tornaram uma influência determinante na política (e no período entre as duas Guerras se com combinaram binaram com o nacionalismo para cozinhar uma mistura explosiva). Na França e na Inglaterra a

contamina ção ocorreu ao tempo da gue contaminação guerra rra de 14 e só entrou em processo de cura na década décad a dos 80. Nos EUA, porém, como nota Hayek, o ví vírus rus só penetrou depois da 11 Guerra, mas a ação viru virulenta lenta dessa síndro síndrome me de deficiência imunológica adquirida à Ideologia perdura universi dades, nas igrejas constituídas e na mídia. Observa Hayek,nas com ironia, que multo cientista e intelectual alcançou uma imerecida reputação popular de cabeça genial, simplesmente por ser considerado “progres-

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sista ” no sista” noss meios da intelectualidad intelectualidade. e. As pseu pseudoceiebridades doceiebridades sáo particu particu larmente notórias em nosso meio provinciano. E tenho notado uma espécie de reação raivosa depois do ven vendav daval al de 19 1989 89/9 /91 1 que assistiu assistiu ao colapso do socialismo na Europa: a banda de m música úsica da Festi Festiva va toca com o barulho ensurdecedor do rock   para compensar suas frustrações de derrota derro ta e, nest nestas as praias, sselvas elvas e cerrados cerrado s de Plndorama, parece desejar abrir um novo Sendero Luminoso para suas idéias caquéticas. É preci samente sam ente sobre isso que no noss previne Hayek: o mesmo acontec acontecee na Europa e Eiinda nos Estados Unidos, o vitorioso da Guerra Fria. O diabo é que, no Brasil, táo perigosas perigos as talvez quanto as idéias são os interesses corporativistas adquiridos. Acontece que os intelectuais aqui estabeleceram estabelec eram uma ímpia aliança com o Estado e sseus eus burocratas, o que tem por po r conseqüência o seu fervor socializa socializante. nte. A virulência da polêmica não resulta apenas de convicções, planando nas alturas das idéias platônicas. Ela resulta do patrimonialismo, a fortaleza de interesses subalternos ligados ao parasitismo da coisa pública. Por esse motivo, sem dúvida, gostava Gilberto Freyre de se referir ao intelectuário   — o vendedor vende dor ambulante de Idéi Idéias as que é também tam bém um fun funcionário cionário do Estado. Na tradição autoritária brasileira, oriunda tanto do absolutismo patri monialista mon ialista português quanto da Igreja da contra-reforma contra-reforma,, os intelectuais tendem para o soc socialismo ialismo porque já dependem de um Estado que controla os meios de produção. Hayek nota, aliás, aliás , qu quee o intelectual de inclinação mais conservad conservadora ora (o (ou, u, diríamos hoje, liberal no sentido clássico) retrairetraise numa postura d dee scholar  ou de filósofo profissional. Para o intelectual mais radical e ativis ativista, ta, o socialismo represen representa ta um meio para atingir u um m fim de poder: o que deseja é exercer exe rcer influência decisiva sobre a opinião pública e, provavelmente, um bem remunerado emprego público. As idéias utópicas, sempre relacio relacionada nadass com o ssocialismo, ocialismo, tenderão, ev eviden iden temente, para atrair atrair as paixões, tanto da juventude, quanto das m multi ulti dões ignar ignaras. as. A palavra retórica, sem traduçã tradução o ne necessária cessária na ação, ainda faz parte de nossa tradição tradição ibero-árabe: falar, falar, falar... words, words,   como o Polonius do Hamlet  de  de Shak Shakespea espeare. re. Falar, ba bater ter um pap papo, o, words  como conversar, convers ar, peror perorar, ar, nada fazer... e receb receber er o contracheque no fim d do o mês. Quanto mais visionário e histérico o caráter de suas especulações ideológicas justiceir justiceiras as e igualitárias, mais seduzirá o vulgo. O intelectual liberal clássico, ao contrário, está privado de atrativos baratos e seu

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pragmatismo não é de molde a promover os sonhos românticos das massas que procuram o Sendero Luminoso para a felicidade impossível.

“A mentira instalou-se em nossos povos quase constitucionalmente. O dano dan o tem si sido do incalculável e alc alcan ança ça zonas m muito uito profundas de nosso ser. Movemo-nos Mo vemo-nos na mentira com naturalidade... Daí ser a luta contra a mentira oficial e constitucional o primeiro passo de toda tentativa de 36

A iDi'j iDi'jiu iuH HiiA i»i. i»i.sft
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