A Excelência Da Nova Aliança Em Cristo - Comentário Exaustivo Da Carta Aos Hebreus - Orton. H. Wiley

May 3, 2019 | Author: Allan Koch | Category: Incarnation, Priest, Jesus, Isaac, Saint
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Se trata de um comentário do livro de Hebreus...

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O r to n

H. W ile y

A EXCELÊNCIA DA NOVA ALIANÇA em C risto CENTRAL

GOSPEL

C

E x a u st iv o ao s H ebreus

o m e n t á r io

da

C

arta

Copyright 1959 Beacon Hill Press Copyright 2009 por Editora Central Gospel

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) GERÊNCIA EDITORIAL E DE PRODUÇÃO

A excelência da nova aliança em C risto



C om entário

exaustivo da Carta aos H ebreus / O rton W iley

Jefferson Magno Costa Titulo original: The E pistle to The H ebrew s

TRADUÇÃO Petrôneo Leone PESQUISA E COPIDESQUE Patrícia Nunan Patrícia Calhau

568 páginas ISBN: 978.85.7689.114-7 1. Bíblia - Comentário I. Título II.

As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas das 1* REVISÃO Joseane Cabral REVISÃO FINAL Patrícia Nunan Patrícia Calhau CAPA E PROJETO GRÁFICO Marcos Henrique Barboza DIAGRAMAÇÃO Luiz Felipe Rolim Marcos Henrique Barboza IMPRESSÃO E ACABAMENTO Ediouro

Versões Almeida Revista e Corrigida (a r c ) e Almeida Revista e Atualizada (a r a ), salvo indicação específica, e visam incentivar a leitura das Sagradas Escrituras. Eventualmente, para fins de explicações exegéticas, também foram citados termos e expressões traduzidos de versões inglesas, como a King James (kj), a American Standart Version e a Authorized Version. As duas últimas versões não estão disponíveis em língua portuguesa.

> É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste

Iívfo

por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos etc), a não ser em citações breves, com indicação da fonte bibliográfica. Este livro está de acordo com as mudanças propostas pelo novo Acordo Ortográfico, que entra em vigor a partir de janeiro de 2009. 1a edição: março/2008 3a reimpressão: abrit/2013 Editora Central Gospet Ltda Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara Cep: 22713-001 Rio de Janeiro - RJ TEL: (21) 2187-7000 www.editoracentralgospel.com.br

Su m á r io ' D e d ic a tó ria ............. ...............................................................................................1 9 A presentação ............................................................................................................21 A dvertência d o a u t o r ......................................................................................... 2 3 P refácio .....................................................................................................................2 5 I n t r o d u ç ã o ..................................... .......................................................................2 9

Observações gerais..................................................................................31 1. A importância da Epístola aos Hebreus......................................... 31 2. A Epístola fo i dirigida a cristãosjudeus.......................................34 3. A autoria, da Epístola.....................................................................35 4. O idioma original em que a Epístolafo i escrita............................. 36 5. A data da composição............................................. ...................... 37 6. A finalidade da Epístola................................................................ 38 Princípios de interpretação...................................................................... 39 A natureza exortativa da Epístola.............................................................40 C apítulo 1 - A majestade d o F il h o d e D eus .............................................. 4 3

O preâmbulo: Havendo Deus, outrora, falado........................................43 1. A introdução eufònica......................................................... ........45 2. A revelação divina: Deusfalou..................................................... 47 3. O caráter dos mediadores: pelos profetas [...] pelo Filho.................49 4. A natureza das alianças................................................................ 51 5. Dois períodos históricos de revelação..............................................52 6. Dois níveis de experiência cristã.................................................... 53 7. Dois estágios de progresso espiritual...............................................54

O Filho de Deus na Sua glória primeira................................................... 56 1. O significado da palavra Filho...................................................... 57 2. Cristo como Herdeiro de todas as coisas..........................................59 3. O Filho como Criador: Pelo qual também fe z o universo...... ......61 A Porta Formosa do templo.............................................................62 1. O Filho é o resplenãor ou efitlgência da glória do Pai.............. 64 2. O Filho é a expressão exata do Pai na Sua pessoa ou essência.......65 3. O Filho sustenta todas as coisaspela Palavra do Seu poder............. 68 4. O Filho fez a purificação dos pecados...... ...................................... 69 5. Cristo assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.....................70 A majestade do Filho de Deus como Mediador.......................................72 O argumento sétuplo do Antigo Testamento........................................... 76 1. O Filho de Deus e a Sua herança....................................................78 2 .0 Filho de Deus e a aliança de D avi...............................................82 3. O Filho de Deus e o Seu segundo advento.......................................83 4.0 Filho de Deus e a majestade do Seu Reino................................. 86 5-0 Filho de Deus e a perpetuidade do Seu Reino............................. 88 6.0 Filho de Deus e a imutabilidade do Seu Reino........................... 91 7.0 Filho de Deus e a consumação triunfal.......................................93 N otas........................................................ .............................................. 97 Capítulo 2 - A humanidade e a humilhação de C risto ........................99 Primeira advertência: contra a negligência.............................................. 100 1 .0 significado do termo negligência................................................101 2. A palavrafalada por anjos............................................................ 102 A grande salvação......................................................................................104 O anúncio da grande salvação.................................................................. 106 A confirmação do evangelho................................................................... 107 A atestação divina da Verdade ................................................................108 A emergência de uma nova humanidade em Cristo................................112 1.0 uso da palavra emergência ou aparecim ento.......................... 112 2. A supremacia de Cristo................................................................ 113 O homem no seu estado original, como Deus o fez................................116

1. Tu ofizeste um pouco menor do que os anjos................................ 116 2. De glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras de tuas mãos........................................................................118 3. Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seuspés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixoufora do seu domínio...................118 O homem após a Queda..........................................................................120 Jesus como Representante do novo homem, ou do homem redimido........................................................................... 121 O paralelo entre o homem e Cristo........................ a .............................122 1. Jesus, um pouco menor do que os anjos..........................................123 2. Jesus, coroado de glória e de honra................................................124 Vislumbres da expiaçáo........................................................................... 125 1.Por causa do sofrimento da morte..................................................126 2.

Para que, pela graça de Deus, provasse a mortepor todos.......... 127

O Capitão da nossa salvação.................................................. .................128 A natureza da santificação........................................................................129 1. Aquele que santifica e os santificados vêm de Um só......................130 2. O significado da palavra santificação..........................................131 Cristo não se envergonha de chamar-nos irmãos.................................... 132 A ideia de fraternidade no Antigo Testamento....................................... 133 1. Anunciarei o teu nome a meus irmãos...........................................134 2. Cantar-te-ei louvores no meio da congregação............................... 134 3. E outra vez: Porei nele a minha confiança.................................... 134 4. Eis-me aqui a mim e aosfilhos que Deus me deu.......................... 135 Um misericordioso e fiel Sumo Sacerdote.......................... ....................136 A encarnação de Jesus e a libertação do temor da morte.........................137 1. A necessidade da encarnação........................................................ 137 2. O propósito da encarnação .......................................................... 138 A encarnação de Jesus e a libertação de nossos inimigos..............................140 A encarnação de Jesus e o fortalecimento contra as fraquezas e enfermidades............................................................................ 141 A encarnação de Jesus e a nova ordem de sacerdócio..................................143 1. A descendência de Abraão............................................................ 143

2. Cristo como Sumo Sacerdote.......................................................... 145 3. Cristo como nossa Propiciaçâo ...................................................... 145 4. Cristo e a tentação........................................................................ 148 Notas.........................................................................................................151 Capítulo 3 - 0

apostolado e o sumo sacerdócio de C risto...........

155

O templo espiritual.................................................................................. 156 1. Santos irmãos................................................................................ 157 2. Que participais da vocação celestial..................................... ........157 3. Considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão............................................................................... 158 4. Cristo, nosso Apóstolo.................................................................... 159 5. Cristo, nosso Sumo Sacerdote.........................................................160 A casa de D eus...........................................................................................161 Cristo é superior a Moisés......................................................................... 162 A casa somos nós................................ .................... ............................... 164 Primeira advertência; náo negligenciar a grande salvação....................... 166 Segunda advertência: não endurecer o coração........................................ 169 A voz na casa .................................. ......................................................... 169 1. Se ouvirdes hoje a Sua vo z.............................................................170 2. Não endureçais o vosso coração...................................................... 171 A situação no deserto................................................................................ 172 A provação no deserto.............................................................................. 174 Deus se indignou contra aquela geração incrédula..................................175 1. Assim, jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso............176 Uma exortação e uma advertência............................................................177 1. Perverso coração de incredulidade................................................. 178 2. Exortai-vos mutuamente cada dia..................... ........................... 180 3. A fim de que nenhum de vós seja endurecido..................................181 Participantes de Cristo..............................................................................182 O paralelo e as exortações finais............................................................... 185 Notas........................................................................................................ 187

Capítulo 4 - 0 repouso da fé............................................................... 189 O alvo da obra apostólica de Cristo........................................................190 Terceira advertência: contra a incredulidade...........................................191 1. Temamos, portanto, que, sendo-rtos deixada a promessa de entrar no descanso de Deus.......................................................... 192 2. Suceda parecer que algum de vós tenhafalhado............................193 3. Porque também a nósforam anunciadas as boas-novas, como se deu com eles.......................................................................... 194 4. Mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou........................... 195 5. Nós, porém, que cremos, entramos no descanso..............................196 Os quatro descansos................................................................................ 197 1 .0 descanso da criação....................................................................198 2 .0 descanso do Sábado....................................................................199 3 .0 descanso de Canaã.....................................................................199 4 .0 descanso divino.......................................................................... 201 A natureza do descanso divino.;.............................................................. 202 A indicação de outro dia..........................................................................204 Um repouso para o povo de Deus — a terra..........................................205 A obra redentora de Cristo..................................................................... 207 O descanso redentor em Cristo.............................................................. .208 O cessar das obras — o trono na terra................................................... 210 Uma exortação à diligência..................................................................... 213 A viva e eficaz Palavra de Deus............................................................... 215 1. Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz.....................................216 2. E mais cortante do que qualquer espada de dois gumes.................216 3. Epenetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas.............................................................. ;.............. 216 4. Alma e espírito............................................................................. 217 5. E é apta para discernir ospensamentos e propósitos do coração.........................................................................218 6. E não hã criatura que não seja manifesta na sua presença............219 Trecho de transição..................................................................................221 Temos um grande Sumo Sacerdote........................................................222

A compaixão de Jesus............................................................................... 224 A tentação de Jesus................................................................................... 226 O trono da graça.......................................................................................229 1. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente......................................230 2. A fim de recebermos misericórdia e acharmos graça....................... 232 A exortação final........................................................................................233 N otas.................. ..................................................................................... 235 C apítulo 5 - 0

cargo e a obra do sacerdote..................................... 237

As qualificações e a obra do sacerdote......................................................238 1. Porque todo sumo sacerdote, tomado dentre os homens...................239 2. E constituído afavor dos homens nas coisas concernentes a Deus........................................................................... 239 3- Para oferecer tanto dons como sacrifícios pelospecados................... 240 4. E é capaz de condoer-se dos ignorantes e dos que erram..................240 5. E, por esta causa, deve ele, tanto pelo povo como também por si mesmo................................................................243 6. Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus....................................................... 244 Cristo e a nova ordem do sacerdócio........................................................ 245 1. Assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tomar sumo sacerdote..............................................................245 2. Mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho,

'

eu hoje te gerei....................................................................................247 3. Como em outro lugar também diz: Tu és sacerdote para sempre........................................................................................ 248 4. O qual, nos dias da sua carne........................................................ 250 5. Tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas.................................................................................251 6. A quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade........................................................ 254 7. Embora sendo Filho.......................................................................257 8. Aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu................................258

9. E, tendo sido aperfeiçoado, tomou-se o Autor da salvação eterna...................... ..........................................259 A salvação eterna.................................................................................... 262 1. Tornou-se o Autor da salvação eterna...........................................263 2. Para todos os que lhe obedecem.................................................... 263 A quarta advertência: contra a indiferença.............................................265 A advertência é dirigida a cristãos............................... .......................... 266 Por que era necessária esta advertência?..................................................266 Crianças ou mestres?...........................................•*.................................267 Inexperientes na Palavra da justiça......................................................... 269 Alimento sólido para os perfeitos........................................................... 270 C apítulo 6 - Perfeição cristá.............................................................273 Os princípios da doutrina de Cristo....................................................... 273 A natureza da perfeição a ser alcançada.................................................. 275 1. A perfeição cristã comopadrão de experiência neotestamentdria............................................................................. 275 2. A perfeição e seus termos escriturísticos..........................................277 3. O aspecto legal da perfeição cristã................................................279 4. As características da perfeição cristã.............................................. 281 4.1. A perfeição cristã é subsequente à regeneração........................... 282 4.2. A perfeição cristã não excluiposterior crescimento ....................282 4.3. Perfeição cristã e graus de maturidade.......................................285 4.4. A perfeição cristã não remove as imperfeições naturais...............285 4.5. A perfeição cristã não suplanta a necessidade da expiação......... 286 A quinta advertência: contra a indolência e o perigo da apostasia......... 286 1. Aqueles que uma vezfiram iluminados....................................... 288 2. Provaram o dom celestial............................................................ 289 3. E, se tomaram participantes do Espírito Santo............................290 4. Provaram a boa Palavra de Deus ............................................... 291 5. E ospoderes do mundo vindouro..................................................292 O perigo da apostasia..............................................................................292 1. A construção gramatical do texto................................................ 293

2. A advertência contra a apostasia extraída do Antigo Testamento.............................................................................295 3. Erros associados a esse texto.............................................................296 4. Uma ilustração com base na natureza...........................................297 5. Palavras de confiança e conforto.................................................... 298 6. Clímax da admoestação contra a indolência..................................299 A Aliança com Abraão...............................................................................300 O juramento de confirmação....................................................................302 1. O propósito do juramento............................................................. 303 As duas coisas imutáveis........................................................................... 304 1. O Refúgio da esperança................................................................. 305 2. A Âncora da alma......................................................................... 306 3■ O Precursor divino........................................................................ 308 C apítulo 7 - 0 fiador de um melhor testamento..............................313

A ordem de Melquisedeque: um sacerdócio eterno.................................313 1.0 evento histórico........................................................................... 314 O salmo profético..................................................................................... 316 A grandeza de Melquisedeque...................................................................318 1. Abraão pagou dízimos a Melquisedeque........................................ 319 2. Melquisedeque abençoou Abraão...................................................319 A superioridade da nova dispensação: um sacerdócio espiritual..............321 1 .0 insucesso da ordem levítica.......................................................... 321 2. A expressão parentética.................................................................. 322 3. A pergunta do autor da Epístola................................................... 322 4. Uma mudança de sacerdócio impõe alteração na Lei.....................326 O surgimento da nova ordem de sacerdócio...........................................327 1. Pois é evidente que nosso Senhorprocedeu de Judá........ ...............327 2. E isto é ainda muito mais evidente, quando, à semelhança de Melquisedeque........................................................ 328 A anulação do mandamento....................................................................330 A esperança superior......................................................................... ......333 1. A esperança objetiva..................................................................... 333

2. A esperança subjetiva................................................................... 334 O Fiador de uma aliança superior: um sacerdócio perpétuo..................334 1. A natureza do juramento..............................................................335 2. O Fiador de superior aliança........................................................ 337 3. A perpetuidade da aliança........................................................... 340 A salvação perfeita: um sacerdócio eficaz.................................................341 Perfeitamente salvos................................................................................ 342 Outro uso da palavra totalmente.............................................................. 343 O poder da intercessão....................................... . t ................................ 344 As características da nova dispensação: um sacerdócio idôneo...............344 1. Cristofo i perfeito quanto ao Seu caráter e à Sua vocação.............345 2. Cristo fo i perfeito como oferta saarificial....................................... 346 3. Cristo e a Sua obra intercessória perfeita......................................347 N otas....................................................................................................... 349 C apítulo 8 - 0 m inistério superior da nova aliança ..................__ 3 5 1

A transição............................................................................................... 351 1. Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote............................................................. 352 2. Que se assentou à destra do trono..................................................353

3■ 0 trono da Majestade nos céus............ ..............................................1......... 3 Um Ministro do santuário.......................................................................355 1. 0 sumo sacerdote e sua oferta.......................................................356 2. 0 santuário celestial.................... ................................................. 357 3. 0 original e a sombra...................................................................357 4. Uma apologética cristã................................................................. 358 O Mediador de uma aliança melhor.......................................................359 1. Cristo como o Mediador de superior aliança..................................359 2. As superiores promessas.................................................................. 361 3. 0 insucesso da primeira aliança...................................................362 4. 0 oráculo do Antigo Testamento e a nova aliança........................ 363 5. Comparação entre antiga e nova alianças.....................................364 As provisões da nova aliança....................................................................366

1. A bênção central da aliança............................................................367 2. A bênção suprema da aliança......................................................... 368 3. A bênção inicial da aliança............................................................369 4. A conclusão do capítulo................................................................. 370 C apítulo 9 - 0

grande capítulo da expiação-------........................ 373

A primeira aliança: as ordenanças e o santuário........................................374 O santuário ou Santo Lugar......................................................................375 O Santíssimo ou Santo dos Santos............................................................ 379 A arca da aliança......................................................................................... 381 O conteúdo da arca da aliança.................. ................................................382 1. Dessas coisas, todavia, nãofalaremos, agora....................................383 O sacerdócio levítíco e a sua ineficácia......................................................384 O acesso ao Santo dos Santos era velado na primeira aliança...................385 A parábola e a reforma...............................................................................386 O ministério mais excelente.......................................................................387 1. Qual a essência do sacerdócio de Cristo?......................................... 387 2. Qual o santuário em que Cristo opera como Sacerdote? .................389 3. Que se entendepelos bensj á realizad os ou bensfuturos?............391 A oferta sacrificial de Cristo.......................................................................392 O sangue da expiação................................................................................ 392 O sacerdócio e o sangue............................................................................. 393 1. [Cristo] pelo seu próprio sangue entrou no Santo dos Santos........394 A eficácia do sangue de Cristo como expiação........................................ 395 . 1. Muito mais o sangue de Cristo........................................................ 396 2. Que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus............................................................................. 397 3. Para servirmos ao Deus vivo........................................................... 398 A purificação da consciência......................................................................400 O sangue da nova aliança.......................................................................... 401 O Mediador do Novo Testamento........................................................... 401 Aliança ou testamento............................................................................. 403 A primeira aliança foi ratificada com sangue.......................................... 405

1. Pelo que nem a primeira aliançafo i sancionada sem sangue............................................... :.....................................405 2. Porque, havendo Moisés proclamado todos os mandamentos.......................................................................... ....406 3. Igualmente também aspergiu com sangue o tabemáculo e todos os utensílios.......................................................................... 406 4. Sem derramamento de sangue, não hd remissão.......................... 406 O sangue da purificação....................................................................... 408 A purificação dos céus.......................................................................... 408 A entrada de Cristo no céu por nós..................................................... 410 A Oferta de uma vez por todas............................................................411 A morte e o juízo..................................................................................412 A segunda vinda de Cristo...................................................... ............ 413 Notas..................................................................................................... 416 C apítulo 10 - A nova aliança e

o vivo caminho ...............___ ...... 417

A Lei como sombra........................................... ....................................418 Os dois sacrifícios comparados..............................................................420 A perfeita vontade de Deus.................................................................. 422 A santificação como vontade de D e u s .............................................426 A exaltação e a consumada expiação de Cristo.................................... 427 1. Os levitas eram sacerdotes “depé”..............................................427 2. Cristo como Sacerdote assentado................................................. 428 3. O triunfo total de Cristo............................................................428 4. Santificação e perfeição............................................:..................429 A reafirmação da nova aliança................................................................ 435 Diz o Espírito Santo...............................................................................436 Os dois tratamentos da nova aliança......................................................437 O Santo dos Santos................................ ............................................. 439 A exortação............................................................................................ 440 O Santo dos Santos na experiência cristã............................................. 441 O novo e vivo caminho........................................................................ 442 l.Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou.......................... 442

2.Pelo véu, isto é, pela sua carne........................................................443 Um grande Sacerdote sobre a casa de Deus.............................................444 A exortação para aproximarmo-nos................... ......................................446 1. As condições subjetivas...................................................................446 2. Os estados objetivos preliminares...... ............................................ 447 A vida santa.............................................................................................. 449 Exortação à firmeza..................................................................................450 O cultivo da consideração....................................................................... 451 Exortação ao culto coletivo...................................................................... 451 Exortação ao auxílio mútuo....................................................................452 A sexta advertência: contra o pecar voluntariamente.............................453 Estudo crítico das palavras do texto.......................................................454 A expectativa dos adversários....................................................... ;......... 455 Uma ilustração da Lei Mosaica.............................................................. 456 Os três pecados dos apóstatas................................................................. 457 1. Calcou aos pés o Filho de Deus..................................................... 457 2. Profanou o sangue da aliança com o qualfoi santificado.............. 457 3. Ultrajou o Espírito da graça..........................................................458 A certeza do castigo.................................................................................. 458 Palavras de consolação.......................... .................................................459 1. Um convite à recordação..............................................................460 2. Exortação à perseverança da f é ......................................................461 Os versículos de transição...................................................................... 462 N otas......................................................................................................463 Capítulo 11 - Os heróis da fé.............................................................465 A natureza da fé........................................................................................ 466 O texto como descrição da fé...................................................................468 O texto como definição da fé...................................................................469 A esfera da fé............................................................................................ 473 As testemunhas da fé ............................................................................. 476 A fé de Abel.............................................................................................477 a

A fédeEnoque........................................................................................479

A fé de N oé........................................................................................... 480 A fé de Abraão....................................................................................... 482 1. O chamado de Abraão representa a obediência da fé ..................482 2. A permanência de Abraão em Canaã representa a paciência da fé .............................................................................483 3. Abraão e o herdeiro prometido.................................................... 484 4. Abraão e a entrega de Isaque em sacrifício.................................. 485 A fé de Isaque, Jacó e José..................................................................... 486 1. Pelafé, igualmente Isaque abençoou a JacáPe a Esaú...................487 2. Pelafé, Jacó.................................................................................488 3■ PelaJe, José................................................................................. 488 A fé de Moisés....................................................................................... 489 1. Pelafé, Moisés, já nascido...........................................................489 2. Pelafé, Moisés, sendojá grande.................................................. 490 3. Pelafé, deixou o Egito................................................................. 491 4. Pelafé, celebrou a Páscoa e a aspersão do sangue......................... 491 5. Pela fé, passaram o mar Vermelho.............................................. 492 A fé da conquista....................................................................................493 A fé de Raabe............................................................................ ............ 494 O poder da fé.........................................................................................494 A fé da realização................................................................................... 495 A fé da paciência.....................................................................................496 A recompensa da fé.................................................................................498 1. Por haver Deus provido coisa superiora nosso respeito................ 499 2. Para que eles, sem nós, nãofossem aperfeiçoados.....:....................500 N otas......................................................................................................502 C apítulo 12 - A nuvem de testemunhas.............................................503

A nuvem de testemunhas....................................................................... 504 A corrida cristã....................................................................................... 505 Olhando para Jesus.................................................................................508 1. Considerai aquele.......................................................................510 A santidade em relação à experiência pessoal.........................................511

A natureza da disciplina cristã.................................................................. 512 1. Filho meu, não desprezes a correção do Senhor..................... 513 2. E não desmaies quando, por ele, fores repreendido................ 513 A necessidade da correção........................................................................ 514 A índole da disciplina cristã..................................................................... 515 1. E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo.........................................................................516 2. Portanto, tomai a levantar as mãos cansadas e osjoelhos desconjuntados................................................................... 516 A santidade em relação à Igreja................................................................517 A santificação como princípio conservador da Igreja..............................518 A necessidade de pureza na Igreja............................................................519 O perigo do lugar-comum....................................................................... 520 O contraste final entre as duas dispensações............................................522 A dispensaçáo do Antigo Testamento..................................................... 523 1. Porque não chegastes ao monte palpável....................................... 523 2. Aceso em fogo.................................................................................524 3. E à escuridão.................................................................................524 4. E às trevas..................................................................................... 525 5- E à tempestade.............................................................................. 525 6. E ao sonido da trombeta...............................................................525 7. E à voz daspalavras...................................................................... 525 A dispensaçáo neotestamentária...............................................................526 1. Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial.......................................................................... 527 2. E aos muitos milhares de anjos, à universal assembléia e igreja dos primogênitos....................................................................528 3. A universal assembléia e igreja dosprimogênitos, que estão inscritos nos céus.................................................................529 4. E a Deus, oJuiz de todos...............................................................530 5. E aos espíritos dosjustos aperfeiçoados........................................... 530 A sétima e última advertência..................................................................531 Palavras de admoestação......................................................................... 531

A advertência contra a apostasia..............................................................532 O Dia do Juízo............................................. •:......................................,.532 O Reino inabalável e o fogo consumidor............................................... 535 Capítulo 13 — Fora do arraial___ ..............

............................... 537

Princípios éticos gerais.............................................................................538 1. Amorfraternal............................................................................538 2. Hospitalidade............................................................................... 538 3. Solidariedade na aflição........................... *................................538 4. Castidade................................................................................... ..539 5. A cobiça versus o contentamento...................................................540 6. Considerai os vossos mestres............................................................541 7. Jesus Cristo imutável......................................“............................ 542 8. Doutrinas várias e estranhas............................ ............................ 543 9. O coração confirmado.................................................................. 544 10. Possuímos um altar...... ..............................................................545 O propósito supremo do sacrifício de Cristo.......................................... 546 A obra suprema da santificação............................................................... 547 Fora do arraial..........................................................................................551 A cidade que tem fundamentos..............................................................552 Deveres religiosos..................................................................................«.553 1. O sacrifício de louvor................................................................... 553 2. O sacrifício de beneficência........................................................... 555 3. O sacrifício da obediência............................................................ 556 4. O sacrificio da oração.................................................................. 557 A bênção................................................................................... ..............559 1. Ora, o Deus da paz..........................................................:........... 559 2. Que tomou a trazer dentre os mortos a Jesus,nosso Senhor........... 560 3. O grande Pastor das ovelhas.........................................................560 4. Pelo sangue da eterna aliança....................................................... 560 5. Vos aperfeiçoe em todo o bem,para cumprirdes a sua vontade........ 561 6. Operando em vós o que é agradável diante dele............................. 561 7. PorJesus Cristo.............................................................................562

8. A quem seja a glória para todo o sempre........................................562 9. Amém........................................................................................... 562 Os pós-escritos......................................................................................... 562 1. Rogo-vos, porém, irmãos, que suporteis a palavra desta exortação................................................................... 563 2. Sabei que já está solto o irmão Timóteo.........................................563 Notas........................................................................................................564 Bibliografia................................................................................................565

D e d ic a t ó r ia

D

edico este livro, com sincera gratidão, ao Dr. A. E. Sanner, que tornou possível a minha primeira exposição desta Epístola, a partir da qual se desenvolveu o presente estudo

A

p r e se n t a ç ã o

Pensando no crescimento espiritual, intelectual e acadêmico dos leitores è pesquisadores brasileiros, a Editora Central Gospel tem o privilégio de apresentar aos leitores de língua portuguesa este exaustivo comentário da Epístola aos Hebreus, publicado original­ mente pela Beacon Hill Press, em 1959, com o título IheEpistle tolhe Hebrews. Os comentários do autor são enriquecidos com esclarecimentos de respeitados comentaristas de Hebreus — entre os quais Calvino, Wesley, Westcott, Ebrard, Stuart e Lange. Orton Wiley, fazendo uso da exegese e da hermenêutica bíblica, analisa o texto original em grego da Epístola, e comenta o significado de inúmeros termos e elementos simbólicos do Antigo Testamento, reinterpretados à luz da nova aliança em Cristo, assi­ nalando que a chave para a compreensão dessa carta neotestamentária se encontra não no simbolismo do antigo tabernáculo, como antes se supu­ sera, mas em uma nova ordem do sacerdócio em Cristo. Nesta obra inspirada, em que a Epístola aos Hebreus é analisada versículo por versículo, a pessoa e o sacerdócio de Cristo são ressaltados e analisados como as colunas centrais da verdade cristã. Jesus não é;^

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ApffiSEHTAÇÀO

mostrado apenas como o Líder e Autor da salvação, o Messias e Mestre mais sábio e mais piedoso entre os homens. E retratado como o divino Filho de Deus, o Sumo Sacerdote sem pecado, eterno e de uma ordem superior que se ofereceu como a oferta perfeita pela expiaçáo do pecado, o resgate e a salvação do homem, abrindo o caminho para a nova humani­ dade, da qual Ele foi o Primogênito. Cristo está à destra da Majestade, de onde intercede por nós em consonância com o Espírito Santo que conce­ deu a todos os que o Pai lhe deu, podendo levá-los à perfeição. A despeito da erudição e do formato acadêmico, nesta atual edi­ ção deste comentário, procuramos tornar o texto mais claro, direto e arejado; inserimos notas explicativas, a fim de auxiliar os leitores co­ muns; e incluímos uma bibliografia para permitir um vislumbre melhor das obras utilizadas pelo autor em sua pesquisa. É uma leitura indispensável para pregadores, pastores, evangelis­ tas, professores, seminaristas e estudiosos que desejam aprofundar-se nas Escrituras Sagradas e fundamentar sua fé em Cristo, nosso Salvador, Líder e Sumo Sacerdote eterno!

— Os editores

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A

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1H

d v e r t ê n c ia d o a u t o r

ste comentário da Epístola aos Hebreus teve sua origem em uma nova iluminação espiritual quanto à natureza do sacerdócio de Cristo, segundo a ordem de Melquisedeque, e quanto à relação da nova aliança com a obra intercessória de Cristo, o Filho de Deus. Verifiquei que a chave para a compreensão desta Epístola se acha não no simbolismo do antigo tabernáculo, como antes supusera, mas em uma nova ordem do sacerdócio em Cristo. Minha primeira tentativa de exposição da Epístola foi no antigo acampamento Weiser, no Estado de Idaho, sob a supervisão do Dr. A. E. Sanner. Quando fui comissionado a preparar o manuscrito que deveria interpretar esta Epístola, para leitura geral e como livro de consulta para estudantes, meu primeiro pensamento foi fazer uma análise do simbolismo do Antigo Testamento. Mas o estudo desse simbolismo, que constitui grande parte do alicerce do texto da Epístola, logo se tomou vasto demais para o espaço que me era concedido, e abandonei o projeto. Portanto, a obra é meramente uma interpretação da Epístola do ponto de vista do padrão bíblico de experiência cristã, reduzidas a um mínimo as notas documentais.

Gamo meus principais auxiliares na preparação, reconheço a contri­ buição dos grandes comentários críticos de Westcott, Sampson, Vaughan, Lenski, Robertson, 'Whedon, Clarke, Calvino, Cowles, Ebrard, Chadwick, Lindsay, Lowrie, Stuart e Lange. E sou grato ao Dr. Ross E. Price e ao Dr. Joseph H. Mayfield pela assistência que me foi dada no uso das formas gregas; ambos são autoridades neste campo. Também foram consultadas as seguintes obras: Entire sanctification, de William Jones; The twofold life, de A. J. Gordon; The holiest o f ali, de Murray; The tvay into the holiest, de Meyer; The rest offaith, de Isaac M. See; Arminian magazine, de Wesley; Purity and maturity, de J. A. Wood; Compendium o f Christian Theology, de Pope, e Systematic Theology, de Miley. Sou profundamente grato ao Rev. Norman R. Oke, editor do livro, pela preparação do prefácio e pela assistência na preparação do manuscrito, e à senhorita Louise Hoffman, que datilografou e preparou o índice. Aos editores, estendo os meus agradecimentos pela esplêndida apresentação deste trabalho ao público, e minha oração é que ele seja uma bênção espiritual para muitos. H. Orton W Pasadena, Califórnia

P r e f á c io

nr

■ odo peregrino — se quiser chegar ao seu destino — deve . A . estar com os olhos sempre postos na distante porta que é seu alvo, não esquecendo, porém, o cajado bom e forte, que o ajuda a subir o monte. Existe a glória do alvo, mas existe também o mérito dos meios pelos quais o atingimos. Ambos devem estar em mente e serão fortalecidos por uma leitura completa deste livro. A pessoa de Cristo e o sacerdócio de Cristo são as colunas centrais de nossa cidadela da verdade cristã. Em Sua pessoa, Jesus não é apenas um entre muitos, nem mesmo um líder mais sábio e mais piedoso. De todos os que palmilharam as estradas da terra — que isto fique claro —, só Ele foi Deus. É o que Orton Wiley proclama neste livro. E o sacerdócio de Cristo também é um princípio fundamental na estrutura de nossa fé. Ele foi o Sacerdote superior, eterno, o único Sacerdote sem pecado. Sim, encontramos a certeza do céu, afinal, tão-somente por causa de Sua obra intercessória. O apóstolo Paulo sentiu o pleno impacto desta verdade e as manifestou-se francamente ao escrever aos Romanos:

Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Romanos 8.34 Esta verdade o arrebatava, e suas sentenças, cuidadosamente construídas, irrompiam em um cortejo de louvores: Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a an­ gústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor! Romanos 8.35,38,39 E esta clássica explosão de entusiasmo do coração apaixonado de Paulo se deu depois que ele teve uma nova visão do sumo sacerdó­ cio de Cristo. É um privilégio recomendar este livro aos cristãos em toda a parte. Cristo irá tornar-se ainda mais precioso; o Seu sacerdócio será elevado ainda mais e irá colocar-nos de joelhos. Quando H. Orton Wiley publicou a sua Teohgia cristã em três volumes, garantiu para si a reputação de um dos mais proeminentes teólogos no mundo do cristianismo conservador. Agora, ao dar-nos este tratado completo sobre Hebreus, sua erudição se focaliza sobre o campo da exposição bíblica. Por vezes, seremos obrigados a fazer um esforço maior de con­ centração, pois o autor é muito profundo em suas análises, o que ga­ rante densidade ao seu texto. Ficaremos emocionados ao galgarmos picos de montanhas da verdade divina, contemplando paisagens jamais sonhadas, e pode ser

que nos envergonhemos um tanto ao ver descritos os dignos heróis de outrora, que sofreram sem lamentações. ' Por essa razão, insisto: leiamos o livro! Quando o tivermos terminado, veremos que nos transformamos para melhor. Talvez nos sintamos envergonhados por descobrirmos tanta coisa que recebe o rótulo de cristã na vida moderna [não o sendo], mas nos sentiremos profundamente orgulhosos de Jesus Cristo. *

Norman R. Oke

Intro dução

Epístola aos Hebreus é um comentário divinamente ins­ pirado sobre o Antigo Testamento e trata, em especial, do Pentateuco e dos Salmos. Nessa carta, o autor interpre cado da viagem pelo deserto, do tabernáculo e de várias ofe ços no culto israelita no Antigo Testamento à luz de Cristo. A Epístola aos Hebreus inicia-se, entretanto, náo pela história contada no capítulo 12 de Êxodo [a instituição da Páscoa], mas a partir do capítulo 24 [a instituição da Lei]. Ela náo aborda a Páscoa, porque se dirige a um povo redimido; é endereçada aos irmãçs santos, partici­ pantes da vocação celestial (Hb 3.1). Náo explora a saída de Israel do Egito, e sim o que significa a introdução israelita na terra da promessa. Se houver qualquer dúvida quanto a isso, há de dissolver-se com a declaração de Paulo:

A

Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem; e todospassaram pelo mar, e todosforam batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de um

mesmo manjar espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. 1 Coríntios 10.1-4 Por conta disso, torna-se evidente que o povo daqueles dias tinha alguma relação espiritual com Cristo, e tal fato é ainda confirma­ do pela eficácia daquela fé que caracterizou os patriarcas mencionados no capítulo 11 de Hebreus. O simbolismo usado nesta Epístola não se aplica fundamentalmente ao que chamamos conversão, pois não é dirigida a pessoas nãoconvertidas, pecadoras, admoestando-as a aceitar o perdão pela fé em Cristo, mas àquelas que já são cristãs. Trata o segundo estágio crítico na obra da salvação: a entrada dos filhos de Deus na plenitude da nova aliança. Esta aliança, que é duas vezes descrita na Epístola, compreende: 1. A Lei de Deus escrita na mente e no coração do Seu povo — cora­ ção tão transformado que é levado à perfeita harmonia com a vontade de Deus. 2. A remissão dos pecados, que inclui não apenas o perdão das transgressões reais, mas a purificação do pecado inato ou da mente carnal — purificação de todo o pecado. 3. A exaltação a Deus como o único e supremo objeto de culto e ado­ ração, sendo o coração [humano] tão purificado que suas afeições se inclinam para as coisas do alto; sua vontade se torna sempre obediente à de Deus, e sua mente, a mente de Cristo (1 Co 2.16). A Epístola aos Hebreus é singular, pois principia sem as sau­ dações de costume, sem o nome do autor e das igrejas às quais ela é dirigida. Esse feto cria muitos problemas, mas estes pertencem espe­ cialmente ao campo da análise neotestamentária. Visto que a nossa atenção irá concentrar-se em uma série de estudos exegéticos e exortativos na própria Epístola, será suficiente

aqui fazer apenas algumas observações gerais a seu respeito, acres­ centando-lhes uma exposição geral dos nossos princípios básicos de interpretação. O bservações gerais

1. A importância da Epístola aos Hebreus Disse o Dr. Adam Clarke:

*

A---------------

Sem sombra de dúvida, a Epístola aos Hebreus é o mais impor­ tante e útil de todos os escritos apostólicos. Todas as doutrinas do Evangelho nela estão incorporadas, ilustradas e impostas como Lei de maneira mais lúcida, por alusão e exemplos, os mais impressionantes e ilustres, e, por argumentos, os mais convincentes. E um epítome das dispensações de Deus aos homens, desde a fundação do mundo até o advento de Cristo. Náo é somente a súmula do Evangelho, mas súmu­ la e complemento da Lei, da qual é também o mais belo e brilhante comentário. Sem esta, a Lei de Moisés náo teria sido jamais compre­ endida na íntegra, nem os desígnios de Deus ao entregá-la. Com esta, tudo se torna claro e simples, e os caminhos de Deus com os homens, coerentes e harmoniosos. Parece que o autor tomou certa porção de uma de suas próprias Epístolas como teto: “Cristo é o cumprimento da Lei para justiça daqueles que crêem” [cf. Romanos 10.4, na versão Revista e Corri­ gida: Porque o fim da Lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê] e demonstrou sua proposição da maneira mais ampla e admirável. Todos os ritos, cerimônias e sacrifícios da Lei Mosaica, demonstra ele, tiveram Cristo por seu objeto e finalidade; não tiveram intenção nem significado, senão com referência a Ele; sem Ele, como sistema, náo têm fundamento; como Lei, são destituídos de razão; e seus decretos são impossíveis e absurdos se tomados fora desta referência e conexão [Cristo].

Nunca as premissas foram mais claramente expressas; jamais foi um argumento tratado de modo mais magistral, e a conclusão apre­ sentada, mais legítima e satisfatoriamente. O assunto, do princípio ao fim, é o mais cativante e persuasivo, e a linguagem é a que se adapta, da maneira mais bela, ao todo; a cada passo apropriada, sempre vigorosa e energética; possui a dignidade do seu assunto; é pura e elegante como a dos autores gregos mais esmera­ dos; tem a harmonia e a diversidade da música das esferas [superiores]. Tantas são as belezas, tão grande a excelência, tão instrutiva a matéria, tão agradável a maneira e tão sumamente interessante o todo, que a obra pode ser lida cem vezes sem denunciar monotonia^ e sempre com acréscimo de informações a cada nova leitura. Essa última qualidade pertence ao todo da revelação de Deus, mas a nenhuma parte dela de modo tão peculiar e supereminente como à Epístola aos Hebreus. (C larke, Preface to the Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 701) ---- r

O quanto é verdadeira e bela a apreciação acima desta Epístola só podem saber os que passaram anos no seu estudo náo apenas nas traduções para suas próprias línguas, mas na força, na riqueza e na vivacidade do original grego. Observou também o Dr. Clarke: Para explicar e ilustrar esta Epístola, multidões labutaram e demons­ traram muita operosidade, muita erudição e piedade. Também eu darei minha opinião e pode ser que dez mil me sucedam e ainda descubram coisas novas. Que foi escrita para os judeus, que o eram por natureza, a estrutura toda da Epístola o prova. Se fora escrita paia os gentios, nem apenas um entre dez mil deles poderia ter compreendido o argumento, porque não são familiarizados com o sistema judaico; conhecimento que o autor da Epístola a cada passo deixa perceber. Aquele que está familiarizado com a Lei Mosaica entrega-se ao estudo desta Epístola com dupla vantagem, e é mais provável que aquele que

conhece as tradições dos anciãos e as ilustrações mishnaicas da Lei escrita e da pretensa Lei oral dos judeus penetre e assimile as intenções do apóstolo. Ninguém adotou método mais apropriado para explicar a sua fra­ seologia do que Schoetgen, que atribuiu o seu estilo peculiar a fontes judaicas. Segundo ele, a proposição da Epístola é esta: Jesus de Nazaré é o verdadeiro Deus, e, a fim de convencer os judeus da verdade desta proposição, o autor usa apenas três argumentos: (1) Cristo é superior aos anjos;

(2)

Ele é superior a Moisés;

(3)

é superior a Arão.

(C larke ,

Preface to the Commentary Epistle to the Hebrews, IV, p. 701) ---- r

Prosseguindo na análise da importância da Epístola aos Hebreus, escritores mais modernos produziram muitas obras em seu louvor, tanto no que se refere à forma quanto ao conteúdo. Em Lectures on the Epistle to the Hebrews, Lindsay disse: j ------A Epístola aos Hebreus é um dos livros mais importantes do Novo Testamento. Contém exposição minuciosa de algumas das principais doutrinas do cristianismo; o plano é construído com grande beleza e exatidão lógica, e está escrita em um grego superior a qualquer outro livro do volume sagrado, (p. 1)

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Talvez uma das melhores apreciações da Epístola seja a de John Owen, que disse: j -----Verifiquei que a beleza da carta era tal, a profundeza dos mistérios nela contida tão grande, o âmbito da verdade afirmada, desenvolvida e explanada tão amplo e tão difuso em todo o conjunto da religião cristã, a utilidade das discussões nela contidas tão importante e tão indispensável, que logo me senti grato porque a sabedoria, a graça e verdade guardadas neste depósito sagrado estão longe de ser exauridas pelos esforços de todos os que precederam. Tão longe pareciam essas verdades de serem perfeitamente ilumi­ nadas por eles, que me certifiquei de que havia terreno suficiente, não

apenas paia renovada investigação de rico m inério nesta m ina para a geração presente, mas para todas as que se sucederam até a consum ação dos séculos. (O w en , An exposition ofthe EpistU to the Hebretus)

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Como afirmamos anteriormente, estas opiniões acerca da Epístola náo parecerão ilusórias ou exageradas ao estudioso paciente e atento.

2. A Epístolafoi dirigida a cristãosjudeus Embora se tenham adotado várias opiniões quanto aos destina­ tários da Epístola, náo pode haver dúvida quanto a ter sido originalmente escrita para os cristãos judeus. Mas a questão é: a quais deles? Alguns julgaram que ela foi escrita aos cristãos judeus em geral, mas pós-escritos — como os que denotam o conhecimento do autor sobre Timóteo ter sido posto em liberdade e a intenção do autor de visitá-lo (Hb 13.23) — indicam que a Epístola foi endereçada a uma comunidade local; talvez na Ásia Menor, ou na Galácia, em Corinto, na Tessalônica, na Espanha, em Roma, na Antioquia, em Alexandria ou na Palestina. O uso do método alegórico e espiritualizante aplicado ao Antigo Testamento tem levado à suposição de que a Epístola aos Hebreus foi dirigida a uma grande comunidade judaica de Alexandria. A teoria mais antiga e mais comumente aceita é a de que os destinatários seriam os judeus palestinos, especialmente a Igreja em Jerusalém. A evidência interna parece favorecer esta opinião, principal­ mente por náo aludir a perigo algum pelo contato com o paganismo. Outra evidência se encontra no fato de que havia milhares de judeus palestinos que criam na Lei e eram zelosos dela (Atos 21.20). Estes estavam em constante perigo de serem novamente colocados sob o jugo do culto ritual mantido no templo e, com toda probabilidade, não tinham compreendido, até então, que a aceitação do cristianismo significava o fim dos sacrifícios levíticos. E ainda mais, uma carta dirigida

à Igreja em Jerusalém proporcionaria uma circulação mais ampla da Epístola, pois os judeus dispersos se mantinham em íntimo contato com Jerusalém, sua cidade sede, isto é, sua verdadeira capital.

3. A autoria da Epístola A sua autoria tem sido grandemente discutida desde os tempos remotos. Tertuliano a atribuiu a Barnabé; Clemente de Alexandria a atribuiu, em parte, pelo menos, a Lucas. Ele achava que Paulo era o autor, e Lucas, o tradutor. Lutero estava entre os que a atribuíam a Apoio, que era poderoso nas Escrituras (At 18. 22-28; 1 Co 1.12, 3.4, 3.6, 16.12; T t 3-13). Outros ainda atribuíram a autoria dela a Silvano ou Áquila, ao passo que o Dr. Robinson achava que foi obra de algum outro autor, que não os escritores conhecidos do Novo Testamento. A Igreja no Oriente universalmente aceitou a Epístola como sendo de Paulo; e, na Igreja Latina, foi geralmente recebida como paulina até o fim do século 2. Em alguns dos catálogos e manuscritos antigos, tais como o Código de Alexandria, do Vaticano, de Efraemi e outros, a Epístola aos Hebreus se encontra imediatamente após 2 Tessalonicenses, entre as Epístolas paulinas. Isto deu origem, no início do século 2, à teoria de que Gálatas foi escrita para os gentios, e Hebreus, para os judeus da mesma região. Assim, a principal seria a Epístola aos Gálatas, e a Epístola aos Hebreus, um anexo. Eusébio, citando Clemente, afirmou que a razão pela qual Paulo náo subscreveu seu nome na Epístola aos Hebreus teria sido o fato de ser o apóstolo dos gentios, e não dos judeus. Mas, provavelmente, a maioria dos eruditos concorda com Orígenes, que disse, no século 3: “Quanto ao autor da Epístola, só Deus sabe a verdade”. Disse o bispo Chadwick: j -----Náo obstante, é obra de algum membro da Escola Paulina. As semelhanças com o seu estilo são notáveis e só se podem reconciliar

com as diferenças notáveis se acreditarmos que foi o escrito de um discípulo que entesourava com amor o pensamento de seu mestre e, às vezes, até reproduzia suas expressões, ao passo que sua individualidade permanecia intacta. E isto é a um tempo edificante e interessante. Vemos as grandes convicções pelas quais o apóstolo vivia, a encar­ nação, a expiação, a intercessão de nosso Senhor, a fé, a justificação e o julgamento, influenciando outra mente, assumindo outra forma e cor, expressando-se de outra maneira, encontrando seu apoio no Antigo Testamento e, contudo, permanecendo a mesma. É um óti­ mo exemplo de quanta diferença de expressão, quanta originalidade e independência são compatíveis com o amor e a fidelidade ao mesmo Evangelho. (C hadwick, The Epistle to the Hebrews, p. 1,2) ---- r

4. O idioma original em que a Epístolafoi escrita Existem duas opiniões gerais quanto à língua em que esta Epístola foi escrita em um primeiro momento. Acredita-se que foi original­ mente: (1) escrita ou ditada em hebraico e, depois, traduzida para o grego; e (2) escrita em grego, tal como ela se apresenta hoje. Os estudiosos da antiguidade adotavam o primeiro ponto de vista; os modernos se inclinam para o segundo. Como no caso da Epístola aos Romanos, que foi escrita em grego, provavelmente o autor [da Epístola aos Hebreus] julgou que melhor serviria ao uso comum se ela fosse escrita em grego, se bem que dirigida aos judeus. Aqueles que acham que foi originalmente escrita em grego apresentam os seguintes argumentos: 1. Não tem a rigidez de uma tradução; 2. Invariavelmente, cita a Septuaginta, o que não seria provável se escrita em hebraico; e 3. Em alguns casos, traduz as palavras hebraicas. A Epístola em grego entrou cedo em circulação, e não existem provas de que tenha havido um original hebraico — o que se infere para explicar as supostas diferenças de estilo das outras Epístolas paulinas.

Ao proceder ao estudo do idioma original, é importante dedicar atenção também ao vocabulário', ao estilo e às imagens usadas na Epístola. W estcott afirma que a Epístola, em sua lin­ guagem, quanto ao vocabulário e estilo, é mais pura e vigorosa do que qualquer outro livro do Novo Testamento: (1) o estilo, ainda mais que o vocabulário, é característico de um erudito experimentado; (2) o vocabulário é singularmente copioso e inclui numerosas pa­ lavras náo-encontradas em outra parte dos escritos apostólicos e algumas que não são citadas de outras fontes4ndependentes; (3) o simbolismo da Epístola é extraído de muitas fontes. Algumas das imagens, tratadas mais ou menos em detalhe, são singularmente vividas e expressivas.

5. A data da composição É evidente que a Epístola aos Hebreus foi escrita antes da destruição de Jerusalém, se foi escrita ou ditada por Paulo, pois o apóstolo morrera antes dessa data. Isto se evidencia também em certos textos (Hb 9.9; 13.10), bem como em todo o escopo da Epístola, o qual implica que o templo ainda subsistia, e o seu culto era mantido. Todavia, não pode ter sido escrita muitos anos antes desse tempo, pois havia aqueles que há muito eram cristãos (Hb 5.12), e pode-se também inferir, pelo capítulo 13, versículo 7, que os seus primeiros mestres estavam já mortos. A calamidade iminente, pela queda de Jerusalém, parece estar indicada nas palavras: E tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia (Hb 10.25d). Porque ainda um poucochinho de tempo, e o que há de vir virá e não tardará (v. 37). A data provável da redação é situada entre os anos 64 e 67 d.C., quando começou a guerra na Judéia e, mais provavelmente, pouco antes da destruição de Jerusalém [pelos romanos, em 70 d.C.]. Este último evento assinalou, em sentido peculiar, o término da antiga

dispensação; os cristãos o consideraram como o julgamento final de Deus e o sinal da vinda do Senhor.

6. A finalidade da Epístola Como se afirma em geral, o propósito da Epístola aos Hebreus é firmar os cristãos judeus em sua fé e protegê-los contra um retomo apóstata ao judaísmo. Sampson, em seu Commentary, observou que eles estavam particu­ larmente expostos a este perigo e que isto chegou ao seu conhecimento: 1. Pelos antigos preconceitos e pela sua educação anterior — o juda­ ísmo fora a religião de seus pais desde gerações imemoriais; 2. Pelo esplendor das cerimônias do templo, que apelavam aos sentidos e que os inimigos asseveravam estar em esplêndido contraste com a simplicidade nua do culto cristão; 3. Pela influência das relações sociais: os parentes, vizinhos, amigos e patrícios eram judeus; 4. Pelo ódio devotado à cruz. [A religião cristã] não poderia ser rival do judaísmo, como pedra de tropeço; 5. Pelas perseguições, as quais, embora não trouxessem a morte, eram severas. O propósito do autor [da Epístola aos Hebreus] é levado a termo por uma revelação da verdadeira natureza do cristianismo, que ele apresenta como a religião final e perfeita. E o faz não somente por exortação e advertência, embora estas recebam lugar impor­ tante, porém, mais especialmente, por um tratado esplêndido e erudito, em que se detém na glória de Cristo, o Filho, em contraste com os anjos, Moisés e Arão. Nesse ponto, também se estabelece, com notável contraste, a distinção entre a antiga aliança das obras e a nova aliança da fé.

Uma das peculiaridades da Epístola é a apresentação de Cristo como sacerdote — verdade não encontrada em nenhum a outra Epístola, embora nelas se mencionem Suas ministrações sacerdotais. A chave para a compreensão desta Epístola, portanto, é contemplá-la à luz de Cristo, nosso grande e eterno Sumo Sacer­ dote. Todas as outras verdades giram em torno deste pensamento. Tão erudito é o tratam ento do material desta Epístola, que é frequentemente considerada um tratado sobre o sumo sacerdócio do Salvador. * P

r in c íp io s d e in t e r p r e t a ç ã o

Na interpretação desta Epístola, salientaremos os seguin­ tes pontos: (1) o objetivo primordial dela é levar os homens à presença de Deus; (2) para que possam permanecer na presença delè, os homens têm de ser santos. A nota dominante da Epístola, portanto, é a santidade, e esta experiência pessoal, espiritual, é apresentada sob diferentes aspectos e com terminologia apropriada com relação à pessoa e obra de Cristo. O terceiro ponto a ser des­ tacado é: o povo de Israel é considerado como símbolo da obra de Cristo sob a nova aliança. A ênfase, entretanto, não é dada à libertação do jugo do Egito, mas à recusa em entrar em Canaã, sua herança prometida. Por isso, a referência à sua história se confina, principalmente, à jornada do Egito para Canaã, às suas peregrinações no deserto, ao tabernáculo com seu mobiliário, ao sacerdócio e ao grande Dia da Expiação — todos eles interpretados segundo a obra redentora de Cristo. Esta experiência de redenção é apresentada, sob vários aspec­ tos, no que se relaciona com Cristo e, em cada um destes aspectos, há uma advertência ou exortação apropriada. Assim analisada, a Epístola fornece a seguinte terminologia aplicada à experiência — experiência esta conhecida por muitas expressões escriturísticas, mas que Wesley geralmente chamava perfeição cristã.

A spec to s

de

C r ist o

E x p e r iê n c ia

e s p ir it u a l

A d v e r t ê n c ia s

contra

1- Divindade de Cristo 2—Humanidade de Cristo

A grande salvação

Negligência

Santificação

Endurecimento do coração

3 - Cristo como Apóstolo

O descanso da fê

Incredulidade

4 - Cristo como Sumo Sacer­

Salvação eterna

Indiferença

5 - Cristo e as promessas

Perfeição cristã

Indolência

6-

Pecado voluntário

santuário

Apostasia

Herança

dote

Cristo e o Santo dos Santos

7—Cristo e a santidade

Observa-se que as advertências aparecem em escala gradualmente descendente: negligência, endurecimento do coração, incredulidade, indiferença, indolência, pecado voluntário e apostasia. A expressão salvarperfeitamente (Hb 7.25) apresenta-nos outro aspecto desta graciosa experiência, mas nenhuma advertência está a ele ligada. Em vez disso, o autor expõe os predicados de Cristo como nosso Sumo Sacerdote para a restauração do Seu povo rumo à plenitude da herança que este recebeu(Hb 7.26,28). A NATUREZA EXORTATIVA DA E

p ís t o l a

A Epístola aos Hebreus tem caráter exortativo do princípio ao fim. Mesmo os seus argumentos mais profundos e as descrições mais sublimes são todos oferecidos em espírito de exortação. Como anteriormente indicamos, frequentemente [os argu­ mentos] assumem a forma de advertências e admoestações. O inte­ resse supremo do escritor é impedir que os cristãos judeus retornem ao judaísmo e, para alcançá-lo, roga-lhes que explorem os mistérios da graça divina em Cristo Jesus. O escritor tem sempre em mente as duas grandes dádivas de Deus ao homem para sua salvação: (1) Deus ofertou Seu Filho ao mundo para redimi-lo; (2) Cristo deu o Espírito

Santo à Igreja para sua santificação e purificação. Como o Espírito é recebido pela fé, Jesus também o é. Apesar de o autor [da Epístola] salientar as crises da experiência cristã, jamais permite que elas excluam o crescimento e o desenvolvi­ mento. Como a conversão é uma experiência decisiva que inaugura a vida de paz com o Senhor, assim também a santificação é a crise que conduz à vida de santidade. Esta tem significado especial por oferecer lugar à habitação de Cristo na plenitude do Espírito. Permanecer em crise como fim em si, em vez de meio, é a origem de muita debilidade no coração dos cristãos. Nosso descanso não é em um coração santo, mas naquele que habita o coração santificado. Tampouco trabalhamos com a nossa própria sabedoria e com as nossas forças, mas mediante Aquele que opera em nós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.13). Como veremos mais adiante no estudo da Epístola, seu autor está profundamente interessado em que aqueles que entraram além do véu, no Santo dos Santos, levem uma vida de devoção plena a Deus. Para ele, estar cheio do Espírito é, literalmente, estar possuído por Deus; ser ungido pelo Espírito é, em certo sentido real, identificar-nos com Cristo, para que, em nossa medida finita, sejamos verdadeiros representantes de Cristo para o mundo e para a Igreja. Que Deus nos conceda a ajuda do Espírito Santo ao estudarmos esta grandiosa Epístola, não apenas para que melhor compreendamos as riquezas da graça em Cristo Jesus, mas para que nos beneficiemos dessas riquezas por intermédio daquele que é o nosso Mediador, nosso grande Sumo Sacerdote, que é, ao mesmo tempo, a garantia da aliança e o Ministro do Santuário.

1 A do

MAJESTADE

F ilh o

de

D eu s

autor da Epístola aos Hebreus, em uma curta introdução de quatro versículos, expõe sucinta e dogmaticamente certas teses básicas como preliminares do seu argumento p objetivo de toda a Epístola é provar, por alusão às passagens Testamento, que Jesus é o Cristo, o verdadeiro Messias que os judeus esperavam. Além disso, os dois primeiros capítulos podem também ser considerados como, em certo sentido, introdutórios da tarefa dialética principal, que é demonstrar que Jesus Cristo cumpriu perfeitamente a Lei e, em seu lugar, introduziu uma nova aliança espiritual da graça. Daí ele dedicar dois capítulos a este assunto do Deus-Homem, um tratando da Sua divindade; outro, de Sua humanidade e humilhação.

O

O preâmbulo: Havendo Deus, antigamente, falado... Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. Hebreus 1.1,2

Disse o Dr. Adam Clarke: A ---------------

Dificilmente poderemos conceber algo mais solene que as pala­ vras iniciais desta Epístola: os sentimentos são em extremo elevados, e a linguagem é a própria harmonia. De imediato, apresenta-se o Deus infinito, não em nenhum dos atributos essenciais à natureza divina, mas em Suas manifestações de amor ao mundo, dando uma revelação de Sua vontade relativa à salvação da humanidade. Assim, preparou o caminho, por meio de uma longa série de anos, para a apresentação daquele Ser glorioso, o Seu próprio Filho, que, na plenitude dos tem­ pos, manifestou-se em carne, para que pudesse completar toda visão e profecia, suprir tudo o que faltava para aperfeiçoar o grande plano da revelação, para instrução do mundo. Ele morreu para livrar o homem do pecado pelo sacrifício de Si mesmo. A descrição que [o autor da Epístola] fez deste personagem glorioso é de uma elevação incomparável. Mesmo em Sua humilhação, excetu­ ados os sofrimentos da morte, Ele é infinitamente exaltado acima de toda a hoste angelical; é o objeto de incessante adoração; permanece no Seu trono eterno à direita do Pai. Dele, todos recebem ordens para ministrar aos que redimiu com Seu sangue. Em suma, este primeiro capítulo, que pode ser considerado a intro­ dução de toda a Epístola, é, pela importância do assunto, dignidade da expressão, harmonia e energia da linguagem, concisão e, ao mesmo tempo, distinção de idéias, igual, se não superior, a qualquer outra porção do Novo Testamento. (C larke, Commmtary on lhe Epistk to the Hebrews) ---- r

A Epístola aos Hebreus prescinde de saudação; daí colocar-nos imediatamente diante da maravilhosa mensagem de Deus. Nisto, tem notável semelhança com as primeiras palavras em Gênesis 1.1 — onde lemos: No princípio, criou Deus. Em Hebreus 1.1, consta: Havendo Deus, antigamente, falado. Visto ser endereçada aos judeus, o autor exibe notável sabedoria devido ao fato de a sua primeira sentença conter um reconhecimento

da autoridade divina dos textos do Antigo Testamento: havendo Deus, antigamente, fa lad ol. A palavra é o veículo de comunhão e fraternidade; por ela, o homem revela os pensamentos e as disposições de sua mente e seu coração. Assim, Deus, também, o qual habita na luz inacessível(1 Tm 6.16), fala-nos para revelar-se mediante os infinitos propósitos de Seu amor. O pecado do homem interrompeu sua comunhão com Deus, mas, pelo dom de Seu Filho, ela foi restabelecida.

1. A introdução eujonica No original grego, a Epístola se inicia de modo sonoro, com dois eufônicos advérbios ligados por uma simples conjunção — polumeros kai polutropos (ra)Àu|i£Q©ç ka í noAviQÓnQç). Estas palavras chamam imediatamente a atenção do leitor. Traduzidas pela expressão muitas vezes e de muitas maneiras, as palavras iniciais perdem a eufonia e muito da solenidade. Esta expressão introdutória, porém, não se destina apenas a cha­ mar a atenção imediata; apresenta, de maneira majestosa, o tema fun­ damental de toda a Epístola. As muitas vezes e muitas maneiras pelas quais Deus se revelou nos profetas e por intermédio deles são, aqui, sintetizadas como preparatórias para a revelação perfeita no evangelho, que é um e indivisível, porque é a revelação de Deus em uma pessoa, que é o Filho. Muitas vezes e de muitas maneiras (Hebreus 1.1) — Alguns escri­ tores antigos, como Crisóstomo, consideravam as palavras polumeros ( tio à U|uI£Q cDç) e polutropos (u o A v tq ó tiG )ç ) como sinônimos indicando a ideia única de inacabado. Escritores subsequentes acham que estes termos expressam ideias diferentes. O primeiro, traduzido como muitas vezes, costumava referir-se, então, às porções separadas em que Deus entregou o Antigo Testamento aos judeus — distribuídas durante mais de mil anos, desde Moisés até Malaquias.

O segundo, traduzido como de muitas maneiras, remete-se à variedade de maneiras que Deus usou para tornar a Sua vontade conhecida — visões, sonhos, vozes audíveis, Urim e Tumim, e os pronuncia­ mentos proféticos. Stuart, embora adotando a opinião de que cada termo possui um significado separado, observa que a antítese é mais eficaz se tradu­ zirmos o versículo do seguinte modo: j ------Deus, que nos tempos antigos fez comunicações aos pais pe­ los profetas, em diversas partes e de várias maneiras, fez-nos agora uma revelação pelo Seu Filho, isto é, completou toda a revelação que pretendia fàzer sob a nova dispensaçáo, pelo seu Filho - por Ele tão — somente e náo por uma série contínua de profetas, como outrora. (Stuart, A Commentary on the Epistle to the Hehrews, p. 278) ---- r

Isto é confirmado pelo fato de que a revelação cristã se com­ pletou naquela única geração, que foi contemporânea à vida de nosso Senhor sobre a terra. Antigamente [...] nestes últimos dias (Hb 1.1,2a a r a ) — Estas expressões denotam períodos distintos. A palavra palai (TtóÀaí), que literalmente significa antigamente, ou nos tempos antigos, não significa apenas anteriormente, mas sempre descreve algo completado no passado. Westcott disse que palai se refere aos ensinamentos antigos, há muito selados. O escritor, portanto, com o uso deste termo, evitou a inferência de que aquelas revelações tivessem continuado até o tempo então presente. Isto excluiria como literatura inspirada tudo desde o tempo de Malaquias até o período evangélico. Nestes últimos dias parece logo se ter tornado designação técnica para o tempo do Messias e Seu reinado. Mas, como geralmente ocorre nas profecias do Antigo Testamento, o intervalo entre os dois adventos se perde de vista, e os dias do Messias são considerados como uma manifestação única. Quando, entretanto, o intervalo entre o primeiro

e o segundo adventos começou a estender-se em anos, a expressão foi modificada. Mesmo nesta Epístola, as expressões aquele mundo ou aqueles dias são usadas como de um período futuro, embora o Messias tivesse vindo. Sabemos que os judeus dividiam o tempo em a presente era e a era por vir, referindo-se esta ao reinado perfeito de Deus. Entre es­ tes períodos, colocavam o Reinado do Messias, às vezes, em conexão com o primeiro, às vezes, com o segundo. Comumente, acreditava-se, contudo, que a passagem de uma era para outra seria assinalada pelas dores do parto de um novo nascimento, um período de provação e sofrimento.

2. A revelação divina: Deusfalou A linguagem é, a um tempo, a base da revelação e da comunhão. Como as palavras de alguém revelam o seu interior, assim também Deus, que habita na luz inacessível (1 Tm 6.16), revela-se mediante Sua Palavra em santidade é amor— santidade que repele todo pecado; amor que sempre atrai a Si o pecador. Declara-se aqui que a revelação de Deus foi dada em estágios sucessivos — o primeiro por intermédio dos profetas, o segundo mediante o Filho. Quanto ao primeiro, a palavra lalesas (AaÀi]aaç), havendo falado, é um particípio aoristo1 e, como tal, resume, em um único ato, todas as revelações anteriores, sejam patriarcais, mosaicas ou proféticas. A última é expressa pelo termo elalesen (éAóAt\qzv), falou, que, como um indicativo aoristo2, reúne em uma só palavra a revelação por intermédio do Filho, embora não se refira a acontecimento particular algum na vida de Cristo. O ponto a ser notado grama­ ticalmente é que a expressão no particípio [passado] — Havendo Deus, antigamente, falado — anuncia o verbo principal com seu aoristo [aspecto verbal] de finalidade — Deus falou. Essas palavras, pois, não significam tão-somente que o Deus que falou nos tempos

passados é o mesmo que agora fala [pelo Filho]; existe um significado mais profundo. Significam que, tendo Deus falado, esta revelação anterior, agora completada [em Cristo], torna-se a preparação para a revelação posterior e final. Deus falou, e a mensagem é para nós, nestes últimos dias, tão verdadeira como quando anunciada pelos apóstolos e profetas da antiga dispensação. Que complacência maravilhosa teve o infinito Deus para conosco! Isaías exclamou: Ouvi, ó céus, e presta ouvidos, tu, ó terra, porque fala o SENHOR (Is 1.2a). Dispensemos, por isso, o entusiasmo de nossa atenção a essa Epístola [aos Hebreus] e, com reverência e temor piedoso, sejamos obedientes às palavras que Deus falou. Lindsay afirmou que: j ------A inspiração das Escrituras é distintamente afirmada neste ver­ sículo inicial da Epístola aos Hebreus: foi Deus quem íàlou aos ho­ mens pelos profetas e pelo Seu Filho. Por isso, os escritores do Antigo Testamento e aqueles que foram usados por Cristo para escrever o Novo foram infalivelmente dirigidos pela sabedoria do céu; e o que escreveram é a verdade de Deus. [...] Reivindica-se inspiração, alega-se infalibilidade; devemos admitir essas pretensões. ( L i n d s a y , Lectures on lhe Epistle to the Hebrews, p. 28,29) —



r

Em grego, a palavra que se traduz como últimos na expressão nestes últimos dias é eschatou ( é o x « t o u ) em nossa atual versão e significa aofim destes dias. No texto recebido, a palavra últimos é eschaton (éoxázO v). Vaughan sugeriu que a primeira significa uma época, e a segunda, uma era. Stuart achava que ambos os termos, sendo usados na Septuaginta [ou Versão dos Setenta], foram considerados sinônimos, e o sentido do texto é indiferente a qualquer que seja a versão usada. Westcott disse que a expressão nos últimos dias foi moldada pela tradução na Septuaginta de textos como Gênesis 49.1 — nos dias vindouros (a r a )

ou nos derradeiros dias (a r c ); Números 24.14 — nos últimos dias (a r a ) e textos similares.

3. O caráter dos mediadores. pelos profetas [...] pelo Filho (Hb 1.1) A profundidade e a magnitude da revelação que Deus fez de si mes­ mo dependem do caráter do instrumento pelo qual essa revelação é feita. Sem uma língua comum, pouca comunicação e pouco entendimento pode haver. As palavras, como as conhecemos, são apenas símbolos. As verdades que elas expressam têm mais profundidade. Consideradas com este significado mais profundo, as palavras são espírito e vida (Jo 6.63). Do contrário, são apenas o véu que encobre a Verdade da mensagem e a pessoa do Revelador. As palavras podem dizer-nos algo sobre a Verdade, mas, so­ mente quando se tornam espírito e vida, a glória do Revelador irrompe além do véu. Somente, então, somos levados à presença daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Se, portanto, deve haver uma revelação perfeita de Deus ao homem, deve existir um meio perfeito de comunicação por meio do qual o Senhor possa revelar-se. A perfeição do Filho, por intermédio de quem Deus falou, toma a mensagem perfeita. Como uma palavra, falada ou escrita, é uma representação audível ou visível de um pensamento que se não vê, assim Cristo, como Filho, é a imagem visível do Deus que não vemos — o que se verifica claramente, ao dizer-nos o escritor [da Epístola aos Hebreus] que Deus falou, no passado, pelos profetas, mas, a nós nestes últimos tempos, pelo Filho. É evidente, pois, que a revelação é contínua, à medida que Deus é o Autor de ambas, mas a última é nova e distinta por ter como mediador Cristo, o Filho, e não os profetas. O ministério dos profetas poderia apenas preparar o caminho para o Filho; jamais poderia satisfazer o coração de Deus ou a alma hu­ mana. Nem Deus nos fala [somente] por meio das palavras do Filho. Isto seria apenas reduzi-lo ao nível dos profetas, que só podiam usar meios externos de comunicação.

É por intermédio do Filho, o Verbo divino, a segunda pessoa da Trindade, que Deus se revela aos homens. O próprio Filho, que habita no seio de Deus (Jo 1.18), teve de vir para habi­ tar com e nos homens, trazendo-lhes a profundidade e a riqueza da vida divina e comunicando-lhes, interiormente, as chamas de Sua santidade e o Seu amor abundante. Deste modo, é somente mediante o sangue de Jesus, em que há expiaçáo do pecado, e o amor de Deus, derramado no coração humano pelo Espírito Santo, que Deus fala aos homens em uma amizade restaurada e santa comunhão. O texto grego diz év t o íç uqcx |)títouç e év vío>, isto é , nos pro­ fetas e num Filho. Stuart observa que o uso freqüente de év com o dativo3, em lugar de aiá com o genitivo4, no Novo Testamento, é um hebraísmo, pois év corresponde à palavra hebraica que é usada com grande latitude de significação e, em casos da mesma natureza como o em questão, por exemplo, em Oséias 1.2a — “Falou o Senhor por intermédio de Oséias” [cf. versão a r c da Bíblia Sagrada, Palavra do SENHOR que fo i dita a Oséias]. Apenas um uso ocasional de év deste modo se encontra nos escritores gregos clássicos. Assim, a palavra aparece, tanto na Authorized Version como na Revised Standard Version como by (por), em vez de in (em). Vaughan disse que o contraste entre év vícó, ou no filho, sugere o sentido de nas pessoas de, em lugar de nos escritos de. Westcott, usando a palavra em em vez de por, afirmou que não foi simplesmente por meio deles, como Seus instrumentos, mas neles (4.7), como o poder vivificante de sua vida. Qualquer que fosse o modo pelo qual Deus se lhes desse a conhecer, eles eram Seus mensageiros, inspirados pelo Seu Espírito, não em suas palavras apenas, mas como homens; e como quer que a vontade divina lhes fosse comunicada, eles a interpretavam ao povo. W

e stco tt

(V a u g h a n ,

e S t u a r t , Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 23)

4. A natureza das alianças Com a diferença no caráter dos mediadores, chegamos de ime­ diato à consideração das distinções essenciais entre as duas alianças ou os dois testamentos. Talvez ninguém compreenda a importância desta distinção sem a iluminação especial do Espírito. Sem dúvida, ela não será compreendida sem uma visão profunda da natureza da pessoa e da obra de Cristo. Às vezes, entendemos, por um lampejo especial da verdade divina, que o Antigo Testamento significa Deus falando por meio dos profetas, ou seja, pela mediação humana. Tendo homens por instrumentos, [o Antigo Testamento] foi necessariamente externo; sendo externo, devia tomar forma de algu­ ma espécie, e foi cerimonial. Sendo cerimonial, só poderia referir-se às verdades mais profundas por meio de símbolos e, portanto, nada mais poderia ser senão preparatório. O Novo Testamento, por outro lado, teve como instrumento o Filho e foi, pois, interior, ao invés de exterior; sendo interior, foi espiritual, em vez de cerimonial; e, sendo espiritual, não foi meramente preparatório, mas perfeito. Essas distin­ ções serão apresentadas para nós com mais clareza se dispostas como a seguir: A

P R I M E I R A A L IA N Ç A

A A L IA N Ç A

S U P E R IO R

1- Mediadores humanos (os profetas)

1 - Mediador divino (o Filho)

2 - Externa (na administração)

2 - Interna (na administração)

3 - Cerimonial (no caráter)

3 - Espiritual (no caráter)

4 - Preparatória (no propósito)

4 - Perfeita (na expressão)

-

Verifica-se assim que a superioridade da nova aliança se deve à superioridade do Mediador. A primeira, feita por instrumentos huma­ nos, os profetas, só poderia ser externa e parcial; a segunda, tendo por instrumento o Filho, é espiritual e perfeita. Somente pela mediação do Filho poderia ser perfeita a revelação do Novo Testamento, e só pelo

mesmo Mediador se poderia introduzir uma aliança que suplantasse a anterior. O Antigo Testamento é ainda uma revelação de Deus, mas preparatória da revelação superior do Novo Testamento. O Antigo Testamento, portanto, serviu como preparação para aquele que, de­ pois, haveria de ser dado por intermédio de Cristo. O Novo Testa­ mento, selado com o sangue dele, repousa solidamente sobre o alicerce seguro de um sacerdócio superior e eterno. Devemos, então, entender com clareza e ter constantemente no espírito a diferença entre as duas alianças — uma, em que o elemento humano é mais proeminente; outra, em que é o divino; uma mais externa, outra mais interna e espiritual. Deus, falando mediante a vida de Seu Filho, traz-nos ao contato vivo consigo mesmo. É a glória desta Epístola que ela indique o caminho desde o estágio inicial da vida cristã até o do acesso pleno além do véu, onde habita a luz gloriosa da presença divina. Reconhecendo, pois, a diferença essencial entre os testamentos, seguem-se três coisas: 1. As alianças representam dois períodos históricos na revelação de Deus aos homens: a Lei e a graça; 2. Representam dois níveis de experiência cristã: vida e amor; e 3. Representam dois estágios no progresso espiritual do cristão: a Palavra e o Espírito. Estes três aspectos das duas alianças têm implicações de grande alcance, mas só podem receber, neste texto, tratamento sucinto.

5. Doisperíodos históricos de revelação Deus nos falou tão verdadeiramente no Antigo Testamento como o faz no Novo. Os profetas foram mensageiros de Deus tanto quanto o Filho o é. Mas, no primeiro, a Palavra foi falada a nós; no último, é gravada e pronunciada em nosso interior pelo Espírito que em nós habita. A finitude dos profetas impedia uma revelação plena.

Um Deus infinito só pode ser plenamente revelado por um Mediador da mesma natureza. Todavia, as Verdades do Novo Testa­ mento têm suas raízes no Antigo e não podem ser compreendidas sem ele. O Espírito operou em ambas as dispensaçóes, e Seus propósitos, em qualquer era, só podem ser conhecidos à medida que surgem em todas as eras. O Antigo Testamento foi uma dispensação da Lei. O Novo, da graça. O primeiro foi, ao mesmo tempo, um instrumento preparatório e disciplinar para a plenitude dos tempos; foi um mestre-escola, um preceptor para levar-nos a Cristo (G1 3.24). Esta é ainda a função do Antigo Testamento, pois a disciplina deve sempre preceder a liberda­ de; o arrependimento, o perdão (1 Jo 1.9). Este, por sua vez, precede a nova vida de santidade (Ef 4.1)

6. Dois níveis de experiência cristã Não somente os dois testamentos representam dois estágios na revelação histórica [de Deus]; também representam dois níveis de ex­ periência cristã: vida e amor. A vida é concedida na regeneração ou no novo nascimento [do homem] e é algo santo, abrangendo todas as graças [carismas] do Espírito, manifestando-se em amor a Deus e aos homens. Essa vida, porém, é implantada em uma alma que, por he­ rança da humanidade, está contaminada por uma natureza depravada, comumente conhecida como pecado inato ou mente carnal. O que é regenerado ou nascido de novo compreende aquilo que João ensinava tão claramente, [quando disse] que o medo pode existir no coração paralelamente ao amor. Compreende também que existe uma experiência em que o amor perfeito lança fora o temor, que contém tormento (1 Jo 4.18). Essa experiência tem de ser vivida por aquele que deseja estar salvo no Dia do Juízo. E nesse ponto que o significado dos dois testa­ mentos se torna intensamente pessoal. Se buscarmos sinceramente esta

experiência de amor aperfeiçoado, perceberemos de novo aquilo que o Antigo Testamento pretendia: demonstrar-nos a nossa impotência e levar-nos àquele plano humilde de desamparo no qual apenas pode operar a graça. Mediante o Espírito, perceberemos, então, a verdade da expressão do piedoso Fletcher: “O teu desamparo não é obstáculo à minha bondade amante”, e pela fé entraremos na vida superior além do véu, onde o perfeito amor lança fora o medo. Assim, à purificação do coração segue-se um período de pro­ vação após a conversão, para ver se a alma recém-nascida entregará ou não, com alegria e voluntariamente, tudo [a Deus], a fim de obter a plenitude da bênção. Esta experiência de amor aperfeiçoado é operada pela graça apenas, mediante o sangue expiatório de Jesus e o poder santificador do Espírito Santo (At 15.8,9). O amor se torna assim o motivo dominante da vida santificada, e este amor é capaz de cresci­ mento infinito.

7. Dois estágios de progresso espiritual Os dois testamentos estão igualmente relacionados, de forma vital, com o progresso na graça. A vida concedida no novo nascimento tem capacidade de crescimento e desenvolvimento contínuos. Quan­ do os obstáculos são removidos, sendo purificado o coração do pecado inato, o crescimento é mais rápido, e a experiência cristã é mais estável e segura. O progresso é essencial ao bem-estar de todo cristão, que precisa não apenas ser salvo dos seus pecados, mas conhecer Cristo pelas experiências profundas da vida espiritual. O grande desejo de Paulo se voltava para conhecê-lo [a Cristo], e à virtude da sua ressurreição, e à comunicação de suas aflições, sendo feito conforme à sua morte (Fp 3.10). No desenvolvimento progressivo da graça, os dois testamentos representam a Letra e o Espírito, ou, em um sentido mais profundo, a Palavra e o Espírito.

Dois perigos sáo evidentes. Há os que descansam na Letra, e logo se tornam desprovidos de vida espiritual, porque a letra mata, mas o espírito vivifica (2 Co 3.6c). Por outro lado, existem aqueles que, sendo de uma tendência mais mística, progridem no Espírito, porém esquecem-se da necessidade fundamental de simplesmente confiar na Palavra de Deus. Jamais se pode alcançar uma intimidade real com o Espírito sem primeiro passar pela exterioridade da Letra. Isso é tão real para cada pessoa, no que se refere à revelaçáo histórica em geral, que outra alternativa não há. -* A fé singela na Palavra de Deus escrita traz o auxílio do Espírito e, com ele, a verdadeira intimidade da oração e súplica. Talvez exata­ mente aqui se encontre o maior obstáculo ao progresso cristão. Nossa tendência é meramente orar com esperança, em vez de com fé. Mas a fé é somente o método divino de responder à oração, quer para a salvação, quer para o progresso na vida cristã. Lutarmos, com nossos próprios esforços, a fim de crermos, não é o plano de Deus. Seu plano é a confiança singela na Palavra escrita, que Ele, a seguir, transforma em espírito e vida para a nossa alma (Jo 6.63). Após o preâmbulo, o autor da Epístola aos Hebreus inicia o seu argumento em favor da superioridade do Filho, que é apresentado em três estágios: 1. O Filho na Sua glória antiga (Hb 1.2b), que se refere primordial­ mente ao Filho em Suas relações cósmicas como Herdeiro de todas as coisas e Criador dos mundos. 2. A Porta Farmosa do templo (At 3.10), que se refere mais às relações pessoais do Filho para com o Pai. Estas se distribuem em cinco características principais e proporcionam a mais enérgica demonstração da divindade de Cristo que se pode conceber. Aqui, como no prólogo do Evangelho de João (jo 1.1-18), o Filho é visto como a Palavra que forma, ao mesmo tempo, o fundamento da revelação de Deus ao homem e o acesso deste a Deus. Ele é a Porta para o templo da presença divina.

3. A majestade do Filho em Seu trono intercessório ( Hb 1.4-14). Este é o argumento da superioridade do Filho; primeiro, sobre os anjos, por causa do Seu nome superior, e depois sobre os homens, por ser o Cabeça redentor da raça humana. Nos próximos tópicos, esses assuntos receberão maior desenvol­ vimento. O F il h o d e D e u s n a S u a g l ó r ia p r im e ir a

A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fe z também o mundo. Hebreus 1.2 Vimos que a distinção entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento se fundamenta no caráter dos mediadores. A nova aliança, tendo o Filho de Deus como Mediador, não apenas cum­ priu e encerrou a antiga dispensação, mas é, em si mesma, o estágio final da revelação. O leitor atento observará que o autor da Epístola aos Hebreus dispôs de tal modo sua breve comparação entre as dispensações que a declaração termina com a menção do Filho, o qual ele passa a enaltecer em um fluxo contínuo de pensamento. E característica singular e interessante do autor desta Epístola o fato de que, quando menciona o nome do Filho, detém-se longamente, quer para elaborar o tema, quer para meditar sobre ele em humilde devoção. Por isso, detém-se na glória do Filho de Deus, Mediador da nova dispensação. As glórias assim apresentadas, para aqueles que, como o autor, meditam longa e tranquilamente sobre elas, irromperão em glória espiritual interna e encherão de luz os amplos horizontes da alma do cristão. Não fiquemos, então, contentes meramente com o que Cristo fez por nós, mas procuremos entrar em comunhão mais profunda e perfeita com Ele.

Mr. BramweU disse: “Ser justificado é grandioso, ser santifica­ do é grandioso, mas quão glorioso não é estar cheio de toda a pleni­ tude de Deus!” Permita Deus que continuemos a contemplar a glória divina até que todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito (2 Co 3.18 a r a )!

1. O significado da palavra Filho * O autor da Epístola aos Hebreus usa uniformemente a palavra Filho para Cristo, ao passo que João, no prólogo do quarto Evangelho 0o 1.1-18), usa a palavra grega Logos, traduzida como Verbo. Pode-se dizer que, em geral, a palavra bgos é usada para Cristo em Seu estado pré-encarnado, enquanto Filho é usada para o Logos ou o Verbo encar­ nado. Ambas têm implicações trinitárias básicas. Conforme João usa o Logos ou Verbo, é eterno e pessoal: No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1.1). [O Filho] É, portanto, a plena objetivação do Pai como Deus. Assim usado, o Verbo tem uma relação apenas necessária, e não livre para com o Pai, exceto se for considerada em relação a uma terceira pessoa, o Espírito, o qual, como vínculo de unidade ou perfeição, glorifica esta relação necessária em liberdade e amor perfeitos. Uma vez que a palavra é o meio necessário de comunicação, a Encarnação, ou o Verbofeito carne, toma-se a única porta de comunhão e amizade com Deus. E também o acesso para o pleno significado da vida humana. Por isso, o Senhor podia dizer: Quem me vê a mim vê o Pai (Jo 14.9b). Na Epístola aos Hebreus, a palavra Filho é usada, porém, com as mesmas implicações trinitárias. As ideias são geradas na mente, de forma tão real como plantas produzem plantas, e animais geram ani­ mais. A diferença reside em que, na mente, a geração é espiritual. A ideia ou pensamento é, antes de sua expressão, uma obra interna e, embora distinta da alma, não é separada dela. A mente pode gerar

pensamento sem perder nada de si mesma. Assim, o Verbo ou o Filho é contemporâneo e coeterno com o Pai. Este náo existe primeiro para, depois, pensar, pois, como uma pessoa, Deus nunca deixa de refletir. E este pensamento ou esta palavra de Deus, como o Filho, é igualmente distinto do Pai, sem estar separado dele, da mesma maneira como um pensamento é distinto da minha alma sem estar separado dela. Como um objeto diante do espelho revela-se sem destruir o original, assim, de maneira infinitamente sublime, o Filho é eternamente gerado pelo Pai eterno e, apesar de distinto — o que náo quer dizer separado — , o Filho jamais diminui as perfeições do Pai. Por isso, o Pai pode dizer: Tu és meu Filho, hoje te gerei (Hb 1.5b). No eterno presente, Deus gera Seu Filho em um ato que jamais terminará. j ------A doutrina das Escrituras (Jo 1.14) náo é a de que o Filho [de Deus] se uniu a um filho de Maria, a uma natureza humana no sen­ tido concreto, mas que o Logos eterno, hipostático, tornou-se homem, assumiu natureza humana no sentido abstrato, concentrou-se por um livre ato de autolimitação, movido pelo amor, em uma vida humana embrionária, em uma alma de criança a dormitar e, como tal, formou para si mesmo inconscientemente — todavia com energia criado­ ra— um corpo no ventre da virgem e, daí, Aquele que nas Escrituras é chamado VÍÓÇ [Filho], que, encarnado, é um e o mesmo com Aque­ le que, com respeito à relação de unidade com o Pai, é chamado Ó

Àóyoç (Logos ou Verbo) ou ó [Jovoyevfíç (o Unigênito). Náo somente isto, mas que encarnado Ele só pode ser chamado Filho de Deus, porque o fJ.0V0y£Vf]Ç [Unigênito] tornou-se homem. E daí, em segundo lugar, devemos precaver-nos contra o fàto de procurar­ mos explicar a idéia contida em VÍÓç [Filho] pela relação do Homem encarnado para com o Pai, como se Ele [Cristo] fosse chamado Filho no mesmo sentido em que outros homens piedosos são cha­ mados filhos de Deus. the Hebrews, p. 15,16)

(E br a r d ,

Biblical Commentary on the Epistle to

John Wesley escreveu em suas Notas [Notes]: “Tu és meu Filho, Deus de Deus, Luz da Luz. Hoje te gerei, gerei-te desde a eternidade, a qual, por sua permanência inalterável de duração, é um dia contínuo, sem sucessão”. A esse respeito, comentou o Dr. Adam Clarke: “Pondo de lado a questão da controvérsia, eis algo expresso de maneira sublime, e não me consta que este grande homem jamais tenha alterado suas opiniões sobre o assunto”. Wesley conservou a declaração do Dr. Adam Clarke no artigo An Arian antidote, no IV volume do Arminian Magazine-, publicado em 1781. j---------

Embora a essência iníinita do Verbo esteja unida numa pessoa com a natureza do homem, não existe idéia de prisão ou confinamento. Pois o Filho de Deus desceu miraculosamente do céu, porém de maneira tal que jamais deixou o céu; quis ser milagro­ samente concebido no ventre da virgem, viver sobre a terra até ser pendurado na Cruz; contudo, jamais cessou de encher o universo, da mesma maneira como no princípio.

(C a l v in o ,

Institutes, 2, 13,4,

vol. 1, p. 525, 526) Como em Cristo a união pessoal das naturezas divina e humana é realizada da maneira mais perfeita, conquanto as duas naturezas de modo nenhum se confimdam, as duas assim permanecem distinguíveis, sem, contudo, serem jamais concebidas como realmente separadas. Devemos considerar, portanto, como errônea, a linguagem de tantos escritores antigos, que limitam a exaltação exclusivamente à natureza humana de Cristo. Ela se aplica antes à pessoa do Deus-Homem. (L a n g e ,

Commentary on Hebrews, p. 31)

2. Cristo como Herdeiro de todas as coisas (Hb 1.2a a r a ) A palavra herdeiro se refere ao propósito original da criação. Deus não fez os mundos primeiro e colocou-os sob domínio do Filho

depois. Por isso, o direito de herança é mencionado antes do propósito da criação. E visto que o Filho foi constituído herdeiro de todas as coisas antes da criação, o próprio Filho deve ter assim existido. O vocábulo herdeiro, conforme é usado neste contexto, não traz em si a ideia de entrar na possessão após a morte de um primitivo possuidor; ao contrário, parece ser derivado de uma palavra hebraica que significa simplesmente adquirir ou possuir. Em sua forma mais simples, significa senhor, possuidor ou soberano. Parece evidente que existe outra conexão entre a herança aqui expressa e o seguinte trecho: Havendofeito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade, nas alturas (Hb 1.3b). Existe uma herança dupla. O Filho é herdeiro por criação-, isto é, per­ sonificou em si mesmo o propósito do Pai e é herdeiro pela redenção da possessão comprada também. 1

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Quão próprio e natural que A quele, por interm édio do qual o universo foi feito, depois de ter-se hum ilhado e realizado a vontade graciosa do Pai, com o recompensa, fosse também investido do domínio do universo com o herança permanente. (Ebrard , Biblical Commentary

on the Epistle to the Hebrews, p. 19) ---- r

A palavra herdeiro, portanto, traz em si algo mais do que o poder universal concedido a Cristo, pelo qual Ele capacita o Seu povo a triunfar sobre o pecado e a pregar eficazmente às nações durante a era evan­ gélica. Significa também que este poder chegará ao cumprimento perfeito, segundo a promessa messiânica em Romanos 4.13, quando, no segundo advento, Cristo banirá da humanidade o pecado e suas conseqüências, removerá a maldição da terra e reinará com poder e glória universais. j -----A palavra herdeiro assinala o propósito original da criação. O domínio originalmente prometido a Adão (Gn 1.28; SI 8.6; 2.7) foi conquistado por Cristo [...] O termo é usado em relação à posse, as­ sinalando a plenitude do direito, baseado em conexão pessoal, e não

indicando transferência e sucessão em relação a um possuidor presente. O herdeiro, como tal, reivindica o título" com referência àquilo que possui [...] O direito de herança do Filho foi realizado pelo Filho encarnado por meio de Sua humanidade, mas o escritor [da Epístola aos Hebreus] fàla do Filho simplesmente como sendo herdeiro. Em tal linguagem, vemos a indicação da verdade que é expressa pela declara­ ção de que a encarnação é, em essência, independente da Queda, embora condicionada por ela quanto às suas circunstâncias. (W estcott, Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 8)

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3. O Filho como Criador: Pelo qual tambémfez o universo (Hb 1.2b a r a ) Tendo declarado o propósito da criação, o autor [da Epístola aos Hebreus] começa a demonstrar que o Filho é também o Criador. Não apenas os mundos foram feitos por Sua causa e de acordo com Seu propósito, mas por Ele, como causa instrumental de Sua existên­ cia. E isso o que João afirma enfaticamente: Todas as coisasforamfeitas por ele, e sem ele nada do quefoi feito sef i z (Jo 1.3). É evidente que as relações de Deus para com todas as coisas fora de si próprio são feitas mediante o Filho, que é o Princípio e o Fim de toda a existência. No fato de que fez os mundos reside a possibilidade de harmonia entre a revelação natural e a histórica. Esta harmonia não existe agora por causa do pecado do homem, nem pode ser efetuada meramente por desenvolvimento natural. Só pode ser realizada por meio dos atos divinos especiais da encarnação e do segundo advento, pelos quais o pecado e suas conseqüências serão removidos do mundo. Jesus não é o Cabeça da Igreja apenas, mas o Cabeça de todas as coisas para a Igreja. Se isto não fosse verdade, não haveria base sólida para a existência cristã nem segurança providencial para o Corpo de Cristo. O termo mundos, ou universo, é aionas (aítDvaç), as idades ou eras, enquanto na Septuaginta a palavra é gen (yfjv), terra. O universo pode ser considerado na sua constituição real [material] ou como uma

ordem que existe ao longo do tempo. O mundo, com o matéria, é cosmos (kóv|j.oç);

o m undo

temporal é aion (aífDv), as idades ou eras.

Essas duas palavras gregas [aionas e cosmos] são usadas na Epístola aos Efésios (2.2), onde Paulo falou do tempo-estado, aiona (aícDva), deste mundo material, kosmou ( kóct|j .o u ) . Quando é usado o singular — deste mundo — , geralmente significa idade. Quando é usa­ do o plural — como no caso dos mundos — , sugere a ideia não de uma duração contínua, mas agregada, o mundo caracterizado por períodos sucessivos, eras distantes umas das outras. Paulo falou das eras por vir. O Filho, como Verbo encarnado, é aquele que fez todas as coisas e, se Sua glória estava oculta, enquanto no tabernáculo da carne, devemos ter em mente que Ele é sempre o Criador e, portanto, precisamos aprender a reconhecê-lo nesta aparência humilde. Essas duas afirmações a respeito de Cristo como Herdeiro e Criador, quando tomadas juntamente, formam transição importante no pensamento do autor da Epístola. Não devem ser consideradas se­ paradamente. A expressão herdeiro de todas as coisas é uma declaração universal sob a qual se deve classificar a declaração particular pelo qual também fez o universo [ou as eras]. Isto coloca o Filho na condição de Agente (ou Autoridade) soberano, preparando o caminho para um dos principais objetivos da Epístola: a inauguração de uma nova Era a suplantar a antiga. O autor da Epístola contempla a posição gloriosa do Filho que, tendo subido ao Pai, recebeu dele o Espírito prometido, que Ele derramou sobre os discípulos à espera no Pentecostes, o gran­ de dia do recebimento do Espírito Santo.

A PORTA FORMOSA

D O TEMPLO

Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sus­ tentando todas as coisaspela palavra do seu poder, depois de terfeito a purificação dospecados, assentou-se à direita da Majestade, ms alturas. Hebreus 1.3

(a r a )

Tendo sido estabelecida a glória do Filho de Deus em Suas re­ lações cósmicas, o escritor da Epístola passa agora a apresentar a glória do Filho em Suas relações pessoais com o Pai. Demonstra ser Ele [o Fi­ lho], a um tempo, o Verbo de Deus que revela e capacita. Tendo Deus falado conosco por intermédio de Seu Verbo como o Filho encarnado, esta Palavra se torna a porta de entrada do templo de comunhão e ami­ zade com o Senhor. Por isso, o Filho é descrito sob a figura da Porta Formosa do templo. Josefo nos conta: * j ------O templo tinha nove portas, que eram revestidas de ouro e prata em todos os lados, mas havia uma porta, que estava fora da casa santa e era de bronze de Corinto e muito excedia aquelas que eram apenas revestidas de ouro e prata. A magnitude das outras portas era igual em todas. Contudo, a da porta de Corinto, que abria para o Oriente, em oposição à porta da própria casa santa, era muito maior, pois sua altura era 50 côvados, isto é, cerca de 25 metros, e era adornada da maneira mais rica, tendo placas mais ricas e mais grossas de prata e ouro do que as outras. Esta última é, provavelmente, a porta chamada Formosa, porque era no exterior do templo, para a qual havia facil acesso e visto que era, evidentemente, a de maior valor. ---- r

Por esse comentário, podemos concluir que o resplendor da glória de Deus, Cristo, é simbolizado pelo bronze polido, que “muito excedia aquelas que eram apenas revestidas de ouro e prata”, e. a expressão exata do seu Ser (Hb 1.3b a r a .), pelo material da porta, que aponta para o seu rico e sólido fundamento, pois a palavra hypostasis significava originalmente o alicerce, o substrato, que veio a ser interpretado como fir­ meza, propósito, resolução ou determinação. Assim, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder é uma alusão clara aos batentes que sustentavam a coroa da estrutura. A luz gloriosa que brilhava na porta deveria revelar imediatamente as trevas do mundo no pecado e o ato supremo de redenção pelo qual

Cristo nos purificou das nossas iniquidades e voltou para a Sua exaltada função intercessória à direita da Majestade, nas alturas. A glória do Filho, conforme a apresentam as expressões subli­ mes e elevadas em Hebreus 1.3, é digna do mais cuidadoso e profundo estudo. Será seguida a ordem escriturística neste exame preliminar da pessoa e obra do Filho. O fato de o Mediador histórico da revelação final de Deus ser o Mediador antemundano da criação do inundo [que existia antes da criação do mundo] comunica-lhe uma majestade e dignidade especiais, além das de todos os criadores intermediários. A comparação do Filho com os anjos mostra que Ele não é, neste sentido, concebido como cau­ sa inconsciente, intermediária, mas exerceu ação intercessória em uma existência pessoal. E a declaração de que é o resplendor e a imagem da glória de Deus e a expressão exata do seu Ser mostra que o Mediador, que se destina acima de todos os seres e mesmo acima dos anjos pelo nome de Filho, não traz Sua designação filial em um sentido convencional e teocrático. (Lange, Commentary ort Hebrews, p. 31) ---- r

W estcott afirmou que a posição da partícula cóv, que sig­ nifica sendo ou levando [em H b 1.3 a r c ] , dá ênfase à expressão resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser e indica ainda que “esta partícula descreve a ação e essência absolutas e não apenas presentes do Filho. Em particular, acautela-nos contra a ideia de adoção em filiação e afirma a permanência do Filho durante a Sua obra histórica”.

1. O Filho é o resplendor ou efulgência da glória do Pai A palavra apaugasma (án aú y ac|ja), que ocorre nas Escrituras somente aqui, significa a irradiação de luz que flui de um corpo lumi­ noso. Ela provém de um radical que significa brilhar ou emitir esplendor. A palavra efulgência talvez seja a que melhor expressa essa ideia. Alguns

têm achado que este resplendor ou efulgência deve ser interpretado como reflexão de luz, isto é, a imagem refletida sobre uma superfície lisa refletora. Outros o consideram como luz ativa, isto é, os raios que continuamente emanam de um corpo luminoso. Ebrard observou que o primeiro conceito pressupõe a existência hipostática distinta do Filho, sendo que a ênfase aqui é sobre a identi­ dade qualitativa dele com o Pai, e que o segundo ponto de vista, que parece ser o de mais valor, considera o Filho como o ato-vida perpétuo e contínuo do Pai. Para Ebrard, a palavra \efnlgênciã\ denota não o brilho recebido de outro corpo e devolvido como reflexo ou imagem espelhada, nem a luz que procede continuamente de um corpo bri­ lhante, como luz que flui e perde-se no espaço, mas denota uma luz ou um raio brilhante que se irradia de uma outra luz, tanto que é visto como se agora se tornasse uma luz independente. Vaughan também acha que a palavra [efulgênciã\ expressa os resultados, mais do que o ato de brilhar e é, portanto, mais apropriada como palavra para a Pessoa em quem todos os raios da glória divina se concentram. A-----Efulgênríã poderá ser a palavra de sentido mais aproximado, porém falta-lhe a idéia característica de incorporação do esplendor emitido. A expressão imagem de raio é a que melhor responde ao original; é uma imagem viva, composta de raios, não meramente os recebidos e refletidos, mas concebidos como independentes e permanentes. E mais que mero raio, mais do que mera imagem: um sol produzido de luz original. (E brard, BibUcal Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 21) ---- r

2. O Filho é a expressão exata do Pai na Sua pessoa ou essência Esta é a segunda declaração a respeito do Filho e está direta­ mente relacionada com a precedente, pois a substância ou essência está relacionada com resplendor ou brilho.

Expressão exata do seu Ser é, às vezes, traduzida como a im­ pressão de Sua substância, oriunda de charakter (xaQaKxr|Q), estampa, e hypostasis (Ú7ióaxaatç), substância, essência, pessoa. Assim como apaugasma (ánaüyaviaa), resplendor, brilho, refere-se à aparência de Deus externamente, hypostasis (07tócrtaÇtç), substância, essência, pes­ soa, remete-se ao Filho como expressão exata da substância ou essência do Pai internamente. Na linguagem dos teólogos, pode-se dizer que o primeiro é ad extra, o último, ad intra. A glória (arc) e a expressão (ara) estão, portanto, relacionadas entre si assim como o resplendor e a expressa imagem de Sua pessoa (arc) ou expressão exata do seu Ser (ara).

Essas palavras, porém, são de suma importância para exigir um tratamento mais completo. A palavra charakter (xctQaKxqQ) provém da ideia de selo ou gravação. Westcott disse não existir um vocábulo em inglês que traduzisse exatamente o significado desse termo: “Se houvesse um sentido de expressão (isto é, imagem expressa) que corres­ pondesse à impressão, esta seria o melhor equivalente”. A palavra [charakter] pode referir-se ao agente ou ao instrumen­ to de gravação, porém, mais comumente, refere-se à estampa, ou letra, e à figura gravada, que é usada para fazer impressão na cera. Significa, portanto, uma semelhança exata ou representação característica. Por isso, a tradução expressão exata do seu Ser parece comunicar a verdade mais especificamente do que a tradução impressão de sua substância. Esta última implica, antes, a cera do que o selo pelo qual a impressão é feita. Essa expressão exata do seu Ser sublime sugere, portanto, a exata semelhança de Cristo com o Pai em Sua substância ou essência, não meramente em aparência exterior. Essa imagem expressa, ou expressão exata, é um fato infinito e eterno, e não meramente algo estampado sobre Cristo e Sua encarnação. Cristo é investido dos mesmos atribu­ tos do Pai e é da mesma natureza e essência que Ele. Jesus é a objetivação plena do Pai e, visto que o Pai é infinito e eterno, o Filho, a fim de ser a imagem exata ou expressão perfeita dele, deve igualmente

ser infinito e eterno. Por esta razão, o Filho é o Mediador do mundo espiritual. Externamente para o mundo e ós homens, Ele é o Ser em quem todos os raios da glória divina se concentram para comunhão. Portanto, reflete a divindade em toda a Sua perfeição, sabedoria, Seu poder, bem como em Sua santidade e Seu amor. Internamente, a base desta revelação reside no fato de que Ele é participante da essência divina: O Filho unigênito, que está no seio do Pai (Jo 1.18b). j ------De modo geral, pode-se dizer que XPtQ&KTr]Q [caracter] é aquilo pelo que qualquer coisa se reconhece diretamente, por meio de sinais correspondentes, sob um aspecto particular, embora possa incluir apenas pouquíssimas características do objeto. É até aqui uma fonte primária, e náo secundária de conhecimento. XaçaKT^Q [caracter] traz em si os traços característicos apenas e, portanto, distingue-se de EÍKCJV [ícone, imagem], que dá uma representação completa sob a condição da terra daquilo que simboliza; e de |10Q
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