A Excelência Da Nova Aliança Em Cristo - Comentário Exaustivo Da Carta Aos Hebreus - Orton. H. Wiley

March 15, 2017 | Author: AntônioG.Pinho | Category: N/A
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A EXCELÊNCIA DA NOVA ALIANÇA em C risto CENTRAL

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Copyright 1959 Beacon Hill Press Copyright 2009 por Editora Central Gospel

Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) GERÊNCIA EDITORIAL E DE PRODUÇÃO JefFerson Magno Costa

A excelência da nova aliança em C risto



C om entário

exaustivo da Carta aos H ebreus / Orton W iley Titulo original: The E pistle to The H ebrew s

TRADUÇÃO Petrôneo Leone PESQUISA E COPIDESQUE Patrícia Nunan Patrícia Calhau

568 páginas ISBN: 978.85.7689.114-7 1. Bíblia - Comentário I. Título II.

As citações bíblicas utilizadas neste livro foram extraídas das 1»REVISÃO Joseane Cabral REVISÃO FINAL Patrícia Nunan Patrícia Calhau CAPA E PROJETO GRÁFICO Marcos Henrique Barboza DIAGRAMAÇÃO Luiz Felipe Rolim Marcos Henrique Barboza IMPRESSÃO E ACABAMENTO Ediouro

Versões Almeida Revista e Corrigida ( a r c ) e Almeida Revista e Atualizada (a r a ), salvo indicação específica, e visam incentivar a leitura das Sagradas Escrituras. Eventualmente, para fins de explicações exegéticas, também foram citados termos e expressões traduzidos de versões inglesas, como a King James (kj), a American Standart Version e a Authorized Version. As duas últimas versões não estão disponíveis em língua portuguesa. I

É proibida a reprodução total ou parcial do texto deste livro por quaisquer meios (mecânicos, eletrônicos, xerográficos, fotográficos etc), a não ser em citações breves, com indicação da fonte bibliográfica. Este livro está de acordo com as mudanças propostas pelo novo Acordo Ortográfico, que entra em vigor a partir de janeiro de 2009. 1a edição: março/2008 3a reimpressão: abril/2013 Editora Central Gospet Ltda Estrada do Guerenguê, 1851 - Taquara Cep: 22713-001 Rio de Janeiro - RJ TEL: (21)2187-7000 www.editoracentralgospel.com.br

Su m á r io ' D e d ic a t ó r ia ............... ............................................................................................................1 9 A p r e se n t a ç ã o ...........................................................................................................................2 1 A d v e r t ê n c ia

d o a u t o r .................................... .................................................................2 3

P r e f á c io .....................................................................................................................................2 5 I n t r o d u ç ã o ............................................................................... ............................................2 9

Observações gerais..................................................................................... 31 1. A importância da Epístola, aos Hebreus...........................................31 2. A Epístola fo i dirigida a cristãos judeus................................ ........ 34 3. A autoria da Epístola....................................................................... 35 4. O idioma original em que a Epístola jv i escrita.............................. 36 5. A data da composição.......................................................................37 6. A finalidade da Epístola.................................................................. 38 Princípios de interpretação......................................................................... 39 A natureza exortativa da Epístola...............................................................40 C a p ít u l o 1 - A

m a je s t a d e d o

F il h o

de

D e u s .................................................... 4 3

O preâmbulo: Havendo Deus, outrora, falado......................................... 43 1. A introdução eufònica.................................................................... 45 2. A revelação divina: Deusfa lo u ....................................................... 47 3. O caráter dos mediadores: pelos profetas [...] pelo F ilho.................49 4. A natureza das alianças...................................................................51 5. Dois períodos históricos de revelação............................................... 52 6. Dois níveis de experiência cristã...................................................... 53 7.

Dois estágios de progresso espiritual................................................ 5 4

O Filho de Deus na Sua glória primeira.......................................................56 1. O significado da palavra F ilh o ..........................................................57 2. Cristo como Herdeiro de todas as coisas.............................................59 3. O Filho como Criador: Pelo qual também fe z o universo............. 61 A Porta Formosa do templo............................................................ 62 1. O Filho é o resplendor ou efulgência da glória do P ai................ 64 2. O Filho é a expressão exata do Pai na Sua pessoa ou essência........ 65 3. O Filho sustenta todas as coisas pela Palavra do Seu poder.............68 4. O Filho fe z a purificação dos pecados..............................................69 5. Cristo assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.................. 70 A majestade do Filho de Deus como Mediador......................................... 72 O argumento sétuplo do Antigo Testamento..............................................76 1. O Filho de Deus e a Sua herança.................................................. 78 2 .0 Filho de Deus e a aliança de D avi............................................. 82 3. O Filho de Deus e o Seu segundo advento.................................... 83 4 .0 Filho de Deus e a majestade do Seu R eino................................... 86 5.0 Filho de Deus e aperpetuidade do Seu Reino...............................88 6 .0 Filho de Deus e a imutabilidade do Seu Reino.............................91 7 .0 Filho de Deus e a consumação triunfal.........................................93 Notas.......................................................................................................... 97 C apítulo 2 - A humanidade e a humilhação de Cristo.....................99 Primeira advertência: contra a negligência..............................................100 1.0 significado do termo negligência..................................................101 2. A palavra falad a por anjos...............................................................102 A grande salvação......................................................................................... 104 O anúncio da grande salvação..................................................................... 106 A confirmação do evangelho.................................................. ..................... 107 A atestação divina da Verdade ................................................................... 108 A emergência de uma nova humanidade em Cristo.................................112 1.0 uso da palavra em ergência ou ap arecim en to........................... 112 2. A supremacia de Cristo............................................................... ...113 O homem no seu estado original, como Deus o fez.................................116

1. Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos................................. 116 2. De glória e de honra o coroaste e o constituiste sobre as obras de tuas mãos...........................................................................118 3■ Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio................... 118 O homem após a Queda............................................................................. 120 Jesus como Representante do novo homem, ou do homem redimido.............................................................................. 121 O paralelo entre o homem e Cristo......................... x ..............................122 1. Jesus, um pouco menor do que os anjos........................................... 123 2. Jesus, coroado de glória e de honra..................................................124 Vislumbres da expiação.............................................................................. 125 1.Por causa do sofrimento da morte....................................................126 2.

Para que, pela ffraça de Deus, provasse a morte por todos.......... 127

O Capitão da nossa salvação...................................................................... 128 A natureza da santificação...........................................................................129 1. Aquele que santifica e os santificados vêm de Um só ...................... 130 2. O significado da palavra san tificação........................................... 131 Cristo não se envergonha de chamar-nos irmãos......................................132 A ideia de fraternidade no Antigo Testamento.........................................133 1. Anunciarei o teu nome a meus irmãos............................................ 134 2. Cantar-te-ei louvores no meio da congregação................................ 134 3. E outra vez: Porei nele a minha confiança..................................... 134 4. Eis-me aqui a mim e aosfilhos que Deus me deu ...........................135 Um misericordioso e fiel Sumo Sacerdote........................... .................... 136 A encarnação de Jesus e a libertação do temor da morte......................... 137 1. A necessidade da encarnação.......................................................... 137 2. O propósito da encarnação ............................................................ 138 A encarnação de Jesus e a libertação de nossos inimigos...............................140 A encarnação de Jesus e o fortalecimento contra as fraquezas e enfermidades............................................................................... 141 A encarnação de Jesus e a nova ordem de sacerdócio...................................143 I. A descendência de A braão.............................................................. 143

2. Cristo como Sumo Sacerdote..............................................................145 3. Cristo como nossa Propiciaçâo ......................................................... 145 4. Cristo e a tentação............................................................................148 Notas..............................................................................................................151

C àPÍTULO 3 - 0

APOSTOLADO E O SUMO SACERDÓCIO DE CRISTO............... 1 5 5

O templo espiritual...................................................................................... 156 1. Santos irmãos.................................................................................... 157 2. Que participais da vocação celestial............................................... 157 3. Considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão................................................................................... 158 4. Cristo, nosso Apóstolo........................................................................ 159 5. Cristo, nosso Sumo Sacerdote............................................................ 160 A casa de Deus.............................................................................................. 161 Cristo é superior a Moisés............................................................................ 162 A casa somos nós................................. .........................................................164 Primeira advertência; náo negligenciar a grande salvação........................ 166 Segunda advertência: não endurecer o coração.......................................... 169 A voz na casa ................................... ............................................................169 1. Se ouvirdes hoje a Sua v oz............................................................... 170 2. Não endureçais o vosso coração.........................................................171 A situação no deserto....................................................................................172 A provação no deserto..................................................................................174 Deus se indignou contra aquela geração incrédula................................... 175 1. Assim, ju rei na minha ira: Não entrarão no meu descanso............ 176 Uma exortação e uma advertência...............................................................177 1. Perverso coração de incredulidade....................................................178 2. Exortai-vos mutuamente cada dia...................... ............................. 180 3. A fim de que nenhum de vós seja endurecido....................................181 Participantes de Cristo................................................................................. 182 O paralelo e as exortações finais.................................................................. 185 Notas............................................................................................................. 187

Capítulo 4 - 0 repouso da fé .................................................................. 189 O alvo da obra apostólica de Cristo.............. :......................................... 190 Terceira advertência: contra a incredulidade.............................................191 1. Temamos, portanto, que, sendo-nos deixada a promessa de entrar no descanso de D eus............................................................. 192 2. Suceda parecer que algum de vós tenha fa lh a d o ............................. 193 3. Porque também a nósforam anunciadas as boas-novas, como se deu com eles..............................................................................194 4. Mas a palavra que ouviram não lhes aproveitou............................ 195 5. Nós, porém, que cremos, entramos no descanso............................... 196 Os quatro descansos.................................................................................... 197 1 .0 descanso da criação....................................................................... 198 2 .0 descanso do Sábado....................................................................... 199 3 .0 descanso de Canaã........................................................................ 199 4 .0 descanso divino..............................................................................201 A natureza do descanso divino................................................................... 202 A indicação de outro dia............................................................................. 204 Um repouso para o povo de Deus — a terra............................................ 205 A obra redentora de Cristo.........................................................................207 O descanso redentor em Cristo.................................................................. 208 O cessar das obras — o trono na terra......................................................210 Uma exortação à diligência.........................................................................213 A viva e eficaz Palavra de Deus.................................................................. 215 1. Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz.......................................216 2. E mais cortante do que qtialquer espada de dois gumes..................216 3. Epenetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas................................................................. ;...............216 4. Alma e espírito.................................................................................217 5. E é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração............................................................................ 218 6. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença............ 219 Trecho de transição..................................................................................... 221 Temos um grande Sumo Sacerdote...........................................................222

A compaixão de Jesus.................................................................................. 224 A tentação de Jesus.......................................................................................226 O trono da graça.......................................................................................... 229 1. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente....................................... 230 2. A fim de recebermos misericórdia e acharmos graça........................232 A exortação final........................................................................................... 233 Notas............................................................................................................ 235 Capítulo 5 - 0 cargo e a obra do sacerdote.......................................237 As qualificações e a obra do sacerdote........................................................238 1. Porque todo sumo sacerdote, tomado dentre os homens................... 239 2. E constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus.............................................................................. 239 3. Para oferecer tanto dons como sacrifícios pelos pecados................... 240 4. E é capaz de condoer-se dos ignorantes e dos que erram.................. 240 5. E, por esta causa, deve ele, tanto pelo povo como também p or si mesmo.................................................................. 243 6. Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus.........................................................244 Cristo e a nova ordem do sacerdócio.......................................................... 245 1. Assim, também Cristo a si mesmo não se glorificou para se tom ar sumo sacerdote................................................................245 2. Mas o glorificou aquele que lhe disse: Tu és meu Filho,

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eu hoje te gerei.......................................................................................247 3. Como em outro lugar também diz: Tu és sacerdote para sempre........................................................................................... 248 4. O qual, nos dias da sua carne.......................................................... 250 5. Tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas....................................................................................251 6. A quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade.......................................................... 254 7. Embora sendo Filho..........................................................................257 8. Aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu.................................258

9. E, tendo sido aperfeiçoado, tomou-se o Autor da salvação eterna.......................■:..................................... .....259 A salvaçáo eterna........................................................................................ 262 1. Tomou-se o Autor da salvação eterna.............................................263 2. Para todos os que lhe obedecem...................................................... 263 A quarta advertência: contra a indiferença............................................... 265 A advertência é dirigida a cristãos.............................................................266 Por que era necessária esta advertência?.................................................... 266 Crianças ou mestres?................................................................................. 267 Inexperientes na Palavra da justiça.............................................................269 Alimento sólido para os perfeitos............................................................... 270 C apítulo 6 - Perfeição cristá.................................................................273 Os princípios da doutrina de Cristo..........................................................273 A natureza da perfeição a ser alcançada.................................................... 275 1. A perfeição cristã como padrão de experiência neotestamentdria.................................................................................275 2. A perfeição e seus termos escriturísticos............................................277 3. O aspecto legal da perfeição cristá.................................................. 279 4. As características da perfeição cristã................................................ 281 4.1. A perfeição cristá é subsequente à regeneração.............................282 4.2. A perfeição cristã não exclui posterior crescimento .....................282 4.3. Perfeição cristã e graus de maturidade.........................................285 4.4. A perfeição cristã não remove as imperfeições naturais................285 4.5. A perfeição cristã não suplanta a necessidade da expiação..........286 A quinta advertência: contra a indolência e o perigo da apostasia.......... 286 1. Aqueles que uma vezforam iluminados.......................................... 288 2. Provaram o dom celestial................................................................ 289 3. E, se tomaram participantes do Espírito Santo.......................... ...290 4. Provaram a boa Palavra de Deus ................................................. 291 5. E os poderes do mundo vindouro.................................................... 292 O perigo da apostasia..................................................................................292 1. A construção gramatical do texto...................................................293

2. A advertência contra a apostasia extraída do Antigo Testamento...............................................................................295 3. Erros associados a esse texto.............................................................. 296 4. Uma ilustração com base na natureza........................................... 297 5. Palavras de confiança e conforto......................................................298 6. Clímax da admoestação contra a indolência.................................. 299 A Aliança com Abraão................................................................................. 300 O juramento de confirmação......................................................................302 1. O propósito do juram ento............................................................... 303 As duas coisas imutáveis............................................................................. 304 1. O Refúgio da esperança....................................................... ............ 305 2. A Ancora da alm a........................................................................... 306 3■ O Precursor divino.......................................................................... 308 C a p ít u l o 7 - 0

f ia d o r d e u m m e l h o r t e s t a m e n t o ....................................... 3 1 3

A ordem de Melquisedeque: um sacerdócio eterno................................. 313 1.0 evento histórico..............................................................................314 O salmo profético........................................................................................ 316 A grandeza de Melquisedeque.....................................................................318 1. Abraão pagou dízimos a M elquisedeque......................................... 319 2. Melquisedeque abençoou A braão.................................................... 319 A superioridade da nova dispensação: um sacerdócio espiritual..............321 1 .0 insucesso da ordem levítica............................................................ 321 2. A expressão parentética.....................................................................322 3. A pergunta do autor da Epístola..................................................... 322 4. Uma mudança de sacerdócio impõe alteração na Lei.....................326 O surgimento da nova ordem de sacerdócio............................................ 327 1. Pois é evidente que nosso Senhorprocedeu de ju d á ........................327 2. E isto é ainda muito mais evidente, quando, à semelhança de M elquisedeque.......................................................... 328 A anulação do mandamento...................................................................... 330 A esperança superior............................................................................ ...... 333 1. A esperança objetiva........................................................................333

2. A esperança subjetiva.......................................................................334 O Fiador de uma aliança superior: um sacerdócio perpétuo................... 334 1. A natureza do juram ento................................................................ 335 2. O Fiador de superior aliança...........................................................337 3. A perpetuidade da alian ça........................................................................ 340 A salvação perfeita: um sacerdócio eficaz..............................................................341 Perfeitamente salvos.............................................................................................. 342 Outro uso da palavra totalmente............................................................................343 O poder da intercessão.......................................... f.................................. 344 As características da nova dispensação: um sacerdócio idôneo.......................... 344 1. Cristo fo i perfeito quanto ao Seu caráter e à Sua vocação..............345 2. Cristo fo i perfeito como oferta sacrificial......................................... 346 3. Cristo e a Sua obra intercessória perfeita........................................347 Notas.......................................................................................................................349 C a p ít u l o 8 - 0

m in is t é r io s u p e r io r d a n ova a l ia n ç a ...............................................3 5 1

A transição.............................................................................................................. 351 1. Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote................................................................. 352 2. Que se assentou à destra do trono..................................................... 353 3. O trono da Majestade nos céus............ .............1............................ 354 Um Ministro do santuário........................................................................... 355 1. O sumo sacerdote e sua oferta...........................................................356 2. O santuário celestial..................... ................................................... 357 3. O original e a som bra............................................. ........................357 4. Uma apologética cristã......................................................................358 O Mediador de uma aliança melhor...........................................................359 1. Cristo como o M ediador de superior aliança.................................... 359 2. As superiores promessas...................................................................... 361 3. O insucesso da prim eira alian ça...................................................... 362 4. O oráculo do Antigo Testamento e a nova aliança.......................... 363 5. Comparação entre antiga e nova alianças........................................364 As provisões da nova aliança....................................................................... 366

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1. A bênção central da aliança............ .................................................367 2. A bênção suprema da aliança.......................................................... 368 3. A bênção inicial da aliança............................................................. 369 4. A conclusão do capítulo................................................................... 370 C apítulo 9 - 0 grande capítulo da expiaçáo....................................... 373 A primeira aliança: as ordenanças e o santuário......................................... 374 O santuário ou Santo Lugar.........................................................................375 O Santíssimo ou Santo dos Santos.............................................................. 379 A arca da aliança.............................................................................................381 O conteúdo da arca da aliança................... ..................................................382 1. Dessas coisas, todavia, não falaremos, agora..................................... 383 O sacerdócio levítico e a sua ineficácia........................................................ 384 O acesso ao Santo dos Santos era velado na primeira aliança................... 385 A parábola e a reforma.............. ................................................................... 386 O ministério mais excelente..........................................................................387 1. Qual a essência do sacerdócio de Cristo?..........................................387 2. Qual o santuário em que Cristo opera como Sacerdote? ............... 389 3. Que se entende pelos bens j á realizados ouben sfuturos?............ 391 A oferta sacrificial de Cristo..........................................................................392 O sangue da expiaçáo....................................................................................392 O sacerdócio e o sangue................................................................................ 393 1. [Cristo] pelo seu próprio sangue entrou no Santo dos Santos........394 A eficácia do sangue de Cristo como expiaçáo..........................................395 . 1. Muito mais o sangue de Cristo.......................................................... 396 2. Que, pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus................................................................................ 397 3. Para servirmos ao Deus vivo..............................................................398 A purificação da consciência........................................................................ 400 O sangue da nova aliança............................................ ................................ 401 O Mediador do Novo Testamento..............................................................401 Aliança ou testamento.............................................................................. ,..403 A primeira aliança foi ratificada com sangue.............................................405

1. Pelo que nem a prim eira aliança fo i sancionada sem sangue................................................. :.......................................405 2. Porque, havendo Moisés proclamado todos os mandamentos..................................................................................406 3. Igualmente também aspergiu com sangue o tabemáculo e todos os utensílios............................................................................... 406 4. Sem derramamento de sangue, não há remissão.............................406 O sangue da purificação..............................................................................408 A purificação dos céus...............................................f............................... 408 A entrada de Cristo no céu por nós........................................................... 410 A Oferta de uma vez por todas..................................................................411 A morte e o juízo.........................................................................................412 A segunda vinda de Cristo......................................................................... 413 Notas........................................................................................................... 416 Capítulo 1 0 - A nova aliança e o vivo caminho..................................417 A Lei como sombra............................................. .......................................418 Os dois sacrifícios comparados..................................................................420 A perfeita vontade de Deus........................................................................ 422 A santificação como vontade de Deus....”:................................................. 426 A exaltação e a consumada expiação de Cristo.........................................427 1. Os levitas eram sacerdotes “depé".................................................. 427 2. Cristo como Sacerdote assentado...................................................... 428 3. O triunfo total de Cristo.................................................................428 4. Santificação e perfeição..............................................:.................. 429 A reafirmação da nova aliança.................................................................... 435 Diz o Espírito Santo................................................................................... 436 Os dois tratamentos da nova aliança.........................................................437 O Santo dos Santos.................................. ..................................................439 A exortação...................................................................................................440 O Santo dos Santos na experiência cristã..................................................441 O novo e vivo caminho..............................................................................442 l.P elo novo e vivo caminho que ele nos consagrou.............................. 442

2.Pelo véu, isto é, pela sua carne.......................................................... 443 Um grande Sacerdote sobre a casa de Deus............................................... 444 A exortação para aproximarmo-nos...................... ..................................... 446 1. As condições subjetivas...................................................................... 446 2. Os estados objetivos preliminares..................................................... 447 A vida santa................................................................................................... 449 Exortação à firmeza......................................................................................450 O cultivo da consideração............................................................................ 451 Exortação ao culto coletivo.......................................................................... 451 Exortação ao auxílio mútuo........................................................................ 452 A sexta advertência: contra o pecar voluntariamente................................453 Estudo crítico das palavras do texto........................................................... 454 A expectativa dos adversários..........................................................:..........455 Uma ilustração da Lei Mosaica...................................................................456 Os três pecados dos apóstatas...................................................................... 457 1. Calcou aos pés o Filho de Deus................................... ....................457 2. Profanou o sangue da aliança com o qualfo i santificado...............457 3. Ultrajou o Espírito da graça............................................................ 458 A certeza do castigo..................................................................................... 458 Palavras de consolação.................................................................................459 1. Um convite à recordação.................................................................460 2. Exortação à perseverança da f é ........................................................ 461 Os versículos de transição........................................................................... 462 Notas............................................................................................................ 463 Capítulo 11 - Os heróis da fé ................................................................. 465 A natureza da fé............................................................................................ 466 O texto como descrição da fé......................................................................468 O texto como definição da fé......................................................................469 A esfera da fé................................................................................................ 473 As testemunhas da fé ................................................................................... 476 A fé de Abel................................................................................................. 477 A fé de Enoque.......... .................................................................................. 479

A fé de N oé...................................................................................................480 A fé de Abraão................................................L.......................................... 482 1. O chamado de Abraão representa a obediência da f é ....................482 2. A permanência de Abraão em Canaã representa a paciência da f é ................................................................................. 483 3. Abraão e o herdeiro prometido.........................................................484 4. Abraão e a entrega de Isaque em sacrifício...................................... 485 A fé de Isaque, Jacó e José........................................................................... 486 1. Pela fé, igualmente Isaque abençoou a JacáPe a Esaú..................... 487 2. Pela fé, Jacó.......................................................................................488 3. Pela fé, José.......................................................................................488 A fé de Moisés.............................................................................................. 489 1. Pela fé, Moisés, já nascido............................................................... 489 2. Pela fé, Moisés, sendo já grande.......................................................490 3. Pela fé, deixou o Egito...................................................................... 491 4. Pela fé, celebrou a Páscoa e a aspersão do sangue.............................491 5. Pela fé, passaram o mar Vermelho.................................................. 492 A fé da conquista..........................................................................................493 A fé de Raabe............................................................................................... 494 O poder da fé ............................................................................................... 494 A fé da realização........................................................................ ..................495 A fé da paciência........................................................................................... 496 A recompensa da fé.....................................................................................498 1. Por haver Deus provido coisa superior a nosso respeito................. 499 2. Para que eles, sem nós, não fossem aperfeiçoados.... :..................... 500 Notas.............................................................................................................502 Capítulo 12 - A nuvem de testemunhas................................................. 503 A nuvem de testemunhas...........................................................................504 A corrida cristã........................................................................................... 505 Olhando para Jesus.......................................................................................508 1 .Considerai a q u ele.........................................................................510 A santidade em relação à experiência pessoal.......................................... 511

;

A natureza da disciplina cristã.....................................................................512 1. Filho meu, não desprezes a correção do Senhor...................... 513 2. E não desmaies quando, por ele, fores repreendido.................513 A necessidade da correção........................................................................... 514 A índole da disciplina cristã........................................................................ 515 1. E, na verdade, toda correção, ao presente, não parece ser de gozo............................................................................516 2. Portanto, tom ai a levantar as mãos cansadas e osjoelhos desconjuntados......................................................................516 A santidade em relação à Igreja.................................................................. 517 A santificação como princípio conservador da Igreja...............................518 A necessidade de pureza na Igreja.............................................................. 519 O perigo do lugar-comum.......................................................................... 520 O contraste final entre as duas dispensações............................................. 522 A dispensação do Antigo Testamento....................................................... 523 1. Porque não chegastes ao monte palpável......................................... 523 2. Aceso em fogo.................................................................................... 524 3. E à escuridão.................................................................................... 524 4. E às trevas.........................................................................................525 5. E à tempestade..................................................................................525 6. E ao sonido da trom beta................................................................. 525 7. E à voz das palavras......................................................................... 525 A dispensação neotestamentária................................................................. 526 1. Mas chegastes ao monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial............................................................................. 527 2. E aos muitos milhares de anjos, à universal assembléia e igreja dos primogênitos.......................................................................528 3. A universal assembléia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus................................................................... 529 4. E a Deus, o Ju iz de todos................................................................. 530 5. E aos espíritos dos justos aperfeiçoados............................................. 530 A sétima e última advertência.................................................................... 531 Palavras de admoestação............................................................................. 531

A advertência contra a apostasia................................................................. 532 O Dia do Juízo............................................... •:...........................................532 O Reino inabalável e o fogo consumidor.................................................. 535 Capítulo 13 — Fora do arraial.......................... .................................. 537 Princípios éticos gerais.................................................................................538 1. Amorfra tern a l................................................................................538 2. Hospitalidade...................................................................................538 3. Solidariedade na aflição............................ ......................................538 4. Castidade........................................................................................ .539 5. A cobiça versus o contentamento..................................................... 540 6. Considerai os vossos mestres.............................................................. 541 7. Jesus Cristo imutável...................................... ....... ......................... 542

8. Doutrinas várias e estranhas............. .............................................................543

9. O coração conjirmado.................................................................................... 544 10. Possuímos um altar........................................................................545 O propósito supremo do sacrifício de Cristo............................................ 546 A obra suprema da santificação.................................................................. 547 Fora do arraial..............................................................................................551 A cidade que tem fundamentos.................................................................552

Deveres religiosos...................................................................................................... 553

1. O sacrifício de louvor..................................................................................... 553

2. O sacrifício de beneficência............................................................................ 555

3. O sacrifício da obediência............................................................................. 556

4. O sacrifício da oração....................................................................................557 A bênção...................................................................................................... 559

1. Ora, o Deus da paz............................................................:...........................559

2. Que tomou a trazer dentre os mortos a Jesus,nosso Senhor............................560

3. O grande Pastor das ovelhas..........................................................................560

4. Pelo sangue da eterna aliança........................................................................560 5. Vos aperfeiçoe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade..... 561

6. Operando em vós o que é agradável diante dele.............................................561

7. Por Jesus Cristo...............................................................................................562

8. A quem seja a glória para todo o sempre......................................... 562 9. Amém............................................................................................... 562 Os pós-escritos............................................................................................. 562 1. Rogo-vos, porém, irmãos, que suporteis a palavra desta exortação...................................................................... 563 2. Sabei que já está solto o irmão Timóteo...........................................563 Notas.............................................................................................................564 Bibliografia.................................................................................................... 565

D e d ic a t ó r ia

D

edico este livro, com sincera gratidão, ao Dr. A. E. Sanner, que tornou possível a minha primeira exposição desta Epístola, a partir da qual se desenvolveu o presente estudo.

A pr esen t a ç ã o Pensando no crescimento espiritual, intelectual e acadêmico dos leitores è pesquisadores brasileiros, a Editora Central Gospel tem o privilégio de apresentar aos leitores de língua portuguesa este exaustivo comentário da Epístola aos Hebreus, publicado original­ mente pela Beacon Hill Press, em 1959, com o título TheEpistle tolhe Hebrews. Os comentários do autor são enriquecidos com esclarecimentos de respeitados comentaristas de Hebreus — entre os quais Calvino, Wesley, Westcott, Ebrard, Stuart e Lange. Orton Wiley, fazendo uso da exegese e da hermenêutica bíblica, analisa o texto original em grego da Epístola, e comenta o significado de inúmeros termos e elementos simbólicos do Antigo Testamento, reinterpretados à luz da nova aliança em Cristo, assi­ nalando que a chave para a compreensão dessa carta neotestamentária se encontra náo no simbolismo do antigo tabernáculo, como antes se supu­ sera, mas em uma nova ordem do sacerdócio em Cristo. Nesta obra inspirada, em que a Epístola aos Hebreus é analisada versículo por versículo, a pessoa e o sacerdócio de Cristo são ressaltados e analisados como as colunas centrais da verdade cristã. Jesus não é r .»

v.

A presentação

mostrado apenas como o Líder e Autor da salvação, o Messias e Mestre mais sábio e mais piedoso entre os homens. E retratado como o divino Filho de Deus, o Sumo Sacerdote sem pecado, eterno e de uma ordem superior que se ofereceu como a oferta perfeita pela expiação do pecado, o resgate e a salvação do homem, abrindo o caminho para a nova humani­ dade, da qual Ele foi o Primogênito. Cristo está à destra da Majestade, de onde intercede por nós em consonância com o Espírito Santo que conce­ deu a todos os que o Pai lhe deu, podendo levá-los à perfeição. A despeito da erudição e do formato acadêmico, nesta atual edi­ ção deste comentário, procuramos tornar o texto mais claro, direto e arejado; inserimos notas explicativas, a fim de auxiliar os leitores co­ muns; e incluímos uma bibliografia para permitir um vislumbre melhor das obras utilizadas pelo autor em sua pesquisa. E uma leitura indispensável para pregadores, pastores, evangelis­ tas, professores, seminaristas e estudiosos que desejam aprofundar-se nas Escrituras Sagradas e fundamentar sua fé em Cristo, nosso Salvador, Líder e Sumo Sacerdote eterno!

— Os editores

t

A d v e r t ê n c ia d o a u t o r I

l ste comentário da Epístola aos Hebreus teve sua origem em uma nova iluminação espiritual quanto à natureza do sacerdócio de Cristo, segundo a ordem de Melquisedeque, e quanto à relação da nova aliança com a obra intercessória de Cristo, o Filho de Deus. Verifiquei que a chave para a compreensão desta Epístola se acha não no simbolismo do antigo tabernáculo, como antes supusera, mas em uma nova ordem do sacerdócio em Cristo. Minha primeira tentativa de exposição da Epístola foi no antigo acampamento Weiser, no Estado de Idaho, sob a supervisão do Dr. A. E. Sanner. Quando fui comissionado a preparar o manuscrito que deveria interpretar esta Epístola, para leitura geral e como livro de consulta para estudantes, meu primeiro pensamento foi fàzer uma análise do simbolismo do Antigo Testamento. Mas o estudo desse simbolismo, que constitui grande parte do alicerce do texto da Epístola, logo se tomou vasto demais para o espaço que me era concedido, e abandonei o projeto. Portanto, a obra é meramente uma interpretação da Epístola do ponto de vista do padrão bíblico de experiência cristã, reduzidas a um mínimo as notas documentais, a

Como meus principais auxiliares na preparação, reconheço a contri­ buição dos grandes comentários críticos de Westcott, Sampson, Vaughan, Lenski, Robertson, 'Whedon, Clarke, Calvino, Cowles, Ebrard, Chadwick, Lindsay, Lowrie, Stuart e Lange. E sou grato ao Dr. Ross E. Price e ao Dr. Joseph H. Mayfield pela assistência que me foi dada no uso das formas gregas; ambos são autoridades neste campo. Também foram consultadas as seguintes obras: Entire sanctification, de William Jones; The twofold life, de A. J. Gordon; The holiest o f ali, de Murray; The way into the holiest, de Meyer; The rest offaith, de Isaac M. See; Arminian magazine, de Wesley; Purity and maturity, de J. A. Wood; Compendium o f Christian Theology, de Pope, e Systematic Theology, de Miley. Sou profundamente grato ao Rev. Norman R. Oke, editor do livro, pela preparação do prefácio e pela assistência na preparação do manuscrito, e à senhorita Louise Hoffman, que datilografou e preparou o índice. Aos editores, estendo os meus agradecimentos pela esplêndida apresentação deste trabalho ao público, e minha oração é que ele seja uma bênção espiritual para muitos. H. Orton W Pasadena, Califórnia

P r e f á c io

nr

■ odo peregrino — se quiser chegar ao seu destino — deve . A . estar com os olhos sempre postos na distante porta que é seu alvo, não esquecendo, porém, o cajado bom e forte, que o ajuda a subir o monte. Existe a glória do alvo, mas existe também o mérito dos meios pelos quais o atingimos. Ambos devem estar em mente e serão fortalecidos por uma leitura completa deste livro. A pessoa de Cristo e o sacerdócio de Cristo são as colunas centrais de nossa cidadela da verdade cristã. Em Sua pessoa, Jesus não é apenas um entre muitos, nem mesmo um líder mais sábio e mais piedoso. De todos os que palmilharam as estradas da terra — que isto fique claro — , só Ele foi Deus. É o que Orton Wiley proclama neste livro. E o sacerdócio de Cristo também é um princípio fundamental na estrutura de nossa fé. Ele foi o Sacerdote superior, eterno, o único Sacerdote sem pecado. Sim, encontramos a certeza do céu, afinal, tão-somente por causa de Sua obra intercessória. O apóstolo Paulo sentiu o pleno impacto desta verdade e as manifestou-se francamente ao escrever aos Romanos:

Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. Romanos 8.34 Esta verdade o arrebatava, e suas sentenças, cuidadosamente construídas, irrompiam em um cortejo de louvores: Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a an­ gústia, ou a perseguição, ou a fom e, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor! Romanos 8.35,38,39 E esta clássica explosão de entusiasmo do coração apaixonado de Paulo se deu depois que ele teve uma nova visão do sumo sacerdó­ cio de Cristo. É um privilégio recomendar este livro aos cristãos em toda a parte. Cristo irá tornar-se ainda mais precioso; o Seu sacerdócio será elevado ainda mais e irá colocar-nos de joelhos. Quando H. Orton Wiley publicou a sua Teologia cristã em três volumes, garantiu para si a reputação de um dos mais proeminentes teólogos no mundo do cristianismo conservador. Agora, ao dar-nos este tratado completo sobre Hebreus, sua erudição se focaliza sobre o campo da exposição bíblica. Por vezes, seremos obrigados a fazer um esforço maior de con­ centração, pois o autor é muito profundo em suas análises, o que ga­ rante densidade ao seu texto. Ficaremos emocionados ao galgarmos picos de montanhas da verdade divina, contemplando paisagens jamais sonhadas, e pode ser

que nos envergonhemos um tanto ao ver descritos os dignos heróis de outrora, que sofreram sem lamentações. ' Por essa razão, insisto: leiamos o livro! Quando o tivermos terminado, veremos que nos transformamos para melhor. Talvez nos sintamos envergonhados por descobrirmos tanta coisa que recebe o rótulo de cristã na vida moderna [não o sendo], mas nos sentiremos profundamente orgulhosos de Jesus Cristo. ■*

»

Norman R. Oke

I ntrodução

Epístola aos Hebreus é um comentário divinamente ins­ pirado sobre o Antigo Testamento e trata, em especial, do Pentateuco e dos Salmos. Nessa carta, o autor interpreta o cado da viagem pelo deserto, do tabernáculo e de várias ofertas e servi­ ços no culto israelita no Antigo Testamento à luz de Cristo. A Epístola aos Hebreus inicia-se, entretanto, não pela história contada no capítulo 12 de Êxodo [a instituição da Páscoa], mas a partir do capítulo 24 [a instituição da Lei]. Ela não aborda a Páscoa, porque se dirige a um povo redimido; é endereçada aos irmãos santos, partici­ pantes da vocação celestial (Hb 3.1). Não explora a saída de Israel do Egito, e sim o que significa a introdução israelita na terra da promessa. Se houver qualquer dúvida quanto a isso, há de dissolver-se com a declaração de Paulo:

A

Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem; e todos passaram pelo mar, e todosforam batizados em Moisés, na nuvem e no mar, e todos comeram de um

mesmo manjar espiritual, e beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo. 1 Coríntios 10.1-4 Por conta disso, torna-se evidente que o povo daqueles dias tinha alguma relação espiritual com Cristo, e tal fato é ainda confirma­ do pela eficácia daquela fé que caracterizou os patriarcas mencionados no capítulo 11 de Hebreus. O simbolismo usado nesta Epístola não se aplica fundamentalmente ao que chamamos conversão, pois não é dirigida a pessoas nãoconvertidas, pecadoras, admoestando-as a aceitar o perdão pela fé em Cristo, mas àquelas que já são cristãs. Trata o segundo estágio crítico na obra da salvação: a entrada dos filhos de Deus na plenitude da nova aliança. Esta aliança, que é duas vezes descrita na Epístola, compreende: 1. A Lei de Deus escrita na mente e no coração do Seu povo — cora­ ção tão transformado que é levado à perfeita harmonia com a vontade de Deus. 2. A remissão dos pecados, que inclui não apenas o perdão das transgressões reais, mas a purificação do pecado inato ou da mente carnal — purificação de todo o pecado. 3. A exaltação a Deus como o único e supremo objeto de culto e ado­ ração, sendo o coração [humano] tão purificado que suas afeições se inclinam para as coisas do alto; sua vontade se torna sempre obediente à de Deus, e sua mente, a mente de Cristo (1 Co 2.16). A Epístola aos Hebreus é singular, pois principia sem as sau­ dações de costume, sem o nome do autor e das igrejas às quais ela é dirigida. Esse fato cria muitos problemas, mas estes pertencem espe­ cialmente ao campo da análise neotestamentária. Visto que a nossa atenção irá concentrar-se em uma série de estudos exegéticos e exortativos na própria Epístola, será suficiente

aqui fazer apenas algumas observações gerais a seu respeito, acres­ centando-lhes uma exposição geral dos nossos princípios básicos de interpretação. O bser v a çõ es 1.

g erais

A importância da Epístola aos Hebreus Disse o Dr. Adam Clarke:

*

á-------

Sem sombra de dúvida, a Epístola aos Hebreus é o mais impor­ tante e útil de todos os escritos apostólicos. Todas as doutrinas do Evangelho nela estão incorporadas, ilustradas e impostas como Lei de maneira mais lúcida, por alusão e exemplos, os mais impressionantes e ilustres, e, por argumentos, os mais convincentes. É um epítome das dispensações de Deus aos homens, desde a fundação do mundo até o advento de Cristo. Não é somente a súmula do Evangelho, mas súmu­ la e complemento da Lei, da qual é também o mais belo e brilhante comentário. Sem esta, a Lei de Moisés não teria sido jamais compre­ endida na íntegra, nem os desígnios de Deus ao entregá-la. Com esta, tudo se torna claro e simples, e os caminhos de Deus com os homens, coerentes e harmoniosos. Parece que o autor tomou certa porção de uma de suas próprias Epístolas como teto: “Cristo é o cumprimento da Lei para justiça daqueles que crêem” [cf. Romanos 10.4, na versão Revista e Corri­ gida: Porque o fim da Lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê] e demonstrou sua proposição da maneira mais ampla e admirável. Todos os ritos, cerimônias e sacrifícios da Lei Mosaica, demonstra ele, tiveram Cristo por seu objeto e finalidade; não tiveram intenção nem significado, senão com referência a Ele; sem Ele, como sistema, não têm fundamento; como Lei, são destituídos de razão; e seus decretos são impossíveis e absurdos se tomados fora desta referência e conexão [Cristo].



Introoiição

Nunca as premissas foram mais claramente expressas; jamais foi um argumento tratado de modo mais magistral, e a conclusão apre­ sentada, mais legítima e satisfatoriamente. O assunto, do princípio ao fim, é o mais cativante e persuasivo, e a linguagem é a que se adapta, da maneira mais bela, ao todo; a cada passo apropriada, sempre vigorosa e energética; possui a dignidade do seu assunto; é pura e elegante como a dos autores gregos mais esmera­ dos; tem a harmonia e a diversidade da música das esferas [superiores]. Tantas sáo as belezas, táo grande a excelência, táo instrutiva a matéria, táo agradável a maneira e táo sumamente interessante o todo, que a obra pode ser lida cem vezes sem denunciar monotonia-, e sempre com acréscimo de informações a cada nova leitura. Essa última qualidade pertence ao todo da revelação de Deus, mas a nenhuma parte dela de modo táo peculiar e supereminente como à Epístola aos Hebreus.

(C la rk e,

Preface to the Commentary

on the Epistle to the Hebrews, p. 701) --- r

O quanto é verdadeira e bela a apreciação acima desta Epístola só podem saber os que passaram anos no seu estudo não apenas nas traduções para suas próprias línguas, mas na força, na riqueza e na vivacidade do original grego. Observou também o Dr. Clarke: Para explicar e ilustrar esta Epístola, multidões labutaram e demons­ traram muita operosidade, muita erudição e piedade. Também eu darei minha opinião e pode ser que dez mil me sucedam e ainda descubram coisas novas. Que foi escrita para os judeus, que o eram por natureza, a estrutura toda da Epístola o prova. Se fora escrita para os gentios, nem apenas um entre dez mil deles poderia ter compreendido o argumento, porque não são familiarizados com o sistema judaico; conhecimento que o autor da Epístola a cada passo deixa perceber. Aquele que está familiarizado com a Lei Mosaica entrega-se ao estudo desta Epístola com dupla vantagem, e é mais provável que aquele que

conhece as tradições dos anciãos e as ilustrações mishnaicas da Lei escrita e da pretensa Lei otal dos judeus penetre e assimile as intenções do apóstolo. Ninguém adotou método mais apropriado para explicar a sua fra­ seologia do que Schoetgen, que atribuiu o seu estilo peculiar a fontes judaicas. Segundo ele, a proposição da Epístola é esta: Jesus de Nazaré ê o verdadeiro Deus, e, a fim de convencer os judeus da verdade desta proposição, o autor usa apenas três argumentos: (1) Cristo é superior aos anjos; (2) Ele é superior a Moisés; (3) é superior a Arão.

(C la rk e,

Preface to the Commentary Epistle to the Hebrewf, IV, p. 701) --- r

Prosseguindo na análise da importância da Epístola aos Hebreus, escritores mais modernos produziram muitas obras em seu louvor, tanto no que se refere à forma quanto ao conteúdo. Em Lectures on the Epistle to the Hebrews, Lindsay disse: A-----A Epístola aos Hebreus é um dos livros mais importantes do Novo Testamento. Contém exposição minuciosa de algumas das principais doutrinas do cristianismo; o plano é construído com grande beleza e exatidão lógica, e está escrita em um grego superior a qualquer outro livro do volume sagrado, (p. 1)

----—r

Talvez uma das melhores apreciações da Epístola seja a de John Owen, que disse: A-----Verifiquei que a beleza da carta era tal, a profundeza dos mistérios nela contida tão grande, o âmbito da verdade afirmada, desenvolvida e explanada tão amplo e tão difuso em todo o conjunto da religião cristã, a utilidade das discussões nela contidas tão importante e tão indispensável, que logo me senti grato porque a sabedoria, a graça e verdade guardadas neste depósito sagrado estão longe de ser exauridas pelos esforços de todos os que precederam. Tão longe pareciam essas verdades de serem perfeitamente ilumi­ nadas por eles, que me certifiquei de que havia terreno suficiente, não



I ntrodução

apenas para renovada investigação de rico minério nesta mina para a geração presente, mas para todas as que se sucederam até a consumação dos séculos. (O wen , An exposition ofthe Epistk to the Hebrews)

— -—r Como afirmamos anteriormente, estas opiniões acerca da Epístola náo parecerão ilusórias ou exageradas ao estudioso paciente e atento.

2. A Epístolafoi dirigida a cristãosjudeus Embora se tenham adotado várias opiniões quanto aos destina­ tários da Epístola, não pode haver dúvida quanto a ter sido originalmente escrita para os cristãos judeus. Mas a questão é: a quais deles? Alguns julgaram que ela foi escrita aos cristãos judeus em geral, mas pós-escritos — como os que denotam o conhecimento do autor sobre Timóteo ter sido posto em liberdade e a intenção do autor de visitá-lo (Hb 13.23) — indicam que a Epístola foi endereçada a uma comunidade local; talvez na Ásia Menor, ou na Galácia, em Corinto, na Tessalônica, na Espanha, em Roma, na Antioquia, em Alexandria ou na Palestina. O uso do método alegórico e espiritualizante aplicado ao Antigo Testamento tem levado à suposição de que a Epístola aos Hebreus foi dirigida a uma grande comunidade judaica de Alexandria. A teoria mais antiga e mais comumente aceita é a de que os destinatários seriam os judeus palestinos, especialmente a Igreja em Jerusalém. A evidência interna parece favorecer esta opinião, principal­ mente por não aludir a perigo algum pelo contato com o paganismo. Outra evidência se encontra no fato de que havia milhares de judeus palestinos que criam na Lei e eram zelosos dela (Atos 21.20). Estes estavam em constante perigo de serem novamente colocados sob o jugo do culto ritual mantido no templo e, com toda probabilidade, não tinham compreendido, até então, que a aceitação do cristianismo significava o fim dos sacrifícios levíticos. E ainda mais, uma carta dirigida

à Igreja em Jerusalém proporcionaria uma circulação mais ampla da Epístola, pois os judeus dispersos se mantinham em íntimo contato com Jerusalém, sua cidade sede, isto é, sua verdadeira capital.

3. A autoria da Epístola A sua autoria tem sido grandemente discutida desde os tempos remotos. Tertuliano a atribuiu a Barnabé; Clemente de Alexandria a atribuiu, em parte, pelo menos, a Lucas. Ele achava que Paulo era o autor, e Lucas, o tradutor. Lutero estava entre os que a atribuíam a Apoio, que era poderoso nas Escrituras (At 18. 22-28; 1 Co 1.12, 3.4, 3.6, 16.12; T t 3.13). Outros ainda atribuíram a autoria dela a Silvano ou Áquila, ao passo que o Dr. Robinson achava que foi obra de algum outro autor, que não os escritores conhecidos do Novo Testamento. A Igreja no Oriente universalmente aceitou a Epístola como sendo de Paulo; e, na Igreja Latina, foi geralmente recebida como paulina até o fim do século 2. Em alguns dos catálogos e manuscritos antigos, tais como o Código de Alexandria, do Vaticano, de Efraemi e outros, a Epístola aos Hebreus se encontra imediatamente após 2 Tessalonicenses, entre as Epístolas paulinas. Isto deu origem, no início do século 2, à teoria de que Gálatas foi escrita para os gentios, e Hebreus, para os judeus da mesma região. Assim, a principal seria a Epístola aos Gálatas, e a Epístola aos Hebreus, um anexo. Eusébio, citando Clemente, afirmou que a razão pela qual Paulo não subscreveu seu nome na Epístola aos Hebreus teria sido o fato de ser o apóstolo dos gentios, e não dos judeus. Mas, provavelmente, a maioria dos eruditos concorda com Orígenes, que disse, no século 3: “Quanto ao autor da Epístola, só Deus sabe a verdade”. Disse o bispo Chadwick: a-----Não obstante, é obra de algum membro da Escola Paulina. As semelhanças com o seu estilo são notáveis e só se podem reconciliar

com as diferenças notáveis se acreditarmos que foi o escrito de um discípulo que entesourava com amor o pensamento de seu mestre e, às vezes, até reproduzia suas expressões, ao passo que sua individualidade permanecia intacta. E isto é a um tempo edificante e interessante. Vemos as grandes convicções pelas quais o apóstolo vivia, a encar­ nação, a expiação, a intercessão de nosso Senhor, a fé, a justificação e o julgamento, influenciando outra mente, assumindo outra forma e cor, expressando-se de outra maneira, encontrando seu apoio no Antigo Testamento e, contudo, permanecendo a mesma. E um óti­ mo exemplo de quanta diferença de expressão, quanta originalidade e independência são compatíveis com o amor e a fidelidade ao mesmo Evangelho.

( C h a d w ic k ,

The Epistle to the Hebrews, p. 1,2) --- r

4. O idioma original em que a Epístolafoi escrita Existem duas opiniões gerais quanto à língua em que esta Epístola foi escrita em um primeiro momento. Acredita-se que foi original­ mente: (1) escrita ou ditada em hebraico e, depois, traduzida para o grego; e (2) escrita em grego, tal como ela se apresenta hoje. Os estudiosos da antiguidade adotavam o primeiro ponto de vista; os modernos se inclinam para o segundo. Como no caso da Epístola aos Romanos, que foi escrita em grego, provavelmente o autor [da Epístola aos Hebreus] julgou que melhor serviria ao uso comum se ela fosse escrita em grego, se bem que dirigida aos judeus. Aqueles que acham que foi originalmente escrita em grego apresentam os seguintes argumentos: 1. Não tem a rigidez de uma tradução; 2. Invariavelmente, cita a Septuaginta, o que não seria provável se escrita em hebraico; e 3. Em alguns casos, traduz as palavras hebraicas. A Epístola em grego entrou cedo em circulação, e não existem provas de que tenha havido um original hebraico — o que se infere para explicar as supostas diferenças de estilo das outras Epístolas paulinas.

Ao proceder ao estudo do idioma original, é importante dedicar atenção também ao vocabulário, ao estilo e às imagens usadas na Epístola. Westcott afirma que a Epístola, em sua lin­ guagem, quanto ao vocabulário e estilo, é mais pura e vigorosa do que qualquer outro livro do Novo Testamento: (1) o estilo, ainda mais que o vocabulário, é característico de um erudito experimentado; (2) o vocabulário é singularmente copioso e inclui numerosas pa­ lavras não-encontradas em outra parte dos escritos apostólicos e algumas que não são citadas de outras fontes independentes; (3) o simbolismo da Epístola é extraído de muitas fontes. Algumas das imagens, tratadas mais ou menos em detalhe, são singularmente vividas e expressivas.

5. A data da composição E evidente que a Epístola aos Hebreus foi escrita antes da destruição de Jerusalém, se foi escrita ou ditada por Paulo, pois o apóstolo morrera antes dessa data. Isto se evidencia também em certos textos (Hb 9.9; 13.10), bem como em todo o escopo da Epístola, o qual implica que o templo ainda subsistia, e o seu culto era mantido. Todavia, não pode ter sido escrita muitos anos antes desse tempo, pois havia aqueles que há muito eram cristãos (Hb 5.12), e pode-se também inferir, pelo capítulo 13, versículo 7, que os seus primeiros mestres estavam já mortos. A calamidade iminente, pela queda de Jerusalém, parece estar indicada nas palavras: E tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele D ia (Hb 10.25d). Porque ainda um poucochinho de tempo, e o que há de vir virá e não tardará (v. 37). A data provável da redação é situada entre os anos 64 e 67 d.C., quando começou a guerra na Judéia e, mais provavelmente, pouco antes da destruição de Jerusalém [pelos romanos, em 70 d.C.]. Este último evento assinalou, em sentido peculiar, o término da antiga

I ntrodução

dispensação; os cristãos o consideraram como o julgamento final de Deus e o sinal da vinda do Senhor.

6. A finalidade da Epístola Como se afirma em geral, o propósito da Epístola aos Hebreus é firmar os cristãos judeus em sua fé e protegê-los contra um retomo apóstata ao judaísmo. Sampson, em seu Commentary, observou que eles estavam particu­ larmente expostos a este perigo e que isto chegou ao seu conhecimento: 1. Pelos antigos preconceitos e pela sua educação anterior — o juda­ ísmo fora a religião de seus pais desde gerações imemoriais; 2. Pelo esplendor das cerimônias do templo, que apelavam aos sentidos e que os inimigos asseveravam estar em esplêndido contraste com a simplicidade nua do culto cristão; 3. Pela influência das relações sociais: os parentes, vizinhos, amigos e patrícios eram judeus; 4. Pelo ódio devotado à cruz. [A religião cristã] não poderia ser rival do judaísmo, como pedra de tropeço; 5. Pelas perseguições, as quais, embora não trouxessem a morte, eram severas. O propósito do autor [da Epístola aos Hebreus] é levado a termo por uma revelação da verdadeira natureza do cristianismo, que ele apresenta como a religião final e perfeita. E o faz não somente por exortação e advertência, embora estas recebam lugar impor­ tante, porém, mais especialmente, por um tratado esplêndido e erudito, em que se detém na glória de Cristo, o Filho, em contraste com os anjos, Moisés e Arão. Nesse ponto, também se estabelece, com notável contraste, a distinção entre a antiga aliança das obras e a nova aliança da fé.

Uma das peculiaridades da Epístola é a apresentação de Cristo como sacerdote — verdade não encontrada em nenhuma outra Epístola, embora nelas se mencionem Suas ministraçóes sacerdotais. A chave para a compreensão desta Epístola, portanto, é contemplá-la à luz de Cristo, nosso grande e eterno Sumo Sacer­ dote. Todas as outras verdades giram em torno deste pensamento. Tão erudito é o tratamento do material desta Epístola, que é frequentemente considerada um tratado sobre o sumo sacerdócio do Salvador. * P r in c íp io s

d e in t e r p r e t a ç ã o

Na interpretação desta Epístola, salientaremos os seguin­ tes pontos: (1) o objetivo primordial dela é levar os homens à presença de Deus; (2) para que possam permanecer na presença delè, os homens têm de ser santos. A nota dominante da Epístola, portanto, é a santidade, e esta experiência pessoal, espiritual, é apresentada sob diferentes aspectos e com terminologia apropriada com relação à pessoa e obra de Cristo. O terceiro ponto a ser des­ tacado é: o povo de Israel é considerado como símbolo da obra de Cristo sob a nova aliança. A ênfase, entretanto, não é dada à libertação do jugo do Egito, mas à recusa em entrar em Canaã, sua herança prometida. Por isso, a referência à sua história se confina, principalmente, à jornada do Egito para Canaã, às suas peregrinações no deserto, ao tabernáculo com seu mobiliário, ao sacerdócio e ao grande Dia da Expiação — todos eles interpretados segundo a obra redentora de Cristo. Esta experiência de redenção é apresentada, sob vários aspec­ tos, no que se relaciona com Cristo e, em cada um destes aspectos, há uma advertência ou exortação apropriada. Assim analisada, a Epístola fornece a seguinte terminologia aplicada à experiência — experiência esta conhecida por muitas expressões escriturísticas, mas que Wesley geralmente chamava perfeição cristã.



I ntrodução

A spec to s

de

C risto

E xperiência

espiritu al

A dvertências

còntra

1 - Divindade de Cristo

A grande salvação

Negligência

2-

Santificação

Endurecimento do coração

3 - Cristo como Apóstolo

O descanso da fé

Incredulidade

4 - Cristo como Sumo Sacer­

Salvação eterna

Indiferença

5 - Cristo e as promessas

Perfeição cristã

Indolência

6-

Pecado voluntário

santuário

Apostasia

Herança

Humanidade de Cristo

dote

Cristo e o Santo dos Santos

7—Cristo e a santidade

Observa-se que as advertências aparecem em escala gradualmente descendente: negligência, endurecimento do coração, incredulidade, indiferença, indolência, pecado voluntário e apostasia. A expressão salvar perfeitamente (Hb 7.25) apresenta-nos outro aspecto desta graciosa experiência, mas nenhuma advertência está a ele ligada. Em vez disso, o autor expõe os predicados de Cristo como nosso Sumo Sacerdote para a restauração do Seu povo rumo à plenitude da herança que este recebeu(Hb 7.26,28). A NATUREZA EXORTATIVA DA E p ís t o l a

A Epístola aos Hebreus tem caráter exortativo do princípio ao fim. Mesmo os seus argumentos mais profundos e as descrições mais sublimes são todos oferecidos em espírito de exortação. Como anteriormente indicamos, frequentemente [os argu­ mentos] assumem a forma de advertências e admoestações. O inte­ resse supremo do escritor é impedir que os cristãos judeus retornem ao judaísmo e, para alcançá-lo, roga-lhes que explorem os mistérios da graça divina em Cristo Jesus. O escritor tem sempre em mente as duas grandes dádivas de Deus ao homem para sua salvação: (1) Deus ofertou Seu Filho ao mundo para redimi-lo; (2) Cristo deu o Espírito

Santo à Igreja para sua santificação e purificação. Como o Espírito é recebido pela fé, Jesus também o é. Apesar de o autor [da Epístola] salientar as crises da experiência cristã, jamais permite que elas excluam o crescimento e o desenvolvi­ mento. Como a conversão é uma experiência decisiva que inaugura a vida de paz com o Senhor, assim também a santificação é a crise que conduz à vida de santidade. Esta tem significado especial por oferecer lugar à habitação de Cristo na plenitude do Espírito. Permanecer em crise como fim em si, em vez de meio, é a origem de muita debilidade no coração dos cristãos. Nosso descanso não é em um coração santo, mas naquele que habita o coração santificado. Tampouco trabalhamos com a nossa própria sabedoria e com as nossas forças, mas mediante Aquele que opera em nós tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade (Fp 2.13). Como veremos mais adiante no estudo da Epístola, seu autor está profundamente interessado em que aqueles que entraram além do véu, no Santo dos Santos, levem uma vida de devoção plena a Deus. Para ele, estar cheio do Espírito é, literalmente, estar possuído por Deus; ser ungido pelo Espírito é, em certo sentido real, identificar-nos com Cristo, para que, em nossa medida finita, sejamos verdadeiros representantes de Cristo para o mundo e para a Igreja. Que Deus nos conceda a ajuda do Espírito Santo ao estudarmos esta grandiosa Epístola, não apenas para que melhor compreendamos as riquezas da graça em Cristo Jesus, mas para que nos beneficiemos dessas riquezas por intermédio daquele que é o nosso Mediador, nosso grande Sumo Sacerdote, que é, ao mesmo tempo, a garantia da aliança e o Ministro do Santuário.

1

A

MAJESTADE

d o F ilh o de D eus

autor da Epístola aos Hebreus, em uma curta introdução de quatro versículos, expõe sucinta e dogmaticamente certas teses básicas como preliminares do seu argumento prin objetivo de toda a Epístola é provar, por alusão às passagens d Testamento, que Jesus é o Cristo, o verdadeiro Messias que os judeus esperavam. Além disso, os dois primeiros capítulos podem também ser considerados como, em certo sentido, introdutórios da tarefa dialética principal, que é demonstrar que Jesus Cristo cumpriu perfeitamente a Lei e, em seu lugar, introduziu uma nova aliança espiritual da graça. Daí ele dedicar dois capítulos a este assunto do Deus-Homem, um tratando da Sua divindade; outro, de Sua humanidade e humilhação.

O

O preâmbulo: Havendo Deus, antigamente, falado... Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho. Hebreus 1.1,2

Disse o Dr. Adam Clarke: A -------------------

Dificilmente poderemos conceber algo mais solene que as pala­ vras iniciais desta Epístola: os sentimentos são em extremo elevados, e a linguagem é a própria harmonia. De imediato, apresenta-se o Deus infinito, não em nenhum dos atributos essenciais à natureza divina, mas em Suas manifestações de amor ao mundo, dando uma revelação de Sua vontade relativa à salvação da humanidade. Assim, preparou o caminho, por meio de uma longa série de anos, para a apresentação daquele Ser glorioso, o Seu próprio Filho, que, na plenitude dos tem­ pos, manifestou-se em carne, para que pudesse completar toda visão e profecia, suprir tudo o que faltava para aperfeiçoar o grande plano da revelação, para instrução do mundo. Ele morreu para livrar o homem do pecado pelo sacrifício de Si mesmo. A descrição que [o autor da Epístola] fàz deste personagem glorioso é de uma elevação incomparável. Mesmo em Sua humilhação, excetu­ ados os sofrimentos da morte, Ele é infinitamente exaltado acima de toda a hoste angelical; é o objeto de incessante adoração; permanece no Seu trono eterno à direita do Pai. Dele, todos recebem ordens para ministrar aos que redimiu com Seu sangue. Em suma, este primeiro capítulo, que pode ser considerado a intro­ dução de toda a Epístola, é, pela importância do assunto, dignidade da expressão, harmonia e eneigia da linguagem, concisão e, ao mesmo tempo, distinção de idéias, igual, se não superior, a qualquer outra porção do Novo Testamento. (C larke, Commentary on the Epistle to the Hebrews) --- r

A Epístola aos Hebreus prescinde de saudação; daí colocar-nos imediatamente diante da maravilhosa mensagem de Deus. Nisto, tem notável semelhança com as primeiras palavras em Gênesis 1.1 — onde lemos: No princípio, criou Deus. Em Hebreus 1.1, consta: Havendo Deus, antigamente, falado. Visto ser endereçada aos judeus, o autor exibe notável sabedoria devido ao fato de a sua primeira sentença conter um reconhecimento

da autoridade divina dos textos do Antigo Testamento: havendo Deus, antigamente, faladol . A palavra é o veículo de comunhão e fraternidade; por ela, o homem revela os pensamentos e as disposições de sua mente e seu coração. Assim, Deus, também, o qual habita na luz inacessível{\ Tm 6.16), fala-nos para revelar-se mediante os infinitos propósitos de Seu amor. O pecado do homem interrompeu sua comunhão com Deus, mas, pelo dom de Seu Filho, ela foi restabelecida.

1. A introdução eufônica No original grego, a Epístola se inicia de modo sonoro, com dois eufônicos advérbios ligados por uma simples conjunção — polum eros kai polutropos ( t io à u |J.£Q© ç k a í 7ioÀm QÓ7TCDç). Estas palavras chamam imediatamente a atenção do leitor. Traduzidas pela expressão muitas vezes e de muitas maneiras, as palavras iniciais perdem a eufonia e muito da solenidade. Esta expressão introdutória, porém, não se destina apenas a cha­ mar a atenção imediata; apresenta, de maneira majestosa, o tema fun­ damental de toda a Epístola. As muitas vezes e muitas maneiras pelas quais Deus se revelou nos profetas e por intermédio deles são, aqui, sintetizadas como preparatórias para a revelação perfeita no evangelho, que é um e indivisível, porque é a revelação de Deus em uma pessoa, que é o Filho. Muitas vezes e de muitas maneiras (Hebreus 1.1) — Alguns escri­ tores antigos, como Crisóstomo, consideravam as palavras polumeros ( t i o à u |uI£ Q O ç ) e polutropos ( t io à u t q ó t i c Dç ) como sinônimos indicando a ideia única de inacabado. Escritores subsequentes acham que estes termos expressam ideias diferentes. O primeiro, traduzido como muitas vezes, costumava referir-se, então, às porções separadas em que Deus entregou o Antigo Testamento aos judeus — distribuídas durante mais de mil anos, desde Moisés até Malaquias.

O segundo, traduzido como de muitas maneiras, remete-se à variedade de maneiras que Deus usou para tornar a Sua vontade conhecida — visões, sonhos, vozes audíveis, Urim e Tumim, e os pronuncia­ mentos proféticos. Stuart, embora adotando a opinião de que cada termo possui um significado separado, observa que a antítese é mais eficaz se tradu­ zirmos o versículo do seguinte modo: j ------Deus, que nos tempos antigos fez comunicações aos pais pe­ los profetas, em diversas partes e de várias maneiras, fez-nos agora uma revelação pelo Seu Filho, isto é, completou toda a revelação que pretendia iàzer sob a nova dispensaçáo, pelo seu Filho —por Ele tão — somente e náo por uma série contínua de profetas, como outrora. (S t u a r t ,

A Comm.enta.ry on the Epistle to the Hebrews, p. 278) --- r

Isto é confirmado pelo fato de que a revelação cristã se com­ pletou naquela única geração, que foi contemporânea à vida de nosso Senhor sobre a terra. Antigamente [...] nestes últimos dias (Hb 1.1,2a a r a ) — Estas expressões denotam períodos distintos. A palavra palai (TtóAaí), que literalmente significa antigam ente, ou nos tempos antigos, não significa apenas anteriormente, mas sempre descreve algo completado no passado. Westcott disse que palai se refere aos ensinamentos antigos, há muito selados. O escritor, portanto, com o uso deste termo, evitou a inferência de que aquelas revelações tivessem continuado até o tempo então presente. Isto excluiria como literatura inspirada tudo desde o tempo de Malaquias até o período evangélico. Nestes últimos dias parece logo se ter tornado designação técnica para o tempo do Messias e Seu reinado. Mas, como geralmente ocorre nas profecias do Antigo Testamento, o intervalo entre os dois adventos se perde de vista, e os dias do Messias são considerados como uma manifestação única. Quando, entretanto, o intervalo entre o primeiro

e o segundo adventos começou a estender-se em anos, a expressão foi modificada. Mesmo nesta Epístola, as expressões aquele mundo ou aqueles dias são usadas como de um período futuro, embora o Messias tivesse vindo. Sabemos que os judeus dividiam o tempo em a presente era e a era por vir, referindo-se esta ao reinado perfeito de Deus. Entre es­ tes períodos, colocavam o Reinado do Messias, às vezes, em conexão com o primeiro, às vezes, com o segundo. Comumente, acreditava-se, contudo, que a passagem de uma era para outpa seria assinalada pelas dores do parto de um novo nascimento, um período de provação e sofrimento.

2. A revelação divina: Deusfalou A linguagem é, a um tempo, a base da revelação e da comunhão. Como as palavras de alguém revelam o seu interior, assim também Deus, que habita na luz inacessível (1 Tm 6.16), revela-se mediante Sua Palavra em santidade e amor — santidade que repele todo pecado; amor que sempre atrai a Si o pecador. Declara-se aqui que a revelação de Deus foi dada em estágios sucessivos — o primeiro por intermédio dos profetas, o segundo mediante o Filho. Quanto ao primeiro, a palavra lalesas (ÀaÀrjcraç), havendo falad o, é um particípio aoristo1 e, como tal, resume, em um único ato, todas as revelações anteriores, sejam patriarcais, mosaicas ou proféticas. A última é expressa pelo termo elalesen {é.Â.áÁT\o£v), falou, que, como um indicativo aoristo2, reúne em uma só palavra a revelação por intermédio do Filho, embora não se refira a acontecimento particular algum na vida de Cristo. O ponto a ser notado grama­ ticalmente é que a expressão no particípio [passado] — Havendo Deus, antigamente, falad o — anuncia o verbo principal com seu aoristo [aspecto verbal] de finalidade — Deus falou . Essas palavras, pois, não significam tão-somente que o Deus que falou nos tempos

passados é o mesmo que agora fala [pelo Filho]; existe um significado mais profundo. Significam que, tendo Deus falado, esta revelação anterior, agora completada [em Cristo], torna-se a preparação para a revelação posterior e final. Deus falou, e a mensagem é para nós, nestes últimos dias, tão verdadeira como quando anunciada pelos apóstolos e profetas da antiga dispensação. Que complacência maravilhosa teve o infinito Deus para conosco! Isaías exclamou: Ouvi, ó céus, epresta ouvidos, tu, ó terra, porque fa la o SENHOR (Is 1.2a). Dispensemos, por isso, o entusiasmo de nossa atenção a essa Epístola [aos Hebreus] e, com reverência e temor piedoso, sejamos obedientes às palavras que Deus falou. Lindsay afirmou que: A------A inspiração das Escrituras é distintamente afirmada neste ver­ sículo inicial da Epístola aos Hebreus: foi Deus quem falou aos ho­ mens pelos profetas e pelo Seu Filho. Por isso, os escritores do Antigo Testamento e aqueles que foram usados por Cristo para escrever o Novo foram infalivelmente dirigidos pela sabedoria do céu; e o que escreveram é a verdade de Deus. [...] Reivindica-se inspiração, alega-se infalibilidade; devemos admitir essas pretensões.

(L in d s a y ,

Lectures on

the Epistle to the Hebrews, p. 28,29)

----—r Em grego, a palavra que se traduz como últimos na expressão nestes últimos dias é eschatou { t a x a t o u ) em nossa atual versão e significa ao fim destes dias. No texto recebido, a palavra últimos é eschaton (éCTxáxOv). Vaughan sugeriu que a primeira significa uma época, e a segunda, uma era. Stuart achava que ambos os termos, sendo usados na Septuaginta [ou Versão dos Setenta], foram considerados sinônimos, e o sentido do texto é indiferente a qualquer que seja a versão usada. Westcott disse que a expressão nos últimos dias foi moldada pela tradução na Septuaginta de textos como Gênesis 49.1 — nos dias vindouros (a r a )

ou nos derradeiros dias ( a r c ) ; Números 24.14 — nos últimos dias ( a r a ) e textos similares.

3. O caráter dos mediadores: pelos profetas [...] pelo Filho (Hb 1.1) A profundidade e a magnitude da revelação que Deus faz de si mes­ mo dependem do caráter do instrumento pelo qual essa revelação é feita. Sem uma língua comum, pouca comunicação e pouco entendimento pode haver. As palavras, como as conhecemos, são apenas símbolos. As verdades que elas expressam têm mais profundidade. Consideradas com este significado mais profundo, as palavras são espírito e vida (Jo 6.63). Do contrário, são apenas o véu que encobre a Verdade da mensagem e a pessoa do Revelador. As palavras podem dizer-nos algo sobre a Verdade, mas, so­ mente quando se tornam espírito e vida, a glória do Revelador irrompe além do véu. Somente, então, somos levados à presença daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Se, portanto, deve haver uma revelação perfeita de Deus ao homem, deve existir um meio perfeito de comunicação por meio do qual o Senhor possa revelar-se. A perfeição do Filho, por intermédio de quem Deus falou, toma a mensagem perfeita. Como uma palavra, falada ou escrita, é uma representação audível ou visível de um pensamento que se não vê, assim Cristo, como Filho, é a imagem visível do Deus que não vemos — o que se verifica claramente, ao dizer-nos o escritor [da Epístola aos Hebreus] que Deus falou, no passado, pelos profetas, mas, a nós nestes últimos tempos, pelo Filho. É evidente, pois, que a revelação é contínua, à medida que Deus é o Autor de ambas, mas a última é nova e distinta por ter como mediador Cristo, o Filho, e não os profetas. O ministério dos profetas poderia apenas preparar o caminho para o Filho; jamais poderia satisfazer o coração de Deus ou a alma hu­ mana. Nem Deus nos fala [somente] por meio das palavras do Filho. Isto seria apenas reduzi-lo ao nível dos profetas, que só podiam usar meios externos de comunicação.

É por intermédio do Filho, o Verbo divino, a segunda pessoa da Trindade, que Deus se revela aos homens. O próprio Filho, que habita no seio de Deus (Jo 1.18), teve de vir para habi­ tar com e nos homens, trazendo-lhes a profundidade e a riqueza da vida divina e comunicando-lhes, interiormente, as chamas de Sua santidade e o Seu amor abundante. Deste modo, é somente mediante o sangue de Jesus, em que há expiaçáo do pecado, e o amor de Deus, derramado no coração humano pelo Espírito Santo, que Deus fala aos homens em uma amizade restaurada e santa comunhão. O texto grego diz év xoíç 7iQCxj)r|TCuç e év vící), isto é, nos pro­ fetas e num Filho. Stuart observa que o uso freqüente de év com o dativo3, em lugar de criá com o genitivo4, no Novo Testamento, é um hebraísmo, pois év corresponde à palavra hebraica que é usada com grande latitude de significação e, em casos da mesma natureza como o em questão, por exemplo, em Oséias 1,2a — “Falou o Senhor por intermédio de Oséias” [cf. versão a r c da Bíblia Sagrada, Palavra do SENHOR que fo i dita a Oséias]. Apenas um uso ocasional de év deste modo se encontra nos escritores gregos clássicos. Assim, a palavra aparece, tanto na A uthorized Version como na Revised Standard Version como by (por), em vez de in (em). Vaughan disse que o contraste entre év vícó, ou no filh o, sugere o sentido de nas pessoas de, em lugar de nos escritos de. Westcott, usando a palavra em em vez de por, afirmou que não foi simplesmente por meio deles, como Seus instrumentos, mas neles (4.7), como o poder vivificante de sua vida. j -----Qualquer que fosse o modo pelo qual Deus se lhes desse a conhecer, eles eram Seus mensageiros, inspirados pelo Seu Espírito, não em suas palavras apenas, mas como homens; e como quer que a vontade divina lhes fosse comunicada, eles a interpretavam ao povo. (V a u g h a n , W est c o t t

e S tu a rt , Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 23)

4. A natureza das alianças Com a diferença no caráter dos mediadores, chegamos de ime­ diato à consideração das distinções essenciais entre as duas alianças ou os dois testamentos. Talvez ninguém compreenda a importância desta distinção sem a iluminação especial do Espírito. Sem dúvida, ela não será compreendida sem uma visão profunda da natureza da pessoa e da obra de Cristo. Às vezes, entendemos, por um lampejo especial da verdade divina, que o Antigo Testamento significa Deus falando por meio dos profetas, ou seja, pela mediação humana. Tendo homens por instrumentos, [o Antigo Testamento] foi necessariamente externo; sendo externo, devia tomar forma de algu­ ma espécie, e foi cerimonial. Sendo cerimonial, só poderia referir-se às verdades mais profundas por meio de símbolos e, portanto, nada mais poderia ser senão preparatório. O Novo Testamento, por outro lado, teve como instrumento o Filho e foi, pois, interior, ao invés de exterior; sendo interior, foi espiritual, em vez de cerimonial; e, sendo espiritual, não foi meramente preparatório, mas perfeito. Essas distin­ ções serão apresentadas para nós com mais clareza se dispostas como a seguir: A

P R IM EIR A ALIANÇA

1 - Mediadores humanos (os profetas)

1 - Mediador divino (o Filho)

2 - Externa (na administração)

2 - Interna (na administração)

3 - Cerimonial (no caráter)

3 - Espiritual (no caráter)

4 - Preparatória (no propósito)

4 - Perfeita (na expressão)

Verifica-se assim que a superioridade da nova aliança se deve à superioridade do Mediador. A primeira, feita por instrumentos huma­ nos, os profetas, só poderia ser externa e parcial; a segunda, tendo por instrumento o Filho, é espiritual e perfeita. Somente pela mediação do Filho poderia ser perfeita a revelação do Novo Testamento, e só pelo

mesmo Mediador se poderia introduzir uma aliança que suplantasse a anterior. O Antigo Testamento é ainda uma revelação de Deus, mas preparatória da revelação superior do Novo Testamento. O Antigo Testamento, portanto, serviu como preparação para aquele que, de­ pois, haveria de ser dado por intermédio de Cristo. O Novo Testa­ mento, selado com o sangue dele, repousa solidamente sobre o alicerce seguro de um sacerdócio superior e eterno. Devemos, então, entender com clareza e ter constantemente no espírito a diferença entre as duas alianças — uma, em que o elemento humano é mais proeminente; outra, em que é o divino; uma mais externa, outra mais interna e espiritual. Deus, falando mediante a vida de Seu Filho, traz-nos ao contato vivo consigo mesmo. E a glória desta Epístola que ela indique o caminho desde o estágio inicial da vida cristã até o do acesso pleno além do véu, onde habita a luz gloriosa da presença divina. Reconhecendo, pois, a diferença essencial entre os testamentos, seguem-se três coisas: 1. As alianças representam dois períodos históricos na revelação de Deus aos homens: a Lei e a graça; 2. Representam dois níveis de experiência cristã: vida e amor; e 3. Representam dois estágios no progresso espiritual do cristão: a Palavra e o Espírito. Estes três aspectos das duas alianças têm implicações de grande alcance, mas só podem receber, neste texto, tratamento sucinto.

5. Doisperíodos históricos de revelação Deus nos falou tão verdadeiramente no Antigo Testamento como o faz no Novo. Os profetas foram mensageiros de Deus tanto quanto o Filho o é. Mas, no primeiro, a Palavra foi falada a nós; no último, é gravada e pronunciada em nosso interior pelo Espírito que em nós habita. A finitude dos profetas impedia uma revelação plena.

Um Deus infinito só pode ser plenamente revelado por um Mediador da mesma natureza. Todavia, as Verdades do Novo Testa­ mento têm suas raízes no Antigo e não podem ser compreendidas sem ele. O Espírito operou em ambas as dispensações, e Seus propósitos, em qualquer era, só podem ser conhecidos à medida que surgem em todas as eras. O Antigo Testamento foi uma dispensaçáo da Lei. O Novo, da graça. O primeiro foi, ao mesmo tempo, um instrumento preparatório e disciplinar para a plenitude dos tempos; foi um mestre-escola, um preceptor para levar-nos a Cristo (G1 3.24). Esta é ainda a fiinçáo do Antigo Testamento, pois a disciplina deve sempre preceder a liberda­ de; o arrependimento, o perdão (1 Jo 1.9). Este, por sua vez, precede a nova vida de santidade (Ef 4.1)

6. Dois níveis de experiência cristã Não somente os dois testamentos representam dois estágios na revelação histórica [de Deus]; também representam dois níveis de ex­ periência cristã: vida e amor. A vida é concedida na regeneração ou no novo nascimento [do homem] e é algo santo, abrangendo todas as graças [carismas] do Espírito, manifestando-se em amor a Deus e aos homens. Essa vida, porém, é implantada em uma alma que, por he­ rança da humanidade, está contaminada por uma natureza depravada, comumente conhecida como pecado inato ou mente carnal. O que é regenerado ou nascido de novo compreende aquilo que João ensinava tão claramente, [quando disse] que o medo pode existir no coração paralelamente ao amor. Compreende também que existe uma experiência em que o amor perfeito lança fora o temor, que contém tormento (1 Jo 4.18). Essa experiência tem de ser vivida por aquele que deseja estar salvo no Dia do Juízo. E nesse ponto que o significado dos dois testa­ mentos se torna intensamente pessoal. Se buscarmos sinceramente esta

experiência de amor aperfeiçoado, perceberemos de novo aquilo que o Antigo Testamento pretendia: demonstrar-nos a nossa impotência e levar-nos àquele plano humilde de desamparo no qual apenas pode operar a graça. Mediante o Espírito, perceberemos, então, a verdade da expressão do piedoso Fletcher: “O teu desamparo não é obstáculo à minha bondade amante”, e pela fé entraremos na vida superior além do véu, onde o perfeito amor lança fora o medo. Assim, à purificação do coração segue-se um período de pro­ vação após a conversão, para ver se a alma recém-nascida entregará ou não, com alegria e voluntariamente, tudo [a Deus], a fim de obter a plenitude da bênção. Esta experiência de amor aperfeiçoado é operada pela graça apenas, mediante o sangue expiatório de Jesus e o poder santificador do Espírito Santo (At 15.8,9). O amor se torna assim o motivo dominante da vida santificada, e este amor é capaz de cresci­ mento infinito.

7. Dois estágios de progresso espiritual Os dois testamentos estão igualmente relacionados, de forma vital, com o progresso na graça. A vida concedida no novo nascimento tem capacidade de crescimento e desenvolvimento contínuos. Quan­ do os obstáculos são removidos, sendo purificado o coração do pecado inato, o crescimento é mais rápido, e a experiência cristã é mais estável e segura. O progresso é essencial ao bem-estar de todo cristão, que precisa não apenas ser salvo dos seus pecados, mas conhecer Cristo pelas experiências profundas da vida espiritual. O grande desejo de Paulo se voltava p ara conhecê-lo [a Cristo], e à virtude da sua ressurreição, e à com unicação de suas aflições, sendo fe ito conform e à sua morte (Fp 3.10). No desenvolvimento progressivo da graça, os dois testamentos representam a Letra e o Espírito, ou, em um sentido mais profundo, a Palavra e o Espírito.

Dois perigos sáo evidentes. Há os que descansam na Letra, e logo se tornam desprovidos de vida espirituãl, porque a letra mata, mas o espírito vivifica (2 Co 3.6c). Por outro lado, existem aqueles que, sendo de uma tendência mais mística, progridem no Espírito, porém esquecem-se da necessidade fundamental de simplesmente confiar na Palavra de Deus. Jamais se pode alcançar uma intimidade real com o Espírito sem primeiro passar pela exterioridade da Letra. Isso é táo real para cada pessoa, no que se refere à revelação histórica em geral, que outra alternativa não há. * A fé singela na Palavra de Deus escrita traz o auxílio do Espírito e, com ele, a verdadeira intimidade da oração e súplica. Talvez exata­ mente aqui se encontre o maior obstáculo ao progresso cristão. Nossa tendência é meramente orar com esperança, em vez de com fé. Mas a fé é somente o método divino de responder à oração, quer para a salvação, quer para o progresso na vida cristã. Lutarmos, com nossos próprios esforços, a fim de crermos, não é o plano de Deus. Seu plano é a confiança singela na Palavra escrita, que Ele, a seguir, transforma em espírito e vida para a nossa alma (Jo 6.63). Após o preâmbulo, o autor da Epístola aos Hebreus inicia o seu argumento em favor da superioridade do Filho, que é apresentado em três estágios: 1. O Filho na Sua glória antiga (Hb 1.2b), que se refere primordial­ mente ao Filho em Suas relações cósmicas como Herdeiro de todas as coisas e Criador dos mundos. 2. A Porta Farmosa do templo (At 3.10), que se refere mais às relações pessoais do Filho para com o Pai. Estas se distribuem em cinco características principais e proporcionam a mais enérgica demonstração da divindade de Cristo que se pode conceber. Aqui, como no prólogo do Evangelho de João 0 ° 1-1-18), o Filho é visto como a Palavra que forma, ao mesmo tempo, o fundamento da revelação de Deus ao homem e o acesso deste a Deus. Ele é a Porta para o templo da presença divina.

3. A majestade do Filho em Seu trono intercessório ( Hb 1.4-14). Este é o argumento da superioridade do Filho; primeiro, sobre os anjos, por causa do Seu nome superior, e depois sobre os homens, por ser o Cabeça redentor da raça humana. Nos próximos tópicos, esses assuntos receberão maior desenvol­ vimento. O F il h o

de

D

eus na

S ua

g l ó r ia p r im e ir a

A quem constituiu herdeiro de tudo, por quem fe z também o mundo. Hebreus 1.2 Vimos que a distinção entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento se fundamenta no caráter dos mediadores. A nova aliança, tendo o Filho de Deus como Mediador, não apenas cum­ priu e encerrou a antiga dispensação, mas é, em si mesma, o estágio final da revelação. O leitor atento observará que o autor da Epístola aos Hebreus dispôs de tal modo sua breve comparação entre as dispensações que a declaração termina com a menção do Filho, o qual ele passa a enaltecer em um fluxo contínuo de pensamento. E característica singular e interessante do autor desta Epístola o fato de que, quando menciona o nome do Filho, detém-se longamente, quer para elaborar o tema, quer para meditar sobre ele em humilde devoção. Por isso, detém-se na glória do Filho de Deus, Mediador da nova dispensação. As glórias assim apresentadas, para aqueles que, como o autor, meditam longa e tranquilamente sobre elas, irromperão em glória espiritual interna e encherão de luz os amplos horizontes da alma do cristão. Não fiquemos, então, contentes meramente com o que Cristo fez por nós, mas procuremos entrar em comunhão mais profunda e perfeita com Ele.

Mr. BramweU disse: “Ser justificado é grandioso, ser santifica­ do é grandioso, mas quão glorioso não é estar cheio de toda a pleni­ tude de Deus!” Permita Deus que continuemos a contemplar a glória divina até que todos nós, com o rosto desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito (2 Co 3.18 a ra )!

1. O significado da palavra Filho ..v

O autor da Epístola aos Hebreus usa uniformemente a palavra Filho para Cristo, ao passo que João, no prólogo do quarto Evangelho 0o 1.1-18), usa a palavra grega Logos, traduzida como Verbo. Pode-se dizer que, em geral, a palavra logos é usada para Cristo em Seu estado pré-encarnado, enquanto Filho é usada para o Logos ou o Verbo encar­ nado. Ambas têm implicações trinitárias básicas. Conforme João usa o Logos ou Verbo, é eterno e pessoal: No princípio, era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1.1). [O Filho] E, portanto, a plena objetivação do Pai como Deus. Assim usado, o Verbo tem uma relação apenas necessária, e não livre para com o Pai, exceto se for considerada em relação a uma terceira pessoa, o Espírito, o qual, como vínculo de unidade ou perfeição, glorifica esta relação necessária em liberdade e amor perfeitos. Uma vez que a palavra é o meio necessário de comunicação, a Encarnação, ou o Verbo feito carne, torna-se a única porta de comunhão e amizade com Deus. É também o acesso para o pleno significado da vida humana. Por isso, o Senhor podia dizer: Quem me vê a mim vê o Pai (Jo 14.9b). Na Epístola aos Hebreus, a palavra Filho é usada, porém, com as mesmas implicações trinitárias. As ideias são geradas na mente, de forma tão real como plantas produzem plantas, e animais geram ani­ mais. A diferença reside em que, na mente, a geração é espiritual. A ideia ou pensamento é, antes de sua expressão, uma obra interna e, embora distinta da alma, não é separada dela. A mente pode gerar

pensamento serri perder nada de si mesma. Assim, o Verbo ou o Filho é contemporâneo e coeterno com o Pai. Este náo existe primeiro para, depois, pensar, pois, como uma pessoa, Deus nunca deixa de refletir. E este pensamento ou esta palavra de Deus, como o Filho, é igualmente distinto do Pai, sem estar separado dele, da mesma maneira como um pensamento é distinto da minha alma sem estar separado dela. Como um objeto diante do espelho revela-se sem destruir o original, assim, de maneira infinitamente sublime, o Filho é eternamente gerado pelo Pai eterno e, apesar de distinto — o que náo quer dizer separado — , o Filho jamais diminui as perfeições do Pai. Por isso, o Pai pode dizer: Tu és meu Filho, hoje te gerei (Hb 1.5b). No eterno presente, Deus gera Seu Filho em um ato que jamais terminará. j ------A doutrina das Escrituras (Jo 1.14) náo é a de que o Filho [de Deus] se uniu a um filho de Maria, a uma natureza humana no sen­ tido concreto, mas que o Logos eterno, hipostático, tornou-se homem, assumiu natureza humana no sentido abstrato, concentrou-se por um livre ato de autolimitação, movido pelo amor, em uma vida humana embrionária, em uma alma de criança a dormitar e, como tal, formou para si mesmo inconscientemente — todavia com energia criado­ ra— um corpo no ventre da virgem e, daí, Aquele que nas Escrituras é chamado VIOÇ [Filho], que, encarnado, é um e o mesmo com Aque­ le que, com respeito à relação de unidade com o Pai, é chamado Ó À óyoç (Logos ou Verbo) ou Ó (-lO V O y£V t]Ç (o Unigênito). Náo somente isto, mas que encarnado Ele só pode ser chamado Filho de Deus, porque o [iOVOY£VT]Ç [Unigênito] tornou-se homem. E daí, em segundo lugar, devemos precaver-nos contra o fàto de procurar­ mos explicar a idéia contida em VÍOÇ [Filho] pela relação do Homem encarnado para com o Pai, como se Ele [Cristo] fosse chamado Filho no mesmo sentido em que outros homens piedosos são cha­ mados filhos de Deus. (E br a r d , Biblical Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 15,16)

John Wesley escreveu em suas Notas [Notes]: “Tu és meu Filho, Deus de Deus, Luz da Luz. Hoje te gerei, gerei-te desde a eternidade, a qual, por sua permanência inalterável de duração, é um dia contínuo, sem sucessão”. A esse respeito, comentou o Dr. Adam Clarke: “Pondo de lado a questão da controvérsia, eis algo expresso de maneira sublime, e não me consta que este grande homem jamais tenha alterado suas opiniões sobre o assunto”. Wesley conservou a declaração do Dr. Adam Clarke no artigo An Arian antidote, no IV volume do Arminian Magazine, publicado em 1781. j -------

Embora a essência infinita do Verbo esteja unida numa pessoa com a natureza do homem, não existe idéia de prisão ou confinamento. Pois o Filho de Deus desceu miraculosamente do céu, porém de maneira tal que jamais deixou o céu; quis ser milagro­ samente concebido no ventre da virgem, viver sobre a terra até ser pendurado na Cruz; contudo, jamais cessou de encher o universo, da mesma maneira como no princípio. (C a l v in o , Institutes, 2, 13,4, vol. 1, p. 525, 526) Como em Cristo a união pessoal das naturezas divina e humana é realizada da maneira mais perfeita, conquanto as duas naturezas de modo nenhum se confundam, as duas assim permanecem distinguíveis, sem, contudo, serem jamais concebidas como realmente separadas. Devemos considerar, portanto, como errônea, a linguagem de tantos escritores antigos, que limitam a exaltação exclusivamente à natureza humana de Cristo. Ela se aplica antes à pessoa do Deus-Homem. (L a n g e ,

2.

Commentary on Hebrews, p. 31)

Cristo como Herdeiro de todas as coisas (Hb 1.2a a r a )

A palavra herdeiro se refere ao propósito original da criação. Deus não fez os mundos primeiro e colocou-os sob domínio do Filho

depois. Por isso, o direito de herança é mencionado antes do propósito da criação. E visto que o Filho foi constituído herdeiro de todas as coisas antes da criação, o próprio Filho deve ter assim existido. O vocábulo herdeiro, conforme é usado neste contexto, não traz em si a ideia de entrar na possessão após a morte de um primitivo possuidor; ao contrário, parece ser derivado de uma palavra hebraica que significa simplesmente adquirir ou possuir. Em sua forma mais simples, significa senhor, possuidor ou soberano. Parece evidente que existe outra conexão entre a herança aqui expressa e o seguinte trecho: Havendofeito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da Majestade, nas alturas (Hb 1.3b). Existe uma herança dupla. O Filho é herdeiro por criação-, isto é, per­ sonificou em si mesmo o propósito do Pai e é herdeiro pela redenção da possessão comprada também. ^------Quão próprio e natural que Aquele, por intermédio do qual o universo foi feito, depois de ter-se humilhado e realizado a vontade graciosa do Pai, como recompensa, fosse também investido do domínio do universo como herança permanente. (E bra rd , Biblical Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 19) --- r

A palavra herdeiro, portanto, traz em si algo mais do que o poder universal concedido a Cristo, pelo qual Ele capacita o Seu povo a triunfar sobre o pecado e a pregar eficazmente às nações durante a era evan­ gélica. Significa também que este poder chegará ao cumprimento perfeito, segundo a promessa messiânica em Romanos 4.13, quando, no segundo advento, Cristo banirá da humanidade o pecado e suas conseqüências, removerá a maldição da terra e reinará com poder e glória universais. j ------

A palavra herdeiro assinala o propósito original da criação. O domínio originalmente prometido a Adão (Gn 1.28; SI 8.6; 2.7) foi conquistado por Cristo [...] O termo é usado em relação à posse, as­ sinalando a plenitude do direito, baseado em conexão pessoal, e não

indicando transferência e sucessão em relação a um possuidor presente. O herdeiro, como tal, reivindica o título" com referência àquilo que possui [...] O direito de herança do Filho foi realizado pelo Filho encarnado por meio de Sua humanidade, mas o escritor [da Epístola aos Hebreus] feia do Filho simplesmente como sendo herdeiro. Em tal linguagem, vemos a indicação da verdade que é expressa pela declara­ ção de que a encarnação é, em essênda, independente da Queda, embora condicionada por ela quanto às suas circunstâncias. (W e s t c o t t , Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 8)

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3. O Filho como Criador: Pelo qual também fez o universo (H b 1.2b a r a ) Tendo declarado o propósito da criação, o autor [da Epístola aos Hebreus] começa a demonstrar que o Filho é também o Criador. Não apenas os mundos foram feitos por Sua causa e de acordo com Seu propósito, mas por Ele, como causa instrumental de Sua existên­ cia. E isso o que João afirma enfaticamente: Todas as coisasforam feitas por ele, e sem ele nada do que fo i feito sefe z (Jo 1.3). É evidente que as relações de Deus para com todas as coisas fora de si próprio são feitas mediante o Filho, que é o Princípio e o Fim de toda a existência. No fato de que fez os mundos reside a possibilidade de harmonia entre a revelação natural e a histórica. Esta harmonia não existe agora por causa do pecado do homem, nem pode ser efetuada meramente por desenvolvimento natural. Só pode ser realizada por meio dos atos divinos especiais da encarnação e do segundo advento, pelos quais o pecado e suas conseqüências serão removidos do mundo. Jesus não é o Cabeça da Igreja apenas, mas o Cabeça de todas as coisas para a Igreja. Se isto não fosse verdade, não haveria base sólida para a existência cristã nem segurança providencial para o Corpo de Cristo. O termo mundos, ou universo, é aionas (aícDvaç), as idades ou eras, enquanto na Septuaginta a palavra é gen (yrjv), terra. O universo pode ser considerado na sua constituição real [material] ou como uma

ordem que existe ao longo do tempo. O mundo, como matéria, é cosmos (kóv|_ioç); o mundo temporal é aion (atov), as idades ou eras. Essas duas palavras gregas [aionas e cosmos] são usadas na Epístola aos Efésios (2.2), onde Paulo falou do tempo-estado, aiona (aícDva), deste mundo material, kosmou (icoa^ou). Quando é usado o singular — deste mundo — , geralmente significa idade. Quando é usa­ do o plural — como no caso dos mundos — , sugere a ideia não de uma duração contínua, mas agregada, o mundo caracterizado por períodos sucessivos, eras distantes umas das outras. Paulo falou das eras por vir. O Filho, como Verbo encarnado, é aquele que fez todas as coisas e, se Sua glória estava oculta, enquanto no tabernáculo da carne, devemos ter em mente que Ele é sempre o Criador e, portanto, precisamos aprender a reconhecê-lo nesta aparência humilde. Essas duas afirmações a respeito de Cristo como Herdeiro e Criador, quando tomadas juntamente, formam transição importante no pensamento do autor da Epístola. Não devem ser consideradas se­ paradamente. A expressão herdeiro de todas as coisas é uma declaração universal sob a qual se deve classificar a declaração particular pelo qual também fez o universo [ou as eras}. Isto coloca o Filho na condição de Agente (ou Autoridade) soberano, preparando o caminho para um dos principais objetivos da Epístola: a inauguração de uma nova Era a suplantar a antiga. O autor da Epístola contempla a posição gloriosa do Filho que, tendo subido ao Pai, recebeu dele o Espírito prometido, que Ele derramou sobre os discípulos à espera no Pentecostes, o gran­ de dia do recebimento do Espírito Santo.

A PORTA FORMOSA

DO TEMPLO

Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, sus­ tentando todas as coisas pela palavra do seu poder, depois de terfeito a purificação dospecados, assentou-se à direita da Majestade, nas alturas.

Tendo sido estabelecida a glória do Filho de Deus em Suas re­ lações cósmicas, o escritor da Epístola passa agora a apresentar a glória do Filho em Suas relações pessoais com o Pai. Demonstra ser Ele [o Fi­ lho], a um tempo, o Verbo de Deus que revela e capacita. Tendo Deus falado conosco por intermédio de Seu Verbo como o Filho encarnado, esta Palavra se torna a porta de entrada do templo de comunhão e ami­ zade com o Senhor. Por isso, o Filho é descrito sob a figura da Porta Formosa do templo. Josefo nos conta: * O templo tinha nove portas, que eram revestidas de ouro e prata em todos os lados, mas havia uma porta, que estava fora da casa santa e era de bronze de Corinto e muito excedia aquelas que eram apenas revestidas de ouro e prata. A magnitude das outras portas era igual em todas. Contudo, a da porta de Corinto, que abria para o Oriente, em oposição à porta da própria casa santa, era muito maior, pois sua altura era 50 côvados, isto é, cerca de 25 metros, e era adornada da maneira mais rica, tendo placas mais ricas e mais grossas de prata e ouro do que as outras. Esta última é, provavelmente, a porta chamada Formosa, porque era no exterior do templo, para a qual havia facil acesso e visto que era, evidentemente, a de maior valor. --- r

Por esse comentário, podemos concluir que o resplendor da glória de Deus, Cristo, é simbolizado pelo bronze polido, que “muito excedia aquelas que eram apenas revestidas de ouro e prata”, e. a expressão exata do seu Ser (Hb 1.3b a r a .) , pelo material da porta, que aponta para o seu rico e sólido fundamento, pois a palavra hypostasis significava originalmente o alicerce, o substrato, que veio a ser interpretado como fir­ meza, propósito, resolução ou determinação. Assim, sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder é uma alusão clara aos batentes que sustentavam a coroa da estrutura. A luz gloriosa que brilhava na porta deveria revelar imediatamente as trevas do mundo no pecado e o ato supremo de redenção pelo qual

Cristo nos purificou das nossas iniquidades e voltou para a Sua exaltada função intercessória à direita da Majestade, nas alturas. A glória do Filho, conforme a apresentam as expressões subli­ mes e elevadas em Hebreus 1.3, é digna do mais cuidadoso e profundo estudo. Será seguida a ordem escriturística neste exame preliminar da pessoa e obra do Filho. O

íàto de o Mediador histórico da revelaçáo final de Deus ser o

Mediador antemundano da criaçáo do mundo [que existia antes da criação do mundo] comunica-lhe uma majestade e dignidade especiais, além das de todos os criadores intermediários. A comparação do Filho com os anjos mostra que Ele náo é, neste sentido, concebido como cau­ sa inconsciente, intermediária, mas exerceu açáo intercessória em uma existência pessoal. E a declaração de que é o resplendor e a imagem da glória de Deus e a expressão exata do seu Ser mostra que o Mediador, que se destina acima de todos os seres e mesmo acima dos anjos pelo nome de Filho, não traz Sua designação filial em um sentido convencional e teocrático. (L ange, Commentary on Hebrews, p. 31) --- r

Westcott afirmou que a posição da partícula cóv, que sig­ nifica sendo ou levando [em Hb 1.3 a r c ] , dá ênfase à expressão resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser e indica ainda que “esta partícula descreve a ação e essência absolutas e não apenas presentes do Filho. Em particular, acautela-nos contra a ideia de adoção em filiação e afirma a permanência do Filho durante a Sua obra histórica”.

1. O Filho é o resplendor ou efulgência da glória do Pai A palavra apaugasma (ánaúyac|ja), que ocorre nas Escrituras somente aqui, significa a irradiação de luz que flui de um corpo lumi­ noso. Ela provém de um radical que significa brilhar ou emitir esplendor. A palavra efulgência talvez seja a que melhor expressa essa ideia. Alguns

têm achado que este resplendor ou efulgência deve ser interpretado c o m o reflexão de luz, isto é, a imagem refletida sobre uma superfície lisa refletora. Outros o consideram como luz ativa, isto é, os raios que continuamente emanam de um corpo luminoso. Ebrard observou que o primeiro conceito pressupõe a existência hipostática distinta do Filho, sendo que a ênfase aqui é sobre a identi­ dade qualitativa dele com o Pai, e que o segundo ponto de vista, que parece ser o de mais valor, considera o Filho como o ato-vida perpétuo e contínuo do Pai. Para Ebrard, a palavra [efylgência\ denota não o brilho recebido de outro corpo e devolvido como reflexo ou imagem espelhada, nem a luz que procede continuamente de um corpo bri­ lhante, como luz que flui e perde-se no espaço, mas denota uma luz ou um raio brilhante que se irradia de uma outra luz, tanto que é visto como se agora se tornasse uma luz independente. Vaughan também acha que a palavra [efiílgêncid\ expressa os resultados, mais do que o ato de brilhar e é, portanto, mais apropriada como palavra para a Pessoa em quem todos os raios da glória divina se concentram. j.-----Efulgência poderá ser a palavra de sentido mais aproximado, porém falta-lhe a idéia característica de incorporação do esplendor emitido. A expressão imagem de raio é a que melhor responde ao original; é uma imagem vira, composta de raios, não meramente os recebidos e refletidos, mas concebidos como independentes e permanentes. E mais que mero raio, mais do que mera imagem: um sol produzido de luz original.

(E b r a r d ,

Bibtical Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 21)

-----—r

O Filho é a expressão exata do Pai na Sua pessoa ou essência

2.

Esta é a segunda declaração a respeito do Filho e está direta­ mente relacionada com a precedente, pois a substância ou essência está relacionada com resplendor ou brilho.

Expressão exata do seu Ser é, às vezes, traduzida como a im­ pressão de Sua substância, oriunda de charakter (x.aQaKxr]Q), estampa, e hypostasis (ú tió c tto c c tlç ), substância, essência, pessoa. Assim como apaugasma (ánaüyaviia), resplendor, brilho, refere-se à aparência de Deus externamente, hypostasis (ímóoraÇíç), substância, essência, pes­ soa, remete-se ao Filho como expressão exata da substância ou essência do Pai internamente. Na linguagem dos teólogos, pode-se dizer que o primeiro é ad extra, o último, ad intra. A glória ( a r c ) e a expressão ( a r a ) estão, portanto, relacionadas entre si assim como o resplendor e a expressa imagem de Sua pessoa ( a r c ) o u expressão exata do seu Ser (a ra ).

Essas palavras, porém, são de suma importância para exigir um tratamento mais completo. A palavra charakter (xaQaKxrjQ) provém da ideia de selo ou gravação. Westcott disse não existir um vocábulo em inglês que traduzisse exatamente o significado desse termo: “Se houvesse um sentido de expressão (isto é, imagem expressa) que corres­ pondesse à impressão, esta seria o melhor equivalente”. A palavra [charakter] pode referir-se ao agente ou ao instrumen­ to de gravação, porém, mais comumente, refere-se à estampa, ou letra, e à figura gravada, que é usada para fazer impressão na cera. Significa, portanto, uma semelhança exata ou representação característica. Por isso, a tradução expressão exata do seu Ser parece comunicar a verdade mais especificamente do que a tradução impressão de sua substância. Esta última implica, antes, a cera do que o selo pelo qual a impressão é feita. Essa expressão exata do seu Ser sublime sugere, portanto, a exata semelhança de Cristo com o Pai em Sua substância ou essência, não meramente em aparência exterior. Essa imagem expressa, ou expressão exata, é um fato infinito e eterno, e não meramente algo estampado sobre Cristo e Sua encarnação. Cristo é investido dos mesmos atribu­ tos do Pai e é da mesma natureza e essência que Ele. Jesus é a objetivação plena do Pai e, visto que o Pai é infinito e eterno, o Filho, a fim de ser a imagem exata ou expressão perfeita dele, deve igualmente

ser infinito e eterno. Por esta razáo, o Filho é o Mediador do mundo e sp iritu a l. Externamente para o mundo e os homens, Ele é o Ser em quem todos os raios da glória divina se concentram para comunhão. Portanto, reflete a divindade em toda a Sua perfeição, sabedoria, Seu poder, bem como em Sua santidade e Seu amor. Internamente, a base desta revelação reside no fato de que Ele é participante da essência divina: O Filho unigênito, que está no seio do Pai (Jo 1.18b). j





De modo geral, pode-se dizer que XPtQCXKTT] Q [caracter] é aquilo pelo que qualquer coisa se reconhece diretamente, por meio de sinais correspondentes, sob um aspecto particular, embora possa incluir apenas pouquíssimas características do objeto. E até aqui uma fonte primária, e não secundária de conhecimento. XocQ£XKT]Q [caracter] traz em si os traços característicos apenas e, portanto, distingue-se de EIKCOV [ícone, imagem], que dá uma representação completa sob a condição da terra daquilo que simboliza; e de

|_lOÇ)(j)T]

[motfon, forma], que assinala a

forma essencial (ver2 Co 4 .4 ; Cl 1.15; 3.10). on the Epistle to the Hebrews, p. 12)

(W e stc o tt,

Commentary --- r

A palavra hypostasis (úraxrTaoiç;), que é traduzida como pessoa, literalmente significa ficar sob e foi usada pelos pais da Igreja no sen­ tido de substância ou essência. A palavra person, conforme é usada na Authorized Version, é melhor expressa pela palavra grega prosopon ( t i q ó c t c o t i o v ) . Visto que hypostasis foi aplicada a cada uma das três pessoas da Trindade apenas após longo período de desenvolvimento teológico, estas distinções não podem ser lidas no texto. O significado da palavra pessoa, segundo é usado em Hebreus 1.3, é simplesmente essência (ou oúuía), e assim traz a natureza divina do Filho imediata­ mente diante de nós. Cristo é a imagem expressa ou a expressão exata de Deus. Nele e por Ele, Deus se revela plena e perfeitamente a nós, por causa da semelhança que se origina da identidade perfeita [entre Pai e Filho]. Todas as perfeições de Deus pertencem ao Filho e habitam neste,

que é a automanifestação de Deus. Parece evidente, pois, que não se poderia usar de linguagem mais forte para expressar a divindade do Filho. Westcott disse que a palavra hypostasis significa propriamente aquilo que fica em baixo, como um sedimento, alicerce, uma base de suporte. A------Deste sentido geral, vieram os sentidos especiais de firmeza, con­ fiança, aquilo em virtude do que uma coisa é o que é, a essência de qualquer ser. Quando este significado de essência foi ao Ser divino, surgiram duas acepções distintas no curso dos debates. Se os homens olhavam para a Trindade santa sob o aspecto de uma só Divindade, havia apenas uma hypostasis, uma só essência divina. Se por outro lado olhavam para cada Pessoa na Trindade, então, aquilo pelo que cada Pessoa é o que é, a Sua hypostasis era necessariamente considerada como distinta e havia três hypostases. No primeiro caso, hypostasis, aplicada a uma só divindade, era tratada como equivalente a ousia; no outro caso, era tratada como o equivalente a prosopon. (W

estc o tt,

Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 13 )

------- r

O Filho sustenta todas as coisas pela Palavra do Seu poder 3.

O termo grego aqui traduzido como palavra não é logos (Àóyoç), o mesmo que foi aplicado ao Cristo pré-encarnado por João (Jo 1.1), mas remati (Qi^cm), expressão ou dizer. A ideia não é de que Ele sustente todas as coisas por esforço, como um peso morto, mas naturalmente, pela simples emissão do Seu próprio poder. A expressão palavra do Seu poder parece ter sido um modo de falar comum entre os hebreus, sendo transmitido para o Novo Testa­ mento com o simples significado de palavra poderosa. Tem seu paralelo no E Deus disse, em Gênesis 1, em que os mundos vieram a existir em virtude de Seu pronunciamento ou expressão. A palavrapheron ((Jréçcov) significa suportar, sustentar ou preservar todas as coisas que lhe foram anteriormente atribuídas como Criador. O

escritor da Epístola aos Hebreus coloca, assim, diante de nós, nesta afir­ mação — sustenta todas as coisas pela Palavra do Seu poder— , a infinita energia e o poder onipresente do Deus todo-poderoso, de maneira a inspirar-nos temor reverente e digno de nosso mais alto louvor. Adam Clarke observou que os escritores judaicos frequente­ mente expressavam a perfeição da natureza divina por frases como: “Ele sustenta todas as coisas em cima e embaixo”; “Ele conduz todas as Suas criaturas; Ele sustenta o mundo”; “Ele sustenta todos os mundos pelo Seu poder”. Isso é confirmado em Isaías 63.9, onde é dito que Deus tomou e conduziu o Seu povo todos os dias da antiguidade. Novamente, lemos algo parecido com isto, dito por Paulo em Colossenses 1.17b ( a r a ) : Nele, tudo subsiste. Lindsay expôs bem o assunto quando disse que: A ------------------

A preservação do universo, na verdade, requer o exercício contí­ nuo da mesmíssima força e do mesmo poder que lhe deram existência; e, se o braço mantenedor de Cristo fosse por um momento retirado, os inumeráveis sóis e galáxias que povoam o espaço ruiriam no pó e tornariam ao nada do qual surgiram. (L in d sa y , Lectures on the Epistle to the Hebrews, p. 37,38)

4.

______

O Filho fez a purificação dos pecados

Tendo declarado a glória do Filho, primeiro em Sua natureza absoluta (cóv) e, a seguir, em relação com os seres finitos (4> £Q ü)v), o escritor da Epístola aos Hebreus declara o propósito para o qual Cristo foi enviado ao mundo: para purificá-lo do pecado, para oferecer expiação por ele. A palavra katharismos (xaGaQLUfjxiç) em Hebreus 1.3d — havendo feito p or si mesmo a purificação dos nossos pecados ( a r c ) — geralmente significa purificação, como em Hebreus 9.14 — purificará a vossa consciência das obras mortas — e em 1 João 1.7 — o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado.

Na Septuaginta, katharism os, às vezes, tem o sentido de expiaçáo, como em Êxodo 29.36 ( a r a ) — e pu rificarás o altar, fazendo expiação p or ele. Todavia, no grego helenístico, a palavra é frequentemente usada no sentido de expiaçáo e o texto em Hebreus 1.3d, então, seria: “Havendo feito por Si mesmo expiação pelos nossos pecados”. Lowrie afirmou que katharismos significa a expiação dos peca­ dos pelo ato de apagá-los. Este é, provavelmente, o sentido em que é usado em Hebreus 1.3d, segundo o indica uma afirmativa posterior: Mas este [Jesus], havendo oferecido um único sacrifício pelos pecados, está assentado para sempre à destra de Deus (Hb 10.12). A expressão por si mesmo [em Hb 1.3d a r c ] indica que a expia­ ção foi feita por Cristo sem a ajuda de anjos ou outros, sendo Ele, ao mesmo tempo, o Sacerdote e o Sacrifício, o Altar e o Incenso, e tudo o mais que é necessário para uma expiação completa. Isto é demonstra­ do ainda pelo uso da voz média do verbo grego, indicando que o que Ele fez foi por Si ou de Si mesmo, por Seu próprio trabalho. A linguagem em que este fato da expiação é apresentado é eviden­ temente uma referência à purificação pelo sacrifício sob a dispensação levítica e um cumprimento do que foi realizado simbolicamente no grande Dia da Expiação. A purificação [feita por Cristo] é, portanto, uma provisão e potência para a remoção dos pecados, sejam por ato, sejam por natureza. Aquilo que tem a virtude de purgar ou purificar o pecado foi feito, de uma vez por todas, pelo sacrifício vicário de Cristo na terra, antes de Sua ascensão aos céus. Isto prepara o leitor para o ensino principal da Epístola aos Hebreus: a obra sumo sacerdotal de Cristo. 5.

Cristo assentou-se à direita da Majestade, nas alturas

O herdeiro de todos os séculos e o criador dos mundos, tendo encarnado e, mediante Seus sofrimentos e Sua morte, feito expiação pelo pecado, conservou Sua natureza humana — continuou a ser

— , embora tenha sido exaltado novamente ao trono de Deus e esteja assentado à direita da Majestade nas alturas. Assentar-se à direita de Deus não significa apenas honra, apro­ vação e recompensa. Em um sentido mais profundo, significa a participação na dignidade e autoridade de Deus. Esta participação, bem como a ideia de uma obra terminada, é expressa pela ação assentouse. Nenhum sacerdote sob a antiga dispensação da Lei ministrava sem estar de pé, pois sua obra jamais terminava. hom em

Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando, d aí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seuspés. Porque, com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados. E disto nos d á testemunho também o Espírito Santo... Hebreus 10.12-15a a r a Convém que se entenda que a exaltação e a autoridade de Cris­ to foram concedidas a Ele como recompensa por Sua humilhação. Em Sua natureza divina, o Filho não poderia ser exaltado, porque já era infinitamente superior em majestade, glória e poder; por outro lado, se o nosso Mediador não fosse divino, não poderia assim ter partici­ pado da glória e do reinado divinos. A elevação de Cristo, portanto, ao trono do poder soberano à destra do Pai só pode referir-se ao que se chamou reinado intercessório, pois é descrito como resultado de Seu sacrifício expiatório: Tendo feito expiação, assentou-se. A respeito da afirmativa asssentou-se à direita da Majestade, nas alturas, disse Ebrard: j —— Nunca e em pane alguma as Escrituras aplicam esta expressão I

[assentou-se] para denotar aquela forma de governo do mundo em que o Logos (ou Filho eterno) exerceu como eternamente pré-existente. O assentar-se à direita de Deus, antes, denota em todas as passagens apenas

aquela participação na majestade, no domínio e na glória divinos aos quais o Messias foi exaltado depois de consumada Sua obra. Portanto, é no tempo que [essa participação] é conseqüentemente exercida por Ele como o Filho do Homem glorificado sob a categoria de tempo. Já no Salmo 110.1, onde primeiro aparece a expressão, aplica-se ao futuro, ao segundo Davi, exaltado em um tempo futuro. (E b r a r d , B iblical Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 27)

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A MAJESTADE DO FlLH O DE Ü E U S COMO M EDIADOR

[Cristo foi] Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. Hebreus 1.4 A partir de uma discussão sobre as glórias do Filho divino, em Seu estado primevo, e Suas relações pessoais com o Pai, o escritor da Epístola aos Hebreus passa a fazer uma consideração de Sua supremacia sobre os anjos como Deus-Homem. O modo repentino pelo qual o novo assunto é intro­ duzido pela primeira vez é um fenômeno peculiar da Epístola aos Hebreus. A despeito, porém, desse aparente caráter abrupto de tratamento, parece haver, na mente do autor da Epístola, suficiente motivo para a súbita transição. O Filho assentado à destra da Majestade nas alturas implica a ideia de miríades de anjos inclinados diante dele em adoração; daí a comparação formal entre eles. Os judeus tinham um alto conceito sobre os anjos. Acredita­ vam, como disse Estêvão, que sua Lei lhes fora dada por ministério de anjos (At 7-53 a r a ) , e Paulo afirmou que a Lei fo i posta pelos anjos na mão de um medianeiro (G13.19c). Os judeus, portanto, orgulhavam-se do fato de que milhares de anjos tinham sido empregados no estabe­ lecimento de sua Lei e, por essa razão, tinham grande estima por ela. Daí, porém, tiravam uma falsa conclusão. Argumentavam que, uma vez que a Lei lhes fora dada por seres tão gloriosos, jamais seria abrogada. O escritor da Epístola não nega as premissas dos judeus,

mas julga falsa a conclusão por eles tirada [ao afirmar que Cristo era mais excelente do que os anjos]. De acordo com Clarke: j ----------

Os judeus tinham na mais alta estima a excelência transcendente dos anjos; chegavam a associá-los a Deus na criação do mundo, supondo que pertencessem ao concilio particular do Altíssimo. Assim é que entendiam Gênesis 1.26: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa seme­ lhança. O Senhor [teria dito], aos anjos que ministravam diante dele, e que foram criados no segundo dia, disse: “Façamos o homem à nossa própria imagem” (Targum de Jonatâ ben Uzziel). E admitiam até que [os anjos] fossem adorados por causa do seu Criador e como Seus repre­ sentantes, embora náo admitam que sejam adorados por si mesmos. Como [os anjos] eram considerados logo abaixo de Deus (mas ne­ nhum com direito à adoração, senão Deus), o autor [da Epístola], com os próprios argumentos deles [dos judeus], prova que Jesus Cristo é Deus, porque Deus ordenou a todos os anjos do céu que o adorassem. Aquele, portanto, que é maior que os anjos e objeto de sua adoração é Deus. Mas Jesus Cristo é maior do que os anjos e objeto da adoração deles; portanto, Jesus Cristo tem de ser Deus. (C larke , Commentary on the Epistle to the Hehrews, IV, p. 687) --- r

Disse Lowrie: A maneira súbita pela qual este assunto de comparação [de Cristo] com os anjos é introduzido ocasiona certa perplexidade. Mas, a seguir, notamos que Moisés (Hb 2.2), Melquisedeque (Hb 5.10; 6.20) e Levi (Hb 7.5) são, por sua vez, alvo de comparação, num pequeno preâmbulo [...] Teremos também ocasião de observar, no autor [da Epístola aos Hebreus], maneira semelhante de introduzir mudanças de pensamento e aplicações óbvias e conclusões de declarações feitas. Podemos, portanto, considerar o fato como característica de estilo do autor. (L o w r ie , An explanation o f the Epistle to the Hebretus, p. 11)

Os judeus acreditavam que Deus chegara a realizar julgamento na terra, a fim de enfatizar a grandiosidade da salvação, e confiara aos anjos a anunciação da Lei. Diziam: “A Lei do Senhor veio do Sinai [...], da Sua destra saiu uma Lei como fogo”; “os carros do Senhor são 20 mil, e os seus anjos, miríades”. Para os judeus, portanto, seria uma temeridade violar a santidade de uma aliança tão terrível. Tendo acompanhado a obra expiatória de Cristo até a Sua exal­ tação à destra do Pai, torna-se logo evidente que Aquele que ascendeu ao trono do poder soberano é manifestamente superior aos anjos em influência e autoridade. O escritor da Epístola, então, assegura aos judeus que a nova dispensação inaugurada [por Cristo] é superior à dos séculos anteriores e, qualquer que tenha sido a glória conquistada pela antiga dispensação por intermédio dos anjos, a nova é vastamente superior por ser administrada pelo Rei-Mediador. Contudo, o autor da Epístola aos Hebreus oferece também certo termo de comparação que possibilitaria aos judeus formar uma ideia quanto à extensão da superioridade de Cristo, que herdou mais excelente nome do que eles [os anjos] (Hb 1.4b a r a ) . Esse nome não apenas traz em si eminência, honra e distinção, como também mais eminência, mais honra e mais distinção. Além disso, o nome aqui usado não apenas indica uma diferença em grau, mas em espécie [entre Cristo e os anjos]. Ele está acima dos anjos, porque Seu nome lhe foi atribuído pelo Pai como herança por ser o Unigênito. Tendo-se tomado tão superior aos anjos (Hb 1,4a n y i ) . “Mas por que seria, para ele [o autor da Epístola aos Hebreus], de tanta importância efetuar essa comparação do Filho com os anjos?” Esta foi a pergunta feita por Ebrard, o qual, antes de dar a resposta, examinou as opiniões de Bleek, Tholuck e outros estudiosos. Ao passo que, para Bleek, “a crença dos israelitas na cooperação dos anjos quando da entrega da Lei no Sinai levou o autor [da Epísto­ la] a falar dos anjos”, para Ebrard, o verdadeiro motivo é mais profun­ do: “o Antigo Testamento inteiro está relacionado com o Novo, como os anjos estão com o Filho”.

Desde o Antigo Testamento, Deus condescendia em aproxi­ mar-se do Seu povo como o Anjo do Senhor. E, visto que Moisés foi exaltado a ponto de falar face a face com Deus (Ex 33.11 n v i ) , era necessário que o autor [da Epístola aos Hebreus] demonstrasse que es­ ses dois mediadores do Antigo Testamento deviam encontrar unidade superior em Cristo. Daí propor-se a demonstrar que o Filho foi maior que os anjos, como problema da primeira parte, e que Jesus tem sido considerado digno de tanto maior glória do que Moisés (Hb 3.3), como problema da segunda parte. * j ------A mediação no Antigo Testamento é dupla; é uma cadeia con­ sistindo de dois membros, Moisés e o Anjo do Senhor. [Em Moisés], vemos um homem que foi exaltado acima dos outros e com os quais se coloca no mesmo nível como pecador; [logo, ele] aproxima-se de Deus, sem, no entanto, participar da natureza divina. [Já] o Anjo do Senhor possui uma natureza celestial e, por meio dele, Deus se revela ao Seu povo, tornando-se [em aparência, forma] semelhante aos homens, sem contudo tornar-se homem. Deste modo, Deus e o homem se aproxi­ mam, porém ainda não existe união real de Deus com o homem. No Filho, contudo, a natureza divina e a humana se tornam uma só. Deus e o homem se tornam próximos um do outro não apenas na aparência [também na essência]. Assim, o Pai revela Sua plenitude em Jesus Cristo, Homem. E, na pessoa deste, encarnado, não foi um mero membro da humanidade que se aproximou de Deus, e sim um [co-eterno] nascido de uma virgem.

Em

Cristo, como as Primícias da

nova humanidade, esta foi exaltada para a herança de todas as coisas. I (E b r a r d ,

B iblical Commentary on the Epistle to the Hebrews, p.

30)

----—r Visto que o Verbo é o instrumento de comunicação entre Deus e os homens, a encarnação é a única porta para a comunhão e amizade com Deus. E uma vez que a divindade e a humanidade se combinaram na pessoa do Filho, Ele se toma não só a porta de acesso para a presença de Deus, mas também a porta para o pleno significado da vida humana.

O ARGUMENTO SÉTUPLO DO A n t ig o T

esta m en to

O autor da Epístola aos Hebreus, ao comparar o Filho com os anjos, dividiu o argumento em duas partes, com aquilo que se conhece como primeira advertência. A primeira seção (Hb 1.4-14) trata do Filho como superior aos anjos, em virtude de Sua existência eterna como Filho de Deus. Como existem sete declarações a respeito do Filho como a segunda pessoa da Trindade, temos sete declarações em defesa da superioridade do Filho sobre os anjos. Isto se refere especialmente ao Filho em Seu estado encarnado ou intermédiário. Segue-se a advertência quanto a negligenciar a tão grande salvação (Hb 2.1-4) e, depois disto, o argumento é retomado (Hb 2.5-8,16), onde se constata ser Cristo superior aos homens. Como os judeus tinham negado a filiação de Jesus, era neces­ sário que o escritor da Epístola demonstrasse que não se tratava de uma revelação nova, mas que tinha como fundamento as próprias re­ ferências do Antigo Testamento. O argumento total é reforçado por sete citações das Escrituras, encontradas principalmente nos Salmos. E digno de nota que o autor da Epístola em parte alguma alude aos agentes humanos da revelação, mas apenas às fontes divinas. Nas sete citações usadas, aparece o verbo disse, explícito ou subentendido. Já em Hebreus 3.7, é ressaltado: como diz o Espírito Santo (Hb 3.7). Duas verdades estão intimamente relacionadas com essa ênfase sobre a au­ toria divina das Escrituras. Primeiro, estas exposições admiráveis devem ter sido inspiradas pelo Espírito Santo, pois só Ele poderia ter dado ao autor da Epístola a profundeza de significado e de visão para revelar as verdades sem par encontradas nesses textos do Antigo Testamento. Segundo, coordena­ do com a primeira premissa, está o fato de que a presença do Espírito, que inspirou estas verdades no Antigo Testamento, é igualmente necessária para revelá-las e interpretá-las no Novo. Daí a promessa culminante que nos foi dada no Novo Testamento de que Jesus, ao partir para o céu, enviaria outro Consolador, o qual, como Espírito da verdade, iria guiar-nos a toda a verdade (Jo 14.16).

A apresentação da divindade de Cristo, do ponto de vista do Antigo Testamento, teria importância peculiar para os judeus; tomaria completa e final a tese cristã. São citadas as seguintes passagens: 1— O Filho de Deus e a Sua herança: Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei as nações por herança (SI 2.7b,8 n y i ) . 2—

O Filho e a aliança de Davi: Eu lhe serd por pai, e ele me será por filho (2 Sm 7.14a nvi). Expressão semelhante se encontra no Salmo 89.26,27: Ele me invocará, dizendo: Tu és meu pai, meu Deus, e a rocha da minha salvação. Também por isso lhe darei o lugar de primogênito; fá-lo-ei mais elevado do que os reis da terra.

3— O Filho de Deus e o Seu segundo advento: Confundidos sejam todos os que servem a imagens de escultura, que se gloriam de ídolos inúteis; prostrai-vos diante dele todos os deuses (SI 97.7). 4— O Filho de Deus e a majestade do Seu Reino: Faz dos ventos seus mensageiros, dos seus ministros, umfogo abrasador (SI 104.4). 5— O Filho de Deus e a perpetuidade do Seu Reino: O teu trono, ó Deus, é eterno eperpétuo; o cetro do teu reino é um cetro de eqüidade. Tu amas a justiça e aborreces a impiedade; por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros (SI 45.6,7). 6— O Filho de Deus e a imutabilidade do Seu Reino: Desde a antiguidade fundaste a terra; e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu perm anecerás; todos eles, como uma veste, envelhecerão; como roupa os mudarás, e ficarão mudados. Mas tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim (Sl 102.25-27). 7—

O Filho de Deus e a consumação triunfal: Disse o SENHOR ao meu Senhor: Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés (Sl 1 1 0 .1 n v i ) .

1.

O Filho de Deus e a Sua herança Feito tanto mais excelente do que os anjos, quanto herdou mais excelente nome do que eles. Porque a qual dos anjos disse jam ais: Tu és meu Filho, hoje te gerei? Hebreus 1.4,5a

Nesses versículos, citados do Salmo 2, o pensamento flui com extraordinário brilho e força. Sem dúvida, as imagens evocadas são as da unção de Davi como rei de Israel, pois o Salmo, em si, é messiânico. Isto é evidente porque: (1) está em harmonia com numerosas outras passagens messiânicas e (2) foi explicitamente mencionado pelos após­ tolos, aplicado ao Messias (At 4.25-28). Para bem compreender o argumento que o autor da Epísto­ la aos Hebreus extrai dessas passagens veterotestamentárias, deve-se sempre ter em mente que a palavra Filho, conforme é empregada em Hebreus 1.5 — Tu és meu Filho, hoje te gerei?—, não se refere primor­ dialmente ao Filho como segunda pessoa da Trindade, embora isto se ache implícito em cada uma das passagens antes citadas, mas ao Filho de Deus como Homem. Tal característica abrange náo somente a encarnação, em que o Filho assumiu a natureza humana, mas também todo o escopo e toda a dignidade do Homem-Deus, depois manifesto na Sua ressurreição, as­ censão e Seu assentamento à direita do Pai. Isto nos traz até o primeiro ponto a ser provado, isto é, a superioridade de Cristo sobre os anjos em Sua obra intercessória. O argumento, conforme é extraído deste texto, inclui três passos importantes: o nome, a herança e o primogênito. A referência ao Salmo 2 é a seguinte: Recitarei o decreto: O SE­ NHOR me disse: Tu és meu Filho; eu hoje te gerei (SI 2.7). A herança é mencionada no versículo seguinte: Pede-me, e eu te darei as nações por herança e os confins da terra p or tua possessão (SI 2.8). Paulo aplicou o primeiro texto à ressurreição: Deus [...] ressuscitando a Jesus, como também está escrito no Salmo segundo:

Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei (At 13.33 n v i ) . Cristo foi declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, p ela ressurreição dos mortos (Rm 1.4). Joáo fez uma alusáo semelhante em Apocalipse 1.5: Jesus Cristo, que é a fie l testemunha, o prim o­ gênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra. O argumento da herança se baseia no melhor nome [de Cristo] e na universalidade de Sua extensão. 1— A palavra onoma (óvojia), que aqui aparece como nome, é traduzida como título por alguns e como dignidade por outros. Nome é aquilo que coloca diante do nosso espírito o que uma pessoa é em si mesma, sendo o nome de Deus ou de Cristo aquilo que abrange o todo da natureza, dos atributos e da obra dele reve­ lados. Por isso, o nome designa o que o Messias deve ser segundo as Escrituras. Disse Westcott: a------Pelo nome devemos compreender, provavelmente, não o nome do Filho simplesmente, embora este seja aplicado a Cristo como parte dele, mas o nome que sintetizou tudo o que os crentes acharam que Cristo é, a saber, o Filho, Soberano e Criador, o Senhor do Antigo Testamento.

--- r

A palavra kreitton ( k q e í t t c ó t ] ) , traduzida como melhor ou mais excelente, não raro significa diferente (Rm 12.6) ou excelente (Hb 8.6), mas, na presente acepção, diferente por superioridade. O verbo genomenos (y£vó[J£voç), traduzido como tendo-se tomado ou feito [em Hebreus 1.4: Feito tanto mais excelente do que os anjos\ é prova adicional de que a alusão aqui é a Cristo como Filho encarnado. Todavia, como observamos anteriormente, não está excluída a natureza divina, pois ela está na base de Sua obra redentora, nesta e em todas as outras passagens.

2 — A herança explica como a designação Filho v pertencer a Jesus em um sentido peculiar, diferente do de outra criatura qualquer. Esta herança, pela qual Ele transcende os anjos em dignidade e glória, está diretamente ligada à Sua encarnação. A insígnia F ilho lhe pertenceu desde toda a eternidade como se­ gunda pessoa da Trindade. Quando da encarnação, porém, Ele assumiu a natureza humana e tornou-se Deus-Homem — verda­ deiramente divino e humano. Sua natureza humana adquiriu ou herdou a qualificação de Filho também. Isto foi em virtude da união da natureza humana com a divina e também em virtude da obra feita nesta natureza [híbrida] e por meio dela. Assim, pois, registrou Lucas [as palavras do anjo Gabriel a Maria]: Este [Jesus] será [...] cham ado Filho do Altíssimo (Lc 1.32). O uso do tempo perfeito [no verbo grego traduzido como] herdou implica que o título de Filho que Cristo recebeu na ordem eterna con­ tinua a ser Seu na ordem temporal de Sua vida encarnada. A natureza humana que Ele assumiu está tão inseparavelmente unida à Sua pessoa como Homem-Deus que é exaltada à destra de Deus e ali se torna uma presença capaz de interceder por nós. A essência do argumento [do autor da Epístola aos Hebreus], portanto, é esta: Jesus Cristo, como Filho encarnado do Pai, sobrepuja infinitamente em glória, pois a qual deles [dos anjos] Deus disse: Tu és meu Filho, hoje te gerei? (Hb 1.5a). O Filho é muito superior em excelência aos anjos. Nessa mesma proporção, a Sua administração celestial é superior à deles. Os anjos podem servir-nos; só o Filho pode ministrar o Espírito dentro de nós. A ------------------

...

O perfeito kekleronomeken (K£KÀT](DOVÓfJ.£K£V), herança, dá ênfase à possessão presente do nome que foi herdado pelo Cristo que ascendeu aos céus. Aquilo que fora proposto no conselho eterno se realizou quando a obra de redenção foi completada. A posse do nome — eternamente dele — foi, em nossa maneira humana de falar,

conseqüente à encarnação e o resultado permanente dela. (W estc o tt ,

Epistle to the Hebrews, p. 17) --- r

3 — O mesmo texto do Salmo 2 — Tu és meu Filho, eu hoje, te gerei — usado pelo autor da Epístola em Hebreus 1.5a foi usado por Paulo, para referir-se à ressurreição de Jesus, em Atos 13.33 ( a r a ) . O Filho foi, na verdade, o Unigênito do Pai antes de todos os mundos, e a divindade do Filho é necessariamente o ali­ cerce da encarnação e da ressurreição; do contrário, excluiria a Sua obra como Mediador. Mas o Filho também foi gerado novamente na ressurreição, o que assinalou a plena realização da humanidade de Jesus, desde o Seu estado de humilhação até o de glorificação e exaltação. Foi na ressurreição que Cristo venceu a morte como penalidade do pecado. Aqui o Filho de Deus, como Filho do Homem, entrou em Sua glória, o que se vê claramente na oração sumo sacerdotal de Jesus: E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse (Jo 17.5). Paulo fez afirmação semelhante quando falou de Cristo como sendo da descendência de Davi segundo a carne, declarado Filho de Deus em poder, segundo o Espírito de santificação, pela ressurreição dos mortos (Rm 1.3,4). As palavras este dia se referem mais propriamente, então, ao dia da ressurreição, em que Deus apresentou a prova mais cabal de que Jesus era tanto inocente como justo. O poder miraculoso pelo qual foi levantado dentre os mortos o declarou Filho de Deus, e o Seu corpo, que jamais viu a corrupção, foi ressuscitado em forma de corpo espiritual — o Primogênito dentre os mortos e as Primícias dos que dormem (1 Co 15.20). O problema com que se defrontam os judeus cristãos, a respei­ to da divindade do Filho em Seu aspecto messiânico, é talvez apresen­ tado da forma mais hábil por Ebrard, como segue:

A------Não devemos esquecer duas coisas, se quisermos bem apreender o significado e o argumento deste versículo: 1) que o autor simplesmente testifica quanto à divindade de Cristo (Hb 1.2-3) como coisa já conhecida pelos leitores por meio da pregaçáo apostólica e por eles reconhecida, sem julgar necessário apresentar provas para esta doutrina; 2) por esta mesma razáo, o objetivo do versículo 6 não é provar que o Messias é o Filho de Deus, mas que Ele, sabendo-se idêntico ao Filho de Deus, é, mesmo na dispensação do Antigo Testamento, colocado acima dos anjos. Era neste ponto que os leitores precisavam ser instruídos. Não tinham eles dúvidas quanto ao caráter messiânico de Jesus, mas toda esta revelação messiânica lhes parecia ainda apenas um apêndice da revelação mosaica, concedida tão-somente por causa de Moisés e de Israel, apenas um ramo florescente da religião de Israel. Ainda tinham de ser levados a conhecer que a divin­ dade dAquele que era o Órgão do Novo Testamento e Sua revelação necessariamente envolvem Sua elevação divina acima dos órgãos do Antigo Testamento; que a velha dispensação terminou com a nova e esta visava a toda a humanidade; a antiga não. Isto é o que lhes tinha de ensinar e é precisamente o que se propõe a provar nestes versículos, sendo a prova extraída da divindade de Cristo, já reconhecida pelos leitores. (E b r a r d , Biblical Commentary on the Epistle to the Hebretus, p. 46) --- r

2.

O Filho de Deus e a aliança de Davi

O escritor prossegue com outra citaçáo, destinada a demons­ trar a superioridade do Filho sobre os anjos. O texto, contudo, aborda o assunto em ordem reversa: E outra vez: Eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho? (Hb 1.5b). Essas palavras evocam o episódio citado em 2 Samuel 7.8-1-7. O mesmo pensamento encontra-se no Salmo 89.26,27. Historica­ mente, elas estão associadas à aliança de Deus com Davi e à promessa que Ele lhe fez de um filho — Salomão — , que reinaria em lugar de Davi e cujo reino sobrepujaria qualquer outro em glória. Essas palavras, porém, sempre receberam um significado mais amplo, antecipando o

Filho [de Deus], preexistente, o Messias, o Cristo, que viria da Semente de Davi e edificaria um Reino glorioso. Este foi o Reino que nosso Senhor começou a estabelecer enquanto estava na terra: um reinado espiritual no coração dos homens. Assim, Paulo falou do Reino como algo interior — um reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14.17). Este Reino, po­ rém, há de chegar à sua plena consumação em um reinado não apenas dentro do coração dos homens, mas também exterior e sobre todas as coisas. Só quando todas as coisas estiverem sujeitas a Cristo poder-se-á dizer que o Reino chegou à sua plenitude (Hb 2.8). E disto, então, que o autor da Epístola aos Hebreus trata no estágio seguinte de seu pensamento (Hb 1.6). 3.

O Filho de Deus e o Seu segundo advento

E, quando outra vez introduz no mundo o Primogênito, diz: E to­ dos os anjos de Deus o adorem (Hb 1.6). A peculiar construção em grego levou a muita controvérsia a respeito deste versículo. O Dr. Adam Clarke assim o traduziu: “Mas quando introduz de novo, ou pela se­ gunda vez, o Primogênito no mundo habitável...”. Talvez a paráfrase de Stuart apresente o pensamento com maior clareza: “Além disso, quando, em outra ocasião, introduz Seu Primogênito no mundo, diz: E todos os anjos de Deus o adorem ”. As provas de que o Filho é superior aos anjos, no versículo 3, com base na herança e em um nome melhor, com efeito estão encerra­ das, oferecendo-se agora argumentos de outra espécie. O primeiro diz respeito à majestade do Filho e refere-se ao Reino messiânico, em que o lugar atribuído aos anjos é meramente o de espectadores em adoração. Este novo aspecto do argumento se fundamenta em um ver­ sículo que se conhece como Salmo do Segundo advento (Sl 97.7). Na versão Almeida Revista e Corrigida, mais fiel ao texto hebraico, a de­ claração é: Prostrai-vos diante dele todos os deuses. Mas, visto que o

autor da Epístola aos Hebreus se baseia na Septuaginta [a versão em grego das Escrituras], ele usa a palavra anjos, conforme se encontra em Hebreus 1.6. Evidentemente, o autor da Epístola usou as palavras no mesmo sentido que o salmista. Por isso, não se referiu a Cristo como o unigênito Filho de Deus em Sua divindade essencial, nem como o Filho de Deus encarnado em Sua humilhação, mas ao Filho em Sua volta gloriosa, o segundo advento. Duas palavras de grande importância dão respaldo a esta interpretação. A primeira, traduzida como mundo, é oikoumene (óÍKOV|aéyr]). Significa mundo habitável ou habitado. Ela se distingue, assim, de kosmos ( kóct [_io ç ) , que se refere à terra, à parte de seus habi­ tantes, e é usada quanto à vinda de nosso Senhor ao mundo ao tempo de Sua encarnação. Mas, em Hebreus 1.6, a palavra usada foi oikoumene para expressar a segunda aparição do Filho de Deus. A segunda palavra importante usada em Hebreus 1.6 foi traduzida como primogênito, vem de prototokos ( t iq CDí o t o k o ç ) , que se deve ter a cautela de distinguir de monogenes ([iovoyeiíç), unigê­ nito. A primeira descreve as relações de Cristo para com os homens em Sua humanidade glorificada; a última, a relação peculiar do Filho para com o Pai na Trindade. Se tivesse sido usada neste texto a palavra Filho (víoç), poderia parecer que ela se referia à ressurreição, o que, em certo sentido real, era um segundo aparecimento de Cristo entre os homens. Todavia, a palavra primogênito é usada e, visto que se refere à ressurreição, a frase E, novamente, ao introduzir o Primogênito no mundo (Hb 1.6a n v i ) s ó se pode aplicar ao Seu aparecimento glorioso no segundo advento. A------Gegenneka (y £ y £ V V r]K O .), gerado, assinala a comunicação de ama vida nova e permanente representada, no caso do rei terreno, pela dignidade real e, no caso de Cristo, pela soberania divina esta­ belecida pela ressurreição do Filho encarnado em que a Sua ascensão estava também incluída (At 13.33; Rm 1.4, 6.4; Cl 1.18; Ap 1.5). (W e stc o tt,

Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 21)

Eis como pode ser resumido o argumento do autor da Epístola aos Hebreus: 1. Tanto Paulo como João usaram o termo Primogênito ligado à ressurreição. 2. A citação indica, em outra ocasião, o Filho como o Primogêni­ to no mundo habitável. Isso só se poderia dar, portanto, após a ressurreição e ascensão. 3. As palavras E, quando outra vez introduz no mundo o Primogê­ nito (Hb 1.6) podem referir-se somente ao Cristo glorificado voltando ao mundo que redimiu e do qual chamou muitos filhos para a Sua glória. 4. A palavra mundo, conforme empregada em Hebreus 1.6, significa o mundo habitável dos homens. Um estudo atento do Salmo [97] mostra que o Senhor Jeová reinará sobre a terra habitada, os mon­ tes se derreterão como cera, os céus declararão a justiça de Deus e todo o povo verá a Siua glória. Tudo o que existe no céu e na terra se curvará diante dele. E admirável, pois, que os seres mais elevados que conhecemos — os anjos são, às vezes, designados como eloim (deuses) — recebessem igualmente ordem de adorar Aquele que é o resplendor da glória do Pai e a expressa i m a g e m da Sua pessoa? 5. A maior prova, porém, de que o Salmo [97] se refere ao Reino mes­ siânico, e, como tal, foi citado pelo autor da Epístola aos Hebreus, encontra-se nas palavras de Cristo: E, quando o Filho do Homem vier em sua glória, e todos os santos, anjos, com ele, então, se assentará no trono da suaglória. Porque o Filho do Homem virá nagfáriadeseu Pai, com os seus anjos; e, então, dará a cada um segundo as suas obras (Mt 25.31; 16.27; 1 Ts 4.13-18; 2 Ts 1.7-10; Jd 14; Ap 1.7). Westcott afirmou: a-----Todas as interpretações que relacionam esta segunda introdu­ ção do Filho no mundo com a encarnação são insustentáveis. Os

comentadores patrísticos com razão detêm-se na diferença entre Unigênito, que descreve a relação absolutamente peculiar entre o Filho e o Pai, e Primogênito, que descreve a relação entre o Cristo ressuscitado em Sua humanidade glorificada e o homem. (W e st c o t t , Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 22,23)

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O Dr. Adam Clarke declara que a ressurreição foi, na verdade, não uma segunda introdução do Filho no mundo, porém a primeira introdução do Primogênito, como o próprio nome sugere. Logo, a segunda introdução não é a do Filho como tal, mas do Primogênito, a qual, como compreendemos, só se pode aplicar ao segundo advento, pois esta será a segunda vez que o Primogênito virá ao mundo. 4.

O Filho de Deus e a majestade do Seu Reino E, quanto aos anjos, diz: O que de seus anjos fa z ventos e de seus ministros, labareda de fogo. Hebreus 1.7

Tendo falado do advento glorioso do Filho, o autor da Epístola se adianta em relação à ideia da majestade do Seu Reino. Faz citação do Sal­ mo 104, conhecido por alguns como o Oratório da Criação. Neste Salmo, o nome Jeová ocorre dez vezes e, em cada uma, descreve a grandeza de Deus na criação: Ele égrandioso; está revestido de honra e majestade; cobrese de luz como de um vestido e estende os céus como cortina (v. 1,2). Põe nas águas os vigamentos das suas câmaras, fa z das nuvens o Seu carro e caminha sobre as asas dos ventos (v. 3). Chega, então, o grande clímax: Faz dos ventos seus mensageiros, dos seus ministros, um fig o abrasador (v. 4). Isto não po­ deria deixar de sugerir ao leitor judeu os fenômenos que acompanharam a entrega da Lei no Sinai e desenvolveram-se depois no contraste entre os montes Sinai e Sião (Hb 12.18ss). Existem várias interpretações deste texto [SI 104.4] no que se refere à natureza dos anjos:

1. Os anjos servem a Deus de maneira táo verdadeira, no sentido espiritual, como os ventos e os relâmpagos, no reino físico. 2. O texto se refere ao caráter da obra dos anjos: Deus faz os Seus anjos velozes como os ventos e os Seus servos rápidos, terríveis e irresistíveis como o relâmpago. 3. O texto fala de mensageiros no sentido gerai, abrangendo todos os ministros de Deus, desde as forças impessoais mais ínfimas às inteligências mais elevadas próximas ao trono. Verifica-se ser esta posição do bispo Martensen, o qual achava que os anjos di­ ferem dos homens por representarem um grande poder único, enquanto no homem, embora em medida finita, entram todas as forças da natureza divina. 4. Os anjos seriam seres evanescentes que Deus pode transformar em ventos e relâmpagos, não sendo, portanto, imutáveis, como o é o Filho. Contudo, o propósito do autor da Epístola não é discutir a natureza dos anjos, mas exaltar a soberania do Filho e o ministério dos anjos em sujeição a Ele. A grandeza dos anjos, ágeis como os ventos na obediência e destruidores como os relâmpagos no poder, serve para exaltar a majestade do Rei e as forças poderosas ao Seu dispor. O Dr. Adam Clarke citou o seguinte texto, extraído de escritos judaicos, e comentou-o em relação a Hebreus 1.7: j -----O anjo respondeu a Manoá: “Não sei em que imagem sou feito, pois Deus nos transforma a todas as horas; às vezes, em fogo, às vezes, em espírito, outras vezes em anjos”. É muito provável que aqueles que são chamados anjos não estejam confinados a nenhuma forma específica, mas assumam vários aspectos e aparências segundo a natureza da obra em que são empregados e a vontade de seu empregador soberano. Esta parece ter sido a antiga doutrina judaica sobre o assunto. (C la rk e , Commentary on the Epistle Hebrews).

5.

O Filho de Deus e a perpetuidade do Seu Reino Mas, do Filho, diz: O Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de eqüidade é o cetro do teu reino. Amaste a ju stiça e aborreceste a in iqüidade; p or isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros. Hebreus 1.8,9

Essa passagem assinala outro passo na gradação de pensamento do autor da Epístola a respeito da dignidade do Filho. Primeiro, há uma referência à gloriosa volta de Cristo, depois uma descrição de Sua majestade e de Seu poder como Rei, e agora uma alusão ao esplendor de Seu Reino milenar. Esta citação é do Salmo 45, que tem sido con­ siderado como inteiramente messiânico. O Targum caldaico interpreta o segundo versículo assim: “A tua beleza, ó Rei-Messias, é maior do que a dos filhos dos homens” (SI 45.2), enquanto Teodureto, falando pela Primeira Igreja Cristã, disse: “Este é um salmo do Amado, isto é, para o amado Filho de Deus”. O autor da Epístola aos Hebreus endossa, de maneira enfática, o Salmo, citando os versículos 6 e 7 na íntegra. Três coisas lhe desper­ tavam a atenção: a perpetuidade do Reino, o Reinado justo do Rei e a unção com óleo de alegria. 1— A perpetuidade do Reino está expressa nas palavras: O teu trono subsiste pelos séculos dos séculos (Hb 1.8a). Aqui o Filho é invocado como Deus — declaração de grande significado. Observou Lowrie: É digno de nota que, no versículo 8, o autor não hesite em escrever inequivocamente: O Deus, dirigindo-se ao Filho, no vocativo. E à medida que entretece a linguagem citada, envolve de

tal modo o versículo 9 que se conserva a mesma construção ali e temos de ler: Deus, o teu Deus. A aplicação, nos versículos 10-12, da linguagem originalmente usada para Deus está no mesmo espírito. Os versículos 8-12, portanto, são testemunho apostólico do mais inequívoco da divindade de Jesus Cristo”. (L o w r ie , An explanation o fth e Epistle to the Hebrews, p.23,24)

Aqui encontramos também outro contraste entre o Filho e os anjos. O Filho tem um trono divino; os anjos, nenhum. Ele é o seu Senhor; eles são Seus súditos. 2 — A justiça do Reino se baseia no verdadeiro caráter do Filho, como se vê em Sua humilhação: Amaste a justiça e aborreceste a iniqüidade (Hb 1.9a). Nos versículos que precedem a passagem do Antigo Testamento, o salmista descreve a majestade do Rei em linguagem inflamada: Cinge a tua espada à coxa, ó valente, com a tua glória e a tua majestade. E neste teu esplendor cavalga prosperamente (Sl 45.3,4a). Esta exibição bélica não é meramente por causa da posse do poder, mas, como o salmista tem o cuidado de acrescentar: Pela causa da verdade, da mansidão e da justiça (Sl 45.4b). Em suma, a glória do reinado de Cristo está no fato de que Ele é uma influência moral sobre os súditos. Ele é o Fundador de um Reino de justiça. Em todo o Seu Reino, onde quer que Ele empunhe o cetro, é um cetro de justiça, e todos os tronos e domínios, humanos e angélicos, exercem justo poder sob o Seu Reinado majestoso de justiça. 3 — A unção com óleo de alegria sobre os Seus companheiros simboliza, para o autor da Epístola aos Hebreus, o Cristo a quem o Espírito foi concedido sem medida. Primeiro ele falou de Cristo como Rei eterno e como Rei de justiça; agora o apresenta como Rei ungido.

Existem duas palavras que significam unçáo: uma vem do verbo aleipho (óAeíG©), que significa ungir com óleo, festiva ou medicinalmente, ou como homenagem a alguém; a outra é de chrio (xqlO), que se refere à concessão de poder, como no caso de sacerdotes ou reis. No Novo Testamento, esta última sempre se refere à unção do Espírito Santo, o qual, durante a vida do Senhor na terra, teve lugar quando do Seu batismo. Foi, então, que Ele ingressou oficialmente em Seu ministério. Logo, o significado das duas palavras parece estar presente nas expressões óleo de alegria ou óleo de gozo. Contudo, Cristo não foi ungido somente com o óleo de alegria acima de Seus companheiros; foi ungido também para dar o óleo de alegria, em lugar de pranto (Is 61.3 n v i ) . A palavra echrisen (éxQLcr£v), ungido, conforme é usada no texto, parece provir da cerimônia de co­ roação de um soberano com alegria, como em um banquete real. As­ sim, o autor da Epístola tornou claro que Cristo foi ungido pelo fato de ter amado a justiça e aborrecido a iniqüidade. Esta justiça não era Sua apenas por causa de Sua divindade, mas também por causa de Sua fidelidade [ao Pai] na terra. Igualmente, o trono foi Seu por ser Ele o herdeiro de todas as coisas. Mas, como Filho do Homem, foi exigido de Cristo que o con­ quistasse de novo. Assim, pois, quando da ascensão, sentou-se à destra do Pai, e devemos considerar a unção dele como a consumação da Sua glória real; como a ocasião em que Ele recebeu a promessa do Pai. Foi a este respeito que Pedro falou no sermão do Pentecostes, quando disse: De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis (At 2.33). O dom do Espírito Santo, então, é dádiva de Cristo para a Igreja, e não para o mundo. Esta verdade, que é tão claramente apre­ sentada no Evangelho de João, aparece na expressão: Por isso, Deus, o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria, mais do que a teus companheiros (v. 9b). A palavra companheiros vem de metochos (jjéxoxoç), que significa participante, sócio ou associado e, embora

seja aplicada aos anjos, pode também aplicar-se àqueles que Cristo redimiu de pecados. Em suma, como Ele próprio foi ungido com óleo de alegria, do mesmo modo, unge o Seu povo, pois o Seu Reino é um reino de justiça, paz e alegria no Espírito Santo. às v e z e s

6.

O Filho de Deus e a imutabilidade do Seu Reino E: Tu, Senhor, no princípio, fundas$e a terra, e os céus são obra de tuas mãos; eles perecerão, mas tu permanecerás; e todos eles, como roupa, envelhecerão, e, como um manto, os enrolarás, e, como uma veste, se mudarão; mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão. Hebreus 1.10-12

Esta passagem é uma citação do Salmo 102 ( n v i ) , que tem por título: Oração do aflito que, desfalecido, derram a o seu queixume perante o Senhor. E o apelo de um exilado que, do profundo de sua aflição, espera confiantemente de Jeová a Sua intervenção em favor de Sião. No texto da Septuaginta, usado pelo autor da Epístola, a pala­ vra Senhor se encontra na primeira parte da sentença (Sl 102.1), dando origem à tradição de que Deus estava assim se dirigindo ao Messias como Deus. Este é claramente o parecer do escritor. O Salmo encontra seu cumprimento perfeito, nos sofrimentos de Cristo. O clamor do aflito, seu momento de maior intensidade nas palavras: Deus meu, não me leves no meio dos meus dias (Sl 102.24a). Que semelhança com o clamor agonizante do Salvador no Getsêmani, ao enfrentar a ignomínia da Cruz! Em meio ao forte clamor e às lágrimas, vêm as palavras reconfortantes: Tu, cujos anos alcançam to­ das as gerações (Sl 102.24b), novamente se dirigindo a Deus. A seguir, enaltecendo a preexistência eterna do Criador dos céus e da terra, [o salmista] lembra: Desde a antiguidade fundaste a terra; e os céus são obra

das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás (Sl 102.25,26a). Elas serão enroladas por Ele como roupas e serão transformadas, mas Deus é para sempre o mesmo, e os Seus anos jamais terão fim (v. 26b,27). Existe em Hebreus 1.1-12, como nas citações anteriores, um notável progresso na linha de pensamento, que reside no fato de que, como Jesus enfrentou a morte e triunfou sobre ela, sendo gerado em uma ordem nova e eterna, assim também, como Criador, tem poder para transformar os céus e a terra, para que se harmonizem com esta nova ordem de ser. Cristo é asprimícias dos que dormem (1 Co 15.20b). Na ressurreição, os santos receberão um corpo como o corpo glorioso, imortal e incorruptível de Cristo. Essa nova ordem exige um novo ambiente. Como um vestido, os céus e a terra atuais envelhecerão; já terão cumprido a sua finali­ dade. Mas Cristo, que sempre teve poder para dar a Sua vida e para tornar a tomá-la, tem poder também para enrolar a presente ordem qual um vestido, transformá-la e, a partir dela, inaugurar, segundo a Sua promessa, novos céus e nova terra, em que habita a justiça (2 Pe 3.13b). Mas, seja na crise da morte, seja na do universo, nosso Senhor permanece imutável e inalterado. j

------A palavra diam enein (2>UX|J.£V£rv) indica a permanência, em uma só condição, ao longo de todas as vicissitudes do tempo (Sl 119.90; 2 Pe 3.4). As Escrituras, na verdade, ensinam um telos (T£ÀOÇ), o fim do mundo (Mt 24.14), uma transformação da forma presente (CXXT] (_i£X) (1 Co 7.31); o passar do céu e da terra (Mt 5.18; Lc 21.33; 1 Jo 2.17; Ap 20.11); a dissolução dos elementos (2 Pe 3.12), mas, de modo algum, ensinam o aniquilamento de sua existência, mas antes uma regeneração, um novo nascimento do mundo, com a transformação que naturalmente o acompanhará. A doutrina da eternidade do mundo deve igualmente ser repudiada com a do aniquilamento futuro. Sua transformação em uma for­ ma de existência nova e mais nobre, por intermédio do mesmo

Senhor, é efetuada, e isso de acordo com o propósito e a von­ tade divina, de sorte que a sua destruição não deve associar-se à exaustão das forças prim itivas, operada pela corrupção natural do tempo, nem por quaisquer ciclos regulares de revolução, pelos quais, a intervalos definidos e de acordo com leis imutáveis, a criação se resolva em seus elem entos e seja remodelada em novas formas e combinações para outras finalidades. (Lange , Commentary

on Hebrews, p. 41)

*

-------r

Assim como o mundo não foi criado por uma evolução natural, também não será transformado por um processo de exaustão. Como o corpo natural do homem há de transformar-se em um corpo glorificado pela ressurreição operada pelo Senhor, assim também a terra (da qual o corpo do homem foi criado) passará por uma transformação semelhante, envolvendo tanto o mundo físico, que será glorificado, como a ordem moral, pois na nova terra habitará a justiça. 7.

O Filho de Deus e a consumação triunfal E a qual dos anjos disse jam ais: Assenta-te à minha destra, até que ponha os teus inimigos por escabeb de teus pés? Não são, porventura, todos eles espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação? Hebreus 1.13,14

Essa citação final é do Salmo 110, a respeito do qual disse uma vez Lutero que “era digno de ser recoberto de pedras preciosas”. Este é o Salmo que menciona o sacerdócio de Cristo segundo a ordem de Melquisedeque, ao qual o escritor da Epístola dá muita atenção nos capítulos posteriores de Hebreus. E também aquele sobre o qual Jesus meditou e que citou aos fariseus para provar que o Messias era o Senhor de Davi. O mesmo texto foi citado

por Pedro no Dia de Pentecostes como prova da ascensão de Jesus e do prometido dom do Espírito Santo (At 2.33-35). Foi mencionado duas vezes nesta Epístola (Hb 1.13; 10.12,13). E evidente que a alusão em Hebreus 10.12,13 não é apenas ao Logos eterno ou Filho preexistente, mas ao Filho encarnado, o qual, mediante Sua humilhação, morte e ressurreição, voltou ao trono de Seu Pai; e no trono de honra, à destra do Pai, espera até que Seus inimigos sejam feitos estrado dos Seus pés no Dia de Sua segunda e gloriosa aparição. A respeito da promessa Até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seuspés (Hb 1.13b n v i ) surge a questão: o autor da Epístola pretendia assinalar o término do ministério intercessório ou referia-se meramente à consumação do triunfo anterior? Paulo, em sua Primeira Carta aos Coríntios, evidentemente se referiu a isto quando disse: Depois, virá o fim , quando tiver entregado o Reino a Deus, ao Pai, e quando houver aniquilado todo império e toda potestade e força. Porque convém que reine até que haja posto a todos os inimigos debaixo de seus pés (1 Co 15.24,25). O Reino que o Filho entregará ao Pai tem de ser tomado por força. No estágio inicial, é o Reino da graça no coração dos crentes; na sua consumação, é o Reino de glória, inaugurado no segundo advento de Cristo. O presente Reino da graça é a prepa­ ração para o vindouro, da glória. Ou seja, as profecias messiânicas não se cumprirão de maneira cabal até que tenha sido removida toda a maldição do universo criado e o domínio perfeito de Deus seja restabelecido, pois como observou Lange: “A cristocracia é a forma plenamente revelada de teocracia que abrange o mundo todo”. Paulo fez outra declaração: E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas [a Cristo], então, também o mesmo Filho se sujei­ tará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, p ara que Deus seja tudo em todos (1 Co 15.28). Aqui devemos entender que a referência não é ao Filho como o Logos eterno, mas ao Filho como o Cristo

encarnado, cuja dispensação redentora chegará ao término quan­ do de Sua segunda vinda. Ele virá, então, não mais como oferta pelo pecado, mas como Juiz para julgamento, e o governo deste mundo voltará a ser aquele que existia antes do presente primado de misericórdia. Deus será tudo em todos, e a Trindade reinará em um universo completamente redimido e restaurado; uma pátria melhor, a cidade que tem fundam entos, da qual o artífice e construtor éD eus (Hb 11.10). Finalmente, em Hebreus 1.14, temos g menção dos anjos como espíritos ministradores, enviados para servir àqueles que serão os herdeiros da salvação. Existe uma distinção aqui. A primeira palavra para ministrar é leitorgika (ÀeixouQyiKá), que indica um serviço sagrado ou litúrgico (Hb 8.6— 9.21); enquanto a segunda palavra é diakonian, ( ó i a K O V i a v ) , que denota ajuda pessoal. Eis como se poderá bem traduzir a frase: Espíritos ministradores, envia­ dos p ara serviço. O particípio presente apostellomenoi (aTiocrT£ÀAó|j£voi) signi­ fica habitualmente enviados, isto é, comissionados para servir naquela forma habitual de ação que provém de sua natureza e corresponde ao seu destino. A súmula do argumento, portanto, é que Cristo é maior do que os anjos, porque é o Filho de Deus encarnado; os anjos são apenas espíritos ministradores que refletem o cuidado providencial do Senhor para com os remidos. Jacó teve a visão de anjos de Deus subindo e descendo; o servo de Eliseu, com os olhos espirituais abertos por Deus pela oração do profeta, viu montanhas cheias de carros dos exércitos celestiais e os Seus cavaleiros. Sem dúvida, se os nossos olhos assim fossem tocados pelo Senhor, também veríamos o que o autor da Epístola aos Hebreus ensinou tão claramente: que os ares estão cheios de anjos como mensageiros de misericórdia, servindo ao povo de Deus. As Escrituras estão cheias de alusóes aos anjos, o que deveria dar-nos uma nova visão do cuidado protetor de Deus. O anjo do Senhor

;

acampa-se ao redor dos que o temem, e os livra (Sl 34.7). Porque aos seus anjos [o Senhor] dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos (Sl 91.11). Os anjos vieram e serviram Jesus após a Sua tentação no deserto (Mt 4.11). Eles também nos servem nos mo­ mentos cruciais, quando Deus envia ajuda do alto.

*

N o ta s 1 —-

O aoristo é um aspecto verbal na língua grega usado para exprimir uma ação pura e simples (aspecto zero, momentâneo ou pontual). No particípío passado, como é o caso no versículo, denota que a ação ocorreu em um certo momento náo especificado do passado. (Fonte: http:// pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%ADngua_grega_antiga)

2—

O aoristo exprime a açáo pura e simples sem que se cogite a duração ou o término dessa ação. O aoristo indicativo exprime um fato passado, tio qual a duração breve ou longa não tem nenhu­ ma importância para o sujeito falante. Ao empregar o aoristo, o sujeito falante objetiva apenas a ação em si mesma, sem lhe importar o grau de conclusão da mesma. (Fonte: http://www. filologia.org.br/anais/anais%20III%20CNLF33.html)

^__língua grega, as desinências unidas à raiz da palavra (afixos) indicam, além do gênero e do nú­ mero da palavra, a função sintática dela na f r a s e . Basicaniente, o nom inativo é o c a s o do sujeito; o acusativo marca a extensão no tempo e no espaço; o dativo, a atribuição; o genitivo, a origem. A c u s a tiv o ,

dativo

O caso dativo

é u m

e

genitivo podem ser complementos verbais ou complementos nominais. caso

gramatical geralmente usado para indicar o nome

a

que algo

é

dado.

O termo deriva do latim dativus, significando próprio ao ato de dar. A coisa dada pode ser um objeto tangível — como um livro — ou alguma coisa abstrata, intangível, como uma resposta ou uma ajuda. O dativo geralmente marca o objeto indireto de um verbo, embora em alguns casos seja usado para o objeto direto de u m verbo diretamente relativo ao ato de dar algo. (Fon­ te: http://wapedia.mobi/pt/Caso_dativo) 4__

O caso genitivo é um caso gramatical que indica, uma relação, principalmente de posse, entre o nome no caso genitivo e outro nome. Em um sentido mais geral, pode-se pensar esta relação de genitivo como uma coisa que pertence a algo, que é criada a partir de algo, ou de outra maneira derivando de alguma outra coisa. (Fonte: http://wapedia.mobi/pt/Caso_dativo)

2 A HUMANIDADE E A HUMILHAÇÃO DE CRISTO

imos que o primeiro capítulo da Epístola aos Hebreus trata da majestade do Filho de Deus, quer no Seu es­ tado antigo, quer nas Suas relações pessoais com o Pai. Alé vê-se que o Filho é maior do que os anjos em dignidade mesmo no estado encarnado ou intercessório. O escritor da Epístola considera agora outro aspecto de Cristo — não a Sua divindade, mas a Sua humanidade como o Filho do Homem em relação ao mundo dos homens. Este capítulo de Hebreus se inicia com uma admoestação e uma advertência: Portanto, convém-nos atentar, com mais diligência, para as coisas quejá temos ouvido, para que, em tempo algum, nos desviemos delas (Hb 2.1). A conjunção portanto, ou a expressão por esta razão ( a r a ) , liga o ensino do primeiro capítulo a respeito da glória do Filho e Sua suprema dignidade como Mediador à admoestação para com mais fir ­ meza ( a r a ) , o u com mais diligência ( a r c ) , apegarmo-nos às coisas que foram ouvidas não apenas por causa da superioridade da própria revelação, mas também por causa da suprema grandeza do Revelador divino.

V

O advérbioperissoteros (71£qictctot£QOç), mais abundantemente, está na forma comparativa e indica, como observou Westcott, o exces­ so absoluto, em vez de meramente relativo. O autor da Epístola aos Hebreus se deteve, então, e reiterou as conseqüências práticas desta grande verdade. Lowrie fez a seguinte tradução e comentário: A ------------------

“Por esta razão, devemos mais abundantemente dar ouvidos (ou atenção) às coisas que foram ouvidas, para que, por acaso, não nos desvie­ mos delas”. A expressão mais abundantemente denota comparação, mas não se trata de atenção mais zelosa do que fora dada à revelação anterior nem mais do que seria necessária se a presente revelação tivesse sido feita por um agente não superior aos agentes anteriores. Existe progresso no pensamento no sentido de um motivo adicional paia ouvir, derivado do que se descreveu quanto ao serviço dos anjos. O significado é: mais abun­ dante atenção do que seria necessária se o anjo não fosse incumbido de tal serviço.

(L o w r i e , An

explanation o f the Epistle to the Hebrews, p.

31)

— -—r P

r im e ir a a d v e r t ê n c ia : c o n t r a a n e g l ig ê n c ia

Portanto, convém-nos atentar, com mais diligência, para as coisas que j á temos ouvido, p ara que, em tempo algum, nos desviemos delas. Hebreus 2.1 Esse aviso contra a negligência é o primeiro de uma série de advertências com significado cada vez mais profundo espalhadas pela Epístola. A veemência crescente destes avisos assinala os estágios de de­ clínio natural nas coisas espirituais e pode somente provar ser de valor para aqueles que guardam firm e a confiança e a glória da esperança até ao fim (Hb 3.6b). A advertência se encontra em meio à discussão sobre os anjos e separa o argumento da primeira parte, em que Cristo é apresentado

superior a eles (Hb 1.4-14), da última parte, em que os anjos são considerados superiores aos homens (Hb 2.5-7). Stuart (p. 285) disse que a palavra negligência (áfi£Àf)(javT£ç) é claramente enfática e significa tratar com completo desrespeito ou desdém, qual o que faz, supor a apostasia. A palavra salvação (ctcott)QÚx) refere-se à religião cristã com todas as suas bênçãos prometidas e tre­ mendas ameaças. com o

1.

O significado do termo negligência

*

A palavra amelesantes (àfi£ÀTÍaavT£ç), traduzida como negligência, significa literalmente desviar-se, apartar-se ou errar o alvo, como “um navio que, na violência dos elementos, não consegue chegar ao porto” (Lutero). A------A idéia não é simplesmente de esquecimento, mas a de ser arre­ batado quando se estava perto de ancoradouro seguro. A imagem é singularmente expressiva. Todos nós estamos continuamente expostos à açáo de correntes de opinião, de hábitos, de ações, que tendem a arrebatar-nos da posição em que devíamos manter-nos. (W e s t c o t t , Commentary on the Epistle to the Hebrews) --- r

Vaughan observou que essa palavra [amelesantes, negligência] designa o descaso dos convidados para as bodas, na parábola contada por Jesus em Mateus 22.5, e traz em si a ideia de menosprezo, mais do que a noção de recusa ao convite. No caso dos cristãos judeus, suas recorrentes associações às tra­ dições judaicas levavam-nos de volta ao judaísmo, o sistema religioso a que tinham renunciado para abraçar a fé cristã. [Por isso, ao instar que os cristãos judeus atentassem com mais diligência para as coisas que tinham ouvido sobre Cristo e a salvação] Advertiu o escritor da Epístola de que um dos maiores perigos para o cristão é precisamente

estar ocioso em Sião, deixando que a alma fosse removida aos poucos, imperceptivelmente, dos hábitos de oração, meditação, comunhão es­ piritual, perdendo a clara consciência da presença de Deus. Como um quadro que desbota, a experiência cristã [sem a diligência quanto às coisas espirituais] vai tornando-se sutilmente vaga e insatisfatória. Esse fato leva a crer que um número maior de almas se arruina ao desviarse, descuidada e inconscientemente, de sua ancoragem, mais do que as que são tomadas por súbitos conflitos satânicos. 2.

A palavra falada por anjos ( H b

2 .2 )

Porque, se a palavra falad a pelos anjos permaneceu firm e, e toda transgressão e desobediência recebeu ajusta retribuição. Hebreus 2.2 A comparação entre Cristo e os anjos continua neste trecho, mas sob um ponto de vista diferente. Não é uma comparação entre duas classes de sujeitos. Propõe-se, porém, a salientar a grande diferen­ ça essencial entre suas manifestações. A principal característica da instrumentalidade dos anjos, que o autor da Epístola sugere, é a de proibições e ordens, pois isto se acha implicado nas palavras transgressão e desobediência (Hb 2.2). Os israelitas haviam recebido justo castigo, pelo qual o autor da Epístola evidentemente dá a entender os julgamentos punitivos que lhes foram infligidos durante o período da peregrinação no deserto (Hb 3.7-19). Contudo, a obra de Cristo, o Filho, é de salvação, daí ser adiante expressa como tão grande salvação (Hb 2.3a). O contraste entre as palavras faladas pelos anjos e por Cristo traz em si a mesma ideia que os termos Lei e graça, usados no sentido mais abstrato por Paulo na Epístola aos Gálatas. Em Hebreus, todavia, os termos anjos e Cristo são mais concretos e pessoais. Como a Lei foi o mestre-escola para levar-nos a Cristo, a dispensação dos anjos, que introduziu a Lei com todas as suas gloriosas sanções, foi a preparação

para a obra do Filho de Deus. E, como a Lei foi dada pela dispensaçáo dos anjos, assim também foram eles incumbidos da sua execução. Isso foi ilustrado com clareza por duas parábolas de Jesus: (1) a do joio: M andará o Filho do Homem os seus anjos, e eles colherão do seu Reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes (Mt 13-41,42); e (2) a da rede, em que nosso Senhor diz: Assim será na c o n su m a ç ã o dos séculos: virão o s anjos e separarão os maus dentre osjustos. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes (Mt 13.49,50). Está claro que os anjos reunirão os ímpios para o castigo, de sorte que se pode dizer, em certo sentido real, que &grande salvação de Cristo é uma concretização da palavra falada pelos anjos e a redenção, pela graça, daqueles que estão sob a Lei. O vocábulo transgressão, parabasis (naçá^ aoLç), vem da raiz da palavra para-baino (uapapcúvov). Significa cruzar a linha, trans­ gredir, e também partir ou desertar (At 1.25). O termo desobediência, par-akoe (u a Q -a K Ó r)), provém de par-akouo ( í ia ç - a K O Ú c j) , que sig­ nifica ouvir negligentemente ou com desrespeito (Mt 18.17). O justo castigo (Hb 2.2b a r a ) foi para aqueles que cruzaram a linha, trans­ grediram; desertaram da fé; que ouviram com negligência a palavra anunciada pelos anjos. O autor da Epístola indaga: Como escaparemos nós, se não aten­ tarmos para uma tão grande salvação? (Hb 2.3a). F. B. Meyer chamou essa colocação de a “pergunta irrespondível”. Não existe possibilidade de fuga. Os olhos divinos veem todo pecado, e todo pecador está debaixo da ira de Deus. Onde o sangue do cordeiro não estava na ombreira das portas, morreu o primogênito de toda família do Egito; quando os israelitas se recusaram a entrar na Terra Prometida, os seus corpos caíram no deserto. Alguns pressupõem haver uma indevida brandura na religião neotestamentária, isto é, a crença de que um Deus de amor não pu­ nirá a impiedade e que a fé é somente uma consciência luminosa de

que tudo, de algum modo, há de terminar bem. Ao contrário, a vida crista é severa e intensa, o oposto mesmo da divagação nas correntes deste mundo. Se os da dispensação antiga, a quem Deus falou por intermédio dos profetas, foram punidos com cruel destruição por seus pecados, como esperaremos nós, que vivemos na dispensação daquele que é a Luz do mundo e o Autor de táo grande salvação? E a advertência não se refere apenas às transgressões e aos pe­ cados realmente praticados; é especificamente contra o simples desviar-se. Não dispensar a devida atenção, deixar de confiar no sangue de Jesus que expia os pecados, não dar a Deus Sua medida plena de devoção — são estas coisas que não somente tornam a fuga do juízo impossível, mas intensificam a severidade do castigo para aqueles que negligenciam tão grande salvação.

A GRANDE SALVAÇÃO Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salva­ ção? A qual, tendo sido anunciada inicialm ente pelo Senhor, foi-n os depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntam ente com eles, p or sinais, prodígios e vários milagres, e p or distribuições do Espírito Santo segundo a sua vontade. Hebreus 2.3,4 a ra Faber, com seu profundo espírito devocional, disse: j ------Salvação! Que música existe nesta palavra; música que sempre desperta, ainda que sempre nos repouse! É-nos vigor durante as manhãs e paz ao anoitecer. É uma canção que está sempre soando no mais profundo da alma satisfeita. Os ouvidos angélicos são ar­ rebatados por ela no céu, e mesmo o nosso Pai eterno a ouve com adorável satisfação. E agradável a Ele, cujo espírito é a música de milhares de mundos. Que significa ser salvo no sentido mais

completo e absoluto? O olho não viu, e o ouvido não escutou. É salvação, e de que naufrágio! É descanso, e em que mansão inima­ ginável! E reclinar para sempre no seio de Deus em um êxtase sem fim de contentamento insaciável. —



r

Esta tão grande salvação é a resposta a todos os problemas huma­ nos. Nasceu da majestade do Filho à destra do Pai; ocorreu mediante o sangue expiatório de Jesus e foi administrada na Igreja pelo Espírito Santo como o dom do Cristo glorificado. E our|£vr|v), dispensação. E, como observamos no capítulo anterior, isso se dará na terra ha­ bitável. É possível, pois, que se refira ao Milênio, sendo o mundo que há de vir a terra renovada e redimida da maldição (do pecado) e completamente sujeita ao Filho do Homem. Esta segunda vinda de Cristo será súbita e gloriosa: Porque, assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até ao ocidente, assim será também a vinda do Filho do Homem (Mt 24.27). Deve-se compreender, então, que não apenas Cristo, como o Unigênito, é maior do que os anjos, mas que o homem em Cristo é também superior, porque lhe é possível ter íntima comunhão com Deus, uma potencialidade que não pertence aos anjos [O novo homem possui a natureza de Cristo, sendo um com Ele e, consequentemente, com o Pai, o que não ocorre com os anjos. Ver Jo 17.21], Essa superioridade do homem em Cristo sobre os anjos encontra-se em Hebreus 1.14: Não são porventura todos eles [os anjos] espíritos ministradores, enviados para servir a favor daqueles que hão de herdar a salvação? Quando o homem se assentar com Cristo no Seu trono, continuará sendo servido pelos anjos. Um passo além na transição dos anjos, como mediadores, para o novo homem, como mensageiro da Palavra de Deus, encontra-se na admiração do salmista de que Deus visite a fragilidade do homem: Mas, em certo lugar, testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? (Hb 2.6; compare com SI 8.4).

Esse versículo foi tirado da Septuaginta palavra por palavra, ex­ ce to uma expressão que foi omitida. E provável que a omissão se deva ao fato de ser mera repetição da última expressão, e não se encontre no texto original, escrito em hebraico. A identificação vaga nas palavras em certo lugar, testificou alguém, de maneira alguma implica que o escritor da Epístola fosse ignorante quanto à identificação própria; trata-se, antes, de um tributo à familiaridade dos judeus com suas próprias Escrituras. Esta ausência de caracterização se encontra em Hebráas 4.4 (e também foi usada nos escritos de Fílon6). Crisóstomo7 disse que [a expressão em certo lugar, em Hebreus 2.6] “não pretende esconder nem revelar aquele que testifica, porém, in­ dica que a fonte era bem conhecida pelos leitores versados nas Escrituras”. Acima de tudo, é questão irrelevante para o autor da Epístola quem disse tais palavras; elas se encontram nas Escrituras Sagradas e são, portanto, a Palavra inspirada de Deus. Este é o fato de importância absoluta. Para referir-se ao homem, é usada uma palavra que indica um serfrágil, talvez o homem depois da Queda. Isto apenas aumentaria a admiração do salmista de que Deus visitasse o homem. Os termos homem e Filho do Homem talvez sejam usados para formar o paralelismo poético tão comum na literatura hebraica. Surge a pergunta: Por que o escritor da Epístola usou o Salmo 8, em vez de a declaração sobre a criação do homem que se encontra em Gênesis 1.26-28? E porque no primeiro texto se encontra a palavra anjos, que o au­ xilia em sua tarefe de marcar o contraste que estamos analisando. No Salmo 8.5b, a distinção entre os anjos e o homem torna claro que este tem uma glória peculiar. Isto destrói a suposição que poderia ser feita sobre a declaração que se encontra na primeira parte do versículo, de que o homem é pouco menor do que os anjos, ou seja, de que tudo o que concerne aos assuntos humanos estaria sujeito aos anjos. Não, o homem pertence a uma [espécie e] hierarquia distintafs], tem um campo de atuação próprio, e estas coisas, bem como o seu domínio sobre tudo o que foi criado, são o motivo de ele ser coroado com glória e honra.

O H OM EM NO SEU ESTADO O RIG IN A L, COM O D E U S O FEZ

Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras de tuas mãos. Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Hebreus 2.7,8a

1. Tu ofizeste um pouco menor do que os anjos (Hb 2.7a) No texto hebraico do Salmo 8.5, a palavra anjos é elohim , às vezes traduzida como filhos de Deus ou deuses [ver SI 82.1; 86.8]. A palavra hebraica comum para anjos é m alak ou mensageiro, e o uso de elohim neste lugar pretendia evidentemente dar a ideia de anjos como seres sobrenaturais. Em uma tradução literal, o texto hebraico seria: “Tu o fizeste menos que Deus” [como vemos na n t l h ] , mas o autor da Epístola aos Hebreus cita o texto da Septuaginta, onde se lê: um pouco inferior aos anjos. Nosso Senhor Jesus, na controvérsia com os judeus, confir­ mou a primeira interpretação quando citou um versículo do Salmo 82: Eu disse: sois deuses? Se ele chamou deuses àqueles a quem fo i diri­ gida a palavra de Deus, e a Escritura não pode falh ar, então, daquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, dizeis: Tu blasfemas; porque declarei: sou Filho de Deus? (Jo 10.34-36; SI 82.6a a r a ) . É provável que o significado real das palavras um pouco menor do que os anjos seja algo acim a da natureza, porém menor que Deus, daí o uso da palavra anjos na Septuaginta. Todavia, esta tradução não revela com tanta força como em hebraico a ideia da natureza divina expressa na frase: O homem fo i criado à imagem e semelhança de Deus — palavras jamais pronunciadas a respeito de outra criatu­ ra, seja no céu, seja na terra. As palavras brachu ti (|3ç>axú t i ) , literalmente, um pouco, podem significar ou um pouco de tempo ou em menor grau. Westcott

e o u tr o s nossa

sustentaram que se referem ao grau, e esta parece ser a

primeira impressão ao ler o texto ou o Salmo do qual foi tirado,

jvíuitos comentadores, contudo, opinam pelo aspecto temporal, su ste n ta n d o

que p o r um p o u co se remete

à

condição atual do homem,

mas não ao seu alvo final, que, em Cristo, transcenderá até a glória dos anjos. O verbo fiz este , elattosas

( r )À á T 7 m jc r a ç ) ,

é curioso por conter

a ideia de aumento daquilo que foi originalmente criado. E o mesmo verbo que João Batista usa quando diz: £ necessário q u e ele cresça e qu e eu dim in u a (Jo 3.30).

A despeito de os anjos serem dotados de maiores dons do que o homem e de terem um corpo espiritual, não sendo limi­ tados pela matéria, como o homem (2 Co 4 .7 ), este terá algo em comum com os anjos: a imortalidade. Foi o que nosso Senhor dei­ xou claro quando, ao falar dos filhos da ressurreição, disse: P o rq u e j á não p o d em m ais m orrer, p o is são ig u ais aos an jo s (Lc 20.36ab ). A

expressão um p o u c o m en o r [em Hebreus 2 .7 ], portanto, aplica-se mais provavelmente ao homem no estado decaído, estando sujeito à morte. Existem dois outros pontos a serem ressaltados sobre esse texto: 1. O fato de o homem ser comparado aos anjos indica que ele está mais intimamente relacionado com a ordem espiritual acima dele do que com a abaixo dele. Isto é prova de sua filiação divina, e contraria a visão do homem como fruto de um mero processo natural [de evolução da espécie]. 2. O homem pertence a uma categoria e tem uma glória pecu­ liar, que é distinta da dos anjos e, em sua finalidade última, transcende a deles. O homem é capaz de receber o Salvador na pessoa do Filho de Deus, que encarnou como ser humano, e, mediante Ele, entrar em uma comunhão íntima com Deus que os anjos jamais conheceram nem podem conhecer.

2. De glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as obras de tuas mãos (Hb 2.7b) Ser coroado significa ser elevado à mais alta posição possível. Nas Escrituras, existem duas palavras que significam co ro a : diadema ( ò iá - 5 T ] ( j.a ) ,

que sempre simboliza realeza, e stephan os

( a T £ ( j) a v o ç ) ,

que significa g rin a ld a fe s tiv a de vitória ou realização. E neste último sentido que a palavra é usada aqui: coroado como conquistador. Ser coroado de glória traz em si a ideia de verdadeira dignidade e esplendor externo; ser coroado de honra sugere a alta estima devida à excelência verdadeira. Por causa desta coroação de glória e honra, Deus colocou o homem sobre todas as obras das Suas mãos, dando, assim, o toque supremo à superioridade do homem sobre o mundo criado.

3. Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio (Hb 2.8ab a r a ) O Salmo 8, do qual foram tiradas essas palavras, é um salmo pastoral. Davi, fitando a vastidão dos céus, contemplando a lua e as estrelas como obras das mãos de Deus, sentia a pequenez do homem e quão frágil este é em relação às forças da natureza. Entretanto, o Senhor o tem em mente e visita-o. Depois, olhando todas as ovelhas e bois, assim com o os an im ais d o cam po; as aves dos céus, e os p eix es do m ar, e tu do o q u e p assa p ela s ve­ redas dos m ares (SI 8 .7,8), o salmista, com a pena da inspiração divina,

escreveu: F azes com q u e ele [o homem] ten h a d om ín io sobre as obras das tuas m ãos; tu do pu seste d eb a ix o d e seus p és (SI 8.6).

O Dr. Adam Clarke observou que, se isto se referia ao homem, como obra das mãos do Criador, coloca-se à testa de todas as obras de Deus {T u o fiz es te um p o u co m en or d o q u e os an jos). Deus disse: T enha ele d om ín io sobre os p eix es d o m ar, sobre as aves dos céus, sobre os an im ais dom ésticos, sobre tod a a terra e sobre todos os répteis q u e rastejam p e la

terra (Gn 1.26

a ra ).

O homem, portanto, estava destinado a dominar

este mundo presente, bem como o vindourb. O D r. F. B. M eyer, com entando a condição original do homem, disse: Aí, tendes supremacia real! Era o plano de Deus fazer o homem Seu vice-rei e representante. Era rei em um palácio repleto de tudo para agradarlhe; monarca e soberano de todas as ordens inferiores da criação: o sol para trabalhar para ele como verdadeiro Hércules; a luâ a iluminar suas noites ou para guiar as águas em torno da terra nas marés, purificando os litorais; elementos da natureza para serem seus escravos e mensageiros; flores para perfumar as suas veredas; frutos para seu paladar; pássaros para cantar-lhe; peixes para alimentá-lo; animais para labutarem por ele e transportá-lo. Não um subserviente escravo, mas um rei coroado com a glória do poder e com a honra da supremacia universal. Só um pouco menor que os anjos, porque eles não têm, como o homem, o fardo da carne e do sangue. (M eyer ,

The way into the holiest, p. 42,43)

--- r

A respeito do homem após a Queda, lembrou Meyer: j





Sua coroa jaz no pó, sua honra se obscureceu e manchou. Sua soberania é fortemente disputada pelas classes inferiores da criação. Se as árvores o nutrem, é depois de diligente cuidado, e não raro o desapontam. Se a terra lhe proporciona alimento, é em resposta tardia a labores exaustivos. Se os animais o servem, é porque foram laborio­ samente domados e treinados, enquanto inumeráveis deles vagueiam pelas clareiras das florestas, desafiando-o. Se quer apanhar os peixes do mar ou os pássaros dos ares, tem de aguardar ardilosamente oculto. Alguns traços da velha soberania ainda se evidenciam no terror que o som da voz humana e um relancear de olhos inspiram nas criaturas inferiores, como nas façanhas do domador de leões e no encantador de serpentes. Pela maior parte, porém, a anarquia e a rebelião devastaram o belo reino do homem. (M e y e r , The way into the holiest, p. 42,43)

O HOMEM APÓS A QUEDA M as, ag ora, a in d a n ão vem os q u e todas as coisas lh e estejam sujeitas.

Hebreus 2.8c Nessas breves palavras, há de encontrar-se a história da Queda do homem em virtude da incredulidade e do pecado. Aqui, a aplicação total é ao homem em seu estado presente; as referências a Cristo não começam antes dos versículos seguintes. O domínio concedido ao homem ao ser criado e a sabedoria de que foi dotado para governar como “vice-rei” de Deus perderam-se por causa do pecado. A vontade do homem tornou-se perversa, o intelecto dele obscureceu-se, e as afeições ficaram alienadas; e, em virtude do medo da morte, toda a sua vida ficou sujeita à servidão. Existe, porém, mesmo aqui, um raio de esperança. A palavra ou to (o u tco ) , traduzida como a in d a n ão, também foi usada por Paulo

em 1 Coríntios 3 .2, e sugere que, apesar do pecado, a promessa poderá ser cumprida. Adiante, o escritor da Epístola aos Hebreus irá dizer-nos que, em um novo homem, a saber, Jesus, as palavras do salmista [SI 8] hão de encontrar, por fim, a plenitude, o seu cumprimento perfeito. Existem vislumbres proféticos disto na vida terrena de Jesus. Alguns milagres operados por Ele na natureza indicam o Seu poder transcendente. Por exemplo, Ele se dirigiu aos ventos e às ondas dizendo: C ala-te, a q u ieta -te (M c 4.39d ), e estes lhe obedeceram. Aos discípulos

que tinham trabalhado toda a noite, Jesus disse: L a n ça i a red e à d ireita d o barco e ach a reis [os peixes] (Jo 21.6b). Após fazerem isso, cardumes

inteiros encheram as tarrafas quase a ponto de romper os barcos. A figueira secou à Sua ordem (M c 11.14,20), e a água se transformou em vinho (Jo 2 .7 -9 ). A enfermidade e os demônios sentiram o poder de Jesus, e a morte não pôde conter o Senhor. N o fim de Sua vida terrena, deu a Grande Comissão aos discípulos, dizendo: E -m e d ad o todo o p o d e r no céu e n a terra (M t 28.18b). O escritor da Epístola aos

Hebreus apressa-se a falar de mais este triunfo em Cristo.

J e su s

com o

R epresen ta n te

do novo h o m em ,

OU DO HOMEM REDIMIDO Vemos, p orém , coroad o d e g ló ria e d e h on ra a q u ele Jesu s qu e fo r a fe ito um p ou co m en or d o qu e os anjos, p o r causa d a p a ix ã o d a m orte, p a r a qu e, p e la g raça d e D eus, provasse a m orte p o r todos.

Hebreus 2.9 Aqui, o escritor da Epístola, em uma s â declaração magistral, confronta todos os pontos de objeção à superioridade de Cristo em Seu estado encarnado. Que glorioso contraste! O homem, embora decaído em Adão, é redimido por Cristo. O Filho de Deus tomou sobre si a nossa natureza humana; por meio do Seu sofrimento e da Sua morte, alcançou a glória ao homem prometida. O que Ele realizou por nós pode ser nosso se estivermos unidos a Ele pelo Espírito Santo. Como o ser humano decaído em Adão é chamado de velho hom em , a raça redimida em Cristo é chamada de novo hom em , que, segundo D eus, é criad o em v erd ad eira ju stiça e san tid ad e (Ef 4.22-24;

Cl 3.9,10). Aqueles que ouviram Jesus e aprenderam dele receberam, portanto, a ordem de despir-se do velho homem e, por meior da re­ novação da sua mente, revestir-se do novo, em Cristo. Tudo o que o homem perdeu na Queda será cabalmente restaurado em Cristo e ainda mais lhe será dado, pois on d e o p eca d o abu n dou , superabu ndou a graça (Rm 5.20b).

Em Hebreus 2.8,9, ocorre um uso interessante de duas palavras gregas que significam ver, e a mudança de palavras não é desprovida de significado. No versículo 8, a palavra é horom en (oç>cD|uev), do verbo horan ( õ o á v ) , que significa o uso continuado da visão; enquanto, no

versículo 9, a palavra é blepom en ((3Aé7io^£v), que significa um exer­ cício particular da visão, como voltar a atenção para certa pessoa ou coisa. O que o escritor da Epístola estava, de fato, dizendo em Hebreus 2.9, portanto, é que o que vemos ou observamos constantemente diante

d e n ó s n ã o é o t o d o ; t e m o s d e v o lt a r o n o s s o o l h a r e f ix á - l o e m Je su s, v e n d o n e le a p r o m e s s a e a g a r a n t i a d o t r i u n f o fin a l d o h o m e m . M a s e sta s p a la v ra s n ã o s e a p l ic a m a p e n a s , e m s e u s e n t id o ú l t i m o e fin a l, à e r a v in d o u r a . S ã o t a m b é m a b a s e d a f é p e s s o a l p a r a o d e s e n v o lv im e n to d a e x p e r iê n c ia c r is t ã .

Em meio à fraqueza, perplexidade, dor e decepção, com as trevas e o desânimo à nossa volta, temos apenas de fitar os olhos em Jesus, que já está coroado de glória e honra, e lembrar que nós também participaremos dessa glória. Esta é a esperança decorrente de voltarmo-nos para Jesus em meio a um mundo confuso e decadente.

O PARALELO ENTRE O HOMEM E CRISTO Como o primeiro homem, Adão, deu origem ao homem natu­ ral, Cristo, o ú ltim o A d ã o , deu origem ao homem espiritual. O escritor da Epístola, então, coloca os dois [Adão e cristo] em oposição entre si, em uma passagem paralela: o homem em seu estado original, antes da Queda, e Cristo em Sua missão redentora. A respeito do homem, escreve ele: Tu o fiz este um p ou co m en or do qu e os anjos, d e g lória e d e h on ra o coroaste e o constituíste sobre as obras de tuas mãos. T odas as coisas lh e sujeitaste d eb aix o dos p és (Hb 2.7,8a). Em

seguida, sutilmente aponta a grande defecção: M as, agora, a in d a não vem os q u e todas as coisas lh e estejam su jeitas [a Cristo] (Hb 2.8c). Em

palavras mais sucintas ainda, diz: Vemos, p orém , coroad o d e g ló ria e de h on ra a q u ele Jesu s... (Hb 2.9a). O autor de Hebreus cita aqui o nome

do Salvador, e traça o paralelo entre este e o homem natural, lançando o fundamento da fé cristã: Jesus, o Ser divino-humano. Quanto ao homem natural é dito: F izeste-o, p o r um p ou co, m e­ n or q u e os an jos, d e g ló ria e d e h on ra o coroaste (Hb 2 .7

a ra ).

Jesus, sen­

do divino, foi feito humano. Vemos, p orém , coroad o d e g ló ria e d e h on ra a q u ele Jesu s q u e fo r a fe it o um p o u co m en or do q u e os anjos. P o r cau sa do sofrim en to d a m orte, p a r a qu e, p e la g ra ça d e D eus, p rov asse a m orte p o r todo hom em (Hb 2.9

a ra ).

As expressões um p o u co m en or q u e os an jos e coroado d e g ló ria e de honra (Hb 2.9a), conforme aparecem no Salmo 8, são consideradas

como predicados do homem; assim, também devem ser consideradas co mo predicados humanos de Jesus, visto que ambos foram o resultado

de um ato divino. No último caso, estas expressões, conquanto incluíam a humilhação e a exaltação de Cristo, são escritas com o objetivo primordial de provar que Ele foi tão verdadeiramente humano quanto Adão. Que existem distinções nos paralelos é verdade*, e estas serão abordadas agora.

1. Jesus, um pouco menor do que os anjos (H b 2.9) O escritor da Epístola aos Hebreus se volta agora para a porção restante do paralelismo, que ele introduz com as palavras Vem os, porém , [...] Jesu s , usando, de maneira significativa, o nome humano,

em vez daqueles títulos que usou anteriormente para Cristo, tais como o F ilh o, o P rim ogên ito e S en hor. Jesus, sendo a um tempo F ilh o d e D eus e F ilh o d o H om em , foi infinitamente superior aos anjos. Sendo assim, tornar-se momentanea­ mente inferior aos anjos [ao assumir a forma humana] significava para Cristo humilhação [de sua condição espiritual para material, limitada às contingências humanas]. Mas foi somente por meio de Sua encar­ nação, ao tomar voluntariamente sobre si a nossa natureza, que Ele pôde reivindicar e alcançar a glória que Deus prometera ao homem. Por outro lado, é tão-somente quando recebemos esta nova natureza de Cristo, tornando-nos templo do Espírito Santo, em virtude da obra redentora de Jesus na terra e no céu, que aquilo que Ele realizou por nós pode tornar-se, de fato, nosso. j_ — Assimilemos bem, logo no início dessa Epístola, a verdade de que o que Cristo age por nós como nosso Líder e Sacerdote, nosso Redentor, não é algo externo. Tudo o que Adão operou em nós foi

interiormente, por um poder que governa a nossa vida mais índma. E tudo o que Cristo efetua por nós, como Filho de Deus ou como Filho do Homem, é igual e inteiramente obra feita dentro de nós. E quando soubermos que Ele é um conosco, e nós um com Ele, como foi o caso de Adáo, saberemos quáo verdadeiramente o nosso destino irá realizarse nele. Sua unidade conosco é o penhor, nossa unidade com Ele é o poder de nossa redenção. (M urra y , The holiest ofa ll, p. 73,74) --------—r

2. Jesus, coroado de glória e de honra (Hb 2.9) As palavras do versículo 9 — p o r causa d o sofrim en to d a m orte — ligam-se à expressão ten do sid o fe it o m en or q u e os an jos ou a coroado d e g ló ria e d e h o n ra ? Se o fazem em relação à primeira, Jesus foi feito

um pouco menor do que os anjos para que sofresse a morte; se em relação à segunda, o significado é que Cristo foi coroado de glória e de honra por causa do sofrimento da morte. A primeira expressaria o propósito de Ele ter sido feito humano, e a segunda, a conseqüência do sofrimento que experimentou na morte. Ambas as interpretações são igualmente verdadeiras e encontram confirmação na Epístola aos Hebreus. Cristo recebeu uma glória dupla: uma por direito, a de tornarse hom em ; e outra pela graça de Deus, a de realização pessoal. Deve-se ter em mente que o uso que o escritor da Epístola faz do Salmo 8 depende inteiramente desta concepção. Essa glória dupla de Jesus é revelada com clareza na resposta à oração dele: P a i, g lo r ific a o teu n om e. E n tã o , v eio u m a v o z d o céu q u e d iz ia : f á o ten h o g lo r ific a d o e o u tra v ez o g lo r ific a r e i (Jo 1 2 .2 8 ). J á o ten h o g lo r ific a d o (com a glória concedida ao hom em na sua criação); o u tra v ez o g lo r ific a r e i (pela aceitação graciosa de Sua humilhação

e de Seu triunfo). Q ue são esta glória e esta honra? Evidentemente, a honra ■,. foi concedida a Ele pelo Pai, enquanto a glória é a Sua manifestação pessoal e consiste na aceitação de Sua m orte com o propiciação

adequa^2 pelos pecados de toda a humanidade. Isto nos conduz ao que pode ser chamado os vislum bres d a expiação, assunto que receberá extenso aatamento em dois capítulos de grande importância.

V is l u m b r e s

d a e x p ia ç ã o

Neste ponto, voltamo-nos para as expressões motivacionais do texto e perguntamos: Por que Jesus foi coroado de glória e de honra? A resposta é: por causa do sofrimento da morte. Qual o propósito deste sofrimento? P a ra qu e, p e la g ra ça d e D eus, p rov asse a m orte p o r tod o hom em (Hb 2.9 a r a ) . Não é o objetivo do escritor

da Epístola neste trecho discutir a expiação, mas revelar a grandeza de Jesus. Quanto ao que se refere aos sofrimentos deste e ao Seu propósito, este versículo é apenas um vislumbre do que se há de seguir. O autor da Epístola apresenta aqui uma resposta magistral às duas principais objeçóes dos j udeus, que: (1) acreditavam que Jesus era apenas um homem, e não o Filho de Deus; (2) questionavam a morte ignominiosa dele na cruz. Por essas razões, pensavam que Jesus não podia ser maior do que os anjos. Declara o autor da Epístola que essas premissas, longe de pro­ varem que Cristo era inferior aos anjos, pelos quais a Lei foi dada, atestam os que estavam imediatamente ligados à exaltação e glória de Jesus e à salvação do homem. Objeta-se, às vezes, que as duas últimas expressões neste paralelo entre o homem e Cristo, p o r causa do sofrim en to d a m orte e p rovasse a m orte p o r todo hom em , são apenas repetições. Esta objeção, contudo, é apenas aparente. A primeira expressão é pessoal e fornece a base por

meio da qual Jesus chegou à glória e à honra; a segunda é motivacional, salientando que Cristo provou a m orte p o r todo hom em , a fim de prover a salvação para todos. Devemos, agora, examinar mais minuciosamente estas expressões motivacionais.

1. Por causa do sofrimento da morte (Hb 2.9)

1 | .J

-1

O sofrim en to d a m orte implica mais do que simplesmente morrer. Significa que a morte de Cristo não foi fácil, tranqüila, e sim sofrida, i acompanhada de agonia interior e tortura exterior. Segundo expressam as palavras de Paulo: S en do [Jesus] o b ed ien te a té à m orte e m orte d e cruz (Fp 2.8c).

]

Vaughan observou que as palavras tou th an atou (xoü Gaváxou), ; d a m orte, são peculiares por definirem a palavra p a th en a (7ta0T]|j.a), j sofrim en to, e podem, portanto, ser traduzidas como o sofrim en to q u e1 consiste n a m orte. Deve-se observar também que as palavras sofrim ento\

e m orte estão precedidas pelo artigo definido, indicando que o sofri­ mento e a morte de Cristo são específicos, logo devem distinguir-se daquilo que concerne aos homens mortais.

i

Jesus se submeteu a uma morte sacrificial, vicária, propidatória. | Foi uma morte tal que satisfez plenamente as exigências da santidade e J

da justiça infinita de Deus, e é por isso que Cristo foi coroado de glória 1 e de honra. Isto é o que liga a Sua coroação à sujeição de todas as coisas a Ele e, assim, o Criador cumpre a promessa original, restaurando o homem ao seu reinado por intermédio de Cristo. Existe, porém, outra declaração de grande importância em Hebreus 2.9. O sofrimento e a morte singulares de Jesus foram devidos à graça de Deus, cbariti Theou (x á o m 0£oü ), ou. p o r indicação de Deus. Essa declaração, pela posição enfática que ocupa, implica uma forte negação do oposto, isto é, que tenha sido uma morte sob a ira de Deus. Os homens decaídos e pecaminosos morrem sob a ira do Senhor, mas não Cristo; ao contrário. Sua morte não poderia ser em benefício dos que se acham sujeitos à morte. Esta é mais uma razão pela qual Cristo foi coroado de glória e honra. Deve-se observar que existe uma variação de texto aqui, e Ebrard afirmou que as palavras oscilam entre xÁQltl 0£OÜ, que se traduz como a g ra ça d e D eus, e xawiç 0 e o ü , que significaria à p a r te de ou exceto D eus.

2. Para que, pela graça de Deus, provasse a mortepor todos (Hb 2.9) No “concilio da graça divina” sobre a redenção do homem, o p rin c ip a l

desígnio da encarnação foi proporcionar Cristo como uma

oferta propiciatória pela redenção da humanidade [E ele é a p ro p icia çã o pelos nossos p ecad os e n ão som ente p elo s nossos, m as tam bém p elos d e todo o jnundo (1 Jo 2.2)]. Assim, tanto o nascimento quanto a morte de Jesus

foram miraculosos, tendo sido o nascimento de Jesus algo inusitado (nasceu de uma virgem; foi gerado pelo Espírito Santo) por causa do Ofertante vicário e de Sua oferta. Voltando à questão da morte, p ro v a r a m orte, como já vimos, é uma declaração mais forte do que simplesmente m orrer, pois contém a ideia de submeter-se conscientemente a toda a terrível dor da morte e, no caso de nosso Senhor, à humilhação e ao opróbrio da morte na cruz. Como a expressão analisada anteriormente, sofrim en to d a m orte diz-nos o q u e foi feito por nós para remover o obstáculo que impedia o homem de alcançar a glória prometida a ele por Deus (Hb 2.7). Aqui, o escritor da Epístola nos diz com o isto se realizou: Jesus experimentou a m orte p o r todos. Provou a morte não apenas sorvendo um pouco o

conteúdo do cálice, mas bebendo-o até a última gota. As palavras h y perp an tos (vtièq n a v z ó ç ) , p o r todos, tornam claro que esta morte vicária de Jesus foi em benefício de todos os membros da decaída raça de Adão. Ebrard observou que a palavra hyper, conforme é usada em Hebreus 2.9, não deve ser traduzida como em lugar d e o u e m vez de, mas como em favor de. Esta universalidade está expressa no indefinido singular p o r todo homem

(a b a ),

e a tradução Almeida Revista e Corrigida omite a palavra

homem {provasse a m orte p o r todos), como no texto grego.

Uma vez que, em Hebreus 2.8, o autor deu ênfase a ta p a n ta (xa n á v r a ) , tod a s as coisas, no versícuo 9 encontramos todas as coisas reconciliadas, isto é, Jesus provou a morte p o r tod os e p o r todas as coisas, incluindo os anjos. Em bora eles não n ecessitassem ^

de expiaçáo, desfrutam, em contemplação reverente, os resultados da morte de Jesus e regozijam-se por todo pecador que se arrepende.

O C a p it ã o

d a n o ssa salvação

[Na versão inglesa da Bíblia, a K in gJam es (KJ)] Jesus é chamado de o C apitão da nossa salvação, porque Ele marcha à nossa frente náo somente como Líder5, mas também como Conquistador. Segundo Hebreus 2.10, p orqu e convinha qu e aquele, p a ra quem são todas as coisas e m ediante quem tudo existe, trazendo m uitosfilh o s à glória, consagrasse, p elas aflições, o Príncipe d a salvação deles. [Na versão bíblica em língua portuguesa, a a r c , a palavra C apitão foi substituída por Príncipe, e, na a r a , por A utor d a S alvação]

O vocábulo p orqu e liga este versículo à ideia expressa no versículo anterior, a morte de Cristo, que nos deu livre acesso ao Pai e tornou Jesus o nosso Capitão e Líder. A palavra eprepen (e n g e n e v ) , con vin ha, era con ven ien te, ex­ pressa o que Deus faz como algo que lhe convém, que lhe é próprio. Neste caso, o autor da Epístola apresenta o sofrimento e a morte de Jesus como algo necessário para salvar os homens, realizando-se mediante a graça de Deus, e não pela Sua ira. Embora Deus seja soberano, afirma-se, neste ponto, que o único caminho para assegurar a glória do homem era o sofrimento e a morte de Cristo. Um a explicação adicional do que convinha a Deus [fazer por intermédio de Cristo] reside nisto: (1) o que foi operado pela morte de Jesus: trazen do m uitos filh o s à glória-, e (2) a maneira como se fez, ou seja, por meio dos sofrimentos e da morte de Cristo. Em vez, porém, de dizer que Jesus foi coroado de glória, diz-se que Ele conduz muitos filhos à glória; e, em lugar de falar da morte de Cristo, fala-se dele como sendo aperfeiçoado por meio de sofrimentos. Cristo é, ao mesmo tempo, o Fim ou Propósito de nossa vida e a Causa eficiente pela qual todas as coisas se realizam. Andrew Murray diz que isto se resume a um princípio de viver santo de amplo alcance, embora simples: “Tudo para Deus” e “tudo mediante Deus”.

P orqu e, assim o q u e san tifica com o os q u e são santificados, são todos d e u m ; p o r cu ja causa n ão se envergonha d e lhes ch am ar irm ãos, d izen d o: A n u n ciarei o teu nom e a m eus irm ãos, can tar-te-ei bu vores no m eio d a congregação. E ou tra vez: P orei n ele a m in ha confiança. E ou tra vez: E is-m e a q u i a m im e aos filh o s qu e D eus m e deu. *

Hebreus 2.11-13

Quanto aos versículos acima, o autor continua a sua análise sob uma terminologia diferente. O Capitão da nossa salvação se torna Aquele que santifica, e os muitos filhos conduzidos à glória são os santificados. Os particípios presentes hagiazon (áyiáCcJv) e hagiazom enos (áyiciCó^evoç), usados com os ardgps, tomam-se substantivos, daí o que santifica (Santificante) e os qu e são santificados, sendo designadas estas par­

tes pelas suas posições relativas. E muito evidente, portanto, que Aquele que conduz muitos filhos à glória o faça santificando-os, e que o único caminho, para os filhos de Deus, até a glória é mediante a santificação. John Owen, um antigo escritor, diz:

â-----Que ninguém se engane, a santificação é requisito indispensável àqueles que se colocarem sob a direção do Senhor Jesus Cristo para a salvação. Ele não conduzirá ao céu senão aqueles que santificar na terra. O Deus santo náo receberá pessoas ímpias; esta Cabeça viva não admitirá membros mortos, nem os levará à posse de uma glória que não amam e da qual não gostam.

(O w en ,

An exposition ofthe Epistle

to the Hebrews, p. 28) --------- — r

Devemos compreender o termo san tificação, conforme é usado aqui, no seu sentido fundamental, como a separação de uma coisa ou pessoa do uso comum, para consagrá-la ao santo, tal como convém à natureza de Deus e do Seu serviço.

A palavra koin on

(k o lv ó v ),

com um , significa o que pertence a

qualquer um; hagios (ctyioç), san to, significa o que pertence somente a Deus. A pessoa santa é aquela que ép o ssu íd a por D eus e, depois de ter sido purificada de todo o pecado e de toda a injustiça, torna-se intei­ ramente devotada a Ele.

1. Aquele que santifica e os santificados vêm de Um só A expressão ex henos (e£, évòç) é um ablativo de origem9 e significa, literalmente, a p a r tir d e um ou orig in an d o-se em um , que é Deus-Pai. Assim, o Santificador e os santificados, provindos de uma só Fonte, são, em certo sentido, todos d e U m só. Alguns tentaram atrelar a expressão tão-som ente à humanidade de Cristo, enquanto outros a ligam à Sua divindade, bem como à Sua humanidade. Calvino achava que a palavra h en os (évòç) está no gênero neutro10 e, portanto, refere-se a uma natureza comum, como se dissesse: “Eles são feitos da mesma matéria”. Contudo, a palavra é considerada como masculina, referindo-se, pois, a Deus, o Pai de todos. Nosso Senhor, sendo a um tempo o F ilh o d e D eus e o F ilh o do H om em , procede do Pai. Portanto, pode-se dizer igualmente que o

Filho de Deus e os dos homens têm uma origem comum, procedendo do Pai, mas de maneira muito diferente. Cristo é o Unigênito, o Filho eterno do Pai, da mesma essência que Ele, igualado em poder e majestade. Os homens são filhos do Senhor por criação [e remissão/regeneração]. Já a filiação de Cristo é original, desde a eternidade; a do homem é derivada e finita, mas a existência de ambos procede de Deus. O

hom em , todavia, pecou e perdeu a imagem mora

Deus; a com unhão se rompeu, e a depravação, com o doença ter­ rível, transm itiu-se a toda a humanidade, tendo com o resultado o sofrimento e a m orte. Convinha a Cristo, portanto, participar da natureza dos homens, para que pudesse livrá-los de sua condição pecaminosa.

É um pensamento glorioso que Cristo, sendo o nosso Irmão mais velho, sem

não pudesse descansar na glória enqüanto estivéssemos no pecado,

prover a nossa redenção. Como o amor de Deus por nós tomou possí­

vel a encarnação de

Cristo, assim também a nossa unidade com Jesus toma

possível a nossa restauração espiritual. O poder santificador dele, por inter­ médio do Espírito Santo, e a restauração espiritual dos santificados são tão grandes

que Jesus já não se envergonha de chamar-nos irmãos.

2. 0 significado da palavra santificação Visto que temos a declaração de que o Santificador [Cristo] eos santificados [os cristãos] são irmãos (Hb 2 .1 1 ), devemos agora examinar mais de perto o significado destas palavras. A palavra h ag iazzin (áyiáCeiv), san tificar, é usada em sentido objetivo e subjetivo. Na acepção objetiva, refere-se à obra que Cristo fez p o r nós ao expiar o nosso pecado. Este aspecto objetivo ou provisional é, às vezes, associado à obra consumada por Cristo. Mas este não é o sentido completo da palavra san tificação, pois ela tem também o seu aspecto subjetivo, pelo qual se entende aquilo que Cristo opera em nós pelo Espírito Santo. Sendo assim, não é suficiente dizer que Cristo fez expiação p o r nós', necessitamos de Cristo em nós, tanto quanto necessitamos de Sua

obra expiatória em nosso favor. Não é só o que Cristo fez na cruz que nos salva; é o que Ele faz em nós, em virtude do que fez p o r nós no Calvário. Cristo não só expiou os nossos pecados; Ele habita em nosso interior por intermédio do Espírito Santo, e é a Sua presença que nos santifica no sentido mais profundo da palavra h ag iazein (áyiáCeiv). Em suma, em Hebreus 2 .1 1 , a palavra hagios (áyLOç), san to, significa não só o ato de purificar ou limpar, mas a permanência de Cristo em Seu templo purificado; e é esta presença eir- nosso ser que nos santifica, tornando-nos Sua possessão. Devemos compreender, portanto, que a palavra san tificar, con­ forme é usada em Hebreus 2.11 — p orqu e, assim o qu e san tifica com o os

q u e são santificados, são todos d e um — , refere-se, principalmente, à obra

objetiva de Cristo de expiaçáo do pecado; a expiação que encontra o seu resultado final na declaração divina de que o sangue d e Jesu s Cristo, seu

F ilh o, nos p u rifica d e todo p eca d o (1 Jo 1.7c). S an tificar indica o ato pelo !

qual Cristo separa os Seus do pecado e concede-lhes uma vida nova, que ! se baseia na Sua morte expiatória e na Sua ressurreição.

j

O Dr. Adam Clarke observou que o Santificador, h o hagiazon | (ó áyiáÇcov), refere-se Aquele que fez expiação, e, portanto, concorda com a palavra cap h ar, que, em hebraico, significa expiar o pecado. Os santificados são os que receberam a expiação, a qual, em sua totalidade, inclui o perdão dos pecados, a nova vida por meio da regeneração, a purificação do coração e a presença permanente do Espírito Santo na vida dos purificados para a santificação completa; e ainda, na ressurreição dos justos, a glorificação dos santos juntamente com Cristo.

C r is t o

n ã o s e e n v e r g o n h a d e c h a m a r - n o s ir m ã o s

P o r cu ja cau sa n ão se en vergon ha d e lhes ch a m a r irm ãos.

Hebreus 2.1 lb Quando consideramos a imensa diferença entre o Filho eterno, o Unigênito do Pai, e os filhos de Deus por adoção, e quando, acrescido a isto, vemos o pecado destes filhos, percebemos também claramente o amor maravilhoso e incondicional de nosso Salvador ao chamar-nos irmãos. Ele não considerou isto como rebaixamento de si mesmo, a despeito do fato de Ele estar infinitamente acima de nós. Como é o Santificador, santifica os Seus e torna-os semelhantes a Ele. A santidade, pois, é o sinal de união entre nós e Cristo, o alicerce da graça. A palavra santo guarda o mais profundo significado, sendo usada principalmente de três formas nas Escrituras: 1. C om o atribu to d e D eus, sendo só Ele absolutamente santo, Fonte de todo bem, que se manifesta em amor e justiça. O Espírito de Deus é chamado Santo porque a Sua missão é tornar os

homens santos. Ele é o Portador do amor divino, derramado no coração purificado dos homens, e o vínculo de comunhão não apenas na própria Trindade, mas igualmente entre Deus e Seus filhos. 2. Com o atribu to depessoas e coisas, a santidade é a salvação do comum e a devoção ao santo. Isto pode referir-se a coisas que são retiradas do uso natural e profano e, depois de purificadas, dedicadas ao serviço do Senhor. No caso de pessoas, refere-se ao afastamento da vida natural e pecaminosa e à consagração a um relacionamento íntimo com Deus. Nem sempre significa santificação completa, e isto explica o seu uso aplicado aos que se acham na Igreja, a qual, como organização, é separada para Deus. 3. C om o sin ôn im o d e exp eriên cia p esso a l graciosa. É a purificação

do coração de todo pecado com o preenchimento de amor divino pelo Espírito. Este amor se torna o motivo da devoção a Deus e abrange o que comumente se conhece como santifi­ cação completa. Santidade, portanto, significa ser p ossu íd o p o r D eus, e encontra sua conseqüência no qualificativo irm ãos, que

Jesus dá ao Seu povo redimido.

A IDEIA DE FRATERNIDADE NO ANTIGO TESTAMENTO Foi profetizado no Antigo Testamento que o Messias manteria relações de fraternidade com os súditos do Seu Reino e que os exaltaria à posição de filh o s [de Deus] juntamente com Ele. O escritor da Epístola aos Hebreus se volta agora para o Antigo Testamento, para confirmar sua declaração de que Jesus nos considera Seus irmãos. O autor se fundamenta no Salmo 22, onde um rei sofre­ dor, que representa o Messias, como Ungido de Deus, chega aos Seus por meio do sofrimento; e em Isaías, onde um profeta, como cidadão de Israel, sofre junto com aqueles a quem profetiza. O escritor de Hebreus apresenta a verdade extraída destas passagens de uma maneira dramática, que é, ao mesmo tempo, singular e inspiradora.

1. Anunciarei o teu nome a meus irmãos (Hb 2.12a; cp. SI 22.22a) Neste trecho, o Filho é apresentado como aquele que possui a missão reveladora de declarar e manifestar o nome e a natureza do Pai. Pode-se verificar que esta missão foi plenamente cumprida na oração sumo sacerdotal de Jesus: M an ifestei o teu nom e aos h om em qu e do m undo m e deste [...] e lho fa r e i con hecer m ais, p a r a q u e o a m o r com que m e tens a m a d o esteja neles, e eu neles esteja (Jo 17.6,26).

Supõe-se que o Salmo 22 tenha sido escrito no tempo em que Davi foi perseguido por Saul. Embora Davi tenha sido rei [por eleição de Deus], seu reino foi conquistado com sofrimento e dor, os quais, depois, converteram-se em alegria. Isso era uma espécie de boas-novas. Esta mensagem, portanto, assume grande significado pelo fato de que o rei simbólico (Davi) e o verdadeiro (Jesus) atingiram sua soberania sob con­ dições análogas; ambos igualmente, ao triunfar, reconheceram sua afini­ dade com o povo a quem elevaram à fraternidade consigo mesmos.

2. Cantar-te-ei louvores no meio da congregação (Hb 2.12b; SI 22.22b) Aqui se acrescenta um novo particular. O Cristo glorificado não é somente o Filho que revela o Pai; é também o Chantre, o ministro que con­ duz o culto da Igreja. Acha-se no meio dela, que é uma unidade de Cristo com Seus irmãos, expressa de forma nova: a de um culto comum ao Pai. Na congregação, em que o rei simbólico e seus irmãos exercem seus privi­ légios como cidadãos da comunidade, eleva-se aqui o verdadeiro Rei e Seus irmãos, na comunidade divina e na glória da Igreja neotestamentária.

3. E outra vez: Porei nele a minha confiança (Hb 2.13a; Is 8.17; 2 Sm 22.3) Por meio desse texto, percebemos que o Filho não é só um ' Irm ão e Companheiro de culto, mas também Irmão na fé. Ele se

apresenta a nós nas mesmas condições que aqueles aos quais foi enviado, jgualando-se a eles e declarando: P o r e i 'nele [em Deus] a m in h a con fian ça.

Este nivelamento reside também na alusão a Isaías, por meio de quem

veio a Palavra do Senhor. O profeta estava tão entregue à espe­

rança de que Deus cumpriria Suas promessas quanto o povo a quem falava. Como isto ocorreu com o profeta do Antigo Testamento, assim também no Novo Testamento ouvimos Jesus dizer: E u n ão posso d e mim m esm o fa z e r coisa algu m a [...], p o rq u e não busco a m in h a von tade, mas a von tade d o P a i, q u e m e en viou (Jo 5.30).

Nosso Senhor, durante a Sua encarnação, como Filho do Homem, viveu pela fé. Por isso, ao passo que no capítulo 2 de Hebreus Jesus é chamado o C apitão da nossa salvação (KJ), em Hebreus 12.2 é chamado o Autor e C on su m ador da nossa fé. Em grego, C ap itão e A u tor são desig­

nados pela mesma palavra [daí a diferença nas traduções, como vemos na a r c , na a r a , na n v i

-

versões em português do texto bíblico], porém a

ênfase agora não é sobre a necessidade de liderança, mas sobre a qualidade da fé que torna essa liderança eficaz. Os patriarcas do Antigo Testamento representavam diferentes as­ pectos da fé. Cristo exibiu a fé na sua perfeição mais cabal. Por esta razão, Ele pode aperfeiçoar a nossa em todas as contingências da vida.

4. Eis-me aqui a mim e aosfilhos que Deus me deu (Hb 2.13b; Is 8.18a) Conforme se observa neste texto, o Filho volta para o Pai com os muitos filhos que conduz à glória. Novamente, a alusão é a Isaías e aos seus filhos, que se tinham tomado sinais a um povo incrédulo. Jesus volta para o Pai e apresenta Seus filhos no limiar da glória, em que antes estava sem eles. Saíra solitário; volta com a multidão dos Seus santos. Recorremos outra vez à oração sumo sacerdotal de Jesus, onde se acha o cumprimento desta profecia: E , agora, g lo rifica -m e tu, ó P a i,

-

ju n to d e ti m esm o, com a q u ela g ló ria q u e tin h a contigo an tes q u e o

mundo

existisse. M an ifestei o teu n om e aos hom en s q u e d o m u n do m e deste; eram teus, e tu m os deste, e g u ard aram a tu a p a la v r a (Jo 17.5,6).

Além disso, Jesus disse: P ai, aqueles qu e m e deste quero que, onde eu estiver, tam bém eles estejam com igo, p a ra qu e vejam a m in ha g lória qu e me d este;p orqu e tu m e hás am ad o antes d a criação d o m undo (Jo 17.24).

Estar com Cristo para todo o sempre e contemplar a glória infinita que Ele tinha com o Pai antes que o mundo existisse — esta é a alta posição a que Cristo nos elevou como Seus irmãos; esta é a herança dos filhos de Deus.

UM MISERICORDIOSO E FIEL SUMO SACERDOTE O escritor da Epístola aos Hebreus falou de Jesus como o A utor (ou C ap itão ) da nossa salvação (Hb 2 .1 0 , 14-18

asa )

e, assim, intro­

duziu o tema da obra apostólica de Cristo, que, no capítulo 3 (v. 1,2), tratará sob o símbolo de Moisés, o apóstolo do Antigo Testamento. O autor da Epístola também falou sobre a obra sacerdotal de Cristo, comentada no capítulo 5 por meio da analogia com o ministério de Arão e Melquisedeque. O homem, a fim de ser um fiel seguidor de Cristo, tem três neces­ sidades específicas: (1) ser salvo do pecado; (2) receber poder para vencer os adversários; (3) ser fortalecido pelo Espírito Santo, pois está sujeito a ser vencido no caminho por causa de sua própria fraqueza e enfermidade. Em Hebreus 2.16-18, Cristo é apresentado como Sumo Sacerdote misericordioso e fiel que satisfaz todas as necessidades do homem: (1) Ele nos redime do pecado e alça-nos ao nível da salvação e comunhão com Deus; (2) dá-nos vitória sobre os inimigos e eleva-nos ao plano da liberdade espiritual; e (3) fortalece-nos pelo Seu Espírito no homem interior, conduzindo-nos à graciosa segurança. Cumpre, assim, o qu e ju ro u a A b ra ã o , nosso p a i, d e con ceder-n os qu e, libertad os d as m ãos de nossos inim igos, o servíssem os sem tem or, em san tid ad e e ju stiça p era n te ele,

. ' todos os d ia s d a nossa v id a (Lc 1.73-75).

O trecho que será analisado agora é uma amplificação dessas grandes verdades, com especial atenção à necessidade e ao propósito da encarnação de Jesus.

A ENCARNAÇÃO DE JESUS E A LIBERTAÇÃO DO TEMOR DA MORTE Ey visto com o osfilh os p articip am d a carn e e d o sangue, tam bém ele p articip o u d as m esm as coisas, p a r a que.i p e la m orte, an iqu ilasse o qu e tin h a o im p ério d a m orte, isto é, o d ia b o .

Hebreus 2.14 Duas coisas se destacam claramente nesse texto e merecem especial consideração: (1) a necessidade da encarnação e (2) o propósito da encarnação.

\.A necessidade da encarnação E , visto com o os filh o s p a rticip a m d a carn e e d o sangue, tam bém ele p articip ou d as m esm as coisas (Hb 2 .1 4a). Já constatamos que, sob o

aspecto divino, era necessário que Cristo encarnasse, a fim de tornar os homens S eu s irmãos. De acordo com este versículo, porém, vemos a necessidade da encar­ nação sob o aspecto humano: Cristo deveria tornar-se como os Seus irmãos em todos os aspectos: nas provações, tentações, no sofrimento e na morte. Em Hebreus 2 .1 4 , deve-se observar que: 1. E reafirmada a realidade da encarnação. A humanidade de Cristo foi tão real como a nossa, e não mera cristofania11, como ensi­ nava o antigo docetismo12. Jesus tomou parte em nossa carne e em nosso sangue. 2. A encarnação se tomou a base da comunhão pessoal entre Cristo e os Seus discípulos: Jesus conheceu a fome e a fadiga corporal; foi

hom em de dores, experim entado nos trabalhos (Is 53-3b). Em todas

as coisas, foi semelhante aos irmãos, com exceção do pecado. 3. Esse texto [Hb 2.14a] preserva a singularidade da encarnação. O escritor da Epístola foi cauteloso em manter a distinção entre a natureza de Cristo e a do homem no seu estado decaído. Ele não disse que Cristo foi um participante da carne e do sangue como a humanidade é, mas que tam bém ele participou das mesmas coisas [relativas à humanidade: as emoções e contingências, mas não pecou]. São usadas duas palavras gregas diferentes em Hebreus 2.14a. A primeira é kekoin on eken (K£K0 1 VGJVT]K£T]), que se refere à natureza humana compartilhada por todos os indivíduos como herança perma­ nente. A segunda palavra se refere a Cristo, m eteochen ([íetéoxev), e expressa a singularidade da encarnação como aceitação voluntária da humanidade em seu estado atual de humilhação, mas com o acréscimo da ideia de transitoriedade. Assim, as Escrituras Sagradas preservam a natureza distinta de Cristo como o Santo. Embora tenha sido tão humano quanto divino, foi diferente da humanidade em geral, porque Sua natureza não foi contaminada pelo pecado, como a do homem decaído. Desde o nascimento, Jesus foi chamado o en te santo (Lc 1.35

a r a

) ,

e ainda

nesta Epístola é dito que Ele é santo, in ocen te, im acu lad o, sep arad o dos p ecad ores e fe it o m ais su blim e d o qu e os céus (Hb 7.26).

2. Opropósito da encarnação P a ra qu e, p e la m orte, an iqu ilasse o q u e tin h a o im p ério da m orte, isto é, o d ia b o .

Hebreus 2 .1 4b Esse texto expressa outra razão pela qual nosso Senhor assumiu um corpo carnal: para aniquilar a autoridade daquele que tinha kratos (K Q á x o ç ),

fo r ç a , p o d er ou d om ín io sobre a morte.

Assim como um homem é mantido prisioneiro pela sentença de um juiz, Satanás mantinha ps homens na servidão por força da Lei do pecado e da morte. Legalmente, não existia libertação. A única possibilidade de livrarmo-nos do maligno natureza

e

da morte seria o despojamento da nossa

decaída, sobre a qual eles têm autoridade e poder. Isto o homem

náo poderia fazer. Então, Deus enviou o Seu próprio Filho em sem e­ lhança de carn e p ecam in osa e no tocante a o p eca d o ; e, com efeito, condenou Deus, n a cam e, o p eca d o (Rm 8.3c a r a ) .

Cristo, suportando a morte como pena pelo pecado, reconheceu o julgamento justo de Deus e assegurou-nos a promessa da libertação: (1) da morte, como castigo pelas nossas transgressões, (2) da nossa própria natu­ reza pecaminosa, como vida na came, e (3) do temor pelo qual Satanás nos mantinha em servidão. Jesus fez isto destruindo ou aniquilando o poder do inimigo sobre a morte. A palavra destru ir, no uso em que se faz aqui, com frequência é interpretada como a n iq u ila r, que, por esta razão, encontra-se em outras traduções. A palavra grega é kata rg esei

(K a T a ç » y f]c r r )),

usada

muitas vezes por Paulo, e é traduzida como red u z ir a n ad a, d esfa z er (Rm 3.3

a ra );

a n u la r (Rm 3.31 a r a ) ; a b o lir , d esistir; na sua forma

mais intensa, d estru ir. N a A u th o riz e d V ersion , há pelo menos 17 traduções diferentes da palavra. Em Hebreus 2 .1 4 , é dito que, por meio da morte, Cristo aniquilou aquele que tinha o império da morte. Nota-se que não foi feito uso do possessivo, sendo as palavras gregas tou th a n a to u (xoü Oaváxou), a m orte. O escritor não o usou porque queria salientar o fato de que o diabo foi vencido por aquilo que ele usava para manter o cativeiro. Assim, Cristo voltou contra Satanás a própria arma do inimigo e libertou-nos da servidão sem arma alguma; apenas resistindo a tudo o que o inimigo poderia usar para dominar-nos. Foi isto que levou Crisóstomo a dizer: “Eis aqui a maravilha: Satanás é derrotado por aquilo que ele conquistou”.

A ENCARNAÇÃO DE JESU S E A LIBERTAÇÃO DE NOSSOS INIMIGOS E livrasse todas os qu e, com m edo d a m orte, estavam p o r toda a v id a su jeitos à servidão.

Hebreus 2.15 Cristo veio não apenas para expiar os nossos pecados, mas para nos livrar de nossos inimigos [o pecado, a morte e o diabo] e, assim, elevar-nos ao plano da graciosa liberdade. Em Hebreus 2 .1 5 , o triunfo de Cristo sobre o pecado é levado as ultimas conseqüências; e, tendo Ele vencido o derradeiro inimigo, que é a morte, o grande Capitão da nossa salvação nos libertou de todos os inimigos que impediam o nosso progresso no caminho da santidade. Não lemos que Cristo destruiu a morte, porém, vencendo-a na ressurreição, modificou de tal modo a nossa posição para com ela que a morte já não nos confina à servidão do medo. Ela ainda é o nosso inimigo, o último, vencido pelo Mestre, mas ainda inimigo. Existem poucos lares em que o terror causado pela morte não foi sentido, onde os vínculos do amor não foram partidos e a dor da separação não se fez sentir. Jesus chorou junto à sepultura de Lázaro. Mas, por meio da morte e ressurreição de Cristo, podemos exclamar triunfantemente: O nde está, ó m orte, o teu ag u ilh ão? O nde está, ó inferno, a tu a v itó ria ? (1 Co 15-55). A morte ainda está entre nós, mas podemos dizer que tanto a vida quanto a morte nos pertencem e que aguardamos com confiança aquela patria melhor (Hb 11.16), onde não h a v erá m ais m orte, nem p ra n to , nem clam or, nem d o r (Ap 21.4b).

O aspecto da servidão, tanto à Lei do pecado quanto a Satanás, em geral não recebe, na Teologia, a proeminência que lhe conferem as Escrituras. Eis como o expõe o Dr. Pope:

j ------A humanidade, como objeto da redenção, é, em primeiro lugar, ■'.

resgatada do cativeiro do pecado; em segundo lugar e indiretamente,

do cativeiro de Satanás e da morte, que é o castigo do pecado. Este tem o homem na servidão, como condenação' e poder. 1) A condenação é a maldição da Lei. Como ajurça do pecado é a Lei, assim a força da Lei é o pecado, mantendo toda criatura moral em perfeita obediência; e, faltando esta, entrega o transgressor à sentença de condena­ ção, da qual, no que tange à ordenança legal, não existe livramento. 2) O pecado é um poder interno na natureza humana, escravizando a vontade, as afeições, a mente. 3) A intervenção expiatória de Cristo aniquilou o pecado como poder absoluto na vida humana. Ele obteve redenção eterna para nós-, uma redenção objetiva, eterna, suficiente, da maldição da Lei e da necessária rendição da vontade ao poder do mal.

(P o p e ,

Compendium o f

Christian Theology, 2, p. 289) r

Continuando este pensamento, Dr. Pope diz que Satanás e a morte estão subordinados, mas são representantes reais do poder do mal, representando Satanás, a um tempo, a condenação da Lei e a servidão interior à iniqüidade.

j ------Verifica-se quão intimamente relacionados estão o pecado e os nossos inimigos. A redenção de Cristo fez provisão para libertar o homem, tanto do pecado quanto do diabo, nosso inimigo que o administra por meio da morte. A Epístola aos Hebreus associa estas verdades à expiação, de ma­ neira notável. (P o p e , Compendium o f Christian Theology, 2, p. 289) r

A ENCARNAÇÃO DE JESUS E O FORTALECIMENTO CONTRA AS FRAQUEZAS E ENFERMIDADES Além da libertação do pecado e do temor dos inimigos, o homem tem uma terceira grande necessidade: o fortalecimento em tempos de fraqueza e enfermidade.O pecado só podeser removido nesta vida. , Porém, suas conseqüências, taiscomofraqueza extintas na ressurreição.

e enfermidade, só serão

Paulo reconheceu dois tipos de perfeição quando disse: N ão q u e j á a ten h a alcan çad o ou q u e seja p erfeito (Fp 3.12a) e p e lo q u e todos quantos j á som os p erfeito s sin tam os isto m esm o (Fp 3.15a): respectiva­

mente a perfeição da ressurreição e a perfeição cristã. A perfeição cristã consiste em Jesus purificar o nosso coração e habitar nele por intermédio do Espírito Santo, habilitando-nos a seguilo e a ter por alvo a perfeição concedida na ressurreição. Precisamos de Cristo não somente como nosso Sumo Sacerdote arônico, para expiar os nossos pecados; necessitamos dele também como Sumo Sacerdote da ordem de Melquisedeque, mediante o qual viveremos a nossa exis­ tência terrena; ou, em uma expressão mais profunda, que Cristo viva por nosso intermédio. É nesse sentido que não apenas vemos a necessidade de tal sa­ cerdócio; é aqui que temos a primeira menção de Cristo como nosso Sumo Sacerdote. Esta obra sacerdotal é realizada mediante a presença interior do Espírito Santo como Paracleto13 ou Consolador, a promessa do Pai e o dom do Cristo glorificado. Que dádiva graciosa à Igreja é este dom do Espírito Santo! Quando Satanás nos levar a pensar que jamais fomos perdoados dos nossos pecados ou purificados de toda injustiça, podemos, pela fé, lan­ çar mão da promessa de que o sangue d e Jesu s C risto [...] nos p u rifica de todo p eca d o (1 Jo 1.7c).

Quando estivermos cercados de inimigos, podemos ir ainda mais longe pela fé e alegar o ju ra m en to q u e [o Senhor] ju ro u a A braão, nosso p a i, d e conceder-n os qu e, libertad os d as m ãos d e nossos inim igos, o servíssem os sem tem or, em san tid ad e e ju stiça p era n te ele, todos os d ia s da nossa vida (Lc 1.73-75).

E quando estivermos quase vencidos pela fraqueza, a ponto de perecer por causa das nossas muitas enfermidades, verificaremos que o Consolador ainda estará conosco, para nos fortalecer nos momentos difíceis, guiar-nos em nossas decisões, manter-nos firmes diante da ten­ tação e da provação, e consolar-nos em tempos de angústia e desolação. G raças a D eus, p o is, p e lo seu dom in efá v el (2 Co 9.15).

A ENCARNAÇÃO D E JE S U S E A NOVA ORDEM D E SACERDÓCIO P orqu e, n a verd ad e, ele n ão tom ou os an jos, m as tom ou a d escen d ên cia d e A braão. P elo q u e con vin ha qu e, em tudo, fo sse sem elhan te aos irm ãos, p a r a ser m isericordioso e f i e l sum o sacerdote n aqu ilo q u e é d e D eus, p a r a ex p ia r os p ecad os d o p ov o. P orqu e, n aqu ilo q u e ele m esm o, sen do ten tado, p ad eceu , p o d e socorrer aos qu e são tentados.

Hebreus 2 .1 6 -1 8 Vimos que a encarnação, momento em que Cristo se tornou um ser humano, oferece a base de vários aspectos de uma só salvação: 1. Jesus encarnou para, padecendo, tornar-se o Capitão da nossa salvação, preparando o caminho de uma nova vida pelo qual pudesse levar muitos filhos à glória; 2. Encarnou para que, pela Sua morte e ressurreição, aniquilasse o poder de Satanás e libertasse o Seu povo do temor da morte; O escritor da Epístola aos Hebreus mencionou outro propósito da humanidade de Cristo: p a r a ser m isericordioso e f i e l sum o sacerd ote n aqu ilo q u e é d e D eu s (Hb 2.1 7 b ). E para este último aspecto que

voltaremos nossa atenção agora.

\.A descendência de Abraão P orqu e, n a v erd ad e, ele n ão tom ou os an jos, m as tom ou a d escen d ên cia d e A braão.

Hebreus 2 .1 6 Esse texto tem sido interpretado no sentido de que, por con­ traste, Cristo não assumiu a natureza dos anjos, mas apenas a humana,

conforme se depreende da expressão descen dên cia d e A b ra ã o . Esta ideia evidentemente influenciou os autores de algumas traduções, nas quais a n atu reza [d os an jos ] está em itálico, não se encontrando no texto

grego. Conquanto seja verdade que Cristo assumiu uma natureza humana, não é este o ponto a salientar aqui. Lindsay, em Lectures on H ebrew s (p. 106), declara que a palavra ep ila m b a n esth a i (£7tiAa|a(3áv£CT0ai), associada ao genitivo de pessoa14,

denota tomar a pessoa para socorrê-la e, por isso, significa simplesmente ajudar, assistir ou sustentar. Não pode, portanto, significar assumir a natureza de uma pessoa. A mesma palavra é usada em Mateus 14.31, onde vemos que Jesus estendeu a mão para segurar Pedro, que afundava; e também em Marcos 8.23, em que é dito que Cristo tomou o cego pela mão. Por ter sido revelada à humanidade a Lei de que os anjos foram mediadores, era necessário que Cristo ajudasse a semente de Abraão, a fim de fazer propiciação por esta e por meio dela para o mundo todo. Paulo nos disse que a verdadeira semente de Abraão é Cristo, que os que são da fé são os filhos de Abraão e que nele todas as nações serão benditas (G1 3 .7 -9 ,1 4 ). Cristo, portanto, toma ou socorre todos os cristãos, para expiar os pecados deles e, como Capitão da salvação da humanidade, conduzir muitos filhos à glória. A palavra epilam ban o (£7TiAa|i|3ávco), em suas várias formas, apa­ rece 19 vezes no Novo Testamento, sendo 12 destas no Evangelho de Lucas. Não há outra menção a anjos nesse sentido [de ajuda], A palavra epilam ban esthai (£7TiAa|j|3áv£CT0ai), às vezes, ocorre como ep ilam ban etai

(è7iiAa|_ipáv£Tai) e significa sempre lançar mão de, tomar, no sentido de prestar ajuda ou assistência. Contudo, vale ressaltar que, quando é dito que Cristo não tom ou os anjos, m as tom ou a descendência d e A braão, não existe a ideia de que os gentios não estejam incluídos no socorro de Cristo, mas sim que Israel necessita da mesma ajuda. Tampouco existe a ideia de eleição incondicional de Israel ou recusa em ajudar os anjos. [O que é enfatizado é que a ajuda é oferecida especialmente àqueles que se tornam filhos de Deus pela fé, como Abraão.]

2. Cristo como Sumo Sacerdote P elo qu e con vin ha qu e, em tudo, fo sse sem elhan te aos irm ãos, p a r a ser m isericordioso e f i e l sum o sacerdote n aqu ilo qu e é d e D eus, p a r a ex p iar os p eca d o s d o p ovo.

Hebreus 2.17 A palavra archieru s (àQXi£Q£Úç), sum o sacerdote, é usada aqui pela primeira vez. Ela não aparece em outra parte no Novo Testamento. Fornece, nesta Epístola, o tema central de discussão. O termo é signifi­ cativo por referir-se, primordialmente, ao ministério do sumo sacerdote no Dia da Expiação. Então, o sumo sacerdote era separado da sua oferta; em Cristo, os dois estão unidos. Jesus foi tanto o Ofertante como a Oferta. Com o Sumo Sacerdote, ofereceu-se imaculado a Deus. E a oferta foi Ele próprio. O sacrifício foi Seu próprio sangue e, por meio desse sangue aspergido, a misericórdia se estende a toda a humanidade. Por esta razão, diz-se que Ele é m isericordioso e f ie l sum o sacerdote. A palavra m isericordioso é frequentemente utilizada para caracterizar Sua atitude para com os homens, em cuja semelhança Ele se fez. E a palavra fie l é empregada para se referir ao ministério de Cristo nas coisas per­

tencentes a Deus. Talvez uma interpretação mais exata salientasse o fato de que Cristo foi primordialmente misericordioso, sendo esta palavra, no grego, mencionada primeiro e com ênfase; e que, em conseqüência, Ele é fiel no sentido de ser digno de confiança.

3. Cristo como nossa Propiciação R econciliação não é a melhor tradução do vocábulo grego hilasm os

(íAaapóç;), que, quando usado como adjetivo, significap rop iriatório ou expiatório. Ambas as palavras se referem ao propiciatório, que era a

tampa da arca da aliança no Santo dos Santos. A palavra recon ciliação vem do grego katallasso (KaxaAAáaaco) e refere-se ao estado de paz existente entre o homem e Deus.

As palavras gregas usadas em conexão com a expiação podem ser dispostas na seguinte ordem: 1. Propiciação ou expiação, hilasm os (íAaa^óç), que é a oferta sacrifi­ cial feita a Deus como base para a expiação. A propiciação se refere principalmente ao sacrifício, e a expiação, ao resultado. A ira, ou desagrado de Deus, é propiciada; o pecado é expiado. 2 . Redenção, lu tro

(à ú tq c o ),

é o resgate pela salvação dos

homens. 3. Reconciliação, katallasso (KaxaÀAácjcrco), é o estado de paz conseqüente à expiação do pecado. Também existe outra palavra, usada na Epístola aos Hebreus: an aphero (avacj)£Qco), que significa tomar a si e sofrer os nossos pecados,

a fim de fazer expiação. Aqui, o ato e a oferta sacerdotais se combinam em uma só Pessoa, que é a nossa Propiciação. A ssim tam bém Cristo, oferecen do-se u m a vez, p a r a tira r os p ecad os d e m uitos, a p a recerá segunda vez, sem p eca d o , aos q u e o esperam p a r a a salv ação (Hb 9.28).

Em Hebreus 2 .1 7, contudo, a palavra p ro p icia çã o deve ser con­ siderada principalmente do ponto de vista objetivo. A ênfase é sobre a expiação, pois, no Dia da Expiação, o pecado era expiado pelas ofertas sacrificiais oferecidas pelo sumo sacerdote. Mas este não é o sentido total do termo. Cristo não apenas nos redimiu pelo sacrifício de si mesmo na cruz, mas ressuscitou para se tornar o Executor de Sua vontade. Como tal, o Cristo ressuscitado torna-se o nosso misericordioso e fiel Sumo Sacerdote, ministrando a nós, do Seu trono nos céus, a salvação que operou p o r nós no Calvário. O que o autor da Epístola aos Hebreus procura salientar é que Cristo não apenas morreu por todos os homens, mas ministra, pessoal­ mente, esta salvação a todos os que confiam nele. E essencial, para uma plena compreensão de Cristo como nossa Propiciação, um entendimento profundo tanto da cruz como do tro­ no. Isto se apresenta ainda na doutrina cristã da redenção, que afirma

que Cristo náo fez uma oferta propiciatória meramente para nos liber­ tar da servidão; ao contrário, Ele recupera para si mesmo aquilo que i(jq uiriu. Como Deus, Ele nos resgata para exercer os Seus direitos

reais sobre nós, e aí reside o significado da nova ordem sacerdotal de Ivíelquisedeque, que foi, ao mesmo tempo, sacerdote e rei. Além disso, Cristo não apenas nos livrou da servidão, mas conduziunos à posição de Seus co-herdeiros. Esta é a restauração que o Espírito Santo faz no homem. Por meio dela, a comunhão com Deus, perdida na Queda, restaura-se.

*

Que maior herança o homem poderia possuir do que a presen­ ça de Deus e do Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade, santificando,

iluminando, vitalizando a alma e dando-lhe poder, trazendo-a à comunhão santa com o Pai e o Filho? á— -— Redenção uma vez por todas efetuada na cruz e redenção em processo são descritas pelos mesmos termos, que podem ser dis­ postos em quatro classes: Ia) aqueles em que se inclui o ÀUTQOV ou preço de resgate; 2a) aqueles que significam comprar de um modo geral, como ÓtyoçáCELV; 3a) os que implicam apenas li­ vrar, como À Ú £LV; e, finalmente, 4a) os que indicam a noção de socorro forçado, QvéuQoíL. E óbvio que, como agora estamos examinando a expiação em re­ lação à obra consumada de Cristo somente, a primeira destas classes, mais do que as restantes, pertence mais estritamente ao nosso presente assunto. Às vezes, a distinção é expressa como redenção por preço e redenção p or poder. Esta é uma bela e verdadeira distinção, embora convenha acaucelarmo-nos do fato de fazer uma distinção dema­ siado rigorosa entre os dois, quer na obra externa do Senhor, quer na experiência interna que o crente tem dela. (Pope, Compendhmi o f Christian Theology, 2, p. 288)

W "T'

Paulo apresentou este aspecto duplo da propiciação muito clara­ mente em sua Epístola aos Gálatas:

C risto nos resgatou d a m ald ição d a L ei, fa z en d o -se m aldição p o r nós, p o rq u e está escrito: M ald ito todo aq u ele q u e fo r pendurado no m ad eiro; p a r a q u e a bên ção d e A b ra ã o chegasse aos gentios p o r Jesu s C risto e p a r a qu e, p e la f é , nós recebam os a prom essa do E spírito.

Gálatas 3.13,14

4. Cristo e a tentação Pois, n aqu ilo qu e ele m esm o sofreu, tendo sido tentado, êpoderoso p a r a socorrer os q u e são tentados.

Hebreus 2 .1 8

a ra

Encontram-se, neste versículo, duas ou mais teses distintas a respeito da tentação:

1. Que a solidariedade de Cristo se encontra no fato de que Ele sentiu a tentação sempre que foi exposto ao sofrimento; ou 2. Pode basear-se no fato de que Sua vida inteira foi de sofri­ mento, para o qual a tentação, agora mencionada, é apenas um fator a mais. Esta última interpretação é a mais plausível. No grego, a palavra au tos (aúxóç), ele m esm o , precede a pala­ vra p eirasth eis

(7 X £ io a a 0 £ Íç ),

tentado, em vez de a palavra peipon then

(n é n o v Q e v ), sofreu , que coloca a ênfase antes sobre a tentação de

Cristo do que sobre o Seu sofrimento. Embora, em certo sentido, a palavra que significa ele m esm o possa propriamente ser aplicada a cada um dos termos, pois Cristo sofreu e foi tentado, anteriormente lemos que Jesus sofreu, e a ênfase aqui se transfere para a tentação como mais um motivo de sofrimento. Lenski observou que, neste versículo (v. 18), existe material interessante para o estudo dos tempos verbais gregos.

1. A palavra ten tado está no tempo aoristo15, que simplesmente denota, como coisa passada, que Jesus foi tentado. 2 . S ofreu está no perfeito16 e, portanto, refere-se a todo o período

do Seu sofrimento até o tempo da morte. 3. A locução verbal ép od eroso está no presente17 e expressa, pois, a capacidade contínua de Cristo de ajudar os que são tentados. 4. A expressão os q u e são ten tados é um particípio iterativo18, significando sendo tentados repetidas vezes. 5. É p o d ero so p a r a socorrer os q u e são tentados é um aoristo final e efetivo19, que significa, literalmente, Ele é real e eficazmente capaz para ajudar. Apesar de o tema ten tação ser da maior importância, não é crítico neste ponto, e receberá subsequente tratamento em conexão com Hebreus 4.15. No momento, o objetivo do autor da Epístola era apontar para as qualificações de nosso Sumo Sacerdote com vistas ao cuidado pessoal do Seu povo. Embora a obra principal de Cristo seja a expiação e a intercessão, uma realizada na terra, a outra, no céu, ambas culminam nele como misericordioso e fiel Sumo Sacerdote. Como é pelo sangue expiatório de Jesus que somos redimidos e santificados, assim também é pela intercessão sacerdotal dele que somos capazes de viver a vida de santidade e justiça [que Deus exige de nós]. Que pensamento glorioso é este, que possamos viver mediante 0

nosso grande Sumo Sacerdote! Não é pelo nosso próprio poder ou

pela nossa santidade, nem por força de vontade ou sabedoria humana, que vivemos em triunfo espiritual, mas por Aquele que, por intermédio do Espírito, habita dentro do coração santo e, assim, vive em nós. Cristo assumiu a nossa natureza humana e sofreu, tendo sido tentado, para que comungasse plenamente de nossas experiências. Dessa forma, Sua vida terrena se tornou extremamente preciosa para nós. Sua

humanidade nos deu a certeza de Sua compreensão e solidariedade, e Sua divindade nos assegurou Sua presença constante e infalível. Ele é misericordioso Sumo Sacerdote, porque podemos aproximar-nos dele como estamos, com todos os n o sso s problemas e nossas tenta­ ções. Ele é fiel Sumo Sacerdote porque é plena e eficazmente capaz de socorrer os q u e são ten tad os (Hb 2 .1 8 ). Vivemos, portanto, p e la f é no F ilh o d e D eus (G1 2 .2 0 a r a ) , sempre tendo em mente que os que

confiam inteiramente nele hão de encontrá-lo inteiramente fiel.

!

N o ta s 1— O genitivo objetivo representa o objeto (complemento) numa frase com um verbo. No caso em questão, dons do Espírito Santo, o Espírito Santo seria o objeto do verbo

doar, representado pela palavra dons. Isto significa que o Espírito Santo não seria aquele que concede os dons, e sim que Ele os recebe de Deus. 2— O genitivo subjetivo representa o sujeito numa frase com um verbo. Logo, em dons

do Espírito Santo, o Espírito seria o sujeito, aquele que possui os dons e os distribui. (Fonte: http://books.google.com.br. DUBOIS, Jean. Dicionário de Lingüística. São Paulo: Editora Cultrix, 1973, p. 303.)

O genitivo absoluto é um caso gramatical do grego que faz a oração inteira fun­ cionar como circunstância de uma oração principal. No caso em questão, segundo

a sua vontade (Hb 2.4 a r a ) seria a circunstância da oração principal dando Deus tes­ temunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo (v. 4). Quanto ao caso dativo, em certas línguas, assimilou as fun­ ções de outros casos já extintos. No grego clássico o dativo indica também a posse. Logo, neste versículo, Deus seria o detentor de todos os sinais, prodígios, milagres e dons do Espírito Santo, e o Senhor mesmo, segundo a Sua vontade, os distribui­ ria. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_dativo) ^

Teantrópico deriva de Teantropia, tratado acerca de Deus feito homem. (Fonte: Novo Aurélio Século XXI: o dicionário da língua portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janei­ ro: Nova Fronteira, 1999.) O autor da Epístola aos Hebreus levou em conta a tradição dos rabinos de que a re­ velação da Palavra, no Antigo Testamento, foi mediada por anjos. Embora isso não esteja afirmado categoricamente na Bíblia, encontramos algumas passagens que se referem a esse ponto de vista, como Atos 7.53. E provável que o escritor da Epístola aos Hebreus tenha adotado esse entendimento para ressaltar o contraste entre os mediadores da Palavra na antiga aliança, os anjos, e o Mediador na nova aliança, Jesus Cristo. (Fonte:

C h a m p lin ,

Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado:

versículo por versículo. São Paulo: Hagnos, 2002, volume 5.) Fílon de Alexandria (25 a.C.—c. 50): filósofo judeu-helenista que viveu durante o período do helenismo. Tentou uma interpretação do antigo testamento à luz das categorias elaboradas pela filosofia grega e da alegoria. Foi autor de numerosas obras filosóficas e históricas, onde expôs a sua visão platônica do judaísmo. (Fonte: http://www.unisinos.br/ihuonline/uploads/edicoes/n97028900.5pdf.pdfl São João Crisóstomo foi um teólogo e escritor cristão, patriarca de Constantinopla, no fim do século IV e início do V d.C. Sua deposição em 404 produziu uma crise entre a Santa Sé e a Sé Patriarcal. Pela sua inflamada retórica, ficou conhecido como Crisóstomo (que em grego significa boca de ouro). (Fonte: http://pt.wikipedia. org/wiki/S%C37oA3o_Jo%C3%A3o_Cris%C3%B3stomo) Na Revised Standard Version, lemos the pioneer, o pioneiro.

9 — O ablativo de origem, com ou sem preposição, expressa a origem ou a ascendência de uma pessoa. (Fonte: http://us.geocities.com/direitounifieo/latim/licao6.htm) 10— O grego possui três gêneros: o masculino, o feminino e o neutro. Tomás de Aquj. no, cujo pensamento filosófico e teológico explora muito as ricas possibilidades do neutro, afirma: "O gênero neutro é informe e indistinto; enquanto o masculino (e o feminino) é formado e distinto. E, assim, o neutro permite adequadamente significar a essência comum, enquanto o masculino e o feminino apontam para um sujeito determinado dentro da natureza comum" (1,31,2 ad 4). (Fonte: O Neutro m

Gramática e na Metafísica. Artigo de Jean Lauand, professor titular da Faculdade de Educação da USP. http://www.hottopos.com/geral/neutrum.htm) 11— A cristofania é um conceito da teologia cristã utilizado para designar as aparições de Cristo pré-encamado ocorridas no Antigo Testamento. Segundo algumas posições teo­ lógicas, o Anjo do Senhor que fez vários contatos com personagens bíblicos, o sacerdote Melquisedeque, que recebeu o dízimo de Abraão, e o quarto homem visto por Nabueodonosor quando este condenou Sadraque, Mesaque e Abede-Nego seriam aparições de Jesus. (Fonte: http://ptwiHpedia.org/wiki/Cristofania) 12— Docetismo: doutrina gnóstica do séc. II segundo a qual o corpo de Cristo não era real, porém só aparente, negando que Ele tivesse realmente nascido de Maria. (Fonte: B u a r q u e

de H o la n d a ,

Aurélio Ferreira. Novo Aurélio Século XXI: o dicionário

da língua portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.) 13— 0 vocábulo paraldetos provém do verbo parakalein. Há ocasiões em que parakalein signi­ fica consolar (Daí a designação do Espírito Santo como Consolador). Contudo, este não é o uso mais freqüente do verbo parakalein. O sentido mais comum no grego popular é chamar alguém para ficar ao lado de uma pessoa, a fim de ajudá-la e aconselhá-la.

Paraldetos é uma palavra passiva em sua forma e significa literalmente alguém que é chamado em favor de uma pessoa. Visto como o mais importante na mente é sempre o motivo do chamamento, esta palavra, mesmo sendo passiva em sua forma, tem um sentido ativo, significando aquele que ajuda e, sobretudo, que testifica em favor de alguém, apoiando a sua causa, isto é, tomando-se o seu advogado de defesa. (Fonte: http://www.cpr.org.br/jesuscristo-nosso-advogado-propidacao.htm) 14— 0 genitivo de pessoa (ou subjetivo) representa o sujeito numa frase com um ver­ bo. Logo, quando se diz que Cristo tomou a descendência de Abraão, significa que

A b raão

de

é o que possuía uma descendência, ou seja, Cristo tomou os descendentes

A b ra ã o .

(Fonte: http://books.google.com.br. DUBOIS, Jean. Dicionário de Lin­

güística. São Paulo: Editora Cultrix, 1973, p. 303.) 25— Os textos gregos valem-se do aoristo, tempo que exprime a ação pura e simples sem que

dele se cogite duração ou acabamento. O aoristo indicativo exprime um fato passado, do qual a duração breve ou longa não tem nenhum interesse para o sujeito falante. (Fonte:

Aspecto verbal no grego antigo. Artigo de Silvia Costa Damasceno, professora adjunta de Língua e Literatura Grega da UFF e coordenadora do setor de Grego da mesma univer­ s id a d e .

http://www.filologia.org.br/anais/anais%201II%20CNIJ33html)

j6 — O tempo perfeito, no giego, é usado para descrever um processo irreversível, um fato consumado. (Fonte: http://www.airtonjo.com/grego_biblicol6.htm) 17 — O tempo presente, no grego, é usado para descrever uma ação que se repete a in­

tervalos regulares. (Fonte: http://www.airtonjo.com/grego_biblicol6.htm) 18— O aspecto verbal iterativo ou frequentativo exprime uma série de processos repe­ tidos. (Fonte: http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=tira_duvidas/docs/tira-duvidasa) 19— Aoristo efetivo: tempo verbal grego em que a ênfase está no fim ou resultado da ação. Portanto, entendemos a ação como confirmada completamente. (Fonte:http:// www.solascriptura-tt.org/Seitas/Pentecostalismo/So83ApostEDiscTiveramDonsSinaisHelio.htm)

3 O APOSTOLADO E O* SUMO SACERDÓCIO DE CRISTO

V

amos agora ultrapassar a Porta Formosa do templo em Jerusalém e entrar no templo espiritual. N o capítulo 1,

analisamos esta porta, que simboliza aspectos divinos e hu

de Cristo, citada pelo autor da Epístola aos Hebreus, ext

valiosas lições para a experiência cristã. Tam bém vimos as sérias advertências que ele fez aos seus leitores, a fim de não negligenciarem a grande salvação pelo desprezo à divindade de Cristo, e o que disse sobre evitarem o endurecimento do coração, fazendo referência à humilhação de Cristo. Agora [dando prosseguimento ao nosso estudo de Hebreus], à medida que deixarmos a Porta para entrar no templo, verificaremos que é apenas a expansão da vida de Cristo, novamente considerada [pelo autor da Epístola] sob o duplo aspecto das naturezas divina e humana do Senhor. Contudo, [em Hebreus 3, veremos que] Jesus é analisado mais à luz do que fez por nós do que com base naquilo que é em si mesmo, embora este último fato seja sempre o fundamento do primeiro.

O TEM PLO ESPIRITU A L P o r isso, santos irm ãos, q u e p a rticip a is d a vocação celestial, c o n s id e r a i a ten ta m en te o A p ó sto lo e S u m o S a c erd o te d a nossa co n fissã o , Jesu s.

Hebreus 3.1

ara

A natureza divino-humana de Cristo é a “porta do templo” da comunhão com Deus, que manifesta Sua graça em Cristo, a qual está sempre em expansão. Ao entrarmos neste templo de graça e verdade, o autor da Epístola aos Hebreus deseja que consideremos a natureza e obra de Jesus em relação a Moisés, o apóstolo do Antigo Testamento, e a Arão, o sumo sacerdote veterotestamentário. O assunto, portanto, há de apresentar-se sob o simbolismo do antigo tabernáculo e seu ser­ viço, e o estudo pode ser considerado como um comentário inspirado do autor da Epístola sobre o Antigo Testamento, sua história e seu ritual, suas leis e seus precedentes legais. Sob o aspecto do escritor da Epístola, existe a ideia de trans­ cendência, que se resolve na g ra ça rev elad ora e assinala mudança de relação. Sob o aspecto do Sumo Sacerdote, temos a ideia de imanência, que se manifesta na g raça q u e d á p o d e r e assinala mudança de condição. Estes dois aspectos se combinam na encarnação de Jesus e unem-se outra vez nos desígnios finais de Deus. No templo da comunhão espiritual em que entraremos, have­ rá, portanto, um crescimento constante de luz e de verdade, por um lado; e, comparável a ele, um crescimento constante de amor e poder, ambos revelados pela graça de nosso Senhor Jesus Cristo. A expressão p o r isso — em p o r isso, santos irm ãos, q u e p articip ais d a vocação celestial, con sid erai aten tam en te o A póstolo e Sum o S acerdote da. nossa confissão, Jesu s (Hb 3.1 a r a ) — marca a transição dos capítulos

precedentes (1 e 2) para os outros dois que imediatamente os seguem (3 e 4). Essa transição deixa subentendido tudo o que foi dito nos capítulos anteriores acerca da superioridade de Cristo sobre os anjos,

pjesmo no Seu estado encarnado, e lança também o alicerce da supe­ r io r id a d e

de Cristo sobre Moisés, o mediador da antiga dispensação e

o “fundador” da teocracia terrena.

1. Santos irmãos (Hb 3.1

ara )

Esta forma de saudação evidentemente é decorrente de uma declaração feita no capítulo anterior, onde lemos: P orqu e, assim o qu e santifica com o os q u e são san tificados, são todos d e u m ; p o r cu ja causa não se envergonha d e lhes ch am ar irm ãos (Hb 2.11). As duas afirmativas

[sobre a santificação e a irmandade], portanto, estão combinadas na expressão santos irm ãos, que forma uma caracterização apropriada daqueles que passarão pela porta de acesso ao templo espiritual. É Jesus quem nos santifica e, portanto, toma-nos santos; somos Seus irmãos por criação e redenção. O que, então, poderia ser mais natural do que estes dois grandes pensamentos [santos irmãos[ ficarem juntos? A santidade é comum a Cristo e ao Seu povo e marca a união e a base da comunhão entre ambos. A ideia fundamental da santidade é aquilo que Deus separa para si mesmo, sendo, às vezes, usada em um sentido exterior e coletivo, como no caso da Igreja. Disto, porém, não devemos inferir que rodos os membros de uma comunidade cristã es­ tejam na posse da santidade interior [que deveriam ter]. Mesmo entre os freqüentadores da igreja, existem pessoas que não experimentaram a pureza de coração ou o amor perfeito. A santidade interior depende da pureza interior. O que Deus separou para si mesmo, a fim de ser santificado na verdade (Jo 17-17), deve também ser interiormente purificado do pecado, para que se harmonize com a imagem do Filho, que é santo, inocente, im acu lad o, sep arado dos pecad ores (Hb 7.26b).

2. Queparticipais da vocação celestial (Hb 3.1 ara ) A vocação do cristão é celestial, não apenas porque do céu pro­ cede sua origem, nem ainda porque é um chamado para o céu, como

alvo supremo, mas porque é uma qualidade espiritual de vida que en­ contra sua realização plena no céu. Andrew Murray descreveu esta vocação como o poder de uma vida espiritual que opera em nós, para tornar nossa vida celestial. Em sua plena concepção, portanto, é o poder do Espírito Santo, primei­ ro derramado no Pentecostes, pelo qual os homens foram libertos de todo pecado e transformados à semelhança espiritual de Cristo. A palavra m etoch oi (|u1 £toxol), p articip an tes, literalmente sig­ nifica p artícip es, isto é, os que tomam parte nas mesmas coisas. Os cristãos são os ungidos e, portanto, em certo sentido, os “cristificados” que participam com Jesus do poder de uma vida eterna. A voz do céu dirigida a Moisés foi uma vocação, o chamado para a expansão de uma teocracia na terra. Os cristãos são chamados para participarem do estabelecimento de um Reino espiritual, cujo es­ tágio inicial é uma condição interior de justiça, paz e gozo no Espírito Santo.

3. Considerai atentamente o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão (Hb 3.1 a r a ) Eis como essas palavras podem ser expressas de maneira mais enfática: “Portanto, porque Jesus é o Apóstolo e Sumo Sacerdote de nossa confissão, consideremo-lo bem” (Lowrie). C on siderar é um termo usado na astronomia derivado da raiz

latina sidtts, que significa estrela ou constelação, e dela temos sid eral, o que pertence aos astros ou ao céu. C on sid erai contém a ideia de que, como os astrônomos fitam longa e atentamente os céus, a fim de obter informações sobre o sistema solar, assim também, como cristãos, deve­ mos continuamente fitar Jesus Cristo com admiração e adoração. A palavra grega correspondente a considerar vem do verbo katanoeo (Ka.TavÓ£(jj), que não significa principalmente lev a r a sério e em consi­ d eração, mas também trazê-lo d ia n te d o espírito, no sentido de dedicar

atenção a Jesus ou refletir sobre Ele integralmente.

W estcott disse que o verbo co n sid era i remete à atenção e à observ ação,

nosso

bem como ao respeito contínuo dirigido a Jesus como

Apóstolo e Sumo Sacerdote e, mais remotamente, à Sua fideli­

dade, quando comparada com a de Moisés. Estas coisas é que, agora, sáo objeto de análise. O verbo katan o esa te (K^ravorjcraTE) está no imperativo, mas é, em geral, considerado não tanto uma exortação, como proposição

destinada a exibir os assuntos que o escritor da Epístola aos Hebreus mais tarde tenciona discutir. Na verdade, a Epístola inteira, deste pon­ to em diante, forma um tratado lógico e conciso sobre os vários as­ su n to s

para os quais o autor chama a atenção no primeiro versículo

do capítulo 3. E para esta discussão que ele pede atenção, por julgá-la digna de minuciosa e prolongada consideração.

4. Cristo, nosso Apóstolo (Hb 3.1

ara)

A obra apostólica de Cristo se refere principalmente ao Seu aspecto objetivo como Revelador e Líder, este último já mencionado como o C ap itão d a nossa salv ação (Hb 2 .1 0

k j).

Como Moisés tirou Israel do Egito e conduziu-o pelo deserto às fronteiras de seu alvo material, o descanso em Canaã, assim Cristo, como nosso Apóstolo, não apenas nos traz até as fronteiras do des­ canso em Deus, mas, como Josué, nosso grande Salvador realmente nos introduz naquele descanso que aguarda o povo de Deus. Canaã, portanto, simboliza o descanso da fé, que Deus preparou para o Seu povo, no qual, porém, o antigo Israel deixou de entrar por causa da incredulidade e da dureza de coração. São apresentados quatro aspectos da obra apostólica neste capítulo e no seguinte, sob o simbolismo de (1) a casa, (2) a voz na casa, (3) a terra e (4) o trono na terra. Também o S ábad o é mencionado como símbolo do descanso espiritual que Deus, desde o princípio, preparou para o Seu povo. Observaremos que estes símbolos representam uma concepção cada vez mais profunda e mais ampla da obra apostólica de Cristo.

Disse o bispo Chadwick: j

—— Não poderemos bem considerá-lo como Apóstolo sem antes nos lembrarmos da fidelidade, do patos [sentimento], da simplici­ dade do Seu ensino, das bênçãos que espalhou com ambas as mãos, da Sua longanimidade para com os pecadores e Seus inimigos; sem antes refletirmos sobre a amável majestade com que Ele revelou o Pai e nos lembrarmos de que todo o Seu ministério foi, para nós, no século 20, tio verdadeiro como o foi para a Galiléia e a Judéia no século 1.

Jesus é o único que pode sondar e transformar o nosso coração, levando-nos à paz que resulta da rendição total a Ele. Só o Senhor pode redimir-nos com o sangue expiatório de Seu sacrifício sacerdotal e, pelo Seu Espírito, fazer morada em nosso interior. Sua obra profética sempre há de preceder Sua expiação sacerdotal. Ao receber Cristo e Sua salvação, devemos aceitá-lo em todos os Seus ofícios, como Profeta, Sacerdote e Rei.

5. Cristo, nosso Sumo Sacerdote (Hb 3.1

ara)

Os dois títulos aplicados a Jesus em Hebreus 3.1, Apóstolo e Sumo Sacerdote, vêm acompanhados de apenas um artigo, assim indi­ cando que a Ele pertencem os dois ofícios, sendo Ele o grande objeto de nossa confissão. Como Apóstolo, Cristo tem acesso ao Pai e revela-o a nós; como Sumo Sacerdote, Ele pleiteia a nossa causa junto ao Pai e leva-nos à pre­ sença de Deus. Em ambos os cargos, Ele é m isericordioso e f ie l (Hb 2.17). Misericordioso para com os homens, porque, tendo encarnado, com­ preendeu as nossas fraquezas e tentações; fiel a nós e a Deus, posto que só falou as palavras que ouviu do Pai durante o tempo em que esteve na terra [e cumpriu tudo o que prometeu e não se desviou de Seu propósito e missão], E esta fidelidade que o torna digno de confiança.

Repousando nele, encontramos a confiança interior e a alegre certeza de que Ele cumprirá todas as promessas que Deus nos fez. Nos capítulos 3 e 4 de Hebreus, a obra apostólica de Cristo será apresentada sob quatro títulos principais: a casa, a voz na casa, a te r r a

e o trono na terra, como já indicamos. Nos capítulos

7

a

1 0 ,

a

Sua obra sacerdotal será igualmente apresentada em quatro divisões: o sacerdócio, as promessas, o santuário e a herança. Estes símbolos do Antigo Testamento recebem interpretações espirituais à luz da nova aliança e, associadas a eles, encontramos quatro adymências: contra a indiferença, a indolência, o pecado voluntário e a apostasia.

A

casa d e

D eus

O autor da Epístola aos Hebreus descreveu Jesus como m isericord ioso e f i e l sum o sacerdote (Hb 2.17), e, tendo mencionado

sucintamente a Sua misericórdia, da qual falará mais à frente de forma detalhada, passa a considerar a Sua fidelidade. Cristo foi f i e l ao qu e o constituiu, com o tam bém o fo i M oisés em toda a sua casa (Hb 3.2). A palavra oikos ( o ik o ç ), traduzida como casa ,

não se aplica meramente a uma construção e à sua mobília, mas também à família que nela reside, incluindo os empregados. O texto que é a base desse argumento se encontra em Números 12.7, onde lemos: O m eu servo M oisés, qu e é fi e l em tod a a m in h a casa. Casa, conforme se usa no Antigo Testamento, refere-se ao povo de Israel.

No Novo Testamento, é a Igreja, a qual, no sentido amplo, inclui todos os cristãos, tendo-se derrubado a parede que separava o povo de Israel dos gentios, conforme consta em Efésios 2.14: o q u a l [Jesus] de am bos os povos [Israel e os gentios] fe z um ; e, d erriban d o a p a red e d e separação q u e estava no m eio.

Com relação a Deus, a casa é essencialmente uma só, mas, con­ siderada com referência à sua administração, são duas: a dispensação do Antigo Testamento, por meio de Moisés, e a neotestamentária, mediante Cristo.

C r is t o

é s u p e r io r a

M

o isé s

O objetivo do escritor de Hebreus é mostrar a superioridade de Cristo por meio de três argumentos: (1) o Construtor é maior do que a casa; (2) o Senhor é maior do que o servo; e (3) a Realização é maior do que o símbolo dela. 1— O primeiro argumento se fundamenta na superioridade do Construtor sobre a casa, sendo assim expresso: Jesu s, todavia, tem sido con sid erad o dign o d e tan to m a io r g ló ria d o q u e M oisés, qu an to m a io r h on ra do qu e a casa tem a q u ele q u e a estabeleceu

(Hb 3 .3 a r a ) . A glória da qual Cristo foi digno é uma referência à Sua fi­ liação, ao passo que a palavra doxes ( ò o £ t ] ç ) , traduzida como g ló ria na primeira parte do versículo, torna-se tim en (xi^r|v) na

segunda parte, por ser mais aplicável a uma casa. Moisés foi, na verdade, fiel, mas ele era parte da casa, não o fundador dela, daí termos uma significativa mudança de preposições: de em (èv) para sobre (èrti). Moisés foi fiel n a casa; Cristo foi fiel so b re a casa. As palavras m a io r h o n ra d o q u e a casa tem são k a th hoson (kcx.0' ò'crov),

que significam q u a n to m a io r. T rata-se, contudo, de uma afirmação geral, sem o objetivo de com parar as honras concedidas. O escritor da Epístola aos Hebreus reforça o argumento no versículo seguinte, dizendo: P o rq u e to d a ca sa é e d ific a d a p o r alg u ém , m as o q u e ed ificou tod as as coisas é D eus (Hb 3.4).

Existe aqui uma profunda visão espiritual do Cristo encar­ nado com o o L og os, ou Verbo eterno, pelo qual todas as coisas foram feitas. Portanto, Cristo, como o Filho divino, não é apenas o Soberano, mas o Fundador da casa, logo superior a Moisés, que era parte da dispensação sobre a qual presidia.

\

2

_ O segundo argumento, de que o Senhor é maior do que o ser­ vo, é extraído do contraste entre Moisés como servo e Cristo como Filho: E , n a verdade, M oisés f o i f i e l em tod a a sua casa, com o servo (Hb 3.5a).

A tarefa de exaltar Cristo acima de Moisés era delicada, pois este era alvo de veneração por parte dos judeus. A vida reli­ giosa de Israel, a Lei com suas várias observâncias, o conhe­ cimento de Jeová e a esperança que os judeus tinham na vida futura estavam todos ligados a Moisés, o servo de Deus. Além disso, o próprio Jeová testificara: Moisés é f i e l em to d a a m i­ n ha casa e boca a b o ca fa lo com ele (Nm 12.7,8a).

Contudo, a habilidade do escritor de Hebreus, inspirada pelo Espírito Santo, nunca falha. Ele toma as palavras casa, servo e Filho e desenvolve-as de maneira magistral. Moisés é um therep hon (Geçarccov), servo livre, aquele que serve voluntariamente e executa os desejos do seu senhor na administração da casa; não é um d ou los

(ô o ü à o ç ),

escravo sem

v on tade p ró p ria . Moisés, portanto, é caracterizado por toda a

dignidade que se ligava ao seu ofício. E ainda, Moisés era um servo fiel em tod a a casa de Deus. Os outros servos eram usados em várias partes da casa. Profetas, sacerdotes e reis tratavam de aspectos diferentes e limitados da verdade e da vida; a Moisés, contudo, fora confiada toda a dispensação, o regime e o cuidado de toda a família de Israel. O alvo do argumento, pois, é este: Moisés foi servo em casa de servos, tendo sido ele próprio parte da casa; Cristo, todavia, é Filho sobre uma casa de filhos, sendo Ele mesmo o Autor e Fundador da dispensação sobre a qual é Soberano. 3— O terceiro argumento, de que a Realização é maior do que o símbolo dela, baseia-se na seguinte afirmação: o ministério de Moisés foi p a r a testem unho d as coisas q u e se h av iam d e an u n ciar (Hb 3.5b).

Moisés, portanto, não apenas deu testemunho quanto à verdade contida na Lei, mas prescreveu o culto simbólico em sua pró­ pria casa sob um feitio que, depois, testificaria aquele que seria mais plenamente exibido em Cristo. Por isso, nosso Senhor disse: P orqu e, se vós crêsseis em M oisés, creríeis em m im , porque d e m im escreveu ele (Jo 5.46); e, em relação aos discípulos no

caminho de Emaús, agiu da seguinte forma: E, com eçan do por M oisés e p o r todos os p rofetas, ex p licav a-lh es o q u e d ele se achava em todas a s E scritu ras (Lc 24.27).

A dispensação mosaica, portanto, era simbólica e dava testemunho tanto da pessoa como da obra de Jesus Cristo.

A

CASA SOMOS NÓS

C risto, p orém , com o F ilh o , em su a casa; a q u a l casa somos nós.

Hebreus 3.6a a r a No sentido coletivo e no individual, somos a casa de Cristo, ed ific a d o sp a ra m orad a d e D eus no E spírito (E f 2.22b).

Visto que, nas coisas espirituais, cada parte é igualmente um todo, cada indivíduo, como pedra viva na casa espiritual, é habitado pelo Espírito e manifesta a santidade de Deus. Em um sentido cole­ tivo, estas pedras vivas entram juntas na edificação da casa de Deus e, por meio de suas relações pessoais umas com as outras, manifestam a glória do Senhor. Se, portanto, quisermos a fidelidade de Cristo e a alegria de Sua com unhão, devemos render-lhe o controle de nossa vida. Ele tem de ser a presença permanente em nosso coração; não como Hóspede, mas com o Hospedeiro [com o o dono da hospedagem que somos nós]. Somos Sua casa, e Ele [com o nosso Senhor] deve ter acesso a todos os aposentos; a administração e o controle de tudo têm de estar em Suas mãos.

•V

0 t m r o t m i o sumo sacerdócio de Cristo

O teste da consagração genuína ao Senhor é estarem as chaves ^ casa nas Suas máos, náo apenas durante os .períodos de êxito, mas também nos tempos de dor e adversidade. Somos Sua casa, da qual Ele

cuida de maneira peculiar. Que honra grandiosa é esta! Desfrutamos da paz do Espírito e da libertação de todas as preocupações quando entregamos nossa vida nas máos de Cristo! Ele náo é apenas a Cabeça da Igreja, mas de todas as coisas sobre a Igreja, e administra o universo para o progresso e o cuidado dela. Confiemos, portanto, nele inteiramente e esperemos dele tudo o que realizou por nós. A verdadeira consagração passa por uma entrega total a Deus de tudo o que temos, somos e esperamos ser; de nosso passado, presente e futuro (dizemos passado, porque há muitos que, secre­ tamente, desejam uma volta às rendições passadas). Tal entrega resolve todas as questões em favor do pleno controle de Deus em todos os interesses da nossa vida e em favor de Sua administra­ ção quanto ao tempo, lugar e à maneira das circunstâncias a eles ligadas [r..] O leitor verificará imediatamente a diferença entre estar tudo ao dispor de Deus e apenas acharmos que depositamos tudo aos pés dele. O Pai é o Soberano e faz o que quer com os Seus, mas os homens nem sempre o reconhecem como tal [...] Ele precisa ter tudo em Suas mãos, porque dificultamos o Seu agir en­ quanto desejamos reter parte de nós mesmos ou de nossos bens. Isso porque tudo aquilo em que colocamos o nosso coração é um ídolo e nos faz cultivar a cobiça, que é idolatria, mantendo-nos, realmente, em uma condição em que Ele náo pode realizar obra poderosa dentro de nós. Esta exigência de consagração completa não é uma regra arbitrária ou tirânica, mas o resultado necessário do amor puro. Deus deseja abençoar-nos, e só poderemos desfrutar do prazer real de Sua presença quando soubermos que Ele é o supremo Bem. ( S e e , The rest o ffa ith , p. 17,18)

P

r i m e i r a a d v e r t ê n c ia : n á o n e g l i g e n c i a r

A GRANDE SALVAÇÃO Se g u ardarm os firm e, a té a o fim , a ou sad ia e a exu ltação da esperança.

Hebreus 3.6b a ra Quando o escritor da Epístola diz a q u a l ca sa som os nós (Hb 3.6a a r a ) , acrescenta a significativa condição: se g u ardarm os firm e, a té ao fim , a ou sad ia e a ex u ltação d a esperan ça (Hb 3.6b a r a ) .

Eis como se tem traduzido esta porção do versículo: “Se guar­ darmos a ousadia e gloriarmo-nos da esperança firmes até o fim” (Moulton). O bispo Chadwick afirmou:

j ------Nos nossos dias, náo há questão que aflija, como nos tempos an­ tigos, o ministro fiel do Evangelho mais profundamente do que aquilo que possa ser a razáo por que tantos convertidos esfriam na fé e caem . e o que poderá ser feito para que tenhamos cristãos que permaneçam firmes e vençam.

--- r

[Em Hebreus 3.6b] Talvez um estudo crítico das palavras p a rresia n (raxç>ç>r]C7Úxv), traduzida como ousadia (a r a ) o u confiança (a r c ),

e kauchem a (K a ú x n ^ c i), como exultação (a r a ) o u g lória ( a r c ) , dê-nos uma compreensão da natureza e da necessidade da firmeza na vida cristã. O primeiro vocábulo (parresian ) denota o falar aberta e intre­ pidamente, sem temor das conseqüências, daí ter vindo a significar confiança ou ousadia. Não está ausente no vocábulo a ideia de liberdade

de expressão, porém, na acepção de que tratamos, é liberdade sincera e reverente, que provém de um coração purificado, dilatado e posto em liberdade (SI 119.32). Para destacar com mais clareza o significado desse vocábulo, temos outra palavra grega, h ed on e (rjõovf)), que denota experiência

alegre, despertada por circunstâncias favoráveis, ao passo que p a rresia n (^dQçqaíav) é exatamente o oposto, significando aquela ou sad ia que vem de dentro e triunfa sobre todas as circunstâncias desfavoráveis. Sáo essas qualidades — liberdade e ousadia — que vêm da unção do Espírito Santo, que habilitou de tal modo os discípulos no Pentecostes que eles an u n ciavam com ou sad ia a p a la v r a d e D eus (At 4.31c). Já a palavra kau ch em a (Kaúxq^ici), traduzida como ex u ltação (a r a ),

e todas as palavras da mesma família trazem em si a ideia de jactar-

se ou gloriar-se. O fato de a palavra ser traduzida como regozijar-se na A u th orized V ersion talvez se deva a que, na S eptu agin ta, as palavras hebraicas que denotam gozo e alegria sáo geralmente traduzidas pelos mesmos termos. A palavra k a u ch em a (Kaúxrjf-ia), como é usada em Hebreus 3.6b, refere-se mais especialmente ao sujeito, enquanto kauchesis (kcxúxt](Jlç) remete-se ao ato.

Nossa esperança, pois, náo é em nossos sentimentos, mas na­ quele que os inspira, e o objetivo do escritor da Epístola aos Hebreus é mostrar que alicerce abundante temos para ou sad ia e ex u ltação na pessoa e obra de Jesus Cristo. Esta esperança está firme em si mesma e entesourada em Deus, mas o regozijarmo-nos nela com ousadia é nosso privilégio e dever. W estcott observou que “a esperança está relacionada com a fé, assim como a atividade energética da vida está relacionada com a pró­ pria vida”. A esperança só pode chegar à sua realização perfeita quando inspira ousadia naqueles que a possuem. E esta esperança abundante é o centro da intervenção ativa, o segredo da firmeza e a fonte de exulta­ ção corajosa. É esta esperança que devemos manter firme se quisermos viver cheios do Espírito. A palavra katasch om en (K axáxofiev), g u ard ar, traduzida como se g u ard arm os fir m e (Hb 3 .6b ), é um subjuntivo aoristo1, o qual

Westcott traduziu como “se guardarmos firme”, e Vaughan, “se (quando o grande Dia vier) formos achados firmes”. O caminho para a firmeza, então, é o da fé singela. Este cami­ nho obtém de Deus, que é a nossa Vida, a alegria pela Sua presença,

e encontra o motivo de sua ousadia naquele que é a base infalível de toda esperança. O Senhor nos dá mel tirado da rocha (D t 32.13), saú­ de no meio da enfermidade, óleo d e aleg ria, em v ez d e p ra n to , veste de lou vor, em vez d e espírito an gu stiado (Is 61.3 a r a ) .

Neste trecho do versículo, se gu ard arm os firm e, a té a o fim , a ou sad ia e a ex u ltação d a esperan ça (Hb 3.6b a r a ) , existe uma lição im­

portante para todos os que querem ter sucesso na vida cristã. A firmeza e a perseverança são traços marcantes e essenciais do caráter cristão, e encontram sua única raiz na ousadia da esperança. Pedro nos apresentou o fundamento desta esperança quando disse que Deus nos g ero u d e n ov o p a r a u m a v iv a esp era n ça , p ela ressu rreiçã o d e Jesu s C risto d en tre os m ortos (1 Pe 1.3c).

Tanto Paulo quanto João associaram esta esperança ao amor divino. Paulo afirmou claramente que todos os que são justificados pela fé têm em Cristo também uma graça mais profunda e abundante, n a q u a l estam os firm es; e nos g loriam os n a esperan ça d a g ló ria d e D eus. E n ão som en te isto, m as tam bém nos g loriam os nas tribu lações, saben d o que a trib u la çã o p r o d u z a p a c iên c ia (Rm 5.2,3).

Acerca da ousadia ligada à experiência do perfeito amor, disse João: N isto é em nós aperfeiçoado o am or, p a r a que, no D ia do Ju íz o , m antenham os con fian ça [...] N o am or n ão existe m edo; antes, o p erfeito am or lan ça fo r a o m edo. O ra, o m edo p rod u z torm ento; logo, aqu ele qu e tem e n ão é aperfeiçoado no am or (1 Jo 4.17,18 a r a ) . Aqui se torna claro que o medo pode estar

confundido com o amor na experiência dos cristãos. Existe, porém, uma experiência mais profunda em que o medo, que vem da dúvida e da desconfiança, é lançado fora, e o amor, aperfeiçoado. Não permitiremos, então, como casa de Deus, que Ele puri­ fique o nosso coração, lance fora o medo e aperfeiçoe o nosso amor? Não nos é ordenado que amemos o Senhor nosso Deus com todo o coração, toda a alma, e todo o entendimento (M t 2 2 .3 7 a r a ) ? Odenou Ele alguma coisa impossível de ser realizada? Não. Então, guardemos, pois, firmes a ousadia e a exultação da nossa esperança até ao fim!

Segun da

a d v e r t ê n c ia : n ã o e n d u r e c e r o c o r a ç ã o

P ortan to, com o d iz o E sp írito Santo, se ouvirdes h o je a sua voz, n ão en du reçais o vosso coração, com o n a p rov ocação, n o d ia d a ten tação no deserto.

Hebreus 3.7,8 A rebeldia dos israelitas no deserto sob a liderança de Moisés se tornou o motivo dessa advertência feita pelo escritor de Hebreus aos cristãos judeus, os quais ele evidentemente considerou como em imi­ n e n te

perigo de cair também por causa da incredulidade. O episódio

no deserto era muito apropriado para preveni-los contra a increduli­ dade que destruiu os seus pais. Esta segunda advertência está no polo oposto ao da primeira, e é dirigida contra uma condiçáo mais sutil e perigosa. A primeira foi feita contra o ato de negligenciar a grande salvação, vista à luz da majestade do Filho de Deus; a segunda denuncia o endurecimento do coração como conseqüência da subestimação da pessoa e obra do Filho, vistas em Sua humilhação. O Filho de Deus é o mesmo, quer como Rei em Sua majestade, quer como Servo em Sua humilhação; seja na força de um Leão, seja na mansidão de um Cordeiro; como o Ancião de dias ou como a Criança de Belém; como o Portador do cetro do céu ou como Carregador do fardo do mundo. Por esta razão, o escritor da Epístola se remete dire­ tamente à história de Israel como base de sua advertência. Esta se estende de Hebreus 3 .7 a 4.13, com várias aplicações de uma só verdade aos cris­ tãos. Visto que esta seção envolve outras verdades importantes, deve ser analisada e considerada em suas diversas divisões.

A VOZ

NA CASA

P ortan to, com o d iz o E spírito S an to...

Hebreus 3.7a

O escritor da Epístola aos Hebreus, de acordo com seu cos­ tume, alude diretamente ao Autor das Escrituras, em vez de ao instrumento humano, expressando, assim, sua crença irrestrita na inspiração do Antigo Testam ento. Ele parece aproximar-se desta advertência com cena hesitação e, considerando as Sagradas Escrituras como a voz de Deus a comunicar-se em cada passagem, introduz o assunto com esta expressão profundamente significativa: C om o d iz o E sp írito S an to (Hb 3.7a).

O Espírito Santo, que inspirou a Bíblia, é o Seu intérprete au­ torizado. O que é pronunciado por Ele só pode ser entendido quando Ele habita em um coração integralmente rendido e obediente. Observamos, em nossa discussão sobre os primeiros versículos da Epístola aos Hebreus, que antigamente Deus falava pelos profetas, e a revelação que provinha deles era, portanto, externa, cerimonial e prepa­ ratória. Nestes últimos dias, Deus n os fa lo u p o r intermédio de Seu Filho, e esta revelação foi interna, espiritual e perfeita. Cristo, agora, habita no coração do Seu povo, mediante a presença do Espírito Santo, e, assim, fala não somente a nós, mas em nós. O Espírito Santo revela Cristo em nós e só Ele torna a Verdade vital e real em nossa experiência. Somente por intermédio dele é possível ter comunhão com o Pai e o Filho. O escritor de Hebreus quer deixar bem vivo em nós que o Espírito fala tão-somente àqueles que, com o coração submisso e obediente, dão ouvidos à Sua voz.

1. Se ouvirdes hoje a Sua voz (Hb 3.7b) Há uma palavra e uma expressão importantes que o Espírito usa livremente: h o je e n ão en du reçais o vosso coração. Satanás nos aconselha a postergar para a m a n h ã [o que é para hoje], e a demora faz endurecer o coração (Pv 13.12). Com base nessa verdade, Wesley disse: “Eis como sabemos se estamos procurando pelas obras ou pela fé; se pelas obras, há sempre alguma coisa a ser feita antes; porém, se pela fé, por que não agora?”

Em Hebreus 3.7, a palavra h o je fala [náo apenas do presente, do dia de hoje, mas também] da eternidade de Deus, pois para Ele não existe passado ou futuro; toda a Sua graça e todas as Suas bênçãos se a c u m u la m

em um único e eterno ag ora. Assim, todo cristão que deseja

desfrutar as riquezas da graça de Deus precisa corresponder a este ag ora com uma confiança presente. Essa verdade admirável sobre a qual o Espírito Santo fala por meio de Cristo, a Palavra viva, dirige-se a cristãos, e não a pecadores. E um chamado para o descanso da fé, assunto que o escritor da Epístola introduzirá e estudará mais minuciosamente no capítulo seguinte. O Espírito Santo, para os que o receberam como o Consolador presente, torna-se o Guia a toda a verdade. Em relaçáo às promessas de bênçãos materiais ou espirituais, Ele diz h oje, e introduz em nós o espírito de fé, pelo qual podemos apossar-nos das promessas de Deus e tomá-las reais em nossa vida. Nesse sentido, o Espírito traz palavras de advertência, a fim de que náo endureçamos o coraçáo. Ele fala apenas a quem possui um coração confiante e obediente; endurecê-lo é inter­ ditar todos os meios de comunicação com Deus.

2. Não endureçais o vosso coração (Hb 3.7c) O escritor da Epístola não expressa essa advertência com suas próprias palavras. Ao contrário, usa o Salmo 95.7, apresentando-a com base na Palavra inspirada. A citação é retirada da S eptu agin ta, geralmente considerada como os próprios comentários do escritor ao aplicar esta passagem aos cristãos judeus. As palavras m e skleru n te (|ar]

T iç ),fé ,

exibindo-se o contraste mais clara­

mente no grego do que em nossa língua. Pistis traz em si mais a ideia de descrença, ou de recusa em crer, do que a mera noção de incredulidade. O coração perverso, k a rd ia p o n era (KaQÒía n o veo á), é mani­ festo pela incredulidade, ou desconfiança de Deus, pelo erro persistente

e pela perversidade na vontade

e

no intelecto obscurecido, fazendo

com que a pessoa náo compreenda os caminhos de Deus. Assim, pois, a perversidade não reside apenas na vontade, nas afeições ou no entendimento, mas na corrupção de todo o coração ou ser, segundo a a c e p çã o

usada pelos judeus.

O perverso coração d e in cred u lid ad e é, portanto, apenas outro nome para aquela coisa odiosa que Paulo chamou de o velho hom em ,

o corpo d o p eca d o (Rm 6.6); a ou tra L e i nos seus membros (Rm 7.23)

e a in clin açã o d a carn e , que é in im iz a d e con tra D eus (Rm 8.7). Nas palavras de Wesley, é a “tendência para pecar”, pois tende a resultar em pecados reais, que trazem culpa e condenação. Nosso Senhor tornou clara esta inclinação quando disse: A ssim , toda árvore b o a p ro d u z bons fru to s, e tod a árv ore m á p ro d u z fru to s m aus

(Mt 7.17). O caráter da árvore determina a qualidade dos frutos que ela produz. Ensinou que existe uma natureza que é a origem do ato, e ambos necessitam do sangue que Ele verteu na cruz para fazer expiação por nossos pecados; o ato, para ser perdoado, e a natureza pecaminosa, para ser purificada. O p erverso coração, ou pecaminoso, manifesta-se, como obser­ vou o escritor de Hebreus, afastando-nos do Deus vivo (Hb 3.12

a ra ).

O verbo afastar-se é ap osten ai (â n o a r f/v a L ) , que, às vezes, é traduzido como desviar-se. Daí a nossa palavra ap ostasia, que sugere o fim terrível a que a descrença ou desconfiança de Deus naturalmente conduzem. A forma verbal [afaste] é uma palavra composta, ap istem i (àTiícrt£(J.i), que, no infinito aoristo2, expressa um caráter definitivo ou real. Assim, a palavra in cred u lid a d e [nessa advertência em Hebreus 3.12] é compreendida [por influência do verbo a fa ste que a segue] como tendo crid o e se d esv iad o ou a fastad o do Deus vivo. A expressão D eus vivo é an arthou s, não havendo artigo no grego. E um hebraísmo, comum no Antigo Testamento, por meio do qual Jeová era contrastado com os ídolos inanimados dos pagãos. Literal­ mente significa D eus ch eio d e vida-, um Ser benévolo, que ama e deve ser amado; cheio de bondade e verdade, benignidade e misericórdia,

socorro bem p resen te n a h ora d a an gú stia (SI 46.1). Essa expressão —. D eu s vivo — ocorre quatro vezes nesta Epístola.

Alguns escritores modernos, seguindo uma psicologia superfi­ cial, têm asseverado que é impossível saber se o coração foi purificado do pecado, pois, dizem eles, o pecado pode estar oculto no subcons­ ciente e, portanto, fora do alcance da consciência. E uma tese falsa, porém antiga. O Dr. J. A. W ood, em P u rity a n d m atu rity , publicado antes de 1876, afirma que o Dr. Curry, em uma conferência à Convenção de Pregadores de Nova Iorque, expressou dúvida quanto ao estado puri­ ficado ser consciente. Disse ele: “A consciência toma conhecimento dos processos da alma, mas o raio de sua observação não se estende aos estados latentes ou quiescentes”. Ao que o Dr. W ood replicou: Que são descanso, liberdade da condenação, -paz e repouso, senão estados quiescentes da alma, dos quais podemos estar tão clara e posi­ tivamente conscientes como de qualquer outro dos processos da alma [...] Os santificados podem ficar tão positiva e plenamente conscientes de pureza, como os não-santificados, da impureza. ( W o o d , Purity and maturity, p. 109)

2. Exortai-vos mutuamente cada dia durante o tempo que se chama Hoje (Hb 3.13a ara) Os cristãos viviam sob o perigo iminente de apostatar, pelo que o autor da Epístola aos Hebreus sugere um meio a ser empregado para prestar assistência a todos os indivíduos, a fim de que perseverem na fé. A base é a afeição fraternal que leva à admoestação mútua; assim é que se mantém a integridade de todo o Corpo. Logo, os cristãos de­ viam estimular-se reciprocamente. A palavra estim ular ou encorajar [em Hebreus 3.13, traduzida como exortar] é p ara k a leite (TraçaKOÀme), derivada do substantivo Paracletos,

■ Consolador, na acepção usada por nosso Senhor quanto ao Espírito Santo.

O pronome vos [em ex o rta i-v o s, é reflexivo; significa a vós m esm os] é h ea u tõ s (eau;touç), e é usado em lugar de a llello u s

(òAAtÍAouç), conforme se encontra em Efésios 4 .3 2 . Praticamente, náo existe diferença entre os dois, acreditava Vaughan, pois o pri­ meiro é uma alusão ao conjunto unificado dos cristãos, e, quando cada um estimula a si próprio, está encorajando todo o Corpo do qual é membro. A expressão cad a d ia é hekasten hem eran (éKácrcrjv t]|j£Qav) __literalmente todos os d ias — e sugere que essas admoestações mútuas sejam freqüentes e contínuas. Na expressão d u ran te o tem po q u e se ch am a H oje, em grego usase o artigo definido, o H oje. Evidentemente o autor se referia à citação anterior do Salmo 95.7, se h o je ou virdes a sua voz. A expressão inteira significa enquanto se chamar o Hoje. Lindsay observou que o tempo a que essa expressão alude é a vida presente, a qual, por causa da sua brevidade e incerteza, pode bem ser apelidada de um d ia . Disse ele: “O momento presente é nosso: náo sabemos o que haverá amanhã; e, se desperdiçarmos o nosso dia de misericordiosa visitação, não teremos nova oportunidade de voltarmo-nos para o Senhor e alçarmo-nos à glória”.

3. A fim de que nenhum de vós seja endurecido pelo engano dopecado (Hb 3.13b a r a ) A ênfase aqui não é sobre a qualidade moral do engano, mas sobre o engano como meio pelo qual o coração se ilude. A palavra apate (à ra m ]), traduzida como engano, está no caso instrumental3 e

significa fraude ou engano da mentira, pelo qual alguém é levado ao erro e ao pecado. Este engano, contudo, não é puramente passivo, no sentido de uma pessoa inocente ser enganada por outrem, pois está associado com tes h a m artias (tí]ç á|aaQTiaç), o pecado-, logo, significa engano próprio. A pessoa torna-se, a um tempo, a enganadora e a enganada, por isso esse engano acarreta culpa.

v-

Alguns dizem que o pecado aqui mencionado deve ser iden­ tificado ou com a incredulidade, ou com a apostasia mencionada no contexto. Isto não é possível, uma vez que as palavras apostenai (araxrtr)vai) e sklem nthei (oKÂr|QUV0rj) descrevem um estado de coração empedernido e, portanto, h a m a rtia (ájaaçTÍa) não pode significar a mesma coisa, a menos que se suponha que o escritor de Hebreus confunda a causa com o efeito. Mas ele é específico; chama-o tes ham artias (xf|ç á|aaç»TÍaç), o p eca d o , e assim o identifica como a causa. E ao perv erso coração, que se manifesta pela incredulidade, que ele se refere; é ao p eca d o in ato ou à degeneração herdada, que permane­ ce mesmo no regenerado até que o coração seja purificado pelo sangue de Jesus Cristo (1 Jo 1.7,9). É ao pecado de que Paulo falou quando escreveu: P erm an ecerem os n o p e c a d o , p a r a q u e a g raça seja m ais abu n ­ dante? (Rm 6.1). O próprio apóstolo apresentou a lacônica resposta: D e m odo n en hu m ! N ós q u e estam os m ortos p a r a o p e c a d o , com o vivere­ m os a in d a nele? (Rm 6.2). Aqui temos outra vez o artigo usado com

a palavra p eca d o , tei h a m a rtia i (xr| á|_iaQTÍa). O pecado mencionado neste trecho, diz-nos depois o escritor da Epístola aos Hebreus, é re­ movido pela san tificação. P a r t ic ip a n t e s

de

C

r is t o

P orque nos temos tom ado participantes d e Cristo, se, d e fa to , guar­ darm osfirm e, até ao fim , a confiança que, desde o princípio, tivemos.

Hebreus 3.14 A palavra m etochoi (|_i £ toxol), traduzida com o p articip an tes, também pode ser traduzida com o sócios, p a rceiro s ou com pan heiros.

A expressão com panheiros d e Cristo [como vemos na

ntlh ]

talvez

pudesse referir-se ao fato de que, como Israel antigo, na jornada para a Terra Prometida, foi companheiro de Moisés, assim, na jornada espi­ ritual da vida, deveremos ser companheiros de Cristo. Todavia, parece haver base mais sólida para a tradução p articip an tes, porque, como

O

a po s to la d o e

o

sum o sac er d ó c io d e

C ris to

Cristo, ao participar de nossa carne e de nosso sangue (Hb 2.14), tornouse um de nós, somos espiritualmente participantes dele. Este é um pensamento precioso, que a nossa salvação consiste na posse da natureza de Cristo. Ele é o nosso caminho, a nossa verdade e a nossa vida (Jo 14.6). Não somos meros companheiros em um sen­ tido exterior, mas participantes de uma vida comum. Cristo habita em nós mediante o Espírito, em uma comunhão mais rica e mais profunda; e esta comunhão interior, espiritual, é uma experiência contínua com as novas manifestações de Sua presença diarianíente. Existe um erro mais ou menos predominante de que a salvação operada por Cristo é algo a ser mantido independente de uma co­ munhão com Ele e dos méritos da expiação por meio do Seu sangue. É um erro perigoso que, por força, conduz às trevas e à confusão. A experiência cristã genuína é uma comunhão consciente com Cristo, e é táo-somente pelo reconhecimento dela que o sangue de Jesus vertido na cruz purifica o coração de todo pecador e mantém este inculpável diante do trono de Deus (1 Jo 1.7). Existe uma semelhança entre as expressões se gu ard arm os firm e, até ao fim , a o u sad ia e a ex u ltação d a esperan ça (Hb 3.6b a r a ) e se, d e fa to , g u ardarm os firm e , a té a o fim , a con fian ça (Hb 3.14b a r a ) . Em

cada um dos casos, a referência é a indivíduos que receberam a salvação por Cristo, embora haja alguma variação na linguagem. A palavra katasch om en

(koctócct% gj(J-£v),

gu ardarm os, é a mesma

em ambos os versículos, como também b eb a ia n (pepaíav), traduzida no primeiro como fir m e , referindo-se à casa de Deus, e no segundo igualmente, sendo aqui um termo náutico que significa manter um curso firme (At 2 7 .40). A palavra to m a d o , em p o rq u e nos tem os to m a d o (Hb 3- 14a a r a ) , referindo-se a p a rticip a n tes d e C risto, ég eg on am en (y£yóva|a£v), e não é o equivalente de esm en (è
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