A Época de Gil Vicente
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A época de Gil Vicente (contextualização)....
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A ÉPOCA DE GIL VICENTE
Gil Vicente nasceu no reinado de D. Afonso V por volta de 1465, e faleceu entre 1536 e 1540. Testemunhou as lutas políticas do reinado de D. João 11, a descoberta da costa africana, a chegada de Vasco da Gama à Índia, as conquistas dos seus primeiros governadores, a transformação de Lisboa em capital de um Império, no cais mundial da pimenta e da canela, o fausto do reinado de D. Manuel, a construção dos Jerónimos, do convento de Tomar e de outros monumentos, as perseguições aos cristãos-novos e finalmente, os começos da crise do reinado de D. JoãoIII. a quem escreve uma carta a pronunciar-se contra a perseguição movida contra os Judeus. a instauração da Inquisição. a Companhia de Jesus e o ambiente simultaneamente austero e hipócrita. Gil Vicente viveu numa época dominada pelos Descobrimentos e suas consequências a nível social. A agricultura estava sem braços, além de esmagada pelos impostos senhoriais. Nos grandes burgos, como Lisboa, ninguém queria trabalhar. Havia uma massa de gente corrompida pelo luxo. A imoralidade invadia todos os estratos sociais. Gil Vicente observou, compreendeu e analisou toda essa sociedade comprometida pelo luxo. pela riqueza e pela ociosidade. A ninguém poupou nas sua criticas. O genial dramaturgo íntimo da Corte. No reinado de D. Manuel, Gil Vicente e os amigos representavam aí os autos que ele escrevia , chegando mesmo a ser organizador das festas palacianas. No reinado de D. João III, com a entrada da Inquisição, os divertimentos começaram a ser mal vistos, algumas das peças de Gil Vicente foram proibidas. Gil Vicente criticou todas as classes sociais- clero, nobreza e povo. Atacou o rei, a justiça, os escudeiros que não queriam trabalhar, as alcoviteiras, clérigos pouco exemplares, magistrados ignorantes e corrompidos, médicos incompetentes , parvos , frades, folgazões e libertinos, etc. Criticou os vícios da sociedade do século XVI com toda a comicidade naturalidade e espontaneidade, focou os mais diversos assuntos, divertindo e, ao mesmo tempo, fazendo uma forte critica aos principais vícios de todas as classes do seu tempo com o objectivo de modificar aquilo que estava mal.
Paula Cruz
A cidade de Lisboa no século XVI Lisboa começou por ser uma pequena cidade construída à beira do Tejo, na colina arredondada onde hoje se encontram as ruínas do Castelo de São Jorge. Foi esse castelo que D. Afonso Henriques conquistou aos mouros em 1147, com a ajuda dos cruzados que por aqui passaram a caminho da Terra Santa. Depois, à medida que a população foi aumentando, a cidade foi crescendo para fora das muralhas. A fim de proteger os habitantes, vários reis mandaram construir novas muralhas, mas a cidade crescia sempre e o casario foi-se alargando pelos campos em redor, de modo que, no séc. XVI, já se podia considerar uma grande cidade. A muralha que então envolvia a cidade tinha setenta e sete torres e muitas portas! Vinte e duas portas para o lado do mar e dezasseis para o lado de terra. Rodeada de bosques, olivais, pomares e mais de seiscentas casas de campo. Era um lugar magnífico para se viver por ser bonita, agradável, e de clima tão suave que nunca se sentia ao longo do ano nem calor nem frio em excesso. Dentro da cidade havia vinte mil edifícios, para cerca de cem mil habitantes de várias raças e nacionalidades, pois além dos naturais de Lisboa chegavam constantemente portugueses vindos da província em busca de uma vida melhor, estrangeiros que pretendiam instalar-se para se dedicarem sobretudo ao comércio, mas também a outras actividades, muitos escravos trazidos das terras descobertas,
imaginá-la, fervilhando de actividade, no reinado de D. Manuel I.
Paula Cruz
e ainda os ciganos que tinham entrado em Portugal no século anterior. As ruas eram íngremes, inseguras, de terra batida, por onde circulava muita gente a pé, a cavalo, de carroça. Ainda não havia coches mas as senhoras da nobreza dispunham de um meio de transporte chamado «andas», ou «andinhas», que se colocavam no dorso dos animais ou eram levadas por escravos negros. O abastecimento de água era assegurado por poços, fontes e chafarizes. Esgotos não havia, de modo que os despejos se faziam para a rua, ou para o rio. [...] Lisboa tinha também várias praças e mercados. Na praça do Pelourinho Velho era costume encontrar homens sentados diante de mesas, com penas de pato, tinta e papel, para escreverem textos por encomenda, fossem cartas, mensagens amorosas, discursos, orações e até versos. O preço variava conforme o trabalho e os homens que o executavam não tinham qualquer cargo oficial. Era pura e simplesmente a maneira de ganhar a vida que lhes parecia mais fácil e agradável. O mercado do peixe e dos doces, junto ao rio, era também um local muito agitado. Ali acorriam todos os dias peixeiros, hortelãos, confeiteiros, padeiros, doceiros, para venderem os seus produtos. Havia lojas de comida, vinhos, tendeiros, estalajadeiros e tecelões. Por determinação da autoridade, espalhava-se grande quantidade de cestos nos quais, logo que atracavam os barcos, o peixe era transportado por escravos para as vendedoras da praça. Enfim, esta Lisboa feita de pedra, muito desarrumada e sinuosa, mas cheia de graça, aconchegada nas colinas mas virada bem de frente para o rio, não podemos nós tornar a ver senão em gravuras, pois foi destruída pelo violento terramoto de 1755. Mas é possível
Origem do teatro
O homem sentiu desde sempre necessidade de exteriorizar os seus sentimentos e as suas sensações. Deste facto nasceram os actos lúdicos e a dança. Da mesma sorte, o homem descobriu que tem um espírito que sobrevive à morte do corpo. E nasceram os sacrifícios, rituais em honra dos mortos e dos deuses. O ser humano, desde sempre. sentiu necessidade de exteriorizar os seus sentimentos, a sua relação com o meio em que vivia. Assim, foi proclamando diferentes formas de representar as suas emoções. quer através da pintura, da dança. da mímica e da musica, quer através da escrita e de representações teatrais. Considera-se que o teatro nasceu na Grécia, onde o culto ao deus Dioniso, filho de Zeus, deu origem a várias histórias. O teatro romano copiou o modelo grego mas com temas próprios. Na Idade Média existiam, representações de carácter: Religioso Profano satírico. Neste sentido não é legítimo dizer que Gil Vicente é o pai do teatro português. Ele não criou a partir do nada. Apoiando-se naquilo que já existia, ele teve a capacidade de inovar e recriar. Deste modo, a OBRA VICENTINA É FRUTO DE UMA EVOLUÇÃO E NÃO DE UMA INVENÇÃO. Gil Vicente, à semelhança de outros literatos, além do português, fez uso do castelhano, do latim – ainda que macarrónico – e de uma língua literária chamada de saiaguês, que consiste num dialecto que mistura o leonês e o castelhano.
Paula Cruz
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