a descoberta do inconsciente - do desejo ao sintoma - quinet, antônio

May 22, 2019 | Author: Ráisa Camilo Ferreira | Category: Sigmund Freud, Dream, Jacques Lacan, Thought, Psychoanalysis
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o sonho de castr a ção vem a pontar que o o b jeto da se par a ção é o f alo denotado pela angústia provocada pela visáo do sexo da menina, O objeto a ser perdido pelo/do Outro não é ele com seu ser e sim o falo,

angústia' da castração .!-

Pode ele me perder  .!-

o bjeto a ser perdido .!O sujeito como objeto a ser deixado

(-cp )

c ir i _  am. Aca baram antecipando a viagem e nao - pu d eram VIr  . . PeIo teIeIOne ' a mae me dlsse q~e, desde q ue ele começou a análise, a mudança f oi nítida: co 'Passou a se reIaCiOnarmelhor  , , m seus lr maos e com os colegas; está menos f f echado, conseguindo bnncar  sozinho e concentr ando se , - no que az; nao f :az mais 'b' nnca d'eiras pengosas e náo houve mal's pr  o  bI , emas na esco Ia. Pe d'I que ele viesse ao telef  o ne: ele par  e cia surpr  e so que eu t'Ivesse I'Igad o, d'Isse . , que estava  b em, tnste de lr embor a do Br asil mas que d' _  " nao er a eClsao sua e Sim de seus pais. Ao ser perguntado sobr e o que achou do tr b Ih l' d '" a a o rea lZa o comigo, ele r es pondeu: Isso também vai me faltar ." Poder f alar d a f alta é corr elativo à temática da castr a ção reintrod 'd UZI a I T  pe a ana Ise e que é sempre de atualidade par a o sujeito, pois r econstitui a verdade que a par eceu na falha do saber médico, , ,Podemos assim esquematizar a mudança que a análise oper ou nesse sUJeito:

 No sonho e suas associações, o a pelo ao pai é representado pelo chamado à diretora que vem punir  a infrator a, colocando em cena a metáfora paterna em que o Nome-da-Pai vem barr ar o Desejo da Mãe, que podemos fazer equivaler  ao gozo do Outr o. Mas a diretora, assim como o pai, é impotente para barr ar  esse gozo; e daí a cena se repetir  e insistir na visão dessa cabeça de Medusa que, so b a forma de uma "rodela",  petrifica de horror nosso sujeito. Essa impotência em dar conta totalmente do gozo é, na verdade, estrutur al, pois da operação de metaforização do gozo há um resto que é o objeto a, [ NP

gozo

-7 a]

n o caso r e pr esentado

 pelo olhar , q ue é o objeto da pulsão em jogo no sonho e suas associações e também no acting out  dos tombos. O objeto a olhar  é articulado ao f alo como f altante, figur ado pela visão da "rodela" no personagem da menina que so be no mur o e que, se desatenta,  pode cair, Essa seqüência na análise vem r etificar  a verdadeira condenação do sujeito descober ta por Fr eud: a condenação d ó sujeito ao sexual. Ao ser  r e presentado pelo significante "hemof ílico" par a o sa ber médico, sustentado  pelos pais, o sujeito é um condenado à morte, A análise vem a balar  a identificação do sujeito ao signif icante "hemof ílico" ao tr azer de volta à  pauta a questão fálica que f az do sujeito do dese jo um condenado à castração. A análise se interr ompe no momento das f érias de julho q uando a família esteve em Paris e soube que o pai fora tr ansferido Vier am então par a o R io

condenado à morte

-7 condenado

J sonhador 

J

à castração

J -7 sujeito

do dese jo

J

" A análise no âmbito do retorno a Fr eud que Lacan pr o põe é o r etor no ao . à análise desse menino não são os " pé daI" etr a, O que vai' Interessar  SignIf icados que eu poderia dar a partir da minha compreensão da psicanálise. f  . Pod' , enamos ef cetivamente azer toda uma teor ia a partir da r elação mãe' cnança ,_ mas e'cpr ef enve I tr atar o meninO ' como um sujeito e não como um ~~, b~, nao ,como ~m filho, ~ sim como um sujeito e, como sujeito, ele é Jeito ~o inConsCiente, sUjeito sexuado dentr o da partilha dos sexos. Temos de consld "fi IC~d os que e Ie atribui aos seus significantes. A ' e~a: quals'- sao os slgnI , conmbulçao de Lacan me permite mostr ar que o significado de "nuvem" e ~~do pelo sujeito, e não por nós, O sujeito do inconsciente, q ue é o sr Jelto da associação livr e, atr i buiu um significado que lhe é própr io, Para e e, nuvem é "coisa de menina". d Há todo um imaginário na psicanálise que nos fornece muitos significa os; por  exem plo, os símbolos que nos levam a povoar os nossos significantes d . ,fi d ' , os slgnl Ica os maiS usuaiS, Esse caso mostr a-nos bem o q ue é guerr a A

toa, não é porque as f eministas falam de guer ra  dos sexos desde os anos 50. É ele quem o diz, é ele quem situa a guerra como coisa de menino, nuvem como coisa de menina e colo ca a guerr a nessa o per ação metaf ó rica de substituição de nuvem por  guerr a. Como uma língua estr angeir a , cada um tem sua língua. Mas os significados de cada palavr a na língua individual de cada um tampouco são fixos, como o são numa língua estr angeir a. Em nossa pr ática não podemos atr i buir  os nossos significados aos significantes do sujeito e precisamos ouvir  quais são os significados que ele dá, ou se ja, qual é a cadeia associativa que ele desenrola. Isso muda completamente a teoria da interpretação. Por isso a interpretação feita nesse caso, utilizando a propriedade de equivocação do significante, introduziu uma ambigüidade, um duplo sentido - o q ue é diferente de uma interpretação h ermenêutica, isto é, de uma interpr etação em q ue o analista atr i bui um sentido. A partir da interpretação a nível de signif icante feita pelo analista, Jean-Louis passa a poder  elaborar sua r elação com o Outro sexo, sua situação entre o macho e a f êmea, então par a além de sua posição entre o bem e o mal. A questão so br e o que é um ser sexuado estava sendo recoberta por uma questão bélica e pôde ser r elançada na análise.

Capítulo

O W u nsch

III

d o so n h o

 Definitivo, caba L , nunca há de ser  este rio 1àquar i. Cheio d e f uros pe Los Lados , t orneir a L - e Le d err ama e d esmatr e La à toa. S ó com uma t romba-d 'agua se engravid a. E  em pacha. Estour a. Arromba. Carr ega bar rancos. C ria bocas enormes. V áza por  e Las. Cava e recava novos  Leitos. E destampa adoidado ... C a vaLo que desembesta. Se empoLga. Escouceia árd ego de so Le cio. E s f re  ga o rosto na escória. E invade, em est end a L impr evisí veL , as t er ras do pant ana L.  Depois se espr a ia amoroso , Libidinoso animaL de água , abr açand o e cheirand o a terra f lmea.

"Um rio desbocado", M.B.

É com o tratado sobre os pr o cessos oníricos, a Tr aumdeutung, que Freud inaugur a a psicanálise como ciência do desejo, ao descobrir que todo o sonho expr essa um Wunsch , mostrando que no inconsciente há desejo, sobre o qual o su jeito sa be sem sa ber que sabe. O sonho é a via régia do inconsciente, mas não o sonho (Traum)  propriamente dito, e sim sua interpretação (Deutung). Devemos dif erenciar  o sonho, como fenômeno, de s e u relato   com sua interpr etação. Como fenômeno, o sonho é uma historinha encenada em imagens dur ante o sono, r ecordada ao se acor dar . Ao r elatá-lo, acaba-se lembrando de alguma coisa que havia sido esquecida pois é a partir do r elato que o sonho propriamente se desenrola. O r elato em si é sua interpretação, uma vez que ao r elatar  o sonho o sonhador associa seus elementos a outros elementos significantes de Sua história, ou de sua fantasia, que constituir ão a interpretação daquele sonho, interpr etação que equivale a seu deciframento. É nisso que consiste a r evolução freudiana sobre os sonhos: a interpr etação do sonho está em seu r elato acompanhado de suas associações, sendo efetuada pelo próprio sonhador .

Com a Traumd eutung, Fr eud realiza. portar:to .uma du pla oper ação ·Inverten d o o que classicamente a humamdade inteira considerava como . . ., ·Interpr etaçao ~ dos sonhos . A primeira diZ respeIto ao Interpr  e te: quem " I D .I ·  pr e t a na~oé o "intérpr ete dos sonhos, como por  exemp Inter  d' . oh ame,G que ' . ·   I Interpreta o sonho de Nabucodonosor  na Bíblia, ou o aIC IVIn o na b recla . par a que m as pessoas levavam seus sonhos qua antiga, ... em De IOSpara sa er ~, er a a mensagem q ue os deuses estavam envIando. A, pnm:lr~ operaçao e  por tanto sobre o intérprete: quem interpreta o. sonho. e o propr~o sonhador . A segun d a operaçao ~'mae u inversão do conceIto de Interpretaçao. h d ( Como o. .. . para o son a o r ou para . SI sUjeIto Interpr  eta seu. sonho' Fr eud não, chega . mesmo, uma vez que utl'lizou seus pr opnos sonhos par a escr e ver a maior  h d os sonhos) e diz'. "O que você acha que esse son o ~ nterpr etaçao  parte d a ! ~ que Freud r ealiza é deixar f alar  sem a menor censura quer  d·Izer.," A oper açao . d . preocupaçao~ com o sentido' . "o q ue f az você ou maIOr . . pensar a. partIr  d I' e d etermlna . d os eIem entos dos sonhos'". Ele convida ,o sUjeIto a aSSOCIar,es Izar  ~ de palavra em palavr a par a ver aonde vai cheg~r. ~ um~ op~r ~çao totalmen~te dif er ente de dizer : "Diga-me o que acha que SignIfica IS~O.. E ~ma oper aç:o  pela via metonímica e não pela via metafór ica; pela via slgnlf icante e nao  pela via do significado. .  Na verdade, é uma tentação constante dos analJsantes 9uer~r saber o sonho está q uerendo dizer , em vez de deixar associar 1Jvreme~te que o . . . ~ I tido elemento por  elemento. Isto por qu  e existe no sUjeito palxa~ pe o sen - paixão maior do q ue o dese jo de saber so br e os seus deseJOS.Em s~~a, a primeir a oper ação que a psicanálise pr o ~õe é fazer  com que o su ;e~~~ suposto sa ber , que o sonhador  situa no analtsta, se desloq ue  'par a o pr op fabricante de sonhos: "Quem sa be é você" - a ponta o analIsta. A.segun~a oper a ção consiste em a pontar a inutilidade de se pr ocur ar  O sentIdo, p~IS o que vai inter essar  é onde suas associações vão desembocar , como no son o do a bsinto. . ,. . . , ue Se a interpr etação dos sonhos é a via r egIa do inconsciente e p~r q  ela permitiu a Fr eud a descoberta e a formulação do Wunsch inconSCiente.

o

Wunsch f r e udiano

e s eu u s o em a le m ã o

Em sua carta de 12 de J'unho de 1900 a Fliess, Fr eud ex pr essa um W unsch: que, na casa de Bellevue onde passar a o ver a-o, um d'Ia h avena. u.ma placa d de mármor e na q ual se poderia ler: " Nesta casa.' no dia 04 d~,Junho e 1895 o mistério do sonho f oi r evelado ao Dr . Slgmund Fr eud. Esse mistério é o Wunsch que o sonho revela como r ealizad~, tal como h d InJ d I ma que Inaugura o f  i inte tad rti d

inconsciente com a tese do sonho-dese jo: Der T raum ist eine Wunscher  füllung.! Hoje, na flores:a d.e Co benzl, quase não se pode distinguir a placa da revelação do mlsténo do sonho que, do alto da colina, traz a marca de Fr e ud para essa Viena adormecida desde que o inventor da psicanálise a deixou. O Wunsch de Fr eud foi, no entanto, r ealizado. Lá está a placa, marco de u m novo século que tr az à humanidade um novo cogito: desejo logo existo. O sonho de Fr eud a despertou par a o desejo inconsciente. O sonho como uma realização de dese jo sempre f oi considerado por  Fr eud sua grande descober ta: an insight as this one dest inat ion off irs us once 2 in a lif etime. O caráter de intuição, insight, ou mesmo de r evelação da teoria do sonho-desejo, se deu a partir do sonho de in jeção de Ir ma. Mas afinal o que é esse Wunsch cuja descoberta e cujo alcance mudaram a própria concepção do homem? Freud utiliza um termo banal e corr ente da língua alemã e pouco a  pouco vai tr ansf ormando-o, caracterizando-o, conceitualizando-o para faz~r  do Wunsch inconsciente a própria essência do sonho.

Em alemão, Wunsch designa um voto, uma as piração, um desejo ou mesmo um pedido. O termo wunsch é utilizado para expressar , por  exemplo, votos de bom aniversár io (lch wünsche dir alies gut e zum Gebur tst ag), ou votos de r ecuperação a alguém que este ja doente (!ch wünsche dir volle Genesung). O W unsch tam bém express a o que   se espera acontecer  (Es geht alies nach Wunsch): tudo está indo como se esperava; Das ist wünschenswerts significa "isto é dese jável" e Wunschsatz é equivalente a "Tomara!", "Oxalá!". Wunsch é tam bém o pedido q ue se faz às fadas, às estr elas cadentes ou quando se entr a pela pr imeira vez em uma igreja. É ele que está no centro do Conto da lingüiça ut ili zad o por  Freud como a pólogo par a ilustrar a o posição entr e os dois processos do aparelho psíq uico q ue põe em evidência a divisão do su jeito em relação ao dese jo, pois Wunsch é um termo do Voca bulário da literatura mágica-infantil dos contos de fada. "Uma fada boa  pr ometeu a um po br e casal garantir -Ihes a realização   de seus tr ês pr imeiros dese jos (Wünsche)" . " ... Este conto de fadas poderia ser  empr egado em l11uitasOutr as conexões, mas aq ui serve apenas para ilustrar a possibilidade de que, se duas pessoas não se encontram unidas uma à outra, a realização d~ desejo de uma delas pode não acarretar mais que des prazer para a outra."3 Ainda no âmbito feérico encontramos um curioso termo par a se re f er ir  à :ar inha de condão: Wünschelrute (em q ue rut e significa pênis) ou se ja, o

de-dese jo", mostrando que a sa bedoria popular identifica o desejo vinculado ao falo. Wunsehkínd  em alemão designa aquele que é sortudo, qu e nasceu em pelicado: é a criança que foi desejada, um filho do desejo. E Wunsehfos é o ter m o que expressa um estado de satisfação total (literalmente "sem-desejo"), de alguém que está saciado, como depois de ter comido uma lauta r efeição. O verbo wünsehen compor ta sempre um complemento, pois é um verbo tr ansitivo, traduzido, segundo o contexto, por : desejar, aspirar, ter  vontade de, querer, fazer votos. Ele pode ser usado como ref lexivo para indicar o desejo de proporcionar a si mesmo um prazer pessoal. "Síe wünseht e sí eh zu W eíhnaehten eíne Puppe"  (Ela desejou para si uma boneca de presente de  Natal). Aqui é um Wunseh para si mesmo, esper ando no entanto que alguém o realize.  No Wunseh a dimensão do O utro do endereçamento está sempre  presente. Quando é designado e explicitado a alguém, ele se apr esenta claramente como um pedido, uma demanda. lch muss íhr díesen Wunseh ver sagen (Devo-lhe r ecusar  essa demanda); Pros pekt e werden ,auf  Wunseh  zugesandt  (Enviaremos os prospectos conforme os pedidos). E tam bém o Wunseh que encontramos na ex pressão alemã equivalente a "deixar dese jar "  para se ref er i r a alguém ou algo que não corr es ponde às ex pectativas. Seí n  Betr agen f iisstnoeh víe f  zu wünsehen (Seu comportamento deixa ainda muito a desejar). Mesmo que possa às vezes ser traduzido por dese jo, segundo o contexto em português, o Wunseh em alemão jamais tem uma conotação de dese jo sexual, cujo termo mais adequado em alemão é Begí er de  (concupiscência, cobiça, no sentido sexual). É Fr eud quem vai elevar  o termo Wunseh à dignidade de uma categor ia fundamental da psicanálise: o dese jo inconsciente sexual infantil indestrutível. O texto da Int er  pr et ação d o sonhos é um longo  percurso de ela boração desse conceito, que o ensino de Lacan nos permite apr ender a partir da distinção entr e demanda e dese jo, que desenvolver emos no capítulo seguinte. Neste aq ui, acompanharemos os passos de Fr eud n.a es pecificação das car acterísticas desse Wunseh tão inapr eensível quanto loglcamente definido.

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1895) Fre d

via a

h encontramos as pr inci pais teses q ue dizem res pel'to a' t . d TVJ: . -. eona o wunse tr aum: I" . . a r eaIIzaçao do deseJO, seu caráter alucinato' r I'o e e . r gr esslvo, a oglca SlgOl- d f icante do sonho e a semelhança do p r ocesso da f :o h . u r maçao o son o com o dos SIntomas neur óticos. _  Antes de a bordar o sonho, Fr eud se ref ere ao TVJ:un h na ex pr essao "  . "  , w z se estados de desejO , q ue são r eslduos deixados pelas ex periências vividas que engend~aram un:a s.atisfação.4  No caso dos afetos há uma liber a ção súbita ~a ten~ao quantitativa :m um d~s :}stemas. Quanto aos desejos, não há 1J ber açaomas acumulaçao da tensao. O estado de dese jo, diz Freud, resulta nun:a atração p~si~iva" par a o objeto dese jado ou mais pr ecisamente para sua Imagem mnemlca. Essa atr a ção se deve às vias trilhadas que conferem à recordação uma quantidade mais importante do que à per ce pção. O r ec~que cor~es ponde aqui ao desinvestimento de uma imagem mnêmica ~ostll, ~u se p, ele não é em princípio tributário do desejo. Mas quando o inconsCiente s~ encontra tomado por  um estado de desejo, se o objeto não a parece na r eabdade mas apenas sua recor dação, toda satisfação é impossível,  podendo "cair , n~m estad.o de iner midade e so f r er danos". Isto significa q ue o apar el.h~. p~lquI~o ,(~ ,;lStema) n ão é ca paz de distinguir entr e o "o b jeto r eal e aldeia ImaglOana e coloca em ação o pr ocesso de descarga. Podemos obse:var  aqui a i~portân.ci.a do objeto f antasístico que é o o b jeto q ue funCIOna na f antaSia do sUjeito, a qual é uma máq u ina de descar ga de gozo (não necessariamente de prazer ). ~le distingue dois pr ocessos: o pr o cesso primário, em que a c ar g a em d~sejo desemboca na alucinação e na pr odução do des prazer  mo bilizando : Inter venç~o de .todas as def e.sas;e o . pr ocesso secundário, que torna possível ~ ~~m IOveStlmento do IOconSClente e uma moderação do processo    pnmano. É no estado de desejo que, r egida pelo princípio do prazer , ser á buscada a tensão ótima par a-além da q ual não há mais perce pção nem esf or ç o. Os :ados de ~ese!o s.ãoos q ue a pr esentam as coor denadas simbólicas de pr azer  . as cadel~s slgnlficantes por  onde rola o desejo - determinadas por  da s D zng , a COisa, a qual jamais ser á encontr ada.5 . q .~anto ao sonho, a r ealização do dese jo é atribuída aos " processos P~lmanos que acompanham a ex per iência de satisfação" e, se o s onhador  nao . se d'a COnta, e'd eVI'd o a'f : [r agl'l'd I a d e d o sonho em pr odução de pr azer  e ISto por  q   ' S. . ~e, .asslm como nas neur oses, h a' pr o cessos q ue mascar am para o Ujeno a slgOlficação dos sonhos como r ealização de dese jo. O que é ilustr ado  pOr Fr  . - que pr o poe _  nesse texto do sonho de . . _ eud a p ar t'lf  d a esquematlzaçao 6

não alucinada C aparece

(D) e uma r e pr esentação

no consciente

inco~ciente

no lugar de B, (

13 \'

.(B). A r e pr esentação pOIS C se e ncontra

no

4

. h leva a D B é a r e pr esenta~o ue melhor  corr e sponde a camm o que· , . . Wu nscher  fü LLung, ou seja, segundo Fr eud, e o slgnlficante que a ponta para o dese jo. Aplicado ao sonho da injeção de lrma, t.emos: A. Otto dá uma injeção a lrma de proplleno C. A f órmula da trimetilamina D. "A doença de lrma é de origem sexual" - pensamento

. que surgIu

ao mesmo tempo que C B A conversa com Fliess sobre a química sexual. - chamado por Freud de dese jo (Wunsch) B', e o "elo intermediário" l' . "'r . d . em ter podido tomar uma forma qua Itatlva. lU o - que se pro d UZIU s 'b '1 'l'd de do obJ'eto que pode ser formulado como atrl mo, aqUI o que e qua I a , .' d' diz Lacan ao comentar esse texto de Fr eud, entra no Investimento o. slstem~  psíquico e constitui as V o r s t e LLu ngen primitivas em torno das quals estara em jogo o destino do .que é r egulado segundo as leis do Lust  e do Unlust, do prazer    e do des pr azer , naquilo que se p~d~ .chamar de as entr~das  primitivas do sujeito."? Essas r e pr esentações pnmltlvas  'p0~em ser consIderadas na álge br a lacaniana como os Sido sujeito - slgOlficantes-mestr es,  primordiais, mar cas do dese jo. Ao trans portar  o esquema do sonho de injeção de lr ma para o grafo do dese jo de Lacan ter emos:

A _  C _  D são elementos da cadeia signif icante consciente do sonho e B corr es ponde ao signif icante da falta do Outr o S(JÁ.)-, que   aponta pala o sexual. S(lh) é a mensagem do sonho que, atr avés do significante rec~lca u~ B dá o selo do sexual à mola do sonho. O selo do sexual é o desejo q  d d' F d d ser  inlfrido o que

significa que ele não é a pr eensível de imediato; é somente pela interpretação do sonho que ele é discernido. "O desejo é sua interpr etação", radicaliza Lacan . Mostrando que a neurose tem o mesmo pr ocedimento do sonho, Freud utiliza, ainda no "Projeto", ao se r ef erir  à psico patologia da histeria, o mesmo esquema, embora simplificado, par a ex plicar o car áter  a bsurdo de uma r epresentação histérica. A é a r e pr esentação r ecalcada q ue dá o s entido a B, r epr esentação consciente que tem um car áter  a bsurdo. A é o símbolo de B e Fr eud acrescenta que "o símbolo, neste caso, substituiu completamente a Coisa (das Ding)". Ele situa portanto o desej o (a r ealização do dese jo) no lugar da Coisa, corr elato do objeto perdido de gozo, que por ser ina pr eensível, for a do significante, pode ser  a penas indicado sendo A, no caso, seu símbolo.8

A gr ande tese de Fr eud na Traumdeutung corr es ponde à sua pr ó pria definição do sonho: o sonho é uma r ealização de dese jo (Wunscherf ü llung). De que Wu nsch se trata nessa o br a original? Fr eud começa usando o ter mo Wunsch de maneira bem genér ica até chegar  a conceitualizá-Io como dese jo inconsciente, elevando portanto o Wu nsc h à categor ia de conceito. Ao longo da  I nt erp retação d o s sonhos o bservamos que o Wu nsch é uma palavr a passe-partout  ser vindo par a designar principalmente: as as pir ações pr é-conscientes, o desejo de dor mir  (W unsch zu schla f en) e também o dese jo inconsciente (Unbewuster  W unsch). Trata-se, portanto, de um mesmo termo utilizado par a categorias distintas.  Nessa obra, Fr eud procede   e pr ogride passo a passo no esta belecimento da teoria do sonho-dese jo, tomando de início o Wunsch como uma as pir ação da vida de vigília que não f oi atendida e q ue é desvelada pelos pensamentos onír icos atr avés do método de associação de idéias a partir de f ra  gmentos do texto do sonho. O Wunsch que ele designa no sonho de injeção de lrma não é aqui r elativo aos assuntos sexuais como o fizer a no "Pr o jeto",9 e sim o VOto de se desr es ponsa bilizar do fracasso do tr atamento dessa histérica. O sonho lhe diz : a culpa não é sua, é do Ono. Pois, como já vimos, no dia em cuja noite teve o sonho, souber a que sua paciente lr ma não estava nada  bem. Freud começa, portanto, de uma maneira sim ples, a pontando q ue o su jeito vai dormir pensando "Ah, como ser ia bom se tal coisa acontecesse"

mesma ordem que o desejo inconsciente, motor do sonho? Se assim f osse, ser ia o p r é-consciente a desco berta f reudiana - o que nem seria uma descoberta. Ora, o fato de os Wunsche pr é-conscientes se r ealizar em nos sonhos já havia sido aprendido há muito tempo: desde Aristóteles o sonho é considerado um pensamento continuado no sonho. Não é, na verdade, essa a desco berta de Freud. O ensino de Lacan nos permite dif erenciar , a partir do binômio demanda e dese jo, que desenvolveremos no próximo   capítulo, os tipos de W unsch que Freud r elata na sua I nt er  pret a ção dos sonhos. Na "Abertura da Seção Clínica", Lacan diz que o sonho "dif er encia de maneira, é clar o, não manif esta e totalmente enigmática - basta ver  o tra balho a que   Freud se dá - o q ue é pr eciso chamar de uma demanda e de um dese jo. O sonho demanda coisas, mas ainda aí, a língua alemã não ser ve a Fr eud, pois ele não encontr a outr o meio de designá-Ia a não ser  chamando de um voto, Wunsch, que está, em suma, entr e demanda e dese jo", 10 Isto significa q ue na I nterpr et ação dos sonhos, or a o W unsch é demanda o ra dese jo, ora ainda outr a coisa.

Esse voto-as pir a ção, que é atendido no sonho, podemos designá-Ia p or  demanda. Isto nos per mite traduzir inicialmente W unscherf üllung por  atendimento da d emanda , que o própr io sonho r ealiza, corr es pondente, em ter mos freudianos, à r ealização do dese jo consciente ou pr é-consciente, O desejo inconsciente deste se dif er encia, como ver emos adiante, a pesar de Fr eud utilizar o mesmo termo Wunsch.  Nesse sentido, podemos a pur ar no sonho a demand a que   o sujeito dirige ao Outro - "Ah, tomara q ue ..." - e o sonho como o Outr o responde  par a o sujeito atendendo a essa demanda. Daí o sonho apar ecer como uma mensagem do Outro, como uma mensagem dos deuses na interpr e tação dos Antigos. A tendência a divinizar  o inconsciente como discur so do Outro é freq üente na tradição mística r eligiosa, Lá onde Fr eud descobre o inconsciente como aIteridade r adical, os r eligiosos do politeísmo e mesmo do monoteísmo colocam o Outro Absoluto, Deus. Essa a bordagem não faz da psicanálise uma r eligião, pois o Outro é barr ado e incom pleto, o que   o torna inconsistente e diver so do Deus da r eligião, cu jas car acterísticas e f iguração se apr oximam mais da instância do super eu. Mas o inconsciente como o Outr O do sujeito pode ser inter  pr etado, por  sua tr anscendência e concomitante

do inconsciente, ou ainda, a per sonificação d O d' . d euses )' e apr een d'd I a como sinal de amor ' "S' o utro O o InConsCIente (os ' . h d . 1m, o utro me ama porque É r espon d e as mIn as emandas, atende aos m d'd" ,, eus pe Ias. essa demanda h " {:  ";'/  d q ue os pensamentos onmcos desvelam como a TV J " wunsc e1j•• t   , ung . , ' e Freud no son h o d a InJeçao de Irma. E o sonho como t d h ' o o son o, r e pr esenta essa d eman d a aten d'd I a - em sua encenação. Eis "d' , ." o eseJO pr e-conSClente r ealIzad o. o

A prova indiscurível da Wunscherl' üilunu são par a Fr eud h d . . J"  os son os as cnanças em que o atendImento da demanda apar e ce sem disf ar ce, como no son~~ de ~~a, filh~ ~e Freud, que so.nha com. os o bjetos pr oibidos pela  polICIasanItana domestica. Durante a noIte, a menIna driblando a int d' d" d . d " ' er  lçao, IZ/~ 1,?~~In o: ~n a Fre.ud. mo-rranga, morranga silvestr es, ombleta,  podlm.. ~o e~unc~ar os ,s~gn/ficantes. dos objetos dese jados e proi bidos, ela mesma aI se l?clU1 na sen~ como objeto a ser comido, objeto da pulsão or al. ~r ata-se a~uI de u~a séne de objetos-significantes _  por onde desliza o deseJO, ou seja, d~ objeto em objeto - aqui r e pr esentados como significantes de uma cadela de o bjetos da demanda or al que o sonho atende. Se. Fr eud se detém, num momento, no as pecto de satisf ação das necess/d~de.s que o s o~?o encena, é por  extr air  algo da verdade semi-dita ?o pr overblO, po~ular : Com ,que ~onham os gansos? Com milho." O que Inter e ssa por ~m e menos a fiSIOlogIado mecanismo corporal do que o fato de as. n~cessldades passar em pela linguagem par a os ser e s falantes ao se conStltU1rem como dema n d a e d'eseJo, '" ver  T, - se-a que ta l'vez tivéssemos c~egado a nossa te?ria do signi.ficado oculto dos sonhos com a maior r apidez sIm pl~s~ente segUIndo o uso lIngüístico."l3 O dese jo é par a Fr eud ar ticulado nos SIglllficantes da demanda e se utiliza dos sintagmas da língua pois como ele mesmo r essalta, "é mais difícil saciar  com um sonho um~ sed~ ~~~l d?, que uma sede de vingança", Os sonhos utilizam as ex pressões I 'f ilOmatlcas.da língua, gír ias, tr ocadilhos tr ansf or mado s em mensagens CIr adas em Imagens. 6 '

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f i O tr a balho da interpretação dos sonhos consiste em passar para palavr as s a Iguras das cenas oníricas como se decifram os ré bus, as car tas enigmáticas. Fr eud n os r e ve1a que. " o me lh ar  exemplo de uma inter  pr etação dos sonhos que nos c~ega dos antigos se baseia num tr ocadilho", É um exemplo narr ado  por Art.emldoro sobr e um sonho de Alexandr e da Macedônia. "Julgo também ~e Ar ~st~nder of er eceu uma interpr etação das mais f elizes a Alexandr e da in ac~donla quando havia cercado Tiro (Tu poÇ) e a sitiava, mas se sentia q U1e.toe perturbado em vista da longa dur ação do sítio. Alexandre sonhou

a campanha da Síria. Dividindo a palavra r elativa a sátiro em (me TupoÇ (Tiro é tua) estimulou o r ei a apertar o cerco, tornando-se este senhor  da cidade".14 Freud chama a atenção sobre a importância da língua em que o sonho é feito e como este utiliza todas as facetas de seu cristal, tornando na ver dade os sonhos intraduzíveis, mas nem por isso inexplicáveis. Os sonhos nos mostram que o inconsciente é estruturado pela língua, que Lacan, no desenvolvimento de seu ensino, elevou à categoria de conceito escrevendo-a em uma só palavra, Alíngua (Lalangue), termo que remete a uma anterioridade da articulação de significantes que precipita uma significação, como a lalação ou tatibitate das crianças. Alíngua é o conceito q~e Laca n ~ria  para falar do efeito da linguagem no sujeito, extraído o seu efeito de sentido. Isso porque a linguagem não tem exis~~ncia teórica, mas .sempre inte,rvém sob á forma de uma língua. Diz Lacan: Conforme a maneira como a Imgua foi falada e também ouvida por tal ou qual sujeito em sua particularidade, é que algo em seguida sairá em seus sonhos, em todo tipo de tropeço, em todo tipo de dizer . Eis o materialismo em que reside a apreensão do inconsciente." 15 É o que aparece no sonho de uma analisante que sonhou estar numa loja de roupas experimentando vários vestidos até encontrar um que estava  perfeito, f azendo-a sentir-se linda, maravilhosa ao olhar-se no espelho. Ao  pagar, surpreendeu-se em ver uma nota de dez reais e~ cima do balcão. Fica na dúvida se é sua, acha que não é, mas mesmo assim a pega, coloca na bolsa e vai embora. Essa nota que se encontra na interseção entr e o sujeito e o Outro (anônimo no sonho) é a cifra que designa o suje ito a  partir do Outro do espelho como objeto de seu desejo: ela recebe uma nota dez, ela é a mulher nota dez. Atendimento da demanda que aponta para o desejo. . Que os sonhos comportam votos e aspirações não foi nenhuma novidade. Mas dizer que só existem sonhos de realização de desejo (atendimento da demanda e presentificação do desejo inconsciente) é uma tese nova e chocante da qual Freud nunca abriu mão. É a partir dela que ele constitui o apar elho  psíquico e, podemos dizer, a própria psicanálise. Ele eleva a Wunscherfüllu~g à categoria de lei como uma proposição geral. 16 É a lei do sonho - Via régia do inconsciente - e o objetivo da análise é desvelá-Ia. , Quando Freud se detém na questão da deformação no sonho, ele e obrigado a definir seus dois sistemas do apar elho psíquico: um de onde se origina o Wunsch , e o o utro que dele se defende por meio da censura deformando sua expressão, apontando assim para a divisão subjetiv .a em

onde todos os pr .ocessos são. submetidos ao processo primário em oposição ao processo dommante, deSignado por secundário, o qual tem a função de censura. O processo secundário, diz ele, é o "guardião de nossa saúde mental". Mas antes de .dar toda a r elevância ao desejo inconsciente, agora discernido, Fr eud evoca amda um Outro Wunsch muito particular, e no entanto universal q ue não é assimilável ao voto, nem ao desejo pr é -consciente e tampouc~ ao desejo inconsciente. Trata-se do Wunsch zu schlaf in.

Há pelo menos um Wunsch que se encontra indiscutivelmente realizado a cada sonho: o desejo de dormir, pois só se sonha dormindo (o devaneio não tem o mesmo status que o sonho). Essa evidência não é tão evidente assim, pois o Wunsch zu schlaf en não é equivalente à necessidade de repouso, mas à força pulsional desta onde se alojou o eu consciente. Esse Wunsch deve ser  levado em conta como um dos motivos da constituição do sonho,  pois a censura se exerce em função dele, não deixando passar senão as interpr e tações que se acordam com ele e não acordam quem está dormindo. I? Cada sonho que se efetua é portanto a realização do desejo de dormir e assim todos os sonhos são sonhos de comodidade ou preguiça. O exemplo  par adigmático é o do jovem médico que, ao ser acordado pela empregada, dor me em seguida e sonha que está no hospital num leito de doente. No sonho, ele diz para si: "Como já estou no hospital não há necessidade de ir  par a lá", e virou para o outro lado continuando a dormir. 18 . Quando há uma ameaça de despertar, é o desejo de dormir que leva o ~nconsciente a dar o aviso: é apenas um sonho. Ele é o vigia noturno que Im pede o desejo de entrar na residência do eu sobressaltando seu dono. Se o sonho deixa aparecer o processo primário com suas leis de condensação e deslocamento é porque "o sistema dominante se retirou no d.ese jo de dormir ". Assim esse Wunsch acompanha sempre o desejo inconsCiente no sonho e sua importância é tal que Freud chega a falar da "teoria da du pla realização do desejo", pois é graça a ele que o sonho é o guardião do sono. ?olidário do desligamento do processo secundário, mantido em ojf  , o dese jO de dormir ~antém a realidade em suspenso para o sujeito: ele é r etração narcísica. E por intermédio do desejo de morte, diz Lacan no Seminário sobre o desejo, que o desejo de dormir se satisfaz: ele é a face

impõe arr ancando o sujeito ~os laços li bidinais para jogá-Ia nos br aços de Morf eu e assim a pagar  a r ealidade que lhe a par ece penosa, e amortecer  os "choques dos q uais a carne é her deirà', como diz Hamlet: to die - t o sleep  N o more, and b y a slee p t o sa y we end  the heart-ache, and  the thousand natural shok s that flesh is heir  t o.

O dese jo de dormir , nos estados depressivos, equivale à covar dia mor al, à tr isteza como ex pr essão do recuO do su jeito em r elação ao ?ese jo,19 como nos ilustr a Hamlet, que ex pressa o dese jo de morr er , eqUivalente ao de dormir , para não levar  às últimas conseq üências seu dever  ético guiado pelo desejo.

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O desejo de dormir  ex pr essa uma outr a sansfaçao tr azlda pelo s~n~o/sono

dif erente da satisfação que O sonho encena ao re pr esentar  o dese jO inconsciente realizado. Tr ata-se da satisfação de um "r etorno ao estado inanimado", como diria o Fr eud da segunda tópica, satisf ação par a-além do pr incípio do  pr azer : o gozo da quietude, do silêncio da pulsão de morte. Ele se opõe ao alarido de Er os, à vivacidade e movimentação das r e pr esentações que colocam o dese jo na outra cena do sonho. R efúgio par a escapar  ao barulho da vida erótica. O dese jo de dormir  nada tem de particular, ele é "univer sal, invariavelmente pr esente e imutável". 20 Ele é o único dese jo que o sonho sempre realiza: "Sonha-se para não ser  o brigado a acor dar , sonha-se porque se quer  dormir . Tanto bar ulho!. ..".21

o

desejo inconsciente:

a sombra dos infernos

Podemos distinguir  do W unsch pr é-consciente, cuja melhor tr adução é.voto (ou aspir ação), q ue situamos no r egistr o da d emanda, o Wunsch inconSCiente, que é, pr o pr iamente f alando, o dese jo tal como Lacan f ormulou em seu ensino. Ele é o motor do sonho, do qual r etir a sua for ça pulsional. Embor a o sonho se ja o pensamento continuado no sono, o Wunsch não satisfeito conscientemente dur ante o dia não basta par a pr omover  o sonho. Fr eud af irma q ue "um Wunsch consciente só pode tornar-se um induzidor  de sonho se o btiver  sucesso em des per tar  um dese jo inconsciente do mesma teor  e conseguir  refor ço dele". Acr escenta so bre isso uma o bservação fu~-

q ue "esses desejos inconscientes a cham-se sempr e em estado de aler ta, prontos a se ex~r essar  q u ando podem aliar-se com um impulso do consciente e transf enrem so br e ele sua intensidade superior ".22 O mesmo se dá com os estÍmulos somáticos: o trabalho do sonho se serve das sensações so máticas (sede, fome, dor ) par a obter a r ealização de um desejo a té então r ecalcado. "O desejo inconsciente é o capitalista q ue em prega os restos diurnos par a ef etuar o empr eendimento do sonho".23 A análise do sonho deve ir  além do desvelamento da demanda q ue ele atende, mas não pode deixar de passar por  ela, pois o sonho utiliza os significantes da demanda pr esentes nos "r estos diurnos" para promover a mise-en-scene do dese jo inconsciente. O sonho não ex pr essa a cr onologia. Esta pode ser tão-somente suger ida  por  meio da sucessão das r e presentações, mostr ando que o que o bedece a ordem do r elógio, devido ao necessário desenrolar de seus elementos no tem po, é a cadeia associativa de signif icantes pr esentificada no r elato do sonho. O sonho não está no tempo cr onológico: ele é como "o f ogo de artif ício, pr e par ado dur ante hor as e que s e acende em um instante". 24 O tem po do sonho é o instante do olhar , como o clar ão de um r elâmpago que, subitamente, clar e ia a paisagem noturna. E o tempo do dese jo é sempr e o pr esente, pois é ativo de modo per manente e constante, mesmo quando ex pr essa um Wunsch de trinta anos atr ás ou mais. O dese jo está sempr e lá: ávido de signif icantes. Sua origem infantil deve ser  compr eendida como o f ato de o dese jo estar desde cedo presente, desde sempre ativo. Assim como à noite o r aio esclar ece a f lor esta, o sonho clar eia o desejo obscur o - q ue no entanto permanece tão enigmático quanto a f l oresta es pessa. A or igem inf antil do dese jo é calcada no mito de Édipo, intr oduzido  pela pr imeir a vez por Fr eud a r es peito do sonho de mor te de pessoas queridas. Essa característica signif ica que o Édipo como mito desvela a estr utur ação do dese jo na medida em que é articulado com a lei. Dele decorr em dois Wünsche: o Wunsch da morte do genitor  do mesmo sexo e o Wunsch sexual  pelo d o sexo o posto, que se ex pr essavam livr emente nas fa ntasias do " par aíso" da i~f ância. Essas Wunschphantasien , que se encontr am r ealizadas na tr agédia de Edipo-o-sonho, encontr am-se r ecalcados no drama de Hamlet-a-neur ose. A par tir da r ealização de um Wunsch , pode-se desco brir  outr o s e "sendo o último da base a r ealização de um dese jo q ue data da primeira infância".25 Que o dese jo guarde o selo da primeir a inf ância só faz acentuar  suas características de pr oibido, inconf essável e também de indestr utível. Uma vez pr esente, jamais se extinguir á. O dese jo só conhece a mor te como as sombr as do inf er no na Od isséia que, ao be ber em sangue, des per tam par a 26

A "r elação do sonhador com os desejos é muito peculiar . Ele os r epudia e os censur a - em resumo,   não quer nem sa ber deles -, de maneira que a sua r ealização não lhe dar á pr a zer, mas exatamente o o posto ... Desse modo, o sonhador  em r elação a seus dese jos oníricos a par e ce como um amálgama de duas pessoas se par adas que se a cham ligadas por  algum importante elemento comum"Y Eis como Fr eud ex pr essa a divisão do sujeito provocada pelo desejo mostr ando assim a equivalência do sujeito dividido, sujeito do inconsciente, com o pr ó prio desejo ($ = = d). E Freud tenta ex plicar essa divisão do sujeito em relação ao dese jo, como já o fizera  privadamente no "Projeto ", pelo esta belecimento dos dois sistemas psíquicos: o processo primár io que o admite e o processo secundário que o inibe. Os dois são regidos pelo princípio do des pr azer . No processo primár i o, que cor re  sponde ao f uncionamento do inconsciente, só há dese jo, nenhum elemento penoso - é lá onde o dese jo se encontra mais des pedaçado, diz Lacan. As formulações de Fr eud são tais q ue podemos admitir que o inconsciente só ex-siste graças ao dese jo: "Ele é incapaz de f azer qualquer  coisa que não seja desejar . "28 Como vimos anteriormente, Fr eud intr oduz esses dois sistemas ou instâncias a p ropósito da deformação (E inst e Llung) do sonho: "uma constrói o dese jo ex presso no sonho, a outr a o censur a e em seguida deforma a expr essão desse dese jo". Assim, todo sonho é ex pr e ssão de dese jo - mesmo os que provocam des pr azer  -, pois tr ata-se de um dese jo da primeira instância mesmo que esta r ealização desagrade à segunda provocando o desprazer. Daí surge o r ecalque (cujo modelo é a fuga diante da recordação da dor ) , e o segundo sistema só pode investir  uma re  pr esentação quando é ca paz de inibir  o desenvolvimento do desprazer que pode sobr evir . Por que os pr o cessos secundár ios não conseguem dominar os primários? Fr eud O ex plica pelo f ato de q ue estes últimos já estão dados desde o início, ao passo que aqueles foram se constituindo pouco a pouco no decorr er da vida.29 É com o objetivo de driblar  a censur a (ao mesmo tempo que a respeita  por reconhecê-Ia) que o sonho ef etua seu tr abalho significante par a realizar  o dese jo (trabalho caracterizado como coação), e todos os pr ocessos psíquicos dever ão aceitá-los para sempr e , pois "no inconsciente nada pode ser interrompido, nada fica par a tr á s ou é esq uecido".30 Se no inconsciente nada se  perde, os f enômenos pr é-conscientes, em contr a posição, são destrutíveis e é nessa dif er ença que r e pousa a psicanálise. Isto se deve ao fato d e o inconsciente ser  constituído pelo sim bólico da linguagem, que não se

com põem, e recompõem se for _  . d' ' mam e esvaem por nao ser em determinantes, c. . e sim . etermInadas pelas c d' . b' I' '. . a elas sim o Icas slgnlllCantes do Inconsciente. ~reud I~Slste, por  _ tanto, que ~ psicanálise lida com as cadeias simbólicas do lOconSClente e nao com o Imaginário do p ,. . I . r e-conSClente, como o r az a PSlCOogla. Estando a ser  I a em ,viço do inconsciente e do pr é-consciente , na m ed'd que tem . de r ea IIzar um Wunsch de cada ' o sonho e' um compromisso, . ta I como o SIntoma n,eurótic.o. Da n:esma forma, est.etambém é WunscherfU llung. Mas q uando o. p.r e-consCIente deixa passar demaiS o dese jo, esse compromisso fr acassa e o SUjeito desperta. Quando o indivíduo é acor dado por  um sonho, ~u _   be.m ele ac?rda para adormecer o desejo ou bem a encenação do desejo e tao Insuportavel que ele é des pertado pela angústia. Fr eud poderia ter  sido acordado pela imagem terrível da garganta de lrma cheia de placas purulentas que a par eceu em seu sonho, mas o sonho continuou até a f órmula da trimetilamina, indo para além do ponto de angústia. Para Fr eud, o destino do desejo inconsciente é o dos Titãs, que "f or am esma~ados desde as eras primitivas pelo peso maciço das montanhas que u _ mdIa lhes f oram ar re  messadas em cima pelos deuses vitoriosos e que ainda sao a balados de tempos em tempos pela convulsão de seus membros".3l Essa metáf o ra permite a pr eender o car áter de impossível, de audácia, de escândalo do dese jo p~is os Titãs f or am punidos por tentar  escalar  até o céu, mor ada dos deuses. E e~se,d~se jo que se manifesta nos terr emotos que assolam corpos e mentes. DeSejO e Justamente o nome daquilo que os antigos qualificavam de o demoníaco, o indomável na alma. O r es peito que eles tinham pelos sonhos er a , segundo Fr eud, devido à consideração pelo " poder demoníaco , . e que encontramos em ação no nosso inconsq ue p r o duz o d'eseJo onmco ciente".32 I:

A T raumd eut~ng é sem dúvida um tratado da lógica do significante ou, nos t~rmos fr eudlanos, o tr atado das "r elações lógicas multif ormes" do sonhor ebus .33O son h o nao - e, d a or d em d o sim ' b o Io, que, por  defimçao, . - r e pr esenta algo q  'd' I . . ue tem um senti o umver sa, como a balança que é o sím bolo da JUStiça. O so n h o como via " r egIa . d'o InconsCIente . tem uma sintaxe eq uívoca na ~edida em q ue aí se encontr a "uma forma de palavra que, devido à sua amb "'d a d'e, e ca paz d e dar  ex pr e ssão a mais de um dos pensamentos , .lguI

cadeia significante. A pr evalência dessa pr o priedade na constituição do sonho só é possível devido à pr imazia do signif icante sobre o signif icado no inconsciente, pois, como Fr eud constata, uma palavr a, além de seu significado usual, "combina grande número de outr os significados aos quais se acha r elacionada da mesmíssima forma   q u e estar ia uma palavr a sem sentido".35 Isso se observa claramente no tr atamento que o sonho dá ao nome pr ó pr io, utilizando por  exemplo "uma Matilde por  outra" ou tr atando o nome pr ó prio como nome comum. É o que verificamos no caso de um sujeito q u e andava de primido, no extravio de seu dese jo, lamentando-se permanentemente da vida. Um dia ele traz um sonho que lhe par eceu completamente obscuro em que havia a penas uma cena: ele er a pequeno e caminhava com sua mãe em uma r ua de sua cidade da infância. O sonho se esclareceu ao lembr ar  do nome da rua: Dias d a Cruz. Ao se escutar , não pôde deixar  de rir  e com parar suas lamentações com as de sua mãe, que vivia r eclamando de seus dias como quem car re  gava uma cruz. As leis dessa lógica combinatória são impostas ao U mbewust e Wunsch que im pele os signif icantes a r e pr esentá-Io no sonho: a superposição de significantes da metáfora, equivalente à condensação das imagens oníricas, e o deslizamento significante da metonímia, que corresponde à sucessão das imagens que confere ao sonho seu as pecto cinematográfico em seu desenr olar de cenas. A ciência do sonho é a "q uímica silábicà'. E quais são esses "dese jos inconscientes"? Freud dá de cada sonho analisado o Wunsch que o f ormou. Não é o que falta. Mas ser ão eles o desejo (no singular) inconsciente e indestrutível do qual f ala Fr eud na última f r ase da Traumundeutung? Votos de morte do pai, mania de grandeza, aspiração a ser aliviado da cul pa são alguns exemplos fr eudianos de Wunsch r ecalcado que se encontra ex plicitamente na infância. Não o bstante, sua concepção dos pr ocedimenros do sonho que f azem o dese jo inconsciente  passar pelos desfilamentos do significante nos dificulta pinçar esse desejo. "A conseqüência do deslocamento é que o conteúdo do sonho não mais se assemelha ao núcleo dos pensamentos do sonho, e que este não a pr esenta . . . ,,~ mais que uma deformação do desejo do son ho que eX1steno inconsCIente.  Não temos portanto acesso ao desejo inconsciente, pois ele não é f igur ado no sonho; este pode tão-somente indicar  sua ex-sistência, ter mo que melhor  tr aduz, segundo Lacan, a E nst ellung (tr aduzido por def ormação) pois é e.la q ue f a z existir  a insistência do dese jo e que mostr a a insistência de desejO em sua existência. O dese jo inconsciente não pode ser nomeado enquanto tal, não pode ser designado, só inf er ido. Ele é d esejo - sem qualif icativos,

A Wuns.che1üllung do sonho significa a encenação d o d esejo , sem pr e sedento de slgnl.fica~tes, sempr e de t~caia na língua. Nessa expressão,fU llung ~od~ ser traduz.ldo literalmente por pr eenchimento", e Wunsch por  "f altà', significando assim que o sonho preenche com significantes a falta constitutiva do desejo. A "solução" (Losung) do sonho de injeção de Irma é uma solução de química silábica, como a ponta a cena final em que aparece a pur a fórmula da tr imetilamina (que tem cheiro da amônia contida na composição do esper ma). O sonho é tão espir ituoso qu  anto os chistes, como no sonho da nota dez e tam bém no sonho do m enino que sonha estar perdido na flor esta e cu ja or igem edipiana de seu desejo a parece no nome da mãe Flor a - a qual ele tor na pr esente (F lor'est a')e designa (F lorest a). Par a q ue um sonho se constitua, há necessidade de trans ftrêncía: pr ocesso de deslocamento de investimento das r e presentações recalcadas par a aq udas  presentes nos r estos diurnos, as quais são indiferentes ao eu. Essas "não a penas tomam emprestado ao inconsciente ... a f or ça pulsional da q ual dispõe o dese jo recalcado, mas ainda ofer ecem ao inconsciente algo: o ponto de ligação necessár io para realizar  a transfer êncià'. 37 O método da interpretação dos sonhos permite r estituir as representações em que o desejo se f ixou, o qual se expressa, no final, por um Wunsch da pr imeira infância. "O desejo inconsciente, diz Freud, trilhou uma via até os r estos diurnos e r ealizou so bre eles uma tr ansferência. Um desejo transf erido so br e o mater ial r ecente aparece ou então um desejo recente r ecalcado se reanima retomando for ças no inconsciente. "38 É interessante notar que o conceito de transfer ência na análise designando a r elação do analisante com o analista encontra, na descr i ção de Fr eud da formação dos sonhos, sua fundamentação no dese jo inconsciente tr ansf erido de uma repr esentação à outr a. O desejo inconsciente do analisante trilha uma via até os signif icantes que ele encontrou naquele analista. O significante da tr ansf er ência do lado do analisante se liga a um significante qualquer do Sq) . lado do analista por intermédio do dese jo (SI ~ Fr eud r eserva, na Traumd eutung, um papel e uma importância notáveis a certos significantes: as r e pr esentações-meta ( Z ielvorstellung). Trata-se de significantes r es ponsáveis pela determinação da cadeia associativa, fazendo-a dobr ar-se à exigência de fazer passar  o dese jo, sempr e pr onto par a se ex pr essar . As Zielvor st ellungen , "estão à es pr eita em nossos pr é-conscientes, elas jorr am de nossos dese jos inconscientes sempr e ativos. Essas r e pr esentações podem se pr ender a uma excitação vinculada à esf era de pensamentos ., e far ão a

  significantes .>,-. "39 As re pr esentações-meta .. são portanto .  pr o,.pna a esse de-)·o que significam o dese jo, que podemos designar con:o slgmficantes do . 40 tal como o caviar no sonho da Bela Açouguena que transfer e ao d ese)o, . ·d d ' . O d . . .ficante "salmão", pr esente no sonho, sua mtensl a e pSlq u!ca. ese)o slgm . d . .c. .. , r es ponsável por  essa o per ação, de tr ansfer ência e slgnmcante a Slglll~c:nte, sendo inclusive defmido por  Lacan como " pur a ação do significante".41 As Zielvorstellungen são r es ponsáveis pela passagem de uma representação pr é-consciente ao inconsciente, transferência que confere a~ desejo sua particular idade de trilhamento das associações, que é, propnamente falando, a metonímia. A condensação no sonho, sua lei de metaf or ização, que lhe confere um efeito de sentido, dá ao conteúdo repr esentativo uma intensidade que Freud faz equivaler a uma palavr a em itálico ou e m negrito em u m texto, ou que, "ao falar, pronuncio a mesma palavr a em voz alta lentamente e com. uma ênfase especia1.42 A ênfase e o negrito ou o itálico corres pon.de~ à enunClaç.ão na fa la e na escri ta res    pectivamente, sendo aí nesses slgnlficantes aSSlm marcados que está a manif estação de desejo, o qual se enco~tr a porta~to menos no enunciado do que na enunciação; ele é o pr ó prio ef eito de sentldo do sonho. Desejo - eis o único sentido do s~nh~ e cujo en~nciado, ~or s~r  qualquer um que o desejo tr ilhe. O sonho slgmfica o dese jo que e martlculável, embor a articulado. Mas nem tudo é s ignificante, pois há uma f alta no Outr o do inconsciente que Fr eud designa como umbigo do sonho: lugar insondável ~ inefável ~a tr ama significame de onde sur ge o dese jo. "  f ed er Traum hat mmdestens eme

St elle, an welcher er uner gründlich ist, gleichsam einen Nabel , durch den e~ mit  dem Unerkannt en zusammenhiingt'~43 Traduzindo: todo sonho pOSSUI  pelo menos um tr echo - ou uma passagem, conside.r and~ o sonho co.mo um texto - que é insondável (impenetr ável), por  assim dizer um umbigo,  por meio do qual ele está em contato com o desconhecido (o não-reconhecível). O dese jo desliza pelos significantes que volteiam esse f uro na t.rama do inconsciente, o qual podemos escr e ver com o matema S(lh), vazIO de r e pr esentações, r ecoberto por uma cena de gozo. Que o desejo inconsciente se ja estr uturado pela falta ~ o que .Fre~d . . ~ a partl.r d a pr Imelra demonstr a nas eta pas lógicas d e sua COnStltUlçaO   ex periência hipotética de satisf a ção. Do o bjeto de gozo, o selO, de uma vez q .uando  por todas perdido, r estar á um traço   mnemlCO q ue ser a mves. t·do I houver uma impulsão ( Regung) psíquica. O movimento de .r ~mvestlmen~o do tr aço mnênico do o bjeto perdido r econstitui a situaçã o ongmal por meiO A



,.

"É esse movimento que chamamos desejo", e o reaparecimento da  perce pção é "a realização do desejo".44 O desejo é o vetor que indica a dir eção do processo alucinatório do sonho, vetor q ue aponta a Vorst ellung que deve a parecer  em cena. Tr a ta-se aí da característica do pr ocesso  pr imário que   visa a busca do objeto a ser reencontrado pela via de um significante evocado: o desejo acende a r epresentação tornando-a visível  par a o sonhador, fazendo-o assim alucinar o objeto. A alucinação,  pr otótipo do sonho, a presenta a car acterística do processo primário, que é a identidade de per c epção (a r epr esentação a par ece lá onde o objeto falta) por  o posição de pensamento típica do processo à identidade secundário. O o bjeto de gozo está par a sempr e perdido e em seu lugar   há u m furo que causa o dese jo, rodeado pelos tr a ços q ue se tor naram sua representação. "Uma corr  ente deste tipo no a par elho começando do desprazer  e visando o pr a zer foi por nós denominada de desejo, e afir mamos que somente um desejo é ca paz de colocar o a par elho em movimento."45 Essa afirmação mostr a q ue o desejo é esse vetor que vai do vazio do o bjeto à satisfação ver   bal ([ ] --7 S) gr aças ao a par elho significante que o r e pr esentará em sonho. O dese jo é, portanto, cor relativo à falt a, a e ssa impossibilidade de atingir  o objeto r eal, objeto q ue é: ele mesmo, a metonímia dessa f alta. Fr eud propõe consider ar  q ue o caminho que leva à alucinação tenha r ealmente sido percor ri  do na remota infância. O " pr imeir o dese jo par ece ter  sido um investimento alucinatório da lembr ança de satisfação".46 É  baseado no modelo da regr e ssão tempor al (de volta a o passado), formal (de volta ao modo de funcionamento   pr imitivo de expr e ssão) e tó pico (investimento da imagem) q ue Freud ex plica o car áter  visual da máq uina de sonhar . A r ealização do Wunsch é a encenação da r e pr esentação r ecalcada, mascarada pelo tr a balho do sonho; a realização do dese jo se ef etua no plano escópico: o "isso mostr a" do sonho. Trata-se aqui da f unção do olhar  como objeto a no campo escó pico, na medida em que ele é invisível mas r evestido  pelos significantes no sonho, o que   conf er e a estes significantes o car áter de "visi bilidade", de figur a bilidade, como a par ecem nas cenas onír icas.47 Assim como o itálico ou negrito, Fr eud encontra no sonho uma clara indicação escópica do dese jo. " Na maior parte dos sonhos é possível descobrir um POnto centr al q ue é assinalado por uma peculiar intensidade sensorial. Este POnto é, em r egr a, a r e pr esentação dir eta da r ealização do desejo."48 A W unscherfU llung pode ser  aqui com pr eendida como a encenação escó picado

sonho aponta a pr esença do gozo escopLCopromovido pelo o b jeto olhar . Par a além do as pecto imaginário, que lhe empr esta seu car áter  cênico e cinematogr áfico, o sonho, como toda formação do inconsciente, produz gozo _  é o gozo do espetáculo. A Outra cena é o palco da ?atisfação escó pica. Der and e re S c haupl atz ist  Platz der  Schaulust .

o método

analítico de interpr etação dos sonhos (há outros , como Fr eud a pOnta) car acteriza-se pela restituição dos signiftcantes recalcados para fazer  chegar a mensagem da qual o sonho é por~ador . Há, ~o ~ntanto, sonhos cuja mensagem, para ser de cifr ada, não necessita das aSSOClaçoesdo sonh~dor : os sonhos típicos, que podem ser interpr etados, segundo Freud, a partir do método simbólico (distinto do analítico) . Isto pode parecer um contr a-senso,  pois vai a contr acorr ente de t udo o qu e Freud vinha aftrmando. Ao examinarmos de perto, veriftcamos que todos os exemplos de sonhos típicos, que Fr eud apresenta, trazem uma só mensagem: é sex~al. As~im, o chap~éu repr esenta o órgão genital mas culino; ser esmagado sImboltza as r elaço.es sexuais; subir uma escad a, o coito; roubar  equivale a observar r elações sexuais; fazer uma prova signiftca masturbação etc. . . O simbolismo fr eudiano tem uma chave que é o falo: sIgmftcante que não só designa em seu conjunto os ef eitos de ~ignif tc.ação: .como também faz a conjunção do lagos com o sexual. O metodo sImboltco de Freud não se o põe a seu método analítico, a penas comprova o selo do sexual pr esente em todo sonho. O sexual é a mensagem do sonho que vem no lugar de S(A.), encobrindo a f alta com cenas de gozo que trazem os Wü nsche inf antis. Em numer osos sonhos analisados, Freud extrai dois Wünsche: o  primeiro é uma as pir ação (demanda) que os r estos diurnos r evelam., e o segundo é, pr o pr iamente f alando,   o dese jo, quase invariavelmente VinCUlado a repr esentações sexuais. No sonho do cavalo cinza, por  exemplo, Fr eud discerne um primeir o Wunsch: "não quer o ter  fur únculo", que é  perf eitamente pr é-consciente, pois na é poca ele tinha um bem gr an~e na r egião inguinal. Mas isso não basta, e Fr eud é levado a efetuar uma análise mais pr ofunda", veriftcando então a pr esença de " pensamentoS sexuais", pois a partir  da decomposição signiftcante ele descobr e q ~e certos elementos do sonho são pr ovenientes de suas viagens rumo à I tált a , l ão é genItali

É a propOsltO do so.nho. da bela açougueir a q ue Fr eud intr o duz na Tr a'"umdeutung o tema ..,,'da zd e nt  zif i cação Como os outros , esse son h o co mporta dOIs Wunsche. O pnmeIro é não contribuir p ara tornar maIS . b eI . ": a a amIga

O sonho. encena o fracasso ~a d emanda da amiga de vir ja ntar  na casa dos açougueIros, f rustrando aSSIm seu Wu nsch de engordar . Assim, o sonho atende à demanda da sonhador a, a bela açougueira, de conserva r  o inter esse de seu mar ido por ela ao não engordar  a amiga recusando-lhe o jantar pois o marido só gosta de mulher es gor duchas. Esse Wunsch, que o sonho r:aliza, expressa de forma. res~ondida e satisfatór ia a demanda de amor  endereçada ao Outr o . Esse pnmeIr o Wunsch é portanto uma demanda de amor que se manifesta por  intermédio da pulsão or al ($ O D). O segundo Wunsch , o desejo inconsciente, é o desejo d e d e sejo insatisf e ito q ue encontr a sua ex pressão, na vida dessa histér ica es pirituosa, no dese jo de caviar que ela insiste em manter insatisf eito, pr oibindo seu marido de lhe  pr esentear  com caviar . É pela via da i dentif tcação q ue esse dese jo se introauz no sonho na substituição do caviar pelo salmão, em r elação ao qual a amiga tem exatamente a mesma atitude que a bela açougueir a, ou seja, ela dese ja sem quer er r ealizá-lo. Tr ata-se, portanto, de uma identiftcação pelo signiftcante que conf ere uma ex pr essão ao dese jo inconsciente, ilustr ando que é fundamentalmente por meio do signif tcante q ue o dese jo do homem é o desejo do Outr o. Uma outr a identiftcação, no caso dessa histérica, nos mostra o alcance da fórmula consagr ada de Lacan so br e o dese jo deftnido  pela insatisfação. A bela açougueira coloca também a questão so bre um desejo insatisf eito de seu marido que ela, bem per s picaz, perce beu. "Se ele só gosta de gordinhas, como f oi inter essar-se por  essa amiga que é magér r ima?" Deixar a amiga magr a , recusando-lhe o jantar , é uma f or ma de ~anter , ao identiftcar - se com o mar ido, esse dese jo insatisf eito. Eis aí uma Ilustr ação da identiftcação da histeria com o homem: uma for ma de ela  bancar  o homem.49 A identif tcação é, na I n terpret a ção dos sonhos, equivalente à metáf or a, ou seja, uma substituição signiftcante q ue ser ve à ftgur ação das ~oisas em comum e de uma coisa comum "que só se f az desejar ".5o A ~dentiftcação pelo desejo será deftnida por  Fr eud como car acter ística de Identiftcação histérica em seu texto so br e a psicologia das massas e por Lacan como a caracter ística do pr ó pr io dese jo humano. Em um exemplo de sonho a bsurdo, Fr eud também faz r ef er ência à identif t cação. Tr ata-se do conhecido sonho, amplamente comentado por  Lacan, do pai recentemente morto em que este apar ece vivo no .sonho do f ilho sem saber  q ue já estava mor to. Par a Fr eud, nesses sonhos de pessoas mortas, "q uando no sonho não é lembr ado que o m orto está mor to, é

 porq ue o próprio sonhador se identifica com o morto: ele sonha com a  pr ó pria morte. E quando se pensa bruscamente com surpresa: "ora, ele já morreu há muito tempo", está-se r e pudiando essa identificação e negando que o sonho significa sua própria morte".51 Essa identificação com o pai morto, em que o sujeito ele mesmo banca o morto, é caracter ístico do neurótico obsessivo que cauciona a morte do Outro. Mas, mais do que isso, tr ata-se do desejo de não acordar para a mensagem à qual o sonho leva o su jeito a se confrontar : a castr ação.

Só há sonho de des pr azer  (U nlu sttraum) quando há desacor d o entre o r ecalcado e o eu, e o desejo serve-se de restos diurnos penosos para se ex pressar . Todo sonho de angústia tem para Freud a mesma significação de um sintoma neur ótico devido à sua origem sexual. A angústia, em sua teoria de é poca, apr esenta duas fontes: as excitações sexuais e os pontos somáticos (doenças), que, na verdade, são dois aspectos que a pontam par a o real não simbolizado. Mas o sonho só utiliza as fontes somáticas q uando estas se assimilam facilmente ao conteúdo r epresentativo de sua f onte psíquica. O que o f az chegar, a par t ir de sua experiência com neur óticos, à formulação de que a única origem da angústia é sexual e, na segunda tópica, de que toda angústia é angústia de castração. O pesadelo é a testemunha de acusação contr a a teor ia do sonho-desejo. Mas Freud a defende demonstrando q ue os Unlusttraums e os pesadelos não a contrariam, pois nada mais são do que a realização do desejo inconsciente que, dri blando a censura, faz passar as r e presentações contrárias ao eu em que ele se f ixou. É o q ue podemos verif i car no sonho de Freud, em seus sete a oito anos, do qual acor dou banhado em lágrimas e angústia. "O sonho mostr ava minha q uer ida mãe, com uma expressão par ticularmente tr anqüila e ador mecida, sendo levada para seu quar t o e colocada sobr e a cama por  duas (ou tr ês) personagens q ue tinham bicos de pássaros." Esses personagens f or am extraídos da bíblia de Philippson , significante que o fez associar  Philippe, nome do menino que lhe ensinara o palavr ão vogeln ("f oder"), que é figurado no sonho pela multiplicação de pássaros (vogeln). "Minha angústia, efeito do recalq u e, pode ser atr ibuída a um desejo obscuro, manif estamente sexual, que tão bem expressa o conteúdo visual do sonho." O sonho não é mais um compr omisso se para efetuar essa r ealização

"livre curso das r e pr esentações inconscientes desde o rec aIque traz a marca " . do des prazer  ... ~ pengo e, que as eXCitações inconscientes possam liberar  af eto, de." uma 52OespeCle .. que so pode ser ex perimentada com o d esprazer, como angustia. SUjeito, ao ver seu desejo r ealizado no sonho ' des pe r ta com ,. , angustia. Por em, o desejo realizado, na ver dade, não é mais desejo o ual  por  definição é falta e, por isso defesa contr a o gozo. A sua r eali;açã; de desejo não é mais desejo, e sim gozo. O pesadelo se r~~ere ao enc~ntro traumático com o gozo do Outro q ue tende ~ fazer do SU jeitOseu objeto. Lacan, no seminário da Angústia, lição V, par tindo do ter n:o incubus, que designa " pesadelo" em latim, o compar a a um gozo estrangeiro como o do íncubo ou o súcubo, demônios masculino e f eminino que, na concepção da demonologia, são os demônios que  possuíam os corpos das pessoas durante o sono para "gozar dos prazeres do amor  ou tr anspor t á-los para o sabai'  , segundo o dicionário Littré . O pesadelo, como gozo do Outr o demoníaco, é a prova de que a realização do desejo, longe de ser fonte de prazer, se situa par a-além, onde reina a pulsão de mor te.

Capítulo

Demanda

IV

e desejo

Todas as coisas d este lugar já est ão comprometidas com aves.  Aqui, se o hor izonte enrubesce um pouco , os besouros  pensam que estão no incêndio. Quando o rio est á começando um pei xe, E le me coisa Ele me rã  Ele me árvore.  De tard e um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos

o postulado

fundamental da psicanálise diz que a ~tura do~ se or  aniza a partir  de Uf Q furo. Esse f ur o organizado r na estrutur a é corr elato ao conceito o jeto per dido o que im plica que aquilo que poderia dar  satisfação ao su jeito é perdido desde sempre como condição necessária ao des~ jo, que or defini ão é insatisf eito. R etomemos a descrição já comentada de Fr eud da ex periência de satisfação que se encontr a no subca pítulo chamado "Realização de desejo", da I n ter  pret açã o dos sonhos , e façamos uma leitur a a partir do ensino de Lacan, como introdução ao binômio d e manda e d e se jo.l

O elemento essencial da ex periência de satisfação é o a par ecimento de uma certa erce ão - o alimento, no exemp o escol I o - cu a Imagem mnêmica J2ermanecer á associad~º-m o tra o mnêmico da excitação da necessidade. Temos aí a situação do neném com fome e que se de para com o objeto que vai satisf azer essa necessidade. Fr eud não utiliza o termo o bjeto ~ si~ "eer ce pção", indicando que há um "objeto" q ue entr a~o es paço  per ceptivo" do sujeito, visual e táctil, e que essa impr e ssão constituirá o tr aço da presença desse o bjeto. Este traço permanece associado ao tr aço da f ome excitação de necessidade Eis o que r esta da pr imeira ex per iência de

momento em ue a necessidade se rea resentar , haverá uma conexão, gr aças ~ r e ação previamente estabeleci da, entre o traço da necessidade, a f ome, e Ó tr a o er ce ptivo do o b jeto que tr ouxe essa satisfação. Gr a ças ao r estabeecimento dessa r elação, há um desencadeamento de uma impulsão psíquica ue v ai investir de novo a imagem mnêmica do traço do objeto. Esse r einvestimento provoca uma nova percepção - a alucinação satisfatória de desejo -, r e constituindo a situação da pr imeir a satisfação. Observamos que é indifer ente para Freud se o sujeito alucina essa per c epção ou se o pr óprio o bjeto da satisfação está pr esente. De toda for ma, é o reinvestimento dessa imagem mnêmica do o bjeto q ue r econstituirá a situação da pr imeira satisf a ção. Esse movimento é o dese jo. Em suma, 0 _  dese jo é o vetor que se desloca de um significante (51), r epresentado per o tr aço da excl.ta.çãpda necessidade de comer (a fome), par a outro signifignte (52), reE!~entado 82 .  pelo tr aço do o bjeto que a satisf a z (o seio): 8, ~ Par a abordar mos a questão da demanda pr ecisamos introduzir  a mãê" como o Outr o provedor, o Outr o q ue tr az o _ objeto que satisfaz a necessidade. Par a que isto ocorr a é n.ecessário que esse Outr o provedor dê uma .0gnificação ;10 gr ito da uele ser ~~stá a i ser  Vivente, q ue se agita e grita com fome, ~ se ja, excitado pela necessidade de comer . E r ecis~ que a esse grito seja atr i buído 3... significação de um apelo, de um R edido, tr ansfor mando a neces$;dade que se ex pr e ssa no grito em uma demanda) Na situação da ú periêncla de satisfação, o grito do be bê é interpretado pelo Outr o como uma demanda de satisf a ção: a mãe o escuta c~mo ~ de!!1anda dirigida a ela, par a ef etivar  o q ue Fr eud designa no "Pro jeto" como a "ação específica": mzer  o o bjeto de satisfação. Temos aí, nesse exem plo par adigmático da exper iência de satisfação, o binômio pr o posto por Lacan de demanda e desejo. A demanda está nesse a pelo (grito interpr etado como dirigido ao Outr o da assistência) que o su jeito f az em busca de um com plemento que é o o bjeto que pode satisfazê-Io. E nessa demanda se desenr ola o desejo.  Na demanda há sem r e edido de r estituição de um status uo ante , de um estado anter ior de com lementa ão ue o su'eito su õe existir  ou ter existido. o ese jo? O dese jo é jllSramenr  a a rocura da uele o b'eto stg?0sto da primeir a ex periência fictícia de satisfa ãOJ ~~ nunca existiu ~as é um  põStu ado necessário a Fr eud ara constituir  o objeto como faltante e .sua cons~ üente busca da parte do su jeito. O ese jo é a usc~ o o jeto perdIdo, a demanda é o l2..edidode _ satisfa ão ao status quo ante. J

 _ A necessidade tem sem re um ob'eto ue a satisfaz, como o alimento  par a a or ne. Precisar comer, evacuar, respirar se situa no r egistro da eto agia. A necessidaOr t'!-ntoa ró pria cadeia de si nificantes ue se dirige ao Outr o como o lu ar de si nificantes (A), o~ar  do códi o, de onde vir á a res ~ tr ~ ao sujeito sua rópria mensa em de h ma inver tida sob a fo~ ~e si nificado do Outro (s(A)), como ver if icamos no gr afo do dese jo. Ao Situar  o ana ista no lugar do Outr o , o analisante, com sua fala-demanda, e~~ e e r ece ber  a interpr etação que diga o sentido do que ele está dl f  l do li i d nd d in demanda J

o sujeito vive num mundo em que suas necessidades são reduzidas ao valor de tr oca. O seio e o excr emento como o bjetos de necessidade entr am no jogo da linguagem não como objetos e sim como sig.ni~cantes: eles são "o bjetos significantes". Mas nem tudo está dentr o dos slglllficantes: o q ue está "alienado das necessidades, constitui uma U rverdr angung (r ecalque originário), por não poder , hi poteticamente articular-se na demanda, a par ecendo, por ém, num re bento, que é aquilo que se apr esenta no homem com o dese jo (das Bege hren )" . 3 Temos aqui a indicação de que ~~esejo está f or a do significante. E Lacan dá a seguinte imagem dessa r elação: "o dese jo se esboça ~ar gem onde a demanda se rasga da necessidade".4 A partir  daí podemos escr e ver a seguinte f órmula: (N - D = d). O aesejo é o resto da o peração d e subtr a ção da demanda à necessida d e. . . Apesar  de não se inscr ever no significante, o dese jo só pode ser mf en.do a par t ir da demanda, que se manifesta em cada fala. A demanda, na medida em que é constituída pelos significantes emitidos pelo sujeito, tem a pen~s um signif icado: o dese jo, q u e é causado pelo o bjeto a. Tr ata-se do dese jO como vetor, que s e pr esentif ica articulado atr a vés dos significantes da demanda. Assim, a demanda está para o enunciado como o dese jo está para a enunciação (D/d = = E/e). O enunciado de uma fala é da ordem da demanda" ma s é e m sua enunciação, na modalização do dito, sua entonação, suas  pausas, sua cadência, sua r a pidez ou :,ua lentidão, na ênf ase ou na elipse ~e suas palavras q ue r ola o desejo. "E como, que em derivação da. cadela signif icante que cor re  o r egato' do desejo."5 E ai, no cam2QAo d~s~o, q ue se situa ara o homem e ara a mulher ar eia ão sex al, pelo elllgma q ue ela suscita - enigma do des' lJe o sJ1 jeitoienta em vão r esolver  com o retorno à eman a como demanda de amor  -.

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o d e se jo d o Outr o Abordemos o conceito de dese jo a partir  de um dos gr andes af orismos de

Qu~ o dese jo dQ homem se ja constituído, formado a par tir e atr avés do dese jo do Outr o, é um tema hegeliano que Lacan tomou emprestado da leitura de K o jeve da Fenomenologia do es pí rit o, sobretudo da dialética do senhor  e do e~cr avo. De janeir o de 1933 a maio de 1939, Kojeve fez um seminário na Ecole Pratique des Hautes Études ao qual Lacan assistiu, tendo sido marcado por essa leitura no que diz r es peito à teoria do desejo, mas não só. R etomando algumas teses hegelianas, Lacan as tr ouxe para a teoria  psicanalítica, fazendo surtir vários ef eitos de signif icação que a r enovaram. Uma dessas teses é bem conhecida: "a palavra é o assassinato da coisa', que se encontra na origem de uma das bases lingüísticas da teoria lacaniana, ou seja, a de que a incidência do significante faz a coisa desa parecer . Isso não quer dizer q ue o significante não evoque toda a dimensão da coisa, pois, como Lacan diz no Seminár io 1, basta falar " elefantes" para que eles apar eçam. Isso confere ao significante a propriedade de constituir a presença sobre o fu~de ausência, ou seja, de ser uma presença ausente e uma ~sên _ cia r esente como a car ta r oubada do conto de Edgar Allan Poe. Encontr amos tam bém essa tese na concepção lacaniana da tr ansformação da necessidade em valor de troca, dentro do r egistr o da demanda. Trata-se da modificação que o significante impõe à sua vida, numerando-a.6 Outra tese hegeliana q ue concerne a nosso tema é justamente sobre a questão do dese jo: ç > desejo do homem é o dese'o do outro. Este dese jo é for mulado inicialm~nte em termos d dese'o d~ r econ ecimento elo outr  na dialética do senhor e do escr avo. Trata-se de um apó ogo construI o por  Hegel para ilustrar como o homem, definido pela consciência que tem de si mesmo, se constitui; como é esta belecida a dissimetria entre o senhor e o escravo; e como se daria a saída dessa situação. Vamos a bordar  a penas a  primeira parte da dialética par a a pr eender a constituição do desejo do homem a par tir  do desejo do outro que é aqui seu semelhante, seu igual e também seu r ival mortal. A dependência do sujeito em r elação ao outr o encontr a-se desde a e.:imeira frase da dialél:ica do senhor  e do escravo que, de fato, se chama "Independência e dependência da consciência de si; dominação e ser vidão". Ei-Ia: "A consciência de si é em si e é para si, quando e porque ela é em si e par a si par a uma outra consciência de si, isto é, ela só existe (ou é) enquanto ser  r econhecido."? Mas por que uma coisa, um objeto, não é suficiente para constituir uma consciência de si? Por que ela pr ecisa de uma outra consciência de si que a reconheça? Vejamos o desenvolvimento de Hegel associado ao comentár io de Kojeve. O homem contemplando uma coisa, um o bjeto é a bsorvido pela coisa

Ele pensa na coisa e não está aí para dizer  "eu", pois a contemplação revela o objeto, mas não o próprio sujeito. O que chama o sujeito a si mesmo, fazendo-o sair dessa contemplação, é o dese jo que, par a Hegel, é um dese jo consciente que lhe permite designar - se como um su jeito dentr o desse ato de contemplação da coisa. Quanto ao animal, o que Hegel chama de dese jo animal, é algo que equivale à necessidade, na medida em q ue o dese jo animal é o desejo da coisa, conf erindo-lhe o sentimento de si. O dese jo da coisa é necessár io, mas não suficiente par a constituir o que é propriamente humano, que não é o sentimento de si, mas a consciência de si. O eu animal tem o dese jo imediato da coisa e este o leva a satisf azê-Io pela negação da própria coisa; ele nega a coisa destruindo-a, por exemplo comendo-a. O dese'o -ªIa que se'a humano, deve incidir sobre um ob'eto ue não se'a um ob~tur al, e sim um ob'eto que ultr a asse a r ealidade dada. Ora, se undo He el, a única coisa ue ultra assa a r ealidade humana é o dese'o, ois o desejo, ~ o da sa' ~ é um vazio, um vazio ir r eal, u m n a a r evelado. O dese jo humano, par a se constituir enquanto tal, é u m dese jo q ue incide sobre um dese jo. O dese jo animal incide sobre um objeto, sobre a coisa, S o dese jo humano incide so br e um outr o desejo., É  um d ese jo de dese~ O dese'o ue incide de for ma imediata sobr e um objeto natur al só _  se torna hUl21anoq uando é mediatiza _  o elo~ jo do outro. anto o dese jo animal quanto o desejo humano tendem a se satisf azer , por ém o desejo humano se nutr e de dese jos e o dese jo animal de objetos da r ealidade. Partindo da tendência à satisfação encontramos também aqui uma dissimetria. Todos os dese jos animais se detêm diante de um desejo, que é o desejo de conser vação da vida, mas não o dese jo humano que só é aver iguado enquanto tal quando o sujeito arrisca a sua vida em função do seu dese jo. Trata-se de uma luta de pr estígio com o outro em vista do r econhecimento de seu dese jo, o que leva o humano a arriscar  a pr ó pria vida. O resultado dessa luta introduz na dialética da constituição da consciência de si a dissimetria entr e o senhor  e o escr avo: o senhor é o senhor porque arriscou a sua vida e o escr avo não. Mas o que é desejar u m dese jo? - per gunta K o jeve. O q ue é dese jo de dese jo? Dese jar u m dese jo é quer er deter  o valor dese jado pelo desejo do outr o. Desejar  o dese jo d e um outr o é dese@r q ue o valor q ue sou oU ue r ~r esento se'a o valor dese'ado elo outr o, Quer o que ele r econheça meu valor como se ss ; quer o que ele r econ eça o meu v or comO um valor  seu; quer o que ele me r econheça como um valor  autônomo.l249 de ' H! l é,"p0rt nt d ' d nh im nt O d  j

.Ieconh,e~imento. Par a se falar  da origem da consciência de si é portanto necessano falar de uma luta mortal em vista de r econhecimento. Qual a dif er ença entre Hegel e Lacan no q ue di z r es peito . ao d'eseJo.; > . Se, par a Hegel, o ~eseJo do homem é o desejo do outr o (com minúscula),  p~r a Lacan, o de~e o do homem é o dese'o dó Outr o com maiúscula). Em egel, meu dese jO depende do outr o como dese jante e como consciência estando, como dese j~, inter essado numa luta de prestígio com o outr o par~ ser  por  ele r econheCIdo. Par a Hegel, o outro é aquele q ue está pr esente e ql!e me vê e contra quem eu luto. Para Lacan, o Outr o se apresenta como inconsistência e inconsciência. Qinconsciente é o discur so do Outr o , sendo ue ara o neuróticQ, ele é barrado or ue há uma inseri ão da falta no Outr o, o ue o torna inconsistente. É justamente por haver uma falta inscrita no Outro que o Outro diz r es peito ao desejo do sujeito, pois é ao nível do q ue falta no Outro que sou levado a buscar aquilo que me falta - o ue me. ta c]

desejo de uma causa: a causa analítica

want -to-be

O dese' O inconsciente se ar :.lli::ulaco.rn..a-dem.an4a,..(;i.l:cula nos.-s.i-gnifl.cantes da demand~ O desejo do analista está para-além da demanda. O dese jo de ser  analista é uma demanda de ser  , de ser  nomeado por um significante do Outro que se articula com o dese jo inconsciente vinculado aos ideais do su jeito [I(A)]. O dese' o do analista não é articulá eLà-demanda do-neurótico, iJnédito. O dese jo de ser  analista, que condiciona a demanda de análise  para fins de f ormação, é equivalente à demanda do neurótico que "condiciona o ponto profissional, a comédia social com que a figura do analista é for  jada". A "Pr o posição so br e o psicanalista da Escola" pr etende incidir nessa demanda, modificando-a. O desejo do analista não se interpr eta. O dese jo de ser  analista, sim, ele se interpr eta, se anãlisa, e podemos inclusive dizer que talvez esse desejo de ser  analista não desapar e ça completamente no final da análise, a pesar  de ele não se confundir com o desejo do analista. Todos os ideais desapar ecem com a análise? Não; inclusive o dese jo de ser  analista, que é da ordem da demanda, talvez não desa pareça. O dese jo de ser analista atr a palha muito o dese jo do analista, e ele pode vir  justamente f azer irrupção na comunidade dos analistas lá onde o desejo do analista falha, ou se ja, quando aparece a demanda de r econhecimento desse "ser analistà', ou então no narcisismo da solidão q u e se presentifica nas f iguras mais o bscenas que ele pode r evestir . O "eu sozinho dou conta", f ruto do nar cisismo da peq uena diferença, é a tr ansformação do sentimento da exclusão, que se fundamenta no objeto a, na enfatuação imaginár ia contr af óbica. Lacan nos dá algumas referências do desejo do analista como operador  de uma análise. No Seminário 11, ele nos indica que, "se a transf er ência é o que da pulsão desvia a demanda, o dese jo do analista é aquilo que a traz ali de voltà'.18 O dese'o do analista ~e a demanda do s.0eito à sua vertente pulsional, pois a transf er ência, como amor qu  e demanda amor, : scamoteia a realidade sexual do inconsciente ao subsumir o o b jeto a pelo

D ema nda e de sejo

refere ao desejo de saber  . d'a CIVIIzaçao. 'I' ~ --, que se distingue t ant o d a ClenClaquanto T rata-se d e' um1 ddeseJo por um lado vinculado a um sa b'er me'd'lto e por   d esvmcu outro a o tanto ,.'da ciência que f o rac l'UI o sUJeito, , . ' d quanto d o d 'ISCurSO o mestre, ou sep, da lei que constitui a c'IVIIzaçao '1' ~ propnamente , d lta. do desejo do analista ao deseJ'o de saber  é uma' In t erpretaçao ~ " A redução ,,, ~ aemepelsta , que nao encontramos no text o d e Lacan Que d ' d " ., o eseJo o ana IIsta sep um desejO eplstemlco e uma mdlCação que encontr  "N . l' " amos na ota I~alana , mas ele não ,se define só pelo saber e sim pelo ato. O desejo do analIsta, como falta, equivale ao não-saber  que enquadra o saber  sobre ~a p~IslOnanorn:arizã o em si nificantes, Odôê~;n-;rma ~guivale topologlcamente ao furo no inconsciente definido como rede de saber, Mas essa relação de não saber co~ ~ saber não é suficie~t~ por defini-lo. -~ o "Discurso à EFP", Lacan apont~que nã:; há d~s~ jo do analista sem ato e n~ "Nota italiana" ele acrescenta ainda outro atributo que o caracteriza, o entusIasmo. O desejo do analista não é um desejo triste, conformado com a falta, não é -a r ~signação do~conformista, _ a pesar de ,ser um _ des~ jQ gge assume a a ta cO,moconsentimento à _ caitraçãQ, Trata-s
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