A Cultura Do Senado
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A Cultura do Senado O século I a. C. / d. C., o século de Augusto Inicialmente subalterna em relação aos povos vizinhos (como os Etruscos que a governaram durante o período da monarquia), a pequena cidade-estado de Roma soube aproveitar a seu contento os eventos políticos locais para crescer em poder e riqueza. Nos séculos V e IV a. C., iniciada a República, Roma lançou-se na conquista da Península Itálica, cujo o território unificou n o século III a. C., foi o período das Guerras Púnicas que trouxeram a vitória sobre os Cartagineses, o domínio do Norte de África e do Mediterrâneo ocidental e o início da conquista da Península Ibérica. No século II a. C., Roma dirigiu a expansão par oriente e depois para norte, fazendo cair sob o seu poder a Grécia, a Ilíria, a Ásia Menor, o mar Negro, a Síria, a Judeia, O Egito, a Cirenaica, a Gália, a Germânia e a Grã-Bretanha. A coesão deste vasto Império foi conseguida pelo poder centralizado, divino e autocrático dos seus imperadores; pela modernidade das suas leis (sistema jurídico), raiz do Direito Ocidental; pela imposição de uma língua comum (o latim); pela organização e disciplina m ilitares das legiões; e pela sua cultura eclética (resultante da influência das culturas grega, etrusca, helenística e de outros povos conquistados, que Roma estendeu ao império por ação da Romanização). Roma atingiu a sua época de ouro com ouro com o governo de Octávio César Augusto, Augusto, que marcou de tal forma o seu tempo que o Senado, logo após a sua morte, designou este período como o século de Augusto. Augusto. Dotado de extraordinário sentido político. Octávio chegou ao poder por delegação do povo romano e atingiu uma autoridade absoluta, de carácter quase divino, que originou o culto imperial, fator de propaganda e união do império.
Commented [VO1]: Ato de aculturação exercido por
Roma sobre os diferentes povos do Império. Esta encontrase materializada na prática do latim como língua co mum, no culto ao Imperador e na vigência do Direito Romano em todas as províncias.
Commented [VO2]: Octávio César Augusto: o militar, o
sacerdote e o legislador e juiz. Estas estátuas representam Augusto em três das principais funções: supremo comandante das forças armadas (com a couraça militar [A]; o sumo sacerdote e autoridade máxima em questões religiosas – religiosas – com com a toga sobre a cabeça [B] e o supremo legislador e juiz – juiz – com com um rolo, ou livro em forma de cilindro, na mão esquerda [C]. Espalhadas pelo Império, de Roma às províncias, estas imagens contribuíram para o fortalecimento do poder imperial de Octávio e, posteriormente, para o estabelecimento do seu culto.
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A sua ação manifestou-se a vários níveis. No plano militar, estabeleceu a ordem e a disciplina; conquistou e pacificou as províncias, estendendo a todas a pax romana. romana. No plano político, reformou o aparelho administrativo, reforçou os seus poderes de imperador, criando novos órgãos de apoio (o Conselho Imperial, a Guarda Pretoriana e um novo corpo de funcionários dele dependente) e reduziu os poderes do Senado, das magistraturas e dos comícios. No plano social, estabeleceu a paz social, reordenando a população com base numa igualdade (teórica) perante a lei e fazendo depender do montante do imposto pago (o censo) a possibilidade de ser eleito para postos políticos. Com estas medidas, o imperador garantiu a coesão da sociedade, mantendo-a hierarquizada a partir da cúpula, formada por si e pela sua família.
Commented [VO3]: O historiador romano Tácito em Agrícola, ao relatar a brutal eliminação de uma tribo
bárbara por um comandante romano que se vangloriava de trazer a paz à região, comentou: “criaram um deserto e chamaram-lhe chamaram-lhe paz”. A paz romana era uma paz armada. Commented [VO4]: Assembleias de plebeus reunidas
para deliberar sobre questões de interesse comum. Posteriormente levadas ao Senado pelo Tribuno da Plebe.
No plano cultural, o imperador, formado na tradição helenística e amante das letras e das artes, protegeu sábios e artistas, iniciando o mecenato (atividade cujo o nome advém do seu conselheiro Mecenas) e proporcionando o desenvolvimento da literatura latina. Octávio patrocinou inúmeras obras públicas como estradas, pontes, aquedutos e termas, contratando arquitetos e artesãos gregos para reformular ou construir templos, teatros, mausoléus, arcos de tri unfo, e para rasgar um novo fórum – fórum – o o Forum Augustum, a ele dedicado; construiu e equipou bibliotecas públicas e fundou escolas. No plano religioso, restabeleceu a religião tradicional, ligando-a ao culto do imperador (o que lhe proporcionou ser eleito, pelo povo, como sumo pontífice), fiscalizou a ação dos sacerdotes e viu reconhecida a sua capacidade de interpretar a vontade dos deuses. Todas estas medidas permitiram-lhe manter o Império unido com a paz e prosperidade, e criar, na sua pessoa, uma entidade suprarregional, capaz de integrar as diversidades geográficas, étnicas e culturais dos territórios conquistados. A atividade expansionista continuou até ao século III da era cristã, fazendo crescer o Império. A partir do século III d. C., o Império começou a dar indícios de decadência. Em 395, dividiu-se definitivamente em Império do Oriente e do Ocidente; em 476, o Ocidente caiu às mãos dos Bárbaros, iniciando-se a Idade Média. Figura 1 - O Culto ao Imperador
Commented [VO5]: Fig. 2 - Na imagem, o imperador
Antonino e a sua mulher transportados para o Olimpo por um genium. Símbolo da sua divinização. Embora Augusto sempre tivesse recusado ser chamado de deus, a verdade é que a devoção que lhe dedicava o povo romano se transformou, após a sua morte, num culto que as instituições romanas viriam a sancionar, estendendo-se a outros imperadores. As primeiras províncias a prestarem culto a Augusto foram as do Ocidente, que lhe dedicaram santuários e altares. Em Itália, o genium (divindade menor), que simbolizava os imperadores, era adorado em altares públicos e lares domésticos. Em Roma, havia um corpo de sacerdotes para o culto imperial. Fig. 3 – 3 – Todos Todos os cincos anos, o s censores elaboravam a lista dos cidadãos sujeitos a declararem os bens imobiliários (os únicos dignos para um “cidadão”). Eram então inscritos na classe correspondente à sua riqueza: na plebe, se o imposto ficasse abaixo dos 400 000 sestércios anuais; na ordem equestre [os cavaleiros], se se situasse entre 400 000 e 1 000 000 de sestércios; na ordem senatorial, acima deste último valor. Ficavam, assim, estabelecidas as categorias políticas [elegibilidade para as assembleias] e militares [cavaleiros e infantes] sobre as quais estava fundada a ordem romana.
Figura 3 - O recenseamento (relevos de Ahenobardus - século I a. C.)
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A sua ação manifestou-se a vários níveis. No plano militar, estabeleceu a ordem e a disciplina; conquistou e pacificou as províncias, estendendo a todas a pax romana. romana. No plano político, reformou o aparelho administrativo, reforçou os seus poderes de imperador, criando novos órgãos de apoio (o Conselho Imperial, a Guarda Pretoriana e um novo corpo de funcionários dele dependente) e reduziu os poderes do Senado, das magistraturas e dos comícios. No plano social, estabeleceu a paz social, reordenando a população com base numa igualdade (teórica) perante a lei e fazendo depender do montante do imposto pago (o censo) a possibilidade de ser eleito para postos políticos. Com estas medidas, o imperador garantiu a coesão da sociedade, mantendo-a hierarquizada a partir da cúpula, formada por si e pela sua família.
Commented [VO3]: O historiador romano Tácito em Agrícola, ao relatar a brutal eliminação de uma tribo
bárbara por um comandante romano que se vangloriava de trazer a paz à região, comentou: “criaram um deserto e chamaram-lhe chamaram-lhe paz”. A paz romana era uma paz armada. Commented [VO4]: Assembleias de plebeus reunidas
para deliberar sobre questões de interesse comum. Posteriormente levadas ao Senado pelo Tribuno da Plebe.
No plano cultural, o imperador, formado na tradição helenística e amante das letras e das artes, protegeu sábios e artistas, iniciando o mecenato (atividade cujo o nome advém do seu conselheiro Mecenas) e proporcionando o desenvolvimento da literatura latina. Octávio patrocinou inúmeras obras públicas como estradas, pontes, aquedutos e termas, contratando arquitetos e artesãos gregos para reformular ou construir templos, teatros, mausoléus, arcos de tri unfo, e para rasgar um novo fórum – fórum – o o Forum Augustum, a ele dedicado; construiu e equipou bibliotecas públicas e fundou escolas. No plano religioso, restabeleceu a religião tradicional, ligando-a ao culto do imperador (o que lhe proporcionou ser eleito, pelo povo, como sumo pontífice), fiscalizou a ação dos sacerdotes e viu reconhecida a sua capacidade de interpretar a vontade dos deuses. Todas estas medidas permitiram-lhe manter o Império unido com a paz e prosperidade, e criar, na sua pessoa, uma entidade suprarregional, capaz de integrar as diversidades geográficas, étnicas e culturais dos territórios conquistados. A atividade expansionista continuou até ao século III da era cristã, fazendo crescer o Império. A partir do século III d. C., o Império começou a dar indícios de decadência. Em 395, dividiu-se definitivamente em Império do Oriente e do Ocidente; em 476, o Ocidente caiu às mãos dos Bárbaros, iniciando-se a Idade Média. Figura 1 - O Culto ao Imperador
Commented [VO5]: Fig. 2 - Na imagem, o imperador
Antonino e a sua mulher transportados para o Olimpo por um genium. Símbolo da sua divinização. Embora Augusto sempre tivesse recusado ser chamado de deus, a verdade é que a devoção que lhe dedicava o povo romano se transformou, após a sua morte, num culto que as instituições romanas viriam a sancionar, estendendo-se a outros imperadores. As primeiras províncias a prestarem culto a Augusto foram as do Ocidente, que lhe dedicaram santuários e altares. Em Itália, o genium (divindade menor), que simbolizava os imperadores, era adorado em altares públicos e lares domésticos. Em Roma, havia um corpo de sacerdotes para o culto imperial. Fig. 3 – 3 – Todos Todos os cincos anos, o s censores elaboravam a lista dos cidadãos sujeitos a declararem os bens imobiliários (os únicos dignos para um “cidadão”). Eram então inscritos na classe correspondente à sua riqueza: na plebe, se o imposto ficasse abaixo dos 400 000 sestércios anuais; na ordem equestre [os cavaleiros], se se situasse entre 400 000 e 1 000 000 de sestércios; na ordem senatorial, acima deste último valor. Ficavam, assim, estabelecidas as categorias políticas [elegibilidade para as assembleias] e militares [cavaleiros e infantes] sobre as quais estava fundada a ordem romana.
Figura 3 - O recenseamento (relevos de Ahenobardus - século I a. C.)
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Roma, o modelo urbano no Império (o Império (o espaço)
Commented [VO6]: Segundo uma lenda antiga, a origem
de Roma relaciona-se com o herói mítico da Guerra de Troia: Eneias. Fugindo de Troia após a destruição que os Aqueus aqui provocaram, Eneias teria aportado à região de Roma e casado com a filha do rei Lácio. Um dos seus filhos, Arcânio, fundara Albalonga, cidade que se encontra ligada historicamente ao nascimento de Roma. No entanto, seriam os filhos deste (netos de Eneias), os gémeos Rómulo e Remo (que vemos na imagem a ser alimentados por uma loba), que haveriam de fundar Roma, iniciando a sua mo narquia.
Roma, a cidade que deu nome a uma civilização e a um império começou por ser uma pequena aldeia no s éculo VIII a. C. A partir daí e até ao século IV d. C., o crescimento da cidade acompanhou o crescimento político e económico do seu povo e a prodigiosa construção do colosso que foi o seu império, do qual Roma se tornou o centro e sede do poder político. Este evoluiu da monarquia para a república e desta para um regime imperial.
Dominado, pela sua posição central, o Mediterrâneo (que designou por Mare Nostrum, Roma foi o ponto de chegada e partida das Figura 4 – 4 – Loba Loba do Capitólio – Capitólio – estátua estátua em rotas marítimas e terrestres que uniam todas as partes do Império, bronze de origem etrusca, cerca de 450 a. possibilitando a circulação e intercâmbio de produtos e de notícias, veiculados C. por políticos, soldados, comerciantes, colonos, escritores e artistas. Em meados do século I a. C., a sua população rondava um milhão de habitantes. Preocupados com a qualidade de vida na urbe, os governadores romanos rasgaram vias e praças, mandaram construir aquedutos para o abastecimento de água, estabeleceram regras construtivas para os edifícios civis e públicos que lhe deram a grandiosidade e o fausto correspondente ao domínio e ao poder que Roma exercia. As primeiras preocupações deste género datam do final da República, no tempo de Sila, Pompeu e Júlio César que intervieram na construção do primeiro fórum, a praça pública central da cidade, onde se localizavam os edifícios mais importantes ligados ao exercício do poder político e religioso. Figura 5 – 5 – As As muralhas e o crescimento da cidade – – Segundo Segundo a tradição, em 753 a. C., Rómulo traçou o sulco da cidade – o recinto da Roma Quadrata; uma nova cerca, a muralha etrusca, foi construída por Sérvio Túlio (578-543 a. C.) com blocos quadrados de turfa e torres nos pontos críticos; no temo do imperador Aureliano, século III d. C., fez-se a terceira muralha.
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Figura 6 – Vista global das ruínas do fórum romano – O Fórum é a praça pública central da cidade romana, onde se localizam os edifícios mais importantes ligados ao exercício das funções religiosa, política e comercial (comportava numerosas lojas de todas as espécies). Era, por isso, o centro cívico por excelência, onde se realizavam os principais atos públicos: aí passavam os cortejos triunfais, aí se efetuavam as cerimónias fúnebres dos altos dignatários e as solenes execuções capitais.
Augusto prosseguiu esta política urbanística completando edifícios que haviam ficado inacabados (como o Teatro Marcelo e a Basílica Júlia), construindo outro fórum e disseminando por toda a cidade monumentos públicos e privados como o Teatro e o Anfiteatro de Statilio Balbo, as Termas de Agripa (no local onde mais tarde se levantará o Panteão), o Altar da Paz e o Mausoléu da família imperial. Capital de um vasto império, Roma – a urbe ou cidade por excelência – cresceu como uma cidade cosmopolita, modelo administrativo, urbanístico e civilizacional das cidades do Império. Nas províncias, os Romanos utilizaram as cidades como sedes do seu governo político-militar e fizeram da vida urbana o mais rápido processo de aculturação das populações. Com efei to, por todo o Império, do Oriente ao Ocidente, as cidades, embora com estatutos jurídicos diferentes (municípios, colónias, etc.), foram as sedes da administração regional e estruturavam-se internamente usando as mesmas instituições e órgãos governativos de Roma (cada uma com o seu senado, a sua cúria e a sua basílica). Também a nível urbanístico, o modelo adotado foi o de Roma, tendo todas o seu cardo e o seu decumano , o seu fórum, as suas termas, etc. Enfim, cada cidade era como uma pequena Roma. Roma foi, portanto, o paradigma para as novas cidades por todo o Império e inspirou as reformas e melhoramentos nas cidades que já existiam. Estas características explicam que Roma funcionasse também como modelo para a vida sociocultural das cidades do Império.
Figura 7 – Cidade provincial de El-Djem, do século III, Tunísia. Os modelos arquitetónicos e urbanos criados pelos Romanos contribuíram para uniformizar a imagem das cidades, reforçando a unidade do Império. Esta cidade cresceu tanto que tinha 12 termas para uma população de 15 000 habitantes. O anfiteatro era o maior do Império, depois do Coliseu de Roma.
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O Senado: os senadores e o cursus honorum (o local) Ordinárias
Extraordinárias
(por ordem decrescente de poder e de importância)
Cônsules Procônsules Pretores Censores Edis Questores Tribunos da Plebe
Ditadores
Figura 8 – As magistraturas romanas ou cursus honorum. As magistraturas ou cargos públicos podiam ser de natureza administrativa, judiciária e militar e estavam perfeitamente hierarquizadas; o seu conjunto formava o cursus honorum ou carreira de honras, cujo acesso estava condicionado pelo censo, pela idade e pelas qualidades pessoais.
O Senado foi a mais velha instituição do Estado romano, tendo existido desde a monarquia até finais do Império. Durante a República (510 a 27 a. C.) foi o órgão fulcral da vida política romana. Era composto por ex-magistrados, nomeados e escolhidos primeiro pelos cônsules e depois pelos censores (fig. 8). Os senadores começaram por ser em número de 300, mas Sil a duplicou este número e Júlio César triplicouo. Inicialmente, teve apenas consultivas, mas foi ganhando um espaço cada vez mais amplo na política romana, passando a dominar todos os assuntos da vida pública com carácter deliberativo e normativo. Com funções ordinárias, cabiam-lhe a política externa, as decisões de guerra e paz, a gestão das festas e das solenidades religiosas, a administração das finanças e as deliberações relativas à ordem pública. Com funções extraordinárias , podia declarar o estado de sítio, suspender os tribunais, intervir no governo das províncias, na gestão do exército e na preparação das leis que os comícios deviam votar, etc.
O Senado romano no fim da República e no Império Os senadores, pelo número, formavam uma multidão ignóbil e confusa: eram, efetivamente, mais de mil, e alguns deles absolutamente indignos do cargo […]: chamavam-lhes “senadores do além-túmulo”. Augusto reduziu o corpo senatorial ao seu primitivo número e ao seu primitivo esplendor, graças a duas eleições: a primeira operada pelos próprios senadores, em que cada um deles escolhia um colega; a segunda, por ele e por Agripa. Foi nesta época que se disse que ele presidia ao Senado com uma couraça debaixo da toga, um gládio à cinta e em torno da sua cadeira dez senadores amigos, escolhidos entre os mais robustos, Suetónio, Vida dos Doze Césares – Octávio César Augusto, século I d. C.
O Senado entrou em decadência durante o Império. Augusto reduziu o número dos seus membros, fez depender a sua nomeação da escolha do imperador e retirou-lhes parte dos seus poderes. Contudo, os seus pareceres legislativos continuaram a ter força de lei e eram os senadores que detinham a administração local em Roma, no resto da Itália e em algumas províncias pacificadas e mais bem integradas. Figura 9 – Mapa da governação das províncias senatoriais e imperiais no tempo de Augusto. Octávio encarregou-se pessoalmente das províncias “que não seria cómodo nem prudente governar por magistrados anuais” (Suetónio) e confiou as outras a procônsules tirados à sorte.
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A retórica As funções do Senado, associadas ao prestígio dos senadores (quase todos grandes latifundiários, de origem patrícia), fizeram das reuniões na Cúria o palco quotidiano da vida política. Aí, a arma de persuasão era sobretudo a palavra, a retórica ou arte de bem-falar; esta era determinante no sucesso dos oradores e na condução das discussões e votações. Os romanos começaram por usar a retórica grega, conhecida desde o século V a. C., e teorizada por Górgias e pelos sofistas que a incluíram na formação dos jovens. A primeira retórica latina (romana) é a Rhetorica Herenium, possivelmente de Cícero. A Lei – da República ao Império Desde a República, a centralização política usou como um dos instrumentos de coesão do Estado a Lei Romana, um conjunto de normas de Direito superiormente definidas, que, apli cadas igualmente no mundo romano, uniformizaram os procedimentos da justiça e dos tribunais, sobrepondo-se à diversidade dos direitos locais. A superioridade das leis romanas residia: na racionalidade e na lucidez dos princípios gerais que enunciavam; no pragmatismo e na experiência que colocavam na análise das situações do quotidiano; na complexidade das situações que contemplavam e que eram as vividas a todos os níveis (económico, social, familiar, étnico, político). O Direito Romano, reconhecido como um dos principais legados desta civilização, resultou da recolha e compilação de várias f ontes jurídicas usadas pelos Romanos como: a Lei das Doze Tábuas, a principal e mais antiga compilação escrita das leis consuetudinárias (baseadas nos Costumes) do povo romano (cerca de 450 a. C.); as leis promulgadas pelos órgãos políticos da República com poder legislativo, como as emanadas pelo Senado e as proclamadas pelos comícios; e as leis promul gadas pelos imperadores. Durante o Império, os imperadores tornaram-se os supremos legisladores. O seu trabalho legislativo foi apoiado por juristas especializados, os jurisconsultos, escolhidos entre a aristocracia “intelectual”. Cabia também aos imperadores a chefia dos tribunais, o que lhes permitiu controlar o poder judicial.
Commented [VO7]: O Direito Romano consignava já,
inclusive, a separação entre o direito público, que se ocupava das questões de Estado, e o direito privado, que regulamentava as questões dos particulares.
O direito de apelação, reconhecido a todos os cidadãos, só podia ser resolvido em tribunais presididos pelo Senado ou pelo imperador, e a este pertenciam todos os casos de últ ima instância.
A EXCELÊNCIA DAS LEIS ROMANAS
Podem indignar-se à vontade, mas direi o que sinto: as bibliotecas de todos os filósofos, ultrapassa-as, por Hércules, em meu entender, um só livrinho, o das Doze Tábuas, fonte e cabeças das nossas leis […]. Através do conhecimento do Direito colhereis o fruto da alegria e do prazer de compreenderdes, com toda a facilidade, quanto os nossos maiores estiveram à frente dos outros povos em clarividência, se vos derdes ao trabalho de comparar as nossas leis com as deles – de Licurgo, de Drácon, de Sólon. É inacreditável como o direito civil para além do nosso é rude e quase ridículo. Cícero, Do orador (106-43 a. C.)
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A língua latina: a construção do latim; o latim de Cícero; o latim do limes (Síntese 1)
Commented [VO8]: Fronteira
Os Romanos falavam latim, língua de origem indo-europeia que se afirmou na Itália central e meridional. Aí absorveu influências de outros falares mediterrânicos: do etrusco (falado pelos Etruscos que, contudo, adotaram o latim aquando da sua fixação na Península Itálica), do gaulês, do dialeto cartaginês e sobretudo do grego (falado na Magna Grécia desde o século VIII a. C.).
Commented [VO9]: Os Etruscos foram um povo de
origem incerta (é provável que tenham vindo dos Balcãs, por mar, no século X a. C.) e de língua mal conhecida (apesar de conhecer o seu alfabeto), que tiveram, tal como os Gregos, um importante papel ma origem da civilização romana, tendo dominado a região de Roma durante o período da monarquia.
O latim foi a primeira língua indo-europeia atestada por documentos escritos, datados de inícios do século V a. C. As primeiras obras literárias nesta língua aparecem no século III a. C., mas ainda incompletas, só temos conhecimento de obras literárias completas após o início do século II a. C.
Segundo os peritos, o período de formação do latim, dura até à República, atingindo o seu apogeu a partir do século I a. C., no tem po de Júlio César Figura 10 – Cícero (106-43 a. C.). e de Cícero. Nessa época, por ação de vários intelectuais de renome, o (Na imagem, escultura da fachada do Palácio da latim depura-se, liberta-se de arcaísmo e de i nfluências estrangeiras de Justiça de Roma, terminado em 1910). Cônsul e modo a tornar-se modelo de civilidade e de civilização. Os Romanos senador, foi um dos mais célebres oradores da cena política romana. Homem de letras, atento à política, haveriam de espalhá-lo pelo Império como língua oficial (língua da à moral e à religião, formado na tradição helenística, administração e dos tribunais) e elemento de união entre as províncias distinguiu-se sobretudo como jurisconsulto. Foi um profundo conhecedor das leis romanas. Deixou mais e Roma. de 800 cartas em latim que são a principal fonte de informação deste período.
É esse belo latim que podemos apreciar nas obras de Cícero, Virgílio, Horácio (65-8 a. C.), Tito Lívio (59 a. C. – 19 d. C.), Séneca (4 a. C. – 65 d. C.), Lucano (39 – 65 d. C.), Tácito (c. 55 – 116 d. C.) e outros que o aplicaram em prosa, em poesia, no direito, na jurisprudência, na retórica, na filosofia e no teatro, construindo uma das mais evoluídas literaturas da Antiguidade.
Paradoxalmente, é a partir deste período de ouro que o latim vai começar a sofrer uma mutação decisiva. Enquanto entre elite (políticos, filósofos, poetas) a língua se refinava em torno de apertados critérios de pureza e rigor – o latim erudito –, no quotidiano do Império, em contacto com os outros povos e idiomas, o latim do povo era contaminado pelos falares locais, deturpando-se. Esta Figura 11 – Virgílio (71-19 a. C.). O poeta aparece-nos, clivagem foi cada vez maior à medida que o Império se alargava e ia neste mosaico encontrado em Susa (Tunísia), representado no meio de duas musas (Clio, patrona admitindo nas suas fronteiras maior número de povos e falares. Assim, da História, e Malponema, da Tragédia), segurando o latim do limes (isto é, das zonas periféricas) era um latim adulterado, na mão um exemplar da Eneida, epopeia em verso, espécie de vulgata do latim erudito; este era cada vez mais restrito a modelo do latim puro, que explica a fundação de Roma a partir de Eneias, um herói grego da Guerra de uma pequena elite de sábios puristas e só verdadeiramente encontrado Troia, e tece altos elogios à Itália e ao seu povo. na versão escrita. A partir do século III d. C., a decadência intelectual e cultural em que o Império caiu aprofundou a cisão entre a língua erudita e a língua falada pelas populações comuns; enquanto a primeira se restringia aos livros, deixando de se falar no quotidiano, a segunda vingou, dando origem às atuais línguas novilatinas, derivadas da vulgata do latim que se pulverizou nos vários romances (falares) medievais.
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O ócio: os tempos do lúdico; os jogos do Circ o; a preocupação com as artes (Síntese 2) Figura 12 – O exotismo no pentear (busto em mármore de Júlia, filha de Tito, período flaviano). O rebuscado penteado de caracóis alinhados, sobre a testa era a moda para ambos os sexos. Fazê-lo requeria a ajuda de um profissional que recorria a cabelo artificial e armações de arame.
No século de Augusto, a paz e a prosperidade económica proporcionadas pelas conquistas possibilitaram aos Romanos o usufruto do ócio, isto é, do tempo livre, usado, no dizer de Horácio e de Cícero, com dignidade, à velha e austera maneira dos tempos iniciais da República. Contudo, as conquistas haviam alterado substancialmente esses velhos costumes. Roma e toda a Itália foram invadidas por gentes de todas as partes do Império com diversas culturas. De todos, os mais influentes na alteração de hábitos e costumes foram os Gregos que, como escravos de luxo ou imigrantes convidados, afluíram a Itália. Os Romanos, apreciaram-lhes o falar elegante, os conhecimentos e a cultura refinada e copiaram-nos: a língua grega, falada e escrita, foi adotada pelas elites cultas como uma segunda língua-mãe; o interesse pela filosofia, música e artes dominaram os meios intelectuais. Entre os ricos, o luxo invadiu as residências; a moda do exotismo dominou o vestuário e os penteados; os banquetes e os salões privados tornaram-se frequentes e a ida às termas um hábito Figura 13 – Banquetes e salões, os divertimentos das classes altas (fresco da época). Os indispensável e cada vez mais praticado banquetes privados popularizaram-se. Entre os principais anfitriões, contam-se damas da sociedade, cujos salões eram requisitados pela intelectualidade da época. Estes como ritual social. banquetes eram acompanhados de música, dança, leituras poéticas e filosóficas e serviam também para discussões políticas.
Os banhos romanos O banho romano era uma operação longa e complexa, cujos principais momentos e a técnica geral subsistem ainda nos atuais “banhos turcos”. Naturalmente, quando se tem toda uma tarde à frente, demora-se, toma-se banho em companhia de amigos, cavaqueia-se interminavelmente no tepidarium ou à beira da piscina. Nos dias bons, fica-se no solarium para um banho de sol ou então joga-se à bola. Os médicos ensinavam que o banho não era verdadeiramente profícuo se não fosse precedido e seguido por um exercício moderado. Mas, o essencial era a própria vida dos banhos, o seu burburinho pitoresco, os encontros, os pequenos ofícios que aí se exerciam e ofereciam um espetáculo sempre novo. Uma carta de Séneca [Ad Lucilium, IV, 56] descreve com grande espírito a atmosfera de um estabelecimento de banhos: “Imagina”, diz ele, “toda a espécie de vozes que podem levar-te a teres ódio às tuas orelhas; quando os desportistas se exercitam e trabalham nos halteres, durante o esforço ou a simulação de esforço, ouço os gemidos e, de cada vez que retomam o fôlego, um assobio e uma respiração aguda. Quando eu deparo com alguém que se contenta com uma fricção barata, ouço o estalar da mão sobre os ombros que, conforme bate espalmada ou em concha, assim emite um som diferente. E se, para além de tudo isto, chega um jogador de bola que começa a cortar os lances, tudo está perdido! Junta a isto um desordeiro e o ladrão apanhado em flagrante delito e o homem que gosta de ouvir a sua própria voz quando toma banho. Acrescenta ainda as pessoas que saltam para a piscina no meio de um barulho de água que salpica tudo. Mas, para além desta gente cuja voz é pelo menos normal, imagina a vo z aguda e metálica dos depiladores que assim se querem fazer ouvir melhor e dão de repente gritos, sem nunca se calar, a não ser quando depilam uma axila e, então, fazem gritar os outros no seu lugar. E, depois, os gritos variados do pasteleiro, do comerciante de salsichas e do vendedor de empadinhas e de todos os moços de taberna que anunciam a sua mercadoria com uma melopeia característica”. Séneca confessa que lhe é muito difícil meditar no meio de semelhante barulheira.
Pierre Grimal, A vida em Roma na Antiguidade, Publicações Europa-América, 1995 8
A sociedade urbana, multifacetada e cosmopolita, adquiriu outros hábitos de divertimento público e privado. Durante o Império, entre outros divertimentos públicos popularizaram-se os jogos, inicialmente considerados “divertimentos para os deuses ofertados pelos humanos”, e cuja realização obedecia a programas e rituai s rigorosamente estipulados. Os mais antigos compunham-se de corridas de de cavalos que, em Roma, se realizavam no Grande Circo (ou Circo Máximo), que se acreditava existir desde a época da realeza. Figura 14 – As corridas no Circo Máximo. Em Roma, as corridas do hipódromo começavam com uma procissão que ia do Capitólio ao Circo Máximo, iniciada pelo perfeito da cidade, seguido pelos concorrentes, pelo pessoal das cavalariças e pelo cônsul que presidia às provas. As corridas maioritariamente financiadas com dinheiros públicos. Os cocheiros ou aurigas vestiam-se por cores: duas principais (verde e azul) e duas secundárias (vermelho e branco). Cada cor tinha os seus partidários que, nas bancadas, faziam apostas e participavam ruidosamente, incentivando as suas quadrigas. Estas corriam na arena em torno da spina, a divisória central enfeitada com estátuas de deuses, troféus vários, contadores de voltas e um obelisco, erguido em 357. No final da corrida, os animais vencedores eram solenemente sacrificados para que o seu sangue purificasse e vivificasse o solo. Segundo Suetónio, Augusto foi um dos imperadores que mais jogos patrocinou: fez celebrar 4 jogos em seu nome e 23 por magistrados ausentes ou sem possibilidades de os custearem. “Pão e circo” foi a maneira de entreter e controlar a plebe.
Eram também tradicionais em Roma as representações teatrais que tiveram origem nas Grandes Procissões (durante as quais grupos de bailarinos mascarados representavam, em frente às estátuas de deuses, pequenos mimos ou peças curtas do género farsa, com poucas personagens). Foi juntando esta tradição à influência do teatro grego que nasceu o teatro romano. Este preferiu as comédias às tragédias. Plauto e Terêncio foram comediógrafos mais célebres, com obras que satirizavam o seu tempo. Muito apreciados na época imperial foram os combates nos anfiteatros. Estes tiveram origem em certas cerimónias fúnebres em que se representavam pequenos atos os quais o morto interagia com os seus maiores (os antepassados) e com os deuses. Esses atos associavam, por vezes, combates rituais entre gladiadores que, entretanto, se popularizaram. Inicialmente, os combates envolviam apenas feras contra feras (combates, referenciados, pelo menos, desde o século II a. C.), mas em pouco tempo começaram a aparecer caçadas nas arenas e combates entre homens e animais. A partir do imperador Nero, os cristãos perseguidos foram obrigados a lutar contra os animais nas arenas dos anfiteatros. A variedade de que os jogos romanos se foram revestindo ao longo do Império dependeu da imaginação dos magistrados encarregados de os organizar, os quais, preocupados em agradar ao povo e ao poder, deram largas à fantasia e ao exagero, tornando-se cada vez mais burlescos e cruéis. E, na verdade, a plebe urbana demonstrou apreciar estes espetáculos violentos e sanguinários, descarregando nos jogos parte do descontentamento resultante da falta de emprego, do alargamento do fosso entre ricos e pobres e da política dissoluta dos imperadores. Contudo, entre as classes mais cultas e sobretudo entre a aristocracia provinciana, as práticas citadinas eram vivamente repudiadas. Estas classes preferiam o refúgio nas villae (casas de campo), rodeadas de conforto e bucolismo, onde os prazeres simples do campo se associavam aos da leitura, 9
da música, da filosofia ou das artes, que conheceram, neste período, o seu primeiro mercado privado. A arquitetura: entre o belo e o útil A arquitetura é a arte que melhor testemunha o génio inventivo de Roma e a que melhor documenta a sua evolução histórico-social. A arte romana, e particularmente a sua arquitetura, filiou-se diretamente nas artes ítalo-etrusca e na greco-helenística, embora tenha captado influências um pouco por todo o Império, daí o seu ecletismo. Da primeira, os Romanos herdaram o sentido prático e funcional direcionado para construções como pontes, túneis, esgotos e estradas. Da Grécia, que conquistada conquistou o seu feroz conquistador (Plutarco, século II), os Romanos adotaram, na arquitetura, as plantas dos templos retangulares e circulares, alguns princípios construtivos e métricos das mesmas. Foi em meados do período republicano que a arquitetura atingiu uma linguagem própria e ori ginal. Pragmática e funcional, preocupou-se essencialmente com a resolução dos aspetos práticos e técnicos da arte de construir, respondendo com soluções criativas e inovadoras às crescentes necessidades demográficas, económicas, políticas e culturais do Império. O carácter específico da arquitetura romana expressa-se pelas seguintes particulares:
A variedade e plasticidade dos materiais utilizados: os Romanos usaram os materiais tradicionais (pedra, mármore, tijolo, madeira), mas também outros, mais económicos em meios e mão de obra. O mais importante foi o opus caementicium espécie de argamassa de cal e areia a que se adicionavam pequenos pedaços de calcário, pozolana, cascalho e restos de materiais cerâmicos, semelhante ao atual cimento ou ao betão. A sua utilização, que remonta ao século IV a. C., tornou-se mais fácil e rápida a construção de coberturas abobadadas ou cupuladas e de paredes curvas. A pobreza visual destes materiais era compensada pelo uso de superfícies exteriores de revestimentos, compostos por diversos tipos de paramentos: almofadados de pedra, tijolo, estuques, placas de mármore policromado e ladrilhos cozidos. Nas paredes interiores foram usados também mármores, mosaicos e estuques pintados.
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Commented [VO10]: Termo usado pelos Romanos para
designar o tipo de trabalho ou a organização dados ao material empregue numa construção. Commented [VO11]: Material de origem vulcânica usado
no fabrico de cimentos.
Commented [VO12]: Superfície ou camada exterior do
elemento construtivo. Revestimento.
O uso de sistemas construtivos que tinham por base o arco e as construções que dele derivam: os diferentes tipos de abóbodas, as cúpulas e as arcadas; estas estruturas tinham sido já utilizadas na Mesopotâmia, na Etrúria e na Grécia, mas nunca em construções “nobres” nem com tal perícia técnica.
Commented [VO13]: Tipo de cobertura que corresponde,
geometricamente, a meia esfera (ou calote).
Figura 15 – Diferentes tipos de opus. A – Opus caementicium revestido com paramento de opus retiliculatum; B – Aparelho de almofadados de pedra – opus quadratum; C – Aparelho de tijolo triangular – opus latericium; D – Paramento em mármore policromo – opus sectile; E – Revestimento em ladrilho cozido – opus testaceum.
O desenvolvimento das técnicas e dos instrumentos de engenharia assumidos como suporte da arquitetura. Nesse sentido, desenvolveram conhecimentos de orografia e topografia, técnicas de terraplenagem, novos processos de embasamento e de suporte. Estudaram cientificamente os sistemas de forças e os processos de descarga, criando inclusive novos modos de reforçar as juntas dos blocos construtivos com grampos de metal. Inventaram a cofragem e usaram cimbres de modo estandardizados. O génio inventivo e o sentido prático de que os Romanos deram provas neste campo tornaram a sua arte de construir a mais perfeita da Antiguidade, associado à solidez uma maior economia de materiais, meios e mão de obra. Por último, o exagero da decoração que substituiu o equilíbrio ornamental helénico. Com efeito, usaram as ordens gregas (colunas, entablamentos e frontões) apenas como elementos decorativos, modificando-as nas proporções e nas formas, chegando a criar duas novas ordens: a toscana e a compósita. As mais usadas foram a coríntia, agora aumentada de tamanho e muito mais decorada, e a compósita, precisamente pelas suas maiores potencialidades ornamentais.
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Commented [VO14]: Caixa de madeira destinada a servir
de molde ao betão fresco.
Figura 16 – O arco Romano. O arco foi o elemento estrutural de toda a arquitetura romana. Os Romanos desenhavam-no igual a metade de uma circunferência, isto é, o chamado arco de volta perfeita ou arco redondo. A sua construção era feita sobre um molde de madeira, o cimbre, colocado provisoriamente entre duas paredes ou pilares. Sobre ele se iam colocando as aduelas (pedras talhadas em forma de cunha) até à pedra de fecho, no topo do arco. O talhe rigoroso das aduelas e a pressão calculada que exerciam umas sobre as outras era o que sustentava o arco. A perícia dos “engenheiros” romanos permitiu a construção de arcos que ultrapassavam vãos com mais de 25 metros.
Figura 17 – Abóbodas romanas. A – Abóboda de berço Figura 18 – As ordens arquitetónicas – exerce uma pressão contínua, centrífuga e de cima romanas. A – Toscana (deriva da dórica); para baixo sobre toda a parede de suporte. Por isso B – Jónica; C – Coríntia; D – Compósita. não permite grandes aberturas laterais. B – Abóboda de arestas (resulta da interseção, ao mesmo nível, de duas abóbodas de berço). Permite canalizar as pressões para as pontas dos arcos, local onde se concentra o sistema de suporte (pilares com contrafortes adossados), libertando assim as paredes. C – Abóbada formada por sucessão de tramos de abóbada de arestas. Permite projetar salas amplas, cheias de luz e bem ventiladas, como as basílicas.
Figura 19 – Topógrafo romano com compasso e a groma, instrumento utilizado para o nivelamento dos campos e para o traçado das estradas e ruas (escultura do século II a. C.).
Figura 20 – Colunata com arcadas na Villa Adriana, século I, Itália. A arcada é um conjunto de colunas unidas superiormente por arcos. Resultou da junção do arco romano com entablamento retilíneo grego.
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A arquitetura religiosa Os edifícios religiosos assinalavam, pelo seu valor simbólico, os lugares mais importantes das cidades e possuíram, igualmente, funções políticas e sociais. Em todas as cidades romanas havia vários templos, pois, para além dos dedicados aos deuses protetores de cada uma delas, existia ainda o templo dedicado ao culto do imperador e outros para as divindades maiores da sua região. Nesta área da arquitetura destacam-se os templos, os altares e os santuários . Tirando alguns exemplos mais antigos (como o Templo de Vesta do Fórum Boário), o modelo mais comum de templo romano, marcado por influências ítalo-etruscas e gregas, apresentava as características que a seguir se enunciam. Era de planta retangular, geralmente com uma cella fechada e estava orientado no terreno pelos pontos cardeais segundo o eixo axial da cella. Erguiase sobre um podium que possuía um único acesso frontal (assinalado pelo pórtico e escadaria de acesso). Em regra, não tinha peristilo e era falsamente períptero, sendo as colunas laterais adossadas ou embebidas nas paredes exteriores. As colunas e o entablamento possuíam uma função meramente decorativa. Em Roma, os exemplos mais bem conservados são os do Fórum Boário, do tempo da República, onde é visível a influência estética grega, como é o caso do Templo da Fortuna Virilis. Do período imperial salienta-se o Templo de Baalbek, no Líbano. Ma foi no Alto Im pério que surgiram os modelos mais sumptuosos e monumentais, como o Panteão de Roma. As aras ou altares eram pequenas construções em forma de mesa onde se realizavam sacrifícios e oferendas aos deuses, encontrando-se um pouco por todo o Império. Famosa é a Ara Pacis (Altar da Paz) de Augusto, em Roma.
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Commented [VO15]: Estrado ou plataforma em pedra
maciça sobre o qual se erguia o templo.
Panteão de Roma (análise da obra)
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Panteão de Roma – c. 118-128 Que a arquitetura romana foi uma arquitetura de espaços interiores comprova-o o f abuloso interior do Panteão, de cella única, circular, toda revestida a mármores policromos e estuques pintados. A impressão dominante e esmagadora é a cúpula, toda de betão, ornamentada por cinco fiadas de caixotões, cujas dimensões vão diminuindo até à única abertura central: um óculo de 9 metros de diâmetro por onde jorra uma luz diáfana (transparente) que imprime ao ambiente uma atmosfera mística e irreal. Mandado construir por Adriano para honrar os deuses do Céu e da Terra, o Panteão compõe-se de dois corpos distintos: o edifício circular coberto pela gigantesca cúpula desenhada, segundo se crê, por Apolodoro de Damasco, arquiteto do imperador; e o pórtico retangular saliente, aproveitado das Termas de Agripa, anteriormente ali erigidas. Graças a um subterfúgio de engenharia, a cúpula pouco se nota do exterior, visto encontrar-se parcialmente embebida nas maciças paredes laterais. As proporções rigorosamente geométricas do Panteão (altura da cúpula igual ao seu diâmetro; raio da cúpula igual ao raio do cilindro sobre que assenta e também igual à sua altura) conferem-lhe a imagem f igurada do globo celeste assentando sobre a Terra.
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ANÁLISE DA OBRA Identificação e localização temporal: É um templo (tipologia) dedicado a todos os deuses, ou Panteão, mandado construir pelo imperador Adriano, em Roma, c. 118-128; possivelmente desenhado pelo arquiteto Apolodoro de Damasco. Função: religiosa. Materiais e técnicas construtivas: Opus caementicium em toda a construção; opus quadratum (com mármore) no revestimento das paredes. Sistema construtivo que mistura o sistema trilítico (usado no pórtico) com a construção em arco nas restantes partes. Forma: Planta – circular, na cella única, e retangular no pórtico; Volumes – no exterior, arredondados (corpo cilíndrico com uma cobertura esférica), antecedido por um pórtico retangular; massas horizontais e compactas; no interior, espaço arredondado, amplo, vão e claro; Elementos de sustentação – estruturas em arco (semicúpulas, cúpula e abóbadas) apoiadas nas paredes circulares de betão, quase sem aberturas; no pórtico são usadas colunas da ordem coríntia; Elementos de cobertura – na cella, cúpula de betão com um óculo de 9 m de diâmetro; o óculo é a única fonte de luz e de arejamento da cella; no pórtico, um tramo de abóbada de berço. Composição – proporções rigorosamente geométricas com perfeitas relações das formas entre si – a altura da cella é igual ao diâmetro, o raio da cúpula é igual ao raio do cilindro sobre que assenta e também igual à sua altura, segundo os princípios de Vitrúvio; equilíbrio, estaticidade e ordem. Decoração: Exterior – no corpo do edifício, as paredes, curvas, maciças e lisas apresentavam revestimento a mármores hoje desaparecidos; o pórtico (aproveitado de uma construção anterior) tem um frontão triangular, com 16 colunas. Interior – paredes ornadas com nichos, ladeados por colunas, alternam com sete altares com pilastras; paredes e chão com revestimento a mármores policromados; cúpula com caixotões que a tornam mais leve, sugerem profundidade e ornamentam. Enquadramento urbanístico – Ergue-se isolado, com a fachada virada para uma praça e com ruas laterais a circundá-lo. Significado: Real – é um templo dedicado a todos os deuses do Céu e da Terra. Simbólico – materializa nas suas formas cilíndricas o conceito da esfera celeste e do Globo; pela sua robustez e dimensão, materializa também os conceitos de universalidade, poder e força que caracterizam a arquitetura romana e o próprio Império. Mais grandiosos eram os santuários, construídos por anfiteatros abertos para a paisagem e rodeados de arcadas, atrás das quais havia templos, alojamentos para sacerdotes e crentes, lojas e outras dependências. Um dos mais conhecidos é o da Fortuna Primigénita.
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Figura 21 – Santuário da Fortuna Primigénita, Palestrina, Roma, 82 a. C. (desenho reconstrutivo). Data da época republicana e tem nítidas influências helenísticas. Ergue-se numa das encostas dos Apeninos, em seis patamares sucessivos (terraços abertos para a paisagem) ligados por rampas. Possui uma organização axial e simétrica. É dedicado à deusa Fortuna, cuja estátua se guardava no patamar superior, num pequeno tempo redondo por trás do anfiteatro.
Figura 22 – Altar da Paz (Ara Pacis), Roma, ano 13 a. C. M andada construir por Augusto para comemorar as suas vitórias nas campanhas da Gália e da Hispânia, a Ara Pacis é um templo quadrado (de 14x12x6 metros), erguido sobre um pódio e rodeado por um muro decorado com relevos e interrompido pela escadaria frontal. O interior é descoberto e constituído por um altar elevado sobre um pedestal de mármore. No Império Romano existiram outros altares como este, erigidos como ex-votos e dedicados, geralmente, aos nummia, divindades menores que corporizavam forças da Natureza, virtudes ou estados de espírito.
A arquitetura pública As construções públicas foram aquelas em que os Romanos melhor expressaram o seu engenho técnico e originalidade. Também traduziram o desejo de poder e de grandeza do Estado romano, pelo seu sentido monumental e comemorativo. Do tempo da República salientam-se principalmente as grandes obras de engenharia civil, com carácter prático e utilitário: as estradas, as pontes e os aquedutos. Destaca-se, pela sua beleza estrutural o Aqueduto-ponte do Gard. Figura 23 – Aqueduto-ponte do Gard, em Nîmes, França, final do século I a. C. É uma das mais notáveis pontes-aqueduto romanas pela sua beleza estrutural, gerada pela sucessão rítmica da tripla arcada e pela monumentalidade. Possui 274 m de comprimento.
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O período imperial deu ênfase a construções com formas mais grandiosas e imponentes. Entre elas destacam-se as basílicas, grandes salas retangulares, divididas em três ou cinco naves cobertas com abóbadas de aresta e de berço e semicúpulas sobre as absides. Eram construções multifuncionais, pois podiam albergar tribunais e cúrias que ladeavam os fóruns, ou fazerem parte de termas, mercados, bolsas de mercadores e palácios imperiais. As fachadas eram ornamentadas e combinavam entablamentos e colunas, à maneira grega, com arcadas, à maneira romana. Esta decoração exterior, inaugurada no Tabularium (edifício do arquivo central romano, erguido no século I a. C. e já desaparecido), passou a ser aplicada também nos teatros, anfiteatros e termas. As basílicas mais conhecidas são as basílicas de Júlia e Emília, do período republicano, e a Úlipa e a de Maxêncio, do tempo do Império. A partir do século IV, no Baixo Império, os bispos cristãos adotaram-nas como modelo para as suas primeiras igrejas, por serem espaços amplos e não relacionados com os templos pagãos. Na arquitetura do lazer salientam-se as seguintes construções:
Os teatros. Seguiram os seus congéneres gregos nas formas, basearam-se no sistema construtivo totalmente novo, já que se suportavam a si próprios graças aos complexos sistemas de abóbadas radiais e concêntricas que sustentavam as bancadas, podendo ser erguidos, por isso, em qualquer ponto das cidades. As bancadas elevavam-se à altura da cena e ligavam-se a ela, fechando o recinto. A decoração exterior imitava a das basílicas. Os anfiteatros foram talvez os edifícios mais populares da arquitetura romana do lazer, devido à sua função sociorrecreativa com a realização dos “jogos circenses”. De planta circular ou elíptica, erguiam-se à al tura de três ou quatro andares (usando a mesma técnica construtiva dos teatros), sendo descobertos. Sob a arena, existiam variadíssimas dependências que poderíamos considerar como os bastidores destas extraordinárias “salas de espetáculo”. É possível encontrar vestígios destas construções em todo o Império. Alguns dos mais bem conservados são os de Nîmes e Arles, em França, o de Mérida, em Espanha, e o Coliseu de Roma. Ligados aos anfiteatros podemos também considerar os estádioshipódromos, igualmente chamados de “circos”, onde se realizavam as corridas de cavalos. As termas ou balneários públicos – destinados a um grande número de pessoas –, foram importantes locais de encontro e de convívio social. Frequentadas por am bos os sexos, mas em áreas separadas, continham piscinas (água quente – caldário; água tépida – tepidário e fria – frigidário, e uma ao ar livre – natatio), vestiários (apoditério), saunas, ginásios, hipódromos, salas de reunião, bibliotecas, teatros, lojas, escritórios (na galeria que contornava externamente as termas), amplos espaços verdes ao ar livre onde se podia apanhar sol e assistir a debates, concertos e recitais. Com múltiplas funções (desportivas, culturais, sociais, lúdicas, de higiene e terapêuticas) que exigiam uma construção de escala monumental, as termas foram notáveis pelo apurado sentido de ordem e simetria as suas plantas, pela estruturação dinâmica e funcional dos seus interiores, pela conjugação harmoniosa das várias volumetrias, pelas arrojadas coberturas abobadadas ou cupuladas e pela articulação entre interiores e exteriores. Símbolos do poder político, ostentavam ricas decorações com revestimentos a mármore policromo, belas composições de mosaicos, estuques dourados e muita estatuária artística. Praticamente todas as cidades do Império possuíam edifícios termais, na maioria ofertados ao povo pelo Estado. 18
Termas de Caracala
Figura 24 – Termas de Caracala. Roma, século III. O complexo arquitetónico destas termas abrangia cerca de 15 hectares de área e media 140 m no seu lado maior. Eram alimentadas de água por um ramal privado do Aqueduto Marcia que atravessava a cidade. 1 – Porta principal; 2 – Salas de entrada; 3 – Natatio (piscina de grandes dimensões e ao ar livre); 4 – Recinto da basílica (58x24m); 5 – Tepidário; 6 – Grande rotunda abobadada do caldário (55 m de diâmetro); 7 – Banhos privativos; 8 – Saunas; 9 e 10 – Palestras; 11 – Jardins; 12 – Êxedras com absides.
Análise da obra: Coliseu de Roma (Anfiteatro de Flávio), Roma, século I
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Iniciada sob o governo de Vespasiano, a sua construção só ficou terminada em 82 d. C., no tempo de Domiciano. A inauguração prolongou-se por 100 dias, tendo havido no terceiro dia uma espetacular batalha naval. Foi o maior anfiteatro da Antiguidade, comportando cerca de 50 000/70 000 espetadores. É uma construção independente com a altura de quatro andares que se suporta a si própria, devido a um sistema de abóbadas radiais e concêntricas. Esta estrutura forma as galerias sobre as quais estão as bancadas ou cávea (para as diferentes classes sociais, ficando as mais importantes em baixo). Nas galerias, ou corredores, havia estátuas, fontes e bebedouros e os vomitórios (aberturas para saída e entrada rápida de pessoas) que desembocavam em 76 entradas, através de escadas. Apresenta uma arena elíptica de 188x156 m, que dá forma à planta da construção. Por baixo, numerosas dependências (como a caserna dos gladiadores, armazéns e 32 km de corredores) forneciam, para o espetáculo, homens, animais, maquinaria, cenários, que eram puxados por 32 elevadores para a cena. Exteriormente, é contornado por uma parede de 48,50 m de altura, cuja decoração conjuga, nos três primeiros níveis colunas adossadas segundo as três ordens gregas (dórica em baixo, depois jónica e em cima coríntia) intercaladas com arcos de volta perfeita, à romana, e com entablamentos fingidos que separam os andares; é encimado por um ático (quarto nível) que no exterior apresenta pilastras coríntias adossadas e dentículos que serviam para fixar 280 mastros que seguravam o velário (pano de vela dos barcos bordado com estrelas, que cobria a cávea); no interior deste ático existe um pórtico-galeria – promontório –, à volta de todo o interior. Esta construção de proporções colossais foi feita com diferentes tipos de opus e materiais (que se 20
tornavam cada vez mais leves à medida que a parede era mais alta). Ostenta ainda na fachada as marcas de grampos de metal, que seguravam as placas de mármore travertino policromo que o revestia. Estes grampos reforçavam todas as juntas dando a esta construção características antissísmicas. O atual Coliseu representa só 33% da sua construção inicial. Está inativo desde o século V. A arquitetura comemorativa O espírito histórico e triunfalista dos Romanos levou-os a edificar construções com fim exclusivo de assinalar, pela sua presença evocativa, as façanhas militares ou políticas dos grandes oficiais ou imperadores. Estão neste caso as colunas honoríficas, como as de Trajano e Marco Aurélio, e, sobretudo, os Arcos de Triunfo. Estes apresentavam um ou três fórnices (vãos) e eram ornamentados com esculturas e relevos historiados.
Figura 25 – Arco de Triunfo de Constantino, Roma, 315. O ático, a parte superior que sobrepuja (ultrapassa) a cornija saliente, apresenta esculturas de carácter apoteótico (triunfal).
Coluna de Trajano A coluna é uma forma de arquitetura comemorativa proveniente provavelmente do período helenístico e que se pensa ter sido inspirada nos obeliscos egípcios. É um monumento urbanístico, simultaneamente arquitetónico e escultórico, construído com a finalidade de assinalar um feito histórico. Tem um carácter triunfal, documental e de propaganda, tão caro aos Romanos. A coluna de Trajano foi erigida em Roma para comemorar a vitória dos Romanos sobre os Dácios. Foi implantada à frente da Basílica Úlpia, sobre o sepulcro do imperador e entre as duas bibliotecas imperiais. Situa-se no mais magnífico fórum imperial, o de Trajano, datado de 107-112. O fuste é oco (tem uma escadaria interior) e assenta sobre um pedestal cúbico que é decorado com relevos de troféus militares. Na transição do plinto para a coluna, existe um toro coberto com coroas de louro. O fuste, formado por 17 colossais tambores de mármore, foi decorado com relevos esculpidos em baixo-relevo. A narrativa desenrola.se ao longo de uma faixa em espiral com 24 voltas de 1,20 m de altura, onde são contados os inúmeros episódios das suas campanhas dos Romanos na Dácia (região do Danúbio, atual Roménia). A narrativa é original e consta de cenas minuciosas (de paz, de guerra, de tensão, de tristeza, de mágoa, cenas de acampamentos), com cerca de 2500 figuras, distribuídas ao longo desta enorme 21
faixa. São, também, descritos os aspetos geográficos, logísticos e políticos da campanha. O imperador é o protagonista, sendo dado relevo à sua magnitude e generosidade. É ele quem orienta e dirige os trabalhos, intervém nas batalhas, acode às situações complicadas, comanda e incentiva ou aquieta as tropas. As cenas, num total de 150, são realistas, tratadas de modo natural, sucedendo-se umas às outras sem separações. O escultor distribuiu cuidadosamente as figuras no espaço cénico dedicado a cada episódio (formado por arquitetura ou paisagem), mantendo a continuidade da narrativa. O talhe (baixo-relevo) possui pouca profundidade de modo que os efeitos de luz e sombra não prejudiquem a leitura das cenas.
A arquitetura privada Na arquitetura privada, menos importante, mas igualmente inovadora, merecem destaque tipologias distintas: a domus e a i nsula.
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A domus era a casa de família. Apesar de, ao longo, ter sofrido algumas variações – na planta, nas dimensões e nos materiais –, manteve algumas características básicas. Era geralmente baixa e de um só piso, por vezes, dois, e tinha um telhado ligeiramente inclinado para o interior, coberto com telhas de cerâmica. Tinha poucas aberturas para o exterior, para além da porta principal. Estava, por isso, virada para si própria e as várias dependências organizavam-se em torno de um ou dois pátios interiores (atrium e peristilo), através dos quais se fazia a circulação de pessoas, a ventilação e a iluminação. A decoração interior era feita com pavimentos de mármores policromo ou de mosaicos e as paredes e divisões nobres (triclinium ou sala de jantar, e tablinum ou escritório) eram decorados com frescos. As famílias mais abastadas construíam variantes maiores e mais luxuosas destas domus. Os palácios imperiais são disso expoente máximo. As villae eram variantes das domus, construídas fora das cidades, em aprazíveis locais rurais rodeadas de grandes e belos jardins. Os imperadores e as suas famílias mandaram construir villae grandiosas – autênticos palácios –, que também albergavam os criados, as milícias e as comitivas políticas. A mais conhecida é a Villa Adriano, perto de Roma.
A
Figura 26 – A domus romana. A – Perspetiva exterior; B – Planta tradicional. 1 – Vestíbulo; 2 – Átrio; 3 – Impluvium (tanque de recolha das águas das chuvas); 4 – Alas Laterais da passagem do átrio para o peristilo; 5 – Tablinum (sala de estar ou escritório); 6 – Triclinium (sala de jantar); 7 – Cozinha; 8 – Quatros; 9 – Lojas; 10 – Peristilo.
B
Casa dos Vertii, Pompeia, Itália, século I
Figura 27 – Casa dos Vertii. A – Ruínas do peristilo; B – Planta.
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A outra tipologia consistia em prédios urbanos de rendimentos, destinados a alojar as famílias mais pobres – as insulae. Tinham, em média três a quatro andares, mas algumas chegaram a atingir, na época de Augusto, seis a sete andares, com cerca de 21 metros de altura. O rés do chão, normal mente recuado, era destinado ao comércio com lojas viradas para a rua. Os andares superiores tinham uma multiplicidade de pequenos apartamentos – os cenacula. Verdadeiras colmeias humanas, as insulae eram construídas em materiais mais pobres – tijolo, madeira, taipa –, faltando-lhes abastecimento direto de água e esgotos (estes só existiam ao nível do rés do chão). Estavam sujeitas a incêndios, difíceis de combater porque os acessos eram estreitos e impediam a evacuação rápida. Os pés-direitos de pouca altura e o exagerado número de andares, associados à estreiteza das ruas prejudicavam o arejamento e a exposição solar. Figura 28 – Insula romana em Óstia, Itália. A – Maqueta reconstrutiva; B – Planta. 1 – Entrada; e – Lojas; 3 – Pátio central; 4 – Latrinas; 5 – Escadaria; 6 - Cenacula
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O urbanismo Motivado pelas necessidades políticas, militares e económicas – passagem de cortejos triunfais, movimentação de tropas e dos abastecimentos dentro das cidades –, o urbanismo romano teve um carácter ornamental e monumental. A preocupação urbanística centrava-se no traçado das vias principais, que atravessavam as cidades quase em linha reta, e no arranjo dos fóruns, centros políticos, religiosos e económicos das urbes. Roma possuiu vários fóruns, que se sucederam no tempo, não só porque os primeiros envelheceram ou ficaram desajustados em relação ao crescimento da cidade, mas também porque quase todos os imperadores quiseram deixar uma marca pessoal, que simbolizasse e eternizasse a sua glória, imagem e poder. Foi nos fóruns que os Romanos edificaram as construções mais importantes. Eles constituem a síntese da arquitetura e civilização romanas, formando conjuntos orgânicos, únicos e grandiosos, repletos de significado e História.
Figura 29 – A – Planta do Fórum de Trajano . 1 – Arco de triunfo à entrada; 2 – Praça rodeada de pórticos (116x95 m); 3 – Pórticos com colunas de mármore; 4 – Êxedras; 5 – Mercados de Trajano; 6 – Villa Biberatica; 7 – Basílica Úlpia com as suas duas êxedras (104x152 m); 8 – Bibliotecas grega e latina: 9 – Coluna de Trajano (40 m de altura); 10 – Pátio do templo de Trajano rodeado de pórticos; 11 – Templo de Trajano deificado, mandado construir por Adriano. B – Apolodoro de Damasco, Fórum de Trajano, Roma, 107-112.
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Figura 30 – Reconstituição do fórum republicano de Roma, visto de oeste para este. 1 – Cúria; 2 – Arco de Sétimo Severo; 3 – Os “Rostra”; 4 – Templo de Saturno; 5 – Basílica Emília; 6 – Basílica Júlia, edificada em 54 a. C.; 7 – Templo de Antonino e Faustina; 8 – Templo do “Divino” Júlio César, consagrado em 29 a. C.; 9 – Templo de Vesta, morada das ves tais; 10 – Templo de Castor e Polux; 11 – Coliseu; 12 – Basílica de Maxêncio; 13 – Templo de Vénus e Roma; 14 – Palácios imperiais.
De maior arrojo urbanístico foram os traçados para as cidades que os Romanos construíram de novo, em várias partes do Império onde a vida urbana se encontrava menos desenvolvida – Gália, Germânia e Hispânia. Estes derivaram principalmente da organização dada aos acampamentos militares. Caracterizaram-se pelo traçado em retícula, ou seja, em rede ortogonal, das ruas e dos quarteirões, atravessados por duas vias principais que seguiam a direção dos pontos cardeais – o cardo (sentido norte-sul) e o decumano (sentido este-oeste). As ruínas atuais de algumas cidades romanas mostram os vestígios desta tipologia de malha urbana reticular. É o caso das cidades de Palmira, na Síria, e Timgad, na Argélia. Figura 30 – Esquema organizativo de uma cidade romana, segundo o modelo dos acampamentos militares. Figura 31 – Vista aérea da cidade de Timgad, Numídia, Argélia, 100 d. C. Construída por Trajano para os veteranos da 3ª legião, esta cidade teria cerca de 15 000 habitantes. Entrando pelo Arco Triunfal, atinge-se o fórum – com pórticos, basílica, cúria e templo – perto do cruzamento do cardo e do decumano; o teatro, mais adiante, assim como as termas e as bibliotecas são os edifícios mais importantes.
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A escultura: o Homem enquanto indivíduo A escultura romana revelou, desde sempre, características realistas, centradas na personalidade do indivíduo, o que decorre das suas raízes estéticas etruscas. A arte etrusca usava o retrato nos túmulos, modelando as efígies dos mortos, e daí o verismo e o gosto pelo detalhe que é muito evidente. A influência grega chegou a Roma primeiro através das colónias (sobretudo da Magna Grécia), e, depois da conquista, da própria Grécia Continental. A cópia de obras de arte grega, sobretudo da época helenística, contribuiu para um maior realismo emocional, ao gosto romano.
Figura 32 – Os esposos de Cerveteri. Estátuas jazentes de um casal etrusco na tampa de um sarcófago de terracota (140x200x70 cm), da segunda metade do século VI a. C.
Assim, no período republicano, a escultura romana eternizou a memória dos homens através de retratos, imagens reais, que evidenciavam o carácter e psicologia dos retratados, pela descrição dos seus traços distintivos e únicos, até por vezes acentuando impiedosamente os “defeitos” e as características fisionómicas: olhos, sobrancelhas, boca, barba, cabelo, bem como as marcas do tempo e do sofrimento humanos. Este ef eito era realçado pela pintura que cobria todas as peças. Estas regras de representação estiveram ligadas, inicialmente, à função religiosa do culto dos antepassados, herdado dos Etruscos, e às práticas funerárias. Era próprio das famílias patrícias mandarem fazer máscaras de cera dos seus mortos ilustres – imagines maiores –, que depois eram conservadas nos altares domésticos – Penates. O retrato fúnebre concretizava-se em cabeças, bustos ou figuras de corpo inteiro, consoante a vontade e/ou o poder económico das famílias. A partir de Octávio, os retratos-estátuas dos imperadores passaram a exercer um importante papel político e propagandístico, levando a imagem do poder a todas as partes do Império. Adquiriram, por isso, um cunho mais idealizado, inspirado, também, na influência da arte grega do período clássico. Executados em pedra ou bronze, ou cunhados em moedas, os retratos dos imperadores (retratos oficiais) foram o reflexo do poder imperial e um elemento de unificação do território.
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Figura 33 – Retrato dito de Brutus Capitolino, 1ª metade do século III a. C., bronze, 60 cm de altura. Tido também como Lúcio Junio Brutus, este busto representa um retrato cheio de verismo, ao gosto etrusco, ao qual não faltam as incrustações de marfim e vidro nos olhos. Possui influência grega no tratamento das roupagens.
Figura 34 – Cabeça do imperador Vespasiano, datada de 70 a. C., em mármore, 40 cm de altura. Apesar de se tratar de um retrato de um imperador, a obra é de um notável realismo, patente em pormenores como a textura da pele, do cabelo e traços faciais marcados pela idade.
Figura 35 – Estátua equestre de Marco Aurélio, século II d. C., bronze, 387 cm de altura. Esta estátua foi feita para encimar um arco de triunfo. Aqui, o imperador está representado sem armas e sem armadura, com o braço erguido num gesto de paz. O rosto está sereno e o olhar distante. Por ter sido confundido com Constantino (1º imperador cristão), a estátua foi preservada até ao Renascimento e colocada na praça do Capitólio, em Roma.
O Alto Império foi não só a época de maior produção escultórica, como também, o tempo em que melhor se desenvolveu o g osto pelo colecionismo de esculturas gregas para decorar as casas, jardins e balneários. Assim, as oficinas produziam obras em série que se disseminavam por todo o território romano. Com a decadência do Império, o retrato tornou-se mais simplificado, sofrendo influências da estética helenístico-oriental, sendo, por isso, mais frontal e hierático (religioso). O cristianismo, com os seus conceitos de imortalidade e espiritualidade, r eduziu a representação a símbolos. Por vezes, o retrato dos imperadores podia ser feito sob a forma de estátuas equestres que seguiram a tradição grega. Foram usadas por Roma no intuito de servirem as suas intenções documentais, celebratórias e comemorativas. As estátuas equestres foram comuns no tempo de Júlio César, mas a única que chegou até nós foi a de Marco Aurélio, do século II, que, pela sua vigorosa estrutura plástica e pela majestade da imagem imperial, viria a ser uma das maiores fontes de inspiração para as representações de reis, tiranos e aristocratas daí para a frente.
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O relevo, subordinado à arquitetura, teve fins ornamentais, narrativos e propagandísticos (ou comemorativos), relatando a História de Roma e a vida dos homens. Esteve presente em estelas funerárias, sarcófagos, altares, frisos, arcos de triunfo e colunas. Tecnicamente, os artistas exploraram a profundidade através da gradação de planos e combinaram diferentes tipos de relevo – alto, médio e baixo, até o relevo esmagado (relevo negativo, isto é escavado abaixo do nível da superfície talhada), obtendo efeitos de perspetiva e construção espacial. A técnica usada na narrativa contínua foi a repetição da figura principal no decorrer das cenas; esta é colocada à frente das restantes em planos secundários e postas lado a lado, numa disposição paratática. Como na Grécia, os relevos romanos pintados. Os melhores exemplos estão nos arcos de triunfo de Tito e de Constantino, nas colunas de Trajano e Marco Aurélio e na Ara Pacis de Augusto. Figura 36 – Relevos do lado meridional da Ara Pacis Augustae, ano 13 a. C., Roma. Representa um desfile triunfal, religioso e alegórico no qual participam Augusto e membros da família imperial, enfileirados pela ordem na sucessão e identificáveis pelas características fisionómicas realistas e pelos atributos de poder.
A decoração dos sarcófagos desenvolveu-se a partir do século I. Tinham inicialmente um medalhão com o retrato do defunto, mas, posteriormente, passaram a ser decorados com cenas mitológicas ou da vida do morto. Tornaram-se f requentes com o crescimento do cristianismo.
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A pintura e o mosaico: a vida enquanto forma de arte A pintura e o mosaico, entre os Romanos, as formas artísticas emi nentemente decorativas, usandose quer nos edifícios públicos quer privados. Infelizmente, só podemos ajuizar as suas características a partir dos vestígios encontrados em Pompeia, Herculano e Stabias, no século XVIII, pois pouco se conhece. A pintura foi praticada nas paredes interiores (pintura mural), feita a fresco ou encáustica; ou em painéis móveis de madeira (pintura móvel), feita a encáustica e/ou têmpera.
Commented [VO16]: Técnica de pintura em que o
aglutinante dos pigmentos de cor é a cera quente, diluída. Commented [VO17]: Técnica de pintura em que os
As origens da pintura romana encontram-se nos Etruscos (séculos VI a V a. C.), que tinham o hábito de pintar as paredes interiores dos túmulos e, mai s tarde, das suas casas. Nessa civilização, a pintura teve duas funções: a de proteção e a de embelezamento. Possuía uma grande vivacidade narrativa e uma plástica expressiva, linear e vigorosa.
pigmentos são diluídos em água e o aglutinante é a gema de ovo.
A influência egípcia fez-se sentir, sobretudo, na época imperial, após a conquista deste território, marcando especialmente a arte do retrato. A influência grega é a mais difícil de caracterizar, porque a pintura grega não chegou aos nossos dias. No entanto, existem referências às pinturas e mosaicos gregos, sobretudo no período da colonização da Grécia pelos Romanos. Outra influência trazida da Grécia trazida da Grécia foi a pintura a imitar mármores de diversas cores. A estas influências, os Romanos acrescentaram o sentido prático, documental e realista que caracteriza toda a sua arte e principalmente a pintura que, com base nos vestígios conhecidos, se inspirava sobretudo no Figura 37 – A Primavera, cópia romana de um mundo real e quotidiano. fresco etrusco, século I (detalhe). A graciosidade
Entre as temáticas mais usadas destaca-se a pintura triunfal, relatando da deusa é acentuada pela leveza dos cenas históricas, que era usada com funções políticas, documentais e panejamentos. comemorativas. Data do século III a. C. e tem origem etrusca. Tal como aconteceu nos relevos, a pintura triunfal recorre, estilisticamente, à narrativa contínua, cheia de pormenores formais. Um exemplo desta temática é a pintura que celebra o casamento de Alexandre Magno. Os temas mais frequentes foram os mitológicos que relatavam os mi stérios e a vida dos deuses. As cenas, às vezes muito fantasiadas, são-nos contadas em composições ricas de personagens e de colorido.
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Aparecem também algumas paisagens de carácter bucólico e poético. A representação é ora sonhadora ora fantasista e, por vezes, realista. Outros temas são as naturezas-mortas e as cenas de género, pequenas obras-primas de realismo técnico e atenção ao pormenor.
Commented [VO18]: Representação de cenas do
quotidiano.
Os retratos tão caros ao individualismo romano, foram abundantes nas habitações. Eram executados sobre diversos tipos de suporte (madeira, metal e parede), usando diferentes técnicas (fresco e encáustica). Estas pinturas tiveram funções simbólicas, alegóricas e, sobretudo, decorativas. Nas casas, a pintura revestia as paredes de várias di visões – atrium, peristilo, triclinium, tablinum, etc. – tornando-as um lugar aprazível, acolhedor e fresco, o local de refúgio dos seus proprietários, de gosto requintado e amantes das letras. Locais privilegiados para a observação da pintura romana são as ruínas das cidades de Pompeia, Herculano e Stabias. Nas diferentes casas de Pompeia encontram-se os quatro estilos de pintura romana datados de entre o século II a. C. e a data da catástrofe, ano 79 d. C . A diversidade da pintura de Pompeia revela a mestria dos pintores romanos, quer na veracidade da representação, quer na composição e seu efeito na ampliação dos espaços arquitetónicos, construindo ilusões ( trompel’oeil) e fazendo as primeiras tentativas de representação de perspetiva do espaço. A tradição do mosaico esteve ligada à pintura e é desta arte que retira o estilo e o colorido. O mosaico é feito com pequenas tesselas de materiais de cores variadas (mármores, pedras e vidro), aplicadas sobre a argamassa fresca que cobria os l ocais de suporte – inicialmente o chão, depois as paredes exteriores e até os t etos de pequenas cúpulas. 31
Commented [VO19]: Termo aplicado à pintura feita com
perspetivas que dão aos objetos, figuras e elementos arquitetónicos representados a ideia de realidade, parecendo ultrapassar a superfície pintada.
Ao que se pensa, a técnica e o estilo dos mosaicos romanos são de tradição oriental, egípcia e grega. Contudo, apesar da forte herança helenística, é com os Romanos que esta arte ganha importância decorativa, desenvolvendo, ao mesmo tempo, uma notável qualidade de execução. Esta dependia, essencialmente, da qualidade do desenho que, por sua vez, se prendia com o corte efetuado nas tesselas, pois quanto menores elas fossem, mais elaborados podiam ser os detalhes. A mais típica decoração do mosaico data dos séculos III e II a. C. e é formada por uma série de tapetes que recobrem, parcial ou totalmente, o chão de algumas divisões, com composições complexas de motivos geométricos, servindo de moldura a pequenos motivos figurativos: aves, peixes, deuses. Os grandes temas dos mosaicos são os mesmos da pintura. Desenvolveram-se em composições figurativas – episódios históricos, mitológicos, cenas de caça, jogos, cenas de género, naturezasmortas e, por vezes, passagens humorísticas e cenas em trompe- d’oeil. O mosaico mural espalhou-se por todo o Império e atingiu o seu apogeu no século IV, sendo posteriormente continuado nas artes paleocristãs, bizantina e românica.
Figura 38 – A Poetisa, retrato feminino a fresco encontrado na Casa de Libanio, em Pompeia, século I. Combina o realismo do retrato com o idealismo grego na pose e olhar.
Figura 39 – Perseu libertando Andrómeda, fresco da Casa de Dioscuri, em Pompeia, com 122x100 m.
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