6ª UNIDADE Texto 23 - Teorias do Comércio Internacional.pdf

October 27, 2017 | Author: Claudia Moura | Category: Comparative Advantage, International Trade, Economics, Industries, Monopoly
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TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Professor Livio William Reis de Carvalho 1. Introdução

Sabemos que historicamente as sociedades, os países, se engajam no comércio entre si, vendendo e comprando uma infinidade de itens. Sabemos também que é um comércio que difere do comércio interno (realizado dentro de cada país) por várias razões: para realizar este comércio, em boa parte das vezes, tem-se que vencer distâncias muito maiores que aquelas do comércio interno, significando maior custo de transporte; principalmente, tem-se que levar em conta que os países têm moedas diferentes (vamos nos abstrair da experiência da zona do euro). Se uma empresa brasileira quer comprar (importar) um bem nos Estados Unidos (uma exportação dos Estados Unidos) ela tem que adquirir dólares. De outra parte, se uma empresa dos Estados Unidos quer adquirir um produto no Brasil (uma importação dos Estados Unidos e uma exportação brasileira) ela vai pagar em dólares, que serão convertidos em reais pela empresa brasileira. Isto tudo sem falar nos contextos institucional e legal diferenciados entre países, o que pode ter implicações para o comércio entre eles. Intuitivamente, é possível dizer que deve haver fortes razões para existir o comércio entre os países, já que tantos países se engajam nesta atividade e alguns já chegaram a travar guerras por causa de interesses comerciais. Este texto procura dar indicações no sentido de responder a perguntas do tipo: por que dois países comercializam? Que produtos devem comercializar? Vamos começar por uma teoria já conhecida de todos nós, que foi apresentada, na Unidade 1 de nosso curso.

2. Teoria das Vantagens Comparativas

Vimos que quando uma pessoa (firma, país) produz algo (bem ou serviço) melhor, mais eficientemente, com maior produtividade do que outra pessoa (firma, país), dizemos que a primeira pessoa (firma, país) tem vantagem absoluta na produção deste bem ou serviço em 1

relação à segunda pessoa (firma, país). Exemplo: se numa jornada de 8 horas (em condições idênticas de trabalho, especificações de material, ferramentas etc.) Pedro produz 20 kg de cereais, enquanto José produz apenas 15 kg, dizemos que Pedro tem uma vantagem absoluta sobre José no desenvolvimento desta atividade. Vamos supor agora que Pedro e José são dois donos de sítios que produzem carne e cereais. Vamos supor também que Pedro tenha vantagem absoluta bem marcante na produção de carne e José tenha essa mesma vantagem absoluta marcante na produção de cereais. Com o passar do tempo, provavelmente eles chegariam à conclusão que seria melhor Pedro se especializar na produção de carne e José na produção de cereais e cada um com a venda de seus produtos que excedesse o consumo de suas respectivas famílias, comprar outros bens. Examinaremos, agora, o que aconteceria se Pedro tivesse vantagem absoluta na produção de ambos os bens, com um exemplo bem simples, mostrado na Tabela abaixo, que apresenta a produção de carne e cereais por Pedro e José numa jornada de 8 horas de trabalho (4 horas para cada produto):

Produção

Carne

Cereais

Produção por Hora

Produtor

Carne

Cereais

Pedro

24

48

6

12

José

8

32

2

8

As curvas de possibilidade de produção são mostradas abaixo (em gráficos com escalas diferentes): Carne

Carne Pedro

48

José

16

24

8 cereais 48

96

cereais 32

64

Vê-se que trabalhando 4 horas na produção de cada um dos bens Pedro produziria 24 kg de carne e 48 kg de cereais, enquanto José produz 8 kg de carne e 32 kg de cereais.

2

Ressalte-se que Pedro tem vantagem absoluta na produção dos dois bens. Será que numa situação como esta

teria

alguma vantagem

para

Pedro especializar-se

em

algum

produto e propor uma parceria com José? Ou, já que ele é mais eficiente, não seria melhor para ele continuar produzindo os dois bens e José que fosse tratar de sua vida? Examinemos os números para responder a estas perguntas. Para tanto, vamos utilizar um conceito já visto na Unidade 1: o conceito de custo de oportunidade. Para Pedro, cada hora adicional que ele dedicar à produção de cereais ele deixa de produzir 6 kg de carne e pode produzir 12 kg de cereais. Ou seja, a relação é de 1 kg de carne para 2 kg de cereais. Diz-se, então, que para Pedro o custo de oportunidade (CO) de 1 unidade de carne em termos de cereais é 2 ou, se invertermos a direção do cálculo, diz-se que para Pedro o CO de 1 unidade de cereais em termos de carne é 1/2. Agora vamos examinar a questão do ponto de vista de José. Vemos que para José o CO de 1 unidade de carne em termos de cereais é 4, ou o CO de 1 unidade de cereais em termos de carne é 1/4, como mostrado na Tabela abaixo:

CO Carne /Cereal

CO Cereais / Carne

Pedro

2

1/2

José

4

1/4

Vê-se que Pedro tem custo de oportunidade menor que o de José em carne, mas José tem menor CO do que Pedro em cereais. Dito de outra forma: Pedro tem vantagem comparativa na produção de carne, e José vantagem comparativa na produção de cereais. Nesse caso, se José der (por exemplo) 3 kg de cereais para Pedro em troca de 1 kg de carne, os dois melhoram de situação. Sem a troca, José, para obter 1 kg de carne, teria que deixar de produzir 4 kg de cereais (pois essa é sua relação interna de transformação, seu CO). Ou seja, teria um custo maior. Pedro, por sua vez, para obter 3 kg de cereais, sem a troca, teria que abrir mão de 1,5 kg de carne (pois seu CO de 1 kg de cereais é 0,5 kg de carne). Ele também teria um custo maior, sem a troca. Vê-se, então, que ambos claramente ganham com a troca de mercadorias entre eles. É fácil ver que a condição para que ambos tenham ganhos é que a relação de troca se situe entre as relações internas de transformação de Pedro e de José. Quais as lições que podemos extrair deste exercício? A primeira é que a especialização na produção pode ser vantajosa para as duas partes, cada uma se especializando no bem que produz 3

com menor custo relativo (custo de oportunidade). A segunda é que, embora Pedro tenha vantagem absoluta em ambos os bens, há proveito na especialização e na troca porque Pedro tem vantagem comparativa na produção de carne e José na produção de cereais. Ou seja, o que conta são os custos relativos de cada um deles na produção de um bem em relação ao outro. José é menos eficiente do que Pedro na produção dos dois bens em termos absolutos, mas é mais eficiente na produção de cereais do que de carne, e isto abre espaço para haja comércio entre ele e Pedro, com ganhos para ambos. Podemos visualizar esses ganhos considerando as possibilidades de consumo antes e depois do comércio. Sem troca, a Curva de Possibilidades de Consumo (CPC) necessariamente coincide com a Curva de Possibilidades de Produção (CPP). Suponhamos que inicialmente Pedro consumisse 38 de carne e 20 de cereais, e José 8 de carne e 32 de cereais (cada um em ponto de sua CPC≡CPP. Especializando-se inteiramente na produção de carne, Pedro poderia trocar com José 10 kg de carne por 30 kg de cereais. Seu consumo saltaria então para 38 kg de carne (como antes) e 30 kg de cereais (em lugar de 20 kg): o ponto B, que antes do comércio seria inatingível. Esse ponto pertence a uma nova CPC de Pedro, exterior à sua CPP. Por sua vez José, especializando-se inteiramente na produção de cereais, ficaria, após a troca, com 34 kg de cereais (64 produzidos menos 30 dados em troca) e 10 kg de carne. Consumiria agora mais de ambos os bens do que antes. O ponto B de sua nova CPC estaria igualmente fora de seu alcance, antes do comércio. Ver os gráficos abaixo. Podemos concluir que o bem-estar dos dois, medido pela quantidade de bens que consomem, é maior após a especialização e a troca do que antes. carne

carne 48 38

Pedro

José

B

16

B

10

24

8

20 30 48

96

cereais

32 34

cereais 64

No exemplo numérico que acabamos de ver, se substituíssemos “Pedro” e “José” por “Indústria de Carne” e “Indústria de Cereais”, ou por “País A” e “País B”, as conclusões permaneceriam válidas. 4

Esse exemplo ilustra a chamada Teoria de Vantagens Comparativas, elemento central da análise do comércio internacional, desde que foi proposta, no início do século XIX, por David Ricardo, economista inglês descendente de judeus portugueses. No Anexo 1 – Uma Formalização da Teoria das Vantagens Comparativas, generaliza-se o exemplo numérico utilizado para o caso de dois produtos e dois países, explicitando-se melhor algumas hipóteses implicitamente utilizadas, tal como o uso de um só fator de produção, o fator trabalho.

3. Outras Teorias para Explicação do Comércio Internacional

Por que existem vantagens comparativas? Porque diferentes países têm custos diferentes de produção, para um mesmo produto. E por que há diferenças de custo? No caso das correntes de comércio típicas do século XIX, ou períodos anteriores, grande parte da explicação residia em vantagens naturais ou

históricas: países como o Brasil produziam café ou açúcar a custos

menores, e exportavam esses produtos, porque tinham terra e clima favoráveis para isso, enquanto os países que tinham tido acesso aos enormes ganhos de produtividade trazidos pela Revolução Industrial exportavam artigos industrializados. A teoria das vantagens comparativas não leva em conta a dotação diferenciada de fatores entre os países, que pode ser uma das explicações para os fluxos de comércio. Nem tampouco considera a existência de ganhos de escala — ou seja, aumentos de produtividade associados ao aumento na escala de produção —, seja para o conjunto de um setor, de uma indústria, ou para uma empresa isolada. Para entender as correntes de comércio contemporâneas, economistas têm sugerido outras explicações para diferenças de custo de produção entre países. Vamos começar por uma teoria que abandona a hipótese simplificadora da existência de um só fator de produção, o fator trabalho.

3.1 – A Teoria da Dotação de Fatores

Esta teoria é conhecida como teoria neoclássica ou de Hecksher-Ohlin-Samuelson (os economistas que a desenvolveram). No centro da explicação para a existência do comércio internacional está a diferença na dotação dos fatores de produção capital e trabalho entre os países, e diferenças na utilização desses fatores entre setores da economia. 5

São consideradas as seguintes hipóteses para montagem da teoria: existem dois fatores de produção – capital e trabalho; os países possuem dotação de fatores diferentes; existem produtos que usam intensivamente mão-de-obra (ou seja, usam grande quantidade de mão-de-obra em relação ao capital investido) e produtos que usam intensivamente o fator capital (o oposto); há concorrência perfeita em todos os setores e conhecimento tecnológico disseminado entre os países. Suponhamos, então, um mundo com dois países (A e B) e dois produtos (alimentos e máquinas/equipamentos). Do conjunto de hipóteses acima se deduz que as curvas de possibilidade de produção desses países são diferenciadas, como mostrado no gráfico abaixo:

Máquinas

CPP do país B

CPP do país A

Alimentos

Por possuir uma dotação maior de mão-de-obra o País A tem condições mais favoráveis de produzir alimentos, um “bem” cuja produção em geral usa mão-de-obra intensivamente. Ao contrário do País B, que por ser bem dotado do fator capital, tem melhores condições de produzir máquinas, um “bem” cuja produção em geral exige a utilização intensiva do fator capital. Nestas condições, o País A tenderá a exportar alimentos e o País B a exportar máquinas. Como já visto anteriormente, os custos de oportunidade (dados pelas inclinações de suas respectivas CPPs) dos dois países são bem diferenciados. Para o País A, o custo de oportunidade de máquinas em termos de alimentos é elevado e para o País B, o oposto: o custo de oportunidade de alimentos em termos de máquinas é elevado. Há, portanto, oportunidades de comércio, com ganhos para os dois lados. 6

Então, a explicação para a diferença de custos de oportunidade entre países e, portanto, para a possibilidade de comércio internacional, com ganhos recíprocos, baseia-se na diferença de dotação de fatores entre países. Os países com abundância relativa de mão-de-obra tenderiam a exportar produtos que usam intensivamente este fator na sua produção, enquanto os países com relativa abundância de capital tenderiam a exportar produtos que na sua fabricação utilizam intensivamente o fator capital. Essa explicação foi incorporada à teoria do comércio internacional a partir da primeira metade do século XX, como uma extensão da teoria de vantagens comparativas de Ricardo. Com essa configuração, constitui uma base satisfatória para análise de vários casos de fluxo de comércio entre países, principalmente no que tange àqueles produtos baseados na disponibilidade física de fatores. Contudo, algumas características importantes do comércio internacional da atualidade ficam a descoberto.

3.2 – Considerações Sobre as Limitações da Teoria de Vantagens Comparativas

Um ponto a ressaltar na teoria de vantagens comparativas é que essa conceituação conduz à conclusão de que cada país tenderá a se especializar na produção de bens em que tenha vantagem comparativa, e importar os demais. Na vida real, no entanto, há várias circunstâncias que levam um país a produzir um bem para consumo interno apesar de não possuir vantagem comparativa na sua produção. Há várias razões para que a especialização não se dê de forma tão extremada no mundo real: i)

A simplificação de supor apenas dois fatores de produção, capital e trabalho, e um conhecimento de técnicas de produção uniforme entre países não é adequada em muitos casos. Máquinas e equipamentos na maioria das vezes embutem um nível de conhecimento tecnológico que pode diferenciar-se significativamente entre países; de certa forma, o conhecimento tecnológico, ou a capacidade de gerá-lo, pode ser considerado um fator de produção em separado. Também os recursos naturais não são, como é evidente, distribuídos igualmente entre os países, o que pode ser importante para a produção de certos bens, e para as trocas internacionais destes;

ii)

Os registros históricos demonstram que os países costumam proteger a sua produção interna, seja na agricultura, na indústria ou nos serviços, por razões 7

independentes das vantagens comparativas (para proteger o nível de emprego nessas atividades, por exemplo). Este fato introduz um elemento que interfere diretamente nos fluxos de comércio e nos resultados potenciais em contraste com um mundo onde não existissem essas interferências; iii)

O mundo não é pontual. Os países são distantes uns dos outros e, portanto, os custos de transportes não são nulos. Em alguns casos, como o de bens com uma baixa relação custo do produto/peso, o custo de transporte pode inviabilizar a comercialização entre países. No setor serviços há exemplos óbvios em que a comercialização se torna difícil ou impossível. Como se vai comercializar um conserto de automóvel ou o serviço de babá ou de uma manicure? Esses constituem os chamados bens não-comercializáveis, onde grande parcela da renda dos países é gasta.

iv)

Países têm tamanhos diferentes. Mesmo num modelo simples de dois produtos e dois países, um deles bem maior do que o outro, é fácil ver que, dependendo das preferências de consumo no país grande, pode não ser possível ao país menor, mesmo especializando-se inteiramente no produto em que tem vantagem comparativa, fornecer toda a quantidade necessária à satisfação da demanda por este produto no país maior.

De qualquer forma, a teoria das vantagens comparativas é, de forma geral, uma ferramenta útil para explicar as razões para o comércio entre países, assim como para mostrar os efeitos desse comércio no bem-estar dos países. Embora ela não seja inteiramente adequada para descrever as causas e efeitos de todas as formas de comércio entre países, a evidência empírica corrobora seus principais ditames: a importância da produtividade e a prevalência das vantagens comparativas (e não das vantagens absolutas) na explicação do comércio. Contudo, além dos pontos ressaltados acima, há algumas características importantes do comércio internacional, na atualidade, que não são bem descritas pela teoria de vantagens comparativas. Uma delas é o comércio intra-indústria: uma mesma indústria tanto exportando como exportando seus produtos, uma situação comum hoje em dia. Naquela teoria se supõe que um país tenha vantagem em certa indústria (vantagem esta expressa por menores custos de oportunidade): o comércio se daria inter-indústrias e não dentro de uma mesma indústria. Outro aspecto é o pressuposto de concorrência perfeita na produção, que pode não ser adequada em muitas situações. Novas conceituações foram propostas para explicar tais situações. 8

3.3 – Teoria do Ciclo de Vida do Produto

Esta teoria se deve ao economista Raymond Vernon. Ela relaxa duas hipóteses restritivas acima mencionadas, ou seja, as hipóteses da concorrência perfeita e da livre disponibilidade do conhecimento tecnológico. Na explicação sobre as razões do comércio jogam papel importante o progresso tecnológico e o poder de monopólio transitório adquirido pelas empresas dos países mais desenvolvidos, que continuamente lançam no mercado novos produtos incorporando alto conhecimento tecnológico. E por que nos países mais desenvolvidos? Porque estes países possuem mão-de-obra altamente qualificada, empresas que regularmente desenvolvem pesquisas e, além disso, têm renda elevada e, consequentemente, uma estrutura de demanda diversificada. Numa fase inicial, as empresas inovadoras gozam de poder de monopólio com relação aos novos produtos que lançam no mercado. Com o passar do tempo, esse poder vai-se diluindo em decorrência de um processo de imitação desses produtos por parte de outras empresas, inclusive empresas de outros países. À medida que os novos produtos vão-se padronizando, sua produção pode passar a ser feita em países menos desenvolvidos, que podem mesmo se tornar exportadores de tais produtos. Algumas características atuais do comércio internacional seriam explicadas, então, pelas diversas fases da vida de um produto: na fase inicial (de desenvolvimento e introdução no mercado) as vantagens comparativas seriam dos países inovadores (os mais desenvolvidos); nas fases posteriores (de maturação e pós-maturação do produto), a vantagem estaria com os países em desenvolvimento, onde o custo de mão-de-obra é menor (enquanto a tecnologia de produção já estaria difundida, imitada, copiada, etc.).

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Ciclo de vida dos produtos

País A Inovador Importações Exportações

Produção Interna Procura Interna

País B, C,... N Emergentes

Exportações Importações

Produção Interna

Introdução no mercado

Maturação

Pós-maturação

Como ilustrado na figura acima, a abordagem de Vernon relaciona as exportações no país inovador, País A, às importações do país em desenvolvimento, País B, nas fases de introdução do produto no mercado e de maturação. Nesta fase tem início a produção no País B, mas ainda não suficiente para atender totalmente o mercado interno. Na fase pósmaturação o País B produz o suficiente para atender o mercado interno e para exportar para outros países, inclusive o próprio país inovador. Esta última fase pode estar relacionada ao processo de substituição de importações e/ou a investimentos externos.

3.4– Teorias com a Presença de Economias de Escala 3.4.1- Concorrência Monopolística e Comércio Intra-Indústria O modelo de concorrência monopolística considera as seguintes características dos mercados:  Existência de economias de escala internas a cada empresa;  Os produtos são ligeiramente diferenciados;  A entrada no setor é livre. 10

Com a diferenciação dos produtos, apesar da presença de economias de escala, nenhuma empresa tem condições de produzir sozinha toda a gama de produtos diferenciados do setor. Nessas condições, há um forte incentivo para o comércio intra-indústria, ou seja, um país exportando um produto X, digamos automóveis, e importando outra variedade do mesmo bem. que é uma característica marcante dos fluxos de comércio na atualidade. Esta foi uma tendência que se intensificou a partir do último terço do século passado. Essa característica do comércio, no mundo atual, concentra-se fortemente nas trocas entre países ricos, que têm uma estrutura produtiva e níveis de renda per capita

parecidos. O

economista sueco B. Linder foi quem primeiro chamou a atenção para esse aspecto — exportação e importação do mesmo tipo de bem —, explicando-o, fundamentalmente, pela semelhança nos níveis de renda per capita (e, portanto nos padrões de demanda) e nas estruturas produtivas, onde marcam presença importante empresas que concorrem entre si num regime de concorrência monopolística. Concorrência imperfeita, economias de escala e ausência de disseminação tecnológica são, assim, elementos da realidade do mundo atual que novas teorias explicativas dos fluxos de comércio procuram incorporar. Uma característica importante da concorrência monopolística, como vimos antes, é exatamente a diferenciação dos produtos e a presença de economias de escala, fatores que corroboram a observação de Linder quanto à pujança do comércio Norte-Norte, baseado nas trocas intra-indústria. Com a ocorrência de muitas empresas produzindo o mesmo tipo de produto, mas com diferenciações, nenhuma empresa tem capacidade de produzir sozinha todas as variedades demandadas (levando em conta as economias de escala). Essa particularidade favorece o comércio, já que as empresas passam a dispor de um mercado mais amplo, e favorece também aos consumidores, já que a maior concorrência entre empresas (e entre variedades do mesmo produto) abre caminho para reduções de preços. E oferece também um leque mais amplo de produtos para escolha do consumidor, aumentando portanto o seu bem-estar. Há vantagens para os países? Sim, porque aumenta o volume de comércio entre eles. O gráfico abaixo ilustra uma situação de queda de preços com o aumento da escala:

11

Preço e Custo médio

Custo médio

1

2

Quantidade

Antes do comércio, a típica empresa encontra-se no ponto 1 (q1,p1), onde vende q1 ao preço p1. Com a abertura das economias e a entrada de novos produtos no mercado, a empresa pode aumentar a sua escala e vender mais a preços menores, passando para o ponto 2 (q 2,p2) seu equilíbrio de longo prazo, vendendo q2 ao preço p2, trabalhando, como antes, sem lucros extraordinários, em razão da livre entrada de concorrentes. Numa situação de oligopólio valem as mesmas considerações acima, com a diferença que é pequeno o número de empresas e pode existir a presença de lucros extraordinários, já que não existe livre entrada no setor.

3.4.2 – Comércio Intra-Empresas e Expansão do Comércio

Algumas breves considerações sobre comércio intra-empresas, que é

também uma

característica do comércio atual e favorece substancialmente a expansão do comércio mundial. Com a expansão das empresas multinacionais no mundo, aumenta também a importância do comércio intra-empresas. Quando essa expansão se avoluma com o processo de globalização, um produto final fabricado no país A é, às vezes, o resultado da junção de componentes produzidos pela mesma empresa em vários outros países. Noutras situações, uma empresa produz o produto X no país A e o exporta para os outros países; produz o produto Y no país B e o exporta para os outros países; produz Z no país C e o exporta para os outros países, e assim por diante. 12

Durante o processo de expansão das multinacionais para os países em desenvolvimento, foi comum exigir dessas empresas o cumprimento de metas de nacionalização do produto, ou seja, que a empresa tivesse um grau crescente de produção interna no país (como se fez na implantação da indústria automobilística no Brasil). Ou exigir metas de exportação. As duas situações podem criar oportunidades para expansão do comércio internacional (embora a primeira possa significar maiores custos de produção, ao menos temporariamente).

3.4.3 – Economias de Aglomeração e Comércio Internacional

Vamos denominar de economias de aglomeração as economias de escala que ocorrem no setor, na indústria como um todo, para diferenciá-las das economias de escala que ocorrem internamente, dentro das empresas. Apesar de essas economias ocorrerem para o conjunto do setor, isto não significa que as empresas individualmente delas não se beneficiem. Por que será que quase todas as empresas de informática nos Estados Unidos estão localizadas, ou pelo menos têm escritório, no Vale do Silício, na Califórnia? Por que a indústria automobilística no Brasil (pelo menos até pouco tempo atrás) se localizava em São Paulo? A indústria de calçados principalmente em Franca (SP) e Novo Hamburgo (RS) (até que começassem a migrar para o Nordeste, há poucos anos)? E aqui em Brasília, no Plano Piloto, por que vendedores de material elétrico se concentram na 309/310 Sul, e lojas de produtos para noivas na 304/305 Norte? A resposta a essas perguntas é uma só: as vantagens que essas empresas obtêm por estarem juntas (próximas), as economias externas oriundas da aglomeração geográfica. É interessante observar que muitas vezes as razões para iniciar-se um conglomerado num certo local têm muito mais a ver com o acaso ou a história do que com motivos puramente econômicos. Mas, uma vez estabelecido o conglomerado, prevalecem as razões econômicas e ele tende a ser auto-sustentado e a se reforçar a cada nova empresa que a ele se junta. Paul Krugman mostra vários exemplos desses casos (Krugman, P. Geography and Trade, MIT Press, 1991): ”... a maioria das análises econômicas permanece dominada por um estilo de modelo que eu trato de TTFE: a ideia que o comportamento da economia é basicamente determinado por suas preferências (T, de "Tastes"), tecnologia (T, de "Technology") e dotação de fatores (FE, de "Factor Endowments") — todos dados exogenamente. Em contraposição, temos a

13

ideia de que aspectos importantes de uma economia são contingentes, determinados pela história e até por acidente". 1

Quem primeiro abordou este assunto foi o economista inglês Alfred Marshall, no início do século passado. Segundo ele, existem três razões para um conglomerado de empresas (cluster) ser mais eficiente que uma empresa isolada: i)

A capacidade de um conglomerado justificar economicamente a presença de fornecedores altamente especializados.

Um conglomerado, ao reunir várias empresas, tem escala suficiente para sustentar fornecedores especializados. A empresa individual não teria essa capacidade, mas ela se beneficia destas economias porque se liberta da obrigação de ela mesma ter que produzir internamente o que lhe é fornecido por terceiros especializados. O conjunto dos fornecedores especializados, por sua vez, fortalece a concentração e cada nova empresa que surge no setor e na região fortalece o conglomerado. Nessas circunstâncias, uma empresa do setor que se estabeleça em outro país, ou mesmo outra região do mesmo país, não pode contar com estes benefícios e já começa em desvantagem. ii)

A capacidade de um conglomerado justificar o aparecimento de um mercado comum de trabalho.

Na mesma linha do raciocínio anterior, o conjunto das empresas de um conglomerado tem condições de criar um amplo mercado para mão-de-obra com elevada especialização. Se as empresas estiverem espalhadas territorialmente não se cria este mercado comum que beneficia tanto as empresas, que diminuem seus custos de recrutamento, quanto os trabalhadores especializados, que têm maiores facilidades para encontrar emprego. Uma empresa de fora do conglomerado, ou de outro país, não tem estes benefícios, que se refletem positivamente em seus custos e em sua produtividade. Por exemplo: existem, na Suíça, várias instituições voltadas à formação de mão-de-obra especializada nos delicados mecanismos dos relógios de precisão, ou de luxo, produzidos tipicamente nesse país.

1

Tradução livre. Trecho original:”... most economic analysis remain dominated by a style of model that I like to think of as TTFE: the idea that the economy’s behavior is basically determined by its (exogenously given) tastes, technology and factor endowments. In opposition we have the idea that important aspects of an economy are contingent, determined by history and accident.” (Krugman, loc. cit., p.102)

14

iii)

A capacidade de um conglomerado facilitar os vazamentos de conhecimento.

No mundo moderno, o conhecimento técnico é um fator tão importante quanto, ou até mais, que outros fatores de produção, principalmente nas indústrias mais inovadoras. Esse conhecimento técnico pode ser adquirido através de pesquisas, por meio de concorrentes e, ainda, de maneira informal, pela troca de informações entre técnicos especializados. Esta última forma pode acontecer com maior facilidade no seio de um conglomerado, onde a concentração das empresas numa mesma área permite o convívio que favorece uma troca de informações. Uma empresa de fora desse conglomerado não desfruta de tal benefício.

As considerações acima sobre as economias de aglomeração levam à conclusão de que numa indústria com essas características seguramente haverá retornos crescentes de escala, o que significa que quanto maior a indústria, menores seus custos. Quanto maior a indústria, menor o preço que as empresas poderão cobrar. Vamos examinar agora as conseqüências das economias de aglomeração para o comércio internacional. Uma primeira conseqüência é que se um país se torna grande produtor de algum bem, em razão de economias externas de aglomeração, ele certamente terá custos relativamente baixos e tenderá a permanecer como grande produtor e exportador, ainda que apareçam novos produtores. A explicação para isto é que os custos associados à ausência de escala nas fases iniciais da produção, e ainda os custos de entrada no mercado do país novato no setor impedem que este país produza a preços competitivos. Os custos de entrada no mercado envolvem ainda outro fator: uma vez firmada a tradição de certo conjunto de produtores, estes podem às vezes cobrar um sobrepreço pela fama de seus produtos, seja essa fama justificada ou não. “Relógio suíço” ou “chocolate belga” passa a ser sinônimo de qualidade. Isso naturalmente dificulta a entrada de novos produtores. Há no mundo, em alguns nichos de mercado, um comércio que poderíamos chamar de tradição (assim como relógios suíços, conhaques franceses, casimiras inglesas, cachaças de Salinas, etc.), que se justifica também pela presença de economias de aglomeração. No Anexo 2, ilustra-se graficamente uma situação semelhante.

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4 – Conclusão

Existem outros modelos para explicar o comércio internacional, como os que utilizam empresas oligopolistas como ponto de partida. Os resultados desses modelos vão depender dos efeitos de economias de escala sobre os custos de produção, da curva de aprendizado das empresas, do fato de serem os bens homogêneos ou diferenciados e ainda da reação que os concorrentes tenham em relação às iniciativas de cada um deles. Para um curso introdutório de economia, no entanto, os modelos apresentados acima, de forma resumida, são suficientes para mostrar as vantagens do comércio internacional para os países envolvidos. E ainda que o elemento central para explicação dessas vantagens está no custo de oportunidade de um produto em relação a outro, dentro de cada país. São elementos importantes, em diferentes situações, como vimos, a dotação de fatores do país; a evolução da tecnologia de produção; a existência de economias de escala internas às empresas; e as economias de escala oriundas de economias externas às empresas e internas ao setor ou indústria (economias de aglomeração). De toda sorte, pode-se dizer, de modo geral, que um país exporta certo produto quando tem vantagem comparativa em sua produção (e não vantagem absoluta), venha de onde vier essa vantagem.

Para concluir estas notas sobre as teorias de Comércio internacional é interessante fazer duas referências: i)

As políticas brasileiras e de outros países da América Latina com relação ao setor industrial, no período que se seguiu à Segunda Guerra, foram muito influenciadas por críticas feitas aos modelos tradicionais de comércio por autores como Raúl Prebisch, um economista argentino. Argumentava-se que os ganhos do comércio internacional eram assimétricos, em razão das características dos tipos de mercadorias exportadas em geral pelos países centrais, de um lado (produtos industriais), e pelos países periféricos, de outro (produtos primários, pouco processados: alimentos, matérias-primas). O argumento baseava-se nos seguintes pontos:  baixa elasticidade-renda da demanda por produtos primários, em contraposição a uma elasticidade-renda mais elevada dos produtos industrializados;  baixa elasticidade-preço da demanda por produtos primários; 16

 retração da procura por várias matérias-primas de exportação dos países periféricos, em razão de ganhos de eficiência em seu uso e do desenvolvimento de substitutos industrializados (metal substituído por plástico, borracha natural por borracha sintética, algodão por tecidos sintéticos, etc.); e  baixo valor adicionado dos produtos primários.

O efeito cumulativo dessas características seria a deterioração das relações de troca dos países periféricos (ou seja, queda no preço de suas exportações em relação ao preço das importações), com consequente distanciamento cada vez maior entre o nível de renda dos países centrais e dos países periféricos. Para reverter esta tendência os países periféricos deveriam adotar medidas para

incentivar

a

desenvolvimento de

substituição seus

das

setores

importações, industriais, a

em partir

especial de

pelo

políticas

governamentais de incentivo. Não há dúvida de que a indústria brasileira teve crescimento muito expressivo, especialmente entre 1950 e 1980, sob o estímulo de várias políticas favoráveis à substituição de importações (o que sucedeu também, em maior ou menor grau, em outros países da região). Mas as grandes modificações no comércio internacional no período mais recente tornam as idéias de Prebisch pouco aplicáveis, especialmente no que se refere às tendências de preços. Basta referir o grande aumento dos preços do petróleo, desde o início da década de 1970, ou a evolução recente nos preços de produtos agrícolas e do minério de ferro, sob o estímulo de uma forte expansão na demanda internacional por esses produtos. A observação das relações de troca do Brasil não mostra uma tendência de queda no longo prazo: há períodos de redução, como na década de 1930 ou no início da década de 1980, mas outros de crescimento, como ao longo dos últimos 25 anos. O que é significativo em experiências, como a brasileira, de industrialização com o estímulo de políticas governamentais, em termos de explicação das correntes de comércio, é que tais políticas — embora envolvendo muitas vezes ineficiências e distorções — podem em alguns casos modificar as vantagens comparativas do país. Isso na medida em que os setores que se desenvolvam 17

sob proteção e estímulo do governo cheguem a alcançar competitividade internacional, a partir do aproveitamento de economias de escala e obtenção de ganhos de produtividade. Um exemplo nesse sentido é o caso da EMBRAER, empresa criada pelo governo brasileiro e posteriormente privatizada, e que é hoje um dos principais produtores mundiais de aviões de porte médio.

ii)

Uma avaliação das teorias para explicação dos fluxos

de comércio

resumidamente apresentadas mostra que cada uma delas é capaz de explicar aspectos particulares dos fluxos de comércio. Mas uma das características atuais desses fluxos é o fenômeno da globalização: a ampliação, diversificação e sofisticação desses fluxos numa escala nunca atingida anteriormente, sendo que 2/3 desse fluxo são transações inter e intra-empresas transnacionais. Um aspecto particular dessa tendência é o avanço significativo dos processos de integração, que alavancam as trocas internacionais entre grupos de paísess (North-American Free Trade Agreement – NAFTA, na América do Norte; União Europeia, na Europa Ocidental; MERCO-SUL, na América do Sul; Associação das Nações do Sudeste Asiático; Comunidade Econômica da África Ocidental; etc.).

O que essas referências enfatizam é que, além da dotação de recursos produtivos, fatores tecnológicos e culturais, economias de escala, etc., atributos construídos por governos, empresas e pela população, ao longo do tempo, podem contribuir para explicar os fluxos de comércio. Michael Porter (The Competitive Advantage of Nations, N.York, Free Press, 1990) mostra que muitos elementos do conjunto complexo de atributos que influenciam a competitividade de indústrias e países podem ser criados e desenvolvidos. Enquanto outros podem ser simplesmente herdados e consolidarem uma tradição pela constituição de conglomerados, que uma vez estabelecidos historicamente perpetuam as vantagens deles decorrentes, vantagens que se manifestam em termos dos fluxos de comércio.

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ANEXO 1 – UMA FORMALIZACÃO DA TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS 2

Vamos, então, supor um país, País A, que produz dois produtos, X e Y. A tecnologia utilizada por este país é demonstrada através da produtividade do trabalho. Ou seja, o número de horas de trabalho necessárias para produzir uma unidade do produto, que vamos representar por CX para o produto X e CY para o produto Y. Então se:

- LA é a disponibilidade total do fator trabalho - QXA é a quantidade produzida do produto X pelo País A - QYA é a quantidade produzida do produto Y pelo País A

Podemos escrever a CPP do País A como:



Onde toda a disponibilidade de trabalho é utilizada

Numa economia com um só fator, a CPP é uma reta e o que o País abre mão de um produto para produzir uma unidade a mais do outro produto, ou seja, o CO é a inclinação da reta do CPP (em valores absolutos), como mostrado no gráfico abaixo:

Quantidade Max. De Y em A

CPPa

Quantidade Max. De X em A

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Ver: Krugman, P. & Obstfeld, M. Economia Internacional - Teoria e Política, 6ed., Pearson Education, 2005

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Gráfico 1: Adaptado de Krugman e Obstfeld Vamos agora introduzir outro País, o País B. Então os requisitos unitários de trabalho deste país serão, respectivamente CXB e CYB; a disponibilidade total do fator trabalho LB e assim por diante. Podemos então escrever a CPPB como: e

, como mostrado no gráfico abaixo:

Quantidade Max. De Y em B

CPPb

Quantidade Max. De X em B

Gráfico 2: Adaptado de Krugman e Obstfeld Se CXA< CXB, dizemos que o País A tem uma vantagem absoluta na produção de X. Se C YA < CYB dizemos que o País A tem uma vantagem absoluta na produção de Y. Mas como vimos no exemplo numérico, não são as vantagens absolutas que determinam os benefícios da especialização e sim as vantagens comparativas, que são indicadas pelos custos de oportunidade. Agora se CXA/CYA < CXB/CYB, o que implica que CXA/CXB < CYA/CYB, os custos relativos em termos de requisitos unitários de trabalho são menores em relação ao produto X no País A. Ou, em outros termos, o custo de oportunidade de X em relação a Y é menor no País A. Isto significa que A tem uma vantagem comparativa na produção de X. Em decorrência, seguem todas as conclusões: o País A deverá especializar-se na produção de X produzindo a quantidade LA/CXA do produto X. O País B se especializará na produção de Y, produzindo a quantidade LB/CYB de Y. Com o comércio os dois países estarão em melhores condições do que antes.

As quantidades 20

exportadas de X e Y, assim como os preços de X e Y nos dois mercados vão depender das demandas relativas nos dois mercados. A única situação em que não haverá vantagem com o comércio é se C XA/CYA = CXB/CYB, ou seja, quando os custos de oportunidade forem iguais. Neste caso, os dois países continuariam produzindo os dois produtos e não haveria vantagem em especializar-se. O modelo que acabamos de expor resumidamente pode ser estendido para uma situação com dois países e vários produtos. Para saber em quais produtos cada país vai se especializar temse de comparar os gastos salariais unitários para cada produto nos dois países. Então, se W ACXA< WBCXB, o País A deve se especializar na produção de X, onde W A e WB são as taxas de salário nos dois países e CXA e CXB os requisitos unitários de trabalho para a produção de X nos dois países.

ANEXO 2 – ECONOMIAS DE AGLOMERAÇÃO E BARREIRAS À ENTRADA Considere-se o gráfico abaixo:

Custo, Preço

Quantidade

Gráfico 5: Adaptado de Krugman e Obstfeld

Onde:  CMa é o custo médio do País A, pioneiro no setor  CMb é o custo médio do País B, novato no setor  Dm é a demanda mundial pelo produto Vemos que a demanda mundial pode ser satisfeita tanto pelo País A quanto pelo País B. Só que o País B, novato no setor poderia produzir a custos mais baixos, e se lhe fosse permitido, ele 21

atenderia o mercado mundial a um preço p2 < p1. Acontece que na fase inicial de sua participação no mercado o País B começaria produzindo ao custo COb, bem mais elevado que p1. Assim, ele não participa do mercado e importa o produto ao preço p1. Um segundo aspecto a ser examinado é que na presença de economias de aglomeração um país pode estar numa situação pior com o comércio do que sem o comércio. Suponhamos que o País B na ausência de comércio e em razão de seus baixos custos médios pudesse atender a sua demanda interna DB ao preço PB < P1 (o preço cobrado no mercado internacional, que é o preço do país pioneiro). Nesta situação, o País B estaria pior com o comércio do que na ausência do comércio. Cabe notar que mesmo nesta situação o mundo (o conjunto dos demais países) estaria melhor com o comércio. Mas o País B estaria potencialmente pior. Potencialmente porque continuam a prevalecer os custos elevados das fases iniciais de produção (C 0B). Esta é uma situação em que o País B poderia, eventualmente, proibir a importação desse bem, ou introduzir pesadas tarifas para esta importação, iniciando-se um processo de substituição de importações.

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