2222 Clarice Fotobiografia

December 15, 2018 | Author: Raimundo de Moraes | Category: Jews, Short Stories, Biography, Books
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Material contendo entrevista com Nádia Batella Gotlib, autora de uma fotobiografia de Clarice Lispector....

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Clarice Em Fotobiograa, Nádia Batella Gotlib refaz os caminhos de Clarice Lispector, entre diferentes países e estilos literários, através de fotograas, documentos, cartas, dedicatórias, capas de livros, páginas de jornais e revistas. Bruno Dorigatti

26 / 05 / 2008

“Eu escrevo para nada e para ninguém. Se alguém me ler será por conta própria e auto-risco.”

O risco vale a pena. Clarice Lispector hoje é nome canonizado em nossa literatura. E, a bem da verdade, nasceu literariamente chancelada, com prêmio pelo seu primeiro livro, Perto do coração selvagem, publicado em 1943 e laureado com o Prêmio Graça Aranha como o melhor livro daquele ano, além da boa recepção crítica. A peculiaridade de sua escrita já aparecia na primeira obra da autora, que desde pequena, sabia que viveria da e pela palavra. E assim foi nos 17 livros que publicou em 34 anos de fértil produção literária, entre romances, contos e livros infantis: mais preocupada em transmitir sensações, em transpor um momento, um instinto, do que em narrar linearmente uma estória. Com a recém-lançada Clarice Fotobiograa (Edusp e Imprensa Ocial), organizada por Nádia Batella Gotlib, temos a oportunidade de acompanhar a vida da escritora e jornalista através de fotograas, documentos, cartas, dedicatórias, capas de livros, páginas de jornais e revistas. Um trabalho formidável, formidável, aliás, onde Nádia refaz a trajetória de Clarice desde a vila ucraniana de Tchetchelnik – cidade onde nasceu em 1920 e deixou aos dois meses de idade, já no caminho que sua família judaica fazia rumo à América, fugindo dos pogroms que recrudesciam na então União Soviética logo após a revolução de 1917 – até o Nordeste do Brasil, onde a família Lispector se estabeleceu; primeiro em Maceió, depois em Recife e enm no Rio de Janeiro. E daí de volta ao velho mundo, nos anos 1940, acompanhando o marido diplomata Maury Gurgel Valente por Nápoles durante a II Guerra, Berna (Suíça), Torquay (Inglaterra) e Washington, antes de retornar denitivamente ao Rio de Janeiro, em 1959. Nádia refez o caminho de Clarice de fato, indo a todas as cidades onde ela esteve, pesquisando em bibliotecas, arquivos, casas diplomáticas, hotéis, residências, que poderiam acrescentar  ou revelar alguma informação a respeito da biograa da autora de Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres e do conto “O ovo e a galinha”. Daí surgiram, literalmente, centenas de imagens inéditas, uma perspectiva até então pouco conhecida dela, da infância e da adolescência, na intimidade com o marido, trabalhando no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, passeando pelos parques No jardim Derby, perto do chafariz, Clarice, com dez anos, veste luto pela morte da mãe. Recife, maio de 1931.

Clarice, adolescente.

Perto do coração selvagem, seu primeiro romance, é publicado em dezembro de 1943.

da capital norte-americana, com seus amigos Erico e Mafalda Veríssimo. Os amigos escritores, aliás, comparecem ao longo da obra, em cartas, dedicatórias e fotos – uma boa panela formada por, entre outros, Lúcio Cardoso, Francisco Assis Barbosa, Fernando Sabino e os demais mineiros (Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino, Paulo Mendes Campos), Rubem Braga, Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles, Guimarães Rosa, e o já citado Erico Veríssimo. Também acompanhamos a carreira jornalística da escritora, que se formou em Direito na então Universidade do Brasil (hoje, Universidade Federal do Rio de Janeiro), mas logo aderiu ao jornalismo como forma de (sobre)viver das letras. Passou pelo DIP, pelo diário carioca A Noite e, depois de 16 anos vivendo como mulher de diplomata, voltou à imprensa, primeiramente publicando seus contos na Senhor, desde o número de estréia da revista – que contava com Nahum Sirotsky, Carlos Scliar, Paulo Francis, Ivan Lessa e Jaguar   – e, mais tarde, realizando curiosas entrevistas para a revista Manchete – como a aqui reproduzida, com um jovem tímido, mas incisivo: Chico Buarque (ou Xico Buark, graa inventada por  Millôr Fernandes numa noite no Antônio´s, bar freqüentando por  essa trupe jornalística dos anos 1960 e 1970), e as derradeiras crônicas publicadas no Jornal do Brasil. Pouco afeita a entrevistas, Clarice não gostava de exteriorizar  suas impressões sobre como pensava a sua obra, a sua vida, o mundo a sua volta, além do que registrava diretamente com a escrita. Esta já falaria por si, pouco ou nada ela teria a acrescentar  a respeito. Mas, acompanha acompanhando ndo as três t rês principais entrevistas que ela se permitiu conceder (ao Pasquim, o depoimento ao Museu

Santiago de Cuba Capa criada por Glauco Rodrigues para o  primeiro númeroda revista Senhor, de março de 1959, que inclui colaboraçãode Clarice Lispector.

da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro, e a última entrevista, primeiro e único documento gravado em som e imagem que se tem de Clarice, esta a Júlio Lerner dez meses antes de morrer com um câncer  generalizado) generalizad o) percebemos que Clarice era, de fato, uma nebulosa cinzenta, alguém que aguça os sentidos, a compaixão, por vezes a angústia. E, calculadam calculadamente ente ou não, fazia do mistério em torno de si um elemento a mais para nos aproximar, ou nos manter distante – e aí é a percepção de cada um que decide.  A Fotobiograa, na verdade, surgiu como um desdobrame desdobramento nto da tese de livre-docência que Nádia defendeu na USP em dezembro de 1993, quando teve que decidir entre reunir ensaios sobre Clarice num volume ou, como ela mesma arma, “partir para uma biograa, mas não biograa factual, e sim construção de um movimento entre vida e obra, a partir de leituras de vários textos, literários e não literários; trabalho que considerava ousado, na medida em que não conhecia outro, semelhante, que tivesse sido apresentado e defendido como tese acadêmica”. Publicado em 1994 com o título Clarice, uma vida que se conta (Ática), esta imersão no universo da escritora de língua travada (que muitos pensavam ser um inexistente sotaque russo-ucraniano) russo-ucraniano) é agora recontada, tendo o visual e imagético como protagonista nesta narrativa. Que continua: a pesquisadora atualmente trabalha em uma espécie de making of da Fotobiograa, com o título Clarice, uma vida que se vê. Por ora, é possível conhecer o denso trabalho que reúne 800 imagens, na sua maioria inéditas, 65 páginas de comentários, 52 páginas de cronologia, e uma extensa bibliograa de e sobre Clarice Lispector. Fiquemos com ela, antes da entrevista de Nádia sobre suas pesquisas a respeito da mulher  em busca de seu timbre. No período em que morava nos Estados Unidos.

“Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu por  em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo, uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana e animal.”  “No que eu escrevo só me interessa encontrar meu timbre. Meu timbre de vida.” 

Poderia falar sobre a sua tese a respeito de Clarice Lispector, que deu origem ao livro Clarice, uma vida que se conta? Nádia Batella Gotlib. Esse livro é parte da tese de livre-docência que

defendi na USP em dezembro de 1993. Na realidade, no momento de seguir meu percurso em direção à tese de livre-docência, tive de decidir entre duas opções: ou reunir ensaios sobre Clarice num volume e submetê-lo à defesa, procedimento este mais comum no campo acadêmico; ou partir para uma biograa, mas não biograa factual, e sim construção de um movimento entre vida e obra, a partir de leituras de vários textos, literários e não literários; trabalho que considerava ousado, na medida em que não conhecia outro, semelhante, que tivesse sido apresentado e defendido como tese acadêmica. Foi ótimo ter tido a coragem de respeitar esse meu

“São 10 horas da manhã, quinta-feira. Meu quarto é independente os outros e eu desarrumo ele à vontade. Meu quarto dá  para o mar. O mediterrâneo é azul, azul.”  Clarice Lispector carta a Lúcio Cardoso, Nápoles [set.-out. 1944].

desejo, que me levou ao desao de usar uma variedade grande de textos e fontes de documentação como matéria-prima. No que ela difere das biograas a que estamos acostumados? Nádia. Propunha uma leitura paralela de vida e de obra. Dessa forma, me esquivava da relação mecânica e

às vezes descabida de explicar uma face ccional ou jornalística a partir de fatos biográcos ou vice-versa. No entanto, eis aí dois campos minados que favorecem diálogos promissores, no meu entender, para a melhor  compreensão tanto da vida quanto da história da produção ccional e jornalística de Clarice. Os dois campos são aí apresentados, com sugestões de intersecções que podem ou não ser aceitas e seguidas pelo leitor. Desta forma, o livro apresenta um painel de leituras minhas de diversos textos, ou de diversas ‘contações’ de histórias referentes a Clarice: textos escritos por ela mesma (contos, crônicas, romances, cartas, bilhetes, fragmentos, artigos, entrevistas, reportagens) e textos escritos ou narrados por outros, referentes a Clarice, como, por exemplo, depoimentos orais ou escritos de pessoas que com ela tiveram algum tipo de relação prossional ou afetiva, cartas que lhe foram endereçadas, textos críticos sobre sua obra. Na montagem nal, diante de tantos ‘instrumentos’ acionados, cabia a mim o papel de ‘maestro’, convocando-os na hora certa, numa ordem de sucessão cronológica, mas também inserindo recuos ou avanços nesse tempo linear, em função de interferências que considerava úteis para o desenvolvimento dessa peça. Como este trabalho se desdobrou na Fotobiograa? Nádia. O visual tornou-se então protagonista da narrativa na Fotobiograa, construída à base de seqüência

de imagens. E o encaixe das imagens ganhou realce nas páginas do livro, movidas a forma e cor. Usei fotos de época, não só de Clarice e de outras pessoas, mas também de lugares onde ela morou ou por onde ela passou. Foi necessário alargar então o repertório dos acervos institucionais e pessoais, com imagens de museus e arquivos dos vários países por onde ela circulou. Além desse repertório, usei imagens de documentos, como certidões de idade, de casamento, capas de livros, textos de dedicatórias, mas inseri também trechos de romances, cartas, crônicas (dela e de outros), que, de algum modo, dialogavam com as imagens selecionadas. selecionadas. E construí legendas breves, concisas, que contextualizassem as diversas situações, procurando incluir aí novos elementos de pesquisa que alargassem os horizontes de informação referentes à vida e obra de Clarice. O livro é para ser visto, mas com acompanhamento de caráter informativo, crítico e, por vezes, interpretativo interpretativo.. Para os que quiserem ampliar esse repertório de dados, há um capítulo nal intitulado “Comentários “Comentários sobre as imagens”, em que desenvolvo e complemento aspectos levantados levantados ao longo dos capítulos anteriores. Há que considerar ainda que essa nova matéria-prima, o visual, tem suas exigências próprias e acaba interferindo na condução da narrativa. Aponta para procedimentos especícos, que precisam ser respeitados. Procurei atender a essas exigências, seguindo as sugestões que as próprias imagens por vezes me ditavam, ao longo do trabalho. Como foi essa imersão no documental imagético da escritora, uma pessoa aparentemente enigmática, misteriosa, que parecia mesmo criar uma personagem em torno de si própria? Nádia. Tentei acompanhar Clarice aceitando suas múltiplas

aparências, ao longo dos seus quase 57 anos de vida e dos seus cerca de 37 anos de trabalho regular com a escrita. E em cada fase de vida parece surgir mesmo uma nova personagem, com traços físicos especícos, com rotina de vida peculiar, com produção de escrita ligada a gêneros e gurações próprias. A Fotobiograa, de certa forma, conrma a existência de várias Clarices: a menina de olhar perdido no além, a moça mais solta

Esta foto e as próximas duas foram tiradas pela amiga Bluma Wainer em Paris, junho de 1946.

e alegre, a mulher de diplomata no exercício das recepções ociais, a mãe abraçando os lhotes, a mulher  escritora entre máquina de escrever e folhas espalhadas pela mesa da sala do seu apartamento, a mulher  madura, só, angustiada, cujo olhar parece desaar o seu espectador/leitor, instingando-o, empurrando-o para o de-dentro de si mesmo, em perigosos deslocamentos. Por outro lado, a Fotobiograa revela novas faces de Clarice, através de detalhes fortes que dizem muito: uma situação, um gesto, um olhar... Das 800 imagens selecionadas, apenas 130 não são inéditas, além, naturalmente de imagens de capas de livros de Clarice e de outros. Mas até abrir baús e arquivos com fotos inéditas ou me debruçar sobre pastas de fotos catalogadas como ‘não identicadas’ identicadas ’ na Fundação Casa de Rui Barbosa, não tinha visto Clarice, por exempl o, entre soldados da FEB, em plena Segunda Guerra, na Itália. E me pergunto como deveria se sentir essa brasileira naturalizada mas, também, judia de nascimento, que chega ali a Nápoles acompanhando o marido brasileiro diplomata pouco tempo depois de os alemães nazistas se retirarem de Nápoles em direção ao norte. Também é interessante, creio eu, a Clarice parecer só, em algumas fotos, ainda que cercada de gente por todos os lados. Sobretudo quando está na Europa, acompanhando o marido. Nesse caso, a Clarice escritora parece obedecer ao destino das suas mulheres personagens, que se movimentam, viajam, procurando o seu lugar  próprio, mas acabam vencidas pela solidão, na maioria das situações. Tal como Clarice, que viajou tanto, mas declara em crônica que tem a sensação de “não pertencer” a lugar algum. Seria este o destino de errância e de exílio, tão característico de seus ancestrais judeus? Escondendo o rosto de Bluma, em Paris, 1946.

Até que ponto isso era natural em Clarice? Ou haveria de ser pensada, calculada essa atitude? Nádia. Como saber? Acho difícil arriscar qualquer armativa. armat iva. Vamos eliminar essa pergunta, que me obrigaria

a car apenas no campo da conjetura? Qual o risco de buscar na vida explicações para a obra e vice-versa? Nádia. Ao longo desse percurso de leituras de vida e de obra, encontrei pontos de fértil contato. Mas não diria

que seriam pontos de explicação. No meu entender, explicação, nesse caso, destruiria a obra. Ou, no caso oposto, a vida. É possível, no entanto, encontrar aí alguns insights, pontos de iluminação, ou de revelação, ou de reverberação. Ler a literatura a partir da inspiração da vida, ou vice-versa, pode abrir novas perspectivas, sem reduzir o sentido. A minha experiência de leitura amplia-se, por exemplo, ao me dar conta de que o nome judeu da personagem de A hora da estrela, Macabéa, remete ao povo judeu que lutou bravamente para manter suas convicções. Essa mesma nordestina alagoana emigrou em direção ao Rio de Janeiro para tentar sobreviver à miséria. De certa forma, evoca a situação semelhante de Clarice, judia de nascimento, criança nordestina que passou fome, adolescente carioca que chega ao Rio com o pai e irmãs, para assim melhorar de vida. Mas há dados que alinhavam tais considerações, considerações, do ponto de vista da estrutura ccional: o nome da Clarice Lispector, a escritora autora do livro, mistura-se gracamente gracamente entre os títulos dos capítulos

No verso da foto anterior, Bluma Wainercomenta: “Clarice, parece-me que não lhe tinha mandado este. Para o que eu queria, não serve. Guarde assim mesmo, pelo que tem de ruim e estranho. Bluma”.

deste seu breve romance. Aliás, esse entrelaçamento de territórios t erritórios foi recurso cultivado por Clarice também noutros momentos de sua produção. E todos eles merecem ser considerados no momento da leitura. Como foi refazer o percurso de Clarice, saindo daqui e indo buscar o não conhecido (ou melhor, tentar refazer uma trajetória) na Ucrânia, Itália, Suíça, Inglaterra, Estados Unidos? Nádia. Fui a cada um desses

lugares em diferentes viagens, em épocas diferentes, portanto houve intervalos entre uma viagem e outra. Pude vivenciar bem cada um deles. E trabalhar os resultados com calma, sem pressa. Antes Antes de cada viagem  – além, naturalmente, da matéria mais especíca sobre Clarice que já havia levantado –, fazia preparação demorada, percorrendo lugares pela internet, consultando arquivos on-line. Contei com a colaboração de várias pessoas que me faziam ‘fotos’ por encomenda. Cito um exemplo: quando soube que uma colega e amiga, Mary Lafer, iria morar em Genebra, pedi a ela que fosse a Berna e me tirasse algumas fotos. E ela me trouxe fotos formidáveis da parte antiga da cidade. cidade. Depois consegui outras fotos interessantes de Berna, com brasileiros que moraram lá na mesma época. Também o casal mineiro Beatriz Magalhães e Rodrigo Andrade, que estavam temporariamente em Nápoles, me ajudaram a localizar o edifício onde funcionou o Consulado do Brasil na época em que Clarice lá morou e me enviaram fotos do edifício. Depois, gentilmente me receberam na casa deles e me acompanharam pelos ‘lugares napolitanos’ de Clarice. O contato direto com os lugares me ofereceu muitas surpresas. Passear pela Gerechtigkeitsgasse e chegar  até o número 48, onde morou Clarice, e bem ali – em frente a sua casa, na rua da Justiça, localizada na parte antiga da cidade cidad e – me deparar com a estátua da Justiça Just iça e a fonte, me deu uma emoção grande. A partir  daí, pude identicar a foto perdida numa pasta da Fundação Casa de Rui Barbosa: a foto da janela dessa casa, de onde avistava a rua, a estátua, a fonte... podendo, assim, recuperar o ‘foco narrativo’ de Clarice ao escrever a crônica “Lembrança de uma fonte, de uma cidade”, que faz parte do volume A descoberta do mundo. Atravessar de carro a Ucrânia, de Kiev até Tchetchelnik, aldeia onde nasceu Clarice, me permitiu conhecer algumas das aldeias onde moraram moraram seus ancestrais e sentir o que é o interior desse país agrícola, com poços de água coletivos entre casas, que exibem nas paredes da frente ramos de ores e folhas em relevo. Em Tchetchelnik as ruínas da sinagoga, enorme, testemunham a força da cultura religiosa judaica na época em que a população da aldeia era formada na quase totalidade por judeus. E embora Clarice nunca tenha voltado a sua terra natal, é curioso se deparar com sua presença: a placa em sua homenagem foi instalada na entrada do prédio que hoje abriga a Biblioteca e a Prefeitura de Tchetchelnik, com seu rosto em relevo no metal, que também exibe os dados biográcos em russo e em português. O que lhe surpreendeu nessa busca? O que nem fazia idéia da existência e acabou por suprir alguma lacuna fundamental? Houve alguma lacuna impossibilitada de ser preenchida? Nádia. Meu caminho mais promissor na pesquisa sobre Clarice nem sempre foi pela via do que Clarice

Clarice, por Loredano. 2002.

disse, mas pela via do que Clarice deixou de dizer. Comecei a admitir que os silêncios eram importantes quando fui a Recife reunir dados para meu primeiro livro sobre ela. Só então percebi como Clarice cresceu num meio cultural fortemente marcado pela cultura judaica. Morava em bairro  judeu, convivia com muitos primos e tios, todos  judeus. No entanto, embora Clarice mencionass mencionasse e em crônica os colégios onde lá estudou, nunca mencionou que estudou no Colégio Hebreu-Ídiche Brasileiro. Quando fui à Ucrânia pude perceber melhor o que deve ter sido a força da tradição cultural judaica nas famílias dos ascendentes de Clarice. E como deve ter sido difícil a luta pela sobrevivência, em período de turbulência política provocada pela primeira grande guerra, a revolução russa de 1917, a guerra civil e sucessivos pogroms. Essas surpresas e alguns fatos que marcaram a história dessa pesquisa, estou registrando num breve volume, Clarice, uma vida que se vê, aproveitando o título do Manuel da Costa Pinto em matéria sobre meu livro publicada no Jornal da Edusp em abril deste ano. Nesse livro procuro contar certas passagens da pesquisa, numa espécie de making of da Fotobiograa Fotobiograa.. Conra também: > A última entrevista com Clarice Lispector dada ao  jornalista Junio Lerner Lerner para o programa Panorama Panorama em 1977, da TV Cultura. Ela só foi exibida após a morte da escritora, 10 meses após a gravação no ínicio daquele ano:

Parte 1.

Parte 2.

Parte 3.

Bastidores e opiniões sobre Clarice.  Alguns dos documentos que integram a Fotobiograa, como a carta a Getúlio Vargas, solicitando a nacionalidade brasileira, uma carta ao amigo e poeta Murilo Mendes, trecho da entrevista com Chico Buarque para a revista Manchete, e comentário que que saiu no no Pasquim sobre Ulisses, o cachorro fumante de Clarice. >

No Hotel Açores, na Rua da Praia, em outubro de 1976, quando volta a Porto Alegre.

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