2016 - Corrente 93 No. 5

February 17, 2017 | Author: spacedreams | Category: N/A
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Colegiado da Luz Hermética Fundado a Serviço da A∴A∴

CORRENTE93 Vol. I

No. 05

An V2, in 0° , in 20°  An. CXII da Era Thelêmica ________________________________________________________________________________________________________

R$5,00

Conteúdo Editorial Saudação ao Sol entrando no Signo de Libra O Rito da Verdade de Lamed O Último Oráculo O Entusiasmo Energizado de Frater Aster A Magia Sexual de Aleister Crowley Teoremas da Magia Sexual Goécia: Evocação Sexual Fontes Bibliográficas Notícias da Linha de Frente Colegiado da Luz Hermética

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Corrente 93, Vol. I, No. 5. © 2016 Fernando Liguori © 2016 Sociedade de Estudos Thelêmicos Realização: Sociedade de Estudos Thelêmicos Av. Barão do Rio Branco, 3652/14 Passos – Juiz de Fora – MG 36 025020 (32) 3026 0638 | 9112 3590 E-mail: [email protected] Conselho Editorial: Alex B. Elias (Juiz de Fora) Fernando Liguori (Juiz de Fora) Jeanine Medeiros (Juiz de Fora) Priscila Pesci (Juiz de Fora) J.R.R. Abrahão (São Paulo) Publicação registrada sob o nº 135.749 no Escritório de Direitos Autorais do Ministério da Cultura/Biblioteca Nacional. Todos os direitos reservados e protegidos pela lei 9610 de 19/02/1998. Nenhuma parte desta publicação pode ser utilizada ou reproduzida – em qual- quer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc. – nem apropriado ou estocado em sistema de banco de dados ou mídia eletrônica, sem a expressa autorização do editor.

tensivas, seminários e cursos intensivos, preparação e divulgação de estudos e relatórios, edições e publicações. Corrente 93 é uma publicação da SETh, Sociedade de Estudos Thelêmicos, em nome da A∴A∴, que aborda temas sobre Magia, Tarot, Qabalah, Filosofia de Thelema, Tradição Tântrica, Yoga, Āyurveda e temas conectados como Ocultismo Thelêmico. Os recursos gerados com a venda de exemplares são integralmente reinvestidos no projeto, promovendo seu desenvolvimento organizacional e técnico, buscando sempre oferecer melhor conteúdo.

Contribuições e comunicações com o editor podem ser enviadas para Sociedade de Estudos Thelêmicos. A Sociedade de Estudos Thelêmicos é uma organização da sociedade civil com sede em Juiz de Fora, Minas Gerais. Tem como objetivo promover o desenvolvimento humano através das atividades realizadas por seus movimentos organizados. Através de nosso trabalho, promovemos atividades para elevação da consciência por meio da realização de projetos sociais sustentáveis, pesquisas, aulas ex-

Citações de trechos desta publicação podem ser usadas, desde que mencionada à fonte e que tenham autorização escrita dos autores. O copyright © de todo material de autoria de Aleister Crowley pertence à O.T.O. – (http://oto.org/).

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Editorial Care Frateres et Sorores, Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

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em vindo a edição No. 5 do Jornal Corrente 93. Esse é um projeto do Outer College Brasil, linha da A∴A∴ transmitida por Frater ON120 e Colegiado da Luz Hermética através da SETh, órgão oficial de divulgação dos trabalhos desses dois Colegiados Thelêmicos. Nós estamos entrando no Equinócio de Primavera de 2016 e.v. O ano 2012 e.v. foi muito importante para muitos iniciados, pois marcou o início de uma reificação na Terra das forças espirituais do Novo Aeon. No entanto, o resgate espiritual dessas forças dentro de cada um de nós depende da aplicação de certas chaves ou fórmulas mágicas. Uma dessas fórmulas, conhecida como Corrente Ofidiana, tem sido considerada das mais eficazes no estabelecimento das forças do Novo Aeon na consciência humana. O ano de 2012 e.v. marcava no calendário maia o fim de uma era. Esse fim foi interpretado nos termos catastróficos do fim do mundo. No entanto, a mudança que se esperava na forma de catástrofe apocalíptica aconteceu em níveis mais sutis de consciência ou aeons fora do tempo e espaço na forma de um despertar espiritual. O Solstício de Verão de 2012 e.v. marcou o fim do calendário maia e o início de um movimento astronômico que ocorreu da última vez centenas de anos atrás, na época em que os sumérios e babilônios rastreavam as estrelas. Regulus é a estrela no coração da constelação de Leão. Em 3000 a.C. ela estava em conjunção com o sol nascente no Solstício de Verão, quando o Sol entrou no signo de câncer. Em 150 a.C. Regulus moveu-se em direção a constelação de Leão e tem estado lá nos últimos 2162 anos. No Solstício de Verão de 2012 e.v. Regulus começou a se movimentar para a constelação de Virgem, o signo astrológico tipificado pela Ísis egípcia e a Ishtar suméria, além de outras deusas que representam o princípio feminino na função de creatrix. O simbolismo thelêmico da Besta e da Mulher tipificam o Leão entrando na Virgem. Para os antigos, a estrela Regulus era o centro do universo ou eixo do mundo e uma das Quatro Torres de Vigias Celestiais. Cada Torre de Vigia era associada a um arcanjo. No caso de Regulus, este é Raphael, o arcanjo do Sol regido pela constelação de Leão. No entanto, Raphael também é o anjo de Mercúrio, regido pela constelação de Virgem. Assim, temos o Lúcifer-SolarHermético em um único símbolo. A constelação de Virgem simbolizava o poder oculto que dirige a iniciação no Velho Aeon. No presente Aeon, é Leão que cumpre essa função. Dessa maneira, nos encontramos em uma Nova Fase da Nova Era, um Aeon dentro do Aeon ou o início da maturação do Aeon de Hórus, onde a consciência humana começará a se alinhar com as forças do Aeon da Criança Coroada e Conquistadora, como postulado pelo O Livro da Lei (III:34): Mas vosso lugar sagrado estará intacto através dos séculos: ainda que com fogo e espada ele seja queimado & destroçado, todavia uma invisível casa ali permanece, e deverá permanecer até a queda do Grande Equinócio; quando Hrumachis surgirá e aquele duplo bastão assume meu trono e lugar. Um outro profeta surgirá, e causa revigorante febre dos céus; uma outra mulher despertará a lascívia & adoração da Cobra; uma outra alma de Deus e besta juntar-se-á no globado sacerdote; um outro sacrifício manchará a lápide; um outro rei reinará; e benção não é por mais tempo vertida Ao Místico Senhor de Cabeça-deFalcão!

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Thelema é o resgate de um culto greco-egípcio cujo cento era a cidade de Tebas no antigo Egito. A fórmula mágica desse culto foi imortalizada na Estela da Revelação, que revela Ankh-af-na-Khonsu como seu sacerdote.1 Nesta tradição, Hórus é o Senhor de todo e qualquer aeon, pois ele é o iniciador da alma, cristalizada por Crowley na imagem da Mulher Escarlate. A passagem acima não pode, portanto, ser interpretada nos termos de uma ação missionária. Uma das maiores pontas soltas da Filosofia de Thelema é pensar que a humanidade um dia se alinhará completamente ao caminho da a iniciação, quer dizer, as Forças do Novo Aeon. Não se trata disso. O estabelecimento do Aeon de Hormarku ou Hrumachis não se refere a uma conversão social, pois a batalha é interna, travada nos confins da sombra de cada um. O Aeon de Hrumachis ou a Nova Fase da Nova Era ou Aeon de Hórus ocorre em cada um de nós aqui e agora, no santuário de nossas almas. O Falo da Filosofia de Thelema, que transmite o poder de sua Palavra, é a Estela da Revelação, que deve residir no altar mais prístino do santuário de nossa alma. Entretanto, as condições estelares (astronômicas) no presente são ideias para o despertar deste Falo thelêmico dentro de cada um de nós, thelemitas. Regulus entrando no signo de Vigem tipifica a Besta unida a Mulher. Os antigos sumerianos tipificavam essa conjunção na forma de Ishtar como o eixo do mundo. Ela encarna os sinais astrológicos de Leão (sua carruagem é puxada por leões), de Virgem (ela segura um espelho para contemplar sua própria beleza) e Libra (como agente de equilíbrio universal). Um símbolo que pode retratar todo o zodíaco, uma vez que são signos cardinais, mutáveis e fixos. O trabalho com a Corrente Ofidiana, que une a Besta e a Mulher Escarlate, é uma chave para acessar ou resgatar as Forças do Novo Aeon e Crowley deu ênfase no treinamento para e na aplicação dessa corrente mágica. Esse é o tema da presente edição do Corrente 93: a utilização da Corrente Ofidiana ou Magia Sexual. Kenneth Grant (1924-2011), discípulo de Aleister Crowley, chamou a atenção para o fato da Filosofia de Thelema ser a cristalização moderna dos antigos Cultos da Serpente que se manifestaram em várias partes do globo em tempos distintos. Em suas obras, Grant se esforça em estabelecer a conexão ou similaridade entre Thelema e esses cultos remotos que ele generalizou no termo Tradição Tifoniana. O trabalho de Grant é único por esse elo que ele estabeleceu entre Thelema e uma gama variada de correntes espirituais de Mão Esquerda epitomadas no Tantra Hindu, no Culto Kahuna da Polinésia, nas tradições xamânicas de todos os tempos e raças, bem como nos cultos sumerianos e babilônios da antiguidade. Para esse trabalho, Grant vasculhou profundamente os escritos de Crowley na intenção de descobrir as chaves ocultas que possibilitam os magistas terem acesso a essa corrente mágica ancestral. O Livro da Lei (I:57) adverte: Existe a pomba, e existe a serpente. Escolhei bem! Ele, meu profeta, tem escolhido, conhecendo a lei da fortaleza e o grande mistério da Casa de Deus. O caminho da serpente tem sido atribuído a sedução de Eva no Jardim do Éden, quando a Serpente lhe convence a comer do fruto da Árvore do conhecimento do Bem e do Mal, lhe fazendo acreditar que, de posse desse conhecimento, seria como os deuses. A Serpente não disse nenhuma mentira! O que ela fez foi não esclarecer toda a verdade: Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal.2 No entanto, os Elohim já haviam alertado a Adão e Eva para não comerem do fruto dessa árvore que transmitia a gnose ou conhecimento de Vênus, a Estrela da Manhã, Lúcifer: Mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.3 Nesta tradição, todo sacerdote recebia o sobrenome de Ankh-af-na-Khonsu. Gênesis, 3:5. 3 Gênesis, 2:17. 1 2

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Este conhecimento, prometido pela Serpente e que supostamente colocaria qualquer um no status de divindade, é o mistério da encarnação com seus ciclos de nascimento e morte. Isso é confirmado em seguida pelos Elohim: No suor do teu rosto comerás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado; porquanto és pó e em pó te tornarás.4 Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor darás à luz filhos.5 O Senhor Deus, pois, o lançou fora do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.6 E não é isso que nos acontece? Não temos de labutar com o suor do rosto para pôr em nossas mesas o pão? A mulher não sofre de dor no ato de dar à luz a uma nova vida? Dessa maneira, a Serpente não enganou Eva. O conhecimento que ela prometeu todos nós estamos cientes, como os Elohim haviam alertado. O Jardim do Éden é o Jardim das delícias. Nele, arcanos brotavam em árvores de conhecimento. Um deles, a Árvore da Vida, trata dos mistérios da pomba na citação de O Livro da Lei, preservada na antiguidade por grandes Adeptos como Enoch ou o Profeta Elias, que foram arrebatados na Luz Infinita do Absoluto. Thelema, no entanto, oferece os frutos de ambas as árvores. Na simbologia da serpente, é dito que ela não pode ir além do Abismo. Para tal, ela tem de se transformar no dragão voador. Em outras palavras, a serpente deve receber as asas da pomba a fim de transcender Abismo. Uma das chaves para essa transformação é a Corrente Ofidiana. O Liber 777 de Crowley é o repositário de inúmeras fórmulas mágicas que colocam em movimento a ação da serpente e a ação da pomba, para que se complete o grande mistério da casa de Deus. A A∴A∴ não possui instruções oficiais sobre magia sexual, fora referências veladas em algumas instruções. Na época do Crowley, ao atingir a graduação de Adepto Maior 6°=5⌷, os Irmãos da A∴A∴ eram orientados ao estudo e execução da magia sexual como uma das melhores ferramentas para adestrar e aplicar a Verdadeira Vontade. Como a A∴A∴ não oferece orientação formal nessa prática, Crowley orientava seus alunos a se dirigirem a O.T.O. e seria interessante que todo Adepto Maior fosse também um membro do Soberano Santuário da Gnose, IX° O.T.O. Isso não significa que o IX° Grau da O.T.O. tenha qualquer relação com o Grau de Adepto Maior na A∴A∴. A questão é que a magia sexual era considerada por Crowley, a partir de 1912 e.v., como um poderoso veículo para reificação da Verdadeira Vontade, o aterramento das Forças do Aeon de Hórus na consciência humana e o mecanismo ideal para conquista do samādhi perfeito: sam do grego unir e do Adhi, do hebraico Adonai, quer dizer, União com Deus, a união dos opostos.7 Na magia sexual, o samādhi perfeito é a Criança Mágica, a União e quintessências de seus pais, representada pelo Deus que é consumido na eucaristia da Missa Gnóstica: Que esta oferenda seja carregada sobre as ondas do Aethyr para o nosso Senhor e Pai, o Sol, o qual viajou através dos Céus em seu nome ON.8 O Senhor e Pai é o Deus-Criança Hórus, macrocosmicamente simbolizado no Sol, o Ente Presença nos domínios de Nuit. ON é o nome do Sol. Uma palavra de trino significado. A letra O «Ayin-(» representa o princípio masculino universal na imagem do Pai ou Falo. A letra N «Nun-n» representa o princípio feminino universal na imagem da Mãe ou Kteis «vulva». ON, portanto, é a União e Quintessência de Pai e Mãe na forma do Filho. O totem de O «Ayin-(» é o Bode, símbolo da Vontade procriadora ou Falo ereto. Na instrução de Crowley: Agora, o Caminho de Ayn é um Elo entre Mercúrio e o Sol, e no Zodíaco corresponde ao Bode. Este Bode é também chamado Força, e está no Meridiano ao Nascer do Sol na Gênesis, 3:19. Gênesis, 3:16. 6 Gênesis, 3:23. 7 Veja Aleister Crowley, The Equinox, Vol. I, No. 4. 8 Aleister Crowley, Liber XV: A Missa Gnóstica. 4 5

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Primavera; e é de sua Natureza pular sobre as Montanhas. Portanto é ele um Símbolo de verdadeira Magia, e seu Nome é Baphomet, razão pela qual Eu o designei como um Atu de Thoth, o Décimo Quinto, e pus sua Imagem na Frente de Meu Livro O Ritual de Alta Magia, que foi a Segunda Parte de minha Tese para o grau de Adepto Maior, quando Eu estava vestido com o Corpo chamado Alphonse Louis Constant. Agora, o Bode não voa como a Águia; mas pondera isto também, que a verdadeira Natureza do Homem é viver sobre a Terra, de forma que os Voos dele são frequentemente apenas Fantasia; sim, a Águia também está presa ao seu Ninho, nem se alimenta de Ar. Portanto este Bode, dando cada um de seus Pulos com Fervor, entretanto sempre seguro em seu próprio Elemento, e um verdadeiro Hieróglifo do Magista. Nota também este Caminho mostra Um em Exaltação contínua sobre um Trono, e assim é a Fórmula do Homem, como o outro era da Mulher.9

N «Nun-n» é o Dragão, símbolo de Nuit que combina a serpente e a águia: Tripla é a Natureza do Amor: Águia, Serpente e Escorpião. E destes o Escorpião é aquele que, não tendo nenhum Leão de Luz e Coragem dentro de si, parece a si mesmo cercado por Fogo; e cravando seu Ferrão em si mesmo ele morre. Assim são os Irmãos Negros, que gritam: Eu sou Eu; aqueles que negam o Amor, restringindo-o à sua própria Natureza. Mas a Serpente é a Natureza Secreta do Homem, que é Vida e Morte, e trilha seu Caminho através das Gerações em Silêncio. E a Águia é aquela Pujança do Amor que é a Chave da Magia, levantando o Corpo e os Acessórios deste ao Alto Êxtase sobre suas Asas. É por Virtude desta que a Esfinge contempla o Sol sem piscar e confronta a Pirâmide sem Vergonha. Nosso Dragão, portanto combinando as Naturezas da Águia e da Serpente, é o nosso Amor, o Instrumento da nossa Vontade, por cuja Virtude nós executamos a Obra e Milagre da Substância Única, como diz teu Antepassado Hermes Trismegistus em sua Tábua de Esmeralda. E este Dragão é chamado o teu Silêncio, porque na Hora da Operação dele aquilo dentro de ti que diz «Eu» é abolido em sua Conjunção com o Bem Amado. Por esta Causa também é sua Letra Nun, que em nossa Rota é o Trunfo Morte; e Nun tem o Valor de Cinquenta, que é o Número dos Portais da Compreensão.10

N «Nun-n» é, dessa maneira, um símbolo do Útero Divino, o Cálice que recebe a Vontade do Falo-Ayin. Juntos: a Lança-Hadit-Vontade-Ayin-Falo e o Cálice-Nuit-Amor-Nun-Útero dão nascimento a uma Criança Mágica, ON «n(», o Sol-Hórus ou Heru-Ra-Ha, a quintessência – Dois-em-Um – do Pai e da Mãe ou como Hoor-paar-Kraat (Silêncio-0) e Ra-Hoor-Khuit (Força-2). É essa Potência Espiritual que é consumida na Eucaristia da Missa Gnóstica. ON soma 120, o valor da letra Samekh «kms», o Caminho na Árvore da Vida que conecta o Sol-Tiphereth e a Lua-Yesod, Pai e Mãe, Deus e Alma. Sobre esse mistério, Crowley diz: ON é o Arcano dos Arcanos e seu significado é ensinado gradualmente na O.T.O.11 Nesse momento na Missa Gnóstica, o Sacerdote assume o Sinal de Apófis e a Sacerdotisa o Sinal de Mulier que, Unidos, formam o Sagrado Hexagrama simbolizado pela Safira Estrela. Aleister Crowley, Liber Aleph. Aleister Crowley, Liber Aleph. 11 Aleister Crowley, Liber Samekh. 120 é um número mencionado no Ritual de Iniciação do Grau de Adepto Menor da falecida Ordem Hermética da Aurora Dourada, no momento da Abertura da Cripta dos Adeptos, a tumba de Christian Rosencreutz, símbolo do Sol no Velho Aeon. Durante a cerimônia, o Adepto Chefe pergunta: Adepto Menor Associado, quais são as palavras inscritas na Porta da Cripta e como ela é guardada? Ele responde: Post Centum Vigint Annos Patebo. Depois de 120 anos, eu me abrirei. Todo esse procedimento dava-se frente ao quadrante Leste. A Cripta é aberta e todos passam a análise da palavra-chave que identifica INRI-IAO-LVX quando o Adepto Chefe proclama: Pela Grande Palavra Yeheshua, pela Palavra-Chave INRI e pela Palavra Oculta LVX, eu abri a Cripta dos Adeptos. No simbolismo cristão do Velho Aeon, trata-se de uma referência a Jesus Cristo como Deus-Sol-Salvador da humanidade. No simbolismo do misticismo thelêmico, no entanto, figuras como Jesis Cristo, Osíris, Adonis etc. são manifestações do princípio fálico-solar que se manifesta como a consciência-continuum que todos nós somos. 9

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Na fórmula mágica do Tetragrammaton, ON refere-se as letras finais V «Vav-w» e H «Heh-h». O Tetragrammaton são as quatro letras sagradas que formam o Inefável Nome de Deus, YHVH «hwhy». Na Qabalah ele tem muitos significados importantes. Rapidamente, podemos enumerar: 1. A divisão quádrupla dos mundos da Qabalah como os Quatro Elementos: Yod-Fogo, Heh-Água, Vav-Ar e Heh-Terra, conectando nesse simbolismo as cartas de corte do Tarot e arcanos menores: Yod-Paus, Heh-Copas, Vav-Espadas e Heh-Discos. 2. Na Árvore da Vida: Yod-Chokmah, Heh-Binah, Vav-Tiphereth12 e Heh-Malkuth. 3. A ponta da letra Yod é dita residir em Kether, a fonte de tudo. Nesse sentido, YHVH corresponde a: i) A divisão quíntupla da alma. A ponta do Yod é Jechidah, Yod-Chiah, HehNeshamah, Vav-Ruach e Heh-Nephesh. ii) Yod-Pai, Heh-Mãe, Vav-Filho e Heh-Filha. 4. O processo de evolução do 0 em direção ao 2 e o processo de involução do 2 em direção ao 0. Como evolução, a ideia é que Yod, a força criativa paterna primordial, una-se a Heh, a força receptiva maternal primordial, dando nascimento ao seu FilhoCriança-Príncipe-Vav, bem como sua irmã gêmea, a Filha-Criança-Princesa-Heh. A metáfora por trás do quarto ponto é a seguinte: o Filho-Príncipe-Vav se une a Filha-Princesa-Heh, quando ele a redime lhe entronando no trono de sua Mãe-Rainha-Heh, que então desperta o Pai-Rei-Yod para que ele dissolva tudo na Coroa mais alta. O Príncipe-Filho é, portanto, um símbolo do Sagrado Anjo Guardião em Tipheret e a Princesa-Filha é um símbolo da alma natural ou o aspirante em Malkuth. Sua união é, dessa maneira, o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guardião. É o trampolim em Tipheret que catapulta a alma natural abaixo do Abismo para se tornar a alma pura acima dele. A entrada do Filho e da Filha no Útero da Mãe em Binah representa a iniciação do Mestre do Templo. A alma pura ou Mãe-Binah, se une ao Deus ou Pai-Chokmah na Coroa-Kether ou a Criança concebida como a quintessência de ambos que transcende qualquer dualidade. A magia sexual de Aleister Crowley exposta nesses escritos baseia-se amplamente nesta fórmula mágica que opera através do Culto Ofidiano ou da Serpente do Éden, Luz da Manhã ou Estrela de Prata, A∴A∴. A proposta nesse momento, portanto, é nos preparar para este Aeon de Hrumachis na entrada de Regulus no signo de Virgem em busca do samādhi supremo representado pela União dos Opostos, a Criança-Sol-ON.

No presente volume, nós temos os seguintes temas: O Último Oráculo Em seu ensaio, O Coração do Mestre, ao se referir ao Caminho de O Carro, Atu VII, Crowley diz: A questão do Abutre, Dois-em-Um, é o Carro do Poder. TRINC, o último oráculo. Para esclarecer essa passagem, considere o último oráculo ou parágrafo de Liber Aleph: Agora no Fim de tudo Eu chego ao Ser de Ti além do Vir-a-Ser e Eu grito Minha Palavra como foi dada ao Homem pelo teu Alcofribas Nasier, o Oráculo da Garrafa de BACBUC e esta Palavra é TRINC. Alcofribas Nasier é um anagrama para Francois Rebelais (1494-1553), o autor de Gargantua & Pantagruel. Trata-se da história de dois gigantes, Gargantua, o pai e Pantagruel, seu filho.

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Na esfera do Filho: Chesed, Geburah, Tiphereth, Netzah, Hod e Yesod. 7

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Crowley se referia ao mistério da Palavra conectado ao Grau de Magus, atribuído a Chokmah. No Capítulo 81 de suas Confissões, Crowley revela: O Magus é então, claro, não uma pessoa no sentido ordinário da palavra; ele representa certa natureza ou ideia. De outra maneira, podemos dizer, o Magus é a Palavra; ele é o Logos do Aeon. Nessa passagem Crowley faz a seguinte nota: Rebelais: o segredo final está inscrito na garaffa, TRINC. Na obra de Rebelais, Gargantua construiu a Abadia de Thelema, cujos membros zombavam das regras monásticas rígidas estabelecidas pela igreja romana. Na abadia existia até uma piscina e sua divisa era Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei. O braço-direito de Pantagruel era Panurge, um nome derivado da raiz grega panourgos, que significa aquele que sabe faz de tudo. Como amigos, ambos empreenderam uma jornada espiritual para que Panurge pudesse consultar o oráculo da Garrafa Sagrada. Ele estava atormentado pela indecisão se deveria ou não se casar. Ele se apavorava com a ideia de ser traído pela esposa. Acima do portal do templo da Garrafa Sagrada havia a inscrição: In Vino Veritas, quer dizer, no vinho existe a verdade. A contraparte grega dessa frase em latim é , quer dizer, no vinho encontramos a verdade. Na busca por uma resposta, Panurge recebeu: TRINC. Para sua perpexidade, o oráculo disse que Trinc é uma palavra usada em várias nações e significa drinque. Muitos autores traduzem Trinc como a bebida do conhecimento, verdade e amor. Outros admitem a simples ideia de vinho, mulher e música. TRINC é o néctar da gnose que dissolve o ego e permite que o Adepto derrame até a última gora de seu sangue na Taça de Babalon. O texto discute segredos relevantes ao IX° O.T.O. O Entusiasmo Energizado de Frater Aster Euclydes Lacerda de Almeida foi uma das figuras mais notórias em Thelema no Brasil. Em um encontro na cidade do Rio de Janeiro no Equinócio de Primavera de 2009 e.v. nós discutimos muitos pontos relevantes aos Mistérios & Arcanos do Soberano Santuário da Gnose. Uma das pérolas que ele revelou naquele dia, foi a associação do sistema de magia sexual de Aleister Crowley, o IX° Grau precisamente, com a metáfora do relâmpago. Este texto trata deste assunto. A Magia Sexual de Aleister Crowley Muito tem se dito acerca da magia sexual de Aleister Crowley, mas pouco tem sido realmente compreendido. De tolices a devaneios sem saída, muito têm se escrito sobre este legado de Crowley. Verdadeiros labirintos de Choronzon como este: a magia sexual do XI° Grau é homossexual tem comprometido o entendimento correto dos Arcanos dessa Arte. Uma análise acurada da Missa Gnóstica de Crowley desmente frases como essas. Este texto conta a história de como tudo começou, a descoberta do segredo por engano e como Crowley passou a utilizar o sexo como ferramenta para produzir gnose. Teoremas da Magia Sexual A magia opera por e através do entendimento e a manipulação de certas leis universais, 49 ao todo. A magia sexual opera através das mesmas leis. Esse texto trata de algumas dessas leis na magia sexual e como elas operam. Goécia: Evocação Sexual A gnose ofidiana, quer dizer, o transe do orgasmo magicamente dirigido, tem se mostrado uma das melhores ferramentas na prática da Goécia. Quando se utiliza a energia sexual em conjunção com a magia goética, é possível arranjar um número distinto de possibilidades 8 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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para o trabalho mágico. Operando com o sistema monista ou dualista, executando magia ou psicurgia, sacerdote e sacerdotisa podem dar vida ou nutrir daimons e outras criaturas espirituais. Quando pretende-se executar uma operação mágica, dizemos que começamos de cima para baixo, que dizer, primeiro perguntamos: qual é a Entidade Absoluta que irá reger a operação? É a Mãe e a Multiplicidade das formas ou é o Pai e a Unidade de todas as coisas? Seja qual for a escolha, o círculo mágico, a constituição do templo e os rituais ali executados devem estar em acordo com o sistema que escolhemos. Levando em consideração a informação acima, como se aplicar isso ao sistema de magia sexual de Aleister Crowley? É muito simples! Quando elegemos trabalhar com a Multiplicidade de todas as coisas, Babalon é a virgo intacta, a Terra que Nutre a Palavra do Pai. No VIII° O.T.O., Babalon é entronada logo acima do Triângulo da Arte. O magista através da magia sexual monofocal do VIII° Grau, evoca o daimon projetando sua Palavra Mágica no orgasmo venenoso da serpente; na magia sexual polifocal do IX° Grau, a sacerdotisa é trazida para dentro do círculo, quando se transforma no próprio Triângulo da Arte que irá nutrir a Palavra Mágica do magista no ato de sua evocação. Os kālas magnetizados dessa evocação sexual serão levados para o Triângulo da Arte fora do círculo, alimentando o daimon que ali deverá ser conjurado. Quando elegemos trabalhar com a Unidade de todas as coisas, a Criança Mágica ou o Baphomet hermafrodita produzido é a quintessência de ambos, sacerdote e sacerdotisa. Em operações dessa natureza, a corrente de energia é ascendente e ambos devem projetar no Triangulo da Arte a Criança que desejam evocar ali. Neste caso, existe um procedimento especial a ser feito no Triangulo da Arte. Ele deve conter além dos nomes mágicos de proteção, sigilos magneticamente carregados e uma assinatura mágica especial de cada um, sacerdote e sacerdotisa. Bom estudo! Amor é a lei, amor sob vontade. Frater ON120 6°=5⌷ A∴A∴ Imperator

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Saudações ao Sol entrando em Libra A Filha dos senhores da verdade Frater ON120 Fernando Liguori Care Frateres et Sorores, Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

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audações ao Sol entrando em Libra, A Filha dos Senhores da Verdade: O Controlador da Balança. O vigésimo segundo Caminho é a Inteligência Leal, assim chamada porque através dela as virtudes espirituais são aumentadas, e todos os habitantes da Terra estão praticamente sob a sua sombra. O Caminho de Lamed, O Ajustamento, está entre Tiphereth e Geburah. Lamed significa aguilhão, uma vara pontiaguda que estimula o boi a continuar andando. Esta atribuição indica o relacionamento especial desta letra com Aleph (boi) no Caminho de O Louco. A interação entre eles é excepcionalmente complexa, embora os princípios existenciais possam ser expressos com simplicidade: O Ajustamento conserva o equilíbrio da Árvore e, assim, a energia que flui d’O Louco (que às vezes tem sido chamado de Espírito Santo) irá operar dentro dos limites de um padrão natural. O Ajustamento administra as leis de Binah, escritas pelo Hierofante. Este é o Controlador da Balança. Este Caminho é chamado de Inteligência Leal porque suas virtudes espirituais são aumentadas, e todos os habitantes da Terra estão praticamente sob a sua sombra. Seu significado não pode ser interpretado como o de Inteligência da fé. Em vez disso, trata-se da Inteligência que é leal ao que é simbolizado pelo Louco. Sem Lamed, Aleph não poderia agir da forma como o faz. Além do mais, toda a Árvore da Vida está relacionada com o vigésimo segundo Caminho, cujo número é o total de todos os Caminhos. O Ajustamento não é uma figura ou força solitária, mas um amálgama de todos os Caminhos. O alinhamento de forças tem sido descrito como algo que está contido na força essencial da vida simbolizada pelo Louco. Este é um Caminho onde se faz tudo o que é necessário para levar o organismo a um estado de equilíbrio, um processo que, como o símbolo da espada sugere, nem sempre é agradável. Esta é a espada de Geburah, que extirpa tudo o que não é necessário. Trata-se de uma dura experiência, embora nenhum castigo esteja implícito. Não existe questionamento a respeito do bem ou do mal, do certo ou do errado. A alma avalia a si mesma com a mão esquerda e, em seguida, faz os ajustes necessários empunhando a espada com a direita. Pode-se observar

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que, quando as Sephiroth são colocadas no corpo humano, Geburah fica no lado direito e Chesed no esquerdo. A espada d’O Ajustamento, a arma de Elohim Gibor (Deus de Geburah), é terrível. Ela pode ser rápida e devastadora na remoção de tudo o que não é mais necessário. Ela pode fazer a guerra e impor a paz. Mas a espada tem dois gumes, um que destrói e outro que consagra, tal como acontece durante a outorga do Grau de Cavaleiro na O.T.O. A eliminação dos aspectos negativos do corpo e da alma é um retorno à pureza, uma consagração. Esta ideia de pureza renovada é reforçada pela função de Libra e dos rins, que removem as excretas do sistema orgânico. De conformidade com a ideia de encarnação e de reencarnação, diz-se que esta carta representa o karma, um princípio geralmente compreendido como a colheita, pela alma renascida, daquilo que foi semeado em vidas passadas. O termo frequentemente tem sido malempregado: karma na verdade significa ação. Isto é, karma nada mais é que uma lei de equilíbrio, de compensação, de contínuo ajustamento. É uma lei amorosa e não um castigo ou punição como tem sido leigamente conceituada. O Rito da verdade de lamed Estágio 1: Preparação Prepare sua câmara ritualística. Tire o Atu VIII, O Ajustamento, do maço de cartas e coloque-o de pé no altar. Estágio 2: Abertura da Kiblah De pé, frente ao Norte, assuma a forma divina de Hoor-paar-Kraat e execute o Sinal do Silêncio. Execute o Sinal de Puella e diga: menina, o dragão. Execute o Sinal de Puer e diga: menino, o leão. Execute o Sinal de Vir e diga: homem, o boi. Execute o Sinal de Mulier e diga: a mulher satisfeita. Execute o Sinal de Mater Triunphans e diga: a mãe triunfante. Execute o Sinal de Tifon e diga: Hórus salta três vezes armado do útero de sua mãe. Harpócrates, seu gêmeo está oculto dentro dele. Seth é a sua santa aliança, que ele revelará no grande dia de Maat. Execute o Sinal da Caveira de Ossos Cruzados e diga: Que os Mestres da Sagrada Egrégora de Thelema e da Grande Fraternidade Universal possam me assistir neste momento, me inspirar com sua sabedoria e me proteger com seu amor, para que com eles eu possa me harmonizar e receber orientações através de minha intuição. Execute o Sinal de Ísis a Mãe das Estrelas e diga: Ó, Grande Nuit! Senhora das Estrelas e do Espaço Infinito. Caminho eternamente sob e em teu corpo na travessia de meu deserto e no descanso de minha Alma. Neste momento, olho em tua direção e invoco Tua presença. AUMGN. Execute o Sinal da Torre de Seth e diga: Ó, Grande Hadit! Tu que és o Centro e o Coração do Sol. Tu que és todo o movimento, ardor e vida em meu corpo, pois tu és o adorador da mais alta Beleza da existência. Neste momento, olho em tua direção e invoco Tua presença. AUMGN. Execute o Sinal do Hórus Vingador e diga: Oh, Grande Hórus, místico Senhor da Cabeça de Falcão, do Silêncio e da Força, cuja nêmes cobre o céu azul noturno. Neste momento, olho em Tua direção e invoco Tua presença AUMGN. Bata no sino: 3-5-3 e proclame: Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei. Amor é a lei, amor sob vontade. A Palavra é Thelema. Estágio 3: Ritual do Pentagrama De frente ao Norte, realize o Ritual do Pentagrama (invocando). Estágio 4: Invocação 11 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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Com a Baqueta ou dedo polegar da mão direita (em figa), trace um círculo com diâmetro de seu braço, bem grande. No centro do círculo, trace o pentagrama de invocação do espírito e invoque: Lamed! Mayim! Daleth! A Filha dos Senhores da Verdade, Reguladora da Balança, àquela que Mede o Imensurável. Que a Verdade seja a Reguladora da Palavra e do Amor. Estágio 5: Jornada astral Sente-se em seu āsana, execute o Ritual do Yoga Tântrico Hermético e inicie prāṇāyāma (Pausa). Na tela negra na frente de seus olhos fechados, ainda executando prāṇāyāma, visualize a letra Lamed em flama e brilho, crescendo a cada espiração (pausa). Inicie a jornada astral: Visualize o Templo de Mistérios em Malkuth. No Norte desse Templo, duas colunas se erguem: na base da coluna direita veja o símbolo ; na base da coluna esquerda veja o símbolo  (pausa). Entre essas duas colunas, visualize o Atu VIII, O Ajustamento, como um portal (pausa). Na inspiração, eleve-se no corpo de luz através do Pilar do Meio. Na medida em que passa através da esfera de Levanah em Yesod e Shemesh em Tiphereth, vá adiante até atravessar o limiar prateado de Daath, parando entre Chokmah e Binah. Essa é a dimensão do ājñā-cakra (pausa). Execute o Sinal de Hórus (entrante) astralmente, projetando-se através do ājñā-cakra (pausa). Tendo atravessado esse limiar, você projetou-se para fora de sua estrutura física, para dentro do plano astral, Yetzirah, o macrocosmo. Esse é o momento para iniciar sua jornada com o corpo de luz. Projete-se para dentro do Portal da Verdade de Lamed. Abra os olhos e os ouvidos de seu corpo astral para que posas ver e escutar (pausa). Estágio 6: Encerramento Retraia a consciência no ājñā-cakra novamente, retornando através de Daath, Tiphereth e Yesod a Malkuth (pausa). Quando sentir seu corpo na esfera da sensação, abra os olhos, levante-se e execute o Ritual do Pentagrama (banindo). Anote tudo em seu diário mágico.

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O Último Oráculo Frater ON120 Fernando Liguori Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei. A Questão do Abutre, Dois-em-Um, comunicada; esta é a Carruagem do Poder. TRINC: o último oráculo.13

A

citação acima apareceu pela primeira vez em uma das pérolas de Aleister Crowley, O Coração do Mestre, na seção intitulada As Duas e Vinte Instruções Secretas do Mestre como uma referência ao Caminho do Atu VII, O Carro ou Santo Graal. Crowley esboçou o coração dessa doutrina em seu Liber Aleph, destacando a fórmula mágico-sexual envolvida na Palavra ON no nome SOL-OM-ON, Salomão. Filho de Davi, Salomão foi concebido através de um ato de adultério. Crowley ainda se empenhou em esboçar o segredo por trás da Palavra Mágica ABRA-HAD-ABRA, sagrada ao Atu VII. Nesta instrução, escrita como um comentário de O Livro da Lei na forma de uma carta enviada a seu filho mágico, Frater Achad, Crowley encerra com as palavras: Agora ao Final de tudo venho ao Ser de Ti, além do Por-vir, e brado alto minha Palavra, como se tivesse sido dada ao Homem por teu Tio Alcofribas Nasier, o oráculo da Garrafa de BACBUC. E esta Palavra é TRINC. Alcofribas Nasier trata-se de um anagrama para o renascentista francês, escritor e doutor, François Rabelais (1494-1553). Ele foi o autor de Gargantua e Pantagruel, uma história sobre dois gigantes, um pai chamado Gargantua e seu filho, Pantagruel. Por minha Palavra na citação de Crowley, entende-se emissão de um Magus da A∴A∴, cujo papel foi descrito na Instrução Sagrada, Libr B vel Magi. Um Magus opera na esfera de Chokmah «Sabedoria» na Árvore da Vida. Nos Mitos do Graal, essa Zona de Poder é atribuída a função da Lança Sagrada com a qual o centurião romano Cornélio usou para perfurar o pulmão de Jesus Cristo enquanto este estava na cruz. Dessa ferida, José de Arimatéia coletou sangue e fluídos no Cálice que Jesus Cristo havia usado na Última Ceia. De acordo com o Novo Testamento, o centurião romano que perfurou Jesus Cristo, após ser imantado com o sangue e fluídos que jorravam da ferida, foi o primeiro pagão convertido ao Cristianismo. Nos Mitos do Graal, essa Lança Sagrada empunhada por Cornélio se encontra nas posses do Rei Amfortas. Ela se tornou o símbolo da Verdadeira Vontade em Chokmah, representando o Falo «Lança» ereto do Cavaleiro do Santo Graal. Por outro lado, quando a Lança é roubada pelo perverso Klingsor para ser utilizada a seu bel prazer e ânsias no Castelo da Perdição em Malkuth, seu simbolismo é corrompido, passando a representar o pênis jambrado após ter feito mal-uso da Palavra Sagrada. Tanto o Rei Amfortas como o perverso Kingsor, originalmente, encontravam-se no Palácio da Sabedoria em Chokmah. Um permaneceu lá, ancorado nas asas da Sabedoria. O outro caiu inevitavelmente sob o cativeiro das correntes da Tolice. Na fórmula mágica do Tetragrammaton (Yod-Heh-Vav-Heh), Chokmah representa o Pai (Yod). Essa fórmula trata da União Mística do Pai com a Mãe (Heh), representada por Binah. Sua União Mística produz uma Criança Mágica que é a quintessência da Mãe e do Pai, 13

Aleister Crowley, O Coração do Mestre. 13

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o Filho (Vav), que desce abaixo do Abismo como a Estrela representada pela esfera de Tiphereth. No entanto, tudo o que se manifesta abaixo do Abismo tem a característica típica da dualidade. Isso significa que além do Filho, deve haver seu oposto ou gêmeo, a Filha (Heh), nascida no mesmo momento do Filho. Ela reside, no entanto, na esfera de Malkuth. Todo o sistema de magia sexual de Aleister Crowley é baseado nessa fórmula mágica. De acordo com seus ensinamentos, é seguro dizer que a manifestação física da Filha no mundo – não necessariamente fisicamente encarnada – é um efeito colateral ou veículo tipicamente identificado como sêmen. No entanto, uma vez abaixo do Abismo, ele traz consigo as características da dualidade. Em si o sêmen contém os potenciais do Filho e da Filha. Mas da mesma maneira que ocorre uma União Mística que dá nascimento ao Filho e a Filha, deve também haver uma União Mística entre o Filho e a Filha. Isso significa que deve existir um terceiro elemento ou qualidade que propicia a união do Filho e da Filha, transformando o veículo ou sêmen na Hóstia Santa ou Sagrado Elixir. A doutrina cristã da Trindade transmite fragmentadamente esse arcano místico quando define que Deus são três entidades distintas que se manifestam em Uma. Em suas Confissões Crowley menciona novamente a Palavra quando ele escreve: O Magus é, claro, não uma pessoa no sentido ordinário; ele representa certa natureza ou ideia. Para colocar de outra maneira, podemos dizer, o Magus é a Palavra. Ele é o Logos do Aeon.14 No fim da frase encontramos uma referência a uma nota de rodapé que clarifica a ideia: Rabelais; o segredo está no rótulo da garrafa: TRINC. A Palavra que Crowley proferiu como Magus é Thelema «» que, no seu idioma característico, o grego, é muito similar àquela proferida por Rabelais. Na história de Gargantua e seu filho Pantagruel, existe a Abadia de Thelema. Ela foi construída por Gargantua como uma paródia a instituições monásticas. Na abadia não somente existia uma piscina para banhos, havia também serviço de limpeza e apenas uma regra: Fay ce que vouldras, quer dizer, Faz o que tu queres. Nessa abadia, uma placa de bronze contendo os seguintes dizeres declarava: Todo homem terá o que lhe é devido pelo destino. Essa é a barganha. Quão louvável é àquele que tem perseverado até o fim. Seguindo a história, Pantagruel, filho de Gargantua, têm um amigo e sócio conhecido como Panurge. Seu nome é derivado de um antigo termo grego, panoûrgos, que significa àquele que sabe tudo faz. Ambos empreenderam uma jornada para que Panurge pudesse se consultar com o Oráculo da Garrafa Sagrada. Panurge se encontrava confuso e preocupado acerca de seu casamento. Na verdade, ele não sabia se iria se casar e caso chegasse a firmar este compromisso, se seria traído. Quando eles finalmente chegaram as portas da Ordem da Garrafa Sagrada, se depararam com a inscrição: In Vino Veritas, frase latina que significa no vinho reside a verdade. A tradução grega para essa frase,   , significa no vinho encontramos a verdade, a deusa Aletheia. A deusa egípcia da Verdade é Maat, retratada na forma de um abutre. Tendo sido devidamente admitido e passado através dos portais da iniciação, Panurge finalmente pode consultar o Oráculo acerca de seu Casamento Místico. A resposta que ele recebeu foi essa: TRINC. Para a perplexidade de Panurge, o Oráculo da Garrafa Sagrada explicou-lhe que Trinc é uma palavra panofeana, quer dizer, uma palavra compreendida, celebrada e usada por todas as nações e significa Bebida. Muitos eruditos acadêmicos têm concordado que a palavra TRINC significa beber o conhecimento, verdade e amor. Outros têm sustentado que a palavra simplesmente significa vinho, mulher e música. Aleister Crowley nos forneceu insights profundos acerca da natureza da palavra TRINC em relação a palavra ABRAHADABRA em Liber Aleph. Ele atribui a palavra de quatro letras, ABRA ou o Dois-em-Um mencionado em O Coração do Mestre ao Sol e a Mercúrio. Para compreendermos as conexões que Crowley está estabelecendo, lembramos que em O Livro 14

Aleister Crowley, The Confessions of Aleister Crowley, Cap. 81. 14

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de Thoth ele escreveu: Brevemente, ele é o Filho, a manifestação em ato da ideia do Pai. Este é o segredo por trás do Mistério ou a Fórmula Mágica do Falo em Chokmah e que desempenha papel fundamental no Ritual de Iniciação do Grau de Minerval na Ordo Templi Orientis, O.T.O., cuja Tenda representa o Falo. A Palavra emitida pelo Saladino não é ON? Ainda em Liber Aleph Crowley postula que HAD é o Triângulo ereto sobre Quadrados. Essa é a parte central da fórmula mágica ABRAHADABRA. Tendo ela três letras (triângulo) que representam o Êxtase Metafísico e o Espírito Santo, cujo nome é HRILIU. Crowley o atribui, portanto, a Vênus. Estes três aspectos, dessa maneira, tratam da metáfora Pai-Gargantua, Filho-Pantagruel e Espírito Santo-Panurge. Isso implica que se você compreende o segredo por trás do Pai e Filho ensinado a Panurge na forma da Palavra TRINC, perceberá que àquele que sabe tudo faz. Posteriormente, Crowley se refere a esses três aspectos de ABRAHADABRA como as letras R, B e D, quer dizer, Resh, a letra hebraica que rege o Atu XIX, O Sol, cujo representante planetário é o Sol, a Semente do Pai. Beth, a letra hebraica que rege o Atu I, O Mago, cujo representante planetário é Mercúrio, o Falo do Sol. Daleth, a letra hebraica que rege o Atu III, A Imperatriz, cujo representante planetário é Vênus, o êxtase. Em Entusiasmo Energizado15 Crowley menciona: Estes três Deuses são Dionísio, Apolo, Afrodite. Em bom português: vinho, música e mulher. R D B

Música Mulher Vinho

Sol Vênus Mercúrio

Apolo Afrodite Dionísio

Instrumento Êxtase Substância

ABRA HAD ABRA

Resh-Beth-Daleth juntas, em hebraico, formam a Palavra, não a palavra no sentido ordinário, antes disso, trata-se da Palavra Sagrada (Nous) feita carne e apenas Compreendida em sua totalidade por um Magus (Chokmah). O que Crowley está nos ensinando com todas essas pistas deixadas em seus escritos é o empunhar bem-sucedido da Baqueta Mágica, o Falo e como transformar o sêmen em um Elixir Sagrado poderoso. Nas antigas sociedades secretas do passado, quando um jovem pleiteava receber a Sabedoria dos Antigos, ele o fazia adorando o Falo Sagrado, praticando felatio com algum ancião para que pudesse receber a Palavra Sagrada antes de se tornar um adulto. Este costume ainda existe em muitas tribos aborígenes africanas. A Serpente na Árvore é uma metáfora para àquela voz oculta no pênis que tenta Eva no Jardim do Éden? No Gênesis (3:5-6), o pênis, quer dizer, a Serpente, sussurra: Deus sabe que, no dia em que dele comerem, seus olhos se abrirão, e vocês, como Deus, serão conhecedores do bem e do mal. E no próximo versículo: Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e o deu a seu marido, que comeu também. 15

Veja Rituais, Documentos & a Magia Sexual da O.T.O. (Vol. I). 15

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Enquanto Adão repousava, Eva se aproximou da Árvore do Conhecimento. Ela notou que a Serpente estava jambrada «», como se estivesse dormindo. Mas quando ela notou sua presença, a Serpente despertou «» conversou com ela, quer dizer, proferiu sua Palavra, o sêmen. E como é que Eva comeu esse fruto proibido? Com sua Boca (Peh). Este é o Segredo por trás da União Profana entre os Filhos dos Deuses com as Filhas dos Homens. Os Filhos dos Deuses são gigantes, como Gargantua e Pantagruel. E aconteceu que, como os homens começaram a multiplicar-se sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, Viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem; porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos.16

O número 120 é o valor da Palavra Sagrada ON. Também, é o segredo por trás da Palavra TRINC, que como a palavra sêmen ((dz) e ZRO, soma 277. Amor é a lei, amor sob vontade.

16

Gênesis, 6:1-3. 16

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O ENTUSIASMO ENERGIZADO DE FRATER ASTER Frater ON120 Fernando Liguori Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei. O segredo final da magia sexual encontra-se velado no símbolo do trovão. O símbolo do Trovão é como AHA! É uma introjeção, o orgasmo que ocorre no céu entre a Nuit celestial e o Hadit terrestre. Essa introjeção é típica do Caminho da Luxúria na Árvore da Vida. Esse não é o caminho do sexo? Preciso dizer mais?17

N

os últimos vinte anos eu venho empreendendo pesquisas no campo prático com a fórmula da magia sexual transmitida por uma Sociedade Oculta conhecida pelo nome de Ordo Templi Orientis, O.T.O. Através de um rico simbolismo contido nas alegorias de seus Rituais de Iniciação, a Ordem ensina o Adepto a apoderar-se do Fogo dos Deuses na intenção de se tornar um co-criador do universo. Essas alegorias ensinam o Candidato a compreender a natureza do poder por trás do Falo e a maneira correta de manipulá-lo. Por volta de 2008 eu escrevi um artigo para o site O.T.O. Phenomenon de Peter Koenig chamado Kenneth Grant & a Sociedade Novo Aeon ou a Influência Tifoniana na O.T.O. Brasileira.18 O artigo trata da influência dos escritos de Kenneth Grant (1924-2011) na Tradição Brasileira da O.T.O. (Parzival XI° - Aster IX°), fundada por Euclydes Lacerda,19 além de algumas experiências pessoais com ele e com Frater S.S., meu primeiro Superior na A∴A∴. Em 2009 Euclydes me telefonou perguntando se ele poderia utilizar esse texto que escrevi em uma de suas publicações. Embora nesse período nosso contato tivesse mais relação com a A∴A∴, eu posso dizer de maneira segura que o tema central de nossas conversas, estudos e projetos envolviam mais a fórmula mágica da O.T.O. do que qualquer outro assunto thelêmico. Como eu descrevi no primeiro volume do Rituais, Documentos & a Magia Sexual da O.T.O., nós empreendemos um grande projeto juntos na reformulação dos Rituais de Autoiniciação da Tradição Brasileira da O.T.O. a partir dos originais deixados por Crowley. Eu e Euclydes combinamos de nos encontrar no Equinócio de Primavera de 2009 e o que se segue foi o tema discutido por nós nesse encontro: a maneira correta de se produzir o entusiasmo energizado! Nossa jornada se inicia pela busca do entendimento do amor. O amor tem sido definido em nossa sociedade como um impulso poderoso ou forte desejo de uma pessoa em relação a Euclydes Lacerda (1936-2010) em instrução privada ao presente autor. Encontro na cidade do Rio de Janeiro, Equinócio de Primavera de 2009 e.v. 18 Veja o artigo na íntegra, revisado e ampliado, no livro Gnose Tifoniana (Vol. I). 19 Euclydes nunca foi considerado um Irmão da O.T.O. Embora ele tenha recebido o IX° de Motta e o VII°-IX° de Grant, nem Motta ou Grant possuíam direitos reais para tal empossamento de grau. Motta nunca foi iniciado na O.T.O., portanto, não possuía direitos ou quaisquer privilégios para iniciar alguém na Ordem. Grant, por outro lado, foi expulso por Karl Germer (1885-1962) ainda na década de 1950. Dessa maneira, Grant também já não mais possuía direitos ou privilégios para iniciar qualquer pessoa após sua expulsão. 17

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outra. No entanto, este impulso nada mais é do que uma necessidade animalesca inconsciente de procriação que tentamos justificar com romantismo. Infelizmente o termo amor tem sido muito mal compreendido e qualquer impulso em relação ao outro ou apego a qualquer coisa tem sido chamado de amor: eu te amo fulano; eu amo colecionar papel de carta; eu amo comer doce; eu amo fazer sexo etc. Nossa sociedade tem banalizado o termo amor, hoje usado nas trivialidades da vida de qualquer modo. No entanto, no caminho da magia sexual, o Adepto busca compreender a verdadeira natureza do amor, na intenção de entender seu funcionamento, formular seus teoremas e aplicar seus experimentos para encontrar validade em suas suposições. Esse entendimento lhe possibilitará utilizar a energia do amor para fins elevados. É possível, portanto, avaliar a natureza da energia do amor mais facilmente nos adolescentes. Os jovens são completamente direcionados por seus impulsos. Por serem novos e com nenhuma experiência acerca de leis mentais, eles têm menos material psíquico agregado por um lado e nenhuma proteção energética na sua estrutura etérica por outro. Quando o adolescente pensa em alguém que deseja, logo fica excitado, como que instantaneamente, quase que completamente inconsciente. Inflamado de tesão, ele projeta seus anseios na estrutura astral com muita facilidade, na intenção de realizar seus desejos. Disso, muita coisa pode ser especulada. No entanto, se a pessoa desejada não estiver receptiva, o impulso que lhe foi projetado perde-se completamente, como areia ao vento. Euclydes Lacerda me disse que em magia tudo é 50/50. 50% sendo o envio da força projetada e 50% o feedback ou retorno. Sob a luz deste conhecimento, se a pessoa desejada possui também as mesmas ânsias daquele que lhe deseja, então algo está os atraindo um para o outro. Mas o que é este algo? Veja, nossa sociedade moralista atua no nível de Yesod na Árvore da Vida, a região do plano astral e é onde, na fisiologia psíquica, reside o potencial conhecido como kuṇḍalinīśakti, a Serpente adormecida. No entanto, uma vez que estes impulsos estejam devidamente aflorados, a Serpente desperta de seu sono, tornando-se um impulso inconsciente em direção a matéria na intenção de se aterrar, de um jeito ou de outro. Por esse motivo, nossa sociedade é sexualmente orientada, uma vez que somos programados a interpretar a sexualidade de maneira equivocada. Nós aprendemos, desde muito jovens, a utilizar o termo amor como um sinônimo para nossas ânsias mais instintivas em relação ao sexo, criando a ilusão de que uma união saudável entre homens e mulheres somente pode ser estabelecida através do casamento. Pessoas animalescas, que não possuem qualquer conhecimento acerca de suas forças sexuais no plano de Yesod, costumam avaliar seu comportamento escravo apenas do ponto de vista de Malkuth. No entanto, o Adepto sabe que a ideias popular de amor que estamos observando aqui primeiro nasce na mente e que o corpo naturalmente segue seus ditames. Qualquer Adepto treinado em operações astrais ou lunares desenvolve qualidades refinadas que lhe capacitam a utilizar o sexo – ou a energia do amor – como uma ferramenta poderosa para aplicação de sua Vontade. Assim, como é possível utilizar o sexo como uma ferramenta mágica? Para responder essa pergunta, eu faço outra? Será possível dar nascimento a uma criança em um outro plano que não seja o físico? Se sim, quais as características de uma criança dessa natureza? Quando Euclydes Lacerda postulou essas indagações para mim na Primavera de 2009, ele utilizou a metáfora do relâmpago para clarear o assunto. Um relâmpago é uma descarga de energia elétrica produzido na natureza. Mas a eletricidade, da mesma maneira que o amor, não é fácil de ser definida. É possível avaliar a eletricidade apenas do ponto de vista da casualidade física onde C é a consequência da ação de A (+) sobre B (-). Metaforicamente, o relâmpago vem do céu, os reinos da deusa Nuit. Todo o poder vem dela e através de sua emissária, a Mulher Escarlate. O que o homem faz é conectar-se a ela – em seus 50% – elevando o Bastão de seu Relâmpago para receber sua energia. 18 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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Qualquer Cavaleiro, portanto, que busca uma relação/interação profana com as coxas da Kundry inevitavelmente irá falhar no empunhar bem-sucedido da Lança Sagrada. Isso ocorre porque ele não conhece a natureza do relâmpago e o principal, como canalizá-lo de maneira apropriada. Um relâmpago acontece somente quando existe uma tempestade. Essa tempestade é a agitação interna do corpo celestial de Nuit que acontece quando suas emoções e desejos – através de sua emissária, a Mulher Escarlate – por Hadit, o deus na Terra, se precipitam para baixo. Uma chuva fraca não é capaz de produzir relâmpagos, apenas tormentas furiosas manifestam esse poder. Dessa maneira, qualquer um é capaz de praticar sexo, mas são poucos os capazes de aumentar o nível da energia ao ponto dela se transformar em um entusiasmo energizado. Nesse caminho, horas e horas são necessárias para que uma tempestade tamanha seja produzida na intenção de se estabelecer o relâmpago. Crowley deixou instruções claras sobre a necessidade de se excitar a Mulher Escarlate ao ponto de produzir a Águia Euclydes Lacerda (Frater Aster). Branca, uma metáfora alquímica para o relâmpago que estamos tratando nessa epístola. Ainda, são necessárias duas polaridades carregadas de ar para criar eletricidade. Não apenas dela ou dela, mas de ambos (50/50). Os 50% do homem, portanto, consiste na elevação do Bastão do Relâmpago para receber o que ela tem a oferecer. Mas infelizmente, demasiadas vezes sob a Mulher Escarlate, nada acontece, nem relâmpago ou mesmo tempestade, mas tão somente um momento fugaz de tendências e impulsos mútuos de natureza animal inferior. O que a O.T.O. ensina ao Adepto, dessa maneira, é a manipulação do tubo ígneo de Prometeu. Como um relâmpago, ele carrega o fogo até a Terra. Ele deve, portanto, ser empunhado com coragem e determinação. Do contrário, se o fogo for perdido nesses momentos fugazes, ele irá consumir a si mesmo como um relâmpago que se perde na terra. Contenha! Contenha! Conserve o ânimo completamente em teu arrebatamento; não ceda à vertigem dos beijos eminentes! Firme! Levante a ti mesmo! Erga tua cabeça! Não respire tão profundamente - morra! Ah! Ah! O que sinto eu? Está a palavra exaurida?20 Ah! Ah! Morte! Morte! tu deverás desejar ardentemente pela morte. Morte está proibida, ó homem, para ti. O alcance da tua aspiração deverá ser a fortaleza da tua glória. Ele que vive por muito tempo & deseja muito a morte é sempre o Rei entre os Reis.21

A próxima lição que Euclydes Lacerda me deu sobre o relâmpago foi essa: ele nunca cai no mesmo lugar duas vezes! O que isso significa? Significa que uma vez que as partículas opostas de ar carregadas entram em choque, o relâmpago é produzido e atinge algum ponto na Terra e o local onde ele cai e a atmosfera ao seu redor se tornam neutralizados. Aquela expressão o ar aqui está carregado faz alusão a uma atmosfera densa onde nos sentimos obsidiados e oprimidos, semelhante a atmosfera de uma tempestade de relâmpagos onde o ar se torna eletricamente carregado. Esse processo ocorre quando duas pessoas se lançam ao 20 21

Liber AL, II:67-69. Liber AL, II: 73-74. 19

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coito. Seu encontro é como uma tempestade de relâmpagos. A única maneira de aliviar a pressão atmosférica é através da explosão total de energia que ocorre com o relâmpago que, no seu impacto, neutraliza toda atmosfera. No entanto, Euclydes me advertiu com as seguintes palavras: mas se lembre que no III° O.T.O. nos é ensinado que a Palavra do Grau não deve ser pronunciada. Essa é uma metáfora para que o Mestre Magista não permita que o Fogo de Prometeu escape pelo tubo, ou seja, que a descarga de energia seja perdida. Na magia sexual de Aleister Crowley, portanto, a ideia é manter o ar eletrificado, criando as condições para o entusiasmo energizado. Quando homem e mulher criam essa atmosfera magnetizada, o que eles fazem, em efeito, é criar um relâmpago. No entanto, ao invés de ser descarregado em um momento de prazer em algum ponto na Terra, eles o utilizam para produzir vida, como acontece na história de Frankenstein. A(+) + B(-) não produzem C, mas D(x), uma criação que não é facilmente definida, uma vez que é produzida internamente e não é descarregada na terra, o que produz um efeito perceptível imediato. Dessa maneira, que tipo de vida é criada nesse processo? Essa resposta, no entanto, é bem fácil: uma Criança Mágica que encarna a Verdadeira Vontade! As mulheres podem com muita facilidade produzir grande quantidade de Poder como em uma poderosa tempestade de relâmpagos, produzindo um orgasmo atrás do outro. O homem recebe esse poder de maneira inconsciente até que, de forma inconsequente, ele perde desgraçadamente o Fogo de Prometeu. Nesse caminho, se ele pronuncia a Palavra cedo demais, ela neutraliza a atmosfera da Terra (seu corpo) e o relâmpago perde seu poder. O segredo é, portanto, manter o tubo ígneo de Prometeu aceso o tempo todo e enquanto o relâmpago não for perdido em algum lugar da Terra, essa energia alimenta o gênio criativo. O flerte de amor tem sido considerado uma das maiores armas mágicas de um Adepto treinado, que dizer, a excitação do Falo a beira da explosão. É notado que a genialidade criativa de um Adepto é muito mais ativa quando ele vive períodos de êxtase sexual com uma parceira treinada na Obra. É bem conhecido o fato de que o fator em comum de muitos gênios, artistas, escritores, poetas etc. do passado e do presente é o impulso sexual que eles possuem. No entanto, quanto mais o homem consome seus pensamentos lascivos no ato sexual – e a menos que a mulher seja muito boa de cama – o tesão começa a diminuir e a atividade sexual torna-se cada vez mais esparsa no relacionamento. Caso ele tenha uma natureza bem libidinosa e sua mulher não mais satisfazes seus desejos e necessidades sexuais, suas ânsias o farão inconscientemente buscar alívio em outra mulher, se comportando como um viciado que não consegue se libertar das drogas. Conscientes ou não deste fato, é a necessidade ou anseio sexual que alimenta o gênio criativo, não o sexo em si mesmo. O que o Adepto faz é duplicar esse processo. A busca pelo Santo Graal é mais importante que o Graal em si. Esse é o segredo da busca pelo Santo Graal. Se o Cavaleiro perde o impulso que alimenta sua busca, o gênio criativo busca alimento em outras estradas, outras jornadas. No entanto, se o Adepto é capaz de manter aceso a chama pelo qual começou a empreender sua jornada pelo Santo Graal, que dizer, se ele mantem o tesão por sua Amada Eleita, o amor durará a eternidade e a energia produzida por ambas alimentará o gênio criativo. Amor é a lei, amor sob vontade.

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A Magia sexual de Aleister crowley Frater ON120 Fernando Liguori Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

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primeiro contato sistemático que Crowley teve com a magia sexual foi através da Ordo Templi Orientis, O.T.O., Ordem Templária fundada no início do Séc. XX que teve como pano de fundo a influência de diversas tradições como a magia greco-egípcia, os Mitos do Graal, a simbologia maçônica e a herança templária dos Cavaleiros do Templo.22 O segundo Líder da Ordem, Theodor Reuss (1855-1923), foi quem realmente levou a O.T.O. adiante após a morte de Carl Kellner (1851-1905). Reuss era um maçom ativo de alta patente, membro inclusive de muitas Lojas irregulares e ritos heterodoxos. A intenção por trás da fundação da O.T.O. era a criação de uma Academia Maçônica onde os mistérios de vários ritos maçônicos pudessem ser organizados em um sistema coeso de iniciação. De acordo com Reuss, os Mistérios da Maçonaria são meras alegorias do simbolismo sexual e ao que parece, a Ordem só divulgou sua verdadeira intenção no Manifesto de 1917: Que seja sabido que existe desconhecido ao grande público, uma Ordem muito antiga de sábios cujo objetivo é a melhoria e evolução espiritual da humanidade por meio da conquista do erro, auxiliando homens e mulheres em seus esforços para reconhecer a verdade. Esta Ordem já existia nos tempos mais remotos e há muito tem manifestado a sua atividade em segredo e abertamente no mundo com nomes diferentes e de várias formas: ela causou revoluções sociais e políticas e provou ser a rocha da salvação em tempos de perigo e infortúnio. A Ordem sempre empunhou a bandeira da liberdade contra a tirania em qualquer forma que esta aparecesse, seja clerical, despotismo político, social ou opressão de qualquer tipo. A esta «ordem secreta» toda pessoa sábia e espiritualmente iluminada pertence por direito de sua natureza: pois todas, mesmo não sendo pessoalmente conhecidas, são um na sua finalidade e objetivo e todas elas trabalham sob a orientação de uma luz da verdade. Nesta Sociedade Sagrada ninguém pode ser admitido por outro, a menos que tenha o poder de entrar por si mesmo em virtude de sua própria iluminação interior e nem pode alguém depois de ter entrado uma vez ser expulso, a menos que expulse a si mesmo, tornando-se infiel aos seus princípios, esquecendo novamente as verdades que aprendeu por experiência própria. Tudo isso é sabido pela pessoa iluminada. Mas é conhecido apenas por poucos que existe também uma organização externa, visível aos homens e mulheres que, tendo encontrado o caminho para o real autoconhecimento e viajado por areias escaldantes, estão dispostos a dar aos outros desejosos de entrar nesse caminho o benefício de sua experiência, atuando como guias espirituais para aqueles que estão dispostos a serem guiados. Enquanto inúmeras sociedades, associações, ordens, grupos etc. foram fundadas nos últimos trinta anos em todas as partes do mundo civilizado, todos seguindo alguma linha de estudo oculto, ainda há apenas uma antiga organização de místicos verdadeiros que mostram ao buscador a Estrada Real para descoberta dos Mistérios Perdidos da Antiguidade e o desvelamento da Única Verdade Hermética. 22

Veja Rituais, Documentos & a Magia Sexual da O.T.O., por Fernando Liguori. 21

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Essa organização é conhecida no presente como: Antiga Ordem dos Templários Orientais Ordo Templi Orientis Senão: Fraternidade Hermética da Luz

É uma Escola Moderna da Magia. E como as antigas escolas de magia, ela deriva seu conhecimento do Oriente. Este conhecimento nunca foi revelado ao profano, pois deu imenso poder para o bem ou o mal aos seus possuidores. Foi gravado em símbolos, parábolas e alegorias, exigindo uma chave para a sua interpretação. Os símbolos e glifos da Maçonaria foram originalmente derivados desse mistério mais antigo. Esses símbolos da antiga Maçonaria, dos Rosa-cruzes, a arte sacra dos antigos Chemi (egípcios), a corrente dourada de Homero etc. são diferentes aspectos de Aquele Grande Mistério. Todos eles requerem uma chave para revelar seu real significado subjacente.

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Existe, no entanto, apenas uma Chave Correta e ela deve ser utilizada da maneira correta. Essa chave pode ser colocada ao alcance de todos aqueles que estão preparados desinteressadamente para estudar e trabalhar por sua posse, se candidatando como membros da Ordem dos Templários Orientais «O.T.O.». A O.T.O., Ordo Templi Orientis, é um corpo de iniciados em cujas mãos está concentrado o segredo do conhecimento de todas as Ordens Orientais e de todos os graus maçônicos existentes. Seus chefes são iniciados no mais alto posto e reconhecidos como tal por todos capazes de tal reconhecimento em todos os países do mundo. A Ordem é internacional e tem conexões existentes em todos os países civilizados do mundo.

Theodor Reuss teve seu primeiro contato com Crowley em março de 1910. Isso ocorreu durante o processo em que seu antigo mentor na Ordem Hermética da Aurora Dourada, S.L. MacGregor Mathers (1854-1918), lhe acusava de divulgar publicamente os mistérios da Ordem no The Equinox, Vol. I, No. 3 (1910). Durante essa querela na justiça, tanto Crowley quanto Mathers gozaram de certa notoriedade na imprensa. Se aproveitando da oportunidade, na ocasião Mathers se declarou líder de todos os rosacruzes. Crowley se juntou a O.T.O. sendo reconhecido como um membro do VII° Grau devido a política da Ordem em reconhecer qualquer Maçom do Grau 33° – do Rito Escocês Antigo e Aceito23 – como membro do VII° Grau. Nesta ocasião, Crowley e Reuss discutiram inúmeros assuntos importantes, o que levou Crowley a declarar: Eu agora sou um tipo de inspetor geral de vários ritos, encarregado de uma missão secreta, elaborando relatórios sobre a possibilidade de reconstruir todo o Edifício, o que foi universalmente reconhecido por todos os membros mais inteligentes, sendo ameaçados do grave perigo.24 Em 1° de Junho de 1912 Crowley foi elevado ao Grau IX°, devidamente patenteado como Rex Summus Sanctissimus X° O.T.O. para Irlanda, Iona e todos os Bretãos que estão no Santuário da Gnose, Lugar-tenente Comandante da Sagrada Ordem do Templo, até os Muito Ilustres Senhores Cavaleiros Soberanos Grandes Inspetores Gerais do Antigo e Aceito Rito e do 95° do Rito Real de Memphis, Perfeitamente Iluminado do sublime IX° para operar uma Grande Loja Nacional para Inglaterra e Irlanda. Existem controvérsias acerca desta elevação de Crowley ao Grau mais alto da Ordem e elas envolvem um pequeno volume chamado O Livro das Mentiras. Em suas confissões, Crowley alega que após sua publicação em 1912, o O.H.O. me procurou. Até aquele momento eu não havia percebido que havia algo na O.T.O. além de um conveniente compendio acerca dos mistérios da Maçonaria. Ele disse que desde que eu estava familiarizado com o supremo segrado da Ordem, era permitido que eu participasse do IX°, na obrigação de dar conta dele. Eu protestei dizendo que não estava ciente de tal segredo. Ele então disse: «Mas você o publicou em letras bem claras». Eu disse que isso não era possível porque não conhecia o segredo. Ele então se virou e retirou de sua bolsa uma cópia de O Livro das Mentiras, mostrado-me a passagem onde publiquei o segredo. Na hora fui tomado por uma iluminação. Todo o simbolismo, não apenas da Maçonaria, mas de muitas outras tradições, ardeu diante de minha visão espiritual.25 Dessa repetida história popular nós podemos presumir – ou imaginar – que Theodor Reuss, furioso com Crowley, o procurou em seu apartamento em Londers e lhe acusou de revelar o Segredo do IX° O.T.O. Crowley, após reler a seção cujo segredo fora revelado, imediatamente experimentou uma epifania que como um relâmpago, iluminou sua mente e os Mistérios da Ordem se revelaram a ele: Eu tive uma súbita revelação dos Segredos Ocultos da Ordem naquele exato momento.26 Após conversarem por horas, Reuss nomeou Crowley

Crowley era Grau 33° desde 1900. Aleister Crowley, The Confessions of Aleister Crowley, Capítulo 72. 25 Aleister Crowley, The Confessions of Aleister Crowley, Capítulo 72. 26 Aleister Crowley, Rex de Arte Regia. 23 24

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como líder da O.T.O. para as Ilhas Britânicas e fez dele um IX° Grau. É sabido que este encontro ocorreu no início de 1912, mas o que é confuso nessa história é que a data da primeira edição de O Livro das Mentiras é de 1913. Para resolver essa questão, pesquisadores modernos admitem que a data no livro estava errada, justificando a história que Crowley relatou em suas Confissões. No entanto, para alguns pesquisadores mais perspicazes, essa justificativa de que a data na impressão do livro estava incorreta simplesmente não faz sentido algum. Crowley era metódico em suas publicações. Para ele, cada livro era um talismã mágico, confeccionado de acordo com as condições astrológicas que ele definia, principalmente os livros mais importantes. Portanto, é bem possível que Crowley tenha criado essa história como uma venda para o livro que de verdade ofendeu Reuss em 1912. Parece estranho que Crowley tenha mentido em suas confissões, no entanto, não é segredo algum que ele costumava inventar histórias em suas publicações e essa é só mais uma delas. Em outras palavras, embora esteja claro para alguns que Crowley tenha fabricado essa história para desorientar o não-iniciado, considera-se que ele deixou pistas acerca do verdadeiro livro publicado em 1912. Neste ano, Crowley fez oito publicações, entre elas livros e panfletos. De acordo com Susan Roberts em seu livro The Magician of Golden Dawn, Gerald Yorke lhe disse pessoalmente que o Segredo da Ordem foi publicado na edição de primavera do The Equinox (Vol. I, No. 7) de 1912, o que faz sentido. De acordo com Yorke, tratava-se de Liber Stellae Rubeae que, segundo o próprio Crowley é um ritual secreto, o coração de IAO-OAI.27 Os Adeptos familiarizados com os Mistérios do IX° Grau compreenderão essa Trindade Sagrada, bem como as implicações do elixir vermelho do Rubi Estrela como o mênstruo requerido para nutrir a transformação alquímica. Embora este liber revele o segredo, Euclydes Lacerda me disse que, segundo Marcelo Motta (1931-1987) – que recebera essa informação diretamente de Karl Germer – os segredos da Ordem estão espalhados em vários números do The Equinox. Outro exemplo é Liber B vel Magi. Germer revelou a Motta pessoalmente que a história acerca de O Livro das Mentiras é falsa. Em suas Confissões, Crowley menciona que a primavera de 1912 chegou enquanto eu vivia entre Londres e Paris. Eu escrevi alguns poemas de primeira mão e um ensaio mais ou menos importante, o Entusiasmo Energizado.28 Embora esse ensaio tivesse sido escrito nessa época, ele não apareceu na edição de primavera do The Equinox. E embora tenha sido considerado pelo autor como mais ou menos importante, ele revela o Segredo do IX° Grau. Eu o tenho em alta medida. Em dezembro de 1912 Crowley produziu a instrução mais importante do IX° O.T.O., o Liber C vel Agape sendo Azoth Sal Philosophorum – O Livro da Revelação do Santo Graal onde se fala do Vinho do Sabbath dos Adeptos sendo a Instrução Secreta do Nono Grau. Essa instrução e os detalhes dessa história foram publicados em Rituais, Documentos & a Magia Sexual da O.T.O. De acordo com Crowley, as técnicas sexuais da O.T.O. a ele ensinadas por Reuss eram bem rudimentares, além de não terem sido verdadeiramente praticadas por ele. Mesmo assim, uma vez iniciado nos mistérios sexuais da O.T.O., Crowley começou a explorar o universo da magia sexual, aplicando-a de maneira científica, segundo seus próprios princípios. Em 1914 Crowley fez a seguinte declaração acerca da magia sexual em seu diário mágico, Rex De Arte Regia: Essa Arte me foi comunicada [1912] pelo O.H.O. [Cabeça Externa da Ordem]. Eu fui inconstante em sua prática até [1 de janeiro de 1914] quando eu comecei a fazer alguns experimentos e coletar dados. O Conhecimento que obtive me capacitou a fazer pesquisas mais profundas com perspicácia e direção, até que pude definir certos resultados os quais obtive por meio da vontade. Por exemplo, minha bronquite, intratável até o momento, foi curada em um dia. Eu obtive dinheiro quando precisei. Adquiri uma potência e atração sexual tão poderosas 27 28

Aleister Crowley, Os Livros Sagrados de Thelema. Aleister Crowley, The Confessions of Aleister Crowley, Capítulo 72. 24

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que durante meses me mantive persistente nos experimentos da Arte. Melhor que tudo, eu tive um aumento em poder criativo e intuição mágica que muito da Grande Obra executada por mim durante todo esse verão pode ser atribuída inteiramente a essa Arte.29 Daquele ano em diante, Crowley empreendeu muitos experimentos com a magia sexual, anotando tudo em seus diários, publicados e não publicados. Trata-se de uma documentação detalhada de suas operações mágicas, destacando a aptidão dos parceiros, a qualidade do Elixir (sêmen ou fluídos sexuais misturados) e os resultados, satisfatórios ou não. A ideia de se utilizar o sexo como um mecanismo de caráter religioso em rituais de magia ajustava-se perfeitamente aos princípios filosóficos e religiosos da doutrina thelêmica promulgada através de O Livro da Lei. Para Crowley, na verdade, foi o casamento perfeito. Ao que parece, Reuss recebeu bem a mensagem transmitida através de O Livro da Lei e a seu pedido Crowley começou a revisar e reescrever os rituais da Ordem no período em que esteve nos EUA durante a Primeira Guerra. Essa foi uma ótima oportunidade onde Crowley começou a inserir elementos da doutrina thelêmica na estrutura da O.T.O. Inicialmente, a magia sexual na O.T.O. estava restrita aos Graus VIII° e IX°. No VIII° Grau, o Perfeito Pontífice dos Iluminati era instruído em uma prática fálica de magia autoerótica. No IX° Grau, o Iniciado no Soberano Santuário da Gnose era ensinado uma técnica sexual que envolve a cópula, necessitando portanto de uma sacerdotisa no rito. Em adição, Crowley criou um novo Grau para Ordem, o XI°, onde ele incluiu o intercurso anal nas operações de magia. Existe uma lenda urbana de que o XI° O.T.O. trata-se da magia homossexual, quer dizer, magia sexual entre parceiros do mesmo sexo). Mas isso é um equívoco. Uma análise acurada dos diários de Crowley revelam que ele utilizava as técnicas do XI° Grau tanto com homens quanto com mulheres. Portanto, o mistério que envolvia a mística do XI° na concepção de Crowley era o intercurso anal, não a magia homossexual. Para Crowley a atividade sexual corriqueira não tinha finalidade alguma. No seu sistema de magia sexual a energia é sublimada até o ponto de poder carregar as imagens criadas pelo magista. Esse tipo de prática foi desenvolvida por Crowley a partir dos escombros da antiga Ordem Hermética da Aurora Dourada, precisamente, suas instruções acerca de magia talismânica. Analisando os diários de Crowley e o curso de suas operações mágicas, fica fácil discernir seus métodos na maioria dos rituais. De modo geral, o magiasta deveria se concentrar em um objeto, como a inspiração para escrever um poema, por exemplo, criando a partir daí com sua vontade um construto mental que deveria ser estimulado através da corrente ofidiana, quer dizer, o estímulo sexual. Crowley costumava visualizar uma chuva dourada de prāṇa na forma de gotas de ouro caindo sobre ele no momento do orgasmo magicamente dirigido quando a finalidade era prosperidade financeira. No entanto, o estado de mente do magista deveria ser carregado ou energizado através do estímulo da energia sexual.30 Crowley utilizava o sexo como uma ferramenta de gnose e não existe nenhuma mais poderosa. Utilizando o estímulo sexual e a quimiognose nas operações de magia Crowley era capaz de transcender o estado limitado da mente ordinária e projetar-se além do tempo e espaço no eterno continnuum, inacessível ao não-iniciado em condições normais. Em seus diários, Crowley escreveu: A união da mente consciente, quando essa estiver estável, com o subconsciente, é evidentemente necessário a qualquer Operação na qual o Resultado tenha de ser formulado antecipadamente.31 A união da mente consciente com a mente subconsciente parece ser o aspecto central do sistema de magia sexual elaborado por Crowley. É interessante notar que Crowley muitas vezes identificou o subconsciente com o Sagrado Anjo Guardião. Uma característica interessante na magia sexual ensinada na O.T.O. é o caráter sacramental do Elixir. Na magia Aleister Crowley, The Magical Record of the Beast 666, ed. John Symonds e Kenneth Grant, 1972. Veja Entusiasmo Energizado por Aleister Crowley em Rituais, Documentos & a Magia Sexual da O.T.O. (Vol. I). 31 Aleister Crowley, The Magical Record of the Beast 666, ed. John Symonds e Kenneth Grant, 1972. 29 30

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do IX° O.T.O. o Elixir trata-se da mistura dos fluídos sexuais masculino e feminino, coletados diretamente da kteis (vagina), seja com a boca32 ou em um recipiente adequado. O Elixir pode ser utilizado para consagrar objetos mágicos como talismãs, empoderando-os com a força canalizada durante o orgasmo magicamente dirigido. Amor é a lei, amor sob vontade.

No sistema de magia sexual desenvolvido por Kenneth Grant para sua própria versão da O.T.O., hoje Ordem Tifoniana, essa foi uma técnica designada ao VIII° Grau como a Magia da Boca ou Boca da Yoginī, cuja fórmula mágica é representada pela letra Pe (p). Veja Gnose Tifoniana (Vol. I), p. 92. 32

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Teoremas da magia sexual Frater ON120 Fernando Liguori Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei. A magia sexual se baseia na assunção de que nenhuma causa pode ser impedida de seu efeito. Se o efeito natural for anulado, a descarga de energia não e perdida, ela forma uma imagem astral sutil da ideia dominante na mente no clímax do coito. Ordinariamente esta ideia é de luxuria e por isso uma tendência ou habito se fixa na mente, que consequentemente se torna cada vez mais difícil de controlar. Esta tendência deve ser, portanto, destruída. A exaltação mental gerada por um orgasmo magicamente controlado forma uma janela luminosa como uma lente no passado que jorra a vívida imagem astral da mente subconsciente. Imagens especificas são evocadas e fixadas; elas se tornam instantaneamente e vitalmente vivas. Como sua presença luminosa e obsessiva, guardiães mágicos são essenciais para compensar a obsessão atual. Estas imagens são ligações dinâmicas com os centros mais profundos da consciência e atuam como chaves para a experiência ou revelações que formam o objeto da Operação. Encarnar tais experiências e o objeto da magia sexual. E necessário, portanto, formular à vontade com muito cuidado e com estrita economia de meios. Não deve haver nada na mente no momento do orgasmo exceto a imagem da criança que se pretende trazer ao nascimento.33

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Loja Shaitan-Aiwaz, fundamentada no sistema de magia sexual proposto por Kenneth Grant34 (1924-2011) foi um terreno fértil para exploração de métodos e sistemas como o a feitiçaria sexual do Culto Zos Kia, incursões astrais nos Reinos das Qliphoth através de transes e êxtases sexuais, magia sexual onírica etc. De 2003 a 2007 a Loja foi o centro de uma série de rituais e cerimônias mágicas cuja fórmula central era a magia sexual. Muitos membros e convidados passaram pela Loja, uns de maneira harmônica, outros como um tufão avassalador e alguns apenas de passeio. Mas todos, de alguma maneira, contribuíram para nosso conhecimento e experiência. Cada participante das operações era requisitado um relatório contendo detalhes de sua experiência, que deveria ser produzido logo após o encerramento das operações. Isso enriqueceu os arquivos da Loja Shaitan-Aiwaz e o resultado tem se mostrado uma pérola sob a luz de novos entendimentos. Experiências, canalizações, feitiços, conjurações, exorcismos, poesias etc. Material para anos de estudo e avaliações. O documento mais importante é, nós assim pensamos, O Livro dos Feitiços, um grimório contendo instruções acerca da prática da magia sexual e a aplicação de certas leis e princípios através dos quais ela opera. Como eu mencionei em meus volumes do Curso de Filosofia Oculta, a magia opera através de leis. Levando em consideração essas leis, cada magista tem a seu dispor recursos que lhe possibilitam causar mudanças em sua realidade objetiva que estejam em acordo com Kenneth Grant, O Renascer da Magia. Eu tenho colocado muita ênfase na diferença dos métodos de trabalho e interpretação da magia sexual por Aleister Crowley e Kenneth Grant. Enquanto Crowley se preocupou com a fórmula mágica do Falo, Kenneth Grant preferiu dar mais atenção a fórmula mágica da Kteis «vulva». Na minha experiência, ambas são necessárias e essenciais. Quando executadas em uníssono, resultados enriquecedores podem ser alcançados. Veja os artigos, A Magia Sexual de Aleister Crowley, publicado nessa edição do Corrente 93 e o artigo A Magia Sexual de Kenneth Grant, em breve publicada na próxima edição. 33 34

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sua Verdadeira Vontade. A magia sexual age por e através dessas mesmas leis. Eu indico ao leitor esses volumes do Curso de Filosofia Oculta para uma apreciação dessas leis e um comentário sobre suas aplicações. Nesta epístola, vamos explorar algumas outras leis ou princípios que têm relação direta com a aplicação bem-sucedida da magia sexual. Existem cinco teoremas da magia fundamentais não somente a compreensão da prática da magia sexual, mas principalmente, aos resultados que se espera obter através desta técnica. Eles são: 1. 2. 3. 4. 5.

Toda e qualquer interação sexual produz uma criança mágica. A imagem (pensamento) na mente no ato do orgasmo é o gatilho mágico. O orgasmo precisa ser dirigido. Existe poder na ejaculação. O êxtase sexual produz efeitos taumatúrgicos poderosos.

Existem requerimentos distintos e peculiares para se praticar magia sexual. Por exemplo, ao nos basearmos no teorema de que a imagem (pensamento) na mente no ato do orgasmo é o gatilho mágico, certo nível de controle mental deve ser adquirido. Uma vez que a atividade sexual aumenta o nível do prāṇa no organismo, fato que opera uma alquimia interior de transformação, é importante saber manejar e manipular essa alta quantidade e qualidade de prāṇa para o objetivo da operação. Isso requer um treinamento profundo para aprender a dar direção as distintas manifestações do prāṇa no corpo e isso envolve posturas, movimentos, respirações etc. Passamos a uma breve introdução acerca de cada um dos teoremas acima. Toda e qualquer interação sexual produz uma criança mágica. Este teorema, por si mesmo, ensina que a magia sexual deve ser executada e requer a união sexual entre um homem e uma mulher. Somente a união heterossexual pode produzir uma criança. Não importa quais condições sejam, uma união sexual dessa natureza sempre produzirá uma criança mágica. Este termo, criança mágica, refere-se a o efeito ou resultado da prática no plano astral. Um dos teoremas da magia é: a criação nos planos espirituais leva a criação no plano físico, quer dizer, tudo o que for projetado na luz astral eventualmente se manifestará no plano dos discos. A imagem (pensamento) na mente no ato do orgasmo é o gatilho mágico. No entanto, a criança mágica terá a mesma qualidade do pensamento ou ideia que se encontrava na mente daquele que lhe deu nascimento. Dessa maneira, se no momento do orgasmo a mente se encontrava libidinosa e apaixonada, criminosa, descontrolada ou caótica, o resultado será uma entidade qliphótica apta a vampirizar a estrutura sutil de quem a criou ou projetou. Uma vez que inevitavelmente todo intercurso sexual irá produzir uma criança mágica, o magista deve procurar ter uma abordagem iniciática em relação ao coito sexual e aprender a controlar e a dirigir a mente na hora do orgasmo. Segundo a cultura tântrica indiana, o sêmen é a mente em movimento. Uma vez que o sêmen é a mente em movimento, o magista deve aprender a projetá-lo através do Falo. Esse é o manejo bem-sucedido da Baqueta Mágica. No sistema de magia sexual de Aleister Crowley, transmitido através da O.T.O., este treinamento se inicia no VII° Grau, quando o Magus da Luz entende o mistério da castidade que o leva ao empunhar a Lança Sagrada através da Vontade e do pensamento dirigido. Dentro deste teorema, podemos destacar um corolário: quanto mais você dá, mais vai receber. Isso significa que a qualidade da criança mágica também depende do montante de 28 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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energia mental e prânica deslocada para dar-lhe nascimento. No artigo O Entusiasmo Energizado de Frater Aster você aprendeu que somente uma tormenta forte é capaz de produzir uma tempestade de relâmpagos. Quer dizer, uma vez que o coito sexual inevitavelmente eleva o nível de energia mental e prânica, quanto mais excitados estiverem os parceiros, mais força e potência terá o resultado. O orgasmo precisa ser dirigido. Existem níveis distintos de orgasmo. A magia sexual requer um tipo distinto e bem refinado de orgasmo, muito difícil de ser produzido por conta da inaptidão em alcança-lo, o que envolve não somente a capacidade de dar direção a ideia ou pensamento no momento do orgasmo, mas também o nível de toxidade no corpo e na mente. Este orgasmo de natureza mais refinada é considerado de tipo superior e muito potente, responsável por levar o Adepto a um nível de êxtase no qual sua Vontade é projetada na luz astral com uma força poderosa. No entanto, a conquista deste nível de êxtase através do orgasmo tem mais a ver com a capacidade de entrega e de busca pelo prazer físico do que qualquer construção mental sobre o tema. Existe poder na ejaculação. Como mencionei acima, sêmen é a mente em movimento. Uma vez que o objetivo da operação ou a imagem da criança que se queira dar nascimento esteja firme na mente, o sêmen torna-se um talismã poderoso de aplicação universal. Magistas modernos o utilizam de inúmeras maneiras. Três são destacadas: 1. O talismã, sozinho ou misturado com óleos aromáticos para aumentas sua potência, pode ser utilizado para ungir e carregar magicamente um amuleto, arma mágica ou qualquer aparato mágico-cerimonial. 2. O talismã pode ser utilizado para pintar símbolos no corpo do magista e da sacerdotisa. A função é carrega-los magicamente com as vibrações do símbolo energizado pelo talismã. 3. O talismã pode ser engolido, internalizando fisicamente o resultado da operação. Ele também pode ser absorvido pela pele ou através da mucosa da vagina e glande do pênis. Quando colocado debaixo da língua, o talismã será absorvido rapidamente pela mucosa da boca. Magistas inclinados a prática do haṭha-yoga podem tentar desenvolver a vajrolī-mudrā. Nas escrituras medievais do yoga, a vajrolī-mudrā tratase da reabsorção do sêmen através da uretra na intenção de reabsorvê-lo. No haṭhayoga moderno a vajrolī-mudrā é executada de maneira distinta, apenas contraindo a uretra que, em combinação com um procedimento tântrico de visualização conhecido como urdhvareta, destina-se a inverter o fluxo seminal em direção aos cakras superiores. Na O.T.O. este é um trabalho conectando aos Mistérios do XI°. Muitas são as maneiras possíveis para aplicar o talismã. Pode-se unir vinho na consagração ou até mesmo água, o que evita a corrosão dos elementos, anulando o poder do talismã.

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O êxtase sexual produz efeitos taumatúrgicos poderosos. De acordo com a doutrina tântrica qabalística, o homem encarna o mistério da sabedoria e a mulher o mistério do entendimento. Sua união no coito sexual, portanto, encerra o mistério do conhecimento. Na Árvore da Vida, a Sabedoria é um atributo de Chokmah no topo do Pilar Direto. O Entendimento, no entanto, é atribuído a Binah, no topo do Pilar Esquerdo. Os qabalistas criaram no conjunto das dez sephiroth mais uma, o um além do dez conhecida como Daath, o Conhecimento. Estes qabalistas sexuais do passado compreendiam que na união sexual reside o mistério da elevação do homem aos planos sutis da existência. Mas será que através da união sexual é possível alcançar o reino da não-dualidade pura representada por Kether? Eles dizem que sim! Executada de maneira apropriada, a união sexual cria um eidolon de êxtase que arrebata os participantes a um estado de Gnose ou jñāna, quer dizer, Conhecimento, representado pela sephira Daath que se abre como um Portal para experiência mística de Kether. Quando o magista cliva sua sacerdotisa com santidade, a divina presença se manifesta. No mistério da união entre o homem e a mulher reside o Conhecimento de Deus. Essas palavras me foram ditas por Euclydes Lacerda quando dissertava acerca da magia sexual entre os primeiros hebreus. Em seu livro, Meditação & Kabbalah, Aryeh Kaplan sustenta que através do coito sexual ou deleite físico é possível alcançar o deleite espiritual e que se trata de uma experiência onde o Ego encontra-se diluído na Não-Existência, o Nada. Isso produz milagres e até muda as leis da natureza. Kenneth Grant explorou enfaticamente a magia sexual como um portal para outra dimensão, a zona malva e além. Suas ideias foram amplamente empregadas nas operações mágicas da Loja Shaitan-Aiwaz onde transes sexuais eram induzidos em sacerdotisas com as finalidades de magia, oráculo, predição e contato com entidades praeter-humanas. Um texto dessa natureza talvez incite a formulação de mais perguntas e dúvidas do que proporcione respostas sobre a magia sexual. Mas essa é uma lei do conhecimento. Quando mais nossa pequena ilha de conhecimento cresce. Mas cresce também as margens do desconhecido. Assim, mais do que natural, é saudável! Amor sé a lei, amor sob vontade.

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Goécia: Evocação Sexual Frater ON120 Fernando Liguori Faz o que tu queres há de ser tudo da Lei.

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goécia ocupa um lugar de proeminência entre os ocultistas ritualisticamente inclinados e é conhecida genericamente como a arte negra. Suas convocações demoníacas acompanhadas de sigilos sugestivos e poderosos relatos de resultados devastadores têm seduzido magistas ao longo dos tempos. Allan Bennett (18721923), um dos primeiros professores de Crowley na Arte Régia disse-lhe certa vez: irmãozinho, você tem se metido com a goécia. Negando a afirmação de seu professor, Crowley respondeu que não era digno de pronunciar os terríveis nomes bárbaros de evocação. Bennett retrucou: nesse caso, a goécia tem se metido com você. Tradicionalmente, a goécia é a primeira – e mais notória – parte de um grimório mágico conhecido como Lemegeton ou As Chaves Menores de Salomão. Contém uma descrição completa dos 72 agentes malignos ou demônios, com a descrição detalhada de cada um no momento de sua conjuração quando evocados, apresentando seu título, hierarquia e a legião de espíritos que eles controlam. O texto contém os sinistros e atraentes sigilos dos demônios, utilizados em operações mágicas para os mais diversos objetivos como: aquisição de conhecimento filosófico, percepção do futuro, atração de bens e riquezas, manipulação astral etc. Existem inúmeros manuscritos do Lemegeton com informações distintas acerca dos demônios e seus nomes. Alguns manuscritos apresentam o grimório em cinco partes, outros em quatro. Outros destacam, antes das chaves menores, o Theurgia-Goécia, que descreve 31 espíritos correspondentes às direções do espaço. Os espíritos são acompanhados por seus sigilos e são apresentados como malignos e benignos. A terceira parte do Lemegeton é conhecida como Ars Paulina, que descreve os anjos correspondentes às horas do dia e aos signos zodiacais. A quarta parte, bem pequena, é conhecida como Ars Almadel e a quinta parte, considerada a mais antiga, é conhecida como Ars Notoria. Infelizmente, a quinta parte é omitida na maioria das versões. Mas quando eu utilizo o termo «goécia», não me refero apenas ao sistema de magia conectado ao Legemeton. Goécia é um termo que abrange todo sistema de conjuração demoníaca, incluindo a magia qliphótica. É a arte negra ou doutrina das sombras, uma tradição genuína do caminho da mão esquerda e sua doutrina é considerada avançada e perigosa, embora as pessoas não costumem dar a ela o mérito que lhe cabe. A goécia é uma magia ctoniana e telúrica. Ela convoca as forças do submundo e do abismo. Portanto, sua prática é sombria, conectada as experiências do lado noturno. Mais especificamente, a goécia é um sistema de magia que envolve a penetração nos estratos mais profundos do subconsciente, a morada dos «espíritos» e «demônios» que representam energias biológicas primordiais desassociadas da onda de vida humana. Goécia significa «urro», «uivo», «bramido» ou «vociferante», o que descreve a maneira de como se evocar as bestas das profundezas através do processo denominado Contra a Luz. A palavra goécia é de origem grega e denota feitiçaria ou bruxaria. Um goético, do grego goetes, era um feiticeiro, um magista negro, diferente do mago, o magus grego que ocupava o ofício de sacerdote. Atualmente, um magus muitas vezes é visto como um magista negro ou alquimista. Mas a antiga designação para um conjurador de demônios ou magista negro era goético. 31 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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Existe uma passagem curiosa na vida de Crowley, Bennett e Cecil Jones (1870-1953) envolvendo a goécia. Bennett encontrava-se deveras enfermo por conta de sua asma. Para curá-lo, Crowley e Cecil Jones uniram seus esforços evocando o demônio Buer, cuja atribuição é a cura de doenças. Bennett precisava sair rápida mente da Inglaterra, por conta do clima frio e úmido que faziam a doença se agravar. Crowley e Cecil Jones evocaram Buer até que sua forma fosse visível. Entretanto, a imagem do demônio não condizia com a sua descrição clássica nas Chaves Menores. Por conta disso, eles pensaram ter falhado na operação mágica. Contudo, miraculosamente as coisas começaram a acontecer. Bennett em pouco tempo retomou a saúde, o que lhe proporcionou forças para mudar-se para o Sri Lanka. No fim Crowley concluiu que a operação foi um sucesso. No campo do hermetismo prático existe um gênero literário conhecido como magia salomônica. Trata-se de um número de grimórios que proclamam representar a magia ensinada pelo sábio rei Salomão. Os dois mais famosos são atribuídos ao próprio Salomão, sendo eles As Chaves Maiores de Salomão e o Lemegeton – As Chaves Menores de Salomão. O rei Salomão é bem conhecido por sua eloquente sabedoria e as lendas sobre ele dizem que sob o seu comando havia uma vasta horda de espíritos e gênios «djinns». Nos termos gerais, a magia salomônica trata da conjuração de espíritos através de yantras mágicos conhecidos como sigilos. Embora os primeiros manuscritos dessas duas obras começassem a aparecer a partir do Séc. XVI, a magia salomônica retrocede muito no tempo, possuindo profunda conexão com a magia babilônica e influenciando profundamente a tradição judaica durante o cerco babilônico. Muitos dos demônios da goécia são deuses e espíritos da tradição babilônica e outras. As correspondências entre a magia salomônica e babilônica vão desde o sistema numérico a influência astrológica. Embora a magia salomônica seja rica em invocações angélicas, preces e honrarias a Jeová, ainda é largamente demonológica, portanto, tida como goética. Nós encontramos nessa literatura mágica um constante encontro entre demônios e gênios. Ela revela que em suas querelas demoníacas, Salomão permitia que os gênios demonstrassem seu poder e magia diante dele e da Rainha de Sabá. Existe outro manuscrito salomônico do primeiro século de nossa era conhecido como O Testamento de Salomão. Trata-se de uma larga lista de demônios e os famosos trinta e seis Príncipes das Trevas. Uma possível comprovação de sua tradição arcaica encontra-se em um antigo texto gnóstico de Nag Hammadi que descreve a criação de quarenta e nove demônios andrógenos cujo «nome e função podem ser encontrados no livro de Salomão». Podemos inferior a partir deste manuscrito gnóstico que essa é uma referência muito antiga sobre a demonologia salomônica. Alguns autores alegam que a magia salomônica esteve secretamente presente e foi amplamente praticada em muitos círculos gnósticos. Kiesewetter, um acadêmico alemão, defende a teoria de que o nome «lemegeton», que até o presente ainda é desconhecido – embora disputado – muito provavelmente possa ser o nome de um magista gnóstico. Entre muitos hermetistas, a goécia é identificada como um tipo inferior de magia enquanto que a theurgia é considerada magia de um tipo superior. Também se acredita que a goécia seja uma prática destinada a objetivos mesquinhos.35 No entanto, qualquer magista bem treinado tem a plena consciência de que ambas as práticas, theurgia e goécia, satisfazem qualquer desejo humano, seja lá qual for sua natureza. Portanto, o conceito de magia inferior não deve ser confundido com qualidade. Os demônios da goécia não apenas satisfazem desejos frívolos, mas são capazes de dotar qualquer magista de sabedoria e conhecimento elevados. A palavra goécia é de origem grega e denota feitiçaria ou bruxaria. Um goético, do grego goetes, era um feiticeiro, um magista negro, diferente do mago, o magus grego que «A goécia é desafortunada, feita pelo intercâmbio com espíritos impuros, consistindo de ritos de pérfidas curiosidades, encantamentos ilícitos e deprecações. [...] Seus praticantes são chamados de necromantes e bruxos.» Agrippa em Três Livros de Filosofia Oculta, Madras, 2012. 35

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ocupava o ofício de sacerdote. Atualmente, um magus muitas vezes é visto como um magista negro ou alquimista. Mas a antiga designação para um conjurador de demônios ou magista negro era goético. A tradição da goécia quase sempre é atribuída ao Lemegeton, como se ele fosse à fonte mais fidedigna de onde podemos aprender a arte da conjuração demoníaca. Contudo, a goécia não se limita ao Lemegeton. Outros grimórios demonológicos e salomônicos como o Le Dragon Rouge e o Grimorium Verum, os ensinamentos de Fausto em seu Magia Naturalis, a demonologia qabalística transmitida pelo A Magia Sagrada de Abramelin, o Mago e o famigerado Liber CCXXXI de Aleister Crowley são textos que transmitem a tradição goética.

O emprego das energias sexuais, atrelado às práticas herméticas, data do mais remoto passado da humanidade. Diacronicamente, isto é, ao longo das eras, observa-se que, deste os primeiros cultos à fertilidade até os dias atuais, tal associação jamais demonstrou o menor sinal de declínio. Conforme nos relata Runyon em O Livro da Magia de Salomão, o berço de um grande número de religiões se encontra na antiga Canaã. As religiões baseadas nos cultos a Bael e a Astarte floresciam ao lado dos recém chegados israelistas. Sabe-se que a dança hora, comum nos casamentos judeus, era chamada de círculo de danças das prostitutas sagradas. Os templos dedicados a Afrodite em Érix, Corinto e Chipre funcionavam com o auxílio de inúmeras sacerdotisas dedicadas ao ato sagrado. Tanto em Roma quanto na Grécia antigas, existiam as virgens vestais dos templos que se dedicavam a conjugar o ofício religioso com práticas sexuais – elas tinham que manter a chama sagrada do santuário sempre acessa. É com o surgimento do cristianismo que se vai verificar um enfraquecimento das práticas sexuais no interior dos templos. Aliás, não só a magia sexual, mas a magia em geral, neste momento particular da história, foi intensamente rejeitada e desprezada. É devido a este momento de perseguição que vamos compreender o porquê da exigência do segredo, da linguagem cifrada e obscura dos mistérios e da criação de uma aura mística em torno de tudo aquilo que era considerado esotérico. Na verdade, tudo isso foi um mecanismo de autodefesa e proteção contra perseguições. Ainda hoje, rastros destes procedimentos podem ser verificados em alguns círculos hermetistas; mas notamos que a Era de Aquário já está modificando, significativamente, tal postura. A despeito das perseguições perpetradas contra o hermetismo em geral e a magia sexual em particular, esta continuou a existir sempre maquiada por metáforas. Exemplos são encontrados na Idade Média européia. Naqueles tempos, temos os sabbaths negros das bruxas montadas em suas «vassouras» e a Magia Enochiana na qual seus «fundadores» – Dee e Kelly – realizaram atos sexuais com suas parceiras durante as operações angélicas. Entre os séculos XVI e XIX, a Igreja Católica ordenou um número muito maior de padres do que o necessário. Uma boa parte destes ampliavam suas rendas através da realização de Missas Negras que, não raro, empregava a Corrente Ofidiana. Nesta mesma época, a goécia já estava praticamente delineada, tal qual a conhecemos hoje. Assim como muita coisa da tradição mágica está alegorizada, o mesmo é válido para a magia sexual. Certamente, bastões e varas, caldeirões e taças são mais que instrumentos: representam os elementos masculinos e femininos empregados em um ritual. No século XIX, a Ordem do Templo do Oriente, a Ordem Hermética do Áureo Alvorecer, a Irmandade Hermética de Lúxor, dentre outras organizações, deram continuidade ao uso secular da magia sexual. Sabemos que, apesar do esforço destas organizações, o contexto histórico (como, por exemplo, a Era Vitoriana) não permitiu que elas explicitassem os Mistérios em sua completude, levando-as a optar pelo obscurantismo linguístico. Na aurora do século XXI, notamos que o preconceito quanto ao uso da energia sexual ou ofidiana, nos ritos espirituais, tem se afrouxado, ainda que de maneira tímida e parcial. 33 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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Se dizemos que é de forma tímida e parcial é porque, por experiência própria, sabemos que ainda há muita incompreensão neste particular. A seguir, falaremos um pouco da goécia combinada com o uso da energia sexual ou Corrente Ofidiana. É muito comum encontrarmos publicações com fra-ses como estas: «a chave dos mistérios manteve-se velada e secreta para que os não-iniciados pudessem fazer mau uso do conhecimento» etc. Bem, por mais abertamente que possamos falar ou revelar o segredo, enquanto o adepto não despertar sua paranormalidade ou como chamamos na Tradição Oculta, ir Contra a Luz, jamais terá acesso real ao mistério por trás do segredo. Isso ocorre assim porque o que nós revelamos são modelos de pensamento, não a gnose. Portanto, aquela acusação de que nós levantamos o Véu de Ísis a uma altura indecorosa é pífia, rasa e sem sentido. A partir daqui não usaremos termos poéticos e floridos para tratar do assunto e sim uma linguagem direta, sem rodeios. Pedimos desculpas aos amantes do obscurantismo, das cifras e dos códigos. Também é importante frisar que esta pratica é dedica a magistas experientes, que já tenham suficiente conhecimento teórico-prático do tema. O que apresentamos é uma forma de potencialização da prática goética, através da energia sexual inteligente e habilmente direcionada. Há diversas abordagens acerca das evocações goéticas. Acreditamos que todas são válidas. Cada magista é livre para optar por aquela que melhor se alinhe com seu próprio gosto ou mesmo, com a devida experiência, desenvolver sua própria abordagem do assunto. Para uma evocação goética são requeridos um Círculo cerimonialmente traçado (às vezes, chamado de Círculo de Salomão) e de um Triângulo (o famoso Triângulo da Arte). Obviamente, todos os participantes devem estar dentro do Círculo. Embora não haja a exigência de um número específico de participantes para uma operação desta natureza, devese observar um mínimo de 03 e um máximo de 11. Tanto o Lemegeton quanto as Clavículas de Salomão recomendam que o Círculo tenha 2,70m de diâmetro. No entanto, um Círculo que irá comportar atos de magia sexual, terá que ser maior. Uma boa medida seria um Círculo de 5 metros. Também aqui cada um terá que fazer as adaptações necessárias. O Círculo é a proteção dos participantes e deve ser devidamente traçado e consagrado durante a cerimônia. O uso da Corrente Ofidiana é apenas um caminho traçado sobre um plano: ao magista cabe o dever de erigir a vela de seu barco e orientá-lo na direção onde brilha o Sol. Há métodos de auto-magia sexual «masturbação» para praticantes solitários e que não serão o foco deste ensaio. O que aqui propomos é para uma dupla ou um grupo que pratique magia cerimonial. Há dois elementos fundamentais na magia sexual e que são usados para elevar os níveis de energia e para focar todas as etapas do processo goético. O primeiro é o orgasmo. O poder do orgasmo contribui para movimentar e elevar a energia do processo mágico. Os participantes devem estar envolvidos com a preparação do ritual, o traçado do Círculo e do Triângulo, com as conjurações, bem como atentos ao propósito do ritual. A concentração intensa durante o orgasmo (ou a pequena morte, como era chamada pelos autores do século XIX) fortalece a vontade e facilita a manipulação energética da cerimônia. Faz-se mister observar que, se os participantes perderem o foco no propósito do ritual e deixarem-se levar apenas pelo sexo em si, sabotarão e arruinarão a operação, como demonstrado no início desse ensaio. O segundo elemento, são os fluidos provenientes do corpo no momento do orgasmo. Esses fluidos ou kālas, em parte porque foram produzidos durante o ritual, apresentam propriedades mágicas. Eles podem ser usados para uma variedade de propósitos: podem servir como pomadas e óleos, podem ser usados na consagração de amuletos e outros instrumentos mágicos, incluindo o próprio círculo mágico. Para produzir esses fluidos pelo menos uma mulher se faz necessária para atuar como «sacerdotisa» durante a cerimônia. Uma mulher é o suficiente; naturalmente pode-se ter 34 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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mais e tudo vai depender de quantas operações cada grupo realiza regularmente. De qualquer forma, em uma cerimônia somente uma sacerdotisa deve ser consagrada como representante da Deusa. A interrupção e distração na troca do papel principal na cerimônia interrompe o fluxo e a focalização da operação. Além disso, a mulher–sacerdotisa deve estar realmente desejosa de participar da cerimônia e de se entregar completamente à mesma. Se isto não for verificado, ter-se-á um «curto-circuito» no ritual. Outra necessidade, é que ela seja uma iniciada competente. Uma mulher despreparada não é capaz de utilizar com proficiência a Boca da Yoginī como fonte de emanação de forças além do nível de consciência ordinária.36 Algumas tradições permitem o uso de expansores de consciência suaves para a indução de transes e outras não. Cada grupo deve determinar seus próprios critérios quanto a isto. A ingestão destes expansores ou «plantas de poder», por parte de um grupo experiente e que não utiliza esses artifícios para velar seus vícios, auxiliam os participantes e a sacerdotisa a se manterem focados no processo ritualístico. Um lugar deve ser escolhido para a construção do Círculo. Pode ser um lugar fechado, como um templo, ou um lugar ao ar livre. Em ambos os casos, a necessária privacidade deve ser observada para evitar inconveniências e incompreensões quanto à natureza de tais práticas. Lembramos que esta prática de consagração fará uso da energia sexual e um mínimo de 03 e um máximo de 11 participantes deve ser observado. Como há diversos tipos de círculos de proteção, construa o seu Círculo de acordo com a técnica que você normalmente utiliza para traçar seu Círculo de magia. Dois altares devem ser erguidos: Um para a sacerdotisa, que será seu trono, que fica no centro do círculo. Este altar deve ser construído sobre uma superfície macia (tapete, por exemplo) para conforto da sacerdotisa. Deve também conter uma almofada para que a sacerdotisa possa elevar seu ventre, a fim de que sua yoni esteja em relevo, facilitando o congresso sexual. Também podem ser colocados suportes nas laterais para que ela possa se firmar durante a execução do Arcano. Logo abaixo do altar da sacerdotisa, deve estar um container – normalmente um cálice – para receber os fluidos sexuais. O outro para o Magista Oficiante – nele se colocam as armas necessárias ao trabalho. Após a construção do Círculo, a sacerdotisa é entronizada em seu lugar. Ela pode estar nua ou não, dependendo do tipo de operação. O magista oficiante entra no Círculo. Ao chegar ao centro dele, remove seu robe e, após a consagração da sacerdotisa, dá início a cópula. Ele, em total estado de concentração; ela, neste ponto, em completo transe ofidiano. Após o clímax, o oficiante veste seu robe e inicia a consagração do Círculo. Os demais participantes, o tempo todo, vibrando os nomes bárbaros de evocação seguindo o ritmo do ritual, bem concentrados na consagração do Círculo. Existe uma prática conhecida como cakra-pūja onde todos os participantes participam da cópula. Mas este tipo de operação exige uma concentração en masse. Essa prática pode ou não conter outras sacerdotisas oficiantes e todo o ritual deve ser executado em duplas ou pares. Os fluídos corporais ou kālas coletados no container são levados ao altar do oficiante. Se ainda restar qualquer resíduo de fluídos na sacerdotisa, ele deverá ser recolhido no container. Os fluidos são misturados em partes iguais com o óleo de Abramelin. Essa mistura é utilizada para se traçar novamente o Círculo e finalizar sua consagração. A união dos fluidos corporais com o óleo de Abramelin torna o Círculo perfeito, uma vez que gerará uma subs-

Toda mulher é uma incorporação da Deusa, mas nem todas as mulheres estão prepara-das para encarnar a Deusa. 36

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tância que é a soma da essência individual dos participantes-oficiantes. Este gesto irá adicionar um poder extra aos ritos realizados no Círculo, especialmente para aqueles que efetivamente contribuíram para sua formação e consagração. Se sobrar algum fluido, ele pode ser guardado e usado para outra operação mágica, dentro de um espaço curto de tempo. No entanto, o fluido é mais eficiente quando obtido e utilizado em seguida, por ter maior potência energética. O Círculo deve ser «reconsagrado» desta forma pelo menos uma vez ao ano. Uma vez que o Círculo foi devidamente preparado, podemos, agora, realizar as evocações goéticas. Uma vez mais, esbarramos com diversas formas de fazê-la: desde as mais complexas até as mais simplificadas. Use a que estiver mais familiarizado. Antes de iniciar o ritual, o magista oficiante precisa definir qual será a entidade a ser evocada e informar a todos. Em seguida, desenhar o sigilo «yantra» daquela entidade com um material que resista ao suor e uma tinta que não manche ou desbote durante a prática. Utilizamos a energia sexual nas evocações goéticas da mesma maneira que a utilizamos na consagração, descrita em epígrafe. A sacerdotisa está nua e é entronizada no altar, no centro do Círculo. Ela deverá estar com a yoni mais elevada, preparada para o viparitamaithuna. Portanto é importante sempre ter uma almofada, ou outro objeto adequado, que permita à sacerdotisa ficar mais elevada. Depois que todos os participantes forem admitidos ao interior do Círculo e após o mesmo estar devidamente traçado, de acordo com os procedimentos habituais ao magista oficiante, este deve despir-se. Ele deve pintar o sigilo do espírito goético a ser evocado por toda a sacerdotisa. No caso do cakra-pūja, o sigilo assim disposto nas sacerdotisas permitirá que cada participante foque sobre ele enquanto realiza o coito sexual. De qualquer maneira, à medida que o sacerdote e sacerdotisa iniciam o abraço místico, as evocações devem ser por ele emitidas e acompanhadas por todos. Alguns praticantes se preocupam com a possibilidade de um «convite deliberado» aos espíritos goéticos pelo fato do sigilo estar na sacerdotisa. No entanto, é preciso considerar que o sigilo está dentro do Círculo de Proteção e, portanto, não constitui um «convite» ao espírito a ser evocado para ali se manifestar. Obviamente, que o «convite» faz parte da própria cerimônia e o espírito chamado estará do lado externo ao Círculo e que deve ser confinado ao Triângulo pelo magista oficiante.37 Às vezes, alguns grupos optam pela presença de uma pitonisa ou um clarividente na cerimônia. Dependendo do ritual, a pitonisa ou o clarividente devem ser excitados. Isso irá permitir que haja duas pessoas em transe ofidiano realizando as evocações, enquanto os demais continuam a elevar o nível da energia através da entoação dos nomes bárbaros de evocação e, no caso do cakra-pūja, através do intercurso sexual coletivo. É preciso observar que se trata de um rito goético que tem na Corrente Ofidiana seu diferencial operacional; este ato serve para criar um elo entre todos os participantes do ritual através do solícito sacrifício ou uso da energia sexual. O ritual deve prosseguir com o magista oficiante em coito e o clarividente fazendo os conjuros, acompanhados de cada participante realizando suas conjurações. O ideal é que ocoito ocorra durante todo o tempo das chamadas. A sacerdotisa deve ser mantida, o tempo todo, em seu altar e se possível na Gnose ou transe ofidiano. Deve-se observar que a unificação da goética com a energia sexual produzirá uma convocação poderosa das entidades goéticas. Os resultados das convocações serão também mais potentes.

Existe outra prática goética em que o Círculo não mais serve como «proteção», mas como um portal de ingresso e egresso de entidades telúricas e ctonianas. Veja o artigo Manganeumatas das Sombras de Fernando Liguori e Helio Monteiro. 37

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Os fluidos coletados durante as operações podem ser usados para uma variedade de propósitos. Algumas entidades goéticas requerem gratificações. Os fluidos, se especialmente misturados com os aromas próprios da entidade convocada, podem ser uma excelente oferenda. E mais, os fluidos que sobrarem podem ser divididos com os participantes ou guardados para usos futuros. Uma substância magicamente carregada é melhor de se usar logo após sua obtenção e ela ainda pode ser aplicada como loção, como agente consagrador de amuletos, talismãs; pode ser empregada para a obtenção de saúde, aumento da força vital no organismo, magnetismo, maior poder de atração sexual, desenvolvimento de dons paranormais, concretizações de projetos ou desejos legítimos, dentre outros. É inegavelmente sedutora a ideia de se unir energia sexual aos ritos mágicos em geral e ao goético em particular. No entanto, não podemos deixar também de refletirmos sobre os principais inconvenientes que esta prática pode ocasionar: doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Como o objetivo do rito é obter uma mistura de fluidos masculinos e femininos, a camisinha não pode ser empregada. Daí a importância de que todos os participantes sejam saudáveis. A melhor forma de garantir isto é através de exames periódicos e de uma conduta que não seja promíscua por parte dos participantes. A gravidez é outra questão preocupante. Assim, precauções se fazem necessárias. Uma criança concebida numa operação mágica será portadora de habilidades e capacidades interessantes.38 Além das questões físicas (doenças e gravidez), a magia sexual também requer um intenso trabalho sobre nossos próprios limites, conceitos e pré-conceitos. Somos testados em nossa personalidade, em nosso aspecto emocional, espiritual e também confrontados por valores sociais. Muitas são as tocaias e armadilhas que podem surgir: apego, ciúme, possessividade etc. Nesta direção, cada um deve fazer uma análise, uma profunda reflexão, considerando todos os prós e os contras, antes de se lançarem às práticas sexuais com um grupo de magistas. E mais importante é se perguntar: o que realmente está me motivando a praticar magia sexual? Seja sincero e conheça suas reais motivações, nunca a magia será culpada por seus erros. Esta é uma senda de maturidade e de responsabilidade pelas próprias ações. Além disso, existe a necessária transparência para as pessoas que são casadas ou que tenham relacionamentos estáveis. É importante que o outro saiba o que você faz, para não configurar traição. Sabemos que aqui pisamos num terreno movediço e cabe a cada um ser honesto; primeiramente, consigo mesmo e a máxima: faça aos outros aquilo que gostaria que fizessem a você, é tudo o que podemos dizer. A cada um, sua consciência. Algo fundamental é o respeito pela sacerdotisa do grupo. Ela jamais deverá ser vilipendiada ou abusada. Ela está se doando para o benefício de toda a coletividade e contribuindo superlativamente para o sucesso das operações. Sem dúvida, não é fácil encontrar uma sacerdotisa que se entregue de alma e corpo a esta função. Daí mais um motivo para sua valorização e respeito. Trate-a como uma deusa, a divina Śakti encarnada. Outra coisa importante: o sadomasoquismo não deve ser praticado, pois foge ao escopo e ao objetivo do ritual. Aliás, se o grupo se desviar do foco do ritual e se aterem exclusivamente ao sexo e à realização de taras pessoais, em pouco tempo surgirão problemas, querelas, desentendimentos e a dissolução do grupo. As razões para isso são simples e se encontram no «choque de retorno». As técnicas que aqui indicamos podem ser aplicadas de outras formas e cabe ao dinamismo do grupo, de acordo com seus objetivos específicos, fazer os arranjos que forem necessários para que possam somar a energia sexual às suas práticas. Essas técnicas podem

O filho de Frater ON120 foi fecundado e concebido dentro de uma operação mágica. Foi constatado que a criança foge aos padrões convencionais. Veja o artigo A Deusa & o Trovão de Fernando Liguori. 38

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ser combinadas a outras como a Magia Enochiana, por exemplo. Use sua criatividade, faça adaptações, mas, sobretudo, não se esqueça que o foco é a operação mágica em si. O ato sexual quando realizado sob vontade, sem desvios de propósito; quando a união entre os participantes ocorre dentro de todos os níveis (físico, emocional, mental) de seus respectivos seres, suas forças aumentam tanto psíquica, quanto fisicamente. Assim, um apelo vibrante é feito e este apelo será atendido. Sem dúvidas, a energia sexual é a maior força mágica da natureza. Do amor nascem, segundo as circunstâncias, as paixões, os arrebatamentos, os estímulos para a criação divina ou humana, o surgimento de deuses ou demônios. No entanto, os usos e aplicações dessa magia simples e eficaz só é possível a um verdadeiro iniciado. É uma trilha destinada e reservada a poucos seres humanos que sejam capazes de utilizar com ética, desprendimento, inteligência, maestria pessoal e de forma útil esta sagrada energia que lhes habita o interior. Lembrem-se disto. Amor é a lei, amor sob vontade.

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SARASWATI, Swami Satyananda. A Systematic Course in the Ancient Tantric Techniques of Yoga and Kriya. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust, 2004. _____________. Asana Pranayama Mudra Bandha. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust / Belo Horizonte, Brasil: Satyananda Yoga Center, 2009. _____________. Dynamics of Yoga, the Foundations of Bihar Yoga. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust, 2006. _____________. Four Chapters on Freedom: Commentary on the Yoga Sutras of Patanjali. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust, 2008. _____________. Kundalini Tantra. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust, 2006. _____________. Meditations from the Tantras. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust, 2005. _____________. Sure Ways to Self-Realization. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust, 2006. _____________. Yoga e Educação para Crianças. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust / Belo Horizonte, Brasil: Satyananda Yoga Center, 2006. _____________. Yoga Nidra. Bihar, Índia: Yoga Publications Trust, 2009. SATI, Tārānanda. Tantra Kaula: A Arte do Ritual e da Magia. São Paulo: Madras, 2006. SOUTO, Alicia. A Essência do Hatha Yoga. São Paulo, SP. Phorte Editora, 2009. STILES, Mukunda. Ayurvedic Yoga Therapy. New Delhi, Índia: New Age Books, 2009. SVOBODA, Dr. Robert. Ayurveda for Women – a guide to vitality and health. New Delhi, Índia: New Age Books, 2002. _____________. Prakriti: Your Ayurvedic Constitution. New Delhi, Índia: Motilal Barnasidass, 2010. TIWARI, Bri. Maya. Ayurveda, Secrets of Healing: The complete Ayurvedic guide to healing through Pancha Karma seasonal therapies, diet, herbal remedies and memory. New Delhi, Índia: Motilal Barnasidass, 1998. _____________. O Caminho da Prática: a cura feminina pela alimentação, pela respiração e pelo som. Rio de Janeiro: Rocco, 2000. _____________. Women’s Power to Heal – Through Inner Medicine. North Carolina, USA: A Mother Om Media Book, 2007. VERMA, Dr. Vinod. Ayurveda – A medicina Indiana que promove saúde integral. Rio de Janeiro, Brasil: Nova Era, 2008. _____________. Kama Sutra para Mulheres. Rio de Janeiro, Brasil: Nova Era, 2010. WOODROFFE, Sir John. The Great Liberation. London: Ganesh, 1929. 41 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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_____________. The Principles of Tantra (Vols. I e II). London: Ganesh, 1914 e 1916. _____________. The Serpent Power. London: Ganesh, 1931. _____________. Śakti and Śākta. London: Ganesh, 1929.

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Notícias da Linha de Frente Curso de Meditação O curso de meditação da SETh ainda está com as inscrições abertas. Sua participação no curso requer algumas condições: 1. Caso você seja aluno direto de Frater ON120 na A∴A∴, sua participação no curso está liberada sem ônus algum. 2. Caso você seja membro do Colegiado da Luz Hermética, sua participação no curso está liberada sem ônus algum. 3. Caso você tenha adquirido as obras de Frater ON120, sua participação no curso está liberada sem ônus algum. 4. Caso você não se enquadre nas três condições acima, será necessário pagar uma taxa de R$93 para participar do curso. Para fazer seu cadastro ou para se inscrever como ouvinte no curso, entre em contato com o editor do Corrente 93. Robes de qualidade A Sociedade de Estudos Thelêmicos disponibiliza robes de qualidade para os Irmãos da A∴A∴, Ordo Templi Orientis e outras organizações thelêmicas.   

Robe do Probacionista R$280. Robe do Neófito: R$230. Robe do Zelator: R$230.

Robes com características distintas podem ser encomendados. Entre em contato com o editor do Corrente 93 e faça um orçamento sem compromisso. Os robes são em alta qualidade, de brim e bordados bem detalhados.

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A Lança & o Graal A magia sexual de Aleister Crowley opera através de duas forças conhecidas como Caos e Babalon. Caos é a Força ou Energia Criadora Paterna primordial representada pelo Falo no homem. Ele é idendificado ao astro Sol como o Senhor na Missa Gnóstica. Babalon é a Força ou Energia Materna geratrix primordial representada pelos símbolos do Útero, a Vulva, a Mulher e a Terra. No sistema thelêmico de magia sexual, a Mulher é o veículo que nutre a Palavra do Genitor com seu Poder Gerador. Através da União de Caos e Babalon, nasce a Criança Mágica Baphomet. Nós estamos entrando no Equinócio de Primavera de 2016 e.v. O ano 2012 e.v. foi muito importante para muitos iniciados, pois marcou o início de uma reificação na Terra das forças espirituais do Novo Aeon. No entanto, o resgate espiritual dessas forças dentro de cada um de nós depende da aplicação de certas chaves ou fórmulas mágicas. Uma dessas fórmulas, conhecida como Corrente Ofidiana, tem sido considerada das mais eficazes no estabelecimento das forças do Novo Aeon na consciência humana. O livro A Lança & o Graal cumpre o objetivo de agregar em uma só publicação os textos acerca do sistema de magia sexual proposto por Aleister Crowley previamente publicados nas edições do Jornal Corrente 93 da Sociedade de Estudos Thelêmicos. Para adquirir seu exemplar, clique aqui. Curso Cakra Sadhana 1. Objetivo do curso Entre os Ocultistas nos últimos cinquenta anos tem havido uma tentativa em estabelecer uma equivalência entre as Sephiroth da Árvore da Vida e os cakras da cultura tântrica. Se a Árvore da Vida contém tudo em nosso Universo, tanto acima quanto abaixo, deve haver algum lugar nela que os represente. Uma vez que tenha se aceitado que existe uma equivalência entre as Sephiroth e os cakras, logo nasce a indagação acerca da relação entre os vinte e dois Caminhos – os Atus de Tahuti – e as Sephiroth ou zonas de poder. Estes Caminhos, entretanto, foram relacionados às nāḍīs dos ensinamentos tântricos. Nāḍī é um termo sânscrito que significa torrente ou fluxo, quer dizer, aquilo que flui livremente. Este é o nome dado aos canais por onde circula o prāṇa ou energia vital. Eles conectam os cakras e levam energia as diversas partes do corpo psíquico e sua contraparte física. Os cakras são casas de energia e literalmente a palavra significa roda. No entanto, toda a doutrina do Tantra acerca da estrutura psíquica «cakras, nāḍīs, kuṇḍalinī» e a maneira correta de manipulá-la envolve o conceito de Śakti, a Deusa. Śakti é uma 44 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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palavra sânscrita que significa poder, mas para todos os efeitos, em estado potencial. Existe uma parábola nos tantras que diz que no Infinito, antes da criação, a Deusa dividiu-se em dois estados conhecidos como Mente e Corpo. A essência da Deusa repousa eternamente no ājñā-cakra, de onde ela começa a se projetar para baixo, vibrando «spandana» em direção a terra na busca por seu Corpo. Nesse processo, a Śakti cria diferentes estados de realização, os cakras, começando pelo viśuddhi, atribuído ao Espírito, o anāhata, atribuído ao Elemento Ar, o maṇipūra, atribuído ao Elemento Fogo, o swādhisṭhāna, atribuído ao Elemento Água e o mūlādhāra, atribuído ao Elemento Terra. Ao fazer de sua morada o mūlādhāra-cakra, o processo de criação se encerra e a Śakti se recolhe em sono profundo. É neste estado que ela é conhecida como kuṇḍalinī-śakti. Uma possível tradução desse termo que se enquadra na descrição do tema é poder recolhido e na Tradição Esotérica Ocidental ela é identificada apenas pelo nome de Serpente de Fogo ou Fogo Serpentino. Quando aprendemos a manipular essa força em nosso interior, fazendo-a acordar de seu sono no fosso da terra, é o momento de aprendermos com ela em um processo de ascensão a fim de redescobrirmos o paraíso perdido. Este trabalho consiste em erguê-la do mūlādhāra-cakra aos cakras superiores através de um sistemático programa de treinamento. Nos dias de Aleister Crowley (1875-1947) muito pouco material sobre o tema cakras havia sido traduzido do sânscrito para o inglês. Fora as especulações teosóficas, pouquíssimos ocultistas no Ocidente produziram material de peso realmente relevante. Por anos a maior fonte de pesquisas sobre os cakras utilizada pelos ocultistas da Tradição Ocidental foi o livro Os Chakras de W.C. Leadbeater (1854-1934), considerado um grande clarividente. No entanto, seu livro tem muito pouco ou quase nada a oferecer quando comparado aos próprios śāstras do tantrismo ou obras de mestres tântricos de calibre como Swāmi Satyānanda Saraswatī, fundador da Bihar School of Yoga, a organização mais tradicional da Índia em ensino superior de Yoga e Tantra. Por volta de 1920, o autor mais celebrado sobre Tantra no Ocidente foi Sir John Woodroffe (1865-1936). Ele foi o responsável por apresentar ao Ocidente, através de inúmeras traduções e material próprio o profundo, vasto e rico oceano de conhecimento contido nos tantras, principalmente a Tradição Kaula e suas práticas obscuras de despertar da kuṇḍalinīśakti e a manipulação dos cakras. Mas por incrível que pareça, Crowley parece ter dado pouca atenção à obra de Woodroffe, seja por despeito ou falta de conhecimento. Mas existe um problema ao tentar estabelecer uma equivalência entre a doutrina dos cakras contida nos tantras e a Árvore da Vida. Inúmeras interpretações equivocadas foram difundidas amplamente pela Sociedade Teosófica e a Ordem Hermética da Aurora Dourada, estabelecendo um desserviço a Tradição Esotérica Ocidental. Um exame acurado sobre as teorias estabelecidas por essas organizações revela verdadeiras anomalias e uma falta de compreensão absurda sobre os cakras. Nos dias de hoje existe muito material a disposição, no entanto, a grande maioria dos livros escritos no Ocidente sobre o tema cakras ainda continua perpetuando as desinformações disseminadas por essas duas organizações. Por outro lado, o Oriente vem produzindo material seguro nessa área e as escrituras que nos dias de Crowley quase eram impossíveis de serem encontradas, agora abundam em traduções, o que nos permite ter um vislumbre mais amplo do assunto. Portanto, eu sempre aconselho aos meus alunos da A∴A∴ a procurarem a fonte original desses estudos, ou seja, os śāstras do tantrismo.

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Ao elaborar o sistema de iniciação da A∴A∴, Aleister Crowley se debruçou amplamente sobre o Yoga, produzindo pérolas do misticismo thelêmico nas instruções da Ordem. No entanto, parece que ele deu pouca atenção à doutrina dos cakras, deixando a cargo da Ordo Templi Orientis, O.T.O., a produção do material necessário à instrução dos membros. Os primeiros Graus da O.T.O. operam enfaticamente com os ṣaṭ-cakras, mas infelizmente até os dias de hoje estamos a espera que a Ordem nos apresente instruções precisas sobre como manipular e direcionar as energias dos cakras. Até lá, ofereço esse pequeno opúsculo de meditação a comunidade de thelemitas do Brasil. 2. Módulos do curso O programa desse curso é dividido em vídeo-aulas. Você será notificado pelo You Tube quando os vídeos forem postados e deverá acompanha-las diretamente no livro. Para isso, antes de mais nada você precisa adquirir o livro diretamente no site do Clube de Autores. Clique aqui para adquirir o livro Cakra Sādhanā. Não existe sistematização periódica para postagem dos vídeos. Dessa maneira, tenha paciência. Os vídeos serão feitos na medida em que irei conciliar o trabalho com outros afazeres e cursos que estou ministrando. Isso deve estar claro para você antes de solicitar sua participação. 3. Certificado de conclusão do curso A Sociedade de Estudos Thelêmicos fornecerá certificado de conclusão do curso sob as seguintes condições: 1. O participante deve enviar a SETh um relatório completo e detalhado acerca de cada lição estudada e praticada, cujas instruções estão por escrito e explicadas em vídeo. 2. O pagamento de uma taxa de R$61 para impressão do certificado e taxas de envio. 4. Participação Sua participação no curso requer algumas condições: 5. Caso você seja aluno direto de Frater ON120 na A∴A∴, sua participação no curso está liberada sem ônus algum. 6. Caso você seja membro do Colegiado da Luz Hermética, sua participação no curso está liberada sem ônus algum. 7. Caso você não se enquadre nas duas condições acima, você pode aderir aos seguintes programas:  Assistir as vídeo-aulas sem acompanhamento ou material didático adicional: R$25 por aula.  Assistir as vídeo-aulas com material didático adicional: R$40 por aula.  Assistir as vídeo-aulas com acompanhamento semanal e material didático adicional: R$150 por mês. PROMOÇÃO válida até dia 30 de setembro: Caso você tenha adquirido a obra de Frater ON120, Cakra Sādhanā, sua participação no curso está liberada sem ônus algum.

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Colegiado da Luz Hermética O Colegiado da Luz Hermética é a Ordem Externa da SETh, Sociedade de Estudos Thelêmicos. Representa o Seis primeiros Graus da Ordem. A SETh foi estabelecida a Serviço da A∴A∴, constituindo um Colegiado Iniciático formulado para prover treinamento aos Candidatos que aspiram Iniciação na A∴A∴. O trabalho é individual, mas é dada a opção de trabalho coletivo e a formação de Grupos de Estudo, Santuários e Templos. HOMEMDATERRA Colegiado da Luz Hermética

Probacionista 0°=0⌷ O Probacionista é qualquer pessoa adulta, livre, acima de 21 anos que tenha concordado em executar uma prática espiritual diária e sistemática pelo período de um ano, mantendo um diário mágico detalhado sobre a prática. Os Sinais do Probacionista são os de Hórus e Hoor-paar-Kraat. O Probacionista se encontra no Umbral da Ordem e após um ano de período probatório ele pode requerer admissão ao Primeiro Grau de Neófito. Sendo admitido, ele assina o Juramento. Neófito 1°=10 O Neófito é um Iniciado do Primeiro Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau representa Malkuth na Árvore da Vida e o Elemento Terra. O Sinal de Neófito é o Sinal da Besta ou Baphomet. Currículo do Neófito: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Formulação, construção e consagração do Pantáculo da Terra. Ritual Maior do Pentagrama da Terra. Assunção de forma divina da deidade egípcia da Terra. Ritual da Saída do Umbral. Ascensão nos planos obtendo a visão do Espírito da Terra. Pathworking: Caminho 32 (Tav). Scrying no Aethyrs 30 (TEX).

Zelador 2°=9⌷ O Zelador é um Iniciado do Segundo Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau corresponde a Yesod na Árvore da Vida e o Elemento Ar. O Sinal de Zelador é o Sinal de LilithAstaroth.

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Currículo do Zelador: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7.

Formulação, construção e consagração da Adaga do Ar. Ritual Maior do Pentagrama do Ar. Assunção de forma divina da deidade egípcia do Ar. Ritual do Khu Perfeito. Ascensão nos planos obtendo a visão do Espírito do Ar. Pathworking: Caminho 31 (Shin) e 30 (Resh). Scrying nos Aethyrs 29 (RII) e 28 (BAG).

Prático 3°=8⌷ O Prático é um Iniciado do Terceiro Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau corresponde Hod na Árvore da Vida e o Elemento Água. O Sinal do Prático é o Sinal de Ísis a Mãe das Estrelas. Currículo do Prático: 1. 2. 3. 4. 5. 6.

Formulação, construção e consagração do Cálice da Água. Ritual Maior do Pentagrama da Água. Assunção de forma divina da deidade egípcia da Água. Ascensão nos planos obtendo a visão do Espírito da Água. Pathworking: Caminho 29 (Qoph), 28 (Tzaddi) e 27 (pé). Scrying nos Aethyrs 27 (ZAA) e 26 (DES).

Filósofo 4°=7⌷ O Filósofo é um Iniciado do Quarto Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau equivale Netzach na Árvore da Vida e o Elemento Fogo. O Sinal de Filósofo é o Sinal de Tifon. Currículo do Filósofo: 1. 2. 3. 4. 5. 6.

Devoção a alguma deidade - iṣtā-devatā (bhakti-yoga). Formulação, construção e consagração da Baqueta do Fogo. Ritual Maior do Pentagrama do Fogo. Assunção de forma divina da deidade egípcia do Fogo. Ascensão nos planos obtendo a visão do Espírito do Fogo. Scrying nos Aethyr 25 (UTI).

Dominus Liminis (Senhor do Umbral) O Dominus Liminis é um Iniciado do Quinto Grau do Colegiado da Luz Hermética que está no período probatório para entrar na Segunda Ordem R.R. et A.C. Este Grau corresponde ao Caminho de Pé na Árvore da Vida, conhecido na Ordem como O Portal. O Sinal do Dominus Liminis é o Sinal da Caveira de Ossos Cruzados. Currículo do Dominus Liminis: 1. Formulação, construção e consagração de um talismã planetário. 2. Ritual Supremo de Invocação do Pentagrama. 3. Ascensão nos planos da Estrela que regula o Sol (signo ascendente). 48 Sociedade de Estudos Thelêmicos

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4. Ritual Enochiano do Elixir da Vida 5. Pathworking: Caminho 26 (Ayin), 25 (Samekh) e 24 (Nun). 6. Scrying no Aethyrs 24 (NIA). Admissão ao Colegiado da Luz Hermética. Caso tenha interesse em participar da Ordem, envie uma carta em PDF seguindo as instruções: 1. 2. 3.

Faça um breve relato sobre sua busca espiritual. Estudos, práticas e a relevância desse processo na magia e no ocultismo. Faça uma lista de vinte livros que já estudou na área da magia e ocultismo em geral; cite os mais relevantes em sua iniciação e faça uma breve resenha do livro mais importante para você. Na carta, coloque todos os seus dados: endereço (físico e eletrônico), data de nascimento, afiliação, profissão, telefone e anexe uma cópia de seu CPF, RG e comprovante de residência.

Toda a comunicação da Ordem se dá através de documentos em PDF via e-mail e por correio convencional. Após o envio de sua aplicação de afiliação, a Ordem irá notificá-lo em cinco ou dez dias, após a avaliação de seu pedido. Se ele atender os nossos requisitos, você será admitido ao período probatório, devendo manter uma prática espiritual sistemática por um período de um ano, com entradas diárias no diário mágico. Sua aplicação de afiliação pode ser enviada por e-mail, em PDF. Caso queira enviar carta via correios, escreva para: a Secretária, Av. Barão do Rio Branco, 3652/14, Passos Juiz de Fora – MG 36025 020 [email protected]

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