Download 2008 - Criação e Manejo de Quelônios No Amazonas....
Criaçã riação o e Ma Manej nejo o de
QUELÔNIOS no Amazona Amaz onass
Organização: Paulo Cesar Machado Andrade
Criação e Ma Manejo nejo de Quelô Quelônio nioss no Amazonas
(Projeto Diagnóstico da criação de animais silvestres no Estado do Amazonas) Organização:
Paulo César Machado Andrade - M.Sc. Laboratório de Animais Silvestres - Ufam
Coordenador do Projeto Pé-de-Pincha
Dr.Luís Alberto dos S.Monjeló- Ufam Sônia Luzia de O.Canto, MSc. -SDS
Apoio: Programa Trópico Úmido/CNPq
Publicação:
Catalogação na Fonte Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis C96 C9 67
Cr Cria iaçã çãoo e m man anej ejoo ddee qque uelô lôni nios os no Am Amaz azon onas as.. / P Pau aulo lo Cé Césa sarr M Mac acha hado do Andrade (coordenador) – Manaus: Ibama, ProVárzea, 2008. 528 p. : il. color.;21 cm. Bibliografia ISBN 978-85-7300-262-1 1. Quelônios. 2. Tartaruga. Tartaruga. 3. Manejo. 4. Criadouro. I. Andrade, Paulo César Machado. II. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. III. Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea. V. Projeto Pé-de-Pincha. VI. Título. CDU(2.ed.)639
Criação Cr iação e Manejo de Quelô Quelônios nios no Amazonas. Projeto no Diagnóstico Criação de Animais Silvestres Estado doda Amazonas.2008. I Seminário de Criação e Manejo de Quelônios da Amazônia Ocidental. Ed. Pa ulo César Machado Andrade. 2ªEdição. ProVárzea/FAPEAM/SDS. Mana Ma naus us/A /AM. M. 528 p. Pa Pala lavr vras as-c -cha have: ve: Qu Quel elôn ônio ios; s; Tartaruga; Criação ; Podocnemis
Capa: Paulo Andrade Foto Fot o da C Capa apa:: Jane Dantas - ProVárzea/Ibama ProVárzea/Ibama Foto Orelhas: Jane Orelhas: Jane Dantas, Paulo Andrade Andrade Revisão: Auristela Webster - Edições Ibama e Enrique Calaf Calaf - Edições Ibama Normati Norma tização zação Bibliográfica: ibliográfica: Helionidia C. Oliveira
Copyright@ProVárzea Copyright@ProV árzea 2008
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Ministério do Meio Ambiente – MMA Marina Silva Secretaria Executiva João Paulo Ribeiro Ribeiro Capobianco Departamento de Articulação de Ações da Amazônia André Rodolfo de Lima Programa-Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil Nazaré Lima Soares Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama Bazileu Alves Margarido Neto Diretoria de Uso Sustentável da Biodiversidade e Florestas Antônio Carlos Hummel Coordenação Geral Geral de Autorização de Uso e Gestão de Fauna e Recursos Pesqueiros José Dias Neto Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea Coordenador: Marcelo Bassols Raseira Gerente Executivo: Manuel da Silva Lima Gerente Componente Iniciativas Promissoras: Marcelo Derzi Equipe GTZ: Viktor U. Dohms, Wolfram Maennling Assessora de Comunicação: Jane Dantas
Equipe do ProVárzea/Iba ProVárzea/Ibama ma Alzenilson Santos Aquino, Antônia Barroso, Anselmo de Oliveira, Arlene Souza, César Teixeira, Cleilim Albert de Sousa, Cleucilene da Silva Nery, Flávio Bocarde, Gionete Pimentel de Miranda, Kate Anne de Souza, Maria Luiza G. de Souza, Mário Thomé de Souza, Patrícia Maria Ferreira, Raimunda Queiroz de Mello, Tatiane Patrícia Santos de Oliveira, Tatianna Silva Portes, Valdênia Melo e Willer Hermeto. ProVárzea/Ibama - Rua Ministro João Gonçalves de Souza, s/nº Distrito Industrial - 69.075-830. Manaus, AM. Tel. 3613-3083 /.br/provarzea 6246 / 6754. Fax. (092) 3237-5616. Site:(92) www.ibama.gov www.ibama.gov.br/provarzea
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“Dona lebre só queria correr o dia inteiro, porém, dona Tartaruga andando chegou primeiro!” (La Fontaine)
Aos meus pais, Manuel e Regina, Por todo o incentivo, sempre! À Ediana e ao Gustavo por todo amor e paciência! Ao Rosinaldo da Costa Machado, Professor do Centro Agropecuário, UFPA e Manuelino Bentes, “Seo” Mocinho Lobo, pelo exemplo de vida (in memorian)
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Agradecimentos Ao Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea – ProVárzea/Ibama, pelo reconhecimento ao Programa Pé-de-Pincha como iniciativa promissora para as várzeas amazônicas e por tornar real o sonho desta publicação. Ao Governo do Amazonas, que através da Fapeam e da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável apoiaram a realização do I Seminário de Criação e Manejo de Quelônios da Amazônia Ocidental, em 2004, que deu origem a este livro. Ao Programa Trópico Úmido, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico/CNPq, ao Ibama-AM e à Universidade Federal do Amazonas pelos recursos financeiros, humanos e logísticos empregados nesses nove anos de pesquisa, e pelo reconhecimento da importância estratégica da fauna para a região amazônica. Ao Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) pela trajetória de luta. Ao coordenador do PTU/CNPq, Dr. Luís Alberto dos Santos Monjeló, por todo o apoio, boa vontade e, fundamentalmente, otimismo, mesmo nas horas mais difíceis. Ao ex-Presidente do Ibama, Hamilton Casara, incentivador dos trabalhos interinstitucionais e da pesquisa com fauna no Amazonas. Ao sr. Geraldo Lima, nosso motorista, que vem acumulando “milhas” de estrada e de biometria de tartaruga junto com a nossa equipe. Aos técnicos do Ibama, acadêmicos da Ufam, bolsistas e voluntários de todas as horas trabalhadas com quelônios (João, Pedro, Francimara, Paulo Henrique, Francivane, Sandra, Renata, Luís, Kildare, Clóvis, Anndson, Eleisson, Wander, Jonathas, Carlos, Hugo, Hellen, Cléo, Midian e Vickson). À Ediana e ao Gustavo, por terem conseguido suportar toda essa loucura que foi acompanhar as pesquisas e editar este livro em três meses. Ao Stones Júnior, pela paciência e horas de conserto dos problemáticos computadores desta edição. Aos meus pais, familiares e, sobretudo, so bretudo, à Deus!
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Sumário Introdução............................. Introdução.............. .............................. ............................. ........................... ............... 1 Capít Ca pít ulo 1: Manejo comunitário de quelônios – a parceria ProVárzea/Ibama – Pé-de-Pincha................. Pé-de-Pincha........................ ....... 12 Capítulo 2: Revisão as características principais espéc espécies ies desobre quelônios aquáticos das amazônicos..................... amazônicos...... .............................. .............................. .............................. .................. ... 24 Capítulo 3: Áreas 3: Áreas de reprodução de quelônios protegidas pelo RAN-Ibama RAN-Ibama/Amazonas /Amazonas e Ufam................. Ufam............. .... 55 Capítulo 4: Ecologia 4: Ecologia de quelônios pelomedusídeos na Reserva Biológica do Abufari............................. Abufari...................................... ......... 127 Capítulo 5: Genética 5: Genética molecular das populações das espécies de quelônios do gênero Podocnemis na Amazônia:: resultados preliminares............................... Amazônia preliminares................................. .. 174 Capítulo 6: Fisiologia 6: Fisiologia e bioquímica de quelônios e suas implicações para.............................. o manejo.............................. e a criação em cativeiro................................... cativeiro.................... ....................... ........ 193 Capítulo 7: Instalaçõe 7: Instalaçõess para a criação de quelônios...... quelônios........ 222 Capítulo 8: Alimentação 8: Alimentação e nutrição de quelônios aquáticos amazônicos (Podocnemis spp .)................ )........................ ........ 259 Capítulo 9: Desenvolvimento 9: Desenvolvimento de tartaruga-daamazônia (P.expansa ) e tracajá (P. unifilis ) em cativeiro, alimentados com dietas artificiais em diferentes instalações................................. instalações................................................ .................... ..... 287 Capít Ca pítulo ulo 10: Manejo 10: Manejo em criações de quelônios aquáticos no Amazonas: adubação, densidade de cultivo, desempenho de diferentes espécies, populações e sexo........................... sexo............ .............................. .............................. ................. 329 Capít Ca pítulo ulo 11: Manejo 11: Manejo reprodutivo, predação e sanidade....................................................................... 367 Capít Ca pítulo ulo 12: Caracterização 12: Caracterização socioeconômica e ambiental da criação c riação de quelônios no estado do Amazonas e comercialização........................... comercialização.......................................... ................. 408 Capít Ca pítulo ulo 13: Cultivo 13: Cultivo de tartaruga-da-amazônia tartaruga-da-amazônia (P. expansa ): ): alternativa ecológica, técnica e econômica ao agronegócio amazônico........................... amazônico.......................................... ................... .... 437 Capít Ca pítulo ulo 14: Abate 14: Abate experimental da tartaruga-da amazônia (P. expansa ) fic criada em cativeiro................ cativeiro..................... ..... Referênci Ref erências as biblio bibliográ gráfic as..... as.......... .......... .......... .......... .......... .......... .......... ........ ... 449 487
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Introdução
O homem da Amazônia sempre aproveitou os recursos da fauna como alimento ou fonte de subprodutos (peles, penas, óleos, etc.) para a venda. A proibição da caça, em 1967, não extinguiu essa atividade, mas a reduziu drasticamente, retirando uma das fontes de renda dos ribeirinhos. Desde o século XVII que a região onde hoje se situa o estado do Amazonas é conhecida como o grande berçário de quelônios de água doce. A exploração realizada pelos portugueses trazia à capitania de São José da Barra do Rio Negro, milhões de tartarugas (Podocnemis expansa ), ), tracajás (Podocnemis unifilis ) e iaçás (Podocnemis sextuberculata ) para serem abatidos. Em 1792, segundo relatos de Silva Coutinho apud Andrade Andrade (1988), registrase em apenas um ano o abate de 24 milhões de tartarugas na cidade da Barra do Rio Negro, a futura Manaós. A primeira proibição surge em 1849, restringindo a produção de manteiga de ovos e proibindo o consumo de filhotes. Em 1855, surge a primeira Resolução de nº 54 protegendo os tabuleiros do Solimões, Amazonas, Urucurituba, Negro e outros, pois as espécies, principalmente a tartaruga, começavam a desaparecer. Todavia, na Manaus dos idos de 1950 e 1960, era comum vender tartarugas em carrinhos de mão pelas ruas. No Mercado Adolpho Lisboa, o principal da cidade, havia uma área com “curral” para armazenamento dos animais vivos que, posteriormente, eram abatidos. No Careiro, Terra Nova e outras áreas próximas a Manaus, eram mantidos grandes depósitos de
quelônios para abastecer a capital amazonense (Andrade, 1988)
. Antes da proibição total do comércio e captura de quelônios, em 1967, o então presidente Castelo Branco publicou uma portaria proibindo o comércio de tartaruga em feiras e mercados. Essa medida criou uma situação de conflito no Amazonas, pois a comercialização de produtos de animais silvestres constava, inclusive, na pauta de cobrança de impostos da Secretaria da Fazenda. Pelo transporte em embarcação fluvial de 20 tartarugas adultas era cobrado Imposto de Circulação de Mercadoria (ICM) de Cr$80,00 (oitenta cruzeiros) equivalente, hoje, a cerca de R$15,00. Em Parintins, por onde passavam embarcações advindas do Pará, trazendo tartarugas do rio Trombetas, Tapajós e do Xingu, houve problemas entre entre a coleto coletoria ria do est estado ado e a Delegacia loca locall 1. Com a Lei de Proteção à Fauna, Lei Nº 5.197 de 1967, o comércio de quelônios foi oficialmente proibido, todavia, o mercado clandestino vem tornando-se cada vez mais forte e organizado. Essa mesma lei já previa em seu Artigo 6º, item b, a “construção de criadouros destinados à criação de animais silvestres para fins econômicos e industriais”. Em 1969, saiu a primeira portaria tentando normatizar esse novo tipo de empreendimento, a Portaria Nº 1.136/1969. Em 1973, com a Portaria Nº 1.265P, ficava autorizada na Amazônia a implantação de criadouros da fauna. Um dos primeiros grandes projetos de criação de quelônios da Amazônia começou, na verdade em 1964, sendo, posteriormente, acompanhado pelo extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimen Desenvolvimento to Florestal (IBDF). Foi o do Lago do Salé, em Juruti, em que filhotes de tartaruga oriundos do rio Trombetas eram criados até atingirem 8 kg
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1 Manuel Andrade, Gerente de Operações da A. Raposo e Cia. Distribuidora de combustível no Baixo Amazonas, no período de 1960 a 1975. Informação pessoal.
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com, aproximadamente, 6 anos de idade, quando eram comercializados. comercializa dos. O criatório pertencia ao sr. José Maria Vieira que, segundo relatos, recebeu em um único lote 100.000 tartaruguinhas. No Estado do Amazonas, as atividades do Projeto Quelônios da Amazônia tiveram início em 1975 com trabalhos no rio Branco (afluente do rio Negro) e em Codajás, sendo que em 1977 foram criados oficialmente vários tabuleiros no Purus (Axioma, Santa Luzia, Aramiã, e outros) e no Juruá (próximo a Carauari: Deus é Pai, Pão, Pupunha, Manariã; e em Itamarati: Walter Buri, Marimari, Iracema, etc.). Grande parte dessas áreas eram tabuleiros oriundos do trabalho de conservação executado por grandes seringalistas daquela região. O Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), com apoio dos proprietários locais e da experiência das comunidades próximas, treinou pessoas e, já naquele ano, houve produção de cerca de 55.000 filhotes nas áreas protegidas do Juruá (RAN-AM, 2001). Em 1989, a proteção passou a ser realizada apenas nos tabuleiros do Abufari (rio Purus) e em Walter Buri (rio Juruá), sendo a produção desses dois tabuleiros estimada em 108.319 filhotes de quelônios. A partir de 1995, os trabalhos de proteção passam a se concentrar na Reserva Biológica do Abufari (onde se encontra o tabuleiro/praia de maior produção de quelônios no Amazonas), em Walter Buri e na Reserva Extrativista do Médio Juruá (maior área produtora de quelônios do estado). A produção da praia do Abufari foi de 67.680 filhotes em 1977, subindo para 415.000 em 1994, caindo para 170.000 em 2000. Em 2003, a produção estimada de filhotes de tartaruga em Abufari foi de 260.000 animais. A Resex do
Médio Juruá protege cerca de dez tabuleiros remanescentes das áreas protegidas pelos antigos donos de seringais: Jacaré (seringal Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é Pai, Manariã, Ati
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(comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana, Bom Jesus, Marari (comunidade do Pau-Furado), Itanga, Mandioca. A produção média é estimada em 250.000 filhotes de tartaruga, tracajá e iaçá. Desde 2001, o Ibama tem trabalhado em 73 áreas diferentes, em oito calhas de rio (Juruá, Purus, Madeira, Negro, Uatumã, Amazonas, Nhamundá e Trombetas), com uma produção média anual de 1.500.000 filhotes de quelônios (Andrade, 2002). A venda ilegal de quelônios capturados na natureza ainda é extremamente elevada no Estado do Amazonas. A tartaruga e o tracajá são as espécies mais procuradas para a criação comercial. A criação de quelônios depende da retirada de milhares de filhotes dos tabuleiros protegidos pelo Ibama. O principal fornecedor, de 1995 a 1998, era a Reserva Biológica do Abufari, sendo que a retirada anual de filhotes carecia de qualquer critério científico, com cotas arbitrariamente estabelecidas. Não existiam informações ou qualquer investigação sobre os estoques naturais. Nada se sabia sobre a abundância e densidade, área de vida, uso de habitats, taxas de sobrevivência de filhotes em diferentes estágios de vida (filhotes, jovens, subadultos e matrizes). Hoje, os principais fornecedores de filhotes para os criadores do Amazonas são os tabuleiros de Walter Buri, no rio Juruá, monitorado pelo Posto de Eirunepé, e Sororoca e Toró, no rio Branco/RR. No Estado do Amazonas existem aproximadamente 196 projetos de criação comercial de animais silvestres, em análise, junto ao Ibama-AM, sendo que já encontram-se registrados 78 criadouros em Manaus, 21,66%; Manacapuru, 21,66%; Itacoatiara, 21,7%;
Iranduba, 4,7%; Rio Preto da Eva, 21,66%; Lábrea, 4,7%; 4, 7%; São Gabriel da Cachoeira, 2%; e Urucará, 2% (Canto et al., 1999). Destes, 88,46% são criatórios de tartaruga. O Estado é o que possui o maior número
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de criatórios comerciais de quelônios do país, com uma demanda
crescente passando de 11 criadouros registrados, em 1997, para 33 criadouros em 2000, atingindo em 2001, 52 criatórios registrados. Ao final de 2003 eram 69 criadouros com cerca de 400.000 animais em cativeiro (Andrade et al., 2003). Quanto ao potencial de mercado, os quelônios são, freqüentemente, encontrados nas feiras e nas embarcações, em todo o Amazonas, tendo como principal ponto de comercializaçã comercialização o (90%), Manaus, representando a ordem de animais mais apreendida, com 52,2%. A venda de quelônios (tartaruga e tracajá) sob encomenda representa 22% do total de animais silvestres comercializados para alimentação. OsManaus municípios onde maior número apreensões são (59%), Teféocorre (12%), oManacapuru (7%)dee Tapauá (2%). Na área urbana de Manaus o maior número de apreensões incide em áreas de populações de baixa renda advindas do interior (zona leste). A tartaruga (80%), a paca (33%) tracajá (30%) são os animais silvestres de maior interesse para os restaurantes, onde os preços variam de R$ 7,57 a 18,76/kg. Nas feiras, os preços de venda ilegal da carne variam de R$ 2,00 a R$ 4,00/kg (C (Canto anto et al., 1999). O consumo de quelônios na Amazônia ainda é um hábito arraigado na população local, o que tem levado à caça e comercialização ilegal de ovos e de animais adultos. A criação comercial, permitida pela Portaria Nº 142/92, ainda não consegue atender o mercado e seus preços, ainda são elevados. A demanda por filhotes para criação, também é grande e o Ibama não está
conseguindo atender a todos que querem criar, pois não possui um número suficiente de tabuleiros protegidos (Andrade et al., 2003 e 1999). O esvaziamento do meio rural a falta parano a agricultura levaram a um quadro eme que os de queincentivos sobreviviam interior passaram a trabalhar quase que exclusivamente como
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vaqueiros na pecuária, na agricultura de subsistência ou como pescadores. Como essas atividades não geram tanta renda, a subsistência e a captação de recursos são conseguidas pela exploração dos recursos naturais. Nesse contexto, entram a castanha, a madeira e a fauna, em sua grande maioria exploradas de maneira predatória e irracional (Smith & Pinedo, 2002). Devido à caça de adultos e à coleta de ovos, as populações de quelônios vêm desaparecendo. Adultos e ovos são coletados pelas comunidades locais para consumo ou venda para Manaus. Em Carauari, Juruá e Parintins/AM, todavia, algumas áreas foram protegidas por iniciativa dos próprios produtores rurais e por associações comunitárias ambientalistas. Desde 1999, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam)Nhamundá, e o RAN/Ibama-AM, com o apoio das comunidades de Parintins, Barreirinha, Terra Santa, Juruti e Oriximiná, das prefeituras locais, CNPq, Fapeam, Programa Universidade Solidária e ProVárzea vêm realizando o manejo participativo de quelônios, tendo realizado as seguintes atividades: Seminário Sobre Manejo Sustentável de Tracajás (255 participantes) e reuniões (21.630 participantes); Capacitação de 101 agentes ambientais; Curso e Reciclagem em Educação Ambiental para 405 professores; Construção de cercados nas áreas protegidas e transferência de ninhos; 5. Fiscalização; Palestras nas escolas e comunidades (67.606 participantes) sobre meio ambiente e alternativas de desenvolvimento; Minicursos (tecnologia do pescado, criação caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias, manejo de quelônios, etc., 1.021 participantes); Treinamento de
campo para 86 professores, 684 alunos e 238 comunitários, e visita a campo com 660 participantes; Participação de 850 famílias, envolvimento direto de 3.455 pessoas, e abrangência de 23.400 pessoas nas 83 comunidades e na sede. Nos primeiros anos, em 1999 - 2000, foram transferidos 1.847 ninhos, 38.229 ovos
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e soltos 29.476 filhotes na natureza (Andrade et al., 2001). O número total de filhotes devolvidos à natureza de 1999 a 2007 chega a 646.459 (74,4% tracajás, Podocnemis unifilis ; 7,6% tartarugas, P.expansa ; 10,9% iaçás, P.sextuberculata ; e 7,1% irapucas, P.erythrocephala) em oito anos. Através deste programa de
conservação de recursos naturais e extensão, denominado “Pé-dePincha”, o Ibama e a Ufam conscientizaram e capacitaram essas 83 comunidades de 7 municípios do Médio-Baixo Amazonas para o manejo racional de quelônios. Apesar de explorados de forma predatória, sem técnicas para o extrativismo de forma sustentável, a tartaruga ( Podocnemis expansa ), sextuberculata a ) têm ampla ), o tracajá (P. unifilis ) e o iaçá (P. sextuberculat
distribuição e potencial reprodutivo, sendo uma alternativa real de proteína (qualidade e quantidade) na dieta dos habitantes da Amazônia. Contudo, para o uso desse recurso é necessário que seja desenvolvido um programa de manejo para evitar uma superexploração (Voigt, 2003). As taxas de exploração da população, sua sobrevivência, recrutamento e tamanho podem ser estimados através do estudo de dinâmica de populações. A avaliação dos estoques (grupos discretos de animais com parâmetros populacionais constantes na área de distribuição) tem como finalidade fornecer orientações sobre o nível ótimo da exploração desses recursos aquáticos renováveis (Ibama, 2003; Bataus, 1998). A criação de quelônios em cativeiros licenciados poderá, de certa forma, amenizar a situação desses animais quanto à
pressão de caça e à extinção. Através da Portaria nº 142/92 do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, que normatiza a criação comercial da tartarugada-amazônia e do tracajá, em cativeiro, o Governo brasileiro pretendeu proporcionar ao consumidor de produtos da fauna, a oportunidade de conseguir o animal para consumo, de forma legal,
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contribuindo para a conservação e a preservação de ambas as
espécies e para a diminuição da caça predatória, oferecendo uma nova alternativa comercial para os produtores rurais locais (Duarte, 1998). Hoje, a venda ilegal ainda é “quantitativa e qualitativamente” uma forma de concorrência desleal para a queloniocultura amazonense. Entretanto, espera-se que o aumento da oferta de produtos oriundos de criadouros licenciados de animais silvestres diminua a pressão de caça sobre os estoques naturais, cujo manejo natural será um fator importante para manter a conservação das espécies de elevado valor econômico. Apesar da importância estratégica dessa atividade, até meados da década de 1990, poucas pesquisas haviam sido realizadas que pudessem oferecer subsídios científicos para tecnologias adequadas e eficientes de manejo em cativeiro. Até bem pouco tempo, não se tinha idéia de parâmetros como taxa de crescimento, alimentação e exigências nutricionais, densidade da criação, instalações, entre outros, para a criação em cativeiro (Silva, 1988; Cenaqua, 1994; Ferreira, 1994). A maioria das informações, possivelmente geradas pelo Ibama, ainda não haviam sido disponibilizadas em livros ou periódicos científicos para o público. Hoje, na Amazônia brasileira, as espécies economicamente
expressivas e autorizadas pelo Ibama para criação comercial são a tartaruga (Podocnemis expansa ) e o tracajá (P. unifilis ). ). Para estimular a criação desses animais em cativeiro, o antigo Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia – Cenaqua, hoje RAN (Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios), criou os Núcleos Experimentais de Tecnologia de Criação de Quelônios. No Amazonas, esses núcleos não foram criados e os queloniocultor queloniocultores es
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pioneiros não tiveram assistência técnica adequada, baseando suas criações no conhecimento empírico e em algumas informações repassadas pelo Cenaqua – Ibama, Amazonas (Duarte, 1998). Diante da real situação da criação em cativeiro de tartaruga e tracajá no estado do Amazonas, percebeu-se a necessidade de determinar parâmetros zootécnicos para a queloniocultura e a partir desse quadro, diagnosticado, propor formas de manejo para garantir melhores desempenhos desses animais em cativeiro. A Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e o Ibama iniciaram em 1997 o projeto Estudos de Zootecnia, Biologia e Manejo de Animais Silvestres para a Região Amazônica e em 1998 o Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do Amazonas, com apoio do Programa Trópico Úmido/CNPq. Através dessa parceria, um grupo de pesquisadores das duas instituições passou a desenvolver trabalhos sistematizados de manejo, nutrição, genética, fisiologia e bioquímica, parasitologia, ecologia reprodutiva, biologia do crescimento e estudos socioeconômicos sobre os criatórios. Em visitas bimestrais aos criadores, os pesquisadores passaram a prestar assistência técnica repassando, simultaneamente, os resultados das pesquisas que estavam realizando. Além dessa atividade de extensão direta, os trabalhos do grupo foram divulgados através da mídia, o que gerou uma procura
muito grande por implantação de projetos individuais e comunitários, cursos e material bibliográfico. A Ufam e o Ibama conseguiram, nos últimos nove anos, aprovar projetos na área de criação e manejo de animais silvestres, que totalizam R$ 827.828,19 destinados à pesquisa básica e aplicada, sendo que a Ufam destinou recursos de capital e custeio
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de mais de R$ 61.533,10 como contrapartida para o projeto “Diagnóstico.../PTU” e para projetos PIBIC, e de R$ 65.000,00 para o Projeto de Extensão “Pé-de-Pincha”, além da concessão de bolsas institucionais de iniciação científica e de extensão, totalizando R$ 58.560,00. As principais unidades de pesquisa com criação de animais silvestres são a Fazenda Experimental da Universidade, com criatórios comerciais de quelônios e capivaras, e científicos, de caititus, queixadas, pacas, cutias e jabutis, e o Centro Experimental de Criação de Animais Nativos de Interesse Econômico (Cecan), do Ibama-AM. Além desses, completam as unidades de pesquisa os laboratórios de criação de animais silvestres, de zoologia, de parasitologia e de genética. O campus avançado de Parintins é a base logística para os trabalhos com manejo participativo de quelônios, por comunidades no Baixo Amazonas e oeste do Pará. Essas informações demonstraram a importância estratégica que a Universidade Federal do Amazonas e a Divisão de Fauna do Ibama-AM conferiram à pesquisa com criação e manejo de animais silvestres, sendo que, graças aos resultados alcançados, pode-se dizer que, hoje o Amazonas possui um pacote tecnológico mínimo para servir de referência aos criadores de quelônios, capivaras, pacas e cutias no estado (densidade de cultivo; tipo de instalação; alimentos preferidos; comportamento; desempenho de diferentes
populações; aspectos de nutrição; avaliação socioeconômica das criações; índices zootécnicos; principais parasitas, local e época de abate). Além da pesquisa aplicada, o projeto gerou inúmeras informações sobre a variabilidade genética e citogenética de animais silvestres, parâmetros fisiológicos dos animais pesquisados e sobre a ecologia reprodutiva e predação de quelônios. O trabalho junto aos criadores permitiu o repasse imediato dos resultados da pesquisa e uma conseqüente melhoria nas técnicas de criação.
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Os resultados foram amplamente divulgados na mídia e em congressos locais, nacionais e internacionais, através de periódicos, fôlderes e, finalmente, em cartilhas. Este livro serviu de base de discussões durante o I Seminário de criação e manejo de quelônios da Amazônia ocidental, realizado em Manaus, em 2004, pela Ufam, Ibama e Secretaria Estadual de Desenvolvimento Sustentável (SDS). Com o apoio do ProVárzea/Ibama, ProVárzea/Iba ma, a edição deste trabalho tem por objetivo servir de material didático e de consulta para produtores, técnicos do setor primário e estudantes de graduação, ou cursos técnicos, que desejam obter informações compiladas sobre as técnicas de criação e manejo desse importante recurso faunístico das áreas de várzea, que são os quelônios, resultado dos estudos realizados com os queloniocultores do Amaz Amazonas, onas, nos últimos dez anos.
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Capít Ca pítu ulo 1 Manejo com Manejo c omu unit nitár ário io de qu q uelô elônios nios A pa parce rceria ria Pro ProVár Várzz ea/Ibama ea/Ibama – Pé Pé--dede-Pi Pincha ncha Marcelo Derzi Vidal1 Tiago Viana da Costa Costa2
A várze várzea a A várzea é um dos ecossistemas mais ricos da bacia amazônica em termos de produtividade biológica, biodiversidade e recursos naturais. Meio de vida para mais de 1,5 milhão de ribeirinhos, a várzea várzea ocupa 300 mil km2, ao longo da calha dos rios Amazonas/Solimões e seus principais tributários, tamanho equivalente a 6% da superfície da Amazônia Legal (Santos, 2004). Seus rios e lagos, bem como outros corpos de água da Amazônia, abrigam 25% das espécies de peixes de água doce do mundo e outro número expressivo de anfíbios, répteis, aves e mamíferos que interagem em um complexo e exuberante, porém frágil, ecossistema. Apesar de sua capacidade produtiva e resiliência natural, o atual modelo humano de utilização dos recursos naturais está levando à degradação progressiva de suas áreas. Entre as principais causas
desse processo podemos destacar (a) a gestão ineficiente; (b) a falta de políticas específicas para promover o desenvolvimento sustentável em seu ambiente – crédito, desenvolvimento tecnológico, tecnológico, infra-estrutura e regularização fundiária; (c) a escassez de sistemas
1- Gerente do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama –
[email protected] marcelo.vidal@i bama.gov.br
[email protected] [email protected] 2 - Técnico do Componente Iniciativas Promissoras do ProVárzea/Ibama ProVárzea/Ibama –
[email protected]
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efetivos de manejo dos recursos naturais; (d) a deficiência do sistema de monitoramento e controle; e (e) a falta de uma estratégia de conservação específica para o ecossistema de várzea (Santos, 2005). O Pro ProVárze Várzea/Iba a/Ibama ma Visando atenuar a progressiva degradação nessa região, considerada uma das mais vulneráveis da Amazônia, o Projeto Manejo dos Recursos Naturais da Várzea (Ibama, 2002) surgiu para fomentar a conservação e o desenvolvimento sustentável da várzea, incentivando a participação das populações tradicionais que nela habitam. Vinculado ao Programa-Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil – PPG-7 e executado pelo Institu Instituto to Brasile Brasileiro iro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – Ibama, o projeto tem como objetivo estabelecer as bases técnica, científica e política para a conservação e o manejo sustentável dos recursos naturais das várzeas da região central da bacia amazônica. Uma das ações para o alcance de seu objetivo é o apoio a projetos que desenvolvam sistemas inovadores de manejo dos recursos naturais, que sejam sustentáveis dos pontos de vista social, econômico e ambiental, e que possam ser multiplicáveis não somente em outras áreas da várzea amazônica, mas também em
outras regiões do país. No período de 2002 a 2006, o ProVárzea/Ibama, por meio do Componente Iniciativas Promissoras, investiu um montante de R$ 8.451.456,57 em 25 projetos nas seguintes linhas temáticas: (a) manejo dos recursos florestais; (b) manejo dos recursos pesqueiros; (c) agropecuária; e (d) fortalecimento institucional. Desse total de recursos, uma expressiva parcela foi destinada a atividades de capacitação, monitoramento e manejo de recursos, e escoamento e comercialização da produção. Ao todo, 115.486 pessoas foram atingidas diretamente nos 38 municípios dos estados do Amazonas e Pará, por meio dos projetos (Figura 1) .
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I n F i i g c u r t a i a i v a 1 s . P M r o u mn i c i s s p o í i r o a s s d a o b r P a r o n V g á d i r o z e s a p / e I l b o a s m a p r . o j e t o s a p o i a o d s
p e l o C o m p o n e n t e
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O Projet Projeto o Pé-d Pé-dee-Pincha Pincha O Projeto Pé-de-Pincha surgiu em 1999 dentro da Universidade Federal do Amazonas – Ufam, a partir da demanda de alguns comunitários do município de Terra Santa, no Pará, que solicitaram apoio para a realização de atividades que levassem ao uso racional da fauna, com ênfase em quelônios, recurso outrora abundante na região mas que, devido ao uso desregrado e predatório, havia se tornado escasso. Para iniciar as ações do projeto, os técnicos e professores da Ufam firmaram parcerias com o Ibama, as prefeituras e os comunitários. Atualmente, o Projeto Pé- de-Pincha é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar que integra professores, técnicos, estagiários e voluntários de diversas instituições e comunidades. Suas ações são executadas em 76 localidades nos municípios de Parintins, Barreirinha e Nhamundá, no estado do Amazonas, e Terra Santa, Oriximiná, Faro e Juruti, no estado do Pará. Entre os objetivos do projeto, além da preservação de tracajás (Podocnemis unifilis ), ), pitiús (P. sextuberculata ), ), tartarugas (P. expansa ) e irapucas ( P. erythrocephala ), ) , pelos próprios
comunitários, estão presentes as possibilidades de utilização do recurso para subsistência, a criação em cativeiro e a comercialização de filhotes para criatórios autorizados. Soma-se a isso todo um programa de educação ambiental com palestras, capacitação de professores e alunos, formação de agentes ambientais voluntários, atividades de incentivo ao ecoturismo e organização das comunidades em associações e cooperativas. A parceria No ano de 2003, a Ufam, po porr meio da Fundação R Rio io Solimões – Unisol, apresentou a proposta do Projeto Pé-de-Pincha no processo seletivo de apoio a projetos de manejo dos recursos naturais do ProVárzea/Ibama.
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Em agosto de 2004, após uma seleção que contou com mais de 27 propostas, o ProVárzea/Ibama iniciou o apoio às atividades do projeto Manejo Sustentável de Quelônios (Podocnemis sp.) por comunidades do Médio e Baixo Amazonas – Projeto Pé-de-Pincha. O custo total do projeto é de R$ 482.921,00. Sendo R$ 338.130,00 de recursos oriundos do ProVárzea/Ibama e R$ 144.791 fazem parte da contrapartida da Ufam. Aspect Asp ect os a ambientais mbientais A estratégia de preservação adotada pelo Pé-de-Pincha é baseada em diversas fases e atores que, sendo complementares, resultam em ações significativas. Inicialmente, Agentes Ambientais Voluntários – AAVs credenciados pelo Ibama e comunitários realizam, anualmente, no período de desova a fiscalização das praias utilizadas para a nidificação dos quelônios. O segundo passo é a identificação e transferência dos ninhos das praias naturais para as artificiais, também denominadas
“berçários”, seguido do acompanhamento do nascimento dos filhotes e da obtenção de dados biométricos (Fig. 2). Finalmente, após três meses de nascidos, ocorre a soltura dos filhotes nas praias originalmente utilizadas para desova e a distribuição de aproximadamente 20% do número de nascidos para criadores credenciados, sejam eles com fins comerciais ou de subsistência. No período de 2004 a 2006, as ações do Pé-de- Pincha resultaram em uma elevação do número de filhotes devolvidos à natureza, que representaram um aporte de 192 mil e 195 novos indivíduos ao ambiente natural. Quando comparamos o número de ninhos, o número de ovos e o número de filhotes devolvidos à natureza (Fig. 3), podemos inferir que a permanência dos filhotes nos berçários, por cerca de três meses após o nascimento, tem permitido maiores chances de sobrevivência quando devolvidos ao ambiente natural.
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B
A
C Figura 2. 2. (A) Ninho de quelônio em praia natural; (B) Ninhos de quelônios em praias artificiais; (C) Biometria de filhotes.
Devido às ações desenvolvidas pelo projeto, é provável que o número de filhotes produzidos pelo Pé-de- Pincha seja superior em relação ao que poderia ser produzido em ambiente natural. Isso é ainda reforçado, segundo os comunitários, pela maior quantidade de indivíduos adultos que vem sendo observada nas áreas manejadas, o que há muito tempo não acontecia. Entretanto, analisando por espécie manejada, pode-se verificar um grande aumento no número de ninhos e ovos de irapucas, ao contrário das demais espécies de quelônios trabalhadas pelo projeto que, praticamente, mantiveram-se constantes ao longo de três anos (Tab. 1). Esses valores podem estar relacionados à grande pressão antrópica sobre espécies culturalmente utilizadas para consumo
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e que apresentam um valor comercial elevado, tais como a tartaruga e o tracajá.
90.000 80.000 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 0 2004
2005 Nº Ninhos
Nº de Ovos
2006 Soltura
Figura 3. Gráfico 3. Gráfico comparativo entre o número de ninhos, número de ovos e soltura no período de 2004 a 2006.
T abela Tabel a 1. Acompanhamento 1. Acompanhamento das desovas de quelônios no período de 2004 a 2006.
Espécie Tracaj Tracajá Pitiú á Tartaruga Tartar uga Irapuca Total
2004 Nº de Nº de ninhos ovos
2005 Nº de Nº de ninhos ovos
2006 Nº de Nº de ninhos ovos
2.504 830 83 70 3.487
3.315 797 39 282 4.433
2.823 537 64 755 4.179
55.384 12.791 5.964 597 74.736
67.034 11.004 3.888 2.059 83.985
61.525 9.030 6.331 5.838 82.724
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Aspect Asp ect os ssoci ociais ais Um fator de sucesso do Pé-de-Pincha é o excelente trabalho de educação ambiental desenvolvido nas instituições de ensino dos municípios abrangidos. O projeto consegue mobilizar professores, técnicos e alunos de escolas municipais e estaduais, e os professores têm se mostrado extremamente satisfeitos com os conhecimentos adquiridos e materiais didáticos utilizados. As atividades realizadas com o intuito de promover a educação ambiental foram baseadas em cursos, palestras, gincanas e apresentações artísticas e culturais desenvolvidas pelos técnicos e comunitários participantes do projeto. Até o momento, foram realizadas 356 atividades de educação ambiental com uma participação média de 4.179 pessoas por semestre e capacitando 252 professores nas diversas áreas de atuação do projeto. O projeto conta ainda com uma excelente participação de
crianças e adultos nas atividades de transferência de ninhos e soltura de filhotes, sendo este último um evento festivo e que congrega representantes de diferentes idades, sexo, religião, classe social e cor, e cria condições básicas para um trabalho de conservação que apresenta retorno produtivo em médio e longo prazo (Fig. 4). O sucesso das atividades desenvolvidas pelo Pé-de- Pincha também pode ser medido pela expectativa que tem gerado nos municípios vizinhos, onde é visto como um exemplo de sucesso a ser seguido, sendo os técnicos e monitores constantemente convidados a proferirem palestras e cursos sobre a experiência desenvolvida. Aspectos As pectos econômico econômicoss A criação em cativeiro promovida pelo Pé-de- Pincha visa suprir uma demanda cultural nas áreas de várzea –
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o consumo de carne e ovos de quelônios – e ainda satisfazer as novas tendências dos mercados nacionalde e internacional, cada veze mais têm procurado alternativas produção que que promovam valorizem o manejo de fauna silvestre por populações tradicionais. Nesse aspecto, até o momento, foram implementados 26 criadouros autorizados pelo Ibama (Fig. 5), distribuídos nos municípios de Barreirinha, Parintins, Terra Santa e Oriximiná, e alojados 8.187 animais. No entanto, a comercialização ainda não ocorreu, pois os indivíduos ainda não apresentam o tamanho de abate que requer o mercado. A experiência da criação em cativeiro promove um aporte de informações biológicas (taxas de crescimento, densidade de indivíduos por área, recursos alimentares, doenças, entre outros) sobre as espécies manejadas e que podem ser comparadas com experimentos em condições melhores controladas e com dados obtidos a partir de animais provenientes de áreas naturais.
Figu Fig ura 4. 4. Soltura Soltura de filhotes no município de Terra Santa, Pará.
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Fi gura 5. Modelo de tanque utilizado para a criação de quelônios em Figura cativeiro. Disseminação O projeto Pé-de-Pincha alcançou uma boa articulação e parceria com instituições locais (associações, escolas, grupos de jovens, etc.), prefeituras, organizações de ensino e pesquisa (Inpa, Ufam, ONGs), de conservação e controle (Ibama) e tem utilizado um amplo leque de instrumentos de difusão (rádio, matérias na televisão, jornais, cartilhas, etc.), o que tem feito com que as ações não somente sejam divulgadas em outras áreas, mas que ocorra a replicação baseada nas experiências do projeto (Fig.6).
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Outra relevante estratégia de disseminação é o intercâmbio das iniciativas promissoras. O evento, realizado anualmente desde 2002 pelo ProVárzea/Ibama, promove a troca de experiências entre técnicos, lideranças comunitárias e coordenadores dos projetos apoiados. O evento permite ainda ampliar a visão dos participantes, compartilhar avanços e dificuldades e criar laços de amizade e colaboração para a execução dos projetos.
Fig ura Figur a 6. Cartilha produzida a partir das experiências do Projeto Pé-dePincha.
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Conclusão
Quando analisamos os avanços obtidos ProVárzea/Ibama – Projeto Pé-de-Pincha podemos iniciativa não é somente promissora. Hoje a consolidada e promove um diálogo de saberes empíricos, diferentes sim, porém complementares.
pela parceria concluir que a parceria está acadêmicos e
Ao longo da parceria verifica-se a qualificação e o
aperfeiçoamento dos participantes que passaram a ter um vocabulário mais rico, melhorando sua capacidade para transmitir e adquirir informações de forma contínua. Muitos passaram a se entender como pessoas, com uma riqueza de conhecimentos sobre seu ambiente, o que lhes ajuda a viver e conviver com os limites do ecossistema local, promovendo a busca de melhores metodologias, a replicação de atividades bem-sucedidas e, principalmente, a discussão de políticas públicas socioambientais mais efetivas e adequadas ao cenário amazônico.
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Capít Ca pítu ulo 2 Re v isão Rev isão sobre as cara caract cterí erísti sticas cas da dass princi principa pais is espéciess d espécie dee quelônios quelônio s a aqu quá át icos ic os a amazô mazônico nicoss João Alfredo da Mota Mota Duarte Francimara Sousa da Costa Paulo Cesar Machado Andrade
Os quelônios existem, aproximadamente, desde o Jurássico (250 milhões de anos) até hoje, e possuem de 211 a 335 espécies de água doce, salgada (8) ou terrestre (34) (Garschagen, 1995). Durante o fim do Cretáceo e o começo do Paleoceno, os répteis sofreram uma extinção, quando muitas tartarugas de diversas famílias foram extintas. No Cretáceo, o gênero Podocnemis existia na América do Norte. Durante o Cretáceo superior e o Eocênico são encontrados fósseis desse gênero na Europa e África. Hoje, esse gênero existe em Madagascar (África) e na América do Sul, indicando ser bastante antigo (Alho, Carvalho & Pádua, 1979). Na Amazônia brasileira, os quelônios do gênero Podocnemis são a tartaruga (Podocnemis expansa ), ), o tracajá (P. unifilis ), ), o iaçá ou pitiú (P. sextuberculata ) e a irapuca (P. erythrocephala ) (Figura 1). Sendo encontrados também outros quelônios como cabeçudo (Peltocephalus dumerilianus ), ), jabuti (Geochelone carbonaria e o G. denticulata ), ), matamatá (Chelus fimbriatus ) muçuã (Kinosternon
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scorpioides ), ), aperema (Rhinoclemmys punctularia ), ), jabuti-machado (Platemys platycephal platycephala a ) e lalá ou cágado ( Phrynops nasutus ) (Molina
& Rocha, 1996).
Figura 1: 1: Filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis ), ), irapuca (P. erythrocephala ), ), iaçá (P.sextuberculata ) e tartaruga (P.expansa ) (de cima para baixo, sentido antihorário).Foto: horário).Fot o: Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.).
Tart T artaruga aruga (Podocnemis expansa ) No Estado do Amazonas há a ocorrência natural da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa ) que, na linguagem indígena, é denominada por jurará-açu, araú e, provavelmente, aiuçá para indivíduos novos (Figura 2). Sendo conhecida por tortuga, tortue, tartarucha, turtle, schildkrote, tataroukhos , em espanhol, francês, latim, inglês, alemão e grego, respectivamente (Garschasen, 1995). É encontrada na bacia Amazônica desde o leste dos Andes até a bacia do Orinoco.
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Figura 2: Tartaruga 2: Tartaruga (P. expansa ). ). Foto: RAN/Ibama-AM(Oliveira, RAN/Ibama-AM(Oliveira, P.H.).
A tartaruga-do-amazonas pertence ao filo Chordata, subfilo Vertebrata, classe Reptilia, subclasse Anapsida, ordem Chelonia (Testudinata), subordem Pleurodira, superfamília Chelonioidea, família Podocnemidae, gênero Podocnemis e espécie P. expansa Schweigger (1812) (Cenaqua, 1992). O macho de Podocnemis expansa denomina-se denomina-se comumente por capitari ou capitaré, sendo, aproximadamente, duas vezes menor em tamanho corporal do que a fêmea, segundo Coimbra Filho (1967) apud Nogueira Neto (1973). Sendo o maior quelônio de água doce da América do Sul, a tartaruga (P. expansa ) pode chegar a medir de 75 a 107 cm de comprimento, sendo em média 91 ± 22,627 cm (Lima, 1967; Molina & Rocha, 1996) por 50 a 75 cm de largura, com média de 62,5 ± 17,67 cm (Lima, 1967) pesando cerca de 60 kg de peso vivo (Smith, 1979).
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Para o TCA (1997) a idade pode ser determinada a partir dos anéis das placas da carapaça, sendo que uma fêmea com 45,2 cm de carapaça apresentava oito anéis na placa dorsal da carapaça, indicando, provavelmente, que teria oito anos de idade. Trac T racajá ajá (Pod Podocnemis ocnemis unifi li s ) O tracajá (P. unifilis ) – Figuras 3 e 4 – encontra-se distribuído
por toda a Bacia Amazônica. As fêmeas são maiores do que os machos. Possui a forma ovalada, carapaça gris escura quando molhada, com o plastrão de coloração escura. Apresenta patas curtas e cobertas com pele rugosa, cabeça achatada e cônica, de pequeno tamanho em relação ao corpo. Possui manchas amareladas na cabeça, na parte dorsal. Os olhos, bastante juntos, são separados por um sulco. Vive, principalmente, em lagos, rios e igarapés. Supõese estar maduro sexualmente após os sete anos. Alimenta-se de frutas, sementes, raízes, folhas e, ocasionalmente, de insetos, crustáceos e moluscos (Reis, 1994). Procura desovar isoladamente em barrancos, em covas de, aproximadamente, 30 cm de profundidade onde coloca 35 ovos em média (Soini, 1995).
Figura 3: 3 : Filhotes de tracajá (Podocnemis unifilis ), ), Piraruacá/Terra SantaPA. Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
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Figura 4: Fêmea 4: Fêmea de tracajá (Podocnemis unifilis ), ), Valéria/Parintins-AM. Foto: Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.).
Os ninhos consistem de escavações com uma entrada quase circular e uma câmara ligeiramente ovóide (Fig. 5). A profundidade pode variar de 18 a 25 cm. O número de ovos por ninho varia de 9 a 40, com média de 28,8 ± 9,2 ovos. O tamanho médio dos ovos pode variar de 42,2 x 29,5 mm e peso médio de 21,7 ± 2,1 g. A desova ocorre principalmente à noite, dependendo do local, nos meses de junho a agosto, no oeste do Amazonas; de setembro a outubro no Baixo Amazonas; e em novembro no rio Negro e afluentes. O tamanho médio da carapaça é de 40,9 ± 1,7 mm e peso de 14,7 ± 1,35 g (Terán et al., 1995).
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Figura 5: Ninho 5: Ninho de tracajá (P.unifilis ). ). Piraruacá/Terra Santa-PA. Foto: Pé-dePincha (Andrade, P.C.M.).
O tracajá é encontrado na Amazônia brasileira vivendo nos rios e lagos, dificilmente migrando aos tabuleiros de desova no período de estiagem. Muitas fêmeas desovam duas vezes por
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temporada, com intervalos observados de 9 e 10 dias. O número e o tamanho dos ovos diminuem com o avanço da temporada de desova. Os ovos possuem uma taxa de infertilidade de até 70% ao final da desova. As fêmea fêmeass são maiores que os machos e chegam a medir cerca de 50 cm de comprimento de carapaça e pesar até 12 kg (Soini, 1995).
Estudos realizados por Terán et al. (1992) sobre a reprodução de P. unifilis em em praias artificiais, em Iquitos, Peru, em um período de cinco meses (junho a novembro), verificaram que houve apenas 27,6% de eclosão (Fig. 6) e desenvolvimento completo completo dos sobreviventes, fato ocorrido pela falta de fertilidade em 14,4% dos ovos e morte prematura dos embriões. O pico de postura nessa região ocorreu principalmente na segunda quinzena de julho. As covas de tracajá são identificadas pelo monte de argila e de capim umedecidos, com os quais a espécie fecha a cavidade da postura (beiju) – Figura(Alho, 7, não1986). ocorrendo tal fato quando a desova é em terreno não argiloso
Figura 6: Eclosão 6: Eclosão de ovo de tracajá (P. unifilis ). ). Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
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Figura 7: Ninho 7: Ninho e ovos de tracajá ( P. unifilis ) no barro. Observar ovos aderidos ao tampão do ninho. Macuricanã/Nhamundá-AM. Macuricanã/Nhamundá-AM. Foto: Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
Os ovos de tracajá (Fig. 7) são de forma elipsoidal, de casca calcárea e de cor esbranquiçada. Quando estão recém-postos são duros, transparentes e cobertos de um líquido ligeiramente viscoso. No segundo dia de incubação a superfície dos ovos fica seca e começa a ficar opaca. Ao decorrer da primeira semana de encubação a casca está, na maioria dos ovos, completamente opaca e começa a suavizar-se. Também se nota um ligeiro inchaç inchaço o dos ovo ovoss que dura até o final do período de incubação, resultando no aumento do diâmetro dos ovos (Soini et al., 1997). A determinação de sexo em P. unifilis depende da temperatura de incubação (Souza & Vogt, 1994). Os tracajás parecem ser mais rústicos do que as tartarugas, o que tem lhes conferido uma melhor adaptação ao cativeiro (Reis, 1994). Essa é uma espécie que pode ser manejada em cativeiro para fins de repovoamento de áreas onde está em número reduzido, ou para fins comerciais. Possui um grande potencial devido a algumas vantagens como: fácil adaptação às condições bióticas e abióticas de cativeiro, resistência à manipulação, elevada taxa reprodutiva em
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cativeiro, fácil adaptação aos alimentos de origem animal e vegetal, rápido crescimento inicial (Acosta et al., 1995), ovos e carne de boa qualidade e boa aceitação pelos camponeses. Observações realizadas por Terán (1993), sobre ensaios de
diferentes dietas em cativeiro de tracajás jovens e adultos, identificaram um aspecto notável em relação à perturbação da água e ao consumo dos alimentos. Efetivamente, observou-se que quando uma pessoa entrava no tanque ou jaula e ficava perto do comedouro, a água ficava turva, fazendo com que os animais não viessem comer os alimentos disponíveis. Nesses dias o consumo reduzia bastante (até 15% do total dos alimentos oferecidos). Uma situação semelhante foi observada quando o tanque era esvaziado para realizar as amostras mensais. Esse comportamento, provavelmente, se deve ao fato de que o tracajá não se encontra em lugares de águas turvas para evitar o ataque de predadores (guiamse principalmente pelo olfato e não pela visão). Através disso se deduz por que o tracajá, em seu meio natural, habita águas de cor escura. Iaçá ou pitiú ( Podocnemis sextuberculata ) A Podocnemis sextuberculata sextuberculata é é denominada vulgarmente de iaçá, pitiú e cambéua. Smith, 1979, cita que essa espécie é encontrada somente nos rios de8água como éo também Branco, Solimões e Amazonas (Figuras e 9).barrenta Essa espécie encontrada nos rios Trombetas e Tapajós, considerados de água clara. A fêmea possui manchas amarelas com dois barbelos embaixo da boca. A carapaça tem cor marrom-claro e marrom-escuro. O plastrão apresenta, principalmente nos indivíduos jovens, seis pontas salientes de cor cinza ou marrom. A postura média é de 15 a 20 ovos de casca mole. O macho é chamado de anori e possui tamanho menor que o da fêmea, conhecida como pitiú ou cambéua.
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Figura 8: Fêmea 8: Fêmea de iaçá (P.sextuberculata ). ). Xiacá/Terra Santa-PA. Foto: Péde-Pincha (Andrade, P.C. M.).
O iaçá é de menor tamanho que o tracajá. Soini (1997) sugere que essa espécie desova quase sempre em praias arenosas, geralmente água. desova ocorre geralmente à noite. Em geral, ospróximo ovos dedaiaçá sãoApequenos e mais largos que os de tracajá. A casca é mais clara, mais delgada e mais flexível.
Figura 9: Iaçá (P. sextuberculata ). ). Foto: RAN-AM (Andrade, P.C. M.).
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Estudos feitos por Pezzuti (1997), no rio Japurá (estado do Amazonas), demonstraram que a altura do ninho tem efeito pronunciado na discriminação dos ninhos em pontos aleatórios. As
fêmeas desovam em locais mais altos e distantes da linha da água. A profundidade do ninho influi significativamente sobre o período de incubação dos embriões. A data de oviposição influi no período de incubação e na sobrevivência dos mesmos. A eclosão dos ovos ocorre, geralmente, de 55 a 70 dias. As crias eclodidas permanecem dentro da cova, normalmente, num período de 1 a 4 semanas. Portanto, o período médio de nidificação dura 69 dias. A saída dos filhotes ocorre geralmente à noite, sobretudo após a queda de uma forte chuva (Soini, 1995). Estudos feitos por Pezzuti (1998) na Reserva Biológica do Abufari identificaram através de monitoramento de um único transecto, um total de 3.135 ninhos de iaçá espalhados por toda a praia do Abufari, produzidos em 1998. Registrou-se a predação de 145 ninhos por jacurarus (Tupinambis nigropunctatus , lagartos grandes pertencentes à família Teidae). Comparando a distribuição de ninhos predados e não predados, verificou-se que os primeiros são os que se encontram mais próximos à vegetação. Embora não exista o padrão de agregamento de ninhos, as fêmeas de iaçá mostram-se, também, seletivas quanto à escolha do local de nidificação, preferindo locais mais altos e distantes da água. O monitoramento de 219 ninhos permitiu estimar uma taxa de sobrevivência de 71,6% e razão sexual de 28,5% de machos. Os predadores de filhotes de iaçás identificados na Reserva Biológica do Abufari, Amazonas, foram: Phractocephalus hemioliopterus (pirarara), Osteoglossum bicirrhosum (aruanã),
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Leiarius marmoratus (jandiá) e Sorubimichthys planiceps (peixe-
lenha) (Garcia, 1999).
O iaçá é, das espécies de quelônios, a mais consumida em Manaus. Sua carne se encontra à venda, de forma ilegal, nas feiras a R$ 3,59/kg (Canto et al., 1998). Anato Ana tomia mia e fisiologia fisiologi a Evaristo (1995) apud Duarte & Andrade (1998), cita que os quelônios são répteis que possuem uma carapaça óssea que protege os órgãos internos. Essa carapaça é formada pela fusão das costelas, externo e vértebras. Em geral, denomina-se casco ao conjunto das partes rígidas dorsal e peitoral. Contudo, a parte superior denomina-se carapaça, sendo achatada, mais larga na região posterior, com coloração marrom, cinza ou verde- oliva, e a inferior plastrão, sendo ambos compostos por placas ossificadas revestidas por uma camada queratinosa de forma convexa e achatada, quase horizontal, unidas por uma estrutura óssea conhecida por ponte (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina & Rocha, 1996). Na P. expansa , a carapaça (Fig. 10) é composta por 37 escudos (2 cervicais seguidos de 5 escudos vertebrais com duas séries de 4 pleurais, no total de 8; no lado de fora dos pleurais e estendendo-se pelos dois lados a partir dos cervicais há 22 escudos marginais). Os escudos do plastrão são divididos em pares por uma linha longitudinal. Anteriormente, há um escudo gular intercalado por dois intergulares. Seguem-se um par de humerais, peitorais, abdominais, femurais e anais, respectivamente, totalizando 13
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escudos com possibilidade de haver variações em forma e número.
Os ossos do casco são cobertos por escudos córneos. A divisão entre escudos adjacentes denomina-se costura, que poderia ser uma espécie de sulco (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Molina & Rocha, 1996).
Figura 10: Desenho 10: Desenho esquemático de carapaça de Podocnemis expansa .
Os quelônios apresentam um tubo digestivo completo, com digestão extracelular, sendo o estômago uma dilatação do tubo digestivo, terminando em um orifício denominado cloaca, semelhante ao de ave, pelo qual desemboca a urina, fezes e material seminal, ocorrendo também a vascularização nas paredes como “brânquias cloacais” (essa região, possivelmente, realiza uma respiração cutânea mínima: sangue-parede vascular-água). A digestão é auxiliada pelo fígado e pâncreas, ocorrendo parcialmente no estômago e finalizada no intestino, havendo, neste último, a absorção do alimento digerido no duodeno. No intestino grosso ocorre a formação de fezes. A circulação é fechada (vasos e veias),
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ramificando-se até formar uma rede de capilares dupla e
incompleta. O sangue passa duas vezes pelo coração onde se mistura o venoso e o arterial, devido a uma comunicação mediana nas duas metades do ventrículo. O coração possui duas aurículas e um ventrículo, parcialmente dividido em duas porções (Evaristo, 1995). As espécies podem ser identificadas por características externas da carapaça. O comprimento da carapaça pode ser medido em linha reta, no ponto de maior amplitude entre a borda anterior e posterior, e a altura pode ser medida transversalmente no ponto de maior amplitude entre as placas marginais (Medem, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998). As potentes patas podem ser recolhidas para dentro como medida de segurança e descanso. São duas dianteiras de cores escuras e cobertas com pele rugosa e cinco unhas largas, firmes, semicurvadas e acanaladas na parte inferior, e duas traseiras com quatro unhas e características idênticas, pois o nome genérico atribui-se aos calcanhares das patas posteriores, dotados de unhas para reptar e cavar (Lima, 1967; Nomura, 1977). As tartarugas são ectotérmicas (heliotérmicas), como os lacertílios e os crocodilianos e podem atingir um grau considerado de estabilidade da temperatura corpórea por meio da regulação através da troca de energia térmica com o ambiente (termorregulação). A temperatura corporal de tartarugas que se aquecem ao sol é mais elevada do que a temperatura da água e do ar e pode acelerar a digestão, o crescimento e o desenvolvimento dos ovos. Além disso, o aquecimento pela luz do sol pode auxiliar as
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tartarugas aquáticas a livrarem-se de algas e sanguessugas (Pough, Heiser & McFarland, 1993). No comportamento social, as tartarugas podem empregar sinais táteis, visuais e olfativos. Na época do acasalamento, os machos nadam à procura de fêmeas e a cor e o padrão das patas posteriores permitem que os machos as identifiquem. Utiliza-se também o ferormônio para a identificação das fêmeas (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Dácio, 1995, apud Duarte & Andrade (1998), ao estudar o efeito da submergência de longa duração sobre o balanço energértico dos diferentes tecidos e caracterizar os padrões eletroforéticos da enzima lactato desidrogenase (LDH) de Podocnemis expansa , bem como suas principais características
funcionais em 35 indivíduos (sendo 18 indivíduos para o balanço energértico e 17 para os padrões eletroforéticos) com tamanho médio de 9,114±0,081 cm e peso médio de 85,574 ±2,92 g, concluiu que a tartaruga, provavelmente, usa a via glicolítica anaeróbica quando submetida ao mergulho forçado, elevando sua taxa de lactato no músculo e no cérebro, para manter suas funções metabólicas. Foi observado que após 100 minutos de mergulho forçado o nível de glicose aumentou significativamente, (P>0,05) sugerindo que há uma mobilização do glicogênio do fígado para, provavelmente, suprir a demanda inicial do metabolismo glicolítico anaeróbico nos tecidos do cérebro e músculo. Isso indica que essa espécie detém mecanismo de sustentação em períodos de anoxia semelhante às tartarugas de região temperada.
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Sexo e reprodu repro dução ção O sexo nas espécies aquáticas do gênero Podocnemis pode pode ser identificado pelo tamanho, altura da carapaça, forma do plastrão e fenda da placa anal (formato de U para machos e de V para fêmeas adultas) (Pritchard & Trebbau, 1984) – Figura 11.
Figura 11: Sexagem de jovens de tartaruga (P. expansa ): ): macho (esquerda) e fêmea (direita) Foto: RAN-AM (Andrade, P.C.M.).
Para Danni & Alho, 1985, apud Duarte & Andrade (1998) não há dimorfismo externo em tartarugas jovens, antes da maturidade sexual. A determinação sexual pode ser feita através do exame dos órgãos reprodutores em amostragens dissecadas de filhotes. No entanto, para Molina & Rocha (1996) há dimorfismo sexual para Podocnemis expansa , pois os jovens apresentam manchas amarelas na cabeça, o macho possui a cauda comprida e a fêmea tem a cauda curta. Diversos trabalhos sobre a determinação do sexo em quelônios encontraram encontraram relação entre a temperatura e a razão sexual do ninho, sendo que no caso de tartarugas, tracajás e iaçás, temperaturas acima de 32ºC , ou ninho em locais com amplitude
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térmica elevada (grande variação entre a temperatura umbral e a máxima) determinam o nascimento de mais fêmeas (Bull & Vogt, 1979; Morreale et al., 1982; Vogt & Bull, 1982, 1984; Wilhoft et al., 1983; Spotila et al., 1987; Souza & Vogt, 1994). Segundo Alho & Pádua (1982) há uma sincronia entre o regime de vazante e o desencadeamento do comportamento de nidificação. É necessária uma observação no período reprodutivo, proteção aos animais adultos em área de desova, captura de filhotes (recém-nascidos) para criá-los em cativeiros e/ou soltá-los em lagos naturais ou artificiais. tende a entrar na fase de reprodução entre cinco e sete anos de idade, em condições naturais (Lima, 1967). P. expansa
Para o Ibama (1989), a tartaruga (Podocnemis expansa ) apresenta a maior parte do desenvolvimento biológico entre 5 e 10 anos de idade. A maturidade sexual acontece aos 7 anos para os machos e 11 a 15 anos para as fêmeas, aproximadamente, realizando o acasalamento na água após a desova entre os meses de janeiro e março. Após seis meses faz a postura na praia de desova, denominada de tabuleiro, podendo estar acompanhada pelo capitari. O tempo de postura de P. expansa pode pode estar relacionado diretamente com a idade do animal ou com a variação do fenômeno de enchente e vazante do rio, no qual há uma combinação com o desenvolvimento do processo de nidificação da tartaruga, que cumpre o determinismo biológico de retornar ao mesmo local de postura, podendo ser isolado ou em faixas marginais. (Pough, Heiser & McFarland, 1993; Alho & Pádua, 1982).
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Por ter um hábito gregário na época de desova, diferente do tracajá, P. unifilis (que desova isoladamente em solo íngreme à margem do rio, aproveitando local menos exposto) é nessa fase que a tartaruga fica mais vulnerável à predação antrópica.
Os mecanismos de orientação que as tartarugas utilizam para encontrar a área de oviposição são, provavelmente, os mesmos utilizados para encontrar seu caminho entre área de forrageio e de repouso. A familiaridade com sinais locais é um método eficiente de navegação para as tartarugas que podem utilizar o sol como orientador (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Nesse processo, os animais permanecem em “repouso” no leito do rio durante 4,5±0,7 dias observando a praia de dentro d'água, ou as fêmeas realizam 5,5±0,7 subidas na praia de desova durante a noite, sem desovar. Depois fazem um “passeio” para verificar os possíveis pontos de abertura da cova e formação do ninho, cuja profundidade está relacionada com o lençol freático que tem uma variação natural de 0,63±0,27 m, podendo ser depositados de 50 a 136 ovos (Alho e Pádua, 1982) ou de 80 a 300 ovos (Lima, 1967; Nogueira Neto, 1973; Nomura, 1977; Pritchard, 1979; Smith, 1979). Para Espriella (1972), o número aceitável para tartarugas em cativeiro está numa média de 80 ovos, de forma esférica, com peso médio de 39-43 g, que serão cobertos com areia, pela fêmea, após a desova. A oviposição pode durar de 1,5 a 4 horas, aproximadamente, sendo geralmente à noite e, ocasionalmente, à tarde ou de manhã.
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No período reprodutivo de P. expansa são são observados os mesmos comportamentos das tartarugas marinhas na fase de desova (Vanzolini, 1967): (1) Assoalhamento – essa etapa caracteriza-se pela agregação animais(praia em águas rasas, com ocasionais na margem dodos tabuleiro de desova) para subidas exporem-se aos raios solares; (2) Subida à praia para a escolha do local da cova; (3) Deambulação ou caminhada de vistoria – nessa fase os animais sobem a praia e exploram o tabuleiro à procura de um local de postura; (4) Escavação da cova – a primeira atividade é a limpeza da areia solta com o auxílio das quatro patas, girando em torno de si mesma. Quando atinge a profundidade de 30 cm a 40 cm passa a usar as patas traseiras até que seu corpo atinja uma posição de 45 a 60 em relação à horizontal, fazendo uma câmara. (5) Postura – nessa fase as tartarugas não mais se importam com adaptativo a presençada deestereotipia estranhos edurante podemaser tocadas de sem reação. O valor oviposição P. expansa está relacionado ao sucesso da estratégia evolutiva dessa espécie. A evolução da eficiência crescente da técnica estandardizada da postura de ovos resulta numa taxa de reprodução melhor como conseqüência dos padrões motores (trabalho muscular) de tal maneira a uniformizar o processo de oviposição, independente da experiência ou aprendizado. O corpo do animal move-se para frente e para trás e também executa uma lenta rotação para a direita e a esquerda. Quando aumenta a
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profundidade, as patas traseiras têm mais ação. Com as unhas para baixo, uma pata é inserida na câmara de postura, em escavação, fazendo pressão para o fundo e com uma ligeira rotação modela a forma e tamanhos exatos da câmara, com 13-18 cm de altura e diâmetro de 20-25 cm. A câmara é feita a uma profundidade de 50100 cm. Durante esse O processo, as patas dianteiras ajudam sustentação do animal. ato é repetido, inserindo a outra pata na na abertura da câmara de postura. Assim que ela estiver pronta, com o ovipositor inserido e o corpo cobrindo a cavidade de postura, iniciase a oviposição. Cada fêmea deposita um ovo a cada 10-15 segundos. Durante a postura, o pescoço da tartaruga, se mantém esticado formando junto com a cabeça um ângulo igual ao do corpo em relação à horizontal. Há contrações peristálticas a cada 10-15 segundos seguidas de liberação de ovos e líquidos; (6) Reenchimento da cova – assim que começa a escavação os animais entram num processo de ritualização do comportamento, com grande teor de estereotipia, fazendo movimentos lentos no corpo para a direita e a esquerda, colhendo areia com as patas dianteiras e traseiras, alternadamente. Em geral, a carapaça, cabeça e os olhos ficam cobertos de areia lançada durante o fechamento da cova; (7) Retorno à água – quando a tartaruga deixa a cova, normalmente faz uma trilha formada de secreção mucóide que escorre da “cloaca” ao caminhar. A cauda posiciona-se para trás, rastejando a ”cloaca” ainda em contração, sendo uma indicação da postura realizada (marca da cauda arrastada entre as pegadas). Soini (1997), no Peru, observou fêmeas de Podocnemis expansa formando uma trilha pela liberação de secreção mucóide antes desova, fazendo sulco na areia. A caminhada para ae depois água da é lenta devido ao um cansaço, caminhando 3-4 m,
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alternadamente. As patas traseiras podem sangrar devido ao atrito na borda da carapaça, assim como na parte posterior da carapaça durante a escavação. Após retornar à água, a população adulta permanece nas cercanias da praia até o nascimento dos filhotes. Nas horas mais quentes do dia pode-se observar as cabeças dos adultos fora d'água. Na época próxima à eclosão os adultos ficam cada vez mais difíceis de serem vistos nas cercanias da praia (Vanzolini, 1967; Alho & Pádua, 1979). Os ovos de Podocnemis expansa ficam incubados de 40 a 70 dias, sendo em média 55 ± 21,21 dias e apresentam uma taxa de fecundação de 85 a 98%, desde que permaneçam em equilíbrio a umidade e temperatura na câmara de incubação, pois a temperatura, umidade e as concentrações de oxigênio e dióxido de carbono podem exercer efeitos profundos sobre o desenvolvimento embrionário das tartarugas (Alho, Carvalho & Pádua, 1979; Alho & Pádua, 1982; Santos, 1995; Ibama, 1989). A temperatura do ninho afeta a taxa de desenvolvimento embrionário e temperaturas excessivamente altas ou baixas podem ser letais. A determinação domas sexo não dependente da temperatura demonstrada em algumas, em todas as famílias foi de tartarugas, em duas espécies de lagartos e nos crocodilianos (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Em estudos laboratoriais realizados por Vogt & Bull (1982) em 14 gêneros e cinco famílias de tartarugas com temperatura de 25ºC e de 31ºC durante a incubação, produziu-se machos e fêmeas, respectivamente. A mudança de um sexo para outro ocorre dentro de um intervalo de 3ºC ou 4ºC, dependendo da espécie.
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Nas tartarugas, o segundo terço do desenvolvimento embrionário consiste no período crítico de determinação do sexo, portanto, o sexo dos embriões depende da temperatura a que ficam expostos durante essas poucas semanas (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Quando os ovos são expostos a um ciclo diário de temperatura, o ponto mais alto do ciclo é o mais crítico para a determinação sexual, com a temperatura podendo diferir entre o topo e o final do ninho (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Entretanto, em condições úmidas, produzem filhotes maiores do que em condições secas, provavelmente, por que a água é necessária para o metabolismo do vitelo (reserva nutritiva do embrião até a eclosão). Quando a água é limitada, as tartarugas eclodem mais cedo e com tamanho corporal reduzido e o seu intestino contém uma quantidade de vitelo que não foi utilizado durante o desenvolvimento embrionário (Pough, Heiser & McFarland, 1993). A profundidade da cova varia de 30 a 83 cm, com média de 56,5 ± 37,476 cm, fato relacionado à nebulosidade atmosférica (Soini, 1997). O transplante de ninhadas de tartaruga, tracajá e iaçá para a incubação artificial dos ovos, em lugares protegidos, pode ser uma medida importante para a conservação. Para conseguir ótimos resultados os ovos devem ser extraídos, transportados e colocados em ninhos artificiais, sem demora, mantendo sua posição original, ou seja, sem revolvê-los. Exceto durante as primeiras horas depois da desova, a manipulação e a rotação dos ovos afeta, significativamente, a viabilidade deles. As condições térmicas do
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ninho têm uma marcada influência sobre a duração do período de incubação e sobre a viabilidade dos ovos. Os ovos incubados em ninhos expostos à sombra requerem maior tempo de incubação e têm menor porcentagem de viabilidade dos ovos em relação aos ninhos expostos ao sol (Soini, 1997). As tartarugas, por serem pecilotérmicas, apresentam amplitude térmica de 22ºC a 32ºC, e ideal entre 27ºC a 30ºC, na qual eclodem as crias medindo em torno de 50 mm de comprimento e 40 mm de largura. A atividade espontânea de alguns indivíduos põe o grupo em movimento, uns rastejando sobre os outros, agindo sobre os demais (Lima, 1967; Ferreira, 1994). Todos os filhotes saem do ninho num período muito curto e todos, de diferentes ninhos, deixam os ninhos numa mesma noite, talvez porque seu comportamento seja estimulado. Sendo as tartarugas auto-suficientes ao nascer, as interações entre os filhotes são essenciais para permitir que abandonem o ninho. Os sinais podem ser sonoros, táteis, visuais e/ou olfativos (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Essa emergência simultânea é uma característica importante para a reprodução. Nessa fase, os animais jovens estão propensos à agressão em decorrência do equilíbrio biológico imposto pela natureza. A ação dos animais aquáticos ou aves silvestres sobre as crias chega a 80% de predação em alguns tabuleiros (Pough, Heiser & McFarland, 1993). Assim, a interferência do manejo para diminuir essa taxa poderá beneficiar os estoques de tartaruga: (1) destinando uma porcentagem das tartarugas eclodidas para criadouros seminaturais; e (2) tornando compulsório que determinado número
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de animais desses criadouros, um número predeterminado seja restituído à natureza quando as tartarugas atingirem a condição reprodutiva, acelerando o recrutamento nas populações naturais e maximizando a taxa de natalidade (Alho & Pádua, 1984). Na Reserva Biológica do Abufari/Tapauá – AM, o Ibama desenvolve o programa de proteção às áreas de desova. Através do Centro Nacional dos Quelônios da Amazônia – Cenaqua, atualmente Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Afíbios – RAN, realizase a proteção do tabuleiro (praia de desova) assim como das matrizes e dos filhotes recém-nascidos. Sendo que estes filhotes, em sua maioria de tartaruga, logo ao abandonarem as covas ficam retidos em cercados de tela para serem apanhados, contados e transportados paracom a base física. Posteriormente, é feita a soltura animais em local uma incidência, provavelmente, menordos de predadores naturais aquáticos (Armond & Armond, 1990, apud Duarte & Andrade, 1998). Essa atividade é realizada na Venezuela com certa similaridade, como cita Ojasti (1995; 1967), assim como em outras áreas de concentração de tartaruga que servem de referência a programas de manejo, como no rio Trombetas, entre outros (Nomura, 1977; Alho & Pádua, 1984; Pough, Heiser & McFarland, 1993; Ferreira, 1994; Soini, 1997). Segundo Nogueira Neto (1973), é possível obter a reprodução de tartaruga em cativeiro. Na prática, tem-se a possibilidade da reprodução de quelônios em cativeiro, sem a migração, desde que haja uma praia artificial para a desova.
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Valor nu nutt ric ricio ional nal Segundo Pádua (1981), Ibama (1989) e Cenaqua (1994) citando estudos realizados por Ferreira e Graça (1961), Leunge e Flores (1961) e Morrisson (1955), na carne da tartaruga-daamazônia, foram obtido um nível protéico de 88,03% a 94,68%. Pelos valores citados, ao comparar-se com as carnes tradicionais (frango 43,66% a 66,47%; Vaca 44,83%) percebe-se uma superioridade protéica. Em análise realizada quanto à qualidade protéica, em 100 g de proteína, apresentou: Lisina 7,70 g; Histidina 2,21 g; Arginina 4,11 g; Treonina 3,91 g; Ácido glutâmico 16,56 g; Glicina 5,8 g; Valina 6,25 g; Isoleucina 5,41 g; Tirosina 10,64 g e Metionina 5,32 g. Aguiar, 1996, apud Duarte & Andrade (1998), obteve em quatro análises realizadas em carne de Podocnemis expansa: 1,10 g de lipídio/100 g; 21,17 g de proteína/100 g; 94,58 Kcal de energia/100 g; 0,00 g de carboidrato/100 g; onde cita que em geral a carne de animal silvestre é magra. Maués, 1976, apud Duarte & Andrade (1998), ao comparar os aspectos bromatológicos de ovos e codorna, ambos oriundos de feiras livres de São Paulo,dee galinha tartaruga Podocnemis sp., oriundo de feiras livres de Bélem – PA, mostra que os ovos de tartaruga pesaram em média 23,67 g, onde a gema, a clara e a casca pesaram respectivamente 18,55 g; 3,74 g e 1,62 g, com um percentual médio de 15,38% para a clara, 73,44%, correspondendo à gema e 11,18% equivalente à casca. O teor de lípides totais, verificado no ovo inteiro, clara e
gema em ovos de tartaruga é particularmente 7,92 mg/100 g; 0,08 mg/100 g e 18,26 mg/100 g; em ovos de galinha obteve-se 13,08 g/
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100 g; 0,10 g/100 g e 28,70 g /100 g; e nos de codorna foram 10,30 g/100 g; 0,08 g /100 g e 24,03 g/100 g (Maués, 1976). O teor de proteína no ovo de tartaruga na porção inteira, clara e gema foi na ordem de 12,70 g /100g; 1,56 g/100 g e 20,58 g /100 g, enquanto que nos de galinha foram 9,98 g/100 g; 9,28 g /100 g e 16,19 g /100 g e nos de codorna obteve-se 9,78 g /100 g; 9,43 g /100 g e 12,07 g/100 g (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998). A composição de cinzas no ovo de tartaruga na porção gema foi superior (1,68 g/100g) ao de galinha (1,25 g/100 g) e codorna (1,36 g/100g) (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998). O teor mineralógico de ferro e fósforo na porção gema nos ovos de tartaruga foi superior (10,9 mg/100 g e 495 mg/100 g) ao de codorna (8,2 mg/100 g e 415 mg /100 g) e galinha (5,0 mg/100 g e 260 mg /100 g) e com um teor de cálcio na gema inferior (120,19 mg/100 g) em relação ao de galinha (152,25 mg/100g) e codorna ( 168,13 mg/100 g) (Maués, 1976 apud Duarte & Andrade, 1998). O teor vitamínico de ß-caroteno foi baixo em ovo de tartaruga (6,06 mg/100 g) relacionado ao de galinha (30,63 mg/100 g), e vitamina A (57,83 mg/100 g), contra os de galinha (69,87 mg/100 g) e codorna (73,95 mg /100 g). Em relação ao tocoferol (total), o ovo de tartaruga estudado foi superior (2,78 mg/100 g) ao de galinha (1,94 mg/100 g) e inferior ao de codorna (3,55 mg/100 g) (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998).
O teor de colesterol na porção clara mais gema, e gema no ovo de tartaruga foi inferior (226,5 mg/100 g e 329,1 mg/100 g) aos
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de galinha (682,0 mg/100 g e 1.018 mg/100 g) e de codorna (506,4 mg/100 g e 946,9 mg/100 g) (Maués, 1976, apud Duarte & Andrade, 1998). Importância Importân cia eco econômica nômica A tartaruga tem sido de grande importância para o homem amazônico desde o período colonial. Santos (1995) cita que os colonizadores espanhóis e portugueses relataram que os índios durante a vazante capturavam um grande número de tartarugas. Segundo Smith (1979), durante o século XVII as tartarugas desovavam em um grande número de praias na área de Itacoatiara/AM durante os meses em que o nível da água estava baixo. Esse fenômeno atraiu comerciantes portugueses e uma praia Real ficou estabelecida para alimentar os soldados do rio Negro, enquanto outras praias foram exploradas por serem consideradas grandes e abundantes, porém, até hoje, esses quelônios continuam fazendo parte da dieta do interiorano. Historica Historicamente, mente, a tartaruga, P. expansa , foi um quelônio de fácil captura para suprir a alimentação do homem amazônida através de carne e ovos. Sendo exportado, Brasil Colônia, em 1719, pela capitania de São José dona Rioépoca Negrodo 192 libras de “manteiga” de tartaruga. Ihering (1968) cita que para produzir 1 kg de manteiga são necessários 275 ovos de P. expansa . Alho, Carvalho & Pádua (1979) citam que o preço da tartaruga em Manaus chegou a alcançar US$ 180,00, Pádua, Alho &
Carvalho (1983) citam que em 1980 um exemplar de 30 kg de peso vivo chegou a custar cerca de US$ 200,00 em Belém. Wetteberg et al. (1976) determinaram o mercado potencial para espécies silvestres da fauna amazônica nos 23 restaurantes
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existentes em Manaus, de 1974 a 1975, bem como tentaram identificar mercados para as espécies em outras cidades brasileiras ou no exterior. Esses autores citam que 78,78% dos restaurantes expressaram interesse em vender carne de fauna silvestre, sendo denotado interesse pelo público desses restaurantes, em primeiro lugar, pela tartaruga (P. expansa ) com peso médio de 28,82 kg e um preço médio (estimado pelos restaurantes) que os clientes pagariam por quilograma de US$ 21,81, com um lucro potencial por quilograma para o oss restaur restaurantes antes de US$ 19,31. Espriella (1972) e Nomura (1977) citam uma grande demanda comercial em países como os Estados Unidos e o Japão, sendo a comunidade nipônica considerada a pioneira em criação de tartarugas, desde 1866, por considerarem seu alto valor nutritivo. Eles recomendam que os criadouros sejam uma das maneiras de conservar e preservar a tartaruga ou o tracajá. Os criadouros podem também fornecer filhotes para exportação e ovos para extração de óleo, sendo que essa extração parece inviável porque o valor comercial da tartaruga é elevado, embora 100 g de ovos produzam cerca de 100 g de creme facial. Segundo o Cenaqua (1994), na Amazônia um boi necessita de 3-4 ha para produzir 40 kg de carne/ano. Enquanto que em 1 ha de água pode-se criar até 4.500 tartarugas, com um mínimo de 1.800 kg/ano e um custo aproximado para cada quilo das carnes de peixe, boi e tartaruga de US$ 1,00, US$ 2,30 e US$ 6,00, respectivamente.
O Cenaqua (1994) cita que em 1991 as tartarugas com peso médio de 25 kgque tiveram preço médio de US$ 80,00. Indicando, por esses valores, a tartaruga constitui um item acessível à classe alta.
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O Sebrae (1995) admite uma relação de 65% do peso vivo (PV) correspondente à carne, e 35% PV equivalente ao peso do casco. No entanto, o Cenaqua (1994) menciona que um animal de 25 kg fornece 13 kg de carne e vísceras, ou seja, 52% do peso vivo (P.V.) em rendimento de carcaça. Para o TCA (1997), o preço por tartaruga viva no Brasil, Colômbia, Peru e Venezuela foi de US$ 97,00 a 122,00; US$ 5,00 a 61,00; US$ 8,00 a 20,00; US$ 18,00 a 47,00, respectivamente. Na Colômbia o preço por um quilo é de US$ 4,80. No Peru, devido aos ovos de Podocnemis expansa serem apreciados para1997). consumo humano, o preço por unidade chegou a US$ 0,22 (TCA, Para o TCA (1997), o preço de um exemplar adulto de Podocnemis expansa varia, dependendo do local e tamanho do animal. O preço pago nos centros urbanos amazônicos (Iquitos e Manaus) é cerca do dobro do preço pago ao povo ribeirinho, e mais do triplo do que recebe o trabalhador rural. Segundo Terán et al. (1997), os quelônios foram e continuam sendo uma das principais fontes de proteínas para os índios e ribeirinhos em toda a Amazônia. Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Brasil, onde realizou-se entrevistas com 50 famílias e observações de campo, obteve-se o consumo de quatro espécies de tartarugas na alimentação familiar,
como Podocnemis sextuberculata (68,2%), P. unifilis (27,1%), (4,3%), Chelus fimbriatus (0,4%). (0,4%). Geochelone denticulata (4,3%), Rebelo et al., 1997, apud Duarte & Andrade (1998) ao mostrarem a evolução do consumo de animais de caça e a determinação das populações de quelônios no Parque Nacional do
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Jaú – Amazonas, concluíram que a mandioca (Manihot esculenta Crantz) e o peixe são a base da alimentação dos moradores. Os animais de caça (quelônios, mamíferos e aves) ocupam o quinto lugar na citação. A criação doméstica foi citada em apenas 0,5% das refeições. O monitoramento de longo prazo do consumo com calendário de caça revelou que 50% dos animais caçados foram quelônios aquáticos (Peltocephalus dumerilianus, Podocnemis unifilis e Podocnemis erythrocephala ), ), 38% mamíferos terrestres e 17% aves. Sendo o consumo médio de 24,3 animais/família/6 meses, ou 48,6 animais/família/ animais/família/ano. ano. Canto et al. (1999), ao realizarem um levantamento preliminar da comercialização ilegal de produtos da fauna no estado do Amazonas, registram que as classes mais apreendidas são répteis (principalmente, quelônios) com 52,2%, mamíferos 30% e aves 17,8%. Nas feiras, a maior comercialização de carne é para mamíferos (68%), aves (19%) e quelônios (13%). Sendo os quelônios (tartaruga e tracajá), mais apreciados, a comercialização feita sob encomenda cuidadosa, representando 22% dos animais comercializados para alimentação e o preço relativo por um quilograma (peso vivo – PV) da tartaruga de R$ 30,00. A carne de tartaruga-da-amazônia proveniente de criadouros legalizados pelo Ibama, no Amazonas, foi vendida inicialmente ao preço de R$ 12,00 a 18,00/kg de peso vivo em supermercados de Manaus (A Crítica, 1996), sendo pago ao
produtor até R$ 13,00/kg. Hoje, os produtores estão comercializando com preços que variam de R$ 8,00 a 12,00, por quilograma de animal vivo. Segundo Andrade et al. (2003), o custo com ração é de US$ 1,45 para produzir um quilo de tartaruga e em um cultivo superintensivo em tanques-rede pode-se obter renda líquida de
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criadouros do Amazonas US$246,24/m3. Lima (2000), estimou, nos criadouros os custos fixos em R$ 0,74 e os custos variáveis em R$ 2,19 para produzir um quilo de tartaruga. Considerando os atuais preços de venda do produtor, temos uma margem de lucro possível de 104,78% a 241,30%, o que caracteriza a queloniocultura como uma atividade altamente rentável.
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Capítulo 3: Áreas de reprodução de quelô nios prot egi das pelo R ANIbama/Am Ibama/ Amazo azonas nas e Ufam Paulo Cesar Machado Andrade João Alfredo da Mota Mota Duarte Paulo Henrique Guimarães de Oliveira Pedro Macedo da Costa Agenor Vicente Anndson Brelaz Carlos Dias de Almeida Júnior Wander Rodrigues Jonathas Nascimento Nascimento Hellen Christina Medeiros Luiz Mendonça Neto Sandra Helena Azevedo José Ribamar da Silva Silva Pinto Quando chega o verão na Amazônia, a vazante se inicia e com ela surgem milhares de praias ao longo dos rios. Sejam praias de areia bem branquinha em rios de águas negras e claras, ou praias amareladas em rios de águas barrentas, todas se transformam em verdadeiros depositários de vida com o período reprodutivo de
quelônios (tartarugas, tracajás, iaçás, irapucas) e aves (gaivotas, corta-águas, quero-queros, etc.). A gerência do Ibama no estado do Amazonas, através do Centro de Conservação e Manejo de Répteis e Anfíbios (RAN) tem desenvolvido uma série de atividades que visam a conservação dos quelônios na região. Esse trabalho envolve parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), comunidades e prefeituras dos municípios. Em um primeiro momento, as comunidades são visitadas e
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realizadas reuniões em que cada comunidade decide como poderá se envolver no trabalho, que praias deverão ser protegidas e quais pessoas formarão as equipes de campo. Depois, através dos técnicos do RAN e da Universidade, são treinados agentes de praia que atuarão no controle, monitoramento monitoramento e fiscalização de cada praia de desova de quelônios, os chamados tabuleiros. O Projeto Quelônios ampliou, desde 2001, sua atuação para os municípios amazonenses de Parintins, Juruá, Manicoré, Lábrea, Borba, Tapauá, Eirunepé, Carauri, Barreirinha, Nhamundá, Canutama, Barcelos, Novo Airão, Itamarati e São Sebastião do Uatumã, atingindo 407.504 habitantes que constituem as populações desses municípios. Atingimos, ainda, em parceria com a Ufam, através do projeto de extensão de manejo sustentável de tracajás, o Projeto Pé-de-Pincha, três municípios limítrofes no Estado do Pará, Terra Santa (16.500 habitantes), Oriximiná (60.000 habitantes) e Juruti (20.000 habitantes). Em cada município temos diretamente envolvidos com os trabalhos de campo e os treinamentos as comunidades e os professores da rede pública de ensino: 1) Em Parintins são 15 comunidades de 490 famílias evoluntários; 62 professores em treinamento ecom 26 cerca agentes ambientais 2) Em Barreirinha, 12 comunidades com 160 famílias, 35 professores e 1 agente ambiental; 3) Em Nhamundá, são 10 localidades com 63
famílias; 4) Em Eirunepé e Itamarati, nas praias de Walter Buri, cerca de 30 famílias; 5) Em Carauari, na Resex do Médio Juruá, em 10 tabuleiros, 200 famílias; 6) No Juruá, nos tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina, Vai-quem-quer e Botafogo, 100 famílias; 7) Em Manicoré, na praia do Nazaré, envolvendo 30 famílias que trabalham no local; 8) Em Lábrea, nas comunidades do Buraco, Luzitânia, Jurucuá, Bananal, Santa Cândida, Novo Brasil, Porongaba e Realeza, 370 habitantes; 9) Em Borba, no rio Matupiri, cerca de 100 habitantes; 10) Em Tapauá, na Rebio Abufari e nas
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comunidades da praia da Enseada, Piranhas e Curuzu, aproximadamente 80 famílias; 11) Em Canutama, nas reservas do Jamanduá, Axioma e Seringal Nazaré, participação de cerca de 40 famílias; 12) Em Nova Airão, na praia da Velha, em frente ao Parque do Jaú, cerca de 8 famílias; 13) Em Barcelos, na praia da Dulumina, Ponta da Terra e campina do Careca; 14) Em São Sebastião do Uatumã, no tabuleiro do Abacate, no Jarauacá e no Livramento, atingindo cerca de 50 famílias; 14) Em Terra Santa (10 comunidades), Oriximiná (9 comunidades) e Juruti (19 comunidades) no Pará, cerca de 850 famílias e 7.500 habitantes, sendo que lá já existem 78 professores treinados, 101 agentes ambientais voluntários e 45 professores em treinamento. Em todas essas áreas está sendo feita a proteção das matrizes de tartarugas, iaçás e tracajás, durante a desova, sendo feito o acompanhamento acompanham ento da postura até a eclosão, quando é desenvolvido o trabalho de proteção e manejo dos filhotes. A fiscalização pelo Ibama e pelos comunitários é bastante rígida nesses locais. Acompanhando esses trabalhos de monitoramento e controle, é desenvolvida uma estratégia de conscientização através da educação ambiental e da discussão sobre alternativas de desenvolvimento. Nesse aspecto, a parceria com a Universidade tem permitido ao Ibama levar cursos e projetos de desenvolvimento para algumas comunidades como: criação caipira de galinhas, beneficiamento de pescado, utilização
de plantas medicinais, piscicultura, criação de animais silvestres e ecoturismo. O apoio das prefeituras tem sido fundamental para a realização dessas atividades, que passam a se consolidar em cada município como estratégias de conservação e possível geração de renda no futuro, através da criação e manejo de quelônios e do
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ecoturismo, entre outras. Coroando os trabalhos de campo em 2001, nasceram e foram soltos 1.077.768 de filhotes provenientes do monitoramento de 3.886 covas de tartaruga, 7.263 covas de tracajá, 42.606 covas de iaçás e 4.671 covas de irapuca. O trabalho visa aumentar o número de praias de desova de quelônios protegidas, ampliar o número médio anual de filhotes soltos na natureza (Tabela 1), garantindo a proteção de populações de quelônios de diferentes calhas de rios e diferentes ecossistemas (Figura 1), permitindo que o trabalho de conservação se baseie não somente em produção de filhotes, mas, também, na variabilidade genética das espécies. E, além disso, consolidar novos tabuleiros para o fornecimento de filhotes para criadouros (Conservação ex situ). O RAN do Estado do Amazonas, com apoio da Gerência Executiva e da Ufam, ampliou seu espectro de ação e áreas protegidas, atingindo, praticamente, todos os ambientes aquáticos do Amazonas, mesmo com toda a sua dimensão territorial.
Áreas de Conservação de Quelônios pelo RAN-Amazonas 100
87
n
80 60 40 20 0
59
63
Rios Localidades
18
12 3 2
10
2000
2001
11
19
16 10
2002
2003
Municípios
Fig ura 1: Ampliação Figura 1: Ampliação das áreas de conservação de quelônios no Amazonas entre 2000 e 2003.
A Figura 1 apresenta os dados da ampliação das áreas
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reprodutivas de quelônios protegidas pelo RAN- AM, em 2000-2003. Esse avanço significativo só foi possível graças ao volume de recursos destinados pelo RAN, em 2001, e pelas diversas parcerias com a Ufam, prefeituras e a participação em editais de financiamento de projetos científicos e de extensão. O número de técnicos também foi ampliado (de dois para sete), graças à fusão do RAN com o Núcleo de Fauna Silvestre, em uma única Divisão de Fauna, no Ibama-AM. O RAN-AM vem trabalhando com o monitoramento e a conservação de populações de quelônios nas seguintes áreas: Rio Ri oP Pur uru us
1) 2) 3) 4) 5)
Tabuleiro do Abufari na Rebio Abufari, em Tapauá; Tab Tabule uleiro iross de P Pira iranha nhass e E Ense nseada ada,, em Tap Tapauá auá;; Tab Tabule uleiro iro do C Curu uruzu zu e Vis Vista ta A Aleg legre, re, em Tapa Tapauá; uá; Re Rese serv rva a do J Jam aman andu duá, á, eem m Ca Canu nuta tama ma;; Tab Tabule uleiro iro do N Naza azaré ré e Axi Axiom oma, a, munic municípi ípio o de Can Canuta utama ma.. Rio Ri oU Uatumã atumã
1) Tabuleiro Ta Tabu bule leir iro o sd do o do A Aba baca cate /Bal albi bina na;á/comuni ; 2) leiros riote /B Jar Jarauac auacá/co munidade dade do Livra Livrament mento, o,
Balbina; 3) Rebi Rebio o Ua Uatumã tumã e rio Pitin Pitinga: ga: IIlha lha d do o Li Limão, mão, do B Bacaba acaba,, Sor Sororoc oroca, a, Arapari, do Açaí, do Papagaio. Rio Ri oJ Ju uru ruá á 1) Rese Resex x do Médio Juru Juruá/Car á/Carauari auari:: 10 tabul tabuleiro eiross (G (Gumo umo do F Facão acão,, Nova Esperança/Jacaré, Roque/Ati, Bauana, Deus é Pai, Bom Manariã, Monte Carmelo/Pau Furado, 2) Jesus, Tab Tabule uleiro iro do J Joan oanico ico e Re Renas nascen cença/ ça/Jur Juruá; uá; Itanga, Mandioca) 3) Tabul Tabuleiro eiro de Bota Botafogo, fogo, Anton Antonina ina e Vai-q Vai-quem-q uem-quer/J uer/Juruá uruá;;
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4) Tab Tabule uleiro iro d dee Wal Walter ter B Buri uri/It /Itam amara aratiti-Eir Eirune unepé; pé; 5) Tabul Tabuleiro eiross de São Fran Francisco cisco,, Do Dois is Ir Irmãos mãos,, do Gado Gado/Itam /Itamarat arati; i; Rio Ma Madeira deira 1)Praia do Nazaré/Manic Nazaré/Manicoré; oré; 2)Rio Matupiri/Borba: diversos tabuleiros; Rios Ri os Solim Solimõe õess-Japu Japurá rá 1) Tefé – RDS Mamirauá: Pirapucu, Praia do Meio, Horizonte, Ingá; 2) Coari: Ilha do Geral; Rio Negro 1) Pra Praia ia da Vel Velha/ ha/Par Parna na Jaú Jaú,, N Novo ovo Air Airão; ão; 2) Pra Praia ia do Cab Cabuan uano/P o/Parn arna aJ Jaú/ aú/Nov Novo oA Airã irão; o; 3) Pr Prai aia a Du Dulu lumi mina na/B /Bar arce celo los. s. Áreas do Programa Prog rama PéPé-de-Pincha: de-Pincha: Médio-B Médio-Baixo aixo A Amazo mazonas nas a) Ri Rio o Amazo Amazonas nas:: Ilha de Vila Nova/Parintins.
b) Mu Munic nicípi ípios os do Am Amazonas: azonas: 1) Barreirinha: Piraí, Barreirinha: Piraí, Granja Ceres, Ipiranga, Tucumunduba, São Francisco, São Pedro, Proteção Divina, Lírios do Vale, Matupiri, Ariaú, Coatá, Ponta Alegre e Pindobal; 2) Parintins: Parintins: Anhinga, Anhinga, Parananema, Macurani, Valéria, Murituba, Laguinho, Maximo, Ze-Açu, Badajós, Terra-Preta, Tracajá, São Pancrácio, Parintinzinho e Santa Lourdes do Mamuru; 3) Nhamundá: Nhamundá: Fazenda Fazenda Duas Bocas, Praia Boa Esperança, Boiador, Galiléia, Espelho da Lua, Apéua, Sr. Santos, Castanhal, Marcolino, São Francisco e Vista Alegre.
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c) c) Mu Municí nicípios pios do oe oeste ste do Par Pará: á: 4) T Tee rra Sant Santa: a: Lago do Piraruacá (Aliança, Desengano, Itaubal, Camaiateua), Lago Xiacá, Igarapé dos Currais (Pintado, Tucunaré e Pirarucu), Igarapé do Nhamundá (Conceição Casa Grande), Igarapé do Jamary (Alemá e Chuedá) e Lago do Abaucu (Capote e Jauaruna). 5) Oriximiná: Região do Jarauacá, Acapu, Samaúma, Lago do Sapucuá (Ascensão, Casinha, Barreto), Maria Pixi, Acapuzinho, Cachoeiry; 6) Juruti Jurut i : Maravilha, Santa Madalena, Açaí, Zé Maria, Caapiranga, Surval, Uxituba, Prudente, Capelinha, Pompom, Ingrassa, Capitão e Vila Muirapinima. Na Figura 2 e na Tabela 1, observamos que, mesmo com todos os recursos que o RAN-Cenaqua/NUC aplicava na Rebio Abufari, em 2001-2002, ela perde o status de maior produtora de quelônios do Amazonas para áreas com trabalhos comunitários em
tabuleiros pequenos e próximos, como é o caso das Resex do Médio e Baixo Juruá, sendo que as áreas com manejo comunitário/participativo comunitário/pa rticipativo de quelônios passaram a responder pela maior parte da produção do Amazonas (60,01% = 646.848 filhotes) em relação às áreas de proteção estrita do Governo (39,98% = 430.920 filhotes). Esse envolvimento e conscientização comunitária permitiram reduzir o custo médio por filhote protegido de R$ 0,370,78/unidade para R$ 0,08/unidade. Todavia, o grande corte nas verbas governamentais, destinadas ao trabalho com quelônios, a partir de 2003, levou ao abandono de algumas áreas de reprodução monitoradas em 2001 e 2002, registrando uma queda de 15,49% na produção de filhotes. Em áreas de grande produção, como Abufari e
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Walter Buri, com um trabalho de muitos anos de proteção, as populações de quelônios parecem ter atingido certo equilíbrio e estabilidade, não havendo grandes variações. Contudo, em outras áreas, onde o trabalho havia iniciado há poucos anos, o impacto foi muito mais significativo. A situação foi mais grave ainda nas grandes áreas produtivas onde o governo trabalhava em parceria com as comunidades. A redução da presença e, em muitos casos, a completa ausência de técnicos do Governo e de recursos, amparando os ribeirinhos, levou desânimo ao trabalho comunitário que, com a falta de incentivos, registrou uma queda de 646.848 filhotes, em 2001, para 343.679 em 2005, ou seja, 46,86%. Apenas em áreas de manejo comunitário comunitário,, onde o governo se fez presente através dos trabalhos da Ufam e recursos do ProVárzea-Ibama, como as trabalhadas pelo Programa Pé-dePincha, a produção comunitária cresceu mantendo o ritmo de 2001-2002 e permitiu a sistematização dos dados de produção.
Segundo Pinto & Pereira, 2004, que analisaram os incentivos institucionais em áreas de manejo comunitário de quelônios do Programa Pé-de-Pincha: “os locais onde os usuários foram mais bem-sucedidos em criar e manter esquemas de manejo conservacionistas correspondem àqueles cujas instituições são mais efetivas e eficazes e possuem um melhor grau de contribuição”. Eles sugerem, para efetivação de uma co-gestão dos recursos pesqueiros, uma nova forma de incentivo às organizações comunitárias através da institucionalização do “subsídio azul”, definido como um recurso público a fundo perdido, destinado àquelas comunidades devidamente regulariz adas e comprovadamente efetivas no manejo participativo da fauna aquática e dos recursos hídricos. Outra forma de incentivo seria a geração de renda através da criação comunitária semi-intensiva ou
62
Produção de filhotes de quelônios em áreas protegidas no Amazonas
. o N
400000 350000 300000 250000 200000 150000 100000 50000 0
2001 2002 2003 2004 2005
h a m a b a a r i b u r i u á o r é J a ú m ã a u á r a u á a r i c o i n u t a B o r r a u t e u r n i c l o s / a t u / T a p a m i r e p C J l n a a U a r i M C W a M a r c e - e C a f é é d P B A b b u u T e f f Áreas
Figura 2: 2: Variação na produção de filhotes de quelônios em áreas protegidas pelo RAN/Ibama-AM em 2001 e 2005.
extensiva (prevista na minuta da nova portaria de criação de animais silvestres – Anexo VI – Quelônios – Item II) e/ou da venda de
filhotes de áreas de manejo comunitário para criadores. Principais Princ ipais tab tabuleiros uleiros A) Rio Ri o J Jur uru uá: A.1) Alto Juruá: Juruá: tabuleiros de Walter Buri, Nova Olinda/São Francisco, Matupá e outros. Nesse rio de águas barrentas, estreito e cheio de curvas, no trecho compreendido entre as cidades de Eirunepé e Itamarati, existem diversas praias de desova de quelônios. Muitos desses tabuleiros foram protegidos por antigos donos de seringais. O mais famoso deles é o tabuleiro de Walter Buri, em italiano, o Castelo de Ouro, localizado em frente à vila do seringal que tinha o mesmo nome. Desde 1983, o então IBDF realiza o monitoramento, controle e
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manejo das populações de quelônios que desovam naquela área. Entretanto, existem outras praias promissoras como a do tabuleiro de Nova Olinda/São Francisco, praia do Gado, Dois Irmãos, Matupá, Estirão do Óbito e São João (esta última a 30 minutos de Eirunepé). Walter Burí situa-se a 416 km de Eirunepé (238 km em linha reta), ou seja, a 8 horas de viagem em um bote com motor de popa 60 HP (coordenadas: 6º28'10”S; 68º26'24”W; 120 m de altitude). Essas áreas são controladas pelo Escritório do Ibama em Eirunepé, através dos Agentes de Defesa Florestal João Dejacy e Carlos Augusto Bié. O RAN/Ibama possui um flutuante, reformado em maio de 2001, com com bóias d dee ferro ferro,, uma bals balsa a de 80 m2 de área e um uma a casa de 60 m2 de área construída (do (dois is quartos, um banheiro banheiro,, uma sal salaacozinha), toda mobiliada, e com gerador de energia a diesel. Essa base, ancorada anualmente em frente ao tabuleiro de Walter Buri, do outro lado do rio, próximo à vila, serve de alojamento para a
equipe de agentes de praia, chefiada pelo sr. Raimundo Nonato “Curisco”, que é auxiliado pelos srs. Francisco Amâncio e Sílvio Santos. Os trabalhos de proteção têm início em maio, quando os quelônios saem dos lagos para o rio para reproduzirem-se. Nesse período, a vigilância das “bocas” desses lagos é fundamental para que os quelônios consigam chegar até as áreas de postura. Dois lagos merecem especial atenção: o Lago do Tarira, de propriedade da Empresa Macacuera, do sr. Naochi Kubota, vigiada há três anos pelo sr. Amâncio; e o Lago do Maturani, vigiado há dois anos pelo sr. Sílvio Santos. O trabalho se estende durante todo o período reprodutivo (junho-setembro), (junho-setembro), passa pela eclosão e nascimento dos filhotes (outubro-novembro) e vai até fevereiro, quando é necessário vigiar novamente as bocas dos lagos, pois ocorre outra migração dos quelônios, do rio para os lagos (de alimentação).
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65
Figura 4: Base flutuante de Walter Buri – Rio Juruá/AM. Foto: RAN/AM. (Andrade, P.C.M.).
O tabuleiro de Walter Buri tem fornecido filhotes para os criadouros de quelônios do Amazonas desde 1999 (cerca de 25.000 filhotes de Podocnemis expansa/ano). Os demais filhotes de tartaruga são soltos no lago da Cachoeira, lago do Maturani, igarapé de Nova Olinda e, do outro lado do rio, próximo a Walter Buri, desde que haja bastante capim. Tracajás (P. unifilis ) e iaçás (P. sextuberculata ) saem espontaneamente de seus ninhos e correm para a água (as covas de tartaruga são marcadas e manejadas; as dos tracajás apenas contadas e as das iaçás são estimadas). Na Tabela 2 apresentamos o georreferenciame georreferenciamento nto das praias de desova de quelônios e dos lagos de alimentação.
66
Figura 5: Transporte de filhotes de tartaruga (P. expansa ) de Walter Buri para criadores registrados no Amazonas, 2002. Foto: RAN/AM (Andrade, P. C. M.).
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Tabela ab ela 2: Tabuleiros e lagos de alimentação de quelônios situados entre Eirunepé e Itamarati,
no Alto rio Juruá Local
Walter Buri
Tip T ipo o
Coordenadas
Tabuleiro 6º28’54’’S; de desova 68º25’54”W e 119 m de altitude São Tabuleiro 6º29’25” S; Francis_ de desova 68º31’56” W co Matupá Praia de 6º26’46”S; desova 68º29’16”W Do Gado Praia de 6º27’55”S; desova 68º27’29”W Maturini Praia de 6º30’22”S;
Dimensões da praia
4.000 m X 200 m 4.500 m X 200 m 4.000 m X 150 m 1.000 m X
Nº de Nº de ninhos em filhotes produzi_ 2001 dos ou soltos
Tartaruga= 560 Tracajá=600 Iaçá=1000 Tartaruga= 15 Tracajá=321 Tartaruga=2 Tartaruga= 2 Tracajá=23 Iaçá=125 Tartaruga=5 Tartaruga= 5 Tartaruga=1 Tartaruga= 1
72.588
10.178
2.885
418 84
Olinda Lago Cachoei_ ra Walter Buri
desova Praia de desova
68º27’29”W 6º26’8”S; 68º28’55”W
100 m Tartaruga=5 Tartaruga= 5 1500 m X 80 m e 2.800 m X 80 m TOTAL DE FILHOTES PRODUZIDOS EM 2001 2001 Local Tip T ipo o Coordenadas Espécie Nº/espécie Estirão Potenciais 30 minutos de Tartaruga do Óbito praias de Eirunepé, Tracajá e São desova o rio descendo João na marg em direita de 6º30’37”S; Lago do Lagos Tartaruga 2.300 Maturani alimenta_ 68º27’24”W e do ção Tarira Igarapé 1.000 Tartaruga 6º28’19”S; Rota de de Nova migração 68º 30’45”W Dos Dois Irmãos
Soltura
-
Tartaruga
3.500
1.031 Soltura Tartaruga 31 Tracajá 16 Iaçá FILHOTES SOLTOS EM OUTROS LUGARES EM 2001
418
86.571 Nº t o t al a l de filhotes
2.300
1.000 3.500
1.078
7.878
68
Juruá: Juruá: Tabuleiros da Reserva Extrativista (Resex)A.2) MédioMédio Juruá em Carauari/AM. A atividade de produção de quelônios em praias manejadas está inserida no programa de manejo de uso múltiplo dos recursos da Resex, sendo mais uma alternativa de renda para as comunidades, ao mesmo tempo que conserva essas espécies que, na região, já estiveram bastante ameaçadas. Na Tabela 3, verificamos um aumento proporcional na produção de quelônios em relação ao tempo de criação da área de proteção, o que leva a crer que tal iniciativa pode proporcionando condições a reprodução dosestar quelônios. As comunidades da para Resexmelhorar decidiram proteger particularmente a tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa ), ), evitando a captura de adultos e a coleta de seus ovos, ficando o tracajá (P. unifilis ) e o iaçá (P. sextuberculat sextuberculata a ) sob proteção
relativa, posto que eles fazem parte do cardápio daquelas populações tradicionais durante a vazante do rio.
Figura 6: Tabuleiro Deus é Pai – Resex Médio Juruá/Carauari-AM. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).
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Figura 7: Tabuleiro do Ati, comunidade do Roque, Resex Médio Juruá, Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Andrade, P.C.M.).
Figura 8: Rastros de P. expansa , tabuleiro do Ati, Resex Médio Juruá, Carauari/AM. Foto: RAN/AM (Oliveira, P.H.G.).
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Tabela 3: Produção de quelônios nas praias manejadas da Resex do Médio Juruá, no período de 1994 a 2006.
ano an o
Iaçá filhote
T artaruga covas filhotes
vivo
covas
morto
T racajá filhotes
vivo
morto
1994 1995 1996 1997 1998 1999
150.000 98.781 121.666 144.783
465 249 460 542 616
43.721 28.418 40.376 43.046 58.804 76.521
174 8.256
1029 1.033 704 666 712
24.949 33.572 6.163 13.140 25.949 23.008
100 449
2000 2001 2002
165.530 186.086 81.096
876 600
101.644 118.332 69.696
142
946 1106 574
29.882 36.313 15.598
9
2003 2004 2005 2006 Total
89.656 103.608 70.230 54.133 126556 1265569 9
679 426 426 467 5341
78.784 49.416 42.531 47.423 798.712
140 219 8.931
976 396 735 834 11338
27.345 8.741 13.709 20.109 278.478
120 678
Fonte: Ibama/CNPT, RAN-AM (2003) e Andrade & Brelaz (2006).
Os tabuleiros da Resex são remanescentes das áreas protegidas pelos antigos donos de seringais. São, ao todo, dez áreas: Jacaré (seringal Pupunha, comunidade Nova Esperança), Deus é Pai, Manariã, Ati (comunidade do Roque), Gumo do Facão, Bauana, Bom Jesus, Marari/Pau-Furado (comunidade Monte Carmelo), Itanga, Mandioca. Oficialmente, pelo Ibama, o trabalho começou em 14 de agosto de 1994 com registro da 1ª postura no tabuleiro do Pupunhas. Naquele ano foram monitorados os tabuleiros Deus é Pai ou Pão, Pupunha e Manaria pelo Agente do Ibama, sr. João de Deus Coelho. O tabuleiro do Jacaré, protegido pelos agentes da comunidade Nova Esperança, está localizado no antigo seringal Pupunha. Nele, o seringalista Basílio Coelho Bastos pagava vigias de praia e recebia a produção de de filhotes no grande barracão.
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Soltava todos em um pequeno igarapé que permitia, quando enchia, que os filhotes saíssem naturalmente para o rio Juruá. Depois, o seringal foi vendido para a Maginco. Quando o IBDF assumiu a proteção da área já havia o trabalho que foi mantido com o sistema de contrato de agentes de praia, acampamento e marcação de tartarugas. Tudo isso acompanhado pelo sr. João Tomaz/IBDF. Com o tempo e o crescimento de Carauari, começaram a invadir o tabuleiro, então ficou muito ruim até criarem a Resex. No Jacaré, desovam 32 tartarugas. Segundo os agentes, em 2001 desovaram 24 tartarugas e 140 tracajás, em 2000, haviam desovado 34 tartarugas
e 130 tracajás. O período de boiadouro para iaçá e tracajá é em junho e a desova destes ocorre em julho/agosto, já as tartarugas desovam em agosto/setembr agosto/setembro. o. O tabuleiro do Ati também pertence à área do seringal Pupunha, sendo manejado pela comunidade do Roque, que fica distante da margem do Juruá (tem de entrar em um lago e caminhar uma hora na mata de várzea até chegar à comunidade). Esse tabuleiro é o que detém, hoje, a maior produção, cerca de 280 covas de tartaruga. O Manariã é o segundo mais produtivo, entretanto é manejado por uma só família. O terceiro em produção é o Mandioca, seguido do Gumo do Facão ou do Bauana. No Marari, desovam mais tracajás. A Tabela 4 apresenta as coordenadas e informações sobre os tabuleiros. O tabuleiro Deus é Pai já foi o mais produtivo na área do antigo seringal Pão, todavia, houve o encalhe de uma balsa com 8.000 sacos de farinha e a movimentação das máquinas para desencalhar a balsa e a dragagem da praia espantaram as tartarugas. Hoje, a presença de gado na praia também prejudica. No Jacaré, Manariã e Deus é Pai, os agentes de praia usavam o capitari (macho da tartaruga) preso em um cercado como “indez” ou“chama”. Na Fig. 9, a reprodução de aves nas praias da Resex.
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Na mesma época da nidificação dos quelônios, os tabuleiros também são brindados com muitas aves reproduzindo nas praias como corta água, gaivotas e b baa c u r a u . O s f i l h o t e s l u t a m p e l a sobrevivência quando não são assados pelo sol abrasador abrasador ou servem de alimento para os jacarés, mucuras etc.
Os ovos do corta-água e gaivotas são tão camuflados que são confundidos com a coloração da área nos tabuleiros. Os filhotes também possuem uma pelagem inicial muito parecida com a areia da praia. São estratégias dos animais para se livrarem dos predadores. Os tabuleiros já estão também fazendo um controle da ovoposição das aves e também das iguanas que desovam em grande quantidade, em algumas praias.
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Tabela 4: Informações sobre tabuleiros e localidades referenciais na Resex Médio Juruá.
T abule Tabu leii ro ro/ / localidade
Co o rde nadas
Nº de famílias (nº hab.) 27 (168)
5º8’51 5º8’ 51”” S S;; 6 67º 7º7’ 7’35 35””W à 1 .5 .500 00 m d dee Nova Esperança Esperança (5º5’29”S; (5º5’29”S; 67º10’5” W; alt.=74m) Ati 5º10’57”S; 67º11’45”W Praia Porto do Roque 5º6’13”S; 67º11’59”W 59 (298) Pupunha (Jacaré)
facão Gumo do Bauana Deus é Pai Bom Jesus Mari-Mari Manariã Monte- (Pau Carmelo Furado) Itanga
- alt.=74m 5º4’33”S; 66º53’42”W 5º25’18.7’’S; 67º’17’12’’W 5º42’44”S e 67º35’72”W-alt=64 m 5º22’37.9’’S; 67º12’55”W 5º45’94”S e 67º45’04”W-alt.=68m 5º28’15”0S; 67º28’31”W-alt.=68 m 5º53’70”S e 67º56’52”W-alt.=74m
5º45’48’’S; 67º49’56’’W - alt.=77m
21(110)
18(117) 3 (11) 22(143) 3(15)
5(18) 9 (18)
13(67)
Mandioca 5º59’86”S e 67º58’55”W - alt.=73m 14(77) O IBDF/Ibama administrava os tabuleiros dando para os agentes rancho e combustível. No começo, eles não tinham motor, depois conseguiram comprar motores tipo rabeta (apenas dois ou três ainda não têm). Quando foi criada a Resex, o CNPT passou a pagar um salário para duas pessoas (nesse período, contribuíram para os trabalhos o Conselho Nacional de Seringueiros e o Greenpeace). Hoje, os tabuleiros são administrados por associações da Resex,
como a Asproc Produtores Rurais de Carauari), que paga R$ 200,00(Associação para duas dos pessoas e fornece dez litros de gasolina, durante seis meses. Ao todo, 27 famílias de agentes são beneficiadas diretamente pelo recurso, embora em 2001 todos os agentes tenham reclamado do atraso e no pagamento incompleto (só R$ 50,00 em dinheiro e R$ 50,00 de rancho/pessoa). Os recursos são provenientes de um projeto junto ao BNDS, coordenado pela Asproc. Em maio maio fora foram m liberado liberadoss R$ 14.400,00 para pagamento
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dos agentes. A Asproc também faz o escoamento dos principais produtos agrícolas da Resex: farinha e banana (atualmente, prejudicada pelo mal da Sigatoga Negra). Em 2003 o projeto de preservação dos tabuleiros teve financiamento do Ministério do Meio Ambiente – MMA, através de um trabalho técnico proposto pela Asproc, sendo as atividades coordenadas por um membro da diretoria da associação, que atuou como coordenador do projeto,Manoel Cruz “Manoelzinho”, e por
técnicos do Ibama, lotados na Resex do Médio Juruá, João de Deus, Mônia e Aldízio Lima, respectivamente. Esse projeto previa auxílio para os vigias na forma de alimentação alimentação,, a cada mês, recursos para viagens de monitoramento mensal das atividades dos vigias e compra de equipamentos para a implementação das ações de preservação dos quelônios. O trabalho de vigilância dos tabuleiros é realizado pelos ribeirinhos, através da construção de uma base (normalmente uma casa de madeira coberta de palha) na margem oposta do rio onde está localizado o tabuleiro, dessa forma, os vigias possuem uma base para que possam permanecer durante o dia e a noite. O trabalho de preservação consiste na vigilância dos tabuleiros para evitar a invasão por estranhos para a retirada de ovos e a coleta de animais desovando, a marcação das covas dos animais para o controle do número que desova em cada praia, e o controle da data de eclosão dos filhotes. Também é realizado através de fichas: o controle do número de animais que desovaram nas praias, o número de filhotes que nasceram e que morreram e os ovos não eclodidos. De 2004 a 2006, foi realizado um projeto na Resex Médio Juruá pela Ufam e CNPT-Ibama, com recursos da Fapeam, para estudar parâmetros de dinâmica populacional de tartaruga (Podocnemis expansa ), ), tracajá (Podocnemis unifilis ) e iaçá (Podocnemis sextuberculata sextuberculata ) da região do Médio rio Juruá/AM,
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através de manejo extensivo de ovos, filhotes e adultos, por comunidade. Utilizou-se captura-marcação-recaptura, com armadilhas/redes em diferentes microambientes e próximas às áreas de nidificação. Os quelônios foram marcados com perfuração de carapaça (Figura 10).
Figura 10: Captura de quelônios com rede trammel-net no sacado do Mari-Mari – Resex Médio Juruá, biometria, marcação, soltura e aplicação de questionários. Fotos: C.Dias A.Jr. (2005).
Foram aplicados 45 questionários em nove comunidades na Resex Médio Juruá. Foram identificadas oito espécies de quelônios : Podocnemis expansa ( 16 % ) , P. unifilis ( 16 % ),
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P. sextuberculata (16%), Peltocephalus dumerilianus (4%), R. punctulari punct ularia a (11%), G. denticulata (16%), G. carbonaria (5%) e C. fimbriatus fimbri atus (16%). Os comunitários informaram que os quelônios alimentavam-se principalmente de flores (21%), frutos (17%), sementes (17%), insetos (15%) e peixes (13%). No Médio Juruá, as principais espécies consumidas são P. unifilis (tracajá) 31%, P.
expansa (tartaruga) 26%, Geochelone spp. (jabuti) 17% e P. sextuberculata (iaçá) 16%. Cerca de 28% dos moradores utiliza a
gordura de quelônios como remédio (Nascimento & Andrade, 2005). Os apetrechos mais utilizados na “pescaria” de quelônios no Médio Juruá são a malhadeira, o arrastão, o arpão e o jaticá (40%). No Médio Juruá, o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 90, 0 ± 40,8, o iaçá R$ 3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3. Há maior abundância de iaçás (Podocnemis sexturbeculata ) na Resex Médio Juruá (59%). O período com maior número de capturas é à tarde. No fim f im da tarde e à noite, fforam oram os momentos de captura dos animais maiores em comprimento e peso. No período de cheia dos rios os quelônios concentram-se nos lagos e na floresta alagada, pela maior oferta de alimentos e proteção contra predadores. Os aparelhos de pesca de maior eficiência para tracajás t racajás e iaçás foram as caçoeiras, dos comunitários. E, para p ara as tartarugas, as malhadeiras. A comunidade Bom Jesus mostrou maior quantidade de cascos utilizados em casas de farinha (para tirar a massa) e em residências. Os cascos mais utilizados são os de iaçá, talvez por serem quelônios em maior abundância na região, reg ião, uma vez que os comunitários preferem utilizar cascos de tracajá por serem médios. O maior pico de desova do iaçá ocorre no período de julho e agosto. A tartaruga e o tracajá apresentam apr esentam seu período de desova nos meses de agosto e setembro . Os maiores tabuleiros : Deus é Pai , Ati ( Roque ) e Monte Carmelo . As médias de
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ovos por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4 ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matá-matá=12,5 ovos (Nascimento & Andrade, 2005). Os maiores quelônios foram capturados na seca. Na cheia, o
peso de animais capturados foi: tartaruga 1.652,32 1.619,81g, idade=3,68 0,98 anos (100% fêmeas), tracajás=2.413,27 1.696,14 e idade= 6,25 1,95 anos (9,09% fêmeas), iaçás=637,58 535,32 g e idade=2,91 1,25 an anos os (43,32% fêmeas). Na seca: tartaruga=4.355 7.635 g, idade=6,78 idade=6,78 8,76 anos (máximo=30 anos) e 81,12% fêmeas, tracajás=2.018 2.703,6g, idade=2,63 2,13 anos e 84,05% fêmeas; e iaçá=612,1 324,2g, idade=5 1,5 anos e 65% fêmeas. O crescimento médio de iaçás na natureza, com base na recaptura de animais marcados, foi de 0,10 ± 0,95 g/dia (Almeida Jr. & Andrade, 2006). A.3) Baixo Juruá: tabuleiros Juruá: tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina e Botafogo, em Juruá/AM O município do Juruá (antigo Caetaú) possui tabuleiros comunitários tradicionais como o da Antonina e Botafogo e tabuleiros estabelecidos graças aos esforços da prefeitura daquela cidade, através do sr. Tabira Ramos Dias Ferreira. O tabuleiro do Joanico teve um trabalho de conservação iniciado em 1983, sendo conduzido nos períodos de 1983 a 1988 e de 1996 até hoje. São realizados trabalhos de proteção com o objetivo de manter o recurso quelônio e recuperar as populações de tartarugas, tracajás e iaçás do rio Juruá. Através da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo (criada em 1996) e de 36 agentes ambientais voluntários são realizados os trabalhos de conservação. O tabuleiro do Joanico mede 2.600 m x 200 m. O boiador acontece da seguinte forma: 2ª quinzena de junho – iaçás;
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2ª quinzena de julho – tracajás; 1ª quinzena de agosto – tartarugas. O período de desova vai de julho a setembro (julho-agosto, as iaçás; agosto-setembro,, tracajás e tartarugas). As iaçás põem de quatro a agosto-setembro nove ovos, os tracajás de 20 a 25, podendo chegar a 36 ovos, e as
tartarugas podem colocar de 120 a 230 ovos. Em 2001 foram marcadas 195 covas de tartaruga e 165 de tracajá. No tabuleiro Renascença, próximo ao Joanico, o agente registrou três covas de tartaruga del eã tracajá. Os principais de eovos ja jacu curr ar aru, u, e 120 ca cama mal eão o , u ru rub b u, ga gavi vião ão--predadores de de-- b i co co-- v e rm rme lh lho; o; são: os predadores de filhotes são: urubu, gaivota, jacaré, gavião e peixes lisos (bagres). A eclosão ocorre de outubro a novembro e os agentes estimam como período de incubação: 60 dias para a tartaruga e o tracajá e 90 dias para as iaçás (informações dos agentes).
Figura 11: Equipe 11:P.C.M.). Equipe do tabuleiro do Joanico, Juruá/AM, 2001. Foto: RAN/AM (Andrade,
O trabalho no Joanico consistiu em piquetear as covas de tartaruga e tracajá, coletar filhotes e soltar no rio ou nos lagos. Em 2001, pela primeira vez, foram utilizados oito berçários de 1,5 m x 1,5 m x 1,5 m, de madeira, telado com sombrite. Antes, trabalhava só um agente de praia, o sr. José de Nascimento Santana. Nos últimos anos tem trabalhado uma equipe de fiscalização:
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Coordenador/Secretário de Meio Ambiente e Turismo: 1º Sargento PM Francisco Jesus Barbosa de Souza; Agentes Ambientais Voluntários: GM Enéas Pereira da Silva; GM Damião
Cavalcante Oliveira; GM José Ilson Gomes da Silva; GM Luís Carlos Gomes Ribeiro; GM Francisco Roberto Mesquita Cabral; GM Francisco Deusimar da Silva; GM Antônio Israel de Araújo Filho; GM Wagner Pedrosa da Silva Júnior; Antônio Maximiniano Mendonça de Brito (Jabuti), agente de praia do tabuleiro da Renascença/Boca do Breu. A fiscalização começa em junho (saída dos quelônios dos lagos de alimentação) e vai até o final de setembro. É feita em barcos ou voadeiras e através de denúncias. Em 1999, a pressão sobre os quelônios era grande pelos pescadores vindos de Manacapuru para contrabandear quelônios. A equipe ambiental do Juruá realizou a maior apreensão de quelônios do Brasil, em todos os tempos. Foram 44.000 animais apreendidos em oito barcos de Manacapuru, no ano de 1999, sem nenhuma participação do Ibama. Os animais foram colocados em uma balsa na frente da cidade, para que a população visse e, então, soltos no rio Juruá. Algumas pessoas choravam na multidão ao presenciarem a cena com muitos iaçás já mortos. A.3.1. Tabuleiros de nidificação dos quelônios aquáticos na calha do rio Juruá O maior tabuleiro de quelônios é o tabuleiro do Joanico, localização 3º51'21,0”S; 66º21'59,5”W. É um tradicional tabuleiro com mais de 30 anos de conservação. No passado era controlado por seringueiros e o único indicativo para impor certo respeito eram as bandeiras (bandeira branca indica paz na praia e bandeira vermelha indica perigo, área com grande concentração de ninhos). No ano de 2003, o tabuleiro tinha 1,7 km de praias com largura de 320m na calha do rio Juruá.
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Naquele mesmo ano, desovaram 251 tracajás ( P. unifilis ), ), 63 tartarugas-da-amazônia (P. expansa ), ), centenas de aves que encontraram no ta tabuleiro buleiro de Juanico um rraro aro lugar se seguro guro p para ara
fazer seus ninhos, e as incontáveis iaçás (P. sextuberculata ) lá nidificaram. O tabuleiro de Joanico é a grande prova de que a vida explode do calor do solo quando não é interrompida pela ganância humana. Nos tabuleiros protegidos nos impressionou a abundância de pássaros nidificando, ocorrendo principalmente gaivota (Phaetusa simplex e Sterna superciliaris ), ), corta-água (Rynchops nigra )),, maçarico (Charadrius collaris e Vanellus cayanus ) e bacurau (Chordeiles rupestris ). ). As praias protegidas ficam tomadas pelas aves aquáticas e seus ninhos, provocando grande algazarra à medida que chegávamos perto, tentando defendê-los, dando rasantes em nossas cabeças e na dos predadores que ousam se aproximar.
Figura 12: Filhotes de trinta-réis (Phaetusa simplex ). ). Fonte: Paulo Henrique Oliveira.
A.3.2. Press Pre ssão ão de ccaça aça e predação Detectamos algumas dezenas de praias, ao longo do caminho, que pareciam desertas, inteiramente desabitadas e predadas, vítimas da intensa predação, como a retirada de ovos das aves aquáticas e dos
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quelônios, arrastões na margem das praias e coleta das fêmeas no ato da postura. Os iaçás (P. sextuberculata sextuberculata ) e tracajás (P. unifilis ), ), que
ocorrem em maior freqüência, são os mais coletados. A preferência alimentar pelas famílias usuárias da Resex do Baixo Juruá são, respectivamente: tracajá (Podocnemis unifilis )),, tartaruga (Podocnemis expansa ), ), Jabuti-amarelo (Geochelone denticulata ), ), iaçá (Podocnemis sextuberculata ), ), tartaruga de igapó (Phrynops raniceps ) e matá-matá (Chelus fimbriatus ))..
Os subprodutos utilizados na medicina tradicional são: são: banha da banha da tartaruga – para confecção de creme para a pele e o cabelo, rendidura rendi dura1 e do dorr mus muscular cular;; chá da escama esc ama da carapa carapaça ça do jabu jabutt i – para tosse, asma e assadura. Se o paciente for homem tem que ser de jabuti fêmea e vice-versa; chá da escama e scama assa assada da da carapaça do matá-matá – matá-matá – para assadura; carapaça carapaça – – capitari 2, fême fêmea a do tracajá 3
e iaçá e zé-prego - é usada como comedouro p/ animais domésticos e principalmente para remover a massa de mandioca, para o forno, na casa de farinha. As espécies mais comercializadas na cidade de Juruá e na Resex são: trac tracajá ajá R$ 25-30,00, tartaruga R$ 200,00 ou R$ 4,00 o quilo, iaçá R$ 5-6,00. Existem muitos regatões na margem do rio Juruá navegando em chalanas. Eles transportam os quelônios para comercializarr nas cidades de Juruá, Fonte Boa, Tefé, Manacapuru e comercializa Manaus-AM. Muitos comunitários também levam, há comércio nas comunidades, mas não é tão intenso quanto na cidade.
¹Rendidura – hérnia escrotal; ²Capitari – macho da tartaruga; ³Zé-prego – macho do tracajá;
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Figura13: Tracajá (P. unifilis ) sendo comercializado na cidade de Juruá. Figura13: Tracajá Fonte: P.H. Oliveira.
É freqüente o encontro com vários barcos peixeiros na calha do rio Juruá, sempre acompanhados por muitas canoas e cheios de caixas de isopor. Nas margens do rio observamos outras várias caixas de isopor dispostas nos portos das casas. Não há controle do fluxo de embarcações que navegam o rio Juruá. Com trânsito livre, a região fica vulnerável e grande parte dos recursos da região é retirada. Alguns exemplos que mostram o grau de predação: no ano de 1999, a polícia de Juruá prendeu oito barcos que, juntos, transportavam cerca de 44.000 quelônios e dois meses depois, mais 800 indivíduos. Por informações dos comunitários, sabe-se que no ano de 2002 passaram 8.000 animais para o município de Alvarães, pelo Igarapé do Breu. São vários os predadores de quelônios encontrados nos tabuleiros do rio Juruá na época da desova dos quelônios. Predadores de ovos: homem, jacuraru (Tupinambis sp.), mucura (Didelphis marsupialis ), ), gavião-preto (Buteogallus urubitinga )),, urubu (Coragyps atratus ), ), paquinha (Orthoptera, Gryllotalpidae )),, macaco-prego (Cebus apella ). ). Predadores de filhotes: bagres em geral e aruanã (Osteoglossum sp.), sp.), piranha (Pygocentrus nattereri )),, pirarara ( Phractocephalus hemioliopterus ), ) , jacaré ( Caiman ), corta-água (Rynchops nigra )),, crocodylus e Melanosuchus niger ),
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gaivota (Phaetusa simplex ), ), gavião-preto (Buteogallus urubitinga )),, urubu (Coragyps atratus ), gato-maracajá (Leopardus wiedii )).. Relato da sra. Raimunda – comunidade do Socó: “O tracajá aumentou, mas o iaçá diminuiu, os bichos de casco estão diminuindo, tartaruga nem se vê falar meu irmãozinho”. A.3.3. A.3. 3. Envolvime Envolvimento nto comun comunitário itário Na região do Baixo Juruá, somente quatro praias possuem um histórico de conservação: Tabuleiros de Joanico, Renascença, Antonina e Botafogo. O sistema de vigilância das praias era feito por revezamento entre os comunitários comunitários (um fica durante o dia todo e o outro fica à noite). As praias não eram estáveis, todos os anos, devido às correntes do rio e à inundação anual, as praias mudam de forma (altura, largura e, muitas vezes, crateras são criadas ao longo da praia). O sistema de sinalização das praias é herdado dos seringais e tem uma bandeira como um marco indicando que a praia é protegida. As áreas de uso e de conservação da praia eram demarcadas na época de reprodução dos quelônios, usando bandeiras brancas e vermelhas. As comunidades Botafogo e Antonina têm um histórico de mais de 15 anos de proteção dos tabuleiros, que eram saqueados por índios da etnia Deni e Culina, no trajeto em direção à cidade de Juruá, para receber benefícos do governo, como aposentadoria. Essa falta as deações sintonia entre irmãos indígenas e ribeirinhos enfraquecia de conservação dos quelônios aquáticos. A.3.4 Produção nos tabulei tabuleiros ros A produção de filhotes no tabuleiro do Joanico cresceu bastante de 1998 a 2002, como mostra a Tabela 5.
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T abela Tabel a 5: Estimativa 5: Estimativa de filhotes nascidos no tabuleiro do Joanico de 1998 a 2002.
A no 1998
1999
2000
2001
2002
Espécie
P. expansa P. unifilis P. sextuberculat sextuberculata a Tota Totall P. expansa P. unifilis P. sextuberculat sextuberculata a Totall Tota P. expansa
P. P. unifilis sextuberculat sextuberculata a Totall Tota P. expansa P. unifilis P. sextuberculat sextuberculata a Totall Tota P. expansa P. unifilis P. sextuberculat sextuberculata a Totall Tota
Número Filhotes de soltos 7.618 ninhos 76 132 3.571 5.210 52.101 5.418 63.290 152 18.496 157 4.782 6.720 67.204 7.029 90.482 158 19.000 160 4.986 7.510 80.753 7828 104.739 170 21.490 170 5.200 8.075 80.735 8.415 107.425 185 27.900 185 6.275 10.050
100.500
10.420
132.225
Fonte: Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Juruá-AM e RANIbama/AM, 2003.
O número médio de ovos foi: tartaruga=130 ± 30,8 ovos, tracajás=29,11 ± 1,25 ovos e iaçás=8,33 ± 2,31 ovos (Andrade, 2001). O comprimento médio dos ovos ficou em torno de 40 mm para o tracajá, 40,5 para a iaçá e a circunferência do ovo da tartaruga ficou em torno de 41,5 mm. Quanto à largura: tracajá 28 mm e iaçá 26 mm.
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O peso médio dos ovos de tartaruga ficou em torno de 37,46 g, tracajá 23,30 g, iaçá 22,40 g. Geralmente o ovo do tracajá é mais pesado que o de iaçá. Essa diferença pode ser pelo número pequeno de amostras dos ninhos. O número médio dos ovos nos ninhos fica em torno de 25-30 ovos (tracajá), (tracaj á), 70-130 (tar (tartaruga) taruga) e 9-12 (iaçá). A taxa de eclosão foi de 88,56% para Podcnemis expansa , 96,4% para P.unifilis e 92,3% 92, 3% par para a P. sextuberculata (Andrade, (Andrad e, 2001). No tabuleiro de Renascença Renascenç a foram produzidos, em 2001, 273 filhotes de tartaruga ( P. expansa ), ) , 360 de tracajá ( P . 5.44 441 1 de iaçá ( P. sextuberculata ) . unifilis ) e 5. A.3.5 Tabuleiros comunitários da Resex Baixo Juruá: Botafogo , Antonina e Itaúna Botafogo, A produção dos tabuleiros, dentro do que viria a ser a Resex Baixo Juruá, foi estimada, por Andrade (2001), em 130.0 11 filhotes (1,30% P. expansa , 6,79% P. unifilis , 91,92% 91, 92% P. sextuberculata ). ) . Isso foi equivalente a 65,81% dos filhotes gerados em áreas protegidas no Baixo Juruá (Joanico e Renascença produziram 67.520 filhotes). Observou-se um aumento percentual percen tual em relação à partic participação ipação dos tabuleir tabuleiros os da Resex na produção prod ução tot total al do Baixo Juru Juruá, á, já que em 199 1995 5o tabule iro de Botafogo colaborou com apenas 13,9 tabuleiro 13,91% 1% do total produzido (231.902 filhotes de quelônios – 3,4% de tartarugas, 5,16% de tracajás, 91,42% de iaçás) sendo o restante oriundo do Joanico (Andrade, 2001). A Tabela 4 apresenta apresen ta a produç produção ão de filhot filhotes es de quelônios em Antonina, Botafogo e Itaúna, em 2001.
86
T a b e l a 6 : P r o d u ç ã o d e n i n h o s e f i l h o t e s d e q u e l ô n i o s e m Ta Antonina,, Botafogo e Itaúna – Resex Baixo Juruá, 2001. Antonina Tabule T abuleii ro
Espéc Espé c i e
Nº de Ninhos
Antonina
Tartaruga
6
(3º23’40”S e 66º4’18”W)
Tracajá
70
Botafogo
Iaçá Tartaruga
2600
5
(3º20’8”S e 65º97’30”W)
Tracajá
Itaúna
Iaçá Tartaruga
9200 2
Tracajá
170
(3º1’20”S e 65º54’24”W) To T o t al
170
Iaçá
Nº Nº T o t al Médio To de ovos 125133 34
10-11 120 140 30
213 12436
9-11 110142 26
10
Nº Estimado
de ovos 800
de filhotes 780
2380
1200
27560
26000
700
660
5100
3400
98924 284
92000 250
4.420
4230
2.130 142394
1491 130011
Obs. A área total dos tabuleiros tabuleiro s é: Botafogo=3.600 Botafogo=3. 600 m x 280 m, Antonina= 1.770 1.77 0 m x 150 m e Itaúna= Itaúna = 1.240 m x 239 m. Fonte: Fonte : Andrade (2001) (2 001)..
A Figura 14 e a Tabela 7 mostram mostr am a evolução da produ produção ção de quelônios nessas áreas da Resex. Observa-se Observa- se uma tendên tendência cia gradual de aumento para cada ano de proteção, similar à tendência tendê ncia observ observada ada por Andrade et al. (2006) para a Resex do Médio Juruá Juru á e demais calhas de rios do Amazona Amazonas, s, onde ocorre o trabalho traba lho de proteção, o que signif significa ica que poderemos utili utilizar zar o modelo proposto propos to para verif verificar icar a suste sustentabi ntabilidad lidadee das taxas de extração anual.
87
Produção de ninhos de quelônios em Botafogo 12000
180 160
10000 140 s a g u r a t r a t / s á j a c a r T . N
8000
120 100
6000
s á ç a I . N
80
Tartaruga Tracajá Iaçá
4000
60 40
2000 20 0
0 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Ano
Figura 14: Histórico da produção de ninhos de quelônios no tabuleiro de Botafogo – Resex Médio Juruá. Fonte: Andrade (2001).
Em função dos trabalhos de proteção dos tabuleiros, os comunitários conseguiram aumentar a produção em 3,75 vezes para tartarugas, 4,4 vezes para tracajás e 9,4-17,7 vezes para iaçás, ou seja, um aumento de 1.648% em 12 anos de proteção (19902002). A.3.6 Monitoramento Monit oramento de quelônio quelônioss na Resex Baixo Baixo Ju Juru ruá á Entre 2005 e 2006, o CNPT-Ibama/AM, Ufam e Inpa realizaram, com recursos do Funbio e Arpa, o monitoramento de quelônios para avaliar as populações de Podocnemis na na Resex do Baixo Juruá (Figura 15), através da aplicação de 51 questionários, captura e marcação de indivíduos, em que foram obtidos dados biométricos , razão sexual e outras informações sobre a
88
estrutura populacional dessas espécies. Essas informações subsidiaram o plano de manejo da Resex. O monitoramento contínuo fornecerá – associado aos dados d ados de produção das áreas reprodutivas – elementos sobre a dinâmica dessas populações, o que nos permitirá analisar mais eficientemente os estoques e verificar a sustentabilidade sustentabilid ade de taxas de desfrute anuais de ovos, filhotes ou animais subadultos. Ta bela Tabe la 7: Hi Hist stór óric ico o da pr prod oduç ução ão de qu quel elôn ônio ioss em pr prai aias as protegidas na Resex Baixo Juruá. Produção nos tabulei tabuleiros ros da Resex Botafogo Ninhos Ano Tartaruga Tracajá Iaçá 1990 1 25 559 1991 2 52 1.075 1992 3 80 1.613 1993 4 93 2.151 1994 4 110 2.688 1995 4 120 3.175 1996 5 126 3.468 1997 5 134 4.970 1998 5 140 5.161 1999 5 148 5.726 2000 5 155 7.903 2001 Antonina Ano 1998 1999 2000 2001
5
170 Ninhos Ninhos Tartaruga Tracajá 2 35 3 55 4 65 5 70
Tartaruga 130 265 390 520 530 536 680 680 635 642 640
9.892
660
Iaçá 2.400 2.752 2.600 2.600
Tartaruga 220 420 662 780
Filhotes Tracajá 500 1.040 1.600 1.860 2.200 2.400 2.520 2.680 2.800 2.960 3.100 3.400 Filhote Filhotess Tracajá 860 970 1.100 1.100
Iaçá 5.200 10.000 15.000 20.000 25.000 29.530 32.250 46.220 48.000 53.250 73.500 92.000 Iaçá 24.000 27.520 26.000 26.000
Fonte: Andrade (2001) e Secretaria de Meio Ambiente do Juruá (2002).
89
Fi gura 15: Locais 15: Locais de monitoramento de quelônios na Resex Baixo Juru Ju ruá á – 2005 20 05/2 /200 006. 6.
A.3.6.1 Informações baseadas nos questionários – espécies de quelônios (habitat, alimentação, reprodução) e sua utilização Os comunitários identificaram dez espécies de quelônios quelôni os entre os animais mostrados nas pranchas coloridas: colorid as: Podocnemis expansa (tartaruga), Podocnemis unifilis (tracajá), P odocnemis sextuberculata (iaçá), Peltocephalus dumerilianus (cabeçudo), Rhinoclemmys punctularia ( perema ),
90
P l a t e m y s p l a t y c e p h a l a ( j a b u t i - m a c h a d o ) , G e o c h e l o n e denticulata (jabuti-amarelo), Geochelone carbonaria (jabutivermelho), Chelus fimbriatus (matá-matá) (matá- matá) e Phrynops raniceps
(lalá ou tartaruga-de-igapó). Verificou-se que a designação ou nomenclatura popular é diferenciada de outros locais da Amazônia, Amazôni a, pois chamam de perema a Phrynops nasutus , e lalá o Platemys platycephala , tartaruga-de-igapó é a Phrynops raniceps.
A alimentação desses animais é muito variada. Segundo os comunitários, eles alimentam-se de frutos diversos, inflorescências, sementes, animais em putrefação e algas. Os alimentos disponíveis nos lagos e matas alagadas são bem diversific diver sificados. ados. Exemplo de frut os de ig apó e mat as alagada alagadas: s: abiora na, cajura abiorana, cajurana, na, caimbé caimbé,, castan castanha, ha, apuí, caxingubu caxingubu,, camucamu, socoró, marajá, muruxi, caimbé, tamaquari, jauari, oxirna, bacuri e castanharana; macrófitas aquáticas e gramíneas: canarana, mururé, mureru, taboca e capimgramíneas: membeca. No Baixo Juruá, segundo os comunitários, os quelônios alimentam-se de frutos (30,77%), plantas aquáticas (29,59%), sementes sement es (18,93%) (18,93%),, peixe peixess (14, (14,79%) 79%) e flores (5,92 (5,92%). %). Na Resex Médio Juruá, segundo Andrade & Nascimento (2005), os comunitários informaram que os quelônios alimentavam-se principalmente de flores (21%), frutos (17%), sementes (17%), insetos inset os (15%) e peixes (13% (13%). ). Observou-se que, para os comunitários, a maioria das espécies espéc ies vive em rios, lagos, igar igarapés apés e cabec cabeceiras eiras (exceç (exceção ão do jab ja b ut utii qu quee vi vivv e na f lo lore rest sta) a).. Es Essa sa op opin iniã ião o é simi si mila larr ao Mé Méd d io Juru Ju ruá, á, on onde de,, se segu gund ndo o os mo mora rado dore res, s, 66 66% % d os qu quel elôn ônio ioss habitariam em lagos, rios e igarapés (Andrade & Nascimento, 2005).
91
Verificamos que os valores registrados para o número de ovos não diferem significativamente dos encontrados por Andrade (2001) para as principais espécies (tartaruga=130,8 ovos; tracajá=29,11 ovos; e iaçá= 8,33 a 11 ovos). No Médio Juru Ju ruá, á, An Andr drad adee & Na Nasc scim imen ento to (2 (200 005) 5) re regi gist stra rara ram m as se segu guin inte tess médias de ovos, por ninhos: tartaruga=122,5 ovos; tracajá=27,4 ovos; iaçá=7,9 ovos; cabeçudo=5 ovos; jabuti=8,8 ovos; matámatá=12,5 ovos. Essas médias foram inferiores às encontradas no Baixo Juruá, principalmente, para os Podocnemis, o que, provavelmente, resulta da influência maior, nessa região, de quelônios quelô nios do rio Solim Solimões, ões, que são animais muito maiores do que a média dos animais da calha do Juruá (Andrade et al. 1999). No Baixo Juruá, os quelônios preferidos para par a consumo são os tracajás (43%), jabutis (15%), tartarugas e iaçás (12%), e matamatá (6%). No Médio Juruá, as espécies preferidas são: tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti jabut i (17%), iaçá (16%). Verificou-se que nas três regiões regiõ es da Resex Baixo Juruá o pref preferid erido o é o tracajá. Em segundo lugar, dependendo depe ndendo da abundância ou não do recurso no local, está a tartaruga. Em locais onde existem poucas tartarugas, a preferência preferênci a recai sobre o jabuti. O iaçá, apesar de ser o mais abundante, não está entre os três preferidos. Os apetrechos mais utilizados na captura de quelônios são: a malhadeira (28,79%), o arrastão (18,18%), (18,18%) , o jaticá (15,15%) e o espinhel (9,09%). Andrade Andrad e & Nascimento (2005) verificaram que os petrechos mais utilizados na “pescaria” “p escaria” de quelônios no Médio Juru Ju ruá á sã são o a ma malh lhad adei eira ra,, o ar arra rast stão ão,, o ar arpã pão o e o ja jati ticá cá (4 (40% 0%). ). A Tabela 8 apresenta o preço médio de venda das principais espécies de quelônios, praticada nas comunidades dentro dentr o da Resex (35%) e na cidade de Juruá (47%).
92
Os ovos de tracajá e iaçá são vendidos de R$ 15,00 a R$ 20,00 20,0 0 , o cento. T abe l a 8: 8 : Preço médio de venda de quelônios quel ônios e ovos na Resex Baixo Juruá.
Espécie (R$) Média DP Máximo Mínimo
Tracajá unidade 34,06 8,41 50,00 15,00
Tartaruga unidade 123,33 66,53 200,00 20,00
Tartaruga (kg) 4,29 0,70 5,00 3,00
Iaçá unidade 3,88 1,32 5,00 1,50
Jabuti unidade 15,00 3,54 20,00 10,00
Observou-se que, assim como a carne de mamíferos e aves silvestres, os preços de quelônios no Baixo Juruá são relativamente mais caros quando comparados comparados aos de outras regiões. No Médio Juruá, o tracajá custa R$ 18,12 ± 5,9, a tartaruga R$ 90,0 ± 40,8, o iaçá R$ 3,75 ± 2,6 e o jabuti R$ 10,87 ± 5,3 (Andra (Andrade de & Nascimento Nascimento,, 2005). Na Resex Baixo Juruá, 41,4% usam a banha de quelônios como remédio remédi o e 48,3 48,3% % usam o casco como pega pegador dor ou bacia, para descansar desca nsar a massa da farin farinha. ha. Foi relatad relatado o que o casco do jabuti jabut i torrado, diluído em água e tomado em jejum pela manhã, combate a hemorróida. A banha da tartaruga é usada para bronquite. No Médio Juruá essa utilização como remédio cai para apenas 28% (Andrade & Nascimento, 2005). A.3.6.2 Parâmet ros de est ru rutura tura p popula opulaci ci onal de quelôni os na Re sex Baixo Juruá Na primeira excursão, no final da seca, foram f oram capturados 115 indivíduos, dos quais: 26 eram tracajás (Podocnemis unifilis )),, 12 fêmeas e 14 machos; 84 iaçás ( Podocnemis sextuberculata ), ), 59 machos e 22 fêmeas e 3 indeterminados; 4 tartarugas (Podocnemis expansa ), ), 3 machos e 1 fêmea; e 1 Phrynops raniceps . Também foram medidos 77 filhotes recém-eclodidos de tracajás e 4 filhotes
93
de tartaruga, de um mês, mantidos em cativeiro no igarapé do Breu. O esforço de captura foi estimado em 0,5 quelônio/horahomem (76 horas, 3 pescadores, 3 redes). Na segunda excursão foram capturados 67 iaçás ( Podocnemis sextuberculata ), ), uma P. expansa, 1 P. unifilis e 2 Phrynops nasutus.
Na seca, 89,3% dos animais foram capturados à noite. Do total de animais capturados, 68,5% eram machos. Quanto ao local de captura, 67,5% foram capturados capturad os em enseadas, ressacas ou remansos, em frente às praias de desova. Quanto à espécie, a maior parte dos iaçás foi capturada à tarde (39%) ou à noite (49%), sendo que 73% eram machos. Destes, 84% estavam est avam em enseadas ou ressacas na frente das praias, sendo que nesses ambientes, 58,3% foram machos. Na Tabela 9, apresentamos os dados biométricos, razão sexual e média de idade dos animais capturados e, na Figura 16 apresentamos as diferentes espécies capturadas. T abe l a 9: Tabe 9 : Parâmetros biométricos, biométri cos, idade e razão sexual de quelônios capturados capturad os no final da vazante, na Resex Baixo Juruá. Parâmetro Número de animais Comprimento da carapaça (cm) Peso (kg) Idade (anos) Razão sexual
Tartaruga (P.expan- sa ) 4
Tracajá
Iaçá (P.
(P. unifilis )
sextuber_ culata )
26
84
1
34,7±8,9
22,2±5,1
17,3±3,7
27,5
4,1±2,8 8 75% Machos
2,2±1,5 6,7±2,2 53,8% machos
0,61±0,3 3,6±0,8 72,8% machos
2,45 1 fêmea
Phrynops raniceps
Esses valores são similares aos encontrados por Andrade et al. (2006) para quelônios capturados no início e no final da vazante, na Resex Médio Juruá, para comprimento de
94
carapaça (tartarugas= 21,0-29,59 cm; tracajás=21,27-5,96 cm; iaçás=17,2-8,71cm), peso (tartarugas=1,65-4,3 kg; tracajás=2,01-2,41 kg; iaçás=0,61-0,64 kg), idade (tartarugas=3,68(tartaruga s=3,68-6,7 6,7 anos; tracajás=2 tracajás=2,6-6,2 ,6-6,25 5 anos; iaçás=2, iaçás=2,91-5 91-5 anos) e razão sexual67% (tartarugas=18, (tartarugas=18,2% 2% machos; tracajás=90,9% machos; iaçás=56, iaçás=56,67% machos).
Figura 16: Quelônios capturados na Resex Baixo Juruá: a) Podocnemis unifilis ; b) Phrynops raniceps ; c) Podocnemis sextuberculata ; d) Podocnemis expansa . Fonte: Vinicius T. Carvalho.
Os filhotes de tracajás, recém-eclodidos, apresentaram média de comprimento compri mento da carapaça carapa ça igual a 4,29 ± 0,26 cm, sendo o peso médio de 15,18 ± 3,53 g. Filhotes Fil hotes de tartaruga encontrados
em cativeiro cativei ro no igarapé do Breu apresen apresentaram taram 5,6 5,65 5 ± 0,06 cm de compri mento da carapa comprimento carapaça ça e 31 ± 0,82 g de peso. No Médio Jur Juruá, uá, Andrade & Nascimento ( 2005 ) encontraram filhotes de
95
tracajás com comprimento de carapaça igual a 5,4 ± 0,38 cm e peso de 28,25 ± 5,6 g. Andrade et al. (2006) verificaram que no Médio Juruá filhotes de tartaruga tinham comprimento de carapaça igual a 4,9 cm e peso médio de 22 g. Na cheia, capturamos um espécime de Phrynops nasutus infestado por mais de 200 sanguessugas no igapó do Socó, em águas pretas. Andrade & Alves (2006) e Andrade & Rodrigues (2005) já haviam relatado a infestação por sanguessugas em Podocnemis unifilis e P. erythrocephala quando confinados em gaiolas ou tanques-rede em ambientes rasos de água preta. A Figura 17 apresenta o Phrynops nasutus infestado.
Figura 17: 17: Phrynops nasutus infestado por sanguessugas e capturado no igapó do Socó, Resex Baixo Juruá, maio de 2006. Fonte: Ermelinda Oliveira.
O levantamento da estrutura e dinâmica das populações de quelônios das Resex do Médio e Baixo Juruá, Juru á, através do projeto com a Ufam, permitiu a criação de modelos que analisam as
possibilidades de manejo do recurso, apresentados apr esentados no final deste capítulo.
96
B) RIO RI O PU PUR R US B.1) BAIX O PU PURUS: RUS: TA TABU BULEI LEIROS ROS DA RESERVA BIOLÓGICA DE ABUFARI, PRAIA DO BANANAL NA COMUNIDADE DA ENSEADA, ENSE ADA, PI RA NHAS E OU OUT T ROS EM T AP APAUÁ/AM AUÁ/AM O tabuleiro do Abufari, na boca do igarapé de mesmo nome, situado em área de Reserva Biológica, é monitorado monit orado desde 1976 pelo então IBDF, sendo seu controle sistemático sistemátic o iniciado a partir de 1985. Através do Diagnóstico da Criação de Animais Silvestres no Estado do Amazonas, o Ibama-AM, com apoio do PTU/CNPq e parceria da Universidade Federal do Amazonas (Figura 18) vêm realizando, desde 1998, diversas pesquisas naquela área, monitorando não só a produção dos filhotes, fil hotes, mas, também, o deslocamento dos adultos, as predações natural e humana, índice fisiológico-bioquímico, parâmetros genéticos, parasitológicos e populacionais do grupo de quelônios que desova no tabuleiro. A sistematização das informações pela Ufam, bem como um acompanhamento técnico mais especializado, tem fornecido fornecid o ao RAN melhores indicadores sobre a situação daquele tabuleiro. No Capítulo 3, apresentamos maiores informações sobre essa que é a maior praia de reprodução de quelônios do Amazonas. PROJETO FNMA “MANEJO SUSTENTÁVEL DE QUELÔNIOS DA AMA AMAZÔNIA” ZÔNIA” Em 2001, através do projeto “Manejo Sustentável de Quelônios da Amazônia”, aprovado pelo pe lo Fundo Nacional do Meio
Ambiente (FNMA), o Cenaqua/RAN disponibilizou recursos recur sos para que outras comunidades na calha rio Purus. Paratrabalhássemos a gestão do RAN-AM, foi estabelecida a do comunidade Piranhas, em Tapauá.
97
Figura 18: 18: Tabuleiro do Abufari, Equipe da Ufam, 1998. Foto: Projeto Diagnóstico (Andrade, P.C.M.).
Em julho daquele ano iniciamos os trabalhos em Tapauá participando da primeira excursão excur são o engenheiro-agrônomo Pedro Macedo (RAN-AM), a bióloga Maria Gorete e a socióloga Sarah (RAN Central). Nessa viagem foram feitas várias reuniões de prospecção nas comunidades Enseada, Piranhas, Bem-te-vi, Fazenda e Pupunhas. Ficou acertado então que a comunidade Enseada trabalharia na proteção da praia do Bananal, com os agentes Daniel, Noel, Isaquiel e Oziel. A comunidade Piranhas também aceitou realizar os trabalhos. Na praia do Bananal, os trabalhos de fiscalização e monitoramento de quelônios foram realizados contando com o treinamento e o apoio por parte da Rebio Abufari. Em 2002 e 2003, por falta fal ta de recursos, o trabalho naquelas praias foi abandonado. B.2) MÉDIO PURUS: TA TABU BULE LEIR IROS OS DA RE RESE SERVA RVA MUN MUNIC ICIP IPAL AL
DO JAMANDUÁ, AXIOMA, NAZARÉ, CURUZU E PORTO ALEGRE, EM CANUTAMA/AM Os tabuleiros Curuzu, Nazaré, Axioma, Santa Bárbara e Santa Cora, no trecho do barre barrento nto e enove enovelado lado
98
Purus, que vai de Tapauá Tapau á a Lábrea, passando por Canutama, têm recebido proteção desde 1984, pelo IBDF/Ibama-AM, tornandose áreas conhecidas pela produção produ ção de quelônios. Naquelas áreas de antigos seringais, alguns herdeiros de seringalistas, como a sra. Sebastiana Paixão Menezes, a sra. Dulce Bezerra Menezes (Praia do Nazaré) e o sr. Damião Santos (Praia do Curuzu, Porto Alegre e Aramiã), preocuparam-se em, anualmente, solicitar autorizações para protegerem suas praias, o que tem sido feito regularmente, sem acarretar gastos gast os para o Ibama. Todavia, sem uma presença mais efetiva do órgão federal de fiscalização e controle ambiental, desde 1996, a situação tornou-se crítica. O abandono daqueles tabuleiros de Canutama levou a prefeitura (Prefeito Raimundo Amorim) a criar reservas municipais quelônios, em Jamanduá ente em Axioma. No Ja Jama mand nduá uá,, adepr pref efei eitu tura ra ma mant ntém ém um fl flut utua uant e e pa paga ga qu quat atro ro agentes de praia através da sua Secretaria de Meio Ambiente e Turi Tu rism smo. o. Em Ax Axio ioma ma,, em 20 2000 00 e 20 2001 01,, uma um a pa parc rcer eria ia co com m o Po Pode derr Judi Ju dici ciár ário io pe perm rmit itiu iu qu quee um ra ranc ncho ho me mens nsal al e ba band ndei eira rass fo foss ssem em destinados para o trabalho de praia. A prefeitura arcava com o salário de um agente.
Figura 19: Equipe da Reserva Municipal do Jamanduá, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.).
99
Figura 20: Base do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.).
Figura Placa do tabuleiro de Axioma, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, 21: P.M.).
Em 2001, com a predisposição do RAN-AM em aumentar o número de populações de quelônios protegidas proteg idas no Amazonas,
100
foram retomados os trabalhos em Canutama nas áreas do Jamanduá, Axioma, Nazaré, Curuzu e Porto Alegre.
Figura 22: 22: Ninho de tartaruga (P. expansa), Praia do Curuzu, Canutama/AM. Foto: RAN/AM (Costa, P.M.).
O Jamanduá Jamandu á é um tabule tabuleiro iro que fica a 40 minutos, de bote com motor de popa 40HP, da sede sed e do municípi município o e mede 1.5 1.500 00 m x 300 m. Seu monitoramento pela prefeitura começou em 1998 quando foram registrados 11 ninhos de d e tartaruga e 7 de tracajá. Em 1999, foram 56 ninhos de tartaruga e 27 de tracajá e, em 2000, 117 tartarugas tartarug as e 100 tracajás desovaram naquela praia, o que demonstra demons tra mais uma vez que, se existe uma população popula ção boa de quelônios, na região, eles rapidamente ocupam o espaço, propício pelas áreas conservadas, tornando os resultados altamente positivos em curto espaço de tempo. A administração municipal munici pal do sr. Raimundo Amorim, Amori m, com apoio do sr. Antônio Apoli Apolinário nário,, da Funasa, possibilitaram o monitoramento do RAN-AM a partir de
2001 . No tabulei 2001. tabuleiro ro Nazaré, qu quee mede 800 m x 250 m, o apoio foi dado pela sra. Dulce Paixão. B.3) ALT AL T O PU PURUS RUS Os tabuleiros a partir de Lábrea/AM, no rio Purus, são monitorados pela equipe do RAN/AC, em função da maior proximidade daquelas áreas com a Gerex do Acre.
101
Mesmo assim, assim , enviamos técn técnico ico do RAN-AM e do Esreg, de Boca do Acre e Lábre Lábrea, a, para acompanhar acompanharem, em, em 2001 2001,, os traba trabalhos lhos de execução do projeto FNMA, nas comunidades do rio Purus, no Amazonas.
Figura 23: Reunião com comunidades em Lábrea, Projeto Quelônios, FNMA. Foto: RAN.
C) RIO MADEIR MADEIR A C.1) PR AI A D DO O NAZAR É – MANI CORÉ/AM A praia do Nazaré está situada próxima à cidade de
Manic oré, no leito do rio Madeira Manicoré, Madeira.. Essa praia servia de porto para comunitários que trabalham grandes roçados na várzea. Toda To davi via, a, di dive vers rsos os qu quel elôn ônio ioss de dela la se ut util iliz izam am du dura rant ntee o pe perí ríod odo o reprodutivo. Através das informações do CNPT/AM fomos orientados sobre a possibilidade de realizarmos o trabalho de conse rvação conservaçã o de quelô quelônios nios naque naquela la praia, com o apoio do Esreg do Ibama local. A Tabela 10 apresenta a evolução dos trabalhos de conservação de quelônios naquela praia.
102
T Tabel abela a 10: 10 : Histórico de produção de quelônios no Tabuleiro do Nazaré/Manicoré. Fonte: Esreg/Ibama Manicoré (2003). Espécies
Iaçá Trac T racajá ajá
Tart T art aruga Tot T ot al
2001
2003
Ninhos
Filhotes
Ninhos
Ovos
Filhotes
Ninhos
Ovos
Filhotes
140
681
1.252
18.200
17.565
1.338
21.595
18.516
25
2002
103
6
1.737
15
19.821
2.206
636
23.076
71
866
1.332
1.620
9
1.143
1.980
359
171
71
1.604
1.424
1.158
25.405
21.411
A desova do iaçá inicia em junho e estende-se até setembro, com o pico de desova em agosto (1.000 ninhos). Os tracajás desovam de julho a setembro, com pico em agosto. Tartarugas desovam de agosto a outubro, com o pico de desova em setembro.
Figura 24: 24: Praia do Nazaré, Manicoré. Foto: Esreg/Ibama, Manicoré/AM.
103
C.2.) RIO MATUPIRI (afluente) – BORBA/AM: TABULEIROS DO IGARAPÉ IGARA PÉ DO B BOTO, OTO, IIGARAP GARAPÉ É DO MU MURUTI RUTING NGA, A, I GAPÓ AÇU AÇU.. O rio Matupiri faz parte da bacia do rio Madeira, com águas escuras e margens cobertas de folhiço, em um tipo de solo encharcado onde a areia é coberta por uma espessa liteira e a vegetação se assemelha à campinarana. Nesse ecossistema diferenciado dos tradicionais tabuleiros de desova, com praias de areia ou barrancos de várzea, tracajás (Podocnemis unifilis ) e, principalmente, irapucas (P. erythrocephala ) desovam no meio do folhiço úmido, como as muçuãs (Knosternon scorpioides ) que desovam no mangue. As características diferentes desse sítio reprodutivo de quelônios foram estudadas pelo RAN/AM naquela área, monitorando-as e obtendo informações mais precisas sobre a reprodução de tracajás e irapucas no rio Matupiri. Foram realizadas três excursões para Borba, em 2001, com a produção de 31.041 filhotes de irapuca e 294 filhotes de tracajás monitorados. Por falta de recursos, não houve continuidade nos trabalhos nos anos de 2002 e 2003.
Figura 25: Área 25: Área de desova do rio Matupiri, Borba/AM. Foto: RAN/AM (A.Vicente).
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D) R I O NEGRO As praias do rio Negro, historicamente, abastecem a cidade de Manaus com quelônios e seus ovos, seja para a culinária ou, em tempos idos, até para a iluminação pública. Durante os séculos XVIII e XIX, milhões de animais foram capturados no rio Negro e abatidos em Manaus. Essa enorme pressão levou a uma drástica diminuição dos estoques das populações naturais. Hoje, no Médio e Baixo rio Negro, poucas pouc as são as áreas de desova da tartaruga, que se refugiou nos tabuleiros do rio Branco, tais como o de Sororoca, Toró e Mussum. Na tentativa de resgatar os tabuleiros do rio Negro, o RAN/AM em parceria com os alunos e pesquisadores da Ufam, Daniely Félix, Juarez Pezzuti e Jackson Pantoja, iniciaram os trabalhos de proteção nas praias da Velha e da Dulumina, em 2001. Foram produzidos 4.353 filhotes de quelônios (12% de tartarugas, 28,9% de tracajás, 15% de iaçás e 43,1% de irapucas). D.1) PRA IA DA VELHA – PA PARNA RNA JA Ú – NOVO AI RÃ O/AM É uma praia situada próxima próx ima à base do Parque Naci Nacional onal do
Ja ú, eem Jaú, m No Novo vo A Air irão ão.. Es Essa sa p pra raia ia d dee ar arei eia a br bran anca ca e ffin ina a ab abri riga ga o oss sítios reprodutivos de gaivotas, corta-águas, iaçás, tartarugas, irapucas e tracajás. Com recursos do RAN/AM, os técnicos da Ufam contrataram dois agentes de praia na comunidade mais próxima porque a praia já está bastante depredada, visto que, além dos comunitários que tiram ovos e animais adultos, ela é alvo de barcos de recreio ou de particulares que alcançam facilmente suas margens, já que ela fica fic a em área de tráfego fluvial (canal navegável do rio), sendo rota obrigatória dos barcos que sobem o rio Negro Negro.. Em 2000 2000,, foi registrad registrado o um ninho de tartaru tartaruga ga na praia da Velha.
105
Em 2001, com o trabalho dos agentes, não houve predação humana, entretanto, lotes de queixadas ( Tayassu pecarie ) atravessaram a área diversas vezes e destruíram alguns ninhos, ninh os, duas tartarugas fizeram ninho. Os ninhos foram transferidos para a ilha do Cauixi, mais próxima da base do parque, o que permitiu um melhor controle, sendo, posteriormente, os filhotes alocados alocad os em berç berçários ários na mesma ilha.
Figura 26: 26: Placa da Praia da Velha, Velha, Parna Jaú, Novo Airão/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e
J. Pezzuti).
Em 2002, 10 tartarugas desovaram em Cauixi. A produção em 2003, foi de 171 ninhos de iaçá e 13 de tartaruga, com produção de 1.189 iaçás, 36 tracajás, 9 irapucas e 656 tartarugas, o que demonstra, como comentamos anteriormente, a rápida recuperação dos tabuleiros por meio de trabalhos efetivos de conservação. A partir de 2003, foram protegidas outras praias no parque, como Maquipana, Boi, TraíraEm e dos Pretos, o que permitiu a proteção de 16 ninhos dedotartaruga. 2004, 18 ninhos de tartaruga e 85 de iaçás foram protegidos. Desde 2002 esses trabalhos vêm sendo realizados pelos analistas do Parque Nacional do Jaú, como o médico-veterinário Marcelo Bresolin.
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Figura 27: Praia 27: Praia da Dulumina, Barcelos/AM. Foto: RAN/AM (D. Félix e J. Pezzuti).
Em 2006, os trabalhos em Barcelos foram retomados pela Ufam. O acadêmico de engenharia de pesca, Radson Rógerton Alves,
começou a desenvolver com a Secretaria de Meio Ambiente o Programa Pé-de-Pincha com as comunidades de Ponta da Terra, Campina do Quatro, Campina do Careca, Campina do Cairara e Praia da Alegria. Foram transferidos 32 ninhos de tracajá e 50 de irapuca, em um total de 1.200 ovos, dos quais 408 filhotes nasceram e foram devolvidos à natureza.Em 2007, nasceram 1200 irapucas.
Figura 27.a: Transferência 27.a: Transferência de ninhos na Campina do Careca- Barcelos. Foto: Radson Alves.2006.
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E) RIO RI O U UAT ATU UMÃ TABULEIROS DO ABACATE E REGIÃO DO JARAUAC JARAUACÁ, Á, EM PRESIDENTE FIGUEIREDO E SÃO SEBASTIÃO DO UATUMÃ/AM. O tabuleiro do Abacate já foi monitorado, pelo então IBDF, desde 1986, todavia, foi abandonado pelo Ibama a partir de 1996. A Manaus Energia, através dos trabalhos do Centro de Preservação e Pesquisa de Quelônios Aquáticos (CPPQA), na UHE de Balbina, tem trabalhado na conservação e no monitoramento de quelônios a montante e a jusante da barragem da hidrelétrica. Com o apoio do RAN/AM (combustível, pagamento de agentes de praia,deranchos, etc.) a bióloga Sandra do Nascimento treinou agentes praia e monitorou sítios reprodutivos de quelônios no igarapé do Jarauacá, tabuleiro do Abacate e áreas de postura, dentro da Reserva Biológica do Uatumã.
Figura 28: Praia artificial da UHE Balbina, Presidente Pres idente Figueiredo/AM. Foto: CPPQA/Rebio Uatumã.
Em 2003, conforme informação do CPPQA, foram soltos naquele rio 2.048 filhotes de P. unifilis e 1.421 de Podocnemis expansa,
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20 de P. sextuberculata e e 22 de P. erythrocephala, no Lago do Maracanã, nas praias artificiais de Balbina e no igarapé do Jarauacá.
Figura 29: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto: RAN/NA (J.A.M. Duarte).
Figura 30: Praia de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto: RAN/NA (J.A.M. Duarte).
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Figura 31: 31 : Mapa das Áreas de reprodução de quelônios na Rebio Uatumã. Foto: Rebio Uatumã/Ibama-AM.
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F) RIO RI O AMAZO AMAZONAS NAS MÉDIO AMAZONAS – TABULEIRO DE VILA NOVA, EM PARINTINS/AM O tabuleiro de Vila Nova é uma grande área de desova de quelônios formada pela junção de praias de ilhas situadas no meio do leito do rio Amazonas. Essas praias, juntas, possuem mais de 8 km de extensão e 1.500 m de largura. Durante o período da vazante elas eram invadidas por pescadores e barcos de passeio de Parintins, Urucurituba e até de Itacoatiara, em busca dos ninhos de iaçás que, naquela região, são animais de porte bastante avantajado se comparados aos do Purus e Juruá.
Figura 32: Rastro de tartaruga (P. expansa ) no Tabuleiro de Vila Nova, Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F. Clóvis).
A comunidade de Vila Nova realizava na década de 1940 até 1960 a conservação da área, inclusive com marcação e manejo de ninhos, manutenção de filhotes em berçários e festas de soltura. Com o aumento da pressão da pesca e a coleta predatória sobre aquela
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população de quelônios, a comunidade deixou de fazer o trabalho. Todavia, eles procuravam o posto do Ibama, em Parintins desde 1998, em busca de auxílio para reiniciar a proteção do tabuleiro e para fiscalizar a área. Em 2000, com a chegada cheg ada do Proje Projeto to Pé-de-P Pé-de-Pincha incha em Parintin Parintins, s, o Ibama e a Ufam começaram a buscar parceiros para realizar os trabalhos de conservação em Vila Nova e adjacências.
Figura 33: Placa de alerta do tabuleiro de Vila Nova, Parintins/AM.Foto: Projeto Pé-de-Pincha (F.Clóvis).
O RAN/AM começou então a enviar equipes equip es de fiscalização a partir de abril de 2001. Em maio foi realizada reunião com as lideranças comunitárias de Vila Nova e marcado o início dos trabalhos para julho (treinamento de pessoal e monitoramento de praia). praia) . Além das comunidades comuni dades de Vila Nova, Ilha das Onças e Guaribas, o trabalho conta com o apoio do sr. Dodó Carvalho, empresário local e proprietário de parte da área. O RAN/AM colocou col ocou 5 placas plac as de 4 m x 2 m – que avisa avisam m do tabu tabuleiro leiro e proíb proíbem em a pesca e ca caça ça no local – e enviou envio u fisc fiscais ais e ttécnic écnicos os ccom om o apoio da eequip quipee de
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professores e alunos do Projeto Pé-de-Pincha (Ufam), para realizar o trabalho de proteção da área. A equipe de fiscalização foi constituída pelos srs. Salvador Leal, José Ribeiro e Jailson Souza, os técnicos do Nufas/RAN, Paulo Henrique Oliveira, Pedro Macedo e Lauri Corso, e o técnico da Ufam, Francisco Clóvis. A Ufam cedeu seu bote de alumínio e o sr. Dodó Carvalho cedeu um motor de popa de 15 HP e a casa da fazenda como base. A produção em 2003 foi estimada em 11.088 filhotes, sendo monitorada a soltura de 6.317 filhotes de ninhos transferidos que foram mantidos em berçário. T abela Tabel a 11: 11 : Produção de ninhos transferidos de quelônios no tabuleiro de Vila Nova – Parintins. Ano/ninho 2001
Pit iú 108
Tracajás 15
Tartarugas Tartarugas 12
2002 2003 2004 2005
120 276 186 47
16 79 13 19
12 12 13 24
2006 Ano/ovos 2001 2002 2003 2004 2005 2006 Ano/filhotes 2001
217
54
35
3.363 3.615 5.041 3.120 950 3.472
467 502 313 438 624 1.134
379 944 1.433 1.116 2.570 3.850
3.610
160
750
2002 2003 2004 2005 2006
3.143 4.536 4.232 1.990 3.980
477 281 569 411 484
900 1.289 1.516 1.667 2.576
1133 11
G) PR PROG OGRAMA RAMA “ PÉPÉ-D DEE-PINCHA” PINCHA” – MANE MANEJO JO PAR PART T ICIPA ICIPAT T IVO DE QUELÔN QU ELÔNIOS IOS EM B BAR ARREIR REIRINHA, INHA, P PAR ARINT INTINS INS E NHAMU NHAMUND NDÁ/AM Á/AM E TERRA SANTA, ORIXIMINÁ e JURUTI/PA (Zona Fisiográfica Médio--Baixo A Médio Amazo mazonas nas)) O “Pé-de-Pincha” vem sendo desenvolvido como Programa de Extensão e Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), desde 1999, estimulando a conservação de quelônios através de seu manejo participativo. Tendo como espécie focal o tracajá (Podocnemis unifilis ), ), recebeu o apelido de “pé-de-pincha”, devido às pegadas desse animal na areia, que se parece com tampinhas de refrigerante. Ufam e Ibama vêm trabalhando em 78 comunidades do Médio Amazonas, nos municípios de Nhamundá, Parintins e Barreirinha/AM e Terra Santa, Juruti, Faro e Oriximiná /PA. O
programa visa o manejo racional e sustentável de quelônios, pelas próprias comunidades.
Figura 34: Rastro de tracajá (P. unifilis), pé-de-pincha no lago do Piraruacá, Terra Santa/PA.
Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
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Fig ura ura 35: Equipe 35: Equipe de campo (comunitários e universitários), lago do Macurani, Parintins/AM. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Oliveira, P.H.G.).
Diversas comunidades rurais do Médio-Baixo Amazonas que produziam juta, cacau, farinha, hortaliças, etc., abandonaram a agricultura, dedicando-se, principalmente, à pecuária extensiva, à pesca e ao extrativismo, aumentando a pressão sobre a fauna silvestre. Devido à caça predatória e à coleta de ovos, as populações de d e quelônios vêm desaparecendo desses municípios. Animais A nimais adultos e ovos são consumidos ou vendidos para Manaus, Parintins e Santarém. Algumas áreas, entretanto, foram protegidas pelos comunitários e por associações, como o Granav (Grupo Ambientalista Natureza Viva) e Asase-3, em Parintins, a Ascon/Acplasa/ARQMO, no Lago do Sapucuá/Oriximiná, e ATAAV, em Terra Santa, com o objetivo de conservar esse recurso natural.
1155 11
d e quelônios de berçário, para soltura, Aliança, Lago Figura 36: 36: Agente Ambiental retira filhotes de
do Piraruacá, Terra Santa/PA. Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.). P.C.M.).
Em 1999, o sr. Manuelino Bentes “Mocinho Lobo” e comunitários de Terra Santa/PA procuraram a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) para obter informações sobre conservação de quelônios. A Ufam reuniu-se com os produtores, o Ibama e as prefeituras locais para a criação do projeto “Pé-dePincha”. Inicialmente, foram trabalhadas áreas de Terra Santa e Nhamundá. Em 2000 e 2001, o projeto foi ampliado para Oriximiná/PA, Parintins/AM e Barreirinha/AM. E em 2004, para Juruti, Boa Vista do Ramos e Faro. O plano inicial de ação foi definido em maio de 1999, no I Seminário Sobre Manejo Sustentável Sustentável de Tracajás (255 participantes) em Terra Santa (Andrade et al., 2005). Foram capacitados 385 professores das escolas municipais em educação ambiental; realizadas palestras nas escolas e comunidades para mais de 67.606 ouvintes; treinados 49 agentes ambientais voluntários; realização de cursos de alternativas para geração de renda (tecnologia do pescado, criação caipira de galinhas, plantas medicinais, hortas comunitárias, manejo de quelônios, etc.) para mais de 1.021 pessoas; e foram
116
instaladas mais de 20 unidades de criação comunitária com 9.339 quelônios (2003-2006) e implantação de aviário comunitário (1). Treinamento de campo para 86 professores, 684 alunos e 238 comunitários, visita à campo para 660 participantes; três oficinas com idosos, 61 participantes; sete gincanas ecológico-culturais; divulgação nas rádios, jornais e televisões; com a participação de 850 famílias, envolvimento de 3.455 pessoas e abrangência de 23.400 pessoas nas comunidades e sede. 2004 o programa com do o apoio do ProVárzeaIbamaDesde e da Fundação de Amparoconta à Pesquisa Amazonas (Fapeam).
Ninho hoss de quelôn que lônios ios prot p rotegi egido doss em Alian Ali ança, ça, Lago La go do Pirar Pi raruac uacá, á, Terra Santa/ San ta/P PA. Figur a 37: 37: Nin Foto: Projeto Pé-de-Pincha Pé-de-Pin cha (Andrade, P P.C.M.). .C.M.).
Na região foram identificadas 13 espécies de quelônios: tartaruga (Podocnemis expansa), tracajá ( P. unifilis ), ), iaçá ( P. ) , irapuca ( P. eryt h roc eph a l a ), ) , cabeçudo sext u berc u l a t a ), ( P e l t o c e p h a l u s d u m e r i l i a n u s ), ) , perema ( R h i n o c l e m m y s pun ctula punct ulari ria a ), ), lalá ( Phrynops nasutus ), ), muçuã ( Kinosternon scorpioides ), ), jabuti ( Geochelone denticulata e G. carbonaria )),, matá-matá ( Chelus fimbriatus ), ) , jabuti-machado ( Platemys platy pl atyce cepha phala la ) e Phrynops spp. De 1999 a 2006, o programa
devolveu à natureza 629.183 filhotes de quelônios (74,4% tracajás; 7,6% tartarugas; 10,9% iaçás; e 7,1% irapucas), provenientes de ninhos manejados,
1177 11
com taxa de eclosão média de 81,97 ± 7,76% contra 54,51 ± 16,27% de ninhos naturais. Os ninhos de tracajá possuíam 22,23 ± 4,93 ovos e as de iaçá 16,95 ± 3,53 ovos. A temperatura média nos locais de transplante foi igual a 32,55º ± 3,17 º C. Os tracajás nasceram pesando 14,89 ± 1,38 g, iaçás 14,26 ± 1,83 g, tartarugas 22,52 ± 1,43g e irapucas, 11,21 ± 2,57 g.
Figura 38: Eclosão em ninho de tracajá (P. unifilis), igarapé dos Currais, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (Andrade, P.C.M.).
Figura 39: 39: Técnico do RAN-AM e universitário coletam dados de ninhos de quelônios, lago do Piraruacá, Terra Santa/PA. Foto: Projeto Pé-dePincha (Andrade, P.C.M.).
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Através do programa Jovem Cientista, da Fapeam, Oliveira et al. (2006) registraram que os ribeirinhos observaram, no Médio Amazonas, que os quelônios alimentavam-se de peixes (23%), frutos (22%) e plantas (20%), (20 %), ocupando maior diversidade de habitats do que no rio Juruá, com uma predominância de 15,1% nos rios, 11,9% nos lagos e 11,5% nas florestas. Devido à disponibilidade, disponibilidad e, os quelônios mais consumidos são os tracajás (55%), jabutis (21%) e cabeçudos (10%), embora a preferência seja pelo tracajá (31%), tartaruga (26%), jabuti (17%) e iaçá
(16%). Com uma maior diversidade de ambientes de captura, como a captura em igapós, várzea baixa e capinzal, são utilizados como apetrechos a malhadeira (27%), o espinhel (17%) e o arpão (16%). Nessa região, apenas 47,73% dos ribeirinhos afirmam comercializar esses esse s animais, enquanto que no Juruá, esse número númer o pode atingir de 64-99 64-99%. %. O preç preço o médio é de R$ 20,17/tracajá e R$ 83,48/tartaruga, 83,48 /tartaruga, sendo que, além do consumo de carne e ovos, os quelônios são utilizados como remédio (banha, 36,99%) e artesanato (27,05%). Desde 2004, entre os filhotes soltos foram marcados 28.303 animais com sistema de picos na carapaça (10% com microchips) para monitoramento através atravé s de recaptura (CMR) e estimativa da taxa de sobrevivência e crescimento. Dos filhotes manejados, marcados e soltos, recapturamos 1,53% e estimouse em 5,74% a sobr sobrevivê evivência ncia total até 12 meses. O maior índice de recaptura foi o do tracajá, com 6,19%. 6,19 %. A sobrevivência média de tracajás tracajá s na natur natureza, eza, até 12 meses de idad idade, e, foi estimada em 17,76 ± 10,23%. A sobrevivência de P. erythrocephala foi estimada em 12,5%. O recrutamento anual médio de fêmeas nas áreas de reprodução aumentou 37,11 ± 55,83%.
1199 11
Figur Fig ura a 40: Marcação 40: Marcação de filhotes de tracajás, com microchips, por jovens cientistas – Fapeam, em Barreirinha-AM. Fonte: Jane – ProVárzea. 2007
120
Figura 41: Comunitários 41: Comunitários da Granja, Barreirinha-AM, soltando os filhotes de quelônios resultado de seu trabalho. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (P.H.G. Oliveira).
O custo médio do filhote, produzido nesse sistema de manejo comunitário, é de R$ 0,71 ± 0,06. A rentabilidade para os investimentos em conservação de quelônios foi estimada em 120,21%, em conscientização ambiental foi de 165,76% e em criação de quelônios de 183,44%. Através desse programa de conservação de recursos naturais e extensão, a Ufam tem conscientizado as comunidades do Médio-Baixo Amazonas Amazonas para o manejo racional de quelônios, utilizando a metodologia de pesquisa participativa ou pesquisa-ação. Osambiental resultadoscom alcançados mostram, a princípio, abordar a questão a parceria da comunidade tem que um grande impacto na redução do problema, pela valorização do meio ambiente, o que resultou em ações concretas para a melhoria da qualidade de vida.
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Figura 42: As 42: As diversas faces do Pé-de-Pincha. Educação Ambiental através de fantoches e da dança com a Escola de Educação Especial de Terra Santa. Foto: Projeto Pé-de-Pincha (2004-2005).
Hoje, em seu oitavo ano, o programa tem sido procurado por inúmeras comunidades de diferentes municípios do estado do Amazonas e do oeste do Pará, solicitando que seja implantado também em suas áreas. Na busca de atender a esse anseio, o Ibama e a universidade pretendem, através de novas parcerias, redimensionar esse projeto e somar esforços a fim de treinar o pessoal técnico e das comunidades (cursos teóricos e de campo, cartilhas, implantação de unidades demonstrativas, etc.) em toda a Amazônia. Dessa forma, vislumbramos que as instituições possam interagir com as comunidades e que com o seu conhecimento empírico somado ao domínio das técnicas, sejam capazes de, em um futuro bem próximo, manejar sozinhos e racionalmente seus recursos faunísticos, garantindo a sobrevivência das espécies e o sustento do homem ribeirinho. 2.3. Modelos de crescime crescimento nto popu populacional lacional de quelônios, aná análise lise da su suste stentabilidade ntabilidade e propo propostas stas de manejo racio racional nal
122
Andrade et al. (2006), tabularam e analisaram os dados de 23 anos do Programa de Conservação de Quelônios em diferentes praias de reprodução no Amazonas (rios: Purus, Juruá, Negro, Solimões, Uatumã e Médio Amazonas), em especial nas do Médio e Baixo rio Juruá, verificando a regressão existente entre o tempo de proteção e a produção de filhotes de cada praia. A análise da série
temporal do rio Juruá revelou que existe regressão entre as variáveis analisadas (regressão linear= P