2-A Escrita e Os Excluidos

September 24, 2017 | Author: Thaís Pracidelli Dourado | Category: Sociology, Writing, Poverty & Homelessness, Poverty, Economics
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BOSI, A. A escrita e os excluídos. In: Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p.257-269.

Há diversas maneiras de considerar a relação ente a escrita e os excluídos, falaremos de duas. A primeira é praticada pelos historiadores da literatura e consiste em ver o excluído social ou marginalizado como objeto literário. Diversos autores fizeram uso da imagem tipificada do pobre de diversas maneiras e o resultado é uma desigualdade e necessidade de tomar cuidado ao generalizar. A crítica sociológica, estimulada pelo assunto da exclusão e da marginalidade, deve, portanto, acautelar-se quando enfrenta escritos ficcionais. A mente ideologizante abstrai e reduz diferenças na medida em que procede à força de esquemas e tipos. (BOSI, 2002, p.259).

A segunda maneira é que em vez de tomar a figura do homem não letrado como objeto literário, procura-se entender o pólo oposto: o excluído enquanto sujeito do processo simbólico, isto é, o interesse por algo diferente da norma culta, pelo folclore e sabedoria popular. No conjunto, o que aconteceu foi uma verdadeira operação de passagem, pela qual o letrado brasileiro foi incorporado ao repertório do leitor culto os signos e as imagens de um estilo de vida interiorano, rústico e pobre. (BOSI, 2002, p.260.)

O interesse e a procura pela palavra oral, geralmente anônima, era muito clara nessa época, é o que o autor chama de cultura de fronteira, por exemplo os narradores de cordel, que transpõem para a letra de forma as histórias que já foram apenas cantaroladas ou recitadas. O autor parte da hipótese de que é possível identificar, na dinâmica dos valores vividos em contexto de pobreza, certas motivações que levem à vida social da leitura e da escrita. Atos de ler e de escrever podem converter-se em exercícios de educação e cidadania, que é o que aconteceu em um encontro com um grupo de operários de Osasco, Grande São Paulo, nos anos 70. No auge da fase negra da ditadura militar, um grupo de operários se juntavam em uma casa paroquial no bairro Vila Yolanda em Osasco, com a ajuda de padres operários franceses. Juntos, aqueles jovens operários, sem escolaridade, inicialmente tímidos, começaram a discutir questões pertinentes ao momento histórico a partir de obras da literatura. A situação econômica daqueles jovens os excluíram da educação formal, mas ao se juntarem na construção de um projeto comum, se viram em frente à um mundo

sem fronteiras da leitura e escrita. Então, como o excluído entra no circuito de uma cultura cuja forma privilegiada é a letra de forma? Pela necessidade de respostas, pela motivação de lutar por uma vida melhor, pela não conformidade do que lhe é imposto desde cedo.

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