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July 27, 2019 | Author: Maria Teresa Bicca Dode | Category: Skin, Física, Ciência, Biologia, Fisiologia
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REVISÃO

Laserterapia no tratamento de úlceras por pressão Laser therapy in the treatment of pressure ulcers  Juciléia Alves Nunes*, Kelly Christine F. Folhadelha*, Marcia Santos do Carmo*, Paula de França**

| Resumo As úlceras por pressão são uma das mais prevalentes complicações nos pacientes hospitalizados, ou naqueles cuja capacidade de locomoção esteja reduzida, em função da dificuldade de implementação de medidas preventivas na manutenção da integridade da pele. Devido ao fato das úlceras por pressão serem patologias crônicas e muitas vezes progressivas, que debilitam seus portadores sob o aspecto físico e psicológico, novos tratamentos para acelerar o processo de cicatrização dessas feridas têm sido estudados, dentre os quais o uso do Laser de baixa potência. Assim, esta revisão bibliográfica tem por objetivo demonstrar a contribuição da laserterapia nos mecanismos de reparação tecidual, por promover a liberação de fatores de crescimento e síntese de colágeno, o que acarreta um aumento do metabolismo, quantidade de tecido de granulação e diminuição de mediadores inflamatórios, acelerando o processo de cicatrização. Palavras-chave: laserterapia, úlcera por pressão, cicatrização tecidual.

Aluna Aluna do Curso de Pós-Graduação em Fisioterapia Dermato-Funcional do IBECO, **Professora Orienta- 



dora do IBECO 

Endereço para correspondência: Juciléia Alves Nunes, Rua Domingos de Moraes, 1293 Vila Mariana

São Paulo SP, E-mail: [email protected], [email protected], marcia.fisioterapeuta79@ gmail.com, [email protected]

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| Abstract  The pressure ulcers are featured as one of the most prevalent complications in hospitalized patients or even in those whose walking ability is reduced, because of the difficulty of implementing preventive measures in maintaining skin integrity. Due to the fact that pressure ulcers are chronic diseases and often progressive, causing physical and psychological damage to the patients, new treatments to accelerate the tissue healing process have been studied, among which the low intensity laser. Thus, this literature review aimed to demonstrate the contribution of laser therapy in tissue repair mechanisms, because it promotes the release of growth factors and collagen synthesis, which result in increased metabolism, amount of tissue granulating and decrease in inflammatory mediators, inducing the healing process. Key-words: laser therapy, pressure ulcer, tissue healing.

| Introdução A pele é um órgão que cobre toda a superfície corporal e que continua, sem interrupção, nas várias aberturas do organismo, como por exemplo, as do tubo digestivo. Chega a atingir cerca de 16% do peso corporal. Sendo o maior órgão do corpo humano, é composta pela epiderme (em contato com o meio externo), de epitélio estratificado pavimentoso queratinizado, e pela derme, de tecido conjuntivo. Subjacente, unindo a derme aos órgãos, há a hipoderme (ou fáscia subcutânea), de tecido conjuntivo frouxo e adiposo [1,2]. A pele desempenha múltiplas funções, dentre as quais, proteção do organismo contra a perda de água e contra atrito, graças à sua camada mais superficial, rica em queratina. Os pêlos, por sua vez, protegem a pele e se originam de uma invaginação da camada epidérmica [2-4]. Através dos vasos sanguíneos na derme, glândulas e tecido adiposo a pele mantém a temperatura corpórea constante. Por meio de suas terminações nervosas sensitivas, fornece informações sensoriais sobre o ambiente circundante. Suas glândulas sudoríparas participam da excreção de várias substâncias. Além disso, a melanina – produzida e armazenada na epiderme - tem função protetora contra os raios ultravioleta. E estes,

atuando sobre precursores sintetizados no organismo, promovem a formação da vitamina D na pele. Por isso, a integridade deste grande órgão é fundamental na manutenção da homeostase [2,5]. A úlcera por pressão ocorre quando a pressão intersticial excede a pressão intracapilar, originando uma deficiência de perfusão capilar, o que impede o transporte de nutrientes ao tecido. Mais comum em áreas de proeminências ósseas, exercendo uma pressão sobre a pele e partes moles, ocasionando um aumento de pressão capilar. Quando esta isquemia tecidual gerada pela pressão, é mantida por um tempo maior do que o necessário à recuperação do tecido frente à isquemia, ocorre a liberação de fatores inflamatórios. Estes alteram a permeabilidade vascular, gerando edema e piorando a isquemia, o que leva à morte celular, gerando a liberação de mais fatores inflamatórios e fatores de necrose tecidual [6]. As áreas mais acometidas pelas úlceras de pressão são: região isquiática, sacrococcígea, trocantérica, calcânea, maléolos laterais, cotovelos, região occipital e escapular [7]. O processo de regeneração tecidual pode ser dividido em três fases: Inflamação: é a resposta imediata à lesão. Seus sinais cardinais são calor, 

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rubor, edema, dor e perda de função. O propósito primário da fase inflamatória da regeneração é livrar a área de resíduos e tecido morto e destruir antes do reparo, qualquer infecção invasora; Proliferação: nessa fase é onde é formado o tecido de granulação que precede o tecido cicatricial maduro; • Remodelamento: a matriz que está presente nesse estágio é gradualmente substituída e remodelada nos meses e anos subsequentes à medida que o tecido cicatricial amadurece [8]. 

O Laser surgiu em 1917 com Einstein, através de seu trabalho “ Zur Quantum Theorie der Strablung ” (Teoria Quântica da Radiação) que forneceu as bases teóricas para o desenvolvimento deste recurso [9]. “Em 7 de julho de 1960, Maiman construiu o primeiro Laser de Rubi, na faixa de 6944 nm. Em 1963, Patel desenvolveu o Laser de Helio-Neonio, em 1964, o Laser de CO 2”. [...] “Hoje em dia, utilizam-se todos os sistemas de Laser para estudar a penetração na pele, reação dos cromóforos da pele e tecidos moles do ser humano, bem como os efeitos sobre os vasos sanguíneos, utilizando a pele” [9]. A palavra Laser corresponde a uma sigla em inglês, cujas iniciais significam Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation (amplificação da luz por emis-

são estimulada de radiação). E pode ser classificado em duas categorias: lasers de alta potência ou cirúrgicos, com efeitos térmicos e propriedades de corte, vaporização e hemostasia; e lasers de baixa potência ou terapêuticos, com efeitos analgésicos, anti-inflamatórios e de bioestimulação. Atualmente, a laserterapia é um dos recursos terapêuticos que vem sendo amplamente usados no processo de reparo tecidual [10,11].

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A pele Maior órgão do corpo humano em superfície e peso, a pele forma um revestimento externo em todo corpo. Em adultos cobre uma área de 2 m2 e pesa de 4,5 a 5 kg. Formada, do mais externo para o mais interno, por duas camadas: epiderme e derme. Conta ainda com uma camada de tecido conjuntivo frouxo, que une de maneira pouco firme a derme aos órgãos subjacentes. É a camada responsável pelo deslizamento da pele sobre as estruturas sobre as quais se apoia e, dependendo da região, poderá ter uma camada variável de tecido adiposo, que modela o corpo, funciona como reserva de energia e proporciona proteção contra o frio, pelo fato de a gordura ser um bom isolante térmico [1,2]. A epiderme é a camada protetora da pele, em contato com o meio externo. As células mais abundantes neste epitélio são os queratinócitos, além de estarem presentes ainda três tipos de células: os melanócitos, as células de Langerhans e as de Merkel [1,2]. A espessura e estrutura da epiderme variam de acordo com o local estudado, sendo mais espessa e complexa na palma da mão e na planta dos pés, chegando a medir 1,5mm de espessura e apresenta, da derme para a superfície, cinco camadas: 1) Camada basal, por ser rica em células tronco, é chamada de germinativa e apresenta intensa atividade mitótica, sendo responsável, junto com a camada espinhosa, pela constante renovação da epiderme. 2) Camada espinhosa, também possui células tronco, mas em menor quantidade, é formada por células cujo citoplasma possui curtas expansões com feixes de filamentos de queratina (tonofilamentos). Essas expansões se aproximam e, através dos desmossomos, proporcionam forte coesão

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às células ali existentes, o que confere à epiderme seu importante papel de resistência ao atrito. 3) camada granulosa, possui células ricas em grânulos lamelares, que sendo formados por bicamadas lipídicas, contribuem para formar uma barreira contra a penetração de substâncias e torna a pele impermeável à água, impedindo sua desidratação. 4) camada lúcida é mais evidente em pele espessa, pois suas células são ricas em filamentos de queratina. 5) camada córnea, formada por células achatadas, mortas e sem núcleo. Seu citoplasma é repleto de queratina e descamam continuamente. Em peles finas, a camada córnea é muito reduzida [2]. A camada epidérmica é, ainda, o local a partir do qual anexos especializados (folículos pilosos, glândulas sudoríparas e glândulas sebáceas) fazem um trajeto descendente para a derme subjacente, que contém também pequenos vasos, fibroblastos, mastócitos perivasculares e dendrócitos, potencialmente importantes na imunidade e no reparo da derme [12]. A derme é formada de tecido conjuntivo, fibras elásticas e colágenas, sendo nutrido por vasos sanguíneos, linfáticos nervos e glândulas sudoríparas [13]. É o tecido conjuntivo onde se apoia a epiderme e une esta ao tecido celular subcutâneo, ou hipoderme. Sua superfície é irregular devido à presença das papilas dérmicas, que aumentam sua área de contato com a epiderme. Constituída por duas camadas: papilar (mais superficial) e reticular (mais profunda). A primeira é constituída de tecido conjuntivo frouxo e fibrilas de colágeno. A segunda é constituída de tecido conjuntivo denso.Ambas as camadas contêm muitas fibras do sistema elástico, responsáveis, em parte, pela elasticidade da pele. Além disso, estão presentes na derme os vasos sanguíneos e linfáticos, nervos e as es-

truturas derivadas da epiderme: folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas [2]. Para cumprir sua função de promover a regulação da temperatura corporal e manutenção da integridade bioquímica e mecânica do organismo, ocorrem na pele alterações vasomotoras, como vasoconstrição e vasodilatação das arteríolas presentes na derme, secreção e excreção de suas glândulas e transporte de informações sensoriais, através de terminações nervosas livres que transmitem ao cérebro qualquer alteração de temperatura, pressão e dor [5].

Úlceras por pressão  Numerosos termos têm sido usados para descrever a necrose tecidual que ocorre como resultado final do fluxo sanguíneo obstruído, incluindo “úlceras por pressão”, reflete a crença atual de que a etiologia é a pressão excessiva, a qual causa isquemia e necrose, eventualmente resultando em ulceração dos tecidos [14]. Dentro do amplo espectro das chamadas feridas complexas, a úlcera por pressão pode ser definida como uma lesão localizada, acometendo pele e/ou tecidos subjacentes, usualmente sobre uma proeminência óssea, resultante de pressão, ou pressão associada a cisalhamento e/ ou fricção [6]. A úlcera por pressão ocorre quando a pressão intersticial excede a pressão intracapilar, originando uma deficiência de perfusão capilar, o que impede o transporte de nutrientes ao tecido. Esta situação é mais comum em áreas de proeminências ósseas, onde o osso e a superfície de contato onde o paciente se apoia (cama ou cadeira) exercem uma pressão sobre a pele e partes moles sobre o osso, maior do que a pressão capilar.

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Quando esta isquemia gerada pela pressão é mantida por um tempo maior do que o necessário à recuperação do tecido frente à isquemia, ocorre a liberação de fatores inflamatórios [6]. Os fatores inflamatórios alteram a permeabilidade vascular, gerando edema e piorando a isquemia, caso a pressão intersticial permaneça aumentada. A isquemia a nível celular leva à morte celular, gerando a liberação de mais fatores inflamatórios e fatores de necrose tecidual. Se mantido neste estado inflamatório, ocorre desequilíbrio na quantidade de metaloproteases e inibidores de metaloproteases, com diminuição destas últimas, leva à redução das proteínas necessárias à proteção de tecidos lesados. Desta forma, o ciclo de destruição tecidual se intensifica, e a pressão mantida torna a lesão progressivamente maior e mais intensa [6]. As úlceras por pressão “são classificadas do estágio I ao IV com relação à sua profundidade de comprometimento tecidual e não à gravidade da lesão. No estágio I a epiderme e a derme são lesadas, mas não destruídas. No estágio II ocorre perda parcial da pele abrangendo a epiderme, derme ou ambas. No estágio III a pele perde a sua espessura total. A derme e epiderme estão destruídas e o tecido subcutâneo é atingido. No estágio IV ocorre extensa destruição, podendo ocorrer necrose dos tecidos ou danos aos músculos, ossos e cápsulas articulares” [15].

Processo de cicatrização  No reparo de feridas, a solução de continuidade dos tecidos, decorrente da lesão por agentes mecânicos, térmicos, químicos e bacterianos, é o esforço dos tecidos para restaurar a função e estruturas normais. A reparação de feridas passa pelas seguintes

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etapas básicas: fase inflamatória, fase proliferativa (que incluem reepitelização, síntese da matriz e neovascularização) e fase de maturação [16]. Essa fase é composta de três eventos importantes que sucedem o período de maior atividade da fase inflamatória: neo-angiogênese, fibroplasia e epitelização [12]. Caracteriza-se pela formação de tecido de granulação, que é constituído por um leito capilar, fibroblastos, macrófagos, um frouxo arranjo de colágeno, fibronectina e ácido hialurônico, iniciando-se por volta do 3º dia após a lesão. Perdura por 2 a 3 semanas e é o marco inicial da formação da cicatriz [17] . A neo-angiogênese é o processo de formação de novos vasos sanguíneos, necessário para manter o ambiente de cicatrização da ferida, responsável não apenas pela nutrição do tecido, com por uma demanda metabólica maior, como também pelo aumento do aporte de células (como macrófagos e fibroblastos) para o local da ferida [17]. Com o aumento do número de fibroblastos ativados para a produção de colágeno no local, a matriz extracelular começa a ser substituída por um tecido conjuntivo mais forte e mais elástico. Este processo é denominado de fibroplasia e para a sua eficiência é necessária a ocorrência em paralelo da formação de novos vasos sangüíneos, ou seja, é necessária a neovascularização da região [18]. A reepitelização, que é o recobrimento da ferida por novo epitélio e consiste tanto na migração quanto na proliferação dos queratinócitos a partir da periferia da lesão, também ocorre durante a fase proliferativa [19]. Remodelamento: Nessa fase do processo de cicatrização ocorre uma tentativa de recuperação da estrutura tecidual normal [19]. 

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Laserterapia  “Desde o século XX temos feito uso da fototerapia para tratar inúmeras afecções dermatológicas, como psoríase, vitiligo e hiperbilirrubinemia em recém-nascidos, com diferentes fontes de luz” [20]. Entretanto, desde o postulado de Einstein em 1917, houve uma lacuna de cerca de 40 anos até que fossem criadas as condições necessárias para que o laser emitisse radiação óptica com frequência de onda no espectro da luz visível. Desde então, iniciou-se um processo de aplicação clínica através de parceria duradoura entre a engenharia e a medicina [20]. A luz laser possui três características básicas que consistem em: 1) emitir uma onda eletromagnética de um único comprimento, o que confere a cada tipo de Laser uma cor especifica (Monocromaticidade); 2) emitir ondas eletromagnéticas que apresentam sincronia, ou seja, mesma frequência e direção, propagando-se em fase no tempo (Coerência); e 3) emitir ondas eletromagnéticas em uma única direção e paralelas entre si (Colimação) [20]. “Dizemos que um feixe de luz sofre absorção quando os fótons da radiação eletromagnética são absorvidos pela matéria. Podemos observar esse fenômeno nas moléculas de clorofila, que absorvem energia luminosa para a produção de oxigênio”. [...] “na interação do Laser com o tecido, a absorção é o principal parâmetro e depende, fundamentalmente, do comprimento de onda (°), bem como das dimensões das

moléculas do tecido irradiado” [21]. O laser classifica-se, de modo geral, em lasers de alta e baixa potência. Os de alta potência apresentam potência acima de 1 W e determina sobre os tecidos certas ações tais como, efeitos fototérmicos, fotomecanicoacústico, fotoablação ou

fotoplasmólise e fotoionizante. No efeito fototérmico ocorre transformação da energia eletromagnética em térmica e assim, a destruição ou alteração permanente da estrutura do tecido [22]. Lasers de baixa potência, ou terapêuticos, são lasers com potência menor que 1 W e elevação de temperatura, cujo ideal é não ultrapassar 1°C. Portanto,

não dependem de calor nem de destruição tecidual, apresentando um efeito cumulativo da dose, sendo considerados como moduladores de processos biológicos no tecido-alvo [22]. A irradiação de células com baixa intensidade de luz, em certos comprimentos de onda, pode ativar alguns componentes que fazem parte da estrutura celular. Desta forma, alterações bioquímicas, assim como todo o metabolismo podem ser alteradas (base dos efeitos dos Lasers de baixa intensidade). Para que esses efeitos ocorram, a energia proveniente da luz deve ser captada por componentes presentes nas células fotorreceptoras e fotoaceptoras [23]. “As moléculas fotorreceptoras e fotoaceptoras são capazes de absorver luz, pois contêm sistemas conjugados, em que há alternância de ligações simples e duplas entre seus átomos” [23]. Fotorreceptores são moléculas especializadas na absorção da luz. Estão envolvidas nos processos em que a luz é essencial para que as reações ocorram. São as rodopsinas, fitocromos, bacteriorodopsinas e clorofila [23]. Fotoaceptores são cromóforos não-especializados, ou seja, são moléculas envolvidas em reações que são independentes da luz. Porém, em situações particulares, podem absorver energia luminosa (citocromo oxidase) [23]. Quando os fotoaceptores se encontram dentro da própria célula, são conhecidos

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como endógenos, como exemplo, temos NAD e FAD. Os exógenos são substâncias administradas por via endovenosa inalatória ou transdérmica [22]. De acordo com estudos feitos por Pazos [23], a radiação eletromagnética ao penetrar na cadeia respiratória na mitocôndria pode ser absorvida diretamente por carreadores de elétrons, vitalizando a célula pelo aumento da produção de ATP. O comprimento de onda (faixa de energia) entre 600 nm e 700 nm (região do vermelho) demonstra bastante efetividade neste sentido. O que ocorre é que a luz Laser de baixa intensidade da região do vermelho e da região do infravermelho próximo corresponde à energia característica ao nível de absorção relevante à cadeia respiratória. Então, A resposta biológica por parte das células à luz monocromática (laser) ocorre em virtude da excitação eletrônica das moléculas fotoaceptoras. Essas reações físicas e químicas são rápidas e ocorrem sob ação da luz (reações primárias). As mudanças físicas e/ou químicas primárias nas moléculas fotoaceptoras são seguidas por uma cascata de reações bioquímicas secundárias na célula. Tais reações não necessitam da ativação direta da luz e ocorrem no escuro, de minutos a hora após a irradiação da cadeia de amplificação e transdução do sinal luminoso. A Biomodulação é o efeito molecular do laser terapêutico, resultante de aplicações de energias de baixa potência ou intensidade em estruturas bioquímicas da célula, ocasionando normalização das funções celulares. [...]. Classifica-se segundo os seguintes efeitos: bioestimulação (cicatrização/reparação tecidual; inflamação/ drenagem linfática) e bioinibição (analgésica/contenção de hipertrofia celular) [22]. Segundo Lins et al. [11], os lasers de baixa potência têm demonstrado efeitos

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analgésicos, anti-inflamatórios e cicatrizantes, sendo, por isso, bastante utilizados no processo de reparo tecidual, em virtude das baixas densidades de energia usadas e comprimentos de onda capazes de penetrar nos tecidos. Rocha Junior et al. [16] investigaram o comportamento de lesões cutâneas provocadas em ratos após a utilização de Laser de baixa intensidade com 3,8 J/cm² de dosagem, 15 mW de potência e tempo de aplicação de 15 segundos e evidenciaram um aumento da neovascularização e na proliferação fibroblástica, assim como redução da quantidade de infiltrado inflamatório. Ratificando este estudo com mamíferos, Lins et al. [11] afirmam que a absorção molecular da radiação Laser permite aumento do metabolismo celular, caracterizado pela estimulação de fotorreceptores na cadeia respiratória mitocondrial, e assim, aumento na produção de ATP celular, liberação de fatores de crescimento e síntese de colágeno, o que acarretará um aumento do metabolismo, proliferação e maturação celular e quantidade de tecido de granulação e na diminuição de mediadores inflamatórios, induzindo o processo de cicatrização.

| Material e métodos Para o presente estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica, através de livros, monografias dos cursos da saúde (graduação, especialização e dissertação), artigos científicos publicados em periódicos nacionais e internacionais nos últimos 12 anos, encontrados em sites da Pubmed e Scielo (respectivamente www.pubmed. com e www.scielo.com). Os descritores a seguir, utilizados isoladamente e em combinação foram pesquisados: laserterapia, reparo tecidual, úlcera por pressão. Dos artigos encontrados foram selecionados

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aqueles que se propuseram a descrever o processo de cicatrização, reparo tecidual, efeitos benéficos da laserterapia e úlceras por pressão.

| Discussão Segundo Lins et al.  [11], os lasers de baixa potência promovem efeitos biológicos benéficos, de caráter analgésico, anti-inflamatório e cicatrizante, por meio de um fenômeno de bioestimulação. A radiação emitida pelo laser terapêutico afeta os processos metabólicos das células-alvo, produzindo efeitos bioestimulantes que resultam na ocorrência de eventos celulares e vasculares, os quais parecem interferir diretamente no processo de reparo. De acordo com Rocha Junior et al . [16], evidenciou-se aumento da cicatrização das feridas após terapia com Laser, devido ao aumento na atividade mitótica, número de fibrolastos, síntese de colágeno e neovascularização dos tecidos lesados. Observou-se ainda, que a produção de fatores de crescimento fibroblástico (FGF) e o predomínio de fibroblastos em cultura aumentaram consideravelmente após irradiação com o Laser de baixa intensidade. Damante et al.  [24] afirmam que a potência dos lasers de baixa intensidade capaz de alterar o comportamento celular na ausência de aquecimento varia de 1 mW a 500 mW no modo contínuo, apresentando picos maiores quando pulsados. Seus comprimentos de onda variam do espectro visível da luz (° = 400 nm) ao infravermelho (° = 1,064 nm).

No caso de úlceras por pressão, em especial, Rocha et al. [25] estudaram uma amostra constituída de 12 casos de pacientes com úlcera por pressão não infectada submetidos a limpeza cirúrgica da ferida, que foram separados em 2 grupos. O primeiro

grupo recebeu radiação laser durante 5 dias consecutivos e o segundo, durante 15 dias alternados. As feridas foram tratadas com laser GaAs diodo (Arsenato de Gálio), pulsado, com comprimento de onda na faixa de 904 nm e dose de 3 J/cm². Após 3 dias da irradiação, observou-se presença de tecido de granulação, exsudação e pontos de sangramento (neovascularização). Os resultados deste trabalho sugerem que em ambas estas terapêuticas foi eficaz como auxiliar nos processos de regeneração tecidual. Palagi et al. [26] relatam que a laserterapia de baixa intensidade, foi apresentada pelo National Pressure Ulcer Advisory Panel   (NPUAP) como uma das formas de tratamento complementares para a úlcera por pressão. Todavia, ainda há escassez de evidências sobre sua efetividade, o que pode estar relacionada tanto à ausência de protocolos que padronizem o seu uso como aos diferentes modelos experimentais utilizados em humanos, dificultando a comparação entre os estudos. Vieira e Ortiz [15], entretanto, realizaram relato do caso de um paciente que apresentava úlcera de pressão estágio III na região sacral. Foi utilizado o aparelho Laser AlGaInP, de 660 nm, com aplicações feitas duas vezes por semana de forma pontual, dose a 4 J/cm². O fechamento da lesão ocorreu por volta da quadragésima quinta aplicação. Nesse estudo foi demonstrado que a utilização do Laser de baixa intensidade auxilia no processo de cicatrização, mesmo nos casos em que não ocorre alívio da pressão na úlcera ao longo do dia. Ainda de acordo com Vieira e Ortiz [15], alguns estudos mostram que a dose de irradiação com laser que melhor promove o aumento na quantidade de fibroblastos e reepitelização deve ficar na faixa entre 1 e 5 J/cm, e outros afirmam que a dose ideal é 2 a 4 J/cm².

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Stefanello e Hamerski [27] ao realizar estudo sobre o tratamento de úlcera de pressão através do Laser AsGa de 904 nm, o resultado da irradiação Laser com o comprimento de onda de 904,6 J/cm 2, 45 mW, duas vezes por semana durante sete semanas, no processo de cicatrização da úlcera de pressão no calcâneo durante três meses, notaram a cicatrização completa da ferida após este período. Rocha et al.  [16] afirmam que, em conjunto, os resultados sugerem que a laserterapia de baixa intensidade é eficaz na cicatrização tecidual verificada em modelo experimental de feridas cirúrgicas realizadas em ratos. Esse tipo de laserterapia mostrou efeitos positivos, acelerando a proliferação tecidual, aumentando a vascularização local e formando um tecido de granulação mais organizado.

| Conclusão Com base em todos os estudos apresentados, concluímos que o uso do laserterapia de baixa intensidade, é eficaz, independente da dose, tempo de aplicação ou mesmo fonte de emissão de radiação, é indicado para o tratamento de úlceras por pressão, mesmo nos casos em que o fator causador da lesão (no caso a compressão mecânica ao longo do dia) persista. Este benefício advém de alterações que ocorrem em nível celular, como a estimulação de fotorreceptores e fotoaceptores na cadeia respiratória mitocondrial, e assim, aumento na produção de ATP celular, liberação de fatores de crescimento e síntese de colágeno, levando a um aumento do metabolismo, proliferação e maturação celular e quantidade de tecido de granulação e na diminuição de mediadores inflamatórios, induzindo o processo de cicatrização.

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