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April 7, 2018 | Author: AdylsonMartins | Category: Saxophone, Jazz, Pop Culture, Clarinet, You Tube
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(E APROVADOS!) • Sax alto Condor • Palhetas Vandoren Java e V16

Nenê Santos e sua mistura harmoniosa de ritmos

LEO GANDELMAN

SAX&METAIS•2007•Nº 10•R$ 8,90

GOSPEL:

TESTADOS

Ele acumula mais de 20 anos de carreira, prêmios e reconhecimento no Brasil e no exterior

TOQUE MELHORGanc

com as aulas de David nd (sax), (flauta), Henrique Ba e Michel Rafael Velloso (sax) Moraes (clarinete)

ABC DO BLUES SUPERGUIA com

16 exercícios para aprimorar sua técnica CLARINETE, FLAUTA, OBOÉ...

Tudo sobre o I Encontro de Madeiras em Tatuí

E mais! Agenda de festivais em todo o Brasil Entrevista exclusiva com o porto-riquenho David Sanchez

Esta revista apóia Editor / Diretor Daniel A. Neves S. Lima Diretora de Redação Regina Valente MTB: 36.640 Editora Técnica Débora de Aquino Reportagem Verena Ferreira Revisão Hebe Ester Lucas Gerente Comercial Eduarda Lopes Administrativo / Financeiro Carla Anne Direção de Arte Alexandre Braga Impressão e Acabamento Gráfica PROL

EDITORIAL

VIVA A DIVERSIDADE!

A

cada edição de Sax & Metais, toda a equipe se reúne para definir as pautas que levaremos até você. Discutimos a relevância dos assuntos, listamos nomes importantes para ilustrar nossas páginas e definimos o que entra ou não na sua revista. É um trabalho de garimpo, avaliação e edição bastante complexo, porque nosso intuito é publicar o que há de melhor no meio musical e, especificamente, no de sopro. Nesta edição não foi diferente. Posso afirmar, em nome de toda a equipe da revista, que fiquei muito satisfeita do começo ao fim dessas 52 páginas que você começa a ler aqui. Primeiro, pela matéria de capa, realizada de forma magistral pela nossa editora Débora de Aquino com Leo Gandelman, um saxofonista capaz de tocar, produzir, compor e arranjar com a mesma maestria, e em diversas vertentes da música, do pop ao jazz. Na parte técnica, trazemos 16 exercícios para você entender e tocar melhor o blues, estilo musical tão difundido e cheio de macetes. Saiba sobre sua história, escalas e dicas para se aperfeiçoar. Trazemos também grandes nomes da música, como Rodrigo Bento, que após dez anos tocando com o ótimo Jota Quest, agora avança em carreira-solo, com muito sucesso; o estilo de Paulo Oliveira, e uma entrevista exclusiva com o porto-riquenho David Sanchez, um dos representantes da geração de young lions que, literalmente, abalou Nova York. Temos ainda workshops, informações sobre festivais e análises de instrumentos e acessórios. Está imperdível. Aproveite cada pauta, ou melhor, cada página! Um abraço, Regina Valente

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SAX & METAIS JULHO / 2007

Fotos Divulgação, Kazuo Watanabe, Luis Garrido, Tiago Gracindo Colaboradores Deise Juliana, Marcelo Coelho, Marcio Mazzi Morales (texto); César Albino (teste saxofone); David Ganc, Henrique Band, Michel Moraes e Rafael Velloso (workshops) Distribuição Nacional para todo o Brasil Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 • Grajaú CEP 20563-900 • Rio de Janeiro • RJ Tel.: (21) 2195-3200 Assessoria Edicase Soluções para Editores Sax & Metais (ISSN 1809-5410) é uma publicação da Música & Mercado Editorial. Administração, Redação e Publicidade: Rua Alvorada, 700 • Vila Olímpia CEP 04550-003 • São Paulo • SP • Brasil Todos os direitos reservados. Publicidade Anuncie na Sax & Metais [email protected] Tel./Fax: (11) 3567-1940 • 3846-4446 www.saxemetais.com.br e-mail: [email protected]

ÍNDICE SEÇÕES 4 Editorial 8 Cartas 10 Live! Shows, projetos e novidades do universo do sopro 14 Vida de músico Edu Amaral 36 Análises Sax alto Condor Palhetas Vandoren Java e V16 40 Vitrine 41 Reviews Lançamentos de CDs

20 Leo Gandelman

MATÉRIAS 16 PERFIL Paulo Oliveira Com o wind-synth, o instrumentista utiliza a tecnologia para uma intensa produção (e evolução) musical

26

Madeiras nas orquestras: saiba tudo o que aconteceu no Encontro de Madeiras, realizado pelo Conservatório de Tatuí, que recebeu músicos de renome nacional e internacional

18 CAPA Leo Gandelman, um dos mais versáteis saxofonistas da atualidade, que ainda produz, compõe e faz arranjos com maestria. Confira entrevista exclusiva.

28

Técnica: conheça 16 exercícios para entender e aprimorar a forma de tocar o blues, com sugestões de estudos para você treinar em casa

34 GOSPEL Nenê Santos: o músico investe na carreira-solo e vem despontando no cenário evangélico mesclando jazz com suingue e pop 36

David Sanchez: em entrevista à Sax & Metais, o porto-riquenho fala sobre sua carreira em Nova York e como passou de promessa a ícone da nova geração de músicos

WORKSHOPS 42

Henrique Band (SAXOFONE) Fusões rítmicas

44

Rafael Velloso (SAXOFONE) Saxofone no choro

46

David Ganc (FLAUTA) A construção da sonoridade

48

Michel Moraes (CLARINETE) Efeitos sonoros no clarinete

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SAX & METAIS JULHO / 2007

ÍNDICE SEÇÕES 4 Editorial 8 Cartas 10 Live! Shows, projetos e novidades do universo do sopro 14 Vida de músico Edu Amaral 36 Análises Sax alto Condor Palhetas Vandoren Java e V16 40 Reviews Lançamentos de CDs

20 Leo Gandelman

MATÉRIAS 16 PERFIL Paulo Oliveira Com o wind-synth, o instrumentista utiliza a tecnologia para uma intensa produção (e evolução) musical

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Madeiras nas orquestras: saiba tudo o que aconteceu no Encontro de Madeiras, realizado pelo Conservatório de Tatuí, que recebeu músicos de renome nacional e internacional

18 CAPA Leo Gandelman, um dos mais versáteis saxofonistas da atualidade, que ainda produz, compõe e faz arranjos com maestria. Confira entrevista exclusiva.

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Técnica: conheça 16 exercícios para entender e aprimorar a forma de tocar o blues, com sugestões de estudos para você treinar em casa

34 GOSPEL Nenê Santos: o músico investe na carreira-solo e vem despontando no cenário evangélico mesclando jazz com suingue e pop 36

David Sanchez: em entrevista à Sax & Metais, o porto-riquenho fala sobre sua carreira em Nova York e como passou de promessa a ícone da nova geração de músicos

WORKSHOPS 42

Henrique Band (SAXOFONE) Fusões rítmicas

44

Rafael Velloso (SAXOFONE) Saxofone no choro

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David Ganc (FLAUTA) A construção da sonoridade

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Michel Moraes (CLARINETE) Efeitos sonoros no clarinete

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SAX & METAIS JULHO / 2007

CARTAS

Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para: [email protected] ou escreva para: Rua Alvorada, 700 Vila Olímpia • CEP 04550-003 • São Paulo • SP • Brasil

Surpreendente

Revista nas bancas

O que dizer de uma revista que a cada mês vem surpreendendo com matérias interessantes e relevantes para nós, músicos e instrumentistas de sopro. Só tenho a dizer: meus parabéns! Tom Silva São Paulo, SP

Gosto muito da revista, que sempre traz matérias úteis para o nosso dia-a-dia musical. Continuem assim! Mas por que às vezes ela demora para chegar às bancas? Paulo Antunes São Paulo, SP

Fora do eixo Fiquei muito feliz com a matéria sobre meu trabalho e espero conhecer outros artistas que, como eu, não são do eixo RJ-SP e têm uma produção fonográfica autoral. Tudo por meio da revista. Vida longa e muito som! Márcio Menezes Teresina, PI

Lea Freire Muito boa a entrevista com essa ótima musicista. Aprendi muito com tudo que ela relatou, e toda experiência que ela passou por meio dessa reportagem. Obrigada à revista por nos presentear com matérias assim! André Souza Salvador, BA

Olá, Paulo Obrigada pelos elogios. Quanto às bancas, de fato tivemos alguns atrasos, mas nossa equipe já resolveu esse problema e pode ter certeza de que você encontrará sua revista nas bancas todos os meses. Um abraço! A redação

Anotamos aqui seu pedido e continue acompanhando a revista, que em breve teremos novidades a respeito. Abraços! A redação

SAX & METAIS NO ORKUT Para saber informações da revista e trocar idéias com outros músicos de sopro, participe da comunidade da Sax & Metais no Orkut - http://www.orkut.com/Community. aspx?cmm=12315174. Já são mais de 1.300 integrantes que enviam comentários sobre instrumentos, músicas, críticas e sugestões para fazer a revista cada vez melhor. l

Série Harmônica Gostaria de sugerir uma que a Sax & Metais nos premiasse com uma série sobre progressão harmônica e técnicas como vibrato, etc. Gilvane Rosa Angra dos Reis, RJ Olá,Gilvane Obrigada pela sua sugestão, sem dúvida é um assunto que interessa a todos os músicos de sopro.

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CARTAS Lea Freire Muito boa a entrevista com essa ótima musicista. Aprendi muito com tudo que ela relatou, e toda experiência que ela passou por meio dessa reportagem. Obrigada à revista por nos presentear com matérias assim! André Souza Salvador, BA

Surpreendente O que dizer de uma revista que a cada mês vem surpreendendo com matérias interessantes e relevantes para nós, músicos e instrumentistas de sopro. Só tenho a dizer: meus parabéns! Tom Silva São Paulo, SP

Fale com a Sax & Metais: envie suas dúvidas e sugestões para: [email protected] ou escreva para: Rua Alvorada, 700 Vila Olímpia • CEP 04550-003 • São Paulo • SP • Brasil

trabalho e espero conhecer outros artistas que, como eu, não são do eixo RJ-SP e têm uma produção fonográfica autoral. Tudo por meio da revista. Vida longa e muito som! Márcio Menezes Teresina, PI

Revista nas bancas Gosto muito da revista, que sempre traz matérias úteis para o nosso dia-a-dia musical. Continuem assim! Mas por que às vezes

ela demora para chegar às bancas? Paulo Antunes São Paulo, SP Olá, Paulo Obrigada pelos elogios. Quanto às bancas, de fato tivemos alguns atrasos, mas nossa equipe já resolveu esse problema e pode ter certeza de que você encontrará sua revista nas bancas todos os meses. Um abraço! A redação

Série Harmônica Gostaria de sugerir uma que a Sax & Metais nos premiasse com uma série sobre progressão harmônica e técnicas como vibrato, etc. Gilvane Rosa Angra dos Reis, RJ Olá,Gilvane Obrigada pela sua sugestão, sem dúvida é um assunto que interessa a todos os músicos de sopro. Anotamos aqui seu pedido e continue acompanhando a revista, que em breve teremos novidades a respeito. Abraços! A redação

Fora do eixo Fiquei muito feliz com a matéria sobre meu

SAX & METAIS NO ORKUT Para saber informações da revista e trocar idéias com outros músicos de sopro, participe da comunidade da Sax & Metais no Orkut - http://www.orkut.com/Community. aspx?cmm=12315174. Já são mais de 1.300 integrantes que enviam comentários sobre instrumentos, músicas, críticas e sugestões para fazer a revista cada vez melhor. l

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TESTE NOVIDADE

POR VERENA FERREIRA

LIVE!

Aqui você confere a agenda de shows e encontros de músicos em todo o Brasil e fica antenado com as novidades do mundo do sopro

AMAZONAS NO CIRCUITO DE JAZZ

A

ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

s diversas manifestações do jazz contemporâneo se reúnem em Manaus de 25 a 29 de julho, durante o 2º Festival Amazonas Jazz, uma promoção do Governo do Estado. Segundo o secretário de Cultura, Robério Braga, o objetivo do evento é promover o Amazonas como destino cultural e turístico, além de incluir a capital no roteiro dos grandes festivais internacionais do gênero. A direção do festival está sob a responsabilidade do maestro português Rui Carvalho. Graças ao sucesso da primeira edição, este ano o evento ganhou um dia a mais na programação, que inclui shows de artistas nacionais e internacionais, como Mauro Senise Quarteto, Guinga Grupo, Jeremy Pelt, Egberto Gismonti, Robin Eubanks, Spokfrevo Orquestra, entre outros. O festival traz ainda alguns eventos paralelos,

Festival em Manaus reunirá grandes nomes da música instrumental brasileira

como workshops e oficinas sobre o universo do jazz, com o objetivo de dar capacitação técnico-pedagógica a profissionais da música. Para mais informações, ligue para (92) 3232-1768 ou contate o e-mail [email protected]. l

FÓRUM INÉDITO DE BANDAS E FANFARRAS

PEDRO II EM FESTA

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O

I Fórum PlanetaBandas foi realizado de 1º a 3 de junho e teve apoio de vários maestros e regentes de bandas e fanfarras. Cerca de 750 pessoas participaram do evento, que é inédito para o segmento e que trouxe diversos debates culturais. Entre os principais estava uma palestra com Rose Melsburguer sobre como formatar projetos para captação de recursos. O palestrante Nivaldo Percival também falou sobre os aspectos básicos da legislação de apoio à cultura. E na parte mais prática do fórum, Márcia Helena Duque e os coreógrafos Alemão e Polini discorreram sobre os elementos coreográficos de linhas de frente e balizas. Para complementar a parte prática, Silvio Luiz de Oliveira falou sobre as noções de arranjos, a escolha de repertório, a instrumentação e a formação do grupo em fanfarras. E para falar sobre a Internet como meio de informação e marketing, o editor do site do PlanetaBandas, Marcio Mazzi Morales, também esteve presente. Para completar o I Fórum PlanetaBandas, o público pôde conferir shows musicais com o Coral Itaquaquecetuba e com o Grupo de Metais da Banda Marcial Sênior do Colégio Santa Isabel. Com o sucesso da primeira edição do evento, a organização já marcou a próxima para setembro de 2008 e promete novidades. Para mais informações, fique atento ao site www.planetabandas.com.br. l

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SAX & METAIS JULHO / 2007

Festival de Inverno de Pedro II realizou sua quarta edição entre os dias 7 e 10 de junho em Pedro II, que fica a 195 quilômetros de Teresina, capital do Piauí. Nomes como Derico, JJ Jackson, Yamandu Costa, Hamilton Holanda e Osvaldinho do Acordeon marcaram presença no evento com shows gratuitos. Do Piauí, os artistas Sérgio Mattos & Bumba Trio, Ockteto, Italo e Renno e Trombone & Cia também deram um show no festival. Além da programação com os nomes do jazz e do blues, o clima agradável e o potencial turístico da cidade serrana garantiram o sucesso do evento. Segundo a assessoria de imprensa do festival, estimase que cerca de 10 mil turistas passaram pelo local em decorrência do evento, que trouxe também atrações do artesanato, da gastronomia e da cultura, além dos shows musicais. O IV Festival de Inverno de Pedro II é uma realização do Sebrae com apoio do Governo do Estado. l

LIVE!

MÚSICA INSTRUMENTAL NA SERRA FLUMINENSE

O

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

Quarteto Caixa Acústica vem se destacando no cenário musical do Rio de Janeiro. Em junho, o grupo abriu o Festival Visa de Jazz, em Itaipava (RJ), com grande aclamação do público e da organização. O Quarteto também foi convidado pelo segundo ano consecutivo para integrar as atrações do Festival Sesc de Inverno do Rio de Janeiro. No dia 12 de julho o quarteto abriu o festival no mesmo espaço em que Mauro Senise e seu quarteto fazem a festa da música instrumental. Formado por Antonio Ribeiro (sax e flauta), Rodrigo Veiga (bateria), Henrique Branco (teclado) e Leonardo Miranda (baixo), o Caixa Acústica planeja vôos mais altos. “Recebemos convites para tocar na França, Alemanha, EUA e Portugal. Estamos vendo o que de melhor será possível fazer para conciliar todos os eventos”, afirma Antonio Ribeiro, integrante do quarteto. Ribeiro trabalha ainda como produtor de eventos do Casarão Produções, outro destaque da região serrana do Rio de Janeiro e que apóia o Caixa Acústica. Além de Ribeiro, Leandro Leite e Viviane Albacete trabalham como produtores e são proprietários do local. Localizado em Teresópolis, o Casarão funciona como uma produtora de serviços em áudio e vídeo, sendo um excelente local de ensaio para músicos. A produtora promove ainda eventos musicais que fazem parte do Projeto Workshows, que reúne artistas para se apresentar. Pela ampla oferta de eventos e serviços, o local acabou se tornando um ponto de encontro de músicos de destaque, como Arthur Maia (acompanhado de Josué Lopez no sax), Paulo Calasans, Carlos Balla, João Bani e Zeppa, entre outros. “Agora, com a construção da Lona Cultural, poderemos abrigar, em vez de apenas 50 seletos lugares,

O quarteto: Antonio Ribeiro (sax e flauta), Leonardo Miranda (baixo), Henrique Branco (teclado) e Rodrigo Veiga (bateria)

Uma das salas de gravação

em média 400 pessoas”, conta Ribeiro. A produtora também faz gravações digitais de áudio e vídeo, além de autoração de DVDs. Há três anos em atividade, o estúdio conta com uma sala de ensaio de 48 m2 e preparação acústica, com possibilidade de gravar ensaios de músicos em tempo real. Os músicos podem, ainda, contar com toda a aparelhagem necessária disponível, bastando apenas trazer o instrumento. Contato do Casarão Produções: (21) 2642-3366 e www.casaraoproducoes.com.br. Contato do Quarteto Caixa Acústica: (21) 2642-4217. l

AS NOVAS TRAVESSURAS DE EINHORN

A

Delira Música acaba de lançar o novo CD do gaitista Maurício Einhorn. Com o nome de Travessuras, o álbum foi produzido e dirigido por Ricardo Leão, com arranjos de César Camargo Mariano, Ricardo Leão, Jessé Sadoc e Vittor Santos. O disco foi lançado no dia 12 de julho na Sala Cecília Meirelles, no Rio de Janeiro (RJ) e é uma realização da Delira Música, com apoio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Einhorn é filho de gaitistas e tem mais de 60 anos de experiência no instrumento. Seu primeiro disco foi gravado em 1949 com o conjunto de harmônicas Brazilian Rascals. Em 1957, participava ativamente do movimento bossa nova, com várias músicas gravadas por intérpretes de renome, como Tom Jobim, Hubert Laws, Herbie Mann, Cannonball Adderley e outros. Einhorn recebeu vários convites e viajou para os EUA para representar seu ‘jazz samba’ com parceiros ilustres como Joe Carter, Jim Hall, Ron Carter, Herbie Mann, Richard Kimball, David Sanborn, Monty Alexander, Nina Simoni, Nilson Matta, Romero Lubambo. O início de algumas das 12 composições do disco pode ser ouvido no site da Delira Música – www.deliramusica.com.br. Lá você pode obter ainda mais informações sobre o disco e sobre o artista. l

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SAX & METAIS JULHO / 2007

Marcelo Coelho no Siena Jazz

Imortalizados também na Internet

A

O

saxofonista, líder do grupo MC4+, esteve no festival italiano e participou do 17° Encontro Internacional de Escolas de Jazz (IASJ). “Fui convidado pelo David Liebman, curador do festival, para lançar o meu CD, colagens, e dar uma masterclass sobre o uso da polirritmia no meu processo composicional”, conta o músico. O encontro aconteceu na cidade de Siena, de 7 a 13 de julho, e contou com a presença de escolas e universidades de jazz de mais de 30 países, incluindo representantes brasileiros, como o Souza Lima Conservatório de Música. O Brasil será a sede desse encontro em 2011. l

mania de publicar vídeos de todos os tipos na web torna tudo mais fácil. Imagens que antes pertenciam apenas a colecionadores ou curiosos agora estão expostas em sites como o Youtube (www. youtube.com) e estão ao alcance de qualquer usuário da Internet. Instrumentistas de sopro e saxofonistas de renome também marcam presença em vídeos na web. Ao buscar por Miles Davis, por exemplo, você pode encontrar mais de 6 mil aparições do astro do trompete. No caso de John Coltrane, ao fazer a busca, é possível optar entre mais de 1.400 opções de vídeos em que o saxofonista se apresenta solo ou com convidados. Como Coltrane e Davis, que inclusive estão juntos em vários vídeos, instrumentistas como Freddie Hubbard e Charlie Parker e tantos outros podem continuar presentes graças à Internet e suas faces multimídias. Para visualizar um dos vídeos mais requisitados da dupla Davis e Coltrane, clique em: www.youtube.com/watch?v=U4FAKRpUCYY. Para conhecer um dos solos de Coltrane, clique em www.youtube. com/watch?v=2pXWKwUYGKg. Ou busque em www.youtube.com/ watch?v=EnSYHzyjZcM um dos vídeos mais vistos de uma das belas performances de Freddie Hubbard. Vale a pena conferir. l

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Marcelo Coelho no Siena Jazz

Imortalizados também na Internet

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saxofonista, líder do grupo MC4+, esteve no festival italiano e participou do 17° Encontro Internacional de Escolas de Jazz (IASJ). “Fui convidado pelo David Liebman, curador do festival, para lançar o meu CD, colagens, e dar uma masterclass sobre o uso da polirritmia no meu processo composicional”, conta o músico. O encontro aconteceu na cidade de Siena, de 7 a 13 de julho, e contou com a presença de escolas e universidades de jazz de mais de 30 países, incluindo representantes brasileiros, como o Souza Lima Conservatório de Música. O Brasil será a sede desse encontro em 2011. l

mania de publicar vídeos de todos os tipos na web torna tudo mais fácil. Imagens que antes pertenciam apenas a colecionadores ou curiosos agora estão expostas em sites como o Youtube (www. youtube.com) e estão ao alcance de qualquer usuário da Internet. Instrumentistas de sopro e saxofonistas de renome também marcam presença em vídeos na web. Ao buscar por Miles Davis, por exemplo, você pode encontrar mais de 6 mil aparições do astro do trompete. No caso de John Coltrane, ao fazer a busca, é possível optar entre mais de 1.400 opções de vídeos em que o saxofonista se apresenta solo ou com convidados. Como Coltrane e Davis, que inclusive estão juntos em vários vídeos, instrumentistas como Freddie Hubbard e Charlie Parker e tantos outros podem continuar presentes graças à Internet e suas faces multimídias. Para visualizar um dos vídeos mais requisitados da dupla Davis e Coltrane, clique em: www.youtube.com/watch?v=U4FAKRpUCYY. Para conhecer um dos solos de Coltrane, clique em www.youtube. com/watch?v=2pXWKwUYGKg. Ou busque em www.youtube.com/ watch?v=EnSYHzyjZcM um dos vídeos mais vistos de uma das belas performances de Freddie Hubbard. Vale a pena conferir. l

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LIVE!

FESTIVAL COMEMORA DEZ ANOS

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TESTE NOVIDADE

Grupo Dixie Square

ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

Blas Rivera

Leo Gandelman

e 25 a 28 de julho, em Búzios, balneário fluminense, aconteceu a décima edição do Búzios Jazz & Blues Festival. O evento comemorou dez anos com uma edição que apresentou Leo Gandelman (confira matéria especial com o músico na página 20), Blues Etílicos, João Donato, Charlie Hunter, Celso Blues Boy, Phil Guy, Cindy Blackman, Idriss Boudrioua e a big band Big Time Orchestra. Os músicos passaram pelos palcos do Chez Michou e do Pátio Havana. O evento foi criado e organizado pelo grupo Chez Michou e acontece desde 1997. Ao longo de suas edições, o festival trouxe músicos importantes do cenário nacional e internacional, como Stanley Jordan, Fito Paez, Vernon Reid, Eric Gales, Kurt Brunus, Ray Moore, Bernard Purdie, Marcos Valle, Yamandu Costa e Ed Motta. Para Márcio Rangel, integrante da Big Time Orchestra, a participação no evento foi muito importante não só do ponto de vista musical, mas também de divulgação do trabalho. “Já participamos de festivais e de eventos grandes, mas no de Búzios foi a primeira vez, não só pela importância e magnitude, mas principalmente porque sempre aprendemos muito com grandes feras do cenário musical. Essa troca de experiências é maravilhosa”, completa Rangel. Nesta edição, vale destacar que a preocupação com o meio ambiente também foi atração. O grupo Chez Michou, por exemplo, aderiu ao movimento Amazônia para Sempre e durante o evento foram coletadas assinaturas para o manifesto contra o desmatamento da Floresta Amazônica. l

LIVE!

UM GUIA PARA CLARINETISTAS

M

ax Ferreira, clarinetista e professor do Conservatório de Tatuí, Tatuí (SP) lançou o Guia Técnico do Clarinetista, durante o Encontro Internacional de Madeiras. O material foi pensado a partir das experiências do professor nas oficinas do Pró Bandas, programa mantido pelo Governo de São Paulo e coordenado pelo Conservatório. O guia aborda o tema da qualidade do som, o que Ferreira considera uma das principais carências dos músicos instrumentistas, particularmente clarinetistas. A publicação trata do processo de respiração, que é parte essencial na produção de uma boa qualidade sonora, sem deixar de lado aspectos básicos como a embocadura. O Guia custa R$ 6 e pode ser encomendado pelo telefone: (19) 3554-1746 ou pelo e-mail [email protected]. l

Max Ferreira em demonstração para alunos, no dia do lançamento do Guia

HOMENAGEM – 40 ANOS DA MORTE DE COLTRANE

F

az exatos 40 anos que aterrissei em Estocolmo, na Suécia, e liguei para o pianista Lars Wener, cujo número me havia sido passado pelo baixista Cameron Brown. Depois dos cumprimentos tradicionais, Lars me perguntou: “Você soube que John Coltrane morreu hoje?”. Imediatamente comecei a chorar, enquanto Lars me apressava para pegar o trem de volta à terra do mestre. Eu estava na hora e no lugar certos nos anos 1960, e pude ver Trane tocar muitas vezes em Nova York. Foi algo totalmente espontâneo, mas mudou minha vida desde então. Eu não seria a mesma pessoa sem a música de John Coltrane. Qualquer palavra que eu escreva não vai expressar meu apreço e privilégio de ter testemunhado sua grandeza. Sua música é quase uma crença em um poder superior, me fazia acreditar nisso. Qualquer pessoa que me conheça, pessoalmente ou por meio da minha música, sabe o quanto Coltrane foi importante em minha vida. Sua música

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SAX & METAIS JULHO / 2007

(17/07/1967)

Por David Liebman

me fez perceber que havia algo a mais na existência do que somos materialmente ou do que vemos em nossa frente. Vale ressaltar que, durante quatro décadas, a força da música de Trane só cresceu mais e mais. Muito em função dos freqüentes lançamentos de ‘novos’ materiais, mas é mais do que isso. Por ironia do destino, fui me tornando um músico melhor nesse período, e minha admiração pelo talento e profundidade que Coltrane dedicava ao seu trabalho e ao mundo só poderia aumentar. Essa realidade reforçou minhas convicções sobre o poder da arte na elevação da vida humana. Se você tem um modelo como esse na mente e nos ouvidos diariamente, tudo fica muito claro em proporção, no mundo real e musicalmente. Sou um cara de sorte! Obrigada, John, e que você continue a descansar em paz. l

JOVENS TALENTOS

Vida de Músico

POR DÉBORA DE AQUINO

FOTO: HENRIQUE SOUSA

EDU AMARAL

O

mais novo integrante da banda Placa Luminosa se prepara para o lançamento do seu primeiro CD-solo

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

JOVENS TALENTOS: POP, SMOOTH E JAZZ COM SWING BRASILEIRO

Sua trajetória musical começou em Valinhos, interior de São Paulo, e não exatamente com o saxofone. Edu Amaral deu seus primeiros passos nos instrumentos de harmonia, violão e piano, até que aos 14 anos conheceu o sax e, por indicação de Léo Gandelman, foi estudar com Wilson Teixeira em São Paulo. Seis anos mais tarde, entrou no Conservatório de Tatuí. Hoje é saxofonista da banda Placa Luminosa, com quem gravou recentemente um DVD ao lado de Milton Guedes e Filó Machado. Já se apresentou em diversas casas de shows em São Paulo e atuou em bandas de vários estilos e formações. Formação: “Depois de algum tempo tendo aulas com Wilson Teixeira, aos 20 anos fui estudar no Conservatório Dr. Carlos de Campos, de Tatuí, com Vinícius Dorin. Mais tarde, em São Paulo, convivi com o Manito, com quem adquiri muita presença de palco, graças às oportunidades que ele me deu”. Influências: “Wilson Teixeira foi meu espelho durante anos. Léo Gandelman foi o caminho por onde tudo começou. Gosto da forma rica e consciente com que ele desenvolve seus improvisos, encaixando frases de bom gosto nas harmonias. Manito foi a grande referência em meu lado sideman”. Estilo: “Gosto do som um pouco mais escuro no sax, com mais graves. Tenho uma influência direta do som do Grover Washington Jr., do peso no timbre do sax. Ouço muito soul, smooth – esse estilo me fascina – e procuro focar meus objetivos sem pensar em rótulos. Meus CDs de cabeceira têm Grover Washington Jr., Gary Bias, do EW&F, Gerald Albright, Maceo Parker. Tive uma fase Eric Marienthal também. Gosto muito de um músico brasileiro que é o Lincoln Olivetti. Um dos seus melhores CDs é o Robson Jorge e Lincoln Olivetti, de 1982. É um som muito atual, os arranjos dos naipes muito bem escritos, harmonias complexas e muito bom gosto. Se os americanos têm Quincy Jones, nós temos Lincoln Olivetti”. Música e Internet: Acredito que hoje a formação do músico brasileiro é muito mais

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SAX & METAIS JULHO / 2007

Pop, smooth e jazz com swing brasileiro rica graças à quantidade de informação facilmente encontrada, mas alguns cuidados devem ser tomados nesse sentido. Percebo muitos iniciantes tentando estudar sozinhos com o material que baixam em diversos sites, adquirindo, assim, muitos vícios e estudos avançados demais para o nível em que se encontram. O músico que possui um objetivo e procura orientação de bons profissionais tem a possibilidade de uma formação mais sólida”. Endorser: “Sou amigo do João Cuca há muitos anos e endorser de sua empresa,

SETUP DE EDU AMARAL Instrumentos • Sax Alto Conn Lady Face 1935, boquilha Beechler custom #7 e Barkley S10S, palheta Légère 2¼”. • Sax Tenor Conn Director 1960, boquilha Otto Link NY STM 8, palheta Alexander Superial 2¼”. • Sax Soprano Winstom customizado pela Ébano, boquilha N modelo David Libman 8, palheta Alexander Superial 2. Acessórios • Microfone AKG WMS 40 UHF, plugado num rack com um processador de efeitos Behringer DSP2024 Pro e um processador de vozes Vocalist 2, controlados por um foot controller Roland GF50 e um pedal de volume FC100 Behringer.

a Ébano Music, em São Paulo. Todos os meus saxofones são revisados e regulados lá. As palhetas que uso são específicas e não existem em outra loja no Brasil”. Sideman: “Placa Luminosa é uma banda diferenciada das outras justamente pelo alto nível instrumental. Tenho muitas possibilidades de solos, praticamente em todas as músicas, então revezo com o piano do Eric Escobar ou a guitarra do Ribah Nascimento. Existe muita liberdade de criação dentro dos arranjos. Muitas vezes transformamos músicas simples, como Espaço na Van, do Ed Motta, em um samba ou jazz totalmente instrumental, fazendo com que sempre exista a interação entre o solista e o sideman”. CD-solo: “Meu CD foi gravado nos estúdios Sapo, em Valinhos. O repertório foi todo autoral. Contei com a participação de diversos compositores, com exceção da última faixa, uma regravação com um arranjo mais atual. O álbum possui dez faixas, entre elas, samba rock, shuffle, smooth e balada. Contei com a participação dos músicos Eric Escobar, Ary Nascimento, Ribah Nascimento e Luizão, todos do Placa Luminosa, além de Victor Marcellus, Edu Longuin e Bruno Brito. O disco está em fase de masterização, realizada pelo Valter Lima nos estúdios Mosh, com previsão de lançamento para o próximo semestre”. l

Tecnologia e diversidade musical 1 2 PERFIL

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POR DÉBORA DE AQUINO FOTOS: TIAGO GRACINDO

PAULO OLIVEIRA

Tecnologia e diversidade musical

O saxofonista desenvolve projetos em seu home studio e incorporou o wind-synth em seu setup

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urante seus 30 anos de carreira, Paulo Oliveira já teve a oportunidade de atuar em ambientes musicais muito distintos. O saxofonista e flautista, que integra o grupo instrumental Zarabatana desde 2001 e gravou o CD Mistérios, já passou por bandas de baile, orquestras sinfônicas, grupos de música judaica, pop, sertanejo, jazz, gospel, new age e instrumental brasileiro. Tantas experiências diferentes lhe renderam um ótimo jogo de cintura. “Não sou um grande expoente em nenhum desses gêneros, mas essa diversidade fez com que

procurasse perceber a estética e as demandas de cada estilo, e me fez desenvolver uma grande versatilidade”, comenta. Na música popular, atuou e gravou com diversos artistas, de Ronnie Von e Wanderléa a Leandro e Leonardo e Zezé di Camargo e Luciano, com quem participou das gravações do DVD Acústico MTV. Mas, com um espírito inquieto, sempre buscando novidades, Oliveira não pára. Também arranja tempo para dar aulas e gerenciar seu próprio home studio, onde trabalha com pequenas produções. Além do saxofone alto, do soprano e da flauta, ele incorporou o wind-synth (controlador midi de sopro) e alguns instrumentos étnicos. Gaúcho de Porto Alegre, Oliveira nasceu em 1958 e ingressou na faculdade de Composição e Regência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, aos 18 anos, em sua cidade natal. Mas o impulso e a vontade de morar e trabalhar em São Paulo falaram mais alto e o saxofonista decidiu tentar a sorte na capital paulista em 1981. “Apesar de não ter completado a graduação, o contato com o mundo acadêmico me levou a uma convicção muito forte da necessidade do estudo”, afirma. Essa visão da música ele aprendeu com seus professores, músicos do naipe de Eduardo ‘Lambari’ Pecci, Amilson Godoy, Roberto Sion e Armando Albuquerque. Todos eles deixaram marcas importantes em sua formação.

PERFIL

FIM

PAULO OLIVEIRA

Com a mudança para São Paulo, veio também a chance de atuar na música erudita. O músico integrou o quadro da Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal de São Paulo, de Ribeirão Preto e da Sinfonia Cultura. Foi também sideman de diversos artistas da música popular.

CARREIRA INTERNACIONAL

SETUP DE PAULO OLIVEIRA • Saxofone Alto Selmer Mark VII, boquilha Eugéne Rosseau Studio Jazz, palheta Bari Star Medium • Saxofone Soprano Yamaha 62, boquilha Bari 64, palheta Bari Star Soft • Flauta Yamaha • Flautim Büescher • Wind-Synth Yamaha WX11 e WX5 Na internet: www.myspace.com/paulolliveira

das grandes lojas de música locais há um espaço especial para a música brasileira, com revistas especializadas editadas por lá. O saxofonista até se arrisca a dizer que o público japonês consome melhor música que os brasileiros, em termos qualitativos. “Tocamos no Festival de Jazz de Kutchan e, em Yokohama, fizemos uma pequena temporada na casa de shows Motion Blue. Em poucas ocasiões tive a oportunidade de observar tanto carinho e respeito pela música brasileira”, destaca.

Não é novidade que a qualidade da música brasileira é muito respeitada no exterior e que a recepção na Europa e nos Estados Unidos está cada vez melhor. “Tom Jobim falava que a saída para o músico brasileiro era o Galeão”, lembra Paulo. Hoje, o aeroporto ganhou o nome do mestre da música brasileira, uma forma de reconhecer os talentos que fizeram e fazem sucesso aqui e lá fora. Mas Oliveira faz uma ressalva: “Muitos grandes músicos brasileiros são mais reconhecidos no exterior do que no Brasil”. Há 19 anos, Oliveira decidiu sair pelo hoje Aeroporto Tom Jobim em busca de reconhecimento fora do País. Sua primeira atuação em terras estrangeiras foi em 1988, em Montreal, no Canadá. Engana-se quem imaginou que o saxofonista começou em bares ou tocando em casas noturnas de pequeno porte. Ele deu início à carreira internacional em grande estilo, participando do tradicional e respeitado Festival Internacional de Jazz da cidade canadense. Nessa época, era integrante do quarteto do guitarrista Olmir ‘Alemão’ Stocker, que contava

ESTRÉIA-SOLO Oliveira agora se prepara para lançar seu primeiro CD-solo. Trópico de Capricórnio é o nome mais cotado para o álbum, em referência à localização geográfica da cidade de São Paulo. O disco trará oito composições próprias de diferentes épocas de sua vida. São músicas compostas de dez anos para cá e que documentam o processo de implementação do homestudio e da forma de compor utilizando meios eletrônicos. Mas, ao contrário do que possa parecer, houve a preocupação de manter bem presente a linguagem e os ritmos brasileiros. Neste trabalho, ele toca wind-synth, flauta, sax soprano, sax alto, flautim, pife e algumas percussões. Estão com ele nesse álbum músicos como Guelo no pandeiro e na moringa, Edu Contreras nas congas e na percussão, Zezinho Pitoco na zabumba e no triângulo, o grupo Zarabatana e o pianista Beba Zanettini.

HOME STUDIO E WIND-SYNTH

ainda com João da Paraíba na percussão e Zezo Ribeiro no violão. No repertório havia sambas, chorinhos, baiões, ritmos do sul – todos parte do trabalho autoral de Alemão. Com o mesmo grupo foi para Nova York, Los Angeles e voltou a Montreal, onde a receptividade do público foi semelhante à primeira passagem. “Isso me surpreendeu, porque não queria tocar igual a ninguém, mas sim pensando em suingar de um jeito bem brasileiro. E foi ali que percebi o valor da nossa música”, relembra. Mais tarde, com o acordeonista Toninho Ferragutti e com a Orquestra Popular de Câmara, com quem esteve na Europa, os resultados positivos se repetiram. Outra boa parada para a música brasileira tem sido o Japão, uma nação de cultura tão rica e diferente, com um público capaz de reverenciar diversos estilos de músicos do Brasil. Oliveira vivenciou isso de forma muito contundente em 2002, quando esteve no país com a cantora Ana Caram. Tocaram um repertório composto basicamente de bossa nova, gênero que os japoneses adoram. Inclusive na maioria

A idéia de ter um home studio que possibilitasse a gravação de trabalhos musicais com boa qualidade era um sonho antigo de Paulo. Foi pensando nisso que estruturou seu estúdio em casa. O objetivo inicial era produzir trabalhos com suas composições, mas já fez alguns demos, inclusive de seu grupo, o Zarabatana. Também produziu material didático e utiliza as gravações para documentar o avanço de seus alunos. “O estúdio é um campo constante de estudo, não só dos aspectos tecnológicos envolvidos, mas também da interação desta linguagem com o ‘criar’ artístico”. Mas o saxofonista vai além do estúdio no que diz respeito às questões tecnológicas. Desde 1989, vem fazendo experiências e utilizando com freqüência o controlador midi por sopro, o wind-synth. É um instrumento eletrônico de sopro que possui um sistema de chaves semelhante ao dos saxofones e que quando é ligado a módulos de som, possibilita o acesso a uma enorme paleta de sons sintetizados ou sampleados, além de uma extensão impensável para os saxofonistas (sete oitavas) e até a execução de intervalos harmônicos. Ao longo de 11 anos trabalhando com esse instrumento, Oliveira já o utilizou em apresentações ao vivo, no estúdio, e até mesmo como ferramenta para edição de partituras por computador. “Posso assumir funções diferentes numa banda e no estúdio acesso com facilidade o sequencer e o editor de partituras, tocando em tempo real o que quero ver escrito. O wind-synth é uma ferramenta de criação muito importante para mim.” l SAX & METAIS JULHO / 2007

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Rodrigo Bento

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CINCO MINUTOS COM

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RODRIGO BENTO

Balanço pop no sax

CINCO MINUTOS COM: RODRIGO BENTO POR REGINA VALENTE FOTOS: DIVULGAÇÃO

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le se consolidou como saxofonista versátil acompanhando por dez anos o grupo de pop mineiro Jota Quest. Sua vida musical começou na adolescência, aos 14 anos, quando ainda morava em Salvador, sua cidade natal. Apaixonado por música, Bento decidiu se tornar músico profissional e partiu em busca de uma formação acadêmica consistente, formando-se bacharel em saxofone pela Universidade Federal de Minas Gerais. “Mas antes, em Salvador, fiz muita coisa com música baiana, com o Araketu, no disco Bom Demais, que me marcou bastante, porque o álbum vendeu Por dez anos, ele muito. Não gravamos com metais, e sim com um quarteto de saxofones: Augusto Gomes no acompanhou a soprano, eu no tenor, Teco Sartorelo no baríbanda Jota Quest. tono, e o Raimundo Bents, o saxofonista do Araketu, no sax alto”, explica. Hoje, trilha seu O trabalho de inserir o sopro na axé mucaminho de forma sic rendeu muitos trabalhos para o músico. “A música baiana tem grandes arranjadores de independente, com sopro hoje. Tanto com a Ivete Sangalo quanto grande sucesso com a Daniela Mercury, principais expoentes, é fácil perceber que há excelentes arranjos”, comenta. Já em Belo Horizonte, conheceu os integrantes do Jota Quest e viu sua carreira deslanchar. > Sax & Metais – Você se considera um músico “Aprendi muito e, com isso, você se disciplina. Instruautodidata? mento de sopro não tem como deixar de pegar, estudar”, Em termos, sim. Meu irmão mais novo, Daniel Bento, que relembra. A parceria com o grupo mineiro terminou em também é saxofonista e toca na banda Cheiro de Amor, com2005, após uma mudança da própria banda – que deixou prou métodos que eu acabei usando também. O primeiro de lado o naipe de metais no mais recente disco. Hoje foi o do Amadeu Russo. Essa forma de aprender dá muito ele se dedica a trabalhos com bandas de black music e trabalho, porque é tudo na base da observação, onde coloca pop, além do seu próprio naipe de metais, o Magic Horns o dedo, que chave aperta. Pensei que mesmo sem professor (veja box na próxima página). eu queria aprender de uma forma correta, não achava que tocar 100% de ouvido fosse uma coisa ideal, mas sim 50% INFLUÊNCIAS de técnica e teoria e 50% de musicalidade. Na verdade, eu queria tocar piano, mas vendo o sax em casa comecei a pegar • Raul Mascarenhas – “Conheci-o rapidamente aqui e tirar um som, de maneira empírica, sem técnica nenhuma, em Salvador, um mestre do saxofone”. só olhando o método. Eu e meu irmão começamos a tocar • Leo Gandelman – “Admiro o seu trabalho e escutona mesma época. Ele fez muita coisa em Salvador mais volo sempre”. tada para o lado do axé, e eu na música erudita. Um ano depois, entrei para a Banda Sinfônica da Universidade. Era • Marcelo Martins – “Tem um timbre fantástico e imum grupo semiprofissional, porque a maioria dos músicos provisa muito bem”. fazia parte da Orquestra Sinfônica. Nesse grupo eram raros • Vitor Assis Brasil – “Um marco, influenciou muita os músicos que não viviam de música. Cheguei achando que gente. Tem um disco dele ao vivo no Rio de Janeiro, sabia ler tudo de primeira, mas não sabia. Estudava os métoPro Zeca, que toquei com o Lula Nascimento, baterisdos de divisão e cheguei a fazer uns bem difíceis, porém não ta de Salvador”. havia tido contato, por exemplo, com compasso composto, 5/8, 7/8, essas coisas menos comuns. Foi na Banda Sinfôni• Oberdan Magalhães, da banda Black Rio – ca que eu aprendi mesmo, lá foi a minha escola. “Um grande músico, que respeito muito”.

CINCO MINUTOS COM

FIM

RODRIGO BENTO

> Quantos anos você tinha? Comecei por volta dos 14, e com 15 para 16 eu já tocava. > Por que você foi para Belo Horizonte? Assim que saí de Salvador, prestei vestibular para bacharelado em saxofone na Universidade Federal de Minas Gerais. Na época, só havia esse curso e outro em Brasília. O da UFMG era conduzido por um professor de técnica que até hoje está lá, o Dílson Florêncio, para mim, um músico no mesmo nível dos grandes nomes da música clássica mundial. > Como conheceu o pessoal do Jota Quest? Assim que cheguei a Minas, comecei a tocar muito na noite. Aliás, noite em BH é impressionante. Era a época em que o Skank estava começando, tinha realmente muito trabalho. Eu tocava com muitos artistas locais, fazia covers. Fiz também algumas peças eruditas como O Americano em Paris¸ Rhapsody In Blues, do G. Gershwin, com a Orquestra do Estado e também gravava muito. Aos poucos comecei a dar aulas. Fui para uma famosa escola americana chamada Pró Music e neste ano em que fui para lá, eles queriam fazer um festival. Queriam mostrar para o público o trabalho que era feito lá dentro. Escolheram um lugar emblemático de Belo Horizonte chamado Bar Nacional, muito famoso na época. O Rogério Flausino, do Jota Quest, foi tocar uma música com a gente, chamada Fé Cega, Faca Amolada. Passados alguns dias, o guitarrista Marco Túlio me ligou, falou que tinha me visto tocar no festival e me perguntou se eu tinha interesse em tocar com eles. Eles nem eram conhecidos ainda, fui ao show, gostei. Na semana seguinte comecei a tocar na banda. Seis meses depois eles assinaram com a Sony Music, foi muito rápido. > Como era a sua participação? Nos primeiros discos, nós do naipe não gravá-

vamos. Isso por causa das execuções ao vivo, de covers. Quando precisava de algum arranjo, eu chegava com alguma coisa, o trompetista era o Paulinho (Paulo Márcio, hoje do Skank), que também escrevia. Ele acabou saindo e eu comecei a escrever mais por necessidade mesmo. Com isso, ganhamos espaço. Com o tempo, a porcentagem do naipe de fora que participava foi diminuindo. O disco Oxigênio (o penúltimo da banda) foi o divisor de águas: gravamos metade com o naipe do Ed Motta, que era o Jessé Sadoc, o Lelê, o Audivas e o Vitor Santos, e a outra metade era o Serginho do Trombone, o Bidinho e o Zé Carlos. A partir daí, era só o naipe do Jota Quest que gravava e escrevia os arranjos. > Que trabalhos tem feito atualmente? Toquei com a banda Black Rio durante uma temporada no Bleecker St., e com outros grupos também e comecei a explorar mais o meu lado de arranjador. Na Black Rio eu não fiz nada, os arranjos já estavam prontos, eram do Willian Magalhães. Mas, por influência disso, comecei

SOPRO MÁGICO Rodrigo Bento montou um naipe de sopros, junto do ex-companheiro de Jota Quest, o trompetista cubano Jorge Seruto. “Temos gravado muita coisa na área da música gospel, apesar de não sermos evangélicos”, conta. O nome surgiu inspirado no que acontece nos Estados Unidos, em que os músicos batizam o conjunto de sopros, a exemplo do naipe de Phil Collins, o Phenix Horns. “É uma maneira de identificar um naipe que faz sempre trabalhos juntos”, explica o saxofonista, que colocou o nome Magic Horns no seu naipe por causa da tecnologia. “Somos em dois músicos, mas na hora em que utilizamos recursos de computador, tudo dobra e parecemos muitos, como uma mágica”, diz.

a escrever mais. Utilizando a facilidade da tecnologia, aprendi que não é necessário ter um naipe grande para fazer um ‘som grande’, basta ter um bom arranjo e uma boa execução. A partir disso dá para fazer dobras sucessivas e em cima des-

O saxofonista vem desenvolvendo um trabalho que mescla tecnologia com metais em seu naipe Magic Horns

SETUP DE RODRIGO BENTO Instrumentos • Saxofone soprano Weril Spectra II, boquilha Jaf (do sr. Andrade, luthier de Belo Horizonte) e palheta Vandoren 2 • Saxofone alto Weril Spectra II, boquilha B&N de massa e palhetas Vandoren Java 2½ • Saxofone tenor Weril Supremo, boquilhas Dave Guardala-Brecker e Gary Sugal e palhetas Fibracell Medium Sof • Saxofone barítono Weril Spectra II, boquilha B&N 7 e palhetas Fibracell Medium Soft Microfones • Shure SM58 • Sennheiser 421 para performances ao vivo

sas dobras montar um naipe como se fosse bem grande. Quem escuta e não sabe que foi gravado por duas pessoas, imagina que tinha um monte de gente. Está aí a tecnologia a serviço da boa música, não é simplesmente utilizá-la para mascarar um defeito. Outra coisa interessante é que esses programas não têm limitações de canais, então, se precisarmos usar 15 canais para sopro, o programa vai abrindo e inserindo esses canais, vai duplicando. É algo fantástico. l

NA INTERNET Contato: [email protected] SAX & METAIS JULHO / 2007

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O

que dizer de um músico que, até 2007, já vendeu mais de 90 mil cópias de seu terceiro disco-solo? Estamos falando de Solar, de 1990, que rendeu a Leo Gandelman cinco indicações para o Prêmio Sharp, marca histórica em se tratando de música instrumental. Mas, para chegar aonde chegou, o saxofonista trilhou um longo caminho. Saxofonista, compositor, arranjador e produtor, iniciou os estudos como a maioria dos músicos, ainda criança, e tudo começou dentro de casa.

A

mãe, Saloméa Gandelman, pianista, diretora e fundadora da Pró Arte, escola de música no Rio de Janeiro, foi a primeira professora. Aos 5 anos de idade, Leo começou a tocar piano e flauta doce. Seu pai, maestro e produtor, também exerceu forte influência, quando mais tarde o saxofonista enveredou para o mundo da produção musical. Mas acredite: este músico que hoje soma 30 anos de estrada – 20 de carreira-solo – não tinha em mente seguir profissionalmente na música. Apesar de ter começado bem cedo e de ter freqüentado as aulas na Pró Arte, Gandel-

man não via um futuro na música erudita. Por volta dos 12 anos, montou um conjunto instrumental na escola, batizado de Pró Arte Antiqua, que se apresentava semanalmente. Tocava flauta doce, viola da gamba e krumhorn (instrumentos antigos, de época). “Desenvolvi-me muito bem na flauta doce, chegando a ser solista da Orquestra Sinfônica Brasileira, na ocasião dos Concertos para a Juventude, quando fui convidado pelo maestro Isaac Karabtchevsky para tocar o Concerto de Brandenburgo, de J. S. Bach”, ele relembra. Passado o entusiasmo de adolescente com a música, decidiu seguir profissionalmente como fotógrafo, e até fez alguns trabalhos importantes nessa área. Mas, quando foi ‘apresentado’ ao saxofone por um amigo, o lado

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LEO GANDELMAN

Artista da criação

TESTE CAPA ESTÚDIO TECNOLOGIA

LEO GANDELMAN – ARTISTA DA CRIAÇÃO

“A idéia de criar o meu estilo me cativou. Fico muito recompensado quando viajo pelo Brasil e vejo uma nova geração que se espelha no meu trabalho, que estudou minhas músicas.”

REVIEW LIVE!

musical falou mais alto. Conheceu o jazz e suas artimanhas, foi estudar na Berklee College of Music e, quando voltou, definitivamente iniciou sua carreira. Sua primeira idéia era trabalhar como músico de estúdio, e foi assim que permaneceu por dez anos, período em que participou de mais de 800 gravações com a maioria dos grandes músicos e cantores brasileiros – Milton Nascimento, Toninho Horta, Ricardo Silveira, Djavan, Rita Lee, Lulu Santos, Guilherme Arantes. Em 1987, gravou seu primeiro disco-solo, Leo Gandelman, e fez grande sucesso com a música A Ilha. Mostrando a que veio como solista, o sucesso foi se fazendo à medida que novos trabalhos eram lançados. Hoje já são dez discos-solo. A carreira de produtor também seguiu de vento em popa, e o saxofonista ganhou diversos prêmios nessa área: disco de ouro com o CD Virgem, de Marina Lima, Prêmio APCA de melhor produtor do ano de 1991, além de assinar as produções de Plural, de Gal Costa, e de Berimbau, de Paula Morelembaum. > Sax & Metais – Você começou como flautista no Grupo Pró Antiqua e da Orquestra Sinfônica Brasileira. Como foi essa época? Era bem bacana, eu fazia música barroca com minhas irmãs e colegas da Pró Arte e nos apresentávamos semanalmente no Rio. Também faziam parte do conjunto Jacques Morelembaum, Helder Parente e Marcelo Madeira, entre outros. A música barroca me ensinou a prática de tocar em grupo e sempre variando de instrumentos, já que eu tocava flauta doce, violas da gamba e krumhorn (tipo de instrumento de sopro da era medieval). Desenvolvime muito bem na flauta doce, chegando a ser solista da OSB. Já a flauta transversal veio bem mais tarde. Hoje ainda toco flauta, tenho todas elas, mas não me considero um flautista. Toco mais em estúdios para gravações, às vezes faço um solo, até desenvolvo algumas coisas nesse instrumento, mas não é o trabalho principal. > Mas você quase não seguiu na carreira de música e foi ser fotógrafo. A idéia não era ser músico profissional, eu não via um futuro para mim na música clássica. Por volta dos 15, 16 anos, parei com a música justamente por isso. Passei a gostar muito de fotografia e comecei a trabalhar. Fui still do

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SAX & METAIS JULHO / 2007

filme Dona Flor e seus Dois Maridos, atuei na revista Manchete, fiz vários trabalhos profissionais. A fotografia foi muito importante por ter sido meu primeiro contato com o mundo profissional. Também aprendi sobre a questão da criação, do ‘papel em branco’. Como estudei muito esse aspecto, do desenvolver idéias próprias por meio da fotografia, quando conheci o saxofone, a arte da criação no jazz foi o que me encantou. > Como se interessou pelo sax? Certo dia um amigo apareceu com um sax, e só de experimentar o instrumento foi o suficiente para perceber as possibilidades que teria

pela frente. Foi amor à primeira vista! Como influências poderia citar Paulo Moura, Nivaldo Ornelas, Oberdan Magalhães, David Sanborn e mais tarde John Coltrane. > Foi aí que você conheceu o jazz? Quando comecei a tocar sax e descobri o jazz, o improviso, isso me fez retornar à música. A idéia de criar o meu estilo e o meu som foi o que mais me cativou no saxofone. Hoje posso observar que consegui isso. Fico muito recompensado quando viajo pelo Brasil e encontro toda uma nova geração que se espelha no meu trabalho, que estudou minhas músicas, transcreveu meus solos. Acho que eu

CAPA

LEO GANDELMAN

estava no lugar certo na hora certa. Já encontrei muita gente que se considera influenciada pelo meu trabalho e isso é uma grande recompensa para mim. > Como foi sua trajetória até a gravação do primeiro disco-solo em 1987, Leo Gandelman? Em 1977 fui estudar sax, arranjo e composição na Berklee College of Music, em Boston. Retornei ao Brasil em 1979, quando iniciei minha carreira profissional. Como a maioria dos músicos, comecei em bailes na noite e depois acompanhando diversos artistas em gravações e ao vivo. Tive a chance de trabalhar com estilos musicais variados e observar o funcionamento do meio. Trabalhei em naipe de sopros com Serginho Trombone, Márcio Montarroyos, Zé Carlos Bigorna, Bidinho e Oberdan. Mais tarde trabalhei também como solista, depois arranjador e produtor. Como produtor, fiz o disco Plural, da Gal Costa, Virgem, de Marina Lima, Jogo de ilusões, de Nico Rezende, além de todos os meus discos.

> Qual é a sua visão do saxofone na música erudita? O sax é um instrumento moderno dentro da música erudita, e o repertório que existe não é muito extenso, principalmente o repertório com orquestra. É um instrumento solista por excelência e os concertos que existem para ele são lindíssimos. Eu não tenho condições de manter embaixo do dedo todo o repertório que existe. Aos poucos vou desenvolvendo concertos e incorporando-os ao meu repertório. Hoje tenho a Fantasia para Saxofone e Orquestra, do Villa-Lobos, a Rapsódia para Orquestra e Sax Alto, de Claude Debussy, o Concertino para Sax Alto e Orquestra, do Radamés Gnattali – que, aliás, foi gravado com a Orquestra da Petrobras, sob regência de Isaac Karabtchevsky e lançado

esse ano pelo selo Rádio MEC. Saiu em CD comercialmente em homenagem ao centenário do Radamés e fizeram um DVD também. Esse disco é composto por quatro concertos realizados no Teatro Municipal do Rio de Janeiro: tem a Sinfonia Popular, o Concertino para Sax Alto e Orquestra de Câmara, que eu gravei como solista, o Concerto para Violino e Orquestra, gravado pela Antonella Pareschi, e o Concerto para Orquestra de Cordas. > A partir desses trabalhos surgiu a idéia de gravar Radamés e o Sax, seu mais recente CD? O projeto surgiu por ocasião da comemoração do centenário do nosso grande maestro Radamés Gnattali. O Henrique Cazes, diretor musical do projeto, me apresentou uma série de

> Solar foi o seu terceiro disco e obteve muito sucesso, rendeu prêmios e o projetou nos Estados Unidos, onde fez várias temporadas. Como foi essa repercussão? Esse disco foi, sem dúvida, o meu trabalho de maior sucesso comercial e me ajudou a abrir portas. Foi muito executado pelas rádios americanas e mais tarde, em 1995, assinei contrato com a gravadora americana Verve e fui morar por um período nos Estados Unidos. Fiquei por lá quase sete anos, mas sempre vindo ao Brasil para cumprir a minha agenda. Toquei em vários clubes e festivais de jazz, de costa a costa, com direito a seis temporadas no Blue Note, de Nova York, onde tive a chance de dividir o palco por dois anos consecutivos com o grande violonista Baden Powell! > Depois de todo o sucesso com música popular, a partir de 2001 você fez trabalhos na música erudita com a Orquestra Sinfônica Brasileira no Lincoln Center e no Central Park, depois com a Orquestra Sinfônica de Brasília e da Bahia. Como foi esse retorno à música erudita? Têm sido belos momentos de encontro com a grande música, em que tenho o privilégio de entrar em contato e interpretar obras maravilhosas de grandes mestres. Um verdadeiro enriquecimento e crescimento musical no sentido técnico e interpretativo, em que cada vez me sinto mais seguro.

SETUP Instrumentos • Saxofones Selmer Mark VI (todos) Acessórios • Sax alto: boquilha B&N, palheta Vandoren Jumbo Java #3 • Sax tenor: boquilha Otto Link Metal #6, palheta Vandoren Jumbo Java #3 • Sax soprano: boquilha Bar i#68, palheta La Voz Medium Shows • Microfone Shure Beta 58 • Efeito TC Electronics • M_One SAX & METAIS JULHO / 2007

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idéias e a partir daí fomos chegando às conclusões. Os arranjos são todos praticamente originais, com pequenas adaptações — o Radamés já dizia tudo! Foi um trabalho muito feliz. Ganhamos o Prêmio Tim 2007 de Melhor Disco Instrumental e foi gravado no meu estúdio. É um disco dividido em três momentos: sax alto, sax tenor e naipes. Fizemos um levantamento das obras mais marcantes do Radamés escritas para sax. No disco gravamos pela primeira vez a Brasiliana #7 com quinteto, porque até hoje só existiam duas gravações feitas em duo de sax e piano. Essa peça é muito importante para qualquer saxofonista, é muito bem escrita, além de ser um estudo espetacular para sax tenor.

REVIEW LIVE!

> Além de todos os seus trabalhos, você ainda tem um estúdio? Tenho um estúdio muito legal no Rio, o Zaga Music. É um estúdio comercial, com cinco salas. No site www.zagamusic.com.br dá para fazer um tour virtual bem completo, com a descrição dos equipamentos. Tem um piano Yamaha C2, de cauda, três baterias, vários instrumentos. É mais voltado para a música acústica. As salas são interligadas e a idéia é fazer gravações ao vivo. Há poucos estúdios assim. As pessoas estão cada vez mais limitadas a essa coisa de computador, eu vou no sentido contrário. Acredito que o ‘ao vivo’ é o presente e o futuro da música, o trabalho fica pronto mais rápido, e isso ajuda muito, já que os orçamentos não são elevados. Então, quanto mais rápido um disco for gravado, melhor. > O que o levou a trabalhar com produção musical? Isso foi algo natural. Comecei tocando em naipes de sopro, depois fui me destacando como solista, depois como arranjador para sopros e finalmente entrei para a produção. Meu pai era produtor de discos, tinha uma orquestra, a Serenata Tropical, gravou também um disco chamado Saxambistas Brasileiros, era um conjunto de sax. Desde pequeno convivo muito com essa questão da produção. Quando comecei a tocar, em 1987, o que eu queria era ser músico de estúdio. Meus primeiros dez anos de carreira foram voltados a isso. Fazia shows ao vivo também, mas não era a principal atividade, o foco era o estúdio. Tenho participações em mais de 800 CDs, parei até de fazer contas. > Você ainda tem uma rotina de estudo? Infelizmente não, porque viajo muito e não tenho muita regra em minha vida. Vou estudando de acordo com a necessidade, com os compro-

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missos, concertos, projetos, shows. Então, ora estou estudando um concerto, ora jazz. Procuro me desenvolver o máximo possível. Também estou estudando harmonia, tendo aulas particulares com o Vittor Santos para melhorar esse aspecto, que é fundamental para quem quer conhecer a música por inteiro. Não tenho uma agenda muito metódica, não sou muito disciplinado, mas procuro estar sempre estudando e me desenvolvendo. No momento estou me fixando mais na questão harmônica para poder ampliar meu espectro de possibilidades. > Em se tratando de estilo, como é o seu processo de trabalho como compositor e como arranjador? Não existe uma regra. Em composição, podese começar por meio de uma levada rítmica, uma idéia harmônica ou uma melodia. A composição é trabalho, exercício. Como disse Stravinsky, 90% transpiração e 10% inspiração! > Você também trabalha com aulas e workshops? Faço workshops sempre que possível, é uma coisa de que gosto muito. Poder entrar em contato com os alunos, falar das minhas experiências e da carreira. Também penso em dar aulas, estou me organizando para isso. Quero desenvolver meu próprio método, mas isso é uma coisa que ainda estou internalizando. Além do domínio técnico do saxofone e da flauta, Gandelman é reconhecido pelo trabalho como produtor e compositor

DISCOGRAFIA Leo Gandelman (Polygram, 1987) Ocidente-Western World (Polygram, 1989) Solar (Polygram, 1990) Visões (Polygram, 1991) Made in Rio (Polygram, 1993) Pérolas Negras (1997) Brazilian Soul (Dubas/Universal, 1999) Leo Gandelman Ao Vivo – CD e DVD (EMI, 2002/2003) Lounjazz (Saxsamba, 2005) Radamés e o Sax (2006)

> No momento está trabalhando em algum novo projeto? Tenho feito concertos clássicos divulgando Radamés e o Sax. Com o meu trio, shows do repertório do CD Lounjazz, meu primeiro independente. Estou fazendo também a trilha incidental da novela Vidas Opostas, trilhas para o programa Globo Ciência e produzindo algumas faixas para o disco Berimbaum, da cantora Paula Morelembaum. > Apesar do caos cultural que vivemos no País, como você avalia o espaço para a música instrumental brasileira? Acho que o público não agüenta mais a mesmice e precisa de variedade. O Brasil é um país continental de cultura pluralista. Existe lugar para tudo e a prova disso são os festivais que estão acontecendo até durante o Carnaval, como o Goyaz Jazz Festival, em Goiânia, do qual participei este ano, e o Guaramiranga Jazz&Blues, em Fortaleza. Nem todos querem a mesma coisa. Sou a favor da democratização e da segmentação do espaço cultural, bem como da valorização da produção local.

O poder das madeiras

nas orquestras POR DEISE JULIANA DE OLIVEIRA, DE TATUÍ FOTOS: KAZUO WATANABE

ENCONTRO DE MADEIRAS DE TATUÍ

Evento inédito atraiu pela qualidade de palestras e concertos e contou com a participação de artistas internacionais, como o flautista italiano Raffaele Trevisani

A

flauta, o oboé, o clarinete e o fagote foram as estrelas da primeira edição do Encontro Internacional de Madeiras de Orquestra, realizado entre os dias 21 e 24 de junho. O evento atraiu nomes reconhecidos no mundo todo e agradou aos mais de 270 participantes do evento. Eles vieram dos mais diferentes pontos do país para acompanhar aulas, recitais e concertos com um único objetivo: aprimorar seus conhecimentos no instrumento. O I Encontro Internacional de Madeiras de Orquestra reuniu artistas de alto nível e com grande experiência pedagógica. Segundo os coordenadores Juliano de Arru-

Rafaelle Trevisani, da Orquestra Sinfônica Paulista

da Campos, Lúcius Mota e Max Ferreira, foi uma “oportunidade única para aprimorar conhecimentos, trocar experiências, participar de masterclasses, palestras, concertos e recitais”.

MERCADO DE TRABALHO

Cristiano Alves, da Orquestra Sinfônica Paulista

O foco do encontro foi a formação do instrumentista de madeira e sua preparação para o mercado de trabalho. Músicos profissionais e amadores e estudantes de todos os níveis estiveram presentes. Integrantes de bandas, orquestras, cameristas e solistas tiveram espaço para desenvolver seus talentos. Dentro das salas de aula, a troca de informações foi constante. “Consegui dicas importantíssimas para a minha formação”, disse Julio Almeida, um dos fagotistas participantes do encontro. Além das masterclasses tradicionais, o evento contou com aulas do pouco convencional Leonardo Fuks. O carioca PhD em Física ensinou sobre a fabricação de instrumentos simplificados e mostrou, de forma divertida, como um simples cano de construção pode se transformar num ‘instrumento’. Foi interessante também porque, durante as aulas, ele fez demonstrações. No palco, as atrações superaram qualquer expectativa. O Quinteto Villa-Lobos, reconhecido pela simpatia e qualidade, abriu o show. O Quinteto Madeira de Vento mostrou o melhor da música brasileira e o trio formado por profissionais da Osesp – Peter Apps, Sérgio Burgani e Francisco Formiga – mostrou alta capacidade técnica.

ENCONTRO DE MADEIRAS DE TATUÍ

FIM

O PODER DAS MADEIRAS NAS ORQUESTRAS

Masterclass Rogério Wolf

A Orquestra de Flautas Brasileira João Dias Carrasqueira, uma das poucas no País a manter-se em ensaio constante, recebeu como convidado o grupo de choro Quebrando Galho, em um encontro especial regido por Fernando Penha. O encerramento do evento foi primoroso, contando com a presença de Raffaele Trevisani, Alexandre Ficarelli e Cristiano Alves à frente da Orquestra Sinfônica Paulista. Foi uma oportunidade única de rever o talento reconhecido mundialmente do italiano Raffaele Trevisani e de surpreenderse com o verdadeiro show do jovem Cristiano Alves e seu clarinete.

TALENTO ITALIANO Para os artistas, o encontro foi importante pela variedade de profissionais e amadores da música que estiveram presentes. “Fiquei fascinado. Tenho alunos de 8 anos de idade até profissionais que tocam há bastante tempo. Fico impressionado com o interesse”, disse Phillip Doyle, integrante do Quinteto Villa-Lobos. Uma das principais atrações, o italiano Raffaele Trevisani, ressaltou o estilo peculiar dos brasileiros como ‘fundamental’ para o sucesso do evento. “Um encontro como este só tem a acrescentar, tanto aos alunos quanto aos professores”, comentou o flautista. Para Max Ferreira, um dos coordenadores, o encontro de instrumentos originalmente construídos de madeira e com menor projeção sonora dentro de um grupo orquestral é rico pelos timbres diversificados. “Eles exploram repertório de diversas épocas e são instrumentos com menor poder Orquestra de Flautas Brasileira e convidados

Toninho Carrasqueira, da Orquestra de Flautas Brasileira

de som dentro da orquestra, mas que apresentam bastante versatilidade e repertório. No encontro, trouxemos peças modernas e os alunos extraíram informações positivas e úteis”, afirmou o músico que, durante o encontro, lançou o Guia do Clarinetista. Segundo o flautista Juliano de Arruda Campos, que também coordenou o evento, a constância de encontros como este é um marco importante para o Conservatório de Tatuí. “Acho que este novo conceito de realizar encontros junto com outros instrumentos é sempre proveitoso. Quando se faz apenas de um único, excluem-se outras oportunidades de relacionamento. Este primeiro encontro foi muito importante para a união dos instrumentos de orquestra”, concluiu. l SAX & METAIS JULHO / 2007

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16 A

Por Débora de Aquino

exercícios para

entender

o blues

palavra blue, em inglês, significa tristeza e lamento. Tem, realmente, tudo a ver com a origem desse estilo musical, que

surgiu por volta de 1600, quando os primeiros navios negreiros norte-americanos saíram para trazer mão-de-obra escrava da África para os Estados Unidos. Ao chegar à costa americana, os escravos foram trabalhar nas lavouras de algodão, milho e tabaco, enquanto outros se dirigiram para a região do delta do Mississippi. A saudade que eles sentiam de sua terra natal, aliada à forte cultura folclórica africana, deu origem aos chamados cantos de trabalho ou worksongs, em inglês. Nada mais eram do que versos de lamento, vocais entoados por uma voz e respondidos em coro pelas demais. Passado um século dessa primeira manifestação, e com certa assimilação e influência da cultura branca, começa a surgir o blues

mais próximo da forma que conhecemos hoje. No início, era uma música essencialmente vocal, que falava justamente das tristezas de um povo, seguindo a própria tradução da palavra. Depois, os instrumentos pouco a pouco foram incorporados: primeiro, o banjo, que acompanhava a voz, e instrumentos de percussão, como o djembe. O banjo foi então substituído pela guitarra e por instrumentos capazes de reproduzir as características da voz humana, caso da harmônica (gaita) e da própria guitarra ‘chorada’, que utiliza recursos que se aproximam do som de um gemido humano.

PARTE 1 FÓRMULA BÁSICA DE BLUES Para expressar suas emoções por meio das letras das músicas, os escravos utilizavam versos muito simples que lhes permitiam improvisar enquanto faziam as melodias. Assim, o blues foi assumindo uma forma de 12 compassos, divididos em três versos de quatro compassos cada um. Como esse padrão se originou de maneira nada formal, por pessoas que

não tinham qualquer noção de teoria musical, ela encontrou, em si, uma estrutura harmônica baseada em progressões de acordes sempre fixas, e bem conhecidas dos bluseiros, que são capazes de tocá-la de maneira quase automática. Em sua forma original, a fórmula de blues possui somente três acordes, o I, o IV e o V graus de uma tonalidade. A progressão básica é:

Com base nessa progressão de acordes, o blues pode ser tocado em qualquer tonalidade, mas algumas tornaram-se

mais tradicionais e, em uma jam session, fatalmente alguém irá sugerir um blues em Fá.

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SAX & METAIS JULHO / 2007

Fórmula básica de blues em Fá maior:

A esses acordes da fórmula básica, acrescentamos a sétima menor, transformando todos eles em acordes dominantes, em-

bora não estejam funcionando como tal, já que não resolvem em um acorde de tônica. Então, a fórmula básica passa a ser:

Em Fá maior:

PARTE 2 VARIAÇÕES HARMÔNICAS A PARTIR DA FÓRMULA BÁSICA Com o passar do tempo, os músicos de jazz se apropriaram do blues e passaram a modificar sua estrutura básica, sofisticando a harmonia. Essa mudança na estrutura, por vezes,

é conhecida como jazz blues para ser diferenciado do blues tradicional praticado pelos bluseiros. A seguir, a estrutura harmônica de um jazz blues:

Em Fá maior:

Podemos criar uma série de novas estruturas a partir da fórmula básica. Essas progressões aceitam muitas substituições de acordes; a primeira variante citada acima é a mais comum, e serve para uma série de

standards. Se fizermos uma análise harmônica, iremos descobrir que essas alterações nada mais são que as mesmas progressões com o uso de extensões de cadências e acordes substitutos.

PARTE 3 ESCALA DE BLUES Depois da escala maior (jônica), as escalas de blues são as mais indicadas para a iniciação à improvisação. A grande sacada dessa escala é que ela pode ser tocada sobre os 12 compassos da estrutura do blues, sem ter de evitar nenhuma nota. Poder ‘ignorar’ a harmonia é uma das facilidades que essa escala oferece, sem que nos preocupe-

mos com cada mudança de acorde. Para construir a escala de blues, vamos nos basear em uma escala maior natural e respeitar a seguinte seqüência de notas: primeiro grau, terceiro grau menor, quarto grau, quarto grau aumentado, quinto grau e sétimo grau menor, portanto: I, IIIb, IV, IV#, V e VIIb.

A partir dessa escala, é possível criar muitas linhas melódicas, e o mais interessante é que essas melodias soarão muito bem dentro da estrutura do blues. Uma das características melódicas mais atraentes desse estilo musical é o fato de podermos tocar a terça menor e a quarta aumentada sobre os acordes maiores da progressão. Isso gera um ‘choque’ melódico que caracteriza o blues: essas notas (3ª menor e 4ª aumentada) são as chamadas blue notes. Se você já está acostumado a ouvir blues, ou se tem alguma noção de sua

sonoridade, toque essa escala para sentir como, por si só, apenas melodicamente, ela já tem uma forte característica, um jeito de blues. Aqui, vale a pena falar sobre a escala pentatônica. Ela pode ser maior ou menor e possui, como o próprio nome diz, apenas cinco notas. A pentatônica maior é derivada da escala maior natural, e os graus IV e VII são eliminados. A menor, a que mais nos interessa em se tratando de blues, é derivada da escala menor natural, eliminando-se os graus II e VI.

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16 exercícios para entender o blues

BLUES

A escala de blues é muito parecida com ela. Observe que é uma escala pentatônica menor com o quarto grau aumentado

(IV#) acrescentado. Assim, também podemos usar as escalas pentatônicas menores em nossos improvisos em blues.

TESTE TÉCNICA ESTÚDIO TECNOLOGIA REVIEW

DÉBORA DE AQUINO - 16 EXERCÍCIOS PARA ENTENDER O BLUES

Por isso, a escala de blues também é conhecida por pentablues.

PARTE 4 COMEÇANDO A IMPROVISAR Dó (sem transposição), instrumentos transpositores em Bb e Eb, e ainda instrumentos em clave de Fá. Exercícios: 1 Com o playback base, na tonalidade de Fá maior, toque apenas os primeiros graus (I) dos acordes. 2 Quando entender a evolução dos acordes, passe a tocar as tríades.

Seja honesto consigo mesmo nessa fase inicial de estudos, e tenha consciência de passar para a próxima etapa quando a sonoridade das progressões estiver bem aprendida. Então, é hora de começar a trabalhar com a escala de blues. Comece a tocar somente a escala, nota a nota, em cima do playback base. 1 Sinta a sonoridade dessa escala. 2 Ouça como ela soa bem em toda a extensão dos 12 compassos. 3 Experimente também tocar a escala pentatônica menor descrita acima para sentir a diferença entre elas.

1 Utilize repetição de notas brincando com o aspecto rítmico. 2 Pense em frases com poucas notas, de preferência usando mínimas e semínimas. 3 Aos poucos, tente fazer frases com colcheias e tercinas. 4 Use repetição de padrões rítmicos utilizando a escala nos sentidos ascendente e descendente. 5 Não saia tocando qualquer coisa. Pense na métrica e procure fazer frases de dois ou quatro compassos; dessa forma, suas idéias terão começo e fim. Todos os exemplos a seguir estão na tonalidade de Fá maior. Escolha alguns para transportar e praticar em outras tonalidades. Com a prática, você conseguirá criar os seus próprios padrões. Tente escrevê-los, é um ótimo exercício, depois transporte-os para outras tonalidades.

LIVE!

Para começar a sentir o blues, é importante ter no ouvido a sonoridade de suas progressões. Para isso, sugiro que você comece tocando apenas as tônicas dos acordes, depois as tríades. É muito interessante que esses exercícios sejam praticados tendo um playback como base. Como material de apoio, indico o Volume 42 – Blues, da coleção Jamey Aebersold, que vem com CD e pode ser utilizado para instrumentos em

Exercícios: A seguir, alguns exemplos de licks (patterns, frases) de blues e algumas dicas para que você crie os seus próprios.

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SAX & METAIS JULHO / 2007

BLUES

DÉBORA DE AQUINO

FIM

6 Tente montar todas as escalas de blues. Para isso, observe a configuração que foi dada no começo desta matéria. Depois, confira com as 12 escalas a seguir.

RESUMO 1 O blues possui uma estrutura métrica invariável de 12 compassos. 2 As progressões harmônicas também não variam, utilizando os acordes I7, IV7 e V7. No jazz blues podemos fazer substituições e extensões de cadências, mas tendo como base a estrutura-padrão.

3 Uma mesma escala pode ser tocada ao longo dos 12 compassos da progressão. Essa escala possui a terça menor e a quarta aumentada (blue notes), tocadas em acordes maiores, o que dá a sonoridade característica do blues.

CONCLUSÃO A facilidade de se utilizar a escala de blues é muito grande. Se tentar fazer linhas melódicas baseadas no que leu até aqui, o retorno será positivo, já que quase tudo soará bem. Mas é preciso tomar algum cuidado para não se limitar a essa escala. Voltaremos a falar nesse assunto, e veremos outras possibili-

dades que podem ser usadas no blues para termos uma gama maior de fraseados, assim como outras fórmulas, com harmonias substitutas. Lembre-se de que as escalas são o nosso vocabulário, e que quanto maior ele for, mais interessantes serão nossos improvisos. SAX & METAIS JULHO / 2007

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2 3 4 5

CINCO MINUTOS COM:

1

NENÊ SANTOS POR DÉBORA DE AQUINO FOTOS: DIVULGAÇÃO

NENÊ SANTOS

Sax, R&B e Jazz Fusion

5

CINCO MINUTOS COM

Nenê Santos

Ele passou por alguns instrumentos antes de chegar ao saxofone, e vem construindo uma carreira de sucesso influenciado por muito R&B e Jazz Fusion

N

enê Santos é saxofonista e compositor. Gravou seu primeiro disco em 2004, Dreams, que ele próprio define como forte influência do R&B, jazz fusion e pop. Sua principal referência foi o irmão mais velho, Eliezer, que tocava violão, e foi através desse instrumento que a música começou a fazer parte de sua vida. A primeira vez em que subiu em um palco foi no festival de música de sua escola, acompanhando ao violão um amigo saxofonista. Tocaram Unchained Melody, tema do filme Ghost, e é claro que o centro das atenções foi o colega saxofonista. A partir de então foi surgindo a identificação com o saxofone, desejo que se tornou mais forte no ano de 1997, em um evento evangélico muito conhecido no meio, chamado Marcha para Jesus. Nesta oportunidade, Nenê teve o prazer de ouvir um dos grandes nomes da música evangélica no País, o pastor e músico Esdras Gallo, que mais tarde passou a ser seu grande incentivador musical e espiritual. Nascido em São Paulo, logo mudou-se para Paulínia, no interior do estado, e lá teve oportunidade de estudar mais profundamente. Indicado por um amigo, soube que na cidade havia uma banda que ensinava música de graça, a Banda Municipal de Paulínia. Foi nesse conjunto que Nenê teve as primeiras lições de teoria até conseguir um lugar como instrumentista, mas a trajetória não foi fácil até chegar onde queria. “Levei cerca de cinco meses estudando teoria e solfejando o Bona para poder emprestar um instrumento na banda. Como precisavam de um tubista, o maestro logo me deu

CINCO MINUTOS COM

FIM

NENÊ SANTOS

um sousafone. Mas mal agüentava aquele instrumento enorme...”. Passados dois meses, Nenê conseguiu mudar de instrumento. Foi “promovido” à requinta, um pequeno clarinete em Eb. Por caprichos do destino, a banda acabou e o aspirante a músico teve de continuar seus estudos sozinho, e apesar das muitas barreiras que precisou superar, manteve-se firme em seu propósito. > Sax & Metais - Não havia músicos na família, até seu irmão Eliezer decidir estudar violão. Nenê Santos - No começo me interessei pelo violão, em pouco tempo eu já estava tocando algumas coisas, mas meu irmão estava tocando muito melhor, havia se desenvolvido muito mais do que eu. Mesmo assim continuei querendo aprender, e o interesse geral pela música começou a surgir e dura até hoje. Não me recordo muito bem, mas acredito que nessa época eu tinha entre 13 e 14 anos. > Depois do violão, sousafone e requinta veio o saxofone. Como aconteceu? O desejo de tocar saxofone já existia, quando entrei na Banda Municipal de Paulínia, mas fiquei desanimado, quando me foi dado um sousafone. Dois meses depois, pedi novamente o saxofone, e desta vez recebi uma requinta, achei que já estava me aproximando do saxofone. Tempos depois o homem que me ensinou os primeiros passos na música instrumental, o magnífico maestro João Chagas, faleceu e a banda fechou por um período. > Foi nessa época que você ganhou um saxofone de seus pais? Sim, ganhei um Weril Brasil caindo aos pedaços. Graças ao aprendizado de música e leitura, consegui estudar muito por conta própria. Precisei de algumas adaptações para mudar da requinta para o saxofone, mas foi rápido, acredito que o desejo supera as barreiras... Comprei muitas videoaulas, métodos, CDs, VHS e DVDs. Já gastei muito dinheiro com isso, tenho uma coleção gigantesca, com mais de 3 mil itens. > Você seguiu autodidata desde então? Após dois anos, um novo maestro, muito competente, Dailton Lopez, assumiu a direção da Banda Municipal de Paulínia, então retornei com muitos ‘vícios musicais’. Aprendi muito com esse maestro e também sou muito grato a ele pela paciência e dedicação aos estudos. Um ano e meio depois, o projeto dessa banda

SETUP DE NENÊ SANTOS • Sax Alto Selmer Mark VII de 1973 • Boquilha Beechler Bellite Metal 7 • Palhetas Vandoren 2 ½, Laz Voz Medium ou Rico Jazz 2 ½ • Sax Soprano Yamaha YSS-675 • Boquilha Bari 70 • Palhetas Vandoren 2 ½, Laz Voz Medium ou Rico Jazz 2 ½ • Microfone AKG C-419 s/fio UHF • Módulo de efeitos Alesis Nanoverb

recida à música. Mas amo tocar, isso é o mais importante. O pouco tempo que tenho com o sax eu aproveito ao máximo. > Como foi chegar à gravação do seu primeiro disco, Dreams, de 2004? Com o passar dos anos, senti a necessidade de gravar composições minhas. Conheci uma pessoa fantástica que produziu o meu disco e me ensinou muito sobre música, o Erik Escobar. Foi um trabalho experimental que resultou nesse primeiro disco. Há participações interessantes que enriqueceram o trabalho, além de ajudarem a abrir muitas portas para a divulgação da minha música. > Qual é o estilo do seu trabalho? O CD possui um estilo de R&B, jazz fusion, pop... É uma mistura das minhas referências musicais e dos estilos que estudo e aprecio. Já se passou bastante tempo desde a concepção do disco até hoje. Muita coisa mudou, idéias, técnica, coisas novas. O disco permanece e é muito bem-aceito.

foi abandonado pela prefeitura local, já que a música não era considerada algo importante na cidade. Eu, no fundo, não acreditava que teria um futuro brilhante como músico, por esta razão dividia meus estudos de música com os de química, em uma escola profissionalizante em Paulínia, em período integral. > E dava para conciliar com a música? Graças a Deus, essa outra profissão permitiu que eu trabalhasse e pudesse ganhar dinheiro, assim pude investir meus ‘salários’ na música, comprando instrumentos, CDs, DVDs. Posso garantir que todo o material que tenho eu já ouvi, li e assisti várias vezes, não aprendi nem um terço de tudo que tenho, mas ajudou muito a ter referência e contribuiu para o desenvolvimento do meu estilo de tocar. Com o tempo, as coisas começaram a se complicar porque trabalhando, fazendo faculdade de engenharia e tocando, deixei de dar a atenção me-

> Seu álbum é essencialmente instrumental mas há músicas com vocais, como Awesome God. Por quê? Sempre gostei muito de cantar, minha noiva é uma cantora excepcional. A idéia de utilizar arranjos vocais nas músicas foi dela, inclusive nesta que você citou. Montamos um pequeno coral e gravamos. Sempre que posso coloco isso em prática nas gravações. > Você deve ter muitas composições novas esperando uma oportunidade, não? Sem dúvida. Estou preparando a gravação de mais um disco, que está com uma pitada de música brasileira, mas sem perder minhas influências. É um trabalho que também irá contar com grandes participações. Posso adiantar que está ficando muito legal. Tenho uma banda, e sempre procuramos realizar apresentações ao vivo com a formação completa, que conta comigo, Leandro Pacce na bateria, Ernandes Araújo no baixo, Emerson Nascimento na guitarra e Gileade Philip no piano.l

NA INTERNET www.nenesantos.com SAX & METAIS JULHO / 2007

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ENTREVISTA ESPECIAL

A versatilidade de David Sanchez

POR MARCELO COELHO* FOTOS: DIVULGAÇÃO

DAVID SANCHEZ

Da percussão, ele migrou para o sax e se tornou um dos principais nomes da geração young lions, que despontou na cena musical nova-iorquina como nova promessa do jazz. Hoje é um grande expoente da música instrumental mundial

N

a década de 1990, as gravadoras de jazz americanas estavam à procura dos chamados young lions, jovens instrumentistas que despontavam na cena musical de Nova York como as novas promessas do jazz. Dentre os jovens que vingaram o termo, podemos citar os pianistas Marcus Roberts e Joey Calderazzo, os trompetistas Roy Hargrove e Terence Blanchard, o contrabaixista Christian McBride, e os saxofonistas Joshua Redman e David Sanchez. Nascido em Porto Rico, Sanchez se interessou primeiro pelos instrumentos de percussão, e o sax ficou como segunda opção. Foi o contato com o jazz que o fez mudar de direção, assumindo o saxofone como instrumento principal. Em pouco tempo, Sanchez já atuava profissionalmente nos principais grupos de salsa e música folclórica de Porto Rico. Após completar os estudos de saxofone erudito na Escola Livre de Música de Porto Rico, ele ganhou uma bolsa integral para estudar na Rutgers University em Nova Jersey, Estados Unidos. Em pouco tempo já estava trabalhando com o pianista Eddie Palmieri, o trompetista Cláudio Roditti e o saxofonista Paquito D’Rivera, que o apresentou a Dizzy Gillespie. A partir de então, a carreira de Sanchez deslanchou de forma meteórica, e aos 21 anos já era requisitado pelos grandes nomes do jazz, como Kenny Barron, Roy Haynes e pelo legendário baterista do quarteto de John Coltrane, Elvin Jones. Com sete discos gravados e cinco indicações ao Grammy – o último disco Coral ganhou o Grammy Latino de 2005 como o Melhor Álbum de Música Instrumental, Sanchez demarcou território na competitiva cena do jazz e não se deixou influenciar pela glamourização do music business. Nos dias em que esteve no Brasil, Sanchez aproveitou para conhecer mais

SETUP DE DAVID SANCHEZ • Sax tenor Selmer Super Balanced Silver, série 39.xxx • Boquilha François Louis de madeira, nº. 8 • Palhetas Roberto Reeds, modelo Rigotti, nº. 5

ENTREVISTA ESPECIAL

DAVID SANCHEZ

a música brasileira freqüentando todas as noites o Ó do Borogodó, bar paulistano de chorinho, samba de raiz e outros ritmos afro-brasileiros. > Sax & Metais – Quando você começou a se interessar por música? David Sanchez - Meu irmão tocava instrumentos de percussão típicos de Porto Rico e aos 8 anos de idade comecei a me interessar por percussão. Minha iniciação musical formal teve início aos 12 anos, na Escola Livre de Música de Porto Rico, voltada para o estudo da música clássica. Queria estudar percussão, mas não havia vaga. Então, tive de me decidir entre o oboé e o saxofone. Preferi o saxofone por causa do som, mas meu plano era trocar para percussão. Isso nunca chegou a acontecer, mas mesmo assim eu freqüentava as aulas de percussão e naquela época estudava mais conga do que saxofone. > Quando você decidiu abandonar a percussão e assumir o saxofone? Quando tinha 15 anos, minha irmã trouxe para casa uns discos de jazz. Era muito difícil encontrar esse material em Porto Rico naquela época: um disco da Billie Holliday e um do Miles Davis, que se chamava Basic Miles, uma compilação das principais gravações dele. Foi com este disco que eu ouvi pela primeira vez um saxofone tocando jazz (Cannoball Adderley e John Coltrane). Antes disso, tudo o que eu tinha ouvido de saxofone eram peças de música clássica e música folclórica de Porto Rico. A partir daí, comecei a ouvir mais jazz e a estudar mais saxofone, e a percussão começou a ficar em segundo plano. Aos 17 anos eu já tocava sax com os principais grupos de música folclórica de Porto Rico, Roberto Rohena, Jesus Cepeda e outros. > Como você aprendeu a tocar jazz tocando em bandas de salsa? O que me atraía na música caribenha era o ritmo e não o saxofone. Foi o jazz que me fez querer ouvir e tocar mais saxofone. Eu ouvia e transcrevia muitos jazzistas, tocava com os discos e tentava improvisar paralelamente. Foi dessa forma que aprendi a tocar jazz. Foi uma fase de transição muito importante, pois percebi que a linguagem jazzística estava presente nas minhas performances com os grupos de salsa, influenciando inclusive o meu estudo clássico de saxofone. > E como você aprendeu a improvisar? Havia um jazz club em San Juan, capital de Porto Rico, chamado The Place, com jam sessions

todas as segundas, terças e quartas-feiras. Vários músicos que tocavam nos navios sabiam desse lugar e quando estavam de passagem por Porto Rico iam ao The Place. Foi ali que aprendi vários standards, All the things you are, Have you met Miss Jones, Confirmation. Quando não conhecia algum, perguntava o nome e o preparava para a semana seguinte. Sempre preferi aprender os standards de ouvido, transcrevendo dos discos, isso me ajudava na hora de improvisar. Também aprendi sobre improvisação, escalas e arpejos com um saxofonista de Porto Rico chamado Victor Payano. Se você quiser aprender alguma coisa em qualquer linguagem, precisa saber ouvir as inflexões e os rudimentos desse idioma. Cada linguagem tem uma cadência, um fraseado e uma inflexão diferente. Eu transcrevia muito e a minha percepção era mais avançada do que o meu conhecimento, o que me deixava um pouco frustrado. Não conseguia saber exatamente o que estava tocando quando improvisava, mas sabia que funcionava. > Quais foram suas principais influências? Aos 16 anos, minha mãe me levou a uma loja de discos que se chamava Dom Pedro, que ficava no porão de uma casa em San Juan. O proprietário, Ramon, era um sujeito muito excêntrico que vivia entre Nova York e Porto Rico e trazia

muitos discos de lá. Foi com ele que a minha irmã conseguiu os primeiros discos de jazz. Ele me sugeriu muitos discos e os que mais me marcaram foram os do Dexter Gordon e os do Sonny Rollins. > Como foi a sua ida para os Estados Unidos? Depois que eu me graduei na Escola Livre de Música de Porto Rico, decidi parar com a música para estudar psicologia. Apesar de já estar tocando profissionalmente, o curso de psicologia era o que mais me interessava na época. Depois de um ano de curso, tive de repensar a minha decisão e cheguei à conclusão de que eu realmente queria fazer música. Fiz testes para a Berklee College of Music, em Boston, e para a Rutgers University, em Nova Jersey, e acabei indo para Nova Jersey. > Por que você preferiu a Rutgers University e não a Berklee College of Music? A principal razão foi porque a Rutgers University ficava muito próxima de Nova York. Eu queria estar em Nova York com mais freqüência, poder freqüentar as jam sessions e conhecer os músicos. Eu sabia também que não encontraria muitos músicos de Porto Rico lá, e poderia vivenciar melhor a cultura daquele país. Outra razão foi que eles me deram uma bolsa de estudos integral. Foi um período muito importante, SAX & METAIS JULHO / 2007

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ENTREVISTA ESPECIAL

DAVID SANCHEZ

ouvi muito jazz, eles tinham uma biblioteca fantástica. Foi nessa época que percebi que precisava voltar à tradição, transcrever Coleman Hawkins, Lester Young, os pilares do sax tenor. Meu professor deveria ser o Frank Foster, mas ele teve um semestre sabático e nunca mais voltou, o que me deixou muito desapontado. O substituto foi o saxofonista John Purcell. Eu também estudei com Kenny Barron, que mais tarde veio a ser o meu conselheiro, quando deixei a universidade sem me graduar, porque comecei a tocar muito com Eddie Palmieri, com quem eu já havia tocado antes em Porto Rico. Depois com Cláudio Roditti, Danilo Perez, Paquito D’Rivera, até que um dia o Dizzy Gillespie me ligou para excursionar com Mirian Makeba. Por causa das gigs, não estava conseguindo freqüentar as aulas, então fui conversar com o Kenny Barron para saber o que ele achava, e ele me disse: “A escola estará sempre aqui!” Logo depois fiz a minha primeira turnê pela Europa, com 21 anos, para o Montreux Jazz Festival, abrindo para o grupo do Miles Davis. Foi inacreditável! > Muitos dos chamados young lions que despontaram como novas promessas do jazz não conseguiram se estabelecer artisticamente. A que você atribui isso? Talvez a uma clareza quanto ao desenvolvimento de um conceito musical, que vem com o amadurecimento. Muitos talvez se perdem nesse processo. Na época, as gravadoras estavam atrás de gente nova e a minha aparição com o Dizzy Gillespie abriu várias portas. Várias gravadoras me procuraram, Blue Note, Sony Music. Eu não me sentia preparado para gravar, precisava aprender mais sobre a tradição. Mas entendi que aquela oportunidade talvez fosse vital para me estabelecer na cena, então tomei muito cuidado com a produção do disco. O meu primeiro álbum, The Departure, pela Sony, teve uma excelente aceitação de crítica, mas foi a partir do meu quarto disco, Obsession, produzido pelo Branford Marsalis, que me senti maduro, com um conceito mais definido. O disco foi muito bem aceito pelo público e pela crítica, e foi indicado ao Grammy. Aprendi a lidar com o music business, e consegui fazer com que os meus discos refletissem o meu amadurecimento musical.

sou disso. Eu me arrependo muito de não ter tocado com o Elvin como gostaria. > Quando surgiu seu interesse pela música brasileira? Foi na mesma época em que comecei a me interessar por jazz, também por influência da minha irmã, que ouvia muita música brasileira, como Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal Costa, Elis Regina, Tom Jobim. De alguma maneira, a música brasileira sempre esteve nos meus ouvidos, as melodias sempre estiveram na minha cabeça e, à medida que o tempo foi passando, me sentia cada vez mais próximo dessa música. No meu recital de formatura do colegial, em Porto Rico, toquei uma peça do Brahms, um standard de jazz, e uma redução para piano e saxofone da peça Fantasia para saxofone e orquestra, de Heitor Villa-Lobos, um grande desafio para mim. No meu primeiro disco, gravei Cara de palhaço. No quarto disco, Obsession, gravei Esta mulher e Morro não tem vez. No disco Melaza, que é quase inteiro original, incluí na última faixa a música Veja esta canção, do Milton Nascimento. Em Travessia, gravei Pra dizer adeus, e, no meu último disco, Coral, gravei Eu sei que vou te amar e Matita Per, ambos do Tom Jobim. Desde então, sempre incluo alguma canção brasileira no meu repertório. É muito importante para mim, faz parte do meu desenvolvimento musical, é algo que está comigo, naturalmente. l

> Como foi o seu contato com o baterista Elvin Jones? Ele me viu tocando num festival de jazz com o Roy Hargrove. Depois do festival, me ligou e convidou para tocar com ele. O meu disco tinha acabado de ser lançado e a gravadora estava me pressionando para Foi a partir do não me comprometer com outros quarto disco que trabalhos. Então ele me convidou Sanchez sentiu que para ir a casa dele. A esposa dele havia definido um fez um grande almoço, ele me conceito e um estilo mostrou todas as baterias que usapara sua música va, tudo para me convencer a tocar com ele, mas infelizmente não pude aceitar. Fiz algumas gigs com ele na Blue Note de Nova York, mas não pas-

* Marcelo Coelho é saxofonista, compositor e líder do grupo MC4+. E-mail: [email protected]

ANÁLISES

Envelhecido, mas com vigor

SAX ALTO CONDOR S

TESTE NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA

SAX ALTO CONDOR– BOA SONORIDADE

urgem no mercado várias marcas que não sabemos se irão se estabelecer. O fato é que elas estão se superando cada vez mais e fazendo bons instrumentos a preços altamente competitivos. Por isso, não me assustei ou me surpreendi ao ver o estojo do instrumento que recebi para testar: um saxofone alto da Condor. A empresa de Brasília, conhecida pela importação de instrumentos de corda, está investindo pesado em sua linha de sopro.

PRIMEIRAS IMPRESSÕES

REVIEW LIVE!

Notei que o estojo é bem elegante, leve e, ao mesmo tempo, robusto. Gosto desse tipo de case. O estojo do meu sax, por exemplo, é tão pesado que evito utilizá-lo. Leveza é um ponto forte, principalmente para quem não tem carro, o que é realidade para muitos estudantes. Por outro lado, como o estojo é muito bonito, chama um pouco a atenção e não é muito recomendado andar a pé com ele. Nada que uma capa mais velha não resolva.

ACESSÓRIOS E ACABAMENTO Ao abrir o estojo, encontrei duas palhetas boas para o setup, além de todos os

SAX ALTO MICHAEL WASM 47 Importador: Condortech Prós: acabamento e excelente timbre nos graves Contra: a qualidade do timbre não se mantém nas regiões média e aguda Preço médio: R$ 1.100,00 Garantia: 4 meses Afinação Sonoridade Mecânica Custo-benefício

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Utilização recomendada ❏ Estudo ❏ Apresentações ao vivo ❏ Gravação em estúdio

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outros acessórios comuns, como correia, flanela especial, e até um par de luvas brancas de algodão para tocar em bandas. Apesar de não ter numeração, a boquilha é boa, fechada e tem boa sonoridade, ideal para um iniciante. O sax vem embalado em um saco de tecido leve, evitando o acúmulo de poeira e/ou riscos no estojo. Interessante também que o instrumento vem com um pad-saver (escova secadora) e que o sax é bem pesado. Para um iniciante, principalmente uma criança, pode ser um problema. Mas, para quem gosta de som, isso é essencial. A correia é boa, porém a parte que vai ao pescoço é muito fina. Seria ainda melhor se fosse mais larga e acolchoada na altura do pescoço. O acabamento do instrumento é impecável. Na verdade, o sax se parece com o Yamaha 62 com o desenho de palma na campana. As chaves frontais, como no Yamaha, têm pequenos parafusos para a regulagem, o que é muito prático e não tão comum. Mais um ponto a favor.

QUALIDADE SONORA Na hora de tirar um som, utilizei a boquilha que acompanha o sax e toquei com facilidade em todas as regiões. É uma boquilha limitada na abertura e construção, e não é ideal para um profissional, mas é perfeita para quem está começando. Com uma boquilha melhor é possível perceber mais nuances com relação à sonoridade do instrumento.

Para ter uma idéia mais aprofundada, também testei com minha boquilha, uma Meyer #6. O grave do instrumento é poderoso, muito fácil de tocar e com muito volume e cor. Pena que esse timbre não se mantenha em toda a extensão do sax. Acima do Sol da segunda oitava, o som começa a perder o brilho e ficar um tanto pastoso. Na região aguda, o brilho volta um pouco, mas ainda se mantém pastoso. Essa é uma observação que não importa muito para um estudante e sim para quem tem pretensões mais ambiciosas, o que me parece fora da proposta do fabricante. Os harmônicos, com uma boquilha melhor, saem também com muita facilidade, o que comprova a qualidade do material utilizado. A afinação é quase perfeita, apenas senti dificuldade ao tocar acompanhado por um piano. Talvez tenha faltado um pouco mais de tempo para que eu me acostumasse com o timbre. É sempre complicado tocar saxofone com piano, os harmônicos não casam bem, leva tempo para ajustar os timbres. A anatomia e a mecânica do instrumento são excelentes e ele é bem confortável. Pedi para alguns alunos de vários níveis experimentarem o Condor e as respostas foram muito positivas.

CONCLUSÃO É um instrumento apropriado para um estudante, mesmo de nível médio. Serve até mesmo para quem está pensando em fazer um upgrade de seu equipamento ou para quem quer um segundo instrumento e não deseja investir tanto capital. l

Quer falar com o autor dessa matéria? César Albino é professor da Faculdade de Música Carlos Gomes, em São Paulo. Contato: [email protected] Tire suas dúvidas com o importador: Condortech (61) 3629-9400 ou www.condormusic.com.br

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SAX & METAIS JULHO / 2007

PALHETAS VANDOREN JAVA E V16 O

Fabricante: Vandoren Contra: válvulas um pouco lentas Preço médio: R$ 18,00 Garantia: 3 meses

VANDOREN V16 O controle de qualidade da fábrica francesa de palhetas é bom, mas com estas já não tive a mesma ‘sorte’, e das cinco testadas, gostei de três. Aqui também verifiquei defeito no corte em U, que em duas palhetas não estava simétrico. A simetria do corte é um dos fatores que devemos

Utilização recomendada ❏ Estudo ❏ Apresentações ao vivo ❏ Gravação em estúdio

Quer falar com o autor dessa matéria? Débora de Aquino (saxofonista e flautista): (11) 3567-3022 ou [email protected] Tire suas dúvidas com o importador: Musical Izzo (11) 3797-0100 ou www.musicalizzo.com.br SAX & METAIS JULHO / 2007

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LIVE!

Importador: Musical Izzo

REVIEW

Foi uma surpresa abrir a caixinha de palhetas Java para tenor e encontrá-las

PALHETAS VANDOREN JAVA E V16

ESTÚDIO TECNOLOGIA

VANDOREN JAVA

embaladas uma a uma em pacotinhos. A caixa para tenor vem com cinco unidades, peguei uma boa logo de cara. Sorte? Pode ser. Mas então dei muita sorte, pois das cinco que vieram, gostei de quatro e a que sobrou não estava de todo ruim. As outras estavam com o timbre de que gostei mais, uma questão bastante pessoal. Essa palheta apresenta mais brilho no som do que a Tradicional, tem bom equilíbrio nos graves por ser mais macia, mas sofre um pouco nos harmônicos agudos. A resposta em articulações rápidas também é menor que na Tradicional.

Java – Esta palheta foi desenvolvida para música popular e jazz. Sua ponta é mais grossa que a tradicional, mas a densidade da cana é menor, o que faz com que vibre mais, por ter maior flexibilidade. JA refere-se a jazz, e VA, a variety e Vandoren. A Java tem o corte em U já saindo direto de sua base. V16 – Muito semelhante à Java, indicada para músicos de jazz e popular. Também tem a ponta mais grossa que a tradicional, mas maior densidade de cana do que a Java, portanto vibra menos. A V16, como a Java, também possui o corte em U saindo direto da base, mas o talão (parte onde prendemos a abraçadeira) é mais grosso que a da Java, demonstrando, portanto, maior quantidade de cana. l

NOVIDADE

Quando comecei a estudar saxofone, me recomendaram as palhetas Vandoren Tradicionais, da caixinha azul. Nesse modelo permaneci por muitos anos. Com o passar do tempo, conheci a Vandoren Java (desenvolvida em 1983), gostei bastante da sonoridade e mudei para ela. Depois, testei a Vandoren V16, e não é a minha preferida. Passados alguns anos, optei pelas palhetas sintéticas, mas, recentemente, voltei às ‘canas’ naturais e senti a mudança de sonoridade para melhor, apesar de haver muitas controvérsias de que as palhetas de cana não têm padrão, e que de uma caixa não são todas as que conseguimos aproveitar. Mas isso é uma outra história.

DIFERENÇAS

TESTE

VARIEDADE

observar ao escolher uma palheta na loja, já que não podemos experimentá-la. Em termos de sonoridade, a V16 também tem mais brilho que a Tradicional, mas menos do que a Java. Por ser um pouco mais dura, se comporta melhor nos agudos, mas para os graves é preciso um pouco mais de esforço. No geral, é bem gostosa de tocar.

PALHETAS VANDOREN JAVA E V16 – EMBALAGEM CONSERVA QUALIDADE

s fabricantes de palhetas procuram agradar músicos de diferentes categorias e estilos e, para isso, preocupam-se com o cultivo das canas, o corte e a densidade. A última novidade é melhorar também as embalagens. Já se sabe que, mantidas a um nível de umidade entre 40% e 60%, apresentarão um melhor desempenho. Mas o que fazer para manter essas qualidades higrométricas constantes? Essa foi uma das preocupações da francesa Vandoren com a nova embalagem flow pack, saquinhos de celofane que embalam cada palheta, para controlar a umidade. Assim, é possível oferecer o máximo de proteção contra agressões exteriores, como mudanças na umidade do ar, alterações de temperatura ambiente, poeira, entre outros problemas decorrentes das dificuldades de armazenamento.

ANÁLISES

Embalagem conserva qualidade

VITRINE

Sax & Metais recomenda

VITRINE

Confira sugestões de instrumentos e acessórios que estão chegando às prateleiras das lojas e prometem fazer sucesso entre os músicos.

Trombone WTBM35 PRODUTOS NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA

SUGESTÕES DE INSTRUMENTOS E ACESSÓRIOS

Ideal para músicos iniciantes, os trombones de vara da Michael têm afinação em Sib, acabamento laqueado e garantia de seis meses para banho. Acompanham estojo de fibra superluxo. Preço sob consulta. (31) 2102-9270 – [email protected].

Boquilhas Claude Lakey

REVIEW LIVE!

As boquilhas importadas pela Musical Express possuem som encorpado, consistência de timbre, entonação e projeção em todos os modelos. As medidas da Claude Lakey são 4*3 e 5*3, produzindo um som quente, enquanto as 6*3, 7*3 e 8*3 oferecem projeção necessária para a maior parte das performances ao vivo. Sua dinâmica, resposta e custo x benefício fazem destas boquilhas as mais procuradas do mercado. Contato pelo telefone (11) 3159-3105.

Sax Soprano Curvo O SP 508 da Eagle traz chaves ergonômicas, ajustadas manualmente, que oferecem maior conforto, respostas rápidas e afinação precisa. Afinado em SiB, tem acabamento laqueado e parafusos em aço inoxidável. Acompanha estojo extraluxo. Preço sugerido de R$ 1.922,00. Contato pelo (11) 6931-9130 ou www.eagleinstrumentos.com.br

Cornetões Captain A Captain, marca especializada em instrumentos para bandas e fanfarras, aumentou sua linha de produtos com os cornetões em Fá e em Sib. Distribuídos pela Arwel Instrumentos Musicais, o preço médio dos instrumentos é R$ 350,00. Mais informações pelo telefone (11) 3326-3809 ou pelo site www.arwel.com.br.

Informações cedidas pelas empresas em julho de 2007. A revista Sax & Metais não se responsabiliza por qualquer alteração nos produtos apresentados pelos fabricantes e/ou distribuidores.

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REVIEWS

REVIEWS Arapuca

CD

Artista: Gabriel Grossi Delira Música (www.deliramusica.com)

PRODUTOS NOVIDADE ESTÚDIO TECNOLOGIA

LANÇAMENTOS E SUGESTÕES DE CDS

REVIEW

O jovem gaitista esbanja sensibilidade e virtuosismo em sua gaita cromática, desenvolvendo um estilo muito próprio em suas interpretações e improvisações. Em seu novo CD Arapuca, ele mostra seu talento como

CDs

compositor em quatro faixas autorais. Desta vez escolheu o forró, tradicional gênero musical nordestino, como fonte de inspiração para o seu trabalho instrumental. O disco traz também homenagens ao mestre da sanfona, Sivuca, falecido em dezembro de 2006, além de Hermeto Pascoal. A música que dá título ao CD, composta por Rossi, poderia ser encarada como uma ‘armadilha’ para o músico desavisado, tamanha a dificuldade de sua melodia, se o músico ganhasse por nota executada! Festa em Olinda é outro bom momento do disco – a música é de autoria de Toninho Horta, e de intensa sensibilidade. Ainda aparecem composições de João Lyra, Toninho Ferragutti e Egberto Gismonti, com o tema Sete Anéis. A produção fica a cargo do próprio Gabriel Grossi e de Daniel Santiago, que assina os arranjos, além de tocar guitarra. Também participam do trabalho Amoy Ribas (percussão), Thiago Espírito Santo (baixo) e Durval Pereira (zabumba).

LIVE!

Reunião de amigos para fazer boa música Performance Artista: Fabinho Costa Independente

CD

O primeiro trabalho autoral do trompetista recifense Fabinho Costa, também compositor e arranjador, traz claras influências de nomes como Miles Davis, Dizzy Gillespie, Chet Baker e Freddie Hubard. A primeira faixa, Funk Davis, a princípio poderia ser mais um tema de jazz. Mas, após uma breve introdução-solo do trompete, vem o funk anunciado, de autoria de Fabinho, com apoio do sax tenor de Gilmar Black. Em Dizzy, mais uma homenagem, desta vez a Gillespie e com solo de Júnior Xanfer, dobra uma parte com solo vocal. Ao longo do disco, o trompetista vai mostrando claramente suas influências através do jazz, do funk e do blues. Baião Cubano é uma salsa também escrita por Fabinho que abusa das frases alteradas, destacando o teclado de Kleyton Wanderley e o sax de Gustavo Anacleto, que tem um belo timbre de soprano. Fabinho está muito bem acompanhado: em Vida Maria, uma balada, ele toca um suave flugelhorn, cujo tema é do guitarrista Jubileu Filho, que participa da faixa e dá espaço para o tecladista Eduardo Taufic. Spião é um ‘tema jazz’ que toma ares de salsa e retorna ao jazz, de autoria do tecladista Marquinhos Diniz, muito bem construído

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SAX & METAIS JULHO / 2007

e cheio de convenções e contracantos de teclado respondendo às frases do trompete de Costa. Nessa música, há a participação especial de Arthur Maia, com solo de baixo fretless. O encerramento do CD não poderia ser mais delicado. Com apenas flugel e violão, Costa e Júnior Xanfer fecham com categoria em Simplesmente Ana, de autoria de Junior. O disco tem muita gente boa – cada faixa uma formação, para não esquecer ninguém: Fábio Valois, Edílson Prodígio e Matheus Guerreiro, teclados; Jean Elton, Jackson Junior, baixo; Júnior Primata, baixo fretless. Na bateria: Marcelo Pereira, Hito, Di Stéffano, Enoque Souza, Misael Barros e Delbert Lins na percussão, além do trombone de Nilsinho Amarante.

POR DÉBORA DE AQUINO

Samba de Latada

Artista: Josildo Sá & Paulo Moura Rob Digital CD (www.robdigital.com.br)

Antigamente, no Nordeste, forró e samba tinham o mesmo significado. Era uma festa em que se tocava de tudo, do baião ao choro. Com o passar do tempo, foram surgindo as diferenças entre esses dois gêneros musicais, e o samba carioca se consolidou no Brasil. No Nordeste, esse gênero foi adaptado e a ele foram incorporados a sanfona, o triângulo, a zabumba e o violão. Passou a ser chamado de ‘samba de latada’, título do novo CD de Josildo Sá e Paulo Moura, que traz de volta a mistura desses gêneros. Josildo Sá é um dos destaques da música pernambucana atual. O artista, compositor e cantor une as tradições da música nordestina sertaneja com a modernidade da capital. Suas letras falam do sertão, das festas, dos amores. O encontro entre Josildo Sá e Paulo Moura aconteceu graças à insistência de Sá, que sempre gostou da música do maestro. Em 2002, Sá foi a um hotel no Recife onde Paulo estava. Levava uma fita cassete e as recomendações de Bethânia e Jorge Hopper. Em seguida, convidou Moura a ir a uma casa de forró da cidade. Resultado: o maestro se encantou e o trabalho e a parceria começaram ali. Paulo Moura assina a direção musical e ‘costura’ com seu clarinete as melodias apresentadas pela voz carismática de Sá. O resultado é a mistura da música de raiz pernambucana com a gafieira carioca. Na única faixa instrumental do CD, Pro Paulo, o clarinetista dá um show. É um disco em que se tem a sensação de que tudo foi feito de improviso, tamanha a espontaneidade apresentada. l

REVIEWS Arapuca

CD

Artista: Gabriel Grossi Delira Música (www.deliramusica.com)

O jovem gaitista esbanja sensibilidade e virtuosismo em sua gaita cromática, desenvolvendo um estilo muito próprio em suas interpretações e improvisações. Em seu novo CD Arapuca, ele mostra seu talento como

CDs

compositor em quatro faixas autorais. Desta vez escolheu o forró, tradicional gênero musical nordestino, como fonte de inspiração para o seu trabalho instrumental. O disco traz também homenagens ao mestre da sanfona, Sivuca, falecido em dezembro de 2006, além de Hermeto Pascoal. A música que dá título ao CD, composta por Rossi, poderia ser encarada como uma ‘armadilha’ para o músico desavisado, tamanha a dificuldade de sua melodia, se o músico ganhasse por nota executada! Festa em Olinda é outro bom momento do disco – a música é de autoria de Toninho Horta, e de intensa sensibilidade. Ainda aparecem composições de João Lyra, Toninho Ferragutti e Egberto Gismonti, com o tema Sete Anéis. A produção fica a cargo do próprio Gabriel Grossi e de Daniel Santiago, que assina os arranjos, além de tocar guitarra. Também participam do trabalho Amoy Ribas (percussão), Thiago Espírito Santo (baixo) e Durval Pereira (zabumba).

Reunião de amigos para fazer boa música Performance Artista: Fabinho Costa Independente

CD

O primeiro trabalho autoral do trompetista recifense Fabinho Costa, também compositor e arranjador, traz claras influências de nomes como Miles Davis, Dizzy Gillespie, Chet Baker e Freddie Hubard. A primeira faixa, Funk Davis, a princípio poderia ser mais um tema de jazz. Mas, após uma breve introdução-solo do trompete, vem o funk anunciado, de autoria de Fabinho, com apoio do sax tenor de Gilmar Black. Em Dizzy, mais uma homenagem, desta vez a Gillespie e com solo de Júnior Xanfer, dobra uma parte com solo vocal. Ao longo do disco, o trompetista vai mostrando claramente suas influências através do jazz, do funk e do blues. Baião Cubano é uma salsa também escrita por Fabinho que abusa das frases alteradas, destacando o teclado de Kleyton Wanderley e o sax de Gustavo Anacleto, que tem um belo timbre de soprano. Fabinho está muito bem acompanhado: em Vida Maria, uma balada, ele toca um suave flugelhorn, cujo tema é do guitarrista Jubileu Filho, que participa da faixa e dá espaço para o tecladista Eduardo Taufic. Spião é um ‘tema jazz’ que toma ares de salsa e retorna ao jazz, de autoria do tecladista Marquinhos Diniz, muito bem construído

e cheio de convenções e contracantos de teclado respondendo às frases do trompete de Costa. Nessa música, há a participação especial de Arthur Maia, com solo de baixo fretless. O encerramento do CD não poderia ser mais delicado. Com apenas flugel e violão, Costa e Júnior Xanfer fecham com categoria em Simplesmente Ana, de autoria de Junior. O disco tem muita gente boa – cada faixa uma formação, para não esquecer ninguém: Fábio Valois, Edílson Prodígio e Matheus Guerreiro, teclados; Jean Elton, Jackson Junior, baixo; Júnior Primata, baixo fretless. Na bateria: Marcelo Pereira, Hito, Di Stéffano, Enoque Souza, Misael Barros e Delbert Lins na percussão, além do trombone de Nilsinho Amarante.

POR DÉBORA DE AQUINO

Samba de Latada

Artista: Josildo Sá & Paulo Moura Rob Digital CD (www.robdigital.com.br)

Antigamente, no Nordeste, forró e samba tinham o mesmo significado. Era uma festa em que se tocava de tudo, do baião ao choro. Com o passar do tempo, foram surgindo as diferenças entre esses dois gêneros musicais, e o samba carioca se consolidou no Brasil. No Nordeste, esse gênero foi adaptado e a ele foram incorporados a sanfona, o triângulo, a zabumba e o violão. Passou a ser chamado de ‘samba de latada’, título do novo CD de Josildo Sá e Paulo Moura, que traz de volta a mistura desses gêneros. Josildo Sá é um dos destaques da música pernambucana atual. O artista, compositor e cantor une as tradições da música nordestina sertaneja com a modernidade da capital. Suas letras falam do sertão, das festas, dos amores. O encontro entre Josildo Sá e Paulo Moura aconteceu graças à insistência de Sá, que sempre gostou da música do maestro. Em 2002, Sá foi a um hotel no Recife onde Paulo estava. Levava uma fita cassete e as recomendações de Bethânia e Jorge Hopper. Em seguida, convidou Moura a ir a uma casa de forró da cidade. Resultado: o maestro se encantou e o trabalho e a parceria começaram ali. Paulo Moura assina a direção musical e ‘costura’ com seu clarinete as melodias apresentadas pela voz carismática de Sá. O resultado é a mistura da música de raiz pernambucana com a gafieira carioca. Na única faixa instrumental do CD, Pro Paulo, o clarinetista dá um show. É um disco em que se tem a sensação de que tudo foi feito de improviso, tamanha a espontaneidade apresentada. l SAX & METAIS JULHO / 2007

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WORKSHOP

Saxofone

FUSÕES RÍTMICAS

TESTE NOVIDADE

FUSÕES RÍTMICAS

Henrique Band é arranjador, compositor e saxofonista. Mora no Rio de Janeiro e produziu diversos CDs. Para saber mais, acesse www. myspace.com/henriqueband.

Henrique Band

A

ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW

pesar de algumas melodias sugerirem o gênero musical de forma evidente, o reflexo imediato de um saxofonista é quase sempre o de se preocupar com passagens, afinação e respiração, sem considerar a importância da origem do ritmo como um fator interpretativo. É justamente por meio de acentuações e de determinadas articulações que podemos evidenciar ritmos como o samba, o baião, o frevo, o jazz e a salsa, entre outros. Pelo fato de o saxofone ser um instrumento, acima de tudo, melódico, temos de estreitar o contato com instrumentos que fazem parte da base rítmica (bateria e percussão). Dessa maneira, a visão do saxofonista ficará mais voltada para o ritmo, fazendo com que a sua compreensão musical aumente independente do instrumento que ele esteja tocando (sax soprano, alto, tenor ou barítono).

Na música que apresento aqui, Seleção Nota 11, de minha autoria e que faz parte do CD da 1ª Mostra Brasil Instrumental – Conservatório de Tatuí (SP), temos um exemplo de mistura de ritmos. A acentuação do samba transita entre o jazz e o funk sem perder a identidade, gerando as fusões chamadas de samba-funk e samba-jazz. Repare que nesta música o suingue já é sugerido na própria partitura por meio de acentuações em que o tempo forte é deslocado. Podemos observar também que o ciclo harmônico se repete em toda a primeira parte da composição, de maneira que o resultado rítmico da base enriquece e complementa o deslocamento do tempo forte sugerido pela melodia. Na segunda parte, a interpretação é um pouco mais melódica em determinados trechos, possibilitando uma execução mais lírica (ou cantabile) do intérprete.

LIVE!

SELEÇÃO NOTA 11 (Homenagem ao “11 Cabeças”)

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WORKSHOP

Saxofone

SAXOFONE NO CHORO Rafael Velloso

TESTE NOVIDADE

SAXOFONE NO CHORO

L

Rafael Velloso é saxofonista, arranjador e compositor, bacharel em saxofone pela Universidade Estácio de Sá (RJ) e mestre em Etnomusicologia pela Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tem um CD-solo lançado (Sax Chorando) e atualmente toca com a Orquestra Popular Céu na Terra

ESTUDO TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

uis Americano, natural de Aracaju, nasceu em 1900 e começou seus estudos no clarinete, seguindo a tradição familiar de seu pai, Jorge Americano, mestre de banda da cidade, antes de se tornar um ícone do sax. Foi um músico muito importante na história do choro, fazendo parte dos principais conjuntos da época, como a Velha Guarda liderada por Pixinguinha e a American Jazz Band, que reuniu os melhores instrumentistas do período. Sua discografia é enorme, tendo participado de inúmeros conjuntos que acompanhavam os principais cantores do rádio, como Orlando Silva, Francisco Alves e Carmem Miranda. O maxixe Atraente, composto pelo saxofonista, foi gravado pela primeira vez pelo próprio autor em março de 1934, e lançado no mesmo ano pela gravadora Odeon, no “lado A”, sob o número 11140, em um disco de 78 rpm. Esta era a única referência que tínhamos desta música, cuja gravação pertence ao acervo do jornalista José Ramos Tinhorão e que hoje pode ser facilmente ouvida pelo site do Instituto Moreira Salles (www.ims.com.br). A melodia está transcrita para o saxofone alto em Eb e apresenta três partes: A, B e C. Sua forma segue AABBACA, e C está no tom da subdominante. Este tema possui uma grande extensão melódica, do Si grave ao Mi agudo, explorando toda a escala do saxofone. O desafio na execução deste tema está justamente em sua extensão melódica. Um instrumentista iniciante pode enfrentar certa dificul-

dade para manter a afinação, já que a melodia alcança rapidamente as notas mais agudas do instrumento e volta igualmente rápida para as notas graves, fazendo com que o saxofonista tenha de manter a embocadura e utilizar a dinâmica para não ocorrerem os famosos guinchos. A dinâmica que sugiro pelos sinais eruditos tradicionais p (piano), pp (pianíssimo), mf (mezzo forte) e < (crescendo), é uma possibilidade dentre várias, pois na execução de um choro é sempre possível haver variações tanto melódicas quanto expressivas. A harmonia encontra-se no mesmo tom do tema escrito e também pode ser modificada pelo instrumentista acompanhante. No caso dos violões de seis e sete cordas, o acompanhante deve procurar sempre as frases do baixo, típicas do gênero, ao final e no início de cada parte. Dessa forma, este tema, pouco conhecido, apresenta muitas opções de ornamentos e dinâmicas, além de uma melodia muito rica que possibilita ao instrumentista de sopro um prazeroso estudo de interpretação. Podem-se utilizar as técnicas tradicionais do instrumento, como as articulações e dinâmicas já mencionadas, pensando sempre em adaptá-las à execução deste repertório, considerando as suas particularidades, que, por isso, não são bem traduzidas nas notações tradicionais. A partitura deve ser tomada apenas como um guia rítmico-melódico, tendo como referência principal as gravações e a própria experiência musical, extraindo delas a liberdade, a alegria e a descontração, características marcantes deste gênero.

ATRAENTE Mesquita e Luis Americano

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WORKSHOP

Flauta e saxofone

A CONSTRUÇÃO DA SONORIDADE David Ganc

TESTE NOVIDADE ESTUDO

A CONSTRUÇÃO DA SONORIDADE

U

ma vez adquirido o tônus muscular da embocadura e uma sólida coluna de ar, o músico pode correr atrás de sua própria sonoridade, já que a sua assinatura musical é seu som, aliado ao fraseado. Como grande parte dos músicos populares faz a dobra de flauta e sax, este workshop serve tanto para os flautistas como para os saxofonistas, resguardando as diferenças de embocadura dos dois instrumentos. Para esses músicos, recomendo começar o estudo diário da sonoridade pela flauta, já que exige relaxamento dos lábios.

TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

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David Ganc é flautista e saxofonista, do Rio de Janeiro. Formado em música erudita (flauta) pela UFRJ e em música popular (saxofone) pela Berklee College of Music (Boston - Massachusetts, EUA). Tem quatro CDs-solo lançados. Site: www.davidganc.com

QUINTAS JUSTAS Após as já conhecidas notas longas – nosso aquecimento diário –, podemos fazer o exercício de quintas justas, com o professor sustentando a nota pedal e o aluno fazendo a quinta, a oitava e voltando à tônica, sempre bem ligado e bem lento, primeiro diatonicamente e depois cromaticamente.

A dinâmica pode variar de mp a mf, e as notas devem ter sempre o mesmo volume. Você pode usar como referência o piano, utilizando a tônica e apertando o pedal, um sintetizador ou gravar a seqüência de notas pedais de D3 a G4 bem longas, e usá-las como base de afinação. Além de construir e fortalecer a embocadura e a sonoridade, esse exercício faz um check-up sonoro no instrumento, tendo em vista que cada um tem suas características, e você deve estar ciente das qualidades e deficiências de seu instrumento. Lembre-se sempre da fragilidade do C# 4, com tendência de

afinação alta (instrumento todo aberto) e do D4 com som opaco (instrumento fechado). Você deve estar atento e saber compensar com a coluna de ar esses ‘degraus’ de som.

Lembre-se sempre de que as notas devem ter rigorosamente a mesma dinâmica. Não deixe que as agudas soem forte, e as graves, piano. Force para que todas as notas soem em mf.

Ao dominar o exercício dentro de uma oitava, estenda para duas. Isso lhe dará boa elasticidade e você também poderá variar a nota pedal. E não se esqueça: pratique o quanto puder, o som vem com o tempo!

Elasticidade dos lábios O exercício seguinte é para a elasticidade dos lábios. Tomamos por base o D3 como nota pedal e seguimos cromaticamente de forma ascendente em duas oitavas, depois de forma descendente.

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WORKSHOP

Clarinete

EFEITOS SONOROS NO CLARINETE Michel Moraes

TESTE NOVIDADE ESTUDO

EFEITOS SONOROS NO CLARINETE

M

Michel Moraes é integrante do Quinteto Madeira de Vento e professor do curso de bacharelado em clarinete da FAAM-FMU. Contato: [email protected] ou www.clarinetemania.com

TECNOLOGIA REVIEW LIVE!

uitas vezes, ao ouvir um clarinetista tocar rhythm & blues, jazz, choro ou peças de música contemporânea, podemos perceber efeitos sonoros que nos remetem à voz humana. Frullatos, glissandos, bendings e ghost notes (notas fantasmas) trouxeram uma nova gama de expressividade à música erudita e popular. Esses efeitos começaram a ser desenvolvidos por músicos negros de New Orleans no fim do século XIX. Até então, os instrumentistas de sopro que seguiam a tradição européia visavam o som limpo, com precisão e

afinação impecáveis. Os negros começaram a introduzir efeitos que imitavam a fala, como som ‘rouco’ (frullato), pequenas desafinações para cima ou para baixo (bendings), deslizes grandes (glissandos), bem como notas fantasmas. Essa nova maneira de tocar imitando efeitos da voz humana pode ser ouvida desde as primeiras gravações de dixieland no início do século XX, passando pelo blues, swing, bebop, etc., e acabaram influenciando a escrita para sopros de grandes compositores de música erudita, como Ravel, Stravinski, Gershwin, Copland e Villa-Lobos, dentre outros.

FRULLATO

língua no céu da boca. Ele vai sair um pouco mais agressivo, à maneira dos cantores de blues e soul. Porém, é preciso ficar atento à afinação, porque pode ficar baixa. Talvez isso aconteça porque há a tendência em deixar um maior espaço na cavidade bucal para a língua vibrar. O frullato no clarinete também é usado para imitar o trêmulo de repetição dos instrumentos de cordas. Na partitura, pode ser indicado com traços em cima da nota, ou simplesmente escrevendo frullato sobre o trecho a ser executado.

Do italiano frullare, significa ‘fazer rumor’. Muitos clarinetistas me perguntam como produzir esse efeito no clarinete. Conheço duas formas. A primeira é emitindo um som com a garganta enquanto toca. Cante um ‘uuuuu’ grave assoprando o clarinete. Isso fará com que saia um frullato suave, com passagens agudas e rápidas. A desvantagem é que se você for gravar e o trecho for muito exposto, há grande chance de aparecer a sua voz na gravação. Outra forma de produção é vibrando a

BENDING Do inglês to bend, curvar. Como o próprio nome diz, trata-se de desafinar a nota para cima ou para baixo e retornar à afinação

GLISSANDO Do italiano glissare, significa ‘deslizar sobre’. Consiste em tocar começando numa nota e terminando em outra mais grave ou aguda, sem que se notem as quebras entre elas. É um efeito muito utilizado por instrumentistas de cordas e cantores. No registro grave, tire os dedos dos

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original. Basta relaxar ou apertar o maxilar contra a palheta para conseguir o efeito desejado. É muito usado no blues, negro-spirituals e choro. É indicado na partitura com um pequeno traço curvo.

furos do clarinete escorregando lateralmente, um a um, em seqüência. No registro médio e agudo a partir do Ré5, é necessário também relaxar bem a garganta e a embocadura, em sincronia ao movimento de dedos. Depois, vamos ajustando até chegar à nota desejada. Pode ser anotado na partitura com o termo gliss sobre as notas ou com um traço.

Ghost notes São as ‘notas fantasmas’, muito utilizadas no jazz, principalmente a partir do swing do fim da década de 1930, como um recurso para dar mais balanço à melodia. Para fazê-las, encoste bem levemente a língua na palheta enquanto toca uma nota longa. Isso vai ‘abafar’

Conclusão Cada instrumentista tem seu modo de tocar esses efeitos, não existe verdade absoluta. Abordando o meu jeito, espero esclarecer quem esteja

o som. É necessário ter uma boa sensibilidade para fazer isso, pois como a palheta do clarinete é pequena, dependendo do modo que se faz pode cessar o som. Depois de praticar, você já poderá atacar mantendo a língua na palheta. É indicado na partitura como uma nota para percussão.

com dificuldade, bem como mostrar uma nova maneira para quem já conhece o assunto. Agora é só praticar, e note que cada registro apresenta uma dificuldade. Bons estudos!

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Black Bug

11 4362-2047

www.blackbug.com.br

Boquilhas Ever-ton

34-33132696

www.boquilhaseverton.com.br

Choro Music

11-3881-8400

www.choromusic.com.br

Condortech

61 3629-9400

www.condormusic.com.br

Florence Music

11 2199-2900

www.florencemusic.com.br

Golden Guitar

11 6931-9130

www.goldenguitar.com.br

Michael

31 2102-9270

www.michael.com.br

Musical Express

11 3159-3105

www.musical-express.com.br

Musical Izzo

11 3797-0100

www.musicalizzo.com.br

RMV

11 6404-8544

www.rmv.com.br

Yamaha 50

SAX & METAIS julho / 2007

11 3704 -1377

www.yamahamusical.com.br

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