GUIA DE ESTILO PARA TRANSCRIÇÕES
… PARA FUNCIONÁRIOS DO TRANSCRIBEME!
Junho de 2014
Conteúdo Introdução .................................................................................................................. 1 Full verbatim ou clean verbatim? .............................................................................. 2 Por que razão os clientes querem gravações transcritas em clean verbatim? ................... 2 Muletas, palavras de ligação e gaguejos.............................................................................. 2 Palavras de feedback ........................................................................................................... 3 Como contruir frases. ................................................................................................... 4 Parágrafos ............................................................................................................................4 Frases, orações e subordinações ......................................................................................... 4 Conjunções………………………………………………………………………………………………………………………………….5 Pontuação ...................................................................................................................... 6 Vírgula ................................................................................................................................. 6 Hífen………………………………………………………………………………………………………..7 Ponto e vírgula .................................................................................................................... 7 Dois pontos ............................................................................................................................... 8 Reticências ............................................................................................................................... 8 Travessões ........................................................................................................................... 8 Aspas ........................................................................................................................................ 8 Acentuação................................................................................................................................ 9 Acento agudo.......................................................................................................................... 9 Acento grave………………………………………………………………………………………….9 Acento circunflexo...................................................................................................................9 Til........................................................................................................................................... 9 Guia de estilo para transcrições. ............................................................................ 10 Falsos começos e interrupções .............................................................................................. 10 Marcação de sons não verbais e fala inaudível. ............................................................... 11 Números ............................................................................................................................ 13 Erros comuns de gramática e ortografia ........................................................................... 13 Diretrizes gerais .................................................................................................................... 14 Comentário final e links úteis ........................................................................................... 15
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Introdução Este guia de estilo é um projeto para fornecer orientações a transcritores e QAs, para que possam mais facilmente produzir documentos de transcrição profissionais, que satisfaçam as necessidades dos clientes do TranscribeMe. Nem todas as linhas de estilo e gramática descritas neste documento devem ser tomadas como doutrinas absolutas e rígidas; por vezes é o gosto pessoal que decide que regras são ou não adotadas. Deve também ser notado que este guia de estilo não pretende ser exaustivo ou, de forma alguma, servir de guia completo de gramática e sintaxe da língua portuguesa, uma vez que as regras aqui descritas foram implementadas no sentido de ir ao encontro das exigências específicas da transcrição. Outras foram incluídas como resposta às questões e preocupações dos funcionários do TranscribeMe. Além disso, alguns dos clientes podem manifestar exigências específicas que não estão no guia de estilo (como a não utilização do Acordo Ortográfico de 2009) e que podem até contradizê-lo. Por favor, verifique o guia da Workhub para as necessidades particulares do cliente. Em conclusão, se tiver alguma questão acerca do guia de estilo ou se sentir que algo não tenha sido incluído no guia, por favor envie um e-mail para
[email protected].
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Full verbatim ou clean verbatim? O método padrão para transcrever e rever documentos no TranscribeMe é o relato parcial (clean verbatim). A transcrição em clean verbatim exige frequentemente bom senso por parte do transcritor na decisão de omitir determinadas palavras ou frases tendo em conta as regras do clean verbatim. No entanto, transcrever em clean verbatim não deve ser uma tarefa intimidante! Esta secção vai fornecer uma explicação clara do motivo por detrás do uso do clean verbatim e incluirá exemplos da diferença entre o relato integral (full verbatim) e o clean verbatim. Por que razão os clientes querem gravações transcritas em clean verbatim? O clean verbatim é uma abordagem que garante uma transcrição clara, sucinta e de fácil leitura, ao mesmo tempo que preserva informações e significados essenciais. O clean verbatim significa que erros no diálogo (como muletas e bordões de linguagem) são omitidos no documento final. Tipicamente, clean verbatim significa também que algumas características informais da linguagem oral, como abreviações, coloquialismos e erros de pronúncia, são corrigidos para uma ortografia apropriada. Todas as possíveis exceções a esta regra serão especificadas neste guia. Muletas, palavras de ligação e gaguejos As características mais comuns da oralidade, alteradas pelo clean verbatim, são as muletas, as palavras de ligação e os gaguejos. Muletas e palavras de ligação são adições erróneas que não acrescentam significado ou coerência a uma frase. São normalmente usadas quando o interlocutor está à procura de um pensamento ou a decidir como expressar apropriadamente aquilo que tenciona dizer. Podem também ser usadas para motivar feedback por parte de outro interlocutor ou do público. Exemplos de muletas podem incluir “hããã”, “hum” ou palavras e expressões, como “tipo”, “mas”, “sabe?”, “certo?”, “está a ver?”, “e”, “ou seja”, “quer dizer”, “depois”, “acho que”, “então”, “nomeadamente”, etc. Incorreto: Hum… então, depois, verificámos quais dos funcionários nomeadamente, frequentadores do sistema público de transporte…
eram,
Correto: Depois verificámos quais dos funcionários eram frequentadores do sistema público de transporte...
3 Importante: algumas das palavras podem induzir em erro, como o advérbio “nomeadamente”, que pode anteceder uma exposição de nomes, ou “tipo”, que pode estar a substituir a palavra “exemplo” ou a dar uma ideia de noção. “Estive de cama durante, tipo, duas semanas”, por exemplo. Aqui o interlocutor expressa uma noção de tempo generalizada. As muletas e bordões de linguagem estão muito dependentes do contexto e, quando necessárias, são capazes de, de alguma forma, alterar o significado de uma frase. Quando são repetidos frequentemente são considerados tiques de linguagem e devem ser editados nos casos em que não adicionam conteúdo à exposição do orador. Os gaguejos são fáceis de identificar. Um gaguejo é a repetição desnecessária de uma palavra ou som e deve ser sempre omitido. No entanto, por favor inclua palavras que são deliberadamente repetidas para dar ênfase. Por exemplo, "A pizza estava muito, muito boa". No entanto, a frase "A a a pi-pi-pizza estava muito, muito bo-boa” claramente contém gaguejos e deve ser corrigida. Palavras de feedback Ao trabalhar para o TranscribeMe, ser-lhe-á frequentemente requerido que transcreva entrevistas, reuniões e outros ficheiros de áudio que envolvem dois ou mais interlocutores. Nestes ficheiros de áudio, será habitual ouvir respostas ao interlocutor que são também palavras de feedback, tais como “sim”, “certo”, “entendi”, etc. Por favor, omita estas e outras palavras de feedback se estas forem interjeições e não replicações a perguntas específicas que requerem uma resposta. Considere os seguintes exemplos (salienta-se que como transcritor NÃO deverá identificar os diferentes interlocutores como “S”, “S2”, etc. nas suas transcrições; as identificações estão aqui presentes apenas a título de exemplo): Incorreto: S1: Pensei muito sobre o assunto e decidi que queria ser vegetariano. S2: Certo. S1: Mas depois percebi que isso significa deixar de comer bacon. Tinha-me esquecido de que bacon é carne. Correto: S1: Pensei muito sobre o assunto e decidi que queria ser vegetariano. Mas depois percebi que isso significa deixar de comer bacon. Tinha-me esquecido de que bacon é carne.
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Como construir frases Ao transcrever, pode ser difícil perceber quando uma frase termina ou uma nova começa. Ao contrário do que acontece na escrita formal, seja literária, académica ou jornalística, as pessoas nem sempre falam de uma forma que se enquadra na estrutura frásica formal. Na transcrição, é importante garantir que o documento será facilmente legível. Frases muito longas e fragmentos de frases devem ser evitados sempre que possível. Por vezes, pode até ser necessário inserir pontos finais e começar novas frases, mesmo que o interlocutor não tenha feito uma pausa. Parágrafos O parágrafo é constituído por uma ou mais frases, em que se desenvolve uma ideia central, à qual se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e pela lógica. As exigências fundamentais de um parágrafo são a unidade e a coerência. No caso da transcrição, quando um interlocutor falar sem interrupções, o seu raciocínio deve ser dividido em parágrafos seguindo este conceito. Sempre que o monólogo apresenta uma nova ideia ou assunto, deve ser formado um novo parágrafo. Frases, orações e subordinações A frase é um enunciado linguístico que deve constituir uma comunicação clara, precisa e de fácil entendimento. Frases sem verbo são denominadas frases nominais (Ex.: Que dia lindo!) e frases com pelo menos um verbo são frases verbais (Ex.: Está um dia lindo!). Já a oração (que pode ser independente, coordenada ou coordenante, subordinada ou subordinante) é uma estrutura frásica construída em torno de um ou mais verbos ou locuções verbais. A um conjunto de orações designamos período. Se existir coordenação ou subordinação nos conjuntos de orações, chamamo-las de períodos compostos. Há diversas regras no que toca à estrutura frásica, mas essas regras podem ser flexíveis desde que as transcrições sejam claras e fáceis de ler. Por isso, é importante que construa frases simples e coerentes. Um dos erros mais comuns entre transcritores é separar as orações subordinantes das subordinadas com um ponto final. Uma oração subordinada não pode estar isolada da subordinante, caso contrário não faz sentido, pois está dependente da anterior e muitas vezes explica ou pormenoriza o primeiro raciocínio. Frequentemente, orações subordinadas começam com conjunções como “mas” ou “porque”.
5 Aqui estão alguns exemplos de períodos compostos, com as orações subordinadas em itálico. Em todos estes exemplos, seria errado separar cada uma das orações com um ponto final.
Sempre que tenho vontade de exercitar, deito-me até a vontade passar. - Robert M. Hutchins
Se contares a verdade não tens que te lembrar de nada. - Mark Twain Resumindo, não só as coisas não são o que parecem, como nem sequer são aquilo a que são chamadas! - Francisco Balagtas Conjunções Outro elemento gramatical que pode causar problemas aos transcritores é a conjunção. A conjunção é um elemento de articulação e ligação de orações e frases. As mais comuns são: e, mas, para, ou, ainda, e também. Tipicamente, é melhor não começar frases com conjunções, já que estas normalmente ligam orações que completam um pensamento ou ideia. No entanto, note por favor que isto não é uma regra universal (nem sequer na escrita académica) e muitas frases gramaticalmente corretas começam com “e” ou “mas”. Os interlocutores por vezes usam conjunções para iniciar frases e, em algumas ocasiões, poderá até parecer-lhe que o orador está a usar conjunções como muletas ou bordões de linguagem! Por isso, será por vezes necessário que comece uma frase com uma conjunção. Sugere-se que apenas o faça para segmentar frases longas e desarticuladas, que combinam diferentes ideias ou linhas de pensamento. Além disso, sugere-se que apenas comece uma nova frase com uma conjunção se a sua remoção alterar significativamente a claridade da frase. Finalmente, seja cauteloso com palavras como “porque”, que podem estar a ser usadas como conjunções, mas que nem sempre contam como tal. Considere os seguintes exemplos de frases corretamente pontuadas. O dia estava frio. Porque estava frio, levei um casaco. Seria incorreto escrever, O dia estava frio porque estava frio. Levei um casaco. Outros exemplos podem não ser tão óbvios, por isso proceda com cautela a terminar ou a iniciar as frases. Escute o tom de voz do orador, além de prestar atenção ao uso das palavras em si, já que o tom pode frequentemente sugerir a altura ideal para começar uma nova frase.
Pontuação
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A principal função da pontuação numa transcrição é marcar a estrutura e a entoação de uma frase. Também deve ser usada para acrescentar clareza a uma frase que, se fosse reproduzida literalmente, com a estrutura e entoação com que foi proferida, seria difícil de ler. Uma frase longa com diferentes tópicos, objetos e ideias pode ter de ser segmentada com vírgulas por consideração à clareza, mesmo que o orador não faça pausas no discurso. Vírgula O uso correto de uma vírgula depende normalmente da sua capacidade para tornar uma ideia mais clara. O uso da vírgula nem sempre depende das pausas de respiração durante uma fala, mas sim da estrutura sintática da oração. A vírgula é geralmente usada: Para separar elementos numa lista. Ex.: João, Maria, Ricardo e Augusto foram almoçar. Para separar explicações que estão no meio da frase. Ex.: Mário, o rapaz que traz o pão, não veio hoje. Para separar o lugar, o tempo ou o modo que vier no início da frase. Ex.: Na semana passada, vieram todos jantar cá a casa. Para separar duas ideias conflituosas. Ex.: Eu gosto muito de chocolate, mas não posso comer para não engordar. A vírgula não é usada: Para separar sujeito e predicado. Incorreto: Alice, Maria e Luíza, querem ir para a escola amanhã. Correto: Alice, Maria e Luíza querem ir para a escola amanhã. Existem casos em que o uso da vírgula é opcional. Se a expressão de tempo, modo ou lugar for uma palavra apenas, a vírgula é opcional, pois a sua utilização depende do ritmo que desejar dar à frase. Ex.: Depois vamos sair para jantar. Depois, vamos sair para jantar. Ambas estão corretas.
Quando duas orações independentes estão juntas com uma conjunção copulativa ou disjuntiva, o uso da vírgula é também opcional.
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Bondade é uma marca de fé, e quem não tem bondade não tem fé. - Mohammed Quando são usadas conjunções temporais ou concessivas no início da frase, o uso da vírgula fica também ao critério do transcritor. Quando Pandora abriu a caixa, todo a maldade inundou o mundo. - Pandora’s Box Tudo está preparado, se as nossas mentes também o estiverem. - William Shakespeare (Henry V) Se as orações forem muito curtas e estiverem relacionadas, não é necessário o uso da vírgula. Por exemplo, uma vírgula não seria necessária na seguinte frase: A Maria tocou guitarra e o Paulo dançou. Um erro comum é usar a vírgula para separar duas orações que deveriam ser separadas por um ponto final. Usando o exemplo de uma citação de Mark Twain: As roupas fazem o homem. Os que estão nus têm pouca ou nenhuma influência na sociedade. Embora a frase fizesse sentido com uma vírgula e não um ponto final, este seria um exemplo de um erro gramatical. Juntar duas cláusulas independentes com uma vírgula pode quebrar o ritmo e dar azo a frases muito longas. Hífen Em geral, recorre-se ao hífen quando: O segundo elemento do derivado for uma palavra começada por h (como em antihistamínico), exceto nos casos em que houve supressão do h (como desumano, inábil ou reabilitar); As consoantes ou vogais são iguais na união dos elementos de um composto (interregional ou super-rápido); É usado o prefixo ‘ex’ e o sufixo ‘pós’, no sentido de anterioridade e posteridade, respetivamente (ex-presidente e pós-guerra); O segundo elemento é um nome próprio (anti-Salazar), um estrangeirismo (antiapartheid) ou uma sigla ou acrónimo (anti-NATO); Ponto e vírgula O ponto e vírgula representa uma pausa maior do que aquela marcada pela vírgula, mas menor do que a de um ponto. Serve para separar mais enfaticamente partes de um período ou orações coordenadas, assim como para salientar forças expressivas (“Muitos persistem; poucos alcançam”). Pode (e deve, sempre que existam dúvidas quanto ao seu uso) ser substituído por um ponto final.
Dois pontos
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Os dois pontos servem basicamente para indicar que adiante há uma explicação, enumeração ou citação. Ex: Os países que compõem a União Europeia são: Portugal, Espanha, Itália, etc. Reticências Reticências são um sinal de pontuação que marca uma interrupção, indicando uma suspensão frásica. Ex.: Tive de ir buscar os meus filhos à escola... na verdade, eles não podem ter estado na escola, porque não tenho filhos. Como o nosso modo padrão de transcrição é o clean verbatin, a maioria das pausas não deve ser marcada: se o orador fizer uma pausa de alguns segundos e, em seguida, continuar a frase, não é necessário usar as reticências. No entanto, algumas pausas podem sinalizar uma mudança de pensamento, de tensão, ou qualquer outra alteração gramatical que tornaria a frase incorreta sem o uso das reticências. Nestes casos, é conveniente utilizá-las, desde a pausa seja maior do que cerca de cinco segundos. Uma pausa mais curta deve ser interpretada como um falso começo, abordado mais à frente. Travessões Além de marcar o início de um diálogo, o que não será necessário nas transcrições, o travessão é uma forma de isolar mais enfaticamente, palavras, expressões e explicações. Pode ser utilizado em substituição de explicações entre vírgulas (Ex.: As principais disciplinas na escola primária – o Português, a Matemática e o Estudo do Meio – serão muito úteis aos estudantes), ou para realçar uma segunda ideia no fim de uma frase (Ex.: Sem tecnologia, tudo seria diferente – provavelmente seríamos ainda muito primitivos). Uma vez que o seu uso depende muito do gosto pessoal, aconselhase que a sua aplicação seja evitada, exceto quando o transcritor tiver a certeza de que um travessão é a melhor forma de transmitir o que está a ser dito. Aspas Nas transcrições, as aspas devem ser utilizadas principalmente para citações diretas. Quando um interlocutor se cita a si próprio ou outra pessoa de forma direta, separe a citação do resto do texto com uma vírgula ou dois pontos e use letra maiúscula na primeira palavra da citação. Utilize por favor as aspas elevadas, também conhecidas por aspas inglesas (“). Ex.: Ela levantou-se e disse: “Eu também gostava de dar a minha opinião”. Em língua portuguesa, a pontuação deve ser colocada fora das aspas, exceto em interrogações e exclamações. O ponto final da frase deve vir depois das aspas.
Acentuação
9 A acentuação gráfica é um dos pontos fundamentais da língua portuguesa. Trata-se da aplicação de símbolos escritos sobre as letras ou palavras com o objetivo de informar sobre a sua pronúncia, de acordo com as regras do idioma. Acento agudo O acento agudo ( ´ ) normalmente é utilizado sobre as letras A, I, O, quando estas representam vogais tónicas. Exemplos: pó, flexível, guaraná Com o Acordo Ortográfico, algumas das palavras perderam este acento. Por exemplo, a acentuação nas palavras paroxítonas (nas quais o acento é colocado na penúltima sílaba) é facultativa. Ex.: “ganhámos” pode ser escrito “ganhamos” e “pára” pode ser escrito “para”. No entanto, aconselha-se a que seja mantida a acentuação para fazer a distinção das formas não acentuadas no presente do indicativo. Acento grave
A sua utilização é restrita, mas necessária. Usa-se, na prática, exclusivamente para a contracção do artigo definido “a” com a preposição “a” (“à”) e para a família do “àquele”. Acento circunflexo O acento circunflexo (^) é utilizado sobre as letras A, E e também sobre a letra O indicando um som tónico, mas de timbre fechado. Exemplos: âmago, você, mecânico Com o novo acordo ortográfico palavras terminadas em “ôo” “êem” perdem os seus acentos. Ex.: ”vêem” passa a ”veem” e ”vôo” passa a ”voo”. “Pera” e “Coa” (Armação de Pera e Foz Coa) perdem também os acentos. Til O til geralmente é usado acima das letras A ou O e possui a função de indicar uma pronúncia anasalada da letra em questão. Exemplos: questão, mamão, João. Pode também estar presente no final de palavras terminadas com a letra A que possuem som anasalado, como por exemplo “lã”.
Guia de estilo para transcrições
10 O trabalho de transcrição possui um conjunto de problemas relacionados com a tarefa de escrever o que é dito. Os ficheiros de áudio podem apresentar problemas como má qualidade de gravação, intervenções não inaudíveis e sons não-verbais que têm de ser transcritos de alguma forma. O TranscribeMe tem um conjunto específico de regras para lidar com este tipo de problemas. Falsos começos e interrupções É comum os interlocutores cometerem erros que os levam a recomeçar uma frase. A isto se chama de falso começo. Além disso, se o ficheiro de áudio que estiver a transcrever for uma entrevista, os interlocutores também se podem interromper entre si. Ambas as situações podem dificultar uma transcrição. Tanto os falsos começos como as interrupções devem ser marcados com um hífen duplo. Poderá marcá-lo ao carregar duas vezes na tecla do hífen [--]. O hífen duplo deve vir imediatamente (sem espaço) após a palavra que o interlocutor interrompe para depois recomeçar, ou a palavra em que o interlocutor parou antes de ser interrompido por outra pessoa. Note, por favor, que nem todos os falsos começos ou erros devem ser marcados desta forma. Se o interlocutor se corrige a si próprio rapidamente depois de uma falso começo, geralmente não será necessário transcrever o falso começo. Em vez disso, omita o erro e transcreva a frase correta. Identifique somente o falso começo se o orador falar por um período maior antes de se corrigir ou se a omissão do erro tornar a transcrição confusa. Considere os exemplos seguintes de como usar o duplo hífen corretamente. Certa vez, quando era novo, fui à loja para vender-- fui à loja para comprar um presente para os meus pais. O meu pai costumava dizer muitas vezes que-- ele cozinhava sempre porque pensava que não era correto deixar a minha mãe cozinhar todos os dias. Em ambos os casos, o orador começou uma ideia e mudou-a. A primeira foi mudada devido a um erro. A segunda, porque a linha de pensamento mudou a meio da frase. Ambos os exemplos são falsos começos. No segundo exemplo em particular, seria errado omitir o começo, uma vez que introduz um sujeito na frase (o pai). Contudo, se o falso começo for breve e cortá-lo não sacrifica a coerência ou o significado do segmento, poderá omiti-lo. Exemplo: Incorreto: Fui ao veterinário—à loja comprar café. Correto: Fui à loja comprar café. Neste caso, o interlocutor apenas pronunciou uma palavra errada (veterinário em vez de mercado) e corrigiu-se imediatamente. Um arquivo transcrito em clean
verbatim deve omitir erros insignificantes como este.
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As regras para a marcação de interrupções são mais simples. No ponto em que o interlocutor for interrompido, insira um hífen duplo. Por exemplo (por favor, note que NÃO deve identificar os diferentes interlocutores como “S’”, “S2”, etc. nas suas transcrições; eles estão indicados deste modo apenas como exemplo): S1 Quando estava na última empresa em que trabalhei, eu-S2 Qual foi a última empresa em que trabalhou? Se o interlocutor for interrompido enquanto estiver a fazer uma pergunta, insira um ponto de interrogação imediatamente após o traço duplo. S1 Há quanto tempo trabalha no seu atual--? S2 Há cerca de dois anos. Marcação de sons não verbais e fala inaudível Ao transcrever, muitas vezes poderá deparar-se com sons não verbais, como gargalhadas e aplausos. Muitas vezes, os sons não verbais não terão efeito algum sobre o fluxo do diálogo ou sobre o sentido da conversa, e por isso devem ser ignorados na transcrição. Porém, aplausos e gargalhadas podem ser elementos importantes. O aplauso deve ser marcado na transcrição porque sinaliza a presença de um público recetivo. Gargalhadas e risos devem ser incluídos porque permitem que o leitor saiba, por exemplo, quando algo é dito como uma brincadeira. Além dos sons não verbais, a fala inaudível também representa um problema para o transcritor. Há uma série de causas para que a fala seja inaudível: o interlocutor pode ter um sotaque pesado ou pode não pronunciar claramente as suas palavras; a qualidade da gravação pode ser má, ou dois ou ou mais interlocutores podem sobrepôr-se. Todos estes casos devem ser devidamente identificados.
Marque os aplausos numa gravação com [aplausos]
Marque gargalhadas e risos com [gargalhadas] ou [risos]
Marque músicas com [música]. Note que deve apenas marcar a música quando ela está propositadamente na gravação. Por exemplo, pode ser um anúncio, ou pode ser uma conversa em que a música é usada para introduzir um interlocutor. Caso a música seja de fundo, não a marque. Se a música de fundo tornar impossível a compreensão da fala, use a marcação [inaudível]
Se a qualidade da gravação não permitir que oiça uma palavra ou frase, ou se o ruído de fundo impedir a compreensão da fala, marque o segmento da gravação com [inaudível]
Se os interlocutores falarem ao mesmo tempo e não conseguir perceber o que está a ser dito, marque com [diálogo simultâneo]
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Se uma palavra ou frase é pronunciada com um sotaque indecifrável ou se for muito difícil de perceber por razões que não estejam relacionadas com a qualidade do áudio, marque a palavra ou frase com [?]
Se nada for dito por mais de 10 segundos, por favor marque o silêncio com [silêncio]. A marcação deve ter sua própria linha. [por favor, note que como transcritor NÃO deve identificar os diferentes interlocutores como “S’”, “S2”, etc. nas suas transcrições; eles estão indicados deste modo apenas como exemplo]. Por exemplo:
S1 Vou ter que pensar sobre isso. [silêncio] S2 Gostarias de pensar mais um pouco sobre o assunto? Se tiver dificuldade em decifrar uma palavra ou frase, mas tiver um palpite sobre o que está a ser dito, poderá indicá-lo entre parênteses retos com um ponto de interrogação. S1 Eu estudei na Universidade de [Lisboa?], em Portugal. Todas as marcações devem ser escritas em letras minúsculas. Ao inserir as marcações (exceto a de silêncio), mantenha-as por favor no interior da pontuação final e não fora. Por exemplo, se alguém se riu de algo que disse, a marcação deve vir depois de tudo o que foi dito, que terá provocado o riso. Por exemplo: S1 Naquela época eu era jovem. Fazemos asneiras quando somos novos [risos]. S2 Entendo. Quando tinha 15 anos, fui de Lisboa a Aveiro só para comprar ovos moles [risos]. Importante: Alguns ficheiros de áudio podem conter linguagem técnica ou fazer referências a produtos, objetos ou lugares que lhe são desconhecidos. Espera-se que QAs e transcritores façam um esforço para conseguir identificar palavras ou frases corretas ao ouvi-las ou através de uma pesquisa em motores de busca online. Se, mesmo assim, não tiver certeza da palavra correta após a pesquisa online, insira uma das marcações descritas acima. Antes de marcar algo como inaudível, por favor faça um esforço para escutar a palavra ou a frase antes de desistir. O contexto pode ser uma ajuda. Se uma palavra ou frase não fizer sentido no contexto, provavelmente estará errada. Exemplo: S1 Costuma ver televisão com campanha?
S2 Normalmente é o meu marido que me faz companhia.
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Deve ser óbvio para todos os transcritores que a primeira questão foi mal interpretada. Antes de submeter as suas transcrições, preste atenção a erros como este e, caso tenha dúvidas, utilize uma das marcações acima descritas. Números • • • • •
Números de 1 a 10 devem ser escritos por extenso (um, dois, três... dez). Todos os números acima destes devem ser digitados com numerais (11, 12, 13, etc.) Ao escrever números de telefone, utilize também os numerais Ao digitar percentagens, utilize o símbolo “%”. Por exemplo: 50%. Não digite a palavra “percentagem” Se não estiverem em fórmulas, digite as fracções da seguinte forma: três quintos em vez de 3/5 e um quarto em vez de 1/4 Para datas, recomenda-se a ordem de dia, mês e ano: 21 de junho de 2014.
Erros comuns de gramática e ortografia Erros ortográficos especialmente relacionados com a escrita:
• Mau/Mal Mau: é o contrário de bom (adjetivo) e acompanha um substantivo. Ex.: Hoje acordei de mau humor. Mal: é o contrário de bem (advérbio) e refere-se a um verbo. Ex.: Ela sentiu-se mal na escola.
• Há/À Há é usado com sentido de: verbo fazer (Ex.: Há dias que não o vejo.); tempo decorrido (Ex.: Há dez minutos que estou à espera do comboio.); sentido de existir (Ex.: Há crianças no pátio). À: é a junção de uma preposição com um artigo definido e normalmente sucede um verbo ou artigo. Ex.: Fui até à cidade.
• Porque/Por que “Porque” é usado em respostas e explicações. Ex: Ela chegou tarde porque perdeu o comboio. “Por que” aparece no início de perguntas ou perguntas indiretas. Está subentendido que o interlocutor está a solicitar uma razão e colocá-lo na frase ajuda a diferenciar o “por que” do “porque”. Ex: Por que (razão) chegou tarde? Não percebi por que (razão) chegou ela tarde tarde. • Haver/A ver Ter a haver significa “ter a receber” e ter a ver significa “estar relacionado a”, podendo também ser dito “ter que ver”. Ex.: Ter a haver nada tem a ver com estar relacionado. • Onde/Aonde Para evitar confundir os dois, basta pensar que “aonde” significa “para onde”. Ex.: “Aonde vais amanhã?” está correto, mas “Aonde deixaste os meus chinelos?” está errado.
14 • Em baixo/Abaixo A primeira refere-se à posição e a segunda refere-se à localização. • Comprimento/Cumprimento O primeiro está relacionado com o tamanho e o segundo refere-se a uma saudação. • Descriminar/Discriminar O primeiro significa descrever ou listar, enquanto que o segundo significa diferenciar alguém através de uma forma de racismo. • Descrição/Discrição O primeiro está relacionado com descriminar e descrever, enquanto que o segundo está relacionado com ser-se discreto. • Senão/Se não O primeiro pode ser um substantivo, um elemento de ligação ou pode ser utilizado em substituição de “sem ser”. Ex.: “Ele não tinha outra opção senão aquela” ou “Não há bela sem senão”. O segundo possui a conjunção condicional “se”, pelo que pressupõe uma condição. Ex.: Se não chover, vou à praia.
Diretrizes gerais Espera-se que transcritores e QAs mantenham um padrão básico de qualidade. Entendemos que é difícil garantir a perfeição de uma transcrição, especialmente quando a qualidade da gravação não é boa, mas existem algumas ações simples que poderá tomar para evitar cometer erros óbvios: Tenha o cuidado de verificar a ortografia de seu trabalho. É pouco profissional
entregar ao cliente um documento com erros. Portanto, reveja e preste especial atenção à ortografia e à acentuação. Por favor, escute o áudio que estiver a transcrever para se certificar de que a
transcrição faz sentido. Por vezes, o que está a ser dito pode fornecer a contextualização suficiente para identificar corretamente palavras sobre as quais tem dúvidas ou não que consegue perceber. Tenha cuidado com a pontuação. Certifique-se de que as frases são coerentes e de
que as maiúsculas e minúsculas estão corretas. Certifique-se de que os nomes estão escritos corretamente. Em caso de dúvida,
pesquise na internet. Isto é especialmente importante em ficheiros com muitas referências a nomes de produtos e lugares. E, o mais importante, certifique-se de que a sua transcrição está precisa. Não se
apresse em áudios com os quais tem dificuldades. Se já tentou perceber determinadas partes do áudio, mas não conseguiu, use uma das marcações fornecidas neste guia de estilo.
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Comentário final e links úteis Se tiver dificuldades relacionadas com a gramática ou a sintaxe e não conseguir encontrar respostas neste guia, existem diversos sites úteis e compreensíveis, que abrangem a gramática e a sintaxe em grande detalhe. Porém, se algo neste guia contradiz aquilo que encontrou noutras fontes, como as descritas abaixo, prefira sempre o Guia de Estilo do Transcribeme, exceto em casos em que seja orientado de outra forma. Dicionário: http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx Corretor ortográfico: http://www.flip.pt/FLiP-On-line/Corrector-ortografico-esintactico.aspx Conversor para o Acorto Ortográfico: http://www.flip.pt/FLiP-On-line/Conversorpara-o-Acordo-Ortografico.aspx Dúvidas de Língua Portuguesa: http://www.ciberduvidas.com/ Biblioteca Universal: http://www.universal.pt/main.php?id=69 Enciclopédia e dicionários variados: http://www.infopedia.pt/ Se ainda tiver alguma dúvida ou se precisa de melhores esclarecimentos, sinta-se à vontade para enviar um e-mail para
[email protected]. Finalmente, seja bem-vindo(a) à equipa Transcribeme! É um prazer tê-lo connosco!