1 ECO Guia Para Eco-Inovação EmPME
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Descripción: texto de apoio a PME...
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GUIA PARA A ECO-INOVAÇÃO EM PME
FICHA TÉCNICA Título Guia para a Eco-inovação em PME Projeto Ecoprodutin – Produtividade Produtividade na Indústria pela Eco-inovação Entidade Promotora AEP – Associação Associação Empresarial de Portugal Equipa Maria da Conceição Vieira Paulo Amorim Manuela Roque Depósito Legal 394588/15
Junho 2015
FICHA TÉCNICA Título Guia para a Eco-inovação em PME Projeto Ecoprodutin – Produtividade Produtividade na Indústria pela Eco-inovação Entidade Promotora AEP – Associação Associação Empresarial de Portugal Equipa Maria da Conceição Vieira Paulo Amorim Manuela Roque Depósito Legal 394588/15
Junho 2015
ÍNDICE GERAL 1.
INTRODUÇÃO
2.
ECO-INOVAÇÃO
10
2.1.
Conceito de Eco-inovação
10
2.2.
Eco-inovação nas Empresas
18
2.3.
Medidas Eco-Inovadoras Simples
30
3.
IMPLEMENTAÇÃO IMPLEME NTAÇÃO DE UM MODELO DE ECO-INOVAÇÃO ECO-IN OVAÇÃO EM 7 ETAPAS
35
3.1.
Enquadramento
35
3.2.
Identificação de Oportunidades
37
3.3.
Análise
42
3.4.
Conceção de Alternativas
67
3.5.
Seleção de Alternativas
76
3.6.
Implementação das Soluções
82
3.7.
Política de Comunicação
86
3.8.
Capitalização das Soluções Encontradas
97
4.
INTEGRAÇÃO DA ECO-INOVAÇÃO NA GESTÃO EMPRESARIAL
99
4.1.
Fases de Implementação da Eco-inovação
99
4.2.
Formação dos Colaboradores
103
4.3.
Indicadores de Avaliação
104
5.
FERRAMENTA FUNDAMENTAL: FUNDAMENTAL: ANÁLISE DO CICLO-DE-VIDA (ACV)
105
5.1.
Enquadramento
105
5.2.
Etapas do Ciclo-de-Vida do Produto
107
5.3.
Aspetos Práticos
116
5.4.
A ACV ao Serviço da Estratégia da Empresa
119
6.
CONCLUSÃO
120
7.
BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFI A
121
ECOPRODUTIN ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
9
5
ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1.
Abordagem de análise do ciclo-de-vida do produto
11
Figura 2.
Abrangência da Eco-inovação
12
Figura 3.
Relação entre as diversas vertentes da Eco-inovação
15
Figura 4.
Roda da Eco-inovação
18
Figura 5.
Custos escondidos da deposição de resíduos
20
Figura 6.
Estrutura do método de Eco-inovação Opengreen
35
Figura 7.
Identificação de oportunidades oportunidades
37
Figura 8.
Análise 360º
38
Figura 9.
Identificação de oportunidades oportunidades - Exemplo prático
41
Figura 10.
Análise
42
Figura 11.
Prospeção de Eco-inovação: variáveis
43
Figura 12.
Prospeção de Eco-inovação: critérios
43
Figura 13.
Colocação do problema - Exemplo prático
47
Figura 14.
Diagrama de identificação de funções - Exemplo prático
49
Figura 15.
Balizagem dos impactes pertinentes - BIP
53
Figura 16.
Balanço do produto
54
Figura 17.
Análise do uso
55
Figura 18.
Diagnóstico de eco-valor - Exemplo prático
58
Figura 19.
Documentação do problema - Exemplo prático
59
Figura 20.
Síntese da documentação do problema para reformulação - Exemplo prático
60
Figura 21.
Definição das condições - Exemplo prático
64
Figura 22.
Análise - Exemplo prático
66
Figura 23.
Conceção de alternativas
67
Figura 24.
Ficha de ideias
70
Figura 25.
Processo da criatividade: separar a geração da avaliação de ideias
71
Figura 26.
Mapa de eco-soluções
74
Figura 27.
Mapa de eco-soluções - Exemplo prático
75
6
Guia para a Eco-inovação em PME
Figura 28.
Seleção de alternativas
76
Figura 29.
Avaliação de ideias de acordo com o método das três dimensões - Exemplo prático
79
Figura 30.
Métodos de seleção de ideias
80
Figura 31.
Implementação Implementação das soluções
82
Figura 32.
Política de comunicação
86
Figura 33.
Rotulagem ambiental
88
Figura 34.
Evolução do marketing mix responsável num contexto de Eco-inovação
90
Figura 35.
Capitalização das soluções encontradas
97
Figura 36.
Fases de implementação implementação da Eco-inovação na gestão da empresa
99
Figura 37.
Processo de desenvolvimento de novos produtos " stage-gate " stage-gate""
102
Figura 38.
Formação para a Eco-inovação
103
Figura 39.
Etapas do ciclo-de-vida de um produto
105
Figura 40.
Definição da ACV
106
Figura 41.
Etapas para a realização de uma ACV
107
Figura 42.
Diagrama de árvore para delimitação das fronteiras do sistema em estudo
108
Figura 43.
Coprodutos e alocação de critérios
110
Figura 44.
Reciclagem: método dos stocks dos stocks
111
Figura 45.
Reciclagem: método dos impactes evitados
111
Figura 46.
Margem de progresso para a redução de impactes ambientais
115
Figura 47.
ACV e a triple bottom line line
119
ECOPRODUTIN ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
7
ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1.
Tipos de Eco-inovação
16
Quadro 2.
Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação no contexto da empresa
39
Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na cadeia de valor
39
Quadro 4.
Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na empresa
40
Quadro 5.
Matriz «ciclo e sistemas»
46
Quadro 6.
Caracterização das funções - Exemplo prático
49
Quadro 7.
Hierarquização das funções - Exemplo prático
50
Quadro 8.
Matriz MIME
51
Quadro 9.
Matriz MIME - Exemplo prático
52
Quadro 10.
Informações sobre o problema
56
Quadro 11.
Tabela "componentes-funções" "componentes-funções" - Exemplo prático
57
Quadro 12.
Definição do resultado ideal - Exemplo prático
62
Quadro 13.
Recursos substanciais e de campo
63
Quadro 14.
Ingredientes necessários a uma sessão criativa produtiva
68
Quadro 15.
Princípios criativos
73
Quadro 16.
Grelha de avaliação semi-quantitativa semi-quantitativa
79
Quadro 17.
Organização na implementação implementação de soluções eco-inovadoras
83
Quadro 18.
Obstáculos clássicos e soluções possíveis na implementação implementação de soluções eco-inovadoras
84
Quadro 19.
Tendências na comunicação de eco-inovações
93
Quadro 20.
Suportes da comunicação eco-inovadora
94
Quadro 21.
Inventário do ciclo-de-vida de um material de construção (extração)
112
Quadro 22.
Questionário de recolha de dados para ACV
116
Quadro 23.
Bases de dados e software e software para ACV
118
Quadro 3.
8
Guia para a Eco-inovação em PME
1. INTRODUÇÃO A perceção de que a economia portuguesa só conseguirá crescer de uma forma sustentada por via de um aumento da competitividade das nossas empresas é porventura hoje um dos fatores de maior consenso na sociedade portuguesa. Num mundo em que o preço dos materiais e da energia é cada vez mais elevado, e sem mostrar sinais de abrandamento, particularmente devido à emergência de potências altamente consumidoras de recursos, sendo a China o maior exemplo, a produtividade dos recursos afigura-se como um fator fundamental para a competitividade das empresas a curto/médio prazo. Paralelamente, a única forma de caminharmos rumo a uma economia mais sustentável, com maior qualidade de vida para os cidadãos e respeito pelo ambiente é precisamente uma crescente racionalização dos recursos utilizados no processo produtivo, bem como ao longo de todo o ciclo-de-vida de um produto. Assim, a implementação de soluções inovadoras e ambientalmente responsáveis nas empresas é hoje um imperativo para a competitividade das empresas, bem como para a sustentabilidade do nosso planeta, configurando-se como uma forma das empresas anteciparem desafios vindouros. Neste contexto, a AEP – Associação Empresarial de Portugal , propôs-se a implementar o projeto «ECOPRODUTIN – Produtividade na Indústria pela Eco-inovação» , que assenta no conceito da eco-inovação e tem como foco o setor industrial português, particularmente as PME, passando os seus objetivos primordiais pelo aumento da competitividade do tecido nacional português, pela redução de custos e desperdícios e por um incremento da eficiência produtiva. Eco-inovar é precisamente ser capaz de conceber e desenvolver processos produtivos que evitem o desperdício de matérias-primas e de energia, proporcionando às empresas os tão desejados ganhos de produtividade e acrescida competitividade. É este o desafio que o projeto «ECOPRODUTIN – Produtividade na Indústria pela Eco-inovação» vem colocar ao tecido industrial português. Nesse sentido, o projeto incorpora diferentes ferramentas, que adereçam diferentes propósitos da eco-inovação nas empresas. A presente publicação, intitulada "Guia para a Eco-inovação em PME" , fornece um conjunto de informações necessárias à implementação de uma estratégia coletiva, tendo em vista a incorporação da vertente eco-inovação na gestão empresarial, evidenciando como a sustentabilidade se pode transformar numa vantagem competitiva e um fator de diferenciação no mercado. O foco deste trabalho é precisamente a incorporação da eco-inovação na gestão de empresas. Nesse sentido, o estudo estabelece um método de implementação da eco-inovação de 7 etapas, detalhado, simples e prático, a ser utilizado por qualquer empresa. É ainda dado particular destaque a uma ferramenta essencial à implementação da eco-inovação em contexto empresarial: a análise de ciclo-de-vida (ACV). A AEP – Associação Empresarial de Portugal pretende que este estudo constitua uma importante ferramenta de apoio à implementação da eco-inovação no universo empresarial, de fácil consulta, ideal para guiar os primeiros passos da implementação de políticas eco-inovadoras quer ao nível operacional, quer ao nível da gestão empresarial.
"Não podemos resolver os problemas utilizando o mesmo tipo de pensamento que utilizámos quando foram criados" Albert Einstein
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
9
2. ECO-INOVAÇÃO 2.1. CONCEITO DE ECO-INOVAÇÃO A eco-inovação é um conceito de grande abrangência, que alia as componentes de inovação e ecologia. O conceito de inovação é definido pela OCDE como "a implementação de um novo ou significativamente melhorado produto (bem ou serviço), processo, método de marketing, modelo de negócio, método organizacional ou de relações externas". Esta definição aplica-se geralmente também ao conceito de eco-inovação. No entanto, o conceito de eco-inovação distingue-se do de inovação por estar relacionado com a redução dos encargos ambientais. Ou seja, é uma inovação que consiste em mudanças e melhorias no desempenho ambiental, dentro de uma dinâmica de "ecologização" de produtos, processos, estratégias de negócios, mercados, tecnologias e sistemas de inovação. Neste contexto, a eco-inovação é definida pela sua contribuição para a redução dos impactes ambientais de produtos e processos. O Observatório da Eco-inovação, entidade europeia encarregue do estudo da eco-inovação na Europa, fornecenos uma definição simples e precisa sobre o que é a eco-inovação:
"Eco-inovação é a introdução de qualquer novo ou significativamente melhorado produto (bem ou serviço), processo, mudança organizacional ou solução de marketing, que reduza o uso de recursos naturais (incluindo materiais, energia, água e solo) e diminua a libertação de substâncias nocivas, ao longo de todo o ciclo-devida".
A eco-inovação pode ser considerada em relação a todos os tipos de inovações que levem a menor intensidade de recursos e energia na fase de extração de material, fabrico, distribuição, reutilização e reciclagem e eliminação. Isso, porém, caso conduza à diminuição da intensidade dos recursos a partir da perspetiva do ciclode-vida do produto ou serviço. O termo “ciclo-de-vida” refere-se à maioria das atividades no decurso da vida do produto desde a
sua fabricação, utilização, manutenção e deposição final, incluindo a aquisição de matéria-prima necessária à fabricação do produto. A Análise de Ciclo-de-Vida (ACV) é a compilação e avaliação das entradas e saídas de materiais e dos potenciais impactes ambientais de um sistema de produto ao longo do seu ciclo-de-vida. Num estudo ACV de um produto ou serviço, todas as extrações de recursos e emissões para o ambiente são determinadas, quando possível, numa forma quantitativa ao longo de todo o ciclo-de-vida, desde que "nasce" até que "morre" – “ from cradle to grav e” (do berço ao túmulo) – sendo com base nestes dados que são avaliados os potenciais impactes nos recursos naturais, no ambiente e na saúde humana. A eco-inovação tem em conta todo o ciclo-de-vida do produto, em vez de se focalizar apenas em aspetos ambientais de etapas individuais do ciclo-de-vida. Pode assumir diversas formas, podendo traduzir-se numa ideia para uma nova start-up ou produto, bem como numa forma de melhoria nas operações já existentes na empresa. Seja através de produtos novos ou já existentes, este é um conceito que promove a redução de impactes ambientais nos momentos da conceção, produção, uso, reuso e reciclagem. A figura seguinte ilustra uma abordagem possível de análise do ciclo-de-vida do produto.
10
Guia para a Eco-inovação em PME
Fonte: Greenovate! Europe
Figura 1 – Abordagem de análise do ciclo-de-vida do produto
Em suma, a eco-inovação é caracterizada pela chamada ecologização do ciclo de inovação, que é o foco no desenvolvimento de inovações, estruturas organizacionais, instituições e práticas adequadas à redução das emissões de carbono e de impactos ambientais. Esse processo é mais do que a substituição para tecnologias de baixo carbono, e sim a evidência de novas aprendizagens envolvendo a criação de novos conhecimentos, valores, procura de regras e capacidades, assim como a destruição criativa de antigas práticas e capacidades. Fundamentalmente, a eco-inovação é algo que faz sentido não só do ponto de vista ambiental, uma vez que contribui para a preservação do meio ambiente, mas também de um ponto de vista económico, uma vez que uma maior eficiência nas organizações se traduz invariavelmente em redução de custos e aumento da competitividade.
A eco-inovação faz sentido numa perspetiva económica, bem como numa perspetiva ambiental. A sua implementação é sinónimo de competitividade económica, respeitando o ambiente.
O conceito de eco-inovação é altamente abrangente, envolvendo fatores económicos, ambientais, sociais e políticos. Implica um compromisso de longo prazo com a sustentabilidade da atividade das empresas. O seu caráter abrangente é explicitado na figura seguinte.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
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Redução de custos com materiais e energia Novos produtos e serviços: novos mercados Novos modelos de negócios
Gestão sustentável de recursos naturais Combate ao desafio das alterações climáticas Melhoria da biodiversidade e ecossistemas
Melhoria da qualidade de vida Criação de empregos novos e sustentáveis
Segurança de materiais Justiça na distribuição de recursos
ECONOMIA
AMBIENTE
SOCIEDADE
POLÍTICA
Fonte: Observatório da Eco-inovação
Figura 2 – Abrangência da Eco-inovação
Assim, a eco-inovação contribui não só para a "limpeza" ambiental, como também para a desmaterialização da sociedade. Ultimamente, contribui para uma economia mais competitiva, um meio ambiente mais saudável e uma melhoria da qualidade de vida das populações. A eco-inovação interage com estas quatro vertentes de uma forma tecnológica, bem como de uma forma não-tecnológica. Ou seja, a eco-inovação não se esgota no aperfeiçoamento e introdução de novas tecnologias, mas assume também um caráter cultural, de influência na sociedade. A eco-inovação pode manifestar-se das seguintes maneiras:
Eco-inovação tecnológica;
Eco-inovação organizacional;
Eco-inovação social;
Eco-inovação institucional;
Eco-inovação no sistema.
Cada uma destas formas de eco-inovação reflete uma abordagem distinta ao problema da sustentabilidade ambiental e das empresas, sendo, no entanto, indissociáveis e parte integrante de um todo. Assim, nenhuma destas vertentes tem primazia sobre as outras. De seguida descrevem-se resumidamente estes quatro tipos de eco-inovação.
12
Guia para a Eco-inovação em PME
Eco-inovação Tecnológica A eco-inovação tecnológica traduz-se na implementação de tecnologias preventivas e corretivas. As tecnologias corretivas reparam danos (por exemplo, solos contaminados), enquanto as tecnologias preventivas tentam evitá-los. As tecnologias preventivas são necessariamente preferíveis, havendo diversas tipologias destas tecnologias disponíveis. As mais usuais são as tecnologias de fim-de-linha e as tecnologias integradas. As tecnologias de fim-de-linha consistem, por exemplo, em métodos de deposição de resíduos e tecnologias de reciclagem, e que ocorrem após o processo produtivo e/ou do próprio consumo de produto. Contrariamente, as tecnologias integradas ou mais limpas, focalizam-se na causa direta do problema, durante o processo produtivo ou ao nível do produto. Compreendem todas as medidas direcionadas à redução dos inputs de materiais e energia, bem como de emissões, durante a produção e o consumo (e.g. substituição de vernizes tradicionais por vernizes isentos de solventes). Estas soluções são preferíveis às tecnologias de fim-de-linha e são vistas como o futuro, no caminho para a sustentabilidade empresarial.
Eco-inovação Organizacional A eco-inovação organizacional compreende instrumentos de gestão que levem a mudanças na organização da empresa, como por exemplo, a realização de eco-auditorias. A eco-inovação no setor dos serviços torna-se cada vez mais relevante à medida que os produtos materiais são substituídos por serviços menos intensivos em materiais. A eco-inovação organizacional proporciona uma mudança na cultura da empresa, ao nível da eficiência de materiais, uso da água, consumo energético, produção e deposição de resíduos e ao nível das emissões, numa amplitude que não é possível apenas com a eco-inovação tecnológica.
Eco-inovação Social Alterações no estilo de vida e comportamentos dos consumidores são usualmente definidos como inovação social. No âmbito da eco-inovação, este conceito traduz-se numa maior sustentabilidade dos padrões de consumo. Qualquer inovação bem-sucedida, seja ela tecnológica, organizacional ou institucional na sua natureza, tem forçosamente que se misturar com os valores e estilo de vida das populações. Computadores, televisões e automóveis tornam a vida das pessoas mais confortável. No entanto, as empresas continuam a investir verbas avultadas em campanhas promocionais para vender estes produtos e influenciar as preferências pessoais. É expectável que o esforço promocional para a promoção de estilos de vida sustentáveis tenha que ser ainda mais forte. A título de exemplo, para que se altere a matriz de transportes de uma sociedade, são necessárias alterações comportamentais que levem a uma maior utilização de comboios, metros, autocarros ou bicicletas. Para que a eco-inovação social funcione, é necessário estar predisposto a pagar um pouco mais e abdicar de algo (pelo menos numa fase inicial), bem como a introdução de novas instituições e instrumentos (como por exemplo, rótulos ecológicos). Assim, é fundamental identificar os principais obstáculos para a difusão de processos e produtos já existentes, como barreiras institucionais, ausência de infraestruturas, marketing profissional, conhecimento, qualidade, conforto ou sistemas de distribuição, fatores que podem levar a rácios custo/benefício desfavoráveis para o consumidor.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
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Eco-inovação Institucional Por vezes, o progresso é percebido apenas como resultado de inovação ao nível empresarial, com especial foco no progresso tecnológico. Uma vez que muitos dos problemas associados à sustentabilidade do planeta não são no essencial questões tecnológicas, esta situação cria um vazio. De facto, pode até dizer-se que a ausência de sustentabilidade está relacionada com o progresso tecnológico. Para que um paradigma de desenvolvimento sustentável nos sistemas económico e ambiental seja viável, é necessário que os incentivos e regulamentação institucional acompanhem o progresso tecnológico. Os recursos naturais estão fundamentalmente sujeitos a um regime de acesso livre e o seu uso insustentável deriva também da ausência de arranjos institucionais adequados. A resposta a esta nova realidade pode vir de redes e agências locais (e.g. para recursos hídricos com relevância local) ou através de novos regimes de governance global (e.g. instituições responsáveis por assuntos relacionados com o clima global e a biodiversidade, como é o caso do IPCC – Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas). Assim, a eco-inovação institucional é a fundação para uma política de sustentabilidade.
Eco-inovação no Sistema A eco-inovação no sistema corresponde a uma série de inovações relacionadas entre si que melhoram ou criam sistemas totalmente novos, proporcionando funções específicas com um reduzido impacte ambiental global. Uma caraterística chave da inovação no sistema é ser um conjunto de alterações implementadas por desenho. Por exemplo, a eco-inovação no sistema em relação a uma habitação, não consiste apenas na existência de janelas isolantes ou de utilização de um melhor sistema de aquecimento - consiste na inovação na conceção global para melhorar a sua funcionalidade. As “cidades verdes” são outro exemplo de inovações no sistema no qual os esforços de inovação e de
planificação conduzem a uma combinação de alterações permitindo que o funcionamento da cidade e a vida nela seja mais “verde”. Inclui, por exemplo, novos conceitos de mobilidade que fazem frente não só aos serviços tradicionais de transporte público (por exemplo, autocarros) mas também aos sistemas de bicicletas partilhadas (e a infraestrutura relacionada com o estacionamento de bicicletas) e ainda com a planificação que visa reduzir a necessidade de viajar (implica que supermercados, centros de dia, etc. se instalem nas novas zonas residenciais). A distinção entre os diferentes tipos de eco-inovação não é, no entanto, algo claro. Os diferentes tipos de inovação andam lado a lado, evoluindo em simultâneo. Ações coletivas de moradores em defesa da sustentabilidade dos padrões de consumo poderiam ser catalogadas como eco-inovação institucional, enquanto a sensibilização para as questões ambientais numa empresa se poderia enquadrar no conceito de eco-inovação social. O sucesso da eco-inovação depende de uma combinação de avanços científicos, políticos, reformas sociais e outras alterações institucionais, bem como da escala e direção de novos investimentos. A eco-inovação organizacional e social terá sempre de ser acompanhada por eco-inovação tecnológica e alguma delas terá que surgir primeiro. A figura seguinte ilustra a interligação existente entre as diferentes vertentes da eco-inovação.
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Guia para a Eco-inovação em PME
Fonte: Observatório da Eco-inovação
Figura 3 – Relação entre as diversas vertentes da Eco-inovação
Como se pode ver, há diversas formas de introduzir eco-inovação e esta pode ser meramente incremental ou de rotura. Envolvendo a eco-inovação um compromisso de longo prazo, a introdução de medidas incrementais é geralmente um primeiro passo para as empresas, uma vez que geram rapidamente resultados, normalmente com baixo ou nenhum investimento. No entanto, a eco-inovação incremental não permite as alterações sistémicas necessárias aos objetivos de sustentabilidade das economias modernas, algo que só pode ser atingido recorrendo a medidas de eco-inovação radicais, de rotura.
Inovação incremental Qualquer tipo de melhoria num produto, processo ou organização da produção, sem alteração da estrutura industrial
Inovação radical Um novo produto, processo ou forma de organização da produção inteiramente nova
A eco-inovação pode ir desde o simples controlo da poluição até uma política de ecologia industrial. A eco-inovação radical, capaz de alterar substancialmente o estado-da-arte é, como se vê na figura, a eco-inovação não tecnológica, particularmente ao nível institucional e da organização das empresas. No entanto, a eco-inovação incremental, essencialmente de cariz tecnológico, não deve ser esquecida. A eco-inovação na sua vertente mais operacional é fundamental para orientar a empresa rumo à sustentabilidade. Em termos operacionais, o principal foco da eco-inovação é a melhoria da eficiência de materiais, uma vez que repensar os consumos de matérias-primas, bem como de água e energia, é a forma mais direta de obter resultados com impacto considerável nas organizações. No entanto, geralmente considera-se que o conceito de eco-inovação, em temos operacionais, é composto pelas seguintes vertentes:
Eco-inovação no fluxo de materiais;
Eco-inovação nos processos;
Eco-inovação no produto;
Eco-inovação na organização;
Eco-inovação no marketing.
O quadro seguinte apresenta as implicações associadas a cada um destes tipos de eco-inovação.
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
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Quadro 1 – Tipos de Eco-inovação
Tipo
Descrição A melhoria da eficiência de materiais (matérias-primas, água, energia e resíduos) é a forma mais direta de obter resultados visíveis numa organização, com impacto sobre a bottom line. O objetivo é a introdução de inovação ao longo da cadeia de materiais de produtos e processos, de modo a reduzir a intensidade do uso de materiais, simultaneamente aumentando a qualidade de vida das populações. Almeja a afastar a sociedade dos atuais processos de extração, consumo e deposição de materiais, para uma sociedade baseada num sistema mais circular de uso e reuso de materiais, diminuindo as necessidades totais de recursos. Assim, algumas atividades neste âmbito i ncluem:
Materiais
Desenvolvimento de novos materiais, com melhor performance ambiental; Substituição de materiais e produtos de alta intensidade ambiental por novos materiais, novos produtos com novas funcionalidade e novos serviços com novas funcionalidades; Estabelecimento de processos de melhoria da eficiência de recursos ao longo de todo o ciclo-de-vida, nomeadamente, extração sustentável, produção e aplicação de materiais mais eficiente, otimização dos sistemas de logística, fomento da reutilização e reciclagem, recaptura de materiais preciosos de sistemas de ciclo aberto (metais críticos, fósforo), integrar módulos e materiais em bens complexos (por exemplo, painéis solares integrados em telhados), aumento do tempo de vida e durabilidade de bens e serviços, aumento da i nformação dos consumidores sobre eficiência de recursos, etc; Transformação de infraestruturas, através da melhoria dos sistemas de manutenção de estradas e edifícios, desenvolvimento de novos conceitos de edifícios, transporte e outras redes (por exemplo, rede de abastecimento de água e saneamento) "leves" em recursos, etc.
A eco-inovação ao nível do produto contempla bens e serviços. Os bens eco-inovadores são concebidos de modo a minimizar o impacte ambiental, sendo o ecodesign uma ferramenta chave neste processo.
Produto
A curto prazo, as restrições relacionadas com os recursos assumirão um caráter mais prioritário do que aquele que assumem hoje, no momento da conceção do produto, especialmente se o preço das commodities continuar a aumentar. A conceção de produtos que minimizem os impactes ambientais, diminuam a intensidade de recursos no processo produtivo e ofereçam opções de recuperação como a reparação, refabrico ou a reciclagem, deve tornar-se uma estratégia de negócios fundamental para empresas que queiram reduzir custos, bem como aumentar a segurança dos seus fornecimentos e a resiliência face aos mercados. Alguns exemplos de serviços eco-inovadores são os produtos financeiros "verdes" (como o eco-aluguer), serviços ambientais (como a gestão de resíduos) e serviços com uma menor intensidade de recursos (por exemplo, o car sharing).
Processo
A eco-inovação nos processos visa a redução do uso de materiais, a minimização dos riscos e a obtenção da redução dos custos. Alguns exemplos simples são a substituição de inputs nocivos durante o processo produtivo (por exemplo, substituindo substâncias tóxicas), a otimização dos processos produtivos (melhorando a eficiência energética, por exemplo) ou a redução dos impactes negativos dos outputs da produção (como as emissões). Adicionalmente, a redução das entradas de materiais, a chamada "mochila ecológica", nos processos produtivos e de consumo, pode também ser atingida por via da eco-inovação de processo. Conceitos normalmente associados à eco-inovação de processos são a produção + limpa, zero emissões, zero resíduos e eficiência de materiais.
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Guia para a Eco-inovação em PME
Quadro 1 – Tipos de Eco-inovação (conclusão)
Tipo
Descrição A eco-inovação organizacional consiste na introdução de métodos de organização e sistemas de gestão para superar as questões ambientais ao nível da produção e dos produtos. Estas mudanças organizacionais correspondem à dimensão socioeconómica da inovação de processo.
Organização
Inclui sistemas de prevenção da poluição, sistemas de gestão e auditoria ambiental e gestão da cadeia de valor (cooperação entre empresas para fechar os ciclos de materiais e evitar danos ambientais ao longo de toda a cadeia de valor). Assim, a eco-inovação ao nível da organização pode incluir um esforço de colaboração com entidades externas à empresa, que pode ir desde simples redes de negócios e clusters até soluções avançadas de simbiose industrial. A eco-inovação no marketing envolve alterações durante a conceção ou embalagem, product placement, promoção do produto ou política de preços. Consiste em avaliar quais as técnicas de marketing que podem ser usadas de modo a fomentar as pessoas a comprar, usar ou implementar eco-inovações.
Marketing
Em termos de marketing, a marca (um conjunto de símbolos, experiências e associações relacionadas com um produto ou serviço pelos potenciais consumidores) é um fator-chave para perceber o processo de comercialização de bens e serviços. Sendo o branding "verde" importante, na prática não é a única ou até a melhor forma de vender eco-inovações. A rotulagem é também um aspeto fundamental da eco-inovação no marketing (por exemplo, rótulo ecológico).
Fonte: Observatório da Eco-inovação
ECOPRODUTIN - Produtividade na Indústria pela Eco-inovação
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2.2. ECO-INOVAÇÃO NAS EMPRESAS Entendido em que consiste a eco-inovação e qual a racionalidade económica subjacente à sua aplicação no mundo empresarial, é importante perceber de que forma se aplica nas empresas e quais os principais desafios que se põem à sua bem-sucedida implementação. De uma forma genérica, a eco-inovação faz-se sentir nas empresas em três vertentes distintas: no modelo de negócios, nos processos produtivos e nos produtos e serviços oferecidos.
Eco-inovação no Modelo de Negócios A eco-inovação de maior rotura nas organizações tende a acontecer no âmbito do modelo de negócios, uma vez que força as empresas a reconsiderarem a sua forma de fazer negócios até então e adaptar as suas práticas e cultura empresarial de toda a organização aos princípios da eco-inovação. É necessário perceber qual a melhor forma de oferecer valor ao cliente e como satisfazer as suas necessidades, o que pode levar a uma alteração substancial nos produtos oferecidos, bem como nos processos produtivos.
Eco-inovação nos Processos Produtivos A eco-inovação atua sobre todas as grandes etapas da vida do produto, enquanto este se encontra ainda no seio da organização. Assim, envolve a implementação de medidas com vista a uma melhor gestão da cadeia de aprovisionamentos e da política de compras e a incrementar a produtividade de materiais e energia, bem como a uma melhor gestão da produção de resíduos e de emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
Eco-inovação nos Produtos e Serviços Oferecidos A ação recai sobre a forma de conceção de novos e existentes produtos da empresa, de que forma são vendidos e em que consistirá a política de marketing. Simultaneamente, exige também uma grande aposta na investigação e desenvolvimento que, inevitavelmente, terá impacto nos produtos e serviços oferecidos, bem como nos processos produtivos utilizados e no modelo de negócios escolhido.
Cadeia de aprovisionamentos
Produtividade de materiais e energia
Resíduos e emissões
Modelo Negócios Qual é a oferta de valor da empresa ao cliente?
Marketing
Design
Investigação e Desenvolvimento
Fonte: Observatório da Eco-inovação
Figura 4 – Roda da Eco-inovação
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Repensar o Modelo de Negócios Frequentemente, as empresas são forçadas a repensar e recriar o seu modelo de negócios, de forma a reduzir custos e melhorar a satisfação dos clientes. Muitas empresas são também impulsionadas por preocupações ambientais e sociais.
Principais Desafios
Repensar a oferta de valor da empresa
Os clientes não têm uma necessidade absoluta de ser os donos dos produtos. Os serviços podem igualmente cumprir as suas necessidades, por vezes de forma melhor. É importante considerar conceitos como o aluguer ou a partilha no modelo de negócios da empresa.
Analisar o horizonte dos negócios
É importante perceber quais as tendências emergentes e que podem afetar a oferta de valor da empresa e o modelo de negócios a curto e a longo prazo.
Prevenir riscos
Alterar um modelo de negócios é um processo contínuo, sendo por isso importante realizar avaliações periódicas ao modelo de negócios, de forma a tornar a empresa mais resiliente.
Acrescentar valor
Uma questão fundamental para uma empresa interessada na introdução de medidas de eco-inovação é saber como criar valor ao cliente, de uma forma que seja não só mais rentável para a empresa, mas também que consuma uma menor quantidade de recursos. A necessidade de mobilidade, por exemplo, não implica necessariamente a posse de um carro. A função desempenhada por um carro pode ser conseguida de muitas outras formas e meios de transporte, ou simplesmente limitando a necessidade de mobilidade por si só. De forma similar, a forma mais eficiente de gerir os resíduos da empresa é evitar a sua produção, em vez de desenvolver até os métodos mais sofisticados de reciclagem. Ou seja, é fundamental um pensamento outside-the-box , no sentido de tentar resolver as questões da forma mais direta e eficiente, mesmo que isso implique alterações significativas no modelo de negócios. Todas as opções devem ser consideradas.
Principais Questões
Que valor criamos para o nosso cliente?
Que necessidades dos clientes estão a ser satisfeitas com o produto?
Quais são as atividades e recursos que ajudam a empresa a desenvolver e criar valor para os clientes (know-how , recursos, parcerias estratégicas, propriedade intelectual, etc.)? Em que medida está o modelo de negócios da empresa dependente do acesso, uso de materiais e energia por parte da empresa e dos clientes? É possível conceber uma forma diferente de satisfazer as necessidades dos clientes (por exemplo, sistemas produto/serviço)?
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Eco-inovação nos Processos Produtivos A eco-inovação nos processos produtivos passa fundamentalmente por três vertentes distintas: gestão de resíduos e emissões, produtividade de materiais e energia e gestão da cadeia de aprovisionamentos.
Gestão de Resíduos e Emissões A gestão de resíduos é uma área em que o paradigma mudou completamente nos últimos anos. Em vez das empresas se preocuparem fundamentalmente com o tratamento de resíduos e com o desenvolvimento de soluções de fim-de-linha, as atenções centram-se agora em evitar ou minimizar a sua produção e na valorização desses mesmos resíduos. Os resíduos e as emissões assumem várias formas distintas (águas residuais, resíduos sólidos e biológicos, resíduos químicos, emissões atmosféricas, etc.).
Os resíduos e as emissões apresentam-se de diferentes formas (águas residuais, resíduos sólidos e orgânicos, resíduos químicos, emissões atmosféricas, etc.) As emissões e os resíduos diretos têm origem em fontes que pertencem ou são controladas pela empresa, como a produção, processos, transporte, etc. As emissões e resíduos indiretos integram os inputs de materiais e energia utilizados na extração, tratamento, produção e fornecimento de produtos e serviços.
Principais Desafios
Gestão dos resíduos
Os custos de eliminação atingem montantes na ordem de 15% dos custos de gestão de resíduos. Os custos escondidos associados aos resíduos podem estar a destruir as margens de lucro da empresa. A poupança pode também advir de um melhor cumprimento da regulamentação ambiental.
Custos de Deposição Efeito dos resíduos na capacidade, reduzindo a produtividade Custo de matérias-primas Tempo de gestão gasto Custo de processamento Transporte Armazenagem Custos energéticos Custo da água
Fonte: Observatório da Eco-inovação
Figura 5 – Custos escondidos da deposição de resíduos
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Monitorizar e avaliar a produção de resíduos
A minimização de resíduos não se esgota na redução do uso de materiais, envolvendo uma avaliação de consumos energéticos, emissões e do esforço necessário à reciclagem e reutilização dos resíduos. Quando o custo total dos resíduos é compreendido, projetos de redução da produção de resíduos nas empresas têm normalmente períodos de retorno do investimento inferiores a um ano. À medida que o custo das matérias-primas sobe e o processo de reciclagem se torna mais abrangente, a separação de materiais nos resíduos pode tornar-se economicamente viável e representar uma importante fonte de receita adicional para a empresa.
Principais Questões
Que tipo de resíduos e emissões produz a empresa?
Quais são as fontes diretas de produção de resíduos e emissões?
Quais são as fontes indiretas de produção de resíduos e emissões?
Podem os resíduos tornar-se materiais auxiliares para a empresa ou para outras empresas?
Podem os resíduos de empresas da região servir de material para o processo produtivo da empresa?
Vantagens da Eco-inovação
Diminui os custos de cumprimento de legislação ambiental; Reduz os custos de matérias-primas, transporte, armazenagem, gestão, etc., em períodos de tempo muito curtos; Permite à empresa identificar os custos escondidos associados à gestão de resíduos, que vão muito para além dos custos de deposição; A realização de auditorias sobre o uso de materiais e fluxos de resíduos permite à empresa reduzir ineficiências e a quantidade de resíduos produzida, gerando poupanças para a organização (é uma prática crescente nas empresas e muitas vezes cofinanciada por entidades governamentais); Potencia a seleção de materiais facilmente recicláveis, o que contribui para a redução dos custos de deposição de resíduos; Promove um manuseamento e armazenagem adequados, evitando quebras e perdas, o que se reflete numa redução dos custos de produção; Recorrer a esquemas de devolução ao fornecedor é uma forma de utilizar materiais reciclados no processo de fabrico; Cria uma imagem de responsabilidade social da empresa.
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Produtividade de Materiais e Energia A eco-inovação direcionada à melhoria da eficiência dos materiais e ao aumento da produtividade energética pode reduzir custos na empresa e diminuir os riscos associados ao negócio, tornando as empresas menos dependentes de importações.
Principais Desafios
A extração e utilização global de recursos praticamente dobrou nas últimas duas décadas. Esta tendência não se pode manter sem que surjam graves consequências para o meio ambiente. A volatilidade do preço das commodities, particularmente metais, alimentos e produtos agrícolas não-alimentares é maior a partir do ano de 2000 do que em qualquer década do século XX. O fórum Económico Mundial classifica a volatilidade das commodities como o quinto maior risco em termos de impactes negativos. Simultaneamente, a Europa é uma das regiões do mundo mais dependentes de importações, particularmente de combustíveis fósseis, colocando uma enorme pressão nas empresas do velho continente.
A produtividade de materiais exprime o valor económico gerado pela entrada ou consumo de uma unidade de material. A produtividade energética exprime o valor económico gerado pela entrada de uma unidade ou consumo de energia.
Diversas empresas estão expostas a riscos de falhas no abastecimento de matérias-primas, volatilidade de preços e elevados preços dos materiais. Para que as empresas identifiquem "pontos quentes" para a aplicação de práticas eco-inovadoras, é fundamental um conhecimento profundo das suas necessidades de materiais e energia para o processo produtivo.
Principais Questões
Que tipo e que quantidade de materiais são consumidos ao longo do ciclo-de-vida dos produtos e serviços oferecidos?
Que medidas podem ser adotadas para reduzir o uso de materiais, energia, água e outros recursos?
Estão a ser considerados materiais e fontes energéticas alternativas para os processos e produtos?
Medidas Rápidas
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Investir na eficiência de materiais. Há inúmeros case studies de empresas que adotaram medidas de melhoria de eficiência de materiais com bons resultados; Substituir materiais e produtos intensivos em recursos por novos materiais, produtos e serviços menos intensivos e que melhorem também as funcionalidades do produto final; Investir na eficiência energética. Está bem documentado o potencial de redução de custos nas empresas através da implementação de medidas simples de melhoria da eficiência energética.
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Gestão da Cadeia de Aprovisionamentos A gestão da cadeia de aprovisionamentos inclui ações de coordenação e cooperação com fornecedores, intermediários, subcontratados e clientes. Uma gestão sustentável da cadeia de aprovisionamentos requer a gestão dos impactes ambientais, sociais e económicos, bem como o fomento de boas práticas de governança ao longo do ciclo-de-vida de bens e serviços.
Principais Desafios
Capacidade de fazer face à volatilidade do preço das commodities e à incerteza no abastecimento de materiais e satisfação das exigências dos clientes em termos de uma maior transparência na cadeia de aprovisionamentos; A informação mais importante a recolher concerne à origem dos recursos usados na produção e evidência do seu impacte ambiental e social ao longo da cadeia de aprovisionamentos.
Principais Questões
Qual a posição da empresa na cadeia de aprovisionamentos?
Quais são os aspetos de maior valor acrescentado na cadeia de aprovisionamentos?
De que forma pode ser melhorada a colaboração com os parceiros?
Onde podem ser aplicadas práticas sustentáveis, desde a conceção à compra, da produção à embalagem, da armazenagem ao transporte e, finalmente, na reciclagem? Quais os riscos e oportunidades de uma gestão sustentável da cadeia de aprovisionamentos?
Vantagens da Eco-inovação
A gestão da cadeia de aprovisionamentos pode contribuir para a eco-inovação através da coordenação e integração de tarefas. No caso de cadeias de aprovisionamento de circuito fechado, envolve conceitos como a logística inversa, recondicionamento e remarketing;
Redução de custos pela racionalização dos processos ao longo de toda a cadeia de aprovisionamentos;
Redução de custos pela aquisição prioritária de produtos e serviços ecoeficientes;
Criação de uma "história de sustentabilidade", que permita uma maior fidelização dos clientes à empresa e aos produtos e serviços oferecidos.
Medidas Rápidas
Avaliar a forma como é gerida a cadeia de aprovisionamentos na empresa;
Mapear e medir os fluxos de entrada e saída de recursos na empresa;
Identificar a dimensão dos fluxos e os papeis e responsabilidades dos intervenientes dentro e fora da empresa; Definir papeis e responsabilidades internamente (gestor da cadeia de aprovisionamentos, comités, ao nível executivo, etc.);
Avaliar riscos e oportunidades através de uma abordagem de gestão de risco/oportunidades;
Realizar benchmarking e analisar o que é feito externamente nesta área;
Estabelecer metas de sustentabilidade e critérios de procurement na cadeia de aprovisionamentos;
Desenvolver indicadores para medir a performance e o progresso;
Incrementar a comunicação externa e interna da empresa;
Encorajar a cooperação entre clientes e fornecedores: esta prática é fundamental para as PME que consideram a dependência dos clientes uma das grandes barreiras à eco-inovação;
Considerar recorrer a clusters regionais para estruturar a cadeia de aprovisionamento;
Fomentar o uso de tecnologias e sistemas de informação na gestão da cadeia de aprovisionamentos.
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Eco-inovação nos Produtos e Serviços A eco-inovação nos produtos e serviços passa fundamentalmente por três vertentes distintas: investigação e desenvolvimento (I&D), conceção e marketing.
Investigação e Desenvolvimento (I&D) Atribuir funções de promoção da eco-inovação no seio da organização ao departamento de I&D permite a identificação de novas oportunidades de negócio.
Principais Desafios
Desenvolver produtos, serviços e tecnologias eco-inovadoras pode ser sinónimo de alterações fundamentais nos produtos existentes, o que pode ser custoso a curto prazo mas benéfico a longo prazo;
Avaliar o risco, particularmente custos/benefícios a longo prazo pode ser difícil;
Perceber os impactes ambientais ao longo de todo o ciclo-de-vida é crucial e um processo complexo;
O know-how e a informação relevante para I&D eco-inovadora podem não estar disponíveis internamente. Pode ser necessário o recurso a especialistas externos ou ao estabelecimento de parcerias.
Principais Questões
A empresa tem o know-how , tempo e recursos financeiros para investir em I&D de relevo? Quem possui as competências necessárias para implementar as atividades de I&D interna ou externamente?
A equipa de I&D precisa de formação sobre eco-inovação?
De que forma pode o departamento de I&D identificar oportunidades?
A empresa dispõe de sistemas implementados de monitorização de tendências eco-inovadoras relacionadas com o seu core-business?
Medidas Rápidas
Integrar considerações ambientais na estratégia de I&D;
Alocar uma percentagem do orçamento de I&D à eco-inovação;
Desenvolver um prémio interno anual, destinado a premiar as melhores ideias;
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Realizar ações de sensibilização sobre impactes ambientais na empresa, de forma a assinalar oportunidades e prioridades relacionadas com a eco-inovação; Analisar necessidades de mercado e tendências que fomentem a eco-inovação e disseminar os resultados por gestores-chave e designers; Identificar os impactes ambientais de produtos ao longo de todo o seu ciclo-de-vida, pontos cruciais de consumo de materiais e energia e formas de melhorar a produtividade dos recursos; Fomentar a comunicação sobre novas tenologias, materiais e processos direcionada a partes interessadas cruciais de I&D; Subscrever fontes de informação sobre tecnologias emergentes, que possam ser aplicadas com benefício ambiental; Envolver parceiros-chave e stakeholders pode produzir novas oportunidades para soluções de eco-inovação ou formas de reduzir os impactes ambientais dos produtos existentes.
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Ecodesign O ecodesign é uma ferramenta fundamental para um processo de conceção de produto assente na eco-inovação. O ecodesign consiste na integração dos impactes ambientais na conceção e desenvolvimento de produtos e visa melhorar a performance ao longo de todo o ciclo-de-vida do produto. A maioria dos impactes ambientais podem ser evitados aquando da conceção do produto. Abordar proativamente os aspetos ligados à sustentabilidade no "início-da-linha" potencia proveitos superiores para a empresa. A conceção deve especificar, por exemplo, que materiais e, em certa medida, que processos produtivos serão utilizados na fabricação do produto. Afeta também o potencial de reutilização, reciclagem e deposição do produto, bem como impactos indiretos da distribuição de novos produtos.
Principais Desafios
A conceção do produto pode ser realizada por um grande número de intervenientes, como designers de produto, engenheiros de design ou consultores, ou pode ser completada por outras áreas técnicas e de negócios, como parte das suas responsabilidades; Nas empresas de menor dimensão, a conceção, pesquisa de mercado, investigação e desenvolvimento podem estar estreitamente ligadas. Quando não é o caso, deve estabelecer-se uma ligação estreita entre atividades como a avaliação de tecnologias alternativas, produtos concorrentes e protótipos, bem como a avaliação da performance ambiental, de modo a que se possa fundamentar o processo de tomada de decisão; Abordar atributos individuais do produto como a reciclagem, biodegradabilidade ou eficiência energética de forma independente não significa necessariamente uma redução do impacte ambiental do produto na sua globalidade. É necessária uma abordagem mais ampla, que englobe todo o ciclo-de-vida do produto, para que se estabeleçam compromissos, em que um atributo do produto, como a utilização de materiais de forte intensidade energética, seja contrabalançado por outro, que pode criar uma maior ou menor eficiência de recursos. Um desafio comum a todas as empresas é calcular os impactes de produtos que não têm ainda todas as suas especificações delineadas, de forma eficiente em termos de custos e decidir entre diversos compromissos de diferentes impactes ambientais. Por exemplo, emissões de CO 2 vs escassez de materiais vs utilização de materiais com compostos tóxicos, etc.; A implementação de soluções radicais novas pode implicar um grau de criatividade ao longo do ciclo-de-vida do produto com que a empresa se encontre pouco familiarizada, sendo difícil de executar internamente; Os processos de desenvolvimento e recursos produtivos existentes na empresa podem limitar aquilo que pode ser feito interna e externamente; A comunicação de informação sobre os impactes ambientais de um produto não é sempre bem aceite pelo cliente, por vezes não influenciando o seu comportamento (por exemplo, redução do consumo energético na fase de uso). O ecodesigner pode optar por adotar uma conceção de produto que ajude o cliente a reduzir os seus impactes ambientais.
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Principais Questões
Quais são as alternativas disponíveis para melhorar o desempenho ambiental do produto no momento de conceção? Qual o potencial para ampliar o tempo de vida útil, potencial de reutilização, refabrico, reparação, upgrade ou reciclagem de parte/todo o produto? É possível separar as partes? Pode utilizar-se menos material e menos tipos de materiais, ou materiais substituídos por alternativas com menor impacte ambiental (por exemplo, materiais recicláveis/reciclados)? É possível reduzir a energia, água e consumíveis utilizados no processo produtivo ou substitui-los por outros de menor impacte ambiental? Que ferramentas estão disponíveis para efetuar uma avaliação dos impactes ambientais associados a cada uma das fases do ciclo-de-vida do produto no momento de conceção? A utilização dessas ferramentas requer formação ou especialistas externos para assegurar resultados fidedignos e compreensíveis? Que funcionalidades do produto ou informação ao utilizador podem provocar um comportamento de baixo impacte ambiental? Os materiais também possuem informação sobre reciclagem? A conceção pode permitir uma produção com menor impacte ambiental? Que experiência é necessária para o ecodesign? Pode ser feito internamente ou subcontratando? Que fases de desenvolvimento do produto beneficiariam em ser realizadas externamente?
Medidas Rápidas
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Identificar os domínios prioritários de ecodesign de produtos e serviços (por exemplo, redução de peso, aumento da eficiência energética, redução da embalagem, aumento da reciclabilidade, substituição de materiais perigosos, aumento do tempo de vida útil, etc.); Selecionar e aplicar medidas de ecodesign nas áreas consideradas prioritárias (por exemplo, energia, água, embalagem, etc.); Adicionar critérios ambientais à conceção do produto e apresentar protótipos funcionais a representantes dos consumidores, de forma a confirmar os benefícios na utilização para o consumidor final; Formar o pessoal interno, contratar uma entidade externa, efetuar parcerias com universidades ou centros de investigação, se não houver know-how para o ecodesign na empresa; Escolher ferramentas adequadas à avaliação (preferencialmente quantitativa) dos impactes previstos e permitir aos designers comparar alternativas durante o processo de conceção.
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Marketing O consumidor atual compra produtos, serviços ou tecnologias mais "verdes" porque funcionam melhor, poupam dinheiro ou são benéficas para a saúde. As marcas ecológicas integram benefícios ambientais relevantes nos produtos, oferecendo um produto de qualidade a um custo competitivo e comunicam a sua mensagem baseando-se em factos e evitando o chamado greenwashing ("eco-branqueamento" fictício de um produto ou serviço).
Principais Desafios
Os clientes - sejam consumidores finais (B2C), empresas (B2B) ou entidades governamentais consideram cada vez mais as questões ambientais e sociais no momento de aquisição; Estudos de mercado podem identificar áreas importantes de interesse ambiental ou social, de melhoria ou preocupação relativa a produtos, serviços e tecnologias eco-inovadoras, sendo por isso uma ferramenta que não deve ser subestimada; O fomento de novos modelos de negócio ou produtos, em função de predicados ambientais, requer uma abordagem diferente da abordagem quotidiana por parte do departamento de I&D, com dialogo constante entre várias partes interessadas, incluindo consumidores, parceiros e fornecedores; As considerações em termos do ciclo-de-vida do produto são cada vez mais importantes para os consumidores (as empresas devem conhecer a origem das suas matérias-primas, como são fabricadas, embaladas e depostas); Compreender o comportamento de consumidores e utilizadores é importante. O comportamento dos utilizadores do produto é fundamental para o impacte ambiental de um produto. Por exemplo, a redução do consumo energético na fase de uso do ciclo-de-vida do produto é crucial para a diminuição dos impactes ambientais em produtos de eletrónica de consumo ou produtos "brancos" (produto/equipamento destinado ao cumprimento de tarefas domésticas); As empresas devem abordar os aspetos ambientais em todas as fases do consumo: o
Sensibilização – Como sensibilizar o público sobre produtos e serviços?
o
Avaliação – Como auxiliar o público na avaliação dos predicados "verdes" de um produto?
o
Compra – De que forma os clientes compram os produtos e serviços?
o
Entrega – Como é possível entregar um produto mais ecológico ao cliente?
o
Pós-venda – Como é possível fornecer um serviço de apoio pós-venda mais ecológico?
Clientes mais ecológicos são influenciados por recomendações de pessoas de confiança e terceiros. Há repercussões negativas muito fortes sobre produtos percebidos como greenwashing, devendo as empresas ser claras acerca das características ambientais dos seus produtos; Empresas proativas constroem uma relação de confiança com os consumidores em matérias ambientais através de uma aproximação pelos vários tipos de media, particularmente websites e redes sociais, em vez de utilizarem apenas os media "tradicionais".
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Principais Questões
Foram realizados estudos de mercado junto de grupos de consumidores para determinação do grau de sensibilização ambiental, compreensão, oportunidades potenciais e preocupações? Quem é o público-alvo – consumidor final, empresas, retalho ou administração pública? Quais as características do público-alvo (massa, nicho, segmento)? Que tipo de relacionamento esperam os clientes ter com a empresa? Como estabelecer e manter um relacionamento forte com os clientes? De que forma podem as considerações ambientais ser integradas no relacionamento com os clientes e no modelo de negócios? Que necessidades do cliente estão a ser satisfeitas pelos produtos da empresa (por exemplo, novidade, capacidade de customização, funcionalidade, design, reputação, preço, redução de custo, redução de risco, acessibilidade, conveniência e/ou usabilidade)? De que forma pode a melhoria da performance ambiental (por exemplo, redução do consumo energético e dos custos) incrementar o valor da oferta da empresa? De que forma pode a informação da performance ambiental da empresa ser incorporada na política de comunicação? Qual é o argumento-chave de venda face à concorrência? Foi efetuado benchmarking ambiental sobre produtos concorrentes? Podem as características e benefícios ambientais do produto aumentar o valor do argumento-chave de venda do produto? Qual o preço que o mercado está disponível para pagar? De que forma serão afetados o preço, custo e comunicação da empresa em função do valor acrescentado percebido das características ambientais do produto? Que valor acrescentado proveniente das características ambientais do produto pode ser integrado no conceito-base do produto? De que forma podem as partes interessadas ser recompensadas pela adoção e promoção das características ambientais do produto?
Vantagens da Eco-inovação
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O feedback dos estudos de mercado e o processo contínuo de comunicação da empresa com os clientes e outras partes interessadas podem auxiliar na identificação de novas oportunidades de eco-inovação; Uma promoção assente em provas claras sobre as qualidades ambientais do produto incrementa a reputação interna e externamente; Determinação do grau de sensibilização e aceitação dos consumidores e outras partes interessadas sobre as questões ambientais pode auxiliar na identificação de novas oportunidades e ameaças; Identificação das características ecológicas do produto pode ajudar a encontrar áreas para diferenciação do produto; O estudo dos produtos concorrentes pode identificar forças do produto da empresa face à concorrência que podem ser exploradas no momento de promoção do mesmo; O estabelecimento de uma reputação assente no conhecimento ambiental pode atrair novos negócios e gerar novos consumidores.
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Medidas Rápidas
Testar as atitudes das partes interessadas sobre os aspetos ambientais. Abordar clientes atuais, bem como outras partes interessadas, através de diversas formas de media. Utilizar o feedback positivo e negativo para melhorar o desenvolvimento do produto/negócio e a estratégia promocional; Realizar benchmarking dos produtos da empresa a produtos concorrentes, sobre aspetos ambientais, funcionalidade, custo, preço, etc; Identificar os benefícios ambientais do produto face à concorrência; Determinar se a performance ambiental do produto acrescenta algo ao argumento-chave de venda e integrar os benefícios ambientais na política de comunicação dirigida aos consumidores; Assegurar-se que as alegações sobre a performance ambiental são exatas antes de as incorporar na política de comunicação; Recorrer a redes sociais ( Facebook , Linkedin, Twitter , etc.) como forma de promover a mensagem ambiental da empresa; Desenvolver um relacionamento com elementos dos media associados às questões ambientais.
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2.3. MEDIDAS ECO-INOVADORAS SIMPLES Para que melhor se perceba em que consiste a aplicação da eco-inovação nas empresas, agregamos uma série de práticas eco-inovadoras simples, de aplicação transversal à economia, que envolvem baixos ou nenhuns custos para a empresa. São as chamadas oportunidades de eco-inovação do estilo "low hanging fruits", ou seja, praticamente sem custos e com período de payback muito reduzido (inferior a um ano). Para tal, identificamos as áreas das empresas em que essas medidas podem ter um impacto mais forte e direto, gerando poupanças económicas e ambientais quase imediatas. As medidas apresentadas, pelo seu caráter generalista e transversal, devem ser entendidas como um ponto de partida para iniciar uma abordagem eco-inovadora na empresa. Medidas de eco-inovação de fundo, que impliquem transformações radicais na organização, são mais custosas e carecem de uma avaliação casuística e pensada sobre quais as melhores opções a tomar em cada empresa. Estas medidas permitem benefícios económicos e ambientais de curto prazo às empresas, sendo que só um compromisso de longo prazo com a eco-inovação pode levar à construção de um modelo de negócios sustentável numa organização.
Organização da Empresa
A elaboração e publicação de um plano para a sustentabilidade na empresa é a melhor forma de começar. Pode-se então programar as medidas que se considerem necessárias à mudança, bem como estabelecer critérios claros e mensuráveis para aferir o progresso relativamente aos objetivos traçados;
Mais do que ações pontuais, trata-se de uma mudança substancial na organização da empresa.
A realização de uma auditoria ambiental ajuda a identificar oportunidades de melhoria da eficiência da performance ambiental e a adotar um Plano de Ação Ambiental;
É importante informar e envolver, desde o início, o pessoal neste processo, com particular atenção para os quadros dirigentes. Os colaboradores mais entusiastas deverão agir como agentes mobilizadores e mediadores das preocupações e das medidas.
Pode recorrer-se à formação do pessoal nas questões ambientais, sociais e culturais, recorrendo a especialistas externos, preferencialmente oriundos de organizações locais. Poderá introduzir-se no ambiente de trabalho sugestões e outras indicações que contribuam para a concretização das intenções do plano; A utilização de uma check-list contribui para a “materialização” da noção de sustentabilidade; Finalmente, pode comunicar-se a estratégia de sustentabilidade empreendida pela empresa. A imagem da empresa sairá reforçada juntos dos seus clientes.
Envolva o pessoal da empresa e torne claro aquilo que pretende.
O esforço necessário para que uma empresa seja sustentável requer um compromisso a longo prazo. Isto significa incorporar na organização interna da empresa e na sua relação com o exterior, os processos e comportamentos conducentes a esse compromisso.
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Política de Compras A implementação de um processo de compras sustentáveis poderá envolver as seguintes ações:
Enumerar as necessidades de aquisições; Estabelecer objetivos realistas. Podem não ser cumpridos no imediato mas são orientadores das opções a tomar; Fazer escolhas, ou seja, impor critérios no relacionamento com o fornecedor, tendo por base os objetivos de sustentabilidade estabelecidos; Limitar o que se compra a produtos/matérias-primas que incorporem preocupações ambientais e que:
Tenham uma proveniência local ou regional;
Sejam duráveis;
Não contenham químicos prejudiciais ao ambiente;
Sejam reciclados e/ou reutilizáveis;
Emitam GEE (gases com efeito de estufa) mínimos;
Sirvam mais do que uma função;
Venham em grandes quantidades;
Venham em embalagens mínimas;
Tenham um certificado de eficiência energética (A ou A+).
Limitar o que se compra a produtos/matérias-primas que incorporem preocupações sociais e éticas e que:
Representem um valor acrescentado para a comunidade (por exemplo a compra a organizações sociais);
Provenham do comércio justo;
Provenham do meio local;
Provenham da agricultura biológica;
A aquisição de produtos de forma responsável significa ter em conta um conjunto de critérios de escolha. Poderá significar, por exemplo, a preferência por produtos com determinadas características, como por exemplo produtos “verdes” e produtos com preocupações sociais. A compra de lâmpadas LED, a aquisição de veículos híbridos e a preferência por produtos do Comércio Justo são exemplos de características que poderão compor compras responsáveis. A maior parte dos produtos “verdes” e social mente responsáveis têm um preço aproximado dos restantes produtos quando se leva em consideração o seu ciclo-de-vida. Experimente estabelecer parcerias com outras empresas no sentido de possibilitar a compra em grandes quantidades, baixando assim o preço.
Provenham de empresas fornecedoras com políticas e práticas sustentáveis.
A empresa está no centro de uma rede composta por clientes, fornecedores e empresas subcontratadas, por onde circulam produtos, serviços e outros recursos. Ao preferir a compra de produtos e serviços com base unicamente no preço, a empresa está a favorecer a oferta de produtos baratos, de mínima qualidade e sem consideração pelo impacte ambiental e social do processo de fabrico. A aplicação de princípios de sustentabilidade no eixo desta rede terá uma influência importante na diversidade de entidades no círculo de relações da empresa.
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Transportes
Planear os trajetos a realizar pela frota para diminuir distâncias percorridas e consumo de combustíveis; Procurar efetuar entregas durante a noite, de modo a evitar as horas-de-ponta do início da manhã e final de tarde; Optar por esquemas de acesso a frotas de veículos em vez de compra; Escolher os automóveis com maior economia de combustível; Procurar partilhar fretes com outras empresas e assim reduzir os custos de transporte, sempre que necessitar de proceder ao transporte de mercadorias; Introduzir alterações nos transportes de mercadorias. As áreas de atuação com maior potencial de geração de poupanças para a empresa e redução do impacte ambiental encontram-se ao nível dos pneumáticos (introdução de pneus de baixa resistência ao rolamento e recauchutados), reduções de peso, aerodinâmica, introdução de híbridos e tecnologia disponível ( stop-start , indicadores de mudança de velocidades, etc.); Organizar ações de formação em técnicas de eco-condução; Procurar alternativas à necessidade de viajar (práticas de trabalho que reduzam a necessidade de viajar, como o teletrabalho, videoconferência, etc.); Evitar o uso dos transportes aéreos. Nas viagens de curta distância viajar de comboio; Optar por alojamento em hotéis a curta distância dos locais de reunião/conferência e, se possível, naqueles que sigam uma política de redução do seu impacte no ambiente. No transporte de mercadorias transatlântico, é preferível o uso de transportes marítimos;
Os automóveis híbridos já apresentam alguma fiabilidade o que, juntamente com o consumo, proporcionam poupanças consideráveis nos custos de transporte. O transporte aéreo é altamente intensivo em emissões de carbono. É preferível a escolha de outros meios de transporte. A instalação da unidade produtiva perto dos centros de distribuição reduz drasticamente o uso dos transportes de entrega de mercadorias. A alteração de sistemas de logística ineficientes, bem como o aumento da capacidade de carga e do rácio capacidade/carga, permitem diminuir o número de viagens feitas. Uma melhor manutenção dos veículos pode levar a uma redução significativa dos consumos de combustível.
Optar pela compensação das emissões de GEE que causar.
O setor dos transportes é responsável por cerca de um terço do consumo de energia e por mais de um quinto das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). Também é responsável pela poluição atmosférica e sonora e pela emissão de partículas causadoras de problemas respiratórios. As empresas podem contribuir para a mitigação desses efeitos através da redução das viagens de negócios e através da racionalização das deslocações casa-trabalho e, principalmente, do transporte de mercadorias.
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Processo Produtivo
Implementar um sistema de gestão ambiental, em que estarão definidas as responsabilidades pelos aspetos ambientais durante o processo produtivo;
Utilizar técnicas de produção mais limpas;
Reduzir as entradas de materiais;
Instalar equipamentos de elevada eficiência e mantê-los em perfeitas condições operacionais; Implementar um número menor de etapas produtivas; Maximizar as oportunidades de reciclagem e reutilização de materiais; Reduzir e reaproveitar aparas e desperdícios gerados no processo produtivo;
Reduzir o consumo de fluidos e água no processo;
Optar por fontes energéticas mais limpas e de menor consumo;
Diminuir o número de consumíveis no processo produtivo, substituindo-os por materiais mais limpos; Incrementar a eficiência dos processos de limpeza de máquinas e instalações; Fazer uma melhor gestão dos sistemas de armazenagem e logística; Implementar processos produtivos o mais próximo possível da produção de resíduos "zero"; reciclar e reutilizar os resíduos produzidos; Minimizar o desgaste de ferramentas, utilizando ferramentas especializadas e de alta qualidade; Implementar práticas de controlo de processos e sistemas de verificação em cada etapa da produção, de forma a evitar desperdícios; Realizar periodicamente ações de formação e esclarecimento aos trabalhadores sobre os processos de fabrico e correto manuseamento dos equipamentos.
Pequenas alterações no processo produtivo podem assumir um impacto grande na eficiência global da organização. Os low-hanging fruits (medidas de baixo custo que reduzem impactes ambientais e custos) criam situações win-win para as empresas. A realização de controlos de qualidade regulares às matérias-primas, para que sejam utilizadas com um grau de pureza bastante elevado, reduz a quantidade de impurezas que sairão do processo na forma de resíduo. A instalação de novos equipamentos produtivos, mais eficientes, conduz à evolução tecnológica da empresa e a uma gestão mais eficaz do consumo de matérias-primas, reduzindo os desperdícios. Há diversas metodologias focalizadas na eliminação de perdas no processo produtivo, como a Gestão da Qualidade Total, ISO 9000, produção otimizada (lean manufacturing) ou Seis Sigma.
Uma maior eficiência no processo produtivo implica uma diminuição dos desperdícios e, consequentemente, um menor investimento para solucionar problemas ambientais. Reduzir a poluição através do uso racional de matérias-primas significa uma opção ambiental e económica definitiva.
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Marketing e
Responsabilidade Social
Apostar no branding "verde"; Promover as características ecológicas do seu produto, fazendo desta atividade uma parte central da comunicação da empresa, quer interna quer externa; Desenvolver novos produtos e serviços conjuntamente com as partes interessadas, particularmente com os consumidores; Utilizar o marketing ecológico como fator diferenciador face à concorrência e como meio para abrir novos mercados e atrair novos clientes; Priorizar a oferta de serviços associados a um produto em vez do produto propriamente dito, oferecendo ao cliente o direito de usufruto em vez da posse. A empresa reduz custos, fica em posse do produto e reduz o seu impacte ambiental; Apostar na certificação ambiental; Tirar partido de redes sociais como o Facebook , Twitter ou Linkedin; Não recorrer a práticas de greenwashing; Na relação com a comunidade, analisar o impacte no meio local, tanto do ponto de vista negativo como positivo. No primeiro caso, trata-se de promover o princípio da precaução no tocante à poluição e contaminação do meio local, mas também nos efeitos provocados pelas decisões empresariais, como a decisão de deslocalização. No segundo caso, trata-se de impactos positivos como a criação de emprego; Procurar ir mais longe e desenvolver iniciativas benéficas para a comunidade; Organizar ações de voluntariado de temática ambiental, com a participação das chefias e dos colaboradores ou em parceria com outras empresas;
O greenwashing traduzse numa apropriação injustificada de virtudes ambientais por parte de organizações, mediante o uso de técnicas de marketing e relações públicas. Tal prática tem como objetivo criar uma imagem positiva, diante da opinião pública, acerca do grau de responsabilidade ambiental da organização, ocultando ou desviando a atenção de impactes ambientais negativos por ela gerados. As práticas empresariais sustentáveis referem-se à relação que a empresa estabelece com a comunidade local. A consideração destes princípios na estratégia empresarial vai para além das preocupações puramente filantrópicas e altruístas. Corresponde à forma de atuação de uma empresa no século XXI, preocupada com a sua imagem, com o meio ambiente e com o desenvolvimento equilibrado da comunidade onde se insere.
Oferecer um tratamento preferencial a empresas locais.
O marketing ambiental é uma estratégia de marketing voltada para um processo de venda de produtos e serviços assente nos seus benefícios ambientais. É uma estratégia de vinculação da marca, produto ou serviço a uma imagem ecologicamente consciente. Ser ético e transparente é conhecer e considerar as partes interessadas na tomada de decisão, construindo um canal de diálogo entre as partes.
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Guia para a Eco-inovação em PME
3. IMPLEMENTAÇÃO DE UM MODELO DE ECO-INOVAÇÃO EM 7 ETAPAS 3.1. ENQUADRAMENTO De forma a auxiliar as empresas na introdução de medidas eco-inovadoras nas suas organizações, decidimos apresentar neste manual um modelo de integração da eco-inovação na realidade empresarial. O modelo selecionado foi o método OpenGreen, em virtude da simplicidade da sua aplicação e da sua capacidade para a geração de resultados positivos de forma rápida. O método em questão consiste em 7 etapas distintas, que são elencadas de seguida.
Fonte: Gingko 21 e Auki
Figura 6 – Estrutura do método de Eco-inovação Opengreen
Identificação de Oportunidades Esta etapa tem por objetivo identificar oportunidades de eco-inovação em produtos e serviços oferecidos pela empresa. As etapas seguintes da implementação do método OpenGreen são levadas a cabo por uma equipa de projeto que contempla representantes das mais variadas áreas da empresa, como o departamento de compras, logística, vendas, design, etc.
Análise Esta etapa consiste em documentar todas as dimensões do produto/serviço e contextualizá-las, definir objetivos e preparar meios para procurar soluções inovadoras, tendo em consideração as limitações da empresa.
Conceção de Alternativas Trata-se de chegar ao maior número de ideias possível, em múltiplas direções, de modo a conduzir a soluções verdadeiramente inovadoras.
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Seleção de Alternativas Entre as ideias surgidas do brainstorming, selecionar as mais pertinentes para a empresa, em função de critérios previamente definidos.
Implementação das Soluções A partir das ideias selecionadas, levar a cabo o desenvolvimento, aperfeiçoamento industrial e lançamento do produto no mercado.
Política de Comunicação Preparar a comunicação sobre o produto, destacando a sua performance ambiental.
Capitalização das Soluções Encontradas Garantir o registo e transferência do conhecimento resultante de todo o processo de eco-inovação na empresa para projetos futuros, de modo a garantir um desenvolvimento efetivo das práticas ambientais e do modelo de negócios da empresa.
Ao longo deste capítulo, abordaremos em maior detalhe cada uma das 7 etapas do modelo de eco-inovação OpenGreen.
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Guia para a Eco-inovação em PME
3.2. IDENTIFICAÇÃO DE OPORTUNIDADES As empresas podem ter múltiplas motivações para iniciar ou aprofundar um processo de eco-inovação. No entanto, a importância relativa dessas mesmas motivações difere de uma empresa para outra e condiciona a orientação de todo o processo. Assim, é fulcral que a empresa analise o seu contexto, de modo a identificar e hierarquizar os sinais favoráveis à eco-inovação. É necessária uma análise estratégica orientada ao produto e ao ambiente. É este o objeto deste capítulo. Esta etapa é crucial e não deve ser negligenciada. Por um lado, permite legitimar a iniciativa de eco-inovação e fornecer argumentos que convençam o interior da organização. Por outro lado, fornecerá as linhas-mestras que orientarão o processo de eco-inovação na empresa, assegurando a sua coerência nos vários domínios da empresa (estratégia, mercado, etc.), fator-chave para o sucesso da operação. Permite igualmente identificar em que segmento de mercado, gama de produtos, etc., se deve focalizar a eco-inovação. Como uma análise estratégica clássica, esta exploração visa todos os elementos de contexto da empresa. A figura seguinte apresenta as variáveis envolvidas nesta etapa do modelo de eco-inovação apresentado.
IDENTIFICAÇÃO DE OPORTUNIDADES
Decisão de explorar a eco-inovação
Oportunidade de eco-inovação
CONTEXTO
CADEIA DE VALOR
EMPRESA
Fonte: ADEME
Figura 7 – Identificação de oportunidades
Tal como uma análise estratégica clássica, este processo de análise visa todos os elementos do contexto da empresa. Desta forma, podemos apelidar esta análise como "Análise 360 o". A análise 360 o tem em conta as variáveis identificadas na figura anterior (contexto, cadeia de valor e empresa) relativas a esta etapa do modelo de eco-inovação. Dentro de cada variável, a análise considera diversas questões (como os impactes ambientais, os distribuidores ou a concorrência). A resposta a essas questões permite uma melhor compreensão do contexto e assegurar um melhor processo de tomada de decisão, no âmbito do projeto de eco-inovação. Auxilia a empresa a encontrar um ou mais projetos de eco-inovação pertinentes. A figura seguinte esquematiza a análise 360 o num processo de eco-inovação.
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A análise 360o está organizada em nove domínios de exploração, estruturados em três áreas de influência, ou seja:
Contexto da empresa: tecnologias, regulamentação e concorrência (a verde na figura);
Cadeia de valor: fornecedores, distribuidores e clientes, envolvendo também outras partes
interessadas como acionistas, opinion makers, etc. (a laranja na figura);
Empresa propriamente dita: seus impactes ambientais, sua estratégia e margem de manobra (a
vermelho na figura).
EMPRESA ESTRATÉGIA DA EMPRESA
MARGEM DE MANOBRA
IMPACTES AMBIENTAIS
DISTRIBUIDORES
FORNECEDORES
CADEIA DE VALOR
CLIENTES
EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
CONCORRENTES REGULAMENTAÇÃO
CONTEXTO Fonte: ADEME o
Figura 8 – Análise 360
A análise 360o é uma forma de identificar as oportunidades de eco-inovação no desenvolvimento de produtos/segmentos de mercado relevantes para a empresa, em função do contexto de mercado, das oportunidades tecnológicas ou do posicionamento estratégico da empresa. Uma análise correta é o maior garante de sucesso comercial ou industrial. A análise deve ser efetuada previamente ao início do processo de desenvolvimento de um novo produto e enquadrar-se na realidade momentânea ao nível da regulamentação e evolução tecnológica, recolhendo informação atual e pertinente para as equipas responsáveis. No mínimo, devem ser envolvidos no processo de análise os departamentos de marketing, investigação e desenvolvimento e ambiente. A análise 360o tem a vantagem de, uma vez utilizada, poder ser replicada, com alguns ajustes, em outros projetos, auxiliando na identificação de novas oportunidades de eco-inovação. De seguida, abordam-se cada uma das vertentes previamente elencadas para a identificação de oportunidades de eco-inovação e que fazem também parte da análise 360 o (contexto, cadeia de valor e empresa).
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Contexto da Empresa Em cada uma das dimensões identificadas nesta vertente (concorrentes, regulamentação e evolução tecnológica), há uma série de questões relevantes que a empresa deve colocar a si mesma no momento da identificação de oportunidades de eco-inovação no contexto da empresa. O quadro seguinte apresenta algumas dessas mesmas questões. Quadro 2 – Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação no contexto da empresa
Concorrentes
Quais os principais fatores de vantagem concorrencial?
De que forma é que o ambiente tem impacto nesses fatores de vantagem concorrencial?
Qual o grau de atividade ambiental dos concorrentes?
Quais as políticas de comunicação dos concorrentes em matéria ambiental?
Regulamentação
A que legislação ambiental está sujeito o tipo de produto oferecido pela empresa?
Há nova legislação ou normativos ambientais em elaboração?
Evolução Tecnológica
Há soluções tecnológicas emergentes com capacidade para minorar os impactes ambientais da empresa?
Quais as principias tendências a considerar?
Qual o efeito da evolução tecnológica nos impactes ambientais?
Fonte: ADEME
Cadeia de Valor De igual forma ao verificado face ao contexto da empresa, em cada uma das dimensões identificadas nesta vertente (distribuidores, clientes e fornecedores), há uma série de questões relevantes que a empresa deve colocar a si mesma no momento da identificação de oportunidades de eco-inovação na cadeia de valor da empresa. Trata-se de identificar todos os atores com os quais a empresa interage, para satisfazer as necessidades dos clientes. O quadro seguinte apresenta algumas dessas mesmas questões. Quadro 3 – Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na cadeia de valor
Distribuidores e Outras Partes Interessadas
Qual a posição da empresa na cadeia de valor?
Como identificar as partes interessadas na cadeia de valor?
Quais os intermediários-chave?
Há novos intermediários a identificar?
A que dimensões específicas são sensíveis os líderes de opinião?
Quais as expectativas dos distribuidores face à performance ambiental da empresa?
Quem são as entidades responsáveis pela gestão de produtos em fim de vida?
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Quadro 3 – Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na cadeia de valor (conclusão)
Clientes
A que dimensões específicas são sensíveis os clientes?
Que funções da empresa aportam maior valor para o cliente?
Fornecedores
Quem são os fornecedores-chave da empresa?
Quais os impactes ambientais causados pelos fornecedores?
Há outros fornecedores com menores impactes ambientais?
Fonte: ADEME
Empresa Finalmente, o quadro seguinte apresenta as principais questões no âmbito da empresa, nos domínios impactes ambientais, estratégia da empresa e margem de manobra. Quadro 4 – Questões na identificação de oportunidades de Eco-inovação na empresa
Impactes Ambientais
Quais os principais impactes ambientais associados ao tipo de produto oferecido pela empresa? Quais os impactes ambientais causados pela empresa em comparação com aqueles causados pela concorrência? Que medidas foram já implementadas para minimizar os impactes ambientais dos produtos?
Estratégia da Empresa
Qual a estratégia ambiental da empresa?
A empresa tem prioridades fortes?
A empresa divulga os seus aspetos e impacte ambientais (GEE, biodiversidade, etc.) aos stakeholders?
Margem de Manobra
O que pode ser mudado a curto prazo? A médio prazo? A longo prazo?
Quais as imposições resultantes de legislação e normas ambientais?
Quais as imposições provenientes do marketing ou dos mercados? Porquê?
Fonte: ADEME
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Conclusão: Identificação de Oportunidades A análise 360o conduz a empresa a uma análise estratégica orientada à oferta e ao ambiente, identificando oportunidades de inovação relevantes, muito para além das questões ambientais. Ao analisar as respostas dadas às questões colocadas anteriormente, a empresa identificará de forma clara as suas alavancas de impulsão da eco-inovação e os segmentos de mercado mais pertinentes para serem o objeto dessa ação de inovação. Toda esta informação será importante para:
Definir um primeiro projeto-piloto de eco-inovação;
Convencer a organização interna sobre os méritos da iniciativa eco-inovadora;
Guiar a eco-inovação ao longo do processo.
Exemplo Prático: Identificação de Oportunidades De seguida, apresenta-se um exemplo prático da fase de identificação de oportunidades, por via de uma o análise 360 . O exemplo utilizado refere-se à indústria das bebidas, mais particularmente, ao setor cervejeiro.
EMPRESA Diferenciação pela qualidade tradicional e produção local e sustentável
Impactes agrícolas (água, eutrofização, utilização de solos, ecotoxicidade, biodiversidade), energia (efeito de estufa, recursos), resíduos, matérias-primas Garrafas mais leves, cereais provenientes de agricultura biológica, pouca inovação nos fornecedores
ESTRATÉGIA DA EMPRESA
Procura dos distribuidores por produtos "verdes" e embalagens com menor impacte ambiental
MARGEM DE MANOBRA
IMPACTES AMBIENTAIS
DISTRIBUIDORES
FORNECEDORES
Surgimento de uma solução inovadora para o fabrico de cerveja
Evolução ao nível da embalagem, do processo, das matérias-primas e da distribuição, mantendo a qualidade e imagem de marca tradicional
CLIENTES
EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA
CADEIA DE VALOR Crescente consciencialização dos consumidores para as questões ambientais e da saúde
CONCORRENTES REGULAMENTAÇÃO
Diretiva Europeia sobre embalagens: eco-inovação e valorização de resíduos
Esforços de eco-inovação nos grandes fabricantes, surgimento de microcervejeiras e vendas à consignação
CONTEXTO Fonte: ADEME
Figura 9 – Identificação de oportunidades - Exemplo prático
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3.3. ANÁLISE A identificação e boa colocação de um problema é meio caminho andado para a sua resolução. No entanto, por muito que este princípio seja universalmente válido, nem sempre é aplicado de forma sistematizada numa organização, incluindo ao nível da eco-inovação. De facto, frequentemente as empresas falham na etapa da análise das soluções, gerando as chamas "falsas boas ideias": aparentemente resolvem um problema, sendo que estão potencialmente a criar um ainda maior. Assim, as equipas de eco-inovação da empresa devem orientar-se e ser orientadas no sentido de, antes de iniciar qualquer tipo de solução, procurar colocar de forma correta os problemas a resolver. É esta fase de "prospeção" que pode levar ao surgimento de autênticas "pepitas" de eco-inovação. No capítulo anterior foi abordada uma análise estratégica orientada para a oferta e para o ambiente, com vista a identificar oportunidades de eco-inovação. Esta é já uma primeira fase na colocação de um problema. Na presente etapa, o objetivo passa por afinar e aprofundar a análise.
ANÁLISE Problema de eco-inovação bem colocado e pronto a ser resolvido
Oportunidade de eco-inovação
COLOCAÇÃO, DOCUMENTAÇÃO E REFORMULAÇÃO DO PROBLEMA, DEFINIÇÃO DE RESULTADO IDEAL E DAS CONDIÇÕES Fonte: ADEME
Figura 10 – Análise
Esta fase de prospeção consiste em diversas variáveis a considerar, com o objetivo de bem explorar um problema, no sentido de encontrar a solução mais acertada para o mesmo. É importante porque aprofunda a análise 360o previamente discutida, analisando todas as dimensões do problema. A fase de análise, ou de prospeção, deve ser conduzida no início do projeto, a partir dos dados resultantes da análise 360o, por uma equipa que integre, no mínimo, representantes dos departamentos de marketing, investigação e desenvolvimento e ambiente. No entanto, é bem vinda a integração de representantes dos departamentos de compras, qualidade, industrialização, logística, pós-venda, etc. No final do projeto, os resultados encontrados nesta fase podem ser capitalizados em projetos subsequentes. As figuras seguintes esquematizam as variáveis a considerar na prospeção da eco-inovação, bem como a interligação existente entre cada uma delas.
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Guia para a Eco-inovação em PME
Funções Impactes
Uso Informação
Reformular o Problema
Ciclo e Sistemas
Idealizar
Perímetro
Ciclo de Vida
Recursos
Breve Descrição do Problema
Critérios
Fonte: ADEME
Figura 11 – Prospeção de Eco-inovação: variáveis
DOCUMENTAR O PROBLEMA
REFORMULAR O PROBLEMA
COLOCAR O PROBLEMA
DEFINIR O RESULTADO IDEAL
DEFINIR AS CONDIÇÕES
Iterações possíveis Fonte: ADEME
Figura 12 – Prospeção de Eco-inovação: critérios
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Como se pode ver pela análise das figuras anteriores, a etapa de prospeção de eco-inovação e de análise engloba 5 etapas distintas:
Colocar o problema;
Documentar o problema;
Reformular o problema;
Definir o resultado ideal;
Definir as condições.
Estas etapas não acontecem necessariamente de forma cronológica, podendo inclusivamente serem revistas ao longo do desenrolar do processo. Adicionalmente, cada uma destas etapas compreende diversas variáveis que devem ser analisadas e que foram também identificadas nas figuras anteriores. Essas variáveis e a forma como se integram em cada uma das etapas mencionadas é apresentada de seguida:
Colocar o problema (breve descrição do problema, ciclo-de-vida, ciclo e sistemas); Documentar o problema (análise funcional, análise aos impactes ambientais, análise de utilização e informação sobre o problema);
Reformular o problema;
Definir o resultado ideal (idealizar);
Definir as condições (perímetro de intervenção, recursos disponíveis e critérios de avaliação e seleção de soluções).
De seguida, apresentam-se em maior detalhe todas as etapas e as variáveis identificadas previamente.
Colocar o Problema Breve Descrição do Problema Esta etapa consiste tão simplesmente em identificar de forma clara a situação que se pretende resolver. A análise 360o fornece informação preciosa para descrever corretamente o problema. A bem da simplicidade, deve procurar-se definir o problema numa frase apenas, de forma assertiva e de fácil compreensão para todos.
Ciclo-de-Vida Trata-se de descrever o produto e o seu ciclo-de-vida, desde a extração ou produção de matérias-primas até ao fim-de-vida do produto, passando por todas as etapas de produção, distribuição e consumo. Este é um elemento essencial a qualquer processo de eco-inovação, geralmente após a realização da análise o 360 . É aqui que se começa a enraizar um pensamento de ciclo-de-vida no seio da organização. Para além de se identificarem todas as etapas que compõem o ciclo-de-vida do produto, identificam-se também os fluxos entre essas etapas e os impactes ambientais causados em cada uma delas.
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Guia para a Eco-inovação em PME
Na análise do ciclo-de-vida de um produto, devem colocar-se questões como as apresentadas de seguida:
Nome do produto/sistema; Estrutura do produto/sistema (análise estática): componentes, arquitetura, ligações entre componentes, etc.; Funcionamento do produto/sistema (análise dinâmica): em contraponto à análise estática, aqui analisa-se o produto de forma dinâmica, no momento da utilização;
Ambiente do produto/sistema: qual a envolvente do produto e em que contexto é utilizado;
Ciclo-de-vida do produto: principais etapas do ciclo-de-vida do produto.
A análise de ciclo-de-vida aplica-se não só aos produtos, mas também aos serviços, pese embora com algumas diferenças de abordagem, uma vez que a sua modelização é algo mais complexa. A própria noção de ciclo-devida pode ser questionável, uma vez que o serviço tende a desaparecer no momento de prestação. No entanto, se observarmos um qualquer serviço, a realidade é que ele agrega diversos ciclos-de-vida em si só, desde os equipamentos utilizados na prestação de um serviço (automóvel, máquinas, etc.), aos alimentos consumidos por funcionários, uso de climatização no local de trabalho, etc. Assim, podem considerar-se 4 dimensões distintas na análise do ciclo-de-vida de um serviço, a saber:
Uso;
Organização;
Infraestrutura;
Material.
Ciclo e Sistemas A abordagem ao ciclo e sistemas obriga as equipas responsáveis pela eco-inovação e conceção do produto a uma "ginástica intelectual" ao abordar os "sobresistemas" e "subsistemas" do produto em análise e as diferentes etapas do ciclo-de-vida. A abordagem permite explorar de forma sistemática os diferentes níveis do sistema, de modo a reduzir os impactes ambientais. Esta ferramenta deve ser utilizada no início do projeto, para definir a margem de manobra, durante o projeto, para efetuar correções nas áreas identificadas e no final do projeto, para que se possa capitalizar sobre os sucessos atingidos em projetos futuros. Para a sua utilização, é necessário que se definam as etapas de ciclo-de-vida e os níveis de sistema adequados a cada projeto de eco-inovação. O sistema é o produto em análise; os subsistemas são as componentes do produto; o sobresistema é o sistema em que o produto opera. Há portanto uma análise a nível micro (sistema e subsistema) e a nível macro, global (sobresistema).
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Esta abordagem ao nível do sistema é muito importante, uma vez que permite, no processo de conceção, ter uma noção da forma como o produto se integra na sua envolvente. Assim, a equipa de conceção pode ter em consideração os impactes ambientais de um produto/serviço à escala global, ao longo de todo o seu ciclo-de-vida, podendo efetivamente conceber produtos que reduzam os impactes ambientais a um nível global e não só na oferta da própria empresa. O princípio desta abordagem é simples: constrói-se uma matriz, em que o eixo horizontal identifica as principais etapas do ciclo-de-vida e o eixo vertical os diferentes níveis do sistema. O quadro seguinte apresenta um modelo desta ferramenta. Quadro 5 – Matriz «ciclo e sistemas»
CICLO-DE-VIDA DO PRODUTO Produção A M E T S I
Sobresistema
S
O D L E V Í
N
Sistema
Subsistema
Fonte: ADEME
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Distribuição Distribuiç ão
Utilização
Fim-de-Vida
Exemplo Prático: Cerveja Engarrafada O exemplo dado de seguida socorre-se uma vez mais da experiência da indústria da cerveja.
Descrição O produto em causa é uma cerveja servida em garrafa ou lata. Os objetivos são:
Malteria
Responder às necessidades do mercado; Reduzir os custos de produção a médio prazo; Concorrer com os grandes players e players e diferenciar-se face aos players locais; players locais; Educar o consumidor.
Cooperativa Agrícola
Em função disto, o problema pode ser descrito da seguinte forma: "Desenvolver uma boa cerveja, com menores impactes ambientais ao longo do seu ciclo-de-vida, educando o consumidor no processo"
Ciclo-deVida
Fornecedores de Embalagens
Fabricantes
Distribuidor Fim-de-Vida
Utilizador
Ciclo-de-Vida da Cerveja
Nome do produto/sistema: produto/sistema: cerveja destinada ao mercado da grande distribuição. Estrutura do produto/sistema: produto/sistema: uma garrafa, cerveja no interior, uma cápsula metálica. Funcionamento do produto/sistema: produto/sistema: o consumidor remove a cápsula, serve a bebida num copo e consome a cerveja. Depois descarta a garrafa vazia e os seus componentes. Ambiente do produto/sistema: produto/sistema: Armazenagem refrigerada: alimentos armazenados conjuntamente com a cerveja no frigorífico; Consumo: na cozinha, sala-de-estar, sala-de-jantar, terraço, jardim, etc.
Ciclo e Sistemas
Sobressistema
Sistema Perímetro Subsistemas
Agricultura
Malteria
Fabrico
Distribuição
Utilização
Fim-de-Vida
Cereais, arroz, campo agrícola
Forno, sala de germinação, malteria
Produção (cuba), forno, embalagem
Armazém, camião, paletes
Frigorífico, mesa, sala, jardim
Reciclagem, incineração, deposição
Cevada, cereais
Malte
Cerveja
Cerveja embalada
Cerveja
Garrafa vazia
Cereais no campo
Grãos
Fermentação
Garrafa
Copo
Garrafa
Sementes, amidos, razies
Cascas, amidos, grãos
Mosto, borras, água, gás, levedura, odor
Garrafa, cerveja, gás, cápsula
Espuma, líquido, gás, copo
Garrafa, cápsula, etiqueta
Fonte: ADEME
Figura 13 – Colocação do problema - Exemplo prático
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Documentar o Problema Contrariamente ao capítulo anterior referente à colocação do problema, em que as diversas etapas (breve descrição do problema, ciclo-de-vida, ciclo e sistemas) se sucediam de forma cronológica, na fase referente à documentação do problema, as diversas etapas podem ser implementadas a qualquer momento e até em simultâneo. O objetivo passa por recolher toda a informação necessária a uma boa documentação sobre o problema, de modo a que se possa proceder à sua reformulação, tendo a nova informação em atenção. Para isso, são levados em conta aspetos essenciais do processo de eco-inovação, como as funções do produto, a sua utilização e o seu impacte ambiental. São estas questões que serão apresentadas de seguida.
Análise Funcional A análise funcional destina-se a garantir que o produto vai de encontro às necessidades dos consumidores, não considerando ainda as limitações enfrentadas pela equipa de conceção. O método proposto desenrola-se a três tempos, a saber:
Identificação das funções - com recurso a diagrama;
Caracterização das funções - definindo-se um ou mais critérios para cada função e um nível para cada
critério;
Hierarquização das funções - tendo em conta a realidade económica da empresa.
Um produto fruto da eco-inovação é acima de tudo um produto funcional que responde às necessidades do cliente ou utilizador. A análise funcional assume-se como uma ferramenta essencial para qualquer processo de eco-inovação, pela relevância que assume na perceção das reais necessidades desse mesmo consumidor ou utilizador. De seguida, descrevem-se cada uma das etapas que constituem a análise funcional.
Identificação das Funções Uma forma simples para a identificação de funções de um produto é através do recurso a um diagrama. Para a realização deste diagrama, o produto em análise é colocado no centro do diagrama. Seguidamente, elencam-se características do produto ou pontos importantes a referir sobre o mesmo à volta do centro. Finalmente, é necessário criar ligações entre o produto e as características/pontos-chave identificados. Esta primeira análise é algo vaga, servindo como um ponto de partida, até que na fase de caracterização de funções se elabora um pouco mais sobre as temáticas previamente analisadas. A título de exemplo, a figura seguinte apresenta um diagrama possível para a indústria da cerveja num mercado típico.
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Fonte: ADEME
Figura 14 – Diagrama de identificação de funções - Exemplo prático
Caracterização das Funções Para a caracterização das funções é conveniente definir critérios, meios de quantificação ou validação, objetivos ou níveis de desempenho a atingir. É igualmente útil selecionar um grau de flexibilidade para os objetivos. Continuando com o exemplo da cerveja, chegaríamos a um quadro deste tipo: Quadro 6 – Caracterização das funções - Exemplo prático
Funções
Critérios
Nível
Medição
Flexibilidade
Equilíbrio
Nota > 6/10
Painel de degustação
Apenas notas superiores
Amargura
Nota = 4/10
Painel de degustação
Resistência ao choque
Nível definido por norma
Teste
Apenas notas superiores
Estanquicidade ao ar
Estanque a 1,5 atm
Teste
Apenas notas superiores
Gosto
Resistência ao ambiente externo
+ ou -1 3 < Nota < 5/10
Fonte: ADEME
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Hierarquização das Funções A hierarquização das funções é importante para permitir à equipa responsável pela conceção do produto, ao longo do seu desenvolvimento, efetuar escolhas e saber que funções deve privilegiar. Isto faz-se simplesmente catalogando as funções em três categorias: fundamental, importante e útil. Todas as funções que se enquadrem em alguma destas categorias devem ser eliminadas. Podem ainda ser utilizados modos mais complexos de hierarquização, como por exemplo, a atribuição de um grau a cada uma das funções. O quadro seguinte apresenta um exemplo de hierarquização de funções, uma vez mais aplicado à indústria da cerveja. Quadro 7 – Hierarquização das funções - Exemplo prático
Funções
Hierarquização Fundamental
Importante
Útil
X
Gosto Aspeto
X
Apreço
X
Frescura
X
Convívio
X
Armazenagem
X
Resistência ao choque
X
Armazenagem em prateleira
X
Atratividade ao redor
X
Ambiente
X
Informações legais
X
Fonte: ADEME
Análise dos Impactes Ambientais De uma forma genérica, aqui pretende-se identificar as etapas e elementos com maior impacte ambiental, de modo a poder direcionar os esforços da empresa para essas áreas críticas. Como já foi dito, a avaliação ambiental envolve múltiplos critérios e consideração por todo o ciclo-de-vida de um produto. A análise do ciclo-de-vida (ACV) é a ferramenta de referência para avaliar o impacte ambiental de produtos e serviços. Uma cobertura global do ciclo-de-vida recorrendo a uma abordagem multicritério permite captar os impactes ambientais causados por um produto de forma objetiva, evitando a transferência da poluição para uma fase diferente do ciclo-de-vida. No entanto, nesta fase do projeto não é viável o recurso a uma análise do ciclo-de-vida, senão vejamos:
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Como avaliar o impacte ambiental de um produto que ainda não existe? Como difundir informação assertiva e de fácil compreensão a equipas de conceção pouco familiarizadas com a análise de ciclo-de-vida? Como conciliar os tempos do projeto com a realização de um estudo de ciclo-de-vida?
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Uma primeira abordagem passa por procurar similaridades com um produto já existente, para encontrar prováveis impactes ambientais e pistas de eco-inovação. Pode recorrer-se à ACV de uma geração precedente do produto ou de um produto da concorrência. Uma segunda recomendação vai no sentido de fomentar o uso de uma ferramenta chamada "Matriz Multi-impactes Multi-etapas" (MIME). Esta é uma forma sintética e visual de apresentar resultados à equipa de conceção. Esta ferramenta permite clarificar os impactes ambientais de grande escala, uma vez que se constitui como uma visão sintética dos desafios ambientais, permitindo direcionar o foco das equipas para os problemas mais prementes. Situam-se os principais impactes ambientais ao longo do ciclo-de-vida de um produto em fase de conceção. Deve ser utilizada logo no início do processo de conceção, de modo a que se possam enquadrar as prioridades ambientais e consultada ao longo de todo o processo, como forma de lembrete dos objetivos e prioridades identificadas. O quadro seguinte apresenta um exemplo possível de uma matriz MIME. Quadro 8 – Matriz MIME
Multiimpactes/ Multietapas
Produção de Materiais
Fabrico
Distribuição
Uso
Fim-de-Vida
Energia Substâncias Tóxicas Recursos não Energéticos Emissões Atmosféricas Emissões para a Água Emissões para o Solo Produção de Resíduos Outros (Ruído, Radiações, etc.) Fonte: ADEME
Como se pode ver, é efetuada uma análise ao longo do ciclo-de-vida e considerados os principais impactes ambientais causados pelo produto. Naturalmente, há impactes ambientais que são relativamente fáceis de observar e de levar em consideração, como é o caso dos resultantes da produção de matérias-primas ou dos consumos energéticos. No entanto, a MIME permite incluir outros fatores menos óbvios, como por exemplo, a forma como o consumidor utiliza o produto ou a quantidade de clientes que o utilizam, que podem ter um peso significativo no impacte ambiental causado pelo produto. O preenchimento do quadro anterior envolve uma gradação dos impactes causados, que pode assumir diversas formas. A título de exemplo, apresentamos de seguida uma matriz MIME aplicada à indústria da cerveja, em congruência com o exemplo que tem vindo a ser sistematicamente apresentado. Consideramos três graus com códigos de cor: a vermelho, o impacte ambiental mais negativo; a amarelo, um impacte ambiental já bastante significativo; e finalmente, a verde, um impacte ambiental correspondente a aproximadamente zero.
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Quadro 9 – Matriz MIME - Exemplo prático
Multiimpactes/ Multietapas
MatériasPrimas
Fabrico
Embalagem
Distribuição
Uso
Fim-deVida
+
+
0
0
+++
0
Emissões Atmosféricas
+++
+++
0
+
+
+
Emissões para a Água
+++
0
0
0
+
0
Consumo de Água
+++
+
0
0
+
0
Energia / Efeito de Estufa
Recursos Naturais
+
0
Utilização de Solos
+
0
Produção de Resíduos
0
0
Substâncias Tóxicas
+
0
0
+
Fonte: ADEME
Uma outra ferramenta de que as empresas se podem socorrer é a ferramenta de "Balizagem dos Impactes Pertinentes", ou BIP. A ferramenta indica as questões a colocar, bem como os impactes ambientais mais prováveis associados ao produto. A ferramenta permite hierarquizar rapidamente os principais impactes ambientais de um produto a ser alvo de eco-inovação, orientando as escolhas da equipa de conceção no sentido de procurar as eco-soluções mais pertinentes à diminuição dos impactes ambientais associados ao produto/serviço. Esta ferramenta é particularmente importante quando os conhecimentos sobre a eco-inovação num determinado produto são ainda pouco desenvolvidos e na ausência de ACV par a produtos similares. É utilizada nas primeiras fases do processo de conceção, para identificar as direções de inovação a privilegiar ou para hierarquizar as pistas da matriz MIME e na fase de avaliação de ideias, para estimar os riscos/benefícios associados a cada solução idealizada.
52
Guia para a Eco-inovação em PME
Abordar imediatamente essas exigências
Se sim Exigências ambientais?
Boas práticas agrícolas, redução de perdas
Se sim Inputs agrícolas? Reduzir o consumo de energia ou seus impactes
Se sim Consumo de energia e emissões de GEE?
Limitar o impacte de substâncias tóxicas
Se sim Uso de substâncias tóxicas?
Reduzir o consumo de consumíveis
Consumo de consumíveis no uso?
Se sim Reduzir impactes na produção e fim-de-vida
Se sim Duração de vida curta?
Fonte: ADEME
Figura 15 – Balizagem dos impactes pertinentes - BIP
O "Balanço do Produto" é outra ferramenta útil na documentação do problema, uma vez que permite ao utilizador perceber quais são os componentes, matérias-primas, processos ou etapas do ciclo-de-vida responsáveis pelos principais impactes ambientais provocados, no âmbito do sistema idealizado, e identificar assim elementos sobre os quais agir prioritariamente. Uma função de comparação permite ao utilizador testar as soluções de melhoria identificadas. Os resultados surgem sob a forma gráfica, como se pode ver de seguida. Esta ferramenta pode ser utilizada gratuitamente e está disponível no seguinte endereço: http://www.base-impacts.ademe.fr .
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Formação fotoquímica de ozono
Exaustão dos recursos minerais, fósseis e renováveis
Eutrofização aquática (marinha)
Alterações climáticas
-10% 0% Fabrico
10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Distribuição/Embalagem
Uso
Fim-de-Vida
Fonte: ADEME
Figura 16 – Balanço do produto
Análise do Uso Esta análise deve ter em consideração o comportamento real dos utilizadores, o contexto da utilização e eventuais problemas, permitindo assim obter ganhos ambientais significativos, oriundos de um profundo conhecimento adquirido. Nesta análise, é importante apreender todos os pontos positivos e negativos da experiência do utilizador recorrendo-se, sempre que possível, a análise in situ. A análise de uso deve ser conduzida na fase de análise discutida neste capítulo, antes ou depois das restantes fases de análise ambiental e funcional. A análise do uso é aliás complementar à análise funcional, podendo servir como fonte de informação para esta. A figura seguinte apresenta um exemplo prático da utilização desta ferramenta no setor da cerveja. As condicionantes analisadas são as seguintes:
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Compra da cerveja;
Trajeto de regresso a casa;
Armazenagem;
Conservação;
Dia de consumo;
Abertura da cerveja;
Serviço;
Degustação;
Fim;
Resíduos;
Limpeza.
Guia para a Eco-inovação em PME
O consumidor desloca-se ao local de venda.
Compra da cerveja
Abertura Remove-se a cápsula.
Procura até encontrar a zona das bebidas alcoólicas.
A cerveja pode transbordar garrafa, gerando perdas.
da
Questiona-se sobre que cerveja escolher, efetua o seu benchmark ou escolhe a primeira que veja. Coloca a garrafa de cerveja escolhida no cesto e desloca-se à caixa.
Serviço
Retira a garrafa de cerveja do cesto e coloca-a na passadeira.
A cerveja é servida num copo ou consumida diretamente da garrafa. Pode gerar-se maior ou menor nível de espuma.
Paga-a e coloca-a num saco.
Trajeto de regresso
Transporta a garrafa de cerveja e a sua embalagem até casa.
A cerveja é bebida, originando prazer ao utilizador.
Degustação
O trajeto até casa é mais ou menos longo e mais ou menos agradável (garrafa de cerveja no carro, ou pack de 24 em moto).
Uma vez em casa, armazena-a:
Armazenagem
Utilizar o mesmo copo para várias cervejas tende a diminuir a sua qualidade.
Fim
A garrafa de cerveja pode ter uma utilização direta.
No frigorífico, caso planei bebe-la de imediato.
A garrafa vazia pode ser armazenada durante alguns momentos, horas, dias... odor de fermentação desagradável.
Resíduos
Deita fora a embalagem ou coloca-a no frigorífico com a garrafa de cerveja.
Dia de consumo
A degustação terminou, restando apenas um pouco de líquido no fundo da garrafa.
Num armário, caso preveja bebe-la mais tarde;
Armazena a garrafa de cerveja nestes locais ou onde haja espaço (não necessariamente em boa posição e/ou a boa temperatura).
Conservação
O copo é muito grande, as pessoas consomem-na a ritmos diferentes, podendo acontecer que o final esteja morna e sem gás.
A garrafa de cerveja e eventualmente a sua embalagem ficam sujeitas a variações de temperatura e posicionamento.
A garrafa vazia é descartada:
Em caixotes do lixo genéricos;
Em vidrões;
No local de recolha do lixo;
No local de aquisição;
Limpeza
No dia da degustação, a garrafa de cerveja sai do seu local de conservação.
O copo é limpo e armazenado. É consumida água para efetuar a lavagem.
Poderá ainda ficar uns minutos no congelador, de modo a que fique fresca. Fonte: ADEME
Figura 17 – Análise do uso
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Informações sobre o Problema É importante explorar os pontos seguintes:
O problema a ser resolvido;
As causas do problema;
As consequências negativas da não resolução do problema;
O histórico do problema;
Problemas similares encontrados em outros setores;
Outros problemas.
O quadro seguinte apresenta um modelo possível a utilizar. Quadro 10 – Informações sobre o problema
Ponto
Descrição
Problema a ser resolvido
O problema a resolver deve ser descrito de uma forma sintética.
Descrição das causas do problema (passado, presente e futuro do sistema, entradas e saídas)
A equipa interroga-se sobre as causas do problema e sobre a evolução do sistema ao longo do tempo. De onde vem o problema? Qual a causa do problema? Como é que o sistema se portou no passado? E de que forma se comportará no futuro? Caso o problema persista, quais as consequências para a empresa? E para as diferentes partes interessadas?
Consequências indesejáveis de uma não resolução do problema
À partida, em qualquer problema de eco-inovação, é possível antecipar as consequências ambientais e sociais para as gerações atuais e vindouras. Essas consequências devem ser identificadas nesta fase. Outras questões podem ser antecipadas, como riscos de imagem para a empresa ou perda de quota de mercado.
Histórico do problema
O problema já foi tratado na empresa? Ou apenas explorado?
Outros sistemas em que existe um problema similar
Pode tratar-se um outro domínio da atividade da empresa ou procurar soluções em sistemas mais distantes.
Outros resolver
Esta é uma questão aberta, com o objetivo de levar as equipas responsáveis a aprofundar a reflexão sobre o problema atual e outros que possam surgir.
problemas
a
Fonte: ADEME
Conclusão: Documentar o Problema Uma forma de condensar as principais variáveis abordadas na fase de documentação do problema (análise funcional, análise dos impactes ambientais, análise do uso e informações sobre o problema) é através de um diagnóstico de eco-valor. O diagnóstico de eco-valor sintetiza as análises funcional, ambiental e de uso, permitindo pôr em perspetiva a repartição de custos, do valor e dos diferentes impactes ambientais inerentes ao produto ou serviço. A interpretação deste diagnóstico permite estabelecer os eixos da inovação. Realiza-se após as etapas de análise ambiental e funcional e antes da reformulação do problema. Uma vez terminadas as análises ambiental e funcional, é possível cruzar as duas para uma análise de valor.
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Efetivamente, para a realização de uma análise de valor a um produto, a empresa compara a distribuição do valor do produto entre as suas diferentes funções, em função dos custos. Esta comparação permite identificar áreas de progresso para pôr em funcionamento as quatro dimensões da análise de valor, a saber:
Eliminar o "não-valor" acrescentado;
Reduzir o supérfluo;
Melhorar o útil e o essencial;
Criar novo valor.
A primeira etapa para a realização de um diagnóstico de eco-valor é conceber uma tabela de "componentesfunções", que indica como cada componente contribui para cada uma das diferentes funções. O quadro seguinte apresenta um exemplo de uma tabela deste tipo, uma vez mais aplicado à indústria da cerveja. O somatório de cada linha deve corresponder a 100. Quadro 11 – Tabela "componentes-funções" - Exemplo prático
o t s o G
o t e p s A
Água
10
15
Cevada/Malte
60
10
Lúpulo
70
Processo
40
o ç e r p A
a r u c s e r F
o i v í v n o C
m e g a n e z a m r A
o a a e i c u n q o ê h t s c i s e R
m a r e i e g l a e n t e a z r a p m r m A e
o a e d r a o d i d v e r i t a r t A
e t n e i b m A
s e õ s ç i a a g m e r l o f n I
75 10
10
10
10
10
10
30
10
20
Garrafa
30
10
10
10
30
Rótulo
30
Armação
30
30
40
Cápsula
30
30
40
10
60
10
Fonte: ADEME
Para alimentar este diagnóstico de eco-valor, deve proceder-se à realização de uma análise funcional e de valor (para atribuir um valor a cada função, classificando-as por ordem de importância decrescente, de acordo com o ponto de vista do consumidor), uma análise de custos (para enquadrar a discussão) e uma análise ambiental (ou ACV). Ao combinar estas análises com a tabela "componentes-funções", é possível chegar a um diagnóstico de eco-valor. Esta etapa é relativamente complexa e fulcral para se atingir a tripple bottom line: o sucesso económico, social e ambiental. A figura seguinte apresenta um exemplo de um diagnóstico de eco-valor para a indústria da cerveja.
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Custo 3 15 8
Água Cevada Lúpulo ...
ACV: Impactes CO2 Recursos Água 3 5 Cevada 15 32 ...
Análise de Custos
F1 F2 ...
Análise Ambiental
Valor (nível) 1 Análise 6 Funcional/Valor
Tabela Água Componentes- Cevada Funções ...
Diagnóstico de Eco-Valor F1 F2 ...
Valor 6 1 ...
Custos 15 5 ...
Impacte 7 3 ...
Fonte: ADEME
Figura 18 – Diagnóstico de eco-valor - Exemplo prático
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...
Guia para a Eco-inovação em PME
F1 10% 60%
F2 15% 10%
...
Exemplo Prático: Documentar o Problema O exemplo dado de seguida socorre-se uma vez mais da experiência da indústria da cerveja.
FUNÇÕES
ANÁLISE DE USO
Gosto agradável; Sensação de frescura; Favorece o convívio; Consumo simples (armazenar e abrir); Resistente ao choque; Atrativa ao redor; Armazenável em prateleiras; Respeita o ambiente.
1. Compra da bebida
INFORMAÇÕES SOBRE O PROBLEMA
O problema a ser resolvido Como desenvolver uma boa cerveja com impactes ambientais reduzidos e educando o consumidor.
O consumidor desloca-se ao local de venda. Procura até encontrar a zona das bebidas alcoólicas. Questiona-se sobre que cerveja escolher, efetua o seu benchmark ou escolhe a primeira que veja. Coloca a garrafa de cerveja escolhida no cesto e desloca-se à caixa. Retira a garrafa de cerveja do cesto e coloca-a na passadeira. Paga-a e coloca-a num saco.
2. Trajeto de regresso
Descrição da causa do problema (passado/presente/futuro do sistema, entradas e saídas) Passado: Falta de sensibilização sobre consumos energéticos e de água; Presente: Legislação, mercado e consumidores mais consciencializados - domínio de mercado dos grandes produtores atração por bebidas alcoólicas fortes e frutadas; Futuro: Transparência para com clientes e consumidores - ecologia industrial, parcerias locais sustentáveis - sensibilização e pedagogia - difusão rápida de informação, era digital.
...
ANÁLISE AMBIENTAL
Consequências indesejáveis da não resolução do problema Aumento da regulamentação; atraso para a concorrência, ataques de associações de consumidores, poluição, etc.
Histórico do problema Sem histórico do empresa.
problema
na
Outros sistemas nos quais um problema similar existe Agroalimentar (vinhos); Construção (cimento, ...).
Fonte: ADEME
Figura 19 – Documentação do problema - Exemplo prático
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Reformular o Problema Uma vez exploradas as diferentes dimensões do problema, é possível reformular a questão de eco-inovação colocada, para a precisar e especificar. Este trabalho parte da etapa anterior da documentação do problema, particularmente ao nível das funções e impactes ambientais associados ao produto/serviço.
Exemplo Prático: Reformular o Problema A figura seguinte apresenta um exemplo de um modo de reformulação de um problema, aplicado à indústria da cerveja.
Análise
Funcional
Constatações
Alavancas
Síntese
Melhorias possíveis em dois eixos.
Eixos: Respeito pelo ambiente; Valorização do consumidor e fomento do consumo responsável.
Melhoria no fabrico em termos de: Perdas (efeito indireto no impacte das matérias-primas); Consumo de energia.
Problema potencial na degustação (cerveja morna), em função da dimensão grande da garrafa.
Uso
Como manter a cerveja fresca enquanto é consumida, após abertura da garrafa?
Ambiental
Fortes impactes em: Matérias-primas; Fabrico; Refrigeração; Fim-de-vida da garrafa.
Comunicação aos clientes para: Valorizar mercado; Fomentar uma armazenagem otimizada e a valorização da garrafa.
Pouca margem de manobra nas matériasprimas (essenciais ao gosto); Bom controlo do fabrico; Informação possível do consumidor; Deposição a avaliar.
Preparar um sistema de deposição das garrafas: Convencer parceiros locais; Melhoria da participação local.
Reformulação do Problema Melhoria da performance no fabrico: Redução das perdas; Redução do consumo energético.
Comunicação com os clientes para: Valorizar iniciativa de eco-inovação; Promover uma armazenagem e conservação otimizadas e à valorização da garrafa.
Fonte: ADEME
Figura 20 – Síntese da documentação do problema para reformulação - Exemplo prático
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Guia para a Eco-inovação em PME
Definir o Resultado Ideal Esta ferramenta permite à equipa de conceção um exercício de abstração: focar-se num mundo ideal, identificando exatamente quais os resultados que pretende, sem levar em conta constrangimentos como soluções preexistentes e produtos já disponíveis. Liberta a criatividade do " design dominante", em busca de um resultado final ideal. Esta ferramenta apresenta uma dupla utilidade: por um lado, permite um pensamento outside the box , que é o grande desafio da eco-inovação; por outro lado, permite à equipa de conceção identificar todas as divergências potenciais na definição do objetivo, no sentido de se realinhar por um objetivo comum. A noção de "ideal" é primeiramente definida de forma absoluta, de forma a permitir à equipa de conceção ancorar-se na realidade sem qualquer tipo de constrangimento na busca de soluções. Numa segunda fase, procura-se uma noção de "ideal" mais específica e adaptada à realidade da empresa, que permite encontrar soluções ideais mas realistas para o contexto da empresa. Esta ferramenta é utilizada após a exploração e reformulação do problema. A metodologia empregue consiste na colocação de 7 questões propostas para resolver um determinado problema. O resultado a essas questões consistirá no resultado ideal. As 7 questões a colocar são as seguintes:
Qual a finalidade do sistema?
Qual é o resultado ideal?
O que nos impede de chegar a esse resultado?
Porque estamos impedidos?
Como podemos superar os obstáculos?
Que recursos estão disponíveis para contribuir para a criação de condições favoráveis?
Alguém já resolveu um problema similar?
Exemplo Prático: Definir o Resultado Ideal A título de exemplo, recorremos novamente ao caso da indústria da cerveja, com o seguinte problema: como reduzir o consumo energético na fase de fervedura do mosto? A aplicação da ferramenta de definição do resultado ideal é apresentada no quadro seguinte.
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Quadro 12 – Definição do resultado ideal - Exemplo prático
Qual a finalidade do sistema?
Estabilizar e esterilizar o mosto; Coagular as proteínas do malte para aumentar a pureza do mosto; Solubilizar as resinas amargas do lúpulo. Aromatizar o mosto (açúcar, condimentos...).
Qual é o resultado ideal?
As bactérias e germes indesejáveis são extraídos (removidos ou mortos) do mosto, sem utilizar energia.
O que nos impede de chegar a esse resultado?
Utiliza-se a esterilização por ebulição com recurso a energia térmica proveniente de combustíveis fósseis (arquitetura da instalação fabril).
Porque estamos impedidos?
Os outros modos de esterilização não são satisfatórios (energia, qualidade, higiene...);
São mais dispendiosos;
Sempre se fez assim.
Como podemos superar os obstáculos?
Alterar o modo de esterilização.
Que recursos estão disponíveis para contribuir para a criação de condições favoráveis?
Microfiltração;
Floculação;
Esterilização a baixas temperaturas;
Recurso a fontes de energia renováveis (solar, geotérmica, resíduos, biomassa...).
Alguém já resolveu um problema similar?
Sim. Na água e no leite fresco.
Fonte: ADEME
Definir as Condições No momento de definir as condições, há três fatores a ter em conta, a saber:
Perímetro (ou margem de manobra);
Recursos disponíveis;
Critérios de avaliação e de seleção de soluções.
Seguidamente, aborda-se em maior detalhe cada um destes três fatores.
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Guia para a Eco-inovação em PME
Perímetro Trata-se aqui de precisar o terreno de jogo e de definir margens de manobra da equipa ou da empresa para o problema em consideração. A definição do perímetro assenta em três questões, a saber:
Nível de sistema considerado: consultando a matriz de ciclo e sistemas definida no início do processo, é possível precisar o sistema em que se opera para resolver o problema na sua nova formulação; Limitações face a alterações no sistema considerado: o que é que não pode ser mudado, em função de constrangimentos da empresa, do projeto, etc.? Alterações autorizadas no sistema: é tudo o que pode evoluir, é a margem de manobra.
Recursos Disponíveis A exploração dos recursos disponíveis é um dos grandes trunfos da eco-inovação, permitindo evitar a mobilização de recursos exteriores ao sistema e limitar o seu impacte ambiental. Esta etapa consiste em fazer um inventário de todos os recursos disponíveis dentro, ou nas proximidades do sistema, a fim de identificar se um desses recursos pode responder ao nosso problema. Tudo o que se encontra no sistema ou ao seu redor e que não é utilizado no seu máximo potencial é considerado um recurso. Vulgarmente, distinguem-se os recursos "substancias" (matérias em todas as suas formas) dos recursos de "campo" (interações entre as diferentes substâncias, energia e informação, como a luz, o calor do ar ambiente, a gravitação, uma força de fricção, etc). O quadro seguinte apresenta exemplos de recursos substanciais e de campo. Quadro 13 – Recursos substanciais e de campo
Recursos-Substâncias Sólidos
Pedra, rocha, areia, terra, argila, madeira, biomassa, fibras naturais, sal.
Líquidos
Água, sumos, vinhos, gases liquefeitos, petróleo, sabão líquido.
Gás
Ar, azoto, oxigénio, árgon, hélio, vapores, fumos, aerossóis, temperatura, pressão, viscosidade, condutividade térmica, humidade relativa.
Plasma
Ar, gás para soldadura, hélio para reatores de fusão, etc.
Recursos-Campo Mecânicos
Gravitacionais, fricção, inércia, centrifugação, elasticidade, vibração, reação.
Hidráulicos
Hidrostáticos, hidrodinâmicos, aerodinâmicos, tensão de superfície.
Térmicos
Expansão, isolamento, condutividade, gradiente de temperatura total.
Pressão
Pressão estática e total, ondas de choque supersónicas.
Elétricos
Eletroestática, eletrodinâmica, eletromagnética, capacitiva, piezoelétrica.
Químicos
Oxidação, dissolução, combustão, endotérmica, exotérmica.
Biológicos
Enzimas, fotossíntese, fermentação, osmótica, reprodução.
Acústicos
Sons, ultrassons.
Fonte: ADEME
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Critérios de Avaliação e de Seleção de Soluções Definir os critérios de seleção de soluções previamente ao processo de geração de ideias simplifica o processo de seleção, evitando discussões potencialmente conflituais dentro da equipa. Se os critérios forem definidos à partida, todos já sabem com que contar, e haverá menor probabilidade de enviesamento de resultados. Numa lógica de eco-inovação, conceitos como a performance ambiental, a criação de valor para o cliente e a redução de custos são naturalmente importantes. No entanto, a ponderação desses critérios pode variar de projeto para projeto e de empresa para empresa. Assim, é necessário especificar e hierarquizar os critérios de seleção de soluções.
Exemplo Prático: Definir as Condições A figura seguinte apresenta um exemplo de um modo de definição das condições, aplicado à indústria da cerveja.
PERÍMETRO
O objetivo desta zona é de recentrar o problema e as soluções no mundo real e contexto da empresa.
Nível de sistema considerado
Unidade produtiva e eventualmente a unidade de produção energética.
Uma vez ultrapassada esta fase, a equipa pode começar a procurar soluções.
Limitações a alterações
Degradação da cerveja (gosto, qualidade...); Deslocalização; Alteração de principais inputs (malte e lúpulo). Alterações permitidas
Esta ancoragem no mundo real face ao ideal enquadra-se nos três eixos previamente definidos: perímetro, recursos disponíveis e critérios de seleção de soluções.
RECURSOS DISPONÍVEIS Substâncias
Alterações de processos e máquinas autorizados.
Campo
Malte, borras, água, mosto, gás de fermentação, bolhas, espuma; Cubas, pás de mistura, tampas de cubas; Sondas de temperatura; Ar...
Mecânicas: gravitação, fricção, centrifugação; Térmicas: gradiente de temperatura; Pressão dos gases de fermentação; Biológicas: enzimas; Olfativas: odores de fermentação.
CRITÉRIOS DE SELEÇÃO DE SOLUÇÕES
Valor para o cliente Gosto 1 Apreço 5 Atratividade ao redor
Ambiente Consumo de energia Eficiência de recursos Redução de resíduos
3
Custo Preço de venda
2
4 6
Os números correspondem às prioridades de ação Fonte: ADEME
Figura 21 – Definição das condições - Exemplo prático
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Outros Possível replicação em outros campo
7
Conclusão: Análise Assim termina o capítulo referente à análise ou prospeção da eco-inovação. Esta fase de prospeção é absolutamente crucial para uma boa colocação do problema a resolver, sendo que o tempo investido na documentação do problema será extremamente valioso nas etapas seguintes do processo de eco-inovação, assegurando que a criatividade está convenientemente focada em questões pertinentes. O essencial nesta etapa é mais o colocar das questões do que propriamente a procura de soluções para as questões propostas. Este é um processo complexo e algo demorado e, como se viu, em que se podem utilizar inúmeras ferramentas. Esta situação é muitas vezes um problema em empresas de menor dimensão, com maiores constrangimentos ao nível dos recursos e com equipas mais atarefadas com o dia-a-dia da organização. Para facilitar o processo às PME, podem utilizar-se ferramentas mais qualitativas ou semi-quantitativas para orientar o processo de eco-inovação, tal como as que foram sendo apresentadas anteriormente, nomeadamente:
Balizagem dos Impactes Pertinentes (BIP);
Matriz Multi-impactes Multi-etapas (MIME);
Identificação das funções através de diagramas;
Análise de uso apenas em cenário de utilização por parte de cliente tipo.
Finalmente, a regra dos 4R é também uma boa forma de facilitar o processo de análise de um problema. A regra dos 4R é usualmente definida como «REDUZIR - REUTILIZAR - RECICLAR - RECUPERAR». No entanto, na nossa abordagem preferimos substituir o termo "Recuperar" por "Reinventar", uma vez que a recuperação está de certa forma implícita na reutilização. Assim, entendem-se os 4R da seguinte forma:
Reduzir: reduzir a quantidade de materiais utilizados e, por fim, dos resíduos produzidos;
Reutilizar: reutilizar um objeto em fim-de-vida para o mesmo uso ou um uso diferente;
Reciclar: transformar o material em fim-de-vida em matéria-prima secundária para produzir um novo
produto. Contrariamente à redução e à reutilização, a reciclagem necessita de um transporte para recolha e de energia para a transformação;
Reinventar: encontrar soluções inovadoras para reduzir os impactes ambientais.
A utilização da regra dos 4R na análise de um problema é importante, uma vez que permite retirar uma conclusão simples: se a abordagem a ser considerada para a análise de um problema é menos apurada do que os predicados da regra dos 4R, a equipa responsável deve seguir a regra para encontrar o caminho mais indicado para uma boa análise do problema. Seguidamente, apresenta-se um exemplo prático do funcionamento da etapa de análise, tendo o segmento da pintura decorativa de interior como pano de fundo.
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Exemplo Prático: Análise De seguida, apresenta-se um exemplo prático da fase de análise, por via de uma prospeção de eco-inovação realizada sobre o setor da pintura decorativa de interior, seguindo a metodologia apresentada ao longo deste capítulo. Análise Análise de Uso Funcional Compra; Cor; Aplicação; Ausência de Limpeza / odor; secagem; Lavável; Armazenagem; Resistência a ... UV;
Avaliação Ambiental Matriz MIME.
Informações do problema Verniz - forte impacto; Aglutinante acrílico solventes; Peso (transp.).
Reformular o Problema Para limitar o consumo de matériasprimas - onde há maiores impactes na produção - diminuir as perdas de tinta nas fases de aplicação, limpeza e armazenagem.
Ciclo e Sistemas
Idealizar Objetivo: pintar paredes; Resultado ideal: a parede tem a coloração desejada sem o recurso a tinta; Obstáculo: os pigmentos são necessários à coloração, um aglutinante para os ligar e o solvente para oferecer fluidez; Porquê: a superfície bruta da parede não apresenta a coloração desejada e o consumidor pode pretender trocar a cor no futuro; Como: materiais de construção coloridos, fotossensíveis, brancos para projetar... Problema similar: camaleão, pele bronzeada, oxidação do cobre...
Extração e transporte de matérias-primas
Perímetro Tinta (mas não a parede); Alterar a composição e o modo de aplicação da tinta; Lavável; Não alterar a qualidade ou o local de produção.
Produção da tinta
Demolição da parede pintada, reciclagem Armazenagem, transporte e distribuição
Ciclo de Vida Limpeza e manutenção da parede pintada
Breve Descrição do Problema Criar uma tinta fácil de aplicar para colorir e proteger paredes interiores, a preço competitivo e com baixo impacte ambiental.
Aplicação da tinta Armazenagem de restos de tinta
Recursos Componentes da tinta: aglutinantes, pigmentos, solventes, aditivos, lata, superfície a pintar, pincel, rolo, balde de tinta, ar, temperatura, humidade, gravidade, luminosidade...
Critérios
Fonte: ADEME
Figura 22 – Análise - Exemplo prático
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Guia para a Eco-inovação em PME
Redução do preço atual em 10%; Redução mínima de 15% no consumo de recursos; Aplicação mais simplificada.
3.4. CONCEÇÃO DE ALTERNATIVAS Uma vez bem colocado o problema, é altura de abrir campo à criatividade para imaginar possíveis soluções. Este processo visa garantir dois aspetos fundamentais, a saber:
Por um lado, focalização da investigação numa oportunidade real de eco-inovação, sustentada por argumentos detalhados e convincentes; Por outro lado, ter em consideração todos os elementos suscetíveis de orientarem a investigação no sentido correto, para soluções pertinentes e melhor alinhadas com a estratégia da empresa.
O objetivo da fase de geração de ideias é chegar a um grande número de ideias, tão diversas quanto possível, a fim de encontrar uma boa, senão a melhor solução.
CONCEÇÃO DE ALTERNATIVAS
Grande número de ideias eco-inovadoras
Problema bem colocado: eixos da eco-inovação
EQUIPA TRANSVERSAL E MOTIVADA Fonte: ADEME
Figura 23 – Conceção de alternativas
A fase de conceção de alternativas deve iniciar-se imediatamente após a colocação do problema. Para tal, é necessário uma equipa transversal, que agregue perfis o mais variados possível, envolvendo departamentos como o marketing, investigação e desenvolvimento ou ambiente, mas também a produção, o serviço pós-venda, etc. Uma questão recorrente nas equipas de investigação de soluções eco-inovadoras é saber se é necessário apoiar os trabalhos num método específico de ecodesign, ou se os métodos clássicos são suficientes. A resposta pragmática a esta questão é que os métodos tradicionais podem ser utilizados. No entanto, acabam por tornar o trabalho das equipas mais complicado, uma vez que não estão preparados para o problema específico e as equipas não têm por vezes formação na área. Assim, é mais útil recorrer a ferramentas de ecodesign, na procura pelas soluções mais indicadas. De seguida, apresentam-se algumas ferramentas e métodos para facilitar a geração de ideias eco-concebidas. Mas antes, apresentam-se alguns princípios e boas práticas genéricas, associadas à investigação criativa.
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Princípios e Boas Práticas da Investigação Criativa Ingredientes Necessários O quadro seguinte apresenta os ingredientes necessários a uma sessão criativa produtiva. Quadro 14 – Ingredientes necessários a uma sessão criativa produtiva
Um problema bem colocado Os elementos do contexto são conhecidos, o objetivo é preciso e os eixos de eco-inovação estão definidos.
Uma equipa disponível e motivada A equipa deve, se possível, ser integrada por pessoas com perfis distintos e ser composta por 8 a 10 elementos. É possível trabalhar com grupos mais pequenos mas a dinâmica é mais difícil de manter e há menor probabilidade de existirem perfis distintos. É também possível trabalhar em grupos maiores. A equipa deve ser transversal e mobilizar, no mínimo, os departamentos de marketing, investigação e desenvolvimento e ambiente. Recomenda-se, no entanto, a participação de outros departamentos, como os departamentos de compras, logística, produção, equipas de vendas, serviço pós-venda, etc. É também interessante incluir na equipa alguém que esteja por fora do assunto e não tenha medo de colocar questões aparentemente "estúpidas". Para o restante da equipa, é fundamental a existência de um conhecimento profundo sobre o produto ou serviço em análise, baseado em experiência prática. Caso não seja possível, a primeira tarefa do grupo deve consistir em adquirir o conhecimento necessário sobre a matéria.
Um clima de confiança e relaxamento O sucesso de um processo criativo repousa numa alquimia delicada. O orientador do grupo tem que "jogar" com a sensibilidade de cada um dos membros e garantir que cada um deles se sente integrado e à vontade, de modo a que as ideias fluam de forma natural, sem constrangimentos.
Um orientador experiente O orientador do grupo deve controlar a forma da reunião, não se intrometendo nas discussões, procurando estimular e dinamizar o intercâmbio. Deve favorecer a existência de um clima de confiança e relaxamento. É o orientador que garante o respeito pelos processos e a produtividade da reunião.
Recurso à criatividade, bem como à experiência acumulada Será necessário iniciar um processo de eco-inovação para a resolução de um problema que outras empresas ou outros setores de atividade já abordaram e resolveram? Na verdade, o i deal é uma conjugação de abordagens: iniciando-se um processo de eco-inovação interno, absorvendo informação externa disponível. Na verdade, nada impede que o processo criativo seja alimentado pela experiência acumulada. Aliás, é até recomendável, a bem da criatividade. Fonte: ADEME
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Processo: Incubação - Iluminação - Implementação Este processo põe em funcionamento os três tempos da inovação, a saber:
Incubação: definição do problema, tendo em consideração o objetivo e todos os elementos do
contexto;
Iluminação: geração de ideias em grande número;
Implementação: seleção das ideias mais pertinentes para construir uma ou mais soluções.
Qualquer sessão de investigação criativa deve iniciar-se pela apresentação e explicitação dos eixos de eco-inovação a tratar. O grupo encarregue da tarefa poderá sentir que o objeto de estudo é demasiado vasto, sendo esta a altura de o delimitar - é uma primeira fase de convergência - um princípio fundamental da criatividade é alterar entre fases de divergência e convergência, distinguindo-as claramente. Seguidamente, entramos na fase de divergência, em que se procuram ideias. Inicia-se esta fase com uma sessão de "descongestionamento". Nesta sessão de descongestionamento, todos os participantes são livres de exprimirem as suas ideias sem qualquer reserva, independentemente da sua relevância para o objeto em estudo: é uma forma de abrir os fluxos criativos. Essas ideias são então anotadas num quadro que fica visível ao longo de toda a reunião, podendo ser utilizadas por qualquer interveniente ao longo das discussões. Após a fase de descongestionamento, podemos entrar numa fase de jogo. Frequentemente, criam-se várias equipas entre a equipa presente na sessão, com o objetivo de forçar alguma competitividade na resolução de problemas. Esta fase permite focar um pouco mais a equipa, aumentar os níveis de competitividade salutar e orientá-la para problem solving. Esta metodologia auxilia na criação de um sentimento de urgência e na solidariedade entre membros de equipa. A seguir, é a fase da geração de ideias, usualmente através de ferramentas como o brainstorming. Algumas regras inerentes ao brainstorming são:
Não há censura: não há ideias estúpidas ou sem sentido;
Não há autocensura: liberdade para intervir;
Ouvir os outros;
Ser breve para que os outros nos escutem;
Construir sobre as ideias dos outros;
Envolver-se.
Construir sobre as ideias dos outros é a chave do brainstorming, uma vez que a criatividade coletiva da equipa é superior à criatividade individual dos participantes. Para que seja produtiva, uma sessão de geração de ideias deve estar bem estruturada, com etapas bem delineadas e orientada para manter e fomentar a dinâmica e criatividade dentro do grupo. Deve também ser escrupulosamente orientada, com um registo sistemático de todas as ideias que vão sendo apresentadas, para uma máxima eficácia da sessão. Esta fase de divergência gera muitas ideias, às vezes mais de 100 e que devem ser bem geridas. Ultrapassada esta fase divergente, voltamos a uma fase de convergência, em que o grupo organiza as ideias produzidas e escolhe quais as que devem ser aprofundadas. Estas ideias devem ser transcritas numa "ficha de ideias", que será distribuída pelos participantes para que a aprofundem e detalhem. A figura seguinte apresenta um modelo possível de ficha de ideias.
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Projeto: Eixo:
Ficha de ideias n.º: Data:
Estado:
Nome da ideia
Descrição da ideia
Valor para o cliente
Ambiente
Custo
Pontos positivos da ideia:
Dificuldades e obstáculos Opção
Plano de ação
Horizonte
Longo prazo
Curto prazo
Fonte: ADEME
Figura 24 – Ficha de ideias
De acordo com a amplitude do problema em estudo e do número de eixos de eco-inovação a explorar, a duração da fase de investigação criativa será variável, podendo ocupar umas horas do dia, ou dois ou três dias nos projetos mais importantes. Após algum tempo da realização da sessão, idealmente cerca de duas semanas, o grupo reencontra-se para uma nova fase de avaliação e seleção de ideias. Alguns pontos-chave sobre a criatividade:
Gerar um grande número de ideias;
Libertar-se dos constrangimentos imaginados;
Não ter medo de ideias sem sentido;
Dar lugar à criança, ao poeta, ao louco;
Separar a geração da avaliação de ideias;
Alimentar as ideias: documentá-las, aprofundá-las...
A figura seguinte apresenta um processo típico de geração e avaliação de ideias.
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Procurar ideias nos eixos de eco-inovação definidos e enriquece-los Divergência: jogo/descongestionamento/idealização Convergência: organização das ideias
Ser criativo
Procurar elementos complementares para finalizar a escolha dos eixos da eco-inovação
ILUMINAÇÃO
Aprofundar: Documentar fichas de ideias
Geração de ideias
Estar atento
INCUBAÇÃO Preparação do terreno
Compreender as necessidades dos clientes, desafios concorrenciais e desafios ambientais, para identificar eixos de eco-inovação
Ser perseveIMPLEMENTAÇÃO rante
Desenvolvimento de ideias
Elaborar, avaliar, selecionar e implementar as ideias
Fonte: Créargie
Figura 25 – Processo da criatividade: separar a geração da avaliação de ideias
De seguida, apresentam-se três ferramentas possíveis de suporte à criatividade num contexto de eco-inovação, a saber:
Recursos disponíveis e autoabastecimento;
Princípios criativos;
Eco-soluções OpenGreen.
Para cada uma das ferramentas apresentadas, são indicados alguns casos reais em que podem ser aplicadas, de modo a suportar o processo criativo em contexto de eco-inovação.
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Ferramentas de Suporte à Criatividade num Contexto de Eco-inovação Recursos Disponíveis e Autoabastecimento A exploração dos recursos disponíveis é um dos pilares da eco-inovação, uma vez que evita a mobilização de recursos adicionais e diminui os impactes ambientais causados. Os recursos são identificados na fase de análise (abordada anteriormente) e posteriormente aproveitados de forma eco-inovadora, no momento da conceção de alternativas. Cada um dos recursos disponíveis deve ser considerado individualmente e como uma solução potencial ao problema em questão. Deve colocar-se sistematicamente a seguinte pergunta: "De que forma pode este recurso contribuir para a resolução do problema?". O autoabastecimento é apenas uma forma da empresa utilizar os seus próprios recursos em prol de si própria, para alimentar outras áreas de processo. Um exemplo clássico desta situação é a utilização de recursos produzidos como matéria-prima ou fonte de energia. A combinação destas duas ferramentas permite encontrar soluções para o problema colocado, sem recorrer a elementos externos ao sistema. Conduz a soluções eficazes e respeitadoras do ambiente, desde que nenhum material adicional seja introduzido no sistema. Para que se perceba o funcionamento desta ferramenta, recorremos a um exemplo. O exemplo de aplicação da ferramenta tem como pano de fundo uma empresa transportadora aérea. Vamos supor que a empresa pretende eco-conceber os bancos de uma das suas aeronaves: o ponto de partida óbvio seria diminuir o peso dos bancos, o que levaria o consumo de combustível do avião a diminuir. No momento da inventariação dos recursos disponíveis no avião, a equipa enumera todos os objetos nas proximidades dos bancos. Ao apontar os espaços para colocar as bagagens dos passageiros, geralmente acima das suas cabeças, alguém teve a ideia de remover esses equipamentos e colocar as bagagens por baixo dos bancos do avião. Isto leva a que os bancos se tornem mais pesados - contra o propósito inicialmente proposto mas tornando o avião, na sua globalidade, mais leve. Poderão também existir vantagens em termos da acessibilidade dos passageiros às suas bagagens.
Princípios Criativos Os princípios criativos são um conjunto de fatores que fomentam a criatividade e podem ser de natureza variada. Neste manual identificamos 8 princípios criativos que nos parecem importantes, de modo a simplificar a análise. O recurso a estes princípios é uma forma de fomentar a geração de ideias. Os 8 princípios criativos são os seguintes:
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Extração;
Segmentação;
Qualidade local;
Assimetria;
Combinação;
Universalidade;
Inversão;
Autoabastecimento.
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Estes e outros princípios devem ser utilizados na etapa de conceção de alternativas, particularmente para a resolução de problemas difíceis em que as restantes abordagens não foram bem-sucedidas. É uma forma de minimizar o risco de passar ao lado de uma solução excecional para o problema. O recurso a estes princípios pode também ser útil mais à frente, na etapa de implementação de soluções, na resolução de problemas secundários. A forma para a implementação dos princípios passa por lançá-los na discussão e propor formas de aplicação de cada um deles no problema em causa. O seu objetivo é menos o de encontrar uma solução definitiva e mais uma forma de gerar ideias para estimular a criatividade e induzir soluções alternativas. O quadro seguinte apresenta os 8 princípios criativos identificados, acompanhados de exemplos práticos para facilitar a sua compreensão. Quadro 15 – Princípios criativos
Princípio
Descrição
Exemplos
Extração
Extrair do objeto uma propriedade perturbadora ou uma propriedade necessária.
Agrafador sem agrafos.
Segmentação
Dividir um objeto em partes independentes, torná-lo desmontável ou aumentar o seu grau de segmentação.
A etiqueta separa-se facilmente da embalagem para facilitar a reciclagem.
Qualidade local
Transformar a estrutura homogénea do objeto (ou do ambiente ou ação exterior) numa estrutura heterogénea. As diferentes partes do objeto devem cumprir funções diferentes. Cada parte do objeto cumpre apenas as condições necessárias ao seu correto funcionamento.
Verniz apenas na face visível de uma mesa.
Assimetria
Substituir a forma assimétrica de um objeto por uma forma simétrica.
Lâminas assimétricas para facilitar a moagem.
Combinação
Reagrupar objetos idênticos (ou similares) ou com operações contíguas.
Caneta de 4 cores.
Universalidade
Fazer com que um objeto cumpra com mais do que uma função, eliminando a necessidade de outros objetos.
Inversão
Em vez de efetuar uma ação necessária, fazer o seu oposto. Imobilizar uma parte do objeto (ou do seu ambiente) e tonar móvel a parte imóvel. Utilizar um objeto no sentido contrário da sua utilização.
Inverter as cores de um logotipo para gastar menos tinta na impressão.
Autoabastecimento
O objeto em causa serve para abastecer funções de manutenção e/ou auxiliares. Utilização de resíduos (matéria-prima, energia...).
Rato de computador sem pilha, carrega através do movimento da mão.
Fonte de texto mais fina.
Cartão bancário multiconta. Escova de dentes com dentífrico incluído. Caixa de sapatos serve de mala de viagem.
Fonte: ADEME
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Eco-Soluções OpenGreen As eco-soluções OpenGreen auxiliam uma equipa transversal a encontrar soluções de ecodesign. Este método consiste em organizar as potenciais soluções de acordo com as diferentes etapas do ciclo-de-vida (materiais, produção, energia, transporte, etc.) e das características funcionais (durabilidade, informação ao consumidor, etc.). A estruturação das ideias num mapa é uma forma de acelerar a geração de novas ideias. As equipas podem e devem recorrer a experiências prévias de eco-inovação na empresa e fora dela para começarem a mapear ideias. Basicamente, as eco-soluções funcionam como um suporte para a criatividade do grupo. As eco-soluções devem ser utilizadas após a etapa de conceção de alternativas mas também na etapa de capitalização, com a empresa a poder recorrer ao mapeamento efetuado para o utilizar em outros produtos/serviços. A figura seguinte apresenta um modelo possível de mapa de eco-soluções.
Fonte: ADEME
Figura 26 – Mapa de eco-soluções
A figura seguinte apresenta um exemplo prático da utilização desta ferramenta, contextualizado no setor das tintas.
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Fonte: ADEME
Figura 27 – Mapa de eco-soluções - Exemplo prático
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3.5. SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS Após a fase divergente e eufórica da conceção de alternativas, segue-se uma fase mais convergente e racional de seleção de alternativas. É uma etapa delicada, uma vez que confronta a equipa com um paradoxo inerente a qualquer processo de eco-inovação: fazer escolhas e eliminar potenciais soluções, ainda antes de conhecer todas as suas características. A esta situação costuma-se chamar "uma escolha em situação de informação imperfeita". Para gerir esta situação, a equipa procurará maximizar o seu conhecimento sobre as diferentes soluções apresentadas, consultando as fichas de ideias e recorrendo a um processo de avaliação racional. A metodologia proposta é a seguinte:
No final da sessão de criatividade, cada participante deve analisar um pequeno número de fichas de ideias; Devem trabalhar sozinhos ou com mais uma pessoa no sentido de aprofundar cada ideia, explorar oportunidades tecnológicas, procurar soluções similares em outros setores, recolher elementos sobre os custos associados à implementação da solução, sobre os impactes ambientais prováveis, avaliar potenciais benefícios para os clientes, etc.; Uma vez regressados para avaliar e selecionar ideias, cada um dos participantes deve partilhar os resultados da sua investigação com o grupo que, num processo de escolha coletiva, determinará as ideias a conservar para o projeto de eco-inovação.
A fase de seleção de alternativas ocorre após a geração de um grande número de ideias eco-inovadoras e é implementada por uma equipa multidisciplinar.
SELEÇÃO DE ALTERNATIVAS
Solução eco-inovadora mais pertinente
Grande número de ideias eco-inovadoras
Fonte: ADEME
Figura 28 – Seleção de alternativas
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A avaliação das ideias eco-inovadoras articula-se com os critérios de avaliação e seleção de soluções previamente identificados neste estudo, a saber:
Criação de valor para o cliente;
Impacte ambiental;
Custo.
Na realidade, esta fase do processo de procura de uma solução eco-inovadora consiste numa análise custo/benefício. Ao longo deste capítulo, descrevemos em maior detalhe cada um destes critérios de avaliação de ideias.
Avaliação do Valor para o Cliente Todos os processos descritos anteriormente partilham um mesmo objetivo: desenvolver um produto ou serviço atrativo para os clientes. Nesta fase do processo, o que interessa é mesmo medir o valor acrescentado para o cliente pela solução em causa. Este não é propriamente um processo novo. Aliás, o departamento de marketing de qualquer empresa procede a uma análise deste tipo antes do lançamento de qualquer produto/serviço. Podem ser utilizados inúmeros métodos distintos, de acordo com o mercado em questão, a cultura da empresa, a natureza do seu relacionamento com os clientes, etc. Pode reunir-se um focus group, com um pequeno número de potenciais clientes, recorrer a painéis de internet , a questionários enviados aos clientes ou a protótipos. Em suma, as possibilidades são imensas. Este tipo de iniciativa permite às empresas hierarquizar as soluções em vista e atribuir-lhes um valor de mercado. A análise efetuada deve tentar pôr as questões ambientais o mais à margem possível, uma vez que serão tratadas em outra etapa. Aqui, o importante é avaliar as questões de funcionalidade e utilização do produto e o valor que o cliente dá por esse mesmo produto.
Avaliação do Impacte Ambiental Como não poderia deixar de ser, a ferramenta de referência para uma avaliação de impacte ambiental é a análise de ciclo-de-vida (ACV). Sendo recomendável que se recorra aos princípios da ACV para a avaliação ambiental das ideias, é notoriamente difícil realizar análises detalhadas para cada uma das ideias propostas. De facto, é tecnicamente impossível recolher dados precisos para o que são ainda soluções vagas e pouco trabalhadas. Adicionalmente, seria um processo extremamente demorado, que travaria completamente o processo de eco-inovação em curso. Assim, é necessário recorrer-se a soluções mais pragmáticas e simplificadas. No entanto, é importante reter que se devem realizar avaliações de performance ambiental quer de carater quantitativo, quer de caráter qualitativo.
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Em termos qualitativos, a equipa deve procurar colocar diversas questões, como por exemplo: Há consumo de energia? São utilizadas substâncias tóxicas? A solução requer consumíveis? A equipa pode também apoiar-se em ferramentas como a Balizagem dos Impactes Pertinentes (BIP), já descrita anteriormente neste manual. Um segundo método, mais consistente com os princípios da ACV, consiste numa avaliação quantitativa de grande alcance mas de rápida execução. Este processo apelida-se de screening ACV. Não se recorre aqui a uma ACV em sentido estrito - o quadro metodológico não é respeitado, a modelização é simplificada e não há recolha de dados primários - trata-se de procurar indicadores abrangentes que permitam comparar as soluções propostas. Os resultados desta abordagem são altamente incertos, uma vez que estão muito dependentes de uma correta diferenciação das soluções. No entanto, em função do grau generalista da abordagem, é por vezes difícil distinguir entre soluções similares, particularmente ao nível da sua performance ambiental. Ao longo deste manual, foi já apresentada uma ferramenta que pode auxiliar na resolução desta situação, sob a forma do Balanço do Produto, mas há muita outras ferramentas disponíveis, diversas delas gratuitamente, e que permitem a realização de um screening ACV.
Avaliação de Custos A avaliação económica de uma ideia eco-inovadora não é substancialmente diferente da avaliação económica de qualquer outra ideia, consistindo basicamente num exercício de avaliação de custos. Naturalmente, esta análise de custos é de caráter global, tendo em linha de conta os custos suportados pela empresa ao longo de todo o ciclo-de-vida de um produto/serviço. Este é um critério de análise fundamental para garantir que a empresa não encontra uma solução com melhor performance ambiental e menores custos ao nível de uma etapa do ciclo-de-vida mas que na generalidade está a aumentar os custos da empresa quando considerado o ciclo-de-vida na sua integralidade.
Conclusão: Avaliação de Alternativas Não há uma métrica comum a estas três dimensões: custo global, valor para o cliente e impacte ambiental. Aos custos, é facilmente atribuído um valor económico. Quantificar economicamente o valor para o cliente é um exercício que poderá também ser realizado. No entanto, este exercício torna-se extremamente perigoso no domínio da avaliação ambiental. É certo que existem métodos para quantificar economicamente os impactes ambientais mas essas abordagens tendem a ser muito fragmentadas e heterogéneas: diferentes modos de valorização monetária são propostos para tratar diferentes impactes ambientais. Assim, é aconselhável seguir-se uma análise multicritério, que considere individualmente as três dimensões em estudo. A figura seguinte apresenta um caso prático, no setor das telecomunicações, de um processo de avaliação de alternativas, tendo em conta estas três dimensões.
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Promover as funcionalidades da oferta, permitindo evitar erros
Permitir teletrabalho subcontratado
3 2
Otimizar as operações de logotipagem dos telefones
Permitir teletrabalho no domicilio
1 0 Desenvolver a autoinstalação e autoconfiguração de telefones
Otimizar a organização das entregas
Reduzir o consumo elétrico de equipamentos e servidores
Alargar o serviço pós-venda por telegestão
Eco-design dos telefones
Económico
Cliente
Ambiente
Fonte: ADEME
Figura 29 – Avaliação de ideias de acordo com o método das três dimensões - Exemplo prático
Para as equipas com tempo ou recursos limitados, uma abordagem alternativa pode ser a avaliação das ideias de forma qualitativa ou semi-quantitativa, utilizando uma tabela como a apresentada de seguida. As ideias podem ser avaliadas de acordo com subcritérios provenientes das suas características: por exemplo, para um pequeno aparelho elétrico, a avaliação na vertente ambiental resulta da tripla estimativa da duração de vida, consumo energético durante a utilização e capacidade para reciclagem em fim-de-vida. Para evitar erros é preferível trabalhar em equipa e atribuir notas após debate com direito a contraditório. Quadro 16 – Grelha de avaliação semi-quantitativa
Soluções
Duração de vida
Consumo Energético
Marketing
-
++
Fabrico
--
+
-
Custo
++
-
--
+
++
Ambiente
Reciclagem
Fonte: ADEME
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Seleção de Ideias Uma vez avaliadas todas as ideias, é altura de selecionar a mais pertinente. Cabe à equipa responsável fazê-lo, de acordo com os critérios definidos na fase de análise do problema. É precisamente essa metodologia de definição de critérios previamente à seleção de ideias que impede o enviesamento de resultados, numa tentativa de adaptar os critérios à solução pretendida. Desta forma, garante-se um alinhamento entre as soluções encontradas e os objetivos do projeto, simultaneamente evitando-se potenciais conflitos. Nesta etapa, há inúmeros métodos que podem ser utilizados para a seleção de ideias, nomeadamente:
Atribuição de pontos, por critério e por solução, por parte de cada um dos participantes; Matriz de 9 quadrados, com dois eixos - por exemplo, interesse da solução (benefícios para o cliente e benefícios ambientais) e facilidade de implementação; Gráfico com as três dimensões consideradas em análise (custo, ambiente e valor para o cliente) - duas das dimensões representadas nos eixos do gráfico e a restante variando em dimensão, de acordo com as características de cada solução estudada; Triagem cruzada: as soluções são comparadas duas a duas, em rondas sucessivas, votando os participantes na sua solução preferida em cada grupo de duas.
Não há métodos de seleção de ideias melhores do que outros; há apenas métodos mais ou menos apropriados a uma determinada realidade, situação, cultura empresarial, etc. A figura seguinte ilustra alguns exemplos relativamente aos métodos de seleção de ideias identificados.
ANÁLISE MULTICRITÉRIO A equipa do projeto de eco-inovação define os critérios de seleção antes da procura de soluções. Uma vez geradas as soluções, a equipa valida os critérios de escolha e ajusta-os se necessário, com cada participante a avaliar de 1 a 3 cada ideia, em cada critério. Os pontos são então somados e as soluções hierarquizadas. O processo de seleção está terminado.
AVALIAÇÃO E PRIORIZAÇÃO: MATRIZ DE 9 QUADRADOS e d a d i l Refletir i c a F
Não
Prioridade
1
Refletir
AVALIAÇÃO E SELEÇÃO DE IDEIAS ATRAVÉS DAS 3 DIMENSÕES
Fonte: ADEME
Figura 30 – Métodos de seleção de ideias
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Guia para a Eco-inovação em PME
Vantagens
Conclusão: Seleção de Ideias Para concluir este capítulo sobre a seleção de ideias, ficam alguns conselhos:
Considerar demasiados critérios torna o exercício difícil;
Avaliar um grande número de ideias (mais de 40) torna-se uma tarefa hercúlea;
Para melhor compreensão, um gráfico é melhor solução do que uma tabela repleta de valores;
É possível que o primeiro resultado, fruto de avaliação minuciosa dos critérios e intensa ponderação, não corresponda às verdadeiras convicções/perceções dos participantes. No entanto, nada os impede de modificar as suas notas e/ou a ponderação dada a cada critério. Uma outra forma de lidar com este desvio é permitir a cada participante três intervenções para exprimirem separadamente as suas escolhas da "cabeça", "coração" e "instinto".
Finalmente, cabe apenas salientar que o processo aqui descrito, nomeadamente o de divergência criativa, documentação e avaliação de ideias e posterior seleção de uma solução, pode beneficiar da existência de um (ou mais) ciclos de divergência/convergência suplementares. De facto, a experiência mostra que num grande número de situações, não é possível que todos convirjam para uma única solução, criando-se ao invés uma shortlist de ideias com, por exemplo, três soluções. Estas potenciais soluções podem depois amadurecer por meio de investigação adicional, cálculos complementares, prototipagem rápida, simulações, etc. Concluída a etapa de seleção de alternativas, segue-se a etapa de implementação das soluções.
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3.6. IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÕES Este capítulo trata de uma fase crucial da eco-inovação: a implementação das ideias. Esta etapa é tendencialmente longa, podendo durar de uns meses a uns anos de acordo com o segmento de mercado e o produto/serviço, bem como a própria visão da empresa face à eco-inovação. Esta fase abrange a maior parte do processo de desenvolvimento de novos produtos, a saber:
Construção do business case: definição e justificação do produto e pré-planeamento; Desenvolvimento e conceção detalhada do produto, bem como elaboração de planos de produção e marketing; Testes e validação em laboratório e na unidade produtiva, bem como abordagem aos clientes para preparar a política de comunicação; Produção, controlo de qualidade e preparação do lançamento comercial.
Uma vez selecionadas as ideias e antes de lançar o produto/serviço no mercado, é altura de começar a implementar as soluções eco-inovadoras identificadas pelo grupo de trabalho. Esta tarefa deve ser levada a cabo pela equipa do projeto, sob a responsabilidade do chefe do projeto e em colaboração com um trabalhador especialista na área dos impactes ambientais associados ao produto.
IMPLEMENTAÇÃO DAS SOLUÇÕES
Uma solução eco-inovadora "no papel"
Um produto eco-inovador no mercado
Fonte: ADEME
Figura 31 – Implementação das soluções
Esta é uma fase crítica em qualquer projeto, uma vez que incorre no risco de atrasos, disparo de custos, problemas de qualidade ou resistência ao processo por parte de múltiplos atores. Todo o trabalho preparatório efetuado na fase anterior à geração de ideias visa maximizar as hipóteses de sucesso mas a aposta não será ganha pelo mero lançamento do produto no mercado. Por vezes inicia-se um processo de eco-inovação cheio de boas intenções, seguem-se todos os passos de acordo com a metodologia proposta e selecionam-se soluções eco-inovadoras, apenas para se chegar ao final do projeto e perceber que a performance ambiental do produto/serviço da empresa é medíocre. Ou seja, o objetivo não é meramente teórico: o que interessa é passar de uma solução eco-inovadora no papel para um produto eco-inovador lançado ao mercado. Ao longo deste capítulo elencam-se algumas opções disponíveis para as empresas assegurarem ou, pelo menos, melhorarem as hipóteses de sucesso de um projeto de eco-inovação.
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Organização Em todas as suas etapas, um projeto de eco-inovação não é particularmente diferente de um projeto clássico de conceção de produto. No entanto, ao nível da organização, é dado particular destaque à vertente ambiental, integrada como uma variável da qualidade. O quadro seguinte apresenta alguns pontos-chave a ter em consideração na forma como se organiza um processo de eco-inovação, particularmente, a implementação de soluções eco-inovadoras. Quadro 17 – Organização na implementação de soluções eco-inovadoras
Critério ambiental para as etapas Durante o período de transição em que as equipas não estão completamente familiarizadas com o projeto eco-inovador, recomenda-se a inclusão de um critério de medição da performance ambiental nos pontos de mudança de etapa. Este critério, de acordo com as ambições do projeto, poderá ou não bloquear a continuidade do mesmo. Em todo o caso, contribui para a sensibilização das equipas e integração de uma cultura eco-inovadora na empresa.
Construção do Business Case / análise de rentabilidade Os elementos recolhidos anteriormente, quer na análise 360º, quer através de estudos de mercado ou da análise das funções e uso, serão úteis a uma análise de rentabilidade, em virtude do conhecimento sobre o mercado e potenciais clientes que aportam.
Plano de ação Na etapa de avaliação e seleção de ideias, são identificadas possibilidades de melhoria que são organizadas num plano de ação construído de uma forma clássica: quê, quando, quem, etapas, recursos... A execução deste plano não tem grandes particularidades, consistindo na monitorização do cumprimento de restrições e calendário. Nas empresas, os planos de ação assumem múltiplas formas, desde simples listas de ações planos altamente complexos que envolvem toda a organização.
Teste e validação Ao longo do processo, é vital validar a performance ambiental, de modo a garantir que se encontra ao nível proposto. Esta validação sustenta a comunicação ambiental em dados quantitativos, essenciais para a credibilidade de todo o processo eco-inovador. Completa a validação clássica de custos e qualidade.
Indicadores Há dois grandes tipos de indicadores que podem acompanhar a realização do projeto: indicadores de realização e indicadores de resultados. Os indicadores de realização são uma forma de medir os avanços conseguidos em cada etapa, por exemplo, através de uma taxa de realização. Os indicadores de resultados destinam-se a definir o eco-valor do produto a ser concebido, usualmente por meio do rácio valor para o cliente/impacte ambiental. A construção de uma metodologia de cálculo genérica para o eco-valor é uma tarefa praticamente impossível. No entanto, é possível definir critérios quantitativos para segmentos de mercado específicos. De facto, os impactes ambientais de maior dimensão, bem como os eixos de criação de valor para o cliente, podem ser identificados e traduzidos em valores numéricos. O valor do cliente dependerá dos níveis atingidos em cada uma das funções do produto (apreço pelo produto, consumidor responsável, etc.). O eco-valor será uma relação entre o valor para o cliente, a performance ambiental e o custo do produto. Pode ainda recorrer-se a outros indicadores de realização, como por exemplo, a quantificação percentual da realização do projeto face às metas propostas. Fonte: ADEME
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Obstáculos Clássicos e Soluções Possíveis Há diversas barreiras que são partilhadas pela maioria dos projetos, particularmente pelos projetos de eco-inovação, sendo de destacar:
Incumprimento de prazos;
Derrapagem de custos;
Perda de qualidade;
Falta de motivação no departamento de compras;
Falta de motivação de vários atores da empresa;
Falta de entusiasmo dos clientes;
Problemas técnicos na implementação.
O quadro seguinte descreve abreviadamente as principais considerações a tecer sobre cada uma destas dificuldades, bem como possíveis formas de resposta. Quadro 18 – Obstáculos clássicos e soluções possíveis na implementação de soluções eco-inovadoras
Incumprimento de prazos Como todos os processos de rutura, a eco-inovação requer um período de aprendizagem, particularmente nos primeiros projetos realizados. Este é obviamente um fator desfavorável, que pode levar a atrasos. Uma forma de contornar esta situação é através da criação de soluções parciais, a serem "montadas" e implementadas em timings específicos do projeto.
Derrapagem de custos As soluções eco-inovadoras não são mais dispendiosas do que as soluções tradicionais. Aliás, são menos dispendiosas por inerência (redução das matérias-primas utilizadas, diminuição do consumo de energia, redução do peso da embalagem...). No entanto, há diversos fatores que podem levar a um aumento dos custos de produção, como a produção de pequenas séries, falta de experiência, alteração tecnológica, etc. Na maioria dos casos, o benefício económico é, mesmo assim, evidente, se alargarmos a análise a todo o ciclode-vida do produto, comparando custos globais. Como já foi referido anteriormente, mesmo que por vezes o custo de uma determinada etapa possa aumentar (matérias-primas mais caras, tecnologia mais cara, etc.), o que interessa é que os custos globais desçam. Se os custos de utilização do produto diminuírem, o cliente terá esse acréscimo de valor em atenção e considerá-lo-á no preço que está disposto a pagar. O aumento da qualidade e duração de vida, por exemplo, podem ser justificativos de um preço de venda superior, cobrindo assim os custos adicionais de uma qualquer etapa específica do processo de eco-inovação.
Perda de qualidade Um novo produto implica alterações no processo produtivo, sendo que a sua implementação pode tornar-se complexa. Podem surgir problemas associados à qualidade que, se não forem rapidamente resolvidos, podem pôr em causa todo o projeto. A solução passa essencialmente por testar o mais a montante do processo de eco-inovação possível, a passagem do produto à produção e validar os processos de produção em simultâneo com o processo de desenvolvimento do produto.
Falta de motivação no departamento de compras Quando se fala em novos produtos, fala-se também em novas matérias-primas e novos componentes e, assim, em novos fornecedores. Caberá ao departamento de compras efetuar nova prospeção de fornecedores, sendo que há um risco forte de ausência de relacionamento com os objetivos da empresa e de recurso aos fornecedores habituais. Uma possível solução é a implementação de um programa de sensibilização e formação para integrar estes trabalhadores no processo de eco-inovação da empresa.
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Quadro 18 – Obstáculos clássicos e soluções possíveis na implementação de soluções eco-inovadoras (conclusão)
Falta de motivação de vários atores da empresa A resistência interna pode vir de todos os departamentos da empresa: produção, qualidade, vendas, etc. Como no caso do departamento de compras, a solução pode passar por programas de sensibilização e formação.
Falta de entusiasmo dos clientes É possível que o interesse inicial dos clientes em produtos eco-inovadores seja desapontante. De facto, as estatísticas mostram que a maioria dos intervenientes não estão dispostos a pagar muito mais por eco-inovação. Nesse sentido, a empresa deve antecipar esta reação e oferecer produtos que, para além dos seus predicados ambientais, oferecem também funcionalidade, atratividade e qualidade.
Problemas técnicos na implementação Desenvolver um novo produto acarreta necessariamente novos problemas a resolver ao longo de todo o processo de desenvolvimento e a montante da produção. Estes problemas não são acidentes, mas antes fator inerente à inovação. Estes problemas deverão ser considerados secundários, uma vez que surgem após o problema inicial e podem ser resolvidos através de ferramentas e eco-inovação ou simplesmente da criatividade de grupo. Efetivamente, são uma segunda ronda de eco-Inovação. Fonte: ADEME
Conclusão: Implementação das Soluções Ao longo deste capítulo, foram apresentadas as principais dificuldades que podem surgir em qualquer projeto de eco-inovação, no momento de passar as soluções validadas para o mercado. Entre as soluções propostas, as que mais garantias oferecem na resolução das dificuldades são uma aposta numa atuação o mais a montante do processo possível e manter a motivação das equipas responsáveis pelo ecodesign do produto/serviço. Quando os problemas são descobertos tardiamente, a solução escolhida é usualmente a menos inovadora e selecionada numa lógica de "apagar o fogo". Assim, é possível aprofundar o contexto do projeto desde cedo e procurar soluções para potenciais problemas nas fases iniciais de implementação.
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3.7. POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO Um processo de eco-inovação não poderá ser bem sucedido sem uma correta política de comunicação ao cliente. Esta etapa deve ser preparada no final do desenvolvimento do produto, previamente ao lançamento no mercado. Nesse esforço devem participar as equipas de marketing, vendas e comunicação, com o apoio do responsável ambiental da empresa.
POLÍTICA DE COMUNICAÇÃO Performance ambiental reconhecida e apreciada por potenciais clientes
Produto/serviço eco-inovador pronto a lançar no mercado
Fonte: ADEME
Figura 32 – Política de comunicação
De certo modo, simultaneamente incentivar ao consumo, condição necessária para o sucesso da empresa, e promover a reutilização dos produtos e prolongamento da sua vida útil pode parecer paradoxal para uma empresa interessada em vender o máximo possível e maximizar o lucro. No entanto, como já se viu anteriormente, estas situações nem sempre são "preto e branco", sendo que a empresa deve considerar o ciclo-de-vida do produto na sua globalidade, só assim podendo concluir sobre a melhor forma de vender o seu produto/serviço. Para a compreensão da política de comunicação de uma empresa é importante conhecer dois conceitos importantes: comunicação responsável e comunicação de eco-inovações. Uma comunicação responsável é um estilo comunicacional que visa educar o consumidor sobre as questões ambientais e sociais. A comunicação de eco-inovações refere-se à aplicação prática dos princípios da comunicação responsável em contexto de eco-inovação e as formas de estabelecer essa mesma comunicação entre a empresa e as suas partes interessadas. Estes dois conceitos são aprofundados de seguida.
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Comunicação Responsável Os consumidores não estão ainda tão educados quanto as empresas eco-inovadoras gostariam relativamente às questões ambientais. Uma comunicação responsável é assim uma comunicação que forma e educa o consumidor. O grande público é capaz de assimilar as noções de ciclo-de-vida ou abordagem multicritério, desde que devidamente informado sobre as mesmas. Este processo formativo permitirá, a prazo, diminuir o gap entre os impactes ambientais medidos e aqueles que são percecionados pelo público.
Normas e Legislação Antes de analisarem os princípios inerentes a uma comunicação responsável, é importante referir algumas normas e legislação em vigor sobre a matéria. Mais importante do que a legislação propriamente dita neste contexto, são as normas. As normas, contrariamente à legislação, são de caráter voluntário mas são muito mais exigentes e podem ser um fator motivacional para a implementação da eco-inovação numa empresa. São também uma ótima forma da empresa comunicar com os seus clientes (os ganhos de imagem são substanciais). Algumas normas associadas è eco-inovação são:
ISO 14024 - Ecolabels;
ISO 14025 - Declarações Ambientais do Produto;
ISO 14021 - Autodeclarações.
As ecolabels dirigem-se fundamentalmente a produtos business to consumer (B2C) e são atribuídas por um organismo oficial. Os critérios são definidos a partir de uma ACV sobre a categoria de produtos em consideração e o produto em causa passa a ser obrigatoriamente controlado por terceiros. As declarações ambientais de produto destinam-se a departamentos de compras profissionais, assumindo a forma de uma "fotografia" quantitativa do impacte ambiental do produto ao longo do ciclo-de-vida, por meio de uma análise ACV. Para fácil comparação, obedecem a um formato comum por categoria de produtos (Product Category Rules, ou PCR), podendo ou não ser verificados por terceira parte. Contrariamente às duas tipologias anteriores, as autodeclarações são da inteira responsabilidade do declarante, que pode por vezes abusar dessa mesma posição. Por outro lado, não existe qualquer obrigatoriedade desta declaração, sendo por isso um primeiro passo importante no sentido de uma maior transparência ambiental. Como foi dito, as ecolabels tendem a ser mais utilizadas em mercados B2C, enquanto as declarações ambientais de produto são preferencialmente utilizados em mercados B2B ( business to business). É também sempre possível recorrer às autodeclarações ou à certificação do processo de ecodesign, através da norma ISO 14006. A figura seguinte apresenta os três tipos de rotulagem ambiental existentes.
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Tipo I: Ecolabel (ISO 14024)
Tipo II: Autodeclaração (ISO 14021)
Exemplo: «Comprova-se que o nosso produto é dos menos poluentes da sua categoria»
Exemplo: «Comprovamos que o nosso produto é...»
Tipo III: Declarações Ambientais do Produto (ISO 14025) Exemplo: «Estes são os nossos resultados, cabe-vos julgar...» Volvo S80
60%
CO2 HC + NOX Hidrocarbonetos
Produto contém 60% de materiais recicláveis
CO2
0%
50%
100%
Fonte: ADEME
Figura 33 – Rotulagem ambiental
As normas ambientais disponibilizam informações sobre a performance ambiental do produto ao público, aumentando a transparência, com duas consequências fundamentais:
As empresas são encorajadas a conceber os produtos com preocupações ambientais, na expectativa de obterem melhores classificações do que os concorrentes; Com a disponibilização da performance ambiental de forma transparente, a empresa fica de certa forma liberta desta responsabilidade, podendo focalizar a sua política de comunicação nos aspetos mais relevantes para o cliente.
É extremamente importante que o departamento de marketing se envolva na comunicação ambiental, procurando apontar as vertentes de maior interesse para o cliente. Esta é a diferença entre “informar” apresentação de dados - e “comunicar” – divulgação dos dados que interessam ao cliente. A decisão de como comunicar deve assentar em ferramentas como a análise 360 o e a prospeção de eco-inovação.
Princípios da Comunicação Responsável A comunicação ambiental de uma empresa deve ser verdadeira, precisa, sustentada e pertinente. Desta forma, há alguns princípios básicos que devem ser respeitados, nomeadamente:
Avaliar corretamente a qualidade ambiental do produto/serviço;
Comunicar informação suficiente;
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Verificar que o departamento de comunicação (da empresa ou subcontratado) cumpre com a mensagem original da empresa;
Não incentivar ao desperdício ou sobreconsumo;
Não banalizar ou minimizar a crise ambiental nem denegrir uma prática ou um produto ecológico.
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Para além destes princípios, há toda uma série de orientações que podem/devem ser seguidas por empresas responsáveis no momento da comunicação da performance ambiental, como por exemplo:
Coerência, consciência e bom senso na comunicação;
Basear-se em critérios reais e mensuráveis;
Impulsionar a marca e defender predicados ecológicos como motor da mudança em outros setores da sociedade;
Realizar campanhas de sensibilização;
Não promover práticas não sustentáveis;
Promover produtos com valor ambiental e social acrescidos.
Uma política de comunicação responsável é uma parte fundamental de uma política de marketing responsável. O marketing não se limita a conduzir a política de comunicação da empresa, antes personificando toda a estratégia de uma empresa. O marketing pode ser definido como a ciência que concebe uma oferta em função de uma análise das necessidades dos consumidores, tendo em conta as capacidades da empresa e as restrições da sua envolvente (ambientais, sociodemográficas, concorrenciais, legais, culturais...). Não entrando em grande detalhe, uma vez que não é o foco deste manual, o marketing mix de uma empresa assenta nos 4P, tal como descritos por McCarthy, a saber:
Product (produto);
Place (praça ou local);
Price (preço);
Promotion (promoção).
Estes 4P interagem com as necessidades dos clientes através dos denominados 4E, tal como descritos por Graves, a saber:
Experience (experiência);
Exchange (troca);
Everyplace (todos os locais);
Evangelism (evangelização).
A figura seguinte ilustra a forma como estas duas dimensões do marketing (4P e 4E) intersetam a eco-inovação numa empresa. A metodologia utilizada para a eco-inovação é a mesma a que se recorreu no capítulo 2, em que se identificaram 4 níveis distintos para a eco-inovação, nomeadamente:
Materiais e componentes;
Arquitetura do produto;
Salto tecnológico;
Alteração do modelo de negócios.
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Produto: linear Preço: mais barato Local: o melhor Promoção: muita
s o d a t s e r p s o ç i v r e s s r o n o o l a h V n a o G c E x s e t c a p m i s o n o h n a G
Circular Custo global Otimização logística Superior
Ecoeficência Eco-design incremental
Eco-inovação
Economia da funcionalidade
Alteração do modelo de negócios "Economia da Funcionalidade"
Conceção do produto Materiais e componentes
Experiência Troca Todos os locais Evangelização
Salto tecnológico, novas funções e novos usos
Tempo e amplitude da mudança Fonte: Rathenau Instituut
Figura 34 – Evolução do marketing mix responsável num contexto de Eco-inovação
Este modelo faz a metodologia dos 4P evoluir para um novo modelo que leva em consideração o ciclo-de-vida do produto, permitindo novas abordagens e modelos de marketing e negócios alternativos. Tendo em consideração todos os fatores chave ao sucesso de uma oferta inovadora dos pontos de vista ambiental e social, o marketing mix responsável pode facilitar o lançamento de um produto e a política de comunicação da empresa. A comunicação responsável não deve ter como único objetivo o aumento do consumo dos produtos da empresa, mas antes procurar criar laços entre a própria empresa e o consumidor, de modo a construir um relacionamento longo entre as partes. Para que tal suceda, a empresa deve garantir que a sua comunicação é factual e exata, refletindo corretamente as características dos seus produtos e serviços. Deste ponto de vista, um conceito importante a focar é o de greenwashing. O greenwashing é uma prática que tem por objetivo passar uma imagem mais ecológica de um produto, marca ou empresa ao público, quando não há factos que a sustentem.
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Alguns indícios de que uma empresa poderá estar a incorrer em greenwashing ao efetuar afirmações de caráter ambiental sobre si própria ou um dos seus produtos/serviços são:
Informação escondida/oculta;
Ausência de provas que sustentem as afirmações;
Imprecisões;
Falta de pertinência;
Falsidade.
Este tipo de práticas deve ser evitado a todo o custo. A comunicação responsável é aqui uma ferramenta eficaz no combate a situações deste tipo. A comunicação responsável é uma questão de conteúdo e mensagem: com coerência e bom senso é possível criar uma política de comunicação eficaz, capaz de oferecer um produto ou serviço mais forte ao mercado. A comunicação responsável, no âmbito de um processo de eco-inovação, é a parte visível de um trabalho de aprofundamento de uma oferta responsável.
Comunicação de Eco-inovações Uma vez percebidos os fundamentos de uma comunicação responsável, é necessário aplicá-los às eco-inovações. O importante é transformar uma vantagem ambiental do produto num verdadeiro benefício para o cliente e comunicá-lo de forma correta. É necessário aplicar os predicados da eco-inovação ao próprio processo de comunicação. Antes de mais, é necessário colocar algumas questões fundamentais quanto ao processo de comunicação, nomeadamente:
Promover ou não produtos eco-inovadores?
Promover o processo ou o produto?
Recorrer a argumentação "ecológica" ou não?
Promover ou não produtos eco-inovadores? Em teoria, esta questão não deveria sequer ser colocada. Promover um produto que se constitua como uma verdadeira solução, por exemplo, consumindo menos energia do que a geração anterior do produto, mais do que uma opção, é um dever. No entanto, há outros fatores que devem ser considerados nesta análise, nomeadamente a coerência de uma ação deste tipo com os valores da marca e a gama de produtos atualmente oferecida pela empresa. Evidenciar os predicados "verdes" da nova geração de produtos pode tornar de imediato obsoleta a geração anterior. Esta é uma situação que deve ser antecipada e gerida, uma vez que pode levar à criação de stocks de difícil venda. Por outro lado, a comunicação de eco-inovação não é um processo estático: de nada vale desenvolver um produto eco-inovador se os clientes não tiverem interesse em utilizá-lo. Assim, são necessárias campanhas de sensibilização e outro tipo de iniciativas.
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Fundamentalmente, a empresa não deve subvalorizar nem sobrevalorizar o esforço necessário a alterar o comportamento dos consumidores e deve ter isso em consideração no momento em que decide promover o seu produto/serviço eco-inovador.
Promover o processo ou o produto? A certificação de um processo de eco-inovação será tão valiosa quanto a credibilidade do órgão emissor. Assim, de pouco valerão afirmações soltas sobre os méritos ecológicos do processo, que aos olhos do consumidor soarão a greenwashing. A promoção da vertente ambiental de um produto é uma outra forma de abordar o assunto e que incorre nos mesmos riscos. Uma forma de minimizar estes efeitos é a criação de uma iniciativa bem estruturada, que ofereça maior confiabilidade ao cliente. Um bom exemplo disto mesmo é a iniciativa ECO2 da Renault, que procura estabelecer um relacionamento entre a marca e o cliente sobre a performance ambiental dos seus veículos. Alguns exemplos da comunicação da Renault neste âmbito incluem afirmações como:
Fabricado numa unidade produtiva certificada pela ISO 14001;
Emissões de CO 2 inferiores a 120g por km;
Integra pelo menos 7% de plásticos reciclados e 95% valorizáveis em fim-de-vida.
O nome da iniciativa, bem como as afirmações sustentadas suscitam no cliente um duplo interesse: económico e ecológico.
Recorrer a argumentação "ecológica" ou não? Ao iniciar-se uma iniciativa de eco-inovação, a análise 360o tem por objetivo selecionar um segmento ou nicho de mercado em que os clientes são sensíveis à performance ambiental. Nesse sentido, a comunicação do produto deve focalizar-se nesse aspeto? Em teoria, há uma procura "verde", ainda que limitada, entre os clientes profissionais e consumidores. Também em teoria, poderia pensar-se que bastaria "acenar" os predicados verdes de um produto ao cliente para que este o comprasse. Na prática, isto raramente se verifica. De facto, mesmo que um consumidor exija informação ecológica sobre um produto (certificações, emissões, etc.), este não está particularmente interessado em "comunicação verde", que muitas vezes se assemelha a greenwashing. Na realidade, um cliente não compra um produto porque este é "verde", mas sim porque lhe reconhece qualidade, sendo a vertente ecológica mais uma entre as características do produto. Definir a comunicação a desenvolver para um produto eco-inovador consiste não em comunicar os aspetos ecológicos deste, mas antes em identificar as verdadeiras vantagens ecológicas para o cliente final, exprimindo os seus argumentos sobre essa base, independentemente da natureza desses mesmos argumentos (de cariz ambiental ou não). Em conclusão, comunicar exige adequar a mensagem ao seu destinatário e ao meio em que é difundida. Definir estes aspetos é uma questão de fundo do marketing, uma vez que a segmentação do mercado é o que permite à marca posicionar-se e criar produtos e mensagens adaptados a cada tipologia de clientes. Há diversas formas de traçar um perfil de cliente, seja através de estudos de mercado, painéis de teste, campanhas específicas, etc. É importante que se estabeleça esse perfil, tanto em mercados B2C como em mercados B2B.
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Tendências na Comunicação de Eco-inovação Ao longo dos últimos anos, têm-se vindo a registar alguns padrões na forma das empresas comunicarem as suas eco-inovações. Gostaríamos de destacar os seguintes:
Foco na transparência e poupança para o cliente;
Boa imagem dos produtos reciclados;
Fabrico local;
Consumo (e comunicação) colaborativa;
Moderação do consumismo.
O quadro seguinte descreve em maior detalhe cada uma destas tendências a serem levadas em conta na comunicação de eco-inovações. Quadro 19 – Tendências na comunicação de eco-inovações
Foco na transparência e poupança para o cliente São cada vez mais as empresas que publicam anualmente dados sobre a sua performance ambiental e social, para além dos dados de natureza económica e financeira. Quando se atingem resultados "verdes" que melhoram a performance económica da empresa, é seguro que esses resultados terão um impacto nos mercados B2B e B2C.
Boa imagem dos produtos reciclados Nos casos em que o maior impacte ambiental associado a um determinado produto é a matéria-prima principal utilizada, a sua substituição por materiais reciclados e publicitação do facto é um argumento "verde" de peso. A crescente sensibilização das populações para estas matérias, bem como o claro aumento da qualidade dos materiais reciclados ao longo dos últimos anos, tornaram os produtos reciclados uma tendência atual e de futuro.
Fabrico local O produto fabricado localmente é cada vez mais preferido face a um produto global e mais desumanizado. Embora a marca "made in Portugal" tenha ainda alguns problemas associados, fundamentalmente de imagem, essa perceção está a mudar e a produção local é cada vez mais uma vantagem competitiva. Adicionalmente, a melhoria ambiental é evidente, particularmente ao nível dos impactes ambientais associados ao transporte de matérias-primas e produtos. O fabrico local é assim uma questão de imagem mas também uma forma de otimizar a cadeia logística.
Consumo (e comunicação) colaborativa Uma outra tendência de fundo, a comunicação colaborativa, transforma a relação do consumidor com o produto. A multiutilização de um produto, face à sua posse, é uma solução verdadeiramente eco-inovadora, uma vez que intensifica o tempo de vida útil do produto. Por outro lado, do ponto de vista comunicacional, ajuda a criar uma comunidade de utilizadores. A transformação dos produtos em serviços e a sua partilha é inquestionavelmente uma das maiores tendências atuais no universo da eco-inovação. A explosão das redes sociais e da internet veio facilitar em muito este processo. Sempre partilhámos com familiares, amigos e vizinhos. Agora, podemos partilhar com o mundo inteiro. Por vezes, não é sequer necessário criar uma nova oferta, mas tão simplesmente calibrar a comunicação. Uma marca pode promover, através das redes sociais por exemplo, a venda dos seus artigos em segunda mão em vez do seu descarte, prolongando assim o seu tempo de vida útil. Este tipo de iniciativas, para além de reduzirem os impactes ambientais, ajudam a construir uma imagem e a fidelizar os clientes.
Moderação do consumismo A crise económica e financeira que atingiu a maioria do mundo nos últimos anos produziu impactos ao nível dos padrões de consumo. Longe do consumismo desenfreado que caracterizou épocas de prosperidade económica como os anos 80 e 90, as prioridades mudaram hoje mais para a procura do bem-estar do que propriamente para a aquisição da última moda. Assim, qualquer eco-inovação e política de comunicação que a suporte, deve ter esse facto em atenção, para além de procurar promover o último salto tecnológico. Fonte: ADEME
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Em conclusão, o que importa reter é que a realidade do benefício ambiental é o fator que traz força a uma comunicação de eco-inovações responsável. A mensagem de comunicação/promoção de um produto eco-inovador deve ser simples, acessível, claro e coerente com os valores da marca e da empresa. O argumento pertinente não é a qualidade ambiental do produto, mas sim se esse produto constitui uma verdadeira solução a um problema largamente reconhecido.
Eco-Inovar na Forma e Suportes da Comunicação Após se perceber como trabalhar a mensagem e a adaptar aos objetivos da empresa, não se devem descurar alguns elementos de suporte à comunicação e formalismos. A adoção da eco-inovação implica uma mudança na atitude dos clientes e essa mudança requer um enorme esforço de sensibilização por parte das empresas. Alguns pontos importantes a reter nesse sentido são os seguintes:
Pensar primeiro no cliente e só depois no modo de comunicação;
Recolher informação numerosa e variada;
Efetuar campanhas multicanal;
Comunicação direta e curta;
Envolver o cliente e partes interessadas;
Não descurar os meios de comunicação tradicionais.
O quadro seguinte aborda cada um destes pontos. Quadro 20 – Suportes da comunicação eco-inovadora
Pensar primeiro no cliente e só depois no modo de comunicação Na comunicação, publicidade ou promoção de vendas de uma eco-inovação, o importante é que sejam eficazes, de modo a que a solução melhor venha a substituir a solução antiga no mercado... e na mente do cliente. Assim a comunicação deve ser direcionada ao cliente, antes de se pensar sequer sobre canais comunicacionais preferenciais.
Recolher informação numerosa e variada No atual ecossistema económico, todo o consumidor, tal como qualquer decisor numa empresa, está em estado de solicitação perpétuo, tanto do ponto de vista mediático, como do ponto de vista da aquisição e utilização de um produto ou serviço. Em simultâneo, estamos cada vez mais "ligados" e a quantidade de dados disponíveis sobre os clientes é cada vez maior em termos quantitativos e qualitativos. É possível, através de variadíssimas ferramentas, recolher e analisar dados de clientes de forma regular, o que permite segmentar os mercados e identificar soluções de comunicação adequadas.
Efetuar campanhas multicanal Os consumidores procuram cada vez mais informação, sendo que as novas formas de comunicação, como a internet ou as redes sociais, gozam de uma via de comunicação muito mais direta e direcionada face aos meios de comunicação tradicionais. Os próprios meios de comunicação tradicionais estão a abordar novas formas de comunicação, desde os programas de tv com possibilidade de replay, aos jornais com edição online. É importante compreender todo este contexto e perceber que todas as formas de comunicação têm os seus méritos, sendo recomendável que se efetue uma abordagem multicanal. Caberá a cada empresa perceber qual a melhor forma de fazer passar a sua mensagem.
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Guia para a Eco-inovação em PME
Quadro 20 – Suportes da comunicação eco-inovadora (conclusão)
Comunicação direta e curta Numa altura de comunicação quase instantânea, virtual e em rede, o regresso a uma dimensão mais direta e humana parece ser uma solução comunicacional que resulta bem. A forma adapta-se bem a todos os suportes utilizados mas o "coração" da comunicação assenta na força da mensagem. Neste aspeto, há diversos fatores a ter em conta na comunicação, como o uso de certas buzz words (reciclável, biológico, etc.), o próprio nome do produto ou iniciativa (como a iniciativa ECO2 da Renault citada previamente) ou a criatividade e capacidade agregadora das ações de comunicação. Não se fala do ambiente com paisagens floridas como pano de fundo. Antes, faz-se através da construção de uma narrativa e de bom storytelling, que "fale" com o cliente.
Envolver o cliente e partes interessadas Mesmo com a forma comunicacional mais adaptada aos seus objetivos, de nada serve à empresa isolar-se. De facto, é vital envolver os trabalhadores, os clientes, os fornecedores, associações e outras partes interessadas. É particularmente importante envolver os clientes no momento da conceção dos produtos e da mensagem a transmitir, fazendo-os interagir com todo o processo, para que se sintam mais ligados ao produto, à marca e à empresa. O recurso às redes sociais é a forma mais direta de conseguir isto, pelo efeito de partilha e criação de buzz. Implicar os fornecedores da empresa é também um objetivo a seguir. Muitas vezes, os esforços das empresas cedem neste mesmo ponto: por muito que uma empresa se esforce por ter uma imagem "verde", de nada lhe valerá se existirem problemas com os fornecedores (veja-se o exemplo da Nike com a subcontratação de serviços no sudeste asiático ou o esforço da McDonalds em garantir a origem dos seus produtos). O envolvimento de ONG, associações ou organismos oficiais que possam certificar os produtos da empresa pode também ser um fator que dá força a uma campanha promocional. A força de uma marca como a WWF (World Wide Fund for Nature), por exemplo, vale mais do que mil palavras e substitui quase toda a comunicação que uma empresa possa fazer para convencer o público do estatuto "verde" dos seus produtos. A associação a entidades deste tipo pode ser altamente vantajosa.
Não descurar os meios de comunicação tradicionais Pese embora o crescimento dos meios de comunicação online, a verdade é que a comunicação tradicional continua a ser a que mais hipóteses tem de ser vista pelo cliente. O colapso nas vendas de jornais e revistas em papel, bem como de outlets físicos parece já ter ultrapassado o seu pico, com estes meios de comunicação a apresentarem alguns sinais de recuperação. A verdade é que há ainda muito espaço para eco-inovar na comunicação via meios tradicionais. Métodos tradicionais como a disponibilização de amostras ou cupões em revistas continuam a ter elevadas taxas de sucesso. Por outro lado, muitas marcas estão a criar boutiques físicas com novos serviços para chegar a clientes a que acedem apenas online. Fonte: ADEME
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Conclusão: Política de Comunicação Neste capítulo dedicado à comunicação, destacámos as principais tendências aplicáveis a todo o tipo de produtos, quer nos mercados B2C, quer nos mercados B2B. O objetivo foi demonstrar que a comunicação de eco-inovações pode ser um processo simples se for efetuado num espírito colaborativo. As eco-inovações estão ao serviço de um mundo em constante mutação e a comunicação que as suporta deve procurar ligar as empresas a esse processo de mutação, ao zeitgeist . Alguns princípios fundamentais a reter:
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Comunicar uma ideia "verde" (ou responsável, em sentido amplo); Prestar atenção ao mercado e à envolvente para identificar argumentos pertinentes a mencionar, meios de comunicação mais adequados e pontos de encontro; Apostar em abordagens colaborativas, quer na conceção de campanhas de comunicação como na difusão; Envolva-se! Divirta-se!
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3.8. CAPITALIZAÇÃO DAS SOLUÇÕES ENCONTRADAS A eco-inovação é uma disciplina relativamente nova, sendo essencial que as empresas tenham a capacidade de capitalizar a experiência adquirida durante os projetos desenvolvidos. De facto, é no desenvolvimento de projetos eco-inovadores que as empresas acumulam a experiência e know-how necessários para projetos futuros, podendo afinar e replicar os projetos, conforme as suas necessidades. As oportunidades identificadas, as análises efetuadas na procura de soluções ou as ideias geradas num projeto são reutilizáveis num projeto futuro de eco-inovação. Assim, as avaliações ambientais rápidas (screening ACV) realizadas num projeto, são reutilizáveis nos projetos seguintes. De igual forma, uma equipa integrante de um projeto eco-inovador pode facilmente passar para outro projeto eco-inovador, sem perdas de tempo, sem investimentos adicionais, sem necessidade de adquirir experiência.
CAPITALIZAÇÃO DAS SOLUÇÕES ENCONTRADAS Recursos (análise 360º, prospeção de eco-inovação, ideias) e boas práticas para projetos futuros
Projeto de eco-inovação bem sucedido
Fonte: ADEME
Figura 35 – Capitalização das soluções encontradas
O papel da empresa nesta fase é conceber metodologias adequadas, que garantam uma capitalização do conhecimento de forma simples e rápida, de modo a assegurar uma boa transferência de experiência eco-inovadora de projeto para projeto e de equipa para equipa. Uma forma de agilizar este processo é recorrer às ferramentas utilizadas durante um projeto de eco-inovação aquando da elaboração e implementação de um novo projeto. Ao longo deste manual, fomos exemplificando inúmeras ferramentas pertinentes, a serem utilizadas em diferentes etapas do projeto, nomeadamente:
o
Identificação de oportunidades: a análise 360 por setor de atividade pode ser reutilizada regularmente pelos departamentos de marketing, I&D e ambiente da empresa. As diferentes oportunidades identificadas podem dar origem a projetos simultâneos ou sucessivos;
Exploração do ciclo-de-vida: pode ser reutilizada na implementação de um novo projeto;
Identificação dos níveis do sistema: idem;
Impactes ambientais: a análise de estudos ACV, bem como a modelização para avaliação ambiental rápida do ciclo-de-vida do produto ( screening ACV) e a matriz MIME, podem ser reutilizadas;
Análise funcional: idem;
Análise de uso: idem;
Geração de ideias: as ideias geradas devem ser registadas, de modo a facilitar a procura de soluções em projetos futuros. As soluções efetivamente implementadas devem ser capitalizadas sob a forma de uma "árvore de soluções".
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O registo de ideias numa árvore de soluções é uma forma simples e prática de conservar a memória das soluções eco-inovadoras desenvolvidas e de as tornar acessíveis às equipas que trabalham em projetos de eco-inovação. Cada solução registada deve ser ilustrada e detalhada num texto curto. Desta forma, uma equipa a trabalhar num projeto de eco-inovação pode chegar facilmente a soluções previamente encontradas e que se possam integrar no projeto em curso. As equipas responsáveis pela conceção e implementação de cada uma das soluções devem também ter as formas de contacto dos seus integrantes registadas na árvore, o que permite um intercâmbio quase imediato entre os responsáveis do projeto atual e do projeto anterior para troca de ideias. Este tipo de capitalização das soluções encontradas é muito mais prático do que o recurso a métodos mais tradicionais, como a elaboração de um relatório extenso, que a equipa encarregue do novo projeto raramente terá tempo de explorar. Este método enceta um benefício adicional: quando as equipas exploram um determinado ramo da árvore, podem encontrar uma solução que se aplica em outro ramo, criando novas ramificações na árvore. Por exemplo, uma equipa pode explorar a variável "consumo de energia" nos ramos "energia" e "resíduos". As diferentes ramificações deverão ser registadas de forma diferente. Assim, nas ocorrências principais deve encontrar-se:
O nome da ideia e do produto;
Uma descrição simples da eco-inovação em causa;
O nome do projeto e da entidade que o realizou;
O nome das pessoas que trabalham no projeto, bem como formas de as contactar;
Uma ilustração.
Nas ocorrências secundárias deve encontrar-se:
O nome da ideia e do produto; O posicionamento da ocorrência principal, sob a forma de um "caminho", como acontece com a localização de um ficheiro informático na sua subpasta.
Conclusão: Capitalização das Soluções Encontradas A etapa de capitalização das soluções encontradas é a sétima e última etapa do modelo de eco-inovação proposto, concluindo-se assim a apresentação de uma metodologia para implementação de um modelo de eco-inovação. Seguidamente, analisa-se a forma como a eco-inovação e o modelo proposto se integram na gestão empresarial.
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Guia para a Eco-inovação em PME
4. INTEGRAÇÃO DA ECO-INOVAÇÃO NA GESTÃO EMPRESARIAL 4.1. FASES DE IMPLEMENTAÇÃO DA ECO-INOVAÇÃO Ao longo dos capítulos precedentes, foram apresentadas formas de conduzir um processo de eco-inovação, desde a identificação de oportunidades de eco-inovação até ao lançamento do produto no mercado e a consequente capitalização da experiência adquirida. A questão que se coloca neste capítulo não é como implementar o processo ao nível do projeto, mas antes ao nível da empresa. O que importa aqui são os elementos mais ligados à gestão da empresa. Após se propor um quadro geral de divulgação de uma política de eco-inovação na empresa e da análise das alterações que tal política acarreta, a empresa tem que focar-se em alguns pontos essenciais como quais as competências necessárias, que tipo de organização, que tipo de processo, cronologia das operações, etc. De um modo geral, pode falar-se em três fases distintas de implementação da eco-inovação, ao nível da gestão da empresa, a saber: INÍCIO - ACELERAÇÃO - MATURIDADE. A figura seguinte ilustra as diferentes fases identificadas.
o t n e m a i v s l r o e v p n m e s e e a d d e l d e v a á i c t n n e ê t t s e u p s m o C
Objetivo
Ações
Benefícios
FASE 1
FASE 2
FASE 3
INÍCIO
ACELERAÇÃO
MATURIDADE
Tempo
Conceber uma visão clara e convincente Cultivar a sensibilidade das equipas de desenvolvimento sustentável
Implementar a visão
Antecipar
Integrar o desenvolvimento sustentável nas atividades
Integrar o desenvolvimento sustentável na reflexão estratégica
Construir a argumentação
Transferir a responsabilidade ao nível operacional
Identificar as oportunidades de criação de valor a médio/longo prazo
Redução de custos/riscos
Vantagem concorrencial
Capital imaterial
Fonte: ADEME
Figura 36 – Fases de implementação da Eco-inovação na gestão da empresa
De seguida, descrevem-se cada uma destas fases.
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Fase 1: Início A primeira questão que se levanta é como iniciar a implementação da eco-inovação ao nível da gestão da empresa. A resposta mais imediata a esta questão é recorrer a exemplos para convencer todos do mérito do projeto. A empresa pode lançar um ou mais projetos-piloto, de forma a testar o método, ajustá-lo às suas necessidades, identificar ferramentas pertinentes, desenvolver práticas, etc. Fundamentalmente, a empresa estará a criar um caso de sucesso que servirá para convencer a organização internamente. Uma outra resposta simples vai no sentido de a empresa colher os "low hanging fruits", ou seja, implementar medidas de baixo custo que reduzem impactes ambientais e custos. Preferencialmente, a empresa deve, nesta fase inicial, optar por selecionar projetos que ofereçam ganhos ao nível do ambiente, dos custos e do valor para o cliente. Seguidamente, a empresa deve iniciar a implementação do seu projeto de eco-inovação de forma progressiva. Deve procurar fazê-lo da forma mais inclusiva possível, chamando a si os responsáveis de todos os departamentos da empresa, procurando que estes se questionem, no lançamento de qualquer projeto, sobre as vantagens de o fazer de uma perspetiva eco-inovadora.
Fase 2: Aceleração Antes de mais, é preciso perceber que o ato de integrar a dimensão ambiental na conceção de produtos e serviços constitui uma mudança radical que, como qualquer processo de mudança, deve ser acompanhada. Entre outros aspetos, deve ter-se em consideração que:
A mudança envolve, em maior ou menor dimensão, todas as funções da empresa, pois toca no centro de toda a atividade da empresa, ou seja, na sua oferta; As competências, estrutura organizacional, processos e estratégia devem evoluir para acompanhar a mudança; A transição pode começar de forma local e estender-se progressivamente ao resto da empresa, a um ritmo adequado.
Trata-se de uma mudança significativa mas que se pode implementar de forma progressiva, sendo necessário sensibilizar, formar e informar um elevado número de pessoas, convencer a organização interna mas também as partes interessadas da empresa, fornecedores, clientes, acionistas, etc. Nesta fase, é fundamental que as equipas diretamente ligadas ao projeto, nomeadamente, os departamentos de marketing, I&D e ambiente, disponham das competências necessárias. A diversidade de conhecimento necessário fomenta a mobilização de vários departamentos rumo a um objetivo comum e convida à inclusão das partes interessadas externas no processo. Mais do que uma competência específica, procura-se aqui mudar uma cultura, uma atitude. A implementação de um projeto de eco-inovação introduz nas organizações um objetivo novo: a definição de objetivos ambientais e a medição da performance da empresa nesta vertente. Na fase de aceleração da eco-inovação, mais do que procurar saber quais os impactes ambientais associados a um produto ou serviço, é importante identificar os impactes associados a um local ou a uma etapa específica do processo produtivo.
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É certo que existe um fio condutor entre estas duas variáveis, com os impactes ambientais de um produto/serviço a assumirem-se como o somatório dos impactes gerados nos diversos locais. Por esta razão, a avaliação da performance ambiental é uma competência específica a adquirir para a implementação de um processo de eco-inovação. Uma vez mais, fala-se aqui de um conceito que tem vindo a ser repetidamente referido ao longo deste manual: o conceito de análise de ciclo-de-vida (ACV). Este é, de resto, um conceito que, pela sua importância para a matéria em estudo, abordaremos de forma mais detalhada, em capítulo próprio, mais à frente. Mas o que é relevante nesta etapa de aceleração do processo de eco-inovação é organizar as competências de ACV. Neste aspeto há diversas questões que se colocam: faz sentido internalizar esta competência? Deve ser subcontratada? Caso seja internalizada, deve ser levada a cabo por um pequeno número de especialistas que intervêm pontualmente em todos os projetos ou deve ser disseminada em larga medida pelas equipas de conceção? A verdade é que não há respostas simples a estas questões. A resposta será diferente de empresa para empresa, em função da sua dimensão, da sua atividade, do seu grau de inovação (o que fazer e ao longo de quanto tempo?), da sua cultura, da sua organização, etc. Na implementação de uma política de eco-inovação é imprescindível que a empresa possua um mínimo de conhecimento sobre os impactes ambientais associados aos produtos/serviços. Mas para além desse nível de conhecimento mínimo, a empresa será capaz de realizar uma ACV internamente? E screenings ACV? Para a realização de uma ACV detalhada, devem ter-se em consideração dois elementos distintos: a variedade dos projetos e o objetivo da empresa. Se os projetos são relativamente homogéneos, um estudo ACV realizado externamente, de forma pontual, e que abranja pontos fulcrais e parâmetros críticos é suficiente. No entanto, caso os projetos sejam heterogéneos e se trate de um exercício a conduzir de forma periódica, poderá fazer sentido internalizar o processo. De igual forma, se a empresa procura objetivos ambientais de larga escala, a internalização é recomendável, mesmo tratando-se de projetos homogéneos. Será mais rápido e menos custoso para a empresa formar ou recrutar um especialista e adquirir software específico do que recorrer permanentemente a serviços externos. No caso do screening ACV, a questão é mais simples: se a empresa pretende realizar simulações rápidas e altamente reativas ao longo dos projetos, o recurso a serviços externos, aceitável num quadro de exploração de projeto-piloto, tornar-se-á pouco prático, uma vez que, por inerência, atrasa o processo e aumenta os custos. Adicionalmente, as ferramentas necessárias para a internalização deste processo são leves e acessíveis, tornando recomendável que o processo siga esta via. No entanto, a sua simplicidade de acesso e uso não lhes retira riqueza: deve recorrer-se a equipas especializadas, internas ou externas, de acordo com a dimensão da empresa e do número de projetos em curso, para o desenvolvimento de um screening ACV. O contributo de especialista(s) é fundamental nesta matéria. A empresa pode depois recorrer a dois tipos de esquema de screening ACV, nomeadamente:
Esquema repartido: em que existe um perito no centro do processo e utilizadores da ferramenta de screening ACV repartidos pelo projeto; Esquema centralizado: em que um perito de ACV intervém em todos os projetos e realiza as simulações ambientais para a equipa.
A escolha por um ou por outro dependerá largamente do nível de conhecimento, da dimensão da empresa e do número de projetos a decorrer. Numa fase de transição, a empresa pode optar pelo modelo centralizado e evoluir para um modelo repartido, à medida que a prática se vai disseminando.
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Em suma, esta fase de aceleração é progressiva, levando em média entre 5 a 10 anos, variando entre empresas e setores de atividade. A empresa pode apoiar-se em outras experiências que tenha tido com a mudança, como por exemplo, a adoção de políticas de qualidade total.
Fase 3: Maturidade A fase de maturidade de um processo de eco-inovação visa antecipar os problemas, criando uma cultura de eco-inovação na organização, proativa, em vez de uma atitude reativa, na tentativa de solucionar problemas pontuais. Para tal, é necessário integrar a noção de desenvolvimento sustentável na reflexão estratégica da empresa e identificar as oportunidades de criação de valor, numa perspetiva de médio e longo prazo. No final do processo, o capital imaterial da empresa será altamente valioso. Naturalmente, este é um processo que demora anos a concluir-se, mas que as empresas devem procurar desde cedo. Mas há várias questões que se colocam neste ponto. Antes de mais, como constituir equipas e procurar soluções, se não há um problema identificado para resolver? Uma vez mais, não se trata aqui de endereçar questões pontuais, mas sim de construir uma verdadeira cultura eco-inovadora na empresa. Nesse sentido, os departamentos mais ligados à eco-inovação (ambiente, I&D, marketing), devem possuir a autoridade para implementar um projeto deste tipo quando acharem necessário. Deve procurar-se criar um clima de flexibilidade, que permita à eco-inovação crescer de forma sustentada nas organizações, tornando-se intuitiva. A maioria das grandes empresas recorrem ao processo de eco-inovação "Stage-Gate" para o desenvolvimento de novos produtos. Este método divide o processo em etapas, ou " gates" (portões). O essencial do esforço de eco-inovação acontece logo no primeiro "gate". A figura seguinte apresenta o modelo de eco-inovação "Stage-Gate".
Enquadramento
G1
Viabilidade e business case
G2
Desenvolvimento
G3
Testes e validação
G4
Lançamento
Fonte: ADEME
Figura 37 – Processo de desenvolvimento de novos produtos "Stage-Gate"
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G5
4.2. FORMAÇÃO DOS COLABORADORES A implementação de um projeto de eco-inovação requer, como já se viu, um grande esforço de sensibilização e formação. Há diversos fatores importantes que convém destacar e em que as ações de sensibilização/formação se devem focar, nomeadamente:
Benefícios da iniciativa: porque é importante para a empresa?
Noções de ciclo-de-vida e análise multicritério e multietapa;
Eixos de eco-inovação pertinentes para a empresa, sucessos anteriores (caso existam) e estratégia de eco-inovação da empresa.
A empresa pode optar por formação específica ou genérica, direcionadas às funções da empresa diretamente relacionadas com o processo de eco-inovação, como o marketing, a investigação e desenvolvimento ou o departamento de compras. São possíveis duas abordagens distintas, de acordo com a cultura e a organização da empresa, a saber:
Formação que mistura perfis - tem a vantagem de veicular um dos fatores-chave do sucesso de um processo de eco-inovação: trabalho em equipa; Formação por tipo de perfil - permite ajustar mais facilmente o discurso aos públicos específicos, trazendo questões específicas a diferentes públicos.
Um ponto fulcral que não deve ser negligenciado é a sensibilização/formação da gestão de topo. De nada serve mobilizar e formar equipas se os decisores não percebem o processo e não procuram impulsioná-lo. Algumas questões essenciais a ter em conta, em matéria de formação para a eco-inovação:
A avaliação das competências e necessidades de formação em ambiente inclui as pessoas responsáveis pelo desenvolvimento do produto? A empresa assegura que as pessoas envolvidas no desenvolvimento do produto são competentes em ecodesign? A empresa assegura que as pessoas com cargos relevantes (como o responsável do ambiente) têm competência para entender e/ou aplicar as metodologias e ferramentas para a identificação e avaliação dos aspetos ambientais dos produtos ao longo do ciclo-de-vida? As atividades de consciencialização ambiental da empresa incluem os aspetos e os impactes ambientais dos produtos e a perspetiva de ciclo-de-vida?
Diagnóstico e Implementação
Formação e Sensibilização
Fonte: ASEIC
Figura 38 – Formação para a Eco-inovação
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4.3. INDICADORES DE AVALIAÇÃO Neste capítulo, aborda-se a questão dos indicadores a utilizar para medir o progresso de um processo de eco-inovação. Este é um campo ainda pouco explorado, sendo raro encontrar indicadores de medição desta dimensão nos relatórios de responsabilidade social das empresas. A utilização de indicadores deste tipo cumpre três funções distintas, a saber:
Orientar a estratégia e definir os objetivos;
Conduzir o processo e assegurar o progresso rumo ao sucesso;
Comunicar, interna e externamente.
De acordo com a utilização prevista, os indicadores podem ser definidos de formas muito distintas. Na generalidade, é possível distinguir entre dois tipos de indicadores distintos, a saber:
Indicadores de realização;
Indicadores de resultados.
Os indicadores de realização têm em linha de conta os esforços desenvolvidos para atingir um determinado objetivo, enquanto os indicadores de resultados focalizam-se na performance obtida. Nos indicadores de realização, é possível contabilizar, entre outros fatores:
O número de pessoas sensibilizadas e formadas, bem como o número de horas de formação ministradas;
O número ou proporção de novos projetos que integram a dimensão da eco-inovação;
A percentagem de projetos eco-inovadores terminados, atrasados, etc.
Os resultados podem ser avaliados de diferentes formas, considerando-se um projeto ou toda a empresa. Nos indicadores de resultados, é possível contabilizar, entre outros fatores:
A consecução do objetivo triplo "valor para o cliente/custo/ performance ambiental", o desvio face ao proposto ou progresso realizado em cada um destes eixos em termos do produto/serviço de referência;
Proporção de produtos passíveis de obter ecolabel ou já com ecolabel (ISO 14024);
O segmento de mercado relacionado com o produto eco-inovador;
Os ganhos ambientais atingidos, consolidando todos os benefícios advindos de projetos eco-inovadores, em função das vendas; Etc.
Os indicadores de realização tendem a ser utilizados mais para consumo interno, para orientação do processo ou comunicação interna. Neste último caso, permitem incentivar as equipas e manter uma dinâmica de realização na ausência de resultados tangíveis que, naturalmente, levam o seu tempo a surgir. Para a comunicação externa da empresa, os indicadores de resultados são muito mais convincentes para investidores, clientes e outras partes interessadas, uma vez que fornecem informação quantificada e verificável.
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5. FERRAMENTA FUNDAMENTAL: ANÁLISE DO CICLO-DE-VIDA (ACV) 5.1. ENQUADRAMENTO Será melhor utilizar copos de plástico ou canecas de cerâmica? Fraldas descartáveis ou reutilizáveis? Reciclar ou incinerar os óleos usados? Quer se trate de um mercado de consumo final ou de um mercado industrial, é necessário avaliar e comparar impactes ambientais associados a produtos e serviços de diferentes atividades, de modo a responder fundamentadamente a questões deste tipo. A análise do ciclo-de-vida é a ferramenta de referência para a avaliação ambiental de produtos, tecnologias, e até mesmo das organizações. O objetivo deste capítulo é identificar princípios, apontar aspetos metodológicos chave e assinalar conselhos práticos para a implementação de uma análise de ciclo-de-vida numa empresa. Antes de mais, é necessário perceber que o ciclo-de-vida de um produto é composto por diversas etapas. De uma forma geral, podem apontar-se 8 etapas distintas, que são apresentadas na figura seguinte.
Distribuição Fabrico do produto
Fabrico de componentes
Utilização
CICLO DE VIDA
Produção de materiais
Fim de vida
Reciclagem e valorização Extração de matérias-primas
Fonte: ADEME
Figura 39 – Etapas do ciclo-de-vida de um produto
O ciclo-de-vida de um produto/serviço contempla uma série de inputs, ou entradas, em cada uma das suas etapas (como matérias-primas, água, energia...), bem como de outputs, ou saídas, que assumem a forma dos impactes ambientais (na atmosfera, no ar, nos solos...). A análise de ciclo-de-vida de um produto consiste na elaboração de um balanço dos materiais que entram e saem num sistema, obtendo-se através desse balanço uma série de impactes ambientais potenciais que servirão de base para o projeto de eco-inovação, no momento de conceção de objetivos e hipóteses para o projeto. Esta análise aplica-se aos produtos, processos e organizações.
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Matérias primas
Energia
Emissões atmosféricas
CICLO DE VIDA
Água
Descarga de águas residuais Descarga para o solo
Outputs
Inputs Fonte: ADEME
Figura 40 – Definição da ACV
Genericamente, as empresas podem recorrer a dois tipos de abordagem numa análise de ciclo-de-vida: uma abordagem multicritério ou uma abordagem global. No caso da abordagem multicritério, consideremos o seguinte exemplo: uma atividade de combustão provoca múltiplos impactes ambientais, desde o efeito de estufa proveniente das emissões de CO 2 à acidificação atmosférica através das emissões de HCL ou SO 2, mas também à poluição local (poeiras) ou ecotoxicidade (dioxinas, metais pesados...). Esta grande diversidade de impactes ambientais desmultiplica-se ainda pelas diversas vertentes ambientais (ar, solos, água...), tornando difícil fazer escolhas fundamentadas assentes num só critério. Assim, não é possível levar em consideração apenas um critério (efeito de estufa ou consumo de água, por exemplo), mas antes recorrer a uma abordagem multicritério. Há que ter em conta que estas variáveis são relativamente independentes, não havendo nenhuma razão para que evoluam de forma proporcional. No caso da abordagem global, consideram-se adicionalmente as etapas a montante e a jusante do objeto de análise. Recorrendo novamente ao exemplo da combustão, teria que se ter em consideração também a extração e fabrico do combustível, tratamento dos resíduos da combustão, etc. De igual forma, ao analisar um produto, a análise não se pode restringir à fase de produção, devendo incluir também as fases intermediárias de transporte. Certos produtos são mais poluidores na fase de utilização (como os automóveis), enquanto outros (como as pilhas), poluem mais na fase de fim-de-vida. Desenvolver uma abordagem multicritério e ter em consideração todo o ciclo-de-vida são duas condições essenciais para uma avaliação ambiental de um produto, uma vez que permitem soluções que não se limitam a transferir os impactes ambientais de uma etapa da vida do produto para outra mantendo, ou até agravando, o impacte ambiental global.
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5.2. ETAPAS DO CICLO-DE-VIDA DO PRODUTO A técnica de análise de ciclo-de-vida obedece a uma metodologia própria, assente na série de normas ISO, mais precisamente, na norma ISO 14040. Esta norma indica que uma análise de ciclo-de-vida deve compreender quatro etapas distintas, a saber:
Definição dos objetivos e do âmbito do estudo;
Inventário de ciclo-de-vida, considerando os fluxos de entrada e saída do sistema;
Análise de impactes, que traduz estes fluxos em impactes ambientais potenciais sobre o ambiente;
Interpretação de resultados.
A figura seguinte apresenta a forma como se relacionam estas quatro etapas de uma análise de ciclo-de-vida de um produto.
1
Objetivos e âmbito do estudo
2
Inventário
3
Avaliação dos impactes
Interpretação
4
Fonte: ADEME
Figura 41 – Etapas para a realização de uma ACV
De seguida, descreve-se cada uma das etapas de uma análise de ciclo-de-vida.
Objetivos e Âmbito do Estudo Os objetivos de um estudo ACV numa empresa podem ser de diferentes naturezas: conhecer os impactes ambientais associados aos seus produtos para conceber uma estratégia eco-inovadora, comparar a performance ambiental de dois produtos para orientar um processo de aquisição responsável, comparar diferentes esquemas logísticos, preparar uma declaração ambiental de produto, etc. Com a ACV, é possível não só comparar produtos distintos como várias versões do mesmo produto. De modo a que se possam comparar dois produtos, é necessário definir uma base de comparação equitativa, normalmente assente na função cumprida pelo mesmo.
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107
Essa função cumprida tem que ser quantificável, de modo a que se possam efetivamente comparar produtos. Recorrendo a um exemplo simples, é possível calcular o impacte ambiental associado à produção e uso de rolos de papel para secar as mãos. No entanto, é necessário levar em linha de conta outras soluções, como o secador automático. Uma vez que estes dois produtos não são diretamente comparáveis, é necessário criar uma forma de medição - uma unidade de serviço. Assim, ambos os produtos necessitam de "x" unidades de serviço para cumprir uma mesma função. Consequentemente, são estas as quantidades a registar no inventário a realizar (etapa seguinte do estudo ACV) e não as quantidades "físicas" de cada produto. É este o fluxo de referência que permite identificar as quantidades necessárias de cada produto para cumprir idêntica função. Relativamente ao âmbito do estudo, particularmente ao nível de sistema a ter em conta para a elaboração do inventário, este situa-se após a etapa de extração de matérias-primas e antes do tratamento de resíduos. Naturalmente, esta representação linear do ciclo-de-vida é uma simplificação: de facto, em cada etapa do ciclo-de-vida há não só inputs e um produto principal, como outros inputs e produtos, como coprodutos, subprodutos, resíduos, etc. Para efetivamente se identificar o nível de sistema, é necessário recorrer a um diagrama de árvore que parte de cada etapa do ciclo-de-vida "linear", selecionado à partida, e que identifique etapas adicionais necessárias ao lançamento do produto no mercado. O sistema é alargado à produção de todos os inputs e ao tratamento de todos os produtos/resíduos de cada etapa. A figura seguinte detalha um diagrama de árvore apenas para a etapa de fabrico.
Input C Input AB Input B Input AA Input A
Extração de matérias primas
Produção de materiais
Fabrico
Distribuição
Uso
Fim de Vida
Tratamento de resíduos Fonte: ADEME
Figura 42 – Diagrama de árvore para delimitação das fronteiras do sistema em estudo
É importante perceber que, pese embora a dimensão global que um estudo deste tipo acarreta, é necessário alargar o seu âmbito de forma progressiva e controlada, de modo a não se correr o risco de estar perante uma análise de ciclo-de-vida ao mundo inteiro.
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Para evitar esta situação, são necessárias regras claras, como por exemplo:
Critério de materiais (em percentagem);
Critério de energia (em percentagem);
Critério de toxicidade (booleano).
Basicamente, fixam-se limites para cada um dos critérios que, ao serem cumpridos, delimitam o âmbito do estudo. Recorrendo a um exemplo: se são fixados limites mínimos de 2% nos critérios de materiais e energia, todas as etapas que não correspondam a uma entrada mínima de 2% dos materiais utilizados ao longo do ciclo-de-vida e 2% da energia consumida, e que não impliquem substâncias consideradas perigosas, podem ser desconsideradas para o estudo em curso. Adicionalmente, será também útil, por precaução, somar os materiais utilizados e os consumos de energia de todas as etapas descartadas, de modo a garantir que, no seu conjunto, se mantêm pouco significativas. Uma dificuldade acrescida na limitação do âmbito do estudo prende-se com o facto de, em muitos setores industriais, a produção de coprodutos ser extensa, tornando difícil identificar os respetivos impactes associados a cada um dos produtos. Neste caso, a norma ISO 14040 recomenda:
Redefinir de forma mais detalhada o sistema e verificar se o problema resulta de uma agregação de várias funções desconexas; Caso não seja possível, agregar os impactes ambientais de uma fileira comum a dois coprodutos, baseando-se num critério físico: materiais, energia...; Caso não seja ainda satisfatório, recorrer a outros critérios, nomeadamente económicos.
Para que se perceba melhor, recorremos a um exemplo: a produção de queijo. A produção de queijo, para além do produto principal, gera também soro de leite, utilizado na alimentação animal. Se tivermos em consideração os impactes ambientais associados à criação das vacas, ao tratamento e transformação do queijo, em função dos materiais, é o soro de leite que suporta a maioria dos impactes, uma vez que se constitui quase como um resíduo e a que a criação de vacas leiteiras visa prioritariamente a produção de queijo. No entanto, de um ponto de vista económico, é o queijo o maior responsável pelos impactes ambientais produzidos. Neste caso em particular, em que a produção de queijo é o foco principal, o recurso a uma análise baseada no critério económico parece fazer mais sentido. No entanto, surge aqui mais um problema: a variação dos preços da alimentação animal a nível mundial. Esta variação pode enviesar a análise. Assim, é necessário incluir mais uma variável: a perspetiva histórica, e considerar uma análise ao longo do tempo. O que se pode concluir é que diferentes formas de análise podem levar a resultados completamente dispares. A figura seguinte ilustra isso mesmo, recorrendo ao exemplo da produção de queijo.
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Critério: Materiais 100% 80% 60% 40% 20% 0% Quei o
Leite
Soro de leite
Fabrico de Queijo Critério: Económico 100% 80% 60% 40% 20% 0% Quei o
Soro de leite
Fonte: ADEME
Figura 43 – Coprodutos e alocação de critérios
Finalmente, é importante referir mais uma questão que torna difícil a delimitação do âmbito de um estudo ACV: a reciclagem de materiais. Este é um problema clássico numa ACV uma vez que, na maioria dos casos, a reciclagem não é efetuada em ciclo fechado, ou seja, no seio de uma mesma fileira, antes fazendo parte de um ciclo aberto. O produto reciclado, por exemplo, uma garrafa de plástico, pode ser utilizada para o isolamento de edifícios ou em vestuário - as duas fileiras estão ligadas pelo processo de reciclagem, sendo difícil a qual das fileiras atribuir os benefícios ambientais da reciclagem da garrafa de plástico. Ponto prévio: todas as operações de reciclagem oferecem benefício ambiental. Trata-se aqui de identificar a que fileira esse benefício deve ser atribuído ou de que forma reparti-lo pelas fileiras. Para tal, há dois métodos distintos, que podem levar a resultados díspares, a saber:
O método dos stocks, que consiste em identificar os sistemas ao nível do stock de materiais homogéneos e prontos a reciclar. Ou seja, todas as operações que ocorram a montante desse stock são atribuídas à fileira que gera o material a reciclar e todas as operações que ocorram a jusante são atribuídas à fileira responsável pelo seu consumo. Este método tem a tendência de aligeirar o balanço ambiental da fileira que consome o material a reciclar, uma vez que o material é fornecido com uma "carga ambiental" nula. O método dos impactes evitados , que consiste em alocar a totalidade dos custos e benefícios da reciclagem à fileira que gera o material a reciclar. Este método tem a tendência contrária ao anterior, aligeirando o balanço ambiental da fileira a montante e agravando o da fileira a jusante.
A título de exemplo, vamos considerar o caso de uma viatura em fim-de-vida, em que o aço será reciclado para o varão do betão armado a ser utilizado em edifícios. Recorrendo ao método dos stocks, a ACV do automóvel incluirá a fresagem e triagem dos materiais. Não há aqui contabilização de recursos de aço, uma vez que o material é considerado como uma matéria-prima secundária. Por sua vez, a ACV do edifício inclui o transporte da sucata resultante para os fornos elétricos e a transformação em betão armado. Aqui não há consumo de aço ou de carvão, apenas de uma matéria-prima secundária. A figura seguinte ilustra um processo de reciclagem pelo método dos stocks.
110
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Fundição de aço
Aço
Utilizador primário do aço
Stock de sucata
Siderurgia (elétrica)
Utilizador secundário do aço
Fonte: ADEME
Figura 44 – Reciclagem: método dos stocks
Com o método dos impactes evitados, a situação é bastante diferente. As operações secundárias de produção de aço integram a ACV do automóvel mas o seu impacte ambiental é contabilizado de uma forma ficticiamente baixa no balanço ambiental. Este processo existe porque se considera o aço reciclado a partir da sucata como equivalente ao aço "virgem" utilizado no início do processo - isto leva a um balanço ambiental muito favorável ao automóvel, já que o consumo elétrico do aço produzido de forma elétrica em siderurgia é muito menor do que o da fileira integrada (fornos de aço). Esta solução será mais pertinente quando a qualidade dos materiais reciclados é similar à qualidade das matérias virgens e menos pertinente no caso oposto. A figura seguinte ilustra um processo de reciclagem pelo método dos impactes evitados.
Aço
Fundição de aço
Utilizador primário do aço
Stock de sucata
Siderurgia (elétrica)
Menos
Aço reciclado
Aço
Fundição de aço
Aço reciclado
Utilizador secundário de aço
Considerado como equivalente
Procedimento fictício, acrescentado para equilibrar o balanço Aço
Fundição de aço
Aço reciclado
Fonte: ADEME
Figura 45 – Reciclagem: método dos impactes evitados
Na realidade, não há uma solução objetiva para este problema: tal como na alocação de custo na gestão da empresa, também a alocação dos impactes ambientais é uma questão de convenção e compromisso. Neste aspeto, uma solução possível é a combinação dos dois métodos, utilizando uma ponderação dos resultados de 50% para cada um dos métodos.
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Inventário O inventário é a tabela onde se regista os fluxos de entrada e saída do sistema. O inventário deve conter, entre outros, os seguintes aspetos:
Consumo de recursos naturais ( input );
Consumo de água ( input );
Emissões atmosféricas (output );
Emissões para o solo (output );
Produção de resíduos ( output ).
O quadro seguinte apresenta um exemplo de inventário para o ciclo-de-vida de um material de construção (extração). Quadro 21 – Inventário do ciclo-de-vida de um material de construção (extração) Fluxo
Un.
Produção
Produção (fábrica)
Produção (eletricidade)
Transporte
Implementação
Utilização
Fim de vida
TOTAL
Petróleo
MJ
0,035
0,018
2,06E-04
0,002
0,001
0,002
0
0,039
Carvão
MJ
0,029
0,002
0,001
1,10E-05
0,009
0,021
0
0,055
Gás natural
MJ
0,035
0,014
0,001
1,22E-04
0,006
0,008
0
0,036
Crómio
Kg
3,64E-05
1,49E-06
9,29E-07
4,19E-09
6,45E-06
1,39E-05
0
5,45E-05
Ferro
Kg
2,67E-04
1,28E-05
0
1,23E-06
0
0
0
8,94E-05
Bauxite
Kg
0,096
2,19E-05
3,83E-07
1,83E-08
2,66E-06
1,29E-05
0
0,096
Água subterrânea
Kg
0,912
0,537
0,023
0,005
0,160
0,571
0
1,580
Água superficial
Kg
1,020
0,697
0
0
0
0
0
1,020
CO2
Kg
0,742
0,079
0,009
0,005
0,064
0,164
0,013
0,987
CO2 biogénico
Kg
0,007
0,003
0,001
2,51E-04
0,007
0,027
0,039
0,081
NOX
Kg
0,001
1,08E-04
1,58E-05
1,25E-06
1,10E-04
1,80E-04
0
0,001
Metano
Kg
1,01E-07
5,10E-09
1,61E-09
3,88E-11
1,12E-08
1,49E-08
0
1,24E-07
Partículas (PM2,5-10)
Kg
1,41E-04
8,84E-07
2,15E-07
5,56E-08
1,50E-06
1,46E-06
0
1,44E-04
Arsénico
Kg
1,33E-08
4,05E-09
3,29E-10
2,71E-10
2,29E-09
8,41E-09
0
2,34E-08
Chumbo
Kg
4,46E-08
1,39E-08
2,37E-09
4,07E-10
1,65E-08
2,77E-09
0
8,30E-08
Emissões para água salgada
---
---
---
---
---
---
---
-- -
---
---
Emissões no solo
---
---
---
---
---
---
---
-- -
---
---
Perigosos
Kg
4,47E-05
1,36E-05
0
0
0
0
6,70E-04
7,15E-04
Industriais
Kg
0,033
2,26E-04
7,41E-05
0
0
0
-5,47E-05
0,035
Inertes
Kg
2,93E-05
0
0
0
0
0
0
Categoria
Consumos
Emissões atmosféricas
Emissões para água doce
Resíduos
Fonte: ADEME
112
Guia para a Eco-inovação em PME
2,93E-05
Avaliação dos Impactes Ambientais A partir do inventário, é possível calcular os potenciais impactes ambientais, que resultam geralmente da combinação de diversos fluxos. A título de exemplo, podemos proceder ao cálculo de um indicador do efeito de estufa, construído a partir da combinação dos fatores emissões de dióxido de carbono, metano, HCFC, etc., ou de um indicador de poluição da água, que combina essencialmente as emissões de azoto e fósforo na água. Os impactes tradicionalmente avaliados são os seguintes:
Efeito de estufa;
Acidificação atmosférica;
Criação de ozono fotoquímico;
Degradação da camada do ozono;
Poluição da água;
Esgotamento de recursos naturais não renováveis.
Os indicadores de impacte referentes à toxicidade e à ecotoxicidade (terrestre, aquática e marinha) são igualmente avaliados. Mesmo que a fiabilidade destes indicadores não seja tão elevada quando comparada com a dos indicadores mencionados acima, devem igualmente ser levados em conta na avaliação. Há ainda diversos outros indicadores, como por exemplo, indicadores referentes ao uso do solo ou às emissões radioativas. O espectro dos impactes a avaliar varia de acordo com o objeto do estudo.
Interpretação dos Resultados A fase de interpretação consiste em analisar os resultados do inventário e dos indicadores de impacte ambiental. Para cada fluxo e cada impacte, podem ser identificadas as contribuições referentes a cada etapa e cada componente. É igualmente possível identificar quais os fluxos que mais contribuem para um particular impacte ambiental. Por outro lado, são realizadas análises de sensibilidade para verificar a robustez dos resultados em cenário de alteração de hipóteses. De igual forma, são realizadas análises de incerteza para verificar o efeito dos dados menos precisos que integram o cálculo. Em suma, comparam-se cenários alternativos sobre a conceção do produto ou qualquer outra fase do ciclo-de-vida, com o cenário de referência. Após esta análise, os resultados podem ser apresentados de diferentes maneiras, podendo facilitar ou não a sua interpretação. Alguns pontos a ter em atenção nesta matéria são:
Multicritério ou valor único;
Hierarquização subjetiva dos impactes ambientais;
Normalização dos impactes ambientais;
Valores absolutos e margem de progresso.
De seguida, aborda-se cada um destes pontos, de forma breve.
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113
Multicritério ou Valor Único A abordagem multicritério torna a interpretação de resultados num processo delicado, uma vez que os gestores tendem a preferir um resultado agregado para fundamentar as suas decisões. De facto, os chamados sistemas de "ponderação" são desenvolvidos para se poderem combinar os resultados de diferentes fluxos ou diferentes impactes num pequeno número de indicadores agregados, observados sob a forma de um valor único. É certo que este tipo de indicador é imensamente prático; no entanto, a sua fundamentação científica é escassa, uma vez que a agregação de indicadores de diferentes grandezas numa mesma modelização não leva em conta as compensações ou acréscimos que podem ocorrer. No caso dos impactes ambientais, esta situação não pode ocorrer, uma vez que estes são, em grande medida, independentes, não havendo mecanismos de compensação possível entre impactes. De facto, um pouco menos de acidificação atmosférica não pode ser compensado por um pouco mais de efeito de estufa. Em suma, estes indicadores agregados, mais do que resultado da investigação científica, são uma construção social.
Hierarquização Subjetiva dos Impactes Ambientais Mesmo considerando que a hierarquização dos impactes ambientais é um processo altamente subjetivo e dificilmente comprovável, pode ser útil para enquadrar um pouco os resultados encontrados. Alguns dos critérios que podem ser considerados num exercício deste tipo são:
Reversibilidade ou irreversibilidade do impacte;
Alcance local, regional ou global do impacte;
Consequências para a humanidade, desde simples perda económica à degradação da qualidade de vida.
Normalização dos Impactes Ambientais Uma outra forma de facilitar a interpretação dos resultados passa pela sua inclusão na poluição total numa dada zona geográfica ( um país, um continente, o mundo). Este método permite perceber o contributo de um determinado produto para a poluição de uma dada zona geográfica. A lógica desta análise é focalizar a atenção, para cada produto, nos impactes em que o contributo do produto é superior ao da maioria dos produtos no mercado. De referir que esta abordagem não prejudica em nada as diferenças relativas entre a gravidade de cada impacte ambiental. De facto, mais do que substituta, esta abordagem é complementar com a apresentada anteriormente. É apenas mais uma forma de apresentar os resultados. Como consideramos os resultados parciais da poluição total numa dada zona geográfica, torna-se simples exprimir os resultados normalizados em " habitantes equivalentes ", facilitando a compreensão.
114
Guia para a Eco-inovação em PME
Valores Absolutos e Margem de Progresso Aquando da interpretação de resultados, particularmente num processo de eco-inovação, é interessante identificar os materiais, etapas, componentes, atividade, etc., que mais contribuem para a criação de impactes ambientais. No entanto, é também interessante e útil estabelecer a margem de progresso disponível. A figura seguinte apresenta uma forma de ilustrar a margem de progresso da empresa em diversas vertentes, face aos impactes ambientais que geram.
IMPACTE AMBIENTAL
Margem de Progresso Impacte Ambiental
Matérias Primas
Produção
Distribuição
Uso
Fim de Vida
Fonte: ADEME
Figura 46 – Margem de progresso para a redução de impactes ambientais
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115
5.3. ASPETOS PRÁTICOS De seguida, apresentam-se diversos aspetos a ter em atenção aquando da realização de uma análise de ciclo-de-vida na empresa. Alguns destes aspetos foram sendo referidos ao longo deste manual, mas optámos por apresentá-los aqui em maior destaque, pela natureza prática que assumem num estudo ACV. Assim, alguns aspetos práticos a ter em consideração são:
Recolha e qualidade dos dados;
Nível de precisão da análise;
Bases de dados e software;
Campo de intervenção.
Recolha e Qualidade dos Dados Os dados que alimentam uma análise de ciclo-de-vida devem ser recolhidos in situ, podendo-se recorrer a um questionário como o apresentado no quadro seguinte. Quadro 22 – Questionário de recolha de dados para ACV
Data:
Pessoa de contacto:
Local:
Processo:
Dados relativos ao período de ___________ a ____________ Descrição do processo:
Entradas de materiais
Unidade
Quantidade
Consumo de água por tipo (rede, fonte...)
Unidade
Quantidade
Comentário, origem dos dados
Origem
Entradas de energia (fuelóleo, eletricidade...)
Unidade
Quantidade
Comentário, origem dos dados
Origem
Saídas de materiais (produtos)
Unidade
Quantidade Comentário, origem dos dados
Destino
Fonte: ADEME
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Guia para a Eco-inovação em PME
Comentário, origem dos dados
Em termos das exigências em matéria de qualidade dos dados, as normas da série ISO 14040 sublinham a importância de selecionar dados de qualidade antes de se proceder a qualquer cálculo. De facto, se os dados a que se recorre forem de baixa qualidade, o resultado não será necessariamente o melhor. Esta qualidade é expressa em termos da pertinência dos dados, da sua representatividade geográfica, tecnológica e temporal. Um erro comum é recorrer a informação já presente na base de dados da empresa, mesmo que não corresponda exatamente ao objeto de estudo, em vez de recolher novos dados. A título de exemplo, os impactes associados à produção de arroz serão muito diferentes de acordo com o tipo de cultura e o número de colheitas anuais.
Nível de Precisão da Análise O nível de precisão da análise varia consoante a utilização prevista para essa mesma análise. A norma ISO 14040 coloca as escolhas metodológicas para qualquer estudo ACV dependentes do seu objetivo. Em traços gerais, podem apontar-se algumas considerações básicas sobre este assunto:
Nos casos de comunicação de declaração ambiental de produto, é necessário recorrer a um estudo ACV detalhado, com dados representativos e coerentes entre si; Para orientar as escolhas de conceção, ainda muito a montante do processo, basta uma modelização de caráter genérico; Para documentar uma escolha tecnológica, recomenda-se uma ACV comparativa com dados primários sobre as etapas que diferem em cada tecnologia.
Bases de Dados e Software Os cálculos inerentes a um estudo ACV requerem software específico. A quantidade de dados a manipular pode ser de tal forma grande, que o recurso a uma folha de cálculo é claramente insuficiente, correndo-se o risco de incorrer em erros grosseiros. Nesse sentido, há inúmeras ferramentas informáticas disponíveis, com maior ou menor complexidade e mais ou menos custosas. No entanto, a escolha por uma ferramenta particular deve estar mais relacionada com a qualidade dos dados disponíveis do que propriamente com estes ou outros fatores. Há ferramentas informáticas para a análise de ciclo-de-vida de caráter genérico, aplicáveis a todas as empresas/cenários, bem como ferramentas de caráter setorial, orientadas para um ou mais segmentos de mercado específicos. Alguns exemplos de ferramentas setoriais são a Spin'it , desenvolvida pela Cycleco para os produtos têxteis ou a EIME – Environmental Improvement Made Easy , desenvolvida pela francesa Codde e direcionada aos produtos elétricos e eletrónicos. Estes softwares de apoio à análise de ciclo-de-vida, sejam eles de caráter genérico ou setorial, são então suportados por bases de dados próprias ou públicas. O quadro seguinte apresenta algumas ferramentas informáticas de apoio à ACV, bem como as bases de dados em que se apoiam.
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Quadro 23 – Bases de dados e software para ACV
Softwares ACV profissionais
Base de dados
GaBi (PE INTERNATIONAL)
GaBi
SimaPro (PRé Consultants)
Ecoinvent
TEAM (Ecobilan)
DEAM
Softwares ACV gratuitos
Base de dados
Open LCA (GreenDelta)
ELCD
Softwares de screening ACV
Base de dados
Bilan Produit (ADEME)
Base Impacts
Biloba Web (Gingko 21)
Compatível com todas as bases de dados ELCD na versão gratuita
e-DEA (Evea)
Ecoinvent
Fonte: ADEME
Campo de Intervenção A análise de ciclo-de-vida não é solução para todos os problemas de avaliação ambiental: é particularmente adequada para a avaliação de impactes globais, como o efeito de estufa. Por outro lado, os indicadores de toxicidade são muito superficiais. Assim, a ACV, somando os fluxos emitidos ao longo do ciclo-de-vida, não representa de forma precisa os impactes ambientais de cariz local. É certo que têm sido feitos esforços de geolocalização de impactes mas a verdade é que, sendo interessante de um ponto de vista teórico, na prática a pouca disponibilidade de dados locais tem limitado em muito esse esforço. No entanto, é relevante conservar os dados de emissões de substâncias tóxicas em contexto de ACV, uma vez que podem servir de sinal de alarme para lançar uma investigação complementar, como por exemplo, uma análise toxicológica. Adicionalmente, uma análise de ciclo-de-vida considera apenas os fluxos quantificáveis e passíveis de soma. Na maioria das vezes, ficam de parte fatores como a emissão de ruido, ondas eletromagnéticas, alterações na paisagem, etc. Em suma, todos estes limites são campos passíveis de investigação e progresso. Assim, a ACV pode cobrir uma grande variedade de domínios distintos. A análise de ciclo-de-vida é uma ferramenta reconhecida por empresas e poder público e que está em constante mutação, sendo sistematicamente estudada e melhorada. Um dos desafios futuros é levar esta ferramenta imprescindível a um nível de notoriedade ainda maior, entre profissionais e a própria sociedade civil.
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Guia para a Eco-inovação em PME
5.4. A ACV AO SERVIÇO DA ESTRATÉGIA DA EMPRESA Em função das necessidades das mais variadas partes interessadas, a integração da dimensão ambiental na gestão de empresas é um fator de sobrevivência no mundo do século XXI. Desde clientes a colaboradores, passando por fornecedores, parceiros, poder público, comunidades locais, acionistas ou investidores, todos reclamam maior transparência das empresas na assunção dos impactes ambientais causados pela sua atividade, bem como um esforço de melhoria da performance ambiental. É esta junção de fatores que torna a análise do ciclo-de-vida uma ferramenta indispensável. O estudo ACV permite às empresas percecionar melhor as escolhas de investimento, orientar a investigação e desenvolvimento internas, conduzir o desenvolvimento de novos produtos, valorizar os produtos nos mercados, negociar a elaboração de nova regulamentação com o poder político, etc. Em suma, é uma forma de orientar a estratégia da empresa. Cabe a cada empresa utilizar esta ferramenta da forma mais apropriada ao seu contexto de mercado, às suas ambições, cadeia-de-valor, contexto tecnológico, enquadramento legal... A análise de ciclo-de-vida é a ferramenta mais relevante ao dispor das empresas para maximizarem a triple bottom line, metodologia que mede o sucesso de uma organização não pela definição tradicional que vê a maximização de lucro como fim único, mas antes pela ponderação de três vertentes distintas: económica, social e ambiental.
Económico
CUSTO
LUCRO
Subemprego
Filantropia
Consumo de Recursos
Comércio Justo
Uso da Terra
Social
Gestão de Resíduos
Segurança dos Trabalhadores
Ambiente
Fonte: Wikipedia
Figura 47 – ACV e a triple bottom line
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119
6. CONCLUSÃO Ao longo deste guia procurámos estabelecer um roteiro para a implementação de um modelo de eco-inovação em 7 etapas. Para cada uma das etapas, foram analisadas as questões mais prementes relacionadas com a aplicação do modelo e apontadas soluções possíveis. Paralelamente, analisamos a forma como esse modelo de eco-inovação se integra na gestão empresarial, caracterizando todas as fases necessárias à sua plena implementação, desde a conceção à maturidade. Foi destacada uma ferramenta que nos parece constituir a base de qualquer processo de eco-inovação, a análise do ciclo-de-vida (ACV). Este destaque visou elencar os aspetos fundamentais do funcionamento desta ferramenta e enaltecer a sua importância, com o objetivo de potenciar a sua utilização mais frequente no universo empresarial português. Adicionalmente, foram apresentadas inúmeras medidas eco-inovadoras simples, com o objetivo de aproveitar os chamados low hanging fruits, ou seja, medidas que permitem resultados rápidos e com baixos custos para a empresa. Com este "Guia para a Eco-inovação em PME" procurámos dotar as empresas nacionais, particularmente as de menor dimensão, de uma ferramenta simples e de caráter inerentemente prático, de auxílio à implementação da eco-inovação nas suas organizações.
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Guia para a Eco-inovação em PME
7. BIBLIOGRAFIA
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ANPAD, Eco-inovação: Um Quadro de Referência para Pesquisas Futuras , 2010;
APED, Guia de Boas Práticas Ambientais, 2010;
BIS, Potential for Resource Efficiency Savings for Businesses, 2010;
BIS, Practical Resource Efficiency Savings – Case Studies, 2009;
CIMPIN, Guia de Boas Práticas Empresas e Sustentabilidade, 2010;
Eco-Innovera, Resource Efficiency Workshop towards System Innovation, 2014;
EIO, A Guide to Eco-Innovation for SMEs and Business Coaches, 2013;
EIO, Closing The Eco-Innovation Gap – An economic opportunity for business, 2012;
EIO, Europe in transition - Paving the way to a green economy through eco-innovation, 2013;
Ferreira, José Vicente Rodrigues, Análise de Ciclo-de-Vida dos Produtos, 2004;
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OCDE, The Future of Eco-Innovation: The Role of Business Models in Green Transformation , 2012;
Pôle Eco-conception/IDP, La Profitabilité de l’Écoconception : une Analyse Économique , 2014;
SEBRAE, Requisitos Ambientais para o Desenvolvimento de Produtos , 2005;
USP, Ecoinovação para a melhoria ambiental de produtos e serviços, 2012;
http://www.eco-innovation.eu;
http://pt.wikipedia.org.
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