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Índice DIVERSIDADE CULTURAL, CONFLITOS E VIDA EM SOCIEDADE Cultura Material e imaterial; patrimônio e diversidade cultural no Brasil................................................... 03 A Conquista da América. Conflitos entre europeus e indígenas na América colonial. A escravidão e formas de resistência indígena e africana na América..................................................................................... 04 História cultural dos povos africanos. A luta dos negros no Brasil e o negro na formação da sociedade brasileira.................................................................................................................................................................... 04 História dos povos indígenas e a formação sócio-cultural brasileira.......................................................... 22 Movimentos culturais no mundo ocidental e seus impactos na vida política e social............................ 22
FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL, MOVIMENTOS SOCIAIS, PENSAMENTO POLÍTICO E AÇÃO DO ESTADO Cidadania e democracia na Antiguidade; Estado e direitos do cidadão a partir da Idade Moderna; democracia direta, indireta e representativa..................................................................................................... 24 Revoluções sociais e políticas na Europa Moderna..................................................................................... 24 Formação territorial brasileira; as regiões brasileiras; políticas de reordenamento territorial.................. 30 As lutas pela conquista da independência política das colônias da América........................................ 41 Grupos sociais em conflito no Brasil imperial e a construção da nação................................................... 42 O desenvolvimento do pensamento liberal na sociedade capitalista e seus críticos nos séculos XIX e XX............................................................................................................................................................................... 42 Políticas de colonização, migração, imigração e emigração no Brasil nos séculos XIX e XX................. 65 A atuação dos grupos sociais e os grandes processos revolucionários do século XX: Revolução Bolchevique, Revolução Chinesa, Revolução Cubana..................................................................................... 65 Geopolítica e conflitos entre os séculos XIX e XX: Imperialismo, a ocupação da Ásia e da África, as Guerras Mundiais e a Guerra Fria.......................................................................................................................... 70 Os sistemas totalitários na Europa do século XX: nazi-fascista, franquismo, salazarismo e stalinismo. Ditaduras políticas na América Latina: Estado Novo no Brasil e ditaduras na América................................ 70 Conflitos político-culturais pós-Guerra Fria, reorganização política internacional e os organismos multilaterais nos séculos XX e XXI........................................................................................................................... 82 A luta pela conquista de direitos pelos cidadãos: direitos civis, humanos, políticos e sociais. Direitos sociais nas constituições brasileiras. Políticas afirmativas................................................................................... 83 Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades, pobreza e segregação espacial..................................... 85
CARACTERÍSTICAS E TRANSFORMAÇÕES DAS ESTRUTURAS PRODUTIVAS Diferentes formas de organização da produção: escravismo antigo, feudalismo, capitalismo, socialismo e suas diferentes experiências............................................................................................................................... 90 Economia agro-exportadora brasileira: complexo açucareiro; a mineração no período colonial; a economia cafeeira; a borracha na Amazônia................................................................................................... 92 Revolução Industrial: criação do sistema de fábrica na Europa e transformações no processo de produção. ................................................................................................................................................................ 94 Formação do espaço urbano-industrial. Transformações na estrutura produtiva no século XX: o fordismo, o toyotismo, as novas técnicas de produção e seus impactos....................................................... 95 A industrialização brasileira, a urbanização e as transformações sociais e trabalhistas......................... 95 A globalização e as novas tecnologias de telecomunicação e suas consequências econômicas, políticas e sociais................................................................................................................................................... 100 Produção e transformação dos espaços agrários. Modernização da agricultura e estruturas agrárias tradicionais. O agronegócio, a agricultura familiar, os assalariados do campo e as lutas sociais no campo. A relação campo-cidade.................................................................................................................................... 103
OS DOMÍNIOS NATURAIS E A RELAÇÃO DO SER HUMANO COM O AMBIENTE Relação homem-natureza, a apropriação dos recursos naturais pelas sociedades ao longo do tempo. .................................................................................................................................................................... 110 Impacto ambiental das atividades econômicas no Brasil. Recursos minerais e energéticos: exploração e impactos. Recursos hídricos; bacias hidrográficas e seus aproveitamentos.............................................. 114 As questões ambientais contemporâneas: mudança climática, ilhas de calor, efeito estufa, chuva ácida, a destruição da camada de ozônio. A nova ordem ambiental internacional; políticas territoriais ambientais; uso e conservação dos recursos naturais, unidades de conservação, corredores ecológicos, zoneamento ecológico e econômico............................................................................................................... 118 Origem e evolução do conceito de sustentabilidade............................................................................... 118 Estrutura interna da terra. Estruturas do solo e do relevo; agentes internos e externos modeladores do relevo....................................................................................................................................................................... 122 Situação geral da atmosfera e classificação climática. As características climáticas do território brasileiro.................................................................................................................................................................. 125 Os grandes domínios da vegetação no Brasil e no mundo...................................................................... 125
REPRESENTAÇÃO ESPACIAL Projeções cartográficas; leitura de mapas temáticos, físicos e políticos; tecnologias modernas aplicadas à cartografia.......................................................................................................................................................... 128
PROVA COMENTADA 2015 Ciências Humanas e suas Tecnologias......................................................................................................... 150
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JOANA D’ARC
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• DIVERSIDADE CULTURAL, CONFLITOS E VIDA EM SOCIEDADE – CULTURA MATERIAL E IMATERIAL; PATRIMÔNIO E DIVERSIDADE CULTURAL NO BRASIL.
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diversidade cultural refere-se aos diferentes costumes de uma sociedade, entre os quais podemos citar: vestimenta, culinária, manifestações religiosas, tradições, entre outros aspectos. O Brasil, por conter um extenso território, apresenta diferenças climáticas, econômicas, sociais e culturais entre as suas regiões. Os principais disseminadores da cultura brasileira são os colonizadores europeus, a população indígena e os escravos africanos. Posteriormente, os imigrantes italianos, japoneses, alemães, poloneses, árabes, entre outros, contribuíram para a pluralidade cultural do Brasil. Nesse contexto, alguns aspectos culturais das regiões brasileiras serão abordados. Região Nordeste Entre as manifestações culturais da região estão danças e festas como o bumba meu boi, maracatu, caboclinhos, carnaval, ciranda, coco, terno de zabumba, marujada, reisado, frevo, cavalhada e capoeira. Algumas manifestações religiosas são a festa de Iemanjá e a lavagem das escadarias do Bonfim. A literatura de Cordel é outro elemento forte da cultura nordestina. O artesanato é representado pelos trabalhos de rendas. Os pratos típicos são: carne de sol, peixes, frutos do mar, buchada de bode, sarapatel, acarajé, vatapá, cururu, feijão-verde, canjica, arroz-doce, bolo de fubá cozido, bolo de massa de mandioca, broa de milho verde, pamonha, cocada, tapioca, pé de moleque, entre tantos outros. Região Norte A quantidade de eventos culturais do Norte é imensa. As duas maiores festas populares do Norte são o Círio de Nazaré, em Belém (PA); e o Festival de Parintins, a mais conhecida festa do boi-bumbá do país, que ocorre em junho, no Amazonas. Outros elementos culturais da região Norte são: o carimbó, o congo ou congada, a folia de reis e a festa do divino. A influência indígena é fortíssima na culinária do Norte, baseada na mandioca e em peixes. Outros alimentos típicos do povo nortista são: carne de sol, tucupi (caldo da mandioca cozida), tacacá (espécie de sopa quente feita com tucupi), jambu (um tipo de erva), camarão seco e pimenta-de-cheiro.
Região Centro-Oeste A cultura do Centro-Oeste brasileiro é bem diversificada, recebendo contribuições principalmente dos indígenas, paulistas, mineiros, gaúchos, bolivianos e paraguaios. São manifestações culturais típicas da região: a cavalhada e o fogaréu, no estado de Goiás; e o cururu, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. A culinária regional é composta por arroz com pequi, sopa paraguaia, arroz carreteiro, arroz boliviano, Maria Isabel, empadão goiano, pamonha, angu, curral, os peixes do Pantanal - como o pintado, pacu, dourado, entre outros. Região Sudeste Os principais elementos da cultura regional são: festa do divino, festejos da páscoa e dos santos padroeiros, congada, cavalhadas, bumba meu boi, carnaval, peão de boiadeiro, dança de velhos, batuque, samba de lenço, festa de Iemanjá, folia de reis, caiapó. A culinária do Sudeste é bem diversificada e apresenta forte influência do índio, do escravo e dos diversos imigrantes europeus e asiáticos. Entre os pratos típicos se destacam a moqueca capixaba, pão de queijo, feijão-tropeiro, carne de porco, feijoada, aipim frito, bolinho de bacalhau, picadinho, virado à paulista, cuscuz paulista, farofa, pizza, etc. Região Sul O Sul apresenta aspectos culturais dos imigrantes portugueses, espanhóis e, principalmente, alemães e italianos. As festas típicas são: a Festa da Uva (italiana) e a Oktoberfest (alemã). Também integram a cultura sulista: o fandango de influência portuguesa, a tirana e o anuo de origem espanhola, a festa de Nossa Senhora dos Navegantes, a congada, o boi-de-mamão, a dança de fitas, boi na vara. Na culinária estão presentes: churrasco, chimarrão, camarão, pirão de peixe, marreco assado, barreado (cozido de carne em uma panela de barro), vinho. CULTURA MATERIAL E IMATERIAL; DIVERSIDADES E PATRIMÔNIO HISTÓRICO NO BRASIL O Patrimônio Cultural pode ser definido como um bem (ou bens) de natureza material e imaterial considerado importante para a identidade da sociedade brasileira. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Segundo artigo 216 da Constituição Federal, configuram patrimônio “as formas de expressão; os modos de criar; as criações científicas, artísticas e tecnológicas; as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; além de conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.” No Brasil, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é responsável por promover e coordenar o processo de preservação e valorização do Patrimônio Cultural Brasileiro, em suas dimensões material e imaterial. Os bens culturais imateriais estão relacionados aos saberes, às habilidades, às crenças, às práticas, ao modo de ser das pessoas. Desta forma podem ser considerados bens imateriais: conhecimentos enraizados no cotidiano das comunidades; manifestações literárias, musicais, plásticas, cênicas e lúdicas; rituais e festas que marcam a vivência coletiva da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social; além de mercados, feiras, santuários, praças e demais espaços onde se concentram e se reproduzem práticas culturais. Na lista de bens imateriais brasileiros estão à festa do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a Feira de Caruaru, o Frevo, a capoeira, o modo artesanal de fazer Queijo de Minas e as matrizes do Samba no Rio de Janeiro. O patrimônio material é formado por um conjunto de bens culturais classificados segundo sua natureza: arqueológico, paisagístico e etnográfico; histórico; belas artes; e das artes aplicadas. Eles estão divididos em bens imóveis – núcleos urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais – e móveis – coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais, bibliográficos, arquivísticos, videográficos, fotográficos e cinematográficos. Entre os bens materiais brasileiros estão os conjuntos arquitetônicos de cidades como Ouro Preto (MG), Paraty (RJ), Olinda (PE) e São Luís (MA) ou paisagísticos, como Lençóis (BA), Serra do Curral (Belo Horizonte), Grutas do Lago Azul e de Nossa Senhora Aparecida (Bonito, MS) e o Corcovado (Rio de Janeiro). A CONQUISTA DA AMÉRICA. CONFLITOS ENTRE EUROPEUS E INDÍGENAS NA AMÉRICA COLONIAL. A ESCRAVIDÃO E FORMAS DE RESISTÊNCIA INDÍGENA E AFRICANA NA AMÉRICA. HISTÓRIA CULTURAL DOS POVOS AFRICANOS. A LUTA DOS NEGROS NO BRASIL E O NEGRO NA FORMAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA. Quando falamos em conquista estamos falando em dominação, em poder do superior para o inferior, e é isto mesmo que aconteceu com os povos da América no século XV pelos europeus, ou seja, a CoENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
roa Portuguesa e a Coroa Espanhola no sistema mercantilista onde a acumulação de capital seria pela balança favorável de riquezas pertencidas ao seu território. Quem saiu na frente nesta empreitada foi à Espanha com Cristóvão Colombo que foi no rumo Oeste para chegar às Índias, mas só que chegou à cidade de São Domingos pensando que tivesse chegado às Índias chamou todos os habitantes de índios. Só que o grande objetivo de Portugal e a Espanha eram obter riquezas (lucros) para seus Estados Nacionais em formação. Os espanhóis chegando à América Central mataram grandes civilizações culturais como os maias, os incas e os astecas. Como estes povos eram muito religiosos acreditavam nas suas lendas, por exemplo, que um dia iria descer dos céus o deus sentado no veado e bem no tempo que os povos astecas estavam esperando apareceu o conquistador Cortez que foi interpretado com um deus, então a profecia estava sendo concretizada e a conquista se tornou verdade. Estes povos, os maias, os astecas e os incas lutaram até a morte mesmo tendo armas menos sofisticadas e muitos morreram pelas doenças trazidas pelos europeus com sarampo, gripe e outras epidemias. A Espanha obteve riquezas com estes povos, mas só que lutou bastante. Já Portugal com a mesma ideia de conquistar às Índias pela África demorou mais a obter riquezas. Portugal lutou com povos menos guerreiros então não se desgastou tanto na luta pela conquista como a Espanha que lutava com povos de grandes civilizações americanas. O rei de Portugal primeiramente pensou em conquistas feitorias na África e o seu filho o infante D. Henrique, que foi na expedição pelas terras africanas, buscou conhecimentos marítimos e trouxe para Portugal e fundou a 1ª escola marítima a chamada “Escola de Sagres”. Isto aprimorou os conhecimentos portugueses sobre o mar e invenções como a bússola, a caravela e outros foram instrumentos de grande valia na conquista da América pelos portugueses. Os reis de Portugal investiram na frota de Pedro Álvares Cabral, pois ele encantado pelas histórias de Marco Polo que contava em seus livros sobre a riqueza do Oriente, queria chegar às Índias contornando o sul da África, mas só que quando a expedição foi se afastando cada vez mais da África e se aproximando da costa do Bahia, mais especificamente em Porto Seguro. Portugal, no primeiro momento, não ligou muito para estas terras porque não obteria lucro fácil. O lucro adveio do pau-brasil que era um tipo de tintura para roupas. Como o comércio com o Oriente estava ficando com alto custo e muitos corsários europeus se aproximavam do Brasil e com medo de per-
Ciências Humanas e suas Tecnologias der território a Coroa Portuguesa preferia investir no Brasil e a ideia foi o sistema de plantation que eram grandes áreas de plantação e a mão – de- obra seria escrava e assim estariam implantadas as colônias de exploração no Brasil. Bem diferente da América do Norte que foi uma colônia de povoamento e produzia mais produtos com a mão-de-obra livre. Independência da América Espanhola O processo de independência da América Espanhola ocorreu em um conjunto de situações experimentadas ao longo do século XVIII. Nesse período, observamos a ascensão de um novo conjunto de valores que questionava diretamente o pacto colonial e o autoritarismo das monarquias. O iluminismo defendia a liberdade dos povos e a queda dos regimes políticos que promovessem o privilégio de determinadas classes sociais. Sem dúvida, a elite letrada da América Espanhola inspirou-se no conjunto de ideias iluministas. A grande maioria desses intelectuais era de origem criolla, ou seja, filhos de espanhóis nascidos na América desprovidos de amplos direitos políticos nas grandes instituições do mundo colonial espanhol. Por estarem politicamente excluídos, enxergavam no iluminismo uma resposta aos entraves legitimados pelo domínio espanhol, ali representado pelos chapetones. Ao mesmo tempo em que houve toda essa efervescência ideológica em torno do iluminismo e do fim da colonização, a pesada rotina de trabalho dos índios, escravos e mestiços também contribuiu para o processo de independência. As péssimas condições de trabalho e a situação de miséria já tinham, antes do processo definitivo de independência, mobilizado setores populares das colônias hispânicas. Dois claros exemplos dessa insatisfação puderam ser observados durante a Rebelião Tupac Amaru (1780/Peru) e o Movimento Comunero (1781/Nova Granada). No final do século XVIII, a ascensão de Napoleão frente ao Estado francês e a demanda britânica e norte-americana pela expansão de seus mercados consumidores serão dois pontos cruciais para a independência. A França, pelo descumprimento do Bloqueio Continental, invadiu a Espanha, desestabilizando a autoridade do governo sob as colônias. Além disso, Estados Unidos e Inglaterra tinham grandes interesses econômicos a serem alcançados com o fim do monopólio comercial espanhol na região. É nesse momento, no início do século XIX, que a mobilização ganha seus primeiros contornos. A restauração da autoridade colonial espanhola seria o estopim do levante capitaneado pelos criollos. Contando com o apoio financeiro anglo-americano, os criollos convocaram as populações coloniais a se
rebelarem contra a Espanha. Os dois dos maiores líderes criollos da independência foram Simon Bolívar e José de San Martin. Organizando exércitos pelas porções norte e sul da América, ambos sequenciaram a proclamação de independência de vários países latino-americanos. No ano de 1826, com toda América Latina independente, as novas nações reuniram-se no Congresso do Panamá. Nele, Simon Bolívar defendia um amplo projeto de solidariedade e integração político-econômica entre as nações latino-americanas. No entanto, Estados Unidos e Inglaterra se opuseram a esse projeto, que ameaçava seus interesses econômicos no continente. Com isso, a América Latina acabou mantendo-se fragmentada. O desfecho do processo de independência, no entanto, não significou a radical transformação da situação socioeconômica vivida pelas populações latino-americanas. A dependência econômica em relação às potências capitalistas e a manutenção dos privilégios das elites locais fizeram com que muitos dos problemas da antiga América Hispânica permanecessem presentes ao longo da História latino-americana. (Texto adaptado de SOUSA, R.). Independência da América Portuguesa Apesar das muitas revoltas coloniais, a independência do Brasil só haveria de acontecer em 1822. E não foi uma separação total, como aconteceu em outros países da América que, ao ficarem independentes, tornaram-se repúblicas governadas por pessoas nascidas no país libertado. O Brasil independente continuou sendo um reino, e seu primeiro imperador foi Dom Pedro I, que era filho do rei de Portugal. O processo da nossa independência começou mesmo em 1808, quando para cá veio à família real portuguesa. E acabou em 1822, quando Dom Pedro proclamou a Independência, a nossa separação de Portugal. Portugal deixou de mandar no Brasil. Mas saindo Portugal, outros países passaram a dominar o Brasil. Não governando diretamente o país, mas dominando nosso comércio, comprando barato o que vendíamos e vendendo caro o que comprávamos. O primeiro desses países foi à Inglaterra, depois vieram os Estados Unidos. A vinda da família real. No início do século XIX Napoleão Bonaparte era o imperador da França e queria dominar toda a Europa. Para vencer a poderosa Inglaterra, Napoleão decretou o Bloqueio Continental, isto é, proibiu todos os países europeus de comercializar com os ingleses. Como Portugal era um antigo aliado da Inglaterra, ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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não aceitou as ordens de Napoleão e a família real foi obrigada a fugir para o Brasil para não ser atacada por Napoleão, imperador da França. Quando as tropas francesas chegaram a Portugal, a família real portuguesa já tinha abandonado Lisboa. O restante da população portuguesa que ficou em Lisboa acabou se tornando vítima da guerra entre os franceses e ingleses pelo domínio de Portugal. Dom João, acompanhado de aproximadamente 10 mil pessoas, chegou ao Brasil em 1808 e depois de uma passagem por Salvador, onde decretou a Abertura dos portos brasileiros às nações amigas, rompendo assim, o pacto colonial, transferiu-se para a cidade do Rio de Janeiro. Ao se instalar no Brasil, D. João transformou a cidade do Rio de Janeiro: • criou três ministérios: Guerra e Estrangeiros; Marinha; Fazenda e Interior; • instalou a Casa de Suplicação (hoje, Supremo Tribunal), a mais elevada corte de justiça; • fundou o Museu Nacional, a Biblioteca Real, trouxe a Missão Francesa, fundou o Banco do Brasil; • criou a Imprensa Régia, a primeira gráfica do Brasil; • criou vários cursos (cirurgia, química, agricultura, desenho técnico) na Bahia e no Rio de Janeiro; • anexou em 1809 a Guiana Francesa e manteve seu controle na região até 1817; • invadiu o Uruguai, incorporado ao território brasileiro em 1821 como Província Cisplatina, situação em que ficou até 1828; • em 1815 o Brasil foi elevado à categoria de reino, em igualdade de condições de Portugal; • em 1818, com a morte de sua mãe, a rainha Dona Maria I, que era doente mental, o príncipe Dom João é coroado rei , com o título de Dom João VI. A independência. Após a derrota em Portugal, as tropas francesas foram expulsas e um general inglês foi nomeado governador do reino. Descontentes com esta situação, em 1820 tem início uma revolução na cidade de Porto e os portugueses fazem três exigências a Dom João VI, que estava no Brasil: que ele voltasse imediatamente para Portugal; que aceitasse uma nova Constituição e que ainda aceitasse a participação dos revolucionários no seu governo. Com medo de perder o trono, Dom João VI aceitou todas as exigências e voltou para Portugal em abril de 1821, deixando seu filho Dom Pedro como príncipe regente. Antes disso, porém, esvaziou os cofres do Banco do Brasil, levando quase todo o ouro para Portugal, deixando os brasileiros em grande dificuldade. Dom Pedro procurou dar um jeito na situação: diminuiu as despesas do governo, baixou os impostos e igualou os militares brasileiros aos portugueses. As ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Cortes de Lisboa não gostaram das medidas tomadas por Dom Pedro e queriam que o mesmo voltasse imediatamente para Portugal. Mas, Dom Pedro preferiu ficar no Brasil. Entre aqueles que lutavam pela independência, havia no Brasil dois grupos com orientações diferentes: aqueles que apoiavam D. Pedro e queriam uma independência pacífica, com a continuação de D. Pedro no poder; e aqueles que queriam o rompimento com Portugal e a proclamação da República. Dom Pedro fez de tudo para que a Independência fosse realizada como seu grupo queria e para que eles continuassem a ajudá-lo a governar o Brasil, continuando o povo sem participar nas decisões do Governo. Para conseguir isso, ele mesmo proclamou a Independência. Fez isso quando estava em viagem a São Paulo, ao receber alguns decretos das Cortes de Lisboa que anulavam algumas de suas decisões. Dom Pedro aproveitou a ocasião e declarou a separação entre o Brasil e Portugal. Era o dia 7 de setembro de 1822. No dia 1o de dezembro de 1822. Dom Pedro foi coroado primeiro imperador do Brasil. Escravização dos Índios e negros Com efetivo início da colonização do Brasil, os portugueses tinham a necessidade de empreender um modelo de exploração econômica das terras que fosse capaz de gerar lucro em pouco tempo. Para tanto, precisariam de uma ampla mão-de-obra capaz de produzir riquezas em grande quantidade e, dessa forma, garantir margens de lucro cada vez maiores para os cofres da Coroa Portuguesa. Contudo, quem poderia dispor de sua força de trabalho para tão ambicioso projeto? Inicialmente, os portugueses pensaram em aproveitar do contato já estabelecido com os índios na atividade de extração do pau-brasil. Nesse período, os índios realizavam essa extração por meio de um trabalho esporádico recompensado pelos produtos trazidos pelos lusitanos na prática do escambo. Em contrapartida, o trabalho nas grandes propriedades exigia uma rotina de trabalho longa e disciplinada que ia contra os hábitos cotidianos de boa parte dos indígenas. Além disso, as mortes causadas pelo trabalho forçado, as mortais epidemias contraídas no contato com o homem branco e ruptura com a economia de subsistência dos indígenas impedia a viabilidade desse tipo de escravidão. Ao mesmo tempo, devemos levar em conta que o controle sobre os índios escravizados era bem mais difícil tendo em vista o conhecimento que tinham do território, ,facilitando assim sua fuga. Dessa forma, a vigilância se tornava algo bastante complicado.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Como se não bastasse esses fatores de ordem cultural, biológica e social, a escravidão indígena também foi extensamente combatida pela Igreja no ambiente colonial. Representados pela Ordem Jesuíta, os clérigos que aportavam em terras brasileiras se envolveram em uma série de disputas em que repudiavam o interesse dos colonos em converter os índios em escravos. Tal postura se justificava no interesse que os clérigos católicos tinham em facilitar o processo de conversão religiosa dos índios. Apesar de sua influência e autoridade, muitos padres foram explicitamente afrontados pela ganância de colonos que saiam pelo território em busca de índios. Na maioria das vezes, a escravidão indígena servia como alternativa à falta e o alto custo de uma peça trazida da África. Preferencialmente, os colonos atacavam as populações indígenas ligadas às missões jesuíticas, pois estes já se mostravam habituados à rotina e aos valores da cultura ocidental. Mediante a forte pressão dos religiosos, Portugal proibiu a captura de índios por meio de uma Carta Régia emitida no ano de 1570. Segundo esse documento, os índios só poderiam ser presos e escravizados em situação de guerra justa. Ou seja, somente os índios que se voltassem contra os colonizadores estariam sujeitos à condição de escravos. Por meio dessa medida, os colonizadores conseguiram manter a escravidão indígena durante todo o período colonial. A escravidão indígena foi oficialmente extinta no século XVIII, momento em que o marquês de Pombal estabeleceu um conjunto de transformações na administração colonial. Primeiramente, ordenou a expulsão dos jesuítas do Brasil mediante a ampla influência política e econômica que tinha dentro da colônia. Logo depois, em 1757, proibiu a escravidão indígena e transformou algumas aldeias em vilas submetidas ao poderio da Coroa. Já com os negros, a escravidão pode ser definida como o sistema de trabalho no qual o indivíduo (o escravo) é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Legalmente, o escravo não tem direitos: não pode possuir ou doar bens e nem iniciar processos judiciais, mas pode ser castigado e punido. Não existem registros precisos dos primeiros escravos negros que chegaram ao Brasil. À tese mais aceita é a de que em 1538, Jorge Lopes Bixorda, arrendatário de pau-brasil, teria traficado para a Bahia os primeiros escravos africanos.
Eles eram capturados nas terras onde viviam na África e trazidos à força para a América, em grandes navios, em condições miseráveis e desumanas. Muitos morriam durante a viagem através do oceano Atlântico, vítimas de doenças, de maus tratos e da fome. Os escravos que sobreviviam à travessia, ao chegar ao Brasil, eram logo separados do seu grupo linguístico e cultural africano e misturados com outros de tribos diversas para que não pudessem se comunicar. Seu papel de agora em diante seria servir de mão-de-obra para seus senhores, fazendo tudo o que lhes ordenassem, sob pena de castigos violentos. Além de terem sido trazidos de sua terra natal, de não terem nenhum direito, os escravos tinham que conviver com a violência e a humilhação em seu dia-a-dia. A minoria branca, a classe dominante socialmente, justificava essa condição através de ideias religiosas e racistas que afirmavam a sua superioridade e os seus privilégios. As diferenças étnicas funcionavam como barreiras sociais. O escravo tornou-se a mão-de-obra fundamental nas plantações de cana-de-açúcar, de tabaco e de algodão, nos engenhos, e mais tarde, nas vilas e cidades, nas minas e nas fazendas de gado. Além de mão-de-obra, o escravo representava riqueza: era uma mercadoria, que, em caso de necessidade, podia ser vendida, alugada, doada e leiloada. O escravo era visto na sociedade colonial também como símbolo do poder e do prestígio dos senhores, cuja importância social era avalizada pelo número de escravos que possuíam. A escravidão negra foi implantada durante o século XVII e se intensificou entre os anos de 1700 e 1822, sobretudo pelo grande crescimento do tráfico negreiro. O comércio de escravos entre a África e o Brasil tornou-se um negócio muito lucrativo. O apogeu do afluxo de escravos negros pode ser situado entre 1701 e 1810, quando 1.891.400 africanos foram desembarcados nos portos coloniais. Nem mesmo com a independência política do Brasil, em 1822, e com a adoção das ideias liberais pelas classes dominantes o tráfico de escravos e a escravidão foram abalados. Neste momento, os senhores só pensavam em se libertar do domínio português que os impedia de expandir livremente seus negócios. Ainda era interessante para eles preservar as estruturas sociais, políticas e econômicas vigentes. Ainda foram necessárias algumas décadas para que fossem tomadas medidas para reverter à situação dos escravos. Aliás, este será o assunto do próximo item. Por ora, vale lembrar que não eram todos os escravos que se submetiam passivamente à condição que lhe foi imposta. As fugas, as resistências e as revoltas sempre estiveram presentes durante o ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias longo período da escravidão. Existiram centenas de “quilombos” dos mais variados tipos, tamanhos e durações. Os “quilombos” eram criados por escravos negros fugidos que procuraram reconstruir neles as tradicionais formas de associação política, social, cultural e de parentesco existentes na África. O “quilombo” mais famoso pela sua duração e resistência, foi o de Palmares, estabelecido no interior do atual estado de Alagoas, na Serra da Barriga, sítio arqueológico tombado recentemente. Este “quilombo” se organizou em diferentes aldeias interligadas, sendo constituído por vários milhares de habitantes e possuindo forte organização político-militar. Como era tratado o escravo
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Antes de romper o sol, os negros eram despertados através das badaladas de um sino e formados em fila no terreiro para serem contados pelo feitor e seus ajudantes, que após a contagem rezavam uma oração que era repetida por todos os negros. Após ingerirem um gole de cachaça e uma xícara de café como alimentação da manhã, os negros eram encaminhados pelo feitor para os penosos labor nas roças, e às oito horas da manhã o almoço era trazido por um dos camaradas do sitio em um grande balaio que continha a panela de feijão que era cozido com gordura e misturado com farinha de mandioca, o angu esparramado em largas folhas de bananeiras, abóbora moranga, couve rasgada e raramente um pedaço de carne de porco fresca ou salgada que era colocada no chão, onde os negros acocoravam-se para encher as suas cuias e iam comer em silêncio, após se saciarem os negros cortavam o fumo de rolo e preparavam sem pressa o seus cigarros feitos com palha de milho, e após o descanso de meia hora os negros continuavam a labuta até às duas horas quando vinha o jantar, e ao por do sol eram conduzidos de volta à fazenda onde todos eram passados em revista pelo feitor e recebiam um prato de canjica adoçada com rapadura como ceia e eram recolhidos a senzala. E em suas jornadas diárias, os negros também sofriam os mais variados tipos de castigo (), nas cidades o principal castigo era os açoites que eram feitos publicamente nos pelourinhos que se constituíam em colunas de pedras erguidas em praças pública e que continha na parte superior algumas pontas recurvadas de ferro onde se prendiam os infelizes escravos. E cujas condenação à pena dos açoites eram anunciados pelos rufos dos tambores para uma grande multidão que se reunia para assistir ao látego do carrasco abater-se sobre o corpo do negro escravo condenado para delírio da multidão excitada que aplaudia, enquanto o chicote abria estrias de sangue no dorso nu do negro escravo que ficava à execração pública. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
E outro método de punição dado aos negros foi o castigo dos bolos que consistia em dar pancada com a palmatória nas palmas das mãos estendidas dos negros, e que provocavam violentas equimoses e ferimentos no apitélio delicado das mãos. Em algumas fazendas e engenhos, as crueldades dos senhores de engenho e feitores atingiram a extremas e incríveis métodos de castigos ao empregarem no negro o anavalhamento do corpo seguido de salmoura, marcas de ferro em brasa, mutilações, estupros de negras escravas, castração, fraturas dos dentes a marteladas e uma longa e infinita teoria de sadismo requintado. No sul do Brasil, os senhores de engenhos costumavam mandar atar os punhos dos escravos e os penduravam em uma trava horizontal com a cabeça para baixo, e sobre os corpos inteiramente nus, eles untavam de mel ou salmoura para que os negros fossem picados por insetos. E através de uma série de instrumentos de suplícios que desafiava a imaginação das consciências mais duras para a contenção do negro escravo que houvesse cometido qualquer falha, e no tronco que era um grande pedaço de madeira retangular aberta em duas metades com buracos maiores para a cabeça e menores para os pés e as mãos dos escravos, e para colocar-se o negro no tronco abriam-se as suas duas metades e se colocavam nos buracos o pescoço, os tornozelos ou os pulsos do escravo e se fechava as extremidades com um grande cadeado, o vira mundo era um instrumento de ferro de tamanho menor que o tronco, porém com o mesmo mecanismo e as mesmas finalidades de prender os pés e as mãos dos escravos, o cepo era um instrumento que consistia num grosso tronco de madeira que o escravo carregava à cabeça, preso por uma longa corrente a uma argola que trazia ao tornozelo. O libanto era um instrumento que prendia o pescoço do escravo numa argola de ferro de onde saía uma haste longa. Que poderia terminar com um chocalho em sua extremidade e que servia para dar o sinal quando o negro quando o negro andava, ou com as pontas retorcidas com a finalidade de prender-se aos galhos das árvores para dificultar a fuga do negro pelas matas, as gargalheiras eram colocadas no pescoço dos escravos e dela partiam uma corrente que prendiam os membros do negro ao corpo ou serviam para atrelar os escravos uns aos outros quando transportados dos mercados de escravos para as fazendas, e através das algemas, machos e peias os negros eram presos pelas mãos aos tornozelos o que impedia do escravo de correr ou andar depressa, com isto dificultava a fuga dos negros, e para os que furtavam e comiam cana ou rapadura escondido era utilizado a mascara, que era feita de folhas de flandes e tomava todo o rosto e possuía alguns orifícios para a respiração do
Ciências Humanas e suas Tecnologias negro, com isto o escravo não podia comer nem beber sem a permissão do feitor, os anjinhos eram um instrumento de suplicio que se prendiam os dedos polegares da vitima em dois anéis que eram comprimidos gradualmente para se obter à força a confissão do escravo incriminado por uma falta grave. Já no início do século XIX era possível verificar grandes transformações que pouco a pouco modificavam a situação da colônia e o mundo a sua volta. Na Europa, a Revolução Industrial introduziu a máquina na produção e mudou as relações de trabalho. Formaram-se as grandes fábricas e os pequenos artesãos passaram a ser trabalhadores assalariados. Na colônia, a vida urbana ganhou espaço com a criação de estaleiros e de manufaturas de tecidos. A imigração em massa de portugueses para o Brasil foi outro fator novo no cenário do Brasil colonial. Mesmo com todos esses avanços foi somente na metade do século que começaram a ser tomadas medidas efetivas para o fim do regime de escravidão. Vamos conhecer os fatores que contribuíram para a abolição: 1831 Cumprindo acordos firmados com a Inglaterra, o governo brasileiro declarou tráfico ilegal no território nacional, mas o comércio continuou em grande escala. 1845 A lei Bill Aberdeen que dava a Marinha de Guerra Inglesa o direito de aprisionar tumbeiros(navios negreiros) em qualquer ponto do atlântico 1850 – promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que acabou definitivamente com o tráfico negreiro intercontinental. Com isso, caiu a oferta de escravos, já que eles não podiam mais ser trazidos da África para o Brasil. 1865 – Cresciam as pressões internacionais sobre o Brasil, que era a única nação americana a manter a escravidão. 1871 – Promulgação da Lei Rio Branco, mais conhecida como Lei do Ventre Livre, que estabeleceu a liberdade para os filhos de escravas nascidos depois desta data. Os senhores passaram a enfrentar o problema do progressivo envelhecimento da população escrava, que não poderia mais ser renovada. 1872 – O Recenseamento Geral do Império, primeiro censo demográfico do Brasil, mostrou que os escravos, que um dia foram maioria, agora constituíam apenas 15% do total da população brasileira. O Brasil contou uma população de 9.930.478 pessoas, sendo 1.510.806 escravos e 8.419.672 homens livres. 1880 – O declínio da escravidão se acentuou nos anos 80, quando aumentou o número de alforrias (documentos que concediam a liberdade aos negros), ao lado das fugas em massa e das revoltas dos escravos, desorganizando a produção nas fazendas.
1885 – Assinatura da Lei Saraiva-Cotegipe ou, popularmente, a Lei dos Sexagenários, pela Princesa Isabel, tornando livres os escravos com mais de 60 anos. 1885-1888 – o movimento abolicionista ganhou grande impulso nas áreas cafeeiras, nas quais se concentravam quase dois terços da população escrava do Império. 13 de maio de 1888 – assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel. No Brasil, o regime de escravidão vigorou desde os primeiros anos logo após o descobrimento até o dia 13 de maio de 1888, quando a princesa regente Isabel assinou, utilizando uma caneta de ouro e pedras preciosas, oferecida pelos abolicionistas, a Lei 3.353, mais conhecida como Lei Áurea, libertando os escravos. A escravidão é um capítulo da História do Brasil. Embora ela tenha sido abolida há 115 anos, não pode ser apagada e suas consequências não podem ser ignoradas. A História nos permite conhecer o passado, compreender o presente e pode ajudar a planejar o futuro. Nós vamos contar um pouco dessa história para você. Vamos falar dos negros africanos trazidos para serem escravos no Brasil, quantos eram, como viviam, como era a sociedade da época. Mas, antes disso, confira o texto da Lei Áurea, que fez com que o dia 13 de maio entrasse para a História. “Declara extinta a escravidão no Brasil.”. À princesa imperial regente em nome de Sua Majestade o imperador, o senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancionou a lei seguinte: Art.1o É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão do Brasil” Art.2o “Revogam-se as disposições em contrário. Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém. O secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e interino dos Negócios Estrangeiros, bacharel Rodrigo Augusto da Silva, do Conselho de sua majestade o imperador, o faça imprimir, publicar e correr. Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1888, 67º da Independência e do Império. Carta de lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o decreto da Assembleia Geral, que houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara. “Para Vossa Alteza Imperial ver”. A Princesa Isabel era conhecida como “Redentora dos escravos” acumulou outro título “ como a primeira e única mulher a admistrar o Brasil”, na luta pela libertação dos escravos, como seu pai, o impeENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias rador D. Pedro II ,que era um grande entusiasmado pela questão escravagista. Foi condecorada pelo Papa Leão XIII que conferiu a princesa com a condecoração Rosa de Ouro. Com a Republica ,a princesa Isabel exilou se na Europa onde faleceu em 1921. Logo após assinar a lei Áurea ,ao cumprimentar a Princesa Isabel, João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, único a votar contra o projeto de abolição ,profetizou: “A senhora acabou de redimir uma raça e perder o trono”!
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Em 13 de maio de 1888, a princesa Isabel aboliu a escravidão no Brasil, colocando nas ruas milhares de negros que, de uma hora para outra, ficaram sem destino. Com isso agradou a abolicionistas, bateu de frente com escravocratas e para muitos historiadores começou a escrever o epílogo do reinado de seu pai, Pedro II, que cairia pouco mais de um ano mais tarde. Até hoje aplaudida por muitos pelo fim e criticada por outros pelos meios utilizados e também pelos fins, a abolição da escravidão no País ainda é um assunto que encerra muitas discussões. Não houve, como nos Estados Unidos, uma guerra civil dividindo alas contrárias ao tema, não se disparou um tiro sequer para que os escravos ficassem livres ou continuassem presos a grilhões na senzala, mas também não houve uma discussão séria e definitiva sobre o caso. Claro, haviam os fóruns de debates, principalmente nas páginas dos jornais, nas quais brilhava a verve de José do Patrocínio. Mas muitos acreditam que a atitude de Isabel foi mais emocional do que prática. Afinal, não houve preparação suficiente para o fato, ricos senhores de terra que investiram muito em seus escravos ficaram, de uma hora para outra, sem eles e os governos pós-abolição não souberam utilizar o ato da princesa a favor de melhorias sociais. Problemas da elite Afinal, a escravidão dominou todos os aspectos da vida brasileira durante o século XIX. O final dessa instituição parecia ter aberto novas portas para uma sociedade mais justa e menos dividida. Mas a libertação dos escravos não podia deixar de ter consequências importantes e profundas para as finanças, tanto públicas quanto particulares. “Infelizmente, a irresponsabilidade financeira dos governos após a abolição transformou essa grande oportunidade para a reforma social em um desastre econômico. Esses políticos provocaram inflação, afugentaram investidores nacionais e estrangeiros e arrebentaram a onda de otimismo que se seguiu à emancipação”, explica Schulz. “Em um sentido mais amplo, os ajustes necessários à introdução do trabalho livre resultaram numa crise que durou quase três décadas”, diz o historiador. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Segundo ele, a crise financeira da abolição começou gradativamente. Vários anos poderiam, de acordo com Schulz, servir para o começo desse estudo: 1871, quando a Lei do Ventre Livre determinou que nenhum escravo nasceria no Brasil, ou 1880, quando começou a campanha abolicionista. “Ou, ainda, 1884, quando o Banco do Brasil parou de conceder hipotecas garantidas por escravos”, diz o autor, que escolhe o ano de 1875 como o primeiro a detonar o processo de crise financeira, quando o Brasil sofreu sua última crise como país escravagista. Essa tal crise, explica Schulz, teve como causa externa o início da “grande depressão” mundial do século XIX, e como causa interna a suspensão do Banco Mauá, o que levou muitos brasileiros à bancarrota, criando um sério problema para as elites, que a abolição só veio agravar. “A crise financeira da abolição pode ser dividida em três partes: um mal-estar pré-abolição, uma ‘bolha’ chamada Encilhamento e um período de tentativas frustradas de estabilização que sucederam ao colapso da bolha”, diz Schulz, elencando outros problemas que advieram à abolição. “O ministério que realizou a abolição entendeu que seria necessário tomar providências financeiras para satisfazer aos fazendeiros e acabou sendo um dos gabinetes mais atuantes do século. A magnitude da mudança, porém, aos olhos dos fazendeiros, merecia medidas ainda mais enérgicas. Os três governos, um monarquista e dois republicanos, que se seguiram ao gabinete abolicionista, triplicaram a moeda em circulação, estimularam a especulação na bolsa de valores e tentaram de todas as maneiras conseguir o apoio dos grandes fazendeiros”, conta o historiador. “Essas ações irresponsáveis criaram uma bolha especulativa chamada de Encilhamento. Embora o estouro dessa bolha tenha sido bastante dramático, a crise continuou por uma década após o Encilhamento.” Ou seja: o que poderia e deveria ser uma alavancada para o progresso do País a partir da extirpação de um mal – a escravidão – acabou se tornando um mal maior ainda, devido à incompetência dos administradores do governo brasileiro. Qualquer economista recém-formado sabe que multiplicar o número da moeda circulante, apoiar a especulação na bolsa e não conter os gastos resultam em uma palavra que mais se assemelha a um dragão voraz: inflação. A crise econômica que se seguiu à abolição, então, é muito bem trabalhada por Schulz em seu estudo, mostrando desde o problema do sistema financeiro internacional e a crise com os cafeicultores até as tentativas de estabilização da economia e a crescente inflação. Para ilustrar todas suas ideias
Ciências Humanas e suas Tecnologias e explicações, o autor ainda elenca uma série de tabelas, apresentando os gastos governamentais, a capitalização da Bolsa do Rio e o serviço da dívida brasileira. Para quem tem curiosidade sobre o assunto e deseja se aprofundar nesse tema que até hoje gera polêmica, o trabalho de Schulz publicado pela Edusp é um belo instrumento de apoio ao estudo. Talvez, inclusive, explique muita coisa que aconteceu até um passado muito recente e que está, de uma forma ou outra, apenas adormecida. A longa permanência do negro no Brasil acabou por abrasileirá-lo. De um lado, o africano se tornou ladino e tornou seus filhos crioulos e mestiços de várias espécies: mulato, pardo, cabra, caboclo. A crioulização e a mestiçagem são temas inevitáveis da história do negro no Brasil. De outro lado, raros são os aspectos de nossa cultura que não trazem a marca da cultura africana. O assunto já foi muito tratado por historiadores e antropólogos, que estudaram dos negros, a família, a língua, a religião, a música, a dança, a culinária e a arte popular em geral. Epopéia do negro no Brasil 1454: A bula Papal editada por Nicolau V dá aos portugueses a exclusividade para aprisionar negros para o reino e lá batizá-los. 1549: Tomé de Souza desembarca no Bahia. Com ele vieram provavelmente os primeiros escravos brasileiros. 1630: Data provável da formação do Quilombo dos Palmares. Palmares ocupou a maior área territorial de resistência política à escravidão. Ela foi uma das maiores lutas de resistência popular nas Américas. 1693: Morre a rainha Nznja, tuerreira, aujoiava 1695: Morte de Zumbi dos Palmares. Zumbi dirigiu Palmares num dos seus momentos mais dramáticos. As forças chefiadas pelo bandeirante Domingos Jorge velho destruíram o Quilombo e, depois, assassinaram Zumbi. 1741: Alvará determina que os escravos fugitivos serão marcados com ferro quente com a letra “F” carimbada nas espáduas. 1835: Levante de negros urbanos de Salvador. Segundo historiadores, a Revolta dos Malês foi a mais importante revolta urbana de negros brasileiros, pelo número de revoltosos, grau de organização e objetivos militares. Elas se inscrevem entre as grandes revoltas assistidas pela cidade no século 19: 1807, 1809, 1813, 1826, 1828,1830 e 1844.
1830: É enforcado o Oulomboja Manuel Gonga em Vassouras – RJ. 1833: ë fundado o Jornal “O Homem de cor” por Paula Brito, é o primeiro jornal brasileiro a lutar pelos direitos do negro. 1838: O governo do Sergipe proíbe que portadores de moléstias contagiosas e africanos, escravos ou não frequentem escolas públicas. 1850: É editada a Lei Euzébio de Queiroz. Ela põe fim ao tráfico de escravos. Nesse mesmo ano, é editada a lei da terra. A partir dessa lei era proibido ocupar terras no Brasil. Para possuir terra era necessário comprá-la do governo. 1854: Decreto proíbe o negro de aprender a ler e escrever. 1866: O império determina que os negros que serviam no exercito seriam alforriados. 1869: Proibidas a venda de escravos debaixo de pregão e com exposição pública. A lei proíbe a venda de casais separados e de pais e filhos. 1871: É editada a lei do ventre livre. Com ela os filhos de escravos seriam libertos, depois de completarem a maioridade. 1882: Morre o abolicionista Luiz Gama. Sua mãe, Luiza Mahin foi um das principais lideranças na Revolta dos Malês, em Salvador. 1883: Primeira libertação coletiva de escravos negros no Brasil. 1884: Abolição da escravatura negra na província do Amazonas. 1885: É editada a Lei do Sexagenário. A lei Saraiva-Cotegipe liberta os escravos com mais de 65 anos de idade. Segundo dados, a vida útil de um escravo era 15 anos, em média. 1886: O governo proíbe o açoite dos castigos aos escravos. 1888: Promulgada a Lei Áurea. ela extingue a escravidão no Brasil. O país é o último a abolir a escravidão do ocidente. 1890: Decreto sobre a imigração veta o ingresso no país de africanos e asiáticos. O ingresso de imigrantes europeus era liberada pelo governo. 1910: João Cândido, o Almirante negro, lidera a revolta da esquadra (Revolta das Chibatas) contra os castigos físicos praticados contra os marinheiros. 1914: Surge em Campinas a 1° organização sindical de negros. Dela participaram de forma expressiva e determinante as mulheres negras. 1915: Surge o Manelick, o primeiro jornal de negros da capital paulista. 1916: É criado o Centro Cívico Palmares, em São Paulo. 1929: Surge o jornal Quilombo, na cidade do Rio de Janeiro. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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1931: Nasce a Frente Negra Brasileira (FNB) que chegou a reunir mais de 100 mil em diversos Estados do país. A organização pleiteava sua transformação em partido político. No ano de 1937, com a instalação do Estado Novo, a FNB é colocada na ilegalidade. 1932: É formado em São Paulo, o Clube do Negro de Cultura Social. Seus dirigentes editavam o jornal O Clarim da Alvorada, um dos mais importantes na história do periodismo racial. 1935: Surge, no Rio de Janeiro, O Movimento Brasileiro Contra o Preconceito Racial. 1936: Laudelina de Campos Mello funda na cidade de Santos a primeira Associação de Empregadas Domesticas no Brasil 1938:É organizada em São Paulo a União Nacional dos Homens de Cor 1944: Abdias Nascimento funda no Rio de Janeiro o Teatro Experimental do Negro. 1945: Renasce o Movimento Negro no país. Surge em São Paulo a Associação do Negro Brasileiro, fundada por ex- militantes da FNB. No Rio de Janeiro é organizado o Comitê Democrático Afro-Brasileiro com o objetivo de defender a constituinte, a anistia e o fim do preconceito racial e de cor. Realiza-se a primeira Convenção Negro Brasileira com representantes do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e São Paulo, em São Paulo. 1948: Surgem as entidades, Frente Negra Trabalhista e Cruzada Social do Negro Brasileiro (São Paulo); Turma Auriverde e Grêmio Literário Cruz e Souza (Minas Gerais) e União Cultural dos Homens de Cor (Rio de Janeiro). 1949: Realiza-se no Rio de Janeiro o Conselho Nacional de Mulheres Negras. 1950: No Rio é aprovada a Lei Afonso Arinos, que condena como contravenção penal a discriminação de raça, cor e religião, também é criado o conselho nacional de mulheres negras. 1954: É fundada em São Paulo a Associação Cultural do Negro. 1969: O governo do general Emílio G. Médici proíbe a publicação de noticias sobre movimento negro e a discriminação racial. 1971: Surge em Porto Alegre o Grupo Palmares. 1974: Morre o poeta Solano “Vento Forte Africano” Trindade. É fundado em Salvador o bloco afro Ilé – Aiê. 1975: No Congresso das Mulheres Brasileiras, realizado no Rio de Janeiro, mulheres negras denunciam as discriminações racial e sexual a que estão submetidas. Realiza-se em São Paulo a Semana do Negro na Arte e na Cultura. O movimento articula apoio às lutas de libertação nacional travadas no continente africano. Surgem várias entidades de combate ao racismo. Em São Paulo surgem o Centro de Estudos ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
da Cultura e da Arte Negra (Cecan), a Associação cristã Beneficente, Movimento Teatral Cultural Negro, Grupo de Teatro Evolução, Associação Cultural e Recreativa Brasil Jovem, Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas (IBEA), Federação das Entidades Afro-brasileiras do Estado de São Paulo. No Rio de Janeiro surgem Grupo Latino- Americano, Instituto de Pesquisas da Cultura Negra (IPCN), Escola de Samba Gran Quilombo, Sociedade de Intercâmbio Brasil-África. 1976: O governo da Bahia suprime a exigência de registro policial para os templos de ritos afro-brasileiros. 1977: É assassinado Robson S. Luz. Quatro jovens atletas são discriminados no Clube Regatas Tietê. Nos rastros dessas denuncias surge o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial, mais tarde, Movimento Negro Unificado (MNU). Na assembleia nacional do MNU é aprovada a comemoração do Dia Nacional de Consciência Negra, em 20 de novembro em celebração a memória do herói negro Zumbi dos Palmares. Surge o Movimento de Mulheres Negras. 1978:Consolidação do MNU Movimento Negro Unificado – São Paulo, É declarado pelo MNU o dia 20 de novembro o dia da consciência negra. 1979: O quesito cor é incluído no recenseamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) por pressão de sociólogos e pesquisadores e segmentos da sociedade. 1982:Morre em Salvador Mestre Pastinha, é também tombado o primeiro terreiro de candomblé do Brasil; o terreiro da Casa Branca ile axê, ia nasso oka Bahia 1986: Tombamento da serra da Barrija local onde se desenvolveu o quilombo dos palmares, a gaúcha Deise Nunes de Souza é coroada Miss Brasil é a primeira Miss Brasil negra. 1987: Fundado o instituto do negro em São Paulo. 1989: Nasce no mês de novembro o jornal Umbandomblé que passou a ser Umbanda & Candomblé, Ciência, Cultura e Magia e hoje conhecido por U&C, Ciência, Cultura e Magia. 1990: É inaugurado no município de Volta redonda – RJ o memorial zumbi dos palmares. A Cultura Afro-Brasileira A inserção da população negra na sociedade brasileira se deu pelo trabalho, base da organização econômica e da convivência familiar, social e cultural. A miscigenação avança, com um número cada vez maior de mulatos. Nasce uma religiosidade popular em torno das irmandades católicas e dos terreiros de umbanda e candomblé. Em 1800, cerca de dois terços da população do país – 3 milhões de habitantes – eram formados por negros e mulatos, cativos ou libertos.
Ciências Humanas e suas Tecnologias A cultura afro-brasileira é uma das que mais se destacam no cenário do sincretismo religioso no Brasil. A música e a dança dos descendentes africanos são exemplos vivos do que é o patrimônio cultural do continente negro amadurecido ao longo do milênio. Uma história antiga e valiosa pode ser contada através da música, da dança, do teatro, do artesanato, da indumentária e das tradições. Candomblé O Candomblé se difundiu no Brasil no século passado com a migração de africanos como escravos para os senhores de terra. A população escrava no Brasil consistia quase totalmente de negros de Angola. No momento da chegada dos nagôs, um século e meio de escravidão havia passado, destribalizando o negro e apagando seus costumes, crenças e sua língua nacional. Mas o elemento africano, resistiu e criou uma forma de cultuar seus deuses através do sincretismo com os santos católicos. Mesmo levando em conta a pressão social e religiosa, era relativamente fácil para os escravos, na sonolência geral, reinstalar na Bahia as crenças e práticas religiosas que trouxera da África, pois, a igreja católica estava cansada do esforço despendido na criação de irmandades de negros como tentativa de anular toda sua cultura, mas todos os meses novas levas de escravos, adeptos ao culto aos Orixás, desembarcavam na Bahia. Por volta de 1830 três negras conseguiram fundar o primeiro templo de sua religião na Bahia, conhecida como Ylê Yá Nassó, casa da mãe Nassó. (Nassó seria o título de princesa de uma cidade natal da costa da África). Esta seria a primeira a resistir às opressões católicas, desta casa se originam mais três que sobrevivem até hoje e que fazem parte do grande CANDOMBLÉ DA BAHIA, sendo elas: O Engenho velho ou Casa Branca, Gantóis, cuja ilustre dirigente foi mãe menininha do Gantóis (falecida em 1986) e do Araketu. Os Candomblés se diversificaram desde 1830, à medida que a religião dos nagôs se firmava, primeiro entre os escravos e for fim, no seio do povo. Hoje há quatro tipos de Candomblé ou Candomblé de quatro nações: Kêtu (povo nagô), Jêje (povo nagô, mas obedientes à outra cultura), Angola-congo (povo bantu, este culto é mais abrasileirado) e de caboclo (cultuam mais os caboclos, mistura-se com a umbanda). O Candomblé baseia-se no culto aos Orixás, deuses oriundas das quatro forças da natureza: Terra, Fogo, Água e Ar. Os Orixás são, portanto, forças energéticas, desprovidas de um corpo material. Sua manifestação básica para os seres humanos se dá por meio da incorporação. O ser escolhido pelo orixá, um dos seus descendentes, é chamado de elegum,
aquele que tem o privilégio de ser montado por ele. Torna-se o veículo que permite ao orixá voltar a Terra para saudar e receber as provas de respeito de seus descendentes que o evocaram. Cada orixá tem as suas cores, que vibram em seu elemento visto que são energias da natureza, seus animais, suas comidas, seus toques (cânticos), suas saudações, suas insígnias, as suas preferências e suas antipatias, e aí daquele que devendo obediência os irrita. A síntese de todo o processo seria a busca de um equilíbrio energético entre os seres materiais habitantes da Terra e a energia dos seres que habitam o orum, o suprareal (que tanto poderia localizar-se no céu – como na tradição cristã – como no interior da Terra, ou ainda numa dimensão estranha a essas duas, de acordo com diferentes visões apresentadas por nações e tribos diferentes). Cada ser humano teria um orixá protetor, ao entrar em contato com ele por intermédio dos rituais, estaria cumprindo uma série de obrigações. Em troca, obteria um maior poder sobre suas próprias reservas energéticas, dessa forma teria mais equilíbrio. Cada pessoa tem dois Orixás. Um deles mantém o status de principal, é chamado de orixá de cabeça, que faz seu filho revelar suas próprias características de maneira marcada. O segundo orixá, ou ajuntó, apesar de distinção hierárquica, tem uma revelação de poder muito forte e marca seu filho, mas de maneira mais sutil. Um seria a personalidade mais visível exteriormente, assim como o corpo de cada pessoa, enquanto o outro seria a face oculta de sua personalidade, menos visível aos que conhecem a pessoa superficialmente, e às potencialidades físicas menos aparentes. Como qualquer outra religião do mundo, o Candomblé possui cerimoniais específicos para seus adeptos. no seu caso particular, porém, esses ritos mostram singularidades especialíssimas, como a leitura de búzios (um primeiro e ocular contato com os Orixás), a preparação e entrega de alimentos para cada uma das entidades ou as complexas e prolongadas iniciações dos filhos-de-santo. Através da observância desses procedimentos é que o Candomblé religa os humanos aos seres astrais, proporcionando àqueles o equilíbrio desejado na existência. O candomblé e demais religiões afro-brasileiras tradicionais formaram-se em diferentes áreas do Brasil com diferentes ritos e nomes locais derivados de tradições africanas diversas: candomblé na Bahia, xangô em Pernambuco e Alagoas, tambor de mina no Maranhão e Pará, batuque no Rio Grande do Sul e macumba no Rio de Janeiro. A organização das religiões negras no Brasil deu-se bastante recentemente, no curso do século XIX. Uma vez que as últimas levas de africanos trazidos ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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para o Novo Mundo durante o período final da escravidão (últimas décadas do século XIX) foram fixadas sobretudo nas cidades e em ocupações urbanas, os africanos desse período puderam viver no Brasil em maior contato uns com os outros, físico e socialmente, com maior mobilidade e, de certo modo, liberdade de movimentos, num processo de interação que não conheceram antes. Este fato propiciou condições sociais favoráveis para a sobrevivência de algumas religiões africanas, com a formação de grupos de culto organizados. Até o final do século passado, tais religiões estavam consolidadas, mas continuavam a ser religiões étnicas dos grupos negros descendentes dos escravos. No início deste século, no Rio de janeiro, o contato do candomblé com o espiritismo kardecista trazido da França no final do século propiciou o surgimento de uma outra religião afro-brasileira: a umbanda, que tem sido reiteradamente identificada como sendo a religião brasileira por excelência, pois, nascida no Brasil, ela resulta do encontro de tradições africanas, espíritas e católicas. Desde o início as religiões afro-brasileiras formaram-se em sincretismo com o catolicismo, e em grau menor com religiões indígenas. O culto católico aos santos, numa dimensão popular politeísta, ajustou-se como uma luva ao culto dos panteões africanos. A partir de 1930, a umbanda espraiou-se por todas a regiões do País, sem limites de classe, raça, cor, de modo que todo o País passou a conhecer, pelo menos de nome, divindades como Iemanjá, Ogum, Oxalá etc. O candomblé, que até 20 ou 30 anos atrás era religião confinada sobretudo na Bahia e Pernambuco e outros locais em que se formara, caracterizando-se ainda uma religião exclusiva dos grupos negros descendentes de escravos, começou a mudar nos anos 60 e a partir de então a se espalhar por todos os lugares, como acontecera antes com a umbanda, oferecendo-se então como religião também voltada para segmentos da população de origem não-africana. Assim o candomblé deixou de ser uma religião exclusiva do segmento negro, passando a ser uma religião para todos. Neste período a umbanda já começara a se propagar também para fora do Brasil. Durante os anos 1960, com a larga migração do Nordeste em busca das grandes cidades industrializadas no Sudeste, o candomblé começou a penetrar o bem estabelecido território da umbanda, e velhos umbandistas começaram e se iniciar no candomblé, muitos deles abandonando os ritos da umbanda para se estabelecer como pais e mães-de-santo das modalidades mais tradicionais de culto aos orixás. Neste movimento, a umbanda é remetida de novo ao candomblé, sua velha e “verdadeira” raiz original, ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
considerada pelos novos seguidores como sendo mais misteriosa, mais forte, mais poderosa que sua moderna e embranquecida descendente, a umbanda. Nesse período da história brasileira, as velhas tradições até então preservadas na Bahia e outros pontos do País encontraram excelentes condições econômicas para se reproduzirem e se multiplicarem mais ao sul; o alto custo dos ritos deixou de ser um constrangimento que as pudesse conter. E mais, nesse período, importantes movimentos de classe média buscavam por aquilo que poderia ser tomado como as raízes originais da cultura brasileira. Intelectuais, poetas, estudantes, escritores e artistas participaram desta empreitada, que tantas vezes foi bater à porta das velhas casas de candomblé da Bahia. Ir a Salvador para se ter o destino lido nos búzios pelas mães-de-santo tornou-se um must para muitos, uma necessidade que preenchia o vazio aberto por um estilo de vida moderno e secularizado tão enfaticamente constituído com as mudanças sociais que demarcavam o jeito de viver nas cidades industrializadas do Sudeste, estilo de vida já, quem sabe?, Eivado de tantas desilusões. O candomblé encontrou condições sociais, econômicas e culturais muito favoráveis para o seu renascimento num novo território, em que a presença de instituições de origem negra até então pouco contavam. Nos novos terreiros de orixás que foram se criando então, entretanto, podiam ser encontrados pobres de todas as origens étnicas e raciais. Eles se interessaram pelo candomblé. E os terreiros cresceram às centenas. O termo candomblé designe vários ritos com diferentes ênfases culturais, aos quais os seguidores dão o nome de “nações” (Lima, 1984). Basicamente, as culturas africanas que foram as principais fontes culturais para as atuais “nações” de candomblé vieram da área cultural banto (onde hoje estão os países da Angola, Congo, Gabão, Zaire e Moçambique) e da região sudanesa do Golfo da Guiné, que contribuiu com os iorubás e os ewê-fons, circunscritos principalmente aos atuais território da Nigéria e Benin. Mas estas origens na verdade se interpenetram tanto no Brasil como na origem africana. Fonte: Cultura Afro-Brasileira A arte da Capoeira Pouco pode se afirmar a cerca da origem da capoeira, devido à falta de documentação. Porém, através da tradição oral e de raros registros, sabe-se que foram os africanos escravizados, aqui no Brasil, que desenvolveram essa arte. Os negros aprisionados na África e trazidos para o Brasil eram de várias nações e regiões daquele continente, e cada um desses grupos possuía sua própria
Ciências Humanas e suas Tecnologias cultura como, danças, músicas, lutas, religiões, seus rituais etc; aqui chegando já na condição de escravos houve uma grande mistura dos membros desses grupos, e na convivência entre si eles foram absorvendo partes dos conhecimentos de outros. Neste ponto teria surgido a capoeira, mistura da arte de vários povos africanos e seus descendentes, mas em solo brasileiro. Outra teoria muito popular e acreditamos que muito de nós aprendemos na escola, que a Capoeira seria uma luta onde os escravos disfarçavam em forma de dança para poderem praticá-la sem problemas, e assim estariam preparados para futuras fugas. Mas essa história tem algo de errado, pois por volta de 1841, após a chegada de Dom João VI, que fugiu para o Brasil por razão da invasão das tropas de Napoleão Bonaparte em Portugal. As manifestações culturais negras como a música e a dança foram muito perseguidas e até proibidas pelos nobres e senhores de escravos, sendo assim, como poderia a capoeira ser disfarçada em dança? Outra afirmação diz que a Capoeira é de origem Africana, pois existe um ritual praticado pelos jovens guerreiros Mucupes, do sul de Angola, durante a Efundula (quando as meninas passam a condição de mulher), realizavam a dança das zebras com o nome de N’golo. O guerreiro que mais se destacasse poderia escolher sua noiva sem precisar pagar o dote ao pai dela. Mas esta afirmação também merece reservas, pois para muitos historiadores este ritual seria apenas mais um absorvido e misturado pelos negros escravos na nossas colonização. Existem ainda várias outras histórias e lendas sobre a origem da Capoeira, mas nenhuma delas tem a documentação necessária para sua confirmação, pois depois do golpe militar conhecido como Proclamação da República no governo de Deodoro da Fonseca, todos os documentos referentes à escravidão no Brasil foram destruídos com a desculpa dos republicanos de que queriam apagar essa vergonha da história do Brasil. Mas a verdade é que eles assumiram o governo logo após a abolição, e caberia ao novo governo as indenizações necessárias aos donos de escravos, e sem as provas documentais, isto seria quase impossível. Em 11 de outubro de 1890, foi promulgada a Lei n. 487, de autoria de Sampaio Ferraz, que proibia a prática da capoeira e previa punição de 2 a 6 meses de trabalho forçado na Ilha de Fernando de Noronha. No art. 402, que tratava “Dos vadios capoeira”, lia-se: “Fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação capoeiragem; andar em correria, com ar-
mas ou instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto ou desordem, ameaçando pessoa certa ou incerta, ou incutindo temor de algum mal. Pena – prisão celular de dois a seis meses. Parágrafo único – é considerada circunstância agravante pertencer o capoeira a algum bando ou malta. Aos chefes e cabeças se imporá a pena em dobro.”. Curioso foi que, como não eram apenas os negros e populares que praticavam a capoeira, a lei acabou atingindo importantes pessoas da nobreza. Exemplo disso foi o conhecido caso de José Elísio dos Reis. Seu pai era o Conde de Matosinhos e proprietário do jornal O País. Conhecido de todos como praticante da Capoeira, Juca Reis, antes da aprovação da lei, estava em Portugal. Quando retornou ao Brasil, foi preso por Sampaio Ferraz. A sua liberdade foi conseguida graças à influência de Quintino Bocaiúva. Este ameaçou renunciar ao seu cargo de ministro das Relações Exteriores caso Juca Reis não fosse liberto. Quintino foi ouvido por Marechal Deodoro e o “nobre” capoeira voltou para Portugal. Os capoeiras continuaram perseguidos por todo o século XIX. Além da elite, que deles tinha verdadeiro pânico, a população também apoiava a ação dos policiais. O texto publicado no jornal Diário de Notícias, a 19 de janeiro de 1890, exemplifica: “É polícia das primeiras É levadinha do diabo Deu cabo dos capoeiras Vai dos gatunos dar cabo Já da navalha afiada A ninguém o medo aperta Vai poder a burguesada Ressonar com a porta aberta A ir assim poderemos Andar mui sossegadinhos Nessa terra viveremos Como Deus com seus anjinhos Ai! Assim continuando, A polícia hemos de ver As suas portas fechando Por não ter mais que fazer.” Fonte: litoralway
Culinária afro-brasileira O negro introduziu na cozinha o leite de coco-da-baía, o azeite de dendê, confirmou a excelência da pimenta malagueta sobre a do reino, deu ao Brasil o feijão preto, o quiabo, ensinou a fazer vatapá, caruru, mungunzá, acarajé, angu e pamonha. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias A cozinha negra, pequena mas forte, fez valer os seus temperos, os verdes, a sua maneira de cozinhar. Modificou os pratos portugueses, substituindo ingredientes; fez a mesma coisa com os pratos da terra; e finalmente criou a cozinha brasileira, descobrindo o chuchu com camarão, ensinando a fazer pratos com camarão seco e a usar as panelas de barro e a colher de pau. Milagre para o governador tomar sopa
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O primeiro negro pisou no Brasil com a armada de Martin Afonso. Negros e mulatos (da Guiné e do Cabo Verde) chegaram aqui em 1549, com o Governador Tomé de Souza, que comia mal e era preconceituoso: entre outras coisas, não admitia sopa de cabeça de peixe, em honra a São João Batista. Bem que o Padre Nóbrega tentou convencê-lo de que era bobagem, mas Tomé de Souza resistiu, até que o jesuíta mandou deitar a rede ao mar e ela veio só cabeça de peixe, bem fresca e o homem deixou a mania, entrou na sopa. Da guiné vieram, principalmente, fulas e mandingas, islamitas e gente de bem comer. Os fulas eram de cor opaca, o que resultou no termo “negro fulo” (entrando depois na língua a expressão “fulo de raiva”, para indicar a palidez até do branco). Os mandingas também entraram na língua como novo sinônimo para encantamentos e artes mágicas. Mas os iorubanos ou nagôs, os jejes, os tapas e os haussás, todos sudaneses islamitas e da costa oeste também, fizeram mais pela nossa cozinha porque eram mais aceitos como domésticos do que a gente do sul, o povo de Angola, a maioria de língua banto, ou do que os negros cambindas do Congo, ou os minas, ou os do Moçambique, gente mais forte, mais submissa e mais aproveitada para o serviço pesado. O africano contribuiu com a difusão do inhame, da cana de açúcar e do dendezeiro, do qual se faz o azeite-de-dendê. O leite de coco, de origem polinésia, foi trazido pelos negros, assim como a pimenta malagueta e a galinha de Angola. Abará Bolinho de origem afro-brasileira feito com massa de feijão-fradinho temperada com pimenta, sal, cebola e azeite-de-dendê, algumas vezes com camarão seco, inteiro ou moído e misturado à massa, que é embrulhada em folha de bananeira e cozida em água. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Iansã, Obá e Ibeji). ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Aberém Bolinho de origem afro-brasileira, feito de milho ou de arroz moído na pedra, macerado em água, salgado e cozido em folhas de bananeira secas. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Omulu e Oxumaré). Abrazô Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de farinha de milho ou de mandioca, apimentado, frito em azeite-de-dendê. Acaçá Bolinho da culinária afro-brasileira, feito de milho macerado em água fria e depois moído, cozido e envolvido, ainda morno, em folhas verdes de bananeira. (Acompanha o vatapá ou caruru. Preparado com leite de coco e açúcar, é chamada acaçá de leite.) [No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxalá, Nanã, Ibeji, Iemanjá e Exu. Ado Doce de origem afro-brasileira feito de milho torrado e moído, misturado com azeite-de-dendê e mel. (No candomblé, é comida-de-santo, oferecida a Oxum). Aluá Bebida refrigerante feita de milho, de arroz ou de casca de abacaxi fermentados com açúcar ou rapadura, usada tradicionalmente como oferenda aos orixás nas festas populares de origem africana. Quibebe Prato típico do Nordeste, de origem africana, feito de carne-de-sol ou com charque, refogado e cozido com abóbora. Tem a consistência de uma papa grossa e pode ser temperado com azeite-de-dendê e cheiro verde. Fonte: terrabrasileira.net Música e Dança Na África, ser músico é quase como ser padre, pois a música está ligada às tradições religiosas. E aquele que nasce em uma família de músicos deve seguir o ofício até o fim da vida. Nenhum ritual importante na religiosidade africana é praticado sem música. Canta-se e toca-se para tudo e para todos
Ciências Humanas e suas Tecnologias os santos. No Brasil, o candomblé exerceu forte influência na música de todo o país e é conhecido nas diversas regiões por nomes diferentes. No Maranhão, o culto é conhecido como tambor de mina. Do Rio Grande do Norte até Sergipe, o candomblé recebe o nome de xangô. Já no Rio Grande do Sul, o nome corrente é simplesmente batuque. Séculos de miscigenação com mulçumanos do norte da África justificam a enorme permissividade de Portugal com relação a determinadas práticas musicais e religiosas: os batuques. Nos Estados Unidos, por exemplo, os negros nunca puderam tocar seus tambores. No candomblé usam-se três tambores de timbres diferentes e um agogô, instrumento de ferro que repercute como um sino, para acompanhar as cantigas levadas pelos pais e mães-de-santo na condução das cerimônias religiosas. Ainda hoje a língua dos cânticos preserva palavras da língua original. Batuque é a denominação genérica para as danças dos negros africanos. Carimbó, tambor de criola, bambelô, zambê, candomblé, samba de roda, jongo, caxambu são alguns dos batuques ainda praticados em todo o Brasil, principalmente nas ocasiões em que os negros se reúnem para festejar ou lembrar a escravidão. A palavra “batuque” aparece nos relatos mais antigos da nossa história. No entanto, não se sabe se ela se refere a uma dança de sapateados e palmas ou a um ritual religioso. Sabe-se, porém, que os senhores tinham total desprezo pelas práticas culturais africanas por considerá-las obscenas. A umbigada, gesto em que os ventres do homem e da mulher se encontram no ponto culminante da música, era uma das danças desprezadas pelos senhores de engenho. Samba – O samba verdadeiro era de lamento, pois era assim que o negro lamentava a sua vida. O samba é uma dança animada com um ritmo forte e característico. Originou da África e foi levado para a Bahia pelos escravos enviados para trabalhar nas plantações de açúcar. A dança gradualmente perdeu sua natureza ritualista e eventualmente se tornou a dança nacional brasileira. Na época de carnaval no Rio de Janeiro que colocou o samba no mapa ocidental, os baianos das plantações de açúcar viajavam das aldeias até o Rio para as festas anuais. Gradualmente a batida sutil e a nuança interpretativa do samba levavam-nos rua acima dançando nos cafés e eventualmente até nos salões de baile, tornou-se a alma dança do Brasil. Originalmente a dança teve movimentos de mão muito característico, derivados de sua função ritualista, quando eram segurados pequenos recipientes de ervas aromáticas em cada uma das mãos e eram aproximadas do
nariz do dançarino cuja fragrância excitava. Havia muito trabalho de solo e antes de se tornar uma dança de salão, teve passos incorporados do maxixe. Os grandes dançarinos americanos, Irene e Castelo de Vernou, usou o samba nas suas rotinas profissionais, e assim começou a se espalhar. Mas provavelmente foi Carmem Miranda, a brasileira mais conhecida de todos, que com tremenda vitalidade e perícia de atriz, colocou o samba como o mais excitante e contagiante do mundo. No Brasil o desfile das escolas de samba, cresceu e o País desenvolveu seu próprio ballet artístico com ritmo de samba e movimentos básicos. Sociedades Africanas Algumas sociedades africanas formaram grandes reinos, como o Egito, o Mali, Songai, Oiô, Axante e Daomé. Outras eram agrupamentos muito pequenos de pessoas que caçavam e coletavam o que a natureza oferecia ou plantavam o suficiente para o sustento da família e do grupo. Mas todas, das mais simples às mais complexas, se organizavam a partir da fidelidade ao chefe e das relações de parentesco. O chefe da família, cercado de seus dependentes e agregados, era o núcleo básico de organização na África. Assim, todos ficavam unidos pela autoridade de um dos membros do grupo, geralmente mais velho e que tinha dado mostras ao longo da vida da sua capacidade de liderança, de fazer justiça, de manter a harmonia na vida de todo dia. Nas aldeias, que eram a forma mais comum de os grupos se organizarem, havia algumas famílias, cada uma com seu chefe, sendo todos subordinados ao chefe da aldeia. Ele atribuía ao castigo às pessoas que não seguiam as normas do grupo, distribuía a terra pelas diversas famílias, liderava os guerreiros quando era preciso garantir a segurança. O chefe era o responsável pelo bem-estar de todos os que viviam na sua aldeia, e para isso recebia parte do que as pessoas produziam, fosse à agricultura, na criação de animais, na caça, na pesca ou na coleta. As suas decisões eram tomadas em colaboração com outros líderes da aldeia, chefes das várias famílias que dela faziam parte. Havia assim um conselho que ajudava o chefe a governar, no qual os responsáveis pelos assuntos ligados ao sobrenatural eram muito importantes. Se a forma básica de organização dos grupos girava em torno das relações de parentesco, a orientação de tudo na vida era dada pelo contato com o sobrenatural; com os espíritos da natureza, com antepassados mortos e heróis míticos, que muitos grupos consideravam os fundadores de suas sociedades. Todo conhecimento dos homens vinha dos mais velhos e dos ancestrais, que mesmo depois de mortos continuavam influenciando a vida. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Várias aldeias podiam estar articuladas umas com as outras, formando uma confederação de aldeias, que prestava obediência a um conselho de chefes. Nesses casos, cada uma delas obedecia ao seu chefe e decidia sobre seus assuntos, mas em certas situações aceitava a liderança do conselho, que tomava decisões relativas ao conjunto de aldeias e não a uma ou outra em particular. Casamentos entre pessoas de diferentes famílias e trocas de produtos eram os principais motivos que faziam que várias aldeias mantivessem contato. As confederações eram formas de organização social e política mais amplas do que as aldeias, que envolviam mais pessoas, mas nas quais não havia um chefe com autoridade sobre todos os outros, pois as decisões eram tomadas por representantes do conjunto de aldeias que participavam desse sistema. De uma sociedade com uma capital, na qual morava um chefe maior, com autoridade sobre todos os outros chefes maior, dizemos que era um reino. Nele, as aldeias e grupos de várias aldeias formavam partes de um conjunto maior. As formas de administrar a justiça, o comércio, o excedente produzido pela sociedade, a defesa, a força militar, a expansão territorial, a distribuição do poder eram mais complexas do que nas aldeias e confederações de aldeias. Nas capitais dos reinos havia concentração de riqueza e poder, de gente, de oferta de alimentos e serviços, de possibilidades de troca e de convivência de grupos diferentes. Os reinos africanos tiveram tamanhos variados, mas geralmente eram pequenos, existindo poucos com dimensões maiores. Além das aldeias, das confederações, dos reinos e dos grupos nômades (que podiam tanto ser pastores do deserto como coletores e caçadores das florestas), havia sociedades organizadas em cidades, mas que não chegavam a formar um reino. Essas cidades geralmente eram cercadas, fosse paliçadas, fosse de muros feitos de terra. Também eram centros de comércio, onde diferentes rotas se encontravam. Por trás dos muros funcionavam os mercados, moravam os comerciantes e os vários chefes, que tinham diferentes atribuições e viviam em torno do rei, Este morava em construções maiores que todas as outras e com decoração especial, cercado de suas mulheres (praticavam a poligamia). Dependentes, funcionários, colaboradores e soldados. Artesãos se agrupavam conforme suas atividades: os que fiavam, tingiam e teciam o algodão e a lã, os que fundiam o ferro, faziam armas e utensílios de trabalho, os que faziam jóias, potes de cerâmica, esteiras de palha, bolsas de couro e arreios. Nos arredores das cidades viviam agricultores e também os que estavam de passagem.
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Os reinos do Sudão Ocidental Antes de os europeus tomarem conhecimento da África Subsaariana, ou África Negra, como também se diz, existiram nela algumas sociedades que merecem ser lembradas. As principais se localizavam na região que chamamos de dela interior do rio Níger. Como se sabe, ali o sal do deserto era trocado pelo ouro que vinha do sul, ambas mercadorias muito valiosas. Os azenegues e tuaregues armavam seus acampamentos nas áreas mais férteis próximas aos rios; deixavam seus animais descansar e armazenar novas energias; teciam seus vínculos com os povos que moravam naquelas paragens e comerciavam. Eram os intermediários entre Mediterrâneo e o Sael. Em torno de seus acampamentos temporários formaram-se cidades, e algumas, como Tombuctu, têm hoje mais de mil anos de existência. As cidades ficavam em lugares onde as trocas se concentravam. Agricultores e pastores se instalavam perto desses mercados e abasteciam de alimentos os grupos nômades e comerciantes. Estes traziam produtos de outros lugares: do norte vinham sal, tecidos, contas, utensílios e armas de metal. Do sul vinham ouro, noz-de-cola, marfim, pelos, resinas, corantes, essências, que eram levados para o norte pelos comerciantes fulas, mandingas e hauçás. Estes eram guiados por tuaregues e outros povos do deserto que se islamizaram a partir da expansão árabe do século VII e difundiram o islã em todo o Sudão. A cidade, ao abrigar uma população dedicada a atividades diversas e com interesses variados, precisou de sistemas de governo mais complexos. Na maior parte das vezes havia centralização do poder em torno de um líder e seu corpo de auxiliares. Muito do sucesso de uma cidade ou de um reino podia estar ligado à ação de determinado governante, que expandia limites, acumulava riquezas e ampliava a sua influência e ampliava a sua influência sobre povos vizinhos. O primeiro império da África subsaariana sobre o qual se tem notícias mais precisas é o Mali. Nele, Tombuctu, Jené e Gaô foram importantes cidades, centros de troca e de concentração de pessoas graças à rede de rios que fertilizava as terras e facilitava o transporte na região da curva do Níger. Vestígios arqueológicos apontam que desde cerca dos anos 800 da nossa era havia ali cidades e forma de comércio. Antes do Mali, Gana, ao norte do rio Senegal, foi um reino poderoso, no qual se davam os negócios entre os comerciantes que traziam o ouro do sul e os caravaneiros que iam para os portos do norte da África. Sua posição de destaque durou mais ou menos do ano 500 ao 1000, quando o Mali começou a se fortalecer com a mudança das rotas do deserto
Ciências Humanas e suas Tecnologias mais para o leste, em direção ao delta interior do Níger. Em torno de 1230 Sundiata, mansa (como era chamado o chefe supremo) do Mali, estendeu seu poderio em direção a leste e oeste, tornando o estado que comandava um verdadeiro império, com soberania sobre outros povos e vastas regiões. A população do Mali era composta de várias etnias, sendo os mandingas a principal delas. No século XIV o império era composto de povos da região do rio Senegal, como jalofos, sereres, tucolores e fulas; das cabeceiras do Níger, como bombaras e soninquês; a leste subjugou os songais e aproximou-se da terra dos hauçás. Além disso, manteve relações com os povos da floresta, por meio do comércio feito pelos mercadores uângaras, ou diulas, que viajavam até a terra dos aças e de povos mais ao norte influenciados pelos mandingas, de onde vinha uma das mais importantes mercadorias no comércio do Saara: a noz-de-cola. No fim do século XV, Songai passou a ser o principal estado do médio Níger. O império floresceu sob a liderança de um ásquia (como era chamado o chefe supremo) que por volta de 1470 conquistou Tombuctu e, depois, Jené. Nessa época, a maioria do outro começou a vir de minas da região do rio Volta, em terras dos aças. Mas desde o fim do século XV ele não era mais transportado apenas pelas rotas do Níger e do deserto. Os portugueses haviam chegado à costa atlântica e comerciavam o ouro a partir de seus barcos e de entrepostos que iam criando. Songai, que se expandiu para leste e dominou algumas cidades hauçás, se manteve como o estado mais forte do Sudão ocidental até 1591, quando foi invadido por exércitos vindos do Marrocos. O que havia de mais refinado nessa região, construído ao longo de séculos, foi sufocado pelos invasores. Mesquitas, escolas e bibliotecas foram destruídas, os sábios foram deportados, as estruturas de mando e de justiça foram desmanteladas. A urbanização e o comércio cederam espaço para as atividades agrícolas e de pastoreio, as religiões tradicionais voltaram a florescer e o islã, que se alimentava das caravanas que atravessavam o deserto levando e trazendo, além de mercadorias, peregrinos e especialistas em teologia (mulás), passou para o segundo plano. Os Reinos Iorubás e Daomeanos Quando não existem textos escritos que dêem informações detalhadas de como viviam os povos do passado, são os vestígios arqueológicos e as histórias contadas pelos mais velhos, principalmente na forma de mitos, que nos falam de sociedades, como algumas que existiram nas regiões do rio Volta e do baixo Níger. Elas eram menos imponentes do que as que contaram com centros como Tombuctu, Gaô e Jené, mas também tinha sua grandeza.
Vestígios de caminhos calçados e muros de pedra dão uma noção de como eram os centros dessas civilizações. Alguns eram cercados de muros de pedra e deviam abrigar agricultores, artesãos, grupos de famílias submetidas a um chefe e seu conselho. Comerciantes circulavam em canoas pelos rios, e assim os produtos da floresta chegavam, depois de passarem por muitas mãos, aos mercados ligados às cidades do médio Níger e ao comércio saariano. Alguns dos vestígios arqueológicos mais importantes dessa região estão em Ifé, terra de iorubas e ponto de ligação da zona da floresta com a bacia do rio Níger. Conforme relatos orais, um líder divinizado chamado Odudua foi o responsável pela prosperidade do Ilê Ifé, cidade onde vigorou um sistema político-religioso adotado depois por várias outras cidades e reinos dessa área. Acredita-se que Odudua tenha vivido em algum momento entre os séculos VIII e XIII de nossa era, mas a veracidade de sua existência não pode ser confirmada. Em Ilê Ifé foi criada uma forma de monarquia divina, dirigida pelo oni, representante da divindade e também governante da comunidade, composta pelas várias aldeias, cada qual com seu chefe, que cuidava dos seus membros mas prestava obediência ao oni. Esse modelo de organização se espalhou por várias cidades da região habitada por povos iorubas, compreendido pelos rios Volta e Níger, e também entre os edos, do Benin. Neste, um conjunto de aldeias prestava a obediência ao obá, título do principal chefe do reino. Toso os obás dos reinos iorubas diziam que seus antepassados haviam saído do Ifé, sendo membros de uma mesma família real. O oni, ou obá de Ifé, tinha ascendência espiritual sobre quase todos os reinos iorubas (Oió, por exemplo, não a aceitava) e era ele quem distribuía os símbolos reais. Os adés, coroas feitas de contas de coral, com fios cobrindo o rosto do oni, foram um dos principais símbolos do poder disseminados junto com o sistema de monarquia divina. Esta se caracterizava pela estreita ligação do oni com as divindades, sendo por elas escolhido e servindo de seu intermediário com a comunidade que governava. Muito do que sabemos sobre Ifé e o reino do Benin nos foi contado por cabeças e placas esculpidas e moldadas em metal, que datam dos século XV e XVI, época em que os portugueses chegaram a essa região da África. Não se sabe como foram desenvolvidas as técnicas empregadas na feitura desses objetos – hoje em dia considerados obras de arte de rara qualidade – nem por que eles deixaram de ser feitos. Além das placas, que retratam situações da vida desses povos e que decoravam os palácios reais, as histórias contadas de geração a geração falam do papel de heróis fundadores de novas cidades e ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias reinos, a partir de uma origem comum em Ifé, com Odudua, cujos descendentes teriam fundado outras cidades. Em Ifé, o oni administrava o reino de sua capital, afastada do litoral, vivendo numa cidade de ruas largas e retas, sendo sua moradia uma construção enorme, fortificada, na qual morava com suas centenas de mulheres e filhos, seus conselheiros, os grandes do reino e os escravos. No século XVI, enquanto outros reinos iorubas ascenderam, Ifé entrou em declínio. A presença de comerciantes na costa atlântica fortaleceu as cidades mais próximas dos lugares em que passaram a ser desejadas pelos chefes africanos. Mas, mesmo com a ascensão de outros reinos e o seu empobrecimento econômico, Ifé manteve a importância religiosa. Todos os chefes das várias cidades-estado que teriam sido fundadas por descendentes de Odudua iam até Ifé para terem seus poderes confirmados pelo oni. (Texto adaptado de MARQUES, J.). Escravismo no Brasil
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A escravidão no Brasil se consolidou como uma experiência de longa duração que marcou diversos aspectos da cultura e da sociedade brasileira. Mais que uma simples relação de trabalho, a existência da mão de obra escrava africana fixou um conjunto de valores da sociedade brasileira em relação ao trabalho, aos homens e às instituições. Nessa trajetória podemos ver a ocorrência do problema do preconceito racial e social no decorrer de nossa história. Durante o estabelecimento da colônia portuguesa, a opção pelo trabalho escravo envolveu diversas questões que iam desde o interesse econômico ao papel desempenhado pela Igreja na colônia. Sob o aspecto econômico, o tráfico de escravos foi um grande negócio para a Coroa Portuguesa. Em relação à posição da Igreja, o povo português foi impelido a escravizar os indígenas, pois estes integrariam o projeto de expansão do catolicismo pelas Américas. No mundo do trabalho, a escravidão fez com que o trabalho se tornasse uma atividade inferior dentro da sociedade da época. O trabalho braçal era visto como algo destinado ao negro. Mesmo grande parte da mão de obra sendo empregada em atividades que exigiam grande esforço físico, outras tarefas também eram desempenhadas pelos escravos. Os escravos domésticos trabalhavam nas casas enquanto os escravos de ganho administravam pequenos comércios, praticavam artesanato ou prestavam pequenos serviços para seus senhores. Mesmo a escravidão tornando-se uma prática usual, não podemos nos esquecer das várias formas de resistência contra a escravidão que aconteceram. O conflito direto, as fugas e a formação de ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
quilombos eram as mais significativas formas de resistência. Além disso, a preservação de manifestações religiosas, certos traços da culinária africana, a capoeira, o suicídio e o aborto eram outras vias de luta contra a escravidão. Após a independência do Brasil, observamos que a escravidão se manteve intocada. O preconceito racial e os interesses dos grandes proprietários permitiam a preservação do sistema escravista. Somente no Segundo Reinado podemos contemplar a formação de um movimento em prol da abolição. Em meio à ascensão do abolicionismo, os interesses britânicos pela ampliação de seu mercado consumidor em solo brasileiro e a imigração de trabalhadores europeus davam brecha para o fim desse sistema. Durante o governo de Dom Pedro II, várias leis de caráter abolicionista foram sendo aplicadas. A gradação da política abolicionista traduzia o temor que certos setores da elite tinham em um processo de abolição brusco capaz de promover uma revolta social. Em 1845, foi aprovado o Bill Aberdeen – uma Lei que autorizava a esquadra britânica a prender os navios negreiros e a julgar seus tripulantes. O Brasil protestou, porém, em 1850 (cedendo às pressões inglesas), a Assembleia Geral aprovou a Lei Eusébio de Queirós, que extinguiria o tráfico negreiro. A partir de 1860, os manifestos contra a escravidão ficavam cada vez mais intensos, graças à imprensa e a várias campanhas antiescravistas. Muitos se declararam abolicionistas, como por exemplo, o poeta Castro Alves (Terceira Geração Romântica – Poesia Social), chamado “Poeta dos Escravos”. Ele escreveu as seguintes obras: “Navio Negreiro” e “Vozes d’Africa” e “Os Escravos”. Em 1865, com a abolição da escravatura nos EUA só restavam dois países com o regime de escravidão: Brasil e Cuba. A situação se agravou e em 1871 foi assinada a Lei do Ventre Livre declarando que todos os filhos de escravos nascidos a partir daquela data estariam livres. Em 1885, a Lei dos Sexagenários, declarava libertos todos os escravos acima de 60 anos. Essa Lei foi encarada pelos abolicionistas como uma “brincadeira de mau gosto”, pois a vida útil de um escravo adulto não passava de 10 anos. No dia 13 de maio de 1888, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea que declarava extinta a escravidão no Brasil. Vários fatores causaram a assinatura desta Lei, dentre eles a rebeldia dos escravos e as campanhas abolicionistas. Apesar do fim da escravidão, a abolição não foi acompanhada por ações para integrar o negro à sociedade brasileira. A discriminação racial e a ex-
Ciências Humanas e suas Tecnologias clusão econômica persistiram ao longo do século XX. Apesar de várias ações governamentais que atualmente querem atenuar o peso dessa “dívida histórica”, ainda falta muito para que o negro supere os resquícios de uma cultura ainda aberta ao signo da exclusão. Abolição da Escravatura No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, filha de dom Pedro II, assinou a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão no Brasil. Desde o período colonial, o trabalho escravo, associado à grande propriedade rural, esteve na base da economia brasileira. A escravidão começou a declinar em 1850, com o fim do tráfico de escravos. Entretanto, a campanha abolicionista só tomou impulso a partir de 1870, quando setores de uma classe média emergente, formada por intelectuais, militares, pequenos empresários, advogados, jornalistas e outros profissionais liberais, começaram a se mobilizar pelo fim da escravidão. Para esses setores, que se beneficiavam da prosperidade urbana e da educação, a escravidão era tida como uma deformação que provocava atraso econômico e degradação social. O governo imperial tentava administrar a questão fazendo com que a abolição acontecesse de forma gradual, para não descontentar os políticos que eram também latifundiários ou que representavam os interesses do regime. Assim, entre a primeira e a última das três leis abolicionistas, dezessete anos se passaram. Porém, quando a campanha abolicionista ganhou ruas e tornou-se um movimento de massas, engrossado pelos próprios escravos, o Império teve de ceder. A Lei Áurea foi assinada em 1888, quando em todos os outros países do continente já não havia mais escravidão. A Abolição Desagrada Os Poucos Aliados Do Governo No final da década de 1880, tudo se encaminhava para a mudança de regime do governo. A República era apenas uma questão de tempo. Os fazendeiros que ainda apoiavam o governo imperial, como os cafeicultores do Vale do Paraíba e os fazendeiros do Nordeste, sentindo-se prejudicados com a assinatura da Lei Áurea, abandonaram o imperador e foram procurar apoio na alta direção militar para formar uma aliança republicana. A Campanha Abolicionista A campanha abolicionista comportou divergências e diferenças de atuação entre moderados e radicais. Embora alguns abolicionistas fossem a favor
do trabalho assalariado, temiam que a libertação dos escravos pusesse em risco a grande propriedade. Assim, os chamados moderados defendiam na imprensa e nas tribunas que a libertação fosse feita em etapas. Um deles era o deputado monarquista Joaquim Nabuco, que pregava a abolição por meios pacíficos e legais. Em 1880, no Rio de Janeiro, Joaquim Nabuco fundou com José do Patrocínio, jornalista e escritor de origem negra, a Sociedade Brasileira contra a Escravidão, que estimulava a criação de associações similares por todo o país. Os abolicionistas mais radicais, como Luís Gama, ex-escravo, jornalista e advogado, atuou na imprensa e em campanhas de alforria de africanos que entraram no país através do tráfico clandestino e que, portanto, foram escravizados ilegalmente. A corrente radical apoiava as rebeliões e fugas de escravos das fazendas, cada vez mais frequentes. As ideias abolicionistas conquistaram adeptos nas grandes cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife, e a escravidão era apontada nos meios acadêmicos e militares como a causa do atraso econômico do país. O poeta baiano Castro Alves alcançou projeção nacional com seus versos abolicionistas, sendo chamado poeta dos escravos. Em 1884, os abolicionistas conseguiram grandes vitórias: foi extinta a escravidão nas províncias do Ceará, Amazonas e em alguns municípios da província do Rio Grande do Sul. A campanha abolicionista, porém, não foi feita apenas de grandes nomes que passaram para a história do país. Há registros na imprensa da época da intensa participação de populares, numa rede de solidariedade à causa da abolição: no Ceará, jangadeiros negavam-se a transportar escravos para dificultar os negócios dos traficantes, mesmo que esses lhes oferecessem altos preços; militares recusavam-se a perseguir escravos fugidos; mascates ajudavam na distribuição dos panfletos a favor da abolição; ferroviários escondiam negros nos trens ajudando-os nas fugas. Alguns grupos, como os caifazes, de São Paulo, liderados por Antônio Bento, chegavam a infiltrar-se nas senzalas para organizar a fuga dos escravos. As Leis Abolicionistas Em 17 anos, o Brasil teve três leis abolicionistas. Conheça-as: Lei do Ventre Livre (Lei Rio Branco), de 28 de setembro de 1871. Elaborada e aprovada pelo gabinete conservador do Visconde do Rio Branco. De acordo com essa lei, os filhos de escravos nascidos a partir da data de sua aprovação eram considerados livres. No entanto, ela mantinha o direito dos senhores ao trabalho dessas crianças até os 21 anos. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Lei dos Sexagenários (Lei Barão de Cotegipe), de 28 de setembro de 1885. Foi elaborada pelo gabinete liberal de José Saraiva e promulgada pelo gabinete conservador do Barão de Cotegipe. Essa lei tornava livres os escravos com mais de 60 anos, depois de três anos de trabalho, e libertava imediatamente os que tivessem mais de 65. Na verdade, a lei favorecia os fazendeiros, pois eles se livravam dos poucos escravos que chegavam a essa idade e já não tinham mais condições de trabalhar. Lei Áurea, de 13 de maio de 1888. Foi elaborada pelo gabinete conservador de João Alfredo e sancionada pela princesa Isabel, durante a ausência do imperador Pedro II, que se encontrava em viagem pela Europa. A lei determinou a libertação imediata dos escravos, que na época calculava-se em torno de 700 mil. HISTÓRIA DOS POVOS INDÍGENAS E A FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL BRASILEIRA. MOVIMENTOS CULTURAIS NO MUNDO OCIDENTAL E SEUS IMPACTOS NA VIDA POLÍTICA E SOCIAL. As sociedades ameríndias e africanas Povos Ameríndios
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As denominações dadas aos habitantes do continente americano começaram após a chegada dos navegadores europeus. Entre várias tentativas de nomear os povos da América estão nativo americano, indígena e índio. Porém, até hoje ainda não se sabe como estes povos chegaram ao continente. As teorias são diversas, mas, a de maior aceitação indica que eles chegaram pelo Estreito de Bering, localizado ao Norte da Ásia. Esta faixa de terra faz uma divisão entre os E.U.A. e a Rússia. Na época da movimentação dos povos até a América, o mar estava em um nível mais baixo graças à glaciação. Desta forma, uma passagem de gelo natural foi formada entre a América e a Ásia, pela qual esta população chegou à América. Outra hipótese indica que os povos ameríndios tenham chegado atravessando o oceano Pacífico. Assim, teriam vindo de partes da Ásia e da Oceania. De acordo com alguns historiadores, os primeiros povos da América teriam feito à migração há aproximadamente 70 mil anos e, devido à grande quantidade de pessoas, não poderiam ter utilizado apenas um caminho. A nomenclatura que ficou mais conhecida para designar estes povos foi “índio”. Isso ocorreu devido a uma confusão feita por Cristóvão Colombo, líder da frota que alcançou o continente americano. Na verdade, Colombo achava que tinha descoberto as ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Índias, por isso nomeou desta forma os povos que encontrou no local. É por isso que atualmente as ilhas do Caribe ainda são chamadas de Índias Ocidentais. No que se refere à América do Norte, os nomes dados a estes povos são: indígenas da América, nativos do Alasca, primeiras nações, índios americanos e povos aborígines. Um grupo que não se encontra nestas denominações são os esquimós (aleutas, yupik e inuit) e os métis encontrados na região do Canadá. Isso ocorre, pois tais populações apresentam características genéticas diferentes em relação aos outros índios. Primeiros povos no Brasil Apesar de não existirem fontes seguras, tudo indica que os primeiros povos que chegaram ao Brasil localizavam-se no Piauí. Eram grupos de coletores e caçadores que já dominavam o fogo e sabiam fabricar instrumentos de pedra. Segundo pesquisas arqueológicas realizadas na região de São Raimundo Nonato, localizado no interior do Estado, existem indícios da presença de seres humanos na região datados em 48 mil anos. Outra região em que foi encontrado um cemitério de ossos é Lapa Vermelha, em Minas Gerais, com registros de 12 mil anos de existência. Movimentos Culturais no mundo ocidental Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos se firmaram como a maior potência do mundo capitalista. Entretanto, a situação de crise econômica enfrentada pelos países europeus, poderia se tornar uma ameaça à prosperidade norte-americana, já que um grande mercado consumidor fora arrasado pela guerra. Nesse contexto, a “Doutrina Truman” surgiu como uma solução viável, promovendo tanto a recuperação econômica dos aliados europeus quanto, no âmbito interno, a estimulação da capacidade aquisitiva da população norte-americana. No cenário da Guerra Fria, o consumismo norte-americano era considerado a melhor forma de afastar o “perigo comunista”. A partir da década de 50, a emergente sociedade de consumo passou a abarcar um novo mercado com o surgimento a cultura jovem. A cultura da juventude, apesar de tender à insatisfação e revolta com os valores mais arcaicos da sociedade ainda era um tanto ingênua no seu surgimento. Era ligada ao fenômeno do rock’n’roll que, apesar de chocante para os padrões morais da época, não era politicamente engajado, falando sobre carros e relacionamentos amorosos. Ainda assim, as mudanças introduzidas pela cultura jovem, passaram a ser assimiladas pela indústria cultural e, consequentemente divulgadas
Ciências Humanas e suas Tecnologias através dos meios de comunicação podendo atingir os diversos países do globo, inclusive o Brasil. A cultura jovem brasileira dos anos 50 sofreu uma influencia direta dos Estados Unidos, pois nessa época o Brasil havia entrado na onda da industrialização permitindo, com a política desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek, que a cultura estrangeira se incorporasse à cultura nacional, propiciando o surgimento de novos movimentos como a bossa nova. O rock’n’roll também chegou ao Brasil através do cinema e seus sucessos foram regravados por cantores e cantoras brasileiras. Foi somente a partir dos anos 60 que a juventude se mostrou mais engajada e politizada. A guerra do Vietnã e os movimentos negros motivaram os jovens a lutar pela transformação da sociedade. Esse quadro político e social propiciou o aparecimento da canção de protesto, mas, ao mesmo tempo houve a ascensão do rock britânico através de bandas como os Beatles e os Rolling Stones. Na segunda metade dos anos 60, houve uma radicalização dos movimentos jovens, foi um período marcado pela contracultura, fenômeno no qual o jovem passava a se conduzir de forma contrária os valores estabelecidos pela sociedade. Os movimentos de contracultura, como por exemplo o hippie, nasceram do desejo de uma felicidade individual, simples, distante da sociedade de consumo e do moralismo. Daí veio o culto à paz, harmonia, o amor livre o misticismo e o uso de drogas como o LSD. A contestação dos movimentos de contracultura culminou com a radicalização dos movimentos estudantis a partir do maio de 68 na França, que não estava vinculado a nenhuma ideologia específica, mas apregoava o direito de cada um de pensar e se expressar livremente. No final da década de 60, os movimentos de contracultura se fragmentaram, sendo que alguns desses fragmentos foram assimilados pela indústria cultural. No Brasil, a década de 60 foi marcada por uma profunda agitação política e diversas correntes culturais. Havia a cultura engajada dos Centros Populares de Cultura que continha uma intensa militância política na qual uma parte do movimento da bossa nova evoluiu para as canções de protesto com o objetivo de conscientizar as classes populares. Por outro lado, havia a cultura de consumo, representada pela Jovem Guarda e baseada na cultura do rock cujos maiores representantes eram Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia. No meio do caminho entre essas duas correntes surgiu o Tropicalismo, movimento liderado por Caetano Veloso, Gilberto Gil e inspirado no antropofagismo das vanguardas modernistas brasileiras dos anos 20. Por não se encaixar nem nos padrões estéticos da cultura engajada esquerdista nem no padrão de consumo industrial, o Tropicalismo teve curta duração.
Já o cinema brasileiro desse período fez muito sucesso, inclusive internacional. O Cinema Novo sofreu influência da Nouvelle Vague francesa e se desenvolveu graças ao ambiente favorável da cultura engajada, promovendo uma visão crítica da situação política e social do Brasil. Após o golpe militar de 64, o Cinema Novo passou a refletir sobre o papel da própria esquerda, focalizando a classe média urbana. Nos anos 70, com a assimilação da contracultura, a cultura jovem se dividiu e se sofisticou com o rock progressivo, o heavy metal e a discothèque. Reagindo a essa tendência, surgiu o movimento punk, vinculado à juventude proletária das grandes cidades, que iria reciclar o rock, tocando-o de forma menos sofisticada. Os punks organizaram seus grupos musicais que eram contra o sistema industrial, vinculando-se a gravadoras independentes. Como reflexo da onda hippie dos anos 60, o movimento de contracultura no Brasil surgiu na década de 70, em um momento de intensa repressão pela ditadura militar. Era um movimento híbrido de contestação que misturava elementos da contracultura hippie com a cultura popular brasileira. Esse movimento era denominado de “cultura marginal” e foi difundida através de publicações alternativas com Pasquim, Bondinho, Rolling Stone entre outras. Na área cinematográfica, iniciou-se a produção de um cinema “marginal” que procurava revolucionar a linguagem através de um discurso fragmentado incorporando elementos de kich e absurdos. Nos aos 80, a cultura jovem passou a envolver movimentos pacifistas e ecologistas ao redor do mundo, denunciando os problemas envolvendo os países de terceiro mundo e o meio ambiente. Em contrapartida os avanços tecnológicos passaram a influenciar a música (pós-punk, hardcore trash metal, tecnopop entre outros) e o cinema (efeitos especiais). A formação de entidades ecológicas também envolveu a juventude brasileira, que inclusive participou do movimento das Diretas Já, lutando pelo processo de redemocratização. Na música, o rock nacional ganhou espaço tanto por meio de gravadoras quanto nos selos independentes. A cultura jovem dos anos 90 foi influenciada pela globalização, pelo avanço representado pela internet e foi marcada por grupos como cyberpunks e movimentos como o grunge. No Brasil, a juventude participou ativamente do movimento dos caras-pintadas pelo impeachment do presidente Collor. Foi também a época da expansão do hip hop e o surgimento do mangue beat. Os movimentos culturais da juventude se apresentaram ao longo da história das mais diversas formas e linguagens, porém, de um modo geral, mantinham um objetivo comum e universal, de romper com antigos costumes e imposições sociais, provocando discussão sobre assuntos considerados tabus e buscando a renovação e transformação da sociedade. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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• FORMAS DE ORGANIZAÇÃO SOCIAL, MOVIMENTOS SOCIAIS, PENSAMENTO POLÍTICO E AÇÃO DO ESTADO – CIDADANIA E DEMOCRACIA NA ANTIGUIDADE; ESTADO E DIREITOS DO CIDADÃO A PARTIR DA IDADE MODERNA; DEMOCRACIA DIRETA, INDIRETA E REPRESENTATIVA. REVOLUÇÕES SOCIAIS E POLÍTICAS NA EUROPA MODERNA.
Antiguidade Clássica
O
termo Antiguidade Clássica refere-se a um longo período da História da Europa que se estende aproximadamente do século VIII a.C., com o surgimento da poesia grega de Homero, à queda do Império romano do ocidente no século V d.C., mais precisamente no ano 476. No eixo condutor desta época, que a diferencia de outras anteriores ou posteriores, estão os fatores culturais das suas civilizações mais marcantes, a Grécia e a Roma antigas. Localização
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A Grécia antiga compreendia uma região chamada Hélade e ocupava o sul dos Bálcãs (Grécia continental), a Península do Peloponeso (Grécia peninsular), as ilhas do Mar Egeu (Grécia Insular), além das colônias na costa da Ásia Menor e no sul da Península Itálica (Magna Grécia). Divisão da história da Grécia A história da Grécia é dividida, pelos historiadores, em quatro períodos principais: • Pré-Homérico • Homérico • Arcaico • Clássico Período Pré-Homérico Séc.XXII a,C O período Pré-Homérico corresponde ao apogeu e à decadência da civilização cretense, que se desenvolveu em Creta, a maior ilha do Mar Egeu. Essa ilha era povoada por tribos que, provavelmente, tenham vindo da Ásia Menor. Durante esse período, outros povos dirigiram-se a Grécia: os aqueus, que se estabeleceram na Grécia continental e também na Ilha de Creta. Os aqueus dominaram os cretenses por volta de 1400 a.C. dando origem à civilização creto-micênica. Além dos ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
aqueus, os jônios e os eólios também chegaram à Grécia. Até o sec.XII a.C floresceu na região uma civilização semelhante ao oriente, cujo centro era Micenas situada na ilha de Greta. A chegada dos dórios, povo guerreiro vindo do norte, destruiu a civilização micênica e deu início à primeira diáspora grega. De todos esses povos, o mais importante foi o dório, com características guerreiras, que deram novo rumo à História Grega. Os dórios destruíram a civilização creto-micênica e conquistaram a Grécia. Esses acontecimentos anunciaram um novo período da História da Grécia – o período Homérico. O período homérico Séc. VIIII a.C A partir das invasões dórias teve início um período muitas vezes chamado de homérico, porque o conhecimento que se tem da sociedade grega da época se deve, em grande parte, a dois poemas – a Ilíada a Odisseia -, atribuídos a Homero. A Ilíada narra à guerra de Tróia, e a Odisseia, as aventuras do herói grego Ulisses (Odisseu) em sua viagem de volta a Grécia após a conquista de Tróia. Há muita discussão sobre a autoria desses poemas. Muitos estudiosos defendem que Homero nunca existiu e que esses teriam sido obras do passado coletivo grego, tendo sido transmitidos oralmente de geração em geração. Com a invasão dória, um novo modelo social se implantou: a produção passou a ser de subsistência, com exploração da mão-de-obra familiar, auxiliada por uns poucos assalariados e escravos; a arte e a escrita desapareceram; o artesanato decaiu; as armas de bronze finalmente trabalhadas foram aos poucos sendo substituídas por artefatos grosseiros, feitos de ferro; e o sepultamento em magníficos túmulos foi substituído pela cremação simples. Nesse período a população passou a se organizar em pequenas comunidades, cuja unidade básica era a família. Essa forma social é chamada de genos. Cada geno possuía seu próprio líder, seu culto religioso e suas leis.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Com o passar dos tempos, os genos foram se ampliando e acabaram dando origem a um outro tipo de organização da vida social e política – a polis, ou cidade-Estado que foi a característica do período seguinte da história grega. Período Arcaico Séc.VI a,C O que demarca o começo do período arcaico é o surgimento da polis, do ponto de vista politico, o regime era aristocrático governado pelas famílias mais tradicionais, que se apossaram das melhores terras. O descompasso entre o crescimento da população a disponibilidade de áreas férteis deram origem a uma série de conflitos sociais O período Arcaico inicia-se com a reunião dos genos em unidades políticas maiores, chamadas pólis ou cidades-Estados. Durante o período homérico, os povos gregos se organizavam predominante em genos, grandes famílias liberadas por um chefe, opáter ,o que caracterizou as comunidades gentílicas como patriarcais, Ao contrário da civilização cretense em que a mulher tinha um papel preponderante, nos genos eram os homens que exerciam a principal influência sobre a sociedade. Nesse tipo de organização não existia um governo único, cada cidade-estado tinha suas leis, seu governo, sua economia e sua sociedade própria e independente. O palácio do governo e os templos eram construídos em uma colina fortificada, a acrópole. As pólis gregas possuíam uma arquitetura parecida. Na parte baixa ficava uma praça, a ágora, onde aconteciam as assembléias dos cidadãos e as transações comerciais. Era também onde os juizes da cidade julgavam os criminosos e onde se realizavam os festivais de poesias e os jogos praticados em honra aos deuses. As duas pólis mais importantes foram Esparta e Atenas. Esparta: uma cidade militar A cidade de Esparta era localizada ao sul da Penisula de Peloponeso. Esparta foi fundada pelos dórios por volta do século IX a.C. Situava-se em uma região chamada Lacônia. As condições naturais da região onde ficava Esparta eram muito áridas: o solo montanhoso e seco dificultava o abastecimento da cidade. Essas condições adversas levaram os espartanos a conquistar terras férteis por meio de guerras. Esparta tinha o exercito mais poderozo da Grécia. A educação espartana era muito rígida,se a criança nascesse com alguma deformidade ou deficiencia ,era jogada a um precipício e se fosse perfeita,saudavel ficava com sua mãe até fazer 7 anos quem decidia era um conselho de anciões. Logo após passavam a viver em quartéis e lá se dedicavam ao exercito militar e habituavam a passar dor, fome e frio.
O poder em Esparta era exercido por um pequeno grupo ligado às atividades militares. Apenas uma minoria participava das decisões políticas e administrativas – os esparciatas - que se dedicavam única e exclusivamente à política e à guerra. A vida em Esparta girava em torno da guerra. Os espartanos temiam que os povos que haviam conquistado se rebelassem; temiam também que os escravos se revoltassem. A necessidade de garantir o poder dos esparciatas e o medo de que ideias vindas de fora colocassem em xeque esse poder faziam com que as viagens fossem proibidas e os contatos comerciais fossem quase inexistentes. Esparta fechava-se em torno de si mesma, impondo aos seus habitantes um modo de vida autoritário e de subordinação aos interesses do Estado. A agricultura, o artesanato e o comércio eram praticados pelos periecos, uma camada de homens livres, mas sem direito de participar da política em Esparta. Os escravos eram chamados de hilotas, pertenciam ao Estado e trabalhavam para os esparciatas. Os jovens eram educados pelo Estado. Desde os sete anos deixavam as casas de suas famílias e se dirigiam para locais de treinamento militar. Atenas e a democracia: o avesso de Esparta Atenas, hoje a capital da Grécia, localizava-se no centro da planície Ática, às margens do Mar Egeu. Foi o avesso de Esparta: teve uma vida urbana e aberta às novidades. A atividade comercial foi a base de sua economia e os atenienses praticaram intenso comércio com diversos povos. A cidade se organizava em torno de dois centros Ágora e Acrópole: Ágora era uma grande praça pública onde ser encontrava o mercado e onde os atenienses se reuniam para passear, converser e participar das assembleias. Acrópole era a parte mais elevada da cidade,o local tinha a função de proteger os habitantes da pólis contra ameaça externa, além de servir de centro religioso. Na acrópole ateniense estava o Paternon, templo dedicado à deusa Atena, protetora da cidade A sociedade ateniense era dominada pelos eupátridas, que eram grandes proprietários de terras. Contudo, o poder dos eupátridas era constantemente desafiado pelas camadas menos favorecidas e pelos comerciantes, que exigiam maior igualdade de direitos. E por que esses segmentos desafiavam o poder dos eupátridas? Os pequenos proprietários, muitas vezes sem recursos. Viviam constantemente ameaçados pela escravidão por dívidas. Já os comerciantes, artesãos e assalariados urbanos, que eram chamados demiurgos, estavam excluídos das decisões políticas da pólis e também queriam participar delas. O resultado dessas pressões constantes foi uma reforma nas leis feita por Sólon, um juiz ateniense. Por essa reforma, foi abolida a escravidão por dívidas e foi ampliado o direito de voto, de acordo com a riqueza que cada um possuía.
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Porém, as reformas de Sólon só beneficiaram os comerciantes ricos. O resto da população continuou excluída das decisões políticas da pólis. A situação em Atenas não era nada calma com a pressão constante dos excluídos. Além disso, a cidade foi dominada pelo tirano (link dicionário) Pisistrato por mais de 30 anos. Com o fim da tirania, foi Clistenes, um aristocrata preocupado com os problemas das camadas populares, o responsável por uma nova reforma. Ampliou a participação e o direito de decisão política para todos os cidadãos atenienses, isto é, todos os homens livres e nascidos em Atenas, maiores de 18 anos. A cidade foi dividida em demos, um tipo de distrito que elegia seus representantes para a assembleia. Esta, por sua vez, escolhia as pessoas que iriam integrar o conselho, responsável pelo governo da cidade. Continuavam excluídos da pólis os estrangeiros, as mulheres e os escravos. Como você pode observar, os benefícios da democracia ateniense estavam reservados somente aos cidadãos, o que é diferente da democracia dos nossos dias. A educação em Atenas era bastante diferente da adotada em Esparta. Os atenienses acreditavam que sua cidade-Estado seria mais forte se cada menino desenvolvesse integralmente suas melhores aptidões. O ensino não era gratuito nem obrigatório, ficando a cargo da iniciativa particular. Os garotos entravam para a escola aos 6 anos e ficavam sob a supervisão de um pedagogo, com quem estudavam aritmética, literatura, música, escrita e educação física. Interrompiam os estudos apenas nos dias de festas religiosas, e, quando completavam 18 anos, eram recrutados pelo governo para treinamento militar, que durava cerca de dois anos. As mulheres de Atenas estavam reservadas apenas as funções domésticas, ,as meninas pobres não aprendiam a ler e nem escrever. Até o casamento,que acontecia por volta dos 15 anos,elas aprendiam com as mães os serviços domésticos ,era o pai que escolhia . Os pais tratavam de casar logo as ilhas adolescentes, as quais, após núpcias, ficavam sob o domínio total dos maridos. Nesse mundo masculino, ficar em casa e em silencio era o maior exemplo de virtude para representantes do sexo feminino. O governo nas cidades-Estados As cidades-Estado gregas conheceram a maioria dos sistemas de governo existentes hoje. Atenas e Esparta, que sempre foram rivais, podem servir de exemplos para estudarmos os tipos de governo que existiram nas demais cidades. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
A monarquia foi o regime político inicial em todas as póleis gregas; todas elas foram, pelo menos inicialmente, governadas por reis. Além de governarem as cidades, os reis também desempenhavam funções religiosas, atuando como sacerdotes e representantes dos deuses. Na cidade de Esparta o governo era exercido simultaneamente por dois reis e dele participavam duas assembléias: a Apela, formada por representantes do povo, e a Gerúsia, um conselho de anciãos. O poder dos reis espartanos era limitado; magistrados dos conhecidos como éforos vigiavam suas atividades. As leis em Esparta foram elaboradas por Licurgo, o legislador que transformou a cidade em um Estado militarista. Outro sistema conhecido pelos gregos foi a oligarquia, em que o poder ficava dividido entre pessoas que pertenciam às famílias mais importantes de uma cidade. O termo oligarquia significa “governo de poucos”. Em algumas cidades, os governos oligárquicos foram derrubados pela força. Aqueles que assumiam o poder em seguida eram conhecidos como tiranos. A tirania – governo dos tiranos – se estabelecia e se mantinha no poder por meio da força. O ostracismo O reformador Clistenes implantou uma lei em Atenas determinando eu qualquer cidadão que ameaçasse a segurança da cidade poderia ser condenado ao exílio por dez anos, isso era chamado de ostracismo. Ela lei procurava evitar que se repetisse um governo tirano em Atenas. O período clássico A democracia ateniense atingiu seu apogeu durante o governo de Péricles, no século V a.C. que marcou o início do chamado Período Clássico. Contudo, as desavenças internas, a escassez de terras e a necessidade de expansão do comércio levaram as cidades gregas, entre elas Atenas, a conquistar várias áreas coloniais, próximas ou distantes. Os espartanos não gostaram dessa expansão territorial de Atenas e a disputa por melhores terras determinou a criação de dois grupos rivais: a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, e a Liga de Delos, sob a liderança de Atenas. No início do século V a.C., iniciou-se a chamada Guerra do Peloponeso, na qual Atenas saiu derrotada. Esse acontecimento foi o começo do declínio das antigas cidades-Estados gregas.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Gregos contra Persas Entre os séculos VI e V a.C., a expansão do Império Persa passou a ameaçar a autonomia das cidades-estados gregas. Por volta de 500 a.C., os persas dominavam várias colônias gregas na Ásia Menor e seu objetivo era conquistar também a Grécia. Na luta contra o inimigo comum, as cidades-estados se uniram e conseguiram derrotar os persas em várias batalhas. Esse conflito, que durou vários anos, ficou conhecido como Guerras Greco-pérsicas ou Guerras Médicas, assim denominadas porque os gregos chamavam os persas de medos. Gregos contra gregos A decadência da civilização grega iniciou-se a partir das Guerras do Peloponeso, quando os gregos lutaram contra os gregos. As origens do conflito estão no descontentamento geral, sobretudo de Esparta, em relação à supremacia ateniense. Esparta era aristocrática e estava determinada a manter sua organização sem interferências ou influencias atenienses. Atenas, democrática e também poderosa guerreira, estava disposta a impor suas ideias e princípios. Na primeira fase da guerra, entre 431 e 421 a.C., houve um certo equilíbrio entre as partes, com espartanos e atenienses conseguindo algumas vitórias. Após esse período as duas cidades fizeram um acordo de paz que deveria durar 50 anos. Entre 415 e 413 a.C., a trégua foi quebrada pelos atenienses, que desejavam conquistar regiões dominadas pelos espartanos. Atenas foi derrotada e perdeu parte de sua frota e contingente militar. Os anos seguintes, de 413 a 404 a.C., podem ser considerados de ofensiva dos espartanos. Esparta aniquilou definitivamente Atenas, já bastante enfraquecida pelas perdas anteriores, iniciando sua hegemonia (domínio) sobre o mundo grego. A conquista do território grego pela Macedônia Atenas, o centro glorioso do século de ouro da Grécia, chegava ao fim. Esparta também não teve destino diferente; enfim, todas as cidades-estados ficaram enfraquecidas com as Guerras do Peloponeso e tornaram-se alvos fáceis para a dominação de outros povos. Os macedônios, povo que habitava o norte da Grécia, conseguiram progredir e fortalecer-se econômico e militarmente. Aproveitando-se da fraqueza e da desunião dos gregos, Filipe II, o rei da Macedônia, preparou um poderoso exército e conquistou o território grego.
A política expansionista iniciada por Filipe II teve continuidade com seu filho e sucessor Alexandre Magno, conhecido também como Alexandre O Grande, que consolidou a dominação da Grécia e iniciou a conquista do império Persa. A Macedônia tornou-se o centro do maior império formado até então, que só seria superado anos depois pelo Império Romano. As conquistas de Alexandre Magno, promovendo a fusão das culturas das várias regiões conquistadas no Oriente com os valores gregos deu origem a cultura helenística, que teve como centro de difusão cultural Alexandria, no Egito, e Pérgamo, na Ásia Menor. Os Conhecimentos da Grécia Antiga Os gregos foram os responsáveis pelo nascimento da Filosofia, termo grego que significava amor à sabedoria, por volta do século IV a.C., na cidade de Mileto. Um dos mais importantes pensadores gregos foi Pitágoras anexo, matemático e filósofo. Pitágoras desenvolveu a ideia de que o princípio comum do homem, dos animais, vegetais e minerais era o átomo, considerado a menor parte da matéria. Segundo Pitágoras, o que diferenciava os seres animados e inanimados eram as diferentes estruturas que os átomos formavam em cada um deles. Além disso, ele formulou teorias sobre números e os classificou em várias categorias: os pares, os impares e os números primos. Defendia, também, a ideia de que a Terra era redonda. Os responsáveis pelo apogeu da filosofia grega no século IV a.C. foram Sócrates anexo, Platão anexo e Aristóteles anexo . Sócrates não deixou nenhuma obra escrita. Ensinava nas ruas e nas praças. Seu principal discípulo foi Platão, cujas obras, em forma de diálogos, conservam-se até nossos dias. Aristóteles, por sua vez, foi o mais importante discípulo de Platão. Foi responsável pelo estabelecimento das bases da Lógica, ciência que estuda os métodos e processos que possibilitam diferenciar os argumentos verdadeiros dos falsos nos estudos filosóficos. A Lógica é, até hoje, um instrumento fundamental para todas as outras ciências. Entre os matemáticos gregos, além de Pitágoras, conhecido como o “pai da matemática”, estão Euclides anexo,. Que estabeleceu os fundamentos da Geometria, e Arquimedes anexo, conhecido pelo famoso “Principio de Arquimedes” segundo o qual um corpo mergulhado na água sofre, de baixo para cima, um impulso equivalente ao líquido que deslocou. Os médicos também eram profissionais muito respeitados. O mais importante deles foi Hipócrates de Cós anexo, que é considerado o “Pai da Medicina”. Ainda hoje, os médicos, ao se formarem, prestam o chamado “juramento de Hipócrates” anexo. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Hipócrates, naquela época, já utilizava procedimentos muito parecidos aos que utilizam nossos médicos para fazer diagnóstico de doenças como examinar o globo ocular, verificar a temperatura do corpo, aspecto da urina e das fezes, entre outros. Ao lado da Medicina praticada pelos médicos, havia também, tratamentos populares baseados na superstição e na magia. Uma das práticas mais comuns era pendurar amuletos no pescoço, atitude essa, tida como infalível para a prevenção e cura de várias doenças. Os mesmo avanços se verificaram na Astronomia e no campo da Geografia. Por volta do século II a.C., os gregos mapearam o mundo conhecido, dividindo-o em meridianos e paralelos e em três zonas: a frígida, a temperada e a tórrida. Usando cálculos matemáticos, mediram a circunferência da terra, as distâncias dela do Sol e da Lua. A preocupação dos gregos com a ciência era muito grande. Suas bibliotecas eram repletas de obras importantes e todas elas possuíam cópias, para não se perderem em caso de incêndio ou de outro tipo de desastre. E como os gregos trataram a História? Alguns historiadores gregos tiveram uma grande importância para o desenvolvimento dessa área de conhecimento, ao substituírem os mitos poéticos pela explicação histórica. Os principais historiadores gregos foram Heródoto anexo , considerado “o pai da história” , que escreveu uma obra sobre a guerra dos gregos contra os persas, e Tucídides, que narrou a historia da Guerra do Peloponeso, da qual participou. O teatro grego e o legado cultural
uma procissão em homenagem ao deus Dionísio, considerado o protetor do teatro. A platéia acompanhava as peças o dia todo e reagia intensamente às encenações. Atores e um coro participavam das apresentações. No palco, os atores pareciam gigantes. Usavam sapatos de sola alta, roupas acolchoadas e máscaras feitas de pano engomado e pintados, decoradas com perucas e capazes de amplificar as vozes. A partir do Império Romano – que sucedeu a civilização grega -, o teatro entrou em declínio. Os romanos preferiram o circo – na época, voltado para lutas entre gladiadores e animais -, que predominou nos teatros das principais cidades do império. Além do teatro, os gregos desenvolveram outras formas de expressão artística , tais como escultura, a pintura, a música e a arquitetura.
As primeiras olimpíadas Foram os gregos que criaram os Jogos Olímpicos. Por volta de 2500 AC, os gregos faziam homenagens aos deuses, principalmente Zeus. Atletas das cidades-estados gregas se reunião na cidade de Olímpia para disputarem diversas competições esportivas: atletismo, luta, boxe, corrida de cavalo e pentatlo (luta, corrida, salto em distância, arremesso de dardo e de disco). Os vencedores eram recebidos como heróis em suas cidades e ganhavam uma coroa de louros. Os gregos buscavam através dos jogos olímpicos a paz e a harmonia entre as cidades que compunham a civilização grega. No ano de 392 AC, os Jogos Olímpicos e todas as manifestações religiosas do politeísmo grego foram proibidos pelo imperador romano Teodósio I, após Os gregos alcançaram notável desenvolvimento converter-se para o cristianismo. No ano 1896, os Jogos Olímpicos são retomados cultural e artístico. Sua produção tornou-se tão rica em Atenas, por iniciativa do francês Pierre de Fredy, e fecunda que ultrapassou os limites do tempo e do conhecido com o barão de Coubertin. Nesta primeiespaço geográfico e influenciou toda a cultura ocira Olimpíada da Era Moderna, participam 285 atletas dental e algumas sociedades orientais. de 13 países, disputando provas de atletismo, esgriO teatro que surgiu na Grécia Antiga era diferenma, luta livre, ginástica, halterofilismo, ciclismo, natate do atual. Os gregos assistiam à peças de graça, ção e tênis. Os vencedores das provas foram premiamas não freqüentavam o teatro quando queriam. Ir dos com medalhas de ouro e um ramo de oliveira. ao teatro era um dos compromissos sociais das pessoas. Assim como havia rituais religiosos e assembléias A mitologia grega para decidir os rumos das cidades, existiam festivais de teatros. Dedicados às tragédias ou às comédias, Há muito tempo atrás, as pessoas não podiam exeles eram financiados pelos cidadãos ricos. E o goplicar os eventos a partir da ciência. Por isso explicaverno pagava aos mais pobres para comparecer às vam os acontecimentos naturais a partir das histórias apresentações. de deuses, deusas e heróis. Os gregos tinham uma Os festivais dedicados à tragédia ocorriam em história para explicar a existência do mal e dos inforteatros de pedra, ao ar livre, onde se escolhia o me- túnios. Acreditavam que, em certa época, todos os lhor autor. Embora alguns atores fizessem sucesso, os males e infortúnios estiveram presos em uma caixa. grandes ídolos do teatro eram os autores. As apre- Pandora, a princesa mulher, abriu a caixa e eles se sentações duravam vários dias e começavam com espalharam pelo mundo. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Ciências Humanas e suas Tecnologias Os mais antigos mitos gregos falam do caos (confusão primitiva), de Gaia (mãe-terra), Ponto (o mar) e Urano (céu). Do casamento de Urano e Gaia, nasceram os titãs, ciclopes e gigantes, que personificaram as coisas grandes e poderosas da Terra: montanhas, terremotos, furacões, etc. O mais forte dos titãs, Cronos, casou-se com sua irmã Réia, e tiveram seis filhos. Temendo a rivalidade de seus filhos, Cronos devorou-os logo ao nascer, exceto Zeus, que Réia escondeu numa caverna. Quando se tornou adulto, Zeus derrotou o pai e obrigou-o a libertar os ciclopes da tirania de Cronos, e eles, em recompensa, deram-lhe as armas do trovão e do relâmpago. Além dos deuses, também os heróis tinham direito ao culto. Resultado da união entre um deus e uma mortal (ou vice-versa), eram considerados intermediários entre os deuses e os homens, atribuía-se-lhes a proteção do local onde estavam sepultados. Outros foram homens excepcionais, cujos feitos, muito antigos, se tinham transformado em lenda. Temos o caso do Édipo que após ter sido expulso de Tebas por ter morto o pai sem o ter reconhecido, conseguiu responder à esfinge, temos em Atenas Teseu que fora seu fundador e vencedor do Minotauro e ainda Hércules, um dos mais populares heróis gregos e considerado como fundador dos Jogos Olímpicos. (linkar com anexo Mitologia grega/Deuses/Heróis...) Como vivia o povo grego na Antiguidade De modo geral, o homem grego passava o dia fora de casa. Ocupava o tempo trabalhando, fazendo compras ou conversando com os amigos sobre política e outros assuntos. A mulher ficava em casa, cuidando da roupa e da alimentação e organizando o trabalho dos escravos; era ela quem administrava as tarefas da casa. Comparadas com as de hoje, as casas eram pequenas e sem conforto. Mas isso tinha pouca importância, pois, em razão da suavidade do clima, a maior parte das atividades diárias era desenvolvida fora de casa. Construídas com uma mistura de pedregulho e terra cozida, as paredes eram tão frágeis que os ladrões eram chamados de “arrombadores de paredes”, pois eles simplesmente escavavam uma passagem nelas para entrar em casa. Nas pequenas janelas não havia vidros e, no inverno, elas eram fechadas com madeira. As cozinhas eram raras e os alimentos eram preparados ao ar livre. Na Grécia Antiga não havia residências luxuosas. Mesmo um grande general, como Temístocles, vivia numa casa simples, igual à de seus vizinhos. Os homens ricos não eram respeitados pela ostentação, mas pelo que davam aos deuses e à cidade para custear os festivais públicos.
Nas cidades havia numerosas construções publicas. As principais eram Odéon, consagrado aos exercícios de música; os teatros, onde se representavam tragédias e comédias; os ginásios, que, de inicio eram usados como lugares de treinamento e, depois, passaram a ser os lugares onde os filósofos davam suas lições ao ar livre; os estádios, onde se efetuavam as corridas a pé e outros exercícios, e os templos, onde eram cultuados os deuses. As casas ficavam dispersas, sem nenhum alinhamento, atrás dos templos e de outros monumentos. As ruas eram estreitas e sinuosas. As condições de higiene eram precárias: quase não havia esgotos e todo o lixo era jogado nas ruas para ser apanhado pelos cães. Ao se levantar, os gregos comiam pão embebido em vinho diluído com água; no almoço, comiam pão com queijo de cabra ou azeitona e figos; o jantar consistia de uma sopa de cevada e pão de cevada. Às vezes, comiam também legumes preparados em azeite de oliva e algumas aves caçadas no campo. Nas famílias mais ricas, jantar era quase igual, mas o pão era de trigo e, as vezes, havia também peixe, lingüiça, queijo com mel e nozes, bolos e frutas secas. Carne só em ocasiões especiais e depois de rituais. Nessas ocasiões, cabras e cordeiros eram sacrificados no pátio das casas. As vísceras e gorduras eram queimadas no altar como oferenda aos deuses, e a carne, depois de assada, era servida aos presentes. Só nos grandes festivais da cidade se comia carne bovina. Depois do sacrifício, a carne era distribuída entre os pobres. A principal bebida dos gregos era o vinho. Mas eles não bebiam puro; preferiam mistura-lo com água e, antes de bebê-lo , costumavam derramar algumas gotas no chão como oferenda aos deuses. Os gregos comiam muito pão, e para adoçar a comida ou bebida utilizavam o mel. As roupas usadas pelos gregos eram simples. À parte a qualidade dos tecidos, todos se vestiam da mesma maneira, com roupas fáceis de pôr e tirar. Os camponeses usavam uma veste curta, feita da pele de animais. Cabia às mulheres à tarefa de tecer o pano para fazer as roupas, tanto nas famílias ricas quanto nas pobres. Eram elas que fiavam, tingiam e teciam a lã: a peça que saía do tear estava pronta para ser usada. Não era preciso cortar nem costurar. A Grécia hoje A Grécia ocupa aproximadamente o território habitado pelos helenos do período Clássico. Sua forma de governo é a república parlamentarista. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias A Grécia vive sob regime democrático. Trata-se de uma democracia representativa, diferente daquela praticada no período Clássico. Naquela época, as pessoas participavam diretamente, emitindo sua opinião na Assembleia, que reunia todos os cidadãos. Na democracia moderna, os cidadãos elegem seus representantes e são estes que exercem o poder. A economia do país baseia-se na agricultura, na indústria e no turismo. As principais culturas são: trigo, oliveiras, fumo, algodão e frutas. Dentre as principais indústrias, destacam-se as têxteis, as de azeite e vinho, as de refino de petróleo, as de alumínio e níquel e a mineração. Desde a Antiguidade, os gregos se distinguiram na construção naval e na navegação. Essa tradição continua até hoje. A frota grega atual, composta de navios de passageiros e mercantes, entre os quais importantíssimos cargueiros e petroleiros, está entre as primeiras do mundo. ESTADO E DIREITOS DO CIDADÃO A PARTIR DA IDADE MODERNA
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Os primeiros sinais de desmoronamento do sistema que caracterizou o medievo foram a privatização do poder. Hannah Arendt, citada por Quintão, diz que: “A queda da autoridade política foi precedida pela perda da tradição e pelo enfraquecimento dos credos religiosos institucionalizados; foi o declínio da autoridade religiosa e tradicional que talvez tenha solapado a autoridade política, e certamente provocado a sua ruína” Com o fim do feudalismo e a ocorrência da formação dos Estados nacionais, a sociedade, ainda formada e organizada em clero, nobreza e povo, volta a ter uma centralização do poder nas mãos do rei, cuja autoridade abrangia todo o território e era reconhecida como legal pelo povo. Língua, cultura e ideais comuns auxiliaram a formação desses Estados Nacionais. Já no final da Idade Moderna, observa-se um sério questionamento das distorções e privilégios que a nobreza e clero insistiam em manter sobre o povo. É aí que começam a despontar figuras que marcariam a História da cidadania, como Rousseau, Montesquieu, Diderot, Voltaire e outros. Esses pensadores passam a defender um governo democrático, com ampla participação popular e fim de privilégios de classe e ideais de liberdade e igualdade como direitos fundamentais do homem e tripartição de poder. Essas ideias dão o suporte definitivo para a estruturação do Estado Moderno. Lembrando que alguns desses ideais já teriam sido objeto de discussão quando do ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
início do constitucionalismo inglês em 1215, quando o rei João Sem Terra foi forçado a assinar a Magna Carta. As modernas nações, governos e instituições nacionais surgiram a partir de monarquias nacionais formadas pela centralização ocorrida no desenrolar da Idade Moderna. Segundo Wilba Bernardes “desde o momento em que o Estado moderno começa a se organizar, surge a preocupação de definir quais são os membros deste Estado, e, dessa forma, a ideia atual de nacionalidade e de cidadania só será realmente fixada a partir da Idade Contemporânea”. Citado por Quintão, J. M. Barbalet diz que: “Desde o advento do Estado liberal de direito, a base da cidadania refere-se à capacidade para participar no exercício do poder político mediante o processo eleitoral. Assim, a cidadania ativa liberal derivou da participação dos cidadãos no moderno Estado-nação, implicando a sua condição de membro de uma comunidade política legitimada no sufrágio universal, e, portanto, também a condição de membro de uma comunidade civil atrelada à letra da lei”. FORMAÇÃO TERRITORIAL BRASILEIRA; AS REGIÕES BRASILEIRAS; POLÍTICAS DE REORDENAMENTO TERRITORIAL. O território do Brasil ocupa uma área de 8 514 876 km². Em virtude de sua extensão territorial, o Brasil é considerado um país continental por ocupar grande parte da América do Sul. O país se encontra em quinto lugar em tamanho de território. A população brasileira está irregularmente distribuída, pois grande parte da população habita na região litorânea, onde se encontram as maiores cidades do país. Isso nada mais é do que uma herança histórica, resultado da forma como o Brasil foi povoado, os primeiros núcleos urbanos surgiram no litoral. Até o século XVI, o Brasil possuía apenas a área estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 por Portugal e Espanha. Esse tratado dividia as terras da América do Sul entre Portugal e Espanha. Os principais acontecimentos históricos que contribuíram para o povoamento do país foram: No século XVI: a ocupação limitava-se ao litoral, a principal atividade econômica desse período foi o cultivo de cana para produzir o açúcar, produto muito apreciado na Europa, a produção era destinada à exportação. As propriedades rurais eram grandes extensões de terra, cultivadas com força de trabalho escrava. O crescimento da exportação levou aos primeiros centros urbanos no litoral, as cidades portuárias.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Século XVII e XVIII: foram marcados pela produção pastoril que adentrou a oeste do país e também pela descoberta de jazidas de ouro e diamante nos estados de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso. Esse período foi chamado de aurífero e fez surgir várias cidades. Século XIX: a atividade que contribuiu para o processo de urbanização foi à produção de café, principalmente nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. Essa atividade também contribuiu para o surgimento de várias cidades. Em relação às regiões brasileiras, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é o órgão responsável pela divisão regional do território brasileiro. Para reunir estados em uma mesma região são utilizados critérios como semelhanças nos aspectos físicos, humanos, culturais, sociais e econômicos. Muitas divisões regionais do território brasileiro já foram estabelecidas ao longo da história, atualmente está em vigor à divisão estabelecida no ano de 1970, que é composta por cinco Regiões: Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sul e Sudeste. A Região Centro-Oeste é composta pelos estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e pelo Distrito Federal. Sua área é de 1.604.850 km², ocupando aproximadamente 18,8% do território do Brasil, tendo a segunda maior extensão territorial entre as regiões brasileiras, sendo menor apenas que a Região Norte. Conforme contagem populacional realizada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população total do Centro-Oeste é de 14.058.094 habitantes, cuja densidade demográfica é de 8,7 habitantes por quilômetro quadrado. O Nordeste brasileiro é formado pelos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Sua área é de 1.554.257,0 km². Abriga uma população de aproximadamente 53.081.950 habitantes, esses estão distribuídos em nove estados. O grande número de cidades litorâneas contribui para o desenvolvimento do turismo na região. A Região Norte é composta pelos estados de Roraima, Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Tocantins. Está localizada entre o maciço das Guianas, ao norte; o Planalto Central, ao sul; a cordilheira dos Andes, a oeste; e o oceano Atlântico, a noroeste. Sua extensão territorial é de 3.853.397,2 km², sendo a maior região do Brasil, corresponde a aproximadamente 42% do território nacional. Possui uma população de cerca de 15,8 milhões de habitantes. Os estados que formam a região Sudeste são: Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. Situa-se na parte mais elevada do Planalto
Atlântico, onde estão as serras da Mantiqueira, do Mar e do Espinhaço. Sua extensão territorial é de 924.511,3 km². Abriga uma população de 80.364.410 habitantes, correspondendo a aproximadamente 40% do contingente populacional brasileiro. A densidade demográfica é de 87 habitantes por quilômetro quadrado, sendo a região mais populosa e povoada do país. O Sul do Brasil é formado pelos estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. Sua extensão territorial é de 576.409,6 km². Sua população é estimada em 27,3 milhões de habitantes. POLITICAS DE REORDENAMENTO TERRITORIAL OS CENÁRIOS CONTEMPORÂNEOS DAS POLÍTICAS TERRITORIAIS NO BRASIL A construção da PNOT se dá em cenário de mudança de sentido das políticas territoriais do Estado brasileiro. Novos sentidos de políticas territoriais contemporâneas inserem-se em cenários de globalização, inserção sulamericana, reformas do Estado territorial e de incertezas de paradigmas das políticas públicas após a crise e o fim do Estado Desenvolvimentista. Ressalte-se que a construção da PNOT no Brasil inicia-se somente quinze anos após a promulgação da Constituição de 1988, em 2003, o que se caracteriza como um descompasso com as experiências internacionais do gênero. Entende-se que política territorial se configura pelo conjunto de enfoques estratégicos, a médio e longo prazo, assim como pelas correspondentes formulações de atuação, dirigidas a intervir sobre o território, a fim de que assuma as formas que sejam adequadas ao conjunto dos interesses que controlam o poder político (Sanchez, 1992, p. 72). Entende-se também que as políticas territoriais extrapolam a noção dos planos regionais de desenvolvimento. Elas abrangem toda e qualquer atividade que implique, simultaneamente, uma dada concepção do espaço nacional; uma estratégia de intervenção ao nível da estrutura territorial bem como mecanismos concretos que sejam capazes de viabilizar estas políticas (Costa, 1988, p.13). A posse e o controle do território têm, classicamente, sustentado a construção do Estado no Brasil, o qual antecede, historicamente, a própria nação. A relação clássica entre Estado e território aponta para a implantação das formas estruturantes deste último pelo papel dirigente do poder unidimensional do Estado. No pós-30, o Estado Desenvolvimentista consolida as principais infraestruturas estratégicas nacionais e, com isso, assume o papel de principal artífice da construção da nação. O Estado Desenvolvimentista brasileiro, de corte cepalino, implementa, a partir dos ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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anos 40, um núcleo de consenso desenvolvimentista análogo ao keynesianismo europeu. De corte explicitamente geopolítico no pós-64, o Estado autoritário brasileiro enfrenta, a partir dos anos 80, o esvaziamento de suas propostas e viabilidades com a crise do Estado Desenvolvimentista. A crise do petróleo a partir de 1973 e a emergência do sistema financeiro internacional globalizado provocam, na maioria dos países que adotam modelos semelhantes de desenvolvimento, modificações nos campos da economia, das ideias e das instituições. O Brasil, um dos maiores exemplos do projeto desenvolvimentista de corte cepalino chega aos anos 90 sem haver mudado tal projeto, o qual vinha mantendo o país ainda dentro dos moldes do processo substitutivo de importações. O processo de globalização já em curso nos anos 80, as transformações do sistema capitalista como um todo, a falência do planejamento centralizado e o fim dos padrões tecnológicos dominantes desde o pós-guerra, associados ao ideário político-econômico liberal, passam a fornecer as grandes linhas em que passam a se inspirar as ações que visam às reestruturações econômicas e territoriais. A década de 90 e a crise dos Estados Desenvolvimentistas periféricos representam, portanto, rupturas de paradigmas socioeconômicos e políticos com significados e alcances tão ou mais profundos do que a própria constituição dos Estados Nacionais sul-americanos, no século XIX. A crise do nacional-desenvolvimentismo e do planejamento centralizado; as redefinições da geopolítica clássica que perde seus sentidos originais; a tendência às economias flexíveis e à “flexibilização dos lugares”, pela alta mobilização do capital e a inserção subordinada dos territórios nacionais periféricos no processo de globalização financeira e de mercados, e a emergência dos processos políticos descentralizantes na face do processo de redemocratização conduzem os Estados do Sul, como um todo e especialmente aos latino-americanos, como o Brasil, a reatualizar suas políticas externas e internas e a requalificar suas opções e necessidades de ordenação territorial e de desenvolvimento. Estes processos acima mencionados localizam-se em cenários globais progressivamente mais complexos os quais imprimem severas incertezas a estes países. Nesses cenários reconhece-se a necessidade de se analisar as diferenciações territoriais emergentes - os novos significados que adquirem os usos políticos do território e as novas formas e conteúdos territoriais - em momento histórico tão pleno de rupturas de paradigmas e de mudanças de padrões políticos de desenvolvimento. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Os anos 90 e o início do século XXI são tempos de globalização financeira e de industrializações crescentemente flexíveis, de sistemas territorializados de produção, de capitais sem compromissos com os lugares; de investimentos e desinvestimentos em mercados financeiros voláteis; de ameaças constantes aos Estados nacionais pela intempéries financeiras; pelas desregulamentações unilaterais de mercado dos países do Sul e pelos novos protecionismos dos mercados dos países do Norte. Além disso, após o mais longo período da história do Brasil Republicano, o Brasil ainda está emergindo do totalitarismo que assolou gerações e inteligências. A redemocratização prenuncia, efetivamente, que os atores civis das comunidades locais e regionais saberão, crescentemente, desenvolver experiências associativas comunitárias nas quais o poder de Estado será respeitado enquanto ordenador jurídico político, mas não como interventor dos destinos da vida cotidiana das populações. A valorização do local não será somente mais uma novidade dos órgãos de financiamento internacional, considerando-se que há no Brasil experiências legitimadas de associativismo e construção de identidade cultural e política a partir de movimentos sociais que remontam aos anos 50. Mais do que questão da agenda acadêmica, as experiências comunitárias são experiências de ricos universos políticos e culturais que tenderão a se consolidar enquanto escalas efetivas de poder local, porquanto poder genuíno das populações que constroem seus destinos pela via da publicitação do privado, no sentido da publicitação da sociedade civil. Os lugares que contêm tecnologia e riqueza tenderão a ser geridos por poderes hegemônicos do empresariado em experiências de desenvolvimento em que o poder local não será necessariamente mais sinônimo de governo local, mas sinônimo de organizações corporativas com capacidades de planejamento e de investimento em projetos estratégicos em associação com governos locais, que podem ser facilmente capturados pelo poderes locais e regionais privados, o que aponta para uma clássica privatização do público. Por outro lado, os empreendedorismos de caráter associativo tenderão a implementar, com apoio de políticas públicas, possíveis novos núcleos de geração de projetos de geração de emprego e renda. De uma forma ou de outra, tratar-se-ão de novas faces do tecido social e político, novos campos de força sobre o qual o Estado não terá necessariamente o poder de ingerência ou de investidor principal, senão o de coordenador das macro estratégias que busquem, por exemplo, inserir regiões desiguais em processos de desconcentração da riqueza e nos novos vetores informacionais e de reestruturação do território.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Provavelmente, desde o Plano de Metas (19561961) e o II Plano Nacional de Desenvolvimento (19761980) não se tem momento tão propício como no presente para conjugar planejamento econômico e ordenamento territorial. Paradoxalmente, o Plano de Metas de JK (um governo eleito democraticamente) foi um dos principais responsáveis pela concentração geográfica da indústria automobilística – principal vetor do setor de bens de consumo duráveis – e da atividade industrial em geral na Região Sudeste, particularmente no estado de São Paulo, enquanto que o II PND realizou um dos mais importantes movimentos de desconcentração do processo de industrialização nacional principalmente através da implantação de polos petroquímicos regionalizados (Nordeste e Extremo Sul). O atual desafio posto à sociedade civil é a implementação dos princípios estabelecidos pela Constituição Federal de 1988, que consagrou o planejamento da atividade econômica e a redução dos desequilíbrios regionais. Assim, visando à adequação do Plano Plurianual 2004/2007 do Governo Federal a esses princípios constitucionais[2], o Ministério da Integração Nacional, através da Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional, foi incumbido pela Lei Federal nº 10.683 de 20 de maio de 2003 (artigo 27 – inciso XIII – letra L e parágrafo 3º) de pôr em marcha o Programa de Gestão da Política de Desenvolvimento Regional e Ordenamento Territorial, que se propõe a: Transladado do contexto europeu do pós-guerra, o ordenamento territorial é caracterizado como “instrumento de planejamento, como elemento de organização e de ampliação da racionalidade espacial das ações do Estado” (http://www.integracao. gov.br). Enquanto num Estado Unitário como Portugal a política de ordenamento territorial é concebida especialmente em paralelo ao planejamento do desenvolvimento urbano (local) (http://www.dgotdu. pt), no Brasil a gestão territorial visa articular a política de ordenamento territorial fundamentalmente com a política de desenvolvimento regional (as partes federativas). A particularidade brasileira de exigir da política de ordenamento territorial uma vinculação com as políticas de planejamento regional reside em seu gigantismo territorial e na necessidade de desconcentração de riqueza e população, portanto, submetida não aos interesses regionais fragmentados e particularistas, mas num contexto de uma visão estratégica de Estado e de modelo de organização territorial. Contudo, a gestão do território dialoga não apenas com as políticas de desenvolvimento urbano e regional, mas também com todas aquelas políticas setoriais e macroeconômicas capazes de produzir efeitos territoriais importantes.
Os trabalhos de construção da Política Nacional de Ordenamento Territorial iniciam-se em 2003, coordenados pelo Ministério da Integração Nacional, como já afirmado. Nos termos do ex-secretário de Políticas de Desenvolvimento Regional Antônio Carlos Galvão: Ordenação (termo preferencialmente usado em Portugal) ou ordenamento (como mais frequentemente utilizado no Brasil), o que talvez seja mais importante notar é que o tema nasceu no país como instrumento de planejamento, como elemento de organização e de ampliação da racionalidade espacial das ações do Estado. Passados mais de 15 anos da promulgação da Constituição Federal, ainda hoje debatemos a melhor forma de ordenar o território. Desde então, o país avançou muito no sentido da instituição de uma base legal para diversas missões territoriais associadas ao ordenamento territorial (...). A missão, no âmbito do Governo Federal, está delegada aos Ministérios da Integração Nacional e da Defesa, não obstante iniciativas de ordenamento constar, de forma algo autônoma, na agenda de diversos Ministérios e órgãos de Governo com responsabilidades territoriais concretas. É o caso, por exemplo, do Ministério do Meio Ambiente, com atribuições no gerenciamento costeiro, na política de gestão de florestas, ou ainda na delimitação de unidades de conservação ambiental. É o caso também do Ministério das Cidades, que absorve atribuições sobre o zoneamento urbano e a elaboração de planos diretores Municipais, ou do Ministério do Desenvolvimento Agrário, com sua política fundiária e de promoção de assentamentos rurais (Galvão, 2005, p. 3). As principais ações da Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional tem consistido em oficinas e seminários nacionais e apoio a realização de estudos sistemáticos que sirvam de subsídios à formulação da política. Até o momento há resultados parciais em forma de livro e de estudos técnicos de domínio público. SUBSÍDIOS TÉCNICOS PARA A DEFINIÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE ORDENAMENTO TERRITORIAL A seguir apresenta-se, sinteticamente, as principais contribuições de alguns dos subsídios técnicos elaborados para a definição da PNOT. O PADRÃO DE USO E OCUPAÇÃO DO TERRITÓRIO E AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DE TRANSFORMAÇÃO Sinteticamente o estudo (Théry et alii, 2006) aponta que determinadas políticas setoriais como proteção do meio ambiente, expansão do agronegócio, redução da concentração industrial, revisão das ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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matrizes de transporte, energia e informação, redução das desigualdades regionais, valorização da diversidade cultural, deverão estar incluídas numa política de ordenamento territorial ambiciosa. Neste sentido trata-se de manter a integridade do território nacional, não frente a uma hipotética ameaça externa, mas frente a um risco real de desagregação interna. Destaca o estudo que respeitar o meio ambiente, distribuir melhor as atividades agropecuárias modernas, as indústrias e serviços de ponta, diversificar as fontes de energia, favorecer o crescimento de cidades médias, todas essas ações contribuem para reequilibrar o território nacional. Em uma época cada vez mais reticular, repensar as redes de transporte de pessoas, mercadorias, energia e informação, montar uma malha menos voltada para o abastecimento do centro e mais equitativa será sem dúvida uma das alavancas mais poderosas para distribuir melhor o desenvolvimento entre as partes do país. Afinal, afirma ainda o estudo, os homens não vivem nas redes, eles vivem nos territórios, mas as redes podem ajudar – ou não – o desenvolvimento harmonioso dos territórios. Usar os dinamismos, que no Brasil não são poucos, para levar no seu rastro regiões menos favorecidas pela conjuntura atual; explicitar, visando à harmonia espacial, a dimensão territorial nas políticas setoriais; ter sempre em mente a preocupação da justiça sócio espacial na hora de pensar, implementar e fiscalizar políticas públicas: tais poderiam ser na concepção deste estudo, as ambições de uma política de ordenamento territorial. Não são poucas, mas são condizentes com o desafio de corrigir distorções herdadas de pelo menos meio século de modelo de crescimento desigual e à altura das ambições que pode e deve ter o Brasil. Políticas de ordenação do território: a contribuição de experiências nacionais e internacionais A síntese analítica das diferentes experiências, nacionais (Cidade et alii, 2006) e internacionais examinadas (México, Canadá, França, Itália e União Europeia) sugere que, no contexto da integração de mercados, as ações de gestão do território com repercussões sobre o ordenamento territorial são cada vez mais condicionadas, em seus aspectos externos, por movimentos em direção a um aumento da competitividade. Por outro lado, devido a percursos históricos, as políticas públicas permanecem também referidas a uma dinâmica interna, como a busca da redução de desigualdades soco espaciais, embora sem grande eficácia. Diante de um contexto de pressões políticas e limitações orçamentárias, os governos tendem a atuar como formuladores de diretrizes e ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
como articuladores de diferentes instâncias de atuação. Tributárias de diferentes modelos de governança, as políticas territoriais representam combinações que variam para cada país. Mais do que finalidades, os modelos de ordenamento territorial configuram-se como resultados de articulações em diferentes níveis, por sua vez reflexos de uma ordem econômica e política dominante. Um breve resumo dos instrumentos indica que, na fase desenvolvimentista nacional, os governos adotavam um número relativamente grande de instrumentos institucionais, tanto coercitivos como incitativos; e os complementavam por instrumentos de operacionalização. Na fase do Estado reformado, ainda predominam instrumentos institucionais, ainda coercitivos e incitativos, embora em menor número; complementam-se por instrumentos de operacionalização. No âmbito internacional recente, há também um predomínio de instrumentos institucionais, com predominância dos incitativos e o surgimento de alguns persuasivos. Aparecem também instrumentos de gestão e de operacionalização que buscam adequar-se aos condicionantes do quadro contemporâneo. Logística e ordenamento do território O estudo (Becker et alii, 2006) reconhece que a PNOT emerge num contexto histórico marcado pela força da globalização e da competitividade bem como que a logística constitui, sem dúvida, um dos principais vetores de reestruturação do território. No Brasil a logística do território está voltada para a exportação sob o comando crescente do setor privado. A logística não é muito desenvolvida, sendo poucas as malhas existentes. Entre inovações que buscam agilizar a exportação e reduzir seu custo destacam-se: i) investimentos em ferrovias pelas concessionárias; ii) busca da multimodalidade através de terminais multimodais e de contêineres, que tem impulsionado o crescimento de cidades como Uberlândia e dos portos, que ampliam sobremaneira os seus serviços; iii) a multiplicação dos portos secos no território nacional, inclusive nas fronteiras terrestres. Os sistemas logísticos das corporações são muito diferenciados entre si. A busca pela competitividade no mercado externo através da redução do tempo e do custo é o motivo básico dos investimentos da empresas privadas no setor de infraestrutura. Mas o modo de investir na logística não é homogêneo. A Petrobrás, por exemplo, se diferencia por uma cadeia logística completa e abrangente de uma produção específica – petróleo, derivados e gás – desde a exploração ao consumidor final e pelo desenvol-
Ciências Humanas e suas Tecnologias vimento de uma tecnologia própria avançada. As agroindústrias atuam em grande extensão do território nacional, embora não configurando malha, e sim, sobretudo, redes de armazenagem, unidades de esmagamento (em menor número) e terminais de transbordo e portuários. Já a CVRD, produtora de minério de ferro, manganês e pelotas, até a pouco uma empresa estatal, tem na logística sua principal diversificação, na medida em que não atua só para sua produção, mas também presta serviços para escoamento da produção de inúmeras empresas. Sua atuação sobre o território se ampliou muito na última década em função dos serviços prestados pelas redes ferroviárias à agricultura e a agroindústria. Ocorre, atualmente, o retorno da litoralização e dos dois Brasis. A ausência de investimentos na infraestrutura durante anos e a privatização, cujo marco situa-se em 1996-97, vem alterando a feição do território brasileiro quanto à circulação. Os mapas que representam a logística do território bem como as das corporações revelam o retorno à dinâmica litorânea e a dois Brasís, apagando a diferenciação regional que ainda permanece no imaginário do governo e da sociedade. É clara a distinção entre o litoral e o interior e entre as porções sul e norte do país. É possível, assim, diferenciar a porção sudestesul do país onde uma efetiva malha logística altera a textura do território, pela multiplicidade, complexidade e articulação das redes – tanto de circulação como de produção agrícola industrial, de serviços, de informação - e de onde partem as conexões para a América do Sul. O padrão concentrado das redes se reproduz no Cone Sul, onde se configura o embrião de uma nova malha, tendo como limite norte a Bolívia. A logística para exportação relacionada a uma acentuação da desigualdade espacial entre litoral e interior e metades sul e norte do território, coloca várias questões. 1º. É lícito deduzir que tal desigualdade tem correspondência na desigualdade social, pelo menos no que se refere ao acesso às redes. Mas também no que se refere ao pequeno avanço da agregação de valor à produção no interior do país pela logística das grandes corporações analisadas que, afinal, tem peso na trajetória do país. 2º. A análise realizada demonstra que a expansão das redes por concessionárias que visam à exportação é uma tendência que tende a se afirmar nas próximas décadas, como bem demonstram as estratégias das empresas. 3º. As grandes empresas inovam, mas não tanto, e aproveitam a ossatura criada pelo Estado, à qual acrescentam equipamentos e, sobretudo, serviços para torná-la mais ágil visando seus interesses. É possível, mesmo, vislumbrar certa divisão territorial de trabalho na logística voltada para a exportação:
hinterlandias corporativadas pelas concessionárias de ferrovias e portos, de transporte multimodal e de serviços da CVRD, e de armazenagem das agroindústrias e íntimo relacionamento dos transportes e serviços com a produção agroindustrial. . Exalta-se a importância da ferrovia, da multimodalidade, dos portos, com vistas à exportação. Mas a rodovia é mais importante em termos sociais por sua capilaridade e a malha rodoviária merece ser recomposta; e a multimodalidade, com a armazenagem e terminais deve ser planejada levando em conta também o mercado interno, uma “logística do pequeno”, articulando ferrovias com rios e rodovias, para constituir malhas que cubram o território, atendendo à massa de população que nele reside. Uma PNOT não pode esquecer a importância da segurança alimentar básica, em que produtores familiares têm importante papel. E o avanço dos territórios corporativos das agroindústrias tem ameaçado essa categoria de produtores, expressando-se em grandes conflitos sociais e ambientais na Amazônia. Espaços geográficos sob poder da União – uma avaliação da experiência na perspectiva de uma PNOT A compreensão da situação fundiária brasileira é uma das peças-chave para a formulação de uma política de ordenamento do território (Mello et alii, 2006). O Estado, ao propor e definir um ordenamento para o seu território deve deter o conhecimento da propriedade da terra, essencial para o desenvolvimento de um país. A existência de um grande capital em terras públicas diferencia o Brasil de países que já não o possuem e que podem atuar apenas por meio de mecanismos indutores ou restritivos. A propriedade pública pode ser usada para liderar o ordenamento e reconduzir o modelo de desenvolvimento do país. Dentre os projetos futuros com implicações na situação fundiária chama-se atenção para dois grandes que estão em fase de planejamento e em vistas de serem executados, cujos resultados terão consequência no curto e no longo prazo sobre uma vasta área do território nacional e podem ser decisivos para o desenvolvimento do país, em função se seus impactos positivos e negativos sobre o território. Um destes projetos, o “Plano de Desenvolvimento Sustentável para a Área de Influência da BR163” consiste na recuperação e asfaltamento desta rodovia federal que liga Cuiabá (MT) a Santarém (PA), além de uma série de intervenções que possibilitem o desenvolvimento econômico da região. Este plano pode, ao invés dos resultados positivos que advoga causar o recrudescimento do conflito em uma ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias região cujo embate entre os interesses é crescente. Além deste aspecto, o asfaltamento desta rodovia abrirá as “portas da floresta” para as grandes madeireiras e grileiros, numa região que faz parte do “arco do fogo”. O outro projeto que merece consideração e tem forte impacto no ordenamento do território é o projeto de transposição do rio São Francisco. Assim como o Plano para a BR-163, a transposição do São Francisco é um projeto cuja envergadura causará mudanças significativas na ocupação e na estrutura produtiva da região do semiárido nordestino. O estudo propõe diretrizes para ações de gerenciamento do patrimônio fundiário da União. Uma delas é a criação de um Sistema Integrado de Gestão do Patrimônio Fundiário da União, podendo ser futuramente ampliado para os estados e municípios. Sistema esse, que deve promover a integração dos sistemas dos diversos órgãos, e mesmo permitir o livre acesso. Avaliação do aparato institucional e jurídico-legal na perspectiva da Política Nacional de Ordenamento Territorial
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Dentre as competências materiais exclusivas da União, encontra-se a competência para elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social (art. 21, IX, CF/88) (Leuzinger; Rocha, 2006). Embora inserta no âmbito das competências materiais, que não envolvem poder legiferante, há necessidade de se avançar no sentido da formulação de um marco legal que possa integrar as diversas normas que regulam as diferentes formas de uso, ocupação e proteção do solo urbano e rural, na medida em que os distintos diplomas legais e atos normativos em vigor não possuem conectividade. Estando a competência para elaborar e implementar planos nacionais e regionais de ordenação do território inserta na órbita do Poder Executivo federal, é indispensável que existam normas em vigor que sustentem essa atividade administrativa. Assim, seria necessária a edição de uma nova lei, instituindo o Plano Nacional de Ordenação do Território. Entretanto, como os planos de ordenamento territorial consistem, na verdade, em instrumentos de uma Política de Ordenamento do Território, bem mais abrangente, a lei a ser editada deve determinar os contornos dessa política nacional, que possibilitará um campo de ação muito mais amplo ao Executivo federal. A Lei da Política Nacional de Ordenamento Territorial (PNOT) deverá conter, no mínimo, os conceitos mais relevantes (dentre os quais o conceito de território), os objetivos, os princípios, as diretrizes e os instruENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
mentos, além da criação de um Sistema de Gestão do Território, composto por órgãos e entidades da administração direta e indireta da União, dos Estados e dos Municípios. Deverá, ainda, definir a área de atuação dos planos nacional, regionais e locais, que poderá coincidir com os limites políticos dos Estados-membros ou determinar outra unidade de gestão, como as ecorregiões, as bacias hidrográficas, os limites políticos do território municipal etc. Dentre os instrumentos da Política Nacional de Ordenamento Territorial, estariam, como visto, os planos nacional, regionais e locais de ordenação do território, previstos, respectivamente, pelos arts. 21, IX, e 30, VIII, da Constituição Federal de 1988, a serem elaborados pelas diferentes entidades estatais, no âmbito de suas respectivas competências. No caso específico dos planos locais, deverá ser observada a competência dos municípios para promover o adequado ordenamento territorial do solo urbano, nos termos do art. 30, VIII, da CF/88. Outros instrumentos poderiam ser o zoneamento ecológico-econômico, a avaliação de impactos, a criação de espaços territoriais especialmente protegidos e o sistema de informações. Os estudos aqui apresentados (com exceção do estudo “Avaliação dos impactos de Planos, Programas e Projetos no Uso e Ocupação do Território no Brasil” de caráter metológico inovador para avaliar investimentos territoriais porém não apresentado aqui), em seus próprios termos, de forma sintética, ainda carecem de implementação em um projeto de lei a ser enviado ao Congresso Nacional. Tal procedimento, circunscrito à conjuntura das mudanças governamentais recentes quando do início do segundo governo Lula, se faz necessário e mesmo premente para que o país possa começar a perceber a validade destas investigações até aqui realizadas. O ordenamento territorial no cenário de integração regional Num cenário de economia globalizada e de constituição de blocos econômicos regionais, a necessidade da ampliação das economias de escala exige repensar a dimensão da intervenção estatal, de modo ao desenvolvimento de parcerias estratégicas principalmente com os países fronteiriços. Os processos integracionistas regionais colocam também novas responsabilidades ao setor público no sentido da correção das desigualdades estruturais existentes entre seus diversos territórios constituintes, exigindo para as regiões e países de menor desenvolvimento relativo à adoção de medidas como:
Ciências Humanas e suas Tecnologias (...) programação do desenvolvimento industrial, apoio à pesquisa e desenvolvimento, (...) fundos de investimentos, alocação de recursos destinados à reconversão industrial e de culturas, treinamento de recursos humanos, etc. Em relação ao comércio, (...) um período mais prolongado de adaptação para a eliminação de tarifas dos produtos mais sensíveis. (Macadar, 1992, p.687). Assim, a elaboração de diretrizes para uma PNOT deve estar em consonância com a política de construção de parcerias sul-americanas, de modo a ampliar a noção de ordenamento territorial para o conjunto do território sul-americano e de modo a privilegiar as zonas de fronteira: A questão das relações bilaterais e multilaterais com os países vizinhos – isto é, os temas transfronteiriços – também fazem parte da pauta de uma política de ordenamento territorial no âmbito nacional, pois possuem importantes repercussões nos fluxos e mesmo em regiões às vezes distantes das fronteiras. Nesse sentido, uma macro visão do território brasileiro deve visualizar também a unidade maior do subcontinente sul-americano (Moraes, 2005, p. 46). A atual conjuntura econômica mundial e regional impõe mudanças das noções de fronteira, de modo a tornar mais flexíveis os conceitos de “fronteiras de contenção” e “fronteiras-separação” da geopolítica realista, e reforçar as características fronteiriças atuais de regiões de transição, de interface e/ ou de comutadoras entre países vizinhos. As abordagens nacionalistas e militaristas de fronteira (típica dos regimes militares argentino e brasileiro) perdem sua exclusividade de outrora, ao mesmo tempo em que as regiões de fronteira deixam de ser zonas de tensão para converter-se em zonas de contato e articulação (Ruckert, 2003). A evolução da fronteira-separação em fronteira-cooperação tem implicado em recentes transformações no que tange à implementação de infraestrutura estratégica e indústrias nas Faixas de Fronteira, como na Fronteira Oeste Brasil-Argentina, principalmente no Estado do Rio Grande do Sul. A legislação federal que dispõe sobre a faixa de fronteira veda - na forma como se encontra em vigor, nos termos de 1979 -, salvo com o assentimento prévio do Conselho de Defesa Nacional, a implementação de infraestrutura estratégica (abertura de vias de transporte, construção de estradas internacionais, implantação de instalações industriais de interesse da Segurança Nacional), bem como exige que ao menos 51 por cento do capital de quaisquer indústrias que ai se instalem pertençam a brasileiros. No entanto, o Protocolo nº 23 Regional Fronteiriço (1988) estimularia as primeiras articulações de comutação nas fronteiras sul-americanas, principalmen-
te pela integração rodoviária, como a Rodovia do Mercosul e o Centro Unificado de Fronteira da Ponte Internacional São Borja (RS)- Santo Tomé (Argentina); e também pela integração energética através dos gasodutos Bolívia-Brasil e Argentina-Brasil, da Unidade Termelétrica de Uruguaiana (RS) que opera com gás argentino, e das Estações Conversoras de energia elétrica de Uruguaiana em Garabi (no município de Garruchos) e Santana do Livramento – Rivera. Os casos de infraestrutura estratégica supracitados, implementados na Fronteira Oeste são objeto de acordos internacionais específicos, como o próprio Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento, de 23/08/1989 e seus protocolos adicionais, além dos acordos para a construção da Ponte Internacional São Borja - Santo Tomé. Na maioria dos empreendimentos concorreram investimentos de capitais privados estrangeiros e as empresas são, em sua maior parte, predominantemente empresas de atuação global. Atualmente está em pauta à construção de uma terceira ponte internacional sobre o rio Uruguai interligando o noroeste do Rio Grande do Sul com a província de Missiones. O início das discussões em torno da construção de uma terceira ponte internacional unindo Brasil e Argentina remonta ao final da década de 90. O processo estava motivado pela própria inauguração da Ponte Internacional de São Borja - São Tomé e foi marcado por reuniões entre representantes dos dois países, repercutindo na assinatura do acordo para a construção de novas pontes internacionais sobre o Rio Uruguai no ano 2000. Há investigação em curso que busca analisar o papel dos atores locais/regionais no processo de disputas pela construção da terceira ponte internacional ligando Rio Grande do Sul à Argentina. As possibilidades de localização para a construção desta ponte são Porto Mauá - Alba Posse; Porto Xavier - San Javier e Itaqui-Alvear ( Dietz, 2007). Ainda em 1988, a nova constituição brasileira substitui o Conselho de Segurança Nacional a que alude a legislação de faixa de fronteiras de 1979 pelo Conselho de Defesa Nacional, porém, não altera a Lei de Faixa de Fronteiras. Apesar disto, o espírito de sua interpretação continua a mudar através de outros dispositivos, o que de certa forma torna letra morta alguns dos termos. Por exemplo, o artigo 3º da Emenda Constitucional nº 6 de 1995 revoga o artigo 171° da Constituição Federal que definia o conceito de empresa brasileira de capital nacional. O fator continentalidade do Brasil não pode ser desprezado, afinal a fronteira nacional terrestre envolve uma área cerca de duas vezes mais extensa que a banhada pelo Atlântico: são 15.719 quilômetros de fronteira do Brasil com os países vizinhos (MatENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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tos, 1980). Num processo espontâneo de cooperação internacional ao longo das Faixas de Fronteira, multiplicaram-se as cidades-gêmeas desde o Mato Grosso do Sul (fronteira com o Paraguai), passando pelo Paraná (a maior conurbação transfronteiriça sul-americana é Foz do Iguaçu – Ciudad del Este) e, principalmente, Rio Grande do Sul (fronteira com a Argentina e Uruguai). Naturalmente, as fronteiras - ou mais propriamente regiões fronteiriças – já passam por um processo de valorização enquanto territórios de mudança mais imediata dos processos de integração e de reestruturação econômica, tanto pela presença como pela ausência de atividades e projetos relacionados com os mesmos processos. À PNOT caberia estimular esse processo de desenvolvimento das regiões transfronteiriças (verdadeiras “fronteiras ativas”) a partir do conceito de cooperação, contato e articulação produtiva. Para isto é fundamental considerar a Proposta de Reestruturação do Programa de Desenvolvimento da Faixa de Fronteira do próprio Ministério da Integração, com vasto estudo e diagnóstico elaborado pela UFRJ, coordenado por Lia Osório Machado (Grupo Retis) (www. igeo.ufrj.br/fronteiras/). Sem dúvida, o Arco Sul (Centro-Sul) é o espaço econômico mais desenvolvido e o mais intensamente afetado pela dinâmica transfronteiriça decorrente do projeto de integração econômica do Mercosul. No Arco Sul, as interações entre os países vizinhos são regidas pela expansão acelerada de interesses econômicos e de infraestrutura. Com a Argentina, a “linha de contenção” (as reservas naturais de florestas nas províncias de Corrientes e Missiones que funcionariam como zona-tampão contra eventuais invasões brasileiras) é quebrada pelo desenvolvimento de cidades-gêmeas (Uruguaiana - Passo de los Libres; São Borja - Santo Tomé, Quarai - Artigas) e por novas iniciativas de integração da infraestrutura rodoviária. No Arco Norte (Amazônia) a BR 174 já constituiu eixo de vertebração de embrionário território internacionalizado ao interligar Manaus – Boa Vista – Caracas (do “Amazonas ao Caribe”). A construção da ponte binacional Asis (Acre, Brasil) - Iñapari (Peru); o projeto da ponte Oiapoque (Amapá, Brasil) - San Jorge (Guiana Francesa) (SILVA, 2006), dentre outros, são projetos igualmente importantes para a constituição de novos territórios internacionalizados na região e a efetivação das aspirações do Tratado de Cooperação Amazônica (http://www.iirsa.org). Para o futuro, a concretização do anunciado Gasoduto Venezuela – Brasil – Argentina, ainda em estudos, e do projetado corredor bi oceânico (Atlântico-Pacífico), a partir do Acre, devem ampliar ainda mais significativamente o processo de redinamização da economia pan-amazônica. Não obstante, a grande extensão fronteiriça ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
e a desigual distribuição populacional possibilitam a atuação de redes ilegais (tráfico de drogas, abastecimento da guerrilha colombiana, biopirataria) que ainda exigem a atuação do Estado Geopolítico nessa região do país (Projeto Calha Norte, SIPAM). A época das fronteiras fechadas não acabou, mas certamente não se trata mais das mesmas fronteiras. O Programa de Desenvolvimento de Faixa de Fronteira do Ministério da Integração - PDFF (2005, p. 9), por exemplo, aponta para a premência de se criar um Estatuto da Fronteira como marco regulatório para o desenvolvimento regional e a integração com os países limítrofes. Afirma o PDFF: A preocupação com a segurança nacional, de onde emana a criação de um território especial ao longo do limite internacional continental do país, embora legítima, não tem sido acompanhada de uma política pública sistemática que atenda às especificidades regionais, nem do ponto de vista econômico nem da cidadania fronteiriça. Motivos para isso não faltaram até o passado recente, como a baixa densidade demográfica, a vocação “atlântica” do país, as grandes distâncias e as dificuldades de comunicação com os principais centros decisórios, entre outros (PDFF, 2005, p. 9). Dentre os novos condicionantes da ação governamental, que tornam imperativa a mudança de perspectiva de abordagem do Estado nacional em relação à fronteira continental, o PDFF aponta, entre outras, para as escalas subcontinental e nacional. Na escala subcontinental os condicionantes dos agrupamentos funcionais dos Estados-nações (MERCOSUL, Tratado Amazônico) possibilitam a formulação de novo marco regulatório das interações entre os Estados, inclusive a criação de territórios especiais regidos por normas bilaterais ou multilaterais. Na escala nacional são imperativos ajustes das políticas públicas à “permeabilidade” das fronteiras, de modo a garantir a integração das Faixas de Fronteira às outras regiões do país para que não se transformem em meros “territórios de passagem” de mercadorias e serviços nem deixem de constituir importantes sinergias; a promoção da cidadania e o desenvolvimento regional como forma de combater o crescimento de diversos tipos de tráfico de ilícitos; e a criação de novos espaços de articulação entre os sistemas territoriais produtivos de regiões com povoamento consolidado e não-consolidado do país. A área de fronteira Brasil-Argentina caracteriza-se como uma região transfronteiriça, ou pelo menos como em processo embrionário, à semelhança dos processos que vem ocorrendo no continente europeu. Segundo Matias (2007, p. 2) pode-se definir estas regiões como “formações regionais que se estendem
Ciências Humanas e suas Tecnologias por uma ou mais fronteiras nacionais”, isto é, “uma forma de regionalização que neutraliza o efeito das fronteiras nacionais e faz desaparecer os limites dos Estados nacionais”. Uma região transfronteiriça caracteriza-se por desconsiderar “as fronteiras nacionais e pressupõe contatos externos e alguma forma de cooperação entre autoridades públicas e instituições ao nível regional” (Matias, 2007, p. 2). Características essas que processualmente vêm sendo incorporadas na fronteira oeste/noroeste do Rio Grande do Sul e nordeste argentino. Essas novas características que vem sendo incorporadas nas fronteiras refletem um novo conjunto de elementos que vem caracterizando os espaços da globalização. As mudanças nas características funcionais da fronteira da fronteira tendem a abandonar os elementos que a constituíram (defesa nacional) e tendem a assumir funções articuladoras, de aproximação com os países vizinhos (Valenciano, 1996, Courlet, 1996, Rückert, 2001). Embora a formatação final do modelo de desenvolvimento das Faixas de Fronteira mereça ainda debates mais aprofundados, entende-se que as regiões transfronteiriças – e as faixas de fronteira propriamente ditas – devam assumir essa característica de zonas de contato e cooperação mais imediata dos processos de integração regional e de reestruturação econômica no âmbito de uma Política Nacional de Ordenamento Territorial. A retomada de um projeto industrial baseado no vetor técnico-científico Uma das polêmicas instauradas no interior do grupo de discussão sobre a PNOT diz respeito ao tipo de desenvolvimento a ser estimulado para as regiões periféricas. Numa leitura que chamaríamos de naturalização ou “espontaneismo” do mercado, as regiões periféricas mais próximas do núcleo dinâmico da economia brasileira (o triângulo São Paulo – Rio de Janeiro – Belo Horizonte) deveriam ser estimuladas a atrair aqueles segmentos industriais tradicionais tornados desinteressantes no centro (as chamadas “deseconomias de escala”), enquanto que para as regiões periféricas mais afastadas o desenvolvimento deveria priorizar a expansão do agronegócio e do extrativismo mineral. De fato, o recente processo de desconcentração industrial iniciado a partir da Região Metropolitana de São Paulo ocorre principalmente na direção de espaços privilegiados do Centro-Sul do país, no chamado “polígono desenvolvido” (Diniz, 1994; 1995). Contudo, daí depreender modelos “funcionalistas” para o desenvolvimento regional significa assu-
mir uma postura de não-intervenção no processo de desenvolvimento econômico e de organização territorial em curso no país, além de demonstrar evidente desconhecimento quanto ao processo genético da formação da indústria brasileira (Albuquerque, 1998). Há também sérias limitações no campo externo para o reforço de estratégias funcionalistas a partir das monoculturas de exportação. É preciso lembrar que o Estado brasileiro, ao estimular a abertura de “fronteiras agrícolas” no Centro-Oeste e Amazônia, o fez tanto por motivos geopolíticos de ocupação efetiva do território nacional como movido pelas oscilações da bolsa de Nova York favoráveis à expansão da cultura da soja no Brasil. Assim, as atuais propostas de “espalhamento” do agronegócio pelas regiões periféricas determinadas a partir do mercado internacional estariam limitadas praticamente às culturas para a produção de biocombustível (a “bola da vez” do agronegócio mundial). Desse novo investimento, grande parte acabará canalizado justamente para a reconversão das regiões produtoras de soja (portanto, já ocupadas) ao invés de garantir a expansão do ecúmeno nacional, ao mesmo tempo, para as regiões amazônicas os efeitos ambientais das monoculturas podem causar grandes problemas como já demonstrou o processo de expansão da soja pelo cerrado. Os novos usos agrícolas do território brasileiro no período técnico-científico-informacional têm produzido uma nova geografia rural similar a dos belts e fronts experimentados pelos Estados Unidos, mas de abrangência espacial ainda reduzida a determinadas “manchas” de difusão das inovações (Santos& Silveira, 2001). Assim, as monoculturas modernas de exportação são difundidas de modo extremamente seletivo e parcial pelo território brasileiro, promovendo a exclusão ou a depreciação da maior parte da economia e da população. Diante desse quadro, a PNOT deveria, isto sim, é considerar para as regiões rurais as contribuições dos especialistas em desenvolvimento rural que apontam o crescimento das atividades não-agrícolas. Assim, o correto diagnóstico das potencialidades das regiões rurais brasileiras abarcaria as múltiplas possibilidades de uso educacional, turístico e científico (biodiversidade) de suas riquezas. Neste sentido, é preciso realçar os importantes esforços no seio do próprio governo federal, como o estudo sobre o “Desenvolvimento Sustentável e territorialidade: identidades e tipologias”, desenvolvido pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário (divulgado e debatido no Salão dos Territórios Rurais promovido pela Secretaria de Desenvolvimento Territorial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, 09-11 de agosto de 2006). ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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O modelo exportador de matérias-primas atingiu seu limite histórico para o país com o desenvolvimento agroindustrial inaugurado a partir da década de 1970, e que desde a década seguinte já não mais foi capaz de garantir a continuidade do crescimento econômico a taxas satisfatórias. Nesse sentido, o desenvolvimento regional e a política de desconcentração industrial não podem ser vistas apenas sob a ótica da agroindústria e do extrativismo mineral, sob pena justamente de aguçar os desequilíbrios regionais que visa combater e produzir um ordenamento territorial inócuo. Diante disto, parece evidente que o desenvolvimento regional em patamares mais sólidos somente será alcançado se vinculado a um projeto de desenvolvimento econômico integrado e com especial destaque para o fator técnica, de modo que as regiões rurais se tornem gradativamente menos dependentes das exportações de produtos agropecuários semielaborados (a exportação de grãos e matérias-primas seria apenas uma das múltiplas atividades dos territórios rurais). Como insistentemente lembrava Milton Santos (1997), em nosso tempo, por todos os lugares a agricultura e a própria indústria são cada vez mais partes de um “sistema técnico-científico-informacional”. A própria configuração do território nacional já denota a maior aceleração (ou “luminosidade”) promovida pelas atividades diretamente ligadas ao segmento tecnológico. De modo preciso, Bertha Becker (2005, p. 72; 76) sintetiza que o contexto da PNOT se caracteriza pela complexidade do mundo atual advinda da revolução científico-tecnológica: A construção de uma PNOT exige o inventário razoavelmente preciso dos vetores mais ativos e do seu efetivo poder de configurar o território nacional, das redes de fluxos que funcionam em circuitos semiautônomos em relação aos sistemas de regulação e controle governamentais, da redefinição das regiões, e das novas territorialidades e institucionalidades (Becker, 2005, p. 76). Como ponto de partida, na fase de diagnóstico do potencial científico-tecnológico nacional para uma PNOT deveria ser considerada a distribuição espacial das universidades nacionais e regionais e dos polos de ciência e tecnologia como difusores de inovação territorial (Ferrão, 1995; 1996; 2000), bem como a determinação dos novos vetores de ordenamento e reestruturação territoriais. Esses dados devem formar o cenário que permitirá refletir a intervenção do Estado no sentido de garantir ao conjunto do território nacional a geração de capacidade de pesquisa e desenvolvimento e seu uso produtivo. Importante lembrar aqui o Art. 218° e seu parágrafo 2º da Constituição Federal que afirma: ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Art. 218° - O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas(...) 2° - A pesquisa tecnológica voltar-se-á preponderantemente para a solução dos problemas brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional. Ao longo das últimas décadas o país têm ampliado o número de grupos de pesquisa de excelência que vêm executando importantes projetos de pesquisa em suas diversas frentes, apoiados pelo governo federal e por agências internacionais. Atualmente, a política de desconcentração de C&T do Ministério de Ciência e Tecnologia e de apoio aos centros de pós-graduação deveriam procurar associar-se com as possibilidades de fomento ao desenvolvimento endógeno das forças produtivas. Importante destacar que também o CNPq lançou em 1984 o Programa de Implantação de Parques Tecnológicos, selecionando as experiências de Petrópolis (RJ), São Carlos (SP), Campina Grande (PB), Manaus (AM), Joinville (SC), Santa Maria (RS) e, mais tarde, Florianópolis (SC), articuladas em torno de universidade públicas ou centros de pesquisa mantidos pelo governo federal. E em 1998, essa instituição federal deu inicio ao Programa Nacional de Incubadoras de Empresas – PNI. As experiências brasileiras de inovação e a PNOT Embora iniciada no Japão, foi novamente os Estados Unidos que realizou mais plenamente uma política industrial integrada ao desenvolvimento científico-tecnológico autônomo, dinamizando a capacidade de inovação por seu território nacional. No Brasil, aparentemente as políticas de inovação tecnológica tendem a constituir-se em fator de construção da competitividade dos lugares e regiões no contexto da reestruturação territorial em curso. Infelizmente, as experiências desenvolvidas no país são ainda incipientes e concentradas no Centro-Sul do país e em cidades de grande e médio porte. Há casos em que foram colocados em marcha programas federais experimentais, ainda contigenciados por questões orçamentárias e pela falta de legislação de estímulo à integração industrial. Esse é o caso do Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) localizado em Manaus - um conjunto de 26 laboratórios de análises químicas, produção de extratos e processamento industrial e uma incubadora de empresas e escritórios de apoio à inovação tecnológica -, e desejável embrião de um futuro polo regional de desenvolvimento sustentável e biotecnologia.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Na mesma perspectiva apontada até agora, talvez esteja nascendo um “polo microeletrônico” no Extremo-Sul, em torno do CEITEC – Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada, em construção em Porto Alegre, que poderá no futuro integrar-se a emergente estrutura regional de pesquisa e desenvolvimento a partir da área de informática e automação, como por exemplo, o Programa Gaúcho de Informática do RS; o Porto Alegre Tecnópole; o Tecno PUC (RS); e os polos de informática catarinenses de Florianópolis, Blumenau e Joinville. Mas é o polo químico-farmacêutico goiano um dos mais consolidados na atualidade; localizado no Distrito Agroindustrial de Anápolis, proporciona elevado grau de sinergia entre diversas indústrias químicas e farmacêuticas, inclusive com o desenvolvimento de novas linhas de produtos. Finalmente, o polo aeroespacial de São José dos Campos (SP) é que movimenta os maiores volumes financeiros, com destaque para o Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA), a Embraer e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Além disso, deveríamos lembrar que o Ministério de Ciência e Tecnologia tem adotado uma política de desconcentração de investimentos em C&T. A implantação dos Institutos do Semiárido e de Neurociências no Nordeste são exemplos do que o MCT denomina de “federalização dos recursos”; incluindo-se ai ainda a distribuição de Centos Vocacionais Tecnológicos nos nove estados nordestinos e no Espírito Santo. Conforme o Ministério da Ciência e Tecnologia no ano de 2000, das 72.000 empresas industriais no país, com 10 ou mais pessoas ocupadas, 19.000 implementaram produtos e/ou processos tecnologicamente novos ou substancialmente aprimorados. Mais de 7.000 empresas realizaram dispêndios em atividades internas de pesquisa e desenvolvimento - P&D - ocupando mais de 20.000 técnicos de nível superior, dentre eles, quase 3.000 com pós-graduação. Em 2003, o número de empresas com 10 ou mais pessoas ocupadas cresceu 17 por cento as empresas que implementaram algum tipo de inovação e 36 por cento que realizaram dispêndios em atividades internas de P&D, enquanto que o número de técnicos de nível superior cresceu apenas 8 por cento. Esses dados merecem uma análise mais apurada, pois os processo de inovação podem estar privilegiando apenas a modernização da produção já existente ao invés de criar novos produtos e serviços. A Pesquisa Industrial – Inovação Tecnológica – PINTEC, em 2001 e 2004, com dados referentes aos períodos 1998/2000 e 2001/2003 é apresentada por regiões e unidades da federação. Já devem estar disponíveis as pesquisas anunciadas para o período 2004/2005.
Uma cartografia temática da inovação tecnológica parece ainda ser incipiente no Brasil e talvez mesmo esta lacuna seja responsável, em parte, pelas nossas incompreensões do processo de transformações produtivas nas diversas regiões da federação (uma exceção são os levantamentos encontrados no site www.anprotec.org.br). Ciência e tecnologia são, fundamentalmente, os vetores mais importantes da criação de novos usos econômicos do território e suas manifestações deveriam ser apreendidas de forma sistemática. Esta deveria ser uma “tarefa de ponta” de uma Política Nacional de Ordenamento Territorial. AS LUTAS PELA CONQUISTA DA INDEPENDÊNCIA POLÍTICA DAS COLÔNIAS DA AMÉRICA. As Independências na América ocorreram de maneiras diferenciadas. A influência dos países colonizadores acrescentou características específicas às colônias da Espanha, de Portugal e da Inglaterra. O movimento de independência começou na América no século XVIII. Nesta ocasião, as Treze Colônias, que eram de propriedade da Inglaterra, se manifestaram contra as cobranças cada vez mais intensas feitas por sua metrópole. A coroa inglesa implementou uma série de impostos que exigia muito dos colonos. Revoltados, estes organizaram manifestações e assumiram posturas radicais, tendo como resultado uma guerra entre colônia e metrópole. A primeira recebeu o apoio da França, histórica rival da Inglaterra, e acabou conquistando sua independência na década de 1770. Mais tarde, na última década do mesmo século, aconteceu um caso emblemático e raro de independência no continente Americano. O Haiti vivenciou uma revolta dos escravos contra as classes dominantes. A Revolução Haitiana, que começou em 1789, uniu os negros que viviam no local exercendo trabalho compulsório em combate contra a escravidão e os abusos dos soberanos. O evento acabou se tornando a única independência na América movida por escravos. A consequência foi o descontentamento das metrópoles em relação ao Haiti, passando a boicotar o novo país ou tratá-lo de maneira diferenciada. Até hoje é possível notar os efeitos que o descaso de outros países deixaram e deixam em um país que uniu escravos para acabar com tal forma de exploração no trabalho. Já as colônias espanholas na América receberam a influência de uma série de fatores em seus processos de independência. A Espanha era detentora do maior território colonial no continente americano, suas posses iam do atual México até o extremo sul do continente. Nestas terras se fortificou uma elite local ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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conhecida como criollos, que eram os filhos dos espanhóis nascidos no Novo Mundo. Os criollos desenvolveram suas atividades e seus interesses na América, contestando, várias vezes, atitudes metropolitanas. Internamente, o fortalecimento dos criollos e a insatisfação com as exigências da metrópole influenciaram nos movimentos de emancipação. Os criollos manifestaram-se em favor de maior liberdade política e econômica. Já no cenário internacional, o exemplo da independência dos Estados Unidos, que povoava o imaginário dos separatistas, e a situação política na metrópole, que passava por momentos de grande instabilidade, davam suas contribuições para o processo. O resultado foi uma série de independências no território americano que antes pertencia à Espanha, fragmentando toda a imensa colônia em vários países durante o século XIX. Já o Brasil, colônia de Portugal, não passou por uma guerra contra à metrópole, caso dos Estados Unidos, ou por uma grande fragmentação do território, como aconteceu com a América Espanhola. No início do século XIX, em 1808, o rei português Dom João VI transferiu toda sua corte para o Brasil em meio a fuga dos exércitos de Napoleão Bonaparte que conquistavam os territórios na Europa. A mudança da corte alterou toda a lógica do Império Português no mundo, que passou a ter o Brasil como centro. No final da década de 1810 apenas que o rei Dom João VI resolveu retornar à Portugal como tentativa de controlar as manifestações dos burgueses de tal localidade que se viam prejudicados em função do distanciamento da coroa. Porém no Brasil ficou o príncipe regente Dom Pedro I, o qual foi convencido pela nova elite local a tornar o Brasil independente e ainda ser o primeiro imperador do mesmo. Dom Pedro I interessou-se pela proposta e declarou a independência brasileira em 1822. No Brasil não houve guerra contra Portugal, mas sim guerras internas para afirmar toda a extensão do território pertencente ao novo imperador. GRUPOS SOCIAIS EM CONFLITO NO BRASIL IMPERIAL E A CONSTRUÇÃO DA NAÇÃO. O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO LIBERAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA E SEUS CRÍTICOS NOS SÉCULOS XIX E XX. Primeiro Reinado (1822-1831) Proclamada a independência, o Brasil assumiu a forma monárquica de governo. Uma monarquia imperial que teria no príncipe D. Pedro de Alcântara, herdeiro da Casa de Bragança, seu primeiro imperador. O governo de D. Pedro I, entre 1822 e 1831, denominou-se Primeiro Reinado, momento em que se inicia a instalação do Estado Nacional brasileiro, em ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
meio a dificuldades econômico-financeiras e aos primeiros conflitos internos, típicos de uma fase em que se acomodam os múltiplos interesses que marcaram a luta pela independência. As propostas liberais da nova elite dirigente, agora dividida ao sabor de antigas divergências, entrou em choque com o absolutismo do Imperador, provocando o rompimento da aliança que assegurou a ruptura com Portugal. Opondo-se aos liberais brasileiros, que novamente se uniram para resistir ao autoritarismo imperial, o grupo português (comerciantes, militares e burocratas) aproximou-se de D. Pedro I, manobrando para garantir suas vantagens e, no limite, inviabilizar a independência. A primeira constituição - 1823 Firme oposição aos portugueses (militares e comerciantes) que ameaçavam a independência e queriam a recolonizarão. A constituição proibia os estrangeiros de ocupar cargos públicos de representação nacional e tinha a preocupação de limitar e diminuir os poderes do imperador e aumentar o poder legislativo. Também tinha a intenção de manter o poder político nas mãos dos grandes proprietários rurais. O projeto estabelecia que o eleitor precisava ter uma renda anual equivalente a, no mínimo, 150 alqueires de mandioca. Por isso o projeto ficou conhecido como Constituição da Mandioca. A constituição outorgada de 1824 Em seguida à dissolução da Constituinte de 1823, D. Pedro I, já governando de forma autoritária, nomeou um Conselho de Estado com a tarefa de redigir o novo projeto de Constituição, que ficou pronto em janeiro de 1824. Depois de enviado a todas as Câmaras Municipais do país e não ter recebido emendas ou críticas significativas, o projeto foi assinado por D. Pedro I, tornando-se a Constituição do Império do Brasil, na prática, uma carta outorgada pelo Imperador em 25 de março de 1824. Essa carta, defendida pelo Imperador como uma constituição “duplicadamente liberal” era, na realidade, uma simplificação da Constituição da Mandioca, uma vez que se mantinha fiel aos princípios e às aspirações políticas da aristocracia rural. Confederação do Equador O nordeste atravessava uma grave crise econômica devido à queda das exportações de açúcar. Tomados por um sentimento anti-lusitano, diferentes setores da sociedade uniram-se em torno de ideias
Ciências Humanas e suas Tecnologias contrárias à monarquia e a centralização do poder. Diziam que o sistema de governo no Brasil deveria ser republicano, com a descentralização do poder e autonomia para as províncias. Os estados que participaram do movimento foram: Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas. Os líderes mais democráticos da confederação defendiam a extinção do tráfico negreiro e a igualdade social para o povo. A guerra Cisplatina - Conflito armado entre Brasil e Argentina, disputando o atual Uruguai. - Inglaterra interfere (por motivos econômicos) e cria o Uruguai. (Ver: Guerra da Cisplatina) A questão da sucessão portuguesa Com a morte de D. João VI, em 1826, D. Pedro foi aclamado rei de Portugal. A aceitação do título pelo Imperador provocou um profundo mal-estar entre todos os brasileiros, que se viam agora ameaçados pela reunificação das duas coroas, o que colocava em risco a independência do Brasil. Diante das sucessivas manifestações no Rio de Janeiro, D. Pedro renunciou ao trono português em favor de D. Maria da Glória, sua filha, que ainda era criança. Para governar como regente, D. Pedro indicou seu irmão, D. Miguel, de tendência absolutista e que acabou se apossando ilegitimamente do trono português. Sempre sob suspeita dos brasileiros e apoiado pelos constitucionalistas lusos, D. Pedro começou uma longa luta contra o irmão, sustentada por recursos nacionais e pelos empréstimos ingleses. A questão do trono português foi solucionada em 1830; um ano depois, abdicando ao trono brasileiro, D. Pedra se tomaria rei de Portugal. Com título de Pedro IV. O problema dos tratados com a Inglaterra O Brasil independente herdou os tratados de 1810, celebrados por D. João com a Inglaterra. Foram esses tratados, especialmente o de Comércio e Navegação e o de Aliança e Amizade, que garantiram a continuidade da preponderância britânica no Império brasileiro. Em 1826, para garantir o reconhecimento da independência, D. Pedro I cedeu aos interesses ingleses, renovando a taxa preferencial de 15% sobre os produtos ingleses por mais quinze anos, com dois de carência, além da promessa de acabar com o tráfico negreiro. Em 1827, sob pressão da diplomacia
inglesa, ocorreu a ratificação do acordado no ano anterior com um novo adendo: o Brasil assumia o compromisso de extinguir o tráfico de escravos em três anos. Com isso, D. Pedro I mostrava sua fraqueza diante dos interesses britânicos e, especialmente com relação ao tráfico negreiro, feria diretamente os interesses da aristocracia rural escravista. Em vista disso, a Assembleia Geral procurou facilitar a concessão de privilégios semelhantes a outras nações, como a França, Áustria e Estados Unidos, entre outros. Em 1828, para melhorar a imagem desgastada, D. Pedro passou a adotar uma postura nacionalista e decretou a unificação das tarifas alfandegárias, ou seja, toda e qualquer mercadoria, procedente de qualquer país do mundo, pagaria apenas 15% de taxa alfandegária quando entrasse no Brasil. A redução das tarifas aduaneiras, na prática, a instauração do livre-cambismo no Brasil, reduziu drasticamente a arrecadação do governo e contribui, ainda mais, para o desequilíbrio na balança comercial brasileira. Economia e finanças do primeiro reinado O início do Primeiro Reinado coincide com o início do período, que se prolongou até 1860, em que o comércio exterior brasileiro foi quase o tempo todo deficitário. Isto é, importávamos mais do que exportávamos: estávamos sempre devendo. Para pagar as dívidas, o país fazia empréstimos externos, solução que ia transferindo o problema para o futuro. Novos pagamentos eram acrescidos a títulos de juros e amortizações. O resultado era contínuo aumento do desequilíbrio em nossas contas com o exterior. Em nossas exportações, destacavam-se: - Açúcar, principal produto durante o primeiro reinado, era vendido a preços baixos, por causa concorrência das Antilhas e do açúcar de beterraba; o café transformou-se em principal produto de exportação; - Algodão, que enfrentava a concorrência americana; - Fumo, cacau, arroz e couro, não tinham tanta expressão e enfrentavam a concorrência americana (arroz) e platina (couro). As importações incluíam manufaturados da Inglaterra, beneficiada ainda pelas tarifas privilegiadas em 1810; trigo dos Estados Unidos e da Europa; produtos alimentícios da Europa; escravos da África. O Brasil enfrentava também escassez de dinheiro, resultante dos seguintes fatores: - Esvaziamento dos cofres da família real, quando voltou a Portugal em 1821. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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- Indenização paga a Portugal para que reconhecesse nossa Independência - Gastos com a guerra da Cisplatina e revoltas internas Por falta de recursos e máquinas, as indústrias não puderam desenvolver-se. A Inglaterra tinha substituído Portugal tanto no comércio como na criação de dificuldades para o desenvolvimento da indústria brasileira. O caso da indústria têxtil foi um exemplo típico. A Inglaterra, favorecida pelas baixas taxas alfandegárias, sufocou-a colocando aqui seus tecidos em melhores condições que os nossos e criando dificuldades para a importação de máquinas por brasileiros. Em 1840, mais da metade de nossos gastos com importações de manufaturados referia-se ao pagamento de produtos de vestuário. A indústria de mineração só alcançou alguns progressos, no entanto, com ajuda de capitais ingleses. Nas exportações, o café, que tomou a dianteira na Regência, lideraria por muito tempo, seguido de longe por outros produtos tropicais, como açúcar, algodão, couro e pele, tabaco, cacau, mate e borracha. As dificuldades econômicas durante meio reinado e a Regência atingiriam mais as cidades que as grandes propriedades rurais, pois estas eram quase autossuficientes. As crises se deviam aos empréstimos, à má administração e aos excessivos privilégios concedidos à Inglaterra, a potência capitalista da época. As dificuldades e a dependência aos ingleses não cessariam durante o segundo Reinado. Pelo Contrário, cresceriam. O fim do primeiro reinado Desde 1823, D. Pedro I trilhava o caminho do absolutismo, aliando-se ao Partido Português e chocando-se com o liberalismo dos brasileiros. Estes, aliados dentro do Partido B rasileiro, deixaram de lado as antigas divergências e passaram a fazer cerrada oposição ao Imperador. A resposta foi a crescente violência de D. Pedro e de seus partidários. O rompimento da aliança D. Pedro/elites agrárias, que levou à independência, iniciou-se em 1823, quando da dissolução da Constituinte pelo Imperador, seguida da outorga da Carta de 1824 e da violenta repressão à Confederação do Equador. A isso, somaram-se o envolvimento de D. Pedro na questão sucessória portuguesa e a desastrosa Guerra da Cisplatina, abertamente condenada pela opinião pública. Todas essas ocorrências foram permeadas pela crise econômico-financeira que se agravava durante o período: a falência do Banco do Brasil, em 1828, espelha a situação do Brasil na época. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Nesse quadro, cresceu e se fortaleceu a oposição ao imperialismo imperial, com a multiplicação dos jornais de liberal - “Aurora Fluminense”, “O Republico” e “A Malagueta”, entre outros -, e com os veementes pronunciamentos na Câmara dos Deputados, nos momento’” de curta convocação do Parlamento brasileiro. Brasil República A Situação Política do Brasil em 1889 O governo imperial, através do 37º e último gabinete ministerial, empossado em 7 de junho de 1889, sob o comando do presidente do Conselho de Ministros do Império, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal, percebendo a difícil situação política em que se encontrava, apresentou, em uma última e desesperada tentativa de salvar o império, à Câmara-Geral, atual câmara dos deputados, um programa de reformas políticas do qual constavam, entre outras, as medidas seguintes: maior autonomia administrativa para as províncias, liberdade de voto, liberdade de ensino, redução das prerrogativas do Conselho de Estado e mandatos não vitalícios para o Senado Federal. As propostas do Visconde de Ouro Preto visavam a preservar o regime monárquico no país, mas foram vetadas pela maioria dos deputados de tendência conservadora que controlava a Câmara Geral. No dia 15 de novembro de 1889, a república era proclamada. A Perda de Prestígio da Monarquia Brasileira Muitos foram os fatores que levaram o Império a perder o apoio de suas bases econômicas, militares e sociais. Da parte dos grupos conservadores pelos sérios atritos com a Igreja Católica (na “Questão Religiosa”); pela perda do apoio político dos grandes fazendeiros em virtude da abolição da escravatura, ocorrida em 1888, sem a indenização dos proprietários de escravos. Da parte dos grupos progressistas, havia a crítica que a monarquia mantivera, até muito tarde, a escravidão no país. Os progressistas criticavam, também, a ausência de iniciativas com vistas ao desenvolvimento do país fosse econômico, político ou social, a manutenção de um regime político de castas e o voto censitário, isto é, com base na renda anual das pessoas, a ausência de um sistema de ensino universal, os altos índices de analfabetismo e de miséria e o afastamento político do Brasil em relação a todos demais países do continente, que eram republicanos.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Assim, ao mesmo tempo em que a legitimidade imperial decaía, a proposta republicana (percebida como significando o progresso social) ganhava espaço. Entretanto, é importante notar que a legitimidade do Imperador era distinta da do regime imperial: Enquanto, por um lado, a população, de modo geral, respeitava e gostava de Dom Pedro II, por outro lado, tinha cada vez em menor conta o próprio império. Nesse sentido, era voz corrente, na época, que não haveria um terceiro reinado, ou seja, a monarquia não continuaria a existir após o falecimento de Dom Pedro II, seja devido à falta de legitimidade do próprio regime monárquico, seja devido ao repúdio público ao príncipe consorte, marido da princesa Isabel, o francês Conde D’Eu. O Golpe Militar de 15 de Novembro de 1889 No Rio de Janeiro, os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista, chefiasse o movimento revolucionário que substituiria a monarquia pela república. Depois de muita insistência dos revolucionários, Deodoro da Fonseca concordou em liderar o movimento militar. O golpe militar, que estava previsto para 20 de novembro de 1889, teve de ser antecipado. No dia 14, os conspiradores divulgaram o boato de que o governo havia mandado prender Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Deodoro da Fonseca. Posteriormente confirmou-se que era mesmo boato. Assim, os revolucionários anteciparam o golpe de estado, e, na madrugada do dia 15 de novembro, Deodoro iniciou o movimento de tropas do exército que pôs fim ao regime monárquico no Brasil. Os conspiradores dirigiram-se à residência do marechal Deodoro, que estava doente com dispneia, e convencem-no a liderar o movimento. Com esse pretexto de que Deodoro seria preso, ao amanhecer do dia 15 de Novembro, o marechal Deodoro da Fonseca, saiu de sua residência, atravessou o Campo de Santana, e, do outro lado do parque, conclamou os soldados do batalhão ali aquartelado, onde hoje se localiza o Palácio Duque de Caxias, a se rebelarem contra o governo. Oferecem um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu e proclamou “Viva a República!”. Depois apeou, atravessou novamente o parque e voltou para a sua residência. A manifestação prosseguiu com um desfile de tropas pela Rua Direita, atual rua 1º de Março, até o Paço Imperial. Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e depois o Ministério da Guerra. Depuseram o Gabinete ministerial e prenderam seu presidente, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto.
No Paço Imperial, o presidente do gabinete (primeiro-ministro), Visconde de Ouro Preto, havia tentando resistir pedindo ao comandante do destacamento local e responsável pela segurança do Paço Imperial, general Floriano Peixoto, que enfrentasse os amotinados, explicando ao general Floriano Peixoto que havia, no local, tropas legalistas em número suficiente para derrotar os revoltosos. O Visconde de Ouro Preto lembrou a Floriano Peixoto que este havia enfrentado tropas bem mais numerosas na Guerra do Paraguai. Porém, o general Floriano Peixoto recusou-se a obedecer às ordens dadas pelo Visconde de Ouro Preto e assim justificou sua insubordinação, respondendo ao Visconde de Ouro Preto: “Sim, mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente inimigos e aqui somos todos brasileiros!”. Em seguida, aderindo ao movimento republicano, Floriano Peixoto deu voz de prisão ao chefe de governo Visconde de Ouro Preto. O único ferido no episódio da proclamação da república foi o Barão de Ladário que resistiu à ordem de prisão dada pelos amotinados e levou um tiro. Consta que Deodoro não dirigiu crítica ao Imperador D. Pedro II e que vacilava em suas palavras. Relatos dizem que foi uma estratégia para evitar um derramamento de sangue. Sabia-se que Deodoro da Fonseca estava com o tenente-coronel Benjamin Constant ao seu lado e que havia alguns líderes republicanos civis naquele momento. Na tarde do mesmo dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi solenemente proclamada a República. À noite, na Câmara Municipal do Município Neutro, o Rio de Janeiro, José do Patrocínio redigiu a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem votação. O texto foi para as gráficas de jornais que apoiavam a causa, e, só no dia seguinte, 16 de novembro, foi anunciado ao povo a mudança do regime político do Brasil. Dom Pedro II, que estava em Petrópolis, retornou ao Rio de Janeiro. Pensando que o objetivo dos revolucionários era apenas substituir o Gabinete de Ouro Preto, o Imperador D. Pedro II tentou ainda organizar outro gabinete ministerial, sob a presidência do conselheiro José Antônio Saraiva. O imperador, em Petrópolis, foi informado e decidiu descer para a Corte. Ao saber do golpe de estado, o Imperador reconheceu a queda do Gabinete de Ouro Preto e procurou anunciar um novo nome para substituir o Visconde de Ouro Preto. No entanto, como nada fora dito sobre República até então, os republicanos mais exaltados, tendo Benjamin Constant à frente, espalharam o boato de que o Imperador escolheria Gaspar Silveira Martins, inimigo político de Deodoro da Fonseca desde os tempos do Rio Grande do Sul, para ser o novo chefe de governo. Com este engodo, Deodoro da Fonseca ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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foi convencido a aderir à causa republicana. O Imperador foi informado disso e, desiludido, decidiu não oferecer resistência. No dia seguinte, o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro entregou a D. Pedro II uma comunicação, cientificando-o da proclamação da república e ordenando sua partida para a Europa, a fim de evitar conturbações políticas. A família imperial brasileira exilou-se na Europa, só lhes sendo permitida a sua volta ao Brasil na década de 1920. É possível considerar a legitimidade ou não da república no Brasil por diferentes ângulos. Do ponto de vista do Código Criminal do Império do Brasil, sancionado em 16 de dezembro de 1830, o crime cometido pelos republicanos foi: “Artigo 87: Tentar diretamente, e por fatos, destronizar o imperador; privá-lo em todo, ou em parte da sua autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão. Penas de prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se consumar: Penas de prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com trabalho por vinte anos no médio; e por dez anos no mínimo.”. O Visconde de Ouro Preto, deposto em 15 de novembro, entendia que a proclamação da república fora um erro e que o Segundo Reinado tinha sido bom. O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante meio século, manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O império converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império, principalmente, devem três povos vizinhos o desaparecimento do despotismo mais cruel e aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte, extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna, ordem, segurança e, mas que tudo, liberdade individual como não houve jamais em país algum. Quais as faltas ou crimes de Dom Pedro II, que em quase cinquenta anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e beneficiar? Quais os erros praticados que o tornou merecedor da deposição e exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a veneração de seus concidadãos? A república brasileira, como foi proclamada, é uma obra de iniquidade. A república se levantou sobre os broquéis da soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um atentado sem precedentes na história e terá uma existência efêmera! O movimento de 15 de Novembro de 1889 não foi o primeiro a buscar a república, embora tenha sido o único efetivamente bem-sucedido, e, segundo ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
algumas versões, teria contado com apoio tanto das elites nacionais e regionais quanto da população de um modo geral: - Em 1788-1789, a Inconfidência Mineira e Tiradentes não buscavam apenas a independência, mas também, a proclamação de uma república na Capitania das Minas Gerais, seguida de uma série de reformas políticas, econômicas e sociais; - Em 1824, diversos estados do Nordeste criaram um movimento independentista, dentre elas a Confederação do Equador, igualmente republicana; - Em 1839, na esteira da Revolução Farroupilha, proclamaram-se a República Rio-grandense e a República Juliana, respectivamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Embora se argumente que não houve participação popular no movimento que terminou com o regime monárquico e implantou a república, o fato é que também não houve manifestações populares de apoio à monarquia, ao imperador ou de repúdio ao novo regime. Alguns pesquisadores argumentam que, caso a monarquia fosse popular, haveria movimentos contrários à república em seguida, além da Guerra de Canudos. Entretanto, o que teria ocorrido foi uma crescente conscientização a respeito do novo regime e sua aprovação pelos mais diferentes setores da sociedade brasileira. Neste sentido, um caso notável de resistência à república foi o do líder abolicionista José do Patrocínio, que, entre a abolição da escravatura e a proclamação da república, manteve-se fiel à monarquia, não por uma compreensão das necessidades sociais e políticas do país, mas, romanticamente, apenas devido a uma dívida de gratidão com a Princesa Isabel. Aliás, nesse período de aproximadamente dezoito meses, José do Patrocínio constituiu a chamada “Guarda Negra”, que eram negros alforriados organizados para causar confusões e desordem em comícios republicanos, além de espancar os participantes de tais comícios. Em relação à ausência de participação popular no movimento de 15 de novembro, um documento que teve grande repercussão foi o artigo de Aristides Lobo, que fora testemunha ocular da proclamação da República, no Diário Popular de São Paulo, em 18 de novembro, no qual dizia: “Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O fato foi deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase nula. O povo assistiu àquilo tudo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada!”. Na reunião na casa de Deodoro, na noite de 15 de novembro de 1889, foi decidido que se faria um referendo popular, para que o povo brasileiro apro-
Ciências Humanas e suas Tecnologias vasse ou não, por meio do voto, a república. Porém esse plebiscito só ocorreu 104 anos depois, determinado pelo artigo segundo do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição de 1988. Proclamação Da República A Proclamação da República Brasileira foi um levante político-militar ocorrido em 15 de novembro de 1889 que instaurou a forma republicana federativa presidencialista de governo no Brasil, derrubando a monarquia constitucional parlamentarista do Império do Brasil e, por conseguinte, pondo fim à soberania do imperador Dom Pedro II. Foi, então, proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil. A proclamação ocorreu na Praça da Aclamação (atual Praça da República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil, quando um grupo de militares do exército brasileiro, liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca, destituiu o imperador e assumiu o poder no país. Foi instituído, naquele mesmo dia 15, um governo provisório republicano. Faziam parte, desse governo, organizado na noite de 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca como presidente da república e chefe do Governo Provisório; o marechal Floriano Peixoto como vice-presidente; como ministros, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Quintino Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales, Aristides Lobo, Demétrio Ribeiro e o almirante Eduardo Wandenkolk, todos os membros regulares da maçonaria brasileira. Constituição de 1891 A Constituição Brasileira de 1891 foi à primeira da história da República no país. Em 1889, chegou ao fim o Império do Brasil. Após uma série de fatores que concorreram para o desgaste do sistema monárquico de governo no Brasil e a definitiva eliminação de Dom Pedro II, os militares se articularam junto com outros grupos interessados na República para a sua proclamação. Derrubado o regime então vigente, o Brasil iniciou uma fase de reformulação com um governo provisório do marechal Deodoro da Fonseca. Os dois anos seguintes foram tomados de movimentações com o objetivo de estabelecer novas diretrizes para o Estado brasileiro. Desde a formação do governo que se estabeleceu após a queda da monarquia, uma nova Constituição começou a ser elaborada para o Brasil. Era preciso descaracterizar o país de como era no regime anterior e, em alguns casos, apagar o passado que não era mais bem visto. Entre os principais elaboradores da nova Constituição brasileira estava Pru-
dente de Morais e Rui Barbosa, os quais foram muito influenciados pela Constituição dos Estados Unidos. Dela seguiram princípios como a descentralização dos poderes, a implantação do modelo federalista e a concessão de autonomia aos estados e municípios. A Constituição que vigorava no Império tinha marcas de outro tempo. Características que não cabiam mais na República e deveriam ser superadas. Nesse sentido, a principal mudança ocorrida foi à extinção do Poder Moderador. O antigo poder era símbolo máximo da monarquia, ele permitia ao Imperador nos interferir outros poderes e tomar as decisões de interesse. A Constituição republicana de 1891 abolia essa característica da antiga Constituição e determinava a existência de apenas três poderes, o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Para, além disso, estabelecia também que os representantes dos dois primeiros seriam eleitos por voto popular direto. Naturalmente, a figura do imperador não era mais adequada. Seu posto foi substituído pelo de Presidente da República. O cargo seria ocupado através de eleição por voto direto popular e o presidente eleito ficaria quatro anos no poder, sem direito à reeleição. O detalhe curioso é que, à época, Presidente e Vice eram eleitos individualmente. Assim, poderia acontecer de unir candidatos de plataformas diferentes no governo do país. Diferentemente do que acontece hoje, já que se elege uma chapa previamente determinada com quem poderá vir a ser Presidente e Vice. O voto para eleger o candidato ao cargo máximo do país e os representantes do Legislativo, contudo, não eram secretos. E só podia votar quem estivesse acima do limite de uma renda mínima. Outra característica proveniente da Constituição Imperial que foi abolida diz respeito à relação entre Igreja e Estado. Embora o Brasil seja majoritariamente católico, o Estado passou a não assumir mais uma religião específica e deixou de interferir nos assuntos da Igreja. Por sua vez, coube ao Estado o controle da educação. E finalizando as características imperiais, os títulos nobiliárquicos foram abolidos. A Constituição de 1891 inaugurou a orientação da República no Brasil. Foi publicada no dia 24 de fevereiro daquele ano e vigorou até 1932. Foi a diretriz do período chamado como República Velha, comandada por oligarquias latifundiárias, com uma economia profundamente baseada no café e dominada pelos estados de São Paulo e Minas Gerais. A Primeira República (1889-1930) De 1889 a 1930 tivemos no Brasil o período conhecido como República Velha, caracterizado pela política do Café com Leite, na qual representantes de Minas Gerais e São Paulo se alternavam no comando ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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do poder do Brasil. Tivemos nessa época um modelo agrário exportador e uma política contra a industrialização. Depois de Deodoro da Fonseca tivemos como presidente, entre os anos de 1891 e 1894, Floriano Peixoto, que era conhecido como Marechal de Ferro, devido à sua atuação enérgica e ditatorial. De 1894 a 1898 tivemos como presidente Prudente de Morais, acentuando o sistema Café com Leite. Nesta época, cada Estado era dominado por uma série de proprietários rurais conhecidos como coronéis, que controlavam a política local. De 1898 a 1902 foi à vez de Campos Sales na Presidência. Com a ajuda de um grande empréstimo estrangeiro, ele começou a recuperar a economia brasileira, que estava em declínio devido aos baixos preços do café e da borracha. De 1902 a 1930 o Brasil teve mais nove presidentes de Minas ou São Paulo. Esse período também ficou conhecido como Primeira República ou República dos Bacharéis, pois grande parte dos presidentes eram bacharéis em Direito, e quase todos eles membros da maçonaria. No primeiro período da República predominou o elemento militar e um grande receio por parte dos republicanos diante de uma possível restauração da monarquia. No segundo período predominou a política dos Estados, sustentada, em sua base municipal, pelo tipo carismático do coronel. Na República Velha foi criado o decreto 85A, a primeira lei de imprensa para censurar a mídia e as artes. Em 1922 tivemos a consolidação do Tenentismo, movimento que refletia a insatisfação dos militares e o desejo de participação das camadas médias. No mesmo ano, aconteceu a Semana de Arte Moderna, na qual artistas brasileiros propuseram a construção de uma nova cultura, através da renovação de linguagem, da busca pela experimentação e da ruptura com o passado. Fomos o único país da América Latina a participar na Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918. Tivemos inicialmente uma posição neutra, buscando não restringir o mercado e os produtos de exportação, principalmente o café. A guerra significou um alívio para a economia brasileira, pois fez com que os preços das matérias-primas recuperassem valores mais altos. Com o esgotamento da República Velha, quando a indústria sinalizava o novo dinamismo da economia e da sociedade, foram deflagradas as primeiras greves operárias, duramente reprimidas pelo governo federal, que tratava a questão social como “caso de polícia”. A desilusão com a dominância dos poucos ricos agravou a situação do Tenentismo. Em 5 de julho de 1922, na mundialmente famosa praia Copacabana, tivemos o palco da primeira rebelião contra política café com leite. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Política Do Café Com Leite Ficou conhecida como “política do café-com-leite” o arranjo político que vigorou no período da Primeira República (mais conhecida pelo nome de República Velha), envolvendo as oligarquias de São Paulo e Minas Gerais e o governo central no sentido de controlar o processo sucessório, para que somente políticos desses dois estados fossem eleitos à presidência de modo alternado. Assim, ora o chefe de estado sairia do meio político paulista, ora do mineiro. Era fácil concluir com isso que os presidentes eleitos representariam os interesses das duas oligarquias, mas não eram necessariamente de origem mineira ou paulista, a exemplo do último presidente eleito por meio deste esquema, Washington Luís, que nasceu no Rio de Janeiro, mas fez toda sua carreira política em São Paulo. Após a proclamação da República, a 15 de novembro, dois militares se sucederam no comando do país, os marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. A partir daí, a história do Brasil foi marcada por acordos entre as elites dos principais centros políticos do país, que à época eram Minas Gerais e São Paulo. Os “coronéis”, grandes fazendeiros, optavam por candidatos da política café-com-leite, e estes, além de concentrar suas decisões na proteção dos negócios dos latifundiários, concediam regalias, cargos públicos e financiamentos. O surgimento do nome “café-com-leite” batizando tal acordo seria uma referência à economia de São Paulo e Minas, grandes produtores, respectivamente, de café e leite. Entretanto, alguns autores contestam tal explicação para o surgimento da expressão, pois o Rio Grande do Sul seria o maior produtor de leite à época. O leite como referência a Minas Gerais teria vindo à verdade das características da cozinha mineira, representada pelo queijo minas ou mesmo pelo pão de queijo, e que assim, combinada com o a palavra “café”, há muito associada a São Paulo (por ser este estado, sim, o grande produtor de café e seu maior representante), remeteria à expressão ainda hoje conhecida de “café-com-leite”, usada para designar a pessoa que participa de uma ação com neutralidade, que não pode dar conselho e não pode ser aconselhado, que participa com condições especiais em algum evento. De qualquer modo, os dois eram estados bastante populosos, fortes politicamente e berços de duas das principais legendas republicanas: o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro. São Paulo era a maior força política e Minas Gerais tinha o maior eleitorado do país, como acontece ainda hoje.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Com a quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, o preço do café brasileiro caiu drasticamente, o que levou os cafeicultores paulistas a terem uma crise de superprodução. Esta fragilidade econômica de São Paulo foi decisiva para que Minas Gerais se unisse ao Rio Grande do Sul e à Paraíba, formando a chamada Aliança Liberal, a qual resultou na eleição do gaúcho Getúlio Vargas à presidência encerrando o ciclo da política café-com-leite. A Política Dos Governadores Criada por Campos Sales baseava-se no seguinte: o presidente apoiava os governadores estaduais e seus aliados e em troca eles garantiam a eleição para o congresso dos candidatos oficiais. Isso garantia a continuidade das grandes famílias (ricas e poderosas) no poder. Era uma troca entre os governantes estaduais e o Governo Federal. Esta troca funcionava graças: 1) À Comissão de Verificação 2) Ao Coronelismo Comissão De Verificação A aceitação dos resultados era feita através desta comissão. Era formada por deputados que recebiam as atas eleitorais (livros de votação dos eleitores) para verificar se houve ou não fraude. A partir daí a fraude eleitoral passou a ser feita pela própria comissão, que podia determinar quem devia ser reconhecido como vencedor das eleições. Coronelismo O surgimento do coronelismo remonta aos tempos de colonização do território brasileiro. Com a segmentação do Brasil em capitanias hereditárias e o surgimento do donatário, a Coroa punha em voga as bases do coronelismo, inconscientemente. O donatário e logo após os donos das sesmarias – possuidores de grandes fazendas agrárias – passaram a exercer poder absoluto sobre seus bens, transformando-as em propriedades agroeconômicas inabaláveis. Analisando a situação, percebe-se que a Independência em nada alterou a condição destes coronéis, que se sentiam donos de fato destas grandes propriedades rurais. O título de coronel sancionava definitivamente o poder dos oligarcas – eles deixavam de ser apenas uma autoridade de fato para serem, também, de direito, com aprovação total do governo central. Com tantos poderes nas mãos os oligarcas resolveram financiar campanhas políticas de seus afilhados, con-
quistando a faculdade de acaudilhar a Guarda Nacional e obtendo autoridade para obrigar o povo e os escravos a manter a ordem e a obediência. Com o advento da República, a Guarda Nacional é extinta, contudo os coronéis sustentam o domínio sobre suas terras e os limites de sua influência. O regime representativo é implantado e o direito de voto ampliado, os partidos políticos e as eleições se fortalecem. O domínio dos coronéis consistia em controlar os seus eleitores, todos eles tinham o seu “curral” eleitoral, ou seja, os eleitores eram obrigados a votar sempre nos candidatos impostos por eles – este voto era conhecido como “voto de cabresto”. Cabia a seus jagunços controlarem os votos através da coerção física, caso os eleitores fossem contra a aspiração dos coronéis, eram punidos. O prestígio de um coronel era proporcional ao número de votos que ele conseguia arrebanhar junto aos seus esta era a única maneira de alcançar o que ele desejava junto aos governantes estaduais ou federais e de resguardar seus domínios. Declínio Do Coronelismo O declínio do coronelismo deu-se através de simultâneas transformações no quadro geral da sociedade. A população rural cresce, as pequenas cidades incham, estradas são abertas e os meios de comunicação em massa, principalmente a televisão, chegam mais rápido às partes mais longínquas do território nacional – o eleitor se torna menos submisso e passa a exigir mais das autoridades na hora de dar o seu voto. O êxodo rural é fator determinante para o declínio do coronelismo, e nas cidades surgem novos líderes; o contato com o povo é facilitado e a televisão, com seu poder de convencimento e repasse de informações em rede nacional, torna-se uma grande aliada. A história evolui ganhando cara nova, a troca de favores só muda seu jeito de ser, ou seja, a vaga na escola passa a ser conseguida por intermédio de algum vereador conhecido, a rede de água e esgoto ou a instalação de energia elétrica agora é alçada do deputado federal. As privatizações destacam-se no novo cenário político, os parlamentares contratam cabos eleitorais para ocuparem cargos importantes em organismos públicos e atuarem nas comunidades rurais – os “currais comunitários”, cultivados pelos “coronéis modernos”, que se escondem atrás de novas funções - de deputados a senadores, de vereadores a prefeitos. No nordeste, o coronelismo ainda impera, a troca de favores predomina e a distribuição de cargos aos protegidos é uma constante, sem falar nas fraudes frequentes, nas quais os mortos votam, assinaturas são falsificadas, entre outras falcatruas. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Revolução de 1930
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A Revolução de 1930 foi o movimento armado, liderado pelos estados de Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul, que culminou com o golpe de Estado, o Golpe de 1930, que depôs o presidente da república Washington Luís em 24 de outubro de 1930, impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes e pôs fim à República Velha. Em 1929, lideranças de São Paulo romperam a aliança com os mineiros, conhecida como política do café-com-leite, e indicaram o paulista Júlio Prestes como candidato à presidência da República. Em reação, o Presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada apoiou a candidatura oposicionista do gaúcho Getúlio Vargas. Em 1 de março de 1930, foram realizadas as eleições para presidente da República que deram a vitória ao candidato governista, que era o presidente do estado de São Paulo, Júlio Prestes. Porém, ele não tomou posse, em virtude do golpe de estado desencadeado a 3 de outubro de 1930, e foi exilado. Getúlio Vargas assumiu a chefia do “Governo Provisório” em 3 de novembro de 1930, data que marca o fim da República Velha. A crise da República Velha havia se prolongado ao longo da década de 1920. Os expoentes políticos da República Velha vinham perdendo força com a mobilização do trabalhador industrial, com as Revoltas nazifascistas e as dissidências políticas que enfraqueceram as grandes oligarquias. Esses acontecimentos ameaçavam a estabilidade da tradicional aliança rural entre os estados de São Paulo e Minas Gerais - a política do café com leite. Em 1926, surge a quarta e última dissidência no Partido Republicano Paulista (PRP), e os dissidentes liderados pelo Dr. José Adriano de Marrey Junior fundaram o Partido democrático (PD), que defendia um programa de educação superior entre outras reformas e a derrubada do PRP do poder. Esta crise política em São Paulo originou-se em uma crise da maçonaria paulista presidida pelo Dr. José Adriano de Marrey Júnior. São Paulo, então, chegou dividido às eleições de 1930. Entretanto, o maior sinal do desgaste republicano era a superprodução de café, durante a crise de 1929, alimentada pelo governo com constantes “valorizações”. Assim em 1930, São Paulo estava dividido, e o Rio Grande do Sul que estivera em guerra civil em 1923, agora estava unido, com o presidente do Rio Grande do Sul, Dr. Getúlio Vargas tendo feito o PRR e o Partido Libertador se unirem. Em Juiz de Fora, o Partido Republicano Mineiro (PRM) passa para a oposição, forma a Aliança Liberal com os segmentos progressistas de outros estados ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
e lança o gaúcho Getúlio Vargas para a presidência, tendo o político paraibano João Pessoa como candidato a vice-presidente. Minas Gerais estava dividida, não conseguindo impor um nome mineiro de consenso para a presidência da república. Parte do PRM apoiou a candidatura Getúlio Vargas, mas a “Concentração Conservadora” liderada pelo vice-presidente da república Fernando de Melo Viana e pelo ministro da Justiça Augusto Viana do Castelo apoiam a candidatura oficial do Dr. Júlio Prestes para as eleições presidenciais de 1 de março de 1930. O Problema Da Sucessão Presidencial Na República Velha (1889-1930), vigorava no Brasil a chamada “política do café com leite”, em que políticos apoiados por São Paulo e de Minas Gerais se alternavam na presidência da república (mas não eram necessariamente Paulistas ou Mineiros os seus indicados). Porém, no começo de 1929, Washington Luís indicou o nome do Presidente de São Paulo, Júlio Prestes, como seu sucessor, no que foi apoiado por presidentes de 17 estados. Apenas três estados negaram o apoio a Prestes: Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba. Os políticos de Minas Gerais esperavam que Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, o então governador do estado, fosse o indicado, por Washington Luís, para ser o candidato à presidência. Assim a política do café com leite chegou ao fim e iniciou-se a articulação de uma frente oposicionista ao intento do presidente e dos 17 estados de eleger Júlio Prestes. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba uniram-se a políticos de oposição de diversos estados, inclusive do Partido Democrático de São Paulo, para se opuser à candidatura de Júlio Prestes, formando, em agosto de 1929, a Aliança Liberal. Em 20 de setembro do mesmo ano, foram lançados os candidatos da Aliança Liberal às eleições presidenciais: Getúlio Vargas como candidato a presidente e João Pessoa, como candidato a vice-presidente. Apoiaram Aliança Liberal, intelectuais como José Américo de Almeida e Lindolfo Collor, membros das camadas médias urbanas e a corrente político-militar chamada “Tenentismo” (que organizou, entre outras, a Revolta Paulista de 1924), na qual se destacavam Cordeiro de Farias, Eduardo Gomes, Siqueira Campos, João Alberto Lins de Barros, Juarez Távora e Miguel Costa e Juraci Magalhães e três futuros presidentes da república (Geisel, Médici e Castelo Branco). Nesse momento, setembro de 1929, já era percebido, em São Paulo, que a Aliança Liberal, e uma eventual revolução, visava especificamente São Paulo. Tendo o senador estadual de São Paulo Cândido Nanzianzeno Nogueira da Motta denunciado
Ciências Humanas e suas Tecnologias na tribuna do Senado do Congresso Legislativo do Estado de São Paulo, em 24 de setembro de 1929, que a guerra anunciada pela chamada Aliança Liberal não é contra o Sr. Júlio Prestes, É contra nosso Estado de São Paulo, e isso não é de hoje. A imperecível inveja contra o nosso deslumbrante progresso que deveria ser motivo de orgulho para todo o Brasil. Em vez de nos agradecerem e apertarem em fraternos amplexos, nos cobrem de injúrias e nos ameaçam com ponta de lanças e patas de cavalo. Cândido Mota citou ainda o senador fluminense Irineu Machado que previra a reação de São Paulo: A reação contra a candidatura do Dr. Júlio Prestes representa não um gesto contra o presidente do estado, mas uma reação contra São Paulo, que se levantará porque isto significa um gesto de legítima defesa de seus próprios interesses. Essa resposta paulista à revolução de 1930 veio um ano e meio depois, com a Revolução de 1932. O movimento ganhou as ruas da capital das cidades do interior paulista e contou com o apoio de industriais estudantes intelectuais e políticos ligados a velha República , essa luta acabou restrita apenas à Sao Paulo uma vez que os mineiros e os gauchos não efetivaram o prometido apoio., apenas um pequeno contigente ,m ilitar vindo de Mato Grosso , sob o comando do general Bertoldo Klinger. Para reprimir a rebelião paulista ,Vargas enfrentou sérias dificuldades no setor militar , pois inúmeros generais simplesmente recusaram a missão . Percebendo o débil apoio que tinha no seio da cúpula do Exército , e a fim de consegui –lo ,Vargas rompeu em defnitivo com os tenentes , que não eram bem vistos pelos oficiais legalistas. Em 3 de outubro de 1932,em meio a uma crise militar e apesar dela , Getúlio conseguiu esmagar a revolta paulista. Após 3 meses de combate as forças leais a Vargas forçaram os paulistas a rendição. Embora os paulistas tenham sidos derrotados ,a nomeação do paulista Armando de Sales Oliveira como intervetor de São Paulo evidênciou a importância da elite desse estado no panorama politico e econômico do país poder e de alguns empresários da indústria. Em 1934 ,o tenentismo já tinha deixado de existir como movimento organizado. Em seu lugar, novas organizações políticas começaram a surgir ,influenciadas pelos acontecimentos europeus. O presidente de Minas Gerais, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada diz em discurso, ainda em 1929, façamos a revolução pelo voto antes que o povo a faça pela violência. Esta frase foi vista como a expressão do instinto de sobrevivência de um político experiente e um presságio: Minas Gerais, se aliando ao Rio Grande do Sul e aos tenentes, consegue pre-
servar sua oligarquia. Uma revolução que fosse feita só pelos tenentes teria derrubado também o PRM (Partido Republicano Mineiro) do poder em Minas Gerais e o PRR do poder no Rio Grande do Sul. As Eleições E A Revolução As eleições foram realizadas no dia 1º de março de 1930 e deram a vitória a Júlio Prestes, que obteve 1.091.709 votos, contra apenas 742.794 dados a Getúlio. Notoriamente, Getúlio teve quase 100% dos votos no Rio Grande do Sul. A Aliança Liberal recusou-se a aceitar a validade das eleições, alegando que a vitória de Júlio Prestes era decorrente de fraude. Além disso, deputados eleitos em estados onde a Aliança Liberal conseguiu a vitória, não obtiveram o reconhecimento dos seus mandatos. A partir daí, iniciou-se uma conspiração, com base no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais. A conspiração sofreu um revés em junho com a subversão comunista de Luís Carlos Prestes. Um ex-membro do movimento tenentista, Prestes tornou-se adepto das ideias de Karl Marx e apoiador do comunismo. Isso o levou, depois de um tempo, a tentativa frustrada da intentona comunista pela ANL. Logo em seguida, ocorre outro contratempo à conspiração: morre, em acidente aéreo, o tenente Siqueira Campos. No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa foi assassinado por João Dantas em Recife, por questões políticas e de ordem pessoal, servindo como estopim para a mobilização armada. João Dantas e seu cunhado e cúmplice, Moreira Caldas, foram encontrados degolados em sua cela em outubro de 1930. As acusações de fraude e a degola arbitrária de deputados mineiros e de toda a bancada da Paraíba da Aliança Liberal, o descontentamento popular devido à crise econômica causada pela grande depressão de 1929, o assassinato de João Pessoa e o rompimento da política do café com leite foram os principais fatores, (ou pretextos na versão dos partidários de Júlio Prestes), que criaram um clima favorável a uma revolução. Getúlio tentou várias vezes a conciliação com o governo de Washington Luís e só se decidiu pela revolução quando já se aproximava a posse de Júlio Prestes que se daria em 15 de novembro. A revolução de 1930 iniciou-se, finalmente, no Rio Grande do Sul em 3 de outubro, às 17 horas e 25 minutos. Osvaldo Aranha telegrafou a Juarez Távora comunicando início da Revolução. Ela rapidamente se alastrou por todo o país. Oito governos estaduais no Nordeste foram depostos pelos tenentes. No dia 10, Getúlio Vargas lançou o manifesto O Rio Grande de pé pelo Brasil e partiu, por ferrovia, rumo ao Rio de Janeiro, capital nacional à época. Esperava-se que ocorresse uma grande batalha em Itararé ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias (na divisa com o Paraná), onde as tropas do governo federal estavam acampadas para deter o avanço das forças revolucionárias, lideradas militarmente pelo coronel Góis Monteiro. Entretanto, em 12 e 13 de outubro ocorreu o Combate de Quatiguá, que pode ter sido o maior combate desta Revolução, mesmo tendo sido muito pouco estudado. Quatiguá localiza-se a direita de Jaguariaíva, próxima a divisa entre São Paulo e Paraná. A batalha não ocorreu em Itararé, já que os generais Tasso Fragoso e Mena Barreto e o Almirante Isaías de Noronha depuseram Washington Luís, em 24 de outubro e formaram uma junta de governo. Jornais que apoiavam o governo deposto foram empastelados; Júlio Prestes, Washington Luís e vários outros próceres da República Velha foram exilados. Washington Luís havia apostado na divisão dos mineiros não acreditando em nenhum momento que Minas Gerais faria uma revolução, não se prevenindo, nem tomando medidas antirrevolucionárias, sendo derrubado em poucos dias de combate. Messianismo
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Na história do Brasil, o termo messianismo é usado para dar nome aos movimentos sociais nos quais milhares de sertanejos fundaram comunidades comandadas por um líder religioso. Surgiu em áreas rurais pobres atingidas pela miséria. Seus dois principais componentes eram a religiosidade popular do sertanejo e seu sentimento de revolta. Na República Velha, os dois principais exemplos de messianismo foram os movimentos de Canudos e do Contestado. Revolta De Canudos Ocorreu entre os anos de 1893-1897 na Bahia. Antônio Conselheiro chegou em 1893 a uma velha fazenda abandonada no sertão baiano e ali liderou a formação de Canudos. Desde os tempos do império ele fazia pregações que atraíam multidões de moradores do sertão nordestino. Milhares de pessoas se mudaram para Canudos. Buscavam paz e justiça em meio à fome e à seca do sertão. Comandada por Antônio Conselheiro, a população vivia num sistema comunitário, em que as colheitas, os rebanhos e o fruto do trabalho eram repartidos. Só havia propriedade privada dos bens de uso pessoal. Não havia cobrança de impostos nem autoridade policial. A prostituição e a venda de bebidas alcoólicas eram rigorosamente proibidas. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
O povoado de Canudos tinha leis próprias, não obedecendo ao poder público que governava o país. Representava uma alternativa de sociedade para os sertanejos que desejavam fugir da dominação dos grandes coronéis. Os fazendeiros baianos e a elite política local temiam o crescimento de Canudos e passaram a exigir providências do governo para destruir a comunidade. Os inimigos da comunidade de Canudos diziam que ali viviam fanáticos, loucos e monarquistas. A história tradicional repetiu essas acusações como se fossem verdades absolutas. Assim, não considerava que um dos principais motivos que uniam os sertanejos de Canudos era a necessidade de fugir da fome e da violência. A religiosidade foi à forma encontrada pelos sertanejos para traduzir sua revolta e sua vontade de construir uma ordem social diferente. A Destruição de Canudos Como as tropas dos coronéis locais e do governo estadual baiano não conseguiram esmagar as forças de Canudos, o governo federal entrou na luta. Várias tropas militares enviadas pelo poder central foram derrotadas. Um poderoso exército de 7 mil homens foi organizado pelo próprio ministro da Guerra. Canudos foi completamente destruído em 5 de outubro de 1897; mais de 5 mil casas foram incendiadas pelo exército. Guerra Do Contestado Ocorreu entre os anos de 1912 a 1916, na fronteira entre Paraná e Santa Catarina, numa região contestada (disputada) pelos dois estados. Nessa área, era grande o número de sertanejos sem-terra e famintos que trabalhavam sob duras condições para os fazendeiros locais e duas empresas norte-americanas que atuavam ali. Os sertanejos de Contestado começaram a se organizar sob a liderança de um “monge” chamado João Maria. Após sua morte, surgiu em seu lugar um outro “monge”, conhecido como João Maria (Miguel Lucena Boaventura). Reuniu mais de 20 mil sertanejos e fundou com eles alguns povoados que compunham a chamada “Monarquia Celeste”. A “monarquia” do Contestado tinha um governo próprio e normas igualitárias, não obedecendo às ordens emanadas das autoridades da república. Os sertanejos do Contestado foram violentamente perseguidos pelos coronéis-fazendeiros e pelos donos das empresas estrangeiras, com o apoio das
Ciências Humanas e suas Tecnologias tropas do governo. O objetivo era destruir a organização comunitária dos sertanejos e expulsá-los das terras que ocupavam. Em novembro de 1912, o monge Jose Maria foi morto em combate e “santificado” pelos moradores da região. Seus seguidores criaram novos núcleos que foram combatidos e destruídos pelas tropas do exercito brasileiro. Os últimos núcleos foram arrasados por tropas de 7 mil homens armados. Cangaço: Revolta E Violência No Nordeste Ocorreu entre os anos de 1870 a 1940 (setenta anos), no Nordeste do Brasil. Para alguns pesquisadores, ele foi uma forma pura e simples de banditismo e criminalidade. Para outros foi uma forma de banditismo social, isto é, uma forma de revolta reconhecida como algo legítimo pelas pessoas que vivem em condições semelhantes. Motivos Para O Acontecimento Do Cangaço Miséria, fome, secas e injustiças dos coronéis-fazendeiros produziram no semiárido do Nordeste um cenário favorável à formatação de grupos armados conhecidos como cangaceiros. Os cangaceiros praticavam crimes, assaltavam fazendas e matavam pessoas. Os dois mais importantes bandos do cangaço foi o de Antônio Silvino e o de Virgulo o Ferreira da Silva, o Lampião, o “Rei do Cangaço”. Depois que a polícia massacrou o “bando de Lampião”, em 1938, o cangaço praticamente desapareceu do Nordeste. Revolta da Vacina No governo do presidente Rodrigues Alves (19021906), o Rio de Janeiro, era uma cidade no qual a população enfrentava graves problemas: pobreza, desemprego, lixo amontoado nas ruas, muitos ratos e mosquitos transmissores de doenças. Milhares de pessoas morriam em consequência de epidemias como febre amarela, peste bubônica e varíola. Os primeiro governos republicanos queriam transformar o Rio de Janeiro na “capital do progresso”, que mostrasse ao país e ao mundo “o novo tempo” da República. Coube ao presidente Rodrigues Alves a decisão de reformar e modernizar o Rio de Janeiro. Os cortiços e os casebres dos bairros centrais foram demolidos. A população foi desalojada e passou a morar em barracos nos morros do centro ou em bairros distantes do subúrbio.
Combater as epidemias era um dos principais objetivos do governo; o medico Oswaldo Cruz, diretor da Saúde Pública, convenceu o presidente a decretar a lei da vacinação obrigatória contra a varíola. A população não foi esclarecida sobre a necessidade da vacina. Diversos setores da sociedade reagiram à vacina obrigatória: havia os que defendiam que a aplicação de injeções em mulheres era imoral, ou que a obrigatoriedade ia contra a liberdade individual. Outros, não compreendiam como uma doença poderia ser evitada com a introdução de seu próprio vírus no corpo. Revolta Da Chibata Ocorreu no Rio de Janeiro, foram os marinheiros que se revoltaram contra os terríveis castigos físicos a que eram submetidos. Ficou conhecido como Revolta da Chibata, porque os marinheiros queriam mudanças no Código de Disciplina da Marinha, que punia as faltas graves dos marinheiros com 25 chibatadas. Além dos castigos físicos, os marinheiros reclamavam de má alimentação e dos miseráveis salários que recebiam. Tenentismo Foi o movimento político-militar que, pela luta armada, pretendia conquistar o poder e fazer reformas na República Velha. Era liderado por jovens oficiais das Forças Armadas, principalmente tenentes. Principais propostas do Tenentismo ca;
- Queriam a moralização da administração públi-
- Queriam o fim da corrupção eleitoral; - Reivindicavam o voto secreto e uma justiça Eleitoral confiável; - Defendiam a economia nacional contra a exploração das empresas e do capital estrangeiro; - Desejavam uma reforma na educação pública para que o ensino fosse gratuito e obrigatório para todos os brasileiros. A maioria das propostas contava com a simpatia de grande parte das classes médias urbanas, dos produtos rurais que não pertenciam ao grupo que estava no poder e de alguns empresários da indústria. Revolta do Forte de Copacabana Primeira Revolta Tenentista iniciou em 05/07/1922. Foi uma revolta para impedir a posse do presidente Artur Bernardes. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Tropas do governo cercaram o Forte de Copacabana, isolando os rebeldes. Dezessete tenentes e um civil saíram para as ruas num combate corpo-a-corpo com as tropas do governo. Dessa luta suicida, só dois escaparam com vida: os tenentes Eduardo Gomes e Siqueira Campos. O episódio ficou conhecido como Os Dezoito do Forte. Revoltas de 1924 Dois anos depois da Primeira Revolta ocorreram novas rebeliões tenentistas em regiões como o Rio Grande do Sul e São Paulo. Depois de ocupar a capital paulista, as tropas tenentistas abandonaram suas posições diante da ofensiva armada do governo. Com uma numerosa tropa de mil homens, os rebeldes formaram a coluna paulista, que seguiu em direção ao sul do país, ao encontro de outra coluna militar tenentista, liderada pelo capitão Luís Carlos Prestes. Coluna Prestes
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As duas forças tenentistas uniram-se e decidiram percorrer o interior do país, procurando apoio popular para novas revoltas contra o governo. Nascia aí a Coluna Prestes, pois ambas tropas eram lideradas por Prestes. Durante mais de dois anos (1924 a 1926), a Coluna Prestes percorreu 24 mil quilômetros através de 12 estados. O governo perseguia as tropas da Coluna Prestes que, por meio de manobras militares, conseguia escapar. Em 1926 os homens que permaneciam na Coluna Prestes decidiram ingressar na Bolívia e desfazer a tropa. A Coluna Prestes não conseguiu provocar revoltas capazes de ameaçar seriamente o governo, mas também não foi derrotada por eles. Isso demonstrava que o poder na República Velha não era tão inatacável. A Segunda República Ou Era Vargas A chamada Era Vargas está dividida em três momentos: Governo Provisório, Governo Constitucional e Estado Novo. O período inaugurou um novo tipo de Estado, denominado “Estado de compromisso”, em razão do apoio de diversas forças sociais e políticas: as oligarquias dissidentes, classes médias, burguesia industrial e urbana, classe trabalhadora e o Exército. Neste “Estado de compromisso” não existia nenhuma força política hegemônica, possibilitando o fortalecimento do poder pessoal de Getúlio Vargas. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
GOVERNO PROVISÓRIO (1930/1934). Aspectos políticos e econômicos No plano político, o governo provisório foi marcado pela Lei Orgânica, que estabelecia plenos poderes a Vargas. Os órgãos legislativos foram extintos, até a elaboração de uma nova constituição para o país. Desta forma, Vargas exerce o poder executivo e o Legislativo. Os governadores perderam seus mandatos – por força da Revolução de 30 – seus nomeados em seus lugares os interventores federais (que eram escolhidos pelos tenentes). A economia cafeeira receberá atenções por parte do governo federal. Para superar os efeitos da crise de 1929, Vargas criou o Conselho Nacional do Café, reeditando a política de valorização do café ao comprar e estocar o produto. O esquema provocou a formação de grandes estoques, em razão da falta de compradores, levando o governo a realizar a queimados excedentes. Houve um desenvolvimento das atividades industriais, principalmente no setor têxtil e node processamento de alimentos. Este desenvolvimento explica-se pela chamada política de substituição de importações. A composição do Governo Provisório Depois de criar um Tribunal Especial - cuja ação foi nula - com o objetivo de julgar “os crimes do governo deposto”, o novo governo organizou um ministério que, pela composição, nos mostra o quanto Getúlio estava compromissado com os grupos que lhe apoiaram na Revolução: - general Leite de Castro - ministro do Exército; - almirante Isaías Noronha - ministro da Marinha; - Afrânio de Melo Franco (mineiro) - ministro do Exterior; - Osvaldo Aranha (gaúcho) - ministro da Justiça; - José Américo de Almeida (paraibano) - ministro da Viação; - José Maria Whitaker (paulista) - ministro da Fazenda; - Assis Brasil (gaúcho) - ministro da Agricultura. Dentro ainda da ideia de compromisso, foram criados dois novos ministérios: - Educação e Saúde Pública - o mineiro Francisco Campos; - Trabalho, Indústria e Comércio - o gaúcho Lindolfo Collor. Para Juarez Távora, pela sua admirável participação revolucionária e pelo seu prestígio como homem de ação, foi criada a Delegacia Regional do Norte. Pela chefia política dos estados brasileiros do Espírito Santo ao Amazonas, Juarez Távora foi chamado de O Vice-Rei do Norte.
Ciências Humanas e suas Tecnologias A política cafeeira da Era Vargas O capitalismo passava por uma de suas violentas crises de superprodução. Essas crises cíclicas do capitalismo eram o resultado da ausência de uma planificação, o que produzia a anarquia da produção social. As nações industriais com problemas de superprodução acirravam o imperialismo, superexplorando as nações agrárias, restringindo os créditos e adotando uma política protecionista, sobretaxando as importações. Neste contexto o café conheceu uma nova e violenta crise de superprodução, de mercados e de preços, que caíram de 4 para 1 libra nos primeiros anos da década de 30. Como o café era à base da economia nacional, a crise poderia provocar sérios problemas para outros setores econômicos, tais como a indústria e o comércio, o que seria desastroso. Era preciso salvar o Brasil dos efeitos da crise mundial de 1929. Era necessário evitar o colapso econômico do País. Para evitá-lo, o governo instituiu uma nova política cafeeira, visando o equilíbrio entre a oferta e a procura, a elevação dos preços e a contenção dos excessos de produção, pois a produção cafeeira do Brasil era superior à mundial. Para aplicar esta política, Vargas criou, em 1931, o CNC (Conselho Nacional do Café), que foi substituído em 1933 pelo DNC (Departamento Nacional do Café). Dentro desta nova política tornou-se fundamental destruir os milhares de sacas de café que estavam estocadas. O então ministro da Fazenda, Osvaldo Aranha, através de emissões e impostos sobre a exportação, iniciou a destruição do excedente do café através do fogo e da água, De 1931 a 1944, foram queimadas ou jogadas ao mar, aproximadamente, 80 milhões de sacas. Proibiram-se novas plantações por um prazo de três anos e reduziram-se as despesas de produção através da redução dos salários e dos débitos dos fazendeiros em 50%. Por ter perdido o poder político e pelo fato de ter de se submeter às decisões econômicas do governo federal, as oligarquias cafeeiras se opuseram à política agrária da Era Vargas. Revolução constitucionalista de 1932 Movimento ocorrido em São Paulo ligado à demora de Getúlio Vargas para reconstitucionalizar o país, a nomeação de um interventor pernambucano para o governo do Estado (João Alberto). Mesmo sua substituição por Pedro de Toledo não diminuiu o movimento. O movimento teve também como fator a
tentativa da oligarquia cafeeira retomar o poder político. O movimento contou com apoio das camadas médias urbanas. Formou-se a Frente Única Paulista, exigindo a nomeação de um interventor paulista e a reconstitucionalização imediata do país. Em maio de 1932 houve uma manifestação contra Getúlio que resultou na morte de quatro manifestantes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo. Iniciou-se a radicalização do movimento, sendo que o MMDC passou a ser o símbolo deste momento marcado pela luta armada. Após três meses de combates as forças leais a Vargas forçaram os paulistas à rendição. Procurando manter o apoio dos paulistas, Getúlio Vargas acelerou o processo de redemocratização realizando eleições para uma Assembleia Constituinte que deveria elaborar uma nova constituição para o Brasil. A constituição de 1934. Promulgada em 16 de novembro de 1934 apresentando os seguintes aspectos: - A manutenção da República com princípios federativos; - Existência de três poderes independentes entre si: Executivo, Legislativo e Judiciário; - Estabelecimento de eleições diretas para o Executivo e Legislativo; - As mulheres adquirem o direito ao voto; - Representação classista no Congresso (elementos eleitos pelos sindicatos); - Criado o Tribunal do Trabalho; - Legislação trabalhista e liberdade de organização sindical; - Estabelecimento de monopólio estatal sobre algumas atividades industriais; - Possibilidade da nacionalização de empresas estrangeiras; - Instituído o mandato de segurança, instrumento jurídico dos direitos do cidadão perante o Estado. A Constituição de 1934 foi inspirada na Constituição de Weimar preservando o liberalismo e mantendo o domínio dos proprietários visto que a mesma não toca no problema da terra. Governo Constitucional (1934/1937). Período marcado pelos reflexos da crise mundial de 1929: - crise econômica, - desemprego, - inflação e - carestia. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Neste contexto desenvolvem-se, na Europa, os regimes totalitários (nazismo e fascismo) – que se opunham ao socialismo e ao liberalismo econômico. A ideologia nazifascista chegou ao Brasil, servindo de inspiração para a fundação da Ação Integralista Brasileira (AIB), liderada pelo jornalista Plínio Salgado. Movimento de extrema direita, anticomunista, que tinha como lema “Deus, pátria, família”. Defendia a implantação deum Estado totalitário e corporativo. A milícia da AIB era composta pelos “camisas verdes”, que usavam de violência contra seus adversários. Os integralistas receberam apoio da alta burguesia, do clero, da cúpula militar e das camadas médias urbanas. Por outro lado, o agravamento das condições de vida da classe trabalhadora possibilitou a formação de um movimento de caráter progressista, contando com o apoio de liberais, socialista, comunistas, tenentes radicais e dos sindicatos – trata-se da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Luís Carlos Prestes, filiado ao Partido Comunista Brasileiro foi eleito presidente de honra. A ANL reivindicava a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionalização das empresas estrangeiras e a realização da reforma agrária. Colocava-se contra o totalitarismo e defendia a democracia e um governo popular. A adesão popular foi muito grande, tornando a ANL uma ameaça ao capital estrangeiro e aos interesses oligárquicos. Procurando conter o avanço da frente progressista o governo federal - por meio da aprovação da Lei de Segurança Nacional – decretou o fechamento dos núcleos da ANL. A reação, por parte dos filiados e simpatizantes, foi violenta e imediata. Movimentos eclodiram no Rio de Janeiro, Recife, Olinda e Natal – episódio conhecido como Intentona Comunista. O golpe do Estado Novo No ano de 1937 deveriam ocorrer eleições presidenciais para a sucessão de Getúlio Vargas. A disputa presidencial foi entre Armando de Sales Oliveira – que contava com o apoio dos paulistas e de facções de oligarquias de outros Estados. Representava uma oposição liberal ao centralismo de Vargas. A outra candidatura era a de José Américo de Almeida, apoiado pelo Rio Grande do Sul, pelas oligarquias nordestinas e pelos Partidos Republicanos de São Paulo e Minas Gerais. Um terceiro candidato era Plínio Salgado, da Ação Integralista. A posição de Getúlio Vargas era muito confusa – não apoiando nenhum candidato. Na verdade a vontade de Getúlio era a de continuar no governo, em nome da estabilidade e normalidade constitucional; para tanto, contava com apoio de alguns setoENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
res da sociedade. O continuísmo de Vargas recebeu apoio de uma parte do Exército – Góes Monteiro e Eurico Gaspar Dutra representavam a alta cúpula militar – surgindo a ideia de um golpe, sob o pretexto de garantira segurança nacional. O movimento de “salvação nacional” – que garantiu a permanência de Vargas no poder – foi a divulgação de um falso plano de ação comunista para assumir o poder no Brasil. Chamado de Plano Cohen, o falso plano serviu de pretexto para o golpe de 10 de novembro de 1937, decretando o fechamento do Congresso Nacional, suspensão da campanha presidencial e da Constituição de 1934. Iniciava-se o Estado Novo. O Estado Novo (1937/1945). O Estado Novo – período da ditadura de Vargas – apresentou as seguintes características: intervencionismo do Estado na economia e na sociedade e um centralização política nas mãos do Executivo, anulando o federalismo republicano. A constituição de 1937. Foi outorgada em 10 de novembro de 1937 e redigida por Francisco Campos. Baseada na constituição polonesa (daí o apelido de “polaca”) apresentava aspectos fascistas. Principais características: centralização política e fortalecimento do poder presidencial; extinção do legislativo; subordinação do Poder Judiciário ao Poder Executivo; instituição dos interventores nos Estados e uma legislação trabalhista. A Constituição de 1937 eliminava a independência sindical e extinguia os partidos políticos. A extinção da AIB deixou os integralistas insatisfeitos com Getúlio. Em maio de 1938 os integralistas tentaram um golpe contra Vargas – o Putsch Integralista – que consistiu numa tentativa de ocupar o palácio presidencial. Vargas reagiu até a chegada a polícia e Plínio Salgado precisou fugir do país. Política Trabalhista O Estado Novo procurou controlar o movimento trabalhador através da subordinação dos sindicatos ao Ministério do Trabalho. Proibiram-se as greves e qualquer tipo de manifestação. Por outro lado, o Estado efetuou algumas concessões, tais como, o salário mínimo, a semana de trabalho de 44 horas, a carteira profissional, as férias remuneradas. As leis trabalhistas foram reunidas, em 1943, na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), regulamentando as relações entre patrões e empregados. A aproximação de Vargas junto a classe trabalhadora urbana originou, no Brasil, o populismo – forma de manipu-
Ciências Humanas e suas Tecnologias lação do trabalhador urbano, onde o atendimento de algumas reivindicações não interfere no controle exercido pela burguesia. Política Econômica O Estado Novo iniciou o planejamento econômico, procurando acelerar o processo de industrialização brasileiro. O Estado criou inúmeros órgãos com o objetivo de coordenar e estabelecer diretrizes de política econômica. O governo interveio na economia criando as empresas estatais – sem questionar o regime privado. As empresas estatais encontrava-se em setores estratégicos, como a siderurgia (Companhia Siderúrgica Nacional), a mineração (Companhia Vale do Rio Doce), hidrelétrica (Companhia Hidrelétrica do Vale do São Francisco), mecânica (Fábrica Nacional de Motores) e química (Fábrica Nacional de Álcalis). Política administrativa. Procurando centralizar e consolidar o poder político, o governo criou o DASP (Departamento de Administração e Serviço Público), órgão de controle da economia. O outro instrumento do Estado Novo foi a criação do DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), que realizava a propaganda do governo. O DIP controlava os meios de comunicação, por meio da censura. Foi o mais importante instrumento de sustentação da ditadura que, ao lado da polícia secreta, comandada por Filinto Muller, instaurou no Brasil o período do terror: prisões, repressão, exílios, torturas etc. Como exemplo de propaganda tem-se a criação da Hora do Brasil – que difundia as realizações do governo; o exemplo do terror fica por conta do caso de Olga Benário, mulher de Prestes, que foi presa e deportada para a Alemanha (grávida). Foi assassinada num campo de concentração. O Brasil e a segunda guerra mundial. Devido a pressões – internas e externas – Getúlio Vargas rompeu a neutralidade brasileira, em 1942, e declarou guerra ao Eixo (Alemanha, Itália, Japão). A participação do Brasil foi efetiva nos campos de batalha mediante o envio da FEB (Força Expedicionária Brasileira) e da FAB (Força Aérea Brasileira). A participação brasileira na guerra provocou um paradoxo político: externamente o Brasil luta pela democracia e contra as ditaduras, internamente há ausência democrática em razão da ditadura. Esta situação, somada à vitória dos aliados contra os regimes totalitários, favorece o declínio do estado Novo e amplia as manifestações contra o regime.
O fim do Estado Novo Em 1943 Vargas prometeu eleições para o fim da guerra; no mesmo ano houve o Manifesto dos Mineiros, onde um grupo de intelectuais, políticos, jornalistas e profissionais liberais pediam a redemocratização do país. Em janeiro de 1945, o Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores exigia a liberdade de expressão e eleições. Em fevereiro do mesmo ano, Vargas publicava um ato adicional marcando eleições presidenciais para 2 de dezembro. Para concorrer as eleições surgiram os seguinte partidos políticos: - UDN (União Democrática Nacional) - Oposição liberal a Vargas e contra o comunismo. Tinha como candidato o brigadeiro Eduardo Gomes; - PSD (Partido Social Democrático) – era o partido dos interventores e apoiavam a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra; - PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) – organizado pelo Ministério do Trabalho e tendo como presidente Getúlio Vargas. Apoiava, junto com o PSD, Eurico Gaspar Dutra; - PRP (Partido de Representação Popular) – de ideologia integralista e fundado por Plínio Salgado; - PCB (Partido Comunista Brasileiro) – tinha como candidato o engenheiro Yedo Fiúza. Em 1945 houve um movimento popular pedindo a permanência de Vargas – contando como apoio do PCB. Este movimento ficou conhecido como queremismo, devido ao lema da campanha “Queremos Getúlio”. O movimento popular assustou a classe conservadora, temendo a continuidade de Vargas no poder. No dia 29 de outubro foi dado um golpe, liderado por Goés Monteiro e Dutra. Vargas foi deposto sem resistência. O governo foi entregue a José Linhares, presidente do Supremo Tribunal Federal. Em dezembro de 1945 foram realizadas as eleições com a vitória de Eurico Gaspar Dutra. Golpe Militar De 1964 O Governo estadunidense tornou públicos, em 31 de março de 2004, documentos da política dos Estados Unidos e das operações da CIA que, ao ajudar os militares brasileiros, conduziram à deposição do presidente João Goulart, no dia 1º de abril de 1964. O governo americano e os militares brasileiros viam em João Goulart alguém perigoso porque, além de simpatizar com o regime Castrista de Cuba, mantinha uma política exterior independente de Washington, e tinha nacionalizado uma subsidiaria da ITT (empresa norte americana). Além disso, Goulart tinha nacionalizado, no início de 1964, o petróleo, bem como a terra ociosa nas mãos de grandes latifundiários, e aprovado uma lei que limitava a quantidade de ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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benefícios que as multinacionais poderiam retirar do país. Outro motivo foi o Brasil ser o maior exportador de suco de laranja do mundo, fato que punha em risco a indústria norte-americana deste setor, situada no estado da Flórida. Em 1964, o comício organizado por Leonel Brizola e João Goulart, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, serviu como estopim para o golpe. Neste comício eram anunciadas as reformas que mudariam o Brasil, tais como um plebiscito pela convocação de uma nova constituinte, reforma agrária e a nacionalização de refinarias estrangeiras. Foi neste cenário que, depois de um encontro com trabalhadores, em 1964, João Goulart (eleito à época, democraticamente, pelo Partido Trabalhista Brasileiro - PTB) foi deposto e teve de fugir para o Rio Grande do Sul e, em seguida, para o Uruguai. Desta maneira, o Chefe Maior do Exército, o General Humberto Castelo Branco, tornou-se presidente do Brasil. As principais cidades brasileiras foram tomadas por soldados armados, tanques, jipes, etc. Os militares incendiaram a Sede, situada no Rio de Janeiro, da União Nacional dos Estudantes (UNE). As associações que apoiavam João Goulart foram tomadas pelos soldados, dentre elas podemos citar: sedes de partidos políticos e sindicatos de diversas categorias. O golpe militar de 1964 foi amplamente apoiado à época e um pouco antes por jornais como O Globo, Jornal do Brasil e Diário de notícias. Um dos motivos que conduziram ao golpe foi uma campanha, organizada pelos meios de comunicação, para convencer as pessoas de que Jango levaria o Brasil a um tipo de governo semelhante ao adotado por países como China e Cuba, ou seja, comunista, algo inadmissível naquele tempo, quando se dizia que o que era bom para os Estados Unidos era bom para o Brasil. Em 1965, as liberdades civis foram reduzidas, o poder do governo aumentou e foi concedida ao Congresso a tarefa de designar o presidente e o vice-presidente da república. Constituição de 1946 A Constituição Brasileira de 1946 substituiu a existente durante o governo ditatorial de Getúlio Vargas. Desde a Independência do Brasil, o país já apresentou várias constituições. A primeira do período republicano foi promulgada no ano de 1891, encerrando o governo provisório de transição e alterando características imperiais do Brasil para o novo formato, a República. Quando Getúlio Vargas chegou ao poder em 1930 através de um movimento revolucionário, o país passou novamente por transformação de suas estruENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
turas tradicionais. Novos direitos foram incorporados à Constituição Brasileira e também novos deveres que alteravam de maneira progressista a realidade do país. Mas, em 1937, Getúlio Vargas, alegando ameaça comunista em dominar o Estado, decretou o Estado de Sítio e passou a exercer um governo ditatorial no Brasil. Em seguida, o presidente ditador adotou a chamada Constituição Polaca estabelecendo determinações fascistas para gerir o Estado de acordo com seus interesses. Tal carta constitucional permaneceu valendo até sua deposição, em 1945. Getúlio Vargas entrou em descrédito após entrar na Segunda Guerra Mundial e um movimento de oposição conseguiu retirá-lo do poder no ano de 1945. Com a queda do ditador, assumiu a presidência o general Eurico Gaspar Dutra. A Constituição de cunho autoritário não era mais adequada para o Brasil e precisava ser substituída. O então presidente convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para que se pudesse promulgar uma nova carta constitucional. Vários intelectuais da época participaram da elaboração da nova Constituição. Pela primeira vez os comunistas também integraram as reuniões do Assembleia Constituinte. O resultado foi uma carta constitucional bastante avançada para a época, conquistando avanços democráticos e na liberdade individual de cada cidadão. As liberdades que o próprio Getúlio Vargas havia acrescentado à Constituição em 1934 e que foram retiradas por ele mesmo em 1937 voltaram a integrar a carta de 1946. A Constituição Brasileira foi promulgada no dia 18 de setembro de 1946, entre suas novas regulamentações estavam: igualdade perante a lei, ausência de censura, garantia de sigilo em correspondências, liberdade religiosa, liberdade de associação, extinção da pena de morte e separação dos três poderes. A Constituição de 1946 ficou em vigência até o Golpe Militar, em 1964. Nessa ocasião, os militares passaram a aplicar uma série de emendas para estabelecer as diretrizes do novo regime até ser definitivamente suspensa pelos Atos Institucionais e pela Constituição de 1967. Constituição de 1967 Logo que os militares assumiram o poder no Brasil através de um Golpe de Estado, medidas foram tomadas para que o exercício do regime que estabeleciam fosse viabilizado através de aparatos legais. A Constituição de 1967 foi uma das medidas do novo governo, a qual reuniu todos os outros decretos do regime militar iniciado em 1964.
Ciências Humanas e suas Tecnologias O respaldo jurídico utilizado pelos militares no exercício da nova forma de governo aplicada no Brasil se deu através dos famosos Atos Institucionais. Nos primeiros anos com os militares no comando do país foram eles que determinaram as novas leis e as condições para que a oposição não conseguisse se organizar e oferecer ameaça ao novo sistema. Já no ano de 1964 foi publicado o Ato Institucional Número Um, que a princípio não recebia determinação numérica, pois acreditavam que seria o suficiente para controlar as movimentações da oposição. O tempo mostrou que não, e os Atos Institucionais foram se somando e ficando cada vez mais autoritários e opressores. O Congresso Nacional foi transformado então em Assembleia Nacional Constituinte e teve os membros da oposição afastados, os militares pressionaram para que uma nova Carta Constitucional fosse elaborada para definitivamente legalizar o Golpe Militar de 1964. Em 1966, no dia 6 de dezembro, ficou pronto um projeto de constituição que foi redigido por Carlos Medeiros Silva, Ministro da Justiça, e por Francisco Campos. O tal projeto foi criticado pela oposição, como era de se esperar, mas também por alguns membros do próprio partido do governo, a ARENA. O impasse foi resolvido através do Ato Institucional Número Quatro (AI-4), no dia 7 de dezembro, que convocou o Congresso Nacional para debater e votar a nova Constituição entre 12 de dezembro de 1966 e 24 de janeiro de 1967. O AI-4 determinou a função de poder constituinte originário, o qual é “ilimitado e soberano”, ao Congresso Nacional. A formulação de uma nova Constituição para o Brasil prosseguiu, já que a Constituição de 1946 não era julgada mais como compatível para a nova fase pela qual o país passava. Enquanto a nova Constituição era debatida no Congresso Nacional, o governo tinha o poder de legislar através de Decretos-Lei para comandar a segurança nacional, a administração e as finanças do Estado. Para elaborar o texto da nova Carta Constituinte foram contratados por encomenda do presidente Castelo Branco juristas nos quais o regime militar depositava confiança, entre eles estavam: Levi Carneiro, Miguel SEABRA Fagundes, Orosimbo Nonato e Temístocles Brandão Cavalcanti. O texto incorporava medidas já estabelecidas pelos Atos institucionais e por Atos Complementares utilizados no regime militar. No dia 24 de janeiro de 1967 foi votada a nova Constituição que, aprovada, entrou em vigor no dia 15 de março de 1967 estabelecendo a Lei de Segurança Nacional.
A sexta constituição brasileira institucionalizou o regime militar, deixando o Poder Executivo em posição soberana em relação aos outros poderes e transformando-os junto com a população brasileira em meros espectadores das medidas tomadas pelos militares. Como foi debatida e votada pela Assembleia Nacional Constituinte, a Constituição de 1967, muito embora tenha sido amplamente elaborada de acordo com os interesses de quem estava no poder, pode ser considerada uma Carta Constituinte semi-outorgada. Desta forma, os militares garantiam a imagem na política internacional de um país de certo modo democrático, mas a prática mostraria que o regime estabelecido no Brasil se tratava mesmo de uma ditadura. No ano de 1969 a Constituição de 1967 sofreu algumas alterações por causa do afastamento do presidente Costa e Silva que passava por problemas de saúde. A Junta Militar que assumiu o poder em seu lugar baixou a Emenda Nº 1 acrescentando o Ato Institucional Número Cinco e permitindo o poder da Junta Militar, mesmo havendo um vice-presidente. A Constituição de 1967 vigorou durante o restante do regime militar como órgão máximo da antidemocrática. Só foi substituída em 1988, quando a ditadura já havia acabado. Constituição de 1988 A atual Constituição Federal do Brasil, chamada de “Constituição Cidadã”, foi promulgada no dia 5 de outubro de 1988. A Constituição é a lei maior, a Carta Magna, que organiza o Estado brasileiro. Na Constituição Federal do Brasil, são definidos os direitos dos cidadãos, sejam eles individuais, coletivos, sociais ou políticos; e são estabelecidos limites para o poder dos governantes. Após o fim do Regime Militar, em todos os segmentos da sociedade, era unânime a necessidade de uma nova Carta, pois a anterior havia sido promulgada em 1967, em plena Ditadura Militar, além de ter sido modificada várias vezes com emendas arbitrarias (vide AI-5). Dessa forma, em 1º de fevereiro de 1987, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte, composta por 559 congressistas (senadores e deputados federais, eleitos no ano anterior), e presidida pelo deputado Ulysses Guimarães, do Partido Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Representando um avanço em direção a democracia, a sociedade, em seus diversos setores, foi estimulada a contribuir por meio de propostas. As propostas formuladas por cidadãos brasileiros só seriam válidas se representadas por alguma entidade (associação, sindicatos, etc.) e se fosse assinada por, ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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no mínimo, trinta mil pessoas. Os setores da sociedade, compostos por grupos que procuravam defender seus interesses, fizeram pressão por meio de lobbies (grupo de pressão, que exercem influência). Em relação às Constituições anteriores, a Constituição de 1988 representa um avanço. As modificações mais significativas foram: - Direito de voto para os analfabetos; - Voto facultativo para jovens entre 16 e 18 anos; - Redução do mandato do presidente de 5 para 4 anos; - Eleições em dois turnos (para os cargos de presidente, governadores e prefeitos de cidades com mais de 200 mil habitantes); - Os direitos trabalhistas passaram a ser aplicados, além de aos trabalhadores urbanos e rurais, também aos domésticos; - Direito a greve; - Liberdade sindical; - Diminuição da jornada de trabalho de 48 para 44 horas semanais; - Licença maternidade de 120 dias (sendo atualmente discutida a ampliação). - Licença paternidade de 5 dias; - Abono de férias; - Décimo terceiro salário para os aposentados; - Seguro desemprego; - Férias remuneradas com acréscimo de 1/3 do salário. Modificações no texto da Constituição só podem ser realizadas por meio de Emenda Constitucional, sendo que as condições para uma emenda modificar a Carta estão previstas na própria Constituição, em seu artigo 60. Desde a promulgação, em 1988, foram aprovadas 56 emendas a Constituição. Uma república nova Às 3 horas da tarde de 8 de novembro de 1930, a junta militar passou o poder, no Palácio do Catete, a Getúlio Vargas, encerrando a chamada República Velha, derrubando todas as oligarquias estaduais exceto a mineira e a gaúcha. Na mesma hora, no centro do Rio de Janeiro, os soldados gaúchos cumpriam a promessa de amarrar os cavalos no obelisco da Avenida Rio Branco, marcando simbolicamente o triunfo da Revolução de 1930. Getúlio tornou-se chefe do Governo Provisório com amplos poderes. A constituição de 1891 foi revogada e Getúlio passou a governar por decretos. Getúlio nomeou interventores para todos os Governos Estaduais, com exceção de Minas Gerais. Esses interventores eram na maioria tenentes que participaram da Revolução de 1930. Por sua vez, o presidente eleito e não empossado Júlio Prestes criticou ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
duramente a Revolução de 1930 quando, em 1931, exilado em Portugal, afirmou: O que não compreendem é que uma nação, como o Brasil, após mais de um século de vida constitucional e liberalismo, retrogradasse para uma ditadura sem freios e sem limites como essa que nos degrada e enxovalha perante o mundo civilizado. Um dos maiores erros da revolução de 1930 foi entregar os estados à administração de tenentes inexperientes, um dos motivos da revolução de 1932. O despreparo dos tenentes para governar foi denunciado, logo no início de 1932, por um dos principais tenentes, o tenente João Cabanas, que havia participado da revolução de 1924, e que usou como exemplo o tenente João Alberto Lins de Barros que governou São Paulo. João Cabanas, em fevereiro de 1932, no seu livro “Fariseus da Revolução”, criticou especialmente o descalabro que foram as administrações dos tenentes nos estados, chamando a atenção para a grave situação paulista pouco antes de eclodir a Revolução de 1932: João Alberto serve como exemplo: Se, como militar, merece respeito, como homem público não faz jus ao menor elogio. Colocado, por inexplicáveis manobras e por circunstâncias ainda não esclarecidas, na chefia do mais importante estado do Brasil, revelou-se de uma extraordinária, de uma admirável incompetência, criando, em um só ano de governo, um dos mais trágicos confucionismos de que há memória na vida política do Brasil, dando também origem a um grave impasse econômico (déficit de 100.000 contos), e a mais profunda impopularidade contra a “Revolução de Outubro” e ter provocado no povo paulista, um estado de alma equívoco e perigoso. Nossa história não registra outro período de fracasso tão completo como o do “Tenentismo inexperiente”.·. Consequências Os efeitos da Revolução demoram a aparecer. A nova Constituição só é aprovada em 1934, chamada Constituição de 1934, depois de forte pressão social, como a Revolução Constitucionalista de 1932. Mas a estrutura do Estado brasileiro modifica-se profundamente depois de 1930, tornando-se mais ajustada às necessidades econômicas e sociais do país. Getúlio não gostou desta constituição, e, três anos e meio depois, decreta uma nova constituição, a Constituição de 1937. E assim se posicionou em relação à Constituição de 1934, no 10º aniversário da revolução de 1930, em discurso de 11 de novembro de 1940.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Uma constitucionalização apressada, fora de tempo, apresentada como panaceia de todos os males, traduziu-se numa organização política feita ao sabor de influências pessoais e partidarismo faccioso, divorciada das realidades existentes. Repetia os erros da Constituição de 1891 e agravava-os com dispositivos de pura invenção jurídica, alguns retrógrados e outros acenando a ideologias exóticas. Os acontecimentos incumbiram-se de atestar-lhe a precoce inadaptação. A partir da constituição de 1937, o regime centralizador, por vezes autoritário do getulismo, ou Era Vargas, estimula a expansão das atividades urbanas e desloca o eixo produtivo da agricultura para a indústria, estabelecendo as bases da moderna economia brasileira. O balanço da revolução de 1930 e de seus 15 anos de governo, por Getúlio, foi feito, no Dia do Trabalho de 1945, em um discurso feito no Rio de Janeiro, no qual disse que a qualquer observador de bom senso não escapa a evidência do progresso que alcançamos no curto prazo de 15 anos. Éramos, antes de 1930, um país fraco, dividido, ameaçado na sua unidade, retardado cultural e economicamente, e somos hoje uma nação forte e respeitada, desfrutando de crédito e tratada de igual para igual no concerto das potências mundiais. LEGADO POLÍTICO E SOCIAL A nova política do Brasil Três ex-ministros de Getúlio Vargas chegaram à Presidência da República: Eurico Dutra, João Goulart e Tancredo Neves. Este último não chegou a assumir o cargo, pois, na véspera da posse, sentiu fortes dores abdominais sequenciais durante uma cerimônia religiosa no Santuário Dom Bosco diagnosticada como uma “diverticulite”, que o levou à morte em 21 de abril de 1985, em São Paulo. Três tenentes de 1930 chegaram à Presidência da República: Castelo Branco, Médici e Geisel. O ex-tenente Juarez Távora foi o segundo colocado nas eleições presidenciais de 1955, e o ex-tenente Eduardo Gomes, o segundo colocado, em 1945 e 1950. Ambos foram candidatos pela UDN, o que mostra também a influência dos ex-tenentes na UDN, partido que tinha ainda, entre seus líderes, o ex-tenente Juraci Magalhães, que quase foi candidato em 1960. Os partidos fundados por Getúlio Vargas, PSD (partido dos ex-interventores no Estado Novo e intervencionista na economia) e o antigo PTB, dominaram a cena política de 1946 até 1964. PSD, UDN e PTB, os maiores partidos políticos daquele período, eram liderados por mineiros (PSD e UDN) e por gaúchos (o PTB).
Apesar de quinze anos (1930-1945) não serem um período longo em se tratando de carreira política, poucos políticos da República Velha conseguiram retomar suas carreiras políticas depois da queda de Getúlio em 1945. A renovação do quadro político foi quase total, tanto de pessoas quanto da maneira de se fazer política. Sobre a queda da qualidade da representação política após 1930, Gilberto Amado em seu livro “Presença na Política”, explica que na República Velha, as eleições eram falsas, mas a representação era verdadeira… As eleições não prestavam, mas os deputados e senadores eram os melhores que podíamos ter. Especialmente o balanço de 1930 feito pelos paulistas [quem?] é sombrio: Reclamam eles que, após Júlio Prestes em 1930, nenhum cidadão nascido em São Paulo foi eleito ou ocupou a Presidência, exceto, e por alguns dias apenas, Ranieri Mazzilli, o Dr. Ulisses Guimarães e Michel Temer. Os paulistas reclamam também que apenas em 1979 chegou à presidência alguém comprometido com os ideais da revolução de 1932: João Figueiredo, filho do general Euclides Figueiredo, comandante da revolução constitucionalista de 1932 e que fora exilado na Argentina entre 1932 e 1934. João Figueiredo fez a abertura política do regime militar. Getúlio foi o primeiro a fazer no Brasil propaganda pessoal em larga escala - o chamado culto da personalidade, com a Voz do Brasil, - típica do fascismo e ancestral do marketing político moderno. A aliança elite-proletariado, criada por Getúlio, tornou-se típica no Brasil, como a Aliança PTB-PSD apoiada pelo clandestino PCB. A nova economia do Brasil A política trabalhista é alvo de polêmicas até hoje e foi tachada de “paternalista” por intelectuais de esquerda. Esses intelectuais acusavam Getúlio de tentar anular a influência desta esquerda sobre o proletariado, desejando transformar a classe operária num setor sob seu controle, nos moldes da Carta do Trabalho do fascista italiano Benito Mussolini. Os defensores de Getúlio Vargas contra argumentam, dizendo que em nenhum outro momento da história do Brasil houve avanços comparáveis nos direitos dos trabalhadores. O expoentes máximos dessa posição foram João Goulart e Leonel Brizola. Brizola foi considerado, por muitos o último herdeiro político do “Getulismo”, ou da “Era Vargas”, na linguagem dos brasilianistas. A crítica de direita, ou liberal, argumenta que, em longo prazo, estas leis trabalhistas prejudicam os trabalhadores porque aumentam o chamado custo Brasil, onerando muito as empresas e gerando a inflação, que corrói o valor real dos salários. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Segundo esta versão, o custo Brasil faz com que as empresas brasileiras contratem menos trabalhadores, aumentem a informalidade e faz que as empresas estrangeiras se tornem receosas de investir no Brasil. Assim, segundo a crítica liberal, as leis trabalhistas gerariam, além da inflação, mais desemprego e subemprego entre os trabalhadores. Os liberais afirmam também que intervencionismo estatal na economia iniciado por Getúlio só cresceu com o passar dos anos, com a única exceção de Castelo Branco atingindo seu máximo no governo do ex-tenente de 1930 Ernesto Geisel. Somente a partir do Governo de Fernando Collor se começou a fazer o desmonte do Estado intervencionista. Durante sessenta anos, após 1930, todos os ministros da área econômica do governo federal foram favoráveis à intervenção do Estado na economia, exceto Eugênio Gudin por sete meses em 1954, e a dupla Roberto Campos - Octávio Bulhões, por menos de três anos (1964 -1967). Movimentos sociais no Brasil - Período Imperial
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As características dos movimentos sociais brasileiros variam muito. Por isso, eles devem ser estudados sob uma perspectiva ampla. Algumas rebeliões não chegaram a acontecer, limitando-se à fase conspiratória. Em certos casos, houve pouca participação das classes populares; em outros, o movimento foi impulsionado não por razões de ordem política ou econômica, mas, sim, religiosa. Durante o Império (Primeiro Reinado, Regência e Segundo Reinado), os principais movimentos foram os que seguem: 1). · a 2 de julho de 1824, no Recife. · estabelecimento de um governo republicano. · a 19 de setembro os revolucionários já estavam derrotados. · líderes receberam penas diversas: fuzilamento, forca ou prisão perpétua. 2). · de 1833 a 1839, no Grão-Pará (Amazonas e Pará atuais). · reuniu mestiços e índios. · movimento começou com a resistência oferecida pelo presidente do conselho da província, que impediu o desembarque das autoridades nomeadas pela Regência. · cabanos chegaram a tomar Belém. · depois de prolongada resistência, foram derrotados.
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3). · Rio Grande do Sul: movimento republicano e federalista de amplas proporções (de 1835 a 1845). · dois grupos se defrontaram: o conservador monárquico (os caramurus) e o liberal (chimangos), composto, sobretudo por estancieiros, mas que veio a contar com o apoio das camadas populares. · chimangos protestavam contra a pesada taxação do charque e do couro. · depois de várias batalhas, o armistício foi negociado e a anistia concedida a todos. 4). · Bahia: revolta irrompeu a 7 de novembro de 1837, pretendendo implantar uma república. · a tropa local aderiu ao movimento. · cercados pelo exército governista, revoltosos resistiram até meados de março de 1838. · milhares foram mortos ou feitos prisioneiros. 5). · movimento insurrecional extenso e profundo, sacudiu o Maranhão - e parte do Piauí e do Ceará (de 1838 a 1841). · rebeldes chegaram a ter 11 mil homens armados. · movimento começou a partir de uma reivindicação política, o restabelecimento dos juízes de paz, mas ganhou proporções maiores. · anistia oferecida pelas tropas do governo esvaziou a insurreição. · apenas um dos líderes foi condenado à forca. 6). · projeção, no Brasil, das revoluções populares de 1848, na Europa. · nascida da rivalidade entre os partidos Liberal e Conservador, acabou se transformando em choque de classes. · praieiros lutaram de 1848 a 1849, exigindo voto livre e democrático, liberdade de imprensa e trabalho para todos. · mais de 500 revolucionários foram mortos. O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO LIBERAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA E SEUS CRÍTICOS NO SÉCULO XIX Século XIX – consolidação do capitalismo e o desenvolvimento do pensamento liberal → Os movimento liberais anularam a possibilidade de sobrevivência do Antigo Regime. − As Revoluções Liberais de 1820 • Portugal – Revolução do Porto • França – 1830 – o rei Carlos X – tenta restaurar o absolutismo – foi deposto.
Ciências Humanas e suas Tecnologias − Com a Revolução Industrial surgiram pensadores que buscavam novas alternativas políticas, econômicas e sociais para os trabalhadores – Socialistas – Karl Marx. Iluminismo: Conceito e características → Iluminismo – Filosofia das Luzes – renovação filosófica e intelectual – atingiu uma maior expressão na França – século XVIII. − Crença inabalável na razão. − O progresso do homem pode ser infinito desde que ele se liberte da superstição, do misticismo e das trevas, que até então estivera subordinado. − Base nas leis naturais que regem a dinâmica do Universo – Revolução Científica. • Galileu / Newton / Descartes. − Desprezo pelo passado – rejeição das velhas crenças e antigas tradições. • Antigo Regime • Sociedade estamental, baseada nos privilégios de nascimento. • As religiões tradicionais (em especial o catolicismo). − A grande maioria dos pensadores iluministas não negava a existência de Deus. • Para eles existia um Deus muito diferente que se confundia com a própria natureza – origem de todas as coisas. O Iluminismo e seus pensadores → Os principais pensadores foram: − Montesquieu (1689 – 1755): O poder podia ser dividido em três partes principais: legislativo, executivo e judiciário. A separação garantia a liberdade evitando o abuso de poder. − Voltaire (1694 – 1778): Defendia a liberdade de expressão e condenava toda a intolerância religiosa. Trabalhava para que as pessoas se tornassem mais esclarecidas, libertando-se dos preconceitos, das superstições, da ignorância e do fanatismo. Era um defensor da monarquia, desde que o rei se cercasse de conselheiros esclarecidos. − Jean-Jacques Rousseau (1712 a 1778): Defendia um Estado republicano, em que as pessoas renunciassem à vontade individual em favor da vontade geral a sociedade, mas conservassem o direito à voz no estabelecimento das leis, que governariam suas vidas. Para ele o progresso trazido pelo uso da razão trazia benefícios, mas estes nunca eram distribuídos igualmente entre os homens, prevalecendo a desigualdade e a tirania. − Denis Diderot e D’Alembert: Organizaram a Enciclopédia reunindo todo o alcance intelectual da época, cobrindo todos os assuntos discutidos pelo Iluminismo. Para Diderot a finalidade da Enciclopédia
era reunir os conhecimentos e expor aos homens de seu tempo, e transmiti-los a gerações futuras a fim de que aquilo que foi realizado no passado não caísse no esquecimento e, assim, tornando-se mais instruídos, os homens seriam mais virtuosos e mais felizes. → O despotismo esclarecido − Alguns soberanos europeus também se interessaram pela efervescência cultural e, inspirados pelas ideias iluministas, começaram a demonstrar consciência de que seu povo tinha direito a algo em troca do pagamento de impostos e do envio de seus filhos para as guerras. − Apesar dos contatos com filósofos iluministas e das reformas que fizeram em seus países, nenhum monarca chegou a ponto de colocar em perigo o princípio do governo autocrático. O Liberalismo econômico (ou Economia Política) e suas características → Fins do século XVIII e início do século XIX – a Europa Ocidental estava se transformando rapidamente. − Revolução Industrial – Sociedade burguesa e capitalista – Ideais de progresso e desenvolvimento – surge um conjunto de teorias econômicas que iriam compor o que convencionou chamar de Economia Política Clássica. → Surgidas com o Iluminismo e lançadas pelos fisiocratas, as bases do liberalismo eram: − A propriedade privada − O individualismo econômico − A liberdade de comércio, de produção e de contrato de trabalho. A Fisiocracia e a Escola Clássica → Fizeram, inicialmente, a crítica às práticas intervencionistas do mercantilismo. → Fisiocracia − Principal Teórico foi o médico francês François Quesnay (1694-1774). • Partia do principio de que os recursos naturais, em especial a terra, eram a fonte de riqueza. └ Para ele, a agricultura desempenhava um papel vital na economia, assim como o coração no corpo humano. → Escola Clássica − Adam Smith • O Estado não precisa intervir na economia, o livre comercio impulsionará a concorrência, as empresas procurarão produzir mercadorias melhores e mais baratas e o consumidores acabariam sendo beneficiados com isso. − David Ricardo (1772-1823) • Teoria do Valor-Trabalho – O custo da produção social determina o valor dos bens produzidos. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias • Lei Férrea dos Salários – O trabalhador deveria receber o mínimo pela sua subsistência. └ Se não houvesse o aumento do salário não haveria o aumento do custo da produção, aumento do preço das mercadorias e a consequentemente a inflação que prejudicaria os trabalhadores. − Stuart Mill (1806-1873) • Defensor do laissez faire – afirmou que tudo que limita a concorrência é um mal, tudo o que a amplia, é decididamente um bem. − Thomas Robert Malthus (1766-1834) • Elaborou a Teoria da população – defendia o controle da natalidade – a população cresce mais do que a produção de alimentos – essa desproporção acarreta a fome, guerras, epidemias – fatores que restaurariam o desequilíbrio.
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As Revoluções de 1830 e 1848: liberalismo, democracia e socialismo. → França 1830 – Tentativa de restauração do absolutismo – rei Carlos X. − Tentativa de eliminar as conquistas da Revolução Francesa. • Liberdade de imprensa, divisão dos poderes, representação política mesmo que limitada pelo sufrágio censitário; • O povo não aceitava mais o ressurgimento do absolutismo e o rei Carlos X foi deposto. → Esta onda revolucionária atingiu também outras regiões da Europa. − Todos os movimentos foram duramente reprimidos pelas forças conservadoras – no entanto eles revelaram que uma nova força social, o proletariado, havia entrado em cena. • 1848 – Primavera dos Povos – França, Áustria, Polônia, Prússia e Estados italianos – eclodiram movimentos revolucionários que questionavam a restauração conservadora oriunda do Congresso de Viena. A crítica ao pensamento liberal no século XIX → As péssimas condições de vida e trabalho provocadas pela Revolução Industrial na Europa foi responsável pelo surgimento dos socialismos. − O Socialismo Utópico • Suas ideias foram desenvolvidas na primeira metade do século XIX. • Visavam alcançar uma sociedade mais justa, igualitária e fraterna. └ Não apresentaram de uma maneira concreta, os meios pelos quais essa sociedade se estabeleceria. • Princípios básicos: └ Crítica ao liberalismo econômico └ Formação de comunidades autossuficientes – livre cooperação. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
└ Organização, em escala nacional, de um sistema de cooperativas de trabalhadores, que negociariam entre si, a troca de bens e de serviços. └ Atuação do Estado – centralização da economia – evitaria os abusos típicos do capitalismo. − O Socialismo Científico (Karl Marx e Friedrich Engels) • Para eles o capitalismo seria inevitavelmente, superado e destruído – a classe trabalhadora deveria desenvolver sua consciência histórica e entender-se como uma classe revolucionária – seu papel seria a destruição da ordem capitalista. • O Socialismo seria apenas uma etapa intermediária, necessária, para se alcançar o comunismo. • Os fundamentos do marxismo, também denominado Socialismo Científico eram: └ A teoria da mais-valia └ A teoria do materialismo histórico └ A teoria da luta de classes └ A teoria do materialismo dialético − O Anarquismo – também denominado comunismo libertário defendiam: • A supressão de toda e qualquer forma de governo e do próprio Estado; • A abolição da propriedade privada; • A instalação de uma sociedade sem classes, na qual não existiriam desigualdades sociais; • Instauração de uma sociedade na qual não existiriam nem opressores nem oprimidos; • A superação do capitalismo e instalação imediata da sociedade comunista, sem necessidade uma etapa intermediária (ditadura do proletariado). • Os principais teóricos └ Pierre-Joseph Proudhon. └ Mikhail Bakunin. − O Anarcossindicalismo • O sindicato seria a vanguarda do movimento revolucionário – sindicalismo revolucionário. • Pregava a dissolução do Estado – entrada em massa de anarquistas no movimento sindical. └ Desenvolveu-se em diversos países europeus no final do século XIX e no princípio do século XX. − O Sindicalismo e a Social democracia • Sindicalismo também vinculado ao pensamento socialista – fazia críticas contundentes ao pensamento liberal – contestaram a ordem burguesa e capitalista – greves. • Em fins do século XIX, os trabalhadores começaram a organizar-se em partidos políticos. • Desenvolveu-se a Social-democracia – constituição de partidos social-democratas. └ Devido a algumas concessões e benefícios a classe operária, as lideranças políticas dos trabalhadores que controlavam a cúpula dos partidos de inspiração social-democrata – passaram a acreditar que seria possível atingir o socialismo por meio de reformas dentro da própria ordem capitalista – abrindo mão da luta de classes e da revolução proletária.
Ciências Humanas e suas Tecnologias POLÍTICAS DE COLONIZAÇÃO, MIGRAÇÃO, IMIGRAÇÃO E EMIGRAÇÃO NO BRASIL NOS SÉCULOS XIX E XX. A ATUAÇÃO DOS GRUPOS SOCIAIS E OS GRANDES PROCESSOS REVOLUCIONÁRIOS DO SÉCULO XX: REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE, REVOLUÇÃO CHINESA, REVOLUÇÃO CUBANA. O intenso processo de imigração no Brasil, principalmente entre a segunda metade do século XIX e a primeira do século XX, deixou fortes marcas de mestiçagem e hibridismo cultural, constituindo um importante fator na demografia, cultura, economia e educação deste país. O povoamento pré-colonial Quando os primeiros portugueses aportaram no Brasil, em 22 de abril de 1500, encontraram no território grupos humanos que já viviam ali há pelos menos 10 mil anos. Há diversas teses sobre a origem dos povos indígenas, mas a mais aceita que vieram da Ásia, atravessando o estreito de Bering, que ligava a Sibéria e com a América do Norte. Em 1500, sua população é estimado entre 2 e 5 milhões de indivíduos. Até a abertura dos portos ocorrida em 1808, o povoamento europeu no Brasil foi quase que exclusivamente português. Mais de 700.000 portugueses se deslocaram para sua colônia americana neste período. O povoamento lusitano começou efetivamente em 1532, a partir da fundação do povoado de São Vicente. A imigração de lusos no período colonial ficou por muito tempo estagnada, tendo em vista que Portugal tinha uma população muito pequena, e era difícil mandar colonos para o Brasil. Mapa do Brasil Colonial Entre 1500 e 1700, 100.000 portugueses se deslocaram para o Brasil, a maioria dos quais fazia parte da iniciativa privada que colonizou o País: grandes fazendeiros ou empresários falidos em Portugal que, através da distribuição de sesmarias, tentavam se enriquecer facilmente e retornar para Portugal. A colonização de exploração foi característica da colonização ibérica, pois, ao contrário dos colonos anglo-saxões que tentavam uma vida melhor nas Américas, os colonos lusos procuravam enriquecimento rápido e retorno quase imediato à Metrópole. Dedicaram-se principalmente à agricultura, baseada no trabalho escravo, inicialmente efetuado por indígenas, mas, sobretudo por escravos africanos. No século 18 aportaram no Brasil 600.000 portugueses, atraídos pela exploração de ouro que estava ocorrendo em Minas Gerais. Já não eram exclusivamente fazendeiros e agricultores, ganharam caráter urbano e se dedicaram principalmente à exploração do ouro e ao comércio.
No século 19 o Brasil tornou-se independente, dando fim a colonização portuguesa no País, embora a imigração de portugueses continuasse a crescer gradativamente. Escravidão africana Embora frequentemente não seja vista como uma imigração, a escravidão africana no Brasil foi um movimento imigratório, todavia, foi realizado de forma forçada. Seu início ocorreu na segunda metade do século 16, e desenvolveu-se no século 18 até ser proibida em 1850. Ao todo, entraram no Brasil aproximadamente 3 milhões de africanos na forma de escravos. O povoamento imigrante no Sul Após a independência, a imigração passou a fazer parte da política Imperial, pois o Sul do Brasil continuava despovoado e alvo da cobiça dos países vizinhos. O governo passou a incentivar a implantação de núcleo de colonos imigrantes no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Colonização alemã Imperador do Brasil passou a se dedicar a ocupação das terras vazias do Sul do Brasil. Para cumprir essa tarefa, o governo brasileiro optou pela vinda de imigrantes. O Brasil acabara de se tornar independente de Portugal, portanto, os portugueses não podiam ser. A imperatriz do Brasil, Dona Leopoldina, era austríaca e, por essa razão, o Brasil optou por trazer imigrantes germânicos para o país. Os alemães tornaram-se os primeiros imigrantes a se estabelecer no Brasil, após os portugueses. O primeiro grupo de colonos alemães aportou no Brasil em 1824. Foram recrutados pelo major Jorge Antônio Schaffer e encaminhados para o atual município de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Os colonos tiveram que construir suas próprias casas, receberam sementes para a plantação e gado para o sustento. De início, São Leopoldo não se desenvolveu. Porém, com a chegada de novos imigrantes, a colônia cresceu. A partir de São Leopoldo, os alemães desbravaram a região, seguindo o caminho dos rios. Em alguns anos, toda a região do Vale do Rio dos Sinos estava sendo ocupada pelos colonos germânicos. A colonização continuou a medida que os alemães, em sua maioria partindo de São Leopoldo, buscavam nova terras em lugares mais distantes. Blumenau. Essas colônias já não eram patrocinadas pelo governo, e sim colônias privadas. Colônias antigas, como Novo Hamburgo, estabelecida pouENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias co tempo depois de São Leopoldo, serviu de apoio para a criação de colônias mais novas, como Estrela (1853), Lajeado (1853) e Teutônia (1868). Outras colônias, só foram criadas tempos depois, como Ijuí (1890), Sobradinho (1901) e Erechim (1908). Essas últimas colônias já não eram exclusivamente alemãs, pois agregavam imigrantes de outras nacionalidades. A imigração alemã no Rio Grande do Sul foi contínua. Entre 1824 e 1830 entraram no Rio Grande 5.350 alemães. Depois de 1830 até 1844 a imigração foi interrompida. Entre 1844 e 50 foram introduzidos mais dez mil, e entre 1860 e 1889 outros dez mil. Entre 1890 e 1914 chegaram mais 17 mil. Os protestantes formaram a maioria dessa corrente imigratória e igrejas luteranas foram estabelecidas nas colônias para atender aos fiéis. Porém, o número de católicos também era grande. Com o passar do tempo, a maior parte dos alemães e descendentes passaram a ser católicos. Em Santa Catarina os primeiros colonos alemães aportaram em 1829, na atual cidade de São Pedro de Alcântara. Essa colônia fracassou. IMIGRAÇÃO NO BRASIL
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A vinda de imigrantes para o Brasil, ressalvada a presença dos portugueses - colonizadores do País - delineia-se a partir da abertura dos portos às “nações amigas” (1808) e da independência do País (1822). À margem dos deslocamentos populacionais voluntários, cabe lembrar que milhões de negros foram obrigados a cruzar o oceano Atlântico, ao longo dos séculos XVI a XIX, com destino ao Brasil, constituindo a mão-de-obra escrava. Os monarcas brasileiros trataram de atrair imigrantes para a região sul do País, oferecendo-lhes lotes de terra para que se estabelecessem como pequenos proprietários agrícolas. Vieram primeiro os alemães e, a partir de 1870, os italianos, duas etnias que se tornaram majoritárias nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Entretanto, a grande leva imigratória começou em meados de 1880, com características bem diversas das acima apontadas. A principal região de atração passou a ser o estado de São Paulo e os objetivos básicos da política imigratória mudaram. Já não se cogitava de atrair famílias que se convertessem em pequenos proprietários, mas de obter braços para a lavoura do café, em plena expansão em São Paulo. A opção pela imigração em massa foi a forma de se substituir o trabalhador negro escravo, diante da crise do sistema escravista e da abolição da escravatura (1888). Ao mesmo tempo, essa opção se inseria no quadro de um enorme deslocamento transoceânico de populações que ocorreu em toda a Europa, a partir de meados do século XIX, perdurando até o início da ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Primeira Guerra Mundial. A vaga imigratória foi impulsionada, de um lado, pelas transformações socioeconômicas que estavam ocorrendo em alguns países da Europa e, de outro, pela maior facilidade dos transportes, advinda da generalização da navegação a vapor e do barateamento das passagens. A partir das primeiras levas, a imigração em cadeia, ou seja, a atração exercida por pessoas estabelecidas nas novas terras, chamando familiares ou amigos, desempenhou papel relevante. Nas Américas, pela ordem, os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil foram os principais países receptores de imigrantes. No caso brasileiro, os dados indicam que em torno de 4,5 milhões de pessoas imigraram para o país entre 1882 e 1934. Destes, 2,3 milhões entraram no estado de São Paulo como passageiros de terceira classe, pelo porto de Santos, não estando, pois, aí incluídas entradas sob outra condição. É necessário ressalvar, porém, que, em certas épocas, foi grande o número de retornados. Em São Paulo, por exemplo, no período de crise cafeeira, (1903-1904), a migração líquida chegou a ser negativa. Um dos traços distintivos da imigração para São Paulo, até 1927, foi o fato de ter sido em muitos casos subsidiada, sobretudo nos primeiros tempos, ao contrário do que sucedeu nos Estados Unidos e, até certo ponto, na Argentina. O subsídio consistiu no fornecimento de passagem marítima para o grupo familiar e transporte para as fazendas e foi uma forma de atrair imigrantes pobres para um país cujo clima e condições sanitárias não eram atraentes. A partir dos anos 30, a imigração em massa cedeu terreno. A política nacionalista de alguns países europeus - caso típico da Itália após a ascensão de Mussolini - tendeu a colocar obstáculos à imigração para a América Latina. No Brasil, a demanda de força de trabalho, necessária para o desenvolvimento industrial, passou a ser suprida, cada vez mais, pelas migrações internas. Habitantes do Nordeste do País e do estado de Minas Gerais abandonaram suas regiões em busca do “el-Dorado paulista”. Na década de 30, somente os japoneses, ligados à pequena propriedade agrícola, continuaram a vir em grande número para São Paulo. Em anos mais recentes, a imigração para o Brasil, qualitativamente, diversificou-se bastante. Novas etnias se juntaram às mais antigas, como é o caso da imigração de países vizinhos - Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia etc. - tanto por razões profissionais como políticas. Coreanos passaram a compor a paisagem da cidade de São Paulo, multiplicando restaurantes e confecções. Após os primeiros anos de dificuldades extremas, que não foram muito diversas das que atravessaram em outros países, os imigrantes acabaram por se integrar à sociedade brasileira. Em sua grande maioria,
Ciências Humanas e suas Tecnologias ascenderam socialmente, mudando a paisagem socioeconômica e cultural do Centro-sul do Brasil. No Sul, vincularam-se à produção do trigo, do vinho, e às atividades industriais; em São Paulo, impulsionaram o desenvolvimento industrial e o comércio. Nessas regiões, transformaram também a paisagem cultural, valorizando a ética do trabalho, introduzindo novos padrões alimentares e modificações na língua portuguesa, que ganhou palavras novas e um sotaque particular. Os imigrantes europeus, do Oriente Médio e asiáticos (portugueses, italianos, espanhóis, alemães, judeus, sírios e libaneses, japoneses) influenciaram a formação étnica do povo brasileiro, sobretudo na região Centro-sul e Sul do País. Tendo em conta as contribuições de índios e negros, disso resultou uma população etnicamente diversificada, cujos valores e percepções variam de um segmento a outro, no âmbito de uma nacionalidade comum. Fonte: www.projetoimigrantes.com.br
IMIGRAÇÃO NO BRASIL Em meados do século XIX, as áreas desocupadas do sul do Brasil e o crescimento da lavoura de café atraíram a mão-de-obra estrangeira, principalmente europeia, que estava à procura de melhores condições de vida e de trabalho. A imigração então iniciada iria ter enorme importância na história econômica, política e cultural brasileira. Para cá vieram italianos, portugueses, espanhóis, alemães, austríacos, russos, além de outras nacionalidades e grupos étnicos de menor expressão numérica como suíços, húngaros, poloneses, tchecos, judeus. Vieram também japoneses, sírios e libaneses, desejosos de tentar a vida no Brasil. O último afluxo significativo de imigrantes ocorreu na década de 1920, e vários motivos explicam o declínio verificado a partir de então: o crescimento das migrações internas na Europa, os efeitos da crise de 1929 na economia e as limitações impostas pelo governo brasileiro. Exemplo disso foi o decreto presidencial de dezembro de 1930, que procurava disciplinar “a afluência desordenada de estrangeiros”, vista como responsável pelo aumento do desemprego nas cidades. Os imigrantes que para cá vieram usaram recursos próprios ou foram subvencionados por seus países de origem, pelos fazendeiros brasileiros, e ainda pelo governo federal ou dos estados. Dos cerca de 3 milhões e meio que entraram no Brasil entre 1890 e 1929, estima-se que quase a metade chegou às décadas de 1910 e 1920. As principais razões da vinda de tantos imigrantes nesse período foram, na década de 1910, o sucesso do programa de valorização do
café e a adoção de uma política de incentivo à imigração. Já na década de 1920, pesaram a crise econômica europeia do pós-guerra, que funcionou como fator de expulsão das populações, e a nova fase de expansão do café no Brasil, que exigia mais braços para a lavoura. O emprego da mão-de-obra imigrante caminhou paralelamente ao desenvolvimento e à diversificação da economia brasileira. Os imigrantes foram responsáveis por um aumento substancial da produção cafeeira, seja trabalhando como empregados nas grandes fazendas, seja como pequenos proprietários. Desde o início também estiveram presentes na industrialização do país, em muito contribuindo para a urbanização das principais cidades. Estima-se que em 1920, 64,2% dos estabelecimentos industriais de São Paulo estavam nas mãos de empresários imigrantes. Quanto aos trabalhadores, tiveram participação significativa no movimento operário que sacudiu a política brasileira entre 1917 e 1920. Isso não quer dizer, entretanto, que a luta operária no Brasil fosse inspirada unicamente pelo exterior, como queria fazer crer a Lei de Expulsão de Estrangeiros de 1921. A despeito das muitas histórias de fracasso que terminaram em reemigração, alguns nomes representam a vitória dos imigrantes no Brasil. É o caso dos Matarazzo na indústria e dos Schmidt no setor agrário. Além disso, muitos Conti, Perone, Tomiko, Saad, Garcia, Goldman, Oliveira, Weber etc. vieram se somar aos brasileiros natos na formação do Brasil contemporâneo. Fonte: www.cpdoc.fgv.br
IMIGRAÇÃO NO BRASIL As maiores ondas imigratórias para o Brasil foram patrocinadas pelo governo a partir da segunda metade do século XIX. O objetivo era trazer trabalhadores aptos a substituir os escravos na agricultura e a executar tarefas necessárias à industrialização e ao desenvolvimento econômico. O movimento cresce a partir das décadas de 1870 e 1880 e se estende até meados do século XX. A onda imigratória iniciada no século XIX traz para o país cerca de 4 milhões de trabalhadores. A maioria vem da Europa, mas também é significativa a vinda de japoneses. Os europeus trazem para o país as ideias anarquistas e socialistas, que são importantes para a organização e o desenvolvimento do movimento operário brasileiro.·. Primeiras imigrações As primeiras experiências na substituição da força de trabalho escrava por imigrantes europeus começam a partir de 1819 com a instalação de colonos ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias suíços na região de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. O movimento imigratório se intensifica na segunda metade do século XIX com a expansão cafeeira na Região Sudeste do país e a escassez de escravos provocada pela abolição do tráfico em 1850. Depois que grandes fazendeiros de café contratam estrangeiros para trabalhar em suas terras, os governos provinciais da região seguem o exemplo da iniciativa privada e desenvolvem programas de incentivo à vinda de trabalhadores de outros países, levando o Império a formular uma política oficial de imigração. Representantes do imperador brasileiro atuam em companhias internacionais de colonização sediadas em diversas cidades europeias. Com isso se estabelece um fluxo regular de chegada de estrangeiros aos estados do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Minas Gerais, tradicionais zonas cafeeiras, e também ao do Espírito Santo, onde são instaladas áreas pioneiras de cultivo de café. Além da preocupação em obter mão-de-obra para a agricultura, há também o interesse de atrair a população branca para o país a fim de reduzir proporcionalmente o número de negros e mestiços no Brasil. Colonização no Sul
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O governo incentiva ainda a imigração estrangeira para as províncias do sul do país, que se tornam estratégicas depois da Guerra do Paraguai. No caso, o objetivo é menos o de substituir a mão-de-obra escrava do que o de povoar áreas de densidade demográfica muito baixa. Até a proclamação da República (1889), mais de 1,5 milhão de imigrantes portugueses, espanhóis, italianos, alemães e eslavos, entre outros, chegam ao Brasil. A maioria vai para as plantações de café do Sudeste, mas muitos se dirigem às colônias do Paraná, de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. Japoneses Com a República mantém-se o incentivo à imigração estrangeira, agora com forte participação dos asiáticos, sobretudo dos japoneses. Durante a II Guerra Mundial, a imigração europeia diminui e a entrada de japoneses é suspensa. Restabelecida a imigração no período do pós-guerra, prossegue até a década de 60, quando é praticamente encerrada. Fonte: EncBrasil
IMIGRAÇÃO NO BRASIL As primeiras experiências com o trabalho livre nas fazendas de café começam em 1847 por iniciativa do senador Nicolau de Campos Vergueiro, político e ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
latifundiário paulista. Vergueiro traz para sua fazenda de Ibicaba, no município de Limeira (SP), 177 famílias de colonos suíços e alemães para trabalhar em regime de parceria, ao lado dos escravos. Os imigrantes comprometem-se a cuidar de uma certa quantidade de pés de café em troca de uma porcentagem do que é obtido na venda dos grãos. Podem plantar pequenas roças de subsistência, partilhando a produção com o proprietário das terras. A experiência não dá certo: os colonos acusam Vergueiro de roubá-los no peso do café e na divisão das roças. O mesmo ocorre em praticamente todas as fazendas paulistas que adotam a parceria. O sistema é abandonado no final de 1850. Imigração subvencionada Em 1871 o governo brasileiro cria a lei que permite a emissão de apólices de até 600 contos de réis para auxiliar no pagamento das passagens e no adiantamento de 20 mil-réis a cada família imigrante. No mesmo ano, é formada a Associação Auxiliadora de Colonização de São Paulo, que reúne grandes fazendeiros e capitalistas e tem o apoio do governo provincial. Entre 1875 e 1885, a Província de São Paulo recebe 42 mil estrangeiros. Em 1886, é criada a Sociedade Protetora da Imigração, em São Paulo. Garante aos estrangeiros transporte, alojamento, emprego e repatriamento em caso de inadaptação. Em 1887, a Sociedade traz 32 mil trabalhadores estrangeiros para o Brasil. Entre 1888 e 1900 entram mais de 800 mil imigrantes. Os imigrantes Portugueses, espanhóis, italianos, alemães, austríacos, entre outros povos, são atraídos pelas propagandas divulgadas em seus países, que acenam com uma vida melhor para quem quiser se aventurar nos trópicos. É da Itália, porém, que vem a maioria dos imigrantes. Fogem da falta de empregos e da fome generalizada. A maioria dos imigrantes vem para as lavouras de café de São Paulo. Um número expressivo dirige-se ao Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde se desenvolve uma colonização baseada na pequena propriedade agrícola. Muitos ficam nos núcleos urbanos, como operários ou artesãos autônomos. O recenseamento de 1900 registra 1,2 milhão de estrangeiros no Brasil, ou cerca de 7% da população. Destes, cerca de 500 mil estão em São Paulo, 200 mil no Rio de Janeiro, mais de 140 mil no Rio Grande do Sul. Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/imigracao-no-brasil/imigracao-no-brasil.php
Ciências Humanas e suas Tecnologias REVOLUÇÃO BOLCHEVIQUE, REVOLUÇÃO CHINESA, REVOLUÇÃO CUBANA. A Revolução Russa A industrialização da Rússia ocorreu bem atrasada, com mais de um século, se for comparada com à Inglaterra, mesmo assim ela foi favorecida pelo fim da servidão, fato este que pode liberar mais mão-de-obra, e com consequência mais investimentos estrangeiro. As péssimas condições de trabalho fizeram que os operários passassem a se organizar, isto fez surgir os partidos, que tinham a base em ideais socialistas. Mas também houve as divergências internas que dividiram em bolcheviques e mencheviques. Durante reprimidas, as rebeliões populares de 1905 serviram para fortalecer as organizações partidárias e preparar a população para a revolução. A Primeira Guerra Mundial não foi de muita ajuda pra o governo serviu apenas enfraquecer ainda mais o governo Nicolau II. Em dois anos de luta, seu exército sofreu 7 milhões de baixas. Já com a população civil as perdas se deram por causa da fome , pois como o povo não tinha emprego , não podia ter dinheiro para comprar o alimento necessário e básico para pelo menos conseguir sobreviver. Em fevereiro de 1917, o czar renunciou e foi instalada uma república liderada por Kerensky. Em novembro, os bolcheviques comandados por Lênin e Trotsky tomam o poder. Logo após, assinam a paz com a Alemanha, efetuam uma radical reforma agrária e passaram a nacionalizar bancos, indústrias e meios de transportes. Os russos-brancos, apoiados pelas potências capitalistas (Inglaterra, França e EUA), não gostaram e passaram a resistir, com isso inicia-se uma sangrenta guerra civil que dura três anos (1918-1921), mas é vencida pelo Exército Vermelho. Depois de duas guerras, a economia russa estava acabada. Para recuperá-la, Lênin adotou a NEP, isso serviriam para afrouxar alguns controles sobre os investimentos estrangeiros, o excedente agrícola e as pequenas empresas (menos de vinte funcionários). Em 1924, Lênin morreu e foi substituído por Stálin, que passou a perseguir todos os seus adversários (principalmente os apoiadores de Trotsky), e condenar muitos à morte e milhões ao exílio na Sibéria. Suprimiu A NEP e adotou os planos quinquenais. Por isso que a URSS tornou-se, uma grande potência. Revolução chinesa Com cerca de 400 milhões de habitantes, a China do final do século XIX era um país sob o controle dos interesses das principais potências imperialistas.
Para exercer sua dominação, as nações imperialistas contavam com o apoio de uma propaganda massiva e de certa forma com a colaboração dos imperadores chineses da dinastia Manchu, que dominavam o país desde o século XVII. Nesse contexto marcado por privilégios e humilhações, fez com que inúmeros chineses se organizassem em atos de rebeldia. Em 1900, por exemplo, os Boxers, membros de uma sociedade secreta que praticava o boxe sagrado, iniciaram uma revolta nacional contra os estrangeiros, mas acabaram massacrados pelos exércitos das potências ocidentais que haviam se unido contra eles. Embora eles tenham sido vencidos sua semente, conseguiu ser lançada. Aos poucos, as camadas populares passaram a fazer parte na luta pela democracia. Finalmente, em 1911, o antigo império chinês desabou. A revolta que pôs fim à monarquia chinesa foi liderada por Sun Yat-sen , nomeado então presidente da República recém-proclamada. Sun Yat-sen, junto com seus seguidores, fundou o Kuomintag , Partido Nacional do Povo, com o objetivo de dar maior atenção ao povo. A República chinesa, não conseguiu fazer frente às potências estrangeiras e nem aos chefes militares locais, chamados “os senhores da guerra”. Isto porque estes tinham enorme poder nas províncias e controlavam, juntamente com outros grandes proprietários de terra, cerca de 88% das áreas produtivas. Em 1921, coma disposição de organizar os operários e os artesãos, foi criado o Partido Comunista Chinês (PCC). Seus principais fundadores foram o intelectual Chen-Tu-xiu, o educador Peng-Pai e o ativista político Mao Tse-tung. A princípio, esse partido aliou-se ao Partido Nacional do Povo. Mas essa aliança durou pouco tempo. Em 1927, o general Chiang Kai-shec assumiu o comando das tropas do Partido Nacional do Povo, disposto a submeter os chefes militares locais. Durante as lutas que então se travaram, Chiang Kai-shec voltou-se também contra os comunistas. A partir daí, a união entre os nacionalistas e os comunistas cedeu lugar a uma guerra entre eles. Um dos episódios marcantes dessa guerra foi a Longa Marcha , uma caminhada de 10 mil quilômetros que o principal líder comunista, Mao Tse-tung, empreendeu com mais de 100 mil pessoas em direção ao noroeste do país com o objetivo de escapar ao cerco inimigo, destes apenas 9 mil chegaram ao fim da marcha. A prolongada guerra entre nacionalistas e comunistas foi interrompida apenas por dois motivos. O primeiro, em 1937, quando se uniram para lutar contra o Japão que havia invadido a Manchúria, no norte do país. o segundo, durante a Segunda Guerra Mundial, para enfrentarem juntos as forças nazifascistas. Em 1º de outubro de 1949, a China se proclama a República Popular da China. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Revolução cubana
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Cuba conseguiu libertar-se da Espanha em 1898, com um exército comandado por José martí e composto em sua maioria por ex-escravos que, venceram soldados armados de fuzis e baionetas. Apesar de politicamente ser independente, o país passou a ser dominado de maneira direta e indireta pelos norte-americanos. Estes compravam a maior parte do açúcar cubano, o principal produto de exportação da ilha. Essa dominação foi oficializada em 1901, através da imposição da Emenda Platt, por meio da qual os norte-americanos reservavam o direito de instalar bases militares no país e de intervir militarmente sempre que se achassem ameaçados. Quase toda a riqueza de Cuba estava concentradas nas mãos de poucos, e de empresas norte-americanas instaladas no país. A outra face de Cuba era o fato de milhões de cubanos alimentar-se mal, morar em barracos e viver de empregos temporários. Foi nesse cenário marcado por intensa desigualdade social que um grupo de revolucionários, liderado pelo jovem advogado cubano Fidel Castro, iniciou uma luta contra o ditador Fulgêncio Batista (1934-1958). Depois de uma tentativa fracassada de chegar ao poder, os revolucionários embrenharam-se na Sierra Maestra e, apoiados pelos camponeses partiram para a guerra de guerrilhas. Em janeiro de 1959, quase dois anos depois de iniciada a guerrilha, Fidel e seus companheiros, entre eles, o médico argentino Ernesto “Che” Guevara, conseguiram conquistar o poder, e o ditador foi mandado para fora do país. Algumas das medidas do novo governo foram: » a reforma agrária; » redução em 50% nos aluguéis, de 25% nos livros escolares e 30% das tarifas de eletricidade; » nacionalização de usinas, indústrias e refinarias. Os norte-americanos por acharem que ficariam no prejuízo, deixaram de comprar o açúcar cubano. Então o governo de Fidel fez acordos comerciais com os países do bloco comunista. A reação americana foi de romper relações diplomáticas com Cuba em janeiro de 1961. Em 1962, ocorreu a “Crise dos Mísseis”, quando o então presidente norte-americano John Kennedy bloqueou a ilha por mar, e ameaçou invadi-la sob a alegação de que os soviéticos tinham ali instalado mísseis nucleares. O conflito foi resolvido por meio de um acordo entre os EUA e a URSS que determinava a retirada dos mísseis soviéticos, em troca do compromisso de os norte-americanos não invadirem a ilha. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Neste mesmo ano, Cuba foi expulsa da OEA (Organização dos Estados Americanos) o motivo era a exportação dos ideais socialistas para todo o continente. Na verdade o objetivo dos americanos era isolar o governo de Fidel Castro. Mas com o passar do tempo os países latino-americanos foram reativando suas relações com Cuba. GEOPOLÍTICA E CONFLITOS ENTRE OS SÉCULOS XIX E XX: IMPERIALISMO, A OCUPAÇÃO DA ÁSIA E DA ÁFRICA, AS GUERRAS MUNDIAIS E A GUERRA FRIA. OS SISTEMAS TOTALITÁRIOS NA EUROPA DO SÉCULO XX: NAZIFASCISTA, FRANQUISMO, SALAZARISMO E STALINISMO. DITADURAS POLÍTICAS NA AMÉRICA LATINA: ESTADO NOVO NO BRASIL E DITADURAS NA AMÉRICA. Revoluções na Europa A reação europeia, conduzida pelo Congresso de Viena e pela Santa Aliança, não conseguiu estancar o movimento revolucionário iniciado na segunda metade do século XVIII. As revoluções da América luso-espanhola foram bem-sucedidas e a Grécia se libertou do julgo turco. Por volta de 1830, uma nova onda revolucionária abalou a Europa: na França, Carlos X, sucessor de Luís XVIII (foto), foi obrigado a abdicar do poder; a Bélgica, dominada pela Holanda, rebelou-se, proclamando sua independência; na Itália, as associações revolucionárias impuseram uma Constituição; na Alemanha eclodiram movimentos liberais constitucionalistas; a Polônia tentou obter sua independência. Essas revoluções provocaram um golpe violento na reação representada pela Santa Aliança, aniquilando-a. Além disso, outros fatores podem ser arrolados para explicar o problema. Entre 1846 e 1848, as colheitas na Europa Ocidental e Oriental foram péssimas. Os preços dos produtos agrícolas subiram violentamente e a situação das classes inferiores piorou. Ao mesmo tempo, verificava-se uma crise na indústria, particularmente no setor têxtil. O aumento da produção ocasionou a superprodução. A crise na agricultura diminuiu ainda mais o consumo dos produtos manufaturados pelo empobrecimento dos camponeses. A paralisação das atividades fabris resultou em dispensa dos trabalhadores e redução nos salários, exatamente quando os preços dos gêneros de primeira necessidade subiam vertiginosamente. Os recursos financeiros dos países europeus foram carreados para a aquisição de trigo na Rússia e Estados Unidos. Isto afetou os grandes empreendimentos industriais e a construção das estradas de ferro, em franco progresso na oportunidade. A paralisação das atividades nestes setores arrastou outros, provocando a estagnação econômica geral.
Ciências Humanas e suas Tecnologias A crise variou de país para país. Na Itália e Irlanda foi mais agrária; na Inglaterra e França, industrial, bem como na Alemanha. A miséria gerou o descontentamento político. A massa dos camponeses e proletários passou a reclamar melhores condições de vida e maior igualdade de recursos. No fundo, constituíam-se ideias socialistas, mas como não existia um partido socialista organizado que pudesse orientar estas classes, coube aos liberais e nacionalistas, compostos pela burguesia esclarecida, exercerem a oposição ao governo, contando com o apoio da massa, sem orientação própria. França Luís Felipe fora colocado no trono da França pela Revolução de 1830, representando os ideais da burguesia e tendo por objetivo conciliar a Revolução com o Antigo Regime. A oposição popular ao regime era manifesta. Em 1834 deu-se a insurreição dos operários de Lyon. As tendências republicanas ganhavam adeptos através das várias sociedades políticas fundadas com este propósito. A oposição não era somente popular. Havia muitos partidários da volta de Carlos X, exilado desde 1830. Os antigos correligionários de Napoleão acercavam-se de Luís Bonaparte, seu sobrinho. O partido socialista opunha-se ao governo, propondo reformas. Seus líderes, Louis Blanc, Flocon e Ledru-Rollin iniciaram em 1847 uma campanha em todo o país visando à reforma eleitoral. A forma encontrada para a difusão da campanha foram os banquetes nos quais os oradores debatiam a questão. Em 22 de fevereiro, o ministro Guizot proibiu a realização de um banquete, o que provocou a eclosão da revolta. Surgiram as barricadas nas ruas com o apoio de elementos da Guarda Nacional. A revolta ganhou vulto. Guizot foi demitido em favor de Thiers, que nada resolveu. A Câmara foi invadida e os deputados fugiram. Luís Felipe abdicou. O governo provisório foi organizado e proclamou a Segunda República da França, com a participação de burgueses liberais e socialistas. No dia 23 de abril, realizou-se a primeira eleição na Europa com o voto universal masculino, direto e secreto. A crise econômica, entretanto, não fora debelada; pelo contrário, se agravara. O governo provisório, a fim de ofertar trabalho aos desempregados, criara as “oficinas nacionais”, empresas dirigidas e sustentadas pelo Estado. O pagamento dos salários era coberto com a elevação dos impostos, o que redundou em crise maior.
O fechamento destas oficinas fez voltar à rua o proletariado. Tentou-se fazer uma revolução dentro da própria revolução. A Assembleia delegou poderes excepcionais ao general republicano Cavaignac, que abafou violentamente a revolta. Dezesseis mil pessoas foram mortas e quatro mil deportadas. A questão operária foi resolvida segundo os interesses da burguesia. Em 12 de novembro de 1848 foi promulgada uma nova Constituição. O presidente da República seria eleito por quatro anos, sendo Luís Napoleão o primeiro presidente eleito. Em 1851 deu um golpe político, implantando o II Império da França, assumindo o governo com o título de Napoleão III. Itália A Itália, em 1848, estava dividida em vários Estados, todos eles com governo tipicamente despótico. A crítica a este regime era conduzida pelas sociedades secretas, principalmente a Carbonária. Ao mesmo tempo, reformas liberais visavam à unificação dos Estados italianos. Para tanto, seria preciso expulsar os austríacos, que desde o Congresso de Viena adquiriram supremacia sobre a Itália. Em janeiro deu-se uma revolta no Reino das Duas Sicílias. O rei Fernando II foi obrigado a conceder uma Constituição, o mesmo ocorrendo na Toscana e no Estado papal. No reino de Lombardia iniciou-se séria oposição aos austríacos. O rei de Piemonte, Carlos Alberto, tomou a liderança da revolta, declarando guerra aos austríacos. Os exércitos austríacos obtiveram duas vitórias (Custozza e Novara), forçando Carlos Alberto a abdicar em nome de seu filho Victor-Emanuel II. A repressão implantada pelos austríacos foi violenta em toda a península. A tentativa liberal e nacionalista dos italianos tinha sido frustrada. Alemanha A Alemanha, depois do Congresso de Viena, passara a constituir uma Confederação composta por numerosos estados, cuja política exterior era coordenada por uma Assembleia que se reunia em Frankfurt. A Prússia e a Áustria lideravam esta Confederação. Visando à maior integração entre os Estados germânicos foi criado, em 1834, o Zollverein, espécie de liga aduaneira que liberava a circulação de mercadorias nos territórios dos membros componentes, em torno da Prússia e sem a participação da Áustria. Esta política econômica estimulou o desenvolvimento industrial, que por sua vez acentuou o nacionalismo germânico, o desejo de independência e de união política. O mesmo aspecto liberal e nacionalista que vimos aparecer na Itália também se manifestava lá. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Na Prússia, em 18 de março de 1848, verificou-se extraordinária manifestação popular diante do palácio real, provocando a reação das tropas. O movimento alastrou-se e Frederico Guilherme, rei da Prússia, teve de se humilhar prometendo uma Constituição ao povo insurgido. Vários Estados juntaram-se ao movimento, aproveitando a oportunidade para tentar a unificação política. Em março, reuniu-se em Frankfurt uma assembleia preparatória para um Parlamento representativo, que deveria iniciar seus trabalhos legislativos em maio. Os príncipes alemães aproveitaram-se da divisão entre os revolucionários para retomar o poder abalado. Em novembro de 1848, Berlim foi tomada e a Constituinte dissolvida pelo exército. O movimento liberal fora abafado. A Assembleia de Frankfurt decidiu eleger como imperador o rei da Prússia, que recusou por se considerar rei por vontade de Deus. Propôs, entretanto, aos príncipes alemães a criação de um império. A Áustria, em 1850, impôs à Prússia o recuo nesses projetos e em qualquer mudança da ordem existente. Áustria
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O Império austríaco dos Habsburgos era muito heterogêneo. Estava com- posto por alemães, húngaros, tchecoslovacos, poloneses, rutenos, romenos, sérvios, croatas, eslovenos e italianos. Destes povos, somente os húngaros tinham certa autonomia. Os mais numerosos, húngaros e tchecos, conscientes de sua individualidade, buscavam reconhecimento imperial. Os alemães da Áustria reclamavam contra o governo de Metternich. Insurgiram-se estudantes, burgueses e trabalhadores, forçando a queda do chanceler e a convocação de uma Assembleia Constituinte. Os eslavos seguiram o exemplo. Orientados por Palcky, convocaram uma reunião dos povos eslavos em Praga para 2 de junho. O congresso paneslavita foi dissolvido militarmente. Viena foi tomada, formando-se um governo absoluto após ter sido bombardeada, sendo implantado um regime de perseguição policial. Os processos de consolidação da expansão europeia na América, África e Ásia: resistência, aceitação e assimilação Nos séculos XV, XVI E XVII ocorreu a grande expansão marítima comercial dos países europeus. Através das Grandes Navegações, pela primeira vez na história, o mundo seria totalmente interligado. MuiENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
tos povos da América, África e Ásia foram conquistados e colonizados. Esse contato entre os europeus e os povos nativos teve profundas transformações para sempre na vida de ambos. Ásia A descoberta de um caminho marítimo para a Ásia intensificou os contatos entre os europeus e alguns povos asiáticos. Ao conhecer essas sociedades, muitas vezes os europeus se surpreendiam. Em 1510, os portugueses conquistaram a cidade de Goa, na costa oeste da Índia, e aí instalaram uma feitoria (fortificação primitiva onde eram armazenadas e comercializadas mercadorias). “Estamos convencidos de que somos os homens mais astutos que se pode encontrar, e o povo aqui nos ultrapassa em tudo […] Fazem melhores contas de memória do que nós, e parece que nos são superiores em inúmeras coisas, exceto com a espada na mão, a que eles não conseguem resistir.” Essa declaração demonstra o sentimento de superioridade dos europeus sendo desfeito pela realidade que encontraram na Ásia do século XVI. Naquela época, as sociedades asiáticas dominavam muito mais conhecimentos e se organizavam de forma muito mais complexa do que os europeus imaginavam. Marco Polo (1254-1324). Nascido em Veneza, na Itália, de família de mercadores, escreveu um livro sobre a viagem que teria feito com o pai e o tio à China. Segundo o relato, os Polo ali chegaram por volta de 1274 e permaneceram na China por dezessete anos, onde descobriram, entre outras coisas o espaguete e a pólvora. De volta a Veneza em 1295, Marco foi capturado por genoveses e preso junto com um escritor que o ajudou a escrever o livro, que fez sucesso, mas que muitos consideraram uma história fictícia e não um relato verdadeiro. África A expansão portuguesa começou em 1415, com a tomada de Ceuta, importante centro comercial dominado pelos muçulmanos no norte da África. Em seguida, Portugal ocupou as ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde, no oceano Atlântico, onde foi realizado com sucesso, uma experiência de colonização, implantando o cultivo de cana-de-açúcar. Essa experiência serviria mais tarde de modelo para a ocupação das terras americanas. A expansão estendeu-se ao longo do litoral africano, onde os portugueses obtinham produtos como pimenta, ouro e marfim.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Mesmo antes das Grandes Navegações europeias, o continente africano já era conhecido pelos europeus, principalmente a parte que hoje chamamos de “África Branca”. Os primeiros contatos entre cristãos e negros ocorreram por intermédio dos muçulmanos, que realizavam trocas de mercancia entre os dois “povos”. Com as navegações, que têm Portugal como o seu pioneiro, a África Negra que até então mantinha contato com o resto do mundo por meio dos muçulmanos, tem seu isolamento rompido e passa a constituir uma importante praça de trocas, onde o principal produto exportado eram os escravos africanos. É importante lembrar que essas trocas que consistiam principalmente em ferro, pano, aguardente, cavalos e armas acabaram se tornando de extrema importância para o continente africano. Desde 1440, o comércio de escravos já era visto como bem lucrativo para os portugueses, sendo que em 1448 se estabelece em Arguin um “comércio regular” que consistia na troca de bens contra humanos. Em 1474, Portugal tem o monopólio sobre o tráfico de escravos. Como podemos observar antes mesmo da descoberta do Novo Mundo a escravidão africana já era muito conhecida e utilizada na Europa, bem como já se encontrava vinculada à expectativa de se obter uma produção em larga escala de certas colheitas úteis. América Segundo algumas pesquisas de demografia histórica, viviam no continente americano uma população de aproximadamente 88 milhões de habitantes, divididas em mais de três mil nações indígenas por volta do final do século XV. Entre elas destacam-se na América do Norte (apaches, sioux e astecas), na América Central (maias e chibchas) e na América do Sul (incas, tupis e nuaruaques). Durante muito tempo, vários historiadores destacavam uma visão heroica dos feitos do conquistador, o que tornou corrente o uso da expressão descobrimento da América e do Brasil. Mas recentemente, os historiadores tem analisado a questão sob outros pontos de vista, ressaltando o impacto da presença dos europeus na destruição dos modos de vida e na dizimação (mortes) dos povos que viviam na América. Desta forma o termo mais correto a se utilizar é a invasão e conquista. Foram variadas as formas de violência usadas contra os povos nativos americanos. Teve a violência física já que as armas dos conquistadores europeus eram superiores às dos índios (nome dado aos nativos do continente). Essa superioridade deve-se ao uso de
armas feitas de aço (espadas, lanças, punhais, escudos), ao uso de armas de fogo (mosquete, canhão) e ao cavalo, animal desconhecido pelos nativos. Outro elemento foram as doenças contagiosas trazidas pelos europeus como o sarampo, tifo, varíola, malária e gripe que não existiam no continente. Não havendo anticorpos para combatê-las, elas se espalharam rapidamente, provocando epidemias matando milhares deles. Houve ainda a violência cultural quando os europeus impuseram aos povos americanos costumes que afetaram profundamente a sobrevivência das suas comunidades. A obrigatoriedade do ensino religioso e da língua dos povos europeus aliada à remoção de populações inteiras para trabalhar como escravas nos aldeamentos completam esse canário terrível. Para os europeus esse contato foi muito positivo. Os grandes comerciantes e banqueiros europeus obtiveram lucros expressivos coma conquista e colonização do continente americano. Houve um aumento na oferta de ouro, prata e pedras preciosas, o deslocamento do eixo econômico da região do Mar Mediterrâneo para os portos do Oceano Atlântico e a descoberta de grande variedade de espécies vegetais como o milho, o tomate, o cacau e a batata e ainda animais até então desconhecidos. Além disso, a exploração da América impulsionou vários setores da cultura europeia. Novos conhecimentos e técnicas precisaram ser desenvolvidos e aperfeiçoados para se viajar grandes distâncias marítimas. Houve ainda, um processo de difusão de conhecimentos adquiridos em contatos com povos indígenas que se mostraram benéficos para os europeus. Guerra de Secessão A Guerra de Secessão foi um conflito entre estados do norte e estados do sul dos Estados Unidos determinante para o destino do país. No decorrer do século XIX, as regiões norte e sul do país assumiram características diferenciadas. A diferença se tornou tamanha que levou a um conflito direto entre as regiões. O norte dos Estados Unidos recebeu um grande número de imigrantes que se tornou mão-de-obra para os empreendimentos industriais que vinham se expandindo. Logo os investimentos se transformaram em uma grande industrialização que resultaram em um enorme crescimento econômico da região norte. O poderio obtido pela burguesia industrial naturalmente se converteu em representatividade política e disputa por interesses. Por outro lado, a região sul dos Estados Unidos desenvolvia um sistema tradicional de produção baseada ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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em grandes propriedades e, sobretudo, na utilização de mão-de-obra escrava. Assim, os interesses da burguesia industrial do norte do país entraram em choque com os interesses da aristocracia agrária do sul do país, convertendo-se em grandes tensões políticas e sociais. O ambiente ficou mais acirrado nos Estados Unidos quando, em 1861, Abraham Lincoln venceu as eleições presidenciais. O novo presidente era um republicano contrário à escravidão ainda praticada no sul do país. Naquela época, os Estados Unidos eram formados por 24 estados, dos quais 15 adotavam a escravidão como prática legal. Em função da clara diferença de interesses entre os grupos, onze estados defensores da escravidão como elemento dos meios de produção uniram-se e declararam-se independentes do restante do país. A secessão criou um novo país com o nome de Estados Confederados da América. Mais do que nunca, estava declarada a divergência entre as regiões e evidente a fragmentação do país. No dia 12 de abril de 1861, forças armadas representantes dos estados confederados do sul que haviam fundado um novo país atacaram o Fort Sumter, posto militar dos estados do norte, na Carolina do Sul. Seria o estopim para o início efetivo de uma guerra. A Guerra de Secessão, que é também chamada de Guerra Civil Americana, colocou em conflito armado os onze estados confederados do sul do país contra os estados do norte. Os sulistas defendiam interesses aristocráticos, latifundiários e escravistas, práticas que determinavam a economia e o modo de produção da região. Por outro lado, os habitantes do norte do país já haviam desenvolvido significativa capacidade industrial e, em geral, descartavam o uso da mão-de-obra escrava como opção correta para o crescimento econômico. Estas diferenças seriam fundamentais para se determinar o progresso econômico do país e as causas da guerra. A região norte estava interessada em expandir o mercado interno e implementar barreiras protecionistas para que seus produtos tivessem vasão e a industrialização continuasse em crescimento. Já o sul acompanhava o modelo semelhante ao desenvolvido no Brasil, defendendo a abertura para as agro exportações em uma produção sedimentada no trabalho escravo de negros africanos. A Guerra de Secessão durou até o dia 28 de junho de 1865, quando tropas remanescentes dos estados confederados do sul assinaram a rendição. Foi o conflito que mais mortes causou entre os estadunidenses, matando aproximadamente 970 mil pessoas. O resultado da guerra foi a demonstração do poder dos estados do norte, que já eram mais desenvolvidos do que os estados do sul. Ao fim do conflito, ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
com os interesses da região sul derrotados, os Estados Unidos aboliram por completo a escravidão no país e assumiram uma postura econômica na linha dos interesses do norte, guiada para o desenvolvimento industrial e expansão do mercado interno. Elementos que permitiram o enorme desenvolvimento tecnológico e econômico do pais e criaria as condições necessárias para que os Estados Unidos assumissem posição de destaque no mundo na época da Primeira Guerra Mundial. (Texto adaptado de JUNIOR, A. G.). Regimes Totalitários na Europa Os fascismos consistiram em regimes totalitários e nacionalistas, que tiveram por objetivos o fechamento político como uma alternativa ao socialismo e ao liberalismo econômico. Chamamos de fascismo os regimes nazista, ocorrido na Alemanha (que tinha Hitler como líder); o fascista ocorrido na Itália (cuja liderança era exercida por Bendito Mussolini) e também em Portugal o salazarismo (com o líder Antônio Oliveira Salazar), e na Espanha o franquismo (com o líder Francisco Franco por Guerra Civil Espanhola). CARACTERÍSTICAS DOS FASCISMOS: GOVERNOS TOTALITARISTAS: Totalitarismo: Todo o poder é concentrado nas mãos do Estado. O partido que comanda é único, também controlado pelo Estado, que representa a força maior da nação. Nacionalismo: A nação representa a prioridade da sociedade. Tudo deve ser feito em prol do crescimento e desenvolvimento da nação, já que nação e sociedade são a mesma coisa. Coletivismo: Todos trabalham juntos para a construção do país. Militarismo: A guerra e a expansão salvam, regeneram e criam a prosperidade. Anticomunismo: Não aceitavam o comunismo como regime político. Antiliberalismo: Culpavam o liberalismo pela crise e quebra econômica. Autoritarismo: Fechamento político sob o controle do Fuhër ou Duce. Sua decisão era indiscutível e inquestionável. Repressão e Censura Propaganda como forma de realização do culto ao líder. Expansionismo territorial As características listadas acima constituem em semelhanças políticas entre nazismo e fascismo. É importante perceber que o nazismo incorpora o an-
Ciências Humanas e suas Tecnologias tissemitismo como ideologia fundamental para purificação da raça alemã ariana. A questão racial para Alemanha foi fundamental para a distribuição de bens privados dos judeus para o Estado, assim como a perseguição e extermínio destas culturas nos campos de concentração durante a 2ª Guerra Mundial (1939/1945). PERÍDO ENTRE GUERRAS E A EMERGÊNCIA DO TOTALITARISMO NA EUROPA: Após a 1ª Guerra Mundial a Europa sai arrasada com guerra, o déficit populacional, a fome, a crise econômica e política apontam para o esgotamento do Estado liberal, sobretudo da Democracia Liberal. Esta realidade se chocou com a emergência a da influencia do socialismo após a Revolução Russa de 1917, em meio a instabilidade política e econômica, a centralização do Estado passa a ser uma alternativa para a manutenção do capitalismo e da burguesia no poder. A Crise de 1929 será outro fator somado a crise econômica europeia que contribuirá para ruína do Estado Liberal e emergência dos totalitarismos na Europa. Com o fim da 1ª Guerra Mundial o EUA emerge como potencia hegemônica mundial. O crescimento industrial ocorrido durante a guerra, sobretudo com a indústria de alimentos e a indústria bélica, determinará um apoio aos parceiros econômicos que compunham a Tríplice Entente, que durante a guerra ameaçavam os negócios americanos após as sucessivas perdas para o exército alemão. Ao entrar na guerra, os EUA mantém a produção e modificam os rumos do conflito garantindo a vitória da Entente, consolidando mundialmente seu poder econômico e militar. No entanto, esta situação passa a se modificar após a crise econômica europeia durante o pós-guerra. Diante da necessidade de uma reestruturação econômica, a Europa passa a reduzir as importações e as relações comerciais com os EUA, o que determinou a Crise de 1929. Em 1929, fazendas e fábricas, sem condições de sobreviver face ao restrito mercado consumidor, foram à falência, ampliando o número de desempregados. Bancos credores perderam os capitais investidos no processo produtivo e também faliram. A situação da crise conduziu à quebra da bolsa de valores de Nova York em outubro de 1929, conhecido como o Crack da Bolsa em 1929, onde o gigante econômico anunciou a falência em níveis nacionais e mundiais. A crise se tornou mundial porque as filiais de bancos e indústrias americanas quebraram em diversos pontos do globo e a instabilidade levou os governos
a se precaverem adotando uma postura protecionista nos anos 1930, através da elevação das taxas alfandegárias e contenção dos gastos com importações. A redução do comércio internacional foi uma das características do período da Grande Depressão do mundo capitalista na década de 1930. Essa situação também atingiu as nações periféricas, dependentes da importação de produtos primários das grandes potências, como o Brasil, que passaram pelo período de substituição das importações, uma política de incentivo a industrialização de bens de consumo frente à crise capitalista mundial. Diferente de muitos países europeus como Itália, Alemanha, Portugal e Espanha, que optaram pela centralização do Estado junto a implementação de governos totalitários que estimularam o nacionalismo, a industrialização pesada, o nacionalismo e o expansionismo territorial; os EUA optaram por um plano de reestruturação política e social baseada na intervenção do Estado conhecido como New Deal criado em 1933 pelo presidente Franklin Roosevelt. Este plano político deu origem ao Estado de Bem Estar Social conhecido como Estado keynesiano, que em uma tese simples e com o objetivo de manter o capitalismo determinou que o Estado passasse a gerir os bens básicos da sociedade como saúde, educação, seguridade social, assistência social, assegurando os direitos sociais básicos ao trabalhador. Sob a ação e intervenção social do Estado, o keneysianismo se consagrou como uma política eficaz para o funcionalismo do capitalismo, para inibição de greves e da ação de sindicatos, e também da influência do socialismo no país. O FASCISMO NA ITÁLIA: O fascismo na Itália ascendeu como regime político em 1921 sob o comando de Mussolini. O partido fascista italiano conhecido como a milícia dos Camisas Negras, venceu as eleições atacando os comunistas e o regime socialista, conseguindo assim o apoio da burguesia e das classes médias. Na Itália, além da ameaça comunista, os estragos sofridos na 1ª Grande Guerra, assim como as crises políticas e econômicas com a inflação, o desemprego e a paralisação de diversos setores produtivos, acabaram por determinar a opção por um regime revolucionário fascista. Neste quadro de instabilidade política é fundado em 1919 o Partido fascista por Mussolini. As elites passaram a apoiar as ações dos fascistas elegendo-os como maior número no parlamento em 1921. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Apoiado pelo parlamento, Mussolini organiza a tomada de poder e a destituição do rei Vitor Emanuel III. Em 1922 os fascistas marcham por Roma rumo ao gabinete governamental onde Mussolini toma o poder e assume o cargo de primeiro ministro. Com as eleições de 1924, as fraudes para manter os fascistas no poder determinaram denuncias de corrupção pelo comunista Matteoti, que acaba assassinado. A violência e a perseguição à oposição inauguravam o regime fascista na Itália. Em 1925 Mussolini se declarou Duce, ou seja governante supremo e chefe do Estado. Estava concretizado o Estado totalitário fascista, criando a censura, o fechamento político, o partido único e a repressão. Em 1929 Mussolini assinou o Tratado de Latrão, conciliando o Estado e a Igreja. O papa Pio XI assinou o tratado e passou então a reconhecer o Estado fascista e o governo de Mussolini, e o catolicismo passou a ser transformado em religião oficial. Foi também criado o Estado do Vaticano, que determinou o primeiro estado teocrático-monárquico, onde o papa era rei e chefe religioso. Com o apoio da sociedade e da Igreja, os fascistas ganhavam popularidade e poder. A propaganda e os discursos em massa, associado as proibições de greves e manifestações, a grande produção de armamentos para a militarização do país determinaram a expansão do regime fascista através da invasão a Etiópia na África, assim como a união a Alemanha e ao Japão na 2ª Guerra mundial. O NAZISMO NA ALEMANHA. HITLER: O FUHËR E O ESTADO ALEMÃO Após a 1ª Guerra Mundial a desestruturação política e econômica da Alemanha, associada a crises internas de instabilidades econômicas e medo da expansão comunista determinou a reformulação do Estado. Na Alemanha a perda da guerra e as humilhações sofridas no Tratado Versalhes em 1918, determinaram o acordo de paz que custou a Alemanha penalizações severas, como: a devolução da Alsácia-Lorena à França e o acesso da Polônia ao mar, a perda das colônias, e também da artilharia, aviação e construção naval, assim como, a redução do exercito alemão a cem mil homens, sem contar as indenizações num valor de trinta bilhões de dólares as potencias vitoriosas. Em 1918 surgiu na alemã em oposição ao regime dos kaisers a República de Weimar (1918/1923) como solução as crescentes dificuldades em superar as designações do Tratado de Versalhes. A República de Weimar se caracterizou um sistema de governo parlamentarista democrático, onde o presidente da reENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
pública nomeava um chanceler que seria responsável pelo poder executivo e o poder legislativo ficava a cargo do parlamento. Neste cenário a o governo alemão ficou nas mãos de democratas liberais, o que fez emergir o sentimento saudosista de uma Alemanha forte e poderosa dos tempos imperiais. Em 1919 foi fundado em Munique o partido nazista alemão denominado como Partido Socialista dos Trabalhadores Alemães, inspirado no partido de Mussolini, que passou a ganhar adeptos através de suas propostas e também da criação de uma polícia denominada Seção de Assalto (SA) os camisas pardas. Em 1923 trabalhadores iniciaram greves trabalhistas no vale de Ruhr, em oposição ao trabalho para os franceses. O governo alemão para apoiar os trabalhadores e não desrespeitar o acordo com a França emitiu um número elevado de moedas gerando uma inflação absurda no país. Neste mesmo ano, Hitler e o partido nazista tentam um golpe para assumir o poder – o Putsh de Munique, mas não obteve sucesso. A crise de 1929 não teve muita repercussão na Alemanha, que sofria mais com a ameaça comunista e com a organização dos trabalhadores, que amedrontavam as elites dirigentes e a classe média. Com a atuação das tropas da SA, Hitler em 1932 ganhou popularidade e foi convidado ao cargo de chanceler pelo presidente Hindenburg, assumindo assim o comando do Estado. Iniciou-se a partir de então, a perseguição aos grupos opositores e também à esquerda e comunistas contrários ao governo. Judeus, comunistas foram presos e levados para os campos de concentração. Em 1933 foi proclamado do III Reich, o novo império de Hitler, que teve como força política a propaganda nacionalista, o fechamento político e o discurso em massa como idealizador de uma sociedade centralizada no poder do Estado, e direcionada ao crescimento de uma nação pura onde os não arianos deveriam ser afastados. Neste período, a perseguição aos judeus e outros grupos étnicos, assim como portadores de doenças físicas e homossexuais foi intensificada. Judeus sofreram humilhações e a guetificação, além de mortes e prisões. Hitler cria a SS – Seção de Segurança (Liderado por Himer), para dar apoio aos Camisas Pardas - SA. Estes correspondiam à polícia política, treinada, disciplinada e fiel ao Fuhër. A Gestapo – polícia secreta do Estado ficava responsável pela perseguição e cassação de possíveis subversivos ao regime. A quebra do Tratado de Versalhes, o militarismo e armamentismo de uma sociedade recrutada a expansão territorial, consagraram-se como o estopim da 2ª Guerra Mundial.
Ciências Humanas e suas Tecnologias LEMBRE-SE: O antissemitismo não foi criado por Hitler. O preconceito contra os judeus, segundo alguns historiadores, é fruto de uma questão religiosa, onde os judeus ao defenderem a tese de povo escolhido por Deus e negarem o messias responsável por difundir o cristianismo, passaram a sofrer o antissemitismo difundido pela Igreja Católica a partir da criação do Império Bizantino. Outro fator foi a falta de uma pátria, de um lugar de origem, o que determinou a diáspora deste povo pelo mundo, o que também contribuiu para o antissemitismo. A diáspora contribuiu para que os judeus pudessem ter acesso a cargos elevados e também de obterem muitas riquezas em diversos países, devido a uma maleabilidade econômica e o aumento das relações comerciais, gerando riquezas em ouro, ou seja, moeda forte em qualquer país. A opção por um Estado forte, tanto no nazismo como no fascismo, consistiu em uma maneira de apaziguar a luta de classes, determinando uma harmonia entre trabalho e capital – burguesia e operários. Evitando assim o comunismo e o liberalismo. Por que na Itália o fascismo não adotou o discurso racial? A Itália se caracteriza por uma sociedade miscigenada, diferente da Alemanha. GUERRAS MUNDIAIS E GUERRA FRIA 1ª Guerra Mundial O final do século XIX e a 1ª década do século XX na Europa, foram marcados por um clima de confiança e otimismo. Os homens da época tinham a sensação de que a Europa teria o domínio definitivo sobre todos os continentes. Porém, por trás dessa aparência de tranquilidade estavam presentes graves problemas econômicos. O mundo encontrava-se dividido e submisso às grandes potências europeias e aos Estados Unidos. Não existiam mais territórios sem dono e as grandes potências brigavam entre si na tentativa de expandir suas áreas de dominação econômica e política. A Revolução Industrial trouxe transformações importantes para a economia capitalista: surgiram as máquinas elétricas e os motores a combustão. As indústrias mais importantes extraiam petróleo, fabricavam aço, máquinas e navios. A competição capitalista estimulou o crescimento de algumas empresas; porém, levou ao fracasso muitas outras. Empresas mais fracas foram compradas ou faliram, enquanto que as grandes ficaram maiores ainda.
Os chamados monopólios (grandes empresas) passaram a controlar os grandes setores da economia. Tais empresas queriam crescer e enriquecer cada vez mais. Desejavam matérias-primas (minério, algodão, cacau), mão-de-obra barata (para trabalhar nas minas com salários reduzidos e lucros para os patrões) e mercados consumidores. Para conseguir tudo isso as empresas (monopólios) precisavam investir capital em outros lugares do mundo e criar impérios econômicos (principalmente em países de economia mais frágil) e tudo isso com a ajuda de seus respectivos governos. Economistas alemães e ingleses do início do século XX chamaram essa nova fase do capitalismo mundial de Imperialismo. Esse choque de imperialismos acabou deflagrando a Primeira Grande Guerra. O Imperialismo estava ligado a dois fenômenos: 1. Investimento de capital no estrangeiro 2. Domínio econômico de um país sobre o outro Os países imperialistas colonizaram vastas regiões na África e na Ásia e justificaram as suas ações baseadas no racismo (“raça branca merece dominar as demais”), etnocentrismo (“brancos civilizados levam progresso aos povos primitivos”), darwinismo (“nações mais fortes sobrevivem e mais fracas, não”). No começo do século XX, a indústria alemã estava ultrapassando a inglesa. Tanto alemães quanto ingleses não queriam competir no mercado e para acabar de vez com a concorrência, seus governos decidiram que uma guerra seria muito bem-vinda. Porém, era preciso convencer o povo de que não havia outra saída. Para tal “serviço de convencimento”, a imprensa foi fundamental, e cada país usava os jornais para tentar destruir moralmente o outro. Em 1871, a Alemanha se tornou um país unificado, essa unificação se completou depois que os alemães derrotaram a França na Guerra Franco-Prussiana. Como consequência, a França foi obrigada a entregar a região de Alsácia-Lorena, fato que levou os franceses a quererem vingança. A Europa estava a um passo da guerra e os países disputavam novas colônias. A situação se agravou ainda mais quando o arquiduque Francisco Ferdinando (herdeiro do trono austríaco) visitou Sarajevo. A população de Sarajevo odiava os austríacos e o filho do imperador austríaco resolveu desfilar de carro aberto pela cidade. Francisco Ferdinando, e sua mulher em junho de 1914 foram assassinados em Sarajevo, na Bósnia-Herzegôvina_região que havia sido anexada pelos austríacos antes foi assassinado e esse fato é considerado a causa imediata da Primeira Guerra. Porém, vários outros fatores também contribuíram para o advento da guerra. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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• A construção da estrada de ferro Berlin-Bagdá: sua construção colocaria à disposição da Alemanha os lençóis petrolíferos do Golfo Pérsico e os mercados orientais, além de ameaçar as rotas de comunicação entre a Inglaterra e seu Império. • Pan-Eslavismo Russo (união de todos os povos eslavos sob a proteção da Rússia): o Pan-Eslavismo servia de justificativa para os interesses imperialistas da Rússia de dominar regiões da Europa Oriental habitadas por outros povos eslavos (poloneses, ucranianos, tchecos, eslovacos, sérvios, búlgaros, croatas...) • Nacionalismo da Sérvia • Conflitos originários da decadência do Império Turco • A Alemanha e a Itália eram imperialistas, queriam e precisavam de colônias, para isso precisariam tomar as colônias de outros países, já que não havia mais quase locais para serem dominados • Crises no Marrocos: alemães, ingleses e franceses disputavam essa área • Primeira e segunda Guerra Balcânica Das rivalidades entre essas várias potências, surgiram dois sistemas de alianças. O que unia esses dois blocos era a existência de inimigos comuns: • Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia) Teve origem na Entente Cordiale, formada em 1904, por Reino Unido e França, para se opor ao expansionismo germânico , conquistando adesão da Rússia em 1907. • Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro – Húngaro e Itália) Em 1879 a Alemanha firmou com o Império Austro-Húngaro um acordo com a Rússia,três anos depois ,a Itália rival da França no Mediterrâneo, aliou-se aos dois países A primeira guerra dividiu-se em 3 fases: 1. Guerra de movimento: momentos iniciais do conflito. O jogo de Alianças e as hostilidades arrastaram vários países para o conflito 2. Guerra de Trincheiras: consistia na construção de trincheiras pelos alemães em solo francês. Nesse momento foram introduzidas novas armas como as metralhadoras e os tanques. 3. Ofensivas Em 1915, Japão e Itália entraram na guerra, porém, o primeiro se retirou do conflito após tomar os territórios alemães na China e algumas colônias. Embora a Itália pertencente à Triplíce Aliança , ficou neutra no início ,mas trocou de lado em 1915, com a promessa de receber parte dos territórios turcos e austríaco. Em 1916, houve duas grandes batalhas envolvendo Franceses, Ingleses e Alemães: Batalha de Somme (1 milhão de 100 mil mortos) e a Batalha de Verdun (600 mil mortos). ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Os EUA vendiam alimentos, combustível, produtos industriais e máquinas para a França e a Inglaterra. Tudo pelo sistema de crediário (“compre agora e pague depois da guerra”). Com o passar do tempo, a situação ficava pior (destruição, fome, miséria e matanças) e os EUA começaram a temer que a França e a Inglaterra não pagassem pelas mercadorias compradas dos americanos (os dois países deviam aos americanos quase 2 bilhões de dólares). Com essa mentalidade, os americanos começaram a fazer uma forte campanha a favor da entrada do país na guerra. Em março de 1917, os alemães afundaram alguns navios americanos que iam comerciar com a Inglaterra e no dia 6 de abril o Congresso americano votava favoravelmente a declaração de guerra à Alemanha. Em 1917, várias propostas de paz foram lançadas por países e entidades neutras. O presidente dos EUA (Woodrow Wilson), em 1918, levou essas ideias ao Congresso no chamado “Programa dos 14 Pontos”. Em março do 1918 (após a revolução socialista) o governo russo assinava a paz com a Alemanha e se retirava da guerra. Bulgária, o Império Turco e o Império Austro- Húngaro também seguiam o exemplo russo e se retiraram do conflito. Enquanto os países se retiravam aos poucos do conflito, o povo alemão se rebelava contra a guerra. Em 1918, a Alemanha foi transformada em República e o novo governo aceitou o armistício dando por encerrado o conflito. Em 1919, iniciou-se a Conferência de Paris (no Palácio de Versalhes), onde seriam tomadas as decisões diplomáticas do pós-guerra. Os 27 países “vencedores” participaram da conferência. O Tratado de Versalhes colocou de lado o “Programa dos 14 Pontos” e os “vencedores” impuseram duras penalidades à Alemanha: • A Alemanha perdeu suas colônias • Ficou proibida de ter forças armadas • Foi considerada culpada pela guerra • Teve que pagar uma indenização aos “vencedores” Com tudo isso, a Alemanha perdeu muito dinheiro e mergulhou na maior crise econômica de sua história. Na Alemanha, não havia mais imperador, agora o país era uma república democrática e esse período foi chamado de “República de Weimar” que durou até 1933, quando os nazistas tomaram o poder impondo um regime ditatorial. Até então, essa foi a pior guerra que o mundo conhecera, foram 9 milhões de mortos e além deles, 6 milhões de soldados voltaram mutilados.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Além dessas, a guerra também trouxe outras sérias consequências. • Famílias destruídas e crianças órfãs • Os EUA tornaram-se o país mais rico do mundo • O império Austro-Húngaro se fragmentou • Surgimento de alguns países (Iugoslávia) e desaparecimento de outros • O império turco após 200 anos de decadência se dividiu • Em 1919, foi criada a Liga das Nações (sediada na Suíça); porém, pouco tempo depois ela fracassou • O desemprego aumentou na Europa Quatro anos após a Guerra, a Europa já não era mais a mesma. Dentre as principais mudanças estão: • presidentes no lugar de príncipes, automóveis circulando pelas ruas, submarinos nos mares e aviões nos céus • O cinema e o rádio também começaram a se expandir • As mulheres tomaram consciência dos seus direitos e tornaram-se mais livres Tudo isso caracterizava uma nova fase mundial, era o início de um novo século. 2ª GUERRA MUNDIAL CAUSAS Podemos dizer que uma das principais causas da Segunda Grande Guerra foi o Tratado de Versalhes. Esse Tratado, assinado em 1919 e que encerrou oficialmente a Primeira Grande Guerra, determinava que a Alemanha assumisse a responsabilidade por ter causado a Primeira Guerra e obrigava o país a pagar uma dívida aos países prejudicados, além de outras exigências como o impedimento de formar um exército reforçado e o reconhecimento da independência da Áustria. Isso é claro, trouxe revolta aos alemães, que consideraram estas obrigações uma verdadeira humilhação. O INÍCIO DA GUERRA Um conflito sangrento que deixou danos irreparáveis em toda a humanidade. Uma guerra entre Aliados e as Potências do Eixo. China, França, Grã-Bretanha, União Soviética e EUA formavam os Aliados, enquanto que Alemanha, Japão e Itália formavam as Potências do Eixo. Estes últimos tinham governos fascistas e tinham por objetivo dominar os povos, que na opinião deles eram inferiores, e construir grandes impérios.
NOTA Na Europa surgiram partidos políticos que pregavam a instalação de um regime autoritário. Esses partidos formavam um movimento denominado Fascismo. Os fascistas acreditavam que a democracia era um regime fraco e incapaz de resolver a crise econômica. O país precisava de um líder com autoridade suficiente para acabar com a “bagunça” instalada, promovida por grevistas, criminosos e desocupados. PRINCIPAIS DITADORES FASCISTAS - Benito Mussolini: Itália. - Hitler: Alemanha (Os fascistas alemãs eram chamados de nazistas). - Franco: Espanha. PRINCIPAIS IDÉIAS FASCISTAS - Anticomunismo - Antiliberalismo (os fascistas defendiam um regime ditatorial) - Totalitarismo (o indivíduo deve obedecer ao Estado) - Militarismo e Culto à violência (a guerra era considerada a atividade mais nobre do homem). - Nacionalismo xenófobo (xenofobia: ódio a tudo que é estrangeiro) - Racismo Na Alemanha, Hitler queria formar uma “raça ariana”, ou seja, uma raça superior a todas as outras. O início da guerra se deu quando Hitler invadiu a Polônia em setembro de 1939. A razão desta invasão foi o fato da Polônia ter conseguido (através do Tratado de Versalhes) a posse do porto de Dantzig. Hitler não queria isso, ele queria que Dantzig fosse incorporada à Alemanha. Nos primeiros anos da guerra, as Potências do Eixo levaram vantagem. A Alemanha tomou a Polônia, Bélgica, Noruega, Dinamarca e Holanda. Em 1940 a França se rendeu e em seguida foi a vez da Romênia, Grécia e Iugoslávia. A Inglaterra foi bombardeada, porém resistiu. Hungria, Bulgária e Romênia se uniram às Forças do Eixo. Em 1941, o Japão atacou Pearl Harbor e partia para dominar a Ásia. Dias depois Hitler declarava guerra aos EUA. A entrada dos americanos na guerra reforçou o lado dos Aliados, pois os EUA possuíam uma variedade de recursos bélicos. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Hitler já se achava vencedor, quando as coisas começaram a mudar. O líder nazista achava que a URSS ainda era um país atrasado e cheio de analfabetos, ele não tinha ideia que o país havia crescido e se tornado uma grande potência. Ao ordenar o ataque à URSS, os nazistas se depararam com uma grande muralha ofensiva e pela 1ª vez se sentiram acuados. AS PERDAS NAZISTAS E O FIM DA GUERRA
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O final da guerra começou quando Hitler deslocou suas tropas em direção ao Cáucaso, fonte de petróleo da URSS, pois foi nessa região que aconteceu a Batalha de Stalingrado (entre setembro de 1942 e fevereiro de 1943), que deixou mais de um milhão de nazistas mortos. A Batalha de Stalingrado é considerada a maior derrota alemã na guerra. O Exército Vermelho Soviético foi vencendo e empurrando os nazistas de volta à Alemanha, como vingança os nazistas queimavam e matavam tudo que viam pela frente. A tentativa de ocupar Stalingrado foi frustrada e o restante do exército que lutava nessa frente rendeu-se aos russos em 1943. Essa vitória trouxe novos rumos ao conflito. As Potências do Eixo perderam 2 países (Marrocos e Argélia) e em junho de 43 os Aliados conquistaram a Sicília. Todas estas vitórias trouxeram conflitos internos entre os fascistas e estas divergências acabaram por afastar Mussolini do poder. O seu lugar foi assumido pelo Rei Vítor Emanuel que em 1943 assinou um armistício (trégua) com os Aliados e declarou guerra à Alemanha. No dia 6 de junho de 1944 – chamado o Dia D – os aliados tomaram a Normandia e o cerco alemão sobre a França foi vencido. Em agosto os Aliados libertaram Paris. A alta cúpula alemã já previa a derrota, mas Hitler não aceitava esta verdade. No mesmo ano, querendo dar fim à guerra, oficiais nazistas tentaram matar Hitler num atentado a bomba, mas falharam. A guerra prosseguia com vários ataques dos aliados e os alemães já sentiam que o fim estava próximo. Em abril de 45, tropas aliadas – americanas, inglesas e russas - invadiram a Alemanha. Mussolini foi capturado ao tentar fugir para a Suíça. Ele foi condenado ao fuzilamento. Sua morte se deu no dia 28 de abril de 1945, 2 dias depois Hitler se suicida e no dia 8 de maio a Alemanha se rende. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Embora a guerra tenha terminado na Europa, ela continuava no pacífico e na Ásia. O Japão sofria derrotas diante dos EUA, já que não podia competir com os armamentos norte-americanos. Os japoneses estavam quase se rendendo quando no dia 6 de agosto de 45, os EUA jogaram uma bomba atômica em Hiroshima e 3 dias depois, foi a vez de Nagasaki ser destruída pela bomba. O lançamento das bombas causou a rendição dos japoneses. O HOLOCAUSTO Os nazistas eram antissemitas. Eles odiavam judeus e queriam eliminá-los para garantir a superioridade da raça ariana. Os judeus foram enviados aos campos de concentração para serem mortos, que no total somavam mais de 6 milhões. O mais famoso campo de concentração foi o de Auschwitz (localizado na Polônia). Não foram somente os judeus que foram perseguidos. Homossexuais e ciganos também sofreram perseguições e passaram fome. O BRASIL NA GUERRA Milhares de soldados brasileiros foram lutar na guerra. Sua participação foi modesta, já que não tínhamos um armamento igual ao dos americanos. Mas a participação dos pracinhas foi tão importante que ao voltarem para o Brasil foram considerados heróis. CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA A guerra terminou em 1945 e deixou para trás mais de 40 milhões de mortos e cidades em ruínas, fora os que ficaram mutilados, sem moradia e sem família. Os Aliados instauraram o Tribunal de Nuremberg para julgar os fascistas por crimes de guerra. Os nazistas responsáveis pela morte de judeus ou civis foram condenados à morte ou à prisão perpétua. Logo após a guerra foi fundada a ONU (Organização das Nações Unidas), localizada em Nova York. Sempre que surge um conflito internacional, o Conselho de Segurança da ONU procura resolver o problema com diálogos e cooperação. Um dos órgãos mais importantes da ONU é a Unicef. Após a guerra o mundo iniciava uma nova fase histórica: a de reconstrução. Os EUA e a União Soviética saíram do conflito como duas grandes potências mundiais. Os EUA saíram da guerra como a maior potência mundial.
Ciências Humanas e suas Tecnologias A URSS ficou em segundo lugar. O país teve 25 milhões de mortos e parte de suas construções sumiu do mapa. Uma das maiores consequências da Segunda Guerra foi a rivalidade entre esses 2 países, rivalidade esta, que resultou na Guerra Fria. Guerra Fria A Guerra Fria, que teve seu início logo após a Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991) é a designação atribuída ao período histórico de disputas estratégicas e conflitos indiretos entre os Estados Unidos e a União Soviética, disputando a hegemonia política, econômica e militar no mundo. Causas A União Soviética buscava implantar o socialismo em outros países para que pudessem expandir a igualdade social, baseado na economia planificada, partido único (Partido Comunista), igualdade social e falta de democracia. Enquanto os Estados Unidos, a outra potência mundial, defendia a expansão do sistema capitalista, baseado na economia de mercado, sistema democrático e propriedade privada. Com o fim da Segunda Guerra Mundial o contraste entre o capitalismo e socialismo era predominante entre a política, ideologia e sistemas militares. Apesar da rivalidade e tentativa de influenciar outros países, os Estados Unidos não conflitou a União Soviética (e vice-versa) com armamentos, pois os dois países tinham em posse grande quantidade de armamento nuclear, e um conflito armado direto significaria o fim dos dois países e, possivelmente, da vida em nosso planeta. Porém ambos acabaram alimentando conflitos em outros países como, por exemplo, na Coréia e no Vietnã Com o objetivo de reforçar o capitalismo, o presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, lança o Plano Marshal, que era um oferecimento de empréstimos com juros baixos e investimentos para que os países arrasados na Segunda Guerra Mundial pudessem se recuperar economicamente. A partir desta estratégia a União Soviética criou, em 1949, o Comecon, que era uma espécie de contestação ao Plano Marshall que impedia seus aliados socialistas de se interessar ao favorecimento proposto pelo então inimigo político. A Alemanha por sua vez, aderiu o Plano Marshall para se restabelecer, o que fez com que a União Soviética bloqueasse todas as rotas terrestres que davam acesso a Berlim. Desta forma, a Alemanha, apoiada pelos Estados Unidos, abastecia sua parte
de Berlim por vias aéreas provocando maior insatisfação soviética e o que provocou a divisão da Alemanha em Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental. Em 1949, os Estados Unidos juntamente com seus aliados criam a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) que tinha como objetivo manter alianças militares para que estes pudessem se proteger em casos de ataque. Em contra partida, a União Soviética assina com seus aliados o Pacto de Varsóvia que também tinha como objetivo a união das forças militares de toda a Europa Oriental. Entre os aliados da Otan destacam-se: Estados Unidos, Canadá, Grécia, Bélgica, Itália, França, Alemanha Ocidental, Holanda, Áustria, Dinamarca, Inglaterra, Suécia, Espanha. E os aliados do Pacto de Varsóvia destacam-se: União Soviética, Polônia, Cuba, Alemanha Oriental, China, Coréia do Norte, Iugoslávia, Tchecoslováquia, Albânia, Romênia. Origem do nome É chamada «fria» porque não houve uma guerra direta entre as superpotências, dada a inviabilidade da vitória em uma batalha nuclear. Envolvimentos Indiretos Guerra da Coréia : Entre os anos de 1951 e 1953 a Coréia foi palco de um conflito armado de grandes proporções. Após a Revolução Maoista ocorrida na China, a Coréia sofre pressões para adotar o sistema socialista em todo seu território. A região sul da Coréia resiste e, com o apoio militar dos Estados Unidos, defende seus interesses. A guerra dura dois anos e termina, em 1953, com a divisão da Coréia no paralelo 38. A Coréia do Norte ficou sob influência soviética e com um sistema socialista, enquanto a Coréia do Sul manteve o sistema capitalista. Guerra do Vietnã : Este conflito ocorreu entre 1959 e 1975 e contou com a intervenção direta dos EUA e URSS. Os soldados norte-americanos, apesar de todo aparato tecnológico, tiveram dificuldades em enfrentar os soldados vietcongues (apoiados pelos soviéticos) nas florestas tropicais do país. Milhares de pessoas, entre civis e militares morreram nos combates. Os EUA saíram derrotados e tiveram que abandonar o território vietnamita de forma vergonhosa em 1975. O Vietnã passou a ser socialista. Fim da Guerra Fria A falta de democracia, o atraso econômico e a crise nas repúblicas soviéticas acabaram por acelerar a crise do socialismo no final da década de 1980. Em 1989 cai o Muro de Berlim e as duas Alemanhas são reunificadas. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias No começo da década de 1990, o então presidente da União Soviética Gorbachev começou a acelerar o fim do socialismo naquele país e nos aliados. Com reformas econômicas, acordos com os EUA e mudanças políticas, o sistema foi se enfraquecendo. Era o fim de um período de embates políticos, ideológicos e militares. O capitalismo vitorioso, aos poucos, iria sendo implantado nos países socialistas. CONFLITOS POLÍTICO-CULTURAIS PÓS-GUERRA FRIA, REORGANIZAÇÃO POLÍTICA INTERNACIONAL E OS ORGANISMOS MULTILATERAIS NOS SÉCULOS XX E XXI.
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Primeiramente, precisamos compreender o que foi a Guerra Fria. Ela teve início devido à crise econômica que se instalou nos países socialistas, juntamente com a falta de democracia, o que gerou a insatisfação da população. Na década de 1980, a guerra perdeu sua intensidade e, em 1989 um ato simbólico marcou o fim das disputas econômicas, ideológicas e militares entre os Estados Unidos e a União Soviética, que foi a queda do muro de Berlim, o que reunificou a Alemanha Ocidental e Oriental. O presidente da URSS, por sua vez, Mikhail Gorbachev, implementou a Glasnost, que era uma reforma política, que priorizava a liberdade, e a Perestroika, que era a reestruturação econômica, no início de 1990. Isso prova que a União Soviética estava pronta para abandonar o socialismo, abrindo espaço para o capitalismo. Os países que faziam parte da URSS retomaram sua independência política, acordos militares entre Estados Unidos e Rússia garantiram o início do processo de desarmamento nuclear e, sem a pressão soviética, outros países socialistas, como Polônia, Hungria, Romênia e Bulgária, implantaram mudanças políticas e econômicas, com o propósito de retomar a democracia e engajamento na economia de mercado. Depois da Guerra Fria O mundo pós Guerra Fria trouxe a sensação de que seria o fim do medo de uma guerra nuclear e das disputas armamentistas e ideológicas. Entretanto, o mundo em que vivemos hoje está repleto de conflitos étnicos e religiosos, além das disputas por riquezas naturais, lutas separatistas e atentados terroristas, o que compromete a paz entre diversas nações e deixa a segurança internacional sempre em alerta. Passados mais de 20 anos do fim da Guerra Fria, outras guerras continuam surgindo. Atualmente, os Estados Unidos, uma das grandes superpotências políticas, econômicas e militar, constantemente é ameaçado pelo terrorismo e, para combater este problema, os valores investidos são mais altos do que ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
a Corrida Armamentista, que aconteceu entre 1987 e 1988. De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo, as despesas militares mundiais chegaram a US$1.531 trilhão, em 2009. Só os EUA é responsável por US$661 bilhões. Nesse novo cenário Geopolítico que o mundo vive, os combates passaram a acontecer dentro dos países. Entre 2000 e 2009 apenas três guerras aconteceram entre Estados. Os conflitos internos, entretanto, acabam se tornando guerras civis ou guerrilhas, que são grupos armados que buscam derrubar um governo por questões políticas. E nesse caso, chegamos aos grupos fundamentalistas, que buscam na religião a base da organização da sociedade. Atualmente, as correntes mais atuantes são as islâmicas, como a Al Qaeda, que era liderada por Osama Bin Laden. Uma das principais marcas dos conflitos são os atentados terroristas, que se tornaram a arma principal de grupos rebeldes na luta contra o poder estabelecido. Os alvos sempre são cidades ricas, em todo o mundo, como Nova York, Londres, Madrid, Moscou, entre outras, ou locais que resultam em um grande número de mortos. Recentemente, o alvo foi a Maratona de Boston, no dia 15 de abril, onde três pessoas foram mortas e mais de cem ficaram feridas. A guerra contra o terrorismo Para amenizar os conflitos, tropas das Organizações das Nações Unidas, a ONU, marcam presença nestes locais com a missão de trazer a paz. Em 2010, mais de 100 mil militares internacionais atuavam em 15 missões de paz. O objetivo é garantir que os acordos de paz sejam implementados e monitorar o cessar-fogo. Entretanto, nos últimos anos, os militantes tiveram tarefas bem mais complexas, como, por exemplo, reestruturar a política, a economia e a questão social. Além da ONU, existem as organizações não governamentais (ONGs) que estão presentes nas áreas de conflitos. Nos momentos difíceis, elas oferecem ajuda humanitária, como atendimento médico, fornecimento de remédios e roupas. Desde a última grande operação militar internacional, realizada pelos EUA e ONU, em 1991, a Guerra do Golfo, as intervenções militares dos Estados Unidos são direcionadas pela guerra ao terror. Após o atentado de 11 de setembro, George W.Bush iniciou uma extensa ofensiva contra Estados e organizações acusadas de financiar o terrorismo mundial. Após o atendado, o país recebeu apoio da ONU para dar início a uma guerra contra o Afeganistão, que apoia-
Ciências Humanas e suas Tecnologias va a Al Qaeda. Porém, outros alvos foram listados, acusados de possuir armas de destruição em massa: Iraque, Coreia do Norte e Irã. Sem autorização da ONU, em 2003, os Estados Unidos abriu fogo, cristalizando a chamada Doutrina Bush, que estipulava ataques preventivos a países que representassem ameaça à superpotência, mesmo sem ter feito qualquer tipo de ataque conta o país. Uma das principais consequência desta doutrina, refere-se ao enfraquecimento da ONU como fórum multilateral. Dessa forma, que as guerras continuam existindo, que o foco principal, durante a Guerra Fria era em relação ao capitalismo e às armas nucleares e, atualmente, os conflitos são baseados em questões religiosas, com grupos que pretendem impor suas crenças como a única verdade, e matar inocentes tornou-se um ato comum para eles. A guerra religiosa atrai jovens para um exército que cultua ataques terroristas como forma de derrotar os Estados Unidos. Entretanto, outros países e nações também se tornam alvo desses grupos. Atualmente, além dos conflitos religiosos, a guerra nuclear voltou a ser cogitada, pois a Coreia do Norte iniciou uma dura campanha de ameaças e hostilidades contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul. A LUTA PELA CONQUISTA DE DIREITOS PELOS CIDADÃOS: DIREITOS CIVIS, HUMANOS, POLÍTICOS E SOCIAIS. DIREITOS SOCIAIS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS. POLÍTICAS AFIRMATIVAS. “Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes” – Constituição Federal Brasileira de 1988. Podemos resumir que a cidadania “é o conjunto de direitos, e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive” (wikipedia). No que se refere aos direitos, seriam três tipos: • Direito político: direito de se eleger a cargos políticos e eleger quem quiser, etc; • Direito civil: direito de se locomover dentro de seus país, direito a vida, a liberdade, etc; • Direito social: Tipo mais moderno, agrupa os direitos a previdência social, a educação, a um sistema de saúde, etc; Por mais óbvio que este artigo e os direitos do cidadão possam aparecer hoje para quem o ler, principalmente os nascidos nas últimas 3 décadas, para as pessoas mais velhas – seus pais, tios e avós – ao menos para uma pequena parcela, as coisas eram diferentes. Antes deles – seus bisavós e tataravós – as
coisas foram mais desiguais ainda, principalmente para as mulheres e se este seu antepassado era índio ou negro. Para introduzir o tema sobre cidadania, podemos olhar algo que deveria ter começado a ocorrer há um pouco mais de 1 século, ao menos à partir de 1888, de acordo com a intenção da lei áurea. Podemos deduzir que alguns senhores liberaram seus escravos antes desta data e outros provavelmente não liberaram seus escravos mesmo depois de saberem sobre lei. Para qualquer um dos dois casos, os homens da lei ainda não estava preparados, por conta de séculos de escravidão, a ver os homens e mulheres negros e índios como iguais. “Nas brincadeiras, muitas vezes brutas, dos filhos de senhores de engenho, os moleques serviam para tudo: eram bois de carro, eram cavalos de montaria, eram bestas de almanjarras [que é uma moenda por tração animal], eram burros de liteiras e de cargas as mais pesadas. Mas principalmente cavalos de carro. Ainda hoje, nas zonas rurais menos invadidas pelo automóvel, onde velhos cabriolés de engenhos rodam pelo massapé mole [um tipo de terreno fértil], entre os canaviais, os meninos brancos brincam de carro de cavalo ‘com moleques e até molequinhas filhas das amas’ servindo de parelhas. Um barbante serve de rédea; um galho de goiabeira, de chicote.” FREYRE, Gilbeto, Casa-Grande & Senzala, Global Editora, São Paulo, 2008, 51ª edição, pp. 419–420
“As consequências da escravidão não atingiram apenas os negros. Do ponto de vista que aqui nos interessa – a formação do cidadão –, a escravidão afetou tanto o escravo como o senhor. Se o escravo não desenvolvia a consciência de seus direitos civis, o senhor tampouco o fazia. O senhor não admitia os direitos dos escravos e exigia privilégios para si próprio. Se um escravo estava abaixo da lei, [o senhor] se considerava acima. A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis mas negada na prática.” CARVALHO, José Murilo de, Cidadania no Brasil, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2008, p. 53.
Educação e Cidadania A construção de uma sociedade igualitária, que defenda os direitos e deveres de todos e equiparem todos as pessoas, independente de cor, etnia, gênero ou sexo, partido político, religião, não se dá simplesmente por imposição de leis, de “cima para baixo”, votadas e aplaudidas nas câmaras e senado, se no final, na aplicação, a lei “não pega”. Podemos ver, abaixo, um caso típico de lei que “não pegou” na sua época e demandou muitas lutas até ser considerava óbvia no senso comum. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias “As consequências da escravidão não atingiram apenas os negros. Do ponto de vista que aqui nos interessa – a formação do cidadão –, a escravidão afetou tanto o escravo como o senhor. Se o escravo não desenvolvia a consciência de seus direitos civis, o senhor tampouco o fazia. O senhor não admitia os direitos dos escravos e exigia privilégios para si próprio. Se um estava abaixo da lei, o outro se considerava acima. A libertação dos escravos não trouxe consigo a igualdade efetiva. Essa igualdade era afirmada nas leis mais negada na prática” CARVALHO, José Murilo de, Cidadania no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 53.
“(…) nos países em que a cidadania se desenvolveu com mais rapidez, inclusive na Inglaterra, por uma razão ou outra a educação popular foi introduzida. Foi ela que permitiu às pessoas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem pata lutar por eles. A ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e política.”
CARVALHO, José Murilo de, Cidadania no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 11.
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“No final do século XIX, a grande maioria da população brasileira (cerca de 85%), incluindo muitos dos grandes proprietários de terras, era analfabeta e vivia em áreas rurais. Além disso, a população que vivia no campo estava submetida à influência dos senhores de terras, detentores de poderes políticos e os chamados ‘coronéis’. ‘As mulheres não votavam, e os escravos, naturalmente, não eram considerados cidadãos’.” CARVALHO, José Murilo de, Cidadania no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, p. 29-30.
O que podemos notar com os trechos acima: Que um processo de democracia deve estar estrututurado sobre a educação. Os ricos fazendeiros, por conta de anos e anos de escravidão, de desmandos e de controle político em suas regiões, entendiam que a lei poderia ser criada por eles, mas nunca contra eles. A ignorância sempre foi um caminho para a maldade, e com os negros da época, uma maldade sentida no corpo. O fim do tráfico negreiro da África para o Brasil em 1850 só serviu para a demonstração do poder da Grã-Bretanha sobre o Império do Brasil, pois dentro do país o tráfico se manteve, com a venda de escravos de regiões em declínio econômico para as regiões em ascensão. Enquanto a França lutava por “Liberdade, Igualdade e Fraternidade“, e os ingleses viam a necessidade de uma sociedade alfabetizada para manter o seu poder, o Brasil mantinha intocável sua estrutura deficitária que impossibilitou ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
o desenvolvimento do país no século que se seguiu. Isso só mudou com a implementação de incentivo a imigração, principalmente da Europa. Enquanto os escravos eram libertos, os fazendeiros – muitos que não aceitavam assalariar ex-escravos – passaram a aceitar imigrantes brancos assalariados. As políticas econômicas apenas ajudaram a piorar a situação das classes menos desfavorecidas. “Após a proclamação da República, em 1889, a Constituição de 1891 definiu o cidadão brasileiro como: 1) todas as pessoas nascidas nos Brasil; 2) todos os filhos de pai e mãe brasileiros, mesmo ilegítimos, nascidos no exterior; 3) todos os filhos de pai brasileiro que estivessem morando fora; 4) todos os estrangeiros que viessem a estabelecer residência permanente; 5) todos os estrangeiros que viessem a casar e/ou ter filhos com brasileiros e residissem no Brasil ; 6) todos os estrangeiros naturalizados.”
Disponível em: . Acesso em: 29 de outubro de 2008.
“A Constituição de 1891 retirou do Estado a obrigação de fornecer educação primária população. Também estabeleceu o direito de votar a todos os cidadãos do sexo masculino maiores de 21 anos, exceto mendigos, os analfabetos, os soldados e os membros das ordens religiosas. É importante ressaltar que os direitos de cidadão brasileiro eram suspensos em caso de ‘incapacidade física ou moral’ e por ‘condenação criminal, ou enquanto durassem seus efeitos’ e eram perdidos ‘por naturalização em país estrangeiro’ ou ‘aceitação de emprego ou pensão de Governo estrangeiro, sem licença do Poder Executivo federal’.” Disponível em: . Acesso em: 29 de outubro de 2008.
Analisando os dois trechos acima, o que podemos ver é: todos os imigrantes – maioria brancos – vinham para o Brasil como cidadãos brasileiros, enquanto os negros passaram séculos sem esse direito. E ainda para piorar, impediam que os ex-escravos estudassem, pois não era obrigação do governo dar-lhes educação. Muitas fazendas neste período possuíam escolas para seus trabalhadores, mas como muitos não eram nascidos no Brasil, a desigualdade se mantinha, impedindo que ex-escravos tivessem alfabetização, (e consequentemente) poder de voto. Para muitos, o direito de ser cidadão é impedido também porque estes terem se tornado mendigos ou ladrões.
Ciências Humanas e suas Tecnologias PERGUNTA: Qual a importância da abolição da escravidão e da educação na constituição de uma idéia de cidadão assim como consta no artigo 5º da Constituição Federal de 1988, a conhecida “Constituição Cidadã”? (É necessário seguir a regras de como responder e enviar a resposta no post Saudações e Considerações Iniciais – Ensino Médio). – Prazo Máximo para envio: 06/03/2010 – 22:00. Entendo que essa pergunta é difícil e por isso ela valerá 0,2. As cidadanias “ativa” e “passiva“. Trabalhando com uma visão reducionista, podemos resumir a relação do povo com o seu governo (sociedade e Estado, respectivamente), de duas formas:
Neste esquema acima, quando olhamos para a seta que vai em direção ao Estado, estamos olhando uma relação onde o “controle” se dá pelo povo: democracia representativa ou participativa (cidadania ativa). No outro caso, quando a seta aponta para a sociedade, temos um controle que não se dá pelo povo, mas sim por uma pessoa ou um grupo de pessoas: regimes totalitários ou absolutistas (cidadania passiva). O rei Luis XIV (1643-1715), da França, fez a seguinte afirmação: “L’etat c’est moi”, ou seja, “O Estado sou eu”. Neste sentido, o rei se auto declarava senhor absoluto da França (controle do povo por um indivíduo). No Brasil, essa relação – controle do povo por uma pessoa se deu, na teoria, até 1889. Neste ano, ocorre a proclamação da República. Entretanto, vários fenômenos surgiram e impossibilitavam a democracia no país. O primeiro foi a “República da Espada” (1889-1894), onde o controle da presidência passava pelas mãos de militares, algo semelhante a uma ditadura. Outro fenômeno, chamado “voto de cabestro”, dentre outros problemas, impossibilitava a plena democracia no país. Com os “currais eleitorais” (grupos de eleitores que eram obrigados a votar em um candidato específico pelo fazendeiro), a presidência do país se revezava entre os candidatos de
dois estados ricos da época: Minas Gerais e São Paulo. Esse período é chamado de “República do Café-com-Leite” (1894-1930). Neste momento temos um novo golpe militar, para um governo provisório, com apoio popular. Desde então, movimentos sociais começam a se fortalecer e a participar mais frequentemente das iniciativas do Estado, possibilitando, assim uma democracia plena no país. Observamos que temos alguns movimentos por parte do povo e por parte do governo de 1917 a 1937. Neste período temos democracia e ditadura. O Brasil teve um século de república bastante conturbado, onde a educação passava a ser cada vez mais difundida para as classes mais pobres, mas mesmo assim, não possibilitavam uma estruturação da democracia como a entendemos hoje (citando, principalmente, os anos da ditadura militar na segunda metade do século XX). VIDA URBANA: REDES E HIERARQUIA NAS CIDADES, POBREZA E SEGREGAÇÃO ESPACIAL. A rede urbana é formada pelo sistema de cidades, no território de cada país interligadas umas às outras através dos sistemas de transportes e de comunicações, pelos quais fluem pessoas, mercadorias, informações etc. Obviamente as redes urbanas dos países desenvolvidos são mais densas e articuladas, pois tais países apresentam alto nível de industrialização e de urbanização, economias diversificadas e dinâmicas, vigoroso mercado interno e alta capacidade de consumo. Quanto mais complexa a economia de um país ou de uma região, maior é a sua taxa de urbanização e a quantidade de cidades, mais densa é a sua rede urbana e, portanto, maiores são os fluxos que as interligam. As redes urbanas de muitos países subdesenvolvidos, particularmente daqueles de baixo nível de industrialização e urbanização, são muito desarticuladas, por isso as cidades estão dispersas no território, muitas vezes nem mesmo formando propriamente uma rede. Assim, As redes das cidades mais densas e articuladas surgem justamente naquelas regiões do planeta onde estão as megalópoles: nordeste e costa oeste dos Estados Unidos, porção ocidental da Europa e sudeste da ilha de Honshu no Japão, embora haja importantes redes em outras regiões do planeta, como aquelas polarizadas pela Cidade do México, por São Paulo, por Buenos Aires e muitas outras de menor importância espalhadas pelo mundo. Hierarquia Urbana Desde o final do século XIX, muitos autores passaram a utilizar o conceito de rede urbana para se referir à crescente articulação existente entre as ciENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias dades, como resultado da expansão do processo de industrialização ou urbanização, no mesmo período, na tentativa de apreender relações travadas entre as cidades no interior de uma rede, a noção de hierarquia urbana também passou a ser utilizada. O conceito foi tomado do jargão militar, em que há, de fato, uma rígida hierarquia, ou seja, o subordinado tem de se reportar ao seu superior imediato. Assim, por exemplo, no exército, o soldado tem de se reportar ao cabo, que por sua vez tem de se reportar ao sargento, que tem de se reportar ao tenente, capitão etc. sempre num crescendo de poder e de influência, até chegar ao topo máximo da hierarquia, que seria o cargo de general. Desse modo, fazendo uma analogia, a vila seria o soldado e a metrópole completa, o general. Logo a metrópole seria o nível máximo de poder e influência econômica e a vila, o nível mais baixo, e sofreria influência de todas as outras. Desde o final do século XIX até meados da década de 70, foi essa a concepção de hierarquia urbana utilizada.
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Ocorre que essa concepção tradicional de hierarquia urbana não dá mais conta das relações concretas travadas entre as cidades do interior da rede urbana. Com os crescentes avanços tecnológicos, com a brutal modernização dos sistemas de transportes e de comunicações, com o barateamento e a maior facilidade de obtenção de energia, com a disseminação dos automóveis, enfim, com a “contração” do tempo e o “encurtamento” das distâncias, as relações entre as cidades já não seguem mais o “esquema militar”, pelo qual era necessário “galgar” postos dentro da hierarquia das cidades como foi visto acima. Atualmente, já é possível falar da existência de uma nova hierarquia urbana, dentro da qual a relação da vila ou da cidade local pode ser travada com o centro regional, com a metrópole regional ou, em certos níveis, mesmo diretamente com a metrópole nacional. Assim, é possível uma família morar numa vila (ou bairro) da cidade de Sorocaba (centro regional), que fica aproximadamente a 100 quilômetros de São Paulo, e deslocar-se periodicamente à metrópole paulistana para as compras, ou para o lazer, ou mesmo para trabalhar e, dessa forma, deslocar-se cotidianamente. É possível uma pessoa morar em Araçoiaba da Serra (cidade local) e ter mais vínculos com São Paulo (metrópole nacional) do que com Sorocaba (centro regional). É também plenamente possível uma pessoa residir numa chácara, na zona rural da região de São Roque (cidade local) situada a uns 60 quilômetros de São Paulo e estar totalmente integrada à metrópole, sem Ter necessidade de ir ao centro de São Roque. O que há em comum entre todas essas pessoas é que elas podem dispor de modernas rodovias (Castelo Branco e raposo Tavares) para se deslocar. Atualmente, uma pessoa pode residir numa chácara ou num sítio, na zona rural, ou numa pequena cidade, lugares distantes de um grande centro, e estar mais integradas do que outra pessoa que resida no interior desse mesmo centro. Se a pessoa vive, por exemplo, numa chácara a quilômetros da grande cidade, mas ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Ciências Humanas e suas Tecnologias tem à sua disposição telefone, computador, modem, fax, antena parabólica e um bom automóvel, ela está mais integrada do que a pessoa que mora dentro da cidade, por exemplo, num cortiço ou numa favela, e não tem acesso a todos esses modernos bens e serviços. Percebe-se, portanto, que o que define a integração ou não das pessoas à moderna sociedade capitalista é a maior ou menor disponibilidade de renda e, consequentemente, a possibilidade de acesso às novas tecnologias, aos novos conhecimentos, aos novos bens e serviços, e não mais as distâncias que as separam dos lugares. Essa relativização das distâncias que tem repercussões na rede urbana, também pode ser verificada nas relações capitalistas de produção. Veja o caso da agroindústria do suco de laranja ou de açúcar e álcool do interior do estado de São Paulo. Essas indústrias estão localizadas na zona rural, e, no entanto, a mão de obra que utilizam os boias-frias, vive nas cidades. Além disso, elas dispõem de grandes volumes de capital e produzem para o país inteiro e para o exterior. Tome-se o exemplo da Cutrale, localizada no município de Bebedouro (estado de São Paulo). Praticamente toda a sua produção de suco concentrado está voltada para a exportação e é escoada em caminhões até o porto de Santos, de onde é transportada em navios principalmente para os Estados Unidos. Esta indústria que está na zona rural, relaciona-se com a cidade de Bebedouro contratando trabalhadores, recolhendo impostos etc. e, ao mesmo tempo, com o mundo através de suas exportações. Nos países desenvolvidos, e mesmo nas regiões industrializados de países subdesenvolvidos, é cada vez mais comum a descentralização das indústrias, instaladas na zona rural, nos eixos de modernas rodovias e ferrovias. Paralelamente, a produção agropecuária foi quase totalmente incorporada pelo capital industrial, pela agroindústria. Tudo isso nos permite concluir que a oposição campo x cidade ou agricultura x indústria já não faz muito sentido na análise geoeconômica dos dias de hoje, notadamente nos países desenvolvidos. A expansão do capital vai envolvendo todas as atividades no processo de modernização, o que acaba levando ao rompimento dessas oposições. Tudo acaba sendo integrado econômica e geograficamente na lógica do lucro, na lógica da reprodução do capital. REDE URBANA E A HIERAQUIA DAS GRANDES CIDADES Nem todas as cidades tiveram o mesmo desenvolvimento e algumas cidades cresceram em ritmos diferentes do que outras. Esse fenômeno ocorreu não só em termos do aumento da população, mas também em relação à complexidade dos setores se-
cundários e terciários. Com o capitalismo houve uma intensificação das trocas entre as cidades, e as maiores passaram a ter uma crescente influencia sob as menores, chamada de redes urbanas. Essas são mais complexas em áreas com economias mais desenvolvidas, estabelecendo a partir de sua influência econômica, política, social uma hierarquia urbana sob as redes urbanas e cidades mais atrasadas. • Metrópole mundial ou cidade global – exerce influencia não somente em seu país, mas em todo o mundo. Ex: NY, Tóquio. Alguns autores da geografia consideram cidades globais somente as cidades globais dos países desenvolvidos. Outros incluem como cidades globais cidades localizadas em países em desenvolvimento, como SP. • Características das cidades globais: polo tecnológico, centro econômico e financeiro, forte industrialização e desenvolvimento do setor de serviços, com influência global na dinâmica do sistema capitalista globalizado. Outros exemplos: Chicago, Londres, Paris, Zurique (países ricos); SP, Cidade Do México (países em desenvolvimento). • IMPORTANTE: existe um conceito de mega cidades formulado pela ONU para classificar cidades com mais de 100 milhões de habitantes, uma cidade global para a ONU pode ou não se confundir com uma mega cidade. Exemplo: Tóquio (mega cidade e cidade global), SP (mega cidade). • Metrópole nacional – exerce influência em uma determinada região nacional. Ex: SP, RJ, POA, BH. • Metrópole regional – Vitória, Goiás, Manaus, Caxias do sul. • Capital regional- serve de polo para diversos centros regionais menores- Pelotas, Rio Grande. • Centro regional - tem influencia sob cidades menores e vilas- Torres, Gramado. • Megalópoles A crescente urbanização gerou um fenômeno conhecido como conurbação, que designa um processo em que duas ou mais cidades passam a constituir uma área entregada, usufruindo serviços de infraestrutura comum, tornando as áreas urbanas contínuas. As zonas rurais que ficavam nas periferias dessas cidades foram desaparecendo, ocupadas por atividades tipicamente urbanas, diminuindo assim os espaços entre elas. Os limites entre uma e outra passam a ser praticamente imperceptíveis, não se distinguindo onde começa uma e termina a outra, criando-se uma verdadeira união física das cidades. Isso não significa que necessariamente em áreas conurbadas inexistam zonas rurais. Muitas vezes encontramos pequenas zonas agrícolas, quase sempre voltadas para a policultura que tem como destino o abastecimento das próprias cidades. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias • O processo de crescimento e expansão das cidades deu origem às metrópoles, cidades interligadas com serviços de infraestrutura urbana comuns, onde uma delas exerce uma fortíssima influência sobre as outras sendo por isso chamada de cidade central. Essas áreas metropolitanas continuam em expansão, algumas em um ritmo mais acelerado do que outras. Assim, o espaço ocupado pelas áreas metropolitanas muitas vezes acaba decorrendo em um fenômeno que resulta no surgimento das megalópoles, ou seja, na conurbação das metrópoles. EXEMPLOS DE MEGALÓPOLES
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• Boswash no nordeste americano estende-se de Washington até Boston, na região dos Grandes Lagos. • Chipitts nos grande lagos dos EUA tem uma população de 50 milhões de habitantes, de Chicago até Bittsburgh. • Japonesa- de Tóquio até Nagasáqui, como mais de 100 milhões de hab. As cidades tecnopólos – a revolução tecno-científica (terceira revolução industrial) que marcou o século 20. Em especial sua segunda metade, trouxe consequências também na organização espacial das cidades, dando origem àquelas conhecidas como tecnopólos. Hoje a tecnologia é vital para as relações econômicas. A pesquisa e os institutos de tecnologia de ponta passaram a ser os centros nervosos para a própria dinâmica do mundo capitalista. Nos anos noventa um fenômeno importante marca a transformação de antigos centros universitários de pesquisa avançada passam a ter uma revolução ativa com as empresas de alta tecnologia, como por exemplo, de informática, telecomunicações e biotecnologia. Esses centros de excelência tornaram-se polos para a atração de indústrias dessa área. Os tecnopólos normalmente estão situados próximos a grandes centros urbanos. Um dos mais importantes tecnopólos norte-americanos é Boston, Massachusetts, onde estão duas das mais importantes universidades do mundo como Harvard e o MIT. Nessa área além da indústria bélica, encontramos muitas outras companhias ligadas a outros ramos da tecnologia de ponta. Embora esse tipo de aglomeração seja típico dos países ricos, dado ao volume de investimento e a complexidade da infraestrutura técnica, países como a índia e a Coréia do Sul vem investindo muito em educação e em pesquisas para desenvolver seus tecnopólos. Pobreza e segregação Villaça (2001) argumenta que uma das características mais marcantes das metrópoles brasileiras é a segregação espacial das classes sociais em áreas ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
distintas da cidade. Basta uma volta pela cidade – e nem precisa ser uma metrópole – para constatar a diferenciação entre os bairros, tanto no que diz respeito ao perfil da população, quanto às características urbanísticas, de infraestrutura, de conservação dos espaços e equipamentos públicos, etc. “[…] a segregação é um processo segundo o qual diferentes classes ou camadas sociais tendem a se concentrar cada vez mais em diferentes regiões gerais ou conjuntos de bairros da metrópole.” (VILLAÇA, 2001, p. 142 – grifo no original). E no entanto, a segregação urbana traz inúmeros problemas às cidades. O primeiro é, obviamente, a desigualdade em si. Camadas mais pobres da população, com menos recursos, são justamente as que gastam mais com o transporte diário, que têm mais problemas de saúde por conta da falta de infraestrutura, que são penalizadas por escolas de baixa qualidade, e assim por diante. A própria segregação é não apenas reflexo de uma condição social, mas um fator que contribui para tornar as diferenças ainda mais profundas. Além disso, a segregação tende a enfraquecer as relações sociais, o contato com o diferente e a tolerância. Crianças criadas em condomínios fechados muitas vezes não têm praticamente nenhum contato com as áreas mais pobres da cidade. Que tipo de visão ela terá sobre as desigualdades sociais no futuro? Como ela irá encarar essa desigualdade, e a que causas atribuirá? Será que terá o desejo de contribuir para diminuí-la, e como poderá fazer isso? Com isso vem à violência. A segregação espacial aumenta a sensação de desigualdade e pode contribuir para uma maior violência urbana. Tipos de segregação Existem vários tipos de segregação: etnias, nacionalidades, classes sociais. Esta última é a que domina a estruturação das metrópoles brasileiras (VILLAÇA, 2001). Lojikine (1997) identificou três tipos de segregação: 1. uma oposição entre o centro e a periferia; 2. uma separação cada vez mais acentuadas entre as áreas ocupadas pelas moradias das classes mais populares e aquelas ocupadas pelas classes mais privilegiadas; 3. uma separação entre as funções urbanas, que ficam contidas em zonas destinadas a funções específicas (comercial, industrial, residencial, etc.) É possível distinguir ainda entre a segregação “voluntária” e a “involuntária”. A primeira referese àquela em que o indivíduo ou uma classe de indivíduos busca, por iniciativa própria, localizar-
Ciências Humanas e suas Tecnologias se próximo a outras pessoas de sua classe. A involuntária, ao contrário, é aquela em que as pessoas são segregadas contra a sua vontade, por falta de opção. Ambos os tipos são as duas faces de uma mesma moeda: à medida que uma acontece, a outra também acaba acontecendo. Como acontece a segregação O padrão mais conhecido de segregação é o centro x periferia, seguindo uma organização em círculos concêntricos. Segundo esse modelo, as classes sociais mais ricas ficariam nas áreas mais centrais dotadas de infraestrutura e com maiores preços, e as classes pobres ficariam relegadas às periferias distantes e desprovidas de equipamentos e serviços. Esse padrão, entretanto, não é o mais comum nas cidades brasileiras. Aqui, o padrão existente é o de ocupação das camadas de mais alta renda em setores específicos da cidade, segundo uma lógica radial, isto é, partindo do centro principal. […] os bairros das camadas de mais alta renda tendem a se segregar (os próprios bairros) numa mesma região geral da cidade, e não a se espalhar aleatoriamente por toda a cidade. […] Se o principal móvel da segregação fosse à busca de posição social, do status, da proteção dos valores imobiliários, ou proximidade a ‘iguais’, bastaria haver a segregação por bairro[…]; uns ao norte, outros a oeste, outros a leste e outros ainda ao sul da metrópole. Isso não ocorre, porém. (VILLAÇA, 2001, p. 150) Essa forma de ocupação do espaço pelas camadas de mais alta renda não acontece por acaso. Observando a figura abaixo, podemos começar a ter uma ideia do por que.
Alternativas de segregação metropolitana. Fonte: (VILLAÇA, 2001, p. 340).
pal e, ao fazê-lo, pioram a acessibilidade das outras áreas. Com o deslocamento progressivo dos serviços e equipamentos urbanos na direção das áreas de mais alta renda, a localização das outras classes vai se tornando progressivamente (relativamente) pior. Assim, inicialmente a localização das elites tende a ser uma área próxima ao centro. À medida que o sistema urbano vai se desenvolvendo, uma série de serviços e comércios tende a se deslocar do centro principal em direção à área ocupada pelas classes mais altas. Surgem então subcentros especializados em serviços destinados a essas classes. Além disso, os investimentos públicos também tendem a se concentrar nessas áreas, principalmente aqueles relacionados à melhoria do sistema viário e, portanto, às condições de acessibilidade (do automóvel, não necessariamente do transporte coletivo). A mesma coisa acontece com relação aos serviços públicos e edifícios administrativos. Nesse sentido, portanto, é mais viável para as elites manterem uma estrutura similar à figura da esquerda do que à da direita. Dessa forma, é possível controlar os investimentos públicos em uma área relativamente pequena, o que não seria o caso se essas áreas estivessem espalhadas pela cidade. A criação de um conjunto pequeno de vias arteriais já é suficiente para atendê-la. Da mesma forma, a criação de muitos (pequenos) centros de serviços destinados às elites (delicatessens, antiquários, restaurantes e hotéis de luxo, etc.) em vários pontos da cidade não seria viável. Portanto, estes se beneficiam da proximidade entre elas para poderem manter todo um conjunto de benesses urbanísticas que, de outra forma, não poderia ser mantido. Em Florianópolis, essa teoria de Villaça pode ser constatada, conforme comprovado por Maria Inês Sugai (2003) em sua tese de Doutorado. As áreas de renda mais alta têm se concentrado ao norte e a leste da parte insular, ou seja, um setor específico do Município, pelo menos desde a década de 50. Isso incluiu, por exemplo, a construção da Av. Beira Mar Norte, que induziu o crescimento nessa direção, mesmo contrariando o plano diretor que dava prioridade de implantação à Via Expressa Sul e à ocupação da porção sudeste da Ilha.
A estruturação interna das cidades obedece, prioritariamente, à lógica de localização das camadas de mais alta renda. Estas procuram se localizar em áreas com boa acessibilidade ao centro princiENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias
• CARACTERÍSTICAS E TRANSFORMAÇÕES DAS ESTRUTURAS PRODUTIVAS – DIFERENTES FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO: ESCRAVISMO ANTIGO, FEUDALISMO, CAPITALISMO, SOCIALISMO E SUAS DIFERENTES EXPERIÊNCIAS.
Socialismo
I
deologia política que se desenvolve a partir do século XIX em oposição ao capitalismo e ao liberalismo. Propõe a abolição da propriedade privada, da sociedade de classes e da chamada exploração do homem pelo homem. Defende a revolução proletária e a tomada do poder pelas classes trabalhadoras. Tipos de socialismo:
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Socialismo utópico – Representa a primeira formulação do pensamento socialista. Esta denominação deve-se ao fato de que seus teóricos, após criticarem a sociedade de sua época, expunham os princípios de uma sociedade ideal, sem indicar os meios para torná-la real. Apontavam a socialização dos meios de produção, a supressão da herança, a proteção do indivíduo mediante leis sociais, a abolição da moeda, a produção sem finalidade de lucro, o ensino para todos e a igualdade de direitos entre homens e mulheres. Seus principais representantes foram Saint-Simon (1760-1825), Charles Fourier (17721837), Louis Blanc (1811-1882) e Robert Owen (17711858). Socialismo científico – Através da análise da realidade econômica e da evolução histórica do capitalismo, Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (18201895) formulam princípios para o estabelecimento de uma sociedade sem classes e igualitária. São influenciados pela filosofia de Hegel (dialética) e os escritos da economia política inglesa (David Ricardo). Eles consideram que a evolução histórica é determinada pela luta de classes e pelas condições econômicas de cada época. Defendem a organização da classe trabalhadora como força revolucionária, a fim de tomar o poder político. Socialismo cristão – Também chamado de catolicismo social, surge em fins do século XIX, em oposição às ideias socialistas, e prega a aplicação dos ensinamentos cristãos para corrigir os males criados pela industrialização. Defende a organização sinENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
dical e a justiça social. Com a encíclica Rerum novarum (1891), tida como uma resposta conservadora ao Manifesto Comunista (1848), o Papa Leão XIII (1878-1903) reconhece a gravidade da questão social produzida pelo capitalismo, mas rejeita as soluções revolucionárias ou igualitárias. Social-Democracia Tentando compatibilizar socialismo e democracia, um grupo de políticos e pensadores esforçou-se por renunciar, na gestão pública, ao dirigismo econômico absoluto e à dominação total da economia pelo Estado. Compreendeu, pela visão dos fatos, que o dirigismo socialista provocava sempre ineficiência econômica e despotismo político. Mas não abriu mão da ideia da coletividade prevalecendo sobre o indivíduo. Buscam a igualdade por meio do “Estado protetor”, que atenda às necessidades elementares da população, sem renunciar à “orientação oficial” da economia. Insistindo em juntar contrários, tendem à burocratização para administrar o Estado e a sociedade. A social-democracia defende a liberdade individual, tal como os liberais, mas enxerga o indivíduo como uma célula apenas da comunidade. Anarquismo A palavra anarquismo tem origem no termo grego ánarkhos, cujo significado é, aproximadamente, “sem governo”. O anarquismo é frequentemente apontado como uma ideologia negadora dos valores sociais e políticos prevalecentes no mundo moderno: o Estado laico, a lei, a ordem, a religião, a propriedade privada etc. De fato, como ideologia libertária e profundamente individualista, o anarquismo defende a ruptura com todas as formas de autoridade política e religiosa, a propriedade privada e quaisquer outros tipos de normas institucionais que cerceiem a liberdade do indivíduo em sociedade e na esfera da vida privada. Anarquismo e comunidade fraterna As doutrinas de inspiração anarquista defendem a ideia de que a supressão de todas as formas de dominação e opressão vigentes na sociedade mo-
Ciências Humanas e suas Tecnologias derna daria lugar a uma comunidade mais fraterna e igualitária. Mas a igualdade e a solidariedade comunitária seriam resultados de um esforço individual a partir de um árduo trabalho de conscientização. Os movimentos anarquistas do século 20 promoveram a criação de núcleos comunitários denominados de “ateneus”, para onde eram encaminhados os adeptos desta ideologia e que servia de aprendizagem e aperfeiçoamento intelectual. No Brasil, a primeira experiência desse tipo foi a criação da Colônia Cecília, em 1890, que foi dirigida por imigrantes italianos. Origens do anarquismo Não há consenso entre os historiadores sobre as origens da ideologia anarquista. Mas é possível afirmar que alguns pensadores e teóricos, como o inglês William Godwin, que em 1793 publicou o livro “Enquiry Concerning Political Justice” (cuja tradução é Indagação relativa à justiça política), o francês Pierre-Joseph Proudhon, que em 1840 publicou “Qu’est-ce que la propriété?” (cuja tradução é Que é a propriedade?), e o alemão Max Stirner, que publicou “Der Einzige und sein Eigentum” (cuja tradução é O indivíduo e sua propriedade), influenciaram decisivamente o conteúdo da ideologia anarquista. O anarquismo influenciou importantes movimentos sociais no transcurso do século 19 até a metade do século 20. Movimentos anarquistas A crítica da propriedade privada e do Estado burguês feita pelos ideólogos anarquistas resultou no desenvolvimento do trabalho de conscientização e mobilização das massas proletárias (ou seja, o operariado). Em muitos aspectos, a ideologia anarquista se assemelhava à ideologia socialista - principalmente no tocante a luta de classes, a defesa das classes oprimidas, a crítica da propriedade privada, da sociedade e do Estado burguês. Por conta disso, durante décadas os anarquistas e os comunistas se aliaram na organização dos movimentos revolucionários. Na Europa do século 19, destacou-se o trabalho do intelectual e revolucionário russo Mikhail Bakunin, responsável pela sistematização de muitos princípios, ideias e valores que vão compor a ideologia anarquista. Bakunin inspirou inúmeros movimentos anarquistas por todo o continente. Anarquismo no Brasil No Brasil, a ideologia anarquista foi introduzida pelos imigrantes europeus, principalmente os italianos e espanhóis. Os anarquistas foram os responsáveis pela
organização dos primeiros movimentos operários e sindicatos trabalhistas autônomos. Eles lideraram as greves de 1917, 1918 e 1919, ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Entre os militantes anarquistas brasileiros, destacam-se o jornalista Edgard Leuenroth, o filólogo e professor José Oiticica e o intelectual Neno Vasco. A partir da década de 1920, os anarquistas progressivamente se afastam dos socialistas e, cada vez mais, perdem influência social e política. Após a Segunda Guerra Mundial, a ideologia anarquista entra em declínio em praticamente todos os países. (Texto adaptado de CANCIAN, P.). Comunismo Doutrina e sistema econômico e social baseado na propriedade coletiva dos meios de produção. Sistema social, político e econômico desenvolvido teoricamente por Karl Marx, e proposto pelos partidos comunistas como etapa posterior ao socialismo Tem como ideal a primazia do interesse comum da sociedade sobre o de indivíduos isolados. Esta noção surge já na Antiguidade. Os ideais comunistas acompanham a civilização cristã na Idade Média e no Renascimento. As grandes utopias sobre o comunismo surgem nos séculos XVI e XVII. Conceitos a partir do pensamento dos Marxistas e do próprio governo comunista: Comunismo marxista – O Manifesto Comunista, escrito em 1848 pelos pensadores alemães Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), afirma que o comunismo seria o estágio final da organização político-econômica humana. A sociedade viveria num coletivismo, sem divisão de classes nem a presença de um Estado coercitivo. Para chegar ao comunismo, os marxistas preveem um estágio intermediário de organização, o socialismo, que instala uma ditadura do proletariado para garantir a transição. Essa ditadura promove a destruição completa da burguesia, abole as classes sociais e desenvolve as forças de produção de modo que cada indivíduo dê sua contribuição segundo sua capacidade e receba segundo suas necessidades. Para os marxistas, a construção de uma situação de abundância permitiria a supressão dos salários e a extinção total do Estado. Governos comunistas – Em 1917, a Revolução Russa instala no poder os defensores do comunismo. Sob a liderança do russo Vladimir Lenin (1870-1924), é estabelecida a ditadura do proletariado e o Partido Comunista controla o governo com o objetivo de fazer a transição entre o capitalismo e o socialismo. Os princípios e métodos adotados são conhecidos ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias como leninismo. Com a morte de Lenin, assume o político Josef Stalin (1879-1953). Ele suprime a oposição, promove a coletivização da terra, a industrialização acelerada, o planejamento centralizado e controla os partidos comunistas de todo o mundo. Sua política é chamada de stalinismo. Após a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), comunistas tomam o poder nos países do Leste Europeu libertados do nazismo pelo Exército soviético. Em 1949, os comunistas liderados por Mao Tsé-tung (1893-1976) tomam o poder na China. O sistema se espalha por vários países do sudeste asiático e da África e em Cuba. Na década de 80, os governos chinês e soviético passam a adotar alguns princípios capitalistas, como a permissão para pequenas propriedades privadas. Com a queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989, a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e a formação da CEI (Comunidade de Estados Independentes), em 1991, os governos comunistas entram em crise. Totalitarismo
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O termo “totalitarismo” refere-se a uma concepção política que exalta o Estado, a nação ou uma classe social, às quais o indivíduo deve estar totalmente submetido. A todos os aspectos de sua vida privada passam para um segundo plano, imolando-se o indivíduo no altar do coletivismo grosseiro. Daí o argumento de Adolf Hitler, inspirador do totalitarismo nazista: “... a missão principal dos Estados Germânicos é cuidar e pôr um paradeiro a uma progressiva mistura de raças”. O totalitarismo e a ditadura têm poucas diferenças, assim como o socialismo e o comunismo. O fascismo é totalitário, e o Estado fascista; síntese e unidade de todo valor interpreta, movimenta e domina toda a vida do povo. Ditadura É o exercício temporário do poder político, unipessoal ou colegiado, caracterizado pela concentração de atribuições pré-fixadas e destinado a sanar mal público iminente ou real. Tal definição pode parecer estranha a quem estiver habituado ao uso indiscriminado do vocábulo, que, por ter natureza analógica - apresenta vários sentidos correlatos, análogos, embora não idênticos - presta-se a uma série de preconceitos e mal-entendidos.
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ECONOMIA AGROEXPORTADORA BRASILEIRA: COMPLEXO AÇUCAREIRO; A MINERAÇÃO NO PERÍODO COLONIAL; A ECONOMIA CAFEEIRA; A BORRACHA NA AMAZÔNIA. A economia da época era comandada por Portugal, que mantinha a exclusividade nos negócios com a colônia. O avanço econômico do Brasil estava ligado ao aumento do capitalismo mercantil. No período colonial, foram desenvolvidas atividades de subsistência e de exportação. Portugal tinha um interesse maior nos negócios que eram estabelecidos com o mercado externo. O pau-brasil foi a primeira atividade econômica exercida no país, mas com o uso excessivo, a árvore se tornou rara. Posteriormente, foram introduzidas as culturas de algodão, tabaco, cana-de-açúcar e a mineração. Já a criação de gado ajudou o povoamento no interior do país. A economia colonial existia no intuito de satisfazer a metrópole e tinha que comprar de Portugal tudo o que precisava para que pudesse se desenvolver. Pau-Brasil O Pau-Brasil é uma árvore nativa da Mata Atlântica e recebe esse nome devido ao Brasil. É uma árvore dura e pontiaguda que tem no miolo a cor vermelha e flores amarelas. A exploração da árvore já era feita pelos índios e foi intensificada com a chegada dos primeiros colonos ao país. Foi nesse período que começaram os chamados escambos, que consistiam na troca do trabalho indígena por materiais com pouco valor como pentes, espelhos e roupas. A exploração do pau-brasil foi o principal meio econômico da colônia durante os primeiros anos e durou até o século XIV. Devido à intensa retirada das árvores, ela foi quase extinta. Ciclo da Cana-de-Açúcar A sociedade que explorava o açúcar durante o período colonial eram divididos entre os donos de terra e de escravos ou pessoas que plantavam cana de forma independente. Os poderes da sociedade que dependia do açúcar estavam nas mãos do senhor de engenho. Ele oferecia proteção e auxílio em troca dos serviços das pessoas. O açúcar foi escolhido para ser o principal produto produzido no Brasil, porque os portugueses já conheciam o processo de plantio da cana e da produção do açúcar e esse era um produto muito aceito pelos europeus. Com a intensa procura pelo produto, os holandeses também investiram no país e instalaram engenhos.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Produção A forma de plantio da cana era baseada no plantation e na monocultura escravista. O engenho era composto por: canaviais, a fábrica de açúcar que continha uma moenda, plantações de subsistência, casa da caldeira, casa do pulgar, casa-grande, senzala, capela, escola e residência dos trabalhadores que não eram escravos. A cana-de-açúcar era prensada na moenda para que obtiver a garapa e nas caldeiras, era feita a purificação desse caldo. Depois desse processo, o caldo era colocado em formas especiais e era observado até chegar ao ponto ideal. Com o açúcar pronto, ele era enviado para a metrópole e depois para a Holanda para que fosse refinado. A Holanda não só participava do refino como também era a peça principal na montagem do engenho e no transporte do açúcar. Os trabalhadores utilizados eram os índios e os escravos africanos. Várias áreas de vegetação foram destruídas para que fossem plantados os canaviais e para que o engenho fosse construído. O produto de subsistência que era mais produzido em paralelo à cana, era a mandioca, pois ela resultava a farinha, um item essencial para a alimentação dos brasileiros na época. Além disso, o algodão e o fumo eram muito importados do Brasil. Muitos fazendeiros não possuíam engenhos e tinham que moer a cana no engenho de outra pessoa, mediante o pagamento de um valor. Esses fazendeiros recebiam o nome de senhores obrigados. Ciclo do Ouro O Ciclo do Ouro começou no fim do século XVII, quando o açúcar já não era tão importante devido ao seu investimento que estava sendo feito na América Central. Sendo assim, era necessário buscar uma outra forma de economia e descobriram as primeiras minas de ouro em solo brasileiro, nas regiões onde ficam Minas Gerais e Goiás. A exploração do ouro era tão importante que o governo português decidiu mudar a capital de Salvador para o Rio de Janeiro, pois estava mais próximo das minas de ouro. Foram criadas as Casas de Fundição, que cobravam altos impostos de quem extraía o minério. Os principais impostos eram: o quinto (20% da produção do ouro deveriam ir para o rei de Portugal); a Derrama (a colônia tinha que arrecadar 1.500kg de ouro por ano); e a Capitação (era cobrado imposto sobre cada escravo que trabalhava nas minas).A exploração, e os diversos impostos e taxas cobradas foram motivos para muitas revoltas que ocorreram nessa época. O Ciclo do Ouro permaneceu até o ano de 1785.
Consequências
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mudanças sociais e políticas; ajudou no comércio interno; ajuda nas importações de manufaturados; crescimento populacional.
Ciclo do Café A história do ciclo do café no Brasil começou com o contrabando de grãos da Guiana Francesa. Quem introduziu o cultivo no país foi o Francisco de Melo Palheta, um militar luso-brasileiro. O café e seus derivados seriam os principais produtos brasileiros de exportação durante quase 100 anos e seu ciclo ajudou no desenvolvimento do Brasil em diversos prismas, com ênfase na urbanização dos grandes centros econômicos. A maior parte do ciclo do café ocorreu na economia brasileira entre os anos de 1800 e 1930. Notase a importância do produto pela quantidade de tempo de predominou na economia brasileira. Tudo começa no início do século XX, quando a economia cafeeira concentrada na região do Vale do Paraíba começa a impulsionar a economia brasileira em um momento em que o grão estava em alta cotação na Europa. Compreendido entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, o Vale do Paraíba tinha ótimas condições geográficas como regularidade de chuvas e clima adequado para o cultivo do café. O Vale do Paraíba é formado, no lado paulista, por São José dos Campos, Taubaté, Jacareí, Pindamonhangaba, Guaratinguetá, Cruzeiro e Lorena. Após a concentração inicial do ciclo do café naquela região, o grão também foi cultivado nas zonas de terra roxa do interior do Paraná e de São Paulo. Na época da expansão do ciclo do café, a vantagem do Brasil era possuir a maior parte da oferta do produto para o mundo todo, controlando os preços e decidindo de que forma iria atuar na economia internacional. Apesar disso, o crescimento do economia brasileira dependia de maneira fundamental do aumento populacional dos países consumidores, em sua maioria europeus. Desta forma, a oferta do café começa a se tornar muito superior do que a demanda, o que indicava que uma diminuição dos preços ocorreria gradualmente. Outro fator que exerceu influência sobre a economia do café foi a crise de 1929 nos Estados Unidos. Se os preços já tendiam a cair, a crise fez com que a demanda internacional pelo produto diminuísse ainda mais, o que forçou a baixa dos preço com maior rapidez. O governo brasileiro não encontrava nenhuma solução para absorver os estoques, o que causou uma quebra na economia cafeeira da época. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Após esta crise, o governo estudou diversas medidas a serem tomadas para evitar que os produtores de café ficassem vulneráveis a crises internacionais como a de 1929. Assim, a partir do governo de Getúlio Vargas em 1930, o Estado começava a ter papel fundamental na economia do Brasil. Ciclo da borracha
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A utilização da borracha foi desenvolvida em função das diversas descobertas científicas promovidas durante o século XIX. Inicialmente, o látex era comumente utilizado na fabricação de borrachas de apagar, seringas e galochas. Anos mais tarde, os estudos desenvolvidos pelo cientista Charles Goodyear desenvolveu o processo de vulcanização através do qual a resistência e a elasticidade da borracha foram sensivelmente aprimoradas. A vulcanização possibilitou a ampliação dos usos da borracha, que logo seria utilizada como matéria-prima na produção de correias, mangueiras e sapatos. A região amazônica, uma das maiores produtoras de látex, aproveitou do aumento transformando-se no maior polo de extração e exportação de látex do mundo. No curto período de três décadas, entre 1830 e 1860, a exportação do látex amazônico foi de 156 para 2673 toneladas. A mão-de-obra utilizada para a extração do látex nos seringais era feita com a contratação de trabalhadores vindos, principalmente, da região nordeste. Os seringueiros adotavam técnicas de extração indígenas para retirar uma seiva transformada em uma goma utilizada na fabricação de borracha. Não constituindo em uma modalidade de trabalho livre, esses seringueiros estavam submetidos ao poder de um “aviador”. O aviador contratava os serviços dos seringueiros em troca de dinheiro ou produtos de subsistência. A sistemática exploração da borracha possibilitou um rápido desenvolvimento econômico da região amazônica, representado principalmente pelo desenvolvimento da cidade de Belém. Este centro urbano representou a riqueza obtida pela exploração da seringa e abrigou um suntuoso projeto arquitetônico profundamente inspirado nas referências estéticas europeias. Posteriormente atingindo a cidade de Manaus, essas transformações marcaram a chamada belle époque amazônica. No início do século XX, a supremacia da borracha brasileira sofreu forte declínio com a concorrência promovida pelo látex explorado no continente asiático. A brusca queda do valor de mercado fez com que muitos aviadores fossem obrigados a vender toda sua produção em valores muito abaixo do investimento empregado na produção. Entre 1910 ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
e 1920, a crise da seringa amazônica levou diversos aviadores à falência e endividou os cofres públicos que estocavam a borracha na tentativa de elevar os preços. Esse duro golpe sofrido pelos produtores de borracha da região norte ainda pode ser compreendido em razão da falta de estímulo do governo imperial. Atrelado ao interesse econômico dos cafeicultores, o governo monárquico não criou nenhuma espécie de programa de desenvolvimento e proteção aos produtores de borracha. Em certa ocasião, atendendo ao pedido de industriais norte-americanos, chegou a proibir que o governo do Pará criasse taxas alfandegárias protecionistas maiores aos exportadores estrangeiros. Depois da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), as indústrias passaram a adotar uma borracha sintética que poderia ser produzida em ritmo mais acelerado. Essa inovação tecnológica acabou retraindo significativamente a exploração da seringa na Floresta Amazônica. No entanto, até os dias de hoje, a exploração da borracha integra a economia da região norte do Brasil. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL: CRIAÇÃO DO SISTEMA DE FÁBRICA NA EUROPA E TRANSFORMAÇÕES NO PROCESSO DE PRODUÇÃO. A Revolução industrial foi um conjunto de mudanças que aconteceram na Europa nos séculos XVIII e XIX. A principal particularidade dessa revolução foi a substituição do trabalho artesanal pelo assalariado e com o uso das máquinas. Até o final do século XVIII a maioria da população europeia vivia no campo e produzia o que consumia. De maneira artesanal o produtor dominava todo o processo produtivo. Apesar de a produção ser predominantemente artesanal, países como a França e a Inglaterra, possuíam manufaturas. As manufaturas eram grandes oficinas onde diversos artesãos realizavam as tarefas manualmente, entretanto subordinados ao proprietário da manufatura. A Inglaterra foi precursora na Revolução Industrial devido a diversos fatores, entre eles: possuir uma rica burguesia, o fato do país possuir a mais importante zona de livre comércio da Europa, o êxodo rural e a localização privilegiada junto ao mar o que facilitava a exploração dos mercados ultramarinos. Como muitos empresários ambicionavam lucrar mais, o operário era explorado sendo forçado a trabalhar até 15 horas por dia em troca de um salário baixo. Além disso, mulheres e crianças também eram obrigadas a trabalhar para sustentarem suas famílias.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Diante disso, alguns trabalhadores se revoltaram com as péssimas condições de trabalho oferecidas, e começaram a sabotar as máquinas, ficando conhecidos como “os quebradores de máquinas“. Outros movimentos também surgiram nessa época com o objetivo de defender o trabalhador. O trabalhador em razão deste processo perdeu o conhecimento de todo a técnica de fabricação passando a executar apenas uma etapa. A Primeira etapa da Revolução Industrial Entre 1760 a 1860, a Revolução Industrial ficou limitada, primeiramente, à Inglaterra. Houve o aparecimento de indústrias de tecidos de algodão, com o uso do tear mecânico. Nessa época o aprimoramento das máquinas a vapor contribuiu para a continuação da Revolução. A Segunda Etapa da Revolução Industrial A segunda etapa ocorreu no período de 1860 a 1900, ao contrário da primeira fase, países como Alemanha, França, Rússia e Itália também se industrializaram. O emprego do aço, a utilização da energia elétrica e dos combustíveis derivados do petróleo, a invenção do motor a explosão, da locomotiva a vapor e o desenvolvimento de produtos químicos foram as principais inovações desse período. A Terceira Etapa da Revolução Industrial Alguns historiadores têm considerado os avanços tecnológicos do século XX e XXI como a terceira etapa da Revolução Industrial. O computador, o fax, a engenharia genética, o celular seriam algumas das inovações dessa época. FORMAÇÃO DO ESPAÇO URBANO-INDUSTRIAL. TRANSFORMAÇÕES NA ESTRUTURA PRODUTIVA NO SÉCULO XX: O FORDISMO, O TOYOTISMO, AS NOVAS TÉCNICAS DE PRODUÇÃO E SEUS IMPACTOS. A INDUSTRIALIZAÇÃO BRASILEIRA, A URBANIZAÇÃO E AS TRANSFORMAÇÕES SOCIAIS E TRABALHISTAS. Há tempos, as indústrias vêm conquistando seu espaço no território brasileiro, tornando-se muitas vezes um dos elementos mais básicos de uma região. Trazem consigo, sempre a característica marcante da mudança, tanto na cultura como na economia, ou até mesmo no espaço que ela ocupa e no impacto que ela causará no meio ambiente. A seguir, veremos um pouco mais sobre as indústrias, como e porque um lugar que comporta uma ou várias indústrias se modifica, e modifica a vida de sua população e como os meios de transporte e comunicação podem influenciar para a industrialização de uma determinada região.
Porque as indústrias tendem a se concentrar mais em uma determinada região? Como fica o desenvolvimento de uma região pouco industrializada? Essas e outras questões, serão abordadas, tendo como principal objetivo entender melhor o papel desta gigante, chamada INDÚSTRIA! A distribuição espacial das indústrias no Brasil A atividade industrial, antes muito concentrada no Sudeste brasileiro, vem sendo melhor distribuída entre as diversas regiões do país. Atualmente, seguindo uma tendência mundial, o Brasil vem passando por um processo de descentralização industrial, chamada por alguns autores de desindustrialização, que vem ocorrendo intra-regionalmente e também entre as regiões. Dentro da região Sudeste, essa desindustrialização está ocorrendo no ABCD Paulista, sendo que as indústrias buscam menores custos de produção do interior paulista, como no Vale do Paraíba e ao longo da Rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte. Estas áreas oferecem, além de incentivos fiscais, menores custos de mão-de-obra, transportes menos congestionados e, por tratarem-se de cidades-médias, melhor qualidade de vida, o que é vital para polos tecnológicos. A desconcentração industrial entre as regiões vem determinando o crescimento de cidadesmédias dotadas de boa infraestrutura e com centros formadores de mão-de-obra qualificada, geralmente universidades. Além disso, percebe-se um movimento de indústrias tradicionais, de uso intensivo de mãode-obra, como a de calçados e vestuários para o Nordeste, atraídas sobretudo, pela mão-de-obra extremamente barata. A concentração industrial no Nordeste A distribuição espacial da indústria brasileira, com acentuada concentração em São Paulo, foi determinada pelo processo histórico, pois no momento do início da efetiva industrialização, o estado tinha, devido à cafeicultura, os principais fatores para instalação das mesmas, podendo citar: capital, mercado consumidor, mão-de-obra e transportes. Além disso, a atuação estatal através de diversos planos governamentais, como o Plano de Metas, acentuou esta concentração no Sudeste, destacando novamente São Paulo. A partir desse processo industrial e, respectiva concentração, o Brasil, que não possuía um espaço geográfico nacional integrado, tendo uma estrutura de arquipélago econômico com várias áreas desarticuladas, passa a se integrar. Esta integração reflete nossa divisão inter-regional do trabalho, sendo tipicamente centro-periferia, ou seja, com a região Sudeste polarizando as demais. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias A exemplo do que ocorre em outros países industrializados, existe no Brasil uma grande concentração espacial da indústria no Sudeste. A concentração industrial nesta região é maior no Estado de São Paulo, por motivos históricos. O processo de industrialização, entretanto, não atingiu toda a região Sudeste, o que produziu espaços geográficos diferenciados e grandes desigualdades dentro da própria região. A cidade de São Paulo, o ABCD (Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano e Diadema) e centros próximos, como Campinas, Jundiaí e São José dos Campos possuem uma superconcentração industrial, elaborando espaços geográficos integrados à região metropolitana de São Paulo. Esta área se tornou o centro da industrialização, que se expandiu nas direções: da Baixada Santista, da região de Sorocaba e do Vale do Paraíba – Rio de Janeiro e interior, alcançando Ribeirão Preto e São José do Rio Preto. As atividades econômicas e industriais nas 5 regiões do Brasil Sudeste
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Como descrito anteriormente, a região Sudeste é a que possui a maior concentração industrial do país. Nesta área, os principais tipos de indústrias são: automobilística, petroquímica, alimentares, de minerais não metálicos, têxtil, de vestuário, metalúrgica, mecânica, etc. É um centro industrial bem desenvolvido, marcado pela variedade e volume de produção. Várias empresas multinacionais operam nos setores automobilísticos de máquinas e motores, produtos químicos, petroquímicos, etc. As empresas governamentais atuam principalmente nos setores de siderurgia. Petróleo e metalurgia, enquanto empresas nacionais ocupam áreas diversificadas. O grande interesse de empresas multinacionais é principalmente pela mão-de-obra mais barata, pelo forte mercado consumidor e pela exportação dos produtos industriais a preços mais baixos. Quem observa a saída de navios dos portos de Santos e do Rio de Janeiro tem oportunidade de verificar quantos produtos industriais saem do Brasil para outros países. A cidade do Rio de Janeiro, caracterizada durante muito tempo como capital administrativa do Brasil até a criação de Brasília, possui também um grande parque industrial. Porém, não possui as mesmas características de alta produção e concentração como a São Paulo. Constitui-se também, de empresas de vários tipos, destacando-se as indústrias de refino de petróleo, estaleiros, indústria de material de transporte, tecelagem, metalurgia, papel, têxtil, vestuário, alimentos, etc. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Minas Gerais, tem um passado ligado à mineração, e, devido a isso, assumiu importância no setor metalúrgico após a 2 Guerra Mundial e passou a produzir principalmente aço, ferro-gusa e cimento para as principais fábricas do Sudeste. A cidade de Belo Horizonte tornou-se um centro industrial diversificado, com indústrias que vão desde o extrativismo até setor automobilístico. Além do triângulo São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, existem no Sudeste outras áreas industriais, a maioria apresentando ligação direta com algum produto ou com a ocorrência de matéria-prima. É o caso de Volta Redonda, Ipatinga, Timóteo, João Monlevade e Ouro Branco, entre outras, ligadas à siderurgia. Outros centros industriais estão ligados à produção local, como Campos e Macaé, Três Corações, Araxá e Itaperuna, Franca e Nova Serrana, Araguari e Uberlândia, entre outras. O estado do Espírito Santo é o menos industrializado do Sudeste, tendo centros industriais especializados como: Aracruz, Ibiraçu, Cachoeiro de Itapemirim. Vitória, a capital do Estado, tem atividades econômicas diversificadas, relacionadas à sua situação portuária e às indústrias ligadas à usina siderúrgica de Tubarão. No Sudeste, outras atividades estão muito ligadas à vida urbana e industrial: comércio, serviço público, profissionais liberais, educação, serviços bancários, de comunicação, de transporte, etc. Quanto maior a cidade, maior variedade de profissionais aparecem ligados às atividades urbanas. Como em São Paulo, Rio e Belo Horizonte concentram-se a maior produção industrial do país, a circulação de pessoas e mercadorias é muito intensa na região. Milhares de pessoas estão envolvidas na comercialização, transporte e distribuição dos produtos destinados à industrialização, ao consumo interno ou à exportação. Considerada também o centro cultural do país, a região possui uma vasta rede de prestação de serviços em todos os ramos, com grande capacidade de expansão, graças ao crescimento de suas cidades. Sul A industrialização do Sul, tem muita vinculação com a produção agrária, visa o abastecimento do mercado interno e as exportações. O imigrante foi um elemento muito importante no início da industrialização como mercado consumidor e no processo industrial de produtos agrícolas, muitas vezes em estrutura familiar e artesanal. A industrialização de São Paulo implicou na incorporação do espaço do Sul como fonte de matéria-prima. Implicou também na incapacidade de concor-
Ciências Humanas e suas Tecnologias rência das indústrias do sul, que passaram a exportar seus produtos tradicionais como calçados e produtos alimentares, para o exterior. Com as transformações espaciais ocasionadas pela expansão da soja, o Sul passou a ter investimentos estrangeiros em indústrias de implementos agrícolas. A indústria passou a se diversificar para produzir bens intermediários para as indústrias de São Paulo. Nesse sentido, o Sul passou a complementar a produção do Sudeste. Daí considerarmos o Sul como sub-região do Centro-Sul. Objetivando a integração brasileira com os países do Mercosul, a indústria do Sul conta com empresas no setor petroquímico, carboquímico, siderúrgico e em indústrias de ponta. A reorganização e modernização da indústria do Sul necessita também de uma política nacional que possibilite o aproveitamento das possibilidades de integração da agropecuária e da indústria, à implantação e crescimento da produção de bens de capital e de indústrias de ponta em condições de concorrência com as indústrias de São Paulo. Nordeste A industrialização dessa região vem se modificando, modernizando, mas sofre a concorrência com as indústrias do Centro-Sul, principalmente de São Paulo, que utilizam um maquinário tecnologicamente mais sofisticado. A agroindústria açucareira é uma das mais importantes, visando, sobretudo, a exportação do açúcar e do álcool. As indústrias continuam a tendência de intensificar a produção ligada à agricultura e as novas indústrias metalúrgicas, químicas, mecânicas e outras. A exploração petrolífera no Recôncavo Baiano trouxe para a região indústrias ligadas à produção, refino e utilização de derivados do petróleo. Essa nova indústria de alta tecnologia e capital intenso, não absorve a mão-de-obra que passa a se subempregar na área de serviços ou fica desempregada. As indústrias estão concentradas nas mãos de poucos empresários e os salários pagos são muito baixos, acarretando o empobrecimento da população operária. O sistema industrial do Nordeste, concentrado na Zona da Mata, tem pouca integração interna. Encontra-se somente em alguns pontos dispersos e concentra-se, sobretudo, nas regiões metropolitanas: Recife, Salvador e Fortaleza. Com vistas à política do Governo Federal para o Programa de Corredores da Exportação, instituído no final da década de 70, com o intuito de atender
o escoamento da produção destinada ao mercado externo, foram realizadas obras nos terminais açucareiros dos portos de Recife e Maceió. A rede rodoviária está mais integrada a outras regiões do que dentro do próprio Nordeste. A construção da rodovia, ligando o Nordeste ao Sudeste e ao Sul, possibilitou o abastecimento do Nordeste com produtos industrializados no Sudeste e o deslocamento da população nordestina em direção ao mesmo. Centro-Oeste Na década de 60, a industrialização a nível nacional adquire novos padrões. As indústrias de máquinas e insumos agrícolas, instaladas no Sudeste, tiveram mercado consumidor certo no CentroOeste, ao incentivarem o cultivo de produtos para exportação em grandes áreas mecanizadas. A partir da década de 70, o Governo Federal implantou uma nova política econômica visando à exportação. Para atender às necessidades econômicas brasileiras e a sua participação dentro da divisão internacional do trabalho, caberia ao Centro-Oeste à função de produtor de grãos e carnes para exportação. Com tudo isso, o Centro-Oeste tornou-se a segunda região em criação de bovinos do País, sendo esta a atividade econômica mais importante da sub-região. Sua produção de carne visa o mercado interno e externo. Existem grandes matadouros e frigoríficos que industrializam os produtos de exportação. O abastecimento regional é feito pelos matadouros de porte médio e matadouros municipais, além dos abates clandestinos que não passam pela fiscalização do Serviço de Inspeção Federal. Sua industrialização se baseia no beneficiamento de matérias-primas e cereais, o que contribui para o maior valor de sua produção industrial. As outras atividades industriais são voltadas para a produção de bens de consumo, como: alimentos, móveis, entre outros. A indústria de alimentos, a partir de 1990, passou a se instalar nos polos produtores de matérias-primas, provocando um avanço na agroindústria do Centro-Oeste. A CEVAL, instalada em Dourados MS, por exemplo, já processa 50% da soja na própria área. No estado de Goiás, por exemplo, existem indústrias em Goiânia, Anápolis, Itumbiara, Pires do rio, Catalão, Goianésia e Ceres. Goiânia e Anápolis, localizadas na área de maior desenvolvimento econômico da região, são os centros industriais mais significativos, graças ao seu mercado consumidor, que estimula o desenvolvimento industrial. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Enquanto outras áreas apresentam indústrias ligadas aos produtos alimentares, minerais não metálicos e madeira, esta área possui certa diversificação industrial. Contudo, os produtos alimentares representam o maior valor da produção industrial. Norte
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A atividade industrial no Norte, é pouco expressiva, se comparada com outras regiões brasileiras. Porém, os investimentos aplicados, principalmente nas últimas décadas, na área dos transportes, comunicações e energia possibilitaram a algumas áreas o crescimento no setor industrial, visando à exportação. Grande parte das indústrias está localizada próxima à fonte de matérias-primas como a extração de minerais e madeiras, com pequeno beneficiamento dos produtos. A agroindústria regional dedica-se basicamente ao beneficiamento de matérias-primas diversas, destacando-se a produção de laticínios, o processamento de carne, ossos e couro, a preservação do pescado, a extração de suco de frutas, o esmagamento de sementes para fabricação de óleos, a destilação de essências florestais, prensagem de juta, etc.Tais atividades, além de aumentarem o valor final da matéria-prima, geram empregos. As principais regiões industriais são Belém e Manaus. Na Amazônia não acontece como no Centro-sul do país, a criação de áreas industriais de grandes dimensões. Mais adiante veremos sobre a criação da Zona Franca de Manaus. Como a implantação de uma indústria pode alterar a cultura e as relações de trabalho na região em que foi implantada Já é do conhecimento de todos nós, que quando uma indústria é implantada em determinada região, várias mudanças acontecem, dentre elas, mudanças no espaço geográfico, mudanças culturais, e, principalmente, mudanças na economia. A implantação de uma indústria, modifica a cultura, pois, um trabalho que artesanalmente era executado pelo povo, e tido como tradição, cede seu lugar, muitas vezes, as máquinas pesadas, que exercem sozinhas e em pouco tempo, o serviço que muitas vezes era desempenhado por várias pessoas e em um período de tempo muito maior. Assim, milhares de postos de trabalho se extinguiam, fazendo com que aumentasse o número de empregos informais surgidos nessa região. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Além de mudanças na cultura e economia, surgem também, mudanças no espaço geográfico. Em alguns casos, as indústrias são implantadas, sem maior avaliação dos danos que ela poderá causar, acarretando consequências gravíssimas posteriormente. A Zona Franca de Manaus A Zona Franca de Manaus (ZFM) foi criada em 1957, originalmente através da Lei 3.173, com o objetivo de estabelecer em Manaus um entreposto destinado ao beneficiamento de produtos para posterior exportação. Em 1967, a ZFM foi subordinada diretamente ao Ministério do Interior, através da SUFRAMA (pelo Decreto-Lei n 288). O decreto estabelecia incentivos com vigência até o ano 1997. Ao longo dos anos 70, os incentivos fiscais atraíram para a Zona Franca de Manaus investimentos de empresas nacionais e estrangeiras anteriormente instaladas no sul do Brasil, bem como investimentos de novas ET, principalmente da indústria eletrônica de consumo. Nos anos 80, a Política Nacional de Informática impediu que a produção de computadores e periféricos e de equipamentos de telecomunicações se deslocasse para Manaus e a ZFM manteve apenas o segmento de consumo da indústria eletrônica. A Constituição de 1988 prorrogou a vigência dos incentivos fiscais da União para a Zona Franca de Manaus até o ano de 2013, mas com a abertura da economia, nos anos 90, esses incentivos perderam eficácia. Simultaneamente, os produtos fabricados na ZFM passaram a enfrentar a concorrência com produtos importados no mercado doméstico brasileiro. As empresas estabelecidas em Manaus promoveram um forte ajuste com redução do emprego e aumento do conteúdo importado dos produtos finais. A relação dos meios de transporte e comunicação e do comércio com a industrialização de uma determinada região Os meios de transporte, comunicação e comércio, são os fatores cruciais para que se implante uma indústria em uma determinada região. Para ser determinado estratégico para a implantação de uma indústria, um local tem que ter fácil acesso às rodovias, para que as mesmas escoem a sua produção para as diversas regiões do país e os portos, visando à exportação. Os meios de comunicação, também são vitais, para que sejam feitos os contatos necessários para se fechar grandes negócios, visando à obtenção de lucros mais altos, para o crescimento da indústria, a atualização dos conhecimentos e a velocidade de comunicação.
Ciências Humanas e suas Tecnologias O comércio, também é muito importante, pois para que se produza alguma coisa, é necessário que haja mercado para este produto, e o comércio tem o papel de intermediário entre o produtor e o consumidor final. Os impactos ambientais causados pela indústria As economias capitalistas tiveram, no pós-guerra até meados da década de 70, uma das fases de maior expansão e transformações da estrutura produtiva, sob a égide do setor industrial. Essa expansão foi liderada por dois grandes subsetores: o metalomecânico (indústria de automotores, bens de capital e do consumo duráveis) e a química (especialmente a petroquímica). A rápida implantação da matriz industrial internacional no Brasil internalizou os vetores produtivos da químico-petroquímica, da metalomecânica, da indústria de material de transporte, da indústria madeireira, de papel e celulose e de minerais nãometálicos todos com uma forte carga de impacto sobre o meio ambiente. De maneira geral, e abstraindo as características de cada ecossistema, o impacto do setor industrial sobre o meio ambiente depende de três grandes fatores: da natureza da estrutura da indústria em distintas relações com o meio natural; da concentração espacial dos gêneros e ramos industriais; e do padrão tecnológico do processo produtivo – tecnologias de filtragem e processamento dos efluentes, além do reaproveitamento econômico dos subprodutos. A industrialização maciça e tardia incorporou padrões tecnológicos avançados para base nacional, mas ultrapassados no que se refere ao meio ambiente, com escassos elementos tecnológicos de tratamento, reciclagem e reprocessamento. Enquanto o Brasil começa a realizar ajustes no perfil da indústria nacional, a economia mundial ingressa em um novo ciclo de paradigma tecnológico. Ao contrário da industrialização do pós-guerra, altamente consumidora de recursos naturais: matérias-primas, “commodities” e energéticos. O novo padrão de crescimento tende a uma demanda elevada de informação e conhecimento com diminuição relativa do “consumo” de recursos ambientais e de “produção” de efluentes poluidores. É importante sempre relembrarmos os acidentes ambientais causados pela falta de cuidados de certas indústrias, para que haja pelo menos a esperança, de que não voltará a acontecer. Conclusão Uma indústria em certa região, poderá ser benéfica ou prejudicial à mesma, pois, ao mesmo tempo em que contribui para o crescimento, ela pode estar executando a massificação da cultura de um povo.
Muitas vezes, o prejuízo natural causado por um acidente ambiental, tendo como protagonista uma indústria, pode não ser revisto nunca mais, matando ecossistemas inteiros, um prejuízo sem recuperação. Uma indústria também pode contribuir fortemente para o desenvolvimento da população, gerando inúmeros empregos diretos e indiretos. Será que hoje em dia a humanidade conseguiria viver sem comodidade e tecnologia? Sem um celular ou um computador, ou mesmo uma televisão ou um rádio? E se não existisse o carro? Ou mesmo você não pudesse nem sonhar em ir de ônibus para o trabalho, tivesse que ir de carro de boi? Enfim, o mundo não seria o mesmo, sem seus produtos industrializados! Com avanço da indústria, no início do século XX duas formas de organização de produção industrial provocaram mudanças significativas no ambiente fabril: o taylorismo e o fordismo. Esses dois sistemas visavam à racionalização extrema da produção e, consequentemente, à maximização da produção e do lucro. Frederick Winslow Taylor (1856 – 1915), engenheiro mecânico, desenvolveu um conjunto de métodos para a produção industrial que ficou conhecido como taylorismo. De acordo com Taylor, o funcionário deveria apenas exercer sua função/tarefa em um menor tempo possível durante o processo produtivo, não havendo necessidade de conhecimento da forma como se chegava ao resultado final. Sendo assim, o taylorismo aperfeiçoou o processo de divisão técnica do trabalho, sendo que o conhecimento do processo produtivo era de responsabilidade única do gerente, que também fiscalizava o tempo destinado a cada etapa da produção. Outra característica foi à padronização e a realização de atividades simples e repetitivas. Taylor apresentava grande rejeição aos sindicatos, fato que desencadeou diversos movimentos grevistas. Henry Ford (1863 – 1947), por sua vez, desenvolveu o sistema de organização do trabalho industrial denominado fordismo. A principal característica do fordismo foi à introdução das linhas de montagem, na qual cada operário ficava em um determinado local realizando uma tarefa específica, enquanto o automóvel (produto fabricado) se deslocava pelo interior da fábrica em uma espécie de esteira. Com isso, as máquinas ditavam o ritmo do trabalho. O funcionário da fábrica se especializava em apenas uma etapa do processo produtivo e repetia a mesma atividade durante toda a jornada de trabalho, fato que provocava uma alienação física e psicológica nos operários, que não tinham noção do processo produtivo do automóvel. Essa racionalização da produção proporcionou a popularização do automóvel de tal forma que os próprios operários puderam adquirir seus veículos. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Tanto o taylorismo quanto o fordismo tinham como objetivos a ampliação da produção em um menor espaço de tempo e dos lucros dos detentores dos meios de produção através da exploração da força de trabalho dos operários. O sucesso desses dois modelos fez com que várias empresas adotassem as técnicas desenvolvidas por Taylor e Ford, sendo utilizadas até os dias atuais por algumas indústrias. A GLOBALIZAÇÃO E AS NOVAS TECNOLOGIAS DE TELECOMUNICAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS ECONÔMICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS.
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O termo globalização surgiu após a Guerra Fria tornando-se o assunto do momento, aparecendo nos círculos intelectuais e nos meios de comunicação, tornando possível a união de países e povos, essa união nos dá a impressão de que o planeta está ficando cada vez menor. Um dos mais importantes fatores que contribui para a união desses povos é, sem dúvida, a internet. É impossível falar de globalização sem falar da Internet, que a cada minuto nos proporciona uma viagem pelo mundo sem sair do lugar. Dentro da rede conhecemos novas culturas, podemos fazer amizades com pessoas que moram horas de distância, trabalhamos e ainda podemos nos aperfeiçoar cada vez mais nos assuntos ligados a nossa área de interesse, através dela, milhões de negócios são fechados por dia. A globalização não é uma realização do presente, vem de longa data. Tudo começou há muito tempo quando povos primitivos passaram a explorar o ambiente em que viviam. No século XV os europeus viajavam pelos mares a fim de ligar Oriente e Ocidente; a Revolução Industrial foi outro fator que permitiu o avanço de países industrializados sobre o restante do mundo. No final dos anos 70, os economistas passaram a usar o termo “globalização” fora das discussões econômicas facilitando as negociações entre os países. Nos anos 80, começaram a ser difundidas novas tecnologias que uniam os avanços da ciência com a produção, por exemplo: nas fábricas, robôs ligados aos computadores aceleravam (e aceleram) a produção, ocasionando a redução da mão-de-obra necessária, outro exemplo são as redes de televisão que facilitam ainda mais a realização de negócios, com as suas transmissões em tempo real. A globalização envolve países ricos, pobres, pequenos ou grandes e atinge todos os setores da sociedade, e por ser um fenômeno tão abrangente, ela exige novos modos de pensar e enxergar a realidade. As coisas mudam muito rápido hoje em dia, o território mundial ficou mais integrado, mais ligado. Por exemplo, na década de 1950, uma viagem de ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
avião cruzando o Oceano Atlântico durava 18 horas; hoje a mesma rota pode ser feita em menos de 5 horas. Em 1865, a notícia da morte de Abraham Lincoln levou 13 dias para chegar na Europa, mas hoje, ficamos sabendo de tudo o que acontece no mundo em apenas alguns minutos. Não podemos negar que a globalização facilita a vida das pessoas, por exemplo o consumidor foi beneficiado, pois podemos contar com produtos importados mais baratos e de melhor qualidade, porém ela também pode dificultar. Uma das grandes desvantagens da globalização é o desemprego. Muitas empresas aprenderam a produzir mais com menos gente, e para tal feito elas usavam novas tecnologias fazendo com que o trabalhador perdesse espaço. A necessidade de união causada pela Globalização fez com que vários países que visavam uma integração econômica se unissem formando os chamados blocos econômicos (ALCA, NAFTA e Tigres Asiáticos, por exemplo), o interesse dessa união seria o aumento do enriquecimento geral. Não podemos esquecer também que, hoje em dia, é essencial o conhecimento da língua inglesa. O inglês, que ao longo dos anos se tornou a segunda língua de quase todos nós, é exigido em quase todos os campos de trabalho, desde os mais simples como um gerente de hotel até o mais complexo, como um grande empresário que fecha grandes acordos com multinacionais. Para encarar todas estas mudanças, o cidadão precisa se manter atualizado e informado, pois estamos vivendo em um mundo em que a cada momento somos bombardeados de informações e descobertas novas em todos os setores, tanto na música, como na ciência, na medicina e na política. Intimamente vinculada à questão da globalização econômica é a mudança no papel do Estado. A globalização significa que as variáveis externas passaram a ter influência acrescida nas agendas domésticas, reduzindo o espaço disponível para as escolhas nacionais. Já mencionei que os requisitos para a competitividade externa levaram a uma maior homogeneidade nos aspectos institucionais e regulatórios dos Estados, que tais requisitos deixaram menor margem de manobra para estratégias nacionais altamente diferenciadas em relação, entre outros, ao trabalho e à política macroeconômica. O equilíbrio fiscal, por exemplo, tornou-se um novo dogma, conforme bem ilustra o Tratado de Maastricht da União Europeia, que fixa parâmetros dentro dos quais devem situar-se os números do equilíbrio orçamentário de seus países-membros. Tanto a opinião pública internacional quanto o comportamento dos mercados também passaram a desempenhar um papel que antes não tinham na re-
Ciências Humanas e suas Tecnologias definição dos limites possíveis de ação para o Estado. A informação movimenta-se livre e rapidamente. Se, por exemplo, circula a noticia de que um determinado país está enfrentando dificuldades para controlar seu déficit orçamentário ou estará proximamente elevando suas taxas de juros, os mercados financeiros intencionais tomam, com fundamento nestas noticias, decisões que poderão ter impacto real no pais em questão. Os países, seus lideres e as políticos por eles adotadas estão sob vigilância próxima e constante da opinião pública internacional. Qualquer medida julgada por estas entidades imateriais como passo em falso pode impor penalidades. Ao contrário, decisões ou eventos interpretados como positives solo recompensados. A opinião pública internacional e, sobretudo, os mercados tendem a ser conservadores, a seguir certa ortodoxia em matéria econômica. Estabelecem um padrão de conduta econômica que praticamente não admite desvios num mundo em que h;! imensa variedade de realidades nacionais. 0 complexo processo de ajuste não deve ignorar tal diversidade. A globalização modificou o papel do Estado num outro aspecto. Alterou radicalmente a ênfase da ação governamental, agora dirigida quase exclusivamente para tomar possível As economias nacionais desenvolverem e sustentarem condições estruturais de competitividade em escala global. Isto não significa necessariamente um Estado menor, muito embora este também seja um efeito colateral desejável da mudança de ênfase, mas certamente pede um Estado que intervenha menos e melhor; um Estado que seja capaz de mobilizar seus recursos escassos para atingir prioridades selecionadas, um Estado que possa canalizar seus investimentos para as áreas vitais na melhoria da posição competitiva do pais, tais como infraestrutura e serviços públicos básicos, entre os quais melhor educação e saúde; um Estado que esteja pronto a transferir para mãos privadas empresas melhor administradas por elas; um Estado, finalmente, no qual os funcionários públicos estejam à altura das demandas da coletividade por melhores serviços. E tudo isso tem de ser feito num tempo em que os valores democráticos e uma sociedade civil fortalecida tornam ainda mais amplas as reivindicações de mudança. A transformação do Estado tem também de ser conduzida num quadro econômico de disciplina fiscal e austeridade no gasto público, em que o Estado conta com menos recursos financeiros. Não se trata de tarefa simples. Requer uma mudança substancial de atitude e determinação para combater interesses velados dentro do aparato estatal. Mas não há alternativa. No caso do Brasil, temos, em
suma, de reconstruir o Estado se quisermos ter qualquer possibilidade de êxito na transição do modelo autárquico do passado para outro em que nossa economia se integre plenamente nos fluxos mundiais de comércio e investimento. Pode parecer paradoxal que esta remodelação do Estado de nenhuma forma conflite com ideais tradicionais da esquerda (e orgulho-me de ser fundador e membro do partido que representa a Social Democracia no Brasil). Pois é justamente isto o que ocorre. Ao realocar seus recursos e suas prioridades para educação e saúde, num país com os grandes contrastes sociais do Brasil, o novo Estado estará contribuindo para a realização de algo em que ele falhou no passado: promover maior igualdade de oportunidades numa época em que a qualificação e a educação constituem pré-requisito não apenas para a conquista de um posto de trabalho, mas também para aumentar o grau de mobilidade social no país. Hoje, mais do que nunca, metas caras à esquerda podem ser alcançadas junto com e em virtude de nossos esforços para aumentarmos as capacidades nacionais com vistas à participação competitiva na economia mundial. Além disso, este Estado remodelado precisa ser ainda mais forte no desempenho de suas tarefas sociais e melhor preparado para regulamentar as atividades recentemente privatizadas. As dificuldades no processo de transição do papel do Estado são sentidas em toda parte e não podem ser subestimadas. A reforma da Previdência Social na França e as difíceis negociações para a aprovação do orçamento nos Estados Unidos são exemplos dos obstáculos a serem superados pelos Governos, basicamente porque não há respostas imediatas e evidentes ao desafio da transição. Abandonar as práticas tradicionais do Estado do Bem-Estar não implica deixar de lado a necessidade de melhores padrões de vida para os nossos povos. Globalização e a questão da inclusão e exclusão Gostaria agora de passar ao exame de outra consequência da globalização: a questão da exclusão e inclusão social. E minha primeira observação é a de que a globalização está dando origem a uma nova divisão internacional. Os pontos cardeais já não explicam de forma satisfatória o mundo. As divisões Leste-Oeste e Norte-Sul eram conceitos que minha geração empregou para lidar respectivamente com a realidade política da Guerra Fria e com o desafio econômico do subdesenvolvimento. A situação internacional desta metade da década de 90 é muito mais complexa. O mundo pode ser dividido entre as regiões ou países que participam do processo de globalização e usufruem seus frutos e aqueles que não participam. Os primeiros estão geralmente associados à ideia de ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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progresso, riqueza, melhores condições de vida; os demais, à exclusão, marginalização, miséria. É certo que a globalização produziu uma janela de oportunidades para que mais países pudessem ingressar nas principais correntes da economia mundial. Os Tigres Asiáticos e mesmo o Japão são exemplos significativos. Estes países souberam aproveitar as oportunidades dadas pela economia mundial através da adoção de um conjunto de políticas que incluem, entre outras, o desenvolvimento de uma força de trabalho bem treinada e qualificada, aumento substancial da taxa de poupança doméstica, e implementação de modelos voltados para a exportação e baseados na intervenção estatal seletiva em alguns setores. Para outros países em desenvolvimento mais complexos, entre os quais o Brasil e a Índia, a integração na economia global está sendo feita à custa de maior esforço de ajuste interno e numa época de competição internacional mais acirrada. Nossos avanços são conhecidos, e não tenho dúvidas de que nossos dois países estão tendo êxito em gradualmente colher os frutos dos laços econômicos mais profundos que estão estabelecendo com o resto do mundo. O mesmo acredito será válido para as chamadas economias em transição dos antigos países comunistas, que, não obstante, estão pagando um preço alto pelo ajuste aos princípios da economia de mercado impostos pela realidade atual. Para os países menores e mais atrasados, prevalece, porém, um grande ponto de interrogação. Serão eles capazes de algum dia poder superar os desafios da globalização? Estão seus povos condenados por uma lógica perversa a viver na pobreza absoluta, a ver suas instituições ruírem e a depender da ajuda externa num mundo menos predisposto a oferecê-la e mal preparado para canalizá-la de modo eficiente? Reconheço que as dificuldades a serem enfrentadas por esses países são enormes. No entanto, recuso-me a aceitar que seu destino esteja predeterminado ao fracasso, como se nada pudesse ser feito, como se a comunidade internacional pudesse conviver confortavelmente com a indiferença e a paralisia em relação aos países mais pobres. A marginalização perverte a boa consciência da humanidade. A marginalização, todavia, não está confinada unicamente aos países ainda não integrados na economia internacional. Ela também está crescendo-nos próprios países prósperos. A globalização significa competição com base em maiores níveis de produtividade, ou seja, maior produção por unidade de trabalho. O desemprego resulta assim dos mesmos motivos que levam uma economia a ser competitiva. A situação é particularENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
mente grave na Europa. Os que são demitidos nos países ricos podem recorrer a mecanismos de proteção social de diferentes tipos; alguns poderão ser treinados para um trabalho substituto. Mas pouco poderá fazer-se para aliviar a frustração dos jovens que querem ingressar no mercado de trabalho e não conseguem. A falta de esperança, o consumo de drogas e álcool, o desmembramento da família são alguns dos problemas trazidos pelo desemprego e pela consequente marginalização. Há um sentimento de exclusão, de mal-estar em vastos segmentos das sociedades ricas integradas na economia global, alimentando a violência e, em alguns casos, atitudes de xenofobia. Como lidar com a complexa questão do desemprego é um desafio com o qual se defrontam praticamente todos os países que participam da economia global. A resposta a ele certamente não deve ser encontrada numa reação à globalização, seja mediante um fechamento da economia ao comércio com parceiros externos, o que apenas agrava a marginalização de um país, seja mediante o estabelecimento de regras muito rígidas nas relações de trabalho, passo que corre o risco de, em vez de estimular, dificultar a criação de empregos. Apesar de que dificilmente se poderia considerar a criação de empregos uma responsabilidade direta dos Governos, estes dispõem de uma ampla gama de possibilidades de ação para atacar o problema. A primeira e talvez mais importante medida seja a promoção do crescimento econômico sustentado, através da adoção de políticas corretas. A segunda seria promover programas dos órgãos oficiais e do setor privado que sejam destinados ao retreinamento dos trabalhadores dispensados por setores nos quais já não conseguem encontrar um posto de trabalho. Um terceiro passo seria tornar mais flexível o conjunto de regras relativas às relações de trabalho, de modo a preservar o número de empregos. Esta flexibilização deveria possibilitar, por exemplo, que empresas e trabalhadores negociassem livremente um leque tão vasto quanto possível de tópicos, tais como o número de horas de trabalho e de dias de férias, a forma de pagamento das horas extras, etc. Deveria também resultar em menores custos para a contratação de trabalhadores. Por fim, há alguns instrumentos à disposição do Governo que podem ser atrelados à expansão da oferta de empregos, tais como a concessão de créditos pelos bancos estatais e a inclusão de incentivos na legislação tributária. Em países de grande população como o Brasil e a Índia, deve-se também ter sempre presentes, ao pensar-se a questão da geração de empregos, as formas de funcionamento da chamada economia informal. Em que medida a economia informal reduz empre-
Ciências Humanas e suas Tecnologias gos na economia formal e em que medida oferece postos de trabalho adicionais? Um melhor conhecimento destas questões é necessário para que possamos tirar as conclusões corretas e adotar as medidas apropriadas. PRODUÇÃO E TRANSFORMAÇÃO DOS ESPAÇOS AGRÁRIOS. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA E ESTRUTURAS AGRÁRIAS TRADICIONAIS. O AGRONEGÓCIO, A AGRICULTURA FAMILIAR, OS ASSALARIADOS DO CAMPO E AS LUTAS SOCIAIS NO CAMPO. A RELAÇÃO CAMPO-CIDADE. A Integração das Atividades Agrícolas e Industriais O Brasil, nos últimos quarenta anos, sofreu uma profunda transformação em sua estrutura de produção econômica. As atividades secundárias (indústria) e terciárias (serviços) passaram a representar a base da economia. Entretanto, apesar do grande desenvolvimento urbano-industrial, a agricultura continua a desempenhar importante papel na economia do país. As atividades relacionadas à agropecuária empregam ainda um número significativo de trabalhadores (cerca de 30% da população ativa). As atividades agrárias transformaram-se num apêndice da economia urbano-industrial, fornecedoras de insumos (soja, laranja, cana, algodão, etc.) e consumidoras de produtos industriais (adubos, agrotóxicos, máquinas e implementos agrícolas, etc.). Essa integração da agricultura ao setor industrial provocou alterações e modernização da base técnica e capitalização nas atividades agrárias, sobretudo nas praticadas pelas empresas rurais. As atividades agropecuárias desempenham outra importante função na economia brasileira: a de geradora de divisas. Através da exportação de produtos agrícolas e agroindustriais, o setor primário contribuiu para o Brasil alcançar saldos positivos na balança comercial nos últimos anos. Além de um grande crescimento nas exportações agrícolas, ocorreu uma grande diversificação de produtos (soja, suco de laranja, fumo, carne, café, cacau, algodão, etc.). Por outro lado, o setor agropecuário destinado à produção de alimentos para o mercado interno não tem acompanhado o ritmo de crescimento do setor agrário-exportador. O cultivo de alimentos básicos é feito, sobretudo, por camponeses familiares e pequenos produtores que continuam a empregar técnicas rudimentares com baixa produtividade e baixos lucros, provocando falta de capital para a aquisição de tecnologia. Como consequência, a produção
per capita de alimentos para o mercado interno (arroz, feijão, mandioca) retrocedeu acentuadamente. A Estrutura Fundiária A estrutura fundiária é a forma como estão organizadas as propriedades agrárias de um país ou região, isto é, a classificação dos imóveis rurais segundo o número, tamanho e distribuição social. A estrutura fundiária brasileira representa um dos maiores problemas agrários do país e se caracteriza pela extrema concentração de terras em mãos de um pequeno número de proprietários. Por outro lado, a maior parte dos produtores rurais (pequenos proprietários) possuem uma área de terras agrícolas muito reduzida, insuficiente, na maior parte das vezes, para garantir a sobrevivência de sua própria família. O gráfico ao lado mostra a desigual distribuição de terras no Brasil, consequência do processo histórico-econômico da formação da sociedade brasileira. Os pequenos estabelecimentos rurais, com menos de 10 habitantes, correspondiam a 52,9% do total, ocupando, porém, uma área extremamente reduzida (2,7% da área). Por outro lado, as grandes propriedades com mais de 1 000 habitantes que correspondiam a 1,2% dos imóveis rurais brasileiros, ocupavam, em 1985, 43,8% da área das propriedades rurais brasileiras. Concluindo, podemos afirmar que a estrutura fundiária brasileira se caracteriza pelo elevado padrão de concentração da terra, concentração essa que tem persistido nas últimas décadas. Nos latifúndios existe um sub aproveitamento do fator terra, pois essas propriedades são aproveitadas apenas parcialmente e, muitas vezes, nem chegam a ser exploradas, pois são transformadas em objeto de especulação. Nos minifúndios ocorre um subaproveitamento do fator trabalho, pois o espaço reduzido é insuficiente para absorver de forma produtiva toda a força de trabalho, gerando, com isso, subemprego rural. Distribuição das Propriedades Número de Estabelecimentos GRUPOS DE ÁREA % de estabelecimentos % de área (em hectare) 1940 1980 1985 1940 1980 1985 menos de 10 34,3 50,3 52,9 1,5 2,5 2,7 de 10 a 100 51,2 39,1 37,1 16,7 17,7 18,6 de 100 a 1.000 12,8 9,4 8,9 33,5 34,8 35,1 mais de 1.000 1,7 1,2 1,2 48,3 45,0 43,8 Total (100%) 4.924.000 estabelecimentos 5.159.000 estabelecimentos 294.000.000 hectares 369.000.000 hectares ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Área Total Apropriada A Subutilização do Espaço Agrário Área de Lavouras, Pastagens e Matas e Terras Não Aproveitadas em Relação à Área Total dos Estabelecimentos Área de Lavouras e de Pastagens em Relação à Área Total do País Através dos gráficos anteriores, podemos perceber que os pequenos estabelecimentos dominam em relação ao número; entretanto, sua participação na área ocupada pelas propriedades é irrisória. Os grandes estabelecimentos, ao contrário, existem em número reduzido, mas ocupam a maior parte das terras. A subutilização do espaço rural fica evidente nos gráficos; a agricultura ocupa uma reduzida área e a maior parte do espaço agrário é ocupado por pastagens, onde quase sempre se pratica uma pecuária extensiva de baixo rendimento. Reforma Agrária
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A reforma agrária é vista por vários segmentos da sociedade brasileira como uma necessidade, face aos vários problemas socioeconômicos do campo e da cidade. Entretanto, esse problema encontra-se fortemente interligado ao conjunto econômico, político e social do país e de suas relações com o mercado externo; nenhuma alteração pode ser pensada isoladamente. Torna-se necessária a consideração das variáveis que afetam o conjunto da organização socioeconômica brasileira. Qualquer proposta para o problema agrário deve ser colocada em termos globais, considerando suas repercussões em outros campos. A reforma agrária visa a aumentar a produtividade do solo e do trabalho nas atividades rurais, garantindo ao homem do campo um padrão de vida decente. Além da distribuição de terras, várias outras medidas devem ser tomadas, como assistência técnica, educação, financiamento do custeio e do equipamento, política de preços mínimos, infraestrutura de transporte, armazenagem, telefonia e eletrificação rural. Conflitos pela Posse da Terra Nas duas últimas décadas, ocorreu uma intensificação nos conflitos pela posse da terra e a violência no campo. Essa violência é bem mais grave nas áreas de fronteiras agrícolas, isto é, áreas que estão sendo incorporadas ao sistema de produção agrícola do país (Amazônia, por exemplo). ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Os trabalhadores rurais, expulsos das antigas áreas agrícolas pelo grande capital, instalam-se como posseiros ou pequenos proprietários nas fronteiras agrícolas, áreas onde a terra é abundante, praticando uma agricultura de subsistência. Posseiros X Grileiros O maior número de conflitos pela posse da terra envolve os posseiros e grileiros. Posseiros são trabalhadores rurais que ocupam um pedaço de terra sem possuir o título de propriedade, onde passam a praticar uma agricultura de subsistência utilizando o trabalho da própria família. Os grileiros são, geralmente, grandes empresas ou fazendeiros que se utilizam da força e da violência para se apropriar de terras devolutas ou terras trabalhadas por posseiros. Contratam jagunços (capangas) para “limpar” o terreno, ou seja, expulsar índios e posseiros que por ventura estejam ali fixados. Conseguem a documentação do imóvel (títulos de propriedade), muitas vezes falsificadas, transformando a terra em objeto de especulação imobiliária ou instrumento de negócios. Os litígios pela posse da terra têm gerado uma verdadeira guerra no campo, palco de acentuada violência, causando a morte de muitas pessoas: índios, posseiros, religiosos, advogados, líderes sindicais, etc. Grande parte dos crimes são praticados por jagunços e assassinos de aluguel, contratados pelos grileiros, fazendeiros e grandes empresas e também por policiais a serviço dos latifundiários. O gráfico abaixo (mortos em conflitos de terra) ilustra o resultado dessa guerra no campo.
Fonte: Ariovaldo U. de Oliveira, A Geografia das Lutas no Campo, p. 33)
As Relações de Trabalho nas Atividades Rurais O trabalho assalariado não é a única e nem mesmo a principal forma de relação trabalhista praticada nas atividades agrárias. Outras formas de relações não-capitalistas como à parceria, pequena propriedade familiar, também se fazem presentes no meio rural. Pequenos Proprietários Representam um significativo número de pessoas ativas, aproximadamente 7 milhões, que correspondem a cerca de 40% da população ativa do setor primário. Trata-se de mini fundiários ou posseiros que trabalham em base familiar, praticam policultura de subsistência e criação de animais domésticos (suínos, aves, bovinos). O excedente da produção é comercializado, possibilitando ao trabalhador a aquisição de remédios, roupas, instrumentos agrícolas, etc.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Parceiros A parceria é uma relação trabalhista em que o trabalhador recebe (em espécies) uma parte da produção. Não são empregados e não possuem carteira assinada. A meiação (meeiros) é a forma mais comum; metade da produção fica com o dono do imóvel e a outra metade para o trabalhador. Outras formas existem, como a “terça” (terceiros) em que o trabalhador fica com a terça parte do que é produzido; e a “quarta” ou sorte (quarteiro), muito comum na pecuária do sertão nordestino, em que o trabalhador recebe um bezerro para cada quatro nascidos vivos. Arrendatários São os trabalhadores rurais que arrendam ou alugam um imóvel rural, mediante um contrato de locação, pagando ao proprietário em dinheiro conforme o estipulado pelo contrato. A maior parcela desse tipo de trabalhador é representada por pequenos arrendatários que lavram as terras juntamente com suas famílias, possuindo baixos rendimentos e baixo padrão de vida. Assalariados Permanentes Trata-se de uma relação de trabalho tipicamente capitalista. Os empregados que trabalham para grandes proprietários ou empresas rurais, são registrados e recebem salários. Representam minoria no meio rural (10% da mão-de-obra rural). Assalariados Temporários São trabalhadores (volantes, posseiros ou pequenos proprietários) que trabalham nas grandes propriedades durante um período do ano, épocas de maior necessidade de mão-de-obra (safra). Os trabalhadores volantes ou “bóias frias” são aqueles recrutados na periferia das cidades por turmeiros ou empreiteiros que servem de intermediários entre os trabalhadores e os proprietários. Trabalham na colheita da cana-de-açúcar, algodão, laranja, café, etc. e recebem pagamento diário ou por tarefa. O peão, trabalhador volante mais recente que o bóia fria, é muito utilizado nas regiões de fronteiras agrícolas, sobretudo em projetos agropecuários da Amazônia. É “contratado” por um intermediário (gato) para trabalhar em regiões distantes, com promessas de salários, alojamento e alimentação.
Quando recebe o pagamento, aparecem os “descontos”: custos de transporte, alimentação, hospedagem, etc., quase nada restando do seu salário, chegando, às vezes, a ficar devendo. Muitas vezes jagunços e pistoleiros são contratados para evitar a fuga de trabalhadores, reproduzindo uma situação de escravidão (peonagem). A Organização do Espaço Agrário por Regiões Regiões Norte e Centro-Oeste No Brasil, apesar da geografia favorável à prática da agropecuária, cultivamos apenas 14% de nossa área, e os campos aproveitados pela pecuária não atingem 38% do espaço agrícola. Como já foi abordado anteriormente, existe um grande subaproveitamento do espaço agrário brasileiro. Na produção agrícola brasileira, registram-se desiguais tipos de cultivo ou sistemas agrícolas, com níveis de organização bastante diferenciados. Nas áreas mais desenvolvidas, pratica-se uma agricultura moderna, com significativo índice de mecanização e elevada produtividade da terra e do trabalho. Entretanto, em muitas regiões agrícolas do país, ainda persistem práticas agrícolas arcaicas com técnicas tradicionais e baixo rendimento. A Organização do Espaço Agrícola Agropecuária no Norte A agricultura de subsistência é praticada em toda a região Norte do país, através do sistema itinerante (ou roça). Apresenta técnicas tradicionais (queimada, rotação de terras) e baixo rendimento, sendo praticada pelo caboclo, posseiro, índio, etc.” A agricultura comercial concentra-se no vale do rio Amazonas (baixo e médio cursos), onde se cultiva a juta, importante fibra têxtil, plantada nas várzeas. Outra área da agricultura comercial é a Zona de Bragantina nas proximidades de Belém. Além da policultura e fruticultura que abastecem essa metrópole, cultiva-se nessa área a pimenta-do-reino que, juntamente com a juta, foi introduzida pelo imigrante japonês. Na década de 70, a construção de rodovias e a presença de terras férteis em algumas áreas da Amazônia atraíram um grande número de migrantes: mineiros, paulistas, gaúchos e paranaenses. Em Rondônia, 17% da área do estado é constituída por solos férteis que favorecem a agricultura do café, cacau e outros produtos. Em Tocantins, o processo de calagem permitiu a correção do solo (muito ácido), possibilitando a expansão da lavoura da soja. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias O ecossistema amazônico é impróprio para a prática da agropecuária, pois torna-se necessária a devastação de grandes trechos de matas, provocando prejuízos para o meio ambiente. Entretanto, a pecuária extensiva tem apresentado grande incremento nos últimos anos, sobretudo ao longo das rodovias Belém-Brasília e Brasília-Acre. Apresenta um baixo rendimento e baixa produtividade de carne. Nas tradicionais áreas de criação da região, não houve grandes agressões ao meio ambiente, como nos campos de Roraima (bovinos) e na Ilha de Marajó, onde é criado o gado bufalino (búfalos). Agropecuária no Centro-Oeste
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A região Centro-Oeste tem apresentado um grande crescimento na sua produção agropecuária. Vários fatores explicam esse desenvolvimento: melhoria dos meios de transportes (rodovias), proximidade do maior mercado consumidor do país (Sudeste), crescimento populacional, adaptação da soja e outras culturas ao solo do Cerrado, etc. As principais áreas agrícolas do Centro-Oeste são: - Vale do Paranaíba: no sul de Goiás, tradicional área do cultivo do arroz, onde se planta também soja, algodão, café, milho, etc. - Mato Grosso de Goiás: área localizada no sudeste de Goiás. - Sul do Mato Grosso do Sul A introdução de técnicas modernas de recuperação dos solos, condições de armazenagem, incentivos fiscais, etc. possibilitaram a expansão da fronteira agrícola em direção ao norte do Centro-Oeste. No eixo de rodovias, grandes projetos agropecuários foram implantados. A soja foi o principal produto que permitiu a valorização do Cerrado. Além desse produto, cultiva-se nessa região arroz, algodão, milho, café, etc. A construção da Estrada de Ferro Leste-Oeste, que ligará Cuiabá ao Triângulo Mineiro (Uberada e Uberlândia) e a São Paulo (Santa Fé do Sul), permitirá um escoamento mais rápido, produção de soja e outros produtos a custos mais baixos. Desse empreendimento participam governo (BNDES) e empresários (Grupo Itamarati de Olacir de Moraes). A pecuária extensiva de bovinos teve um grande crescimento na região nas últimas décadas. Mato Grosso do Sul é o Estado de maior rebanho de bovinos do país. Nos últimos anos, um grande número de frigoríficos estão se transferindo de São Paulo (tradicional área de engorda de gado criado no Centro-Oeste) para a região. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
O Pantanal mato-grossense é uma tradicional área de criação de gado do Centro-Oeste, favorecida pela presença de pastagens naturais, sal, ligação rodoferroviária com São Paulo e baixos preços das terras. Regiões Nordeste e Sul Agropecuária no Nordeste A região Nordeste do Brasil apresenta diferentes organizações do espaço agrário de uma área para outra, originando sub-regiões geográficas. No mapa anterior, temos: 1 = Zona da Mata 2 = Agreste 3 = Sertão ou polígono das Secas 4 = Nordeste ocidental Zona da Mata Na Zona da Mata, o espaço agrário foi organizado no período colonial, através do sistema de plantation, isto é, grandes plantações trabalhadas por escravos. O destaque sempre foi à cana-de-açúcar, cuja produção era exportada para a metrópole. Na atualidade, a monocultura canavieira apresenta-se como uma agroindústria, destinada à produção do açúcar e do álcool em modernas usinas. O latifúndio e a monocultura comercial são heranças históricas que persistem até os dias de hoje, e constituem a principal causa dos problemas socioeconômicos dessa área. Além da cana-de-açúcar, ocorre a produção do fumo em Alagoas e no Recôncavo baiano; e do Cacau, no sul da Bahia (Ilhéus, Itabuna, Jequié, Camacã, etc.). Agreste O Agreste, paisagem de transição entre a Zona da Mata úmida e o Sertão semiárido, apresenta um espaço agrário caracterizado pelo predomínio dos minifúndios (pequenas propriedades), favorecendo o desenvolvimento de uma policultura comercial. Além dos tradicionais produtos de subsistência (arroz, feijão, milho, mandioca, etc.), vários produtos agrícolas comerciais são também cultivados no Agreste, como algodão, sisal e mamona. Trata-se, ainda, da mais importante bacia leiteira do Nordeste. Sertão O Sertão, maior sub-região do Nordeste, apresenta uma geografia que dificulta a prática da agricultura. Os efeitos das prolongadas estiagens (seca) afetam constantemente os agricultores dessa área, provocando sua migração para outras áreas.
Ciências Humanas e suas Tecnologias A base da economia é a pecuária extensiva, com a criação de vários tipos de gado em meio à caatinga. Bovinos, caprinos, asininos, suínos e ovinos são criados em todos os estados nordestinos. A Bahia possui o maior rebanho de caprinos e asininos do país. Essa pecuária é, geralmente, de má qualidade e o rebanho de baixo nível zootécnico. Destina-se essencialmente à produção de carne e couro (gado de corte), que são de qualidade inferior. Meio-Norte No Meio-Norte (Maranhão e parte do Piauí), além do extrativismo vegetal do babaçu, destinado à produção de óleos, pratica-se a agricultura comercial. O algodão é um tradicional produto dessa área. Nos vales fluviais (rios Mearim, Pindaré, Itapecuru, etc.), destaca-se a rizicultura (arroz) que faz do Maranhão um dos maiores produtores do Brasil. A pecuária extensiva é praticada em toda a área, sobretudo nas mais secas. Agropecuária do Sul Organização da Agropecuária do Sul A região Sul apresenta condições geográficas altamente favoráveis ao desenvolvimento da agropecuária: clima subtropical, solos de grande fertilidade natural, relevo de planuras favorecendo a mecanização, etc. Como pudemos observar nos gráficos anteriores, destaca-se na produção de arroz, soja, fumo, trigo, batata, milho, uva, etc. Nas áreas de imigração europeia (região serrana do Rio Grande do Sul, vale do Itajaí em Santa Catarina e vales fluviais), o espaço agrário é caracterizado pelo predomínio de pequenas propriedades, onde se pratica a policultura com trabalho familiar. Principais Culturas Cultivam-se milho, feijão, arroz, mandioca, batata, frutas (uva, maçã, pera) e fumo. A monocultura comercial em grandes propriedades é no Rio Grande do Sul, com o cultivo de soja, trigo, arroz. No norte do Paraná, o café representou, durante décadas, a base da agricultura. Atualmente, além do café, essa área se destaca na produção de cana-de-açúcar, algodão, soja, laranja, milho, etc. Efetivo dos Rebanhos - 1986 A pecuária encontrou, no Sul, condições geográficas altamente favoráveis. A presença de grandes pastagens naturais (pampas) e de um clima subtropical favoreceram a criação de gado de raças europeias que apresenta maior produtividade de carne e couro (bovinos, suínos, etc.) e lã (ovinos).
Na Campanha Gaúcha (área dos pampas), desenvolve-se uma pecuária extensiva de bovinos e ovinos. Embora o rebanho de bovinos não seja o mais numeroso do país (19%), é o de melhor qualidade, e tanto a carne como o couro têm grande aceitação no mercado. O rebanho de ovinos é o mais numeroso do país (60%). A pecuária intensiva é também bastante importante. Além de bovinos destinados à produção de leite (2ª produção do país por regiões), criam-se suínos, aves (frango, peru, etc.). No oeste de Santa Catarina, noroeste do Rio Grande do Sul e Paraná, existem importantes frigoríficos que industrializam a matéria-prima regional (Sadia, Concórdia, Chapecó, Perdigão, etc.). Os frigoríficos da Campanha Gaúcha, quase sempre multinacionais, transformam a carne bovina. Região Sudeste A região Sudeste apresenta uma grande integração entre agropecuária e indústria. Vários produtos se destacam: cana-de-açúcar, laranja, café, milho, arroz, soja, banana. A pecuária é importante no Triângulo Mineiro e Oeste paulista (gado de corte.) Em várias áreas (sul de Minas, vale do Paraíba, etc.) pratica-se a pecuária intensiva (leite). A Produção Agropecuária do Sudeste A agropecuária na região Sudeste destaca-se no conjunto da economia brasileira não somente pelo grande volume de produção, mas também pela extrema diversificação e alto nível de integração com as atividades urbanas (indústria e serviços). Destacam-se como principais produtos agrícolas do Sudeste: Cana-de-açúcar Cuja produção se concentra no nordeste do estado de São Paulo (região de Ribeirão Preto), Baixada Fluminense e região de Campos no Rio de Janeiro, e Zona da Mata mineira. Essa produção de cana é responsável pela maior parte do açúcar e do álcool combustível produzidos no país. Apresenta elevado grau de mecanização, embora na colheita (corte da cana) utiliza-se numerosa mão-de-obra assalariada temporária, oriunda de outras regiões (bóia fria). A Laranja e Outros Cítricos A produção de laranjas no Brasil sofreu um grande crescimento nas últimas décadas, devido à grande valorização do produto (suco) no mercado ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias internacional. A quebra da safra nos EUA (geadas) foi a principal causa dessa valorização. Entretanto, na atualidade, com a normalização da produção americana, o preço da laranja tem despencado, o que está provocando uma redução na produção; o preço atual da caixa do produto não paga os custos de produção. O principal produtor de laranja do Brasil é o estado de São Paulo. O cultivo de cítricos é feito em várias áreas, principalmente nas regiões de Ribeirão Preto, (Araraquara, Bebedouro), Campinas (Limeira, Moji Mirim) e São José do Rio Preto. Café O café foi, durante décadas do século atual, o principal produto de exportação do país. Entretanto, a participação desse produto na receita cambial que era de 68% em 1929, corresponde, nos dias atuais, a apenas 4%. A Pecuária Extensiva Tradicional - grandes espaços - pastagens naturais - ausência de seleção de raças - baixo número de cabeças por área de criação - carne e couro de qualidade inferior - baixo nível zootécnico do rebanho - baixa produtividade
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Áreas Principais - Sertão nordestino (bovinos, caprinos e asininos) - Campos de Roraima - Ilha de Marajó - búfalos - Sul da Amazônia - Centro-Oeste - Cerrado e Pantanal - Norte de MG e Oeste da BA Pecuária Extensiva Melhorada e Semiextensiva
res.
- maior número de cabeças por área de criação - pastagens artificiais com “tratos” complementa-
- seleção de raças - carne e couro de grande valor econômico - alta produtividade - confinamento na época do abate (atividade intensiva) Áreas Principais - Triângulo Mineiro, Oeste Paulista, Mato Grosso do Sul - Gado de origem indiana. (Nelore, Zebu, Gir, Guzerá) ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
- Campanha Gaúcha Ovinos - maior rebanho do Brasil. Bovinos - raças europeias Pecuária Intensiva Bovinos - gado leiteiro As principais áreas da criação intensiva localizam-se no Sudeste e no Sul do país. Aves A avicultura representa importante atividade da pecuária brasileira. Na criação para o corte, destacam-se a produção de frangos e perus de Santa Catarina (oeste) RS e PR. O Estado de São Paulo responde pela maior produção de ovos. Suínos A maior produção de carne de porco (criação intensiva) ocorre no Sul do país e, juntamente com a avicultura, é praticada por pequenos proprietários do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Ao longo de toda sua história, a Geografia buscou atingir o reconhecimento como Ciência adaptando seus paradigmas e interpretações do mundo de forma a se enquadrar no conhecimento formal do meio científico, sem abandonar o foco estabelecido sobre a sociedade. Assim, na geografia atual, se entende ser necessário considerar o trabalho humano sobre o espaço como uma atuação constante, transformadora e evolutiva adaptando-se e agindo sobre o ambiente. Desta forma, na atualidade são realizadas pesquisas e discussões que visam o entendimento de termos como campo e cidade e suas implicações. Estas definições, não devem passar a ser entendidas meramente como setoriais mas sim como cenários de uma intensa e dinâmica transformação espacial . A dinâmica das relações campo-cidade se traduz por sua importância ao considerar o meio de vida destas duas categorias de análise e revelar possíveis interações a partir de relações socioeconômicas e culturais que as envolvem. Um bom exemplo a respeito destas relações na atualidade é pensar nesta dinâmica a partir da absorção no campo de cada vez mais tecnologias surgidas nas cidades, ou ainda compreender que a maior parte das transformações ocorridas no campo só foram possíveis graças aos capitais e às inovações vindas das cidades. Em contrapartida o campo fornece para a cidade, produtos rurais alimentícios ou ainda matéria-prima a ser utilizada nas indústrias, sem contar que na grande maioria das pequenas cidades e médias brasileiras é ele o responsável pela geração de boa parte das divisas dos municípios, bem como sua principal fonte de manutenção econômica.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Não apenas as técnicas de produção foram integradas com a cidade, mas também valores foram modificados, como a substituição do casamento arranjado pela liberdade de escolha, a substituição da coletividade pela individualidade ou ainda a relativa diminuição da interferência da religiosidade nas relações de produção e negócios. Outras conclusões errôneas acabam sendo desenvolvidas como definir que o campo aparece como sendo mais atrasado que a cidade. Ricardo Abramovay, sociólogo rural, apresenta isto como sendo “um vício de raciocínio na maneira como se definem as áreas rurais no Brasil, que contribui decisivamente para que sejam assimiladas automaticamente a atraso, carência de serviços e falta de cidadania.” No entanto, sabe-se que na realidade o rural é um meio dinâmico e ativo e pode sim apresentar-se soberano perante as transformações que o atingem. Desta forma percebe-se que as paisagens rurais modificam-se pela entrada de novas estruturas, assim como também se modifica o comportamento dos indivíduos em relação a sua produção e seu gênero de vida. Com isso se alteram suas relações sociais e de produção, e por extensão alteram-se as relações entre as categorias campo-cidade. Em verdade, o espaço geográfico se altera e se diferencia revelando-se como modificado, por ter assumido novas relações. Assim, entende-se ser fundamental que o meio rural seja compreendido a partir de suas relações com as cidades, sejam elas grandes centros como as regiões metropolitanas ou pequenos centros em torno dos quais se organiza a vida local. Isto porque é crucial o papel destes centros na dinamização das áreas rurais com as quais interage em constantes trocas de produção e de experiências.
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• OS DOMÍNIOS NATURAIS E A RELAÇÃO DO SER HUMANO COM O AMBIENTE – RELAÇÃO HOMEM NATUREZA, A APROPRIAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS PELAS SOCIEDADES AO LONGO DO TEMPO.
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onsiderando as interações entre os seres vivos, podemos dividir a biosfera em domínios naturais, que são classificados de maneira hierárquica. Na base desses domínios naturais, estão as comunidades ecológicas, nas quais diferentes espécies de seres vivos, reunidos em determinada área, estabelecem entre si uma teia completa de interações. Assim, o que é resíduo para uma espécie, por exemplo, pode servir de alimento para outra. Os ecossistemas reúnem diferentes comunidades ecológicas, tais como as existentes em lagos, encostas de montanha, florestas etc. Os biomas, por sua vez, são formados por um conjunto de ecossistemas associados e abrangem grandes extensões. Entre os principais biomas terrestres, destacam-se a floresta tropical úmida ou pluvial, a savana, o deserto, a vegetação mediterrânea, as pradarias, a estepe, a floresta temperada, a taiga e a tundra. A FLORESTA TROPICAL Se você sobrevoar uma região extensa de floresta tropical, certamente vai se sentir navegando sobre um mar verde. Isso porque as copas das árvores encobrem totalmente o solo. Por outro lado, se você olhar para cima, caminhando sobre o chão da floresta, dificilmente verá o céu, encoberto por uma densa camada de folhas. As florestas tropicais são caracterizadas pela grande presença de árvores altas e densamente agrupadas. O fato de serem perenifólias, isto é de apresentarem folhas perenes, que não caem em nenhuma das estações do ano, dá à floresta tropical um aspecto compacto, quando vistas do alto. Apesar de as florestas tropicais ocuparem apenas uma décima parte da superfície dos continentes, elas abrigam 60% das espécies vegetais e animais conhecidas no mundo. Em uma floresta equatorial ou tropical, as variações de temperatura são relativamente pequenas ao longo do ano. As temperaturas oscilam entre 25ºC e 30ºC, tanto de dia quanto à noite. Além disso, ocorre um volume de chuvas elevado, com índices pluENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
viométricos de pelo menos 2.000 milímetros anuais. Por isso ela é classificada também como floresta tropical pluvial. Outra característica importante desse bioma é sua organização em estratos de vegetação, que comporta desde plantas rasteiras e arbustos até árvores de grande porte. O primeiro estrato arbóreo atinge entre 1 metro e 20 metros acima do solo. Nele, a u A maior parte das espécies da árvore da floresta tropical possui entre 30 e 40 metros de altura, formando o chamado estrato arbóreo superior. As copas dessas árvores estão em contato com as outras, formando uma imensa camada de folhas sempre verdes, pois recebem luz diretamente durante o ano todo. Acima do estrato arbóreo superior, ainda podem ser observadas algumas árvores isoladas, que chegam a ultrapassar os 60 metros de altura. Um dos fatores que contribuem para a riqueza das florestas tropicais é a presença de grandes bacias hidrográficas. Situadas em regiões extremamente úmidas e que recebem uma quantidade muito grande de chuvas ao longo de todo o ano, as florestas tropicais são atravessadas por alguns dos maiores rios do mundo, umidade é muito elevada e a mata é escura e fechada. O rio Amazonas atravessa praticamente toda a floresta equatorial brasileira (a Floresta Amazônica) e recebe água de diversos grandes afluentes que cortam parte da mesma floresta nos países vizinhos. A Floresta do Congo, a maior do continente africano, é cortada pelo rio Congo, o segundo em volume de água do mundo, enquanto as florestas tropicais do Sudeste Asiático recebem as águas do rio Mekong e seus afluentes. Milhares de espécies de peixes e outros organismos vivem ou dependem de recursos trazidos pelos rios presentes nas florestas tropicais. Apesar de toda essa riqueza e diversidade, essas florestas se sustentam em solos arenosos, que apresentam deficiência de nutrientes. Como tanta matéria viva vegetal é sustentada nas florestas tropicais? A resposta está logo acima de seu solo: as camadas de folhas da própria floresta e da fauna local contêm seus nutrientes.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Por meio de um processo chamado ciclagem de nutrientes, a matéria orgânica da floresta e da fauna que ela abriga - folhas, frutos, carcaças de animais etc. - é triturada e decomposta, gerando os nutrientes fundamentais para o crescimento e o sustento das plantas. Os principais responsáveis pela ciclagem de nutrientes são as formigas e os cupins, que trituram e misturam a matéria orgânica, e os fungos e bactérias, que decompõem a matéria em substâncias químicas utilizadas pelas plantas em sua nutrição. Quando ocorre desmatamento, a quantidade de matéria orgânica da qual provêm os nutrientes diminui de forma drástica. Além disso, a água das chuvas passa a atingir o solo desprotegido, causando a lixiviação, ou seja, a dissolução e o transporte dos poucos nutrientes que restaram. Assim, o desmatamento interrompe a ciclagem dos nutrientes e impede a recomposição da floresta. As florestas tropicais estão entre os ambientes mais ameaçados pelos impactos provocados pelos seres humanos. Grandes áreas delas já foram destruídas em todo o mundo, acarretando impactos em diversas escalas. Para o conjunto da humanidade, a degradação das florestas tropicais implica a perda da diversidade biológica e mudanças climáticas globais. Para as comunidades tradicionais desses lugares, que se dedicam à coleta dos produtos florestais, o desmatamento é uma ameaça à própria sobrevivência. AS SAVANAS As savanas são uma formação vegetal na qual convivem plantas rasteiras, como diversos tipos de capins e árvores e arbustos de galhos retorcidos e folhas pequenas. Elas ocorrem em áreas de transição entre regiões de clima úmido e de clima marcado pela alternância de estações secas e chuvosas. Cobrindo mais de 10% da superfície dos continentes, dominam partes da América do Sul, da África, da Índia e da Austrália. Nas savanas, predominam espécies vegetais dotadas de raízes profundas, cascas grossas e folhas ásperas. É o caso da mangabeira, no Brasil. As duas maiores regiões de savana do mundo estão localizadas na África e no Brasil. No Brasil, a savana é conhecida como cerrado, e ocorre principalmente na porção central do país. Apesar de comporem um mesmo bioma, a savana africana e o cerrado brasileiro apresentam diferenças importantes. No cerrado, o número de espécies vegetais é maior que o da savana africana, mas esta abriga mamíferos de grande porte, como elefantes, leões, girafas e zebras, ausentes no Brasil em geral.
A variedade de animais de grande porte também pode ser observada em outras áreas de savana do mundo. Por exemplo, na savana da Índia, também existem elefantes; na da Austrália, há os avestruzes e os emus. Com certa frequência, o período de seca provoca a migração massiva desses herbívoros para áreas mais úmidas. OS DESERTOS Os desertos são biomas extremamente secos. Os índices pluviométricos não ultrapassam os 250 milímetros anuais. Em muitos casos, os desertos encontram-se em zonas de climas quentes e podem alcançar temperaturas acima de 50 °C. A umidade é muito baixa e não há formação de nuvens. À noite, a temperatura pode chegar a 0 °C. Os desertos quentes apresentam as maiores amplitudes térmicas mundiais. Os desertos, porém, não existem apenas em regiões quentes. Há aqueles localizados em altas latitudes, nas quais o frio predomina. É o caso dos desertos da Mongólia Interior e de Góbi, na Mongólia, e de Taklimakan, na China. A existência dos desertos está associada a diversos fatores, entre eles a presença de áreas de alta pressão atmosférica, que originam os ventos secos e quentes das altas latitudes em direção às regiões próximas dos trópicos de Câncer e de Capricórnio. Alguns desertos ou regiões semiáridas devem a sua escassez hídrica às altas montanhas, que impedem a passagem de nuvens úmidas para essas regiões. O papel das correntes marítimas As correntes marítimas também contribuem bastante para a formação dos climas árido e semiárido. Correntes marítimas são massas de água em movimento, que se comportam como rios que correm dentro dos oceanos. Seu deslocamento é decorrente de diversos fatores, como o movimento de rotação da Terra e as diferenças de densidade da água do mar, as quais resultam das diferenças de temperatura e do grau de salinidade. As correntes marítimas possuem diferentes temperaturas e podem influenciar muito o clima das regiões por onde passam. As correntes frias de Humboldt (ou do Peru), no Oceano Pacífico, e de Benguela, no Atlântico, por exemplo, influenciaram diretamente na formação dos desertos de Atacama, no Chile, e da Namíbia e do Kalahari, na África, respectivamente. Como ocorre intensa evaporação e precipitação nos pontos de ressurgência do oceano, as massas de ar chegam secas quando atingem os continentes. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Os desertos são constituídos principalmente por dunas de areia ou solos rochosos. As áreas desérticas arenosas formaram-se a partir de depósitos de sedimentos de antigos lagos ou de costas marinhas que existiam em remotas eras geológicas. As cactáceas são vegetais característicos desse bioma. Suas folhas são cobertas de camadas de cera ou formam espinhos, o que diminui sua transpiração, e seu caule é esponjoso, o que facilita o armazenamento de água. Os animais do deserto alimentam-se de sementes, e toda a água de que necessitam procede de alimentos sólidos. A maioria deles mantém atividades noturnas e passa grande parte do dia em abrigos debaixo do solo ou de formações rochosas. AS ESTEPES
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Estepe é uma palavra russa que designava originalmente a vegetação rasteira que se estende das planícies da Hungria até a Mongólia. Mas essa vegetação também pode ser encontrada no oeste dos Estados Unidos, na Argentina, na Austrália e no sul da África. A falta de árvores nas estepes é explicada, principalmente, pela grande irregularidade pluviométrica. Poucas plantas toleram a escassez prolongada de água, mas as espécies que vivem nas estepes possuem adaptações que lhe permitem suportar tal condição. Folhas espessas e pequenas, muitas vezes modificadas em espinhos, são características marcantes da vegetação de estepes. Essas modificações diminuem a perda de água por evaporação. Em alguns casos, a ausência de árvores nas estepes é decorrência da grande quantidade de herbívoros. Na América do Norte, os bisões contribuíram durante milhares de anos para que as florestas não se desenvolvessem nesse bioma. O mesmo parece ter ocorrido no extremo meridional da América do Sul, com os guanacos; na Europa, com os cavalos; e na Austrália, com os cangurus. Nas estepes de clima mais frio, muitos animais se reúnem em grandes rebanhos, realizando migrações periódicas até zonas de clima mais favorável. Nesses ambientes abertos, viver em grupo é uma boa estratégia de sobrevivência. Alguns predadores, como os lobos, adotam a técnica de caça em grupo, são bons corredores e estão adaptados aos deslocamentos por grandes distâncias. AS PRADARIAS As pradarias ocupam as regiões temperadas e são mais comuns em áreas distantes dos oceanos. Nelas predominam espécies de vegetação rasteira. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Há muito tempo as pradarias são utilizadas como pastagens naturais. Na Ucrânia, na Argentina e nos Estados Unidos, onde os solos são muito férteis, o bioma das pradarias foi praticamente extinto e sua área de ocorrência original acabou sendo transformada em campos de cultivos de cereais. No Brasil, as pradarias continuam razoavelmente preservadas. Conhecidas como pampas, espalham-se pelas grandes planícies do Rio Grande do Sul. Nesse caso, o aproveitamento econômico das pradarias associa-se principalmente à criação extensiva de gado. A VEGETAÇÃO MEDITERRÂNEA A vegetação mediterrânea ocupa uma área correspondente a apenas 5% da superfície dos continentes, reunindo faixas de terra dos litorais da África do Sul, da Austrália, do Norte da África e do sul da Europa, nas quais os invernos são úmidos e frescos, e os verões, secos e muito quentes. Trata-se de um bioma também conhecido como chaparral, no qual predominam espécies vegetais rasteiras e pequenos arbustos. O bioma de vegetação mediterrânea concentra 20% das espécies vegetais do planeta, grande parte das quais são exclusivas dele. Nas faixas do litoral mediterrâneo europeu e africano, as plantas mais frequentes são as oliveiras e as videiras. Os principais centros de produção de azeitonas e azeite de oliva do mundo são encontrados nessas áreas, que também abrigam importantes vinícolas. Em algumas porções do território europeu, principalmente no sul da Grécia, da Espanha, de Portugal e da França, predominam os garrigues e os maquis, vegetação espinhenta e ressecada. A Érica, na África do Sul, e as acácias e os eucaliptos, na Austrália, são variantes do bioma conhecido como vegetação mediterrânea. Existem registros da presença de sociedades humanas antigas em biomas mediterrâneos, os quais vêm sendo alterados pelas atividades pastoril e agrícola há mais de 10 mil anos. A FLORESTA TEMPERADA A floresta temperada é um bioma que se desenvolve em áreas cujas estações climáticas são bem definidas, com verão quente e úmido e inverno rigoroso. O solo dessa floresta recebe muito mais luz do que o da floresta tropical e, por causa disso, ela apresenta grande diversidade de vegetação rasteira e arbustiva em seu interior. As árvores mais comuns desse bioma são os álamos, os pinheiros, os abetos e os carvalhos.
Ciências Humanas e suas Tecnologias As espécies arbóreas da floresta temperada são caducifólias, ou seja, de folhas caducas, que envelhecem, secam e morrem. A queda das folhas no outono é uma adaptação das plantas para o frio do inverno. Se as folhas fossem perenes (como as das florestas tropicais sempre verdes), a neve poderia queimar as plantas, dificultando sua sobrevivência. Atualmente as florestas temperadas estão reduzidas a bosques nas áreas montanhosas, situadas acima de 1.500 metros. Na zona temperada menos fria, as antigas florestas foram derrubadas e substituídas por campos agrícolas ou áreas urbanas. Apesar de ser um dos biomas mais degradados do mundo, a predominância das florestas temperadas em algumas áreas foi tão grande que elas se tornaram símbolos de países. Por exemplo, a bandeira do Canadá é decorada com uma folhar de ácer, uma árvore típica das florestas temperadas daquele país. A TAIGA Ao norte da floresta temperada se encontra um amplo cinturão de florestas de coníferas, conhecidas pelo termo russo taiga. Uma conífera é uma planta que forma sementes em pinhas, mas não possui flores. As pinhas ou cones são estruturas em escamas protetoras que se abrem e liberam as sementes. Apesar de sua forma delgada, as folhas de coníferas são muito eficientes para captar luz. Elas são perenifólias, pois aproveitam a energia solar para realizar fotossíntese o ano todo. As pinhas possuem sementes nutritivas, por isso é grande a diversidade de aves na copa dessas árvores. A fauna dominante das florestas de coníferas é composta de insetos e pequenos mamíferos. Muitos desses mamíferos passam o verão se alimentando ou guardando alimentos para suportar o severo clima de inverno. O bioma da taiga desenvolve-se em sentido latitudinal. Ele está presente do Mar Báltico, na Europa, passando pela Rússia até o norte da China e do Japão, na Ásia; na América do Norte vai do Alasca à costa do Atlântico Norte. Trata-se da maior área de floresta do mundo. Na taiga encontram-se sequoias, árvores nativas da América do Norte que podem viver milênios e atingir cerca de 100 metros de altura. Essa espécie permite estudos interessantes relativos às condições climáticas do passado, ou seja, aos paleoclimas. O crescimento das árvores, em geral, varia conforme as estações do ano. Os anéis de seus troncos revelam crescimentos anuais bem delimitados, o que permite saber ainda se o inverno foi longo ou curto e estabelecer a data em foram cortadas.
Em função das características do bioma temperado frio, algumas espécies de pinheiro apresentam crescimento mais rápido. Por causa disso, e também devido à homogeneidade, as florestas de coníferas são muito exploradas para a retirada de madeira, que é utilizada pela indústria de papel e celulose, de móveis e de construção civil. O Canadá e a Suécia são os maiores produtores mundiais dessa matéria-prima tão valiosa. A TUNDRA Terra sem árvores» é o significado do termo tundra, na língua dos lapões, povos da Lapônia, situada no extremo norte da Escandinávia, região mais setentrional do Hemisfério Norte. A tundra ocupa 5% das terras emersas do planeta. É uma formação vegetal que se desenvolve em regiões muito frias, cujo subsolo mantém-se congelado durante o ano inteiro. No curto período do verão, a radiação solar e o derretimento do gelo superficial permite a formação de áreas pantanosas, propícias ao desenvolvimento de musgos e liquens. Essa é a vegetação de tundra. Nessas condições, a tundra apresenta um ciclo lento de renovação. Por causa disso, nos terrenos da Lapônia destinadas ao rebanho de renas,cria-se apenas uma cabeça por quilômetro quadrado, de forma a minimizar os impactos e a impedir a degradação do pasto natural. Apesar do frio e da escassez de vegetação, a tundra abriga uma fauna variada, com um número elevado de animais, alguns de grande porte, como as renas, os ursos polares e as raposas do Ártico. Lebres e diversos tipos de roedores sobrevivem em tocas. Nas zonas costeiras, vivem várias espécies de aves e também de animais marinhos. Entre estes últimos, estão as pequenas e as grandes baleias. No Ártico, aves e baleias migram para o sul durante o inverno, em busca de temperaturas mais amenas. Relação homem e natureza; sociedades modernas. A natureza está no homem e o homem está na natureza! A busca do entendimento dessa relação vem desde os antigos filósofos gregos até a ciência moderna. A sociedade atual tem vivenciado uma série de problemas que envolve o seu modo de se relacionar com a natureza colocando em questão a formulação do seu conceito. Além disso, a natureza pode ter variados significados para a humanidade, pois o campo de relação entre natureza e homem é muito amplo, lembrando que cada ser humano apresenta uma necessidade diferente. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Você deve estar se perguntado: O que toda essa discussão em torno da relação homem-natureza tem a ver com a problemática ambiental que vivemos atualmente? São exatamente as representações sociais da natureza que está na base de toda problemática e discussão. É preciso entender a sociedade humana, como ela age e sua relação com o meio ambiente para pensar em soluções e ações de mitigação dos problemas ambientais. Os seres humanos estabelecem relações sociais que ocorrem nas diferentes esferas da vida societária (econômica, política, religiosa, científica, jurídica, afetiva, étnica, etc.) e por meio delas atribuem significados à natureza (econômico, estético, sagrado, lúdico, econômico-estético, etc.). Ao agir sobre a natureza os seres humanos instituem práticas e alterando suas propriedades garantem a reprodução social de sua existência. Portanto, são as relações sociais que explicam as múltiplas e diversificadas práticas de apropriação e uso dos recursos ambientais.
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Não é possível conhecer o ser humano sem considerá-lo inserido em uma sociedade, em uma cultura, se apropriando e interagindo com um meio natural, em um momento histórico, e em dadas condições políticas e econômicas. As representações sociais geram conflitos ambientais. Pela sua complexidade, a questão ambiental não pode ser compreendida segundo a ótica de uma única ciência, tem-se a necessidade de um outro “modo de conhecer”, que supere o olhar fragmentado sobre o mundo real. O reconhecimento da complexidade do conhecer implica em se assumir a complexidade do aprender. IMPACTO AMBIENTAL DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS NO BRASIL. RECURSOS MINERAIS E ENERGÉTICOS: EXPLORAÇÃO E IMPACTOS. RECURSOS HÍDRICOS; BACIAS HIDROGRÁFICAS E SEUS APROVEITAMENTOS. Impacto ambiental é a alteração no meio ambiente por determinada ação ou atividade. Atualmente o planeta Terra enfrenta fortes sinais de transição, o homem está revendo seus conceitos sobre natureza. Esta conscientização da humanidade está gerando novos paradigmas, determinando novos comportamentos e exigindo novas providências na gestão de recursos do meio ambiente. Um dos fatores mais preocupantes é o que diz respeito aos recursos hídricos. Problemas como a escassez e o uso indiscriminado da água estão sendo considerados como as questões mais graves do século XXI. É preciso que tomemos partido nesta luta contra os impactos ambientais, e para isso é importante sabermos alguns conceitos relacionados ao assunto. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Poluição é qualquer alteração físico-química ou biológica que venha a desequilibrar um ecossistema, e o agente causador desse problema é denominado de poluente. Como já era previsto, os principais poluentes têm origem na atividade humana. A Indústria é a principal fonte, ela gera resíduos que podem ser eliminados de três formas: Na água: essa opção de descarte de dejetos é mais barata e mais cômoda, infelizmente os resíduos são lançados geralmente em recursos hídricos utilizados como fonte de água para abastecimento público. Na atmosfera: a eliminação de poluentes desta forma só é possível quando os resíduos estão no estado gasoso. Em áreas isoladas: essas áreas são previamente escolhidas, em geral são aterros sanitários. Classificação dos resíduos: Resíduos tóxicos: são os mais perigosos e podem provocar a morte conforme a concentração, são rapidamente identificados por provocar diversas reações maléficas no organismo. Exemplos de geradores desses poluentes: indústrias produtoras de resíduos de cianetos, cromo, chumbo e fenóis. Resíduos minerais: são relativamente estáveis, correspondem às substâncias químicas minerais, elas alteram as condições físico-químicas e biológicas do meio ambiente. Exemplos de indústrias: mineradoras, metalúrgicas, refinarias de petróleo. Resíduos orgânicos: as principais fontes desses poluentes são os esgotos domésticos, os frigoríficos, laticínios, etc. Esses resíduos correspondem à matéria orgânica potencialmente ativa, que entra em decomposição ao ser lançada no meio ambiente. Resíduos mistos: possuem características químicas associadas às de natureza biológica. As indústrias têxteis, lavanderias, indústrias de papel e borracha, são responsáveis por esse tipo de resíduo lançado na natureza. Resíduos atômicos: esse tipo de poluente contém isótopos radioativos, é um lixo atômico capaz de emitir radiações ionizantes e altamente nocivas à saúde humana. RECURSOS MINARAIS E ENERGETICOS Embora o Brasil seja considerado um país rico em recursos minerais, ainda não se conhece realmente a potencialidade de todos esses recursos. Em relação aos recursos energéticos, nota-se no Brasil que o consumo de energia temaumentado na razão direta de seu aumento populacional e
Ciências Humanas e suas Tecnologias de desenvolvimento industrial.Sabemos, entretanto, que o país não é autossuficiente em energia, necessitando importarprincipalmente combustíveis fósseis (carvão, mineral e petróleo), além da tecnologia para beneficiamento do urânio utilizado na usina nuclear de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Minério de ferro Hematita, magnetita, limonita, sideríta e pirita. São minérios mais abundantes em todoo território nacional aparecendo em terrenos cristalinos do Pré-Cambriano, especialmente doProterozóico ou Algonquiano. Quadrilátero de Minas Gerais: corresponde a uma área de 7.000 Km2 formada pelas cidadesde Belo Horizonte, Santa Bárbara, Mariana e Congonhas, que formam os vértices de umquadrilátero. Sua produção, além de abastecer o mercado interno, 70% destina-se a exportação. Morro do Urucum – MS: Situa-se em pleno Pantanal mato-grossense, com reservas calculadas em mais de 1 milhão de toneladas e teor metálico de mais de 60%. As grandesdistâncias do mercado consumidor dificultam a sua maior exploração. Através do Rio Paraguai, portos de Corumbá e Ledário, o minério é exportado para a Argentina e daí para o Japão. Serra dos Carajás – PA: situa-se a sudeste de Marabá, a 500 km de Belém, entre os rio Tocantins e Xingu. Conta com uma reserva de 18 bilhões de toneladas, quantidade suficiente para manter o atual nível de produção brasileira de minério por 200 anos, entretanto, lá se encontram ainda milhões de toneladas de níquel, manganês, bauxita, cobre e outros em umaárea de apenas 60 km de raio. Nessa região o governo federal construiu uma ferrovia de 890 km, desde da região do Projeto Carajás até o porto de Itaqui, na ponta da Madeira noMaranhão. A exploração está a cargo da CVRD. Minério de Manganês Pirolusita. É utilizado na fabricação de aços especiais, indústria química, vidro e baterias elétricas. É encontrado também em terrenos antigos do proterozóico. Quadrilátero Ferrífero: ocorre na mesma área até o minério de ferro, podendo se destacar as localidades de: Conselheiro Lafaiete, onde está o morro da mina de São João Del Rey, Itabira,Ouro Preto, etc. Sua produção siderúrgica da região. Serra do Navio – AP: Localiza-se junto às margens do Rio Amapari, afluente do Araguari. Suaexploração é realizada pela ICOMI (Indústria e Comércio de Minérios), empresa privada decapital nacional que
adquiriu a parte das empresas americanas que também já exploraram ominério. Seu transporte é feito pela Estrada de Ferro do Amapá, até o porto de Santana, deonde é exportado principalmente para os EUA. Produz 80% do manganês brasileiro, sendo quea exportação é uma opção devido às grandes distâncias do mercado consumidor interno. Morro do Urucum – MS: da mesma maneira que o minério de ferro da região é pouco explorado devida às grandes distâncias dos centros consumidores do sudeste, é tambémexportado para o Paraguai e Argentina através do porto de Corumbá no rio Paraguai. Outrasreservas ocorre no Projeto Carajás, Bahia, Goiás e Espírito Santo. Alumínio Bauxita. A produção tem aumentado muito na última década,. tendo o país passado deimportador a exportador no início dos anos 80. As principais ocorrências são nas seguintes áreas: Minas Gerais, Ouro Preto, Mariana,Poços de Caldas e no Pará – Oriximiná (Vale do rio Trombetas). A produção mineira atende as indústrias da região sudeste como ALCAN, ALCOA, CBA, enquanto que a produção do Projeto Trombetas abastece a ALCOBRÁS e ALUNORTEno estado do Pará e ALUMAR em São Luís do Maranhão. Os maiores produtores mundiaissão: Austrália, Jamaica, Hungria e Grécia. Carvão Mineral. A principal área de exploração é o Vale do rio Tubarão, em Santa Catarina abrangendoos municípios de Criciúma, Lauro Muller, Siderópolis, Urussanga, Araraguá e Tubarão.Explorado pela CSN, transportado pela Estrada de Ferro Tereza Cristina até o porto deImbituba, de onde o produto é levado por cabotagem até a região sudeste, para abastecerprincipalmente a CSN, em Volta Redonda – RJ, a COSIPA em Cubatão e as siderúrgicas mineiras, aonde o carvão chega através da estrada de ferro Central do Brasil e proviniente doporto de Sepetiba – RJ. A exploração do carvão no Rio Grande do Sul é feita no Vale do rio Jacuí, com destaque para os municípios de São Jerônimo, Leão, Bajé, Butiá, Candiota e Hulha Negra. Utilizado no transporte ferroviário e para a produção de energia termelétrica. A extração do carvão no Paraná é feita no Vale dos rios Cinzas e Peixe. A maior parte do carvão brasileiro é explorado a céu aberto, o que consiste em uma grande vantagem, pela economia e segurança, por outro lado, muitos problemas surgem, tais como: grande quantiENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias dade de impurezas, pequena espessura das camadas de carvão, baixonível tecnológico na exploração e alto custo dos transportes entre as áreas produtoras e as de consumo. Petróleo
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Começou a ser explorado no Brasil no final da década de 30, quando o petróleo jorroupela primeira vez, em 27 de janeiro de 1939, no município de Lobato – BA. Em 1953, foi criada a PETROBRÁS, pela lei nº 2.004 de Getúlio Vargas, que instituiu omonopólio do produto, com exceção da distribuição de derivados, que também é feita pelaEsso, Texaco, Atlantic e Shell. A partir de 1973, os preços dos produtos aumentaram no mercado internacional em virtude do boicote árabe. Somente nos anos 80 os preços recuaram por causa da retração domercado mundial, surgimento de novos produtores e utilização de novas fontes energéticas,como o álcool, no Brasil e o metanol nos EUA. A Bacia de Campos, na plataforma continental do Rio de Janeiro, apresenta a maior produção com 61% do total produzido no país. O Recôncavo Baiano, que já foi a principal área produtora está perdendo o segundo lugar para o litoral do Rio Grande do Norte, seguindo por Sergipe, Ceará, Espírito Santo, Alagoas e Maranhão. No início de 1998, a produção era de pouco mais de 930 mil BPD (barris por dia),enquanto que o consumo ultrapassava 1,6 bilhões de BPD. O Brasil importa petróleo de todos os países da Opep (Organização dos países exportadores de petróleo) e também de países não-membros dessa organização, como: Angola, Egito, China, Rússia, México, Inglaterra, Noruega e Argentina. Refino O refino do petróleo, bem como pesquisa e prospecção, transporte e importação do petróleo bruto e dos derivados, era monopólio da Petrobrás desde sua criação, em 1953. Coma criação da Agência Nacional do Petróleo (ANP) em 1998, esse monopólio foi quebrado poisempresas estrangeiras poderão participar dessa atividade a partir de 1999. As refinarias da Petrobrás se localizam junto ao mercado consumidor e distante das áreas de produção. Tal fato se justifica porque é mais fácil, mais barato e menos perigosotransportar o petróleo bruto do que os seus derivados. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Transporte do Petróleo É feito pela Fronape – Frota Nacional de Petroleiros, além de navios contratados no exterior, tais navios petroleiros só atracam em portos especializados, denominados de terminais marítimos que são: no Sergipe, Atalaia Velha; na Bahia, Almirante Álvares Câmara, no Rio de Janeiro, Almirante Tamandaré, em São Paulo, Almirante Barroso (São Sebastião); em Santa Catarina, São Francisco do Sul e no Rio Grande do Sul, Almirante Soares Dutra. As fontes de energia são de fundamental importância, em especial na atual sociedade capitalista. Essas substâncias, após serem submetidas a um processo de transformação, proporcionam energia para o homem cozinhar seus alimentos, aquecer e iluminar o ambiente, etc. Contudo, foi com o advento das Revoluções Industriais, juntamente com a intensificação do processo de urbanização, que a utilização das fontes energéticas teve um aumento extraordinário. O atual modelo capitalista é altamente dependente de recursos energéticos para o funcionamento das máquinas industriais e agrícolas; os automóveis também necessitam de combustíveis para se deslocarem; e a urbanização aumentou a demanda de eletricidade. Diante desse cenário, o consumo de energia aumentou de forma significativa, fato que tem gerado grandes problemas socioambientais. Isso porque a maioria das fontes utilizadas é de origem fóssil (carvão, gás natural, petróleo), e sua queima libera vários gases responsáveis pela poluição atmosférica, efeito estufa, contaminação dos recursos hídricos, entre outros fatores nocivos ao meio ambiente. Outro aspecto negativo é que essas fontes não são renováveis, ou seja, elas se esgotarão da natureza. Segundo estimativas da Agência Internacional de Energia (AIE), caso se mantenha a média de consumo das últimas décadas, as reservas de petróleo e gás natural irão se esgotar em 100 anos e as de carvão, em 200 anos. A energia nuclear, também de origem não renovável, é motivo de várias manifestações contra o seu uso, pois pode haver a liberação de material radioativo em caso de acidentes em uma usina nuclear, como os que ocorreram em Chernobyl (Ucrânia) e em Fukushima Daiichi (Japão). Com o intuito de diversificar a matriz energética, várias pesquisas foram desenvolvidas para a obtenção de fontes limpas e renováveis. Entre elas estão à energia solar (obtida através do Sol), energia eólica (dos ventos), energia das marés (correntes marítimas), biomassa (matéria orgânica), hidráulica (das águas), entre outras. Estas fontes, além de serem encontradas em abundância na natureza, geram menos impactos ambientais.
Ciências Humanas e suas Tecnologias - Energia fóssil – formada a milhões de anos a partir do acúmulo de materiais orgânicos no subsolo. A geração de energia a partir destas fontes costuma provocar poluição, e esta, contribui com o aumento do efeito estufa e aquecimento global. Isto ocorre principalmente nos casos dos derivados de petróleo (diesel e gasolina) e do carvão mineral. Já no caso do gás natural, o nível de poluentes é bem menor. - Energia solar – ainda pouco explorada no mundo, em função do custo elevado de implantação, é uma fonte limpa, ou seja, não gera poluição nem impactos ambientais. A radiação solar é captada e transformada para gerar calor ou eletricidade. - Energia de biomassa – é a energia gerada a partir da decomposição, em curto prazo, de materiais orgânicos (esterco, restos de alimentos, resíduos agrícolas). O gás metano produzido é usado para gerar energia. - Energia eólica – gerada a partir do vento. Grandes hélices são instaladas em áreas abertas, sendo que, os movimentos delas geram energia elétrica. È uma fonte limpa e inesgotável, porém, ainda pouco utilizada. - Energia nuclear – o urânio é um elemento químico que possui muita energia. Quando o núcleo é desintegrado, uma enorme quantidade de energia é liberada. As usinas nucleares aproveitam esta energia para gerar eletricidade. Embora não produza poluentes, a quantidade de lixo nuclear é um ponto negativo. Os acidentes em usinas nucleares, embora raros, representam um grande perigo. - Energia geotérmica – nas camadas profundas da crosta terrestre existe um alto nível de calor. Em algumas regiões, a temperatura pode superar 5.000°C. As usinas podem utilizar este calor para acionar turbinas elétricas e gerar energia. Ainda é pouco utilizada. - Energia gravitacional – gerada a partir do movimento das águas oceânicas nas marés. Possui um custo elevado de implantação e, por isso, é pouco utilizada. Especialistas em energia afirmam que, no futuro, esta, será uma das principais fontes de energia do planeta. Alguns dados importantes sobre fontes de energia: - Cerca de 40% de CO2 (dióxido de carbono) produzido no mundo é resultante da geração de energia e calor. Isto ocorre, pois o carvão mineral ainda é a principal fonte utilizada.
- Atualmente, a China é o país que mais lança CO2 na atmosfera. Isto ocorre, pois o carvão mineral é muito utilizado na geração de energia. Porém, o governo chinês vem desenvolvendo, nos últimos anos, uma política de geração de energia limpa. Este fato faz da China o país que mais produz eletricidade a partir de fontes de energia limpa. - Um dado positivo é que, desde 2006, os investimentos globais em energias renováveis aumentaram mais de 500%. Bacias Hidrográficas Bacia Hidrográfica, também conhecida como bacia de drenagem, consiste em uma porção da superfície terrestre drenada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. O Brasil, em virtude de sua grande extensão territorial, apresenta 12 grandes bacias hidrográficas, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), que são os órgãos nacionais responsáveis pelo planejamento ambiental e o uso racional da água. Essas bacias de drenagem são delimitadas pela topografia do terreno. Confira as características de cada uma: Bacia Hidrográfica Amazônica: com sete milhões de quilômetros quadrados, essa é a maior bacia hidrográfica do mundo. No Brasil, ela compreende uma área de 3.870.000 km², estando presente nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Pará. Bacia Hidrográfica do Tocantins-Araguaia: é a maior bacia de drenagem exclusivamente brasileira (767.059 quilômetros quadrados). Os principais rios são o Tocantins, que nasce em Goiás e desemboca na foz do rio Amazonas; e o rio Araguaia, que nasce na divisa de Goiás com Mato Grosso e se junta ao rio Tocantins na porção norte do estado do Tocantins. Bacia Hidrográfica do São Francisco: com aproximadamente 640 mil quilômetros quadrados, essa bacia hidrográfica tem como principal rio o São Francisco, que nasce na Serra da Canastra (MG) e percorre os estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe até a foz, na divisa entre esses dois últimos estados. Bacia Hidrográfica do Paraná: essa é a principal porção da bacia Platina (compreende os países da Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai). No Brasil, a bacia hidrográfica do Paraná possui 879.860 quilômetros quadrados, apresentando rios de planalto e encachoeirados, características elementares para a construção de usinas hidrelétricas: Furnas, Água Vermelha, São Simão, Capivari, Itaipu (a maior usina do mundo), entre tantas outras. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Bacia Hidrográfica do Parnaíba: está presente nos estados do Piauí, Maranhão e na porção extremo oeste do Ceará, totalizando uma área de 344.112 quilômetros quadrados. Bacia Hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental: com extensão de 287.348 quilômetros quadrados, a bacia hidrográfica do Atlântico Nordeste Oriental está presente em cinco estados nordestinos: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. Bacia Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental: seus principais rios são o Gurupi, Pericumã, Mearim, Itapecuru Munim e Turiaçu. Essa bacia de drenagem possui 254.100 quilômetros quadrados, compreendendo áreas do Maranhão e Pará. Bacia Hidrográfica Atlântico Leste: com extensão de 374.677 quilômetros quadrados, essa bacia hidrográfica engloba os estados de Sergipe, Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo. Em sua região é possível encontrar fragmentos de Mata Atlântica, Caatinga, Cerrado e vegetação costeira. Bacia Hidrográfica Atlântico Sudeste: presente nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, a região hidrográfica Atlântico Sudeste apresenta 229.972 quilômetros quadrados. Ela é formada pelo rio Doce, Itapemirim, São Mateus, Iguape, Paraíba do Sul, entre outros. Bacia Hidrográfica Atlântico Sul: com área de 185.856 quilômetros quadrados, essa bacia hidrográfica nasce na divisa entre os estados de São Paulo e Paraná, percorrendo até o Rio Grande do Sul. Com exceção do Itajaí e Jacuí, os rios que formam essa bacia de drenagem são de pequeno porte. Bacia Hidrográfica do Uruguai: é composta pela junção dos rios Peixe e Pelotas. Com área de 174.612 quilômetros quadrados, essa bacia hidrográfica está presente nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Possui grande potencial hidrelétrico, além de ser importante para a irrigação nas atividades agrícolas da região. Bacia Hidrográfica do Paraguai: no Brasil, essa bacia hidrográfica está presente nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, englobando uma área de 361.350 quilômetros quadrados. Tem como principal rio o Paraguai, que nasce na Chapada dos Parecis (MT). Possui grande potencial para a navegação.
AS QUESTÕES AMBIENTAIS CONTEMPORÂNEAS: MUDANÇA CLIMÁTICA, ILHAS DE CALOR, EFEITO ESTUFA, CHUVA ÁCIDA, A DESTRUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO. A NOVA ORDEM AMBIENTAL INTERNACIONAL; POLÍTICAS TERRITORIAIS AMBIENTAIS; USO E CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS, UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, CORREDORES ECOLÓGICOS, ZONEAMENTO ECOLÓGICO E ECONÔMICO.ORIGEM E EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE. As mudanças climáticas são alterações que ocorrem no clima geral do planeta Terra. Estas alterações são verificadas através de registros científicos nos valores médios ou desvios da média, apurados durante o passar dos anos. Fatores geradores As mudanças climáticas são produzidas em diferentes escalas de tempo em um ou vários fatores meteorológicos como, por exemplo: temperaturas máximas e mínimas, índices pluviométricos (chuvas), temperaturas dos oceanos, nebulosidade, umidade relativa do ar, etc. As mudanças climáticas são provocadas por fenômenos naturais ou por ações dos seres humanos. Neste último caso, as mudanças climáticas têm sido provocadas a partir da Revolução Industrial (século XVIII), momento em que aumentou significativamente a poluição do ar. Consequências Atualmente as mudanças climáticas têm sido alvo de diversas discussões e pesquisas científicas. Os climatologistas verificaram que, nas últimas décadas, ocorreu um significativo aumento da temperatura mundial, fenômeno conhecido como aquecimento global. Este fenômeno, gerado pelo aumento da poluição do ar, tem provocado o derretimento de gelo das calotas polares e o aumento no nível de água dos oceanos. O processo de desertificação também tem aumentado nas últimas décadas em função das mudanças climáticas. Ilha de calor A ilha de calor acontece basicamente nas cidades grandes cidades que são bastante urbanizadas, ou seja, aquelas que possuem alta concentração de asfalto e concreto. O que acontece é que a grande existência desses elementos proporciona uma concentração maior de calor, de forma que a temperatura média local torna-se mais elevada.
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Outro fator que também contribui para a elevação da temperatura é a escassez de árvores e plantas. Aliás, justamente pela área rural possuir mais vegetação que a urbana é que a temperatura local de lá é mais amena se comparada com a das cidades. Portanto, plantar mais árvores, preservar as que já existem e diminuir e controlar a emissão de gases poluentes provenientes tanto dos automóveis quanto das indústrias, por exemplo, são maneiras de evitar a formação deste fenômeno climático nas cidades. Em relação à poluição, ela diminui a umidade relativa do ar, o que faz com que achemos que está mais calor do que o real. Em resumo, as ilhas de calor podem ocasionar problemas respiratórios á população graças à concentração de gases tóxicos. São Paulo, Pequim, Nova Iorque, Rio de Janeiro são algumas das cidades que são consideradas ilha de calor.
fazem com que o pH da chuva caia para algo entre 5 e 2,2 e se torne extremamente nociva ao homem e à natureza. Robert Angus Smith (climatologista inglês) foi quem usou pela primeira vez o termo “chuva ácida”, em 1872, ao presenciar o fenômeno em Manchester (Inglaterra) no início da revolução industrial. Foi ele, também, o primeiro a relacionar o fenômeno com a poluição atmosférica.
Inversão térmica Esse outro fenômeno climático tem como característica a inversão das camadas de ar frias e quentes – a camada fria (mais densa) em baixo, a quente em cima (menos densa) e outra fria no topo, sendo que o normal é a camada quente embaixo, seguida pela fria e no topo a mais fria. Em termos gerais a inversão térmica ocorre graças ao rápido aquecimento e resfriamento da superfície. Vale mencionar que esse cenário tem como fator agravante a grande emissão de poluentes. A questão é que nos locais onde ocorre a inversão térmica, os poluentes ficam retidos na camada fria, não conseguindo, portanto, sair pela camada quente. Esse cenário afeta a saúde da população, pois pode ocasionar doenças respiratórias. Uma das soluções para evitar a presença desse fenômeno climático é a diminuição da poluição. Outros problemas ambientais urbanos são: Efeito estufa, chuva ácida, poluição sonora, visual dos rios, do solo e etc. Chuva Ácida A verdade é que a chuva já é naturalmente ácida devido à presença de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Com um pH em torno de 5,4, a chuva comum não traz nenhum prejuízo ao homem ou à natureza. Isso porque, a acidez é baixa. (A escala utilizada para medir o pH vai de 0 a 14, sendo que 7 é o pH neutro. Acima disso, é básico e abaixo é ácido. Quanto mais baixo, mais ácido.) O problema, é que com a queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, e o aumento considerável do acúmulo de dióxido de carbono na atmosfera (além do normal)
Formação da Chuva Ácida. Ilustração: EPA.gov A chuva ácida ocorre quando existe na atmosfera um número muito grande de enxofre (SO2) e óxidos de nitrogênio (NO, NO2, N2O5) que, quando em contato com o hidrogênio em forma de vapor, formam ácidos como o ácido nítrico (HNO3), ou o ácido sulfúrico (H2SO4). Estima-se, embora não haja dados concretos, que o fenômeno da chuva ácida tenha surgido com a Revolução Industrial e a crescente queima de combustíveis fósseis. As grandes cidades como Nova York (EUA), Berlim (Alemanha) e até a Atenas (Grécia) já sofrem com os efeitos da chuva ácida há muito tempo, mas, há apenas 10 anos que este tema começou a ser investigado mais a fundo pelos ecologistas e cientistas do clima. Os efeitos mais nocivos da chuva ácida ocorrem no meio ambiente. Um lago, por exemplo, que possui um pH em torno de 6,5 não sobrevive a um pH abaixo de 4 ou 4,5, podendo ocorrer à morte de todos os seres que vivem ali. A chuva ácida também causa a acidificação do solo tornando-o improdutivo e mais suscetível à erosão. A acidez do solo, inclusive, é um dos principais fatores para a diminuição da cobertura vegetal em diversos países. Estudos recentes publicados pelo WWF apontam que a chuva ácida já um dos principais responsáveis pelo desmatamento na Mata Atlântica. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Para o homem o acúmulo de dióxido de enxofre no organismo pode levar à formação de ácidos no corpo humano causando até danos irreversíveis aos pulmões. Na Inglaterra, em 1952, na cidade de Londres, cerca de 4000 pessoas morreram por causa da emissão de dióxido de enxofre pela queima de carvão nas indústrias e nas casas. O pior de tudo é que nem sempre a chuva ácida cai sobre a local onde foi feita a emissão de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio. Como essas substâncias estão em forma de gás, elas podem ser transportadas pelo vento por quilômetros de distância antes de cair na forma de chuva. Destruição da camada de Ozônio
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Infelizmente o homem vem produzindo substâncias que destroem a camada de ozônio, tornando-a fina, em alguns lugares do mundo, principalmente sobre as regiões próximas ao Polo Sul e Polo Norte. Das substâncias prejudiciais se encontram o grupo: Gases clorofluorcarbonos (CFCs) - os mais perigosos; Dos óxidos nítricos e nitrosos - expelidos pelos exaustores dos veículos; Dióxido de Carbono (CO²), produzido pela queima de combustíveis fósseis (como o carvão e o petróleo). Os Clorofluorcarbonos (CFCs) e a Camada de Ozônio Os CFCs são usados como propelentes em aerossóis, como isolantes em equipamentos de refrigeração e na produção de materiais plásticos. Depois de liberados no ar demoram cerca de oito anos para chegar à estratosfera que, atingidos pela radiação ultravioleta se desintegram e liberam cloro. O cloro reage com o ozônio, que logo depois é transformado em oxigênio (O2). Porém, o oxigênio não tem a capacidade de proteção como o ozônio. Cada átomo de cloro de CFC pode destruir 100 mil moléculas de oxigênio. Quando os CFCs começaram a ser utilizados, houve um marco na história da indústria, e supostamente, achavam que eles não interagiam com outras substâncias, ou seja, eram inertes. Mas, na década de 80, descobriu-se que ele era inerte apenas na superfície, e ao chegar à alta atmosfera, tinha um efeito devastador. A partir desse momento, diversos estudos foram feitos com base nos satélites e descobriu-se que os efeitos eram imediatos e as consequências gravíssimas para o planeta terra. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
No Brasil, a camada de ozônio ainda não chegou a perder nem 5% do seu tamanho original, pois a produção de CFCs sempre foi muito baixa, diferentemente dos países da Europa, os maiores produtores. Os EUA, Europa, norte da China e Japão, já perderam 6% da proteção do ozônio. Desde 1 de janeiro de 2010, foi proibida a produção dos CFCs no mundo. Conservação do meio ambiente Trabalhar o tema “meio ambiente” é aparentemente uma missão fácil, já que ele vem ganhando cada vez mais espaço em nosso dia a dia. No entanto, só faz sentido abordá-lo se houver a intenção de se criar a consciência de sua conservação em toda a comunidade escolar, numa proposta de educação que venha despertar desde as séries iniciais até as mais avançadas. Trabalhar com projetos de aprendizagem abre na sala de aula um espaço para se desenvolver discussões mais amplas, pesquisas e experiências concretas, que podem chegar a uma mostra científico-cultural, favorecendo o aprendizado, dando a oportunidade de deixar a população ciente dos problemas e necessidades do mundo, de forma geral. Além disso, permite o intercâmbio entre as diferentes disciplinas que o estudante cursa. Muito se tem falado de conservação do meio ambiente, mas não se criou ainda a consciência de que o planeta precisa urgentemente dos nossos cuidados. As decisões acerca dos problemas estão caminhando de forma burocrática, ficando somente no papel, sem tomadas de decisões mais sérias, tanto por parte da população como por parte dos governantes. Para exemplificar, basta perguntar quantas escolas têm trabalhado, efetivamente, a discussão sobre o consumo consciente e os impactos que as atividades humanas vêm causando a todo o planeta. Outra questão: em quantas capitais brasileiras se faz a coleta seletiva do lixo? Esse processo é realmente efetivo, por exemplo, envolvendo catadores e cooperativas, dando-lhes condições dignas de trabalho? É bom lembrar aqui o tempo que a natureza leva para extinguir alguns dos principais lixos que recebe. Papel, de três a seis meses; tecido, de seis meses a um ano; filtro de cigarro, cinco anos; chiclete, cinco anos; madeira pintada, treze anos; nylon, mais de trinta anos; plástico, mais de cem anos; metal, mais de cem anos; borracha, tempo indeterminado e vidro, um milhão de anos. O principal nesse momento são as tomadas de atitude, ainda que de forma individual, na esperança de que sirvam de exemplo para as gerações mais novas. E, quem sabe, conseguiremos fazer com que a população acorde para a gravidade da problemática. Devemos mudar nossos hábitos urgentemente!
Ciências Humanas e suas Tecnologias Se, por exemplo, pararmos de utilizar copos de plástico e evitarmos as garrafas pet (Politereftalato de Etila), enviando para a reciclagem as já utilizadas, conseguiremos ajudar muito o planeta. Você sabia, por exemplo, que 90% dos detritos encontrados nos oceanos são compostos por plástico; e destes, quase 30% correspondem às famosas sacolas de supermercado? Outra atitude simples e importante é a de não desperdiçar comida. Primeiramente, porque é injusto fazer isso enquanto um número enorme de pessoas passa fome; e, dentre outros motivos, porque a maior parte do lixo produzido no mundo é o orgânico. Para finalizar, devemos assumir, desde já, a consciência de que podemos fazer mais pelo planeta; inclusive, ao alertar outras pessoas sobre seus maus hábitos. Basta querer e acreditar que um simples gesto fará a grande diferença. Como instrumento de gestão territorial, os Corredores Ecológicos atuam com o objetivo específico de promover a conectividade entre fragmentos de áreas naturais. Eles são definidos no SNUC como porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquelas das unidades individuais. Os Corredores Ecológicos visam mitigar os efeitos da fragmentação dos ecossistemas promovendo a ligação entre diferentes áreas, com o objetivo de proporcionar o deslocamento de animais, a dispersão de sementes, aumento da cobertura vegetal. São instituídos com base em informações como estudos sobre o deslocamentos de espécies, sua área de vida (área necessária para o suprimento de suas necessidades vitais e reprodutivas) e a distribuição de suas populações. A partir destas informações são estabelecidas as regras de utilização destas áreas, com vistas a possibilitar a manutenção do fluxo de espécies entre fragmentos naturais e, com isso, a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade. São, portanto, uma estratégia para amenizar os impactos das atividades humanas sob o meio ambiente e uma busca ao ordenamento da ocupação humana para a manutenção das funções ecológicas no mesmo território. As regras de utilização e ocupação dos corredores e seu planejamento são determinadas no plano de manejo da Unidade de Conservação à qual estiver associado, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas.
Os Corredores Ecológicos são criados por ato do Ministério do Meio Ambiente. Até o momento foram reconhecidos dois corredores ecológicos:
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Corredor Capivara-Confusões Corredor Caatinga
Conceito de Sustentabilidade O conceito de sustentabilidade tem sua origem relacionada ao termo “desenvolvimento sustentável”, definido como aquele que atenda às necessidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprirem suas próprias necessidades. Ao longo dos últimos 20 anos, em razão da dificuldade de transformar este conceito em ações e políticas públicas e diante da reduzida interseção entre as ideias desenvolvimentistas – em que o maior valor é o crescimento econômico e de sustentabilidade --que pressupõe os limites da Biosfera para efetivar os projetos humanos passou-se a utilizar de forma mais global o termo sustentabilidade, incorporando também a dimensão cultural. Diante da evidência da fragilidade humana no quadro atual de degradação e riscos provocados por estilos de vida e de produção incompatíveis com a permanência dos recursos naturais, a sustentabilidade passou a ser o principal desafio para o desenvolvimento social. Desafio de caráter político, além de técnico, pois está na base dos processos decisórios em vários campos. É importante destacar também que na dimensão ambiental deste conceito qualquer ação humana deve: respeitar os ciclos naturais, o tempo de recomposição dos recursos e os limites que os regem; conservar a integridade do ambiente; consumir sem ultrapassar a capacidade de renovação dos recursos e respeitar a diversidade humana que produz formas diferentes de existência. A concepção de sustentabilidade pressupõe uma relação equilibrada com o ambiente em sua totalidade, considerando que todos os elementos afetam e são afetados reciprocamente pela ação humana. A sustentabilidade, portanto, diz respeito às escolhas sobre as formas de produção, consumo, habitação, comunicação, alimentação, transporte e também nos relacionamentos entre as pessoas e delas com o ambiente, considerando os valores éticos, solidários e democráticos.
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Ciências Humanas e suas Tecnologias ESTRUTURA INTERNA DA TERRA. ESTRUTURAS DO SOLO E DO RELEVO; AGENTES INTERNOS E EXTERNOS MODELADORES DO RELEVO. ESTRUTURA INTERNA DA TERRA
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Como se pode conhecer as camadas geológicas abaixo de nossos pés e outras estruturas localizadas no interior e no centro da Terra, situado a cerca de 6370 km de profundidade? Por meio de perfurações o homem tem acesso, direto, apenas, aos primeiros quilômetros. Daí, para baixo, são, principalmente, as ondas sísmicas, que revelam conhecimentos sobre o interior de nosso Planeta. A propagação das ondas sísmicas produzidas pelos terremotos ou fontes artificiais varia de velocidade e de trajetória em função das características do meio elástico em que trafegam. A correta interpretação do registro dessas ondas, através dos sismogramas, permite inferir valores de velocidade e densidade tanto em rochas no estado sólido, ou parcialmente fundidas, como naquelas situadas próximas da superfície ou em grandes profundidades. Dessa forma, é possível comprovar suposições sobre o estado dessas estruturas internas e outros processos geológicos dentro do interior da Terra. A imagem que se tem sobre o interior da Terra, baseada principalmente nos conhecimentos da sismologia, está sumarizada na Figura ao lado. O interior da Terra possui três principais camadas: a Crosta , uma fina casca que envolve todo o planeta, o Manto (círculo amarelo) e o Núcleo que se subdivide em “núcleo externo” (círculo laranja) e “núcleo interno” (círculo vermelho). Essas camadas foram descobertas pela análise da refração e da reflexão de ondas sísmicas. INTERIOR DA TERRA Crosta A camada mais externa e delgada da Terra é chamada Crosta, cuja espessura média varia de 7 a 35 km ao longo de uma seção cortando áreas continental e oceânica, como mostrado na figura acima. Nas regiões montanhosas a crosta pode alcançar 65 km de espessura. A mesma figura sugere que a Crosta Continental + parte do manto superior flutuam acima de material muito denso do manto, à semelhança dos icebergs sobre os oceanos. Esse é o Princípio da Isostasia que assegura que as “leves” áreas continentais flutuem sobre um Manto de material mais denso. Assim, a maior parte do volume das massas continentais posiciona-se abaixo do nível do mar pela mesma razão que a maior parte dos iceberENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
gs permanece mergulhada por debaixo do nível dos oceanos. Trabalhos sismológicos vêm corroborando informações quantitativas para o mecanismo da isostasia. Princípio da Isostasia O iceberg e o navio flutuam porque o volume. De igual forma, o volume relativamente leve da Crosta Continental+parte do manto, projetado no Manto, permite a “flutuação “ da montanha O limite entre a Crosta e o Manto foi descoberto pelo sismólogo croata Andrija Mohorovicic, em 1909 e é chamado de Descontinuidade de Mohorovicic, ou Moho, ou simplesmente M. Apesar de bastante variada, a Crosta pode ser subdividida em: Crosta Continental: Menos densa e geologicamente mais antiga e complexa, normalmente apresenta uma camada superior formada por rochas graníticas e uma inferior de rochas basálticas, e Crosta Oceânica: Comparativamente mais densa e mais jovem que a continental, sendo normalmente é formada por uma camada homogênea de rochas basálticas. Manto A porção mais volumosa (80%) de todas as camadas internas é o Manto. Divide-se em Manto Superior e Manto Inferior. Situa-se logo abaixo da Crosta e estende-se até quase a metade do raio da Terra. A profundidade do contato Manto-Núcleo (2.900 km) foi calculada pelo sismólogo Beno Gutenberg, em 1913. O Manto é grosseiramente homogêneo, formado essencialmente por rochas ultrabásicas e oferece as melhores condições para a propagação de ondas sísmicas (para distâncias epicentrais entre 2.500 e 10.000 km) recebendo a denominação de “janela telessísmica”. No período de 1965 a 1970, os geólogos e geofísicos concentraram seus esforços para pesquisar as primeiras centenas de quilômetros abaixo da superfície terrestre como parte do Projeto Internacional do Manto Superior. Muitas descobertas importantes foram feitas entre elas a definição de “litosfera” e “astenosfera” com base em modelos de velocidades das ondas S. Litosfera: É uma placa com cerca de 70 km de espessura que suporta os continentes e áreas oceânicas. A Crosta é a camada mais externa dessa porção da Terra. A litosfera é caracterizada por altas velocidades e eficiente propagação das ondas sísmicas, implicando condições naturais de solidez e de rigidez de material. A litosfera é a responsável pelos processos da Tectônica de Placas e pela ocorrência dos terremotos.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Astenosfera: É também chamada de zona de fraqueza ou de baixa velocidade pela simples razão do decréscimo da velocidade de propagação das ondas S. Nessa região, em que se acredita que as rochas estão parcialmente fundidas, as ondas sísmicas são mais atenuadas do que em qualquer outra parte do Globo. A astenosfera, que se estende até 700 km de profundidade, apresenta variações físicas e químicas. É importante assinalar que é o estado não sólido da astenosfera que possibilita o deslocamento, sobre ela, das placas rígidas da litosfera. O Manto Inferior, que se estende de 700 km até 2900 km (limite do Núcleo), é uma região que apresenta pequenas mudanças na composição e fases mineralógicas. A densidade e a velocidade aumentam gradualmente com a profundidade da mesma forma que a pressão. Núcleo Apesar de sua grande distância da superfície terrestre, o Núcleo também não escapa das investigações sismológicas. Sua existência foi sugerida pela primeira vez, em 1906, por R.D. Oldham, sismólogo britânico. A composição do Núcleo foi estabelecida comparando-se experimentos laboratoriais com dados sismológicos. Assim, foi possível determinar uma incompleta mas razoável aproximação sobre a constituição do interior do Globo. Ele corresponde, aproximadamente, a 1/3 da massa da Terra e contém principalmente elementos metálicos (ferro e níquel). Em 1936, Inge Lehman, sismóloga dinamarquesa, descobriu o contato entre o Núcleo Interno e o Núcleo Externo. Esse último possui propriedades semelhantes aos líquidos o que impede a propagação das ondas S. O Núcleo Interno é sólido e nele se propagam tanto as ondas P como as S. Tipos de Relevo O relevo corresponde às variações que se apresentam sobre a camada superficial da Terra. Assim, podemos notar que o relevo terrestre apresenta diferentes fisionomias, isto é, áreas com diferentes características: algumas mais altas, outras mais baixas, algumas mais acidentadas, outras mais planas, entre outras feições. Para melhor analisar e compreender a forma com que essas dinâmicas se revelam, foi elaborada uma classificação do relevo terrestre com base em suas características principais, dividindo-o em quatro diferentes formas de relevo: as montanhas, os planaltos, as planícies e as depressões Montanhas.
As montanhas são formas de relevo que se caracterizam pela elevada altitude em comparação com as demais altitudes da superfície terrestre. Quando tidas em conjunto, elas formam cadeias chamadas de cordilheiras, a exemplo da Cordilheira dos Andes, na América do Sul, e da Cordilheira do Himalaia, na Ásia. Existem quatro tipos de montanhas: as vulcânicas, que se formam a partir de vulcões; as de erosão, que surgem a partir da erosão do relevo ao seu redor, levando milhões de anos para serem formadas; as falhadas, originadas a partir de falhamentos na crosta, que geram uma ruptura entre dois blocos terrestres, ficando soerguidos um sobre o outro; e as dobradas, que se originam a partir dos dobramentos terrestres causados pelo tectonismo. De todos esses tipos, o último é o mais comum. Planaltos Os planaltos – também chamados de platôs – são definidos como áreas mais ou menos planas que apresentam médias altitudes, delimitações bem nítidas, geralmente compostas por escarpas, e são cercadas por regiões mais baixas. Neles, predomina o processo de erosão, que fornece sedimentos para outras áreas. Existem três principais tipos de planaltos: os cristalinos, formados por rochas cristalinas (ígneas intrusivas e metamórficas) e compostos por restos de montanhas que se erodiram com o tempo; os basálticos, formados por rochas ígneas extrusivas (ou vulcânicas) originadas de antigas e extintas atividades vulcânicas; e os sedimentares, formados por rochas sedimentares que antes eram baixas e que sofreram o soerguimento pelos movimentos internos da crosta terrestre. Planícies São áreas planas e com baixas altitudes, normalmente muito próximas ao nível do mar. Encontram-se, em sua maioria, próximas a planaltos, formando alguns vales fluviais ou constituindo áreas litorâneas. Caracterizam-se pelo predomínio do processo de acumulação e sedimentação, uma vez que recebem a maior parte dos sedimentos provenientes do desgaste dos demais tipos de relevo. Depressão São áreas rebaixadas que apresentam as menores altitudes da superfície terrestre. Quando uma localidade é mais baixa que o seu entorno, falamos em depressão relativa, e quando ela se encontra abaixo do nível do mar, temos a depressão absoluta. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias O mar morto, no Oriente Médio, é a maior depressão absoluta do mundo, ou seja, é a área continental que apresenta as menores altitudes, com cerca de 396 metros abaixo do nível do mar. AGENTES INTERNOS As falhas “Quando essas forças são exercidas verticalmente sobre as camadas de rochas resistentes e de pouca plasticidade, os blocos continentais podem fraturar-se, deslocar-se, sofrer levantamentos ou abaixamentos constituindo as falhas, ou seja, as diversas rupturas e desnivelamentos das camadas do relevo. Esses movimento. verticais são chamados de epirogênicos”. (Coelho, Marcos A. e terra, Lygia. Op. cit. p. 83). As dobras
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“Quando as pressões são exercidas de forma horizontal sobre as camadas de rochas mais elásticas, provocam o encurvamento das camadas rochosas, os dobramentos ou dobras, podendo formar montanhas e cordilheiras. Os movimentos horizontais são chamados de orogenéticos. Uma dobra é formada de duas partes: a côncava ou sinclinal e a convexa ou anticlinal” (Coelho, Marcos A. e Terra, Lygia. Op. cit. p. 83). Vulcanismo “É o processo pelo qual o magma flui do ipedloucura5da Terra até a crosta terrestre. Abrange os vulcões e as intrusões magmáticas (penetração do magma em rochas da crosta terrestre e sua solidificação em virtude das menores temperatura, na superfície da Terra): batólito, lacólito, dique, sill e neque”. (Adas, Melhem. Panorama Geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios soco espaciais. Moderna p. 230. 1998). Ilhas oceânicas “Os assoalhos oceânicos, especialmente as áreas ocupadas pelas dorsais submarinas, concentram a maior parte dos vulcões do globo. Milhares de ilhas oceânicas formaram-se a partir de atividade vulcânica. A principal região vulcânica da Terra é o anel de dobramentos que cerca o Oceano Pacífico, o Círculo de Fogo do Pacífico. Nesse anel, que inclui todo o ocidente da américa, de um lado, e os limites da Ásia Oriental (especialmente o Japão) e da Oceania, de outro, encontram-se perto de três ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
quartos dos vulcões ativos do mundo” (Magnoli, D. e Araújo, Regina. Projeto de ensino de geografia: natureza, tecnologias e sociedade. Moderna. p. 34. 2000). Agentes Externos O relevoterrestre encontra-se em permanente evolução, pois os agentes externos trabalham contínua e incessantemente esculturando ou modelando a paisagem terrestre. PRINCIPAIS AGENTES EXTERNOS: Intemperismo É o conjunto de processos químicos, físicos e biológicos (ação da água, do vento, do calor, do frio e dos seres vivos) que provoca o desgaste e a decomposição das rochas. Podem ser físicos e químicos. Físico – A desintegração e a ruptura das rochas inicialmente em fendas, progredindo para partículas de menores, sem, no entanto, haver mudanças na composição química. Exemplos de processos físicos de meteorização: a) Congelamento da água. b) variação de temperatura. c) Decomposição esferoidal. d) Esfoliação. e) Destruição orgânica. Químico – Realizam-se em presença da água e dependem da ação de decomposição da água juntamente com o CO2 dissolvido e, em alguns casos, ácidos orgânicos formados pela decomposição de resíduos de vegetais. Os rios Em seu curso, os rios escavam leitos, formam vales, destroem e transportam rochas e sedimentos, depositando-os e formando novas feições de relevo, como, por exemplo, as planícies e os deltas. As geleiras Chama-se erosão glacial ao trabalho das geleiras. Grandes blocos de gelo movem-se lentamente, por ação da gravidade, causando profundos desgastes nas rochas. Provocam a abertura de vales em forma de “U” ou de “V”, estes últimos conhecidos como fiordes.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Os ventos Conhecida como erosão eólica, pode tanto construir (acumulação eólica) como destruir uma forma de relevo. A atividade geológica do vento é preponderante, particularmente nas regiões áridas, como os desertos, onde a evaporação é superior às precipitações ou onde a vegetação não se dá por qualquer outro motivo. A erosão eólica processa-se por deflação e corrosão. Deflação – Processo de rebaixamento do terreno, removendo e transportando partículas inconsolidadas. Corrosão – É produzida pelo impacto das partículas de areia transportadas pelos ventos contra as superfícies das rochas, polindo-as. Efeitos: é maior nas rochas sedimentares, principalmente arenosas e argilosas. Rochas heterogêneas ou irregulares podem sofrer erosão diferencial, o que dá origem a formas curiosas. SITUAÇÃO GERAL DA ATMOSFERA E CLASSIFICAÇÃO CLIMÁTICA. AS CARACTERÍSTICAS CLIMÁTICAS DO TERRITÓRIO BRASILEIRO. OS GRANDES DOMÍNIOS DA VEGETAÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO. Esse movimento, subida e descida do ar em função da temperatura (as correntes de convecção), acaba por provocar a movimentação geral da atmosfera. Numa visão em perfil, podemos observar a formação de três células de circulação para cada hemisfério (norte e sul). As Correntes Marítimas As grandes massas de água que se deslocam pelo oceano com condições próprias de temperatura, salinidade e pressão possuem grande influência no clima, além de favorecerem a atividade pesqueira em áreas de encontro de correntes quentes com correntes frias, nas quais há ressurgência de plâncton. As correntes marinhas podem ser quentes ou frias. As quentes mantêm a umidade e as altas temperatura. nas áreas costeiras das baixas latitudes. Quando se dirigem para áreas de altas latitudes, amenizam os rigores climáticos no inverno. Já as correntes frias, ao contrário, aumentam o rigor climático no inverno pelos litorais onde passam além de estarem associadas aos litorais secos nas proximidades dos trópicos de Câncer e Capricórnio.
PRINCIPAIS TIPOS CLIMÁTICOS DO PLANETA POLARES– Ocorrem em latitudes extremas, próximo aos círculos polares Ártico e Antártico, grande variação da duração do dia e da noite. Baixas temperaturas o ano todo, máxima de 10°C no verão. TEMPERADOS – Apresentam as quatro estações bem definidas. Há diferenças entre os locais próximos e os que estão longe do mar. MEDITERRÂNEOS – Verões quentes e secos e invernos amenos e chuvosos. Chuvas de outono e no inverno. TROPICAIS– Quentes o ano inteiro; duas estações: verão chuvoso e inverno seco. Apresentam variações em função da altitude, da maritimidade e da continentalidade. EQUATORIAIS– Temperaturas elevadas e chuvas abundantes o ano todo, com pequena amplitude térmica anual. SUBTROPICAIS – Das médias latitudes onde começam a se delinear as quatro estações. Chuvas bem distribuídas, verões quentes e invernos frios, com significativa amplitude térmica anual. ÁRIDOS – Extrema falta de umidade, elevadas amplitudes térmicas diária e sazonal. Chuvas inferiores a 250mm. anuais. SEMI-ÁRIDOS– São climas de transição. Chuvas escassas e irregulares. Encontrados tanto nas regiões tropicais quanto nas zonas temperadas (onde apresentam invernos frios). Clima corresponde ao conjunto de variações do tempo de uma determinada localidade. Para estabelecer o clima de um lugar é necessário analisar os fenômenos atmosféricos durante um período de, aproximadamente, 30 anos. O clima está diretamente relacionado à formação vegetal. No território brasileiro ocorre uma grande diversidade climática, pois o país apresenta grande extensão territorial com diferenças de relevo, altitude e dinâmica das massas de ar e das correntes marítimas, todos esses fatores influenciam no clima de uma região. A maior parte da área do Brasil está localizada na Zona Intertropical, ou seja, nas zonas de baixas latitudes, com climas quentes e úmidos. Outro fator interessante do clima brasileiro refere-se à amplitude térmica (diferença entre as médias anuais de temperatura máximas e mínimas), conforme se aproxima da linha do Equador, a amplitude térmica é menor. O critério utilizado no Brasil para classificar os diferentes tipos de clima relaciona-se à origem, natureza e, principalmente, movimentação das massas de ar existentes no país (equatoriais, tropicais e polares). Conforme análises climáticas realizadas no território brasileiro, foi possível estabelecer seis tipos de climas diferentes, são eles: ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Equatorial – Presente na Amazônia, ao norte de Mato Grosso e a oeste do Maranhão, sofre ação direta das massas de ar equatorial continental e equatorial atlântica, de ar quente e úmido. Apresenta temperaturas médias elevadas (de 25 °C a 27 °C), chuvas durante todo o ano e reduzida amplitude térmica (inferior a 3 °C). Tropical – Clima do Brasil central, também presente na porção oriental do Maranhão, extensa parte do território do Piauí, na porção ocidental da Bahia e de Minas Gerais, além de ser encontrado também no extremo norte do país, em Roraima. Caracteriza-se por temperatura elevada (18 °C a 28 °C), com amplitude térmica de 5 °C a 7 °C, e estações bem definidas (uma chuvosa e outra seca). A estação de chuva ocorre no verão; no inverno ocorre a redução da umidade relativa em razão do período da estação seca. O índice pluviométrico é de cerca de 1,5 mil milímetros anuais. Tropical de Altitude – É encontrado nas partes mais elevadas, acima de 800 metros, do planalto Atlântico do Sudeste. Abrange principalmente os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Está sob influência da massa de ar tropical atlântica, que provoca chuvas no período do verão. Apresenta temperatura amena, entre 18 °C e 22 °C, e amplitude térmica anual entre 7 °C e 9 °C. No inverno, as geadas ocorrem com certa frequência, em virtude da ação das frentes frias originadas do choque entre as massas tropical e polar. Tropical Atlântico – Conhecido também como tropical úmido, compreende a faixa litorânea do Rio Grande do Norte ao Paraná. Sofre a ação direta da massa tropical atlântica, que, por ser quente e úmida, provoca chuvas intensas. A temperatura varia de 18 °C a 26 °C, apresenta amplitude térmica maior à medida que se avança em direção ao Sul. No Nordeste, a maior concentração de chuva ocorre no inverno, já no Sudeste, ocorre no verão. O índice pluviométrico médio é alto, de 2 mil milímetros anuais. Subtropical – Ocorre nas latitudes abaixo do trópico de Capricórnio. Está presente no sul do estado de São Paulo e na maior parte do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É influenciado pela massa polar atlântica, possui temperatura média anual de 18 °C e amplitude térmica elevada (10 °C). As chuvas não são muito intensas, mil milímetros anuais, porém, ocorrem de forma bem distribuída na região. Nessa região climática do Brasil são comuns as geadas e nevadas. O verão é muito quente e a temperatura pode ultrapassar os 30 °C. O inverno, bastante frio, apresenta as temperaturas mais baixas do país, inferiores a 0 °C. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Semiárido – Ocorre no interior do Nordeste, na região conhecida como Polígono das Secas. Corresponde a quase todo o sertão nordestino e aos vales médio e inferior do rio São Francisco. Caracteriza-se por temperaturas elevadas (média de 27 °C) e chuvas escassas e mal distribuídas, em torno de 700 milímetros anuais. Há períodos em que a massa equatorial atlântica (superúmida) chega ao litoral norte da região Nordeste e atinge o sertão, causando chuvas intensas nos meses de fevereiro, março e abril. Tipos de Vegetação O tipo de vegetação de determinada região irá depender, primordialmente, do seu tipo de clima. Entretanto, essa regra aplica-se somente a vegetações naturais ou nativas, pois a formação vegetal é o primeiro elemento da paisagem que o homem modifica e, portanto, está em constante transformação. O Brasil, por ter dimensões territoriais continentais, abriga oito tipos principais de vegetação natural. São eles: Floresta Amazônica: de clima equatorial e conhecida como Amazônia Legal, abriga milhões de espécies animais e vegetais, sendo de vital importância ao equilíbrio ambiental do planeta. Ela é classificada como uma formação florestal Latifoliada, pois suas folhas são largas e agrupam-se densamente, geralmente atingindo grandes alturas. Mata Atlântica: caracterizada como uma floresta latifoliada tropical e de clima tropical úmido, foi à vegetação que mais sofreu devastação no Brasil, restando apenas 7% de sua cobertura original. Era uma vegetação que se estendia do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, mas que foi intensamente degradada pelos portugueses para a extração de madeira e plantio de cana-de-açúcar. Caatinga: é uma vegetação típica de clima semiárido, localizada no Nordeste brasileiro. Possui plantas espinhosas e pobres em nutrientes. Nos últimos anos, vem sofrendo diversas agressões ambientais que causam empobrecimento do solo, dificultando mais ainda o desenvolvimento dessa região. Cerrado: típica do Planalto Central brasileiro e de clima tropical semiúmido, é a segunda maior formação vegetal do Brasil. Apesar de sua paisagem ser composta por árvores baixas e retorcidas, é a vegetação com maior biodiversidade do planeta. Somente nos últimos anos é que os ambientalistas vêm se preocupando com esse ecossistema, que sofre vários danos ambientais causados pela plantação de soja e cana-de-açúcar e pela pecuária.
Ciências Humanas e suas Tecnologias Pantanal: localizada no Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, é considerada uma vegetação de transição, isto é, uma formação vegetal heterogênea composta por diferentes ecossistemas. Em determinadas épocas do ano, algumas porções de área são alagadas pelas cheias dos rios e é somente nas estiagens que a vegetação se desenvolve. Campos sulinos: também conhecidos como “pampas” e característicos de clima subtropical, apresentam vegetação rasteira com a predominância de capins e gramíneas. Mata de Araucária: com a predominância de pinheiros e localizada no estado do Paraná, é uma vegetação típica de clima subtropical. Sua cobertura original é quase inexistente em razão da intensa exploração de madeira para fabricação de móveis. Mangues: é um tipo de vegetação de formação litorânea, caracterizado principalmente por abranger diversas vegetações, ocorrendo em áreas baixas e, logo, sujeito à ação das marés.
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• REPRESENTAÇÃO ESPACIAL – PROJEÇÕES CARTOGRÁFICAS; LEITURA DE MAPAS TEMÁTICOS, FÍSICOS E POLÍTICOS; TECNOLOGIAS MODERNAS APLICADAS À CARTOGRAFIA.
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As representações espaciais estão presentes na vida do Homem, antes mesmo da escrita e da fala. Por meio de símbolos e desenhos é que o Homem representa suas primeiras apreensões do real, em que delimita e ocupa efetivamente o seu território. No entanto, com o avanço das técnicas cartográficas e por meio do uso de recursos modernos que possibilitaram o Homem a ocupar os diversos lugares da Terra, criando cidades, estados, e outros fenômenos e objetos, a representação espacial passou a ganhar formas mais precisas por meio de representações cartográficas mais próximas do real.Seguindo convenções internacionais – principalmente a partir dos últimos séculos, estas representações simbólicas foram sendo aperfeiçoadas com o advento das fotografias aéreas e, posteriormente, com o desenvolvimento de imagens de sensores remotos embarcados em satélites, fato que não era possível em tempos passados, onde a produção cartográfica – basicamente de mapas impressos em papel, era artesanal. A partir dessas mudanças, com o avanço das técnicas de cartografia e com o advento de novas tecnologias e convenções normativas – convenções cartográficas, os mapas foram sendo padronizados, levando em consideração as percepções da realidade e permitindo uma representação mais aproximada do real, possibilitando a todos os indivíduos conhecer lugares, por meio de mapas, antes desconhecidos ou inacessíveis.Nesse sentido, os produtos cartográficos (mapas, globos, croquis, etc) ao longo de sua história passaram a ser utilizados para diversos fins, considerando sua abrangência artística, científica e técnica, seja para o planejamento dos gestores territoriais, seja para o ensino e o repasse do conhecimento da superfície terrestre para as diversas disciplinas de ensino. Todavia, não podemos desconsiderar que o mapa é uma construção humana de simplificação do espaço real e, como uma ferramenta de comunicação, possui modos de transmitir as mensagens/informações que devem ser entendidas por seus elaboradores e leitores. Linguagem Cartográfica e os Tipos de Representação Espacial Como podemos observar na figura 01, um mapa nada mais é do que uma simplificação da realidade, onde o elaborador expressa, por meio ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
de técnicas de desenho e um conhecimento das geometrias dos lugares, a representação dos objetos e fenômenos que se apresentam no espaço geográfico, que se dá de acordo com uma escala de trabalho, ou seja, de acordo com um determinado “lugar” de onde se vê o fenômeno.
Na figura 01 vemos a forma mais comum de apresentação de um mapa, caracterizada pela representação dos mapas na forma bidimensional, em duas dimensões (conhecido como 2D), que consideram a largura/altura e o comprimento de um objeto (dessa forma, existem um eixo x e outro y), em um determinado plano (papel ou no computador), em que a apresentação das formas nesse ambiente despreza a profundidade dos objetos, demonstrados com mais propriedade nos ambientes 3D (que considera ainda o eixo z, de profundidade, que é nulo ou zero em ambientes 2D), como podemos observar pela visão humana (figura 02).
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Nesse sentido, levando em consideração apenas as representações cartográficas em 2D, podemos observar os fenômenos segundo formas geométricas simples que são demonstradas nos produtos cartográficos. Para esses tipos de representações simbólicas, os objetos existentes na realidade devem ter uma correspondência similar no papel, de forma que possam ser entendidos pelo leitor do mapa, ou seja, se o objeto na realidade pode ser representado de maneira pontual (x e y), ele deve ser representado pontualmente no produto cartográfico, como por exemplo, uma casa, um poste, etc (exemplo na figura 03, em azul). De outra forma, se o objeto no espaço geográfico se apresenta de maneira linear na realidade, deve ser representado de forma linear no mapa, como por exemplo, as estradas, rios, ruas, etc (como na figura 03 em vermelho). Nesse último caso, a representação se dá por um conjunto de pontos, ligados continuamente, para dar a ideia de continuidade do objeto.
Ainda na figura 03 (com a cor verde), podemos observar que existem objetos que são representados no formato de áreas, ou polígonos, para esses objetos, leva-se em consideração um conjunto de três ou mais pontos que são ligados e que devem se encontrar em algum momento para “fechar” a figura geométrica. Desse modo, todos os objetos devem ser representados em um mapa da forma mais próxima como se apresentam na realidade, caso contrário, a leitura do mapa poderá ser prejudicada ou mostrar-se duvidosa. Para essas representações simples da realidade em um mapa, concebidas por um ou mais pares de coordenadas (CÂMARA; DAVIS; MONTEIRO, 2001), chamamos de representações vetoriais, que são usualmente mais versáteis e fáceis de manusear, sendo que permitem alteração e inserção de novas informações e/ou figuras nos desenhos produzidos anteriormente (MOREIRA, 2011). Todavia, no caso de mudança de escala de trabalho, poderá acontecer uma modificação na forma de representação do objeto, ou seja, a cada momento em que a escala for aumentando, acontecerá a aproximação do objeto, aumentando o seu tamanho, acontecendo ao contrário, na diminuição da escala, haverá o distanciamento do objeto e, consequentemente, a modificação em sua representação. No caso da representação de imagens de sensores remotos nos mapas, devemos considerar que esse modelo de representação é diferente do formato vetorial. Nesse caso, a imagem é apresentada como um conjunto de células, organizadas em linhas e colunas – daí o nome matricial, onde cada célula que compõe o objeto está associada a uma porção do terreno (CÂMARA; DAVIS; MONTEIRO, 2001).
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Nesse sentido, todas as células do formato matricial possuem uma única referencia espacial – coordenada, específica, isto é, cada célula é acessada individualmente por meio de suas coordenadas (CÂMARA; DAVIS; MONTEIRO, 2001), uma vez que cada objeto possui um “valor de refletância” específico. Sendo que, o tamanho das células no formato matricial refletirá na resolução dos objetos no mapa. Desse modo, terão resoluções espaciais maiores aqueles mapas com células menores, pois os objetos identificados são menores, e vice-versa. No exemplo da figura 04 “o mapa do lado esquerdo possui uma resolução quatro vezes menor que o do mapa do lado direito, as avaliações de áreas e distâncias serão bem menos exatas que no primeiro. Em contrapartida, o espaço de armazenamento necessário para o mapa da direita será quatro vezes maior que o da esquerda (CÂMARA; DAVIS; MONTEIRO, 2001, p. 23). Para enfatizar novamente, é importante lembrar que cada célula no formato matricial tem um valor particular, de acordo com o comportamento espectral – sua interação com a luz, do objeto no espaço geográfico. Essas células, que podemos denominar como pixels (aglutinação de Picture e Element) são os menores elementos representados na imagem, sendo que o conjunto de todos os pixels forma uma imagem inteira. A figura 05 apresenta uma imagem de sensor remoto, em formato matricial, onde o computador interpreta o conjunto de células (pixels) e apresenta os objetos no espaço geográfico de acordo com seus comportamentos e características físicas-químicas e a interação com a luz.
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Tanto o formato matricial, quanto o vetorial podem ser utilizados no momento da elaboração de um mapa (figura 06). Contudo, é necessário entender que, em ambiente computacional, no caso dos softwares de geoprocessamento, existe uma “hierarquia” no momento da organização dos objetos vetoriais e matriciais, pois se não for respeitado esse arranjo, um objeto poderá sobrepor ao outro. Nesse sentido, devemos seguir a seguinte forma: colocam-se os objetos na sequência = ponto, linha, polígono e, por último o formato matricial.Caso essa ordem não seja seguida poderá ocorrer à sobreposição e a ocultação de algum objeto. Por exemplo, não podemos sobrepor o formato matricial sobre os demais formatos, pois esse ocultará a todos os objetos do mapa, devemos, assim, seguir do menor para o maior objeto em ordem crescente. Dessa forma, os formatos vetoriais e matriciais possuem características próprias no momento da representação dos objetos, na medida em que Câmara; Davis; Monteiro (2001, p. 31), demonstram uma comparação entre as vantagens e desvantagens na escolha de armazenamento matricial e vetorial para os mapas temáticos, sendo que na comparação apresentada foi considerado diversos aspectos, como: relacionamentos espaciais, análise, armazenamento, conforme mostra a tabela a seguir: Tabela 1. Comparação entre representações para mapas temáticos. Fonte: Câmara; Davis; Monteiro (2001, p, 37)
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Essa forma, no momento de se elaborar um produto cartográfico, o elaborador deverá optar pela forma de representação compatível para cada objeto, levando em consideração a escala de trabalho, sendo que o tipo de representação dependerá do tipo do objeto e de como esse se apresenta no espaço geográfico. A cartografia é a ciência da representação gráfica da superfície terrestre, tendo como produto final o mapa. Ou seja, é a ciência que trata da concepção, produção, difusão, utilização e estudo dos mapas. Na cartografia, as representações de área podem ser acompanhadas de diversas informações, como símbolos, cores, entre outros elementos. A cartografia é essencial para o ensino da Geografia e tornou-se muito importante na educação contemporânea, tanto para as pessoas atenderem às necessidades do seu cotidiano quanto para estudarem o ambiente em que vivem. O surgimento Os primeiros mapas foram traçados no século VI a.C. pelos gregos que, em função de suas expedições militares e de navegação, criaram o principal centro de conhecimento geográfico do mundo ocidental. O mais antigo mapa já encontrado foi confeccionado na Suméria, em uma pequena tábua de argila, representando um Estado. A confecção de um mapa normalmente começa a partir da redução da superfície da Terra em seu tamanho. Em mapas que figuram a Terra por inteiro em pequena escala, o globo se apresenta como a única maneira de representação exata. A transformação de uma superfície esférica em uma superfície plana recebe a denominação de projeção cartográfica. Na pré-história, a Cartografia era usada para delimitar territórios de caça e pesca. Na Babilônia, os mapas do mundo eram impressos em madeira, mas foram Eratosthenes de Cirene e Hiparco (século III a.C.) que construíram as bases da cartografia moderna, usando um globo como forma e um sistema de longitudes e latitudes. Ptolomeu desenhava os mapas em papel com o mundo dentro de um círculo. Com a era dos descobrimentos, os dados coletados durante as viagens tornaram os mapas mais exatos. Após a descoberta do novo mundo, a cartografia começou a trabalhar com projeções de superfícies curvas em impressões planas. Atualmente... Hoje, a cartografia é feita por meios modernos, como as fotografias aéreas (realizadas por aviões) e o sensoriamento remoto por satélite. Além disso, com os recursos dos computadores, os geógrafos podem obter maior precisão nos cálculos, criando mapas que chegam a ter precisão de até 1 metro. As fotografias aéENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias reas são feitas de maneira que, sobrepondo-se duas imagens do mesmo lugar, obtém-se a impressão de uma só imagem em relevo. Assim, representam-se os detalhes da superfície do solo. Depois, o topógrafo completa o trabalho sobre o terreno, revelando os detalhes pouco visíveis nas fotografias. A outra técnica cartográfica, o sensoriamento remoto, consiste na transmissão, a partir de um satélite, de informações sobre a superfície do planeta ou da atmosfera. Quase toda coleta de dados físicos para os especialistas é feita por meio de sensoriamento remoto, com satélites especializados que tiram fotos da Terra em intervalos fixos. Para a geração das imagens pelos satélites, escolhe-se o espectro de luz que se quer enxergar, sendo que alguns podem enviar sinais para captá-los em seu reflexo com a Terra, gerando milhares de possibilidades de informação sobre minerais, concentrações e tipos de vegetação, entre outros. Existem satélites que chegam a enxergar um objeto de até vinte centímetros na superfície da Terra, quando o normal são resoluções de vinte metros. Mapas
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A localização de qualquer lugar na Terra pode ser mostrada em um mapa. Os mapas são normalmente desenhados em superfícies planas, em proporção reduzida do local da Terra escolhido. Nenhum mapa impresso consegue mostrar todos os aspectos de uma região. Mapas, em contraposição a foto aéreas e dados de satélite, podem mostrar concentração populacional e de renda, diferenças de desenvolvimento social, entre outras informações. Como os mapas possuem representação plana, eles não representam fielmente a forma geoide da Terra, o que levou cartógrafos a utilizarem globos para imitar essa forma. Os mapas mais comuns são os políticos e topográficos. Os políticos representam graficamente os continentes e as fronteiras entre os países, enquanto os topográficos representam o relevo em níveis de altura (normalmente inclui também os rios mais importantes). Para desenhar mapas cartográficos depende-se de um sistema de localização com longitudes e latitudes, uma escala, uma projeção e símbolos. Atualmente, boa parte do material que o cartógrafo necessita é obtido por sensoriamento remoto com foto de satélite ou fotografias aéreas. Projeções cartográficas Sabemos que a maneira mais adequada de representar a Terra como um todo é por meio de um globo. Porém, precisamos de mapas planos para estudar a superfície do planeta. Transformar uma esfera ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
em uma área plana do mapa seria impossível se os cartógrafos não utilizassem uma técnica matemática chamada projeção. No entanto, imagine como seria se abríssemos uma esfera e a achatássemos para a forma de um plano. Com isso, as partes da esfera original teriam que ser esticadas, principalmente nas áreas mais próximas aos os polos, criando grandes deformações de área. Então, para chegar a uma representação mais fiel possível, os cartógrafos desenvolveram vários métodos de projeções cartográficas, ou seja, maneiras de representar um corpo esférico sobre uma superfície plana. Como toda projeção resulta em deformações e incorreções, às vezes algumas características precisam ser distorcidas para representarmos corretamente as outras. As deformações podem acontecer em relação às distâncias, às áreas ou aos ângulos. Conforme o sistema de projeção utilizado, as maiores alterações da representação localizam-se em uma ou outra parte do globo: nas regiões polares, nas equatoriais ou nas latitudes médias. É o cartógrafo define qual é a projeção que vai atender aos objetivos do mapa. A projeção mais simples e conhecida é a de Mercator (nome do holandês que a criou). Outras técnicas foram evoluindo e muitas outras projeções tentaram desfazer as desigualdades de área perto dos polos com as de perto do equador, como por exemplo a projeção de Gall. Como não há como evitar as deformações, classifica-se cada tipo de projeção de acordo com a característica que permanece correta. Temos então: • Projeções equidistantes = distâncias corretas • Projeções conformes = igualdade dos ângulos e das formas dos continentes • Projeções equivalentes = mostram corretamente à distância e a proporção entre as áreas
Ciências Humanas e suas Tecnologias Os três principais tipos de projeção são:
Cilíndricas: consistem na projeção dos paralelos e meridianos sobre um cilindro envolvente, que é posteriormente desenvolvido (planificado). Uma das projeções cilíndricas mais utilizadas é a de Mercator, com uma visão do planeta centrada na Europa.
Cônicas: é a projeção do globo terrestre sobre um cone, que posteriormente é planificado. São mais usadas para representar as latitudes médias, pois apenas as áreas próximas ao Equador aparecem retas.
Azimutais: é a projeção da superfície terrestre sobre um plano a partir de um determinado ponto (ponto de vista). Também chamadas planas ou zenitais, essas projeções deformam áreas distantes desse ponto de vista central. São bastante usadas para representar as áreas polares.
Os Mapas e sua Evolução. Tecnologias Modernas Aplicadas à Cartografia. A fotometria eos satélites. O GPS e o SIG Os mapas podem ser uma ferramenta poderosa para a compreensão do mundo e de como ele funciona. Os mapas primitivos eram gravados em pedra ou argila. Depois passaram a ser desenhados em tecidos, pergaminho oupapiro. Com a invenção da imprensa, por Gutenberg, em 1439 (século XV), os mapas passaram a ser impressos em papel. Hoje, são desenhados em computador, e podem ser analisados diretamente na tela antes de serem impressos. As novas tecnologias da informação modernizaram a cartografia, que foi aperfeiçoada pelo usoda fotometria, da computação e telecomunicações. Atualmente,o material necessário para o cartógrafo traçarmapas é obtido por foto de satélite ou aero fotometria, que permitem executar medições precisas nas fotografias tiradasa distâncias. Os satélites, suas múltiplas funções e seu uso na cartografia As primeiras ideias sobre satélites surgiram noséculo XVIII, com as teorias sobregravitação de Isac Newton. Em 1957, foi lançado o primeiro satélite artificial da história, o Sputnik 1, no período da Guerra Fria. Teve início corrida espacial, que resultou na chegada do homem à Lua. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Desde então, foram lançados milhares de satélites de diversos tipos: satélites de comunicações, astronômicos, militares, meteorológicos etc. A tecnologia dos satélites está em muitas atividades, como por exemplo: a) previsões do tempo b) identificar clareiras de desmatamento c) imagens das manchas de petróleo d) as áreas de agricultura e) a temperatura da terra f)o degelo dos polos. As imagens de satélites que identificam as queimadas e a devastação na Amazônia, por exemplo, promoveram a adoção de várias medidas preventivas voltadas para a preservação ambiental. A maioria dos satélites em órbita destinam-se às telecomunicações, a saber: transmissão de sinal de TV, rádio, ligações telefônicas e outros serviços, permitindo que nos comuniquemos com o mundo inteiro, em tempo real: assistir TV, ouvir rádio, falar ao telefone, usar a Internet. Essa evolução foi absorvida pela cartografia, que passou a utilizar informações mais precisas. O avanço da aerofotogrametria – capta imagens da superfície terrestre com equipamentos fotográficos especiais, acoplados no piso de um avião. As fotos obtidas servem para elaborar cartas e mapas traçados com maior rapidez, a baixo custo e mais precisos. Vejamos: 1-Sensoriamento remoto – é o conjunto de técnicas de captação e registro de imagens à distância por meio de diferentes sensores, como por exemplo: equipamentos fotográficos, scanners de satélites e radares. As imagens obtidas podem mostram florestas, áreas de cultivo (zona rural) e cidades (zona urbana), bem como a atmosfera, captando nuvens ou fumaça de incêndios florestais. Os novos avanços no sensoriamento remoto vieram com o uso de satélites e computadores. As imagens feitas pelos satélites são convertidas em dados numéricos e enviadas a uma estação terrestre, onde são processadas por computadores. Essas informações geram mapas temáticos e mapas topográficos, mais precisos, mais rápidos e a baixo custo. A utilização de satélites para sensoriamento remoto permite registrar a sequencia de eventos ao longo do tempo, por isso, os satélites meteorológicos dão segurança às previsões do tempo. 2- Sistema de Posicionamento Global (GPS) – esse sistema foi criado para localizar com precisão um objeto ou pessoa, bem como fornecer sua velocidade em qualquer ponto, caso esteja em movimento.
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O aparelho GPS é usado para orientar na navegação marítima,aérea e terrestre. Foi desenvolvido no contexto da Guerra Fria entre EUA e a ex-União soviética, com enorme potencial estratégico-militar. Esse sistema, atualmente, é composto por 24 satélites (21 em operação e três reservas) que giram em torno da Terra em 6 órbitas diferentes a 20.200 km de altitude. O aparelho GPS é usado para orientar na navegação marítima,aérea e terrestre. O governo brasileiro tem usado imagens de satélites e GPS para identificar com precisão: a) fazendas improdutivas para serem desapropriadas para a reforma agrária b) controlar queimadas em florestas c) demarcar limites de fronteiras d) rastrear veículos de carga e automóveis, que quando roubados, são facilmente localizados pela polícia. 3Sistema de Informação Geográfica (SIG) ou GIS (Geographic Information System em inglês) – são também exemplos das enormes possibilidades de coletar e processar dados geográficos gerados pelo utilização da informática. São softwares utilizados como ferramentas, que facilitam olevantamento de dados geográficos. Os SIGs são o resultado da utilização conjunta de mapas digitais, elaborados com o auxilio do GPS, e de bancos de dados informatizados. Esses sistemas permitem coletar, armazenar, processar, recuperar, correlacionar e analisar diversas informações sobre o espaço geográfico. É um poderoso instrumento para o planejamento urbano e rural, e questões espaciais complexas. O SIG tem muitos outras utilizações, destacando-se o levantamento de moradores, empresas, imóveis e propriedades para cálculo de imposto; pesquisa de opinião, apoio ao turismo, orientação do trânsito das grandes cidades etc. 4- Mapas digitais ou virtuais: Google Maps – depois do computador e da informatização ou automatização, o modo de traçar um mapa mudou muito, provocando avanços significativos. Agora temos a cartografia digital ou automatizada, que se apoia na computação. Tem a finalidade de produzir representações digitais precisas e atualizáveis da realidade geográfica, tornando a elaboração de mapas mais dinâmica e interativa. Os produtos cartográficos são facilmente encontrados na internet ou em outros recursos de multimídia, a exemplo do Google Map. A vantagem principal da cartografia digital em relação à cartografia convencional é a produção de mapas e cartas atualizados.
Ciências Humanas e suas Tecnologias São impressos segundo as necessidades, evitando cópias de mapas desatualizados e, consequentemente, inutilizados, devido à velocidade das transformações espaciais ocorridas nos dias atuais. Aplicativos do gênero fazem parte do dia a dia dos usuários de Smartphone, tablets e computadores. Na internet, existem diversos mapas interativos disponibilizados por alguns órgãos públicos ou instituições privadas. O mais conhecido deles é o Google Map. Nele, os usuários podem traçar rotas tanto dentro de uma cidade, quanto entre uma cidade e outra; podem criar mapas com lugares destacados para cada tipo de usuário; visualizar imagens de satélites de alta resolução etc. QUESTÕES QUESTÃO 01 A linha do Equador é uma linha imaginária responsável por dividir o globo em dois Hemisférios. Nesse sentido, os países localizados ao norte da linha do Equador pertencem ao Hemisfério: A) Hemisfério Ocidental B) Hemisfério Setentrional C) Hemisfério Meridional D) Hemisfério Oriental QUESTÃO 02 Criada em 1884, essa linha imaginária foi fruto de uma convenção para designar a “hora inicial”, o ponto a partir do qual se medem os fusos horários e as coordenadas geográficas. Dessa forma, tudo o que se encontra a leste de sua localização tem horas e longitudes positivas e, consequentemente, tudo o que se encontra a oeste tem horas e longitudes negativas. O texto acima faz referência: A) à Linha do Equador B) à Linha Internacional de Data C) ao Trópico de Câncer D) à Linha Internacional dos Fusos Horários E) ao Meridiano de Greenwich QUESTÃO 03 Considerando os aspectos gerais dos continentes do mundo, assinale a alternativa INCORRETA: A) O segundo maior continente do mundo, depois da Ásia, é a América, com um território de cerca de 42 milhões de km². B) A Europa é o continente que possui o maior e mais importante bloco econômico do mundo, a União Europeia. C) A Ásia é o continente mais populoso, apresentando zonas comumente chamadas de “formigueiros humanos”.
D) A América do Sul – também chamada de América Latina – foi à última fronteira colonial do planeta E) A Oceania foi o último continente descoberto pelas expansões marítimas europeias, sendo, por esse motivo, conhecida pela expressão novíssimo mundo. QUESTÃO 04 O Brasil vem se tornando um país que utiliza cada vez mais fontes renováveis de energia, embora ainda haja uma necessidade de diversificar os tipos de produção existentes no país. Os dois principais tipos de fontes de energia renováveis utilizados pelo Brasil atualmente são: A) eólica e solar B) nuclear e hidrelétrica C) hidrelétrica e biomassa D) eólica e biomassa E) solar e hidrelétrica QUESTÃO 05 O desenvolvimento da queima da biomassa resulta de estratégias para reduzir, principalmente, os impactos gerados pela utilização de combustíveis fósseis na sociedade. Embora o carvão mineral e o petróleo ainda sejam recursos naturais centrais na sociedade atual, os biocombustíveis vêm ganhando cada vez mais relevância no cenário nacional e internacional das fontes de energia. Sobre a biomassa, é INCORRETO afirmar que: A) apresenta como vantagem o baixo custo de operação e a facilidade de armazenamento e transporte. B) é uma fonte de energia poluente, porém em menor intensidade se comparada aos demais combustíveis. C) a biomassa pode ser utilizada a partir do reaproveitamento de resíduos agrícolas, tais como o bagaço de cana-de-açúcar. D) por definição, entende-se por biomassa as diferentes formas de energia advindas de material inorgânico. E) apesar de menos poluente, o cultivo em larga escala de vegetais para a biomassa pode causar prejuízos ambientais. QUESTÃO 06 ÁGUA MOLE EM PEDRA DURA A maioria das cavernas é formada pela reação química entre a água e a rocha. Tudo começa com as chuvas coletando gás carbônico da atmosfera e do solo. Em contato com a água, o gás forma um ácido capaz de dissolver até pedras impermeáveis ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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e extremamente resistentes à erosão. Esse processo, associado à ação de rios subterrâneos, vai abrindo fendas no solo e, em centenas de milhares de anos, acaba esculpindo imensas galerias. Foi essa corrosão que criou o belo relevo rochoso à direita, na Gruta do Janelão, em Januária, MG. A mesma decomposição geológica gera sais, como o carbonato de cálcio, que são transportados e depositados em outras regiões. Eles, então, dão origem a novas pedras (sic), com na Caverna do Diabo, em Eldorado Paulista, SP. Essas pedras (sic) formam estalactites, quando descem do teto, e estalagmites, quando se erguem do chão. Superinteressante, maio de 2001. Disponível em: super.abril.com.br [com adaptações]. Sobre o processo de formação das cavernas, descrito acima, assinale o que for correto: A) é uma consequência da ação endógena de transformação dos relevos, o que é evidenciado no trecho: “esse processo, associado à ação de rios subterrâneos, vai abrindo fendas no solo”. B) é uma consequência da ação do tectonismo, o que se torna evidente no texto quando esse afirma que “a mesma decomposição geológica gera sais, como o carbonato de cálcio, que são transportados e depositados em outras regiões”. C) trata-se de uma consequência da ação dos agentes exógenos de transformação do relevo, o que se percebe no seguinte trecho do texto: “em contato com a água, o gás forma um ácido capaz de dissolver até pedras impermeáveis e extremamente resistentes à erosão”. D) trata-se de um processo que origina novos tipos de relevo, ou seja, é um processo de formação e não de transformação da superfície, o que se faz evidente em: “eles, então, dão origem a novas pedras, como as vistas acima, na caverna do diabo, em eldorado paulista, sp”.
[...]
QUESTÃO 07 (Uel) Considere as frases a seguir. A “Afinal, o que é o homem dentro da natureza?
é-lhe impossível ver o nada de onde saiu e o infinito que o envolve.[...] O autor destas maravilhas conhece-as; e ninguém mais”. (Blaise Pascal) B “A antiga aliança rompeu-se. O homem sabe, finalmente, que está só na imensidade indiferente do universo, donde emergiu por acaso. Nem o seu destino nem o seu dever estão escritos em parte alguma”. (Jacques Monod) C “[...] a vida foi aqui lançada com microrganismos que teriam vindo nalguma forma de nave espacial enviada por uma civilização superior”. (Francis Crick) ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Assinale a alternativa que indica, corretamente, as frases que expressam, respectivamente, as posições em defesa de: criacionismo, panspermia e evolucionismo. a) A, B, C. b) A, C, B. c) B, A, C. d) B, C, A. e) C, A, B. QUESTÃO 08 (UFAC) A intensa e acelerada urbanização brasileira resultou em sérios problemas sociais urbanos, entre os quais podemos destacar: A) Falta de infraestrutura, limitações das liberdades individuais e altas condições de vida nos centros urbanos. B) Aumento do número de favelas e cortiços, falta de infraestrutura e todas as formas de violência. C) Conflitos e violência urbana, luta pela posse da terra e acentuado êxodo rural. D) Acentuado êxodo rural, mudanças no destino das correntes migratórias e aumento no número de favelas e cortiços. E) Luta pela posse da terra, falta de infraestrutura e altas condições de vida nos centros urbanos. QUESTÃO 09 Relacione as colunas, identificando os fenômenos terrestres com suas respectivas expressões conceituais: Coluna I 1. Hidrosfera 2. Atmosfera 3. Litosfera Coluna II A. ( ) processos fluviais B. ( ) ciclo das rochas C. ( ) ciclo da água D. ( ) ilhas de calor QUESTÃO 10 (PUC-PR) Observe com atenção o mapa abaixo
Ciências Humanas e suas Tecnologias O planisfério foi elaborado cartograficamente por meio da Projeção de Gall-Peters, concebida inicialmente por James Gall no final do século XIX e retomada por Arno Peters a partir da metade do século seguinte, cujo contexto político-econômico fortemente o influenciou para o desenvolvimento desse mapa. Assinale a alternativa cuja característica corresponde ao mapa de Gall-Peters: A) Trata-se de uma projeção equivalente que objetiva representar um retrato mais ou menos fiel do tamanho das áreas, o que faz a África e a América do Sul ganharem mais destaque do que quando representadas na Projeção de Mercator. B) Corresponde a uma projeção do tipo cônica, que distorce as áreas situadas nas baixas latitudes e torna mais fiel a representação das regiões de média e elevada latitudes. C) É uma projeção cuja principal qualidade está no respeito às formas dos continentes, procurando representá-las com fidelidade, ao contrário das áreas que são mostradas de maneira desigual, sendo maiores próximas aos polos e reduzidas na faixa intertropical. D) A disposição perpendicular da rede de paralelos e meridianos nesse mapa revela que a projeção de Gall-Peters é do tipo azimutal ou polar. E) Peters, que retomou a elaboração dessa projeção durante o período da “Guerra Fria”, procurou ressaltar no mapa, a partir da representação das dimensões das áreas, a superioridade dos Estados Unidos sobre as demais porções do globo. QUESTÃO 11 Observe a tirinha a seguir de Maurício de Souza:
137 O desmatamento e o progresso Na tirinha, apresenta-se uma crítica à noção de progresso vinculada: A) à ideia de sustentabilidade e suas consequências. B) ao conceito de expansão florestal desordenada. C) à adoção continuada do reflorestamento progressivo. D) à ausência de uma política de desenvolvimento sustentável. E) ao ideário de que a vegetação resiste ao avanço das atividades humanas. QUESTÃO 12 O desmatamento é, sem dúvidas, uma das maiores preocupações atuais da humanidade, pois o seu avanço poderá intensificar o processo de remoção da cobertura vegetal do planeta. Podemos identificar como consequências do desmatamento todas as alternativas a seguir, exceto: A) o aumento do efeito estufa B) a diminuição da biodiversidade C) a elevação desproporcional da umidade D) o maior desgaste do solo E) o assoreamento de rios e lagos QUESTÃO 13 “Ao mesmo tempo que libera mão de obra para as atividades urbano-industriais, a agricultura deve responder pela produção de uma quantidade crescente de alimentos para a população urbana. Menos pessoas produzindo no campo, mais pessoas consumindo nas cidades: isso só foi possível graças ao aumento exponencial da produtividade agrícola. A economia industrial deflagrou uma verdadeira revolução nas tecnologias da agropecuária”. (MAGNOLI, D. Geografia para o Ensino Médio. São Paulo: Atual, 2008. p.133)
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Assinale a alternativa que apresenta os dois processos que estão associados à conjuntura abordada no texto: A) Reforma urbana e políticas ambientais no campo B) Desenvolvimento sustentável e revolução industrial C) Revolução verde e êxodo rural D) Reforma agrária e revolução agrícola E) Economia verde e concentração fundiária QUESTÃO 14 14. Observe o mapa e o texto a seguir:
138 Mapa para exercícios sobre agricultura brasileira* *Disponível em: Contenidosdigitales
“De grão em grão – transgênico ou não – o cultivo da soja espalhou-se por todas as regiões do Brasil nas três últimas décadas. Ocupa hoje uma área cinco vezes e meia superior à da Holanda. O Brasil foi, em 2003 e 2004, o maior exportador mundial de soja e vem mantendo a posição de segundo maior produtor, após os Estados Unidos. A previsão é de que esta condição de maior exportador mundial volte a ocorrer em breve, consolidando-se ao longo dos próximos anos”. (SCHLESINGER, S., NORONHA, S. O Brasil está nú! O avanço da monocultura da soja, o grão que cresceu demais. Rio de Janeiro: FASE, 2006).
O mapa acima representa o avanço da produção de soja no Brasil, cuja principal consequência socioespacial foi: A) a democratização da estrutura fundiária pelo interior do país B) a expansão da fronteira agrícola sobre as áreas do cerrado C) a ampliação de reservas florestais nas áreas do centro-oeste D) a diminuição dos latifúndios improdutivos no território nacional E) o crescimento da agricultura de subsistência
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Ciências Humanas e suas Tecnologias QUESTÃO 15 Ao longo da história econômica do Brasil, qual desses produtos agrícolas não fez parte de uma prática monocultora ou de elevado impacto estrutural no país? A) Soja B) Cana-de-açúcar C) Café D) Tabaco QUESTÃO 16 (UNIOESTE - 2011) Sobre a agricultura no Brasil, leia as assertivas abaixo: I. A mecanização agrícola e a liberação de mão de obra na agricultura foram importantes fatores de migração da população do campo para as cidades. II. A concentração fundiária, que se observa, entre outros estados, no Paraná e no Mato Grosso do Sul, é fator de expropriação de camponeses que passam a buscar áreas da fronteira agrícola da Amazônia ou se direcionam aos centros urbanos. III. Os boias-frias são trabalhadores sazonais característicos da implantação de relações capitalistas modernas no campo. IV. O avanço da pecuária extensiva na Amazônia e a ocupação das áreas de Cerrado visando à cultura de grãos resultaram na redução da taxa de urbanização dos Estados do Mato Grosso e de Rondônia. Assinale a alternativa cujas as afirmativas estão corretas. A) I, III e IV. B) II, III e IV. C) III e IV. D) I, II e IV. E) I, II e III. QUESTÃO 17 Entende-se por Conurbação: A) A expansão vertical das cidades, ocasionando problemas ambientais referentes à circulação do ar (ilhas de calor); B) O encontro de duas ou mais cidades, formando grandes aglomerados urbanos intermunicipais; C) problemas gerados pela grande população sem moradia nas cidades; D) problemas urbanos referentes à ineficácia dos transportes públicos; E) processo de migração em massa de pessoas do campo para a cidade. QUESTÃO 18 18. O processo de mecanização do campo, associado a fatores históricos conjunturais, permitiu que se expandissem as atividades produtivas do campo
brasileiro para diversas áreas do interior do país. Tal fator colaborou para o avanço da fronteira agrícola e permitiu uma maior integração geoeconômica de determinadas regiões do território em relação aos principais centros comerciais. Em termos estruturais, uma medida necessária para garantir essa expansão econômica e a integração territorial do interior do Brasil foi: A) a redução de impostos sobre grandes produções agrícolas. B) a melhoria e crescimento dos modais de transporte. C) o aumento das linhas de crédito para pequenos produtores. D) o incremento de incentivos públicos e privados para sistemas alternativos de agricultura. E) um maior adesão às principais pautas de reivindicação dos movimentos sociais do campo. QUESTÃO 19 As fontes de energia podem ser classificadas em renováveis e não renováveis, mas também em primárias e secundárias. A primeira divisão refere-se à capacidade de recomposição de uma dada fonte energética, enquanto a segunda está relacionada com a forma pela qual é encontrada e transformada pelo homem. Diante dessas considerações, analise as afirmativas a seguir: I. O Petróleo refinado pode ser considerado uma fonte de energia secundária e não renovável. II. A energia solar, na sua função de aquecimento do ambiente e iluminação da Terra, deve ser entendida como uma fonte primária. III. O Etanol, em virtude de sua produção agrícola geralmente ineficiente, não pode mais ser considerado uma fonte de energia renovável. IV. Podemos concluir que toda energia primária é renovável. Estão corretas as alternativas: A) I e II B) II e IV C) I, II e III D) I, II e IV QUESTÃO 20 (UEL) A força das águas tem viabilizado a construção de usinas hidrelétricas de grande porte no Brasil, sendo Itaipu um exemplo. Com base nos conhecimentos sobre desenvolvimento e a questão socioambiental, considere as afirmativas a seguir. I. A retirada das populações das áreas atingidas por construção de hidrelétricas tem produzido impactos sociais, como o desenraizamento cultural. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias II. Itaipu é um exemplo da prioridade dada à preservação dos habitat naturais no projeto nacional-desenvolvimentista defendido pelos militares pós- 64. III. As incertezas sobre os impactos ambientais com a construção de usinas hidrelétricas trouxeram, por desdobramento, a formação de movimentos dos atingidos pelas barragens. IV. A construção de hidrelétricas liga-se, também, à preocupação com a crise energética mundial prevista para as próximas décadas. Assinale a alternativa correta. A) Somente as afirmativas I e II são corretas. B) Somente as afirmativas II e IV são corretas. C) Somente as afirmativas III e IV são corretas. D) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. E) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. GABARITO
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1. B – a) Falso – O estabelecimento do Hemisfério Ocidental não possui relação com a linha do Equador e sim com o Meridiano de Greenwich. b) Verdadeiro – Os países situados ao norte da linha do Equador pertencem ao Hemisfério Setentrional, também conhecido como Hemisfério Norte. c) Falso – As nações que compõem o Hemisfério Meridional estão localizadas ao sul da linha do Equador. D) Falso – O Hemisfério Oriental está relacionado ao Meridiano de Greenwich, sendo integrado pelos países situados a leste desse meridiano. 2. E O “marco zero” da Terra estabelecido na Convenção de Washington, em 1884, é o Meridiano de Greenwich. 3. D – Incorreta - A América do Sul e a América Latina não são a mesma coisa. A primeira está inserida na segunda, que engloba também países da América Central e o México, localizado na América do Norte. Além disso, não é possível precisar a última fronteira colonial do planeta, pois ainda existem muitos países do mundo na condição de colônias. 4. C As duas principais fontes de energia utilizadas no Brasil e classificadas entre as renováveis são as hidrelétricas, para a produção de eletricidade, e a biomassa, principalmente na produção dos biocombustíveis, com destaque para o etanol.
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5. D – Incorreto - a biomassa é advinda de material orgânico. 6. C – a) Incorreto – os processos narrados pelo texto são oriundos da ação de química da água sobre a rocha, sendo, portanto, consequência de um agente externo de transformação do relevo. b) Incorreto – não há evidências, no texto, de que o movimento das placas tectônicas tenha relação com a formação de cavernas, que são oriundas do desgaste do relevo em função da ação da água. c) Correto – o texto evidencia como as reações químicas, provocadas pelos agentes externos de transformação do relevo, desgastam as rochas e contribuem para a formação de cavernas. d) Incorreto – não se trata da origem de novos tipos de relevo, e sim da transformação de um tipo específico de rocha em outro. 7. B 8. B A urbanização brasileira se deu em um curto espaço de tempo em razão da industrialização tardia. Por isso, não houve um planejamento urbano que desse conta das grandes massas de trabalhadores que migraram do campo para as cidades durante a segunda metade do século XX. Além disso, os baixos salários não permitiam aos trabalhadores o acesso a lugares com custos mais elevados. Diante disso, surgiram e agravaram-se os processos de favelização, segregação urbana e surgimento de cortiços. 9. a. (1) – Processos fluviais referem-se à dinâmica da ação dos rios, portanto, um elemento que compõe a hidrosfera. b. (3) – O ciclo das rochas envolve a camada sólida da Terra: a litosfera. c. (1) – O ciclo da água envolve as transformações da água na natureza, demonstrando o caráter dinâmico da hidrosfera. d. (2) – Apesar de sofrer a influência da ação humana na superfície, as Ilhas de Calor são fenômenos atmosféricos. 10. A A projeção de Peters é uma projeção do tipo cilíndrica, que sacrifica a forma da superfície terrestre para manter a proporção das áreas dos continentes. Ela é muito utilizada para representar o Hemisfério Sul, sendo, muitas vezes, utilizada com o sul para cima e o norte para baixo.
Ciências Humanas e suas Tecnologias 11. D. Na tirinha apresentada no texto, o efeito humorístico apresenta-se mediante a quebra de expectativa sobre como o ser humano denomina o processo de desmatamento: “progresso”. Nesse caso, há uma crítica de como o ser humano ataca o meio ambiente sem a preocupação de preservá-lo para as gerações futuras, ideário que se associa ao conceito de desenvolvimento sustentável. 12. C. Dentre os efeitos do desmatamento no meio ambiente, podemos citar: efeito estufa, pois a floresta deixa de absorver os gases nocivos à atmosfera; a perda da biodiversidade, com a extinção de espécies vegetais e animais; adiminuição da umidade, que é produzida pela evapotranspiração das árvores; desgaste e erosão dos solos, que ficam mais expostos aos agentes intempéricos; o assoreamento dos rios, graças à remoção da vegetação presente nas áreas de encostas; dentre outros efeitos. 13. C. O texto revela as transformações no campo ocorridas tanto no Brasil quanto em outros países, em que as sociedades – em maior ou menor grau – vão se tornando mais urbanizadas, com uma menor presença de trabalhadores no campo. Isso se deve, principalmente, ao processo de mecanização de campo, instrumentalizado pela chamada “revolução verde”, que substitui o homem pela máquina no meio agrário, contribuindo para intensificar o êxodo rural — a migração em massa de pessoas do campo para a cidade. 14. B. O mapa e o texto demonstram o crescimento produtivo da soja no Brasil ao longo dos últimos tempos. Com respeito a esse crescimento, uma das consequências mais notórias foi a expansão da fronteira agrícola sobre o espaço do Cerrado, graças às técnicas agrícolas que permitiram o cultivo sobre solos ácidos, como os do Centro-Oeste brasileiro. 15. D . O Brasil, em sua história agrícola, passou por vários ciclos, dos quais se destacaram o da cana-de-açúcar durante o período colonial, o do café e, mais recentemente, o da soja. O tabaco, apesar de também produzido no país, nunca ganhou o protagonismo econômico dos demais. 16. E. a) Verdadeiro – A mecanização agrícola foi um dos fatores que contribuíram para a concentração de terras nas áreas rurais do interior do país, resultando na expansão do êxodo rural.
b) Verdadeiro – Uma grande parcela de pequenas propriedades familiares passou a incorporar grandes áreas fundiárias nos estados citados, bem como em outras partes do Brasil, direcionando a população rural para as cidades e para as frentes pioneiras agrícolas. c) Verdadeiro – Os boias-frias são trabalhadores sazonais, ou seja, conseguem empregos durante uma época do ano, geralmente no corte da cana ou na colheita de alguns produtos primários. d) Falso – O avanço da pecuária no Norte do país contribui para o avanço da urbanização por meio do aumento da migração campo-cidade. 17. B. Conurbação é o encontro entre diferentes cidades, ocorre geralmente entre capitais estaduais e nacionais e as cidades que formam o seu entorno (região metropolitana). 18. B. A expansão da fronteira agrícola e a mecanização do campo permitiram a ocupação de áreas até então pouco integradas no território brasileiro, o que exigiu maiores desenvolvimentos nos setores de transporte. 19. A. I. Verdadeiro – O Petróleo é um recurso finito e seu esgotamento, segundo algumas estimativas, pode não ultrapassar os próximos 40 ou 50 anos, o que o torna uma fonte de energia que não se renova. Além disso, o fato de ele ter sido primeiramente refinado antes de ser utilizado e transformado em outros elementos, como o diesel e a gasolina, tornou-o um recurso secundário. II. Verdadeiro – A energia solar, da forma como foi apontada pela alternativa, é uma fonte primária, pois é utilizada diretamente pelo ser humano. III. Falso – O etanol é uma fonte de energia renovável, pois sua produção acompanha a demanda de sua utilização. IV. Falso – Uma fonte primária refere-se à forma de utilização de uma fonte de energia, e não às suas características em si mesmas. Por exemplo: o petróleo bruto, utilizado diretamente, é uma fonte primária; porém, quando ele é refinado e transformado, passa a ser considerado como uma fonte secundária. Por isso, nem toda fonte de energia primária é renovável. 20. E. I. Verdadeiro – Registra-se a ocorrência de problemas sociais advindos da retirada de populações de pequenas cidades em função das inundações de grandes áreas para a geração de eletricidade, dentre eles o desenraizamento cultural das populações atingidas. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias II. Falso – Itaipu não pode considerada um exemplo de preservação dos habitat naturais, uma vez que a sua barragem ocupa várias extensões de regiões naturais. III. Verdadeiro – O MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), dentre outras organizações do mesmo tipo, pretende defender e auxiliar as populações que sofrem com as inundações de áreas ocasionadas pelas barragens das hidroelétricas. IV. Verdadeiro – Uma das estratégias brasileiras para evitar e combater as crises energéticas são as hidroelétricas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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QUESTÕES QUESTÃO 01 ( UNESP-2007 ) Platão, na sociedade idealizada em sua obra República, reconheceu que a divisão do trabalho traz maiores benefícios à sociedade e propicia um harmonioso intercâmbio de serviços. Para o filósofo grego, sendo os homens diferentes por natureza, cabe a cada um estar no lugar em que melhor expresse sua habilidade. (...) O também grego e filósofo Aristóteles apregoava que, nos Estados mais bem-governados, a nenhum cidadão poderia ser permitido o exercício de atividades ligadas às artes manuais, pois isso o impedia de dedicar mais tempo à sua obrigação para com o Estado. (Paulo Sérgio do Carmo, A ideologia do trabalho. Adaptado.) A partir das ideias de Platão e Aristóteles, pode-se concluir que há a defesa A. do trabalho compulsório para todos os homens. B. da interdição do trabalho manual às mulheres. C. de que alguns homens devem ser escravos. D. de que as atividades produtivas devem ficar restritas aos homens. E. de que a atividade econômica só pode ser feita pelo cidadão. QUESTÃO 02 ( PUC-2014 )“Por natureza, na maior parte dos casos, há o que comanda e o que é comandado. O homem livre comanda o escravo (...). Estabelecemos que o escravo é útil para as necessidades da vida.” Aristóteles. Política (IV a.C.). Apud: Marcelo Rede. A Grécia Antiga. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 33. O texto, escrito no século IV a.C., indica que, no mundo grego antigo, a A. democracia envolvia todos os moradores das cidades ido campo, sem fazer distinções de raça ou condição social. B. escravidão era considerada natural e sua instituição permitiu a participação dos cidadãos na vida política. C. democracia e a escravidão eram consideradas incompatíveis, pois apenas com liberdade geral e irrestrita que se pode construir uma democracia. D. escravidão permitia que todos os cidadãos pudessem dedicar-se apenas ao ócio, sem atuar na vida coletiva da cidade. E. democracia predominou, uma vez que todos eram considerados iguais e livres por natureza. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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QUESTÃO 03 ( PUC-2013 )“(...) desapareceu para as cidades helênicas toda a possibilidade de criação entre si de um Estado imperial unificado, a despeito da sua recuperação econômica relativamente rápida dos efeitos da longa Guerra do Peloponeso: a própria paridade e multiplicidade de centros urbanos na Grécia neutralizava-as coletivamente para a expansão externa.” Perry Anderson. Passagens da antiguidade ao feudalismo. Porto: Afrontamento, 1980, p. 47. Adaptado. O texto refere-se aos resultados da Guerra do Peloponeso, que A. determinou a hegemonia de Esparta sobre as demais cidades-estados gregas, extinguindo a democracia em toda a Grécia. B. exauriu as cidades-estados gregas, dificultando sua defesa perante ameaças externas e avanços militares dentro e fora da Grécia. C. estabeleceu o fim da militarização da sociedade espartana e expandiu o modelo democrático ateniense para o restante da Grécia. D. rompeu o equilíbrio militar e financeiro entre as cidades-estados e facilitou a unificação política nacional. E. representou a derrocada da monarquia grega, permitindo a instalação e consolidação da república. QUESTÃO 0 ( Uni-SP ) “Eis os conselhos que um bom marido dá à sua mulher: É mais honesto para a mulher ficar em casa do que estar sempre saindo; e é mais vergonhoso para o homem ficar em casa do que fora, tratando de negócios. Portanto, deverás (tu, mulher) permanecer em casa, mandar acompanhar teus servos encarregados dos trabalhos externos e fiscalizar pessoalmente aqueles que trabalham dentro de casa. Deverás receber o que for trazido e distribuir as provisões que devem ser usadas; com relação ao supérfluo, tu deverás zelar para que não se gaste num mês o que estiver destinado ao ano inteiro. Entretanto, uma das tuas funções que, talvez, te agradará menos: se algum de teus escravos ficar doente, deverás cuidar dele até sua cura completa”. (Xenofonte, Economia) O texto acima trata da organização social da Grécia antiga. Com base nele, pode-se deduzir que a sociedade grega era A. avançada. D) matriarcal. B. igualitária. E) patriarcal. C. atrasada.
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QUESTÃO 05 ( Sebastião Martins-2014 / C3-H13 )Os plebeus eram maioria em Roma. Como cidadãos, pagavam impostos e serviam ao exército. Mas, apesar disso, não podiam exercer nenhum cargo importante no governo, controladopelos patrícios. O casamento entre plebeus e patrícios também era proibido. Essa situação descontentava os plebeus mais ricos e influentes. Os plebeus pobres reclamavam da escravidão por suas dívidas. www.brasilescola.com/historiag/roma-periodo-monarquico.htm Acesso: Março de 2014
As lutas entre Patrícios e Plebeus, na República Romana, foram motivadas A. pelo desejo dos Plebeus de assumir o controle da República Romana. B. pela exclusividade de participação política dos plebeus no Senado Romano; C. pelo interesse dos patrícios em implantar na cidade o voto livre e universal; D. pelo caráter aristocrático da República, que organizou-se para os Patrícios, excluindo os Plebeus da vida política e economica. E. pelo caráter democrático da República que garantiu o acesso dos Plebeus as riquesas oriundas das conquistas, gerando a reação dos Patrícios. QUESTÃO 06 ( MACKENZIE ) Leio texto: “Os homens que combatem e morrem pela Itália têm o ar, a luz e mais nada (...). Lutam e perecem para sustentar a riqueza e o luxo de outro, mas embora sejam chamados senhores do mundo, não têm um único torrão de terra que seja seu.” (Tibério Graco – Perry Anderson. Passagem da antiguidade ao feudalismo,pag.60) Os irmãos Tibério e Caio Graco, Tribunos da Plebe romana, pretendiam A. limitar a área de terras publicas (AgerPublicus) ocupadas por particulares e distribuir as mesmas aos cidadãos pobres. B. limitar a área de latifúndios e distribuir as terras publicas aos Patrícios. C. limitar o direito de cidadania romana aos habitantes do Lacio, Etruria e Sabina. D. limitar a excessiva expansão territorial derivada de uma prolongada política de conquista e anexação de terras. E. limitar a expropriação dos latifúndios e estabelecer propriedades coletivas.
Ciências Humanas e suas Tecnologias QUESTÃO 07 ( UNESP-2014 ) Apesar de não ter sido tão complexo quanto os governos modernos, o Império [Romano] também precisava pagar custos muito altos. Além de seus funcionários, da manutenção das estradas e da realização de obras, precisava manter um grande exército distribuído por toda a sua extensão. A cobrança de impostos é que permitia ao governo continuar funcionando e pagando seus gastos.
C. Condição de ‘Sociedade Bloqueada’ da antiga pátria bizantina; D. Concepção religiosa menos tolerante dos bizantinos quanto ás atividades econômicas que denotassem trabalho compulsório; E. Atividade comercial. QUESTÃO 09 (ENEM – 2012) -
(Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004.)
Sobre o recolhimento de impostos e os gastos públicos no Império Romano, é correto afirmar que A. os patrícios e os proprietários de terras não pagavam tributos, uma vez que estes eram de responsabilidade exclusiva de arrendatários e escravos. B. o desenvolvimento da engenharia civil foi essencial para integrar o Império e facilitar o deslocamento dos exércitos. C. as obras financiadas com recursos públicos foram apenas as de função religiosa, como altares ou templos. D. a desvalorização da moeda foi uma das formas utilizadas pelos governantes para aliviar o peso dos impostos sobre a população despossuída. E. os tributos eram cobrados por coletores enviados diretamente de Roma, não havendo qualquer intermediação ou intervenção de autoridades locais. QUESTÃO 08 ( UESPI ) Falando sobre o Império Bizantino, Cláudio Vicentino lembra que “com a obstrução do Mediterrâneo, intensificou-se o processo de ruralização da Europa Ocidental, acentuando-se as características do Feudalismo. Ao mesmo tempo, no lado oriental, crescia sob bases inteiramente diferentes uma sociedade rica, marcada por influências diversas, a sociedade bizantina, (cuja) produção agrícola desenvolvia-se em grandes extensões de terras, utilizando o trabalho de colonos livres e escravos, situação inversa do que ocorreu com a produção feudal do Ocidente”. ( História Geral. São Paulo: Scipione. 1999. p. 144-145).
Nessa observação, o autor sugere elementos diferenciadores fundamentais entre a dinâmica da sociedade bizantina e o ocidente europeu feudal, diferenças cujo exemplo mais significativo é a A. Produção artesanal de trabalhadores semi-urbanos livres; B. Atividade financeira intensa lastreada numa (para o tempo) sofisticada rede bancária;
Na França, o rei Luís XIV teve sua imagem fabricada por um conjunto de estratégias que visavam sedimentar uma determinada noção de soberania. Neste sentido, a charge apresentada demonstra A a humanidade do rei, pois retrata um homem comum, sem os adornos próprios à vestimenta real. B a unidade entre o público e o privado, pois a figura do rei com a vestimenta real representa o público e sem a vestimenta real, o privado. C o vínculo entre monarquia e povo, pois leva ao conhecimento do público a figura de um rei despretensioso e distante do poder político. D o gosto estético refinado do rei, pois evidencia a elegância dos trajes reais em relação aos de outros membros da corte. E a importância da vestimenta para a constituição simbólica do rei, pois o corpo político adornado esconde os defeitos do corpo pessoal. QUESTÃO 10 (ENEM – 2012) – Esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direção de outro indivíduo. O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direção de outrem. Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento. A preguiça e a covardia são as causas pelas quais uma tão granENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias de parte dos homens, depois que a natureza de há muito os libertou de uma condição estranha, continuem, no entanto, de bom grado menores durante toda a vida. KANT, I. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? Petrópolis: Vozes, 1985 (adaptado) Kant destaca no texto o conceito de Esclarecimento, fundamental para a compreensão do contexto filosófico da Modernidade. Esclarecimento, no sentido empregado por Kant, representa A a reivindicação de autonomia da capacidade racional como expressão da maioridade. B o exercício da racionalidade como pressuposto menor diante das verdades eternas. C a imposição de verdades matemáticas, com caráter objetivo, de forma heterônoma. D a compreensão de verdades religiosas que libertam o homem da falta de entendimento. E a emancipação da subjetividade humana de ideologias produzidas pela própria razão.
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QUESTÃO 11 (ENEM – 2012) - Texto I O que vemos no país é uma espécie de espraiamento e a manifestação da agressividade através da violência. Isso se desdobra de maneira evidente na criminalidade, que está presente em todos os redutos — seja nas áreas abandonadas pelo poder público, seja na política ou no futebol. O brasileiro não é mais violento do que outros povos, mas a fragilidade do exercício e do reconhecimento da cidadania e a ausência do Estado em vários territórios do país se impõem como um caldo de cultura no qual a agressividade e a violência fincam suas raízes. Entrevista com Joel Birman. A Corrupção é um crime sem rosto. IstoÉ. Edição 2099, 3 fev. 2010. Texto II Nenhuma sociedade pode sobreviver sem canalizar as pulsões e emoções do indivíduo, sem um controle muito específico de seu comportamento. Nenhum controle desse tipo é possível sem que as pessoas anteponham limitações umas às outras, e todas as limitações são convertidas, na pessoa a quem são impostas, em medo de um ou outro tipo. ELIAS, N. O Processo Civilizador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993.
Considerando-se a dinâmica do processo civilizador, tal como descrito no Texto II, o argumento do Texto I acerca da violência e agressividade na sociedade brasileira expressa a A incompatibilidade entre os modos democráticos de convívio social e a presença de aparatos de controle policial. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
B manutenção de práticas repressivas herdadas dos períodos ditatoriais sob a forma de leis e atos administrativos. C inabilidade das forças militares em conter a violência decorrente das ondas migratórias nas grandes cidades brasileiras. D dificuldade histórica da sociedade brasileira em institucionalizar formas de controle social compatíveis com valores democráticos. E incapacidade das instituições político-legislativas em formular mecanismos de controle social específicos à realidade social brasileira. QUESTÃO 12 (ENEM – 2013) –
Com sua entrada no universo dos gibis, o Capitão chegaria para apaziguar a agonia, o autoritarismo militar e combater a tirania. Claro que, em tempos de guerra, um gibi de um herói com uma bandeira americana no peito aplicando um sopapo no Fürer só poderia ganhar destaque, e o sucesso não demoraria muito a chegar.
COSTA, C. Capitão América, o primeiro vingador: crítica. Disponível em: www.revistastart.com.br. Acesso em: 27 jan. 2012 (adaptado).
A capa da primeira edição norte-americana da revista do Capitão América demonstra sua associação com a participação dos Estados Unidos na luta contra A a Tríplice Aliança, na Primeira Guerra Mundial. B os regimes totalitários, na Segunda Guerra Mundial. C o poder soviético, durante a Guerra Fria. D o movimento comunista, na Guerra do Vietnã. E o terrorismo internacional, após 11 de setembro de 2001.
Ciências Humanas e suas Tecnologias QUESTÃO 13 (ENEM – 2013) - Torna-se claro que quem descobriu a África no Brasil, muito antes dos europeus, foram os próprios africanos trazidos como escravos. E esta descoberta não se restringia apenas ao reino linguístico, estendia-se também a outras áreas culturais, inclusive à da religião. Há razões para pensar que os africanos, quando misturados e transportados ao Brasil, não demoraram em perceber a existência entre si de elos culturais mais profundos. SLENES, R. Malungu, ngoma vem! África coberta e descoberta do Brasil. Revista USP, n. 12, dez./jan./ fev. 1991-92 (adaptado). Com base no texto, ao favorecer o contato de indivíduos de diferentes partes da África, a experiência da escravidão no Brasil tornou possível a A formação de uma identidade cultural afro-brasileira. B superação de aspectos culturais africanos por antigas tradições europeias. C reprodução de conflitos entre grupos étnicos africanos. D manutenção das características culturais específicas de cada etnia. E resistência à incorporação de elementos culturais indígenas. QUESTÃO 14 (ENEM – 2012) - Nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.
KING Jr., M. L. Eu tenho um sonho, 28 ago. 1963. Disponível em: www.palmares.gov.br. Acesso em: 30 nov. 2011 (adaptado).
O cenário vivenciado pela população negra, no sul dos Estados Unidos nos anos 1950, conduziu à mobilização social. Nessa época, surgiram reivindicações que tinham como expoente Martin Luther King e objetivavam A a conquista de direitos civis para a população negra. B o apoio aos atos violentos patrocinados pelos negros em espaço urbano. C a supremacia das instituições religiosas em meio à comunidade negra sulista. D a incorporação dos negros no mercado de trabalho. E a aceitação da cultura negra como representante do modo de vida americano.
15. (ENEM – 2013) - Mas uma coisa ouso afirmar, porque há muitos testemunhos, e é que vi nesta terra de Veragua [Panamá] maiores indícios de ouro nos dois primeiros dias do que na Hispaniola em quatro anos, e que as terras da região não podem ser mais bonitas nem mais bem lavradas. Ali, se quiserem podem mandar extrair à vontade.
Carta de Colombo aos reis da Espanha, julho de 1503. Apud AMADO, J.; FIGUEIREDO, L. C. Colombo e a América: quinhentos anos depois. São Paulo: Atual, 1991 (adaptado).
O documento permite identificar um interesse econômico espanhol na colonização da América a partir do século XV. A implicação desse interesse na ocupação do espaço americano está indicada na A expulsão dos indígenas para fortalecer o clero católico. B promoção das guerras justas para conquistar o território. C imposição da catequese para explorar o trabalho africano. D opção pela policultura para garantir o povoamento ibérico. E fundação de cidades para controlar a circulação de riquezas. GABARITO RESOLUÇÃO 01 1. C. Alternativa escolhida por eliminação. Nenhuma palavra do texto transcrito remete os trabalhos manuais e braçais aos escravos, presumindo-se apenas que tais tarefas não deveriam ser exercidas por cidadãos. Trata-se na verdade do ideal grego do ócio, entendido como necessário para que os cidadãos pudessem se dedicar melhor aos assuntos políticos. RESOLUÇÃO 01 2. B. A civilização grega foi a primeira a utilizar o sistema escravista como base de seu modo de produção. Contudo, a escravidão não tinha apenas implicações econômicas; em Atenas e outras pólis que praticavam a democracia, a escravatura tinha também relevância social e política: com efeito, o fato de um cidadão ter escravos dava-lhe um status superior e ainda lhe proporcionava o ócio necessário para que ele pudesse se dedicar aos assuntos políticos. RESOLUÇÃO 01 3. B. A Guerra do Peloponeso concluiu-se com a vitória de Esparta sobre Atenas e a hegemonia espartana sobre a Grécia. Entretanto, o longo conflito enfraqueceu todas as pólis; por essa razão, a hegeENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias monia espartana logo veio a ser substituída pela de Tebas, que também teve duração efêmera. Essa debilidade militar dos gregos iria facilitar a ocorrência da conquista macedônica. RESOLUÇÃO 01 4. E. No mundo grego caracterizou-se pelo carater patriarcal, o que é perceptivel no exercicio da cidadania grega marcada pela exclusão das mulheres. Nos jogos olimpicos mulheres não participavam, não existia competições femininas. RESOLUÇÃO 01 5. D. A República Romana foi organizada pelos patrícios e para os patrícios, ou seja, a República estava sobre o controle dos patricios o que provocou a marginalização da plebe. Os interesses e os problemas da plebe romana não eram prioridade para a República. Portanto, foi nesse cenário, que ocorreu as lutas sociais, onde os plebeus conseguiram alguns direitos.
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RESOLUÇÃO 01 6. A. Os irmãos Gracos se notabilizaram por defenderem reformas que provocassem uma melhor situação de vida para os plebeus, destacando-se a Lei Agrária que preconizava a limitação das terras públicas ( Ager Publicus ) e distribuição destas entre os plebeus empobrecidos. RESOLUÇÃO 01 7. B. A par do controle sob o Mediterrâneo (Mare Nostrum),Roma desenvolveu um extenso sistema de estradas(em grande parte pavimentadas) que interligando as diversas províncias do Império. Esse grande complexo viário exigiu o desenvolvimento da engenharia civil(construção de pontes, aquedutos e sistema de escoamento das águas pluviais), tornando-se funda mental para facilitar o trânsito de pessoas, mercadorias, agentes do Estado e também de tropas, destinadas a impor e manter a Pax Romana. Paralelamente, a evolução da engenharia civil contribui para a romanização dos povos conquistados, graças à construção de importantes edifícios públicos, como fóruns, circos, teatros e termas. RESOLUÇÃO 01 8. E Na Europa feudal ocorreu um processo de ruralização econômica e social, sendo a agricultura de subsistência a base da economia feudal, visto que ocorria a decadência do comércio. Enquanto no Império Bizantino a base econômica é a atividade comercial, o que é possível devido Constantinopla ser um centro de rotas comerciais.
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RESOLUÇÃO 01 9. E. No Antigo regime, os reis absolutistas faziam uso da representação simbólica para demonstrar o seu poder. Na charge, essa característica é bem representada, pois ao evidenciar uma figura do rei com roupas comuns e posteriormente com toda a indumentária típica dos reis absolutistas do período, demonstra que a vestimenta confere ao monarca uma toda uma distinção e soberania que se sobrepõe as suas características físicas. RESOLUÇÃO 01 10. A. Segundo o texto do filósofo prussiano Immanuel Kant (1724-1804), para alcançar a maioridade e assim sua autonomia é necessário que o homem faça o uso da razão. Dessa maneira, no sentido de esclarecimento utilizado por Kant, somente a razão pode dar liberdade e autonomia ao homem. RESOLUÇÃO 01 11. D. O Brasil viveu grande parte de sua história sobre regimes autoritários, tanto no período colonial, como também na república. A experiência da democracia é recente e ainda não foi enraizada na sociedade, diferentemente da violência e do autoritarismo, que ainda assolam muitos locais do nosso país. RESOLUÇÃO 01 12. B. Os primeiros quadrinhos do Capitão América surgem em 1941, ou seja, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945) em pleno contexto de luta contra os regimes autoritários europeus. Como demonstrado na imagem, o herói combatia principalmente o nazismo, explicitado pela figura de Hitler, e se tornou um símbolo norte-americano de luta a favor da democracia e da liberdade. RESOLUÇÃO 01 13. Segundo o texto de Robert Slenes, ao serem transferidos para o Brasil na condição de escravos, os africanos também traziam sua cultura e seus costumes. Através do contato e interação com outros povos de matriz africana no território brasileiro, os escravos foram os responsáveis pela formação da cultura afro-brasileira. RESOLUÇÃO 01 14. A. Apesar da escravidão ter chegado ao fim nos Estados Unidos durante a Guerra de Secessão em 1863, ainda na década de 1950 os negros sofriam discriminação e não possuíam os mesmos direitos que os brancos. Diante desse quadro, o pastor Martin Luther King Jr. foi o mais importante líder no movimento pelos direitos civis dos negros norte-americanos, e agindo através de meios pacíficos conseguiu acabar com a segregação racial legal no sul e em outras partes dos EUA.
Ciências Humanas e suas Tecnologias RESOLUÇÃO 01 15. E. A fundação de cidades foi utilizada pelos espanhóis na colonização para assegurar a extração de riquezas naturais do continente americano. Como o texto de Colombo coloca em destaque a descoberta do ouro no Panamá, a alternativa correta é a letra E. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARROSO, M. E. G. - Dicionário Aurélio Eletrônico V. 1. 3, Editora Nova Fronteira, 1994. BAINES & MÁLEK - O Mundo Egípcio, Deuses Templos e Faraós, Edições Prado, Volume I, p. 36/7, 1984. BOYER, C. B. - História da Matemática, Edgard Blücher, São Paulo, 1974, Reimp. 1996. BURNS, E. M. et alli - História da Civilização Ocidental, Vol. 1 e 2, Ed. Globo, 39ª Edição, São Paulo, 1999. CAMBI, F. - História da Pedagogia, Ed. Unesp, São Paulo, 1999. CASTAGNOLA, L., PADOVANI, U. - História da Filosofia, 17ª Edição, Ed. Melhoramentos, São Paulo, 1995. Compton’s Interactive Encyclopedia - 1995, CD-Rom Revista Home PC nº 25, Ed. Abril, São Paulo, 1997. ENCICLOPÉDIA BARSA, Encyclopaedia Britannica Editores Ltda, CD-Rom, Rio de Janeiro, 2000. ENCICLOPÉDIA BARSA, Encyclopaedia Britannica Editores Ltda, Rio de Janeiro, 1979. GRANT, M. - História Resumida da Civilização Clássica - Grécia e Roma, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1994. GUIMARÃES, A. C. & PRÔA, A. L. - O Livro dos Santos, Ediouro, Rio de Janeiro, 2000. Houghton Mifflin Co. - American Heritage Electronic Dictionary, 3&ardf; Edição, CD-Rom Rev. Home PC nº 18, Ed. Abril, São Paulo, 1996. JAIME, J. - História da Filosofia no Brasil, Vol. I, II e III, Ed. Vozes, São Paulo, 2000. LENCASTRE, A. - Hidráulica Geral, Edição Luso-Brasileira da HIDRO-PROJECTO, Lisboa, 1983. LEWIS, G. N. - Microsoft Encarta 96 Encyclopedia, Microsoft Corporation, 1993-1995. MARCOLINI, A. et alli - Almanaque Abril 1997 e 2001, Editora Abril, São Paulo, 1997. MARTINS, Mário Ribeiro - Dicionário Biobibliográfico de Goiás, Rio de Janeiro: Master, 1999. MARTINS, Mário Ribeiro - Dicionário Biobibliográfico do Tocantins, Rio de Janeiro: Master, 2001. REALE, G. & ANTISERI, D. - História da Filosofia: Antiguidade e Idade Média, Vol I, 3ª Edição, Ed Paulus, São Paulo, 1990.
RONAN, C. A. - História Ilustrada da Ciência, Vol. I, II, III e IV, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1987. ROSEN, G. - Uma História da Saúde Pública, Editora Unesp, São Paulo, 1994. ROUSE, H., INCE, S. - History of Hydraulics, Dover Publications, Inc, New York, 1963. SANTOS Fº, L. - História Geral da Medicina Brasileira, Editora Hucitec/EDUSP, São Paulo, 1991 SELEÇÕES DO READER’S DIGEST - Grandes Vidas, Grades Obras, Lisboa, 1980. TIME LIFE LIVROS - Série História em Revista, Editora Cidade Cultural, Rio de Janeiro, 1995. UNIVERSO, A Grande Enciclopédia para Todos, Ed. Delta/Ed Três, Editor Abraão Koogan, 1973.
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Ciências Humanas e suas Tecnologias PROVA COMENTADA 2015 QUESTÃO 01 Um carro esportivo é financiado pelo Japão, projetado na Itália e montado em Indiana, México e França, usando os mais avançados componentes eletrônicos,que foram inventados em Nova Jérsei e fabricados na Coréia. A campanha publicitária é desenvolvida na Inglaterra, filmada no Canadá, a edição e as cópias, feitas em Nova York para serem veiculadas no mundo todo. Teias globais disfarçamse com o uniforme nacional que lhes for mais conveniente.
REICH, R. O trabalho das nações: preparando-nos para o capitalismo no século XXI. São Paulo: Educator, 1994 (adaptado).
A viabilidade do processo de produção ilustrado pelo texto pressupões o uso de: a) linhas de montagem e formação de estoques b) empresas burocráticas e mão de obra barata c) controle estatal e infraestrutura consolidada d) organização em rede e tecnologia de informação e) gestão centralizada e protecionismo econômico
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QUESTÃO 02 Na sociedade contemporânea, onde as relações sociais tendem a reger-se por imagens midiáticas, a imagem de um indivíduo, principalmente na indústria do espetáculo, pode agregar valor econômico na medida de seu incremento técnico, amplitude do espelhamento e da atenção pública. Aparecer é então mais do que ser; o sujeito é famoso porque é falado. Nesse âmbito, a lógica circulatória do mercado, ao mesmo tempo que acena democraticamente para as massas com supostos “ganhos distributivos”(a informação ilimitada, a quebra das supostas hierarquias culturais), afeta a velha cultura disseminada na esfera pública. A participação nas redes sociais, a obsessão dos selfies, tanto falar e ser falado quanto ser visto são indices do desejo do “espelhamento”. SODRÉ, M. Disponível em: http://alias.estadao.com.br. Acesso em: 9 fev. 2015 (adaptado).
a) a prática identitária autorreferente b) a dinâmica política democratizante c) a produção instantânea de notícias d) os processos difusores de informações e) os mecanismos de convergência tecnológica QUESTÃO 03 A crescente intelectualização e racionalização não indicam um conhecimento maior e geral das condições sob as quais vivemos. Significa a crença ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
em que, se quiséssemos, poderíamos ter esse conhecimento a qualquer momento. Não há forças misteriosas incalculáveis; podemos dominar todas as coisas pelo cálculo.
WEBER, M. A ciência como vocação. In: GERTH, H.; MILLS, W. (Org.). Max Weber: ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado).
Tal como apresentada no texto, a proposição de Max Weber a respeito do processo de desencantamento do mundo evidencia o(a) a) progresso civilizatório como decorrência da expansão do industrialismo b) extinção do pensamento mítico como um desdobramento do capitalismo c) emancipação como consequência do processo de racionalização da vida d) afastamento de crenças tradicionais como uma característica da modernidade. e) fim do monoteismo como condição para a consolidação da ciência QUESTÃO 04 Diante de ameaças surgidas com a engenharia genética de alimentos, vários grupos da sociedade civil conceberam o chamado “princípio da precaução”. O fundamento desse princípio é: quando uma tecnologia ou produto comporta alguma ameaça à saúde ou ao ambiente, ainda que não se possa avaliar a natureza precisa ou a magnitude do dano que venha a ser causado por eles, deve-se evitá-los ou deixá-los de quarentena para maiores estudos e avaliações antes de sua liberação.
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Cia. das Letras, 2001 (adaptado).
O texto expõe uma tendência representativa do pensamento social contemporâneo, na qual o desenvolvimento de mecanismos de acautelamento ou administração de riscos tem como objetivo a) priorizar os interesses econômicos em relação aos seres humanos e à natureza. b) negar a perspectiva científica e suas conquistas por causa de riscos ecológicos. c) instituir o diálogo público sobre mudanças tecnológicas e suas consequências. d) combater a introdução de tecnologias para travar o curso das mudanças sociais. e) romper o equilíbrio entre benefícios e riscos do avanço tecnológico e científico. QUESTÃO 05 Ninguém nasce mulher; torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da socie-
Ciências Humanas e suas Tecnologias dade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam o feminino. BEAUVOIR, S. O segundo sexo. Rio de Janeiro: Nova Fron-
Unesco e especialistas condenam destruição de cidade assíria pelo Estado Islâmico.
Disponivel em: http://oglobo.globo.com. Acesso em: 30 mar. 2015 (adaptado).
teira, 1980.
Na década de 1960, a proposição de Simone de Beauvoir contribuiu para estruturar um movimento social que teve como marca o(a) a) ação do Poder Judiciário para criminalizar a violência sexual. b) pressão do Poder Legislativo para impedir a dupla jornada de trabalho. c) organização de protestos públicos para garantir a igualdade de gênero. d) oposição de grupos religiosos para impedir os casamentos homoafetivos. e) estabelecimento de políticas governamentais para promover ações afirmativas. QUESTÃO 06 Só num sentido muito restrito, o indivíduo cria com seus próprios recursos o modo de falar e de pensar que lhe são atribuídos. Fala o idioma de seu grupo; pensa à maneira de seu grupo. Encontra a sua disposição apenas determinadas palavras e significados. Estas não só determinam, em grau considerável, as vias de acesso mental ao mundo circundante, mas também mostram, ao mesmo tempo, sob que ângulo e em que contexto de atividade os objetos foram até agora perceptíveis ao grupo ou ao indivíduo.
MANNHEIM, K. Ideologia e utopia. Porto Alegre: Globo, 1950 (adaptado).
Ilustrando uma proposição básica da sociologia do conhecimento, o argumento de Karl Mannheim defende que o(a) a) conhecimento sobre a realidade é condicionado socialmente. b) submissão ao grupo manipula o conhecimento do mundo. c) divergência é um privilégio de indivíduos excepcionais. d) educação formal determina o conhecimento do idioma. e) domínio das línguas universaliza o conhecimento QUESTÃO 07 A Unesco condenou a destruição da antiga capital assíria de Nimrod, no Iraque, pelo Estado Islâmico, com a agência da ONU considerando o ato como um crime de guerra. O grupo iniciou um processo de demolição em vários sítios arqueológicos em uma área reconhecida como um dos berços da civilização.
O tipo de atentado descrito no texto tem como conse- quência para as populações de países como o Iraque a desestruturação do(a) a) homogeneidade cultural. b) patrimônio histórico. c) controle ocidental. d) unidade étnica. e) religião oficial. QUESTÃO 08 A questão ambiental, uma das principais pautas contemporâneas, possibilitou o surgimento de concepções políticas diversas, dentre as quais se destaca a preservação ambiental, que sugere uma ideia de intocabilidade da natureza e impede o seu aproveitamento econômico sob qualquer justificativa.
PORTO-GONÇALVES, C. W. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado).
Considerando as atuais concepções políticas sobre a questão ambiental, a dinâmica caracterizada no texto quanto à proteção do meio ambiente está baseada na a) prática econômica sustentável. b) contenção de impactos ambientais. c) utilização progressiva dos recursos naturais. d) proibição permanente da exploração da natureza. e) definição de áreas prioritárias para a exploração econômica. QUESTÃO 09 Algumas regiões do Brasil passam por uma crise de água por causa da seca. Mas, uma região de Minas Gerais está enfrentando a falta de água no campo tanto em tempo de chuva como na seca. As veredas estão secando no norte e no noroeste mineiro. Ano após ano, elas vêm perdendo a capacidade de ser a caixa-d’água do grande sertão de Minas.
VIEIRA. C. Degradação do solo causa perda de fontes de água de famílias de MG. Disponivel em: http://g1.globo.com.Acesso em: 1 nov. 2014.
As veredas têm um papel fundamental no equilíbrio hidrológico dos cursos de água no ambiente do Cerrado, pois a) colaboram para a formação de vegetação xerófila. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias b) formam os leques aluviais nas planícies das bacias. c) fornecem sumidouro para as águas de recarga da bacia. d) contribuem para o aprofundamento dos talvegues à jusante. e) constituem um sistema represador da água na chapada. QUESTÃO 10 Tanto potencial poderia ter ficado pelo caminho, se não fosse o reforço em tecnologia que um gaúcho buscou. Há pouco mais de oito anos, ele usava o bico da botina para cavoucar a terra e descobrir o nível de umidade do solo, na tentativa de saber o momento ideal para acionar os pivôs de irrigação. Até que conheceu uma estação meteorológica que, instalada na propriedade, ajuda a determinar a quantidade de água de que a planta necessita. Assim, quando inicia um plantio, o agricultor já entra no site do sistema e cadastra a área, o pivô, a cultura, o sistema de plantio, o espaçamento entre linhas e o número de plantas, para então receber recomendações diretamente dos técnicos da universidade.
CAETANO. M. O valor de cada gota. Globo Rural. n. 312. out. 2011.
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A implementação das tecnologias mencionadas no texto garante o avanço do processo de a) monitoramento da produção. b) valorização do preço da terra. c) correção dos fatores climáticos. d) divisão de tarefas na propriedade. e) estabilização da fertilidade do solo.
QUESTÃO 11 A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é um.
NIETZSCHE. F. Crítica moderna. In: Os pré-socráticos. São Paulo: Nova Cultural. 1999
O que, de acordo com Nietzsche, caracteriza o surgimento da filosofia entre os gregos? a) O impulso para transformar, mediante justificativas, os elementos sensíveis em verdades racionais. b) O desejo de explicar, usando metáforas, a origem dos seres e das coisas. c) A necessidade de buscar, de forma racional, a causa primeira das coisas existentes. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
d) A ambição de expor, de maneira metódica, as diferenças entre as coisas. e) A tentativa de justificar, a partir de elementos empíri- cos, o que existe no real. QUESTÃO 12 Quanto ao “choque de civilizações”, é bom lembrar a carta de uma menina americana de sete anos cujo pai era piloto na Guerra do Afeganistão: ela escreveu que – embora amasse muito seu pai – estava pronta a deixá-lo morrer, a sacrificá-lo por seu país. Quando o presidente Bush citou suas palavras, elas foram entendidas como manifestação “normal” de patriotismo americano; vamos conduzir uma experiência mental simples e imaginar uma menina árabe maometana pateticamente lendo para as câmeras as mesmas palavras a respeito do pai que lutava pelo Talibã – não é necessário pensar muito sobre qual teria sido a nossa reação.
ZIZEK. S. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo: Bom Tempo. 2003.
A situação imaginária proposta pelo autor explicita o desafio cultural do(a) a) prática da diplomacia. b) exercício da alteridade. c) expansão da democracia. d) universalização do progresso. e) conquista da autodeterminação. QUESTÃO 13 Bandeira do Brasil, és hoje a única. Hasteada a esta hora em todo o território nacional, única e só, não há lugar no coração do Brasil para outras flâmulas, outras bandeiras, outros símbolos. Os brasileiros se reuniram em torno do Brasil e decretaram desta vez com determinação de não consentir que a discórdia volte novamente a dividi- lo!
Discurso do Ministro da Justiça Francisco Campos na cerimônia da festa da bandeira, em novembro de 1937. Apud OLIVEN G. R. A parte e o todo: a diversidade cultural do Brasil Nação. Petrópolis: Vozes, 1992.
O discurso proferido em uma celebração em que as bandeiras estaduais eram queimadas diante da bandeira nacional revela o pacto nacional proposto pelo Estado Novo, que se associa à a) supressão das diferenças socioeconômicas entre as regiões do Brasil, priorizando as regiões estaduais carentes. b) orientação do regime quanto ao reforço do federalismo, espelhando-se na experiência política norte-americana. c) adoção de práticas políticas autoritárias, considerando a contenção dos interesses regionais dispersivos.
Ciências Humanas e suas Tecnologias d) propagação de uma cultura política avessa aos ritos cívicos, cultivados pela cultura regional brasileira. e) defesa da unidade do território nacional, ameaçado por movimentos separatistas contrários à política varguista. QUESTÃO 14 Atualmente, as represálias econômicas contra as empresas de informática norte-americanas continuam. A Alemanha proibiu um aplicativo dos Estados Unidos de compartilhamento de carros; na China, o governo explicou que os equipamentos e serviços de informática norte-americanos representam uma ameaça, pedindo que as empresas estatais não recorram a eles.
fazem uso de representações que se perpetuariam na memória construída sobre o conflito. Nesse sentido, cada autor caracterizou a atitude dos sertanejos, respectivamente, como fruto da a) manipulação e incompetência. b) ignorância e solidariedade. c) hesitação e obstinação. d) esperança e valentia. e) bravura e loucura. QUESTÃO 16 Figura 1. Diagrama das regiões de intemperismo para as condições brasileiras (adaptado de Peltier, 1950).
SCHILLER, D. Disponível em: www.diplomatique.org.br. Acesso em: 11 nov. 2014 (adaptado).
As ações tomadas pelos países contra a espionagem revelam preocupação com o(a) a) subsídio industrial. b) hegemonia cultural. c) protecionismo dos mercados. d) desemprego tecnológico. e) segurança dos dados. Figura 2. Mapa das regiões de intemperismo do Brasil, baseado no diagrama da Figura 1.
QUESTÃO 15 TEXTO I Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Vencido palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defen- sores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosamente cinco mil soldados. TEXTO II Na trincheira, no centro do reduto, permaneciam quatro fanáticos sobreviventes do extermínio. Era um velho, coxo por ferimento e usando uniforme da Guarda Católica, um rapaz de 16 a 18 anos, um preto alto e magro, e um caboclo. Ao serem intimados para deporem as armas, investiram com enorme fúria. Assim estava terminada e de maneira tão trágica a sanguinosa guerra, que o banditismo e o fanatismo traziam acesa por longos meses, naquele recanto do território nacional.
SOARES, H. M. A Guerra de Canudos. Rio de Janeiro: Altina, 1902.
Os relatos do último ato da Guerra de Canudos
FONTES, M. P. F. Intemperismo de rochas e minerais. In: KER. J. C. et al. (Org.). Pedologia: fundamentos. Viçosa (MG): SBCS, 2012 (adaptado).
De acordo com as figuras, a intensidade de intemperismo de grau muito fraco é característica de qual tipo climático? ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias a) Tropical. b) Litorâneo. c) Equatorial. d) Semiárido. e) Subtropical. QUESTÃO 17 TEXTO I Em todo o país a lei de 13 de maio de 1888 libertou poucos negros em relação à população de cor. A maioria já havia conquistado a alforria antes de 1888, por meio de estratégias possíveis. No entanto, a importância histórica da lei de 1888 não pode ser mensurada apenas em termos numéricos. O impacto que a extinção da escravidão causou numa sociedade constituída a partir da legitimidade da propriedade sobre a pessoa não cabe em cifras. ALBUQUERQUE. W. O jogo da dissimulação: Abolição e cidadania negra no Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2009 (adaptado).
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TEXTO II Nos anos imediatamente anteriores à Abolição, a população livre do Rio de Janeiro se tornou mais numerosa e diversificada. Os escravos, bem menos numerosos que antes, e com os africanos mais acultu- rados, certamente não se distinguiam muito facilmente dos libertos e dos pretos e pardos livres habitantes da cidade. Também já não é razoável presumir que uma pessoa de cor seja provavelmente cativa, pois os negros libertos e livres poderiam ser encontrados em toda parte. CHALHOUB, S. Visões da liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na Corte. São Paulo: Cia. das Letras, 1990 (adaptado).
Sobre o fim da escravidão no Brasil, o elemento destaca- do no Texto I que complementa os argumentos apresen- tados no Texto II é o(a) a) variedade das estratégias de resistência dos cativos. b) controle jurídico exercido pelos proprietários. c) inovação social representada pela lei. d) ineficácia prática da libertação. e) significado político da Abolição. QUESTÃO 18 A participação da África na Segunda Guerra Mundial deve ser apreciada sob a ótica da escolha entre vários demônios. O seu engajamento não foi um processo de colaboração com o imperialismo, mas uma luta contra uma forma de hegemonia ainda mais perigosa.
MAZRUI, A. “Procurai primeiramente o reino do político ...” In: MAZRUI, A., WONDJI, C. (Org.). História geral da África: África desde 1925. Brasília: Unesco, 2010.
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Para o autor, a “forma de hegemonia” e uma de suas características que explicam o engajamento dos africanos no processo analisado foram: a) Comunismo / rejeição da democracia liberal. b) Capitalismo / devastação do ambiente natural. c) Fascismo / adoção do determinismo biológico. d) Socialismo / planificação da economia nacional. e) Colonialismo / imposição da missão civilizatória QUESTÃO 19 Não nos resta a menor dúvida de que a principal contribuição dos diferentes tipos de movimentos sociais brasileiros nos últimos vinte anos foi no plano da reconstrução do processo de democratização do país. E não se trata apenas da reconstrução do regime político, da retomada da democracia e do fim do Regime Militar. Trata-se da reconstrução ou construção de novos rumos para a cultura do país, do preenchimento de vazios na condução da luta pela redemocratização, constituindo-se como agentes interlocutores que dialogam diretamente com a população e com o Estado. GOHN, M. G. M. Os sem-terras, ONGs e cidadania. São Paulo: Cortez, 2003 (adaptado).
No processo da redemocratização brasileira, os novos movimentos sociais contribuíram para a) diminuir a legitimidade dos novos partidos políticos então criados. b) tornar a democracia um valor social que ultrapassa os momentos eleitorais. c) difundir a democracia representativa como objetivo fundamental da luta política. d) ampliar as disputas pela hegemonia das entidades de trabalhadores com os sindicatos. e) fragmentar as lutas políticas dos diversos atores sociais frente ao Estado.
QUESTÃO 20 A natureza fez os homens tão iguais, quanto às faculdades do corpo e do espírito, que, embora por vezes se encontre um homem manifestamente mais forte de corpo, ou de espírito mais vivo do que outro, mesmo assim, quando se considera tudo isto em conjunto, a diferença entre um e outro homem não é suficientemente considerável para que um deles possa com base nela reclamar algum benefício a que outro não possa igualmente aspirar. HOBBES, T. Leviatã. São Paulo Martins Fontes, 2003
Para Hobbes, antes da constituição da sociedade civil, quando dois homens desejavam o mesmo objeto, eles a) entravam em conflito. b) recorriam aos clérigos.
Ciências Humanas e suas Tecnologias c) consultavam os anciãos. d) apelavam aos governantes. e) exerciam a solidariedade. QUESTÃO 21
O surgimento da categoria mencionada no período em destaque no texto evidencia o(a) a) apoio dado pela Igreja ao trabalho abstrato. b) relação entre desenvolvimento urbano e divisão de trabalho. c) importância organizacional das corporações de ofício. d) progressiva expansão da educação escolar. e) acúmulo de trabalho dos professores e eruditos. QUESTÃO 23 O que implica o sistema da pólis é uma extraordinária preeminência da palavra sobre todos os outros instrumen- tos do poder. A palavra constitui o debate contraditório, a discussão, a argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo intelectual, assim como do jogo político.
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Bertrand, 1992 (adaptado).
SCHWARCZ, L. M. As barbas do imperador. D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Cia. das Letras, 1998 (adaptado).
Essas imagens de D. Pedro II foram feitas no início dos anos de 1850, pouco mais de uma década após o Golpe da Maioridade. Considerando o contexto histórico em que foram produzidas e os elementos simbólicos destacados, essas imagens representavam um a) jovem maduro que agiria de forma irresponsável. b) imperador adulto que governaria segundo as leis. c) líder guerreiro que comandaria as vitórias militares. d) soberano religioso que acataria a autoridade papal. e) monarca absolutista que exerceria seu autoritarismo. QUESTÃO 22 No início foram as cidades. O intelectual da Idade Média – no Ocidente – nasceu com elas. Foi com o desenvolvimento urbano ligado às funções comercial e industrial – digamos modestamente artesanal – que ele apareceu, como um desses homens de ofício que se instalavam nas cidades nas quais se impôs a divisão do trabalho. Um homem cujo ofício é escrever ou ensinar, e de preferência as duas coisas a um só tempo, um homem que, profissionalmente, tem uma atividade de professor e erudito, em resumo, um intelectual – esse homem só aparecerá com as cidades. LE GOFF, J. Os intelectuais na Idade Média. Rio de Janeiro: José Olympio, 2010
Na configuração política da democracia grega, em espe- cial a ateniense, a ágora tinha por função a) agregar os cidadãos em torno de reis que governavam em prol da cidade. b) permitir aos homens livres o acesso às decisões do Estado expostas por seus magistrados. c) constituir o lugar onde o corpo de cidadãos se reunia para deliberar sobre as questões da comunidade. d) reunir os exercícios para decidir em assembleias fecha- das os rumos a serem tomados em caso de guerra. e) congregar a comunidade para eleger representantes com direito a pronunciar-se em assembleias. QUESTÃO 24 No final do século XX e em razão dos avanços da ciência, produziu-se um sistema presidido pelas técnicas da informação, que passaram a exercer um papel de elo entre as demais, unindo-as e assegurando ao novo sistema uma presença planetária. Um mercado que utiliza esse sistema de técnicas avançadas resulta nessa globalização perversa.
SANTOS, M. Por uma outra globalização. Rio de Janeiro: Record, 2008 (adaptado).
Uma consequência para o setor produtivo e outra para o mundo do trabalho advindas das transformações citadas no texto estão presentes, respectivamente, em: a) Eliminação das vantagens locacionais e ampliação da legislação laboral. b) Limitação dos fluxos logísticos e fortalecimento de associações sindicais. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias c) Diminuição dos investimentos industriais e desvalo- rização dos postos qualificados. d) Concentração das áreas manufatureiras e redução da jornada semanal. e) Automatização dos processos fabris e aumento dos níveis de desemprego. QUESTÃO 25 Os movimentos de massa constituem-se no deslocamento de material (solo e rocha) vertente abaixo pela influência da gravidade. As condições que favorecem os movimentos de massa dependem principalmente da estrutura geológica, da declividade da vertente, do regime de chuvas, da perda de vegetação e da atividade antrópica.
d) decomposição das camadas sedimentares, resultante da alteração química. e) assoreamento no fundo do rio, proporcionado pela chegada de material sedimentar. QUESTÃO 27 Calendário medieval, século XV.
BIGARELLA, J. J. Estrutura e origem das paisagens tropicais e subtropicais. Florianópolis: UFSC, 2003 (adaptado).
Em relação ao processo descrito, sua ocorrência é minimizada em locais onde há a) exposição do solo. b) drenagem eficiente. c) rocha matriz resistente. d) agricultura mecanizada. e) média pluviométrica elevada. QUESTÃO 26
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SUERTEGARAY, D. M. A. (Org.) Terra: feições ilustradas. Porto Alegre: EdUFRGS, 2003 (adaptado).
A imagem representa o resultado da erosão que ocorre em rochas nos leitos dos rios, que decorre do processo natural de a) fraturamento geológico, derivado da força dos agentes internos. b) solapamento de camadas de argilas, transportadas pela correnteza. c) movimento circular de seixos e areias, arrastados por águas turbilhonares. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
Os calendários são fontes históricas importantes, na medida em que expressam a concepção de tempo das sociedades. Essas imagens compõem um calendário medieval (1460-1475) e cada uma delas representa um mês, de janeiro a dezembro. Com base na análise do calendário, apreende-se uma concepção de tempo a) cíclica, marcada pelo mito arcaico do eterno retorno. b) humanista, identificada pelo controle das horas de atividade por parte do trabalhador. c) escatológica, associada a uma visão religiosa sobre o trabalho. d) natural, expressa pelo trabalho realizado de acordo com as estações do ano. e) romântica, definida por uma visão bucólica da socie- dade. QUESTÃO 28 O processo de concentração urbana no Brasil em determinados locais teve momentos de maior intensidade e, ao que tudo indica, atualmente passa por uma desace- leração do ritmo de crescimento populacional nos grandes centros urbanos.
BAENINGER, R. Cidades e metrópoles: a desaceleração no crescimento populacional e novos arranjos regionais. Disponível em: www.sbsociologia.com.br. Acesso em: 12 dez. 2012 (adaptado).
Ciências Humanas e suas Tecnologias Uma causa para o processo socioespacial mencionado no texto é o(a) a) carência de matérias-primas. b) degradação da rede rodoviária. c) aumento do crescimento vegetativo. d) centralização do poder político. e) realocação da atividade industrial.
QUESTÃO 31
QUESTÃO 29 Ora, em todas as coisas ordenadas a algum fim, é preciso haver algum dirigente, pelo qual se atinja diretamente o devido fim. Com efeito, um navio, que se move para diversos lados pelo impulso dos ventos contrários, não chegaria ao fim de destino, se por indústria do piloto não fosse dirigido ao porto; ora, tem o homem um fim, para o qual se ordenam toda a sua vida e ação. Acontece, porém, agirem os homens de modos diversos em vista do fim, o que a própria diversidade dos esforços e ações humanas comprova. Portanto, precisa o homem de um dirigente para o fim.
AQUINO. T. Do reino ou do governo dos homens: ao rei do Chipre. Escritos políticos de São Tomás de Aquino. Petrópolis: Vozes, 1995 (adaptado).
No trecho citado, Tomás de Aquino justifica a monarquia como o regime de governo capaz de a) refrear os movimentos religiosos contestatórios. b) promover a atuação da sociedade civil na vida política. c) unir a sociedade tendo em vista a realização do bem comum. d) reformar a religião por meio do retorno à tradição helenística. e) dissociar a relação política entre os poderes temporal e espiritual. QUESTÃO 30 A Justiça Eleitoral foi criada em 1932, como parte de uma ampla reforma no processo eleitoral incentivada pela Revolução de 1930. Sua criação foi um grande avanço institucional, garantindo que as eleições tivessem o aval de um órgão teoricamente imune à influência dos mandatários.
TAYLOR, M. Justiça Eleitoral. In: AVRITZER, L.; ANASTASIA, F. Reforma política no Brasil. Belo Horizonte: UFMG, 2006 (adaptado).
Em relação ao regime democrático no país, a instituição analisada teve o seguinte papel: a) Implementou o voto direto para presidente. b) Combateu as fraudes sistemáticas nas apurações. c) Alterou as regras para as candidaturas na ditadura. d) Impulsionou as denúncias de corrupção administrativa. e) Expandiu a participação com o fim do critério censitário.
ZIRALDO. 20 anos de prontidão. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através da caricatura (1840-2001). Rio de Janeiro: Letras & Expressões, 2001.
No período de 1964 a 1985, a estratégia do Regime Militar abordada na charge foi caracterizada pela a) priorização da segurança nacional. b) captação de financiamentos estrangeiros. c) execução de cortes nos gastos públicos. d) nacionalização de empresas multinacionais. e) promoção de políticas de distribuição de renda. QUESTÃO 32 Voz do sangue Palpitam-me os sons do batuque e os ritmos melancólicos do blue. Ó negro esfarrapado do Harlem ó dançarino de Chicago ó negro servidor do South Ó negro da África negros de todo o mundo Eu junto ao vosso magnífico canto a minha pobre voz os meus humildes ritmos.
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Ciências Humanas e suas Tecnologias Eu vos acompanho pelas emaranhadas áfricas do nosso Rumo.
d) valorizava a saga histórica do povo na afirmação de uma memória social. e) destacava a presença do indígena no desbravamento do território colonial.
Eu vos sinto negros de todo o mundo eu vivo a nossa história meus irmãos. Disponivel em: www.agostinhoneto.org. Acesso em: 30 jun. 2015.
Nesse poema, o líder angolano Agostinho Neto, na década de 1940, evoca o pan-africanismo com o objetivo de a) incitar a luta por políticas de ações afirmativas na América e na África. b) reconhecer as desigualdades sociais entre os negros de Angola e dos Estados Unidos. c) descrever o quadro de pobreza após os processos de independência no continente africano. d) solicitar o engajamento dos negros estadunidenses na luta armada pela independência em Angola. e) conclamar as populações negras de diferentes países a apoiar as lutas por igualdade e independência.
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QUESTÃO 33 Iniciou-se em 1903 a introdução de obras de arte com representações de bandeirantes no acervo do Museu Paulista, mediante a aquisição de uma tela que homenageava o sertanista que comandara a destruição do Quilombo de Palmares. Essa aquisição, viabilizada por verba estadual, foi simultânea à emergência de uma interpretação histórica que apontava o fenômeno do sertanismo paulista como o elo decisivo entre a trajetória territorial do Brasil e de São Paulo, concepção essa que se consolidaria entre os historiadores ligados ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo ao longo das três primeiras décadas do século XX. MARINS, P. c. G. Nas matas com pose de reis: a representação de bandeirantes e a tradição da retratística monárquica europeia. Revista do LEB, n. 44, tev. 2007.
A prática governamental descrita no texto, com a escolha dos temas das obras, tinha como propósito a construção de uma memória que a) afirmava a centralidade de um estado na política do país. b) resgatava a importância da resistência escrava na história brasileira. c) evidenciava a importância da produção artística no contexto regional. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
QUESTÃO 34 Trasímaco estava impaciente porque Sócrates e os seus amigos presumiam que a justiça era algo real e importante. Trasímaco negava isso. Em seu entender, as pessoas acreditavam no certo e no errado apenas por terem sido ensinadas a obedecer às regras da sua sociedade. No entanto, essas regras não passavam de invenções humanas. RACHELS. J. Problemas da filosofia. Lisboa: Gradiva, 2009.
O sofista Trasímaco, personagem imortalizado no diálogo A República, de Platão, sustentava que a correlação entre justiça e ética é resultado de a) determinações biológicas impregnadas na natureza humana. b) verdades objetivas com fundamento anterior aos interesses sociais. c) mandamentos divinos inquestionáveis legados das tradições antigas. d) convenções sociais resultantes de interesses humanos contingentes. e) sentimentos experimentados diante de determinadas atitudes humanas. QUESTÃO 35 Em sociedade de origens tão nitidamente personalistas como a nossa, é compreensível que os simples vínculos de pessoa a pessoa, independentes e até exclusivos de qualquer tendência para a cooperação autêntica entre os indivíduos, tenham sido quase sempre os mais decisivos. As agregações e relações pessoais, embora por vezes precárias, e, de outro lado, as lutas entre facções, entre famílias, entre regionalismos, faziam dela um todo incoerente e amorfo. O peculiar da vida brasileira parece ter sido, por essa época, uma acentuação singularmente enérgica do afetivo, do irracional, do passional e uma estagnação ou antes uma atrofia correspondente das qualidades ordenadoras, disciplinadoras, racionalizadoras.
HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
Um traço formador da vida pública brasileira expressa- se, segundo a análise do historiador, na a) rigidez das normas jurídicas. b) prevalência dos interesses privados. c) solidez da organização institucional. d) legitimidade das ações burocráticas. e) estabilidade das estruturas políticas.
Ciências Humanas e suas Tecnologias QUESTÃO 36 O Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia ensina indígenas, quilombolas e outros grupos tradicionais a empregar o GPS e técnicas modernas de georreferencia- mento para produzir mapas artesanais, mas bastante precisos, de suas próprias terras.
QUESTÃO 38
LOPES, R. J. O novo mapa da floresta. Folha de S. Paulo, 7 maio 2011 (adaptado).
A existência de um projeto como o apresentado no texto indica a importância da cartografia como elemento promotor da a) expansão da fronteira agrícola. b) remoção de populações nativas. c) superação da condição de pobreza. d) valorização de identidades coletivas. e) implantação de modernos projetos agroindustriais. QUESTÃO 37 Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimentos, e podemos unir a isso a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar.
HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impres- são ao considerar que a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação. b) o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível. c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso. d) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória. e) as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na empiria.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente/IBGE. Biomas. 2004 (adaptado).
No mapa estão representados os biomas brasileiros que, em função de suas características físicas e do modo de ocupação do território, apresentam problemas ambientais distintos. Nesse sentido, o problema ambiental destacado no mapa indica a) desertificação das áreas afetadas. b) poluição dos rios temporários. c) queimadas dos remanescentes vegetais. d) desmatamento das matas ciliares. e) contaminação das águas subterrâneas. QUESTÃO 39 Dominar a luz implica tanto um avanço tecnológico quanto uma certa liberação dos ritmos cíclicos da natureza, com a passagem das estações e as alternâncias de dia e noite. Com a iluminação noturna, a escuridão vai cedendo lugar à claridade, e a percepção temporal começa a se pautar pela marcação do relógio. Se a luz invade a noite, perde sentido a separação tradicional entre trabalho e descanso – todas as partes do dia podem ser aproveitadas produtivamente. SILVA FILHO. A. L. M. Fortaleza: imagens da cidade. Fortaleza: Museu do Ceará; Secult-CE. 2001 (adaptado).
Em relação ao mundo do trabalho, a transformação apontada no texto teve como consequência a a) melhoria da qualidade da produção industrial. b) redução da oferta de emprego nas zonas rurais. ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias c) permissão ao trabalhador para controlar seus próprios horários. d) diminuição das exigências de esforço no trabalho com máquinas. e) ampliação do período disponível para a jornada de trabalho. QUESTÃO 40 Apesar de seu disfarce de iniciativa e otimismo, o homem moderno está esmagado por um profundo sentimento de impotência que o faz olhar fixamente e, como que paralisado, para as catástrofes que se avizinham. Por isso, desde já, saliente-se a necessidade de uma permanente atitude crítica, o único modo pelo qual o homem realizará sua vocação natural de integrar-se, superando a atitude do simples ajustamento ou acomodação, apreendendo temas e tarefas de sua época. FREIRE. P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra. 2011.
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Paulo Freire defende que a superação das dificuldades e a apreensão da realidade atual será obtida pelo(a) a) desenvolvimento do pensamento autônomo. b) obtenção de qualificação profissional. c) resgate de valores tradicionais. d) realização de desejos pessoais. e) aumento da renda familiar. QUESTÃO 41
QUESTÃO 42 A casa de Deus, que acreditam una, está, portanto, dividida em três: uns oram, outros combatem, outros, enfim, trabalham. Essas três partes que coexistem não suportam ser separadas; os serviços prestados por uma são a condição das obras das outras duas; cada uma por sua vez encarrega-se de aliviar o conjunto... Assim a lei pode triunfar e o mundo gozar da paz.
ALDALBERON DE LAON. In: SPINOSA, F. Antologia de textos históricos medievais. Lisboa: Sá da Costa, 1981.
A ideologia apresentada por Aldalberon de Laon foi produzida durante a Idade Média. Um objetivo de tal ideologia e um processo que a ela se opôs estão indicados, respectivamente, em: a) Justificar a dominação estamental / revoltas campo- nesas. b) Subverter a hierarquia social / centralização monár- quica. c) Impedir a igualdade jurídica / revoluções burguesas. d) Controlar a exploração econômica / unificação monetária. e) Questionar a ordem divina / Reforma Católica. QUESTÃO 43 A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem L, nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida. GÂNDAVO, P M. A primeira história do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado).
Na charge há uma crítica ao processo produtivo agrícola brasileiro relacionada ao a) elevado preço das mercadorias no comércio. b) aumento da demanda por produtos naturais. c) crescimento da produção de alimentos. d) hábito de adquirir derivados industriais. e) uso de agrotóxicos nas plantações.
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A observação do cronista português Pero de Magalhães de Gândavo, em 1576, sobre a ausência das letras F, L e R na língua mencionada, demonstra a a) simplicidade da organização social das tribos brasilei- ras. b) dominação portuguesa imposta aos índios no início da colonização. c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade indígena. d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos portugueses. e) dificuldade experimentada pelos portugueses no apren- dizado da língua nativa. QUESTÃO 44 O principal articulador do atual modelo econômico chinês argumenta que o mercado é só um instrumento econômico, que se emprega de forma indistinta tanto no capitalismo como no socialismo. Porém
Ciências Humanas e suas Tecnologias os próprios chineses já estão sentindo, na sua sociedade, o seu real significado: o mercado não é algo neutro, ou um instrumental técnico que possibilita à sociedade utilizá- lo para a construção e edificação do socialismo. Ele é, ao contrário do que diz o articulador, um instrumento do capitalismo e é inerente à sua estrutura como modo de produção. A sua utilização está levando a uma polarização da sociedade chinesa.
OLIVEIRA, A. A Revolução Chinesa. Caros Amigos, 31 jan. 2011 (adaptado).
No texto, as reformas econômicas ocorridas na China são colocadas como antagônicas à construção de um país socialista. Nesse contexto, a característica fundamental do socialismo, à qual o modelo econômico chinês atual se contrapõe é a a) desestatização da economia. b) instauração de um partido único. c) manutenção da livre concorrência. d) formação de sindicatos trabalhistas. e) extinção gradual das classes sociais. QUESTÃO 45 Até o fim de 2007, quase 2 milhões de pessoas perderam suas casas e outros 4 milhões corriam o risco de ser despejadas. Os valores das casas despencaram em quase todos os EUA e muitas famílias acabaram devendo mais por suas casas do que o próprio valor do imóvel. Isso desencadeou uma espiral de execuções hipotecárias que diminuiu ainda mais os valores das casas. Em Cleveland, foi como se um “Katrina financeiro” atingisse a cidade. Casas abandonadas, com tábuas em janelas e portas, dominaram a paisagem nos bairros pobres, principalmente negros. Na Califórnia, também se enfileiraram casas abandonadas. HARVEY, D. O enigma do capital. São Paulo: Boitempo, 2011.
Inicialmente restrita, a crise descrita no texto atingiu proporções globais, devido ao(à) a) superprodução de bens de consumo. b) colapso industrial de países asiáticos. c) interdependência do sistema econômico. d) isolamento político dos países desenvolvidos. e) austeridade fiscal dos países em desenvolvimento.
RESOLUÇÃO QUESTÃO 01 Pelo enunciado, fica clara uma empresa de carros de aspecto global, em que cada etapa do seu desenvolvimento, desde o financiamento, projeto e publicidade são feitos em locais diferentes. Para que isso aconteça, o processo de produção não pode ser burocrático, pelo contrário, precisa ser organizado em rede. E a logística desses vários players requer o uso da tecnologia de informação, dos sistemas, da internet. RESPOSTA: D QUESTÃO 02 “Aparecer é então mais do que ser”, relações sociais que são regidas pela imagem de um indivíduo. A participação nas redes sociais e a obsessão dos selfies, ser visto e falado, estão entre os maiores desejos da atualidade. O autor não está criticando os processos difusores de informação nem a produção instantânea de notícias, mais sim a sua utilização na auto promoção, numa identidade não de reconhecimento público por mérito, nas autorreferente. RESPOSTA: A QUESTÃO 03 Para o clássico da sociologia Max Weber, uma das características do advento histórico do capitalismo era o desencantamento e a racionalização. Isso significava a superação gradual das concepções míticas e misteriosas acerca do mundo, as quais marcaram o período medieval. Nesse sentido, a religião protestante desempenhou papel fundamental no estabelecimento de uma cultura racional sobre a qual se desenvolveu o capitalismo. Deve-se observar, contudo, que Weber jamais usou o conceito de “modernidade”, ainda mais por tratar-se de uma criação intelectual do século XX, sendo que o eminente sociólogo alemão morreu em princípios dessa centúria. RESPOSTA: D QUESTÃO 04 O texto se reporta à questão do “princípio da precaução”, relacionado com a engenharia genética dos alimentos e possíveis ameaças à saúde e ao ambiente, como tendências do pensamento social, e com a criação de mecanismos preventivos aos riscos possíveis. Trata-se, portanto, de estabelecer um diálogo público acerca das mudanças empreendidas pelo uso de tecnologias científicas e suas decorrentes consequências. RESPOSTA: C ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias QUESTÃO 05 Simone de Beauvoir foi escritora e ativista feminista. Preocupou-se, sobretudo, em desnaturalizar o conceito de “feminino”, mostrando tratar-se de uma construção social num contexto de dominação do gênero masculino. RESPOSTA: C QUESTÃO 06 Karl Mannheim é considerado o fundador da sociologia do conhecimento. Essa vertente entende que toda teorização sofre uma influência do contexto histórico e cultural em que é tecida. Mannheim dirá que existem estilos de pensamento, elaborados sob influências determinadas, às quais ele chama de constelações RESPOSTA: A QUESTÃO 07 A destruição de cidades históricas, vestígios arqueológicos e monumentos, pelo Estado Islâmico, foi condenada pela Unesco, organismo da ONU, considerando-o como um crime de guerra ao destruir o patrimônio histórico, no caso, a antiga capital assíria no Iraque. RESPOSTA: B
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QUESTÃO 08 A proposta enunciada no texto tem por perspectiva a preservação total do ambiente, no sentido de que, a única maneira de evitar sua alteração, é o total isolamento desse ambiente das atividades humanas, ao contrário das perspectivas de uso do ambiente sob o ponto de vista da racionalidade, na qual se preserva parte da natureza, ao mesmo tempo em que se usa. RESPOSTA: D QUESTÃO 09 Veredas são fontes de água em vários municípios do sertão de Minas Gerais presentes no Cerrado. São caracterizadas pela presença de solos hidromórficos que armazenam água nos estratos superficiais, assegurando a umidade, mesmo em períodos mais secos, constituindo-se num sistema represador de água, ou seja, a caixa-d’água do grande sertão de Minas. RESPOSTA: E QUESTÃO 10 A tecnologia hoje disponível permite aos agricultores um monitoramento cada vez maior da produção agrícola, tornando a atividade cada vez mais independente das variações ambientais. RESPOSTA: A
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QUESTÃO 11 Nietzsche refere-se a um grupo de filósofos présocráticos chamados naturalistas, ou filósofos da phy´sis. Esses buscavam a realidade primeira fundamental numa perspectiva cosmológica. Nietzsche valoriza o esforço desse grupo por sondarem o real de forma racional, sem “imagem e fabulação” próprias da mitologia. RESPOSTA: C QUESTÃO 12 A situação que se apresenta leva a confiar ao governo a situação de sacrifício a que a população se propõe enfrentar, no caso, as agruras de uma guerra, abandonando o próprio interesse. Não se pensa, em termos simétricos, como seriam os efeitos do mesmo apelo patriótico no lado oposto do conflito. RESPOSTA: B QUESTÃO 13 O Estado Novo, inspirado nas doutrinas autoritárias e centralizadoras de direita correntes na época, adotou para o Brasil uma estrutura unitarista, na qual não cabia a autonomia estadual de caráter federativo. Daí a valorização da unidade nacional e a consequente incineração das bandeiras dos estados. RESPOSTA: C QUESTÃO 14 Dentro do sistema capitalista de produção, o segredo tecnológico sempre levou a processos de espionagem industrial. Com o advento da sociedade da informação, a espionagem se tornou exacerbada, levando os países e corporações a impor restrições na circulação de informações. RESPOSTA: E QUESTÃO 15 Euclides da Cunha, ao escrever Os Sertões, exaltou a figura do sertanejo como sendo “antes de tudo um forte”, tendo em vista a hostilidade do meio natural e das condições socioeconômicas em que vivia. Nesse sentido, a Guerra de Canudos pode ser vista como uma epopeia sertaneja até a resistência de seus últimos defensores. Daí a ideia de “bravura”. Já H. M. Soares, ao julgar a atuação dos seguidores de Antonio Conselheiro como fruto do “banditismo e fanatismo”, adiciona um componente de irracionalidade que, no limite, ele considera como “loucura”. RESPOSTA: E
Ciências Humanas e suas Tecnologias QUESTÃO 16 A figura 1 demonstra que, quanto menores as tempera turas e, principalmente, a pluviosidade, menor será o grau de degradação trazido pelo intemperismo. Assim, o ambiente semiárido, característico do Sertão do Nordeste brasileiro, com baixos índices pluviométricos, apresentará o menor grau de degradação entre os ambientes do País. RESPOSTA: D QUESTÃO 17 O Texto II afima que existiam poucos escravos no Rio de Janeiro, à época da Lei Áurea, havendo até dificuldade em distinguí-los dos negros livres. O Texto I, por sua vez, considera que a Abolição não poderia “ser mensurada apenas em termos numéricos”, acrescentando que “o impacto que a extinção da escravidão causou na sociedade (...) não cabe em cifras”, mas impactou uma “sociedade constituída a partir da legitimidade da propriedade sobre a pessoa”. Portanto, se a Abolição teve pouca importância quantitativa, seu maior significado foi de caráter político. RESPOSTA: E QUESTÃO 18 De acordo com o autor, as colônias africanas colaboraram com suas metrópoles na Segunda Guerra Mundial, fornecendo-lhes expressivos contingentes militares, porque, na época, aos males do neocolonialismo e à crença na missão civilizatória do homem branco, sobrepunha-se um mal maior: a ameaça fascista e, mais especificamente, a crença dos nazistas no determinismo biológico, segundo o qual os negrosm constituiriam uma raça inferior. RESPOSTA: C QUESTÃO 19 O próprio título do livro de onde foi extraído o fragmento citado – Os sem-terras, ONGs e cidadania – dá a dimensão dos movimentos sociais brasileiros surgidos nas últimas décadas. Para o autor, tais movimentos, por meio de uma atuação continuada, contribuíram para alargar a democracia brasileira, até então restringida ao processo eleitoral e ao sistema de governo representativo. RESPOSTA: B QUESTÃO 20 Thomas Hobbes sustentou, em sua filosofia, uma concepção pessimista de ser humano. Em estado de natureza, o homem revela uma índole egoísta, inclinado ao conflito.
Portanto, antes da constituição da sociedade civil, que para o pensador em questão era um pacto artificial, dominava o estado de guerra de todos contra todos. RESPOSTA: A QUESTÃO 21 As ilustrações de D. Pedro II, retratado no início do Segundo Reinado – portanto após um prolongado período de agitações e lutas internas – procuravam construir a imagem de um monarca equilibrado, seguro e respeitador das leis; ou seja, o governante ideal para o momento vivido pelo Brasil. Observe-se que a indumentária do imperador nas gravuras apresentadas se relaciona com sua posição hierárquica de chefe de Estado. RESPOSTA: B QUESTÃO 22 O Renascimento Comercial e Urbano, da Baixa Idade Média, iniciado por volta do século XII, caracterizou- se pelo crescimento das cidades já existentes e pelo surgimento de novos centros populacionais (burgos). Esse fenômeno, além de ter uma relação fundamental com as atividades mercantis, exigiu a diversificação das funções humanas urbanas, abrindo espaço para o trabalho de professores – inicialmente atuando de forma isolada, e depois de forma mais estruturada. RESPOSTA: B QUESTÃO 23 Na concepção urbanística do antigos gregos, a ágora era a praça central das pólis, na qual se reuniam os cidadãos. No caso dos regimes democráticos, especialmente o ateniense, era ali que a Eclésia (assembleia dos cidadãos) se reunia para decidir sobre os assuntos de interesse público, o que configurava a prática da democracia direta. RESPOSTA: C QUESTÃO 24 O texto de Milton Santos aborda os avanços científicos ocorridos na globalização, definida pelo autor como perversa, tendo como consequências no setor produtivo a automatização e, quanto às transforma- ções no universo do trabalho, o aumento dos níveis de desemprego. RESPOSTA: E QUESTÃO 25 A questão descreve movimentos de massa, os quais deslocam solo e rocha pela vertente do relevo. Por influência gravitacional e encharcamento do solo, ocorrem os deslizamentos, que podem ser minimi- zados por uma drenagem eficiente. RESPOSTA: B ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias QUESTÃO 26 A figura mostra um fundo de vale com camadas sedimentares sujeitas a formas de erosão circulares, sugerindo a circulação da água de forma turbilhonante. Isso pode ser confirmado pela figura superior direita, que mostra a rotação das partículas que desencadearam o processo. RESPOSTA: C QUESTÃO 27 Tendo em vista que a Europa Ocidental é dominada pelo clima temperado, no qual as estações são bem definidas, as atividades laborais (e também as recreativas) eram subordinadas, no período medieval, às condições do tempo. Esse foi o critério utilizado para a elaboração do calendário apresentado. RESPOSTA: D
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QUESTÃO 28 O advento do processo produtivo pós-fordista levou a uma dispersão espacial da indústria, separando o gerenciamento do processo produtivo. Assim, as corporações industriais, em busca de maiores racionalidades econômicas, distribuem-se pelo espaço, revertendo o antigo processo de concentração que se observava no período fordista. Seguindo essa tendência, certas cidades, principalmente as grandes metrópoles do Brasil, estão com redução em seu processo de crescimento populacional, fazendo o crescimento urbano intensificar-se nas cidades de médio porte. RESPOSTA: E QUESTÃO 29 Alternativa escolhida por eliminação, pois o trecho transcrito faz referência apenas à necessidade de existir alguém que governe, sem explicitar que esse alguém seja necessariamente um monarca (a citação de que se trata de uma carta de Tomás de Aquino ao rei de Chipre, não faz parte do texto). De qualquer forma pode-se admitir que o objetivo da argumentação do teólogo é justificar a autoridade dos reis, pois esta era a forma de governo predominante na Europa medieval, sendo – ao menos em tese –, direcionada para a realização do bem comum. RESPOSTA: C QUESTÃO 30 A criação da Justiça Eleitoral fez parte do Código Eleitoral promulgado pelo Governo Provisório de Getúlio Vargas em fevereiro de 1932 (antes portanto da eclosão da Revolução Constitucionalista). A implantação de um órgão controlador do processo eleitoral e vinculado ao Poder Judiciário tinha, como ENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
objetivo precípuo, estabelecer a “verdade eleitoral” e eliminar as fraudes tão frequentes nas eleições durante a República das Oligarquias. RESPOSTA: B QUESTÃO 31 A charge de Ziraldo faz referência à política econômica praticada pelo regime militar brasileiro, baseada na captação de grandes empréstimos externos, a serem pagos em prazos longos, comprometendo as gerações futuras. Deve-se porém observar que esse procedimento foi recorrente na época do “Milagre Brasileiro”, quando havia facilidade na obtenção de créditos internacionais. Todavia, o primeiro choque do petróleo (1973) e a consequente elevação dos juros internacionais, prejudicaram o fluxo de empréstimos para o Brasil, levando o País a solicitar uma moratória nos anos 80. RESPOSTA: B QUESTÃO 32 O poema “Voz do sangue” de Agostinho Neto, ao evocar o pan-africanismo, conclama as populações negras de todo o mundo – “Ó negro da África / negros de todo o mundo” – a apoiar as lutas por igualdade e independência. RESPOSTA: E QUESTÃO 33 Considerando que o bandeirismo foi um fenômeno histórico paulista com enorme importância para a formação do território brasileiro, a representação da figura do bandeirante como um personagem heroico fazia parte da construção de uma identidade que conferia a São Paulo um papel central na formação da nação. Obs.: Domingos Jorge Velho, que é o bandeirante representado na tela de 1903 (de autoria do pintor paulista Benedito Calixto), não tomou parte nas expedições de expansão territorial saídas de São Paulo, pois sua participação restringiu-se ao chamado “bandeirismo de contrato”, relacionado com o combate a quilombos e a tribos indígenas hostis no interior do nordeste. RESPOSTA: A QUESTÃO 34 Trasímaco, representante dos sofistas, entendia que a justiça não era nada mais do que a conveniência do mais forte, ou seja, fazer-se de acordo com o interesse do mais forte. Os sofistas, de fato, representavam um tipo de relativismo filosófico ao qual Sócrates fazia oposição. RESPOSTA: D
Ciências Humanas e suas Tecnologias QUESTÃO 35 O texto utiliza uma interpretação clássica do brasileiro como um “homem cordial” propenso a manter um bom relacionamento com seus semelhantes para explicar as relações entre agentes públicos e privados, no sentido de privilegiar seus interesses próprios em detrimento do bem comum. A origem desse desvio de conduta, recorrente nos dias atuais, pode ser encontrada no secular patrimonialismo português, patricado desde os tempos coloniais. RESPOSTA: B QUESTÃO 36 O Projeto Cartográfico Social da Amazônia, relativo a indígenas, quilombolas e outros grupos tradicionais, ensinou o uso do GPS e outras técnicas modernas de georreferenciamento para elaboração de mapas artesanais de seu próprio território. O procedimento promovido por esse projeto cartográfico valorizou, portanto, as identidades coletivas. RESPOSTA: D QUESTÃO 37 Para Hume, as impressões e ideias são nossos conteúdos mentais. As impressões resultam diretamente da experiência imediata; e as ideias são as cópias fracas e desbotadas das impressões. Para Hume, o acaso não existe, não passando de um efeito aparente de uma causa desconhecida e oculta. RESPOSTA: A QUESTÃO 38 O mapa nos traz a distribuição dos biomas existentes ao longo do território brasileiro, distinguindoos por meio da legenda. Há também o destaque de áreas que se estendem basicamente pela Região Nordeste do País, nas quais um problema ambiental se expande; ela possui em grande parte clima tropical semiárido, caracterizado por altas temperaturas e chuvas escassas e irregulares. Isso favorece a existência de uma vegetação adaptada a ambientes mais secos, a caatinga, que hoje corresponde a um dos biomas mais ameaçados do País em razão do intenso processo de desmatamento para exploração da madeira e para a prática da pecuária. Esse processo expõe os solos e provoca a diminuição gradativa da umidade no ambiente, levando à desertificação. RESPOSTA: A QUESTÃO 39 A questão aborda a importância da utilização da luz artificial como elemento capaz de transformar a percepção do tempo natural, o qual, contempo-
ra- neamente, dá lugar ao tempo do relógio. A utilização da iluminação noturna permite que o período da noite, antes utilizado predominantemente para o descanso, agora possa também ser utilizado para a realização do trabalho, ampliando a capacidade produtiva diária. RESPOSTA: E QUESTÃO 40 O fragmento do texto destacado na questão elucida a importância da educação como prática da liberdade, uma vez que, mesmo num mundo repleto de possibilidades, o homem moderno encontra-se imerso em uma grande passividade. O enunciado da questão nos remete à necessidade do desenvolvimento de um pensamento autônomo capaz de permitir que o homem moderno possa, por autocrítica, superar os problemas existentes em sua época e alcançar de fato a liberdade. RESPOSTA: A QUESTÃO 41 A charge ilustra de modo bem humorado a preocupação com a utilização de agrotóxicos no campo brasileiro. Nos últimos anos, tem sido progressivo o aumento no uso de fertilizantes, adubos químicos e pesticidas no Brasil, com o objetivo de aumentar a produtividade, a despeito dos prejuízos que tais substâncias possam causar à saúde humana. Produtos agrícolas como pimentão, morango e alface estão entre os campeões no uso destes produtos. Não são raras as ocasiões em que países importadores, especialmente os europeus, impõem barreiras que impedem a entrada de nossos produtos agrícolas em seus respectivos territórios, dada a carga excessiva de agrotóxicos utilizados em seu cultivo. RESPOSTA: E QUESTÃO 42 A ideia medieval de que a sociedade cristã compreende três ordens ou agrupamentos sociais/estamentos (oratores/clero; bellatores/nobreza; laboratores/trabalhadores) foi defendida pela Igreja para justificar a divisão social do feudalismo. Nesta, os estamentos clerical e senhorial eram sustentados pelo terceiro, formado principalmente pelos servos. O resultado dessa relação de dominação e exploração suscitou numerosas rebeliões de camponeses, a mais célebre das quais foi a Jacquerie, na França do século XIV. RESPOSTA: A QUESTÃO 43 Questão recorrente em exames vestibulares, alusiva à incompreensão dos europeus para com os habitantes do Novo Mundo. Nesse choque de culENEM - CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS
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Ciências Humanas e suas Tecnologias turas, tendia a prevalecer o enfoque etnocêntrico dos colonizadores, defensores da civilização “europeia” em face da barbárie dos gentios (pagãos). RESPOSTA: D QUESTÃO 44 A característica fundamental do socialismo que é contraposta ao atual modelo chinês de economia de mercado é a extinção gradual das classes sociais, pois, como diz o texto, a sociedade chinesa está sendo levada a uma polarização. RESPOSTA: E QUESTÃO 45 O atual sistema financeiro mundial dispõe de um enorme instrumental informático que permite a realização do lucro de forma imediata e progressiva, por meio de diversas aplicações, conhecidas como derivativos. Assim, as movimentações financeiras, no caso as atividades imobiliárias dos EUA, contam com aplicações de capital pelo mundo todo, envolvendo as mais diversas instituições bancárias. Portanto, a crise deflagrada nos EUA pôde, quase que imediatamente, atingir o mundo todo. RESPOSTA: C
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FONTE: HTTP://WWW.CURSO-OBJETIVO.BR/VESTIBULAR/ RESOLUCAO_COMENTADA/ENEM/2015/ENEM2015_1DIA.PDF
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