Harmonia III

March 31, 2019 | Author: Mateus Bustamante | Category: Chord (Music), Harmony, Elements Of Music, Musicology, Musical Compositions
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A textura homofônica obtida pela condução a quatro vozes pode ser enriquecida pelo acréscimo de notas de passagem, borda...

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HARMONIA Harmonização de Melodia III. Ornamentação Melódica

Coordenador: Fernando Lewis de Mattos Bolsistas: Fernanda Krüger Garcia Fernando Freitas Fachin

Departa Departamen mento to de Músi Música ca - UFRGS UFRGS

1. Notas de Passagem •

A textura homofônica obtida pela condução a quatro vozes pode ser enriquecida pelo acréscimo de notas de  notas de passagem, passagem ,  bordaduras,  bordaduras,  suspensões e  suspensões  e outras ornamentações melódicas.



O modo mais simples simples de iniciar iniciar a ornamentaçã ornamentação o das vozes inferio inferiores res é procurar procurar os pontos onde há intervalos melódicos de terça (ascendentes ou descendentes), que podem ser facilmente preenchidos com nota notas s de pass passag agem em..



Na cadência cadência final final da harmonização que que realizamos da melodia  Freu dich sehr , há um movimento descendente ré-si, entre as duas últimas notas da voz de contralto. Esse salto de terça pode ser preenchido com graus conjuntos, se for colocada a nota dó entre o ré e o si.

1. Notas de Passagem



O resultado resultado desse desse procedi procedimento mento é chamado chamado de   sétima de passagem, passagem , pois nota de passagem (dó) é a sétima do acorde de D.



A inclusão inclusão da sétima sétima da dominante dominante como nota nota de passagem passagem é bastante bastante comum em cadências autênticas, pois o trítono entre a sétima e a terça do acorde de V grau reforça a tensão característica da dominante.

1. Notas de Passagem



A sétima também poderia ter sido incorporada ao acorde de dominante, sendo atacada simultaneamente às outras notas da harmonia.



Tem-se, com isso, que os acordes de sétima da dominante são derivados do emprego de sétimas de passagem, quando estas são incorporadas à harmonia.

1. Notas de Passagem •

Na ornamentação melódica das diversas vozes, tem-se que ter o cuidado de não produzir quintas ou oitavas paralelas.



Para evitar essas quintas ou oitavas paralelas, não se acrescentam notas de passagem onde há quintas ou oitavas diretas.



No exemplo abaixo, se produzem quintas paralelas entre as vozes de contralto e tenor, quando acrescentada nota de passagem nesta voz.

1. Notas de Passagem



Se acrescentarmos notas de passagem em todos os pontos possíveis (sem incorrer  em erro de condução de vozes) da harmonização de   Freu dich sehr , obteremos o seguinte resultado:

2. Bordaduras •

Outra possibilidade de ornamentação melódica se dá através do acréscimo de bordaduras nos trechos em que há notas repetidas.



Também quando se acrescentam bordaduras, deve-se tomar cuidado com a produção de oitavas e quintas paralelas ou ocultas.



No início da parte de contralto de nossa harmonização, ocorrem cinco repetições da nota ré, que podem ser ornamentadas com bordaduras superiores e/ou inferiores.



Estas podem ser alternadas, iniciando-se por uma bordadura superior (a) ou com uma bordadura inferior (b).

2. Bordaduras





Se a ornamentação iniciar com uma bordadura superior, obtém-se:

Esses processos automáticos de ornamentação certamente resultarão em erros de condução de vozes.

2. Bordaduras • A bordadura presente no início do c. 2 (ré-mi-ré) do exemplo anterior está incorreta, pois produz uma quinta paralela entre contralto e soprano (mi/si-ré/lá).



Todas as outras bordaduras desse exemplo estão corretas.

• Assim, iniciando com uma bordadura ascendente, pode-se obter o seguinte movimento melódico, na parte de contralto:

2. Bordaduras •

Se a ornamentação iniciar com uma bordadura inferior, obtém-se:

• Neste caso, os trechos com erro de condução de vozes são os seguintes: • a primeira bordadura (ré-dó-ré) atinge uma quinta paralela (dó/sol-ré/lá) entre contralto e soprano, devendo, por isso, ser evitada; • a segunda bordadura (ré-mi-ré) também produz uma quinta paralela entre tenor e contralto (lá/mi-sol/ré);

2. Bordaduras



Mantendo-se somente as bordaduras corretas, tem-se o resultado abaixo:

2. Bordaduras •

Para a versão definitiva da ornamentação da parte de contralto, qualquer uma das versões corretas anteriores pode ser escolhida.



Pode-se, também, combinar as duas versões e obter os seguintes resultados:

2. Bordaduras •

Nas vozes de contralto e tenor da segunda frase da nossa harmonização, também ocorrem notas imediatamente repetidas.



No contralto, há duas repetições da nota ré:

(a)

bordadura superior, no primeiro ré, produz quinta paralela com relação ao tenor  (lá/mi-sol/ré);

(b)

bordadura inferior, neste ponto, está correta;

(c)

uma bordadura superior no ré do penúltimo compasso, produz quinta paralela entre o contralto e o soprano (mi/si-ré/lá);

(d)

bordadura superior, neste ponto, está correta.

2. Bordaduras •

Na voz de tenor, há repetição da nota sol, nos dois compassos que antecedem a cadência



A análise do exemplo abaixo demonstra as possibilidades:

(a)

A bordadura superior está correta;

(b)

A bordadura superior gera quintas paralelas (lá/mi-sol/ré) entre tenor e contralto;

(c)

apesar do cruzamento de vozes, a bordadura inferior está correta;

(d)

a bordadura inferior está correta (uma bordadura superior, neste ponto, acarretaria quintas paralelas entre tenor e contralto).

2. Bordaduras •

A combinação de bordaduras nas vozes de contralto e tenor possibilita tratamento contrapontístico, como:

(a)

contraponto imitativo entre as vozes de contralto e tenor, em que o tenor imita a linha melódica do contralto à quinta inferior e este repete a m esma melodia;

(b)

contraponto livre entre as partes de contralto e tenor, em que a bordadura simples do contralto é respondida por uma bordadura dupla, no tenor.

3. Combinação I •

As notas de passagem e as  bordaduras discutidas nas seções anteriores podem ser  combinadas para ampliar as possibilidades de ornamentação melódica.



No exemplo abaixo, tem-se as seguintes características:

(a) ocorre intensificação do contraponto, que prepara a cadência à dominante; (b) ocorre contraponto livre; (c) se realiza um típico movimento cadencial com o uso da  sétima de passagem sobre o acorde de dominante.

3. Combinação I •

No exemplo abaixo, tem-se outra possibilidade de ornamentação através de notas de passagem e bordaduras, com ênfase na  elaboração motívica, que ocorre em três fases:

(a) repetição motívica, na voz de contralto: um motivo (ré-dó-ré) é repetido várias vezes durante a música;

(b) processo imitativo : um fragmento melódico apresentado pelo tenor, na metade do c. 2, é imitado por inversão, no contralto; (c)   processo imitativo  entre contralto e tenor, com base em outro fragmento melódico ( ponto de imitação).

4. Suspensões •

As suspensões podem ser empregadas quando há movimentos de graus conjuntos descendentes, na passagem de um tempo a outro ou de um compasso a outro.



O processo consiste em suspender a nota do acorde anterior, como síncope, e deixá-la aparecer como dissonância, no acorde seguinte, que deve resolver por grau conjunto descendente.



Na prática da ornamentação, o processo é bastante simples, pois basta manter a nota do acorde anterior, atrasando o ataque a nota real do novo acorde.



No exemplo abaixo, tem-se:

(a) a nota lá do tenor, no acorde de D/F#, é atacada simultaneamente com as outras notas da harmonia; (b) a nota lá é atrasada, devido à   suspensão   da nota si, que permanece como dissonância, pois não pertence ao acorde de D, do segundo tempo do compasso.

4. Suspensões •

No início da harmonização da melodia   Freu dich sehr , é possível realizar uma cadeia de suspensões, que consiste na realização de várias suspensões em seqüência, na mesma voz.



Na cadeia de suspensões abaixo,

1.

a nota si do terceiro tempo do primeiro compasso é a terça do acorde de G que permanece suspensa e resolve na quinta do acorde seguinte;

2.

a cadeia de suspensões segue com a suspensão da nota lá, que permanece ligada no próximo compasso e resolve na fundamental do novo acorde;

3.

este sol permanece como suspensão, no segundo tempo do c. 2, sendo que resolve na terça do acorde que segue. No exemplo abaixo, tem-se:

(a) as suspensões escritas com notas ligadas (como ocorre no estudo de contraponto); (b) as ligaduras são substituídas por figuras que correspondem à sua duração (como é comum nas publicações musicais). (*) As setas indicam movimentos contrários e oblíquos, desejáveis na relação entre as outras vozes.

4. Suspensões •

Os pontos mais característicos para a aplicação de suspensões, na harmonização de melodia coral, são as cadências.



Cabe acrescentar uma suspensão na  cadência à dominante que completa a primeira frase, pois a voz de tenor se movimenta descendentemente por graus conjuntos.



Essa suspensão é especialmente eficaz, pois sua resolução será sobre a terça do acorde de dominante, isto é, a  sensível  da tonalidade. (*) A escrita das suspensão pode ser  (a) com ligadura mínima-semínima; (b) com mínima pontuada.

4. Suspensões



Na segunda frase, também são possíveis algumas suspensões nas vozes de contralto e tenor.



O exemplo abaixo demonstra como funciona o uso de contraponto imitativo com base no emprego de suspensões, nessas vozes.

4. Suspensões •

Um tipo de suspensão característico das cadências perfeitas é o uso da   sétima suspensa, que resolve na terça do acorde de tônica.



Para isso, a sétima deve ser inicialmente utilizada como nota real do acorde de V grau.



O exemplo abaixo demonstra este processo:

(a) a sétima é atacada como nota real e resolve na terça do acorde de tônica; (b) a sétima permanece suspensa e resolve somente na segunda metade no último compasso.

4. Suspensões



Se forem combinadas as suspensões discutidas acima para construir a segunda frase, tem-se este resultado:

5. Combinação II •

Na prática da harmonização de melodia coral, é comum o emprego conjunto de vários tipos de ornamentação ao longo da música.



No exemplo abaixo, foram combinados os três tipos de ornamentação estudados (notas de passagem, bordaduras e suspensões), com base no que foi discutido.



Dois comentários ainda podem ser úteis:



o sol do tenor é uma resolução da suspensão anterior (nota lá do acorde de D), porém quando a nota sol permanece ligada, torna-se nota real do acorde de C e, por  essa razão, não é uma suspensão – tem-se, assim, um contraponto sincopado que não se caracteriza como suspensão;

(a) o ré do contralto também é uma síncope que não aparece como suspensão, pois pertence tanto ao acorde de G/D quanto ao acorde de D7 do penúltimo compasso.

5. Combinação II •

O exemplo abaixo apresenta outra possibilidade de ornamentação com notas de passagem, bordaduras e suspensões (estas estão indicadas por colchetes).



Neste exemplo, a textura é mais leve do que no exemplo anterior.

• No contralto, último compasso, há combinação de técnicas de ornamentação: 1. a nota dó permanece como sétima suspensa; 2. o dó resolve na terça do acorde de G (nota: si); 3. a resolução final é realizada através de uma bordadura inferior (notas: si-lá-si).

Tem-se, assim, uma suspensão que resolve através de uma bordadura.

6. Outros Tipos de Ornamentação



Além das técnicas de ornamentação mencionadas anteriormente (notas de passagem, bordaduras e suspensões), há outros tipos de ornamentação:

• • • • •

         

retardo  apojatura  an tec ip ação  escapada  cambiata 

6. Outros Tipos de Ornamentação •

O retardo é derivado da suspensão e o termo é empregado com dois sentidos:

1.

como uma   suspensão articulada , isto é, em que a nota não permanece ligada (sem ligadura);

2.

como uma suspensão inferior , isto é, que resolve ascendentemente.



A suspensão articulada tem as mesmas características da suspensão ligada e, por  isso, dispensa maiores comentários.



Para a incorporação de retardos (no sentido de suspensão inferior, com resolução ascendente), é necessário encontrar os movimentos melódicos por graus conjuntos ascendentes e empregar os mesmo processos estudados quanto à suspensão.



O exemplo abaixo demonstra a incorporação de  retardos (indicados por colchetes) à harmonização de Freu dich sehr .

6. Outros Tipos de Ornamentação •

A apojatura, que também é derivada da suspensão, consiste em uma dissonância sem preparação, que pode ser alcançada por salto ou por grau conjunto.



A apojatura é normalmente alcançada por movimento contrário ao da resolução, que é tipicamente descendente.



O tipo mais comum de apojatura é realizado por 

(a) um movimento ascendente em direção à dissonância (b) que resolve por grau conjunto descendente

6. Outros Tipos de Ornamentação •

No exemplo abaixo, estão empregados vários tipos de apojatura à harmonização de Freu dich sehr :

(a) o tenor inicia com uma apojatura, sem antecedente; (b) na voz de contralto (c. 1), a apojatura é alcançada por grau conjunto, diferenciandose da bordadura porque está posicionada na parte forte do tempo; (c) esta é a apojatura característica, alcançada por salto ascendente e resolvida descendentemente; (d) esta também é característica, sendo enfatizada pelo fato de estar posicionada no tempo forte do compasso;

(e) este tipo de apojatura é considerado por alguns teóricos como  nota de passagem acentuada, pois tem as mesmas características que a nota de passagem, porém a dissonância se encontra na parte forte do tempo; (f)

outra apojatura característica, alcançada por salto ascendente;

(g) tem-se, aqui, uma apojatura resolvida através de bordadura, típica em cadências.

6. Outros Tipos de Ornamentação •

A antecipação é o tipo mais simples de nota ornamental, pois, para obtê-la, basta antecipar uma das notas do acorde.



Geralmente, as antecipações são aplicadas nas resoluções cadenciais da voz principal, porém é possível adicioná-las em qualquer voz ou segmento musical.



Para que se possa introduzir uma antecipação, é necessário que haja mudança de notas, no encadeamento de um acorde ao outro.



No exemplo abaixo, foram introduzidas antecipações (indicadas pelo sinal   “+”) em todos os pontos possíveis da harmonização de   Freu dich sehr , inclusive nas cadências da voz de soprano.

6. Outros Tipos de Ornamentação •

A escapada é uma nota estranha à harmonia deixada e/ou alcançada por salto; essa nota é dissonante, porém aquela que a precede e aquela para onde conduz são notas de acorde.



No exemplo abaixo, são apresentados os três tipos de escapada:

(a) alcançada por salto e resolvida por grau conjunto;

(b) obtida a partir de um grau conjunto e deixada por salto (este é o tipo mais comumente citado nos tratados); (c) alcançada e deixada por salto; (d) alcançada por salto ascendente e deixada por salto descendente; (e) alcançada por salto descendente e deixada por grau conjunto ascendente.

6. Outros Tipos de Ornamentação •

A cambiata   é um tipo especial de escapada que consiste em uma dissonância posicionada na parte fraca do tempo, alcançada por salto descendente e resolvida por grau conjunto ascendente.



Há um caso típico de cambiata que pode ser adicionado à harmonização de   Freu dich sehr , no terceiro compasso da voz de contralto: a nota dó (indicada pelo sinal “+”, no exemplo abaixo) é uma cambiata, pois é uma dissonância alcançada por grau conjunto descendente e conduzida por salto de terça descendente.



A continuação típica, após a cambiata, é realizada através de graus conjuntos ascendentes, conforme demonstrado no exemplo abaixo.

7. Combinação III •

São possíveis várias soluções para a ornamentação melódica,

1. aplicando um único tipo de ornamentação (notas de passagem, bordaduras, suspensões, etc.) ou 2. combinando vários tipos de ornamentação. •

O exemplo abaixo ilustra uma das inúmeras possibilidades de ornamentação melódica, a partir da harmonização que fizemos de Freu dich sehr .



As notas ornamentais estão indicadas por meio de abreviaturas: nota de passagem: [np]; bordadura: [b]; suspensão [sus]; retardo [ret]; apojatura [ap]; antecipação [ant]; escapada: [esc]; cambiata: [cam].

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